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Introdução
Um dos mais fascinantes temas da teoria política é aquele referente às relações entre
os conceitos de soberania popular e de constitucionalismo que, ao oporem a toda potência
igualitária da massa à proclamada limitação do poder político em nome da liberdade,
conformam uma das mais importantes antíteses constitutivas da democrática liberal (ARON,
1997:70). Entretanto, os estudos políticos que abordam o problema daquela antítese
conceitual, quando da passagem para a modernidade política, geralmente se limitam a
explicá-la pela contraposição algo chã e reducionista das teorias liberais de Locke às
democráticas de Rousseau. Essa insistência de uma análise puramente filosófica e autoral, em
detrimento de um complemento histórico e contextual, deixa de lado uma série de outros
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O autor é doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ);
professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Gama Filho (UGF); professor da Escola
de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO) e do Departamento de
Direito Público da Universidade Federal Fluminense (UFF).
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aspectos, concernentes às formas empíricas, concretas, institucionais, por que aquela antiga
oposição foi ou não resolvida no mundo político real, e consequentemente as aporias e tensões
daí decorrentes. Por isso, alguns estudos contemporâneos têm preferido se debruçar mais
detidamente no estudo das diferentes soluções e experiências de governo constitucional e
representativo que foram ensaiadas quando da saída do Antigo Regime, começando pela
Inglaterra, pelos Estados Unidos e pela França, e depois pelo restante da Europa e da América
Ibérica (1789-1848). Em todos os casos até agora examinados, os resultados têm sido
reveladores da complexidade da transição, em cada realidade nacional, do Antigo Regime
para o Estado democrático liberal, pois ajudam a desvelar as variadas formas por que
transigiram a dimensão especificamente política do conceito de soberania com o elemento
caracteristicamente jurídico do conceito de Constituição.
Dando seqüência a essas reflexões, a que voltarei mais adiante, procederei, neste
artigo, a um primeiro reexamine da gênese e do desenvolvimento da jurisdição constitucional
norte-americana durante o século XIX, de forma a contrapô-los à gênese e ao
desenvolvimento do poder moderado, ocorridos na França durante o mesmo período –
exercício este a que dediquei em minha tese de doutorado. Este artigo pretende, portanto,
revisitar o tema da gênese da jurisdição constitucional nos EUA para reforçar o argumento de
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que o controle normativo de constitucionalidade pode ser compreendido dentro de uma teoria
mais ampla que versa sobre o problema do poder discricionário decorrente do conceito de
soberania na formação do Estado constitucional liberal, entendido aqui como Estado de
direito. Guardando fidelidade à teoria política que me guiou quando desta última empreitada,
reitero minha filiação, no que toca à forma teórica de se pensar o político, ao espírito da
escola francesa contemporânea, “aroniana”, a que pertencem François Furet, Claude Lefort,
Pierre Rosanvallon e Marcel Gauchet. Para eles, o fenômeno político deve ser compreendido,
na encruzilhada da filosofia e da história, a partir de uma interrogação tanto “sobre a origem
do poder e sobre as condições de sua legitimidade; sobre a relação mando - obediência em
toda a extensão da sociedade”, como também “sobre a religião, sobre os fins respectivos do
indivíduo e do corpo social” (LEFORT, 1991:11). Do ponto de vista da análise histórica, por
sua vez, tentarei me amparar em autores anglófonos como Gordon Wood, Bernard Baylin,
Isaac Kramnick e John Pocock, que renovaram nas últimas décadas o estudo da história das
idéias políticas norte-americanas no período em tela em obras como: A Criação da República
Americana, As Origens Ideológicas da Revolução Americana e O Momento Maquiaveliano.
Esses conseguiram abrir uma via intermediária refinada, de gosto contextual e lingüístico,
num debate então esterilizado na contenda entre os analistas marxistas, para quem a revolução
americana fora elitista e conservadora (PARENTI, 1986:237), e os estudiosos de expressão
liberal e ufanista, para quem eventos de 1776-1787 teriam constituído, ao contrário, “uma
revolução sem paralelo nos anais da história humana” (MASON, 1978 23). Como se percebe,
trata-se se uma abordagem histórica e política e não sociológica, puramente filosófica ou
jurídica. Embora verse sobre temas como o da judicialização da política e a teoria da decisão
judicial, o objeto do controle normativo da constitucionalidade é tratado aqui exclusivamente
a partir da história das idéias políticas e, portanto, de forma externa ao debate travado, seja no
campo da sociologia do direito, seja no campo da filosofia do direito.
unidade ou potência, reservada apenas para o caso de usurpação do governo por outrem -
bastante distinto, portanto, daquele vigente na Europa continental e, em particular, daquele
consagrado no curso da Revolução Francesa. No intento de garantir o equilíbrio das diversas
partes componentes, os fundadores da república recorreram à tradição polibiana do governo
misto renovada por Montesquieu para incumbir o senado de exercer uma função moderadora
dessa complexa estrutura constitucional – tarefa que, a longo prazo, ele se revelará, entretanto,
incapaz de exercer. È nesse quadro que, primeiro de modo tímido, depois de forma ostensiva,
enfrentando resistências de toda a ordem, paulatinamente a Suprema Corte se afirmará como
o verdadeiro poder moderador da Constituição de 1787, no exercício do controle normativo
da constitucionalidade. Depois de examinar os pareceres dos constitucionalistas americanos
do século dezenove e a forma radicalmente diversa como a jurisdição constitucional passou a
ser percebida cerca de cem anos depois, o artigo conclui retomando o tema do direito e da
política, representativos das tensões entre o liberalismo e a democracia.
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È a questão suscitada por Raymond Aron em Democracia e Totalitarismo. “Como obter a conciliação entre o
entendimento nacional e a contestação permanente?”, ele pergunta. Uma das soluções passaria pela “subtração
de um certo número de funções, de pessoas ou de decisões à contestação dos partidos. Em certos regimes do tipo
ocidental – mas não nos países presidencialistas - , o presidente da República ou o monarca passa por
estrangeiro, superior às lutas partidárias. Dito de outra forma, tenta-se encarnar num homem a adesão unânime
dos governados ao regime e à pátria. O monarca ou o presidente da República é a expressão de toda a
coletividade” (ARON, 1965:78).
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“O caráter político da jurisdição é tanto mais forte quanto mais amplo for o poder
discricionário que a legislação, generalizante por sua própria natureza, lhe deve
necessariamente ceder (...). Na medida em que o legislador autoriza o juiz a avaliar,
dentro de certos limites, interesses contrastantes entre si, e decidir conflitos em favor
de um ou de outro, está lhe conferindo um poder de criação do direito, e portanto um
poder que dá à função judiciária o mesmo caráter 'político' que possui – ainda que em
maior medida – a legislação” (KELSEN, 2003).
que dispõe os que estão investidos de seu exercício a ver com maus olhos todas as tentativas
de limitar (...) suas ações” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:163). Assim, ao invés de
concentrar o poder soberano do povo nas mãos de um único representante, como
preconizavam os republicanos franceses, os fundadores da república norte-americana
preferiram desinstitucionalizar completamente o locus da soberania, deixando-o nas mãos do
povo. Como a dimensão absoluta do poder soberano era malvista independentemente de quem
fosse o seu detentor, a soberania do povo foi interpretada, não ofensivamente, como força de
ação e criação, mas defensivamente, como o poder de resistência a qualquer tipo de
absolutismo que violasse os direitos naturais. Atualizada e consolidada por argumentos
iluministas, a soberania do povo passou a ser identificada a um complexo de direitos
fundamentais conferidos aos indivíduos por Deus, pela natureza ou pela história.
Essa perspectiva era perfeitamente oposta àquela de Rousseau, que concebera o povo
soberano como potência legisladora leiga e ativa. A tese de que o pacto de associação
suprimira os direitos naturais, dissolvendo-os no poder coletivo e soberano da vontade geral,
era categoricamente rejeitada. Não apenas a anterioridade e a perenidade dos direitos eram as
únicas salvaguardas da resistência à tirania (JEFFERSON, 1973:10), como a própria
concepção de uma soberania, desvinculada do reconhecimento prévio dos direitos naturais do
homem, era considerada base do despotismo eletivo (MADISON, HAMILTON & JAY,
1993:340). Para os norte-americanos, o papel da lei não era o de criar o direito fundamental,
pois ele já existia na natureza e na divindade; o que ela deveria é confirmá-lo aos olhos dos
homens e garanti-lo no melhor estilo lockeano (BAILYN, 2003:179). A finalidade do pacto
de associação era melhor salvaguardar o direito, que continuava essencialmente nas mãos do
povo; por isso, as relações entre povo e Estado eram estabelecidas por meio de mandatários
eleitos, cujos poderes decorriam de uma delegação a título precário. O preconceito contra o
poder político em geral, visto como ameaçador, justificava o apelo de Paine a que os homens
não se descuidassem “no dever e apego mútuos”, pois “nada, a não ser o céu, é inimpregnável
ao vício”. Daí que o Estado não passasse de “mal necessário” (PAINE, 1973:52). O político se
achava, portanto, em posição subordinada frente ao direito, devendo pautar-se em
conformidade a ele.
ou da jurisdição constitucional.
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Ainda hoje, “a doutrina da soberania popular não tem tido um significado claro para a tradição constitucional
americana. O conceito de soberania persistiu como problema porque embora a geração fundadora estivesse
acostumada a ser parte de um governo que inclui a monarquia, eles eram, sobretudo, republicanos. Esta mesma
geração discordava sobre a natureza e a localização da soberania, mas não sobre a importância deste conceito em
suas novas circunstâncias politicas” (SIFFERT, 2002:60). Até mesmo no Brasil, durante a primeira década
republicana, ela geraria uma série de controvérsias inauguradas no começo da década de 1890 entre Campos
Sales e Anfilófio de Carvalho, pacificadas somente quando o Supremo Tribunal, dez anos depois, assentou que
apenas a União Federal era soberana.
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parecia oferecer poucas respostas. De sorte que a representação política já parecia uma
necessidade indeclinável do mundo atual mesmo para os republicanos puros, admiradores dos
modelos da Antiguidade (JEFFERSON, 1973:14). Essa consciência da ruptura no interior das
temporalidades não significa, porém, uma rejeição em bloco do classicismo: embora o mundo
se tivesse modificado demasiado para que aqueles modelos pudessem ser imitados de forma
acrítica, “os progressos da ciência política” permitiriam adaptá-los aos tempos modernos
(MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:129). A principal adaptação a ser efetuada era a da
teoria do governo misto, pedra de toque da teoria institucional do republicanismo clássico e
que pressupunha o equilíbrio do poder político entre duas câmaras, uma ocupada pela
aristocracia, outra pela democracia. A preexistência de uma camada aristocrática e virtuosa
era mesmo um pressuposto sociológico do republicanismo clássico. Ocorre que os federalistas
se decepcionaram em sua expectativa de que a o patriciado rural norte-americano pudesse
desempenhar aquele papel e compensar, com suas virtudes cívicas, a carência que dela tinham
as camadas inferiores (POCOCK, 1975:514). Daí que a questão da representação política
adquiriu foros de um problema magno: além de viabilizar o a república num país de grandes
proporções, ela deveria agora ser organizada de sorte a filtrar, entre os candidatos, aqueles
mais capazes de administrar a coisa pública; dessa forma, a falta de uma aristocracia natural
seria qualitativamente suprida. Os efeitos deletérios do poder do número seriam corrigidos,
limitando-se este a plebiscitar a posteriori a gestão de seus mandatários (MANIN, 1996:209).
Ao contrário do republicanismo francês, não era função da representação projetar a unidade
soberana para o interior das estruturas políticas, mas refletir pluralmente a diversidade numa
rede de instituições eqüipotentes e equilibradas: “A regulação desses interesses diversos e
concorrentes constitui a principal tarefa da legislação moderna e introduz o espírito partidário
nas operações necessárias e ordinárias do governo” (MADISON, HAMILTON, & JAY,
1993:135).
Esse ponto nos leva ao terceiro e último aspecto do arcabouço institucional, relativo
à distribuição vertical do poder pela sua divisão em três, a partir de um critério de divisão de
competências por especialidade, e de seu equilíbrio, pela inserção de mecanismos de freios e
contrapesos. A necessidade de se garantir os direitos individuais protegidos pela Constituição
exigia fórmulas que permitissem às facções competirem entre si, sem pôr em risco a
estabilidade sistêmica.
Para os federalistas, haveria apenas dois meios capazes de operar essa proeza. O
primeiro passava pela criação de um “poder independente (...) da própria sociedade”
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(MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:351). Em tese, esse poder autônomo poderia ser
criado tanto pelo preenchimento de certos cargos públicos por um critério de hereditariedade,
como pela criação de órgãos que, como as convenções e os conselhos de censura, previstos na
tradição republicana; órgãos que periodicamente institucionalizavam, em nome do soberano,
um poder discricionário encarregado de examinar a Constituição, reformá-la e anular os atos
normativos ou leis que, elaborados nesse ínterim, fossem considerados incompatíveis com ela
(MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:343). Disse em tese porque, os federalistas julgavam
os dois mecanismos inviáveis na prática. A hereditariedade lhes parecia incompatível com o
princípio republicano, que exigia a eleição popular para todos os cargos. Já as convenções à
Mably se lhes afiguravam tumultuárias e inócuas; e, quanto ao tribunal de censura, a
experiência daquele previsto na Constituição da Pensilvânia (1776) também não o
recomendava4, tendo sido incapaz de constituir um locus ético de defesa do bem comum.
Além disso, como Montesquieu, os federalistas temiam que institutos como estes só
conseguissem manter a ordem sacrificando a liberdade. Para eles, abolir a liberdade porque
ela nutria lhes parecia “tão insensato quanto desejar a eliminação do ar (...) porque ele confere
ao fogo sua ação destrutiva” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:134).
raramente conseguia visualizar o bem comum. A virtude que havia no mundo não era
suficientemente duradoura ou tão estável para que se pudesse fiar apenas nela para se fundar a
república (BAILYN, 2003:327).
Essa descrença num órgão político capaz de assegurar a supremacia do soberano, por
meio do imparcial controle da ordem constitucional representativa, levava os federalistas a
uma segunda alternativa: a de arquitetar “de tal modo a estrutura interna do governo, que suas
várias partes constituintes possam ser, por suas relações mútuas, instrumentos para a
manutenção umas das outras em seus devidos lugares” (MADISON, HAMILTON & JAY,
1993:349). O poder político deveria ser fracionado nas mãos de “um número tão grande de
categorias distintas de cidadãos, que tornaria muito improvável, senão impraticável, o conluio
injusto da maioria” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:351). Evidentemente, a tradição
de uma multiplicidade de seitas religiosas convivendo harmonicamente num mesmo espaço
pesou de forma decisiva nessa solução de pulverizar o poder político para garantir a liberdade.
Adaptando a Constituição da Inglaterra, tal como Montesquieu a descrevera, os federalistas
preconizavam a construção de um arcabouço institucional onde os poderes políticos, embora
emanassem da vontade popular, deveriam ser igualmente divididos por especialização e
mantidos em equilíbrio por freios e contrapesos.
de intrépida confiança em sua própria força”, pois seria “suficientemente numerosa para sentir
todas as paixões que movem uma multidão” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:339). A
concentração das prerrogativas soberanas numa única instituição resultava “numa das mais
execráveis formas de governo que a insensatez humana jamais concebeu” (MADISON,
HAMILTON & JAY, 1993:200); daí que o sistema legislativo unicameral à francesa
apresentava maiores perigos do que o Executivo único. Nos Estados Unidos, a tradição e a
história indicavam aos federalistas que, sem uma classe social economicamente independente,
educada, livre, e permanentemente acima do egoísmo mesquinho da multidão, ao invés de
representar a 'infinita diversidade dos interesses particulares e opiniões dissonantes', ele
ficaria prisioneiro do interesse da maioria ignorante e pobre, levando a um regime de
desordens (BAILYN, 2003:258). Eis por que o Legislativo deveria ser fracionado em duas
câmaras distintas, a fim de que, nos momentos difíceis, um senado “moderado e respeitável”
pudesse chamar a turba à razão, dissipando os ânimos e favorecendo o equilíbrio.
O argumento extraído da filosofia moral inglesa sustentava que não era preciso
esperar excessiva virtude dos senadores para que o salutar efeito moderador do senado fosse
produzido pela câmara alta: bastava recrutá-los de maneira a que, pela natureza de seus
próprios interesses, ele não pudesse se identificar com o povo representado na câmara baixa,
nem com o governo, dirigido pelo chefe do Estado (MONTESQUIEU, 1979:151). Na prática,
esse “componente seleto e estável no governo”, que era a câmara alta, (MADISON,
HAMILTON & JAY, 1993:404) poderia ser forjado adotando-se certas precauções frente aos
critérios admitidos para a seleção para a Câmara baixa. Primeiro, os requisitos de
elegibilidade ficariam mais rigorosos, elevando-se a idade mínima para que os candidatos
fossem mais maduros. Segundo, a duração dos mandatos deveria ser três vezes mais longa, a
fim de que a estabilidade incutisse nos senadores um interesse de longo prazo. Por último, os
senadores não deveriam ser eleitos pelo povo, mas por cada assembléia estadual. Elas seriam
capazes de fazê-los representar, não as paixões da câmara baixa, mas os interesses gerais de
cada estado que, de si mais serenos, o ficariam ainda mais pela eleição indireta.
Esse modelo de governo plural, que concebia a política como uma arena de poderes
delegados pela representação, fragmentada verticalmente pelo federalismo e, horizontalmente,
pela divisão de poderes, impactou de modo negativo quanto à possibilidade de manifestação
excepcional do poder discricionário. É verdade que os federalistas recorriam ao “fato
excepcional” para justificar o emprego extraordinário da força: “a idéia de governar sempre
pela simples força da lei (...) só tem lugar nos devaneios daqueles doutores em política, cuja
sagacidade desdenha os conselhos da experiência” (MADISON, HAMILTON & JAY,
1993:223); “nenhuma limitação pode ser imposta à autoridade encarregada de assegurar a
defesa e a proteção da comunidade” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:261). No
entanto, esse argumento não foi utilizado para ampliar a ação do poder excepcional, mas para
criar o próprio poder federal, visto como uma “superintendência discricionária geral”, contra a
oposição encabeçada pelos antifederalistas (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:161). A
referência ao poder discricionário excepcional tem por fim convencer o leitor da necessária
subordinação dos Estados ao poder da União e não para justificar a eventual dispensa da lei
ou da apreciação judiciária dos atos do governo. Com efeito, a Constituição de 1787 esteve
longe de contemplar hipóteses como a de sua própria suspensão em caso de urgência e perigo
iminente. Ela só admitiu a mesma hipótese tímida prevista pela Constituição da Inglaterra
previa desde o Bill of Rights: a suspensão do habeas corpus em caso de rebelião ou invasão
estrangeira (art. 1o. Seção 9). As discussões da Convenção Constitucional evidenciam que a
preocupação em cercear o poder discricionário da União Federal veio principalmente dos
Estados, que temiam que suas eventuais resistências futuras aos atos inconstitucionais
daquelas pudessem sempre ser interpretadas como rebeliões, ensejando a suspensão do habeas
corpus; entretanto, cedo se chegou a um consenso de que sob circunstâncias extremas de
guerra ou invasão teria de ser tomada medida semelhante (TURLEY, 2005:154)5.
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Posteriormente, a eclosão de guerras civis ou mundiais não impediu que se tentasse alargar o campo de
autoridade discricionária do governo federal, por meio de leis ordinárias, doutrinas ou medidas de pura força.
Assim, em 1917, a lei de espionagem deu origem, pela Suprema Corte, à doutrina do “perigo real e iminente”,
com que se tentava limitar a liberdade de expressão para reprimir os progressistas que protestavam contra o
recrutamento para a guerra. No julgamento de Schenck vs. Estados Unidos, a Suprema Corte entendeu que “para
que o governo possa punir a manifestação de uma opinião, é necessário geralmente que tenha ocorrido em tais
circunstâncias ou sido de tal natureza que criasse um perigo evidente e atual do que decorreriam males
substantivos que o governo poderia evitar” (CORWIN, 1986:239).
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A lógica da estrutura federativa deu ensejo, todavia, a uma nova modalidade de ação
discricionária regulada - a intervenção federal. Na condição de “baluarte contra o perigo
estrangeiro, a mantenedora da paz entre nós, a guardiã de nosso comércio (...) e o antídoto
adequado contra a doença das facções” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:153), a cabia
à União Federal intervir nos Estados-membros para combater “o abuso dos governantes” e “as
agitações e arbitrariedades do facciosismo e da sedição na comunidade” (MADISON,
HAMILTON & JAY, 1993:189). Mas nem sempre a intervenção derivaria da decisão
soberana do governo federal; ela só teria lugar quando ameaçada a forma republicana de
governo ou em caso de invasão estrangeira ou de outros estados federados. Em todos os
demais casos, a Constituição exigia como requisito da intervenção a requisição do próprio
governo do Estado. Nessas hipóteses, não tinha o governo federal direito algum de agir por
conta própria, isto é, julgar por si mesmo se os governos estaduais teriam ou não capacidade
de dar conta de seus problemas sozinhos (art. 4, seção 4a., da constituição). No mais, a
discricionariedade regulada parecia banida do panorama institucional norte-americano: o
senado “moderador” não gozava de qualquer poder especial, não havia formas de controle
político dos atos normativos (como a censura), admitindo-se apenas, a título de freio, um
controle normativo de caráter judiciário, difuso e ex post.
1968:224). Esse acórdão não impediu que, dominado pelos radicais abolicionistas, o
Congresso decretasse a lei marcial em cinco diferentes distritos depois do final da guerra,
como mero instrumento de repressão dos focos de resistência à política adotada no Sul
(MILLER, 1962:202). Quanto à interpretação do Senado como um poder moderador,
popularizada por Story, ela colapsou quando o processo de democratização tornou evidente o
caráter elitista, politizado e partidário daquela instituição. Tornara-se problemático sustentar
que o Senado constituiria uma câmara de caráter equilibrado e apolítico, pois que há muito a
instituição se achava sujeita à mesma sorte de pressões partidárias que a Câmara dos
Deputados, recriminada por todos os lados como sede dos lobbies de todas as oligarquias
rurais, comerciais e industriais do país (ZIMMERMANN, 1999:124). O debate culminou na
promulgação da 17a. emenda constitucional, em 1913, que alterou a fórmula de escolha de
senadores, que passaram a ser eleitos pelos votantes de seus Estados, ao invés de o serem
pelos Legislativos estaduais. Desde então, tornou-se impossível, desde então tratá-lo
seriamente como uma verdadeira câmara de representação estadual.
os princípios jurídicos sobre as instituições políticas, a salvo dos embates cotidianos dos
interesses particulares. Como a organização do Estado e os direitos humanos haviam se
tornado os princípios ordenadores da comunidade, o interesse público passava a ser entendido
como o minimum minimorum de eticidade do texto constitucional (BAILYN, 2003:80).
Documento onde o interesse público encontrava a sua expressão e limitação, a Constituição
precisava forçosamente ser considerada superior às demais leis existentes no âmbito da União.
Esse foi, aparentemente, o desejo dos convencionais da Filadélfia, que no art. 6º. daquele
documento o qualificaram como “a lei suprema do país”.
Ocorre que não foi assim como, até pouco tempo, o papel da Suprema Corte no
quadro constitucional norte-americano foi explicado. Ainda que reconhecessem o papel
decisivo dos tribunais na compreensão do alcance e dos limites das normas editadas pelo
poder legislativo6, seus próprios defensores negavam o caráter político das decisões daquele
tribunal e sua posição de superioridade frente aos outros dois poderes. Os operadores jurídicos
pleiteavam que, ao nulificar leis, o Judiciário não decidia discricionariamente; apenas exercia
uma atividade hermenêutica que simplesmente declarava a intenção do soberano, expressa –
agora sim – de modo discricionário no compromisso constitucional. Os federalistas, aliás,
foram os primeiros a corroborar a opinião de Montesquieu, para quem o Judiciário era um
poder politicamente nulo, adstrito que era à aplicação mecânica das leis (MADISON,
HAMILTON & JAY, 1993:479). Ora, na medida em que a organização política dos Estados
Unidos se consolidava, a Suprema Corte precisava construir e delimitar suas funções
institucionais, sem gerar oposição violenta por parte do Congresso ou da Presidência da
República. Por razões estratégicas, os magistrados preferiram insistir na neutralidade do
Judiciário, que supostamente se restringiria a aplicar o ordenamento jurídico e resolver as
controvérsias constitucionais, lançando mão do critério hierárquico. Assim, a justificativa para
declarar a nulidade do texto legislado seria buscada noutra norma legislada, a ela superior – e
não fora do sistema jurídico, em fundamentações políticas (SOUZA NETO, 2002:62).
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“Todas as leis novas, ainda que redigidas com a maior perícia técnica e aprovadas apos a mais completa e
madura deliberação, são consideradas mais ou menos obscuras e equivocas até que seu significado seja
estabelecido e determinado por uma série de discussões e julgamentos particulares. A obscuridade que surge da
complexidade dos objetos e da imperfeição das faculdades humanas, o meio pelo qual os homens transmitem uns
aos outros suas concepções acrescentam uma nova confusão (...) Nenhuma língua (...) é rica o bastante para
suprir palavras ou expressões para toda idéia complexa, ou tão correta a ponto de não incluir muitas de
denotação equivoca (...). E essa inevitável imprecisão será maior ou menor, segundo a complexidade e a
novidade dos objetos definidos” (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:268).
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Portanto, para aqueles que defendiam a revisão judicial, a alegação de que ela
contrariava o princípio de separação e eqüipotência dos poderes não passava de um falso
problema. Se haveria que se falar em superioridade de algum poder, ele residia, não no
Judiciário, mas no povo soberano; os juízes apenas teriam sido incumbidos de, por meio da
jurisdição constitucional, garantir que a vontade dos políticos não fosse além daquela que o
povo estabelecera na Constituição (MADISON, HAMILTON & JAY, 1993:480). No final do
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século dezenove, ela acabou repetida por James Bryce em A Comunidade Americana,
reputada o primeiro “clássico” da ciência política moderna, e obra destinada a ter imensa
repercussão no modo de explicar o funcionamento do sistema político-institucional norte-
americano, até a Primeira Guerra Mundial:
Foi desse modo que a doutrina buscou, por mais de um século, negar a superioridade
e a politicidade do Poder Judiciário, verberando seu papel meramente jurisdicional de
controle, último dos mecanismos de interdependência entre os poderes.
Reafirmado pela Corte Suprema quando do julgamento do caso Fletcher vs. Peck,
em 1810, o judiciarismo ganhou cada vez mais força entre os constitucionalistas e os teóricos
políticos - até que, 23 anos depois, em seus Comentários à Constituição dos Estados Unidos,
o primeiro grande comentarista da constituição norte-americana, Joseph Story, aduziu que a
Suprema Corte era o “final e comum árbitro fornecido pela própria Constituição, a que todas
as outras decisões ficam subordinadas” (STORY, 1833:347). Pouco depois, ainda na década
de 1830, Tocqueville reconheceria o judiciarismo como uma realidade inconteste em A
Democracia na América: “Os americanos reconheceram nos juízes o direito de fundamentar
seus veredictos na Constituição mais do que nas leis. Em outras palavras, permitiram-lhes não
aplicar leis que lhes pareçam inconstitucionais” (TOCQUEVILLE, 1973:207). Na obra, por
fim, escrita com o propósito deliberado de superar a Democracia na América como guia de
exame e interpretação do sistema político-institucional norte-americano, já em torno de 1890,
James Bryce descreveria o controle normativo de constitucionalidade em termos já
apologéticos: “Nenhum aspecto do governo dos Estados Unidos desperta tanta curiosidade à
mente européia, provoca tantas discussões, merece tanta admiração, e menos se compreende
do que os deveres atribuídos ao Supremo Tribunal e as funções por ele desempenhadas na
defesa da Constituição”. Para o Bryce de A Comunidade Americana, o poder moderador
representado pelo controle normativo da constitucionalidade atribuído a um poder não-
político, neutro, imparcial, como o Judiciário, era um ovo de Colombo: “Parte alguma do
sistema americano mais credencia seus autores e melhor funciona na prática. Possui a
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vantagem de relegar questões não apenas intrincadas e delicadas, mas especialmente capazes
de excitar a paixão política, à fria e seca atmosfera da decisão judicial” (BRYCE, 1959, I:80).
Isso não quer dizer que o judiciarismo se tenha firmado sem oposição. Muito pelo
contrário, a oposição foi ferrenha, não sendo exata a observação, também de Tocqueville, de
que a jurisdição constitucional era “reconhecida por todos os poderes; não se encontra partido
que o conteste” (TOCQUEVILLE, 1973:207). Tendo desde cedo rejeitado o papel de
colaborador do governo para afirmar sua independência e promover uma interpretação
unionista - leia-se: federalista - da Constituição, a Suprema Corte logo foi considerada peça
estratégica do embate político, tendo os republicanos e, depois, os democratas, regularmente
combatido como antidemocrático o poder de revisão judicial que aquele tribunal se arrogara.
Como forma de contrastar a influência da Suprema Corte, dominada pelos adversários,
Jefferson e outros republicanos passaram a defender o direito correspondente que os tribunais
estaduais teriam de nulificar leis federais que julgassem inconstitucionais (PINTO FILHO,
2002:28). Já sob o influxo dos debates da França revolucionária, um íntimo amigo de
Jefferson, Filippo Mazzei, proporia a criação de um conselho de anciãos, de caráter político,
que cumpriria o papel de um poder moderador7 (MAZZEI, 1798:376). Em 1809, Jefferson
voltou a reclamar que a Constituição não previra suficientes freios à autoridade da Suprema
Corte. Sete anos depois, ele romperia com os sistemas de freios e contrapesos consagrado em
Filadélfia para pregar uma pura e simples separação de poderes, todos eles eletivos - inclusive
o judiciário. Ele pensava que, tornando os três poderes diretamente responsáveis diante do
soberano, o “intermediário” a que se referira Hamilton no artigo 78 de O Federalista - a
Suprema Corte - poderia afinal ser suprimido. Os argumentos expostos por Jefferson nesse
período acerca do caráter antidemocrático do controle normativo da constitucionalidade
seriam basicamente os mesmos que invocariam, no futuro, todos aqueles que se oporiam à
jurisdição constitucional, como Alexander Bikel8.
Mas essas contrariedades e limitações não foram capazes de evitar, a longo termo, a
sedimentação do judiciarismo e sua propagação pelo restante do continente. Ele resistiria às
7
“Nossas constituições declaram com razão que os três poderes, o legislativo, o executivo e o judiciário, devem
ser separados e distintos e absolutamente independentes um do outro, mas elas não indicam a maneira de por fim
às diferenças que poderiam nascer entre eles... Admitindo-se o estabelecimento desses seis (anciãos), essas
diferenças poderiam ser julgadas por eles” (MAZZEI, 1798:376).
8
“O puro republicanismo (...) somente pode ser mensurado pelo completo controle do povo sobre seus órgãos de
governo. A pedra de toque da constitucionalidade deve ser, portanto, um apelo ao povo. Cada órgão do governo
deve ter 'um igual direito de decidir por si mesmo qual é o significado da constituição nos casos submetidos à
sua ação'. A revisão judicial era 'efetivamente uma doutrina muito perigosa' e incompatível com uma autêntica
leitura da constituição, que havia 'sabiamente feito todos os órgãos co-iguais e co-soberanos entre eles” (VILE,
1998:181).
29
Fontes primárias:
9
Embora empregue imprecisamente o conceito de “política” em seus textos, no que se refere à natureza da
dimensão judicial (a carga é empregada no sentido negativo, como sinônimo de “discricionariedade”, mas numa
chave positiva, quando “domada” pelos princípios), o fato é que Dworkin aqui faz uma habilidosa defesa da
decisão judicial como devendo ser simultaneamente política, mas não-discricionária. Ele sustenta a necessidade
de se superar a hermenêutica positivista, cujas tentativas de recuperar a intenção histórica do legislador mal
ocultariam a dimensão política da decisão judicial sob a capa da aparente neutralidade do julgador.
Reivindicando assim a assunção, pelo juiz, de um papel abertamente político, Dworkin evita, entretanto, recair
no puro realismo jurídico esposado nesta matéria pelo próprio Kelsen, para quem, nos casos difíceis, o juiz fica
livre para decidir conforme suas preferências pessoais. Para o jurista austríaco, a crença em valores universais de
justiça traduziria uma nostalgia do direito natural, perfeita “ilusão da justiça” (KELSEN, 2000). Para Dworkin,
porém, é perfeitamente possível decidir de forma política e não-discricionária, a partir do momento em que o juiz
deve recorrer aos princípios políticos que caracterizam a ordem liberal democrática em que se insere o
ordenamento jurídico. Naturalmente, Dworkin não tem qualquer comprometimento com teorias puramente
jurídicas, propondo abertamente a integração da atividade jurisdicional à ordem política liberal e democrática.
Assim, à pergunta sobre a possibilidade de haver uma única resposta certa para os casos controversos, ele
responde afirmativamente, negando a discricionariedade do julgador. A decisão judicial é assim
simultaneamente política e não-discricionária (DWORKIN, 2001). Seja como for, Dworkin está no terreno do
wishful thinking ao propor que a decisão judicial siga os parâmetros por ele propostos, exatamente porque os
julgadores, na prática, tendem a agir de modo discricionário.
30
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