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010, de 10
de junho de 2020 - RJET): Análise dos Novos Artigos
Sumário
1. Introdução
2. Reuniões em Pessoas Jurídicas de Direito Privado (art. 4º)
3. Revisão e resolução contratual em razão da pandemia (arts. 6º e 7º) e Locação
predial urbana (art. 9º)
3.1. Caso Fortuito e retroatividade (art. 6º)
3.2. Imprevisibilidade (art. 7º)
3.3. Contrato de Locação de Imóveis Urbanos (art. 9º)
1. Introdução
Na ocasião, deixamos de tratar dos artigos que haviam sido vetados pelo
Presidente da República para aguardarmos se o Congresso Nacional rejeitaria ou não
os respectivos vetos.
1
STOLZE, Pablo; OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Comentários à Lei da Pandemia (Lei nº 14.010, de 10 de
junho de 2020 – RJET). Disponível em: https://jus.com.br/artigos/46412/comentarios-a-lei-da-pandemia-lei-n-14-010-
de-10-de-junho-de-2020-rjet. Publicado em junho de 2020.
E o Congresso Nacional o fez parcialmente2. Derrubou o veto presidencial aos
arts. 4º, 6º e 7º (caput e §§ 1º e 2º) e ao caput do art. 9º da referida Lei3.
TEXTO DO DISPOSITIVO
Art. 4º As pessoas jurídicas de direito privado referidas nos incisos I a III do art. 44
do Código Civil deverão observar as restrições à realização de reuniões e assembleias
presenciais até 30 de outubro de 2020, durante a vigência desta Lei, observadas as
determinações sanitárias das autoridades locais.
2
Não se pode deixar de aplaudir aqui a Rede de Direito Civil Contemporâneo na pessoa do Professor Otávio Luiz
Rodrigues Júnior, que, com abnegação, esteve presente insistentemente no Parlamento esclarecendo a relevância desse
diploma para a comunidade jurídica. No mesmo sentido, o Instituto Brasileiro de Direito Contratual (IBDCont) se
posicionou contra o veto presidencial por meio de Nota Técnica, de 12 de junho de 2020, subscrita pelos professores
Flávio Tartuce, Angélica Carlini, Eroulths Cortiano Júnior, José Fernando Simão, Marília Pedroso Xavier e Maurício
Bunazar.
3
O veto ao parágrafo único do art. 9º da Lei da Pandemia foi mantido.
4
No canal “Direito Civil Brasileiro” no YouTube (sob a Coordenação do Professor Rodrigo Toscano), estão disponíveis
os vídeos dos oito painéis Ciclo de Palestras “A Lei 14.010 (RJET) comentada artigo por artigo” com a participação de
grandes juristas que trataram de todos os dispositivos da Lei da Pandemia (inclusive os que haviam sido vetados).
Recomendamos ao amigo leitor visitar esse canal (Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=djSqK-uSQpU).
5
Colhemos ainda o ensejo para agradecer ao professor e amigo Salomão Viana pela revisão do texto.
6
OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de Oliveira. Lei da Liberdade Econômica: diretrizes interpretativas da nova Lei
e Análise detalhada das mudanças no Direito Civil e no Registros Públicos. Disponível em:
http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados/. Elaborado em 21 de setembro de 2019.
O dispositivo em pauta engrossa a lista dos exemplos de leis de natureza
declaratória. Ele apenas positiva o que a comunidade jurídica majoritariamente já
entendia, ou seja, que as determinações locais de restrições de circulação ou de
aglomeração presencial de pessoas também coíbem a realização de assembleias e
reuniões de pessoas jurídicas.
Se, todavia, inexistirem restrições por lei, decreto ou ato administrativo local,
emanado da autoridade competente, nada impedirá a realização de conclaves
presenciais das pessoas jurídicas.
Diante disso, indaga-se: por que o legislador não listou todas as pessoas
jurídicas no art. 4º da Lei da Pandemia?
A ausência da EIRELI (art. 44, VI, CC) é compreensível, por se tratar de ente
unipessoal. Mas e as demais pessoas?
Outra tentação a que está exposto o leitor ao ler o dúbio texto do art. 4º da Lei
da Pandemia é a de entender que, como o referido dispositivo limitou a observância
das normas locais de restrição de aglomeração de pessoa até 30 de outubro de 2020,
as pessoas jurídicas teriam salvo-conduto para desrespeitar as normas locais após
essa data.
Ledo engano!
30 DE OUTUBRO ou 31 DE DEZEMBRO?
7
A propósito, a professora Karina Fritz, na sua rica coluna “German Report”, noticiou que, na Alemanha, o Tribunal
Constitucional garantiu o direito de manifestação mesmo em tempo de pandemia (FRITZ, Karina. Tribunal
Constitucional alemão garante direito de manifestação mesmo em tempos de coronavírus. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/coluna/german-report/325145/tribunal-constitucional-alemao-garante-direito-de-
manifestacao-mesmo-em-tempos-de-coronavirus. Publicado em: 22 de abril de 2020).
O caput do art. 7º da Lei nº 14.030/20208 guarda aparente antinomia com o
art. 4º da Lei da Pandemia. Aquele fixa 31 de dezembro de 2020 como marco final
para as restrições à realização de reuniões e de assembleias presenciais, ao passo
que este último elege a data de 30 de outubro de 2020.
Fique claro que não houve revogação do parágrafo único do art. 7º da Lei nº
Lei nº 14.030/2020, que prorroga, por sete meses, os prazos de assembleias e de
mandatos de dirigentes de associações, fundações e de sociedades (que não sejam
limitadas, anônimas ou cooperativas 9 ), além de ratificar a autorização de
virtualização das assembleias na forma do art. 5º da Lei da Pandemia.
8
Art. 7º As associações, as fundações e as demais sociedades não abrangidas pelo disposto nos arts. 1º, 4º e 5º desta Lei
deverão observar as restrições à realização de reuniões e de assembleias presenciais até 31 de dezembro de 2020,
observadas as determinações sanitárias das autoridades locais.
Parágrafo único. Aplicam-se às pessoas jurídicas de direito privado mencionadas no caput deste artigo:
I – a extensão, em até 7 (sete) meses, dos prazos para realização de assembleia geral e de duração do mandato de
dirigentes, no que couber;
II – o disposto no art. 5º da Lei nº 14.010, de 10 de junho de 2020.
9
Para sociedades anônimas, limitadas e cooperativas, a prorrogação de prazos de assembleias e de mandatos foi
disciplinada pelos arts. 1º ao 6º da Lei nº 14.030/2020.
10
STOLZE, Pablo; OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Comentários à Lei da Pandemia (Lei nº 14.010, de 10 de
junho de 2020 – RJET). Disponível em: https://jus.com.br/artigos/46412/comentarios-a-lei-da-pandemia-lei-n-14-010-
de-10-de-junho-de-2020-rjet. Publicado em junho de 2020.
a) o novo art. 43-A da Lei do Cooperativismo (Lei nº 5.764/1971);
TEXTO DO DISPOSITIVO
ALCANCE DA NORMA
Podemos citar exemplos baseados em casos concretos: (1) muitas lojas ficaram
proibidas de funcionar por medidas de isolamento e de quarentena, e, assim, ficaram
sem chance de obter faturamento para pagar o aluguel; (2) vários profissionais
autônomos ficaram sem cliente algum durante o período de isolamento e de
quarentena e, assim, ficaram sem dinheiro para pagar aluguel; (3) empresários que
haviam se comprometido a pagar uma dívida não conseguiram honrar seu
compromisso por haverem sido surpreendidos pela crise econômica causada pela
pandemia etc.
Esse cenário excepcional gerou, para usar as palavras do art. 6º da Lei do RJET,
várias “consequências decorrentes da pandemia do Coronavírus (Covid-19) na
execução dos contratos”.
(2) desequilíbrio da base contratual, com onerosidade para uma das partes,
conduzindo à resolução ou à revisão contratual (aplicação da teoria da
imprevisão – art. 317 e arts. 478 a 480, CC - ou a aplicação da teoria da
onerosidade excessiva – art. 6º, V, do CDC)11;
11
Leia-se, ainda, a respeito da “frustração do fim do contrato”: Professor Giovanni Nanni: NANNI, Giovanni Ettore.
Frustração do fim do contrato: análise de seu perfil conceitual. In: Revista Brasileira de Direito Civil - RBDCivil, Belo
Horizonte, v. 23, jan./mar. 2020, pp. 39-56 (Disponível em:
https://rbdcivil.ibdcivil.org.br/rbdc/article/download/437/344).
Quanto à primeira consequência, a depender do tipo de contrato12, justifica-se
a dissolução contratual, sem imputação de responsabilidade civil13 (art. 393, caput,
do CC). É o caso do contrato firmado com agência de turismo, cujo objeto era a
venda de pacote de lua-de-mel em abril ou maio de 2020, em plena “janela
pandêmica”.
12
Vários contratos não sofreram impactos com a pandemia, como o contrato de serviço de internet (que aumentou seu
faturamento com as medidas de quarentena e de isolamento decorrentes de pandemia). Nesses casos, não há falar em caso
fortuito ou força maior, conceitos que dependem da vinculação com o caso concreto. O professor Salomão Resedá faz
oportuna exortação contra a banalização do conceito de força maior neste artigo: RESEDÁ, Salomão. Todos querem
apertar o botão vermelho do art. 393 do Código Civil para se ejetar do contrato em razão da covid-19, mas a
pergunta que se faz é: todos possuem esse direito? Disponível em https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-
contratuais/323958/todos-querem-apertar-o-botao-vermelho-do-art-393-do-codigo-civil-para-se-ejetar-do-contrato-em-
razao-da-covid-19-mas-a-pergunta-que-se-faz-e-todos-possuem-esse-direito. Publicado em 8 de abril de 2020.
13
Sobre isso, chamamos a atenção para este artigo do Professor Marcelo Matos Amaro da Silveira: SILVEIRA, Marcelo
Matos Amaro da. Encargos moratórios, coronavírus e a boa-fé objetiva. Disponível em:
https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/823561131/encargos-moratorios-coronavirus-e-a-boa-fe-objetiva.
Elaborado em 22 de março de 2020.
14
Muitos artigos tratam das várias alternativas jurídicas para sustentar a revisão ou a resolução contratual, como estes:
(1) OLIVEIRA, Carlos E. Elias de. O coronavírus, a quebra antecipada não culposa de contratos e a revisão
contratual: o teste da vontade presumível. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/321885/o-
coronavirus-a-quebra-antecipada-nao-culposa-de-contratos-e-a-revisao-contratual-o-teste-da-vontade-presumivel.
Acesso em 17 de março de 2020; (2) TARTUCE, Flávio. O coronavírus e os contratos - Extinção, revisão e
conservação - Boa-fé, bom senso e solidariedade. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-
contratuais/322919/o-coronavirus-e-os-contratos-extincao-revisao-e-conservacao-boa-fe-bom-senso-e-solidariedade.
Acesso em 27 de março de 2020; (3) SIMÃO, José Fernando. "O contrato nos tempos da covid-19". Esqueçam a força
maior e pensem na base do negócio. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-
contratuais/323599/o-contrato-nos-tempos-da-covid-19--esquecam-a-forca-maior-e-pensem-na-base-do-negocio
.Acesso em 7 de abril de 2020; (4) SIMÃO, José Fernando. Pandemia e locação – algumas reflexões necessárias após
a concessão de liminares pelo Poder Judiciário. Um diálogo necessário com Aline de Miranda Valverde Terra e
Fabio Azevedo. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratuais/325272/pandemia-e-
locacao-algumas-reflexoes-necessarias-apos-a-concessao-de-liminares-pelo-poder-judiciario-um-dialogo-necessario-
com-aline-de-miranda-valverde-terra-e-fabio-azevedo. Acesso em 24 de abril de 2020; (5) FROTA, Pablo Malheiros da
Cunha; BARROSO, Ramiro Freitas de Alencar. Impactos nos compromissos de compra e venda em incorporação
imobiliária. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mar-24/opiniao-impactos-compromissos-compra-venda-
imobiliaria. Acesso em: 24 de março de 2020; (6) SCHREIBER, Anderson. Devagar com o andor: coronavírus e
contratos - Importância da boa-fé e do dever de renegociar antes de cogitar de qualquer medida terminativa ou
revisional. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratuais/322357/devagar-com-o-andor-
coronavirus-e-contratos-importancia-da-boa-fe-e-do-dever-de-renegociar-antes-de-cogitar-de-qualquer-medida-
terminativa-ou-revisional. Acesso em 23 de março de 2020; (7) SOUZA, Eduardo Nunes de; SILVA, Rodrigo da Guia.
Resolução contratual nos tempos do novo coronavírus. Disponível em:
3.2. Imprevisibilidade (art. 7º)
TEXTO DO DISPOSITIVO
Art. 7º Não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos arts. 317,
478, 479 e 480 do Código Civil, o aumento da inflação, a variação cambial, a
desvalorização ou substituição do padrão monetário.
§ 1° As regras sobre revisão contratual previstas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro
de 1990 (Código de Defesa do Consumidor) e na Lei nº 8.245, de 18 de outubro de
1991, não se sujeitam ao disposto no caput deste artigo.
§ 2° Para os fins desta Lei, as normas de proteção ao consumidor não se aplicam às
relações contratuais subordinadas ao Código Civil, incluindo aquelas estabelecidas
exclusivamente entre empresas ou empresários.
ALCANCE DA NORMA
À semelhança do que já foi dito quanto ao art. 6º, o art. 7º - apesar de não ser
aplicável a contratos anteriores em virtude da vedação à retroatividade mínima
diante de ato jurídico perfeito - tem a importante finalidade de servir de guia
interpretativo de modo a evitar insegurança jurídica.
A derrubada do veto a esse dispositivo foi muito oportuna por deixar aos juristas
um vetor uniformizador na aplicação do Direito.
https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratuais/322574/resolucao-contratual-nos-tempos-do-novo-
coronavirus. Acesso em: 25 de março de 2020.
interpretação histórica, pois o parecer da Senadora Simone Tebet, durante o
processo legislativo da Lei do RJET no Senado, foi expresso nesse sentido ao justificar
o texto do art. 7º com estas palavras, in verbis15:
15
Parecer disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8085183&ts=1585934134399&disposition=inline. Acesso em 3 de abril de 2020.
1999 na crise cambial daquele ano, as partes iguais e paritárias
não poderão alegar que esses fatos eram imprevisíveis. A outra
mensagem é a de que, para consumidores e locatários, partes
vulneráveis, não será exigido esse requisito, o que protege como
maior eficiência esse segmento da sociedade. É nessa mesma
linha que o ministro Dias Toffoli já defendeu no texto “Revisão
contratual e boa-fé: confronto inevitável?”, publicado em Temas
atuais e polêmicos na Justiça Federal. Salvador: JusPODIVM,
2018, p. 189-203.
Ademais, o art. 7º não poderia ser aplicado para contratos anteriores em razão
da vedação à retroatividade (ainda que mínima) diante de atos jurídicos perfeitos.
Ele, no entanto, por ser a positivação de doutrina e jurisprudência majoritárias
anteriores, pode servir de guia interpretativo.
Cabe fazer uma advertência em contratos de locação predial urbana regida pela
Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), pois o § 1º do art. 7º da Lei do RJET ressalva
esses tipos de contratos. Há certa imprecisão redacional nesse dispositivo, o que
pode ser corrigida pela via da interpretação.
É que a Lei nº 8.245/91, que trata das locações de imóveis urbanos, não contém
regras específicas para revisão contratual por fatos supervenientes e imprevisíveis
que tornem manifestamente desproporcional a prestação. No regime jurídico
específico das locações de imóveis urbanos, a revisão contratual se funda no próprio
CC (arts. 317, 478, 479 e 478 do CC).
A norma não inova, na medida em que salienta a aplicação do Código Civil para
relações civis e empresariais.
TEXTO DO DISPOSITIVO
Art. 9º Não se concederá liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de
despejo, a que se refere o art. 59, § 1º, incisos I, II, V, VII, VIII e IX, da Lei nº
8.245, de 18 de outubro de 1991, até 30 de outubro de 2020.
Talvez por isso, o art. 9º da Lei do RJET preferiu ser mais contido, proibindo a
tutela liminar em situação específica: o despejo concedido no início da ação sem
citação prévia da outra parte ("inaudita altera pars”) e com caução de três aluguéis,
em algumas hipóteses listadas no § 1º do art. 59 da Lei de Inquilinato.
16
Vide: (1) FRITZ, Karina. Alemanha aprova pacote de mudanças legislativas contra a crise do coronavírus.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/322781/alemanha-aprova-pacote-de-mudancas-legislativas-
contra-a-crise-do-coronavirus. Publicado em 26 de março de 2020; (2) BARBERS, Gregor. Changes in tenancy law as
a result of the Covid-19 pandemic. Disponível em: https://www.noerr.com/en/newsroom/news/changes-in-tenancy-
law-as-a-result-of-the-covid-19-pandemic. Publicado em 2 de abril de 2020.
17
Trata-se do Decreto nº 320/2020, do Presidente da Argentina (Disponível em:
https://www.boletinoficial.gob.ar/detalleAviso/primera/227247/20200329. Acesso em 14 de maio de 2020).
18
Disponível em: https://www1.nyc.gov/content/tenantprotection/pages/covid19-home-quarantine. Acesso em 8 de
junho de 2020.
19
Até 2 de junho de 2020, está proibido o despejo na Flórida, conforme Ordem Executiva 20-94 e a Ordem Executiva
20-121, do Governador da Flórida (Disponível em: https://www.flgov.com/wp-content/uploads/orders/2020/EO_20-
121.pdf e https://www.flgov.com/wp-content/uploads/orders/2020/EO_20-94.pdf.
20
Disponível em: http://www.legislation.gov.uk/ukpga/2020/7/contents. Acesso em 13 de abril de 2020.
a.2) acordo escrito com duas testemunhas, no qual tenha sido ajustado o
prazo mínimo de seis meses para desocupação, contado da assinatura do
instrumento (art. 59, § 1º, I);
b) por extinção do contrato de trabalho do inquilino, nos casos de locação
profissional, ou seja, de locação vinculada ao emprego do inquilino (59, §
1º, II);
c) por haver sublocatário no imóvel após a extinção do contrato de locação (art.
59, § 1º, V,);
d) pelo término do prazo notificatório previsto no parágrafo único do art. 40,
sem apresentação de nova garantia apta a manter a segurança inaugural do
contrato (art.59, VII);
e) pelo fim do prazo do contrato de locação comercial, com ação proposta nos
trinta dias seguintes ao fim desse prazo ou de notificação resilitória (art. 59,
VIII).
Afinal, o Judiciário precisa atentar para a opção construída pelo Legislativo, sob
pena de incorrer em indevido ativismo judicial. O legislador, na sua competência
constitucional dentro do arranjo democrático brasileiro, deu concreção aos valores
constitucionais, de modo que não é adequado que o juiz se afaste dessa opção
legislativa por mera preferência pessoal.
21
Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8081773&ts=1586188345382&disposition=inline.
22
Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-
getter/documento?dm=8088980&ts=1586188350305&disposition=inline.
no equilíbrio econômico-financeiro de tais ajustes.
(...)
O art. 10 merece ser suprimido por prever uma presunção
absoluta de que os inquilinos não terão condição de pagar os
aluguéis e por desconsiderar que há casos de locadores que
sobrevivem apenas dessas rendas. O ideal é deixar para as
negociações privadas esse assunto, com a lembrança de que o
ordenamento jurídico já dispõe de ferramentas para autorizar, a
depender do caso concreto, a revisão contratual, a exemplo dos
arts. 317 e 478 do Código Civil, ou de dispositivos específicos da
Lei do Inquilinato.
Ainda que assim não fosse, caso a Lei do RJET houvesse previsto uma moratória
geral ou um direito ao parcelamento, haveria forte obstáculo jurídico a que essa
disposição legal fosse aplicada a contratos de locações celebrados anteriormente à
entrada em vigor da lei emergencial. É que aí haveria uma norma de Direito Material,
que, como se sabe, não pode atingir nem mesmo efeitos futuros de ato jurídico
perfeito pretérito: é vedada a retroatividade mínima diante desse óbice
constitucional23.
E, nesse contexto, uma solução bem ponderável foi aventada pelos professores
Flávio Tartuce, José Fernando Simão e Maurício Bunazar, os quais, por meio de uma
sugestão de redação ao projeto de lei que gerou a Lei do RJET 24 , cogitaram a
possibilidade de aplicar, por analogia, em favor do inquilino, o direito previsto no art.
916 do Código de Processo Civil (CPC).
23
A propósito da retroatividade mínima diante de atos jurídicos perfeito, reportamo-nos a este artigo: OLIVEIRA, Carlos
Eduardo Elias de Oliveira. Retroatividade das leis: a situação das leis emergenciais em tempos de pandemia.
Disponível em: http://www.flaviotartuce.adv.br/artigos_convidados. Elaborado em 17 de junho de 2020.
24
TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando; BUNAZAR, Maurício. Da necessidade de uma norma emergencial
sobre locação imobiliária em tempos de pandemia. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-
contratuais/326483/da-necessidade-de-uma-norma-emergencial-sobre-locacao-imobiliaria-em-tempos-de-pandemia.
Acesso em 11 de maio de 2020.
ao inquilino que foi atingido pelos transtornos econômicos causados pela pandemia
um alívio razoável para honrar a sua dívida.
Imprimiu-se, com isso, por via oblíqua, maior alcance temporal à norma
constante no art. 9º da Lei do RJET.
Fonte da Publicação: