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207.2
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada
pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na
jurisprudência dos Tribunais.
Sumário
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR (CONTINUAÇÃO) ....................................... 2
1.1 CRIME MILITAR ................................................................................................. 2
1.1.1 CRIMES EM TEMPO DE PAZ ......................................................................... 2
1.1.2 CRIMES EM TEMPO DE GUERRA................................................................ 16
1.2 CAUSA DE AUMENTO DE PENA ...................................................................... 18
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Direito Penal Militar
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I - os crimes de que trata este Código (CRITÉRIO “RATIONAE LEGIS”), quando definidos
de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente,
salvo disposição especial;
Se houver um delito previsto no Código Penal Militar (ratione legis), mas o tipo penal
for também definido de modo diverso na lei penal comum, o Código está se
referindo aos crimes propriamente ou aos impropriamente militares? Crimes
impropriamente militares. Na verdade, está se reconhecendo a existência de crimes
impropriamente militares.
Se o crime estiver definido na lei militar, trata-se de crime militar (ratione legis), mas
pode ser que o crime seja definido de modo diverso na lei penal comum, como o crime de
estupro. Por exemplo, o Código Penal elenca como crime o estupro, que hoje condensa o
antigo atentado violento ao pudor (artigo 213 CP) e o ato libidinoso. O Código Penal Militar,
que não passou pela reforma da lei 12.015/09, não foi alcançado por esta lei, continuando a
prever o estupro e o atentado violento ao pudor de forma separada.
Em suma, isso significa que os crimes definidos no Código Penal Militar através do
critério ratione legis, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, são
reconhecidos como crimes impropriamente militares.
“(...) ou nela não previstos, (...)” Lado outro, se o crime estiver previsto no Código
Penal Militar e não estiverem previstos na lei penal comum, trata-se de crimes propriamente
militares.
Como já estudado, o artigo 9º não se preocupa em conceituar, mas em identificar e
reconhecer a existência dos crimes propriamente militares.
O crime propriamente militar conta com três elementos essenciais:
O bem jurídico é exclusivo da vida militar;
O sujeito ativo só pode ser militar da ativa;
Só encontra previsão no Código Penal Militar.
Portanto, no inciso I do artigo 9º se encontra a base legal para reconhecer os crimes
propriamente militares.
“(...) qualquer que seja o agente (...)” O crime é tratado no Código Penal Militar,
mas quem pratica é qualquer pessoa. Reconhece-se o crime impropriamente militar, que é
definido tanto no Código Penal Militar quanto na lei penal comum. Qualquer pessoa pode
cometer um crime impropriamente militar, até mesmo o civil.
“(...) salvo disposição especial (...)” Salvo os crimes propriamente militares, em
que somente determinadas pessoas podem ser autoras.
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Assim, o artigo 9º, I, do Código Penal Militar, nada mais faz do que reconhecer os
crimes própria e impropriamente militares.
II - os crimes previstos neste Código (RATIONE LEGIS), embora também o sejam com
igual definição na lei penal comum, quando praticados:
Crime impropriamente militar praticado por militar da ativa contra outro militar da
ativa. Pela letra fria da lei, não há necessidade de que o autor saiba da condição de militar da
vitima, nem que os envolvidos estejam em situação de serviço, tampouco em lugar sujeito à
administração militar. Exemplo: em uma briga, um cabo dá um tiro em um sargento, sem
que um saiba da condição de militar do outro; pela letra fria da lei, trata-se de crime militar.
O STM entende que militar ostenta esta condição o tempo todo, 24 horas por dia, e a
doutrina confirma este entendimento. No exemplo dado, somente o fato de os dois serem
militares já é suficiente para caracterizar o crime impropriamente militar. Não é um crime
propriamente militar porque eles não precisam estar na função, basta que estejam na ativa.
Ocorre que a jurisprudência recente (STJ) tem mitigado o alcance da competência da
Justiça Militar.
O STF entendia da mesma forma que o STM. Todavia, no informativo n° 626 (HC
99541), começou a sinalizar uma mudança de entendimento, declarando a incompetência da
Justiça Militar para apreciar ação penal instaurada para apurar prática do crime de lesão
corporal grave (artigo 209, § 1º do CPM) cometido por um militar contra outro, sem que os
indivíduos conhecessem a condição funcional de cada um, além de não estarem
uniformizados. O STF começou a quebrar seu entendimento anterior.
O professor ressalta que a lógica é interessante, mas este entendimento não reflete a
mens legis.
Neste HC, o STF entendeu que a competência da Justiça Militar, conquanto
excepcional, não poderia ser fixada apenas à luz do critério subjetivo, mas também por
outros elementos que lhe justificassem a submissão, assim como a precípua análise da
existência de lesão ou não do bem jurídico tutelado. O STF exige que se agregue ratione
materiae ao critério ratione personae.
A lei exige somente a ratione legis + ratione personae. O STF acrescenta a ratione
materiae, interpretando de forma restritiva a definição. O informativo n° 655 (HC 110286)
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do STF corrobora este entendimento. Neste informativo, foi veiculada a seguinte conclusão:
compete à Justiça Comum processar e julgar crime praticado por militar contra militar
quando ambos estiverem em período de folga.
Isto pode ser uma boa tese de defesa em provas da DPU, pois seria possível pedir a
nulidade do processo que tramitou na Justiça Militar por ser de competência da Justiça
Comum, o que facilitaria a ocorrência da prescrição e decadência.
No HC 103.812 (informativo 655 STF), o caso envolveu um militar e uma militar que
eram casados. Com o fim do relacionamento ela passou a receber uma pensão militar e
encomendou a morte do ex-marido com o intuito de receber o seguro a que tem direito e
ficar com a pensão por morte. Ela foi processada na Justiça Militar, mas o STF entendeu que
a competência seria do Tribunal do Júri. Nenhum deles estava em serviço e nenhum deles
estava em local sujeito à administração militar, sendo certo que o móvel do crime foi a
falência do casamento de ambos, bem como o intuito dela de substituir a pensão alimentícia
cessada judicialmente por pensão por morte e de obter a indenização do seguro de vida, o
que é suficiente para afastar a incidência do artigo 9º, II, a, do CPM.
Em 2014, no HC 120.671, o STF julgou um caso ocorrido na noite de natal: o crime de
lesão corporal ocorreu por ocasião de uma confraternização familiar natalina, sem qualquer
vínculo com a administração militar e sem o intuito de contrapor-se a quaisquer de suas
específicas finalidades, impondo-se declarar a incompetência da justiça castrense.
O STM mantém a posição tradicional: o militar ostenta a condição de militar todo o
tempo. Independente do local e do conhecimento da condição de militar de um em relação
a outro, o crime seria militar e da competência da Justiça Militar.
Em outros casos, mesmo sabendo que o sujeito é militar, mas estando fora de local
sujeito à administração militar, em situação comum não ligada à vida militar, o STF tem
considerado o crime comum.
Esta é, portanto, a divergência jurisprudencial quanto ao tema.
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado,
ou civil;
Crime impropriamente militar (ratione legis), com definição idêntica no Código Penal
Comum, mas que só pode ser praticado por militar da ativa (ratione personae) contra
alguém que não ostente essa condição (militar da reserva, reformado ou civil), em lugar
sujeito à administração militar (ratione loci).
A vila militar é o local sujeito à administração militar, como a vila residencial do
exército. Imagine que o crime foi praticado por militar em vila militar. O militar agrediu o
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filho de outro militar durante um jogo de futebol. O crime é praticado por militar da ativa
contra um civil em local sujeito à administração militar. O crime não exige que o militar
esteja em serviço, bastando que ocorra em lugar sujeito à administração militar.
De acordo com a doutrina, lugar sujeito à administração militar é aquele que
pertence ao patrimônio das instituições militares. Não é só um quartel, mas também pode
englobar uma vila militar, o Museu da Marinha, etc.
O STF (no HC 113177) entendeu que a prática de crime de estelionato por militar
contra civil em lugar sujeito à administração castrense, e com emprego de nota de empenho
falsa em nome da marinha caracteriza conduta apta a causar dano, ainda que indireto, à
credibilidade das Forças Armadas, atraindo a competência da Justiça Militar.
A casa Abrigo do Marinheiro não é uma instituição militar, mas civil, é uma
associação de natureza civil. Os associados são militares e lá há atividades recreativas,
educativas, etc. Houve um caso em que o Abrigo do Marinheiro contava com instalações
disponibilizadas pela Marinha do Brasil. Um sargento ministrava aula de artes marciais e se
aproveitava desta condição para abusar sexualmente de menores. O STF (HC 95471/2012)
entendeu que, apesar de a Marinha ceder espaço (terreno), como a Casa Abrigo do
Marinheiro é uma associação civil de direito privado e a conduta do militar se deu no
exercício de atividade estranha à função militar, não há como cogitar ser o crime militar. O
STF afastou a definição de crime militar e a competência da Justiça Militar.
O crime cometido dentro de uma casa em uma vila militar praticado por militar da
ativa é crime militar?
Não, eis que a casa é asilo inviolável à luz da Constituição. Em seu interior, o espaço é
privado.
Se o crime for praticado por militar contra militar dentro da casa em vila militar
(exemplo: marido militar agride esposa militar), a hipótese é da alínea anterior, caindo na
divergência jurisprudencial entre o STM e o STF. Para o STM trata-se de competência da
Justiça Militar. O STF mitiga este entendimento e entende ser de competência da Justiça
Comum.
Deveria ser aplicada a Lei Maria da Penha, mas na esfera militar não se pode misturar
os sistemas, já que não há possibilidade de hibridismo penal. A legislação especial não pode
ser misturada com a legislação militar. Prevalece a especialidade da lei militar.
Mas se a mulher é civil e o marido é militar, ou vice versa, aí sim se trata de violência
doméstica. Se contra a mulher, aplica-se a lei Maria da Penha, ainda que o crime tenha se
dado dentro da casa em vila militar.
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A lei 4.898/65, no artigo 5º1, define autoridade como sendo quem exerce cargo,
emprego ou função pública civil ou militar. Assim, quem abusa do poder pode ser militar
também.
Militar que abusa do poder contra civil responde por crime comum. Por outro lado,
abuso de poder de militar contra militar é crime militar.
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra
militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
Crime impropriamente militar (ratione legis), praticado por militar da ativa (ratione
personae) em situação de serviço, ou seja, exercendo função de natureza militar (ratione
materiae), contra alguém que não ostente essa condição (militar da reserva, reformado ou
civil), em qualquer lugar (ainda que fora do lugar sujeito à administração militar).
Pela letra “a” e “b”, bastava que fosse militar da ativa, mesmo que não estivesse em
serviço. Na letra “c”, trata-se de militar em serviço ou atuando em razão da função. É a
primeira vez que ratione materiae aparece.
Há um interesse militar, já que o sujeito está agindo em razão da função. Encontra-se
muito nestes casos a GLO (garantia da lei e da ordem).
A Lei Complementar 97/99 define os casos em que os militares atuarão na garantia
da lei e da ordem. O STF tem afirmando que a atividade de GLO, ainda que não seja uma
atividade de treinamento militar, é uma atividade militar (artigo 1422 CF88) para efeito de
definição dos crimes militares.
1
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função
pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.
2
Art. 142 CF88. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
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3 o
§ 7 A atuação do militar nos casos previstos nos arts. 13, 14, 15, 16-A, nos incisos IV e V do art. 17,
no inciso III do art. 17-A, nos incisos VI e VII do art. 18, nas atividades de defesa civil a que se refere o art. 16
o
desta Lei Complementar e no inciso XIV do art. 23 da Lei n 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), é
considerada atividade militar para os fins do art. 124 da Constituição Federal. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 136, de 2010).
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Quando o militar não está em atividade, ele comete crime comum. Por exemplo, se
os militares abandonarem o posto, eles cometem o crime do artigo 1954 do CPM (abandono
de posto). Ao escoltar os civis e entregar aos traficantes, eles estão contribuindo para o
homicídio, que é um crime comum. Vide a súmula 90 do STJ:
Súmula 90 STJ. Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar
pela prática do crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo
àquele.
Isto porque o art. 795 do CPP, assim como o CPPM também determina a separação
obrigatória quando houver conexão entre crime militar e crime comum, ainda que os dois
tenham sido praticados por militar. Isso decorre da especialidade da esfera militar.
Se o militar abandonou o posto, escoltou os civis e os entregou aos traficantes, tal
atividade não consiste em missão militar.
Todavia, se durante a escolta eles tivessem feito a prisão dos rapazes e estivessem
transportando-os para apresentá-los à autoridade competente, e neste momento os
matassem, neste caso o crime seria militar, por estarem na missão de levar os presos à
autoridade na garantia da lei e da ordem. Isso se aplica para militares das Forças Armadas;
se fossem policiais militares, o art. 9º, II, “a”, faz a ressalva que se trata de crime do Júri, de
competência comum.
Houve um caso em que pilotos da FAB transportavam cocaína no avião durante
missões. A missão não envolve o transporte de cocaína, o que caracteriza a conduta como
tráfico (na época estava em vigência a lei 6.368/76). Tais pilotos responderam perante a
Justiça Federal, embora usassem a aeronave militar.
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
Crime impropriamente militar (ratione legis), praticado por militar da ativa (ratione
personae) contra alguém que não ostente essa condição (militar da reserva, reformado ou
civil), em período de manobras ou exercício (ratione temporis).
Distingue-se da hipótese anterior na medida em que traz o critério ratione temporis.
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Art. 195 CPM. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha sido
designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
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Nessa última hipótese, para configurar-se o crime militar é necessário que o militar
da ativa cause lesão ao patrimônio ou à ordem administrativa militar. Muda-se o foco, a
vítima passa a ser a administração militar. O sujeito ativo continua sendo o militar da ativa.
Exemplo: peculato e peculato furto.
f) revogada. (Vide Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
Convém salientar que a lei n° 9.299/96 revogou a alínea “f” do inciso II do artigo 9º
do CPM, que considerava militar o crime praticado “por militar em situação de atividade ou
assemelhado que, embora não estando em serviço, use armamento de propriedade militar
ou qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração militar, para a prática
de ato ilegal”. Hoje isso é crime comum.
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:
O sujeito ativo é qualquer pessoa que não seja militar propriamente dito: militar da
reserva, reformado ou civil. O sujeito ativo são os não militares da ativa. O crime é praticado
contra as instituições militares.
Militares dos Estados (policial e bombeiro militares) entram no conceito do inciso III?
Observação: O inciso III só se aplica à JMU, porque a JME não julga não militares dos
Estados (artigo 125, § 4º, CF886). Da mesma forma, os militares federais (das Forças
Armadas) não são julgados pela JME. A competência da JME é ratione materiae e ratione
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§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes
militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do
júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
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personae. Se um cabo do exercito agride um cabo da Polícia Militar, ele não pode ser julgado
pela JME, porque ela não julga que não é militar do Estado. A princípio, ele não poderá ser
julgado pela JMU, porque há uma orientação no STF de que os militares dos Estados não são
militares propriamente ditos para efeito da fixação de competência da JMU, seriam “civis”.
Neste caso, só será crime militar se se enquadrar no inciso II do artigo 9º.
Exemplo: cabo da Marinha em missão de natureza militar, agride um polícia militar.
Segundo o STF, para efeito de competência da JMU, o policial militar é um civil. Como o
crime foi cometido em missão militar contra um civil, o caso será enquadrado no inciso II.
O STM discorda do STF, entendendo que os militares dos Estados são militares
propriamente ditos. O STM, interpretando o artigo 427 da CF88, entende que seria crime de
militar contra militar, de maneira que se um cabo da Marinha agride um cabo da Polícia
Militar o crime será de competência da JMU.
Imagine que um cabo da PM cometa um crime contra a instituição militar federal.
Para o STF, ele é um civil. Para o STM, militar.
Na esfera estadual não há este problema, uma vez que a JME só julga os militares dos
Estados. O problema está na esfera federal.
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
Ratione materiae. A letra “e” do inciso II é a letra “a” do inciso III. O sujeito ativo é o
não militar da ativa.
Exemplo: falsificação de carteira de inscrição e registro (carteira de arrais amador).
Civil falsifica carteira de arrais amador, documento que é emitido pela Marinha do Brasil.
Este crime é militar ou comum? Há divergência:
7
Art. 42 CF88. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser
fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual
específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
respectivos governadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for
fixado em lei específica do respectivo ente estatal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41,
19.12.2003)
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STM Crime militar, por ser crime contra a ordem administrativa militar. O civil que
falsifica um documento militar pratica crime militar, sendo julgado pela JMU.
STF Crime é comum de competência da Justiça Federal. O documento é de um
órgão federal, mas, quando falsificado, o objetivo do agente não é atingir a instituição
militar. Na verdade, ele está somente falsificando um documento público federal, o que não
atinge a prontidão e a operação militar. É como se a Marinha estivesse funcionando como
órgão administrativo na expedição do documento e fiscalização da atividade.
Súmula vinculante nº 36
Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de
falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta
de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que
expedidas pela Marinha do Brasil.
Imagine o seguinte caso: Uma senhora é pensionista militar por ser viúva de militar.
Com o falecimento da senhora, o filho não comunica o óbito da mãe e passa a receber a
pensão, ficando alguns meses recebendo a quantia. Trata-se de crime comum ou militar? Há
polêmica.
Prevalece na jurisprudência que se trata de crime militar, por atingir patrimônio sob a
administração militar, sendo isto suficiente para caracterizar o crime militar.
Há, todavia, quem em entenda que seria crime de estelionato comum de
competência da Justiça Comum Federal, porque estes recursos não são da instituição militar,
mas sim da União, que pagam os pensionistas.
b) em lugar sujeito à administração militar (RATIONE LOCI) contra militar em
situação de atividade (RATIONE MATERIAE) ou assemelhado, ou contra funcionário de
Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo
(RATIONE PERSONAE);
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A letra “c” e a “d” são a mesma coisa. Combinam-se três critérios: ratione personae,
materiae e temporis.
A letra “d” traz o militar em garantia da lei e da ordem, especificando esta atividade.
O crime praticado contra o militar nesta situação é crime militar (na esfera federal).
Exemplo: civil joga ovo podre no militar em momento de formatura.
Exemplo: viatura militar está se deslocando com uma tropa para realizar
determinada atividade quando um civil distraído avança um sinal vermelho, colidindo com a
viatura e causando a morte de dez militares. Os militares estavam em manobra, mas NÃO SE
TRATA DE CRIME MILITAR. Na visão do STF, deve haver o dolo de atingir a
operação/atividade militar.
Para o STF, “o cometimento do delito militar por agente civil em tempo de paz se dá
em caráter excepcional. Tal cometimento se traduz em ofensa àqueles bens jurídicos
tipicamente associados à função de natureza militar: defesa da Pátria, garantia dos poderes
constitucionais, da Lei e da ordem (artigo 142 da CF88)” (HC 86216/MG).
Dentro desta visão, somente quando há a intenção de atingir estas instituições é que
se configurará o crime militar. Num acidente de trânsito em que houve uma conduta
culposa, o crime será de trânsito, previsto no CTB, independentemente da vítima.
Assim, o crime praticado por civil na situação inscrita no artigo 9º, III, do CPM, por
regra, exige a demonstração do dolo de atingir, de qualquer modo, a Instituição Militar, no
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O parágrafo único trata do homicídio doloso praticado por militar contra civil.
Recentemente, a lei 12.432/11, acrescentou neste dispositivo uma ressalva quanto aos
crimes dolosos praticados por militar contra a vida de civil no contexto de ação militar
realizada na forma do artigo 303 da lei 7.565/86 (Código Brasileiro de Aeronáutica).
Trata-se da polêmica lei de abate. Os pilotos das Forças Armadas, no patrulhamento
do espaço aéreo, ao se depararem com aeronaves suspeitas, devem fazer uma advertência
determinando o pouso da aeronave; se a ordem for desrespeitada, o piloto tem autorização
para fazer o chamado tiro de destruição (alguns defendem a inconstitucionalidade da
medida por configurar pena de morte em tempos de paz, o que é vedado pela CF88).
Polêmicas à parte, o STF nunca declarou inconstitucional esta disposição.
Art. 303. Lei 7.565/86. A aeronave poderá ser detida por autoridades aeronáuticas,
fazendárias ou da Polícia Federal, nos seguintes casos:
I - se voar no espaço aéreo brasileiro com infração das convenções ou atos
internacionais, ou das autorizações para tal fim;
II - se, entrando no espaço aéreo brasileiro, desrespeitar a obrigatoriedade de pouso
em aeroporto internacional;
III - para exame dos certificados e outros documentos indispensáveis;
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IV - para verificação de sua carga no caso de restrição legal (artigo 21) ou de porte
proibido de equipamento (parágrafo único do artigo 21);
V - para averiguação de ilícito.
§ 1° A autoridade aeronáutica poderá empregar os meios que julgar necessários
para compelir a aeronave a efetuar o pouso no aeródromo que lhe for
indicado. (Regulamento)
§ 2° Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a aeronave será classificada como
hostil, ficando sujeita à medida de destruição, nos casos dos incisos do caput deste artigo e após
autorização do Presidente da República ou autoridade por ele delegada. (Incluído pela Lei nº
9.614, de 1998) (Regulamento) (Vide Decreto nº 8.265, de 2014)
§ 3° A autoridade mencionada no § 1° responderá por seus atos quando agir com excesso de
poder ou com espírito emulatório. (Renumerado do § 2° para § 3º com nova redação
pela Lei nº 9.614, de 1998) (Regulamento)
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jurisprudência dos Tribunais.
Em 2004 veio a EC 45, que resolveu este problema. O artigo 124 CF88 manteve a
mesma redação. Mas a EC 45 incluiu o § 4º do artigo 125:
Art. 125, § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos
Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais
e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
Compete a JME julgar os militares dos estados nos crimes militares definidos em lei,
ressalvada a competência do júri quando o crime é doloso contra a vida de civil. A EC 45
resolveu o problema, deixando claro que quanto a federal nada mudou. O militar das Forças
Armadas que comete crime doloso contra a vida de civil, estando em atividade, comete
crime militar.
A lei 12.432/11 causou certo tumulto ao criar nova ressalva, sendo possível
reascender a polêmica. Mas a EC 45 já resolveu o problema, a Constituição já definiu quem é
quem, e a ressalva foi feita somente para a JME.
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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada
pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na
jurisprudência dos Tribunais.
[...]
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso
Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas,
e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;
Existem também crimes em tempo de paz, que são propriamente militares, que,
quando praticados em tempo de guerra, serão crimes em tempo de guerra. São os crimes
propriamente militares previstos para o tempo de paz, agregando-se a circunstância
temporal: se praticados em tempo de guerra.
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei
penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a
eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a
segurança externa do País ou podem expô-la a perigo;
Trata-se dos crimes comuns (definidos na lei penal comum ou especial, embora não
previsto no Código Penal Militar) quando praticados nos seguintes contextos:
a) Em zona de efetivas operações militares.
b) Em território estrangeiro, militarmente ocupado.
A lei 9.613/98 (Lavagem de Capitais) traz crime comum, previsto em lei especial. Se o
crime de lavagem de capitais é praticado em zona de efetivas operações militares ou em
território estrangeiro militarmente ocupado, o crime será militar em tempo de guerra.
Este inciso é o que costuma cair em provas, por ser o menos óbvio.
O artigo 25 do Código Penal Militar define como crime praticado em presença do
inimigo aquele que ocorre em zona de efetivas operações militares ou na iminência ou em
situação de hostilidade.
Crime praticado em presença do inimigo
Art. 25 CPM. Diz-se crime praticado em presença do inimigo, quando o fato ocorre em
zona de efetivas operações militares, ou na iminência ou em situação de hostilidade.
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jurisprudência dos Tribunais.
O artigo 18 do CPM trata da incidência da lei penal militar nos crimes praticados em
prejuízo de país aliado (em guerra contra o inimigo do Brasil). A hostilidade não é contra o
Brasil diretamente, mas em prejuízo de país aliado. No caso do artigo 18, o crime é praticado
por brasileiro ou pessoa de qualquer nacionalidade em território nacional ou território
estrangeiro ocupado por força militar brasileira. Nesse caso aplica-se a lei penal militar.
Trata-se de situação excepcional também vinculada ao tempo de guerra. Mesmo que não se
tenha declarado guerra, o artigo 18 autoriza a aplicação da lei brasileira militar nestes casos.
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