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PÚBLICA
CONCEITO DE CRIMINOLOGIA
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RAMOS E ATRIBUIÇÕES DA
CRIMINOLOGIA
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Certas práticas, mais tarde consideradas delituosas, eram, por assim dizer,
a regra geral; todavia, algumas dessas práticas confundem-se em suas origens
com ações menos criminosas.
Tais práticas, nos diversos idiomas, em sua origem, revelam que não há
uma diferença nítida entre ação e crime, surgindo logo depois a ideia de pecado,
ou seja, desobediência aos deuses.
Todas as línguas convergem no sentido de nos apresentar a rapina e o
assassinato como a primeira fonte da propriedade, aliás, um dos aspectos do
darwinismo social como verá oportunamente.
Algumas práticas comuns entre os selvagens foram criminalizadas no curso
da civilização, como, por exemplo, o aborto. Em certas épocas, a escassez de
alimentos, as dificuldades de vida e outros fatores constituíram motivos, entre os
primitivos, para a prática do abortamento.
O aborto premeditado, desconhecido dos outros animais, foi comum entre
os selvagens, tanto nas primitivas tribos orientais, como na América, através de
expedientes rústicos, tais como, pancadas redobradas no ventre.
Contemporaneamente, algumas tribos aborígenes brasileiras conservam a
prática do aborto da forma acima referida (in Direitos Humanos na Amazônia,
publicação do Inst. dos Ad. Brasileiros, ps. 226 e 227, RJ,1997).
As mesmas causas do aborto tornaram frequente o infanticídio, entre os
primitivos; sacrificava-se aquele que vinha logo após o primogênito ou o
segundo, e de preferência as meninas, como ocorria na Austrália e na Melanésia.
Na Índia, do Ceilão ao Himalaia, infanticídio é consagrado pela religião.
No Japão e na China, segundo Marco Polo, o infanticídio era uma forma de
reduzir o crescimento populacional. Da mesma maneira, na América e na
África.
Em algumas tribos da África Meridional, após o infanticídio a criança era
utilizada como isca para pegar leões; em certas regiões da Austrália matavamse
as crianças e sua gordura era utilizada em anzóis, para as pescarias.
Na América, dentre os tasmaiano, pele-vermelha e esquimó, a morte da
mãe era motivo para o infanticídio, porque o costume queria que as crianças
fossem enterradas com ela.
Havia outras causas para o infanticídio entre os primitivos: os preconceitos,
por exemplo, como a aversão aos gêmeos, encarados como prova da
infidelidade da mulher, pois entendia-se que o homem só podia produzir um filho
de cada vez (Lombroso, O HOMEM CRIMINOSO, pgs. 30 e segs.)
Na África, quando as mulheres não podiam criar seus filhos, desesperadas
pela fome, jogavam-nos no rio.
O dever de assassinar os pais idosos, com mais de 70 anos, conservouse,
por transmissão hereditária, como um ato de piedade, mesmo sem necessidade,
e às vezes, por acreditar-se que as qualidades e virtudes do sacrificado se
transmitiriam aos descendentes.
Algumas vezes ocorriam sepultamentos em vida; as vítimas achavam o fato
natural e elas próprias pediam a morte, caminhando deliberadamente em direção
à cova onde deviam repousar em definitivo, ou deixadas em abandono.
A religião ensinava que se entrava na vida futura no mesmo estado em que
se estava para deixar a Terra. O hábito de matar os velhos e os doentes foi
praticado na Europa, Ásia, África e América.
Além do assassinato dos velhos e doentes, ocorriam homicídios de
crianças, mulheres e homens sadios, seja por motivos religiosos, seja por
instintos ferozes.
Às vezes, por ira, as disputas conjugais acabavam pelo assassinato da
mulher; o marido, após matá-la, comia o seu coração com um guisado de cabra.
As concepções lombrosianas, inspiradas na teoria de Darwin, sobre a
criminalidade dentre os animais:
Em síntese, no tocante à comparação entre o equivalente daquilo que se
considera crime, entre os homens, e certas ocorrências em relação às plantas,
Lombroso invocou as observações de Darwin e outros naturalistas:
As plantas insetívoras (que comem insetos), cometendo assim verdadeiros
assassinatos deles, atraindo-os por meio duma secreção viscosa, para em
seguida os devorar, como meio de se nutrir.
Outras plantas caçam os insetos à semelhança da maneira como os
pescadores preparam armadilhas para os peixes.
Essas práticas sobressaem com muito mais evidência em relação ao
mundo animal, na ânsia de nutrição, por meio do sacrifício das outras espécies,
e, algumas vezes, através do canibalismo, quando então o ser humano, assim
como outros animais, devoram os da mesma espécie, não só levados por fome,
como também por outras motivações, tais como a ira.
Por sua vez, Ferri distinguiu, só para o assassinato, várias motivações
entre os animais em geral.
Certos animais, por exemplo, da mesma espécie, vivem em comum, mas
os mais fortes devoram os mais fracos; isso é comum dentre os peixes.
É frequente não só o canibalismo dentre os animais, como o infanticídio e
o parricídio, desmentindo-se assim os devaneios sobre o amor maternal e filial
entre eles.
A fêmea do crocodilo, às vezes, come seus filhotes, que não sabem nadar.
As abelhas defendem furiosamente as colmeias, onde armazenam o mel,
produto do seu labor. Há roedores - a fêmea do rato, por exemplo - que devoram
seus filhotes, quando molestados. A fêmea do sagui, às vezes, come a cabeça
do filhote, ou esmaga-o contra uma árvore, quando cansada de carregá-lo.
Dentre os gatos, as lebres, os coelhos, alguns comem seus filhotes. O
canibalismo e o parricídio são encontrados dentre as raposas, cujos filhotes se
entredevoram, frequentemente, e às vezes devoram a própria mãe. Certa
perversidade, rebeldia e antipatia aparecem em animais com de formações
cranianas, determinando maus instintos e práticas criminosas. A velhice toma os
animais desconfiados, teimosos, perigosos, agressivos, por isso são expulsos
pelos companheiros e então, no isolamento, tomam-se mais perversos.
A fúria, a ira e a raiva são comuns em certos animais, que matam seus
semelhantes, sem nenhum motivo, violando os hábitos da maioria. Ocorrem
também delitos passionais, por paixões exacerbadas, sobre tudo pelo amor, pela
cobiça, pelo ódio. Dentre as aves e os pássaros, às vezes, o macho destrói o
próprio ninho, num acesso de fúria; aves domésticas atacam o ser humano.
Durante o cio, as fêmeas, dentre certos animais, tomam-se furiosas. Observou-
se que um casal de cegonhas fazia o ninho em um vilarejo; um dia, quando o
macho estava caçando, outro mais jovem veio cortejar a fêmea. Primeiro, ele foi
rejeitado, depois tolerado, finalmente acolhido. Posteriormente, os dois adúlteros
voaram uma manhã para o prado, onde o marido caçava rãs, e o mataram a
bicadas.
Entre as cegonhas, o macho leva muito a sério o amor conjugal; quando as
pessoas, por divertimento, colocam ovos de galinha em seu ninho, o macho, ao
ver aquele insólito produto, se enfurece e entrega a "esposa às outras cegonhas,
que a dilaceram”.
Têm sido observadas certas práticas, entre as formigas, semelhantes à
violência sexual, por parte dos machos adultos contra os menores, assim como
entre certas aves.
Algumas vacas substituem o touro junto às companheiras, da mesma forma
que entre algumas galinhas.
Ocorrem, também, práticas sexuais dentre animais de diferentes espécies,
à semelhança da bestialidade, em relação ao ser humano.
Às vezes, as cegonhas massacram os filhotes das companheiras, sob os
olhos de suas próprias mães; outras matam os membros do bando que no
momento da imigração se recusam ou não conseguem segui-las.
Dentre bois e cavalos selvagens é comum um macho enfurecer-se contra
o outro, para conseguir a supremacia sobre as fêmeas.
Há animais domésticos que têm o hábito de furtar objetos dos bolsos de
quem os acariciam.
Certos cães domésticos devoram aves ou carneiros, dissimulando e
apagando os vestígios de seu gesto.
As bebidas alcoólicas produzem nos animais sintomas semelhantes aos
que ocorrem com os homens: tomam-nos irritáveis, tontos e param de trabalhar,
passando sem escrúpulos, à pilhagem e ao latrocínio.
O consumo da carne, dentre os carnívoros, toma-os ferozes.
Embora sejam poucos os animais, dentre os gatos, cachorros, elefantes,
cavalos, que se mostram brigões, indomáveis, assassinos, isso, porém, tanto
quanto dentre os seres humanos, repugna aos demais.
A premeditação e a emboscada são comuns nas práticas criminosas
dentre os animais.
Os cinocéfalos (gênero de macacos de cabeça semelhante à do cão) são
perfeitos ladrões. Quando vão saquear uma plantação, colocam uma sentinela,
para que dê o alarme, no momento em que o homem se aproxima. Esta sentinela
deve ficar muito atenta, porque sabe que se falhar, seus companheiros lhe
infligirão a pena de morte (Lombroso, O Homem Criminoso, ps. 4 a 25).
É importante para uma ciência que tenha um objeto e um método, exame
de seu conteúdo histórico. Na filosofia grega concebia-se a infração contrário a
coisa pública, e o delinquente responsável por sua ação, deveria sofrer uma pena
como elemento pedagógico.
Na Idade Média, mais precisamente no começo do século XVII, a filosofia
e a teologia influenciavam o Direito Penal, havendo uma enorme confusão entre
delito e pecado, delinquente e pecador.
No Código de Hamurabi, no século XVI e XVII A.C., tínhamos já as
responsabilidades distintas entre delinquente rico e delinquente pobre.
Não existe condições exatas de fornecer algo sistematicamente pronto
antes do início da escola clássica, pois o que em realidade havia eram trabalhos
esparsos.
A expressão Criminologia teria sido usada pela primeira vez pelo
antropólogo francês Topinard, em 1883. Em 1885, Rafael Garofalo, apresenta
uma obra científica A Criminologia.
A base fundamental do pensamento iluminista foi a partir do
reconhecimento do estado natural. No estado natural, os homens gozam de igual
liberdade e se perdem pelo contrato social, que fazem ganhar sua liberdade civil
e a propriedade de tudo que possuem.
O delinquente que se coloca contra o contrato social é um traidor e,
portanto, é expungido do mesmo.
Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, é quem melhor coloca o
problema do delito e da pena. Adotam os iluministas posição crítica a respeito
das coisas existentes e também respeito ao Estado e sua estrutura.
A Escola Clássica considera a pena um mal que deva eliminar outro mal.
Para a Escola Carrariana, todos os homens são iguais, livres e racionais. Por tal
fato, a pena é eminentemente retribucionista, e seu fundamento está em ter o
homem conspurcado o social.
Nos positivistas, apesar de terem afrontado claramente os clássicos,
encontramos correntes utilitárias, além do racionalismo e do cientificismo.
Foi em 1876, aproximadamente um século após o livro de Beccaria, que
tivemos a primeira edição do Homem Criminoso, de Cesare Lombroso.
Tínhamos aí as ciências do homem e a contribuição das Origens das
espécies, 1859, de Darwin, e Descendentes do homem, 1871.
Foi Comte quem destacou a importância social da ciência, e com tal
significação, da sociedade social. Tudo isso implica a contradição de todo
pensamento iluminista, cujo alicerce é a metafísica.
EVOLUÇÃO DA CRIMINOLOGIA
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Renascimento e a Criminologia
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Este período evolutivo da Criminologia se confunde com o nome de escola
Francesa ou de Lyon, ou das teorias do meio ambiente. Estas teorias
compreendem todas as concepções sociais e ambientais que se levantaram
contra as concepções lombrosianas, as quais se centravam na ideia de que s
fatores endógenos, ou seja individuais, predominavam na conduta do indivíduo,
como decorrência do atavismo, resultando no criminoso-nato.
Para a Escola Francesa, ao contrário, eram os fatores exógenos, isto é,
ambientais, os mais importantes em relação à conduta do indivíduo,
levando-o ao crime, em determinadas circunstâncias.
Para essas teorias contribuíram as ideias de Augusto Comte(798-1857), os
estudos de Quetelet, Emílio Ducpétiot (1804-1868).
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Seja como for, acentua Enrico Ferri, nem os romanos, com sua
extraordinária intuição para os fenômenos jurídicos - intuição essa
consubstanciada no acervo notável que legaram à posteridade no campo do
Direito Civil-, nem os juristas da Idade Média lograram estruturar uma teoria
científica em matéria criminal, como sistema filosófico (La Sociologia Criminelle,
ps. 2 e 3).
Antropologia é a ciência do homem, como ser social e animal.
A Antropologia se divide em dois amplos campos de estudo: um se refere
à forma física do homem, o outro a seu comportamento aprendido.
Chamam-se, respectivamente, Antropologia Física e Antropologia
Cultural.
A Antropologia Criminal baseia-se nos princípios gerais da Antropologia,
Psicologia, Patologia, Psiquiatria, Biologia, Anatomia, Eugenia, Embriologia e
Biotipologia.
A Biologia Criminal é a ciência que trata dos seres vivos ou organismos,
suas origens, natureza e evolução.
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Criminolog%C3%ADa-y-Ciencias-Forenses-para-la-implementaci%C3%B3n-del-nuevo-sistema-dejusticia-
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Psicologia Criminal é o ramo da Psicologia que estuda as manifestações
psíquicas, através do estudo e da classificação dos processos psíquicos do
homem delinquente.
Psicanálise Criminal é o ramo da Psicanálise que se dedica ao estudo da
personalidade do delinquente, partindo das angústias e dos complexos de culpa
que o afligem, levando-o à procura da bebida, da droga, enveredando pelos
caminhos do crime, para a solução dos seus problemas íntimos.
Sociologia Criminal é a ciência que estuda o fenômeno criminal do ponto de
vista da influência do meio social sobre a conduta humana criminosa.
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Elementos do fenômeno criminal
Conceito de Crimonogênese
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Quanto à intenção
Quanto à materialidade
Quanto ao sujeito
a) comuns: quando há violação do preceito penal, imposto
indistintamente a todos, praticado por qualquer indivíduo. Por oposição a crime
especial, de mão morta;
Quanto ao objeto
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Quanto à conduta
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A PATOLOGIA SOCIAL
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Do latim passionalis, de passis (paixão), passional é o vocábulo empregado
na terminologia jurídica, especialmente no Direito Penal para designar o que se
faz por uma exaltação ou irreflexão, ciúmes ou amor ofendido, desencadeando
emoções, violências, como ressaltamos alhures (Sexologia Forense, ps. 175 e
segs.).
Para Aftânio Peixoto, paixão é a "emoção crônica", em tempo, por
prolongada, e aguda em manifestação, por violenta".
Segundo Nélson Hungria, emoção é um estado de ânimo ou de consciência
caracterizado por um viva excitação do sentimento. É uma forte e transitória
perturbação da afetividade, a que estão ligadas certas variações somáticas ou
modificações particulares das funções da vida orgânica (pulsar precipite do
coração, alterações térmicas, aumento da irrigação cerebral, aceleração do ritmo
respiratório, alterações vasomotoras, intensa palidez ou intenso rubor, tremores,
fenômenos musculares, alteração das secreções, suor, lágrimas e outras
manifestações.
Há certa diferença entre emoção e paixão, embora esta seja originária
daquela. Kant dizia que a emoção é como "uma torrente que rompe o dique da
continência", enquanto a paixão é o "charco que cava o próprio leito,
infiltrandose, paulatinamente, no solo".
Conclui Hungria: "Pode dizer-se que a paixão é a emoção que protrai no
tempo, incubando-se, introvertendo-se, criando um estado contínuo e duradouro
de perturbação afetiva em torno de uma ideia fixa, de um pensamento obsidente.
A emoção dá e passa; a paixão permanece, alimentando-se de si própria"
(Comentários ao Código Penal, voI. I, Tom. 2°, ps. 360 a 363).
O Código Penal de 1940 não transigiu, no terreno da responsabilidade
penal, com os emotivos ou passionais, que não exorbitam da Psicologia normal.
Ao contrário, o Código Penal de 1890 ensejou escandalosas absolvições,
sobretudo no âmbito do Tribunal do Júri, em face da norma estabelecida no art.
27, que consideravam não ser criminosos: "Os que se acharem em estado de
completa privação de sentidos e de inteligência no ato de cometer o crime", como
lembramos alhures (Comentários ao Código Penal, ps. 125 e segs.).
Para Léon Rabinowicz, há um aspecto do amor sexual que é bastante
característico: o ódio que o acompanha. "Entre os dois amorosos só existe a
carne: nenhuma ternura, nenhum sentimento os retém, além do prazer carnal;
por isso, entre dois momentos de desejo, o ódio mistura-se com a volúpia".
Em suma, o crime passional culmina com a paixão homicida, enquanto o
suicídio é um sucedâneo do crime passional (O Crime Passional, ps. 60,95 e
142).
O interesse que a humanidade sente pelo homicídio, escreve Hans von Hentig,
reside no fato de que o matar ou ser morto fere suas fibras mais íntimas.
Embora, muitas vezes, sejam ignorados os motivos dos homicídios, a
Estatística Criminal tem que limitar-se a uma casuística desses motivos, assim
agrupados: por lucros; para encobrir outras ações ou crime; por conflito; de
natureza sexual.
O chamado homicídio sádico, por exemplo, comporta numerosas variantes,
envolvendo ódio, mistério, sangue, erotismo, crueldade e homossexualismo.
Certo médico introduziu na vagina e no reto de sua amante, "vaselina, goma e
estrofantina, sendo que esta queima". Desesperada, a vítima procurou uma
clínica, onde foi atendida, cujo clínico de plantão diagnosticou apenas: "forte
estado de excitação". Pouco depois, falecia a vítima (Estudos de Psicologia
Criminal, voI. lI, ps. 9 e segs.).
Nesse contexto se inserem sadismo (preversão sexual em que a satisfação
erótica advém da prática de atos de violência ou crueldade), o masoquismo
(preversão sexual em que a pessoa só tem prazer ao ser maltratada física e
moralmente) e o sadomasoquismo (preversão sexual que consiste na
conjugação do sadismo e do masoquismo), podendo em consequência resultar
lesões corporais ou morte, temas esses que abordamos noutro trabalho
(Sexologia Forense, ps. 140 e segs.).
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Leoberto Brancher1
Beatriz Aguinsky 2
1
Juiz de Direito da 3ª. Vara do Juizado Regional da Infância e Juventude de Porto Alegre,
professor de Direito da Infância e da Juventude e coordenador do Núcleo de Estudos em Justiça
Restaurativa da Escola Superior da Magistratura da AJURIS – Associação dos Juízes do Rio
Grande do Sul.
2
Assistente Social Judiciária, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em
Serviço Social da Faculdade de Serviço Social da PUCRS
Introdução
3
Tal ambientação favorável à assimilação doutrinária e intelectualmente propícia à qualificação
técnica e jurisdicional teve expressão em diversos atores e em diferente eventos científicos.
Atualmente, o Rio Grande do Sul apresenta expressiva contribuição acadêmica na matéria, como
demonstram as obras do Procurador de Justiça, ex-Presidente da FEBEM, Afonso Konzen ( ver
KONZEN, Afonso Armando. Pertinência Socioeducativa: reflexões sobre a natureza jurídica das
medidas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005), da professora e também ex-presidente da
FEBEM, Ana Paula Motta Costa (ver COSTA, Ana Paula Motta. As Garantias Processuais e o
Direito Penal Juvenil como limite na aplicação da medida socioeducativa de internação . Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005), além da abundante produção do magistrado João Batista
Costa Saraiva, cujos títulos, embora aqui não indicados pelo grande número disponível, são
referência na área.
No que se refere à experiência de Porto Alegre, o fato é que essas
concepções passaram a servir como filtros às arbitrariedades dos atores do
sistema, ou das abusivas licenciosidades assentadas na inércia das burocracias
institucionais (a judicial entre elas), que passam a ser submetidas assim de forma
mais clara e enfática aos freios e salvaguardas do procedimento processual
penal, ou seja, permitindo uma nova abordagem no exercício da jurisdição, agora
melhor fundada na regulação objetiva da lei, da doutrina e da jurisprudência
penal. Já no âmbito administrativo, além de conduzir à explicitação das regras
pertinentes ao serviço (da inscrição dos regimentos dos programas no Conselho
Municipal de Direitos ao detalhamento dos procedimentos técnicos para
avaliação dos adolescentes), permitiram maior compreensão e progressiva
transparência dos movimentos técnicos e institucionais que, sem levar em conta
a pertinência jurídica da medida socioeducativa, tendiam a produzir até mesmo
“violações positivas” como por exemplo ao valer-se dos mecanismos de coerção
a ela inerentes como forma de garantir o acesso do adolescente a políticas
básicas ou de programas de proteção especial que por outros meios lhe viriam
sendo negados, bem como de constrangê-lo, autoritariamente, a usufruir desses
atendimentos.
Identificado desde a sua natureza jurídico-penal, o ingresso no Sistema
de Justiça passou a ser reconhecido como inerentemente violentador, seja no
sentido teórico de que é pela coerção judicial que se materializa o princípio do
monopólio estatal da violência, seja pelo sentido prático de que as estruturas
institucionais e seus mecanismos burocráticos tendem a suprimir a
individualidade do sujeito e a submetê-lo a uma ampla gama de violências
institucionais.
Foi somente a partir da superação desse perturbador impasse que pôde
transparecer uma outra dicotomia de semelhante relevância, agora atinente não
somente ao domínio jurídico, mas de natureza interdisciplinar, porque atinente à
atribuição de sentido ao próprio objeto do atendimento técnico socioeducativo,
dicotomia que, possivelmente, até então se mantinha oculta por detrás do ruído
provocado pela questão da natureza jurídica da medida. Isso porque, tendo o
sistema cumprido o requisito mínimo de assegurar, tanto formal quanto
materialmente, o ambiente normativo, operadores e usuários podem usufruir de
maior estabilidade institucional, a confiança pode voltar a presidir as interfaces
interinstitucionais, e a preservação e promoção das garantias individuais, bem
como de resultados sócio-educativos, passam a ser a tônica da rotina. A partir
de um contexto assim é que pode aflorar melhor a questão: como dosar
ingredientes que até então se propunham como aparentemente paradoxais e
antagonizantes como acolhimento e disciplina, ou assistência e controle, ou afeto
e limite, ou, enfim, como segurança e justiça? Por detrás das respostas a essas
indagações, suspeita-se, esteja a solução do misterioso enigma, sempre
cobiçado e nunca desvendado, que continua a reluzir por detrás de cada
invocação à ideia da “proposta pedagógica da medida socioeducativa” – segredo
que apesar de tudo ainda persiste velado como uma das principais promessas
incumpridas do ECA.
Antes de avançar, porém, será importante compartilhar mais
detalhadamente o percurso que permitiu a aproximação delas.
4
Sobre o “Caso Zero” está disponível relato sumario no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul no link http://jij.tj.rs.gov.br/jij_site/jij_site.home sob o título De volta para casa: relato
de uma experiência de Justiça Restaurativa , por Leoberto Brancher.
aplicação prática da doutrina do direito penal juvenil, mas numa profunda
reflexão a respeito da própria operação da Justiça na regulação dos
comportamentos transgressores, que foi desaguar nos achados da Justiça
Restaurativa.
Para os autores,
A abordagem restaurativa, com alto controle e alto apoio,
confronta e desaprova as transgressões enquanto afirmando o
valor intrínseco do transgressor. A essência da justiça
restaurativa é a resolução de problemas de forma colaborativa.
Práticas restaurativas proporcionam, àqueles que foram
prejudicados por um incidente, a oportunidade de reunião para
expressar seus sentimentos, descrever como foram afetados e
desenvolver um plano para reparar os danos ou evitar que
aconteça de novo. A abordagem restaurativa é reintegradora e
permite que o transgressor repare danos e não seja mais visto
como tal (McCould e Wachtel, 2003).
5
Depoimentos colhidos através da Pesquisa que está acompanhando, sistematizando e avaliando
as práticas de Justiça Restaurativa implementadas pela 3ª. Vara do Juizado Regional da Infância
e Juventude de Porto Alegre, sob a coordenação da Profa. Dra. Beatriz Aguinsky, do Núcleo de
Pesquisas e Estudos em Ética e Direitos Humanos – NUPEDH - da Faculdade de Serviço Social da
PUCRS, sendo preservada a identidade dos informantes de acordo com as exigências da ética na
pesquisa social.
Falei sobre tudo, falei sobre o meu arrependimento de ter feito
isso com ele, que não era a minha intenção ter feito isso com ele,
que não era a minha intenção ter batido o carro dele, que não
era ter tirado esse carro dele. (Adolescente, autor de roubo de
automóvel – falando sobre sua experiência no círculo
restaurativo)
Por ela ser minha amiga agora e não olhar mais com cara feia
para mim (Adolescente, 14 anos, autor de furto, – explicando
porque foi importante para ele ter participado do círculo
restaurativo, referindo-se a sua relação com a vítima)
Eu acho que ele viu, que “caiu a ficha” dele, que não leva a nada,
que disto aí só teve prejuízo para ele e para mim, eu acho que
ele se reestruturou, acho que ele não volta mais a cometer este
tipo de delito, pelo que eu senti, é uma pessoa que ficou muito
arrependida, ele olhou diversas vezes, nestas últimas
audiências, dentro dos meus olhos, eu vi que ela tava bem
arrependido (Vítima de roubo, avaliando a experiência do círculo
restaurativo).
6
O referido planejamento, elaborado no âmbito do Núcleo de Estudos em Justiça Restaurativa
da Escola Superior da Magistratura da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul – AJURIS,
contemplava a necessidade de desencadear-se a difusão e implementação das práticas
restaurativas, de forma sistêmica, mediante etapas que contemplariam gradualmente (1) os
processos judiciais (2) o atendimento socioeducativo, (3) as escolas e (4) a comunidade.
• A formação de um “grupo de referência”, denominado G60 e integrado
pelos multiplicadores participantes do Curso de Formação em Práticas
Restaurativas
• A realização do Curso de Práticas Restaurativas, fornecendo um
programa de referência para futuras novas atividades de formação (já
testado com sucesso com uma turma com 45 Guardas Municipais,
com apoio do PNUD)
• A formalização de um Protocolo de Intenções abrangendo o
compromisso de 18 instituições engajadas na promoção de práticas
restaurativas
• A criação de um site do projeto (www.justica21.org.br), destinado à
difusão de conteúdos e interação entre o pessoal envolvido;
• A criação de grupos de trabalho internos a cada instituição parceria
para promoção dos objetivos do projeto (FASE, FASC, Sec. Estadual
Educação e Sec. Municipal da Educação).
• O compromisso institucional com a criação de grupos de estudos em
cada um dos citados 28 espaços institucionais de implementação
experimental das práticas restaurativas.
A principal acumulação que se tem nesse processo é a deflagração,
possivelmente irreversível, de um processo de difusão e implantação dos
princípios e práticas da Justiça Restaurativa como um insumo do trabalho nas
mais diversas políticas públicas de atendimento a crianças e adolescentes de
Porto Alegre.
Como os princípios da Justiça Restaurativa repousam em valores, vale
referir o quanto a articulação das aqui relatadas novas possibilidades de sentido
ético com os usuais lugares, saberes e fazeres institucionais e sociais que
habitam o campo do socioeducativo estão referidas às perspectivas de uma nova
ética e a uma nova ótica que a Justiça Restaurativa propõe para o atendimento
dos adolescentes em conflito com a lei.
Conforme destacam Marshall et. al. (2005, p. 270-1)
(...) os processos de justiça podem ser considerados
“restaurativos” somente se expressarem os principais valores
restaurativos, tais como: respeito, honestidade, humildade,
cuidados mútuos, responsabilidade e verdade. Os valores da
justiça restaurativa são aqueles essenciais aos relacionamentos
saudáveis, equitativos, e justos. (...) Deve-se enfatizar que
processo e valores são inseparáveis na justiça restaurativa. Pois
são os valores que determinam o processo, e o processo é o que
torna visíveis os valores. Se a justiça restaurativa privilegia os
valores de respeito e honestidade, por exemplo, é de crucial
importância que as práticas adotadas num encontro restaurativo
exibam respeito por todas as partes e propiciem amplas
oportunidades para todos os presentes falarem suas verdades
livremente. Por outro lado, conquanto estes valores sejam
honrados, há espaço para vários processos e uma flexibilidade
de práticas.
1 Justiça
2 Segurança
3 Assistência Social
4 Educação
5 Saúde
Considerações finais
Bibliografia
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