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Caro aluno

O Hexag Medicina é, desde 2010, referência na preparação pré-vestibular de candidatos às


melhores universidades do Brasil.

Ao elaborar o seu Sistema de Ensino, o Hexag Medicina considerou como principal diferen-
cial em relação aos concorrentes sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas
e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.

Você está recebendo o livro Estudo Orientado. Com o objetivo de verificar se você aprendeu
os conteúdos estudados, este material apresenta nove categorias de exercícios:
• Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha para iniciar o processo de fixa-
ção da matéria dada em aula
• Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio,
buscando a consolidação do aprendizado
• Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade
• Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais ves-
tibulares do Brasil
• Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano,
preparando o aluno para esse tipo de exame
• Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das faculda-
des públicas de São Paulo
• Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase
das faculdades públicas de São Paulo
• Uerj (exame de qualificação): exercícios de múltipla escolha, buscando a consolidação do
aprendizado para o vestibular da Uerj

Visando um melhor planejamento dos seus estudos, ao final de cada aula, o gabarito vem
acompanhado por códigos hierárquicos que mostrarão a que tema do livro teórico corres-
ponde cada questão. Esse formato irá auxiliá-lo a diagnosticar quais assuntos você encontra
mais dificuldade. Essa é uma inovação do material didático 2020. Sempre moderno e com-
pleto é um grande aliado para o seu sucesso nos vestibulares.
Bons estudos!
Herlan Fellini

1
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 1 e 2: Formação de palavras 4
Aulas 3 e 4: Artigos, substantivos e adjetivos 24
Aulas 5 e 6: Verbos: noções preliminares e modos indicativo e subjuntivo 47
Aulas 7 e 8: Verbos: modo imperativo e vozes verbais 71

LITERATURA
Aulas 1 e 2: A arte literária e o estudo dos gêneros 92
Aulas 3 e 4: Trovadorismo: a literatura da Idade Média 106
Aulas 5 e 6: Humanismo e Classicismo 115
Aulas 7 e 8: Classicismo: Camões épico e lírico 126

2
GRAMÁTICA

3
AULAS Formação de palavra
1e2
Competências: 1e8 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 26 e 27

E.O. Aprendizagem pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como
isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de
debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, espe-
rando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O
que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repenti-
A PIPOCA namente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com
Rubem Alves uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia
com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das
cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária,
que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, espe-
que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de cialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
“culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades
do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne E o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a trans-
com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos. formação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico transformação porque devem passar os homens para que eles
a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que
celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das mi- deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.
nhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios
como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos
estimula todas essas funções do pensamento. transformar em outra coisa − voltar a ser crianças!

As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de
capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca,
para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transfor-
um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamen-
mações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não pas-
te isso que aconteceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e
sa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de
duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira delicio-
uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem.
sa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de
atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca.
repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa si-
E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias
tuação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder
começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar
metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamen- pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depres-
to nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada são – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso
e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um ex- aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E
traordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as com isso a possibilidade da grande transformação.
pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como
aqueles das pipocas dentro de uma panela. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá den-
tro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou:
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma,
religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a
vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina
vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do
Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem exis- fogo, a grande transformação acontece: pum! − e ela aparece
tir juntas. Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma
Stella, sábia poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do
comida sagrada do candomblé... casulo como borboleta voante.
A pipoca é um milho mirrado,subdesenvolvido. Fosse eu agricultor Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está repre-
ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem sentado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o
aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar de- estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito
las. Pois o fato é que, sob o ponto de vista do tamanho, os milhos da para ser de outro. “Morre e transforma-te!” − dizia Goethe.

4
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os desde crianças carregamos, de que nossos reflexos nos espelhos
piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que seja. ganhem autonomia. Ui! Já imaginaram se isso virasse realidade?
Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é Teríamos de conviver com nossos opostos, um estranhamento no
palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio mínimo desconfortável. Os quadrinhos exploraram o assunto tam-
para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho bém na série do Mundo bizarro, do Super-Homem. Era um nonsen-
de pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo William, extra- se pouco habitual no universo previsível dos super-heróis.
ordinário professor-pesquisador da Unicamp, especializou-se em
Estava pensando nos estranhamentos do mundo moderno quan-
milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da
do me deparei com uma pequena nota de jornal. Encenava-se a
pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os
ópera Carmen, de Bizet, no Theatro Municipal do Rio. Suponho
piruás. Mas, no mundo da poesia as explicações científicas não
que a plateia, que pagou caro, estava mergulhada na história e na
valem. Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às
interpretação da orquestra e dos solistas. Não é que um cidadão
mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos
saca seu iPad e passa um tempão checando os e-mails, dedinhos
quarenta, lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder me-
nervosos para cima e para baixo, com a tela iluminando a penum-
tafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas
bra indispensável para a fruição plena do espetáculo? Como esse
que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas
tipo de desrespeito está entrando na “normalidade”, apenas uma
acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o
pessoa esboçou reação. Uma espécie de angústia semelhante à
jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a
incontinência urinária se espalha como praga nas relações pes-
sua vida perdê-la-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura
soais e no uso dos espaços público e privado. Tudo passou a ser
casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão
urgente. Todos os torpedos, e-mails e chamadas no celular viraram
ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca
prioridade, casos de vida ou morte. Interrompem-se conversas para
macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro
olhar telinhas e telonas, desrespeitando interlocutores. Como este
alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não
tipo de patologia tende a se diversificar, já há gente que conversa
servem para nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas que
e olha o computador ao mesmo tempo, como aqueles lagartos
estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem
esquisitos cujos olhos se movimentam sem aparente coordenação.
que a vida é uma grande brincadeira...
Outros participam de reuniões sem desligar sua tralha eletrônica
Disponível em http://www.releituras.com/rubemalves_pipoca.asp. (na verdade, não estão nas reuniões). Especialistas em informática
Acessado em 31 de mai. 2016. previram que, num futuro não muito distante, chips serão implan-
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico. tados no corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem a máquinas.
A vida é controlada a distância e por outros.
1. (Efomm) No que tange ao processo de formação de palavras,
o termo destacado que se enquadra como formação-regressiva
Outro estranhamento vem da inundação de imagens, aflição que
aparece na opção
chamo de galeria dos sem imaginação. Enxurradas de fotos inva-
dem o espaço virtual, a enorme maioria delas sem o menor signifi-
a) As comidas, para mim, são entidades oníricas. Pro- cado e perfeitamente descartáveis. O Instagram recebe 60 milhões
vocam a minha capacidade de sonhar. de fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por segundo! Fico pen-
b) Um bom pensamento nasce como uma pipoca que sando no sorriso irônico ou, quem sabe, no horror em estado bruto,
estoura, de forma inesperada e imprevisível. que Cartier-Bresson1 esboçaria se esbarrasse nisso. Ele, que procu-
c) É que a transformação do milho duro em pipoca rava a poesia nos pequenos gestos, no cotidiano que se desdobrava
macia é símbolo da grande transformação (...) em surpresas, nos reflexos impensados, jamais empilharia a coleção
d) O estouro das pipocas se transformou, então, de de sorrisinhos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics.
uma simples operação culinária (...) Essa história dos sorrisos foi muito bem notada pela Nora Ró-
e) O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-den- nai, que citei logo no início. Vivemos a era das aparências. Com
tes, impróprios para comer (...) a multiplicação das imagens, vem a obrigação de “estar bem”.
Afinal de contas, quem vai querer se exibir no Facebook ou nas
2. (Cefet)
trocas de mensagens com uma ponta de melancolia ou, pelo me-
nos, um suspiro de realidade? O mundinho virtual exige estado
A INTERNET E A MORTE DA IMAGINAÇÃO
de êxtase permanente. Uma persona que não passa de ilusão.
Jacques Gruman Criatividade não quer dizer tristeza, claro, mas certamente pre-
“Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias. cisa incorporá-la como tijolo construtor da nossa personalida-
Deve ser um conluio com os dentistas.” de. O resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e escritor, fez o
(Nora Tausz Rónai)
seguinte comentário sobre seu amigo Gabriel Garcia Márquez,
Reza uma antiga lenda que dois reinos estavam em guerra. Os que acabara de morrer: “Tudo o que ele escreveu é revelador da
perdedores acabaram condenados ao confinamento do outro infinita capacidade de poesia contida na vida humana. O eixo,
lado dos espelhos, um primitivo mundo virtual em que eram porém, foi sempre o mesmo, ao redor do qual giramos todos:
obrigados a reproduzir tudo o que os vencedores faziam. A luta a solidão e a esperança perene de encontrar antídotos contra
dos derrotados passava a ser como escapar daquela prisão. O essa condenação”. Nada que essas maquininhas onipresentes
genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa para criar, na década possam registrar, elas que jamais entenderiam a fina ironia de
de 1940, O mundo do espelho, para mim uma das mais aterro- Fernando Pessoa no Poema em linha reta, que começa assim:
rizantes histórias do Mandrake. Espelhos foram, aliás, protagonis- “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus
tas de algumas sequências cinematográficas assustadoras. Bóris conhecidos têm sido campeões em tudo”. Mais adiante: “Arre,
Karloff, um clássico do gênero, aproveitou muito bem o medo que, estou farto de semideuses. Onde é que há gente nesse mundo?”.

5
A praga narcísica desembarcou nas camas. Leio que nova TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
moda é fazer selfies2 depois do sexo. O casal transa, mas isso
não basta. É urgente compartilhar! Tira-se uma foto da apa- A sociedade vive diversas contradições, muitas delas fomentadas
rência de ambos, coloca-se no Instagram e ... pronto. O mun- por modismos que só espelham a superficialidade e o imediatismo
do inteiro será testemunha de um momento íntimo, talvez de valores contemporâneos, entre eles o excessivo culto ao corpo.
o mais íntimo de todos. Meu estranhamento vai ao paroxis- Informações que circulam pelas redes sociais, muitas delas sem
mo. É a esse mundo que pertenço? Antigamente, era cos- nenhum respaldo científico, induzem à crença de que o uso de
tume dizer que o que não aparecia na televisão não existia. determinadas substâncias ajuda na construção de corpos “per-
Atualizando a frase: pelo visto, o que não está na rede não existe. feitos” ou “desintoxica” o organismo, mas sem apontar os pos-
É a universalização do movimento apenas muscular, sem sentido, síveis riscos à saúde.
leviano, rapidamente perecível.
Não há dados precisos sobre quantas pessoas usam rotinei-
Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gelman passou um bom ramente essas substâncias, mas o fato é que em vários paí-
tempo sem conseguir escrever. A inspiração não vinha. Disse ele: ses cresce o número de pacientes atendidos por toxicidade
“A poesia é uma senhora que nos visita ou não. Convocá-la é uma delas decorrente.
impertinência inútil. Durante uns bons quatro anos, o choque do
exílio fez com que essa senhora não me visitasse”. Quando, fi- Não é incomum o uso de mais de uma dessas substâncias, tais
nalmente, a senhora chega, tudo muda, como narra o poeta: “A como anabolizantes injetáveis, oxandrolona e hormônio de cres-
visita é como uma obsessão. Uma espécie de ruído junto ao ouvi- cimento. De forma isolada ou combinada, elas podem aumentar
do. Escrevo para entender o que está acontecendo”. Não consigo a massa muscular, mas criam um considerável risco de morte sú-
imaginar uma serenidade como essa no mundo virtual. Tudo nasce bita por infarto, arritmia cardíaca ou hemorragia cerebral, além
e morre antes de ser completamente absorvido. Cada novidade de problemas como insuficiência renal, tumores do fígado e dis-
passa a ser vital, filas se formam nas madrugadas nas portas de túrbios de coagulação.
lojas que começam a vender modelos mais avançados de produtos A lista de substâncias e fórmulas “promissoras”, definidas pelo
eletrônicos. Não dá pra esperar um dia, muito menos uma hora. imaginário criativo do prescritor ou do fabricante, é longa. Seu
O silêncio e a introspecção são guerrilheiros no habitat plugado. uso é estimulado não apenas pelo culto ao corpo, mas também
Estou me alistando neste exército de Brancaleone.3 pelo mercado que movimenta mais de US$ 70 bilhões ao ano e
1
Henri Cartier-Bresson: (França 1908- 2004), fotógrafo do século que não é profundamente regulamentado pelas agências fiscali-
XX, considerado por muitos como o pai do fotojornalismo. zadoras de vários países.
2
fazer selfies: selfie é uma palavra em inglês, um neologismo com O culto ao corpo não é condenável, desde que seja em função da
origem no termo self-portrait, que significa autorretrato, e é uma busca por uma melhor qualidade de vida. A autoestima que dele
foto tirada e compartilhada na internet. Normalmente uma selfie é pode advir é desejável e pode ser estimulada, desde que não
tirada pela própria pessoa que aparece na foto, com um celular que comprometa a saúde através de falsas premissas.
possui uma câmera incorporada, com um smartphone, por exemplo.
A melhor maneira de coibir as práticas insensatas e perniciosas
3
O Incrível Exército de Brancaleone (em italiano: L’armata é trazê-las para o terreno da ciência. A comprovação científica,
Brancaleone): é um filme italiano de 1966, do gênero comédia. apoiada em divulgação honesta de benefícios e riscos, é funda-
Foi dirigido por Mario Monicelli. O Exército de Brancaleone é mental para que cada indivíduo possa tomar as decisões sobre o
considerado um clássico italiano, que retrata os costumes da que quer fazer com seu próprio corpo.
cavalaria medieval através da comédia satírica. É um filme ins-
(Raul Cultait e Raymundo Paraná. “Culto ao corpo,
pirado em Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes. desprezo à saúde”. www.folha.uol.com.br. Adaptado.)
(Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Opiniao/A-
morte-da-imaginacao/30783>. Acesso em: 16 ago. 2014.) 3. (ANHEMBI MORUMBI MED – UNESP) São formados pelo
processo de derivação sufixal os termos:
O emprego do diminutivo nos termos em destaque NÃO tem valor
a) desintoxica (2º parágrafo); regulamentado (5º pa-
irônico em:
rágrafo); perniciosas (7º parágrafo).
a) “O mundinho virtual exige estado de êxtase per- b) respaldo (2º parágrafo); incomum (4º parágrafo);
manente.” comprovação (7º parágrafo).
b) “Os quadrinhos exploraram o assunto também c) arritmia (4º parágrafo); condenável (6º parágrafo);
na série do Mundo bizarro, do Super-Homem.” coibir (7º parágrafo).
c) “Nada que essas maquininhas onipresentes pos- d) contradições (1º parágrafo); profundamente (5º
sam registrar, elas que jamais entenderiam a fina iro- parágrafo); autoestima (6º parágrafo).
nia de Fernando Pessoa no Poema em linha reta ...” e) modismos (1º parágrafo); superficialidade (1º pará-
d) “Ele, que procurava a poesia nos pequenos gestos, no grafo); cerebral (4º parágrafo).
cotidiano que se desdobrava em surpresas, nos reflexos
impensados, jamais empilharia a coleção de sorrisi-
nhos forçados que caracteriza a obsessão pelos clics.” TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
e) “Não é que um cidadão saca seu iPad e passa um
tempão checando os e-mails, dedinhos nervosos para O que havia de tão revolucionário na Revolução Francesa? So-
cima e para baixo, com a tela iluminando a penumbra berania popular, liberdade civil, igualdade perante a lei – as pa-
indispensável para a fruição plena do espetáculo?” lavras hoje são ditas com tanta facilidade que somos incapazes

6
de imaginar seu caráter explosivo em 1789. Para os franceses do Leia o excerto do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos,
Antigo Regime, os homens eram desiguais, e a desigualdade era para responder à questão.
uma boa coisa, adequada à ordem hierárquica que fora posta
na natureza pela própria obra de Deus. A liberdade significava Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele
privilégio – isto é, literalmente, 1“lei privada”, uma prerrogativa estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra
especial para fazer algo negado a outras pessoas. O rei, como no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da
fonte de toda a lei, distribuía privilégios, pois havia sido ungido casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à ca-
como o agente de Deus na terra. marinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos
passados esmorecera.
Durante todo o século XVIII, os filósofos do Iluminismo questio-
naram esses pressupostos, e os panfletistas profissionais conse- Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta,
guiram empanar a aura sagrada da coroa. Contudo, a desmon- esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo,
tagem do quadro mental do Antigo Regime demandou violência picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga,
iconoclasta, destruidora do mundo, revolucionária. pôs-se a fumar regalado.

Seria ótimo se pudéssemos associar a Revolução exclusivamente à – Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas ela nasceu Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza
na violência e imprimiu seus princípios em um mundo violento. Os iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não
conquistadores da Bastilha não se limitaram a destruir um símbolo era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas
do despotismo real. Entre eles, 150 foram mortos ou feridos no as- dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba
salto à prisão e, quando os sobreviventes apanharam o diretor, cor- e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava
taram sua cabeça e desfilaram-na por Paris na ponta de uma lança. de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos
brancos e julgava-se cabra.
Como podemos captar esses momentos de loucura, quando tudo
parecia possível e o mundo se afigurava como uma tábula rasa, Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém
apagada por uma onda de comoção popular e pronta para ser tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
redesenhada? Parece incrível que um povo inteiro fosse capaz de
– Você é um bicho, Fabiano.
se levantar e transformar as condições da vida cotidiana. Duzen-
tos anos de experiências com admiráveis mundos novos torna- Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passa-
ram-nos céticos quanto ao planejamento social. Retrospectiva- ra uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera
mente, a Revolução pode parecer um prelúdio ao totalitarismo. a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fi-
zera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando,
Pode ser. Mas um excesso de visão histórica retrospectiva pode coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o
distorcer o panorama de 1789. Os revolucionários franceses não patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro.
eram nossos contemporâneos. E eram um conjunto de pesso-
as não excepcionais em circunstâncias excepcionais. Quando as Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera
coisas se desintegraram, eles reagiram a uma necessidade impe- como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes,
riosa de dar-lhes sentido, ordenando a sociedade segundo novos estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexi-
princípios. Esses princípios ainda permanecem como uma denún- ques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e
cia da tirania e da injustiça. Afinal, em que estava empenhada a as baraúnas. Ele, sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia
Revolução Francesa? Liberdade, igualdade, fraternidade. estavam agarrados à terra.
Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: Chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo
____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços
São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39. moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.
4. (Ufrgs) Ao referir-se à ideia de “lei privada” como uma expli- (Vidas secas, 2010.)
cação literal de privilégio (ref. 1), o autor está fazendo referência
5. (FASM MED – UNESP) As palavras “imprudente” (5º pará-
à origem latina dessa palavra, relacionada a algumas das formas
grafo) e “desentendido” (10º parágrafo) são formadas por pre-
que tomava, naquela língua, a palavra equivalente a lei – por
fixos de negação. Também se encontram prefixos de negação em:
exemplo, legis.
a) amorfo e didático.
Considere as seguintes palavras do português.
b) ilegal e discordância.
1. legal c) incorrigível e dilema.
2. legião
d) emigrar e instante.
3. legítimo
4. legível e) diálogo e interpor.

Quais têm também relação semântica com a palavra lei, revelan- 6. (Cefet) NO MUNDO DOS ANIMAIS
do, por sua forma, a origem latina?
As relações entre os humanos e as demais espécies viventes têm
a) Apenas 1 e 3. merecido a atenção de escritores, artistas e intelectuais. Essas
b) Apenas 1, 3 e 4. relações, que não primam pela ética, são o objeto de estudo da
c) Apenas 2 e 3. professora e escritora mineira Maria Esther Maciel.
d) Apenas 2 e 4. Quando os estudos sobre “animais e literatura” passaram a ser
e) 1, 2, 3 e 4. feitos de modo sistemático no Brasil?

7
Maria Esther Maciel: Só recentemente; antes, havia trabalhos es- em zoológicos, os “produzidos” em granjas e fazendas indus-
parsos. Além disso, a abordagem se circunscrevia à visão do animal triais para viver uma vida infernal e morrer logo depois, além
como símbolo, metáfora ou alegoria do humano, mais restrita à dos animais domésticos, adestrados e humanizados ao extremo.
análise textual. Hoje, percebe-se uma ampliação desse enfoque,
Há quem diga que até mesmo estes estão fadados a desapare-
que deixa os limites do texto literário para ganhar um viés transdis-
cer, dando lugar a animais-robôs, que já existem no Japão.
ciplinar, em diálogo com a filosofia, biologia, antropologia, psico-
logia. Aliás, esse entrelaçamento de saberes em torno da questão A humanidade tem destruído florestas, dizimado povos indíge-
animal cresceu em várias partes do mundo, propiciando a difusão nas, exterminado espécies animais. Apesar da preocupação de
de um novo campo de investigação crítica denominado “estudos ativistas com o destino do planeta, falta empenho político dos
animais”. A literatura tem conquistado espaço importante nesse governos para frear essa destruição generalizada.
campo, graças sobretudo a escritores/pensadores como John M.
Minha utopia é que a humanidade possa um dia fazer mea-culpa
Coetzee, John Berger e Jacques Derrida, que souberam aliar, de
modo criativo, literatura, ética e política no trato da questão animal. em relação aos crimes já cometidos contra os índios, os animais,
a natureza. Mas, pelo que vejo, essa questão continuará a ser um
Como a senhora explica esse interesse crescente pelo tema? grande desafio ético e político para a nossa civilização.
Há um conjunto de fatores. Impossível não considerar as preocu- Seus estudos sobre animalidade a influenciaram em seu modo
pações de ordem ecológica, que movem a sociedade contempo- de vida?
rânea. Há também uma tomada de consciência mais explícita por
parte de escritores, artistas e intelectuais dos problemas éticos Não consigo desvincular o trabalho do meu modo de vida. Se che-
que envolvem nossa relação com os animais e com o próprio guei ao tema dos animais, foi por causa do meu apreço por eles.
conceito de humano. Além disso, a noção de espécie e a divisão Há anos não como carne, por causa da memória do tempo em que
hierárquica dos viventes têm provocado discussões ético-políti- passava temporadas na fazenda do meu pai, no interior de Minas
cas relevantes, que acabam por contaminar as artes e a literatura. Gerais. Vivia perto de vacas, porcos, aves, cavalos, cachorros. Toda
A isso se soma a tentativa, por parte dos humanos, de recuperar vez que via carne de vaca na mesa, me lembrava do olhar bovino.
sua própria animalidade, que por muito tempo foi reprimida em Já a visão da carne de porco me trazia a imagem dos porquinhos
nome da razão e do antropocentrismo. espertos e afetuosos com que eu brincava. Foi assim também com
as aves, os coelhos e outros bichos. Como fui sempre muito tocada
Por que é importante para a humanidade refletir sobre a pelo olhar animal, decidi não comê-los mais. Ainda mantive peixes
animalidade? e frutos do mar, mas deixei de comer várias espécies ao saber de
Ao refletir sobre a animalidade, a humanidade pode repensar o seus hábitos. Recuso também ovos de granja, em repúdio à situa-
próprio conceito de humano e reconfigurar a noção de vida. Por ção absurda das aves nos espaços de confinamento das fazendas
muito tempo, nosso lado animal foi recalcado em nome da razão industriais. Meu projeto de vida, certamente influenciado por meus
e de outros atributos tidos como próprios do homem. Quem ler estudos, é parar de consumir também carne de peixe. Chegarei lá.
os tratados de filosofia e teologia escritos ao longo dos séculos (MACIEL, Maria Esther. No mundo dos animais. Entrevista a
verá que a definição de humano e humanidade se forjou à custa Roberto B. de Carvalho. Ciência Hoje, 21 nov. 2012. Disponível
da negação da animalidade humana e da exclusão/marginali- em <http://cienciahoje.uol.com.br>. Acesso em: 05 nov. 2013.)
zação dos demais seres que compartilham conosco o que cha-
mamos de vida. Acho que os humanos precisam se reconhecer Entre os vocábulos extraídos do texto, aquele no qual a sílaba
animais para se tornarem verdadeiramente humanos. “re” funciona como um prefixo que traduz ideia de repetição é

É possível identificar modos diferentes de “explorar” a figura do a) “recusa”.


animal na produção literária? b) “refletir”.
c) “recuperar”.
Na literatura brasileira, podemos falar de três momentos incisi-
d) “relevantes”.
vos. No primeiro, está Machado de Assis, que escreveu no auge
do racionalismo cientificista do século 19, quando os princípios e) “reconfigurar”.
cartesianos já tinham legitimado no Ocidente a cisão entre hu- Leia o texto de Hélio Schwartsman para responder à questão.
manos e não humanos, e os animais eram vistos como máqui-
nas. No século 20, a partir dos anos 30, autores como Gracilia- INTELIGÊNCIA ANIMAL
no Ramos, João Alphonsus, Guimarães Rosa e Clarice Lispector
marcam um novo momento, ao lidar, cada um a seu modo, com O homem é o único animal que [ ]. O espaço entre os colchetes
as relações entre homens e animais sob um enfoque libertário, já foi preenchido por hipóteses para todos os gostos. “Usa ferra-
manifestando cumplicidade com esses outros viventes e a recusa mentas”, “desenvolve e transmite cultura”, “imagina o futuro”,
da violência contra humanos e não humanos. Já os escritores “compreende o que se passa em outras mentes”, “usa sintaxe”
do final do século 20 e início do 21 lidam com a questão dos são algumas das mais recentes. Todas elas acabaram sendo des-
animais sob o peso de uma realidade marcada por catástrofes cartadas por evidências empíricas, à medida que os cientistas,
ambientais, extinção de espécies, experiências biotecnológicas, particularmente os etólogos1, foram sofisticando os experimentos
expansão das granjas e fazendas industriais etc. pelos quais acessam e avaliam a inteligência animal. Talvez já seja
Como a senhora vê o futuro dos animais? hora de aposentar a fórmula “o homem é o único animal que...”.
Pelo jeito como as coisas andam, preocupo-me com a possibilida- Essa é a tese que o primatologista Frans de Waal defende com
de de os animais livres desaparecerem da face da Terra. Ficariam ardor em Are We Smart Enough to Know How Smart Animals
apenas os bichos criados em reservas e cativeiros, os expostos Are? (Somos espertos o suficiente para saber quão espertos são

8
os animais?). Como em outros livros do autor, ele nos inunda seriam mais de um: o de trabalho, usado só excepcionalmente, o
com histórias incríveis de façanhas intelectuais de bichos. Conta de gala, o de visitar eleitores e assim por diante. Enquanto esti-
que polvos usam casacas de coco como ferramenta, que elefan- ver de uniforme, o deputado é responsabilizado pelos seus atos
tes são capazes de distinguir idiomas humanos, que macacos ja- ilícitos ou indecorosos. Mas, se estiver à paisana, não se encontra
poneses aprenderam a lavar batatas doces com água e passaram no exercício do mandato e, portanto, pode fazer o que quiser. (...)
a técnica às gerações seguintes. A isso se somam as evidências
Mas isso é um mero detalhe, uma providência que melhor seria
de que chimpanzés fazem política e até pagam propinas a alia-
avaliada no conjunto de uma reforma séria, que levasse em con-
dos, sem mencionar os corvos, que estão se revelando verdadei-
ta nossas características culturais e nossas tradições. (...)
ros Einsteins do reino animal.
(www.folha.uol.com.br. Adaptado.) O que cola mesmo aqui são os ensinamentos de líderes como o
ex-presidente (gozado, o “ex” enganchou aqui no teclado, quase
1
etólogo: estudioso do comportamento social e individual dos não sai), que, em várias ocasiões, torceu o nariz para denúncias
animais em seu hábitat natural. de corrupção e disse que aqui era assim mesmo, sempre tinha
sido feito assim e não ia mudar a troco de nada. E assumia pos-
7. (FMJ MED – UNESP) Quanto à caracterização do processo de turas coerentes com esse ponto de vista. (...)
formação de palavras, está correto o que se afirma em:
Contudo, quando se descobre mais um caso de corrupção, a vida
a) o vocábulo “experimentos” (1º parágrafo) foi for- republicana fica bagunçada, as coisas não andam, perde-se tra-
mado por derivação sufixal, com o sufixo indicador de balho em investigações, gasta-se tempo prendendo e soltando
agente “-mento(s)” acrescido à base. gente e a imprensa, que só serve para atrapalhar, fica cobrando
b) o vocábulo “capazes” (2º parágrafo) foi formado explicações, embora já saibamos que explicações serão: primeiro
por derivação sufixal, com o sufixo indicador de agen- desmentidos e em seguida promessas de pronta e cabal investiga-
te “-es” acrescido à base. ção, com a consequente punição dos culpados. Não acontece nada
c) o vocábulo “incríveis” (2º parágrafo) foi formado e perdura essa situação monótona, que às vezes paralisa o País.
por derivação prefixal, com o prefixo de negação “in- A realidade se exibe diante de nós e não a vemos. Em lugar de
” acrescido à base. querer suprimir nossas práticas seculares, que hoje tanto prospe-
d) o vocábulo “intelectuais” (2º parágrafo) foi forma- ram, por que não aproveitá-las em nosso favor? (...) O brasileiro
do por derivação prefixal, com o prefixo de negação preocupado com o assunto já pode sonhar com uma corrupção
“in-” acrescido à base. moderna, dinâmica e geradora de empregos e renda. E não pen-
e) o vocábulo “descartadas” (1º parágrafo) foi forma- sem que esqueci as famosas classes menos favorecidas, como se
do por derivação prefixal, com o prefixo de negação dizia antigamente. O mínimo que antevejo é o programa Fraude
“des-” acrescido à base. Fácil, em que qualquer um poderá habilitar-se ao exercício da
boa corrupção, em seu campo de ação favorito. Acho que dá cer-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
to, é só testar. E ficar de olho, para não deixar que algum corrupto
Reforma na corrupção corrupto passe a mão no fundo todo, assim também não vale.
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de São Paulo. Disponível em:
Como previsto, já arrefece o mais recente debate sobre corrup- http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,reforma-na-
ção. Ainda se discute, sem muito entusiasmo, a absolvição de corrupcao,768238,0.htm. Acesso em: 04-9-2011.
uma deputada que foi filmada recebendo um 3dinheirinho sus-
peito, mas isso aconteceu antes de ela ser deputada, de maneira 8. (Upf) O autor fala em “crimezinhos” (ref. 2), repetindo uma estra-
que não vale. Além da forte tendência de os parlamentares não tégia já usada, quando se refere a “dinheirinho” (ref. 3). No contexto

punirem os seus pares, havia o risco do precedente. Não somente em que aparecem, as duas ocorrências de diminutivo:

o voto é indecentemente secreto nesses casos, como o preceden- a) Representam uma minimização do destaque que a mí-
te poderia expor os pescoços de vários outros deputados. O que dia tem dado aos episódios de corrupção.
o deputado faz enquanto não é deputado não tem importância, b) Indicam a versão daquele que é flagrado em situações
mesmo que ele seja tesoureiro dos ladrões de Ali Babá. comprometedoras, tentando livrar-se do peso da infração.
Aliás, me antecipando um pouco ao que pretendo propor, me veio c) Marcam a ironia em relação aos corruptos, que exploram
logo uma ideia prática para acertar de vez esse negócio de deputa- a boa-fé do eleitor com vistas à sua promoção pessoal.
do cometendo crimes durante o exercício do mandato. Às vezes – e d) Deixam implícita a informação de que não se deve
lembro que errar é humano – o sujeito comete esses 2crimezinhos confiar nos dados apresentados pelos envolvidos em
distraído. Esquece, em perfeita boa-fé, que exerce um mandato escândalos financeiros.
parlamentar e aí perpetra a falcatrua. Fica muito chato para ele, e) Denotam a avaliação do autor acerca da importân-
se ele for flagrado, e seus atos podem sempre vir à tona, expostos cia dos crimes perpetrados contra os cofres públicos.
pela imprensa impatriótica. Não é justo submeter o deputado a
essa tensão permanente, afinal de contas, ele é gente como nós. 9. (IFSP) No português, encontramos variedades históricas, tais
como a representada na cantiga trovadoresca de João Garcia de
Minha ideia, como, modéstia à parte, costumam ser as grandes Guilhade, ilustrada a seguir.
ideias, é muito simples: os deputados usariam uniforme. Não
daria muito trabalho contratar (com dispensa de licitação, dada Non chegou, madre, o meu amigo,
a urgência do projeto), um estúdio de alta-costura francês ou e oje est o prazo saido!
italiano, ou ambos, para desenhar esse uniforme. Imagino que Ai, madre, moiro d’amor!

9
Non chegou, madre, o meu amado, O prefixo “des-”, da forma verbal “desconfia”, no primeiro qua-
e oje est o prazo passado! drinho, tem valor semântico de negação, assim como no termo
Ai, madre, moiro d’amor! destacado em:

E oje est o prazo saido! a) Sem os cuidados adequados, a garota ia, aos pou-
Por que mentiu o desmentido? cos, desfalecendo em seu leito.
Ai, madre, moiro d’amor! b) Os torcedores desaprovaram a escalação dos jo-
gadores para a última partida.
E oje, est o prazo passado! c) Apenas com o trem de pouso traseiro, o avião des-
Por que mentiu o perjurado? lizou o nariz pela pista.
Ai, madre, moiro d’amor! d) Minha avó me ensinou, desde cedo, a não desper-
Considerando a terceira estrofe, assinale a alternativa que apre- diçar comida.
senta uma palavra formada por parassíntese. e) Desfruta a vida enquanto podes, que o tempo é
a) desmentido implacável, e a morte é certa.
b) prazo 2. (Efomm) FELICIDADE CLANDESTINA
c) saido
(Clarice Lispector)
d) d’amor
e) moiro Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente cres-
pos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós to-
10. (UFSM - Adaptada) Leia o fragmento a seguir. das ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os
[...] a capoeira, a guardiã do jogo, da 1brincadeira, do faz de con- dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía
ta que 2luta, mas joga com o outro, que simula um 3golpe e tira o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter:
o outro para dançar e que tem uma vinculação étnica e racial um pai dono de livraria.
com o percurso e o lugar da negritude em nosso país, acabou, Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em
em algumas escolas, ensinada sob o 4controle da 5esportivização, vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em
com regras e pontuações. mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de
(Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Secretaria de Educação paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes
Básica. Brasília: Ministério da Educação, v. 1, 2008, p. 231.) mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima pala-
vras como “data natalícia” e “saudade”.
O substantivo que, formado com o auxílio de um sufixo, conota no
fragmento um processo desvantajoso à prática da capoeira na escola é Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vin-
gança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia
a) brincadeira (ref. 1).
nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, es-
b) luta (ref. 2).
guias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma fe-
c) golpe (ref. 3). rocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as
d) controle (ref. 4). humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe
e) esportivização (ref. 5). emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre
E.O. Fixação mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que
possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
1. (SÃO CAMILO MED – UNESP) Leia a tira do cartunista Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo
Angeli para responder à questão. com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de
minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia
seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da
alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as on-
das me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não
morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me man-
dou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia
emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia se-
guinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a
esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a
andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas
ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do
livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde
a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei
(www.folha.uol.com.br) pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

10
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do Assinale a opção em que o processo de formação da palavra su-
dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá esta- blinhada é diferente dos demais.
va eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. a) Mas possuía o que qualquer criança devoradora
Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais
b) Até que veio para ela o magno dia de começar a
tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia
exercer sobre mim uma tortura chinesa.
se repetir com meu coração batendo.
c) Mas que talento tinha para a crueldade.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era d) Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo.
tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu cor- e) Como casualmente, informou-me que possuía As
po grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando-me mesmo, às ve-
zes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando
danadamente que eu sofra. 3. (Esc. Naval) Laivos de memória

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia “... e quando tiverem chegado, vitoriosamente,
sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de ao fim dessa primeira etapa,
tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a mais ainda se convencerão de que
outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olhei- abraçaram uma carreira difícil,
ras se cavando sob os meus olhos espantados. árdua, cheia de sacrifícios,
mas útil, nobre e, sobretudo bela.”
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo
humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964.)
estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia, triste-
porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma za e ansiedade que meu jovem coração de adolescente soube
confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. suportar com bravura.
A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar
entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e da
filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu família e deixava para trás bucólica cidadezinha da região
daqui de casa e você nem quis ler! serrana fluminense. A motivação que me levava a abandonar
gentes e coisas tão caras era, naquele momento, suficiente-
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. mente forte para respaldar a decisão tomada de dar novos
Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos rumos à minha vida. Meu mundo de então se tornara peque-
espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha des- no demais para as minhas aspirações. Meus desejos e sonhos
conhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das projetavam horizontes que iam muito além das montanhas
ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse fir- que circundam minha terra natal.
me e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo.
E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar des-
Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu perta nos corações dos jovens?
quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, ainda que
ter a ousadia de querer. dolorosas – e despedidas são sempre dolorosas – não seriam cer-
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim rece- tamente em vão. Não tinha dúvidas de que os sonhos que acalen-
bi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, tavam meu coração pouco a pouco iriam se converter em realidade.
não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das Contas
segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra na ponte de atracação do Colégio Naval, como integrantes de
o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco mais uma Turma desse tradicional estabelecimento de ensino
importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. da Marinha do Brasil.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito dos novos
só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li al- e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não posso negar que a
gumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela tristeza, que antes havia ocupado espaço em nossos corações,
casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que era naquele momento substituída pelo contentamento peculiar
não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns dos vitoriosos. E o sentimento de perda, experimentado por
instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa ocasião das despedidas, provara-se equivocado: às nossas ca-
clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser ras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família Naval,
clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como de- composta pelos recém-chegados companheiros; e às respecti-
morei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era vas cidades de nascimento, como a minha bucólica Bom Jardim,
uma rainha delicada. juntava-se, naquele instante, a bela e graciosa enseada Batista
das Neves em Angra dos Reis, como mais tarde se agregaria à
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto histórica Villegagnon em meio à sublime baía de Guanabara.
no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma
menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz convivência,
tanto no Colégio como na Escola Naval. Seis anos de aprendi-
Com base no texto acima, responda à questão a seguir. zagem científica, humanística e, sobretudo, militar-naval. Seis

11
anos entremeados de aulas, festivais de provas, práticas es- contato com povos diferentes e até mesmo de culturas exóticas
portivas, remo, vela, cabo de guerra, navegação, marinharia, e hábitos às vezes totalmente diversos dos nossos, como os ri-
ordem-unida, atividades extraclasses, recreativas, culturais e beirinhos amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga
sociais, que deixaram marcas indeléveis. Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka.
Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimentos pas- Como foi fascinante e delicioso navegar por todos esses can-
sados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmente distantes, em tos. Cada novo mar percorrido, cada nova enseada, estreito ou
meio a saudosos devaneios. porto visitado tinha sempre um gosto especial de descoberta...
Sim, pois, como dizia Câmara Cascudo, “o mar não guarda os
Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preliminares
vestígios das quilhas que o atravessam. Cada marinheiro tem a
com a vida de bordo e as primeiras idas para o mar – a razão
ilusão cordial do descobrimento”.
de ser da carreira naval.
(CÉSAR, CMG William Carmo. Laivos de memória. In:
Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras desco- Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50.)
bertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza!
Em que opção encontra-se uma palavra cujo processo de for-
Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonhado em- mação é o mesmo do termo destacado em “[...] o tão sonhado
barque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa! Nós, da Turma embarque [...].” (11º parágrafo)
Míguens, Guardas-Marinha de 1967, tivemos a oportunidade
ímpar e rara de participar de um cruzeiro ao redor do mundo a) “[...] circundam minha terra [...].” (2º parágrafo)
em 1968: a Quinta Circum-navegação da Marinha Brasileira. b) “[...] não seriam certamente em vão.” (4º parágrafo)
c) “E o sentimento de perda [...].” (6º parágrafo)
Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o primeiro em-
barque efetivo e o verdadeiro início da vida profissional – no meu d) “Seis anos entremeados de aulas, [...].” (7º parágrafo)
caso, a bordo do cruzador Tamandaré, o inesquecível C-12. Era e) “[...] o notável escritor-marinheiro [...].” (13º parágrafo)
a inevitável separação da Turma do CN-62/63 e da EM-64/67.
Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou conta do TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
coração, agora do jovem Tenente, ao se apresentar para servir a Quem nunca fotoxopou?
bordo de um navio de nossa Esquadra. Após proveitosos, mas
descontraídos estágios de instrução como Aspirante e Guarda- Fala-se hoje em Facebook, Google e iPhone com a mesma
-Marinha, quando as responsabilidades eram restritas a compro- combinação de fascínio e terror que um dia já se falou de
missos curriculares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, Motorola e Nokia. Tudo se move rápido demais no mundo di-
gital, e são poucas as empresas que conseguem permanecer
a pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do status
competitivas ao longo dos anos. Apesar de o Vale do Silício
de Guarda-Marinha para Tenente, o notável escritor-marinheiro
ter aquele ar hollywoodiano de terra de oportunidades, con-
Gastão Penalva escrevera com muita propriedade: “... é a fase tam-se nos dedos empresas longevas como uma Adobe, uma
inesquecível de nosso ofício. Coincide exatamente com a ado- Dell, uma Amazon.
lescência, primavera da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois
começam a despontar as responsabilidades, as agruras de novos Por ter grande mobilidade, a concentração de poder e influência
cargos, o acúmulo de deveres novos”. no mundo digital surge tão rápido quanto desaparece, a ponto
de ser cada vez mais difícil encontrar quem fique na liderança por
E esses novos cargos e deveres novos, que foram se multiplican- uma mísera década. Na virada do século não havia Friendster,
do a bordo de velhos e saudosos navios, deixariam agradáveis e Myspace nem Orkut, o grande buscador era o Yahoo!, seguido
duradouras lembranças em nossa memória. Com o passar dos pelo Lycos. E a internet móvel estava a cargo de empresas inova-
tempos, inúmeros Conveses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, fo- doras como Palm e Kyocera.
ram se incorporando ao acervo profissional-afetivo de cada um
O usuário de produtos digitais é cada vez mais volúvel e pragmático.
dos integrantes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. Novos produtos e serviços podem até seduzi-lo com propaganda,
Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, repassar tan- design e preço. Mas a relação dificilmente será mantida se a marca
tas lembranças, tantos termos expressivos, tanta gíria maruja, não se renovar com a velocidade esperada, pouco importa sua fatia
tantas tradições, fainas e eventos tão intensamente vividos a de mercado. Kodak e Sony que o digam. Mesmo que ainda sejam
bordo de inesquecíveis e saudosos navios... gigantescas, já não têm o apelo de outrora.

E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem aprovei- A melhor lição de empresas bem-sucedidas em relacionamen-
tados anos de embarque, de centenas de dias de mar e de mi- tos de longo prazo é a do bom e velho Photoshop, vendendo
saúde em seus 22 anos de idade e 12 plásticas (oops, ver-
lhares de milhas navegadas em alto mar, singrando as extensas
sões). Como o Google, ele é sinônimo de categoria e verbo.
massas líquidas que formam os grandes oceanos, ou ao longo
Mas também é adjetivo, substantivo, pejorativo e indicativo
das águas costeiras que banham os recortados litorais, com
de retoques fotográficos, mencionado com familiaridade até
passagens, visitas e arribadas em um sem-número de ensea- por quem não faça ideia de como ele funciona. Ao contrário
das, baías, barras, angras, estreitos, furos e canais espalhados do AutoCAD, que é oito anos mais velho, mas desconhecido
pelos quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com fora de seu nicho, o Photoshop é unanimidade.
mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis.
Folha de S. Paulo, 26/03/2012.
Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, não só
no Brasil como no exterior, o que sempre nos proporciona ines- 4. (Insper) Quanto às variações exploradas a partir do termo
timáveis e valiosos conhecimentos, principalmente graças ao “Photoshop”, é correto afirmar que

12
a) o neologismo do título foi formado pelo mesmo Na coluna acima, estão palavras retiradas do texto; na coluna
processo que o termo “design”, presente no texto. abaixo, descrições relacionadas à formação de palavras.
b) como adjetivo, o valor depreciativo do termo “fo-
toxopado” decorre exclusivamente do sufixo “-ado” Associe corretamente os elementos das colunas a seguir.
agregado ao radical.
c) as palavras formadas a partir do estrangeirismo ( ) complexidade (refs. 1, 2, 3 e 4)
“photoshop” constituem jargões restritos à área de ( ) definição (ref. 5)
informática. ( ) insuportáveis (ref. 6) sufixo formador de adjetivos a partir
d) a grafia abrasileirada de “fotoxopou”, diferente- de verbos.
mente de “hollywoodiano”, no 1.º parágrafo, é uma ( ) obras-primas (ref. 7)
prova de que o software se popularizou no mundo.
e) apesar de não ter sido mencionado no texto, também 1. Constituída por composição através de justaposição.
seria possível transformar “Photoshop” em advérbio de
2. Constituída por prefixo com sentido de negação e sufixo for-
modo: “fotoxopalmente”.
mador de adjetivos a partir de verbos
5. (UFRGS - Adaptado) Hoje os conhecimentos se estruturam de
modo fragmentado, separado, compartimentado nas disciplinas. Essa 3. Constituída por sufixo formador de substantivo a partir de

situação impede uma visão global, uma visão fundamental e uma adjetivo.

visão complexa. 1”Complexidade” vem da palavra latina complexus,


4. Constituída por sufixo formador de substantivo a partir de verbo.
que significa a compreensão dos elementos no seu conjunto.
As disciplinas costumam excluir tudo o que se encontra fora do 5. Constituída por aglutinação, tendo em vista a mudança silábica
de um dos elementos do vocábulo.
seu campo de especialização. A literatura, no entanto, é uma
área que se situa na inclusão de todas as dimensões humanas.
Nada do humano lhe é estranho, estrangeiro. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
para baixo, é
A literatura e o teatro são desenvolvidos como meios de expres-
a) 4 – 3 – 2 – 1.
são, meios de conhecimento, meios de compreensão da 2com-
b) 3 – 4 – 2 – 5.
plexidade humana. Assim, podemos ver o primeiro modo de
c) 4 – 3 – 1 – 5.
inclusão da literatura: a inclusão da 3complexidade humana. E
d) 3 – 4 – 2 – 1.
vamos ver ainda outras inclusões: a inclusão da personalidade
humana, a inclusão da subjetividade humana, e, também, muito e) 3 – 2 – 1 – 5.
importante, a inclusão; do estrangeiro, do marginalizado, do in- 6. (Imed) Dia da Proclamação da República
feliz, de todos que ignoramos e desprezamos na vida cotidiana.
Há exatos 125 anos, em 15 de novembro de 1889, foi proclama-
A inclusão da 4complexidade humana é necessária porque rece- da a república do Brasil.
bemos uma visão mutilada do humano. Essa visão, a de homo
sapiens, é uma 5definição do homem pela razão; de homo faber, Na época, o país era governado por D. Pedro II e passava por
do homem como trabalhador; de homo economicus, movido por grandes problemas, em razão da abolição da escravidão, em
lucros econômicos. Em resumo, trata-se de uma visão prosaica, 1888.
mutilada, que esquece o principal: a relação do sapiens/demens, Como os negros não trabalhavam mais nas lavouras, os 1imi-
da razão com a demência, com a loucura. grantes começaram a ocupar seus lugares, plantando e colhen-
Na literatura, encontra-se a inclusão dos problemas humanos do, mas cobravam pelos trabalhos realizados, o que gerou insa-
mais terríveis, coisas 6insuportáveis que nela se tornam suportá- tisfação nos proprietários de terras.
veis. Harold Bloom escreve: ”Todas as grandes obras revelam a As perdas também foram grandes para os coronéis, pois haviam
universalidade humana através de destinos singulares, de situa- gasto uma enorme quantidade de dinheiro investindo nos escra-
ções singulares, de épocas singulares”. É essa a razão por que as vos, e o governo, após a abolição, não pagou nenhuma indeni-
7
obras-primas atravessam séculos, sociedades e nações. zação a eles.
Agora chegamos à parte mais humana da inclusão: a inclusão A guerra do Paraguai (1864 a 1870) também ajudou na luta
do outro para a compreensão humana. A compreensão nos tor- contra o regime monárquico no Brasil. Soldados brasileiros se
na mais generosos com relação ao outro, e o criminoso não é aliaram aos exércitos do Uruguai e da Argentina, recebendo
unicamente mais visto como criminoso, como o Raskolnikov de orientações para implantarem a república no Brasil.
Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla.
Os movimentos republicanos também já aconteciam no país, a
A literatura, o teatro e o cinema são os melhores meios de com- 2
imprensa trazia politização à população civil, para lutarem pela
preensão e de inclusão do outro. Mas a compreensão se torna libertação do país dos domínios de Portugal. Com isso, vários
provisória, esquecemo-nos depois da leitura, da peça e do filme. partidos teriam sido criados, desde 1870.
Então essa compreensão é que deveria ser introduzida e desen-
volvida em nossa vida pessoal e social, porque serviria para me- A Igreja também teve sua participação para que a república do
lhorar as relações humanas, para melhorar a vida social. Brasil fosse proclamada. Dois bispos foram nomeados para 12aca-
tarem as ordens de D. Pedro II, tornando-se seus subordinados,
(MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da literatura.
In: RÕSING, Tânia et al. Edgar Morin: religando mas não aceitaram tais imposições. Com isso, foram punidos com
fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p. 13-18) pena de prisão, levando a igreja a ir contra o governo.

13
Com as tensões aquecendo o mandato de D. Pedro II, o impera- 7. (UNICID MED – UNESP) A palavra “vidinha” (ref. 1), utili-
dor dirigiu-se com sua família para a cidade de Petrópolis, tam- zada no diminutivo,
bém no estado do Rio de Janeiro. a) contrapõe-se a uma vida menos ordinária, perme-
Porém seu afastamento não foi nada favorável, fazendo com que ada por cinema e restaurantes.
fosse posto em prática um golpe militar, onde o Marechal Deodo- b) reitera a ideia festiva contida em “celebram” e “sorriso”.
ro da Fonseca conspirava a derrubada de D. Pedro II. c) caracteriza uma vida com altos e baixos, festas e
Boatos de que os responsáveis pelo plano seriam presos fizeram trabalho, sorrisos e preocupações.
com que a armada acontecesse, recebendo o apoio de mais de d) faz uma denúncia sobre os delitos da vida cotidiana
seiscentos soldados. nas cidades.
e) ameniza o tom ostensivo da vida fácil dos que sor-
No dia 15 de novembro de 1889, ao passar pela Praça da Acla- riem com “bom uísque”, “cinema” e “restaurantes”.
mação, o Marechal, com espada em punho, declarou que, a partir
daquela data, o país seria uma república. 8. (ESPCEX) Ao se alistar, não imaginava que o combate pudesse
se realizar em tão curto prazo, embora o ribombar dos canhões já
Dom Pedro II recebeu a notícia de que seu governo havia sido
se fizesse ouvir ao longe.
derrubado e um decreto o expulsava do país, juntamente com
sua família. Dias depois, voltaram a Portugal.
Quanto ao processo de formação das palavras sublinhadas, é cor-
Para governar o Brasil República, os responsáveis pela conspira- reto afirmar que sejam, respectivamente, casos de
ção montaram um governo provisório, mas o Marechal Deodoro a) prefixação, sufixação, prefixação, aglutinação e
da Fonseca permaneceu como presidente do país. Rui Barbosa, onomatopeia.
Benjamin Constant, Campos Sales e outros foram escolhidos
b) parassíntese, derivação regressiva, sufixação, agluti-
para formar os ministérios. nação e onomatopeia.
(Jussara de Barros. Disponível em: http://www. c) parassíntese, prefixação, prefixação, sufixação e de-
brasilescola.com. Acesso em: 16/01/2017)
rivação imprópria.
Avalie as seguintes afirmações a respeito da palavra imigrantes (ref. 1): d) derivação regressiva, derivação imprópria, sufixação,
justaposição e onomatopeia.
I. É formada apenas por prefixação, assim como a palavra im- e) parassíntese, aglutinação, derivação regressiva, jus-
prensa (ref. 2). taposição e onomatopeia.
II. O prefixo – ante(s) exprime origem.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
III. Migração, migrar e emigrar são suas cognatas.
Darwin passou quatro meses no Brasil, em 1832, durante a sua cé-
lebre viagem a bordo do Beagle. Voltou impressionado com o que
Quais estão corretas?
viu: “Delícia é um termo 17insuficiente para 19exprimir as emoções
a) Apenas I. sentidas por um naturalista a sós com a natureza em uma flores-
b) Apenas II. ta brasileira”, escreveu. O Brasil, porém, aparece de forma menos
c) Apenas III. 21
idílica em seus escritos: “Espero nunca mais voltar a um país es-
d) Apenas I e II. cravagista. O estado da enorme população escrava deve preocupar
e) Apenas II e III. todos os que chegam ao Brasil. Os senhores de escravos querem ver
o negro romo outra espécie, mas temos todos a mesma origem.”
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Em vez do gorjeio do sabiá, o que Darwin guardou nos ouvidos foi
O sorriso dos canalhas um som terrível que o acompanhou por toda a vida: “Até hoje, se eu
ouço um grito, lembro-me, com 22dolorosa e clara memória, de quan-
Eles permanecem aí, sorrindo – em reuniões regadas a bom uís- do passei numa casa em Pernambuco e ouvi urros terríveis. Logo
que, sorrindo – diante de câmeras de televisão, sorrindo – de ter- entendi que era algum pobre escravo que estava sendo torturado,”
no e gravata, sorrindo. Parecem felizes, diriam uns, estão de bem
com a vida, pensariam outros, têm belas lembranças, concluiriam Segundo o biólogo Adrian Desmond, “a viagem do Beagie, para
então. Sem dúvida! Cada vez que um deles se olha no espelho, Darwin, foi menos importante pelos espécimes coletados do que
preparando-se para aparecer em público, uma súbita alegria o pela experiência de testemunhar os horrores da 23escravidão no
invade. É um homem impune, e sempre que lembra disso ele Brasil. De certa forma, ele escolheu focar na 20descendência co-
sorri. Sorri por todos os sorrisos que roubou. mum do homem justamente para mostrar que todas as raças eram
iguais e, desse modo, enfim, objetar àqueles que 18insistiam em
Sim, eles permanecem aí e celebram nossa indiferença e nos- dizer que os negros pertenciam a uma espécie diferente e inferior
sa curta memória. Mas ainda é cedo demais para esquecer, e à dos brancos”. Desmond acaba de lançar um estudo que mostra
o sorriso deles nos avisa disso. Enquanto vamos levando nossa a paixão abolicionista do cientista, revelada por seus diários e car-
vidinha1 de todos os dias, preocupados com o preço da gasolina tas pessoais. “A extensão de seu interesse no combate à ciência
e a violência das grandes cidades, eles andam pelas ruas, vão ao de cunho racista é surpreendente, e pudemos detectar um ímpeto
cinema, frequentam restaurantes, assombram suas vítimas. Que moral por trás de seu trabalho sobre a evolução humana – urna
imensa ilusão pensarmos que estamos em segurança enquanto crença na ‘irmandade racial’ que tinha origem em seu ódio ao 24es-
eles sorriem. Se ainda não podemos fazer alguma coisa, temos cravismo e que o levou a pensar numa descendência comum.”
ao menos a obrigação de não esquecer.
Adaptado de: HAAG, C. O elo perdido tropical. Pesquisa
(O espaço da dor, 1996. Adaptado.) FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, maio 2009.

14
9. (Ufrgs) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirma- A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo navio, é uma das
ções a seguir sobre elementos de formação de palavras do texto. coisas mais belas, que só há entre nós, em mais nenhum outro
lugar. Por isso sou marinheiro, porque sei o que é espírito de navio.
( ) As palavras insuficiente (ref. 17) e insistiam (ref. 18) apresen-
Bons tempos aqueles das viagens, dávamos um duro danado no
tam o mesmo prefixo em sua formação.
mar, em serviço, postos de combate, adestramento de guerra, dia
( ) A comparação da palavra exprimir (ref. 19) com imprimir e e noite. O interessante é que em toda nossa vida, quando busca-
da palavra descendência (ref. 20) com ascendência permite que se mos as boas recordações, elas vêm desse tempo, das viagens e
postule um radical comum para cada um dos pares. dos navios. 16Até as durezas por que passamos são saborosas ao
( ) As palavras idílica (ref. 21) e dolorosa (ref. 22) apresentam lembrar, talvez porque as vencemos e fomos adiante.
sufixos que formam adjetivos a partir de substantivos.
É aquela história dos pequenos sucessos. A volta ao porto era
( ) O emprego de diferentes sufixos para o mesmo radical em um acontecimento gostoso, sempre figurando a mulher. Primei-
escravidão (ref. 23) e escravismo (ref. 24) serve, no texto, para
ro a mãe, depois a namorada, a noiva, a esposa. Muita coisa a
expressar, respectivamente, a ideia de “situação resultante de uma
contar, a dizer, surpresas de carinho. A comida preferida, o abraço
ação” e de “movimento socioideológico”.
apertado, o beijo quente... e o filho que, na ausência, foi ensina-
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima do a dizer papai.
para baixo, é No início, eu voltava com muitos retratos, principalmente quando
a) F – V – V – V. vinha do estrangeiro, depois, com o tempo, eram poucos, até que
b) V – F – V – F. deixei de levar a máquina. Engraçado, vocês já perceberam que
c) V – V – F – F. marinheiro velho dificilmente baixa a terra com máquina fotográ-
fica? Foi assim comigo.
d) F – V – F – V.
e) F – F – V – V. Hoje os navios são outros, os marinheiros são outros – sinto-os
mais preparados do que eu era – mas a vida no mar, as viagens,
10. (Esc. Naval) VELHO MARINHEIRO os portos, a volta, estou certo de que são iguais. Sou marinheiro,
por isso sei como é.
Homenagem aos marinheiros
Fico agora em casa, querendo saber das coisas da Marinha. E a
de sempre... e para sempre. cada pedaço que ouço de um amigo, que leio, que vejo, me dá
um orgulho que às vezes chega a entalar na garganta. Há pouco
Sou marinheiro porque um dia, muito jovem, estendi meu braço
tempo, voltei a entrar em um navio. Que coisa linda! Sofisticado,
diante da bandeira e jurei lhe dar minha vida.
limpíssimo, nas mãos de uma tripulação que só pode ser muito
Naquele dia de sol a pino, com meu novo uniforme branco, sen- competente para mantê-lo pronto. Do que me mostraram eu não
ti-me homem de verdade, como se estivesse dando adeus aos sabia muito. Basta dizer que o último navio em que servi já deu
tempos de garoto. Ao meu lado, as vozes de outros jovens so- baixa. 17Quando saí de bordo, parei no portaló, voltei-me para a
avam em uníssono com a minha, vibrantes, e terminamos com bandeira, inclinei a cabeça... e, minha garganta entalou outra vez.
emoção, de peitos estufados e orgulhosos. Ao final, minha mãe
Isso é corporativismo; não aquele enxovalhado, que significa o
veio em minha direção, apressada em me dar um beijo. 20Acari-
bem de cada um, protegido à custa do desmerecimento da insti-
ciou-me o rosto e disse que eu estava lindo de uniforme. O dia
tuição; mas o puro, que significa o bem da instituição, protegido
acabou com a família em festa; eu lembro-me bem, fiquei de pelo merecimento de cada um.
uniforme até de tarde...
Sou marinheiro e, portanto, sou corporativista.
Sou marinheiro, porque aprendi, naquela Escola, o significado
nobre de companheirismo. Juntos no sofrimento e na alegria, Muitas vezes a lembrança me retorna aos dias da ativa e morro
um safando o outro, leais e amigos. Aprendi o que é civismo, de saudades. 18Que bom se pudesse voltar ao começo, vestir
respeito e disciplina, no princípio, exigidos a cada dia; depois, aquele uniforme novinho – até um pouco grande, ainda re-
como parte do meu ser e, assim, para sempre. A cada passo cordo – Jurar Bandeira, ser beijado pela minha falecida mãe...
havia um novo esforço esperando e, depois dele, um pequeno Sei que, quando minha hora chegar, no último instante, verei,
sucesso. Minha vida, agora que olho para trás, foi toda de pe- em velocidade desconhecida, o navio com meus amigos, minha
quenos sucessos. A soma deles foi a minha carreira. mulher, meus filhos, singrando para sempre, indo aonde o mar
19
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que era nova- encontra o céu... e, se São Pedro estiver no portaló, direi:
mente aluno. Todos sabiam das coisas mais do que eu havia – Sou marinheiro, estou embarcando.
aprendido. Só que agora me davam tarefas, incumbências, e
(Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: leitura e produção de
esperavam que eu as cumprisse bem. Pouco a pouco, passei a
texto. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8)
ser parte da equipe, a ser chamado para ajudar, a ser necessá-
rio. Um dia vi-me ensinando aos novatos e dei-me conta de que Glossário
me tornara marinheiro, de fato e de direito, um profissional! O Portaló: abertura no casco de um navio, ou passagem junto à
navio passou a ser minha segunda casa, onde eu permanecia balaustrada, por onde as pessoas transitam para fora ou para
mais tempo, às vezes, do que na primeira. Conhecia todos, al- dentro, e por onde se pode movimentar carga leve.
guns mais até do que meus parentes. Sabia de suas manhas,
cacoetes, preocupações e de seus sonhos. Sem dar conta, meu Em que opção o autor, ao reportar-se ao passado, emprega um ter-
mundo acabava no costado do navio. mo cujo sufixo tem valor intensificador?

15
a) “Até as durezas por que passamos são saborosas Os prefixos in- e hiper-, em incoerente e hiperativo, possuem os
ao lembrar [...].” (ref. 16) mesmos significados dos prefixos empregados, respectivamente, em
b) “Quando saí de bordo, parei no portaló, voltei-me a) amoral e hipocalórico.
para a bandeira [...].” (ref. 17)
b) ingressar e pluricelular.
c) “Que bom se pudesse voltar ao começo, vestir
c) antiaéreo e supercílio.
aquele uniforme novinho [...].” (ref. 18)
d) desprotegido e ultraconfiante.
d) “No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que
era novamente aluno.” (ref. 19) e) inflamável e transalpino.
e) “Acariciou-me o rosto e disse que eu estava lindo 3. (UFRGS) Quando a economia 2política clássica nasceu, no
de uniforme.” (ref. 20) Reino Unido e na França, ao final do século XVIII e início do sé-
culo XIX, a questão da distribuição da renda já se encontrava

E.O. Complementar
no centro de todas as análises. Estava claro que transformações
radicais entraram em curso, propelidas pelo crescimento 4demo-
gráfico sustentado – inédito até então – e pelo início do êxodo
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO rural e da Revolução Industrial. Quais seriam as consequências
sociais dessas mudanças?
O Assinalado
Para Thomas Malthus, que 5publicou em 1798 seu Ensaio sobre o
Tu és o louco da imortal loucura,
princípio da população, não restava dúvida: a superpopulação era
O louco da loucura mais suprema.
uma ameaça. Preocupava-se especialmente com a situação dos
A Terra é sempre a tua negra algema,
francesesvésperas da Revolução de 1789, quando havia miséria
Prende-te nela a extrema Desventura.
generalizada no campo. Na época, a França era de longe o país
Mas essa mesma algema de amargura, mais populoso da Europa: por volta de 1700, já contava com mais
Mas essa mesma Desventura extrema de 20 milhões de habitantes, enquanto o Reino Unido tinha pouco
Faz que tu’alma suplicando gema mais de 8 milhões de pessoas. A 8população francesa se expan-
E rebente em estrelas de ternura. diu em ritmo crescente ao longo do século XVIII, aproximando-se
dos 30 milhões. Tudo leva a crer que esse dinamismo demográfico,
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado, desconhecido nos séculos anteriores, contribuiu para a estagna-
De belezas eternas, pouco a pouco... ção dos salários no campo e para o aumento dos rendimentos
associados à 11propriedade da terra, sendo, portanto, um dos fa-
Na Natureza prodigiosa e rica tores que levaram Revolução Francesa. Para evitar que torvelinho
Toda a audácia dos nervos justifica similar vitimasse o Reino Unido, Malthus argumentou que toda
Os teus espasmos imortais de louco! assistência aos 15pobres deveria ser suspensa de imediato e a taxa
(Cruz e Souza. Últimos sonetos, 2002.) de natalidade deveria ser severamente controlada.

1. (UNIFAE MED – UNESP) Há derivação prefixal e sufixal na Já David Ricardo, que publicou em 1817 os seus Princípios de eco-
palavra destacada em:
nomia política e tributação, preocupava-se com a evolução do pre-
ço da terra. Se o crescimento da população e, consequentemente,
a) “O louco da loucura mais suprema.” da produção agrícola se prolongasse, a terra tenderia a se tornar
b) “Mas essa mesma algema de amargura,” escassa. De acordo com a lei da oferta e da procura, o preço do
c) “Mas essa mesma Desventura extrema” bem escasso – a terra – deveria subir de modo contínuo. No limite,
d) “Na Natureza prodigiosa e rica” os donos da terra receberiam uma parte cada vez mais significativa
e) “Tu és o louco da imortal loucura,” da renda nacional, e o restante da população, uma parte cada vez
mais reduzida, destruindo o equilíbrio social. De fato, o valor da ter-
2. Examine a tira Calvin e Haroldo para responder à questão ra permaneceu alto por algum tempo, mas, ao longo de século XIX,
caiu em relaçãooutras formas de riqueza, à medida que diminuía o
peso da agricultura na renda das nações. Escrevendo nos anos de
1810, Ricardo não poderia antever a importância que o progresso
tecnológico e o crescimento industrial teriam ao longo das décadas
seguintes para a evolução da distribuição da renda.
(PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de
Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 11-13.)

Assinale a alternativa em que as três palavras possuem um radical


que está relacionado com a noção de “povo”.

a) política (ref. 2) – publicou (ref. 5) – população (ref. 8)


b) política (ref. 2) – população (ref. 8) – pobres (ref. 15)
c) demográfico (ref. 4) – publicou (ref. 5) – população (ref. 8)
d) demográfico (ref. 4) – publicou (ref. 5) – propriedade
– (ref. 11)
e) demográfico (ref. 4) – propriedade (ref. 11) – pobres
(ref. 15)

16
4. (UFRGS) No século XV, viu-se a Europa invadida por uma raça “enxadachim” é construído pelo mesmo processo de formação
de homens que, vindos ninguém sabe de onde, se espalharam de palavras utilizado pelo autor moçambicano para a criação de
em bandos por todo o seu território. Gente inquieta e andari- a) vitupérios.
lha, deles afirmou Paul de Saint-Victor que era mais fácil predizer
b) bebericava.
o das nuvens ou dos gafanhotos do que seguir as pegadas da
sua invasão. Uns risonhos despreocupados: passavam a vida es- c) tamanhoso.
quecidos do passado e descuidados do futuro. Cada novo dia d) mudançarinos.
era uma nova aventura em busca do escasso alimento para os e) malfadado.
manter naquela jornada. Trajo? No mais completo sujos e puídos
cobriam-lhes os corpos queimados do sol. Nômades, aventurei-
ros, despreocupados – eram os boêmios. E.O. Dissertativo
Assim nasceu a semântica da palavra boêmio. O nome gentílico 1. (FGV) MÃE
de Boêmia passou a aplicar-se ao indivíduo despreocupado, de
existência irregular, relaxado no vestuário, vivendo ao deus-dará, Mãe – que adormente este viver dorido.
à toa, na vagabundagem alegre. Daí também o substantivo bo- E me vele esta noite de tal frio,
êmia. Na definição de Antenor Nascentes: vida despreocupada e E com as mãos piedosas até o fio
alegre, vadiação, estúrdia, vagabundagem. Aplicou-se depois o Do meu pobre existir, meio partido...
termo, especializadamente, à vida desordenada e sem preocu-
Que me leve consigo, adormecido,
pações de artistas e escritores mais dados aos prazeres da noite
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
que aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico do que se
Me banhe e lave a alma lá no rio
chama degenerescência semântica. De limpo gentílico – natural
Da clara luz do seu olhar querido...
ou habitante da Boêmia – boêmio acabou carregado de todas
essas conotações desfavoráveis. Eu dava o meu orgulho de homem – dava
Minha estéril ciência, sem receio,
A respeito do substantivo boêmia, vale dizer que a forma de uso,
E em débil criancinha me tornava,
ao menos no Brasil, é boemia, acento tônico em -mi-. E é natu-
ral que assim seja, considerando-se que -ia é sufixo que exprime Descuidada, feliz, dócil também,
condição, estado, ocupação. Conferir: 16alegria, 18anarquia, barba- Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
ria, 17rebeldia, tropelia, 20pirataria... Penso que sobretudo palavras Se tu fosses, querida, a minha mãe!
como folia e 19orgia devem ter influído na fixação da tonicidade de (Antero de Quental. Antologia, 1991)
boemia. Notar também o par abstêmio/abstemia. Além do mais, a
prosódia boêmia estava prejudicada na origem pelo nome próprio Analisando os termos empregados no texto, explique
Boêmia: esses boêmios não são os que vivem na Boêmia...
a) o sentido que assumem os termos “vele” (primeira
(LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O romance estrofe) e “débil” (terceira estrofe);
das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31.)
b) o processo de derivação do termo destacado em “Do
Considere as seguintes afirmações sobre as relações morfológi- meu pobre existir, meio partido...” (primeira estrofe) e
cas que se estabelecem com palavras do texto.
o sentido que o sufixo confere ao termo destacado em
“E em débil criancinha me tornava,” (terceira estrofe).
I. alegria (ref. 16) e rebeldia (ref. 17) são palavras derivadas de
adjetivos, assim como valentia. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
II. anarquia (ref. 18) e orgia (ref. 19) são palavras que, apesar de OS DIFERENTES
apresentarem a terminação -ia, não derivam de outras palavras.

III. pirataria (ref. 20) é palavra derivada de substantivo, assim Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de Osseva-
olep, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e tem
como chefia.
vida organizada.
Quais estão corretas? É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos
a) Apenas I. reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto,
b) Apenas III. em refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os
c) Apenas I e II. pés dá a impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
d) Apenas II e III. Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a lin-
e) I, II e III. guagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a
conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses
5. (Uel) A questão refere-se ao romance O outro pé da sereia, de nativos e foram recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecences-
Mia Couto. -para-baixo, como foram denominados à falta de melhor clas-
sificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão.
A crítica literária tem aproximado o moçambicano Mia Couto do
brasileiro Guimarães Rosa, em particular pelo fato de ambos empre- (ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa Seleta.
garem neologismos em suas obras.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150)

No trecho “as mãos calosas, de enxadachim”, extraído do con- 2. (Ufrj - Adaptado) No texto, identifica-se o povo da ilha de
to “Fatalidade”, de autoria do autor brasileiro, o neologismo Ossevaolep por um neologismo: cabecences-para-baixo.

17
a) Identifique os processos de formação de palavras Mandei a palavra rimar,
utilizados para a criação desse neologismo. ela não me obedeceu.
b) Considerando o conhecimento que os observado- Falou em mar, em céu, em rosa,
res têm do povo de Ossevaolep, responda: por que se em grego, em silêncio, em prosa.
afirma, no texto, que o neologismo foi criado “à falta Parecia fora de si,
de melhor classificação”? a sílaba silenciosa.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Mandei a frase sonhar,


e ela se foi num labirinto.
O EX-CINECLUBISTA Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
(João Gilberto Noll) para conquistar um império extinto.
Aquele homem meio estrábico, ostentando um mau humor (PAULO LEMINSKI GÓES, F.; MARINS, A. (Orgs.)
maior do que realmente poderia dedicar a quem lhe cruzasse o Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.
caminho e que agora entrava no cinema, numa segunda-feira à
Considere a formação da palavra “Desencontrários”, título do po-
tarde, para assistir a um filme nem tão esperado, a não ser entre
ema de Paulo Leminski. Separe seus elementos mórficos. Em seguida,
pingados amantes de cinematografias de cantões os mais exóti-
nomeie o primeiro morfema que a compõe e indique seu significado.
cos, aquele homem, sim, sentou-se na sala de espera e chorou,
simplesmente isso: chorou. Vieram lhe trazer um copo d’água
2. (UERJ) BRINCAR COM PALAVRAS – NOS JOGOS VER-
logo afastado, alguém sentou-se ao lado e lhe perguntou se não BAIS, EXERCÍCIOS DE LITERATURA
passava bem, mas ele nada disse, rosnou, passou as narinas pela
manga, levantou-se num ímpeto e assistiu ao melhor filme em Você sabe o que é um palíndromo?
muitos meses, só isso. Ao sair do cinema, chovia. Ficou sob a
marquise, à espera da estiagem. Tão absorto no filme que se es- É uma palavra ou mesmo uma frase que pode ser lida de frente
queceu de si. E não soube mais voltar. pra trás e de trás pra frente mantendo o mesmo sentido. Por
exemplo, em português: “amor” e “Roma”; em espanhol: “Anita
3. (Ufrj) O vocábulo “ex-cineclubista” resulta da aplicação de lava la tina”. Ou, então, a frase latina: “Sator arepo tenet opera
quatro processos de formação de palavras. Identifique-os, va- rotas”, que não só pode ser lida de trás pra frente, mas pode ser
lendo-se de elementos constitutivos desse vocábulo. lida na vertical, na horizontal, de baixo pra cima, de cima pra
baixo, girando os olhos em redor deste quadrado:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO SAT O R
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os AREPO
olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. T E N ET
[...] O P E RA
R OTA S
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma
aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, Essa frase latina polivalente foi criada pelo escravo romano Loreius
lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que 200 anos antes de Cristo, e tem dois significados: “O lavrador man-
escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As tém cuidadosamente a charrua nos sulcos” e/ou “o lavrador sus-
mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não tém cuidadosamente o mundo em sua órbita”. Osman Lins cons-
as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, truiu o romance “Avalovara” (1973) em torno desse palíndromo.
que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do Muita gente sabe o que é um caligrama – aqueles textos que
casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o existiam desde a Grécia em que as letras e frases iam desenhan-
pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e es- do o objeto a que se referiam – um vaso, um ovo, ou então,
fregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando como num autor moderno tipo Apollinaire, as frases do poema
contra as palmas da mão. se inscrevendo em forma de cavalo ou na perpendicular imitando
(Aluísio Azevedo. O cortiço.) o feitio da chuva.

4. (Ufscar) Há, no texto, palavras derivadas por sufixação, como Mas pouca gente sabe o que é um lipograma.
“tumultuosa” e “nudez”. Lipo significa tirar, aspirar, esconder. Portanto, um lipograma é um
a) Dê dois exemplos de palavras derivadas com o su- texto que sofreu a lipoaspiração de uma letra. O autor resolve
fixo da primeira. esconder essa letra por razões lúdicas. Já o grego Píndaro havia
b) Dê mais dois exemplos de palavras derivadas com escrito uma ode, sem a letra “s”. Os autores barrocos no século
o sufixo da outra. XVII também usavam este tipo de ocultação, porque estavam
envolvidos com o ocultismo, com a cabala e com a numerologia.

E.O. UERJ
Por que estou dizendo essas coisas?
Culpa da Internet.
Exame Discursivo Esses jogos verbais que vinham sendo feitos desde as cavernas
agora foram potencializados com a informática. Dizia eu numa en-
1. (UERJ) DESENCONTRÁRIOS trevista outro dia que estamos vivendo um paradoxo riquíssimo: a

18
mais avançada tecnologia eletrônica está resgatando o uso lúdico
da linguagem e uma das mais arcaicas atividades humanas – a E.O. Objetivas
poesia. Os poetas, mais que quaisquer outros escritores, invadiram
a Internet. Se em relação às coisas prosaicas se diz que a vingança (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
vem a cavalo, no caso da poesia a vingança veio a cabo, galopando
eletronicamente. Por isto que toda vez que um jovem iniciante me 1. (Unicamp 2017)
procura com a angústia de publicar seu livro, aconselho-o logo:
“Meu filho, abra uma página sua na Internet para não mais se
constranger e se sentir constrangido diante dos editores e críticos.
Estampe seu texto na Internet e deixe rolar”.
(ROMANO, Affonso de Sant’Anna. O Globo, 15/09/1999.)

Você sabe o que é um palíndromo? (par. 1)

Por que estou dizendo essas coisas? (par. 7)

Observando os parágrafos compreendidos entre as perguntas aci-


ma, identifique:

a) a função da linguagem predominante nesses pará-


grafos e justifique sua reposta;
Do ponto de vista da norma culta, é correto afirmar que “coisar” é
b) o processo de formação de palavras comum aos ter-
mos OCULTAÇÃO e OCULTISMO e explique a diferença a) uma palavra resultante da atribuição do sentido co-
de sentido entre eles. notativo de um verbo qualquer ao substantivo “coisa”.
b) uma palavra resultante do processo de sufixação que
3. (UERJ) transforma o substantivo “coisa” no verbo “coisar”.
c) uma palavra que, graças a seu sentido universal,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
pode ser usada em substituição a todo e qualquer
A bem dizer, sou Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de paten- verbo não lembrado.
te, do que tenho honra e faço alarde. Herdei do meu avô Simeão d) uma palavra que resulta da transformação do subs-
terras de muitas medidas, gado do mais gordo, pasto do mais fino. tantivo “coisa” em verbo “coisar”, reiterando um es-
Leio no corrente da vista e até uns latins arranhei em tempos ver- quecimento.
des da infância, com uns padres-mestres a dez tostões por mês.
Digo, modéstia de lado, que já discuti e joguei no assoalho do Foro 2. (Unifesp) Casimiro de Abreu pertence à geração dos poetas que
mais de um doutor formado. Mas disso não faço glória, pois sou morreram prematuramente, na casa dos vinte anos, como Álvares

sujeito lavado de vaidade, mimoso no trato, de palavra educada. de Azevedo e outros, acometidos do “mal” byroniano. Sua poesia,

Já morreu o antigamente em que Ponciano mandava saber nos reflexo autobiográfico dos transes, imaginários e verídicos, que lhe
ermos se havia um caso de 1lobisomem a sanar ou pronta justiça agitaram a curta existência, centra-se em dois temas fundamentais:
a ministrar. Só de uma regalia não abri mão nesses anos todos a saudade e o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de juvenilidade
de pasto e vento: a de falar alto, sem freio nos dentes, sem medir e timidez, sua poesia saudosista guarda um não sei quê de infantil.
consideração, seja em compartimento do governo, seja em sala de
(Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos textos, 2004.)
desembargador. Trato as partes no macio, em jeito de moça. Se não
recebo cortesia de igual porte, abro o peito: Os substantivos do texto derivados pelo mesmo processo de for-
– Seu filho da égua, que pensa que é? mação de palavras são:

a) juvenilidade e timidez.
Nos currais do Sobradinho, no debaixo do capotão de meu avô,
b) geração e byroniano.
passei os anos de pequenice, que pai e mãe perdi no gosto do
primeiro leite. Como fosse dado a fazer garatujações e desabusado c) reflexo e imaginários.
de boca, lá num inverno dos antigos, Simeão coçou a cabeça e d) prematuramente e autobiográfico.
estipulou que o neto devia ser doutor de lei: e) saudade e infantil.

– Esse menino tem todo o sintoma do povo da política. É invencio- 3. (Unifesp 2018) Leia um trecho do artigo “Reflexões sobre
neiro e 2linguarudo. (...) o tempo e a origem do Universo”, do físico brasileiro Marcelo

(CARVALHO, J. C. O coronel e o lobisomem.


Gleiser, para responder à próxima questão.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.)
Qualquer discussão sobre o tempo deve começar com uma análi-
Observe as seguintes palavras: se de sua estrutura, que, por falta de melhor expressão, devemos
chamar de “temporal”. É comum dividirmos o tempo em passado,
“lobisomem” (ref. 1) presente e futuro. O passado é o que vem antes do presente e o
“linguarudo” (ref. 2) futuro é o que vem depois. Já o presente é o “agora”, o instante
atual. Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para definir-
Identifique o processo de formação de cada uma delas, segundo o mos passado e futuro, precisamos definir o presente. Mas, segun-
seu emprego no texto. do nossa separação estrutural, o presente não pode ter duração

19
no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um período no seu Diabo na Terra do Sol”, convocada pelo Facebook para o mesmo
passado e no seu futuro. Portanto, para sermos coerentes em dia, no Rio de Janeiro.
nossas definições, o presente não pode ter duração no tempo. Ou (O Estado de S. Paulo, 23/03/2014, Caderno Aliás, E4. )
seja, o presente não existe! A discussão acima nos leva a outra
questão, a da origem do tempo. Se o tempo teve uma origem, a) Descreva o processo de formação de palavras en-
então existiu um momento no passado em que ele passou a exis- volvido em “esculhambativo”, apontando o tipo de
tir. Segundo nossas modernas teorias cosmogônicas, que visam transformação ocorrida no vocábulo.
explicar a origem do Universo, esse momento especial é o mo- b) Discorra sobre a diferença entre as expressões
mento da origem do Universo “clássico”. A expressão “clássico” “evento esculhambado” e “evento esculhambativo”,
é usada em contraste com “quântico”, a área da física que lida considerando as relações de sentido existentes entre
com fenômenos atômicos e subatômicos. [...] As descobertas de os dois textos acima.
Einstein mudaram profundamente nossa concepção do tempo.
2. (Unicamp) A sobrevivência dos meios de comunicação tradi-
Em sua teoria da relatividade geral, ele mostrou que a presen-
cionais demanda foco absoluto na qualidade de seu conteúdo.
ça de massa (ou de energia) também influencia a passagem do
A internet é um fenômeno de desintermediação. E que futuro
tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia.
aguardam os meios de comunicação, assim como os partidos
O tempo relativístico adquire uma plasticidade definida pela re-
políticos e os sindicatos, num mundo desintermediado? Só nos
alidade física à sua volta. A coisa se complica quando usamos a
resta uma saída: produzir informação de alta qualidade técnica
relatividade geral para descrever a origem do Universo.
e ética. Ou fazemos jornalismo de verdade, fiel à verdade dos
(Folha de S.Paulo, 07.06.1998.) fatos, verdadeiramente fiscalizador dos poderes públicos e com
excelência na prestação de serviços, ou seremos descartados
O processo de formação de palavras verificado em “estrutural”
por um consumidor cada vez mais fascinado pelo aparente au-
(2.° parágrafo) também está presente em
tocontrole da informação na plataforma virtual.
a) “futuro” (1º parágrafo). (Carlos Alberto di Franco, Democracia demanda jornalismo
b) “portanto” (2º parágrafo). independente. O
Estado de S. Paulo, São Paulo, 14/10/2013, p. A2.)
c) “momento” (3º parágrafo). a) “Desintermediação” é um termo técnico do campo da
d) “plasticidade” (4º parágrafo). comunicação. Ele se refere ao fato de que os meios de
e) “origem” (3º parágrafo). comunicação tradicionais não mais detêm o monopólio
da produção e distribuição de mensagens. Considerando
4. (Unifesp) Examine a tira. esse “mundo desintermediado”, identifique duas críticas
ao jornalismo atual formuladas pelo autor.
b) Os processos de formação de palavras envolvidos no
vocábulo “desintermediação” não ocorrem simultane-
amente. Tendo isso em mente, descreva como ocorre a
formação da palavra “desintermediação”.
3. (Unicamp 2018) Enquanto viveu em Portugal, o escritor Mário
Prata reuniu centenas de vocábulos e expressões usados no portu-
O efeito de humor na situação apresentada decorre do fato de a guês falado na Europa que são diferentes dos termos correspon-
personagem, no segundo quadrinho, considerar que “carinho” e dentes usados no português do Brasil. Reproduzimos abaixo um
“caro” sejam vocábulos dos verbetes de seu dicionário.
a) derivados de um mesmo verbo. Descapotável é outra palavra que em português faz muito mais
b) híbridos. sentido do que em brasileiro. Não é mais claro dizer que um carro
c) derivados de vocábulos distintos. é descapotável, do que conversível?
d) cognatos. (Mário Prata, Dicionário de português: schifaizfavoire.
e) formados por composição. São Paulo: Editora Globo, 1993, p. 48.)
a) Identifique os dois afixos que formam a palavra “des-

E.O. Dissertativas
capotável” a partir do substantivo “capota” (cobertura
de um automóvel) e explique a função de cada um.

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


b) Explique por que o autor considera, com certo hu-
mor, que a palavra “descapotável” do português eu-
ropeu faz mais sentido de que o termo“conversível”,
1. (Unicamp) Os textos abaixo foram retirados da coluna “Caras usado no português brasileiro.
e bocas”, do Caderno Aliás, do jornal O Estado de S. Paulo:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
“A intenção é salvar o Brasil.” Ana Paula Logulho, professora e
entusiasta da segunda “Marcha da Família com Deus pela Liber- UM CHAMADO JOÃO
dade”, que pede uma intervenção militar no país e pretendeu João era fabulista?
reeditar, no sábado, a passeata de 19 de março de 1964, na fabuloso?
capital paulista, contra o governo do Presidente João Goulart. fábula?
“Será um evento esculhambativo em homenagem ao outro de Sertão místico disparando
São Paulo.” José Caldas, organizador da “Marcha com Deus e o no exílio da linguagem comum?

20
Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas Gabarito
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar E.O. Aprendizagem
o que não ousamos compreender? 1. D 2. B 3. E 4. A 5. B
(...)
6. E 7. C 8. B 9. A 10. E
Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
a chamado geral?
E.O. Fixação
(...) 1. B 2. B 3. C 4. E 5. D
Ficamos sem saber o que era João 6. C 7. A 8. B 9. A 10. C
e se João existiu
deve pegar.
(Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manhã,
22/11/1967, publicado em Rosa, J. G. “Sagarana”.
E.O. Complementar
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.) 1. E 2. D 3. C 4. E 5. D
4. (Unicamp) Na segunda estrofe, há dois processos muito inte-
ressantes de associação de palavras. Em “inenarrável/narrada”
encontramos claramente um processo de derivação. Em “disfar-
E.O. Dissertativo
çar/farçar”, temos a sugestão de um processo semelhante, embo- 1. a) O verbo “velar”, segundo o contexto, significa “zelar por
ra “farçar” não conste dos dicionários modernos. alguém”. O adjetivo “débil” significa “frágil”.
a) Relacione o significado de “inenarrável” com o pro- b) Ocorre derivação imprópria em “Do meu pobre existir, meio
cesso de sua formação; e o de “farçar”, na relação su- partido...”, uma vez que o verbo “existir” foi empregado como
gerida no poema, com “disfarçar”. substantivo, inclusive acompanhado pelo adjetivo “pobre”.
b) Explique como esses processos contribuem na cons- O sufixo diminutivo em “criancinha” confere afetividade ao subs-
trução dos sentidos dessa estrofe. tantivo criança, caracterizada no poema como alguém frágil.
5. (Fuvest) Leia com atenção o seguinte texto: 2.
a) Composição por justaposição e derivação sufixal.
A onipresença do olho mágico da televisão no centro da vida do-
méstica dos brasileiros, com o 1poder (imaginário) de tudo mos- b) Os observadores criaram um neologismo superficialmente, pois
trar e tudo ver que os espectadores lhe atribuem, vem provocan- eles não conseguiram alcançar um conhecimento aprofundado so-
do curiosas alterações nas relações entre o público e o privado. bre o povo Ossevaolep.
Durante pelo menos dois séculos, o bom gosto burguês nos ensi- 3. O termo “ex-cineclubista” é resultado de quatro processos de
nou que algumas coisas não se dizem, não se mostram e não se formação de palavras: redução/abreviação vocabular (cinecine-
fazem em público. Essas mesmas coisas, até então reservadas ao ma), composição (cine + clube), derivação sufixal (cineclube +
espaço da privacidade, hoje ocupam o centro da cena televisiva. ista) e derivação prefixal (ex + cineclubista).
Não que o bom gosto burguês deva ser tomado como referência
indiscutível da 2ética que regula a vida em qualquer sociedade. 4. a) amorosa, horrorosa, cremosa, leitosa.
Mas a inversão de padrões que pareciam tão convenientemen- b) aridez, timidez, surdez, altivez .
te estabelecidos nos países do Ocidente dá o que pensar. No
mínimo, podemos concluir que a burguesia do terceiro milênio
já não é a mesma que ditou o bom comportamento dos dois E.O. UERJ
séculos passados. No máximo, supõe-se que os fundamentos do
contrato que ordenava a vida social entre os séculos XIX e XX Exame Discursivo
estão profundamente abalados, e já vivemos, sem nos dar conta, 1. A palavra “desencontrários” é formada por derivação, proces-
em uma sociedade pós-burguesa, num sentido semelhante ao so através do qual de uma palavra se formam outras, por meio
do que chamamos uma sociedade pós-moderna. da agregação de certos elementos que lhe alteram o sentido,
Maria R. Kehl, in Bucci e Kehl, Videologias: ensaios sobre televisão. mas sempre se referindo ao valor semântico da palavra primitiva.
a) O que a autora do texto quer dizer, quando se refere Assim, há duas possibilidades para a formação da palavra em
ao “poder de tudo mostrar e tudo ver” (ref.1), atribuído questão, considerando o radical, prefixos e sufixos e desinências
à televisão, como “imaginário”? flexionais: des+en+contr+ ário+s; des+en+contr+ari+o+s.
b) Indique a palavra do primeiro período que tem o “Des” é um prefixo que indica negação.
mesmo significado do prefixo que entra na formação 2. a) Função metalinguística.
da palavra “onipresença”.
Uma dentre as justificativas:
c) Indique uma palavra ou expressão do texto que cor-
responda ao sentido da palavra “ética” (ref.2). – Os parágrafos explicam os significados das palavras.

21
– Os parágrafos contêm definição de palavras por outras palavras. 4. a) No primeiro caso, a palavra “inenarrável” significa “o que
não pode ser narrado”. A ideia de negação está no prefixo “in-”
b) Derivações sufixal ou sufixação.
(derivação prefixal). Porém, o elemento ao qual se junta o prefixo
OCULTAÇÃO é o ato de ocultar e OCULTISMO designa crença, é o adjetivo “enarrável”, que os dicionários, na sua maioria, não
doutrina ou seita. costumam registrar. A palavra geralmente usada é “narrável”, o
que resulta em “inarrável”. Isso ocorre por haver dois verbos,
3. lobisomem: composição por aglutinação
“narrar” e “enarrar”, com o mesmo sentido.
linguarudo: derivação sufixal No segundo caso, como o significado de “disfarçar” é “enco-
brir”, “ocultar”, “tapar”, o vocábulo primitivo do qual ele seria
formado, por processo de derivação prefixal, seria “farçar”, que
E.O. Objetivas tem como significado oposto “revelar”, “manifestar”. Mas essa
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) velação não é absoluta, já que a semelhança sonora entre “far-
çar” e “farsa” sugeriria que João é capaz de dizer o indizível, fa-
1. B 2. A 3. D 4. D zendo com que o mistério do “que não ousamos compreender”
permaneça vivo em sua literatura.

E.O. Dissertativas b) Na segunda estrofe, a ideia pretendida é a de que João con-


segue realizar o impossível. O processo de derivar um vocábulo
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) de outro “inexistente”, que se observa nos pares inenarrável/
1. a) Trata-se de uma derivação sufixal: “esculhambativo” é enarrável e disfarçar/farçar, mostra o poder que o ficcionista tem
uma palavra formada pelo acréscimo de um sufixo (-ivo) ao de realizar o “irrealizável”.
verbo “esculhambar”. 5. a) O uso dos parênteses destaca o termo “imaginário” no
b) Apesar de derivarem do mesmo verbo (“esculhambar”), os contexto da frase, para enfatizar que a televisão produz o efeito
ilusório de que as imagens transmitidas ao espectador passivo
adjetivos mencionados diferem quanto ao seu significado. Even-
representam a realidade.
to “esculhambado” é sinônimo de “desorganizado, desmorali-
zado”; já evento “esculhambativo” é aquele que “desmoraliza, b) O prefixo “oni” significa “tudo”, termo que é repetido na frase
satiriza” o evento anterior. “tudo mostrar e tudo ver”.
2. a) O autor faz críticas implícitas ao jornalismo atual, quando c) Define-se ética como o conjunto de princípios, normas e regras
diz que só resta ao jornalista que convive rotineiramente com a que visem a um comportamento moral exemplar, o que é sugeri-
internet: produzir informação de alta qualidade técnica e ética, do na expressão “bom comportamento”.
fiel à verdade dos fatos, verdadeiramente fiscalizadora dos pode-
res públicos e com excelência na prestação de serviços, comen-
tário em que se subentende que na era da frugalidade virtual,
nem todo jornalista produz informações com alto teor ético e de
qualidade. O autor alerta que para os dias atuais, a única manei-
ra do jornalismo sobreviver à internet é primando pela fidelidade
da informação e dos fatos, a fim de prestar um serviço confiável
e essencial à sociedade.
b) O prefixo – des tem o sentido de negação, de ação contrária. O
também prefixo -inter tem o sentido de entre. O radical é -mediar.
O sufixo -ção é utilizado para formar um substantivo a partir de
um verbo. Sendo assim, o processo de formação é de dois prefi-
xos + radical + sufixo, para a criação do neologismo.
3. a) A palavra descapotável se constitui a partir do seguinte
processo:
• derivação parassintética (des + capota + ar);
• derivação sufixal (sufixo vel encaixado ao elemento
anterior);
A agregação do sufixo vel faz cair o r da desinência verbal.
b) O adjetivo descapotável, usado no português europeu, faz
referência a um veículo cuja capota pode ser recolhida. Em por-
tuguês brasileiro, a referência ao mesmo tipo de veículo é dada
pela palavra conversível. O autor considera que a primeira opção
apresenta um sentido mais adequado, pois ela indicaria de modo
mais adequado o fato de o veículo possuir uma capota. Já a se-
gunda opção, poderia nos dar a sensação de que o veículo, por
ser conversível, pode ser inteiramente modificado.

22
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. UERJ


EXAME DISCURSIVO
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 1.1
1 1.1
2 1.1
2 1.1
3 1.1
3 1.1
4 1.1
5 1.1
E.O. OBJETIVAS
6 1.1 (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
7 1.1 Exercícios Códigos
8 1.1 1 1.1
9 1.1 2 1.1
10 1.1 3 1.1
4 1.1
E.O. FIXAÇÃO
Exercícios Códigos
E.O. DISSERTATIVAS
1 1.1 (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
2 1.1 Exercícios Códigos
3 1.1 1 1.1
4 1.2 2 1.1
5 1.1 e 1.2 3 1.1
6 1.1 4 1.1
7 1.1
8 1.1
9 1.1
10 1.1

E.O. COMPLEMENTAR
Exercícios Códigos
1 1.1
2 1.1
3 1.1
4 1.2
5 1.2

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 1.1
2 1.2
3 1.1 e 1.2
4 1.1

23
AULAS Artigos, substantivos e adjetivos
3e4
Competências: 1e8 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 26 e 27

E.O. Aprendizagem 2. (Ufrgs) A notícia saiu no The Wall Street Journal:

A "ansiedade 1superou a depressão como problema 2de saúde


mental predominante nos EUA". Para justificar o absurdo, o autor da
1. (IFAL) 77% dos pais americanos culpam o videogame por expor matéria recorre a 3um psicoterapeuta e a um 4sociólogo. O primeiro
os filhos à violência descreve "ansiedade como 5condição dos privilegiados" que, livres
de ameaças reais, se dão ao luxo de "olhar para dentro" e criar me-
Será que videogames tornam as crianças mais agressivas? Com dos irracionais; o segundo diz que "vivemos na era mais segura da
certeza, você já ouviu essa questão por aí. Afinal, a polêmica humanidade" e, no entanto, "desperdiçamos bilhões de dólares 6em
existe há muito tempo. 2Por enquanto, a ciência não tem uma medos bem mais ampliados do que seria 7justificável". Sem meias
resposta definitiva sobre o tema. 3Estudos recentes apontam que palavras, 8os peritos dizem algo mais ou menos assim: os americanos
eles não podem ser culpados pela violência infantil. 4Já outros estão nadando em 9riqueza e, como não têm do que se queixar, ad-
afirmam que eles alteram a atividade cerebral e deixam as pes- quiriram o costume neurótico 10de 11desentocar medos 12irracionais
soas mais insensíveis. para projetá-los no 13admirável mundo novo ao redor.
Mas, segundo uma pesquisa realizada pela Common Sense A explicação impressiona pela ingenuidade ou pela má-fé. Nin-
Media e divulgada nesta semana, os pais americanos não têm guém contrai o 14"Mau hábito" 15de olhar para 16dentro de si do
dúvidas: 77% deles culpam jogos, filmes e a TV por manter dia para a noite. A obsessão consigo não é um efeito colateral
uma cultura de violência entre as crianças. Os dados mostram 17
do modo de vida atual; é um dos seus mais 18indispensáveis in-
também que os pais aprovam medidas mais rigorosas para gredientes. O crescimento exagerado do interesse pelo "mundo
manter os filhos longe de conteúdos violentos: 688% acreditam interno" e pelo 19corpo é a 20contrapartida do desinteresse ou hos-
que anúncios violentos não deveriam ser veiculados durante tilidade pelo "mundo externo" e pelos outros. Diz o 21catecismo: só
programas com grande audiência infantil e 91% apoiam que confie em seu corpo e sua mente. 22O resto é 23concorrente; o resto
só possam ser exibidos trailers com a mesma classificação in- está sempre cobiçando e disputando seu emprego, seu sucesso,
dicativa do filme. seu patrimônio e sua saúde. Sentir medo e ansiedade, em condi-
ções semelhantes, é um estado emocional perfeitamente racional
“Os pais estão claramente preocupados com o impacto que
e inteligível.
a violência na mídia pode ter em suas crianças”, diz 7James
Steyer, criador e CEO da empresa responsável pela pesqui- Em bom português, sentir-se condenado a 24jamais ter repouso
sa. Além dos jogos de videogame, outras preocupações dos físico ou 25mental, sob pena de perder a saúde, a 26longevidade, a
pais são o bullying (92%) o acesso a armas (75%) e os forma física, o desempenho 27sexual, o emprego, a casa, a segu-
níveis atuais de crime (86%). rança na velhice, pode ser um inferno em vida para os pobres ou
para os ricos. Os 28candidatos à ansiedade são, assim, bem mais
E você, o que acha desse assunto? numerosos e bem menos ociosos do que pensam o 29psicotera-
(Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/superblog/ peuta e o sociólogo.
77-dos-pais-americanos-culpam-o-videogame-por-expor-
os-filhos-a-violencia. Acesso em: 16/01/2017.) Considere as seguintes afirmações acerca do uso de artigos.
I. Caso tivéssemos "uma condição" em vez de "condição" (ref. 5)
As palavras em destaque estão com função de substantivos ou adje-
haveria alteração no sentido global da frase
tivos, exceto na alternativa
II. O artigo indefinido "uns" poderia substituir o definido (ref. 8)
a) Por enquanto, a ciência não tem uma resposta
"os", sem que houvesse alteração no sentido da frase em questão.
definitiva sobre o tema. (ref. 2)
b) Estudos recentes apontam que eles não po- III. As duas ocorrências do artigo definido "o" anteposto às palavras
"psicoterapeuta" e "sociólogo" (ref. 29) poderiam ser substituídas
dem ser culpados pela violência infantil. (ref. 3)
por um indefinido sem mudar o sentido da frase.
c) Já outros afirmam que eles alteram a atividade
cerebral e deixam as pessoas mais insensíveis. (ref. 4) Quais estão corretas?
d) 88% acreditam que anúncios violentos não deve- a) Apenas I.
riam ser veiculados durante programas com grande b) Apenas II.
audiência infantil (ref. 6). c) Apenas I e III.
e) James Steyer, criador e CEO da empresa respon- d) Apenas II e III.
sável pela pesquisa. (ref. 7) e) I, II e III.

24
3. (IFAL) O trecho apresentado é preponderantemente descritivo. A classe
Paraí-ba (Céceu) de palavras que aparece associada a esse tipo textual é o adjetivo.

Pê – a – pá São exemplos de palavras dessa classe, no texto, as seguintes:


Erre – a – ra – í a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...
Bê – a – bá b) Águas são muitas e infindas.
Paraíba c) ...dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem...
Paraíba do norte, do caboclo forte d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece
Do homem disposto esperando chover que será salvar esta gente...
Da gente que canta com água nos olhos e) ...esta deve ser a principal semente que vossa alte-
Chorando e sorrindo, querendo viver za em ela deve lançar.
Do sertão torrado, do gado magrinho
Do açude sequinho, do céu tão azul 5. (UEG) CELULARES EXPLOSIVOS, IDEIAS NEM TANTO
Do velho sentado num banquinho velho
Comendo com gosto um prato de angu Sou uma nulidade no uso do celular. Mal conheço a senha para tirar
Acende o cachimbo, dá uma tragada as mensagens lá de dentro e, pelo que vejo, meu aparelho é forte
Não sabe de nada da vida do sul candidato a uma dessas explosões que têm acontecido ultimamente.
Pê – a – pá Pinóquio não primava pela responsabilidade nos compromissos
Erre – a - ra – í assumidos, mas seu Grilo Falante, de cartola e guarda-chuva,
Bê – a – bá conhecia as virtudes da polidez e da adequação. Não tomava a
Paraíba
palavra antes de um minúsculo pigarro de advertência.
Paraíba do norte que tem seu progresso
Que manda sucesso pra todo país Inseto mutante, o celular está para o grilo de Pinóquio um pouco
Que sente a presença da mãe natureza como a guitarra elétrica para o antigo violão. Adota os tons mais
Que vê a riqueza nascer da raiz estridentes, descabelados e imperativos, a que as pessoas obe-
Que acredita em Deus, também no pecado decem numa coreografia alucinada. A pose mais estudada da
Que faz do roçado a sua oração grã-fina se estilhaça em aflição e pânico enquanto ela remexe na
E ainda confia no seu semelhante bolsa à procura do aparelho; o taxista mais inerte e distraído pula
E vai sempre avante em busca do pão ao menor toque, como se tivesse uma aranha dentro do carro. E
O pão que é nosso, que garante a vida nem se sabia que aquilo era carregado de dinamite.
Terrinha querida do meu coração (COELHO, M. Folha de S. Paulo., São Paulo,
Pê – a – pá 10 maio 2006, p. E 10. Ilustrada.)
Erre – a – ra – í
Bê – a – bá No texto, o artigo definido pode ser identificado em todas as
Paraíba orações a seguir, EXCETO em:
(Ramalho, Zé. Duetos. BMG. São Paulo, 2004. CD-ROM.)
a) “Não tomava a palavra”
Na frase: Do velho sentado num banquinho velho, observa-se: b) “Mal conheço a senha”
a) Nas duas vezes em que a palavra VELHO aparece, c) “é forte candidato a uma dessas explosões”
ela tem a função de substantivo. d) “ela remexe na bolsa à procura do aparelho”
b) Nas duas vezes em que a palavra VELHO aparece,
ela tem a função de adjetivo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
c) Primeiramente, VELHO tem a função de substanti-
Esparadrapo
vo; depois, tem a função de adjetivo.
d) Primeiramente, VELHO tem a função de adjetivo; Aquele restaurante de bairro é do tipo simpatia/classe média.
depois, tem a função substantivo. Fica em rua sossegada, é pequeno, limpo, cores repousantes, co-
e) No texto, nas duas vezes em que a palavra VELHO mida razoável, preços idem, não tem música de triturar os ouvi-
aparece não assume nem a função de adjetivo, nem dos. O dono senta-se à mesa da gente, para bater um papo leve,
de substantivo. sem intimidades.
Meu relógio parou. Pergunto-lhe quantas horas são.
4. (IFSP) Esse texto do século XVI reflete um momento de ex- — Estou sem relógio.
pansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a apro- — Então vou perguntar ao garçom.
priação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Ele também está sem relógio.
Um exemplo dessa produção é a Carta de Caminha a D. Manuel. — E o colega dele, que serve aquela mesa?
Considere a seguinte parte dessa carta: — Ninguém está com relógio nesta casa.
— Curioso. É moda nova?
Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem — Antes de responder, e se o senhor permite, vou lhe fazer, não
prata... porém a terra em si é de muito bons ares assim frios e tempe- propriamente um pedido, mas uma sugestão.
rados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. — Pois não.
E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela — Não precisa trazer relógio, quando vier jantar.
tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se — Não entendo.
pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a — Estamos sugerindo aos nossos fregueses que façam este pe-
principal semente que vossa alteza em ela deve lançar. queno sacrifício.

25
— Mas o senhor podia explicar... 6. (G1 – ifsc) Assinale a alternativa cuja palavra poderia subs-
— Sem querer meter o nariz no que não é da minha conta, gos- tituir de maneira CORRETA o adjetivo – “obtuso” (ref. 1), sem
taria também que trouxesse pouco dinheiro, ou antes, nenhum. que houvesse alteração considerável no sentido da frase.
— Agora é que não estou pegando mesmo nada. a) teimoso
— Coma o que quiser, depois mandamos receber em sua casa. b) apressado
— Bem, eu moro ali adiante, mas e outros, os que nem se sabe
c) insensível
onde moram, ou estão de passagem na cidade?
d) agressivo
— Dá-se um jeito.
e) estúpido
— Quer dizer que nem relógio nem dinheiro?
— Nem joias. Estamos pedindo às senhoras que não venham de 7. (ESPCEX) Assinale a única opção em que a palavra “a”
joia. É o mais difícil, mas algumas estão atendendo. é artigo.
— Hum, agora já sei.
a) Hoje, ele veio a falar comigo.
— Pois é. Isso mesmo. O amigo compreende...
b) Essa caneta não é a que te emprestei.
— Compreendo perfeitamente.
Desculpa ter custado um pouco a entrar na jogada. Sou meio c) Convenci-a com poucas palavras.
obtuso1 quando estou com fome. d) Obrigou-me a arcar com mais despesas.
— Absolutamente. Até que o amigo compreendeu sem que eu e) Marquei-te a fronte, mísero poeta.
precisasse dizer tudo. Muito bem.
8. (UFRRJ) Mãos dadas
— Mas me diga uma coisa. Quando foi isso?
— Quarta-feira passada. 1ª estrofe
— E como foi, pode-se saber?
Não serei o poeta de um mundo caduco.
— Como podia ser? Como nos outros lugares, no mesmo figuri-
Também não cantarei o mundo futuro.
no. Só que em ponto menor.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
— Lógico, sua casa é pequena. Mas levaram o quê?
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
— O que havia na caixa, pouquinha coisa. Eram 9 da noite, dia
Entre eles, considero a enorme realidade.
meio parado.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
— Que mais? Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
— Umas coisinhas, liquidificador, relógio de pulso, meu, dos em-
2ª estrofe
pregados e dos fregueses.
— An. (Passei a mão no pulso, instintivamente.) Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
— O pior foi o cofre. não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
— Abriram o cofre? não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
— Reviraram tudo, à procura do cofre. Ameaçaram, pintaram e Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens pre-
bordaram. Foi muito desagradável.
sentes, a vida presente.
— E afinal?
— Cansei de explicar a eles que não havia cofre, nunca houve, (ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. Rio
de Janeiro: J. Olympio, 1974. p. 55.)
como é que eu podia inventar cofre naquela hora?
— Ficaram decepcionados, imagino. Os adjetivos “caduco” (primeiro verso) e “taciturnos” (quarto
— Não senhor. Disseram que tinha de haver cofre. Eram cinco, verso) significam, respectivamente,
inclusive a moça de bota e revólver, querendo me convencer que
a) doente e falantes.
tinha cofre escondido na parede, no teto, embaixo do piso, sei lá.
— E o resultado? b) ultrapassado e tristes.
— Este — e baixou a cabeça, onde, no cocuruto, alvejava a c) fraco e joviais.
estrela de esparadrapo. d) caído e solidários.
— Oh! Sinto muito. Não tinha notado. Felizmente escapou, é o e) passageiro e prolixos.
que vale. Dê graças a Deus por estar vivo.
9. (UFRJ)
— Já sei. Sabe que mais? Na polícia me perguntaram se eu tinha
seguro contra roubo. E eu pensando que meu seguro fosse a
polícia. Agora estou me segurando à minha maneira, deixando
as coisas lá em casa e convidando os fregueses a fazer o mesmo.
E vou comprar um cofre. Cofre pequeno, mas cofre.
— Para que, se não vai guardar dinheiro nele?
— Para mostrar minha boa-fé, se eles voltarem. Abro imedia-
tamente o cofre, e verão que não estou escondendo nada. Que
lhe parece?
— Que talvez o senhor precise manter um estoque de espara-
drapo em seu restaurante.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Esparadrapo. In Para
gostar de ler. v. 3. Crônicas. São Paulo: Ática, 1978.

26
BONS (IN)VENTOS “Para esses estudantes, o projeto e a construção de uma ae-
ronave de carga não tripulada controlada a distância é uma
Universitários mineiros se destacam no desenvolvimento de pro- oportunidade única de testar seus conhecimentos, de modo a
tótipos de aviões desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe e integrar os
Alessandra Ribeiro conhecimentos adquiridos ao longo das várias unidades curricu-
lares, por vezes tão distintas, de seu curso”, avalia Cláudio Pel-
“Urrú! É pão de queijo!”. O grito de comemoração tornou-se
legrini (...). O professor ressalta que isso vale, inclusive, para os
recorrente na premiação do campeonato anual promovido nos
Estados Unidos pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade estudantes sem formação específica em aeronáutica – caso das
(SAE, na sigla em inglês), a Aerodesign East Competition. O de- equipes da UFSJ. “A participação também desenvolve a autono-
safio consiste em projetar e construir aeronaves radiocontrola- mia no aprendizado, característica essencial em um mercado de
das, com capacidade de transportar cargas. Na última edição, trabalho em constante mudança”, acrescenta.
encerrada em março, com a participação de 75 grupos das Amé- (MINAS FAZ CIÊNCIA, jun/jul/ago de 2015. P. 31-2.)
ricas, da Ásia e da Europa, duas equipes mineiras alcançaram o
segundo lugar, em diferentes categorias: a Uirá, da Universidade Releia a frase:
Federal de Itajubá (Unifei), na classe “regular”, e a Trem Ki Voa,
“Na última edição, encerrada em março, com a participação de
da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), na “micro”.
75 grupos das Américas, da Ásia e da Europa, duas equipes mi-
Instituições mineiras de ensino superior figuram anualmente na neiras alcançaram o segundo lugar, em diferentes categorias: a
lista de vencedores da competição desde 2006, quando o primeiro Uirá, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), na classe “re-
e o segundo lugares da classe “regular” ficaram, respectivamen- gular”, e a Trem Ki Voa, da Universidade Federal de São João
te, com as equipes Uai-So-Fly, da Universidade Federal de Minas del-Rei (UFSJ), na “micro”.”
Gerais (UFMG), e Tucano, da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Pouco antes, em 2004, o grupo CEAV-UAV, também da Na frase acima, “micro” exerce a função de adjetivo. Entretanto,
UFMG, havia conquistado o vice-campeonato. Nessa categoria, os não está explicito o substantivo que ele qualifica, que seria:
participantes devem construir aeronaves com dimensões totais de, a) classe.
no máximo, metros, capazes de decolar na distância máxima de b) avião.
metros, com o uso de motores elétricos limitados à potência de c) edição.
1000 watts. O uso de materiais compostos – como fibra de carbo- d) grupo.
no ou vidro – é vetado na estrutura dos aviões.
e) equipe.
Já na classe “micro”, os protótipos devem ter dimensões reduzi-
das e pesar, em média, 700 gramas. Além disso, a equipe precisa TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
transportar a aeronave dentro de um tubo de 15,3 centímetros
Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos
de diâmetro. Quanto menor o comprimento do tubo, mais pon-
tos são ganhos. As aeronaves também têm de usar motores elé- O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas de reincidência
tricos e decolar por lançamento manual. Foi nesta categoria que criminal em todo o mundo. No país, a taxa média de reincidência
a Trem Ki Voa (TKV), da UFSJ, subiu pela primeira vez no pódio da (amplamente admitida, mas nunca comprovada empiricamente) é
Aerodesign East Competition. de mais ou menos 70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam
A equipe micro teve sua participação iniciada em 2010, por inicia- a cometer algum tipo de crime após saírem da cadeia.
tiva de estudantes do curso de Engenharia Mecânica. “De lá para Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por que não?" O
cá, participamos de todas as competições, sendo vice-campeões que esperar de um sistema que propõe reabilitar e reinserir aqueles que
nacionais em 2012 e 2014 e vice-campeões mundiais em 2015”, cometerem algum tipo de crime, mas nada oferece, para que essa si-
conta o professor Cláudio Pellegrini, orientador do grupo, que conta tuação realmente aconteça? Presídios em estado de depredação total,
com o apoio do Programa Santos Dumont, da FAPEMIG. O edi- pouquíssimos programas educacionais e laborais para os detentos, pra-
tal batizado com o nome do “pai da aviação”, natural de Minas ticamente nenhum incentivo cultural, e, ainda, uma sinistra cultura
Gerais, estimula o espírito empreendedor de alunos de graduação, (mas que diverte muitas pessoas) de que bandido bom é bandido
por meio do financiamento de projetos focados em iniciação tec- morto (a vingança é uma festa, dizia Nietzsche).
nológica. O apoio financeiro abrange a participação de equipes em
competições de caráter educacional, como as promovidas pela SAE. Situação contrária é encontrada na Noruega. Considerada pela
ONU, em 2012, o melhor país para se viver (1º no ranking do
A TKV é “filha caçula” da equipe regular da UFSJ, a Coiote, IDH) e, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Avante
criada em 2001. Três anos mais tarde, as duas se unificaram Brasil, o 8º país com a menor taxa de homicídios no mundo, lá
e decidiram adotar a alcunha Trem Ki Voa, uma referência (ou o sistema carcerário chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou
reverência) ao dialeto mineiro. Os nomes das equipes, aliás, de- seja, apenas 2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é
monstram o nível de criatividade dos participantes. Na mesma uma das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma pri-
universidade, a NoizAvua, que reúne estudantes das engenha- são em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa reincidência é
rias Civil, Mecatrônica e de Telecomunicações do campus Alto de cerca de 16% entre os homicidas, estupradores e traficantes
Paraopeba, estreou em 2012 na SAE Brasil Aerodesign, com- que por ali passaram. Os EUA chegam a registrar 60% de reinci-
petição brasileira que garante a classificação ao desafio inter- dência e o Reino Unido, 50%. A média europeia é 50%.
nacional. Já na primeira participação, o grupo recebeu menção
honrosa por apresentar o melhor projeto não custeado. Desde A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao fato de ter
então, já conseguiu patrocínios pontuais, um deles também seu sistema penal pautado na reabilitação e não na punição por
viabilizado pelo programa da FAPEMIG. vingança ou retaliação do criminoso. A reabilitação, nesse caso, não

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é uma opção, ela é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso
poderá ser condenado à pena máxima prevista pela legislação do E.O. Fixação
país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar totalmente 1. (UFRGS) Quando a 1economia política clássica nasceu, no
reabilitado para o convívio social, a pena será prorrogada, em mais Reino Unido e na França, ao final do século XVIII e início do sé-
5 anos, até que sua reintegração seja comprovada. culo XIX, a questão da distribuição da renda já se encontrava
O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decorado com no centro de todas as análises. Estava claro que transformações
grafites e quadros nos corredores, e no qual as celas não pos- radicais entraram em curso, propelidas pelo crescimento demo-
suem grades, mas sim uma boa cama, banheiro com vaso sani- gráfico sustentado – inédito até então – e pelo início do êxodo
tário, chuveiro, toalhas brancas e porta, televisão de tela plana, rural e da Revolução Industrial. Quais seriam as consequências
mesa, cadeira e armário, quadro para afixar papéis e fotos, além sociais dessas mudanças?
de geladeiras. Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de Para Thomas Malthus, que publicou em 1798 seu Ensaio sobre o
esportes, campo de futebol, chalés para os presos receberem os princípio da população, não restava dúvida: a superpopulação era
familiares, estúdio de gravação de música e oficinas de trabalho. uma ameaça. Preocupava-se especialmente com a situação dos
Nessas oficinas são oferecidos cursos de formação profissional, franceses às vésperas da Revolução de 1789, quando havia misé-
cursos educacionais, e o trabalhador recebe uma pequena re- ria generalizada no campo. Na época, a França era de longe o país
muneração. Para controlar o ócio, oferecer muitas atividades, de mais populoso da Europa: por volta de 1700, já contava com mais
educação, de trabalho e de lazer, é a estratégia. de 20 milhões de habitantes, enquanto o Reino Unido tinha pouco
A prisão é construída em blocos de oito celas cada (alguns dos pre- mais de 8 milhões de pessoas. A população francesa se expandiu
sos, como estupradores e pedófilos, ficam em blocos separados). em ritmo crescente ao longo do século XVIII, aproximando-se dos
Cada bloco tem sua cozinha. A comida é fornecida pela prisão, mas 30 milhões. Tudo leva a crer que esse dinamismo demográfico,
é preparada pelos próprios detentos, que podem comprar alimen- desconhecido nos séculos anteriores, contribuiu para a 10estagna-
tos no mercado interno para abastecer seus refrigeradores. ção dos salários no campo e para o aumento dos rendimentos
associados à propriedade da terra, sendo, portanto, um dos fato-
Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos devem passar
res que levaram a Revolução Francesa. Para evitar que torvelinho
por no mínimo dois anos de preparação para o cargo, em um cur- 13
similar vitimasse o Reino Unido, Malthus argumentou que toda
so superior, tendo como obrigação fundamental mostrar respeito
assistência aos pobres deveria ser suspensa de imediato e a taxa
a todos que ali estão. Partem do pressuposto que, ao mostrarem
de natalidade deveria ser severamente controlada.
respeito, os outros também aprenderão a respeitar.
Já David Ricardo, que publicou em 1817 os seus Princípios de
A diferença do sistema de execução penal norueguês em relação
economia política e tributação, preocupava-se com a evolução
ao sistema da maioria dos países, como o brasileiro, americano,
do preço da terra. Se o crescimento da população e, consequen-
inglês, é que ele é fundamentado na ideia de que a prisão é a
temente, da produção agrícola se prolongasse, a terra tenderia a
privação da liberdade, e pautado na reabilitação e não no trata-
se 18tornar escassa. De acordo com a lei da oferta e da procura,
mento cruel e na vingança.
o preço do bem escasso – a terra – deveria subir de modo contí-
O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progressos educacio- nuo. No limite, os donos da terra receberiam uma parte cada vez
nais, laborais e comportamentais, e, dessa forma, provar que pode mais significativa da renda nacional, e o 20restante da população,
ter o direito de exercer sua liberdade novamente junto à sociedade. uma parte cada vez mais reduzida, destruindo o equilíbrio social.
De fato, o valor da terra permaneceu alto por algum tempo, mas,
A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a seguinte:
ao longo de século XIX, caiu em relação outras formas de rique-
enquanto lá os presos saem e praticamente não cometem cri-
za, à medida que diminuía o peso da agricultura na renda das
mes, respeitando a população, aqui os presos saem roubando e
nações. Escrevendo nos anos de 1810, Ricardo não poderia an-
matando pessoas. Mas essas são consequências aparentemente
tever a importância que o progresso tecnológico e o crescimento
colaterais, porque a população manifesta muito mais prazer no
industrial teriam ao longo das décadas seguintes para a evolução
massacre contra o preso produzido dentro dos presídios (a vin-
da distribuição da renda.
gança é uma festa, dizia Nietzsche).
(PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de
LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p.11-13.)
Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito.
com.br. Estou no blogdolfg.com.br.
Geralmente, substantivos denotam seres ou coisas. Às vezes, no
** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga entanto, podem denotar ação ou processo. Assinale a alternativa
e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
que contém um substantivo que, no texto, denota processo.
FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/
noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos/. a) economia (ref. 1)
Acessado em 17 de março de 2017. b) estagnação (ref.10)
10. (Espcex - Aman) "(...) uma sinistra cultura de que bandido bom c) similar (ref. 13)
é bandido morto." d) tornar (ref. 18)
O adjetivo em destaque apresenta, no texto, o significado de: e) restante (ref. 20)
a) errada 2. (Unesp) A questão a seguir abordam um poema de Raul de Leoni
b) maligna (1895-1926).
c) desprezível A alma das cousas somos nós...
d) forte Dentro do eterno giro universal
e) correta Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,

28
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual 4. (Uece) A GARAGEM DE CASA
Nada mais, na verdade,
Nunca mais se repete exatamente... Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões de livros, a 4ga-
Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente ragem de casa lembra uma biblioteca pública permanentemente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal; aberta para a rua. Mas não são adeptos de literatura os indi-
O que varia é o espírito que as sente víduos que ali se abrigam da chuva ou do sol a pino de verão.
Que é imperceptivelmente desigual,
8
Esses desocupados matam o tempo jogando porrinha, ou lendo
Que sempre as vive diferentemente, os jornais velhos que mamãe amontoa num canto, sentados nos
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal... degraus do escadote com que ela alcança as prateleiras altas.
Estado de alma em fuga pelas horas, Já quando fazem o obséquio de me liberar o espaço, de tem-
Tons esquivos e trêmulos, nuanças pos em tempos entro para olhar as estantes onde há de tudo
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris um pouco, em boa parte remessas de editores estrangeiros que
Da sensibilidade furta-cor... têm apreço pelo meu pai. Num reduto de literatura tão sortida,
E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas como bem sabem os habitués de sebos, fascina a perspectiva de
E a vida somos nós, que sempre somos outros!... por puro acaso dar com um livro bom. Ou by serendipity, como
Homem inquieto e vão que não repousas! dizem os ingleses quando na caça a um tesouro se tem a fe-
Para e escuta: licidade de deparar com outro bem, mais precioso ainda. Hoje
Se as cousas têm espírito, nós somos revejo na mesma prateleira velhos conhecidos, algumas dezenas
Esse espírito efêmero das cousas, de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que papai é capaz
Volúvel e diverso, de um dia querer destrinchar. Também continua em evidência o
Variando, instante a instante, intimamente, livro do poeta romeno Eminescu, que papai ao menos tentou
E eternamente, ler, como é fácil inferir das folhas cortadas a espátula. Há uma
Dentro da indiferença do Universo!... edição em alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que ele não
leu, mas cujas ilustrações 15admirou longamente, como denun-
(LEONI, Raul. Luz mediterrânea, 1965.) ciam os filetes de cinzas na junção das suas páginas coloridas.
Indique o verso em que ocorre um adjetivo antes e outro depois Hoje tenho experiência para saber quantas vezes meu pai leu um
de um substantivo:
mesmo livro, posso quase medir quantos minutos ele se deteve
em cada página. E não costumo perder tempo com livros que ele
a) O que varia é o espírito que as sente nem sequer abriu, entre os quais uns poucos eleitos que mamãe
b) Mas, se nesse vaivém tudo parece igual teve o capricho de empilhar numa ponta de prateleira, confiando
c) Tons esquivos e trêmulos, nuanças numa futura redenção. Muitas vezes a vi de manhãzinha compa-
d) Homem inquieto e vão que não repousas! decida dos livros estatelados no escritório, com especial carinho
e) Dentro do eterno giro universal pelos que trazem a foto do autor na capa e que papai despreza:
parece disco de cantor de rádio.
Leia o texto para responder à questão
(Chico Buarque. O irmão alemão. 1 ed. São Paulo.
A Argentina tem Messi. Ele é o plano, o propósito, a ideia. Como Companhia das letras. 2014. p. 60-61.)
executá-la? Isso também é coisa para Leo, ciente de que com a A obra O irmão alemão, último livro de Chico Buarque de Holan-
alviceleste lhe cabe ser meio-campista, porque a equipe não tem da, tem como móvel da narrativa a existência de um desconhecido
jogadores brilhantes no meio. Ocorre que, exceto por Di María, o irmão alemão, fruto de uma aventura amorosa que o pai dele,
ataque não tem pegada, apesar da reputação de Higuaín, Agüero Sérgio Buarque de Holanda, tivera com uma alemã, lá pelo final
– agora lesionado –, Lavezzi e Palácio. O peso de Maradona já é da década de 1930 do século passado. Exatamente quando Hitler
enorme; obrigar alguém a ser Maradona para criar e Maradona ascende ao poder na Alemanha. Esse fato é real: o jornalista,
para concretizar é uma missão quase impossível até para um gênio historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, na época,
como Messi. solteiro, deixou esse filho na Alemanha. Na família, no entanto,
O ponto de partida assumido por Leo foi o eixo do campo, onde não se falava no assunto. Chico teve, por acaso, conhecimento
Mascherano há tempos não aparece, e onde Gago é uma sombra, dessa aventura do pai em uma reunião na casa de Manuel Bandei-
nem fede nem cheira, só se dispersa. Como não há ninguém capaz ra, por comentário feito pelo próprio Bandeira.
de dar uma luz, a Pulga vai ao socorro e busca abrir espaços entre
o funil rival. O normal seria que acabasse preso pelas emboscadas Foi em torno da pretensa busca desse pretenso irmão que Chico
suíças, que não eram poucas. Quando conseguiu finalmente armar Buarque desenvolveu sua narrativa ficcional, o seu romance.
um chute, lá estava o formidável Benaglio [goleiro da Suíça].
Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: “o que o leitor
(http://brasil.elpais.com/brasil)
tem em mãos [...] não é um relato histórico. Realidade e ficção
3. (UNICID MED UNESP) No trecho "lá estava o formidável estão aqui entranhadas numa narrativa que embaralha sem cessar
Benaglio", em relação ao nome próprio a que se refere, o adjetivo memória biográfica e ficção”.
é empregado para exprimir

a) um sentido de modéstia. Considere a expressão “a garagem de casa” (ref. 4) e o que se


diz sobre ela.
b) uma qualidade distintiva.
c) uma avaliação pejorativa. I. O emprego do vocábulo casa sem a determinação do artigo
d) um sentido atenuante. definido, como acontece no texto, indica que a casa é da pessoa
e) um tom cerimonioso. que fala.

29
II. A introdução do artigo definido antes do substantivo casa a) desmesurada/ imensa
– garagem da casa – indicaria não só que o falante não é o b) ilimitada/ inumerável
proprietário da casa, ou pelo menos não a habita, mas também que c) ilimitada/ numerável
o referente casa, representado no texto pelo vocábulo casa, já
d) abrangente/ magnífica
aparecera no texto, portanto não seria novo para o leitor.

III. A introdução do artigo indefinido um antes do substantivo


casa – garagem de uma casa – indicaria que o referente casa, 6. ARTE SUPREMA
representado pelo vocábulo casa, ainda não aparecera no texto, Tal como Pigmalião, a minha ideia
portanto seria novo para o leitor. Visto na pedra: talho-a, domo-a, bato-a;
E ante os meus olhos e a vaidade fátua
Está correto o que se diz em Surge, formosa e nua, Galateia.
a) I e II apenas. Mais um retoque, uns golpes... e remato-a;
b) I, II e III. Digo-lhe: “Fala!”, ao ver em cada veia
c) I e III apenas. Sangue rubro, que a cora e aformoseia...
d) II apenas. E a estatua não falou, porque era estatua.
5. (CP2) ITALIANO CAPTA SONS DA NATUREZA PARA Bem haja o verso, em cuja enorme escala
CRIAR MÚSICAS Falam todas as vozes do universo,
E ao qual também arte nenhuma iguala:
Se a quantidade de instrumentos musicais tocados por Diego
Stocco não é infinita, com certeza é incontável. Para ele fazer mú- Quer mesquinho e sem cor, quer amplo e terso,
sica com uma coisa, basta que ela exista. Galhos, folhas, frutas, Em vão não e que eu digo ao verso: “Fala!”
areia, casca de tronco de árvore, sementes, até uma abelha que E ele fala-me sempre, porque e verso.
passeava entre as flores participam da gravação do músico. Nas
mãos do italiano, qualquer jardim vira uma orquestra. Para fazer (Júlio César da Silva. Arte de amar. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1961.)
suas composições em parceria com a natureza, vários métodos
de captação são utilizados. Quase sempre, os objetos acabam se Aponte a alternativa que indica o número do verso em que apare-
transformando em elementos de percussão. cem dois adjetivos ligados por um conectivo aditivo:
Ele posiciona microfones perto de uma árvore, por exemplo, e, a) Verso 3.
após um breve teste para descobrir qual o som provocado pelos
b) Verso 4.
movimentos, começa a chacoalhar os galhos e batucar no tronco,
como se fosse um bongô. Às vezes, pequenos microfones são c) Verso 5.
acoplados aos seus dedos, fazendo com que qualquer impacto d) Verso 7.
seja ampliado na hora. Mas o método mais curioso, com certeza, e) Verso 11.
é o estetoscópio. Diego pluga o aparelho em um microfone e
o encosta na casca da árvore. Assim que ele bate no tronco, o 7. (Esc. Naval)
que se ouve é um som grave, saído diretamente das entranhas
daquela planta. VELHO MARINHEIRO
Quando ele termina de experimentar as sonoridades do jardim, é Homenagem aos marinheiros
tudo uma questão de edição. de sempre... e para sempre.
Apesar de ter virado notícia, a ideia de utilizar elementos naturais Sou marinheiro porque um dia, muito jovem, estendi meu braço
para criar uma canção não é exatamente nova. Desde os tempos diante da bandeira e jurei lhe dar minha vida.
em que o homem morava em cavernas, ele já fazia músicas com
os elementos ao seu redor. Naquele dia de sol a pino, com meu novo uniforme branco, sen-
ti-me homem de verdade, como se estivesse dando adeus aos
(...)
tempos de garoto. Ao meu lado, as vozes de outros jovens so-
Hermeto Pascoal, um dos músicos mais inventivos que o Brasil já avam em uníssono com a minha, vibrantes, e terminamos com
viu, fazia coisa parecida desde os tempos de criança, em 1940. emoção, de peitos estufados e orgulhosos. Ao final, minha mãe
Ele transformava cano de mamona de jerimum em pífano (tipo veio em minha direção, apressada em me dar um beijo. Acari-
de flauta) e adorava fazer música com os barulhos da lagoa perto ciou-me o rosto e disse que eu estava lindo de uniforme. O dia
de sua casa. acabou com a família em festa; eu lembro-me bem, fiquei de
(...) uniforme até de tarde...
(Disponível: http://revistagalileu.globo.com/Revista/n/0,,EMI30
Sou marinheiro, porque aprendi, naquela Escola, o significado
817917770,0ITALIANO+CAPTA+SONS+DA+NATUREZA+
PARA+CRIAR+MUSICAS.html. Acesso em 23 nov. 2013.) nobre de companheirismo. Juntos no sofrimento e na alegria, um
safando o outro, leais e amigos. Aprendi o que é civismo, respeito
Lê-se no texto que “Se a quantidade de instrumentos musicais to- e disciplina, no princípio, exigidos a cada dia; depois, como parte
cados por Diego Stocco não é infinita, com certeza é incontável”.
do meu ser e, assim, para sempre. A cada passo havia um novo
Considerando a leitura da reportagem, assinale a alternativa que esforço esperando e, depois dele, um pequeno sucesso. Minha
representa, respectivamente, o valor semântico dos dois adjetivos vida, agora que olho para trás, foi toda de pequenos sucessos. A
no contexto. soma deles foi a minha carreira.

30
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que era novamente mulher, meus filhos, singrando para sempre, indo aonde o mar
aluno. Todos sabiam das coisas mais do que eu havia aprendi- encontra o céu... e, se São Pedro estiver no portaló, direi:
do. Só que agora me davam tarefas, incumbências, e esperavam
– Sou marinheiro, estou embarcando.
que eu as cumprisse bem. Pouco a pouco, passei a ser parte da
equipe, a ser chamado para ajudar, a ser necessário. Um dia vi- (Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: leitura e produção de
texto. Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8)
-me ensinando aos novatos e dei-me conta de que me tornara
marinheiro, de fato e de direito, um profissional! O navio passou Glossário
a ser minha segunda casa, onde eu permanecia mais tempo, às
vezes, do que na primeira. Conhecia todos, alguns mais até do Portaló: abertura no casco de um navio, ou passagem junto à
que meus parentes. Sabia de suas manhas, cacoetes, preocupa- balaustrada, por onde as pessoas transitam para fora ou para
ções e de seus sonhos. Sem dar conta, meu mundo acabava no dentro, e por onde se pode movimentar carga leve.
costado do navio.
A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo navio, é uma das Em “[...] vocês já perceberam que marinheiro velho dificilmente
coisas mais belas, que só há entre nós, em mais nenhum outro baixa a terra [...] .” (ref. 1), a posição do adjetivo é importante,
lugar. Por isso sou marinheiro, porque sei o que é espírito de navio. pois, se escrevêssemos “velho marinheiro”, o valor semântico se-
ria outro. Em que opção a troca de posição dos termos implicou
Bons tempos aqueles das viagens, dávamos um duro danado no uma mudança semântica?
mar, em serviço, postos de combate, adestramento de guerra, dia
e noite. O interessante é que em toda nossa vida, quando busca- a) Os marinheiros, em seus uniformes brancos, des-
mos as boas recordações, elas vêm desse tempo, das viagens e tacam-se nas paradas militares. / Os marinheiros, em
dos navios. Até as durezas por que passamos são saborosas ao seus brancos uniformes, destacam-se nas paradas
lembrar, talvez porque as vencemos e fomos adiante. militares.
b) Os alunos gostavam de ouvir as narrativas tradicio-
É aquela história dos pequenos sucessos. nais sobre os perigos do mar. / Os alunos gostavam
A volta ao porto era um acontecimento gostoso, sempre figu- de ouvir as tradicionais narrativas sobre os perigos
rando a mulher. Primeiro a mãe, depois a namorada, a noiva, do mar.
a esposa. Muita coisa a contar, a dizer, surpresas de carinho. A c) Depois de muito tempo longe de casa, os homens
comida preferida, o abraço apertado, o beijo quente... e o filho do mar sentem falta de uma comida gostosa. / Depois
que, na ausência, foi ensinado a dizer papai. de muito tempo longe de casa, os homens do mar
sentem falta de uma gostosa comida.
No início, eu voltava com muitos retratos, principalmente quando
vinha do estrangeiro, depois, com o tempo, eram poucos, até que d) Os navios e seus homens preparavam-se para cum-
deixei de levar a máquina. Engraçado, 1vocês já perceberam que prir um longo percurso, de acordo com a derrota tra-
marinheiro velho dificilmente baixa a terra com máquina fotográ- çada. / Os navios e seus homens preparavam-se para
fica? Foi assim comigo. cumprir um percurso longo, de acordo com a derrota
traçada.
Hoje os navios são outros, os marinheiros são outros – sinto-os e) Antigamente, o recebimento de uma mensagem
mais preparados do que eu era – mas a vida no mar, as viagens, simples aplacava as saudades dos marinheiros. / An-
os portos, a volta, estou certo de que são iguais. Sou marinheiro, tigamente, o recebimento de uma simples mensagem
por isso sei como é. aplacava as saudades dos marinheiros.
Fico agora em casa, querendo saber das coisas da Marinha. E a 8. (UFRGS) O que havia de tão revolucionário na Revolução
cada pedaço que ouço de um amigo, que leio, que vejo, me dá Francesa? Soberania popular, liberdade civil, igualdade perante
um orgulho que às vezes chega a entalar na garganta. Há pouco a lei – as palavras hoje são ditas com tanta facilidade que so-
tempo, voltei a entrar em um navio. Que coisa linda! Sofisticado, mos incapazes de imaginar seu caráter explosivo em 1789. Para
limpíssimo, nas mãos de uma tripulação que só pode ser muito os franceses do Antigo Regime, os homens eram desiguais, e a
competente para mantê-lo pronto. Do que me mostraram eu não desigualdade era uma boa coisa, adequada à ordem hierárquica
sabia muito. Basta dizer que o último navio em que servi já deu que fora posta na natureza pela própria obra de Deus. A liberda-
baixa. Quando saí de bordo, parei no portaló, voltei-me para a de significava privilégio – isto é, literalmente, “lei privada”, uma
bandeira, inclinei a cabeça... e, minha garganta entalou outra vez. prerrogativa especial para fazer algo negado a outras pessoas. O
Isso é corporativismo; não aquele enxovalhado, que significa o rei, como fonte de toda a lei, distribuía privilégios, pois havia sido
bem de cada um, protegido à custa do desmerecimento da insti- ungido como 16o agente de Deus na terra.
tuição; mas o puro, que significa o bem da instituição, protegido Durante todo 17o século XVIII, os filósofos do Iluminismo ques-
pelo merecimento de cada um. tionaram esses pressupostos, e os panfletistas profissionais
Sou marinheiro e, portanto, sou corporativista. conseguiram empanar a aura sagrada da coroa. Contudo, a
desmontagem do quadro mental do Antigo Regime demandou
Muitas vezes a lembrança me retorna aos dias da ativa e mor- violência iconoclasta, destruidora do mundo, revolucionária.
ro de saudades. Que bom se pudesse voltar ao começo, vestir
aquele uniforme novinho – até um pouco grande, ainda recordo Seria ótimo se pudéssemos associar 18a Revolução exclusivamen-
– Jurar Bandeira, ser beijado pela minha falecida mãe... te à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas ela
nasceu na violência e imprimiu seus princípios em um mundo
Sei que, quando minha hora chegar, no último instante, verei, violento. Os conquistadores da Bastilha não se limitaram a des-
em velocidade desconhecida, o navio com meus amigos, minha truir um símbolo do despotismo real. Entre eles, 150 foram mortos

31
ou feridos no assalto à prisão e, quando os sobreviventes apa- a) subir: lama, limite.
nharam o diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na por Paris b) descer: limite, degrau.
na ponta de uma lança. c) subir: fama, moral.
Como podemos captar esses momentos de loucura, quando tudo d) descer: lama, moral.
parecia possível e o mundo se afigurava como uma tábula rasa,
apagada por uma onda de comoção popular e pronta para ser TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
redesenhada? Parece incrível que um povo inteiro fosse capaz de
se levantar e transformar as condições da vida cotidiana. Duzen- A MEMÓRIA E O CAOS DIGITAL
tos anos de experiências com admiráveis mundos novos torna- Fernanda Colavitti
ram-nos céticos quanto ao planejamento social. Retrospectiva- A era digital trouxe inovações e facilidades para o homem que
mente, a Revolução pode parecer um prelúdio ao totalitarismo. superou de longe o que a ficção previa até pouco tempo atrás.
Pode ser. Mas um excesso de visão histórica retrospectiva pode Se antes precisávamos correr em busca de informações de nosso
distorcer o panorama de 1789. Os revolucionários franceses não interesse, hoje, úteis ou não, elas é que nos assediam: resulta-
eram nossos contemporâneos. E eram um conjunto de pesso- dos de loterias, dicas de cursos, variações da moeda, ofertas de
as não excepcionais em circunstâncias excepcionais. Quando as compras, notícias de atentados, ganhadores de gincanas, etc. Por
coisas se desintegraram, eles reagiram a uma necessidade impe- outro lado, enquanto cresce a capacidade dos discos rígidos e a
riosa de dar-lhes sentido, ordenando a sociedade segundo novos velocidade das informações, o desempenho da memória humana
princípios. Esses princípios ainda permanecem como uma denún- está ficando cada vez mais comprometido. Cientistas são unâni-
cia da tirania e da injustiça. Afinal, em que estava empenhada a mes ao associar a rapidez das informações geradas pelo mundo
Revolução Francesa? Liberdade, igualdade, fraternidade. digital com a restrição de nosso "disco rígido" natural. Eles res-
saltam, porém, que o problema não está propriamente nas novas
(DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: ____. tecnologias, mas no uso exagerado delas, o que faz com que
O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução.
São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.) deixemos de lado atividades mais estimulantes, como a leitura,
que envolvem diversas funções do cérebro. Os mais prejudicados
Considere as seguintes ocorrências de artigo no texto. por esse processo têm sido crianças e adolescentes, cujo desen-
volvimento neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente.
I. O artigo definido na referência 16.
Responda sem pensar: qual era a manchete do jornal de ontem?
II. O artigo definido singular na referência 17. Você lembra o nome da novela que antecedeu o Clone? E quem
III. O artigo definido na referência 18. era o técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994?
Não ter uma resposta imediata para essas perguntas não deve
Quais poderiam ser omitidos, preservando a correção de seus
ser causa de preocupação para ninguém, mas exemplifica bem
contextos?
o problema constatado pela fonoaudióloga paulista Ana Maria
a) Apenas I. Maaz Alvarez, que há mais de 20 anos estuda a relação entre
b) Apenas II. audição e recordação.
c) Apenas III. A pedido de duas empresas, ela realizou uma pesquisa para sa-
d) Apenas I e II. ber o que estava ocorrendo com os funcionários que reclamavam
e) I, II e III. com frequência de lapsos de memória. Foram entrevistados 71
homens e mulheres, com idade de 18 e 42 anos. A maioria dos
9. (CFTRJ) esquecimentos era de natureza auditiva, como nomes que aca-
bavam de ser ouvidos ou assuntos discutidos. (Por falar nisso,
Texto III
responda sem olhar no parágrafo anterior: você lembra o nome
LAMA da pesquisadora citada?)

Mauro Duarte Ana Maria descobriu que os lapsos de memória resultavam basica-
Pelo curto tempo que você sumiu mente do excesso de informação em consequência do tipo de tra-
balho que essas pessoas exerciam nas empresas, e do pouco tempo
Nota-se aparentemente que você subiu
que dispunham para processá-las, somados à angústia de querer
Mas o que eu soube ao seu respeito
saber mais e ao excesso de atribuições. "Elas não se detinham no
Me entristeceu ouvi dizer
que estava sendo dito (lido, ouvido ou visto) e, consequentemente,
Que pra subir você desceu, você desceu
não conseguiam gravar os dados na memória", afirma.
Todo mundo quer subir
A concepção da vida admite (Fonte Internet: Superinteressante, 2001).
Ainda mais quando a subida 10. (Uece) Assinale a alternativa em que todas as expressões des-
Tem o céu como limite tacadas têm valor de adjetivo.
Por isso não adianta estar no mais alto degrau da fama
a) Era DIGITAL trouxe inovações e FACILIDADES QUE
Com a moral toda enterrada na lama
SUPERARAM o QUE PREVIA a ficção.
(Clara Nunes. O canto das três raças. EMI-Odeon, 1976) b) Deixemos DE LADO atividades QUE ENVOLVEM
A produção de um texto poético resulta de uma criteriosa seleção DIVERSAS funções DO CÉREBRO.
vocabular. No texto, trabalhou-se com dois campos semânticos: c) Hoje, ÚTEIS ou não, as informações É QUE nos assediam.
subir x descer. Relacionando-se esses verbos a substantivos, de d) Responda qual era a manchete DO JORNAL DE
acordo com esse texto, a única associação coerente é: ONTEM.

32
E.O. Complementar 2. (Uel) VESTIBULAR

Vestibular, aquilo que o Ministério da Educação estuda agora


1. (IFSP) BUSCANDO A EXCELÊNCIA extinguir, é um brasileirismo para algo que em Portugal costuma
ser chamado de exame de acesso à universidade. Trata-se de um
Lya Luft
adjetivo que se substantivou, num processo semelhante ao que
Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assusta- ocorreu com celular, qualificativo de telefone, que tenta – e na
dora, implacável e persistentemente. Autoridades, altos cargos, maioria das vezes consegue – expulsar a palavra principal de cena
líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, sob uma pertinente alegação de redundância, tomando para si o
lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos lugar de substantivo. Pois o exame vestibular, de tão consagrado
e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às no vocabulário de gerações e gerações de estudantes brasileiros
públicas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual. que perderam o sono por causa dele, acabou conhecido como ves-
tibular só. E qualquer associação remota com a palavra que está
As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me em sua origem – vestíbulo – se perdeu nesse processo.
oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançar-
mos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Quando ainda era claramente um adjetivo, ficava mais fácil per-
Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensi- ceber a metáfora que, com certa dose de pernosticismo, levou
nado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem a palavra vestibular a ser escolhida para qualificar o processo
ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem de seleção de candidatos ao ensino superior. Vestíbulo (do latim
expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. [...] E vestibulum) é, na origem, um termo de arquitetura que signifi-
as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ca pórtico, alpendre ou pátio externo, mas que pode ser usado
ao ensino superior por mérito [...]. Meu conceito serve para também, em sentido mais amplo, para designar um átrio, uma
cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo auto- antessala, qualquer cômodo ou ambiente de passagem entre a
declarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas porta de entrada e o corpo principal de uma casa, apartamento,
por seu esforço e capacidade. [...] palácio ou prédio público. Para quem prefere uma solução angló-
fona, estamos falando de hall ou lobby.
Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jo-
vens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço, Como é um ambiente de transição entre o lado de fora e o lado
busca de mérito, uso da própria capacidade e talento, já entre as de dentro, vestíbulo ganhou ainda por extensão, em anatomia, o
crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os sentido de “cavidade que dá acesso a um órgão oco” (Houaiss).
pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem Antes de ser admitido no vocabulário da educação, “sistema ves-
pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, tibular” já tinha aplicação na linguagem médica como nome dos
é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não pequenos órgãos situados na entrada do ouvido interno, respon-
é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à sáveis por nosso equilíbrio.
saúde, mas que a escola é também preparação para uma vida (RODRIGUES, S. Vestibular. Disponível em: <http://revistadasemana.
profissional futura, na qual haverá disciplina e limites – que aliás abril.uol.com.br/edicoes/81/palavradasemana/materia_
deveriam existir em casa, ainda que amorosos. palavradasemana_431845.shtml>. Acesso em: 6 jun. 2009.)

Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para Com base no texto, considere as afirmativas a seguir:
ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupa-
ções sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num I. Ao afirmar que vestibular é um brasileirismo, o autor se posi-
momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou ciona contrariamente à sua extinção pelo Ministério da Educação.
desatinadas, [...] se delineia com grande inteligência e precisão
II. O autor não condena o uso do estrangeirismo “lobby” no lugar
a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas pre-
do brasileirismo “vestibular”.
judicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e
a dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento III. O adjetivo “vestibular” que, devido ao uso, acabou sendo sub-
stantivado, é derivado da palavra “vestíbulo”.
de excelência que nos devolve ânimo e esperança.
IV. O autor considera pertinente a alegação de redundância para
(Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado).
explicar o processo de substantivação do termo “celular”.
Sabe-se que o adjetivo é uma palavra que modifica o substantivo
e que sua posição mais comum no português é a de suceder esse Assinale a alternativa correta.
substantivo. Assinale o efeito de sentido que a autora consegue
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
com o emprego do adjetivo antecedendo o substantivo em “as
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
infelizes cotas” (2º parágrafo).
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
a) produz uma sonoridade mais adequada ao trecho. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
b) provoca o estranhamento do leitor, pois algumas co- e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
tas são felizes.
c) antecipa que nem todas as cotas são infelizes, como 3. (IFCE) De como o narrador, com certa experiência anterior e
se poderia esperar. agradável, dispõe-se a retirar a verdade do fundo do poço
d) oferece pistas ao leitor de seu posicionamento críti- Minha intenção, minha única intenção, acreditem! é apenas
co sobre o assunto das cotas. restabelecer a verdade. A verdade completa, de tal maneira
e) exemplifica a situação da educação do país, empre- que nenhuma dúvida persista em torno do comandante Vasco
gando inadequadamente o termo. Moscoso de Aragão e de suas extraordinárias aventuras.

33
“A verdade está no fundo de um poço”, li certa vez, não me lem- onde se abriga, na discreta meia-sombra de uma casinha entre
bro mais se num livro ou num artigo de jornal. Em todo caso, em árvores, a formosa e risonha mulata Dondoca, cujos pais procura-
letra de forma, e como duvidar de afirmação impressa? Eu, pelo ram o meritíssimo quando Zé Canjiquinha desapareceu da circula-
menos, não costumo discutir, muito menos negar, a literatura e ção, viajando para o sul.
o jornalismo. E, como se isso não bastasse, 7várias pessoas
Passara Dondoca nos peitos, na frase pitoresca do velho Pedro Tor-
gradas repetiram-me a frase, não deixando sequer margem
resmo, pai aflito, e largara a menina ali, sem honra e sem dinheiro:
para um erro de revisão a retirar a verdade do poço, a situá-la
em melhor abrigo: paço (“a verdade está no paço real”) ou colo – No miserê, doutor juiz, no miserê...
(“a verdade se esconde no colo das mulheres belas”), polo (“a
O juiz deitou discurso moral, coisa digna de ouvir-se, prometeu
verdade fugiu para o Polo Norte”) ou povo (“a verdade está com
providências. E, à vista do tocante quadro da vítima a sorrir en-
o povo”). Frases, todas elas, parece-me, menos grosseiras, mais
tre lágrimas, afrouxou um dinheirinho, pois, sob o peito duro
elegantes, sem deixar essa obscura sensação de abandono e frio
da camisa engomada do magistrado, pulsa, por mais difícil que
inerente à palavra “poço”.
seja acreditar-se, pulsa um bondoso coração. Prometeu expedir
O meritíssimo dr. Siqueira, juiz aposentado, respeitável e probo ordem de busca e apreensão do “sórdido dom-juan”, esque-
cidadão, de lustrosa e erudita careca, explicou-me tratar-se de cendo-se, no entusiasmo pela causa da virtude ofendida, de
um lugar-comum, ou seja, coisa tão clara e sabida a ponto de sua condição de aposentado, sem promotor nem delegado às
transformar-se num provérbio, num dito de todo mundo. Com ordens. Interessaria no caso, igualmente, seus amigos da cidade.
sua voz grave, de inapelável sentença, acrescentou curioso de- O “conquistador barato” teria a paga merecida...
talhe: não só a verdade está no fundo de um poço, mas lá se E foi ele próprio, tão cônscio é o dr. Siqueira de suas responsabili-
encontra inteiramente nua, sem nenhum véu a cobrir-lhe o corpo, dades de juiz (embora aposentado), dar notícias das providências
sequer as partes vergonhosas. No fundo do poço e nua. à família ofendida e pobre, na moradia distante. Dormia Pedro Tor-
O dr. Alberto Siqueira é o cimo, o ponto culminante da cultura resmo, curando a cachaça da véspera; labutava no quintal, lavando
nesse subúrbio de Periperi onde habitamos. É ele quem pronun- roupa, a magra Eufrásia, mãe da vítima, e a própria cuidava do
cia o discurso do Dois de Julho na pequena praça e o de Sete fogão. Desabrochou um sorriso nos lábios carnudos de Dondoca,
de Setembro no grupo escolar, sem falar noutras datas menores tímido mas expressivo, o juiz fitou-a austero, tomou-lhe da mão:
e em brindes de aniversário e batizado. Ao juiz devo muito do – Venho pra repreendê-la...
pouco que sei, a essas conversas noturnas no passeio de sua
casa; devo-lhe respeito e gratidão. Quando ele, com a voz solene – Eu não queria. Foi ele... – choramingou a formosa.
e o gesto preciso, esclarece-me uma dúvida, naquele momen- – Muito malfeito – segurava-lhe o braço de carne rija.
to tudo parece-me claro e fácil, nenhuma objeção me assalta.
Depois que o deixo, porém, e ponho-me a pensar no assunto, Desfez-se ela em lágrimas arrependidas e o juiz, para melhor re-
vão-se a facilidade e a evidência, como, por exemplo, nesse caso preendê-la e aconselhá-la, sentou-a no colo, acariciou-lhe as faces,
da verdade. Volta tudo a ser obscuro e difícil, busco recordar as beliscou-lhe os braços. Admirável quadro: a severidade implacável
explicações do meritíssimo e não consigo. Uma trapalhada. Mas, do magistrado temperada pela bondade compreensiva do homem.
como duvidar da palavra de homem de tanto saber, as estantes Escondeu Dondoca o rosto envergonhado no ombro confortador,
entulhadas de livros, códigos e tratados? No entanto, por mais seus lábios faziam cócegas inocentes no pescoço ilustre.
que ele me explique tratar-se apenas de um provérbio popular, Zé Canjiquinha nunca foi encontrado, em compensação Dondo-
muitas vezes encontro-me a pensar nesse poço, certamente pro-
ca ficou, desde aquela bem-sucedida visita sob a proteção da
fundo e escuro, onde foi a verdade esconder sua nudez, deixan-
justiça, anda hoje nos trinques, ganhou a casinha no beco das
do-nos na maior das confusões, a discutir a propósito de um tudo
Três Borboletas, Pedro Torresmo deixou definitivamente de traba-
ou de um nada, causando-nos a ruína, o desespero e a guerra.
lhar. Eis aí uma verdade que o farol do juiz não ilumina, foi-me
Poço não é poço, fundo de um poço não é o fundo de um poço, necessário mergulhar no poço para buscá-la. Aliás, para tudo
na voz do provérbio isso significa que a verdade é difícil de re- contar, a inteira verdade, devo acrescentar ter sido agradável, de-
velar-se, sua nudez não se exibe na praça pública ao alcance de leitoso mergulho, pois no fundo desse poço estava o colchão de
qualquer mortal. Mas é o nosso dever, de todos nós, procurar a lã de barriguda do leito de Dondoca onde ela me conta – depois
verdade de cada fato, mergulhar na escuridão do poço até en- que abandono, por volta das dez da noite, a prosa erudita do me-
contrar sua luz divina. ritíssimo e de sua volumosa consorte – divertidas intimidades do
“Luz divina” é do juiz, como aliás todo o parágrafo anterior. preclaro magistrado, infelizmente impróprias para letra de forma.
Ele é tão culto que fala em tom de discurso, gastando palavras (AMADO, Jorge. Os velhos marinheiros: duas histórias do
bonitas, mesmo nas conversas familiares com sua digníssima cais da Bahia. 23. ed. São Paulo: Martins, s.d., p. 71-73)

esposa, dona Ernestina. “A verdade é o farol que ilumina mi-


nha vida”, costuma repetir-se o meritíssimo, de dedo em riste, Em “(...) várias pessoas gradas repetiram-me a frase (...)”, – ref.
quando, à noite, sob um céu de incontáveis estrelas e pouca 7 – é correto afirmar-se, de acordo com o texto, acerca do vocá-
bulo destacado, que se trata de um
luz elétrica, conversamos sobre as novidades do mundo e de
nosso subúrbio. Dona Ernestina, gordíssima, lustrosa de suor e a) substantivo e tem o mesmo significado de “vonta-
um tanto quanto débil mental, concorda balançando a cabeça des”, “desejos”.
de elefante. Um farol de luz poderosa, iluminando longe, eis a b) substantivo e tem o mesmo significado de “passos”,
verdade do nobre juiz de direito aposentado. “marchas”, “andaduras”.
Talvez por isso mesmo sua luz não penetre nos escaninhos mais c) adjetivo e tem o mesmo significado de “insignes”,
próximos, nas ruas de canto, no escondido beco das Três Borboletas “importantes”, “ilustres”.

34
d) adjetivo e tem o mesmo significado de “grandes”, Em busca de algum consolo, me esforçava para bater o recorde
“desenvolvidas”. jamaicano de consumo de maconha, mas, em vez de ter abertas
e) adjetivo e tem o mesmo significado de “esforça- as portas da percepção – ou o que quer que fizesse com que
das”, “lutadoras”. meus amigos se divertissem e passassem meia hora rachando o
bico, sei lá, de um amendoim –, só via ainda mais escancaradas
4. (Uece) PORTÃO as portas da minha inadequação. Foi então, meus caros, que eu
vi a luz – e a luz veio na forma de um livro; “Trinta anos de mim
O portão fica bocejando, aberto
mesmo”, do Millôr Fernandes.
para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver A primeira página que eu abri trazia um quadrado em branco,
nem nas ladeiras duras de subir, com a seguinte legenda: “Uma gaivota branca, trepada sobre
quanto mais para estudar a 1insípida cartilha. um iglu branco, em cima de um monte branco. No céu, nuvens
Mas se o pai do menino é da oposição, brancas esvoaçam e à direita aparecem duas árvores brancas
à ilustríssima autoridade municipal, com as flores brancas da primavera”. Logo adiante estava “O
prima por sua vez da sacratíssima abridor de latas”, “Pela primeira vez no Brasil um conto intei-
autoridade nacional, ramente em câmera lenta” – narrando um piquenique de tarta-
ah, isso não: o vagabundo rugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente, esta quadra:
ficará mofando lá fora “Essa pressa leviana/ Demonstra o incompetente/ Por que fazer
e leva no boletim uma galáxia de zeros. o mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade pela frente?”.
A gente aprende muito no portão Lendo aquelas páginas, que reuniam o trabalho jornalístico do
fechado. Millôr entre 1943 e 1973, compreendi que não estava sozinho
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Carlos Drummond de em meu estranhamento: a vida era mesmo absurda, mas a res-
Andrade: Poesia e Prosa. Editora Nova Aguilar:1988. p. 506-507.) posta mais lógica para a falta de sentido não era o desespero, e
sim o riso. Percebi, como se não bastasse, que se agregasse algu-
Atente ao que é dito sobre o vocábulo “insípida” (ref. 1). ma graça aos meus resmungos poderia fazer daquele incômodo
uma profissão. Dos 19 anos até hoje, jamais paguei uma conta
I. Foi empregado na acepção de sem graça, desinteressante, mo- de luz de outra forma.
nótono.
Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pessoalmente, não ter po-
II. Foi empregado no seu sentido literal, não figurado.
dido apertar sua mão e agradecer-lhe por haver me sussurrado ao
III. A mudança da posição desse adjetivo para depois do substanti- ouvido, quando eu mais precisava escutar, a única verdade que há
vo não alteraria o significado do substantivo. debaixo do céu: se Deus não existe, então tudo é divertido.
Está correto o que se afirma somente em (Antonio Prata. Folha de S. Paulo. 04/04/2012.)
a) I e II. Na passagem “... os bons meninos não ganhavam uma coroa de
b) III. louros – nem ao menos, vá lá, uma loura coroa...”, o autor faz
c) I e III. um jogo de palavras, cujo sentido está mais bem explicado em:
d) II. a) Os adjetivos “louros” e “loura”, no contexto em que
5. (Insper) QUEM RI POR ÚLTIMO RI MILLÔR foram empregados, apresentam os mesmos sentidos, sof-
rendo apenas variação na flexão de gênero e de número.
Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e não via, b) A escolha do substantivo “coroa”, nas duas ocorrên-
diante da minha incompetência para com o sexo oposto, a mais cias do texto, deve-se ao fato de que o cronista pretende
remota possibilidade de reverter a situação. assinalar um registro formal da linguagem.
Em algum momento entre a oitava série e o primeiro colegial, c) A locução adjetiva “de louros” e o substantivo “lou-
todos os meus colegas haviam adotado roupas diferentes, gí- ra” foram empregados pelo autor com a finalidade de
rias, trejeitos ao falar e ao gesticular, mas eu continuava igual – criar uma antítese.
era como se houvesse faltado na aula em que os estilos foram d) A palavra “coroa” é um substantivo, mas em cada
distribuídos e estivesse condenado a viver para sempre numa ocorrência exerce uma diferente função sintática: ob-
espécie de limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom. jeto indireto e adjunto adnominal, respectivamente.
e) Os termos “louros” e “loura” têm semelhanças gráfi-
O mundo, antes um lugar com regras claras e uma razoável
cas e sonoras e, apesar de parecerem ser o masculino
meritocracia, havia perdido o sentido: os bons meninos não
e o feminino da mesma palavra, apresentam signifi-
ganhavam uma coroa de louros – nem ao menos, vá lá, uma
loura coroa –, era preciso acordar às 6h15 para estudar quími- cações diferentes.
ca orgânica e os adultos ainda queriam me convencer de que
aquela era a melhor fase da vida.
Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: seres
E.O. Dissertativo
de calças bege e pager no cinto, que gastavam seus dias 1. (UFJF) A IDENTIDADE E A DIFERENÇA: O PODER DE
em papinhos de elevador, sem ambições maiores do que um DEFINIR
carro novo, um requeijão com menos colesterol, o nome na
moldura de funcionário do mês e ingressos para o Holiday on A identidade e a diferença são o resultado de um processo de
Ice no fim de semana. produção simbólica e discursiva. (...) A identidade, tal como a

35
diferença, é uma relação social. Isso significa que sua definição detalhadamente esse processo. Para ele, as oposições binárias
– discursiva e linguística – está sujeita a vetores de força, a re- não expressam uma simples divisão do mundo em duas classes
lações de poder. simétricas: em uma oposição binária, um dos termos é sempre
privilegiado, recebendo um valor positivo, enquanto o outro re-
Elas não são simplesmente definidas; elas são impostas. Não con- cebe uma carga negativa. “Nós” e “eles”, por exemplo, cons-
vivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierar- titui uma típica oposição binária: não é preciso dizer qual ter-
quias; são disputadas. mo é, aqui, privilegiado. As relações de identidade e diferença
Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a definição da ordenam-se, todas, em torno de oposições binárias: masculino/
identidade e da diferença seja objeto de disputa entre grupos so- feminino, branco/negro, heterossexual/homossexual. Questionar
ciais simetricamente situados relativamente ao poder. Na disputa a identidade e a diferença como relações de poder significa pro-
pela identidade está envolvida uma disputa mais ampla por ou- blematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam.
tros recursos simbólicos e materiais da sociedade. A afirmação da Fixar uma determinada identidade como a norma é uma das
identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos formas privilegiadas de hierarquização das identidades e das di-
diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir ferenças. A normalização é um dos processos mais sutis pelos
o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença quais o poder se manifesta no campo da identidade e da dife-
estão, pois, em estreita conexão com relações de poder. O poder rença. Normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma iden-
de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser tidade específica como o parâmetro em relação ao qual as outras
separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa
diferença não são, nunca, inocentes. atribuir a essa identidade todas as características positivas pos-
síveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser
Podemos dizer que onde existe diferenciação – ou seja, identida-
avaliadas de forma negativa. A identidade normal é “natural”,
de e diferença – aí está presente o poder. A diferenciação é o pro-
desejável, única. A força da identidade normal é tal que ela nem
cesso central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas.
sequer é vista como uma identidade, mas simplesmente como a
Há, entretanto, uma série de outros processos que traduzem essa
identidade. Paradoxalmente, são as outras identidades que são
diferenciação ou que com ela guardam uma estreita relação. São marcadas como tais. Numa sociedade em que impera a supre-
outras tantas marcas da presença do poder: incluir/excluir (“estes macia branca, por exemplo, “ser branco” não é considerado uma
pertencem, aqueles não”); demarcar fronteiras (“nós” e “eles”); identidade étnica ou racial. Num mundo governado pela hege-
classificar (“bons e maus”; “puros e impuros”; “desenvolvidos monia cultural estadunidense, “étnica” é a música ou a comida
e primitivos”; “racionais e irracionais”); normalizar (“nós somos dos outros países. É a sexualidade homossexual que é “sexuali-
normais; eles são anormais”). zada”, não a heterossexual. A força homogeneizadora da iden-
A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, tidade normal é diretamente proporcional à sua invisibilidade.
sempre, as operações de incluir e de excluir. Como vimos, dizer “o Na medida em que é uma operação de diferenciação, de produ-
que somos” significa também dizer “o que não somos”. A identi- ção de diferença, o anormal é inteiramente constitutivo do normal.
dade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem Assim como a definição da identidade depende da diferença, a
pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e definição do normal depende da definição do anormal. Aquilo que
quem está excluído. é deixado de fora é sempre parte da definição e da constituição do
Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer “dentro”. A definição daquilo que é considerado aceitável, dese-
distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade jável, natural é inteiramente dependente da definição daquilo que
está sempre ligada a uma forte separação entre “nós” e “eles”. é considerado abjeto, rejeitável, antinatural. A identidade hegemô-
nica é permanentemente assombrada pelo seu Outro, sem cuja
Essa demarcação de fronteiras, essa separação e distinção, su-
existência ela não faria sentido. Como sabemos desde o início, a
põem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de
diferença é parte ativa da formação da identidade.
poder. (...)Os pronomes “nós” e “eles” não são, aqui, simples
categorias gramaticais, mas evidentes indicadores de posições- (SILVA, Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da diferença. In:
-de-sujeito fortemente marcadas por relações de poder: dividir o SILVA, Tomaz Tadeu (Org. e Trad.). Identidade e diferença: a perspectiva
dos estudos culturais.
mundo social entre “nós” e “eles” significa classificar. O proces- Petrópolis: Vozes, 2000. p. 73-75.
so de classificação é central na vida social.
Leia o fragmento a seguir:
Ele pode ser entendido como um ato de significação pelo qual
dividimos e ordenamos o mundo social em grupos, em classes. “A força da identidade normal é tal que ela nem sequer é vista
A identidade e a diferença estão estreitamente relacionadas às como uma identidade, mas simplesmente como a identidade”.
formas pelas quais a sociedade produz e utiliza classificações. (penúltimo parágrafo)
As classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da
No trecho destacado, qual é o efeito de sentido determinado pelo
identidade. Isto é, as classes nas quais o mundo social é dividi- uso dos artigos indefinido e definido acima negritados?
do não são simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar
significa, neste caso, também hierarquizar. Deter o privilégio de 2. (UFRJ) Texto I
classificar significa também deter o privilégio de atribuir diferen-
tes valores aos grupos assim classificados. A PRODUÇÃO CULTURAL DO CORPO
A mais importante forma de classificação é aquela que se es- Pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura é, simul-
trutura em torno de oposições binárias, isto é, em torno de duas taneamente, um desafio e uma necessidade. Um desafio porque
classes polarizadas. O filósofo francês Jacques Derrida analisou rompe, de certa forma, com o olhar naturalista sobre o qual muitas

36
vezes o corpo é observado, explicado, classificado e tratado. Mas uma certa agilidade e o porte ereto darão a impressão de
Uma necessidade porque ao desnaturalizá-lo revela, sobretu- que, apesar da aparência de velho, o viajante guardará o vigor da
do, que o corpo é histórico. Isto é, mais do que um dado natural juventude. E os olhos... ah, o brilho dos olhos será absolutamente
cuja materialidade nos presentifica no mundo, o corpo é uma sem idade, um brilho deslumbrado como o de um bebê, curioso
construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em como o de um menino, desafiador como o de um jovem, sábio
diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos como o de um homem maduro, maroto como o de um velhinho
sociais, étnicos, etc. Não é portanto algo dado a priori nem bem-humorado que conseguisse somar tudo isso.
mesmo é universal: o corpo é provisório, mutável e mutante,
(MACHADO, Ana Maria. O CANTO DA PRAÇA.
suscetível a inúmeras intervenções consoante o desenvolvi- Rio de Janeiro: Salamandra, 1986.)
mento científico e tecnológico de cada cultura bem como suas
leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os 3. (Ufrj) Confronte os trechos destacados nos trechos A e B.
corpos, os discursos que sobre ele produz e reproduz.
A
Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno.
Mais do que um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos "apesar da aparência DE VELHO"
e sensações, o corpo é também a roupa e os acessórios que o B
adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que
dele se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sentidos "seu aspecto era DE UM VELHO COMO TANTOS OUTROS"
que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam, os vestí- "maroto como o DE UM VELHINHO BEM-HUMORADO"
gios que nele se exibem, a educação de seus gestos... enfim, é a) Como se justifica a ausência de artigo no trecho
um sem limite de possibilidades sempre reinventadas e a serem destacado no trecho A?
descobertas. Não são, portanto, as semelhanças biológicas que b) No trecho B, o artigo indefinido tem seu sentido
o definem mas, fundamentalmente, os significados culturais e reiterado em um dos dois trechos destacados.
sociais que a ele se atribuem.
Que recurso linguístico é responsável por essa reitera-
(GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. In: ção? Explique sua resposta.
LOURO, Guacira Lopes (Org.) Corpo, gênero e sexualidade; um debate
contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. p.28-29) TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Texto II OS DIFERENTES
A NÃO ACEITAÇÃO Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de Osse-
vaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e
Desde que começou a envelhecer realmente começou a querer
tem vida organizada.
ficar em casa. Parece-me que achava feio passear quando não se
era mais jovem: o ar tão limpo, o corpo sujo de gordura e rugas. So- É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos
bretudo a claridade do mar como desnuda. Não era para os outros reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto,
que era feio ela passear, todos admitem que os outros sejam ve- em refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os
lhos. Mas para si mesma. Que ânsia, que cuidado com o corpo per- pés dá a impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
dido, o espírito aflito nos olhos, ah, mas as pupilas essas límpidas.
Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a lin-
Outra coisa: antigamente no seu rosto não se via o que ela pen- guagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a
sava, era só aquela face destacada, em oferta. Agora, quando se conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses
vê sem querer ao espelho, quase grita horrorizada: mas eu não nativos e foram recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecences-
estava pensando nisso! Embora fosse impossível e inútil dizer em -para-baixo, como foram denominados à falta de melhor clas-
que rosto parecia pensar, e também impossível e inútil dizer no que sificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão.
ela mesma pensava.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa Seleta.
Ao redor as coisas frescas, uma história para a frente, e o vento, o Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150)
vento... Enquanto seu ventre crescia e as pernas engrossavam, e os
4. (Ufrj) No texto, há diversos sintagmas nominais – constru-
cabelos se haviam acomodado num penteado natural e modesto
ções com núcleo substantivo acompanhado ou não de termos com
que se formara sozinho.
função adjetiva – que caracterizam o "povo primitivo".
(LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 291) a) Retire do texto dois desses sintagmas.
a) Do primeiro parágrafo do texto I, retire os quatro b) A caracterização normalmente atribuída a um povo
adjetivos que melhor caracterizam a noção de corpo primitivo como não evoluído não se confirma no texto.
nele apresentada. Justifique essa afirmativa, utilizando os sintagmas es-
b) Estabeleça a relação entre esses adjetivos e a te- colhidos no item a.
mática central do texto II. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A MARIA DOS POVOS, SUA FUTURA ESPOSA
Na verdade, à primeira vista, seu aspecto era de um velho como Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
tantos outros, de idade indefinida, rugas, cabelos brancos, uma Em tuas faces a rosada Aurora,
barba que lhe dará um vago ar de sabedoria e respeitabilidade. Em teus olhos e boca o Sol, e o dia:

37
Enquanto com gentil descortesia das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subi-
O ar, que fresco Adônis te namora, tamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o
Te espalha a rica trança voadora, verso e o reverso do mesmo.
Quando vem passear-te pela fria:
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos
Goza, goza da flor da mocidade, ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A sua passagem
Que o tempo trata a toda ligeireza, meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que es-
E imprime em toda flor sua pisada. condemos. 11Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um
certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no
Oh não aguardes, que a madura idade,
carro alegórico do Brasil.
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. (José Miguel Wisnik. O arrastão. Disponível em: oglobo.
globo.com, 22/03/2014. Acesso em 16/01/2017)
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos - Seleção de
José Miguel Wisnik. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, [s.d.]) aplainada − nivelada
3

5. (Ufrj) O texto se constrói por meio da oposição entre dois cam- praxe − prática, hábito
4

pos semânticos, especialmente no contraste entre a primeira e a 6


surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20
última estrofes. que enfatiza o papel do inconsciente
recalcada − fortemente reprimida
7
Explicite essa oposição e retire, dessas estrofes, dois vocábulos
transcendental − que supera todos os limites
8
com valor substantivo– um de cada campo semântico –, identifi-
cando a que campo cada vocábulo pertence. Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio
10

de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais

E.O. UERJ Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Bra-


sil que temos que lutar para que não se transforme no carro

Exame de Qualificação alegórico do Brasil. (ref. 11)

1. (UERJ) O ARRASTÃO A sequência do emprego dos artigos em “de um Brasil” e “do


Brasil” representa uma relação de sentido entre as duas ex-
pressões, intimamente ligada a uma preocupação social por parte
Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adje-
tivos porque eles fracassam em dizer o sentimento que os fatos do autor do texto.

impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos,


como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que Essa relação de sentido pode ser definida como:
parte para o trabalho às quatro e meia das manhãs de todas a) ironia
as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e b) conclusão
seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como mi- c) causalidade
lhões de trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias
d) generalização
não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga
no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é
2. (UERJ) Texto I
arrastada à morte, a céu aberto, pelo asfalto do Rio.
Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados 1 Escreverei minhas “Memórias”, fato mais frequentemente do
dos policiais. Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita que se pensa observado no mundo industrial, artístico, científico
atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes das e sobretudo no mundo político, onde muita gente boa se faz elo-
versões, o fato é que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, giar e aplaudir em brilhantes artigos biográficos tão espontâneos,
escancarou um real que está acostumado a existir na sombra. 1como os ramalhetes e as coroas de flores que as atrizes compram
para que lhos atirem na cena os comparsas comissionados.
O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas
não se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos deuses, do 2 Eu reputo esta prática muito justa e muito natural; porque não
diabo), esse seria apenas “mais um caso”. Ele está dizendo: se- compreendo amor e ainda amor apaixonado mais justificável do
ria uma morte anônima, 3aplainada pela surdez da 4praxe, pela que aquele que sentimos pela nossa própria pessoa.
invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras.
3 O amor do eu é e sempre será a pedra angular da sociedade hu-
É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja mana, o regulador dos sentimentos, o móvel das ações, e o farol do
fora da realidade, mas porque destampa, por um “acaso ob- futuro: do amor do eu nasce o amor do lar doméstico, deste o amor
jetivo” (a expressão era usada pelos 6surrealistas), uma cena do município, deste o amor da província, deste o amor da nação,
7
recalcada da consciência nacional, com tudo o que tem de anéis de uma cadeia de amores que os tolos julgam que sentem e
violência naturalizada e corriqueira, tratamento degradante tomam ao sério, e que certos maganões envernizam, mistificando
dado aos pobres, estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bru- a humanidade para simular abnegação e virtudes que não têm
ta transformada em trapalhada 8transcendental, além de um no coração e que eu com a minha exemplar franqueza simplifico,
índice grotesco de métodos de camuflagem e desaparição de reduzindo todos à sua expressão original e verdadeira, e dizendo,
pessoas. Pois assim como 10Amarildo é aquele que desapareceu lar, município, província, nação, têm a flama dos amores que lhes

38
dispenso nos reflexos do amor em que me abraso por mim mesmo: Brasil cheio de graça
todos eles são o amor do eu e nada mais. A diferença está em Brasil cheio de pássaros
simples nuanças determinadas pela maior ou menor proporção Brasil cheio de luz.
dos interesses e das conveniências materiais do apaixonado ado- (RICARDO, Cassiano. Seleta em prosa e verso.
rador de si mesmo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.)
(MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias do sobrinho de Nos trechos a seguir, está em destaque um sintagma formado de
meu tio. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.)
substantivo e adjetivo.

Texto II A única alternativa em que a inversão das duas palavras também


poderia inverter sua classe gramatical é:
Já dois anos se passaram longe da pátria. Dois anos! Diria dois
séculos. E durante este tempo tenho contado os dias e as horas a) “... reduzindo todos à sua EXPRESSÃO ORIGI-
pelas bagas do pranto que tenho chorado. Tenha embora Lisboa NAL...” (texto I)
os seus mil e um atrativos, ó eu quero a minha terra; quero respirar
b) “... conveniências materiais do APAIXONADO
o ar natal (...). Nada há que valha a terra natal. 1Tirai o índio do seu
ninho e apresentai-o d’improviso em Paris: será por um momento ADORADOR de si mesmo.” (texto I)
fascinado diante dessas ruas, desses templos, desses mármores; c) “Arrancai a planta dos CLIMAS TROPICAIS e plan-
mas depois falam-lhe ao coração as lembranças da pátria, e tro- tai-a na Europa...” (texto II)
cará de bom grado ruas, praças, templos, mármores, pelos campos d) “... a sonhar com histórias de luas e CANTOS BÁR-
de sua terra, pela sua choupana na encosta do monte, pelos mur- BAROS de pajés...” (texto III)
múrios das florestas, pelo correr dos seus rios. Arrancai a planta dos
climas tropicais e plantai-a na Europa: ela tentará reverdecer, mas 3. (UERJ) IGUAL-DESIGUAL
cedo pende e murcha, porque lhe falta o ar natal, o ar que lhe dá
vida e vigor. Como o índio, prefiro a Portugal e ao mundo inteiro, Eu desconfiava:
o meu Brasil, rico, majestoso, poético, sublime. Como a planta dos todas as histórias em quadrinho são iguais.
trópicos, os climas da Europa enfezam-me a existência, que sinto Todos os filmes norte-americanos são iguais.
fugir no meio dos tormentos da saudade. Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
(ABREU, Casimiro de. Obras de Casimiro de
Abreu. Rio de Janeiro: MEC, 1955.) Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Texto III Todos os partidos políticos
são iguais.
LADAINHA I Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome
Todas as experiências de sexo
de ilha de Vera Cruz.
são iguais.
Ilha cheia de graça.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
Ilha cheia de pássaros. 1
e todos, todos
Ilha cheia de luz. 2
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Ilha verde onde havia Todas as guerras do mundo são iguais.
mulheres morenas e nuas Todas as fomes são iguais.
anhangás a sonhar com histórias de luas
3
Todos os amores, iguais iguais iguais.
e cantos bárbaros de pajés em poracés batendo os pés. Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Depois mudaram-lhe o nome Todas as criações da natureza são iguais.
pra terra de Santa Cruz. Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Terra cheia de graça Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho
Terra cheia de pássaros ou coisa.
Terra cheia de luz. Ninguém é igual a ninguém.
4
Todo ser humano é um estranho
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de tanga e onças 5
ímpar.
ruivas
(Carlos Drummond de Andrade
[deitadas à sombra das árvores Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
[mosqueadas de sol.
Mas como houvesse, em abundância, – best-sellers – livros mais vendidos
certa madeira cor de sangue cor de brasa
e como o fogo da manhã selvagem – gazéis, virelais, sextinas, rondós – tipos de poema
fosse um brasido no carvão noturno da paisagem,
Todo ser humano é um estranho ímpar. (ref. 4 e 5)
e como a Terra fosse de árvores vermelhas
e se houvesse mostrado assaz gentil, No contexto, a associação dos adjetivos estranho e ímpar sugere
deram-lhe o nome de Brasil. que cada ser humano não se conhece completamente.

39
Isto acontece porque cada indivíduo pode ser caracterizado como: No início do texto, ao expressar sua indignação em relação ao
tema abordado, o autor apresenta uma reflexão sobre o emprego
a) solitário
de adjetivos.
b) singular
c) intolerante Essa reflexão está associada à seguinte ideia:
d) indiferente
a) o fato exige análise criteriosa
4. (UERJ) O ARRASTÃO b) o contexto constrói ambiguidade
c) a linguagem se mostra insuficiente
Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adje- d) a violência pede descrição cuidadosa
tivos porque eles fracassam em dizer o sentimento que os fatos
impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, 5. (UERJ) O mal de Isaías é ser ambíguo. Ser e não ser. Não é
como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que índio, nem cristão. Não é homem, nem deixa de ser, 1coitado. Ser
parte para o trabalho às quatro e meia das manhãs de todas dois é não ser nenhum. Mas está acima de suas forças. Ele não
as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e pode deixar de participar de um nós comigo que é excludente
seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como mi- dos mairuns e que quase me ofende. Também não pode sentir
lhões de trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias consigo mesmo que ele é apenas um mairum entre os outros.
não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga O pobre não para de escarafunchar a cuca, se aclarando e se
no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é confundindo cada vez mais. Este casamento com Inimá. Será que
arrastada à morte, a céu aberto, pelo asfalto do Rio. ele gosta dela?(...)
Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados Outro dia fiquei muito tempo atrás dele, no pátio, confundida
dos policiais. Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita com toda gente que se junta ali, na hora do pôr do sol, para
atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes das comer e conversar. Vi bem que ele não falava com ninguém
versões, o fato é que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, e que ninguém falava com ele. Nem Inimá. Ouvi depois, ouvi
escancarou um real que está acostumado a existir na sombra. bem que ele murmurava sozinho. Cheguei mais perto e ouvi
melhor; era uma ladainha em latim, como as de meu pai:
O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas
não se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos deuses, do Tra-lá-lá, ora pro nobis
diabo), esse seria apenas “mais um caso”. Ele está dizendo: se-
Tre-lé-lé, ora pro nobis
ria uma morte anônima, 3aplainada pela surdez da 4praxe, pela
invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras. Vamos ver se, agora de noite, nesse balanço de rede, eu me es-
É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora queço dos outros para pensar em mim. Preciso me concentrar
da realidade, mas porque destampa, por um “acaso objetivo” no meu problema. Tentei pensar o dia inteiro, sem conseguir. Há
(a expressão era usada pelos 6surrealistas), uma cena 7recalcada dias que é assim. Até parece que já não sou capaz. Será a gravi-
da consciência nacional, com tudo o que tem de violência natu- dez que me deixa lânguida? De onde virá essa lassidão? Estou
ralizada e corriqueira, tratamento degradante dado aos pobres, grávida e não sei de quem. Vou parir aqui entre os mairuns, este
estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bruta transformada em é problema. Se problema existe, porque isto bem pode ser uma
trapalhada 8transcendental, além de um índice grotesco de mé- solução. Com um filho crescendo mairum eu não me integraria
todos de camuflagem e desaparição de pessoas. Pois assim como mais nesse mundo que eu quero fazer meu? Ser a mãe de fu-
10
Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito laninho não será para mim como para um homem ser o pai de
tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos fulano? Os homens aqui mudam de nome quando têm um filho
soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo. homem. Maxihú é o pai de Maxi. Teró por muito tempo Jaguarhú.
Eu seria Iuicuihí se minha filha se chamasse Iucui? Ou Mairahú
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos se meu filho pudesse chamar-se Maíra? Será que pode? Melhor
ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A sua passagem é que seja menina: Iuicui.
meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que es-
condemos. Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um (RIBEIRO, Darcy. Maíra. Rio de Janeiro: Record, 1990, p. 372-3.)
certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no O emprego do adjetivo “coitado” (ref.1), referindo-se a Isaías,
carro alegórico do Brasil. tem relação com o seguinte fato:
(José Miguel Wisnik. O arrastão a) Isaías não é índio nem cristão.
Disponível em. oglobo.globo.com, 22/03/2014.
Acesso em: 16/01/2017.) b) Inimá está grávida dele.
c) Isaías é um ser mítico.
aplainada − nivelada
3
d) Inimá não gosta dele.
praxe − prática, hábito
4

surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20


E.O. Objetivas
6

que enfatiza o papel do inconsciente


recalcada − fortemente reprimida
7
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
transcendental − que supera todos os limites
8
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio
10

de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais A(s) questão(ões) aborda(m) um fragmento de um artigo de

40
Mônica Fantin sobre o uso dos tablets no ensino, postado na padrões conexionais possíveis em sua língua, o que o torna capaz
seção de blogues do jornal Gazeta do Povo em 16.05.2013: de reconhecê-los e identificá-los. As duas palavras não estão, para
ele, apenas dispostas em ordem linear: estão organizadas em uma
TABLETS NAS ESCOLAS ordem estrutural.

Ou seja, não é suficiente entregar equipamentos tecnológicos A diferença entre ordem estrutural e ordem linear torna-se cla-
cada vez mais modernos sem uma perspectiva de formação de ra se elas não coincidem, como nesta frase que um aluno criou
qualidade e significativa, e sem avaliar os programas anteriores. em aula de redação, quando todos deviam compor um texto
O risco é de cometer os mesmos equívocos e não potencializar para outdoor, sobre uma fotografia da célebre cabra de Picasso:
as boas práticas, pois muda a tecnologia, mas as práticas conti- “Beba leite de cabra em pó!”. Como todos rissem, o autor da
nuam quase as mesmas. frase emendou: “Beba leite em pó de cabra!”.
Pior a emenda do que o soneto.
Com isso, podemos nos perguntar pelos desafios da didática dian-
te da cultura digital: o tablet na sala de aula modifica a prática dos (Flávia de Barros Carone. Morfossintaxe, 1986. Adaptado.)
professores e o cotidiano escolar? Em que medida ele modifica as
3. (Unifesp) De acordo com o texto, a ordem estrutural diz res-
condições de aprendizagem dos estudantes? Evidentemente isso
peito à macroestrutura da frase e a ordem linear à manifestação
pode se desdobrar em inúmeras outras questões sobre a conver-
concreta, palavra após palavra, dos constituintes da oração. As-
gência de tecnologias e linguagens, sobre o acesso às redes na sala
sinale a alternativa em que, no par de palavras em destaque, em
de aula e sobre a necessidade de mediações na perspectiva dos
texto de Paulo Cesarino Costa, publicado na Folha de S.Paulo de
novos letramentos e alfabetismos nas múltiplas linguagens.
02.08.2012, há coincidência entre essas duas ordens.
Outra questão que é preciso pensar diz respeito aos conteú- a) Exceto pelo fato de que dividirão, com outras deze-
dos digitais. Os conteúdos que estão sendo produzidos para nas de esportes, as atenções de TVs e rádios, portais
os tablets realmente oferecem a potencialidade do meio e sua de internet, jornais e revistas nos próximos dias numa
arquitetura multimídia ou apenas estão servindo como leito-
rara disputa, de onde sairão dois retratos do Brasil.
res de textos com os mesmos conteúdos dos livros didáticos?
Quem está produzindo tais conteúdos digitais? De que forma b) Nas paredes do Instituto Moreira Salles, pode-se ver di-
são escolhidos e compartilhados? ferentes concepções de fotojornalismo: da beleza pou-
co comprometida com a veracidade de Jean Manzon à
Ou seja, pensar na potencialidade que o tablet oferece na escola – objetividade das imagens de guerra de Luciano Carneiro.
acessar e produzir imagens, vídeos, textos na diversidade de formas c) Num mundo cada vez mais dominado pela reprodução
e conteúdos digitais – implica em repensar a didática e as possibili- eletrônica e imagética dos acontecimentos, há uma inte-
dades de experiências e práticas educativas, midiáticas e culturais na ressante oportunidade de resgatar o momento em
escola ao lado de questões econômicas e sociais mais amplas. E isso que a imagem começou a questionar o poder da palavra.
necessariamente envolve a reflexão crítica sobre os saberes e faze-
d) A revista O Cruzeiro seguia a cartilha da revista
res que estamos produzindo e compartilhando na cultura digital.
norte-americana Life, que preconizava “um novo jor-
(Tablets nas escolas. Disponível em: www.gazetadopovo. nalismo, no qual as imagens formam o texto e as pa-
com.br. Acesso em: 16/01/2017.)
lavras ilustram as imagens”.
1. (Unesp) No último período do texto, os termos saberes e e) Serão 11 estrelas na tela, mas os ministros do STF e
fazeres são suas capas negras pouco têm a ver com os 11 amareli-
a) adjetivos. nhos de Mano Menezes na busca do ouro olímpico.
b) pronomes. 4. (Unesp) Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).
c) substantivos.
18
d) advérbios.
Não vês aquele velho respeitável,
e) verbos. que à muleta encostado,
2. (Unesp) adjetivo midiático, empregado no feminino plural (midiáti- apenas mal se move e mal se arrasta?
cas), diz respeito a
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
o tempo arrebatado,
a) diversidade de tipos de tablets. que o mesmo bronze gasta!
b) programas e projetos educacionais.
Enrugaram-se as faces e perderam
c) questões econômicas e sociais.
seus olhos a viveza:
d) meios de comunicação de massa.
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
e) variedade dos recursos tecnológicos. já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: nem tem uma beleza
das belezas que teve.
Quando o falante de uma língua depara um conjunto de duas pa- Assim também serei, minha Marília,
lavras, intuitivamente é levado a sentir entre elas uma relação sin- daqui a poucos anos,
tática, mesmo que estejam fora de um contexto mais esclarecedor. que o ímpio tempo para todos corre.
Assim, além de captar o sentido básico das duas palavras, o recep- Os dentes cairão e os meus cabelos.
tor atribui-lhes uma gramática – formas e conexões. Isso acontece Ah! sentirei os danos,
porque ele traz registrada em sua mente toda a sintaxe, todos os que evita só quem morre.

41
Mas sempre passarei uma velhice realizados pelo próprio Facebook. A diferença neste caso é que
muito menos penosa. o teste é completamente voluntário.
Não trarei a muleta carregada,
Ironicamente, para poder participar, o usuário deve trocar a
descansarei o já vergado corpo
foto do perfil no Facebook e postar um contador na rede social.
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada. Os pesquisadores irão avaliar o grau de satisfação e felicidade dos
participantes no 33º dia, no 66º e no último dia da abstinência.
As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance, Os responsáveis apontam que os usuários do Facebook gastam em
irei contigo ao prado florescente: média 17 minutos por dia na rede social. Em 99 dias sem acesso, a
aqui me buscarás um sítio ameno, soma média seria equivalente a mais de 28 horas, 2que poderiam
onde os membros descanse, ser utilizadas em “atividades emocionalmente mais realizadoras”.
e ao brando sol me aquente. (http://codigofonte.uol.com.br. Adaptado.)
Apenas me sentar, então, movendo 5. (Unifesp) Examine as passagens do primeiro parágrafo do texto:
os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira, • “Uma organização não governamental holandesa está
apontando direi: — Ali falamos, propondo um desafio”
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira. • “O objetivo é medir o grau de felicidade dos usuários
longe da rede social.”
Verterão os meus olhos duas fontes,
nascidas de alegria;
A utilização dos artigos destacados justifica-se em razão
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos a) da generalização, no primeiro caso, com a introdu-
na mão formosa e pia, ção de informação conhecida, e da especificação, no
que me limpar o pranto. segundo, com informação nova.
b) de informações novas, nas duas ocorrências, motivo
Assim irá, Marília, docemente pelo qual são introduzidas de forma mais generalizada.
meu corpo suportando c) de informações conhecidas, nas duas ocorrências,
do tempo desumano a dura guerra. sendo possível a troca dos artigos nos enunciados, pois
Contente morrerei, por ser Marília isso não alteraria o sentido do texto.
quem, sentida, chorando d) da retomada de informações que podem ser facil-
meus baços olhos cerra. mente depreendidas pelo contexto, sendo ambas equi-
(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poesias. valentes semanticamente.
Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.) e) da introdução de uma informação nova, no primei-
ro caso, e da retomada de uma informação já conhe-
Observe os seguintes vocábulos extraídos da sétima estrofe do
cida, no segundo.
poema:

I. ternos.
II. frios. E.O. Dissertativas
III. pia.
IV. pranto.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
As palavras que aparecem na estrofe como adjetivos estão con- 1. (Fuvest)
tidas apenas em: E não há melhor resposta
a) I e II. que o espetáculo da vida:
b) I e III. vê-la desfiar seu fio,
c) I, II e III. que também se chama vida,
d) I, II e IV. ver a fábrica que ela mesma,
e) II, III e IV. teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
Você conseguiria ficar 99 dias sem o Facebook? a explosão, como a ocorrida;
Uma organização não governamental holandesa está propondo mesmo quando é uma explosão
um desafio que muitos poderão considerar impossível: 1ficar 99 como a de há pouco, franzina;
dias sem dar nem uma “olhadinha” no Facebook. O objetivo é mesmo quando é a explosão
medir o grau de felicidade dos usuários longe da rede social. de uma vida severina.
O projeto também é uma resposta aos experimentos psicológicos (João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina)

42
a) A fim de obter um efeito expressivo, o poeta utiliza, – Quá-quá-quá...
em “a fábrica” e “se fabrica”, um substantivo e um ver-
Não precisou de mais nada para que o gênio dos Azeredos e
bo que têm o mesmo radical. demais Furtados viesse de vela solta. Dei um pulo de cabrito e
Cite da estrofe outro exemplo desse mesmo recurso expressivo. preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de
consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou
b) A expressividade dos seis últimos versos decorre, devocioneiro:
em parte, do jogo de oposições entre palavras.
– São Jorge, Santo Onofre, São José!
Cite desse trecho um exemplo em que a oposição entre as palavras Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste.
seja de natureza semântica.
Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças
ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse
2. (Unesp) CRÔNICA DA VIDA QUE PASSA o nome de Ponciano de Azeredo Furtado. Dos olhos do lobiso-
mem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal
Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles adjacente. Tanta chispa largava o penitente que um caçador de
toda a tristeza da celebridade. paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato
A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança
delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olha- de uma figueira e lá de cima, no galho mais firme, aguardava a
do por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de deliberação do lobisomem. Garrucha engatilhada, só pedia que
parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e
ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que
se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui
paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse exces- e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não
sivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações – ridiculamente uma pessoa sozinha. O que o galhofista queria é que eu, coronel
humanas às vezes – que ele quereria invisíveis, coa-as a lente de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e des-
lustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia
da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evi-
cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no
dência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito
alto da figueira fiquei. Diante de tão firme deliberação, o vinga-
grosseiro para se poder ser célebre à vontade.
tivo mudou o rumo da guerra. Caiu de dente no pé de pau, na
Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. parte mais afunilada, como se serrote fosse:
Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvalo-
– Raque-raque-raque.
riza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode
gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e Não conversei – pronto dois tiros levantaram asa da minha gar-
o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, rucha. Foi o mesmo que espalhar arruaça no mato todo. Subiu
medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. asa de tudo que era bicho da noite e uma sociedade de morce-
Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à gos escureceu o luar. No meio da algazarra, já de fugida, vi o
obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, lobisomem pulando coxo, de pernil avariado, língua sobressaída
ninguém torna atrás ou se desdiz. na boca. Na primeira gota de sangue a maldição desencantava,
como é de lei e dos regulamentos dessa raça de penitentes. No
E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o
raiar do dia, sujeito que fosse visto de perna trespassada, ainda
homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo.
ferida verde, podia contar, era o lobisomem.
Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-ins-
tinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. (O coronel e o lobisomem, 1980.)

Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que Explique a razão pela qual o narrador atribui o adjetivo “verde”
“homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os ao substantivo ferida, no último período do texto.
destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o
mais belo, mas o maior dos destinos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
(FERNANDO PESSOA. Páginas íntimas e de auto-
interpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.], p. 66-67.) OS SERTÕES

Na crônica apresentada, Fernando Pessoa atribui três carac- A Serra do Mar tem um notável perfil em nossa história. A pru-
terísticas negativas à celebridade, descrevendo-as no segundo, mo sobre o Atlântico desdobra-se como a cortina de baluarte
terceiro e quarto parágrafos. Releia esses parágrafos e aponte desmedido. De encontro às suas escarpas embatia, fragílima, a
os três substantivos empregados pelo poeta que sintetizam essas ânsia guerreira dos Cavendish e dos Fenton. No alto, volvendo o
características negativas da celebridade. olhar em cheio para os chapadões, o forasteiro sentia-se em se-
gurança. Estava sobre ameias intransponíveis que o punham do
3. (Unesp) A questão a seguir toma por base uma passagem do mesmo passo a cavaleiro do invasor e da metrópole. Transposta
romance O coronel e o lobisomem, de José Cândido de Carvalho a montanha - arqueada como a precinta de pedra de um conti-
(1914-1989). nente - era um isolador étnico e um isolador histórico. Anulava o
apego irreprimível ao litoral, que se exercia ao norte; reduzia-o a
Como disse, rolava eu no capim, pronto a dar ao caso solução estreita faixa de mangues e restingas, ante a qual se amorteciam
briosa, na hora em que o querelante apresentou aquela risada de todas as cobiças, e alteava, sobranceira às frotas, intangível no
pouco-caso e deboche: recesso das matas, a atração misteriosa das minas...

43
Ainda mais - o seu relevo especial torna-a um condensador de 4. (Unesp) Um dos aspectos em que Euclides da Cunha busca
primeira ordem, no precipitar a evaporação oceânica. alguns de seus melhores efeitos é o da adjetivação, que torna
seu discurso ao mesmo tempo vário e expressivo, razão pela qual
Os rios que se derivam pelas suas vertentes nascem de algum
alguns o consideram, comparando-o com poetas ainda ativos em
modo no mar. Rolam as águas num sentido oposto à costa. En-
sua época, um "prosador parnasiano". Releia com atenção o úl-
tranham-se no interior, correndo em cheio para os sertões. Dão
timo parágrafo do texto apresentado e, a seguir, aponte três dos
ao forasteiro a sugestão irresistível das entradas. adjetivos que nele ocorrem.
A terra atrai o homem; chama-o para o seio fecundo; encanta-o
pelo aspecto formosíssimo; arrebata-o, afinal, irresistivelmente, na 5. (Unicamp) Gramática
correnteza dos rios. Composição de Sandra Peres e Luiz Tatit (Palavra Cantada)
Daí o traçado eloquentíssimo do Tietê, diretriz preponderante
O substantivo
nesse domínio do solo. Enquanto no S. Francisco, no Parnaíba,
É o substituto
no Amazonas, e em todos os cursos d'água da borda oriental, do conteúdo
o acesso para o interior seguia ao arrepio das correntes, ou em-
batia nas cachoeiras que tombam dos socalcos dos planaltos, O adjetivo
ele levava os sertanistas, sem uma remada, para o rio Grande É a nossa impressão
e daí ao Paraná e ao Paranaíba. Era a penetração em Minas, sobre quase tudo
em Goiás, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Mato O diminutivo
Grosso, no Brasil inteiro. Segundo estas linhas de menor resis- É o que aperta o mundo
tência, que definem os lineamentos mais claros da expansão E deixa miúdo
colonial, não se opunham, como ao norte, renteando o passo
O imperativo
às bandeiras, a esterilidade da terra, a barreira intangível dos
É o que aperta os outros
descampados brutos.
e deixa mudo
Assim é fácil mostrar como esta distinção de ordem física es- Um homem de letras
clarece as anomalias e contrastes entre os sucessos nos dous Dizendo ideias
pontos do país, sobretudo no período agudo da crise colonial, Sempre se inflama
no século XVII. Um homem de ideias
Enquanto o domínio holandês, centralizando-se em Pernam- Nem usa letras
buco, reagia por toda a costa oriental, da Bahia ao Maranhão, Faz ideograma
e se travavam recontros memoráveis em que, solidárias, enter- Se altera as letras
reiravam o inimigo comum as nossas três raças formadoras, E esconde o nome
o sulista, absolutamente alheio àquela agitação, revelava, na Faz anagrama
rebeldia aos decretos da metrópole, completo divórcio com
aqueles lutadores. Era quase um inimigo tão perigoso quanto o Mas se mostro o nome
Com poucas letras
batavo. Um povo estranho de mestiços levantadiços, expandin-
É um telegrama
do outras tendências, norteado por outros destinos, pisando,
Nosso verbo ser
resoluto, em demanda de outros rumos, bulas e alvarás entibia-
É uma identidade
dores. Volvia-se em luta aberta com a corte portuguesa, numa
Mas sem projeto
reação tenaz contra os jesuítas. Estes, olvidando o holandês
e dirigindo-se, com Ruiz de Montoya a Madri e Díaz Taño a E se temos verbo
Roma, apontavam-no como inimigo mais sério. Com objeto
É bem mais direto
De feito, enquanto em Pernambuco as tropas de van Schkoppe
preparavam o governo de Nassau, em São Paulo se arquitetava No entanto falta
o drama sombrio de Guaíra. E quando a restauração em Portu- Ter um sujeito
gal veio alentar em toda a linha a repulsa ao invasor, congre- Pra ter afeto
gando de novo os combatentes exaustos, os sulistas frisaram Mas se é um sujeito
ainda mais esta separação de destinos, aproveitando-se do Que se sujeita
mesmo fato para estadearem a autonomia franca, no reinado Ainda é objeto
de um minuto de Amador Bueno. Todo barbarismo
É o português
Não temos contraste maior na nossa história. Está nele a sua
Que se repeliu
feição verdadeiramente nacional. Fora disto mal a vislumbra-
mos nas cortes espetaculosas dos governadores, na Bahia, O neologismo
onde imperava a Companhia de Jesus com o privilégio da con- É uma palavra
quista das almas, eufemismo casuístico disfarçando o monopó- Que não se ouviu
lio do braço indígena. Já o idiotismo
(EUCLIDES DA CUNHA. Os sertões. Edição crítica de Walnice É tudo que a língua
Nogueira Galvão. 2 ed. São Paulo: Editora Ática, 2001, p. 81-82.) Não traduziu

44
Mas tem idiotismo maturidade; beleza versus decrepitude; nascimento versus
Também na fala morte; luminosidade versus sombra. Os vocábulos representa-
De um imbecil tivos desses campos semânticos são aurora, sol, dia, flor, beleza
a) Nessa letra de música são atribuídos sentidos às clas- versus terra, cinza, pó, sombra, nada.
sificações gramaticais. Escolha duas delas e explique o
sentido explorado, justificando sua pertinência ou não.
b) Nas duas últimas estrofes, há um deslocamento no E.O. UERJ
uso de 'idiotismo'. Explique-o.
Exame de Qualificação
1. D 2. B 3. B 4. C 5. A
Gabarito
E.O. Objetivas
E.O. Aprendizagem (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. B 2. A 3. C 4. B 5. C 1. C 2. D 3. E 4. C 5. E
6. E 7. E 8. B 9. A 10. B
E.O. Dissertativas
E.O. Fixação (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. B 2. E 3. B 4. B 5. B 1. a) Nota-se o mesmo recurso em “fio” e “desfiar”, ou seja,
6. B 7. E 8. A 9. D 10. D substantivo e verbo formados a partir de um mesmo radical.
b) Exemplo de oposição semântica se dá entre os termos explosão
e franzina ou explosão e pequena. A palavra “explosão” cria a
E.O. Complementar expectativa de potência, amplitude, grandiosidade; os adjetivos
franzina (o mesmo que enfraquecida, débil) e pequena contrariam
1. D 2. C 3. C 4. C 5. E
essa expectativa, configurando a oposição semântica.
2. As três características negativas que Fernando Pessoa atri-
E.O. Dissertativo bui à celebridade são representadas pelos substantivos “ple-
beísmo”, “contradição” e “fraqueza”.
1. Enquanto o artigo indefinido expressa uma ideia genérica de
3. O termo “verde” designa metaforicamente o estado da ferida:
pluralidade, sugerindo que a identidade normal representa uma
ainda está no começo, ou seja, é recente.
entre outras identidades (uma parte do todo), o artigo defini-
do, delimitando o nome, sugere a ideia de singularidade, de tal 4. Há cinco adjetivos no último parágrafo. Possíveis respostas:
modo que a identidade normal é caracterizada como um padrão "maior", "nacional", "espetaculosas", "casuístico", "indígena".
único e “natural”. 5. a) O autor estabelece intertextualidade com algumas defini-
2. a) Os quatro adjetivos são: histórico, provisório, mutável e ções gramaticais ao apresentar os seus próprios conceitos so-
mutante. bre determinados termos e explora poeticamente essa relação.
Nas duas primeiras estrofes, por exemplo, apresenta substan-
b) No texto II é abordada a transformação do corpo, que, com tivo como “substituto do conteúdo” e adjetivo como a nossa
o passar dos anos, muda e envelhece, assim como mostram impressão sobre quase tudo. A associação é pertinente, na me-
os adjetivos do texto I: o corpo é “histórico, provisório, mutá- dida em que a gramática conceitua o primeiro como a classe
vel e mutante”. de lexema que nomeia os seres, ou seja, tudo o que existe, e
3. a) Não se quis caracterizar o substantivo velho, deixando-o no o segundo como a classe que caracteriza o substantivo, asso-
ciando-lhe muitas vezes aspectos subjetivos (“nossa impressão
sentido geral.
sobre quase tudo”).
b) A comparação "como tantos outros". "Tantos outros" reitera
b) Uma expressão idiomática ou idiotismo é um conjunto de
o sentido de indeterminação do artigo indefinido.
palavras que se caracteriza por não ser possível identificar seu
4. a) vida organizada; povo feliz; (povo) de cabeça muito sóli- significado mediante o sentido literal dos termos analisados in-
da e mãos reforçadas: cabeça muito sólida; mãos reforçadas; dividualmente, por serem associadas a gírias ou contextos cul-
coisas aladas; (coisas) cheias de sabedoria; vida longa; os ca- turais específicos a certos grupos de pessoas que se distinguem
becences-para-baixo. pela classe, idade, região, profissão ou outro tipo de afinidade.
Na penúltima estrofe, o autor ao associar o termo à “fala de
b) Os sintagmas (citados na questão anterior) no texto trazem
um imbecil” amplia o significado da palavra: ausência total de
uma conotação positiva, ou seja, estão relacionados à felicidade,
inteligência, estupidez, insânia.
à sabedoria, à organização, à longevidade, o que contrasta com a
caracterização normalmente atribuída a "povo primitivo".
5. Os dois campos semânticos presentes na costrução do po-
ema indicam aspectos positivos e negativos: juventude versus

45
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. UERJ


EXAME DE QUALIFICAÇÃO
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 4 a 4.2
1 1
2 1 a 1.2
2 4
3 4
3 4.2
4 3
4 3
5 1
5 4.2
6 3
7 1
E.O. OBJETIVAS
8 3 (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
9 3 Exercícios Códigos
10 3 1 2
2 3
E.O. FIXAÇÃO
3 4
Exercícios Códigos
4 3
1 4.1
5 1
2 3
3 4.2
E.O. DISSERTATIVAS
4 1.2 (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
5 4.2 Exercícios Códigos
6 3 1 4
7 4 2 4.1
8 1.2 3 4.1 e 4.2
9 4.1 4 3
10 4.2 5 2.1 e 3.1

E.O. COMPLEMENTAR
Exercícios Códigos
1 4
2 4
3 4
4 4.2
5 4

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 1
2 3
3 1
4 4
5 4.1

46
Verbos: noções preliminares
AULAS
e modos indicativo e subjuntivo
5e6
Competências: 1e8 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 26 e 27

E.O. Aprendizagem vestígio de verniz. O papel da parede de branco passara a ama-


relo e percebia-se que em alguns pontos já havia sofrido hábeis
remendos.
Leia o texto de Marcos Dantas para responder à questão.
O gabinete oferecia a mesma aparência. O papel que fora primi-
Uma utopia democrática tivamente azul tomara a cor de folha seca.

Nas décadas de 1910 e 1920, alguns milhares de pessoas, a maio- Outra singularidade apresentava essa parte da habitação: era o
frisante contraste que faziam com a pobreza carrança dos dois
ria nos Estados Unidos, puseram-se a montar e usar equipamentos
aposentos certos objetos, aí colocados, e de uso do morador.
de radiotransmissão, passando a trocar mensagens sobre tudo,
através das ondas hertzianas. Montar um equipamento era rela- Assim, no recosto de uma das velhas cadeiras de jacarandá, via-
tivamente fácil: bastava comprar os componentes no comércio va- -se neste momento uma casaca preta, que pela fazenda superior,
rejista e seguir as instruções divulgadas em revistas especializadas. mas sobretudo pelo corte elegante e esmero do trabalho, conhe-
“Entrar no ar” era um ato individual, inteiramente livre. cia-se ter o chique da casa do Raunier, que já era naquele tempo
o alfaiate da moda.
Essa liberdade de acesso ao espectro eletromagnético levou o
dramaturgo marxista alemão Bertolt Brecht a formular uma “te- Ao lado da casaca estava o resto de um traje de baile, que todo
oria do rádio” que propunha dotar todas as residências com apa- ele saíra daquela mesma tesoura em voga; finíssimo chapéu cla-
relhos emissores-receptores, pelos quais os indivíduos (cidadãos) que do melhor fabricante de Paris; luvas de Jouvin cor de palha;
poderiam manter relações políticas e culturais entre si, construin- e um par de botinas como o Campas só fazia para os seus fre-
do uma espécie de assembleia popular permanente. gueses prediletos.

Brecht vislumbrou aí a possibilidade de se instaurar uma esfera Passando à alcova, na mesquinha banca de escrever, coberta
pública cidadã. Seria um espaço, sustentado numa infraestrutura com um pano desbotado e atravancada de rumas de livros, a
técnica, no qual os indivíduos cidadãos poderiam intervir, na con- maior parte romances, apareciam sem ordem tinteiros de bronze
dição de produtores diretos e autônomos de cultura. Seria o alar- dourado sem serventia; porta-charutos de vários gostos, cinzeiros
gamento e a consolidação do ideal iluminista de esfera pública de feitios esquisitos e outros objetos de fantasia.
burguesa, agora expandida para toda a sociedade democrática. (Senhora, 2000. Adaptado.)
Seria, pois, a radicalização da democracia.
2. (FACISB MED – UNESP) “O papel da parede de branco pas-
(A lógica do capital-informação, 2002. Adaptado.)
sara a amarelo e percebia-se que em alguns pontos já havia sofri-
do hábeis remendos.”
1. (FACISB MED – UNESP) “Seria o alargamento e a consoli-
dação do ideal iluminista de esfera pública burguesa […].”
O termo em destaque é uma forma verbal composta. A forma sim-
ples equivalente é:
O verbo “seria” está em um tempo verbal que indica
a) uma dúvida do autor do texto sobre o momento a) sofreria.
em que os fatos efetivamente ocorreram. b) sofria.
b) um estado permanente, constante, que se estende c) sofrera.
do passado ao futuro. d) sofrendo.
c) o cuidado do autor para questionar fatos sobre os e) sofreu.
quais paira uma dúvida.
Leia o excerto do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, para
d) uma hipótese futura, ainda incerta, em relação ao
responder à questão.
tempo sobre o qual se fala no texto.
e) a certeza sobre o futuro dos fatos narrados pelo Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele
autor do texto. estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra
no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da
Leia o trecho do romance Senhora, de José de Alencar, para res- casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à ca-
ponder à questão marinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos
passados esmorecera.
O aspecto da casa revelava, bem como seu interior, a pobreza
da habitação. A mobília da sala consistia em sofá, seis cadeiras Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, es-
e dois consolos de jacarandá, que já não conservavam o menor garavatou as unhas sujas. Tirou do aió um pedaço de fumo,

47
picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o ao binga, mesmo tempo. Nós nos tornamos, à semelhança dos computa-
pôs-se a fumar regalado. dores, pessoas multitarefa, não é verdade?
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo. Ela precisa
estar atenta aos veículos que vêm atrás, ao lado e à frente, à
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza
iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era velocidade média dos carros por onde trafega, às orientações do
homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos GPS ou de programas que sinalizam o trânsito em tempo real, às
outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os informações de alguma emissora de rádio que comenta o trânsi-
cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de ani- to, ao planejamento mental feito e refeito várias vezes do trajeto
mais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos que deve fazer para chegar ao seu destino, aos semáforos, faixas
e julgava-se cabra. de pedestres etc.

Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém Quando me vejo em tal situação, eu me lembro que 14dirigir, após
tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: um dia de intenso trabalho no retorno para casa, já FOI uma
atividade prazerosa e desestressante.
– Você é um bicho, Fabiano.
18
O uso da internet AJUDOU a transformar nossa maneira de
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz olhar para o mundo. Não mais observamos os detalhes, por causa
de vencer dificuldades. Chegara naquela situação medonha – e de nossa ganância em relação a novas e diferentes informações.
ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha. Quantas vezes sentei em frente ao computador para buscar textos
– Um bicho, Fabiano. sobre um tema e, de repente, me dei conta de que ESTAVA em te-
mas que em nada se RELACIONAVAM com meu tema primeiro.
Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passa-
ra uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo nosso costu-
a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fi- me de ler na internet. SOFREMOS de uma tentação permanen-
zera-se desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, te de pular palavras e frases inteiras, apenas para irmos direto ao
coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o ponto. O problema é que alguns textos exigem a leitura atenta
patrão aceitara-o, entregara-lhe as marcas de ferro. de palavra por palavra, de frase por frase, para que faça sentido.
Aliás, não é a combinação e a sucessão das palavras que dá senti-
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera
como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, do e beleza a um texto?
estava plantado. Olhou as quipás, os mandacarus e os xiquexi- Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção, imagine,
ques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e caro leitor, para as crianças. Elas já NASCERAM neste mundo de
as baraúnas. Ele, sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorra Baleia profusão de estímulos de todos os tipos; elas são exigidas, desde
estavam agarrados à terra. o início da vida, a dar conta de várias coisas ao mesmo tempo;
(Vidas secas, 2010.) elas são estimuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc.

“Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas cria- Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e pais, a partir
ra raízes, estava plantado.” (penúltimo parágrafo)
de então, querem que as crianças PRESTEM atenção em uma
única coisa por muito tempo. E quando elas não conseguem,
3. (FASM MED – UNESP) O tempo em que estão conjugados os reclamamos, levamos ao médico, arriscamos hipóteses de que
verbos destacados sejam portadoras de síndromes que exigem tratamento etc.
a) mostra que não se trata de acontecimentos corriquei- A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção, sim. Elas já sa-
ros, mas de momentos especiais na vida do personagem. bem usar programas complexos em seus aparelhos eletrônicos,
b) informa que os fatos enunciados são suposições brincam com jogos desafiantes que exigem atenção constante
a respeito do futuro do momento pretérito em que a aos detalhes e, se deixarmos, passam horas em uma única ativi-
narrativa principal acontece. dade de que gostam.
c) indica que os fatos aconteceram em um passado Mas, nos estudos, queremos que elas prestem atenção no que é
anterior ao tempo, também passado, da linha princi- preciso, e não no que GOSTAM. E isso, caro leitor, exige a árdua
pal da narrativa, indicada pelo verbo “estava”. aprendizagem da autodisciplina. Que leva tempo, é bom lembrar.
d) adiciona ao texto um tom erudito, que reforça o
encadeamento do pensamento elaborado do perso- As crianças precisam de nós, pais e professores, para começar a
nagem Fabiano. aprender isso. Aliás, boa parte desse trabalho é nosso, e não delas.
e) denota um processo contínuo no passado, que se Não basta mandarmos que elas prestem atenção: isso de nada
estende até o presente da narrativa, indicado pelo as ajuda. O que pode ajudar, por exemplo, é analisarmos o con-
verbo “estava”. texto em que estão quando precisam focar a atenção e orga-
nizá-lo para que SEJA favorável a tal exigência. E é preciso
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
lembrar que não se pode esperar toda a atenção delas por
Aumenta o número de adultos que não CONSEGUE focar sua muito tempo: o ensino desse quesito no mundo de hoje é um
atenção em uma única coisa por muito tempo. São tantos os estí- processo lento e gradual.
mulos e tanta a pressão para que o entorno seja completamente SAYÃO, Rosely. Profusão de estímulos. In:
desvendado que aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao Folha de São Paulo, 11 fev. 2014.

48
4. (Col. Naval) Em qual opção a forma verbal em destaque ex- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
pressa uma ação hipotética?
Filme-enigma de Christopher Nolan gera discussões sobre signifi-
a) “[...] me dei conta de que ESTAVA em temas [...].” cado e citações ocultas ou óbvias em sua trama onírica
b) “[...] e organizá-lo para que SEJA favorável [...].”
c) “[...] atenção no que é preciso, e não no que GOSTAM.”
d) “Aumenta o número de adultos que não CONSE-
GUE focar [...].”
e) “Elas já NASCERAM neste mundo de profusão [...].”

5. (Col. Naval) Em que opção a forma verbal em destaque trans-


mite a ideia de continuidade, de processo que era constante ou
frequente?
Cena do longa de ficção científica "A Origem"
a) “[...] dirigir, [...], já FOI uma atividade praze- Certa vez o sábio taoísta Chuang Tzu sonhou que era uma bor-
rosa [...].” boleta. Ao acordar, entretanto, ele não sabia mais se era um
b) “[...] que em nada se RELACIONAVAM com meu homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que
tema primeiro.” agora sonhava ser um homem.
c) “SOFREMOS de uma tentação permanente de Será que Dom Cobb está sonhando? Será que a vida real é esta
pular [...].” mesma ou somos nós que sonhamos?
d) “Mas, nos estudos, queremos que elas PRESTEM
Alguns podem ir ao cinema para assistir “A Origem”, de Chris-
atenção [...].”
topher Nolan (“Batman - O Cavaleiro das Trevas”) e achar tão
e) “O uso da internet AJUDOU a transformar nossa chato que vão sonhar de verdade, dormindo na fase de sono REM.
maneira [...].”
Mas outros estão sonhando acordados. Em blogs, sites e grupos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO de discussão, os já fanáticos pelo filme de Nolan apontam refe-
rências (de mitologia grega), veem citações (de “Lost”), tecem
Conversar pressupõe um diálogo produtivo entre as pessoas. teorias malucas e conspiratórias (o sonho dentro do sonho).
Significa dizer que conversar é um processo cooperativo entre Alguns acusam o diretor de copiar filmes os mais variados, de
interlocutores. “Blade Runner” (1982) a “eXistenZ” (1999), de se inspirar em
“2001 - Uma Odisseia no Espaço” (1968) e até de roubar a ideia
Leia o texto abaixo, que representa uma conversa. de um quadrinho do Tio Patinhas de 2002.
O fato é que Nolan acertou o alvo. E ele sabia do potencial “ner-
dístico” de seu filme. Tanto é que cogitou mudar a canção que
toca no filme todo, “Non, Je Ne Regrette Rien”, com Edith Piaf,
porque uma das atrizes escaladas, Marion Cotillard, havia vivido
a cantora francesa em um filme de 2007.
(...)
Além da música, uma boa diversão de “A Origem” é identificar
os objetos impossíveis deixados por Nolan ao longo do filme. A
escada de Penrose, criada pelo psiquiatra britânico Lionel Penro-
se, aparece diversas vezes na tela – e também inspirou o quadro
que tenta explicar facetas do longa.
Melhor ir ver o filme e não pensar em escadas... No que você está
pensando agora?
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1908201010.htm)

7. (Insper) Releia o primeiro parágrafo:

Certa vez o sábio taoísta Chuang Tzu SONHOU que era uma
borboleta. Ao acordar, entretanto, ele não sabia mais se era um

6. (IFSP) No trecho “a gente pode ter conversas literárias”, homem que SONHARA ser uma borboleta ou uma borboleta que

substituindo-se o sujeito por outro de primeira pessoa do plu- agora SONHAVA ser um homem.
ral, no tempo pretérito perfeito, o resultado é o seguinte:
As formas verbais em NEGRITO indicam, respectivamente
a) podemos ter conversas literárias.
a) ação concluída, ação simultânea e ação hipotética.
b) podíamos ter conversas literárias. b) ação durativa, ação concluída e ação não concluída
c) poderíamos ter conversas literárias. c) ação pontual, ação contínua e ação fictícia.
d) pudemos ter conversas literárias. d) ação concluída, ação posterior e ação anterior.
e) pudéssemos ter conversas literárias. e) ação concluída, ação anterior e ação contínua.

49
Leia o trecho do romance Senhora, de José de Alencar, para res- 9. (FAMERP) “Como consequência funesta, Breton e Aragon
ponder à questão. PERDERAM o emprego oferecido pelo colecionador Jacques
Doucet.”
Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem
exceção de um, a pretendiam unicamente pela riqueza; Auré- O tempo do verbo destacado indica um acontecimento
lia reagia contra essa afronta, aplicando a esses indivíduos o a) frequente, no passado.
mesmo estalão. b) em um passado anterior a alguns dos demais fatos citados.
Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um c) pontual, no passado.
dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em lingua- d) no futuro do passado em que alguns dos demais
gem financeira, Aurélia cotava os seus adoradores pelo preço fatos citados ocorrem.
que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial. e) contínuo, inteiramente no passado.
Uma noite, no Cassino, a Lísia Soares, que se fazia íntima com Leia o texto de Carlos Ranulfo Melo para responder à questão.
ela, e desejava ardentemente vê-la casada, dirigiu-lhe um grace-
jo acerca do Alfredo Moreira, rapaz elegante que chegara recen- CORRUPÇÃO ELEITORAL
temente da Europa:
As democracias contemporâneas são arranjos representativos. A
− É um moço muito distinto, respondeu Aurélia sorrindo; vale bem representação foi a “solução encontrada” para um dilema. Tão
como noivo cem contos de réis; mas eu tenho dinheiro para pagar logo firmado o princípio da igualdade política entre os indivíduos,
um marido de maior preço, Lísia; não me contento com esse. regimes políticos baseados na tradição, na origem de classe ou na
condição de status perderam a legitimidade. Por outro lado, o tama-
Riam-se todos destes ditos de Aurélia, e os lançavam à conta de nho das sociedades e a complexidade cada vez maior das questões
gracinhas de moça espirituosa; porém a maior parte das senho- em discussão – demandando acesso a informações, disponibilidade
ras, sobretudo aquelas que tinham filhas moças, não cansavam de tempo e condições de negociação – tornaram proibitiva a ideia
de criticar desses modos desenvoltos, impróprios de meninas de que todos participassem das decisões a serem coletivizadas. A
bem-educadas. escolha de um corpo de representantes em eleições livres, justas e
Os adoradores de Aurélia sabiam, pois ela não fazia mistério, do periódicas – e que incluam a todo o eleitorado adulto – passou a
preço de sua cotação no rol da moça; e longe de se agastarem ser algo que, sem esgotar a noção contemporânea de democra-
com a franqueza, divertiam-se com o jogo que muitas vezes re- cia, firmou-se como sua pedra angular. Ao se dirigirem às urnas
sultava do ágio de suas ações naquela empresa nupcial. os cidadãos reafirmam sua condição de igualdade perante um ato
fundamental do Estado. Ao organizar as eleições e transformar os
(Senhora, 2013. Adaptado.) votos em postos executivos e/ou legislativos, o aparato institucional
das democracias permite que, em maior ou menor grau, os mais
8. (FAMEMA) “a Lísia Soares, que se fazia íntima com ela, e
diversos interesses, opiniões e valores sejam vocalizados no curso
DESEJAVA ardentemente vê-la casada, DIRIGIU-lhe um gra-
do processo decisório. Tal processo, no entanto, pode apresentar
cejo acerca do Alfredo Moreira”
problemas que ameacem corromper o corpo político constituído,
comprometendo sua legitimidade e diminuindo sua capacidade de
Os tempos dos verbos destacados indicam, respectivamente, oferecer à coletividade os resultados esperados.
a) fato que perdura no presente e fato frequente no
A corrupção eleitoral ou a reiterada incidência de fenômenos ca-
passado.
pazes de desvirtuar o processo de constituição de um corpo de re-
b) fato que perdura no presente e fato que perdura presentantes sempre significou um problema para as democracias.
no passado. A condição para que seu enfrentamento se tornasse possível foi
c) fato que perdura no passado e fato pontual, termi- a constituição de uma Justiça Eleitoral dotada de autonomia face
nado, no passado. aos poderes político e econômico, com recursos suficientes para
d) fato pontual, terminado, no passado e fato anterior organizar e poderes necessários para regulamentar os processos
a outro já passado. eleitorais. Mas mesmo as democracias consolidadas não consegui-
e) fato pontual, terminado, no passado e fato que per- ram impedir de forma cabal que determinados interesses pudes-
dura no passado. sem, utilizando os recursos que tivessem à mão, obter vantagens
diferenciadas em função de sua participação nas eleições.
Leia o texto de Marilda Rebouças para responder à questão. (Corrupção, 2008. Adaptado.)
A primeira manifestação surrealista aconteceu em 1924 com a 10. (FAMERP) “Ao se dirigirem às urnas os cidadãos REAFIR-
divulgação do panfleto “Um cadáver”, a propósito da morte de MAM sua condição de igualdade perante um ato fundamental do
Anatole France, prêmio Nobel de literatura. Os surrealistas não Estado.”(1º parágrafo)
estavam interessados no estilo límpido, nem no famoso ceticismo
desse escritor consagrado e, por isso mesmo, alvo perfeito para o Em seu contexto, o verbo destacado, na forma em que foi empre-
grupo de jovens lobos mostrarem suas garras. Numa linguagem gado, indica uma ação
violenta, afirmavam que acabava de morrer “um pouco da servi- a) usual, reiterada, no passado.
lidade humana”. E, como esperavam, a repercussão foi enorme. b) habitual, regular.
Como consequência funesta, Breton e Aragon perderam o em- c) feita no instante em que o enunciado é apresentado.
prego oferecido pelo colecionador Jacques Doucet.
d) contínua, extensa, no presente.
(Surrealismo, 1986.) e) pontual, corriqueira, ordinária e sem importância.

50
E.O. Fixação a) pretérito perfeito do indicativo, futuro do pretérito
do indicativo, presente do subjuntivo.
b) pretérito imperfeito do indicativo, pretérito perfeito
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
do indicativo, presente do indicativo.
TINTIM c) pretérito mais-que-perfeito do indicativo, pretérito
imperfeito do indicativo, presente do subjuntivo.
Durante alguns anos, o tintim me intrigou. Tintim por tintim: o
d) pretérito imperfeito do subjuntivo, pretérito imper-
que queria dizer aquilo? Imaginei que fosse alguma misteriosa
feito do indicativo, pretérito perfeito do indicativo.
medida de outros tempos que sobrevivera ao sistema métrico,
como a braça, a légua, etc. Outro mistério era o triz. Qual a exata e) pretérito imperfeito do subjuntivo, futuro do preté-
definição de um triz? É uma subdivisão de tempo ou de espaço. rito do indicativo, presente do indicativo.
As coisas deixam de acontecer por um triz, por uma fração de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
segundo ou de milímetro. Mas que fração? O triz talvez corres-
pondesse a meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz. Crônica parafraseada de uma Síria em guerra
Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao obscuro mundo das Ela abre os olhos. Não fosse o cheiro horrível de morte, o silêncio
microcoisas. seria até agradável, mas o olfato a lembra que não há paz –
nem pessoas, vizinhos, crianças. A trégua na manhãzinha não
Há quem diga que não existe uma fração mínima de matéria,
traz esperança. Tão somente lhe permite descansar o corpo, mas
que tudo pode ser dividido e subdividido. Assim como existe o in-
não a mente. As lembranças da noite anterior ainda produzem
finito para fora – isto é, o espaço sem fim, depois que o Universo
sobressaltos. Bombas, casas caindo e soldados gritando.
acaba – existiria o infinito para dentro. A menor fração da menor
partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes, e Levanta-se, bebe o pouco da água que restou do copo ao lado
cada triz por dois tintins, e cada tintim por dois trizes, e assim por da cama. Já não é tão limpa, nem farta como antes. Sempre um
diante, até a loucura. gosto amargo misturado com H2O.
Descobri, finalmente, o que significa tintim. É verdade que, se Abre a geladeira, e só encontra comida enlatada e congelada.
tivesse me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, E mesmo não tão congelada assim, já que os cortes diários de
minha ignorância não teria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, é eletricidade derretem as camadas de gelo.
a última coisa que nos ocorre. Está no Aurelião. Tintim, vocábulo
Os sobrinhos ainda dormem, e ela tenta orar. Não consegue. A
onomatopaico que evoca o tinido das moedas.
mente desconcentra-se facilmente. Em uma prece fragmentada,
Originalmente, portanto, “tintim por tintim” indicava um pa- pede a Deus descanso e trégua. E faz a oração sem pensar muito.
gamento feito minuciosamente, moeda por moeda. Isso no Não precisa; é a mesma oração das últimas semanas.
tempo em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao contrário de
Ela não quer sair de casa. Não é teimosia, é falta de opção. “Para
hoje, quando são feitas de papelão e se chocam sem ruído.
onde ir?”, pergunta, com uma voz desesperançosa. Está tão con-
Numa investigação feita hoje da corrupção no país tintim por
fusa que não consegue imaginar saídas.
tintim ficaríamos tinindo sem parar e chegaríamos a uma nova
concepção de infinito. Nem a piedade de enterrar os mortos o governo permite. Ca-
dáveres estão espalhados pelas ruas. As forças de Assad 3im-
Tintim por tintim. A menina muito dada namoraria sim-sim por
pediram de sepultar ou mesmo remover os restos mortais. Ou
sim-sim. O gordo incontrolável progrediria pela vida quindim por
seja, mesmo viva, ela não tem como fugir da morte escancarada
quindim. O telespectador habitual viveria plim-plim por plim-
diante de seus olhos. Não é fácil acreditar na vida, quando a
-plim. E você e eu vamos ganhando nosso salário tin por tin (olha
realidade grita o contrário.
aí, a inflação já levou dois tins).
Se não podem sepultar os mortos, os sobreviventes tentam ao me-
Resolvido o mistério do tintim, que não é uma subdivisão nem
nos ajudar a curar as feridas dos machucados. Não podem levá-los
de tempo nem de espaço nem de matéria, resta o triz. O Aurelião
aos hospitais da cidade, já que há um medo generalizado de que o
não nos ajuda. “Triz”, diz ele, significa por pouco. Sim, mas que
governo prenda os feridos como se fossem prisioneiros de guerra.
pouco? Queremos algarismos, vírgulas, zeros, definições para
“triz”. Substantivo feminino. Popular. Resta improvisar atendimento nos campos. Não bastasse a preca-
riedade do atendimento, não há medicamentos suficientes.
“Icterícia.” Triz quer dizer icterícia. Ou teremos que mudar todas
as nossas teorias sobre o Universo ou teremos que mudar de Rebeca, de 32 anos, é trabalhadora autônoma. Ou melhor, 4era.
assunto. Acho melhor mudar de assunto. Agora já não sabe mais o que é e o que faz em sua cidade Da-
masco, capital da Síria.
O Universo já tem problemas demais.
Crônica parafraseada do depoimento de uma moradora da capi-
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para ler na tal da Síria (identificada apenas pela letra “R”) ao jornal Folha de
escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
São Paulo, de quarta-feira, dia 25. A Síria está em revolta há 16
1. (IFSP) Considere o seguinte trecho: “É verdade que, se TIVES- meses contra a ditadura de Bashar al-Assad. Nos últimos dias, o
SE me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, minha confronto contra os rebeldes se acirrou e as mortes aumentaram.
ignorância não TERIA durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, é a
Disponível em: <http://ultimato.com.br/sites/
última coisa que nos OCORRE”. Os verbos grifados encontram- fatosecorrelatos/2012/07/26/cronica-parafraseada-de-
-se conjugados, respectivamente: uma-siria-em-guerra/> Acesso em: 14 set. 2015.

51
2. (Ifsul) Considerando a flexão das formas verbais impediram a) futuro do pretérito, pois não se trata de fato localiza-
(ref. 3) e era (ref. 4), é correto afirmar que do em um futuro próximo, mas em um futuro distante.
a) os dois verbos estão conjugados no pretérito im- b) futuro do presente, para fazer uma afirmação futu-
perfeito do modo indicativo. ra em relação ao tempo do que foi enunciado antes.
b) os dois verbos estão conjugados no pretérito per- c) pretérito mais-que-perfeito, pois se trata de um fato
feito do modo indicativo. posterior a outro fato enunciado no texto.
c) o verbo impedir está conjugado no pretérito per- d) futuro do presente, para deixar claro que se trata de
feito do indicativo, e o ser, no pretérito imperfeito uma hipótese e não de um fato já consumado.
do indicativo. e) futuro do pretérito, a fim de imaginar um cenário
d) o verbo impedir está conjugado no pretérito projetado a partir de uma hipótese antes enunciada.
imperfeito do subjuntivo, e o ser, no futuro do
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
subjuntivo.

Leia o texto de André Gotz para responder à questão. PORTUGUÊS NO TOPO DAS
LÍNGUAS MAIS IMPORTANTES
O grande problema dos carros é o fato de serem como man-
sões à beira-mar: são bens de luxo inventados para o prazer
exclusivo de uma minoria muito rica, os quais em concepção
e natureza nunca foram destinados ao povo. Em sua concep-
ção e em sua finalidade original, o carro é um bem de luxo.
E o luxo, por definição, é impossível de ser democratizado: se
todos ascendem ao luxo, ninguém tira proveito dele.
Isso é admitido sem questionamentos pelo senso comum no
caso das mansões à beira-mar. Nenhum demagogo ousou dizer
que democratizar o direito às férias significa aplicar o princí-
pio uma mansão com praia particular para cada família. Todos
compreendem que, se cada uma das treze ou quatorze milhões A língua portuguesa é a segunda língua mais importante no mun-
do dos negócios, pelo menos para quem tem o inglês como língua
de famílias existentes na França devesse dispor mesmo que
materna. Quem o diz é Ofer Shoshan, um colaborador da revista
apenas de dez metros da costa, seria preciso dividir as praias
norte-americana Entrepeneur, num artigo divulgado esta semana.
em tiras tão pequenas – ou amontoar tanto as mansões – que
seu valor de uso seria nulo e sua vantagem sobre um complexo Espanhol, português e chinês são, na opinião do autor do arti-
hoteleiro desapareceria. Em suma, a democratização do acesso go, as línguas que “todos os diretores executivos de empresas
às praias admite somente uma solução: a solução coletivista. E globais devem aprender”. A lista refere um total de 6 línguas,
essa solução está necessariamente em guerra com o luxo que incluindo o russo, o árabe e o alemão.
constituem as praias particulares, privilégio que uma pequena “A língua portuguesa já é a quarta língua mais traduzida, na nos-
minoria se atribui à custa de todos. sa empresa, o que reflete o seu crescimento nos últimos anos”,
Ora, por que aquilo que é absolutamente óbvio no caso diz Ofer, que é o diretor executivo da empresa de traduções One
das praias não é geralmente visto da mesma forma no caso Hour Translations.
do transporte? Por acaso um carro também não ocupa um O autor admite, contudo, que este aumento da ‘procura’ da língua
espaço tão escasso quanto uma mansão na praia? Não es- portuguesa está ligado ao Brasil e não a Portugal, já que “a econo-
polia os outros que usam as ruas (pedestres, ciclistas, usu- mia brasileira está a deixar de ser emergente para passar a ser uma
ários de ônibus ou bondes)? Não perde seu valor de uso das mais ricas do mundo, com uma população gigantesca, vastos
quando todo mundo utiliza o seu? No entanto abundam recursos naturais e uma forte comunidade tecnológica”.
os demagogos que afirmam que cada família tem o direito
Ofer Shoshan recorda que o próprio Bill Gates assumiu, recen-
a pelo menos um carro, e que seria até mesmo encargo do
temente, um dos seus maiores arrependimentos: não falar uma
"Estado" atuar de forma que todos pudessem estacionar segunda língua para além do inglês.
convenientemente e viajar no feriado ou nas férias ao mes-
mo tempo que todos os outros a 150 km/h. Por outro lado, o autor refere o momento em que o fundador do
Facebook, Mark Zuckerberg, “mostrou um impressionante domí-
(Ned Ludd (org). Apocalipse motorizado, 2004. Adaptado.)
nio da língua chinesa, durante uma visita, em outubro passado, a
3. (SÃO CAMILO MED – UNESP) "Todos compreendem uma universidade de Pequim”.
que, se cada uma das treze ou quatorze milhões de famílias “Ao aprender chinês, Zuckerberg demonstrou que dominar a lín-
existentes na França devesse dispor mesmo que apenas de dez gua local é fundamental para aprofundar relações de negócio e
metros da costa, SERIA preciso dividir as praias em tiras tão conquistar a alma e o coração dos mercados”, diz Ofer Shoshan.
pequenas – ou amontoar tanto as mansões – que seu valor de
Disponível em: https://iilp.wordpress.com/2015/05/06/portugues-
uso SERIA nulo e sua vantagem sobre um complexo hoteleiro no-topo-das-linguas-mais-importantes Acesso em:23/05/2015.
desapareceria."
4. (UPE) Considerando algumas formas verbais empregadas no
Os verbos destacados no excerto estão conjugados no texto, assinale a alternativa CORRETA.

52
a) O tempo e o modo da forma verbal empregada no Essa conta acentua a tragédia da morte anunciada em corredores
trecho: “A língua portuguesa é a segunda língua mais e filas de espera e suscita um questionamento importante, pois os
importante no mundo dos negócios” expressam a in- dados evidenciam que, apesar do pouco destinado, é o mau uso
certeza do autor em relação à afirmação que ele faz. dos recursos que estão disponíveis que aprofunda a crise.
b) Na variante brasileira do português, o fato de os
O Brasil está diante de um dilema. É hora de rever caminhos,
verbos “ter” e “haver” serem, às vezes, empregados
adotar novas posturas, corrigir falhas para não sentenciar a
como equivalentes, pode ser exemplificado no trecho
população à doença e tirar do estado de coma em que se
“para quem tem o inglês como língua materna”.
encontra o Sistema Único de Saúde (SUS), uma das maiores
c) No trecho: “Ofer Shoshan recorda que o próprio Bill políticas sociais do mundo e balizador de todo modelo de
Gates assumiu, recentemente, um dos seus maiores atenção no País.
arrependimentos”, a variação presente/passado das for-
mas verbais destacadas resulta em incorreção no texto. Jornal Medicina Publicação oficial do Conselho
Federal de Medicina. Janeiro 2016.
d) Com a forma verbal selecionada no trecho: “Mark
Zuckerberg mostrou um impressionante domínio da 5. (Fac. Albert Einstein) “Quem dera o fosse.” Os verbos empre-
língua chinesa”, o autor pretendeu indicar uma ação gados nessa frase do quarto parágrafo (verbo dar no pretérito
iniciada no passado e ainda não concluída. mais-que-perfeito do indicativo e verbo ir no pretérito imperfeito
e) No trecho: “‘Ao aprender chinês, Zuckerberg de- do subjuntivo) contribuem para construir o sentido de que
monstrou que [...]’, diz Ofer Shoshan”, a forma ver- a) o fenômeno administrativo e contábil gerado pelo
bal destacada, embora esteja no presente, indica uma desequilíbrio da gestão do sistema público de saúde
ação do passado. levou o país à falência.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO b) o problema com a saúde nacional se circunscreve a
questões de natureza administrativa ou contábil.
Editorial c) a situação em que se encontra o sistema público de
saúde não se restringe a questões de natureza admi-
O VALOR DA VIDA nistrativa ou contábil.
Hermann A.V. von Tiesenhausen Diretor executivo do jornal Medicina d) a falência do sistema público de saúde brasileiro se
resolve pela gestão equilibrada das contas.
A mistanásia é um termo pouco utilizado nas conversas do dia
a dia, mas, que, infelizmente, não está tão distante de nossa re- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
alidade. A imprensa registra, sem filtros, o drama de milhares de
pacientes e profissionais nos postos de saúde, hospitais e pron- O SEQUESTRO DAS PALAVRAS
tos-socorros e traduz a dura proximidade com a expressão.
Gregório Duvivier
O significado de mistanásia remete à omissão de socorro, à
Vamos supor que toda palavra tenha uma vocação primeira. A
negligência. Ela representa a morte miserável, antes da hora. É
palavra mudança, por exemplo, nasceu filha da transformação e
conhecida como a eutanásia social. No Brasil, seu flagelo atinge,
da troca, e desde pequena 2servia para descrever o processo de
sobretudo, os mais carentes, que dependem exclusivamente do
mutação de uma coisa em outra coisa que não deixou de ser, na
Estado quando o corpo padece.
essência, a mesma coisa – quando a coisa é trocada por outra
Um exemplo do que a mistanásia pode causar apareceu em coisa, não é mudança, é substituição. A palavra justiça, por exem-
série de reportagens exibida pelo Jornal Nacional (Rede Globo), plo, brotou do casamento dos direitos com a igualdade (sim, foi
em janeiro, que dissecou o drama dos pacientes com câncer no um ménage): servia para tornar igual aquilo que tinha o direito
país. A falta de tudo torna a larga espera pelo atendimento um de ser igual mas não estava sendo tratado como tal.
duro calvário e, em meio ao desespero, centros de excelência,
como o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, No entanto as palavras cresceram. E, assim como as pessoas,
minguam a céu aberto. foram sendo contaminadas pelo mundo a sua volta. As palavras,
coitadas, não sabem escolher amizade, não sabem dizer não.
A falência do sistema público de saúde não é só um fenômeno A liberdade, por exemplo, é dessas palavras que só dizem sim.
administrativo ou contábil. Quem dera o fosse. Assim, seria mais Não nasceu de ninguém. Nasceu contra tudo: a prisão, a depen-
fácil suportá-la, pois contas se arrumam. A questão é que o de- dência, o poder, o dinheiro – mas não se espante se você vir a
sequilíbrio causado por uma gestão feita de pessoas perdidas liberdade vendendo absorvente, desodorante, cartão de crédito,
em meio ao tiroteio entrou em nossas casas pela porta da frente. empréstimo de banco. A publicidade vive disso: dobrar as melho-
A situação grave, contornada com paliativos, ceifa vidas, inclusive res palavras sem pagar direito de imagem. Assim, você 11verá as
de crianças e jovens, impedidos de receber aquilo que a Consti- palavras ecologia e esporte juntarem-12se numa só para criar o
tuição lhes garante como direito cidadão: o acesso universal, in- EcoSport – existe algo menos ecológico ou esportivo que um car-
tegral, gratuito e com equidade a serviços de saúde de qualidade. ro? Pobres palavras. Não 15tem advogados. Não precisam assinar
termos de autorização de imagem. Estão aí, na praça, gratuitas.
Nesta edição do jornal Medicina, apresentamos números do
valor da vida e da saúde de cada brasileiro para o setor públi- Nem todos aceitam que as palavras 16sejam sequestradas ao
co. A média nacional não supera os R$ 4,00 ao dia, ou seja, bel-prazer do usuário. A política é o campo de guerra onde se
quase nada se comparado a outros países com modelos assis- disputa a posse das palavras. A “ética”, filha do caráter com
tenciais semelhantes. a moral, transita de um lado para o outro dos conflitos, assim

53
como a Alsácia-Lorena, e não sem guerras sanguinárias. Com Fonte: <http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Cultura/Da-pra-
um revólver na cabeça, é obrigada a endossar os seres mais desenhar-/39/33645>, texto adaptado. Acesso em: 03 set. 2015

amorais e sem caráter. A palavra mudança, que sempre andou


7. (G1 - cft-mg) Considere o trecho a seguir:
com as esquerdas, foi sequestrada pelos setores mais conser-
vadores da sociedade – que fingem querer mudar, quando o
[...] Há não muito tempo, PERGUNTÁVAMOS (1) a quem não
que querem é trocar (para que não se mude mais). A Justiça,
entendia o que falávamos se GOSTARIA (2) que DESENHÁS-
coitada, foi cooptada por quem atropela direitos e desconhece
a igualdade, confundindo-a o tempo todo com seu primo, o SEMOS (3) a explicação. Era uma brincadeira, uma forma de
infantilizar o interlocutor. Chegou o dia em que a piada perdeu a
justiçamento, filho do preconceito com o ódio.
graça, porque deixou de ser piada.
Já a palavra impeachment, recém-nascida, filha da democracia
com a mudança, 22está escondida num porão: emprestaram suas A indicação da desinência modo-temporal dos verbos 1, 2 e 3,
roupas à palavra golpe, que desfila por aí usando seu nome e seus grifados nesse trecho, está correta em
documentos. Enquanto isso, a palavra jornalismo, coitada, agoniza
na UTI. As palavras não lutam sozinhas. É preciso lutar por elas. a) (1) pretérito imperfeito do subjuntivo; (2) futuro sim-
ples do indicativo; (3) pretérito perfeito do indicativo.
Texto publicado em 21 mar. 2016. Disponível em: <http://www1.
folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/03/1752170-
b) (1) pretérito perfeito do indicativo; (2) pretérito imper-
o-sequestro-das-palavras.shtml>. Acesso em: 06 abr. 2016. feito do indicativo; (3) pretérito imperfeito do indicativo.
c) (1) pretérito imperfeito do indicativo; (2) futuro do pre-
6. (Ifsul) Quanto ao emprego dos verbos no texto “O sequestro térito do indicativo; (3) pretérito imperfeito do subjuntivo.
das palavras”, é correto afirmar que
d) (1) pretérito mais-que-perfeito do indicativo; (2)
a) o verbo “ver” (ref. 11) foi conjugado no futuro do futuro do pretérito do indicativo; (3) pretérito perfeito
pretérito do modo indicativo, embora faça referência do subjuntivo.
ao tempo presente.
b) o verbo “ser” (ref. 16) foi flexionado no presente TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
do indicativo, indicando a incerteza de que a ação A cavalgada, que lenta SUBIRA a encosta, DESCIA-A rapida-
ocorra de fato. mente enquanto Atanagildo, visitando os muros, EXORTAVA os
c) a locução verbal presente na referência 22, utili- guerreiros da cruz a pelejarem esforçadamente. Quando estes sou-
zada no passado perfeito do indicativo, designa uma beram quais eram as intenções dos árabes acerca das virgens do
ação já concluída. mosteiro, a atrocidade do sacrilégio afugentou-lhes dos corações a
d) o verbo “servir” (ref. 2) foi conjugado no pretérito menor sombra de hesitação. Sobre as espadas juraram todos com-
imperfeito do indicativo para designar uma ação em bater e morrer como godos. Então o quingentário, a quem parecia
contínua realização do passado para o presente. animar sobrenatural ousadia, correu ao templo.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO HERCULANO, A. Eurico, o presbítero. 2. ed. São
Paulo: Martin Claret, 2014. p.107.
DÁ PRA DESENHAR?
8. (UEL) Sobre os verbos “subira”, “descia” e “exortava”, presentes
Marcelo Gruman no trecho, assinale a alternativa correta.

As livrarias no Rio de Janeiro estão desaparecendo, sobretudo a) Os verbos “subira”, “descia” e “exortava” estão no
os sebos, que teimam em comercializar objetos sujos de história. tempo verbal pretérito perfeito, pois indicam um fato
[...] É a tal “civilização digital”. Se não digital, do 3kindle e do que aconteceu em um momento passado e foi conclu-
4
IPhone, do ambiente asséptico, inodoro, impessoal de cadeias ído. Todos estão no modo indicativo.
livreiras como Cultura, Travessa ou Saraiva, padronizadas. Chega- b) Os verbos “subira”, “descia” e “exortava” estão no
mos à era da “mcdonaldização” do hábito de ler. Sem passado, pretérito imperfeito, pois expressam a duração de um
sem futuro, um presente contínuo.
fato que ocorreu no passado e foi concluído. Os dois
Não bastasse o desprestígio do livro físico, vivemos o “triunfo primeiros estão no modo indicativo, enquanto “exorta-
total da não leitura”, conforme o editor de não ficção e lite- va” está no imperativo, pois expressa ordem.
ratura brasileira da Editora Record, Carlos Andreazza, que re- c) O verbo “subira” está no futuro do presente, pois indica
solveu lançar a campanha pela “maioridade intelectual”, que um fato que ainda ocorrerá; os verbos “descia” e “exorta-
considera uma provocação à onda dos livros de colorir. Para ele, va” estão no futuro do pretérito, pois indicam ações que
o editor também é um educador e tem a obrigação de atrair aconteceriam. Todos estão no modo indicativo.
o leitor jovem-adulto, ampliando o público leitor como uma d) O verbo “subira” está no pretérito mais-que-perfeito,
resposta saudável a esta atração cultural que é “o livro de unir pois indica um fato que aconteceu antes de outro fato no
os pontinhos”, como ironicamente o define Joaquim Ferreira presente; já os verbos “exortava” e “descia” estão no im-
dos Santos. Andreazza diz que, hoje, somos obrigados a falar perfeito do subjuntivo, pois expressam desejos ou hipóteses.
redundâncias bárbaras como “livro para ler”. Uma piada de
e) O verbo “subira” está no pretérito mais-que-perfeito,
mau gosto porque livro pressupõe leitura.
pois indica um processo que ocorreu antes de um outro
[...] Há não muito tempo, perguntávamos a quem não entendia o fato, também no passado; os verbos “descia” e “exorta-
que falávamos se gostaria que desenhássemos a explicação. Era va” estão no pretérito imperfeito, pois indicam um pro-
uma brincadeira, uma forma de infantilizar o interlocutor. Chegou cesso que ocorreu no passado, expressando sua duração,
o dia em que a piada perdeu a graça, porque deixou de ser piada. e que não foi concluído. Todos estão no modo indicativo.

54
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

À porta do Grande Hotel, pelas duas da tarde, Chagas e Silva


E.O. Complementar
postava-se de palito à boca, como se tivesse descido do restau- Leia o trecho inicial do livro Corações sujos, de Fernando Morais,
rante lá de cima. Poderia parecer, pela estampa, que somente ali para responder à questão.
se comesse bem em Porto Alegre. Longe disso! A Rua da Praia
A voz rouca e arrastada parecia vir de outro mundo. Eram pon-
que o diga, ou melhor, que o dissesse. O faz de conta do ine-
tualmente nove horas da manhã do dia 1º de janeiro de 1946
fável personagem ligava-se mais à importância, à moldura que
quando ela soou nos alto-falantes dos rádios de todo o Japão.
aquele portal lhe conferia. Ele, que tanto marcou a rua, tinha
A pronúncia das primeiras sílabas foi suficiente para que 100
franco acesso às poltronas do saguão em que se refestelavam os
milhões de pessoas identificassem quem falava. Era a mesma
importantes. Andava dentro de um velho fraque, usava gravata,
voz que quatro meses antes se dirigira aos japoneses, pela pri-
chapéu, bengala sob o braço, barba curta, polainas e uns olhi-
meira vez em 5 mil anos de história do país, para anunciar que
nhos apertados na tez bronzeada. O charuto apagado na boca,
havia chegado o momento de "suportar o insuportável": a ren-
para durar bastante, ERA o toque final dessa composição de
dição do Japão às forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.
pardavasco vindo das Alagoas.
Mas agora o dono da voz, Sua Majestade o imperador Hiroíto,
Chagas e Silva chegou a Porto Alegre em 1928. Fixou-se na Rua tinha revelações ainda mais espantosas a fazer a seus súditos.
da Praia, que percorria com passos lentos, carregando um ar Embora ele falasse em keigo – uma forma arcaica do idioma,
de indecifrável importância, tão ao jeito dos grandes de então. reservada aos Filhos dos Céus e repleta de expressões chinesas
Os estudantes tomaram conta dele. Improvisaram comícios na que nem todos compreendiam bem −, todos entenderam o que
praça, carregando-o nos braços e fazendo-o discursar. Dava dis- Hiroíto dizia: ao contrário do que os japoneses acreditavam des-
cretas mordidas e consentia em que lhe pagassem o cafezinho. de tempos imemoriais, ele não era uma divindade. O imperador
Mandava imprimir sonetos, que “trocava” por dinheiro. leu uma declaração de poucas linhas, escrita de próprio punho.
Aquela era mais uma imposição dos vencedores da guerra. En-
Não era de meu propósito OCUPAR-ME do “doutor” Chagas tre as exigências feitas pelos Aliados para que ele permanecesse
e, sim, de como se comia bem na Rua da Praia de antigamente. no trono, estava a "Declaração da Condição Humana". Ou seja,
Mas ele como que me puxou pela manga e levou-me a visitar a renúncia pública à divindade, que naquele momento Hiroíto
casas por onde sua imaginação de longe esvoaçava. cumpria resignado:
Porto Alegre, sortida por tradicionais armazéns de especialida- "Os laços que nos unem a vós, nossos súditos, não são o resultado
des, DISPUNHA da melhor matéria-prima para as casas de da mitologia ou de lendas. Não se baseiam jamais no falso concei-
pasto. Essas casas punham ao alcance dos gourmets virtuo- to de que o imperador é deus ou qualquer outra divindade viva."
síssimos “secos e molhados” vindos de Portugal, da Itália, da
França e da Alemanha. Daí um longo e florescente’ período Petrificados, milhões de japoneses tomaram consciência da verda-
de boa comida, para regalo dos homens de espírito e dos que de que ninguém jamais imaginara ouvir: diferentemente do que
eram mais estômago que outra coisa. lhes fora ensinado nas escolas e nos templos xintoístas, Hiroíto re-
conhecia que era filho de dois seres humanos, o imperador Taisho
Na arte de comer bem, talvez a dificuldade fosse a da escolha. e a imperatriz Sadako, e não um descendente de Amaterasu Omi-
Para qualquer lado que o passante se virasse, encontraria salões kami, a deusa do Sol. Foi como se tivessem jogado sal na ferida
ornamentados recinto maiores ou menores, tabernas ou simples que a rendição, ocorrida em agosto do ano anterior, havia aberto
tascas. A Cidade DIVERTIA-SE também pela barriga. na alma dos japoneses. O temido Exército Imperial do Japão, que
RUSCHEL, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre: em inacreditáveis 2600 anos de guerras jamais sofrera uma úni-
Editora da Cidade, 2009. p. 110-111. ca derrota, tinha sido aniquilado pelos Aliados. O novo xogum, o
chefe supremo de todos os japoneses, agora era um gaijin, um es-
9. (UFRGS) Considere as afirmações abaixo, a respeito dos tem- trangeiro, o general americano Douglas MacArthur, a quem eram
pos verbais utilizados no texto. obrigados a se referir, respeitosamente, como Maca-san, o "senhor
Mac". Como se não bastasse tamanho padecimento, o Japão des-
I. Os verbos era e dispunha estão conjugados no mesmo tempo e cobria que o imperador Hiroíto era apenas um mortal, como qual-
modo. quer um dos demais 100 milhões de cidadãos japoneses.
II. Todos os verbos do primeiro parágrafo estão conjugados no (Corações sujos, 2000.)
pretérito imperfeito do indicativo, porque fazem referência a roti-
nas e hábitos do passado. 1. (FAMEMA) "Era a mesma voz que quatro meses antes se diri-
gira aos japoneses, pela primeira vez em 5 mil anos de história do
III. Os verbos ocupar-me e divertia-se estão conjugados no modo
país, para anunciar que havia chegado o momento de 'suportar o
subjuntivo.
insuportável'" (1º parágrafo)

Quais estão corretas?


O verbo destacado foi utilizado no pretérito mais-que-perfeito a
a) Apenas I. fim de indicar
b) Apenas II.
a) um fato no passado, anterior a outro fato, também
c) Apenas III. no passado.
d) Apenas I e II. b) uma dúvida do enunciador sobre a veracidade do
e) I, II e III. fato no passado.

55
c) um fato que ocorreu reiteradamente, no passado. Demais, a fala do trono, que ele também lera, mandava respeitar
d) uma ação cujos efeitos se estendem do passado a propriedade atual. Que lhe importavam escravos futuros, se
ao presente. os não compraria? O pajem ia ser forro, logo que ele entrasse
e) uma verdade universalmente aceita no passado. na posse dos bens. Palha desconversou, e passou à política, às
câmaras, à guerra do Paraguai, tudo assuntos gerais, ao que Ru-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO bião atendia, mais ou menos. Sofia escutava apenas; movia tão
somente os olhos, que sabia bonitos, fitando-os ora no marido,
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxu- ora no interlocutor.
gou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu.
Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. — Vai ficar na Corte 3ou volta para Barbacena? perguntou o
Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Palha no fim de vinte minutos de conversação.
Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. — 4Meu desejo é ficar, e fico mesmo, acudiu Rubião; estou can-
Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ga- sado da província; 5quero gozar a vida. Pode ser até que vá à
nhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Europa, mas não sei ainda.
Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depo-
sitou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. De- Os olhos do Palha brilharam instantaneamente.
positou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Machado de Assis, Quincas Borba.
Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou.
Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. 3. (FGV) Empregou-se o presente com ideia de futuro no seguinte
Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. excerto do texto:
Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou- a) “ela ia entre vinte e sete e vinte e oito” (ref. 1).
-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dor- b) “conquanto ache” (ref. 2).
miu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se... c) “ou volta para Barbacena” (ref. 3).
MINO. Como se conjuga um empresário. Disponível em: <http:// d) “Meu desejo é ficar” (ref. 4).
docslide.com.br/documents/como-se-conjuga-um-empresario.html>.
e) “quero gozar a vida” (ref. 5).
Acesso em: 18 jan. 2016. Adaptado.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
2. (UEFS) No texto de Mino, a utilização e a organização sequen-
cial das formas verbais permitem inferir que a personagem principal Hoje os conhecimentos se estruturam de modo fragmentado, se-
a) não mantém uma rotina adequada a seus princí- parado, compartimentado nas disciplinas. Essa situação impede
pios éticos. uma visão global, uma visão fundamental e uma visão complexa.
b) exime-se de qualquer compromisso com a sua pró- "Complexidade" vem da palavra latina complexus, que significa
pria família. a compreensão dos elementos no seu conjunto.
c) não apresenta sinais de que irá rever seus valores As disciplinas costumam excluir tudo o que se encontra fora do
e sua forma de agir. seu campo de especialização. A literatura, no entanto, é uma
d) alterna contextos de sucesso e lucro com situações área que se situa na inclusão de todas as dimensões humanas.
de fracasso e desespero. Nada do humano lhe é estranho, estrangeiro.
e) revela momentos de compaixão diante do outro,
A literatura e o teatro são desenvolvidos como meios de ex-
retomando algumas atitudes.
pressão, meios de conhecimento, meios de compreensão da
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO complexidade humana. Assim, podemos ver o primeiro modo
de inclusão da literatura: a inclusão da complexidade humana.
CAPÍTULO XXI E vamos ver ainda outras inclusões: a inclusão da personalidade
humana, a inclusão da subjetividade humana, e, também, muito
Na estação de Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido,
importante, a inclusão; do estrangeiro, do marginalizado, do in-
Cristiano de Almeida e Palha. Este era um rapagão de trinta e
feliz, de todos que ignoramos e desprezamos na vida cotidiana.
dois anos; 1ela ia entre vinte e sete e vinte e oito.
A inclusão da complexidade humana é necessária porque rece-
Vieram sentar-se nos dois bancos fronteiros ao do Rubião [...].
bemos uma visão mutilada do humano. Essa visão, a de homo
[Rubião] — O senhor é lavrador? sapiens, é uma definição do homem pela razão; de homo faber,
[Palha] — Não, senhor. do homem como trabalhador; de homo economicus, movido por
lucros econômicos. Em resumo, trata-se de uma visão prosaica,
[Rubião] — Mora na cidade? mutilada, que esquece o principal: a relação do sapiens/demens,
[Palha] — De Vassouras? Não; viemos aqui passar uma semana. da razão com a demência, com a loucura.
Moro mesmo na Corte. Não teria jeito para lavrador, 2conquanto Na literatura, encontra-se a inclusão dos problemas humanos
ache que é uma posição boa e honrada. mais terríveis, coisas insuportáveis que nela se tornam suportá-
veis. Harold Bloom escreve: "1TODAS as grandes obras 2REVE-
Da lavoura passaram ao gado, à escravatura e à política. Cristia-
LAM a universalidade humana através de destinos singulares, de
no Palha maldisse o governo, que introduzira na fala do trono
situações singulares, de épocas singulares". É essa a razão por
uma palavra relativa à propriedade servil; mas, com grande es-
que as obras-primas atravessam séculos, sociedades e nações.
panto seu, Rubião não acudiu à indignação. Era plano deste ven-
der os escravos que o testador lhe deixara, exceto um pajem; se Agora chegamos à parte mais humana da inclusão: a inclusão do
alguma coisa perdesse, o resto da herança cobriria o desfalque. outro para a compreensão humana. A compreensão nos torna

56
mais generosos com relação ao outro, e o criminoso não é unica- SONETO DO AMOR TOTAL
mente mais visto como criminoso, como o Raskolnikov de Dostoie- Vinicius de Moraes
vsky, como o Padrinho de Copolla.
Amo-te tanto, meu amor ... não cante
A literatura, o teatro e o cinema são os melhores meios de com- O humano coração com mais verdade ...
preensão e de inclusão do outro. Mas a compreensão se torna Amo-te como amigo e como amante
provisória, esquecemo-nos depois da leitura, da peça e do fil-
Numa sempre diversa realidade.
me. Então essa compreensão é que 3DEVERIA ser introduzida e
desenvolvida em nossa vida pessoal e social, porque 4SERVIRIA Amo-te afim, de um calmo amor prestante
para melhorar as relações humanas, para melhorar a vida social. E te amo além, presente na saudade.
Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da Amo-te, enfim, com grande liberdade
literatura. In: RÕSING, Tânia et ai. Edgar
Morin: religando Dentro da eternidade e a cada instante.
fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p.13-18
Amo-te como um bicho, simplesmente,
4. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações, referentes ao uso De um amor sem mistério e sem virtude
de tempos e modos verbais no texto. Com um desejo maciço e permanente.
I. O emprego do presente na forma verbal REVELAM (ref. 2) E de te amar assim, muito e amiúde,
reforça o caráter generalizador da afirmação, já sinalizado pelo É que um dia em teu corpo de repente
emprego de TODAS (ref. 1). Hei de morrer de amar mais do que pude.
II. Os usos de futuro do pretérito em DEVERIA (ref. 3) e SER- (MORAES, Vinicius de. In: Antologia poética. São
VIRIA (ref. 4) contribuem para mostrar que o autor conclui a Paulo: Cia das Letras, 1992, p. 232.)
argumentação com soluções possíveis e desejáveis.
1. (G1 - CP2 2014) Embora só haja a fala do eu lírico, ocorre
III. A presença no texto de verbos nos modos indicativo e subjunti- uma interlocução com o ser amado no texto. Retire do poema um
vo confere sentidos de certeza e de possibilidade à argumentação.
exemplo que explicite essa interlocução.

Quais estão corretas? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


a) Apenas I. O exílio, uma experiência da modernidade
b) Apenas II.
c) Apenas I e II. A história da humanidade poderia escrever-se a partir das es-
tórias do exílio porque desde o início o homem tem vivido em
d) Apenas I e III.
permanente opressão e fuga: fuga de si mesmo e dos outros.
e) I, II e III. Também tem realizado grandes ações, grandes construções: con-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO quista de terras remotas, fundação de cidades, guia de grandes
migrações, descobrimento de continentes, exploração de mares,
Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha, entretanto, o aspec- governo de povos. Todas essas obras “magníficas” em sua gran-
to tranquilo e satisfeito de quem se julga bem com a sua sorte. de maioria foram feitas graças ao labor dos refugiados, asilados,
prisioneiros de guerra, escravos, todos vítimas da opressão e
A casa erguia-se sobre um socalco, uma espécie de degrau, for- expulsão. O pensamento estético, acadêmico e científico da mo-
mando a subida para a maior altura de uma pequena colina que derna cultura ocidental, também tem-se alimentado de fontes
lhe corria nos fundos. Em frente, por entre os bambus da cerca, estrangeiras, pense-se em tantos pensadores e cientistas degre-
olhava uma planície a morrer nas montanhas que se viam ao dados e suas valiosas contribuições ao pensamento moderno:
longe; um regato de águas paradas e sujas cortava-as paralela-
Marcuse, Beckett, Nabokov, James Joyce, Adorno, Hannah Aren-
mente à testada da casa; mais adiante, o trem passava vincando
dt, Walter Benjamin, Pound, Einstein, entre outros. Desse ponto
a planície com a fita clara de sua linha campinada [...].
de vista, a expulsão e o exílio acabaram sendo condições prévias
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São para o desenvolvimento social e humano. O internacionalismo
Paulo: Penguin & Companhia das Letras. p.175. intelectual e cultural, de grandes convulsões sociais, em que as
ideias passavam de uma cultura para outra, gerou uma arte es-
5. (UEG) Com relação ao tempo narrativo, nota-se que a utiliza-
sencialmente cosmopolita que se alimentou das tradicionais via-
ção do pretérito imperfeito
gens literárias e expatriações de muitos escritores e artistas, ou
a) aproxima o material narrado do universo contem- foi causada pelas grandes convulsões históricas que forçaram ao
porâneo do leitor. exílio muitos escritores, ocasionando que uma parte tão grande
b) confere ao texto um caráter dual, que oscila entre da arte moderna tenha sido produzida por escritores “sem lar”,
o lírico e o metafórico. afastados de sua cultura nacional, sua tradição, seu idioma na-
c) faz com que o tempo da narrativa se distancie, até tivo. Daí que a palavra “moderno” tenha tantas conotações de
certo ponto, do tempo do leitor. desarraigamento, desorientação, ironia, alienação, fratura, senti-
d) torna o texto mais denso de significação, na medi- mentos e emoções que fazem com que a arte moderna provoque
da em que institui lacunas temporais. em nós uma perturbação tão profunda quanto a admiração que
nos inspira. Porém, na escala do século XX, o exílio não é com-

E.O. Dissertativo
preensível nem do ponto de vista estético, nem do ponto vista
humanista. O exílio é – segundo Edward Said (2003) – irreme-
diavelmente secular e insuportavelmente histórico, é produzido
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO por seres humanos para outros seres humanos, é uma condição

57
criada para negar a dignidade e a identidade das pessoas. Nesse Que me leve consigo, adormecido,
sentido o exílio não pode ser posto a serviço do humanismo. Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
A marca do trauma do exílio fica refletida na perda da identidade,
Da clara luz do seu olhar querido...
na dor, na fratura e no estranhamento. Por isso, Czeslaw Milosz
(1993) afirma que o exílio é a situação existencial do homem mo- Eu dava o meu orgulho de homem – dava
derno. Na modernidade, o homem ainda não superou a desdita Minha estéril ciência, sem receio,
de permanecer em permanente desterro. As conquistas de qual- E em débil criancinha me tornava,
quer desterrado são constantemente carcomidas pelo sentimen- Descuidada, feliz, dócil também,
to de estranhamento, de perda. Na realidade, todo exilado é um Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
náufrago que luta por sobreviver num território estranho onde o Se tu fosses, querida, a minha mãe!
desespero, a aniquilação e o silêncio se fazem presentes. Existem (Antero de Quental. Antologia, 1991)
muitas estórias e histórias que apresentam o exílio como uma con-
dição heroica, gloriosa ou romântica, e esquecem, porém, a dor 3. (FGV) Com base no poema,
da orfandade oculta em seu interior. No âmago de sua solidão, o a) explique o que representa a mãe para o eu lírico,
exilado sente, no silêncio de seu ser, o verdadeiro destino da exis- tendo em vista o que ele vive e o que desejaria viver.
tência humana. A literatura sobre o exílio objetiva uma angústia e Justifique sua resposta com informações do texto;
uma condição que a maioria das pessoas raramente experimenta
b) reescreva os versos “Eu dava o meu orgulho de ho-
em primeira mão; “mas pensar que o exílio é benéfico para essa
mem – dava / Minha estéril ciência, sem receio, / E em
literatura é banalizar suas mutilações, as perdas que inflige aos
débil criancinha me tornava,”, substituindo os verbos
que as sofrem [...]. Para autores como James Joyce, Ezra Pound,
“dar” e “tornar”, respectivamente, por “abster-se” e
Samuel Beckett ou Paul Bowles, o exílio sugere valores mais sedu-
“converter-se”, conjugados em outro tempo verbal,
tores, vinculados a estados da consciência, capazes de confirmar
adequado ao contexto.
qualidades do indivíduo cuja pureza só seria possível a partir de
uma conquista solitária de um espaço próprio. Nietzsche, Joseph 4. (PUC) CIDADE SEM CARROS É POSSÍVEL, GARANTE
Conrad, T.S. Eliot, Nabokov, ou Theodor W. Adorno, porém, perten- URBANISTA
cem a outra tradição de autores que vê o exílio como absoluta
orfandade, fratura, trauma, solidão e silêncio. Nessa condição não Metrópole projetada para até 3 milhões de pessoas seria movida
existe nada glorioso, nem romântico: o exílio é nossa maldição, por transporte público
nossa vocação existencial e nossa natureza; é a representação de Imagine a vida em uma metrópole livre do barulho, da poluição
uma lei fundamental – a da impossibilidade de comunicação entre e de todas as dificuldades de se mover por ruas dominadas por
quem quer que seja. carros, ônibus e caminhões. Todas as necessidades básicas, de
MONTAÑÉS, Amanda Pérez. Vozes do exílio e suas manifestações supermercados a farmácias, estariam a cinco minutos a pé da
nas narrativas de JulioCortázar e Marta Traba. Tese de Doutorado. porta de sua casa. A viagem para o trabalho seria feita em um
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. p. 15-16.
serviço de transporte público barato, rápido, seguro e confortável
e duraria no máximo 35 minutos. Essa é parte da visão de futuro
2. (PUC)
descrita pelo sociólogo e urbanista holandês J.H. Crawford em
a) Sem reproduzir passagens do texto, explique por seu site “Carfree cities” (‘cidades livres de carros’ em inglês).
que, segundo Amanda Montañés, a palavra “moder-
no” assume as conotações elencadas no texto. A proposta de Crawford é simples, porém ousada: banir o uso
de automóveis em áreas urbanas e (re)construir cidades em
b) Observe:
função disso. “As nações industrializadas cometeram um terrí-
I. “Na realidade, todo exilado é um náufrago que luta vel erro ao adotar o carro como principal meio de locomoção
por sobreviver num território estranho onde o deses- nos meios urbanos”, disse Crawford à “Ciência Hoje On-line”.
pero, a aniquilação e o silêncio se fazem presentes.” “O automóvel trouxe para as cidades sérios problemas am-
II. Na realidade, todo exilado tem sido um náufrago que bientais, sociais e estéticos.”
luta por sobreviver num território estranho onde o de-
sespero, a aniquilação e o silêncio se fazem presentes. Crawford projetou uma cidade modelo sem carros, constituída
III. Na realidade, todo exilado seria um náufrago que por 100 bairros circulares, com ruas estreitas que se dirigem para
luta por sobreviver num território estranho onde o de- a via central de transporte.
sespero, a aniquilação e o silêncio se fazem presentes. Os bairros da cidade sem carros são dispostos na forma de um
trevo de 6 folhas. Os bairros mais distantes do centro, não residen-
Comente a diferença de sentido que se estabelece entre as frases
ciais, são reservados para indústrias pesadas e estacionamentos.
acima em decorrência do tempo verbal empregado.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

MÃE
Mãe – que adormente este viver dorido.
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas até o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

58
Com base no contorno da cidade, o transporte principal seria o 5. (UFRJ) Nomeie o recurso formal que expressa a hipótese no
metrô, que teria apenas três linhas, cada uma com início em três primeiro momento do texto.
das seis “folhas”, passagem pelo centro e final nas outras três. O

E.O. UERJ
metrô funcionaria 24 horas por dia, com intervalos de somente
quatro minutos entre os trens. Dois pontos da cidade estariam

Exame de Qualificação
assim separados por no máximo 35 minutos. Entre os bairros, as
viagens de curta distância poderiam ser feitas a pé (durariam não
mais que 10 minutos) ou de bicicleta (cinco minutos). No caso de
emergências médicas, policiais e de incêndio, o uso de veículos TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
poderia ser cogitado.
O FUTURO ERA LINDO
O comércio e indústrias leves poderiam ser fixados em áreas re-
A informação seria livre. Todo o saber do mundo seria comparti-
sidenciais, como nas cidades convencionais, e as ruas deveriam
lhado, bem como a música, o cinema, a literatura e a ciência. O
estar sempre guardadas pela polícia. “Isso ajudaria a reduzir
custo seria zero. O espaço seria infinito. A velocidade, estontean-
a ocorrência de crimes, pois quase todas as regiões da cidade
te. A solidariedade e a colaboração seriam os valores supremos.
estariam ocupadas durante todo o dia”, afirma Crawford. Pe-
A criatividade, o único poder verdadeiro. O bem triunfaria sobre
quenas praças na interseção da maioria das ruas, somadas a
os males do capitalismo. O sistema de representação se tornaria
um ideal de 80% de áreas verdes em toda a cidade, criariam
obsoleto. Todos os seres humanos teriam oportunidades iguais
um clima de boa vizinhança. “Como as pessoas teriam mais
em qualquer lugar do planeta. Todos seriam empreendedores
contato umas com as outras, elas conversariam mais e deixa-
e inventivos. Todos poderiam se expressar livremente. Censura,
riam o individualismo de lado”, diz o urbanista.
nunca mais. As fronteiras deixariam de existir. As distâncias se
Texto adaptado de Ciência Hoje On-line, 4/05/2004. tornariam irrelevantes. O inimaginável seria possível. O sonho,
a) Com base na leitura do texto, continue o período a qualquer sonho, poderia se tornar realidade.
seguir enumerando mais DUAS vantagens do projeto
Livre, grátis, inovador, coletivo, palavras-chave do novo mundo
urbanístico de J. H. Crawford. Utilize a mesma estru-
que a internet inaugurou. Por anos esquecemos que a internet
tura sintática do item já enumerado.
foi uma invenção militar, criada para manter o poder de quem já
O projeto urbanístico de J. H. Crawford teria,
o tinha. Por anos fingimos que transformar produtos físicos em
entre outras, as seguintes vantagens: facilitaria
produtos virtuais era algo ecologicamente correto, esquecendo
o deslocamento dos cidadãos entre os bairros...
que a fabricação de computadores e celulares, com a obsoles-
b) Considerando o teor do texto, justifique o predo- cência embutida em seu DNA, demanda o consumo de quanti-
mínio do emprego de verbos no futuro do pretérito dades vexatórias de combustíveis fósseis, de produtos químicos e
do indicativo. de água, sem falar no volume assombroso de lixo não reciclado
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO em que resultam, incluindo lixo tóxico.
Ninguém imaginou que o poder e o dinheiro se tornariam tão con-
BEM NO FUNDO
centrados em megaoperações norte-americanas como o Google,
no fundo, no fundo, que iriam destruir para sempre tantas indústrias e atividades em
bem lá no fundo, tão pouco tempo. Ninguém previu que os mesmos Estados Uni-
a gente gostaria dos, graças às maravilhas da internet sempre tão aberta e juvenil,
de ver nossos problemas se consolidariam como os maiores espiões do mundo, humilhan-
resolvidos por decreto do potências como a Alemanha e também o Brasil, impondo os
métodos de sua inteligência militar sobre a população mundial,
a partir desta data, e guiando ao arrepio da justiça os bebês engenheiros nota dez
aquela mágoa sem remédio em matemática mas ignorantes completos em matéria de ética,
é considerada nula política e em boas maneiras.
e sobre ela – silêncio perpétuo
Ninguém previu a febre das notícias inventadas, a civilização de
extinto por lei todo o remorso, perfis falsos, as enxurradas de vírus, os arrastões de números de
maldito seja quem olhar pra trás,
cartão de crédito, a empulhação dos resultados numéricos fal-
lá pra trás não há nada,
seados por robôs ou gerados por trabalhadores mal pagos em
e nada mais
países do terceiro mundo, o fim da privacidade, o terrorismo ele-
mas problemas não se resolvem, trônico, inclusive de Estado.
problemas têm família grande, Marion Strecker Adaptado de Folha de São Paulo, 29/07/2014.
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora 1. (UERJ) O primeiro parágrafo expõe projeções passadas sobre
e outros pequenos probleminhas possibilidades de um futuro regido pela internet.

LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos.


3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. O recurso linguístico que permite identificar que se trata de pro-
jeção e não de fatos do passado é o uso da:
O poema de Paulo Leminski estrutura-se em três momentos de
significação, que podem ser assim caracterizados: hipótese (1ª a) forma verbal
estrofe); decreto (2ª e 3ª estrofes); conclusão reflexiva (4ª estrofe). b) pontuação informal

59
c) adjetivação positiva dos silenciosos. Anos atrás, nem imaginava que pudesse haver
d) estrutura coordenativa outro comportamento além do silêncio absoluto no cinema. As-
sim como não imagino alguém cochichando em qualquer lugar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO onde entramos com o compromisso de escutar.
CANÇÃO DO VER Não é uma questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do
respeito, da ética. Cinema é a experiência da escuta de uma vida
Fomos rever o poste.
outra, que fala à nossa, mas nós não falamos uns com os outros.
O mesmo poste de quando a gente brincava de pique 1
No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos
e de esconder.
para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra fale.
Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas. 2
Isso era cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás
Eu quis filmar o abandono do poste. venceram. Tomaram conta das salas de cinema. E, sem nenhuma
O seu estar parado. repressão, vão expulsando a todos que entram no cinema para
O seu não ter voz. assistir ao filme sem importunar ninguém.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com (...)
as mãos.
Eliane Brum, In: Revista Época, 10/08/2009.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos 3. (UERJ) Isso era cinema. (ref. 2)
que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos. O verbo assume, nesta frase, o sentido específico de indicar um
Mas o mato era mudo. estado de coisas que durava.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém No entanto, ele assume o sentido específico de indicar uma mu-
que procurasse o chão para repouso. dança sem retorno na seguinte reescritura:
Tivemos saudades de nós.
a) Isso foi o cinema.
Manoel de Barros. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. b) Isso será o cinema.
arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas
1 c) Isso tem sido o cinema.
d) Isso teria sido o cinema.
2. (UERJ) A memória expressa pelo enunciador do texto não per-
tence somente a ele. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Na construção do poema, essa ideia é reforçada pelo emprego de: FUNÇÃO


a) tempo passado e presente 1. Me deixaram sozinho no meio do circo
b) linguagem visual e musical 2. Ou era apenas um pátio uma janela uma rua uma esquina
c) descrição objetiva e subjetiva 3. Pequenino mundo sem rumo
d) primeira pessoa do singular e do plural 4. Até que descobri que todos os meus gestos
5. Pendiam cada um das estrelas por longos fios invisíveis
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 6. E havia súbitas e lindas aparições como aquela das longas
tranças
A INVASÃO DOS BLABLABLÁS 7. E todas imitavam tão bem a vida
8. Que por um momento se chegava a esquecer a sua cruel ino-
O planeta é dividido entre as pessoas que falam no cine-
cência de bonecas
ma − e as que não falam. É uma divisão recente. Por dé-
9. E eu dizia depois coisas tão lindas
cadas, os falantes foram minoria. E uma minoria reprimida.
10. E tristes
Quando alguém abria a boca na sala escura, recebia logo
11. Que não sabia como tinham ido parar na minha boca
um shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde
12. E o mais triste não era que aquilo fosse apenas um jogo
nunca deveria ter saído. Todo pai ou mãe que honrava seu
cambiante de reflexos
lugar de educador ensinava a seus filhos que o cinema era um
13. Porque afinal um belo pião dançante
lugar de reverência. Sentados na poltrona, as luzes se apaga-
14. Ou zunindo imóvel
vam, uma música solene saía das caixas de som, as cortinas
15. Vive uma vida mais intensa do que a mão ignorada que o
se abriam e um novo mundo começava. Sem sair do lugar,
arremessou
vivíamos outras vidas, viajávamos por lugares desconhecidos,
16. E eu danço tu danças nós dançamos
chorávamos, ríamos, nos apaixonávamos. Sentados ao lado
17. Sempre dentro de um círculo implacável de luz
de desconhecidos, passávamos por todos os estados de alma
18. Sem saber quem nos olha atenta ou distraidamente do escuro...
de uma vida inteira sem trocar uma palavra. Comungávamos
em silêncio do mesmo encantamento. (...) (QUINTANA, Mário. Antologia poética. Rio
de Janeiro: Editora do Autor, 1966.)
Percebi na sexta-feira que não ia ao cinema havia três meses.
Não por falta de tempo, porque trabalhar muito não é uma no- 4. (UERJ) Do início ao verso 12, o poema apresenta exclusiva-
vidade para mim. Mas porque fui expulsa do cinema. Devagar, mente formas verbais no tempo passado. No verso 15, porém, o
aos poucos, mas expulsa. Pertenço, desde sempre, às fileiras poeta introduz o tempo presente.

60
O valor estilístico desta modificação do tempo do verbo é: costas da mão. Ele queria que o bichinho voasse, ou pu-
a) retratar o movimento rotativo do pião lasse, mas o bichinho estava muito à vontade, vai ver que
b) fazer uma reflexão de validade permanente dormindo – ou pensando? Doril tocava-o com a unha do
c) produzir um contraste irônico entre o circo e a vida dedo menor e ele nem nada, não dava confiança, parece
que nem sentia; se Doril não visse o leve pulsar de 1fole do
d) registrar um fato ocorrido no momento da narração
pescoço – e só olhando bem é que se via – 1ERA CAPAZ
5. (UERJ) “Os aliados não querem romper o NAMORO com DE DIZER QUE O POBREZINHO ESTAVA morto, ou então
FHC - querem é NAMORAR mais.” que era um grilo de brinquedo, desses que as moças pregam
Revista Veja, 18/08/1999. no vestido para enfeitar.
A comparação entre as palavras EM DESTAQUE acima demons- Entretido com o louva-deus, Doril não viu Diana chegar comendo
tra que o significado geral de “expressar ação” não é suficien- um marmelo, fruta azeda enjoada que só serve para ranger os
te para identificar o verbo como classe gramatical, já que o dentes. Ela parou perto do monte de lenha e ficou descascando
NAMORO consta do dicionário como “ato de namorar”. o marmelo com os dentes mas sem jogar a casca fora, não queria
Para diferenciar o verbo do substantivo, por exemplo, seria neces- perder nada. Quando ela já tinha comido um bom pedaço da
sário considerar, além do sentido de ação, a seguinte característi- parte de cima e nada de Doril ligar, ela cuspiu fora um pedaço de
cas que só os verbos possuem: miolo com semente e falou:

a) terminação em “r” – Está direitinho um macaco em galho de pau.


b) flexão de tempo, modo e pessoa Doril olhou só com os olhos e revidou:
c) presença indispensável à frase – Macaco é quem fala. Está até comendo banana.
d) anteposição de um substantivo
– Marmelo é banana, besta?
– Não é mas serve.
E.O. UERJ Ficaram calados, cada um pensando por seu lado. Diana cuspiu

Exame Discursivo
mais um caroço.
– Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou?
1. (UERJ) VERSOS ESCRITOS N'ÁGUA – Que Mirto, seu. É Milllton. Mania!
– Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai mindar.
Os poucos versos que aí vão,
– Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem.
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho – Não é vantagem? É muita vantagem.
Imaginar como serão. – Você já não leu o de Milton?
Neles porás tua tristeza – Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo.
Ou bem teu júbilo, e, talvez, – Vantagem é ganhar outro. Diferente.
Lhes acharás, tu que me lês,
– Deferente eu não quero. Pode não ser bom.
Alguma sombra de beleza...
Quem os ouviu não os amou. – Como foi que você disse? Diz de novo?
Meus pobres versos comovidos! – Já disse uma vez, chega.
Por isso fiquem esquecidos – Você disse deferente.
Onde o mau vento os atirou.
– Foi não.
(BANDEIRA, Manuel. "Poesia completa e prosa".
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.) – Foi. Eu ouvi.
– Foi não.
a) No poema, as etapas do processo de composição
do texto são marcadas pelos tempos verbais – passa- – Foi.
do, presente e futuro. – Foi não.
Identifique essas etapas, relacionando-as aos tempos – Fooooi.
verbais empregados. 2
CONTINUARIAM ATÉ UM SE CANSAR E TAPAR O OUVI-
b) O eu poético sugere que o ato de composição do
DO para ficar com a última palavra, se Diana não tivesse tido
texto há de envolver, também, a participação do leitor.
a habilidade de se retirar logo que percebeu a 2dízima. Com o
Aponte dois recursos de construção da linguagem
pedacinho final do marmelo entre os dedos ela chegou-se mais
que expressem essa sugestão do eu poético.
perto do irmão e disse:

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO – Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo!


– Eu estou matando, estou?
DIÁLOGO DA RELATIVA GRANDEZA – Está 3judiando. Ele morre.
Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os cotovelos – Eu estou judiando?
nos joelhos, Doril examinava um louva-deus pousado nas – Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo que judiar.

61
Doril não disse mais nada, 3QUALQUER COISA QUE ELE DIS- tempo me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retru-
SESSE ela aproveitaria para outra acusação. quei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou ela
com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito bonita, que
Era difícil tapar a boca de Diana, ô menina 4renitente. 5Ele preferiu
tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados no
continuar olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele encolheu-
pescoço e que manda nos homens... Fiquei meio tonto. 4E se o
-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como faz uma pessoa
na ventania. O louva-deus estava no meio de uma tempestade de Sr. VISSE os modos que tem com os bichinhos?! ... Parece que
vento, dessas que derrubam árvores e arrancam telhados e podem está falando com eles e que os entende... (...) Quando Cirino
até levantar uma pessoa do chão. Doril era a força que manda- penetrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de ma-
va a tempestade e que podia pará-la quando quisesse. Então ele neira que, no primeiro olhar que atirou ao redor de si, só pôde
era Deus? 4SERÁ QUE AS NOSSAS TEMPESTADES TAMBÉM lobrigar, além de diversos trastes de formas antiquadas, uma
SÃO BRINCADEIRA? Será que quem manda elas olha para nós dessas camas, muito em uso no interior; altas e largas, feitas de
como Doril estava olhando para o louva-deus? Será que somos tiras de couro engradadas. (...)
pequenos para ele como um gafanhoto é pequeno para nós, ou Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproxi-
menores ainda? De que tamanho, comparando – do de formiga? maram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao corpo
De piolho de galinha? Qual será o nosso tamanho mesmo, verda- e puxando para debaixo do queixo uma coberta de algodão de
deiro? Minas, se encolheu toda, e voltou-se para os que entravam.
José J. Veiga. A máquina extraviada. Rio de — Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez.
Janeiro: Editora Prelo, 1968.
— Boas noites, dona, saudou Cirino.
1
fole − papo
2
dízima − refere-se à dízima periódica, algo sem fim Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no
seu papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e
3
judiar − maltratar
tomava o pulso à doente.
4
renitente − teimosa
Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte
2. (UERJ) do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por
trás da nuca.
1. era capaz de dizer que o pobrezinho estava morto,
2. Continuariam até um se cansar e tapar o ouvido para ficar com Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência
a última palavra, de beleza deslumbrante.
3. qualquer coisa que ele dissesse Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantadora inge-
4. Será que as nossas tempestades também são brincadeira? nuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo,
parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras,
Nestas quatro passagens, retratam-se situações hipotéticas, ape- e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces.
nas imaginadas pelo narrador ou pelos personagens. Caracterize
a forma linguística usada em cada uma para exprimir suposição
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o
em lugar de certeza.
queixo admiravelmente torneado.
Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fas-
cinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.
INOCÊNCIA
Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo para sentir a
Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o minei-
mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de
ro mais despreocupado.
tão gentil cliente.
— Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha.
VISCONDE DE TAUNAY. Inocência. São Paulo: Ática, 2011.
— Com muito gosto, concordou Cirino.
graúna – pássaro de plumagem negra, canto melodioso e hábi-
E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas tos eminentemente sociais
cercas e rodear a casa toda, antes de tomar a porta do fundo, livro de horas – livro de preces
fronteira a magnífico laranjal, naquela ocasião todo pontuado
secundou – respondeu
das brancas e olorosas flores.
lavrados – na província de Mato Grosso, colares de contas de
1
— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos ouro e adornos de ouro e prata
os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um baru-
lobrigar – enxergar
lho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre
coser debaixo do arvoredo. É uma menina esquisita... escabelo – assento
facultativo – médico
Parando no limiar da porta, continuou com expansão:
3. (UERJ)
2
— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças
e perguntas que me fazem embatucar... Aqui, havia um livro de um belo dia ela me pediu que lhe ENSINASSE a ler?... (ref. 3)
horas da minha defunta avó... Pois não é que 3um belo dia ela me
pediu que lhe ENSINASSE a ler? ... Que ideia! Ainda há pouco E se o Sr. VISSE os modos que tem com os bichinhos?! ... (ref. 4)

62
As formas verbais sublinhadas estão empregadas nos mesmos Cariba acreditou que a demora poderia ser atribuída a algum
tempo e modo gramaticais, mas diferem pelo efeito de sentido 1
comboio de carga descarrilado na linha, acidente comum na-
que produzem. quele trecho da ferrovia. Como se fizesse excessivo o atraso e
Identifique o tempo e modo gramaticais comuns a essas for- ninguém o procurasse para lhe explicar o que estava ocorrendo,
mas e aponte aquela em que não há expressão de tempo, e pensou numa provável desconsideração à sua pessoa, em virtu-
sim de uma hipótese. de de ser o único passageiro do trem.
Chamou o funcionário que examinara as passagens e quis saber
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
se constituía motivo para tanta negligência o fato de ir vazia a
Tempo: cada vez mais acelerado composição.

Pressa. Ansiedade. E a sensação de que nunca é possível fazer Não recebeu uma resposta direta do empregado da estrada, que
tudo — além da certeza de que sua vida está passando rá- se limitou a apontar o morro, onde se dispunham, sem simetria,
pido demais. Essas são as principais consequências de viver- dezenas de casinhas brancas.
mos num mundo em que para tudo vale a regra do “quanto – Belas mulheres? – indagou o viajante.
mais rápido, melhor”. “Para nós, ocidentais, o tempo é linear
e nunca volta. Por isso queremos ter a sensação de que es- – Casas vazias.
tamos tirando o máximo dele. E a única solução que encon- Percebeu logo que tinha pela frente um cretino. 2Apanhou as
tramos é acelerá-lo”, afirma Carl Honoré. “É um equívoco. A malas e se dispôs a subir as íngremes ladeiras que o conduziriam
resposta a esse dilema é qualidade, não quantidade.” ao povoado.
Para James Gleick, Carl está lutando uma batalha invencível. “A (...)
aceleração é uma escolha que fizemos. Somos como crianças
descendo uma ladeira de skate. Gostamos da brincadeira, quere- Durante todo o percurso, desde as vias secundárias à avenida
mos mais velocidade”, diz. O problema é que nem tudo ao nosso principal, os moradores do lugar observaram Cariba com des-
redor consegue atender à demanda. Os carros podem estar mais confiança. Talvez estranhassem as 3valises de couro de camelo
rápidos, mas as viagens demoram cada vez mais por culpa dos que carregava ou o seu paletó xadrez, as calças de veludo azul.
congestionamentos. Semáforos vermelhos continuam testando Mesmo sendo o seu traje usual nas constantes viagens que fa-
nossa paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão. 1Mais zia, achou prudente desfazer qualquer mal-entendido provocado
sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o pela sua presença entre eles:
sinal verde — uma ótima opção para despejar a ansiedade, mas
– Que cidade é esta? – perguntou, esforçando-se para dar às
com efeito muitas vezes nulo. Em Nova York, esses sistemas es-
palavras o máximo de cordialidade.
tão desligados desde a década de 1980. Mesmo assim, milhares
de pessoas o utilizam diariamente. Nem chegou a indagar pelas mulheres, conforme pretendia.
Pegaram-no com violência pelos braços e o foram levando, aos
É um exemplo do que especialistas chamam de “botões de ace-
trancos, para a delegacia de polícia:
leração”. Na teoria, deixam as coisas mais rápidas. Na prática,
servem para ser apertados e só. Confesse: que raios fazemos com – É o homem procurado – disseram ao delegado, um sargento
os dois segundos, no máximo, que economizamos ao acionar 4
espadaúdo e rude.
aquelas teclas que fecham a porta do elevador? E quem disse
(...)
que apertá-las, duas, quatro, dez vezes, vai melhorar a eficiência?
Elevadores, aliás, são ícones da pressa em tempos velozes. Os O sargento chegara a uma conclusão, entretanto divagava:
primeiros modelos se moviam a vinte centímetros por segundo. – O telegrama da Chefia de Polícia não esclarece nada sobre
Hoje, o mais veloz sobe doze metros por segundo. E, mesmo a nacionalidade do delinquente, sua aparência, idade e quais
acelerando, estão entre os maiores focos de impaciência. Enge- os crimes que cometeu. Diz tratar-se de elemento altamente
nheiros são obrigados a desenvolver sistemas para conter nossa perigoso, identificável pelo mau hábito de fazer perguntas e
irritação, como luzes ou alarmes cuja única função é aplacar a que estaria hoje neste lugar.
ansiedade da espera. Até onde isso vai?
(...)
SÉRGIO GWERCMAN. Revista Superinteressante. São Paulo: Abril.
5
Cinco meses após a sua detenção, ele não mais espera sair da
4. (UERJ) O autor do texto aborda uma situação que diz respeito cadeia. Das suas grades, observa os homens que passam na rua.
a toda a sociedade, envolvendo tanto ele como o leitor. Mal o encaram, amedrontados, apressam o passo.

Nomeie a marca linguística empregada para indicar a inclusão do Pressente, às vezes, que irão perguntar qualquer coisa aos compa-
autor e dos seus leitores na situação. Em seguida, transcreva um nheiros e fica à espreita, ansioso que isso aconteça. Logo se desen-
trecho que exemplifique sua resposta. gana. Abrem a boca, arrependem-se, e se afastam rapidamente.
Caminha, dentro da noite, de um lado para outro. E, ao avistar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO o guarda, cumprindo sua ronda noturna, a examinar se as celas
A CIDADE estão em ordem, corre para as grades internas, impelido por uma
débil esperança:
Destinava-se a uma cidade maior, mas o trem permaneceu inde-
finidamente na antepenúltima estação. – Alguém fez hoje alguma pergunta?

63
– 6Não. Ainda é você a única pessoa que faz perguntas nesta Quando, há pouco, eu descantava,
cidade. pensando não ser ouvido
MURILO RUBIÃO. Obra completa. São Paulo: nestes matos por ninguém,
Companhia das Letras, 2010.
2
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
1
comboio – trem gritou de lá: — meu colega,
3
valise – mala de mão bravos! Bravos... muito bem!
4
espadaúdo – de ombros largos Pergunto agora a você:
5. (UERJ) Cinco meses após a sua detenção, ele não mais ESPE- quem foi um dia aplaudido
RA sair da cadeia. Das suas grades, OBSERVA os homens que pelo príncipe dos cantos
PASSAM na rua. Mal o ENCARAM, amedrontados, APRES- de celestes harmonias,
SAM o passo. (ref. 5) (irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
A partir do parágrafo acima, a narração passa a ser feita no tempo — que caso pode fazer
e modo verbal das formas destacadas. das vaias dos tico-ticos?”
* Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado
Identifique esse tempo e modo verbal e explique o efeito que seu em- neste Sabiá, pois foi a “Águia de
Haia” um dos maiores admiradores
prego produz, considerando a situação em que Cariba se encontra. de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios.
Poemas escolhidos, s/d.

E.O. Objetivas
1. (Unesp) Na fala do papagaio, na referência 1, uma das formas
verbais não apresenta, como deveria, flexão correspondente à
mesma pessoa gramatical das demais. Trata-se de
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) a) continuas.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO b) dize.
c) canta.
Para responder à(s) questão(ões), leia o poema de Catulo da Pai- d) recebes.
xão Cearense (1863-1946). e) estás.
O AZULÃO E OS TICO-TICOS TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Do começo ao fim do dia,
A(s) questão(ões) a seguir focaliza(m) uma passagem do romance
um belo Azulão cantava,
Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901-1957).
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia, ÁGUA-MÃE
cada vez mais se enflorava.
Jogava com toda a alma, não podia compreender como um
Se um tico-tico e outras aves jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos
vaiavam sua canção... pés. Atirava-se, não temia a violência e com a sua agilidade
mais doce ainda se ouvia espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele
a flauta desse Azulão. back, num jogo de subúrbio, atirou-se contra ele, recuou para
Um papagaio, surpreso derrubá-lo, e com tamanha sorte que o bruto se estendeu no
de ver o grande desprezo, chão, como um fardo. E foi assim crescendo a sua fama. Aos
do Azulão, que os desprezava, poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos
um dia em que ele cantava campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada
e um bando de tico-ticos vez mais agitada. Onde quer que estivesse, era reconhecido
e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que
numa algazarra o vaiava,
ele fazia e até mesmo nos ônibus, quando ia descer, o moto-
lhe perguntou: 1“Azulão,
rista lhe dizia sempre:
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando — Joca, você aqui não paga.
e recebes uma vaia
Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo me-
desses garotos joviais,
ninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube ti-
tu continuas gorgeando
nha amigos. Havia porém o antigo center-forward que se sentiu
e cada vez canta mais?!”
roubado com a sua chegada. Não tinha razão. Ele fora chama-
Numas volatas sonoras, do. Não se oferecera. E o homem se enfureceu com Joca. Era
o Azulão lhe respondeu: um jogador de fama, que fora grande nos campos da Europa
“Caro Amigo! Eu prezo muito e por isso pouco ligava aos que não tinham o seu cartaz. A
esta garganta sublime entrada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e
e esta voz maravilhosa... de oportunismo, que caracterizava o jogo do novato, irritava-o
este dom que Deus me deu! até ao ódio. No dia em que tivera que ceder a posição, a um

64
menino do Cabo Frio, fora para ele como se tivesse perdido as Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos
duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo,
toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha cedia por preço baixo o produto das sortes.
sido a sua admiração, o seu herói.
Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os
1 Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Tran-
2 Centroavante. sigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente.
Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se. Aceitava
ALENCAR, José de. Água mãe. 1974.
o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar
2. (Unesp) No primeiro parágrafo, predominam verbos emprega- juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchando.
dos no De repende estourava:
a) pretérito perfeito do modo indicativo. – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver
b) pretérito imperfeito do modo indicativo. sem comer. Quem é do chão não se trepa.
c) presente do modo indicativo. Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de
d) presente do modo subjuntivo. Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o sertanejo
e) pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo. endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora
das contas davam-lhe uma ninharia.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado,
RECEITA DE MULHER arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada e
foi consultar a mulher. Sinhá Vitória mandou os meninos para
As muito feias que me perdoem o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no
Mas beleza é fundamental. É preciso chão sementes de várias espécies, realizou somas e diminui-
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso ções. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de
[haute couture* costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explica-
Em tudo isso (ou então ção habitual: a diferença era proveniente de juros.
Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
[como na República Popular Chinesa). Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim se-
Não há meio-termo possível. É preciso nhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida in-
[pousada e que um rosto teira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada!
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar
[terceiro minuto da aurora. carta de alforria!

Vinicius de Moraes. O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que, o vaquei-
ro fosse procurar serviço noutra fazenda.
*“haute couture”: alta costura.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
3. (Fuvest) Tendo em vista o contexto, o modo verbal predomi- Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia
nante no excerto e a razão desse uso são:
desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha,
a) indicativo; expressar verdades universais. conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente
b) imperativo; traduzir ordens ou exortações. rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia
c) subjuntivo; indicar vontade ou desejo. ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância da
mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia
d) indicativo; relacionar ações habituais.
ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia
e) subjuntivo; sugerir condições hipotéticas. desculpa e jurava não cair noutra.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo:
Livraria Martins Editora, 1974.)
As questões a seguir tomam por base uma passagem do romance
4. (Unesp) No fragmento apresentado, de Vidas secas, as for-
regionalista Vidas Secas, de Graciliano Ramos (1892-1953).
mas verbais mais frequentes se enquadram em dois tempos do
modo indicativo.
CONTAS
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça Marque a alternativa que indica, pela ordem, o tempo verbal
dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a predominante no segundo parágrafo e o que predomina no
semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da quinto parágrafo.
feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro
a) pretérito perfeito – pretérito imperfeito.
ou assinar a orelha de um cabrito.
b) presente – pretérito imperfeito.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. c) presente – pretérito perfeito.

65
d) futuro do pretérito – presente.
e) pretérito imperfeito – pretérito perfeito.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

[Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhasse, al-


guém que com muito amor o fizesse esquecer o defeito físico
e os muitos anos (talvez tivessem sido apenas meses ou se-
manas, mas para ele seriam sempre longos anos) que vivera
sozinho nas ruas da cidade, hostilizado pelos homens que
passavam, empurrado pelos guardas, surrado pelos moleques
maiores. Nunca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a
quem chamava “meu padrinho” e que o surrava. Fugiu logo
que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu fome, um
dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a mão que passe
sobre os seus olhos e faça com que ele possa se esquecer da-
quela noite na cadeia, quando os soldados bêbados o fizeram
correr com sua perna coxa em volta de uma saleta. Em cada
canto estava um com uma borracha comprida. As marcas que
ficaram nas suas costas desapareceram. Mas de dentro dele
nunca desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como
um animal perseguido por outros mais fortes. A perna coxa se
recusava a ajudá-lo. E a borracha zunia nas suas costas quando
o cansaço o fazia parar.
1. (Fuvest) Com base na parte escrita do anúncio, responda.
A princípio chorou muito, depois, não sabe como, as lágrimas se-
caram. Certa hora não resistiu mais, abateu-se no chão. Sangrava. a) Qual é a relação temporal que se estabelece entre
os verbos “conhecer”, “oferecer”, “proporcionar” e
Ainda hoje ouve como os soldados riam e como riu aquele ho- “alcançar”? Explique.
mem de colete cinzento que fumava um charuto. b) Complete a frase abaixo, flexionando de forma adequa-
Jorge Amado. Capitães da areia. da os verbos “oferecer”, “proporcionar” e “alcançar”.
Conhecer profundamente os negócios de nossos clien-
5. (Unifesp) O zigue-zague temporal ligado à vida de Sem-Per- tes é só o primeiro passo que permite que __________
nas, empregado no fragmento para a composição da persona- sempre respostas mais rápidas, __________ decisões
gem, é construído de maneira muito precisa, por meio da utiliza- mais assertivas e __________ melhores resultados.
ção alternada de diversos tempos verbais. Indique a alternativa
em que há, respectivamente, um tempo verbal que expressa fatos TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ocorridos num tempo anterior a outros fatos do passado e um
tempo verbal usado para marcar o caráter hipotético de certas Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder
à(s) questão(ões) a seguir.
ações ou o desejo de que se realizassem.

a) VIVERA na casa de um padeiro (...) – uma mão POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE1
que o ACARINHASSE (...)
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
b) Em cada canto ESTAVA um com uma borracha (Embora a manhã já estivesse avançada).
comprida. – SOFREU fome. Chovia.
c) Nunca TIVERA família. – A perna coxa se RECUSA- Chovia uma triste chuva de resignação
VA a ajudá-lo. Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
d) A princípio CHOROU muito (...) – Mas de dentro dele Então me levantei,
nunca DESAPARECEU a dor daquela hora. Bebi o café que eu mesmo preparei,
e) Ele quer um carinho (...) – Um dia LEVARAM-NO Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
preso. – Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira, 1993.

E.O. Dissertativas 1
Jaime Ovalle (1894-1955): compositor e instrumentista. Aproxi-
mou-se do meio intelectual carioca e se tornou amigo íntimo de
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Buarque de Hollanda e Manuel
Bandeira. Sua música mais famosa é “Azulão”, em parceria com
o poeta Manuel Bandeira. (Dicionário Cravo Albin da música po-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO pular brasileira)

Examine este anúncio de uma instituição financeira, cujo nome foi 2. (Unesp) No poema, Bandeira explora uma espécie de con-
substituído por X, para responder às questões a seguir. traste entre os tempos verbais “pretérito perfeito” e “pretérito

66
imperfeito”. Dos pontos de vista sintático e semântico, que pa- estreita faixa de mangues e restingas, ante a qual se amorteciam
drão pode ser percebido no emprego desses dois tempos verbais? todas as cobiças, e alteava, sobranceira às frotas, intangível no
recesso das matas, a atração misteriosa das minas...
3. (Unicamp) Encontra-se, a seguir, a transcrição de parte de
Ainda mais – o seu relevo especial torna-a um condensador de
uma transmissão de jogo de futebol, trecho de uma canção e
primeira ordem, no precipitar a evaporação oceânica.
uma manchete de notícia.
Os rios que se derivam pelas suas vertentes nascem de algum
Texto I modo no mar. Rolam as águas num sentido oposto à costa. En-
Na marca de 36 minutos do primeiro tempo do jogo, pode abrir tranham-se no interior, correndo em cheio para os sertões. Dão
o marcador o time da Itapirense. A Esportiva precisa da vitória. ao forasteiro a sugestão irresistível das entradas.
Tomando posição o camisa 9 Juary. É a batida de penalidade A terra atrai o homem; chama-o para o seio fecundo; encanta-o
máxima. Faz festa a torcida. Fica no centro do gol o goleiro pelo aspecto formosíssimo; arrebata-o, afinal, irresistivelmente,
Cléber. Partiu Juary com a bola para a esquerda, tocou, é gol. na correnteza dos rios.
Gol da Esportiva! E o Mogi Mirim tem posse de bola agora,
escanteio pela direita. 39 minutos, Juan na cobrança do es- Daí o traçado eloquentíssimo do Tietê, diretriz preponderante
canteio para o Mogi Mirim, chutou, cruzou, cabeceia Anderson nesse domínio do solo. Enquanto no S. Francisco, no Parnaíba,
Conceição e é gol. no Amazonas, e em todos os cursos d’água da borda oriental, o
acesso para o interior seguia ao arrepio das correntes, ou emba-
Foi aos 39 minutos do primeiro tempo, Juan pra cobrança do lado tia nas cachoeiras que tombam dos socalcos dos planaltos, ele
direito, subiu, desviou de cabeça o zagueiro Anderson Conceição,
levava os sertanistas, sem uma remada, para o rio Grande e daí
bola pro fundo da rede do goleiro Brás da Itapirense. Cutucou
ao Paraná e ao Paranaíba. Era a penetração em Minas, em Goi-
pro fundo da rede Anderson Conceição, camisa 4.
ás, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso,
Transcrição adaptada de trecho da transmissão da partida entre no Brasil inteiro. Segundo estas linhas de menor resistência, que
Mogi Mirim Esporte Clube e Itapirense em 04/10/2008. definem os lineamentos mais claros da expansão colonial, não se
Texto II opunham, como ao norte, renteando o passo às bandeiras, a es-
terilidade da terra, a barreira intangível dos descampados brutos.
Cotidiano (Chico Buarque)
Assim é fácil mostrar como esta distinção de ordem física esclarece
Todo dia ela faz as anomalias e contrastes entre os sucessos nos dous pontos do
Tudo sempre igual país, sobretudo no período agudo da crise colonial, no século XVII.
Me sacode
Às seis horas da manhã Enquanto o domínio holandês, centralizando-se em Pernambuco,
Me sorri um sorriso pontual reagia por toda a costa oriental, da Bahia ao Maranhão, e se tra-
E me beija com a boca vavam recontros memoráveis em que, solidárias, enterreiravam o
De hortelã (...) inimigo comum as nossas três raças formadoras, o sulista, absolu-
tamente alheio àquela agitação, revelava, na rebeldia aos decretos
Texto III
da metrópole, completo divórcio com aqueles lutadores. Era quase
Presidente visita amanhã a Estação Antártica um inimigo tão perigoso quanto o batavo. Um povo estranho de
Imprensa Nacional, em www.in.gov.br, 15/02/2008. mestiços levantadiços, expandindo outras tendências, norteado por
a) Nos três textos ocorrem verbos no tempo presente. En- outros destinos, pisando, resoluto, em demanda de outros rumos,
tretanto, seu uso descreve as ações de formas diferentes. bulas e alvarás entibiadores. Volvia-se em luta aberta com a corte
Compare o uso do presente nos textos 1 e 2, e mostre a portuguesa, numa reação tenaz contra os jesuítas. Estes, olvidando
diferença. Faça o mesmo com os textos 2 e 3. Explique. o holandês e dirigindo-se, com Ruiz de Montoya a Madri e Díaz
Taño a Roma, apontavam-no como inimigo mais sério.
b) O encadeamento narrativo do texto 1 é construído
pela alternância entre verbos no presente e no pas- De feito, enquanto em Pernambuco as tropas de van Schkoppe
sado. Justifique a presença exclusiva do passado no preparavam o governo de Nassau, em São Paulo se arquitetava o
último parágrafo, considerando que se trata de uma drama sombrio de Guaíra. E quando a restauração em Portugal veio
transmissão de jogo de futebol. alentar em toda a linha a repulsa ao invasor, congregando de novo
os combatentes exaustos, os sulistas frisaram ainda mais esta sepa-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ração de destinos, aproveitando-se do mesmo fato para estadearem
OS SERTÕES a autonomia franca, no reinado de um minuto de Amador Bueno.

A Serra do Mar tem um notável perfil em nossa história. A pru- Não temos contraste maior na nossa história. Está nele a sua fei-
mo sobre o Atlântico desdobra-se como a cortina de baluarte ção verdadeiramente nacional. Fora disto mal a vislumbramos nas
desmedido. De encontro às suas escarpas embatia, fragílima, a cortes espetaculosas dos governadores, na Bahia, onde imperava
ânsia guerreira dos Cavendish e dos Fenton. No alto, volvendo o a Companhia de Jesus com o privilégio da conquista das almas,
olhar em cheio para os chapadões, o forasteiro sentia-se em se- eufemismo casuístico disfarçando o monopólio do braço indígena.
gurança. Estava sobre ameias intransponíveis que o punham do (EUCLIDES DA CUNHA. Os sertões. Edição crítica de Walnice
mesmo passo a cavaleiro do invasor e da metrópole. Transposta Nogueira Galvão. 2 ed. São Paulo: Editora Ática, 2001, p. 81-82.)
a montanha – arqueada como a precinta de pedra de um conti-
nente – era um isolador étnico e um isolador histórico. Anulava o 4. (Unesp) O escritor se serve, no fragmento apresentado, da
apego irreprimível ao litoral, que se exercia ao norte; reduzia-o a alternância de dois tempos verbais, conforme queira diferençar

67
aspectos propriamente físicos, descritivos, de aspectos de ordem 5. (Unesp) E nós, os civilizados do litoral, compreendemos e
narrativa ou histórica. Releia o primeiro parágrafo do fragmento CONTEMOS em nós esses dois princípios [...].
e identifique os dois tempos verbais que o escritor utiliza com essa
finalidade. Qual a forma infinitiva do verbo destacado e em que tempo e
modo está flexionado?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

A(s) questão(ões) tomam por base um trecho da conferência


“Sobre algumas lendas do Brasil”, de Olavo Bilac (1865-1918), Gabarito
e um soneto do mesmo autor, utilizado por ele para ilustrar
seus argumentos.
E.O. Aprendizagem
Sendo cada homem todo o universo, tem dentro de si todos
1. D 2. C 3. C 4. B 5. B
os deuses, todas as potestades superiores e inferiores que diri-
gem o universo. (Tudo, se existe objetivamente, é porque existe 6. D 7. E 8. C 9. C 10. B
subjetivamente; tudo existe em nós, porque tudo é criado e
alimentado por nós). E esta consideração nos leva ao assunto e
à explanação do meu tema. Existem em nós todas as entidades E.O. Fixação
fantásticas, que, segundo a crença popular, enchem a nossa
1. E 2. C 3. E 4. E
terra: são sentimentos humanos, que, saindo de cada um de
nós, personalizam-se, e começam a viver na vida exterior, como 5. C 6. D 7. C 8. E 9. A
mitos da comunhão.
Tupã, demiurgo criador, e o seu Anhangá, demiurgo destruidor.
É o eterno dualismo, governando todas as fases religiosas, toda E.O. Complementar
a história mitológica da humanidade. Já entre os persas e os 1. A 2. C 3. C 4. C 5. C
iranianos, na religião de Zoroastro, havia um deus de bondade,
Ormuz, e um deus de maldade, Ahriman. A religião de Manés,
na Babilônia, não criou a ideia do dualismo; acentuou-a, pre- E.O. Dissertativo
cisou-a; a base da religião dos maniqueus era a oposição e o
1. Há vários tipos de exemplos de interlocução no poema. Um
contraste da luz e da treva: o mundo visível, segundo eles, era o
deles é o uso de vocativos para fazer um chamado ao interlo-
resultado da mistura desses dois elementos eternamente inimi-
cutor, como “meu amor” no verso “amo-te tanto, meu amor...”.
gos. Mas em todos os grandes povos, e em todas as pequenas
tribos, sempre houve, em todos os tempos, a concepção desse Outro é o uso de pronomes na segunda pessoa do singular “tu”,
conflito: e esse conflito perdura no catolicismo, fixado na con- tais como “te” no trecho “Amo-te tanto”, ou como “teu” no
cepção de Deus e do Diabo. Os nossos índios sempre tiveram trecho “teu corpo”. Há ainda o uso de verbo no imperativo da
seu Tupã e o seu Anhangá... Ora, o selvagem das margens do segunda pessoa do singular, como em “não cante”.
Amazonas, do São Francisco e do Paraná compreende os dois 2. a) Segundo Amanda Montañés, a palavra “moderno” pos-
demiurgos, porque os sente dentro de si mesmo. E nós, os ci- sui os significados apresentados, pois se relaciona a grupos
vilizados do litoral, compreendemos e contemos em nós esses de artistas e intelectuais que, exilados, ampliam a reflexão
dois princípios antagônicos, Deus e o Diabo. Cada um de vós
sobre aspectos históricos e sociais. Consequentemente, são
tem uma arena íntima em que a todo o instante combatem um
expostos sentimentos e opiniões norteados pelo conceito de
gênio do bem e um gênio do mal:
não pertencimento, o que ganha força no contexto de inter-
câmbio cultural vivido.
Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando em maldições e preces, b) Em [I], o verbo está conjugado no Presente do Indicativo e seu
Como se, a arder, no coração tivesses emprego relaciona-se a afirmações atemporais. Em [II], o verbo
O tumulto e o clamor de um largo oceano. está conjugado no Pretérito Perfeito Composto do Indicativo, in-
dicando que a ação tem efeito regular e durativo, estendendo-se
Pobre, no bem como no mal, padeces;
do passado ao presente. Finalmente, em [III], o verbo está conju-
E, rolando num vórtice vesano*,
gado no Futuro do Pretérito do Indicativo, indicando uma ação
Oscilas entre a crença e o desengano,
possível, uma hipótese.
Entre esperanças e desinteresses.
3. a) A mãe representa proteção para o eu lírico, conforme ele
Capaz de horrores e de ações sublimes,
expressa em “Que me leve consigo, adormecido, / Ao passar pelo
Não ficas das virtudes satisfeito,
sítio mais sombrio...”, assim como alívio: “Me banhe e lave a
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:
alma lá no rio / Da clara luz do seu olhar querido...”.
E, no perpétuo ideal que te devora,
Tal pedido decorre de um momento de dificuldades vivido pelo
Residem juntamente no teu peito
eu lírico, uma vez que o primeiro verso do poema, “Mãe – que
Um demônio que ruge e um deus que chora...
adormente este viver dorido.” expõe tal situação de forma direta
* Vesano: louco, demente, delirante, insensato. e pontual. Seu desejo, no entanto, seria outro viver, isento de
(Últimas conferências e discursos, 1927.) preocupações próprias à vida adulta, uma vez que gostaria de

68
se tornar uma “débil criancinha” (…) “Descuidada, feliz, dócil ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador?”;
também / Se eu pudesse dormir sobre o teu seio, / Se tu fosses, “ para conter nossa irritação”. Também o imperativo do termo
querida, a minha mãe!” verbal “Confesse” sugere igualmente a inclusão do autor e dos
leitores na situação.
b) “Eu me absteria do meu orgulho de homem – abster-me-ia de mi-
nha estéril ciência, sem receio, e em débil criancinha me converteria”. 5. Presente do indicativo.
4. a) O projeto urbanístico de J. H. Crawford teria, entre outras, Efeito: o emprego dos verbos no presente do indicativo traz para a
as seguintes vantagens: facilitaria o deslocamentodos cidadãos narrativa a ideia de permanência, em consonância com o fato de
entre os bairros, reduziria os níveis de poluição e tornaria mais Cariba continuar preso sem nenhuma perspectiva de mudança.
seguro o ambiente urbano.
b) Uma das funções características do futuro do pretérito do in-
dicativo é a expressão de suposições e situações hipotéticas. É, E.O. Objetivas
portanto, natural e plenamente justificável que tal tempo verbal (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
prevaleça no Texto 1, uma vez que se trata ali da apresentação
de um projeto de cidade, de suposições sobre o que acontece- 1. C 2. B 3. C 4. E 5. A
ria na hipótese de tal projeto ser efetivamente realizado.
5. O recurso formal que expressa a hipótese é o futuro do preté-
rito (“gostaria”).
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. a) A sequência dos verbos “conhecer”, “oferecer”, “pro-
E.O. UERJ porcionar” e “alcançar” estabelecem uma relação temporal
Exame de Qualificação de continuidade e progressão. Em primeiro lugar, é necessário
conhecer a atividade do cliente, para depois oferecer propostas
1. A 2. D 3. A 4. B 5. B que venham a proporcionar resultados positivos e correspon-
dam aos objetivos positivos do negócio.

E.O. UERJ b) Os verbos mencionados devem ser conjugados no modo


subjuntivo, na primeira pessoa do plural: Conhecer profunda-
Exame Discursivo mente os negócios de nossos clientes é só o primeiro passo
que permite que ofereçamos sempre respostas mais rápidas,
1. a) Os verbos no passado (Ouviu/amou/atirou) mostram a eta- proporcionemos decisões mais assertivas e alcancemos melho-
pa que não desperta emoção; os verbos no presente (Vão /é / res resultados.
lês/deixo) mostram a etapa do oferecimento de novos versos;
os verbos no futuro (Porás/acharás) mostram a etapa em que o 2. O emprego desses dois tempos verbais obedece a uma dis-
leitor se envolverá na própria construção do texto. tinção entre o eu lírico e os aspectos externos. Assim, verbos no
pretérito perfeito (como “acordei”, “levantei”, “bebi”, “deitei”,
b) Emprego da segunda pessoa gramatical. “acendi” e “amei”) se relacionam com o sujeito (“eu”); ao passo
Emprego repetido de: "tu que me lês". que os verbos no pretérito imperfeito (por exemplo, “chovia” e
“fazia”) se conectam a fatores do mundo exterior.
2. A expressão era capaz exprime dúvida. Enquanto o verbo no
futuro do pretérito mais a preposição: continuariam até... expri- 3. a) No texto 1, o uso do tempo presente indica o momento
mem uma suposição por parte do narrador. A expressão qualquer da fala e, no texto 2, ações habituais. No texto 3, é usado para
coisa mais verbo no presente do subjuntivo: que ele dissesse... indicar ação que se realizará no futuro.
exprimem uma situação de dúvida e de incerteza, juntamente b) No último parágrafo, o uso do pretérito perfeito justifica-se
com o verbo será no exemplo logo abaixo: Será que as nossas porque, nesse momento, o locutor está repetindo a narrativa, ou
tempestades também são brincadeira? seja, retomando um fato ocorrido.
Logo, pode-se concluir que os recursos utilizados pelo narra- 4. Referindo-se a aspectos físicos, o enunciador usa o presente
dor para indicar hipóteses estão indicados, sobretudo pelos do indicativo, como, por exemplo: “A Serra do Mar TEM um no-
tempos verbais. tável perfil...” e “A prumo sobre o Atlântico DESDOBRA-SE como
3. Os termos verbais “ensinasse” e “visse” apresentam-se conju- a cortina...”
gados no pretérito imperfeito do subjuntivo, mas apenas o último Quando se refere a aspectos de ordem histórica, o autor empre-
expressa hipótese. ga o pretérito imperfeito do indicativo, tal como se nota em: “De
4. A marca linguística que indica a inclusão do autor e dos seus encontro às suas escarpas EMBATIA, fragílima, a ânsia guerrei-
leitores na situação é o uso de termos verbais na primeira pes- ra...” e “...o forasteiro SENTIA-SE em segurança.”
soa do plural e dos pronomes “nos” e “nosso(a)”: “Essas são 5. O termo verbal “contemos” pertence ao verbo “conter” e está
as principais consequências de vivermos num mundo”; “ O flexionado na primeira pessoa do plural do tempo presente (ex-
problema é que nem tudo ao nosso redor consegue atender à pressa o momento da enunciação) do modo indicativo (apresen-
demanda”; “Semáforos vermelhos continuam testando nossa ta a ação como um fato real).
paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão”; “que raios
fazemos com os dois segundos, no máximo, que economizamos

69
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. UERJ


EXAME DE QUALIFICAÇÃO
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 1.5
1 1.5
2 1.4
2 1.5
3 1.5
3 1.5
4 1.5
4 1.5
5 1.5
5 1.2
6 1.5
7 1.5
E.O. UERJ
8 1.5 EXAME DISCURSIVO
9 1.5 Exercícios Códigos
10 1.5 1 1.5
2 1.5
E.O. FIXAÇÃO
3 1.5.2
Exercícios Códigos
4 1
1 1.5
5 1.5
2 1.5
3 1.5 E.O. OBJETIVAS
(UNESP, FUVES, UNICAMP E UNIFESP)
4 1.5
Exercícios Códigos
5 1.5
1 1 e 1.2
6 1.4 e 1.5
2 1.5
7 1.5
3 1.3 e 1.5
8 1.5
4 1.5
9 1.5
5 1.5
E.O. COMPLEMENTAR
E.O. DISSERTATIVAS
Exercícios Códigos
(UNESP, FUVES, UNICAMP E UNIFESP)
1 1.5
Exercícios Códigos
2 1.5
1 1.5
3 1.5
2 1.5
4 1.5
3 1.3 e 1.5
5 1.5
4 1.5
5 1.3 e 1.5
E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 1
2 1.5
3 1.5
4 1.5
5 1.5

70
Verbos: modo imperativo
AULAS
e vozes verbais
7e8
Competências: 1e8 Habilidades: 1, 2, 3 e 27

E.O. Aprendizagem 3. Prazos pré-estabelecidos


Ao sabermos a data de uma prova, nos descabelamos e co-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO meçamos a estudar desesperados, não é mesmo? Nada como
uma boa pressão para nos mexermos rapidinho. Então, é preciso
O MONSTRO DA PROCRASTINAÇÃO
estabelecer prazos para as tarefas a serem realizadas e depois
Penélope Salles
Blog Posgraduando.com
determinação para cumpri-los.

Assim como eu, você tem um monte de coisas para fazer: tex- Você tem que ler um texto X para a aula? Defina um prazo
tos para ler, um artigo para escrever, e-mails importantes para para realizá-lo. Precisa escrever um artigo? Estabeleça uma
responder, casa para limpar (porque a vida não está fácil para data para terminá-lo. Você precisa preparar uma apresen-
ninguém)? E nessa hora o que você sente é aquela vontade de tação para um seminário? Determine o dia que precisará
conferir a última novidade do Facebook? Ou de ver um vídeo concluí-lo. E por fim, cumpra os prazos e você se sentirá
no YouTube, passar aquela fase do Candy Crash ou ainda tirar feliz por ter conseguido vencer mais uma batalha contra
aquela soneca boa no meio da tarde? este monstro.

Quem nunca? 4. Fuja das Distrações

Infelizmente a perfeita consciência disso não faz as coisas acon- Você já percebeu que é só iniciar uma tarefa importante, como
tecerem como num passe de mágica. É preciso muito mais que escrever o projeto do mestrado, terminar a leitura de um livro,
força de vontade para deixar o monstro peludo da procrastina- estudar para a prova, que tudo ao redor acaba distraindo a nos-
ção de lado e fazer aquilo que realmente é necessário. Vou falar sa atenção? Uma hora é o Facebook, outra é Whatsapp, SMS,
de cinco estratégias que tenho adotado e que têm me ajudado e-mails, TV e assim por diante. E essas pequenas distrações
nesta batalha diária contra este monstro terrível: consomem tanto do nosso tempo que no final acabamos não
fazendo nada do que nos propomos a realizar. Largue tudo, que
1. Listas
isso não te pertence mais. Pelo menos nos horários que você
Faça uma lista de tudo o que precisa ser feito no dia e selecione estabeleceu para cumprir as suas tarefas.
aquelas que são prioritárias. Não se esqueça de listar até mesmo
Eu mesma tenho que aplicar a Técnica Pomodoro para conse-
aquelas atividades consideradas mais “chatas”, mas que são im-
guir me concentrar de verdade. Essa técnica é bem simples: você
portantes. Eu sei que muita gente já faz isso, mas a necessidade
coloca um despertador (eu coloco o timer da cozinha ou então,
de planejar o dia a dia só surgiu quando eu percebi que não ti-
o despertador do celular) para tocar em 25 minutos. Enquanto
nha tempo suficiente para fazer tudo o que precisava. Este hábito
isso você realiza uma tarefa e não faz outra coisa neste tempo.
facilita e muito a minha vida, já que tenho que me dividir entre o
Se lembrar de algo, anote num papel, mas depois continue sua
mestrado, a monitoria, o cuidado com a casa, família.
tarefa até terminar o tempo. Depois dos 25 minutos, descanse 5
Costumo toda noite, antes de ir dormir, fazer uma lista de tarefas e faça as coisas que estavam pendentes. Você verá uma grande
para o dia seguinte na minha agenda. Você pode usar o bloco diferença na sua rotina.
de notas no celular, o Evernote no computador ou a ferramenta
Pronto! Você perceberá que priorizar uma tarefa só é melhor
que melhor se adeque à sua rotina. Com a lista de atividades
do que tentar realizar várias ao mesmo tempo e não conseguir
em mãos, fica mais fácil visualizar o que precisa ser feito. Se não
concluir nenhuma.
sabemos exatamente o que fazer, vamos deixar para mais tarde
e aí a procrastinação vai tomar conta. 5. Recompensa
2. Objetivos claros Apesar de soar um pouco estranho, a recompensa é a motiva-
É claro que sem força de vontade não fazemos nada nessa vida, mas ção para muitas pessoas cumprirem as tarefas necessárias. Seria
para agirmos precisamos ter claro quais são os nossos objetivos. mais ou menos o seguinte: você se propõe a fazer determinada
atividade e, como forma de realizá-la, promete a si mesmo uma
Por que é importante fazer o fichamento do texto X? É impor- recompensa no final. Embora nem todo mundo concorde com
tante porque vou utilizá-lo para a produção do meu artigo. Por ela, acho que é uma estratégia para nos motivarmos a realizar as
que ler o livro Y? Porque ele será discutido na próxima aula. tarefas mais difíceis ou mais “chatas”.
E assim por diante. Dessa forma, até mesmo as tarefas mais
simples e corriqueiras acabam sendo ressignificadas e a partir Espero que estas dicas ajudem vocês a evitar a procrastinação.
daí não serão mais ignoradas. Fonte: posgraduando.com/blog/procrastinacao

71
1. (UFJF) No texto, encontramos verbos conjugados no modo 3. (UEG)
imperativo, como “faça” e “fuja”. A autora usou esse tempo ver-
bal para expressar:

a) ordem.
b) pedido.
c) súplica.
d) conselho.
e) crítica.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

EMBARQUE IMEDIATO

Não basta passar pelos dias. Viva a partir de agora, com emoção
Por Márcia de Luca
Neste mundo de turbulências em que estamos vivendo, muitas
vezes nos sentimos deprimidos. Em certos momentos, parece que Disponível em: <http://www.blogdefrases.com.br>.
tudo está perdido, não é mesmo? Achamos que tudo está dife- Acesso em: 24 set. 2014. (adaptado).
rente, que as pessoas estão ruins.
Na tirinha, a locutora utiliza o imperativo verbal para desafiar
Mas aqui e agora, tome uma atitude firme em sua vida. seu interlocutor a lhe apresentar uma prova de amor. Essas for-
Mude seu jeito negativo de ser, evitando que sua vida mas imperativas apresentam um caso de variação na pessoa do
seja insignificante. verbo, tendo a seguinte configuração:

Perdoe erros que você considerava imperdoáveis, troque as a) “mate” e “peça” são formas de 2ª pessoa que de-
pessoas insubstituíveis por gente mais leve e solta. O apego rivam do presente do modo indicativo e se correlacio-
aos outros está obsoleto. Nada nem ninguém é insubstituível. nam ao pronome de 2ª pessoa “tu”.
Aceite a decepção que outros lhe causaram para que você b) “prova” e “coloca” são formas de 3ª pessoa que
também seja aceito. Sim, porque todos, inclusive nós, já de- derivam do presente do modo subjuntivo e se correla-
cepcionamos alguém. cionam ao pronome de 3ª pessoa “você”.
c) “prova” e “coloca” são formas de 2ª pessoa correla-
Antes de reagir por impulso, pare, respire fundo. E, só então, aja,
cionadas ao pronome “tu”; “mate” e “peça” são for-
com equilíbrio. Ame profundamente, dê risadas gostosas, abrace,
mas de 3ª pessoa correlacionadas ao pronome “você”.
proteja pessoas queridas, faça amigos. Pule de felicidade e não
tenha medo de quebrar a cara – se isso acontecer, encare com d) “mate” e “peça” são formas de 2ª pessoa correla-
leveza. Se perder alguém nesta vida, sofra comedidamente – e vá cionadas ao pronome “tu”; “prova” e “coloca” são for-
em frente, pois tudo passa. mas de 3ª pessoa correlacionadas ao pronome “você”.

Mas, sobretudo, não seja alguém que simplesmente passa pela TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
vida. Viva intensamente. Abrace o mundo com a devida paixão
VESPERTINA TROPICAL
que ele merece. Se perder, faça-o com classe, se vencer, que de-
lícia! O mundo pertence a quem se atreve a ser feliz. Aproveite Então Deus, tendo acabado de criar o firmamento e os conti-
cada instante dessa grande aventura. nentes, o homem e a mulher, a zebra, os elétrons, o umbu e a
neblina, quis dar um último toque em Sua obra: num arroubo de
Agora mesmo, neste voo, sente-se confortavelmente na pol- lirismo, lá pelas 17h54 do sexto dia, pintou a aurora boreal. É, de
trona, com a coluna ereta e de olhos fechados. Faça vários fato, um troço estupendo: mais bonito que o pôr do sol, mais im-
ciclos de respiração profunda e sinta o ar entrando e saindo. provável que a girafa, mais grandioso que o relâmpago. Era pra
Quando sentir seu corpo relaxado e sua mente mais calma, ser o corolário da criação, a maior atração da Terra32, diante da
pense em sua nova vida, mais leve. Desta maneira você viverá qual casais em lua de mel deixariam cair os queixos, japoneses
mais facilmente. ergueriam as câmeras e mochileiros BATERIAM palmas, con-
Revista Gol – Linhas áreas inteligentes tentes por terem nascido neste planeta abençoado e multicolor,
mas, infelizmente, como se sabe, a aurora boreal não pegou.
2. (Ifsul) Quanto ao emprego do modo verbal, é correto afirmar
que o
Claro: é longe, é raro e é muito cedo, como esses espetáculos
incríveis encenados domingo de manhã no Sesc Belenzinho.
a) imperativo afirmativo está presente no título e no Imagina se a aurora boreal fosse nos trópicos, seis e meia
primeiro parágrafo. da tarde? O sujeito tá num táxi na avenida Atlântica, olha
b) indicativo predomina no primeiro e no último pro lado, o céu todo verde e amarelo e laranja e roxo, saca
parágrafo. o celular, faz um “selfie” [tava louco pra usar essa palavra],
c) subjuntivo constrói a ideia veiculada no quinto pa- posta “#vespertinatropical!!!” e segue pra casa, satisfeito.
rágrafo. Mas não, é pra lá da Groenlândia, 4h30 AM, ninguém sabe
d) imperativo predomina do segundo ao último quando: aí, não adianta reclamar que o público é ignorante e
parágrafo. prefere a caretice hollywoodiana de um arco-íris.

72
Fosse só a aurora boreal, beleza, mas a natureza tá cheia de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
desarranjos semelhantes. Não surpreende: ela foi criada há
milhões de anos, nunca passou por uma revisão e ainda é Monsenhor Caldas interrompeu a narração do desconhecido:
administrada pelo fundador. Se eu fosse Javé, chamava uma – Dá licença? é só um instante.
dessas consultorias especializadas em fazer a transição de
empresas familiares para organizações, digamos, mais com- Levantou-se, foi ao interior da casa, chamou o preto velho que o
petitivas, e dava um choque de gestão. Nem precisa gastar servia, e disse-lhe em voz baixa:
muito, basta alocar melhor os recursos. – João, vai ali à estação de urbanos, fala da minha parte ao co-
mandante, e pede-lhe que venha cá com um ou dois homens,
19
VEJA os cometas, por exemplo. Tudo espalhado por aí, nos vi-
para livrar-me de um sujeito doido. Anda, vai depressa.
sitam só a cada 70, cem anos, às vezes chegam de lado, outras
vezes de dia, ninguém vê, baita desperdício de energia. Por que E, voltando à sala:
não otimizar essas órbitas? 33Fazer com que VENHAM cinco,
– Pronto, disse ele; podemos continuar.
dez ao mesmo tempo na noite de Réveillon, proporcionando
uma queima de fogos global à nossa sofrida humanidade? – Como ia dizendo a Vossa Reverendíssima, morri no dia vinte de
março de 1860, às cinco horas e quarenta e três minutos da ma-
A gravidade é outro assunto que merece uma calibrada: tem nhã. Tinha então sessenta e oito anos de idade. Minha alma voou
que ser mesmo 9,8 m/s2? Por quê? Como Deus chegou a esse pelo espaço, até perder a terra de vista, deixando muito abaixo
número? Gostaria que Ele abrisse as planilhas para entender- a lua, as estrelas e o Sol; penetrou finalmente num espaço em
mos se cada m/s2 é realmente necessário. Com metade dessa que não havia mais nada, e era clareado tão-somente por uma
atração, nós continuaríamos colados ao chão e seria muito mais luz difusa. Continuei a subir, e comecei a ver um pontinho mais
agradável se locomover por aí. O mínimo que o Senhor poderia luminoso ao longe, muito longe. O ponto cresceu, fez-se sol. Fui
fazer era dar uma ªmainada de dezembro a março: imagina que por ali dentro, sem arder, porque as almas são incombustíveis. A
alívio encarar esse calorão com 25% menos esforço, durante a sua pegou fogo alguma vez?
“Gravidade de Verão”. Sem falar, óbvio, em 50% para grávidas,
– Não, senhor.
idosos e cadeirantes.
– São incombustíveis. Fui subindo, subindo; na distância de qua-
Não tenho dúvida de que o Todo Poderoso resistirá a essas e ou-
renta mil léguas, ouvi uma deliciosa música, e logo que cheguei
tras reformas. Criar o Universo é o tipo da coisa que infla um pouco a cinco mil léguas, desceu um enxame de almas, que me levaram
o ego do sujeito, mas seria bom se Ele se animasse a colocar o num palanquim feito de éter e plumas.
mundo nos eixos – literalmente: já repararam como a Terra gira
(Machado de Assis, A segunda vida. Obras
toda torta, envergada como um frei Damião?
Completas, vol. II, p. 440-441.)
Se meu pacote de sugestões não puder convencê-lo pelo bom senso,
quem sabe ao menos uma parte cutuque a Sua vaidade? Ora, El 5. (UFSCar) O imperativo utilizado por Monsenhor Caldas, ao
dar as ordens ao preto velho, emprega
Shaddai, a aurora boreal é um negócio tão lindo, tão grandioso, tão
divino, não é justo que siga sendo exibida, ano após ano, apenas a) uma forma indireta.
para os ursos-polares, as focas e a Björk, é ou não é? b) a terceira pessoa do singular.
PRATA, Antonio. Vespertina Tropical. In: Folha de São Paulo.
c) a primeira pessoa do plural.
d) a segunda pessoa do singular.
4. (UPF) Os tempos e os modos verbais contribuem para cons- e) a segunda pessoa do plural.
truir, no texto, determinados efeitos de sentido. Acerca desses
efeitos, afirma-se: Leia o texto de Claudia Wallin para responder à questão.

Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago no-


I. O futuro do pretérito é usado para dar ideia de probabilidade,
tícias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar, Vossas
como ocorre em “diante da qual casais em lua de mel deixariam
Excelências, que nesta estranha terra os habitantes criaram um
cair os queixos, japoneses ergueriam as câmeras e mochileiros
país onde os mui digníssimos e respeitáveis representantes do
bateriam palmas” (ref. 32).
povo são tratados, imaginem Vossas Senhorias, como o próprio
II. O imperativo afirmativo contribui para construir o efeito de povo. Insânia! Dirão que as histórias que aqui relato são me-
proximidade com o leitor, como ocorre em “Veja os cometas, por ras alucinações de contos de fada, pois há neste rico reino, que
exemplo” (ref. 19). chamam de Suécia, rei, rainha e princesas. Mas não se iludam!
Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes do rei, em
III. O presente do subjuntivo é usado para dar ideia de possibilida- nome de uma democracia que proclama uma tal igualdade entre
de de ação, como ocorre em “Fazer com que venham cinco, dez ao
todos, e o que digo são coisas que tenho visto com os olhos que
mesmo tempo” (ref. 33).
esta mesma terra um dia há de comer.
Estão corretas as afirmações apresentadas em: Nestas longínquas comarcas, os mui distintos parlamentares, mi-
nistros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o trabalho,
a) I, II e III.
em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De ônibus, Emi-
b) I e II apenas. nências! E muitos castelos há pelos quatro cantos deste próspero
c) II e III apenas. reino, mas aos egrégios representantes do povo é oferecido abrigo
d) I apenas. apenas em pífias habitações de um cômodo, indignas dos ilustríssi-
e) III apenas. mos defensores dos direitos dos cidadãos e da democracia.

73
Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa península a) Agora essa função pode se cumprir com a fotografia.
chamada Escandinávia, onde também há príncipes e reis, e onde b) Agora essa função podia estar cumprida com a fotografia.
os representantes do povo vivem como sobrevive um súdito c) Agora essa função podia ser cumprida pela fotografia.
qualquer. E isto eu também vi, com os olhos que esta terra há d) Agora essa função pode ser cumprida pela fotografia.
de comer: em um dos povos vizinhos, conhecido como o reino
e) Agora essa função podia cumprir o papel da fotografia.
dos noruegueses, os nobres representantes do povo chegam a
almoçar sanduíches que trazem de casa, e que tiram dos bolsos TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
dos paletós quando a fome aperta.
É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que chamam
de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as notícias sobre o
igualitário reino dos suecos se espalham.
Estocolmo, 6 de janeiro de 2013.
(Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.)

6. (Famema 2017) “Os habitantes desta terra já tiraram todos


os poderes do rei”.

Assinale a alternativa que expressa, na voz passiva, o conteúdo


dessa oração.

a) Todos os poderes do rei já tiraram os habitantes


desta terra.
b) Os habitantes desta terra já tiram todos os poderes
do rei.
c) Os habitantes desta terra já foram tirados por todos
os poderes do rei.
d) Todos os poderes do rei já foram tirados pelos ha-
bitantes desta terra.
e) Todos os poderes do rei já são tirados pelos habi- (Fonte: https://dandoumgiroblog.wordpress.com/
tag/mafalda. Acesso em: 03/10/2016)
tantes desta terra.
8. (CP2) Leia a seguinte frase elaborada a partir da leitura do
Leia o texto de Katia Canton para responder à questão.
2º quadrinho: E esses ingênuos continuam mandando contas
A arte moderna toma corpo num contexto de grande transforma- em seu nome.
ção que ocorre sobretudo a partir do século XIX, com a Revolu-
ção Industrial. Nesse momento, as pessoas saem dos campos e Assinale a alternativa que corresponde à correta reescrita dessa
frase na voz passiva.
passam a ocupar as cidades, que crescem cada vez mais no ritmo
frenético das linhas de montagem das grandes fábricas. a) E esses ingênuos continuarão mandando contas
em seu nome.
A industrialização inaugurou uma classe social que, enriqueci-
da pelas máquinas, se tornaria hegemônica: a burguesia. b) E contas continuaram sendo mandadas em seu
nome pelos ingênuos.
Essa nova classe social necessitava de uma nova forma de c) E contas continuam mandando em seu nome por
arte para se legitimar culturalmente. A arte acadêmica, as be- esses ingênuos.
las-artes com regras impostas pela academia e talhadas aos
d) E contas em seu nome continuam sendo enviadas
moldes da antiga aristocracia, passa a dar lugar a propostas
construídas por artistas que surgem em movimentos e con- por esses ingênuos.
textos singulares. 9. (IFSP) Considerando a norma padrão da Língua Portuguesa,
[...] marque (VP), para voz passiva, (VA), para voz ativa e assinale a
alternativa correta.
Uma das novidades surgidas no século XIX e que teve impacto
fenomenal sobre a arte foi a fotografia. A fotografia liberou os I. O jogador marcou um belo gol na última semana. ( )
artistas, até então incumbidos de registrar nas telas pessoas,
paisagens e fatos históricos para a posteridade. Agora a foto- II. O ônibus atrasou bastante na tarde de ontem. ( )
grafia podia cumprir essa função, dando ao artista a liberdade III. A bola foi atrasada de modo muito forte pelo zagueiro. ( )
de criar e realizar novas pesquisas e experimentos com seus
pincéis, suas mãos e seus olhares. IV. O computador foi desligado inadequadamente na última vez. ( )
(Do moderno ao contemporâneo, 2009. Adaptado.) a) VA, VP, VP, VA.
b) VP, VA, VA, VP.
7. (Unicid Med – Unesp) “Agora a fotografia podia cumprir essa c) VA, VA, VP, VP.
função”. d) VP, VP, VA, VA.
Vertida para a voz passiva, a oração acima se transforma em: e) VP, VA, VP, VA.

74
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Quando a economia política clássica nasceu, no Reino Unido e na
E.O. Fixação
França, ao final do século XVIII e início do século XIX, a questão Leia o trecho do conto “Teoria do medalhão”, de Machado de
da distribuição da renda já se encontrava no centro de todas as Assis, para responder à questão.
análises. Estava claro que 3transformações radicais entraram em
curso, propelidas pelo crescimento demográfico sustentado – iné- – Não te ponhas com denguices, e falemos como dois ami-
dito até então – e pelo início do êxodo rural e da Revolução In- gos sérios. Fecha aquela porta; vou dizer-te coisas importantes.
dustrial. Quais seriam as consequências sociais dessas mudanças? Senta-te e conversemos. Vinte e um anos, algumas apólices, um
diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na im-
Para Thomas Malthus, que publicou em 1798 seu Ensaio sobre o prensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas
princípio da população, não restava dúvida: a superpopulação era artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Vinte e um anos, meu
uma ameaça. Preocupava-se especialmente com a situação dos rapaz, formam apenas a primeira sílaba do nosso destino. Os
franceses às vésperas da Revolução de 1789, quando havia misé- mesmos Pitt* e Napoleão, apesar de precoces, não foram tudo
ria generalizada no campo. Na época, a França era de longe o país aos vinte e um anos. Mas, qualquer que seja a profissão da tua
mais populoso da Europa: por volta de 1700, já contava com mais escolha, o meu desejo é que te faças grande e ilustre, ou pelo
de 20 milhões de habitantes, enquanto o Reino Unido tinha pouco menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum.
mais de 8 milhões de pessoas. A população francesa se expandiu A vida, Janjão, é uma enorme loteria; os prêmios são poucos, os
em ritmo crescente ao longo do século XVIII, aproximando-se dos malogrados inúmeros, e com os suspiros de uma geração é que
30 milhões. Tudo leva a crer que esse dinamismo demográfico, se amassam as esperanças de outra. Isto é a vida.
desconhecido nos séculos anteriores, contribuiu para a estagnação
dos salários no campo e para o aumento dos rendimentos asso- * William Pitt (1759-1806): assumiu o cargo de primeiro-ministro bri-
ciados à propriedade da terra, sendo, portanto, um dos fatores que tânico em 1783, com 24 anos.
levaram à Revolução Francesa. 12Para evitar que torvelinho (Contos: uma antologia, 1998.)
similar vitimasse o Reino Unido, Malthus argumentou que 14toda
assistência aos pobres deveria ser suspensa de imediato e a taxa 1. (FASM MED – UNESP) “Senta-te e conversemos.”
de natalidade deveria ser severamente controlada. No texto, o pai dirige-se ao seu filho na segunda pessoa do singu-
Já David Ricardo, que publicou em 1817 os seus Princípios de eco- lar (tu).Com as modificações necessárias, na terceira pessoa do
nomia política e tributação, preocupava-se com a evolução do pre- singular (você), a frase acima seria escrita como:
ço da terra. Se o crescimento da população e, consequentemente, a) Senta-se e conversemos.
da produção agrícola se prolongasse, a terra tenderia a se tornar
b) Sente-se e conversamos.
escassa. De acordo com a lei da oferta e da procura, o preço do
bem escasso – a terra – deveria subir de modo contínuo. No limite, c) Senta e conversamos.
19
os donos da terra receberiam uma parte cada vez mais significati- d) Sente-se e conversemos.
va da renda nacional, e o 20restante da população, uma parte cada e) Sente e converse.
vez mais reduzida, 21destruindo o equilíbrio social. De fato, 22o valor
da terra permaneceu alto por algum tempo, mas, ao longo de sé- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
culo XIX, caiu em relação a outras formas de riqueza, à medida que A ameaça de uma bomba atômica está mais viva do que nun-
diminuía o peso da agricultura na renda das nações. Escrevendo
ca. Os conflitos étnicos mataram quase 200 chineses só no mês
nos anos de 1810, Ricardo não poderia antever a importância que
de julho. Agora uma boa notícia: a paz mundial pode estar a
o progresso tecnológico e o crescimento industrial teriam ao longo
caminho. Segundo estimativas de pesquisadores, o mundo está
das décadas seguintes para a evolução da distribuição da renda. bem menos sangrento do que já foi. Cerca de 250 mil pessoas
PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de morrem por ano em consequência de algum conflito armado.
Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p.11-13. É bem menos do que no século 20, que teve 800 mil mortes
10. (UFRGS) Assinale a alternativa que apresenta a correta pas- anuais em sua 2ª metade e 3,8 milhões por ano até 1950.
sagem de segmento do texto da voz ativa para a voz passiva. O que aconteceu? O psicólogo Steven Pinker diz que o aumento
a) transformações radicais entraram em curso (ref. 3) do número de democracias ajudou. Assim como a nossa saúde:
– transformações radicais foram entradas em curso. como a expectativa de vida subiu, temos mais medo de arriscar
b) Para evitar que torvelinho similar vitimasse o Reino o pescoço. Até a globalização teria contribuído: um mundo mais
Unido (ref. 12) – Para evitar que o Reino Unido fosse integrado é um mundo mais tolerante, diz Pinker.
vitimado por torvelinho similar. Revista Superinteressante
c) toda assistência aos pobres deveria ser suspensa
de imediato e a taxa de natalidade deveria ser se- 2. (Mackenzie) Os conflitos étnicos mataram quase 200 chineses
veramente controlada (ref. 14) – os pobres deveriam só no mês de julho.

suspender de imediato toda assistência e deveriam De acordo com a norma padrão, passando-se essa frase para a
controlar severamente a taxa de natalidade. voz passiva analítica, a forma verbal correspondente será:
d) os donos da terra receberiam uma parte cada vez
a) foram mortos.
mais significativa da renda nacional (ref. 19) – a ren-
da nacional seria recebida por uma parte cada vez b) estavam sendo mortos.
mais significativa dos donos da terra. c) eram mortos.
e) o valor da terra permaneceu alto por algum tempo (ref. d) matou-se.
22) – o valor da terra foi permanecido alto por algum tempo. e) morreram.

75
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Quais propostas são transposições corretas dos respectivos tre-
chos para a voz passiva?
Se escapar do bombardeio ao qual está sendo submetido, 11um
achado divulgado anteontem por pesquisadores do Reino Unido a) Apenas I.
poderá mudar a história da ocupação humana da América. Se- b) Apenas II.
gundo eles, pegadas de pessoas descobertas no centro do Mé- c) Apenas III.
xico teriam 40 mil anos – embora os registros mais antigos de d) Apenas I e II.
presença humana no continente não ultrapassem os 13 mil anos. e) Apenas II e III.
A equipe, liderada pela geoarqueóloga mexicana Silvia Gonzá- 4. (ITA) Os versos abaixo são da letra da música “Cobra”, de
lez, achou os rastros na beira de um antigo lago assolado por
Rita Lee e Roberto de Carvalho:
chuvas de cinza vulcânica. Imagina-se que, depois de um desses
episódios, um grupo de pessoas (entre as quais crianças, a julgar Não me cobre ser existente
pelas dimensões das pegadas) teria caminhado sobre a cinza, Cobra de mim que sou serpente
deixando sua marca.
Com relação ao emprego do imperativo nos versos, podemos afir-
Usando uma série de métodos diferentes, o grupo britânico da- mar que
tou fósseis de animais no mesmo nível da pegada, assim como
a) a oposição imperativo negativo e imperativo afir-
sedimentos em volta da própria, chegando à data de por volta
mativo justifica a mudança do verbo cobre/cobra.
de 40 mil anos antes do presente. Hoje, o sítio arqueológico das
Américas mais antigo cujas datas são aceitas pelos cientistas é b) a diferença de formas (cobre/cobra) não é registra-
Monte Verde, no extremo sul do Chile, com seus 12, 5 mil anos. da nas gramáticas normativas, portanto há inadequa-
Poucos pesquisadores põem em dúvida a ideia de que os primei- ção na flexão do segundo verbo (cobra).
ros americanos cruzaram o estreito de Bering, vindos do extremo c) a diferença de formas (cobre/cobra) deve-se ao des-
nordeste da Ásia, para chegar ao Novo Mundo. locamento da 3a para a 2a pessoa do sujeito verbal.
d) o primeiro verbo no presente do indicativo opõe-se ao
“Novas rotas de migração que expliquem a existência desses
segundo verbo que se encontra no imperativo negativo.
sítios mais antigos precisam ser consideradas. Nossos achados
reforçam a teoria de que esses primeiros colonos tenham vindo e) o primeiro verbo no imperativo negativo opõe-se ao
pela água, usando a rota da costa do Pacífico”, disse González segundo verbo que se encontra no presente do indicativo.
em comunicado. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
“Nunca se deve dar a conhecer um achado tão importante
numa entrevista coletiva”, critica o antropólogo argentino Ro- CONTAS
lando González-José, do Centro Nacional Patagônico. 12O pes-
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça
quisador já chegou a estudar os antigos mexicanos junto com
dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a
a arqueóloga, mas teve “divergências inconciliáveis” com ela.
semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da
13
”Uma data de 40 mil anos não necessariamente leva a mo-
feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro
delos alternativos do povoamento, muito menos recorrendo a
rotas transpacíficas”, diz. ou assinar a orelha de um cabrito.

LOPES, Reinaldo José. In: Folha de S. Paulo, 6 jul. 2005, p. A 16. Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabe-
ça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumi-
3. (UFRGS) Considere os seguintes trechos e as propostas de sua dos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do
reescritura apresentadas a seguir. amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava,
rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos mingua-
1. [...] “um achado divulgado anteontem por pesquisadores do dos, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não
Reino Unido poderá mudar a história da ocupação humana da seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da
América” (ref. 11). fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era
bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, verme-
2. “O pesquisador já chegou a estudar os antigos mexicanos
lho, o pescoço inchado. De repente, estourava:
juntos com a arqueóloga” (ref. 12).
– Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver
3. “Uma data de 40 mil anos não necessariamente leva a mode- sem comer. Quem é do chão não se trepa.
los alternativos de povoamento” (ref. 13).
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de
Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o sertane-
I. Trecho 1: [...] a história da ocupação humana da América po- jo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na
derá ser mudada por um achado divulgado anteontem por pesqui-
hora das contas davam-lhe uma ninharia.
sadores do Reino Unido.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, ar-
II. Trecho 2: Os antigos mexicanos, junto com a arqueóloga, já rependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada e foi
chegaram a ser estudados pelo pesquisador. consultar a mulher. Sinhá Vitória mandou os meninos para o
barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão
III. Trecho 3: Modelos alternativos do povoamento não são leva- sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No
dos necessariamente a uma data de 40 mil anos. dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio

76
notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, dife- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
riam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a
diferença era proveniente de juros. A PIPOCA
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim se- Rubem Alves
nhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a
miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras
descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida que com as panelas. Por isso tenho mais escrito sobre comidas
assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de
Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar “culinária literária”. Já escrevi sobre as mais variadas entidades
carta de alforria! do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nóbis, picadinho de carne
com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o va- Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico
queiro fosse procurar serviço noutra fazenda. a uma meditação sobre o filme A festa de Babette, que é uma
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das mi-
preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa. nhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi
Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo – porque a culinária
seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, estimula todas essas funções do pensamento.
sim, senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância As comidas, para mim, são entidades oníricas. Provocam a minha
da mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria
estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamen-
sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava te isso que aconteceu. A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e
não cair noutra. duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira delicio-
sa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca.
o tijolo. Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas, E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas ideias
afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação
chão como cascos. metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamen-
to nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada
(...)
e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um ex-
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 11ª ed. São traordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as
Paulo: L. Martins, 1964. 159 p. pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como
5. (Unirio) Para marcar as agruras do sofredor Fabiano, o nar- aqueles das pipocas dentro de uma panela.
rador emprega verbos na voz reflexiva, com exceção de: Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido
a) “... apenas se limitava a semear na vazante ...” religioso? Pois tem. Para os cristãos, religiosos são o pão e o
b) “... engasgava-se, engolia em seco.” vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de
vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...).
c) “E rendia-se.”
Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem exis-
d) “... o sertanejo endividava-se, ...” tir juntas. Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe
e) “... via-se perfeitamente ...” Stella, sábia poderosa do candomblé baiano: que a pipoca é a
comida sagrada do candomblé...
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricul-
ÁRIES (21 mar. a 20 abr.) tor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem
aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas.
Lunação em signo complementar destaca importância das re- Pois o fato é que, sob o ponto de vista do tamanho, os milhos da
lações em sua vida nas próximas semanas. Cuide de sua rede pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como
social, mostre-se atencioso com as pessoas. Seu sucesso é re- isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a ideia de
sultado disso também e agora essa questão tem importância debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, espe-
suprema. Cultive o tato. rando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O
Folha de S. Paulo, Ilustrada, Astrologia,
Barbara Abramo, 29 set. 2008. que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repenti-
namente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com
6. (IBMEC-SP) Se as formas verbais “cuide”, “mostre-se” uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia
e “cultive” fossem empregadas na segunda pessoa do sin- com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores
gular, teríamos: brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das
pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária,
a) Cuidas, mostras-te, cultivas. em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, espe-
b) Cuida, mostra-te, cultiva. cialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
c) Cuidai, mostrai-vos, cultivai.
E o que é que isso tem a ver com o candomblé? É que a trans-
d) Cuida, mostra-se, cultiva. formação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande
e) Cuides, mostres-te, cultives. transformação por que devem passar os homens para que eles

77
venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que 7. (Efomm) É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. “Morre e transforma-te!” − dizia Goethe.
O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios
para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos Nessa passagem, o autor, tratando da transformação, cita a fala
transformar em outra coisa − voltar a ser crianças! de um filósofo alemão, que utiliza a segunda pessoa do singular.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de


Se Goethe tivesse usado o tratamento de você, teríamos, então:
pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca,
para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transfor- a) Morre e transforme-se!
mações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não pas- b) Morra e transforme-se!
sa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de c) Morra e transforma-te!
uma mesmice e dureza assombrosas. Só que elas não percebem. d) Morrem e transformam-se!
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de e) Morre e transforma-se!
repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa si-
tuação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar
pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depres- HISTÓRIA DO HUMOR
são – sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso
aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E
1
“O humor está presente na civilização desde as sociedades
com isso a possibilidade da grande transformação. mais primitivas – ele é uma capacidade que o ser humano
tem de olhar a realidade e ressignificá-la, tornando-a algo
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá den- engraçado e conferindo-lhe olhar crítico. No passado, ele era
tro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: até uma forma de sobrevivência às adversidades e de união
vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, do grupo”, de acordo com o professor da Escola de Comuni-
ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a cações e Artes, Ricardo Alexino Ferreira.
transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina
aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do Alexino conta que, a partir dos anosos humoristas passaram a
fogo, a grande transformação acontece: pum! − e ela aparece retratar frequentemente de forma pejorativa grupos minoriza-
como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma dos da sociedade, como negros, mulheres, idosos e deficien-
nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do tes. 2Segundo ele, os comediantes consideraram esse humor
casulo como borboleta voante. fácil, pois muitas vezes se limitava a imitar essas pessoas.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está repre- “Parte do humor se tornou sem repertório e um reforçador de
sentado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estereótipos, uma caricatura do ‘outro’”, diz.
estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2011/10/ quando-
para ser de outro. “Morre e transforma-te!” − dizia Goethe. a-piada-perde-a-graca-e-viraofensa/ Acesso em: 08/09/2015)

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os 8. (CP2) Releia o seguinte trecho destacado do texto “História do
piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que seja. Humor”: “Segundo ele, os comediantes consideraram esse humor
Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é fácil, pois muitas vezes se limitava a imitar essas pessoas.” (ref. 2).
palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio
para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de Assinale a alternativa que apresenta a forma correspondente da
pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo William, extraordiná- oração sublinhada na voz passiva.
rio professor-pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos,
e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. a) Esse humor fácil foi considerado pelos comediantes.
Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. b) Esse humor é considerado fácil pelos comediantes.
Mas, no mundo da poesia as explicações científicas não valem. c) Considerou-se esse humor fácil pelos comediantes.
Por exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se dá às mulheres d) Esse humor foi considerado fácil pelos comediantes.
que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta,
lamentava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder metafórico dos Leia o texto de Maurice Nadeau para responder à questão.
piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais
Estudar um movimento de ideias querendo ignorar o que o pre-
que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não
pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. cedeu ou o seguiu, abstraindo a situação social e política que o
Ignoram o dito de Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la-á.” alimentou e sobre a qual, por sua vez, ele pôde agir é trabalho
A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que inócuo. O Surrealismo, particularmente, está fortemente engaja-
não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. do no período entre as duas guerras. Dizer, como alguns, que ele
Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria não passa, no plano da arte, de uma manifestação pura e simples
para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da é de um materialismo por demais simplista: ele constitui também
panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o o herdeiro e o continuador dos movimentos artísticos que o pre-
lixo. Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram cederam sem os quais não teria existido. É, portanto, sob esses
a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira... dois aspectos ao mesmo tempo que devemos considerá-lo.
Disponível em: http://www.releituras.com/rubemalves_ Entre 1918 e 1940, foi o contemporâneo de acontecimentos sociais,
pipoca.asp. Acessado em: 31 de mai. 2016.
políticos, científicos, filosóficos de primeira importância. Alguns o
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo Acordo Ortográfico. marcaram fortemente; a outros deu seu colorido próprio.

78
Na Exposição Internacional do Surrealismo, realizada em Paris quisesse descobrir um estado ideal de começo absoluto. Trata-se de
(1938), estavam representados quatorze países. O Surrealismo atitude compreensível como afirmação política, exprimindo a ânsia
havia rompido os quadros nacionais da arte. Nenhum movimento por vezes patética de identidade por parte de uma nação recente,
artístico antes dele, inclusive o Romantismo, teve essa influência e que desconfiava do próprio ser e aspirava ao reconhecimento dos
essa audiência internacionais. Foi o alimento saboroso dos melho- outros. Com o passar do tempo foi ficando cada vez mais visível que
res artistas de cada país, o reflexo de uma época que, também no a nossa literatura é modificada pelas condições do Novo Mundo,
plano artístico, devia encarar seus problemas em escala mundial. mas faz parte orgânica do conjunto das literaturas ocidentais.
(História do Surrealismo, 2008. Adaptado.) Por isso, o conceito de “começo” é nela bastante relativo, e diferen-
“O Surrealismo havia rompido os quadros nacionais da arte.” te do mesmo fato nas literaturas matrizes. A literatura portuguesa, a
francesa ou a italiana foram se constituindo lentamente, ao mesmo
9. (UNICID MED UNESP) Assinale a alternativa que expressa, tempo em que se formavam os respectivos idiomas. Língua, socie-
na voz passiva, o conteúdo dessa oração. dade e literatura parecem nesses casos configurar um processo
a) Os quadros nacionais da arte haviam sido rompi- contínuo, afinando-se mutuamente e alcançando aos poucos a ma-
dos pelo Surrealismo. turidade. Não é o caso das literaturas ocidentais do Novo Mundo.
b) Os quadros nacionais da arte romperam o Surrealismo. Com efeito, no momento da descoberta e durante o processo de
c) O Surrealismo havia sido rompido pelos quadros conquista e colonização, houve o transplante de línguas e literatu-
nacionais da arte. ras já maduras para um meio físico diferente, povoado por povos
d) Os quadros nacionais da arte haviam rompido o de outras raças, caracterizados por modelos culturais completa-
Surrealismo. mente diferentes, incompatíveis com as formas de expressão do
e) O Surrealismo estava rompendo os quadros nacionais colonizador. No caso do Brasil, os povos autóctones eram primiti-
da arte. vos vivendo em culturas rudimentares. Havia, portanto, afastamen-
to máximo entre a cultura do conquistador e a do conquistado,
LEIA A TIRA PARA RESPONDER A QUESTÃO
que por isso sofreu um processo brutal de imposição. Este, além
de genocida, foi destruidor de formas culturais superiores no caso
do México, da América Central e das grandes civilizações andinas.
(Iniciação à Literatura Brasileira, 2007. Adaptado.)
1. (São Camilo MED Unesp) Considere o trecho do primeiro
parágrafo:

[…] a nossa literatura é modificada pelas condições do Novo


Mundo […].

Se a oração for reescrita na voz ativa, a forma verbal resultante será:


a) modificaram.
b) foi modificada.
c) modifica.
d) modificam.
e) está modificada.
(www.folha.uol.com.br. 24.05.2017)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
10. (Anhembi Morumbi MED Unesp) No último quadrinho,
caso a personagem empregasse a primeira pessoa do plural, sem
alterar o modo verbal, sua frase seria:

a) Não falaremos assim de Deus.


b) Não falamos assim de Deus.
c) Não falemos assim de Deus.
d) Não falem assim de Deus.
e) Não faleis assim de Deus.

E.O. Complementar
Considere o texto do crítico Antonio Candido para responder
à questão.

A literatura do Brasil faz parte das literaturas do Ocidente da Euro-


pa. No tempo da nossa independência, proclamada em 1822, for-
mou-se uma teoria nacionalista que parecia incomodada por este
dado evidente e procurou minimizá-lo, acentuando o que haveria
de original, de diferente, a ponto de rejeitar o parentesco, como se QUINO, 10 anos com Mafalda. São Paulo, Martins Fontes, 2010

79
2. (Ifsul) Observe. ou feridos no assalto à prisão e, quando os sobreviventes apa-
nharam o diretor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na por Paris
Não abra a porta... 2
a ponta de uma lança.
Se o enunciado acima passasse para o imperativo afirmativo e o Como podemos captar esses momentos de loucura, quando tudo
tratamento dado fosse o de segunda pessoa, qual das construções parecia possível e o mundo se afigurava como uma tábula rasa,
estaria de acordo com a norma culta da língua? apagada por uma onda de comoção popular e pronta para ser
a) Abre a porta... redesenhada? Parece incrível que um povo inteiro fosse capaz de
se levantar e transformar as condições da vida cotidiana. Duzen-
b) Abres a porta...
tos anos de experiências com admiráveis mundos novos torna-
c) Abra a porta...
ram-nos céticos quanto ao planejamento social. Retrospectiva-
d) Abras a porta... mente, a Revolução pode parecer um prelúdio ao totalitarismo.
3. (FASM MED Unesp) Amava Simão uma sua vizinha, menina de Pode ser. Mas um excesso de visão histórica retrospectiva pode
quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem- -nascida. Da distorcer o panorama de 1789. Os revolucionários franceses não
janela do seu quarto é que ele a vira a primeira vez, para amá-la eram nossos contemporâneos. E eram um conjunto de pesso-
sempre. Não ficara ela incólume da ferida que fizera no coração do as não excepcionais em circunstâncias excepcionais. Quando as
vizinho: amou-o também, e com mais seriedade que a usual nos seus coisas se desintegraram, eles reagiram a uma necessidade impe-
anos. Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mu-
riosa de dar-lhes sentido, ordenando a sociedade segundo novos
lher aos quinze anos, como paixão perigosa, única e inflexível. Al-
princípios. Esses princípios ainda permanecem como uma denún-
guns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos.
cia da tirania e da injustiça. 5Afinal, em que estava empenhada a
Revolução Francesa? Liberdade, igualdade, fraternidade.
O amor dos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação
do amor às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo fora DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: ____.
do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que a está da fron-
O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução.
São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.
de próxima chamando; tanto sabe a primeira o que é amar muito,
como a segunda o que é voar para longe. Teresa de Albuquerque 4. (UFRGS) Assinale a alternativa que contém a correta passa-
devia ser, porventura, uma exceção no seu amor. gem de um segmento que ocorre em voz passiva no texto para a
voz ativa.
(Camilo Castelo Branco — Amor de perdição)
a) dizemos as palavras hoje com tanta facilidade... (ref. 1)
“Da janela do seu quarto é que ELE A VIRA PELA PRIMEIRA b) que a própria obra de Deus pusera na natureza. (ref. 2)
VEZ”. Passando-se a oração em destaque para a voz passiva ana- c) pois o agente de Deus na terra o ungira. (ref. 3)
lítica, a forma verbal correspondente é:
d) Entre eles, 150 feriram-se ou mataram-se no assal-
a) foi vista. to à prisão... (ref. 4)
b) havia visto. e) Afinal, em que se empenhou a Revolução France-
c) estava sendo visto. sa? (ref. 5)
d) seria vista.
e) fora vista. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO BUSCANDO A EXCELÊNCIA


Lya Luft
O que havia de tão revolucionário na Revolução Francesa? So-
berania popular, liberdade civil, igualdade perante a lei – 1as pa- Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assusta-
lavras hoje são ditas com tanta facilidade que somos incapazes dora, implacável e persistentemente. Autoridades, altos cargos,
de imaginar seu caráter explosivo em 1789. Para os franceses do líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos,
Antigo Regime, os homens eram desiguais, e a desigualdade era lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos
uma boa coisa, adequada à ordem hierárquica que 2fora posta e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às
na natureza pela própria obra de Deus. A liberdade significava públicas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual.
privilégio – isto é, literalmente, “lei privada”, uma prerrogativa As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me
especial para fazer algo negado a outras pessoas. O rei, como oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançar-
fonte de toda a lei, distribuía privilégios, 3pois havia sido ungido
mos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior.
como o agente de Deus na terra.
Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensi-
Durante todo o século XVIII, os filósofos do Iluminismo questio- nado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem
naram esses pressupostos, e os panfletistas profissionais conse- ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem
guiram empanar a aura sagrada da coroa. Contudo, a desmon- expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. [...] E
tagem do quadro mental do Antigo Regime demandou violência as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso
iconoclasta, destruidora do mundo, revolucionária. ao ensino superior por mérito [...] Meu conceito serve para cotas
Seria ótimo se pudéssemos associar a Revolução exclusivamente raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclara-
à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas ela nas- da, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu
ceu na violência e imprimiu seus princípios em um mundo vio- esforço e capacidade. [...]
lento. Os conquistadores da Bastilha não se limitaram a destruir Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jo-
um símbolo do despotismo real. 4Entre eles, 150 foram mortos vens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço,

80
busca de mérito, uso da própria capacidade e talento, já entre as defuntos e conquistado uma multidão de fiéis em toda Judeia,
crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os Galileia, Samaria, Efraim e arredores. E você, que não tem nem
pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem casa própria? Também, naquele tempo era mais fácil – você ten-
pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, ta se consolar –, não tinha tanta concorrência e, oras, o cara era
é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não filho de Deus, o que não só abre portas, abre até o Mar Verme-
é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à lho! Mas você se compara, mesmo assim: Jesus deve ter andado
saúde, mas que a escola é também preparação para uma vida sobre as águas com o quê? Dezessete? Orson Welles fez Cida-
profissional futura, na qual haverá disciplina e limites – que aliás dão Kane com vinte e cinco. Rimbaud escreveu toda a obra até
deveriam existir em casa, ainda que amorosos. os dezenove! E você tão feliz por ter conseguido mais quinze
seguidores no Twitter...
Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para
ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupa- (O lance do Mar Vermelho... Foi com Jesus ou com Moisés? Céus,
ções sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num trinta e três anos e você não sabe uma coisa dessas? Será que um
momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou de- dia vai saber? Quando tem treze, ou vinte e três, acha que uma
satinadas, [...] se delineia com grande inteligência e precisão a hora vai aprender tudo o que não sabe, basta ficar parado que as
possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas preju- coisas naturalmente virão e entrarão na sua cabeça. Agora você
dicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a percebe que talvez passe a vida ignorando certos assuntos. Mar
dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento de Vermelho. As regras do gamão. Francês.)
excelência que nos devolve ânimo e esperança.
Pense: um homem. Pense: uma mulher. Adultos, no sentido mais
Revista Veja, de 26.09.2012. abstrato, como um casal num livro de inglês ou num vídeo de
normas de segurança do Detran. Espécimes maduros do Homo
5. (IFSP) Assinale a alternativa em que se apresenta o emprego sapiens sapiens: eles devem ter a sua idade. Talvez tenham filhos.
da voz passiva analítica. Você tem filhos, ou ainda não? Repare no “ainda não”, pois, de
a) (...) a possibilidade de serem punidos aqueles que todas as coisas que você não conquistou até agora, há que saber
não apenas prejudicaram monetariamente o país (...). discernir entre as que podem vir acompanhadas por um “ainda
b) Estamos carentes de excelência. não” e aquelas das quais é melhor desistir. Andar sobre as águas,
c) (...) as universidades, que aos poucos (...) vão se gênio da matemática, fenômeno da ginástica olímpica: não é pra
tornando reduto de pobreza intelectual. todo mundo. E aos trinta e três anos, meu chapa, é hora de admitir:
você é todo mundo. Sei que é difícil. Viu filmes da Sessão da Tarde
d) (...) não conseguem expor em letra ou fala seu
demais, propagandas da Nike demais, foi mimado demais para
pensamento truncado e pobre.
admitir que Deus não passou mais tempo moldando a sua fôrma
e) (...) parece que trabalhamos para facilitar as coisas do que a do vizinho do 71. É a não compreensão desse banal
aos jovens (...). infortúnio que faz com que haja em tantos rostos de sua idade
um brilho opaco, um fungo que brota onde o sol não bate forte o

E.O. Dissertativo suficiente: o ressentimento.


Acredite em mim: aos trinta e três anos, de Jesus pra baixo,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO todo mundo é ressentido. Não é que as pessoas vivam vidas
ruins, as aspirações é que são muito altas. A Sessão da Tarde,
DIGA TRINTA E TRÊS as propagandas da Nike... Seu emprego é bom, mas o salário
Trinta e três. Quem diria. A adolescência foi na última quinta, ainda é ruim. O salário é bom, mas o chefe é mala. O chefe é você,
há resquícios dela na estante de CDs, no seu vocabulário, num canto mas os prazos não te dão sossego. Sempre tem um cunha-
do armário – uma camisa xadrez que não vê a luz do sol desde um do que ganha mais, um vizinho cuja grama é mais verde, o
show do Faith No More, em 1997 –, mas são resquícios. Vez ou outra próximo cuja mulher é mais fornida; Jesus, aos trinta e três,
você está no supermercado, comprando saco de lixo, queijo minas o Orson Welles, aos vinte e cinco – e o mau exemplo do Rim-
light e amaciante, e vê uma turma de garotos e garotas carregando baud eu nem comento.
garrafas de Smirnoff Ice e sacolas de Doritos. Você olha para as fran- Trinta e três anos. Você para. Desce do carro. Olha em volta. Você
jas lambidas dos meninos, para os piercings das meninas e percebe, é o que queria ser quando crescesse? Não exatamente? Por que
meio assustado, que aquele é um mundo distante. Sente alguma não? Será que dá pra mudar? Quanto dá pra mudar?
vergonha do seu carrinho.
É preciso achar lugar no peito para as frustrações. É preciso lidar
Diga trinta e três: trinta e três. Diga: o que você fez? A essa altura da es- com o ressentimento e não deixar, em hipótese alguma, que ele
trada, uma parada é inevitável. Você desce do carro, contempla a vista se transforme em cinismo – se ressentimento é fungo, cinismo é
do mirante. Não é um olhar para trás, como devem fazer os velhos, ao ferrugem. Agora volte para o carro e siga em frente. Se tudo der
fim da vida – ou devem evitar fazê-lo, dependendo –, mas um olhar
certo, você não está nem na metade do caminho.
em volta: isso aqui sou eu. Daqui pra frente, não vai mudar muito, vai?
Já deu tempo de descobrir que você não é um gênio da matemática, Diga trinta e três: trinta e três. Quem diria.
nem um fenômeno da ginástica olímpica. PRATA, Antonio. Meio intelectual, meio de esquerda.
São Paulo: Editora 34, 2010, p. 170-172.
Trinta e três anos. A idade de Cristo, alguém diz, e você logo pensa,
repetindo um dos cacoetes de sua faixa etária: o que ele já tinha 1. (UFJF-PISM) Releia o último parágrafo do texto.
alcançado com a minha idade? Bom, tinha transformado água em
vinho, multiplicado peixes e pães, andado sobre as águas, levantado “Diga trinta e três: trinta e três. Quem diria.”

81
Explique o efeito de sentido provocado pelo emprego do verbo a) Identifique o interlocutor do texto citado.
“dizer” no imperativo e no futuro do pretérito do indicativo. b) Há nesse texto a predominância de verbos no imperativo.
Qual é o sentido que o uso desse modo verbal se dá no texto?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Chuva no Brejo
(Moraes Moreira) MÚSICA E POESIA
Olha como a chuva cai Luciano Cavalcanti
E molha a folha aqui na telha
Faz um som assim A relação entre música e poesia vem desde a antiguidade. Na
Um barulhinho bom cultura da Grécia Antiga, por exemplo, poesia e música eram pra-
ticamente inseparáveis: a poesia era feita para ser cantada. 1De
Faz um som assim acordo com a tradição, a música e a poesia nasceram juntas. De
Um barulhinho bom fato, a palavra “lírica”, de onde vem a expressão “poema lírico”,
Água nova significava, originalmente, certo tipo de composição literária feita
Vida veio ver-te para ser cantada, fazendo-se acompanhar por instrumento de
Voa passarinho cordas, de preferência a lira.
No teu canto canta A partir de então, configuraram-se muitos momentos em que a
Antiga cantiga música e a poesia se uniram. 2Segundo Antônio Medina Rodri-
No teu canto canta gues, “a grande poesia medieval quase que foi exclusivamente
antiga cantiga concebida para o canto. 3O Barroco, séculos além, fez os primei-
ros ensaios operísticos, que iriam recolocar o teatro no coração
(Fonte: http://www.vagalume.com.br/moraes-moreira/ da música. 4Depois Mozart, com a Flauta mágica ou D. Giovanni,
chuva-no-brejo.html. Último acesso em: 23 nov. 2013)
levaria, como sabemos, esta fusão ao sublime”.
2. (CP2) Transcreva, do texto, uma forma verbal que está flexio- Durante muito tempo, a poesia foi destinada à voz e ao ouvido.
nada no modo imperativo. Na Idade Média, “trovador” e “menestrel” eram sinônimos de
poeta. 5Seria necessário esperar a Idade Moderna para que a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO invenção da imprensa, 6e com ela o triunfo da escrita, acentu-
asse a distinção entre música e poesia. A partir do século XVI, a
lírica foi abandonando o canto para se destinar, cada vez mais, à
leitura silenciosa.
Entretanto, mesmo separado da música, o poema continuou pre-
servando traços daquela antiga união. Certas formas poéticas,
ainda vigentes, como o madrigal, o rondó, a balada e a cantiga
aludem diretamente às formas musicais. Se a separação de po-
etas e músicos dividiu a história de um gênero e outro, a poesia
não abandonou de vez a música tanto quanto a música não
abandonou de vez a poesia.
[...]
(Disponível em e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/article/
2993/2342. Acesso: terça-feira, 12 de novembro de 2013) [adaptado]

4. (CP2) “O Barroco (...) fez os primeiros ensaios operísticos


(...)” (referência 3)

Reescreva o trecho acima transformando-o em voz passiva. Faça


apenas as modificações

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESÃO

A China detonou uma bomba e pouca gente percebeu o estrago


que ela causou. Assim que abriu as portas para as multinacionais
oferecendo mão de obra e custos muito baratos, o país enfraque-
ceu as relações de trabalho no mundo. Em uma recente análise,
a revista inglesa The Economist mostra que a entrada da China,
da Índia e da ex-União Soviética na economia mundial dobrou a
força de trabalho. Com isso, o poder de barganha de sindicatos do
mundo inteiro teria se esfacelado. Provavelmente por isso, diz a
3. (UEG) Com base no texto acima, revista, salários e benefícios tenham crescido apenas 11% desde

82
2001 nas empresas privadas dos Estados Unidos, ante 17% nos – Um monarquista liberal pode muito bem assinar esse trecho,
cinco anos anteriores. concluiu ele depois de reler as palavras do irmão.
(Você s/a, setembro de 2005) – Justamente! 4assentiu o pai.
5. (Fgv) Considere o seguinte trecho do texto: 5
Natividade, que em tudo via a inimizade dos gêmeos, suspei-
tou que o intuito de Pedro fosse justamente comprometer Paulo.
Em uma recente análise, a revista inglesa “The Economist” Olhou para ele a ver se lhe descobria essa intenção torcida, mas a
mostra que a entrada da China, da Índia e da ex-União Soviética cara do filho tinha então o aspecto do entusiasmo. Pedro lia tre-
na economia mundial dobrou a força de trabalho. chos do discurso, acentuando as belezas, repetindo as frases mais
novas, cantando as mais redondas, revolvendo-as na boca, tudo
Redija duas novas versões desse trecho, adotando a voz passiva, com tão boa sombra que a mãe perdeu a suspeita, e a impressão
a) com agente da passiva expresso em todo o trecho; do discurso foi resolvida. Também se tirou uma edição em folheto,
e o pai mandou encadernar ricamente sete exemplares, que levou
b) empregando pronome apassivador, somente na
aos ministros, e um ainda mais rico para a Regente.
passagem - Em uma recente análise, a revista inglesa
“The Economist” mostra. MACHADO DE ASSIS. Esaú e Jacó. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1997.

E.O. UERJ
1efusão − manifestação expansiva de sentimentos
4assentir − concordar
Exame Discursivo 1. (UERJ) Natividade não se opôs, mas entendia que algumas pa-
lavras deviam ser cortadas. (ref. 3)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

O DISCURSO A voz verbal na oração sublinhada põe em destaque a sugestão de


Natividade em relação ao discurso do filho.
Natividade é que não teve distrações de espécie alguma. Toda
ela estava nos filhos, e agora especialmente na carta e no discur- Identifique essa voz verbal e justifique seu emprego no texto, a
so. Começou por não dar resposta às 1efusões políticas de Paulo; partir da afirmativa acima.
foi um dos conselhos do conselheiro. Quando o filho tornou pelas
férias tinha esquecido a carta que escrevera. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O discurso é que ele não esqueceu, mas quem é que esquece os
discursos que faz? Se são bons, a memória os grava em bronze; Texto I
se ruins, deixam tal ou qual amargor que dura muito. 2O melhor
ENTREVISTA COM JURANDIR FREIRE COSTA
dos remédios, no segundo caso, é supô-los excelentes, e, se a
razão não aceita esta imaginação, consultar pessoas que a acei- (Entrevistador) “Quando você fala do amor nos dias de hoje,
tem, e crer nelas. A opinião é um velho óleo incorruptível. parece identificar dois problemas opostos e complementares:
a) uma espécie de utilitarismo sexual, em que os indivíduos se
Paulo tinha talento. O discurso naquele dia podia pecar aqui ou
servem dos parceiros como quem consome produtos; b) o mito
ali por alguma ênfase, e uma ou outra ideia vulgar e exausta. Ti-
nha talento Paulo. Em suma, o discurso era bom. Santos achou-o do amor romântico, que condena ao sofrimento as pessoas que
excelente, leu-o aos amigos e resolveu transcrevê-lo nos jornais. se sentem incapazes de encontrar o parceiro ideal. Como essas
3
Natividade não se opôs, mas entendia que algumas palavras duas distorções se combinam?
deviam ser cortadas. (Entrevistado) “De fato, o que parece ser antagônico, como
– Cortadas, por quê? perguntou Santos, e ficou esperando a resposta. você bem observou, no fundo é complementar. Em função do
crescente individualismo, queremos sempre descartar o que
– Pois você não vê, Agostinho; estas palavras têm sentido repu- nos causa problema, o que nos entedia, o que é incapaz de
blicano, explicou ela relendo a frase que a afligira. despertar fortes sensações ou grandes instantes de êxtase. É
Santos ouvia-as ler, leu-as para si, e não deixou de lhe achar assim que estamos aprendendo a ser felizes, como, em épocas
razão. Entretanto, não havia de as suprimir. anteriores, aprendemos a ser felizes de outras formas. No en-
tanto, na raiz desse utilitarismo tosco existe a promessa oculta
– Pois não se transcreve o discurso.
de que, um dia, iremos encontrar alguém que preencha todos
– Ah! isso não! O discurso é magnífico, e não há de morrer em S. esses requisitos, ou seja, alguém que, de forma permanente,
Paulo; é preciso que a Corte o leia, e as províncias também, e até seja interessante, excitante, apaixonante, tolerante. Ora, esse
não se me daria fazê-lo traduzir em francês. Em francês, pode ser alguém, todos sabemos, não existe, exceto na ficção de nossos
que fique ainda melhor. ideais. Mas, embora todos saibam que esse alguém não existe,
– Mas, Agostinho, isto pode fazer mal à carreira do rapaz; o impe- ninguém pensa em desistir de procurar, porque, sem ele, a vida
rador pode ser que não goste... perde todo atrativo. Eis o impasse. Jamais encontramos a figura
ideal de pessoa perfeita para amar, mas não podemos dispen-
Pedro, que assistia desde alguns instantes ao debate, interveio sar a ilusão porque não sabemos inventar outras formas de
docemente para dizer que os receios da mãe não tinham base; satisfação pessoal, exceto a obsessão amorosa e sexual.
era bom pôr a frase toda, e, a rigor, não diferia muito do que os
liberais diziam em 1848. No fundo, o triste resultado disso tudo é a descrença, a amargura,

83
o ressentimento, a inveja e a espera passiva e resignada do mila- a mão do dia transborda
gre amoroso – que quase nunca chega – ou da morte, que, com de coisas para te dar!
certeza, chega! Isso, fique claro, não significa “condenar” ou (CAMPOS, Geir. Antologia poética. Rio de
“menosprezar” a emoção amorosa, o que seria uma tolice. Isso Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2003.)
significa constatar que a via de satisfação amorosa atual está
condenada ao impasse, até que venhamos a inventar novos mo- 2. (UERJ) Os textos I e II apresentam e discutem diferentes con-
dos de amar. É porque fomos habituados a pensar que o “amor figurações da relação amorosa.
é único, universal, e sempre o mesmo de hoje em dia” que não
encontramos ânimo para imaginar novos modelos de realização a) No texto I, o entrevistador se refere a duas maneiras de
amorosa. Ora, o que procurei mostrar no trabalho é que isso, em amar: uma em que o ser amado é objeto de consumo e
absoluto, não é verdade. O romantismo amoroso é uma invenção outra em que o ser amado é objeto de uma idealização.
cultural recente, recentíssima, na história da humanidade. Não Indique a qual destas formas de amar se contrapõe o
temos por que imaginar que ele é a “última forma de amar” nem trecho compreendido entre as linhas 23 e 27 de “Can-
mesmo que seja a melhor.” tigas de Acordar Mulher” e justifique sua resposta.
b) No poema de Geir Campos, ao se dirigir à amada, o
(Entrevista com Jurandir Freire Costa. In: CARVALHO, J.
M. de et alii. Quatro autores em busca do Brasil. Entrevistas
amante assume, nas duas últimas estrofes (l. 13 a 39),
a José Geraldo Couto. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.) atitudes diferentes, que se evidenciam nos modos ver-
bais empregados.
Texto II Identifique esta diferença de atitudes relacionando-a
CANTIGAS DE ACORDAR MULHER aos modos verbais empregados.

Vagueio aquém do teu sono TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


com alma de marinheiro
NATAL
feliz de chegar a um porto
sem previsão no roteiro, Jesus nasceu! Na abóbada infinita
mais tonto de o descobrir Soam cânticos vivos de alegria;
que de lhe ser estrangeiro. E toda a vida universal palpita
Teu continente a dormir Dentro daquela pobre estrebaria...
– pouso de barco ligeiro – Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
para os relógios num tempo No berço humilde em que nasceu Jesus...
avesso a qualquer ponteiro: Mas os pobres trouxeram oferendas
nem sei se o fico vivendo Para quem tinha de morrer na Cruz.
ou se te acordo primeiro. Sobre a palha, risonho, e iluminado
(...) Pelo luar dos olhos de Maria,
Bom é sorrires, olhar Vede o Menino-Deus, que está cercado
em mim: não vês Dos animais da pobre estrebaria.
o inimigo, o rival Não nasceu entre pompas reluzentes;
jamais. Na humildade e na paz deste lugar,
Na caça, não serás Assim que abriu os olhos inocentes,
a presa; não serás, Foi para os pobres seu primeiro olhar.
no jogo, a prenda.
No entanto, os reis da terra, pecadores,
Partilharemos, sem meias
Seguindo a estrela que ao presepe os guia,
medidas,
Vêm cobrir de perfumes e de flores
a espera, o arroubo, o gesto, O chão daquela pobre estrebaria.
o salto, o pouso, o sono
e o gosto desse rir Sobem hinos de amor ao céu profundo;
dentro e fora do tempo Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
sempre que nova mente Sobre esta palha está quem salva o mundo,
acordares. Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal!
(...) Natal! Natal! Em toda Natureza
Acorda, meu bem, acorda: Há sorrisos e cantos, neste dia...
são horas de vigilar Salve, Deus da Humildade e da Pobreza,
feliz quem menos recorda Nascido numa pobre estrebaria!
e faz do tempo passar OLAVO BILAC. In: BUENO, Alexei (Org.). Olavo Bilac:
monjolo-pêndulo-corda obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

tocando um relógio de ar
3. (UERJ) Vede o Menino-Deus, que está cercado (v. 11)
onde o momento concorda
com ser eterno e findar! As formas verbais deste verso modificam a representação do fato
Acorda, meu bem, acorda relatado, já que nas duas primeiras estrofes predomina o tempo
e ajuda teu madrugar: passado dos verbos.

84
Explicite o efeito estilístico causado pelo emprego de cada uma Conheço muitas pastoras
dessas formas verbais: uma no modo imperativo e outra no pre- Que beleza e graça têm,
sente do indicativo. Mas é uma só que eu amo
Só Arminda e mais ninguém.

E.O. Objetivas
Revolvam meu coração
Procurem meu peito bem,

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


Verão estar dentro dele
Só Arminda e mais ninguém.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO De tantas, quantas belezas


Os meus ternos olhos veem,
Leia Violência urbana, de Paulo Sérgio Pi-
o excerto do livro Nenhuma outra me agrada
nheiro e Guilherme Assis de Almeida, para responder à(s) ques- Só Arminda e mais ninguém.
tão(ões) abaixo.
Estes suspiros que eu solto
De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar Vão buscar meu doce bem,
com estranhos. À noite, não saia para caminhar, principalmente É causa dos meus suspiros
se estiver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, Só Arminda e mais ninguém.
tranque bem as portas do carro [...]. De madrugada, não pare Os segredos de meu peito
em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja – entregue tudo. Guardá-los nele convém,
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas re- Guardá-los aonde os veja
Só Arminda e mais ninguém.
comendações. Faz tempo que a ideia de integrar uma comunidade
e sentir-se confiante e seguro por ser parte de um coletivo deixou Não cuidem que a mim me importa
de ser um sentimento comum aos habitantes das grandes cidades Parecer às outras bem,
brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram Basta que de mim se agrade
substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamento Só Arminda e mais ninguém.
que o medo impõe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou Não me alegra, ou me desgosta
parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. Doutra o mimo, ou o desdém,
O sentimento de insegurança transforma e desfigura a vida em Satisfaz-me e me contenta
nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, partici- Só Arminda e mais ninguém.
pação coletiva, as moradias e os espaços públicos transformam-se
em palco do horror, do pânico e do medo. Cantem os outros pastores
Outras pastoras também,
A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, Que eu canto e cantarei sempre
drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas – especialmente Só Arminda e mais ninguém.
as dos jovens e dos mais pobres –, dilacera famílias, modificando Viola de Lereno, 1980.
nossas existências dramaticamente para pior. De potenciais cida-
dãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante 2. (Unesp) Assinale a alternativa que indica duas estrofes em que
desse quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente o termo “Arminda” surge como paciente da ação expressa pelo
pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? Qual tarefa im- verbo da oração de que faz parte.
põe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado de direito? a) Primeira e terceira estrofes.
Violência urbana, 2003. b) Sétima e oitava estrofes.
c) Primeira e oitava estrofes.
1. (Unesp) O trecho “As noções de segurança e de vida comunitária
foram substituídas pelo sentimento de insegurança e pelo isolamen-
d) Terceira e quarta estrofes.
to que o medo impõe.” (2º parágrafo) foi construído na voz passiva. e) Terceira e quinta estrofes.
Ao se adaptar tal trecho para a voz ativa, a locução verbal “foram
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
substituídas” assume a seguinte forma:

a) substitui. Olhar para o céu noturno é quase um privilégio em nossa atri-


b) substituíram. bulada e iluminada vida moderna. (...) Companhias de turismo
c) substituiriam. deveriam criar “excursões noturnas”, em que grupos de pessoas
d) substituiu. são transportados até pontos estratégicos para serem instruídos
por um astrônomo sobre as maravilhas do céu noturno. Seria
e) substituem.
o nascimento do “turismo astronômico”, que complementaria
perfeitamente o novo turismo ecológico. E por que não?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Turismo astronômico ou não, talvez a primeira impressão ao obser-
varmos o céu noturno seja uma enorme sensação de paz, de per-
A(s) questão(ões) tomam por base uma modinha de Domingos manência, de profunda ausência de movimento, fora um eventual
Caldas Barbosa (1740-1800). avião ou mesmo um satélite distante (uma estrela que se move!).
Vemos incontáveis estrelas, emitindo sua radiação eletromagnéti-
PROTESTOS A ARMINDA ca, perfeitamente indiferentes às atribulações humanas.

85
Essa visão pacata dos céus é completamente diferente da visão
de um astrofísico moderno. As inocentes estrelas são verdadei- E.O. Dissertativas
ras fornalhas nucleares, produzindo uma quantidade enorme de
energia a cada segundo. A morte de uma estrela modesta como
o Sol, por exemplo, virá acompanhada de uma explosão que che-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
gará até a nossa vizinhança, transformando tudo o que encontrar 1. (Fuvest) Leia o trecho de uma canção de Cartola, tal como
pela frente em poeira cósmica. registrado em gravação do autor:

(O leitor não precisa se preocupar muito. O Sol ainda produzirá (...)


energia “docilmente” por mais uns 5 bilhões de anos.)
Ouça-me bem, amor,
Marcelo Gleiser, Retalhos cósmicos Preste atenção, o mundo é um moinho,
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
3. (Fuvest) Transpondo-se corretamente para a voz ativa a ora-
Vai reduzir as ilusões a pó.
ção “para serem instruídos por um astrônomo (...)”, obtém-se:

a) para que sejam instruídos por um astrônomo (...). Preste atenção, querida,
De cada amor tu herdarás só o cinismo
b) para um astrônomo os instruírem (...).
Quando notares, estás à beira do abismo
c) para que um astrônomo lhes instruíssem (...).
Abismo que cavaste com teus pés.
d) para um astrônomo instruí-los (...).
Cartola, “O mundo é um moinho”.
e) para que fossem instruídos por um astrônomo (...).
a) Na primeira estrofe, há uma metáfora que se desdo-
4. (Fuvest) A transformação passiva da frase “A religião te inspi- bra em outras duas. Explique o sentido dessas metáforas.
rou esse anúncio.” apresentará o seguinte resultado: b) Caso o autor viesse a optar pelo uso sistemático
a) Tu te inspiraste na religião para esse anúncio. da segunda pessoa do singular, precisaria alterar
b) Esse anúncio inspirou-se na tua religião. algumas formas verbais. Indique essas formas e as
c) Tu foste inspirado pela religião nesse anúncio. respectivas alterações.
d) Esse anúncio te foi inspirado pela religião. 2. (Fuvest) Leia este aviso, comum em vários lugares públicos:
e) Tua religião foi inspirada nesse anúncio.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


VIDE VERSO MEU ENDEREÇO
Falado:
Seu Gervásio, se o doutor José Aparecido a) As pessoas que não gostam de ser filmadas prefeririam
aparecer por aqui, o senhor dá esse bilhete a uma mensagem que dissesse o contrário. Para atender a
ele, viu? Pode ler, não tem segredo nenhum. essas pessoas, reescreva o aviso, usando a primeira pessoa
Pode ler, seu Gervásio. do plural e fazendo as modificações necessárias.
Venho por meio dessas mal traçadas linhas
b) Criou-se, recentemente, a palavra “gerundismo”, para
Comunicar-lhe que fiz um samba pra você
designar o uso abusivo do gerúndio. Na sua opinião,
No qual quero expressar toda minha gratidão
esse tipo de desvio ocorre no aviso acima? Explique.
E agradecer de coração tudo o que você me fez.
Com o dinheiro que um dia você me deu
Comprei uma cadeira lá na Praça da Bandeira TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Ali vou me defendendo
Pegando firme, dá pra tirá mais de mil por mês. PROCURA DA POESIA
Casei, comprei uma casinha lá no Ermelindo
Não faças versos sobre acontecimentos,
Tenho três filhos lindos, dois são meus, um é de criação.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Eu tinha mais coisas pra lhe contar
Diante dela, a vida é um sol estático,
Mas vou deixar pra uma outra ocasião.
não aquece nem ilumina.
Não repare a letra, a letra é de minha mulher.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Vide verso meu endereço, apareça quando quiser.
(...)
(Adoniran Barbosa, CD Adoniran Barbosa-1975, Penetra surdamente no reino das palavras.
remasterizado EMI, 1994.)
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
5. (Unifesp) A expressão “vide verso” significa “ver no verso”.
Se optasse pela forma verbal conjugada e mantivesse a forma de Chega mais perto e contempla as palavras.
tratamento que dá ao doutor José Aparecido, o poeta escreveria
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
a) Vê no verso meu endereço, aparece quando quiser.
e te pergunta, sem interesse pela resposta
b) Vejas no verso meu endereço, aparece quando quiser.
pobre ou terrível, que lhe deres:
c) Vês no verso meu endereço, apareça quando quiser.
d) Vejai no verso meu endereço, aparecei quando quiser. Trouxeste a chave?
e) Veja no verso meu endereço, apareça quando quiser. Carlos Drummond de Andrade. Procura da Poesia.

86
3. (Unesp) Nos fragmentos do poema, há vários verbos emprega- 1. D 2. D 3. C 4. A 5. D
dos na 2a pessoa do modo imperativo, pressupondo o sujeito tu.

a) Transcreva esses verbos. 6. D 7. C 8. D 9. C 10. B


b) Ponha os verbos transcritos, na 3a pessoa, pressu-
pondo o sujeito você.
E.O. Fixação
4. (Fuvest) Examine a propaganda. 1. D 2. A 3. A 4. C 5. E

6. B 7. B 8. D 9. A 10. C

E.O. Complementar
1. D 2. A 3. E 4. B 5. A

E.O. Dissertativo
1. O modo imperativo é utilizado para dar ordens ou fazer pe-
didos; é o que ocorre em “Diga trinta e três”, quando o autor
emprega a célebre frase de um médico ao examinar um paciente.
Já o futuro do pretérito do modo indicativo aponta uma pondera-
ção do autor, surpreso por chegar aos trinta e três anos de idade.
2. A partir do pronome “teu”, na segunda pessoa do singular, po-
de-se perceber que o interlocutor do eu lírico é um “tu”. Os verbos
“olha” e “voa” referem-se, portanto, a uma segunda pessoa do
singular. Dessa forma, conclui-se que estão conjugados no impera-
tivo, pois a forma verbal do imperativo para o “tu” para os verbos
“olhar” e “voar” respectivamente é “olha” e “voa”.
3.
www.tse.jus.br. Adaptado.
a) O interlocutor é o leitor do texto.
a) Considerando o contexto da propaganda, existe al-
guma relação de sentido entre a imagem estilizada dos b) O modo imperativo concede ao texto o sentido de sugestão,
dedos e as palavras “digital” e “diferença”? Explique. conselho e ordem.
b) Sem alterar o modo verbal, reescreva o trecho “Ve-
4. É possível reescrever o trecho tanto na voz passiva analítica,
nha para a biometria. Cadastre suas digitais.”, pas-
isto é, verbo ser conjugado no tempo apropriado + particípio
sando os verbos para a primeira pessoa do plural e
do verbo principal e, nesse caso, teríamos “Os primeiros en-
fazendo as modificações necessárias.
saios operísticos foram feitos pelo Barroco”.
5. (Fuvest) Leia o texto. Também é possível utilizar a partícula apassivadora “se” segui-
da do verbo na terceira pessoa, construindo uma oração na voz
No Brasil colonial, o indissolúvel vínculo do matrimônio, tal passiva sintética e omitindo o agente da passiva. Nesse caso,
como ele era concebido pela Igreja Católica, nem sempre termina- teríamos “Fizeram-se os primeiros ensaios operísticos”.
va com a morte natural de um dos cônjuges. A crise do casamen-
to assumia várias formas: a clausura das mulheres, enquanto os
5. a) Voz passiva analítica:
maridos continuavam suas vidas; a separação ou a anulação do Em uma recente análise, é mostrado pela revista “The Econo-
matrimônio decretadas pela Igreja; a transgressão pela bigamia mist” que a força de trabalho foi dobrada pela entrada da China,
ou mesmo pelo assassínio do cônjuge. da Índia e da ex-União Soviética na economia mundial.

Maria Beatriz Nizza da Silva, História da b) Voz passiva sintética:


Família no Brasil Colonial. Adaptado. Em uma recente análise, mostra-se que a entrada da China, da
a) No texto, que ideia é sintetizada pela palavra “crise”? Índia e da ex-União Soviética na economia mundial dobrou a
b) Reescreva a oração “tal como ele era concebido força de trabalho.
pela Igreja Católica”, empregando a voz ativa e fa-
zendo as adaptações necessárias.
E.O. UERJ
Gabarito Exame Discursivo
1. Voz passiva.
A preocupação de Natividade eram as palavras a serem cortadas
E.O. Aprendizagem e não quem as cortaria.

87
2. Igreja Católica que considerava o casamento como um vínculo
indissolúvel.
a) O trecho entre as linhas 23 e 27 de “Cantigas de Acordar
Mulher” contrapõe-se à concepção de amor como consumo do b) Na voz ativa, a oração apresentaria a seguinte configuração:
bem amado. tal como a Igreja Católica o concebia.

Neste trecho, o amor é valorizado como uma relação


igual, solidária.
b) Modo indicativo: realização dos fatos
Modo imperativo: um apelo para que algo aconteça
3. Os termos verbais “vede” e “está” interrompem o fato relata-
do anteriormente nas duas primeiras estrofes do poema. Assim,
com o modo imperativo, o enunciador dirige-se aos homens,
convocando-os a olhar o Menino-Deus. Com o presente do in-
dicativo, o enunciador torna a cena atual e viva, como se ela se
desenrolasse diante das pessoas que ali estão presentes.

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. B 2. C 3. D 4. D 5. E

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) A metáfora “o mundo é um moinho” é desenvolvida em duas
outras - “vai TRITURAR teus sonhos...”, “vai REDUZIR as ilusões
a pó”. O sentido é a destruição dos sonhos.
b) “Preste” deve ficar “presta” (duas vezes) e “ouça”, “ouve”.

2.
a) “Sorriamos, nós não estamos sendo filmados!”
b) O uso do gerúndio na oração “você está sendo filmado” é
pertinente, pois expressa uma ação prolongada que acontece no
momento em que é enunciada.
3. a) Os verbos na 2ª pessoa do singular do modo imperativo são
“não faças”, “penetra”, “chega” e “contempla”.
b) “Não faça”, “penetre”, “chegue”, “contemple”.
4. a) Sim, existe relação de sentido entre a imagem e as palavras
“digital” e “diferença”. A imagem dos rostos que encabeçam
os dedos revelam a diversidade do semblante de cada ser hu-
mano, característica que se apresenta também no desenho das
impressões digitais de cada um. A propaganda, que pretende es-
clarecer as pessoas sobre a importância da biometria como fator
de segurança para o processo eleitoral, amplia o significado da
palavra “diferença” ao associar o termo à melhoria do processo
por garantir que ninguém votará no lugar de outro.
b) Mantendo os verbos no modo imperativo na primeira pessoa do
plural, a frase apresentaria a seguinte configuração: “Venhamos
para a biometria. Cadastremos nossas digitais.”
5.
a) O termo “crise” refere-se a conflitos matrimoniais que obri-
gavam à separação do casal, contrariando assim os preceitos da

88
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. UERJ


EXAME DISCURSIVO
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 1
1 2.2
2 1
2 1
3 1
3 1
4 1
5 1
E.O. OBJETIVAS
6 2.2 (UNESP, FUVES, UNICAMP E UNIFESP)
7 2.2 Exercícios Códigos
8 2.2 1 2.1
9 2.2 e 2.3 2 2
10 2.2 3 2.1
4 2.1 e 2.2
E.O. FIXAÇÃO
5 1
Exercícios Códigos
1 1 E.O. DISSERTATIVAS
(UNESP, FUVES, UNICAMP E UNIFESP)
2 2.2
Exercícios Códigos
3 2.2
1 1
4 1
2 1
5 2.3 e 2.4
3 1
6 1
4 1
7 1
5 2.1
8 2.2
9 2.2
10 1

E.O. COMPLEMENTAR
Exercícios Códigos
1 2.1
2 1
3 2.2
4 2.1
5 2.2

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 1
2 1
3 1
4 2.2 e 2.3
5 2.2 e 2.3

89
LITERATURA

91
A Arte Literária e o
AULAS
Estudo dos Gêneros
1e2
Competência: 5 Habilidades: 15, 16 e 17

E.O. Aprendizagem Com base no poema abaixo, responda às questões de 4 a 6.

RENÚNCIA
1. O gênero dramático, entre outros aspectos, apresenta como
característica essencial:
Chora de manso e no íntimo... Procura
Tentar curtir sem queixa o mal que te crucia:
a) a presença de um narrador. O mundo é sem piedade e até riria
b) a estrutura dialógica. Da tua inconsolável amargura.
c) o extravasamento lírico.
d) a musicalidade. Só a dor enobrece e é grande e é pura.
e) o versilibrismo. Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
2. O soneto é uma das formas poéticas mais tradicionais e difundi- E será ela só tua ventura...
das nas literaturas ocidentais; expressa, quase sempre, conteúdo:
A vida é vã como a sombra que passa
a) dramático. Sofre sereno e de alma sombranceira
b) satírico. Sem um grito sequer tua desgraça.
c) lírico.
Encerra em ti tua tristeza inteira
d) épico. E pede humildemente a Deus que a faça
e) cronístico. Tua doce e constante companheira...
3. Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra. Manuel Bandeira

SONETO 4. Pelo entendimento que se faz do poema, pode-se perceber que:


a) O poema tenta convencer as pessoas que têm um
Rubi, concha de perlas peregrina, mal a se acostumar com ele, amar a dor e sofrer em
Animado cristal, viva escarlata, silêncio, sem fazer alarde.
Duas safiras sobre lisa prata, b) O poema tenta convencer as pessoas a denunciar
Ouro encrespado sobre prata fina. todo e qualquer mal que as atormenta.
Este o rostinho é de Caterina; c) Há uma tentativa insistente do poeta em mudar
E porque docemente obriga, e mata, o comportamento das pessoas que têm um mal, no
Não livra o ser divina em ser ingrata, sentido de que elas precisam buscar socorro e solida-
E raio a raio os corações fumina. riedade dos indivíduos, porque a sociedade sempre
tem piedade dos enfermos.
Viu Fábio uma tarde transportado
d) Há um desejo do poeta em buscar a solidariedade
Bebendo admirações, e galhardias,
e compreensão das pessoas em relação à dor que ele
A quem já tanto amor levantou aras:
sente, pois, segundo ele, a vida é um bem precioso que
Disse igualmente amante, e magoado: precisa ser preservado.
Ah muchacha gentil, que tal serias, e) O poeta, sendo modernista, na verdade, está so-
Se sendo tão formosa não cagaras! mente jogando com as palavras, para dar um efeito
MATOS, Gregório de. Antologia. sonoro e rímico.
Porto Alegre: L&MP, 2006, p. 165.
5. Analisando quanto ao gênero literário, podemos dizer que o
Aponte o gênero literário a que pertence o texto. poema “Renúncia” tem um caráter:

a) Crônica a) romanesco.
b) Poesia erótico-irônica b) objetivista.
c) Poesia religiosa c) lírico.
d) Paródia sacra d) dramático.
e) Poesia encomiástica e) épico.

92
6. Analisando a passagem “procura curtir sem queixa o mal que a) a representação da totalidade da vida.
te crucia” (versos 1 e 2), percebe-se: b) a expressão direta de personagens.
a) Um sentido contraditório, pois quando se fala em c) a narração de uma história.
“curtir”, imagina-se uma coisa boa. d) o uso da prosa.
b) Que o poeta apela para as pessoas se queixa- rem e) o emprego da prosa poética.
das coisas ruins da vida. 8. (G1 - cftmg 2015) Sobre os gêneros literários, afirma-se:
c) Um sentido convergente, pois o poeta deixa claro
que em todo bem há sempre um fragmento de mal. I. O gênero dramático abrange textos que tematizam o sofrimento
e a aflição da condição humana.
d) Que as pessoas devem viver também o mal, mas
II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a expressão
devem se queixar sempre dele.
subjetiva de estados interiores.
e) Um sentido contraditório, pois o poeta deixa claro
III. O gênero épico compreende textos sobre acontecimentos
que não se pode viver o bem e o mal ao mesmo tempo. grandiosos protagonizados por heróis.

Leia o trecho do poema para responder a questão a seguir. IV. Em literatura, o romance e a novela são formas narrativas
pertencentes ao gênero dramático.
MOÇA DE GOIATUBA Estão corretas apenas as afirmativas
Mal rompeu o dia – a moça a) I e II.
Foi levar café com leite b) I e IV.
Para o filho do patrão, c) II e III.
Sentada à beira da cama, d) III e IV.
Como fez sempre, esperava,
Como fez sempre, que o moço 9. Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária
lhe reclamasse mais pão. entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fa-
zer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária
Mas o moço não queria
destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando
nem pão nem café com leite.
entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores
Queria – e com que paixão
no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada:
dentro dos olhos! – queria-lhe
os peitinhos em botão. 1. pela presença de personagens que devem estar ligados com
Daí o moço pediu-lhe lógica uns aos outros e à ação;
que se deitasse com ele 2. pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos
um pouco... que assim veria dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens enca-
que era bom o colchão. deadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de
Mas a moça riu e disse exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho;
que não tinha precisão, 3. pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias
pois era dia e de noite físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação;
tinha dormido um tantão.
4. pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja
Daí o moço pediu-lhe
expor, ou sua interpretação real por meio da representação.
que ela tirasse o vestido
depois a combinação Adaptado de: COUTINHO, A. Notas de teoria literária.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
depois deitasse na cama
que era bem quente o colchão. Considerando o texto e analisando os elementos que constituem
Mas a moça riu e disse um espetáculo teatral, conclui-se que:
não estar com frio não a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um
que o vestido que vestia fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua
tirar não podia não concepção de forma coletiva.
que a patroa foi quem disse b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é conce-
que devia ter vergonha bido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e
e cobrir-se com vestido, independente do tema da peça e do trabalho interpre-
calcinha e combinação... tativo dos atores.
E se foi, deixando moço c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêne-
a se torcer de paixão. ros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crô-
E quando foram chamá-lo, nicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.
o moço tinha dormido d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na
e não acordou mais não. comunicação teatral, visto que o mais importante é
[...] a expressão verbal, base da comunicação cênica em
SOUZA, Afonso Félix de. Nova antologia poética.
toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
Goiânia: Cegraf UFG, 1991, p. 78. e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico inde-
pendem do processo de produção/ recepção do espe-
7. Uma característica incomum ao gênero lírico presente neste táculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas
trecho do poema é: diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.

93
10. “Na serra de Ibiapaba, numa de suas encostas mais altas, encon- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
trei um jegue. Estava voltado para o lado e me pareceu que descorti-
nava o panorama. Mas quando me aproximei, percebi que era cego.” O MOMENTO DO AMOR

Oswaldo França Júnior, em As Laranjas Iguais. O conselheiro é um homem encantador. Baudelaire dizia: “Cá
temos um homem que fala do seu coração – deve ser um cana-
O fragmento é representante do gênero: lha”. O conselheiro não fala do seu coração, mas é um homem
a) lírico. sensível. Com 75 anos, teso, bem vestido, correto, possuidor de
b) épico. doze netos e cinco bisnetos, a sua conversa é sempre cheia de
c) narrativo. alegria e de mocidade. Outra noite, estávamos no seu salão, e de
repente rompeu na rua um “zépereira”.
d) dramático.
O conselheiro exclamou:
e) Nenhuma das opções acima. – Eh! Eh! As coisas esquentam!
Como o conselheiro é idoso, pensei vê-lo atacar os costumes e o

E.O. Fixação carnaval. Para gozar da sua simpatia, refleti:


– Temos cada vez mais a dissolução da moral!
– Quem lhe fala nisso? – indagou o conselheiro. Talvez por ter
1. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso). Sobre literatura, gê-
sido sempre um homem moral nunca precisei de descompor os
nero e estilo literários, pode-se dizer que:
costumes para julgar-me sério. Sabe o que eu sinto quando ouço
um “zé-pereira”?
( ) tanto no verso quanto na prosa pode haver poesia.
– Francamente, conselheiro...
( ) todo momento histórico apresenta um conjunto de normas que ca- – Sinto que chega o grande momento do amor no rio...
racteriza suas manifestações culturais, constituindo o estilo da época. – De fato, a liberdade dos costumes.
( ) o texto literário é aquele em que predominam a repetição da – Heim?
realidade, a linguagem linear, a unicidade de sentido. – Sim, os préstitos, as cortesãs, a promiscuidade, as meninas de
( ) no gênero lírico, os elementos do mundo exterior predomi- pijama cantando versos pouco sérios, os lança-perfumes, a ba-
nam sobre os do mundo interior do eu poético.
canal...
– Meu filho, quando se chega a uma certa idade, o resultado
2. Relacione as espécies literárias abaixo com suas respectivas é tudo. Se quisermos ver nos três dias de carnaval a folia como
características dispostas subsequentemente e assinale a alter-
depravação, posso garantir que as brincadeiras de antanho com
nativa correta:
o entrudo, os banhos d’água fria, o porta-voz eram livres como
as de hoje com os lança-perfumes, os confetes e as serpentinas.
I. Poema lírico Mas não se trata disso. Trata-se de coisa mais séria. Eu casei aos
II. Conto 18 anos, isto é, há quase 58 anos fiz a loucura de tomar por
esposa a minha querida Genoveva. Mas, passado o primeiro ano,
III. Crônica essa alucinação causou-me tal pasmo que resolvi estudar-lhe as
IV. Romance causas. E descobri.
V. Texto teatral – Quais foram?
– Uma só: o momento do amor!
( ) Modalidade de texto literário que oferece uma amostra da – Conselheiro!
vida através de um episódio, um flagrante ou instantâneo, um – Há uma época no Rio absolutamente amorosa, quer no tempo
momento singular e representativo; possui economia de meios da monarquia, quer na República. Consultei estatísticas, obser-
narrativos e densidade na construção das personagens. vei, indaguei, procedi a inquéritos pessoais... Sabe qual é essa
época? A do carnaval! Note você como aumentam os casamen-
()À intensidade expressiva desse tipo de texto literário, à
tos nos meses seguintes ao carnaval. A maioria das inclinações,
sua concentração e ao seu caráter imediato, associa-se, como
dos namoros que terminam em casório, começam no carnaval.
traço estético importante, o uso do ritmo e da musicalidade.
Três meses depois estava casado. Cinco dos meus filhos namo-
( ) Essa modalidade de texto literário prende-se a uma vasta raram no carnaval. Minha filha Berenice com 30 anos arranjou o
área de vivência, faz-se geralmente de uma história longa e marido que lhe faz a vida feliz, no carnaval. Nove dos meus netos
apresenta uma estrutura complexa. seguiram a regra...
– Mas, conselheiro, se é verdade o que V. Exa. diz, era o caso de
( ) Nos textos do gênero, o narrador parece estar ausente da
fazer uns quatro carnavais por ano...
obra, ainda que, muitas vezes, se revele nas rubricas ou nos
– Não daria resultado, meu amigo. O carnaval é uma embriaguez
diálogos; neles impõe-se rigoroso encadeamento causal.
d´alegria. Quem se embriaga uma vez por ano não está acostu-
( ) Espécie narrativa entre literatura e jornalismo, subjetiva, mado. Quem se embriaga quatro, raciocina na bebedeira. Veneza
breve e leve, na qual muitas vezes autor, narrador e protago- acabou pelo abuso da máscara. Nós acabaríamos pelo abuso do
nista se identificam. “zé-pereira”. Mas uma vez por ano é bem o verão impetuoso do
a) II – I – V – III – IV desejo, o momento do amor.
Depois suspirando:
b) II – I – IV – V – III
– Aproveite-o você. Eu infelizmente não posso mais. A velhice é
c) II – I – III – V – IV como o maître d’hotel da vida. Indica ao cliente o prato ótimo do
d) I – II – V – III – IV cardápio e não o come.
e) I – IV – II – V – III (João do Rio)

94
3. (FEI) O texto pertence ao gênero conhecido por: 5. (Ibmecrj) Ao avaliarmos o texto quanto a seu gênero literário,
podemos afirmar que ele pertence:
a) conto.
b) romance. a) Ao gênero narrativo, pois conta a história triste do poeta.
c) crônica. b) Ao gênero lírico, pois expressa os sentimentos do
d) reportagem. eu-poético.
e) novela. c) Ao gênero dramático, pois evidencia o drama sen-
timental do poeta.
4. (Cesgranrio) Associe os gêneros literários às suas respectivas d) Ao gênero épico, pois exterioriza e narra as emoções
características. do eu-lírico de forma grandiloquente.
e) Ao gênero descritivo pois descreve os detalhes do
1 – Gênero lírico contexto físico da cena.
2 – Gênero épico 6. Sobre a arte literária, considere as seguintes afirmações:
3 – Gênero dramático
I. ao escrever, o escritor é obrigado a manter um compromisso –
ser fiel à realidade, compondo um verdadeiro retrato do mundo;
( ) Exteriorização dos valores e sentimentos coletivos II. ao ler obra literária, um dos aspectos que o leitor deve levar
( ) Representação de fatos com presença física de atores em conta é a visibilidade – capacidade de imaginar sensivelmente
( ) Manifestação de sentimentos pessoais predominando, assim, o que se lê;
a função emotiva
III. a literatura é a arte da palavra, razão pela qual não há fórmu-
las pré-concebidas para se construir, por exemplo, um bom poema.
A sequência correta, de cima para baixo, é
a) 3 – 2 – 1 Quais estão corretas?
b) 2 – 3 – 1 a) Apenas I.
c) 2 – 1 – 3 b) Apenas II.
d) 1 – 3 – 2 c) Apenas II e III.
e) 1 – 2 – 3 d) Apenas III.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. e) I, II e III.

Joaquim Maria Machado de Assis é cronista, contista, drama-


turgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta.
E.O. Complementar
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Em 2008, comemora-se o centenário de sua morte, ocorrida em
setembro de 1908. Machado de Assis é considerado o mais canô- Cronista sem assunto
nico escritor da Literatura Brasileira e deixou uma rica produção
Difícil é ser cronista regular de algum periódico. Uma crônica
literária composta de textos dos mais variados gêneros, em que se por semana, havendo ou não assunto... É buscar na cabeça
destacam o conto e o romance. uma luzinha, uma palavra que possa acender toda uma frase,
um parágrafo, uma página inteira – mas qual? Onde o ímã
Segue o texto desse autor, em poesia. que atraia uma boa limalha? Onde a farinha que proverá o
pão substancioso? O relógio está correndo e o assunto não
A Carolina
vem. Cronos, cronologia, crônica, tempo, tempo, tempo... Que
Querida, ao pé do leito derradeiro tal falar da falta de assunto? Mas isso já aconteceu umas três
Em que descansas dessa longa vida, vezes... Há cronista que abre a Bíblia em busca de um grande
Aqui venho e virei, pobre querida, tema: os mandamentos, um faraó, o Egito antigo, as pragas, as
Trazer-te o coração do companheiro. pirâmides erguidas pelo trabalho escravo? Mas como atualizar
o interesse em tudo isso? O leitor de jornal ou de revista anda
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro com mais pressa do que nunca, e, aliás, está munido de um
Que, a despeito de toda a humana lida, celular que lhe coloca o mundo nas mãos a qualquer momento.
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro. Sim, a internet! O Google! É a salvação. Lá vai o cronista caçar
assunto no computador. Mas aí o problema fica sendo o ex-
Trago-te flores, - restos arrancados cesso: ele digita, por exemplo, “Liberdade”, e lá vem a estátua
Da terra que nos viu passar unidos, nova-iorquina com seu facho de luz saudando os navegantes,
São pensamentos idos e vividos. ou o bairro do imigrante japonês em São Paulo, ou a letra de
Que eu, se tenho nos olhos mal feridos um hino cívico, ou um tratado filosófico, até mesmo o “Libertas
quae sera tamen*” dos inconfidentes mineiros... Tenta-se outro
Pensamentos de vida formulados,
tema geral: “Política”. Aí mesmo é que não para mais: vêm coi-
São pensamentos idos e vividos.
sas desde a polis grega até um poema de Drummond, salta-se
(Machado de Assis) da política econômica para a financeira, chega-se à política de

95
preservação de bens naturais, à política ecológica, à partidária, caminho; é função do cronista encontrar algum por onde possa
à política imperialista, à política do velho Maquiavel, ufa. transitar acompanhado de muitos e, de preferência, bons leitores.
Que tal então a gastronomia, mais na moda do que nunca? O (Teobaldo Astúrias, inédito)
velho bifinho da tia ou o saudoso picadinho da vovó, receitas do- * Liberdade ainda que tardia.
mésticas guardadas no segredo das bocas, viraram nomes estran- ** chefes de cozinha.
geiros, sob molhos complicados, de apelido francês. Nesse ramo
da alimentação há também que considerar o que sejam produtos 1. (Puccamp) Na frase “A variedade da vida há de conduzi-lo por
transgênicos, orgânicos, as ameaças do glúten, do sódio, da quími- um bom caminho; é função do cronista encontrar algum por onde

ca nociva de tantos fertilizantes. Tudo muito sofisticado e atingindo possa transitar acompanhado de muitos e, de preferência, bons

altos níveis de audiência nos programas de TV: já seremos um país leitores”, fica ressaltado o seguinte aspecto essencial do gênero
povoado por cozinheiros, quer dizer, por chefs de cuisine?** literário de que se está tratando:

Temas palpitantes, certamente de interesse público, estão no a) intenção moralizante da narrativa, de modo a ga-
campo da educação: há, por exemplo, quem veja nos livros de rantir a boa formação do leitor/cidadão.
História uma orientação ideológica conduzida pelos autores; há b) exploração de um tema de interesse geral colhido
quem defenda uma neutralidade absoluta diante de fatos que entre experiências da vida comum.
seriam indiscutíveis. Que sentido mesmo tiveram a abolição da c) multiplicação dos mais variados estilos num mes-
escravatura e a proclamação da República? E o suicídio de Ge- mo texto pedagógico.
túlio Vargas? E os acontecimentos de 1964? Já a literatura e a d) investimento no caráter experimental e de van-
redação andam questionadas como itens de vestibular: mas sob guarda da linguagem literária.
quais argumentos o desempenho linguístico e a arte literária se- e) submissão do texto à realidade de alguma política
riam dispensáveis numa formação escolar de verdade? a ser tomada como paradigma.
Enfim, o cronista que se dizia sem assunto de repente fica
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
aflito por ter de escolher um no infinito cardápio digital de
assuntos. Que esperará ler seu leitor? Amenidades? Alguma Filme-enigma de Christopher Nolan gera discussões sobre signifi-
informação científica? A quadratura do círculo encontrada cado e citações ocultas ou óbvias em sua trama onírica
pelo futebol alemão? A situação do cinema e do teatro na-
cionais, dependentes de financiamento por incentivos fiscais?
Os megatons da última banda de rock que visitou o Brasil?
O ativismo político das ruas? Uma viagem fantasiosa pelo
interior de um buraco negro, esse mistério maior tocado pela
Física? A posição do Reino Unido diante da União Europeia?
Houve época em que bastava ao cronista ser poético: o reen-
contro com a primeira namoradinha, uma tarde chuvosa, um Certa vez o sábio taoísta Chuang Tzu sonhou que era uma bor-
passeio pela infância distante, um amor machucado, tudo boleta. Ao acordar, entretanto, ele não sabia mais se era um
podia virar uma valsa melancólica ou um tango arrebatador. homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que
Mas hoje parece que estamos todos mais exigentes e utilita- agora sonhava ser um homem.
ristas, e os jovens cronistas dos jornais abordam criticamente Será que Dom Cobb está sonhando? Será que a vida real é esta
os rumores contemporâneos, valem-se do vocabulário ligado mesma ou somos nós que sonhamos?
a novos comportamentos, ou despejam um humor ácido em Alguns podem ir ao cinema para assistir A Origem, de Christo-
seus leitores, num tempo sem nostalgia e sem utopias. pher Nolan (Batman – O Cavaleiro das Trevas) e achar tão chato
É bom lembrar que o papel em que se imprimem livros, jornais que vão sonhar de verdade, dormindo na fase de sono REM. Mas
e revistas está sob ameaça como suporte de comunicação. O outros estão sonhando acordados. Em blogs, sites e grupos de
mesmo ocorre com o material das fitas, dos CDs e DVDs: o discussão, os já fanáticos pelo filme de Nolan apontam referên-
mundo digital armazena tudo e propaga tudo instantaneamen- cias (de mitologia grega), veem citações (de Lost), tecem teorias
te. Já surgem incontáveis blogs de cronistas, onde os autores malucas e conspiratórias (o sonho dentro do sonho).
discutem on-line com seus leitores aspectos da matéria tratada Alguns acusam o diretor de copiar filmes os mais variados, de
em seus textos. A interatividade tornou-se praticamente uma Blade Runner (1982) a eXistenZ (1999), de se inspirar em 2001
regra: há mesmo quem diga que a própria noção de autor, ou – Uma Odisseia no Espaço (1968) e até de roubar a ideia de um
de autoria, já caducou, em função da multiplicidade de vozes quadrinho do Tio Patinhas de 2002.
que se podem afirmar num mesmo espaço textual. Num plano O fato é que Nolan acertou o alvo. E ele sabia do potencial “ner-
cósmico: quem é o autor do Universo? Deus? O Big Bang? A Fí- dístico” de seu filme. Tanto é que cogitou mudar a canção que
sica é que explica tudo ou deixemos tudo com o criacionismo? toca no filme todo, Non, Je Ne Regrette Rien, com Edith Piaf,
Enquanto não chega seu apocalipse profissional, o cronista de porque uma das atrizes escaladas, Marion Cotillard, havia vivido
periódico ainda tem emprego, o que não é pouco, em tempo de a cantora francesa em um filme de 2007. (...)
crise. Pois então que arrume assunto, e um bom assunto, para Além da música, uma boa diversão de A Origem é identificar os
não perder seus leitores. Como não dá para ser sempre um Ma- objetos impossíveis deixados por Nolan ao longo do filme. A es-
chado de Assis, um Rubem Braga, um Luis Fernando Veríssimo, cada de Penrose, criada pelo psiquiatra britânico Lionel Penrose,
há que se contentar com um mínimo de estilo e uma boa esco- aparece diversas vezes na tela – e também inspirou o quadro
lha de tema. A variedade da vida há de conduzi-lo por um bom que tenta explicar facetas do longa.

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Melhor ir ver o filme e não pensar em escadas... De acordo com a leitura dos fragmentos, explicite:
No que você está pensando agora?
1. A lembrança a que o eu poético faz alusão.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
fsp/ilustrad/ fq1908201010.htm>. 2. Como são construídos os traços épico e lírico.
2. (Insper) O texto permite afirmar que o potencial “nerdístico” TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
do filme:
A um passarinho
a) está associado às marcas de metalinguagem. Para que vieste
b) advém da trama onírica que induz ideias su- Na minha janela
bliminares. Meter o nariz?
c) resulta das fortes referências intertextuais. Se foi por um verso
d) origina-se da mistura entre realidade e ficção. (...)
e) decorre da associação entre o sonho e a es- cada Não sou mais poeta
de Penrose. Ando tão feliz!
(Vinicius de Moraes)
3. (Uern) A palavra serve para comunicar e interagir. E também
para criar literatura, isto é, criar arte, provocar emoções, produ- 3. Segundo o texto, qual é a condição fundamental para a con-
zir efeitos estéticos. dição poética?

(Português: linguagens: volume 1: ensino médio / 4. A que gênero literário pertence o texto?
William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
– 5.ed. – São Paulo: Atal, 2005. p. 27.)
Identifique a que gênero pertencem os textos das questões 5, 6 e 7.
Aponte duas características que justifiquem sua resposta.
A partir da definição anterior, pode-se afirmar que a linguagem
5. Oh! que saudades que tenho
literária
Da aurora da minha vida,
a) pressupõe objetividade e clareza diante da sua fun- Da minha infância querida
ção utilitária. Que os anos não trazem mais!
b) não permite que haja dupla interpretação a respei- (Casimiro de Abreu)
to do assunto tratado.
c) é organizada de modo que a plurissignificação es- 6. Lavínia: (sacode Vicente) Vicente! Não ouve o apito do trem?
teja presente no texto. Desistiu de ir?
Vicente: Não. Eu vou. Preciso ir. Eu mando notícias.
d) tem por objetivo esclarecer acerca de um assunto
Lavínia: Amanhã mesmo?
relacionado à realidade
Vicente: Amanhã. Adeus.
Lavínia: Adeus.

E.O. Dissertativo (Jorge de Andrade, Beijam-se com amor.)


7. A casa inteira recebeu a carta com muita alegria. Ricardo vi-
Leia as estrofes do poema “O prato azul-pombinho”, de Cora nha do Recife passar uns dias com eles. Há anos que se fora.

Coralina para responder às questões 1 e 2. Ainda quase menino, sumira-se do engenho sem ninguém saber
para onde. Ricardo fugiu.
Minha bisavó – que Deus a tenha em glória –
(José Lins do Rego).
sempre contava e recontava
em sentidas recordações 8. (Pucrj)
de outros tempos
a estória de saudade A amizade
daquele prato azul-pombinho. Já farto da vida, dos anos na flor,
Era uma estória minuciosa. O peito me rala pungente saudade;
Comprida, detalhada. Traído nas crenças, traído no amor,
Sentimental. Meu canto recebe, celeste amizade.
Puxada em suspiros saudosistas Poeta e amante, eu um mundo sonhei
e ais presentes. Repleto de gozos, um mundo ideal,
E terminava, invariavelmente, Quando terna outrora a mulher que eu amei
depois do caso esmiuçado: A mim me jurara ser sempre leal.
“– Nem gosto de lembrar disso...” Ó tu, meu amigo, permite que um pouco
É que a estória se prendia A fronte recline nu m peito de irmão;
aos tempos idos em que vivia Enxuga, se podes, o pranto do louco,
minha bisavó Que em paga de afetos só teve a traição!
que fizera deles seu presente e seu futuro. [...]
Em tempos felizes, num dia formoso,
CORALINA, Cora. Melhores poemas de Cora Coralina. Seleção Na relva sentados, bem juntos, unidos,
de Darci F. Denófrio. São Paulo: Global, 2004, p. 47. No peito encostado seu rosto mimoso,

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A ingrata me dava sorrisos… fingidos! A felicidade é como a gota
Ai! crente, eu beijava seus lábios corados De orvalho numa pétala de flor
Com beijos ardentes, com beijos de amor, Brilha tranquila
E Laura jurava que, quando apartados, Depois de leve oscila
Viver não queria, morreria de dor! E cai como uma lágrima de amor.

Partir foi preciso… abracei-a chorando… A minha felicidade está sonhando


E Laura chorou!… eu de dor solucei… Nos olhos da minha namorada
Mas tempos depois que, contente voltando... É como esta noite
Julgava beijá-la, já não a encontrei! Passando, passando
Mulher enganosa, quebraste essas juras Em busca da madrugada
Que em prantos me deste diante de Deus! Falem baixo, por favor...
Mas tu não te lembras que as faces impuras, Pra que ela acorde alegre com o dia
Que os lábios corados roçaram os meus?! Oferecendo beijos de amor.
Poeta e amante, eu um mundo sonhei Tristeza não tem fim
Repleto de gozos, um mundo ideal… Felicidade sim...
Fugiram os sonhos que eu tanto afaguei,
MORAES, Vinicius de e JOBIM, Tom. Vinicius de Moraes – Literatura
Como flor tombada por um vendaval. Comentada São Paulo: Abril Educação, 1980. p.71 e 72.
Errante vagando por vales sombrios
Co’a mente em delírio, em cruel ansiedade; Determine o gênero literário predominante no texto, justificando
com dois aspectos que o caracterizam.
A morte buscando nas águas dos rios,
Me disse uma voz: – «Inda resta a amizade!
«Esquece esse fogo, esse amor, um delírio
«Que aqui te cavava profundo jazigo;
E.O. Enem
«Ao mundo de novo, termina o martírio,
«A fronte reclina num peito de amigo.» 1. (Enem)

– Ao mundo voltei, esqueci os amores Texto I: Chão de esmeralda


No peito apagando uma forte paixão;]
Agora a amizade mitiga-me as dores, Me sinto pisando
Sê tu meu amigo, serei teu irmão! Um chão de esmeraldas
Agosto, 1853. Quando levo meu coração
À Mangueira
ABREU, Casimiro de. Disponível em: <https://archive.org/details/
obrascompletasd00abregoog>. Acesso em: 10 set. 2014.
Sob uma chuva de rosas
Meu sangue jorra das veias
a) Há no poema de Casimiro de Abreu a exaltação da amiza-
E tinge um tapete
de como um sentimento de compreensão, acolhida e apoio.
Comente com suas próprias palavras os motivos que Pra ela sambar
levaram o eu poético a valorizar a amizade como um É a realeza dos bambas
contraponto à tristeza, à solidão e ao delírio. Que quer se mostrar
Soberba, garbosa
b) Determine o gênero literário predominante no texto.
Minha escola é um cata-vento a girar
9. (Puc-rj) É verde, é rosa
A felicidade Oh, abre alas pra Mangueira passar

Tristeza não tem fim BUARQUE, C.; CARVALHO, H.B. Chico Buarque de Mangueira.
Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em:
Felicidade sim... <www.chicobuarque.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2010.
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar Texto II
Voa tão leve
Mas tem a vida breve Quando a escola de samba entra na Marquês de Sapucaí, a
Precisa que haja vento sem parar. plateia delira, o coração dos componentes bate mais forte
e o que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro
A felicidade do pobre parece
espetáculo entre em cena, por trás da cortina de fumaça dos
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro fogos de artifício, existe um verdadeiro batalhão de alegria:
Por um momento de sonho são costureiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia,
Pra fazer a fantasia pesquisador de enredo e uma infinidade de profissionais que
De rei, ou de pirata, ou jardineira garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile.
Pra tudo se acabar na quarta-feira
AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos
Tristeza não tem fim bastidores. Revista deCarnaval 2010: Mangueira. Rio
Felicidade sim... de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010.

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Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o com- dre Vieira. Ele parece desmaiado. Tem um grupo de
promisso dos dirigentes e de todos os componentes com a escola pessoas em volta dele. Mas parece que ninguém aqui
de samba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças pode ajudar. Ele precisa de uma ambulância rápido.
que se estabelece entre os textos é que: Por favor, venham logo!
a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir
emoções e sensações, mais do que a letra de música.
b) a letra de música privilegia a função social de co-
E.O. UERJ
municar a seu público a crítica em relação ao samba
e aos sambistas.
Exame de Qualificação
c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza imagens TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
metafóricas e a própria escola, enquanto a lingua-
gem, no Texto II, cumpre a função de informar e en- Ciência e Hollywood
volver o leitor. Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho algum no es-
d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, paço. Não me lembro de um só filme que tenha retratado isso direi-
o Texto I acende a rivalidade entre escolas de samba, to. Pode ser que existam alguns, mas se existirem não fizeram muito
enquanto o Texto II é neutro. sucesso. Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos fantásticos.
e) o Texto I sugere a riqueza material da Mangueira, en- Para existir ruído é necessário um meio material que transporte as per-
quanto o Texto II destaca o trabalho na escola de samba. turbações que chamamos de ondas sonoras. Na ausência de atmosfe-
ra, ou água, ou outro meio, as perturbações não têm onde se propagar.
2. (Enem) Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo Para um produtor de cinema, a questão não passa pela ciência. Pelo
e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encos- menos não como prioridade. Seu interesse é tornar o filme emocio-
tando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na nante, e explosões têm justamente este papel; roubar o som de uma
calçada, ainda úmida da chuva, e descansou na pedra o cachimbo. grande espaçonave explodindo torna a cena bem sem graça.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia
bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta.
Recentemente, o debate sobre as liberdades científicas tomadas
pelo cinema tem aquecido. O sucesso do filme O dia depois de
O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque. amanhã (The day after tomorrow), faturando mais de meio bi-
Adaptado de: TREVISAN, D. Uma vela para Dario. Cemitério lhão de dólares, e seu cenário de uma idade do gelo ocorrendo
de Elefantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. em uma semana, em vez de décadas ou, melhor ainda, centenas
de anos, levantaram as sobrancelhas de cientistas mais rígidos
No texto, um acontecimento é narrado em linguagem literária. que veem as distorções com desdém e esbugalharam os olhos
Esse mesmo fato, se relatado em versão jornalística, com caracte- dos espectadores (a maioria) que pouco ligam se a ciência está
rísticas de notícia, seria identificado em: certa ou errada. Afinal, cinema é diversão.
a) Aí, amigão, fui diminuindo o passo e tentei me apoiar Até recentemente, defendia a posição mais rígida, que filmes de-
no guarda-chuva... mas não deu. Encostei na parede vem tentar ao máximo ser fiéis à ciência que retratam. Claro, isso
e fui escorregando. Foi mal, cara! Perdi os sentidos ali sempre é bom. Mas não acredito mais que seja absolutamente
mesmo. Um povo que passava falou comigo e tentou necessário. 1Existe uma diferença crucial entre um filme comer-
me socorrer. E eu, ali, estatelado, sem conseguir falar cial e um documentário científico. Óbvio, documentários devem
nada! Cruzes! Que mal. retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população,
b) O representante comercial Dario Ferreira, 43 anos, mas filmes não têm necessariamente um compromisso pedagó-
não resistiu e caiu na calçada da Rua da Abolição, qua- gico. As pessoas não vão ao cinema para serem educadas, ao
se esquina com a Padre Vieira, no centro da cidade, menos como via de regra.
ontem por volta do meio-dia. O homem ainda tentou
Claro, filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme
apoiar-se no guarda-chuva que trazia, mas não conse-
valor cultural. Outros educam as emoções através da ficção. Mas, se
guiu. Aos populares que tentaram socorrê-lo não con-
existirem exageros, eles não deverão ser criticados como tal. Fantas-
seguiu dar qualquer informação.
mas não existem, mas filmes de terror sim. Pode-se argumentar que,
c) Eu logo vi que podia se tratar de um ataque. Eu no caso de filmes que versam sobre temas científicos, as pessoas
vinha logo atrás. O homem, todo aprumado, de guar- vão ao cinema esperando uma ciência crível. Isso pode ser verdade,
da-chuva no braço e cachimbo na boca, dobrou a es- mas elas não deveriam basear suas conclusões no que diz o filme.
quina e foi diminuindo o passo até se sentar no chão No mínimo, o cinema pode servir como mecanismo de alerta para
da calçada. Algumas pessoas que passavam pararam questões científicas importantes: o aquecimento global, a inteligên-
para ajudar, mas ele nem conseguia falar. cia artificial, a engenharia genética, as guerras nucleares, os riscos
d) Vítima espaciais como cometas ou asteroides etc. Mas o conteúdo não deve
Idade: entre 40 e 45 anos ser levado ao pé da letra. A arte distorce para persuadir. E o cinema
Sexo: masculino moderno, com efeitos especiais absolutamente espetaculares, distor-
Cor: branca ce com enorme facilidade e poder de persuasão.
Ocorrência: Encontrado desacordado na Rua da Abolição, O que os cientistas podem fazer, e isso está virando moda nas
quase esquina com Padre Vieira. Ambulância chamada às universidades norte-americanas, é usar filmes nas salas de aula
12h34min por homem desconhecido. A caminho. para educar seus alunos sobre o que é cientificamente correto e
e) Pronto-socorro? Por favor, tem um homem caído na o que é absurdo. Ou seja, usar o cinema como ferramenta peda-
calçada da rua da Abolição, quase esquina com a Pa- gógica. Os alunos certamente prestarão muita atenção, muito

99
mais do que em uma aula convencional. Com isso, será possível periências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, cura-
educar a população para que, no futuro, um número cada vez tivas, religiosas, sexuais, guerreiras? Pode ser que essas suposições
maior de pessoas possa discernir o real do imaginário. tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico,
MARCELO GLEISER tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br>. presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari,
1. (UERJ) A “ciência” e “Hollywood”, expres-
oposição entre em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como
Gleiser, corresponde a outra oposição
sa no título do artigo de em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o
bastante estudada no campo da literatura, que se verifica entre: ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substantivos), não
a) acontecimento e opinião numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéti-
cas por natureza, mais propensas à composição analógica.
b) historicismo e atualidade
c) verdade e verossimilhança Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam
d) particularização e universalismo os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy −
eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de
2. (UERJ) Observe atentamente os dois trechos transcritos a seguir. “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”.
Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria
“... o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas,
o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato aconteceu, e sim apresentandoas (ao mesmo tempo em que se apresenta). No
mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa
sua universalidade.” relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A
SILVA,Vítor M. de A. Teoria de Literatura. Coimbra: Almedina, 1982. linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em
si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e
Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 2. o mundo. (...)
Que não repugna à verdade, provável.
Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras
FERREIRA. A. B. de Holanda, Novo Dicionário Aurélio da
se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos
A partir da leitura de ambos os fragmentos, pode-se deduzir que esses pequenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da
a obra literária tem o seguinte objetivo: referencialidade.
a) opor-se ao real para afirmar a imaginação criadora Arnaldo Antunes. <www.arnaldoantunes.com.br>.
b) anular a realidade concreta para superar contradições 3. (UERJ) No último parágrafo, o autor se refere à plenitude
aparentes da linguagem poética, fazendo, em seguida, uma descrição que
c) construir uma aparência de realidade para expressar corresponde à linguagem não poética, ou seja, à linguagem
dado sentido referencial.
d) buscar uma parcela representativa do real para con-
Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua
testar sua validade
origem, o seguinte traço fundamental:

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO a) o desgaste da intuição.


b) a dissolução da memória.
SOBRE A ORIGEM DA POESIA c) a fragmentação da experiência.
A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. d) o enfraquecimento da percepção.
Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal
deixou de ser poesia. Ou qual a origem do discurso não poético,
já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas E.O. UERJ
por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário
da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas Exame Discursivo
conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discur-
sos, ensaios ou telefonemas. Como se ela restituísse, através de um TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa − que O DIREITO À LITERATURA
o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no
decorrer da história.
1
Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as
criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os ní-
A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere míni- veis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que
mos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis
representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas da produção escrita das grandes civilizações.
metades − significante e significado. Houve esse tempo? Quando
não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Vista deste modo a literatura aparece claramente como manifes-
Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como tação universal de todos os homens em todos os tempos. Não
sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem
ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fa-
dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em ex- bulação*. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém

100
é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns Num relatório estabelecido pela Associação dos Professores de Le-
momentos de entrega ao universo fabulado. 2O sonho assegura tras, podemos ler: “O estudo de Letras implica o estudo do homem,
durante o sono a presença indispensável deste universo, inde- sua relação consigo mesmo e com o mundo, e sua relação com os
pendentemente da nossa vontade. E durante a vigília a criação outros.” Mais exatamente, o estudo da obra remete a círculos con-
ficcional está presente em cada um de nós, como anedota, his- cêntricos cada vez mais amplos: o dos outros escritos do mesmo
tória em quadrinhos, noticiário policial, canção popular. Ela se autor, o da literatura nacional, o da literatura mundial; mas seu con-
manifesta desde o devaneio no ônibus até a atenção fixada na texto final, o mais importante de todos, nos é efetivamente dado
novela de televisão ou na leitura seguida de um romance. pela própria existência humana. Todas as grandes obras, qualquer
que seja sua origem, demandam uma reflexão dessa dimensão.
Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no
universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido am- O que devemos fazer para desdobrar o sentido de uma obra e revelar
plo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, o pensamento do artista? Todos os “métodos” são bons, desde que
que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito. continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si mesmos. (...)

Podemos dizer que 3a literatura é o sonho acordado das civiliza- (...)


ções. Portanto, assim como não é possível haver equilíbrio psíquico (...) Sendo o objeto da literatura a própria condição humana, aque-
sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem le que a lê e a compreende se tornará não um especialista em
a literatura. Deste modo, ela é 4fator indispensável de humanização análise literária, mas um conhecedor do ser humano. Que melhor
e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, inclusive introdução à compreensão das paixões e dos comportamentos hu-
porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente. manos do que uma imersão na obra ,dos grandes escritores que
se dedicam a essa tarefa há milênios? E, de imediato: que melhor
Cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais, poéticas e preparação pode haver para todas as profissões baseadas nas
dramáticas de acordo com os seus impulsos, as suas crenças, os relações humanas? Se entendermos assim a literatura e orientar-
seus sentimentos, as suas normas, a fim de fortalecer em cada mos dessa maneira o seu ensino, que ajuda mais preciosa poderia
um a presença e atuação deles. Por isso é que nas nossas socie- encontrar o futuro estudante de direito ou de ciências políticas, o
dades a literatura tem sido um instrumento poderoso de instru- futuro assistente social ou psicoterapeuta, o historiador ou o soció-
ção e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada logo? Ter como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski e
um como equipamento intelectual e afetivo. Proust não é tirar proveito de um ensino excepcional? E não se vê
Antonio Candido - Adaptado de Vários escritos. que mesmo um futuro médico, para exercer o seu ofício, teria mais
São Paulo: Duas Cidades, 1995. a aprender com esses mesmos professores do que com os manuais
preparatórios para concurso que hoje determinam o seu destino?
* fabulação − ficção Assim, os estudos literários encontrariam o seu lugar no coração
das humanidades, ao lado da história dos eventos e das ideias, to-
1. (UERJ) Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possí-
das essas disciplinas fazendo progredir o pensamento e se alimen-
vel, (ref. 1)
tando tanto de obras quanto de doutrinas, tanto de ações políticas
O trecho acima parte de uma pressuposição que o próprio autor con- quanto de mutações sociais, tanto da vida dos povos quanto da de
testa: a de que existiria uma maneira restrita de definir a literatura.
seus indivíduos.
Identifique outro exemplo do primeiro parágrafo que contenha
Se aceitarmos essa finalidade para o ensino literário, o qual
uma pressuposição e explique em que ela consiste.
não serviria mais unicamente à reprodução dos professores
2. (UERJ) O autor afirma que a literatura é fator indispen- de Letras, podemos facilmente chegar a um acordo sobre o
sável de humanização e, sendo assim, confirma o homem na
espírito que o deve conduzir: é necessário incluir as obras no
sua humanidade, (ref. 4).
grande diálogo entre os homens, iniciado desde a noite dos
tempos e do qual cada um de nós, por mais ínfimo que seja,
Cite dois argumentos que ele apresenta no texto para chegar a
ainda participa. “É nessa comunicação inesgotável, vitoriosa
essa conclusão.
do espaço e do tempo, que se afirma o alcance universal da
literatura”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos, nos cabe
E.O. Objetivas transmitir às novas gerações essa herança frágil, essas pala-
vras que ajudam a viver melhor.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2. ed. Trad. Caio
Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
1.(Unesp) Ter como professores Shakespeare e Sófocles, Dostoievski
A literatura em perigo e Proust não é tirar proveito de um ensino excepcional?

A análise das obras feita na escola não deveria mais ter por ob- Esta questão levantada por Todorov, no contexto do terceiro pa-
jetivo ilustrar os conceitos recém-introduzidos por este ou aquele
rágrafo, significa:
linguista, este ou aquele teórico da literatura, quando, então, os
textos são apresentados como uma aplicação da língua e do dis- a) O conhecimento enciclopédico desses autores, ma-
curso; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter acesso ao sentido nifestado em suas obras, equivale a um verdadeiro cur-
dessas obras — pois postulamos que esse sentido, por sua vez, nos so universitário.
conduz a um conhecimento do humano, o qual importa a todos. b) Por se tratar de autores de nacionalidades e épocas
Como já o disse, essa ideia não é estranha a uma boa parte do pró- diferentes, a leitura de suas obras traz conhecimentos
prio mundo do ensino; mas é necessário passar das ideias à ação. importantes sobre seus respectivos países.

101
c) Esses autores escreveram com a intenção funda- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
mental de passar ensinamentos para seus contempo-
râneos e a posteridade. TEXTO I
d) A leitura das obras desses autores, que focalizam ad- Ao longo do sereno
miravelmente o homem e o humano, seria de excepcio- Tejo, suave e brando,
nal utilidade para os estudantes de relações humanas. Num vale de altas árvores sombrio,
e) A leitura desses autores não acrescenta nada de Estava o triste Almeno
excepcional ao ensino. Suspiros espalhando
Ao vento, e doces lágrimas ao rio.
2. (Unesp) No segundo parágrafo do fragmento apresenta-
do, Todorov afirma que Todos os “métodos” são bons, desde Luís de Camões, Ao longo do sereno.
que continuem a ser meios, em vez de se tornarem fins em si TEXTO II
mesmos.
Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas,
O autor defende, com essa afirmação, o argumento segundo o so aqueste ramo destas auelanas
qual o verdadeiro valor de um método de análise literária e quen for louçana, como nós, louçanas,
a) consiste em ser exato e perfeito, superior a todos se amigo amar,
os demais. so aqueste ramo destas auelanas
b) está em ser completo: quando terminar a análise, uerrá baylar.
nada mais deve restar a explicar. Aires Nunes. In Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.
c) consiste em servir de instrumento adequado à análise
TEXTO III
e interpretação da obra.
d) reside no fato de que, depois de aplicado, deve ser Tão cedo passa tudo quanto passa!
substituído por outro melhor. morre tão jovem ante os deuses quanto
e) é mostrar mais suas próprias virtudes que as da obra Morre! Tudo é tão pouco!
focalizada. Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
3. (Unesp) Observe as seguintes opiniões referentes ao ensino de
E cala. O mais é nada.
literatura.
Fernando Pessoa, Obra poética.
I. O estudo de obras literárias na escola tem como objetivo fun-
damental ensinar os fundamentos da Linguística.
TEXTO IV
II. A análise das obras feita na escola deve levar o estudante a ter Os privilégios que os Reis
acesso ao sentido dessas obras. Não podem dar, pode Amor,
III. O objetivo do ensino da literatura na escola não é formar Que faz qualquer amador
teóricos da literatura. Livre das humanas leis.
IV. De nada adianta a leitura das obras literárias sem a prévia mortes e guerras cruéis,
fundamentação das teorias literárias. Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve.
Das quatro opiniões, as que se enquadram na argumentação ma-
nifestada por Todorov em seu texto estão contidas apenas em: Luís de Camões, Obra completa.

a) I e II. TEXTO V
b) I e III. As minhas grandes saudades
c) II e III. São do que nunca enlacei.
d) I, II e III. Ai, como eu tenho saudades
e) II, III e IV. Dos sonhos que não sonhei!...)
Mário de Sá Carneiro, Poesias.
4. (Unesp) Que melhor introdução à compreensão das paixões e
dos comportamentos humanos do que uma imersão na obra dos
5. (Unifesp) A alternativa que indica textos de épocas literárias
grandes escritores que se dedicam a essa tarefa há milênios? diferentes, mas de métrica uniforme e idêntica, é
Com base no fato de que a palavra “imersão”, usada na ex-
a) I e II.
pressão uma imersão na obra, caracteriza uma metáfora, in-
b) II e III.
dique a alternativa que elimina essa metáfora sem perda rele-
c) II e V.
vante de sentido:
d) III e IV.
a) uma imitação da obra. e) IV e V.
b) uma paráfrase da obra.
c) uma censura da obra.
d) uma transformação da obra.
e) uma leitura da obra.

102
E.O. Dissertativas contar estórias minuciosas e detalhadas de outros tempos. Já o
traço “lírico” é construído a partir de uma perspectiva subjetiva,

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) atrelada às emoções.


3. A condição fundamental do texto está pautada na ideia de
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: infelicidade, tristeza e angústia.

A questão a seguir toma por base uma Tragédia em um Ato, assi- 4. O texto pertence ao gênero lírico.
nada pelo escritor, tradutor e desenhista Millôr Fernandes (1924), 5. Gênero lírico. A temática abordada parte de um “eu” e nela seu
e publicada pela primeira vez em “O pif-paf” (O CRUZEIRO, 1945). estado subjetivo se vale de uma emoção, de um estado da alma.
O CAPITALISMO MAIS REACIONÁRIO 6. Gênero dramático. Os personagens estabelecem diálogo por
meio de suas falas, as rubricas. Há ausência de narrador.
Tragédia em um ato
Personagens - o patrão e o empregado 7. Gênero narrativo. Há um narrador que conta uma história.
Época - atual Além disso, há uma menção a estruturas básicas deste gênero:
personagens, espaço e tempo.
ATO ÚNICO
8. a) A amizade é mais valorizada que o amor, porque logo nos
Empregado - Patrão, eu queria lhe falar seriamente. Há quarenta primeiros versos o eu poético lamenta as desilusões amorosas
anos que trabalho na empresa e até hoje só cometi um erro. sofridas quando ainda jovem. Por outro lado, a amizade repre-
Patrão - Está bem, meu filho, está bem. Mas de agora em diante senta o amor sem cobranças, sincero, sem medo de ser traído.
tome mais cuidado. Representa a estabilidade amorosa, o acolhimento e a aceitação.
(Pano bem rápido)
b) Trata-se do gênero lírico.
(In: FERNANDES, Millôr. TRINTA ANOS DE MIM
MESMO. Rio de Janeiro: Nórdica, 1974, p. 15). 9. Lírico. Centralidade do eu lírico na construção do poema, pre-
domínio do tom intimista, criação de uma atmosfera emocional
1. (Vunesp) A tragédia, no sentido clássico, é uma obra fortemente dra- e fusão do sujeito com o objeto.
mática, inspirada na lenda ou na história, e que põe em cena personagens
envolvidos em situações que desencadeiam desgraças. Em sua função
poética, destina-se também a infundir o terror e a piedade. Consideran-
E.O. Enem
do essa definição, releia o texto de Millôr Fernandes e, a seguir: 1. C 2. B

• interprete por que apenas esse diálogo entre os dois persona-


gens poderia caracterizar uma tragédia, segundo o autor; e
E.O. UERJ
Exame de Qualificação
• interprete um sentido conotativo da expressão “meu filho”,
1. C 2. C 3. C
nas palavras do personagem patrão.

E.O. UERJ
Gabarito Exame Dissertativo
1. O trecho em que o autor menciona e se refere a uma definição
E.O. Aprendizagem estrita de literatura é: desde o que chamamos de folclore, lenda, até
1. B 2. C 3. B 4. A 5. C as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes
civilizações. A menção a formas mais complexas e difíceis da produ-
6. A 7. C 8. C 9. C 10. C ção escrita pressupõe que as que foram mencionadas anteriormente,
como o folclore e a lenda, são formas simples ou menos complexas.
E.O. Fixação 2. Dois dos argumentos:
1. V-V-F-F 2. B 3. C 4. B • literatura aparece claramente como manifestação universal
de todos os homens em todos os tempos.
5. B 6. C
• Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto
E.O. Complementar é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma
espécie de fabulação.
1. B 2. C 3. C
• assim como não é possível haver equilíbrio psíquico sem o

E.O. Dissertativo sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem
a literatura.
1. A lembrança a que o eu poético faz alusão é o “prato azul-
• Cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais, poé-
-pombinho”.
ticas e dramáticas de acordo com os seus impulsos, as suas
2. O traço “épico” se constrói pelo ato de a bisavó contar e re- crenças, os seus sentimentos, as suas normas.

103
E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. D 2. C 3. C 4. E 5. E

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.O diálogo poderia caracterizar tragédia, uma vez que se centra
em um conflito a partir de uma situação que pode desencadear
desgraça. A sensibilidade do leitor pode recair sobre o terror e a
piedade após o contato com a cena. No sentido conotativo, a ex-
pressão “meu filho” por parte do patrão demonstra uma postura
paternalista assumida por ele.

104
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. UERJ


EXAME DE QUALIFICAÇÃO
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 2.3
1 1
2 2.2
2 1
3 2.2
3 1.1
4 2.2
5 2.2
E.O. UERJ
6 2.2 EXAME DE DISCURSIVO
7 2.2 e 2.4 Exercícios Códigos
8 2.1 a 2.3 1 1.1
9 2.3 2 1.1
10 2.4
E.O. OBJETIVAS
E.O. FIXAÇÃO (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
Exercícios Códigos Exercícios Códigos
1 1.2 1 1.1
2 1.2 2 1.1
3 2.4 3 1
4 2.1 a 2.3 4 1.1
5 2.2 5 2.2
6 1.1
E.O. DISSERTATIVAS
E.O. COMPLEMENTAR (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)

Exercícios Códigos Exercícios Códigos


1 1.1 1 2.3
2 1.1
3 1.1

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 2.2
2 2.1 e 2.2
3 2.2
4 2.2
5 2.2
6 2.3
7 2.4
8 2.2
9 2.2

E.O. ENEM
Exercícios Códigos
1 1.2
2 1.1

105
Trovadorismo: a literatura
AULAS
da Idade Média
3e4
Competência: 5 Habilidades: 15, 16 e 17

E.O. Aprendizagem Interprete o comentário acima e, com base nele e em seus conhe-
cimentos acerca do lirismo medieval galego-português, marque a
alternativa correta:
1. É correto afirmar sobre o Trovadorismo que:
a) as cantigas de amor recriaram o mesmo ambiente
a) os poemas são produzidos para ser encenados.
palaciano das cortes galegas.
b) as cantigas de escárnio e maldizer têm temáticas amo-
b) “a literatura do amor cortês” refletiu a verdade so-
rosas.
bre a vida privada medieval.
c) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre feminino.
c) a servidão amorosa e a idealização da mulher foi o
d) as cantigas de amigo têm estrutura poética complicada.
grande tema da poesia produzida por vilões.
e) as cantigas de amor são de origem nitidamente popular.
d) o amor cortês foi uma prática literária que aos pou-
2. Leia atentamente o texto abaixo. cos modelou o perfil do homem civilizado.
e) nas cantigas medievais mulheres e homens subme-
Com’ousará parecer ante mi tem-se às maneiras refinadas da cortesia.
o meu amigo, ai amiga, por Deus,
e com’ousará catar estes meus TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
olhos se o Deus trouxer per aqui,
pois tam muit’há que nom veo veer ]Cantiga de Amor[
mi e meus olhos e meu parecer? Senhora minha, desde que vos vi,
Com’ousará parecer ante mi, de Dom Dinis. lutei para ocultar esta paixão
Disponível em: <http://pt.wikisource.org/wiki/ que me tomou inteiro o coração;
Com%27ousar%C3%A1_parecer_ante_mi>. mas não o posso mais e decidi
Acesso em: 5 dez. 2012.
que saibam todos o meu grande amor,
per = por; tam= tão; nom = não; veer = ver; mi = mim, me a tristeza que tenho, a imensa dor
parecer = semblante que sofro desde o dia em que vos vi.
Já que assim é, eu venho-vos rogar
Sobre o fragmento anterior, pode-se afirmar que pertence a uma que queirais pelo menos consentir
cantiga de: que passe a minha vida a vos servir (...)
a) amor, pois o eu lírico masculino declara a uma amiga Afonso Fernandes Disponível em:<
www.caestamosnos.org/ efemerides/118>.
o sentimento de amor que tem por ela.
b) amigo, pois o eu lírico feminino expressa a uma amiga 4. Observando-se a última estrofe, é possível afirmar que
a falta de seu amigo por quem sente amor. o apaixonado:
c) amor, pois o eu lírico é feminino e acha que seu amor a) se sente inseguro quanto aos próprios sentimentos.
não deve voltar para os seus braços.
b) se sente confiante em conquistar a mulher amada.
d) amigo, pois o eu lírico masculino entende que só c) se declara surpreso com o amor que lhe dedica a mu-
Deus pode trazer de volta sua amiga a quem não vê lher amada.
há muito tempo.
d) possui o claro objetivo de servir sua amada.
e) amor, pois o eu lírico feminino não consegue enxergar
e) conclui que a mulher amada não é tão poderosa quan-
o amor que sente por seu amigo.
to parecia a princípio.
3. “A literatura do amor cortês, pode-se acrescentar, contri- 5. Uma característica desse fragmento, também presente em ou-
buiu para transformar de algum modo a realidade extraliterá-
tras cantigas de amor do Trovadorismo, é:
ria, atua como componente do que Elias (1994)* chamou de
processo civilizador. Ao mesmo tempo, a realidade extralite- a) a certeza de concretização da relação amorosa.
rária penetra processualmente nessa literatura que, em parte, b) a situação de sofrimento do eu lírico.
nasceu como forma de sonho e de evasão.” c) a coita de amor sentida pela senhora amada.
d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico.
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC,
v. 41, n. 1 e 2, p. 83-110 Cf. ELIAS, N. O Processo e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre pessoas
Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, v.1. de camadas distintas da sociedade.

106
6. (G1 - ifsp) Assinale a alternativa correta no que se refere às 10. As narrativas que envolvem as lutas dos cruzados envolvem
cantigas de amor trovadorescas. sempre um herói muito engajado na luta pela cristandade, podendo

a) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino lamen- ser a um só tempo frágil e forte, decidido e terno, furioso e cortes.

ta a ausência da mulher amada, que lhe é indiferente No entanto, com relação à mulher amada, esse herói é sempre:
e que, por mais que seja vista por ele como superior, a) indiferente.
pertence às classes populares. b) infiel.
b) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino manifes- c) devotado.
ta insistentemente a coita, isto é, o sofrimento de amor,
d) indelicado.
repleto de impulsos eróticos que lhe laceram o corpo e
que conferem aos poemas uma aura sardônica. e) ausente.
c) Nas cantigas de amor, o eu lírico feminino manifesta a

E.O. Fixação
falta que sente do amigo – isto é, do homem amado –
invocando-o por meio de composições de matriz popular
que se caracterizam por construções paralelísticas.
d) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino confessa
a coita, isto é, o sofrimento amoroso por uma dama TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES
que lhe é inacessível devido à diferença social que exis- Texto I
te entre ele e ela.
e) Nas cantigas de amor, a distância social existente Ondas do mar de Vigo,
entre o eu lírico masculino e a mulher amada a quem se vistes meu amigo!
ele se dirige permite entrever que já grassava na so- E ai Deus, se verrá cedo!
ciedade portuguesa a ascensão social pelo trabalho. Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
7. Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO E ai Deus, se verrá cedo!
afirmar que:
(Martim Codax)
a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teo-
centrismo, o feudalismo e valores altamente moralistas. Obs.: verrá = virá; levado = agitado
b) representou um claro apelo popular à arte, que passou
a ser representada por setores mais baixos da sociedade. Texto II
c) pode ser dividida em lírica e satírica. Me sinto com a cara no chão, mas a verdade precisa
d) em boa parte de sua realização, teve influência pro- ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu ignorava
vençal.
a admirável forma lírica da canção paralelística
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trova-
(…).
dores, expressam o eu lírico feminino.
O “Cantar de amor” foi fruto de meses de leitura
8. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas
dos cancioneiros. Li tanto e tão seguidamente aquelas
de amor.
deliciosas cantigas, que fiquei com a cabeça
a) O ambiente é rural ou familiar.
cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”;
b) O trovador assume o eu lírico masculino: é o ho-
mem quem fala. sonhava com as ondas do mar de Vigo e com romarias
c) Têm origem provençal. a San Servando. O único jeito de me livrar da
d) Expressam a “coita” amorosa do trovador, por amar obsessão era fazer uma cantiga.
uma dama inacessível. (Manuel Bandeira)
e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente
a uma categoria social mais elevada que a do trovador. 1. Assinale a afirmativa correta sobre o texto I.
a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino mani-
9. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito do Trovadoris-
festa a Deus seu sofrimento amoroso.
mo em Portugal:
b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-
a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação entre -se a Deus para lamentar a morte do ser amado.
a poesia e a música.
c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino ma-
b) Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em
nifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do
livros ou coletâneas que receberam o nome de can-
cioneiros. amigo em trágico naufrágio.
c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do relaciona- d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino di-
mento entre senhor e vassalo na sociedade feudal: rige-se às ondas do mar para expressar sua solidão.
distância e extrema submissão. e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino diri-
d) Nas cantigas de amigo, o trovador (sempre um ho- ge-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade
mem) escreve o poema assumindo o papel feminino. com relação à volta do amado.

107
2. No texto II, o autor: Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
a) manifesta sua resistência à obrigatoriedade de ler tex- Quem jamais a esquece não pode reconhecer
tos medievais durante o período de formação acadêmica. [...]
b) utiliza a expressão “cabeça cheia” para depreciar as Chico Buarque
formas linguísticas do galaico-português, como “mha
senhor” e “nula ren”. A cantiga do rei D. Dinis, adaptada por Natália Correia, e a can-
ção de Chico Buarque de Holanda expressam a seguinte caracte-
c) relata circunstâncias que o levaram a compor um
rística trovadoresca:
poema que recupera a tradição medieval.
d) emprega a palavra “cancioneiros” em substituição a a) a vassalagem do trovador diante da mulher amada
“poetas”, uma vez que os textos medievais eram cantados. que se encontra distante.
e) usa a expressão “deliciosas cantigas” em sentido b) a idealização da mulher como símbolo de um amor
profundo e universal.
irônico, já que os modernistas consideraram medíocres
os estilos do passado. c) a personificação do samba como um ser que busca
a plenitude amorosa.
3. Marque V, para verdadeiro, e F, para falso. d) a possibilidade de realização afetiva do trovador
em razão de estar próximo da pessoa amada.
( ) As cantigas de maldizer e de escárnio pertencem à lírica tro-
vadoresca. 5. Endechas à escrava Bárbara
( ) As cantigas de amigo possuem um ambiente palaciano e o eu Aquela cativa,
lírico é feminino, apesar de serem escritas por homem. que me tem cativo
( ) As cantigas de amor possuem um ambiente palaciano e suas ca- porque nela vivo,
racterísticas principais são a vassalagem amorosa e a coita de amor. já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
( ) A canção da Ribeirinha iniciou o trovadorismo português.
em suaves molhos,
( ) As cantigas de amigo, em geral, possuem um eu lírico feminino, que para meus olhos
apesar de serem escritas por homens. A temática principal, quase fosse mais formosa.
sempre, é o sofrimento da mulher pelo amado que partiu. Uma graça viva,
que neles lhe mora,
4. (Ueg) Senhora, que bem pareceis! para ser senhora
Se de mim vos recordásseis de quem é cativa.
que do mal que me fazeis
Pretos os cabelos,
me fizésseis correção,
onde o povo vão
quem dera, senhora, então
perde opinião
que eu vos visse e agradasse.
que os louros são belos.
Ó formosura sem falha Pretidão de Amor,
que nunca um homem viu tanto tão doce a figura,
para o meu mal e meu quebranto! que a neve lhe jura
Senhora, que Deus vos valha! que trocara a cor.
Por quanto tenho penado Leda mansidão
seja eu recompensado
que o siso acompanha;
vendo-vos só um instante.
bem parece estranha,
De vossa grande beleza mas bárbara não.
da qual esperei um dia
endechas = versos em redondilha menor (cinco sílabas); molhos =
grande bem e alegria,
feixes; leda = risonha; Vão = fútil.
só me vem mal e tristeza.
Sendo-me a mágoa sobeja, Em sua obra, Camões continua a tradição da conduta amorosa
deixai que ao menos vos veja
das cantigas medievais. Nela, a mulher amada era considerada:
no ano, o espaço de um dia.
a) responsável pelas contradições e insatisfações do homem.
Rei D. Dinis
b) símbolo do amor erótico.
CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego- c) incapaz de levar o homem a atingir o Bem.
portugueses. Seleção, introdução, notas e adaptação de d) um ser impuro e prejudicial ao homem.
Natália Correia. 2. ed. Lisboa: Estampa, 1978. p. 253.
e) uma pessoa superior, fonte de virtudes.
Quem te viu, quem te vê
6. Senhor feudal
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala Se Pedro Segundo
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua Vier aqui
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua Com história
Hoje o samba saiu procurando você Eu boto ele na cadeia.
Quem te viu, quem te vê (Oswald de Andrade)

108
O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade Média. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Nele, assim como nas cantigas de amor, a ideia de poder retoma
o conceito de:
Ondas do mar de Vigo

a) fé religiosa. Ondas do mar de Vigo,


se vistes meu amigo?
b) relação de vassalagem.
e ai Deus, se verrá cedo?
c) idealização do amor.
d) saudade de um ente distante. Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
e) igualdade entre as pessoas.
e ai Deus, se verrá cedo?
7. (IFSP) A poesia do Trovadorismo português tem íntima rela- Se vistes meu amigo,
ção com a música, pois era composta para ser entoada ou cantada, o por que eu sospiro?
sempre acompanhada de instrumental, como o alaúde, a viola, a e ai Deus, se verrá cedo?
flauta, ou mesmo com a presença do coro.
Se vistes meu amado,
A respeito dessa escola literária, assinale a alternativa correta. o por que hei gram coidado?
a) Os principais trovadores utilizavam a guitarra elé- e ai Deus, se verrá cedo?
Obs.: verrá: virá
trica para acompanhar a exibição.
Martim Codax
b) As composições dividem-se em dois grandes gru-
pos: líricas e satíricas. 9. (Mackenzie) Pode-se afirmar que pertence ao mesmo tipo de
poema trovadoresco de “Ondas do mar de Vigo” APENAS a al-
c) Os principais trovadores são: Padre Antônio Vieira
ternativa:
e Camões.
d) O Trovadorismo é uma escola literária contemporânea. a) Dona fea, nunca vos eu loei/en meu trobar, pero muito
e) São exemplos de Cantigas Satíricas as Cantigas de trobei;/mais ora já un bon cantar farei,/en que vos loarei
Amor e de Amigo. toda via;/e direi-vos como vos loarei:/dona fea, velha e
sandia! (Joan Garcia de Guilhade)
8. (ESPM) O amor cortês foi um gênero praticado desde os tro- b) Quer’eu en maneira provençal/fazer agora un cantar
vadores medievais europeus. Nele a devoção masculina por uma
d’amor/e querrei muit’i loar mia senhor, a que prez nem
figura feminina inacessível foi uma atitude constante. A opção
fremusura non fal,/nem bondade, e mais vos direi en:
tanto fez Deus comprida de ben/que mais que todas las
cujos versos confirmam o exposto é:
do mundo val. (D. Dinis)
a) Eras na vida a pomba predileta c) A melhor dona que eu nunca vi,/per bõa fé, nem que
(...) Eras o idílio de um amor sublime. oí dizer,/ e a que Deus fez melhor parecer,/mia senhor
Eras a glória, – a inspiração, – a pátria, est, e senhor das que vi,/ de mui bom preço e de mui
O porvir de teu pai! bom sem,/per bõa fé, e de tod’outro bem, de quant’eu
nunca doutra dona oí. (Fernão Garcia Esgaravunha)
(Fagundes Varela)
d) Quantos ham gram coita d’amor/eno mundo, qual
b) Carnais, sejam carnais tantos desejos, hoj’eu hei,/ querriam morrer, eu o sei,/e haveriam en sa-
Carnais sejam carnais tantos anseios, bor;/mais, mentr’eu vos vir, mia senhor,/ sempre m’eu quer-
Palpitações e frêmitos e enleios ria viver/ e atender e atender. (João Garcia de Guilhade)
Das harpas da emoção tantos arpejos... e) Que coita tamanha ei a sofrer,/por amar amigu’e non o
(Cruz e Sousa) ver!/E pousarei sô lo avelanal. (Nuno Fernandes Torneol)
c) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, 10. (G1 - ifsp) Inspiradas na poesia provençal, as cantigas tro-
Que o espírito enlaça à dor vivente, vadorescas são consideradas as primeiras manifestações literárias
Não derramem por mim nenhuma lágrima portuguesas. O movimento literário em que elas surgiram ficou
Em pálpebra demente. conhecido como Trovadorismo. Sobre o Trovadorismo, assinale
a alternativa correta.
(Álvares de Azevedo)
d) Em teu louvor, Senhora, estes meus versos a) As cantigas trovadorescas foram transmitidas
E a minha Alma aos teus pés para cantar-te, apenas em cópias e recolhidas somente em duas
importantes antologias, denominadas Cancionei-
E os meus olhos mortais, em dor imersos,
ros, únicos documentos que restam para o conhe-
Para seguir-lhe o vulto em toda a parte.
cimento do Trovadorismo: Cancioneiro da Ajuda e
(Alphonsus de Guimaraens) Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
b) O Trovadorismo foi um movimento artístico literá-
e) Que pode uma criatura senão,
rio que predominou no século XVII, na Europa. Esse
entre criaturas, amar? estilo surgiu em Roma, na Itália, se expandiu por ou-
amar e esquecer tros países da Europa, como Portugal, logo após seu
amar e malamar, surgimento, mas foi na Espanha que ele se tornou
amar, desamar, amar? vigoroso.
(Manuel Bandeira) c) Em Portugal, as cantigas trovadorescas são classifi-

109
cadas em cantigas líricas (cantigas de amor e cantigas 2. (Faap) Releia com atenção a última estrofe:
de amigo) e cantigas satíricas (cantigas de escárnio e
cantigas de maldizer). “Fez-se de amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
d) No Trovadorismo, o pensamento religioso, es-
De repente, não mais que de repente”.
piritualista, predominante na época, numa visão
teocentrista (em que Deus, do grego Teos, está Tomemos a palavra AMIGO. Todos conhecem o sentido com que
no centro das preocupações humanas), dá lugar a esta forma linguística é usualmente empregada no falar atual.
uma visão antropocentrista (em que o homem, do Contudo, na Idade Média, como se observa nas cantigas medie-
grego anthropos, está no centro das realizações do vais, a palavra AMIGO significou:
universo humano). a) colega
e) As características formais e temáticas das cantigas b) companheiro
de amigo eram: influência das cantigas provençais, c) namorado
originárias do sul da França; eu lírico masculino que d) simpático
evoca a mulher amada usando a forma de tratamen-
e) acolhedor
to “Minha senhora” (“Mia senhor”, “Mia dona”);
exaltação das virtudes da beleza da amada inatingí- 3. Assinale a afirmação falsa sobre as cantigas de escárnio e

vel; e predomínio do sentimento amoroso. mal dizer:

a) A principal diferença entre as duas modalidades

E.O. Complementar
satíricas está na identificação ou não da pessoa atin-
gida.
b) O elemento das cantigas de escárnio não é temáti-
1. Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo. co, nem está na condição de se omitir a identidade do
a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de ofendido. A distinção está no retórico do “equívoco”,
época é a exaltação do amor sensual entre nobres e da ambiguidade e da ironia, ausentes na cantiga de
mulheres camponesas. maldizer.
b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e re- c) Os alvos prediletos das cantigas satíricas eram os
fletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura comportamentos sexuais (homossexualidade, adultério,
antropocêntrica. padres e freiras libidinosos), as mulheres (soldadeiras,
c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda prostitutas, alcoviteiras e dissimuladas), os próprios
a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Re- poetas (trovadores e jograis eram frequentemente ridi-
cularizados), a avareza, a corrupção e a própria arte de
nascença, época em que alcançou níveis estéticos
trovar.
insuperáveis.
d) As cantigas satíricas perfazem cerca de uma quarta par-
d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas
te da poesia contida nos cancioneiros galego-portugueses.
a função de produzir efeito musical, como também a
Isso revela que a liberdade da linguagem e a ausência de
função de facilitar a memorização, já que as composi-
preconceito ou censura (institucional, estética ou pessoal)
ções eram transmitidas oralmente. eram componentes da vida literária no período trovadores-
e) Tanto no plano temático como no plano expressivo, co, antes de a repressão inquisitorial atirá-las à clandesti-
esse estilo de época absorveu a influência dos padrões nidade.
estéticos greco-romanos.
4. Nas cantigas de amor:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) o trovador expressa um amor à mulher amada, en-
SONETO DE SEPARAÇÃO carando-a como um objeto acessível a seus anseios.
De repente do riso fez-se o pranto b) o trovador velada ou abertamente ironiza persona-
Silencioso e branco como a bruma gens da época.
E das bocas unidas fez-se a espuma c) o “eu-lírico” é feminino, expressando a saudade da
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. ausência do amado.
d) o poeta pratica a vassalagem amorosa, pois, em
De repente da calma fez-se o vento
postura platônica, expressa seu amor à mulher amada.
Que dos olhos desfez a última chama
e) existe a expressão de um sentimento feminino,
E da paixão fez-se o pressentimento
apesar de serem escritas por homens.
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(Vinícius de Morais)

110
E.O. Dissertativo b) A pessoa, que “fala” na música, é um homem ou
uma mulher? Justifique.
1. Os textos abaixo são de cantigas medievais e foram adaptados
para o português atual. Identifique cada uma de acordo com as
características das cantigas de amor, de amigo, de escárnio ou
E.O. Objetivas
de maldizer.

a) A dona que eu sirvo e que muito adoro mostrai-ma,


(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
ai Deus! pois eu vos imploro se não, dai-me a morte. 1. (Unifesp) Leia a cantiga seguinte, de Joan Garcia de Guilhade.
(Bernardo de Bonaval)
Un cavalo non comeu
b) Trovas não fazeis como provençal mas como Ber- á seis meses nen s’ergueu
nardo, o de Bonaval. O vosso trovar não é natural. mais prougu’a Deus que choveu,
Ai de vós, com ele e o Demo aprendestes. creceu a erva,
Em trovardes mal, vejo eu o sinal das loucas ideias em e per cabo si paceu,
que empreendestes. Por isso, D. Pero, em Vila-Real, e já se leva!
Fatal foi a hora em que tanto bebestes. Seu dono non lhi buscou
(D. Afonso X, o Sábio) cevada neno ferrou:
c) Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes no- mai-lo bon tempo tornou,
vas do meu amado? Ai, Deus, onde ele está? creceu a erva,
e paceu, e arriçou,
(D. Dinis)
e já se leva!
d) Ai, dona feia, foste-vos queixar de que nunca vos Seu dono non lhi quis dar
louvei em meu trovar; e umas trovas vos quero dedi- cevada, neno ferrar;
car em que louvada de toda maneira sereis; tal é o mais, cabo dum lamaçal
meu louvar: dona feia, velha e sandia! creceu a erva,
(João Garcia de Guilhade) e paceu, e arriç’ar,
e já se leva!
2. “Ua dona, nom digu’eu qual,
non agoirou ogano mal (CD Cantigas from the Court of Dom Dinis.
harmonia mundi, usa, 1995.)
polas oitavas de Natal:
ia por as missa oir e
A leitura permite afirmar que se trata de uma cantiga de:
ouv’un corvo carnaçal,
e non quis da casa sair...” a) escárnio, em que se critica a atitude do dono do ca-
valo, que dele não cuidara, mas graças ao bom tempo
(Joan Airas de santiago, século XIII) e à chuva, o mato cresceu e o animal pôde recupe-
O fragmento acima pertence a uma cantiga de escárnio. Por que rar-se sozinho.
não pode ser classificado como uma cantiga de maldizer? b) amor, em que se mostra o amor de Deus com o ca-
valo que, abandonado pelo dono, comeu a erva que
3. Leia a música e responda as questões. cresceu graças à chuva e ao bom tempo.
c) escárnio, na qual se conta a divertida história do
ATRÁS DA PORTA cavalo que, graças ao bom tempo e à chuva, alimen-
tou-se, recuperou-se e pôde, então, fugir do dono que
Quando olhaste bem nos olhos meus
o maltratava.
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei d) amigo, em que se mostra que o dono do cavalo não
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei lhe buscou cevada nem o ferrou por causa do mau
E me arrastei e te arranhei tempo e da chuva que Deus mandou, mas mesmo as-
E me agarrei nos teus cabelos sim o cavalo pôde recuperar-se.
Nos teu peito, teu pijama e) mal-dizer, satirizando a atitude do dono que ferrou
Nos teus pés ao pé da cama o cavalo, mas esqueceu-se de alimentá-lo, deixando-o
Sem carinho, sem coberta entregue à própria sorte para obter alimento.
No tapete atrás da porta 2. (Fuvest) Sobre o Trovadorismo em Portugal, é correto afir-
Reclamei baixinho mar que:
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar a) sua produção literária está escrita em galego ou
E me vingar a qualquer preço galêgo-português e divide-se em: poesia (cantigas) e
Te adorando pelo avesso prosa (novelas de cavalaria).
Pra mostrar que ainda sou tua b) utilizou largamente o verso decassílabo por- que
sua influência é clássica.
(Chico Buarque)
c) a produção poética daquela época pode ser dividida
a) Quais os sentimentos que podemos ver nessa música? em lírico-amorosa e prosa doutrinária.

111
d) as cantigas de amigo têm influência provençal. Irias com ele por sombra e perigo?
e) a prosa trovadoresca tinha claro objetivo de divertir a Irias à bailia sem teu amigo,
nobreza, por isso têm cunho satírico. Se ele não pudesse ir bailar contigo?
3. (Fuvest) O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala:
Irias com ele se te houvessem dito
Que o amigo que amavas é teu inimigo?
a) tem concepções clássicas do fazer poético.
Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
b) é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmen-
Irias sem ele, e sem anel de vidro?
te, é erudita.
Irias à bailia, já sem teu amigo,
c) estabeleceu-se num longo período que dura 10 séculos.
E sem nenhum suspiro?
d) tinha como concepção poética a epopeia, a louva-
ção dos heróis.
Meireles, Cecília. Poesias completas de Cecília Meireles.
e) reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor. v.8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

E.O. Dissertativas
2. (Unesp) A leitura da cantiga de Airas Nunes e do poema “Con-
fessor Medieval”, de Cecília Meireles, revela que este poema,

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta
intencionalmente algumas características da poesia trovadores-
ca, como o tipo de verso e a construção baseada na repetição e
1. (Fuvest) “Coube ao século XIX a descoberta surpreendente da no paralelismo.
nossa época lírica. Em 1904, com a edição crítica e comentada do
Cancioneiro da Ajuda, por Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Releia com atenção os dois textos e, em seguida estabeleça as
tivemos grande visão de conjunto do valiosíssimo espólio desco-
identidades que há entre o terceiro verso da cantiga de Airas
berto.” (Costa Pimpão)
Nunes e o terceiro verso do poema de Cecília Meireles no que diz
a) Qual é essa “primeira época lírica” portuguesa? respeito ao número de sílabas e às posições dos acentos.
b) Que tipos de composições poéticas se cultivam
nessa época? 3. (Unesp) Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles
verificam-se diferentes personagens: um eu-poemático, que assume
As questões 2 e 3 tomam por base uma cantiga do trovador ga- a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige.
lego Airas Nunes, de Santiago (século XIII), e o poema Confessor Com base nesta informação, releia os dois poemas e, a seguir,
Medieval, de Cecília Meireles (1901-1964). indique o interlocutor ou interlocutores do eu-poemático em cada
um dos textos.
Cantiga
Bailemos nós já todas três, ai amigas, TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
So aquestas avelaneiras frolidas [floridas],
E quem for velida [formosa], como nós, velidas, Sedia la fremosa seu sirgo torcendo
Se amigo amar,
So aquestas [estas] avelaneiras frolidas Sedia lafremosa seu sirgo torcendo,
Verrá [virá] bailar. Sa voz manselinhafremoso dizendo
Bailemos nós já todas três, ai irmanas [irmãs], Cantigas d'amigo.
So aqueste [este] ramo destas avelanas,
Sedia lafremosa seu sirgo lavrando,
E quem for louçana, como nós, louçanas [formosa],
Sa voz manselinhafremoso cantando
Se amigo amar, Cantigas d'amigo.
So aqueste ramo destas avelanas [avelaneiras]
Verrá bailar. - Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes
Por Deus, ai amigas, mentr’al [enquanto outras coisas] non fazemos, Amor muycoytado que tanbendizedes
So aqueste ramo frolido bailemos, Cantigas d'amigo.
E quem bem parecer [tiver belo aspecto], como nós parecemos
Se amigo amar, Par Deus de Cruz, dona, sey que andades
D'amor muycoytada que tanbencantades
So aqueste ramo so lo que bailemos
Cantigas d'amigo.
Verrá bailar.
Santiago, Airas Nunes de. In: SPINA, Segismundo. - Avuytor comestes, que adevinhades.
Presença da Literatura Portuguesa – I. Era Medieval. 2.
ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.
Estêvão Coelho
Confessor Medieval (1960)
(Cantiga nº. 321 - CANC. DA VATICANA.)
Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo [seda]?
Se te dera apenas um anel de vidro

112
4. (Unesp) Considerando-se que o último verso da cantiga ca-
racteriza um diálogo entre personagens; considerando-se que a
E.O. Objetivas
palavra “abutre” grafava-se “avuytor”, em português arcaico; e (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
considerando-se que, de acordo com a tradição popular da época,
1. A 2. A 3. E
era possível fazer previsões e descobrir o que está oculto, comen-
do carne de abutre, mediante estas três considerações:

a) Identifique o personagem que se expressa em dis- E.O. Dissertativas


curso direto, no último verso do poema;
b) Interprete o significado do último verso, no contex-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
to do poema. 1. a) O Trovadorismo.

5. (Unesp) O paralelismo é um dos recursos estilísticos mais b) As cantigas líricas e satíricas.


comuns na poesia lírico-amorosa trovadoresca. Consiste na s3. O eu lírico feminino na cantiga se dirige a duas moças (ami-
ênfase de uma ideia central, às vezes repetindo expressões gas e irmãs), estabelecendo com elas interlocução de sua fala. Já
idênticas, palavra por palavra, em séries de estrofes paralelas. no poema, o eu lírico apresenta-se como um homem, um confi-
A partir destas observações, releia o texto de Estêvão Coelho dente que faz perguntas à moça apaixonada, mantendo com ela
e responda:
uma lógica de interlocução.
a) O poema se estrutura em quantas séries de estro-
4. a) A personagem que se expressa em discurso direto é a “mulher”.
fes paralelas? Identifique-as.
b) Que ideias centrais são enfatizadas em cada série b) A personagem considera o poeta um vidente, pois ele desco-
paralelística? bre no último verso o seu sofrimento amoroso.
5. a) O poema se estrutura em duas séries: as duas primeiras

Gabarito estrofes e as duas estrofes seguintes.


b) Na primeira estrofe, o foco se dá nos afazeres da mulher. Já na
segunda, a temática recai sobre seu sofrimento.
E.O. Aprendizagem
1. C 2. B 3. D 4. D 5. B

6. D 7. B 8. A 9. A 10. C

E.O. Fixação
1. E 2. C 3. F-F-V-V-V 4. A 5. A

6. B 7. B 8. D 9. E 10. C

E.O. Complementar
1. D 2. C 3. B 4. D

E.O. Dissertativo
1. a) cantiga de amor
b) cantiga de maldizer
c) cantiga de amigo
d) cantiga de escárnio
2. O fragmento não pode ser considerado uma cantiga de maldi-
zer, pois não é direta. Não é possível identificar a pessoa critica-
da, além de apresentar vocabulário comedido.
3. a) Os sentimentos abordados na canção estão atrelados ao
sofrimento frente à partida da pessoa amada.
b) É tipicamente uma cantiga de amigo, pois, ao falar da pessoa
amada, o eu lírico se revela como uma mulher, apesar de ter sido
escrita por um homem.

113
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. DISSERTATIVAS


Exercícios Códigos (UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)

1 2 Exercícios Códigos
2 2.1 1 1.1 e 2
3 1.5 2 2.1
4 1.6 3 2.1
5 2.1 4 2.1
6 2.1 5 2.1
7 1.4
8 2.1
9 1
10 4

E.O. FIXAÇÃO
Exercícios Códigos
1 2.1
2 1
3 2
4 1.5
5 1.5
6 1.3
7 1.4
8 1.5
9 2.1
10 1e2

E.O. COMPLEMENTAR
Exercícios Códigos
1 1
2 2.1
3 2.2
4 2.1

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 2.
2 2.2
3 2

E.O. OBJETIVAS
(UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
Exercícios Códigos
1 2.2
2 1.4
3 1.4

114
AULAS Humanismo e Classicismo
5e6
Competência: 5 Habilidades: 15, 16 e 17

E.O. Aprendizagem c) apresentar estrutura baseada no maniqueísmo cristão,


que divide o mundo entre o Bem e o Mal, e na correlação
entre a recompensa e o castigo.
1. As diferenças etárias são, muitas vezes, causa de violência sim-
bólica. Considerando isso, assinale os versos em que as frases
d) apresentar temas profanos e sagrados e revelar-se radi-
expressam, de forma explícita, o tema básico de O Velho da Horta,
calmente contra o catolicismo e a instituição religiosa.
fundamentado neste tipo de violência. e) aceitar a hipocrisia do clero e, criticamente, justi-
ficá-la em nome da fé cristã.
a) Branca Gil: Todos os santos marteirados
Socorrei ao marteirado 3. Gil Vicente escreveu o Auto da Barca do Inferno em 1517,
Que morre de namorado. no momento em que eclodia na Alemanha a Reforma Protestante,
b) Moça: E essa tosse? com a crítica veemente de Lutero ao mau clero dominante na
Amores de sobreposse Igreja. Nesta obra, há a figura do frade, severamente censurado
Serão os de vossa idade: como um sacerdote negligente. Indique a alternativa cujo con-
teúdo NÃO se presta a caracterizar, na referida peça, os erros
O tempo vos tirou a posse.
cometidos pelo religioso.
c) Branca Gil: Eu folgo ora de ver
Vossa mercê namorado; a) Não cumprir os votos de celibato, mantendo a con-
Que o homem bem criado cubina Florença.
Té na morte o há de ser. b) Entregar-se a práticas mundanas, como a dança.
d) Velho: Porém, amiga, c) Praticar esgrima e usar armamentos de guerra,
Se nesta minha fadiga proibidos aos clérigos.
Vós não sois medianeira, d) Transformar a religião em manifestação formal, ao
Não sei que maneira siga, automatizar os ritos litúrgicos.
Nem que faça, nem que diga, e) Praticar a avareza como cúmplice do fidalgo, e a ex-
ploração da prostituição em parceria com a alcoviteira.
Nem que queira.
e) Parvo: Dono, dizia minha dona, 4. O teatro de Gil Vicente caracteriza-se por ser fundamental-
Que fazeis vós cá te a noite? mente popular. E essa característica manifesta-se, particularmen-
te, em sua linguagem poética, como ocorre no trecho a seguir, de
2. Gil Vicente, criador do teatro português, realizou uma obra
o Auto da Barca do Inferno.
eminentemente popular. Seu Auto da Barca do Inferno, encenado
em 1517, apresenta, entre outras características, a de pertencer Ó Cavaleiros de Deus,
ao teatro religioso alegórico. Tal classificação justifica-se por:
A vós estou esperando,
Que morrestes pelejando
Por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo o mal,
Mártires da Madre Igreja,
Que quem morre em tal peleja
Merece paz eternal.

No texto, fala final do Anjo, temos no conjunto dos versos:


a) variação de ritmo e quebra de rimas.
b) ausência de ritmo e igualdade de rimas.
c) alternância de redondilha maior e menor e simetria
de rimas.
a) ser um teatro de louvor e litúrgico em que o sagra-
do é plenamente respeitado. d) redondilha menor e rimas opostas e emparelhadas.
b) não se identificar com a postura anticlerical, já que e) igualdade de métrica e de esquemas das pa- lavras
considera a Igreja uma instituição modelar e virtuosa. que rimam.

115
5. Considerando a peça Auto da Barca do Inferno como um todo, indi- Tomando-se por base o contexto histórico da época e os conheci-
que a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino. mentos a respeito do Humanismo, marque (V) para verdadeiro ou

a) Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como (F) para falso e assinale a alternativa correta.
objetivo alcançar a consciência do homem, lembran-
do-lhe que tem uma alma para salvar. ( ) O Humanismo é o nome que se dá à produção escrita e literária
do final da Idade Média e início da moderna, ou seja, parte do sé-
b) As figuras do Anjo e do Diabo, apesar de alegóri-
cas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mun- culo XV e início do XVI.
do entre o Bem e o Mal. ( ) Fernão Lopes é um importante prosador do Humanismo portu-
c) As personagens comparecem nesta peça de Gil Vi- guês. Destacam-se entre suas obras: Crônica Del-Rei D. Pedro I,
cente com o perfil que apresentavam na terra, porém Crônica Del-Rei Fernando e Crônica de El-Rei D. João.
apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumen-
tos de sua culpa. ( ) Gil Vicente é um importante autor do teatro português e
d) Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade por- suas principais obras são: Auto da Barca do Inferno e Farsa
tuguesa da época, porém poupa, por questões ideológi- de Inês Pereira.
cas e políticas, a Igreja e a Nobreza.
( ) Gil Vicente é um autor não reconhecido em Portugal, em
e) Entre as características próprias da dramaturgia de virtude de sua prosa e documentação histórica não participarem
Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosa-
da cultura portuguesa.
mente as normas do teatro clássico.
a) V, V, V, F.
6. O argumento da peça Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente, con- b) V, F, V, V.
siste na demonstração do refrão popular “Mais quero asno que me
c) F, V, V, F.
carregue que cavalo que me derrube”. Identifique a alternativa que
d) V, V, F, F.
NÃO corresponde ao provérbio, na construção da farsa:
e) V, F, F, V.
a) A segunda parte do provérbio ilustra a experiência
desastrosa do primeiro casamento. 9. Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Par-
b) O escudeiro Brás da Mata corresponde ao cavalo, vo, Sapateiro, Frade, Florença, Brísida Vaz, Judeu, Corregedor,
animal nobre, que a derruba. Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens de
c) O segundo casamento exemplifica o primeiro ter- Auto da barca do inferno, de Gil Vicente.
mo, asno que a carrega.
d) O asno corresponde a Pero Marques, primeiro pre- Analise as informações a seguir e selecione a alternativa incorreta,
tendente e segundo marido de Inês. cujas características não descrevam adequadamente a personagem:

e) Cavalo e asno identificam a mesma personagem a) Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usurádo;
em diferentes momentos de sua vida conjugal. de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou me-
lhor, leva a bolsa vazia.
7. Em relação ao Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, con-
b) Frade representa o clero decadente e é subjugado
sidere as seguintes afirmações.
por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e
as armas de esgrima.
I. Trata-se de um grande painel que satiriza a sociedade portu-
c) Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa
guesa de seu tempo.
o embarque dos condenados; é dissimulado e irônico.
II. Representa a transição da Idade Média para o Renascimento, d) Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a
guardando traços dos dois períodos. morte pela fé; é austero e inflexível.
III. Sugere que o Diabo, ao julgar justos e pecadores, tem poderes e) Corregedor representa a justiça e luta pela aplica-
maiores que Deus. ção íntegra e exata das leis; leva papéis e processos.

10. Em meados do século XIV, a poesia trovadoresca entra em


Quais estão corretas?
decadência, surgindo, em seu lugar, uma nova forma de poesia,
a) Apenas I. totalmente distanciada da música, apresentando amadurecimento
b) Apenas I e II. técnico, com novos recursos estilísticos e novas formas poemáti-

c) Apenas I e III. cas, como a trova, a esparsa e o vilancete.

d) Apenas II e III.
Assinale a alternativa em que há um trecho representativo de
e) I, II e III.
tal tendência.

8. (IFSP) Considere o trecho para responder à questão. a) Non chegou, madre, o meu amigo,
e oje est o prazo saido!
No final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças Ai, madre, moiro d’amor!
provocadas por invenções como a bússola, pela expansão marí-
b) Êstes olhos nunca perderán,
tima que incrementou a indústria naval e o desenvolvimento do
senhor, gran coita, mentr’eu vivo fôr;
comércio com a substituição da economia de subsistência, levando
a agricultura a se tornar mais intensiva e regular. Deu-se o cres-
e direi-vos fremosa, mia senhor,
cimento urbano, especialmente das cidades portuárias, o flores- dêstes meus olhos a coita que han:
cimento de pequenas indústrias e todas as demais mudanças eco- choran e cegan, quand’alguém non veen,
nômicas do mercantilismo, inclusive o surgimento da burguesia. e ora cegan por alguen que veen.

116
c) Meu amor, tanto vos amo, Pera aquele fogo ardente
que meu desejo não ousa DIABO
que não temestes vivendo.
desejar nehua cousa.
Juro a Deus que não te entendo!
Porque, se a desejasse, FRADE
E este hábito não me vale?
logo a esperaria,e se eu a esperasse,
Gentil padre mundanal,
sei que vós anojaria: DIABO
a Belzebu vos encomendo!
mil vezes a morte chamo
e meu desejo não ousa 1
broquel e casco – respectivamente, escudo e armadura para ca-
desejar-me outra cousa. beça – são elementos por meio dos quais o autor descreve o frade.
d) Amigos, non poss’eu negar 2
capelo – chapéu ou capuz usado pelos religiosos.
a gran coita que d’amor hei, 3
pôr grosa – censurar.
ca me vejo sandeu andar, a) O destino do frade é exemplar no que se refere à
e con sandece o direi: principal característica da obra de Gil Vicente: a crítica
os olhos verdes que eu vi severa, de sabor renascentista, à Igreja Católica, de
me fazen ora andar assi. cuja moral se distancia a obra do dramaturgo.
e) Ai! dona fea, foste-vos queixar b) A proposta do teatro vicentino alegórico – espe-
cialmente a Trilogia das Barcas – era a montagem de
por (que) vos nunca louv’em meu cantar;
peças complexas, de linguagem rebuscada, distante
mais ora quero fazer um cantar, do falar popular, para criticar, nos termos da moral
em que vos loarei toda via; medieval, os homens do povo.
e vedes como vos quero loar. c) A imagem cômica, mas condenável, de um frade que
dona fea, velha e sandia! canta, dança e namora, trazendo consigo uma dama, é
exemplo cabal do pressuposto das peças de Gil Vicente

E.O. Fixação
de que, rindo, é possível corrigir os costumes.
d) O frade terá como destino o inferno porque é ho-
mem “mundanal”, ligado aos gozos do mundo ma-
1. (IFSP) Leia o texto abaixo, um trecho do Auto da Barca do terial, em cujo pano de fundo percebe-se o sistema
Inferno, de Gil Vicente, para assinalar a alternativa correta no de valores do homem medieval, para o qual não há
que se refere à obra desse autor e ao Humanismo em Portugal. salvação após a morte.
Nota: foram feitas pequenas alterações no trecho para facilitar e) O sistema de valores que pode ser entrevisto nas
a leitura. peças de Gil Vicente, e especialmente no Auto da
Barca do Inferno, revela uma mentalidade avessa aos
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um 1broquel e uma espada valores da Idade Média.
na outra, e um casco debaixo do 2capelo; e, ele mesmo fazendo a
baixa, começou de dançar, dizendo: 2. Em relação a Gil Vicente, é incorreto dizer que:
a) recebeu, no início de sua intensa atividade literária,
Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã; influência de Juan del Encina.
FRADE ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã: tã-tã; b) sua primeira produção teatral foi “Auto dos Reis Magos”.
ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
c) suas obras se caracterizaram, antes de tudo, por
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá? serem primitivas e populares.
FRADE Deo gratias! Sou cortesão. d) suas obras surgiram para entretenimento nos am-
DIABO Sabes também o tordião? bientes da corte portuguesa.
e) seu teatro caracterizou-se por observações satíricas
FRADE Por que não? Como ora sei! às camadas sociais da época.
Pois entrai! Eu tangerei
3. (Uepa) Analise os trechos abaixo, retirados da peça Pranto de
DIABO e faremos um serão. Maria Parda, de Gil Vicente, e assinale aquele que comunica ao
Essa dama é ela vossa? leitor uma visão preconceituosa de caráter racial.

Por minha a tenho eu, a) Eu só quero prantear


FRADE este mal que a muitos toca;
e sempre a tive de meu
que estou já como minhoca
Fizestes bem, que é formosa! que puseram a secar.
DIABO E não vos punham lá grosa
b) Ó bebedores irmãos
no vosso convento santo?
que nos presta ser cristãos,
FRADE E eles fazem outro tanto! pois nos Deus tirou o vinho?
Que cousa tão preciosa... c) Martim Alho, amigo meu,
DIABO Martim Alho, meu amigo,
Entrai, padre reverendo!
tão seco trago o umbigo
FRADE Para onde levais gente?
como nariz de Judeu.

117
d) Ó Rua da Mouraria, a) Barroco e Simbolismo.
quem vos fez matar a sede b) Arcadismo e Parnasianismo.
pela lei de Mafamede c) Romantismo e Modernismo.
com a triste da água fria? d) Trovadorismo e Humanismo.
e) Devoto João Cavaleiro e) Realismo e Naturalismo.
que pareceis Isaías, 9. Não se relaciona à medida nova:
dai-me de beber três dias,
a) versos decassílabos.
e far-vos-ei meu herdeiro.
b) influência italiana.
4. Inspirando-se na Antiguidade Clássica (Grécia-Roma), o Re- c) predileção por formas fixas.
nascimento valorizava o homem, refletindo mesmo uma visão an- d) sonetos, tercetos, oitavas e odes.
tropocêntrica do mundo. Esse movimento teve origem: e) cultura popular, tradicional.
a) na França.
10. São características das obras do Classicismo:
b) na Alemanha.
c) na Espanha. a) o individualismo, a subjetividade, a idealização, o
d) em Portugal. sentimento exacerbado.
e) na Itália. b) o egocentrismo, a interação da natureza com o eu,
as formas perfeitas.
5. Nós outros pintores queremos pelos movimentos do corpo mos- c) o contraste entre o grotesco e o sublime, a valori-
trar os movimentos da alma (...) Convém, portanto que os pinto- zação da natureza, o escapismo.
res tenham um conhecimento perfeito dos movimentos do corpo e d) a observação da realidade, a valorização do eu, a
os aprendam da natureza para imitar, por mais difícil que seja os perfeição da natureza.
múltiplos movimentos da alma. e) a retomada da mitologia pagã, a pureza das for-
ALBERTI, L. B. Della Pintura, livro II; 1453. In: TENENTI, Alberto. mas, a busca da perfeição estética.
Florença na época dos Médici. São Paulo: Perspectiva, 1973.

Este fragmento de texto referente à arte renascentista ajuda a


explicar:
E.O. Complementar
a) a influência do pensamento religioso na pintura renas- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
centista que objetivava a manutenção do teocentrismo.
Tanto de meu estado me acho incerto
b) a desvinculação entre arte e religião a partir da
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
negação da existência da alma.
sem causa, juntamente choro e rio;
c) a aliança entre arte e religião na medida em que a arte o mundo todo abarco e nada aperto. [...]
representaria a concretização dos conceitos religiosos.
d) a proibição da igreja de que os pintores represen- Se me pergunta alguém por que assim ando,
tassem o ser humano. respondo que não sei; porém suspeito
e) a necessidade do estudo da anatomia para a pro- que só porque vos vi, minha Senhora.
dução de obras cada vez mais perfeitas.
(Camões)
6. Identifique a alternativa que não contenha ideais clássicos de arte. 1. Assinale a alternativa correta acerca do texto.
a) Universalismo e racionalismo. a) O fragmento exemplifica traço estilístico caracterís-
b) Formalismo e perfeccionismo. tico da estética barroca que, de certa forma, já está
c) Obediência às regras e modelos e contenção do lirismo. latente na lírica camoniana: a linguagem marcada
d) Liberdade de criação e predomínio dos impulsos pessoais. por paradoxos.
e) Valorização do homem (do aventureiro, do soldado, b) Nesses versos, o poeta, embora renascentista, afas-
do sábio e do amante) e verossimilhança (imitação da ta-se dos cânones estéticos da época, como, por exem-
verdade e da natureza). plo, o ideal de beleza artística associado à harmonia
da composição.
7. O Classicismo propriamente dito, tem por limites cronológicos,
em Portugal, as datas de:
c) Observa-se, nas estrofes, a retomada de alguns ex-
pedientes retóricos típicos da Idade Média, como, por
a) 1500 e 1601. exemplo, o confessionalismo amoroso em linguagem
b) 1434 e 1516. ostensivamente emotiva.
c) 1502 e 1578. d) O texto é exemplo eloquente de que Camões inovou
d) 1527 e 1580. a lírica portuguesa ao tematizar o platonismo amoroso,
e) 1198 e 1434. caracterizado pela “coita de amor” e ausência de con-
8. O culto aos valores universais – o Belo, o Bem, a Verdade e a tato direto entre amante e amada.
Perfeição – e a preocupação com a forma aproximaram o Classi- e) Nos versos, confirma-se a tese de que, na obra camo-
cismo de duas escolas literárias posteriores. Aponte a alternativa niana, o amor é concebido como graça divina, apesar de
que identifica essas escolas: ser representado como uma intensa experiência erótica.

118
2. (Insper) 3. (Ufjf-pism) No poema de Camões a visão de mundo expressa
pelo eu lírico está baseada na ideia de:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança; a) alegria de viver.
todo o mundo é composto de mudança, b) valorização da natureza.
tomando sempre novas qualidades. c) sentimento órfico.
d) manifestação divina.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança; e) desconcerto do mundo.
do mal ficam as mágoas na lembrança, 4. (Uespi) Filho do Classicismo português,Luís Vaz de Camões
e do bem (se algum houve), as saudades. sofreu influência de vários autores da Antiguidade. Quanto aos
O tempo cobre o chão de verde manto, escritores que foram lidos e que terminaram por formar o gosto
que já coberto foi de neve fria, e, enfim, classicista do poeta lusitano, podemos incluir:
converte em choro o doce canto.
1. Virgílio
E, afora este mudar-se cada dia, 2. Horácio
outra mudança faz de mor espanto,
3. Padre Antônio Vieira
que não se muda já como soía*.
4. Petrarca
(Luís Vaz de Camões)
5. Carlos Magno
*soía: imperfeito do indicativo do verbo soer, que significa costu-
mar, ser de costume Estão corretas apenas:
Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido a) 2, 3 e 5.
dos versos de Camões. b) 3, 4 e 5.
c) 1, 2 e 4.
a) O foco temático do soneto está relacionado à instabi-
lidade do ser humano, eternamente insatisfeito com as d) 1, 2 e 3.
suas condições de vida e com a inevitabilidade da morte. e) 2, 4 e 5.
b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois tercetos, que, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
com o passar do tempo, a recusa da instabilidade se tor-
na maior, graças à sabedoria e à experiência adquiridas. Reinando Amor em dois peitos,
c) Ao tratar de mudanças e da passagem do tempo, o tece tantas falsidades,
soneto expressa a ideia de circularidade, já que ele se que, de conformes vontades,
baseia no postulado da imutabilidade. faz desconformes efeitos.
d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessimismo Igualmente vive em nós;
as mudanças que se operam no mundo, porque cons- mas, por desconcerto seu,
tata que elas são geradoras de um mal cuja dor não vos leva, se venho eu,
me leva, se vindes vós.
pode ser superada.
e) As duas últimas estrofes autorizam concluir que a ideia (Camões)
de que nada é permanente não passa de uma ilusão. 5. Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO a) Exemplifica o padrão poético do Classicismo renas-
centista, na medida em que tematiza o amor, utilizan-
O dia em que nasci moura e pereça do-se da chamada “medida nova”.
O dia em que nasci moura e pereça, b) Embora apresente versos redondilhos, de tradição
Não o queira jamais o tempo dar; medieval, a linguagem dos versos revela contenção
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar, emotiva, traço estilístico valorizado na Renascença.
Eclipse nesse passo o Sol padeça. c) Revela influência das cantigas medievais, pela so-
noridade das rimas e linguagem emotiva própria da
A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça, “coita de amor”.
Mostre o Mundo sinais de se acabar, d) É um texto do Humanismo, pois traz uma reflexão
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar, filosófica sobre o sentimento amoroso, afastando-se,
A mãe ao próprio filho não conheça. assim, da influência greco-romana.
As pessoas pasmadas, de ignorantes, e) Antecipa o estilo barroco do século XVII devido à
As lágrimas no rosto, a cor perdida, sua linguagem prolixa, em que se notam ousadas in-
Cuidem que o mundo já se destruiu. versões sintáticas e metáforas obscuras.
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!
CAMÕES, Luis Vaz de. 200 sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1998.

119
E.O. Dissertativo E pera mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES Cuidando alcançar assim
Tanto de meu estado me acho incerto, O bem tão mal ordenado,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio; Fui mau, mas fui castigado,
Sem causa, justamente choro e rio, Assim que só pera mim
O mundo todo abarco e nada aperto. Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões: Ao desconcerto do Mundo. In: Obra Completa.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1963, p. 475-6.
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio, 4. (Ufscar) Este curto poema de Camões compõe-se de partes cor-
Agora desvario, agora acerto. respondentes ao destaque dado às personagens (o eu poemático e
os outros). Quanto ao significado, o poema baseia-se em antíteses
Estando em terra, chego ao Céu voando;
desdobradas, de tal maneira trançadas que parecem refletir o
Numa hora acho mil anos, e é jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora. “desconcerto do mundo”. Posto isso,
a) Identifique a antítese básica do poema e mostre
Se me pergunta alguém por que assim ando,
os seus desdobramentos.
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora. b) Explique a composição do texto com base nas rimas.
(Luís Vaz de Camões) 5. (IFSP) Quem foram os Mecenas no Renascimento Cultural?
1. Identifique no texto características formais que permitem in- 6. (Ufscar) Observe a figura e responda.
cluí-lo no Classicismo.

2. Camões utiliza-se, neste soneto, do verso decassílabo. Suponha


que alguém lhe provasse tal fato com a seguinte escansão:

Es/ tan/ do/ em/ te/ rra,


1 2 3 4 5 6

che/ go ao/céu/ voan/ do


7 8 9 10

Você concordaria ou não? Por quê?

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

Soneto 168
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza, O Homem Vitruviano,
O tempo o mesmo tempo de si chora; Leonardo da Vinci (1452-1519).
a) A qual concepção artística pertence?
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza; b) Quais as ideias da época que podem ser identifica-
Mas não pode acabar minha tristeza, das nesse desenho?
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
E.O. Enem
O tempo, a tempestade em grão bonança. 1. (Enem) LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Mas de abrandar o tempo estou seguro Leda serenidade deleitosa,
O peito de diamante, onde consiste Que representa em terra um paraíso;
A pena e o prazer desta esperança. Entre rubis e perlas doce riso;
CAMÕES, Luís de. Obra completa. Rio de Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p. 545. Presença moderada e graciosa,
3. (UFJF) Explique em que consiste a “esperança” do eu lírico, Onde ensinando estão despejo e siso
mencionada no último verso do “Soneto 168”, de Camões.
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Fala de quem a morte e a vida pende,
Os bons vi sempre passar Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
No Mundo graves tormentos; Repouso nela alegre e comedido:

120
Estas as armas são com que me rende Está correto apenas o que se afirma em:
E me cativa Amor; mas não que possa a) I. b) II. c) II e III. d) I e II.
Despojar-me da glória de rendido.
e) I e III.
CAMÕES, L. Obra completa.
Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008. 2. (Fuvest) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca
do Inferno, de Gil Vicente:

a) É intrincada a estruturação de suas cenas, que sur-


preendem o público com o inesperado de cada situação.
b) O moralismo vicentino localiza os vícios não nas
instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.
c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que
o autor é o primeiro a relativizar a distinção entre o
Bem e o Mal.
d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens
populares, as mais ridicularizadas e as mais severa-
mente punidas.
e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fa-
zendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.
SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio.
3. (Fuvest) Caracteriza o teatro de Gil Vicente:
Roma, Galleria Borghese. Disponível em: <www.
arquipelagos.pt>. Acesso em: 29 fev. 2012. a) A revolta contra o cristianismo.
b) A obra escrita em prosa.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens
artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cul-
c) A elaboração requintada dos quadros e cenários
tural de produção pelo fato de ambos:
apresentados.
d) A preocupação com o homem e com a religião.
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo
e) A busca de conceitos universais.
unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usa-
dos no poema.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação
pessoa e na variação de atitudes da mulher, eviden- Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia o excerto de Auto
ciadas pelos adjetivos do poema. da Barca do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465?-
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado 1536?). A peça prefigura o destino das almas que chegam a um
pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela pos- braço de mar onde se encontram duas barcas (embarcações): uma
tura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos destinada ao Paraíso, comandada pelo anjo, e outra destinada ao
usados no poema. Inferno, comandada pelo diabo.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização Vem um Frade com uma Moça pela mão […]; e ele mesmo fa-
da mulher como base da produção artística, eviden- zendo a 1baixa começou a dançar, dizendo
ciado pelos adjetivos usados no poema.
Frade: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã;
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado
Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã;
pela emotividade e o conflito interior, evidenciados
pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema. Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha!
DIABO: Que é isso, padre? Quem vai lá?
FRADE: 2Deo gratias! Sou cortesão.
E.O. Objetivas DIABO: Danças também o 3tordião?

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)


FRADE: Por que não? Vê como sei.
DIABO: Pois entrai, eu 4tangerei
e faremos um serão.
1. (Fuvest) Considere as seguintes afirmações sobre o Auto da
Barca do Inferno, de Gil Vicente: E essa dama, porventura?
FRADE: Por minha a tenho eu,
I. O auto atinge seu clímax na cena do Fidalgo, personagem que e sempre a tive de meu.
reúne em si os vícios das diferentes categorias sociais anterior- DIABO: Fizeste bem, que é lindura!
mente representadas.
Não vos punham lá censura
II. A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter didático no vosso convento santo?
do auto, pois facilita o distanciamento do espectador. Frade: E eles fazem outro tanto!
III. A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é gratuita DIABO: Que preciosa 5clausura!
nem artificial, mas resulta da acentuação de traços típicos. Entrai, padre reverendo!

121
FRADE: Para onde levais gente? a) “O riso é abundante na boca dos tolos.”
DIABO: Para aquele fogo ardente b) “A religião é o ópio do povo.”
que não temestes vivendo. c) “Pelo riso, corrigem-se os costumes.”
FRADE: Juro a Deus que não te entendo! d) “De boas intenções, o inferno está cheio.”
E este 6hábito não me 7val? e) “O homem é o único animal que ri dos outros.”
DIABO: Gentil padre 8mundanal,
a Belzebu vos encomendo!
FRADE: Corpo de Deus consagrado!
E.O. Dissertativas
Pela fé de Jesus Cristo,
que eu não posso entender isto!
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. (Unicamp) Os excertos abaixo foram extraídos do Auto da bar-
Eu hei de ser condenado?
ca do inferno, de Gil Vicente.
Um padre tão namorado
(...) FIDALGO: Que leixo na outra vida
e tanto dado à virtude?
quem reze sempre por mi.
Assim Deus me dê saúde,
DIABO: (...) E tu viveste a teu prazer,
que eu estou maravilhado! cuidando cá guarecer
DIABO: Não façamos mais 9detença por que rezem lá por ti!(...)
embarcai e partiremos; ANJO: Que querês?
tomareis um par de remos. FIDALGO: Que me digais,
FRADE: Não ficou isso na 10avença. pois parti tão sem aviso,
DIABO: Pois dada está já a sentença! se a barca do paraíso
FRADE: Por Deus! Essa seria ela? é esta em que navegais.
ANJO: Esta é; que me demandais?
Não vai em tal caravela
FIDALGO: Que me deixes embarcar.
minha senhora Florença? sô fidalgo de solar,
Como? Por ser namorado é bem que me recolhais.
e folgar c’uma mulher? ANJO: Não se embarca tirania
Se há um frade de perder, neste batel divinal.
com tanto salmo rezado?! FIDALGO: Não sei por que haveis por mal
DIABO: Ora estás bem arranjado! Que entr’a minha senhoria.
FRADE: Mas estás tu bem servido. ANJO: Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
DIABO: Devoto padre e marido,
FIDALGO: Pera senhor de tal marca
haveis de ser cá 11pingado…
nom há aqui mais cortesia? (...)
(Auto da Barca do Inferno, 2007.) ANJO: Não vindes vós de maneira
1
baixa: dança popular no século XVI. pera ir neste navio.
2
Deo gratias: graças a Deus. Essoutro vai mais vazio:
a cadeira entrará
3
tordião: outra dança popular no século XVI.
e o rabo caberá
4
tanger: fazer soar um instrumento. e todo vosso senhorio.
5
clausura: convento. Vós irês mais espaçoso
6
hábito: traje religioso. com fumosa senhoria,
7
val: vale. cuidando na tirania
8
mundanal: mundano. do pobre povo queixoso;
9
detença: demora. e porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
10
avença: acordo.
achar-vos-eis tanto menos
11
ser pingado: ser pingado com gotas de gor- dura fervendo (segundo quanto mais fostes fumoso. (…)
o imaginário popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). SAPATEIRO: (...) E pera onde é a viagem?
DIABO: Pera o lago dos danados.
4. (Unesp) No excerto, o escritor satiriza, sobretudo,
SAPATEIRO: Os que morrem confessados,
a) a compra do perdão para os pecados cometidos. onde têm sua passagem?
b) preocupação do clero com a riqueza material. DIABO: Nom cures de mais linguagem!
c) o desmantelamento da hierarquia eclesiástica. Esta é a tua barca, esta!
d) a concessão do perdão a almas pecadoras. (...) E tu morreste excomungado:
e) o relaxamento dos costumes do clero. não o quiseste dizer.
Esperavas de viver,
5. (Unesp) Assinale a alternativa cuja máxima está em conformi- calaste dous mil enganos...
dade com o excerto e com a proposta do teatro de Gil Vicente. tu roubaste bem trint’anos

122
o povo com teu mester. (...) asno que leve quero,
SAPATEIRO: Pois digo-te que não quero! e não cavalo folão;
DIABO: Que te pês, hás-de ir, si, si! antes lebre que leão,
SAPATEIRO: Quantas missas eu ouvi, antes lavrador que Nero.
não me hão elas de prestar? Pero: I onde quiserdes ir
DIABO: Ouvir missa, então roubar, vinde quando quiserdes vir,
é caminho per’aqui. estai quando quiserdes estar.
Vicente, Gil. Auto da barca do inferno. Com que podeis vós folgar
In: Berardinelli, Cleonice (Org.). Antologia do teatro de Gil Vicente. que eu não deva consentir?
Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984, p. 57-59 e 68-69. (Nota: folão, no caso, significa “bravo”, “fogoso”)
a) Por que razão específica o fidalgo é condenado a a) A fala de Inês ocorre no momento em que aceita casar-se
seguir na barca do inferno? E o sapateiro? com Pero Marques, após o malogrado matrimônio com o
b) Além das faltas específicas desses personagens, escudeiro. Há um trecho nessa fala que se relaciona literal-
há uma outra, comum a ambos e bastante praticada mente com o final da peça. Que trecho é esse? Qual é o
à época, que Gil Vicente condena. Identifique essa pormenor da cena final da peça que ele está antecipando?
falta e indique de que modo ela aparece em cada b) A fala de Pero, dirigida a Inês, revela uma atitude con-
um dos personagens. trária a uma característica atribuída ao seu primeiro mari-
do. Qual é essa característica?
2. (Unicamp) Leia o diálogo a seguir, de Auto da Barca do Inferno. 5. (Fuvest)
DIABO: Cavaleiros, vós passais
Quando da bela vista e doce riso,
e não perguntais onde is?
tomando estão meus olhos mantimento, 1
CAVALEIRO: Vós, Satanás, presumis?
tão enlevado sinto o pensamento
Atentai com quem falais!
que me faz ver na terra o Paraíso.
OUTRO CAVALEIRO: Vós que nos demandais?
Siquer conhecê-nos bem. Tanto do bem humano estou diviso, 2
Morremos nas partes d’além, que qualquer outro bem julgo por vento;
e não queirais saber mais. assi, que em caso tal, segundo sento, 3
Vicente, Gil. Auto da Barca do Inferno. assaz de pouco faz quem perde o siso.
In: Berardinelli, Cleonice. (Org.). Antologia do Teatro de Gil Vicente.
Em vos louvar, Senhora, não me fundo, 4
Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984, p. 89.
porque quem vossas cousas claro sente,
a) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo?
sentirá que não pode merecê-las.
b) Onde e como morreram os dois Cavaleiros? Que de tanta estranheza sois ao mundo,
c) Por que os dois passam pelo Diabo, sem se dirigir a ele? que não é d’estranhar, Dama excelente,
3. (Fuvest) E chegando à barca da glória, diz ao Anjo: que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.
BRÍSIDA: Barqueiro, mano, meus olhos, prancha a Brísida Vaz! Camões, ed. A.J. da Costa Pimpão
ANJO: Eu não sei quem te cá traz...
BRÍSIDA: Peço-vo-lo de giolhos! 1. Tomando mantimento = tomando consciência
Cuidais que trago piolhos, 2. Estou diviso = estou separado, apartado
anjo de Deus, minha rosa?
Eu sou Brísida, a preciosa, 3. Sento = sinto
que dava as môças aos molhos. 4. Não me fundo = não me empenho
A que criava as meninas
a) Caracterize brevemente a concepção de mu- lher
para os cônegos da Sé...
que este soneto apresenta.
Passai-me, por vossa fé,
meu amor, minhas boninas, b) Aponte duas características desse soneto que o fi-
olhos de perlinhas finas! (...) liam ao Classicismo, explicando-as sucintamente.
Vicente, Gil. Auto da barca do inferno.
a) No excerto, a maneira de tratar o Anjo, empregada
por Brísida Vaz, relaciona-se à atividade que ela exer-
Gabarito
cera em vida? Explique resumidamente.
b) No excerto, o tratamento que Brísida Vaz dispensa ao E.O. Aprendizagem
Anjo é adequado à obtenção do que ela deseja – isto
1. B 2. C 3. E 4. E 5. A
é, levar o Anjo a permitir que ela embarque? Por quê?
4. (Unicamp) Leia agora as seguintes estrofes, que se encontram 6. E 7. E 8. A 9. E 10. C
em passagens diversas de a Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente:

Inês: Andar! Pero Marques seja!


Quero tomar por esposo
E.O. Fixação
quem se tenha por ditoso 1. C 2. B 3. C 4. E 5. E
de cada vez que me veja.
6. D 7. D 8. B 9. E 10. E
Por usar de siso mero,

123
E.O. Complementar vida/quem reze sempre por mi” – e o sapateiro diz ter ido à missa
e se confessado antes de morrer, o que para ele garantiria sua en-
1. A 2. D 3. E 4. C 5. B trada no céu – “Os que morrem confessados,/onde têm sua passa-
gem?”, “Quantas missas eu ouvi,/ não me hão elas de prestar?”.
E.O. Dissertativo 2. a) O cavaleiro alega ter sacrificado a vida em nome de Deus
e do Cristianismo, por isso estava assegurada sua entrada na
1. As características formais são de um “soneto”, com versos de-
barca do anjo e ida para o paraíso.
cassílabos (dez sílabas).
b) Os cavaleiros morreram em luta contra os que não acredi-
2. Não, pois a escansão apresentada contém erros que descarac-
tavam no Cristianismo, numa Cruzada.
terizam o verso decassílabo. Portanto, o correto é: Es/ tan/ do em/
te/ rra/ che/ go ao/ céu/ vo/ an(do). c) Não se dirigem ao diabo, pois tem certeza que sua entrada no
céu está garantida, uma vez que lutaram nas cruzadas em defesa
3. Na segunda estrofe, o eu lírico revela com quem conversa, uma
dos Cristianismo.
Senhora que tem o poder de acabar com a sua tristeza quando
quiser. Assim, o eu lírico mostra que se sente triste por uma não 3. a) A personagem Brísida Vaz era alcoviteira, portanto era uma
correspondência amorosa com essa senhora. Dessa forma, resta espécie de cafetina e agenciava mulheres para a prostituição.
mostrar-se esperançoso de que com o passar do tempo a senhora Logo, sua linguagem demonstra características de sua atividade,
se tornará menos dura e corresponderá ao seu amor. pois ela escolhe palavras e termos específicos de quem quer
seduzir o Anjo. Por exemplo, “meu amor”, “olhos de perlinhas
4. a) A antítese centra-se na relação entre os “bons” e os “maus”.
finas”, “anjo de Deus”, “minha rosa”, “minhas boninas”.
Os desdobramentos da antítese são a punição e a recompensa,
que se dá da seguinte forma: aqueles que merecem recompensa b) O tratamento com o anjo deixa claro o apego ao universo
são punidos; aqueles que merecem punição são premiados. É pecaminoso da sedução e prostituição, portanto a postura de
por isso que, segundo o poeta, o mundo está “desconcertado”. Brísida Vaz é inadequada.
b) O poema é composto de uma só estrofe com dez versos. 4. a) O trecho “asno que me leve quero”. O personagem Pero
As rimas estão dispostas de forma alternada e justaposta: Marques age como “asno” duas vezes: a primeira quando serve
aba abc; dd cd. Em relação ao valor são rimas pobres (eu- de cavalgadura e a segunda, por não saber da traição de Inês.
fonia entre palavras da mesma classe gramatical) e ricas
(classe gramatical diferente). b) O primeiro marido de Inês, o Brás da Mata não a tratava bem,
5. Ricos mercadores burgueses, principalmente italianos, que usavam agia de modo agressivo, já Pero dava a ela total liberdade.
a sua riqueza para financiar artistas e encomendar obras de artes. 5. a) A beleza é convertida em Beleza pura, logo a mulher é
6. vista não como companheira, mas como um ser angelical que
leva ao “mundo das ideias” e à divindade.
a) Renascimento ou Renascença.
b) O antropocentrismo e o cientificismo que se opunham ao teo- b) É característica do Classicismo o soneto composto por dois
centrismo e o misticismo do período anterior ao Renascimento quartetos e dois tercetos e a medida nova (versos decassílabos).
(Idade Média), considerada a “Idade das Trevas” culturais pelos Além disso, há no texto figuras de linguagem como o hipérbato
contemporâneos da Renascença. e a seleção lexical.

E.O. Enem
1. C

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. C 2. B 3. D 4. E 5. C

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. a) O fidalgo está vestido com um longo manto vermelho
e vem acompanhado de um criado que segura uma cadeira,
símbolos da vaidade e a arrogância. O sapateiro, por sua vez,
transporta o avental e as formas para fazer sapatos, símbolos
da exploração interesseira da classe burguesa comercial. Mo-
tivos pelos quais são condenados à barca do inferno.
b) Ambos personagens acreditavam que os rituais recomendados
pela Igreja Católica para salvação da alma eram garantias para
entrar no céu, o que é contrariado pelo diabo. O fidalgo argumenta
de que deixou na terra alguém rezando por ele “Que leixo na outra

124
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. ENEM


Exercícios Códigos Exercícios Códigos
1 1.4 1 2.2 e 2.4
2 1.4
3 1.4 E.O. OBJETIVAS
(UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
4 1.4
Exercícios Códigos
5 1.4
1 1.4
6 1.4
2 1.4
7 1.4
3 1.4
8 1.4
4 1.4
9 1.4
5 1.4
10 1.3

E.O. DISSERTATIVAS
E.O. FIXAÇÃO
(UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNESP)
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 1.4
1 1.4
2 1.4
2 1.4
3 1.4
3 1.4
4 2.1
4 1.4
5 2.2
5 2.4
6 2.4
7 2
8 2.4
9 2.4
10 2.4

E.O. COMPLEMENTAR
Exercícios Códigos
1 2.4
2 2.4
3 2.4
4 2.3
5 2.4

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 2.4
2 2.4
3 2.4
4 2.4
5 2.1 e 2.2
6 2.1 a 2.4

125
AULAS Classicismo: Camões épico e lírico
7e8
Competência: 5 Habilidades: 15, 16 e 17

E.O. Aprendizagem b) “Inês de Castro” caracteriza, dentro da epopeia ca-


moniana, o gênero lírico porque é um episódio que narra
os amores impossíveis entre Inês e seu amado Pedro.
1. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir,
c) Restelo era o nome da praia em frente ao templo
relacionadas aos Cantos I a V da epopeia Os Lusíadas, de Camões.
de Belém, de onde partiam as naus portuguesas nas
( ) A presença do elemento mitológico é uma forma de reconhe- aventuras marítimas.
cimento da cultura clássica, objeto de admiração e imitação no d) tanto “Inês de Castro” quanto “O Velho do Reste-
Renascimento. lo” são episódios que ilustram poeticamente diferen-
( ) A disputa entre os deuses Vênus e Baco, da mitologia clássica, tes circunstâncias da vida portuguesa.
é um recurso literário de que Camões faz uso para criar o enredo e) o Velho, um dos muitos espectadores na praia, en-
de Os Lusíadas. grandecia com sua fala as façanhas dos navegadores,
( ) Do Canto I ao Canto V, leem-se as peripécias da viagem dos a nobreza guerreira e a máquina mercantil lusitana.
portugueses até sua chegada à Índia, quando eles tomam posse
4. Com os versos “Cantando espalharei por toda a parte,/ Se
daquela terra.
a tanto me ajudar o engenho e a arte.”, Camões explica que o
( ) No Canto II, lê-se a narração da viagem dos portugueses a propósito de Os Lusíadas é divulgar os feitos portugueses. Sobre
Melinde, cujo rei pede a Camões que conte a história de Portugal. esse poema épico, só é INCORRETO afirmar que:
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima a) se trata da maior obra literária do quinhentismo
para baixo, é: português.
a) V – V – V – F b) Camões sofre a clara influência dos clássicos gre-
b) V – F – F – V co-latinos.
c) F – V – F – V c) há forte presença do romantismo, devido ao na-
cionalismo.
d) F – F – V – F
d) como epopeia moderna, há momentos de crítica à
e) V – V – F – F
nação e ao povo.
2. Assinale a alternativa que completa corretamente a afirmação e) louva não apenas o homem português, mas o ho-
seguinte: mem renascentista.
O movimento desenvolveu-se no apogeu político de Portugal; con-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
siste numa concepção artística baseada na imitação dos modelos
clássicos gregos e latinos. Nele, o pensamento lógico predomina Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da noite
sobre a emoção, e a estrutura da composição poética obedece a por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que
formas fixas, com a introdução da medida nova, que convive com se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e
a medida velha das formas tradicionais. não continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava
deliciosamente bela, os morros 1palejavam de luar e o espaço
Trata-se do: morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os
a) Modernismo. sonhos já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles mo-
b) Barroco. ravam na ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu pa-
c) Romantismo. lácio, e donde os fazia sair com as suas caras de vária feição,
dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram
d) Classicismo.
tudo. Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos
e) Realismo.
moram no cérebro da pessoa. Estes, ainda que quisessem
3. Dos episódios “Inês de Castro” e “O Velho do Restelo”, da imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos Sonhos,
obra Os Lusíadas, de Luiz de Camões, NÃO é possível afirmar que:
como a dos Amores, como todas as ilhas de todos os mares,
são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos
a) “O Velho do Restelo”, numa antevisão profética, Estados Unidos.
previu os desastres futuros que se abateriam sobre
Machado de Assis. Dom Casmurro.
a Pátria e que arrastariam a nação portuguesa a um
destino de enfraquecimento e marasmo. palejavam: tornavam pálidos
1

126
5. Assinale a alternativa que apresenta fragmento da epopeia ca- a) trata-se de um recurso ardiloso de Vênus para im-
moniana, extraído do episódio “A ilha dos amores”, a que o texto pedir que os portugueses tivessem sucesso no seu
faz referência. empreendimento e, assim, se igualassem aos deuses.
a) Volve a nós teu rosto sério,/ Princesa do Santo Graal,/ b) trata-se de uma cilada de Baco contra os portu-
Humano ventre do Império,/ Madrinha de Portugal. gueses, pois todos os nautas que se entregaram aos
b) Ali, em cadeiras ricas, cristalinas,/ Se assentam prazeses da ilha encontraram a morte.
dous e dous, amante e dama;/ Noutras, à cabeceira, c) é um episódio com um forte sentido cristão, pois o
de ouro finas,/ Está co’a bela deusa o claro Gama. amor aí tem um sentido nitidamente espiritual.
c) Se encontrares louvada uma beleza,/ Marília, não d) trata-se de um episódio com um sentido erótico,
lhe invejes a ventura,/ que tens quem leve à mais re- pois, por influência de Vênus, Tétis e suas ninfas ofe-
mota idade/ a tua formosura. recem aos nautas uma recompensa pelos trabalhos
d) Este lugar delicioso, e triste,/ Cansada de viver, ti- por que têm passado.
nha escolhido/ Para morrer a mísera Lindóia. e) Baco e Vênus resolvem, finalmente, unir seus es-
e) Choraram da Bahia as ninfas belas,/ Que nadan- forços contra os humanos, convecendo Tétis e suas
do a Moema acompanhavam;/ E vendo que sem dor ninfas a usar seu poder de sedução para aprisionarem
navegam delas,/ À branca praia com furor tornavam. os portugueses na ilha.

8. (IFSP) Considerando o Classicismo em Portugal, assinale a


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO alternativa correta.

As questões adiante baseiam-se no poema épico Os Lusíadas, de Luís a) Os Lusíadas é a principal obra lírica de Camões e o tema
Vaz de Camões, do qual se reproduzem, a seguir, três estrofes. central é o sofrimento por um amor não correspondido.
b) Os Lusíadas tem como temática a descoberta do
Mas um velho, de aspeito venerando, Brasil e a relação entre o colonizador e o índio.
Que ficava nas praias, entre a gente, c) Luís Vaz de Camões é o principal autor do Classicismo
Postos em nós os olhos, meneando em Portugal e destacou-se por sua produção épica e lírica.
Três vezes a cabeça, descontente,
d) Uma característica dos versos de Camões é que eles
A voz pesada um pouco alevantando,
não apresentam uma métrica, são livres e brancos.
Que nós no mar ouvimos claramente,
C’um saber só de experiências feito, e) Uma característica de Camões é que ele despreza-
Tais palavras tirou do experto peito: va Portugal e o povo português.

“Ó glória de mandar, ó vã cobiça TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO


Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça Leia o trecho de Os Lusíadas.
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça Tão temerosa vinha e carregada,
Fazes no peito vão que muito te ama! Que pôs nos corações um grande medo;
Que mortes, que perigos, que tormentas, Bramindo, o negro mar de longe brada,
Que crueldades neles experimentas! Como se desse em vão nalgum rochedo,
– Ó Potestade, disse, sublimada:
Dura inquietação d’alma e da vida Que ameaço divino ou que segredo
Fonte de desamparos e adultérios,
Este clima e este mar nos apresenta,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios! Que mor coisa parece que tormenta?
Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Não acabava, quando uma figura
Sendo digna de infames vitupérios; Se nos mostra no ar, robusta e válida,
Chamam-te Fama e Glória soberana, De disforme e grandíssima estatura;
Nomes com quem se o povo néscio engana.” O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
6. Entre os versos “Chamam-te ilustre, chamam-te subida,/ Sen-
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
do digna de infames vitupérios”, a relação que se estabelece é de:
Cheios de terra e crespos os cabelos,
a) oposição. A boca negra, os dentes amarelos.
b) explicação. (NEVES, João Alves das e TUFANO, Douglas.
c) causa. Luís de Camões. São Paulo: Moderna, 1980.)
d) modo.
9. (IFSP) Considere a afirmação a seguir.
e) conclusão.

A respeito do episódio da Ilha dos Amores (Canto IX), responda Na segunda estrofe predomina a ________, e o trecho seleciona-
à próxima questão. do evidencia que Camões optou por versos ________ ao escrever
Os Lusíadas.
7. Sobre este famoso trecho de Os Lusíadas é correto afir-
mar que: As lacunas devem ser preenchidas, correta e respectivamente, por

127
a) descrição ... alexandrinos. b) Fernando Pessoa estabelece uma relação irônica com
b) dissertação ... alexandrinos. o texto camoniano, pois parodia o tom grandiloquente
c) narração ... pentassílabos. da fala do Velho do Restelo, valendo-se de apóstrofes.
d) descrição ... decassílabos. c) Os versos de Fernando Pessoa se assemelham aos do epi-
sódio do Velho de Restelo pela ausência de personificação.
e) narração ... decassílabos.
d) Saramago e Fernando Pessoa não se valeram da per-
10. Fala do Velho do Restelo ao Astronauta feição formal camoniana, o que invalida o teor inter-
textual, que compreende apenas estrutura e conteúdo.
Aqui na terra a fome continua e) Saramago apresenta uma crítica universalizante que
A miséria e o luto retoma o alerta feito pelo Velho do Restelo, atualizando-o.
A miséria e o luto e outra vez a fome

E.O. Fixação
Acendemos cigarros em fogos de napalm
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez, TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES.
E pusemos em ti nem eu sei que desejos
Texto I
De mais alto que nós, de melhor e mais puro,
No jornal soletramos de olhos tensos Amor é fogo que arde sem se ver;
Maravilhas de espaço e de vertigem. É ferida que dói e não se sente;
Salgados oceanos que circundam É um contentamento descontente;
Ilhas mortas de sede onde não chove. É dor que desatina sem doer.
Mas a terra, astronauta, é boa mesa É um não querer mais que bem querer;
(E as bombas de napalm são brinquedos) É solitário andar por entre a gente;
Onde come brincando só a fome É nunca contentar-se de contente;
Só a fome, astronauta, só a fome É cuidar que se ganha em se perder;
(José Saramago) (Camões)
Texto II
Amor é fogo? Ou é cadente lágrima?
MAR PORTUGUÊS
Pois eu naufrago em mar de labaredas
Ó mar salgado, quanto do teu sal Que lambem o sangue e a flor da pele acendem
São lágrimas de Portugal! Quando o rubor me vem à tona d’água.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, E como arde, ai, como arde, Amor,
Quantos filhos em vão rezaram! Quando a ferida dói porque se sente,
Quantas noivas ficaram por casar E o mover dos meus olhos sob a casca
Para que fosses nosso, ó mar! Vê muito bem o que devia não ver.
Valeu a pena? Tudo vale a pena (Ilka Brunhilde Laurito)
Se a alma não é pequena.
1. Assinale a alternativa correta sobre o texto II.
Que quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor. a) A liberdade formal dos quartetos, associada à con-
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, tenção emotiva, é índice da influência parnasiana.
Mas nele é que espelhou o céu. b) Por seguir os princípios estéticos clássicos, sua ex-
(Fernando Pessoa) pressão é de teor mais universalista que individualista.
c) O caráter reflexivo das interrogativas iniciais impede que
a linguagem seja marcada por índices de emotividade.
OS LUSÍADAS d) Recupera, do estilo camoniano, a preferência por im-
Ó glória de mandar, ó vã cobiça agens paradoxais, como, por exemplo, mar de labaredas.
Desta vaidade a quem chamamos Fama! e) Vale-se de recursos estilísticos conquistados pelos
Ó fraudulento gosto, que se atiça modernistas, como, por exemplo, versos decassílabos e
C´uma aura popular que honra se chama! expressão coloquial.
Que castigo tamanho e que justiça 2. Assinale a alternativa correta.
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas, a) O texto I, com sua regularidade formal, recupera do
texto II o rígido padrão da estética clássica.
Que crueldades neles experimentas!
(Camões) b) Os dois textos, ao negarem uma concepção carnal do
amor, enaltecem o platonismo amoroso.
Os textos de Fernando Pessoa e de José Saramago são inter- c) O texto I e o texto II são convergentes no que se refere
textuais em relação ao episódio do Velho do Restelo. Refletindo à concepção do sentimento amoroso.
sobre a visão destes dois autores lusos, assinale a correta: d) O texto II contesta o texto I no que se refere ao ponto
a) Saramago não faz referências críticas aos valores de vista sobre o amor.
éticos ou existenciais, detendo-se na questão da e) Os dois textos convergem quanto à forma e à lingua-
guerra e do progresso. gem, mas divergem quanto ao conteúdo.

128
3. Assinale a alternativa correta sobre o texto I. a) I e II, apenas.
a) Expressa as vivências amorosas do eu lírico em lin- b) III e IV, apenas.
guagem emotivo-confessional. c) II e IV, apenas.
b) Apresenta índices de linguagem poética marcada d) I, III e IV, apenas.
pelo racionalismo do século XVI. e) II e III, apenas.
c) Conceitua o amor de forma unilateral, revelando o 6. Assinale a incorreta sobre Camões:
intenso sofrimento do coração apaixonado.
d) Notam-se, em todos os versos, imagens poéticas con- a) Sua obra compreende os gêneros épico, lírico e
traditórias, criadas a partir de substantivos concretos. dramático.
b) A lírica de Camões permaneceu praticamente iné-
e) Conceitua positivamente o amor correspondido e,
dita. Sua primeira compilação é póstuma, datada de
negativamente, o amor não correspondido.
1595, e organizada sob o título de As Rimas de Luis
4. (Uespi) Muitas são as formas fixas que foram cultivadas por Ca- de Camões, por Fernão Rodrigues Lobo Soropita.
mões. Muitas dessas formas também foram praticadas por outros poe- c) Sua lírica compõe-se exclusivamente de redondi-
tas do Quinhentismo português, a exemplo de Sá de Miranda e Antô- lhas e sonetos.
nio Ferreira. Assim, dentre as formas literárias que compõem a poética d) Apesar de localizada no período clássico-renascen-
de Camões, quais não podemos assinalar como cultivadas pelo poeta? tista, a obra possui citações barrocas.
a) Odes e elegias. e) Representa o amadurecimento de língua portugue-
b) Figurados e canto real. sa, sua estabilização e a maior manifestação de sua
c) Oitavas e écoglas. excelência literária.
d) Redondilhas e epopeia. 7. Ainda sobre Camões, assinale a incorreta:
e) Canções e sextinas.
a) Não há um texto definitivo de lírica camoniana. Atri-
5. (G1 - ifsp 2017) Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões. buem-se-lhe cerca de 380 composições líricas, destacando-
-se os cerca de 200 sonetos, alguns de autoria controversa.
Soneto b) Camões teria reunido sua lírica sob o titulo de O
Tanto de meu estado me acho incerto, Parnaso Lusitano, que se perdeu, e do qual há algu-
Que em vivo ardor tremendo estou de frio; mas referências nas cartas do poetas.
Sem causa, juntamente choro e rio, c) As redondilhas de Camões seguem os moldes da
O Mundo todo abarco e nada aperto. poesia palaciana do Cancioneiro Geral de Garcia de
É tudo quanto sinto um desconcerto: Resende e, mesmo na medida velha, o poeta superou
Da alma um fogo me sai, da vista um rio; seus contemporâneos e antecessores.
Agora espero, agora desconfio; d) A lírica na medida velha, tradicional, medieval, va-
Agora desvario, agora acerto. le-se dos motes glosados, das redondilhas e são de
Estando em terra, chego ao Céu voando; cunho galante, alegre madrigalesco.
Num’hora acho mil anos, e é de jeito e) A principal diferença entre a poesia lírica e a poesia
Que em mil anos não posso achar um’hora. épica é formal e manifesta-se na utilização de versos
Se me pergunta alguém porque assim ando, de diferentes metros.
Respondo que não sei, porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora. 8. Não são modalidade da medida nova:
CAMÕES, Luís de. Luís de Camões – Lírica. 5. a) canção e elegia.
ed. São Paulo: Cultrix,1976. p.117. b) soneto e ode.
Analise as assertivas. c) erceto e oitava.
d) écloga e sextina.
I. No verso: “Que só porque vos vi, minha Senhora”, pode-se e) trova e vilancete.
depreender que há um diálogo com as cantigas de amigo.

II. No verso: “Estando em terra, chego ao Céu voando”, pode-se de-


preender que há uma ideia de exagero com o objetivo de expressar in- E.O. Complementar
tensidade, ou seja, uma figura de linguagem conhecida como hipérbole.
1. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir,
III. Pode-se afirmar que há uma figura de linguagem conhecida referentes ao “Canto V” de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões.
como metonímia nos seguintes versos: “Agora espero, agora
desconfio;/ Agora desvario, agora acerto”. ( ) Vasco da Gama conta ao rei africano a partida da terra portu-
guesa, onde a tripulação deixa o coração e as mágoas.
IV. Quanto ao soneto apresentado, pode-se afirmar que a esco-
lha do léxico e a estrutura formal remetem à atitude clássica. ( ) Ao descrever Adamastor, Vasco da Gama cita, entre as carac-
Pode-se afirmar, ainda, que a inquietação do eu lírico mani- terísticas do gigante, a barba esquálida, os olhos encovados e os
festa-se por meio das antíteses, por exemplo: “ardor x frio”; cabelos crespos.
“terra x Céu”, entre outros.
( ) Paulo da Gama, irmão de Vasco, narra a viagem dos lusos
É correto o que se afirma em até Melinde.

129
( ) O aventureiro Fernão Veloso, ao ser atacado por etíopes, volta Os mares nunca doutrem navegados,
correndo para junto dos companheiros, cena que empresta humor Prosperamente os ventos assoprando,
ao poema épico. Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
()O poeta Luís de Camões assume a narração do poema para
Uma nuvem, que os ares escurece,
elogiar a tenacidade portuguesa.
Sobre nossas cabeças aparece.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima Camões, L. V. Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. Fragmento.
para baixo, é:
Assinale a alternativa que apresenta, respectivamente, a classifi-
a) F – F – V – F – V cação dos textos.
b) V – F – F – V – V a) Épico e lírico.
c) F – V – F – V – F b) Lírico e épico.
d) V – V – F – V – F c) Lírico e dramático.
e) F – F – V – F – F d) Dramático e épico.
2. Sobre o poema Os Lusíadas, é incorreto afirmar que:
a) quando a ação do poema começa, as naus por-
tuguesas estão navegando em pleno Oceano Índico, E.O. Dissertativo
portanto no meio da viagem. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
b) na Invocação, o poeta se dirige às Tágides, ninfas
Partimo-nos assim do santo templo
do rio Tejo.
Que nas praias do mar está assentado,
c) Na ilha dos Amores, após o banquete, Tétis conduz Que o nome tem da terra, para exemplo,
o capitão ao ponto mais alto da ilha, onde lhe des- Donde Deus foi em carne ao mundo dado.
cenda a “máquina do mundo”. Certifico-te, ó Rei, que se contemplo
d) Tem como núcleo narrativo a viagem de Vasco da Gama, Como fui destas praias apartado,
a fim de estabelecer contato marítimo com as Índias. Cheio dentro de dúvida e receio,
e) É composto em sonetos decassílabos, mantendo Que a penas nos meus olhos ponho o freio.
em 1.102 estrofes o mesmo esquemas de rimas. Camões, Os Lusíadas, Canto 4º - 87.
3. O desejo de criar um novo mundo, um reino feliz não se con- 1. (Ufscar) O trecho faz parte do poema épico “Os Lusíadas”,
cretizou. Em vez disso, os navegadores praticaram atos violentos
escrito por Luís Vaz de Camões e narra a partida de Vasco da
no processo das conquistas. Em que versos o Gigante Adamastor Gama, para a viagem às Índias.
refere-se a essa violência:
a) Em que estilo de época ou época histórica se situa
a) Sabes que quantas naus esta viagem a obra de Camões?
Que tu fazes, fizeram, de atrevidas, b) Para dizer que o nome do templo é Belém, Camões faz
Inimiga terão estas paragem. uso de uma perífrase: “Que o nome tem da terra, para
b) Chamei-me Adamastor, e fui na guerra exemplo,/ Donde Deus foi em carne ao mundo dado”. Em
Contra o que vibra os raios da Vulcano que outro trecho dessa estrofe Camões usa outra perífrase?
c) Mas, conquistando as ondas do oceano
2.
Fui capitão domar por onde andava
“Amor é fogo que arde sem se ver;
A armada de Netuno, que eu buscava
É ferida que dói e não se sente
d) Ouve os danos de mim que apercebidos É um contentamento descontente;
Estão a te sobejo atrevimento É dor que desatina sem doer;”
Por todo o largo mar e pela terra Lírica de Camões, seleção, prefácio e Notas de
Que inda hás de subjulgar com dura guerra. MASSAUD MOISÉS, São Paulo: Cultrix, 1963.
e) Comecei a sentir o Fado inimigo “Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.
Por meus atrevimentos, o castigo. Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
4. Os gêneros literários são empregados com finalidade estética.
Onde tudo nos mente e nos separa.”
Leia os textos a seguir.
Sophia de Mello Breyner Andresen, “Terror
Busque Amor novas artes, novo engenho, de te amar”. In: Antologia Poética.

Para matar-me, e novas esquivanças;


Que não pode tirar-me as esperanças, Dos dois textos transcritos, o primeiro é de Luís Vaz de Camões
Que mal me tirará o que eu não tenho. (século XVI) e o segundo, de Sophia de Mello Breyner Andresen
(século XX). Compare-os, discutindo, através de critérios formais
Camões, L. V. de. Sonetos. Lisboa: Livraria e temáticos, aspectos em que ambos se aproximam e aspectos em
Clássica Editora. 1961. Fragmento.
que ambos se distanciam um do outro.
Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando 3. (UFJF) Leia o fragmento a seguir e responda ao que se pede.

130
“Amores da alta esposa de Peleu Duma austera, apagada e vil tristeza (...)
Me fizeram tomar tamanha empresa.
Todas as deusas desprezei do céu, 5.
Só por amar das águas a princesa. a)Indique os sentidos que os substantivos “favor” e
Um dia a vi co’as filhas de Nereu, “engenho” possuem no verso 5.
Sair nua na praia: e logo presa b)Faça um breve teor do texto, comparando-o com o
A vontade senti de tal maneira
teor da proposição.
Que inda não sinto cousa que mais queira.
Como fosse impossíbil alcançá-la
Pela grandeza feia de meu gesto,
Determinei por armas de tomá-la E.O. Objetivas
E a Dóris este caso manifesto.
De medo a deusa então por mi lhe fala; (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Mas ela, c’um fermoso riso honesto,
1. (Fuvest) Leia o trecho de Memorial do convento, de José
Respondeu: ‘Qual será o amor bastante
Saramago.
De ninfa, que sustente o dum gigante?”
Camões, Os Lusíadas
Já vai andando a récua dos homens de Arganil, acompanham-nos
até fora da vila as infelizes, que vão aclamando, qual em cabelo,
Nas estrofes acima, extraídas do episódio do Adamastor, obser- Ó doce e amado esposo, e outra protestando, Ó filho, aquém eu
vamos o amor entre o Gigante e Tétis, a “Princesa das Águas”. tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice

A partir disso, responda: minha, não se acabavam as lamentações, tanto que os montes de
mais perto respondiam, quase movidos de alta piedade.
a) Como se manifesta, no texto, o amor do gigante, e
como Tétis reage a esse amor? Em muitas passagens do trecho transcrito, o narrador cita tex-
b) Quem é, no poema de Camões, o gigante Adamastor? tualmente palavras de um episódio de Os Lusíadas, visando a cri-
ticar o mesmo aspecto de vida de Portugal que Camões, nesse
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO episódio, já criticara. O episódio camoniano citado e o aspecto
criticado são, respectivamente:
Os bons vi sempre passar
a) O Velho do Restelo; posição subalterna da mulher
No Mundo graves tormentos; na sociedade tradicional portuguesa.
E pera mais me espantar
b) Aljubarrota; a sangria populacional provocada pe-
Os maus vi sempre nadar
los empreendimentos coloniais portugueses.
Em mar de contentamentos.
c) Aljubarrota; o abandono dos idosos decorrente dos
Cuidando alcançar assim
empreendimentos bélicos, marítimos e santuários.
O bem tão mal ordenado,
d) O Velho do Restelo; o sofrimento popular decorren-
Fui mau, mas fui castigado,
te dos empreendimentos dos nobres.
Assim que só pera mim
e) Inês de Castro; e o sofrimento feminino causado
Anda o Mundo concertado.
pelas perseguições das Inquisições.
Luís de Camões: Ao desconcerto do Mundo. In: Obra Completa.
Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1963, p. 475-6. 2. (Fuvest) Sobre o episódio do Velho do Restelo, assinale a al-
ternativa correta:
4. (Ufscar) O poema está composto com versos de sete
sílabas e na forma conhecida como “esparsa” que , jun -
a) O discurso do Velho do Restelo tem significado
complexo, na medida em que sua opinião se apresen-
to com outras , constituía o estoque de formas medievais
ta de maneira obscura: ele condena certos aspectos
que muitos poetas clássicos de P ortugal , dentre os quais
da expansão ultramarina ao mesmo tempo em que
Camões, continuaram usando no século XVI e que se deno-
exalta o poderio bélico de Portugal.
minavam de “ medida velha ”. A lém dessas formas , C amões
b) Trata-se de um episódio de intensidade dramática,
usou as italianizantes ou clássicas , que se denominavam de
dadas as circunstâncias em que a cena ocorre e ao con-
“medida nova”. teúdo do discurso proferido pela personagem, que nada
a) Cite outra forma de “medida velha” usada por Camões. mais é do que a opinião do próprio autor da epopéia.
b) Cite duas formas de “medida nova”. c) A veemência do discurso do Velho do Restelo reside
no apelo feito pelo próprio aspecto físico do persona-
A respeito do epílogo de Os Lusíadas, responda à próxima questão. gem, que indica a sabedoria acumulada por quem se
tornou, com o decorrer dos anos, humilde e resignado.
Não mais, musa, não mais, que a lira tenho d) Embora surja como uma voz discordante em rela-
Destemperada e a voz enrouquecida, ção ao propósito de exaltação das Navegações apre-
E não do canto, mas de ver que venho sentado pelo narrador épico, o discurso do Velho do
Cantar a gente surda e endurecida. Restelo mostra-se coerente com uma ideologia de-
O favor com que mais se acende o engenho fensora da vida junto à Pátria e à Família.
Não nos dá a pátria, não, que está metida e) A opinião do Velho do Restelo em relação às Nave-
No gosto da cobiça e na rudeza gações é, ao mesmo tempo, reacionária, uma vez que

131
defende a conservação dos valores humanitários e fa- deu por mulher Raquel, sua filha. (...) E coabitaram. Mas Jacó
miliares, e arrojada, já que o personagem prevê com amava mais a Raquel do que a Lia; e continuou servindo a La-
sabedoria os desastres que resultariam das viagens. bão por outros sete anos.
3. (Fuvest) Na lírica de Camões: (Gênesis, 29,15-30 BÍBLIA SAGRADA Trad. João Ferreira de
Almeida. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1962.)
a) o metro usado para a composição dos sonetos é a
redondilha maior. SONETO 88
b) encontram-se sonetos, odes, sátiras e autos. Sete anos de pastor Jacó servia
c) cantar a Pátria é o centro das preocupações. Labão, pai de Raquel, serrana bela;
d) encontra-se uma fonte de inspiração de muitos po- Mas não servia ao pai, servia a ela,
etas brasileiros do século XX. Que a ela só por prêmio pretendia.
e) a Mulher é vista em seus aspectos físicos, despoja- Os dias, na esperança de um só dia,
da de espiritualidade. Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,

E.O. Dissertativas
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Lhe fora assi[m] negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
1. (Fuvest) Começa de servir outros sete anos,
Oh! Maldito o primeiro que, no mundo, Dizendo: -Mais servira, se não fora
Nas ondas vela pôs em seco lenho! Pera tão longo amor tão curta a vida!
Digno da eterna pena do Profundo, (CAMÕES. OBRA COMPLETA.
Se é justa a justa Lei que sigo e tenho! Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 298.)
Nunca juízo algum, alto e profundo,
Nem cítara sonora ou vivo engenho, 2. (Unesp) O racionalismo é uma das características mais fre-

Te dê por isso fama nem memória, quentes da literatura clássica portuguesa. A logicidade do pensa-

Mas contigo se acabe o nome e a glória. mento quinhentista repercutiu no rigor formal de seus escritores,
e no culto à expressão das “verdades eternas”, sem que isto im-
Camões, Os Lusíadas
plicasse tolhimento da liberdade imaginativa e poética. Com base
a) Considerando esse trecho da fala do velho do Res-
nestas observações, releia os dois textos apresentados e:
telo no contexto da obra a que pertence, explique os
dois primeiros versos, esclarecendo o motivo da mal- a) aponte um procedimento literário de Camões que
dição que, neles, é lançada. comprove o rigor formal do classicismo;
b) Nos quatro últimos versos, está implicada uma de- b) indique o dado da passagem bíblica que, por ter
terminada concepção da função da arte. Identifique sido omitido por Camões, revela a prática da liberda-
essa concepção, explicando-a brevemente. de poética e confere maior carga sentimental ao seu
modo de focalizar o mesmo episódio.
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
3. (Fuvest) Os paradoxos do sentimento amoroso constituem um dos
JACÓ ENCONTRA-SE COM RAQUEL temas favoritos de sua poesia lírica, exercitada sobretudo nos sonetos.

Depois disse Labão a Jacó: Acaso, por seres meu parente, irás a) De que poeta se trata?
servir-me de graça? Dize-me, qual será o teu salário? Ora La- b) Indique um texto do poeta em que este sen- timen-
bão tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel, a mais moça. to contraditório se manifesta.
Lia tinha olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de
semblante. Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei 4. (Fuvest) Camões escreveu obra épica ou lírica? Justifique sua
por tua filha mais moça, Raquel. Respondeu Labão: Melhor é resposta, exemplificando com obras do autor.
que eu te dê, em vez de dá-la a outro homem; fica, pois, comigo.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe
pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava. Disse A(s) questão(ões) seguintes tomam por base a oitava estrofe do
Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, pois já venceu o prazo, para “Canto VI” de OS LUSÍADAS, de Luís de Camões (1524?-
que me case com ela. Reuniu, pois, Labão todos os homens do 1580), e o poema A ONDA, de Manuel Bandeira (1886-1968).
lugar, e deu um banquete. À noite, conduziu a Lia, sua filha, e
a entregou a Jacó. E coabitaram. (...) Ao amanhecer, viu que OS LUSÍADAS, VI, 8
era Lia, por isso disse Jacó a Labão: Que é isso que me fizeste? No mais interno fundo das profundas
Não te servi por amor a Raquel? Por que, pois, me enganas- Cavernas altas, onde o mar se esconde,
te? Respondeu Labão: Não se faz assim em nossa terra, dar-se Lá donde as ondas saem furibundas,
a mais nova antes da primogênita. Decorrida a semana desta, Quando às iras do vento o mar responde,
dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos Netuno mora e moram as jucundas
que ainda me servirás. Nereidas e outros Deuses do mar, onde
Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então Labão lhe As águas campo deixam às cidades

132
Que habitam estas úmidas Deidades. b) o episódio da História de Portugal que serve de
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Lisboa: núcleo narrativo ao poema.
Imprensa Nacional, 1971. p. 195.

a onda anda
A ONDA
Gabarito
aonde anda
a onda? E.O. Aprendizagem
a onda ainda
1. E 2. D 3. E 4. C 5. B
ainda onda
ainda anda 6. A 7. D 8. C 9. D 10. E
aonde?
aonde?
a onda a onda E.O. Fixação
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 1. D 2. D 3. B 4. B
Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. p. 286.
5. C 6. C 7. E 8. E
5. (Unesp) O poema épico de Camões, entre outros ingredientes da
epopeia clássica, apresenta o chamado ‘maravilhoso’, que consiste
na intervenção de seres sobrenaturais nas ações narradas. Quan- E.O. Complementar
do tais seres pertencem ao universo da Mitologia Clássica, diz-se
‘maravilhoso pagão’; quando pertencem ao universo do Cristia- 1. D 2. E 3. D 4. B
nismo, diz-se ‘maravilhoso cristão’. Com base nesta informação:

a) identifique o tipo de ‘maravilhoso’ presente na oi- E.O. Dissertativo


tava de Os Lusíadas; e
1. a) A obra de Luis Vaz de Camões situa-se no período rena-
b) comprove sua resposta com exemplos da própria
scentista português (Classicismo) do século XVI (1527-1580).
estrofe.
b) O verso “santo templo / Que nas praias do mar está assenta-
6. (Fuvest) Responda às seguintes questões so- bre “Os Lusía- do” é uma outra referência perifrástica à Torre de Belém, “cara-
das”, de Camões: vela fendida no mar”, e marco comemorativo das navegações
a) Identifique o narrador do episódio no qual está in- portuguesas, erigido à saída do Rio Tejo, em estilo manuelino.
serida a fala do Velho do Restelo. 2. Aproximam-se de duas maneiras, uma pela temática do amor
b) Compare, resumidamente, os principais valores que e outra pela utilização de anáforas. E distanciam-se pela metrifi-
esse narrador representa, no conjunto de “Os Lusía- cação (versos decassílabos em Camões e livres em Andresen) e
das”, aos valores defendidos pelo Velho do Restelo, em pela maneira que a temática do amor é abordada (em Camões o
sua fala. amor é impessoal, e em Andresen é pessoal).
3. a) Há pelo gigante Adamastor um amor sem limites pela
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “Princesa das Águas”. É capaz de forçá-la a amá-lo. Tétis, por
sua vez, mensura quanto deve ser o amor para amar um gigante.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram; b) No poema de Camões, o Cabo das Tormentas é personificado
Cale-se de Alexandre e de Trajano na figura do Gigante Adamastor.
A fama das vitórias que tiveram; 4. a) Camões utiliza-se do “vilancete”, cuja modalidade poéti-
Que eu canto o peito ilustre Lusitano, ca inicia-se por um mote (assunto) e glosa (desenvolvimento do
A quem Neptuno e Marte obedeceram. assunto propostos)
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
b) O soneto é a forma de “medida nova” usada por Camões. Entre
Que outro valor mais alto se alevanta.
outras formas, há: elegia, oitavas, ode, sextina...
7. (Unesp) A oitava anterior constitui a terceira estrofe de OS 5. a) O substantivo “favor” significa: condição favorável propícia,
LUSÍADAS, de Luís de Camões, poema épico publicado em 1572, “inspiração”. Já “engenho” é capacidade de criar, realizar, pro-
obra máxima do Classicismo português. O tipo de verso que Ca- duzir com arte, com talento.
mões empregou é de origem italiana e fora introduzido na Lite-
b) O epílogo faz a crítica a uma “gente surda e endurecida” de hoje,
ratura Portuguesa algumas décadas antes, por Sá de Miranda.
ao da proposição, que exalta o “ilustre feito humano” de ontem.
Quanto ao conteúdo, o poema OS LUSÍADAS toma como ponto
de referência um episódio da História de Portugal. Baseado nes-
tes comentários e em seus próprios conhecimentos, releia a estrofe E.O. Objetivas
citada e indique:
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
a) o tipo de verso utilizado (pode mencionar simples-
mente o número de sílabas métricas); 1. D 2. D 3. D

133
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. a) Trata-se do canto IV de “Os Lusíadas” em que Camões en-
grandece as conquistas de Portugal na África e na Índia. O eu lírico
é o Velho do Restelo que, no início, logo nos dois primeiros versos,
amaldiçoa quem primeiro içará velas a uma embarcação, para com
ela se atirar aos mares da conquista, do poder e da glória. O que se
vê é uma postura que repudia a expansão mercantil portuguesa,
opondo-se à “justa lei” e que só traria desgraça a Portugal.
b) Os quatro últimos versos da estrofe mostram o desejo conde-
natório de que aquele que se aventurar aos mares jamais viesse
a ter recompensa da glória ou da posteridade. Dons estes que
nada valem quando isentos da moral e da virtude. Logo, verifica-se
que, para o Velho, a concepção do valor da arte está atrelada aos
princípios éticos e à tradição.
2. a) A opção pelos versos decassílabos e a es- trutura rímica
petrarquiana.
b) O poeta Camões omite que Jacó casou-se com Lia e, depois de uma
semana, com Raquel.
3. a) Luis Vaz de Camões
b) “Amor é fogo que arde sem se ver”
4. O poeta Luis Vaz de Camões escreveu tanto obra épica quanto
lírica. O poema épico Os Lusíadas, foi publicado em 1572 e nar-
ra a viagem de Vasco da Gama às Índias, bem como a História
de Portugal e de seus reis. Os poemas líricos – sonetos, elegias,
cantigas, redondilhas e estão contemplados em sua fase lírica e
estão compilados na obra Rimas, de 1595 (publicação póstuma).
5. a) Em função da presença de figuras mitológicas, trata-se do
“maravilhoso pagão”.
b) “Netuno mora e moram as jucundas Nereidas e outros Deuses
do mar, onde”.
6. a) O narrador do episódio em questão é Vasco da Gama, o
herói do poema, que, em dada altura da fábula, assume a função
de personagem-narrador.
b) O herói Vasco da Gama representa o herói épico da aven-
tura lusitana e especialmente a lógica de expansão marítima e
comercial do Império Lusitano, que implica a dilatação da fé cris-
tã e do comércio ocidental. Vasco da Gama representa o projeto
político da Dinastia de Avis, que aplica os valores racionalistas
e as conquistas da ciência no desenvolvimento do comércio. O
Velho do Restelo, que é uma personagem alegórica, represen-
ta os valores medievais contrários às navegações portuguesas,
pois achava que aquilo tudo era apenas desejo de poder. O Velho
pode ser entendido como manifestação do ideal da Dinastia de
Borgonha presa à ordem feudal, logo ainda teocêntrica e vincu-
lada à economia agrária.
7.
a) Decassílabo.
b) A viagem de Vasco da Gama às Índias.

134
CÓDIGOS HIERÁRQUICOS
Os códigos a seguir foram elaborados para ajudar o aluno a identificar os temas dos exercícios realizados, ajudando-o a mapear seus
pontos fortes e seus pontos fracos. As numerações aqui dispostas, portanto, possuem correspondências didáticas no seu material teórico.

E.O. APRENDIZAGEM E.O. DISSERTATIVAS


(UNESP, FUVEST, UNICAMP E UNIFESP)
Exercícios Códigos
Exercícios Códigos
1 2
1 2
2 1
2 3
3 2
3 3
4 2
4 2e3
5 2
5 2
6 2
6 2
7 2
7 2
8 1
9 2
10 2

E.O. FIXAÇÃO
Exercícios Códigos
1 3
2 3
3 3
4 1
5 3
6 1
7 1
8 3

E.O. COMPLEMENTAR
Exercícios Códigos
1 2
2 2
3 2
4 1

E.O. DISSERTATIVO
Exercícios Códigos
1 2
2 1
3 2
4 3
5 2

E.O. OBJETIVAS
Exercícios Códigos
1 2
2 2
3 3

135

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