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CONSTITUIÇÃO
ASPECTOS INTERPRETATIVOS DA
CONSTITUIÇÃO
Clara Coutinho
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Olá!
Você está na unidade Aspectos interpretativos da Constituição. Conheça aqui a interpretação que é possível
atribuir conteúdo, sentido e objetivo ao diploma que ocupa a máxima hierarquia em nosso ordenamento
jurídico. Ainda, nesta unidade serão vistos os direitos fundamentais assegurados na Constituição, sua
Bons estudos!
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1 Interpretação das normas Constitucionais
Anteriormente, ressaltamos a importância da hermenêutica jurídica, ou seja, de interpretação do conteúdo
jurídico do texto normativo. A hermenêutica jurídica tem como objetivo conferir à disposição normativa
conteúdo, sentido e objetivo. Especificamente com relação às normas constitucionais, a doutrina indica a
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1.1 Hermenêutica Constitucional
As normas constitucionais envolvem a exposição de conceitos abstratos, aos quais podem ser conferidos
diversos significados e, em virtude de os termos adotados pelo Poder Constituinte originário frequentemente se
revelarem vagos ou imprecisos, os conceitos demandam, portanto, a atribuição de sentido por parte do
intérprete da norma. Para que a tarefa de interpretação seja possível, é imprescindível que se considere a
Constituição com um sistema, ou seja, um conjunto coeso de normas. Significa dizer que a Constituição, por
uma questão principiológica, não pode conter contradições. Não é possível haver normas inconstitucionais
dentro da Constituição, e todas as normas presentes devem ser passíveis de coexistência harmônica. Sobre o
assunto, Canotilho (1993, p. 226-227) esclarece que “a constituição deve ser interpretada de forma a evitar
contradições (antinomias, antagonismos) entre as suas normas”. Ocorre que isso significa que nenhuma norma
constitucional poderá ser interpretada sem que se compreenda o contexto em que se insere. Para tanto, Tavares
(2004, p. 109) destaca a existência de normas constitucionais que, em virtude de sua generalidade, servem como
Não obstante todas as normas constitucionais sejam dotadas da mesma natureza e do mesmo grau
hierárquico, algumas, em virtude de sua generalidade e abstratividade intensas, acabam por servir
como vetores, princípios que guiam a compreensão e a aplicação das demais normas, devendo-se
A necessidade de coordenação das normas faz com que, portanto, a norma mais específica seja interpretada de
forma que seu sentido coexista harmonicamente com normas mais abstratas. Essa orientação normativa decorre
da unidade da Constituição como um sistema normativo coerente, que impõe a consideração de bens jurídicos de
Nenhum direito, nenhuma garantia, nenhuma liberdade, poderá ser tomada como absoluta. Todas
sofrem restrição nas outras garantias, nos outros direitos, igualmente declarados e assegurados.
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A hermenêutica constitucional, portanto, exige que a interpretação das normas considere a necessidade de
coexistência harmônica entre os postulados constitucionais. Diante dessa realidade, enfrentam-se diferentes
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1.2 Métodos de interpretação
Diante da necessidade de que seja conferida à Constituição e às suas normas conteúdo, sentido e objetivo,
torna-se indispensável a adoção de métodos de interpretação capazes de extrair esses elementos do texto
constitucional. Isso porque, ainda que a Constituição seja compreendida como um conjunto de dispositivos
normativos que têm como finalidade última decidir casos concretos, nem sempre a solução decorrerá da simples
Sobre os métodos de interpretação existentes, Mendes apresenta a descrição crítica dos métodos elaborada por
Ernst-Wolfgang Böckenförde. De acordo com o autor, são feitas distinções entre os métodos hermenêutico-
• Método hermenêutico-clássico
A Constituição está sujeita à interpretação pelos mesmos recursos utilizados para a interpretação das
demais leis, ou seja, está sujeita à interpretação sistemática, histórica, lógica e gramatical - esses são os
recursos utilizados para a interpretação das leis ordinárias, segundo as fórmulas desenvolvidas por
Savigny (MENDES, 2004, p. 102). Por essa compreensão, apesar da posição hierarquicamente superior
que a Constituição ocupa no ordenamento jurídico, os padrões de interpretação a que o texto normativo
está sujeito são os mesmos a que se submete a legislação infraconstitucional. Para Mendes, contudo, essa
infraconstitucionais são, frequentemente, dotadas de menor grau de abstração. Ou seja, as normas legais
“ostentam, habitualmente, alto grau de densidade normativa – vale dizer, mais precisa determinação do
• Método tópico
Tem como foco a existência de um problema para o qual o intérprete buscará solução dentre o conjunto
aberto de regras e princípios que é a Constituição. Assim, para a solução justa do caso concreto, cabe ao
aplicador selecionar aquele que seja mais adequado. Contudo, também esse método enfrenta problemas,
uma vez que parte da premissa de que exista um consenso sobre o conteúdo da Constituição e sobre os
valores que estão contidos em seu texto, o que não se verifica em uma sociedade caracterizada pela
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Compreende a Constituição como um sistema cultural e de valores de um povo de forma que a
interpretação deve extrair o resultado pretendido desse sentido presente no sistema constitucional. Uma
vez que tais valores são fluidos, da mesma forma, a interpretação da Constituição revela-se elástica e
flexível.
estruturante. Enfatiza-se que a norma não se confunde com o seu texto (programa normativo), mas
tem a sua estrutura composta também pelo trecho da realidade social em que incide (o domínio
Assim, a interpretação da Constituição não pode se distanciar da realidade social em que esta se insere. Ainda,
em virtude da superioridade hierárquica da Constituição em face das demais regras do ordenamento jurídico, a
interpretação da Constituição impõe uma série de limitações a seu intérprete, como a interpretação conforme.
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1.3 Interpretação conforme a Constituição
infraconstitucionais, segundo o qual sempre que diante de diferentes possíveis interpretações normativas, deve-
se privilegiar aquela que atribua à norma conteúdo, sentido e objetivo que sejam compatíveis com a
Constituição. De acordo com Tavares, a necessidade da interpretação conforme decorre da compreensão de que
as leis são expressão da vontade popular e, portanto, devem ser preservadas pelo Poder Judiciário (2012, p. 111):
Constituição, mas sim das leis. Assim, quando uma norma infraconstitucional contar com mais de
uma interpretação possível, uma (no mínimo) pela constitucionalidade e outra ou outras pela
deverá sempre preferir a interpretação que consagre, ao final, a constitucionalidade. E isso é assim
porque as leis são consideradas expressão da vontade popular, e, pois, se possível, devem ser
No mesmo sentido leciona Canotilho (1993, p. 1012), para quem, diante de um caso de polissemia de um ato
normativo, ou seja, diante de um caso em que haja múltiplos sentidos atribuíveis a um ato normativo, a norma
não deve ser reputada inconstitucional enquanto puder ser interpretada de acordo com a Constituição. A
interpretação das leis conforme a Constituição é um mecanismo por meio do qual os tribunais, e especialmente o
abarcar a compatibilidade do ato normativo com a Constituição. Destaca-se que o oposto não é admitido em
nosso ordenamento jurídico. A Constituição não pode ser interpretada de acordo com o que dispõem as leis
ordinárias. Embora a atividade possa parecer por vezes tentadora, em virtude da maior densidade jurídica
conferida às normas infraconstitucionais, não se pode exprimir conteúdo, sentido e objetivo de norma
constitucional a partir do que dispõe a legislação ordinária. Não obstante referida impossibilidade, a
infraconstitucional na própria Constituição, de forma que a lei integre a vontade da lei maior (TAVARES, 2012, p.
111).
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2 Princípios constitucionais fundamentais
O artigo primeiro da Constituição dispõe que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, e que se constitui em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, e o pluralismo político. Ainda, nos termos de seu parágrafo único, todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988). Além
de estabelecer a existência de uma República, indica a existência de uma democracia direta, em que o povo é o
responsável pela tomada de decisões, por meio de representantes eleitos ou diretamente. Os princípios
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2.1 Princípio republicano
A palavra república deriva do latim res publica, que significa coisa pública. O princípio republicanoestá
previsto no caput do artigo 1º da Constituição de 1988, e a previsão constitucional apenas consagra a forma de
governo sob a qual o Brasil se organiza desde 1889, com a proclamação da República. Há previsão constitucional
É imprescindível que a República seja compreendida não apenas como uma oposição à Monarquia, uma vez que
a forma republicana é caracterizada por uma série de aspectos relevantes que lhe são atributos fundamentais. O
mais lembrado dos aspectos é a manifestação do Estado em três poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário –,
que se viabiliza por meio da existência de mecanismos de freios e contrapesos. A separação dos poderes do
Estado, contudo, não é suficiente para que seja caracterizada a República como forma de governo em um Estado.
É fundamental que os Poderes Legislativo e Executivo sejam ocupados por representantes eleitos em pleitos
populares, capazes de conferir-lhes legitimidade democrática. Sobre o assunto, Silva (2004, p. 105-106) coloca
que:
Governadores de Estado e Prefeitos Municipais (arts. 28, 29, I e II, e 77), a existência de assembleias
e câmaras populares nas três órbitas de governos da República Federativa (arts. 27, 29, I, 44, 45 e
46), eleições periódicas por tempo limitado que se traduz na temporariedade dos mandatos eletivos
(arts. cits.) e, consequentemente, não vitaliciedade dos cargos políticos, prestação de contas da
administração pública (arts. 30, III, 31, 34, VII, d, 35, II, e 70 a 75).
Constituição de 1988 não protegeu a forma de governo República como cláusula pétrea, admitindo inclusive no
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias a realização de plebiscito com o de que a população escolhesse
a forma de governo – República ou Monarquia. No plebiscito ocorrido em 1992, a República foi a escolha popular.
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2.2 Princípio do Estado Democrático de Direito
O princípio do Estado Democrático de Direito, também estabelecido no caput artigo 1º da Constituição, deriva
de dois conceitos fundamentais que o compõem, cuja compreensão se faz necessária. De um lado, o conceito e
liberal, dotado de algumas características fundamentais. A primeira, a submissão do Estado à Lei – sendo esta
compreendida como ato formal, emanado do Poder Legislativo representativo do povo-cidadão. A segunda, a
separação de poderes, de forma independente e harmônica, entre o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o
Poder Judiciário. Por fim, a terceira característica é a existência de proteção e garantia às liberdades e aos
direitos individuais.
Passa a ser um Estado Social de Direito à medida que, distanciando-se de uma lógica individualista de
consecução de direitos, passam a ser afirmados os direitos sociais. Há, portanto, uma busca pela
compatibilização do capitalismo como forma de produção e a consecução do bem-estar social geral (SILVA, 2004,
p. 117). Contudo, nem sempre o Estado Social de Direito observará a democracia. É necessário compreender a
democracia como realização de valores de igualdade, de liberdade e de dignidade da pessoa para alcançar o
Estado Democrático de Direito a que a Constituição faz referência em seu artigo 1º.
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2.3 Princípio da dignidade da pessoa humana
O princípio da dignidade da pessoa humana está expressamente previsto no inciso III do artigo 1º da
Constituição. Ao incluir o princípio no primeiro artigo da carta constitucional, o Poder Constituinte estabeleceu
como objetivo que o Estado proporcionasse meios para que as pessoas vivam de forma digna (TAVARES, 2012, p.
585).
A efetivação do princípio constitucional, contudo, enfrenta obstáculo na própria definição do que seria dignidade
ou, ainda mais especificamente, como o Estado deve atuar para que esse status possa ser alcançado pelas
pessoas que dele fazem parte. A dignidade da pessoa humana é compreendida como inerente à condição humana
e, ainda que não seja fácil delimitar sua existência por meio de aspectos mais ou menos específicos, não é difícil
identificar quando a dignidade da pessoa humana é violada. Sobre o assunto, Lewandowkski (apud TAVARES,
[...] os problemas relativos à institucionalização dos direitos humanos não se encontram no plano de
sua expressão formal, posto que, nesse campo, grandes avanços foram feitos desde o surgimento das
De acordo com Canotilho (1993, p. 363), especificar quais são os direitos, as liberdades e as garantias
asseguradas é mais fácil do que buscar uma determinação do sentido específico do princípio da dignidade da
pessoa humana. Por sua vez, Tavares (2012, p. 586) indica que, entre o que seria a consecução de um ideal e o
que de fato se depreende da expressão, é possível definir a dignidade da pessoa humana como o princípio por
meio do qual o homem deve ser considerado como “ser em si mesmo” e não como “instrumento para alguma
coisa”. Esse é o valor supremo, que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o
direito à vida aos direitos sociais, de acordo com as lições de Silva (2004, p. 107):
Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos
conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o
seu amplo sentido normativo-constitucional e não uma ideia qualquer apriorística do homem, não
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podendo reduzir-se o sentido da dignidade humana à defesa dos direitos pessoais tradicionais,
esquecendo-a nos casos de direitos sociais, ou invocá-la para construir teoria do núcleo da
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2.4 Princípio da separação dos poderes
Como já mencionado, o princípio da separação de poderes consiste na previsão de que o Estado, embora seja um
só ente, executa suas atribuições por meio de três poderes: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder
Judiciário. A separação tem como finalidade assegurar que o ente responsável por formular as normas não será
o mesmo ente a quem incumbirá executá-las. Ainda, o ente competente para a execução não terá como atribuição
determinar se essas as leis são constitucionais ou não. A separação de poderes como postulado republicano é
frequentemente atribuído como idealizado por Montesquieu. No entanto, é sabido que desde a Idade Antiga
filósofos se dedicaram ao estudo das diversas funções do Estado e a necessidade de que tais funções fossem
Assista aí
O constitucionalismo vinculou-se à separação tripartite de poderes pela Declaração Francesa dos Direitos do
Homem, de 1789, que estabeleceu que toda a sociedade na qual a garantia de direitos não é assegurada, nem a
separação de poderes determinada, não tem constituição. Os sistemas constitucionais que seguiram previram a
organização do Estado com fundamento na separação dos poderes, ainda que, do ponto de vista prático, nem
Não fosse apenas isso, a doutrina tem buscado esclarecer que a expressão “poder” não é o mais adequado, uma
vez que Legislativo, Executivo e Judiciário são funções do Estado. Ainda, o conceito de “separação” não é
preciso, uma vez que tais funções são exercidas de forma predominante pelos denominados Poderes, mas não de
forma exclusiva.
A doutrina da separação dos poderes, contudo, serve atualmente como uma técnica de arranjo da
estrutura política do Estado, implicando a distribuição por diversos órgãos de forma não exclusiva,
permitindo o controle recíproco, tendo em vista a manutenção das garantias individuais consagradas
atribuições. Neste caso, tem-se uma teoria da separação de poderes como uma específica teoria
acerca do arranjo institucional desenhado em cada Estado pela respectiva Constituição (TAVARES,
2012, p. 1202).
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Destaca-se que a Constituição estabeleceu a separação dos poderes em artigo 2º, mas em diversos pontos de seu
texto articulou orientações sobre as funções atribuídas aos órgãos. De acordo com Tavares (2012, p.1204),
apenas pelo estudo sistemático da Constituição será possível compreender as funções exercidas pelos órgãos
previstos constitucionalmente, que não são apenas três (função administrativa, governativa, política, judicial,
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2.5 Princípio do pluralismo político
O princípio do pluralismo político insculpido foi insculpido na Constituição com o intuito de assegurar a
participação da população na governança do Estado, seja diretamente seja por organização em partidos
políticos. A sociedade é plural, e dela participam pessoas com diversas opiniões e orientações, as quais devem
coexistir em uma democracia. Apenas serão coibidas as opiniões contrárias à ordem pública. O artigo 17 da
partidário certamente integra o princípio do pluralismo político, e ofensas a esse princípio estão sujeitas ao
controle constitucional:
Lei n. 9.096, de 19-9-1995, que estabeleciam a chamada cláusula de barreira, consoante a qual os
partidos políticos, que não alcançassem determinado desempenho eleitoral não teriam direito a
Partidário e receberiam menos tempo para a propaganda partidária (ADIn 1.351/DF e ADIn 1.354
/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j. 7-12-2006, Informativo n. 451). (TAVARES, 2012, p. 1059).
plurais, além do pluralismo partidário previsto (art. 17). Como exemplo, mencionam-se o pluralismo de ideias
e de instituições de ensino (art. 206, III), o pluralismo cultural (compreendido nos artigos 215 e 216) e o
pluralismo dos meios de informação (art. 220, caput e §5º) (SILVA, 2004, p. 145).
Isso significa dizer que reduzir o princípio do pluralismo político à ideia de participação da população na
sociedade apenas em seu aspecto eleitoral, ou seja, por meio do voto, é um equívoco. A democracia, que é a base
do pluralismo político pretendido, manifesta-se de diversas formas, consolidando-se não apenas por meio da
eleição de representantes.
Sobre o assunto, Tavares (2012) frisa que a existência de diversas exigências para a candidatura de
representantes frequentemente faz com que as eleições não tenham como resultado a escolha livre, pelo povo,
de seus representantes. Mais ainda, não assegura que o governo ocorrerá por esses representantes, o que
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2.6 Princípio da isonomia
De acordo com o princípio da isonomia, o Estado deve assegurar que todos sejam iguais perante a lei, não se
O princípio da isonomia está consagrado na Constituição por diversas formas. No campo processual, manifesta-
se na instituição do juiz natural, a exemplo da determinação de que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”
(inciso XXXVII do art. 5º) e de que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
Assista aí
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Mencionam-se, ainda, o inciso III, in fine, do art. 3º, o inciso I do art. 5º, que fala da igualdade entre homens e
mulheres, o art. 7º, XXX e XXXI (proibição de diferença de salários etc.), XXXII (proibição de diferença entre o
trabalho manual, técnico e intelectual) e XXXIV (igualdade entre o trabalhador permanente e o avulso), o art.
170, VII (redução das desigualdades sociais e regionais) e § 1º, II (regime jurídico das empresas públicas e
sociedade de economia mista idêntico ao das empresas privadas), e o art. 226, § 5º (direitos e deveres referentes
Fique de olho
Deve-se compreender, no entanto, que a igualdade – ou a isonomia – pode ser observada em
seu aspecto formal e em seu aspecto material. Do ponto de vista formal, se admite a
diferença, desde que esta tenha como objetivo assegurar a igualdade do ponto de vista
material.
A inter-relação entre o aspecto formal e o aspecto material ocorre, por exemplo, com as ações afirmativas:
grosso modo, compensar, por meio de políticas públicas ou privadas, os séculos de discriminação a
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determinadas raças ou segmentos. Trata-se de tema que tem ocupado posição central na pauta das
Nos termos do artigo 5º, II, da Constituição, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei. Assim se constitui o princípio da legalidade, cuja principal função é combater a
arbitrariedade do Estado. Por meio do princípio da legalidade, apenas os comandos que sejam formulados por
meio de procedimento legislativo específico, e que integrem o ordenamento jurídico, poderão vincular os
indivíduos (MORAES, 2017, p. 51). Ainda, reputa-se violado o princípio da legalidade tanto pela inobservância da
lei existente como pela inexistência de lei que fundamente a exigência imposta (TAVARES, 2012, p. 666).
O princípio da legalidade não se confunde com o princípio da reserva legal. Se, por um lado, o princípio da
legalidade exige previsão legal para que haja criação de deveres ou direitos, a reserva legal se verifica diante da
previsão expressa de que determinada matéria deverá ser regulamentada por lei.
Moraes (2017), ao falar sobre o princípio da legalidade e o princípio da reserva legal, estabeleceu as
O primeiro significa a submissão e o respeito à lei, ou a atuação dentro da esfera estabelecida pelo
fazer-se necessariamente por lei formal. Encontramos o princípio da reserva legal quando a
Constituição reserva conteúdo específico, caso a caso, à lei. Por outro lado, encontramos o princípio
da legalidade quando a Constituição outorga poder amplo e geral sobre qualquer espécie de relação.
A reserva legal será absoluta quando a norma constitucional exigir lei específica para a integral regulamentação
do que dispõe.
A reserva legal será relativa quando exigir lei formal permitindo regulamentação por normas infralegais.
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3 Direitos e garantias fundamentais
Os direitos e garantias fundamentais estão previstos no extenso rol do artigo 5º da Constituição, em setenta e
sete incisos, além de outros que estão previstos em outros dispositivos da Constituição. A eles são atribuídos
caráter imutável, ou seja, não podem ser abolidos pela reforma constitucional, possuindo o caráter de cláusula
Os direitos e garantias fundamentais estão apresentados na Constituição em cinco capítulos. O primeiro capítulo
se dedica aos “Direitos e Deveres Individuais e Coletivos” (expressos no art. 5º); o segundo capítulo, aos “Direitos
Sociais”, consoante artigos 6º a 11; no terceiro capítulo, abordam-se os direitos de “Nacionalidade”, conforme
artigos 12 e 13; por sua vez, no quarto capítulo, são apresentados os “Direitos Políticos”, nos termos dos artigos
14 a 16; e, por fim, no quinto capítulo, são apresentados os “Partidos Políticos”. Contudo, a Constituição não é
exaustiva nos direitos e garantias fundamentais que previu, uma vez que nos termos do §2º do artigo 5º novos
direitos e garantias poderão ser incluídos na Constituição mediante adesão do Brasil a tratados internacionais.
Fique de olho
Os direitos e garantias fundamentais estão previstos na Constituição Federal, protegidos da
reforma constitucional por serem classificados como cláusula pétrea. São direitos e garantias
reputados como inerentes à pessoa humana, necessários à concretização da dignidade da
pessoa humana. Contudo, uma vez que nenhum direito é absoluto, na hipótese de eventual
conflito deve haver uma ponderação entre tais princípios.
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3.1 Teoria Geral dos Direitos Humanos
De acordo com a Teoria Geral dos Direitos Humanos, são denominados direitos fundamentais aqueles
positivados no ordenamento jurídico do país, e como Direitos Humanos aqueles que transcendem a norma
interna dos Estados, ou seja, que estão positivados em normas e tratados internacionais.
Nos estudos de direitos humanos, estes são classificados em três gerações, ou três dimensões. A classificação
parte do momento histórico de surgimento de tais direitos, de forma que pela classificação é possível perceber a
evolução dos direitos humanos. A classificação foi proposta por Karel Vasak em 1979.
direitos humanos a que se faz referência, e o momento histórico remonta ao fim do século XVIII, marcado pela
Independência dos Estados Unidos e pela Revolução Francesa. São considerados direitos humanos de primeira
geração os direitos civis e políticos, por meio dos quais se exige do Estado que se abstenha de invadir a esfera de
Nesse segundo momento, não basta que seja assegurada a não-interferência do Estado na esfera de liberdade do
indivíduo: é necessário que o Estado garanta oportunidades e condições para que os indivíduos possuam uma
vida digna. São assim classificados os direitos sociais, econômicos e culturais, caracterizados pela titularidade
coletiva. São direitos surgidos após a Primeira Guerra Mundial, cenário em que se passou a exigir do Estado ações
fraternidade. São assim classificados os direitos difusos, os quais são defendidos por titulares que se unem em
decorrência das circunstâncias. A efetivação de tais direitos não ocorre por omissão ou ação do Estado – como
ocorre nas duas primeiras gerações – mas por meio da ação coletiva dos representantes da sociedade. São
considerados transindividuais porque ultrapassam o indivíduo, e só podem ser reconhecidos quando identificada
a existência de grupo – determinado ou não – que seja titular. Como exemplo, mencionam-se o direito à paz, ao
consumidor, da criança e do adolescente, direito ao patrimônio artístico, histórico, cultural, entre outros.
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Atualmente, fala-se na existência de Direitos Humanos de quarta geração, assim classificados aqueles que
decorrem da globalização. Alcançam direitos relacionados à bioética, como direito ao aborto, direito à
eutanásia e ao suicídio; bem como relacionados à informática, como direito à comunicação, à privacidade e à
Os direitos e deveres individuais e coletivos estão arrolados no extenso artigo 5º da Constituição. Os direitos
e garantias individuais alcançam todas as pessoas físicas, brasileiras ou estrangeiras residentes no Brasil, bem
como as pessoas jurídicas brasileiras ou estrangeiras que atuam no Brasil. Os direitos coletivos a que o Capítulo I
do Título II da Constituição faz referência não se confundem com os direitos transindividuais, ou seja, os direitos
humanos de terceira geração. São, na verdade, direitos individuais exercidos coletivamente, como o direito
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3.3 Direitos sociais
A Constituição estabelece, no artigo 6º, que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
Tais direitos sociais refletem o Pacto Internacional das Nações Unidas de 1966, por meio do qual se reconheceu
que tais direitos sociais decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, e que, em conformidade com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, o ideal do ser humano livre, liberto do temor e da miséria, não pode
ser realizado a menos que se criem condições para que cada indivíduo possa gozar de seus direitos. Tavares
(2012, p. 122) subdivide os direitos sociais em três grupos. Similarmente às gerações dos direitos humanos, o
primeiro grupo considera uma abstenção do Estado para sua efetivação, o segundo grupo considera a
necessidade de prestações positivas pelo Estado, e o terceiro depende de norma constitucional integradora:
Os direitos sociais, por sua vez, subdividem-se em três grupos de direitos, a saber: (i) aqueles que
geram situações prontamente desfrutáveis, dependentes apenas de uma abstenção; (ii) os que
ensejam a exigibilidade de prestações positivas do Estado; e (iii) os que contemplam interesses cuja
realização depende da edição de norma infraconstitucional integradora. Quanto ao grupo (i), tais
seriam semelhantes aos direitos individuais, na medida em que impõem ao Estado um não agir.
Como exemplo, o autor cita o direito à greve, em que cabe ao Estado, apenas, reconhecer esse direito,
estando impossibilitado de reprimir qualquer manifestação nesse sentido. No grupo (ii) residiriam
os direitos exigíveis do Estado, como o direito à aposentadoria e à saúde. Nesses casos, a ausência da
prestação estatal é sempre inconstitucional e sancionável. Por fim, enquadram-se no grupo (iii) os
direitos sociais cuja aplicabilidade depende de lei, como é o caso da participação nos lucros da
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3.4 Direitos de nacionalidade
Estado. A nacionalidade pode ser primária ou secundária. A nacionalidade não se confunde com naturalidade, a
qual está relacionada exclusivamente com o local de nascimento. O vínculo jurídico-político a que a
nacionalidade se refere pode derivar da naturalidade ou de outros elementos. No ordenamento jurídico pátrio,
são considerados brasileiros natos aqueles que possuam a nacionalidade primária (ou originária). São
considerados brasileiros naturalizados aqueles que possuam a nacionalidade secundária (ou adquirida).
• Nacionalidade primária
A nacionalidade primária decorre da territorialidade, por meio do critério ius solis. Significa dizer
que aqueles nascidos no Brasil serão brasileiros, ainda que seus pais não sejam brasileiros – exceto se
estiverem a serviço de seu país de origem. Ainda, a nacionalidade primária pode decorrer também da
mãe brasileira serão brasileiros, desde que qualquer um dos pais esteja a serviço da República
Federativa do Brasil, que sejam registrados em repartição brasileira competente ou que optem pela
• Nacionalidade secundária
Por sua vez, a nacionalidade secundária decorre da naturalização, que depende de uma manifestação
de vontade do estrangeiro (ou apátrida) que deseje se tornar brasileiro. A naturalização é ato
discricionário do Poder Executivo, e depende de requerimento ao Ministro da Justiça, que avaliará, além
originários de países de língua portuguesa, exigindo-se apenas residência por um ano ininterrupto e
condenação penal, que residam no Brasil há mais de 15 anos ininterruptamente – razão pela qual
Por fim, deve-se mencionar a equiparação, que alcança os portugueses com residência permanente no país.
A equiparação depende de reciprocidade em favor de brasileiros. Nesse caso, mesmo sem a naturalização, há
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3.5 Direito de cidadania (ou Direitos políticos)
Os direitos de cidadania, ou direitos políticos, são os direitos atribuídos aos indivíduos para o exercício da
soberania popular. A expressão designa o conjunto de normas que disciplinam a participação, direta ou indireta,
Referem-se à atividade do eleitor, o direito de exercer a escolha por meio do voto, ou seja,
Direitos
de ativamente interferir nas orientações do Estado. É o direito ao sufrágio, ou seja, o
políticos
direito de participação atribuído ao indivíduo, que integrará o processo eleitoral por meio
ativos
de seu voto.
Direitos
passivos
Os direitos políticos são adquiridos por meio do alistamento eleitoral, facultativo para maiores de dezesseis
anos, tornando-se obrigatório para maiores de dezoito anos. Há uma escala constitucionalmente prevista por
meio da qual os direitos políticos do indivíduo vão evoluindo com o passar dos anos. Sobre o tema, Tavares
(2012) leciona:
A) aos dezesseis anos adquire o direito de votar, podendo propor ação popular; B) aos dezoito anos
passa a ter o dever de votar, de apresentar-se perante o serviço militar e, ademais, pode apresentar-
se como candidato a Vereador; C) aos vinte e um anos pode apresentar-se como candidato a
Deputado Estadual, Distrital, Federal, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de paz; D) aos trinta anos pode
candidatar-se a Governador e Vice-Governador de Estado ou do DF; E) aos trinta e cinco anos é que
passa a poder ser candidato a Presidente e Vice-Presidente da República, bem como a Senador.
Assim, a ideia é de que a evolução da cidadania se dá de acordo com o cumprimento de requisitos pelo
indivíduo e com a sua consequente habilitação para o pleno exercício de todos os direitos e deveres políticos,
momento em que a alcança a situação de máxima cidadania, podendo votar e ser votado para todas as funções
públicas.
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Assista aí
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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender porque a Constituição de 1988, promulgada após o fim da Ditadura Militar, é considerada a
Constituição Cidadã;
• observar as diversas garantias e proteções que tal Constituição trouxe ao indivíduo e à coletividade;
• compreender como se dá a interpretação das normas constitucionais;
• identificar princípios constitucionais fundamentais;
• reconhecer os direitos e garantias fundamentais que a lei prevê ao cidadão.
Referências
CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.
MENDES, G. F. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014.
MORAES, A. de. Direito Constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.
SILVA, J. A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2004.
TAVARES, A. R. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012.
TEMER, M. Elementos de Direito Constitucional. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.
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