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CURSO DE TEOLOGIA
WEVERSON FERRARI
VITÓRIA
2015
WEVERSON FERRARI
VITÓRIA
2015
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 2
2 OS ESTÍMULOS PARA A FORMAÇÃO DE UM NOVO CÂNON ....................... 2
3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO ......................................................................... 3
3.1 AS PRIMEIRAS COMPILAÇÕES ....................................................................... 3
3.2 O RECONHECIMENTO DA INSPIRAÇÃO DIVINA ............................................ 4
3.3 A SELEÇÃO DOS LIVROS ................................................................................. 6
3.4 OS PRINCÍPIOS PARA ESCOLHA DOS LIVROS ............................................. 9
4 A EXTENSÃO DO NOVO CÂNON .................................................................... 10
4.1 OS LIVROS ACEITOS POR TODOS – HOMOLOGOUMENA ......................... 10
4.2 OS LIVROS QUESTIONADOS POR ALGUNS – ANTILEGOMENA ................ 10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 12
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1 INTRODUÇÃO
- Os vários escritos que mais tarde comporiam o cânon do NT não eram colecionados
por um grupo com reconhecida autoridade profética para tal empreendimento; pelo
contrário, cada comunidade (igreja) detinha alguns desses livros; essa dispersão fez
com que o reconhecimento oficial levasse alguns séculos;
Alguns fatores foram decisivos para que fosse adotado um novo cânon, dentre eles
destacam-se:
b. A defesa contra os falsos mestres. Muita literatura fora produzida nos primeiros
séculos da era cristã. Alguns desses livros eram reconhecidamente tidos como
inspirados, outros possuíam apenas valor histórico e informativo; mas havia também
muitos escritos heréticos, os quais estavam desviando a fé de algumas comunidades
e ameaçavam corromper a sã doutrina da nova religião que se formava. Listas
contendo livros heréticos, também começaram a ser elaboradas, como a proposta por
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Marcião (ou Marciano), acendendo a necessidade de estipular uma lista de livros que
poderiam ser lidos nas igrejas e quais deveriam ser rejeitados.
3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO
No princípio, os cristãos não contavam com nenhum escrito a respeito dos ensinos de
Jesus Cristo. Eles dependiam do Antigo Testamento, da tradição oral acerca das
palavras de Jesus e de mensagens divinas proferidas por profetas cristãos.
Apesar da maioria das cartas ter algum destinatário definido, os autores neo-
testamentários não esperavam que seus escritos fossem lançados no lixo após lidos
pelos destinatários. Há várias evidências internas à própria Bíblia de que os autores
consideravam seus escritos como vindos da parte de Deus. Sendo assim, havia
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O autor de Apocalipse mostra claramente que seu desejo em que a igreja lesse
e usasse seu livro;
É improvável que Marcos e Lucas tivessem composto seus livros narrando toda
a história de Jesus Cristo para que fossem lidas apenas uma vez;
O cumprimento do desejo dos escritores fez com que fossem produzidas cópias
autorizadas das cartas e a difusão para outras igrejas.
Inicialmente nenhuma igreja detinha todos os escritos apostólicos, mas à medida que
eles circulavam, cada uma delas compilava para si os escritos, formando-se a partir
daí coletâneas. Pedro, por exemplo, possuía uma coletânea das cartas de Paulo (2Pe
3.15,16), mesmo elas não tendo sido originalmente escritas para ele. Outra evidência
é o fato de que alguns escritores eram citados por outros: Judas cita Pedro (Jd 17; v.
2Pe 3.2) e Paulo cita o evangelho de Lucas (1m 5.18; v. Lc 10.7).
Em 1Tm 5.18 (“Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o
trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário”) o texto de Lc 10.7 é citado
juntamente com Dt 25.4 e ambos são introduzidos pela expressão “porque a
Escritura declara”.
Neste sentido, Gundry (1998, p.117) observa que ao igualar a autoridade das palavras
de Jesus com as do AT, foi aberto um precedente para que os demais escritos neo-
testamentários também obtivessem esse reconhecimento, visto que Jesus também
prometera aos apóstolos que o Espírito Santo haveria de relembrar-lhes seu
ministério, ensinaria a importância dele e revelaria ainda mais verdades (Jo 14.26;
16.8). Diante esta verdade, os discípulos não mais falavam por eles mesmos, mas o
próprio Jesus é quem falava através do Espírito a eles.
b. A atenção que as Epístolas dão aos credos e hinos. Os credos eram resumos de
doutrinas essenciais, desenvolvidas pelos apóstolos, com o fim melhorar a adoração
e prevenir contra os falsos ensinos. Estes credos gozavam de um elevado status na
igreja, semelhante ao dado ao AT, e foram amplamente usados nas epístolas, em
passagens cruciais, para fundamentar os argumentos dos apóstolos (e.g. 1Pe1.18-
19,23.2.21-24; etc.).
c. O status concedido à coletânea de epístolas paulinas. Já foi dito que Pedro possuía
uma coletânea das cartas de Paulo (2Pe 3.15-16); mas cabe ainda destacar a
expressão “as demais Escrituras” usada por Pedro. Ao comentar a respeito desse fato,
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Osborne (2014, p.42) sugere que as epístolas paulinas já poderiam ter recebido status
canônico.
o critério mais seguro para confirmação da inspiração divina. Geisler e Nix (2006,
p.110) informam que muito cedo se vê nos escritos dos primeiros pais da igreja o
reconhecimento da inspiração de todos os 27 livros do Novo Testamento:
No entanto, nem todos os pais da igreja citaram todos os livros do Novo Testamento.
Geisler e Nix (2006, p.110) argumentam que a não citação não implica em rejeição de
algum livro por parte dos pais, mas sim falta de ocasião por parte do pai da igreja em
mencionar o livro nos escritos que chegaram até nós.
- Antiga siríaca (séc. IV) – tradução do Novo Testamento que circulou na Síria no final
do séc. IV. Possuía um texto que datava do séc. II. Incluía todos os livros do Novo
Testamento, exceto 2Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Uma justifica defendida
para explicar a ausência desses livros é o fato de serem cartas destinadas às igrejas
do Ocidente; e como a igreja da Síria situava-se no Oriente, em virtude da
precariedade das comunicações, é natural que houvesse atraso na aceitação desses
livros.
- Antiga latina (séc II) – tradução do Novo Testamento para o latim datado de antes
do ano 200. Tal qual a siríaca serviu de Bíblia para igreja oriental, a latina serviu para
a ocidental. Continha todos os livros, exceto Hebreus, Tiago e 1 e 2Pedro. A
justificativa de sua ausência é similar à apresentada para a siríaca: as cartas foram
destinadas ao oriente, havendo, portanto, demora em sua aceitação no ocidente.
- Cânon de Marcião (140) – Filho do bispo de Sinope, Marcião, foi o primeiro a propor
um cânon. Marcião rejeitava o Antigo Testamento como escritura autêntica, e defendia
a ideia de que os apóstolos (com exceção de Paulo) haviam pervertido o evangelho
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de Jesus. Seu cânon continha apenas o Evangelho de Lucas (o qual ele fez algumas
modificações) e 10 epístolas de Paulo (ficaram de fora as cartas a Timóteo, Tito e
Filemom). Ainda que não tenha sido aceito pela igreja em geral, ele foi bastante útil
para a formação do cânon por dois motivos: em primeiro lugar, apesar de vários livros
já serem tratados como Escritura à época, foi preciso haver essa manifestação de
Marcião para que os pais da igreja se manifestassem a favor do estabelecimento de
um cânon; e, em segundo lugar, o cânon de Marcião foi usado como base para os que
o sucederam.
- Cânon Muratoriano (170) – É a lista canônica mais antiga do Novo Testamento (sem
contar a de Marcião). Apresenta todos os livros, exceto Hebreus, Tiago e 2Pedro. Ou
seja, é bem semelhante à antiga latina. Não continha nenhum livro apócrifo. Devido à
sua data bem antiga, esse cânon se reveste de especial valor: 1) atesta que desde
bem cedo ocorrera o desenvolvimento do cânon; 2) a maior parte dos livros do Novo
Testamento teve aceitação bem cedo e 3) havia alguns livros que eram aceitos por
alguns, mas não pela igreja em geral (CHAMPLIN, 2002, v.1, p.159).
- Eusébio de Cesaréia (c. 340) – Eusébio, um historiador do séc. IV, conhecido como
“pai da história eclesiástica”, relacionou os vários escritos que circulavam em 3
grupos: os reconhecidos, os discutidos e os espúrios. Interessante observar que nos
dois primeiros grupos estavam contidos todos (e também somente) os 27 livros do
Novo Testamento, tendo sido considerados como “perfeitamente aceitáveis”.
- Concílio de Cartago (419) – confirmou a lista dos 27 livros, mas separou a epístola
dos Hebreus dos escritos de Paulo.
b. Coerência com a tradição apostólica. A doutrina do livro deveria ser coerente com
a ensinada pelos apóstolos. Neste quesito foram rejeitados alguns livros fabulosos,
tais como o evangelho de Tomé e de André, bem como os Atos de Paulo e o
Apocalipse de Pedro.
c. Uso universal. A maioria das igrejas primitivas deveria ter usado o livro em suas
reuniões. O Didaquê, apesar de seu valor histórico e didático, jamais fora reconhecido
como canônico em nenhuma das traduções oficiais e listas canônicas.
d. A data. Os livros canônicos foram todos escritos no primeiro século. Por este critério
foi rejeitado, por exemplo, as epístolas de Clemente.
De acordo com Euzébio, sete livros tiveram autenticidade questionada por alguns pais
da igreja, e por isso não haviam gozado de reconhecimento universal até o início do
séc. IV. Esse fato, porém, não indica que não houve aceitação por parte das
comunidades apostólicas e subapostólicas. O problema básico não estava na
inspiração (ou falta dela), mas na falta de comunicação entre o Oriente e o Ocidente.
A partir do momento em que os fatos foram esclarecidos, houve rápida aceitação deles
(GEISLER; NIX, 2006, p.118).
a. Hebreus. Seu problema estava na autoria e estilo. A tradição dizia ser de Paulo,
mas não há no livro o nome do autor, como é costume nas cartas de Paulo. O estilo
também não é exatamente o mesmo, embora haja muita semelhança. O livro
permaneceu sob suspeição entre os cristãos do Oriente, que não sabiam que os do
Ocidente o haviam aceitado como autorizado e dotado de inspiração.
b. Tiago. Foi a que mais demorou a ser aceito no cânon. Tanto a veracidade do livro
quanto a sua autoria foram desafiadas. O autor da carta, auto-nominado de Tiago, não
afirma ser apóstolo. Seus primeiros leitores afirmavam ser Tiago, irmão de Jesus,
todavia a igreja ocidental não tinha essa informação. Além do problema da autoria,
esta carta aparentemente apresentava discordância com a salvação pela graça
(justificação pela fé) apresentada por Paulo. Por este motivo, Matinho Lutero chegou
a chamá-la de “carta de palha”, colocando-a ao final de seu cânon. Ela, entretanto,
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passou a ser aceita como canônica, mediante a justificativa de que o autor apresenta
as obras como consequência da salvação e não como causa.
c. 2Pedro. O problema enfrentado durante a aceitação dessa carta está no estilo que
difere bastante de 1Pedro. Entretanto, além de vários testemunhos externos (papiro
de Bodmer, Clemente de Roma, dentre outros), há uma evidência interna que parece
explicar essa diferença literária: Em 1Pe 5.12 é dito que Silas foi usado por Pedro
como escriba. Como é sabido que a segunda carta fora escrita pelo próprio Pedro, é
natural que houvesse diferença de estilo entre elas.
e. Apocalipse. Foi um dos primeiros livros a ser reconhecido entre os escritos dos pais
da igreja, tendo sido aceito pelos autores do Didaquê e do Pastor de Hermas, por
Papias e Irineu. Apocalipse constava também no cânon Muratório. Entretanto, o fato
dos montanistas agregarem os ensinos deste livro às suas heresias no séc. III retardou
a sua aceitação definitiva. Porém, Atanásio, Jerônimo e Agostinho evidenciaram que,
na verdade, ele estava sendo mal usado pelas seitas heréticas, embora tivesse sido
escrito pelo apóstolo João.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GEISLER, Norman; NIX, Willian. Introdução bíblica: Como a Bíblia chegou até
nós. Tradução de Oswaldo Ramos. São Paulo: Editora Vida, 2006.