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Interp retação e Poder


Luís Cos'ta Lima

A crítica literária tem no século XX nidade de sentimentos, de valores e de


uma importância que antes desconhe­ crenças que tornam o ato da leitura
cera. Até então, fora considerada um semelhante a uma câmara de ecos, que
ornato, necessana apenas enquanto desdobrasse o som sem nunca tornar
adorno, que tinha a função de ressaltar ininteligível o claro timbre da voz origi­
o desenho da arte. Ajustava-se ao papel nária, individual em sua recepção, cole­
de mediadora entre a obra e o leit ó r, tiva em sua matéria prima. A literatura
e�pécie de correia de transmissão entre moderna é contemporânea da anornia,
a fonte e o usuário. Seu papel era com­ do sentimento de desagregação, durkhei­
parável ao que hoje concedemos à mú­ miana. Mas que significará uma crítica
sica no cinema, que deve existir para se que nasce da constante experiência de
disfarçar, estar presente para ressaltar a choque, do anonimato e da desagrega­
presença do que não é ela : a trama ção, senão uma atividade que, já não
desenvolvida pelos personagens. contando com o endosso prévio dos lei­
Com a crítica contemporânea, perde­ tores que reconheceriam a natureza
-se a cadeia visível que unia o leitor, o (poética, literária) dos objetos de que
crítico e a obra. Pouco posterior, en­ ela tratava, necessita se indagar o que
quanto movimento, ao surgir da poesia torna poético um recurso, o que trans­
moderna com Baudelaire, sua diferença forma as frases em literárias, Enquanto
quanto à crítica do passado tem a ver o poético correspondeu à expectativa do
com as mesmas razões sociológicas que que se tinha por tal, a crítica podia
W. Benjamin apontara como determinan­ ornar com suas letras um desenho de
tes do caráter de Fleurs du mal: a perda cuja natureza não se duvidava. Embora
de uma Erlebnis comunitária, a que su­ a história da crítica antes mostre o
cedera a experiência de choque, corre­ atraso em que seus personagens geral­
latas ao aparecimento das grandes me­ mente permaneceram ( 3 ) , pode-se dizer
trópoles, na etapa de institucionalização que, a partir da segunda metade do
do capitalismo. Daí resultava, quer o século XIX, a análise da literatura foi
obstáculo ao êxito comunicativo da forçada a olhar mais intensamente para
poesia lírica ( 1 ) , quer a dificuldade em
a prosa manter a figura do Narrador, ( * ) Introdução de A Perversão analítica
como mais adiante testemunharia a obra ( sobre a obra Cornélio Penna ) , a ser
proustiana ( 2 ) , pois tanto o lirismo proximamente lançado pela Editora
quanto o Narrador supõem uma comu- Imago.
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si mesma, com a pergunta de se ainda


(ou já) seria capaz de cumprir o que
2.
se propõe. A necessidade de auto-aná­ A segunda camada desenvolve, ao
lise só não se impõe quando, de tal invés, o ramo propriamente interpreta­
maneira confiamos em nossa própria tivo que florescera com Platão e Aristó­
capacidade, que damos por certa a qua­ teles. Contemporânea à "crise da auto­
lidade de nosso corpo. Seria estranha ridade" que, no sistema literário abala
que esta fosse a situação da crítica con­ o prestígio das preceptísticas, o poder
temporânea, seja por sua relativa novi­ passa então a ser estabelecido pela
dade, seja pela época em que apareceu. explicação estética, que vem ocupar o
Como diz Benedito Nunes, o tempo em vazio deixado pelo descrédito das
que a crítica contemporânea nasceu é normas impositivas (4) . Mais tarde,
um "tempo infeliz". Isso não significa com o impacto do romantismo, àquela
que seja mais decepcionante que outros, força geradora se acrescenta uma segun­
mas apenas exigir de nós o que se impõe da: a força dO' esclarecimento autoral.
apenas no momento da infelicidade: a Combinados, estes geradores do novo
desconfiança que nos conduz ao auto­ poder se diferenciam porquanto suas
-exame. Pressupondo então esta necessi­ normas fundadoras pretendem ser expli­
dade, colocamos a pergunta: que dá ao cativas e não mais impositivas. confor­
crítico o direito de falar sobre o texto, me se dava na camada anterior. Hoje,
de maneira menos vaga, que assegura contudo, quando se começa a sistema­
a alguém a legitimidade de sua interpre­ tizar a crítica da estética (cf. L. C . L. :
tação, 1973, capo 1) , reconhecemos que, em
Dentro de uma órbita estritamente virtude da explicação estética não con­
jurídica, diremos que tal direito é con­ seguir se desvencilhar do espelhismo
fiado a alguém que tem o poder de exe­ conteudista (5) , ela tendia também a
cutá-lo. A questão do direito então se se estabelecer como um princípio impo­
desloca para a do poder. Dentro da mu­ sitivo.
dança, acrescentemos ser este poder O mesmo se dava quanto à segunda
determinado por um conjunto de normas força geradora do direito de interpre­
historicamente mutáveis, vigentes no tação. Por força do individualismo e do
interior do sistema literário. Uma colo­ prestígio daí concedido à intenção auto­
cação esquemática nos permite localizar ral, a palavra do criador passava a de­
três camadas históricas diversas: sempenhar um papel igualmente imposi­
tivo. Em 1864, numa passagem cujo
L brilho hoje mais se destaca, Flauber
escrevia: "Onde se conhece uma crítica
A que se estende da Ars poetica ho­ que se inquiete com a obra em si, de
raciana até ao fim da primeira metade uma maneira intensa? Analisa-se com
do século XVIII. O poder era então muita sutileza o meio em que ela se
forjado pelo conhecimento das regras produziu e as causas que a provocaram:
das preceptísticas. O direito da interpre­ mas a poética insciente? de onde resul­
tação cabia ao gramático e ao preceptis- ta? sua composição, seu estilo? o ponto
ta, qualificações normalmente preenchi­ de vista do autor? Jamais!" (in Wellek:
das pela mesma pessoa. Este período, 1956, 478) . O trecho de Flaubert
preparado pela chamada crítica helenís­ mostra, ao lado de sua terrível anteci­
tica, desenvolve um dos ramos que deri­ pação - a pergunta pela "poétique
va da reflexão grega clássica sobre a inciente" -, que o prestígio de "le point
arte. du vue de l'auteur" não era empregado
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tanto como explicação da obra, mas sim do autor, distingui-la de seu produto,
como imposição de seu significado . para então recusar seu direito especial
sobre a interpretação do que fizera. Daí
resultou o desprestígio do autor em
3. tudo que diz respeito à interpretação da
A terceira camada supõe o êxito do literatura. ( Consequência que talvez
combate contra o culto romântico da voz tenha ido além do propósito de' Eliot,
do autor - culto, na verdade, de influ­ mas à qual ele próprio estoicamente
ência muito mais prolongada do que aguentou, nunca se manifestando sobre
o determinismo tainiano a que implici­ o que se escrevia acerca de sua obra) .
tamente se referia Flaubert -, empreen­ O poder do crítico contemporâneo
dido em nome do melhor conhecimento edificou-se sobre o exílio do autor.
da obra. Trata-se então de propor, como Para este, muito contribuiu, na frente
faria Eliot em 1 9 1 9 , uma "teoria impes­ anglo-saxônica, o prestígio da ensaís­
soal da poesia", que considerasse o tica eliotiana, ao passo que, na frente
poema, não como a expressão de uma continental, para tanto decisivamente
personalidade ou como a busca de fixar concorreu a influência do marxismo e
novos matizes emocionais. mas sim da psicanálise.
como um trabalho específico, que trans­ Antes de passarmos ao exame da
forma um meio comum, a linguagem, em legitimidade deste exílio, convém acen­
um veículo diferenciado. tuar que a estética, primeira força gera­
A proposta de Eliot - hoje um lugar dora do poder de interpretação na se­
comum para qualquer iniciante no es­ gunda camada, não sofreu o mesmo
tudo da literatura - partia da mesma questionamento. O ensaio de P. Valéry,
pretensão que há cinq uenta anos orien­ "Discours sur l'esthétique", de 1 9 3 7 ,
tara a demanda de Flaubert : tornar a n ã o recebeu o favor que logo cercara
crítica uma atividade competente, menos o "Tradition and the individual talent"
interessada em persuadir o leitor das de Eliot. Em virtude desta diversidade
qualidades de seu comentário do que em de questionamento, a terceira camada
ser um modo de conhecimento. Postu­ veio a se caracterizar pela conjunção de
lar esta exigência, de aparência banal, duas forças geradoras de poder : a expli­
contudo impôs a Eliot opor-se ao culto cação direta ou indiretamente fundada
da personalidade do artista, comparan­ em moldes estéticos, cujo prestígio per­
do o trabalho deste ao realizado pela maneceu portanto inabalável, a análise
catálise, na química : "Quando ( . . . ) baseada no comportamento verbal do
dois gases ( . . . ) se misturam na pre­ texto, da responsabilidade de um crí­
sença de um filamento de platina, tico.
formam o ácido sulfúrico. Esta combi­
De posse destes esclarecimentos pre­
nação apenas se realiza se a platina es­
liminares, avançamos nosso ponto de
tiver presente ; todavia o ácido recém­
-formado não contém traço algum de vista : a base sobre a qual se cria o poder
platina e, efetivamente, a própria pla­ do crítico contemporâneo é uma base
tina não é afetada; permaneceu inerte, equívoca. Nossa peça acusatória não
neutra e não modificada. A mente do será aqui toda apresentada, pois já
poeta é o pedaço de platina" ( Eliot : pressupõe a discussão sobre a razão e
1 9 1 9 , 7 ) . Para que a crítica portanto os limites da estética ( cf. L . C . L . :
se descartasse da segunda força que 1 9 7 3 , capo I e L . C . L . : 1 9 75, 1 55-
gerava o poder do crítico na camada -203 ) . Concentramo-nos apenas na va­
precedente, foi necessário exilar a voz lidade da substituição do autor pelo crí-
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ti co, como intérprete eficaz. Mas o leitor Declarado nosso ponto de vista, veja­
que conheça a obra de E. Hirsch. Jr. mos como conduzi-lo. Comecemos pela
poderá supor que reencontrará os argu­ trilha mais fácil, desenvolvendo por que
mentos que tornaram famoso o teórico o privilégio do crítico não se fez acom­
norte-americano. Para não atrapalhá-lo panhar da mudança do "regime de pro­
como uma falsa pista, digamos de início priedade" . Utilizando os passos de
que, embora venhamos a considerar e a Hirsch, notemos que uma das afirma­
aproveitar a reflexão de Hirsch, nossas ções justificadoras do exílio do autor
posições são bem diversas. consiste em dizer que a interpretação
Para Hirsch, impõe-se o retorno dos da obra muda para seu próprio criador.
"exilados", pois sem o privilégio da voz (E quem conhecer escritores já poderá
autoral a crítica continuará a ser uma tê-lo concluído por experiência própria) .
babeI de contrariedades : "De fato, se Como Hirsch bem assinala a propósito,
o significado de um texto não é ci de a frase se monta sobre o equívoco de
seu autor, nenhuma interpretação jamais tornar sinônimos dois conceitos entre­
poderá corresponder ao significado do tanto independentes : o conceito de sig­
texto, pois o texto não poderá ter signi­ nificado (meaning) e o de significação
ficado algum determinado ou determi­ (significance ) . Sem repetirmos seu
exame detalhado, diremos que por efeito
nável" ( Hirsch : 1 9 67 , 1 5 ) . De nossa
de significado se entende a compreensão
parte, afirmamos que o privilégio do crí­
do que o autor quis dizer por seu texto
tico não passará de uma simples mudan­
efetivo, enquanto por efeito de signifi­
ça de "proprietário", com a manutenção
cação se entende o julgamento estabe­
do mesmo "regime de propriedade", se lecido a partir da compreensão (ou in­
o novo ocupante não se qualificar pela compreensão ) do significado . Por exem­
exploração mais eficaz da terra do texto . plo, ao assistir uma conferência, o exato
Ou sej a, pelo rigor demonstrativo de sua entendimento do que escutei diz de seu
linguagem. Isso sem dúvida j á era pre­ significado. Se, entretanto, não me limi­
visto no ensaio-programa de Eliot. Mas, to a escutar e a entender, mas concedo
em vez de cairmos na analogia fácil do uma valoração ao que ali se disse, esta
caso com o de revoluções políticas que valoração concerne à significação por
terminam por mostrar sua mísera face mim emprestada ao falado. Parece
reformista, é mais fecundo notar que, óbvio que esta valoração não depende
entretanto, não seria esperável, nos anos da apreensão correta do significado ; ao
próximos, a publicação do ensaio de contrário, independentemente de ser
Eliot, que j á se observasse o desacordo positiva ou negativa, ela pode ocorrer
entre a proposição programática e o a partir da incompreensão - reconhe­
trabalho efetivo do crítico. Em Eliot, cida ou não pelo ouvinte - do signifi­
encontrava-se o "manifesto" que justi­ cado. Acrescente-se ainda que, para
ficava a tomada do poder, enquanto Hirsch, o significado não se confunde
nem ali nem em outro lugar se deposi­ com a intenção do autor, porquanto
tavam os conceitos que presidiriam à poderá suceder que ele não tivesse cons­
nova prática. Foi necessária a experiên­ ciência de certa associação, da qual
cia dos últimos cinquenta anos para que , entretanto nada impediria que estivesse
agora, observemos o desacordo ainda consciente. Por exemplo, ao escrever
vigente, malgrado a extrema qualidade este ensaio não me preocupo, donde não
das obras de um Auerbach e de um estou consciente com a área da qual es­
Benjamin, entre o mandato do intérprete tej a retirando minhas mais freqüentes
e seus efetivos ocupantes. metáforas. Se um leitor então me diz
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que elas são tomadas da área jurídica, famoso "círculo hermenêutico" ( 7 ) :


não terei dificuldades em concordar com não há o que dizer sobre as múltiplas
ele. Segundo Hirsch, tais metáforas per­ e diversas interpretações do mesmíssimo
tenceriam ao significado do texto, en­ objeto, pois este é polissêmico ! Se
quanto participantes de sua escala entretanto, aceitarmos que o efeito de
inconsciente ( como se vê, o inconscien­ significação consiste em proj etar sobre
te para Hirsch nada tem a ver com a a decodificação de um texto primeiro a
sua conceituação psicanalí1ica, sendo leitura de um "texto" segundo, projeção
sinônimo do que mais comumente se pela qual o intérprete se torna, a pre­
chamaria de o implícito ) . Por conse­ texto de falar de um outro texto, o leitor
guinte, sai do campo do significado tudo de si mesnw, teremos, ao menos em
aquilo de que o autor não poderia estar hipótese, de considerar que aquele plural
consciente, dada a sua situação histó­ é inflacionado pela insuficiência da base
rica. Seria o caso da luta de classes p ara que o justificara. A hipótese, concebível
Balzac ou do complexo de Édipo p ara a partir de Hirsch, nos levaria a suspei­
Sófocles ou Shakespeare. Segundo o tar de um conteúdo classista na liberal
autor norte-americano, dar acesso, no teoria da literatura como discurso polis­
ato da interpretação, a elementos nos sêmico. Com efeito, ao aceitá-la literal­
quais o autor não poderia ter pensado mente, não deveríamos acatar qualquer
seria tornar dominante o efeito de sig­ interpretação, desde que conduzida com
nificação, convertendo o resultado da uma certa coerência? Por que, contudo,
análise em arbitrariedade. isso não se dá? Sem dúvida, porque a
Embora a conclusão de Hirsch nos composição interpretativa deve mostrar
pareça pobre e inadequada - o fato o conhecimento de certa retórica, a
de não existir o conceito de complexo prática de certa estilização, que não se
edipiano não significa que ele não esteja possui pelo mero fato de se escrever em
no drama sofocliano, pois o conceito sua língua materna. A polissemia é res­
não cria a realidade -, ele tem peitada quanto aos praticantes de uma
sem dúvida o mérito de haver acen­ escrita cujo perfil estilístico indique pelo
tuado as distorções a que o crítico chega menos formação universitária, o que,
ao confundir meaning e significance ( 6 ) . numa sociedade estratificada, significa
Tornando-os equivalentes, o crítico não pertencer a uma determinada camada
se coloca o problema da pluralidade das social. Aqui entraria o questionamento
interpretações ou o coloca para -escamo­ da explicação estética, meio de perpe­
teá-lo, justificando a dispersão interpre­ tuação de um poder que se legitima por
tativa como resultante do "plural do anular previamente a indagação de sua
texto" . (Barthes ) . Em palavras mais objetividade.
diretas : a literatura é um discurso polis­ Nossos resultados contudo não nos
sêmico, portanto não há o que estra­ tranquilizam. Se si gnificado e significa­
nhar serem plurais suas interpretações. ção são conceitualmente distintos, daí
A formulação parece conter um sadio porém não se deduz que possam ser
liberalismo. Mas, como é costumeiro nas separados por completo. A própria pre­
explicações liberais, elas antes escondem ocupação com sua pureza leva ao empo­
do que revelam sua motivação. Até que brecimento da tarefa interpretativa, bem
ponto o "plural do texto", a polissemia como a colocações das quais discorda­
literária não é estimulada pela indistin­ mos. Assim, por exemplo, o postulado
ção entre significado e significação? Sem de Hirsch sobre as relações entre a tem­
nos questionarmos a respeito, criamos poralidade histórica e os dos efeitos. O
um verdadeiro círculo - variante do efeito do significado seria intemporal ,
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ao . contrário do efeito de significação. A balho consistirá não no controle e no


análise portanto nos remeteria a um teste das significações que outro texto
núcleo imutável. Mas esta imutabilida­ nele despertou, mas sim no próprio fe­
de é feita através de um juízo de pro­ cundar daquelas significações, converti­
babilidade sobre o que o autor teria das em alimento de sua própria obra.
implicitamente querido dizer, probabili­ Se a leitura do poeta sobre a sua obra
dade que varia de acordo com a possi­ não nos dá o sentido da mesma, é pela
bilidade de conhecimento da época do mesma razão por que um sonhante não
autor. De tal modo o imutável é assim descobre o sentido de seu sonho. A
dependente de dados mutáveis, históri­ comparação ainda se impõe noutro
cos, que, quando nada, parecerá ousada ponto : em ambos os casos, a interpre­
a afirmação da imutabilidade. Este pro­ tação fornecida pelo que sonha ou es­
blema, talvez insolúvel dentro da posi­ creve é preciosa e fundamental para o
ção de Hirsch, recebe uma resposta an alista.
menos estéril se associarmos os termos Relacionando a sequência do pará·
significado e significação a um terceiro, grafo anterior com o que escrevemos
o sentido. Por ora, apenas antecipando a t r ás diremos que, se o crítico n ã o cuida
,

o que desenvolveremos pouco depois, das diferenças entre os efeitos - quer


diremos que o papel do sentido é testar, concorde ou discorde de sua sufi ciênci a ,
corrigir, outras vezes ampliar o que se quer si n t a ou não a necessidade de
apreende pelas significações despertadas introduzir um terceiro termo -, ele
no analista pela obra. Isso quer dizer passa a ocupar ilegitimamente o lugar
que concebemos a tarefa do analista que hoj e o distingue, pois, teoricamente,
como a da distinção entre dois efeitos nada impugna fosse este lugar preenchi­
e um plano - o plano do sentido - a do pelo autor. No fundo, entretanto, a
constituir. Tal plano, ausente do ponto ocupação por um ou por outro s eri a
de vista da leitura sintagmática, supõe i gualmen te i legítim a, pois justificada
o entendimento adequado do enunciado
apenas pelo prestígio do nome - antes
verbal ( de seu significado ) , o reconhe­ o do autor, hoje o do crítico - e por
cimento das significações que ele des­ sua capacid a d e de persuasão. Deste
pertou e, a partir daí, a tentativa de modo, através de uma demonstração
construção de uma rede de articulações que supomos simples, voltamos ao que
lógicas, que dê conta, quer do signifi­ afirmáramos como ponto de partida. Ao
cado, quer das significações que rece­ invés d e procurarmos a j!ora novas
beu. O proble m a então se desloca da provas do ponto de vista Q ue defende­
intenção implícita do autor para a ma­ mos, parece-nos preferível introduzir
neira como se constrói um núcleo de um d ado correl ato : re firo - me à res i s ­
cuja leitura nascerá a interpretação. tên ci a que o crítico - e n ão só o meio
Esta, não mais baseada em uma leitura ljter�rio dos leitores e dos autores -
horizontal ou sustentada por juízos manifesta quanto à procura de rigor. Ele
advindos desta leitura, tampouco se como recei a que a su a obstin acão rompa
pretenderá fora da história. Ela é histó­ seu contato com a obra literári a. Este
rica a partir mesmo dos instrumentos temor tende hoie a ser a umentado em
teóricos que a moveram. virtude de experiências de "rigor" que
Observe-se de passagem que a hie­ não passam de metáforas da castração .
rarquia estabelecida entre sign ificado, Não é expurgando a<; siRnificações que
sifnificação e sentido receberia outra chegaremos a algum resultado ap ro v ei­
disposição se cogitássemos da tarefa do tável, mas sim tendo meios de subme­
poeta. Ao contrário do crítico, seu tra- tê-las à pergunta sobre sua objetividade.
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Através de tal controle o que na ver­ - a explicação estética, a importância


dade se perde é a continuação da expe­ atribuída ao crítico - que legitimam o
riência estética. E aí está a extrema crítico contemporâneo. A revelação
dificuldade de sua tarefa. O que seria deste íntimo engarce nos ajuda a melhor
impossível a um amante - saber por compreender os resultados a que chega­
que ama a quem ama - se toma neces­ mos : é mesmo porque a necessidade de
sário ao crítico. Se a sua atividade, como rigor leva ao questionamento do papel
a concebemos, é viável, será porque o da estética que o crítico, em um movi­
investimento libidinal na escritura ana­ mento quase automático de defesa, re­
lítica e na escritura do corpo não é o siste ao rigor exigido. Pois fazê-lo será
mesmo. Ora, à medida que não se ques­ ameaçar sua própria posição. A pouca
tiona o valor da explicação estética, consistência da linguagem crítica se
com razão o crítico temerá permanecer relaciona pois com a resistência em
no seio de uma exigência que, de fato, ultrapassá-la. Não seria entretanto exa­
o distancia do solo daquela explicação. gero falar-se de pouca consistência da
Convém portanto notarmos o que há de linguagem crítica? Examinemo-lo por
correto e de falso na questão. um outro caso. Ele não deve ser nada
Nenhuma exigência de rigor deverá sofisticado, mas pelo contrário bem ele­
afetar a experiência estética. Esta é um mentar.
dado a priori: aproximo-me de um texto Que pergunta mais elementar poderá
e não de outro, escolho-o, interesso-me ser feita além daquela que se indague
vitalmente por ele por efeito das resso­ qual o objeto de certa atividade? Qual
nâncias estéticas em mim despertadas. é, portanto, para os críticos, o seu obje­
Se, contudo, no momento de analisá-lo, to? Em ensaio datado de 1 95 1 , Wimsatt,
continuar a agir com elementos mentais sem dúvida o melhor teórico do new
e emocionais semelhantes, não terei con­ criticism e dos mais · importantes no
dições de questionar as significações que panorama atual, declara ser oportuno
em mim se formaram e minha tentativa advertir para um fato de relevo : " ... no
analítica será prejudicada pela identifi­ discurso verbal, estão unidas e são
cação que guiara a experiência da esco­ mutuamente dependentes duas espécies
lha. Por certo, como afirma o represen­ de verdade, a da asserção ou correspon­
tante mais conhecido da Rezeptioniis­ dência (o realce da explicitude) e a da
thetik, H . R . J auss, "o prazer estético estrutura ou coerência ( o realce da
é sempre uma liberação de algo, assim implicação) " (Wimsatt : 1 95 1 , 9 ) . Logo
como a liberação por algo. A disposi­ a seguir o autor acrescenta que "a
ção de alguém de usufruir um objeto poesia é uma espécie complexa de cons­
pressupõe a negação da vida cotidiana" trução verbal, em que a dimensão da
(Jauss : 1 9 74, 286 ) . Mas esta liberação coerência é, por várias técnicas de im­
de algo, da vida cotidiana, não é, ine­ plicação, amplamente intensificada e,
vitavelmente, como insinua o autor, em assim, gera uma dimensão extra de cor­
favor de um alvo que beneficiaria o respondência com a realidade, a dimen­
conhecimento da obra. Ao contrário, o são simbólica ou analógica" (idem,
mais provável é que o alvo seja uma idem) . Sem possibilidade de erro, daí se
compensação pelo que se negou, tanto deduz que a tarefa básica do crítico
mais fácil de ser negado quanto, em consiste em descobrir o plano da coe­
troca, crescerá a satisfação narcisista do rência, "the accent of implication". No
crítico, co-autor do que antes não trazia final de seu ensaio, Wimsatt retoma ao
o seu nome. Vemos deste modo a soli­ argumento anterior e escreve : "É im­
dariedade mantida entre as duas forças portante observar que ( . . . ) o processo

li
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da explicação tende fortemente a ser o implícito é uma paralela que acom­


não só a explicação do explícito, mas panha o explícito tex.tual. É portanto
também a explicação do implícito ou a sinônimo do significado "inconsciente"
interpretação do estrutural e do formal, de Hirsch. Ele não permite- senão a
a verdade do poema sob seu aspecto de glosa. Mais próxima do efetivamente
coerência" (Wimsatt : 1 9 5 1 , 2 4 ) . dito ou mais arbitrária em relação a ele,
O cotejo das duas passagens demons­ a leitura do implícito nunca desconsti­
tra que "implication" e " implicit" são tui o dito, i.é, nunca mostra o que o
considerados sinônimos. A equivalência motiva, a carga semântica que se escon­
seria trivial se suas consequências não de de seu significado e/ou que provoca
convergissem com as identificações j á as significações que se lhe emprestou.
assinaladas, entre significação e sentido, A implicação, por outro lado, abre um
entre experiência e explicação estética. leque tão vasto e tão inespecífico que
Assim dizemos porque uma crítica que antes seria um serviço para os diciona­
se limitasse a revelar a coerência do ristas do que para o conhecimento de
implícito ou seria muito pobre, embora um texto em particular. A o analista do
esclarecedora - como é o caso da discurso - e não só ao crítico literário
" explication du texte" -, ou rica de - caberá sim descobrir o seu objeto
sugestões, embora não fundada - a entre o plano da implicitude e o da
exemplo da grande maioria da crítica implicação. Melhor dito, em descobrir
recente. Este duplo risco se reduzirá se os mecanismos limitadores da implica­
a crítica ao invés operar sobre a impli­ ção. Tais mecanismos são extraídos dos
cação de um enunciado, pois então seu contextos intra e intertextual. Exemplo
caminho seria um só : descobrir a tota­ de limitador intratextual é fornecido pela
lidade das possibilidades semânticas dos rima, que "realmente pode fornecer uma
componentes dos principais enunciados informação ao limitar as possibilidades
de um texto. Assim, onde se lesse "árvo­ de interpretação, assim como o porta­
re" quase forçosamente a implicação dor ( vehicle) de uma metáfora nos
haveria de realçar galhos, tronco, folhas força a limitar as interpretações possí­
e raízes. Ou, se o crítico combinasse a veis do conteúdo ( tenor) ( nem tudo de
leitura de Wimsatt com a dos estrutu­ x ou o todo de x, mas apenas aquilo
ralistas, quase inevitavelmente viriam de x ou partes de x que se comparam
oposições do tipo alto-baixo . Mesmo sem ao portador v por alguns aspectos impor­
haver aprofundado o problema, Wimsatt tantes ) " ( Chatman : 1 9 60, 1 5 3 ) ( 8 ) .
parece haver procurado resguardar-se do No caso da prosa, não há indicadores
perigo, tornando sinônimos termos que externos semelhantes à rima. Assim o
logicamente não o são. Se o nosso exame
analista há de se mostrar muito mais
contudo estiver certo, a equivalência atento até conseguir a superposição de
será sempre desastrosa, qualquer que segmentos sintagmáticos que revelem a
seja o modo de seu emprego. Em lugar área e os limites da implicação. Quanto
de acatá-la, parece mais útil desenvol­
ao contexto intratextual, chamamos
vê-la para que uma questão tão primá­ especialmente a atenção para os textos
ria quanto a do verdadeiro objeto da de Auerbach sobre Baudelaire e sobre
crítica receba melhor equacionamento .
a expressão "la cour et la ville" ( ambos
Retomemos pois seu exame, esforçando­ in Auerbach : 1 9 5 1 ) .
-nos primeiramente em diferençar o
implícito do implicado, para depois veri­ Dissemos há pouco que o objeto da
ficarmos que dizer sobre o objeto da crítica consiste em descobrir os limita­
crítica. dores da implicação . Cabe então acres-
Lu r S COSTA LIMA 163

centar que esta descoberta se realiza ordenação de suas díferenças, por meio
através de uma leitura específica, por­ das transformações que conduzem este
quanto não centrada na cena sintagmá­ texto àquele outro. Quanto ao problema
tica. Ela, com efeito, parte do dito para do modelo, preferimos falar em plano
encontrar o entredito (cf. L.C.L. : 1 9 74, do sentido por dois motivos : a) porque
1 7-24 ) , realizando o que chamamos não conhecendo suficiente matemática,
de plano do sentido. Descritivamente, nossa proposta seria criticável pelo uso
pois, o plano do sentido supõe : a) uma impreciso de um termo que, em mate­
construção, b) efetuada pela articulação mática, tem um delineamento exato ; b)
de elementos implicados, c ) cuj a exten­ porque, leigamente, modelo se associa a
são é determinada por mecanismos intra­ padrão, algo que se tem a priori e que
textuais ef ou extratextuais. Por hipótese, predetermina os resultados a que se
podemos ainda declarar que o plano do chegaria.
sentido apresenta o inconsciente mo bi­ É justo entretanto que se pergunte em
lizado por um enunciado particular ( o que a concepção expressa de estrutura
texto-objeto ) . Assim caracterizado, o contribui para levantar, ou pelo menos
sentido corresponde ao que Lévi-Strauss diminuir, a arguída ilegitimidade do
chama o modelo da estrutura. Se não direito de interpretação pelo crítico.
optamos simplesmente por estes termos Devemos de início declarar que a pre­
j á consagrados é porque preferimos ocupação com a estrutura e com os con­
adotar um caminho mais explicativo, que ceitos paralelos de incon sciente e cena
nos levasse a designações menos sobre­ paradigmática. com seus meios operacio­
carregadas, que, ademais, nos permitisse nais - o princípio da comutação, de
dizer algo de menos impreciso sobre limitador lógico - pressupõe a idéi a de
modelo e estrutura. Podemos assim ob­ que a ciência é uma forma de legiti­
servar agora que a estrutura não se mação do conhecimento, na verdad e a
confunde com o implícito, sendo, ao única forma capaz de verificar a obje­
contrário, dependente dos limitadores tivi dade do conhecimento . El a não é
da implicação, exigindo por conseguinte uma forma de conhecimento privilegia­
uma leitura que não se encerre em sua da, senão do ponto de vista de su a tes­
face temática. Mais importante que este tabilidade. É cl aro que, se não concor­
esclarecimento é o seguinte : a estrutura darmos com este ponto de vista, todo o
é o antípoda da fixação do mesmo, i.e . , esforço que fazemos será em vão. En­
d o que se mostra constante e m um quanto, porém, não encontrarmos expli­
número finito de variantes. Já, há vários citada uma oposição desta ordem, deve­
anos, Gouillon escrevera : "O estrutura­ remos nos preocupar com as objeções
lismo propriamente dito começa quando formuláveis a partir do solo da ciência.
se admite que conjuntos diferentes Imediatamente, nos vêm à mente duas
podem ser aproximados não a despeito, contestações : 1 ) a análise estrutural su­
mas em virtude de suas diferenças, que põe a existência de um corpus dotado de
se procura ordenar" ( Pouillon : 1 9 66, uma acentuada estabilidade. Sem ela, o
744, grifo meu ) . Por isso, menos que seu objeto adquiriria !l0vos formatos
um núcleo estável, a estrutura aponta enquanto seu estudo se processava .
para a instabilidade do estruturado, for­ Noutras ' palavras, para que o método
mando-se um campo cujos componentes demonstre a instabilidade do estrutu­
- textos diversos que, muitas vezes, rado é preciso que o objeto apresente
nada parecem ter em comum - se uma certa estabilidade temporal, que a
comunicam, não por efeito de suas história n'ão tenha um ritmo tão acele­
semelhanças, mas em decorrência da rado que a sua metamorfose não impo'; -
164

sibilite O ritmo mais lento da reflexão vasto : a metáfora manteria esta funda­
estrutural. Ora, o discurso literário não mentalidade quanto a toda linguagem,
vive na "sociedade fria" em que os mitos sendo portanto indispensável compreen­
proliferam. Isso significa que a análise der o seu lugar ímpar se quisermos
estrutural encontra, face a ele, obstá­ pensar o problema da interpretação.
culos bem diversos dos que acompanha­ Analisando o argumento por partes :
ram a aplicação canônica do método ainda refletindo sobre a linguagem filo­
(basicamente, nos quatro volumes de sófica, Derrida a intitula de "mitologia
Mythologiques) . branca" por ser uma linguagem em que
se deteriorou a cena fabulosa, a arqui­
Por sua gravidade e, principalmente,
tetura imagética, a qual, no entanto, aí
por não termos resposta convincente , o
permanece inscrita, como se traçada por
problema não será atacado nesta intro­
tinta invisível. Por este tratamento, o
dução. Deixamo-lo como interrogação
autor aponta para uma conclusão mais
em estado puro, na esperança de que
geral : o conceito não é bem o que se
nossa travessia pela obra de Comélio
opõe à cena fabulosa - cena em que
Penna nos dê elementos para uma
as metáforas fermentam -, mas sim o
melhor reflexão futura. Por estas razões,
que a contém sob disfarce, tomando-a
nos inclinamos para a segunda contes­
ignorada de seu usuário. Daí que seria
tação, talvez menos problemática : 2 )
preciso transmitir à interpretação "este
toda interpretação repousa sobre um
valor de usura" (Derrida : 197 1 , 6 ) ,
fundo metafórico . Qual a sua validade,
entendendo-se por usura a qualidade do
portanto, se ela não resgata as metá­
que se mantém através do desgaste. O
foras inesgotáveis? Daí se tem inferido
que equivale a dizer : quer a linguagem
que a fixação de um sentido seria uma
filosófica, quer a interpretação em geral,
parada arbitrária contra a dinâmica ou
não ultrapassam o âmbito da "abstração
a pluralidade do texto ; uma violentação
empírica sem abandono do solo natal"
contra o leitor; um recurso escamotea­
( idem, idem) . Esta marca indissolúvel
dor, pois não se dá conta das metáforas
seria a consequência de a linguagem
que emprega para "explicar'" as metá­
estabelecer-se através de uma analogia,
foras de seu objeto. Embora tais con­
analogia entre comparados dissemelhan­
sequências não sej am expressamente
tes : a palavra e seu nomeado. Daí,
formuladas por Derrida, aparecem entre­ dentro desta linha, dizer com justeza
tanto coladas à sua reflexão. Notemos Silviano Santiago que o conceito vive de
como a colocação se formula e quais "a identificação do não-idêntico" (San­
seus efeitos. tiago, S. : 1 975, 1 5 ) . À diferença de
A reflexão do filósolo francês, tal J akobson, a analogi a é percebida no
como exposta em "La Mythologie blan­ momento mesmo da instalação da lin­
che" , supõe sua discordância com a tese guagem ; a analogia que se processa
de J akobson, segundo a qual a metá­ dentro dela, pelo eixo da seleção, já é
fora e a metonímia seriam de igual os dependente de uma analogia entre ela
mecanismos geradores da linguagem e algo diverso dela, conferida mesmo
(Jakobson : 1 9 5 6 ) . A indagação de em sua "origem" : "Analogia no inte­
Derrida, ao invés, ressalta a metáfora rior da linguagem se acha representada
e lhe assegura uma posição divers a : não. por uma analogia entre a linguagem e
geradora na linguagem, mas da lingua­ outra coisa que não ela" (Derrida : idem,
gem. Com efeito, embora o obj eto idem) .
explícito do ensaio de Derrida seja a Pensando com seriedade n a proposi­
linguagem filosófica, seu alcance é mais, ção do autor, notamos constituir-se a
LUfS COSTA LIMA 165

partir dela o seguinte encaminhamento ve : "Se quiséssemos conceber e classi­


alternativo : ou daí extraímos que, sendo ficar todas as possibilidades met?tóricas
todo conhecimento não matemático da filosofia, pelo menos uma metáfora
fundado em uma linguagem natural, toda sempre permaneceria excluída, fora do
interpretação, que não seja uma pará­ sistema : ( . . . ) a metáfora da metáfora"
frase, representa um ato de construção, (Derrida : 1 9 7 1 , 9- 1 0 ) , mostra que a
i.e., algo incerto, pois nunca haverá "origem" da analogia, a metametáfora,
tamanha transparência do conceito que é um vazio que lhe importa mesmo por
ele terminasse por coincidir com o seu ser um irremediável vazio, que justifica
objeto. Mesmo a suposição desta coin­ a maneira de proceder de seu discurso
cidência seria uma metáfora nociva, por interpretativo : menos uma penetração
supor a possibilidade de a interpretação n a rede metafórica do texto-objeto do
significar o alcance da coisa em si, em que uma participação nela, pela qual se
sua determinação natural, fora das continua a ativar a metaforicidade do
armadilhas da linguagem. O rumo con­ texto ein análise. Deste modo, compor­
traposto destacará, ao invés, que toda ta-se de modo contraposto ao que se dá
interpretação participa de um plural, de por parte de quem aceita a interpreta­
uma mesma e necessária pluralidade, a ção como construção, pois, para este, a
qual, já pela posição princeps da metá­ questão é estancar o jogo metafórico ,
fora, é inesgotável. Ou seja, a interpre­ através da descoberta de sua motivação ,
tação seria indecidível. Donde qualquer demonstrada pelo conjunto do sentido.
preocupação com a cientificidade da A via . de Derrida implica o prosse­
interpretação será ridícula. (No último guimento das infinitas combinaç ões
B arthes, encontra-se o exemplo mais metafóric as. Ao se saber mitologia
ilustre da acolhida desta tese ) . branca; . a filosofia se saberia da mesma
natureza que a literatura , a qual ainda
Se examinamos a alternativa formu­
receberia . a " crítica" como um outro
lada - a interpretação como constru­
gênero seu. E aqui percebem os o retorno
ção, a interpret ãção como indecidibili­
tático à idéia de origem : porque perdi­
dade -, podemos ter a impressão de
da, jamais haverá um fim para a meta­
ser ela falsa, pois a idéia da interpre­ foricidad e, que seria então a prova em
tação como construção e não reencontro negativo da origem.
não invalida per se a idéia da plurali­ O texto que o filósofo francês ante­
dade interpretativa. Mas a conciliação riormente dedicara à farmácia de Platão
é falsa ; aceitá-la será não perceber as bem nos · mostra a direção de sua rota.
diferenças mais profundas. Contentam o-nos com um pequeno
Na primeira posição, aceita-se a exemplo . Ao longo de seu ensaio, Der­
.

marca do conhecimento como ruptura, rida se esforçara em apreender a cadeia


violação e, daí, possibilidade de cons­ central sobre cujo campo semântico se
tante criação, a qual exige algo além elaborara basicamente o Fedro. O exame
de seu aparato demonstrativo, i.e., sua do texto, · bem como doutros diálogos
experimentação. Na segunda, ao invés, platônicos, já lhe permitira estabelecer
encontramos uma cumplicidade - táti­ a série : pharmakeia - pharmakon �
ca ou nostálgica, conforme seus prati­ pharmakeus. Derrida julga então neces­
cantes - com a questão da origem. A sário . acrescentar um outro elo, que
origem é aquilo que se confessa perdido, "entretanto parece ausente do 'texto
mas nunca esquecido, sendo por conse­ platôn ico'" (Derrida : 1 9 68, 1 48 ) . · 0
guinte uma marca que sempre orienta autor usa as aspas para chamar a aten­
a pesquisa. Quando então Derrida escre- ção sobre o problema capital do que é
1 66

a '.� s e n t,e ou presente no texto, Podemos cerra. É por esta razão que a interpre­
[Jpor - supor porque não somos nem tação de Derrida caracteriza-se menos
filósofos nem helen istas - que tenha por uma prática de rigor - embora ele
razão em denunciar a estreiteza com que mesmo a exij a - do que pela conivên­
o problema tem sido tratado, Deverá cia com a proliferação metafórica d a
ainda estar certo quando declara não linguagem. A interpretação assim se
h aver "com todo rigor um texto platô­ torna necessariamente plural. Já não é
nico, encerrado em si mesmo, com seu apenas a literatura que se declara polis­
dentro e seu fora" (idem, 1 49 ) , Estas sêmica, o mesmo passa a valer para a
considerações encaminham para a justi­ interpretação. Se a prática assim justi­
ficativa do elo pharmakos, Não presente ficada não será bem novaI a teoria não
no texto platônico, teria, contudo, direito deixa de sê-lo, donde seria exigível uma
de entrada na análise por efeito de duas argumentação mais eficaz. Por conse­
proximidades : 1 ) enquanto pharmakos guinte, em Derrida, mais do que uma
é sinônimo de pharmakeus, . empregado correção da empresa estruturalista, en­
por Platão, tendo porém o termo ausen­ contramos uma resistência a seu proj e­
te "a originalidade de haver sido sobre­ to. Sua interpretação não pode deixar
determinado, sobrecarregado pela cultu­ de ser tranquilizadora p ara os analistas
ra grega doutra função" (idem, idem) ; do discurso. A partir de Derrida, a exi­
2 ) porque pharmakos está "presente na gência de rigor demonstrativo passa
língua, remetendo a uma experiênci a para um segundo plano, em favor de
presente n a cultura grega e ainda do um neo-impressionismo desbragado ou
tempo de Platão" (idem, 1 48) , Deve­ morigerado .
remos portanto concluir que . o léxico
Se, em troca, adotamos a posição
genérico, contemporâneo a . um certo
contrária, a da interpretação como cons­
autor, seria objeto legítimo . da pesca
trução, da construção-incerteza, diremos
interpretativa, estabelecendo-:se para isso
que compete à teoria, não a introdução
um único limitador : "que as articulações
de ausentes que venham aumentar as
sejam rigorosa e prudentemente reconhe­
combinações metafóricas, mas sim dar
cidas" (Derrida : 1 9 6 8 , 1 49 ) . Mas, q ue
condições de compreender o que falam
rigor e prudência poderão ser eficaz·��
se são aplicadas sobre a curiosa unani­ as metáforas e, simultaneamente, de re­
fazer o caminho que teria conduzido a
midade entre autor e o continente de
tal resultado.
sua língua? Tais postulados metodológi­
cos só deixarão de parecer extremamente Tratando de problema distinto, o da
. aleatórios e arbitrários se levarmos em relação entre o conhecimento físico e a
conta a posição do autor sobre as rela­ percepção, Piaget se colocara em posi­
ções entre conceito e metáfora. O papel ção muito mais afim da que adotamos :
de uma metodologia qualquer é estabe­ " . , . a percepção nunca opera sozinha :
lecer as regras de uso de técnicas e não descobrimos a propriedade de um
. conceitos, aquelas subordinadas a estes, objeto senão acrescentando alguma coisa
Mas, se a teoria que orienta o estabe­ à percepção. E o que lhe acrescentamos
lecimento metodológico, parte do supos­ não p assa, precisamente, de um con­
to de que não há de controlar a meta­ junto de quadros lógico-matemáticos,
foricidade do uso dos conceitos, mesmo que são os únicos a tornarem possíveis
porque o conceito não abandona o solo as leituras perceptivas" ( Piaget, J. :
da metáfora, então aquele estabeleci­ 1 957, 9 1 ) . É este "conjunto de quadros
mento é, desde logo, algo suspeito, não lógico-matemáticos" ou, acrescentamos,
importando a imprecisão em que se en- lógico-matematizáveis que tem o papel
L u t S COSTA LIMA 1 67

de estancar o jogo metafórico. Como algum passo adiante do ponto de vista


entretanto todo conceito é "a identifi­ do conhecimento. A esterilidade daí
cação do não-idêntico", todo conceito resultante não é ingênua ou inocente. À
estabelece uma tensão interna : procura medida que por ela o poder do crítico
dizer da metáfora, partindo, porém, de continua a ser determinado pela posição
um campo tão simbólico quanto o da que a sociedade lhe concede, à medida
metáfora. Para então evitar - mais que esta concessão depende do acordo,
certo será dizer : diminuir o risco - normalmente de forma tácita, que se
que o conceito seja parte de uma mito­ estabeleça entre o exercício daquele
logia que se desconhece a si mesma, é poder e os outros poderes sociais cons­
preciso que faça parte de um sistema tituídos, a aludida esterilidade termina
que não só opere, mas revele por que por ser socialmente justificada. Produ­
assim opera. Deste modo torna-se pos­ ção parasita que defende, por seu para­
sível a outro analista descobrir a falha sitismo, o status quo. Como esperamos
de uma análise precedente ou a sua proximamente demonstrar, em ensaio
possibilidade de ultrapasse. A teorização por enquanto apenas ideado, o próprio
à qual um conceito se subordina pode da mimesis é esconder a diferença que
ser mais lacunosa que a sua operacio­ sustenta quanto ao "imitado", diferenca
nalização, a operacionalização pode ser aue impede o mimema de ser um duplo
mais pobre do que permitiria seu perfil do "imitado" . . . aí podemos inferir que
teórico ou ainda a teorização pode se é próprio dos discursos mim éticos - os
confessar incompetente em explicar discursos da literatura, do sonho e do
certo uso que dela se faz. Em qualquer mito - serem virulentos e, ao mesmo
dos casos, o campo teórico não deve ser temoo, esconderem sua virulência. Só
uma mera racionalização da prática analiticamente, o escamoteado se torna
mais comum e mais fácil. O teórico há reveIável. O ataque portanto contra
de ser tão criador quanto o objeto de linhas teóricas aue procurem o conheci­
criação a que se dirige, no caso o dis­ mento da metáfora - usada a palavra
curso, em sua espécie literária ou não. �m seu significado amplo -, a defesa

Supor o contrário será manter o mito do da crítica como gênero literário é feito
poeta. a incompreensão do poema e a não em favor da literatura, não em fa­
identificação da ciência com a tecno­ vor da gratificação do leitor, mas sim
loria. da sociedade que suscita a virulência
Dentro da linhagem teórica que segui­ da mimesis.
mos, a necessidade imediata de retifi­ À posição que assumimos n ão se
cação de resultados é imposta pela ex­ associa a pretensão de que a interpre­
trema dificuldade de semantizar-se com tação daí resultante seria a única cor­
p recisão as unidades constitutivas do reta, como se ela encarnasse o represen­
plano do sentido : "As dificuldades com tante da verdade. Em ciência, proposi­
que se defronta o tratamento lógico­ ção verdadeira é apenas aquela que,
-matemático ( . . . ) são doutra nature­ durante algum tempo, não se demonstra
za. Têm a ver, desde logo, com o emba­ falsa. O certo da verdade, oelo menos
raço em que nos encontramos em definir n a ciência, é ser incerta. A nretensão

sem equívoco as unidades constitutivas de unicidade muito menos é cabível


do mito, seja como termos, seja como porque, ao se introduzirem novas rela­
relações" (Lévi-Strauss : 1 9 7 1 , 567) . ções, que modificarão o perfil inteq>re­
Não será, por conseguinte, alegando o tativo : "Quando se lhes define por um
"plural do texto", a polissemia da lite­ número restrito de oposições ( . . . ) ,
ratura que teremo s oportunidade de dar vários mitos então se organizam em
168

grupo fechado. Isso não deve fazer com Da consequência anterior deriva, me­
que se descure o fato de que, encarados diatamente, uma terceira : c) o reverso
sob outras perspectivas, (os mitos) per­ daquela resistência é o fascínio que sen­
manecem desdobrados em um hiper­ timos pelos padrões ditos científicos. A
-espaço, onde também figuram o utros ciência é hoje uma espécie de ideal do
mitos, cujas propriedades n ão são esgo­ ego à disposição de todos. Esta proposta
tadas pela análise precedente" (Lévi­ contudo mascara a realidade da própria
-Strauss : 1968, 84) . ciência, convertendo o que lhe é pró­
Das páginas anteriores se inferem prio, o trabalho incerto da construção,
duas consequências imediatas : a) ao crí­ no que já faz parte da apropriação
tico contemporâneo cabe, não a atitude social da ciência : a idéia de que é uma
de euforia ante o prestígio atual de que técnica que esconjura os fantasmas, que
se vê cercado, mas sim a verificação da nos oferece tranquilidade e boa posição.
ilegitimidade com que ( ainda) desem­ Pela segunda consequência, o crítico
penha o direito que se lhe outorga; b ) literário deveria manter uma atitude de
que h á séculos enclausurado n o âmbito suspeita contra si e contra o filósofo;
das chamadas disciplinas humanistas, ele pela terceira, contra si enquanto facil­
tende a gerar ou a absorver mecanismos mente levável a suspeitar do filósofo.
de resistência às tentativas de melhor Mas está fora de dúvida que se pode
objetividade. Afinal qual a sua vanta­ viver sem tais suspeitas e cuidados. Na
gem, qual seu proveito, senão o distan­ ilegitimidade do próprio poder.
ciamento ainda maior de nossos raros
leitores? Rio, Abril e Outubro de 1 9 75

Notas
1. Wenn die Bedingungen für die Aufnahme lyrischer Dichtungen
ungünstiger geworden sind, so liegt es nahe, sich vorzustellen, dass
die lyrische Poesie nur noch ausnahsweise den Kontakt mit der
Erfahrung der Leser wahrt", "Über einige Motive bei Baudelaire"
( 1 9 39 ) . Edição citad a : Walter Benjamin, Gesammelte Schriften, 1-2,
Suhrkamp Verlag, Frankfurt 1 974, pág. 608 . ("Se as condições
para a acolhida da poesia lírica se tornam mais desfavoráveis, é-se
levado a crer que a poesia lírica apenas excepcionalmente ainda
mantém o contato com a experiência do leitor".
2. " . . . sie ( die Erzahlung) ist eine der altesten Formen der Mitteilung.
Sie liegt es nicht darauf an, das pure An-sich des Geschehenen zu
übermitteln (wie die Information das tut) ; sie senkt es dem Leben
des Berichtenden ein, um es als Erfahrung den Horern mitzugebe.
( . . . ) Proust achtbandiges Werk gibt einen Begriff davon, welcher
Anstalten es bedurfte, um der Gegenwart die Figur des Erzahlers
zu restaurieren", op. clt., pág. 6 1 1 ("A narração é uma das mais
LurS COSTA LIMA 169

antigas formas de comunicação. Ela não se atém, ao contrário da


informação, a transmitir o puro em si do acontecimento ; o inclui
na vida do que relata para transmiti-la como experiência ao ouvinte.
( . . . ) A obra em oito tomos de Proust dá uma idéia do que foi
preciso para restaurar a atualidade da figura do Narrador" ) .
3. Abra-se exceção para um Poe. Em "The Poetic principIe" ( publi­
cado postumamente, em 1 8 5 0 ) , escrevia : "It has been assumed,
tacitly and avowedly, directly and indirectly, that the ultimate object
of alI Poetry is Truth. ( . . . ) In enforcing a truth, we need severity
rather than efflorescence of language. We must be simple, precise,
terse. We must be cool, unimpassioned. In a word, we must be in
that mood which, as nearly as possible, is the exact converse of the
poetical" ( cito a reedição in Selected writings of Edgar A llan Poe,
Riverside Editions, Boston 1 9 56, pág. 468-9 ) . A exigência de Poe em
favor de um modo que fosse "na medida do possível, o exato oposto
do poético" se impunha não só para o poeta, no que antecipava - as
Fleurs du mal, como para seu analista.
;"
4 �- Cf. "O Labirinto e a esfinge", introdução geral a A teoria da litera­
tura em suas fontes, seleção, introdução e organização de Luiz Costa
Lima, Francisso Alves, Rio, 1 9 7 5 .
4. Cf. "O Labirinto e a esfinge", introdução geral a A Teoria da lite­
ratura em suas fontes, seleção, introdução e organização de Luiz
Costa Lima, Francisco Alves, Rio, 1 9 7 5 .
5. Por espelhismo conteudista entendemos que, por seu tipo de atuação,
fundado na reGfão do leitor ante uma cadeia sintagmática, a leitura
estética não tem meios contra o fato de terminar sendo predominan­
temente uma auto-leitura do analista, que, entretanto, pretende estar
falando do outro, da obra que considera.
6. Para um aproveitamento diverso da polaridade "meaning" "signifi­
cance", cf. de João Alexandre B arbosa o capo "Exercícios de defi­
nição", in A Metáfora crítica, Perspectiva, São Paulo, 1 974.
7. Para um exame agudo, embora não definitivo, da questão do círculo
hermenêutico, cf. de WaUace Martin "The Hermeneutic circle and
the art of interpretation", in Comparative literature, XXIV ( 2 ) , ·
University of Oregon, Eugene 1 9 72. ( Trad. brasileira in à Teoria
da literatura em ,suas fontes, op. cit. ) .
8. Note-se que Chatman faz este comentário a partir de um ensaio de
Wimsatt ( "One relation of rhyme to reason", hoje in The Verbal
icon ) . Isso mostra o quanto Wimsatt se aproxima da formulação que
nos parece desej ável, embora não a tenha explicitado .
1 70
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e o segundo por sua tradução in A Teoria da literatura em suas fontes,
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