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247-Texto Do Artigo-963-1-10-20170511
247-Texto Do Artigo-963-1-10-20170511
RESUMO:A maconha é o psicoativo mais utilizado na história. Com mais de 400 substâncias, a
cannabis sativa possui 60 tipos de canabinóides, dentre os quais dois se destacam pela finalidade
terapêutica: o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CDB). O THC, não obstante seus efeitos
medicinais, possui efeitos cognitivos e psicológicos conhecidos como “barato” da planta, o que traz um
entrave ao seu uso. No entanto, o CDB vem recebendo expressiva atenção da medicina. Isso por causa
dos seus benefícios em diversas patologias e por não causar, a princípio, dependência química – pois os
estudos acerca disto foram inconclusivos. No presente estudo, buscou-se focar nos recentes casos de
pacientes que utilizam a maconha de forma medicinal, e que buscam na justiça o direito a importar e/ou
cultivar a planta em busca de uma melhor qualidade de vida. Por fim, com bases nos inúmeros benefícios
terapêuticos da maconha, acentua-se o direito à vida e à dignidade da pessoa humana como direitos
supremos.
PALAVRAS-CHAVE: Cannabis sativa, Uso medicinal, Canabidiol, Vida, Dignidade da Pessoa Humana.
INTRODUÇÃO
Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (2012), Cannabis sativa
conhecida como maconha é a substância ilícita mais consumida no mundo. Países como
Portugal, Espanha, Canadá, Uruguai, Estados Unidos da América (19 Estados) Holanda
e Israel, dentre outros, legalizaram a maconha e fazem uso de suas propriedades
terapêuticas. Estudos têm demonstrado em larga escala que o uso dos elementos
1 BREVE HISTÓRICO
A Cannabis sativa, conhecida como maconha,é uma planta que apresenta propriedades
terapêuticas e vem sendo utilizada, há séculos, pelo mundo para diversos fins; é um
arbusto pertencente à família Moraceae, denominada popularmente por cânhamo da
Índia (Honório, 2006).
Os primeiros relatos de sua presença no Brasil datam do século XVIII para a produção
de fibras, o cultivo e beneficiamento desta planta teve apoio da Coroa Portuguesa em
lugares como Santa Catarina (1747), Rio Grande de São Pedro (entre 1762 e 1766) e
Rio de Janeiro (a partir de 1772). No entanto, acredita-se que a planta já existe há mais
tempo, tendo sido utilizada pelos escravos (CEBRID).
Em 1961, a Convenção Única de Drogas Narcóticas proibiu seu porte, consumo e
comercialização, sendo a cannabis reconhecida como droga ilícita mais consumida no
mundo. Atualmente há criticas quanto à lógica utilizada na época para classificação das
substâncias psicoativas em lícitas e ilícitas, arbitrária e sem relação com o potencial
destas substâncias em causar danos ao indivíduo que as usa (Pamplona, 2014).
Deste modo, o uso terapêutico da cannabis sativa tem causado grandes debates entre a
comunidade médica, científica e também a jurídica. Isso porque, em que pese os
inúmeros estudos, não existe uma comprovação fática de que esse uso cause ou não
dependência química.
3.1.3 Benício
Outro caso semelhante aos supramencionados teve grande repercussão na mídia
nacional. O oncologista Leandro Ramires, pai de Benício, com 6 anos de idade, deu a
“cara à tapa” e publicou na internet diversos vídeos da evolução do filho com o uso do
canabidiol.
Em um dos vídeos, o pai aparece ministrando uma dose de CDB em Benício no meio de
uma crise epilética. Nos demais, ele demonstra a notória melhora do filho e a evolução
no quadro com a administração da substância. Leandro também publicou um vídeo onde
explica como elabora a mistura de canabidiol com iogurte e óleo de gergelim.
“Beni”, como o próprio pai se refere ao menino nos vídeos, foi diagnosticado em
novembro de 2011 com a síndrome de Dravet, uma das doenças que determinam um
quadro de epilepsia de difícil controle.
Segundo o pai, em recente entrevista a um veículo de comunicação:
“Os médicos receitaram diversos medicamentos fortes para a doença de Benício. Mas,
mesmo tomando 13 comprimidos por dia, as crises diárias continuavam. Foi então que
eu soube que os pais de Anny estavam usando o Canabidiol para medicar a filha. Entrei
em contato e eles me passaram o caminho das pedras, a estratégia para trazer ao Brasil.
[...]. O produto é fabricado na Califórnia e vem em seringa plástica, na forma de pasta”.
Leandro, que, à época, ainda não tinha a autorização da ANVISA para a importação da
substância, afirmou categoricamente que: “Não existe autoridade no Brasil que me
impeça de dar CBD ao meu filho. Sei que importando o produto posso ser condenado
por três crimes: tráfico internacional de drogas, articulação por tráfico e por dar a
substância para o meu filho. Não tenho dúvida dos benefícios do CBD. Se for impedido
de fazer isso, eu imigro para o Uruguai”.
O médico afirma que Benício apresentou uma excelente resposta ao canabidiol. O filho,
que antes tampouco olhava nos olhos do pai, passou a entender a função dos objetos,
interagir melhor com ele e com as pessoas e dormir à noite toda. O bruxismo também
diminuiu.
Para o pai, o mais importante do tratamento é que as crises, que eram diárias,
diminuíram drasticamente. Em 76 dias de tratamento, foram apenas seis crises e bem
leves.
Mesmo com tantos benefícios, o uso terapêutico da cannabis é ilegal na maioria dos
países do mundo. Embora em muitos deles a droga tenha sido descriminalizada, os
medicamentos com seus componentes ainda não são regularizados, o que torna o
tratamento difícil e extremamente burocrático para quem precisa dele.
Entre os países que liberam o uso médico da maconha estão Estados Unidos, Itália,
Canadá, Espanha, Israel, Uruguai e Reino Unido. Os três principais países em que o uso
terapêutico da cannabis já foi aprovado:
4.2 URUGUAI
Em 23 de dezembro de 2013, o presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, assinou a lei
que tornou legalizado o consumo e o cultivo de maconha para fins medicinais e
recreativos em todo o Uruguai. A partir dessa data, toda pessoa residente no país teria
direito a se cadastrar em um banco de usuários e comprar a droga diretamente por
produtores regulados pelo Estado (Rasmussen, 2015).
4.3 ISRAEL
Em Israel, a maconha é proibida, mas desde 1992, pacientes que sofrem de
determinadas doenças podem fazer o uso de medicamentos que possuem substâncias da
cannabis. Estima-se que 20 mil pacientes tenham acesso à droga, que é comercializada
não só na forma de flores, para serem fumadas, mas também como óleo, presente em
bolos, chocolates e biscoitos (Rasmussen, 2015).
O país é considerado líder na ciência envolvendo a planta e é o responsável pelo maior
parte das pesquisa farmacêuticas relacionadas à maconha. É o caso da Syqe Medical,
empresa que desenvolveu um inalador que mede as doses usadas no medicamento,
permitindo que o médico tenham um maior controle sobre o tratamento. De acordo com
uma pesquisa realizada em 2013, 75% dos israelenses são a favor da maconha para fins
terapêuticos (Rasmussen, 2015).
7 O DIREITO
7.1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE À MACONHA
8 CONCLUSÃO
Em que pese as recentes mudanças das regras pela Anvisa, a maconha medicinal ainda
não está longe de ser liberada no Brasil. Isso porque, a autorização da Anvisa saiu em
resposta a uma decisão judicial - e a agência informou, através de nota, que está
adotando medidas judiciais cabíveis para derrubar a ação. “Tanto o canabidiol quanto o
THC não possuem registros no Brasil e, portanto, não têm sua segurança e eficácia
comprovadas”, disse a Anvisa.
A agência argumenta que muitos produtos à base de canabidiol e THC não são
registrados em seus países de origem e, por isso, não foram avaliados por nenhuma
autoridade de saúde competente. “Não é possível garantir a dosagem adequada e a
ausência de contaminantes e tampouco prever os possíveis efeitos adversos, o que
implica em riscos imprevisíveis para a saúde dos pacientes que os utilizarão, inclusive
com reações adversas inesperadas”, justifica a agência.
A regulamentação é fruto da pressão de inúmeros pacientes e da sociedade. Hoje é mais
fácil para os pacientes terem acesso a produtos à base de maconha do que em 2014, mas
o processo ainda é caro e burocrático. E a mudança nas regras avança conforme mudam
as regras da Anvisa, movidas lentamente à base de ações na Justiça.
No Brasil, enquanto não há uma política pública clara para a área, prevalecem as
decisões da Justiça e autorizações da Anvisa. Hoje, considerando as milhares de
autorizações expedidas, já se pode falar que no Brasil existem pessoas fazendo uso
descriminalizado da cannabis.
Acredita-se que a regulamentação do uso medicinal é um passo importante na reforma
da política de drogas quanto à cannabis e que sua descriminalização não significa, salvo
melhor juízo, legalizar o seu uso, mas sim, retirar o caráter criminal de algumas
condutas em relação às drogas.
Assim, entende-se que diante de inúmeras pesquisas sobre os benefícios terapêuticos da
maconha é salutar a discussão sobre sua legalização ou descriminalização para fins
terapêuticos. Portanto, o direito à vida e ao seu pleno gozo com saúde, bem como o
direito à dignidade da pessoa humana, refletem a importância de se revisar as leis e
alterar a política de drogas adotadas pelo Brasil com celeridade.
REFERÊNCIAS
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MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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Acesso em: 07/11/2016
Sei que posso ser condenado por três crimes, mas não vou parar.
Disponível:http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2014/08/sei-que-
posso-ser-condenado-por-tres-crimes-mas-nao-vou-parar.html> Acesso em: 07 de Nov.
de 2016.