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MV Fábio Mercante de San Juan

Fábio Mercante de ‘San Juan é Médico


Veterinário formado pela
Faculdade Moura Lacerda, em

Ribeirão Preto, SP. Atualmente está


cursando pós-graduação em Cannabis
Medicinal na Unyleya (instituição de
ensino reconhecida pelo MEC).

Pesquisador desde 2008 e clínico


endocanabinóide desde 2010, San Juan
atua diretamente no acompanhamento
terapêutico de seus pacientes.

Já palestrou em diversos cursos sobre


Cannabis no Brasil em parceria com
CEBRID, UNIFESP, entre outras
associações. Ministra cursos de
extensão e atualização profissional e já
conta com 1700 veterinários formados e
aptos a utilizar a medicina canabinoide
na rotina clínica.

É fundador da Dr. Petcannabis e idealizador do projeto Associação Brasileira Petcannabis


que tem como objetivo orientar médicos veterinários e tutores nos caminhos da terapia
canabinoide e dar acesso a medicina a todos os animais que necessitem!

Instagram: @dr.petcannabisoficial

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SUMÁRIO

1 História da Cannabis
2 Legislação
3 Fisiologia da planta Cannabis
3.1 Genéticas
4 Efeito Comitiva
5 Câncer x Cannabis
6 Fisiologia do SEC (Sistema Endocanabinoide)
7 Particularidades em Felinos
8 Potencial paliativo em casos terminais
9 Modulação do SEC (Sistema Endocanabinoide)
10 Introdução a Medicina Integrativa x Cannabis
10.1 Introdução
10.2 A construção do diagnóstico pela Medicina Integrativa
10.3 Terapias Integrativas utilizadas na Medicina Veterinária
10.4 A Estimulação do Sistema Endocanabinoide através dos mecanismos
neuromodulares da Acupuntura
10.5 A Modulação do Sistema Endocanabinoide a partir da Medicina Integrativa
11 Toxicologia
12 Extração da medicina
13 Interação medicamentosa
14 Casos clínicos de Cães
15 Casos clínicos de Felinos
16 Casos clínicos
17 Particularidades em animais Silvestres
17.1 Casos clínicos em animais Silvestres
18 Particularidades em Equinos
18.1 Casos clínicos em Equinos

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História da Cannabis

Há registros de cultivo da Cannabis já em 8000 A.C, e o primeiro relato de seu uso


medicinal foi feito pelo imperador chinês Chen Nung em 2717 a.C.

Essa planta já passou pela história dos romanos, persas, egípcios, judeus, árabes e
indianos, devido às suas propriedades analgésicas, anti-inflamatórias, benefícios na
insônia, desordens gástricas, febres, vômitos e também pelas suas propriedades de
modificação de humor. No século 19, o médico irlandês Willian O’Shaughnessy, em seus
estudos na Índia, tratou de um quadro de epilepsia refratária em uma criança (um tipo de
epilepsia cujos pacientes têm múltiplas crises convulsivas durante o dia e os
medicamentos habituais não conseguem controlá-las).

Naquela época o entendimento sobre o tema era bastante limitado e não havia muitas
opções de tratamento. O doutor, por experimento, ministrou ao seu jovem paciente uma
tintura feita com a planta Cannabis Sativa.

Ele observou que os números e a frequência das crises convulsivas se reduziram. Willian
então introduziu na medicina ocidental a Cannabis Sativa para o tratamento de epilepsia
refratária, reumatismo, espasmos musculares, cólica menstrual e dor.

No século 20, em 1910, durante a revolução mexicana, imigrantes trouxeram à cultura


dos Estados Unidos a forma recreacional da Cannabis, e o seu uso começou ser
associado a crimes. Notem que nessa época a Cannabis era prescrita por médicos e
vendida nas farmácias. Em 1915 a planta foi proibida para fins não medicinais.

De 1916 a 1937, jornais e revistas iniciaram uma forte propaganda associando a


Cannabis a crimes, desemprego e preconceito racial. Até que em 1937 ela foi proibida em
todo território americano, e chegou a ser descrita como a droga mais violenta do planeta.

Felizmente, em 1996 na Califórnia, uma iniciativa conhecida como “o ato da compaixão”,


modificou a lei em caráter estadual, permitindo que pessoas com câncer, anorexia, HIV,
espasmos musculares, glaucoma, artrite, enxaquecas e outras doenças crônicas
obtivessem legalmente o direito de utilizar e cultivar a Cannabis para uso medicinal.

Atualmente 46 estados americanos possuem leis locais que favorecem o uso medicinal
da Cannabis. O Canadá e Israel também possuem programas aprovados pelo Ministério
da Saúde que facilitam o acesso à planta e à informação relacionada a ela. A Cannabis
também é aprovada em boa parte da Europa e em alguns países da América Latina.
Colômbia, Chile, Uruguai e recentemente o Brasil retiraram o canabidiol da lista de
substâncias proibidas e avançam rumo à regulamentação para uso medicinal.

https://drapauladallstella.com.br/historia-da-cannabis-medicinal

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Aspectos Jurídicos

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO MÉDICO VETERINÁRIO

JURAMENTO DO MÉDICO VETERINÁRIO

Juro que, no exercício da Medicina Veterinária, cumprirei os dispositivos legais e


normativos, respeitando o Código de Ética profissional, buscando harmonia entre ciência
e arte, aplicando meus conhecimentos para o desenvolvimento científico e tecnológico em
benefício da saúde única e bem-estar dos animais, promovendo o desenvolvimento
sustentável. Assim eu juro!

PREÂMBULO

1 – O homem é livre para decidir sua forma de atuar a partir do conhecimento de seu ser,
das relações interpessoais, com a sociedade e com a natureza.

2 – A Medicina Veterinária é uma ciência a serviço da coletividade e deve ser exercida sem
discriminação de qualquer natureza.

3 – O Código de Ética do Médico Veterinário regula os direitos e deveres do profissional em


relação à comunidade, ao cliente, ao paciente, a outros profissionais e ao meio ambiente.

4 – Os médicos veterinários no exercício da profissão, independentemente do cargo ou


função que exerçam, sujeitam-se às normas deste código.

5 – Para o exercício da Medicina Veterinária com, INTEGRIDADE, RESPEITO, dignidade


e consciência, o médico veterinário deve observar as normas de ética profissional
previstas neste código, na legislação vigente, e pautar seus atos por princípios morais
de modo a se fazer respeitar, preservando o prestígio e as nobres tradições da profissão.

6 – A fiscalização do cumprimento das normas éticas estabelecidas neste código é da


competência dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária.
CAPÍTULO I DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Art. 1º Exercer a profissão com o
máximo de zelo e o melhor de sua capacidade

Art. 2º Denunciar às autoridades competentes qualquer forma de agressão aos animais e


ao meio-ambiente

Art. 3º Empenhar-se para melhorar as condições de bem-estar, saúde animal, humana,


ambiental, e os padrões de serviços médicos veterinários.

Art. 4º No exercício profissional, usar procedimentos humanitários preservando o bem-


estar animal evitando sofrimento e dor.

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Art. 5º Defender a dignidade profissional, quer seja por remuneração condigna, por
respeito à legislação vigente ou por condições de trabalho compatíveis com o exercício
ético profissional da Medicina Veterinária em relação ao seu aprimoramento científico.

CAPÍTULO II - DOS DEVERES

Art. 6º São deveres do médico veterinário:

I - Aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico


em benefício dos animais, do homem e do meioambiente;

V - Relacionar-se com os demais profissionais, valorizando o respeito mútuo e a


independência profissional de cada um, buscando sempre o bem-estar social da
comunidade;

VI - Exercer somente atividades que estejam no âmbito de seu conhecimento


profissional;
X - Informar a abrangência, limites e riscos de suas prescrições e ações profissionais;

XVI – comunicar aos órgãos competentes e ao CRMV de sua jurisdição as falhas nos
regulamentos, procedimentos e normas das instituições em que trabalhe, sempre que
representar riscos a saúde humana ou animal;

CAPÍTULO III - DOS DIREITOS

Art. 7º É direito do médico veterinário:

I - Exercer a Medicina Veterinária sem ser discriminado por questões de religião, raça,
sexo, nacionalidade, cor, orientação sexual, idade, condição social, opinião política ou de
qualquer outra natureza;

II - Apontar falhas nos regulamentos, procedimentos e normas das instituições em que


trabalhe, bem como em programas, regulamentos, normas, portarias, decretos e leis
municipais, estaduais e federais, com base em conhecimentos técnicos, comunicando o
fato aos órgãos competentes, e ao CRMV de sua jurisdição.
IV - prescrever, tratamento que considere mais indicado, bem como utilizar os recursos
humanos e materiais que julgar necessários ao desempenho de suas atividades;

CAPÍTULO IV - DO COMPORTAMENTO

Art. 8º É vedado ao médico veterinário:

I - Prescrever medicamentos sem registro no órgão competente, salvo quando se tratar de


manipulação;

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III - Receitar, ou atestar de forma ilegível ou assinar sem preenchimento prévio
receituário, laudos, atestados, certificados, guias de trânsito e outros;

VIII - Divulgar informações sobre assuntos profissionais de forma sensacionalista,


promocional, de conteúdo inverídico, ou sem comprovação científica;

XV - Receitar sem prévio exame clínico do paciente;


XVI- Alterar prescrição ou tratamento determinado por outro médico veterinário, salvo em
situação de indispensável conveniência para o paciente, devendo comunicar
imediatamente o fato ao médico veterinário desse paciente;

XXII - Realizar experiências com novos tratamentos clínicos ou cirúrgicos em paciente,


cujo projeto de pesquisa não tenha sido submetido e aprovado por Comitê de Ética;

XXIII - Prescrever ou administrar aos animais: a) drogas que sejam proibidas por lei;
XXVIII - Permitir a interferência de pessoas leigas em seus trabalhos e julgamentos
profissionais;

CAPÍTULO V - DA RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

Art. 9º O médico veterinário será responsabilizado pelos atos que, no exercício da


profissão, praticar com dolo ou culpa, respondendo civil e penalmente pelas infrações
éticas e ações que venham a causar dano ao paciente ou ao cliente...

II - Delegar atos ou atribuições privativas da profissão de médico veterinário;

CAPITULO VII - DO SIGILO PROFISSIONAL

Art. 11. Tomando por objetivo a preservação do sigilo profissional, o médico veterinário
não poderá:

I - Fazer referências a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou suas fotografias em


anúncios profissionais ou na divulgação, de assuntos profissionais em programas de
rádio, televisão, cinema, na Internet, em artigos, entrevistas, ou reportagens em jornais
revistas e outras publicações leigas, ou em quaisquer outros meios de comunicação
existentes e que venham a existir, sem autorização expressa do cliente;

V - Revelar fatos que prejudiquem pessoas ou entidades sempre que o conhecimento


advenha do exercício de sua profissão, ressalvados os atos de crueldade e os interessam
ao bem comum, à saúde pública, ao meio ambiente ou que decorram de determinação
judicial.

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CAPÍTULO IX - DA RELAÇÃO COM O CONSUMIDOR DE SEUS SERVIÇOS

Art. 17. O médico veterinário deve: I - conhecer as normas que regulamentam a sua
atividade;

Art. 18. O médico veterinário deve: I - conhecer a legislação de proteção aos animais, de
preservação dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável, da biodiversidade e
da melhoria da qualidade de vida;
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0038_12_ 08_2013.h tml

RESOLUÇÃO - RDC Nº 38, DE 12 DE AGOSTO DE 2013

Aprova o regulamento para os programas de acesso expandido, uso compassivo e


fornecimento de medicamento pós-estudo.

Art. 1º Fica aprovado o regulamento para condução dos programas de acesso expandido,
uso compassivo e fornecimento de medicamento pós-estudo.

Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, além das definições estabelecidas no art. 4º da
Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973, e no artigo 3º da Lei nº 6.360 de 23 de
setembro de 1976, são adotadas as seguintes definições:

I - Comunicado especial específico para acesso expandido e uso compassivo: documento


de caráter autorizador, emitido pela Anvisa, necessário para a execução de um
determinado programa assistencial no Brasil de medicamento novo, promissor, ainda sem
registro na Anvisa e quando aplicável, para a solicitação de licenciamento de importação
do(s) medicamento(s) necessário(s) para a condução do programa assistencial;

II- Doença debilitante grave: aquela que prejudica substancialmente os seus portadores
no desempenho das tarefas da vida diária e doença crônica que, se não tratada,
progredirá na maioria dos casos, levando a perdas cumulativas de autonomia, a sequelas
ou à morte;

X- Programa de uso compassivo: disponibilização de medicamento novo promissor, para


uso pessoal de pacientes e não participantes de programa de acesso expandido ou de
pesquisa clínica, ainda sem registro na Anvisa, que esteja em processo de
desenvolvimento clínico, destinado a pacientes portadores de doenças debilitantes graves
e/ou que ameacem a vida e sem alternativa terapêutica satisfatória com produtos
registrados no país;

Art. 5º As solicitações de anuência dos programas de acesso expandido e uso


compassivo serão analisadas de acordo com os seguintes critérios: I - gravidade e estágio
da doença; II - ausência de alternativa terapêutica satisfatória no país para a condição
clínica e seus estágios; III - gravidade do quadro clínico e presença de comorbidades; e IV
- avaliação da relação risco benefício do uso do medicamento solicitado.

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Art. 6º Deverá ser garantido o fornecimento do medicamento autorizado nos programas
de acesso expandido, uso compassivo e fornecimento de medicamento pós-estudo nos
casos de doenças crônicas enquanto houver benefício ao paciente, a critério médico.

DO PROGRAMA DE USO COMPASSIVO

Art. 13. Para o uso compassivo, a anuência da Anvisa é pessoal e intransferível.


Parágrafo único. O uso compassivo não admite formação de grupos e/ou inclusão de
pacientes na mesma solicitação.

Art. 14. O medicamento disponibilizado deverá apresentar evidência científica para a


indicação solicitada ou estar em qualquer fase de desenvolvimento clínico, desde que os
dados iniciais observados sejam promissores e que se comprove a gravidade da doença e
a ausência de tratamentos disponíveis.

Art. 19. São atribuições do médico responsável:

V - assumir a responsabilidade pela assistência médica em caso de complicações e/ou


danos decorrentes dos riscos previstos e não previstos nos programas de acesso
expandido ou fornecimento de medicamento pós- estudo.

Art. 23. A ANVISA poderá, durante os programas de acesso expandido, uso compassivo
ou fornecimento de medicamento pós estudo, solicitar informações adicionais aos
responsáveis pela sua execução ou monitoramento, bem como realizar inspeções a fim
de verificar o atendimento à legislação brasileira vigente e ao programa aprovado.

TERMO DE INFORMAÇÃO E ADESÃO DO PACIENTE

Deve ser redigido em linguagem acessível e conterá, necessariamente, os seguintes


elementos:

a) Informação de que se trata de produto ainda não registrado na ANVS/MS e, portanto,


não comercializado no Brasil; b) Que não se trata de uma pesquisa clínica, mas sim de
um novo recurso terapêutico cuja eficácia e segurança ainda estão em avaliação, e que
está sendo colocado à sua disposição pelo patrocinador, o qual deverá ser identificado; c)
A justificativa para a utilização do produto no paciente; d) Os desconfortos e riscos
possíveis incluindo os efeitos adversos e os benefícios esperados; e) Os métodos
alternativos existentes; f) Que o médico conhece suficientemente o produto, em relação
aos efeitos terapêuticos esperados, bem como os possíveis eventos adversos que
possam ocorrer com seu uso; g) Que o tratamento e seus resultados serão manejados
dentro da relação médico-paciente, com a ética e o sigilo por ela exigidos; h) Que
qualquer informação dada ao patrocinador, ou às autoridades de saúde manterá sua
privacidade; i) Que o paciente tem a liberdade de aceitar ou recusar esse novo recurso
terapêutico a qualquer momento, sem prejuízo do prosseguimento dos cuidados médicos,

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com outros métodos alternativos existentes; j) Que o produto está sendo fornecido
gratuitamente ao paciente pelo período determinado nesta

Resolução. O médico responsável pelo tratamento do paciente deve providenciar, antes


de administrar o produto dos programas de acesso expandido ou uso compassivo: a)
Explicação detalhada do termo de informação e adesão do paciente, esclarecendo
quaisquer dúvidas que o paciente possa ter; b) Que o paciente, ou seu representante
legal, de próprio punho, escreva seu nome e número do documento de identidade no
termo de informação e adesão do paciente; c) Que o paciente ou seu representante legal
assine e coloque a data no termo de informação e adesão do paciente. No caso da
assinatura ser substituída por impressão datiloscópica, deverá ser obtido a identificação e
assinatura de uma testemunha; d) Assinatura do médico responsável e data no termo de
informação e adesão do paciente; e) Manter em seus arquivos uma via do termo de
informação e adesão do paciente e fornecer outra via ao paciente ou seu representante
legal, ambas com os dados e as assinaturas acima descritos.
http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-da-diretoria-colegiadardc-n-327- de-9-de-
dezembro-de-2019-232669072

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA - RDC Nº 327, DE 9 DE DEZEMBRO DE


2019

Dispõe sobre os procedimentos para a concessão da Autorização Sanitária para a


fabricação e a importação, bem como estabelece requisitos para a comercialização,
prescrição, a dispensação, o monitoramento e a fiscalização de produtos de Cannabis
para fins medicinais, e dá outras providências.

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES INICIAIS

Seção I Objetivos

Art. 1° Esta Resolução define as condições e procedimentos para a concessão da


Autorização Sanitária para a fabricação e a importação, bem como estabelece requisitos
para a comercialização, prescrição, a dispensação, o monitoramento e a fiscalização de
produtos de Cannabis para fins medicinais de uso humano, e dá outras providências.

Seção II Da Abrangência

Art. 2° O procedimento estabelecido no disposto nesta Resolução se aplica à fabricação,


importação, comercialização, monitoramento, fiscalização prescrição e dispensação de
produtos industrializados contendo como ativos derivados vegetais ou fitofármacos da
Cannabis sativa, aqui denominados como produtos de Cannabis.

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Seção III Definições
Art. 3° Para efeito desta Resolução, além das definições já dispostas na legislação
sanitária para fitoterápicos e fitofármacos, especificamente na Resolução da Diretoria
Colegiada - RDC nº 26, de 13 de maio de 2014, e na Resolução da Diretoria Colegiada -
RDC n° 24, de 14 de junho de 2011 e suas atualizações, são adotadas as seguintes
definições:

DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 4° Os produtos de Cannabis contendo como ativos exclusivamente derivados vegetais
ou fitofármacos da Cannabis sativa, devem possuir predominantemente, canabidiol (CBD)
e não mais que 0,2% de tetrahidrocanabinol (THC).

Parágrafo único. Os produtos de Cannabis poderão conter teor de THC acima de 0,2%,
desde que sejam destinados a cuidados paliativos exclusivamente para pacientes sem
outras alternativas terapêuticas e em situações clínicas irreversíveis ou terminais.

Art. 5° Os produtos de Cannabis podem ser prescritos quando estiverem esgotadas outras
opções terapêuticas disponíveis no mercado brasileiro.

Art. 7° A Anvisa concederá Autorização Sanitária para a fabricação e a importação de


produtos de Cannabis.

Art. 10. Os produtos de Cannabis serão autorizados para utilização apenas por via oral ou
nasal.

§ 5° Não são considerados produtos de Cannabis para fins medicinais os cosméticos,


produtos fumígenos, produtos para a saúde ou alimentos à base de Cannabis spp. e seus
derivados.

§ 6° Não é permitido que os produtos de Cannabis sejam comercializados sob a forma de


droga vegetal da planta Cannabis spp. ou suas partes, mesmo após processo de
estabilização e secagem, ou na sua forma rasurada, triturada ou pulverizada, ainda que
disponibilizada em qualquer forma farmacêutica.

Art.12. É proibida qualquer publicidade dos produtos de Cannabis.

Art.13. A prescrição dos produtos de Cannabis é restrita aos profissionais médicos


legalmente habilitados pelo Conselho Federal de Medicina.

Art.14. Não é permitida "Amostra Grátis" para os produtos de Cannabis.

Art. 15. É vedada a manipulação de fórmulas magistrais contendo derivados ou


fitofármacos à base de Cannabis spp.

Art. 18. Para fins da fabricação e comercialização de produto de Cannabis, em território


nacional, a empresa deve importar o insumo farmacêutico nas formas de derivado
vegetal, fitofármaco, a granel, ou produto industrializado.

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Parágrafo único. Não é permitida a importação da planta ou partes da planta de Cannabis
spp.

CAPÍTULO V DOS CONTROLES

Seção I Da Prescrição dos Produtos de Cannabis

Art. 48. Os produtos de Cannabis podem ser prescritos em condições clínicas de ausência
de alternativas terapêuticas, em conformidade com os princípios da ética médica.

§ 1° Os requisitos para a prescrição do produto de Cannabis não devem incluir razões de


custo, conveniência ou necessidades operacionais.

§ 2° Os produtos de Cannabis podem ser prescritos quando o médico prescritor for o


médico assistente diretamente responsável pelo paciente.

§ 3° O médico prescritor deve apoiar-se em dados técnicos capazes de sugerir que essa
alternativa pode ser eficaz e segura.

Art. 49. A indicação e forma de uso dos produtos de Cannabis são de responsabilidade do
médico assistente.

Art. 50. Os pacientes devem ser informados sobre o uso de produto da Cannabis,
devendo ser fornecidas, minimamente, as seguintes informações:

I - os riscos à saúde envolvidos; II - condição regulatória do produto quanto à


comprovação de segurança e eficácia, informando que o produto de Cannabis não é
medicamento; III - os possíveis efeitos adversos, tomando como exemplo, mas não
restrito à: sedação e comprometimento cognitivo, que podem impactar no trabalho, dirigir,
operar máquinas ou outras atividades que impliquem riscos para si ou terceiros; e IV - os
cuidados na utilização.

§ 1° O paciente ou, na sua impossibilidade, o seu representante legal, deve assinar


Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual deve estar complementado
com os dados específicos do produto de Cannabis.

§ 2° Deve ser utilizado o TCLE, conforme modelo estabelecido Anexo III desta Resolução
ou outro estabelecido pelos respectivos Conselhos de Classe.

§ 3° O TCLE deve ser assinado em duas vias, sendo uma retida pelo paciente ou seu
representante legal e outra arquivada pelo médico assistente.

Art. 51. A prescrição do produto de Cannabis com THC até 0,2% deve ser acompanhada
da Notificação de Receita "B", nos termos da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de
1998 e suas atualizações.

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Art. 52. A prescrição do produto de Cannabis com THC acima de 0,2% deve ser
acompanhada da Notificação de Receita "A", nos termos da Portaria SVS/MS nº 344, de
1998 e suas atualizações.

Seção II Da Dispensação dos Produtos de Cannabis

Art. 53. Os produtos de Cannabis devem ser dispensados exclusivamente por farmácias
sem manipulação ou drogarias, mediante apresentação de prescrição por profissional
médico, legalmente habilitado.

§1° A dispensação dos produtos de Cannabis deve ser feita, exclusivamente, por
profissional farmacêutico.

http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-rdc-n-335-de-24-dejaneiro-de- 2020-
239866072

RESOLUÇÃO - RDC Nº 335, DE 24 DE JANEIRO DE 2020


Define os critérios e os procedimentos para a importação de Produto derivado de
Cannabis, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição de profissional
legalmente habilitado, para tratamento de saúde.

CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS

Seção I Abrangência

Art. 1º Esta Resolução estabelece os critérios e os procedimentos para a importação de


Produto derivado de Cannabis, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição
de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde.

Seção III Condições Gerais

Art. 3º Fica permitida a importação, por pessoa física, para uso próprio, mediante
prescrição de profissional legalmente habilitado para tratamento de saúde, de Produto
derivado de Cannabis.

§ 1º A importação de que trata o caput deste artigo também pode ser realizada pelo
responsável legal do paciente ou por seu procurador legalmente constituído.

CAPÍTULO II DO CADASTRAMENTO DO PACIENTE

Art. 5º Para importação e uso de Produto derivado de Cannabis os pacientes devem se


cadastrar junto à Anvisa, por meio do formulário eletrônico para a importação e uso de
Produto derivado de Cannabis, disponível no Portal de Serviços do Governo Federal.

§ 1º O cadastramento deve ser feito em nome do paciente ou de seu responsável legal.


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§ 2º A aprovação do cadastro dependerá da avaliação da Anvisa e será comunicada ao
paciente ou responsável legal por meio de Autorização emitida pela Agência.

Art. 6º Para o cadastramento é necessário apresentar a prescrição do produto por


profissional legalmente habilitado contendo obrigatoriamente o nome do paciente e do
produto, posologia, data, assinatura e número do registro do profissional prescritor em seu
conselho de classe.

Art. 7º O cadastro é válido por 2 (dois) anos.

CAPÍTULO III - DA IMPORTAÇÃO


Art. 9º Somente após a aprovação do cadastro, o interessado poderá realizar as
importações do Produto derivado de Cannabis, pelo período de validade do cadastro.

Art. 12. As quantidades efetivamente importadas serão registradas pela Anvisa para fins
de monitoramento. Parágrafo único. Quando solicitadas pelas autoridades sanitárias
competentes, deverão ser prestadas informações ou realizada a entrega de documentos,
nos prazos fixados, a fim de não obstarem as ações e medidas que se fizerem
necessárias.

Art. 15. É vedada a alteração de finalidade desta importação, sendo o uso do produto
importado estritamente pessoal e intransferível e proibida a sua entrega a terceiros,
doação, venda ou qualquer outra utilização diferente da indicada.

Parágrafo único. É dever do importador observar e cumprir as disposições legais quanto à


proibição de comercialização, entrega a terceiros ou venda dos produtos importados, bem
como estar ciente das penalidades as quais ficará sujeito, nos termos da Lei nº 6.437, de
20 de agosto de 1977 e da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.

Art. 16. A responsabilidade, pelos danos à saúde individual ou coletiva e ao meio


ambiente, decorrente da alteração da finalidade de ingresso do produto no território
nacional é do importador.

Art. 17. A prescrição realizada pelo profissional e a solicitação de Autorização pelo


paciente ou seu responsável legal representam a ciência e o aceite por ambos da
ausência de comprovação da qualidade, da segurança e da eficácia dos produtos
importados, bem como pelos eventos adversos que podem ocorrer, sendo o profissional
prescritor e o paciente ou seu responsável legal totalmente responsáveis pelo uso do
produto.

Art. 18. Ficam revogadas:

I - a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 17, de 6 de maio de


2015, publicada no Diário Oficial da União nº 86, de 8 de maio de 2015, Seção 1, pág. 50;

II- a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 128, de 2 de dezembro de 2016, publicada


no Diário Oficial da União nº 232, de 5 de dezembro de 2016, Seção 1, pág. 33; e

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III - a Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 306, de 25 de setembro de 2019,
publicada no Diário Oficial da União nº 191, de 2 de outubro de 2019, Seção 1, pág. 801.
Art. 19. Esta Resolução entra em vigor a partir da data de sua publicação.

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Fisiologia da Cannabis

Cannabis é uma erva anual, dioica e angiospérmica. As folhas são compostas em forma
de palmeira ou digitadas, com folíolos serrilhados. [9] O primeiro par de folhas geralmente
tem um folíolo único, que cresce gradualmente até um máximo de cerca de treze folíolos
por folha (normalmente sete ou nove), dependendo da variedade e das condições de
crescimento. No topo de uma planta angiosperma, a quantidade diminui de novo para um
folíolo único por folha. Os pares de folhas inferiores geralmente ocorrem em um arranjo de
folhas opostas e os pares de folhas superiores em um arranjo alternativo na haste
principal de uma planta madura.

As folhas têm um padrão de venação peculiar que permite que pessoas não
familiarizadas com a planta possam distinguir uma folha de uma das espécies de
Cannabis, que têm folhas confusamente similares (ver ilustração). Como é comum em
folhas dentadas, cada uma tem uma veia central serrilhada estendendo-se até a ponta.
Este padrão de venação varia ligeiramente entre as variedades, mas, em geral, é possível
observar folhas de Cannabis superficialmente semelhantes sem dificuldade e sem
equipamento especial. Pequenas amostras de plantas de Cannabis também podem ser
identificadas com precisão pelo exame microscópico de células da folha e de
características semelhantes, mas que exigem conhecimentos e equipamentos especiais.
[10]

A Cannabis normalmente tem flores imperfeitas, com estames "masculinos" e pistilos


"femininos" que ocorrem em plantas separadas. [11] Não é incomum, no entanto, que
plantas individuais possam suportar tanto flores masculinas e femininas. [12] "Há muito
tempo os chineses classificaram a planta Cannabis como dioica"[13] e o dicionário Erya
(século III a.C.) define xi 枲 como "Cannabis macho" e fu 莩 (ou ju 苴) como
"Cannabis fêmea".[14]
Todas as cepas conhecidas de Cannabis são polinizadas pelo vento[15] e o fruto é um
aquênio.[16] A maioria das cepas de Cannabis são plantas de dias curtos,[15] com a
possível exceção da C. sativa subsp. sativa var. spontanea (= C. ruderalis), que é
comumente descrita como possuidoras de "auto-floração" e podem ser plantas neutras
em relação ao dia.

A Cannabis, como muitos outros organismos, é diploide, com um complemento


cromossômico de 2n = 20, embora certos indivíduos poliploides já terem sido
artificialmente produzidos.[17] A primeira sequência do genoma da Cannabis, que é
estimada em 820 megabases de tamanho, foi publicado em 2011 por uma equipe de
cientistas canadenses.[18] Acredita-se que a planta originou-se no noroeste regiões
montanhosas do Himalaia. Ela também é conhecida como cânhamo, embora este termo
seja usado frequentemente para se referir apenas às variedades de Cannabis cultivadas
para uso industrial e não em drogas recreativas. As plantas de Cannabis produzem um
grupo de substâncias químicas chamadas canabinóides, que produzem efeitos físicos e
mentais quando consumidos.

16
Canabinóides, terpenoides e outros compostos são secretados por tricomas glandulares
que ocorrem mais abundantemente sobre os cálices florais e brácteas das plantas
femininas.[19] Como uma droga que geralmente vem em forma de botões de flores secas
(maconha), resina (haxixe) ou vários extratos conhecidos coletivamente como o óleo de
haxixe.[3] No início do século XX, tornou-se ilegal na maior parte do mundo cultivar ou
possuir maconha para venda ou uso pessoal.

Diferença entre Cannabis indica e Cannabis sativa

A Cannabis indica pode ter uma relação CBD/THC de 4 a 5 vezes maior que a Cannabis
sativa. As cepas de cannabis com índices de CBD/THC relativamente altos são menos
propensas a induzir à ansiedade, do que ao contrário. Isto pode acontecer devido a
efeitos antagonistas do CBD nos receptores de canabinóides, em comparação ao efeito
do THC agonista parcial. O CBD também é um agonista do receptor 5-HT1A, o que
também pode contribuir para um possível efeito ansiolítico.[33] Isto provavelmente significa
que as altas concentrações de CBD encontrados na Cannabis indica uma significativa
mitigação do efeito ansiogênico do THC.[33] Os efeitos da sativa são bastante conhecidos
por suas altas cerebral, portanto utilizada durante o dia como maconha medicinal,
enquanto os efeitos da indica são conhecidos por seus resultados sedativos e, portanto, é
mais utilizada preferencialmente durante a noite como
medicamento.[33]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cannabis

17
18
GENÉTICAS MEDICINAIS MAIS UTILIZADAS

OG KUSH
THC 16 - 21 % CBD <1% TERPENOS: Mirceno, Limoneno,
Cariofileno.

19
LEMON HAZE
THC 16 - 21 % CBD <1% TERPENOS: Terpino leno, Cariofileno, Ocimeno.

20
BLUE DEMON
-BSCseeds -Genética brasileira
THC 20 % CBD >6 % TERPENOS: Mirceno, cariofileno Limoneno.

21
COLOMBIA GOLD -THC 19 - 30 % CBD 1% TERPENOS: Mirceno , Linalol Humuleno

22
PURPLEDIOL CBD-- Os níveis de CBD estão em torno de 17% enquanto o THC é muito baixo em
cerca de 0,5%. O efeito que proporciona é relaxante corporal e leve, sem psicoatividade. As
aplicações terapêuticas provavelmente serão amplas e variadas

23
24
EUPHORIA -THC 9% CBD 10% TERPENOS: a-phandandrene, geraniol, Limoneno, valenceno, Mirceno e linalol

25
PURPLE KUSH CBD 1:1 AUTO THC- 7% -CBD- 8%

26
EFEITO ENTOURAGE OU EFEITO COMITIVA

As pesquisam mostram que derivados de Cannabis apresentados na forma full spectrum


afeta os pacientes de forma diferente que o THC, CBD ou qualquer outro canabinoide
isolado. Full Spectrum é o termo utilizado para definir derivados de Cannabis que não
passaram por nenhum processo de isolamento ou separação de canabinoides. Assim,
derivados full spectrum apresentam, em sua composição, todo o perfil canabinoide que a
planta utilizada produziu.

O CBD tem uma sinergia bem documentada com o THC reduzindo seus efeitos negativos
e ampliando seus benefícios.

Demais canabinoides, assim como muitos terpenos e flavonóides da maconha também


auxiliam o efeito entourage.

O efeito comitiva trabalha também para melhorar a absorção já que os compostos da


maconha são quimicamente polares o que dificulta sua absorção pelo corpo na forma
isolada.

A absorção de produtos tópicos fornece um exemplo desse problema. A pele é composta


por duas camadas que faz com que seja difícil a passagem de compostos muito polares
tais como a agua e canabinóides. Com o auxílio dos terpenos, como o cariofileno, a
absorção pode ser melhorada e os efeitos terapêuticos alcançados com mais facilidade.

Nas infecções bacterianas o efeito comitiva se mostra essencial. Existem uma grande
gama de estudos que demostram que os canabinoides tem um efeito antibacteriano
efetivo. Porem em alguns casos, as bactérias desenvolvem mecanismos de resistência
contra os antibióticos, sendo os componentes não canabinoides da maconha
indispensáveis pois atacam as bactérias de forma diferente dos canabinoides, tornando o
mecanismo de resistência bacteriana limitada.

Em 1998, os professores Raphael Mechoulam e Shimon BenShabat postularam que o


sistema endocanabinoide demonstrou um "efeito de comitiva" no qual uma variedade de
metabólitos "inativos" e moléculas estreitamente relacionadas aumentaram
acentuadamente a atividade dos canabinóides endógenos primários, Anandamida e 2-
araquidonoilglicerol (Ben-Shabat et al., 1998).

Embora a síntese de molécula única continue sendo o modelo dominante para o


desenvolvimento farmacêutico (Bonn-Miller et al., 2018), o conceito de sinergia botânica
foi amplamente demonstrado contemporaneamente, invocando as contribuições
farmacológicas de "canabinoides menores" e terpenoides de Cannabis para o efeito
farmacológico geral da planta (McPartland e Pruitt, 1999; McPartland e Mediavilla, 2001;
McPartland e Russo, 2001, 2014; Russo e McPartland, 2003; Wilkinson et al., 2003;
Russo, 2011).

Em um estudo controlado randomizado de extratos oromucosos à base de cannabis em


pacientes com dor intratável, apesar do tratamento otimizado com opioides, um extrato

27
predominante em THC não conseguiu superar o placebo, enquanto um extrato de planta
inteira (nabiximols, vide infra) com THC e CBD mostrou-se estatística e significativamente
melhor que ambos (Johnson et al., 2010).

Em estudos de analgesia em animais, o CBD puro produz uma curva bifásica de resposta
à dose, de modo que doses progressivamente maiores reduzem as respostas à dor de
forma dose-dependente até que um pico seja atingido. Após esse pico, aumentos
subsequentes na dose são ineficazes ou, às vezes, prejudiciais. A aplicação de um
extrato de Cannabis de espectro completo com doses equivalentes de CBD e THC elimina
a resposta bifásica em favor de uma curva linear dose-dependente, de modo que o extrato
botânico seja analgésico em qualquer dose sem efeito de teto observado (Gallily et al.,
2014).

Um estudo recente de várias linhas celulares de câncer de mama humano em cultura e


tumores implantados demonstrou superioridade de um tratamento com extrato completo
de Cannabis contra um THC puro. Tal superioridade pode ser atribuível à presença de
pequenas concentrações de cannabigerol (CBG) e ácido tetra-hidrocanabinólico (THCA)
no extrato completo (BlascoBenito et al., 2018).

Os efeitos anticonvulsivantes do canabidiol foram observados em animais já na década


de 1970, com os primeiros testes em humanos realizados em 1980, no Brasil (Cunha et
al., 1980). Um experimento recente, em camundongos, com convulsões induzidas por
pentilenotetrazol empregou cinco extratos diferentes de Cannabis com concentrações
iguais de CBD (Berman et al., 2018). Embora todos os extratos tenham mostrado
benefícios em comparação aos controles não tratados, foram observadas diferenças
importantes nos perfis bioquímicos dos canabinoides não-CBD, o que, por sua vez, levou
a diferenças significativas no número de camundongos que desenvolveram convulsões
tônico-clônicas (21,5 - 66,7%) e sobrevida (85 a 100%), destacando a relevância desses
componentes “menores”. Este estudo destaca a necessidade de padronização no
desenvolvimento farmacêutico e, embora possa ser interpretado como suporte ao modelo
terapêutico de molécula única (Bonn-Miller et al., 2018), exige ênfase que plantas
complexas possam atender aos padrões da FDA americana (Food and Drug
Administration, 2015). Especificamente, dois medicamentos à base de Cannabis
obtiveram aprovação regulatória, Sativex® (nabiximols, nome adotado nos EUA) em 30
países e Epidiolex® nos Estados
Unidos.
Surge então a pergunta: uma preparação de Cannabis ou molécula única pode ser muito
pura, reduzindo assim o potencial sinérgico? Dados recentes suportam isso como uma
possibilidade distinta. Informações anedóticas de clínicos que utilizam extratos de
Cannabis com alto teor de CBD para tratar epilepsia grave, como as síndromes de Dravet
e Lennox-Gastaut, mostraram que seus pacientes demonstraram notável melhora na
frequência de crises (Goldstein, 2016; Russo, 2017; Sulak et al., 2017) com doses muito
mais baixos do que os relatados em ensaios clínicos formais de Epidiolex, uma
preparação pura de CBD com 97% de THC removido (Devinsky et al, 2016, 2017, 2018; .
Thiele et aí, 2018). Essa observação foi recentemente submetida a metanálise de 11
28
estudos com 670 pacientes em conjunto (Pamplona et al., 2018). Esses resultados
mostraram que 71% dos pacientes melhoraram com extratos de Cannabis predominantes
em CBD versus 36% em CBD purificado (p <0,0001).

A taxa de resposta com melhora de 50% na frequência de crises não foi estatisticamente
diferente nos dois grupos e ambos os grupos alcançaram status livre de crises em cerca
de 10% dos pacientes.

No entanto, as doses diárias médias foram marcadamente divergentes nos grupos: 27,1
mg/kg/d para CBD purificado vs. apenas 6,1 mg/kg/d. Para extratos de Cannabis ricos em
CBD, uma dose é apenas 22,5% daquela para CBD isolado. Além disso, a incidência de
eventos adversos leves e graves foi comprovadamente maior em pacientes com CBD
purificado versus extrato de alto CBD (p<0,0001), resultado que os autores atribuíram à
menor dose utilizada, que foi alcançada em sua opinião pelas contribuições sinérgicas de
outros compostos, atuando em efeito comitiva.

Tais observações sustentam a hipótese de maior eficácia para os extratos de Cannabis


combinando vários componentes anticonvulsivantes, como CBD, THC, THCA, THCV,
CBDV, linalol e até mesmo cariofileno (Lewis et al., 2018).

Esses e outros estudos fornecem uma base sólida para a sinergia da Cannabis e
apoiam o desenvolvimento de medicamentos botânicos versus o de componentes únicos
(Bonn-Miller et al., 2018), ou a produção por métodos de fermentação em leveduras ou
outros microrganismos.

Um exemplo do poder do melhoramento seletivo convencional é a forma como um


quimiovar (linhagem) de Cannabis chamado CaryodiolTM, por seu conteúdo aprimorado de
cariofileno (0,83%), atua como agonista CB2, juntamente com uma relação THC:CBD do
Tipo III altamente favorável, de 1:39,4. Tal preparação pressupõe ser aplicável ao
tratamento de inúmeras condições clínicas, incluindo: dor, inflamação, distúrbios
fibróticos, dependência, ansiedade, depressão, doenças autoimunes, condições
dermatológicas e câncer (Pacher e Mechoulam, 2011; Russo, 2011; xi et al., 2011; Russo
e Marcu, 2017; Lewis et al., 2018).

Resumo efeito comitiva

Efeito entourage é a relação sinérgica entre todos os compostos químicos presentes na


Cannabis. Ou seja, ocorre quando o extrato completo da planta é utilizado (incluindo todos os
canabinoides, terpenos, flavonoides, entre outras substâncias) e não apenas partes isoladas.

Um benefício claramente observado é na interação entre os dois principais fitocanabinoides


THC e CBD. A associação de CBD ao THC auxilia na redução de potenciais efeitos colaterais
do THC, ao mesmo tempo em que a associação de THC ao CBD, auxilia na redução de dose
média necessária para tratar com o CBD.

29
No efeito em comitiva, as moléculas não só modulam os potenciais efeitos adversos de
algum componente, como também, potencializam os efeitos terapêuticos.

Essa pesquisa brilhantemente comparou grupos de pacientes com epilepsia grave e


refratária que faziam uso de CBD isolado a outros grupos com o mesmo quadro clínico,
mas que utilizaram o extrato da planta completa predominante em CBD.

Os resultados demonstraram que é necessário uma dose pelo menos 4 vezes maior de
CBD isolado, quando comparado ao extrato completo da planta para se chegar aos
mesmos efeitos terapêuticos.

Além disso, a incidência de efeitos adversos nos grupos que trataram com o CBD isolado
foi significativamente superior que nos grupos que trataram com o extrato da planta
completa.

Já esse estudo publicado em 2018 traz mais um relevante diferencial da prescrição de produtos
full spectrum (feitos com o extrato completo da planta) e do efeito entourage: ele demonstra o
aumento de respostas antineoplásicas em células tumorais do câncer de mama a partir da
administração dos extratos da planta completa com predominância do THC em comparação ao
THC isolado.

Fonte: https://wecann.academy/br/efeito-entourage

30
CÂNCER x CANNABIS

O site do Instituto Nacional do Câncer, que faz parte do Departamento de Saúde dos
EUA, indica que “os canabinóides podem ser úteis no tratamento dos efeitos colaterais
do câncer e do tratamento do câncer”. As substâncias foram estudadas como formas de
gerenciar os efeitos colaterais do câncer, incluindo dor, náusea, perda de apetite e
ansiedade. No entanto, o instituto sugere que estudos em laboratório e em animais
demonstraram que os canabinóides podem matar células cancerígenas enquanto
protegem as células normais, já que eles podem inibir o crescimento do tumor, causando
a morte celular e bloquear o desenvolvimento dos vasos sanguíneos necessários para o
crescimento dos tumores.

Antes demonizada, substâncias derivadas da cannabis vêm sendo cada vez mais
utilizadas. Hoje, mais da metade dos norteamericanos já têm acesso à maconha de
forma regularizada, para fins medicinais ou mesmo recreativos, mas o tabu ainda existe.
A Cancer Research Charity explica que não há evidências confiáveis suficientes para
provar que os canabinóides podem efetivamente tratar o câncer em pacientes, embora a
pesquisa esteja em andamento em todo o mundo.

Vale lembrar que um estudo de 2014 sobre o uso de canabinóides e radioterapia para
combater o câncer cerebral agressivo mostrou resultados promissores, mas a A FDA –
Agência Federal de Saúde Pública nos Estados Unidos, diz que as alegações são
simplesmente infundadas. Somente no ano passado o mercado global de cannabis
movimentou US$ 18 bilhões. Se a guerra contra à planta já foi declarada perdida, ainda
há um longo caminho pela frente, sobretudo no que diz respeito a tabus e preconceitos.

Fonte: https://www.hypeness.com.br/2019/10/cannabis-pode-de-fato-matar-
celulascancerigenas-assume-governo-dos-eua/

Atividade antitumoral

A atividade antitumoral surge com a descoberta de receptores canabinoides nas células


cancerosas. Da interação com esses receptores, os canabinoides desencadeiam efeitos
antitumorais, confirmados in vitro e in vivo em vários tipos de tumores. Os mecanismos
relatados na ação antitumoral assentam na capacidade de bloqueio de várias vias envolvidas
na progressão das células cancerosas. Assim, retrai-se o crescimento dessas células, através
da inibição da sua proliferação e da indução da sua morte por autofagia e apoptose. Dessa
forma, os canabinoides demonstram ainda prejudicar a angiogênese e processos metastáticos.

31
Mecanismos de ação antitumoral

Com a descoberta dos receptores de membrana celular canabinóides CB1 e CB2 em células
malignas, a pesquisa básica em oncologia, envolvendo a cannabis, ganhou novo impulso
apesar de toda a proibição. Vários estudos demonstraram que os canabinóides, agonistas dos
receptores CB1 e CB2, podem atuar como agentes antitumorais diretos, em uma variedade de
tumores agressivos. Além do THC, existem muitos outros canabinóides encontrados na
cannabis, sendo que a maioria deles produz pouco ou nenhum efeito psicoativo importante. O
mais conhecido e estudado é o CBD, que já apresenta papel significativo em neurologia,
psiquiatria e imunologia.

Em modelos experimentais animais, tanto CBD quanto THC têm apresentado resultados muito
interessantes, e até surpreendentes, no sentido de impedir a progressão e promover a redução
da massa tumoral em câncer de mama, pulmão, próstata, cólon, glioblastoma e endométrio
mais recentemente.

Os mecanismos de ação antitumoral, relacionados aos canabinoides, têm sido evidenciados


em estudos in vitro e em modelos experimentais in vivo. Merecem destaque os descritos a
seguir.
1. Indução da apoptose (morte celular programada) da célula maligna por ação
direta dos canabinoides nos receptores CB2, já identificados em células tumorais
humanas, bloqueando os fatores de crescimento epidérmico (EGFR/IGF-IR)
responsáveis pela divisão exagerada das células.
2. Redução da população de macrófagos no microambiente tumoral através da
diminuição de citocinas, que são substâncias recrutadoras dessas células que
trabalham a favor do desenvolvimento tumoral.
3. Redução da angiogênese, ou seja, da formação de novos vasos sanguíneos
necessários para o crescimento tumoral e de metástases.

Fonte: https://revistamedicinaintegrativa.com/apoptose-
induzida-por-canabinoide-emcelulas-cancerigenas-
endometriais/

32
FISIOLOGIA DO SEC (Sistema Endocanabinoide)
O sistema endocanabinoide (SEC) é o maior e mais complexo sistema de regulação a
nível bioquímico que já foi descoberto. Seus receptores se espalham para outros órgãos e
tecidos, é basicamente um sistema de comunicação celular regulatório, não restrito
apenas ao sistema nervoso central. Regula dor, mutagênese de células cancerígenas,
ciclo celular, humor, ciclo circadiano, reprodução, síntese e liberação de hormônios e
neurotransmissores, entre outros. Parece ser a versão evoluída de um sistema de
comunicação intercelular ancestral também encontrado em plantas: o sistema de ácido
araquidônico. De fato, a natureza bioquímica e origem fisiológica dos endocanabinóides
estão diretamente relacionadas ao ácido araquidônico.

O ácido araquidônico é um ácido graxo ômega 6 que participa do processo de sinalização


em plantas e animais. Nas plantas, modula as defesas contra infecções e sinalização de
estresse. Nos animais, é ponto fundamental no processo inflamatório e regula o
crescimento muscular, agregação plaquetária e vasodilatação.

O SEC tem ação neuromoduladora que inibe a liberação d ácido gamaminobutírico


(GABA) e glutamato (inibitório e excitatório, respectivamente). Os endocanabinoides
atuam de forma retrógrada e atuam tanto no neurônio pré-sináptico quanto no pós-
sináptico.

Encontrado em quase todos os animais, desde mamíferos até os filos mais primitivos,
como Cnidaria, o surgimento precoce do SEC na evolução do filo indica sua importância
biológica. Todos os animais, incluindo vertebrados (mamíferos, aves, répteis e peixes) e
invertebrados (ouriços do mar, sanguessugas, mexilhões, nematoides e outros), foram
encontrados como tendo sistema endocanabinoide.

O Hydra (H. vulgaris), um cnidário da classe Hydrozoa, é um dos primeiros animais na


escala evolutica com uma rede neural.O SEC já foi confirmado nessa espécie. A principal
função do SEC neste organismo primitivo foi determinada por De Petrocellis em 1999,
para controlar sua resposta alimentar [1].

Como as evidências indicam que todas as espécies veterinárias têm um SEC, um


entendimento nessas espécies do papel do sistema endocanabinoide será vital para o
desenvolvimento de aplicações clínicas, tanto para os canabinoides endógenos e
moléculas associadas, quanto para as moléculas vegetais derivadas principalmente da
Cannabis sativa L., como os fitocanabinoides, terpenos e flavonóides.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S000427302006000200025

O sistema endocanabinoide é constituído por receptores canabinoides,


endocanabinoides que os ativam e modulam, enzimas metabólicas e transportadoras de
membrana (endocananbinoid membrane transporter – EMT)

33
Os receptores canabinoides são proteínas transmenbrana acopladas à proteína G, que
transduzem a ação dos endocanabioóides ao interior celular. Essa ligação provoca
alterações metabólicas em uma ampla variedade de processos fisiológicos.

Este sistema tem um profundo envolvimento com a manutenção da homeostase no corpo


de, até onde sabemos, todos os mamíferos. Ele é fundamental desde a concepção até o
fim da vida, seja no momento da implantação do embrião até sua relação com doenças
degenerativas senis, sendo necessário portanto entender seu papel na fisiologia de
animais saudáveis e com as patologias. Apesar da controvérsia política e social
relacionadas à planta Cannabis Sativa, a comunidade médica deve ter ciência da
existência e da importância do sistema na qual as moléculas provenientes desta planta
agem. Devido ao uso adulto desta planta de forma recreativa, juntamente com o
preconceito institucionalizado envolvido, o uso da Cannabis foi proibido antes mesmo da
descoberta do sistema fisiológico atuante, provocando os atrasos que vemos atualmente
na propagação destes conhecimentos.

Descobertas recentes demonstram que as moléculas exógenas, como o delta-9-


tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), entre tantas outras, não passam de
meros moduladores neste sistema pouquíssimo debatido, na qual não a ciência ainda não
possui a perspectiva de sua magnitude.

Este sistema é denominado Sistema Endocanabinoide (SEC) e está presente em


diversos órgãos e tecidos como um mensageiro onipresente, com o objetivo de manter o
corpo em equilíbrio, ou seja, em homeostase. Acredita-se que ele exista em todas as
espécies de mamíferos e, embora algumas peculiaridades ocorram, segue padrões
fundamentais em todas elas.

O SEC é, basicamente, um sistema endógeno de sinalização celular. Ele modula a


comunicação intra e extracelular através dos Receptores Canabinoides (CBR) localizados
na membrana celular de células específicas. Esta modulação ocorre pela ligação de seus
transmissores lipídicos, denominados endocanabinoides (eCBs), sendo a terceira parte
que compõem este sistema enzimas que realizam sua síntese ou degradação.

Sendo um sistema regulatório, a literatura descreve seu envolvimento essencial em cinco


principais atuações: Relaxar, Comer, Dormir, Esquecer e Proteger. Dentro destas
atividades, o SEC está relacionado com a integração e modulação de variadas funções
como: apetite, digestão, metabolismo, padrões de sono, imunidade, inflamação, dor,
desenvolvimento embrionário, carcinogênese, plasticidade neurológica, neuro-proteção,
apoptose e respostas emocionais.

O SEC age através de dois principais receptores clássicos localizados na membrana


celular de células específicas, denominados: CB1 e CB2. Assim como os receptores de
dopamina, ambos são classificados como receptores acoplados a proteína G. As mesmas
agem ativando segundos mensageiros intracelulares e, devido a sua natureza

34
estimulatória ou inibitória dependendo do receptor ativado e de sua proteína G acoplada,
possuem a habilidade de agir como um "interruptor celular", aumentando ou diminuindo
estímulos com o objetivo de manter o equilíbrio do sistema.

Os Receptores CB1 tem função neurotransmissora e neuromodulatória, estando


presentes majoritariamente nos neurônios pré-sinápticos do Sistema Nervoso Central
(SNC) e Periférico (SNP), modulando a liberação de neurotransmissores pelos mesmos
conforme a necessidade, através do "mecanismo de feedback retrógrado" Assim, os
receptores canabinoides nesses neurônios reagem a alterações súbitas ou excessivas,
regulando a ação do neurônio pré-sináptico. A literatura atual está mostrando que este é
um dos receptores acoplados a proteína G mais abundantes no SNC em mamíferos.

Em pesquisas realizadas em cães saudáveis, comprovou-se a presença de receptores


CB1 em córtex cerebral, hipocampo, mesencéfalo, cerebelo, medula oblonga e na
substancia cinzenta da medula espinhal. Os astrócitos possuíam receptores CB1 em
todas as áreas examinadas. No SNP, estes receptores estão presentes em células
satélite no gânglio da raiz dorsal e em células de Schwann. Fora do Sistema Nervoso,
receptores CB1 estão presentes no trato gastrointestinal, hepatócitos, adipócitos, células
musculoesqueléticas, entre outros.

Os receptores CB2, por sua vez, estão localizados principalmente em células do sistema
imune, com a maior densidade localizada em macrófagos, linfócitos T, linfócitos B, células
NK, e monócitos, tendo função considerada imuno-moduladora. Estes receptores não são
tão esclarecidos quanto os CB1, embora já se possua uma grande literatura sobre os
mesmos. Isto ocorre devido à sua presença em uma grande variedade de células que
possuem diferentes funções reguladas pelos mesmos, além de sua variabilidade de
efeitos sobre elas. Eles também podem ser encontrados em órgãos como pulmões, pele,
trato gastrointestinal, assim como em células de suporte do sistema nervoso como a
micróglia, e em um pequeno número de neurônios.

Além dos 2 receptores clássicos já foram descobertos mais de


6 outros receptores envolvidos em todas as funções citadas. Eles são conhecidos como
Receptores Órfãos, sendo alguns deles também receptores acoplados à proteína G.
Devido a falta de especificidade destes receptores órfãos com seus ligantes, até o
momento nenhum deles é denominado CB3.

Ligação e excitabilidade neuronal

Nos neurônios pré-sinápticos, os canabinoides reduzem o influxo de cálcio, bloqueando a


atividade dos canais de cálcio dos tipos N, P/Qe L dependentes de voltagem. Além de
atuar nos canais de cálcio, a ativação de Gi/o e Gs - as duas proteínas G mais
comumente acopladas a receptores canabinóides, demonstrou modular a atividade do
canal de potássio. Estudos recentes descobriram que a ativação do CB1 facilita
especificamente o fluxo de íons de potássio através dos GIRKs, uma família de canais de
potássio.
35
Experimentos imuno-histoquímicos demonstraram que o CB1 é co-localizado com os
canais de potássio GIRK e Kv1.4, sugerindo que esses dois possam interagir em
contextos fisiológicos.
No SNC, os receptores CB1 influenciam a excitabilidade neuronal, reduzindo a entrada
sináptica recebida. Esse mecanismo, conhecido como inibição pré-sináptica, ocorre
quando um neurônio póssináptico libera endocanabinoides na transmissão retrógrada,
que depois se liga aos receptores canabinoides no terminal pré-sináptico.
Os receptores CB1 reduzem, então, a quantidade de neurotransmissores liberados, de
modo que a excitação subsequente no neurônio pré-sináptico resulte em efeitos reduzidos
no neurônio pós-sináptico. É provável que a inibição pré-sináptica use muitos dos
mesmos mecanismos de canal iônico listados acima, embora evidências recentes tenham
mostrado que os receptores CB1 também podem regular a liberação de
neurotransmissores por um mecanismo de canal não iônico, ou seja, através da inibição
mediada por Gi/o da adenilil ciclase e proteína cinase.
Foram relatados efeitos diretos dos receptores CB1 na excitabilidade da membrana que
impactam fortemente o disparo dos neurônios corticais. Uma série de experimentos
comportamentais demonstrou que o NMDAR, um receptor ionotrópico de glutamato e os
receptores metabotrópicos de glutamato (mGluRs) trabalham em conjunto com o CB1
para induzir analgesia em camundongos, embora o mecanismo subjacente a esse efeito
não seja claro.

40↑ Ir para:a b Twitchell W, Brown S, Mackie K (1997). «Cannabinoids inhibit N- and P/Q-type
calcium
channels in cultured rat hippocampal neurons». Journal of Neurophysiology. 78: 43– 50.
PMID 9242259. doi:10.1152/jn.1997.78.1.43

41↑ Ir para:a b Guo J, Ikeda SR (2004). «Endocannabinoids modulate N-type calcium channels
and G-proteincoupled inwardly rectifying potassium channels via CB1 cannabinoid receptors
heterologously expressed
in mammalian neurons». Molecular Pharmacology. 65: 665–
74. PMID 14978245. doi:10.1124/mol.65.3.665

42↑ Binzen U, Greffrath W, Hennessy S, Bausen M, Saaler-Reinhardt S, Treede RD (2006).


«Co-expression of the voltage-gated potassium channel Kv1.4 with transient receptor
potential channels (TRPV1 and
TRPV2) and the cannabinoid receptor CB1in rat dorsal root ganglion neurons».
Neuroscience. 142: 527–
39. PMID 16889902. doi:10.1016/j.neuroscience.2006.06.020

43↑ Freund TF, Katona I, Piomelli D (2003). «Role of endogenous cannabinoids in synaptic
signaling». Physiological Reviews. 83: 1017–66. PMID 12843414.
doi:10.1152/physrev.00004.2003

44↑ Chevaleyre V, Heifets BD, Kaeser PS, Südhof TC, Purpura DP, Castillo PE (2007).
«EndocannabinoidMediated Long-Term Plasticity Requires cAMP/PKA Signaling and
RIM1α». Neuron. 54: 801–
12. PMC 2001295 . PMID 17553427. doi:10.1016/j.neuron.2007.05.020

36
45↑ Bacci A, Huguenard JR, Prince DA (2004). «Long-lasting self-inhibition of neocortical
interneurons
mediated by endocannabinoids». Nature. 431: 312–
6. Bibcode:2004Natur.431..312B. PMID 15372034. doi:10.1038/nature02913

Papel da neurogênese do hipocampo

No cérebro adulto, o sistema endocanabinóide facilita a neurogênese das células


granulares do hipocampo. Na zona subgranular do giro dentado, os progenitores neurais
multipotentes (NP) dão origem a células filhas que, ao longo de várias semanas,
amadurecem em células granulares cujos axônios se projetam e promovem sinapse em
dendritos na região CA3. NPs no hipocampo demonstraram possuir amida hidrolase de
ácidos graxos (FAAH) e expressam CB1 e utilizam 2-AG. A ativação do CB1 por
canabinóides endógenos ou exógenos promove a proliferação e diferenciação de NP; esta
ativação está ausente nos nocautes do CB1 e abolida na presença de antagonista desse
receptor.

Indução de depressão sináptica


Os efeitos inibitórios da estimulação do receptor canabinoide na liberação de
neurotransmissores fizeram com que esse sistema fosse conectado a várias formas de
plasticidade depressiva. Um estudo recente realizado com o núcleo do leito da estria
terminal descobriu que a resistência dos efeitos depressores foi mediada por duas vias de
sinalização diferentes, com base no tipo de receptor ativado. Evidenciou-se que 2-AG age
de forma retrógrada sobre receptores CB1 pré-sinápticos para mediar a depressão a curto
prazo (STD), por ativação de correntes de cálcio do tipo L, enquanto que a anandamida é
sintetizada após a ativação de mGluR5, desencadeando efeito autócrino nos receptores
pós-sinápticos TRPV1, o que induziu depressão de longa duração (LTD). Dependências
semelhantes dos receptores pós-sinápticos foram encontradas no estriado, mas aqui os
dois efeitos dependiam dos receptores CB1 pré-sinápticos. Esses achados fornecem ao
cérebro um mecanismo direto para inibir seletivamente a excitabilidade neuronal em
situações e escalas de tempo variáveis. Ao internalizar seletivamente diferentes
receptores, o cérebro pode limitar a produção de endocanabinóides específicos para
favorecer uma escala de tempo de acordo com suas necessidades.

48↑ Ir para:a b c Jiang W, Zhang Y, Xiao L, Van Cleemput J, Ji SP, Bai G, Zhang X (2005).
«Cannabinoids promote embryonic and adult hippocampus neurogenesis and produce
anxiolytic- and antidepressant-like effects». Journal of Clinical Investigation. 115: 3104–16.
PMC 1253627 . PMID 16224541. doi:10.1172/JCI25509

49↑ Ir para:a b c Aguado T, Monory K, Palazuelos J, Stella N, Cravatt B, Lutz B, Marsicano G,


Kokaia Z, Guzmán M, Galve-Roperh I (2005). «The endocannabinoid system drives neural
progenitor proliferation». The FASEB Journal. 19: 1704–
6. PMID 16037095. doi:10.1096/fj.05-3995fje

37
50↑ Christie BR, Cameron HA (2006). «Neurogenesis in the adult
hippocampus». Hippocampus. 16: 199–207. PMID 16411231. doi:10.1002/hipo.20151

24↑ Ir para:a b c Puente N, Cui Y, Lassalle O, Lafourcade M, Georges F, Venance L,


Grandes P, Manzoni OJ. «Polymodal activation of the endocannabinoid system in the
extended amygdala». Nature Neuroscience. 14: 1542–7. PMID 22057189.
doi:10.1038/nn.2974

Sistema nervoso autônomo

A expressão periférica dos receptores canabinoides levou os pesquisadores a investigar


o papel dos canabinoides no sistema nervoso autônomo. A pesquisa descobriu que o
receptor CB1 é expresso pré-sinapticamente por neurônios motores que inervam os
órgãos viscerais. A inibição de potenciais elétricos mediada por canabinoides resulta em
uma redução na liberação de noradrenalina dos nervos do sistema nervoso simpático.
Outros estudos encontraram efeitos semelhantes na regulação endocanabinoide da
motilidade intestinal, incluindo a inervação dos músculos lisos associados aos sistemas
digestivo, urinário e reprodutivo.

23↑ Ir para:a b c d e f g Elphick MR, Egertová M. «The neurobiology and evolution of


cannabinoid signalling». Philosophical Transactions of the Royal Society of London.
Series B: Biological Sciences. 356: 381–408. PMC 1088434
. PMID 11316486. doi:10.1098/rstb.2000.0787

Sistema imunológico

Em experimentos de laboratório, a ativação de receptores canabinoide teve um efeito na


ativação de GTPases em macrófagos, neutrófilos e células da medula óssea. Esses
receptores também foram implicados na migração de células B para a zona marginal e na
regulação dos níveis de IgM.
Toda a comunicação entre as células do sistema imune é fortemente regulada pelo SEC.
A produção e liberação das citocinas, elemento central em toda a resposta imunologica é
modulada por esse sistema. De modo geral, os canabinoides podem atuam,
isoladamente, como inibidores de citocinas pró-inflamatórias e indutores de citocinas anti-
inflamatórias e linfócitos T reguladores. No entanto, quando combinados e,
especialmente, em conjunto com compostos como terpenos, atuam de forma
imunomoduladora ao invés de atuarem como imunossupressores.
58-Basu S, Ray A, Dittel BN. «Cannabinoid receptor 2 is critical for the homing and retention of
marginal zone B lineage cells and for efficient T-independent immune

responses». The Journal of Immunology. 187: 5720–32. PMC 3226756


. PMID 22048769. doi:10.4049/jimmunol.1102195

38
OS CANABINOIDES

Sua alta densidade nos gânglios da base está associada aos efeitos declarados na
atividade locomotora. A presença do receptor no hipocampo e no córtex está relacionada
aos efeitos no aprendizado e na memória e com propriedades psicotrópicas e
antiepilépticas.

A baixa toxicidade e letalidade dos canabinoides estão relacionadas à baixa expressão


dos receptores no tronco cerebral. O sistema endocanabinoide interage com vários
neurotransmissores, como acetilcolina, dopamina, GABA histamina, serotonina,
glutamato, noradrenalina, peptídeos opioides e prostaglandinas. Canabinoides sintéticos e
fitocanabinóodes exercem sua ação interagindo com os receptores canabinoides
prostaglandinas e peptídeos opioides. A interação com esses neurotransmissores é
responsável pela maioria dos efeitos farmacológicos dos canabinóides.

O Sistema Endocanabinóide encontra-se envolvido em diversos processos fisiológicos


como dor, balanço energético, apetite, homeostase, fertilidade, sistema endócrino e
imune.

Os endocanabinoides se comportam no SNC como neurotransmissores, mas não


são armazenados nas vesículas sinápticas, são inativados localmente e retornam aos
seus precursores intracelulares. No nível das sinapses neuronais, os canabinoides atuam
como inibidores retrógrados.
Esse sistema de regulação é único e nos permite agir sobre a excitabilidade neuronal, em
casos de epilepsia, por exemplo. Os endocanabinoides são sintetizados, atuam e são
inativados localmente. Eles não agem de maneira sistêmica, ou seja, em todo o
organismo, mas somente quando necessário, no local exato do corpo onde é necessário
regular alguma função no nível molecular, para um efeito específico e seletivo,
dependendo do tipo e estado da célula na qual os receptores endocanabinoides são
ativados.

Portanto, podem agir com fitocanabinóides por meio do SEC e, como esse sistema
controla uma infinidade de funções, podemos modular uma ampla gama de sintomas.

Os dois principais endocanabinoides são Anandamida (AEA) e 2-araquinodilglicerol (2-


AG). Uma vez sintetizada na membrana celular da célula excitada, a anandamida é
liberada na fenda sináptica, onde se liga aos receptores canabinoides. Em seguida, a AEA
é transportada da fenda sináptica para a célula por difusão passiva ou por um
transportador seletivo que pode ser inibido seletivamente graças a vários compostos,
como o AM404. No entanto, este transportador ainda não foi identificado. Anandamida é
degradada pela enzima FAAH, gerando ácido araquidônico e etalonamida.

Atualmente sabe-se que o endocanabinoide mais abundante no cérebro é o 2-AG, em


concentração aproximadamente 200 vezes maior que a anandamida. Assim como a
anandamida, o 2-AG é gerado a partir de fosfolipídios da membrana plasmática. A
recaptação do 2-AG ocorre através de mecanismos semelhantes aos usados para a

39
Anandamida. A degradação do 2-AG se deve principalmente à ação da lipase
monoacrílica de glicerol (MAGL), gerando ácido araquidônico e glicerol.

Outros canabinóodes endógenos que podem ser identificados são o 2-araquidonil-


glicerol-éter (éter noladina); virodamina, que foi proposto como um antagonista endógeno
do receptor CB1; e Naraquidonoildopamina (NADA), um agonista vanilóide com afinidade
pelo CB1.

Dois outros compostos endógenos com ações canabinomiméticas, mas sem afinidade
para os receptores canabinoides clássicos, são a oleletanolamida (OEA) e a
palmitoiletanolamina (PEA). Em grandes concentrações, a OEA pode reduzir a ingestão
de alimentos por meio de um mecanismo periférico. A PEA exerce ações anti-
inflamatórias que são bloqueadas pelos antagonistas de CB2, possui propriedades
antiepilépticas e inibe a motilidade intestinal.

A cannabis produz mais de 150 canabinoides únicos, sendo seis deles produzidos em
maior quantidade em relação aos demais: THC, CBD, CBG, CBN, CBC e THCV. Cada
perfil genético possui estes e os diversos outros canabinoides, terpenos e flavonoides em
diferentes porcentagens como parte do perfil bioquímico total da planta.

Uma planta com maior porcentagem de CBD terá mais efeitos corporais. Por outro lado,
uma planta com elevado nível de THC terá um efeito mais psicoativo.

O poder medicinal da maconha não está apenas em um ou outro o, mas sim em uma
ação conjunta entre todos os seus componentes.

A cannabis contém mais de 150 canabinóides conhecidos até o momento, mais de 200
terpenos e centenas de outros compostos químicos que trabalham em conjunto para
produzir um efeito sinérgico conhecido como efeito de comitiva (Entourage Effect).

Graças a décadas de cultivos e manipulação genética, hoje é possível ter uma planta
com maior ou menor quantidade de um ou outro canabinoide. Por causa dessas técnicas,
hoje é possível ter uma planta com mais CBD que THC (exemplo: na proporção de 4:1
CBD:THC). Entretanto, isso não significa nem que a planta deixa de ser maconha por ter
menos THC, nem que ela não produza nada de THC. Os extratos derivados dessas
plantas levarão consigo a proporção canabinoide relativa ao que a planta produzir, salvo
se aplicado alguma forma de isolamento ou eliminação específica.

Por muitos anos, o delta-9-tetrahidrocanabinol (ou simplesmente, THC) foi o canabinoide


mais popular e amplamente pesquisado pela ciência. Isso se deve ao fato de ser o mais
abundante e o principal responsável pelos efeitos psicoativos causados pela planta.

Hoje em dia, o canabidiol (CBD) tem chamado bastante atenção, sendo o segundo
canabinoide mais abundante na maioria das linhagens de Cannabis e, apesar de possuir
várias propriedades medicinais, inclusive anticancerígena, ele não apresenta
piscoatividade.

40
O CBD também é responsável por contrabalancear os efeitos psicoativos do THC. Devido
a sua grande capacidade de dar alivio terapêutico a crianças e adultos que sofrem de
distúrbios epiléticos, por exemplo, e sem o efeito psicoativo, o CBD conquista cada vez
mais espaço no debate sobre a maconha medicinal tanto no exterior quanto no Brasil.

O SEC foi identificado devido à descoberta da estrutura do fitocanabinoide psicotrópico,


Δ-9-tetra-hidrocanabinol (THC). Ao identificar o receptor sobre o qual este canabinoide
atua, e sendo ele ainda desconhecido à ciência, atribui-se a ele o nome receptor
canabinoide 1. O THC, e alguns dos seus derivados diretamente relacionados, são os
únicos canabinoides psicotrópicos encontrados na Cannabis sativa L e é responsável por
várias das atividades biomédicas desta planta. Verificou-se que os canabinoides não
psicotrópicos, como o canabidiol (CBD), o canabigerol (CBG), o canabicromeno (CBC), e
outros canabinoides de menor concentração, terpenos e flavonóides, têm atividade
biomédica comparável à do THC sem seu efeito colateral de intoxicação.

Até o momento, foram isolados 120 canabinóides (Tabela 1), que podem ser
classificados em 11 tipos gerais: Δ9-trans-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC), Δ8-trans-tetra-
hidrocanabinol (Δ8-THC), canabigerol (CBG), canabicromeno (CBC), canabidiol (CBD),
canabinodiol (CBND), canabielsoin (CBE), canabiciclol (CBL), canabinol (CBN), canabitriol
(CBT) e tipos diversos.
Já foi demonstrado que o efeito dos fitocanabinoides nos receptores endocanabinoides
são mais potentes e prolongados do que aquele vistos com os endocanabinoides, e
modulam a resposta excitatória ou inibitória do sistema endocanabinoide e SNC.

METABOLISMO DO THC
Os metabólitos, resultado da metabolização do THC, contribuem significativamente para
os efeitos do consumo da Cannabis. 11-Hidroxi-Tetrahidrocanabinol (11-OH-THC), por
exemplo, é um metabólito hepático do THC com maior afinidade ao CB1 no cérebro,
induzindo um efeito mais potente do que o próprio THC. Isso significa que o metabolismo
do THC no organismo pode torná-lo ainda mais potente e explica a diferença entre a
administração sublingual versus oral, em que a primeira evita a transformação de primeira
passagem, conferindo mais segurança e controle da posologia/efeito.

A partir da oxidação, as enzimas do citocromo P450 contribuem para o metabolismo de


diversas drogas, o que geralmente significa incorporar um átomo de oxigênio na estrutura
molecular da substância. A oxidação geralmente torna um composto mais solúvel em
água e, portanto, mais fácil para os rins filtrarem.

Diferentes vias de administração de canabinóides produzem efeitos diferentes. O THC


inalado passa pelos capilares dos pulmões, entra na circulação geral pelas artérias
pulmonares e atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica. Entretanto, quando
ingerido, o THC é absorvido no intestino delgado e levado para o fígado, onde é
metabolizado pelas subclasses do citocromo P450 (CYP), especificamente as enzimas
CYP2C e CYP3A. Essas enzimas hepáticas também metabolizam o CBD, convertendo-o
em 7-OH-CBD e 6-OH-CBD.
41
METABOLISMO DO CBD

O modo como o CBD interage com o citocromo P450 é crucial; em essência, eles
inibem um ao outro.

Pesquisas clínicas mostraram que o CBD é metabolizado pelas enzimas do citocromo


P450 enquanto funciona como um "inibidor competitivo" das mesmas enzimas hepáticas.
Ao ocupar o local da atividade enzimática, o CBD interpõe-se sobre seus concorrentes
químicos e impede que o citocromo P450 metabolize outros compostos.

A abrangência da inibição competitiva do citocromo P450 depende do quão forte o CBD


se liga ao sítio ativo da enzima metabólica antes e depois da oxidação. Isso pode mudar
bastante, dependendo de como o CBD é administrado, dos atributos individuais de quem
toma este medicamento e se é consumido o CBD isolado ou um medicamento “full
spectrum” (feito a partir da planta inteira).

Se a dosagem de canabidiol for baixa, ela não terá nenhum efeito perceptível na
atividade do CYP, mas o CBD ainda pode exercer outros efeitos. Não existe uma dose
claramente estabelecida, abaixo da qual o CBD não interage com outros medicamentos.
Um relatório de 2013 de um ensaio clínico que utilizou o Sativex® da GW Pharmaceutical,
um spray sublingual rico em CBD, não encontrou interações com as enzimas CYP quando
aproximadamente 40mg de CBD foram administrados. Um ensaio clínico subsequente, no
entanto, descobriu que 25mg de CBD administrados por via oral bloqueavam
significativamente o metabolismo de um medicamento antiepiléptico.

Estudos em animais indicam que o pré-tratamento com CBD aumenta os níveis cerebrais de THC.
Isso acontece porque o CBD, que funciona como um inibidor competitivo do citocromo P450,
retarda a conversão do THC em seu metabólito mais potente, o 11- OHTHC. Consequentemente,
o THC permanece ativo por um período mais longo, mas o crescimento dos picos de concentração
é estabilizado sob a influência do canabidiol. Outros fatores destacamse no que concerne à
capacidade do CBD de diminuir ou neutralizar a alta do THC.

42
PATTICULARIDADES EM FELINOS

Gatos possuem particularidades sociais e metabólicas da espécie, que são


imprescindíveis conhecer para medicá-los e compreendê-los. A sociedade dos gatos é
matriarcal, portanto as fêmeas estão no topo da pirâmide, e a fêmea que é considerada
superior é aquela que teve maior numero de filhotes. Por isso a adaptação entre fêmeas
numa mesma casa é mais difícil do que adaptação entre machos. Gatos têm hábitos
crepusculares, dormem de 16 a 18 horas por dia, e ficam mais ativos no nascer do sol e
entardecer. Por isso é muito comum tutores de gatos dizerem que os animais ficam muito
ativos por volta das 5:00 da manhã, atrapalhando o sono dos humanos. São animais de
hábitos desérticos também, por isso a ingestão de agua é muito baixa, o que favorece a
formação de cristais na urina, que fica mais concentrada. Costumam fazer varias
refeições em pequenas quantidades durante o dia todo, e são muito sistemáticos,
metódicos, não gostam de mudanças no ambiente, ou na rotina. Introdução de um novo
animal, nascimento de um bebê, visitas, barulhos, obras, mudança de móveis na casa,
podem ser fatores estressantes para o felino.

Outro ponto importante é a interpretação de exames nos felinos. Apesar da referência,


temos que ter alguns discernimentos importantes, como: fator stress (leucograma de
stress é comum em felinos), filhotes com hematócrito próximo ao limite inferior: avaliar
uma possível anemia; creatinina um pouco elevada: avaliar dor, score corporal; gato idoso
com valores intermediários (da referência) de linfócitos: avaliar quadros inflamatórios,
medidas das alças intetinais em exame ultrassonográfico, a referência é bem diferente
das medidas em cães, etc... E também conhecer as medicações que são comumente
usadas em cães, mas com uso contraindicado em felinos, por exemplo, a enrofloxacina (já
existem inúmeros trabalhos comprovando a degeneração de retina), cetoprofeno,
carprofeno, etc.. Além de inúmeros produtos contendo propileglicol como veículo, que é
tóxico para os felinos.

O stress é um gatilho inflamatório para o gato, que naturalmente já é inflamado devido a


dieta que oferecemos. Sob condição de stress, “luta e fuga”, o sistema simpático é
ativado, alterando o pH do organismo e absorção de medicamentos, por isso pode ocorrer
efeito parcial, devido essa alteração química do próprio organismo.

Lembrar também, que o sistema endocanabinóide de gatos jovens está totalmente


maduro, não sofreu desgaste natural esperado conforme a idade avança. Então gatos
jovens podem tolerar doses menores, dependendo da patologia, e gatos idosos
geralmente melhoram com óleos mais concentrados ou doses maiores.

Felinos geriátricos têm diminuição do número total de células, portanto diminuição da


função celular. Ocorre diminuição da função gastrointestinal, com redução na absorção de
proteínas, gorduras, fármacos e maior tendência a desidratação e perda de massa
muscular também. Têm o metabolismo mais lento, alteração de fluxo sanguíneo renal, por
isso todos esses fatores devem ser considerados e avaliados.

43
Atualmente existe um conceito muito difundido na medicina de felinos que é a clínica ou o
atendimento cat friendly, onde o felino é manipulado de maneira menos estressante e
invasiva (não segurar pela nuca, não esticar o gato, não fazer as “botinhas de
esparadrapo”, sem gaiolas de contenção).

Hoje com o acesso à internet, as pessoas pesquisam bastante e tutores de gatos


participam de vários grupos de “gateiros”, já vem para consulta com muitas informações,
algumas corretas, outras não, por isso temos que conhecer bem as doenças, tratamentos
mais recentes (como para PIF, por exemplo) para poder expor com segurança e passar
confiança e credibilidade. Assim conseguimos maior comprometimento do tutor ao
tratamento.

2. Vacinação em gatos

A vacinação em felinos é bem diferente do protocolo básico para cães, porque gatos
geralmente são domiciliados e não tem acesso a rua. As vacinas disponíveis no Brasil são
V3, V4 e V5, além da antirrábica, que é obrigatória no mundo todo.

Os vírus estão presentes em todas elas (herpesvirus – rinotraqueite, calicivirus -calicivirose e


parvovirus - panleucopenia felina), na v4 tem a cepa bacteriana da Clamidia felis, que causa
clamidiose em felinos. Por ser uma bactéria, a Clamidia tem tratamento com antibiótico
específico e na própria bula da vacina está escrito que a vacina não protege. Portanto, deve ser
avaliada quanto a necessidade ou não. Ultimamente têm sido observado vários casos de
poliartrite pós vacinal com a V4, tratamentos difíceis e demorados para remissão do quadro, de
uma vacina muitas vezes não necessária.
A V5 tem também o vírus da FeLV (Virus de Leucemia Felina), sendo indicada para gatos
que tem acesso a rua, ou risco de exposição. É uma opção para quem tem gatos
saudáveis e adota um gato com FeLV. Lembrando que nenhuma vacina tem 100% de
eficácia, então mesmo vacinando o gato com a v5, deve ser esclarecido ao tutor essa
lacuna de resposta, baixa, mas existente.

3. Alimentação

Gatos são estritamente carnívoros, por isso a proteína é o principal componente da dieta.
Também metabolizam bem gordura, mas não precisam de carboidratos, eles produzem
carboidratos a partir da proteína. Porém a ração seca é composta em sua maior parte por
carboidratos. Mesmo dando uma ração de ótima qualidade, super premiun, o índice de
carboidratos é bem elevado para gatos. A alimentação úmida é a mais indicada, por ter maior
umidade e maior índice proteico, sendo a alimentação mais semelhante a caça na natureza.

Esse excesso de carboidratos causa uma inflamação nas células, com liberação de
citocinas inflamatórias, podendo ter maior importância em quadros inflamatórios intestinais
, pancreatite, tríade felina, hepatopatias, dermatopatias entre outros. Ocorre também
44
stress oxidativo e metabólico, predispondo a resistência insulínica, encurtamento de
telômero e envelhecimento celular. Causando um desequilíbrio na homeostase com
comprometimento das funções orgânicas.

O excesso de carboidratos vindo da dieta, inibe AMPK (monofosfato adenosina proteína


quinase), inibindo a oxidação de gordura, predispondo também a resistência insulínica. O
AMPK bloqueia a lipogênese e aumenta a oxidação de gorduras, além de otimizar
mitocôndria, aumentando produção de ATP, tendo uma importante ação reguladora do
metabolismo celular, por isso, quando sua ação é inibida, temos danos celulares devido a
inflamação e diminuição da oxidação de gorduras, produzindo radicais livres, stress
oxidativo. Esse excesso de carboidratos também tem atuação sobre os PPARs
(Receptores Ativados por Proliferadores de Peroxissoma) que são fatores de transcrição
de genes. Os principais são PPAR alfa e PPAR gama, importantes reguladores do
metabolismo de carboidratos, lipídeos e sensibilidade a insulina. O PPAR alfa aumenta a
oxidação de gordura e com isso diminui o processo inflamatório, regulando a expressão
dos genes. E o PPAR gama regula a diferenciação de adipócitos, homeostase da glicose
e de lipídeos e o armazenamento de ácidos graxos. Quando em quantidade adequada, o
PPAR gama produz adiponectina, para modular vários processos metabólicos, incluindo a
regulação da glicemia e catabolismo de ácidos graxos, porém quando PPAR gama está
em altas concentrações no organismo, devido ao excesso de carboidratos, ele estimula a
lipogênese, e teremos todos os efeitos ruins dessa cascata de diminuição de oxidação de
gorduras, produção de radicais livres, diminuição da produção de adiponectina e stress
metabólico.

A inflamação e stress oxidativo também tem efeito sobre o óxido nítrico produzido pelo
endotélio. Em condições normais no organismo não inflamado, a produção de óxido
nítrico é regulada pelo sistema endocanabinóide, modulando diversas reações, entre elas,
o sistema renina-angiotensina-aldosterona, através do controle do influxo de sódio, e
também causa vasodilatação, melhorando a perfusão e elasticidade do vaso. Entretanto,
na presença de inflamação e stress oxidativo, o óxido nítrico se transforma em
peroxinitrito, causando vasoconstrição, consequentemente piora na perfusão e diminuição
da respiração celular.

4. Metabolismo Hepático

Gatos produzem poucas enzimas hepáticas de alguns grupos, principalmente


relacionados a metabolização de plantas, o que pode afetar o metabolismo do fármaco,
alterando a biotransformação: eliminação e absorção, resultando em diferentes
concentrações da substância , interferindo na eficácia terapêutica e até mesmo causar
toxicidade.

As reações que ocorrem no fígado, para metabolização de fármacos são as reações da


fase 1 e da fase 2. As enzimas da fase 1 catalisam reações de oxidação, redução ou
hidrólise e estão localizadas primariamente no fígado (sistema microssomal hepático no

45
interior do reticulo endoplasmático liso). O processo básico é a hidroxilação , catalisada
pelo sistema P450, que exige NADPH (nicotinamida-adenina-nucleotideo-fosfato), NADH
(nicotinamidaadenina-nucleotideo) e oxigênio. Na fase 1 ocorre transformação do
composto original em um composto mais polar, podendo ser mais ativo que a molecula
original, menos ativo ou inativo, ou torna-los susceptiveis as reações da fase 2.

As reações da fase 2 envolvem acoplamento entre o medicamento e seu metabólito a um


substrato endógeno através do processo de conjugação, tornando o medicamento menos
ativo, menos tóxico e mais hidrossolúvel. As principais moléculas utilizadas são: ácido
glicurônico, sulfato, glutation, glicina, cisteína, glutamina, taurina, grupos metil e acetil
Nos mamíferos a reação mais importante é a conjugação com ácido glicuronico,
catalisada por uma família de enzimas microssomais: Uridina-difosfato-
glicuroniltransferase (UGT) Por serem uma espécie estritamente carnívora, os gatos não
tiveram exposição as fitoalexinas presentes nas plantas, portanto têm baixas
concentrações de algumas famílias de UGT, principalmente UGT 1-6, predispondo-os
aos efeitos tóxicos de drogas do grupo fenol, que utilizam a via de metabolização UGT 1-
6. Por isso muitos fármacos que utilizam essa via de metabolização, apresentam meia-
vida prolongada nos felinos. Quando ocorre saturação nessa via, felinos podem usar uma
via alternativa, que é sulfatação. A conjugação com sulfato, é catalisada pelas enzimas
sulfotransferases, presentes no citosol dos hepatócitos. Os conjugados de sulfato são
altamente polares e excretados na urina. Essa via, entretanto, sofre saturação
rapidamente, contribuindo para a retenção de fármacos no organismo, podendo ocorrer
intoxicação.

Lembrando sempre, de outros fatores que interferem na excreção de medicamentos:


hidratação, pois um animal desidratado tem maior concentração de fármaco na circulação;
score corporal, pois a perda de massa muscular também aumenta a concentração de
fármacos circulantes; e utilização de outros fármacos que competem pelo mesmo
sítio/receptor.

Gatos são animais extremamente sensíveis, por isso uma avaliação minuciosa deve ser
realizada para escolha do tipo de óleo e qual concentração mais adequada para cada
patologia, de acordo também, com a idade do animal. As reações são particulares de
cada organismo, portanto cada caso deve ser avaliado individualmente, pois é comum,
tutores de muitos gatos, passarem só um em consulta e quererem dar o óleo para os
outros animais por conta própria. Gatos também podem fazer idiossincrasias, e não existe
um padrão de doses do óleo de cannabis medicinal, sendo uma medicina de cuidado e
atenção contínuos, apesar do baixo risco de efeitos colaterais.

46
Cuidados paliativos em animais

O que é cuidado paliativo?

 Segundo a definição de 2017 da OMS:

 Cuidado Paliativo é: “Uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos


pacientes e suas famílias que enfrentam uma doença com risco de vida através da
prevenção e alívio do sofrimento, incluindo tratamento da dor e outros problemas
físicos, tratamento psicossocial e espiritual, compreendendo a morte como um
processo natural, não apressando-a nem adiando-a. É aplicável no início do curso
da doença, em conjunto com outras terapias que visam prolongar a vida (...)”

Objetivo

 Proporcionar conforto e melhora a qualidade de vida

 Controle da dor (leve, moderada, severa, dilacerante).

 Melhora nos sinais vitais

 Controle de sintomas

Cuidados paliativos

 Atividade multidisciplinar

 Comprometimento do tutor

 Suporte nutricional/ suplementação

 Cirurgias, quimioterapia, radioterapia paliativas (?)

 Apoio psicológico ao tutor (morte x ciclo da vida)

 Ponderar sofrimentos: físicos, psíquicos, socais e espirituais.

Diretrizes na MED VET

 American Association of Human-Animal Bond Veterinarians

 Pawspice – Advanced Veterinary Cancer Care Center in Southern California

 International Association of Animal Hospice and Palliative Care,

 American Veterinary Medical Association

 The Nikki Hospice Foundation for Pets.

Graduação

 Manutenção da vida / eutanásia

47
 Tanatologia: morte, eutanásia e luto

 Visão humanística

Alguns conceitos

 Eutanásia: O termo eutanásia (do grego eu= bem, bom; thanatos=morte) é referente
à morte sem sofrimento. É uma prática pela qual se interrompe o sofrimento de um
indivíduo portador de moléstia incurável.

Alguns conceitos

 Distanásia: significa morte lenta, sofrida e sem qualidade de vida, como o


prolongamento de vida com dor e sofrimento, onde os pacientes terminais são
submetidos a tratamentos fúteis que não trazem benefícios.

 Mistanásia: É também chamada de eutanásia social. LEONARD MARTIN sugeriu


o termo mistanásia para denominar a morte miserável, fora e antes da hora (maus
tratos, condições insalubres, privação de atendimento médico veterinário, negação
da senciência, fatores sócio culturais e econômicos.

Cuidados paliativos

 Animais com câncer terminal, doenças degenerativas ou que enfrentam enfermidade


com risco de morte, devem receber tratamento paliativo.

 Medicina integrativa

 Alopatia

Manejo

 Comedouros/ bebedouros próximos

 Controle da temperatura (aquecimento/resfriamento)

 Higienização

 Mudança de decúbito

 Carrinhos de rodas

 Tapetes antiderrapantes

 Escadas/rampas

 Forma de aliviar o sofrimento e proporcionar bem estar

Internação x domicílio

Vantagens:

48
 Medicamentos intravenosos, realização rápida de exames, supervisão 24h,
equipamentos.

 Proximidade da família, ambiente conhecido (odores, rotina), acolhedor

Desvantagens:

 Barulhos, odores, manipulação, stress

 Temperamento do animal (gatos mais sensíveis a internação)

 Ambiente limitado quanto a equipamentos, medicações intravenosas, exames

Escala 5h2m

 Hurt

 Hunger

 Hydration

 Hygiene

 Happiness

 Mobilit

 More good days than bad

 DOR - Controle adequado da dor. Considera a capacidade de respirar como


prioridade máxima. A dor do animal está bem controlada? O animal pode respirar
corretamente? Possui suplementação de oxigênio necessário?

 FOME – Nutrição adequada. Aceita melhor o alimento oferecido na mão? Indicação


de sonda para alimentação?

 HIDRATAÇÃO - O animal de estimação está desidratado? É necessária a


implementação por fluido terapia?

 HIGIENE – É indicada escovação e limpeza, sobretudo após urinar e defecar. Cama


macia evita escaras de decúbito. As feridas devem ser mantidas limpas. O animal
está sempre limpo e sem escaras?

 FELICIDADE – Animal apesentando alegria e interesse. É um animal de estimação


sensível a família, brinquedos etc.? É deprimido, solitário, ansioso, entediado ou com
medo? A cama do animal de estimação pode ser movida para estar perto das
atividades em família?

 MOBILIDADE - Animal independente ao levantar-se e caminhar. É necessária ajuda


humana ou mecânica (por exemplo, um carrinho)? O pet tem convulsões ou ataxia?

49
 CONTABILIZANDO DIAS BONS - Quando dias ruins superam os dias bons, a
qualidade de vida pode ser muito comprometida. Quando um vínculo humano-animal
não é mais saudável, a decisão pela eutanásia deve ser considerada.

 Mais de 35 pontos representa qualidade de vida aceitável para continuar com os


cuidados paliativos

 (Adaptada de Villalobos, 2011).

Dias ruins

 Animal apresenta com frequência: náusea, nêmese, apatia, convulsões e ataxia, ou


agravamento da doença: casos de caquexia em neoplasias, fraqueza decorrente da
anemia profunda, desconforto causado pela compressão/ obstrução tumoral gradual.
Esses sinais indicam que a relação humana-animal não está sendo mais viável.

Principal: controle da dor

 Mudança de comportamento

 Agressão, agitação, lambeduras de feridas.

 Hiporexia ou anorexia

 Depressão, agitação, dificuldade para dormir, vocalização.

 Mudança da expressão facial

 Taquicardia, taquipnéia, hipertensão arterial e midríase.

 Alteração de postura, claudicação, atrofia muscular

Dor não controlada

 Alterações fisiológicas

 Alterações de comportamento

 Imunológicas

 Metabólicas

 Neuroendócrinas

 Sistema nervoso autônomo

Sinais da morte

 Variam de acordo com a patologia e condições metabólicas do animal, mas


principalmente: anorexia, sonolência, fraqueza extrema, extremidades frias,
respiração superficial e irregular e aumento de ruído respiratório. O tutor deve estar
ciente e entender que esses sinais indicam a proximidade do óbito do animal

50
Cuidados paliativos

 Envolvimento emocional com o tutor

 Não julgamento

Acolhimento da família.

INTRODUÇÃO A MEDICINA INTEGRATIVA x CANNABIS

1. A Construção do Diagnóstico pela Medicina Integrativa

A construção do diagnóstico pela Medicina Integrativa é realizada a partir de uma dimensão


metanalítica, ou seja, a partir da investigação de múltiplas variáveis, tanto fisiológicas quanto
ambientais, tendo como base um raciocínio cíclico , diferentemente do modelo explicativo linear e
monocausal da Medicina Convencional. (SCHOEN, 2006).

No campo da Medicina Tradicional Chinesa, uma das expressões da Medicina Integrativa,


por exemplo, o diagnóstico fundamenta-se na análise do indivíduo, através de três habilidades:
pelo empirismo, adquirido pela observação e experiência; pela análise, através dos princípios
teóricos em que se baseia; e pela intuição, caracterizada pela habilidade de sentir e perceber as
emoções. Essas habilidades, apesar de diferentes, não se sobrepõem, mas se complementam
(ROSS, 2003).

Sabendo dessa diversidade de compreensão das bases teóricas e de suas aplicações, é


necessário que haja cautela no estudo dos fundamentos da MTC, visto que à época em que foram
estabelecidos, havia pouca distinção entre religião, filosofia e medicina (HICKS; MOLE, 2007).

Enquanto a Medicina Ocidental busca analisar o processo de estabelecimento da doença


para explicar a causa, a fisiopatogenia e a terapêutica eficaz para minimizar os sinais clínicos e
assim controlar a doença, a Medicina Tradicional Chinesa reconhece a doença como um
desequilíbrio do corpo, como estrutura que integra matéria e energia. Logo, o foco passa a ser o
indivíduo. Estabelecer o padrão dessa doença nesse determinado indivíduo ou, ao menos, quando
não for possível fazê-lo, buscar restaurar o equilíbrio e a saúde, através da autorregulação de
próprio corpo, é o princípio dessa medicina (XIE; PREAST, 2012).

51
Enquanto a Medicina Ocidental se mostra eficaz no tratamento de doenças agudas, a
MVTC pode trazer possibilidades de tratamento, e até mesmo de cura, para doenças crônicas,
especialmente para as que a Medicina Ocidental consegue apenas controlar, mas não curar. Além
disso, a Medicina Veterinária Tradicional Chinesa se mostra benéfica para a identificação de
potenciais alterações e prevenção de doenças, por atuar com terapias preventivas, como por
exemplo, a modificação da dieta, assim como a terapêutica da MVTC pode evitar efeitos colaterais
deletérios relacionados à terapêutica ocidental. Portanto, através da integração, pode-se utilizar
os benefícios de cada uma dessas vertentes somatizando-as (XIE; PREAST 2012).

2.Terapias Integrativas Utilizadas a Medicina Veterinária

2.1. A Fitoterapia

A Fitoterapia foi historicamente uma ferramenta utilizada pela humanidade. Todas as Civilizações em todos
os continentes deixaram registros sobre a virtude das plantas para fins alimentícios, medicinais ou comerciais,
atreladas aos seus aspectos culturais. Como critério esquemático didático, este curso se pautará em duas
classificações gerais de estudo da Fitoterapia: a Fitoterapia Oriental e a Ocidental.

A Fitoterapia Oriental, como foi o caso da Medicina Tradicional Chinesa, utiliza a propriedade curativa das
plantas a partir de sua influência energética, associando ervas que potencializam o poder de cura ou
minimizam os efeitos tóxicos dos agentes patogênicos invasores.

A Fitoterapia Ocidental, também denominada de Racional ou Convencional, buscou cientifizar os


conhecimentos históricos após a Revolução Científica do século XVII, tendo como base dados e evidências
científicas.

A partir do século XX, surgiu a Etnobotânica, uma ciência que estuda as interações das comunidades
tradicionais humanas com o mundo vegetal, em suas dimensões antropológica, botânica e medicinal. A partir
daí, nasceu a Etnomedicina, uma área de pesquisa e aplicação da etnologia, que utiliza como base as diversas
práticas e crenças de uma cultura específica na prevenção e tratamento das doenças, utilizando em sua base
de dados não somente os conhecimentos tradicionais e populares, mas também os estudos botânicos,
farmacológicos, toxicológicos, de interação com o organismo e outros fármacos, seus mecanismos de ação,
dosificação, dentre outros.

Os sistemas ou métodos de tratamentos podem ser classificados em Alopáticos ou Homeopáticos. No


primeiro, são empregados medicamentos com efeitos contrários aos da doença em causa. No segundo, o
método é similar ao da doença em causa. Sendo assim, a Fitoterapia é um sistema de tratamento alopático
baseado no modelo terapêutico de correlação íntima entre a Farmacicinética (o que o organismo faz com o
fármaco) e a Farmacodiâmica (o que a substância faz no organismo), com plano terapêutico baseado na
individualidade do paciente, diferentemente da alopatia industrial ou farmacêutica, que se utiliza de
orientações de dosagem pré-definida.

Conceitos importantes para o estudo da Fitoterapia

52
• Planta medicinal

• Planta fresca

• Planta seca

• Derivados vegetais

• Droga vegetal

• Fitocomplexo

• Marcadores

• Fitoterápico (artesanal/ industrializado/ manipulado)

• Fitofármaco

• Preparação Oficinal

• Preparação Magistral

• Dispensário

• Metabólitos Primários

• Metabólitos Secundários

• Princípio Ativo

• Sinergismo Farmacobotânico

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Principais Formas de Apresentação dos Fitoterápicos

Formas de Obtenção de Recursos Vegetais para Fins Medicinais

Fonte: Arquivo Fito Vet, 2021.

Fluxograma de Obtenção de Produtos Naturais Com Finalidade Medicinal

a partir de Extratos Vegetais

54
2.2) Acupuntura

Definição: Modalidade médica baseada na Medicina Chinesa e através da inserção de agulhas


em pontos cutâneos específicos.

Princípios da MTC

Princípios neurofisiológicos: Baseados na neurofisiologia e anatomia neural e segmentar. Os


meridianos de acupuntura acompanham o trajeto dos principais nervos e vasos sanguíneos

Efeitos:

Efeitos analgésicos

• (Segmentaes, heterosegmentares, desativação de pontos gatilhos e ação miofascial);

Modulação da dor

via Sistema Inibitório Descendente

• Interação de receptores opioides a peptídios endógenos: encefalinas, endorfinas, dinorfinas


e endomorfinas

• Participação do Sistema Serotoninérgico

Mecanismo de nocicepção química

• Interação de Substâncias Algogênicas: Serotonina, Histamina, bradicinina, dentre outras

Mecanismo de nocicepção neural

via Fibras Aferentes do Corno Dorsal

Tratos espinotalâmicos, espinorreticular, espinomesencefálico, espincervical, intracornuais

Redução da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)

• Redução do débito cardíaco

• Redução da resistência vascular periférica

• Aumento de fluxo sanguíneo

Estimulação Nervosa Vagal

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Efeitos não analgésicos

• Imunomodulação

• Neuromodulação

• Reparador Tecidual

• Cicatrizante

• Modulação do Sistema Neurovegetativo

• Estímulo Metabólico/anabólico

(GARCIA, 2005)

A ESTIMULAÇÃO DO SISTEMA ENDOCANABINOIDE ATRAVÉS DOS MECANISMOS


NEUROMODULADORES DA ACUPUNTURA

A acupuntura é uma importante técnica terapêutica que vem sendo utilizada por milhares de
anos na China antiga. Envolve a inserção e manipulação de agulhas finas em acupontos
específicos. Atualmente, uma variedadede técnicas relacionadas à acupuntura, como acupuntura
manual (MA); a estimulação elétrica transcutânea de acupontos (TEAS), ou eletroacupuntura (EA);
e a estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) estão sendo usadas na clínica no
tratamento de vários distúrbios (Han, 2011; Kasat et al., 2014; Liu e outros, 2016).

A EA incorpora os efeitos fisiológicos do agulhamento de acupuntura tradicional e os integra


com os benefícios da eletroterapia. É realizada através da inserção de agulhas de acupuntura que
são conectados a um estimulador elétrico em pontos de acupuntura. A frequência de estimulação,
intensidade de corrente, largura de pulso e intervalo de pulso são ajustadas para o efeito ideal (Yu
et al., 2014).

56
Diferentes conjuntos de parâmetros podem produzir diferentes efeitos fisiológicos e levar à
liberação de diferentes peptídeos opioides. A eletroacupuntura de baixa frequência (2/5 Hz) é
utilizada para acelerar a liberação de encefalinas e endorfina. A alta frequência (100 Hz) é indicada
para estimular a liberação de dinorfina para produzir efeitos analgésicos (Han, 2003).

Vários transmissores e moduladores foram hipotetizados para serem responsáveis pelos


efeitos da acupuntura, como peptídeos opióides (Han, 2003), octapeptídeo de colecistoquinina
(CCK-8) (Han et al., 1986) e 5-hidroxitriptamina (5-HT) (Kim et al., 2005). No entanto, nossa
compreensão de como a acupuntura funciona permanece incompleta.

A acupuntura atua na ativação de nervos periféricos e os sinais são transmitidos para a medula
espinhal e cérebro através de vários neurônios. Esse processo induz uma série de efeitos
neurológicos na periferia, a níveis espinhal e supraespinhal, o que, por sua vez, leva a diversos
efeitos fisiológicos e funcionais, como neuroproteção e analgesia.

O sistema endógeno mais bem estudado e conhecido por estar envolvido na regulação das
vias, tanto central quanto perifericamente, é o sistema opióide endógeno (Zhao, 2008). O sistema
opióide demonstrou estar envolvido na analgesia induzida pela acupuntura, tanto central quanto
perifericamente, devido a liberação de opióides e a ativação de receptores μ-, δ- e κ-opióides (Han,
2003; Zhang et al., 2005a). Além disso, outras substâncias endógenas no sistema nervoso central
(SNC), incluindo CCK-8 (Han et al., 1986), 5-HT (Kim et al., 2005) e adenosina (Goldman et al.,
2010), também contribuem para a analgesia induzida pela acupuntura.

Consistente com os achados laboratoriais, aumentando evidências de ensaios clínicos


randomizados (ECRs) e meta-análises mostra que a acupuntura é clinicamente eficaz no
tratamento da dor crônica e eficaz no alívio câncer de estômago. Pacientes submetidos à
acupuntura por dois meses sentiram menos dor do que os pacientes que submetidos a acupuntura
simulada ou aqueles do grupo controle (Dang e Yang, 1998). Da mesma forma, uma revisão
sistemática de ECRs também sugeriu que acupuntura e técnicas relacionadas foram eficazes na
redução dos escores de dor pós-operatória e consumo de opióides (Sun et al., 2008).

Em 2009, foi descoberto que a eletroacupuntura (EA) conferia neuroproteção contra isquemia
cerebral, estimulando a mobilização de endocanabinóides no cérebro e ativando os receptores
CB1(Wang et al., 2009). Além disso, a EA atenuou as respostas reflexas simpatoexcitatórias
causando a liberação de endocanabinóides e a ativação de receptores pré-sinápticos CB1 na
substância cinzenta periaquedutal ventrolateral (vlPAG) (Tjen et al., 2009). Também foi
demonstrado que a EA aumentou níveis do endocanabinóide anandamida (N-

57
araquidonoiletanolamina, AEA) em tecidos inflamados da pele e analgesia induzida por ativação
de Receptores CB2 (Chen et al., 2009).

Esses achados interessantes indicaram uma potencial ligação entre o EA e o sistema


endocanabinóide (ECS), ambos centralmente e perifericamente, e sugeriu que este sistema
endógeno pode desempenhar um papel fundamental nos efeitos terapêuticos da EA. dos mesmos
efeitos biológicos, como neuronal e proteção cardiovascular, efeitos analgésicos e antieméticos, e
a manutenção de balanço energético (Centonze et al., 2007; Chang, 2013; Pacher e Kunos,2013).

Estudos recentes descrevem o envolvimento da ativação do SEC (Sistema endocanabinoide)


nos efeitos analgésicos, neuroprotetores e reguladores cardiovasculares induzidos por EA sob
vários efeitos patológicos (Chen et al., 2009; Tjen et al., 2009; Wang et al., 2009).

Esses achados sugerem que o SEC pode ser um dos mediadores primários, bem como
um fator regulador de todos os efeitos benéficos da acupuntura.

Teria O SEC um papel regulador dos múltiplos efeitos biológicos e terapêuticos da EA?

Foi demonstrado que os endocanabinóides podem inibir a transmissão sináptica GABAérgica


de forma tônica, via receptor CB1 em condições basais em neurônios específicos. Isto considera-
se que esta sinalização endocanabinóide tônica pode ser envolvidos na regulação da transmissão
sináptica basal (Kano et al.,2009; Katona e Freund, 2012; Morena et al., 201).

Os receptores CB1 e opióides são coexpressos em várias regiões do SNC (Rodriguez et al.,
2001; Salio et al., 2001), ambos são primariamente localizado pré-sinapticamente, e sua ativação
inibe a liberação de neurotransmissores (Mansour et al., 1995; Schlicker e Katmann, 2001). Assim,
é altamente provável que o EA ative tanto o SEC e o sistema opióide endógeno para produzir
analgesia. De fato, foi relatado recentemente que o SEC contribui para a analgesia induzida por
EA tanto central quanto perifericamente.

Com base nesses achados, sugere-se que o efeito antinociceptivo da EA pode ser central,
direto e independente de seu efeito anti-inflamatório, o que sugere que o regulador central da EA
via receptores CB1 podem superar um possível efeito que ocorre via receptores CB2. (Gondim et
al.,2012).

Recentemente foi relatado que a antinocicepção orofacial produzida por EA no acuponto E36
em ratos foi prolongado e intensificado pelo pré-tratamento de endocanabinoides, inibindo a
enzima metabolizadora e a recaptação de anandamida. Este efeito antinociceptivo orofacial
induzido por EA foi abolido pelo antagonista do receptor CB1, não pelo receptor CB2. Logo, os

58
autores sugeriram que os receptores CB2 podem participar seletivamente nos efeitos
antiinflamatórios da estimulação com EA (Almeida et al., 2016).

No entanto, o envolvimento do receptor CB1 na ação anti-inflamatória efeitos da EA foram


observados em um modelo de enxaqueca de rato (Zhang et al., 2016), e a participação do receptor
CB2 periférico na ação antinociceptiva dos efeitos da EA contra a dor inflamatória foi enfatizado
por uma série de estudos de pesquisa, sugerindo que os receptores CB1 e CB2, que poderiam
desempenhar papéis diferentes em diferentes condições de dor. O EA também potencializou a
liberação do endocanabinóide AEA (Chen et al., 2009) e aumentou o mRNA do receptor CB2
eníveis de proteína no tecido inflamado da pele (Zhang et al., 2010b).

O aumento da expressão do receptor CB2 ocorreu especificamente em linfócitos T,


macrófagos e queratinócitos na epiderme e derme de os tecidos inflamados da pele (Zhang et al.,
2010b). Esses receptores CB2 foram ativados pela liberação de AEA induzida por EA, e resultou
em inibição da liberação de citocinas pró-inflamatórias, incluindo IL-1β, IL-6 e TNF-α, no tecido da
pele inflamada; e produziu analgesia (Su e outros, 2012). Curiosamente, o ECS não foi o único
sistema envolvido na área periférica pela administração de EA. Interação entre Receptores CB2 e
o sistema opióide endógeno na fase inflamatória local também foi confirmado por achados que
mostraram EA estimulando a expressão endógena de beta-endorfina opióide em linfócitos T,
macrófagos e queratinócitos nos tecidos inflamados da pele via ativação do receptor CB2 ativação
(Su et al., 2011). Esse achado sugeriu a possibilidade de que a EA ativou perifericamente tanto o
endocanabinoide quanto o opioide simultaneamente e que esses dois sistemas, por sua vez,
produziram efeitos antinociceptivos sinergicamente (Fig. 1).

59
Fonte: B Hu, et al.The endocannabinoid system, a novel and key participant in acupuncture’s multiple
beneficial effects.p.344. Neuroscience and Biobehavioral Reviews 77(2017) 340- 357.

Os vários sistemas de sinalização endógenos (glutamatérgicos, GABAérgicos e


adenosinérgicos) também podem mediar os efeitos benéficos da acupuntura sob a
regulamentação do SEC dentro do Sistema Nervoso Central. A regulação mediada pelo SEC dos
efeitos biológicos da acupuntura ocorre em diferentes níveis do SNC e vários órgãos periféricos
em diferentes pontos de tempo e sob diferentes condições. Na maioria dos casos, o aumento
mobilização endocanabinoide e atividade do receptor CB foram observadas, exceto por um estudo
que observou downregulation do receptor CB1 (Escosteguy-Neto et al., 2012), o que levanta a
interessante possibilidade que sob diferentes condições patológicas, a EA pode exercer efeitos
opostos sobre a atividade do ECS para manter a homeostase.

60
Fonte: B Hu, et al.The endocannabinoid system, a novel and key participant in acupuncture’s multiple
beneficial effects.p.344. Neuroscience and Biobehavioral Reviews 77(2017) 340- 357.

Embora estudos publicados recentemente tenham apresentado evidências sólidas mostrando


que o SEC desempenha um papel crítico nos efeitos da acupuntura,a evidência disponível ainda
é limitada e está principalmente focada em analgesia, neuroproteção e regulação cardiovascular.
A administração de acupuntura e a ativação do SEC produzem vários dos mesmos efeitos
biológicos, incluindo a manutenção da energia equilíbrio e a regulação dos sistemas imunológico,
respiratório e funções gastrointestinais. Os efeitos orexígenos do THC dependem dos receptores
CB1 nos níveis glutamatérgicos. enquanto os receptores CB1 em neurônios GABAérgicos
contribuem com os efeitos hipofágicos do THC (Bellocchio et al., 2010).

A redução da ingestão de alimentos e do peso corporal induzida pela acupuntura foi relatada
(Jiet al., 2013; Kim et al., 2006b). Além disso, a acupuntura é conhecida por ter efeitos antieméticos
específicos, e seu eficácia foi documentada (Anders et al., 2012; Liodden et al., 2011; Vickers,
1996). Da mesma forma, os canabinóides, como o THC, também são recomendados como
agentes terapêuticos eficazes contra náuseas e vômitos desencadeados por muitas causas, como
quimioterapia ou radioterapia (Abalo et al., 2012; Martin e Wiley, 2004; Rock e Parker, 2016).

Além disso, foi relatado alguns dos efeitos de fatores humorais na participação dos efeitos
benéficos induzidos pela acupuntura (Long et al., 2015; Zhu, 2014) também estiveram envolvidos
em efeitos induzidos por canabinóides semelhantes. Por exemplo, substâncias vasoativas, como
endotelina, foram relacionadas tanto à acupuntura (Tian et al., 2013; Yang et al., 2007) e efeitos
neuroprotetores induzidos por canabinóides (Chen et al., 2000; Li et al., 2017; Mechoulam et al.,
2002; Schmidt et ai., 2012) para manter a homeostase vascular em condições patológicas. Todas
61
essas correlações interessantes são indicações de potencial ligações entre a acupuntura e o SEC.
Uma melhor compreensão do ligações intrínsecas entre a acupuntura e o SEC devem permitir o
desenvolvimento de novas técnicas que combinam o tratamento com acupuntura com agentes
terapêuticos que visam a sinalização endocanabinóide. Tal abordagem deve aumentar a eficácia
clínica da acupuntura, diminuir a dosagens e efeitos colaterais de drogas canabinóides e até
mesmo potencializar efeitos terapêuticos (Bo Hu, et al., 2017).

2.3) Ozonioterapia

Definição: gás instável e incolor que e se forma por meio de descargas elétricas sobre uma
molécula de oxigênio medicinal – O3.

Mecanismo de ação: resulta da oxidação da membrana celular e componente citoplasmáticos


causando a morte dos microrganismos envolvidos com o processo em questão. (Wollheim et al.,
2020).

Efeitos: Potencializa a ação cicatrizante, acelerando a resolução das lesões.

Propriedades Terapêuticas: A presenta ação viricida, fungicida e bacteriana, atua como agente
antiálgico, antisséptico e anti-inflamatório, inibindo a síntese de prostaglandina e na destruição de
citocinas, promovendo bloqueio da inflamação. (Srinivasan & Chitra, 2015; Tiwari et al., 2017).

Estímulo do sistema imune, síntese de anticorpos, ativação delinfócitos T, aumento da oxigenação


e do metabolismo celular por meio da vasodilatação e da redução da agregação plaquetária
(Penido et al., 2010).

Pode ser aplicado em auxílio ao processo de cicatrização aumentando a migração de fibroblastos


para a lesão e por meio da estimulação da circulação sanguínea na área (Chagas et al., 2019;
Xiao et al., 2017).

2.4) Fototerapia/Fotobiomodulação

62
Definição: A Fototerapia de baixa intensidade é uma terapia não invasiva, segura e sem efeitos
colaterais. A fototerapia é uma alternativa terapêutica, uma vez que apresenta capacidade de
prevenção, tratamento, cicatrização e obtenção de analgesia

Efeitos: anti-inflamatório e de reparo nos tecidos lesionados.

Propriedades Terapêuticas: Capacidade de regenerar os tecidos, estimular fibroblastos e


aumentar o metabolismo celular, ainda exerce ação por meio da modulação de vários processos
metabólicos, alterando a função da mitocôndria e consequentemente da respiração celular,
causando aumento de ATP, aumentando o metabolismo celular.

Tipos:

Laser : Capacidade de regenerar os tecidos, estimular fibroblastos, por meio da modulação de


vários processos metabólicos, aumenta o metabolismo celular (alterando a função da mitocôndria
e consequentemente da respiração celular, causando aumento de ATP).

Laser Luz Vermelha: Ajuda a conter processos inflamatórios, atua na regeneração de tecidos,
melhora da vascularização e angiogênese, estimula síntese de colágeno e elastina, estimula a
produção de ATP, realiza a quebra da molécula de gordura (laserlipólise), atua na terapia
fotodinâmica em conjunto com o azul de metileno, realiza a acupuntura veterinária não invasiva.

Responsável pela acupuntura veterinária não invasiva e pela Terapia ILIB.

Terapia ILIB:

Laser com luz infravermelha:


63
Apresenta função analgésica, atua na drenagem linfática e de edemas, efeito anti-inflamatório e
aumenta em 40% a absorção de produtos e fármacos, promove bioestimulação profunda
(regeneração de ossos, nervos), e realiza a acupuntura veterinária não invasiva.

Led Azul: Possui ação bactericida e fungicida, promove hidratação e limpeza dos tecidos, previne
e trata infecções, tem efeito clareador, despigmentante e
cicatrizante.https://conteudo.eccofibras.com.br/landing-page-ecco-vet

2.5) Terapia com Células Tronco

Definição: As Células Tronco Mesenquimais (CTMs) são células indiferenciadas que ficam
latentes no organismo e apresentam o potencial de se diferenciar de acordo com a ativação de
estímulos recebidos, como processos inflamatórios, necróticos, neoplásicos e fraturas (VISCONDI
et al., 2013).

Efeitos: Expressam em diferentes células de acordo com a ativação de estímulos recebidos


(processos inflamatórios, necróticos, neoplásicos e fraturas) (VISCONDI et al., 2013).

Propriedades Terapêuticas: realizar a recuperação e regeneração dos tecidos afetados (YUN E


LEE, 2019).

Mecanismo de Ação: Através de mecanismos como quimioatração; imunomodulação;


mecanismos antifibróticos; antiapoptóticos; angiogênicos, e de suporte, estimulam a mitose,
proliferação e diferenciação do órgão precursor (MEIRELLES, 2009).

64
Fonte: MEIRELLES, L. S, et al. Mechanisms involved in the therapeutic properties of mesenchymal stem
cells. Cytokine & Growth Factor Reviews, v. 20, n. 5-6, p. 419–427. 2009.

2.6) Outras Terapias integrativas

Eletroacupiuntura

Fitoterapia chinesa

Fitoterapia brasileira

PRP

Terapia Neural

Medicina Nutracêutica

Cromoterapia

Musicoterapia

Reiki

Medicina quântica

3) A Modulação do Sistema Endocanabinoide a partir da Medicina Nutracêutica

Modelo de perguntas e respostas para melhor assimilação do conteúdo estudado

3.1) Como a dieta dos animais pode auxiliar na estimulação do SEC e na redução da recaptação
de endocanabinoides?

3.2) Quais compostos e mecanismos podem ser compreendidos como gatilhos para amplificação
do desequilíbrio do SEC?

65
3.3) Como a inflamação crônica pode atuar como um fator de desequilíbrio do SEC, via estímulo
do receptor CB1 em contraposição ao declínio do estímulo CB2 nos tecidos periféricos?

3.4) De que forma o desequilíbrio do terreno biológico pode contribuir para o desequilíbrio do SEC?

66
TOXICOLOGIA
A palavra “toxicologia” deriva do grego toxicon, que significa “veneno” e logos que significa
“estudo”.

A toxicologia veterinária em seu início focava em plantas tóxicas e antídotos para toxinas e
evoluiu até o presente, que assimila conhecimentos e técnicas de da bioquímica, biologia,
química, genética, matemática, medicina, farmacologia, fisiologia e física;

Fatores como idade, espécie, prenhez, estado físico, propriedades químicas do agente e fatores
ambientais podem influenciar de forma notável um componente específico.

O pai da toxicologia moderna é o Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim


(1493 – 1541), e referia-se a si mesmo como “Paracelsus”, já que acreditava que seu trabalho ia
além do trabalho do físico romano Celsus. E a ele é creditado a famosa frase: “Todas as
substâncias são venenos. Não há nenhuma que não seja um veneno. A dose correta diferencia o
veneno de um remédio”.

DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE TOXICIDADE

Toxicose, envenenamento ou intoxicação são termos sinônimos do efeito produzido pelo


material/substância tóxica.

Toxicidade, geralmente confundida com envenenamento, é o termo que se refere ao quanto de


toxina é necessário para produzir um efeito deletério.

Toxicidade aguda se refere ao efeito durante o período de 24 horas. Efeitos produzidos pela
exposição prolongada ( >3 meses) é denominado como toxicidade crônica.

Todos efeitos tóxicos são dose-dependente. Uma dose pode causar efeitos indetectáveis,
terapêuticos, tóxicos ou letais. A dose é expressa pela quantidade de componentes por unidade
de peso vivo (por exemplo mg/Kg) e concentração tóxica é expressa por ppm ou ppb.

DL50 é a dose que é letal a 50% de uma população em um exemplo teste. É a estimativa da
letalidade e a expressão mais comum usada para avaliar a potência dos agentes tóxicos.

Outros termos para classificação de doenças ou letalidade: “Sem efeitos adversos observados”,
“Dose máxima não-tóxica”, “Dose máxima tolerada” e “Dose tóxica mínima”.

RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA

A relação dose-resposta descreve a mudança de efeito em um organismo causada pelos


diferentes níveis de exposição ou doses de um agente estressor (químico, biológico...) após
certo período de tempo.
Pode ser aplicado a indivíduos (ex: pequena quantia não tem efeito significante, grande quantia
é fatal) ou à população (ex: quantas pessoas ou organismos são afetados em níveis diferentes
de exposição).

67
A relação entre dose e resposta é geralmente estabelecida quando o efeito químico/toxicante,
em uma dose em particular, alcança seu ponto máximo ou é constante.
Os efeitos químicos não se desenvolvem instantaneamente ou continuam indefinidamente: eles
mudam de acordo com o tempo.
A magnitude do efeito dado a qualquer momento é uma função que não compete somente à
dose, mas também à quantidade de tempo decorrido desde o contato da substância com o
tecido reativo.

Fase I: Início de ação (Ta) – após a administração de um agente químico ao sistema, há um


tempo de espera até que os primeiros sinais dos efeitos químicos sejam manifestados. O atraso
é finito mas em alguns casos é tão rápido que parece que a ação é instantânea.

Fase II: Pico do efeito (Tb) – a resposta máxima ocorrerá quando a mais resistente célula for
atingida ou quando o agente alcance as células mais inacessíveis do tecido responsivo.

Fase III: Duração da ação (Tc) – a duração da ação compreende do momento que se iniciam os
efeitos perceptíveis até quando a ação não possa mais ser mensurada. Dependerá de quando
começa a metabolização, alteração, inativada ou removida do corpo.

Fase IV: Efeito residual (Td) – mesmo quando as primeiras ações finalizam, muitos químicos
executam uma ação residual. Nem sempre é possível determinar se o efeito residual é causado
pela persistência da quantidade em minutos ou pela persistência de efeitos sublimes/não
explícito.

68
INTERAÇÃO COM RECEPTORES

Os principais órgãos-alvo frequentemente afetados são:


A) SNC;
B) Sistema Circulatório;
C) Órgãos viscerais (fígado, rins, pulmões);
D) Músculos e ossos.

Muitas das substâncias exercem seus efeitos interagindo com receptores específicos no corpo.
Essa interação receptor-xenobióticos leva à mudança de macromoléculas, que por sua vez
desencadeia uma sequência de eventos resultando na resposta de um tecido ou órgão. A
intensidade dessa resposta produzida pela substância/xenobiótico depende da atividade
intrínseca que vai depender da estrutura química do composto.
Quando dois ou mais xenobióticos são utilizados associados, a resposta
farmacológica/toxicológica não é necessariamente a mesma quando ambos são utilizados
individualmente. Isso ocorre porque um agente pode interferir com a ação de outro agente
chamada interação xenobiótica. Os termos mais comuns utilizados em relação a interação com
receptores inclui:

- Agonista: agente que interage com um constituinte específico celular. Ex: AEA/THC em CB1 ou
2AG/CBD em CB2;
- Agonista parcial: atua no mesmo receptor que outros agonistas em um grupo de ligantes
endógenos e, independentemente de sua dose, ele não pode executar a mesma resposta
biológica máxima que um agonista. Ex: AEA/THC em CB2 ou 2AG/CBD em CB1;
- Antagonista: quando um componente diminui os efeitos de outro. Ex: o efeito tóxico de um
químico “A” (agonista) é reduzido quando administrado com o químico “B” (antagonista).
Geralmente utilizado como antídoto. – Rimonabant SR141617 com CB1.

RIMONABANT – ACOMPLIA OU REDUFAST

Rimonabanto ou rimonabant (nomes comerciais: Acomplia e Redufast) é um fármaco que era


utilizado para redução do peso. Seu mecanismo de ação é bloquear o receptor CB1, principal
receptor para Anandamida (equivalente ao THC), e que uma de suas funções é estimular o
apetite. Função: antagonista de CB1!
Proposta: se o receptor CB1 estimula fome, bloqueá-lo inibirá apetite e, logo,
emagrecimento/perda de gordura.
Em Outubro de 2008, o laboratório suspendeu a venda do medicamento Acomplia em todo o
mundo por conta de seus efeitos colaterais que envolvem, principalmente, complicações
psiquiátricas e suicídio.
Mais tarde voltou a ser comercializado pela empresa Eticos sob o nome comercial “Redufast”,
contudo, manteve o alto índice de casos de depressão e suicídios compulsivos.
Ou seja, bloquear o CB1 se demonstra mais propenso a causar danos do que benefícios ao
indivíduo.
O sistema endocanabinóide desempenha funções vitais e importantes no nosso organismo =
homeostasia!

69
CANNABINÓIDES:

Termo genérico para descrever substâncias, naturais ou artificiais, que ativam


os receptores canabinóides do tipo CB1 ou CB2. Englobam os fitocanabinóides, compostos
encontrados na planta Cannabis e estruturalmente relacionados com o Tetraidrocanabinol (THC)
e Canabidiol (CBD); os endocanabinóides, que são encontrados nos sistemas nervoso e
imunológico dos animais e seres humanos, e que também ativam os receptores canabinóides; e,
por fim, os canabinóides sintéticos, uma diversidade de substâncias que se ligam a receptores
de canabinóides. Este último grupo engloba uma variedade de classes químicas distintas.

ENDOCANABINÓIDES:

Produzidos por nosso organismo;


- AEA - Anandamida: significado sânscrito = alegria, prazer; Efeitos analgésicos,
ansiolíticos e antidepressivos;

- 2AG - 2 Arachidonoylglycerol = sistema imune, anti-inflamatório;

FITOCANABINÓIDES:
Oriundos das plantas. Formas ácidas, ativas e varinas;

*Psicoativo: que tem efeitos sobre a atividade psíquica ou mental, ou sobre o comportamento.

- THC – Tetrahidrocanabinol: um dos mais conhecidos, se liga a CB1, combate dor,


náusea, estresse... Aplicação médica: fibromialgia, câncer, dor crônica;

70
- CBD – Canabidiol: bastante conhecido, maior afinidade por CB2, combate convulsões,
espasmos, ansiedade, distúrbios do sono... Aplicação médica: câncer, TEPT, insônia, epilepsia
de difícil controle;

- CBN – Canabinol: excelente sedativo, regula sistema imunológico, reduz PIO, anti-
inflamatório... Aplicações médicas: Artrite reumatoide, doença de Crohn, insônia.

71
- CBG – Canabigerol: anti-inflamatório, inibe cicloxigenase (COX) e modulador do efeito
psicoativo do THC... Aplicação médica: glaucoma, doença de Chron, síndrome do intestino
irritável;

- CBC – Canabicromeno: viabilidade da neurogênese, antitumoral, anti-inflamatório sem


se conectar aos receptores e por isso deve ser utilizado junto do THC ou CBD. Aplicação
médica: dor pós-operatório, síndrome do intestino irritável.

72
- CBM - Canabimovona: propriedades que podem ser úteis no tratamento de desordens
relacionadas à resistência à insulina. Pode ser uma alternativa à insulina. Capacidade de ativar
receptores nucleares chamados de PPAR, que estão relacionados com o metabolismo da
glicose e lipídico e já são alvo de pesquisa no tratamento de resistência à insulina. Mais estudos
são necessários! (Iannotti, F.A.; De Maio, F.; Panza, E.; Appendino, G.; Taglialatela-Scafati, O.;
De Petrocellis, L.; Amodeo, P.; Vitale, R.M. Identification and Characterization of
Cannabimovone, a Cannabinoid from Cannabis sativa, as a Novel PPARγ Agonist via a
Combined Computational and Functional Study. Molecules 2020, 25, 1119.)
- THCA – Ácido Tetrahidrocanabinólico: abundante na planta, melhor absorvido de
forma bruta. Estimulante de apetite e diminuição de células neoplásicas. Aplicação médica:
neoplasia, caquexia;

CBM (Canabimovona)

Ação: cérebro

Sim Não
Psicoativo

Combate Algumas aplicações médicas

- Metabolismo glicose e lipídeo;


-Diabetes
- Diminui resistência à insulina

- THCA – Ácido Tetrahidrocanabinólico: potencial analgésico e anti-inflamatório,


antiproliferativo neoplásico...Aplicação médica: neoplasia, Alzheimer, convulsões;

73
- CBDA – Ácido Canabidiólico: potencial antiproliferativo, bacteriostático...Aplicação médica:
neoplasia, HIV, artrite;

- THCV – Tetrahidrocanabivarin: estimulante.. Aplicação Médica: Mal de Parkinson,


Alzheimer, TEPT;

74
- CBDV – Canabidivarina: reduz frequência e gravidade de crise epilética, distúrbios do humor...
Aplicação médica: epilepsia refratária, esclerose múltipla.

COMPARISION OF ACUTE ORAL TOXICITY OF CANNABINOIDS IN RATS, DOGS AND


MONKEYS

Para uma avaliação toxicológica pré-clínica, Delta9-THC, Delta8-THC e extrato de cannabis


foram administrados VO à ratos, cães e macacos.
As amostras foram diluídas em álcool puro, óleo de gergelim e óleo de gergelim com 2,5% de
álcool.
Todos os 3 componentes foram mais potentes em fêmeas do que em machos nos ratos Wistar-
Lewis;
Entre a dosagem de 225-3600mg/kg, Delta9-THC e Delta8-THC produziram a mesma letalidade,
sendo 2 vezes mais potente que o extrato de cannabis.
Mortes devido a todos os 3 componentes ocorreram consistentemente entre 24 e 72h após o
tratamento independentemente da dose ou gênero dos ratos;
Mortalidade em ratos aparentemente resultou de severa hipotermia e outros efeitos centrais;
Toxicidade foi caracterizada por severa hipotermia, bradipneia, rápida perda de peso,
inatividade, postura ampla, ataxia, tremor muscular e prostração.
Ratos tratados com quantidades iguais de THC dos três compostos exibiram diversidades e
gravidades equivalentes dos sinais clínicos;
Em cães e macacos, dose única de Delta9 e Delta8 entre 3000 e 9000mg/kg não foram letais.
Sinais tóxicos predominantes em cães incluiu sonolência, ataxia, prostração, anestesia,
tremores, hipotermia mediana, salivação, êmese e anorexia.
75
Sinais tóxicos predominantes em macacos incluiu hiper-reatividade à estímulos, letargia,
sonolência, postura encolhida/fetal, movimentos lentos, procedimentos anormais de alimentação
e sedação.
Não ocorreu alterações histopatológicas em cães e macacos.

TOXICOLOGIA DE CANNABIS, CANNABINÓIDES SINTÉTICOS E CANABIDIOL EM CÃES E


GATOS

A exposição acidental por cães e gatos à cannabis e à produtos que contém THC tem
aumentado nos EUA. Comestíveis infundidos e alguns que contém chocolate em sua
composição são os mais comumente reportados à Pet Poison Helpline.
Entende-se que esse aumento de casos de intoxicação está intimamente relacionado ao acesso
aos produtos, com regulamentação do mercado e crescimento de vendas.
A cannabis tem uma larga margem de segurança e o prognóstico é positivo quando identificada
a exposição e dado o suporte correto.
Sabemos que o mecanismo de receptores do Sistema Endocanabinóide é similar aos receptores
opióides (Delta, Kappa, Mu) que são ativados por peptídeos endógenos opióides (endorfinas); o
SEC tem os receptores que são ativados pelos endocanabinóides ou fitocanabinóides. Os
endocanabinóides são 4-20 vezes menos potentes que o THC e tem uma duração
significantemente curta.
Além disso, a potência e presença do THC nas plantas tem aumentado bastante nas últimas
décadas. Na década de 1960, era de 1,5% aumentando para 3,5% na década de 1980. De 1995
a 2014, as concentrações aumentaram de 4% para 12%, respectivamente onde as
concentrações de CBD reduziram de 0,28% para 0,15%. Relacionado à seleção artificial e
melhoramento genético.

CENÁRIO DE EXPOSIÇÃO EM PETS


A rota acidental mais comum aos pets é via ingestão de comestíveis, entretanto, alguns pets
também ficam expostos à fumaça/inalação como via acidental ou exposição intencional.
A segunda rota mais comum é a ingestão de material botânico, seguido pela ingestão de
extratos medicinais artesanais, ou no caso dos EUA, sintéticos (Dronabinol e Nabilone).
A manteiga infundida que usamos para produzir os comestíveis possui altas concentrações de
canabinóides e gera um alto risco de acidente. Somado a isso, tem o risco das preparações
conterem chocolate, que é outro agente intoxicante aos cães devido a presença de teobromina e
complica o quadro clínico.

FARMACOCINÉTICA DO THC

Sabemos que os cães possuem uma quantidade maior de receptores canabinóides no cérebro
em comparação com os humanos o que resulta em aumento à sensibilidade às propriedades
psicoativas do THC. O THC é rapidamente absorvido quando inalado quando comparado à
ingestão. Consumindo produtos com THC junto a gordura, a absorção será maior devido sua
propriedade lipofílica. Por conta de sua capacidade lipofílica, THC é rapidamente distribuído aos
tecidos e atravessa a barreira hematoencefálica, resultado em meia-vida longa.

76
- Dose letal mínima é entre 3 a 9g /kg de material botânico;
- DL50 não está definida pontualmente – 3000mg/kg THC;
- Início dos sinais: quando inalada em minutos; VO +- 60 minutos;
- Meia-vida: 30 horas; 80% do THC é excretado dentro de 5 dias;
- Recuperação após ingestão ocorre dentro de 24h na maioria dos casos, mas pode durar até
72h;
- Biodisponibilidade da inalação em humanos: 10% a 27% dependendo da frequência de uso;

SINAIS CLÍNICOS DE SOBREDOSE DO THC

A ingestão ou inalação do THC leva à altos níveis de morbidade, porém baixos níveis de
letalidade. Sinais comuns em cães inclui letargia, depressão SNC, ataxia, vômito (principalmente
se a ingestão for do vegetal), incontinência urinária, aumento da sensibilidade à sons, midríase,
hiperestesia, ptialismo e bradicardia. Incontinência urinária de início agudo não é um sinal
comum visto em outras intoxicações e pode ser um fator chave para fechar o diagnóstico em
exposição/ingestão ao THC.
Sinais menos comuns incluem: agitação, agressão, bradipneia, hipotensão, taquicardia e
nistagmo.
Sinais raros incluem convulsão ou condição de coma. As convulsões podem ser desencadeadas
pela congestão devido ao chocolate ou outras substâncias.

77
SINAIS CLÍNICOS DE SOBREDOSE DO CBD

Devido à falta de propriedades psicoativas e interação com receptor CB1, efeitos menos severos
são esperados em casos de exposição/overdose comparado ao THC. No entanto, a exposição
pode se tornar complicada devido à baixa qualidade dos produtos à base de CBD com
contaminação de THC ou outros produtos não mencionados.

Outros riscos acidentais incluem exposição ao diluente (óleo de uva, por exemplo), álcoois ou
fontes de alimentos que causarão desconforto gástrico.

FARMACOCINÉTICA DO CBD

O CBD sofre recirculação êntero-hepática (moléculas e sais biliares do fígado para intestino e
retorna para o fígado), e encara metabolismo de primeira passagem (concentração é reduzida
pelo fígado antes de atingir a circulação sistêmica), o que afetará sua biodisponibilidade oral.
Apesar disso, CBD via oral ainda parece ser melhor absorvido de forma sistêmica do que por
preparações transdérmica.

78
PLANO DE TRATAMENTO

- Descontaminação:
A) Vômito pode ser estimulado se a dose tóxica for ingerida em até 30 e 60 minutos ou se
houver conteúdo significante no estômago; se o paciente é assintomático e há baixo risco de
aspiração do conteúdo ou se o vômito espontâneo não ocorreu; *Cuidado! Devido ao efeito
antiemético do THC pode ser dificultosa a indução se passado mais de 60 minutos. Se o
paciente estiver sintomático não deve ser executada!
a) Nos cães, apomorfina (0,03mg/kg IV) ou Peróxido de Hidrogênio (água oxigenada)
igual ou inferior a 3% (2-5 mg/kg VO) sem exceder a dose total de 50mg no cães e 10mg nos
gatos. Estômago repleto aumenta a chance de sucesso. CUIDADO com lesão de mucosa!;
b) em gatos utiliza-se Xylazina (1,1mg/kg IM). Se necessário, reverter com Atipamezole.

B) Doses de carvão ativado deve ser administrada no paciente que tenha baixo risco de
aspiração;
a) Admnistra dose de 1-2mg/kg VO
b) NÃO administre se o paciente estiver em risco de aspirar o conteúdo, em hipernatremia
(>152 mEq/L) ou desidratado;
C) Se houve ingestão massiva de planta, a lavagem estomacal pode ser feita com o paciente em
anestesia e entubado.
D) Se for observado material suspeito no exame retal, pode-se utilizar enemas.

- Cuidados de Suporte:
A) Antiemético pode ser necessário. Evite Maropitant (letargia, hipersalivação, tremor muscular)
e se o paciente correr risco de obstrução por corpo estranho;
B) Fluidoterapia IV em dose de manutenção e ajustado de acordo com as necessidades. Saiba
que não se espera que a fluido aumente a excreção dos canabinóides em grande escala;
C) Termorregulação!
a) aquecer ou resfriar o paciente é necessário. Hipotermia é mais comum com ingestão de
matéria vegetal; Hipertermia está associada a canabinóides sintéticos;
b) Se o paciente está sedado ou em estado quase de coma, cuidados como lubrificação
ocular e rotação do corpo devem ser executados a cada 4-6 horas;
c) Mantenha o paciente limpo e seco. É difícil mas pode ser que precise de sonda urinária;

- Monitoramento:
A) Casos brandos podem ser monitorados de casa e sempre indicar que o paciente esteja em
um ambiente seguro, livre da possibilidade de quedas;
B) Monitorização vital e pressão dependendo do estado do paciente (> 180bpm);

- Medicações:
A) Agitação: butorfanol (0,1-0,4 mg/kg IM ou IV) ou acepromazina (0,01-0,2 mg/kg devagar, IV,
IM ou SC titulando a dose). EVITE acepromazina em pacientes hipotensos;
B) Convulsão: diazepam (0,5-1,0mg/kg IV) - ¼ dose;
C) Bradicardia: atropina (0,01-0,02mg/kg IV);

79
INTOXICAÇÃO POR CANNABIS SATIVA : DESAFIOS RELACIONADOS À CLÍNICA DE
ANIMAIS DE COMPANHIA

As circunstâncias que envolvem a exposição podem variar desde um tutor pouco cuidadoso que
facilita o acesso ou erra a dose, administração intencional da substância ou cães policiais em
treinamento que inadvertidamente inalam/ingerem o produto.

A intoxicação por cannabis pode ocorrer por via digestória ou inalatória, apresentando
sintomatologia variável conforme a via por onde ocorreu a intoxicação e a quantidade de THC
presente na amostra com a qual ocorreu o contato; Apesar da inexistência de antídoto, o
prognóstico é favorável na ausência de complicações secundárias. O tratamento é baseado no
suporte ao paciente adequando-se conforme o quadro de sintomas apresentados.

O principal desafio é obter um diagnóstico conclusivo visto que para realiza-lo é necessário a
identificação do metabólito 11-OH-delta-9-tetrahidrocanabinol (11-OH-THC) na urina (produto da
conversão do THC nos pulmões e fígado). Como agravante, os cães possuem uma via adicional
de beta-oxidação que converte o THC em 8-OH-delta-9-tetrahidrocanabinol (8-OH-THC),
ocasionando falso-negativos na espécie canina com o uso de teste rápido disponível para os
humanos. Em conjunto a esse aspecto, deve-se levar em consideração que se trata de uma
substância ilícita e necessita de cautela nos termos utilizados durante a anamnese, de modo a
não desestimular o tutor a fornecer os dados corretos.

A natureza lipofílica do THC permite que ele atravesse a barreira placentária, onde o feto terá
concentração plasmática equivalente a 10% presente na mãe. Além disso, fêmeas são mais
suscetíveis e apresentam maior sensibilidade ao THC decorrente da sua interação com
estrogênio.
A dose de 0,5mg/kg já é suficiente para manifestar sinais clínicos; A severidade do quadro é
relacionada a quantidade de THC a qual o paciente foi exposto. Animais intoxicados por via
inalatória tendem a ter uma recuperação mais rápida, enquanto que pela via digestória, podem
apresentar sintomatologia por alguns dias.

2 estudos com 213 casos e 230 casos (n = 443) verificou que 99,1% dos casos apresentam
sinais neurológicos, 30,5% sinais TGI. Os riscos de complicações secundárias existem, porém
em menor proporção. Estão relacionados a traumas devido queda e incoordenação ou
pneumonia aspirativa pela combinação de vômito e depressão do SNC.
Então o ambiente no qual o paciente intoxicado se encontra deve ser restrito em espaço e
isolado de estímulos internos (som, excesso de luz, movimento brusco). Pacientes em
depressão severa ou comatoso, deve ser realizada a troca de decúbito a fim de evitar úlceras de
pressão.

80
EXTRAÇÃO DA MEDICINA
A extração da cannabis é um processo muito antigo, e consiste em separar os
tricomas da matéria vegetal a fim de obter um concentrado de substâncias ativas da
planta. É utilizado para conseguir o máximo de cannabinóides, terpenos e flavonóides
possíveis. Essas substâncias são os responsáveis pelo sabor, pelo aroma e pelo efeito
medicinal. Como resultado, o produto da extração é muito mais potente do que a cannabis
in natura. Por exemplo, a cannabis em sua forma natural contém até 30% de THC e 24%
de CBD, enquanto alguns concentrados podem chegar a 99% de pureza!

Durante a extração, a resina é removida da planta e junto pode ocorrer a extração


de ácidos graxos e clorofila também, no entanto, muita atenção pois em excesso fazem os
concentrados ficarem com um sabor desagradável e diminuem a eficácia do produto.

Os métodos de extração permitem criar uma infinidade de produtos à base de


cannabis para diversas indústrias: produtos de beleza, de higiene pessoal, comestíveis e
medicinais. Podem ser consumidos puros, em tinturas, associados a outros ingredientes
como os comestíveis (chocolates, bolachas, bolos, balas), cosméticos, bebidas,
manteigas e o óleo medicinal.

TRICOMAS:

São os apêndices epidérmicos encontrado em várias espécies de plantas. São


relacionados às funções como redução da perda de água e proteção física.
Estão ligadas à produção de secreções de canabinóides, terpenos, lipídeos e tem relação
direta com a maturação e ponto de colheita da planta.

Definidos em 03 tipos:

- Bulbosos: o menor dentre os 3. Encontrado por toda biomassa da planta.


Medem de 10u a 15u, composto por poucas células;

- Sésseis Captatos: ligeiramente maiores e formados por talo e cabeça. São


mais abundantes que os bulbosos, medem de 25u a 100u;

- Captato-Stalk: variam de 150u a 500u, bem maiores, visualizados a olho nu.


Desenvolvem-se após a formação da flor. Composto por células epidérmicas e
hipodérmicas que se ligam à cabeça da glândula, onde há maior produção de canabinóides
e terpenos. Maior fonte de canabinóides.
Além dos formatos, a coloração dos tricomas também nos interessa.

- Cristalinos: estão em início da produção, com poucos canabinóides e


terpenos, podem ser considerados imaturos; - Leitoso/opaco: ponto com alta concentração
de canabinóides e perfil terpênico; - Âmbar: possui um padrão de canabinóides
degradados, efeitos mais sonolento, baixo perfil terpênico.
Uma das técnicas mais antigas e simples de extração é a Hand Rubbed Hash, que
usa calor e pressão das mãos e dá origem ao “charas”.

81
TIPOS DE EXTRAÇÃO:

SEM SOLVENTES:

Consistem em remover fisicamente a resina. Podem ser feitas por agitação, fricção,
usando água, gelo, gelo seco, máquinas de calor e pressão e peneiras/telas.

COM SOLVENTES:
Consiste em remover os tricomas com uso de algum solvente químico (butano,
propano, CO2, álcool) o qual também precisará ser removido.

SEM SOLVENTES:

- BUBBLE HASH: é utilizado água + gelo + matéria vegetal + bags. Congela a matéria
vegetal, coloca na malha (220u, 190u, 160u, 120u, 90u, 73u, 45u, 25u) com 1 parte de
flor para 2 partes de gelo e completa com água gelada até o gelo boiar. Mexe por 10 a
15 minutos, retira a material vegetal (220u) e coleta a resina nas bags, secando em papel
manteiga, na forma artesanal. Na forma industrial, utiliza-se um freeze dryer para
congelar à vácuo e retirar a umidade. Ponto positivo: seleciona bem os melhores
tricomas pelas malhas. Melhores sabores. Ponto negativo: depende a força e tempo de
fricção pode coletar matéria vegetal, custo das bags.
*Vídeo Bubble Hash*

- DRY ICE: é utilizado as bags de 73u e gelo seco. Utilize 1 parte de gelo seco para 3
partes de flores. Congela matéria vegetal, adiciona o gelo seco. Pode esperar 15 minutos
para congelamento maior. Agitando por 15 segundos, terá os melhores tricomas. Após
esse período a qualidade vai diminuindo devido aumento da coleta de matéria vegetal.
Ponto positivo: rápido e pronto para consumo. Ponto negativo: aquisição gelo seco,
preço das bags, possibilidade de matéria vegetal;
*Vídeo Dry Ice*

*FRESH FROZEN: congela a matéria logo depois de colhido. Menos ação oxidativa.
Preserva mais terpenos e formas ácidas

- DRY SIFT / MARROQUI: é utilizado quadro de madeira com tela 73u/45u, insere a
matéria vegetal, cobre com plástico e bate com varetas. Ponto positivo: pronto para
consumo, pode ser prensado para diminuir volume ou armazenar o kieff. Ponto negativo:
pode passar bastante matéria vegetal devido a fricção mais violenta.
*Vídeo Marroqui*

82
- ROSIN: prensa mecânica com duas placas aquecidas
(plates). Pressão e temperatura. Pode usar flor, bubble hash, dry ice, marroqui... A
matéria vegetal é inserida numa bag de 90u em formato cilíndrico e colocada no papel
vegetal que protege as placas e faz a compressão. Temperaturas baixas = extração mais
clara e saborosa; temperaturas altas = extração mais escura e perde alguns aromas.
Utiliza entre 60º-80º-110ºC, de 2 a 4 minutos. Ponto positivo: excelente qualidade e
potência, preservação de terpenos. Ponto negativo: equipamento caro, quantidade
reduzida, bag de extração uso único. *Vídeo Rosin*

- LIVE ROSIN: colhe e extrai ou pode colher, congelar e extrair. Temperaturas abaixo de
0 ºC, maquinário específico. Terpenos bem mais evidentes.

COM SOLVENTES:

- HIDROCARBONETOS – BHO E PHO (BUTANO/PROPANO


HASH OIL): consiste em lavar a matéria vegetal com butano ou propano. A matéria é
inserida em um tubo de inox onde na saída de baixo tem filtro que separa matéria vegetal
do líquido, e a parte de cima o encaixe para o tubo de gás. Ambiente extremamente
ventilado, altamente explosivo. Coleta em bandeja de silicone e papel manteiga. À
temperatura ambiente ele já começa a evaporar. Deve eliminar gás por completo devido a
toxicidade ao consumir. Enquanto houver bolhas, há gás. Necessidade de purgar em
panela de vácuo. Compra-se butano avaliando a quantidade de “X”. 5x é média qualidade
e 9x a melhor. 300mL custa aproximadamente R$40,00. Neurotóxico, cuidado com
inalação ao preparar; Ponto positivo: 70 a 80% de pureza. Ponto negativo: extremamente
perigoso, necessidade de panela de vácuo, gás é caro.

1) SHATTER: extração de aspecto cristalino. Para chegar nessa textura deve purgar
por 24 a 36 horas a uma temperatura entre 37ºC com alta pressão. Se utilizarmos
temperaturas baixas, os lipídios reterão melhor os aromas.

2) BUDDER/WAX: É obtida de forma semelhante ao shatter, sendo necessário aquecer


por mais tempo. Purga em temperatura mais alta entre 49 a 54ºC.

3) CRUMBLE: Para obter o crumble, a purga deve ser feita a uma temperatura de 55-
60º. Opaco, desfaz facilmente e mais terpenos;

4) HONEYCOMB: seu aspecto de colmeia de abelhas caracteriza este tipo de extração,


daí seu nome. Tem mais lipídeos e conserva melhor o sabor. *Vídeo BHO*

- EXTRAÇÃO SUPERCRÍTICA COM CO2: mais segura das extrações e opção


das farmacêuticas já que o solvente não é tóxico e se elimina facilmente. Utiliza-se
faixas específicas de calor e pressão, criando mudanças nas fases do CO2 onde ele
não será nem líquido, nem gasoso. Consegue extrair cerca de 50 a 60% de
canabinóides. Em determinada pressão e temperatura, o CO2 entrará em fase
crítica, tendo duas formas ao mesmo tempo, passando pela matéria vegetal e
lavando os tricomas.
83
*Vídeo supercritical*

- ÁLCOOLICA OU RSO/RSHO – RICK SIMPSON HEMP OIL: a mais antiga e


utilizada quando da produção de extrato medicinal. São extratos ultraconcentrados,
podendo ser descarboxilados ou não, com textura densa, escura e viscosa que
lembra a graxa. Quanto mais baixa temperatura, maior qualidade. Pode ser utilizado
via oral ou tópico, sendo de uso mais versátil. Pode ser ingerido puro (alta
concentração) no entanto é mais comum diluído em veículo lipídico (óleo de coco –
MCT, copaíba, girassol, azeite. CUIDADO com óleo de uva para animais) permitindo
titular sua concentração. Não se consome inalando!

-
Quem é Rick Simpson?
Rick Simpson é um engenheiro canadense. Em 2002 foi diagnosticado com câncer de
pele e já conhecendo os benefícios da cannabis de forma adulta, desenvolveu a extração
que leva o seu nome. Utilizou via oral e tópico até que as feridas cicatrizassem e distribuiu
óleo para mais de 5000 pacientes. Enfrentou represália em seu país de origem e desde
2013 vive na Europa.

DESCARBOXILAÇÃO: é o ato de transformar a molécula ácida em


princípio ativo. THCA em THC, CBDA em CBD.
Falando em química, é quando eliminamos uma carboxila (-COOH) liberando dióxido de
carbono (CO2).
Nesse caso, utilizamos tempo e exposição à temperatura controlados para que não
degrade substâncias de interesse, por exemplo, THC – CBN. Atentar-se para nunca expor
acima de 148ºC durante o processo (perde-se THC e CBD); terpenos são mais voláteis e
se perdem em temperaturas mais baixas.

Canabinóide Temperatura ºC Tempo (minutos)


THC 121 30-45
CBD 140 60-90
CBN 160 90-120

BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO:


As Boas Práticas de Fabricação são conhecidas nos meios para qualquer processo
de produção — alimentício, medicamentoso, higiene, ferramentas médicas e demais.
São padrões mínimos de qualidade para serem seguidos garantindo um resultado
final seguro, livre de contaminantes, efetivo e com a maior qualidade possível.

84
Essas regras devem ser adotadas a fim de garantir a segurança dos consumidores:

1. Definir os passos dos procedimentos de produção;

2. Seguir minuciosamente os procedimentos pré-


estabelecidos para evitar contaminações e erros;

3. Equipamentos/utensílios adequados e apropriados para todo o processo;

4. Antissepsia e assepsia apropriada da área e dos equipamentos. Álcool 70% e/ou


hipoclorito de sódio

5. Uso de equipamento de proteção individual: Toca, máscara e luva.

COMO DESCARBOXILAR:

- Separe as flores desejadas, retirando galhos;


- Triture todo o material. Não precisa deixar muito fino;
- Utilize uma forma de vidro refratária para depositar a erva. Quanto mais espalhado, melhor
(aumenta superfície de contato = padrão). Cubra com papel alumínio ou utilize um saco
de celofane para assar frango. Assim preservam-se os terpenos;
- Insira em forno pré-aquecido a 120ºC. Fornos elétricos são mais constantes; Fornos
convencionais tem fuga de temperatura. O ideal é acompanhar com um termômetro de
forno ou IR;
- Passado tempo desejado, retire do forno e espere esfriar para retirar do alumínio/celofane;
- O material sairá com uma cor marrom, perdendo o verde característico;
** Caso queira descarboxilar depois de fazer a extração, deverá manter a resina em
frasco de vidro com forno a 110ºC por 30 minutos.

MÉTODO RSO:

Sempre padronizar o procedimento; HIGIENE! Touca, luvas, jaleco, máscara.


Materiais esterilizados por calor, álcool 70% ou hipoclorito de sódio.
MATERIAIS:

- Matéria vegetal de qualidade (flor) já descarboxilada e congelada. Rendimento


aproximado de 10%, utilizando 100g de flor, rende aproximadamente 10g de resina;
- Álcool de cereais (grau alimentício) a 90º/92º/96º/99º.
- Recipiente de vidro fundo para mistura do vegetal + álcool;
- Filtro sintético/peneira (220u) e filtro de papel (café);
- Colher de silicone para mexer;
- Fogão elétrico ou panela elétrica;
- Seringa para coleta/armazenamento da resina;
85
- EPI’s;
- Ventilador;
- Recipiente com borda alta para banho maria caso use fogão elétrico;
- Espátula de silicone; - Papel toalha; MÉTODO:
EXTRAÇÃO E FILTRAGEM:

- Insira a matéria vegetal congelada (12h-24h) no recipiente de vidro e cubra com álcool
de cereais (também armazenado por
12h-24h no freezer) = 100g para 1 litro de álcool;
- Com a colher, mexa e misture o material por 4 a 5 minutos.
Nessa hora os tricomas vão se dissolvendo no álcool;
- Filtre esse material no filtro/peneira de 220u;
- O material pode ou não voltar para mais uma extração; - Essa segunda passagem
extrai mais clorofila. Observe a coloração do solvente. Quanto mais verde, mais clorofila;
- Coe novamente no filtro de 220u. O líquido vai com o líquido da 1ª passagem; a
matéria vegetal pode ser compostada; - Filtre o líquido no filtro de papel.

EVAPORAÇÃO DO SOLVENTE:

- Em banho-maria, leve o líquido alcoólico à panela elétrica de arroz ou em fogão elétrico.


O fundo recipiente com a solução alcoólica não pode entrar em contato com a panela ou
forma no banho-maria. Utilize rolhas ou outro material para evitar o contato.
- CUIDADO COM OS VAPORES DE ÁLCOOL! NÃO PODE
TER FOGO OU FAÍSCA! Ambiente ventilado ou com exaustor.

- Mexa continuamente e controlando a temperatura para que não passe dos 65ºC;
- Demora entre 2 e 3 horas para reduzir/evaporar o álcool.
Enquanto houver bolhas, há álcool.
- O resultado final é uma substância escura, densa, pegajosa. Ao virar o recipiente, ela não
descola. Colete com seringa e dilua conforme necessidade;
- A seringa com o conteúdo pode ser armazenada na geladeira;

*Vídeo Mama Cultiva

DILUIÇÃO:
Após a extração temos o extrato integral de cannabis. Extrato full spectrum, com todos os
canabinóides presentes na planta, com 100% de concentração. Ao adicionar um veículo
lipídico, teremos um óleo diluído, com menor concentração num mesmo volume. O
processo deve ser feito em banho-maria, com temperatura até 50ºC, controlado com
termômetro de cozinha. Insira a quantidade de extrato integral e complete
com o veículo oleoso.

86
TABELAS DE DILUIÇÃO

Solução para 100mL Solução para 30mL Solução para 20mL

Concentração do Volume (mL) Concentração Volume (mL) Concentração Volume (mL) de


extrato em 100 de extrato do extrato em de extrato do extrato extrato
mL de óleo 30 mL de óleo em 20 mL de
óleo

1% 1mL 1% 0,3mL 1% 0,2mL

2% 2mL 2% 0,6mL 2% 0,4mL

3% 3mL 3% 0,9mL 3% 0,6mL

4% 4mL 4% 1,2mL 4% 0,8mL

5% 5mL 5% 1,5mL 5% 1,0mL

6% 6mL 6% 1,8mL 6% 1,2mL

7% 7mL 7% 2,1mL 7% 1,4mL

8% 8mL 8% 2,4mL 8% 1,6mL

9% 9mL 9% 2,7mL 9% 1,8mL

Fonte: Terapêutas Canábicos - https://terapeutascannabicos.com.br/wp-


content/uploads/2019/10/Receita_Oleo_de_Cannabis_Da_extrac%CC%A7a%CC%83o.pdf

87
Cálculo de 99mL de óleo para 1mL de extrato integral = 1% Quantidade de
Dose canabinóides vai varia de
1mL = 20 gotas acordo com qualidade do
extrato
0,5mg de extrato por gotas de 1%

mg @ gotas x 900mg de óleo para 100mg de extrato


%
Gotas

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

% 1 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10

2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

3 1,5 3 4,5 6 7,5 9 10,5 12 13,5 15 16,5 18 19,5 21 22,5 24 25,5 27 28,5 30

4 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40

5 2,5 5 7,5 10 12,5 15 17,5 20 22,5 25 27,5 30 32,5 35 37,5 40 42,5 45 47,5 50

6 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60

7 3,5 7 10,5 14 17,5 21 24,5 28 31,5 35 38,5 42 45,5 49 52,5 56 59.5 63 66,5 70

8 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68 72 76 80

9 4,5 9 13,5 18 22,5 27 31,5 36 40,5 45 49,5 54 58,5 63 67,5 72 76,5 81 85,5 90

10 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100

11 5,5 11 16,5 22 27,5 33 38,5 44 49,5 55 60,5 66 71,5 77 82,5 88 93,5 99 104,5 110

12 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78 84 90 96 102 108 114 120

13 6,5 13 19,5 26 32,5 39 45,5 52 58,5 65 71,5 78 84,5 91 97,5 104 110,5 117 123,5 130

14 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91 98 105 112 119 126 133 140

15 7,5 15 22,5 30 37,5 45 52,5 60 67,5 75 82,5 90 97,5 105 112,5 120 172,5 135 142,5 150

16 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80 88 96 104 112 120 128 136 144 152 160


17 8,5 17 25,5 34 42,5 51 59,5 68 76,5 85 93,5 102 110,5 119 127,5 136 144,5 153 161,5 170

18 9 18 27 36 45 54 63 72 81 90 99 108 117 126 135 144 153 162 171 180

19 9,5 19 28,5 38 47,5 57 66,5 76 85,5 95 104,5 114 123,5 133 142,5 152 161,1 171 181,5 190

20 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200

Fonte: Terapêutas Canábicos - https://terapeutascannabicos.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Receita_Oleo_de_Cannabis_Da_extrac%CC%A7a%CC%83o.pdf


INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Até o momento já foram identificados mais de 140 canabinóides, além de suas formas ácidas,
dos terpenos e varinas. Apesar de sempre ficar em evidência os efeitos benéficos destes, temos
de ter em mente que os efeitos colaterais são uma realidade e toda essa gama de moléculas
interage com outras medicações ou grupos medicamentosos.
O Citocromo P450 é o principal agente nas interações: o CBD é metabolizado pelo citocromo
P450 e vai funcionar como um inibidor concorrente das mesmas enzimas do fígado, ou seja,
inibe a capacidade do P450 de metabolizar outras substâncias, aumentando o tempo de
processamento e a substância fica mais tempo circulante no organismo (Zendulka, Ondrej &
Dovrtělová, Gabriela & Noskova, Kristyna & Turjap, Miroslav & Sulcova, Alexandra & Hanus,
Lumir & Jurica, Jan. (2015). Cannabinoids and Cytochrome P450 Interactions. Current drug
metabolism.)

THC – Interações Medicamentosas

Citocromo P450
São as mais significativas interações. As enzimas P450 (CYP), são responsáveis pelo
metabolismo da maioria dos medicamentos. O THC vai acelerar a atividade das enzimas,
resultando em degradação acelerada dos fármacos. Esse fenômeno resulta em menores
concentrações plasmáticas no organismo. O grupo enzimático P450 é responsável por
metabolizar até 50 fármacos comumente utilizados (ibuprofeno, naproxeno, acetaminofeno,
codeína, Xanax (alprazolam), Lipitor (atorvastatina), clozapina, duloxetina, ciclobenzaprina,
haloperidol e clorpromazina.

Fármacos antineoplásicos e transportadores de membrana


Neoplasia é definida pela superexpressão, onde a uma célula produz várias cópias de uma
proteína ou outro composto. A superexpressão da Glicoproteína-P causa resistência a drogas
antineoplásicas, um fenômeno no qual as células cancerígenas se tornam resistentes a
medicamentos contra o câncer, resultando em menos quimioterápico sendo absorvido pelo
corpo. Afetados: taxanos (paclitaxel), alcalóides de vinca (vinblastina) e antraciclinas
(daunorrubicina). Exposição prolongada ao THC e CBD diminui a superexpressão de
Glicoproteína-P tornando os canabinóides adjuvantes eficazes no tratamento antineoplásico,
melhorando a retenção dos alopáticos. Ao associar, tenha em mente que poderá produzir
concentrações mais altas no sangue e chegar à níveis tóxicos.

SSRIs – Iinibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina


Não há muita informação conclusiva sobre as interações medicamentosas com os SSRIs – mas
estudos sugerem que pode aumentar a concentração sérica desses fármacos inibidores
seletivos (fluoxetina, paroxetina, citalopram);

Antidepressivos tricíclicos
Estudos realizados em UK, associado ao Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, relatam
que os canabinóides associados aos tricíclicos podem resultar em hipertensão e taquicardia,
além de alteração do humor, inquietação e confusão mental. Amitriptilina – Geralmente utilizado
para potencializar o controle da dor.

90
Opiáceos
A associação com cannabis aumenta o potencial analgésico sem afetar o nível plasmático dos
opióides. Excelente opção para reduzir a dose ou optar pelo uso tardio. O CED (Centro de
Estudos da Dor – Unicamp) sugere que para tratamento de dor crônica, utilize os canabinóides
antes dos opióides. Há melhores resultados e deixamos de expor o paciente ao risco da
depressão respiratória ocasionada pelos opióides. Além disso, nos EUA, com a regulamentação
e ampliação ao acesso à cannabis, idosos deixaram de consumir cerca de 10% dos opióides
prescritos e pacientes de todas as idades que têm acesso ao uso medicinal da cannabis
reduziram o uso de opióides entre 40% e 60%. Fibromialgicos em Israel são aconselhados a
tratar a condição com administração de óleo via oral e dose resgate fumando ou vaporizando
cannabis.

Depressores SNC
Classe de fármacos que reduzem níveis de neurotransmissão no sistema nervoso central,
resultando em diminuição da atividade cerebral, relaxamento muscular e sensação de calma.
Mais conhecidos são o clonazepam, lorazepam e zolpidem. O uso concomitante com cannabis
aumenta seus efeitos e potencializa o efeito sonolento ocasionado por ele.

Bloqueadores de Canal de Ca+


O uso concomitante com cannabis pode amplificar os efeitos do THC. Fármacos como enalapril
e captopril. Muito cuidado ao utilizar em cães devido a maior concentração de receptores CB1
em tronco encefálico.

Anticoagulantes
O paciente que utiliza anticoagulante, como a warfarina, deve evitar o uso de cannabis já que o
THC tem propriedade vasodilatadora e aumentam as chances de hematomas e hemorragias e
desaconselha-se o uso concomitante.

Broncodilatadores
O THC reduz drasticamente os níveis plasmáticos de broncodilatadores. Teofilina e aminofilina.
Não aconselhável o uso concomitante.

Anticonvulsivantes
Um estudo com modelo neuropático em ratos encontrou interação sinergística entre gabapentina
e THC, onde a gabapentina além de aumentar a janela terapêutica do THC, também foi efetiva
aumentando sua atividade anti-alodínica (Controlled Cannabis Vaporizer Administration: Blood
and Plasma Cannabinoids with and without Alcohol - Rebecca L Hartman, Timothy L
Brown, Gary Milavetz, Andrew Spurgin, David A Gorelick, Gary Gaffney, Marilyn A Huestis.
Clinical Chemistry, Volume 61, Issue 6, 1 June 2015, Pages 850–869)

CBD - Interações medicamentosas

Enzimas do citocromo P450


Enquanto o THC acelera o metabolismo, o CBD inibe muitas das enzimas CYP, que são
responsáveis pela degradação/metabolização dos medicamentos. O uso concomitante de CBD
com alguns medicamentos pode resultar em aumento dos níveis plasmáticos desses fármacos,
prolongando ou potencializando seus efeitos. Incluem SSRIs, antidepressivos tricíclicos,
antipsicóticos, beta-bloqueadores e opióides (codeína e oxicodona); bloqueadores dos canais de
cálcio, benzodiazepínicos, ciclosporina, anti-histamínicos, haloperidol, antirretrovirais e
atorvastatina e sinvastatina.

91
Antifúngicos e antibióticos podem inibir a enzima que metaboliza o CBD, gerando acúmulo de
canabidiol no organismo, resultando em sonolência, transtornos do apetite e ganho de peso.
Cetoconazol, itraconazol e claritromicina.

Outros fármacos vão agir de maneira oposta, acelerando o metabolismo do CBD e resultando na
redução da biodisponibilidade do CBD. Fenobarbital, rifampicina, carbamazepina e fenitoína –
Sempre titular o tratamento buscando desmamar do fenobarbital.

As interações medicamentosas com CBD podem variar e estão intimamente ligadas à


capacidade do medicamento aumentar ou diminuir a atividade das enzimas CYP.

SSRIs, antidepressivos tricíclicos e benzodiazepínicos


O CBD é um potente inibidor da enzima CYP2D6. Essa enzima é responsável pelo metabolismo
de diferentes fármacos antidepressivos, e poderá aumentar as concentrações séricas dos
mesmos. Sempre avaliar FA e titular a dose dos fármacos.

Anticoagulantes
Pacientes que utilizam anticoagulantes precisam de acompanhamento próximo, pois o CBD
aumenta os níveis séricos devido à inibição do citocromo P450. Logo, aumento do risco de
sangramento.

Anticonvulsivantes
O CBD inibe a enzima CYP2C19 e o uso em conjunto com Clobazam resulta em aumento dos
níveis plasmáticos do fármaco. Os pacientes em tratamento concomitante apresentam sedação
mais frequente.

CBD em uso concomitante aos anticonvulsivantes pode resultar em níveis séricos


significativamente alterados (topiramato, rufinamida, clobazam, eslicarbazepina e zonisamida).

Interação entre o CBD com as isoenzimas CYP3A4 e CYP2C19 aumenta a biodisponibilidade de


drogas anticonvulsivas, tornando-as mais eficazes em doses mais baixas. CBD + Clobazam a
sedação era mais frequente (Tyler E. Gaston, E. Martina Bebin, Gary R. Cutter, Yuliang Liu,
Jerzy P. Szaflarski. Interactions between cannabidiol and commonly used antiepileptic
drugs. Epilepsia, 2017; DOI: 10.1111/epi.13852).

Cuidado e atenção devem ser tomados ao utilizar concomitantemente CBD com


anticonvulsivantes/drogas epilépticas, principalmente em pacientes idosos ou portadores de
doenças crônicas. Aconselha-se o monitoramento dos níveis dos fármacos e função hepática
dos pacientes.

Site: https://www.drugs.com/drug-interactions/cannabis-index.html

RANDOMIZED, PLACEBO-CONTROLLED, 28-DAY SAFETY AND PHARMACOKINECTICS


EVALUATION OF REPEATED ORAL CANNABIDIOL ADMNISTRATION IN HEALTHY DOGS

Objetivo de determinar a segurança e farmacocinética de várias doses de CBD administradas via


oral repetidamente.
Utilizaram 20 cães da raça Beagle, os adaptando ao ambiente de estudo por 14 dias.
O CBD utilizado foi obtido a partir do método de extração supercrítica, com CO2, e diluído em

92
MCT, obtendo concentrações de 7,5, 15, 30 e 90mg/mL.
Após o período de aclimatação e 12h de jejum, a administração de 1 a 2mL VO iniciou-se.
Os cães eram alimentados com ração seca ao menos 4h antes da administração do
CBD/placebo. A ração era oferecida na quantidade de manutenção de peso e ficava à disposição
por 1h, água era disponível à vontade.
As avaliações dos cães eram feitas 2 vezes ao dia, de manhã, após a administração e à tarde,
aproximadamente 6h após a administração.
A avaliação envolvia exame clínico veterinário, consumo de ração e atividades diárias, além do
peso. Após 2 e 4 semanas de tratamento, a PIO, produção de lágrima e PA e ECG passaram a
ser avaliadas também. Amostras de sangue foram colhidas para análise bioquímica 2 vezes
durante a aclimatação e semanalmente após o início do teste.
O exame de sangue era para determinar a farmacocinética durante 24h do 7-COOH-CBD e 7-
OH-CBD e eram coletados nos intervalos de ½, 1, 2, 3, 4, 6, 8, 12 e 24h após a dose
administrada.
Durante o estudo, nenhum sinal clínico fora do padrão de normalidade foi observado.
Resultados
Durante o estudo, nenhuma diferença significativa de peso foi observada;
Ao exame físico, nenhuma alteração clínica significativa foi observada; Isso também inclui a
avaliação de ECG;
Os exames oftalmológicos de PIO e produção de lágrima também não revelaram diferenças
clínicas relevantes;
A alteração mais notável ocorreu nos níveis séricos de ALP/FA.

O grupo de 1mg/kg não excedeu o limite do valor referência, 131 U/L;


O grupo de 12mg/kg foi o mais acometido;
Os cães com a ALP/FA alta não desenvolveram nenhum sinal clínico nem desenvolveu aumento
em outros marcadores hepáticos (AST, ALT, GGT, bilirrubinas) durante o período de estudo.
Com respeito aos sinais TGI:
93
Essas alterações foram consideradas medianas e não preocupantes, sendo resolvidas
espontaneamente, em média, 4h após a administração.
Discussão:
Todos os grupos, incluindo placebo, apresentaram alteração TGI com maior frequência no grupo
de 12mg/kg; Esses achados sugerem que alguns cães podem ter desenvolvido aversão à
administração oral crônica de altas doses de CBD diluídos em MCT sem sabor;
Os achados bioquímicos apontam alteração somente em ALP/FA e tem relação com a dose; na
ausência de degeneração hepatocelular em cães, pode ser interpretado como uma adaptação ao
invés de resposta adversa à exposição ao medicamento.
No geral, a administração crônica de CBD (de 1 a 12mg/kg) neste estudo foi bem tolerada por
cães Beagle adultos e nenhuma alteração clínica foi notada. O aumento de ALP/FA pode
representar uma atividade adaptativa ao metabolismo do CBD, contudo necessita de maior
investigação. A administração crônica leva a acúmulo de CBD na circulação e seu aumento é
dose dependente.

THE IMPACT OF CBD ON THE INDUCTION OF ISOFLURANE ANESTHESIA AND


RECOVERY IN WISTAR RATS

A literatura descreve que o CBD possui efeitos analgésico, antipirético, antiinflamatório,


anticarcinogênico, antialérgico, antioxidante, neuroprotetivo, ansiolítico, antidepressivo e
sedativo.
Sua atividade está associada a interação com os receptores CB1 e CB2, vanilóides,
serotoninérgicos, GPR5 (Proteína-G) e GABA, o que influencia diretamente na atividade do SNC.
Devido a estudo prévio com adultos usuários recreativos de cannabis relatar a necessidade de
maior dose de propofol e fentanyl durante a anestesia, esse trabalho visa analisar a influência do
CBD utilizando ratos wistar pois são um modelo mamífero que fornece informação próxima a

94
pets e humanos.
Materiais e Métodos
Foi utilizado um grupo de 12 ratos, fêmeas, com idade entre 9-10 semanas. Ração e água foram
oferecidas sem restrições. O CBD utilizado foi diluído em MCT nas concentrações de 0,4, 2, 4 e
20mg/mL.
O CBD foi administrado VO, o animal mantido em gaiola por 60 minutos e inserido em câmara de
anestesia com Isoflurano a 4% com fluxo de 4L/min. Quando o animal deixava de apresentar
sinais de vigilância, avaliou-se o plano anestésico pela presença/ausência de reflexos. Então
durante a cada 5 segundos fazia o teste de reflexo de pinçamento no 4º dedo do pé esquerdo,
até que ele volta-se a se mexer, considerando retorno da anestesia.
Repetiu-se esse procedimento 5 vezes em cada animal durante 7 dias.
Resultados
A indução em ratos que receberam a dose de 20mg/kg de CBD foi significantemente diminuída
enquanto em ratos tratados com 100mg/kg a recuperação foi tardia.
Os resultados desse estudo mostram redução do tempo de indução se o CBD for administrado
previamente na dose de 20mg/kg e este efeito pode estar relacionado com a capacidade
sedativa do CBD. As doses de 2 e 10mg/kg são bem brandas para interferir no efeito do
isoflurano, em contra partida, a dose de 100mg/kg tem uma indução prolongada mas nada
distante do grupo controle.

O período de recuperação não teve diferença significativa do grupo controle no entanto foi
prolongado no grupo tratado com 100mg/kg.
Essa diferença pode ser relacionada a teoria do “U invertido” – Efeito bifásico já mencionado em
outros estudos.

95
EFFECTS OF CANNABIS USE ON SEDATION REQUIREMENTS FOR ENDOSCOPIC
PROCEDURES

O objetivo deste estudo é analisar se o consumo regular de cannabis produz algum efeito sobre
a necessidade de dose de sedativos em procedimentos de endoscopia.
É necessário saber como o uso de cannabis interfere em procedimentos de sedação/anestesia
pois sabe-se que a meia-vida do THC é entre 5 e 13 dias e sua eliminação total pode levar mais
de 25 dias e há interação com receptores canabinóides, opióides e outros mecanismos de ação
farmacológica.
Há um tendência prática observada que consumidores de cannabis necessitem de dose acima
da recomendada para entrar em plano anestésico. Um estudo australiano de 2009 comparou 30
consumidores com 30 não consumidores e concluiu que os consumidores precisaram de um
aumento da dose de propofol durante a inserção de máscara laríngea; um outro estudo, do
Paquistão em 2014, relatou uma possível associação de aumento de dose de anestésico em
consumidores de cannabis depois que precisaram trocar o propofol por tiopental em um paciente
que não respondeu à dose de 300mg de propofol (1 a 2,5mg/kg).
Metódos
Foram analisadas 250 fichas de procedimentos do centro de endoscopia em um hospital no
Colorado – EUA e chegaram a 25 fichas de usuários regulares, que foram comparadas a não
consumidores.

96
Conclusão

As análises sugerem que usuários regulares têm necessidade de maior quantidade de sedação
para o procedimento de endoscopia. Até o momento é algo não reportado e não se sabe o exato
mecanismo de ação. Ainda que a limitação foi a pequena amostra (n = 25), a comparação com os
não usuário foi bem relevante. Esse estudo não relata nenhum efeito adverso ou colateral, ainda
que é de nosso conhecimento o comprometimento respiratório que o uso de opióide pode trazer.
A farmacologia e interação devem ser mais bem estudadas. O custo do procedimento aumenta
devido ao aumento da quantidade de fármaco exigida e a necessidade de histórico do paciente é
fundamental para prevenir eventos adversos durante o procedimento.

97
PARTICULARIDADES EM SILVESTRES

Muito se é relatado sobre os animais de vida livre com acesso à planta Cannabis s., assim como
a utilização de algumas espécies para estudos. Nos permitindo um melhor entendimento tanto
da relação natural desses animais com a planta, como da parte médica.

Já se foi dito que o sistema endocanabinóide foi descoberto em quase todos os animais, exceto
nos protozoários e insetos.

Dentro da história da cannabis, incluindo a sua proibição, vimos muitos testes sendo realizados
com animais, como em 1974 onde houve um estudo em que utilizaram macacos Rhesus presos
à cadeiras com uma máscara de gás, inalando o equivalente a 30 cigarros de maconha por dia.

Neste estudo foi relatado que após 90 dias os animais começaram atrofiar e morrer. Na
necrópsia constataram que havia uma quantidade muito superior de células cerebrais mortas,
comparadas à macacos Rhesus que não foram expostos à fumaça. Deduzindo assim, que a
maconha causava morte cerebral.

Anos mais tarde, após refutar a pesquisa, um grupo de pesquisadores constataram que a
combustão da maconha como de qualquer outro material gera monóxido de carbono, gás
altamente letal, que causa a morte das células cerebrais. Além disso, como os animais estavam
presos às máscaras eles asfixiaram pela privação de oxigênio. Fazendo com que o estudo tenha
caído por terra. (“Dr.Heat/Tulane Study, 1974 - The Hype: Brain Damage and Dead Monkeys”)

Em 1975, foi realizado um estudo em porquinhos da índia para descobrir os efeitos da


administração do Δ-9-THC (3mg/kg).Os resultados dos animais que foram submetidos ao THC
mostraram uma diminuição nos parâmetros de ácido graxo e da globulina alfa 1, aumento da
gamaglobulina, e nenhuma alteração nos seguintes parâmetros: glicose sérica, nitrogênio ureico,
proteínas totais, Mg, Ca, Na e K. Tiveram uma diminuição no ganho de peso corporal, do peso
relativo do fígado e do baço; sem afetar significativamente o peso relativo do coração,
suprarrenais e rins. Na parte histológica foi constatada uma alteração hepática. Concluiu-se que
o efeito tóxico da droga foi causado pelo seu acúmulo no fígado, inibindo a ação de
determinadas enzimas hepáticas. (“Effects of chronic administration of delta 9-
transtetrahydrocannabinol (delta9-THC) in guinea-pigs”)

Em 1976, realizaram um estudo com o THC e a comunicação não verbal de macacos Rhesus.
Constataram uma diminuição das expressões faciais à estímulos, aumento da percepção em

98
relação aos outros macacos e diminuição das taxas cardíacas. (“Delta-9-THC and nonverbal
communication in monkeys”).

No mesmo ano, também constataram uma baixa toxicidade do THC em coelhos de linhagem
branca da Nova Zelândia. Considerando a dose de 100mg/kg/dia por via subcutânea, não houve
toxicidade considerável em histopatológico, os animais apresentaram anorexia, diminuição do
peso corpóreo e alguns tiveram irritabilidade no local da aplicação. (“Toxicity of delta9 -
tetrahydrocannabinol (THC) administered subcutaneously for 13 days to female rabbits”).

No ano de 1979, realizaram um estudo constatando que o THC não é teratogênico em coelhos
de linhagem branca. Considerando doses mais altas que 60mg/kg/dia, no período de
organogênese. (“Teratologic evaluation of synthetic delta 9-tetrahydrocannabinol in rabbits”).

No início da década de 80 foi realizado um estudo com camundongos, onde foram manipulados
com haxixe. Constataram uma diminuição dos conflitos em grupos, principalmente entre os
machos; aumento da reprodução; que doses baixas eram sedativas mas que os animais
apresentavam rápida resistência à substância em questão. (“Behavioral effects of hashish in
mice”).

No ano de 2003, foi realizado um trabalho onde utilizaram por via tópica um agonista de CB1, o
WIN 55212-2, que é uma molécula sintética, em macacos normais e com glaucoma. Relataram
uma diminuição significativa da pressão ocular em ambos os grupos, provavelmente pela
diminuição do fluxo aquoso, sugerindo um grande potencial clínico deste agonista. (“Effect of
WIN 55212-2, a cannabinoid receptor agonist, on aqueous humor dynamics in monkeys.”)

Em 2007, constataram que o CBD pode ser usado no tratamento de diabetes tipo 1. Após um
trabalho realizado com camundongos. (“Cannabidiol arrests onset of autoimmune diabetes in
NOD mice”)

Em 2014 realizaram um trabalho com camundongos onde concluíram que o canabidiol melhora a
função pulmonar e diminui a inflamação dos animais submetidos à lesão pulmonar aguda
induzida por lipopolissacarídeos. (“Cannabidiol improves lung function and inflammation in mice
submitted to LPS-induced acute lung injury”)

Realizaram um trabalho com macacos Rhesus utilizando o THC em 2018, os animais


apresentaram sinais de abstinência como sonolência, anorexia, piloereção, irritabilidade e
tremores na cabeça. Levando a crer que a alteração cognitiva pode ter se dado pela abstinência

99
em si. (“Chronic Δ9-THC in Rhesus Monkeys: Effects on Cognitive Performance and Dopamine
D2/D3 Receptor Availability”).

E em 2022, realizaram um estudo com coelhos e CBD, para analisar a ação do canabidiol nos
canais iônicos das fibras cardíacas ventriculares. Constataram que o CBD altera a eletrofisiologia
cardíaca e ressaltaram a atenção para administrar esse fitocanabinóide em pacientes com
cardiopatias ou que fazem uso de medicações que alteram o ritmo e/ou contratilidade do
coração.

Além dos diversos trabalhos, temos relatos de animais de vida livre que entraram em plantações
de cannabis para se alimentar da planta. Os animais muitas vezes procuram determinada planta
para aliviar algum sintoma e com a cannabis não seria diferente.

Uso de cannabis em Silvestres

É necessário se atentar à espécie e suas particularidades, pois a partir destas informações


conseguiremos dosar qual o melhor óleo usarmos para o nosso paciente. Além disso, o manejo,
ambiente e rotina deste animal devem ser avaliados para evitar o estresse e termos um
tratamento mais eficaz. As formas de oferecer a medicação interferem diretamente no
tratamento.

Sistema Porta-Renal é um sistema de drenagem sanguínea da parte posterior de aves e répteis,


assim como o sistema porta-hepático em mamíferos. Devemos tomar cuidado com as
medicações realizadas na parte posterior desses animais, pois será excretada primeiramente
pelo rim, fazendo com que tenhamos uma dose menor do que a desejada.

Aves possuem o metabolismo super elevado, alta temperatura corpórea, frequência cardíaca e
respiratória elevadas.

• Distocias; doenças osteoarticulares; pododermatite; sistema imune; distúrbios


comportamentais; epilepsia; fratura; dermatopatias.

Répteis são animais com baixo metabolismo, são ectotérmicos o que influencia diretamente na
taxa de metabolização desses animais e na administração das medicações.

• Estresse; sistema imune; amebíase; cloacite; infecção respiratória; septicemia.

Mamíferos temos uma variedade grande de espécies e particularidades, os pequenos roedores e


lagomorfos tem o metabolismo super elevado; herbívoros, devido à sua dieta se mostram mais
resistentes, mas cuidado com distúrbios gastro-intestinais pois são animais mais predisposto a
100
isso; xenarthras apresentam o metabolismo mais reduzido; Carnívoros e onívoros temos
observado uma boa resposta.

• Epilepsia; neoplasia; sistema imune; distúrbios comportamentais; doenças


osteoarticulares; hipovitaminose; dermatopatias.

Após a morte da chefe da manada, alguns elefantes não souberam lidar com a perda e se inserir
no grupo. Utilizaram CBD para diminuir o estresse desses animais, que era medido através dos
níveis de cortisol de fezes, saliva e sangue.

101
• Íbex, tratou convulsões com CBD, relataram uma diminuição de 95% das crises em 6/7
meses

• Tigre Chalet, tratando melanoma com CBD, notaram aumento de apetite e diminuição do
desconforto

• Leoa Kumba, tratando ansiedade de separação com CBD, encontra-se muito mais calma

Cobra píton, neoplasia maligna que reduziu consideravelmente com o CBD.

102
PARTICULARIDADES EM EQUINOS

Hábitos Alimentares: herbívoros - digestão fermentativa da fibra vegetal por microbiota


especializada (ceco - câmara fermentativa)
--» Monogástricos
--» Produção de Ácidos Graxos Voláteis + calor + proteína bacteriana
--» Maior sensibilidade aos fitocanabinóides
--» Efeitos diretos do uso da Cannabis na microbiota ?
--» Aumento do volume da produção leiteira em vacas com a alimentação com Cannabis sp e
alteração da proporção de sólidos do leite ( Karlsson, 2010).

Etologia Equina: base da cadeia alimentar (presas), animais de comportamento gregário.


--» Expansão da caixa torácica (compressão das vísceras abdominais)
--» Especialização do sistema locomotor
--» Otimização da capacidade de luta e/ou fuga

Relação Equinos X Homem x Cannabis sp


Domesticado há mais de 5.500 anos --» relação intima com os seres humanos
--» Animal atleta: esportes equestres
--» Utilização para trabalho
--» Utilização para lazer

Registros apontam uso da Cannabis spp para tratamento de feridas em equinos por gregos e
indígenas (Butrica, 2002)

O extrato da Cannabis spp, na década de 90s, estava presente na listagem de medicações


da Associação Americana de Medicina Veterinária para tratamento de síndrome cólica
(Carter, 2003).

The American Veterinary Medical Association´s Annual Proceedings (AVMA - 1913) indicava o
uso da Cannabis Indica para tratamento de síndrome cólica e como anestésico em equinos.
- Teste de Potência: eram realizados testes de potências dos extratos das plantas
utilizadas, a fim de ter o conhecimento para estipulação de doses.
Universidade de Pensilvânia --- distúrbios gastro-intestinais.

103
AVMA Proceedings - opióides x cannabis para controle de dor - benefícios: além de exercer
controle da dor assim como medicações alopáticas, a ausência de efeitos adversos (nas
dosagens utilizadas com controle efetivo da dor) colocaria o uso da cannabis como primeira
opção de tratamento.

Relação Equinos X Cannabis sp


Sensibilidade à Cannabis spp: equinos x canídeos

- 200mg/kg x 20mg/kg: Palmer et al., evidenciou que os mesmos efeitos eram observados em
equinos e canídeos com o uso de doses 10x menores em equinos que em canídeos. Com as
doses utilizados nenhum efeito adverso maléfico foi observado.

Baixa absorção de medicamentos por equídeos tem fatores associados à: pH gástrico mais
baixo quando comparado a outras espécies domésticas (resultando em maior maiores reações
químicas como e alteração no balanço de proporções ionizáveis e efetivas), trânsito intestinal
lento (o que proporciona maior interação medicamentosa com bolo alimentar) - fisiologia
monogástrica fermentativa.
Administração:

- Oral(OTM x Gástrica - OTM ocorrendo absorção transmucosa por vira oral, do inglês Oral
Transmucose – ocorre maior e mais rápida absorção através da mucosa quando comparada
com absorção gástrica)

- Retal
- Tópica (pomada)

Formas de apresentação:

- Pellets (maiores valores de absorção gástrica e biodisponibilidade)


- in natura ("whole" ou "trimmed")
- Pó (forma de suplementação - nutracêutico)
- Pasta
- Óleos
- Cápsulas

Quanto ao uso:

104
- Segurança (dose terapêutica x dose tóxica)
- THC: tolerância

Quanto ao Produto:

- Procedência
- Análises químicas: perfil molecular + presença de resíduos + microbiológica
- Espécime de Cannabis spp (cada variante apresenta diferentes níveis de concentração de cada
fitocanabinóide).

- Tipo de extração (álcool x óleo x CO2 – cada extração tem seus prós e contras, assim como
suas diferenças em custo financeiro para produção e para o consumidor final. A diferença de
cada tipo de extração se vê principalmente na pureza e potência do produto fina.)

Meia vida: 10 horas (Ryan, 2021) - maior que outras espécies estudadas.

- Administração com veículo oleoso auxilia na absorção, porém, o uso de formulações


comestíveis e palatáveis devem ser avaliadas.

- Biodisponibilidade oral equina excede o metabolismo hepático, diferente de outras espécies


estudadas.

- Dose x Efeitos: fatores de análise

105
Sistema Endocanabinóidico Equino

- O que é? Mecanismo de comunicação inter e intracelular.


- Objetivo? Sistema REGULATÓRIO --» ativar a homeostase.
- Disperso e Disseminado x Compartimentalizado
- Localização »» "Função" »» Efeito
-
Componentes: ligantes (endo e exo) + receptores + enzimas (FAAH e MAGL – a metabolização
do canabinóides em equinos é mais marcada pela ação local das enzimas FAAH e MAGL que
pelo metabolismo hepático).

- Ligantes Endógenos: anandanida (AEA) e 2AG - produzidos via fosfolipídeos da membrana


celular/intracelular; virodamina, N- arachidonoylglycerol-dopamina, nolandin; Síntese e
liberação "on demand" -» estimulo especifico ativa (gatilho) sua sintese.
- Ligantes exógenos: fitocanabinoides (THC, THCA, CBD, CBG, terpenos, flavonóides),
agonistas sintétitcos.

Receptores: nucleares, de membrana, transmembrana. Capacidade de inibição/estimulo,


abertura/fechamento de canais de íons, cascata química intracelular.
CB1, CB2 (canonical receptors) PPARalfa, 5HT1a, 5HT1aR (related receptors) , TRPA1
são os receptores mais pesquisados na atualidade em equinos.
Presentes em diversos tecidos e tipos celulares:

- SNC e Periférico - SNE (sistema nervoso entérico)


- Sistema Imune - Sistema Músculoesquelético

- Sistema Digestivo - Sistema Respiratório

- Sistema Endócrino
106
107
108
Manejo e Controle da Dor e Inflamação

Supressão da inflamação via inibição da degranulação de células inflamatórias e efeitos anti-


inflamatórios teciduais diretos.

- Controle da dor em diferentes níveis: local - periférico - central

- Atua em diferentes vias e tipos de dor:


Somática + Visceral + Neuropática (ascendente e descendente)

Inflamação - inibe produção e liberação de prostaglandinas - bloqueia o impulso nervoso -


alteram a percepção do paciente à dor.

109
Sistema Digestório

Ativação de receptores canabinóidicos traz benefícios para o TGI:

- Controle de inflamação
- Regulação de hipersensibilidade intestinal
- Regulação da motilidade e secreção intestinal
- Regulação do apetite

110
- Conforto visceral
- Cicatrização epitelial

Indicações:

- Síndrome do Abdômen Agudo: colite e enterites , compactações, vôlvulos, torções, ingestão de


areia, timpanismo ?, pós operatório.

- Úlceras
- Doença Inflamatória Intestinal
- Diarréia
- Desbiose ??

Administração:

- Oral (TNG)
- Enema (atenção)
Protocolos:
Quadros Agudos: 1- 4mg/kg TID (estabilização e controle) 2 mg/kg BID

Quadros crônicos: 0,5mg/kg BID (iniciar aumentando dose x efeito) ACOMPANHAMENTO


(FOLLOW UP) DIÁRIO:
SAA (serum amyloid A – proteína de fase aguda)
EXAME CLÍNICO COMPLETO
ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL

Sistema Respiratório
Ação broncoespasmolítica

- Moduladora de processos alérgicos pela presença de receptores em macrófagos, linfócitos e


monócitos e ação anti-inflamatória USO:

- Reações Alérgicas (crônicas ou agudas)


- Bronquites
- Pneumonia (alerta: diagnostico definitivo !!)
- Sinusites (aplicação tópica ?)
111
Sistema Locomotor
- Ação anti inflamatória e anti nociceptiva

- Moduladora de processos degenerativos

- Estimulação de cicatrização cutânea USO:

- Doenças Degenerativas Articulares

- Traumas

- Dor crônica

- Feridas (uso tópico x uso sistêmico)

- Doenças do Casco (uso tópico associado - aplicação via tintura)

- Laminite
- HoofCanker
- Abcessos soleares

112
CASOS CLÍNICOS
Nome:
Idade: Espécie: Raça:
Sexo: Castrado (a):
Doença:
Sintomatologia:

Medicações de uso constante:

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Início do Tratamento com Cannabis:


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