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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

Adriano Heverson Feitosa Queiroga

Uso de Cannabis de forma medicinal: conceitos e


preconceitos na sociedade
Medicinal use of Cannabis: concepts and preconceptions in society

Natal – RN
2022
Adriano Heverson Feitosa Queiroga

Uso de Cannabis de forma medicinal: conceitos e


preconceitos na sociedade
Medicinal use of Cannabis: concepts and preconceptions in society

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade Artigo


Científico apresentado ao Curso de Graduação em
Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como parte dos requisitos necessários para
obtenção do título de Bacharel em Farmácia.

Orientador: Prof. Dr. Herbert Ary A. A. C. N. Sisenando.

Natal – RN
2022

2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

Queiroga, Adriano Heverson Feitosa.


Uso de cannabis de forma medicinal: conceitos e preconceitos
na sociedade / Adriano Heverson Feitosa Queiroga. - 2022.
25f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia)


- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de
Ciências da Saúde, Departamento de Farmácia. Natal, RN, 2022.
Orientador: Herbert Ary A. A. C. N. Sisenando.

1. Cannabis - TCC. 2. Canabinoides - TCC. 3. Maconha


medicinal - TCC. 4. Epilepsia - TCC. I. Sisenando, Herbert Ary
A. A. C. N. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 582.635.38

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263


Adriano Heverson Feitosa Queiroga

Uso de Cannabis de forma medicinal: conceitos e


preconceitos na sociedade
Medicinal use of Cannabis: concepts and preconceptions in society

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade Artigo


Científico apresentado ao Curso de Graduação em
Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como parte dos requisitos necessários para
obtenção do título de Bacharel em Farmácia.

Orientador: Prof. Dr. Herbert Ary A. A. C. N. Sisenando.

Presidente: Prof. Herbert Ary A. A. C. N. Sisenando, Dr. – Orientador, UFRN

Membro: Prof.ª. Aline Schwarz, Dra., UFRN

Membro: Prof. George Queiroz de Brito, Dr., UFRN

3
Agradecimentos

Aos meus pais Francineide Feitosa e Damião Queiroga, por todo amor, carinho e
por todo suporte que me deram ao longo da vida e me dão até hoje, por estarem
sempre comigo sendo meu porto seguro.

Ao meu irmão Ney Arthur, por ser exemplo para mim não só na vida acadêmica,
mas também na forma como encara a vida, com inteligência, verdade, leveza e
loucura, e por quem tenho extrema admiração. Ao meu irmão Daniel Alisson, por
sempre torcer por mim e por se alegrar com minhas conquistas, querendo sempre
se fazer próximo e presente.

Aos meus amigos, Maria Eliza, Marina Helena, Thiago Menezes, Beatriz Luande,
Pedro Silvestre, Ana Júlia, Antônio Laurindo, Bruno Amorim, por serem exemplos
para mim, e por me acolherem sempre, me ajudando a ser melhor a cada dia.

Aos meus colegas e amigos que o curso me deu, Gabriela Santana, Francisco
Lucas, Vitor Confessor, Solimar Ribeiro, Mayla Agnes, Felipe Souza, Pedro
Fernandes, Laiz Gabriella, Mariana Sampaio, Louise Lorrane, Fernanda Morais,
Letícia Sales, Camylla Barreto, Kamila Andrade, Lindinez Oliveira, Nathália Miranda,
Renata Borges, Daniel Marques e tantos outros, por terem sido peças fundamentais
na minha formação, com quem aprendi e aprendo todos os dias. E a todo o centro
acadêmico de Farmácia da UFRN - gestão (R)existir, por toda paciência e atenção.

Aos meus familiares, em especial Alice Alves e Davi Feitosa, por terem me
acompanhado tão de perto e me auxiliando sempre.

Ao meu orientador, Prof. Herbert Sisenando, por toda paciência e cuidado nesse
tempo de orientação, por todo aprendizado. Assim como aos professores George e
Aline, por terem feito parte da minha graduação, não só como banca examinadora,
mas como mestres que me nortearam na monitoria e foram exemplos de
profissionais.

A vocês, toda admiração e gratidão do meu coração.

4
SUMÁRIO

RESUMO…………………………………………………………………………………….. 6

ABSTRACT…………………………………………………………………………………. 7

1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………… 7

2. MÉTODO…………………………………………………………………………………..8
2.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO …………………………………………………9

3. RESULTADOS…………………………………………………………………………… 9
3.1 GÊNERO CANNABIS………………………………………………………………….. 9
3.2 USO POPULAR NO PASSADO…………………………………………………….. 10
3.3 USO ILEGAL COMO DROGA DE ABUSO ………………………………………… 11
3.4 CONCEITOS E PRECONCEITOS NA SOCIEDADE……………………………...12
3.5 TOXICOCINÉTICA…………………………………………………………………….12
3.6 TOXICODINÂMICA…………………………………………………………………… 13
3.7 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA CANNABIS ……………………………………14
3.8 USO DE CANABINÓIDES NA ATUALIDADE ………………………………………16
3.9 PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS BASEADAS NOS USOS ATUAIS………… 18

4.CONCLUSÃO…………………………………………………………………………… 21

REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………… 21

5
USO DE CANNABIS DE FORMA MEDICINAL: CONCEITOS E
PRECONCEITOS NA SOCIEDADE
MEDICINAL USE OF CANNABIS: CONCEPTS AND PRECONCEPTIONS IN
SOCIETY
Adriano Heverson Feitosa Queiroga1 ; Herbert Ary Sisenando 1
1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Análises Clínicas e
Toxicológicas, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil

Resumo. O uso de Cannabis de forma medicinal é relatado desde os tempos antigos,


assim como seu uso na produção de fibras, cordas e tecidos. Ao se difundir pelo mundo,
seus efeitos psicotrópicos foram ganhando força e interesse, seja em rituais religiosos ou no
uso recreativo, e essa realidade acabou por influenciar de forma negativa seu papel
terapêutico. O presente estudo traz uma revisão literária abordando o contexto histórico da
maconha no mundo, seus mecanismos de ação e aparatos bioquímicos, seu uso de forma
recreativa como droga de abuso e o contraponto do seu uso de forma medicinal. Dentre os
estudos analisados, foram observadas terapias à base de Cannabis para redução dos
sintomas da doença de Parkinson, redução da dor crônica em quadros de fibromialgia, ação
anticonvulsivante em epilepsia refratária, entre outros achados. Concluindo, assim, que
alguns canabinóides presentes na planta possuem potencial terapêutico.

Palavras-chave: Cannabis; Canabinoides ; Maconha medicinal; Epilepsia.

Abstract. The use of Cannabis medicinally has been reported since ancient times, as well
as its use in the production of fibers, ropes and fabrics. As it spread around the world, its
psychotropic effects gained strength and interest, whether in religious rituals or recreational
use, and this reality ended up negatively influencing its therapeutic role. The present study
brings a literary review addressing the historical context of marijuana in the world, its
mechanisms of action and biochemical devices, its recreational use as a drug of abuse and
the counterpoint of its use in a medicinal way. Among the analyzed studies, Cannabis-based
therapies were observed to reduce the symptoms of Parkinson's disease, reduction of
chronic pain in fibromyalgia, anticonvulsant action in refractory epilepsy, among other
findings. Concluding, therefore, that some cannabinoids present in the plant have
therapeutic potential.

Keywords: Cannabis; Cannabinoids; Medical Marijuana; Epilepsy.

6
1. Introdução

O uso da Cannabis de forma medicinal está descrita desde as mais antigas


civilizações, sendo usada para dores reumáticas, constipações intestinais,
infertilidade feminina, entre outras doenças1. Na Índia há relatos do uso da Cannabis
no tratamento de insônia e ansiedade². E essas ações são resultados dos efeitos de
diversos canabinóides.
Os canabinóides são compostos de hidrocarbonetos aromáticos contendo
oxigênio que ocorrem de forma natural na planta de Cannabis, e também outros
compostos que imitam sua estrutura e funções, sejam naturais ou sintéticos. Mas os
de maior destaque, atualmente, são o Δ9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol
(CBD). Sendo o THC mais conhecido pela sua ação psicotrópica e o CBD pelo seu
uso de forma medicinal. Dentre as espécies de Cannabis destacam-se a Cannabis
sativa e a indica, nas quais se percebem diferentes concentrações de THC entre
elas³.
Devido à ação psicotrópica do THC, a utilização da Cannabis de forma
medicinal acabou se tornando um tabu, ainda mais no Brasil, onde a maconha,
nome atribuído à Cannabis, chegou em sua forma in natura para consumo com os
negros escravos trazidos da África4. E apesar de vários estudos comprovarem sua
eficácia terapêutica, o Canabidiol (CBD) acaba sofrendo um reflexo negativo quanto
sua utilização, ainda que de forma medicinal. Por isso, se faz cada vez mais
necessária a instrução da população sobre as diferenças entre cada canabinóide
encontrado na planta e seus mecanismos de ação.
O uso recreativo da Cannabis ainda é ilegal no Brasil, o que ressalta uma
importância desse assunto no âmbito cultural da sociedade brasileira. E o
desenvolvimento e uso de produtos derivados da planta Cannabis sativa, seja para
fins terapêuticos ou recreativos, apresenta uma série de riscos devido às
conotações culturais e legais que envolvem esta planta5.
Existe no corpo humano um sistema de neurotransmissão denominado
endocanabinoide, que compreende seus receptores, chamados de receptores
endocanabinóides, os agonistas endógenos e o aparato bioquímico que é
responsável por mediar as ações dessas substâncias. Há dois tipos de receptores
mais conhecidos, são eles: o CB1 e o CB2, tendo recebido esses nomes pela
União Internacional de Farmacologia Básica e Clínica (International Union of Basic

7
and Clinical Pharmacology - IUPHAR) de acordo com a sua ordem de descoberta6.
E são a esses receptores que os canabinóides endógenos, assim como o THC e o
CBD se ligam e exercem sua atividade. O mecanismo de ação que envolve esse
sistema é a neurotransmissão retrógrada.
Nesse contexto, ciência e legislação assumem um papel conjunto para que
seja ou não liberado o uso de uma substância psicoativa. Os medicamentos tidos
como sendo de controle especial, devem estar regulamentados pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dessa forma, o canabidiol como um
potencial princípio ativo no tratamento de diversas doenças deve também estar
inserido dentre os nomes de medicamentos de uso controlado. O canabidiol estava
na lista de substâncias proscritas, e foi apenas no ano de 2015 que a Anvisa passou
a colocá-lo na lista de substâncias controladas7.
Levando em consideração a recente implementação da substância na lista
de substâncias controladas e a falta de informação atrelada ao preconceito
relacionado ao uso recreativo da substância, se fazem necessárias ações de
pesquisa sobre o uso terapêutico dos canabinoides presentes na Cannabis para que
um maior número de pessoas passem a ter conhecimento sobre a terapia. O
presente trabalho tem, então, o intuito de promover um levantamento bibliográfico
para trazer conceitos e desfazer preconceitos acerca do tema, explanando a
eficácia e perspectivas de futuros tratamentos com o princípio ativo.

2. Método

2.1 Levantamento bibliográfico

A metodologia científica consistiu numa pesquisa bibliográfica integrativa,


por meio de busca ativa em bases de dados como SCIELO, Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), MEDLINE, tendo
como ferramenta de pesquisa a plataforma Periódicos Capes, Public Medline
(PubMed) e Google Scholar. Para a pesquisa, foram usadas palavras chave como
Canabidiol, Cannabis, Terapia com canabinóides, Mecanismo de ação, Legislação e
uso da Cannabis, tetrahidrocanabinol, canabinóides, Cannabis medicinal; buscando
trabalhos científicos nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados entre os
anos de 2010 e 2022.

8
Foram analisados 64 artigos que foram encontrados sobre o uso medicinal
da Cannabis, tendo como parâmetros de seleção o estudo pré-clínico ou clínico,
foram então excluídos 57 após leitura do título e resumo, usando como critérios de
exclusão trabalhos que não abordassem o uso terapêutico ou os que abordavam o
uso clínico mas não tinham tantos achados de eficácia, deixando apenas 1 artigo
para cada uso medicinal relevante e que possuíssem um apanhado de estudos
clínicos que comprovassem a eficácia do tratamento com Cannabis, dessa forma,
foram escolhidos 7 trabalhos.

3. Resultados

3.1 Gênero Cannabis

Cannabis é o nome botânico de um gênero que pertence à família


Cannabaceae, família essa a qual pertence também as plantas que contém lúpulo.
Esse gênero engloba três espécies: C. sativa , C. ruderalis e C. indica8. Cada
espécie de Cannabis difere uma da outra quanto à altura da planta e quanto à
concentração de psicoativos9. A C. sativa, por exemplo, é caracterizada
fenotipicamente como possuindo galhos e folhas finas e longas, e sendo bastante
alta, e era cultivada originalmente para a produção do óleo da semente, para ração
animal e na produção de fibras10. No ano de 2016 foram identificados 554
compostos na Cannabis, destacando-se 113 canabinóides e 120 terpenos10. Dentre
esses canabinóides um de grande importância no assunto é o canabidiol (CBD),
bastante associado ao uso terapêutico, e o Δ9-tetrahidrocanabinol (THC), este
último sendo o principal responsável pelos efeitos psicoativos9.
Os efeitos psicotrópicos e de comportamento próprios da planta são
atribuídos ao conteúdo dessa classe de compostos, os canabinóides, principalmente
o THC, que está presente nas folhas e botões florais da planta, principalmente.
Existem ainda outros canabinóides que não possuem capacidades psicoativas mas
apresentam diversas funções medicinais, como o canabidiol (CBD), o
canabicromeno (CBC) e o canabigerol (CBG)11. O THC é o composto psicoativo
principal presente na maconha. O CBD, de forma oposta, não possui efeito
psicoativo, não possuindo uma sensação de alta e em vez disso, pode neutralizar
alguns efeitos colaterais do THC10.

9
3.2 Uso popular no passado

O cânhamo ou maconha, é uma das plantas mais utilizadas pelo homem


desde o surgimento da agricultura, sendo usada para fazer cordas e tecidos por
causa de suas fibras, mas também conhecida por suas propriedades farmacológicas
e alucinógenas¹. Há relatos de que na Ásia Central, perto das montanhas de Altai,
que ocupa parte do território da Rússia, a Cannabis estava presente há cerca de
11.700 anos. O deus Shiva cultuava a Cannabis, pois era utilizada como agente de
inspiração mística em rituais religiosos. Conhecida como Vijaya, a maconha é usada
na medicina ayurvédica no tratamento para reduzir dores, náusea e ansiedade,
assim como para melhorar o apetite e o sono, relaxando os músculos e produzindo
uma sensação de euforia12. O imperador chinês Shen-Nung recomendava o uso da
Cannabis para tratar constipação, fadiga, gota, e até malária13.

A ingestão da Cannabis se dá de várias formas, seja em eventos religiosos,


especialmente durante Maha Shivratri e Durga Puja, como uma cerveja conhecida
como “bhang”, e “ganja”, servindo para gerar um clima descontraído, como também
em eventos sociais, consumidas de forma recreativa14. Por ser usado de diversas
formas, o cânhamo é tido como uma das plantas mais antigas que são cultivadas
pelo homem e que fornecem benefícios medicinais e nutricionais. Foi pela rota da
seda, cerca de 500 a.C., que o uso de Cannabis se espalhou pelo mundo. No
século 19, o cânhamo tornou-se popular no mundo ocidental devido a utilização das
suas fibras que possuíam qualidade superiores a outras já existentes15. A planta
passou a ter seu uso disseminado por todo o mundo, incluindo países como Brasil.

No Brasil, a introdução da maconha se deu com a vinda dos escravos para o


país no ano de 1549, segundo documento oficial do Ministério das Relações
Exteriores do Governo Brasileiro de 1959. Sem interesse muito esclarecido, a coroa
portuguesa incentivou o seu cultivo no século XVIII. Com o passar dos anos, a
maconha tomou uso não medicinal entre os escravos e se disseminou para a
cultura indígena, onde passaram a manter o próprio cultivo16. Diante do
exposto, pode-se refletir sobre o quanto a maconha foi associada às pessoas mais
marginalizadas, e que, depois de um tempo passou a não despertar interesse da
elite branca16.

10
3.3 Uso ilegal como droga de abuso

Existem vários tipos de ‘drogas’, tais como as lícitas e ilícitas. As que são
consideradas lícitas podem então ser comercializadas e consumidas de forma
legalizada, como por exemplo, os medicamentos, e também as prejudiciais à saúde
como cigarro e álcool. Já as tidas como ilícitas são substâncias consideradas
proibidas, tanto a produção, comercialização e o consumo17. Segundo a Associação
Brasileira De Psiquiatria (ABP) o uso de drogas psicotrópicas se inicia ainda na
adolescência, geralmente, as primeiras sendo as drogas lícitas anteriormente
citadas. Dentre os fatores que levam um indivíduo a progredir para a dependência
de múltiplas drogas estão as pressões externas (incentivo ao uso de drogas, grupo
social, traficantes), e geralmente o consumo de drogas ilícitas se inicia pela
maconha e cocaína aspirada18.

A maconha é a droga psicoativa ilícita mais usada em todo o mundo17. No


ano de 2016 a estimativa era de que cerca de 160 milhões de pessoas no mundo
usavam esta droga, pelo menos uma vez, a cada ano19. Se faz necessária uma
orientação para toda a população acerca do uso dessa substância, pois apesar do
consumo estar aumentando consideravelmente e os debates públicos globais
estejam avançando no que se diz respeito à descriminalização da Cannabis, não
existem ainda programas sociais que conscientizem a população sobre seus riscos,
benefícios, e fatos ou ‘fakes’ presentes na atualidade 20.

3.4 Conceitos e preconceitos na sociedade

Apesar de canabinóides como o CBD possuírem benefícios comprovados à


saúde, o debate acerca do seu uso medicinal ainda é bastante controverso e
polêmico21. O conteúdo debatido por vezes é pautado em discursos moralistas, que
associam o uso de Cannabis de forma medicinal ao seu uso de forma recreativa e
ilegal22. Vale ressaltar que muito se associa o THC como “vilão” e o CBD como
“mocinho”, contudo, são necessários estudos que permitam entender a interações
entre os 113 canabinóides e até mesmo com outras substâncias, uma vez que pode
ocorrer diferentes respostas ao se isolar ou não um desses compostos.

Durante a pesquisa foram encontrados diversos estudos que falam sobre o


mecanismo de ação da maconha e seus efeitos terapêuticos (Tabela 2). Assim
como outras drogas terapêuticas, a Cannabis também possui efeitos adversos que
11
devem ser levados em consideração: para Cannabis contendo um alto teor de THC
pode haver o comprometimento do desempenho da condução, o aumento do apetite
- a chamada “larica”, boca seca, e possui baixo risco de intoxicação, devido às
ações exercidas por esse canabinóide no corpo humano; para Cannabis no qual o
teor de CBD é predominante a reação mais comum é a diarreia, e se estiver em sua
forma pura, ou seja, sem a interferência com outros canabinóides, é muito seguro e
não intoxica, além de não ser viciante23.

Contudo, o uso recreativo como droga de abuso na sociedade torna o uso


medicinal da Cannabis um estigma, associado constantemente à população mais
pobre e marginalizada. É preciso a compreensão que, assim como outros
medicamentos, a Cannabis é um potencial princípio ativo para o tratamento de
diversas doenças e quadros clínicos.

3.5 Toxicocinética

Existem diferentes alternativas no uso recreativo da Cannabis, e a


farmacocinética ou toxicocinética envolvida pode variar de acordo com cada uma
delas. Uma das vias de absorção é a via pulmonar, mais comumente utilizada, e que
se dá por meio do fumo de cigarros artesanais ou cachimbos, podendo por vezes
ser misturadas substâncias como tabaco e Cannabis. Já a via oral se dá por meio
da ingestão de alimentos feitos com maconha, como doces e bebidas.

Substâncias como o THC atingem pico máximo de absorção no organismo


em cerca de 10 minutos desde a tragada de um cigarro de maconha. Isso se explica
pelo fato da via pulmonar ser a de mais rápida absorção, uma vez que a área da
superfície alveolar do pulmão é extensa, possuindo um fluxo sanguíneo alto e uma
extensa região com rede capilar. Já a biodisponibilidade varia de 8 a 24%24.

A via de absorção oral é irregular e lenta, com um pico de absorção máximo


entre 1 a 2 horas depois da ingestão. Possui uma biodisponibilidade com cerca de
12%, metade quando comparada à via pulmonar; isso é explicado pelo metabolismo
hepático e pelo fato de haver degradação de canabinóides como o THC, o que pode
sugerir uma baixa absorção dessa substância, que é mais psicoativa, por via oral
quando comparada à absorção do canabidiol24.

12
3.6 Toxicodinâmica

A partir do ano 1990 foram descobertos os receptores endocanabinóides CB1


(presentes principalmente no sistema nervoso central, e também no sistema
digestório) e CB2 (implicado na regulação da imunidade e inflamação), que fazem
parte do Sistema Endocanabinóide (SEC). Há no corpo humano, ainda, alguns
endocanabinóides (ou seja, que são produzidos pela própria fisiologia humana)
como o araquidonoiletanolamida (AEA), também denominada de anandamida (que
significa felicidade ou prazer) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG). E embora os
canabinóides provenientes da Cannabis sejam totalmente diferentes do anandamida
quanto a sua classe química, a planta parece ser a única que possui produtos com a
capacidade de se ligarem ao receptor CB1 e ativá-lo de forma potente12.

Os receptores CB1 são uns dos mais abundantes acoplados à proteína G no


cérebro, sendo altamente expresso no hipocampo, cerebelo, córtex e gânglios da
base. São encontrados em várias regiões do cérebro em maior quantidade nos
neurônios GABAérgicos do que nos glutamatérgicos. Enquanto o CBD é antagonista
dos receptores CB1, o THC tem ação agonista. Já os receptores CB2 são
expressos mais abundantemente em órgãos periféricos com função imune, como o
baço, macrófagos, timo, amígdalas e leucócitos, e foram encontrados em células
cerebrais saudáveis e doentes, o que supõe que possam estar envolvidos em
distúrbios neuropsiquiátricos25.

Um fato curioso no sistema endocanabinóide é a neurotransmissão


retrógrada que se difere da neurotransmissão convencional pois os receptores
anteriormente citados se encontram nos neurônios pré-sinápticos e a síntese dos
endocanabinoides ocorre nos neurônios pós-sinápticos; já na neurotransmissão
convencional, acontece o inverso. Em virtude dessa diferenciação os canabinóides
têm um papel importante como moduladores da liberação de uma ampla gama de
neurotransmissores. Nesse sentido, o sistema endocanabinóide tem um papel
homeostático no controle de excitação ou inibição excessiva. O que pode explicar
um pouco diversas ações farmacológicas envolvendo o sistema nervoso24.

3.7 Legislação Brasileira para Cannabis

Na metade do século XIX chegou ao Brasil a notícia do uso medicinal da


maconha, contudo, em 1930 começou a repressão da maconha no País, sendo
13
proibido desde seu plantio até o seu consumo, pelo Decreto-Lei N° 891, de
25/11/1938 “Aprova a Lei de Fiscalização de Entorpecentes”, na qual o cânhamo
se encontrava no primeiro grupo de substância entorpecentes13.

Além dos preconceitos sociais, a produção e o uso da Cannabis, seja para


fins terapêuticos ou recreativos, encontram impedimentos expressos no
ordenamento jurídico brasileiro.
No ano 2015, a Anvisa retirou o canabidiol da lista de substâncias de uso
proscrito, permanecendo, no entanto, a proibição quanto a sua produção em
território nacional, restando aos pacientes a alternativa de importar a substância.
Considerando as exigências burocráticas e os elevados custos da importação, o
acesso ao uso terapêutico da cannabis configura-se como privilégio restrito a uma
classe social7.
Segundo a Resolução Da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 327 de 2019, os
produtos da Cannabis podem ser utilizados como tratamento quando estiverem
esgotadas outras opções terapêuticas disponíveis no mercado brasileiro, devendo
conter predominantemente canabidiol, e uma dose de THC que não deve ser
superior a 0,2%26, com exceção de dois novos medicamentos autorizados pela
Anvisa e que podem ter uma concentração maior que 0,2% de THC em sua
composição (Tabela 1). Já a RDC Nº 335 de 2020 dispõe da permissão para a
importação, por pessoa física, para uso próprio mediante prescrição de um
profissional legalmente habilitado, de produtos derivados de Cannabis27.
Para além da desinformação que manipula a opinião pública sobre os usos
da Cannabis, há outro fator que merece análise a respeito do atraso na liberação de
fármacos à base de Cannabis no Brasil: o interesse financeiro das indústrias que
pretendem monopolizar a produção e o comércio desses fármacos.
Atualmente, tramitam no Senado quatro projetos relacionados ao uso
terapêutico de Cannabis, quais sejam:
Projeto de Lei do Senado n° 514, de 2017, que altera o art. 28 da Lei nº
11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas), para descriminalização do cultivo
da Cannabis sativa para uso pessoal terapêutico;
Projeto de Lei n° 5295, de 2019:
Dispõe sobre a cannabis medicinal e o cânhamo industrial e dá outras
providências.

14
Projeto de Lei n° 4776, de 2019:
Dispõe sobre o uso da planta Cannabis spp. para fins medicinais e sobre a
produção, o controle, a fiscalização, a prescrição, a dispensação e a importação de
medicamentos à base de Cannabis spp., seus derivados e análogos sintéticos.
Projeto de Lei n° 5158, de 2019:
Altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, para obrigar
o Sistema Único de Saúde a fornecer medicamentos que contenham o canabidiol
como único princípio ativo28.
Enquanto a discussão não avança no Congresso Nacional, a judicialização
constitui-se como via de acesso, seja no pedido de Habeas Corpus para que
pacientes e seus cuidadores possam cultivar a Cannabis necessária ao tratamento,
ou seja exigindo do Estado o fornecimento dos medicamentos, fundamentando-se
no direito constitucional à saúde, conforme o artigo 196 da Constituição:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”29.

Algumas empresas podem fabricar, importar e comercializar produtos a base


de Cannabis no Brasil, como Canabidiol Belcher 150 mg/mL, Canabidiol Aura
Pharma 50 mg/mL, Canabidiol Greencare 23,75 mg/mL, Extrato de Cannabis Sativa
Promediol, Extrato de Cannabis Sativa Zion Medpharma, Extrato de Cannabis sativa
Ease Labs, entre outros. O Canabidiol Prati-Donaduzzi é o primeiro e único produto
à base de Cannabis brasileiro e autorizado pela Anvisa 30.

Embora o assunto ainda seja bastante polêmico, em Junho de 2022, a Sexta


Turma do Supremo Tribunal de Justiça Brasileiro deu salvo-conduto para pacientes
cultivarem Cannabis para fins medicinais. Em decisão inédita e de forma unânime,
foi concedida permissão a três pacientes que já faziam uso do canabidiol para os
quadros de transtorno de ansiedade e insônia, sequelas do tratamento de câncer,
ansiedade generalizada e outras enfermidades, que já possuíam autorização da

15
Anvisa para importação da substância, mas que relataram dificuldades em continuar
o tratamento em virtude do alto custo da importação31.

3.8 Uso de canabinóides na atualidade

Com o passar dos anos, a necessidade de combater o adoecimento da


sociedade fez com que fosse reacendido o ânimo para os estudos envolvendo o uso
de Cannabis de forma terapêutica. No Brasil foi liberado pela Anvisa a partir de 2015
a importação de produtos a base de Cannabis e em 2017 a Cannabis sativa foi
incluída na lista de plantas medicinais. Pacientes com quadros de epilepsia
refratária e que já fizeram uso de medicamentos como topiramato, fenobarbital,
oxcarbazepina, ácido valpróico, nitrazepam, receberam prescrição do Hemp Oil
(líquido) 5mg - 1 tubo mensal, contudo, o processo de aquisição é complexa por
falta de informação32. Assim como outros medicamentos que podem ser importados.
Existem hoje duas formas de ter acesso ao medicamento a base de
Cannabis, uma delas é o acesso direto, no qual o paciente possui a autonomia de
importar o fármaco ou comprá-lo de alguma Organização não Governamental que
possuem licença para produção e venda do óleo; ou uma segunda forma é o
processo de judicialização, no qual o paciente recorre ao Estado para o
financiamento desse tratamento, uma vez que outras terapias convencionais não
são eficazes, e tendo a saúde como direito do cidadão brasileiro e dever do Estado,
pode-se então recorrer ao judiciário para aquisição desse produto.
Contudo, ainda que a importação seja permitida, os produtos a base de
canabidiol são muito caros, e não é acessível para toda a população. O que se
pode, então, é recorrer ao Estado para financiar esse tratamento, precisando de
uma prescrição de um especialista na área. Atualmente, estão aprovados 18
produtos à base de Cannabis (Tabela 1), dos quais 16 possuem teor máximo de
0,2% de THC em sua composição e 2 possuem teor acima de 0,2% do canabinoide,
devendo todos conter predominantemente CBD em sua composição33. Esse é um
marco importante na temática, que vem avançando bastante, mas que ainda precisa
crescer muito, visto que o assunto da Cannabis ainda é manchado pelo tráfico de
drogas decorrente da proibição do seu uso no Brasil enquanto droga de abuso. Vale
ressaltar que o uso medicinal se difere do uso recreativo e ilícito.

16
Tabela 1. Produtos de Cannabis aprovados pela Anvisa para uso medicinal
no Brasil.

PRODUTO CONCENTRAÇÃO TEOR DE THC

Extrato de Cannabis sativa


160,32 mg/mL Acima de 0,2%
Greencare

Extrato de Cannabis sativa


160,32 mg/mL Acima de 0,2%
Mantecorp Farmasa

Extrato de Cannabis sativa


79,14 mg/mL Até 0,2%
Mantecorp Farmasa

20 mg/mL;
Canabidiol Prati-Donaduzzi 50 mg/mL e Até 0,2%
200 mg/mL

Canabidiol NuNature 17,18 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol NuNature 34,36 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol Farmanguinhos 200 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol Verdemed 50 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol Belcher 150 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol Aura Pharma 50 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol Greencare 23,75 mg/mL Até 0,2%

Canabidiol Verdemed 23,75 mg/mL Até 0,2%

Extrato de Cannabis sativa


200 mg/mL Até 0,2%
Promediol

Extrato de Cannabis sativa


200 mg/mL Até 0,2%
Zion Medpharma

Extrato de Cannabis sativa


200 mg/mL Até 0,2%
Cann10 Pharma

Extrato de Cannabis sativa


79,14 mg/mL Até 0,2%
Greencare

Extrato de Cannabis sativa


79,14 mg/mL Até 0,2%
Ease Labs

Canabidiol Active
20 mg/mL Até 0,2%
Pharmaceutica

17
O teor de THC acima de 0,2% (especificamente 0,24%) nos dois fármacos
específicos foram aprovados mediante embasamento na RDC Nº 327/2019 que
deixa estabelecido que os produtos de Cannabis podem conter teor acima de 0,2%
desde que sejam destinados a cuidados paliativos exclusivamente para pacientes
sem alternativas terapêuticas e em situações clínicas irreversíveis ou terminais26,33.
Para esses medicamentos a dispensação é feita pelo profissional farmacêutico em
farmácias e drogarias mediante prescrição médica acompanhada da receita
especial do tipo A (de cor amarela), já os demais medicamentos são dispensados
mediante apresentação da receita B1 (de cor azul)33.
Levando em consideração o salário mínimo no valor de R$ 1.212,00 no ano
de 2022 no Brasil, o acesso ao medicamento se torna um privilégio de poucos, visto
que os preços variam de R$ 279,99 a R$ 2.607,27 dependendo da sua
concentração e do fabricante.

3.9 Perspectivas terapêuticas baseadas nos usos atuais

O uso de Cannabis de forma medicinal está constantemente atrelado ao seu


uso de forma recreativa, e defender uma terapia à base de canabinoides parece ser
também defender a descriminalização e liberação do seu uso como droga de abuso.
Tal pensamento acaba por impactar de forma negativa os diversos tratamentos já
existentes nos dias atuais, e por isso se fazem necessários alguns esclarecimentos
acerca do tema.

Diversos estudos demonstraram alguma eficácia terapêutica no tratamento


de diversas doenças e condições clínicas (Tabela 2), contudo, o nível de evidências
varia entre eles, o que acaba dificultando o parecer acerca do tema.

Tabela 2. Artigos de caráter qualitativo contendo variados usos terapêuticos


da Cannabis.

USO
N AUTOR ANO TÍTULO BASES
TERAPÊUTICO

Cannabinoids in Redução dos


neurology – sintomas da
1 BRUCKI et al. 2015 Scielo
Brazilian doença de
Academy of Parkinson

18
Neurology

Therapeutic Redução dos


Potential of sintomas de
Cannabis, espasticidade e
LEGARE et Cannabidiol, dor central
2 2022 Pubmed
al. and relatada pelo
Cannabinoid - paciente na
Based esclerose
Pharmaceuticals múltipla

Safety and
Efficacy of
Medicinal
KURLYAND- Cannabis in the Dor crônica na
3 2021 Pubmed
CHIK et al. Treatment of fibromialgia
Fibromyalgia: A
Systematic
Review

Melhoria dos
sintomas de
Use of Medicinal Transtorno de
Cannabis and Estresse
Synthetic Pós-traumático,
Cannabinoids in por exemplo,
ORSOLINI et
4 2019 Post-Traumatic reduzir a Pubmed
al.
Stress Disorder ansiedade,
(PTSD): A modular os
Systematic processos
Review relacionados à
memória e
melhorar o sono

Cannabinoides
Ação
en epilepsia:
ESPINOSA- anticonvulsivante Science
5 2020 eficacia clínica y
JOVEL em epilepsias Direct
aspectos
refratárias
farmacológicos

19
Neural basis of
anxiolytic effects
of cannabidiol Redução da
(CBD) in ansiedade no
generalized transtorno de Google
6 CRIPPA et al. 2010
social anxiety ansiedade social Scholar
disorder: a generalizada
preliminary (TAS)
report

Recent
advances in the
pharmacological Tratamento da
management of irritabilidade
behavioral associada ao
disturbances Google
7 LAMY et al. 2020 Transtorno do
associated with Scholar
Espectro Autista
autism spectrum em crianças e
disorder in adolescentes
children and
adolescents

Dentre todos os estudos avaliados, os que apresentaram resultados mais


promissores foram os relacionados ao tratamento de epilepsia refratária, com
relatos de uma diminuição considerável no número de crises diárias de convulsão,
em crianças e adultos. Em alguns países como Canadá, Holanda, Itália, Alemanha e
Finlândia já se usa medicamentos à base de canabinoides, como o Bedrocan®, o
Bedrobinol®, oBedica®, sendo indicados para náuseas, anorexia e glaucoma; o
Bediol® e Bedrolite®, indicados para o alívio de dores neuropáticas e epilepsias;
Sativex®, Marinol®, dentre outros, que podem ser utilizados na forma de óleo,
vaporização e chás41.
O uso da Cannabis como medicamento já consegue abranger uma
quantidade relevante de quadros terapêuticos, porém ainda há muita resistência
inclusive para estudos clínicos, pois muitos pacientes ainda se negam a fazer uso
da terapia, apenas pelo preconceito que envolve a temática.

20
4. Conclusão

Com isso, pode-se concluir que a Cannabis é sim um medicamento em


potencial, visto que há melhora dos sintomas de diversas doenças, mas ainda é
preciso estudos que comprovem ainda mais sua eficácia, que isolem substâncias
necessariamente terapêuticas e eliminem a ação psicotrópica indesejada da planta.
E para que esses estudos sejam realizados, um ponto importante é a desconstrução
de conceitos e preconceitos que foram criados ao longo dos anos acerca do uso
recreativo da Cannabis como droga de abuso, e que impedem que a temática ganhe
força na ciência, no Estado e na sociedade.

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