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MÓDULO 5

TOXICOLOGIA DAS NOVAS


SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
EXPEDIENTE
GOVERNO FEDERAL
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS
E GESTÃO DE ATIVOS

SECRETÁRIO NACIONAL
Luiz Roberto Beggiora

DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS


E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
Clayton da Silva Bezerra

COORDENADOR-GERAL DE INVESTIMENTOS, PROJETOS,


MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO
Gustavo Camilo Baptista

COORDENADOR DE PLANEJAMENTO, ARTICULAÇÃO,


MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Glauber Vinícius Cunha Gervasio

PLANEJAMENTO
Carlos Timo Brito
Eurides Branquinho da Silva

CONTEUDISTAS
José Luiz da Costa
Luíza Nicolau Brandão Caldas
Mônica Paulo de Souza

REVISÃO DE CONTEÚDO
Fernanda Flávia Rios dos Santos
Maria de Fátima de Moura Barros

APOIO
Kathyn Rebeca Rodrigues Lima
Maria Aparecida Alves Dias

BY NC ND

Todo o conteúdo do Curso TraNSPor – Treinamento sobre Novas Substâncias


Psicoativas, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos
(SENAD), Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) do Governo Federal -
2022, está licenciado sob a Licença Pública Creative Commons Atribuição - Não
Comercial- Sem Derivações 4.0 Internacional.

REALIDADE AUMENTADA (RA)


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que dão acesso a conteúdos extras. Para visualizá-los, baixe o aplicativo
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precisa ter conexão à internet).

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD)

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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labSEAD

COORDENAÇÃO GERAL
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PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro
Thiago Assi

AUDIOVISUAL
Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Fabíola de Andrade Borges
Luiz Felipe Moreira Silva Oliveira
Robner Domenici Esprocati

TÉCNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Dalmo Tsuyoshi Venturieri
Wilton Jose Pimentel Filho
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 5

UNIDADE 1 | POR QUE AS NSP REPRESENTAM 6


UM RISCO À SAÚDE PÚBLICA?

1.1 Introdução 6

1.2 Conceito de toxicocinética e toxicodinâmica 11

UNIDADE 2 | INTOXICAÇÕES AGUDAS E 20


FATAIS CAUSADAS POR NSP

2.1 Relatos de casos de intoxicação no Brasil 20

2.2 Relatos de casos de intoxicação em outros países 27

UNIDADE 3 | ANÁLISES TOXICOLÓGICAS PARA 38


DIAGNÓSTICO DE INTOXICAÇÕES POR NSP

3.1 Características das diferentes matrizes 38


biológicas para pesquisa de NSP

3.2 Preparo de amostras e principais técnicas 43


analíticas utilizadas

3.3 Interpretação dos resultados analíticos no 47


contexto da Toxicologia Forense e Clínica

3.4 Estudos epidemiológicos sobre o consumo 52


de NSP

REFERÊNCIAS 60
MÓDULO 5
APRESENTAÇÃO

Olá, cursista!

Seja bem-vindo ao nosso quinto módulo de estudos.


RA
Enquadre no seu celular Nós projetamos este módulo para trazer informações sobre as into-
ou tablet o código de xicações relacionadas com as novas substâncias psicoativas (NSP),
REALIDADE AUMENTADA
explicando como estas drogas agem no organismo, os efeitos causados
do aplicativo Zappar
para assistir ao vídeo de e relatos de casos de intoxicações graves (ou fatais) relacionadas a
apresentação do módulo 5. essas substâncias.

OBJETIVOS DO MÓDULO

¤ Identificar por que as NSP representam um risco à saúde pública.

¤ Identificar como as NSP atuam no organismo humano,


com base no que sabemos sobre toxicocinética, toxicodinâmica
e sobre as manifestações tóxicas relacionadas a essas novas
drogas de abuso.

¤ Relacionar os casos de intoxicações relacionadas a NSP


conhecidas no Brasil e em outros países.

¤ Identificar os pontos mais importantes relacionados às análises


toxicológicas para diagnóstico de intoxicações por NSP.

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5
UNIDADE 1
POR QUE AS NSP REPRESENTAM UM
RISCO À SAÚDE PÚBLICA?

CONTEXTUALIZANDO

Cursista, nesta unidade, você entenderá o apanhado geral das refle-


xões sobre as NSP enquanto risco para saúde pública, considerando
situações reais de uso de substâncias psicoativas desconhecidas e o
reflexo individual e social dos efeitos dessas drogas. Em seguida, você
será apresentado aos conceitos de toxicocinética e toxicodinâmica,
para compreender como as NSP atuam no organismo humano,
com base no que sabemos sobre as manifestações tóxicas (síndromes
tóxicas) relacionadas a essas novas drogas de abuso.

1.1 INTRODUÇÃO
Como você viu ao longo deste curso, as NSP são substâncias ou
misturas de substâncias psicoativas produzidas em laboratórios
clandestinos, por síntese química, a partir de substâncias precur-
soras, e que podem ser sintetizadas por pequenas modificações na
estrutura de moléculas que já possuam atividade biológica conhecida.

F
O O
N
N
N
O

CANABINOIDES SINTÉTICOS
O
5F-PB-22 HN
ADB-FUBINACA
N NH 2

O Cl
O O O
N N F N N
N N
O N
HN O O O
HN HN HN
4CN-MMB-BUTINACA 4F-MDMB-BUTINACA MEP-CHMICA 5CI-MDMB-PICA
O
O O O

F
O O O O F
N F N N N
N
O O O O
HN HN
4F-MDMB-BICA 5F-MDMB-PICA MDMB-4en-PINACA 5F-EDMB-PICA
HN HN

O O O O

F N
O O O O
N N N N
N N
O O O
HN HN HN HN
5F-EMB-PICA MMB-4en-PICA ADB-4en-PINACA 4CN-CUMYL-BUTINACA
O O NH 2

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6
O termo novas não se refere necessariamente a substâncias recém-in-
ventadas, uma vez que muitas delas foram sintetizadas pela primeira
vez há mais de 40 anos.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas


e Crime (UNODC), são consideradas NSP as substâncias
psicoativas usadas como drogas de abuso atualmente,
representando uma ameaça à saúde pública, e que não são
controladas pela Convenção Única de Entorpecentes (1961)
ou pela Convenção de Substâncias Psicotrópicas (1971).

Uma vez que as substâncias ativas presentes nas NSP frequentemente


não são controladas ou proibidas, essas drogas podem ser vendidas sem
restrição em diversos locais, como lojas de conveniência e tabacarias.

Contudo, a venda através da internet é a mais difundida, uma vez


que as lojas on-line possuem maior flexibilidade para se adaptarem
a mudanças no status legal das substâncias psicoativas presentes nos
produtos, além da comodidade do usuário de poder adquirir a droga
sem sair de casa.

Lojas de conveniência e Venda através da


tabacarias internet

Em todo o mundo, os relatos de hospitalizações e mortes de usuários


após intoxicações graves por estes agentes são cada dia mais fre-
quentes e de difícil diagnóstico, e por isso as NSP são consideradas
um grave problema de saúde pública.

Como outras drogas de abuso, as NSP podem causar efeitos tóxicos


imprevisíveis, uma vez que são produzidas de forma clandestina,
sem controle de qualidade ou qualquer fiscalização.

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Laboratório clandestino de droga sintética na Bélgica.
Foto: BBC.

Veja, a seguir, um exemplo de problema de saúde pública que pode


ser causado pelo uso de novas substâncias psicoativas.

Podcast transcrito
No ano de 2016, na cidade de Nova York, nos Estados
Unidos, começaram a ser reportadas denúncias sobre um
suposto “surto de zumbis”. A informação foi divulgada
na mídia, em diferentes jornais e publicada em algumas
revistas científicas, como o “The New England Journal of
Medicine”, por se tratar de uma intoxicação em massa de
trinta e três indivíduos que estavam no bairro do Brooklyn
e que utilizaram canabinoides sintéticos. A substância
foi analisada e posteriormente identificada como sendo
AMB-FUBINACA, com concentração média de 16 mg/g de
material botânico, conforme as publicações de Adams e
colaboradores (2017). Os principais efeitos apresentados
em todos os indivíduos foram: extrema letargia com
olhar vago, gemidos e movimentos mecânicos lentos dos
braços e pernas, sintomas esses que culminaram em uma
fisionomia semelhante à de um zumbi de filmes e séries de
ficção. Os pacientes foram hospitalizados e se recuperaram
totalmente poucas horas após acompanhamento médico.

Apresentamos, no quadro a seguir, a concentração, em ng/mL,


do metabólito (produto resultante da metabolização pelo organismo
da droga de abuso consumida) do AMB-FUBINACA quantificado em
amostras biológicas de oito dos pacientes envolvidos no “surto de
zumbis” de Nova York, Estados Unidos.

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Concentração
Amostra
Paciente do metabólito
biológica
(ng/mL)

A soro 636

B soro 232

soro 245

urina 165

D soro 377

soro 101

urina <15

F soro 77

Análise da concentração do AMB-FUBINACA nos G soro 159


indivíduos que utilizaram canabinoides sintéticos.
Fonte: Adaptado de Adams et al. (2017).
H sangue total 68

Veja, a seguir, uma imagem da equipe de emergência atendendo


uma mulher intoxicada por canabinoide sintético em julho de 2016,
na cidade de Nova York, e uma de material apreendido na ocorrência.

Foto: Brooklyn, New York,


in The Sydney Morning Herald (Jornal).

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Embalagem e material botânico referente ao
canabinoide sintético AMB-FUBINACA recuperado com
um dos pacientes intoxicados durante o ocorrido na
cidade de Nova York, em 2016.
Fonte: Adams et al. (2017).

Para conhecer mais detalhes sobre o caso, acesse os materiais para


leitura que tratam do ocorrido em 2016.

SAIBA MAIS

Leia a matéria “"Fake pot” causing zombielike effects


is 85 times more potent than marijuana”, disponível
em: https://edition.cnn.com/2016/12/16/health/
zombie-synthetic-marijuana/index.html, e a reportagem
“Synthetic marijuana overdose turns dozens into
"zombies" in NYC”, disponível em: https://www.cbsnews.
com/news/synthetic-marijuana-overdose-turn-dozens-
into-zombies-in-nyc/ .

Um problema comum em praticamente todas as drogas de abuso é


a adulteração. Em 2018, por exemplo, também ocorreu uma série de
casos de intoxicações graves e fatais nos Estados Unidos, relacionadas
ao consumo de canabinoides sintéticos.

Os efeitos tóxicos tinham relação com um raticida chamado brodifa-


coum, que estava presente na droga e causou sangramentos graves
e até mesmo fatais nos usuários (KELKAR et al., 2018).

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Assim, pode-se afirmar que os efeitos tóxicos das NSP
são tão imprevisíveis quanto a quantidade de substâncias
desse grupo de drogas, e que esses efeitos podem estar
relacionados diretamente ao princípio ativo (NSP em
questão) ou ainda aos componentes de sua preparação.

1.2 CONCEITO DE TOXICOCINÉTICA E


TOXICODINÂMICA

¥ Toxicocinética

A toxicocinética é uma área da toxicologia dedicada ao estudo do


comportamento de uma substância química nos diferentes compar-
timentos do organismo.

É na toxicocinética que estudamos como as drogas são absorvidas


pela corrente sanguínea, como elas são distribuídas, chegando aos
diversos tecidos do organismo, e como são excretadas (urina, suor,
saliva, leite materno, entre outros).

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¥ Toxicodinâmica

HO NH2

HO

Já a toxicodinâmica estuda os mecanismos de ação tóxica exercida


RA por substâncias químicas, como no caso das NSP. Esse conhecimento
Enquadre no seu celular é fundamental para compreendermos como as drogas agem no or-
ou tablet o código de ganismo e como podemos tratar as intoxicações.
REALIDADE AUMENTADA
do aplicativo Zappar para
assistir ao vídeo que trata Como faltam estudos a respeito da toxicocinética e toxicodinâmica
dos efeitos das NSP no das NSP devido ao alto fluxo de novas substâncias surgindo e/ou
organismo.
desaparecendo do mercado e devido aos fatores éticos envolvidos em
tais estudos, os sintomas que vamos abordar adiante, relacionados
ao consumo dessas substâncias, vêm principalmente dos inúmeros
casos de intoxicações, inclusive fatais, que foram reportados ao
redor do mundo.

1.2.1 EFEITOS DAS CATINONAS SINTÉTICAS


NO ORGANISMO

As catinonas sintéticas são classificadas como drogas estimulantes do


sistema nervoso central e possuem a capacidade de produzir efeitos
semelhantes aos da metanfetamina, da cocaína ou da MDMA.

O uso de substâncias desse grupo, em especial MDPV, foi associado


empiricamente e equivocadamente pela imprensa ao “canibalismo”.
Esse mito tem relação com o episódio ocorrido em 2012, na cidade de
Miami (EUA), quando Rudy Eugene atacou Ronald Poppo e mordeu
metade de seu rosto, sem motivo aparente.

As manchetes dos jornais disseram que Eugene estava sob efeito de


“sais de banho”, contudo as análises toxicológicas realizadas não
identificaram nem MDPV, nem qualquer outra catinona sintética.
Drogas que alteram positivamente a transmissão dopaminérgica

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(como a cocaína, a metanfetamina e as catinonas sintéticas) podem
levar a aumento da agressividade do usuário; contudo, relacionar o
uso de drogas ao canibalismo não possui nenhum amparo científico.

Outra associação midiática ao MDPV desde 2018 é o termo “pó de


macaco”, do inglês monkey dust, para se referir a essa catinona sin-
tética. O destaque relatado pela mídia gira em torno de atitudes dos
usuários devido aos efeitos produzidos pela droga, como a sensação
de potência e força, a ausência de dor e agressividade, que podem
durar vários dias. Sob efeito da substância, alguns usuários acreditam
estarem sendo perseguidos e, por esse motivo, chegam a escalar altos
edifícios ou postes de luz, buscando escapar das alucinações vividas.

As vias de administração mais comuns de catinonas sintéticas são a


intranasal – aspiração semelhante ao uso da cocaína – e a ingestão
oral de cápsulas, comprimidos ou diluições em água, sucos ou bebidas
alcoólicas. Ainda que pouco frequentes, as administrações intrave-
nosa, subcutânea, intramuscular e retal já foram citadas na literatura.

Intravenosa

Retal

Subcutânea
Intranasal
Ingestão oral

Essas substâncias são distribuídas para todo o organismo, produzindo


efeitos tóxicos principalmente no cérebro e no sistema cardiovascular,
e são excretadas principalmente na urina, em sua forma inalterada
– mesma forma química que foi consumida.

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Sistema Sistema Sistema
nervoso cardiovascular urinário

Foto: © [decade3d] / Adobe Stock. Foto: © [magicmine] / Adobe Stock. Foto: © [decade3d] / Adobe Stock.

As catinonas sintéticas possuem estrutura química muito semelhante


à anfetamina, e por essa razão acabam atuando de forma semelhante
no organismo, aumentando a quantidade de neurotransmissores,
principalmente noradrenalina e dopamina, no sistema nervoso.

Os efeitos desejados pelos usuários de catinonas sintéticas incluem


euforia, aumento da vigília, elevação do humor, melhora da função
mental e aumento da libido. Os efeitos adversos citados pelos usuá-
rios incluem insônia, incapacidade de concentração, alterações no
campo visual, problemas de memória, irritação e sangramento nasal
(quando a droga é administrada por essa via), aumento da temperatura
corporal, dor no peito, elevação da frequência cardíaca, tremores e
convulsões, náuseas e vômitos. Ainda não há consenso sobre a ca-
pacidade das catinonas em causar dependência, mas, considerando
que seu mecanismo de ação é semelhante ao da cocaína, é provável
que possam causar dependência (COSTA; LANARO; CAZENAVE, 2021).

Principais manifestações clínicas e físicas descritas em casos de


intoxicação por catinonas sintéticas.

Agitação

Taquicardia Agressividade

Parada
cardíaca INTOXICAÇÕES Hipertermia
POR CATINONAS

Hipertensão Rabdomiólise

Fonte: Adaptado de Zaami et al. (2018).

Delírio

Continue seus estudos e veja, a seguir, os efeitos das feniletilaminas.

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1.2.2 EFEITOS DAS FENILETILAMINAS
NO ORGANISMO
As feniletilaminas, grupo de NSP que incluem os NBOMe e NBOH,
são substâncias que produzem efeito alucinógeno semelhante ao da
dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e da mescalina. São substâncias
extremamente potentes, isso significa que é necessária uma pequena
quantidade para produzir efeitos alucinógenos intensos e duradouros,
que podem causar desligamento da realidade por horas.

Intranasal

Sublingual

A quantidade utilizada pelos usuários de NBOMe e NBOH é muito baixa,


da ordem de 200 a 500 microgramas, sendo geralmente administrada
via sublingual (selo) ou intranasal (pó). Os primeiros efeitos aparecem
uma hora após a administração e podem durar de 4 a 10 horas.

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Essas substâncias são distribuídas para todo o organismo e atuam
principalmente no cérebro, em especial sobre os receptores do neuro-
transmissor serotonina, que modula diversas funções como o humor,
apetite, temperatura corporal, entre outras. Os NBOMe e NBOH são
excretados na urina, assim o diagnóstico das intoxicações pode ser
feito pela análise desse tipo de amostra biológica.

Os efeitos alucinógenos, decorrentes do efeito agonista nos recep-


tores de serotonina (principalmente no receptor 5-HT2A), incluem
alterações na percepção visual e auditiva, com sinestesia (misturas
das sensações) e distorções de cores e sons.

Principais manifestações clínicas e físicas descritas em casos de


intoxicação por NBOMes.

Agitação
Hipertensão Alucinação

Taquicardia Delírio

Náusea Vômito

INTOXICAÇÕES
Convulsões POR NBOMes Paranoia

Fonte: Adaptado de Zawilska, Kacela e Hipertermia Diaforese


Adamowicz (2020).

Parada cardíaca Agressividade

Os principais efeitos indesejados relatados por pessoas que utilizaram


compostos desse grupo incluem ataques de pânico, ansiedade, perda
da percepção de localização e tempo, náuseas, aumento do ritmo
cardíaco, calafrios e insônia.

1.2.3 EFEITOS DOS CANABINOIDES SINTÉTICOS


NO ORGANISMO
Os canabinoides sintéticos, como o próprio nome diz, são NSP
com afinidades pelo sistema endocanabinoide, semelhante ao
Δ9-tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo presente na maconha.
Essas substâncias foram, inicialmente, sintetizadas em universidades
e indústrias farmacêuticas com o objetivo de se estudarem os meca-
nismos de ação do THC e como funciona o sistema endocanabinoide.

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A principal via de introdução dos canabinoides sintéticos no organismo
é através dos pulmões, quando a droga é fumada, ou pela absorção
sublingual, quando a droga é usada como papéis ou selos semelhantes
ao LSD, e nas duas situações ocorre grande taxa de absorção, com a
concentração da droga no sangue aumentando rapidamente após o
início do uso. A absorção retal também já foi descrita na literatura,
mas é menos comum.

Sublingual

Inalação
(pulmões)

A adaptação de dispositivos de cigarro eletrônico para vaporizar ex-


tratos contendo canabinoides sintéticos está ganhando popularidade
nos últimos anos, principalmente entre os jovens. A administração oral
também pode ser realizada, mas leva a um início retardado e menor
intensidade dos efeitos devido ao extenso metabolismo hepático de
primeira passagem.

Após a absorção, espera-se que essas substâncias apresentem alto


volume de distribuição e, como resultado de uso crônico, é esperado
acúmulo em tecidos ricos em lipídeos. Por se tratar de substâncias
potentes do ponto de vista farmacológico, a quantidade administrada
para produzir os efeitos desejados pelo usuário tende a ser pequena,
na ordem de miligramas ou menor.

A baixa dose administrada resulta diretamente em concentrações


plasmáticas e urinárias também muito baixas, na ordem de ng/mL
ou pg/mL, o que torna a detecção destes toxicantes um desafio para
os laboratórios de análises toxicológicas.

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Os canabinoides sintéticos são metabolizados principalmente no
fígado, no intestino e no pulmão, e seus metabólitos são excretados
na urina – praticamente não se detecta a droga inalterada na urina
(COSTA; LANARO; CAZENAVE, 2021). Existe grande similaridade
estrutural dentro do mesmo grupo químico de diferentes cana-
binoides sintéticos que compartilham metabólitos iguais, e isso
dificulta a identificação específica de qual substância daquele grupo
causou a intoxicação.

Fígado Intestino Pulmão

Foto: © [SciePro] / Adobe Stock. Foto: © [ag visuell] / Adobe Stock. Foto: © [SciePro] / Adobe Stock.

Quanto ao seu mecanismo de ação, os canabinoides sintéticos de-


monstraram maiores afinidades de ligação para os receptores endo-
canabinoides do que o THC. Além disso, alguns metabólitos dessas
substâncias também têm maior afinidade pelos receptores do que
THC, o que pode resultar em efeitos mais intensos e persistentes.

Confira as principais manifestações clínicas e físicas descritas em


casos de intoxicação por canabinoides sintéticos.

Taquicardia
Vômito Hipertensão

Náusea Hipertermia

Dor no peito Diaforese


INTOXICAÇÕES
POR CANABINOIDES
Falta de ar Agitação
SINTÉTICOS

Fonte: Adaptado de Armenian et al. (2018). Fala arrastada Delírio

Midríase Convulsões

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Os efeitos tóxicos incluem agitação, ansiedade, alucinações, psicoses
com delírios, comportamento agressivo, ataques de pânico, convul-
sões, déficits de memória de curto prazo, hipertensão, insuficiência
renal aguda e depressão respiratória.

Os canabinoides sintéticos são especialmente tóxicos para o sistema


cardiovascular, causando taquicardia supraventricular e elevadas
taxas de frequências cardíacas, incluindo relatos de infarto agudo
do miocárdio em pacientes adolescentes e adultos que fizeram uso
de canabinoides sintéticos.

Mortes por falência cardíaca e trombose arterial foram descritas em


usuários de MDMB-CHMICA e ADB-FUBINACA, respectivamente
(COSTA; LANARO; CAZENAVE, 2021; TAVARES; YONAMINE, 2018).

Os efeitos tóxicos observados pelo uso dos canabinoides sintéticos


podem estar relacionados às inúmeras e diferentes moléculas dis-
poníveis, como também podem estar relacionados aos componentes
adicionados na forma final de comercialização da droga. Diversos
estudos mostraram que diferentes plantas utilizadas como base para
os canabinoides sintéticos apresentaram efeitos psicoativos distintos
daqueles apresentados pelos princípios ativos isolados e até mesmo
efeitos tóxicos específicos, como, por exemplo, lesão renal aguda.

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UNIDADE 2
INTOXICAÇÕES AGUDAS E FATAIS
CAUSADAS POR NSP

CONTEXTUALIZANDO

Caro cursista, nesta unidade, você estudará casos de intoxicações


relacionadas a NSP conhecidas no Brasil. Também verá casos de
intoxicações ocorridas por essas drogas em outros países.

2.1 RELATOS DE CASOS DE INTOXICAÇÃO


NO BRASIL

As intoxicações relacionadas ao consumo de NSP no Brasil nem sempre


são identificadas em laboratório e reportadas, o que pode levar a uma
subnotificação dos casos desse tipo de intoxicação. Os casos de que
possuímos conhecimento até o momento vêm principalmente dos
relatos de atendimentos dos Centros de Informação e Assistência
Toxicológica e da divulgação na mídia.

Veja os casos de intoxicações em que a presença de pelo menos uma


NSP foi identificada (em exames toxicológicos), a partir de 2014.

2014

NBOMe: 2 casos

2016

Fentanil: 4 casos

Catinona: 2 casos

NBOMe: 1 caso

2017/18

Catinona: 5 casos

2018

NBOH: 1 caso

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2019

Catinona: 1 caso

2020

Catinona: 1 caso

2021

NBOH: 1 caso

NBOH/Fentanil: 1 caso

Esses casos foram atendidos pelo Centro de Informação e Assistência


Toxicológica de Campinas (CIATox-Campinas/UNICAMP).

2.1.1 INTOXICAÇÃO POR NBOME

Veja a história sobre um caso de intoxicação por NBOMe em 2014.

Podcast transcrito
O primeiro caso de intoxicação fatal relacionado a NSP
no Brasil foi reportado em setembro de 2014, quando
um jovem foi encontrado morto após participar de uma
festa no campus da Universidade de São Paulo. O jovem
desapareceu, e seu corpo foi encontrado três dias depois,
nas águas da raia olímpica da universidade. O exame
toxicológico realizado no sangue da vítima identificou a
presença da feniletilamina 25B-NBOMe.

No mês seguinte (outubro de 2014), um estudante alemão


que fazia intercâmbio no Brasil morreu após overdose por
droga. Segundo relatos, o jovem teria feito uso de “LSD”
antes de começar a ficar agitado, violento e ter convulsões.
O exame toxicológico realizado post mortem pelo Núcleo de
Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal de São Paulo
detectou que o jovem havia utilizado outra feniletilamina,
a 25I-NBOMe (não foi detectada a presença de LSD no
sangue da vítima, o que corrobora a hipótese de que
frequentemente o usuário não sabe a composição da droga
que está utilizando).

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Entre os sintomas decorrentes da intoxicação por NBOMes, pode-se
Glossário destacar a elevação da pressão arterial, da frequência cardíaca e da
temperatura corporal. Rabdomiólise e lesão renal também foram
Rabdomiólise é a degradação do tecido reportadas em casos severos.
muscular que libera uma proteína
prejudicial no sangue. Em um relato de dez casos de intoxicação por 25B-NBOMe, foi repor-
tado comportamento agitado e violento, chegando a danos físicos,
associado à alucinação e desorientação do paciente, necessitando
de administração de midazolam, benzodiazepínico de ação sedativa
(GEE et al., 2016).

SAIBA MAIS

Veja a notícia “Caso de estudante morto na USP é primeiro


registrado no Brasil de uso do 25B-NBOMe, droga mais
forte que o LSD”, disponível em: https://jovempan.com.br/
noticias/caso-de-estudante-morto-na-usp-e-primeiro-
registrado-no-brasil-de-uso-do-25b-nbome-droga-
mais-forte-que-o-lsd.html.

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2.1.2 INTOXICAÇÃO POR FENTANIL

Veja, agora, a história sobre o caso de intoxicação por fentanil em 2016.

Podcast transcrito
Em 2016, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica
de Campinas (CIATox-Campinas), serviço vinculado à
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), detectou
fentanil e catinonas sintéticas em amostras biológicas
(urina ou sangue) de pacientes intoxicados. Entre os
históricos de uso, foi relatado o consumo de selo do tipo
LSD, mas a análise toxicológica detectou apenas o opioide
sintético fentanil. Em outro caso, o paciente havia feito uso
de droga por via intranasal (forma semelhante ao uso do
pó de cocaína); os exames toxicológicos realizados em seu
sangue e no material coletado de suas narinas identificaram
a presença de fentanil. Na ocasião, o CIATox-Campinas
emitiu nota para alertar os sistemas de saúde para casos
provenientes de contexto de festas e sinais de intoxicação
por opioides. A identificação desses casos foi citada com
destaque pelo UNODC em publicação sobre o fentanil e
análogos (UNODC, 2017).

Além dos casos de intoxicação por fentanil, durante o ano de 2016


foram identificados casos de intoxicação por catinonas sintéticas,
como butilona e N-etilpentilona. Um caso de intoxicação por
25I-NBOMe foi diagnosticado pelo CIATox-Campinas no final do
mesmo ano.

SAIBA MAIS

Veja a notícia “Unicamp detecta novas drogas na região


de Campinas”, disponível em: https://noticias.r7.com/
sao-paulo/unicamp-detecta-novas-drogas-na-regiao-
de-campinas-15092016.

Com exceção de um caso, nos demais, o histórico vem associado


com o consumo de substâncias psicoativas e/ou contexto de festas.

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23
Foto: © [Wendy Wei] / Pexels.

Veja os dados relacionados aos casos de intoxicação com presença de


NSP do ano de 2016 acerca da cidade, história, sintomas reportados e
resultados toxicológicos identificados pelo Laboratório de Toxicologia
Analítica do CIATox-Campinas.

JUNHO Local: Americana/SP

História: uso de LSD, ecstasy e álcool

Sintoma: parada cardiorrespiratória

Análise toxicológica: MDMA e fentanil

JUNHO Local: Indaiatuba/SP

História: crise convulsiva em


residência

Sintoma: redução PA

Análise toxicológica: etanol (2,2 g/L)


e fentanil

JUNHO Local: Campinas/SP

História: LSD, álcool e cetamina, festa

Sintoma: inconsciente

Análise toxicológica: maconha e


fentanil

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24
AGOSTO Local: Campinas/SP

História: LSD, festa rave

Sintomas: letárgico e miose

Análise toxicológica: butilona

SETEMBRO Local: Itu/SP

História: álcool e drogas nos últimos


dois dias

Sintomas: rebaixamento da
consciência, anisocoria

Análise toxicológica: N-etilpentilona

SETEMBRO Local: Campinas/SP

História: festa

Sintomas: rebaixamento (Glasgow 3),


intubado

Análise toxicológica: maconha,


fentanil

DEZEMBRO Local: Indaiatuba/SP

História: selo

Sintomas: delírios, agitação, aumento


FC, cianótico

Análise toxicológica: maconha e


25I-NBOMe

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25
2.1.3 INTOXICAÇÃO POR N-ETILPENTILONA

Veja, agora, a história sobre um caso de intoxicação por N-etilpen-


tilona, em 2016.

Podcast transcrito
Em 2018, foi publicado um artigo contendo a descrição
de seis casos de intoxicação envolvendo N-etilpentilona,
identificados entre 2016 e 2018 pelo CIATox de Campinas,
sendo um deles fatal e ocorrido no estado de Sergipe (COSTA
et al., 2019). Em cinco dos seis casos, a N-etilpentilona
foi quantificada e variou de 7 a 170 ng/mL em amostras
de soro/sangue. Em três casos, os pacientes estavam
em contexto de festa, enquanto outros dois vinham de
consumo de substância psicoativa na própria residência, e a
última foi identificada por diagnóstico diferencial solicitado
pela equipe de psiquiatria. Sintomas como agitação,
agressividade, taquicardia, chegando à inconsciência,
foram frequentemente descritos nesses casos.

Outro caso de intoxicação fatal decorrente do consumo da N-etilpen-


tilona foi reportado em Brasília, ainda em 2018, durante uma festa
rave. A paciente teve atendimento hospitalar, mas apresentou duas
paradas cardíacas e falência renal.

Em 2019, foi noticiado um caso de intoxicação fatal de um adolescente


encontrado em terreno baldio em 2018, no estado do Rio Grande do Sul,
em decorrência do consumo de 25E-NBOH. A história divulgada é de
que o adolescente teria estado em uma festa com amigos e consumiu
LSD. A análise toxicológica não identificou LSD na amostra biológica.

SAIBA MAIS
Conheça mais sobre “N-etilpentilona em intoxicação
fatal em festa eletrônica em Aracaju/Sergipe”, em
2017, disponível em: https://www.ssp.se.gov.br/
Noticias/Detalhes?idNoticia=9604, sobre os “Casos de
intoxicação por N-etilpentilona reportados pelo CiaTox
de Campinas”, em 2018, disponível em: https://www.
unicamp.br/unicamp/noticias/2018/11/01/ciatox-alerta-
sobre-nova-droga-consumida-em-festas-e-que-
pode-levar-morte, e também sobre “N-etilpentilona
em intoxicação fatal em Brasília”, em 2018, disponível
em: https://www.metropoles.com/distrito-federal/
jovem-que-morreu-apos-festa-rave-usou-nova-droga-
sintetica-diz-pcdf

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26
2.2 RELATOS DE CASOS DE INTOXICAÇÃO
EM OUTROS PAÍSES

Os casos de intoxicações decorrentes do consumo de NSP não apre-


sentam o mesmo perfil no mundo todo. O que se vê, geralmente,
é uma classe de NSP mais predominante em um país/região ou
uma série de casos de intoxicações decorrentes de uma NSP em um
determinado período.

2.2.1 INTOXICAÇÃO POR CANABINOIDES


SINTÉTICOS

Os canabinoides sintéticos são reportados desde o começo dos anos


2000. Porém, os primeiros casos de intoxicação reportados aos ser-
viços de controle de intoxicação no Reino Unido e nos Estados Unidos
ocorreram em 2009.

Foto: © [Maurício Mascaro] / Pexels.

As manifestações clínicas das intoxicações são variáveis, indo de


agitação, delírio e alucinações, chegando à redução do nível de cons-
ciência, com características cardiovasculares, como taquicardia,
vômitos e tonturas.

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27
Na Inglaterra, entre 2012 e 2019, 165 casos de mortes relacionadas a
18 canabinoides sintéticos foram reportados ao Programa Nacional
de Mortes por Abuso de Substâncias (NPSAD). Em 68,6% dos casos,
os pacientes foram encontrados mortos e complicações cardiorres-
piratórias foram descritas frequentemente.

60 Mortes projetadas
Mortes reportadas

50

Número de mortes
40

30

20

10

Mortes relacionadas ao consumo de canabinoides sintéticos


reportadas ao NPSAD da Inglaterra entre 2012 e 2019. 0

2017
2012

2013

2014

2015

2016

2018

2019
Fonte: Adaptado de Yoganathan et al. (2021).

Ano

Os canabinoides sintéticos mais identificados no período foram 5F-


ADB e AB-FUBINACA. Já em 2019, 5F-MMB-PICA, 4F-MDMB-PICA,
5F-AMB e MDMB-4en-PINACA foram os canabinoides identificados
(YOGANATHAN et al., 2021).

Ainda nos Estados Unidos, foram reportados 1.206 casos relacionados


a canabinoides sintéticos sozinhos e um pico de 6.968 casos em 2011
(ARMENIAN et al., 2018). Os canabinoides sintéticos com maior pre-
valência nos casos toxicológicos atualmente são 5F-MDMB-PICA e
MDMB-4en-PINACA.

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28
2.2.2 INTOXICAÇÃO POR CATINONAS SINTÉTICAS

Os primeiros relatos de intoxicação por catinonas são atribuídos à


metilona e, posteriormente, à mefedrona. Em 2007, foi reportado um
caso de intoxicação por uma combinação de metilona e 5-MeO-MiPT,
um derivado da triptamina, no Japão (SHIMIZU et al., 2007).

De janeiro de 2010 a fevereiro de 2017, foram reportados na lite-


ratura 97 casos fatais e 57 casos não fatais envolvendo mefedrona.
A concentração média em sangue para os casos fatais foi de 2663 ng/
mL e 166 ng/mL para os não fatais (PAPASEIT et al., 2017).

| DE JANEIRO DE 2010 A FEVEREIRO DE 2017

97 casos fatais 57 casos


por uso de mefedrona – não fatais
2663 ng/mL. por uso de mefedrona –
166 ng/mL.

Em 2012, dois casos de intoxicação que demandaram atendimento


médico foram reportados após o consumo de “sais de banho” (mefe-
drona), nos Estados Unidos. Além de episódios de delírio e agitação,
também foram reportados sintomas como taquicardia e elevação da
temperatura corporal.

Embalagem onde comumente as catinonas sintéticas


eram comercializadas nos Estados Unidos em 2012.
Foto: DEA.

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29
Os episódios de alucinação de um dos pacientes se mantiveram
por 48 horas após a ingestão da substância (KASICK; MCKNIGHT;
KLISOVIC, 2012).

Entre 2010 e 2011, 362 ligações aos Centros de Controle de Intoxi-


cações do estado do Texas, Estados Unidos, envolveram o consumo
de catinonas sintéticas. Em 75% dessas ligações, o paciente já es-
tava em atendimento médico ou a caminho do hospital, e em 74%
o caso foi severo.

Ligações totais: 362 100%

O paciente já estava em
75%
atendimento médico: 271

Casos graves: 268 74%

As manifestações clínicas mais comuns foram taquicardia, agitação,


hipertensão, alucinação e confusão (FORRESTER, 2012).

Entre 2017 e 2020, 31 casos de uso de catinonas sintéticas foram


reportados em 75 casos de intoxicações fatais. As substâncias mais
prevalentes foram N-etilpentilona, N-etilhexedrona e 4-clorome-
tcatinona (LA MAIDA et al., 2021).

Atualmente, a catinona sintética mais prevalente nos Estados Unidos


é a eutilona. Entre janeiro de 2019 e abril de 2020, a polícia forense
identificou a eutilona em 72 casos. A concentração média em sangue
post mortem foi de 1020 ng/mL (mediana = 110 ng/mL, mínimo-má-
ximo = 1,2-11.000 ng/mL).

Dos 72 casos, 22 apresentaram histórico conhecido, e destes,


cinco tiveram apenas eutilona identificada na amostra biológica.
Em contexto de uso de mais de duas substâncias, cocaína, fentanil
e metanfetamina foram as demais substâncias identificadas, e em
quatro casos a eutilona foi associada como responsável pelo óbito
(KROTULSKI et al., 2021).

Em Taiwan, 11 intoxicações levaram a atendimento no departamento


de emergência, entre janeiro de 2019 e julho de 2020, com as seguintes
manifestações clínicas: delírio, agitação, taquicardia, hipertermia e/
ou hipertensão. Um dos pacientes foi a óbito após parada cardíaca
(CHEN et al., 2021).

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30
Relembre a linha do tempo dos casos de intoxicação por catinonas
sintéticas:

2010

Mefedrona
97 casos fatais.
57 casos não fatais.

2017

Eutilona Catinonas sintéticas


2019
A eutilona foi identificada em 72 casos. 75 casos de intoxicações fatais,
A concentração média em sangue 31 deles estavam relacionados
post mortem foi de 1020 ng/mL com o uso de catinonas sintéticas.
(mediana = 110 ng/mL, mínimo- As substâncias mais prevalentes
máximo = 1,2-11.000 ng/mL). foram N-etilpentilona,
N-etilhexedrona e
Em Taiwan 11 intoxicações 4-clorometcatinona
levaram a atendimento (LA MAIDA et al., 2021).
no departamento de emergência.
Manifestações clínicas: delírio, agitação,
taquicardia, hipertermia e/ou hipertensão.

2020

Conheça agora os casos de intoxicação por feniletilaminas.

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31
2.2.3 INTOXICAÇÃO POR FENILETILAMINAS

A classe das feniletilaminas, principalmente os NBOMes, teve o maior


número de intoxicações reportadas entre 2012 e 2014.

Conheça os casos.

Podcast transcrito
Em um caso de intoxicação na França, em que duas pessoas
inalaram 25I-NBOMe, as concentrações em amostras de
plasma foram de 37 e 72 ng/mL. As manifestações clínicas
foram de ordem psiquiátrica e envolveram alucinações
visuais, fala incoerente e comportamento agressivo.
A MDPV, uma catinona sintética, foi detectada em paciente
intoxicado por 25I-NBOMe (AMELINE et al., 2017),
demonstrando que o poliuso de drogas é uma realidade.

Em 2018, 29 indivíduos apresentaram sintomas de


intoxicação e foram atendidos em seis hospitais na
Alemanha, após um seminário esotérico. A análise
toxicológica confirmou a presença de 2C-E e Bromo-
DragonFly. A concentração do 2C-E em urina variou entre
1,5 e 183 ng/mL, enquanto o Bromo-DragonFly teve
concentração em sangue entre 0,6 e 2 ng/mL e, em urina,
entre 1,6 e 35 ng/mL.

Vários pacientes estavam inconscientes na chegada do


atendimento médico, com sintomas de taquicardia e
dificuldade respiratória, enquanto outros vivenciaram
quadros de delírios. Apesar de alguns demandarem
ventilação mecânica, todos se recuperaram do quadro de
intoxicação aguda (IWERSEN-BERGMANN et al., 2019).

Nos Estados Unidos, há um grande problema relacionado com abuso


de opioides, substâncias responsáveis pela maior parte dos casos
de intoxicação, por conta disso, o período que compreende 2014
até hoje é conhecido como a crise dos opioides, considerando o
significativo aumento nas intoxicações fatais por opioides. Muitas
análises demonstram o uso do fentanil e derivados adicionados
como substituto da heroína.

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32
Foto: © [wavebreak3] / Adobe Stock.

O carfentanil, um opioide sintético usado como tranquilizante de


animais de grande porte, teve seu uso recreacional reportado desde
2012, e possui relato de identificação em um caso de intoxicação não
fatal na Suécia, em 2017.

ESTRUTURA QUÍMICA

N N

O
O O CH3
CH3

Carfentanil

O paciente foi encontrado inconsciente em sua casa e com depressão


respiratória. O tratamento realizado nele foi a infusão de naloxona,
um antídoto para intoxicações por opioides, utilizado até remissão
da depressão respiratória. Foi detectada uma concentração de 457
ng/mL de carfentanil em amostra de urina coletada cerca de 7 horas
após o uso (FRANZEN; BECK; HELANDER, 2019).

Ainda assim, devido a sua potência cem vezes maior que o fentanil,
os relatos de intoxicação geralmente são descritos como fatais.
Em dois casos reportados nos Estados Unidos, a concentração de
carfentanil em sangue foi de 1,3 e 0,12 ng/mL. Em um dos casos,
foi encontrado furanil fentanil (0,34 ng/mL) (SWANSON et al., 2017).

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33
10 Outros opioides sintéticos
Mortes por 100.000 habitantes (fentanil, análogos do fentanil e tramadol)

Opioides naturais e semissintéticos


4

Heroína
2
Metadona

0
1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
2018

Taxa de mortes por overdose de opioides entre


1999 e 2018 nos Estados Unidos.
Fonte: Adaptado de Hedegaard et al. (2020).
2.2.4 INTOXICAÇÃO POR BENZODIAZEPÍNICOS

Os benzodiazepínicos são uma classe recente de NSP que tem ganhado


atenção pelo aumento de casos identificados desde 2015. Veja mais
abaixo os dados de uma pesquisa realizada para o projeto STRIDA,
na Suécia, que buscou detectar a presença dessa substância por meio
da análise da urina coletada dos pacientes admitidos em hospitais
após o uso de drogas de abuso desconhecidas e NSP.

O projeto sueco STRIDA iniciou em 2010 e combina


dados sobre as características clínicas e resultados
toxicológicos de amostras de urina e sangue coletadas
em departamentos de emergência e unidades de terapia
intensiva com casos de intoxicação aguda em suspeita de
envolvimento de NSP.

Veja agora alguns dados coletados para o projeto STRIDA:

¤ Entre 2012 e 2016: 1.913 amostras analisadas.

¤ Benzodiazepínicos detectados: 28 derivados.

¤ 11,3% (216 amostras) testaram positivo para uma NSP da classe


dos benzodiazepínicos.

11,3% testaram positivo para uma NSP da classe dos benzodiazepí-


nicos, e essa detecção saltou de 4% em 2012 para 19% em 2015.

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34
Foto: © [BillionPhotos.com] / Adobe Stock.

Para os casos envolvendo apenas benzodiazepínico, o histórico mé-


dico revelou como sintomas clínicos mais predominantes: depressão
do SNC, taquicardia, pupilas dilatadas e fala arrastada. Flumazenil,
um antagonista seletivo de receptor benzodiazepínico e usado como
antídoto, mostrou melhora do estado de alerta em alguns casos
(BACKBERG et al., 2019).

Conheça os casos:

Podcast transcrito
Entre 2019 e 2020, 197 casos post mortem reportados ao
UNODC apresentavam uma NSP do tipo benzodiazepina.
Entre os agentes causadores ou contribuintes reportados,
os principais foram: etizolam, flualprazolam, flubromazolam
e fenazepam, sendo responsáveis por 48% dos casos nessa
categoria. Entre 80% e 90% dos casos, a identificação de
etizolam, flualprazolam e flubromazolam ocorreu junta,
com concentrações entre 12-80 ng/mL, 100-500 ng/mL
e 37-130 ng/mL, respectivamente (UNODC, 2020).

Flualprazolam é a NSP do tipo benzodiazepínico com


maior prevalência nos Estados Unidos atualmente.
Entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020, 171 amostras de
sangue post mortem foram analisadas, e 167 quantificadas.
A concentração média foi de 20 ng/mL. Em 83% dos casos,
o flualprazolam foi encontrado em combinação com
opioides (PAPSUN et al., 2021).

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35
Entre outras NSP, é possível citar casos de intoxicação envolvendo de-
rivados dissociativos da fenciclidina (PCP), 3-MeO-PCP e 4-MeO-PCP.
O projeto sueco STRIDA reportou que, entre julho de 2013 e março de
2015, 1.243 casos suspeitos de intoxicação por NSP de pacientes em
unidades de emergência foram reportados ao projeto, 56 deles foram
positivos para 3-MeO-PCP e 11 para 4-MeO-PCP.

Os sintomas clínicos mais proeminentes foram hipertensão, ta-


quicardia e alteração do status mental (confusão, desorientação,
dissociação e/ou alucinações). Além do tratamento de suporte, 49%
dos pacientes foram tratados com benzodiazepínicos e/ou propofol
(BACKBERG; BECK; HELANDER, 2015).

Um estudo retrospectivo avaliou resultados toxicológicos de 1.445


casos suspeitos de intoxicação em decorrência de substâncias esti-
mulantes, alucinógenas e dissociativas em hospitais da Itália, entre
os anos de 2011 e 2019. Em 17% dos casos, houve a presença de pelo
menos uma NSP dessas classes. Dentre os casos, 47,2% testaram
positivo para uma NSP dissociativa, principalmente cetamina.

ESTRUTURA QUÍMICA

Cl
O

NH

Cetamina

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36
Alucinógenos foram responsáveis por 30,9% das amostras positivas
e 20% foram de estimulantes, com expressiva presença de catinonas
sintéticas (PAPA et al., 2021).

Uma boa fonte de informações atualizadas sobre casos de intoxicações


relatadas por classe de NSP trimestralmente é o projeto NPS Discovery,
desenvolvido pelo The Center for Forensic Science Research and Edu-
cation (CFSRE) nos Estados Unidos, com direção do Dr. Barry Logan.

Fonte: Center for Forensic Science Research


and Education (2021).

As NSP são reportadas pelo número de casos identificados no período


em relatórios de tendência para canabinoides sintéticos, opioides,
benzodiazepínicos, estimulantes e alucinógenos.

Esses relatórios trimestrais de tendência têm como objetivo fornecer


informações quase em tempo real sobre a prevalência, positividade
e rotatividade de NSP. São reportados exames realizados em fluidos
biológicos, extratos de amostra e/ou arquivos de bases de dados.
O projeto é financiado pelo governo federal dos Estados Unidos,
por meio de seu Instituto Nacional de Justiça (NIJ) do Departamento
de Justiça (DOJ), para desenvolver essa iniciativa.

SAIBA MAIS

Conheça os relatórios de tendência do projeto NPS


Discovery, disponível em: https://www.npsdiscovery.org/
reports/trend-reports/.

Avance para a próxima unidade do módulo.

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37
UNIDADE 3
ANÁLISES TOXICOLÓGICAS PARA
DIAGNÓSTICO DE INTOXICAÇÕES POR NSP

CONTEXTUALIZANDO

Nesta unidade, você identificará os pontos mais importantes rela-


cionados às análises toxicológicas para diagnóstico de intoxicações
por NSP. Primeiro, você compreenderá as diferentes matrizes bio-
lógicas para pesquisar uma nova substância psicoativa e, depois,
entenderá qual o preparo de amostras e principais técnicas analíticas
utilizadas e a interpretação dos resultados analíticos no contexto
da toxicologia forense e clínica.

3.1 CARACTERÍSTICAS DAS DIFERENTES


MATRIZES BIOLÓGICAS PARA PESQUISA DE NSP

RA ¥ Sangue
Enquadre no seu celular
ou tablet o código de Para realização das análises toxicológicas, o sangue é o fluido biológico
REALIDADE AUMENTADA mais utilizado em aplicações forense e clínica, incluindo pesquisa de
do aplicativo Zappar para
assistir ao vídeo sobre
NSP, pois os níveis sanguíneos de um toxicante geralmente possuem
“Vantagens e desvantagens relação direta com os efeitos causados no organismo.
das diferentes matrizes
biológicas para análises
toxicológicas”.

Foto: © [James Thew] / Adobe Stock.

Contudo, a coleta de amostras de sangue requer cuidados especiais, com


ambiente asséptico e profissional especializado para punção venosa,
a fim de minimizar riscos à saúde do paciente em função da coleta.

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38
Vantagem: possibilidade de correlacionar a concentração do
toxicante com o efeito observado.

Desvantagem: requer cuidados especiais.

¥ Urina

A urina tem menor importância para uma interpretação quantitativa,


pois a concentração do agente tóxico pode variar de acordo com o
estado de hidratação do paciente e o pH urinário.

Contudo, a análise da urina é a matriz de escolha para a triagem


toxicológica nas análises de urgência, avaliação de exposição a subs-
tâncias psicoativas em ambiente ocupacional e, quando disponível,
em análises forenses.

Essa escolha se dá devido às concentrações urinárias dos xenobióticos


serem mais elevadas nessa matriz e por serem detectadas por um
período maior, quando comparadas com o sangue.

Foto: © [New Africa] / Adobe Stock.

Na análise de NSP, uma desvantagem da urina é o fato de que muitas


drogas sintéticas, como os canabinoides sintéticos, praticamente não
são excretadas na urina na forma inalterada (forma da substância no
uso), mas sim na forma de diversos metabólitos.

Vantagem: as concentrações urinárias dos xenobióticos são


mais elevadas nessa matriz e podem ser detectadas por um
período maior.

Desvantagem: muitas drogas sintéticas praticamente não


são excretadas original (inalterada) na urina, apenas na forma
de metabólitos.

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39
Materiais de referência desses metabólitos nem sempre estão dispo-
níveis no mercado, o que inviabiliza o desenvolvimento do método
de diagnóstico por esse caminho.

¥ Cabelo

O cabelo é uma amostra indicada quando se pretende detectar a


presença de NSP por um período prolongado, de semanas a meses
após a exposição.

Foto: © [maticsandra] / Adobe Stock.

Como o cabelo cresce aproximadamente 1 cm por mês, a partir da


análise de fragmentos seriados do cabelo é possível verificar o histó-
rico de consumo ou abstinência do usuário, sendo útil, por exemplo,
na análise de substâncias psicoativas em pacientes sob tratamento
de reabilitação de dependência e monitoramento da abstinência, em
casos de doping no esporte e em casos forenses.

Vantagem: permite a detecção de NSP por um período prolongado.

Desvantagem: trata-se de uma amostra complexa, que pode


sofrer interferência de certos tratamentos cosméticos.
Serve para demonstrar uso crônico (2 meses ou mais), e não
para verificação de uso recente da droga. Outra desvantagem é
que os processos de coloração/descoloração do cabelo podem
interferir na concentração do toxicante no cabelo.

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40
¥ Fluido oral

O fluido oral é uma das matrizes mais exploradas atualmente para


análises toxicológicas. Esta amostra biológica possui como prin-
cipal vantagem a facilidade de coleta, que não é invasiva e pode ser
realizada sob observação sem que haja constrangimento do doador,
e essa característica é fundamental para viabilizar a coleta da amostra
em situações de campo, como em blitz de trânsito, na avaliação do
uso de drogas no ambiente de trabalho e em estudos epidemiológicos
sobre uso de drogas como as NSP.

Coletor de fluido oral Quantisal™ (Immunalysis) .


Foto: do autor.

Outra vantagem importante do fluido oral em análises toxicológicas


é a correlação que pode ser traçada entre as concentrações salivares e
plasmáticas de um toxicante. Essa correlação permite, por exemplo,
o uso do fluido oral em estudo de farmacocinética, em análises fo-
renses e de emergência, por permitir correlacionar as concentrações
obtidas com alterações comportamentais que possam eventualmente
ser causadas pelo toxicante encontrado nesse fluido (SPIEHLER;
COOPER, 2008; TOENNES et al., 2005).

Assim como o humor vítreo, a desvantagem dessa amostra biológica


é a limitação de volume que pode ser coletado (poucos mililitros),
especialmente se o doador estiver sob efeito de algumas drogas que
diminuem a salivação (SPIEHLER; COOPER, 2008).

Vantagem: não é invasiva e permite traçar a correlação entre


as concentrações salivares e plasmáticas de um toxicante.

Desvantagem: a limitação de volume que pode ser coletado.

A passagem de fármacos da corrente sanguínea para saliva já havia


sido sugerida desde a segunda metade da década de 1960 (KINTZ;
SAMYN, 1999). Mesmo assim, a utilização desta como matriz biológica
só veio aumentar significativamente na última década, principalmente

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41
em estudos de farmacocinética, monitorização terapêutica e na ve-
rificação do uso de drogas ilícitas, particularmente por agências que
monitoram motoristas quanto ao uso de substâncias psicoativas,
conforme Fucci, Giovanni e Chiarotti (2003), Kintz e Samyn (1999),
Musshoff et al. (2014); Pil e Verstraete (2008), e Scherer et al. (2005).

A saliva é um fluido incolor, formada pelas secreções das células


serosas e mucosas das glândulas salivares (MARQUET; LACH TRE,
1999). É composta basicamente por água (99%), proteínas (0,3%),
mucopolissacarídeos (0,3%) e eletrólitos (0,4%). Seu pH, quando co-
letada de forma não estimulada, possui valores entre 6,2 e 7,4. O fluxo
salivar pode variar de 0 a 10 mL/min, com produção diária de cerca de
500 a 1500 mL (KINTZ; SPIEHLER; NEGRUSZ, 2008; UNODC, 2001).

As glândulas salivares possuem elevada irrigação sanguínea, rea-


lizada principalmente pela artéria carótida. Substâncias circulando
na forma livre no plasma podem atravessar as paredes dos capilares
sanguíneos e as membranas das células epiteliais das glândulas,
para assim serem secretadas junto à saliva. Alguns princípios físi-
co-químicos, como a solubilidade e grau de dissociação, também
influenciam a taxa e extensão desta passagem (KINTZ; SPIEHLER;
NEGRUSZ, 2008; UNODC, 2001).

O termo fluido oral é o que melhor descreve as amostras habitual-


mente coletadas por expectoração ou dispositivos de coleta apro-
priados, isso porque o fluido presente na cavidade oral é a mistura da
saliva proveniente das glândulas salivares com outros constituintes
presentes na boca. A coleta estrita de saliva se torna inviável, pois
dependeria da extração diretamente de uma das glândulas que a
produz (SPIEHLER; COOPER, 2008).

Recentemente, discussões e ações promovidas pelo


Ministério da Justiça e Segurança Pública indicam que o
exame toxicológico em fluido oral, coletado em blitz de
trânsito, deverá ser rotina para os laboratórios forenses
brasileiros em curto ou médio prazo (BRASIL).

Veja a seguir algumas notícias envolvendo drogômetros nas estradas


e exames toxicológicos de fluido oral em blitz de trânsito.

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42
SAIBA MAIS

Conheça mais sobre exame toxicológico de fluido oral


coletado em blitz de trânsito na matéria “Começam os
testes de drogômetros nas rodovias federais do país”,
disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/
justica-e-seguranca/2021/08/comecam-os-testes-
de-drogometros-nas-rodovias-federais-do-pais, e
“PRF fará testes com drogômetros nas estradas",
disponível em: https://noticias.r7.com/brasil/prf-fara-
testes-com-drogometros-nas-estradas-a-partir-de-
agosto-18072021.

Para fechar este item que tratou das diferentes matrizes biológicas
para pesquisa de NSP, veja no infográfico abaixo um resumo da
janela de detecção para pesquisa de fármaco e substâncias psicoa-
tivas, incluindo NSP.

Sangue/fluido oral

Urina

Suor

Cabelo/unha

Minutos Horas Dias Semanas Meses Anos

3.2 PREPARO DE AMOSTRAS E PRINCIPAIS


TÉCNICAS ANALÍTICAS UTILIZADAS
Glossário
Analito é uma substância ou componente A determinação de substâncias presentes em fluidos biológicos exige
químico, em uma amostra, que é alvo de etapas de pré-tratamento da amostra, que visam separar os analitos
análise em um ensaio. de interesse de demais compostos presentes na amostra, que podem
ser incompatíveis com o equipamento usado para identificação e
quantificação, além de servir como etapa de concentração das subs-

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43
tâncias a serem analisadas, frequentemente presentes em nível de
traços (QUEIROZ; COLLINS; JARDIM, 2001).

O conjunto dessas etapas de pré-tratamento da amostra é chamado


de preparo de amostras em análises toxicológicas.

Preparo
de amostras
Separação/ Análise Tomada
Amostragem (hidrólise, Quantificação
identificação estatística de decisão
extração,
derivatização)

Esquema geral de um método de análises toxicológicas. Veja, a seguir, os detalhes do preparo das amostras, considerando a
Fonte: Adaptado de Siqueira e Figueiredo (2016). hidrólise, a extração e a derivatização.

¥ Hidrólise

A hidrólise de conjugados é talvez a primeira etapa do preparo de amos-


tras, principalmente quando a pesquisa é feita em amostras de urina.

Muitas drogas de abuso, como, por exemplo,


os canabinoides sintéticos e as feniletilaminas do grupo
dos NBOMes, sofrem reações de biotransformação com
conjugação com ácido glicurônico ou radicais sulfato,
sendo os metabólitos excretados na urina ligados a estes
radicais que conferem maior polaridade à substância.
Antes do procedimento de extração, essas ligações
precisam ser quebradas, pois isso melhora o rendimento
do processo extrativo. Essa quebra da ligação com
glicuronídeo ou sulfato é chamada hidrólise.

Basicamente, a hidrólise pode ser feita pelo uso de enzimas específicas


(beta-glucuronidases e aril-sulfatases), ou de forma inespecífica,
utilizando ácidos ou bases concentradas.

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44
HO

HO
COOH
O B-Glucuronidase HO
N O
+ H2O O +
COOH CH 3
N OH
O Até 16 horas OH
O OH
CH3
Cuidados com a temperatura HO
OH
OH OH

Morfina-6-glicuronídeo Morfina Ácido glicurônico

Exemplo de hidrólise enzimática da morfina.


Nas análises de NSP, tem-se preferência pela hidrólise enzimática,
pois são reações mais brandas e específicas que não degradam as
drogas ou metabólitos. Os inconvenientes da hidrólise enzimática
são o custo elevado das enzimas, a necessidade de controle rigoroso
do processo (temperatura e pH) e o tempo de reação (que pode ser
de até 16 horas), conforme apontam Siqueira e Figueiredo (2016).

¥ Extração

Com relação aos procedimentos de extração de fármacos, drogas de


abuso e/ou seus metabólitos, destacam-se dois processos: extração
líquido-líquido (ELL) e extração em fase sólida (em inglês, solid-
-phase extraction, SPE).

Separação da
Solvente Agitação fase orgânica
orgânico
Toxicante/
Urina Centrifugação Extrato
metabólitos Urina

Esquema geral de uma extração líquido-líquido.


Fonte: Adaptado de Prof. Maurício Yonamine (FCF-USP).
Extração líquido-líquido

A ELL se caracteriza por ser uma extração que demanda muito


tempo, com necessidade de grandes volumes de solventes
orgânicos, além de envolver várias etapas de difícil automação,
podendo ocorrer perda de analito, maior probabilidade de
erros sistemáticos e contaminação da amostra e/ou analista
(REZAEE et al., 2006).

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45
Extração em fase sólida

A SPE é mais atrativa quando se trata da eficiência de extração


(recuperação) dos analitos devido a sua habilidade de reter de
maneira eficiente e mais seletiva os compostos com diferentes
grupos funcionais de amostras aquosas e, então, de liberá-los
no solvente orgânico na eluição. Além disso, utiliza volumes
consideravelmente menores de solvente que a ELL, contudo
esse tipo de extração demanda maior investimento financeiro
(COSTA, 2016).

Quando as análises são realizadas por cromatografia em fase gasosa,


após a etapa de extração, é necessário um procedimento adicional,
denominado derivatização.

Esse procedimento é imprescindível quando as substâncias inves-


tigadas não são voláteis ou termicamente estáveis, como é o caso
de praticamente todos os metabólitos das NSP. Mesmo algumas
substâncias originais, como catinonas sintéticas, NBOMes e NBOHs,
não são estáveis termicamente e precisam ser derivatizados antes da
análise por cromatografia em fase gasosa.

¥ Derivatização

A derivatização consiste em reagir a droga de abuso e/ou metabólito


que se precisa analisar com algum reagente específico, chamado de
reagente de derivatização, resultando em um produto mais volátil e
termicamente estável (condições necessárias para que uma substância
química possa ser analisada por cromatografia em fase gasosa).

O tipo de reagente utilizado para derivatização depende da estrutura


química da droga/metabólito investigado, por exemplo: os cana-
binoides sintéticos são derivatizados com reações de silanização,
as catinonas sintéticas com reações de acetilação, os NBOMe/NBOH
podem ser derivatizados por silanização ou acetilação.

Agente derivatizante
Extrato da amostra BSTFA (1% TMCS)

Si(CH3)3
OH O

O O

THC THC - TMS


Cromatógrafo gasoso acoplado
à espectrômetro de massas

Exemplo do processo de derivatização para análise


do THC por cromatografia gasosa.

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46
Logo, não existe uma reação única que possa ser utilizada para todas
as NSP, o que ilustra os desafios analíticos das análises deste novo e
importante grupo de drogas de abuso.

3.3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS


ANALÍTICOS NO CONTEXTO DA TOXICOLOGIA
FORENSE E CLÍNICA

Toda análise toxicológica deve ser realizada por metodologia devida-


mente validada, para garantir a confiabilidade do resultado, minimi-
zando os possíveis casos falsos positivos (afirmar que um resultado é
positivo, quando na verdade é negativo) ou falsos negativos (afirmar
que um resultado é negativo, quando na verdade seria positivo).

No Brasil não existem recomendações, protocolos específicos e guias


sobre as análises toxicológicas. Internacionalmente, os guias mais
seguidos são o da American Academy of Forensic Sciences (AAFS),
International Accounting Standards Board (ASB) e American National
Standards Institute (ANSI/ASB, 2019) e o UNODC (UNODC, 2009).

3.3.1 ANÁLISE DE UMA AMOSTRA


Glossário
Na análise de uma amostra, ou grupo de amostras, por cromatografia
Cromatografia é uma técnica de em fase gasosa ou líquida acoplada à espectrometria de massas
separação dos componentes de uma
(técnicas mais empregadas para análise de NSP), é recomendado que
mistura entre duas fases: a estacionária
uma amostra denominada “branco” (ou “controle de qualidade ne-
(que estará no interior da coluna
gativo”) e outra denominada “controle de qualidade positivo” sejam
cromatográfica) e a fase móvel (que
inseridas neste grupo de amostras a ser analisado para aumentar o
estará em fluxo e pode ser um gás ou
líquido, portanto, cromatografia líquida grau de confiança no resultado obtido.
ou gasosa).

A espectrometria de massas é onde


ocorre a análise das substâncias
presentes na amostra pela sua relação
massa/carga, e a detecção é traduzida na
forma de espectros de massa.

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47
Glossário
Amostras autênticas são as amostras
vindas de casos reais, onde será A amostra branco é uma amostra de mesma matriz biológica que se
investigada a causa da intoxicação, sabe que é negativa para as substâncias investigadas e que passou
por exemplo. pelo mesmo protocolo de extração validado, enquanto o controle
“positivo” é uma amostra de mesma matriz biológica, que se sabe
O padrão interno é uma substância
que é negativa para as substâncias investigadas, onde é adicionada
química conhecida adicionada a todas
uma quantidade conhecida de uma ou mais substâncias de interesse
as amostras (branco, controle positivo
e que passou pelo mesmo protocolo de extração validado.
e amostras autênticas) que devem
ser identificadas durante a análise e
asseguram que o processo de extração A avaliação e interpretação dessas amostras – branco e de controle
e injeção no equipamento ocorreu de qualidade –fazem parte da interpretação do resultado obtido para
corretamente. a(s) amostra(s) autêntica(s). A adição de padrão interno às amostras
a serem analisadas também minimiza os resultados falsos negativos.

| ESQUEMA GERAL DE UM EQUIPAMENTO DE CROMATOGRAFIA LÍQUIDA


ACOPLADO A ESPECTROMETRIA DE MASSAS

Solvente (Fase móvel) Amostra

Detecção

A B

Espectrômetro de Massas

Interface Fonte

Cromatógrafo líquido

Coluna Cromatograma
cromatográfica Espectro de massas

Fonte: Adaptado de Bustillos (2020).

A confirmação de um resultado positivo sempre deve ser


realizada contra um padrão analítico de referência para a
substância identificada adquirido de empresas certificadas.

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48
Devido ao extenso número de NSP já identificadas dentro de cada
Glossário classe, é importante garantir que possíveis isômeros sejam identi-
ficados corretamente (por exemplo, com adequada separação cro-
Isômeros são substâncias diferentes com matográfica). Além disso, conhecer a sensibilidade da metodologia
estruturas semelhantes. empregada no laboratório é essencial para saber quais as limitações
na hora de identificar cada classe de NSP.

A identificação de uma NSP na amostra biológica nem sempre vai


ser a causa ou única determinante da intoxicação ou causa mortis.
Isso porque é comum o número de poliuso de substâncias (CUNHA
et al., 2021).

RA Para você entender mais sobre o poliuso de substâncias, entre janeiro


Enquadre no seu celular
de 2019 e abril de 2020, dos 670 casos toxicológicos reportados ao
ou tablet o código de UNODC envolvendo NSP, o poliuso de substâncias foi observado em
REALIDADE AUMENTADA 81% de todos os casos revisados, com proporção similar em 171 casos
do aplicativo Zappar para
pós-morte analisados. A proporção de casos pós-morte com mais de
assistir ao vídeo sobre
“Poliuso de Substâncias”. uma NSP identificada foi de 19%.

O poliuso parece ser ainda mais amplo nos casos envolvendo dirigir
sob influência de álcool, com combinação de substâncias em mais de
90% dos casos. Em 13% dos casos, o motorista estava sob efeito de
múltiplas NSP (UNODC, 2020).

Como citado anteriormente, as substâncias identificadas


no sangue vão ser mais propensas a estarem correlacionadas
com os sintomas apresentados pelo paciente intoxicado
e/ou causa mortis.

Apesar de não existir consenso acerca da concentração


tóxica dessas NSP, devido à falta de estudos clínicos para
se conhecer os efeitos e toxicidade dessas substâncias,
a quantificação das substâncias encontradas na amostra
pode ajudar a reduzir o número de possíveis agentes
da intoxicação em casos de poliuso.

Em casos clínicos, o conhecimento dos efeitos esperados


das substâncias convencionais e dessas NSP, somado ao
quadro clínico apresentado pelo paciente, vai corroborar
na interpretação do achado analítico.

Em casos forense post mortem, a interpretação do resultado toxico-


lógico pode ser ainda mais dificultada pela possibilidade de redistri-
buição post mortem das substâncias presentes no corpo, o que pode
elevar a concentração, dependendo do local da coleta, natureza da
substância e/ou tempo decorrido da morte (SKOPP, 2004).

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49
A estabilidade dos analitos em matriz biológica também pode ser
um fator limitante na detecção da substância, como, por exemplo,
para as catinonas sintéticas, devido a sua baixa estabilidade, prin-
cipalmente em sangue (JOHNSON; BOTCH-JONES, 2013). Muito da
informação das NSP mais potentes vem das descrições de casos fatais
envolvendo essas substâncias e publicadas em revistas científicas na
área da toxicologia.

Efeitos
Alucinógenos Opioides Catinonas
Tóxica Toxicologia Amostra
Post mortem
NSP Substância
Canabinoides Casos Clínicos

Ainda devido ao número de NSP já identificadas e que ainda surgirão,


e para tentar priorizar e responder melhor às substâncias que são
maiores ameaças à saúde pública, o European Monitoring Centre for
Drugs and Drug Addiction (EMCDDA) sugere que seja avaliada a sig-
nificância da presença de uma NSP em casos fatais, a partir da análise
dos seguintes fatores (ELLIOTT; SEDEFOV; EVANS-BROWN, 2017):

Presença,
concentração e Causa da morte e
natureza da NSP achados patológicos.
identificada.

Circunstâncias
da morte.

Presença, Dependendo do
concentração número de casos, seria
e natureza de possível determinar
outras drogas, concentrações típicas
incluindo álcool. em diferentes
circunstâncias.

Assim, mesmo em casos forenses, também é recomendada a quan-


tificação das substâncias encontradas, já que, quanto maior a con-
centração de uma NSP na amostra, maior é a significância desse
achado e maior é a probabilidade de um quadro tóxico ter ocorrido
em decorrência dessa substância.

A partir da análise desses fatores, seria possível o toxicologista


chegar a um nível de significância para a NSP (ELLIOTT; SEDEFOV;
EVANS-BROWN, 2017):

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50
Quando a NSP não possui correlação com a
Baixa intoxicação ou morte.

Quando a NSP pode ter contribuído para a


toxicidade/morte, mas outras drogas
Média presentes devem ser mais significativas do
ponto de vista toxicológico.

Quando a NSP é causa da morte ou mais


Alta provável de ter contribuído para a intoxicação
ou morte, mesmo na presença de outras drogas.

Não Classificado Quando os dados disponíveis são insuficientes


ou
para uma classificação.
Indeterminada

Veja, a seguir, a descrição do caso clínico de um paciente atendido


no CIATox de Campinas/SP, os sintomas apresentados por ele e qual
foi o resultado da análise toxicológica em sua amostra:

Podcast transcrito
CASO CLÍNICO

História inicial: paciente masculino, 26 anos, depressão do


SNC após uso de cocaína, lança-perfume e droga sintética
(via ocular e oral) em festa.

Durante o atendimento em serviço hospitalar, o paciente é


sedado e entubado com midazolam e fentanil.

Resultado da análise toxicológica por cromatógrafo


gasoso acoplado a espectrômetro de massas: 25E-NBOH
(1,5 ng/mL), cocaína, THC, fentanil (5 ng/mL), diazepam,
midazolam, levamisol.

Relato do paciente: uso de selo por via ocular durante festa.


Em poucos segundos começou a passar mal, desmaiando
em seguida.
RA
Enquadre no seu celular
Interpretação: a concentração de fentanil presente na
ou tablet o código de amostra do paciente é superior à comumente encontrada
REALIDADE AUMENTADA após administração de fentanil para procedimento de
do aplicativo Zappar para
intubação. Assim, o selo utilizado deveria conter uma mistura
assistir ao vídeo que trata
dos resultados analíticos de 25E-NBOH e fentanil, que resultou na depressão do SNC.
no contexto da Toxicologia
Forense e Clínica.

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51
3.4 ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS SOBRE O
CONSUMO DE NSP

Um estudo em andamento vem sendo conduzido pelo grupo de pes-


quisas em toxicologia da UNICAMP, que visa identificar as NSP que
estão sendo consumidas no país através da análise de amostras
de fluido oral coletadas em festas e festivais de música eletrônica.
Os resultados desse projeto foram publicados recentemente (CUNHA
et al., 2021) e representam o primeiro levantamento sobre consumo
de NSP realizado no Brasil.

Entre setembro de 2018 e janeiro de 2020, 462 amostras foram cole-


tadas, sendo 231 em festas que ocorreram em três cidades do estado
de São Paulo e 231 em festivais de música eletrônica que ocorreram
nos estados de Minas Gerais e Bahia.

Em todas as coletas, a equipe do projeto estava dentro do evento com


prévia autorização da organização. Nas festas, a maioria das coletas
se deu com a primeira aproximação feita pelo futuro voluntário,
seja por ter conhecimento prévio do projeto, seja por curiosidade.
Como critério de inclusão, o voluntário deveria ter, pelo menos,
18 anos e ter consumido alguma substância psicoativa ilícita dentro
das 24 horas anteriores à coleta de amostra.

¥ Coleta de dados

Durante a coleta de dados, um questionário simples foi respondido


e cada voluntário recebia um cartão contendo o endereço de site de-
senvolvido para o projeto, assim como número de amostra e senha
personalizados, para acesso ao próprio resultado após sete dias.

Foto: © [DWP] / Adobe Stock.

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52
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNICAMP. A coleta
de fluido oral foi realizada com o dispositivo Quantisal®, pois mos-
trou maior estabilidade de drogas de abuso em comparação a outras
marcas disponíveis no mercado (MILLER; KIM; CONCHEIRO, 2017),
sendo ideal para coletas em campo, que demandam maior tempo de
deslocamento dessas amostras entre o local da coleta e o laboratório
de análise (refrigeração).

¥ Dados da pesquisa

MÉDIA DE IDADE ORIENTAÇÃO SEXUAL

25 anos
Pesquisados: entre
18 e 51 anos

64,5%
Heterossexuais
SEXO

55,4% masculino
CONSUMO DE ALGUM
TIPO DE SUBSTÂNCIA
44,6% feminino
PSICOATIVA

88,5% fizeram uso


de substância psicoativa
nos últimos 3 meses.

A média de idade dos participantes foi de 25 anos, variando entre 18 e


51 anos, com ligeira predominância de indivíduos do sexo masculino
(55,4%). A maioria dos voluntários se autodeclararam heterossexuais
(64,5%). Quase 59% dos voluntários estavam cursando a graduação,
seguidos de 32,3% dos voluntários com graduação completa ou supe-
rior. A grande maioria dos participantes (88,5%) reportou o consumo
de algum tipo de substância psicoativa ilícita nos últimos três meses
antes da coleta.

Nas amostras de fluido oral analisadas, um expressivo consumo de


múltiplas substâncias psicoativas ilícitas foi observado, com 79,9%
das amostras apresentando duas ou mais substâncias psicoativas.
Veja os dados do gráfico a seguir:

(A)

34,2
% de positividade

23,4
18,6
15,4

5,2
Número de substâncias psicoativas ilícitas 1,5 1,1 0,6
identificadas por amostras em 462 amostras totais.
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2021).
0 1 2 3 4 5 6 7

Número de substâncias psicoativas ilícitas por amostra

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53
Do total de participantes da pesquisa, 34,2% apresentavam duas
substâncias psicoativas na amostra de fluido oral, e 23,4% apresen-
tavam três substâncias psicoativas na amostra fornecida.

Diferença significativa também foi observada quando o tipo de evento


foi comparado, considerando festas e festivais de música eletrônica:

¥ Em festivais
27,3% das amostras analisadas apresentavam 3 substâncias
psicoativas e 24,7% apresentaram 4 substâncias psicoativas.

¥ Em festas
44,2% das amostras analisadas apresentavam 2 substâncias
psicoativas e 27,3% das amostras analisadas apresentavam uma
substância psicoativa.

Veja, a seguir, o gráfico comparativo, sendo na cor amarela a re-


presentação dos festivais de músicas eletrônicas e em azul a repre-
sentação das festas.

(B)

44,2
% de positividade

27,3 27,3
24,2 24,7
19,5
10
8,7
2,2 6,1 1,7
0,9 1,7 0,4 1,3

Número de substâncias psicoativas ilícitas identificadas 0 1 2 3 4 5 6 7


por amostras em 462 amostras por tipo de evento.
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2021). Número de substâncias psicoativas ilícitas por amostra

Festas Festas eletrônicas

Comparando a substância psicoativa ilícita de uso reportado pelo


participante no questionário e o resultado toxicológico obtido na
análise de fluido oral por LC-MS/MS, houve concordância nas in-
formações em apenas 143 (31%) das 462 amostras investigadas.

Em 291 amostras (63%), pelo menos uma substância


identificada no exame toxicológico não correspondeu
ao que havia sido informado pelo participante no
questionário. Nesse grupo de 291 amostras, em 154
(52,9%) foi identificada alguma NSP que não havia
sido mencionada no questionário. Em 28 amostras que
apresentaram total desacordo na comparação, 28,6%
continham uma NSP.

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54
| SUBSTÂNCIAS IDENTIFICADAS

181
462 amostras
amostras 39,2%
no total. continham pelo
menos uma NSP.

135 amostras 19 amostras


75,1% 10,5%
apresentaram a cetamina. apresentaram a N-etilpentilona.

Das 462 amostras, 181 continham pelo menos uma NSP (39,2%),
sendo a cetamina (75,1%) a NSP mais prevalente entre essas amos-
tras, seguida por metilona (15,5%) e N-etilpentilona (10,5%).

CATINONAS SINTÉTICAS SUBSTÂNCIAS ALUCINÓGENAS


ENCONTRADAS ENCONTRADAS
Dipentilona MDPV 25I-NBOH
5,0% 0,6% 3,9%

Eutilona 4-cloroetcatinona 25C-NBOH


2,2% 0,6% 2,2%

Mefedrona 25B-NBOH
1,1% 0,6%

Além dessas substâncias, outras catinonas sintéticas, como a dipenti-


lona, eutilona, mefedrona, MDPV e 4-cloroetcatinona, também foram
detectadas. Substâncias alucinógenas do grupo das feniletilaminas
também foram encontradas, com maior prevalência do 25I-NBOH,
seguido pelo 25C-NBOH e 25B-NBOH, principalmente associados ao
25I-NBOH, 2C-X (0,6%) e 25I-NBOMe (0,6%).

O 5-MeO-MiPT, derivado da triptamina, foi detectado em três


amostras coletadas em contexto de festival, correspondendo a
1,7%, enquanto a piperazina mCPP (meta-clorofenilpiperazina)
foi identificada em uma amostra também coletada em contexto de
festival, correspondendo a 0,6%. Nenhum canabinoide sintético,

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55
dentre os presentes no método analítico utilizado, foi detectado nas
amostras de fluido oral. As NSP identificadas, assim como o período
de cada detecção, são apresentadas na tabela a seguir.

De todos os voluntários, apenas 5% reportaram o consumo de al-


guma NSP, incluindo 2 pessoas que reportaram o consumo de duas
NSP distintas. A cetamina foi a NSP mais reportada, totalizando 23
pessoas, predominantemente por participantes de festivais (91,3%).

Apesar do consumo de 2C-B na forma de gel ter sido reportado por


um voluntário, a respectiva análise por LC-MS/MS identificou a
presença de 25I-NBOH e 5-MeO-MiPT. Um consumo reportado para
NBOH não foi confirmado laboratorialmente.

Confira a tabela com os dados da análise das amostras:

2° SEMESTRE 1° SEMESTRE 2° SEMESTRE


2018 2019 2019

Analito (n=98) (n=230) (n=134)

Cetamina 5 85 46

Metilona 9 7 12

N-etilpentilona 5 13 1

Dipentilona nd 9 nd

25I-NBOH 1 1 5

Eutilona nd nd 4

25C-NBOH 1 3 nd

5-MeO-MiPT nd nd 3

Mefedrona 2 nd nd

2C-X nd 1 nd

25B-NBOH nd 1 nd

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2° SEMESTRE 1° SEMESTRE 2° SEMESTRE
2018 2019 2019

Analito (n=98) (n=230) (n=134)

25I-NBOMe nd 1 nd

4-cloroetcatinona nd nd 1

MDPV nd 1 nd

mCPP nd 1 nd

*nd - não detectada


Número de identificações por semestre de novas
substâncias psicoativas em 462 amostras de fluido oral.
Veja, a seguir, mais informações sobre os casos de uso de substâncias
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2021).
psicoativas em contextos de festivais e festas.

SAIBA MAIS

Conheça alguns casos de comercialização e uso de drogas


sintéticas:

“Drogas sintéticas falsificadas são uma ameaça


silenciosa e podem matar”, disponível em: https://
recordtv.r7.com/domingo-espetacular/videos/drogas-
sinteticas-falsificadas-sao-uma-ameaca-silenciosa-e-
podem-matar-12042020?fbclid=IwAR0RchVJTCWjlGcSq
0GR2TrR0W3BydPXo8odh_NAH_6NWPf4eRgQHOaXJeY;

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Curso TraNSPor
MÓDULO 5 - TOXICOLOGIA DAS NOVAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
57
Agora, retome a seguir os principais pontos deste módulo:

As substâncias presentes nas NSP, quando não são


controladas ou proibidas, podem ser vendidas sem
restrição em diversos locais, como lojas de conveniência,
tabacarias e/ou internet.

Os efeitos tóxicos das NSP são tão imprevisíveis quanto a


quantidade de substâncias desse grupo de drogas. Esses
efeitos podem estar relacionados diretamente com o
princípio ativo (NSP em questão) ou, ainda, com a mistura
de substâncias em um mesmo material.

Na toxicocinética, estuda-se como as drogas são absorvidas


pela corrente sanguínea, como elas são distribuídas aos
diversos tecidos do organismo e como são excretadas
(urina, suor, saliva, leite materno, entre outros).

Na toxicodinâmica, estudam-se os mecanismos de


ação tóxica exercida por substâncias químicas, para se
compreender como as drogas agem no organismo e como
podemos tratar as intoxicações.

Para realização das análises toxicológicas, o sangue é o fluido


biológico mais utilizado em aplicações forense e clínica.

Urina, cabelo e fluido oral também podem ser utilizados na


realização das análises toxicológicas.

A análise toxicológica deve ser realizada por metodologia


devidamente validada, para garantir a confiabilidade
do resultado, minimizando os possíveis casos de falsos
positivos e falsos negativos.

Curso TraNSPor
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58
O preparo das amostras em análises toxicológicas acontece
através da etapa de hidrólise, a extração e a derivatização.

As intoxicações relacionadas ao consumo de NSP no


Brasil nem sempre são identificadas em laboratório e
reportadas, o que pode levar a uma subnotificação dos
casos desse tipo de intoxicação.

Um estudo foi conduzido pelo grupo de pesquisas em


toxicologia da UNICAMP, para o qual foram coletadas 462
amostras de fluido oral em festas e festivais de música
eletrônica, e 181 amostras continham pelo menos uma NSP.

Curso TraNSPor
MÓDULO 5 - TOXICOLOGIA DAS NOVAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
59
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