Você está na página 1de 48

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

BRUNO OKUSHIMA KUDEKEN LEÃO COSTA

PSICOPATIA: REVISÃO TEÓRICA E IMPLICAÇÕES

SÃO CRISTÓVÃO
2018
2

BRUNO OKUSHIMA KUDEKEN LEÃO COSTA

PSICOPATIA: REVISÃO TEÓRICA E IMPLICAÇÕES

Monografia apresentada ao Departamento de


Psicologia da Universidade Federal de
Sergipe como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Psicólogo

Orientador: Prof. Dr. Julian Tejada

SÃO CRISTÓVÃO
2018
3

Resumo

A psicopatia é uma condição com uma notoriedade extrema na sociedade. Geralmente


ela é associada a pessoas sem emoções, violentas ou assassinos, o termo carrega consigo
diversos preconceitos e mal-entendidos. Nesse contexto, torna-se fundamental uma revisão
teórica que aborde não só a definição e as caraterísticas da psicopatia, mas também os diferentes
achados advindos da neurofisiologia experimental, da genética e dos estudos de lesões cerebrais
em pacientes. Esses aspectos foram abordados com o objetivo de se ter uma visão ampla a
respeito dessa condição de forma a trazer elementos suficientes para justificar a transição de
condição patológica para neurodiversidade – uma variante neurológica natural. Diversos
estudos experimentais e neurofisiológicos apoiam a hipótese de que a psicopatia deva ser
considerada como uma neurodiversidade, a qual apresenta tanto deficiências atencionais quanto
emocionais. Sendo assim, o presente trabalho defende essa tese, afirmando que a psicopatia
deve ser considerada uma variante neurológica natural, que aparece recorrentemente em
diversas culturas, em homens e mulheres. Como objetivo secundário, esperamos também que
esta leitura estimule a procura por uma abordagem mais interdisciplinar da psicopatologia, de
forma que possa trazer novos elementos na definição de outras condições psicológicas, que,
assim como a psicopatia, possam estar carregadas de preconceitos e mal-entendidos.

Palavras-chave: psicopatia; neurodiversidade; neurofisiologia; neuropsicologia.


4

Abstract

Psychopathy is a condition with extreme notoriety in the society. It is usually associated


with people without emotions, violent or murderous, the term carries with it diverse prejudices
and misunderstandings. In this context, becomes fundamental a theoretical review that
addresses not only the definition and characteristics of psychopathy, but also the different
findings coming from experimental neurophysiology, genetics and brain injury studied in
patients. These aspects are going to be reviewed with the objective of obtaining a broad point
of view regarding this condition that brings sufficient elements to justify the transition from
pathological condition to neurodiversity – a natural neurological variant. Several experimental
and neurophysiological studies support the hypothesis that psychopathy should be considered
as a neurodiversity, which has both attentional and emotional deficiencies. Thus, the present
work supports this thesis, stating that psychopathy should be considered as a natural
neurological variant, which appears recurrently in several cultures, in men and women. As a
secondary objective, we hope that the reading of the present study will stimulate the search for
a more interdisciplinary approach to psychopathology, that it can bring new elements in the
definition of other psychological conditions, which, like psychopathy, can be loaded with
prejudices and misunderstandings.

Keywords: psychopathy; neurodiversity; neurophysiology; neuropsychology.


5

Lista de abreviaturas

5-HTT – gene codificador do transportador de serotonina.

5-HTTLPR – serotonin-transporter-linked polymorphic region, região polimórfica ligada o transportador


de serotonina em português.

AB – antisocial behaviors, comportamentos antissociais em português.

ACC – affective cognitive control, controle afetivo cognitivo em português.

ATC – attention to context, atenção ao contexto em português.

BAS – behavioral approach system, sistema de ativação comportamental em português.

BIS – behavioral inhibition system, sistema de inibição comportamental em português.

CU – callous–unemotional traits, traços de insensibilidade–afetividade restrita em português.

DAAM – differential amydala activation model, modelo de ativação amidalar diferencial em português.

DNA – desoxyribonucleic acid, ácido desoxirribonucleico em português.

DSM – diagnostic and statistic manual of mental disorders, manual diagnóstico e estatístico de doenças
mentais em português.

DTI – diffusion tensor imaging, imageamento por difusor de tensão em português.

EEG – eletroencefalografia.

FFFS – fight-flight-freeze system, sistema de luta-fuga-congelamento em português.

FPS – fear potentiated startle, reflexo de sobressalto potencializado pelo medo em português.

HTR1B – subtipo do gene receptor de serotonina (5-HT)

HTR2A – subtipo de uma subfamília do receptor de serotonina (5-HT2)

II – impaired integration, integração prejudicada, uma teoria explicativa da psicopatia.

LSRP – Levenson self-report psychopathy, escala de autorrelato Levenson em português.

MAOA – gene codificador da enzima MAO-A.

MAO-A – enzima degradadora de monoaminas, nesse caso especialmente as serotoninas.

MAOA-L – monoamine oxidase A low activity, monoamina oxidase A de baixa atividade em português.

MRI – magnetic ressonance imaging, imagem por ressonância magnética em português.

OXTR – oxytocin receptor gene, gene receptor de oxitocina em português.

PCL-R – psychopathy checklist revised, escala Hare de psicopatia em português.

PET – positon emission tomography, tomografia por emissão de pósitrons em português.

PPI – psychopathic personality inventory, inventário de personalidade psicopática em português.

RMH – response modulation hypothesis, hipótese da modulação de resposta em português.

RST – reinforcement sensivity theory, teoria da sensibilidade ao reforçamento em português.

RSVP – rapid serial visual representation,

SNP – single nucleotide polymorphism, polimorfismo de nucleotídeo único em português.


6

TC – transtorno de conduta, diagnóstico de personalidade do DSM.

TMS – transcranial magnetic stimulation, estimulação magnética transcraniana em português.

TPA – transtorno de personalidade antissocial, diagnóstico de transtorno de personalidade do DSM.

fMRI – functional magnetic ressonance imaging, imageamento por ressonância magnética funcional em
português.

vmPFC – ventromedial prefrontal cortex, córtex pré-frontal ventromedial em português.


7

Lista de tabelas

Tabela 1 – Características diagnósticas do PCL-R, fatores e facetas...........................15


Tabela 2 – Adaptações internas e externas ao PCL-R..................................................16
Tabela 3 – Características diagnósticas do PPI, agrupamentos e fatores.....................18
Tabela 4 – Explicação dos procedimentos experimentais.............................................23
8

Sumário
1. Introdução...........................................................................................................................9
2. História...............................................................................................................................10
3. Terminologia......................................................................................................................11
4. Características da psicopatia..............................................................................................13
5. Ferramentas diagnósticas...................................................................................................13
6. Teorias explicativas............................................................................................................19
6.1. Aspectos emocionais...................................................................................................19
6.2. Aspectos atencionais...................................................................................................21
6.3. Aspectos neurológicos.................................................................................................25
7. Neurofisiologia...................................................................................................................27
7.1. Amídala.......................................................................................................................28
7.2. Córtex pré-frontal........................................................................................................29
7.3. Insula...........................................................................................................................30
7.4. Núcleo accumbens.......................................................................................................30
7.5. Fascículo uncinado......................................................................................................31
8. Genética..............................................................................................................................32
9. Tratamento..........................................................................................................................35
10. Método................................................................................................................................37
11. Discussão............................................................................................................................38
12. Bibliografia.........................................................................................................................41
9

1. Introdução

O estudo da psicopatia envolve uma série de mal-entendidos, entre os quais destacam-se: a


ideia de considerá-la uma desordem; os estereótipos arraigados nas representações culturais que
a relacionam sempre com comportamento criminoso; ou as ideias de que sua origem se encontra
nas interações familiares da infância. Nesse contexto, torna-se necessária uma reflexão ao
respeito do que é o construto da psicopatia, e em especial, do que os estudos científicos mais
recentes têm a dizer a respeito, na tentativa de desmitificar e desestigmatizar essa condição.

A presente monografia tem por objetivo retomar o construto da psicopatia, apresentando a


sua história em terminologia e características diagnósticas, aliando-as com achados científicos
recentes, provenientes das neurociências, de experimentos e de estudos meta-analíticos. Para,
por fim apresentar a psicopatia como uma neurodiversidade – uma variante neurológica natural
diferente, como seguindo o que vem acontecendo no movimento autista (Jaarsma e Welin,
2012; Masataka, 2017; Ortega, 2008).

Especificamente, serão apresentadas (1) a psicopatia na história, desde as primeiras


descrições até as atuais formulações; (2) terminologias relacionadas à psicopatia, como
transtorno de personalidade antissocial (TPA), transtorno da conduta (TC) e sociopatia, assim
como a dificuldade acerca do próprio termo; (3) as características diagnósticas iniciais da
psicopatia e sua evolução com as ferramentas diagnósticas; (4) as ferramentas diagnósticas
relacionadas ao construto; (5) as teorias explicativas, baseadas nos aspectos emocionais,
atencionais ou cerebrais; (6) achados da neurofisiologia, em aspectos estruturais e funcionais
do cérebro, e nas áreas consideradas chave para a explicação da psicopatia; (7) achados da área
da genética, relativo a genes e polimorfismos genéticos; e por último, (8) o tratamento da
psicopatia, acerca das disfunções apresentadas por esses indivíduos. Por fim, será feita uma
análise discutindo as relações entre todos esses elementos, que levam a compreender a
psicopatia tanto como um construto de personalidade, quanto como uma neurodiversidade.
10

2. História

O filósofo grego Teofrasto (372 a.C. – 287 a.C.) descreve o caso do “homem
inescrupuloso” em seu livro “The Characters” (port. O caráter). Este seria aquele que

“[...] pega emprestado mais dinheiro a um credor que ele nunca pagou.... Ao
comercializar, lembra ao açougueiro de algum serviço que o emprestou e, parado
perto da balança, joga alguma carne, e se puder, um osso de sopa. Se ele suceder,
tanto melhor; se não, ele pegará um pedaço de tripa e sairá rindo” (Dutton, 2013,
p. 55).

Apesar de ser uma caracterização geral e não poder ser chamada de ‘psicopatia’, tem
sua relação com a de Philippe Pinel (1745 – 1826), no início dos anos 1800, quando ele a
denominou de “manie sans délire” (insanidade sem delírio). Essa caracterização foi advinda da
observação de determinados pacientes que repetidamente apresentavam comportamentos
antissociais e imorais, apesar de manter a capacidade de raciocínio intacta. Pinel assim nomeou
esses indivíduos insanos (manie), nos quais não havia qualquer indício de confusão mental ou
psicose (sans délire). Influenciado pelo trabalho de Pinel, James Cowles Prichard (1786 – 1848)
descreve a “insanidade moral”, referindo-se a sujeitos com desordem emocional, ao invés de
intelectual (Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016). No começo dos anos de 1900, Emil
Kraepelin (1856 – 1926) reconheceu a existência de criminosos que aparentavam estar imunes
aos efeitos da punição e que tinham personalidades deficientes em volição e afeto, buscando
refinar a descrição inicial de Pinel.

Entretanto foi com Hervey Cleckley (1903 – 1984) que o termo “psicopatia” finalmente
foi utilizado, ganhando força em seu livro “The Mask of Sanity” (port. A máscara de sanidade),
escrito em 1941. Foi a primeira tentativa de produzir critérios diagnósticos organizados para o
diagnóstico de tal. Nela Cleckley descrevia sujeitos inteligentes, com pobreza emocional, sem
senso de vergonha, egocêntricos, com charme superficial, ausência de culpa e ansiedade,
imunes à punição, irresponsáveis, imprevisíveis, manipuladores e com um estilo de vida
interpessoal transiente. Ele remarca que esses sujeitos não necessariamente eram violentos ou
criminosos, podendo ser advogados e até psiquiatras.

Na década de 60 Robert Hare (1934 – ) se interessa pelo assunto e dá início às suas


pesquisas na área da psicopatia, tornando-se a atual referência no assunto. Hare teve um
11

importante papel no desenvolvimento de pesquisas da condição, escrevendo artigos e livros


sobre o assunto, além da produção da ferramenta diagnóstica de psicopatia mais conhecida e
utilizada na atualidade: o Psychopathy Checklist, ou PCL, em 1980, seguido da sua revisão
PCL-Revised (PCL-R; 2013).

3. Terminologia

O termo “psicopatia”, de forma literal, significa “doença mental” (psique, significando


“mente”, e pathos, “doença”). Entretanto no contexto clínico e acadêmico ele é utilizado com
significado diferente, referindo-se a indivíduos com comportamentos específicos, e não aos
diversos tipos de doenças mentais.

Utilizado geralmente de forma intercambiável é o termo “sociopatia”, que foi


inicialmente cunhado por Birnbaum (1909, Alexandra e Lopes, 1989; Skeem et al., 2011) com
o propósito de remarcar a origem social de comportamentos antissociais. Hare comenta acerca
de, especialmente sociólogos, utilizarem essa nomenclatura para remarcar uma origem
inteiramente social, enquanto os que acreditam na interação biológica, psicológica e genéticos
utilizam o termo psicopatia (Hare, 2013).

Apesar de serem utilizados de forma intercambiável, alguns autores remarcam a


importância da distinção entre os termos sociopatia e psicopatia. Hunter (2010) escreve que é
útil pensar a psicopatia como produto da genética, principalmente, enquanto a sociopatia está
mais sujeita às influências ambientais. De forma semelhante, Aluna e Carvalho (1989) comenta
que não se deve confundir os termos, remarcando a influência das circunstâncias sociais no
caso da sociopatia, e psicopatia como uma característica nata do indivíduo.

Não obstante, Hare e Babiak (2006 apud Pemment, 2013) reconhecem uma clara
distinção entre psicopatas e sociopatas, com o primeiro não tendo senso de moralidade nem
empatia, assim como outros traços, enquanto isso a sociopatia indica um senso de moralidade
e uma consciência moral desenvolvida, mas não sendo a mesma da cultura no qual o indivíduo
está inserido. Ramsland (2007 apud Perez, 2012) faz uma diferenciação semelhante, escrevendo
que o psicopata é incapaz de sentir culpa, independente do contexto, enquanto o sociopata é
capaz de sentí-la, ao menos dentro do contexto do grupo, mas não se importando com as normas
sociais, violando-as sem hesitação caso seja necessário para alcançar seus objetivos ou desejos.
12

Pemment (2013) menciona também o intercâmbio do termo sociopatia com o termo


“sociopatia adquirida”. Ele foi inicialmente utilizado por António Damasio ao descrever o caso
de um paciente com lesões no córtex órbitofrontal, o que ocasionou mudanças de
comportamento que se assemelhavam aos dos psicopatas, o que também ocasionou no cunho
do termo “pseudopsicopatia” (Koenigs, 2012). O caso mais notório de sociopatia adquirida
provavelmente é o de Phineas Gage, que sofreu um acidente que danificou a parte frontal do
seu cérebro, fazendo Gage tornar-se irresponsável e indiferente às regras sociais da época1. É
importante notar que essas descrições de “pseudopsicopatia” e “sociopatia adquirida” são
diferentes das conceitualizações propostas anteriormente pois elas são oriundas de lesões
cerebrais ou demência.

Outra terminologia adotada para referir-se à psicopatia é o “transtorno de personalidade


antissocial”, ou simplesmente TPA, descrito no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais ou DSM (American Psychiatry Association APA, 2014). Em sua primeira edição de
1952, a psicopatia, ou “personalidade psicopática” era passível de ser diagnosticada, mas logo
na sua revisão no mesmo ano o termo foi substituído por “personalidade sociopática” (Cleckley,
1988). Em 1968, na sua segunda edição, a terminologia foi mudada para “personalidade
antissocial”, mantendo-se nas próximas versões. Na sua quinta edição é mencionada que o TPA
também já foi “referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno de personalidade dissocial”
(p. 659, American Psychiatry Association APA, 2014).

Diversos autores notam que a psicopatia não deve ser confundida com o transtorno de
personalidade antissocial, devendo conceitualizá-la como traço de personalidade, enfatizando
características afetivas e interpessoais, com psicopatas não necessariamente tendo o TPA
(Alexandra e Lopes, 1989), a fim de destituir o construto de características necessariamente
criminosas.

1
Recentes revisões do caso do Phineas Gage (Goldenberg, 2004; Macmillan, 2000) apontam para o fato de que
as mudanças apresentadas por Gage após o acidente foram temporais, sendo também possível que algumas
delas tenham sido o fruto de uma descrição exagerada do médico que originalmente acompanho e descreveu o
caso, o Dr. John Harlow (Macmillan, 2000).
13

4. Características da psicopatia

O considerado “psicopata de Cleckley” é descrito como uma pessoa inteligente,


caracterizada pela pobreza de emoções, falta de senso de vergonha, egocentricidade, charme
superficial, falta de sentimento de culpa, falta de ansiedade, imunidade à punição,
imprevisibilidade, irresponsabilidade, manipulação e comportamento antissocial com pouca
motivação (Cleckley, 1988). Desde essa formulação de Cleckley, diversas outras descrições
apareceram na literatura, de psicopatas sendo caracterizados pelo afeto “raso”, falta de empatia
ou remorso, e inclinação para um estilo de vida parasita e impulsivo, geralmente levando a
comportamentos criminosos (Hare, 2013). São descritos como insensíveis aos direitos alheios
e propensão a comportamentos predatórios e violentos, sem empatia, senso de moralidade ou
remorso, sendo manipuladores, sem consideração aos sentimentos alheios (Hecht, 2011).

É importante notar que muitas definições incluem comportamentos criminosos,


“predatórios” ou violentos, sendo considerados praticamente inerentes ao construto da
psicopatia. Entretanto, diversos autores recentemente argumentam acerca de uma perspectiva
dimensional e não-criminosa do construto, voltando-o para uma constelação de traços de
personalidade, envolvendo busca de sensações, falta de remorso, falta de empatia, manipulação
e dominância social (Patrick, Fowles e Krueger, 2009 apud Hauck Filho, Teixeira e Dias, 2012;
Warren et al., 2003). Sendo assim, psicopatia estaria relacionada como tendo maior risco de
apresentar comportamentos antissociais (White e Blair, 2015), mas sendo não necessário ao
mesmo.

Essas características têm acompanhado historicamente a definição da psicopatia,


aparecendo de maneira recorrente nas diferentes ferramentas diagnósticas, as quais refletem as
posturas que dominaram o construto da psicopatia em um determinado contexto histórico.

5. Ferramentas diagnósticas

Como um construto crescente ao público e à academia, a psicopatia acabou por ter a


elaboração de ferramentas capazes de diagnosticar a condição. A primeira descrição de itens
foi formulada por Cleckley (1951), contendo dezesseis itens descritos abaixo:
14

1. Charme superficial e boa “inteligência”


2. Ausência de ilusões e outros sinais de pensamento irracional
3. Ausência de nervosismo ou manifestações psiconeuróticas
4. Não-confiável
5. Falta de verdade e insinceridade
6. Falta de remorso ou vergonha
7. Comportamento antissocial inadequadamente motivado
8. Julgamento pobre e falha de aprender por experiência
9. Egocentricidade patológica e incapacidade de amar
10. Pobreza geral nas reações afetivas
11. Perda de insight específico
12. Irresponsividade geral nas relações interpessoais
13. Comportamento fantástico e não-convidativo com bebida e algumas vezes
sem
14. Suicídio raramente realizado
15. Vida sexual impessoal, trivial, e pobremente integrada
16. Falha de seguir qualquer plano de vida

Essa primeira caracterização realizada por Cleckley ofereceu base à mais utilizada
ferramenta diagnóstica da atualidade, feita por Hare (2013): o Psychopathy Checklist – Revised,
ou PCL-R (sigla do inglês). O PCL-R é um questionário de vinte e um itens, tendo um escore
máximo de quarenta, em cada item pode ser marcado como 0, “não se aplica”; 1, “presente em
certa medida”; ou 2, “definitivamente presente”; a escala é dividida em dois fatores, o primeiro
referindo-se características afetivas e interpessoais, e a segunda com aspectos impulsivos e
antissociais (Hauck Filho, Teixeira e Almeida, 2014; Skeem et al., 2011). Dentro do primeiro
fator encontram-se duas facetas, a primeira relacionada a aspectos interpessoais, contendo itens
como Loquacidade/Charme superficial, Senso de si grandioso, Mentira patológica e
Engabelador/Manipulativo; enquanto a segunda faceta retrata aspectos afetivos, como Falta de
remorso ou culpa, Afeto “raso”, Insensibilidade/Falta de empatia, e Fracasso em aceitar
responsabilidade de suas próprias ações. No segundo fator, existem também mais duas facetas,
sendo a terceira faceta relacionada a estilo de vida, compreendendo itens como Necessidade de
estimulação/Tendência ao tédio, Estilo de vida parasitário, Ausência de metas realistas a longo
prazo, Impulsividade e Irresponsabilidade; na quarta faceta estão os itens relacionados a
comportamentos antissociais, como Controle comportamental fraco, Problemas
15

comportamentais precoces, Delinquência juvenil, Revogação de condicional, e Versatilidade


criminal.

Tabela 1: Características diagnósticas do PCL-R, fatores e facetas

Características diagnósticas do PCL-R


Fator 1 Fator 2
Faceta Interpessoal Faceta Afetiva Faceta Estilo de vida Faceta
Comportamento
s antissociais
Loquacidade/Charme Falta de remorso ou Necessidade de Controle
superficial culpa estimulação/Tendênci comportamental
a ao tédio fraco
Senso de si grandioso Afeto “raso” Estilo de vida Problemas
parasitário comportamentai
s precoces
Mentira patológica Insensibilidade/Falt Ausência de metas Delinquência
a de empatia realistas a longo prazo juvenil
Engabelador/Manipulativ Fracasso em aceitar Impulsividade e Revogação de
o responsabilidade irresponsabilidade condicional
pelas próprias ações
Versatilidade
criminal

Apesar de extensivamente utilizado para o diagnóstico de psicopatia, o PCL-R é


criticado pela sua construção. Skeem e Cooke (2010a) criticam a equivalência da ferramenta
com o construto da psicopatia. Eles comentam acerca da psicopatia não poder ser reduzida à
escala, erro cometido por alguns autores que se baseiam nela para a construção de modelos
explicativos da psicopatia. Outra crítica que sofre desses autores é o diagnóstico categórico
utilizado pela ferramenta, que recomenda um ponto de corte a partir de 30 de 40 do escore
máximo da escala. Eles argumentam acerca da perspectiva dimensional do construto, uma
configuração de traços, ao invés de uma categoria discreta, argumentando acerca de evidências
de diversos estudos utilizando técnicas taxonométricas reforçando essa perspectiva dimensional
(Kennealy et al., 2010), ou seja, como um gradiente. De fato, diversos estudos acerca da
16

psicopatia utilizam-se de diferentes pontos de corte (Hiatt, Lorenz e Newman, 2002;


Krusemark, Kiehl e Newman, 2016; Schmitt e Newman, 1999; Vitale, Brinkley e Newman,
2007; Yang et al., 2009), diferenciações entre os fatores do PCL-R (Baskin-Sommers, Curtin e
Newman, 2015; Larson et al., 2013; Motzkin et al., 2011; Newman et al., 2010; Pujara et al.,
2013; Yoder et al., 2015), assim como facetas dos próprios fatores (Dargis, Newman e Koenigs,
2016; Pera-Guardiola et al., 2016), e até mesmo o uso de escalas de ansiedade para
complementar a escala (Dargis, Mattern e Newman, 2017; Hiatt, Lorenz e Newman, 2002;
Newman e Schmitt, 1998; Schmitt e Newman, 1999; Smith, Arnett e Newman, 1992) para lidar
com essa problemática.

Tabela 2: Adaptações internas e externas à escala PCL-R

Adaptações à escala PCL-R


Internas Externas
Pontos de corte diferentes do pedido pela Uso de escalas de ansiedade para
escala complementar a ferramenta
Diferenciação entre os fatores da própria
escala
Diferenciação entre as facetas dos fatores da
própria escala

Outra crítica que o PCL-R sofre desses autores e muitos outros, é o foco excessivo nos
comportamentos criminais ao construto da psicopatia (Hauck Filho, Teixeira e Dias, 2012;
Skeem et al., 2011; Tamatea, 2015). Esta é de extrema relevância para diversos estudos, tendo
uma meta-análise recente de Kenneally e colaboradores (2010) acerca da relação entre o PCL-
R e violência, nela os autores distinguiram entre os fatores 1 (afeto interpessoal) e 2 (desvio
social), descrevendo este como não sendo específico à psicopatia, retomando o debate das
conceitualizações de psicopatias baseadas na personalidade ou comportamentos. Como
resultado da análise, os autores encontraram que os fatores independentemente preveem a
violência, com o fator de desvio social tendo maior utilidade em capacidade de previsão. Além
disso, o desvio padrão de um (1) no fator de desvio social aumenta o risco de violência em 60%,
enquanto o mesmo desvio em afeto interpessoal aumenta em apenas 14%.

Outra ferramenta diagnóstica bastante conhecida é a Levenson Self-Report Psychopathy


(LSRP, sigla em inglês), que é um instrumento de autorrelato breve, contendo 26 itens. Ele
17

segue uma escala Likert de cinco pontos, que vai desde “discordo completamente” até
“concordo completamente”. A escala foi desenvolvida em uma população não-
institucionalizada (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995), diferenciando-se da perspectiva de
população criminosa do PCL-R. Ela é composta de dois fatores, “psicopatia primária”, que
busca avaliar aspectos emocionais ou afetivos (egocentrismo, insensibilidade e manipulação),
e “psicopatia secundária”, que avalia um estilo de vida psicopático (impulsividade e estilo de
vida de autoderrotista). Esses fatores foram advindos de outros inventários, como o de
Sensation Seeking, busca de sensações, em português, de Zuckerman (1979 apud Levenson,
Kiehl e Fitzpatrick, 1995) e o Multidimensional Personality Questionnaire, questionário
multidimensional de personalidade, em português (MPQ, Tellegen, 1982 Levenson, Kiehl e
Fitzpatrick, 1995). Os fatores compreendem: ação antissocial (ing. antisocial action),
desinibição (ing. desinhibition), suscetibilidade ao tédio (ing. boredom susceptibility), busca de
experiência (ing. experience seeking), busca de emoção e aventura (ing. thrill and adventure
seeking), evitação de danos (ing. harm avoidance), e reação ao estresse (ing. stress reaction),
com este último relacionando-se ao traço ansiedade. Na pesquisa para o desenvolvimento da
escala, os autores encontraram que a psicopatia primária estava correlacionada negativamente
com ansiedade, enquanto a psicopatia secundária correlacionava-se positivamente.

Crescente no seu uso, existe também o Inventário de Personalidade Psicopática


(Psychopatic Personality Inventory ou PPI, sigla do inglês), criado por Scott Lilienfeld (1960
– ) com o objetivo de diagnosticar características de personalidade psicopática na população.
Assim como o LSRP, o PPI é uma escala de autorrelato, contendo 187 itens, seguindo uma
escala Likert de quatro pontos (1 = falso, 2 = majoritariamente falso, 3 = majoritariamente
verdadeiro, 4 = verdadeiro). Esses itens abrangem oito fatores: Egocentricidade maquiavélica
(ME; ing. machiavellian egocentricity), Não-conformidade impulsiva (IN; ing. impulsive
nonconformity), Externalização de culpa (BE; ing. blame externalization), Não-planejamento
despreocupado (CN; ing. carefree nonplanfulness), Destemor (ing. fearlessness; F), Potência
social (SOP; ing. social potency), Imunidade ao estresse (STI; ing. stress immunity), e Frieza
(C; ing. coldheartedness). Eles podem ser agrupados em fatores, sendo o primeiro (PPI-I)
Impulsividade autocentrada (ME + IN + BE + CN; ing. self-centered impulsivity), o segundo
(PPI-II) Dominância destemida (SOP + F + STI; ing. fearless dominance), com Frieza (C)
sendo representada como um terceiro fator. Essa escala foi validada em população carcerária e
comunitária (Neumann, Malterer e Newman, 2008), assim como o LSRP.
18

Tabela 3: Características diagnósticas do PPI, fatores e grupos de fatores

Características diagnósticas do PPI


Agrupamento Impulsividade Agrupamento Dominância Agrupamento e
autocentrada destemida Fator Frieza (C)
Fatores
Egocentricidade maquiavélica Destemor (F)
(ME)
Não-conformidade impulsiva (IN) Potência social (SOP)
Externalização de culpa (BE) Imunidade ao estresse (STI)
Não-planejamento despreocupado
(CN)

É importante delinear o transtorno de personalidade antissocial (TPA), proveniente do


DSM (American Psychiatry Association APA, 2014). Em sua característica diagnóstica, para
ser diagnosticado com TPA o indivíduo deve acatar com três ou mais dos seguintes critérios:

1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos


legais conforme indicado pela repetição de atos que constituem
motivos de detenção.
2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso
de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal.
3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro.
4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas
corporais ou agressões físicas.
5. Descaso pela segurança de si ou de outros.
6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida
em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações
financeiras.
7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou
racionalização a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas.

É importante notar que a atual quinta edição revisada do manual escreve que o TPA já
foi referido anteriormente como “[...] psicopatia, sociopatia ou transtorno de personalidade
19

dissocial” (p. 659, American Psychiatry Association APA, 2014). Como já foi citado
anteriormente, a psicopatia já apareceu brevemente no DSM, sendo substituída por sociopatia
e então transtorno de personalidade antissocial. A opção do DSM de modificar para a atual
nomenclatura é proveniente do fato que ela é mais abrangente, focando-se nos comportamentos
antissociais, não importando a sua etiologia (Blair, Mitchell e Blair, 2006; Hauck Filho,
Teixeira e Dias, 2012; Skeem et al., 2011).

Por fim, o transtorno da conduta (TC) é outro diagnóstico proveniente do DSM que tem
sua relação com a psicopatia, sendo descrito como um padrão de comportamento repetitivo no
qual os direitos básicos alheios, normas ou regras sociais relevantes e apropriadas para a idade
são violados. É importante notar que existe uma especificação no transtorno relacionada com a
psicopatia, “emoções pró-sociais limitadas” (p. 470, American Psychiatry Association APA,
2014). Essa especificação reflete aspectos interpessoais e afetivos do indivíduo, tendo quatro
elementos, devendo encaixar-se no mínimo em dois deles: ausência de remorso ou culpa,
insensível – falta de empatia, despreocupado com o desempenho, e afeto superficial ou
deficiente. Esses critérios relacionam-se a traços de insensibilidade–afetividade restrita (CU;
ing. callous-unemotional), que são parte de um fenótipo, considerados também traços
psicopáticos, mas em crianças e adolescentes (Blair, 2012; Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil,
2016; Larson et al., 2013; Motzkin et al., 2011; Seara-Cardoso e Viding, 2015; Skeem et al.,
2011; Tamatea, 2015; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Viding et al., 2010; White e Blair,
2015).

Todas as ferramentas diagnósticas supracitadas estão relacionadas em algum grau com


algumas das teorias que em torno da psicopatia têm sido desenvolvidas, e as quais refletem a
integração dos diferentes achados, tanto ao nível de psicológico quanto fisiológico, que
denotam a complexidade do tema.

6. Teorias explicativas

6.1. Teorias baseadas em aspectos emocionais


Diversas teorias foram desenvolvidas para explicar os achados acerca da psicopatia,
Cleckley (1951) propunha que as diferenças apresentadas pelos psicopatas eram
provenientes de uma dificuldade de “integração das consequências afetivas da experiência”
(p. 373), que culminava na falta de impulsos a objetivos importantes, faltando insight da
20

diferença entre o psicopata e outros homens. Essa é uma perspectiva teórica baseada no
aspecto emocional, como muitas outras apareceram seguindo o mesmo princípio, a mais
famosa teoria relacionada à disfunções no processamento afetivo é a de Lykken (Hamilton,
Hiatt Racer e Newman, 2015; Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016; Koenigs, 2012;
Moul, Killcross e Dadds, 2012; Newman, 1998; Newman e Malterer, 2009; Pera-Guardiola
et al., 2016; Schmitt e Newman, 1999), com a “low fear hypothesis” (hipótese do pouco
medo). Lykken foi o primeiro a realizar experimentos para avaliar déficits no medo em
psicopatas (Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016) através de testes de aprendizado de
esquiva passiva (ing. passive avoidance learning; Harpur e Hare, 1990; Larson et al., 2013;
Newman e Schmitt, 1998; Pujara et al., 2013; Vitale et al., 2005). Diversos outros estudos
buscaram utilizar outros testes relacionados ao condicionamento por medo, como choques
elétricos (Krusemark, Kiehl e Newman, 2016; Larson et al., 2013; Newman et al., 2010;
Rothemund et al., 2012), sobressalto potencializado pelo medo (ing. fear-potentiated
startle; Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2013; Larson et al., 2013; Newman et al.,
2010; Rothemund et al., 2012), resposta galvânica da pele (Rothemund et al., 2012), teste
RSVP (ing. rapid serial visual presentation; Wolf et al., 2012), testes Stroop figura-palavra
(Vitale et al., 2005, 2015; Vitale, Brinkley e Newman, 2007) e Stroop palavra-cor (Smith,
Arnett e Newman, 1992).
Experimentos de esquiva passiva envolvem a inibição de comportamentos que
levariam à punição, neles existem dois tipos de erros: por omissão (falhar em responder a
um estímulo previamente reforçado) ou por comissão (responder a um estímulo
previamente punido). Neste tipo de experimento os psicopatas apresentavam mais erros de
comissão que os controles, mas não mais erros de omissão (Newman e Schmitt, 1998; Vitale
et al., 2005). Nos testes de Stroop, uma informação – que é o foco – é colocada em conjunto
de outra informação incongruente. No caso da figura-palava, é um desenho para ser
identificado que contém uma palavra incongruente sobreposta a ela (e.g.: desenho de um
porco com a palavra “vaca”); no caso da palavra-cor, para ler o nome da cor, sendo esta
escrita com uma cor diferente (e.g.: palavra “vermelho” escrita com a cor azul). Nesses
testes os psicopatas apresentam menor interferência (Vitale et al., 2005, 2015), assim sendo
menos afetados por informações periféricas ao objetivo.
Com resultado semelhante, na tarefa de RSVP os psicopatas apresentaram menor
interferência dos distratores, comparados aos controle (Wolf et al., 2012). Nessa tarefa uma
série de palavras, números ou letras são apresentadas rapidamente – os diversos estímulos
distratores; com dez estímulos por segundo geralmente – com algumas duas delas sendo o
21

objetivo do teste (e.g.: identificar números no meio de letras), que aparecem em dois
momentos diferentes. Essa tarefa verifica o attentional blink (custo temporal de realocar
atenção seletiva; AB; port. piscar atencional). O reflexo de sobressalto é uma resposta
reflexiva fisiológica a determinado estímulo, sendo indicação de medo no organismo – é
consenso de ser mediado pela amídala, testes no FPS geralmente são realizados com
barulhos altos inesperados ou choques elétricos. A resposta galvânica da pele mede a
condutância elétrica da pele, assim como a medição de frequência cardíaca, é uma medida
para avaliar a indicação de resposta do sistema nervoso autônomo, proveniente de medo,
reflexo de sobressalto, raiva ou antecipação de estímulo punitivo.
Blair (Blair, 2012; Blair e Mitchell, 2009; Wolf et al., 2012) é outro autor que postula
uma perspectiva de déficit emocional sendo central na psicopatia, apoiando-se em uma
explicação de base neurobiológica de disfunção na amígdala e córtex órbito-frontal (Blair,
2012; Blair, Mitchell e Blair, 2006), chamando-a de “sistemas integrados da emoção” (ing.
integrated emotion systems; Blair, Mitchell e Blair, 2006). De forma semelhante Kiehl
postulou um modelo chamado de “hipótese da disfunção paralímbica” (Hamilton, Hiatt
Racer e Newman, 2015), que diferencia-se da de Blair por focar mais em outras áreas que
não a amígdala, como a insula, os córtices cingulados, giro para-hipocampal, giro temporal
superior anterior, além do córtex órbito-frontal.
Existe também a “hipótese do marcador somático”(ing. somatic marker hypothesis;
Damasio, 2012), apresentada por António Damásio no seu livro “O erro de Descartes”, com
a primeira edição em 1994. Baseada em achados neurocientíficos, a proposta dessa hipótese
é que as emoções guiam ou enviesam o comportamento e decisões, postulando que a
racionalidade advém de informações emocionais. O córtex ventromedial frontal agiria como
um repositório, estando envolvido na formação de disposições entre o conhecimento factual
e estados bio-regulatórios. Quando alguma decisão está sendo feita, o estado bio-regulatório
automaticamente provê um viés para a mesma, essa retroalimentação sensorial é o
“marcador somático” que, de forma automática, orienta o organismo a “categorizar” uma
opção como benéfica ou não para ele (Bechara et al., 1997).

6.2. Teorias baseadas em aspectos atencionais


Em contraste às teorias baseadas em modelos emocionais, existem as teorias de modelo
atencional. O modelo mais conhecido com essa base é o a “hipótese da modulação de
resposta” (RMH; Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2011; Blair e Mitchell, 2009;
Hamilton, Hiatt Racer e Newman, 2015; Hamilton e Newman, 2016; Moul, Killcross e
22

Dadds, 2012; Newman, 1998; Newman e Baskin-Sommers, 2016; Pera-Guardiola et al.,


2016; Rothemund et al., 2012; Vitale et al., 2005, 2015; Vitale, Brinkley e Newman, 2007).
A RMH propõe que psicopatas têm uma deficiência no processamento de pistas contextuais
enquanto estão ocupados com organização ativa e implementação de comportamentos
orientados a objetivos (ing. goal-directed behaviors; Newman, 1998). A modulação de
resposta é entendida como a atenção, voltada para um arranjo de respostas dominantes (que
são o foco primário da atenção), capaz de acomodar pistas não-dominantes não antecipadas.
Uma deficiência nessa modulação impossibilitaria o organismo de adequar novas pistas
contextuais não-dominantes no seu comportamento. Essa teoria prevê que os psicopatas
teriam diferentes respostas a depender da situação na qual estão inseridos, previsão que é
corroborada por diversos dados experimentais (Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2011;
Newman, 1998; Newman et al., 2010; Newman e Schmitt, 1998; Vitale et al., 2015).
Na tentativa de especificar qual o tipo de atenção relacionado à RMH, Baskin-Sommers
e colegas (2011) propuseram um experimento para testar qual mecanismo atencional está
relacionado ao déficit apresentado por psicopatas. O estudo constatou que psicopatas
apresentam uma diferença significativa na modulação do sobressalto potencializado pelo
medo (FPS) quando na condição de foco alternativo inicial, condição na qual a alternativa
ao foco de atenção era apresentada anteriormente à informação relevante à ameaça (nesse
artigo, choque e sonda de sobressalto associados à cor de palavra). Nas condições as quais
o foco de atenção alternativo era apresentado após a informação acerca da ameaça, uma
diferença no FPS não aparecia. Os autores deram a esse achado o nome de “gargalo
atencional” (ing. attention bottleneck), por estar relacionado ao fato de que quando o
psicopata é apresentado a um foco de atenção relacionado a um objetivo, ele tem dificuldade
na mudança automática desse foco atencional para informações relevantes à punição
(Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2011). Diversos outros estudos foram realizados com
o objetivo de verificar esses achados experimentais (Dargis, Mattern e Newman, 2017;
Larson et al., 2013; Wolf et al., 2012), esses estudos especificam os achados da RMH, assim
como proporcionam ainda mais suporte à teoria.
23

Tabela 4: Explicação dos procedimentos experimentais (o que buscam avaliar e como


são feitos)

Nome Procedimentos experimentais


Tarefa instruída de condicionamento Para avaliar o aprendizado e memória do
por medo organismo, a ele são apresentados estímulos
neutros – que não geram emoções – em conjunto
com um estímulo aversivo, como choques elétricos
ou barulho alto inesperado (Rothemund et al.,
2012).
Tarefa instruída de condicionamento Semelhante ao anterior, são feitas algumas
por medo (com foco no aspecto condições específicas as quais o foco atencional
atencional) que irá ajudar o organismo a discriminar o estímulo
neutro – informação relevante – que virá junto com
o estímulo aversivo – ameaça. Quatro são as
condições: com um foco alternativo inicial ou final
(apresentados, respectivamente, antes ou depois da
informação relevante à ameaça) ou somente a
informação ameaçadora relevante apresentada no
início ou fim. (Baskin-Sommers, Curtin e
Newman, 2011; Larson et al., 2013; Newman et al.,
2010).
Reflexo de sobressalto potencializado Para indicar a reação fisiológica reflexa do
pelo medo (FPS) organismo (como piscar de olhos, resposta
galvânica e frequência cardíaca), são utilizados
estímulos ameaçadores, os mais comuns sendo um
barulho alto inesperado e choque elétrico (Baskin-
Sommers, Curtin e Newman, 2011, 2013; Dargis,
Newman e Koenigs, 2016; Newman et al., 2010;
Vitale et al., 2015).
Esquiva passiva Para verificar o aprendizado e memória do
organismo, eles são expostos a situações nas quais
houveram algum tipo de punição ou estimulação
aversiva (estímulos ameaçadores). Nesses
24

Nome Procedimentos experimentais


experimentos são avaliados dois tipos de erros: por
omissão (falhar em responder a um estímulo
previamente reforçado) ou por comissão
(responder a um estímulo previamente punido). Os
estímulos aversivos mais comuns utilizados são
perda de pontos ou dinheiro (Newman e Schmitt,
1998; Vitale et al., 2005).
Piscar atencional (AB; ing. attentional Para verificar o custo de tempo para a alocação da
blink) atenção seletiva, geralmente utiliza-se a tarefa de
rapid serial visual representation (RSVP). Nela
são apresentadas rapidamente uma série de
palavras, números ou letras – os diversos estímulos
distratores; com dez estímulos por segundo
geralmente –, com algumas duas delas sendo o
objetivo do teste (e.g.: identificar números no meio
de letras), que aparecem em dois momentos
diferentes (Wolf et al., 2012).
Testes Stroop figura-palava Para demonstrar a interferência no tempo de reação
de uma tarefa, uma informação – que é o foco – é
colocada em conjunto de outra informação
incongruente (Vitale et al., 2005, 2015; Vitale,
Brinkley e Newman, 2007). No caso desse teste, é
apresentado um desenho para ser identificado que
contém uma palavra incongruente sobreposta a ela
(e.g.: desenho de um porco com a palavra “vaca”).
Testes Stroop palavra-cor Semelhante ao anterior, entretanto nesse caso, é
diferente por apresentar uma palavra-cor, para ler o
nome da cor, sendo esta escrita com uma cor
diferente (e.g.: palavra “vermelho” escrita com a
cor azul; Smith, Arnett e Newman, 1992).
Pesquisa visual (ing. visual search) Para avaliar o foco atencional, os sujeitos são
colocados para fazer uma procura ativa por um
25

Nome Procedimentos experimentais


objeto, sendo este colocado em conjunto a outros
objetos – os distratores. Uma variação utilizada é o
paradigma sequencial-simultâneo, no qual os
estímulos (geralmente letras) são apresentados de
forma sequencial ou simultaneamente, com os
sujeitos indicando da maneira mais rápida e correta
onde estava o estímulo (Hamilton e Newman,
2016; Kosson e Newman, 1986; Krusemark, Kiehl
e Newman, 2016).
Potenciais de eventos relacionados Para verificar a atividade cerebral específica
(ERP; ing. event related potential) quando os indivíduos são expostos a determinados
estímulos, depende bastante da tarefa relacionada,
podendo ser Stroop figura-palavra (Vitale et al.,
2015), condicionamento aversivo diferencial
(Rothemund et al., 2012), pesquisa visual
(Krusemark, Kiehl e Newman, 2016) ou análise de
faces (Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2013;
Rothemund et al., 2012).
Tempo de reação O tempo de reação é o tempo que passa desde a
apresentação de um estímulo até a resposta motora
a ele (Dargis, Mattern e Newman, 2017; Hamilton
e Newman, 2016; Harpur e Hare, 1990; Kosson e
Newman, 1986).

6.3. Teorias baseadas em aspectos neurológicos

Mais recentemente, foi formulada a “teoria de integração prejudicada” (II, ing. impaired
integration theory) com o objetivo de integrar os aspectos interdependentes e bidirecionais da
cognição e afeto (Hamilton, Hiatt Racer e Newman, 2015). O processamento de informações
envolve uma cascata de eventos neurobiológicos que transformam informações sensoriais em
representações neurais e comportamento subsequente, sendo assim a cognição é proveniente da
interação e integração de processamentos top-down (cima para baixo, processos de córtices
superiores, movido por objetivos e metas) e bottom-up (baixo para cima, processos de regiões
26

sensoriais, modulando informações provenientes dos sentidos, movido por estímulos; Blair e
Mitchell, 2009; Diamond, 2014) com a falha em qualquer um desses processos ocasionando
consequências para a elaboração e integração da informação. De acordo com a teoria psicopatas
teriam uma menor capacidade no processamento simultâneo de informações, prejudicando o
processamento de estímulos complexos, tornando-o superficial e limitado (Hamilton, Hiatt
Racer e Newman, 2015). Assim sendo, os sintomas afetivos e desinibitórios teriam como
consequência a dificuldade de rapidamente integrar os componentes multidimensionais dos
estímulos sensoriais (Hamilton e Newman, 2016). A teoria especifica algumas redes cerebrais
que seriam importantes para a integração de informações, como as redes de controle cognitivo,
que inclui a rede de controle frontoparietal (FpCN) e rede cíngulo-opercular (CoN), a rede de
atenção dorsal (ing. dorsal attention network), a rede de atenção ventral (ing. ventral attention
network), a rede em modo padrão (DMN, ing. default mode network), e rede de saliência (SN,
ing. salience network).

Seguindo também uma perspectiva de integração de áreas cerebrais, foi formulado o


modelo da ativação amidalar diferencial (DAAM; ing. model of differential amygdala
activation) por Moul e colegas (2012). Nele as disfunções cognitivas e emocionais são
atribuídas à amídala, as funções amidalares serão descritas detalhadamente na próxima seção
de neurofisiologia. Dividindo a amídala em duas principais regiões, a amídala basolateral
(BLA; ing. basolateral amygdala; sendo constituinte pelos núcleos lateral, basal e acessórios
basais) e amídala central (CeA; ing. central amygdala; constituída pelos núcleos central e
medial). O modelo propõe que em psicopatas a BLA será tonicamente inativa, enquanto a CeA
terá uma ativação normal. A decisão para tal foco na amídala está no fato que ela ser
reconhecida por regular o FPS, aprendizado por associação, reconhecimento de medo e
respostas condicionadas de medo (Moul, Killcross e Dadds, 2012).

Existe também a “teoria da sensitividade ao reforçamento” (reinforcement sensivity


theory, ou RST) proposta inicialmente por Gray (Corr e Pickering, 2008), ela é uma teoria da
personalidade que postula a existência de três sistemas básicos de comportamento atuantes em
situações emocionais: o sistema de ativação comportamental (BAS, ing. behavioral approach
system), o sistema de inibição comportamental (BIS, ing. behavioral inhibition system), e o
sistema de luta-fuga-congelamento (FFFS, ing. fight/flight/freeze system). O BAS estaria
relacionado à mediação de todos os estímulos “apetitivos”, ou seja, ligados ao reforçamento
(positivo e negativo), relacionando-se a aspectos de personalidade como otimismo, orientação
à recompensa e impulsividade. O BIS é responsável pela resolução de conflitos a objetivos (ing.
27

goal conflict) em geral, gerando emoções de ansiedade, processos de avaliação de risco e


escaneamento da memória e ambiente para a resolução do conflito. O FFFS é responsável por
mediar reações a todos os estímulos aversivos, condicionados e incondicionados, mediando o
medo, compreendendo áreas da personalidade como tendência ao medo e evitação. Alguns
estudos se utilizam dessa teoria para tentar explicar as diferenças em psicopatas,
especificamente psicopatia primária e secundária (Barrós-Loscertales et al., 2006; Newman et
al., 2005). De acordo com esses estudos, psicopatas primários estariam relacionados a um BIS
fraco e BAS normal, e o secundário com BAS hiperativo, com BIS médio ou superativado.

Diversas teorias buscaram integrar construtos psicológicos com construtos


neurofisiológicos para propor uma explicação da psicopatia. Especialmente como uma
condição na qual uma série de alterações em diversos sistemas provocam um determinado
padrão comportamental. É importante notar que essas teorias não são excludentes entre si,
podendo complementar-se, utilizando-se de aspectos emocionais, atencionais e neurológicos
em conjunto. Aliados a esses achados, surgiram também outras teorias baseadas em achados
neurofisiológicos de pacientes, aliando as teorias a achados experimentais, teóricos e
neurofisiológicos, ou de modelos experimentais os quais trazem novas hipóteses ao respeito da
psicopatia.

7. Neurofisiologia

Muitos dos estudos atuais referem-se a achados da neurociência para apoiarem as suas
teorias explicativas acerca da psicopatia. Diversos deles referenciam determinadas áreas de
forma sistemática, como a amídala, o córtex órbito-frontal, o córtex pré-frontal, o núcleo
accumbens, e a insula. Esses estudos se basearam em diversas técnicas de aquisição de
informações acerca do cérebro, especialmente a imagem por ressonância magnética funcional
(fMRI; ing. functional magnetic resonance imaging), assim como a ressonância magnética
(MRI; ing. magnetic resonance imaging), o escaneamento por emissão de pósitrons (PET; ing.
positron emission tomography), a eletroencefalografia (EEG) e o MRI de tensor de difusão
(DTI, ing. diffusion tensor imaging).

A MRI é uma técnica de imagem que se utiliza de campos magnéticos para gerar
imagens estruturais dos órgãos, ressoando geralmente com átomos de hidrogênio, que existe na
28

água e gordura existente no corpo. O fMRI utiliza-se das mudanças no fluxo sanguíneo no
cérebro para gerar uma imagem funcional acerca da atividade cerebral, baseando-se
principalmente no contraste BOLD (ing. blood-oxygen-level dependent). O DTI utiliza-se dos
mesmos princípios que o MRI, mas foca na restrição da difusão da água no tecido, tendo a sua
principal aplicação na geração de imagens de matéria branca. O escaneamento PET é utilizado
para determinar o funcionamento do corpo, especialmente de áreas menores, por medir a
interação de determinadas moléculas no cérebro (como glicose ou drogas que se ligam a
neurotransmissores), basicamente, o metabolismo. O EEG é uma técnica de imageamento
cerebral baseada no monitoramento eletrofisiológico, geralmente com eletrodos no couro
cabeludo para medir a mudança de tensão iônica dos neurônios.

É importante ressaltar que não é somente o volume que determina a função da área, mas
também as conexões dela com outras regiões, seja para a ativação da própria área ou para a
ativação de outra área relacionada. Isso é importante lembrar que nenhuma estrutura cerebral é
isoladamente responsável pela elaboração de comportamentos complexos adaptativos, devido
a isso, é a interação das diversas áreas que proporciona a condição da psicopatia. Considerando
que o cérebro é formado de “trás para frente”, ou seja, as áreas subcorticais – córtices sensoriais
e motor, relacionadas a funções básicas – são as primeiras a serem formadas e maturadas, isso
é importante para lembrar que apesar de crianças e adolescentes apresentarem comportamentos
antissociais, por exemplo, é até a maturação final do cérebro que pode mostrar se ele tem o
“cérebro de um psicopata”.

7.1. Amídala

A amídala é uma estrutura semelhante a uma amêndoa, ficando na parte central inferior
do cérebro, ela é atualmente considerada uma estrutura heterogênea, podendo ser dividida em
até 13 núcleos. A funcionalidade específica de cada núcleo em humanos permanece a ser
melhor investigada, entretanto diversos estudos (incluindo estudos animais) apontam para o
envolvimento da amídala no processamento emocional, aquisição de medo condicionado,
aprendizado por esquiva inibitória, aprendizagem associativa, aquisição de respostas de
sobressalto (FPS), emoções morais e reconhecimento de expressões faciais, especialmente
medo (Blair, 2012; Blair e Mitchell, 2009; Moul, Killcross e Dadds, 2012; Müller et al., 2003;
Seara-Cardoso e Viding, 2015; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Yang et al., 2009, 2010).
Em psicopatas os estudos volumétricos demonstram uma diminuição do tamanho da amídala
esquerda em até 17% e na amídala direita em 19% (Yang et al., 2009). Essa diminuição no
tamanho bilateral amidalar está altamente relacionada com a faceta afetiva-interpessoal da
29

psicopatia, relacionando-se em menor grau com o aspecto antissocial. Relativo ao


funcionamento, é possível observar uma disfunção no funcionamento amidalar em psicopatas,
demonstrando uma atividade reduzida na área (Seara-Cardoso et al., 2016; Umbach, Berryessa
e Raine, 2015; Yoder et al., 2015), com alguns estudos especificando a ativação somente em
determinadas condições, como situações nas quais o estímulo ameaçador é apresentado em
conjunto com o objetivo (Larson et al., 2013).

7.2. Córtex pré-frontal

O córtex pré-frontal fica logo atrás da testa, parte anterior do lobo frontal, estando ligado
à tomada de decisão, planejamento de comportamentos complexos e a modulação o
comportamento social, estando também ligado a funções executivas (atenção executiva,
controle inibitório e memória de trabalho). Ele pode ser subdividido em cinco partes principais:
o córtex medial pré-frontal (mPFC do inglês), composto pelo córtex cingulado anterior (aCC
do inglês), córtex infra-límbico e pré-límbico; o córtex órbitofrontal; o córtex pré-frontal
ventrolateral; o córtex pré-frontal dorsolateral; e o córtex pré-frontal caudal. Dessas partes,
quatro são as cruciais por sua relação com a psicopatia, o córtex pré-frontal ventromedial
(vmPFC; ing. ventromedial prefrontal cortex), o córtex órbitofrontal (OFC; ing. orbitofrontal
cortex), e o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC; ing. dorsolateral prefrontal cortex).

O córtex órbitofrontal fica logo atrás dos globos oculares, na base do lobo frontal. Ele
está relacionado com interações sociais, inibição de comportamentos impulsivos, ética,
moralidade, recompensa e punição, arrependimento e projeção de resultados futuros baseados
nas expectativas das ações proximais. Muitos dos estudos focaram nessa área por conta da
“pseudopsicopatia” ou “psicopatia adquirida”, proveniente de danos na mesma, pois como foi
descrito anteriormente, pessoas com dano nessa área apresentam mudanças no comportamento
social, apresentando maior impulsividade e irresponsabilidade, entretanto não trazendo marcas
importantes da psicopatia como agressão instrumental e insensibilidade (Blair, 2012; Blair,
Mitchell e Blair, 2006; Fallon, 2006; Koenigs, 2012; Motzkin et al., 2011; Perez, 2012). O OFC
é frequentemente utilizado de forma intercambiável com o córtex pré-frontal ventromedial, este
sendo responsável por recompensa, memória de curto prazo/de trabalho, planejamento e
motivação. Em psicopatas o córtex órbitofrontal apresenta menor volume de matéria cinzenta
(Koenigs, 2012; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Yang et al., 2010), assim como menor
conectividade com outras áreas relacionadas, como amídala, insula, córtex cingulado anterior e
núcleo accumbens (Fallon, 2006; Koenigs, 2012; Motzkin et al., 2011; Umbach, Berryessa e
Raine, 2015; White e Blair, 2015; Yang et al., 2009, 2010). Entretanto, um estudo demonstrou
30

maior ativação nessa área em psicopatas, ao mesmo tempo que reportou como sendo passivos
em uma tarefa de avaliação de expressões faciais (Müller et al., 2003), este último é importante
para verificar o funcionamento cerebral de psicopatas em outras perspectivas.

Como todas as áreas do córtex frontal, o córtex pré-frontal dorsolateral está relacionado
com as funções executivas, mas mais especificamente com atenção seletiva e atenção à
informação relevante à tarefa (Larson et al., 2013). Em relação ao volume registrado em
psicopatas, há divergências acerca do maior volume (Umbach, Berryessa e Raine, 2015) ou
menor (Larson et al., 2013; Yang et al., 2010). Acerca do seu funcionamento, o estudo de
Larson e colegas (2013), que estudou a modulação da atenção influenciando na ativação
amidalar, demonstrou que psicopatas recrutam mais essa área quando o foco alternativo
(reforço) estava presente.

7.3. Insula

A insula é uma estrutura bilateral profunda na superfície lateral do córtex cerebral. Ela
está relacionada com empatia, interocepção – consciência acerca do estado corporal – e nojo.
Em psicopatas essa área encontra-se hipoativa (Hamilton, Hiatt Racer e Newman, 2015;
Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016; Koenigs, 2012; Seara-Cardoso et al., 2016; Seara-
Cardoso e Viding, 2015; Yoder et al., 2015), tendo a sua conexão com outras áreas reduzidas.
Entretanto, um estudo demonstrou uma ativação elevada na área da insula direita na
visualização de imagens negativas (Müller et al., 2003), apontando a importância de testar a
ativação dessas áreas em psicopatas em diferentes situações. Uma área relevante de ser
comentada é o córtex cingulado anterior, uma estrutura em formato de anel que cobre a parte
frontal do corpo caloso (ACC; ing. anterior cingulate cortex), que está também relacionada
com o reconhecimento de emoções nos outros, área com a qual a insula tem pouca conexão em
psicopatas. Essa falta de retroalimentação entre as áreas levaria a uma experiência subjetiva de
medo menos intensa, acompanhada pela falta de percepção do estado visceral da emoção
(Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016).

7.4. Núcleo accumbens

O núcleo accumbens (ing. nucleus accumbens) encontra-se na cabeça do núcleo


caudado, estando relacionado com o sistema de recompensa. É uma estrutura importante no
aprendizado reverso (ing. reversal learning), a capacidade de sobrescrever conhecimentos
anteriores de acordo com mudanças contextuais. Em psicopatas apresenta-se 13% menor
31

(Boccardi et al., 2013). Apesar disso, aparentemente há uma hiperativação dessa estrutura em
psicopatas (Buckholtz et al., 2010; Dutton, 2012).

7.5. Fascículo uncinado

O fascículo uncinado é uma estrutura que conecta partes do córtex frontal com estruturas
subcorticais, especialmente a amídala e o córtex órbitofrontal. Em psicopatas ela encontra-se
com a sua integridade comprometida (Glenn, 2011; Hecht, 2011; Koenigs, 2012; Motzkin et
al., 2011; Pemment, 2013; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; White e Blair, 2015; Wolf et al.,
2015).

Um exemplo de ter o funcionamento do cérebro de um psicopata, sem as disfunções


neurofisiológicas relacionadas foi um experimento de Kevin Dutton. Dutton, autor do livro The
Wisdom of Psychopaths: What saints, spies, and serial killers can teach us about success (2012;
port. A sabedoria dos psicopatas: O que santos, espiões e assassinos seriais podem nos ensinar
sobre o sucesso) realizou um experimento interessante através da estimulação magnética
transcraniana (TMS; ing. transcranial magnetic ressonance). TMS é um método não-invasivo
capaz de estimular temporariamente o cérebro de forma a perturbar o processamento cortical,
seja para entender os efeitos de excitar ou inibir determinadas áreas cerebrais. O funcionamento
dessa técnica é proveniente do funcionamento elétrico do cérebro, que é possível de ser alterado
através de campos magnéticos extremamente fortes.

Dutton, com a ajuda de um colega, realizou em si mesmo um experimento para simular


o cérebro de um psicopata usando a TMS. Ele queria desligar as áreas relacionadas ao
processamento moral e emocional, utilizando um pulso magnético que interrompesse
temporariamente essas conexões, o que proporcionaria uma experiência perceptual semelhante
à de um psicopata. Nessa experiência ele relata que os efeitos eram semelhantes a estar sob o
efeito de álcool, mas sem a lentidão motora relacionada, uma “perseveração – na verdade, diria
até mesmo o aprimoramento – da acuidade e nitidez atencional” (p. 157, Dutton, 2012). Jogando
um videogame de simulação de corrida de carro, Gran Turismo, Dutton conseguiu melhorar o
recorde dele por se arriscar mais.

Outra fonte de informações ao respeito da fisiologia da psicopatia vem dos estudos com
gêmeos ou com animais geneticamente alterados para não expressar um determinado gene.
Esses estudos complementam as informações vindas dos estudos de pacientes ou modelos
experimentais, trazendo novos elementos na discussão das causas e da origem da psicopatia.
32

8. Genética

Estudos genéticos atualmente demonstram a influência dos genes na constituição de


psicopatologias. Os genes carregam as informações acerca do corpo biológico, entretanto este
é afetado por influências ambientais. A epigenética estuda a influência do ambiente nos genes
– modulando a expressão genética –, com o resultado dessa interação sendo o fenótipo. Além
dos fenótipos, na neurociência e psiquiatria atual estão sendo estudados os chamados
“endofenótipos”. Também conhecidos como “fenótipos intermediários”, descrevem fenótipos
estáveis, que têm uma forte relação com a carga genética do indivíduo. Ela surgiu para estudar
patologias, incluindo psicopatologias como a esquizofrenia (Fallon, 2006; Glenn, 2011).

Uma outra relação entre gene–ambiente importante de ser notada é a “sensividade


biológica ao contexto” (BSC; ing. biological sensivity to context). A perspectiva é que a seleção
natural favorece a plasticidade adaptativa de fenótipos (ing. adaptive phenotypic plasticity), que
seria a capacidade de um genótipo de suportar diversos fenótipos em resposta a condições
ambientais específicas (Ellis e Boyce, 2008), o que proporcionaria uma melhor adaptação ao
ambiente. Ellis e Boyce (2008) retratam como crianças “dandélio” e “orquídea”, tomando a
noção de que crianças dandélio têm pouca reatividade fenotípica ao ambiente, a capacidade de
adaptação positiva apesar das adversidades; enquanto as crianças orquídea têm fenótipos de alta
reatividade, tendo variações fenotípicas a depender dos estressores ambientais. Um exemplo de
dandélio seriam pessoas que passam por diversas situações violentas, mas não se tornam
violentas, enquanto orquídea seriam pessoas que passam por uma situação extremamente
violenta e tornam-se violentas.

Além disso, os genes podem ter alterações – mutações – que podem não ser fatais, sendo
assim mantidas na população. Essas alterações são chamadas polimorfismos de nucleotídeo
único (SNP; ing. single nucleotide polymorphism). Se a incidência dessa mudança é encontrada
em mais de 1% da população humana, ela é considerada um SNP, se for abaixo, é considerada
uma mutação.

A psicopatia tem o suporte de estudos com gêmeos acerca da sua heritabilidade


(Tamatea, 2015; Viding et al., 2010, 2013; Viding e Frith, 2006; White e Blair, 2015; Wu e
Barnes, 2013). Apesar disso, o efeito dos genes para a psicopatia aparentam ser ambos
polimórfico (i.e. tendências são conferidas por múltiplos genes de efeito de baixo tamanho que
probabilisticamente aumentam o risco para pobres resultados comportamentais; Banlaki et al.,
33

2015; Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Hecht, 2011; Jabbi et al., 2007; Wu, Li e Su,
2012), epistático (i.e. quando um gene interage com outro gene em outra localização; Banlaki
et al., 2015; Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Jabbi et al., 2007; Viding et al., 2010, 2013;
Wu e Barnes, 2013) e epigenético (i.e. estressores ambientais que podem ser utilizados para
moderar os feitos de genes de risco; Fallon, 2006; Moul et al., 2015; Moul, Killcross e Dadds,
2012; Tamatea, 2015).

Alguns estudos genéticos são realizados com crianças para verificar a influência
genética e ambiental na expressão dos fenótipos relacionados. Como psicopatia é um construto
relacionado a adultos, os estudos genéticos geralmente relacionam comportamentos antissociais
(AB; ing. antisocial behavior) e traços de insensibilidade–afetividade restrita (CU; ing. callous-
unemotional traits). Crianças com tendências psicopáticas são descritas como AB+/CU+
(positivo para comportamentos antissociais e insensibilidade–afetividade restrita) (Moul et al.,
2015; Viding et al., 2010, 2013), tendo uma variação como AB+/CU- (sem insensibilidade–
afetividade restrita). Alguns outros SNPs estão relacionados com traços insensibilidade–
afetividade restrita, em um estudo com gêmeos, foram associados aos SNPs rs125519606 no
cromossomo 9, rs10865864 no 3, e rs151997 no 5 (Viding et al., 2013).

Um dos genes mais conhecidos que supõe-se estar associado à psicopatia é a monoamina
oxidase A (MAOA; ing. monoamine oxidase A), também conhecida como o “gene guerreiro”
(Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Dutton, 2012; Fallon, 2013; Tamatea, 2015). Esse gene
produz uma enzima catalisadora para a degradação de neurotransmissores como a dopamina,
norepinefrina e serotonina. Esse gene é mapeado no braço curto do cromossomo X, tendo
basicamente duas variações, o gene de alta atividade (ing. high activity) e de baixa atividade
(ing. low activity), essa atividade demonstra a eficiência na produção da enzima MAO-A. A
sequência de nucleotídeos geralmente está associada a essa diferença na transcrição, ela pode
ser repetida 2, 3, 3.5, 4, ou 5 vezes. As diferenças nessa sequência de repetição são chamadas
de “número variável de repetições em tandem” (VNTR; ing. variable number of tandem
repeats). Essa diferenciação é importante pois é a variação de baixa atividade do MAO-A que
é associada a comportamentos violentos, o MAOA-L, contendo os 2R, 3R ou 5R (número-
repetição) (Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Jabbi et al., 2007; Schlossberg, Massler e
Zalsman, 2010; Viding et al., 2010; Viding e Frith, 2006).

É importante notar que o MAOA-L está relacionado com a violência especialmente em


casos de maltratos na infância (Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Schlossberg, Massler e
Zalsman, 2010; Viding e Frith, 2006), demonstrando a importância dos estressores ambientais,
34

como o abuso e maltratos, na expressão fenotípica desse gene. Sendo assim, ele está relacionado
com a hiperreatividade à ameaça. O MAOA-L está relacionado com a agressão reativa, a forma
última de resposta à ameaça, que é contrária à agressão instrumental apresentada por psicopatas,
uma forma de agressão relacionada a determinado fim ou objetivo, tendo um planejamento. O
gene de baixa atividade da MAO-A está relacionado a menores volumes amidalares, mas com
maior funcionamento na avaliação de faces (Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Viding e
Frith, 2006). Não somente, por ser um gene ligado ao cromossomo X, a sua expressão em
mulheres (que possuem dois X) pode ser dificultada, resultando numa menor população de
mulheres violentas (Hunter, 2010).

Dois genes de receptores de dopamina (DA), o DRD2 e o DRD4, e seus respectivos


polimorfismos, assim como uma variante do gene transportador de serotonina (5-HTTLPR)
estão relacionados com a psicopatia (Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Glenn, 2011; Jabbi
et al., 2007; Viding et al., 2010; Wu e Barnes, 2013). Sobre o 5-HTTLPR (serotonin-
transporter-linked polymorphic region, port. região polimórfica ligada ao transportador de
serotonina), o alelo longo (chamados também como l-homozigotos) é o principal relacionado a
traços psicopáticos, estando relacionado com menor reatividade ao estresse e menor
responsividade emocional (Glenn, 2011). Um estudo meta-analítico entre estudos genéticos
específicos aos l-homozigotos e específicos a psicopatas realizado por Glenn (2011)
demonstrou diversas semelhanças apresentadas entre os resultados dos estudos, como reduzida
reatividade amidalar a estímulos negativos, menor conectividade entre amídala e vmPFC,
menor frequência cardíaca em descanso, menor FPS, resposta do cortisol a estresse reduzida,
atenção a estímulos periféricos negativos reduzida, pobre aprendizado de esquiva passiva,
maior tomada de riscos (ing. risk taking) e pobres decisões baseadas em reforço ou punição.
Enquanto isso, o alelo curto do 5-HTTLPR está relacionado com hiperresponsividade a
estressores ambientais, estando ligado à agressão reativa. Baseado nesses resultados, o autor
propõe que a agressão instrumental estaria ligada ao alelo longo, devido à hiporresponsividade
a estressores ambientais.

Além do transportador de serotonina, existe um gene de receptor de serotonina que está


relacionado com traços de insensibilidade–afetividade restrita. A redução da expressão do gene
HTR1B no cromossomo 6, mais especificamente o SNP rs11568817, foi associado com
dependência de álcool, raiva e hostilidade e transtorno do espectro autista, com ambos
transtornos sendo caracterizados pela falta de empatia (Moul et al., 2015). Essa redução da
expressão funcional aconteceria pela metilação – a adição de grupos metil ao DNA molecular
35

–, um processo epigenético que faz com que haja menor transcrição do gene. Um outro receptor
de serotonina, o HTR2A no cromossomo 13, especificamente o rs7322347, que está relacionado
à agressividade e impulsividade (Banlaki et al., 2015; Moul et al., 2015), pode estar também
ligado à psicopatia.

Alguns genes receptores de oxitocina (OXTR; ing. oxytocin receptor gene) também
demonstram alguma relação com o traço empatia, como os OXTR no cromossomo 3, rs237887,
rs4686302, rs2268491, rs2254298 (Furman, Chen e Gotlib, 2011; Wu, Li e Su, 2012). A
oxitocina está relacionada com a regulação de ligações sociais em animais, empatia e confiança.
Empatia emocional refere-se à resposta emocional congruente com a percepção do estado
emocional alheio, já a empatia cognitiva refere-se à capacidade de mudar para a perspectiva de
outra, em pensamentos, crenças ou valores. Para os traços de preocupação empática e estresse
pessoal (ing. personal distress), os SNPs rs237887 e rs4686302, com indivíduos com alelo A
sendo menos empáticos. Quatro outros SNPs destacam-se, o rs2254298, rs2268491,
rs13316193 e rs4686302, nos quais o alelo C está maior relacionado com empatia (Wu, Li e
Su, 2012). No estudo de Wu, Li e Su (2012), homens e mulheres demonstraram uma diferença
significativa, com mulheres tendo maior índice de empatia que homens, especialmente em
alguns alelos (CT, rs13316193 e rs4686302).

Desde uma perspectiva neuroanatômica, a oxitocina está relacionada com diminuir


níveis de corticoides, o que pode levar a uma atrofia na amídala, entre outras consequências. O
OXTR rs2254298 em homozigotos com alelo G está relacionado com desordens com
diminuição no volume amidalar (Furman, Chen e Gotlib, 2011).

Por fim, um último elemento a ser delineado na construção do esboço do que é a


psicopatia é o estudo dos tratamentos, permitindo assim ter uma noção da possibilidade de
integrar as informações advindas de diferentes abordagens em uma proposta terapêutica.

9. Tratamento

Psicopatia é considerada resistente a tratamentos, sendo considerados sujeitos sem


tratamento ou com tratamento muito difícil (Hare, 2013; Moul, Killcross e Dadds, 2012; Skeem
et al., 2011; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Vitale et al., 2015; White e Blair, 2015; Wilson
e Tamatea, 2013). Apesar de comportamentos antissociais serem possíveis de serem observados
36

em quaisquer sujeitos, as causas subjacentes podem ser diferentes, o que leva a um diagnóstico
e tratamento diferenciado da psicopatia (Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2015; Moul,
Killcross e Dadds, 2012; Skeem et al., 2011; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Vitale et al.,
2015; White e Blair, 2015; Wilson e Tamatea, 2013). Por exemplo, considerando tais sujeitos
como tendo um problema de processamento de informação, de forma a retirar também o
estigma de que são naturalmente antissociais ou ‘maus’ (Vitale et al., 2005).

Visando as particularidades dos psicopatas, alguns autores desenvolveram tratamentos


especificando encontrar medidas compensatórias ou melhoria das dificuldades por eles
apresentadas. Um deles é o estudo de Baskin-Sommers e colegas (2015) que buscou avaliar as
disfunções relacionadas a ofensores com traços externalizantes e psicopáticos, assim como
quais seriam os tratamentos indicados para tais. Duas vias de tratamento foram viabilizadas:
“atenção ao contexto” (ATC; ing. attention to context), constituinte de aprendizado reverso,
campo visual dividido (ing. divided visual field) e affective gaze (observar rostos para ter acesso
às pistas visuais relacionadas à emoção); e “controle afetivo cognitivo” (ACC; ing. affective
cognitive control), contendo tarefas como segurar a respiração (ing. breath holding), tarefa Go-
Stop incentivada (ing. incetivized Go-Stop) e Simon (baseado no efeito Simon, um achado de
que tempos de reação geralmente são mais rápidos e também mais acurados quando o estímulo
ocorre na mesma localização que a resposta, mesmo que o estímulo seja irrelevante à tarefa.
Esse efeito tem semelhanças com o efeito Stroop). Participantes psicopatas melhoraram suas
performances com o treinamento ATC, mas não os que tiveram o treinamento ACC, enquanto
participantes com traços externalizantes – sociopatas – demonstraram o contrário, melhoras nos
que tiveram treinamento ACC, mas não os que tiveram treinamento ATC.

De forma semelhante, Vitale e colegas (2015) relatam que a dificuldade apresentada por
psicopatas, a partir de uma perspectiva cognitiva, não são os esquemas ou conteúdo das
cognições, mas da acessibilidade a elas. Assim, os autores propuseram o desenvolvimento de
estratégias compensatórias para a modulação da atenção, baseando-se nos achados da RMH. O
tratamento focaria e treinar a atenção para dicas contextuais, manutenção da atenção (ing.
sustained attention) e memória de trabalho. Os sujeitos conseguiram, após um treinamento
computadorizado de “atenção ao contexto”, melhoras significativas nas tarefas.

Focando em prisioneiros de alto risco, Tamatea e Wilson (2013) descreveram o High-


Risk Personality Programme (HRPP; port. programa para personalidades de alto-risco),
realizado na Nova Zelândia. Esses autores, assim como os anteriores, deixaram claro que o
objetivo do programa não era a “diminuição” dos traços psicopáticos, mas dos fatores de risco
37

dinâmicos (ing. dynamic-risk factors) associados com as ofensas cometidas. Com o foco na
redução da violência em grupos psicopáticos – e não de psicopatia em grupos violentos –,
avaliadas através de medidas objetivas e mensuráveis, como a escala de risco de violência
(VRS; ing. Violence Risk Scale), os autores conseguiram observar mudanças em aspectos de
personalidade, utilizada a terceira edição do inventário clínico multiaxial de Millon (MCMI-
III; ing. Millon Clinical Multiaxial Inventory), apesar de ser uma mudança secundária e do
pequeno grupo analisado.

Com uma medida diferente de tratamento, Umbach e colegas (2015) propuseram um


método não-invasivo para alterar as funções cerebrais em psicopatas: a estimulação
transcraniana de corrente direta (tDCS; ing. transcranial direct-current stimulation). Essa
estimulação parece afetar o comportamento de risco, decisões morais e sentimento de culpa
(Fecteau et al., 2007a; Fecteau et al., 2007b; Boggio et al., 2010; Karim et al., 2010 apud
Umbach, Berryessa e Raine, 2015).

O tratamento de indivíduos com traços psicopáticos, para evitar a entrada para a


criminalidade, deve – idealmente – ser realizada com os indivíduos ainda jovens, já que é
possível perceber esses traços desde a infância e adolescência. Com medidas compensatórias
para lidar com as deficiências atencionais e emocionais que indivíduos psicopáticos
apresentam. A depender das atividades realizadas pelo organismo intensificando o uso de
determinadas áreas cerebrais, garantem o aumento e funcionalidade dessas áreas devido à
plasticidade neural, como apontado por Vitale e colegas (2015).

10. Método

O atual trabalho tem por objetivo fazer uma revisão de literatura acerca da psicopatia,
baseando-se em artigos, capítulos de livros e livros das áreas de psicologia, neurociência e
outras áreas, como biologia, para a produção do mesmo. Para tal, foram seguidos alguns
critérios para a inclusão dessa literatura.

Acerca dos artigos brasileiros, foi feita uma busca no Periódicos CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e na Scielo, buscando o termo “psicopatia”.
Foram encontrados um total de 25 resultados, dos quais somente quatro utilizavam o termo
“psicopatia”, aparecendo artigos sobre TPA, que foram excluídos. Foi feita a busca então no
Elsevier, NCBI (National Center for Biotechnology Information), Research Gate e Science
38

Direct buscando o termo “psychopathy”. Devido à enorme quantidade de artigos, foram


utilizados os seguintes critérios: artigos que falavam acerca da história; artigos disponíveis e
disponibilizados após pedido aos autores; artigos com bom delineamento experimental; artigos
que foram bastante referenciados; e artigos que se relacionam com o tema partindo de outra
área. Dentre eles, houveram dezesseis artigos de áreas tangentes ao tema, assim como um total
de cinco artigos de meta-análise.

Foram utilizados sete livros para a construção desse trabalho: A máscara de sanidade de
Hervey Cleckley, o livro que deu origem ao termo e ao primeiro diagnóstico; Sem consciência:
o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós de Robert Hare, autor também da
ferramenta diagnóstica mais utilizada, o PCL-R; A sabedoria dos psicopatas: o que santos,
espiões e assassinos seriais podem nos ensinar sobre o sucesso de Kevin Dutton, que toma uma
perspectiva mais comunitária (não-prisional) e de personalidade do construto; O psicopata:
Emoção e o cérebro de James Blair e colegas; The Psychopath Inside: A Neuroscientist's
Personal Journey Into the Dark Side of the Brain (port. O psicopata dentro: Uma jornada pessoal
de um neurocientista no lado negro do cérebro) de James Fallon, que descreve a descoberta do
neurocientista acerca do seu próprio cérebro que assemelha-se ao de psicopatas; O erro de
Descartes: Emoção, razão e o cérebro humano de António Damásio, que descreve a sua hipótese
do marcador somático; e o Manual Diagnóstico de Doenças Mentais da Associação Americana
de Psiquiatria. Assim como dois capítulos de livros, de Corr e Pickering acerca da Teoria de
Sensibilidade ao Reforçamento de Grey, e de Harpur e Hare acerca de Psicopatia e Atenção.
Totalizando sete livros e dois capítulos de livros.

Acerca dos anos de publicação, eles vão desde 1986 até 2017. Fazendo uma contagem, do
ano 1986 até 2009, houveram um total de 34 (trinta e quatro) publicações, e de 2010 até 2017,
um total de 74 (setenta e quatro). Essa contagem serve para demonstrar que a revisão tem
diversos estudos atuais e recentes, contendo meta-análises, modelos experimentais e
ferramentas para aquisição desses dados, especialmente de neuroimagem.

11. Discussão

O primeiro mal-entendido acerca da psicopatia é que ela é descrita por maioria dos
autores como uma desordem, seja de personalidade, neurofisiológica ou do desenvolvimento.
Enquanto isso, alguns poucos a descrevem de maneira diferente, como síndrome (Hiatt e
Newman, 2006), como traços latentes de personalidade (Hauck Filho, Teixeira e Dias, 2012)
39

ou remetendo a uma “neurodiversidade” (Ortega, 2008), uma variante cerebral natural, assim
como é considerada o autismo (Seara-Cardoso e Viding, 2015). Estas descrições tentam retirar
um aspecto de ‘doença’ acerca da condição. Uma mudança, que da mesma forma que aconteceu
com o autismo, leva a psicopatia, de uma categoria, para um espectro, o qual se define como
um gradiente de traços de personalidade. Essa perspectiva leva a questionar as ferramentas
diagnósticas acerca da condição, que, como foi apresentada anteriormente, a principal delas –
o PCL-R – necessariamente relaciona com comportamentos antissociais, assim como o DSM
em seus transtornos TPA e DC.

A psicopatia apareceu no primeiro DSM, dando lugar à sociopatia e consequentemente


ao Transtorno de Personalidade Antissocial. Essas mudanças, demonstram o foco do manual
em critérios diagnósticos baseados em comportamentos, especificamente no aspecto
antissocial, mas não na etiologia desses comportamentos. Então, apesar da psicopatia não ser
um diagnóstico do DSM-V, ainda sim parece ser relevante de ser analisada além dos possíveis
interesses políticos que permeiam a pesquisa em psicologia e psiquiatria, pois como Cosgrove
e colegas (2009) apontam, o 68% dos membros das forças-tarefas do DSM têm ligação com
indústria. Assim como 56% dos membros dos painéis do DSM também têm essa ligação, seja
como tendo ações com companhias farmacêuticas, como consultores para a indústria ou
servindo como diretores de companhias (Cosgrove, Bursztajn e Krimsky, 2009). E esses dados
não mudaram tanto, subindo para 69% dos membros da força-tarefa [28 membros da mesma
trabalham em conjunto com mais 160 grupos de trabalho (American Psychiatric Association,
2013)] com laços à indústria na última versão do manual (Cosgrove e Krimsky, 2012).

Como afirmam os autores citados anteriormente, é preciso políticas para o manejo


desses conflitos de interesses financeiros para lidar com o viés de patrocínio privado das
indústrias farmacêuticas e das instituições carcerárias. Esse viés é de especial importância no
que se refere aos psicopatas violentos, devido a apresentarem uma altíssima reincidência em
comportamentos antissociais (Alexandra e Lopes, 1989; Blair, Mitchell e Blair, 2006; Hamilton
e Newman, 2016; Hare, 2013; Hauck Filho, Teixeira e Dias, 2012; Pujara et al., 2013; Skeem
et al., 2011; Tamatea, 2015; Telles, Folino e Taborda, 2012; White e Blair, 2015; Wu e Barnes,
2013), sendo importante evidenciar que, no PCL-R (a mais utilizada ferramenta diagnóstica de
psicopatia), é o fator 2 – comportamentos antissociais – o que prevê esse recidivismo, não a
faceta emocional – o fator 1 (Kennealy et al., 2010; Warren et al., 2003). Essas evidências
relembram a importância não somente de dissociar o construto do aspecto antissocial ou
criminoso, mas também da importância de realizar tratamentos específicos para as deficiências
40

apresentadas por psicopatas, caso eles entrem em contato com o sistema prisional (Baskin-
Sommers, Curtin e Newman, 2015; Tamatea, 2015; Vitale et al., 2015).

Seguindo a perspectiva original de Cleckley, como muitos estudos apontam, a psicopatia


deve ser entendida fora – ou independente – de um contexto criminoso, não estando
necessariamente ligada a comportamentos antissociais, mas sim a traços de insensibilidade–
afetividade restrita. Esse é o segundo mal-entendido acerca da condição, que ela está
necessariamente ligada à criminalidade. Devido a isso, diversos autores tentam diferenciar os
“tipos de psicopatas”, seja através dos fatores do PCL-R, seja através de termos. Alguns desses
termos utilizados são “psicopatas de sucesso/insucesso” (ing. successful/unsuccessful
psychopaths) (Koenigs, 2012; Osumi et al., 2012; Skeem et al., 2011; Tamatea, 2015; Umbach,
Berryessa e Raine, 2015; Yang et al., 2010), psicopatas “prossociais” (Fallon, 2013) ou
psicopatas “funcionais” (Dutton, 2012). Psicopatas prossociais/funcionais/de sucesso seriam
psicopatas que conseguem viver sem entrar em conflito com a lei ou sistema prisional, acatando
apenas com o fator 1 do PCL-R, na vida afetiva–interpessoal. Esses psicopatas de sucesso
apresentam diferenças não somente na ausência (ou capacidade de não serem pegos) do
comportamento antissocial, mas também em áreas cerebrais. O funcionamento seria normal no
córtex órbitofrontal, com um funcionamento amidalar diminuído (Osumi et al., 2012; Yang et
al., 2010), o que reforça a faceta afetiva restrita da condição.

Além da importância de separar o construto de comportamentos antissociais, é


importante delinear a incidência de psicopatas em questão de gênero. Psicopatia tem uma
aparente maior incidência em homens do que em mulheres para alguns, enquanto semelhante –
em populações carcerárias – para outros (Warren et al., 2003). Cleckley (1988) propõe que a
psicopatia é encontrada em ambos homens e mulheres, e alguns estudos posteriores comprovam
essa afirmação. Autores retomam as diferenças entre a expressão de traços psicopáticos em
homens e mulheres (Cleckley, 1988; Seara-Cardoso et al., 2013; Vitale, Brinkley e Newman,
2007), como mulheres apresentado maior evitação de danos (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick,
1995) ou melhores em regular comportamentos desinibidos a depender da situação (Vitale et
al., 2005). Além da socialização, outro fator parece influenciar a expressão da psicopatia em
mulheres, como acontece com o gene MAOA estar ligado ao cromossomo X, o que dificulta a
expressão de violência em mulheres, como já foi citado anteriormente.

A expressão antissocial e violenta da psicopatia pode estar ligada à expressão da MAO-


A, o que é demonstrado pelo fator 2 da escala PCL-R ser baixa em mulheres, enquanto o fator
1 é comparável entre os sexos (Blair, Mitchell e Blair, 2006). Não somente a disfunção
41

emocional – proveniente do fator 1 – é semelhante, como o aspecto da atenção seletiva anormal


(Vitale et al., 2005; Vitale, Brinkley e Newman, 2007). Os achados de homens obterem maiores
escores no PCL-R (Cooke e Michie, 1999; Skeem et al., 2011) pode estar ligado à maior
disponibilidade de estudos voltados para a população carcerária, população que é indissociável
dos atos antissociais, e a qual é predominantemente masculina (Glaze e Kaeble, 2014).

A psicopatia seria então proveniente de um desenvolvimento neurológico pré-


determinado, como demonstram os estudos neurológicos, fisiológicos, de imageamento
cerebral e neuropsicológicos tratados anteriormente, sendo possível observar traços
psicopáticos em crianças. Como descrito, diversos fatores estariam envolvidos na apresentação
do psicopata, mas com a carga genética influenciando fortemente o desenvolvimento do
indivíduo. Não sendo proveniente de abuso, maltratos ou negligência, a psicopatia se
diferenciaria da sociopatia, qual teria também uma base genética, mas necessária a influência
de estressores ambientais para a expressão desses genes. Sendo este o terceiro mal-entendido
acerca da condição, de que ela tem uma origem ambiental. O ambiente seria influente apenas
na modulação da expressão dos traços psicopáticos.

Uma informação importante é que a psicopatia é considerada como presente em todas


as culturas (Cleckley, 1988; Cooke e Michie, 1999; Dutton, 2012; Fallon, 2013; Skeem et al.,
2011), vide a descrição inicial proveniente da Grécia antiga, que apesar de não poder ser
considerada ‘psicopatia’, trata de traços semelhantes aos psicopáticos. Não somente, considera-
se que a população de psicopatas representa entre 0.6, 1 a 2% da população, mantendo-se
estável nessa porcentagem (Dutton, 2012; Fallon, 2013; Gao e Raine, 2010). Assim sendo, a
psicopatia assemelha-se a uma variante natural do cérebro, possivelmente entrando no
movimento da neurodiversidade (Jaarsma e Welin, 2012; Masataka, 2017; Ortega, 2008) que
principalmente os autistas defendem atualmente.

12. Bibliografia

ALEXANDRA, A.; LOPES, C. Análise Da Figura Do Psicopata Sob O Ponto De Vista


Psicológico-Moral E Jurídico-Penal. p. 17–18, 1989.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. The people behind DSM-5. p. 1–2, 2013.
AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION APA. DSM-V-TR - Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais. [s.l: s.n.].
BANLAKI, Z.; ELEK, Z.; NANASI, T.; SZEKELY, A.; NEMODA, Z.; SASVARI-
42

SZEKELY, M.; RONAI, Z. Polymorphism in the serotonin receptor 2a (HTR2A) gene as


possible predisposal factor for aggressive traits. PLoS ONE, v. 10, n. 2, p. 1–18, 2015.
BARRÓS-LOSCERTALES, A.; MESEGUER, V.; SANJUÁN, A.; BELLOCH, V.;
PARCET, M. A.; TORRUBIA, R.; ÁVILA, C. Behavioral Inhibition System activity is
associated with increased amygdala and hippocampal gray matter volume: A voxel-based
morphometry study. NeuroImage, v. 33, n. 3, p. 1011–1015, 2006.
BASKIN-SOMMERS, A. R.; CURTIN, J. J.; NEWMAN, J. P. Specifying the Attentional
Selection That Moderates the Fearlessness of Psychopathic Offenders. Psychological
Science, v. 22, n. 2, p. 226–234, 18 fev. 2011.
___. Emotion-modulated startle in psychopathy: Clarifying familiar effects. Journal of
Abnormal Psychology, v. 122, n. 2, p. 458–468, 2013.
BASKIN-SOMMERS, A. R.; CURTIN, J. J.; NEWMAN, J. P. Altering the Cognitive-
Affective Dysfunctions of Psychopathic and Externalizing Offender Subtypes With Cognitive
Remediation. Clinical Psychological Science, v. 3, n. 1, p. 45–57, 6 jan. 2015.
BECHARA, A.; DAMASIO, H.; TRANEL, D.; DAMASIO, A. R. Deciding advantageous
before knowing the advantagous strategy. Science, v. 275, n. February, p. 1293–1294, 1997.
BLAIR, R. J. R. Neurobiological basis of psychopathy Neurobiological basis of psychopathy.
v. i, p. 5–7, 2012.
BLAIR, R. J. R.; MITCHELL, D. G. V. Psychopathy, attention and emotion. Psychological
Medicine, v. 39, n. 4, p. 543, 14 abr. 2009.
BLAIR, R. J. R.; MITCHELL, D. G. V.; BLAIR, K. The Psychopath: Emotion and the
Brain. [s.l: s.n.]. v. 19
BOCCARDI, M.; BOCCHETTA, M.; ARONEN, H. J.; REPO-TIIHONEN, E.; VAURIO, O.;
THOMPSON, P. M.; TIIHONEN, J.; FRISONI, G. B. Atypical nucleus accumbens
morphology in psychopathy: Another limbic piece in the puzzle. International Journal of
Law and Psychiatry, v. 36, n. 2, p. 157–167, mar. 2013.
BUADES-ROTGER, M.; GALLARDO-PUJOL, D. The role of the monoamine oxidase A
gene in moderating the response to adversity and associated antisocial behavior: A review.
Psychology Research and Behavior Management, v. 7, p. 185–200, 2014.
BUCKHOLTZ, J. W. et al. Individuals with Psychopathic Traits. v. 13, n. 4, p. 419–421,
2010.
CLECKLEY, H. The Mask of Sanity. An Attempt to Clarify Some Issues About the So-
Called Psychopathic Personality. [s.l: s.n.]. v. 44
COOKE, D. J.; MICHIE, C. Psychopathy across cultures: North America and Scotland
compared. Journal of Abnormal Psychology, v. 108, n. 1, p. 58–68, 1999.
CORR, P.; PICKERING, A. J.A. Gray’s Reinforcement Theory (RST) of Personality. In: The
SAGE Handbook of Personality Theory and Assessment : Personality Theories and
Models. Thousand Oaks, United States: SAGE Publications Inc, 2008. p. 808.
COSGROVE, L.; BURSZTAJN, H. J.; KRIMSKY, S. Developing unbiased diagnostic and
treatment guidelines in psychiatry. The New England journal of medicine, v. 360, n. 19, p.
2035–2036, 2009.
43

COSGROVE, L.; KRIMSKY, S. A comparison of dsm-iv and dsm-5 panel members’


financial associations with industry: A pernicious problem persists. PLoS Medicine, v. 9, n.
3, p. 9–12, 2012.
DAMASIO, A. R. O erro de Descartes: Emoção, razão e o cérebro humano. 3. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.
DARGIS, M. A.; MATTERN, A. C.; NEWMAN, J. P. Set-Congruent Priming Stimuli
Normalize the Information Processing of Psychopathic Offenders. Journal of
Psychopathology and Behavioral Assessment, n. January, p. 1–11, 2017.
DARGIS, M.; NEWMAN, J.; KOENIGS, M. Clarifying the link between childhood abuse
history and psychopathic traits in adult criminal offenders. Personality Disorders: Theory,
Research, and Treatment, v. 7, n. 3, p. 221–228, 2016.
DIAMOND, A. Executive Functions. Annual review of clinical psychologyPsychol., v. 64,
p. 135–168, 2014.
DUTTON, K. The Wisdom of Psychopaths: What Saints, Spies, and Serial Killers Can
Teach Us About Success. [s.l: s.n.].
ELLIS, B. J.; BOYCE, W. T. Biological sensitivity to context. Current Directions in
Psychological Science, v. 17, n. 3, p. 183–187, 2008.
FALLON, J. H. Neuroanatomical background to understanding the brain of the young
psychopath. Ohio State Journal of Criminal Law, v. 3, n. 341, p. 341–367, 2006.
___. The Psychopath Inside: A Neuroscientist’s Personal Journey Into the Dark Side of
the Brain. [s.l: s.n.].
FURMAN, D. J.; CHEN, M. C.; GOTLIB, I. H. Variant in oxytocin receptor gene is
associated with amygdala volume. Psychoneuroendocrinology, v. 36, n. 6, p. 891–897,
2011.
GAO, Y.; RAINE, A. Successful and unsuccessful psychopaths: A neurobiological model.
Behavioral Sciences & the Law, p. n/a-n/a, 2010.
GLAZE, L. E.; KAEBLE, D. Correctional populations in the United States, 2014.
Population, v. 6, n. 7, p. 8, 2014.
GLENN, A. L. The other allele: Exploring the long allele of the serotonin transporter gene as
a potential risk factor for psychopathy: A review of the parallels in findings. Neuroscience
and Biobehavioral Reviews, v. 35, n. 3, p. 612–620, 2011.
GOLDENBERG, G. The Life of Phineas Gage – Stories and Reality. 2004.
HAMILTON, R. K. B.; HIATT RACER, K.; NEWMAN, J. P. Impaired integration in
psychopathy: A unified theory of psychopathic dysfunction. Psychological Review, v. 122, n.
4, p. 770–791, 2015.
HAMILTON, R. K. B.; NEWMAN, J. P. Information Processing Capacity in Psychopathy:
Effects of Anomalous Attention. Personality. Personality Disorders: Theory, Research,
and Treatment., n. October, 2016.
HARE, R. D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre
nós. [s.l.] Artmed Editora, 2013.
44

HARPUR, T. J.; HARE, R. D. Chapter 22 Psychopathy and Attention. In: [s.l: s.n.]. p. 429–
444.
HAUCK FILHO, N.; TEIXEIRA, M. A. P.; ALMEIDA, R. M. M. DE. Estrutura fatorial da
escala Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R): uma revisão sistemática. Avaliação
Psicológica, v. 13, n. 2004, p. 247–256, 2014.
HAUCK FILHO, N.; TEIXEIRA, M. A. P.; DIAS, A. C. G. Psicopatia: uma perspectiva
dimensional e não-criminosa do construto. Avances en psicología latinoamericana, v. 30, n.
2, p. 317–372, 2012.
HECHT, D. An inter-hemispheric imbalance in the psychopath’s brain. Personality and
Individual Differences, v. 51, n. 1, p. 3–10, 2011.
HIATT, K. D.; LORENZ, A. R.; NEWMAN, J. P. Assessment of emotion and language
processing in psychopathic offenders: Results from a dichotic listening task. Personality and
Individual Differences, v. 32, n. 7, p. 1255–1268, 2002.
HIATT, K. D.; NEWMAN, J. P. Understanding psychopathy: The cognitive side. Handbook
of psychopathy, n. September, p. 334–352, 2006.
HOPPENBROUWERS, S. S.; BULTEN, B. H.; BRAZIL, I. A. Parsing fear: A reassessment
of the evidence for fear deficits in psychopathy. Psychological Bulletin, v. 142, n. 6, p. 573–
600, 2016.
HUNTER, P. The psycho gene. EMBO reports, v. 11, n. 9, p. 667–669, 2010.
JAARSMA, P.; WELIN, S. Autism as a natural human variation: Reflections on the claims of
the neurodiversity movement. Health Care Analysis, v. 20, n. 1, p. 20–30, 2012.
JABBI, M.; KORF, J.; KEMA, I. P.; HARTMAN, C.; POMPE, G. VAN DER; MINDERAA,
R. B.; ORMEL, J.; BOER, J. A. DEN. Convergent genetic modulation of the endocrine stress
response involves polymorphic variations of 5-HTT, COMT and MAOA. Molecular
Psychiatry, p. 483–490, 2007.
KENNEALY, P. J.; SKEEM, J. L.; WALTERS, G. D.; CAMP, J. Do core interpersonal and
affective traits of PCL-R psychopathy interact with antisocial behavior and disinhibition to
predict violence? Psychological assessment, v. 22, n. 3, p. 569–80, 2010.
KOENIGS, M. The role of prefrontal cortex in psychopathy. Reviews in Neuroscience, v. 23,
n. 3, p. 253–262, 2012.
KOSSON, D. S.; NEWMAN, J. P. Psychopathy and the allocation of attentional capacity in a
divided-attention situation. Journal of Abnormal Psychology, v. 95, n. 3, p. 257–263, 1986.
KRUSEMARK, E. A.; KIEHL, K. A.; NEWMAN, J. P. Endogenous attention modulates
early selective attention in psychopathy: An ERP investigation. Cognitive, Affective, &
Behavioral Neuroscience, v. 16, n. 5, p. 779–788, 2016.
LARSON, C. L.; BASKIN-SOMMERS, A. R.; STOUT, D. M.; BALDERSTON, N. L.;
CURTIN, J. J.; SCHULTZ, D. H.; KIEHL, K. A.; NEWMAN, J. P. The interplay of attention
and emotion: top-down attention modulates amygdala activation in psychopathy. Cognitive,
Affective, & Behavioral Neuroscience, v. 13, n. 4, p. 757–770, 28 dez. 2013.
LEVENSON, M. R.; KIEHL, K. A.; FITZPATRICK, C. M. Assessing psychopathic attributes
in a noninstitutionalized population. Journal of Personality and Social Psychology, v. 68, n.
1, p. 151–158, 1995.
45

MACMILLAN, M. Restoring Phineas Gage: A 150th Retrospective. 2000.


MASATAKA, N. Neurodiversity, giftedness, and aesthetic perceptual judgment of music in
children with autism. Frontiers in Psychology, v. 8, n. SEP, p. 1–7, 2017.
MOTZKIN, J. C.; NEWMAN, J. P.; KIEHL, K. A.; KOENIGS, M. Reduced Prefrontal
Connectivity in Psychopathy. Journal of Neuroscience, v. 31, n. 48, p. 17348–17357, 2011.
MOUL, C.; DOBSON-STONE, C.; BRENNAN, J.; HAWES, D. J.; DADDS, M. R.
Serotonin 1B receptor gene (HTR1B) methylation as a risk factor for callous-unemotional
traits in antisocial boys. PLoS ONE, v. 10, n. 5, p. 1–15, 2015.
MOUL, C.; KILLCROSS, S.; DADDS, M. R. A model of differential amygdala activation in
psychopathy. Psychological Review, v. 119, n. 4, p. 789–806, 2012.
MÜLLER, J. L.; SOMMER, M.; WAGNER, V.; LANGE, K.; TASCHLER, H.; RÖDER, C.
H.; SCHUIERER, G.; KLEIN, H. E.; HAJAK, G. Abnormalities in emotion processing within
cortical and subcortical regions in criminal psychopaths: Evidence from a functional magnetic
resonance imaging study using pictures with emotional content. Biological Psychiatry, v. 54,
n. 2, p. 152–162, 2003.
NEUMANN, C. S.; MALTERER, M. B.; NEWMAN, J. P. Factor structure of the
Psychopathic Personality Inventory (PPI): Findings from a large incarcerated sample.
Psychological Assessment, v. 20, n. 2, p. 169–174, 2008.
NEWMAN, J. P. Psychopathic Behavior: An Information Processing Perspective. In:
Psychopathy: Theory, Research and Implications for Society. Dordrecht: Springer
Netherlands, 1998. p. 81–104.
NEWMAN, J. P.; BASKIN-SOMMERS, A. R. Smith and Lilienfeld’s meta-analysis of the
response modulation hypothesis: Important theoretical and quantitative clarifications.
Psychological Bulletin, v. 142, n. 12, p. 1384–1393, 2016.
NEWMAN, J. P.; CURTIN, J. J.; BERTSCH, J. D.; BASKIN-SOMMERS, A. R. Attention
Moderates the Fearlessness of Psychopathic Offenders. Biological Psychiatry, v. 67, n. 1, p.
66–70, 2010.
NEWMAN, J. P.; MACCOON, D. G.; VAUGHN, L. J.; SADEH, N. Validating a Distinction
Between Primary and Secondary Psychopathy with Measures of Gray’s BIS and BAS
Constructs. Journal of Abnormal Psychology, v. 114, n. 2, p. 319–323, 2005.
NEWMAN, J. P.; MALTERER, M. B. Problems with the BIS/BAS scales or Lykken’s model
of primary psychopathy? A reply to Poythress et al. (2008). Personality and Individual
Differences, v. 46, n. 7, p. 673–677, 2009.
NEWMAN, J. P.; SCHMITT, W. A. Passive avoidance in psychopathic offenders: A
replication and extension. Journal of Abnormal Psychology, v. 107, n. 3, p. 527–532, 1998.
ORTEGA, F. O sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Mana, v. 14, n. 2, p.
477–509, 2008.
OSUMI, T.; NAKAO, T.; KASUYA, Y.; SHINODA, J.; YAMADA, J.; OHIRA, H.
Amygdala dysfunction attenuates frustration-induced aggression in psychopathic individuals
in a non-criminal population. Journal of Affective Disorders, v. 142, n. 1–3, p. 331–338,
2012.
PEMMENT, J. Psychopathy versus sociopathy: Why the distinction has become crucial.
46

Aggression and Violent Behavior, v. 18, n. 5, p. 458–461, 2013.


PERA-GUARDIOLA, V.; CONTRERAS-RODRÍGUEZ, O.; BATALLA, I.; KOSSON, D.;
MENCHÓN, J. M.; PIFARRÉ, J.; BOSQUE, J.; CARDONER, N.; SORIANO-MAS, C.
Brain structural correlates of emotion recognition in psychopaths. PLoS ONE, v. 11, n. 5,
2016.
PEREZ, P. R. The etiology of psychopathy: A neuropsychological perspective. Aggression
and Violent Behavior, v. 17, n. 6, p. 519–522, 2012.
PUJARA, M.; MOTZKIN, J. C.; NEWMAN, J. P.; KIEHL, K. A.; KOENIGS, M. Neural
correlates of reward and loss sensitivity in psychopathy. Social Cognitive and Affective
Neuroscience, v. 9, n. 6, p. 794–801, 2013.
ROTHEMUND, Y.; ZIEGLER, S.; HERMANN, C.; GRUESSER, S. M.; FOELL, J.;
PATRICK, C. J.; FLOR, H. Fear conditioning in psychopaths: Event-related potentials and
peripheral measures. Biological Psychology, v. 90, n. 1, p. 50–59, 2012.
SCHLOSSBERG, K.; MASSLER, A.; ZALSMAN, G. Environmental risk factors for
psychopathology. The Israel journal of psychiatry and related sciences, v. 47, n. 2, p. 139–
143, 2010.
SCHMITT, W. A.; NEWMAN, J. P. Are all psychopathic individuals low-anxious? Journal
of Abnormal Psychology, v. 108, n. 2, p. 353–358, 1999.
SEARA-CARDOSO, A.; DOLBERG, H.; NEUMANN, C.; ROISER, J. P.; VIDING, E.
Empathy, morality and psychopathic traits in women. Personality and Individual
Differences, v. 55, n. 3, p. 328–333, 2013.
SEARA-CARDOSO, A.; SEBASTIAN, C. L.; VIDING, E.; ROISER, J. P. Affective
resonance in response to others’ emotional faces varies with affective ratings and
psychopathic traits in amygdala and anterior insula. Social Neuroscience, v. 11, n. 2, p. 140–
152, 3 mar. 2016.
SEARA-CARDOSO, A.; VIDING, E. Functional Neuroscience of Psychopathic Personality
in Adults. Journal of Personality, v. 83, n. 6, p. 723–737, dez. 2015.
SKEEM, J. L.; POLASCHEK, D. L. L.; PATRICK, C. J.; LILIENFELD, S. O. Psychopathic
Personality. Psychological Science in the Public Interest, v. 12, n. 3, p. 95–162, 2011.
SMITH, S. S.; ARNETT, P. A.; NEWMAN, J. P. Neuropsychological differentiation of
psychopathic and nonpsychopathic criminal offenders. Personality and Individual
Differences, v. 13, n. 11, p. 1233–1243, 1992.
TAMATEA, A. J. “Biologizing” Psychopathy: Ethical, Legal, and Research Implications at
the Interface of Epigenetics and Chronic Antisocial Conduct. Behavioral Sciences & the
Law, v. 33, n. 5, p. 629–643, out. 2015.
TELLES, L. E. DE B.; FOLINO, J. O.; TABORDA, J. G. V. Accuracy of the Historical,
Clinical and Risk Management Scales (HCR-20) in predicting violence and other offenses in
forensic psychiatric patients in Brazil. International Journal of Law and Psychiatry, v. 35,
n. 5–6, p. 427–431, 2012.
UMBACH, R.; BERRYESSA, C. M.; RAINE, A. Brain imaging research on psychopathy:
Implications for punishment, prediction, and treatment in youth and adults. Journal of
Criminal Justice, v. 43, n. 4, p. 295–306, 2015.
47

VIDING, E.; FRITH, U. Genes for susceptibility to violence lurk in the brain. Proceedings of
the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 103, n. 16, p. 6085–
6086, 2006.
VIDING, E.; HANSCOMBE, K. B.; CURTIS, C. J. C.; DAVIS, O. S. P.; MEABURN, E. L.;
PLOMIN, R. In search of genes associated with risk for psychopathic tendencies in children:
A two-stage genome-wide association study of pooled DNA. Journal of Child Psychology
and Psychiatry and Allied Disciplines, v. 51, n. 7, p. 780–788, 2010.
VIDING, E.; PRICE, T. S.; JAFFEE, S. R.; TRZASKOWSKI, M.; DAVIS, O. S. P.;
MEABURN, E. L.; HAWORTH, C. M. A.; PLOMIN, R. Genetics of Callous-Unemotional
Behavior in Children. PLoS ONE, v. 8, n. 7, 2013.
VITALE, J. E.; BASKIN-SOMMERS, A. R.; WALLACE, J. F.; SCHMITT, W. A.;
NEWMAN, J. P. Experimental investigations of information processing deficiencies in
psychopathic individuals: Implications for diagnosis and treatment. Clinical Forensics, n.
1976, p. 54–72, 2015.
VITALE, J. E.; BRINKLEY, C. A.; NEWMAN, J. P. Supplemental Material for Abnormal
Selective Attention in Psychopathic Female Offenders. Neuropsychology, v. 21, n. 3, p. 301–
312, 2007.
VITALE, J. E.; NEWMAN, J. P.; BATES, J. E.; GOODNIGHT, J.; DODGE, K. A.; PETIT,
G. S. Deficient behavioral inhibition and anomalous selective attention in a community
sample of adolescents with psychopathic traits and low-anxiety traits. Journal of Abnormal
Child Psychology, v. 33, n. 4, p. 1–16, 2005.
WARREN, J. I.; BURNETTE, M. L.; SOUTH, S. C.; CHAUHAN, P.; BALE, R.; FRIEND,
R.; PATTEN, I. VAN. Psychopathy in women: Structural modeling and comorbidity.
International Journal of Law and Psychiatry, v. 26, n. 3, p. 223–242, 2003.
WHITE, S. F.; BLAIR, J. R. Psychopathy. International Encyclopedia of the Social &
Behavioral Sciences, v. 19, p. 451–456, 2015.
WILSON, N. J.; TAMATEA, A. Challenging the “urban myth” of psychopathy untreatability:
the High-Risk Personality Programme. Psychology, Crime & Law, v. 19, n. 5–6, p. 493–510,
2013.
WOLF, R. C.; CARPENTER, R. W.; WARREN, C. M.; ZEIER, J. D.; BASKIN-SOMMERS,
A. R.; NEWMAN, J. P. Reduced susceptibility to the attentional blink in psychopathic
offenders: Implications for the attention bottleneck hypothesis. Neuropsychology, v. 26, n. 1,
p. 102–109, 2012.
WOLF, R. C.; PUJARA, M. S.; MOTZKIN, J. C.; NEWMAN, J. P.; KIEHL, K. A.;
DECETY, J.; KOSSON, D. S.; KOENIGS, M. Interpersonal traits of psychopathy linked to
reduced integrity of the uncinate fasciculus. Human Brain Mapping, v. 36, n. 10, p. 4202–
4209, out. 2015.
WU, N.; LI, Z.; SU, Y. The association between oxytocin receptor gene polymorphism
(OXTR) and trait empathy. Journal of Affective Disorders, v. 138, n. 3, p. 468–472, 2012.
WU, T.; BARNES, J. C. Two dopamine receptor genes (DRD2 and DRD4) predict
psychopathic personality traits in a sample of American adults. Journal of Criminal Justice,
v. 41, n. 3, p. 188–195, 2013.
YANG, Y.; RAINE, A.; COLLETTI, P.; TOGA, A. W.; NARR, K. L. Morphological
48

alterations in the prefrontal cortex and the amygdala in unsuccessful psychopaths. Journal of
Abnormal Psychology, v. 119, n. 3, p. 546–554, 2010.
YANG, Y.; RAINE, A.; NARR, K. L.; COLLETTI, P.; TOGA, A. W. Localization of
Deformations Within the Amygdala in Individuals With Psychopathy. Archives of General
Psychiatry, v. 66, n. 9, p. 986, 1 set. 2009.
YODER, K. J.; HARENSKI, C.; KIEHL, K. A.; DECETY, J. Neural networks underlying
implicit and explicit moral evaluations in psychopathy. Translational psychiatry, v. 5, n. 8,
2015.

Você também pode gostar