Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SÃO CRISTÓVÃO
2018
2
SÃO CRISTÓVÃO
2018
3
Resumo
Abstract
Lista de abreviaturas
DAAM – differential amydala activation model, modelo de ativação amidalar diferencial em português.
DSM – diagnostic and statistic manual of mental disorders, manual diagnóstico e estatístico de doenças
mentais em português.
EEG – eletroencefalografia.
FPS – fear potentiated startle, reflexo de sobressalto potencializado pelo medo em português.
MAOA-L – monoamine oxidase A low activity, monoamina oxidase A de baixa atividade em português.
fMRI – functional magnetic ressonance imaging, imageamento por ressonância magnética funcional em
português.
Lista de tabelas
Sumário
1. Introdução...........................................................................................................................9
2. História...............................................................................................................................10
3. Terminologia......................................................................................................................11
4. Características da psicopatia..............................................................................................13
5. Ferramentas diagnósticas...................................................................................................13
6. Teorias explicativas............................................................................................................19
6.1. Aspectos emocionais...................................................................................................19
6.2. Aspectos atencionais...................................................................................................21
6.3. Aspectos neurológicos.................................................................................................25
7. Neurofisiologia...................................................................................................................27
7.1. Amídala.......................................................................................................................28
7.2. Córtex pré-frontal........................................................................................................29
7.3. Insula...........................................................................................................................30
7.4. Núcleo accumbens.......................................................................................................30
7.5. Fascículo uncinado......................................................................................................31
8. Genética..............................................................................................................................32
9. Tratamento..........................................................................................................................35
10. Método................................................................................................................................37
11. Discussão............................................................................................................................38
12. Bibliografia.........................................................................................................................41
9
1. Introdução
2. História
O filósofo grego Teofrasto (372 a.C. – 287 a.C.) descreve o caso do “homem
inescrupuloso” em seu livro “The Characters” (port. O caráter). Este seria aquele que
“[...] pega emprestado mais dinheiro a um credor que ele nunca pagou.... Ao
comercializar, lembra ao açougueiro de algum serviço que o emprestou e, parado
perto da balança, joga alguma carne, e se puder, um osso de sopa. Se ele suceder,
tanto melhor; se não, ele pegará um pedaço de tripa e sairá rindo” (Dutton, 2013,
p. 55).
Apesar de ser uma caracterização geral e não poder ser chamada de ‘psicopatia’, tem
sua relação com a de Philippe Pinel (1745 – 1826), no início dos anos 1800, quando ele a
denominou de “manie sans délire” (insanidade sem delírio). Essa caracterização foi advinda da
observação de determinados pacientes que repetidamente apresentavam comportamentos
antissociais e imorais, apesar de manter a capacidade de raciocínio intacta. Pinel assim nomeou
esses indivíduos insanos (manie), nos quais não havia qualquer indício de confusão mental ou
psicose (sans délire). Influenciado pelo trabalho de Pinel, James Cowles Prichard (1786 – 1848)
descreve a “insanidade moral”, referindo-se a sujeitos com desordem emocional, ao invés de
intelectual (Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016). No começo dos anos de 1900, Emil
Kraepelin (1856 – 1926) reconheceu a existência de criminosos que aparentavam estar imunes
aos efeitos da punição e que tinham personalidades deficientes em volição e afeto, buscando
refinar a descrição inicial de Pinel.
Entretanto foi com Hervey Cleckley (1903 – 1984) que o termo “psicopatia” finalmente
foi utilizado, ganhando força em seu livro “The Mask of Sanity” (port. A máscara de sanidade),
escrito em 1941. Foi a primeira tentativa de produzir critérios diagnósticos organizados para o
diagnóstico de tal. Nela Cleckley descrevia sujeitos inteligentes, com pobreza emocional, sem
senso de vergonha, egocêntricos, com charme superficial, ausência de culpa e ansiedade,
imunes à punição, irresponsáveis, imprevisíveis, manipuladores e com um estilo de vida
interpessoal transiente. Ele remarca que esses sujeitos não necessariamente eram violentos ou
criminosos, podendo ser advogados e até psiquiatras.
3. Terminologia
Não obstante, Hare e Babiak (2006 apud Pemment, 2013) reconhecem uma clara
distinção entre psicopatas e sociopatas, com o primeiro não tendo senso de moralidade nem
empatia, assim como outros traços, enquanto isso a sociopatia indica um senso de moralidade
e uma consciência moral desenvolvida, mas não sendo a mesma da cultura no qual o indivíduo
está inserido. Ramsland (2007 apud Perez, 2012) faz uma diferenciação semelhante, escrevendo
que o psicopata é incapaz de sentir culpa, independente do contexto, enquanto o sociopata é
capaz de sentí-la, ao menos dentro do contexto do grupo, mas não se importando com as normas
sociais, violando-as sem hesitação caso seja necessário para alcançar seus objetivos ou desejos.
12
Diversos autores notam que a psicopatia não deve ser confundida com o transtorno de
personalidade antissocial, devendo conceitualizá-la como traço de personalidade, enfatizando
características afetivas e interpessoais, com psicopatas não necessariamente tendo o TPA
(Alexandra e Lopes, 1989), a fim de destituir o construto de características necessariamente
criminosas.
1
Recentes revisões do caso do Phineas Gage (Goldenberg, 2004; Macmillan, 2000) apontam para o fato de que
as mudanças apresentadas por Gage após o acidente foram temporais, sendo também possível que algumas
delas tenham sido o fruto de uma descrição exagerada do médico que originalmente acompanho e descreveu o
caso, o Dr. John Harlow (Macmillan, 2000).
13
4. Características da psicopatia
5. Ferramentas diagnósticas
Essa primeira caracterização realizada por Cleckley ofereceu base à mais utilizada
ferramenta diagnóstica da atualidade, feita por Hare (2013): o Psychopathy Checklist – Revised,
ou PCL-R (sigla do inglês). O PCL-R é um questionário de vinte e um itens, tendo um escore
máximo de quarenta, em cada item pode ser marcado como 0, “não se aplica”; 1, “presente em
certa medida”; ou 2, “definitivamente presente”; a escala é dividida em dois fatores, o primeiro
referindo-se características afetivas e interpessoais, e a segunda com aspectos impulsivos e
antissociais (Hauck Filho, Teixeira e Almeida, 2014; Skeem et al., 2011). Dentro do primeiro
fator encontram-se duas facetas, a primeira relacionada a aspectos interpessoais, contendo itens
como Loquacidade/Charme superficial, Senso de si grandioso, Mentira patológica e
Engabelador/Manipulativo; enquanto a segunda faceta retrata aspectos afetivos, como Falta de
remorso ou culpa, Afeto “raso”, Insensibilidade/Falta de empatia, e Fracasso em aceitar
responsabilidade de suas próprias ações. No segundo fator, existem também mais duas facetas,
sendo a terceira faceta relacionada a estilo de vida, compreendendo itens como Necessidade de
estimulação/Tendência ao tédio, Estilo de vida parasitário, Ausência de metas realistas a longo
prazo, Impulsividade e Irresponsabilidade; na quarta faceta estão os itens relacionados a
comportamentos antissociais, como Controle comportamental fraco, Problemas
15
Outra crítica que o PCL-R sofre desses autores e muitos outros, é o foco excessivo nos
comportamentos criminais ao construto da psicopatia (Hauck Filho, Teixeira e Dias, 2012;
Skeem et al., 2011; Tamatea, 2015). Esta é de extrema relevância para diversos estudos, tendo
uma meta-análise recente de Kenneally e colaboradores (2010) acerca da relação entre o PCL-
R e violência, nela os autores distinguiram entre os fatores 1 (afeto interpessoal) e 2 (desvio
social), descrevendo este como não sendo específico à psicopatia, retomando o debate das
conceitualizações de psicopatias baseadas na personalidade ou comportamentos. Como
resultado da análise, os autores encontraram que os fatores independentemente preveem a
violência, com o fator de desvio social tendo maior utilidade em capacidade de previsão. Além
disso, o desvio padrão de um (1) no fator de desvio social aumenta o risco de violência em 60%,
enquanto o mesmo desvio em afeto interpessoal aumenta em apenas 14%.
segue uma escala Likert de cinco pontos, que vai desde “discordo completamente” até
“concordo completamente”. A escala foi desenvolvida em uma população não-
institucionalizada (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995), diferenciando-se da perspectiva de
população criminosa do PCL-R. Ela é composta de dois fatores, “psicopatia primária”, que
busca avaliar aspectos emocionais ou afetivos (egocentrismo, insensibilidade e manipulação),
e “psicopatia secundária”, que avalia um estilo de vida psicopático (impulsividade e estilo de
vida de autoderrotista). Esses fatores foram advindos de outros inventários, como o de
Sensation Seeking, busca de sensações, em português, de Zuckerman (1979 apud Levenson,
Kiehl e Fitzpatrick, 1995) e o Multidimensional Personality Questionnaire, questionário
multidimensional de personalidade, em português (MPQ, Tellegen, 1982 Levenson, Kiehl e
Fitzpatrick, 1995). Os fatores compreendem: ação antissocial (ing. antisocial action),
desinibição (ing. desinhibition), suscetibilidade ao tédio (ing. boredom susceptibility), busca de
experiência (ing. experience seeking), busca de emoção e aventura (ing. thrill and adventure
seeking), evitação de danos (ing. harm avoidance), e reação ao estresse (ing. stress reaction),
com este último relacionando-se ao traço ansiedade. Na pesquisa para o desenvolvimento da
escala, os autores encontraram que a psicopatia primária estava correlacionada negativamente
com ansiedade, enquanto a psicopatia secundária correlacionava-se positivamente.
É importante notar que a atual quinta edição revisada do manual escreve que o TPA já
foi referido anteriormente como “[...] psicopatia, sociopatia ou transtorno de personalidade
19
dissocial” (p. 659, American Psychiatry Association APA, 2014). Como já foi citado
anteriormente, a psicopatia já apareceu brevemente no DSM, sendo substituída por sociopatia
e então transtorno de personalidade antissocial. A opção do DSM de modificar para a atual
nomenclatura é proveniente do fato que ela é mais abrangente, focando-se nos comportamentos
antissociais, não importando a sua etiologia (Blair, Mitchell e Blair, 2006; Hauck Filho,
Teixeira e Dias, 2012; Skeem et al., 2011).
Por fim, o transtorno da conduta (TC) é outro diagnóstico proveniente do DSM que tem
sua relação com a psicopatia, sendo descrito como um padrão de comportamento repetitivo no
qual os direitos básicos alheios, normas ou regras sociais relevantes e apropriadas para a idade
são violados. É importante notar que existe uma especificação no transtorno relacionada com a
psicopatia, “emoções pró-sociais limitadas” (p. 470, American Psychiatry Association APA,
2014). Essa especificação reflete aspectos interpessoais e afetivos do indivíduo, tendo quatro
elementos, devendo encaixar-se no mínimo em dois deles: ausência de remorso ou culpa,
insensível – falta de empatia, despreocupado com o desempenho, e afeto superficial ou
deficiente. Esses critérios relacionam-se a traços de insensibilidade–afetividade restrita (CU;
ing. callous-unemotional), que são parte de um fenótipo, considerados também traços
psicopáticos, mas em crianças e adolescentes (Blair, 2012; Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil,
2016; Larson et al., 2013; Motzkin et al., 2011; Seara-Cardoso e Viding, 2015; Skeem et al.,
2011; Tamatea, 2015; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Viding et al., 2010; White e Blair,
2015).
6. Teorias explicativas
diferença entre o psicopata e outros homens. Essa é uma perspectiva teórica baseada no
aspecto emocional, como muitas outras apareceram seguindo o mesmo princípio, a mais
famosa teoria relacionada à disfunções no processamento afetivo é a de Lykken (Hamilton,
Hiatt Racer e Newman, 2015; Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016; Koenigs, 2012;
Moul, Killcross e Dadds, 2012; Newman, 1998; Newman e Malterer, 2009; Pera-Guardiola
et al., 2016; Schmitt e Newman, 1999), com a “low fear hypothesis” (hipótese do pouco
medo). Lykken foi o primeiro a realizar experimentos para avaliar déficits no medo em
psicopatas (Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016) através de testes de aprendizado de
esquiva passiva (ing. passive avoidance learning; Harpur e Hare, 1990; Larson et al., 2013;
Newman e Schmitt, 1998; Pujara et al., 2013; Vitale et al., 2005). Diversos outros estudos
buscaram utilizar outros testes relacionados ao condicionamento por medo, como choques
elétricos (Krusemark, Kiehl e Newman, 2016; Larson et al., 2013; Newman et al., 2010;
Rothemund et al., 2012), sobressalto potencializado pelo medo (ing. fear-potentiated
startle; Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2013; Larson et al., 2013; Newman et al.,
2010; Rothemund et al., 2012), resposta galvânica da pele (Rothemund et al., 2012), teste
RSVP (ing. rapid serial visual presentation; Wolf et al., 2012), testes Stroop figura-palavra
(Vitale et al., 2005, 2015; Vitale, Brinkley e Newman, 2007) e Stroop palavra-cor (Smith,
Arnett e Newman, 1992).
Experimentos de esquiva passiva envolvem a inibição de comportamentos que
levariam à punição, neles existem dois tipos de erros: por omissão (falhar em responder a
um estímulo previamente reforçado) ou por comissão (responder a um estímulo
previamente punido). Neste tipo de experimento os psicopatas apresentavam mais erros de
comissão que os controles, mas não mais erros de omissão (Newman e Schmitt, 1998; Vitale
et al., 2005). Nos testes de Stroop, uma informação – que é o foco – é colocada em conjunto
de outra informação incongruente. No caso da figura-palava, é um desenho para ser
identificado que contém uma palavra incongruente sobreposta a ela (e.g.: desenho de um
porco com a palavra “vaca”); no caso da palavra-cor, para ler o nome da cor, sendo esta
escrita com uma cor diferente (e.g.: palavra “vermelho” escrita com a cor azul). Nesses
testes os psicopatas apresentam menor interferência (Vitale et al., 2005, 2015), assim sendo
menos afetados por informações periféricas ao objetivo.
Com resultado semelhante, na tarefa de RSVP os psicopatas apresentaram menor
interferência dos distratores, comparados aos controle (Wolf et al., 2012). Nessa tarefa uma
série de palavras, números ou letras são apresentadas rapidamente – os diversos estímulos
distratores; com dez estímulos por segundo geralmente – com algumas duas delas sendo o
21
objetivo do teste (e.g.: identificar números no meio de letras), que aparecem em dois
momentos diferentes. Essa tarefa verifica o attentional blink (custo temporal de realocar
atenção seletiva; AB; port. piscar atencional). O reflexo de sobressalto é uma resposta
reflexiva fisiológica a determinado estímulo, sendo indicação de medo no organismo – é
consenso de ser mediado pela amídala, testes no FPS geralmente são realizados com
barulhos altos inesperados ou choques elétricos. A resposta galvânica da pele mede a
condutância elétrica da pele, assim como a medição de frequência cardíaca, é uma medida
para avaliar a indicação de resposta do sistema nervoso autônomo, proveniente de medo,
reflexo de sobressalto, raiva ou antecipação de estímulo punitivo.
Blair (Blair, 2012; Blair e Mitchell, 2009; Wolf et al., 2012) é outro autor que postula
uma perspectiva de déficit emocional sendo central na psicopatia, apoiando-se em uma
explicação de base neurobiológica de disfunção na amígdala e córtex órbito-frontal (Blair,
2012; Blair, Mitchell e Blair, 2006), chamando-a de “sistemas integrados da emoção” (ing.
integrated emotion systems; Blair, Mitchell e Blair, 2006). De forma semelhante Kiehl
postulou um modelo chamado de “hipótese da disfunção paralímbica” (Hamilton, Hiatt
Racer e Newman, 2015), que diferencia-se da de Blair por focar mais em outras áreas que
não a amígdala, como a insula, os córtices cingulados, giro para-hipocampal, giro temporal
superior anterior, além do córtex órbito-frontal.
Existe também a “hipótese do marcador somático”(ing. somatic marker hypothesis;
Damasio, 2012), apresentada por António Damásio no seu livro “O erro de Descartes”, com
a primeira edição em 1994. Baseada em achados neurocientíficos, a proposta dessa hipótese
é que as emoções guiam ou enviesam o comportamento e decisões, postulando que a
racionalidade advém de informações emocionais. O córtex ventromedial frontal agiria como
um repositório, estando envolvido na formação de disposições entre o conhecimento factual
e estados bio-regulatórios. Quando alguma decisão está sendo feita, o estado bio-regulatório
automaticamente provê um viés para a mesma, essa retroalimentação sensorial é o
“marcador somático” que, de forma automática, orienta o organismo a “categorizar” uma
opção como benéfica ou não para ele (Bechara et al., 1997).
Mais recentemente, foi formulada a “teoria de integração prejudicada” (II, ing. impaired
integration theory) com o objetivo de integrar os aspectos interdependentes e bidirecionais da
cognição e afeto (Hamilton, Hiatt Racer e Newman, 2015). O processamento de informações
envolve uma cascata de eventos neurobiológicos que transformam informações sensoriais em
representações neurais e comportamento subsequente, sendo assim a cognição é proveniente da
interação e integração de processamentos top-down (cima para baixo, processos de córtices
superiores, movido por objetivos e metas) e bottom-up (baixo para cima, processos de regiões
26
sensoriais, modulando informações provenientes dos sentidos, movido por estímulos; Blair e
Mitchell, 2009; Diamond, 2014) com a falha em qualquer um desses processos ocasionando
consequências para a elaboração e integração da informação. De acordo com a teoria psicopatas
teriam uma menor capacidade no processamento simultâneo de informações, prejudicando o
processamento de estímulos complexos, tornando-o superficial e limitado (Hamilton, Hiatt
Racer e Newman, 2015). Assim sendo, os sintomas afetivos e desinibitórios teriam como
consequência a dificuldade de rapidamente integrar os componentes multidimensionais dos
estímulos sensoriais (Hamilton e Newman, 2016). A teoria especifica algumas redes cerebrais
que seriam importantes para a integração de informações, como as redes de controle cognitivo,
que inclui a rede de controle frontoparietal (FpCN) e rede cíngulo-opercular (CoN), a rede de
atenção dorsal (ing. dorsal attention network), a rede de atenção ventral (ing. ventral attention
network), a rede em modo padrão (DMN, ing. default mode network), e rede de saliência (SN,
ing. salience network).
7. Neurofisiologia
Muitos dos estudos atuais referem-se a achados da neurociência para apoiarem as suas
teorias explicativas acerca da psicopatia. Diversos deles referenciam determinadas áreas de
forma sistemática, como a amídala, o córtex órbito-frontal, o córtex pré-frontal, o núcleo
accumbens, e a insula. Esses estudos se basearam em diversas técnicas de aquisição de
informações acerca do cérebro, especialmente a imagem por ressonância magnética funcional
(fMRI; ing. functional magnetic resonance imaging), assim como a ressonância magnética
(MRI; ing. magnetic resonance imaging), o escaneamento por emissão de pósitrons (PET; ing.
positron emission tomography), a eletroencefalografia (EEG) e o MRI de tensor de difusão
(DTI, ing. diffusion tensor imaging).
A MRI é uma técnica de imagem que se utiliza de campos magnéticos para gerar
imagens estruturais dos órgãos, ressoando geralmente com átomos de hidrogênio, que existe na
28
água e gordura existente no corpo. O fMRI utiliza-se das mudanças no fluxo sanguíneo no
cérebro para gerar uma imagem funcional acerca da atividade cerebral, baseando-se
principalmente no contraste BOLD (ing. blood-oxygen-level dependent). O DTI utiliza-se dos
mesmos princípios que o MRI, mas foca na restrição da difusão da água no tecido, tendo a sua
principal aplicação na geração de imagens de matéria branca. O escaneamento PET é utilizado
para determinar o funcionamento do corpo, especialmente de áreas menores, por medir a
interação de determinadas moléculas no cérebro (como glicose ou drogas que se ligam a
neurotransmissores), basicamente, o metabolismo. O EEG é uma técnica de imageamento
cerebral baseada no monitoramento eletrofisiológico, geralmente com eletrodos no couro
cabeludo para medir a mudança de tensão iônica dos neurônios.
É importante ressaltar que não é somente o volume que determina a função da área, mas
também as conexões dela com outras regiões, seja para a ativação da própria área ou para a
ativação de outra área relacionada. Isso é importante lembrar que nenhuma estrutura cerebral é
isoladamente responsável pela elaboração de comportamentos complexos adaptativos, devido
a isso, é a interação das diversas áreas que proporciona a condição da psicopatia. Considerando
que o cérebro é formado de “trás para frente”, ou seja, as áreas subcorticais – córtices sensoriais
e motor, relacionadas a funções básicas – são as primeiras a serem formadas e maturadas, isso
é importante para lembrar que apesar de crianças e adolescentes apresentarem comportamentos
antissociais, por exemplo, é até a maturação final do cérebro que pode mostrar se ele tem o
“cérebro de um psicopata”.
7.1. Amídala
A amídala é uma estrutura semelhante a uma amêndoa, ficando na parte central inferior
do cérebro, ela é atualmente considerada uma estrutura heterogênea, podendo ser dividida em
até 13 núcleos. A funcionalidade específica de cada núcleo em humanos permanece a ser
melhor investigada, entretanto diversos estudos (incluindo estudos animais) apontam para o
envolvimento da amídala no processamento emocional, aquisição de medo condicionado,
aprendizado por esquiva inibitória, aprendizagem associativa, aquisição de respostas de
sobressalto (FPS), emoções morais e reconhecimento de expressões faciais, especialmente
medo (Blair, 2012; Blair e Mitchell, 2009; Moul, Killcross e Dadds, 2012; Müller et al., 2003;
Seara-Cardoso e Viding, 2015; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Yang et al., 2009, 2010).
Em psicopatas os estudos volumétricos demonstram uma diminuição do tamanho da amídala
esquerda em até 17% e na amídala direita em 19% (Yang et al., 2009). Essa diminuição no
tamanho bilateral amidalar está altamente relacionada com a faceta afetiva-interpessoal da
29
O córtex pré-frontal fica logo atrás da testa, parte anterior do lobo frontal, estando ligado
à tomada de decisão, planejamento de comportamentos complexos e a modulação o
comportamento social, estando também ligado a funções executivas (atenção executiva,
controle inibitório e memória de trabalho). Ele pode ser subdividido em cinco partes principais:
o córtex medial pré-frontal (mPFC do inglês), composto pelo córtex cingulado anterior (aCC
do inglês), córtex infra-límbico e pré-límbico; o córtex órbitofrontal; o córtex pré-frontal
ventrolateral; o córtex pré-frontal dorsolateral; e o córtex pré-frontal caudal. Dessas partes,
quatro são as cruciais por sua relação com a psicopatia, o córtex pré-frontal ventromedial
(vmPFC; ing. ventromedial prefrontal cortex), o córtex órbitofrontal (OFC; ing. orbitofrontal
cortex), e o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC; ing. dorsolateral prefrontal cortex).
O córtex órbitofrontal fica logo atrás dos globos oculares, na base do lobo frontal. Ele
está relacionado com interações sociais, inibição de comportamentos impulsivos, ética,
moralidade, recompensa e punição, arrependimento e projeção de resultados futuros baseados
nas expectativas das ações proximais. Muitos dos estudos focaram nessa área por conta da
“pseudopsicopatia” ou “psicopatia adquirida”, proveniente de danos na mesma, pois como foi
descrito anteriormente, pessoas com dano nessa área apresentam mudanças no comportamento
social, apresentando maior impulsividade e irresponsabilidade, entretanto não trazendo marcas
importantes da psicopatia como agressão instrumental e insensibilidade (Blair, 2012; Blair,
Mitchell e Blair, 2006; Fallon, 2006; Koenigs, 2012; Motzkin et al., 2011; Perez, 2012). O OFC
é frequentemente utilizado de forma intercambiável com o córtex pré-frontal ventromedial, este
sendo responsável por recompensa, memória de curto prazo/de trabalho, planejamento e
motivação. Em psicopatas o córtex órbitofrontal apresenta menor volume de matéria cinzenta
(Koenigs, 2012; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Yang et al., 2010), assim como menor
conectividade com outras áreas relacionadas, como amídala, insula, córtex cingulado anterior e
núcleo accumbens (Fallon, 2006; Koenigs, 2012; Motzkin et al., 2011; Umbach, Berryessa e
Raine, 2015; White e Blair, 2015; Yang et al., 2009, 2010). Entretanto, um estudo demonstrou
30
maior ativação nessa área em psicopatas, ao mesmo tempo que reportou como sendo passivos
em uma tarefa de avaliação de expressões faciais (Müller et al., 2003), este último é importante
para verificar o funcionamento cerebral de psicopatas em outras perspectivas.
Como todas as áreas do córtex frontal, o córtex pré-frontal dorsolateral está relacionado
com as funções executivas, mas mais especificamente com atenção seletiva e atenção à
informação relevante à tarefa (Larson et al., 2013). Em relação ao volume registrado em
psicopatas, há divergências acerca do maior volume (Umbach, Berryessa e Raine, 2015) ou
menor (Larson et al., 2013; Yang et al., 2010). Acerca do seu funcionamento, o estudo de
Larson e colegas (2013), que estudou a modulação da atenção influenciando na ativação
amidalar, demonstrou que psicopatas recrutam mais essa área quando o foco alternativo
(reforço) estava presente.
7.3. Insula
A insula é uma estrutura bilateral profunda na superfície lateral do córtex cerebral. Ela
está relacionada com empatia, interocepção – consciência acerca do estado corporal – e nojo.
Em psicopatas essa área encontra-se hipoativa (Hamilton, Hiatt Racer e Newman, 2015;
Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016; Koenigs, 2012; Seara-Cardoso et al., 2016; Seara-
Cardoso e Viding, 2015; Yoder et al., 2015), tendo a sua conexão com outras áreas reduzidas.
Entretanto, um estudo demonstrou uma ativação elevada na área da insula direita na
visualização de imagens negativas (Müller et al., 2003), apontando a importância de testar a
ativação dessas áreas em psicopatas em diferentes situações. Uma área relevante de ser
comentada é o córtex cingulado anterior, uma estrutura em formato de anel que cobre a parte
frontal do corpo caloso (ACC; ing. anterior cingulate cortex), que está também relacionada
com o reconhecimento de emoções nos outros, área com a qual a insula tem pouca conexão em
psicopatas. Essa falta de retroalimentação entre as áreas levaria a uma experiência subjetiva de
medo menos intensa, acompanhada pela falta de percepção do estado visceral da emoção
(Hoppenbrouwers, Bulten e Brazil, 2016).
(Boccardi et al., 2013). Apesar disso, aparentemente há uma hiperativação dessa estrutura em
psicopatas (Buckholtz et al., 2010; Dutton, 2012).
O fascículo uncinado é uma estrutura que conecta partes do córtex frontal com estruturas
subcorticais, especialmente a amídala e o córtex órbitofrontal. Em psicopatas ela encontra-se
com a sua integridade comprometida (Glenn, 2011; Hecht, 2011; Koenigs, 2012; Motzkin et
al., 2011; Pemment, 2013; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; White e Blair, 2015; Wolf et al.,
2015).
Outra fonte de informações ao respeito da fisiologia da psicopatia vem dos estudos com
gêmeos ou com animais geneticamente alterados para não expressar um determinado gene.
Esses estudos complementam as informações vindas dos estudos de pacientes ou modelos
experimentais, trazendo novos elementos na discussão das causas e da origem da psicopatia.
32
8. Genética
Além disso, os genes podem ter alterações – mutações – que podem não ser fatais, sendo
assim mantidas na população. Essas alterações são chamadas polimorfismos de nucleotídeo
único (SNP; ing. single nucleotide polymorphism). Se a incidência dessa mudança é encontrada
em mais de 1% da população humana, ela é considerada um SNP, se for abaixo, é considerada
uma mutação.
2015; Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Hecht, 2011; Jabbi et al., 2007; Wu, Li e Su,
2012), epistático (i.e. quando um gene interage com outro gene em outra localização; Banlaki
et al., 2015; Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Jabbi et al., 2007; Viding et al., 2010, 2013;
Wu e Barnes, 2013) e epigenético (i.e. estressores ambientais que podem ser utilizados para
moderar os feitos de genes de risco; Fallon, 2006; Moul et al., 2015; Moul, Killcross e Dadds,
2012; Tamatea, 2015).
Alguns estudos genéticos são realizados com crianças para verificar a influência
genética e ambiental na expressão dos fenótipos relacionados. Como psicopatia é um construto
relacionado a adultos, os estudos genéticos geralmente relacionam comportamentos antissociais
(AB; ing. antisocial behavior) e traços de insensibilidade–afetividade restrita (CU; ing. callous-
unemotional traits). Crianças com tendências psicopáticas são descritas como AB+/CU+
(positivo para comportamentos antissociais e insensibilidade–afetividade restrita) (Moul et al.,
2015; Viding et al., 2010, 2013), tendo uma variação como AB+/CU- (sem insensibilidade–
afetividade restrita). Alguns outros SNPs estão relacionados com traços insensibilidade–
afetividade restrita, em um estudo com gêmeos, foram associados aos SNPs rs125519606 no
cromossomo 9, rs10865864 no 3, e rs151997 no 5 (Viding et al., 2013).
Um dos genes mais conhecidos que supõe-se estar associado à psicopatia é a monoamina
oxidase A (MAOA; ing. monoamine oxidase A), também conhecida como o “gene guerreiro”
(Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Dutton, 2012; Fallon, 2013; Tamatea, 2015). Esse gene
produz uma enzima catalisadora para a degradação de neurotransmissores como a dopamina,
norepinefrina e serotonina. Esse gene é mapeado no braço curto do cromossomo X, tendo
basicamente duas variações, o gene de alta atividade (ing. high activity) e de baixa atividade
(ing. low activity), essa atividade demonstra a eficiência na produção da enzima MAO-A. A
sequência de nucleotídeos geralmente está associada a essa diferença na transcrição, ela pode
ser repetida 2, 3, 3.5, 4, ou 5 vezes. As diferenças nessa sequência de repetição são chamadas
de “número variável de repetições em tandem” (VNTR; ing. variable number of tandem
repeats). Essa diferenciação é importante pois é a variação de baixa atividade do MAO-A que
é associada a comportamentos violentos, o MAOA-L, contendo os 2R, 3R ou 5R (número-
repetição) (Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Jabbi et al., 2007; Schlossberg, Massler e
Zalsman, 2010; Viding et al., 2010; Viding e Frith, 2006).
como o abuso e maltratos, na expressão fenotípica desse gene. Sendo assim, ele está relacionado
com a hiperreatividade à ameaça. O MAOA-L está relacionado com a agressão reativa, a forma
última de resposta à ameaça, que é contrária à agressão instrumental apresentada por psicopatas,
uma forma de agressão relacionada a determinado fim ou objetivo, tendo um planejamento. O
gene de baixa atividade da MAO-A está relacionado a menores volumes amidalares, mas com
maior funcionamento na avaliação de faces (Buades-Rotger e Gallardo-Pujol, 2014; Viding e
Frith, 2006). Não somente, por ser um gene ligado ao cromossomo X, a sua expressão em
mulheres (que possuem dois X) pode ser dificultada, resultando numa menor população de
mulheres violentas (Hunter, 2010).
–, um processo epigenético que faz com que haja menor transcrição do gene. Um outro receptor
de serotonina, o HTR2A no cromossomo 13, especificamente o rs7322347, que está relacionado
à agressividade e impulsividade (Banlaki et al., 2015; Moul et al., 2015), pode estar também
ligado à psicopatia.
Alguns genes receptores de oxitocina (OXTR; ing. oxytocin receptor gene) também
demonstram alguma relação com o traço empatia, como os OXTR no cromossomo 3, rs237887,
rs4686302, rs2268491, rs2254298 (Furman, Chen e Gotlib, 2011; Wu, Li e Su, 2012). A
oxitocina está relacionada com a regulação de ligações sociais em animais, empatia e confiança.
Empatia emocional refere-se à resposta emocional congruente com a percepção do estado
emocional alheio, já a empatia cognitiva refere-se à capacidade de mudar para a perspectiva de
outra, em pensamentos, crenças ou valores. Para os traços de preocupação empática e estresse
pessoal (ing. personal distress), os SNPs rs237887 e rs4686302, com indivíduos com alelo A
sendo menos empáticos. Quatro outros SNPs destacam-se, o rs2254298, rs2268491,
rs13316193 e rs4686302, nos quais o alelo C está maior relacionado com empatia (Wu, Li e
Su, 2012). No estudo de Wu, Li e Su (2012), homens e mulheres demonstraram uma diferença
significativa, com mulheres tendo maior índice de empatia que homens, especialmente em
alguns alelos (CT, rs13316193 e rs4686302).
9. Tratamento
em quaisquer sujeitos, as causas subjacentes podem ser diferentes, o que leva a um diagnóstico
e tratamento diferenciado da psicopatia (Baskin-Sommers, Curtin e Newman, 2015; Moul,
Killcross e Dadds, 2012; Skeem et al., 2011; Umbach, Berryessa e Raine, 2015; Vitale et al.,
2015; White e Blair, 2015; Wilson e Tamatea, 2013). Por exemplo, considerando tais sujeitos
como tendo um problema de processamento de informação, de forma a retirar também o
estigma de que são naturalmente antissociais ou ‘maus’ (Vitale et al., 2005).
De forma semelhante, Vitale e colegas (2015) relatam que a dificuldade apresentada por
psicopatas, a partir de uma perspectiva cognitiva, não são os esquemas ou conteúdo das
cognições, mas da acessibilidade a elas. Assim, os autores propuseram o desenvolvimento de
estratégias compensatórias para a modulação da atenção, baseando-se nos achados da RMH. O
tratamento focaria e treinar a atenção para dicas contextuais, manutenção da atenção (ing.
sustained attention) e memória de trabalho. Os sujeitos conseguiram, após um treinamento
computadorizado de “atenção ao contexto”, melhoras significativas nas tarefas.
dinâmicos (ing. dynamic-risk factors) associados com as ofensas cometidas. Com o foco na
redução da violência em grupos psicopáticos – e não de psicopatia em grupos violentos –,
avaliadas através de medidas objetivas e mensuráveis, como a escala de risco de violência
(VRS; ing. Violence Risk Scale), os autores conseguiram observar mudanças em aspectos de
personalidade, utilizada a terceira edição do inventário clínico multiaxial de Millon (MCMI-
III; ing. Millon Clinical Multiaxial Inventory), apesar de ser uma mudança secundária e do
pequeno grupo analisado.
10. Método
O atual trabalho tem por objetivo fazer uma revisão de literatura acerca da psicopatia,
baseando-se em artigos, capítulos de livros e livros das áreas de psicologia, neurociência e
outras áreas, como biologia, para a produção do mesmo. Para tal, foram seguidos alguns
critérios para a inclusão dessa literatura.
Acerca dos artigos brasileiros, foi feita uma busca no Periódicos CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e na Scielo, buscando o termo “psicopatia”.
Foram encontrados um total de 25 resultados, dos quais somente quatro utilizavam o termo
“psicopatia”, aparecendo artigos sobre TPA, que foram excluídos. Foi feita a busca então no
Elsevier, NCBI (National Center for Biotechnology Information), Research Gate e Science
38
Foram utilizados sete livros para a construção desse trabalho: A máscara de sanidade de
Hervey Cleckley, o livro que deu origem ao termo e ao primeiro diagnóstico; Sem consciência:
o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós de Robert Hare, autor também da
ferramenta diagnóstica mais utilizada, o PCL-R; A sabedoria dos psicopatas: o que santos,
espiões e assassinos seriais podem nos ensinar sobre o sucesso de Kevin Dutton, que toma uma
perspectiva mais comunitária (não-prisional) e de personalidade do construto; O psicopata:
Emoção e o cérebro de James Blair e colegas; The Psychopath Inside: A Neuroscientist's
Personal Journey Into the Dark Side of the Brain (port. O psicopata dentro: Uma jornada pessoal
de um neurocientista no lado negro do cérebro) de James Fallon, que descreve a descoberta do
neurocientista acerca do seu próprio cérebro que assemelha-se ao de psicopatas; O erro de
Descartes: Emoção, razão e o cérebro humano de António Damásio, que descreve a sua hipótese
do marcador somático; e o Manual Diagnóstico de Doenças Mentais da Associação Americana
de Psiquiatria. Assim como dois capítulos de livros, de Corr e Pickering acerca da Teoria de
Sensibilidade ao Reforçamento de Grey, e de Harpur e Hare acerca de Psicopatia e Atenção.
Totalizando sete livros e dois capítulos de livros.
Acerca dos anos de publicação, eles vão desde 1986 até 2017. Fazendo uma contagem, do
ano 1986 até 2009, houveram um total de 34 (trinta e quatro) publicações, e de 2010 até 2017,
um total de 74 (setenta e quatro). Essa contagem serve para demonstrar que a revisão tem
diversos estudos atuais e recentes, contendo meta-análises, modelos experimentais e
ferramentas para aquisição desses dados, especialmente de neuroimagem.
11. Discussão
O primeiro mal-entendido acerca da psicopatia é que ela é descrita por maioria dos
autores como uma desordem, seja de personalidade, neurofisiológica ou do desenvolvimento.
Enquanto isso, alguns poucos a descrevem de maneira diferente, como síndrome (Hiatt e
Newman, 2006), como traços latentes de personalidade (Hauck Filho, Teixeira e Dias, 2012)
39
ou remetendo a uma “neurodiversidade” (Ortega, 2008), uma variante cerebral natural, assim
como é considerada o autismo (Seara-Cardoso e Viding, 2015). Estas descrições tentam retirar
um aspecto de ‘doença’ acerca da condição. Uma mudança, que da mesma forma que aconteceu
com o autismo, leva a psicopatia, de uma categoria, para um espectro, o qual se define como
um gradiente de traços de personalidade. Essa perspectiva leva a questionar as ferramentas
diagnósticas acerca da condição, que, como foi apresentada anteriormente, a principal delas –
o PCL-R – necessariamente relaciona com comportamentos antissociais, assim como o DSM
em seus transtornos TPA e DC.
apresentadas por psicopatas, caso eles entrem em contato com o sistema prisional (Baskin-
Sommers, Curtin e Newman, 2015; Tamatea, 2015; Vitale et al., 2015).
12. Bibliografia
HARPUR, T. J.; HARE, R. D. Chapter 22 Psychopathy and Attention. In: [s.l: s.n.]. p. 429–
444.
HAUCK FILHO, N.; TEIXEIRA, M. A. P.; ALMEIDA, R. M. M. DE. Estrutura fatorial da
escala Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R): uma revisão sistemática. Avaliação
Psicológica, v. 13, n. 2004, p. 247–256, 2014.
HAUCK FILHO, N.; TEIXEIRA, M. A. P.; DIAS, A. C. G. Psicopatia: uma perspectiva
dimensional e não-criminosa do construto. Avances en psicología latinoamericana, v. 30, n.
2, p. 317–372, 2012.
HECHT, D. An inter-hemispheric imbalance in the psychopath’s brain. Personality and
Individual Differences, v. 51, n. 1, p. 3–10, 2011.
HIATT, K. D.; LORENZ, A. R.; NEWMAN, J. P. Assessment of emotion and language
processing in psychopathic offenders: Results from a dichotic listening task. Personality and
Individual Differences, v. 32, n. 7, p. 1255–1268, 2002.
HIATT, K. D.; NEWMAN, J. P. Understanding psychopathy: The cognitive side. Handbook
of psychopathy, n. September, p. 334–352, 2006.
HOPPENBROUWERS, S. S.; BULTEN, B. H.; BRAZIL, I. A. Parsing fear: A reassessment
of the evidence for fear deficits in psychopathy. Psychological Bulletin, v. 142, n. 6, p. 573–
600, 2016.
HUNTER, P. The psycho gene. EMBO reports, v. 11, n. 9, p. 667–669, 2010.
JAARSMA, P.; WELIN, S. Autism as a natural human variation: Reflections on the claims of
the neurodiversity movement. Health Care Analysis, v. 20, n. 1, p. 20–30, 2012.
JABBI, M.; KORF, J.; KEMA, I. P.; HARTMAN, C.; POMPE, G. VAN DER; MINDERAA,
R. B.; ORMEL, J.; BOER, J. A. DEN. Convergent genetic modulation of the endocrine stress
response involves polymorphic variations of 5-HTT, COMT and MAOA. Molecular
Psychiatry, p. 483–490, 2007.
KENNEALY, P. J.; SKEEM, J. L.; WALTERS, G. D.; CAMP, J. Do core interpersonal and
affective traits of PCL-R psychopathy interact with antisocial behavior and disinhibition to
predict violence? Psychological assessment, v. 22, n. 3, p. 569–80, 2010.
KOENIGS, M. The role of prefrontal cortex in psychopathy. Reviews in Neuroscience, v. 23,
n. 3, p. 253–262, 2012.
KOSSON, D. S.; NEWMAN, J. P. Psychopathy and the allocation of attentional capacity in a
divided-attention situation. Journal of Abnormal Psychology, v. 95, n. 3, p. 257–263, 1986.
KRUSEMARK, E. A.; KIEHL, K. A.; NEWMAN, J. P. Endogenous attention modulates
early selective attention in psychopathy: An ERP investigation. Cognitive, Affective, &
Behavioral Neuroscience, v. 16, n. 5, p. 779–788, 2016.
LARSON, C. L.; BASKIN-SOMMERS, A. R.; STOUT, D. M.; BALDERSTON, N. L.;
CURTIN, J. J.; SCHULTZ, D. H.; KIEHL, K. A.; NEWMAN, J. P. The interplay of attention
and emotion: top-down attention modulates amygdala activation in psychopathy. Cognitive,
Affective, & Behavioral Neuroscience, v. 13, n. 4, p. 757–770, 28 dez. 2013.
LEVENSON, M. R.; KIEHL, K. A.; FITZPATRICK, C. M. Assessing psychopathic attributes
in a noninstitutionalized population. Journal of Personality and Social Psychology, v. 68, n.
1, p. 151–158, 1995.
45
VIDING, E.; FRITH, U. Genes for susceptibility to violence lurk in the brain. Proceedings of
the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 103, n. 16, p. 6085–
6086, 2006.
VIDING, E.; HANSCOMBE, K. B.; CURTIS, C. J. C.; DAVIS, O. S. P.; MEABURN, E. L.;
PLOMIN, R. In search of genes associated with risk for psychopathic tendencies in children:
A two-stage genome-wide association study of pooled DNA. Journal of Child Psychology
and Psychiatry and Allied Disciplines, v. 51, n. 7, p. 780–788, 2010.
VIDING, E.; PRICE, T. S.; JAFFEE, S. R.; TRZASKOWSKI, M.; DAVIS, O. S. P.;
MEABURN, E. L.; HAWORTH, C. M. A.; PLOMIN, R. Genetics of Callous-Unemotional
Behavior in Children. PLoS ONE, v. 8, n. 7, 2013.
VITALE, J. E.; BASKIN-SOMMERS, A. R.; WALLACE, J. F.; SCHMITT, W. A.;
NEWMAN, J. P. Experimental investigations of information processing deficiencies in
psychopathic individuals: Implications for diagnosis and treatment. Clinical Forensics, n.
1976, p. 54–72, 2015.
VITALE, J. E.; BRINKLEY, C. A.; NEWMAN, J. P. Supplemental Material for Abnormal
Selective Attention in Psychopathic Female Offenders. Neuropsychology, v. 21, n. 3, p. 301–
312, 2007.
VITALE, J. E.; NEWMAN, J. P.; BATES, J. E.; GOODNIGHT, J.; DODGE, K. A.; PETIT,
G. S. Deficient behavioral inhibition and anomalous selective attention in a community
sample of adolescents with psychopathic traits and low-anxiety traits. Journal of Abnormal
Child Psychology, v. 33, n. 4, p. 1–16, 2005.
WARREN, J. I.; BURNETTE, M. L.; SOUTH, S. C.; CHAUHAN, P.; BALE, R.; FRIEND,
R.; PATTEN, I. VAN. Psychopathy in women: Structural modeling and comorbidity.
International Journal of Law and Psychiatry, v. 26, n. 3, p. 223–242, 2003.
WHITE, S. F.; BLAIR, J. R. Psychopathy. International Encyclopedia of the Social &
Behavioral Sciences, v. 19, p. 451–456, 2015.
WILSON, N. J.; TAMATEA, A. Challenging the “urban myth” of psychopathy untreatability:
the High-Risk Personality Programme. Psychology, Crime & Law, v. 19, n. 5–6, p. 493–510,
2013.
WOLF, R. C.; CARPENTER, R. W.; WARREN, C. M.; ZEIER, J. D.; BASKIN-SOMMERS,
A. R.; NEWMAN, J. P. Reduced susceptibility to the attentional blink in psychopathic
offenders: Implications for the attention bottleneck hypothesis. Neuropsychology, v. 26, n. 1,
p. 102–109, 2012.
WOLF, R. C.; PUJARA, M. S.; MOTZKIN, J. C.; NEWMAN, J. P.; KIEHL, K. A.;
DECETY, J.; KOSSON, D. S.; KOENIGS, M. Interpersonal traits of psychopathy linked to
reduced integrity of the uncinate fasciculus. Human Brain Mapping, v. 36, n. 10, p. 4202–
4209, out. 2015.
WU, N.; LI, Z.; SU, Y. The association between oxytocin receptor gene polymorphism
(OXTR) and trait empathy. Journal of Affective Disorders, v. 138, n. 3, p. 468–472, 2012.
WU, T.; BARNES, J. C. Two dopamine receptor genes (DRD2 and DRD4) predict
psychopathic personality traits in a sample of American adults. Journal of Criminal Justice,
v. 41, n. 3, p. 188–195, 2013.
YANG, Y.; RAINE, A.; COLLETTI, P.; TOGA, A. W.; NARR, K. L. Morphological
48
alterations in the prefrontal cortex and the amygdala in unsuccessful psychopaths. Journal of
Abnormal Psychology, v. 119, n. 3, p. 546–554, 2010.
YANG, Y.; RAINE, A.; NARR, K. L.; COLLETTI, P.; TOGA, A. W. Localization of
Deformations Within the Amygdala in Individuals With Psychopathy. Archives of General
Psychiatry, v. 66, n. 9, p. 986, 1 set. 2009.
YODER, K. J.; HARENSKI, C.; KIEHL, K. A.; DECETY, J. Neural networks underlying
implicit and explicit moral evaluations in psychopathy. Translational psychiatry, v. 5, n. 8,
2015.