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PÓS-GRADUAÇÃO EM

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A NEUROPSICOLOGIA
A NEUROPSICOLOGIA

A neuropsicologia é um dos campos das


neurociências
A NEUROPSICOLOGIA

O neuropsicólogo (pesquisador) – estuda a


relação entre o cérebro e o funcionamento
psicológico
A NEUROPSICOLOGIA

O neuropsicólogo (clínico) – compara o cérebro


em seu desenvolvimento típico x o patológico
A NEUROPSICOLOGIA

O exame diagnóstico
A NEUROPSICOLOGIA

O avaliador busca estabelecer a extensão, o


impacto e as consequências cognitivas,
comportamentais e a adaptação emocional e
social que lesões ou disfunções cerebrais
podem promover nas pessoas
A NEUROPSICOLOGIA

Objetivos da avaliação neuropsicológica


A NEUROPSICOLOGIA

Auxílio Diagnóstico – Dúvidas sobre o


diagnóstico; manifestações clínicas muito
semelhantes; ex: depressão senil e demência
de alzheimer.
A NEUROPSICOLOGIA

Prognóstico – busca estabelecer o curso da


evolução e impacto que a patologia trará a
longo prazo
A NEUROPSICOLOGIA

Orientação para o tratamento – busca


estabelecer a conduta terapêutica mais
adequada ou o tipo de intervenção que melhor
traga resultados para o paciente
A NEUROPSICOLOGIA

Seleção de pacientes para técnicas


especiais – quando alguns tipos de
tratamentos requerem indicações precisas
quanto aos sujeitos que se beneficiariam pelo
fato de envolverem riscos cognitivos potenciais
A NEUROPSICOLOGIA

Perícia – quando uma demanda do judiciário


requer uma avaliação das capacidades
cognitivas de alguém para que se tomem
providências específicas no direito
AS NEUROCIÊNCIAS
O NEURÔNIO →
O NEURÔNIO →
AS NEUROCIÊNCIAS
Após um longo período estudando a ciência cognitiva, o
campo das neurociências fez renascer o estudo das
emoções como área importante de pesquisa.

Em grande parte, os estudos relacionados ao medo,


especialmente ao medo condicionado, foram
responsáveis pela retomada do tema.
AS NEUROCIÊNCIAS

A ciência cognitiva avançou no entendimento a respeito


dos mecanismos cerebrais da percepção, memória e
atenção.

O hipotálamo era considerado uma estrutura chave no


controle do sistema nervoso autônomo.
AS NEUROCIÊNCIAS
Alguns autores propuseram uma teoria hipotalâmica,
segundo a qual o hipotálamo avaliaria a relevância de
aspectos emocionais de eventos ambientais.

A expressão de respostas emocionais seria mediada por


impulsos do hipotálamo ao tronco encefálico e, as
projeções do hipotálamo ao córtex mediariam a
experiência consciente da emoção.
AS NEUROCIÊNCIAS

Papez adicionou algumas


estruturas tronco encefálicas a
essa teoria. MacLean
extendeu a teoria para o que
se chama atualmente como
sistema límbico, outrora
chamado pelo autor de
cérebro visceral.
AS NEUROCIÊNCIAS

O ponto de interseção entre a ciência cognitiva e o estudo


das emoções poderia ser a junção do entendimento acerca dos
mecanismos cognitivos com o conceito de sistema límbico.
AS BASES NEURAIS DAS EMOÇÕES

É cada vez mais frequente a descrição da correlação entre disfunções


emocionais e prejuízos das funções neurocognitivas.

Respostas imediatas

→ Estimulação do sistema simpático


→ Medula da glândula suprarrenal
→ O simpático é ativado → alerta e prepara o organismo para uma ação

Fuga ou Luta
AS BASES NEURAIS DAS EMOÇÕES

O ↑ da pressão arterial e frequência cardíaca ↑ oxigênio

Contração do baço, liberando hemácias para o transporte de oxigênio

Redistribuição do suprimento sanguíneo da pele e vísceras para o cérebro e músculos

Dilatação dos brônquios e aumento da ventilação pulmonar

Dilatação das pupilas para aumentar a acuidade visual e estimulação do sistema


linfático a fim de aumentar os linfócitos circulantes com vistas a reparar danos aos
tecidos
AS BASES NEURAIS DAS EMOÇÕES

A NEUROBIOLOGIA DO MEDO

Há muito a amígdala tem sido descrita como importante estrutura no


processamento das informações sobre emoções envolvendo pistas perceptuais
complexas.

A amígdala recebe informações de todos os sistemas sensoriais.

Eles se projetam de forma especifica aos núcleos amigdalianos, permitindo a


integração da informação proveniente das diversas áreas cerebrais, através de
conexões excitatórias e inibitórias desde vias corticais e subcorticais.
AS BASES NEURAIS DAS EMOÇÕES

Ex: (b) O estímulo visual é recepcionado no fundo do olho (retina). Essa informação segue
para o tálamo. Esta estrutura envia sinais para o córtex sensorial e depois para a amígdala
que, por sua vez, sinaliza (c) a matéria cinzenta periaquedutal, o hipotálamo lateral e os
núcleos das estrias terminais, por onde são encaminhadas as respostas emocionais,
autonômicas e hormonais, respectivamente.
AS BASES NEURAIS DAS EMOÇÕES
BLA – Complexo Basolateral;
CeA – Núcleo Central da Amígdala;
BNST – Núcleo das Estrias Terminais;
LC – Locus Ceruleus;
PAG – Matéria Cinzenta Periaquedutal;
PBN – Núcleo Parabraquial;
RPC – Retino Pontino Caudal;
DMNNA – Núcleo Motor Dorsal do vago;
PVN – Núcleo Paraventricular;
LH – Núcleo Lateral;
NTS – Núcleo do Trato Solitarius;
PFC – Córtex Pré-Frontal;

NA – Noradrenalina;
Glu – Glutamato;
GABA – Acido ɣ-Aminobutírico;
ACTH – Hormônio Adrenocorticotrófico;
CRF – Fator Liberador da Corticotrofina;

ANS – Sistema Nervoso Autônomo;


NEUROPSICOLOGIA &
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
FUNDAMENTOS NEUROBIOLÓGICOS DA
RECUPERAÇÃO DAS LESÕES CEREBRAIS,
NEUROPLASTICIDADE E REORGANIZAÇÃO CEREBRAL

Miotto, E. C. Reabilitação neuropsicológica e


intervenções comportamentais. Ed Roca: Rio de Janeiro,
2015.
PLASTICIDADE NEURONAL (sinaptogênese, neurogênese e
apoptose)

- Capacidade intrínseca do SN de modificar sua estrutura/


função mediante um estímulo.
- Capacidade cerebral de adaptação e reorganização.
- Mudança na estrutura ou função das redes neuronais.
- Ampliação do conceito de plasticidade neuronal.
Base teórica

Neuropsicologia Clínica
Psicologia Cognitiva (baseia-se no modelo de
processamento das informações)
Psicologia Comportamental (teorias de
aprendizagem e análise experimental do
comportamento)
Estudos de neuroimagem

- Processos cognitivo-comportamentais alteram


os processos biológicos durante a reabilitação
e/ou psicoterapia

Cognição → Comportamento → Emoção →


Cérebro
Estudos com neuroimagem funcional/estrutural:

→ Transtorno de Estresse Pós-Traumático


→ Fobias específicas
→ Ansiedade social
→ Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Psicoterapia → Alteração em circuitos neurais


Padrão de funcionamento cerebral em pacientes
com transtornos ansiosos:

- Hiperativação da Amígdala (ativação do perigo)


- Hiperativação da Ínsula (respostas aversivas)

Associação com emoções negativas e medo


Callegaro, M. M., & Landeira-Fernandez, J. (2007). Pesquisas em neuro­ciência e suas
implicações na prática psicoterápica. In A. V. Cordioli (Ed.), Psicoterapias: Abordagens
atuais (pp. 851-872) (3a ed.). Porto Alegre: ArtMed.

Cruz, A. P. M., & Landeira-Fernandez, J. (2007). Por uma psicologia baseada em um


cérebro em transformação. In J. Landeira-Fernandez, & M. T. A. Silva (Eds.).
Intersecções entre Neurociência e Psicologia (pp. 1-15). Rio de Janeiro: Editora
MedBook.

Etkin, A., & Wagner, T. D. (2007). Functional neuroimaging of anxiety: A meta-analysis of


emotional processing in PTSD, social anxiety disorder, and specific phobia. American
Journal Psychiatry, 164, 1476-1488. DOI:
http://dx.doi.org/10.1176/appi.ajp.2007.07030504

Porto, P., Oliveira, L., Volchan, E., Mari, J., Figueira, I., & Ventura, P. (2008). Evidências
científicas das neurociências para a terapia cognitivo-comportamental. Paidéia, 18, 485-
494.
Segundo Goosens et al. (2007)

Técnica de Exposição alterou a atividade da


amígdala e ínsula, bem como redução nos
escores de teste de ansiedade.

→ Modificação e modulação dessas estruturas


límbicas
Goossens, L., Sunaert, S., Peeters, R., Griez, E. J., & Schruers, K.
R. (2007). Amygdala hyperfunction in phobic fear normalizes after
exposure. Biological Psychiatry,15, 1119-1125. DOI: http://dx.doi.
org/10.1016/j.biopsych.2007.04.024
Segundo Kumari (2006) pacientes com transtorno de humor
modificaram suas respostas cerebrais frontais e temporais por
meio da terapia interpessoal e TCC.

A TCC promoveu alterações neurais tão consistentes quanto a


farmacologia e também demonstrou eficácia na remissão dos
sintomas.

Linden (2006) reforçou esses resultados em sua revisão com


estudos de neuroimagem funcional sobre os efeitos da
psicoterapia, avaliando as possíveis mudanças ocorridas.
Kumari, V. (2006) Do psychotherapies produce neurobiological
effects? Acta Neuropsychiatrica, 18, 61-70. DOI:
http://dx.doi.org/10.1111/ j.1601-5215.2006.00127.x

Linden, D. E. J. (2006). How psychotherapies changes the brain:


The contribution of functional neuroimaging. Molecular Psychiatry,
11, 528-538. DOI: http://dx.doi.org/10.1038/sj.mp.4001816
Circuito neural de uma desregulação emocional geral e afeto negativo elevado visto de uma porção medial (figura A) e lateral (figura B). Regiões límbicas
(cor branca) como a amígdala, hipocampo e ínsula reagindo à informação emocional. A informação emocional segue em direção às regiões límbicas (cor
branca) e para as regiões corticais (cor cinza), incluindo o córtex anterior do cíngulo (ACC), córtex orbitofrontal (OFC), e finalmente os córtices pré-frontais
dorsomediais e ventromediais (DMPFC, VMPFC). As regiões corticais pré-frontais (cinza) incluem o ACC, DMPFC, VMPFC, bem como a porção dorsolateral
e ventrolateral dos córtices pré-frontais (DLPFC, VLPFC), que podem prover mecanismos de regulação top-down em direção às regiões límbicas, a fim de
modular a atividade upward ou downward dependendo do contexto e objetivos.
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NAS DISFUNÇÕES
EXECUTIVAS E DÉFICITS ATENCIONAIS EM ADULTOS

Miotto, E. C. Reabilitação neuropsicológica e


intervenções comportamentais. Ed Roca: Rio de Janeiro,
2015.
FUNÇÕES EXECUTIVAS

- Planejar
- Organizar
- Elaborar objetivos/estratégias
- Tomar decisões
- Resolver problemas
- Monitorar o comportamento
- Iniciar/Inibir atitudes adequadas a determinados contextos
- Raciocinar de forma lógica/abstrata
- Sustentar/Selecionar/Alternar a atenção para estímulos
específicos
Córtex Pré-Frontal – Representa o mais alto nível da
hierarquia cortical sendo dividido em regiões principais e
interconectadas, quais sejam:

→ Orbital
→ Medial
→ Dorsolateral.
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NAS ALTERAÇÕES
DE MEMÓRIA

Miotto, E. C. Reabilitação neuropsicológica e


intervenções comportamentais. Ed Roca: Rio de Janeiro,
2015.
Alterações de Memória → Queixa cognitiva mais recorrente
na prática clínica.

- Primárias: alterações de memória per se, alteração de


estruturas límbicas.

- Secundárias: Deficit de Atenção e FE, alterações do humor


(ansiedade e depressão) e uso de medicações que afetam a
cognição.
Queixas mais frequentes:

- Esquecimento de fatos e conversas


- Informações lidas em jornais, revistas ou livros
- Local onde se guardam objetos (chaves, óculos, agenda)
- Trajetos a serem percorridos
- Nomes e faces de pessoas conhecidas
- Novas habilidades aprendidas
- Horário das medicações
- Pagamento de contas na data correta
- Compromissos
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

- Estratégias eficazes para a intervenção psicológica


- Orientação aos familiares que convivam com o paciente
- Estimulação das funções neuropsicológicas comprometidas
- Técnicas de TCC para ampliar o repertório do paciente
CASO CLÍNICO

Mulher, 49 anos de idade, solteira, mãe de uma filha.


Foi encaminhada para avaliação neuropsicológica.

A queixa da paciente é referente a sua memória.


Queixa-se de não lembrar de alguns acontecimentos da sua
vida, a exemplo:

A última vez que encontrou com um amigo da família em uma


padaria em Recife;

O último carnaval que passou com a filha, incluindo as


fantasias que a filha usou no ano passado;

Os pontos principais da dissertação de uma aluna que co-


orientava no mestrado;

As orientações que havia feito a um aluno de doutorado.


A paciente refere sintomas ansiosos como mal estar,
dormência no braço esquerdo e desrealização. As crises,
segundo ela, podem ocorrer em qualquer lugar, estando ela
acompanhada ou sozinha.

Realizou avaliação cardiológica → Sem alterações


Realizou avaliação neurológica → Sem alterações

Atualmente faz uso de sertralina 50 mg e clonazepan 0,5 mg.


Foram aplicados os seguintes testes psicológicos:

Teste de Atenção Concentrada (TEACO-FF)


Teste de Atenção Dividida (TEADI)
Teste de Atenção Alternada (TEALT)
Teste de Inteligência Geral Não-Verbal (TIG-NV)
Inventário Fatorial de Personalidade – II (IFP)
Bateria Fatorial de Personalidade (BFP)
Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo
(EFN)
Teste de Atenção Concentrada (TEACO-FF)

Apresentou um desempenho que supera 80 % da amostra


normativa do teste, classificado como superior que pode
indicar um excelente desempenho da atenção concentrada
que é caracterizada pela capacidade de selecionar apenas
uma fonte de informação dentre outras que se encontram ao
redor, em um determinado momento, e manter o foco nesse
estímulo alvo ou tarefa. É possível que o indivíduo apresente
alto desempenho em tarefas que requerem a focalização de
sua atenção por um maior intervalo de tempo.
Teste de Atenção Dividida (TEADI)

Superou 60% da amostra normativa geral (população geral)


e apresentou capacidade Média Superior para procurar mais
de dois estímulos simultaneamente.
Teste de Atenção Alternada (TEALT)

Superou 90% da amostra normativa geral (população geral)


e apresentou capacidade Superior para realizar tarefas que
exijam atenção alternada, ou seja, ora manter o foco de
atenção em um estímulo, ora em outro, durante a execução
de uma tarefa.
Teste de Inteligência Geral Não-Verbal (TIG-NV)

A mulher, 49 anos, docente magistério superior, com


doutorado, realizou o teste em 28/02/2019 e obteve os
seguintes resultados: 25 acertos, Percentil 72,6, QI de 109 e
classificação da inteligência média.
Inventário Fatorial de Personalidade – II (IFP)

Ordem: Apresenta percentil fraco, o que sugere baixa


tendência em por todas as coisas em ordem, manter limpeza
e organização, equilibrio e precisão.

Persistência: Apresenta percentil extremamente baixo, o que


indica tendência a negligenciar detalhes na execução de
atividades e baixa confiança em sua capacidade ou nível de
exigência pessoal, sugerindo dificuldades em levar a cabo
trabalhos iniciados ou a iniciar outras atividades antes de
concluir as que já estão em andamento.
Inventário Fatorial de Personalidade – II (IFP)

Mudança: Apresenta percentil médio fraco. Demonstra baixa


tendência de gostar de novidade e aventura. Resistência à
mudança de hábito, lugares, comidas e coisas.

Dominância: Apresenta percentil extremamente alto, que


indica presença significativa de sentimento de autoconfiança
e o desejo de controlar os outros, influenciar ou dirigir o
comportamento deles através de sugestão, sedução,
persuasão ou comando.
Bateria Fatorial de Personalidade (BFP)

A pessoa apresenta padrões comportamentais, cognitivos e


emocionais comuns à maior parte da população:

Passividade
Depressão
Altivez
Assertividade
Interações Sociais
Pró-sociabilidade
Competência
Empenho
Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo
(EFN)
Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo
(EFN)

A escala foi dimensionada para ter uma média de 100 pontos


e um desvio padrão de 20, assim sendo, escores entre 80 e
120 são esperados para a maior parte da população.

Resultados baixos (percentil < que 15) ou altos (percentil >


que 85) em uma ou mais das subescalas de Neuroticismo,
podem indicar algum tipo de transtorno, sem permitir, no
entanto, a elaboração de um diagnóstico final sobre os casos
avaliados.
Serão aplicados os seguintes testes:

Escala de Depressão de Beck (BDI)


Escala de Ansiedade de Beck (BAI)
Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5)
Figuras Complexas de Rey-Osterrieth
Avaliação

Construam um estudo de caso envolvendo a paciente


descrita.

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