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FUNDAMENTOS DA TERAPIA
COMPORTAMENTAL
2

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estamos empenhados em oferecer todas as condições para que você alcance seus
objetivos, rumo a uma formação sólida e completa, ao longo do processo de
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de sua formação e que, devido a isso, merece um material didático atual e completo,
que seja capaz de contribuir singularmente em sua formação profissional e cidadã.
Some-se a isso também, o devido respeito e agilidade de nossa parte para atender à
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a interação com nossa equipe de trabalho. De acordo com a modalidade de cursos
on-line, você terá autonomia para formular seu próprio horário de estudo, respeitando
os prazos de entrega e observando as informações institucionais presentes no seu
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pós-graduação, segunda licenciatura, complementação pedagógica e capacitação
profissional, esperamos que amplie seus horizontes de oportunidades e que tenha
aprimorado seu conhecimento crítico a cerca de temas relevantes ao exercício no
trabalho e na sociedade que atua. Ademais, agradecemos por seu ingresso ao ZAYN
e desejamos que você possa colher bons frutos de todo o esforço empregado na
atualização profissional, além de pleno sucesso na sua formação ao longo da vida.
4

Sumário

CONCEITOS DE PSICOTERAPIA .............................................................................. 5


FATORES COMUNS A TODA PSICOTERAPIA ....................................................... 10
EQUÍVOCOS SOBRE A TERAPIA COGNITIVA E COMPORTAMENTAL ............... 11
TERAPIA COMPORTAMENTAL ............................................................................... 12
HISTÓRICO .............................................................................................................. 12
FUNDAMENTOS TEÓRICOS ................................................................................... 26
INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES .................................................................. 32
TÉCNICAS DA TERAPIA COMPORTAMENTAL ...................................................... 37
TERAPIA COGNITIVA .............................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48
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CONCEITOS DE PSICOTERAPIA

Segundo Atkinson (2002), Psicoterapia pode ser conceituada como tratamento


de transtornos mentais por métodos psicológicos, em vez de físicos e biológicos. Esse
termo abrange uma variedade de técnicas, todas as quais destinadas a ajudar
pessoas emocionalmente perturbadas a modificarem seu comportamento, seus
pensamentos e suas emoções, para que possam desenvolver melhores maneiras de
lidar com o estresse e com as outras pessoas.
Artur Scarpato, em seu artigo “Introdução sobre a Psicoterapia”, cita vários
conceitos sobre Psicoterapia. Vejamos alguns:

➢ Recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as formas


que o sofrimento humano pode assumir, como transtornos psicopatológicos, crises
pessoais, conflitos conjugais e familiares, crises profissionais, distúrbios
psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, etc.;
➢ É um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos caminhos
internos para solucioná-los, onde seus resultados demonstram uma grande potência
de transformação de vidas, oferecendo uma oportunidade de compreender e mudar
os padrões de vínculo e relação interpessoal.
Outros autores a definem como terapia que usa diversas técnicas empregadas
em Psicologia para o tratamento de transtornos e problemas psíquicos. Ou, processo
de ajuda, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
Psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional
treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a
relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções, com o
intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de
natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele procurou com essa
finalidade (STRUPP, 1978 apud CORDIOLI, 2008).
6

Em termos etimológicos, terapia está relacionada com a cura, então quando


nos referimos à psicoterapia, estamos falando da cura por intermédio da psique. Na
psicoterapia a psique é trabalhada a favor do paciente buscando desenvolvimento de
habilidades que o ajudem a enfrentar as adversidades no presente, ou seja, podemos
conceituá-la também como um processo de mudança, de solução dos problemas
causados pela falta de adaptação frente às dificuldades da vida, de aprendizado, de
como refletir, analisar e tentar viver melhor.
Wampold (2001) diz que a psicoterapia é um tratamento primariamente
interpessoal, baseado em princípios psicológicos, que envolve um profissional
treinado e um paciente ou cliente portador de transtorno mental, problema ou queixa,
o qual solicita ajuda, sendo o tratamento planejado pelo terapeuta com o objetivo de
modificar o transtorno, problema ou queixa, e é adaptado a cada paciente ou cliente
em particular.
De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Psicologia sobre esse
tema, temos:
Art. 1º - A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e
conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que
se realiza por meio da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas
psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional,
promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de
conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos (RESOLUÇÃO CFP N.º
010/00).
Veja algumas resoluções sobre prestação de serviço por meio da psicoterapia
no final deste.
Veremos adiante, que a psicoterapia se distingui de outras modalidades de
tratamento por ser muita mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o
terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém sobre
outra pessoa, como ocorre com outros tratamentos médicos.
Quando falamos de tempo de duração da psicoterapia, isso pode variar de
semanas até anos, vai depender muito do tipo de psicoterapia, da abordagem usada
7

e dos objetivos que 6 se buscam. Por exemplo, a psicoterapia breve trabalha com
objetivos mais específicos, então é bem mais rápida que uma psicoterapia que vai
trabalhar com uma psicopatologia mais severa, que envolverá conteúdos muito mais
profundos.
A psicoterapia pode ser aplicada para tratar diversos fins como:
➢ Resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares e
profissionais;
➢ Amadurecimento pessoal, para um autoconhecimento melhor, reflexão
e descoberta de novos modos de conduzir a própria vida;
➢ Crises existenciais;
➢ Transições difíceis como luto;
➢ Crises profissionais;
➢ Mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta,
menopausa, envelhecimento, etc.);
➢ No tratamento de vários transtornos como depressão, anorexia, bulimia,
pânico, fobias, frigidez, impotência, etc.

Assim, percebemos que a psicoterapia oferece meios e recursos importantes


para uma compreensão mais ampla do processo de adoecimento assim como
estratégias para lidar com as várias contingências as quais estamos vulneráveis.
São vários os tipos de psicoterapia, podemos citar a psicoterapia individual para
crianças, adolescentes, adultos e idosos, psicoterapia de família, de casal, de grupo,
psicoterapia em situações de crise e emergência.
A psicoterapia é importante, pois vai nos ajudar a perceber questões que estão
obscuras, vai nos ajudar a rever nossa história de vida de um ângulo diferente, vai nos
ensinar a reconhecer nossos padrões de comportamento e aprender formas de
influenciar e lidar com 7 esses padrões que são responsáveis por como nós agimos,
nos relacionamos, pensamos e sentimos.
Artur Scarpato cita alguns motivos importantes que explicam porque a
psicoterapia funciona:
8

• Ao dividir um problema, o sujeito está compartilhando um problema, e


isso ajuda a aliviar a carga emocional e seu sofrimento.
• O vínculo estabelecido entre terapeuta e cliente tem poder curativo, pois
é mais fácil superar muitas dores mediante uma relação autêntica de respeito mútuo
do que sozinho.
• A psicoterapia faz o sujeito parar para refletir sobre a própria vida e
quando fazemos isso permitimos muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e
aprofundamento de nossas experiências.
• O psicoterapeuta vai ajudar a perceber as coisas de um ângulo que você
não tinha visto antes e nem suspeitava ser possível.
• O psicoterapeuta recebeu formação adequada e conhece teorias
psicológicas que ajudam na compreensão do que ocorre com o sujeito, auxiliam a
identificar o que pode estar errado em sua vida, a direção que você está seguindo e
as mudanças de rumo necessárias.
• Ele também tem prática com técnicas que tornam possível descobrir
aspectos da personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não treinada e
está preparado para compreender você a partir do vínculo que você estabelece com
ele, das respostas emocionais que você suscita nele.
• Essa presença autêntica no vínculo com o cliente permite que essa
relação funcione como catalisador de processos de mudança como superação dos
efeitos de traumas de relacionamentos anteriores.

De acordo com Cordioli (2008) a psicoterapia, originalmente chamada de cura


pela fala, tem suas origens na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no
hipnotismo. Entretanto, foi ao final do século XIX que ela passou a ser utilizada no
tratamento das doenças denominadas nervosas e mentais, tornando-se uma atividade
médica inicialmente restrita aos psiquiatras. Somente no século XX outros
profissionais passaram a exercê-la, como médicos clínicos, psicólogos, enfermeiros,
assistente sociais, ultrapassando assim as fronteiras do modelo médico.
9

Na atualidade existe um relativo consenso que as terapias são efetivas, além


de uma concordância que uma boa parte dos seus efeitos deve-se a um conjunto de
fatores que envolvem as técnicas efetivas utilizadas, em que cada abordagem possui
as suas e também fatores específicos a todas as psicoterapias.
Então podemos conceituar a psicoterapia como um tratamento primariamente
interpessoal sendo realizada por um profissional treinado, utilizando meios
psicológicos como forma de influenciar o paciente sendo a comunicação verbal o
principal recurso, como já citamos.
São vários os tipos de psicoterapia, mas todas possuem o mesmo objetivo, que
é reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno, trazido pelo paciente que
busca ajuda.
Cordioli (2008) cita alguns elementos comuns a toda psicoterapia:
➢ Ela deve ocorrer no contexto de uma relação de confiança
emocionalmente carregada em relação ao terapeuta, pois se o paciente não sente
essa confiança, ficará um pouco difícil haver uma colaboração e assim o paciente não
expressará o que o levou ao setting.
➢ A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o paciente
acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado, assim
consegue-se estabelecer uma boa relação e permanecer na terapia.
➢ De acordo com Frank (1973) citado por Cordioli (2008), existe um
racional, um esquema conceitual ou um mito que provê uma explicação plausível para
o desconforto, no caso um sintoma/um problema, e um procedimento ou um ritual 9

para ajudar o paciente a resolvê-lo, ou seja, existe um problema e este pode ser
explicado por uma teoria que com suas técnicas buscará ajudar.

São várias as abordagens que dão suportem aos psicoterapeutas, aqui nos
restringiremos às terapias comportamentais e cognitivo-comportamentais, em que
estas se concentram nas alterações dos padrões habituais de pensamento e
comportamento.
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Apesar das diferenças nas técnicas, a maioria dos métodos de psicoterapia


possui características básicas em comum, algumas que envolvem uma relação de
auxílio entre duas pessoas, o cliente e o terapeuta. O cliente é estimulado a discutir
preocupações íntimas e emoções e experiência livremente sem medo de ser julgado
pelo terapeuta ou ter suas confidências traídas; e o terapeuta deve oferecer empatia
e compreensão, engendrando confiança e tentando ajudar o cliente a desenvolver
modos mais eficazes de lidar com seus problemas.

FATORES COMUNS A TODA PSICOTERAPIA

De acordo com Cordioli (2008) existem muitos fatores comuns a todas as


psicoterapias, citaremos alguns:

➢ A psicoterapia ocorre no contexto de uma relação de confiança


emocionalmente carregada em relação ao terapeuta;
➢ A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o paciente
acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado;
➢ Existe um racional, um esquema conceitual ou um mito que prevê uma
explicação plausível para o desconforto/sintoma/problema e um procedimento ou um
ritual para 10 ajudar o paciente a resolvê-lo;
➢ A psicoterapia é uma relação profissional que ocorre no contexto de uma
relação interpessoal, envolvendo outra pessoa ou um grupo de pessoas;
➢ Para a terapia ter sucesso é indispensável um contexto terapêutico
favorável, caracterizado por um ambiente de confiança e apoio, no qual o paciente
acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e que esse objetivo será atingido;
➢ A psicoterapia deve proporcionar uma oportunidade para o paciente
expressar emoções, reviver e revisar experiências passadas, particularmente as que
envolvem relacionamentos com figuras importantes do passado, percebendo as
repetições no presente e encontrando novas formas de agir;
11

➢ Intervenções específicas são usadas pelo terapeuta, tais são coerentes


com o modelo explicativo sobre a origem e a manutenção dos sintomas, com o
propósito de eliminá-los;
➢ A terapia deve criar um ambiente que proporcione o entendimento e a
busca de alternativas para modos problemáticos de pensar, sentir e comportar-se;
➢ A terapia deve proporcionar a oportunidade para novas aprendizagens
por meio da exposição da situação, ideias, sentimentos e comportamentos que
provocam ansiedade, fazendo com que o paciente supere seus medos e hesitações;
➢ É indispensável o reconhecimento, por parte do paciente, da
necessidade de mudança e de um esforço pessoal para conseguir os resultados
desejados.

EQUÍVOCOS SOBRE A TERAPIA COGNITIVA E COMPORTAMENTAL

Nota-se que a Terapia Cognitiva tem sido frequente e equivocadamente


identificada como Terapia Comportamental, originando a ideia, comum entre
terapeutas treinados na abordagem comportamental, de que estariam naturalmente
habilitados a praticá-la. A abordagem cognitiva e comportamental tem concepções de
ser humano e modelos de personalidade e de psicopatologia diferentes. Entretanto,
isso não quer dizer que elas não possam ser trabalhadas juntas, ao contrário, muitas
pesquisas demonstram que há eficácia quando trabalhadas em 11 conjunto.

A mudança da terapia cognitiva e de suas técnicas para as características


comportamentais requer uma adaptação da visão de ser humano e a adoção dos
modelos cognitivos de personalidade e psicopatologia.
Essa integração de elementos da Terapia Comportamental à Terapia Cognitiva
pode ser feita sim, resultando na assim chamada Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC). Essa fusão é viável desde que as técnicas comportamentais sejam
empregadas com a finalidade de mudar cognições, e não comportamentos, ou seja,
são usadas técnicas comportamentais destinadas a mudar cognições e não
comportamentos. Porém, a mudança de cognições consequentemente modifica
12

comportamentos. É importante que fique claro que o objetivo primeiro e principal é a


mudança da cognição, mas que resulta na mudança dos comportamentos. Desse
modo, a Terapia Cognitiva, a TCC, adota a hipótese de primazia das cognições sobre
emoções e comportamentos e conceitua as cognições como eventos mentais.

TERAPIA COMPORTAMENTAL

HISTÓRICO
Sabemos que antes do Behaviorismo existir, muitas outras escolas de
Psicologia o antecederam, e outras surgiram a partir dele, como a Psicologia
Experimental, a Psicologia de Wilhelm Wundt, o Estruturalismo (sistema da Psicologia
de E. B Titchener, que considerava a experiência consciente como dependente das
pessoas que a vivenciava), o Funcionalismo (sistema de Psicologia que se dedicou
ao funcionamento da mente na adaptação do organismo ao ambiente tendo como
precursor William James), posteriormente o Behaviorismo (ciência do comportamento
concebida por Watson tratando somente do comportamento passível de observação
e descrição em termos objetivos), a Psicologia da Gestalt (sistema de Psicologia que
se dedica amplamente à aprendizagem e à percepção, sugerindo que a combinação
dos elementos sensoriais produz novos padrões com propriedades que eram
inexistentes nos elementos individuais), a Psicanálise (teoria de Sigmund Freud sobre
a personalidade e o sistema de psicoterapia) que juntamente com o Behaviorismo,
incentivaram o surgimento de diversas subdivisões dentro de cada escola.
Na década de 50, a Psicologia Humanista (sistema de Psicologia que enfatiza
o estudo da experiência consciente e a integridade da natureza humana) incorporando
os princípios da Psicologia da Gestalt desenvolveu uma reação contra o Behaviorismo
e a Psicanálise.
Em 1960, a Psicologia Cognitiva (sistema de Psicologia que se concentra nos
processos de aquisição do conhecimento, mais especificamente, na forma de
organização das experiências da mente) desafiou o Behaviorismo a rever o conceito
13

de Psicologia, porque seu foco principal seria o retorno aos estudos dos processos
conscientes. E posteriormente surgiram a Psicologia Evolucionista, a Neurociência
Cognitiva e a Psicologia Positiva. Nesse tópico nos restringiremos ao Behaviorismo,
chamada atualmente de Psicologia Comportamental.
De acordo com Schultz & Schultz (2005) muitos nomes marcaram a história da
Psicologia e suas escolas:

• No Estruturalismo temos nomes como Wundt, Stumpf, Kulpe, Titchener,


Brentano, Ebbinghaus.
• No Funcionalismo temos James, Dewey, Munsterberg, Angell, Carr, Hall,
Cattell, Witmer, Scott, Woodworth.
• Na Psicanálise figuras como Freud, Jung, Adler, Horney se destacaram.
• No Behaviorismo temos Thorndike, Pavlov, Watson, Hull, Bekhterev,
Lashley, Tolman, Skinner, Rotter, Bandura.
• Na Psicologia da Gestalt se destacaram Wertheimer, Koffka, Kohler e
Lewin.
• Na Psicologia Humanista temos Maslow e Rogers.
• Na Psicologia Cognitiva, Miller e Neisser.
• Na Psicologia Positiva, Seligman.

Tudo começou quando, no ano de 1913, foi marcada uma espécie de


declaração de guerra, com o surgimento de um movimento de protesto cuja intenção
era dilacerar as visões antigas, buscando uma ruptura com ambas as posições, seus
líderes não desejavam modificar o passado, muito menos manter alguma relação com
ele, esse movimento revolucionário foi chamado de Behaviorismo e foi promovido pelo
psicólogo B. Watson, com 35 anos de idade:
14

B. WATSON

<http://www.klickeducacao.com.br/Klick_Portal/Enciclopedia/images/Ps/11532
/4072.jpg>.

Como já citamos, o Estruturalismo e o Funcionalismo desempenharam papéis


importantes, só que foram suplantadas por três escolas, o Behaviorismo, a Psicologia
da Gestalt e a Psicanálise. Segundo Atkinson (2002), das três, a que teve maior
influência na América do Norte foi o Behaviorismo, que acreditava que para a
Psicologia ser uma ciência, os dados psicológicos deveriam estar abertos ao exame
público como os dados de qualquer outra ciência. Além disso, essa teoria defendia o
comportamento como público e a consciência como privada, assim a ciência deveria
tratar apenas dos fatos públicos. Uma vez que os psicólogos estavam ficando
impacientes com a introspecção, um novo Behaviorismo foi rapidamente aceito.
Schultz & Schultz (2005) afirmam que as premissas básicas de Watson eram
simples, diretas e ousadas, buscando uma Psicologia científica que lidasse
exclusivamente com os atos comportamentais observáveis e passíveis de descrição
objetiva, por exemplo, em termos de estímulos e respostas. Watson rejeitava qualquer
termo ou conceito mentalista, na sua visão palavras como imagem, sensação, mente
e consciência, que eram adotadas desde antes da filosofia mentalista, não
15

significavam absolutamente nada para a ciência do comportamento. Ele afirmava


ainda que ninguém jamais tinha tocado, visto, cheirado, experimentado ou transferido
de um lugar a outro a consciência, sendo sua definição tão improvável como o
conceito de alma.
Deve-se ficar claro que não foi Watson que deu origem às ideias básicas do
movimento Behaviorista, elas já vinham sendo desenvolvidas há algum tempo tanto
na Psicologia como na biologia. Como qualquer outro fundador, o que Watson fez foi
organizar e 15 promover as ideias e as questões já aceitáveis para o Zeitgeist
intelectual da época, assim ele destacou questões como:

➢ A tradição filosófica objetivista e mecanicista;


➢ A Psicologia animal;
➢ A Psicologia funcional.

Dessa forma, Watson começou a trabalhar com questões que focassem


apenas algo que fosse visível, audível ou palpável. Para entendermos melhor as
ideias de Watson faremos um breve balanço de como surgiram algumas ciências.
Encontramos em Baum (1999) a definição de Behaviorismo como um conjunto
de ideias sobre o comportamento, não como uma ciência, mas como uma filosofia da
ciência. Esse conceito fica mais bem entendido quando percebemos que houve um
rompimento de várias ciências com a filosofia, todas começaram seus estudos com a
filosofia e posteriormente se separaram. Uma ruptura de ciências como a astronomia,
física, química, biologia com a filosofia, ciência da qual se originaram, sendo que com
a Psicologia não foi diferente.
O raciocínio da filosofia parte de suposições para conclusões e sua verdade é
absoluta, já a ciência segue direção oposta, pois observa e tenta explicar que verdade
poderia levar essa observação e tem a verdade científica como relativa e provisória.
Como dissemos, a Psicologia rompeu com a filosofia, apesar de até na última
metade do século XIX ter usado métodos filosóficos como a introspecção, método
este considerado vulnerável e pouco confiável.
16

Os psicólogos da época acreditavam que seguindo os métodos objetivos que


eram verificáveis e replicáveis em laboratórios, a Psicologia poderia transformar-se
numa verdadeira ciência.
Em 1913, Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a
introspecção e a analogia como métodos. Ele defendia que a Psicologia deveria ser
definida como ciência do comportamento e não como ciência da consciência. Dessa
forma, evitar os termos relacionados 16 com consciência e mente deixaria a Psicologia
livre para estudar o comportamento humano e social. Ele contestou bastante o
antropocentrismo.
Para Watson, o caminho era fazer da Psicologia uma ciência geral do
comportamento, que compreendesse todas as espécies, e que estudaria apenas o
comportamento objetivamente observável e deixaria de lado a subjetividade da
introspecção e as analogias entre homem e animal.
Com a ciência do comportamento veio a noção de que o comportamento é
determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente. Em contrapartida a
essa tese temos o livre-arbítrio, que é a capacidade de escolha, e supõe um terceiro
elemento além da hereditariedade e do ambiente, que ele diz ser algo que vem de
dentro do indivíduo. O livrearbítrio afirma que a escolha não é uma ilusão, pois são as
próprias pessoas que causam o comportamento.
De acordo com Baum (1999), alguns filósofos tentaram conciliar determinismo
com livre-arbítrio e propuseram para o livre-arbítrio teorias chamadas de
“determinismo brando” e “teorias compatibilizadoras”. A primeira deixa implícita que o
livre-arbítrio é apenas uma experiência, uma ilusão, e não uma relação causal entre
pessoa e ação; já a segunda define livre-arbítrio como deliberação antes da ação, isto
é, comportamento que pode ser determinado pela hereditariedade e pelo ambiente
passado.
A Psicologia comparativa teve origem na ideia de fazer comparações entre
espécies a fim de conhecer melhor a nossa própria. Passou-se a fazer comparações
entre homem e animal para descobrir seus mecanismos, até mesmo suas formas de
pensar e agir.
17

Essa Psicologia teve grande influência no estudo do Behaviorismo. A seguir,


citaremos alguns pontos marcantes.
Jacques Loeb acreditava na reação direta e automática do animal a um
estímulo. Para ele, não há qualquer explicação em termos de definição consciente do
animal referente à reação comportamental forçada pelo estímulo, o que existe é o
movimento forçado involuntário, que, segundo sua teoria, era chamado de tropismo.

JACQUES LOEB

<http://www.flavinscorner.com/jllab.JPG>.

Thorndike, um dos principais pesquisadores para o desenvolvimento da


Psicologia animal, elaborou uma teoria de aprendizagem objetiva e mecanicista com
enfoque no comportamento manifesto. Ele também acreditava que o psicólogo devia
estudar o comportamento, não os elementos mentais ou a experiência consciente,
não interpretando a aprendizagem do ponto de vista subjetivo, mas em termos de
conexões concretas entre estímulos e a resposta, embora não admitisse qualquer
referência à consciência e aos processos mentais. Ele criou algumas teorias como a
do “conexionismo”, que era baseada nas conexões entre as situações e as respostas,
a aprendizagem por tentativa e erro, que era baseada na repetição das tendências de
18

respostas que levam ao êxito, que posteriormente ele definiu como “lei do efeito”, em
que os atos que produzem satisfação em determinada situação tornam-se associados
a ela, quando a situação se repete, o ato tende a ocorrer. Outra teoria seria a “lei do
uso e desuso” ou “lei do exercício”, em que afirmava que quanto mais um
comportamento é realizado em uma situação, mais forte se torna a associação entre
comportamento e situação.

THORNDIKE

<http://www.chesapeake.edu/library/Stock/edward_thorndike_HEAD.jpg>.

Ivan Pavlov estudou os reflexos condicionados, que seriam reflexos


dependentes na formação entre o estímulo e a resposta. Seus estudos foram feitos
por meio de um aparelho utilizando cães que estudava a resposta da salivação.
19

IVAN PAVLOV

<http://www.algosobre.com.br/images/stories/assuntos/biografias/Ivan_Pavlov
.jpg>.
20

<http://images.com.br/imgres>.

Todos esses estudiosos importantes influenciaram Watson e seus estudos


sobre o comportamento, fortalecendo desde o início sua intenção de fundar uma
escola, onde ele desejava que o novo Behaviorismo tivesse valor prático e aplicável
na vida real.
Para Watson quase todo comportamento é resultado de condicionamento e que
o ambiente molda o comportamento reforçando hábitos específicos. Essa escola
tendia a discutir os fenômenos psicológicos em termos de estímulos e respostas,
dando origem ao termo 20 Psicologia de estímulo-resposta (E-R).
De acordo Schultz & Schultz (2005), instinto era conceituado por Watson como
respostas condicionadas socialmente e emoções não passavam de uma simples
resposta fisiológica a estímulos específicos.
Embora o Behaviorismo houvesse chamado a atenção dos psicólogos
americanos, nem todos concordavam com a visão de Watson. Alguns psicólogos
desenvolveram sua própria Psicologia Behaviorista, conduzindo a escola de
pensamento em direções distintas.
A carreira produtiva de Watson na Psicologia durou pouco menos de 20 anos,
mesmo assim, afetou profundamente o curso do desenvolvimento da Psicologia por
muito tempo. Watson foi um eficaz agente do Zeitgeist, em uma época de mudanças
não apenas na Psicologia, como também nas atitudes científicas em geral, ele tornou
a metodologia e a terminologia da Psicologia mais objetiva, embora hoje suas
formulações não sejam mais válidas.
O Behaviorismo de Watson constituiu o primeiro estágio da evolução da escola
de pensamento comportamental aproximadamente em 1913. Mas não parou por aí!
De 1930 a 1960, surge o NeoBehaviorismo, englobando os trabalhos de Tolman, Hull
e Skinner. Esses estudiosos tinham como tópico central da Psicologia o estudo da
aprendizagem, os comportamentos podem ser entendidos por leis de
condicionamentos e o operacionismo. E o terceiro estágio da evolução Behaviorista,
que vai de 1960 e perdura até hoje, chamado de neoneoBehaviorismo ou
21

socioBehaviorismo, incluindo trabalhos de Bandura e Rotter, que enfocam o retorno


do estudo dos processos cognitivos, mas mantendo a abordagem na observação do
comportamento manifesto.
Edward Tolman foi um dos primeiros convertidos ao Behaviorismo e criou o
termo Behaviorismo Intencional, que combina o estudo objetivo do comportamento
com a ponderação da intenção ou a orientação do propósito no comportamento. Seu
principal enfoque, segundo Schultz & Schultz (2005), estava no problema de
aprendizagem. Tolman rejeitou a lei do efeito de Thorndike, afirmando que a
recompensa ou o esforço exerciam pouca influência sobre a aprendizagem, e em seu
lugar propunha uma explicação cognitiva para a aprendizagem, sugerindo que a
repetição do desempenho de uma tarefa reforça a relação aprendida entre as dicas
ambientais e as expectativas do organismo, dessa forma, o organismo acaba
conhecendo seu ambiente, afirmando serem essas relações estabelecidas pela
repetição da realização de uma tarefa.

<http://web.syr.edu/~jlbirkla/kb/images/Tolman.jpg>.

Já Clark Hull usava uma forma de Behaviorismo mais sofisticada e mais


complexa que Watson, embora ainda fosse considerado como objetivo, reducionista
e mecanicista. Descrevia seu Behaviorismo e sua visão de natureza humana
22

empregando termos mecanicistas e considerava o comportamento humano


automático e possível de ser reduzido e explicado na linguagem da física. Sua teoria
da aprendizagem concentra-se no princípio de reforço, a qual é essencialmente a lei
do efeito de Thorndike.
HULL

<http://www.uned.es/psico-2-
PsicologiaII/links/photogallery/1pp/personajes/Clark_L_Hull.jpg>.

Segundo Schultz & Schultz (2005), o Behaviorismo de Skinner dedicava-se ao


estudo das respostas, preocupando-se em descrever e não em explicar o
comportamento, sua pesquisa tratava apenas do comportamento observável, e ele
acreditava que a tarefa de investigação científica era estabelecer as relações
funcionais entre as condições de estímulos controladas pelo pesquisador e as
respostas subsequentes do organismo. Skinner não duvidava da existência das
condições mentais ou fisiológicas internas, apenas não aceitava sua validade no
estudo científico do comportamento.
Em seus experimentos, Skinner conceituou condicionamento operante como
uma situação de aprendizagem que envolve o comportamento emitido por um
organismo em vez de eliciado por um estímulo detectável. Esse comportamento
ocorre sem qualquer estímulo antecedente externo observável.
23

SKINNER

<http://3.bp.blogspot.com/_Rg2vOgLY4e0/RwW_V2R4sVI/AAAAAAAAAIM/fT
xWXZmueXI/s1600 /skinner.jpg>.

Skinner também criou a lei da aquisição, em que a força de um comportamento


operante aumenta quando, em seguida, recebe um estímulo reforçador.
No terceiro estágio da evolução behaviorista chamado de neoneoBehaviorismo
ou socioBehaviorismo, Bandura, Rotter e outros seguidores adotavam uma forma de
Behaviorismo bem mais distinta que a de Skinner. Eles questionavam sua total
negação aos processos mentais ou cognitivos e propunham em seu lugar uma
aprendizagem social, uma reflexão sobre um movimento cognitivo mais amplo na
Psicologia como um todo.
Estes teóricos defendiam os pensamentos (cognições), o que fez com que
fosse criada uma divisão no Behaviorismo: nascendo a Psicologia cognitiva. Outros
autores desta escola são: Albert Bandura, Julian Rotter e Aaron Beck. Eles
acreditavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição,
e que o aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em
laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado.
24

Bandura desenvolveu termos como Reforço Vicário (noção de que o


aprendizado pode ocorrer por observação do comportamento de outras pessoas e das
consequências decorrentes, e não apenas experimentando o reforço diretamente) e
Autoeficácia (a percepção do indivíduo de sua autoestima e a competência em lidar
com os problemas da vida).

BANDURA

<http://news-ervice.stanford.edu/news/2006/february22/gifs/ppl_bandura.jpg>.

Rotter desenvolveu uma forma de Behaviorismo que, como a de Bandura, inclui


referência às experiências subjetivas internas, sendo menos radical que o de Skinner.
Rotter concentrou sua pesquisa nas crenças a respeito da origem do reforço. Ela
acreditava num Locus de controle (a ideia sobre a origem do reforçamento, havendo
o lócus de controle interno – crença de que o reforço depende do próprio
comportamento das pessoas e Locus de controle externo – reforço depende das
forças externas).
25

<http://psychlops.psy.uconn.edu/founders/Images/7.jpg>.

Segundo Schultz & Schultz (2005), apesar do debate interno a respeito da


questão cognitiva no Behaviorismo ter provocado mudanças no movimento
behaviorista, que se seguiram desde Watson até Skinner, é importante lembrar que
Bandura, Rotter e outros neoneobehavioristas que são defensores da abordagem
cognitiva ainda se consideram behavioristas. Assim, eles podem ser chamados de
behavioristas metodológicos, porque se referem aos processos cognitivos internos
como parte do objeto de estudo da Psicologia, enquanto os behavioristas radicais
acreditam que a disciplina devia se dedicar ao estudo do comportamento público e do
estímulo ambiental, e não dos estudos internos presumidos.
Watson e Skinner eram behavioristas radicais. Já Hull, Tolman, Bandura e
Rotter podem ser classificados como metodológicos. Sabe-se que o domínio do tipo
de Behaviorismo de Skinner chegou ao auge na década de 1980 e diminuiu depois de
sua morte em 1990. Skinner até admitiu que sua abordagem estivesse perdendo
terreno e que o impacto da abordagem cognitiva aumentava. E, hoje, o Behaviorismo
que permanece vivo na Psicologia contemporânea, principalmente na Psicologia
aplicada, é diferente daquele que surgiu nas décadas entre o manifesto de Watson,
em 1913, e a morte de Skinner, em 1990.
26

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

De acordo com Skinner (2003), a abordagem comportamental prioriza, na


terapia, a alteração de fatores ambientais e sociais (contingências), possibilitando ao
indivíduo discriminar os estímulos no meio, que contribuem para manutenção de seus
comportamentos e, dessa forma, possibilitar ao indivíduo maior autocontrole diante de
seus comportamentos indesejáveis. Prioriza o uso de experimentos para verificar
como ocorre o comportamento e como ele é mantido e formular conceitos como
esquemas de reforçamento, punição, extinção, generalização de estímulos,
equivalências de estímulos, controle de estímulos entre tantos outros.
Como já ressaltamos anteriormente muitos teóricos contribuíram para que o
Behaviorismo chegasse tão longe. Pavlov trabalhou com conceitos como
condicionamento clássico, estímulo não condicionado, estímulo condicionado,
Thorndike e sua “Lei do Efeito”; Skinner, com os conceitos de condicionamento
operante, reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição; Wolpe enfatizou
novas técnicas para a eliminação de medo e da evitação, usando uma hierarquia
gradual de estímulos ansiogênicos, o que foi chamado de dessensibilização
sistemática e também pela importância do paciente realizar extensas lições de casa
in vivo entre as sessões de terapia.
Hoje, muitos autores conceituam como uma abordagem que trabalha os
problemas psicológicos baseada na filosofia da ciência conhecida como Behaviorismo
Radical e na ciência do comportamento, Análise Experimental do Comportamento. O
Behaviorismo radical, muito trabalhado atualmente por alguns terapeutas, defende
que o comportamento dos organismos é ordenado, passível de ser estudado
cientificamente na mesma forma das ciências naturais, assim busca-se descobrir os
eventos no ambiente que determinam os seus comportamentosproblema e os que os
mantêm.
Na terapia comportamental, pensamentos e sentimentos são considerados
comportamentos, diferentes apenas pela forma como se pode ter acesso a eles, pois
este se dá por meio do relato verbal daquele que pensa e sente, ou seja, pensamentos
27

e sentimentos também são levados em consideração, analisados e passíveis das


intervenções do terapeuta.
Cada terapeuta, de acordo com sua abordagem segue uma linha, mas com o
mesmo objetivo, ou seja, melhora e bem-estar do seu paciente, no caso do terapeuta
comportamental, 2ele entende que o cliente é único e seus problemas ou dificuldades
são produto de uma história particular. Com isso, percebe-se uma humanização do
processo psicoterápico, buscando assim, entender cada cliente e cada história, antes
de propor qualquer intervenção.
Seu principal instrumento é a análise funcional, ou o levantamento criterioso
das variáveis – eventos, acontecimentos – que estejam funcionalmente relacionados
com os comportamentos desejáveis e indesejáveis do cliente. Com esse
entendimento, é possível propor uma estratégia eficaz no alcance do bem-estar e da
melhora do paciente, mas que fique claro que, na maioria das vezes, não é fácil se
chegar a essas variáveis.
De acordo com Saffi, Savoia e Lotufo (2008), a terapia comportamental utiliza
na clínica os conhecimentos derivados das teorias da aprendizagem, sua principal
fonte teórica é o comportamento operante. Diz-se muito que se trata de uma terapia
superficial e que aborda apenas o sintoma, mas isso não é verdade, ela pode ser
aplicada a toda gama de problemas humanos, tanto para o autoconhecimento como
para as dificuldades e conflitos interpessoais. Só que é uma abordagem que exige
conhecimento teórico e técnico sofisticado e o terapeuta deve possuir empatia,
interesse pelo paciente e calor humano.
O terapeuta comportamental busca combater os comportamentos-problema,
ao mesmo tempo em que busca instalar e aumentar a frequência de comportamentos
adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de satisfação e felicidade.
O clínico, entre outras funções, auxilia com suas análises na construção de um novo
repertório ou no fortalecimento do repertório existente (SKINNER, 1989).
A terapia comportamental é a aplicação do conjunto de conhecimentos
psicológicos, adquiridos segundo os princípios da metodologia científica, à
compreensão e solução de problemas clínicos. Assim, é uma prática de ajuda
28

psicoterápica baseada na ciência e na filosofia caracterizada por uma concepção


naturalista e determinista do comportamento humano. Pode ser conceituada também
por um processo de aplicação de princípios da teoria da aprendizagem para a melhoria
de comportamentos específicos e, simultaneamente, de avaliação de quaisquer
modificações observadas, analisando se elas são de fato atribuíveis ao processo de
aplicação e, em caso positivo, a que parte desse processo (BOUCHARD, 1979 apud
Saffi, Savoia e Lotufo, 2008).
A terapia comportamental é muito rica em informações e técnicas, ela é
formada por um conjunto considerável de técnicas derivadas de pesquisas, em
laboratório ou no próprio consultório.
Para fecharmos esse tópico falaremos mais um pouco sobre o trabalho do
terapeuta comportamental. O primeiro passo é o bom relacionamento com o paciente,
por meio da empatia, do interesse, do calor humano e de outras qualidades do
psicoterapeuta (SAFFI, SAVOIA E LOTUFO, 2008). Ele deve fazer a coleta de
informação por meio da anamnese, do uso de diários, de escalas, de instrumentos
diagnósticos e da observação para que se permita conhecer a pessoa e seus
problemas.
A análise funcional é a ferramenta para a coleta de informações e para o
conhecimento da relação entre a pessoa e seu ambiente. Por meio dela procura-se
estabelecer todas as relações de contingências que afetam a pessoa procurando-se
descrever operacionalmente o problema, detalhando os estímulos desencadeantes,
os comportamentos envolvidos e as suas consequências.
Mostraremos agora uma tabela bastante interessante que faz algumas
diferenciações entre Behaviorismo, cognitivismo e construtivismo, para que
posteriormente fiquem mais claras as semelhanças e diferenças entre cada
abordagem.
29

TABELA - DIFERENCIAÇÕES ENTRE BEHAVIORISMO, COGNITIVISMO E


CONSTRUTIVISMO

<http://www.prof2000.pt/users/amtazevedo/af24/teorias.gif>.

Sintetizando tudo que já dissemos, podemos frisar que o terapeuta


comportamental se focaliza no comportamento manifesto, salientando de acordo com
Kaplan e Sadock (2003), a remoção de sintomas manifestos, sem considerar as
experiências privadas ou conflitos internos do paciente. Percebemos que o objetivo
terapêutico de quem segue essa abordagem é claro e concreto: a extinção de hábitos
ou atitudes mal-adaptativas e sua substituição por padrões novos, apropriados e não
provocadores de ansiedade.
Os métodos inerentes às terapias do comportamento fundamentam-se na
crença fundamental de que as ansiedades e os comportamentos persistentes e mal-
adaptativos foram condicionados ou aprendidos. Portanto, o tratamento efetivo
30

consiste de variadas formas de descondicionamento ou desaprendizagem, isto é, o


comportamento inadequado aprendido pode ser desaprendido.
Ainda segundo Kaplan e Sadock (2003), o clínico que deseja adotar o enfoque
comportamental deve responder a algumas questões (tabela abaixo) em conjunto com
o paciente, parentes ou outros responsáveis, que foi preparada por Robert Paul
Liberman:

TABELA – QUESTÕES

1. Quais são os problemas e objetivos da terapia?

Esta questão aborda as conquistas do paciente, bem como os déficits


no comportamento adaptativo e excessos de comportamento mal-adaptativo.
Frequentemente, os problemas do paciente estão relacionados com a
oportunidade inadequada ou contexto inapropriado das respostas
comportamentais. A avaliação dos problemas e uma formulação de objetivos
devem considerar toda a faixa de resposta objetivas, subjetivas, afetivas,
sociais e cognitivas.

2. Como o progresso pode ser medido e monitorado?

Cada problema e objetivo exige especificação comportamental e


monitoramento contínuo em termos de frequência, duração, forma, latência ou
contexto da ocorrência. A operacionalização dos objetivos da terapia possibilita
que o terapeuta determine se as intervenções selecionadas são eficazes e
oferece a base empírica para a terapia comportamental.
31

3. Que contingências ambientais estão mantendo o problema?

Uma análise do comportamento considera as relações funcionais entre


os problemas clínicos e seus antecedentes ambientais (estímulos
precipitadores ou desencadeantes) e consequências (reforçadores).
Antes de formular um plano de tratamento, o terapeuta deve
compreender as contingências sociais e instrumentos presentes, que podem
ter de ser modificadas para um resultado eficaz.

4. Que intervenções tendem a ser efetivas?

Esta questão final aborda as técnicas específicas que podem ser usadas
no plano de tratamento. Somente após as três primeiras perguntas terem sido
respondidas, uma seleção racional das intervenções pode ser feita.
Frequentemente, uma combinação de princípios de aprendizado é usada, para
maximizar os efeitos do tratamento.

Citaremos uma tabela feita por Rebecca Jones citada por Kaplan e Sadock
(2003):

INFORMAÇÕES
32

OBJETIVO Modificar padrões comportamentais maladaptativos


aprendidos que levam a sintomas patológicos.

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Comportamentos mal-adaptativos específicos,


bemdefinidos, circunscritos e facilmente identificáveis
(Exemplo: fobia, consumo excessivo de alimentos,
disfunções sexuais). Transtornos psicofisiológicos nos
quais as manifestações dos sintomas são afetadas pelo
estresse (Exemplo: asma, dor e hipertensão)

DURAÇÃO Geralmente limitado em tempo, específico ao


comportamento em particular.

TÉCNICAS Baseada no princípio da teoria da aprendizagem e da


teoria do aprendizado:
• Condicionamento clássico e operante;
• Treino de relaxamento;
• Reforços;
• Terapia aversiva;
• Dessensibilização sistemática;
• Imersão;
• Modelagem participante;
• Economia de fichas.

INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES

A terapia comportamental pode ser indicada e útil para tratar praticamente


todos os problemas de saúde e de comportamento de atuação do psiquiatra ou do
psicoterapeuta, como:
33

❖ Fobias específicas;
❖ Agorafobia com ou sem pânico;
❖ Fobia social;
❖ Transtornos de ansiedade;
❖ Transtorno obsessivo-compulsivo;
❖ Disfunções sexuais: em especial ejaculação precoce e vaginismo;
❖ Dificuldade de relacionamento interpessoal;
❖ Reabilitação de doentes crônicos;
❖ Depressão;
❖ Transtornos alimentares;
❖ Problemas de comportamento na infância;
❖ Problemas de comportamento na adolescência;
❖ Abuso de dependência de álcool e drogas;
❖ Autoconhecimento.

No caso do autoconhecimento, o terapeuta auxilia o paciente a explicitar as


variáveis que influenciam seu comportamento, podendo a partir disso, auxiliar a
pessoa a modificar seu ambiente para que possam ocorrer mudanças no seu
comportamento, ou seja, autocontrole.
Cordioli (2008) cita que a terapia comportamental é também utilizada como
coadjuvante no tratamento de:

❖ Depressão maior, particularmente na fase inicial de pacientes


gravemente deprimidos;
❖ Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade;
❖ Estresse pós-traumático;
❖ Transtornos de impulsos: Tricotilomania, comprar compulsivo e jogo
patológico;
34

❖ Déficits de habilidades sociais: transtornos de personalidade,


esquizofrenia, deficiências mental e autismo;
❖ Deficiência de controle esfincteriano;
❖ Obesidade;
❖ Hipertensão;
❖ Insônia e insônia primária;
❖ Asma;
❖ Dor crônica;
❖ Cefaleia, etc.

Cordioli (2008) também cita algumas contraindicações na terapia


comportamental:
❖ Níveis de ansiedade muito elevados ou incapacidade de tolerar aumento
dos níveis de ansiedade (transtorno da personalidade borderline, histriônica);
❖ Problemas caracterológicos graves, incapacidade de estabelecer um
vínculo com o terapeuta (personalidade esquizoide ou esquizotípica);
❖ Incapacidade de estabelecer um relacionamento honesto com o
terapeuta (personalidade antissocial);
❖ Ausência de motivação.
Mas, caso seja a terapia cognitivo-comportamental, podemos dizer que
aumenta o leque de atuação, e podemos citar alguns transtornos que houve algum
nível de evidência de eficácia:
❖ Sintomas de esquizofrenia;
❖ Sintomas de demência;
❖ Crises convulsivas não epilépticas;
❖ Reabilitação cognitiva;
❖ Insônia;
❖ Síndrome da fadiga crônica;
❖ Transtorno da personalidade borderline;
❖ Conflitos familiares;
35

❖ Tabagismo;
❖ Obesidade;
❖ Autismo;
❖ Transtorno do pânico;
❖ Depressão;
❖ Fobias;
❖ Transtorno obsessivo-compulsivo;
❖ Tiques;
❖ Parafilias;
❖ Disfunção sexual;
❖ Problemas de comportamento na infância;
❖ Treino de habilidades parentais;
❖ Bulimia nervosa;
❖ Transtorno de estresse pós-traumático;
❖ Dor crônica;
❖ Vítimas de abuso sexual;
❖ Jogo patológico;
❖ Dependência de drogas;
❖ Problemas de saúde relacionados com comportamento;
❖ Prevenção de problemas de saúde;
❖ Promoção de saúde;
❖ Ansiedade generalizada;
❖ Enurese noturna;
❖ Transtorno bipolar.

Abaixo veremos um gráfico que mostra alguns transtornos que acometem a


população e com eles suas taxas, em alguns, bastante elevadas, e perceberemos o
quanto é importante o trabalho psicoterápico.
36

<http://www.ip.usp.br/imprensa/aconteceu/hu.JPG>.
37

TÉCNICAS DA TERAPIA COMPORTAMENTAL

De acordo com Knapp (2004), todos os experimentos comportamentais têm um


elemento cognitivo e a modificação das distorções cognitivas se dá também por meio
das técnicas comportamentais.
Padesky (1994 apud KNAPP, 2004) afirma que a forma mais eficaz de modificar
principalmente pressupostos e regras subjacentes é por meio de experimentos
comportamentais, assim o paciente experimenta na prática o que acontece quando
ele se engaja em 38 comportamentos, que permitem examinar a veracidade e/ou
utilidades dessas crenças subjacentes.
Leahy (1996 apud KNAPP, 2004) diz que o objetivo dessas técnicas ou
intervenções comportamentais é aumentar o comportamento positivo enquanto
diminui o negativo, sendo assim pode-se dizer que o engajamento em um
comportamento que traz resultados positivos aumenta a autoeficácia do indivíduo e
estimula o empenho em novos comportamentos mais adaptativos.
A seguir algumas técnicas:

➢ Alvos comportamentais

Segundo Rangé (2004), nessa técnica o terapeuta ajuda o paciente a identificar


possíveis comportamentos específicos que deseja modificar a curto, médio e longo
prazo. Esse autor cita alguns exemplos para ficar mais claro:
➢ O engajamento em exercícios físicos;
➢ As tarefas de casa concluídas;
➢ O número de páginas de leitura diária;
➢ A diminuição da checagem obsessiva;
➢ A lavagem das mãos.
38

No caso de haver grandes alvos comportamentais, de difícil execução de uma


só vez, devem ser divididos em pequenos comportamentos de mudança, até que o
comportamento como um todo se modifique.
Com essa técnica, o paciente aprenderá a estipular metas e objetivos
específicos e factíveis, tais comportamentos são passíveis de aferição em
determinado período de tempo.
Assim, o terapeuta deve questionar o paciente para saber se o objetivo foi
alcançado, isso depois de algum tempo.

➢ Dessensibilização sistemática

Essa técnica foi criada por Joseph Wolpe, e baseia-se segundo Kaplan e
Sadock (2003), no princípio comportamental do contracondicionamento, o qual afirma
que o indivíduo pode superar a ansiedade mal-adaptativa provocada por uma situação
ou objeto aproximando as situações temidas gradualmente, em um estado
psicofisiológico que iniba a ansiedade.
Nessa técnica, o cliente é treinado a relaxar, é colocado em contato com uma
hierarquia de situações geradoras de ansiedade e é solicitado a relaxar enquanto
imagina cada uma delas, assim o paciente atinge um estado de completo
relaxamento, quando é exposto ao estímulo que provoca a resposta de ansiedade.
Nesse caso, a reação negativa de ansiedade é inibida pelo estado de relaxamento,
num processo chamado de inibição recíproca.
Em vez de utilizar as situações ou objetos reais que provocam medo, paciente
e terapeuta preparam uma lista graduada ou uma hierarquia de cenas provocadoras
de ansiedade associadas aos medos do paciente. Finalmente, o estado aprendido de
relaxamento e as cenas provocadoras de ansiedade são sistematicamente pareados
ao tratamento.
Percebemos que a dessensibilização sistemática consiste então de três etapas:
treino de relaxamento, construção de hierarquia e dessensibilização do estímulo.
39

➢ Exposição in vivo

Semelhante à dessensibilização, exceto pelo fato de que o cliente realmente


experimenta cada situação.

➢ Exposição com prevenção de respostas

Confrontar uma situação ou estímulo temido.


Exemplo: o paciente obsessivo-compulsivo é instigado a refrear a lavagem de
suas mãos após mergulhá-las em água suja.

➢ Flooding ou Inundação

É uma modalidade de exposição in vivo em que um indivíduo fóbico é exposto


ao objeto ou situação mais temido por um período prolongado sem oportunidade de
fugir.

➢ Reforçamento seletivo

Reforço de comportamento específico, muitas vezes, mediante o uso de fichas


que podem ser trocadas por recompensas.

➢ Modelagem

Segundo Atkinson (2002), consiste em reforçar somente variações de


respostas que se desviam na direção desejada pelo experimentador.
Na técnica de modelagem “o terapeuta modela a resposta/comportamento que
se deseja” (RANGÉ, 2004), ou seja, ele reforça apenas os comportamentos
desejados.
40

➢ Modelação (imitação)

É o processo pelo qual uma pessoa aprende comportamentos observando e


imitindo os outros. É um método bastante eficaz de mudança de comportamento, pois
uma vez que observar os outros é uma das principais formas humanas de aprender,
assistir pessoas que estão apresentando comportamento adaptativo ensina melhores
estratégias de enfrentamento às pessoas com respostas inadaptativas. A modelação
é eficaz na superação de medos e ansiedades porque oferece uma oportunidade para
observar outra pessoa passar pela situação geradora de ansiedade sem se ferir.
Exemplo: O terapeuta emite comportamentos assertivos durante a sessão que
podem ser copiados pelo cliente e reproduzidos.

➢ Ensaio comportamental

Nessa técnica o paciente dramatiza o comportamento que planeja conduzir fora


da terapia.
Exemplo: O paciente pode demonstrar como ser assertivo mediante um diálogo
com seu chefe.

➢ Hierarquia de respostas/estímulos

Nessa técnica, tem-se uma lista de situações ou respostas, das mais temidas
até as menos temidas, para serem usadas em exposição.
Exemplo: o paciente e o terapeuta fazem uma lista de situações ou
comportamentos que o primeiro teme, com hierarquia de temor. O paciente fóbico de
elevador coloca “pensar em elevador” como a menos temida e “subir de elevador o
edifício mais alto da cidade” como a mais temida.
41

➢ Autorrecompensa

De acordo com Knapp (2004), é usar autoelogio, gratificações e reforços


concretos para incrementar comportamentos desejáveis.
Exemplo: o paciente pode se recompensar com consequências positivas
tangíveis (uma comida, um filme, um presente ou um comportamento prazeroso) ou
com autoafirmações positivas (“estou orgulhoso de mim mesmo por tentar”).

➢ Treinamento de Relaxamento

Relaxar diferentes grupos musculares em sequência, imaginar figuras


relaxantes, praticar exercícios de respiração.

➢ Reforço

Para Skinner, segundo Myers (1999), recompensa é representado pela palavra


“reforço”, que pode ser conceituada como qualquer evento que aumente a frequência
de uma reação precedente. Assim, o reforço pode abranger uma série de ações, como
um elogio ou uma salva de palmas. Existem dois tipos básicos de reforço, o positivo
e o negativo.

Reforço positivo: O reforço positivo é capaz de fortalecer uma reação quando


oferece um estímulo logo após esta reação. Ele aumenta a probabilidade de um
comportamento pela presença (positividade) de uma recompensa (estímulo).

Reforço negativo: O reforço negativo é capaz de fortalecer uma reação


quando remove algum tipo de estímulo aversivo. Ele aumenta a probabilidade de um
comportamento pela ausência (retirada) de um estímulo aversivo (que cause
desprazer) após o organismo apresentar o comportamento pretendido.
42

Segundo alguns autores, o que difere um reforço positivo de um reforço


negativo é que o primeiro consiste em inserir um estímulo reforçador no ambiente e o
segundo consiste em retirar um estímulo aversivo.
Ex. 1: comportamento de estudar bastante é reforçado pelo estímulo reforçador
de se receber uma boa nota, de modo que a boa nota é um reforço positivo.
Ex. 2: desligar o telefone durante uma conversa desagradável retirará do
ambiente um estímulo aversivo, que é a conversa, de modo que desligar o telefone é
um reforço negativo.

Punição

A punição é um estímulo aversivo que reduz a probabilidade do


comportamento.
A punição pode ser positiva e negativa:

Punição Positiva: Inseri-se no ambiente um estímulo aversivo:


Ex: um puxão de orelha.

Punição Negativa: Retirada de um estímulo reforçador do ambiente:


Ex: proibição de assistir televisão.

OBSERVAÇÕES:

• Reforço negativo não é a mesma coisa que punição: o reforço negativo


é um estímulo que aumenta a frequência do comportamento que consiste em retirar
um estímulo aversivo do ambiente.
• Reforço ou reforçamento não é recompensa.
• Reforços não apenas aumentam a probabilidade de incidência no
comportamento como também são utilizados para que um determinado
43

comportamento deixe de acontecer, estimulando a não incidência do determinado


comportamento.
• Técnicas comportamentais para diminuição de frequência de um
determinado comportamento:
✓ Punição positiva, pela qual se insere algo aversivo no ambiente;
✓ Punição negativa, pela qual se retira algo reforçador do ambiente;
✓ Extinção.

➢ Extinção

É a retirada total do estímulo ao comportamento do ambiente.


Veja quadro com tipos de reforçamento e punição de acordo com Atkinson
(2002):

TIPOS Reforçamento Reforçamento Punição positiva Punição


positivo negativo negativa

Estímulo Remoção de um Apresentação de Remoção de um


agradável que estímulo um estímulo estímulo
DEFINIÇÃO ocorre após um desagradável desagradável agradável
comportamento depois que um depois que um depois que um
desejado. comportamento efeito indesejável comportamento
desejado ocorre. ocorre. indesejado ocorre.

EFEITO Aumenta a Aumenta a Diminui a Diminui a


probabilidade do probabilidade do probabilidade do probabilidade do
comportamento comportamento comportamento comportamento
desejado. desejado. indesejado. indesejado.

EXEMPLO Nota alta em uma Permitir a uma Uma nota baixa Cortar a televisão
prova. criança que saia em um exame. de uma criança
do seu quarto que se comporta
depois de parar mal.
44

com um acesso de
raiva.

➢ Terapia aversiva

De acordo com Kaplan e Sadock (2003), técnica prega que quando um estímulo
nocivo (punição) é apresentado imediatamente após uma resposta comportamental
específica, esta acaba sendo inibida ou extinta. Assim, existem muitos tipos de
estímulos aversivos como:

✓ Choques elétricos;
✓ Substâncias que induzem vômito;
✓ Punição corporal;
✓ Reprovação social, etc.

O estímulo negativo é pareado ao comportamento que é, assim, suprimido. O


comportamento inadequado geralmente desaparece após uma série de tais
sequências.
A terapia aversiva tem sido usada no tratamento de vários transtornos, dentre
eles:
✓ Abuso de álcool;
✓ Parafilias;
✓ E outros comportamentos com qualidades impulsivas e compulsivas.

Muitos terapeutas a contestam, dizendo que ela é controvertida. Um exemplo


é que a punição nem sempre leva à diminuição esperada na resposta e pode, às
vezes, ser positivamente reforçadora.
45

Condicionamento respondente

De acordo com Skinner (1987), diz respeito ao reflexo condicionado de Pavlov,


que prepara o organismo para reagir a um ambiente ao qual apenas o indivíduo é
exposto.
➢ Estímulo não condicionado

De acordo com Atkinson (2002), é um estímulo que automaticamente provoca


uma resposta, normalmente por intermédio de reflexo, sem condicionamento prévio.

➢ Resposta não condicionada

Resposta originalmente dada a um estímulo não condicionado, usada como


base para estabelecer uma resposta condicionada a um estímulo anteriormente
neutro.

➢ Estímulo condicionado

Estímulo anteriormente neutro que passa a gerar uma resposta condicionada


por meio de associação com um estímulo não condicionado.

➢ Resposta condicionada

A resposta aprendida ou adquirida a um estímulo que originalmente não


provoca resposta, ou seja, um estímulo condicionado.

➢ Comportamento operante
Nesse tipo de comportamento novas respostas podem ser fortalecidas –
reforçadas – por eventos que as seguem imediatamente.
46

➢ Aprendizagem social

Processo de aprendizagem no qual um indivíduo muda seu comportamento em


função de observar, ver ou ler a respeito do comportamento de outro indivíduo.

TERAPIA COGNITIVA

De acordo com Beck (1964), a Terapia Cognitiva foi desenvolvida por Aaron T.
Beck, como uma psicoterapia breve, estruturada, orientada ao presente, para
depressão, direcionada a resolução de problemas atuais e a modificar os
pensamentos e comportamentos disfuncionais.
Segundo Beck (2007), Aaron T. Beck a desenvolveram na Universidade da
Pensilvânia no início da década de 60. Desde lá, Beck e outros vêm adaptando com
sucesso essa terapia para um conjunto surpreendentemente diverso de populações e
desordens psiquiátricas.
O modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou disfuncional, que
sabemos que influencia o humor e o comportamento do paciente, seja comum a todos
os distúrbios psicológicos. Portanto, se o paciente faz uma avaliação realista e
modifica seu pensamento, ele produz uma melhora no humor e no seu
comportamento. Para se ter uma melhora duradoura deve-se modificar as crenças
disfuncionais básicas dos pacientes.
Beck (1997) enfatiza que a terapia cognitiva é utilizada em uma ampla gama
de aplicações também apoiadas por dados empíricos, que são derivados da teoria. A
terapia cognitiva foi extensamente testada desde 1977, em que estudos controlados
demonstraram sua eficácia no tratamento do transtorno depressão maior, transtorno
de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, fobia social, abuso de substância,
transtornos alimentares, problemas de casais e depressão de pacientes internados.
47

Beck (1997) diz que a terapia cognitiva pode ser usada também para pacientes
com diferentes níveis de educação e renda, pacientes de todas as idades, da pré-
escola até os idosos.
Outras formas de Terapia Cognitivo-comportamental foram desenvolvidas por
outros teóricos. A Terapia racional-emotiva de Albert Ellis, a modificação do
comportamento de Donald Meichenbaum e a Terapia multimodal de Arnold Lazarus,
e muitos outros contribuíram de forma importante para o desenvolvimento da Terapia
Cognitiva – incluindo Michael Mahoney, Vittorio Guidano e Giovanne Liotti.
A integração entre as abordagens cognitiva e a comportamental aconteceu a
partir da aceitação de ideias cognitivas influenciada pelos “três sistemas” de Lang,
(Salkovskis et al. 1997) que são o comportamental, o cognitivo/afetivo e o fisiológico.
Esse conceito enfatiza que os problemas psicológicos poderiam ser conceitualizados
de maneira útil em sistemas de resposta 50 sutilmente ligados. Isso foi um marco para
a aceitação das noções cognitivas na abordagem comportamental.
O tratamento na abordagem cognitivo-comportamental objetiva ajudar o
paciente a reconhecer padrões de pensamento distorcido e comportamento
disfuncional, utilizando-se a discussão sistemática e tarefas comportamentais
previamente estruturadas para ajudar o paciente a avaliar e modificar tanto seus
pensamentos deformados quanto seus comportamentos disfuncionais.
Três proposições fundamentais são identificadas como estando no cerne das
terapias cognitivo-comportamentais (KNAPP, 2004):

➢ A atividade cognitiva influencia o comportamento, isto é, a avaliação


cognitiva dos fatos pode influenciar a resposta a esses fatos;
➢ A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;
➢ O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança
cognitiva.
48

REFERÊNCIAS

BECK, A. T.; ALFORD, B. A. O Poder Integrador da Terapia Cognitiva. Porto Alegre:


Artmed, 2000.
CABALLO, V. E. (Org.). Manual de Técnicas de Terapia e Modificação do
Comportamento. São Paulo: Santos, 2002.
CASULLO, M. M. Evaluacion psicológica. Em S. M. Wechsler & R. S. L. Guzzo (Orgs.),
Avaliação psicológica: perspectiva internacional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
CID –10. Classificação dos Transtornos Mentais e do Comportamento: Descrições
Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Coord. Organização Mundial de Saúde. Trad.
Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
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