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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
BIOMEDICINA

THAMIRIS BOTELHO RIBEIRO CONCEIÇÃO

OS EFEITOS DE TERAPIAS BASEADAS EM MINDFULNESS E DOSES DE


AYAHUASCA EM TRAÇOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Natal
2018
THAMIRIS BOTELHO RIBEIRO CONCEIÇÃO

OS EFEITOS DE TERAPIAS BASEADAS EM MINDFULNESS E DOSES DE


AYAHUASCA EM TRAÇOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de


Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do
Título de Bacharel em Biomedicina.

Natal
2018
THAMIRIS BOTELHO RIBEIRO CONCEIÇÃO

OS EFEITOS DE TERAPIAS BASEADAS EM MINDFULNESS E DOSES DE


AYAHUASCA EM TRAÇOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE

Monografia Apresentada à Coordenação do Curso de


Biomedicina da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, como Requisito Parcial à Obtenção do
Título de Bacharel em Biomedicina.

Natal, 27 de Novembro de 2018

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Bruno Lobão Soares


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profª. Drª. Nicole Leite Galvão Coelho


Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Drª Fernanda Palhano Xavier de Fontes


Universidade Federal do Rio Grande do Norte- Instituto do Cérebro
AGRADECIMENTOS

Gostaria de começar agradecendo minha mãe por todo o investimento feito em mim
e na minha educação. Só nós duas sabemos de todas as dificuldades que
passamos e todos os sacrifícios que você fez para que eu pudesse ter acesso à
melhor educação possível e eu serei eternamente grata por tudo. Eu não seria nada
sem você. Te amo demais! Agradeço também a todos os familiares e amigos que
sempre me apoiaram e acreditaram em mim, guardo por cada um, carinho e gratidão
dentro do coração.
Por fim gostaria de agradecer ao meu professor e orientador Bruno Lobão por todo o
apoio e suporte ao longo desse último ano, obrigada por toda a sabedoria
compartilhada! Espero poder trabalhar novamente com você no futuro, quem sabe
transformar essa revisão em um projeto lindo. Tenhamos fé!
RESUMO

Depressão e ansiedade são considerados o mal do século. O número de pacientes


que sofrem com esses transtornos tem aumentado consideravelmente e tendem a
crescer ainda mais diante de todo o cenário estressante do mundo contemporâneo ao
qual as pessoas têm sido cada vez mais expostas. Cerca de um terço dos indivíduos
diagnosticados com ansiedade ou depressão apresentam resistência aos fármacos
antidepressivos e ansiolíticos disponíveis no mercado e não apresentam remissão dos
sintomas mesmo com acompanhamento médico. Dessa forma, têm se investido cada
vez mais em pesquisas que buscam métodos alternativos aos tradicionalmente
utilizados na rotina clínica para o tratamento de ansiedade e depressão. Esta revisão
buscou reunir estudos clínicos que descrevem os efeitos farmacológicos terapêuticos
da ayahuasca, bebida com propriedades psicodélicas consumida originalmente por
nativos amazônicos e comunidades religiosas; em paralelo revisitou trabalhos que
demonstram efeitos terapêuticos de intervenções clínicas baseadas em meditação do
tipo mindfulness. A partir daí, comparamos os efeitos das duas propostas de terapias
alternativas em vários marcadores biológicos utilizados, bem como apresentamos
propostas de uma possível integração para redução de sintomas relacionados a
ansiedade e depressão.
Palavras-chave: Mindfulness, Ayahuasca, Ansiedade, Depressão, Terapias
Alternativas.
ABSTRACT

Depression and anxiety are considered the evil of the century. The number of patients
suffering from these disorders has increased considerably and tends to grow even
more in the face of the stressful scenario of the contemporary world to which people
have been increasingly exposed. About one-third of individuals diagnosed with anxiety
or depression are resistant to antidepressant and anxiolytic drugs available on the
market and do not present remission of symptoms even with medical follow-up. On this
perspective, the number of researches that seek alternative methods to those
traditionally used in the clinical routine for the treatment of anxiety and depression has
increased. This review sought to gather clinical studies that describe the therapeutic
pharmacological effects of ayahuasca, a drink with psychedelic properties originally
consumed by Amazonian natives and religious communities; in parallel, analyzed
clinical trials demonstrating the therapeutic effects of clinical interventions based on
mindfulness-type meditation. From there, we compared the effects of the two
proposals of alternative therapies on several biological markers, as well as proposals
for a possible integration to reduce symptoms related to anxiety and depression.
Keywords: Mindfulness, Ayahuasca, Anxiety, Depression, Alternative Therapies.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

5-HT Serotonina
5-HT 2 Receptor celular
5-HT3 Receptor celular
ACTH Hormônio Adrenocorticotrófico-Adrenocorticotropic Hormone
APA American Psychiatric Association
AUC Area Under The Curve - Cálculo estatístico
AYA Ayahuasca
BAI Beck Anxiety Inventory
BDI Beck Depression Inventory
BDNF Fator Neutrófico Derivado do Cérebro/Brain-Derived
Neurotrophic Factor
BFI Brief Five Inventory
BOLD Efeito Dependente de Oxigenação Sanguínea/Blood
Oxygenation Level Dependent Effect
BPRS Brief Psychiatric Rating Scale
BSI Brief Symptom Inventory
C Controle
CCA Córtex Cingulado Anterior
CCP Córtex Cingulado Posterior
CES-D The Center for Epidemiologic Depression Scale
CF Córtex Frontal
CRH Hormônio Liberador de Corticotrofina/Corticotropin-Releasing
Hormone
D1 Dia 1
D2 Dia 2
D21 Dia 21
D3 Dia 3
D7 Dia 7
dCCA Córtex Cingulado Anterior Dorsal
DERS Difficulties in Emotion Regulation Scale
dlCPF Cortex Pré Frontal Dorso Lateral
dlCPF Córtex Pré Frontal Dorso Lateral
DM Depressão Maior
DMN Default Mode Network
DMT N, N-Dimetiltriptamina
DSM-5 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
EDUC Terapia Psicoeducacional
EEG Eletroencefalografia
EGF Fator de Crescimento Epidérmico/Epidermal Growth Factor
FFMQ Five Facet Mindfulness Questionnaire Description
FMI Freiburg Mindfulness Inventory
fMRI Imagens de Ressonância Magnética Funcional - Functional
Magnetic Ressonance Imaging
HADS-A Hospital Anxiety and Depression Scale- Anxiety
HADS-D Hospital Anxiety and Depression Scale - Depression
HAM-A Hamilton Anxiety Scale
HAM-D Hamilton Depression Scale
HPA Hypothalamic–Pituitary–Adrenal /Hipotálamo-Hipófise-Adrenal
IL-1 Interleucina 1
IL-10 Interleucina 10
IL-12 Interleucina 12
IL-4 Interleucina-4
IL-6 Interleucina 6
IMB Intervenção Baseada em Mindfulness
INF-γ Interferon Gama
IPL Lóbulo Parietal Inferior
IRSN Inibidores de Serotonina e Noradrenalina
ISRS Antidepressivos Inibidores Seletivos de Recaptação de
Serotonina
LORETA Tomografia Eletromagnética de Baixa Resolução/Low
Resolution Brain Electromagnetic Tomography
LSD Dietilamida do Ácido Lisérgico
MADRS Montgomery–Åsberg Depression Rating Scale
MAO Monoamina Oxidase
MAOi Inibidores da enzima MAO
MBCT Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness/Mindfulness Based
Cognitive Therapy
MBET Terapia de Exposição Baseada em Mindfulness
MBSR Redução de Estresse Baseado em Mindfulness/Mindfulness
Based Stess Reduction
mCPF Córtex Frontal Médio
MMSE Mini-Mental State Examination
NA Noradrenalina
NF-kβ Fator Nuclear kappa beta / Nuclear Factor kappa beta
NK Exterminadoras Naturais/Linfócito Natural Killer
NMDA N- Metil-d-aspartato
PC Precuneus
PCr Proteína C reativa
PGWBI Psychological General Well-Being Index
PHQ Patient Health Questionnaire
PLA Placebo
POMS Perfil dos Estados de Humor / Profile of Moos States
PSS Perceived Stress Scale
PSWQ The Penn State Worry Questionnaire
ROI Região de Interesse - Region Of Interest
rsFC Estado de Repouso Funcional
SL Sistema límbico
SNS Sistema Nervoso Simpático
SPECT Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton
Único/Single Photon Emission Computed Tomography
STAI The State-Trait Anxiety Inventory
TAG Transtorno de Ansiedade Generalizado
TAS Tellegen Absorption Scale
TCA Antidepressivos Tricíclicos
TCC Terapia Cognitiva Comportamental
TEPT Transtorno de estresse pós-traumático
TLEQ Traumatic Life Events Questionnaire
TNF-α Fator de Necrose Tumoral alfa/Tumor Necrosis Factor
TPN Task-Positive Network
UDV União do Vegetal
WL Lista de espera / Wait list
YMRS Young Mania Rating Scale
T CD4 Subtipo de linfócito T
Th2 Subtipo de linfócito T auxiliar - T helper 2
Th1 Subtipo de linfócito T auxiliar - T helper 1
LISTA DE ANEXOS

ANEXO A - Modelo de questionário/escala de depressão de Hamilton (HAM-D) ... 71


ANEXO B — Modelo de questionário/ escala de ansiedade de Hamilton (HAM-A) . 73
ANEXO C — Modelo de questionário/escala de ansiedade de Beck ....................... 74
ANEXO D — Inventário de depressão de Beck ....................................................... 75
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Tabela resumo dos estudos com ayahuasca selecionados para a revisão e
seus principais achados......................................................................................39
Tabela 2- Tabela resumo dos estudos com intervenções baseadas em mindfulness
selecionados para a revisão e seus principais achados...................... 50 e 51
Tabela 3- Comparação entre os efeitos das doses de ayahuasca e práticas de
mindfulness sobre sintomas depressivos, determinados por escalas de depressão
............ 55
Tabela 4- Comparação entre os efeitos e das doses de ayahuasca e práticas de
mindfulness s sobre traços e sintomas de ansiedade. ............................................ 565
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 –. Função de estruturas encefálicas em usuários regulares de ayahuasca e
meditadores experientes.......................................53
Quadro 2 – Padrão de conectividade entre as estruturas componentes da DMN e
adjacentes.............................................................53
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 15
1.1 DEPRESSÃO .......................................................................................... 15
1.2 ANSIEDADE ............................................................................................ 16
1.3 DIAGNÓSTICO E BIOMARCADORES ................................................... 17
1.3.1 Escalas ................................................................................................... 17
1.3.2 Marcadores bioquímicos ...................................................................... 18
1.3.3 Marcadores de imagem por ressonância magnética ......................... 19
1.4 TRATAMENTO ........................................................................................ 20
1.4.1 Tratamentos não farmacológicos alternativos ................................... 22
1.4.2 Tratamentos farmacológicos alternativos .......................................... 24
1.5 REFERENCIAS CIENTÍFICAS E HISTÓRICAS BÁSICAS ..................... 25
1.5.1 Ayahuasca histórico ............................................................................. 25
1.5.1.1 Princípios ativos da ayahuasca ............................................................... 25
1.5.1.2 Mecanismo de ação da ayahuasca ......................................................... 26
1.5.2 Mindfulness histórico ........................................................................... 27
1.5.2.1 MECANISMO DE AÇÃO GERAL DE MINDFULNESS............................ 28
2 OBJETIVO .............................................................................................. 30
3 METODOLOGIA ..................................................................................... 31
4 RESULTADO .......................................................................................... 31
4.1 AYAHUASCA COMO MODELO DE TERAPIA ....................................... 32
4.1.1 Ayahuasca e seus efeitos em estruturas encefálicas ........................ 36
4.2 MINDFULNESS COMO MODELO DE TERAPIA .................................... 41
4.2.1 Efeitos do mindfulness em estruturas encefálicas ............................ 48
5 DISCUSSÃO ........................................................................................... 53
6 CONCLUSÃO ......................................................................................... 57
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 58
ANEXO A - Modelo de questionário/escala de depressão de Hamilton
(HAM-D) ................................................................................................................... 71
Anexo B — Modelo de questionário/ escala de ansiedade de Hamilton
(HAM-A) ................................................................................................................... 73
ANEXO C — Modelo de questionário/escala de ansiedade de Beck ...... 74
ANEXO D — Inventário de depressão de Beck ...................................... 75
15

1 INTRODUÇÃO

Ansiedade e depressão são as entidades nosológicas mais comuns em pacientes


que sofrem de distúrbios psiquiátricos e a são considerados a principal causa de
suicídio no mundo contemporâneo. Considerados como “o mal do século”, os
transtornos de depressão e ansiedade, juntos, afetam mais de 500 milhões de
pessoas ao redor do mundo. Estima-se que no ano de 2015, 788 mil pessoas
morreram devido ao suicídio e foi a segunda principal causa de morte entre jovens
de 15 a 29 anos nesse mesmo ano (World Health Organization, 2017).
Um estudo realizado pela organização mundial da saúde revelou que a depressão
causa grande prejuízo à saúde do paciente. Os resultados do estudo indicam que
quando associada à doenças como asma, angina, artrite e diabetes, a depressão
tem maior impacto negativo no prognóstico do paciente do que a associação entre
duas destas morbidades (Moussavi et al,2007). O que chama a atenção para a
influência da depressão em outras questões de saúde, não só no âmbito psiquiátrico
e ressalta a importância de estudos que falem sobre a etiologia dos distúrbios
psiquiátricos, bem como o diagnóstico e tratamento destes.
A melhor forma de combater a ansiedade e depressão é compreender detalhes de
como se processam mecanismos fisiopatológicos dessas doenças, para então
chegarmos a protocolos e métodos de prevenção e tratamento úteis e funcionais
para a maior parte da população. A fisiopatologia da ansiedade apresenta
elementos comuns com as da depressão, uma vez que ambas têm como um de
seus elementos causais o desequilíbrio na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal (Hypothalamic–pituitary–adrenal;HPA), porém cada uma apresenta suas
particularidades.

1.1 DEPRESSÃO

A 5ª ed. do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação


Americana de Psiquiatria (DSM-5) define um transtorno depressivo maior (DM)
baseado na presença de tristeza constante (ou irritabilidade em crianças e
adolescentes) e /ou falta de interesse em atividades cotidianas por pelo menos 2
semanas, acompanhada de pelo menos 4 dos seguintes critérios: mudança de peso
relevante, insônia frequente ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga
ou perda de energia, baixa -estima ou culpa inadequada, capacidade diminuída de
pensar, concentrar-se ou tomar decisões, pensamentos recorrentes de morte,
ideação suicida ou tentativas de suicídio (American Psychological Association,
2013). Dentre os vários subtipos de depressão, nesta revisão iremos abordar o
diagnóstico e tratamento de DM.
Existem muitas teorias que buscam explicar a etiologia da depressão, a mais antiga
e comum é a teoria monoaminérgica, que explica o transtorno como consequência
16

da diminuição das monoaminas, dopamina, noradrenalina e serotonina (Wong and


Licinio, 2001).
Embora a teoria monoaminérgica seja bem aceita por médicos e pesquisadores, ela
não explica alguns pontos importantes como por exemplo, as causas do distúrbio
monoaminérgico e a resistência ao tratamento antidepressivo com fármacos que
aumentam a disponibilidade das monoaminas na fenda sináptica. Outra teoria que
está em discussão é a de que a depressão pode ser consequência de um
desequilíbrio neuro-imunológico, baseada em descobertas recentes sobre a relação
direta de comunicação e regulação entre os sistemas imunológico e nervoso
(Leuchter et al., 2010; Liet al., 2011). De acordo com essa teoria, a hiperativação
crônica do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que resulta na elevação dos
níveis de cortisol, pode causar resistência dos receptores de glicocorticóides
presentes nas células do sistema imunológico (Leonard, 2007). O que causaria o
desequilíbrio do sistema imunológico, alterando a produção de linfócitos do tipo T
CD4 Th2 para o tipo Th1, diminuindo a concentração de citocinas anti-inflamatórias
(IL-4, IL-10) e aumentando citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-a), o que
ocasionaria à neuro-degeneração (Zunszain et al. 2011; Marques et al. 2007).

1.2 ANSIEDADE

O transtorno ansioso é definido como um quadro clínico onde há respostas


emocionais e fisiológicas desproporcionais aos estímulos ao qual o indivíduo foi
exposto, de forma que este apresente um distúrbio de comportamento não
relacionado com outras comorbidades (Organização Mundial da Saúde; DSM-5). O
transtorno de ansiedade mais comum é o transtorno de ansiedade generalizada
(TAG). De acordo com a DSM-5, indivíduos diagnosticados com TAG podem
apresentar ansiedade excessiva em situações do dia-a-dia,sofrimento e prejuízo
funcional consequente do distúrbio. Bem como sintomas físicos como distúrbios do
sono, inquietação, tensão muscular, problemas gastrointestinais, sudorese, dores de
cabeça crônicas.
Os dois eixos neuroendócrinos envolvidos na etiologia da depressão, parecem
mediar também os sintomas da ansiedade. Em pacientes com TAG os eixos
hipotálamo-hipófise-adrenocortical (HPA) e os sistemas simpático adrenomedular
estão hiperativados (Graeff; Zangrossi Junior,2010). O que pode levar a uma
descompensação de atividades do sistema nervoso autônomo, explicando os
sintomas físicos descritos pelos pacientes em crises de ansiedade. Bem como a
elevação dos níveis de cortisol, que pode explicar a ativação constante de regiões
ligadas ao pensamento introspectivo e mentalização, como os córtex cingulado
anterior e pré-frontal dorsomedial, descritas por estudos com pacientes com TAG e
desregulação do sistema imunológico (E. Paulesu et al;2009).
Acredita-se também que a atividade imunológica desempenha um papel
fundamental na ansiedade, assim como na depressão, devido a toxicidade de
17

substâncias pró inflamatórias, como IL-6, PCR, entre outras (Chang-Jiang Yang, et
al 2017).
A falta de marcadores específicos de distúrbios relacionados com estresse crônico e
o desequilíbrio no funcionamento do eixo HPA, tais como ansiedade e depressão,
acarreta em uma dificuldade em seu diagnóstico. Dessa forma, nas últimas décadas
surgiram vários estudos que têm buscado definir melhor os marcadores e seus
papeis no desenvolvimento de cada tipo de transtorno e que auxiliem no seu
diagnóstico e prognóstico. E que possam originar um padrão de avaliação
laboratorial para complementar a avaliação clínica e comportamental dos pacientes
na hora do diagnóstico dos mesmos. O uso de marcadores é importante também na
compreensão e monitoramento dos tratamentos convencionais e desenvolvimento
de outros alternativos (Juster et al., 2010; Leuchter et al., 2010; Tadić et al., 2011).
O conhecimento atual indica que não se deve utilizar nenhum biomarcador sozinho
para identificar indivíduos em risco, diagnosticar ou direcionar as decisões de um
tratamento clínico. Nesse contexto, a definição de uma rede padronizada composta
por diferentes biomarcadores, se torna necessária para que se utilize dessa
ferramenta no diagnóstico clínico ou em pesquisa (Lakhan et al., 2010) .

1.3 DIAGNÓSTICO E BIOMARCADORES

1.3.1 Escalas

Os métodos de diagnóstico e classificação dos transtornos mentais utilizados


atualmente se baseiam principalmente na avaliação dos sintomas clínicos, através
da aplicação de questionários. Tais questionários são chamados de “escalas”, por
determinarem pontuações e os níveis dos sintomas apresentados pelo paciente.
As principais escalas de diagnóstico de depressão são a escala de pontuação para
depressão de Montgomery-Asberg ou Montgomery–Åsberg Depression Rating
Scale (MADRS), Escala de pontuação de depressão de Hamilton ou Hamilton
Depression Rating Scale (HAM-D;Carneiro et al., 2015; Hamilton,1960; anexo A) o
manual desenvolvido pela associação americana de psiquiatria ou Manual de
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-5) e o inventário
de depressão de Beck ou Beck Depression Inventory (BDI; Beck et al.,1960; anexo
D).
Enquanto as escalas mais utilizadas para diagnóstico de ansiedade são o inventário
de traços-estado de ansiedade ou state-trait anxiety inventory (STAI; Tilton, S.
R.,2008), o inventário de ansiedade de Beck (BAI; Beck A.T.,1988; anexo C), e
escala de ansiedade de Hamilton (HAM-A; Hamilton M.,1959; anexo B). Todas
consistem em questionários compostos por perguntas que avaliam o estado
psicológico do indivíduo.
18

1.3.2 Marcadores bioquímicos

A identificação de biomarcadores em distúrbios neuropsiquiátricos se torna


complicada devido à falta de conhecimento sobre a fisiopatologia dessas doenças e
dificuldade em acessar o cérebro para dosagem direta de substâncias, devido ao
risco elevado de danos ao sistema nervoso que os procedimentos como biópsia,
oferecem (Leuchter et al.,2010). As dosagens dos marcadores bioquímicos, por
exemplo, são realizadas através de medidas e amostras indiretas como o sangue,
mais especificamente o plasma, devido ao acesso fácil e também porque muitas
moléculas presentes no cérebro chegam à circulação sanguínea em sua rota de
excreção (Leuchter et al., 2010; Tadić et al., 2011).
Um ponto em comum entre as pesquisas que estudam os biomarcadores tem sido o
aumento da concentração de cortisol no plasma, urina, saliva e líquor, que converge
com a hipótese da hipercortisolemia (Leonard, 2007; Tadić et al., 2011) .Assim
como o aumento do hormônio liberador de corticotrofina (CRH) devido a
desregulação do feedback negativo que está reduzido, elevação da concentração
do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), graças a resposta exagerada do cortisol
ao (ACTH) e hiperplasia das glândulas hipófise e adrenal (Hindmarch, 2001) .
Paralelamente, também há indícios interessantes relacionados a hipótese
neuroimunológica. Há constância nos estudos que indicam que pacientes com DM e
TAG apresentam concentrações plasmáticas elevadas de algumas citocinas pró-
inflamatórias, como a interleucina-6 (IL-6), a interleucina-1 (IL-1), o fator de necrose
tumoral alfa (TNF-), e a proteína C-reativa (PCr-Leonard, 2007; Li et al., 2011).
Enquanto as citocinas anti-inflamatórias, como a interleucina-4 (IL-4) e a
interleucina-10 (IL-10), possuem concentrações plasmáticas reduzidas. Uma
característica comum entre DM e TAG é o alto nível de estresse. Portanto, parece
coerente que o aumento do fator liberador de corticotrofina (CRH) e do cortisol,
estimulado por fatores de estresse, tenha um papel importante no aumento na
liberação de citocinas ativadas a partir de macrófagos, tanto à nível central quanto
periférico (Leonard, 2007).
Outros estudos têm avaliado a importância da neurotrofina BDNF (Brain-derived
neurotrophic factor/ fator neurotrófico derivado do cérebro), em diferentes doenças
psiquiátricas. No caso do DM, há registros de níveis reduzidos de BDNF sérico em
pacientes que não estão em tratamento e da normalização desses níveis após a
terapia com antidepressivos (Leuchter et al., 2010). E também uma relação
significativa entre essa redução e mudanças clínicas nos pacientes depressivos
(Brunoni A.R. et.al 2008). Enquanto em animais modelos para TAG, há registros de
níveis elevados de para o-BDNF, substância relacionada com depressão crônica e
apoptose. O que pode levar a elevados níveis de BDNF maduro no hipocampo, e
consequente aumento na retenção de pensamentos e ansiedade. (Dias G.P. et al
,2014).
19

1.3.3 Marcadores de imagem por ressonância magnética

O uso de exames de ressonância magnética funcional (fMRI) tem contribuído para


identificar os mecanismos psicopatológicos presentes no cérebro de pacientes
psiquiátricos. Estudos descrevem anormalidades anatômicas, funcionais e de
conectividade entre algumas regiões cerebrais em pacientes que sofrem com
depressão e ansiedade quando comparados a controles saudáveis, principalmente
alterações morfológicas nas regiões têmporo-límbicas.
Para depressão maior um dos resultados mais frequentes nesses estudos é a
redução no volume do hipocampo dos pacientes (Bremner et al., 2000; Campbell et
al., 2004; Lorenzetti et al., 2009; MacQueen, 2009; Videbech and Ravnkilde, 2004;).
Isso se soma ao volume reduzido de estruturas dos núcleos da base, como
putâmen e caudado (Husain et al., 1991; Krishnan et al., 1992; Parashos et
al.,1998).
Enquanto estudos com pacientes diagnosticados com TAG mostram que há uma
anormalidade funcional no córtex pré-frontal dorso-lateral, mais evidente durante a
regulação de emoções negativas (Ball TM, Ramsawh HJ,2013). E também
apresentam redução significativa no volume de massa cinzenta em regiões como
hipocampo, hipotálamo, mesencéfalo, ínsula e giro temporal superior (Moon
CM,2014) e massa branca no giro superior frontal e lateral, e aumento do volume no
giro temporal inferior (Straw JR,2013).
Outros trabalhos utilizam técnicas de neuroimagem funcional com intuito de
identificar alterações na função e conectividade do cérebro desses pacientes. A
amígdala, parte do lobo temporal medial e altamente sensível a estímulos de caráter
emocional afetivo, tem sido repetidamente implicada na patogênese da ansiedade e
depressão. Estudos utilizando ressonância magnética funcional (fMRI) mostram que
há uma hiperatividade na amígdala de pacientes com DM e TAG (Davey et al.,
2011; Fu et al., 2004; Sheline et al., 2001; Elena Makovac,2015).
Anomalias no cíngulo anterior são associadas regularmente à depressão. Através
de exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET), um estudo mostrou que
pacientes diagnosticados com DM apresentam menor ativação da região rostral do
cíngulo anterior, e que a amplitude dessa atividade pode mensurar a resposta ao
tratamento. A ativação mais elevada durante um episódio depressivo agudo
indicaria uma maior possibilidade de resposta ao tratamento (Mayberg et al., 1997).
A DMN, do inglês, default mode network, é uma região composta por estruturas
como o córtex pré-frontal ventromedial, o córtex parietal inferior e córtex cingulado
anterior e posterior, também tem sido alvo de muitos estudos que envolvem
depressão e ansiedade. Essa rede apresenta maior atividade durante o repouso
quando comparada com o período de execução de alguma tarefa cognitiva e parece
estar ligada a atividades que envolvem auto-julgamento, recuperação de memórias
20

do passado e planejamento do futuro (Buckner et al., 2008; Gusnard et al., 2001;


Raichle et al., 2001). Outras descobertas recentes indicam que pacientes ansiosos e
depressivos apresentam um aumento na atividade dessa rede enquanto executam
uma tarefa de regulação emocional (Sheline et al., 2009; Zhao XH,2007). Além de
alterações na comunicação entre algumas regiões da DMN. Um grupo de
pesquisadores relataram aumento na conexão funcional entre o tálamo e o córtex
subgenual em pacientes depressivos quando comparados a controles saudáveis
(Greicius et al., 2007).

1.4 TRATAMENTO

O uso de medicações antidepressivas (Uppal et al., 2010) e psicoterapia (Cuijpers


et al., 2011) são as terapias mais adotadas dentro da clinica médica para tratar
pacientes depressivos. A finalidade do tratamento, principalmente do farmacológico,
é a remitência dos episódios depressivos, estipulada pelo DSM-IV como a
inexistência de sinais e sintomas significativos por no mínimo dois meses ou
pontuação na escala de depressão de Hamilton (HAM-D;Hamilton,1960) dentro do
espectro de normalidade (Kennedy et al., 2001) .
A resposta positiva ao tratamento é definida como redução em pelo menos 50% dos
sintomas depressivos, comumente avaliados pela HAM-D, e não significa ausência
total (Ebmeier et al., 2006). O tratamento medicamentoso é dividido em fases. A
primeira, descrita como fase aguda, tem duração de 8 semanas e é decisiva para
avaliar a resposta do paciente ao tratamento (Bolland and Keller, 2004). Se o
paciente responder bem á primeira etapa, inicia-se a fase de continuação que se
extende de 16 a 20 semanas e tem como intuito prevenir possíveis voltas de
episódios e sintomas depressivos (Kennedy et al., 2001). Alguns pacientes passam
pela terceira etapa, conhecida como fase de manutenção por tempo indeterminado,
estratégia sugerida à indivíduos com alto risco de reincidência, aqueles que já
apresentaram episódios ou apenas resposta parcial as etapas anteriores e
pacientes com episódios de alta gravidade, com sintomas psicóticos e risco de
suicídio (American Psychiatric Association., 2000). O uso de antidepressivos na
terapêutica se iniciou na década de 50 e revolucionou o tratamento de disturbios
psiquiátricos e desde então se mantém como o principal forma de terapia (Ebmeier
et al., 2006) .
Os antidepressivos são classificados de acordo com sua estrutura química e ação
sobre a sinapse e no sistema de recaptação e metabolização de
neurotransmissores. Os primeiros fármacos antidepressivos foram descobertos
durante o processo de criação dos antihistamínicos (imipramina) e tuberculostáticos
(iproniazida) (Guimaraes and Graeff, 2000). A descoberta da capacidade da
imipramina de bloquear a recaptação de noradrenalina (NA) e de serotonina (5HT),
junto à revelação de que a anfetamina libera noradrenalina e reduz sua recaptação
neuronal e por consequência causa euforia, levou à ideia na década de 60, de que a
21

depressão seria ocasionada pela diminuição de noradrenalina e de serotonina


(Wong and Licinio, 2001) .
Os antidepressivos de primeira geração podem ser classificados em tricíclicos
(TCA) e inibidores da enzima MAO (MAOi). Eles tem como ação principal a
elevação do nível extracelular das monoaminas, através da inibição da recaptação
de neurotransmissores como a dopamina, serotonina e noradrenalina(TCA), ou pela
inibição do metabolismo dessas substâncias (MAOi) (Bolland and Keller, 2004).
Além do efeito antidepressivos, os TCA atuam em vários receptores, causando
efeitos antimuscarínicos, antihistamínicos e anti-α2 adrenérgicos que resultam sem
sintomas colaterais indesejáveis como retenção urinária, constipação intestinal,
hipotensão ortostática, ganho de peso e sonolência e bloqueiam canais de sódio
afetando a transmissão nervosa o que pode causar arritmias.
Quanto aos MAOi, efeito colateral mais comum é o risco de crises hipertensivas
estimulada pela sua ingestão junto à tiramina, uma substância simpatomimética
presente em alta concentração em alguns alimentos e que é metabolizada pela
MAO. Logo, pacientes que fazem uso de MAOi devem ter uma dieta pobre em
tiramina, consumindo pouco alimentos como queijos, bebidas alcoólicas, alimentos
em conserva, frios e algumas frutas, como banana e abacate (Guimaraes and
Graeff, 2000) .
Devido a baixa seletividade dos antidepressivos de primeira geração, outros
antidepressivos foram desenvolvidos. Dentre eles estão os inibidores seletivos da
recaptação de serotonina – ISRS (ex: fluoxetina, paroxetina,citalopram) ,inibidores
da recaptação de serotonina e noradrenalina - IRSN (venlafaxina, desvenlafaxina e
duloxetina) e inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina-ISRN (reboxetina).
E ainda outros que apresentam diferentes mecanismos de ação, dentre eles a
mirtazapina, que atua como antagonista noradrenérgico α2 pré-sináptico e
antagonista de receptores de serotonina (5HT 2 e 5HT 3), e a nefazodona que age
reduzindo a recaptação de serotonina e noradrenalina, como antagonista aos
receptores α2 e 5HT (Cipriani et al., 2009).
A ação final dos antidepressivos da nova geração é de forma essencial a mesma
das primeiras medicações, uma vez que aumentam o nível das monoaminas
(Zarate, 2011; Zarate et al., 2006) . Esses novos antidepressivos são mais seguros,
porém ainda apresentam efeitos colaterais, embora menores e mais específicos
para as diferentes classes das medicações. Como por exemplo a disfunção sexual
que é mais comum devido o uso dos ISRS, enquanto o sono excessivo e ganho de
peso estão mais associados ao uso da mirtazapina (Cipriani et al., 2009) . Uma vez
que a eficácia entre todos os antidepressivos comercializados e utilizados na clinica
terapêutica é semelhante, a designação do medicamento é feita através da
avaliação dos efeitos colaterais, segurança, tolerabilidade, preferências individuais
do paciente, qualidade de ensaios clínicos disponíveis e o custo (American
Psychiatric Association., 2000).
22

Quanto ao tratamento para os transtornos de ansiedade, a terapia cognitivo-


comportamental (TCC) é o tratamento psicológico mais indicado para tratar adultos
e adolescentes. O TCC é um protocolo aplicado em um curto período de tempo, por
volta de 10 a 20 semanas. Consiste em orientações que estimulem habilidades que
reduzam os vieses cognitivos gerados pela ansiedade e que levam o paciente a
interpretar estímulos ambíguos como ameaças, além de substituir a necessidade de
inibir comportamentos e a busca pela segurança com abordagem e
comportamentos de enfrentamento, e reduz a excitação autonômica excessiva
através de estratégias como o relaxamento ou a reeducação respiratória
(Craske,MG 2016).
Quanto ao tratamento farmacológico, os antidepressivos de segunda geração são
comumente utilizados, ISRS e IRSN. É importante ressaltar que não existe
evidência de que qualquer um desses fármacos é melhor o outro no tratamento de
transtornos de ansiedade. Assim, a seleção de uma determinada droga é baseada
na resposta anterior, a preferência do paciente e familiaridade do psiquiatra com o
fármaco. A diferença essencial entre o tratamento da ansiedade e depressão é a
dose com a qual se inicia a terapia. Indivíduos com ansiedade tendem a ser mais
suscetíveis aos efeitos colaterais dos medicamentos, a dose inicial sugerida é
metade da recomendada para depressão. Essa dose deve ser mantida por 1 a 2
semanas e caso a resposta do paciente seja positiva, deve ser dobrada e assim a
dosagem acaba por se igualar à utilizada no tratamento da depressão (Stein MB,
Roy-Byrne PP, Craske MG, et al; 2011). Uma vez que a dosagem esteja
propriamente adequada ao paciente e este esteja apresentando melhoras em seu
quadro clínico, essa deve ser mantida por um período de 9-12 meses (APUD;
Craske,MG 2016).
Antidepressivos tricíclicos e iMAO têm uma base de evidências forte que sugerem
sua eficácia em muitos transtornos de ansiedade, mas devido aos efeitos colaterais
e riscos aos pacientes seu uso não é muito recomendado.
Tratamentos farmacológicos e psicológicos podem ser altamente eficazes para
transtornos de ansiedade (Arch & Craske, 2009; Ravindran & Stein, 2010).
Entretanto, assim como na depressão, a taxa de resposta não atinge um valor
satisfatório. Apenas 50-60% dos pacientes apresentam alguma resposta ao
tratamento enquanto apenas 25-35% apresentam remissão total (Bystritsky, 2006).
O que resulta diretamente em uma alta prevalência desses distúrbios e este
problema se traduz em mortalidade, morbidade e diminuição da qualidade de vida
de muitos pacientes. Portanto, se torna necessário o desenvolvimento de novas
modalidades de tratamento para estes transtornos.

1.4.1 Tratamentos não farmacológicos alternativos

Vários estudos indicam que há uma relação entre a prática de atividade física e a
redução de sintomas ligados a uma saúde mental prejudicada. (Paluska S. A. et
23

al,2000). Ensaios clínicos observacionais e intervencionais sugerem que há uma


relação entre a prática de atividade física e menores pontuações em escalas de
ansiedade e depressão em diferentes tipos de população (Bhui K. et al, 2000;
Martisen E.W. et al, 1990). Enquanto outros pesquisadores reportaram um impacto
positivo, com a redução dos escores e sintomas relacionados a transtornos de
ansiedade e depressão, em pacientes diagnosticados com tais transtornos bem
como em indivíduos saudáveis (Paluska S. A. et al,2000). Tais resultados podem ter
relação com a capacidade dos exercícios de aumentar os ácidos graxos livres na
circulação, assim como triptofano disponível no organismo e consequentemente
elevar a produção de serotonina. (Strüder H.K. et al, 2001) ou ainda através da
regulação do eixo HPA, uma vez que a prática de atividade física reduz a
intensidade de resposta à fatores estressantes (Buckworth J.et al, 2002.).
De forma similar aos exercícios físicos, nas últimas décadas o impacto de práticas
de yoga e programas redução de estresse baseados em mindfulness, ou atenção
plena, têm sido alvo de muitos estudos (Michaela C. Pascoe et al,2017). A prática
de Yoga tem como objetivo alcançar um equilíbrio entre a mente, corpo e espírito e
se tornou bastante conhecida nos últimos anos no ocidente como uma forma reduzir
o estresse (Penman et al., 2012). Enquanto os programas baseados em
mindfulness, incluem diferentes práticas de meditação (Praissman 2008), podem
incluir algumas modalidades de yoga e tem como objetivo aumentar a capacidade
de consciência e atenção plena. Alguns estudos sugerem que a prática de yoga
pode reduzir a reatividade à estressores externos através do aumento de
inteligência emocional, melhora na saúde e no bem-estar do indivíduo (Riley and
Park, 2015). Uma revisão sistemática realizada por Pascoe e Bauer, indica que a
yoga parece regular o sistema nervoso simpático (SNS) e o eixo HPA em pacientes
depressivos. Os estudos analisados por eles indicaram que após iniciarem as
práticas os pacientes apresentaram redução em marcadores relacionados aos
episódios depressivos, como por exemplo menor pressão arterial, taxa cardíaca e
concentração de cortisol e citocinas (Pascoe and Bauer, 2015).
Paralelamente, os estudos que avaliaram o resultado das práticas baseadas em
mindfulness, sugerem que assim como a yoga os programas de redução de
estresse baseados em mindfulness tem efeito redutor de sintomas e marcadores
relacionados com os distúrbios, o que indica um possível uso terapêutico. Os
estudos relatam que após o perído de intervenção houve redução nos níveis de
citocinas e substâncias inflamatórias (Jedel 2014; Chako 2016), cortisol (Carlson
2013) e pressão sanguínea (Hughes 2013; Palta 2012). Além da redução das
pontuações em escalas de avaliação psiquiátricas como HAM-D e MADRS e BAI
(Chiesa e Serretti,2009).
24

1.4.2 Tratamentos farmacológicos alternativos

Mesmo que tenha havido um progresso considerável na elaboração de novos


medicamentos, menos da metade dos pacientes relatam atenuação dos sintomas
após um tratamento antidepressivo convencional, e mesmo após quatro tratamentos
meticulosamente aplicados, por volta de um terço dos pacientes não consegue
atingir a remissão (Conway et al., 2017). Além de demonstrarem efetividade
limitada, as terapias farmacológicas disponíveis até o presente momento, têm outra
limitação relacionado ao tempo de ação do medicamento, que leva várias semanas
para alcançar os efeitos terapêuticos clínicos ansiados (Zarate, 2011; Zarate et al.,
2006).
Com as evidentes falhas dos tratamentos convencionais, estudiosos tem se
dedicado à busca por tratamentos farmacológicos alternativos interessados em
aumentar a eficiência do tratamento e agilizar o início dos seus efeitos clínicos
(Uppal et al., 2010).Estudos realizados ao longo das ultimas décadas relatam
potencial terapêutico de várias substâncias conhecidas como drogas recreativas ou
anestésicas como Cannabis e dietilamida do ácido lisérgico (LSD), quetamina ou
ainda utilizadas em contexto religioso como Ayahuasca, Psilocibina e Mescalina
(APUD:Garcia-Romeu,2016).
Experimentos realizados com a quetamina, uma substãncia anestésica que age
como antagonista dos receptores N-metil-d-aspartato (NMDA) do sistema
glutamatérgico, mostraram efeito antidepressivo após injeção intravenosa de
apenas uma dose, que persistiu significantemente após uma semana (Liebrenz et
al., 2007). Outro estudo realizado com LSD relatou a redução nos escores das
escalas de ansiedade de 12 pacientes em até doze meses depois de uma dose
única de 200μg de LSD (Gasser, Holstein, et al., 2014). Bem como um estudo com
psilocibina, substância agonista de receptores como 5-HT2A, 1A e 2C (Nichols,
2004) encontrada em diversas espécies de cogumelos, demonstram redução dos
sintomas depressivos em pacientes resistentes ao tratamento para DM após uma
dose de 25mg da substância por até 3 meses depois do experimento (Carhart-Harris
et al., 2016).
A ayahuasca também tem sido bastante estudada como fármaco potencial para o
tratamento de ansiedade e depressão, uma vez que o chá é composto por um
agonista serotonérgico, N, N-dimetiltriptamina (DMT) e beta-carbolinas (Harmina,
Harmalina e triptamina). Algumas teorias defendem que em pequenas doses, há
uma ação ansiolítica correlacionada ao DMT mediada pelo receptor de amina-traço,
que pode ser um dos sítios de ação da DMT endógena (Jacob and Presti, 2005).
Assim como, efeitos antidepressivos associados as b-carbolinas que tem efeito
inibitório à MAO, assim como os antidepressivos de primeira geração (Bouso et al.
2013). Foi relatado por pesquisadores que o uso dessa da harmina em modelo de
roedores, pode levar à redução de alguns sinais e sintomas relacionados à quadros
depressivos, como apatia, e regulação dos nívies do hormônio adrenocorticotrófico
(ACTH) e do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) hipocampal (Fortunato
et al., 2010). A harmina também parece aumentar a proliferação de células
progenitoras neurais (Vanja Daki,2016) e reduz os níveis de substâncias pró-
25

inflamatórias como TNF-alfa e IL-6 (Xin Liu et al,2017). Tais fatores somados
indicam grande potencial para uso da ayahuasca como forma de tratamento
farmacológico alternativo aos antidepressivos tradicionalmente utilizados na clínica.

1.5 REFERENCIAS CIENTÍFICAS E HISTÓRICAS BÁSICAS

1.5.1 Ayahuasca histórico

A ayahuasca é uma bebida psicoativa utilizada como ferramenta medicinal e ritual


por uma variedade de povos indígenas e grupos de indivíduos na América do Sul
com registros datados de 2000-1500 a.C. (Schultes et al., 1992). Entretanto, no
início do século XX com o início da exploração das seringueiras nas florestas
amazônicas em busca de borracha, o uso da ayahuasca se difundiu à populações
que ali se instalaram ao longo do processo e ultrapassou as fronteiras amazônicas,
alcançando outras regiões, inclusive grandes cidades. A difusão do costume de
consumir o chá fora da cultura indígena, contribuiu para o surgimento das chamadas
religiões ayahuasqueiras brasileiras (Labate et al, 2000). A União do Vegetal (UDV),
Igreja da Barquinha e Santo Daime são as mais conhecidas e com mais adeptos
estão presentes no Brasil, bem como nos Estados Unidos, Alemanha, Canadá,
França e Espanha (Tupper, 2011). No Brasil, debates sobre o uso de ayahuasca na
sociedade civil vêm ocorrendo desde 1985; tal fomento de discussão veio a
repercutir no texto do relatório final do Conselho nacional de políticas sobre drogas
(CONAD, 2010) , o qual estabeleceu em termos legais a regulamentação de seu
uso religioso; complementarmente, também a partir de 2010 deu-se por parte das
agências de fomento um maior estímulo ao desenvolvimento de pesquisa científica
sobre os potenciais terapêuticos da bebida (Labate e Feeney, 2012).
A ayahuasca é preparada a partir da decocção das plantas Chacrona (Psychotria
viridis) e Jagube (Banisteriopsis caapi), que contém, respectivamente, a substância
N,N-Dimetiltriptamina (DMT) e inibidores da monoamino-oxidase (iMAO) dentre
outras espécies vegetais com os mesmos princípios ativos (Schultes, et al., 1992). A
bebida promove experiências psicológicas com efeitos medicinais e curativos,
descritas como místicas ou de contato com planos astrais e divindades (Schultes, et
al., 1992), sendo uma das mais importantes e conhecidas substâncias de uso ritual
(Labate e Feeney, 2012).

1.5.1.1 Princípios ativos da ayahuasca

O DMT é um agonista serotoninérgico presente endogenamente no ser humano


(Fontanilla 2009); também encontrado em algumas plantas como a Chacrona
(Psychotria viridis), utilizada para o preparo do chá de ayahuasca. O DMT produz
poucos efeitos quando administrado oralmente, entretanto quando administrado
26

juntamente com um iMAO, consegue atingir o sistema nervoso uma vez que não é
degradado pela MAO do tubo digestivo, produzindo assim, efeitos psicoativos
proporcionais á concentração de alcalóides na infusão, que ficam disponíveis no
plasma. Os iMAO presentes no chá, são substâncias do grupo alcalóide vegetal dos
harmanos (harmina, harmalina e tetra-hidro-harmina), ou β-cabolinas, presentes nas
plantas do gênero Banisteriopsis e Peganum, e também encontrados em alguns
tipos de tabaco e maracujá (Rivier e Lindgren, 1972; McKenna et al., 1984; Ott,
1999).
Os sintomas descritos por quem toma o chá podem variar entre modificações dos
processos cognitivos e afetivos, até visualização de imagens coloridas com os olhos
fechados, náuseas, vômito, vertigens, diarréias intensas, dentre outros (Pires et al,
2010). A associação de plantas que contém DMT e IMAO tem mostrado uma série
de efeitos psicológicos agudos e crônicos (McKenna, 2004). Efeitos agudos incluem
alterações de percepção de tempo, alterações visuais, auditivas e sinestesia,
confusão, despersonalização, experiências místico-espirituais, dentre outros
(Strassman, 1996). Já os efeitos de médio e longo prazo incluem alterações
correlacionais positivas de personalidade e atitudes positivas (Barbosa P.C. 2016),
bem como tratamento da dependência de substâncias de abuso, como o álcool e
cocaína (Grob, 1996, Labate et al., 2014).

1.5.1.2 Mecanismo de ação da ayahuasca

Como já citado de forma breve nos parágrafos acima, a ação do DMT na


ayahuasca só é possível graças à ação conjunta com as β-cabolinas contidas no
caule da B. caapi, que atuam de maneira a inibir a enzima MAO do sistema
digestivo e o torna biodisponível (Pires, et al, 2010). Enquanto biodisponível, o DMT
atua como agonista serotoninérgico activando principalmente os receptores 5-HT1A,
5-HT2A e 5- HT2C (Santos, 2007).
Os efeitos do DMT são mediados em sua maioria, pela ativação dos receptores 5-
HT2A, tendo em vista que é o único receptor onde não foi constatado tolerância, em
relação ao DMT (Bouso et al. 2013). Foi evidenciados também, a preferência de β-
carbolinas aos receptores serotoninérgicos 5-HT1A e 5- HT2C (Grella et al.,
2003).As β-carbolinas atuam como agonistas serotoninérgicos indiretos, devido a
ação de inibição da MAO, sobretudo da MAO-A, que retira aminas
preferencialmente da noradrenalina e da dopamina, consequentemente aumentando
os níveis desses neurotransmissores no sistema nervoso (Bouso et al. 2013).
Devido a ação da ayahuasca no sistema límbico (SL) do Sistema Nervoso Central
(SNC), o potencial antidepressivo do chá já vem sendo investigado há algum tempo,
apresentando relatos de melhoras no humor e redução da ansiedade, bem como
melhora em sintomas depressivos (Palhano-Fontes et al .2018). Ao longo desta
revisão iremos apresentar mais evidências que reafirmam o potencial terapêutico da
ayahuasca, bem como seu uso como alternativa à tratamentos tradicionais de
ansiedade e depressão. Além dos efeitos farmacológicos, há indícios de que a
27

ayahuasca aumenta a capacidade de atingir atenção plena (Joaquim Soler et al.


2016) e aumenta a flexibilidade psicológica o que pode facilitar ou impulsionar
tratamentos não farmacológicos como psicoterapia ou intervenções baseadas em
mindfulness (K. P. C. Kuypers; Riba et al.2016).

1.5.2 Mindfulness histórico

Mindfulness define-se como um processo que tem como objetivo alcançar um


estado mental caracterizado pela falta de julgamento, consciência da experiência e
do momento presente incluindo as sensações da pessoa, pensamentos, estados
corporais, consciência e do ambiente em que ela se encontra através do estímulo se
abrir, ter curiosidade e principalmente aceitação (Bishop SR. et al, 2004). As
culturas orientais foram as primeiras a utilizar o conceito de mindfulness, ou atenção
plena em suas filosofias. No entanto, nas últimas décadas o conceito de atenção
plena tem sido bastante utilizado pela psicologia ocidental, principalmente como
forma de redução de estresse, ansiedade e sintomas depressivos. A popularidade
do termo se deve ao sucesso de intervenções baseadas em mindfulness (IBM) no
tratamento de ansiedade e depressão (Gu J. et al, 2015).
As intervenções baseadas em mindfulness mais incorporadas na clínica cognitiva-
comportamental tem sido o programa de redução de estresse baseado em
mindfulness, ou mindfulness-based stress reduction (MBSR)(Kabat-Zinn,1982) e a
terapia cognitiva baseada em mindfulness, ou mindfulness-based cognitive therapy
(MBCT)(Morgan D.2003).
Desenvolvido por Jon Kabat-Zinn (Kabat-Zinn,1982) no início dos anos 80, o MBSR
é um programa de intervenção que dura cerca de 8 semanas e é projetado para
reduzir o estresse através do desenvolvimento de habilidades aprimoradas de
atenção plena através de práticas de meditação. O programa consiste aulas de
meditação em grupo semanais com um professor treinado, prática diária orientada
por áudio em casa (aproximadamente 45 min / dia), e um retiro focado em aumentar
a capacidade de atenção plena por um dia inteiro na sexta semana. A maior parte
do conteúdo do curso é focado em aprender perceber atentamente às sensações
corporais, usando várias práticas meditativas mente-corpo, como meditação
sentada, escaneamento corporal, alongamento suave e yoga. Além disso, os
encontros do grupo promovem a discussão de como aplicar essas práticas
diariamente em situações cotidianas, e o principal objetivo é tornar o indivíduo
capaz de lidar com fatores estressantes de uma forma mais branda. O programa
MBSR foi inicialmente desenvolvido para tratar pacientes com dor crônica,
entretanto tem sido bastante utilizado para tratar pacientes com transtornos de
ansiedade que optam por tratamentos alternativos às terapias tradicionais.
O MBCT é uma adaptação do MBSR, inicialmente desenvolvido por Teasdale e
colaboradores (Teasdale JD. et al,2000) para prevenir a recaídas em pacientes com
depressão maior. Como o próprio nome indica, MBCT combina elementos de
treinamento de mindfulness e terapia cognitiva para reduzir a recorrência da
28

depressão. Os princípios de mindfulness são aplicados para ajudar os indivíduos a


reconhecer a deterioração do humor sem julgar ou reagir imediatamente a essa
mudança. Essa percepção interna aprimorada é então combinada com os princípios
da terapia cognitiva que ensinam os indivíduos a se desvincularem de padrões mal-
adaptativos do pensamento negativo repetitivo que contribuem para os sintomas
depressivos (Shahar B. et al., 2010). Além desse componente adicional da terapia
cognitiva, a MBCT apresenta estrutura similar só MBSR e inclui as sessões em
grupo por 8 semanas e as atividades recomendadas que sejam feitas em em casa
diariamente.
As intervenções baseadas em mindfulness parecem ser um tratamento seguro e
eficaz para regular a inteligência emocional. Além disso, pesquisadores adaptaram
alguns princípios básicos dos programas para tratar diferentes populações e obter
resultados mais específicos. Esses princípios incluem MBCT para depressão
(Teasdale JD. et al,2000) prevenção de recaída baseada em mindfulness para
dependência de drogas (Bowen S. et al,2014) terapia conjugal baseada em
mindfulness para melhorar o funcionamento do relacionamento (Carson JW et
al,2004) e um programa baseado em mindfulness para promover uma alimentação
saudável (Mason AE. et al, 2016)

1.5.2.1 MECANISMO DE AÇÃO GERAL DE MINDFULNESS

Existe a hipótese que sugere a capacidade das intervenções baseadas em


mindfulness de ativar mecanismos associados com controle cognitivo e controle
emocional, o que explicaria a sua eficácia no tratamento de distúrbios relacionados
com estresse e desregulação do eixo HPA. Entretanto, existe um consenso na
literatura atual sobre o mecanismo de ativação dessas regiões (Chambers et al.,
2009; Garland et al., 2010; Hoffman & Asmundson, 2008).
De acordo com alguns autores, mindfulness deve ser descrito como uma estratégia
de regulação emocional “top-down”, ou seja que regula regiões límbicas através da
ativação prévia de estruturas relacionadas com pensamento crítico e racional como
o córtex pré frontal. (Garland, Gaylord, & Park, 2009; Garland et al., 2010), o que
diferenciaria as intervenções baseadas em mindfulness de intervenções como
psicoterapia, por exemplo. (Chiesa et al., 2010; Garland et al., 2009, 2010).
Em contramão, outros autores descrevem o mecanismo de regulação observado em
indivíduos que praticam mindfulness como “bottom-up”, ou seja, através da inibição
de regiões límbicas sem envolvimento de outras regiões do cérebro (Chambers et
al.,2009; Grabovac et al., 2011; Lutz, Dunne, & Davidson, 2008). Entretanto outros
autores afirmam que a forma como a regulação emocional ocorre pode variar de
acordo com a experiência do indivíduo, assim como as diferentes práticas de
mindfulness (Taylor et al., 2011).
Outro fator que parece influenciar os resultados observados nos estudos é a tarefa
cognitiva executada pelos sujeitos ao longo dos exames de imagens, bem como as
características das populações selecionadas pelos pesquisadores. Faz sentido
29

observarmos diferentes padrões de ativação ou inibição das estruturas encefálicas


diante de estímulos diferentes, mesmo que o protocolo de meditação seja o mesmo.
Então além de considerar a diferença individual dos participantes dos ensaios seria
interessante que houvesse uma padronização das tarefas e do tipo de meditação
realizado ao longo dos experimentos para uma análise mais consistente e melhor
compreensão do mecanismo de ação das práticas de mindfulness.
30

2 OBJETIVO

Nos propomos aqui a identificar, através da descrição e análise de estudos


experimentais e clínicos, a ação das intervenções baseadas em mindfulness e
consumo de doses únicas ou regulares de ayahuasca sobre marcadores
relacionados à transtornos de ansiedade e depressão. Complementarmente,
ressaltaremos os pontos convergentes e divergentes entre as terapias (uso de
práticas de mindfulness e ingestão de chá de ayahuasca) que sugerem a
possibilidade do uso destas na rotina clínica, de forma individual ou associada.
31

3 METODOLOGIA

O método de seleção dos artigos descritos nesta revisão foi realizado de acordo
com os seguintes critérios:
Inicialmente foram realizadas pesquisas no site NCBI-Pubmed utilizando filtro
“clinical trials” pelos termos e díades: “mindfulness”, “mindfulness and depression”,
“mindfulness and anxiety”, “mindfulness and fMRI", “mindfulness and biomarkers”,
“mindfulness and cortisol”, “ayahuasca”, “ayahuasca and depression”, “ayahuasca
and anxiety”, “ayahuasca and fMRI", “ayahuasca and biomarkers” e “ayahuasca and
cortisol”.
Foram encontrados 1058 artigos para a pesquisa do termo mindfulness, 375 para
mindfulness and depression, 321 para mindfulness and anxiety, 30 para mindfulness
and fMRI, 32 para mindfulness and biomarkers, 55 para mindfulness and cortisol, 21
para ayahuasca, 2 para ayahuasca and depression, 2 para ayahuasca and anxiety,
0 para ayahuasca and fMRI, 0 para ayahuasca and biomarkers. Devido ao número
baixo de artigos incluindo ayahuasca no termo de busca, foram incluídos na revisão
artigos citados nas listas de referências dos principais artigos encontrados na
pesquisa pelo termo “ayahuasca”. Logo após a pesquisa inicial foi realizada a
seleção de artigos através da leitura dos abstracts dos mesmos, sendo excluídos
artigos que foram publicados há mais de vinte anos, estudos realizados com
pacientes diagnosticados com alguma doença não psiquiátrica (ex: câncer) e
indivíduos em tratamento de reabilitação, viciados em substâncias como álcool e
outras drogas.
32

RESULTADO

3.1 AYAHUASCA COMO MODELO DE TERAPIA

O potencial antidepressivo da ayahuasca vem sendo discutido no ambiente


acadêmico há um tempo. Alguns artigos trazem evidências de que seus efeitos a
longo prazo vão além das visões ou mirações, que caracterizam os seus efeitos
psicodélicos, ou de percepções diferenciadas ligadas à espiritualidade, como
discutido abaixo.
Com intuito de analisar os efeitos do uso prolongado de ayahuasca sobre aspectos
comportamentais e neurológicos de pessoas consideradas saudáveis,
pesquisadores têm executado estudos controlados com usuários regulares de
ayahuasca, identificar sua influência em parâmetros como, humor, traços de
personalidade, impulsividade, uso de drogas, qualidade de vida, e função
neuropsicológica. Iremos descrever alguns destes estudos nesta sessão e a tabela
3 ilustra um resumo dos estudos e seus principais resultados.
Um dos estudos envolveu dois grupos, compostos por membros da UDV americana
(AYA n=30) e indivíduos membros de comunidades religiosas que não consomem
ayahuasca (controle n=27) (Barbosa et.al,2016). Após a aplicação das escalas,
observou-se que os usuários de ayahuasca apresentaram escores mais baixos para
depressão (p = 0,043, r = 0,27) e confusão (p = 0,032, r = 0,29) avaliada pelo Perfil
dos Estados do Humor (POMS). Assim como maiores pontuações no inventário
para os traços de personalidade (Big Five Inventory -BFI), nos itens de amabilidade
(p = 0,028, r = 0,29) e abertura (p = 0,037, r = 0,28). Apresentaram também maior
qualidade de vida (p = 0,035, r = 0,28) e menor consumo de álcool (p <0,001, φc =
.57). Quanto aos testes de função neuropsicológica os resultados da tarefa de lista
de interferência do California Verbal Learning Test (CVLT) indicaram que não houve
diferenças gerais entre os grupos quanto memória verbal. Tais achados sugerem
que o uso de ayahuasca não apresenta efeitos negativos sob parâmetros
neuropsicológicos e que pode ter efeitos positivos quanto à qualidade de vida,
acarretando possivelmente um perfil psicológico constituído por uma visão de
mundo mais positiva e aberta (Barbosa et.al,2016).
Outro estudo com membros da igreja Santo Daime, que fazem uso de ayahuasca
por mais de 10 anos, avaliou os níveis de ansiedade, pânico e desesperança
(hopelessness) dos voluntários usando as escalas STAI-state/trait, ASI-R e BHS,
respectivamente (R.G. Santos et al, 2007).
Para registro dos valores basais os voluntários responderam aos questionários
antes da primeira sessão experimental. As duas sessões experimentais foram
planejadas para que os indivíduos que consumiram placebo na primeira
consumissem ayahuasca na segunda. Os questionários foram novamente aplicados
após cada sessão.
Foram observadas diferenças significativas entre a média de alterações entre os
escores obtidos pelos participantes quando sob efeito do placebo e ayahuasca
(p<0.05). Bem como o teste t revelou uma mudança estatisticamente significativa
33

nos escores relacionados a pânico (t (8) = 7,84; p <0,001) e desesperança na


escala de Beck (t (8) = 6,20; P <0,001). Entretanto o mesmo não foi observado nas
escalas que registram os traços(t (8) = 1,01; P = 0,2) ou estado de ansiedade (t (8) =
0,64; P = 0,5) (R.G. Santos et al, 2007).
Como descrito acima, foram relatados em estudos que usuários regulares de
ayahuasca apresentam menor probabilidade de desenvolver transtornos de
ansiedade, depressão e outros distúrbios relacionados com disfunção
neuropsicológica. E assim muitos estudos têm sido desenvolvidos a fim de
compreender o efeito antidepressivo da ayahuasca em diferentes populações.
Como por exemplo, um ensaio clínico randomizado duplo-cego de 2011 que buscou
analisar o impacto fisiológico da ayahuasca em termos de efeitos subjetivos,
autonômicos, neuroendócrinos e imunomoduladores. Um grupo que recebeu uma
dose oral de ayahuasca (contendo 1,0 mg de DMT / kg), foi comparado com outro
grupo que recebeu placebo e também comparado com um controle positivo (20 mg
de D-anfetamina) num grupo de 10 voluntários saudáveis (Rafael G. dos Santos et
al, 2011).
As medidas fisiológicas foram registradas a partir de exames de EEG antes da
administração das respectivas substâncias de cada grupo e depois em uma
sequência de 30 min, 1:30h, 2h, 2:30h. Já as coletas de amostras de sangue para
dosagens neuroendócrinas foram realizadas nos pontos correspondentes a 40 e 10
min antes do da tomada, como também nos em pós-ingestão de 30 minutos, 1h,
1:30h, 2h, 4:30h e 6 horas. Quando analisados os efeitos dos três tratamentos sobre
a potência da onda beta (-power) do EEG, os efeitos da ayahuasca parecem ser
mais significantes quando comparados com efeitos de placebo e d-anfetamina
(p<0.01/ p<0.05). O grupo ayahuasca também revelou maiores picos de prolactina
em relação a esses dois outros grupos, respectivamente (p<0.01/p<0.05). Em outros
parâmetros complementares, observou-se também uma diferença entre os grupos
ayahuasca e o grupos placebo: o grupo ayahuasca teve aumento dos níveis
plasmáticos de cortisol (p<0.001), e em linfócitos do tipo CD3, CD4 E NK (p<0.05).
O artigo sugere que ayahuasca tem potencial imunomodulador e neuromodulador,
que pode ser aplicado no tratamento de distúrbios que apresentam alterações no
sistema imunológico e na produção de neurotransmissores e hormônios. Teorias de
que a presença de inflamação no cérebro contribui para a neurodegeneração e
desenvolvimento de depressão vem sendo discutida nos últimos anos. Acredita-se
que a concentração de substâncias inflamatórias no cérebro reduz a produção dos
neurotransmissores serotonina e dopamina e aumenta os níveis de óxido nítrico,
conhecido por ativar a via glutamatérgica que em excesso pode levar a apoptose
celular e neurodegeneração. Além de ativar o eixo HPA, por estimular a liberação de
CRF e por consequência aumentar os níveis de cortisol (BE. Leonard, 2010).

Além dos efeitos discutidos acima, há evidências diretas do potencial antidepressivo


da ayahuasca, como apresentado pelos pesquisadores da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (Palhano-Fontes et al, 2018). Em um ensaio controlado
34

randomizado duplo-cego de braços paralelos, os autores investigaram os efeitos


antidepressivos da ayahuasca, através do uso das escalas MADRS e o HAM-D para
acessar a grau de depressão dos voluntários. Os sujeitos foram randomizados em
dois grupos, ayahuasca (AYA n=14) e placebo (PLA n=15).
Foram relatados efeitos antidepressivos significativos da administração de
ayahuasca quando comparado ao placebo em todos pontos de medição ao longo de
7 dias. As pontuações da escala MADRS foram significativamente menores no
grupo da ayahuasca em comparação com placebo entre o primeiro dia e no
segundo (D1 e D2) (p = 0,04) e no sétimo dia (D7) (p <0,0001). Os tamanhos de
efeito entre grupos aumentaram de D1 para D7 (D1: d de Cohen = 0,84; D2: d de
Cohen = 0,84; D7: D de Cohen = 1,49). As taxas de resposta foram altas para
ambos os grupos ayahuasca e placebo em D1 e D2, e significativamente maiores no
grupo da ayahuasca em D7 (64% v. 27%; p = 0,04). A taxa de remissão mostrou
uma tendência de significância no D7 (36% v. 7%, p = 0,054).
Outro estudo executado pelos mesmos pesquisadores, analisou o efeito da
ayahuasca nos níveis salivares e na resposta ao acordar do cortisol (AM. Galvão et
al, 2018). O design do estudo foi randomizado e controlado, sendo 43 sujeitos
saudáveis compondo o grupo controle (C) e 28 pacientes com diagnóstico de
depressão maior (DM) (os mesmos sujeitos do estudo anterior), e concomitante
histórico de resistência à tratamentos pelo menos dois antidepressivos
convencionais. Todos os indivíduos da pesquisa foram admitidos no setor
psiquiátrico do Hospital universitário Onofre Lopes (HUOL) uma noite antes da
sessão de dosagem (D-1), quando a avaliação utilizando a escala de depressão
MADRS foi realizada.
Nessa abordagem, todos os participantes então dormiram no hospital. Às 6:00 da
manhã do dia seguinte a admissão, amostras de saliva foram coletadas para medir
o nível de cortisol salivar ao despertar e às 7:00 da manhã as amostras de sangue
foram coletadas para avaliação do nível plasmático de cortisol. As avaliações da
resposta do cortisol salivar ao despertar consistiram em 3 amostras de saliva
coletadas em (i) despertar (± 5 min), (ii) +30 min e (iii) +45 min. As 10 da manhã os
sujeitos participaram da sessão única de administração de substância, onde foi
ingerida uma dose única de ayahuasca ou placebo e coletadas duas amostras de
saliva, uma antes da dose e outra após 1h e 40 minutos. Foram coletadas ainda,
amostras de saliva e sangue após 48h a sessão da administração de substância
(D2), assim como novamente houve a aplicação da escala MADRS.
Foram registrados níveis mais baixos de cortisol salivar e plasmático nos pacientes
compondo o grupo DM comparados ao controle, nas amostras pré sessão de
dosagem (valores basais). Análises estatísticas foram realizadas entre os indivíduos
que consumiram ayahuasca ou placebo, tanto no grupo DM quanto no C e também
entre os grupos.
Os níveis de cortisol salivar entre os pacientes do grupo MD que consumiram
ayahuasca foram maiores do que daqueles que consumiram placebo (Mann-
Whitney test U = 27 p = 0.03) após 1h40min da administração, assim como no grupo
controle (Mann-Whitney U = 84 p = 0,01). E quando comparados os pacientes e
35

controles que receberam a dose de ayahuasca, o nível de cortisol se comporta de


forma similar (Mann-Whitney test U = 85 p = 0.66). Após 48h, os níveis de cortisol
(AUC) dos pacientes (DM) que ingeriram a ayahuasca foi equivalente aos valores
dos indivíduos saudáveis (C) que também ingeriram ayahuasca (Fisher post-hoc: p
= 0,45). Por outro lado, os pacientes (DM) que ingeriram placebo continuaram
apresentando menor AUC que os controles (C) que ingeriram placebo (Fisher post-
hoc: p = 0,03).
Os resultados relatados no artigo citado acima sugerem que, mesmo com uma
única dose, a ayahuasca é capaz de aumentar os níveis de cortisol em pacientes
com depressão maior que apresentam hipocortisolemia. As alterações agudas do
cortisol salivar registradas não foram significativamente correlacionadas com as
pontuações da MADRS 48h depois da sessão. As teorias sobre a modulação do
cortisol pela ayahuasca, sugerem que isto pode se dar ao fato de que há um
aumento global de níveis de serotonina, induzida pelos alcaloides N, N-DMT
associado às β-carbolinas (Grella B. et al 2003) ou, como outros estudos afirmam,
pela modulação via serotonina na secreção de CRH e ACTH, tanto no hipotálamo
quanto na hipófise. (Jørgensen HS. et al. 2007). A regulação do cortisol é
importante, por ser um hormônio integrativo com grande potencial de modulação
corporal e estar envolvido na etiologia da depressão, com influência nos sistemas
imunológico e monoaminérgico (Yehuda R, 2002; Benton e Wiltshire, 2011, Tapia-
Arancibia L., et al, 2004).
Seguindo a mesma linha de estudos, um artigo resultado da colaboração entre
pesquisadores brasileiros e espanhóis, reforça a existência do efeito antidepressivo
da dose única de ayahuasca. (Osório F. et al, 2015). A equipe realizou ensaio com 6
pacientes diagnosticados com depressão maior e que nunca haviam consumido
ayahuasca ou qualquer outro psicodélico antes do experimento.
Todos os 6 participantes foram admitidos em uma unidade psiquiátrica 2 semanas
antes do experimento e durante esse tempo não consumiram nenhum tipo de droga
recreativa ou medicação antidepressiva. Cada sessão experimental durou cerca de
4 horas e consistia em ingestão da dose de ayahuasca (120-200ml) por parte dos
pacientes e entrevistas com psiquiatra para aplicação das escalas BPRS, YMRS,
HAM-D e MADRS em diferentes momentos. As escalas foram aplicadas novamente
dias depois.
Foram observadas reduções significativas nos escores de HAM-D após 24 horas do
experimento (p=0.01), 7 dias (p=0.01) e até 21 dias depois (p=0.01). Assim como na
escala MADRS, que apresentou redução já após 180 minutos da sessão (p=0.01) e
ainda mais logo após 24 horas (p=0.003), 7 dias (p=0.009) permanecendo até 21
dias depois (p=0.002). Sugerindo que uma única dose de ayahuasca tem
capacidade de reduzir sintomas depressivos em pacientes diagnosticados com
depressão maior. Quanto às outras escalas não foram observadas alterações
significativas.
Para investigar se o experimento teve algum efeito duradouro sobre os pacientes,
oito pacientes foram entrevistados por um psiquiatra 4 a 7 anos após a realização
do experimento (RG.Santos et al, 2018). A maior parte dos pacientes relatou que a
36

experiência com ayahuasca estava entre as mais importantes de suas vidas. O


relatório final das entrevistas sugere, infelizmente, que os efeitos antidepressivos
observados após o ensaio foram limitados a algumas semanas. Esse relato aponta
a necessidade do acompanhamento dos participantes de estudos similares, para
uma avaliação mais fidedigna dos efeitos da ayahuasca e seu potencial terapêutico
a longo prazo.

3.1.1 Ayahuasca e seus efeitos em estruturas encefálicas

Algumas estruturas e regiões específicas no encéfalo desempenham papel crítico


no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos e comportamentais, como
ansiedade e depressão. Estas estruturas podem apresentar alterações morfológicas
ou funcionais que se relacionam diretamente com os sintomas apresentados por
pacientes diagnosticados com tais doenças; na depressão, por exemplo, podemos
identificar um aumento na ativação de regiões límbicas, como por exemplo a
amígdala, o que acarreta em desestabilidade emocional constantemente relatada
pelos pacientes depressivos (Davey CG et al., 2011). Diante deste fato podemos
supor que os efeitos neuropsiquiátricos da ayahuasca descritos na sessão anterior
podem ser consequência de alterações neurológicas funcionais e/ou estruturais
ocasionadas pelo consumo agudo e crônico da bebida.
Para avaliar tais parâmetros alguns estudos com usuários de ayahuasca e
exames de imagens e eletroencefalografia foram desenvolvidos nos últimos anos.
Para investigar os efeitos da droga sob as ondas cerebrais em diferentes regiões do
cérebro. (Jordi Riba et al 2004) gravações de eletroencefalografia (EEG) foram
obtidas de 18 voluntários após a administração de uma dose encapsulada de
ayahuasca (0,85 mg de DMT / kg) ou placebo. Os valores de EEG foram obtidos 15
minutos antes da administração das cápsulas e 30, 60, 90, 120,180, 360 e 480
minutos após a ingestão da respectiva substância.
Os efeitos da ayahuasca observados no estudo envolvem principalmente reduções
na atividade lenta das frequências delta e teta assim como redução de potência em
beta-1 e na banda de frequência alfa-2. As mudanças na distribuição da potência
intracerebral indicam que as regiões temporo-parieto-occipital e áreas temporal
medial e frontomedial são alvo da ação da ayahuasca no sistema nervoso central.
Estas áreas estão envolvidas no processo somatossensorial de percepção auditiva
e visual e na integração de informações sensoriais, emocionais e no processamento
de memória. O que pode explicar os efeitos psicodélicos descritos por indivíduos
que consomem a substância, bem como as sensações de bem-estar e consequente
alterações nos estados psicológicos e emocionais observados em outros estudos.
Enquanto exames de ressonância magnética funcional demonstram com mais
detalhes os efeitos da ayahuasca sob a conectividade cerebral. Em um ensaio
executado com 9 usuários frequentes de ayahuasca, foi observado um potencial
neuromodulador da bebida (DB. Araujo et al, 2011).
37

O ensaio foi composto por duas sessões de fMRI. Na primeira sessão os indivíduos
executaram as tarefas cognitivas enquanto eram escaneados, e foram avaliados
através das escalas psiquiátricas Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS) e Young
Mania Rating Scale (YMRS) antes de consumirem o chá. A segunda sessão de
fMRI foi realizada 40 minutos depois da ingestão do chá. Em cada sessão os
sujeitos executaram três tarefas diferentes enquanto as imagens eram registradas.
A primeira tarefa consistia em apenas observar imagens aleatórias, na segunda eles
deveriam imaginar as imagens que haviam acabado de ver e na terceira foram
expostos às mesmas imagens, porém de forma desordenada.
Foram observadas alterações nos escores das escalas após a ingestão da
ayahuasca, apresentando aumento significativo em 40 (P = 0.05 para BPRS, P <
0.036 para YMRS,) e 80 minutos (P= 0.036 para BPRS, P =0.036 para YMRS) após
a ingestão. Foi registrada também, uma correlação entre a ativação do cuneus e do
giro lingual com os valores de BPRS, após a ingestão do chá. O que pode indicar
que a ativação destas estruturas está diretamente envolvida no aumento da
percepção de mudanças, o que inclui mudanças visuais e auditivas, indicado pelas
alterações nos escores da escala. Observou-se também que após a ingestão do chá
há uma modulação seletiva sob as redes cerebrais: frontal, temporal e temporal
occipitais associadas à intenção, memória e visão. Assim como um aumento
significativo da atividade do córtex visual primário (Lobo occipital).
Além da ampliação do imaginário mental, a experiência induzida pela Ayahuasca
pode afetar a DMN, atualmente conhecida por sua associação consistente à
processos que envolvem orientação mental interna. Para identificar os efeitos do
chá sob a DMN, inclusive sua relação com outra rede cerebral, a “task positive
network-TPN”, foi desenvolvido um ensaio experimental, utilizando exames de fMRI
para monitorar essas possíveis alterações (Palhano-Fontes et al, 2015).
O experimento foi realizado a partir de testes com 10 usuários regulares de
ayahuasca, com pelo menos 5 anos de exposição ao chá, membros da comunidade
do Santo Daime. Para participar do experimento os sujeitos deveriam estar
saudáveis, sem qualquer distúrbio neurológico ou psiquiátrico e não consumir
nenhuma medicação antidepressiva, cafeína, drogas ilícitas ou nicotina antes das
sessões. Cada indivíduo passou por duas sessões de fMRI, antes e 40 minutos
depois da ingestão da dose de ayahuasca. Uma tarefa de fluência linguística foi
executada durante as sessões para estimular e monitorar o funcionamento da DMN.
Além da aplicação das duas escalas psiquiátricas (Brief Psychiatric Rating Scale-
BPRS e Young Mania Rating Scale-YMRS) antes (baseline), 40, 80 e 200 minutos
depois da dose de ayahuasca. Um grupo controle, com 26 indivíduos não usuários
de ayahuasca foi utilizado para mapeamento das ROI possivelmente ativas durante
a execução dos protocolos. A máscara de DMN usada foi baseada na intersecção
dos voxels estatisticamente significantes com nove regiões constantemente
associadas com a DMN: o córtex cingulado anterior, o córtex cingulado posterior, o
precuneus, o córtex pré-frontal medial, o giro frontal médio esquerdo, o giro
temporal médio esquerdo e direito e o lóbulo parietal inferior esquerdo e direito.
38

Foram realizadas comparações entre os valores de BOLD obtidos pelos indivíduos


antes e depois do consumo de ayahuasca, durante a execução da tarefa e repouso,
considerando os valores individuais das ROI e os valores gerais, DMN por completa.
Observou-se que há uma redução na atividade de várias regiões da DMN após o
consumo de ayahuasca. E quando comparados individualmente, o giro médio frontal
esquerdo e giro médio temporal esquerdo apresentaram aumento na sua atividade,
o que pode estar relacionado com a natureza da tarefa executada durante as
sessões, uma vez que são regiões relacionadas com o processamento de
linguagem.
Mais especificamente foram observados valores reduzidos de forma significativa em
regiões como córtex cingulado anterior e posterior, córtex pré-frontal medial,
precuneus e lóbulo parietal esquerdo e direito. E também uma redução na
conectividade entre o córtex cingulado posterior e o precuneus. Além disso uma
avaliação adicional das ROI confirmou que os efeitos da Ayahuasca são
relacionados à uma redução estatisticamente significativa da atividade para a
maioria das regiões que compõe a DMN (p <0,01, Bonferroni corrigido para
comparações múltiplas). Entretanto, não foram encontradas diferenças na
conectividade entre a DMN e a TPN.
A atividade dos nodos da DMN se apresenta de forma elevada na depressão (YI
Sheline, 2009). A possível ação inibitória da ayahuasca sob a atividade da DMN,
pode ser estar relacionada ao seu efeito antidepressivo.
Ainda para avaliar os efeitos da ayahuasca sobre o sistema nervoso, quanto a
ativação ou inibição de certas regiões, foi desenvolvido um estudo utilizando o
exame de tomografia por emissão de fóton único (SPECT). O exame tem como
objetivo avaliar o fluxo sanguíneo cerebral e assim definir quais regiões estão mais
ativas em determinado momento. E para correlacionar a ativação ou inibição de
estruturas cerebrais com os efeitos antidepressivos da ayahuasca, o estudo traz
também a análise psiquiátrica dos voluntários através da aplicação de escalas como
HAM-D e MADRS (Sanches et al,2016).
O estudo foi realizado com 17 pacientes, diagnosticados com depressão maior (DM)
resistentes a antidepressivos comuns. Todos foram alocados em uma unidade
psiquiátrica duas semanas antes da sessão de tratamento com ayahuasca. A
sessão de tratamento foi realizada individualmente e os voluntários consumiram
cerca de 120-200 ml do chá de ayahuasca. No dia da sessão, os pacientes
responderam as escalas 10 minutos antes da ingestão de ayahuasca e 40, 80, 140
e 180 minutos depois. As escalas foram aplicadas novamente algumas vezes
depois da sessão, com intervalos de 7 dias (D1, D7, D14 e D21). O exame de
tomografia foi realizado antes e 8 horas depois do tratamento com a dose de
ayahuasca (Sanches et al,2016).
Foram observadas reduções nos escores das escalas HAM-D e MADRS,
principalmente quando comparados os valores registrados em 80 minutos e 180
minutos (p<0.01) após a ingestão e entre o dia seguinte ao tratamento e 21 dias
depois (p=0.000). Já o exame de SPECT mostra uma associação entre o efeito da
ayahuasca com a ativação de algumas regiões (p <0,01), ligadas a regulação
39

emocional e de humor, como núcleo accumbens esquerdo (intensidade de pico =


7.179; voxels = 45; MNI = −8, 6, −10), ínsula direita (intensidade de pico = 4,695;
voxels = 43; MNI = 32, 24, −10) e a área subgenual esquerda (intensidade de pico =
4.523; voxels = 30; MNI = −10, 32, −8). Essas regiões parecem estar menos ativas
em pacientes depressivos, e o aumento da sua ativação está relacionado com o uso
de antidepressivos convencionais. Portanto os achados deste estudo indicam uma
semelhança entre os efeitos da ayahuasca e os fármacos tradicionalmente usados
para tratar depressão. É importante lembrar que os pacientes que participaram
desse estudo são resistentes a ação de antidepressivos e não apresentaram
remissão dos sintomas durante o tratamento com os mesmos, porém aparentam ter
resposta positiva com o uso de ayahuasca. Tal fato ressalta a importância de
estudos e debates sobre o uso terapêutico de drogas psicodélicas e terapias
alternativas na clínica, uma vez que há evidências de que estes funcionam em
pacientes resistentes aos tratamentos atualmente utilizados na rotina clínica.
Autores Intervenção Design População Principais achados
Grupo 40
experimental:
Usuários Os usuários regulares de
regulares de ayahuasca apresentaram
Consumo Estudo ayahuasca, menores escores nas escalas
regular de controlado. membros da POMS, BFI, menor taxa de
ayahuasca. UDV. consumo alcóolico e não
Grupo apresentaram déficit cognitivo.
Barbosa et al 2016 controle:
Membros de
comunidades
religiosas.
Dose única de Estudo Membros da Os indivíduos sobre efeito de
ayahuasca. controlado comunidade ayahuasca apresentaram
randomizado. Santo Daime. redução nos escores
R.G. Santos et al, 2007 relacionados ao pânico e
desesperança.
Dose única de Estudo Voluntários Indivíduos que consumiram
ayahuasca. clínico saudáveis. ayahuasca apresentaram
randomizado maiores picos de prolactina,
Rafael G. dos Santos duplo-cego. aumento nos níveis
et al, 2011 plasmáticos de cortisol e
linfócitos do tipo CD3, CD4 e
NK.
Dose única de Estudo Pacientes Grupo da ayahuasca
ayahuasca controlado depressivos apresentou pontuações da
randomizado resistentes escala MADRS
Palhano-Fontes et al, duplo-cego aos significativamente menores e
2018 de braços tratamentos maior tendência a remissão dos
paralelos. convencionais. sintomas.
Dose única de Estudo Pacientes Os níveis de cortisol nos
ayahuasca controlado depressivos indivíduos saudáveis e
randomizado. resistentes depressivos aumentou
AM. Galvão et al, 2018 aos significativamente após a
tratamentos ingestão de ayahuasca.
convencionais
e indivíduos
saudáveis
Dose única de Estudo Pacientes Após o consumo de ayahuasca
Osório F. et al, 2015 ayahuasca clínico depressivos. os pacientes apresentaram
aberto. redução nos escores das
escalas HAM-D e MADRS.
Dose única de Ensaio Voluntários Mudanças na distribuição da
Jordi Riba et al 2004 ayahuasca clínico duplo saudáveis. potência intracerebral nas
cego regiões temporo-parieto-
randomizado occipital e áreas temporal
cruzado. medial e frontomedial.
Dose de Usuários Observou-se que após a
ayahuasca regulares de ingestão do chá há uma
Ensaio ayahuasca. modulação seletiva sob as
experimental. redes cerebrais: frontal,
DB. Araujo et al, 2011 temporal e temporal occipitais
associadas à intenção,
memória e visão. Assim como
um aumento significativo da
atividade do córtex visual
primário.
Palhano-Fontes et al, Dose de Ensaio Usuários Redução na atividade da DMN e
ayahuasca experimental. regulares de redução na conectividade entre os
2015 nodos da DMN (córtex cingulado
ayahuasca.
posterior e o precuneus)
Dose de Ensaio Ativação do núcleo accumbens
Sanches et al,2016 ayahuasca experimental Pacientes esquerdo, ínsula direita e a
depressivos. área subgenual esquerda.
Redução nos escores de HAM-
D e MADRS.
Tabela 1- Tabela resumo dos estudos com ayahuasca selecionados para a revisão e seus principais
achados.
41

3.2 MINDFULNESS COMO MODELO DE TERAPIA

Nas sessões anteriores deste trabalho, decorremos sobre os efeitos da ayahuasca


nos usuários regulares e em pacientes e indivíduos que nunca haviam
experimentado o chá antes de participarem dos experimentos. De acordo com a
análise dos estudos que utilizaram doses de ayahuasca em pacientes deprimidos
(Osório 2015; Palhano-Fontes,2018) a substância parece ter efeito terapêutico
nesses indivíduos, bem como em sintomas de ansiedade em indivíduos usuários
regulares (Santos 2007). Tal fato indica que ayahuasca pode ser um possível
tratamento farmacológico alternativo aos medicamentos disponíveis no mercado até
o presente momento.
Entretanto, devido ao grau de complexidade dos quadros depressivos e dos
transtornos de ansiedade é de conhecimento da comunidade médica que o
tratamento de distúrbios neuropsiquiátricos necessita não só de intervenção
farmacológica, mas também de alguma intervenção psicológica, que trabalhe a
mente do indivíduo e o ajude a lidar com os fatores externos e não fisiológicos que
possam influenciar no seu desequilíbrio emocional.
As IBM vem sendo utilizadas de forma empírica para auxiliar no controle de
estresse, ansiedade, depressão e em vários outros parâmetros psicológicos e
comportamentais no mundo oriental há muitos anos. Graças à popularização desses
protocolos no mundo ocidental nas últimas décadas os estudos clínicos que buscam
avaliá-los como forma de terapia alternativa não farmacológica ganharam espaço no
cenário científico. Uma vez comprovada a eficácia das terapias baseadas em
mindfulness, seria possível uma associação a terapias farmacológicas
convencionais ou alternativas, tais como o uso de antidepressivos tradicionais ou
como a ingestão crônica de chá de ayahuasca. Nesta sessão iremos descrever
estudos clínicos que buscaram avaliar os efeitos de intervenções baseadas em
mindfulness sobre marcadores clínicos e biológicos relacionados com ansiedade e
depressão, resumidos na tabela 2.

Um estudo recente analisou a relação entre a melhora psicológica e mudanças


biológicas de indivíduos praticantes de yoga, após um retiro de 3 meses (B.Rael et
al, 2017). Os pesquisadores acompanharam 38 praticantes regulares de yoga que
participaram do retiro e aceitaram ser voluntários para o estudo. Além da
experiência prévia dos voluntários com yoga e meditação, é importante ressaltar
que nenhum deles apresentava queixas ou diagnóstico de ansiedade e depressão.
Entretanto, o objetivo do estudo foi analisar uma possível relação entre os escores
das escalas de ansiedade e depressão e concentrações de marcadores bioquímicos
e inflamatórios.
Para dosagem dos marcadores, foram coletadas amostras de sangue e saliva
destes indivíduos, antes e depois dos 3 meses de retiro. As substâncias dosadas
foram o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF-brain derived neurotrophic
factor), marcadores inflamatórios (IL-6, IL 12, IL 10, TNF-α, INF-γ) e cortisol.
Algumas amostras de saliva e sangue foram excluídas dos cálculos por
42

apresentarem valores muito foram do padrão e então apenas 26 indivíduos tiveram


suas amostras analisadas.
Durante os 3 meses de retiro, os participantes praticaram diferentes tipos de
meditações e yoga diariamente por pelo menos 5 horas. Dentre as práticas de
meditação estavam Samyama, Shoonya, Linga sanchalana, e dentro das práticas
de yoga estavam um tipo de Kriya (movimentos corporais em postura sentada
focando em mantras e sensações corporais) e técnicas de Hatha yoga. As coletas
das amostras e entrevistas com os participantes foram realizadas no dia 3 do retiro
e novamente no dia 87.
As entrevistas incluíam os questionários psicológicos para diagnósticos, entre eles
foram selecionados o Inventário de sintomas breve (Brief Symptom Inventory-18
BSI-18 ), o Inventário de mindfulness de Freiburg (Freiburg Mindfulness Inventory-
FMI) e a Escala de absorção de Tellegen (Tellegen Absorption Scale – TAS). As
dosagens de cortisol foram realizadas ao longo dos dois dias de coleta, no início e
no final do retiro.A primeira amostra coletada imediatamente após acordar(4:45 AM),
depois 30 minutos após acordar (5:15 AM), e durante o dia 9:15AM ( durante o
intervalo pós práticas), 12:30 PM (pouco antes do almoço) e 5:10PM (intervalo) e a
última antes de dormir 8:30 PM. Os níveis de BDNF e marcadores inflamatórios
foram obtidos através da análise do plasma dos participantes, coletadas no dia 4 e
depois dia 88 do retiro. Foram coletadas duas amostras de sangue de cada
indivíduo, nos dois dias de coleta, uma logo ao acordar e outra pouco antes do café
da manhã. Os voluntários foram orientados a não praticar exercícios imediatamente
antes da coleta.
Os resultados da comparação entre os valores obtidos antes e depois do retiro
foram em sua maioria sugestivos de que há uma relação direta entre os níveis de
substâncias fisiologicamente envolvidas em processos inflamatórios (IL-6, IL 12, IL
10, TNF-α,INF-γ) e no acionamento do eixo HPA (cortisol) e níveis de BDNF e a
níveis mais altos em escores da BSI-18. Houve um aumento nos níveis de BDNF,
inversamente proporcional às pontuações nas escalas psiquiátricas entre os
voluntários. Ou seja, depois do retiro os indivíduos que estavam menos ansiosos,
menos estressados, com maior controle sobre sua atenção (maior nível de
mindfulness), foram os que apresentaram maior variação positiva de níveis de
BDNF (r = 0.52 , p <0.05). Quanto aos marcadores inflamatórios, os resultados
foram um tanto quanto contraditórios, uma vez que foi observado um aumento nos
níveis de biomarcadores, tanto os pró (IFN- γ, IL-1b, IL-6, IL-8,IL-12, TNF- α) quanto
os anti-inflamatórios (IL-10). Os autores chamam a atenção para mudanças na
alimentação e rotina de exercícios físicos, que podem ter aumentando os níveis de
substâncias pró-inflamatórias. Esse aumento pode ser visto como algo positivo, uma
vez que algumas substâncias consideradas pró-inflamatórias, quando estimuladas
por exercícios físicos desempenham funções anti-inflamatórias, tais como a
interleucina 6 (IL-6). Nos dois grupos, os níveis de cortisol apresentaram um padrão
circadiano clássico, uma vez que apresentaram um aumento nas amostras
coletadas 30 minutos depois do despertar e não apresentaram alterações
significativas.
43

Apesar de apresentar alterações nos níveis dos biomarcadores e nos escores de


escalas psicológicas (BSI-18), os resultados apresentados pelos autores é um
pouco confuso e o design do estudo apresenta algumas falhas. O retiro realizado
pelos indivíduos envolve práticas de yoga que envolvem exercícios físicos, e não só
técnicas de mindfulness o que pode ter influenciado nos resultados observados ao
final do estudo. O aumento de citocinas pró inflamatórias, por exemplo, talvez possa
ser explicado pela intensidade física e mental exigida em um retiro desse tipo. Seria
interessante nesse contexto acompanhar os participantes por um período maior.
Adquirindo um perfil plasmático dessas substâncias mais completo e fidedigno para
uma avaliação mais completa. Outro ponto a se considerar é a escolha de
voluntários com experiência em práticas de meditação e Yoga e que não
apresentam queixas de ansiedade ou estresse. O perfil dos participantes dificulta a
discussão sobre o uso das técnicas de mindfulness como ferramentas no tratamento
de ansiedade, depressão e estresse, uma vez que os sujeitos não estão inseridos
nesse contexto.
Entretanto, há outros estudos que buscam entender melhor o papel das citocinas
pró-inflamatórias na fisiopatologia da depressão que foram desenvolvidos com
indivíduos que relataram queixas de sintomas relacionados à depressão.
Assim como um estudo controlado e randomizado, realizado por pesquisadores
americanos (Walsh et al, 2016) investigou os efeitos de uma intervenção breve de
mindfulness (4 semanas de treinamento MBSR) nos níveis salivares de IL-6, TNF-
alfa e sintomas auto relatados de depressão em mulheres estudantes universitárias
(N=62). Mulheres com escore de corte de 16 na Escala Epidemiológica do Centro
de Estudos para Depressão (The Center for Epidemiologic Depression Scale; CES-
D) foram divididas randomicamente entre dois grupos, mindfulness (N= 30) e grupo
controle (N=32). Para ambos os grupos as citocinas salivares e os sintomas
depressivos foram avaliados no início (basais) e após o tratamento,2 semanas após
o fim das intervenções (pós-intervenção). Enquanto grupo MBI, também foi avaliado
3 meses depois do fim do treinamento MBSR.
Ambos os grupos mostraram reduções similares nos escores de CES-D,
comparando os valores basais e pós intervenção. No entanto, MBI demonstrou
maiores reduções nos níveis salivares de IL-6 e TNF- alfa quando comparados com
o controle após a intervenção. A redução de IL-6 e dos escores de CES-D foi
mantida no seguimento de 3 meses, no grupo MBI, entretanto os valores de TNF-
alfa não se mostraram reduzidos quando comparados aos valores basais.
Indivíduos que apresentaram maior escore na escala de sintomas depressivos antes
da intervenção, apresentaram maiores reduções na inflamação no grupo
mindfulness.
Os resultados apontados pelos autores do artigo reafirmam a relação entre os
sintomas de depressão e os altos valores de citocinas pró-inflamatórias ao constatar
que a redução dos escores da CES-D acompanha a redução dos valores de IL-6 e
TNF-alfa. Além de apoiar também o potencial terapêutico do mindfulness, uma vez
que o grupo MBI apresentou redução em todos os parâmetros avaliados no estudo,
ao final da intervenção e também após 3 meses. Entretanto o estudo apresenta
44

algumas falhas que devem ser levadas em consideração. Como por exemplo, a
forma como o grupo controle é conduzido, não há descrição exata dos protocolos
utilizados no grupo controle. A atividade desenvolvida pelo grupo controle é descrita
apenas como “indivíduos responderam a questionários sem relação com o estudo”.
E também o tempo de intervenção de mindfulness, os sujeitos do grupo MBI
realizaram apenas 4 semanas de MBSR ao invés de 8 semanas como é
normalmente descrito na literatura.

Complementarmente, um outro estudo, sugere que os níveis de outros


biomarcadores inflamatórios, como interleucina-8(IL-8) e proteína- C reativa (PCR)
não tem relação com a redução dos sintomas clínicos, determinados pelas escalas
de sintomas de ansiedade e depressão (A.A. Memon et al, 2017). O artigo busca
comparar os valores de IL-6, IL-8, PCR e fator de crescimento epidérmico (EGF)
com sintomas psicológicos avaliados por escalas de depressão e ansiedade.
O estudo foi composto por um grupo controle ativo (terapia cognitiva
comportamental -TCC/n=85) e grupo experimental (Mindfulness-MBSR/n=81) e os
indivíduos foram alocados de forma randomizada em seus respectivos grupos. Para
acompanhamento dos sintomas mentais, os indivíduos de ambos os grupos foram
entrevistados e analisados através do uso das escalas de Classificação de
Depressão de Montgomery – Åsberg (MADRS), Escala Hospitalar de Depressão
(HADS-D) e Ansiedade (HADS-A) e Questionário de Saúde do Paciente (PHQ) -9
antes e após os respectivos tratamentos. Os valores de IL6-, IL-8, PCr e EGF foram
dosados em duas amostras de sangue coletadas antes (valor basal) e depois do
período de intervenção (valor final).
O valor final de EGF apresentou redução significativa quando comparado ao valor
inicial tanto no grupo experimental (p<0.0001) quanto no grupo controle (p<0.0001),
entretanto os valores de IL-8(MBSR p=0.31/TCC p=0.19) e PCr (MBSR p=0.08/TCC
p=0.32) não apresentaram redução significativa em nenhum dos grupos. Os valores
de IL-6 da maioria dos participantes estavam abaixo dos limites de detecção para
dosagem e portanto não entraram para as análises estatísticas. Os níveis de EGF
foram significativamente associados à resposta ao tratamento em todas as escalas;
MADRS (p = 0,041), HADS-D (p = 0,048), HADS-A (p = 0,042) e PHQ-9 (p = 0,005).
Por outro lado, IL-8 e PCr não apresentaram associação significativa com nenhuma
das escalas. O estudo traz dados que relacionam a redução dos escores das
escalas com os níveis plasmáticos dos marcadores, entretanto não identificamos
uma análise comparativa entre os escores basais e pós intervenção.
Apesar do baixo nível de EGF estar relacionado com a melhora de sintomas de
estresse crônico (Wallensten, J. et al,2016) o seu papel como biomarcador de
depressão e ansiedade não está bem definido. Ainda que os resultados do estudo
não indiquem um efeito anti-inflamatório significativo da intervenção baseada em
mindfulness, é interessante ressaltar que há uma equivalência entre os efeitos da
terapia cognitiva comportamental e terapia baseada em mindfulness na redução de
sintomas clínicos medidos pelas escalas. No geral, percebe-se que há uma
45

necessidade de mais estudos para analisar o efeito anti-inflamatório das técnicas


baseadas em mindfulness, de preferência com grupos controles ativos.
A maior parte dos estudos realizados para avaliar o potencial terapêutico das IBM
são com grupo controle inativo, ou lista de espera. Ainda que não seja o ideal para
determinar a eficácia do mindfulness em comparação com as terapias disponíveis
na clínica atualmente, através da comparação com grupo que não realiza nenhum
tipo de intervenção, podemos identificar se há de fato algum efeito consequente da
terapia avaliada no estudo.
Assim como um estudo controlado e randomizado realizado com cinquenta
estudantes de enfermagem da Escola de Enfermagem da KN University na Coréia
do Sul, encontrou resultados que indicam o efeito do MBSR na redução de
parâmetros relacionados com ansiedade e depressão. Dados de 44 alunos, MBSR
(n = 21) e lista de espera (WL) (n =23) foram analisados e indicam potencial
antidepressivo, ansiolítico e anti-estresse do programa (Y.Song e Ruth Lindquist,
2014).
O grupo experimental (MBSR), foi submetido ao protocolo padrão de MBSR,
enquanto o grupo controle, ou lista de espera (WL), não participou de nenhum tipo
de intervenção até o período final de coletas de dados. Os dados utilizados para
análises dos efeitos de mindfulness foram coletados a partir de questionários de
auto avaliação para diagnóstico de depressão, ansiedade, estresse
(Depression,Anxiety and Stress Scale-21;DASS-21;) e mindfulness (Mindfulness
Attention Awareness Scale; MAAS) administrados na linha de base antes e ao final
do programa MBSR.O escore médio de depressão no grupo MBSR foi reduzida em
quase metade (de 8.3 para 4.1) e quando comparado com o grupo WL houve uma
diferença significante (F = 10.99, df=1, p = .002).
A média de pontuação que indica ansiedade do grupo MBSR foi reduzida em 3,9
pontos (de 6.7 para 2.8) enquanto no grupo WL não houve alterações; houve
diferença significativa entre os dois grupos (p = 0,023). O escore médio de estresse
no grupo MMSR apresentou redução de 27.1 (34.5 para 7.4), enquanto no grupo
controle o estresse diminuiu em 16,3(de 30 para 13.7); houve uma diferença
significativa entre os grupos (p<0.001). Paralelamente as reduções de escores de
estresse, ansiedade e depressão, o escore médio de atenção plena (mindfulness)
aumentou em média 10,8 no grupo experimental MBSR, (69.8 para 80.6) contra 1,3
no grupo WL, (77.7 para 79) apresentando diferença significativa entre os grupos (p
= 0,010).
O artigo traz resultados interessantes, que reafirmam o potencial de mindfulness na
redução dos sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Porém estudos
realizados com grupo controle lista de espera, podem apresentar resultados
tendenciosos, uma vez que não há outro tipo de intervenção sendo observada. Ou
seja, não há certeza se os resultados observados pelos pesquisadores são
necessariamente consequência do programa de mindfulness em si ou somente por
ter sido realizado qualquer tipo de intervenção. Ainda assim, estudos como este
revelam indícios de que uma intervenção baseada em mindfulness apresenta
respostas positivas em indivíduos estressados.
46

Entretanto deve-se priorizar o desenvolvimento de estudos que comparem dois tipos


de intervenções ativas para resultados mais definitivos, como por exemplo um
estudo randômico controlado, realizado pelos pesquisadores do Instituto de
Psiquiatria de Bologna na Itália, que teve como objetivo comparar a terapia cognitiva
baseada em mindfulness (mindfulness based cognitive therapy; MBCT) com a
terapia psico-educacional (EDUC- Chiesa et al, 2015).
A terapia psico-educacional foi projetada para ser estruturalmente equivalente ao
programa MBCT, mas excluindo a prática da meditação mindfulness. Foram
selecionados para o experimento 43 pacientes com depressão maior (DM),
resistentes à tratamentos convencionais, que não atingiram nenhuma melhora após
oito semanas de tratamento com antidepressivo. Os indivíduos foram randomizados
em dois grupos MBCT (N=23), EDUC (N=20) e foram acompanhados e avaliados
por 26 semanas.
Os sintomas de DM foram avaliados e classificados através das Escala de
Avaliação de Hamilton para Depressão (HAM-D) e o Inventário de Depressão de
Beck-II (BDI-II). Medidas de ansiedade (Inventário de ansiedade de Beck; BAI),
atenção plena (Questionário de Cinco Facetas de Mindfulness -FFMQ) e qualidade
de vida (Index Psicológico Geral de Qualidade de Vida; PGWBI) também foram
incluídas. Todas as avaliações foram realizadas antes do estudo, e nas semanas
4,8,17 e 26 após o início da intervenção.
De acordo com as análises estatísticas dos dados apresentados pelos autores,
houve diferença significativa entre os grupos nos escores de HAM-D, BDI, FFMQ e
PGWBI. Tanto os escores do HAM-D quanto do BDI apresentaram reduções, bem
como os escores de PGWBI e FFMQ apresentaram aumento a longo prazo, com
diferenças maiores entre os valores individuais coletados antes do estudo e na 26ª
semana dos sujeitos do grupo MBCT. Embora limitado por um pequeno tamanho da
amostra, os resultados deste estudo sugerem a superioridade da MBCT sobre a
terapia psico-educacional para indivíduos resistentes aos tratamentos convencionais
indicados para DM.
O estudo traz resultados que apoiam o uso de intervenções baseadas em
mindfulness como terapia alternativa às terapias convencionais, uma vez que os
resultados do grupo experimental (MBCT) se mostram mais eficazes do que a
terapia realizada pelo grupo controle.
Os resultados descritos acima vão ao encontro com outros estudos que indicam o
uso de MBCT de forma complementar ao tratamento já utilizado pelos pacientes,
como estratégia para reduzir os episódios de recaída. De acordo com os autores, a
participação no programa MBCT reduz a proporção de pacientes que apresentaram
recaídas pelo menos uma vez no período de 14 meses, de 68,1% a 30%. Ao somar
o MBCT ao tratamento padrão, o risco de recaída na depressão é reduzido em 77%.
Os participantes que recebem apenas o tratamento apresentam menor tempo entre
as recaídas, o MBCT aumentou o tempo médio para a primeira recaída entre os
participantes, para quase 15 semanas. Além disso, a adição de MBCT parece
reduzir a gravidade dos sintomas depressivos residuais e melhora significativamente
a qualidade de vida e estados de humor. (K.A. Godfrin, C. van Heeringen 2010). De
47

forma complementar, um estudo publicado na revista Lancet em 2015, indica que


MBCT é uma estratégia eficiente para reduzir recaídas, tanto quanto o uso
preventivo de medicamentos (Willem Kuyken et. al. 2015).
O programa de MBCT, foi desenvolvido especialmente para tratamento de
indivíduos depressivos com perfil de resistência e constantes recaídas. O protocolo
é uma adaptação do MBSR, desenvolvido para controle de estresse e ansiedade.
Logo, a maior parte dos estudos que envolvem pacientes ansiosos ou estressados
utilizam o protocolo MBSR como método de intervenção.
Assim como o estudo desenvolvido por Jon Vøllestad et al., um ensaio clínico
randômico controlado com 76 indivíduos diagnosticados com diferentes subtipos de
transtornos de ansiedade (Jon Vøllestad et al, 2011).
O objetivo do estudo era observar os efeitos do MBSR em pacientes ansiosos. Para
analisar os efeitos da intervenção, foram aplicados os questionários de auto
avaliação padrão para classificação de sintomas de ansiedade
Todos os indivíduos foram randomizados entre grupo experimental, MBSR (N=39) e
grupo controle, lista de espera (N=37). Os questionários foram aplicados antes,
durante e ao final do período de intervenção. A análise estatística realizada pelos
pesquisadores indicou redução significativa nos escores de BAI (p<0.05), PSWQ
(p<0,001), STAI-S (p<0,01); STAI-T(p<0.001); BDI(p<0,01); FFMQ(p<0,01) no grupo
MBSR. Indicando que o efeito do treinamento de mindfulness foi positivo para
redução dos sintomas de ansiedade e depressão. De modo geral, os resultados do
experimento sugerem eficiência de MBSR como protocolo terapêutico em pacientes
com diferentes tipos de transtornos de ansiedade.
De forma complementar, Autumn M. Gallegos et al. reforçam os efeitos
antidepressivos e anti-inflamatórios do protocolo padrão de MBSR em mulheres
com histórias de trauma interpessoal, em um estudo controlado e randomizado
(A.M. Gallegos et al,2016). Foram definidos como episódios de trauma interpessoal:
abuso físico, abuso sexual, violência familiar e perda súbita de um ente querido.
Para avaliação e diagnóstico mais preciso os pesquisadores utilizaram o
questionário de eventos traumáticos, Traumatic Life Events Questionnaire.
Os participantes (N= 50) completaram algumas escalas para diagnóstico/avaliação
psicológica: The Traumatic Life Events Questionnaire (TLEQ),The Mini-Mental State
Examination (MMSE),Perceived stress scale,(PSS-10),The Spielberger State–Trait
Anxiety Inventory (STAI),Center for Epidemiologic Studies Depression Scale (CES-
D), The Difficulties in Emotion Regulation Scale (DERS) e Five Facet Mindfulness
Questionnaire (FFMQ) ,em quatro momentos: Antes do treinamento, 4 semana, 8
semanas e 12 semanas após o início do treinamento. Os marcadores inflamatórios
(IL-6, PCr e TNF-α) foram analisados a partir do sangue coletado nos 4 dias em que
os indivíduos responderam os questionários de avaliação psicológica. Uma série de
análises lineares de modelo misto foram realizadas para medir o efeito da
frequência com que as voluntárias participaram das aulas e do tempo que
permaneceram no programa nas variáveis dependentes. O tempo foi associado com
reduções significativas nos escores das escalas de: estresse percebido (PSS-10),
48

depressão (CES-D), traços de ansiedade (STAI), desregulação emocional (DERS) e


sintomas de estresse pós-traumático(MPSS-SR), bem como aumento na escala de
atenção plena(FFMQ). A análise de frequência em cada sessão foi associada com
reduções significativas nos níveis de interleucina -6. Entretanto os níveis de IL-6 não
parecem estar associados com o tempo de intervenção, uma vez que não houve
efeito de tempo significativo, de acordo com as análises estatísticas.

3.2.1 Efeitos do mindfulness em estruturas encefálicas

O mecanismo de ação do mindfulness é alvo de muitas especulações e parece não


haver um consenso entre os artigos e estudos que procuram avaliar as alterações,
principalmente funcionais que os praticantes de meditação apresentam durante e
após a prática. Apesar de não sabermos se o mecanismo de ação das técnicas de
meditação seria primariamente do tipo top-down ou do tipo bottom-up, as evidências
apontam para a existência de alterações em várias estruturas encefálicas, assim
como para alterações clínicas e fisiológicas, descritas pelos artigos apresentados na
sessão anterior.
Para avaliar melhor o efeito dos protocolos de intervenção de mindfulness em
pacientes diagnosticados com algum tipo de transtorno psiquiátrico, alguns autores
submeteram diferentes grupos de pacientes à exames que possibilitam a
visualização de qualquer alteração ocasionada pelo tratamento nestes indivíduos
como por exemplo, fMRI.
Um grupo de pesquisadores desenvolveu um ensaio clínico utilizando fMRI para
identificar possíveis efeitos de 3 dias intensivos de prática de mindfulness na
conectividade funcional em estado de repouso (rsFC) da DMN regiões importantes
no controle executivo (ex; córtex pré-frontal dorsolateral; dlCPF). Além disso
analisou-se a relação entre as alterações funcionais da DMN com os níveis de IL-6
(J.D. Creswell et al, 2016). Em um estudo controlado randomizado adultos
desempregados (N=35), relatando estresse (>5 em PSS-34) foram randomizados
para um programa de 3 dias de meditação mindfulness intensiva (mindfulness-n=18)
ou programa de treinamento de relaxamento (controle-n=17). Todos os sujeitos
passaram por uma sessão de fMRI, 4 semanas antes do início do treinamento e
forneceram amostras de sangue neste mesmo dia, para determinar as medidas
basais de rsFC e biomarcadores inflamatórios.
Houve aumento da rsFC entre o córtex cingulado posterior com a região esquerda
do dlCPF (p=0,05, corrigido) no grupo mindfulness, porém não no grupo controle.
Reduções nos níveis de IL-6 foram registradas após 4 meses da intervenção, uma
análise estatística linear sugere que 30% das mudanças em rsFC, consequentes da
meditação, tem ação sobre as alterações nos valores de IL-6.
Os achados deste artigo indicam que a prática de mindfulness pode alterar a
conectividade entre as regiões do cérebro que compõe a DMN, aumentando a ação
49

em regiões responsáveis pelo controle racional. E relacionam essas alterações com


a modulação do sistema imune, reduzindo os níveis de inflamação. O que indica
potencial no uso de mindfulness como alternativa à terapia convencional. Tanto a
racionalização e consciência do momento, quanto a modulação de substâncias
inflamatórias, são alvos terapêuticos no tratamento de ansiedade e depressão.
De forma complementar, para melhor compreender as alterações na conectividade
e ativação da DMN, outro estudo desenvolvido com veteranos de guerra,
diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), buscou
identificar os efeitos de uma terapia em grupo, chamada terapia de exposição
baseada em atenção plena (MBET). Que consiste em um programa de 16 semanas
com atividades similares às realizadas durante programa padrão de MBSR, como
por exemplo meditação de escaneamento corporal, respiração, exercícios de
relaxamento, meditações diárias em casa guiadas por áudio e etc. Vinte e três
veteranos participaram do ensaio clínico e foram designados aos grupos de MBET
(N = 14) ou de terapia de grupo centrada no presente (PCGT; N = 9). Os dados
foram obtidos através de exames de ressonância magnética funcional pré e pós-
terapia (fMRI, 3T) (King et al, 2016).
Foi observado pelos estudiosos que no grupo MBET, houve aumento significativo
na conectividade da DMN com várias regiões no córtex frontal (CF) e no córtex
cingulado anterior (CCA) após a intervenção. Além de aumento na conectividade
entre o córtex cingulado posterior (CCP) e córtex pré-frontal dorsolateral (dlCPF)
esquerdo e direito, assim como com o córtex cingulado anterior dorsal (dCCA).
Assim como revelou maior conectividade entre a amígdala esquerda com
hipocampo esquerdo e CCA dorsal. De forma geral, observamos um aumento na
conectividade com regiões responsáveis pelo controle executivo, o que pode sugerir
um mecanismo do controle emocional constantemente relacionados com as práticas
de mindfulness.
Outro estudo que também buscava compreender as alterações apresentadas pela
DMN durante as intervenções com práticas meditativas analisou o efeito de três
diferentes tipos de meditação: concentração, “loving kindness” e “choiceless
awareness” (Brewer et al,2011). O objetivo era avaliar os efeitos de cada
modalidade sobre as redes neurais através da comparação de um grupo
experimental (experientes, com mais de 10.000 horas de prática de meditação) e
um grupo controle (inexperientes em meditação). Para identificar as possíveis
alterações funcionais da DMN, foram executados exames de ressonância magnética
para monitorar a ativação cerebral durante o estado de repouso e os momentos de
práticas meditativas de todos os participantes.
Durante as práticas de meditação, o grupo experimental reduziu a ativação de
regiões como o córtex cingulado posterior (CCP) e córtex pré-frontal medial (mCPF).
Meditadores experientes também tiveram conectividade elevada entre córtex
cingulado posterior (PCC) e córtex cingulado anterior dorsal (dCCA) e córtex pré-
frontal dorsolateral (dlCPF), tanto no início como durante a meditação. As estruturas
CCA e dlCPF estão envolvidos em atividades como o controle cognitivo. Além de
estar menos ativo durante as práticas, o mCPF parece ter maior conectividade com
50

o giro fusiforme, giros temporal inferior e para-hipocampal e ínsula posterior


esquerda nos indivíduos do grupo experimental quando comparados com controles.
Os resultados relatados no artigo indicam que a meditação está relacionada com
alterações na conectividade e atividade da DMN, de forma que essas alterações se
mantém mesmo em estado de repouso. O aumento na conectividade de áreas como
CCA e dlCPF sugere melhor monitoramento de conflito e controle cognitivo. O que
pode estar relacionado com o efeito antidepressivo e anti estresse das intervenções
clínicas que envolvem meditação.
Autores Intervenção Design População Principais achados
Após 3 meses de retiro51
de yoga
e meditação, indivíduos
3 meses de Estudo Indivíduos saudáveis apresentaram maior nível de
yoga e observacional. BDNF, redução nas escalas de
B.Rael et al, 2017 meditação ansiedade(BSI), aumento na
capacidade de mindfulness
(FMI), aumento nas citocinas pró
(IL-6, IL 12, IL 10, TNF-α,INF-γ)
e anti inflamatórias(IL-10)
MBI acarretou em reduções nos
níveis salivares de IL-6 e TNF-
alfa e redução dos sintomas
MBI (4 Estudo Estudantes avaliados pela escala CES-D,
Walsh et al, 2016 semanas) controlado e universitárias com superiores aos valores obtidos
randomizado. traços de por um grupo controle em
depressão/estresse. estudantes universitários do
sexo feminino. A redução de IL-6
e dos escores de CES-D foi
mantida no seguimento de 3
meses, no grupo MBI.
MBSR quando comparado ao
Estudo Estudantes grupo controle reduziu
Y.Song e Ruth MBSR controlado e universitários significativamente os níveis de
Lindquist, 2014 randomizado. saudáveis. ansiedade, estresse,
depressão(DASS-21).
Pacientes expostos ao MBCT
Estudo Pacientes apresentaram reduções nos
MBCT controlado e depressivos. escores de HAM-D e BDI mais
Chiesa et al, 2015 randomizado. significativas do que os
pacientes expostos a terapia
psico-educacional.
Adição de MBCT ao tratamento
usual reduziu a gravidade dos
Estudo Pacientes sintomas depressivos residuais e
K.A. Godfrin, C. van MBCT controlado depressivos melhora significativamente a
Heeringen 2010 randomizado. qualidade de vida e estados de
humor dos pacientes.
MBCT é uma estratégia eficiente
Estudo Pacientes para reduzir recaídas e
Willem Kuyken et. al. MBCT controlado depressivos episódios depressivos, tanto
2015 randomizado. quanto o uso preventivo de
medicamentos.
MBSR Estudo Pacientes com Pacientes expostos ao MBSR
controlado transtornos de reduziram significativamente os
Jon Vøllestad et al, randomizado. ansiedade (pânico, escores em BAI, BDI, STAI-S, e
2011 TAG e ansiedade STAI-T, indicando melhoras nos
social). sintomas de ansiedade e
depressão.
MBSR parece reduzir níveis de
Estudo Mulheres saudáveis IL-6 e sintomas de depressão e
MBSR experimental. vítimas de traumas ansiedade determinados pelas
A.M. Gallegos et interpessoais. escalas STAI e CES-D,
al,2016 respectivamente, em mulheres
vítimas de traumas
interpessoais.
Maior conectividade em estado
Meditação Estudo Indivíduos de repouso entre o córtex
J.D. Creswell et al, mindfulness controlado saudáveis. cingulado posterior e a região
2016 intensiva. randomizado. esquerda do dlCPF e redução
nos níveis de IL-6.
Brewer et al. Meditação Meditadores com Durante a meditação os sujeitos
Loving Estudo mais de 10.000 apresentam redução na ativação
kindness, controlado horas de prática. do córtex cingulado posterior e
mindfulness e randomizado. córtex pré-frontal medial,
conectividade elevada entre
52

choiceless córtex cingulado posterior e


awareness córtex cingulado anterior dorsal
e córtex pré-frontal dorsolateral e
também maior conectividade
entre córtex pré-frontal medial e
os giros fusiforme, temporal
inferior e para-hipocampo e
ínsula posterior esquerda.

Os indivíduos expostos ao
aumento na conectividade da
DMN com várias regiões no
córtex frontal e no córtex
cingulado anterior, entre córtex
cingulado posterior e córtex pré-
frontal dorsolateral esquerdo e
direito, entre córtex cingulado
MBET (MBSR+ Estudo Veteranos de guerra posterior e o córtex cingulado
Terapia de controlado e diagnosticados com anterior dorsal
exposição) randomizado. transtorno pós- Além de maior conectividade
King et al, 2016 traumático. entre a amígdala esquerda com
hipocampo esquerdo e córtex
cingulado anterior dorsal.
Tabela 2- Tabela resumo dos estudos com intervenções baseadas em mindfulness
selecionados para a revisão e seus principais achados.
53

4 DISCUSSÃO

As duas formas de intervenção discutidas ao longo desta revisão possuem vários


pontos em comum e alguns complementares. Ayahuasca parece ter efeito
antidepressivo, uma vez que há relatos da redução dos escores de escalas como
HAM-D e MADRS, que analisam a gravidade dos sintomas psicológicos de
depressão (Palhano-Fontes et al 2018; Osório et al 2015). E não encontramos
relatos de efeitos ansiolíticos do chá, uma vez que a maior parte dos artigos buscam
analisar seu efeito antidepressivo. De acordo com nossas pesquisas apenas um
estudo utilizou como forma de avaliação escalas de traços e estados de ansiedade
e as reduções nos escores após o consumo da dose de ayahuasca não foram
significativos, entretanto foi observada uma pequena redução. (Rafael G dos santos
et al. 2007). Por outro lado, as terapias baseadas em mindfulness parecem ter
efeitos antidepressivos e ansiolíticos, o que indica efeito complementar aos
observados na ayahuasca.
Outro ponto em comum entre os tratamentos seria o potencial anti-inflamatório. Há
estudos que descrevem a redução de substâncias como TNF- e IL-6 após os
experimentos com mindfulness (Walsh et al, 2016; B. Rael et al 2017) e redução de
linfócitos após o consumo de ayahuasca (Rafael G dos santos et al. 2007). O
cortisol parece sofrer efeito das duas intervenções, foram descritos aumentos nos
níveis do hormônio em indivíduos que participaram dos experimentos que utilizaram
uma das duas formas de terapia. De acordo com a teoria da imunotoxicidade o
aumento de substâncias pró inflamatórias, como IL-6 e TNF-, pode estar associado
a desregulação do eixo HPA e consequentemente a etiologia de transtornos de
ansiedade, depressão e estresse crônico (Leonard, 2007; Zunszain et al. 2011;
Marques et al. 2007). Outra substância que parece aumentar com práticas de yoga
e meditação é o BDNF (B. Rael et al,2017). O aumento dessa substância indica
potencial para neuroplasticidade e potencial antidepressivo da prática, uma vez que
alguns fármacos antidepressivos tradicionais costumam aumentar os níveis de
BDNF em pacientes que os utilizam. Há estudos que relatam o aumento de BDNF
em roedores expostos a harmina (Fortunato et al., 2010), substância presente na
ayahuasca, em como a redução de IL-6 e TNF-(Xin Liu et al,2017) porém não
encontramos registros de estudos em humanos que avaliassem esses marcadores.
A comparação dos efeitos de ayahuasca e mindfulness em hormônios, substâncias
bioquímicas e citocinas inflamatórias deve ser feita com cautela. Os estudos clínicos
que avaliam o efeito da ayahuasca costumam utilizar uma única dose da substância
e quantificam essas substâncias durante o efeito da droga ou pouco após o término,
o que caracteriza uma avaliação do seu efeito agudo. Enquanto os efeitos de
terapias com mindfulness tendem ser a longo prazo e ter efeito crônico, isso porque
o protocolo de intervenção costuma durar semanas. Os estudos realizados com
usuários regulares de ayahuasca têm como objetivo determinar seus efeitos em
parâmetros comportamentais e, portanto, não encontramos estudos que avaliassem
parâmetros bioquímicos e hormonais a longo prazo, sugerimos assim mais estudos
que busquem acompanhar os efeitos fisiológicos crônicos da ayahuasca.
54

Quanto a alterações funcionais de estruturas envolvidas na etiologia dos


transtornos psiquiátricos, enfatizamos as alterações na DMN. Esta rede de circuitos
cerebrais se apresenta alterada em pacientes diagnosticados com transtorno de
ansiedade e depressão, bem como outros problemas neuropsiquiátricos. De forma
geral pacientes depressivos e ansiosos apresentam alteração da conectividade e
incapacidade de silenciar a DMN (Greicius MD et al; 2007). Nossos estudos indicam
que o consumo de ayahuasca e a prática de meditações estão relacionados com
uma redução na função de estruturas e também o aumento da conectividade de
entre os nodos da DMN, como ilustrado nos quadros 1 e 2, respectivamente.
Estruturas Ayahuasca Meditação
CCA Reduzido *
CCP Reduzido Reduzido
Mcpf Reduzido Reduzido
Precuneus Reduzido *
Lóbulo parietal Reduzido *
Quadro 1- Função de estruturas encefálicas em usuários regulares de ayahuasca e
meditadores experientes (Palhano-Fontes et al 2015; Brewer et al. 2011). CCA= Córtex
Cingulado Anterior. CCP= Córtex Cingulado Posterior. mCPF=Córtex pré frontal médio.
*Não relatado

Um estudo sugere que após 40 minutos do consumo de ayahuasca, usuários


regulares da substância apresentam redução na atividade do CCA, mCP, PC, e
lóbulo parietal inferior (IPL) bilateral, bem como redução na conectividade entre
CCP e precuneus (Palhano-Fontes, 2015). Já outra avaliação das estruturas
cerebrais via SPECT, em pacientes com depressão maior, indica ativação de
regiões como ínsula direita e accumbens esquerdo após 8 horas da ingestão de
ayahuasca (Sanches et al 2016).
Conectividade Ayahuasca Meditação
CCP+PC Reduzida Elevada
CCP+dlCPF * Elevada
CCP+dCCA * Elevada
CF+CCA * Elevada
AM+HIPO * Elevada
AM+CCA * Elevada
Quadro 2 - Padrão de conectividade entre as estruturas componentes da DMN e
adjacentes.CCP=Córtex Cingulado Posterior, PC=Precuneus, dlCPF= Córtex pré-frontal
dorso-lateral, dCCA= Córtex Cingulado Anterior dorsal, AM=Amigdala, HIPO= Hipocampo,
CCA= Córtex Cingulado Anterior.

Há poucos estudos que avaliam o efeito da ayahuasca na conectividade e atividade


da DMN e estruturas relacionadas. Mas os achados desses estudos parecem
indicar uma ação similar ao de práticas meditativas. De acordo com os estudos
realizados com meditadores experientes, observa-se que durante o tempo de
meditação há um aumento na conectividade da DMN de forma geral, principalmente
do CCP com regiões do córtex pré-frontal. E também uma redução na ativação do
CCP e do mCPF (Brewer et al, 2011). Complementarmente, um estudo com
pacientes que sofrem de TEPT, relatou também um aumento na conectividade do
PCC com várias estruturas dos pacientes após 16 semanas de um programa de
55

terapia que inclui MBCT, bem como na conectividade entre amígdala esquerda,
hipocampo esquerdo e córtex cingulado anterior dorsal (King et al,2015).
Apesar das semelhanças, os resultados dos artigos que analisamos divergem em
alguns pontos. Como por exemplo a tendência observada à redução da
conectividade entre CCP / Precuneus, e conectividade entre mCPF-CCP alterada de
forma não significativa no estudo de fMRI com usuários de ayahuasca (Palhano-
Fontes et al 2015), enquanto a meditação tem sido consistentemente relacionada
com o aumento na conectividade entre essas regiões da DMN, como relatamos
acima. Além das semelhanças com meditação, os efeitos da ayahuasca sobre a
DMN parecem convergir com os efeitos da psilocibina, substância que também
apresenta efeitos psicodélicos e tem sido estudada por também apresentar efeitos
antidepressivos (Erich Studerus et al 2011). Ao que parece após a ingestão de
psilocibina, pode se observar uma redução na conectividade entre CCP e mCPF
(Carhart-Harris RL et al ,2012), assim como acontece ao se ingerir ayahuasca. As
diferenças entre os padrões de conectividade da DMN diante das intervenções
estudadas pode ser consequência da diferença nos protocolos de avaliação
aplicados, das tarefas realizadas pelos participantes, que podem ativar ou inibir
certas regiões. Como por exemplo a tarefa linguística utilizada no experimento
realizado por Palhano et. al, que acabou por ativar regiões ligadas a fala. Ou ainda
devido a diferentes mecanismos de ação de cada um. É necessário o planejamento
de novos estudos que busquem equiparar ao máximo os protocolos de avaliação,
bem como ampliar as populações avaliadas para obtermos dados mais consistentes
a respeito das bases neurais a curto e longo prazo da atividade de psicodélicos de
mindfulness.
A maior dificuldade encontrada por nós para comparar os efeitos das terapias foi a
falta de estudos clínicos e longitudinais com psicodélicos, em especial com
ayahuasca. A maior parte dos estudos são com usuários regulares, membros das
comunidades ayahuasqueiras, e utilizam doses únicas aplicadas em indivíduos
saudáveis. Além de não quantificar substâncias inflamatórias e marcadores
bioquímicos, como por exemplo IL-6, TNF- e BDNF que já foram descritos como
alvo de ação da harmina em roedores (Fortunato et al., 2010; Xin Liu et al,2017).
Diante dos empecilhos e diferenças de metodologias e objetivos dos estudos que
descrevemos ao longo do trabalho, conseguimos identificar pontos em comum
revelados pelos estudos com os dois tipos de terapia. Porém não há dados
consistentes para comparação individual dos marcadores bioquímicos e
inflamatórios. As tabelas 3 e 4 ilustram os efeitos do consumo de ayahuasca e
prática de mindfulness nas escalas de avaliação psiquiátrica, MADRS, HAM-D e
STAI, utilizadas pelos pesquisadores para avaliar o impacto do período de
intervenção dos dois tipos de experimentos. Os artigos relatam melhora clínica dos
pacientes relacionados com a redução dos escores das escalas, principalmente nas
escalas que avaliam os sintomas de depressão. E apesar de não ser
estatisticamente significativa a redução nos escores da STAI dos usuários de
ayahuasca (R.G. Santos et al.; 2007), pode indicar uma tendência à redução de
sintomas relacionados com a ansiedade. Tais resultados reforçam a necessidade de
56

mais estudos que avaliem a influência do consumo de ayahuasca nos parâmetros


relacionados à ansiedade.
Intervenção Protocolo Marcador Resultado Referência
Ayahuasca Dose única HAM-D Redução Palhano
nos Fontes;
escores 2018

Mindfulness MBCT HAM-D Redução Alberto


nos Chiesa;2014
escores
Ayahuasca Dose única MADRS Redução Palhano
nos Fontes;2018
escores
Mindfulness MBSR MADRS Redução A.
nos Memo;2017
escores

Tabela 3- Efeitos em comum sobre sintomas depressivos, determinados por escalas de


depressão. MADRS= Montgomery–Åsberg Depression Rating Scale. HAM-D= Hamilton
Depression Rating Scale

Apesar dos estudos não apresentarem metodologias totalmente equivalentes, os


relatos indicam que ayahuasca e mindfulness possuem efeito positivo em pacientes
depressivos com resistência aos tratamentos convencionais, que relataram
melhoras nos sintomas clínicos após serem expostos à uma das terapias. Além
disso, um estudo revelou que uma dose de ayahuasca pode potencializar a
capacidade do indivíduo de atingir estados de consciência plena- mindfulness
(Joaquim Sole et al, 2015). Com isso em mente, podemos imaginar que uma
associação entre os dois tratamentos seria eficaz como protocolo de terapia
alternativa às terapias convencionais. Entretanto para afirmar a eficácia e viabilidade
desse tratamento se faz necessário o desenvolvimento de estudos que utilizem
como protocolo experimental a associação do uso de doses terapêuticas de
ayahuasca combinadas aos protocolos de intervenções baseados em mindfulness.
Intervenção Protocolo Marcador Resultado Referência
Ayahuasca Dose única STAI Redução R.G.
não Santos et
significativa al.; 2007
nos
escores.
Mindfulness MBSR STAI Redução Jon
nos Vøllestad et
escores al.; 2010

Tabela 4- Efeitos sobre traços e sintomas de ansiedade. STAI=State-Trait Anxiety Inventory

.
57

5 CONCLUSÃO

Diante das evidências apresentadas ao longo do presente trabalho, é possível


concluir que os protocolos de intervenção clínica baseados em mindfulness são
eficientes nos tratamentos de ansiedade e depressão e que podem ser utilizados
como forma alternativa a terapias não farmacológicas convencionais, como
psicoterapia.
Quanto ao uso de ayahuasca, há indícios do potencial antidepressivo da droga e
sua similaridade com os fármacos antidepressivos tradicionais parece bem evidente.
Entretanto, há poucos estudos que avaliam o efeito clínico de ayahuasca em
pacientes diagnosticados com depressão. Além de não existirem estudos que
descrevem efeitos ansiolíticos significativos do chá. O que indica a necessidade de
novos estudos com pacientes depressivos e que sofrem de algum transtorno de
ansiedade. Dessa forma, avaliamos a ayahuasca como possível tratamento para
depressão, porém sugerimos mais estudos que assegurem seu uso como terapia
farmacológica alternativa aos medicamentos regularmente utilizados na rotina
clínica.
Por fim, ao analisar a ação de ambos nos marcadores clínicos, bioquímicos e
neurais, observamos mecanismos muitas vezes complementares e resultados
clínicos semelhantes, especialmente em pacientes depressivos. Tais evidências
sugerem que uma possível associação entre os dois tipos de intervenção
apresentaria resultados clínicos e farmacológicos que poderiam encurtar o tempo
necessário para chegar à remissão de sintomas depressivos e de ansiedade, bem
como prevenir episódios de recidivas de tais sintomas; por isso, sugerimos estudos
futuros que busquem avaliar a eficiência e viabilidade destes protocolos terapêuticos
de associação.
Os achados desta revisão indicam a possibilidade de uma nova estratégia para a
prevenção e/ou tratamento de transtornos psiquiátricos relacionados com o estresse
crônico como ansiedade, depressão, síndrome de burnout etc., em especial quando
se considera o grande índice de resistência, dependência e riscos que os
tratamentos convencionais apresentam. Com isso em mente, esperamos que
nossas sugestões de estudo sejam colocadas em prática para que futuramente
mindfulness e ayahuasca sejam utilizados em rotinas clinicas no Brasil e no mundo.
58

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ANEXO A - Modelo de questionário/escala de depressão de Hamilton (HAM-D)


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73

Anexo B — Modelo de questionário/ escala de ansiedade de Hamilton (HAM-A)


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ANEXO C — Modelo de questionário/escala de ansiedade de Beck


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ANEXO D — Inventário de depressão de Beck


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