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Atenção plena (2023) 14:2111–2123

https://doi.org/10.1007/s12671-023-02206-4

ANÁLISE

Psicoterapia Psicodélica Assistida e Cognitiva Baseada em Mindfulness

Terapia: Sinergias Potenciais
Richard Chambers1 · Devon Stoliker2 · Otto Simonsson3,4

Aceito: 8 de agosto de 2023 / Publicado on-line: 9 de setembro de 2023

© O(s) Autor(es) 2023

Abstrato
Objetivos A intervenção informada pela atenção plena que até agora recebeu mais atenção como complemento à psicoterapia assistida
por psicodélicos é a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), mas pouco se sabe sobre as sinergias potenciais entre a psicoterapia
assistida por psicodélicos e as intervenções baseadas na atenção plena, como Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT). Este
artigo examina e avalia a compatibilidade terapêutica da MBCT com a psicoterapia assistida por psicodélicos e suas potenciais sinergias.

Métodos Este estudo representa uma revisão narrativa da literatura atual sobre psicoterapia assistida por psicodélicos e MBCT.
Resultados Demonstramos como a MBCT visa processos centrais, incluindo aceitação, presença, concentração, descentralização e
aceitação de dificuldades - e descrevemos por que o fortalecimento dessas capacidades com treinamento sistemático de meditação
pode ser inestimável durante as fases de preparação, dosagem e integração da psicoterapia assistida por psicodélicos.
Conclusões A ênfase da MBCT no treinamento sistemático em meditação mindfulness e na promoção da presença sem julgamento
alinha-se bem com os estados de consciência induzidos por psicodélicos, destacando seu potencial para melhorar vários estágios da
experiência psicodélica e da integração subsequente. Ao equipar os indivíduos com técnicas eficazes de atenção plena e reestruturação
cognitiva, a MBCT pode oferecer vantagens além daquelas fornecidas pela ACT, como a capacidade de navegar e gerenciar habilmente
experiências desafiadoras que podem surgir durante diferentes fases da experiência psicodélica e integração. Isto sugere que a
abordagem única da MBCT pode complementar a psicoterapia psicodélica assistida de formas que a ACT pode não abordar totalmente,
particularmente no contexto de lidar com experiências desafiadoras.

Palavras-chave Mindfulness · MBCT · Psicodélicos · Psilocibina · LSD

A investigação sobre substâncias psicadélicas recebeu dos psicodélicos permanece pouco explorado. Este artigo avalia
recentemente um ressurgimento do interesse científico, com a compatibilidade e as sinergias potenciais da Terapia Cognitiva
resultados promissores em ensaios clínicos para uma série de Baseada em Mindfulness (MBCT) como um complemento às
perturbações internalizantes (Nutt & Carhart-Harris, 2021 ). terapias psicodélicas assistidas, especificamente em comparação
com a abordagem
Apesar desses avanços, identificar métodos ideais para aumentar o potencial terapêutico alternativa da Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT).
Substâncias psicodélicas, como psilocibina, dietilamida de

* Richard Chambers
ácido lisérgico, ayahuasca (uma bebida contendo N,N-
richard.chambers@monash.edu dimetiltriptamina) e cactos contendo mescalina (por exemplo,
Sexton et al., 2019), são diferenciadas de outros compostos
1
Centro Monash para Consciência e Estudos Contemplativos, psicoativos devido à sua atividade agonista em receptores de
Universidade Monash, Melbourne, Austrália
serotonina 2A (Quednow, 2012). Essa interação pode causar
2
Instituto Turner para Saúde Cerebral e Mental, Monash alterações no cérebro, resultando em profundos efeitos emocionais,
Universidade, Clayton, VIC, Austrália
cognitivos e perceptivos (Stoliker et al., 2022c, d; Studerus et al.,
3
Centro de Pesquisa Psiquiátrica, Departamento de Clínica 2010). Em doses suficientes, estes efeitos subjetivos podem levar
Neurociências, Instituto Karolinska, Estocolmo, Suécia
ao surgimento de experiências de tipo místico, muitas vezes
4
Departamento de Sociologia, Universidade de Oxford, Oxford, Reino Unido caracterizadas por uma dissolução de

Vol.:(0123456789) 1 3
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2112
limites próprios que são referidos como ocorrências de dissolução
do ego (Grifths et al., 2018; Lebedev et al., 2015; Stoliker et al.,
2022b, 2023. Curiosamente, esta dissolução dos limites próprios
tem sido associada a potenciais benefícios terapêuticos e sugere
que os resultados terapêuticos podem depender da qualidade
psicológica da experiência psicodélica (Roseman et al., 2018; Yaden
& Griffiths, 2020).A psilocibina recebeu o status de “tratamento
inovador” pela US Food and Drug Administration (FDA) pelos seus
benefícios potenciais para a depressão resistente ao tratamento, a
primeira vez que um tratamento farmacológico recebeu esta
designação em 40 anos (Heal et al., 2023).
Os efeitos terapêuticos dos psicodélicos demonstraram ser
sensíveis ao contexto (Carhart-Harris et al., 2018), o que destaca a
importância dos fatores psicológicos e ambientais – comumente
chamados de “set and setting”
(Leary et al., 1995). O “conjunto” refere-se à intenção e mentalidade
do participante antes da experiência psicodélica (por exemplo,
esperanças, medos, crenças, traços de personalidade). Isto é
importante para minimizar a probabilidade de experiências
desafiadoras – coisas como sentimentos de ansiedade, medo,
paranóia, confusão e perda de controle – que são comumente
relatadas em experiências psicodélicas, especialmente entre
usuários naturalistas (Simonsson et al. , 2023). “Ambiente” refere-se
ao ambiente físico e terapêutico no qual a experiência psicodélica
ocorre (por exemplo, características do terapeuta, música, iluminação
e decoração). Ambos são fatores importantes para minimizar o risco
e maximizar a segurança e os resultados positivos (Johnson et al.,
2008).
A administração de psicodélicos em ensaios clínicos tem ocorrido
geralmente no contexto da psicoterapia assistida por psicodélicos,
que normalmente envolve fases de preparação e integração, além
do apoio fornecido durante a experiência psicodélica (Watts &
Luoma, 2020) .
A fase de preparação visa iniciar o processo terapêutico e preparar
os participantes para a sessão de dosagem. As principais
considerações e processos-alvo incluem (1) educar as pessoas
sobre o que esperar durante as sessões de dosagem, (2) fornecer-
lhes ferramentas para lidar com os pensamentos e emoções intensas
que normalmente surgem durante a dosagem e (3) confiar (em vez
de resistir). o processo psicodélico.
Na verdade, render-se ou abandonar o processo psicodélico - em
vez de resistir a esse processo - tem sido associado a mudanças
positivas relatadas pelos próprios (Russ et al., 2019). A fase de
integração visa dar continuidade ao processo terapêutico e integrar
eventos vivenciados durante a experiência psicodélica (Sloshower
et al., 2020). O conteúdo das sessões nas fases de preparação e
integração variou consideravelmente entre os ensaios clínicos, e a
abordagem mais útil e económica para a psicoterapia assistida por
psicadélicos permanece uma questão em aberto (Luoma et al.,
2019) .
13
Atenção plena (2023) 14:2111–2123
Intervenções Baseadas em
Mindfulness como
Potenciais Adjuvantes para Psicoterapia Psicodélica Assis
Recentemente, houve tentativas de integrar a psicoterapia assistida
por psicodélicos com terapias cognitivo-comportamentais de terceira
onda (Heuschkel & Kuypers, 2020; Walsh & Thiessen, 2018) –
muitas vezes referidas como intervenções baseadas na atenção
plena (MBIs). Duas revisões conceituais recentes exploraram as
sinergias potenciais entre os MBIs (ou a construção da atenção
plena de forma mais ampla) e a psicoterapia assistida por
psicodélicos (Eleftheriou & Thomas, 2021; Payne et al., 2021 ) .
Essas revisões descrevem sinergias de alto nível entre atenção
plena e psicodélicos, e a presente revisão tenta explorar essas
relações com detalhes mais granulares - especificamente
examinando maneiras pelas quais a MBCT (Segal et al., 2002) pode
ser útil como um complemento para o processo psicodélico.
Os MBIs compartilham características que podem facilitar a
preparação e a integração da experiência psicodélica (por exemplo,
regulação emocional, tolerância ao sofrimento, descentralização e
atenção plena). No entanto, os MBIs variam amplamente no seu
conteúdo e ênfase (Van Dam et al., 2018) e geralmente produzem
efeitos diferentes (Singer & Engert, 2019). Portanto, é importante
elucidar mais detalhadamente quais tipos de MBIs ou processos de
atenção plena podem ser mais adequados em conjunto com a
psicoterapia assistida por psicodélicos.
Uma definição comumente usada de atenção plena é a
consciência que surge quando alguém presta atenção não crítica e
não reativa à experiência do momento presente (Kabat-Zinn, 1982).
Foi descrito tanto como uma habilidade quanto como uma
característica (Bishop et al., 2004). Como habilidade, a atenção
plena pode ser cultivada por meio da meditação formal (treinamento
da atenção) e da prática informal (prestar atenção plena às
atividades cotidianas). É importante notar que o termo “meditação
de atenção plena” é usado na literatura para se referir tanto à
atenção focada quanto à meditação de consciência aberta, que
estão relacionadas, mas também distintas, e envolvem diferentes
áreas neurais (Lutz et al., 2008) . Uma terceira classe de meditação
conceitual e neurologicamente distinta que, no entanto, é comumente
incluída nos MBIs é a meditação da bondade amorosa (Lippelt et
al., 2014), também conhecida como meditação “metta” e “amizade”.
Embora a definição de Kabat-Zinn (1982) forme a base de muitos
estudos sobre mindfulness, tem havido tentativas mais recentes de
refinar e reformular esta definição para fornecer maior especificidade.
Uma dessas tentativas, de Singer e Engert (2019), enfatiza três
elementos distintos, mas sobrepostos, da atenção plena: presença
(consistindo em atenção no momento presente e consciência
interoceptiva), perspectiva (consistindo em habilidades sociocognitivas,
incluindo também metacognição). como tomada de perspectiva sobre
si mesmo e
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outros) e afeto (composto por habilidades socioafetivas como
bondade amorosa, compaixão, motivação pró-social e aceitação de
emoções difíceis). Cada um desses elementos está associado a
diferentes práticas de meditação, ativação de áreas neurais e
resultados produzidos.
Em geral, reconhece-se que a prática consistente da atenção
plena ao longo do tempo resulta no aumento da atenção plena
(Kuyken et al., 2015), que por sua vez tem sido associada à melhoria
do controle da atenção, ao aumento da consciência de experiências
internas e externas e à redução fisiológica, reatividade emocional e
comportamental (Chambers et al., 2009; Creswell & Lindsay, 2014;
Garland et al., 2017).
A prática da atenção plena também cultiva qualidades de atitude
como aceitação, abertura, curiosidade, compaixão e não julgamento
(Crane et al., 2017). Embora longe de estar claro se estas melhorias
resultam igualmente da prática formal ou informal de mindfulness,
existem algumas evidências que demonstram que a prática formal
(meditação) resulta em maiores melhorias na mindfulness
característica do que a prática informal (Kakoschke et al., 2021) .
O MBI que até agora recebeu mais atenção como
O potencial complemento à psicoterapia assistida por psicodélicos
na literatura é o ACT. Tecnicamente uma terapia “informada pela
atenção plena” em vez de “baseada na atenção plena”, a ACT
(Hayes et al., 2012) combina estratégias de atenção plena e
aceitação e é projetada para aumentar a flexibilidade psicológica
(Ciarrochi et al., 2010). Em particular, foi demonstrado que diminui a
evitação de pensamentos e emoções desconfortáveis. Isto é
importante porque se postulou que tal evitação está subjacente a
muitas formas de problemas de saúde mental (Spinhoven et al.,
2014). Esta evitação reduzida facilita o envolvimento total com a
vida, prevendo o funcionamento psicossocial positivo (Öst, 2014), e
na pesquisa psicodélica, argumentou-se que também pode mediar a
relação entre os efeitos psicodélicos agudos e a diminuição dos
sintomas de ansiedade e depressão. (Fechar et al., 2020). A
diminuição da evitação experiencial também pode reduzir a
probabilidade de experiências desafiadoras (comumente chamadas
de “viagens ruins”) – que podem variar de sensações físicas
desagradáveis até ansiedade, pânico, despersonalização, paranóia
e medo de insanidade – durante sessões psicodélicas assistidas.
psicoterapia (Gashi et al., 2021).
Embora o ACT possa, portanto, ser um complemento útil à
psicoterapia assistida por psicodélicos, ainda não está claro se esta
abordagem terapêutica específica supera outros MBIs.
Na verdade, um dos MBIs mais amplamente pesquisados e validados
é o MBCT (Segal et al., 2002). A MBCT tem uma série de elementos
que podem ser altamente sinérgicos com a psicoterapia assistida
por psicodélicos. Além disso, como argumentaremos, a MBCT possui
certas características únicas que podem torná-la particularmente útil
em ambientes de terapia psicodélica. Na próxima seção, descrevemos
a MBCT e destacamos os processos que podem facilitar o processo
psicodélico, e depois passamos para
2113
descrever as características únicas que podem diferenciar o MBCT
do ACT e apoiar sua integração em modelos de terapia assistida
por psicodélicos.
Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness
MBCT é um programa de grupo de 8 semanas que foi originalmente
desenvolvido para reduzir a recaída depressiva (Segal et al., 2002).
MBCT combina características essenciais da terapia cognitivo-
comportamental com treinamento em atenção plena. O elemento de
treinamento da atenção plena visa cultivar sistematicamente a
atenção e a consciência do momento presente, bem como atitudes
como a curiosidade, a abertura à experiência e a gentileza (Bishop
et al., 2004). Múltiplas meta-análises mostraram que a MBCT reduz
significativamente a probabilidade de recaída depressiva (por
exemplo, Goldberg et al., 2019; Kuyken al., 2016; Piet & Hougaard,
2011) e pode ser pelo menos tão eficaz quanto a medicação
antidepressiva ( Kuyken et al., 2015; ver também Breedvelt et al.,
2021; Huijbers et al., 2015). Além de reduzir a recaída depressiva,
as meta-análises também mostram que a MBCT pode ter um impacto
significativo na saúde mental e no bem-estar de forma mais geral,
tanto em termos clínicos (por exemplo, Chiesa & Serretti, 2011;
Galante et al., 2013; Ghahari et al . , 2020 ; Goldberg et al., 2019;
Gu et al., 2015; Xuan et al., 2020) e amostras não clínicas (por
exemplo, Querstret et al., 2020). Para melhor atender às populações
não clínicas, foram criadas adaptações da MBCT, como MBCT for
Life (MBCT-L; Bernard et al., 2017) e Finding Peace in a Frentic
World (Williams & Penman, 2011).
Processos comuns ao MBCT e ACT That
Pode ajudar a psicoterapia assistida por psicodélicos
Tanto o MBCT quanto o ACT compartilham vários elementos comuns
que podem complementar a psicoterapia assistida por psicodélicos.
Eles são descritos na seção a seguir. Embora a investigação
existente sugira a utilidade potencial do ACT em contextos de
psicoterapia psicodélica assistida (por exemplo, Luoma et al., 2019),
faltam avaliações abrangentes do MBCT neste campo. Portanto,
nos concentraremos em examinar a MBCT e seu potencial para
aumentar a eficácia terapêutica na psicoterapia assistida por
psicodélicos. Em particular, discutiremos como a estrutura e as
práticas da MBCT podem integrar-se bem nas fases de preparação
e integração da psicoterapia assistida por psicodélicos e das
experiências psicodélicas em geral.
Aceitação
Aceitação refere-se à vontade de abraçar um evento ou situação
(Block-Lerner et al., 2009) - permitindo e
13
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2114
permanecendo totalmente presente com quaisquer experiências sensoriais,
cognitivas e emocionais à medida que elas surgem, momento a momento.
A aceitação pode ser benéfica no contexto da psicoterapia assistida por
psicodélicos, pois a pesquisa mostra que os participantes comumente
relatam aversão a vários aspectos da experiência psicodélica, que podem
abranger não apenas sensações e emoções físicas desagradáveis, mas
também o surgimento de memórias perturbadoras ou estados caracterizados
por uma sensação de controle e cognição prejudicados (Studerus et al.,
2010; Watts et al., 2017).
Embora o conjunto atual de evidências ainda esteja em seus estágios
iniciais, ele indica que as experiências desafiadoras em si não predizem
necessariamente resultados negativos, embora tenha sido demonstrado
que experiências positivas predizem resultados positivos (Haijen et al.,
2018; Roseman et al., 2018 ) . ). Por exemplo, num estudo transversal, o
grau de dificuldade de experiências desafiadoras foi associado
positivamente, e a duração foi associada negativamente, com aumentos
duradouros no bem-estar (Carbonaro, 2016 ). Estas descobertas sugerem
que experiências desafiadoras prolongadas, que não são superadas
durante a experiência, podem não levar a melhores resultados de saúde
mental, em relação a quando são superadas (ou “elaboradas”) durante a
experiência psicodélica.
A falta de aceitação de experiências desafiadoras pode levar à evitação,
aversão e resistência experienciais, o que por sua vez prolonga as
experiências negativas e reduz o potencial terapêutico proporcionado pelo
estado psicodélico. A aceitação pode, portanto, ser um factor-chave para
permitir experiências desafiantes – e facilitar a passagem através delas
em direcção à ruptura emocional e à percepção psicológica (Roseman et
al., 2019), o que pode levar a melhorias duradouras no bem-estar. Na
verdade, uma meta-análise recente mostrou que altos níveis de abertura e
aceitação de traços estavam associados a experiências positivas e de tipo
místico durante a experiência psicodélica aguda (Aday et al., 2021) .
Demonstrou-se que tais experiências positivas predizem efeitos positivos
pós-agudos do uso de psicodélicos, como redução da psicopatologia e
aumento do bem-estar (Lebedev et al., 2016; Uthaug et al., 2018, Roseman
et al., 2018). Entretanto, baixos níveis de abertura têm sido associados à
dissolução negativa (ou ansiosa) do ego e a reações adversas agudas
(Aday et al., 2021). Além disso, a abertura à experiência é um traço de
personalidade que pode aumentar após o uso de psicodélicos, sugerindo
uma sinergia subjacente entre os benefícios da abertura e os efeitos dos
psicodélicos (Maclean et al., 2011) . Deve-se notar, entretanto, que este
efeito pode ser pequeno (Goldberg et al., 2020). Embora conceitos
distintos, abertura e aceitação possam funcionar juntos, estar aberto a
experiências pode ajudar a facilitar a aceitação. Pode ser que cultivar a
aceitação via MBCT durante a fase de preparação da psicoterapia assistida
por psicodélicos prepare melhor
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Atenção plena (2023) 14:2111–2123
os participantes aceitem experiências desafiadoras se e quando surgirem
durante as sessões de dosagem.
A aceitação também pode desempenhar um papel valioso durante a
fase de integração da psicoterapia assistida por psicodélicos. Originalmente
projetada para prevenir recaídas depressivas, a MBCT promove a aceitação
de pensamentos depressogênicos, emoções desagradáveis e sensações
corporais. A investigação demonstrou que resistir ao pensamento
depressogénico pode levar a um envolvimento excessivo com tais
pensamentos e memórias, intensificando-os, enquanto a aceitação contribui
para a redução dos sintomas depressivos e da recaída (van der Velden et
al., 2015) . A MBCT tem o potencial não apenas de diminuir os efeitos das
reações negativas que podem surgir durante experiências psicodélicas,
mas também de melhorar os resultados positivos ao promover a resiliência.
Praticar a aceitação através da atenção plena pode mitigar o sofrimento e
reforçar respostas positivas aos desafios da vida, tornando a MBCT uma
ferramenta potencialmente valiosa.
Estar no momento
A atenção plena também enfatiza a consciência do momento presente.
A Redução do Estresse Baseada em Mindfulness (MBSR; Kabat-Zinn,
1990), da qual derivou a MBCT, inclui os conceitos de “modo fazer” e
“modo ser”. O modo de fazer refere-se ao estado mental de resolução de
problemas, direcionado a objetivos, no qual os humanos passam grande
parte de suas vidas. Embora seja útil para resolver problemas externos
(por exemplo, trabalhar ou planear férias), quando aplicado ao mundo
interno de pensamentos e sentimentos, o modo fazer pode levar à
ruminação, à preocupação e ao pensamento obsessivo. Quando este modo
mental é aplicado a situações que não podem ser “resolvidas” (por exemplo,
ruminação ou sentimentos de depressão ou ansiedade), estas situações
começam a ocupar cada vez mais a consciência da pessoa e, portanto,
tornam-se exacerbadas. O MBCT baseia-se nesta distinção entre modos
de ser/fazer e encoraja pessoas com sintomas depressivos – ou estresse
e outros problemas de saúde mental nos casos do MBCT-L e Finding
Peace in a Frentic World
derivados – para se desvencilhar do modo fazer e, em vez disso, envolver
o seu oposto, o modo ser. Envolver-se no modo ser leva naturalmente a
aceitar e permitir tudo o que é vivenciado e aumenta a consciência do
momento presente. Na verdade, a consciência do momento presente
também permite a aceitação/permissão, e estas construções podem
partilhar uma relação sinérgica. Estas capacidades têm implicações
positivas concomitantes para o bem-estar, uma vez que resultam numa
diminuição da preocupação, da ruminação e da evitação experiencial, e
numa maior capacidade de experienciar a riqueza de cada momento, tal
como ele é.
Durante a fase de preparação, cultivar a consciência do momento
presente pode ser protetor se os participantes da psicoterapia assistida
por psicodélicos começarem a se preocupar com a sessão de dosagem
iminente. A apreensão e a ansiedade antes da administração são
comumente relatadas de forma anedótica (Haijen et al., 2018; John-stad,
2021). Ficar no momento - em vez de se preocupar
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Atenção plena (2023) 14:2111–2123
sobre um evento futuro – pode reduzir o sofrimento do participante
antes de uma sessão de dosagem, proporcionando um melhor “set”
durante a sessão.
Isto pode ser especialmente verdadeiro quando o foco no momento
presente é combinado com a aceitação, conforme descrito acima, já
que esta combinação demonstrou, em pelo menos um estudo de caso,
produzir efeitos benéficos além da consciência do momento presente
ou da aceitação por si só ( Tift et al., 2022).
Durante as próprias sessões de dosagem psicodélica, a capacidade
de permanecer presente pode ser útil. Um dos princípios mais centrais
da psicoterapia psicodélica assistida é que o medo e a expectativa
podem perturbar o desenvolvimento natural das experiências de pico
psicodélico, e que abandonar o medo e a expectativa é um dos maiores
preditores de resultados positivos da psicoterapia psicodélica assistida
(ver Mithoefer et al., 2008 para uma explicação de como isso é aplicado
na psicoterapia assistida por MDMA). Uma vez que manter o foco sem
julgamento na experiência do momento presente é a antitética de
resistir à experiência psicodélica, esse foco sem julgamento
provavelmente será útil para enfrentar experiências desafiadoras de
uma forma que leve a resultados positivos (Eleftheriou & Thomas,
2021; Payne et . al., 2021; Smigielski et al., 2019).
Conforme descrito no início deste artigo, o contato com o momento
presente é um dos seis processos centrais da ACT, e o treinamento
sistemático dessa habilidade via MBCT durante a fase de preparação
pode tornar mais fácil para os participantes da psicoterapia assistida
por psicodélicos manterem esta habilidade. foco atencional durante o
pico das experiências de dosagem. Tal como acontece com a aceitação,
manter a consciência do momento presente durante o período de
integração também pode ser uma forma eficaz de minimizar a
reactividade a experiências desafiantes duradouras, aumentando assim
a probabilidade de capitalizar o seu valor construtivo.
Descentralização
Em vez de se identificar com pensamentos, sentimentos, sensações
corporais e impulsos para agir, o descentramento envolve relacionar-se
com experiências do momento presente como eventos passageiros na
mente e no corpo (Segal et al., 2002) . Relacionar-se com as
experiências desta forma pode diminuir o sofrimento associado aos
estressores psicológicos do dia a dia, como pensamentos ou
sentimentos negativos (Bennett et al., 2021). Pesquisas anteriores
sugerem que os psicodélicos podem aumentar o descentramento
(Franquesa et al., 2018; Murphy-Beiner & Soar, 2020; Sampedro et al.,
2017; Soler et al., 2016), assim como o treinamento da atenção plena
(Soler et al., 2014 ), sugerindo novamente a utilidade potencial da MBCT
para psicoterapia assistida por psicodélicos.
Pode ser que o treinamento sistemático de descentralização por
meio da meditação da atenção plena possa facilitar essa capacidade
durante a dosagem psicodélica. É provável que isto tenha dois efeitos
positivos principais. Primeiro, se os participantes da psicoterapia
assistida por psicodélicos forem mais capazes de “retroceder” da auto-referência
2115
seus pensamentos e emoções (isto é, atividade de rede no modo
padrão), é provável que isso torne mais fácil para eles experimentar
estados místicos, como “ilimitação oceânica” (a mudança ou perda do
senso de identidade e o resultante senso de unidade entre eu e o
mundo/natureza/universo, também conhecido como “estado unitivo”). A
magnitude dessas experiências durante as sessões de dosagem
psicodélica parece ser um dos mais fortes preditores de mudanças
positivas duradouras após a psicoterapia assistida por psicodélicos
(Roseman et al., 2018 ).
Em segundo lugar, a capacidade de descentralização também pode
ajudar a reduzir o sofrimento antes e durante a experiência psicodélica
aguda. Por exemplo, durante uma experiência psicadélica, uma pessoa
pode notar um pensamento difícil (por exemplo, “Estou a morrer”) e
experimentá-lo como um evento mental em vez de um facto indiscutível,
diminuindo por sua vez o medo e a ansiedade reativos. O treinamento
sistemático através da prática de meditação na fase de integração
também pode servir para prolongar a experiência de dissolução do ego
e reduzir a reatividade a pensamentos e emoções desagradáveis,
aumentando, por sua vez, os benefícios da dosagem psicodélica e
minimizando experiências desafiadoras, respectivamente.
Abraçando a dificuldade
A formação MBCT também visa explicitamente aumentar a capacidade
de “voltar-se para” e abraçar experiências difíceis. Na sua forma
original, a MBCT visava explicitamente os pensamentos e emoções
difíceis associados à depressão grave, uma vez que a redução da
resistência e do envolvimento com estas experiências reduz a evitação
experiencial. Tal como discutido acima, a evitação experiencial está
fortemente associada a resultados negativos para a saúde mental, e
reduzir isto é um objetivo importante de qualquer intervenção de
mindfulness. Paradoxalmente, abraçar plenamente experiências
desafiadoras pode reduzir o sofrimento secundário associado a estas,
levando potencialmente a melhores resultados de saúde mental.
No entanto, esta aceitação de experiências difíceis deve ser feita de
forma incorporada (e não apenas como uma ideia de que alguém deve
“aceitar” ou “abraçar” as suas dificuldades) e é geralmente
extremamente difícil de alcançar na prática. Ao contrário do ACT, o
MBCT proporciona formação sistemática para reconhecer, voltar-se e,
em última análise, abraçar a dificuldade de experiências desafiadoras.
O envolvimento suficiente com esse treinamento antes da fase de
preparação pode significar que o participante da psicoterapia psicodélica
assistida está mais bem equipado para fazê-lo ao enfrentar desafios
durante a própria experiência de dosagem.
A fase de integração da psicoterapia assistida por psicodélicos é
outro lugar onde a MBCT pode ser importante para ajudar os
participantes a enfrentar as dificuldades. Pesquisas anteriores sugerem
que a integração de experiências psicodélicas pode ser desafiadora,
especialmente à medida que os participantes retornam ao seu contexto
social habitual e às pressões da vida cotidiana (Gorman et al., 2021).
Alémpara
disso, como atividade de rede no modo padrão (que
13
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2116
isto é, pensamento autorrefetivo) ressurge após uma experiência de
dissolução do ego, isso pode ser experimentado como chocante
pelos participantes da psicoterapia assistida por psicodélicos. Em
ambos os casos, a formação sistemática contínua para lidar com as
dificuldades pode revelar-se extremamente útil.
Principais diferenças potenciais entre incluir a atenção concentrada na progressão da consciência aberta
MBCT e ACT no que diz respeito à assistência psicodélica
em intervenções como a MBCT como a utilidade clínica da atenção
Psicoterapia concentrada, particularmente no início do tratamento. No contexto da
Uma diferença fundamental entre MBCT e ACT é que enquanto o
ACT enfatiza a aceitação e a desfusão cognitiva de pensamentos e
emoções desagradáveis, o MBCT inclui o treinamento sistemático da
atenção por meio da meditação – o que o ACT não faz. Como
procuramos demonstrar nesta revisão, acreditamos que este
treinamento sistemático, feito antes das sessões de dosagem (ou
seja, durante a fase de preparação), pode ser extremamente útil
durante o pico da experiência psicodélica - especialmente para
concentração, quando surgem experiências desafiadoras. (por
exemplo, durante estados desafiadores, como controle e cognição
prejudicados) (Studerus et al., 2010).
Concentração
Uma das habilidades mais fundamentais cultivadas na meditação
mindfulness é a concentração. Na verdade, a capacidade de manter
o foco da atenção ao longo do tempo está na base da prática da
atenção plena em geral. Na MBCT, a atenção é mantida no momento
presente, inicialmente prestando atenção sem julgamento à
experiência sensorial de estar no corpo.
Uma vez estabilizada a concentração através da prática sistemática
de meditação de atenção focada, a lente da atenção é gradualmente
expandida através da prática de meditação de consciência aberta
para incluir conteúdos mentais, como pensamentos e emoções
(Cullen et al., 2021) . Embora não seja enfatizada na maioria dos
MBIs, a meditação mindfulness culmina em prestar atenção à própria
consciência (Dunne, 2011; Josipovic, 2014).
A investigação demonstrou que esta progressão gradual da
atenção concentrada para a meditação de consciência aberta é
necessária para melhorar o bem-estar. Por exemplo, um estudo de
desmantelamento de MBCT realizado por Cullen et al. (2021)
mostraram que a intervenção MBCT completa (que progride da
atenção concentrada para a consciência aberta) resultou numa maior
melhoria do humor do que a atenção focada ou a consciência aberta
isoladamente. Cullen et al. (2021) também descobriram que ensinar
aos participantes a consciência aberta sem primeiro lhes ensinar a
atenção concentrada levou a uma maior ansiedade num
acompanhamento de 20 semanas do que na intervenção MBCT
completa. A atenção concentrada também mostrou inicialmente a
taxa mais rápida de melhoria – e o nível mais baixo de ressurgimento
– de estresse, ansiedade e depressão durante a fase de tratamento
(Semanas 1 a 8). Isso provavelmente reflete o aumento da capacidade proporcionada
13
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para desviar o foco de pensamentos e sensações angustiantes e de
volta para âncoras sensoriais, como a respiração ou a sensação do
corpo. Em contraste, a consciência aberta incentiva um envolvimento
sem julgamento e a aceitação de tal conteúdo mental angustiante –
uma habilidade muito mais desafiadora que requer prática consistente
ao longo do tempo para ser cultivada.
No geral, estas descobertas destacam tanto a importância de
psicoterapia assistida por psicodélicos, a concentração pode,
portanto, ser altamente útil para reduzir o sofrimento durante as
sessões de dosagem, fornecendo aos participantes uma ferramenta
simples para redirecionar sua atenção para âncoras sensoriais
sempre que conteúdos mentais angustiantes surgirem na mente. A
descoberta de Cullen et al. (2021) que as capacidades de atenção
focada se desenvolvem relativamente rapidamente indica que a
atenção focada (e concomitantemente melhor concentração) pode
ser um complemento útil à fase de preparação de intervenções de
psicoterapia assistida por psicodélicos, e também pode ser útil
durante as próprias sessões de dosagem, especialmente quando
materiais desafiadores começam a surgir. Na verdade, Carbonaro et
al. (2016) pesquisaram usuários de psicodélicos e descobriram que
acalmar a mente foi classificado como a estratégia mais útil para
lidar com experiências desafiadoras (ver também Simonsson et al.,
2023). Como a atenção concentrada é relativamente simples de
praticar (em contraste com a meditação de consciência aberta, mais
sutil e desafiadora), também pode ser uma prática útil para os
participantes da psicoterapia assistida por psicodélicos continuarem
praticando após as sessões de dosagem, a fim de reduzir qualquer
ansiedade ou outros experiências desafiadoras que podem ser
desencadeadas pelo processo de psicoterapia psicodélica assistida.
A pesquisa também mostrou que a atenção focada ou concentração
a meditação de tração está associada à diminuição da atividade na
rede de modo padrão (DMN), uma área do cérebro comumente
associada ao pensamento autorreferencial e à “viagem no tempo”.
(Garrison et al., 2015; Tomasino et al., 2013). Estudos de meta-
análise demonstraram que níveis mais elevados de atividade mental
padrão estão consistentemente associados a uma série de problemas
de saúde mental, como stress, ansiedade e depressão (por exemplo,
Doucet et al., 2020 ). Segue-se, portanto, que a redução da atividade
da rede no modo padrão com a meditação concentrada pode, por
sua vez, levar a melhores resultados de saúde mental.
Também de interesse é a amígdala, uma área do cérebro
fortemente associada à reatividade ao estresse de luta/fuga e a
problemas de saúde mental em geral. Um estudo de Doll et al. (2016)
descobriram que a meditação de concentração aumenta a conectividade
interação entre o córtex pré-frontal e a amígdala, resultando na
diminuição da hiperatividade da amígdala e concomitantemente
melhores resultados de saúde mental. Foi demonstrado que a
psicoterapia assistida por psicodélicos diminui a hiperatividade tanto
na atividade de rede no modo padrão (Palhano-Fontes et al., 2015)
quanto na conectividade
pela atençãoda
concentrada
amígdala (Mertens et al., 2020). Focado
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a prática de atenção antes da dosagem pode, portanto, facilitar o
aquietamento dessas áreas do cérebro, amplificando assim o processo
psicodélico.
Além das capacidades acima, a MBCT também pode ajudar a
solidificar e amplificar dois temas comuns na pesquisa psicodélica que
surgiram a partir de entrevistas pós-tratamento com os participantes:
conectividade e comportamento saudável.
Conectividade
Em entrevistas qualitativas com participantes em ensaios clínicos,
houve relatos de uma mudança no sentido de uma maior ligação
consigo mesmo, com outras pessoas e com o mundo em geral. Por
exemplo, análise temática de Watts et al. (2017) descobriram que os
participantes inscritos num ensaio aberto de psilocibina para depressão
resistente ao tratamento relataram uma transição da desconexão para
uma maior ligação consigo próprios, com os outros e com o mundo 6
meses após a administração. Além disso, descobriram que esta maior
ligação consigo mesmo estava associada a uma maior aceitação de
experiências emocionais (e a uma menor evitação experiencial).
Tais sentimentos de conexão podem ser ainda mais amplificados
por elementos específicos da MBCT. Conforme descrito acima, a
meditação mindfulness aumenta a atenção e a consciência, ambas
fundamentais para se sentir “conectado” ao que está acontecendo no
momento presente. Além disso, a meditação mindfulness na MBCT visa
melhorar a incorporação
mento, que é outro fundamento da conexão - no sentido de que somente
estando totalmente em contato com o próprio corpo podemos dizer que
estamos “conectados a nós mesmos”. Finalmente, a meditação da
atenção plena que enfatiza a aceitação de tudo o que é experimentado
– incluindo a aceitação de experiências emocionais desagradáveis –
aumenta ainda mais a conexão ao aumentar a aceitação experiencial
(Lindsay & Creswell, 2019) .
Além da atenção concentrada e da consciência aberta, os derivados
da MBCT (por exemplo, MBCT-L e Finding Peace in a Frentic World)
também contêm meditação de amizade.
Esta classe de meditações é semelhante às meditações de “bondade
amorosa” ou “metta” e promove diretamente atitudes como bondade e
cordialidade para consigo mesmo e para com os outros. Foi demonstrado
que a prática consistente leva a uma maior conexão consigo mesmo
(Hutcherson et al., 2008) , ao neutralizar hábitos mentais como a
aversão (Salzberg, 2011) e a autocrítica (Feliu-Soler et al., 2017;
Shahar et al. , 2015). Uma meta-análise de Zeng et al. (2015) mostraram
que estes tipos de práticas podem promover a emocionalidade positiva,
e revisões sistemáticas descobriram que reduzem significativamente os
problemas de saúde mental (Shonin et al., 2015) e melhoram a pró-
socialidade (Luberto et al., 2018; ver também Simonsson et al., 2018;
ver também Simonsson et al., 2015). ., 2021). Como tal, o elemento de
amizade dos derivados da MBCT provavelmente resulta em maior
conexão consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
Finalmente, o formato de grupo em que a MBCT é normalmente
ministrada pode, por si só, promover a conectividade. O
2117
a aplicação transdiagnóstica e a universalidade da atenção plena
significam que os participantes de programas como o MBCT têm a
oportunidade de ouvir sobre as experiências de vida dos outros
participantes do grupo e se beneficiar do processo grupal – o que
Cormack et al. (2018) chamam de “esforço coletivo para se sentir
melhor”. Embora o modelo de tratamento psicodélico predominante em
ensaios clínicos envolva dois terapeutas e um participante, a terapia de
grupo assistida por psicodélicos mostrou-se promissora durante a
primeira onda de pesquisa psicodélica e recentemente ressurgiu como
um modelo de interesse (Trope et al., 2019) . Por exemplo, numa
amostra com doença médica grave, Anderson et al. (2020) demonstraram
a relativa segurança e viabilidade da preparação e integração em grupo
para terapia assistida por psilocibina. Entrevistas de acompanhamento
revelaram que muitos participantes experimentaram sentimentos de
ligação com outros membros da coorte e segurança emocional no
ambiente de grupo, o que os tornou mais dispostos a explorar as suas
próprias experiências desagradáveis durante as suas sessões de
dosagem (individuais) (Agin-Liebes et al., 2021). A formação MBCT
encoraja explicitamente um sentido de “humanidade comum” – uma
consciência da interconectividade entre todos os seres humanos e da
universalidade de experiências de vida desafiantes e sofrimento
psicológico secundário (Germer & Nef, 2013) . O formato de grupo no
programa MBCT pode, portanto, combinar bem com a psicoterapia
assistida por psicodélicos. Nenhum ensaio clínico nos últimos tempos
investigou os efeitos da administração da sessão de dosagem em
grupo (Trope et al., 2019), mas os resultados de um estudo observacional
sugerem que isso pode amplificar os efeitos pós-agudos dos psicodélicos
(Kettner et al. , 2021).
Comportamento de Saúde
Além de relatos de maior conexão, entrevistas qualitativas com
participantes de ensaios clínicos também revelaram relatos de mudanças
espontâneas de comportamento de saúde relacionadas à dieta,
exercício e consumo de tabaco e álcool (Teixeira et al., 2021) . Outra
pesquisa encontrou uma relação entre o uso de psicodélicos ao longo
da vida e marcadores positivos de saúde física (Simonsson et al., 2021,
2021, 2021).
Embora o programa MBCT tenha uma sessão específica dedicada ao
comportamento de saúde (Sessão 7: “Como posso melhor cuidar de
mim mesmo?”), existem vários mecanismos através dos quais o treino
de mindfulness pode impactar o comportamento de saúde (Schu-man-
Olivier et al. , 2020). Por exemplo, conforme discutido acima, a atenção
plena melhora a atenção e o controle cognitivo. A metacognição e a
capacidade de direcionar seletivamente a atenção constituem, sem
dúvida, a base de qualquer mudança de comportamento, incluindo
comportamentos de saúde. Há uma abundância de pesquisas que ligam
a atenção plena aos processos de atenção (para uma meta-análise, ver
Sumantry & Stewart, 2021). A regulação emocional também é vital, já
que muitos comportamentos pouco saudáveis (por exemplo,
alimentação pouco saudável e uso indevido de drogas) são comumente tentativas de en
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2118
fortes emoções desagradáveis. Existe uma ligação bem estabelecida entre
mindfulness e regulação emocional (Chambers et al., 2009). O treinamento
da atenção plena pode melhorar processos auto-relacionados, como
interocepção, automonitoramento e autocompaixão, e reduzir processos
problemáticos, como ruminação e preocupação (Schuman-Olivier et al., 2020) .
Finalmente, a meditação mindfulness pode levar a um melhor insight
psicológico (Dahl & Davidson, 2019), um construto que está ganhando cada
vez mais atenção na pesquisa psicodélica.
A MBCT visa diretamente esses processos auto-relacionados, bem como a
regulação da atenção e da emoção.
Discussão
Esta revisão descreveu várias maneiras pelas quais a MBCT pode servir como
um complemento valioso para a psicoterapia assistida por psicodélicos.
Demonstramos como o MBCT visa processos centrais, incluindo aceitação,
estar presente, concentração, descentralização e aceitação de dificuldades.
Argumentamos que o fortalecimento dessas capacidades essenciais pode ser
inestimável durante as fases de preparação, dosagem e integração da
psicoterapia assistida por psicodélicos. Embora outras terapias baseadas em
mindfulness, como a ACT, possam ser importantes para apoiar a psicoterapia
psicodélica assistida, destacamos como o treinamento sistemático da MBCT
nessas capacidades essenciais pode ser particularmente benéfico,
especialmente para aumentar a probabilidade de que experiências
desafiadoras transformar-se em avanços emocionais, insights psicológicos e
melhor funcionamento psicossocial, em vez de experiências desafiadoras
prolongadas e não resolvidas (“viagens ruins”).
Além de proteger contra experiências desafiadoras, o treinamento da
atenção plena via MBCT também pode prolongar os efeitos terapêuticos
positivos da psicoterapia assistida por psicodélicos. A importância da
integração na psicoterapia assistida por psicodélicos está sendo cada vez
mais reconhecida (Earleywine et al., 2022). A MBCT estabelece uma base
para a reestruturação cognitiva, que pode ser aprimorada pela incorporação
da psicoterapia assistida por psicodélicos. Esta abordagem sinérgica permite
que os participantes reforcem sistematicamente os insights e facilitem as
mudanças cognitivas, resultantes da combinação da MBCT e da experiência
psicodélica aguda durante as sessões de terapia. Além disso, o treinamento
da atenção plena pode capitalizar a plasticidade aprimorada que se supõe
resultar da dosagem psicodélica (ver Olson, 2022; Stoliker et al., 2022a),
facilitando um aumento na atenção plena dos traços.
Pesquisas futuras são necessárias para explorar os benefícios potenciais
do uso da MBCT como um complemento à psicoterapia assistida por
psicodélicos, investigando se o treinamento MBCT em grupo por si só é
suficiente para maximizar resultados positivos ou se é necessária psicoterapia
individual adicional. Os pesquisadores podem examinar se uma combinação
de MBCT e
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o tradicional 2:1 (ou 1:1) com assistência psicodélica oferece resultados
superiores em comparação com qualquer abordagem sozinha.
Também é importante explorar os benefícios relativos de fornecer MBCT
na sua forma manual versus adaptar a intervenção para enfatizar certos
componentes, particularmente em relação a sintomas específicos de saúde
mental. Embora todos os vários processos centrais da MBCT apoiem o
processo psicodélico, certos aspectos podem ser mais úteis do que outros. A
investigação futura deverá também explorar a forma como o MBCT pode ser
ajustado para se adequar às necessidades de populações específicas, como
demonstrado pelo desenvolvimento do MBCT-L e dos derivados “Encontrar a
Paz num Mundo Frenético”. Pesquisadores e médicos devem considerar a
criação de MBIs específicos para psicodélicos, com base em elementos de
MBCT, MBSR, ACT e outros MBIs.
Embora já existam evidências de que a prática formal de meditação pode
ser um complemento útil ao uso de psicodélicos (Grifths et al., 2018) e
pesquisas mostrando que o uso de psicodélicos ao longo da vida está
associado à atual meditação mindfulness
prática (Simonsson, 2023), ainda há muito a ser descoberto sobre a relação
dose-resposta entre a meditação mindfulness e resultados psicodélicos
positivos. A ênfase da meditação sistemática na MBCT pode diferenciá-la da
ACT no sentido de ajudar os participantes a enfrentar experiências desafiadoras
durante a psicoterapia assistida por psicodélicos. Embora conceitos como
aceitação e aceitação da dificuldade sejam relativamente fáceis de
compreender na estrutura ACT em estados de consciência normal de vigília,
eles podem ser mais difíceis de aplicar durante o pico das experiências
psicodélicas. A investigação deve explorar diferentes quantidades de meditação
e procurar determinar a quantidade ideal de meditação necessária para apoiar
de forma fiável o processo psicadélico.
Além disso, pode ser útil explorar a utilidade relativa dos diferentes tipos
de meditação mindfulness incluídos na MBCT (atenção focada, consciência
aberta, amizade ou uma combinação) para prever resultados positivos na
psicoterapia assistida por psicodélicos. Todos os três tipos têm conceitualmente
um lugar na psicoterapia assistida por psicodélicos; no entanto, elucidar a
contribuição relativa de cada um é crucial.
Finalmente, os próprios exercícios de atenção plena podem ser modificados
para melhor se adequarem ao contexto psicodélico, como meditar e praticar
exercícios de atenção plena na natureza ou ouvir atentamente a música que
será tocada durante o período de administração psicodélica.
Conclusão
Concluindo, os MBIs têm um papel claro no apoio ao processo psicodélico,
particularmente na psicoterapia assistida por psicodélicos. Os MBIs
provavelmente serão extremamente úteis nas fases de preparação, dosagem
e integração, ajudando os participantes a evitar experiências desafiadoras e
maximizando
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a probabilidade de entrega à dissolução do ego e à ruptura emocional,
e insights concomitantes e melhor funcionamento psicossocial. A
MBCT pode ser particularmente útil, uma vez que proporciona
treinamento sistemático em meditação mindfulness, que pode servir
como um recurso valioso para navegar no processo psicodélico,
especialmente em experiências desafiadoras.
Pesquisas futuras são necessárias para explorar esta possibilidade e
confirmar quais elementos da MBCT são mais úteis no contexto
psicodélico e como estes podem ser combinados e adaptados para
produzir os resultados mais benéficos.
Contribuições do Autor Richard Chambers: redação — rascunho original.
Devon Stoliker: redação — revisão e edição: Otto Simonsson: conceituação;
administração de projetos; supervisão; redação – revisão e edição.
Financiamento O financiamento do Acesso Aberto possibilitado e organizado
pelo CAUL e pelas suas Instituições Membros OS foi apoiado pela Fundação
Osmond e pela Fundação Ekhaga.
Declarações
Conflito de interesses OS e RC foram cofundadores da Eudelics AB.
Acesso Aberto Este artigo está licenciado sob uma Licença Internacional
Creative Commons Atribuição 4.0, que permite o uso, compartilhamento,
adaptação, distribuição e reprodução em qualquer meio ou formato, desde que
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creativecommons.org/licenses/by/4.0/.
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