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EDIÇÃO ESPECIAL

TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL
EA

DEPENDÊNCIA QUÍMICA
A importância da TCC na compreensão e no
tratamento da dependência química.
Autor: Geovanne Flávio
Filósofo, Psicanalista e idealizador do Céu na Terra
Graduando Psicologia

Co-Autores:

Ádila Cardoso
Professora
Graduando Psicologia

Giovana Ruas
Graduando Psicologia

Lorena Souza
Terapeuta Holística
Graduando Psicologia

Colaboradores:

Lúcio Fernandes
RH
Graduando Psicologia

Tayane Aparecida
Ass. Administrativo
Graduando Psicologia
Prefácio

Nas páginas seguintes, entramos em um universo onde a


mente e a substância se entrelaçam desafiando
preconceitos, porém uma abordagem transformadora
lança luz sobre este entrelaçamento: a Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC).

"Terapia Cognitivo-Comportamental e a Dependência


Química" explora em um diálogo entre teoria e prática, a
ligação entre os princípios fundamentais da TCC, os
desafios da dependência química e as adversidades
enfrentados por aqueles que lutam contra ela. Ao
desvendar essas conexões, este livro demonstra como a
TCC se torna uma poderosa aliada na recuperação dos
dependentes químicos, oferecendo uma visão clara,
sensível e traçando um caminho promissor rumo à
recuperação.

Este livro é um convite à reflexão e à descoberta de como


a TCC pode ser uma bússola valiosa na jornada daqueles
que buscam superar as prisões da dependência química.
Convidamos você a mergulhar nessa obra, onde a
compreensão e a transformação se encontram.
SUMÁRIO

01 Introdução Pág. 04

02 Capítulo 1 Pág. 07

03 Capítulo 2 Pág. 13

04 Capítulo 3 Pág. 19

05 Capítulo 4 Pág. 25

06 Capítulo 5 Pág. 34

07 Conclusão Pág. 45

08 Bibliografia Pág. 48

Sumário
INTRODUÇÃO
A Terapia Cognitivo Comportamental
(TCC) é uma forma de psicoterapia que se
baseia na ideia de que os nossos
pensamentos, emoções e
comportamentos estão interligados e
influenciam uns aos outros. A TCC surgiu
na década de 1960, a partir dos trabalhos
de Aaron Beck e Albert Ellis, que
propuseram que muitos problemas
psicológicos são causados por crenças
irracionais, distorções cognitivas e
esquemas mentais disfuncionais .

Os fundamentos teóricos e empíricos da


TCC são que ela é uma abordagem que:

- Pode ser integrada e complementar, pois


combina elementos da terapia cognitiva,
da terapia comportamental e de outras
correntes psicológicas, como a terapia
racional-emotiva, a terapia do esquema,
terapia de aceitação e compromisso, entre
outras.

- É Mutual, para os que se envolve em


uma relação terapêutica de confiança,
respeito e empatia entre o terapeuta e o
paciente, na qual ambos trabalham juntos
para identificar e modificar os padrões
cognitivos e comportamentais que geram
sofrimento.

Introdução
- Estruturada, que segue um plano de tratamento baseado em
objetivos específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais
(SMART), que são definidos em conjunto com o paciente.

- Contemporânea, focada no presente, que se concentra nos problemas


atuais do paciente e nas soluções possíveis, sem ignorar o passado e o
futuro, mas sem se prender a eles.

- Reestruturante, orientada para a mudança, que visa promover


alterações cognitivas e comportamentais nos pacientes, por meio de
técnicas e ferramentas que os ajudam a questionar e reestruturar as
suas crenças, pensamentos e emoções disfuncionais, e a desenvolver
novas habilidades e estratégias para lidar com as situações
desafiadoras.

- Factual, baseada em evidências, que se apoia em dados científicos


que comprovam a sua eficácia e eficiência no tratamento de diversos
problemas psicológicos, como a depressão, a ansiedade, o transtorno
obsessivo-compulsivo, o transtorno do estresse pós-traumático, entre
outros.

Outra benesse da TCC é ajudar as pessoas com dependência química a


compreenderem melhor os fatores que as levaram a iniciar e manter o
uso de drogas, bem como os benefícios e custos associados ao
consumo. A TCC vem trazer às pessoas a possibilidade de aumentar a
sua motivação para mudar o seu padrão de uso de drogas e outras
substâncias, por meio de técnicas como o balanço decisional, a escala
de prontidão para a mudança, o feedback personalizado; ajuda
também a estabelecer metas claras e realistas para reduzir ou cessar o
uso de drogas, bem como monitorar o seu progresso e celebrar as suas
conquistas.

- Pode ajudar as pessoas com dependência química a compreenderem


melhor os fatores que as levaram a iniciar e manter o uso de drogas,
bem como os benefícios e custos associados ao consumo.

Introdução
-Com o auxílio da TCC os adictos são incentivados a identificarem e
modificarem as suas crenças, pensamentos e emoções que favorecem
o uso de drogas ou dificultam a sua recuperação, por meio de técnicas
como o registro de pensamentos disfuncionais, a reestruturação
cognitiva, o questionamento socrático, entre outras.

-Uma outra forma de atuação da TCC é ajudar as pessoas com


dependência química a desenvolverem novas habilidades e
estratégias para enfrentarem os gatilhos internos e externos que
desencadeiam o desejo pelas drogas e afins, ocasionando assim uma
recaída. Por isso a escolha da TCC, para o manejo de contingências,
prevenção de recaída, treinamento de habilidades sociais, terapia de
exposição, entre outras.

- As pessoas com dependência química com o auxílio da TCC ,tendem


a melhorar a sua autoestima, autoconfiança e autoeficácia, por meio
de técnicas como o reforço positivo, a atribuição de responsabilidade,
a auto instrução, entre outras. Assim começam a restaurar e fortalecer
os seus vínculos familiares, sociais e profissionais, por meio de técnicas
como a comunicação assertiva, a resolução de problemas, a
negociação de conflitos, entre outras.

Introdução
01
INTRODUÇÃO À
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
E À TERAPIA COGNITIVO
COMPORTAMENTAL.

A dependência química é um
transtorno mental caracterizado
pelo uso compulsivo e
descontrolado de uma ou mais
substâncias psicoativas, que
alteram o funcionamento do
cérebro e causam efeitos
prazerosos, relaxantes ou
estimulantes. Envolve uma série de
mudanças neurobiológicas,
cognitivas, emocionais e
comportamentais que dificultam a
interrupção do uso da droga,
mesmo diante de consequências
negativas para a saúde e para a
vida do indivíduo.

Capítulo 1
As principais substâncias envolvidas na dependência química são:

- Álcool: É uma substância depressora do sistema nervoso central, que


reduz a atividade cerebral e provoca efeitos como desinibição, euforia,
sonolência, perda de coordenação motora e alteração da percepção. O
consumo excessivo de álcool pode causar intoxicação aguda,
dependência física e psicológica, danos ao fígado, ao coração, ao
cérebro e a outros órgãos, além de aumentar o risco de acidentes,
violência, doenças infecciosas e até mesmo suicídio acidental ou fatal.

- Tabaco: É um produto composto de Nicotina altamente estimulante


do sistema nervoso central, que aumenta a atividade cerebral e
provoca efeitos como alívio do estresse, melhora do humor, aumento
da atenção e da concentração. O tabaco contém nicotina, uma
substância altamente viciante, que induz a tolerância e a abstinência.
O tabagismo pode causar dependência física e psicológica, danos aos
pulmões, à boca, à garganta e a outros órgãos, além de aumentar o
risco de câncer, doenças cardiovasculares, respiratórias e infecciosas.

- Cocaína: É uma substância estimulante do sistema nervoso central,


que aumenta a atividade cerebral e provoca efeitos como euforia,
excitação, aumento da energia, da autoconfiança e da sociabilidade. A
cocaína bloqueia a recaptação de neurotransmissores como a
dopamina, a noradrenalina e a serotonina, aumentando a sua
concentração nas sinapses neuronais. O uso repetido de cocaína pode
causar dependência física e psicológica, tolerância, abstinência, danos
ao coração, aos vasos sanguíneos, ao cérebro e ao nariz, além de
aumentar o risco de overdose, convulsões, infarto, acidente vascular
cerebral (AVC) e transtornos mentais.

- Crack: É uma forma impura da cocaína que é fumada em pedras. O


crack produz os mesmos efeitos da cocaína inalada ou injetada, mas
de forma mais intensa e rápida. O crack também bloqueia a
recaptação de neurotransmissores como a dopamina, a noradrenalina
e a serotonina. O uso frequente de crack pode causar:

Capitulo 1
dependência física e psicológica severa,
tolerância,
abstinência,
danos aos pulmões,
à boca,
à garganta
e ao cérebro,
além de aumentar o risco de overdose,
infecções respiratórias,
tuberculose,
HIV/AIDS e transtornos mentais graves.

- Opióides: São substâncias derivadas do ópio ou sintetizadas em


laboratório que têm propriedades analgésicas, sedativas e euforizantes.
Os opióides se ligam aos receptores opióides do cérebro e modulam a
liberação de neurotransmissores como a dopamina e a endorfina. Os
opióides incluem drogas como a morfina, a heroína, a codeína, a
oxicodona, a fentanila, entre outras. O uso abusivo de opioides pode
causar dependência física e psicológica, tolerância, abstinência,
depressão respiratória, constipação, náusea, vômito, além de aumentar
o risco de overdose, infecções sanguíneas, hepatite, HIV/AIDS e
transtornos mentais.

- Anfetaminas: São substâncias estimulantes do sistema nervoso


central que aumentam a atividade cerebral e provocam efeitos como
aumento da energia, da atenção, da concentração, da autoestima e da
libido. As anfetaminas liberam neurotransmissores como a dopamina, a
noradrenalina e a serotonina. As anfetaminas incluem drogas como
ecstasy, o metilfenidato (Ritalina), a metanfetamina (cristal), entre
outras. O uso excessivo de anfetaminas pode causar dependência
psicológica, tolerância, abstinência, danos ao coração, aos vasos
sanguíneos, ao cérebro e aos dentes, além de aumentar o risco de
overdose, hipertermia, desidratação, psicose e transtornos do humor.

Os fatores que influenciam o desenvolvimento e a manutenção da


dependência química são:

Capitulo 1
- Características genéticas, fisiológicas e neurológicas que tornam
algumas pessoas mais vulneráveis ou mais resistentes aos efeitos das
drogas.

Os fatores biológicos incluem:


a hereditariedade,
o sexo,
a idade,
o metabolismo,
a sensibilidade aos receptores,
a produção de neurotransmissores, entre outros.

- Fatores psicológicos: São as características cognitivas, emocionais e


comportamentais que influenciam a forma como as pessoas lidam
com as drogas. Os fatores psicológicos incluem:
as crenças,
os pensamentos,
as emoções,
as expectativas,
as motivações,
as atitudes,
as personalidades,
os estilos de enfrentamento, entre outros.

- Fatores sociais: São as características ambientais,


culturais e relacionais que afetam a disponibilidade, a acessibilidade e
o consumo das drogas. Incluem:
a influência dos pares,
da família,
da escola,
do trabalho,
da mídia,
das leis,
dos costumes,
dos valores, entre outros.

Capitulo 1
As consequências da dependência química para a saúde física, mental,
familiar, profissional e social dos indivíduos são:

- Saúde física: Danos causados pelas drogas aos diversos órgãos e


sistemas do corpo humano. Doenças agudas ou crônicas, infecções
bacterianas ou virais, alterações hormonais e imunológicas,
complicações cardiovasculares, insuficiência respiratórias, lesões
hepáticas ou renais, câncer ou cirrose, overdose e óbito.

- Consequências para a saúde mental: São os transtornos psiquiátricos


ou psicológicos causados ou agravados pelas drogas. As
consequências para a saúde mental incluem depressão, ansiedade,
pânico, fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse
pós-traumático, transtorno bipolar, esquizofrenia, psicose, delirium,
demência, entre outros.

- Consequências para a família: São os problemas de relacionamento,


comunicação e convivência que afetam os membros da família do
dependente químico. As consequências para a família incluem
conflitos, brigas, violência, abuso, negligência, separação, divórcio,
abandono, perda da confiança, do respeito e do afeto, entre outros.

- Consequências para o trabalho: São os prejuízos ao desempenho, à


produtividade e à qualidade do trabalho do dependente químico. As
consequências para o trabalho incluem faltas, atrasos, erros, acidentes,
demissões, desemprego, perda de renda, oportunidades e de
reconhecimento profissional, entre outras.

- Para a sociedade: São os danos causados pelas drogas à ordem


pública, à segurança e ao bem-estar social. As consequências para a
sociedade incluem crimes, violência, corrupção, tráfico, contrabando,
lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, aumento dos custos
com saúde, educação e assistência social, entre outros.

-Devido ao auto crescimento da dependência química, precisam haver


profissionais capacitados para fazer esse diagnóstico que utilizam
critérios clínicos padronizados e validados internacionalmente. Os
principais critérios utilizados são:
Capitulo 1
- Critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS): A OMS utiliza a
Classificação Internacional de Doenças (CID-10) para definir e codificar os
transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso de
substâncias psicoativas. A CID-10 estabelece que o diagnóstico de
dependência química requer a presença de pelo menos três dos seguintes
sintomas em um período de 12 meses: desejo forte ou compulsão pelo uso
da substância; dificuldade em controlar o uso da substância; estado de
abstinência física ou psicológica quando o uso da substância é reduzido ou
interrompido; tolerância aos efeitos da substância; abandono progressivo
de outros interesses ou prazeres em favor do uso da substância;
persistência no uso da substância apesar das evidências de danos físicos ou
mentais.

- Critérios da Associação Americana de Psiquiatria (APA): A APA utiliza o


Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) para
definir e classificar os transtornos relacionados ao uso de substâncias. O
DSM-5 substituiu o termo dependência química pelo termo transtorno por
uso de substâncias (TUS), que engloba um espectro contínuo de gravidade.

O DSM-5 substituiu o termo dependência química pelo termo transtorno


por uso de substâncias (TUS), que engloba um espectro contínuo de
gravidade. O DSM-5 estabelece que o diagnóstico de TUS requer a
presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas em um período de 12
meses: uso da substância em quantidades maiores ou por mais tempo do
que o pretendido; desejo persistente ou esforços mal sucedidos para
reduzir ou controlar o uso da substância; gasto excessivo de tempo na
obtenção, no uso ou na recuperação do uso da substância; falta ao
trabalho, à escola ou às obrigações domésticas por causa do uso da
substância; uso continuado da substância apesar dos problemas sociais ou
interpessoais causados ou exacerbados pelo seu uso; redução ou abandono
das atividades sociais, profissionais ou recreativas por causa do uso da
substância; uso recorrente da substância em situações fisicamente
perigosas; uso continuado da substância apesar do conhecimento de ter
um problema físico ou mental causado ou agravado pelo seu uso;
tolerância aos efeitos da substância; abstinência física ou psicológica
quando o uso da substância é reduzido ou interrompido.

Capitulo 1
02
O FUNCIONAMENTO COGNITIVO E
COMPORTAMENTAL NA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Neste capítulo, vamos abordar como a terapia cognitivo


comportamental (TCC) entende o funcionamento cognitivo e
comportamental das pessoas com dependência química, ou seja,
como elas pensam, sentem e agem em relação ao uso de drogas.
Também vamos identificar quais são as crenças, pensamentos,
emoções e comportamentos disfuncionais que caracterizam a
dependência química e como eles se relacionam entre si e com os
estímulos ambientais para formar o ciclo vicioso da droga. Por fim,
vamos apresentar como a TCC propõe romper esse ciclo e promover
mudanças cognitivas e comportamentais nos indivíduos com
dependência química, por meio de técnicas e estratégias específicas.

Capitulo 2
O funcionamento cognitivo na dependência química

A TCC é uma abordagem psicológica que se baseia na premissa de


que os nossos pensamentos influenciam as nossas emoções e os
nossos comportamentos. Ou seja, a forma como interpretamos as
situações que vivenciamos determina como nos sentimos e como
reagimos a elas. Esses pensamentos são chamados de cognições e
podem ser divididos em três níveis: crenças centrais, crenças
intermediárias e pensamentos automáticos.

As crenças centrais são as ideias mais profundas e arraigadas que


temos sobre nós mesmos, os outros e o mundo. Elas são formadas na
infância e na adolescência, a partir das nossas experiências de vida, e
funcionam como um filtro pelo qual vemos a realidade. As crenças
centrais podem ser positivas ou negativas, racionais ou irracionais,
adaptativas ou desadaptativas. Por exemplo, uma pessoa pode ter a
crença central de que é incompetente, indigna ou incapaz de ser feliz.

As crenças intermediárias são as regras, pressupostos e atitudes que


derivam das crenças centrais e que orientam o nosso comportamento.
Elas são mais flexíveis e contextuais do que as crenças centrais, mas
também podem ser distorcidas ou disfuncionais. Por exemplo, uma
pessoa pode ter a crença intermediária de que precisa usar drogas
para se sentir bem ou para lidar com os problemas.

Os pensamentos automáticos são os pensamentos mais superficiais e


rápidos que temos em resposta aos eventos do dia a dia. Eles são
influenciados pelas crenças centrais e intermediárias e refletem a
nossa percepção da situação. Os pensamentos automáticos podem ser
conscientes ou inconscientes, verbais ou imagéticos, lógicos e ilógicos,
realistas ou fantasiosos. Por exemplo, uma pessoa pode ter o
pensamento automático de que uma festa será chata sem drogas ou
que uma recaída é inevitável.

Capítulo 2
Na dependência química, as cognições desempenham um papel
fundamental na manutenção do uso de drogas. As pessoas com
dependência química tendem a ter crenças centrais negativas sobre si
mesmas, como baixa autoestima, culpa, vergonha ou impotência.
Essas crenças geram crenças intermediárias disfuncionais sobre o uso
de drogas, como necessidade, merecimento ou justificativa. Essas
crenças, por sua vez, alimentam pensamentos automáticos favoráveis
ao uso de drogas, como desejo, tentação ou racionalização.

Esses pensamentos provocam emoções negativas, como ansiedade,


tristeza ou raiva, que aumentam a vontade de usar drogas para aliviar
o mal-estar. Assim, forma-se um ciclo vicioso entre cognições,
emoções e comportamentos relacionados ao uso de drogas.

O funcionamento comportamental na dependência química

A TCC também considera o funcionamento comportamental das


pessoas com dependência química, ou seja, como elas agem em
relação ao uso de drogas. A TCC entende que o comportamento é
determinado por fatores internos (cognições e emoções) e externos
(estímulos ambientais). Além disso, a TCC reconhece que o
comportamento é influenciado por processos de aprendizagem,
como o condicionamento clássico, o condicionamento operante e a
modelagem social.

O condicionamento clássico é um processo de aprendizagem pelo


qual um estímulo neutro passa a provocar uma resposta
condicionada, após ser repetidamente associado a um estímulo
incondicionado que naturalmente provoca essa resposta. Por
exemplo, uma pessoa pode associar o uso de drogas (estímulo
incondicionado) a sensações de prazer, euforia ou relaxamento
(resposta incondicionada). Com o tempo, essa pessoa pode passar a
sentir essas sensações (resposta condicionada) ao ver uma seringa, um
cachimbo ou um baseado (estímulo condicionado), mesmo sem usar
drogas.

Capítulo 2
O condicionamento operante é um processo de aprendizagem pelo
qual um comportamento é reforçado ou punido pelas suas
consequências.

Um reforço é qualquer consequência que aumenta ou mantém a


probabilidade de um comportamento se repetir, enquanto uma
punição é qualquer consequência que diminui essa probabilidade. Os
reforços e punições podem ser positivos e negativos, dependendo se
envolvem a apresentação ou a remoção de um estímulo. Por exemplo,
uma pessoa pode usar drogas para obter reforços positivos, como
prazer, diversão ou aceitação social, ou para evitar reforços negativos,
como dor, tédio ou rejeição social. Essa pessoa também pode usar
drogas para escapar de punições positivas, como críticas, conflitos ou
responsabilidades, ou para buscar punições negativas, como alívio,
culpa ou autopunição.

A modelagem social é um processo de aprendizagem pelo qual um


comportamento é adquirido ou modificado pela observação e
imitação de modelos. Os modelos podem ser pessoas reais ou fictícias,
próximas ou distantes, que exercem alguma influência sobre o
observador. Os modelos podem transmitir informações, atitudes e
habilidades sobre o uso de drogas, tanto de forma explícita quanto
implícita. Por exemplo, uma pessoa pode aprender a usar drogas ao
ver os pais, os amigos ou os ídolos usando drogas e tendo benefícios
ou evitando prejuízos. Essa pessoa também pode aprender a usar
drogas ao assistir filmes, séries ou propagandas que mostram o uso de
drogas como algo normal, divertido ou desejável.

Na dependência química, o funcionamento comportamental também


é essencial para a manutenção do uso de drogas. As pessoas com
dependência química tendem a desenvolver uma forte associação
entre o uso de drogas e os estímulos ambientais que o precedem,
acompanham ou sucedem.

Capítulo 2
Imagens: Crack

Esses estímulos podem ser internos (pensamentos, emoções ou


sensações) ou externos (pessoas, lugares ou objetos). Esses estímulos
funcionam como gatilhos que ativam a memória do efeito da droga
e desencadeiam o desejo de usá-la. Além disso, as pessoas com
dependência química tendem a ter um padrão de reforçamento e
punição que favorece o uso de drogas. Elas costumam receber
reforços positivos e negativos imediatos e intensos pelo uso de
drogas e punições positivas e negativas tardias e fracas pela
abstinência. Assim, elas ficam presas em um ciclo vicioso entre
estímulos ambientais, comportamentos relacionados ao uso de
drogas e suas consequências.

A ruptura do ciclo vicioso da droga na TCC

A TCC propõe romper o ciclo vicioso da droga por meio de


intervenções cognitivas e comportamentais que visam modificar as
cognições e os comportamentos disfuncionais relacionados ao uso
de drogas. As intervenções cognitivas consistem em identificar,
avaliar e reestruturar as crenças centrais, as crenças intermediárias e
os pensamentos automáticos que favorecem o uso de drogas. O
objetivo é substituir as cognições distorcidas ou irracionais por
cognições mais realistas ou racionais, que levem em conta os custos
e benefícios do uso de drogas a curto e longo prazo, além de

Capítulo 2
Desenvolver uma visão mais equilibrada e crítica sobre o uso de
drogas e seus efeitos na vida pessoal, familiar, profissional e social é
crucial . As intervenções cognitivas incluem técnicas como o registro
de pensamentos disfuncionais, a análise de evidências, a
reestruturação cognitiva, a resolução de problemas, a tomada de
decisão e a prevenção de recaídas.

As intervenções comportamentais consistem em modificar os


comportamentos relacionados ao uso de drogas e suas
consequências, bem como desenvolver comportamentos alternativos
e adaptativos, reduzir ou eliminar os estímulos ambientais que
desencadeiam o uso de drogas e as consequências que o reforçam ou
o punem. A terapia pode aumentar os estímulos ambientais que
favorecem a abstinência e as consequências que a reforçam ou a
premiam. Além disso, o propósito é ensinar habilidades sociais,
emocionais e de enfrentamento que ajudem a lidar com as situações
de risco, estresse ou tentação para o uso de drogas.

Técnicas como o monitoramento do uso de drogas, o manejo de


contingências, a exposição aos estímulos condicionados, a
dessensibilização sistemática, o treinamento de habilidades, o
relaxamento e a atividade física estão entre as intervenções.

Para Francieli Hamester (2021, p.49) a finalidade da prevenção de recaída pode


ser considerada muito mais abrangente do que auxiliar exclusivamente o
indivíduo a desenvolver suas habilidades para então ser capaz de compreender
como viver sem ter uma predominância ao uso de drogas e álcool”

A TCC na dependência química é uma abordagem integrada e


individualizada, que leva em conta as características, as necessidades
e os objetivos de cada paciente. Envolve o paciente como um agente
ativo e responsável pelo seu processo de mudança. É flexível e
dinâmica, se adapta às mudanças e aos desafios que ocorrem ao
longo do tratamento.

Capítulo 2
03 O PROCESSO TERAPÊUTICO DA TCC NA
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
Neste capítulo, vamos descrever como se dá o processo terapêutico
da terapia cognitivo comportamental (TCC) na dependência química,
desde a avaliação inicial até a avaliação final do tratamento. Vamos
conhecer as etapas, as metas, as técnicas e as ferramentas que
compõem a TCC na dependência química e como elas são aplicadas
na prática clínica.

A avaliação inicial e a formulação de caso

A avaliação inicial é a primeira etapa do processo terapêutico da TCC


na dependência química. Ela consiste em uma entrevista clínica entre
o terapeuta e o paciente, com o objetivo de coletar informações sobre
o histórico pessoal, familiar, social e profissional do paciente, bem
como sobre o seu padrão de uso de drogas, os seus motivos para
buscar tratamento, os seus recursos e dificuldades para mudar, os
seus sintomas físicos e psicológicos associados ao uso de drogas, os
seus diagnósticos psiquiátricos comórbidos, os seus medicamentos
em uso e os seus exames laboratoriais.

Capítulo 3
A avaliação inicial também envolve a aplicação de instrumentos
padronizados de avaliação, como escalas, questionários e testes, que
permitem quantificar e qualificar o grau de dependência química, o
nível de motivação para mudar, o estágio de mudança de
comportamento, a autoeficácia para resistir ao uso de drogas, a
presença de crenças disfuncionais sobre o uso de drogas, entre outros
aspectos relevantes.

A formulação de caso é a segunda etapa do processo terapêutico da


TCC na dependência química. Ela consiste em uma análise integrada
dos dados obtidos na avaliação inicial, com o objetivo de elaborar
uma hipótese explicativa sobre o funcionamento cognitivo e
comportamental do paciente em relação ao uso de drogas. A
formulação de caso também envolve a construção de um diagrama
ou esquema que ilustra as relações entre as variáveis envolvidas no
problema do paciente, como as suas crenças centrais, as suas crenças
intermediárias, os seus pensamentos automáticos, as suas emoções,
os seus comportamentos, os seus estímulos ambientais e as suas
consequências.

A formulação de caso é um instrumento dinâmico e flexível, que pode


ser revisado e atualizado ao longo do tratamento, conforme novas
informações sejam obtidas.

A avaliação inicial e a formulação de caso são fundamentais para o


planejamento e a condução do tratamento da TCC na dependência
química. Elas permitem ao terapeuta conhecer melhor o paciente e
estabelecer uma aliança terapêutica com ele. Elas também permitem
ao terapeuta identificar os pontos fortes e fracos do paciente e definir
as metas terapêuticas mais adequadas para ele. Além disso, elas
permitem ao terapeuta selecionar as técnicas e ferramentas mais
eficazes para ajudar o paciente a alcançar as suas metas.

Capitulo 3
As metas terapêuticas

As metas terapêuticas são os objetivos específicos que se pretende


alcançar com o tratamento da TCC na dependência química. Elas são
definidas em conjunto com o paciente, levando em conta as suas
expectativas, necessidades e preferências. Devem ser claras, realistas,
mensuráveis e alcançáveis, além de formuladas em termos positivos e
comportamentais, ou seja, expressando o que se quer fazer ou obter,
em vez do que se quer evitar ou eliminar. Devem ser hierarquizadas
em ordem de importância e dificuldade, revisadas periodicamente
para verificar o seu grau de cumprimento e adequação.

As metas terapêuticas podem ser classificadas em três tipos: metas


gerais, metas intermediárias e metas específicas. As metas gerais são
os objetivos mais amplos e abrangentes que se quer atingir com o
tratamento, como por exemplo, reduzir ou cessar o uso de drogas,
melhorar a qualidade de vida, recuperar a saúde física e mental,
restaurar as relações familiares e sociais, retomar as atividades
profissionais e educacionais, entre outros. As metas intermediárias são
os objetivos mais restritos e parciais que se quer atingir para alcançar
as metas gerais, como por exemplo, aumentar a motivação para
mudar, identificar e modificar as crenças disfuncionais sobre o uso de
drogas, desenvolver habilidades de enfrentamento para lidar com as
situações de risco, estresse ou tentação para o uso de drogas, prevenir
e manejar as situações de recaída, entre outros. As metas específicas
são os objetivos mais concretos e imediatos que se quer atingir em
cada sessão terapêutica, como por exemplo, completar um registro de
pensamentos disfuncionais, realizar uma análise de evidências,
praticar uma técnica de relaxamento, fazer um exercício de exposição
aos estímulos condicionados, entre outros.

Capitulo 3
As metas terapêuticas são essenciais para o sucesso do tratamento da
TCC na dependência química. Elas permitem ao paciente ter uma
visão clara do que se espera dele e do que ele pode esperar do
tratamento. Elas também permitem ao paciente ter um senso de
direção e propósito, que o estimula a persistir no tratamento. Além
disso, elas permitem ao paciente ter um critério de avaliação do seu
progresso e resultado, que o recompensa pelo seu esforço e melhora a
sua autoestima.

As técnicas e ferramentas

As técnicas e ferramentas são os métodos e recursos que se utilizam


para alcançar as metas terapêuticas da TCC na dependência química.
São selecionadas pelo terapeuta de acordo com a avaliação inicial e a
formulação de caso do paciente, bem como com o seu estágio de
mudança de comportamento, e então são aplicadas pelo terapeuta
na sessão ou prescritas como tarefa de casa para o paciente. O
terapeuta deve explicar ao paciente sua finalidade e as formas de uso.
Elas são monitoradas pelo terapeuta e pelo paciente, que devem
verificar a sua eficácia e a sua adequação.

Essas são classificadas em dois tipos: técnicas cognitivas e técnicas


comportamentais. As técnicas cognitivas são aquelas que visam
modificar as cognições disfuncionais relacionadas ao uso de drogas,
como as crenças centrais, as crenças intermediárias e os pensamentos
automáticos. Consistem em identificar, avaliar e reestruturar essas
cognições, substituindo-as por cognições mais realistas ou racionais.
As técnicas cognitivas incluem o registro de pensamentos
disfuncionais, a análise de evidências, a reestruturação cognitiva, a
resolução de problemas, a tomada de decisão e a prevenção de
recaídas.

Capitulo 3
As técnicas comportamentais são aquelas que visam modificar os
comportamentos relacionados ao uso de drogas e suas
consequências, bem como desenvolver comportamentos alternativos
e adaptativos. Elas consistem em reduzir ou eliminar os estímulos
ambientais que desencadeiam o uso de drogas e as consequências
que o reforçam ou o punem, além de aumentar os estímulos
ambientais que favorecem a abstinência e as consequências que a
reforçam ou a premiam. O paciente aprende sobre habilidades sociais,
emocionais e de enfrentamento que ajudam a lidar com as situações
de risco, estresse ou tentação para o uso de drogas. É feito
monitoramento do uso de drogas, o manejo de contingências, a
exposição aos estímulos condicionados, a dessensibilização
sistemática, o treinamento de habilidades, o relaxamento e a
atividade física.

As estratégias e ferramentas são fundamentais para a eficácia do


tratamento da TCC na dependência química. Elas permitem ao
paciente modificar as suas cognições e os seus comportamentos que
mantêm o uso de drogas e que interferem na sua qualidade de vida. O
paciente desenvolve novas cognições e novos comportamentos que
favorecem a abstinência e que melhoram a sua saúde física, mental,
familiar, social e profissional. Além disso, elas permitem ao paciente
adquirir novas habilidades e estratégias que o ajudam a enfrentar os
desafios e as dificuldades que surgem ao longo do processo de
mudança.

A avaliação do progresso e do resultado

A avaliação do progresso e do resultado é a última etapa do processo


terapêutico da TCC na dependência química. É uma verificação
sistemática e periódica dos efeitos do tratamento sobre o paciente,
com o objetivo de medir o seu grau de melhora ou piora em relação
ao seu estado inicial.

Capitulo 3
É feita a aplicação de instrumentos padronizados de avaliação, como
escalas, questionários e testes, que permitem quantificar e qualificar
as mudanças ocorridas no paciente em relação ao seu padrão de uso
de drogas, ao seu nível de motivação para mudar, ao seu estágio de
mudança de comportamento, à sua autoeficácia para resistir ao uso
de drogas, à sua presença de crenças disfuncionais sobre o uso de
drogas, entre outros aspectos relevantes.

Esta etapa é fundamental para o encerramento e o seguimento do


tratamento da TCC na dependência química, porque o terapeuta
pode verificar se as metas terapêuticas foram alcançadas ou não pelo
paciente e se o tratamento foi eficaz ou não para ele. Ela também
permite ao terapeuta identificar os pontos positivos e negativos do
tratamento e fornecer um feedback ao paciente sobre o seu
desempenho e o seu resultado. O terapeuta poderá planejar as
próximas etapas do tratamento, como a alta terapêutica, a
manutenção ou a continuidade do tratamento, dependendo da
situação do paciente.

Segundo Miriam Lessa Borchio (2012,p,19) . Na base da motivação sempre


existe uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade
ou uma predisposição para agir . Na motivação, está também incluído o
ambiente que estimula o organismo e que oferece o objeto de satisfação.

Capítulo 3
04
AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DA TCC NA
DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Neste capítulo, vamos analisar as evidências científicas que


sustentam a eficácia da terapia cognitivo comportamental (TCC) na
dependência química. Vamos comparar a TCC com outras
abordagens psicoterápicas na dependência química, como a terapia
motivacional, a terapia comportamental dialética, a terapia de
aceitação e compromisso, entre outras. Vamos também comparar a
TCC com as intervenções farmacológicas na dependência química,
como os medicamentos para reduzir o desejo, os sintomas de
abstinência, os efeitos adversos ou os riscos de overdose das drogas.
Por fim, vamos discutir as vantagens e desvantagens da TCC em
relação às outras modalidades de tratamento na dependência
química.

Capítulo 4
As evidências científicas da TCC na dependência química

A TCC na dependência química é uma abordagem psicológica


baseada em evidências científicas, ou seja, que tem o seu fundamento
e a sua eficácia comprovados por estudos científicos de qualidade.
Esses estudos podem ser classificados em dois tipos: estudos de caso
clínico e estudos experimentais controlados.

Os estudos de caso clínico são aqueles que descrevem a aplicação da


TCC em um ou mais pacientes com dependência química, relatando
os seus dados demográficos, clínicos e terapêuticos, bem como os
seus resultados e conclusões. Esses têm a vantagem de ilustrar a
prática clínica na dependência química, mostrando como ela é
adaptada às características e necessidades de cada paciente. Eles
também têm a vantagem de fornecer informações detalhadas sobre o
processo terapêutico neste contexto, mostrando como ela é
conduzida pelo terapeuta e vivenciada pelo paciente. No entanto,
esses estudos têm a desvantagem de ter uma baixa generalização dos
seus achados, pois não permitem comparações da TCC com outras
intervenções ou com grupos controle. Eles também têm a
desvantagem de ter uma baixa validade interna dos seus resultados,
pois não controlam as variáveis confundidoras ou os vieses que
podem influenciar o tratamento ou a avaliação.

Os estudos experimentais controlados são aqueles que comparam a


TCC com outras intervenções ou com grupos controle em uma
amostra de pacientes com dependência química, utilizando métodos
rigorosos de seleção, randomização, cegamento e análise estatística.

Esses trazem a vantagem de testar a eficácia da TCC na dependência


química, mostrando se ela é superior ou equivalente às outras
intervenções ou aos grupos controle.

Capitulo 4
Esses estudos permitem verificar a efetividade da TCC na
dependência química, mostrando se é aplicável e aceitável em
diferentes contextos e populações. No entanto, têm a desvantagem
de simplificar a complexidade clínica da dependência química, pois
eles tendem a padronizar os critérios de inclusão e exclusão dos
pacientes, as características e a duração do tratamento e os
instrumentos e medidas de avaliação. Eles também têm a
desvantagem de reduzir a especificidade clínica da terapia, pois
tendem a ignorar as diferenças individuais dos pacientes, as
preferências dos terapeutas e as interações entre as variáveis
envolvidas no tratamento.

Apesar das limitações dos estudos de caso clínico e dos estudos


experimentais controlados, ambos contribuem para o avanço do
conhecimento científico sobre a TCC na dependência química. A
revisão sistemática desses estudos permite sintetizar as evidências
disponíveis sobre a TCC na dependência química e avaliar o seu nível
de confiança e relevância. A meta-análise desses estudos permite
combinar os dados quantitativos dos mesmos e estimar o tamanho do
efeito da TCC na dependência química. A partir dessas análises, é
possível afirmar que a TCC na dependência química é uma
intervenção psicológica eficaz e efetiva, que apresenta resultados
positivos e consistentes em diferentes tipos de drogas, populações e
contextos.

A TCC na dependência química demonstra ser capaz de reduzir o


consumo e a dependência de drogas, aumentar a motivação e a
autoeficácia para mudar, modificar as cognições e os
comportamentos disfuncionais relacionados ao uso de drogas,
melhorar o funcionamento psicológico e social dos pacientes, prevenir
e manejar as situações de recaída, entre outros benefícios. A TCC na
dependência química também apresenta uma boa aceitação e
adesão dos pacientes, uma boa relação custo-benefício e uma boa
sustentabilidade dos seus efeitos a longo prazo.

Capitulo 4
A comparação da TCC com outras abordagens psicoterápicas
na dependência química

A TCC não é a única abordagem psicoterápica disponível para o


tratamento da dependência química. Existem outras abordagens que
também se baseiam em princípios teóricos e empíricos para
compreender e intervir no problema do uso de drogas. Algumas
dessas abordagens são: a terapia motivacional, a terapia
comportamental dialética, a terapia de aceitação e compromisso,
entre outras. Cada uma dessas abordagens tem as suas características,
vantagens e desvantagens, que devem ser consideradas na hora de
escolher a melhor intervenção para cada paciente.

A terapia motivacional é uma abordagem centrada no cliente, que


visa aumentar a motivação para mudar o comportamento
problemático, por meio da exploração e resolução da ambivalência.

A terapia motivacional se baseia no modelo transteórico de mudança


de comportamento, que propõe que as pessoas passam por diferentes
estágios no processo de mudança: pré-contemplação, contemplação,
preparação, ação, manutenção e término. Essa, por sua vez, utiliza
técnicas como a escuta reflexiva, o questionamento aberto, a
afirmação positiva, o resumo e o feedback eliciador. Sua vantagem é
ser breve, flexível e compatível com outras intervenções. A terapia
respeita a autonomia e a responsabilidade do cliente pela sua própria
mudança. No entanto, ela tem a desvantagem de depender da
cooperação e da sinceridade do cliente. Outra desvantagem é que não
fornece orientações ou estratégias específicas para lidar com os
obstáculos ou dificuldades para a mudança.

A terapia comportamental dialética é uma abordagem integrativa,


que combina elementos da terapia cognitivo comportamental com
elementos da filosofia budista.

Capitulo 4
A terapia comportamental dialética visa ajudar as pessoas com
transtornos emocionais graves e crônicos, como o transtorno de
personalidade borderline, que muitas vezes apresentam comorbidade
com a dependência química. A terapia se baseia no conceito de
dialética, que propõe que a realidade é composta por opostos que se
complementam e se transformam. Usa técnicas como a validação, a
análise comportamental em cadeia, a exposição graduada, o
treinamento de habilidades e a consulta ao terapeuta.

Tem vantagem de promover o equilíbrio entre a aceitação e a


mudança do cliente. No entanto, ela tem a desvantagem de ser
complexa, exigente e demorada. Ela também tem a desvantagem de
requerer um alto nível de treinamento e supervisão do terapeuta.

Capitulo 4
A terapia de aceitação e compromisso é uma abordagem
contextualista, que faz parte da chamada terceira onda da terapia
cognitivo comportamental. Se baseia na teoria do comportamento
verbal relacional, que propõe que o sofrimento humano é causado
pela rigidez e pela fuga do contato com a experiência presente. Visa
aumentar a flexibilidade psicológica das pessoas que sofrem com
problemas emocionais ou comportamentais, como a dependência
química. Entre as tecnicas utilizadas, existem a desfusão cognitiva, a
aceitação experiencial, o mindfulness, o self como contexto, os valores
pessoais e a ação comprometida. A terapia de aceitação e
compromisso é simples, breve e aplicável a diversos problemas e
populações. Essa alternativa de tratamento também estimula o
cliente a viver de acordo com os seus valores e propósitos. Porém, ela
tem a desvantagem de ser contraintuitiva, paradoxal e desafiadora,
além de exigir uma mudança de paradigma do terapeuta e do cliente.

A comparação da TCC com outras abordagens psicoterápicas na


dependência química é importante para avaliar as semelhanças e as
diferenças entre elas, bem como os seus pontos fortes e fracos. Além
disso, é importante para integrar as diferentes abordagens em um
modelo mais abrangente e efetivo de tratamento da dependência
química. Para escolher a melhor intervenção, leva se em conta as
características, necessidades e preferências do paciente.

A comparação da TCC com as intervenções farmacológicas


na dependência química

Existem as intervenções farmacológicas para o tratamento da


dependência química , que consistem no uso de medicamentos para
tratar os aspectos biológicos do problema do uso de drogas.

Capitulo 4
Esses medicamentos podem ser classificados em quatro tipos:
agonistas, antagonistas, moduladores e adjuvantes. Os agonistas são
aqueles que mimetizam ou potencializam o efeito das drogas no
cérebro, como a metadona, a buprenorfina e a nicotina. Os
antagonistas são aqueles que bloqueiam ou reduzem o efeito das
drogas no cérebro, como a naltrexona, o naloxone e o dissulfiram. Os
moduladores são aqueles que alteram ou regulam o funcionamento
dos neurotransmissores envolvidos no uso de drogas, como os
antidepressivos, os ansiolíticos e os estabilizadores de humor. Os
adjuvantes são aqueles que tratam os sintomas ou as complicações
associados ao uso de drogas, como os analgésicos, os anti-
inflamatórios e os anticonvulsivantes.

As intervenções farmacológicas têm a vantagem de serem rápidas,


práticas e eficientes. Os medicamentos atuam diretamente sobre os
mecanismos neurobiológicos do uso de drogas, reduzindo o desejo, os
sintomas de abstinência, os efeitos adversos ou os riscos de overdose
das drogas. No entanto, elas têm a desvantagem de serem caras,
escassas e restritas. Elas apresentam efeitos colaterais, interações
medicamentosas, dependência física ou psicológica ou resistência
farmacológica e tambem não tratam os aspectos psicológicos ou
sociais do problema do uso de drogas, como as cognições, as
emoções, os comportamentos ou as relações interpessoais.

Fazer a comparação da TCC com as intervenções farmacológicas é


importante para avaliar os benefícios e os riscos de cada modalidade
de tratamento, bem como as suas indicações e contra indicações. A
escolha da melhor modalidade de tratamento para cada paciente
tambem, leva em conta o seu tipo de droga, o seu grau de
dependência química, o seu estado clínico geral e o seu
consentimento informado. E, como ocorre na comparação de
abordagens, ajuda a integrar as diferentes modalidades de
tratamento em um modelo mais abrangente e efetivo de tratamento
da dependência química.

Capitulo 4
As vantagens e desvantagens da TCC em relação às outras
modalidades de tratamento na dependência química

A TCC na dependência química é uma modalidade de tratamento que


apresenta diversas vantagens e desvantagens em relação às outras
modalidades de tratamento na dependência química.

Algumas dessas vantagens são:

- É uma modalidade de tratamento baseada em evidências, que tem o


seu fundamento e a sua eficácia comprovados por estudos científicos
de qualidade.
- É integrada e individualizada, leva em conta as características, as
necessidades e os objetivos de cada paciente.
- Envolve o paciente como um agente ativo e responsável pelo seu
processo de mudança.
- Se adapta às mudanças e aos desafios que ocorrem ao longo do
tratamento.
- Visa modificar as cognições e os comportamentos disfuncionais
relacionados ao uso de drogas, bem como desenvolver novas
cognições e novos comportamentos que favorecem a abstinência e a
melhora da qualidade de vida.
- Ensina habilidades e estratégias que ajudam o paciente a lidar com
as situações de risco, estresse ou tentação para o uso de drogas, bem
como prevenir e manejar as situações de recaída.

- Desvantagens:

- Requer um alto nível de habilidade e competência do terapeuta,


que deve dominar os princípios teóricos e empíricos da abordagem,
bem como as técnicas e ferramentas específicas para o tratamento da
dependência química.

Capitulo 4
- O paciente precisa estar motivado em relação ao tratamento e
trabalhar em conjunto com o terapeuta, que deve estar disposto a
participar ativamente do tratamento, realizar as tarefas de casa,
enfrentar as situações difíceis e mudar os seus padrões cognitivos e
comportamentais.
- Pode gerar resistência ou rejeição por parte do paciente, que pode
se sentir confrontado, criticado ou culpado pelo seu problema do uso
de drogas, ou que pode preferir outras formas de intervenção mais
passivas ou permissivas.
- Pode ser limitada ou insuficiente para alguns casos de dependência
química, que apresentam comorbidades psiquiátricas graves,
alterações neurológicas significativas ou fatores sociais adversos.

As vantagens e desvantagens da TCC em relação às outras


modalidades de tratamento na dependência química devem ser
consideradas na hora de indicar, planejar e conduzir o tratamento da
dependência química. Elas devem ser ponderadas em função das
características, necessidades e preferências de cada paciente. Elas
também devem ser comunicadas ao paciente, para que ele possa
tomar uma decisão informada e consciente sobre o seu tratamento.

Capítulo 4
05
OS DESAFIOS E LIMITAÇÕES DA TCC
NA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Neste capítulo, abordaremos os desafios e limitações da terapia


cognitivo comportamental (TCC) na dependência química,
tanto do ponto de vista teórico quanto prático. Vamos
identificar as dificuldades e resistências que podem surgir
durante o tratamento da TCC na dependência química, tanto
por parte do paciente quanto do terapeuta. Vamos também
discutir como lidar com as situações de recaída, abandono ou
insucesso terapêutico na TCC na dependência química. Por fim,
exploraremos as possibilidades de integração da TCC com
outras modalidades de tratamento na dependência química,
como os grupos de autoajuda, os programas de redução de
danos, os serviços de saúde mental, entre outros.

Capítulo 5
Os desafios e limitações da TCC na dependência química

A TCC na dependência química é uma modalidade de tratamento


que apresenta diversos desafios e limitações, que devem ser
reconhecidos e superados para garantir a sua eficácia e efetividade.
Alguns desses desafios e limitações são:

- Desafios teóricos: são aqueles relacionados ao embasamento


teórico da TCC na dependência química, que envolve conceitos,
modelos e evidências científicas. Alguns desses desafios são:

- A complexidade e a heterogeneidade da dependência química,


que requer uma compreensão multidimensional e integrada do
problema, levando em conta os fatores biológicos, psicológicos e
sociais envolvidos.
- A diversidade e a especificidade dos tipos de drogas, das formas de
uso, dos padrões de consumo, dos efeitos agudos e crônicos, das
consequências clínicas e sociais, das comorbidades psiquiátricas e
das características individuais dos dependentes químicos.
- A escassez e a inconsistência das evidências científicas sobre a
TCC na dependência química, que limitam a sua validade externa e
interna, bem como a sua generalização e replicação em diferentes
contextos e populações.
- A necessidade de atualização e aprimoramento contínuos da TCC
na dependência química, que demandam uma revisão crítica e uma
incorporação constante dos novos conhecimentos teóricos e
empíricos sobre o tema.

- Desafios práticos: são aqueles relacionados à aplicação prática da


TCC na dependência química, que envolve métodos, técnicas e
ferramentas terapêuticas. Alguns desses desafios são:

- A dificuldade de acesso e adesão ao tratamento da TCC na


dependência química, que pode ser influenciada por fatores como a
disponibilidade, o custo, a qualidade, a confidencialidade e a
aceitabilidade dos serviços de saúde mental.

Capítulo 5
- A dificuldade de engajamento e colaboração no tratamento da TCC
na dependência química, que pode ser influenciada por fatores como
a motivação, a expectativa, a confiança, a responsabilidade e a
autonomia do paciente.
- A dificuldade de implementação e monitoramento do tratamento
da TCC na dependência química, que pode ser influenciada por
fatores como a habilidade, a competência, a supervisão e a ética do
terapeuta.
- A dificuldade de avaliação e feedback do tratamento da TCC na
dependência química, que pode ser influenciada por fatores como a
validade, a confiabilidade, a sensibilidade e a utilidade dos
instrumentos e medidas de avaliação.

Os desafios e limitações da TCC na dependência química devem ser


considerados como oportunidades de aprendizado e crescimento
profissional para o terapeuta. Eles devem ser enfrentados com
criatividade, flexibilidade e humildade pelo terapeuta. Eles também
devem ser compartilhados com o paciente, para que ele possa
compreender as dificuldades e as possibilidades do seu tratamento.

As dificuldades e resistências no tratamento da TCC na


dependência química

O tratamento da TCC na dependência química pode envolver diversas


dificuldades e resistências, que podem surgir durante o processo
terapêutico, tanto por parte do paciente quanto do terapeuta. Essas
dificuldades e resistências podem interferir na aliança terapêutica, na
consecução das metas terapêuticas, na aplicação das técnicas e
ferramentas terapêuticas e na manutenção dos resultados
terapêuticos. Algumas dessas dificuldades e resistências são:

- Dificuldades e resistências do paciente: são aquelas relacionadas ao


paciente, que podem afetar a sua participação e o seu desempenho
no tratamento da TCC na dependência química.

Capítulo 5
Algumas dessas dificuldades e resistências são:
- A ambivalência do paciente, que se caracteriza pela presença de
sentimentos, pensamentos ou comportamentos contraditórios em
relação ao uso de drogas e à mudança de comportamento. O paciente
pode oscilar entre o desejo de continuar usando drogas e o desejo de
parar de usar drogas, entre a percepção dos benefícios e dos prejuízos
do uso de drogas, entre a confiança e a dúvida sobre a sua capacidade
de mudar.

- A negação do paciente, que se caracteriza pela recusa ou


minimização da existência ou da gravidade do problema do uso de
drogas. O paciente pode negar que usa drogas, que é dependente
químico, que precisa de tratamento, que tem consequências
negativas pelo uso de drogas, que tem responsabilidade pelo seu
problema.

- A racionalização do paciente, que se caracteriza pela justificativa ou


atribuição de causas externas para o problema do uso de drogas. O
paciente pode racionalizar que usa drogas por motivos válidos, como
alívio da dor, diversão ou curiosidade, que é influenciado por fatores
fora do seu controle, como genética, estresse ou ambiente, que não
tem culpa pelo seu problema.

- A manipulação do paciente, que se caracteriza pela tentativa de


enganar ou influenciar o terapeuta ou outras pessoas para obter
vantagens ou evitar desvantagens relacionadas ao uso de drogas. O
paciente pode manipular o terapeuta ou outras pessoas para
conseguir drogas, dinheiro ou favores, para escapar de críticas,
conflitos ou responsabilidades, para obter atenção, simpatia ou
perdão.

Capítulo 5
Dificuldades e Resistências do Terapeuta:

São aquelas relacionadas ao terapeuta, que podem afetar a sua


atuação e o seu resultado no tratamento da TCC na dependência
química. Destacamos entre essas:

- A contradição do terapeuta, que se caracteriza pela incoerência


entre o discurso e a prática do terapeuta em relação ao uso de drogas
e à mudança de comportamento. O terapeuta pode contradizer-se ao
pregar uma coisa e fazer outra, ao adotar uma postura diferente da
que recomenda ao paciente, ao violar os princípios éticos ou
profissionais da sua atuação.

- A frustração do terapeuta, que se caracteriza pelo sentimento de


insatisfação ou decepção com o tratamento da TCC na dependência
química. O terapeuta pode frustrar-se ao não atingir as suas
expectativas ou as do paciente em relação ao tratamento, ao não
obter os resultados esperados ou desejados com o tratamento, ao não
receber o reconhecimento ou a valorização pelo seu trabalho.

- A impotência do terapeuta, que se caracteriza pelo sentimento de


incapacidade ou ineficácia para tratar o problema do uso de drogas. O
terapeuta pode sentir-se impotente ao não saber como lidar com as
dificuldades ou resistências do paciente ou do tratamento, ao não
dispor dos recursos ou das condições necessárias para o tratamento,
ao não conseguir ajudar ou mudar o paciente.

- A identificação do terapeuta, que se caracteriza pela projeção ou


transferência de aspectos pessoais ou profissionais do terapeuta para
o paciente ou para o tratamento.

Capítulo 5
O terapeuta pode identificar-se com o paciente ou com o tratamento
ao estabelecer uma relação excessivamente próxima ou distante com
o paciente, ao envolver-se emocionalmente ou pessoalmente com o
paciente, ao atribuir ao paciente ou ao tratamento características ou
expectativas próprias do terapeuta.

As dificuldades e resistências no tratamento da TCC na dependência


química devem ser reconhecidas e enfrentadas pelo terapeuta e pelo
paciente, para que não comprometam o andamento e o resultado do
tratamento. Elas devem ser compreendidas como parte do processo
terapêutico, que envolve desafios, conflitos e mudanças. Elas devem
ser trabalhadas com empatia, respeito e honestidade pelo terapeuta e
pelo paciente. Elas também devem ser utilizadas como
oportunidades de aprendizado e crescimento pessoal e profissional
para o terapeuta e para o paciente.

Capítulo 5
Como lidar com as situações de recaída, abandono ou
insucesso terapêutico na TCC na dependência química

O tratamento da TCC na dependência química pode envolver


situações de recaída, abandono ou insucesso terapêutico, que podem
ocorrer durante ou após o tratamento. Essas situações podem ser
definidas da seguinte forma:

- Recaída: é a retomada do uso de drogas após um período de


abstinência ou redução do consumo. A recaída pode ser classificada
em três tipos: recaída experimental, recaída ocasional ou recaída
crônica. A recaída experimental é aquela que ocorre uma única vez ou
poucas vezes, sem comprometer o tratamento ou a abstinência.

A recaída ocasional é aquela que ocorre algumas vezes, mas com


intervalos regulares entre os episódios de uso, sem comprometer
totalmente o tratamento ou a abstinência. A recaída crônica é aquela
que ocorre frequentemente, sem intervalos significativos entre os
episódios de uso, comprometendo totalmente o tratamento ou a
abstinência.

- Abandono: é a interrupção precoce ou não planejada do tratamento


da TCC na dependência química. O abandono pode ser classificado
em dois tipos: abandono voluntário ou abandono involuntário. O
abandono voluntário é aquele que ocorre por decisão do paciente,
que desiste do tratamento por motivos pessoais, profissionais ou
sociais. O abandono involuntário é aquele que ocorre por motivos
alheios à vontade do paciente, como mudança de endereço, perda de
contato, internação hospitalar, prisão ou morte.

- Insucesso terapêutico: é a ausência ou a insuficiência de melhora ou


mudança no problema do uso de drogas após o término do
tratamento da TCC na dependência química. O insucesso terapêutico
pode ser classificado em dois tipos: insucesso absoluto ou insucesso
relativo.

Capítulo 5
O insucesso absoluto é aquele que ocorre quando o paciente não
atinge nenhuma das metas terapêuticas estabelecidas no início do
tratamento, mantendo-se no mesmo estágio de dependência
química. O insucesso relativo é aquele que ocorre quando o paciente
atinge apenas algumas das metas terapêuticas estabelecidas no início
do tratamento, avançando parcialmente no estágio de dependência
química.

As situações de recaída, abandono ou insucesso terapêutico na TCC na


dependência química devem ser evitadas ou minimizadas pelo
terapeuta e pelo paciente, para que não prejudiquem o tratamento ou
a recuperação do paciente.

Elas devem ser prevenidas por meio de estratégias como a motivação


contínua, o monitoramento constante, o manejo de contingências, a
prevenção de recaídas e o seguimento pós-alta. Elas devem ser
manejadas por meio de estratégias como a identificação e análise dos
fatores precipitantes e mantenedores das situações, a reavaliação e
reformulação das metas terapêuticas, a retomada ou continuidade do
tratamento e o apoio emocional e social ao paciente.

As situações de recaída, abandono ou insucesso terapêutico na TCC na


dependência química não devem ser vistas como fracassos ou
derrotas, mas como dificuldades ou obstáculos que podem ser
superados pelo terapeuta e pelo paciente. Elas devem ser encaradas
com realismo, otimismo e perseverança pelo terapeuta e pelo
paciente. Elas também devem ser aproveitadas como oportunidades
de revisão e correção do tratamento, bem como de reforço e
consolidação da mudança.

Segundo Dr. José Riva Junior ( 2022 ,p .1) . A depressão é um dos impactos
mais graves do uso de drogas na saúde mental . Substâncias como
álcool, opioides e anfetaminas podem desencadear ou agravar sintomas
depressivos.

Capítulo 5
As possibilidades de integração da TCC com outras
modalidades de tratamento na dependência química

A TCC na dependência química é uma modalidade de tratamento que


pode ser integrada com outras modalidades de tratamento na
dependência química, visando ampliar o seu alcance e a sua
efetividade. Algumas dessas modalidades de tratamento são: os
grupos de autoajuda, os programas de redução de danos, os serviços
de saúde mental, entre outros. Cada uma dessas modalidades de
tratamento tem as suas características, vantagens e desvantagens,
que devem ser consideradas na hora de integrá-las com a TCC na
dependência química. Algumas dessas modalidades de tratamento
são:

- Grupos de autoajuda: são grupos formados por pessoas que


compartilham o mesmo problema do uso de drogas e que se apoiam
mutuamente para superá-lo. Os grupos de autoajuda se baseiam em
princípios como a espiritualidade, a honestidade, a responsabilidade e
a solidariedade. Os grupos de autoajuda utilizam métodos como os 12
passos, as 12 tradições, as reuniões, os depoimentos e o padrinho ou
madrinha. Os grupos de autoajuda têm a vantagem de serem
gratuitos, acessíveis e disponíveis. Eles também têm a vantagem de
promover a identificação, a empatia e o suporte entre os
participantes. No entanto, eles têm a desvantagem de não serem
profissionais, regulamentados ou supervisionados. Eles também têm a
desvantagem de apresentarem dogmas, preconceitos ou conflitos
entre os participantes.

Capítulo 5
- Programas de redução de danos: são programas que visam
minimizar os riscos e os danos associados ao uso de drogas, sem
necessariamente exigir a abstinência ou a mudança de
comportamento.

Esses programas se baseiam em princípios como o pragmatismo, o


humanismo e o respeito. Utilizam métodos como a troca de seringas,
a distribuição de preservativos, a orientação sobre sexo seguro, a
testagem para HIV e hepatites, a vacinação para hepatites, a
administração de naloxona para overdose, entre outros. Os programas
de redução de danos têm a vantagem de serem inclusivos,
acolhedores e protetores. Eles também têm a vantagem de prevenir
ou tratar as infecções, as lesões ou as mortes relacionadas ao uso de
drogas. No entanto, eles têm a desvantagem de não tratarem o
problema do uso de drogas em si, mas apenas as suas consequências.
Eles também têm a desvantagem de enfrentarem resistências ou
críticas por parte da sociedade, da política ou da religião.

- Serviços de saúde mental: são serviços que oferecem atendimento


especializado para as pessoas que sofrem com problemas
psicológicos ou psiquiátricos associados ao uso de drogas. Baseiam-se
em princípios como a ciência, a ética e a qualidade. Os serviços
utilizam métodos como o diagnóstico clínico, o tratamento
farmacológico, o tratamento psicoterápico, o tratamento psicossocial,
entre outros e têm a vantagem de serem profissionais, qualificados e
regulados. Eles também têm a vantagem de oferecerem um
atendimento integral, multidisciplinar e multiprofissional para as
pessoas com dependência química. No entanto, contam com a
desvantagem de serem escassos, caros e burocráticos e também têm
de apresentarem filas de espera, demora no atendimento, falta de
continuidade ou de integração dos serviços.

Capítulo 5
A integração da TCC com outras modalidades de tratamento na
dependência química é importante para ampliar o espectro de
intervenções disponíveis para o paciente, bem como para
potencializar os seus efeitos. É importante também para atender às
demandas e preferências de cada paciente, bem como para respeitar
a sua autonomia e liberdade de escolha.
Promovem uma abordagem mais holística e humanizada do
problema do uso de drogas, que considera os seus aspectos
biológicos, psicológicos e sociais.

No final deste livro, vamos fazer uma síntese dos principais conceitos,
princípios e técnicas da TCC na dependência química. Vamos
também apresentar algumas sugestões de leitura complementar,
bem como algumas referências bibliográficas que embasaram este
trabalho. Esperamos que este livro tenha sido útil e esclarecedor para
você, e que possa contribuir para a sua formação e atuação
profissional na área da dependência química. Agradecemos a sua
atenção e interesse, e desejamos-lhe sucesso e felicidade em sua
jornada.

Capítulo 5
CONCLUSÃO

Neste livro, apresentamos os principais conceitos, princípios e técnicas


da terapia cognitivo comportamental (TCC) na dependência química.
O objetivo deste livro foi oferecer uma visão geral e atualizada da TCC
na dependência química, tanto do ponto de vista teórico quanto
prático, para os profissionais, estudantes e interessados na área.

A mensagem central que se quer transmitir aos leitores é que a TCC na


dependência química é uma modalidade de tratamento psicológico
baseada em evidências, que visa compreender e modificar as
cognições e os comportamentos disfuncionais relacionados ao uso de
drogas, bem como desenvolver novas cognições e novos
comportamentos que favoreçam a abstinência e a melhora da
qualidade de vida. A TCC na dependência química é uma modalidade
de tratamento integrada e individualizada, que leva em conta as
características, as necessidades e os objetivos de cada paciente. A TCC
na dependência química é uma modalidade de tratamento
colaborativa e participativa, que envolve o paciente como um agente
ativo e responsável pelo seu processo de mudança.

A TCC na dependência química é uma modalidade de tratamento


flexível e dinâmica, que se adapta às mudanças e aos desafios que
ocorrem ao longo do tratamento.

Conclusão
A importância da TCC na compreensão e no tratamento da
dependência química é grande, tanto para os profissionais quanto
para os pacientes e seus familiares. Para os profissionais, a TCC na
dependência química oferece um modelo teórico e empírico
consistente e atualizado para entender o problema do uso de
drogas, bem como um conjunto de técnicas e ferramentas eficazes
e efetivas para intervir no problema do uso de drogas.

Para os pacientes, a TCC na dependência química oferece uma


oportunidade de mudança e recuperação, que lhes permite reduzir
ou cessar o uso de drogas, modificar as suas crenças e
comportamentos disfuncionais, desenvolver novas habilidades e
estratégias para lidar com as situações de risco, estresse ou
tentação para o uso de drogas, melhorar o seu funcionamento
psicológico e social, prevenir e manejar as situações de recaída,
entre outros benefícios. Para os familiares, a TCC na dependência
química oferece um apoio e uma orientação, que lhes permite
compreender melhor o problema do uso de drogas, bem como
participar ativamente do tratamento do paciente, fornecendo-lhe
suporte emocional e social, incentivando-o a persistir no
tratamento, ajudando-o a enfrentar as dificuldades ou obstáculos
para a mudança.

As direções para futuras pesquisas e práticas clínicas na área da TCC


na dependência química são diversas e promissoras. Algumas
dessas direções são:

- Aumentar a quantidade e a qualidade dos estudos científicos


sobre a TCC na dependência química, utilizando métodos rigorosos
de seleção, randomização, cegamento e análise estatística.
- Ampliar o escopo e a diversidade dos estudos científicos sobre a
TCC na dependência química, abrangendo diferentes tipos de
drogas, populações e contextos.

Conclusão
- Comparar a eficácia e a efetividade da TCC com outras
modalidades de tratamento na dependência química, tanto
psicológicas quanto farmacológicas
- Integrar a TCC com outras modalidades de tratamento na
dependência química, visando potencializar os seus efeitos e
atender às demandas e preferências dos pacientes.
- Desenvolver novos modelos teóricos e empíricos que expliquem
melhor o problema do uso de drogas, bem como novas técnicas e
ferramentas que intervenham melhor no problema do uso de
drogas.
- Aperfeiçoar a formação e a supervisão dos profissionais que
atuam na área da TCC na dependência química, garantindo a sua
qualificação e competência para o exercício da sua atividade.

Esperamos que este livro tenha sido útil e esclarecedor para você,
caro leitor. Agradecemos a sua atenção e interesse pelo tema.
Desejamos-lhe sucesso e felicidade em sua jornada profissional ou
pessoal na área da dependência química.

Até a próxima!

Conclusão
Bibliografia
- VARGAS, D. et al. Fatores de risco e proteção para o uso de drogas
na adolescência. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 29, n. 3, p. 317-324,
2013.

- UNODC. Relatório Mundial sobre Drogas 2021. Disponível em:


https://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/world-drug-
report-2023.html

- SANTOS, M. A. M. C. Dependência química: terapia cognitiva


comportamental (TCC) como estratégia de intervenção. Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 6, n. 11, p. 176-
189, 2021.

- BORCHIO, M. L. Processo motivacional na dependência química: o


que motiva o dependente químico às mudanças? Monografia
(Especialização em Psicoterapias Cognitivas) - Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2012.

- Clínica de Reabilitação em São Paulo SP. TCC e Dependência


Química. Disponível em:
https://www.clinicadereabilitacaosp.com.br/blog/dependencia-
quimica/tcc-e-dependencia-quimica/507

- Encontre Clínicas. Terapia cognitiva comportamental na


dependência química. Disponível em:
https://encontreclinicas.com.br/terapia-cognitiva-comportamental-
na-dependencia-quimica/

- Uniarp. Dependência química: a importância da família no


tratamento do dependente químico. Disponível em:
https://acervo.uniarp.edu.br/wp-content/uploads/tccs-
graduacao/Dependencia-quimica-a-importancia-da-familia-no-
tratamento-do-dependente.-Dileta-Schaitel.-2017-1.pdf

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