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Universidade Lusíada de Lisboa

Licenciatura em Psicologia

Intervenção Psicológica Na Cessação Tabágica/Combate ao Tabagismo

Beatriz Duarte (nº11025620), Gustavo Batista (nº11043020)

Psicologia da Saúde

Prof. ª Rita Antunes

Ano Letivo2022/2023
Introdução

O consumo de tabaco mata cerca de 8 milhões de pessoas em todo o mundo a

cada ano e, por isso, é um dos problemas mais importantes de saúde pública devido

aos fatores de risco que tem para a mesma e ao risco de doenças que dele advém,

tais como a probabilidade de virmos a sofrer vários tipos de cancro ou acidentes

vasculares cerebrais (AVC’s). Tem uma componente de dependência fisiológica

associada ao consumo, mas também variáveis psicossociais (dependência

psicológica) que mantém o comportamento e reforçam-no. Por isso, tem-se verificado

um aumento do número de estratégias, farmacológicas, de substituição e psicológicas,

para fazer face a este problema.

A dependência fisiológica ocorre, pois, o tabaco contém a nicotina, uma das

muitas substâncias nocivas para a nossa saúde e a que cria maior dependência no

nosso organismo. A nicotina tem efeito no Sistema Nervoso Central, ao gerar a

libertação de neurotransmissores que estimulam a sensação de prazer (dopamina e

noradrenalina) e o nosso sistema de recompensa, responsáveis pelo efeito relaxante

do tabaco. Este efeito é muito forte, pois a nicotina atinge os recetores cerebrais muito

rápido, e quanto mais rápido se dá esta receção, maior é o potencial para a

dependência. Quando se usa continuadamente o tabaco, o nosso cérebro adapta-se à

nicotina, pelo que a mesma deixa de fazer efeito, o que faz com que haja necessidade

de consumir mais quantidade de modo a obter o efeito de relaxamento mencionado

anteriormente.

A dependência psicológica, por sua vez, funciona por condicionamento. Ou

seja, está relacionada aos hábitos criados com o ato de fumar. Por exemplo, quando

as pessoas fumam depois de beber café ou quando fumam nas pausas do trabalho.

Estes “rituais” associam-se ao hábito e acabam por ser “gatilhos” para a necessidade

de fumar. Por isto, mesmo que o organismo esteja livre de nicotina e os sintomas de

abstinência tenham passado, podemos sentir necessidade ou desejo de fumar nas


situações em que habitualmente o faríamos, o que acaba por dificultar a manutenção

da abstinência.

A distinção entre estes dois tipos de dependência ajuda-nos a perceber que

não basta deixar de fumar e de experimentar os sintomas de abstinência (sintomas

que dificultam a paragem e fazem com que o fumador recaia: irritabilidade, ansiedade,

dificuldade de concentração, aumento do apetite, inquietação, tristeza, insónia, entre

outros) para não ter recaídas. Para cessar com sucesso o consumo tabágico é

necessário que se altere rotinas e cognições. Esta tarefa implica motivação e apoio

psicológico.

Os sintomas de abstinência mencionados anteriormente correspondem ao

resultado da readaptação do organismo, que está a habituar-se a funcionar sem

nicotina. No entanto, mesmo depois da readaptação é possível que ocorram recaídas,

daí a importância dos fatores psicológicos e sociais que estão envolvidos na cessação

tabágica.

A dependência tabágica é uma doença crónica que implica tratamento e

aconselhamento adequado ao sujeito. Ao nível da psicologia, os psicólogos devem ser

chamados a agir na intervenção e prevenção do consumo tabágico no contexto da sua

prática profissional. Procura-se, enquanto psicólogos, responder à necessidade de

mudança das atitudes sociais face ao consumo tabágico, de mudanças ambientais e

de foco na mudança comportamental individual.

Procura-se investir na identificação precoce, nas campanhas de sensibilização

e nas estratégias de prevenção em diferentes níveis de modo a resolver o problema

de tabaco. Esta prevenção e identificação precoce do problema torna-se mais eficaz

do que as iniciativas de cessação tabágica. Alguns exemplos de intervenção

psicológica na prevenção do consumo tabágico são a prevenção baseada na escola e

na família; e as campanhas de sensibilização. Estas três estratégias, dentro da


intervenção para a prevenção, são as mais eficazes na prevenção do consumo de

tabaco.

Quando se intervém de modo a cessar o consumo tabágico, deve-se aplicar

uma combinação de intervenções comportamentais e farmacológicas. As primeiras

correspondem aos aspetos comportamentais da dependência; enquanto as segundas

dizem respeito aos aspetos fisiológicos da dependência. A intervenção psicológica é

de extrema importância, pois isoladamente produz maiores taxas de abstinência do

que a terapia farmacológica.

A Psicologia tem vindo a formar estratégias de cessação tabágica, bem como

formas de medir o que promove a mudança de comportamento neste âmbito. Foi

através da ciência psicológica que se obteve uma melhoria dos tratamentos clínicos e

das intervenções, tais como programas de autoajuda, linhas telefónicas e online de

cessação tabágica, campanhas de prevenção, tratamentos breves nos cuidados

primários e tratamentos para fumadores com outros problemas de saúde.

A intervenção psicológica no consumo tabágico envolve tratamentos baseados

em evidencias que podem ser aplicados em diferentes fases, entre elas a motivação, a

cessação, a manutenção e a recuperação de uma recaída. A motivação é trabalhada

quando os fumadores não estão motivados para fazer uma tentativa de cessação. A

cessação é alvo de intervenção quando os fumadores querem cessar o consumo. A

manutenção quando os fumadores cessaram o consumo de tabaco recentemente; e a

recuperação de uma recaída quando os fumadores tiveram uma recaída recente.

Existem intervenções baseadas em evidencias para a cessação tabágica, que

envolvem práticas psicológicas como a entrevista motivacional e o aconselhamento

psicológico, que pode ser realizado individualmente ou em grupo. Estas práticas serão

abordadas nas estratégias de promoção de saúde, que serão referidas mais adiante

no trabalho.
Para a realização deste trabalho foi utilizado um artigo cuja intervenção teve

como objetivo a cessação tabágica e o mesmo será analisado posteriormente.

Pretende-se com a sua análise, interpretar os resultados da intervenção realizada no

estudo e discutir sobre eles.

O artigo “Health smoking cessation intervention among high school students: 3-

month primary outcome findings from a randomized controlled trial” corresponde a um

estudo cujo objetivo foi determinar a eficácia de uma intervenção de cessação

tabágica baseada em texto entre estudantes do secundário na suécia. Intervenções

com base em texto (text-based interventions) referem-se a programas ou intervenções

que utilizam texto escrito, como mensagens de texto, e-mails, posts em redes sociais,

aplicações de mensagens, entre outros; para fornecer informações, apoio, tratamento

ou orientação para indivíduos que estão a enfrentar problemas de saúde mental ou

física.
Fatores/Causas e Consequências – Físicas, Psicológicas e Sociais

Causas/fatores físicos, sociais e psicológicos do consumo do tabaco

O consumo de tabaco pode ser motivado por uma variedade de fatores físicos,

psicológicos e sociais. Aqui estão alguns exemplos:

Causas físicas:

→ Dependência química: A nicotina presente no tabaco é uma substância

altamente viciante, e muitos fumadores tornam-se dependentes dela após

algum tempo.

→ Alívio do stresse: Algumas pessoas fumam para aliviar o stresse e a

ansiedade. A nicotina pode ajudar a acalmar os nervos e proporcionar uma

sensação de relaxamento.

→ Sensação de prazer: Algumas pessoas fumam porque acreditam que isso lhes

dá uma sensação de prazer ou satisfação. A nicotina libera dopamina no

cérebro, o que pode levar a uma sensação de bem-estar.

Causas psicológicas:

→ Pressão social: O consumo de tabaco muitas vezes é visto como um

comportamento socialmente aceitável em determinados grupos ou situações

sociais, o que pode levar as pessoas a fumar para se encaixar ou para evitar o

ostracismo social.

→ Tédio: Algumas pessoas fumam quando estão entediadas ou precisam de algo

para fazer com as mãos.

→ Autoimagem: Algumas pessoas podem fumar para melhorar sua autoimagem

ou autoestima, ou para parecer mais atraentes ou confiantes.


Causas sociais:

→ Publicidade: A publicidade de tabaco pode ser uma grande influência para que

as pessoas experimentem cigarros, especialmente se elas são expostas a ela

desde cedo.

→ Ambientes culturais: Em algumas culturas ou grupos sociais, o consumo de

tabaco é visto como parte da tradição ou do estilo de vida, o que pode levar as

pessoas a fumar para se encaixar ou se identificar com esses grupos.

→ Acesso fácil: A disponibilidade de cigarros e outros produtos de tabaco pode

ser uma causa importante do consumo, especialmente para jovens que estão

experimentando o tabaco pela primeira vez.

Consequências físicas, sociais e psicológicas do consumo do tabaco

Existem alguns malefícios psicológicos provocados pelo hábito de fumar. O

cigarro aumenta o nosso prazer, tornando urgente necessidade da nicotina desejada

pelo corpo (causada pela dopamina, como mencionado anteriormente). É normal

passarmos por dificuldades, stresse e ansiedade ao tentar deixar de fumar, mas

devemos procurar maneiras saudáveis de ultrapassar esses sentimentos negativos.

Fumadores tendem a ser mais extrovertidos, ansiosos, tensos, impulsivos e

com mais traços de neuroticismo e psicoticismo, em comparação a ex fumadores e

não fumadores. A literatura revela, ainda, forte associação entre tabagismo e

transtornos mentais, como esquizofrenia e depressão, entre outros. Algumas

consequências psicológicas são:

→ Dependência química: Como mencionado anteriormente, a nicotina é

altamente viciante e pode levar a dependência química.


→ Ansiedade e depressão: Embora algumas pessoas fumem para aliviar o

stresse, o tabagismo pode realmente piorar a ansiedade e a depressão a longo

prazo.

→ Problemas de concentração: O tabagismo pode afetar a concentração e a

memória, prejudicando a capacidade de aprender e executar tarefas

complexas.

Em média, os fumadores vivem menos dez anos do que os não fumadores. Isto

acontece porque as substâncias presentes no tabaco prejudicam alguns órgãos

importantes ao mesmo tempo que fragilizam o nosso organismo face a várias

doenças. Assim, algumas consequências físicas do tabagismo são:

→ Cancro: O tabagismo é a principal causa de cancro nos pulmões, mas também

pode causar cancro noutras partes do corpo, como na boca, na garganta, no

esófago e na bexiga. É responsável por 25 a 30% dos cancros. No caso do

cancro no pulmão é 90% responsável pelo seu aparecimento.

→ Problemas respiratórios: Fumar pode causar problemas respiratórios, como

bronquite crónica e enfisema, e piorar a asma. É responsável por 80% dos

casos de doença pulmonar obstrutiva crónica.

→ Doenças cardíacas e derrames: O tabagismo é um fator de risco importante

para doenças cardíacas e derrames, que são as principais causas de morte em

todo o mundo. É responsável por 20% das mortes por doença coronária. As

doenças cardiovasculares são 2-4 quatro vezes mais frequentes em

fumadores. Por isso, deixar de fumar é a forma mais eficaz de diminuir o risco

de enfarte do miocárdio, angina de peito, doença arterial periférica e acidente

vascular cerebral.
→ Problemas de saúde oral: O tabagismo pode causar mau hálito, manchas nos

dentes e gengivas inflamadas, e pode levar a doenças periodontais mais

graves.

→ Envelhecimento precoce: Fumar pode acelerar o processo de envelhecimento,

causando rugas e pele sem brilho.

Fatores físicos, psicológicos e sociais da cessação tabágica

A cessação tabágica pode ser motivada por diferentes fatores, incluindo:

→ Preocupação com a saúde: A preocupação com os efeitos nocivos do

tabagismo na saúde é uma das principais motivações para a cessação do

tabágica. As pessoas podem decidir parar de fumar depois de receberem um

diagnóstico de uma doença relacionada ao tabaco.

→ Pressão social: A pressão social também pode ser um fator motivador para a

cessação do tabagismo. As pessoas podem ser motivadas a parar de fumar

por influência de amigos, familiares ou colegas de trabalho que não fumam ou

que já abandonaram o hábito.

→ Custo financeiro: O custo financeiro do tabagismo pode ser um fator motivador

para a cessação tabágica. Os preços dos cigarros têm aumentado em muitos

países, e os fumadores podem perceber que parar de fumar pode ajudar a

economizar dinheiro.

→ Gravidez: As mulheres grávidas podem ser motivadas a parar de fumar para

proteger a saúde do feto e reduzir o risco de complicações durante a gravidez.

→ Melhoria da aparência física: Algumas pessoas podem decidir parar de fumar

para melhorar sua aparência física, pois o tabagismo pode causar rugas e pele

sem brilho.
→ Sensação de controle: A cessação do tabagismo pode dar às pessoas uma

sensação de controle sobre suas vidas e seu bem-estar, aumentando a

autoestima e a autoconfiança.

Em geral, a cessação tabágica pode ser motivada por uma combinação desses

fatores, e é importante lembrar que cada pessoa pode ter motivos pessoais diferentes

para decidir parar de fumar.

Consequências físicas sociais e psicológicas da cessação tabágica

A cessação tabágica pode ter diversas consequências físicas, sociais e

psicológicas, tanto positivas como negativas, dependendo do indivíduo e do tempo

que ele fumou.

Consequências físicas positivas:

→ Melhoria da capacidade respiratória: O fumo afeta a função pulmonar e a

cessação pode levar a uma melhoria significativa na capacidade respiratória.

→ Diminuição do risco de doenças cardiovasculares: Fumar aumenta o risco de

doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e derrame cerebral. A

cessação do tabagismo reduz esse risco.

→ Redução do risco de cancro: O tabagismo está associado a diversos tipos de

cancro, como o do pulmão, da boca, da garganta, do esófago e da bexiga.

Parar de fumar diminui significativamente o risco dessas doenças.

→ Melhoria do olfato e do paladar: O fumo afeta o olfato e o paladar. A cessação

tabágica pode levar a uma melhoria desses sentidos.

Consequências físicas negativas:

→ Ganho de peso: Muitas pessoas ganham peso após parar de fumar, o que

pode ser um fator desmotivador.


→ Sintomas de abstinência: A cessação tabágica pode levar a sintomas de

abstinência, como ansiedade, irritabilidade, depressão, insónia, entre outros.

→ Tosse e secreção: A cessação tabágica pode levar a uma tosse persistente e

aumento da produção de secreção nos pulmões.

Consequências sociais e psicológicas:

→ Maior qualidade de vida: Parar de fumar pode melhorar a qualidade de vida em

geral, reduzindo a dependência de um hábito que traz mais prejuízos do que

benefícios.

→ Melhoria da autoestima: A cessação tabágica pode levar a uma melhoria da

autoestima, principalmente quando o indivíduo sente que está a tomar uma

atitude positiva em relação à sua saúde.

→ Mudança no estilo de vida: A cessação tabágica pode levar a uma mudança no

estilo de vida, com mais atividades físicas, alimentação mais saudável, e

menos exposição a ambientes poluídos.

→ Dificuldades sociais: Para algumas pessoas, o fumar é uma atividade social, e

parar pode levar a dificuldades em relacionamentos e situações sociais.

Resumindo, a cessação tabágica tem diversas consequências físicas, sociais e

psicológicas, todas com quadro positivo. As consequências negativas relacionam-se

com alterações físicas e psicológicas que ocorrem após a cessação do consumo de

tabaco. Porém, os benefícios em termos de saúde e qualidade de vida geralmente

superam os desafios iniciais que possam surgir.


Estratégias de Promoção de Saúde e Modificação do Comportamento

As estratégias de promoção de saúde procuram alterar o comportamento do

sujeito, de modo que o mesmo adote comportamentos de saúde, que contribuam

positivamente para a evolução de uma doença, para um estilo de vida, qualidade de

vida ou prevenção de doenças.

No que se refere ao tabagismo, o fator mais importante a trabalhar de modo a

modificar o comportamento dos sujeitos é a motivação, pois será esta a condicionar a

adesão a tratamentos ou a procura dos mesmos.

Na cessação tabágica procura-se intervir de modo que os sujeitos evitem o

comportamento de fumar ou o interrompam. Há sujeitos que estão mais suscetíveis a

alterar o comportamento do que outros. Por exemplo, será mais fácil para um pai com

um filho com asma cessar o comportamento de fumar, do que um pai cujos filhos não

têm problemas nenhuns de saúde que possam ser prejudicados pelo fumo. A

motivação que cada pai, neste exemplo, possui é diferente. Uma motivação mais

interna irá alterar mais efetivamente o comportamento do que uma motivação mais

externa. Procura-se, pois, intervir com cada sujeito de maneira diferente, mas

direcionada para o mesmo, de modo a alterar significativamente o seu

comportamento.

A adoção de estratégias de promoção de saúde e a consequente modificação

do comportamento podem partir do sujeito. O sujeito fumador pode, por sua vontade,

procurar ajuda ou aderir a estratégias individuais que potenciem a sua saúde e a

adesão a comportamentos saudáveis, cessando o consumo tabágico. No entanto, a

cessação tabágica nutre mais efeito quando são adotadas intervenções psicológicas.

Nestas, o psicólogo tem um papel fundamental no comportamento do sujeito. As

estratégias mais utilizadas são a entrevista motivacional e o aconselhamento


psicológico. A motivação, como dito anteriormente, é a componente mais importante a

trabalhar para uma melhor alteração do comportamento.

O que o sujeito pode fazer

Deixar de fumar é a melhor decisão que uma pessoa fumadora pode tomar

para melhorar a sua saúde. Parar de fumar pode ser um desafio, mas existem várias

estratégias e recursos disponíveis para ajudar o sujeito a largar o hábito. Algumas

sugestões são:

→ Antes do dia "D" (primeiro Dia sem cigarros):

1. O sujeito deve fazer uma lista dos motivos que para o individuo justificam a sua

decisão de deixar de fumar. Pode ser porque pretende melhorar a sua saúde

ou não vir a ter problemas no futuro, porque se preocupa em dar um bom

exemplo aos seus filhos, para proteger a sua família e as outras pessoas…;

2. Identificar as situações em que habitualmente fuma, em que sente mais

vontade de fumar e como poderá lidar com elas;

3. Marcar uma data para deixar de fumar, o dia “D”;

4. Espalhar a notícia de que vai parar de fumar, comprometer-se com a decisão e

envolver os outros na sua decisão;

→ Até ao dia “D” o sujeito pode:

1. Reler a sua lista de motivos para deixar de fumar;

2. Procurar atrasar o primeiro cigarro da manhã;

3. Ir eliminando cigarros ao longo do dia e aumentado o intervalo entre eles;

4. Não fumar o cigarro até ao fim;

5. Alterar hábitos, evitar situações em que o sujeito sente vontade de fumar;


6. Mudar de marca de tabaco para outra que lhe agrade menos;

7. Não fumar em público;

8. Antes de pegar num novo cigarro pensar se precisa mesmo de o fumar.

→ No dia “D”, o sujeito deve parar mesmo de fumar, para isso pode:

1. Retirar todos os objetos relacionados com o consumo de tabaco de perto dele.

2. Quando sentir uma forte vontade de fumar, deve respirar profundamente,

controlar a respiração, aprender a relaxar. Pensar que esse desejo dura

apenas alguns minutos e que é capaz de resistir, porque à medida que o tempo

passa esse desejo vai diminuir.

3. Não pensar que nunca mais voltará a fumar, mas que hoje não vai fumar.

Manter pensamentos positivos e objetivos diários.

4. Aumentar o nível de atividade física. A atividade física, que pode ser uma

simples caminhada, ajudá-lo-á a sentir-se com melhor disposição.

5. Fazer uma alimentação saudável. Parar de fumar pode aumentar o apetite nas

primeiras semanas, compensar essa tendência com uma alimentação

equilibrada e fracionada ao longo do dia.

6. Diminuir a ingestão de café e álcool até se sentir mais liberto do desejo de

fumar. Substituir por chá ou infusões sem açúcar.

7. Evitar estar junto de outras pessoas que fumem e pedir aos amigos e colegas

que não fumem perto de si.

8. Evitar os momentos “perigosos”, aqueles em que habitualmente fumava e

utilizar as suas estratégias para lidar com essas situações.

9. Guardar num local visível o dinheiro que diariamente se poupa por não

comprar tabaco e utilizá-lo em algo que dê prazer.


A pessoa não precisa de fazer este percurso sozinho, pode pedir apoio ao seu

médico ou a outro profissional de saúde, ou procurar uma consulta de cessação

tabágica.

O papel do psicólogo

O papel do psicólogo na cessação tabágica é fundamental. Como foi referido

anteriormente, a entrevista motivacional e o aconselhamento psicológico são as duas

estratégias mais utilizadas em intervenção psicológica na cessação tabágica. O papel

do psicólogo é fundamental na aplicação destas intervenções. Dentro destas, as

diferentes intervenções utilizadas conforme a fase de motivação em que o sujeito se

encontra adequam-se melhor ao paciente, pois são direcionadas para cada sujeito

individualmente, tendo resultados mais significativos na alteração do comportamento.

Como referido no início do trabalho, existem formas de promover a saúde de

pessoas que podem estar suscetíveis ao consumo de tabaco, tais como a identificação

precoce de populações de risco, campanhas de sensibilização e estratégias de

prevenção em diferentes níveis. A prevenção e as intervenções psicológicas numa

fase inicial e precoce mostram-se bastante eficazes como forma de prevenir o

comportamento.

No entanto, numa fase mais avançada, em que as pessoas já se encontram a

fumar ativamente e com frequência, são necessárias intervenções ao nível da

cessação tabágica, nas quais o psicólogo tem um papel ativo na mudança de

comportamento e na adoção de comportamentos de saúde do paciente. Estas, de

modo a serem eficazes, precisam de combinar intervenções comportamentais com

intervenções farmacológicas.
Iremos mencionar então algumas das intervenções para a cessação tabágica,

entre as quais a entrevista motivacional e as intervenções comportamentais através do

aconselhamento psicológico. Estas intervenções podem ser individuais, em grupo ou

eletrónicas, através de linhas de apoio. Todas demonstraram aumentar as taxas de

abstinência.

A entrevista motivacional é uma estratégia colaborativa, em que o psicólogo

oferece ao paciente apoio, empatia e encorajamento de modo a aumentar a sua

motivação para a mudança comportamental. Existe respeito pela sua autonomia e

confrontam-se os comportamentos atuais do sujeito com os seus valores e objetivos

pessoais. Alguns exemplos podem ser poupar dinheiro, não prejudicar a saúde de

terceiros, ser saudável, entre outros. Os estudos já feitos nesta área comprovam que

estas entrevistas motivacionais aumentam a motivação dos clientes para deixar de

fumar e as tentativas de cessação tabágica.

O aconselhamento psicológico, no âmbito das intervenções comportamentais,

é o mais utilizado na cessação tabágica e recorre à promoção de competências de

resolução de problemas, tomada de decisão, estabelecimento de objetivos e

motivação, autoeficácia e relaxamento. Neste aconselhamento procura-se também

avaliar a história de dependência do tabaco, a identificação dos estímulos que levam

ao consumo e a educação acerca da utilização do tabaco, tais como:

→ O papel da nicotina

→ A utilização de produtos que substituem a nicotina

→ Os efeitos da cessação tabágica

→ Competências para lidar com o desejo de tabaco

Os clientes são ajudados a executar estratégias de coping cognitivas, tais

como o compromisso com a cessação tabágica, o pensamento distrativo, a conversa


interna positiva, o ensaio mental, entre outras; de modo a diminuir o risco de situações

e estados emocionais de alto risco para o consumo de tabaco. O aconselhamento

psicológico pode ocorrer no contexto da consulta psicológica e permite monitorizar

sintomas de abstinência comuns.

Múltiplos estudos têm demonstrado a efetividade destes dois tipos de

intervenção mencionados acima. Desde o aumento das taxas de abstinência devido

ao aconselhamento psicológico, como a procura por tratamentos mais direcionados

para a fase de motivação em que se encontra o sujeito, no caso da entrevista

motivacional.

Mais uma vez, o papel do psicólogo nestas duas estratégias de intervenção é

fundamental, pois é ele que vai dotar o sujeito de técnicas e estratégias que levem à

cessação tabágica.

Já sabemos que a motivação é uma componente chave da mudança

comportamental e, por isso, torna-se fundamental compreender a motivação do

fumador para parar de fumar. O psicólogo é necessário para ajudar o sujeito a

compreender em que estádio da motivação para a mudança se encontra e para

adaptar a sua intervenção a cada estádio. Existem cinco estádios de motivação para a

mudança, sendo eles:

→ Pré-contemplação: fase em que o fumador não tem intenção de deixar de

fumar e muitas vezes pode adotar uma postura defensiva. Isto pode ocorrer

devido à inconsciência das consequências negativas para a saúde,

desmotivação ou crenças negativas sobre a sua capacidade de modificar o seu

comportamento;
→ Contemplação: fase em que o fumador está numa posição ambivalente, pois

quer parar de fumar, mas tem dúvidas em relação aos prós e contras desse

ato, bem como da sua capacidade de autocontrolo;

→ Preparação: fase em que o fumador já fez tentativas para alterar o seu

comportamento a curto prazo e pode já ter tentado parar de fumar durante o

ano anterior;

→ Ação: fase na qual a pessoa já conseguiu parar de fumar manteve-se

abstinente durante pelo menos 6 meses;

→ Manutenção: fase em que o sujeito já parou de fumar há pelo menos 6 meses

e mantem esse comportamento.

Devido às diferenças entre os estágios, não faz sentido usar as mesmas

estratégias para todos os fumadores, pois o que irá funcionar para um fumador em

fase de manutenção, não irá funcionar para um fumador em fase de contemplação,

por exemplo.

Nas fases iniciais de motivação para a mudança, pré-contemplação e

contemplação, são necessárias intervenções que ajudem a criar dissonância em

relação ao comportamento de fumar. A técnica a utilizar nestas fases é, portanto, a

entrevista motivacional, pois com empatia e apoio procura-se aumentar a motivação

para a mudança através do confronto entre os comportamentos atuais e os valores e

objetivos pessoais do sujeito e reformulação de crenças relativas à autoeficácia da

pessoa. Ou seja, em que medida é que o sujeito acredita na sua capacidade para

alterar o seu comportamento e parar de fumar.

Nas fases de preparação e ação, o mais indicado são intervenções

comportamentais através do aconselhamento psicológico. Estas intervenções, como

referido anteriormente, procuram ajudar o fumador a estabelecer objetivos, construir

motivação para o processo, reconhecer situações e estados emocionais de risco,


desenvolver competências de resolução de problemas e tomada de decisão e

estratégias de relaxamento. Treinam-se também competências de coping cognitivo e

comportamental de modo a ajudar o sujeito a ultrapassar as situações de maior risco.

Por último, na fase de manutenção, o papel do psicólogo pode consistir no

auxílio à aquisição de competências de prevenção da recaída. Após uma eventual

recaída, o aconselhamento psicológico também pode ser importante, pois ajudará a

pessoa a enquadrar a recaída como uma fase do processo, com a quela pode

aprender e melhorar no futuro.

Estas intervenções podem ser realizadas individualmente ou em grupo, como

já fora referido. Os grupos têm a vantagem de proporcionar apoio social por parte das

pessoas que estão a passar pelas mesmas dificuldades. A intervenção em grupo é

importante, uma vez que a dependência tabágica é influenciada por fatores sociais,

que devem ser considerados ao longo da intervenção. Uma boa rede de suporte é um

fator facilitador neste processo uma vez que pode ajudar a pessoa a parar de fumar.

Portanto, percebemos que o psicólogo, através de diferentes técnicas, pode

ajudar o sujeito a manter a motivação para a cessação tabágica, reformular as suas

crenças sobre a utilização de tabaco, desenvolver estratégias para lidar com o craving

e prevenir uma recaída, tendo em consideração os fatores cognitivos, sociais e

comportamentais que estão envolvidos no consumo tabágico. Por isso, é fundamental

o papel do psicólogo na realização de estratégias e adesão a comportamentos de

saúde de modo a obter com sucesso a mudança de comportamento. Sem o psicólogo

o sujeito consegue fazer diversas tentativas de mudança de comportamento e até

cessar o consumo tabágico, mas através da intervenção psicológica existem mais

probabilidades de a cessação tabágica ser efetiva e durar a longo prazo, com melhor

superação dos sintomas de abstinência.


Estudo de Cessação Tabágica: Resultados Obtidos

Para a realização deste trabalho, foi selecionado um estudo clínico controlado

randomizado. O estudo aborda uma intervenção feita na cessação tabágica e é

direcionado a estudantes do ensino secundário.

O estudo, “Health smoking cessation intervention among high school students:

3-month primary outcome findings from a randomized controlled trial” tem como

objetivo determinar a eficácia de uma intervenção de cessação tabágica baseada em

texto entre estudantes do ensino secundário na suécia. A intervenção é uma text-

based intervention, isto é, uma intervenção em que foram utilizadas mensagens de

texto, emails, posts em redes sociais, aplicações de mensagens, entre outros, de

modo a fornecer informações de apoio, tratamento ou orientação para indivíduos que

estão a enfrentar problemas de saúde mental ou física.

Como dito anteriormente, é um estudo controlado randomizado que foi

conduzido desde 10 de janeiro de 2018 a 11 de janeiro de 2019. Os critérios de

inclusão foram estudantes do ensino secundário que eram fumadores diários ou

semanais dispostos a tentar parar de fumar e que tenham um telemóvel.

O estudo foi realizado simultaneamente em 630 escolas secundárias de toda a

suécia. O recrutamento foi realizado por meio de publicidade em papel (cartazes e

folhetos), publicidade digital (e-mail, site da escola e/ou aplicações, se disponível) e

por funcionários da escola (professores, orientadores e/ou postos de saúde da escola).

Os participantes elegíveis eram estudantes do ensino secundário que fumavam

diariamente ou semanalmente, dispostos a tentar parar de fumar e que possuíam um

telemóvel. Os participantes registaram o seu interesse ao enviar uma mensagem de

texto para um número de telefone dedicado ao estudo e receberam confirmação

imediata. 276 participantes foram randomizados para um grupo experimental sujeito a


intervenção (programa de cessação tabágica) e 259 participantes foram randomizados

para um grupo de controle.

A intervenção foi desenvolvida recorrendo a métodos formativos e técnicas de

mudança de comportamento. O conteúdo das mensagens de texto incluía informações

sobre os riscos do tabagismo para a saúde, dicas sobre estratégias de mudança de

comportamento e atividades. O programa incluía os seguintes elementos: fazer uma

declaração pública sobre parar de fumar, encorajamento para pedir apoio à família e

amigos, técnicas de distração e dicas para evitar o ganho de peso, dicas para lidar

com os desejos e evitar os gatilhos do tabagismo e como distrair a mente de alguém

que fume. A intervenção consiste num programa automatizado de 12 semanas com

um total de 121 mensagens de texto.

Não existiram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos

relativamente a género, idade, estratégia de recrutamento ou variáveis de tabagismo

no início do estudo.

Entre os analisados, 49 (23,1%) indivíduos do grupo experimental e 39 (19,4%)

indivíduos do grupo de controle relataram abstinência prolongada no seguimento de 3

meses (tendo fumado menos de 5 cigarros nas últimas 8 semanas). A análise relatou

que não existem diferenças significativas entre os grupos. A prevalência pontual de

cessação completa do tabaco em quatro semanas foi relatada por 53 (25%) dos

participantes do grupo experimental analisado e 31 (15,4%) dos participantes do grupo

de controle analisado e aqui já foram relatadas diferenças significativas.


Conclusões/Limitações/Discussão dos Resultados

Para o presente estudo, as descobertas da intervenção aplicada indicam que,

embora possa levar mais tempo para os alunos do ensino secundário pararem

completamente de fumar, as estimativas de prevalência pontual de 4 semanas de

cessação completa foram maiores no grupo que teve acesso à intervenção em

comparação com o grupo de controle.

Uma potencial limitação do estudo é que o acompanhamento foi avaliado por

medidas autorrelatadas e não foi verificado bioquimicamente.


Referências Bibliográficas

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