Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tabagismo
Somatização
Abordagem em Saúde Mental pelo MFC
Depressão
Transtorno de pânico
Transtorno de Ansiedade Generalizada
Álcool e outras drogas
3. Histórico de saúde é recomendado que se faça uma análise detalhada do histórico de saúde e uso de
medicações. Isso se faz muito importante na prevenção de efeitos colaterais e interações medicamentosas.
(p.ex. epilepsia e bupropiona), bem como na prevenção de possíveis interações medicamentosas prejudiciais
ao paciente quando prescritas medicações antitabagismo (bupropiona + amitriptilina).
Ex: Por exemplo, a bupropiona é contraindicada em pessoas com antecedentes de crises convulsivas. Esse
mesmo medicamento, por também ser um antidepressivo, pode resultar em interações medicamentosas em
pessoas em uso de outros antidepressivos ou benzodiazepínicos.
4. Avaliação do grau de dependência à nicotina ação da nicotina no SNC no núcleo accumbens, levando
a um aumento dos níveis de dopamina.
CONDUTA PROPOSTA
Primeiro encontro, após a entrevista inicial recomendado ter em mãos as informações de cada pessoa.
Objetivo: preparar as pessoas para parar de fumar.
Perguntar a razão principal que cada indivíduo deseja parar de fumar
pode ajudar a elevar a motivação.
Deve-se explicar ao grupo o porquê fumam:
Destacando o papel da nicotina como substancia psicoativa, que pode levar a dependência física,
psicológica e comportamental. Ao ser inalada ela atinge o SNC em aproximadamente 10 segundos. Sua
ação nos receptores nicotínicos-colinérgicos leva à liberação de neurotransmissores, como a dopamina, a
serotonina, a noradrenalina e a acetilcolina, relacionados à sensação de prazer, à diminuição da ansiedade e
ao aumento da atenção e da memória.
Ao parar de fumar ou reduzir para menos da metade o consumo, existe um desequilíbrio na quantidade desses
neurotransmissores, o que dá início à síndrome de abstinência.
Inicia aproximadamente 8 horas após o último cigarro, pico com 72 horas de abstinência.
Duração 3 a 4 semanas.
Ela é marcada por um forte e persistente desejo de fumar, humor deprimido, insônia ou sonolência
diurna, irritabilidade, frustração ou raiva, ansiedade, dificuldade de concentrar-se, inquietação,
diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial e aumento do apetite ou ganho de peso.
Todo paciente deve ser alertado sobre a abstinência;
Intensa vontade de fumar em situações associadas ao consumo - festa, álcool, café
Evitar gatinhos.
Orientar sobre atividades distrativas, pois episódios tem cerca de 5 minutos e tornam-se mais fracos com o
tempo.
É interessante explicar mecanismo de ação e efeitos colaterais dos medicamentos antitabágicos.
Cada participante deve ser estimulado a marcar uma data para parar de fumar.
Recomenda-se a parada abrupta. (orientações para interrupção de uso de acordo com o tratamento
farmacológico escolhido).
Terapia cognitivo-comportamental (TCC): após a primeira reunião, está preconizada para que haja mudanças
na vida diária dos fumantes.
Entre as principais características da TCC destacam-se as seguintes:
1. Oferecer orientação contínua, independentemente do progresso ou do insucesso da pessoa;
2. Remover barreiras que possam interferir no tratamento, como ansiedade, estresse, falta de motivação, etc;
3. Remover situações gatilhos sempre que possível o que varia de pessoa a pessoa;
4. Estabelecer metas alcançáveis e realistas e ajudar ativamente na tomada de decisões;
5. Parabenizar progressos à medida que vão ocorrendo, o que ajuda no aumento da autoestima;
6. Proporcionar liberdade de escolha nos caminhos do tratamento, seja na modificação da medicação, seja na
recusa em usar novas medicações, ou mesmo na escolha das estratégias a serem utilizadas para a cessação do
tabagismo;
7. Questionar e enfatizar sobre a ocorrência de benefícios relacionados à redução ou à interrupção do tabagismo.
Investigar o impacto da redução/interrupção do tabagismo na dinâmica das relações familiares: eles perceberam,
estão felizes com a atitude da pessoa?
8. Praticar sempre a empatia.
Obs: A cada encontro, também é importante avaliar o progresso dos indivíduos (questionar sobre o número de
cigarros fumados por dia) e se houve lapsos ou recaídas, bem como a ocorrência de efeitos colaterais associados às
medicações prescritas e monitorar periodicamente o peso.
Ganho de peso
De forma geral, 1 em cada 10 fumantes pode ganhar mais de 10 kg após parar de fumar, com a média de ganho de
peso situando-se entre 2 a 4 kg. Vale ressaltar que nem todos os indivíduos ganham peso, com alguns podendo até
emagrecer.
Fase de manutenção: Ao término do programa, os indivíduos que se encontrarem abstinentes do fumo podem ser
encaminhados para a fase de manutenção, que consiste, em encontros mensais até se completar 12 meses de
acompanhamento.
Com as pessoas que fizeram o tratamento descrito e que evoluíram com recaídas durante o acompanhamento,
discutir a programação de uma nova tentativa, de modo semelhante a todo o processo descrito anteriormente,
como se fosse iniciar o tratamento pela primeira vez.
Abordagem individual: é aplicada na forma de uma consulta e deve englobar o mesmo conteúdo descrito na
abordagem em grupo. Nessa modalidade, a entrevista inicial pode conter o processo de preparação para parar de
fumar, sendo o primeiro retorno após a data de parada.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
De acordo com o Consenso Abordagem e Tratamento do Fumante, criado pelo INCA o uso de medicações
antitabagismo está indicado nas seguintes situações:
1. Fumantes moderados fumam 20 ou mais cigarros por dia;
2. Fumantes que fumam o primeiro cigarro até 30 minutos após acordar e fumam 10 ou mais cigarros por dia;
3. Fumantes com escore do teste de Fargerstrõm ≥5, ou avaliação individual, a critério do profissional;
4. Fumantes que já tentaram parar de fumar anteriormente apenas com a abordagem tcc;
5. Fumantes que não possuem contraindicações clínicas;
6. A critério profissional;
A escolha entre medicações de primeira ou segunda linha vai depender de vários fatores: condições financeiras
do indivíduo, disponibilidade das medicações, grau de dependência nicotínica, uso prévio de medicações, presença
ou não de contraindicações às medicações, etc.
Existem atualmente, duas classes de medicamentos com eficácia comprovada para cessar o tabagismo
medicamentos nicotínicos e não nicotínicos.
Os medicamentos nicotínicos, também denominados terapia de reposição de nicotina (TRN), englobam
medicações de primeira linha para cessação do tabagismo e podem ser adesivos transdérmicos, gomas de mascar,
pastilhas, spray nasal ou para inalação (esses dois não disponíveis ainda no Brasil). O mecanismo de ação desses
medicamentos está relacionado com a ligação aos receptores nicotínicos no SNC, impedindo a ligação da nicotina
liberada pelo cigarro.
Outros métodos
hipnose, acupuntura, cigarros artificiais sem droga, aromaterapia, entre outros.
Não existem evidências científicas suficientes para comprovar a eficácia desses métodos.
Nenhum desses métodos é recomendado para a cessação do tabagismo.
IMPORTANTE (considerações finais)
Tratamento farmacológico iniciado com monoterapia, não se deve iniciar com combinação de
medicamentos;
Antes da prescrição, deve-se obrigatoriamente avaliar a existência de contraindicações para as medicações
antitabagismo (avaliar condições clínicas prévias, comorbidades ou os medicamentos já em uso pela
pessoa), para evitar o aparecimento de efeitos colaterais indesejados e iatrogenias.
Tabagismo é uma doença crônica, prevalente, com tratamento eficaz disponível.
ABORDAGEM EM SAÚDE MENTAL PELO MFC
A abordagem emocional requer que o médico não só compreenda os critérios de diagnóstico, mas que seja capaz
de acolher com sensibilidade sinais e sintomas das pessoas. A abordagem emocional se traduz pela descrição dos
sentimentos associados aos fatos, já que o afeto é um facilitador para a compreensão e a elaboração do que está
ocorrendo. A forma mais simples de abordagem emocional em uma consulta é:
- Perceber as emoções que estão em jogo.
- Reconhecer na emoção uma oportunidade de compreensão do que está ocorrendo no íntimo da pessoa,
para estabelecimento de uma relação de confiança com o profissional.
- Ouvir com empatia, legitimando os sentimentos.
- Ajudar a pessoa a encontrar as palavras e a identificar a emoção que está sentindo.
- Explorar estratégias para solução do problema em questão.
Abordagem emocional: Descrição dos sentimentos associados aos fatos, já que o afeto é um facilitador para a
compreensão e elaboração do que está ocorrendo.
LISTA DE PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL: Elaborar após a coleta da história, de modo a impedir que
problemas passem despercebidos.
CONSTRUINDO A HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: fazer um estudo inicial, buscando ajuda nos livros, no CID e
CIAP e na troca de ideias com colegas, em vez de ceder à tentação fácil do encaminhamento. A forma mais fácil e
objetiva para o MFC é, inicialmente, fazer um diagnóstico sindrômico inicial, podendo-se e devendo-se ir um
pouco além para se obter uma compreensão mais ampla da pessoa em sofrimento. Essa compreensão é chamada
psicodinâmica, referindo-se à dinâmica psíquica em seu sentido mais amplo, ou seja, às formas habituais ou
principais de funcionamento daquela pessoa em várias áreas de sua vida, sejam elas pessoais (tanto objetivas,
quanto subjetivas), sociais ou profissionais.
Em resumo, para o estabelecimento de um plano inicial de abordagem, é preciso:
- Construir uma lista de problemas.
- Conhecer a história dos problemas e o tratamento prévio e corrente.
- Conceitualizar o caso/buscar classificar as queixas/diagnosticar.
- Estabelecer objetivos de curto e longo prazo.
- Selecionar a modalidade de tratamento, os objetivos e as intervenções.
- Estimar o tempo e a frequência do tratamento.
- Considerar necessidades de referenciamento e os recursos externos disponíveis.
Plano diagnóstico: obter mais informações sobre a época e o contexto pessoal e profissional da pessoa no início de
sua doença. Entender a história da pessoa e como ela contribui para o quadro.
Plano terapêutico: entender a pessoa como um todo e verificar qual a melhor terapêutica para cada caso específico,
se a terapia deve ser individual, de grupo ou familiar, cognitivo-comportamental ou de orientação psicanalítica, se
deve utilizar medicamentos e qual o mais adequado, etc
Plano educacional: fornecer à pessoa e aos familiares a compreensão da doença e de seu prognóstico e quais
medidas podem ser tomadas em conjunto para melhorar e facilitar o manejo.
O que fazer? A simples abordagem inicial, ao se fazer uma boa escuta e permitir que a pessoa exponha suas
inquietações, é suficiente para lidar com a maioria dos casos.
Talvez o maior desafio para as equipes de APS seja separar, já no primeiro atendimento, os casos muito graves
(apresentam sinais vermelhos apresentados no fluxograma abaixo), aqueles que precisarão de intervenções mais
precoces, daqueles que podem ser acompanhados com mais calma na sequência.
Suicídio: se há percepção de sofrimento intenso, mas a pessoa não verbaliza ter pensamentos suicidas, vale a pena
conversar sobre esse tema, explicar que são pensamentos recorrentes para a maioria das pessoas e mais ainda para
aqueles que passam por dificuldades, podendo ser bastante terapêutico.
O seguimento continuado é fundamental, especialmente para as pessoas com sintomas moderados e graves. E essa
é mais uma vantagem da APS em relação aos serviços especializados, porque os encontros entre os profissionais e
as pessoas que ele acompanha não são motivados apenas por um problema e ocorrem inúmeras vezes ao longo do
tempo por queixas diversas.
O acesso fácil a um profissional de atenção integral faz as queixas surgirem sem muita elaboração. A escuta e a
postura de interesse inicial contribuirão para que a pessoa já se sinta melhor naquele momento por dizer coisas
que, por alguma razão, estavam bloqueadas. Deverá privilegiar o "exame pelo paciente", ou seja, a própria pessoa
é quem deve chegar às conclusões, fazer as escolhas e tomar as decisões. Cabe ao médico ajudar a conduzir esse
momento, lançando mão das suas próprias habilidades e do que dispõe em sua rede de atenção.
A escolha do medicamento deve ser feita respeitando as necessidades do consultante e como parte de uma aliança
terapêutica em que o contexto de vida e do sofrimento sempre seja abordado. Na APS, é importante pensar o
medicamento para além do efeito químico e do efeito placebo; ele costuma fazer parte da comunicação com o
consultante no momento de encontrar um terreno comum para o manejo dos problemas ou sintomas.
Quando encaminhar? Naqueles casos em que há sinais de gravidade, os alertas vermelhos, ou quando há dúvidas
sobre o quadro clínico, como com a suspeita de psicose afetiva (transtorno bipolar) ou quando há sintomas
psicóticos, pode ser interessante contatar precocemente a equipe de saúde mental. Assim como quando há pessoas
que não melhoram após alguns meses de seguimento ou cujo estado se agrave muito.
PRINCIPAIS ERROS COMETIDOS:
-Rotular ou aceitar precocemente o rótulo de depressão sem explorar o contexto de sofrimento.
-Manter e renovar continuadamente prescrições de ansiolíticos e de antidepressivos sem aproveitar para rever a
indicação, os sintomas iniciais, os benefícios e malefícios do uso desses medicamentos.
-Atender repetidas vezes pessoas com dores crônicas vagas e mal-estar sem usar o tempo para aprofundar esse
sofrimento.
-Iniciar antidepressivos sem haver aprofundado minimamente os sintomas e o contexto de sofrimento;
-Evitar oferecer o antidepressivo como uma das opções terapêuticas.
-Naqueles casos em que o antidepressivo foi introduzido como opção terapêutica, utilizar uma dose inadequada ou
insuficiente para a melhora dos sintomas.
-Não solicitar apoio de outros profissionais da APS ou do NASF para situações graves ou que não apresentaram a
melhora esperada.
-Não conversar sobre o suicídio nos casos moderados e graves.
PROGNÓSTICOS E COMPLICAÇÕES:
O que se vê na prática da APS é uma heterogeneidade na forma de sofrer e nas implicações desse sofrimento para
a vida de cada um. Parece haver mudanças positivas na situação de vida daquela pessoa, que, de algum modo,
foram promovidas porque o mal-estar e a tristeza empurraram-na nesse sentido. Mas há também aqueles casos em
que esse sofrimento socialmente aceito, que tem sido geralmente sintetizado na ideia de depressão, pode
imobilizar as pessoas, mantê-las no mesmo lugar por muitos anos.
Vários estudos epidemiológicos têm encontrado uma maior morbidade e mortalidade por doenças crônicas e
agudas entre as pessoas com os chamados transtornos mentais do que em outros grupos.
O suicídio tem sido apontado como o desfecho indesejado de transtornos psiquiátricos (até 90% das pessoas que se
suicidam teriam algum diagnóstico psiquiátrico, e as perturbações depressivas representariam a maioria desses
casos).
ATIVIDADES PREVENTIVAS E DE EDUCAÇÃO:
Não há e nem nunca houve corno fugir do sofrimento e da frustração. Reconhecer a sua necessidade de prazer e as
limitações que se impõem a si mesmas e as impostas pela vida pode ajudar as pessoas.
TRANSTORNO DE ANSIEDADE
Ansiedade generalizada (AG) (CID10 F41.1, CIAP2 P74) é um distúrbio comum, cuja característica central é a
excessiva preocupação/ apreensão com diferentes eventos, associada a aumento da tensão. Pode acontecer de
forma isolada, mas geralmente ocorre com outros tipos de ansiedade e transtornos depressivos.
Princípios do cuidado para pessoas com AG
Informação e apoio para pessoas portadoras de AG:
• Construa uma relação terapêutica aberta, engajada e sem julgamento.
• Explore com a pessoa sob cuidado: - Suas preocupações, de forma a entender o impacto da AG, como um
todo. - Opções de tratamento, mostrando que a tomada de decisão é um processo compartilhado.
• Assegure que toda discussão ocorre em um contexto de respeito à confidencialidade, à privacidade e à
dignidade.
• Disponibilize informação adequada no nível adequado de entendimento para cada pessoa, sobre a
natureza da AG e o leque de tratamentos disponíveis.
• Promova e organize grupos de apoio na unidade de saúde e informe às pessoas a respeito.
Apoiando famílias e cuidadores:
• Quando familiares e cuidadores estão envolvidos no apoio a pessoas com AG, considere:
- Oferecer uma avaliação dos cuidados oferecidos pelos cuidadores e das eventuais necessidades de saúde física e
emocional.
- Negociar entre portador de AG e seus familiares e cuidadores sobre confidencialidade e o compartilhamento de
informações sobre sua saúde.
- Explicar como será feito o manejo e como familiares e cuidadores podem apoiar a pessoa com AG.
- Orientar o que fazer em situações de crise, e que nessas situações o paciente pode procurar a Clínica da Família
sem agendamento prévio.
MODELO ESCALONADO PARA O CUIDADO DA AG
PASSO 1: Todas apresentações reconhecidas e suspeitas de AG
Identificação: Identifique e comunique o diagnóstico de AG o mais rápido possível para a pessoa entender
o agravo e iniciar o tratamento efetivo prontamente. • Considere o diagnóstico de AG em pessoas que apresentem
ansiedade ou preocupação excessiva e naqueles que buscam frequentemente atendimento na atenção primária com:
- Problema crônico de saúde física, ou - Sem problema crônico de saúde física, mas preocupadas com a presença
de sintomas somáticos (particularmente em idosos e pessoas com cultura diferente da hegemônica), ou -
Persistente preocupação com uma ampla gama de diferentes questões.
Critérios diagnósticos para TAG:
Ansiedade e preocupações excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias pelo período
mínimo de 6 meses.
O indivíduo considera difícil controlar a preocupação.
A ansiedade e a preocupação estão associadas a três ou mais dos seguintes seis sintomas: - inquietação -
fatigabilidade - dificuldade em concentrar-se ou sensações de branco na mente - irritabilidade - tensão muscular -
alteração no sono.
O foco da ansiedade ou preocupação não está restrito a aspectos específicos de outro transtorno mental.
Avaliação: Fazer uma avaliação abrangente que não se baseie apenas no número, gravidade e duração dos
sintomas, mas, também, considere o grau de sofrimento e prejuízo funcional. Para pessoas com maior grau de
sofrimento ou prejuízo funcional, considere implementar intervenções do passo 3 de imediato. Abordagem dos
sintomas de AG em 4 passos:
1. Diferenciar ansiedade de inquietação/euforia/irritabilidade.
2. Avaliar a repercussão da AG na vida da pessoa: causa transtorno?
3. Esclarecer se a AG é o problema principal ou parte de problema adjacente (depressão, drogas).
4. Caracterizar o transtorno de ansiedade.
*Pessoas com AG e concomitante transtorno depressivo ou algum outro tipo de ansiedade: Tentar tratamento que
seja efetivo para ambas as condições. Se isso não for possível, tratar primeiro o transtorno que causa mais prejuízo
e sofrimento e que, tratado, muito provavelmente melhore o funcionamento global. • Em caso de dúvida, solicitar
apoio para equipe de matriciamento.
*Pessoas com AG com abuso de substâncias químicas: Estar consciente de que: - Abuso de substância pode ser
uma complicação de AG. - Uso não nocivo de substância não deveria ser contraindicação para o tratamento de
AG. - Uso nocivo ou abuso de substância sempre deve ser tratado ANTES, já que isso pode levar a uma
significativa melhora dos sintomas de AG. Em caso de dificuldade no manejo, solicitar apoio para equipe de
matriciamento.
Educação e monitoramento ativo: Disponibilizar medidas educativas para o paciente sobre a natureza da
AG e as opções de tratamento. Monitorar ativamente os sintomas e grau de funcionalidade da pessoa. Discutir o
risco do uso de medicações e preparações que não tenham segurança cientificamente estabelecida e explique o
potencial de interações com medicamentos prescritos.
PASSO 2: AG diagnosticada que não melhorou após passo 1
Intervenção psicológica de baixa intensidade
Às pessoas com AG cujos sintomas não tiveram melhora com orientações e monitoramento ativo do passo 1,
oferecer um ou mais dos seguintes como uma primeira linha de intervenção, de acordo a preferência das pessoas:
- Consultas frequentes focadas em acolhimento, escuta, auxílio na resolução de problemas e em superar
pensamentos catastróficos. Podem ter curta duração.
- Participação em grupos de convivência (socialização, troca de experiências, aumenta autoestima), Academia
Carioca, ou atividade física não supervisionada.
- Grupos de saúde mental (podem ter profissional do matriciamento, baseado em terapia cc).
PASSO 3: AG com prejuízo funcional, ou que não tenha melhorado com passo 2:
Opções de tratamento
Para pessoas com pronunciado prejuízo funcional ou para aqueles cujos sintomas não responderam
adequadamente às intervenções do passo 2, oferecer:
- Psicoterapia realizada por profissional de saúde mental: A terapia cognitivo-comportamental tem maior
evidência de benefício. Se a Clínica da Família tiver rodas de Terapia Comunitária ou grupos terapêuticos para
transtornos mentais, podem ser oferecidos como alternativa. Ou discutir o caso no matriciamento e oferecer
sessões de psicoterapia breve com o profissional matriciador em atendimento conjunto.
- Tratamento farmacológico: Oferecer ISRS, de preferência a fluoxetina, por estar disponível na REMUME.
Com os ISRS, especialmente com a fluoxetina, pode haver piora inicial dos sintomas. Nesse caso, um curso breve
de benzodiazepínico para alívio dos sintomas (2-4 semanas, apenas) pode ser útil. Monitorar cuidadosamente os
efeitos adversos. Não oferecer antipsicóticos para tratamento de AG na APS
Orientar sobre os potenciais benefícios e desvantagens de cada forma de tratamento, incluindo a tendência de o
tratamento farmacológico estar associado com efeitos adversos e síndromes de abstinência.
Basear escolha do tratamento nas preferências pessoais do paciente, já que não há provas de que uma forma
(psicoterapia ou tratamento farmacológico) seja melhor do que a outra.
*Antes de prescrever qualquer medicação, discuta sobre as opções de tratamento e preocupações eventuais sobre a
pessoa tomar medicamentos. Explicitar completamente as razões para a prescrição e disponibilizar informações
sobre: - Probabilidade de benefícios dos diferentes tratamentos. - As diferentes propensões a efeitos adversos,
síndrome de abstinência e interação farmacológica de cada droga. - O risco de excitação com ISRS e IRSN, com
sintomas, como aumento da ansiedade, agitação e problemas com o sono. - O desenvolvimento gradual, após uma
semana ou mais, do completo efeito ansiolítico. - A importância de tomar o medicamento exatamente conforme
prescrito e a necessidade de continuar o tratamento farmacológico após a remissão para evitar recaída.
Monitorar:
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
O tratamento farmacológico apresenta papel coadjuvante na abordagem terapêutica do uso abusivo do álcool. O
seu principal efeito não é alcançar a abstinência e sim ajudar na sua manutenção e na prevenção de recaídas. A
pessoa deve ser orientada sobre o uso devido das medicações e seus efeitos e receber apoio da família e da equipe
de saúde para a adesão ao tratamento. Naltrexone, dissulfiram e acamprosato são as principais medicações para o
tratamento farmacológico do uso abusivo do álcool (ABEAD). Esses fármacos não constam na Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (RENAME), dificultando o acesso dos
usuários a esse tipo tratamento na APS.
Dissulfiram
É indicado para os usuários que necessitam alcançar a abstinência, porém, não é recomendado para aqueles que
desejam o consumo moderado na estratégia de redução de danos. É o primeiro medicamento aprovado pela FDA
para tratamento do alcoolismo. O dissulfiram inibe o aldeído-desidrogenase e, quando usado associado ao álcool,
aumenta os níveis de acetaldeído, provocando reações desagradáveis como palpitações, rubor, náuseas e vômitos
(efeito antabuse). A dose habitual é de 250 mg/dia.
Naltrexona
É indicada quando se deseja alcançar o consumo moderado, e a abstinência não é necessária. A naltrexona é um
antagonista opióide utilizado na dose habitual de 50-100 mg/dia com duração de 3 a 4 meses e pode estender-se de
acordo com cada caso. É necessário o acompanhamento de função hepática.
Acamprosato
É indicado para reduzir os sintomas da abstinência. O acamprosato é um coagonista de receptores de glutamato,
não apresenta efeitos no humor, na concentração, na atenção e no desempenho psicomotor. A dose habitual varia
entre 1.300-2.000 mg/dia, divididos em 3 tomadas, por um período de 3 a 12 meses.
Considerações
É importante analisar a necessidade do uso de antidepressivos e ansiolíticos para a redução de sintomas psíquicos,
pois podem contribuir para a diminuição do desejo do consumo. Isso reforça a estratégia de redução de danos que
considera o uso do álcool dentro do contexto maior dos problemas da vida.
Atualmente, há fármacos, como o topiramato, o ondansetron e o baclofen, que estão em estudo e se mostram
promissores no tratamento do uso abusivo do álcool.
Quando encaminhar??
Detectado o problema com o uso do álcool e estando a pessoa disposta a parar de beber, o profissional de saúde
deve considerar:
-Necessidade de desintoxicação e suas opções na rede: centros de desintoxicação, tratamento ambulatorial,
acompanhamento residencial;
-Avaliação de transtornos psiquiátricos associados;
-Farmacoterapia para ajudar a abstinência e a prevenção de recaídas;
-Consulta de programas que contribuem para manutenção da abstinência: CAPS, AA, entre outros.
Uma vez a pactuação estabelecida e a pessoa mantém ou agrava o problema, esta deve ser encaminhado para uma
avaliação especializada. Essa atitude poderá auxiliar na adesão ao tratamento e manutenção do vínculo, tendo em
vista o papel relevante da equipe multiprofissional em saúde mental. É importante ressaltar que após a referência, a
equipe de saúde da família permanece responsável pelo acompanhamento do tratamento deste usuário.
São indicações de tratamento hospitalar
Depressão com ideação suicida, comorbidades clínicas ou psiquiátricas não controladas, situação do lar
extremamente instável, falta de resposta ao tratamento ambulatorial.
Pessoas que durante o tratamento apresentam sintomas leves a moderados de abstinência podem ser acompanhadas
de forma segura e eficaz na atenção primária. Porém, se for desejo do usuário, pode ser encaminhado a algum
centro de referência para estar em ambiente livre de estímulos e evitar a recaída.
Serviços de referência
A expansão da rede segue os desígnios da reforma psiquiátrica brasileira. Como referência na rede há os centros de
apoio psicossocial - álcool e drogas (CAPS-AD), um serviço que trabalha com uma equipe multiprofissional
(médico clínico, psiquiatra, terapeuta ocupacional, psicólogo e assistente social) e atende pessoas com transtornos
decorrentes do uso e da dependência de álcool e de outras drogas. Atua sob a lógica do território, realiza atenção
matricial oferecendo suporte à equipe de saúde da família na elaboração do projeto terapêutico dentro da própria
comunidade, além de utilizar a estratégia de redução de danos. Funciona diariamente com atendimento individual
(medicamentoso e psicoterápico), atendimento em grupos (como oficinas terapêuticas de trabalho, cultura e lazer),
visitas domiciliares, condições para repouso e desintoxicação ambulatorial, buscando, dessa maneira, a
reintegração social, familiar e comunitária.
PROGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS
Os problemas relacionados ao uso abusivo do álcool trazem graves consequências físicas e psíquicas ao indivíduo,
interferindo nas suas relações sociais e familiares. Dentre as causas sociais de morbimortalidade associadas ao
álcool, destacam-se acidentes de trânsito, violência/homicídios inter e intragênero, que estão diretamente
relacionados à dose ingerida. As principais complicações físicas que acarretam maior morbimortalidade são as
doenças hepáticas como a cirrose e as psiquiátricas como os transtornos de humor, que podem levar ao suicídio.
Além disso, são também complicações do álcool:
-Cardiovasculares: hipertensão, cardiopatia isquêmica, arritmias e miocardiopatias;
-Gastrintestinais: diarreia crônica, pancreatite, hepatite alcoólica, cirrose, insuficiência hepática, gastrite aguda,
cânceres gástrico, esofágico e hepático, refluxo esofágico, esôfago de Barrete lacerações de Mallory-Weiss;
-Neuropsiquiátricas: demência de Korsakoff, delirium tremens, convulsões, cefaleia, distúrbios do sono, déficit de
memória, neuropatia periférica e transtornos psiquiátricos;
-Outras complicações: desnutrição, disfunção sexual, síndrome alcoólica fetal, desemprego, violência e disfunção
imunológica que pode acarretar tuberculose.
IMPORTANTE
Pessoas que fazem uso abusivo do álcool, ao se abster ou diminuir a quantidade habitual ingerida, podem
apresentar sinais e sintomas como agitação, tremores, vômitos e alterações do humor, caracterizando a síndrome
de abstinência do álcool (SAA). Essa síndrome pode ter intensidade influenciada por fatores genéticos, pelo
padrão de consumo, pelo gênero, por características individuais e por fatores socioculturais. Por isso, é importante
estabelecer o diagnóstico e definir a gravidade para oferecer os devidos cuidados.
Somatização
Pode ser descrita como sintomas físicos difusos, pouco definidos, para os quais não se verificam alterações
anatomopatológicas que os justifiquem, frequentemente rejeitados pelos profissionais e cujos portadores são
denominados pejorativamente de "poliqueixosos" e são importante causa de busca de atendimento em pessoas com
sofrimento emocional. Ou, em outras palavras, são sintomas físicos os quais não se encontram explicações
médicas que os justifiquem e nem constituem um quadro clínico específico, mas seriam de origem emocional.
Estes sintomas podem ter sua origem nos pensamentos disfuncionais e emoções fortes que abalam o sistema
psíquico.
A prevalência de sofrimento emocional dentre os usuários atendidos em unidades gerais de saúde é muito alta.
Diversos estudos no Brasil apontam que cerca de 50% dos usuários atendidos por equipes da atenção primária e da
estratégia de saúde da família (ESF) apresentam esse tipo de sofrimento, sendo que, em média, 35% deles têm
alterações de intensidade grave, preenchendo critérios para transtornos mentais diversos.
Ao se estudar a demanda de saúde mental na atenção primária, podem-se perceber dois subgrupos de
somatizadores:
1) Aqueles em que a somatização é um fenômeno de características agudas, associadas a sofrimento emocional
inespecífico, e transtornos mentais comuns (TMC) como ansiedade e depressão;
2)Aqueles em que a somatização é um processo psicopatológico estruturado, de curso crônico, com evolução e
prognóstico frequentemente negativos.
Somatizadores agudos
São pessoas que, em situações de sofrimento emocional, procuram seus médicos ou outros profissionais da
atenção primária como fonte de apoio e cuidado. Geralmente uma parcela grande desses quadros remite
espontaneamente. A consulta é um espaço de apoio e esclarecimento, e as queixas físicas são parte do sofrimento
emocional da pessoa que está sob cuidados. Mesmo que nenhum transtorno físico ou mental esteja presente, essas
queixas podem surgir e necessitam ser acolhidas. A abordagem centrada na pessoa permite que os médicos de
família acolham os sofrimentos e problemas dos usuários e ajudem na busca de soluções.
Outro tipo de indivíduos desse subgrupo são os portadores de transtornos mentais comuns. Diversos estudos
demonstram que, na atenção primária, as queixas somáticas são os principais sintomas trazidos ao médico pelos
portadores dos TMC. É uma importante parcela dos usuários atendidos em unidades gerais, com uma prevalência
mundial média em torno de 23%. São pessoas com transtornos ansiosos e depressivos, com queixas físicas
associadas, em que se verifica a presença de eventos estressantes associados. Esses pacientes tendem a ser mais
recentes e a reagirem positivamente à abordagem de seus problemas pessoais, apesar de suas queixas físicas
múltiplas. Nesses casos, além do acolhimento e da escuta, é necessário diagnosticar corretamente e tratar os
transtornos mentais associados, geralmente transtornos ansiosos e depressivos. Os sintomas costumam ser físicos,
associados à ansiedade ou à depressão, como taquicardia, dispneia suspirosa, dores originárias de contratura
muscular tensional, tais como cefaleia, dor lombar ou cervical, astenia, dores nas pernas, aperto no peito e
alterações de sono e apetite. O uso de medicação adequada, quando indicado, geralmente remite a sintomatologia
física e psicológica e permite a retomada das rotinas de vida. A associação dos sintomas com o sofrimento
emocional e os eventos estressores a eles relacionados pode ser abordada por meio de técnicas terapêuticas
específicas da atenção primária, como terapia de reatribuição e de resolução de problemas.
Somatizadores crônicos
São os que apresentam transtornos mais graves, que incluem os portadores de transtornos somatoformes e
dissociativos, segundo a CID-10 ou o DSM-IV e aqueles com as chamadas síndromes funcionais, como
fibromialgia, colón irritável, dores pélvicas e torácicas atípicas e fadiga crônica, entre outras, cuja interação entre o
sofrimento mental e as alterações orgânicas permanecem bem pouco compreendidas. Esses usuários diferenciam-
se dos que apresentam queixas mais passageiras por um maior risco de se tornarem crônicos, por desenvolverem
grave comprometimento de suas atividades sociais e profissionais, frequentemente recusando associação entre
suas queixas e seus problemas psicossociais e não aceitando as explicações de seus médicos e por evoluírem
aderidos ao papel de doentes com importante ganho secundário. Também nesses casos, é alta a comorbidade com
transtornos depressivos e ansiosos, muitos de intensidade grave, complicando a evolução e o tratamento.
É frequente a comorbidade entre diversas síndromes funcionais, como fibromialgia, fadiga crônica e síndrome do
colo irritável, o que aumenta os questionamentos sobre serem estas diferentes manifestações de um único processo
patológico em que a somatização desempenhe importante papel. Em geral, seus portadores apresentam uma série
de queixas somáticas em comum, que incluem fadiga, dor no corpo todo, cefaleia, alterações gastrintestinais,
alterações de memória e de sono, ansiedade e depressão.
Hipocondria Preocupação ou crença de alguma doença grave, com base na interpretação errônea de sinais ou
sensações físicas, essa interpretação errônea é uma sensação supervalorizada -> hipervigilância -> grande
preocupação. Essas pessoas reinterpretam, com características de pensamento prevalente ou, raramente, delirante,
sensações somáticas normais como indicadoras de uma patologia grave, geralmente única, bem definida e letal,
tais como Aids ou câncer.
O que pode ocasionar esses sintomas ?
Como o tema deste capítulo são os sintomas sem explicação médica, fica difícil definir, com clareza, o que os
"ocasiona". Há evidente contribuição de fatores emocionais, mas há outros fatores de risco que se sabe estar
associados a esses diversos quadros. No grupo dos somatizadores agudos, dois principais padrões se associam à
presença de queixas médicas inexplicáveis: o cultural e o de atribuição.
-Padrão de atribuição Quando as pessoas apresentam qualquer queixa ou sintoma somática ou mesmo
sintomas psíquicos anormais, costumam construir explicações para essas sensações, o que é definido como
"modelo explicativo". Esses "modelos explicativos" são parte fundamental da maneira e das atitudes tomadas
pelos usuários, podendo, por exemplo, motivar a busca de um médico para sua solução, quando compreendidos
como indicativos da presença de patologia somática. Essa decisão vai depender desses modelos explicativos e são
denominados padrões de atribuição. Assim, dependendo da atribuição feita a esse sintoma, o indivíduo vai, ou não,
buscar atendimento médico para essa queixa, que então se tornará um sintoma, parte inicial do processo de
atendimento médico.
-Fatores genéticos;
-Fatores culturais ambientes onde há pouca expressão de sentimentos; Diversos estudos demonstraram que a
expressão dos transtornos psíquicos varia de cultura para cultura, e que esse fato deve ser considerado na sua
análise;
-Fatores psicodinâmicos forte componente emocional e individual;
-Baixo apoio social Apresentar uma doença pode ser uma forma bastante eficiente, em especial na ausência de
outras formas de se conseguir apoio social, de se ter atenção e ajuda Rede de apoio pessoal insuficiente, com
isolamento social, tem sido relacionada ao aumento da procura de serviços médicos como forma de apoio, à piora
da evolução de patologias mentais em geral e à diminuição da capacidade das pessoas de resistir a problemas na
esfera psicossocial;
-História de doença na infância A somatização crônica também tem sido associada à história de adoecimento
frequente (ou ter parentes com doenças incapacitantes) na infância, com um reforço ao papel de doente causado
pelo aumento da atenção que ocorre quando há doença física e pela identificação com figuras doentes.
-Trauma e abuso físico e sexual Verifica-se, em um subgrupo dos somatizadores crônicos, uma alta
frequência de relatos de traumas físico ou psicológico e de abusos sexuais, em especial, relacionados a queixas de
dor, que se destacam nesses casos. As queixas somáticas inespecíficas têm sido associadas a distúrbio do estresse
pós-traumático. A adaptação ao trauma envolve diversos mecanismos aos quais se incluem processos como
somatização, dissociação e desregulação dos afetos, que devem ser diagnosticados para a melhor elaboração de
soluções terapêuticas. A relação existente entre ter um evento estressante e o surgimento de transtornos mentais é
conhecida. Os somatizadores têm uma capacidade de estruturação de "respostas neutralizadoras" diminuída, ou
seja, sua capacidade de "fazer algo" contra o evento lesivo, conduta que normalmente diminui o impacto de
eventos estressantes, apresenta-se restrita.
CONDUTA PROPOSTA
A correta detecção dos transtornos mentais comuns, principalmente depressão e ansiedade, é fundamental para o
correto manejo dos somatizadores. A grande maioria dos portadores de queixas médicas inexplicáveis na atenção
primária à saúde (APS) do Brasil são portadores desses quadros, que apresentam seu sofrimento sob a forma de
queixas físicas. Nesses casos, quando indicada e apropriada, a medicação antidepressiva e ansiolítica é
fundamental.
Cuidar adequadamente de pessoas com queixas somáticas sem explicação médica só é possível a partir da
superação do modelo biomédico, cartesiano, tradicional, de cuidado, com a construção de uma abordagem
centrada na pessoa, de cunho integral, que permita que espaços para falar e lidar com o sofrimento emocional
estejam presentes na consulta. Para que isso seja possível, é necessário trabalhar com a narrativa do indivíduo e
utilizar técnicas terapêuticas adaptadas para o ambiente da atenção primária.
Nesse contexto, destaca-se especialmente a técnica de reatribuição delineada por Goldberg e Gask. A reatribuição
refere-se a um processo de abordagem de pessoas com sofrimento emocional/ transtorno psíquico que buscam
cuidados na atenção primária, geralmente com sintomas físicos sem explicação médica. Essas queixas,
apresentadas muito frequentemente, acabam por representar uma barreira para o cuidado adequado ao sofrimento
emocional. Elas desviam o foco das consultas para exames e possíveis doenças físicas a serem detectadas quando,
na verdade, representam uma forma de apresentar o sofrimento emocional difuso, geralmente com sintomas mistos
de ansiedade e depressão, associados a problemas psicossociais importantes, típicos da atenção primária, distintos
da forma como as síndromes psiquiátricas se apresentam em unidades especializadas.
QUESTÕES
1- Melhor opção para tratamento medicamentoso de quadros de ansiedade: Sertralina
2- Sobre medidas para cessar o tabagismo: Bupropiona (segundo Fagerstrom da paciente já pode entrar com
medicamento).
3- Tratamento de depressão: Sertralina
4- Método diagnóstico para alcoolismo: AUDIT (CAGE é rastreio e Audit diagnóstico)
5- 6- Questões sobre como lidar com pacientes somatizadores (muito óbvias)