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TCC COMO TRATAR DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM TCC

    

Segundo Ernani Luz júnior,

 Terapia cognitivo-comportamental, da qual Aaron Beck é um dos pioneiros


com seus trabalhos sobre depressão, teve seu uso rapidamente estendido
para diversas outras patologias, entre elas a

 dependência química. Mas foi só a partir de 1993, com a publicação


de Cognitive Therapy of Substance Abuse, por Beck e colaboradores, que a
utilização da terapia cognitiva das dependências químicas se expandiu.

 Com dependentes químicos, a TCC vem sendo aplicada como psicoterapia


individual, psicoterapia de grupo, terapia familiar e, também, por ambientes
cognitivamente orientados (unidades hospitalares, escolas terapêuticas,
hospitais-dia, comunidades terapêuticas).

 Sendo uma forma de tratamento complementar, pode e vem sendo utilizada


em associação com outros métodos terapêuticos, tais como: a terapia dos
doze passos, os grupos de auto-ajuda, as terapias psicodinâmicas o
tratlamento farmacológico das dependências químicas e o tratamento das co-
morbidades psiquiátricas.

  

Desenvolvimento:

  

O MODELO COGNITIVO

  O modelo cognitivo do uso de substâncias em 1993, Beck apresenta seu


modelo cognitivo do uso de substâncias, também denominado Modelo
Cognitivo de Recaída (Figura 17.1)

 1 – Situação – ou situações – atuam como estímulos de alto risco.

1. Estímulos (internos ou externos) ativam crenças centrais sobre o indivíduo, o


mundo e o futuro e as crenças sobre o uso de drogas.
 As crenças ativadas, geralmente não-conscientes, levam ao surgimento de
pensamentos automáticos.

1. Os pensamentos automáticos desencadeiam o surgimento de sinais e


sintomas fisiológicos interpretados ou reconhecidos como fissura (craving).
 

1. Surgem crenças permissivas, facilitadoras.


 

1. Regido pelo craving e autorizado pelas crenças facilitadoras, o indivíduo


planeja e providencia o acesso à droga e inicia seu uso.
 

1. O uso da substância desencadeia uma situação contraditória: desejo de


continuar o uso por um lado, e sentimentos de culpa e fracasso, por outro
(classicamente denominado efeito de violação da abstinência – EVA).
 

1. O desconforto psicológico ativa mais crenças disfuncionais e o uso da droga


tem continuidade.
 

Este não é um modelo etiológico, pois não explica a origem e o


desenvolvimento das dependências químicas, mas permite compreender o
que contribui para a manutenção do uso de substâncias psicoativas e para a
tendência a recaídas, assim como identificar e definir as áreas às quais dirigir
as intervenções terapêuticas.

A FORMULAÇÃO COGNITIVA

 Para o efetivo tratamento de um caso, é necessária uma formulação


cognitiva abrangente, isto é, a coleta, integração e síntese de dados sobre o
paciente, que permita fazer hipóteses sobre a etiologia de suas crenças
disfuncionais e de seus principais sintomas, bem como planejar o tratamento
dessas crenças disfuncionais e sintomas do paciente.

 Os dados coletados incluem: identidade, informações relevantes de sua


história pessoal, o problema atual, sua lista de problemas, seu diagnóstico
psiquiátrico (utilizando C1D-10 ou DSM-IV), seu desenvolvimento e o “perfil
cognitivo”.
 No início do atendimento é feita uma formulação cognitiva inicial, que
permite as primeiras intervenções terapêuticas, mas essa formulação vai
sendo corrigida e completada até o final do tratamento.

 Judith Beck lista as sete questões que essa formulação deve procurar
responder:

 Qual é o diagnóstico do paciente?

 Quais são seus problemas atuais, como esses problemas se desenvolveram


e como são mantidos? Que pensamentos e crenças disfuncionais estão
associados aos problemas? Quais reações (emocionais, fisiológicas e
comportamentais) estão associadas ao seu pensamento? Que
aprendizagens e experiências antigas (e talvez predisposições genéticas)
contribuem hoje para seus problemas?

 Quais são suas crenças subjacentes (incluindo atitudes, expectativas e


regras) e pensamentos? Como ele enfrentou suas crenças disfuncionais?

 Que mecanismos cognitivos, afetivos e comportamentais, positivos e


negativos, ele desenvolveu para enfrentar suas crenças disfuncionais?

 Como ele via (e vê) a si mesmo, os outros, seu mundo pessoal, seu futuro?
Que estressores contribuíram para seus problemas psicológicos ou
interferiram em sua habilidade para resolver esses problemas?

 AS INTERVENÇÕES

 Em grupo ou isoladamente, a recaída será sempre um processo solitário de


repetidas tomadas de decisão. O que a TCC procura é, modificando as
situações e a interpretação do indivíduo de situações e estímulos, ou
atenuando suas crenças disfuncionais mais importantes sobre o uso de
drogas, treinar o paciente a desafiar seus pensamentos automáticos, a
elaborar pensamentos e crenças alternativas no manejo de suas fissuras e
no desafio das crenças permissivas a que mais frequentemente costuma
recorrer, para habilitá-lo a desenvolver um estilo de vida sem drogas e a
tomar, repetidamente, decisões que modifiquem o funcionamento do
processo adictivo.

 Uma forma didática de apresentarmos a TCC do dependente químico é,


considerando as sete fases do modelo cognitivo, examinar as intervenções
voltadas para cada uma delas.
 Fase 1 – Os estímulos de alto risco

 Estímulos externos e internos podem ativar crenças disfuncionais sobre o


uso de drogas.

 Pessoas, lugares e objetos relacionados com o uso da droga funcionam


como estímulos externos. Por exemplo: ex-companheiros de uso,
fornecedores, locais onde usava, objetos que utilizava para se drogar, objetos
semelhantes à droga (pós, líquidos, cigarros), comerciais de rádio e TV,
músicas que descrevem ou exaltam o uso de drogas, filmes que mostram
rituais de drogas, etc.

 Como estímulos internos podem funcionar: as lembranças e os estados


psicológicos de desconforto (depressão, ansiedade, irritacão, frustração) ou
de bem-estar (euforia, experiências sexuais, experiências místicas) que
tenham sido alterados ou produzidos pelo uso de drogas e que estimulem
crenças antecipatórias ou crenças de alívio.

 Esses estímulos internos e externos que podem ativar o processo de recaída


são também chamados de situações de alto risco. A identificação das
situações de risco que sejam relevantes para determinado paciente, é sem
dúvida, indispensável no processo de sua TCC. Tal identificação pode ser
feita pelo trabalho clínico: estudo detalhado de recaídas anteriors, dos
momentos em que apresentou fissura nas fases de abstinência, estudo de
seu dia-a-dia. Outro recurso para essa identificação é o uso de inventários e
questionários. Técnicas de dramatização também são utilizadas nesta fase.

 Fase 2 – As crenças ativadas sobre o uso de drogas

 As crenças que facilitam o uso de drogas são as chamadas crenças


adictivas e são descritas em três categorias:

 Crenças antecipatórias: expectativa de que o uso da droga produzirá


recompensa, gratificação ou prazer.

 Crenças de alívio: expectativa de que o uso da droga aliviará ou afastará


algum desconforto ou sofrimento.

 Crenças permissivas ou facilitadoras: consideram o uso da droga aceitável,


apesar das consequências.
 Beck preconiza que as crenças adictivas giram em torno da busca de prazer,
da solução de problemas e do alívio do desconforto e variam de pessoa para
pessoa e com o tipo de droga preferida. Entre as crenças adictivas, cita:

 a droga é necessária para manter o equilíbrio psicológico ou emocional;

 a droga melhorará o funcionamento social e intelectual;

 a droga trará prazer e excitação;

 a droga fornecerá força e poder;

 a droga terá efeito calmante;

 a droga trará alívio para a monotonia, ansiedade, tensão e depressão;

 sem o uso da droga, o craving – fissura – continuará, indefinidamente e cada


vez mais forte.

Em oposição às crenças adictivas, os pacientes apresentam crenças


de controle, aquelas que diminuem a possibilidade do uso e abuso de
substâncias

Os dependentes lidam com situações mistas, ou seja, convivem com a


coexistência de crenças adictivas e crenças de controle.

Identificadas as crenças adictivas mais relevantes no comportamento do


paciente, o campo dos esforços terapêuticos está balizado. No entanto as
crenças adictivas – desenvolvidas e superapreendidas ao longo do tempo –
foram reforçadas por inúmeras experiências de uso da droga. Além disso,
todos os frustrados esforço si anteriores de abandonar o uso da droga
reforçaram as crenças adictivas e desenvolvera a crença de que é inútil
tentar contolar a adicção. Modificar crenças adictivas, portanto, é tarefa
bastante difícil, porque elas são profundas e extremamente resistentes à
mudança.

 Fase 3 – Os pensamentos automáticos (PA)

 A interpretação de uma situação (mais que a situação em si) influencia a


resposta do indivíduo. Essa interpretação é muitas vezes expressa por um
pensamento automático.
Os pensamentos automáticos são pensamentos, idéias ou imagens que
coexistem com o fluxo mais manifesto do pensamento; são pouco
conscientes, não são questionados, parecem surgir automaticamente e
geralmente são tomados como verdadeiros. Costumam preceder e
determinar alterações importantes no humor, no comportamento e no estado
psi-cofisiológico do indivíduo.

 O treinamento do paciente em identificar seus pensamentos automáticos –


testando sua realidade e utilidade – é uma das ferramentas mais utilizadas na
TCC. A investigação dos pensamentos automáticos pela técnica da seta
descendente é o caminho mais usado para a identificação das crenças
centrais. Evidentemente, no tratamento da dependência química, o foco são
os pensamentos automáticos (idéias, pensamentos, imagens) que precedem
o surgimento da vontade de usar drogas e da fissura. Freqüentemente esses
pensamentos são muito simples e repetitivos.

Na TCC dos dependentes químicos, os pacientes necessitam se


tornar experts em monitorar esses pensamentos. Devem, imediatamente
após o surgimento da fissura, iniciar a investigação, procurando identificar
o(s) pensamento(s) automático(s), desafiá-lo(s), examinar sua validade e
utilidade e trabalhar em sua modificação, reconhecendo os efeitos desses PA
em suas sensações físicas e na vontade de usar a droga.

Para facilitar essa tarefa, o paciente em tratamento, seja em consultório ou


em regime de internação, deve ser treinado a fazer um registro do
pensamento disfuncional – RPD -e de suas fissuras.

 Nesta fase, as técnicas mais utilizadas são:

 identificação, avaliação e questionamento de PA;

 RPD;

  3) seta descendente.

 Fase 4 – A fissura (craving)

O desejo muito intenso de utilizar a droga e as sensações fisiológicas


concomitantes constituem o conjunto que os pacientes costumam identificar
como “fissura”, e que torna tão difícil evitar o uso da droga. É importante que
o paciente aprenda como lidar com suas fissuras, sendo essa uma das metas
mais importantes no tratamento da dependência química. Geralmente o
paciente ignora fatos e mantém uma série de crenças disfuncionais a respeito
da fissura.

 A TCC no manejo da fissura volta-se para:

aumentar o conhecimento do paciente sobre fissuras; identificar e corrigir


crenças disfuncionais sobre fissuras; identificar e reforçar as técnicas que o
paciente utiliza espontaneamente e com êxito para o manejo das fissuras;
treinar o paciente em técnicas cognitivas e comportamentais para o
enfrentamento das fissuras.

A fissura pode ser provocada, inadvertidamente, mesmo por atividade que


tenha objetivo terapêutico. O simples relato de fatos relacionados com o uso
da substância pode “fissurar” o paciente ou outro componente de um grupo,
por exemplo. Mas também é possível provocar a fissura intencionalmente,
para treinar atividades de tratamento. Assim, é importante que no programa
de tratamento as últimas atividades do dia ou da sessão não sejam
potencialmente acionadoras de fissura, mas sim atividades de relaxamento
ou técnicas de distração.

Fundamental que o paciente seja esclarecido sobre a fissura: quando e por


que ocorre, quanto tempo dura, quais são seus sintomas, seus
desencadeantes, os tipos, etc. A identificação das crenças disfuncionais
sobre fissura, relevantes para o paciente, pode ser feita no trabalho clínico e
também por meio de inventários. Fred Wright, já citado anteriormente,
elaborou um inventário para esse objetivo (em anexo).

O trabalho com as crenças identificadas requer os mesmos passos citados


na Fase 2:

Identificar as crenças disfuncionais sobre fissura e avaliar sua importância


para o paciente; familiarizar o paciente com o modelo cognitivo; examinar e
testar a crença disfuncional, sua veracidade, sua utilidade, as evidências pró
e contra; desenvolver crenças alternativas – de controle; testar e praticar as
crenças de controle desenvolvidas.

 Para o enfrentamento das fissuras concomitante ao trabalho voltado para as


crenças disfuncionais, o paciente tem que ser treinado em diversas técnicas
cognitivas e comportamentais. Partindo de manejos que o dependente já
utilizava – com algum êxito -, as diversas técnicas podem ser apreendidas
(por meio de dramatizações), cabendo ao paciente eleger duas ou três que
pareçam mais úteis para sí, treinando-as e reforçando-as. As técnicas mais
utilizadas são: distração, cartões de enfrentamento, assertividade, técnicas
de visualização, refocalização, relaxamento e dramatização (descritas mais
adiante).

 Fase 5 – As crenças permissivas ativadas

 Os pacientes, quando não estão experimentando a fissura, geralmente são


capazes de reconhecer as consequências prejudiciais do uso da droga e a
necessidade de evitá-la. Com a intensificação do craving, são ativadas
crenças de que não há razões fortes o suficiente para não usar ou de que há
razões que justificam o uso, apesar das consequências: são as crenças
permissivas.

Pelo estudo das fissuras e das recaídas vivenciadas pelo paciente e por meio
de dramatizações, pode-se auxiliá-lo a identificar os pensamentos
automáticos e as crenças permissivas a que mais freqüentemente recorre.
Ele necessita ser treinado a monitorar o surgimento de suas crenças
permissivas, questionando-as, testando-as e modificando-as. As
dramatizações em ambiente protegido, sem acesso a drogas são indicadas
para esse trabalho.

O trabalho cognitivo a ser feito com as crenças permissivas segue os


mesmos passos citados nas crenças adictivas e nas crenças sobre fissura.
Além disso, convém lembrar que as crenças de controle desenvolvidas
podem utilizadas como conteúdo de cartões de enfrentamento.

 Fase 6 – O plano de ação e a implementação

Esta fase inclui o planejamento e a execução de passos e providências


necessários para o uso da substância: como conseguir dinheiro, como
adquirir a droga, como ultrapassar os obstáculos, etc.

O estudo de fissuras e de recaídas prévias e a utilização de dramatizações


permitem identificar – com o paciente – quais os caminhos, quais as
características, quais os passos que costuma percorrer nesta fase. Isso pode
facilitar o reagendamento das atividades do paciente e a reorganização de
seu estilo de vida, afastando elementos e tornando menos provável a
recaída. Planos de ação alternativos podem e devem ser elaborados e
testados. Assim, para preparar o paciente para enfrentar esta fase, ele deve
ser treinado em: 
– identificar os planos de ação e os métodos padronizados que utiliza em
suas recaídas;

 – elaborar planos de ação e comportamentos alternativos;

 – afastar fatores que facilitem a recaída.

 Fase 7 – O uso continuado

 O reinicio do uso da substância, além de reativar os mecanismos


bioquímicos da dependência (mais ou menos intensos de acordo com a
droga envolvida, as características do paciente e a severidade e fase de sua
adicção), costuma desencadear sentimentos importantes de culpa, fracasso,
auto-recriminação. Nesta fase, reativam-se inúmeras crenças adictivas (Fase
2) que levam ao surgimento de pensamentos automáticos (Fase 3) e à
perpetuação do processo de adicção.

Na continuação do uso, menor vai ficando a possibilidade de o paciente deter


o processo, mais fortalecidas vão se tornando as crenças adictivas e mais
débeis as crenças de controle. Muitas vezes o tratamento do dependente
químico tem início nesta fase. Além disso, a recaída é intercorrência
frequente no curso do tratamento. Portanto, é útil – e fundamental – não
encarar o uso da substância como um fenômeno sem meios-termos.

 Nesta fase é importante avaliar a motivação do paciente. Para isso, além da


avaliação clínica, existem questionários específicos. Um dos mais utilizados é
o URICA (University of Rhode Island Change Assesment), que avalia a
motivação do paciente, classificando-o de acordo com os “estágios de
motivação para a mudança” estabelecidos por Prochaska e Di Clemente.
Essa classificação localiza o paciente como predominantemente em pré-
contemplação (nem pensa em interromper o uso, fazer qualquer mudança),
em contemplação (está ambivalente, pensa em modificar

seu  hábito  mas  também  em conservá-lo),  em determinação (está decid

modificar   seus   hábitos), em preparação (elabora estratégias de muda


em ação (está  engajado  em ações específicas para chegar  a uma muda
em manutenção (está   engajado em manter a   modificação conseguida)
em recaída (retorno ao uso dependente da droga) (Figura 17.2).
 Visando a preparar o paciente para enfrentar esta fase, pode-se utilizar
dramatizações (de lapsos, recaídas, situações passadas) com os pacientes
que estejam em abstinência. Com os que estão em fase de uso continuado
da droga, para reforçar sua motivação, utiliza-se a análise de vantagens e
desvantagens (do uso e da abstinência) e o exame da congruência ante os
objetivos a longo prazo e o uso da droga.

  

Objetivos:

Identificar crenças adictivas e avaliar sua real importância na vida do


paciente; familiarizar o paciente com o modelo cognitivo de recaída; examinar
e testar as crenças adictivas; desenvolver crenças de controle; testar e
praticar crenças de controle.

  AS TÉCNICAS UTILIZADAS

  As técnicas mais usadas na TCC do dependente químico, embora sejam de


uso comum nas terapias cognitivas em geral, serão sucintamente descritas a
seguir:

 Identificação de pensamentos automáticos (PA) Avaliação e questionamento


de PA Registro diário de pensamentos automáticos disfuncionais (RPD)
Identificação de crenças Avaliação e modificação de crenças Seta
descendente Solução de problemas Exame das vantagens e desvantagens
Distração

Agendamento e monitorização Exposição gradual e dificuldade crescente


Experimentos comportamentais Cartões de enfrentamento Relaxamento
Exercício físico Dramatização Treinamento de assertividade.

 Identificação de pensamentos automáticos (PA)

Logo após uma importante modificação de humor ou o surgimento de forte


vontade de usar a droga, o terapeuta, ou o próprio paciente, deve investigar:
o que você estava pensando naquele momento, naquela situação? Que
pensamento você acha que lhe passou pela cabeça?

Outras perguntas podem auxiliar a i certificação do pensamento automático:


 O que você acha que estava pensando naquela situação?

 Que pensamento lhe passou pela cabeça?

 Poderia estar pensando…….. ?

 Ou………… ?

 O que essa situação significou para você?

Será que você pensou………… ? (O terapeuta propõe um pensamento


neutro ou

oposto ao esperado.)

 Avaliação e questionamento de PA

 Após a identificação de um ou mais pensamentos automáticos, o terapeuta


vai auxiliar o paciente a avaliar sua veracidade, utilidade e consequências.
Usa, para isso, o método do questionamento socrático, guiando o paciente
para chegar às suas próprias conclusões, mas também treinando-o para
realizar esse exercício sozinho.

 O paciente deve avaliar, de O a 10, o quanto acredita em seu pensamento –


e depois questioná-lo

 As perguntas básicas do questionamento socrático são:

 Quais as evidências reais a favor deste pensamento?

 Quais as evidências reais contra este pensamento?

 Poderia haver outra explicação?

 Outra hipótese?

 Se o PA for verdadeiro, o que de pior poderia acontecer? Você conseguiria


superar isto? O que de melhor poderia acontecer?

 Qual o resultado mais provável?

 O que você deveria fazer a esse respeito?

 Qual a consequência de você acreditar neste pensamento?


 O que poderia fazer para modificar este pensamento?

 O que você diria para um amigo ou parente que estivesse nessa situação?

 óbvio que nem sempre todas as perguntas serão formuladas e, muitas


vezes, terão que ser adaptadas. Após o questionamento e ser reavaliado o
quanto o paciente ainda acredita no PA.

 Registro Diário de Pensamentos Disfuncionais (RPD)

Treinar o paciente e solicitar que ele registre seus pensamentos


disfuncionais, no final do dia, de preferência, ainda na vigência do
desconforto psicológico, é técnica muito utilizada na TCC. No tratamento dos
dependentes químicos, o mesmo é feito em relação às fissuras. Os usuários
tendem a seguir usando drogas em função de seus pensamentos
automáticos e crenças disfuncionais e das emoções negativas resultantes. O
preenchimento do RPD ainda durante a fissura ocupa um tempo no qual
pode ocorrer a diminuição da mesma. Além disso, o exame da adequação e
da veracidade dos PA pode levar à redução da intensidade da fissura.

O preenchimento do RPD como tarefa de casa, no intervalo das sessões,


oportuniza ao paciente seguir identificando, avaliando e questionando seus
pensamentos automáticos. E permite ao terapeuta ter uma ideia do que
realmente ocorre com seu paciente entre as sessões.

 Identificação de crenças

As crenças sobre drogas, sobre fissuras e as crenças intermediárias e


centrais do paciente podem ser identificadas pelo uso das mesmas técnicas:

observando quando um pensamento automático expressa uma crença;


usando a técnica da seta descendente a partir de um PA; examinando
diversos PA e encontrando uma temática comum; pinçando uma suposição
do paciente e explorando-a; aplicando inventários de crenças sobre uso de
drogas e sobre fissuras.

 Avaliação e modificação de crenças

 A avaliação e a modificação de crenças é uma atividade central na terapia


cognitiva em geral. Na TCC dos dependentes químicos, isso se repete.

 
Crenças centrais e crenças intermediárias identificadas, muitas vezes
relacionadas com a co-morbidade apresentada pelo paciente
(frequentemente transtorno depressivo, transtorno de ansiedade e da
personalidade), precisam ser modificadas, para que seja obtida melhora mais
duradoura.

As crenças adictivas identificadas, sejam antecipatórias, de alívio ou


permissivas, devem ser modificadas, e crenças de controle devem ser
reforçadas, elaboradas e testadas. Para isso, podem ser usados:

o questionamento socrático (técnica 2); o exame das vantagens e


desvantagens de acreditar na crença (técnica 8); o experimento
comportamental (técnica 12); a dramatização (técnica 16).

 Seta descendente

 uma técnica usada, com frequência, para atingirmos uma crença a partir da
identificação de um PA. Parte-se do PA questionando: se isto é verdadeiro,
significa o quê? E se isto é verdadeiro, significa o quê? de maneira repetitiva,
até que muitas vezes chega-se a uma crença central. Exemplo:

 Pensamento automático: “Não dá para ir a uma festa e não beber”.

 Se isto é verdade, significa o quê?: “Que eu não consigo me divertir se não
beber”.

E não se divertir na festa, significa o quê?: “Não vou poder falar com
ninguém, dançar”.

E se for assim, significa o quê?: “Que eu sou uma porcaria, não sou de
nada”.

Ser uma porcaria, não ser de nada, significa o quê?: “Que eu sou um
incapaz, um fracasso” – a crença central subjacente.

 Solução de problemas

técnica básica na TCC e pode ser treinada e utilizada desde o início da


terapia. Ela visa a auxiliar o paciente a:
 identificar e delimitar o problema; pensar nas diversas soluções possíveis
(tempestade de idéias); examinar os prós e os contras para cada solução
pensada; escolher a melhor solução disponível; colocá-la em prática; avaliar
a efetividade e a adequação da solução escolhida.

 Exame das vantagens e desvantagens

uma técnica utilizada para auxiliar os pacientes na tomada de decisões. O


paciente é estimulado a escrever as vantagens e desvantagens de
determinada decisão ou comportamento e examiná-las e, então, tomar sua
decisão. Pode ser utilizada, também, na análise sobre a conveniência de
manter determinada crença ou de aceitar uma crença nova.

Na TCC das dependências químicas, ela pode ser usada para examinar as
vantagens e desvantagens do uso da droga e da abstinência na motivação
do paciente, no trabalho de modificação das crenças adictivas e na
elaboração de novas crenças de controle.

Os usuários de drogas, tipicamente, mantêm crenças que minimizam as


desvantagens do uso e maximizam suas vantagens. Os pacientes são
orientados a preencher uma matriz, com quatro áreas, nas quais listarão as
vantagens de usar, as desvantagens do uso, as vantagens e as
desvantagens da abstinência (em anexo).

 Distração

 Esta é uma técnica importante no manejo da ansiedade e da fissura. Nestas


condições, ansiosa e fissurada, a pessoa tende a concentrar sua atenção nas
várias sensações corporais e nos pensamentos automáticos concomitantes.

 A “distração” consiste no esforço para mudar o foco da atenção do mundo


interno para o ambiente externo.

 Como exemplos de distração:

 retirar-se do ambiente, se nele está presente o desencadeante da ansiedade


e da fissura; descrever detalhes do meio ambiente (carros, cores, contagens
de objetos); envolver-se em diálogo sobre outro tema com pessoa disponível
(amigo, familiar, consultor, terapeuta); envolver-se em atividade prática, como
tarefa doméstica, arrumação de arquivo, organização de livros, banho;
lembrar e executar poema, oração ou música de seu agrado, silenciosamente
ou em bom som; envolver-se em

 
atividade lúdica e que requeira atenção: jogos de carta, videogames, palavras
cruzadas, quebra-cabeças, jogos de computador.

 Agendamento e monitorização

 Um método simples e direto. O paciente, concordando em utilizá-lo, recebe


uma grade com os sete dias da semana, divididos em intervalos de meia ou
uma hora, para registrar – monitorar – as atividades realizadas, o grau de
satisfação e de competência percebidos em cada atividade e o estado de
humor. Esta técnica visa a:

 tornar claro o dia-a-dia do paciente, suas atividades reais durante a semana


e como elas relacionam com suas fissuras e com seu uso de drogas;
Programar atividades futuras – agendamento partindo do registro das
atividades semanais (monitoração) e planejando atividades que o afastem do
uso de drogas; Acompanhar o cumprimento das atividades agendadas.

 Com a interrupção do uso de drogas, pode-se sobrar muito tempo livre na


vida do paciente, e é possível que sua rede social esteja composta
exclusivamente por usuários. Esta monitoração servirá como uma linha basal,
inicial, para introduzir ou resgatar atividades prazerosas ou gratificantes,
assim como planejar, progressivamente, atividades relacionadas com drogas,
o que levará o paciente, a médio prazo, a criar uma nova rede social e a
organizar um novo estilo de vida.

 Este é um método simples, mas pode ser de difícil implementação, pois


exige uma série de habilidades que o paciente talvez nunca tenha
desenvolvido. Éprevisível o surgimento de resistências, sabotagens, evitação
passiva, além de sentimentos de desesperança, baixa auto-estima,
frustração. Cada obstáculo, e os PA com ele relacionados, devem ser
abordados à medida que novos passos forem programados.

 A busca da vida em abstinência obriga o paciente a algumas tarefas sentidas


como muito grandes, muito difíceis e, por isso, desanimadoras. Esta técnica
consiste em auxiliar o paciente a dividir esta (grande) tarefa em diversas
etapas e acompanhá-lo no planejamento e na execução de cada passo.

 Exemplo: Paciente cocainômano, cujos amigos atuais todos usam a mesma


droga, pode decidir (e ser apoiado a) realizar uma tarefa simples, como ir ao
cinema com um vizinho ou colega de serviço que não use droga. Após o
cumprimento da tarefa, examinado seu sucesso (ou não) e os PA
relacionados com sua execução, é decidida a nova tarefa, de maior
dificuldade e exposição.

 Experimentos comportamentais

 São usados para testar tanto a validade de pensamentos e crenças sobre o


uso de drogas como as crenças centrais do paciente. Este escolhe o
pensamento ou a crença que quer testar (por sua importância), planeja seu
experimento cuidadosamente e o implementa. Posteriormente, examina seus
resultados e a possibilidade de modificar sua crença.

 Exemplo: Um paciente pode ter a crença de que jamais conseguirá se


divertir em uma festa sem álcool e cocaína. Programa cuidadosamente sua
ida a uma festa de não-usuários de cocaína, planeja abster-se de álcool na
festa e, posteriormente, avalia os resultados.

 Um outro paciente pode ter a crença de que perderia todos os seus amigos
se parasse de usar maconha. Poderia planejar uma reunião com seus
amigos para lhes

 comunicar que parou de usar a droga e convidá-los a continuarem


companheiros em atividades sem drogas. Após algum tempo, seriam
examinados os resultados. Quanto aos amigos que perdesse, ele seria
estimulado a examinar o significado dessas amizades pré-abstinência. Os
amigos que conservasse estariam corrigindo sua crença de que perderia
todos os amigos se não usasse maconha.

 Cartões de enfrentamento

 São cartões com lembretes que o paciente pode carregar consigo ou afixar
em locais frequentemente visíveis (espelho do banheiro, porta da geladeira,
agenda, painel do carro).

 Os lembretes podem ser elaborados na sessão ou pelo paciente, como


tarefa de casa. Normalmente constituem:

 respostas funcionais a pensamentos automáticos disfuncionais ou a crenças


sobre drogas (crenças de controle); estratégias de enfrentamento da fissura;
pensamentos ou crenças que fortaleçam a motivação.

 
Os cartões de enfrentamento são instrumentos importantes no enfrentamento
das fissuras.

 Relaxamento

Nos usuários de drogas, com frequência, a ansiedade é um sintoma


importante. Alcoolistas e tabagistas muitas vezes relacionam o uso de drogas
com sua necessidade de relaxar. Como sintoma de abstinência e na fissura
de diversas substâncias, a ansiedade se destaca. Por isso, as técnicas de
relaxamento, provendo aos pacientes instrumentos de redução da ansiedade,
são úteis no tratamento das dependências.

As principais técnicas de relaxamento são de dois tipos: exercícios


respiratórios e relaxamento muscular progressivo. Ambas são técnicas nas
quais há redução importante da ansiedade, sendo, portanto, úteis nas
dependências e no manejo da fissura. O relaxamento, durante a fissura, além
de reduzir a ansiedade, fornece ao paciente um intervalo de tempo durante o
qual a intensidade da fissura pode diminuir. Além disso, o relaxamento pode
permitir ao paciente a elaboração e confirmação de crenças de que ele está
no controle e de que é capaz de lidar com sua fissura.

 Exercício físico

 Geralmente os usuários de drogas estão afastados da prática de esportes e


de atividades físicas sadias. A introdução de exercícios físicos no tratamento
desses pacientes é importante por três aspectos:

 a prática de exercícios físicos é um importante passo no desenvolvimento de


um estilo de vida sem drogas;

 é instrumento importante no manejo de emoções negativas como ansiedade,


insegurança e irritabilidade;

 contribui na formação de uma nova a imagem, mais sadia, confirmando


crenças mais positivas do paciente a respeito de si mesmo.

 Dramatização

 A dramatização (roleplay, encenação) é um recurso que pode ser utilizado


nas intervenções de tratamento das sete fases do modelo adictivo, porque se
presta aos mais diversos propósitos: obter um PA, provocar reações
emocionais, provocar fissura e treinar o seu manejo, questionar PA, avaliar
crenças, modificá-las e testar novas crenças, treinar habilidades, etc.

O paciente deve ser estimulado e treinado a utilizar a dramatização, e isso é


muito facilitado pela participação ativa do terapeuta na sessão, assumindo o
papel dos “outros” (patrão, cônjuge, amigo, etc.), bem como o do próprio
paciente, quando cabe a este trocar de papel. As técnicas de dramatização
podem, com mais facilidade, ser utilizadas em tratamentos em grupo.

 Treinamento de assertividade

 Espera-se que o indivíduo seja capaz de expressar e defender com clareza e


firmeza suas decisões. A fim de capacitá-lo para isso, utilizam-se diversas
técnicas: dramatização, solução de problemas, exposição gradual,
experimentos comportamentais.

A assertividade deve ser dirigida não apenas à capacidade do paciente de


“dizer não” ás drogas, mas também às diversas da sua vida – familiar,
afetiva, profissional – nas quais o paciente

Conclusão:

O reinicio do uso da droga pode e deve ser encarado como um “lapso”, um


“escorregão”, momento no qual alguma coisa ainda pode ser feita para
impedir o desenvolvimento completo da recaída. Mesmo o uso dependente
pode ser encarado como um processo no qual o uso da dose seguinte, ou o
uso do dia seguinte, é visto como a tomada de uma nova decisão, que pode
ser abordada cognitivamente.

“Admitir que por si mesmo, que é incapaz de vencer sua dependência e que
perdeu o controle sobre sua vida”.
 

Pedir ajuda e aceitar que é um dependente químico .

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