Você está na página 1de 36

77

SÉTIMA AULA
Drs. Nicolaas Gosse Vale

INTOXICAÇÃO

Assuntos:
Aspectos neuropsicológicos das doenças de intoxicação no trabalho, no ambiente e
no uso de drogas e de álcool;
O diagnóstico;
A “Síndrome psico-orgânica”;
Os déficits em conseqüência da subnutrição;
O quadro psicopatológico quanto ao funcionamento cognitivo;
Possibilidades de tratamento neuropsicológico.

Introdução

Compreende-se por intoxicação um conjunto de efeitos patológicos


relacionados com o sistema nervoso central.
78

A intoxicação pode haver pela composição quimica do produto,pela


quantidade excessiva de um produto usado ou pelo grau de vulnerabilidade do
consumidor. Os sintomas de intoxição diferem conforme a qualidade química.

A utilização crescente e abusiva de substâncias químicas não


acompanhadas de precauções e cuidados necessários, vem
causando sérios problemas de saúde às pessoas expostas, usuários
desses produtos, na zona rural, rodovias, no ambiente doméstico,
nas escolas, nos locais de trabalho, configurando um alto risco para
a saúde (LOPES, 1997).

Causas e freqüências

Baseado em Lopes (1997), as intoxicações são causadas pela ingestão,


aspiração ou introdução no organismo, acidental ou não, de substâncias tóxicas,
como entorpecentes, medicamentos, produtos químicos utilizados em laboratório e
limpeza, alimentos deteriorados, venenos, gases tóxicos. Elas podem ser
subdivididas de acordo com o tempo de ocorrência: aguda (até 24 horas do
acidente), sub-agudas ( nos primeiros dias após) e, seguidamente sub-crônicas ( até
um mês) e crônicas ,exposição a determinada substância durante longo tempo,
resultando em acumulação do composto no corpo (metais, como o chumbo, por
exemplo).

Intoxicação e Neuropsicologia

No âmbito experimental, a Neuropsicologia tem revelado novos


conhecimentos na investigação de alterações cognitivas,psicomotoras ou
comportamentais associadas a patologias adquiridas em pacientes com histórico de
intoxicação por vapor de mercúrio, presentes anos após o período de exposição ao
metal.
79

Taub et al (2006) da Universidade de São Paulo – USP fez pesquisas a


respeito da intoxicação por vapor de mercúrio usando testes neuropsicológicos para
confirmar e descrever com maior precisão as disfunções cognitivas já observadas
pela Ressonância magnética funcional (RMf), pela Tomografia por emissão de fóton
único (SPECT) e pela Tomografia por emissão de pósitrons (PET) com a finalidade
de investigar a existência de disfunções cognitivas associadas à patologia em
questão. Achou nas observações em trabalhadores industriais (produção de
lâmpadas fluorescentes, termômetros ou cloro-álcalis) déficit de memória
operacional; da memória verbal de curto prazo, na atenção concentrada, na
habilidade para cálculos, lentidão psicomotora, o tempo de reação diminuído e a
falta de coordenação motora.
Na prática de atendimento psicossocial no sistema de saúde (RIAGG-
Holanda) em paises industrializados e principalmente nas cidades onde há indústrias
pesadas como Rotterdam temos encontrado em operários na faixas etária entre 45-
60 anos diversas formas de demência causadas por intoxicação crônica por metais
pesados.
A função do neuropsicólogo era aplicar um exame neuropsicológo
diferencial para chegar a uma conclusão diagnóstica específica devido às
propriedades das diversas substâncias químicas tóxicas com seus efeitos próprios.
O exame neuropsicologico diferencial é uma avaliação detalhada e objetiva
das principais funções mentais: atenção, memória, linguagem, raciocínio lógico,
planejamento, percepção visual, capacidade aritmética, etc. Para isto, são utilizados
testes específicos, além de questionários e inventários e observações aplicados por
profissionais da área.
Em casos de suspeita de intoxicação crônica no trabalho muitas vezes é difícil
avaliar o “quanto” alguém é esquecido ou desatento: como julgar se está dentro da
variação da normalidade ou se representa, de fato, um problema a ser tratado?
Exemplo: um operário apresenta desatenção, esquecimento ou problemas de
aprendizado devido a várias causas diferentes: o exame neuropsicologico então
80

permite identificar e quantificar cada aspecto das queixas do paciente. Os resultados


deste exame permitem ao médico, ao psicólogo ou ao fonoaudiólogo entender
melhor os sintomas apresentados, uma vez que não é possível para estes
profissionais avaliarem todas as funções mentais de modo tão detalhado e extenso
durante uma consulta comum.
Exames com tomografia computadorizada e a ressonância magnética
permitem a localização de lesões cerebrais, mas não indicam quais funções mentais
estão comprometidas nem em que extensão. Realizar uma tomografia de uma
pessoa que viveu durante anos num ambiente tóxico corresponde, grosseiramente,
a "fotografar" a lesão. Submetê-la a testes neuropsicológicos corresponde a testar
cada uma das funções pelas quais aquela área do cérebro é responsável. Assim, se
torna possível avaliar déficits cognitivos globais resultantes de traumatismo crânio
encefálico ou acidentes vasculares cerebrais, seqüelas meningoencefalites e pós-
anoxia (afogamentos, intoxicação por CO ou metais pesados e paradas cardíacas),
nas seqüelas do uso de drogas ilícitas que afetam adversamente várias funções
cognitivas, tais como a atenção e a memória e raciocínio.
Os instrumentos utilizados são entrevistas e testes neuropsicológicos :
(WAIS-R; WASI; Trail Making, Stroop Color Test, Wisconsin, F.A.S, Boston, Figura
Complexa de Rey, Reprodução Visual I . As dificuldades mais significativas foram
relacionadas a esfera atencional, memória e funções executivas.

A reversibilidade dos efeitos tóxicos

Conforme os critérios do DSM-IV(1994) a característica essencial da


Intoxicação com Substância é o desenvolvimento de uma síndrome reversível e
específica de uma substância devido à sua ingestão recente (ou exposição a esta).
No caso da abordagem neuropsicológica temos que distinguir duas classes de
efeitos cognitivos de intoxicação: os efeitos reversíveis (comum em idosos que se
medicam sem controle profissional) e os efeitos permanentes como formas de
81

demência devido à intoxicação durante muito tempo o que geralmente leva a lesões
cerebrais permanentes. Enquanto os efeitos reversíveis normalmente seguem seu
caminho natural podemos acelerar por meio de treinamentos cognitivos
(reaprendizagem), mas os efeitos permanentes merecem nossa atenção especial
em cada quadro patológico apresentado.
Quando se trata de uma intoxicação aguda consideramos o efeito próprio
que se segue á administração de uma substância psicoativa, resultando em
perturbações no nível de consciência, cognição, percepção, afeto ou
comportamento ou outras funções e respostas psicofisiológicas. Estas
perturbações são diretamente relacionadas aos efeitos farmacológicos agudos da
substância e resolvem-se numa recuperação completa ao passar do tempo,
exceto quando surge dano tecidual ou outras complicações, incluindo trauma,
inalação de vômito, delirium, coma, convulsões e outras complicações. A natureza
desses distúrbios depende da classe farmacológica da substância usada e a
maneira de usá-la.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LOPES, A.C. Intoxicações e Envenenamentos. 1997.

TAUB, A et al. A aplicação da neuropsicologia na pesquisa experimental: o


exemplo da intoxicação por vapor de mercúrio. Psicologia USP, 2006, 17(4), 287-
300.
82

OS EFEITOS TÓXICOS DE PRODUTOS QUÍMICOS AMBIENTAIS


NO LOCAL DE TRABALHO

OS PRINCIPAIS PRODUTOS QUÍMICOS NO AMBIENTE DE TRABALHO

Alumínio
Tem sido associada à constipação intestinal, as cólicas abdominais, anorexia,
náuseas, fadiga, alterações do metabolismo do cálcio (raquitismo), alterações
neurológicas com graves danos ao tecido cerebral. Na infância pode causar
hiperatividade e distúrbios do aprendizado. Inúmeros estudos consideram que o
alumínio tem um papel extremamente importante no agravamento do mal de
Alzheimer (demência precoce).
O excesso de alumínio interfere com a absorção do selênio e do fósforo. O
alumínio pode ser encontrado no leite de mães intoxicadas. O alumínio tem sido
associado a diversas doenças cerebrais. Segundo o órgão oficial americano, “Public
Health Service Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR)”, o
alumínio causa desde efeitos discretos como diminuição da atenção e da
83

concentração, diagnosticadas apenas através de testes, sendo seguido de


sintomas neurológicos subjetivos até um comprometimento mais severo da
capacidade psicomotora e cognitiva, podendo ser responsável pelo desencadear de
quadros de demências, Mal de Alzheimer e Mal de Parkinson

Arsênico
A toxidez do arsênico pode causar desconforto físico, anemia com leucopenia
(diminuição anormal no número de glóbulos brancos) moderada e eosinofilia
(aumento exagerado de células de defesa presentes no sangue, problemas
digestivos (anorexia, náuseas, vômitos, constipação ou diarréia), circulatórios
(vasodilatação leve com aumento da permeabilidade capilar podendo causar nos
casos mais graves uma necrose de extremidades conhecida como a doença dos
“pés pretos”), cardíacos (lesão do miocárdio com prolongamento do intervalo QT e
ondas T anormais), neurológicos (neuropatia periférica com formigamento e
sensação de agulhadas em mãos e pés), musculares (câimbras e fraqueza em
pernas e pés podendo haver dificuldade para andar nos casos mais graves) e
dermatológicos (hiperpigmentação principalmente no pescoço, pálpebras, mamilos e
axilas, vitiligo, hiperqueratose,(uma produção exagerada de proteínas, denominadas
“queratinas”, Em humanos, o termo é normalmente aplicado para queda de cabelo,
estrias nas unhas e câncer).

OS SINTOMAS PSÍQUICOS

O efeito de Arsenicum Album apresenta mais um quadro psicopatológico do


que neuropsicológico: ansiedade extrema, sentimentos de culpa, idéias depressivas,
medo da morte, de doença, da ruína , medo de ser envenenado e por isso recusa a
aceitar medicamentos, medo de ficar só e por isso desejo de companhia,
desesperança, o pensamento obsessivo de que a doença é incurável, agitação
84

física e mental,hipersensibilidade geral , delírio e idéias delirantes com visões de


fantasmas, e delirium tremens dos alcoólatras.

Cádmio
O Cádmio (Cd) é tóxico para os seres humanos e animais. Intoxicações leves
por cádmio podem causar: salivação, fadiga, perda de peso, fraqueza muscular e
disfunção sexual. Níveis moderadamente altos de cádmio, entre 4 a 8 ppm (a
concentração ppm em massa expressa a massa de soluto (disperso), em µg
( micrograma) podem causar hipertensão, ao passo que níveis muito elevados
podem causar hipotensão.
O produto em questão afeta os rins, pulmões, testículos, paredes arteriais,
ossos e interfere com muitos sistemas enzimáticos.

FONTES DE CONTAMINAÇÃO

Farinha e açúcar refinados contêm cádmio e pouco zinco, o que aumenta a


absorção do cádmio; fumaça de cigarros contém teores elevados de cádmio,
alimentos contaminados: fígado e rins de animais contaminados e alimentos
marítimos contaminados.

ASPECTOS COGNITIVOS

Análises comparativas sugerem que O Cádmio prejudica mais o Q.I.verbal do


que chumbo enquanto este último prejudica mais o QI de performação (Thatcher,
1982).

Chumbo
85

O chumbo (Pb) é tóxico para os seres humanos. Níveis baixos de chumbo


afetam a capacidade do organismo para utilizar cálcio, magnésio, zinco e outros
minerais. O chumbo existe como contaminante ambiental.
A intoxicação por chumbo pode causar inicialmente falta de apetite, gosto
metálico na boca, desconforto muscular, mal estar, dor de cabeça e cólicas
abdominais fortes. Entretanto, na infância, muitas vezes os sintomas ligados a
deposição de chumbo no cérebro são predominantes. Níveis moderados de chumbo
afetam a memória de longo prazo e a função cognitiva na criança. Crianças com
mais de 10 ppm de chumbo nos cabelos tem maior dificuldade no aprendizado do
que as crianças com taxas menores.
Estudos onde crianças de regiões contaminadas por chumbo foram
observadas por vários anos demonstraram que as crianças com níveis sangüíneos
de Pb superiores a 10 m g/dl apresentavam uma diminuição do QI em relação a
crianças com taxas de chumbo inferiores.
A simples retirada da fonte de contaminação quando necessária causa a
diminuição das taxas sangüíneas de chumbo e um aumento do QI. Além da
diminuição do QI podendo levar a dificuldades escolares o aumento de chumbo no
sangue pode causar hiperatividade. As crianças apresentam uma absorção intestinal
de chumbo maior que a dos adultos e os efeitos tóxicos do chumbo são mais
importantes na criança devido ao período de desenvolvimento cerebral.

Cobre
O cobre (Cu) é um mineral essencial ao funcionamento do nosso organismo.
Porém, quando aumentado causa intoxicação. A intoxicação por cobre pode ocorrer
devido a contaminação de cobre na água, absorção através da pele e níveis
insuficientes de elementos que competem com o cobre nos locais de absorção
intestinal como o zinco e o molibdênio. (do grego molybdaina, chumbo é um
elemento químico de símbolo Mo)... Na deficiência de zinco, geralmente o cobre
86

encontra-se aumentado. O cobre pode estar aumentado devido ao uso de


contraceptivos orais ou ao uso de Dispositivo Intra Uterino com fio de cobre.
Como o cobre deposita-se preferencialmente no cérebro e no fígado os
sintomas encontrados são inicialmente decorrentes do comprometimento destes
dois órgãos. Sintomas do excesso de cobre ligados as alterações cerebrais incluem:
distúrbios emocionais, depressão, nervosismo e irritabilidade, sintomas semelhantes
aos do mal de Parkinson e alterações semelhantes a esquizofrenia e a outros
distúrbios psiquiátricos. Cobre é problemático devido a seu grande potencial como
gerador de radicais livres, e por sua relação direta com esquizofrenia e distúrbios
psiquiátricos.
De outro lado, conforme Gómez-Pinilla (2008), o Déficit cognitivo em pacientes com
Doença de Alzheimer está correlacionado com baixa concentração de cobre no
plasma.

Manganês
O manganês (Mn) é um mineral essencial ao funcionamento do nosso
organismo. Porém, quando muito aumentado causa intoxicação. As causas mais
comuns de intoxicação por Mn são devidas à inalação em indústrias e em minas. A
Intoxicação por Mn é responsável por anorexia, fraqueza, apatia, insônia e outras
perturbações do sono, excitabilidade mental, comportamento alterado, dores
musculares, quadro neurológico (tremores simulando o mal de Parkinson) e
distúrbios psicológicos: a "loucura mangânica", caracterizada por
comportamento violento associado a períodos de mania e depressão.

Mercúrio
O mercúrio (Hg) é tóxico para os seres humanos e animais. O mercúrio
elementar é a mais volátil das formas inorgânicas do metal. Os vapores de mercúrio
podem ser liberados a partir das restaurações dentárias de amálgama.
87

A exposição crônica ao mercúrio causa sintomas gastro intestinais (dor


abdominal, gosto metálico na boca, digestão difícil, salivação abundante, náuseas,
cólicas intestinais, gengivite), sintomas neuropsicológicos (falta de memória,
cefaléia, formigamentos, insônia, tremores, sonolência, alteração da grafia, cãibras,
gritos noturnos, alteração do equilíbrio, tontura, vertigem e dificuldade escolar),
alterações emocionais (nervosismo, irritabilidade, distúrbios de memória, tristeza,
diminuição da atenção, depressão, agressividade, insegurança e medo) e irritação
nos olhos, fraqueza muscular, espasmos musculares, zumbido, irritação nasal e
diminuição da acuidade visual e auditiva.
Conforme Basciano (1994), nos dias atuais não é possível atribuir ao chumbo,
as causas da Doença de Alzheimer e demência. Através das pesquisas, relata-se a
maior possibilidade ao Mercúrio.
"A máxima quantidade de mercúrio a que as pessoas podem se expor,
segundo a Environment Protection Agency - EPA (Agência de Proteção Ambiental) é
5.000 vezes menor do que a quantidade de exposição ao chumbo; em outras
palavras, a EPA aparentemente considera o mercúrio 5.000 vezes mais tóxico do
que o chumbo."

Lítio
O lítio (Li) está envolvido em processos de potencial relevância para a
fisiopatologia da doença de Alzheimer. Existem diversas evidências de suas ações
neurotróficas e neuroprotetoras em pacientes bipolares. Desta forma, o lítio pode ter
uma ação neuroprotetora também em doenças neurodegenerativas (NUNES, 2007). 
O lítio é um mineral essencial ao funcionamento do nosso organismo. Porém,
quando muito aumentado causa intoxicação. A intoxicação por lítio na grande
maioria das vezes ocorre devido ao tratamento medicamentoso na base de lítio.
Existe uma associação entre hipotireoidismo e a utilização de doses excessivas e
prolongadas de lítio.
88

Vanádio
Vanádio (Va) é um elemento metálico presente em rochas fosfáticas (fonte
fertilizante), petróleo (óleo cru, óleo de xisto) e carvão. Industrialmente é usado para:
ligas metálicas, produção de ferramentas de aço, cerâmica, catálise em processos
químicos, resistência a corrosão e para tingimento e estamparia. O vanádio é um
mineral essencial ao funcionamento do nosso organismo. Porém, quando muito
aumentado causa intoxicação.
O vanádio em excesso pode ser tóxico, com sintomas dependendo da forma
química e do modo de contaminação. Vanádio inalado pode causar tosse com muco,
irritação do trato respiratório e bronquite. Vanádio ingerido em excesso causa
diminuição do apetite, diarréia e agravamento da psicose maníaco-depressiva.

Referência

BASCIANO, M (1994). DDS no Encontro Anual da IAOMT San Diego, 1994.”


http://www.whale.to/a/toxic_dentistry.html

GÓMEZ-PINILLA.F (2008) Brain foods: the effects of the nutrients on brain function.
Nature Reviews 9, 568-578.

Fundação Abrah. S. Paulo http://www.abrah.org.br/aulas/arsenicum-album/)

NUNES, P.(2007) O uso de lítio em idosos. O uso do lítio em idosos: evidências de


sua ação neuroprotetora. Revista de Psiquiatria Clínica. Departamento de
Psiquiatria da FMUSP. Disponível em:
<http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol29/n5/248.html>. 

THATCHER, R. W (1982). Effects of low levels of cadmium and lead on cognitive


functioning in children. Arch Environ Health. 1982 May-Jun;37(3):159-66.
89

DEPENDÊNCIA QUÍMICA:
USO DE DROGAS E DE ÁLCOOL

I ) A DEPENDÊNCIA

Dependência física

A necessidade da droga, a nível fisiológico, torna impossível a suspensão


brusca das drogas sem acarretar uma crise da "abstinência" podendo chegar a um
delirium tremens.. A adaptação do organismo é independente da vontade do
90

indivíduo. A dependência física e a tolerância podem se manifestar isoladamente ou


associadas, somando-se à dependência psicológica.

Os efeitos tóxicos das drogas na dependência

A Neurociência ajuda a compreender como os sistemas neurais e o


funcionamento psicológico interagem durante os estados emocionais. Conforme
Sreven Grant, do National Institute on Drug Abuse, mudam as sensações
emocionais do indivíduo dramaticamente: “quando utilizada pela primeira vez, a
heroína e outros opíacos (morfina e codeína) produzem um nível alto de euforia e
uma sensação de bem-estar e felicidade. Com o uso continuado, o nível de euforia
se torna menor e o adicto deve tomar doses maiores para obter o efeito original.”
(pg.572). Tanto a região cerebral cortical como a subcortical associadas à memória
emocional são ativadas durante a exposição a sugestões relativas a drogas.
(amígdala, cíngulo anterior, córtex orbitofrontal e córtex pré-frontal dorsolateral).
Neste contexto podemos entender que os adictos podem ter problemas cognitivos
como memória, tomada de decisão e atenção.
Conforme o neurobiólogo Swaab (2010), as drogas influenciam o
funcionamento do cérebro usando a sua semelhança com os neurotransmissores
feitos pelo cérebro que incluem substâncias opiáceas e canabicoides. Nicotina de
um cigarro funciona no cérebro como o transmissor acetilcolina e XTC como
serotonina, oxitocina e vasopressina.

Este processo inclui a modificação da disposição e do funcionamento dos


neurotransmissores naturais o que explica a sensação de mal-estar quando a
pessoa pára de tomar as drogas. Todas as drogas usam o circuito de dopamina com
ou sem o uso do circuito opiáceo, ambos os sistemas essenciais para o efeito de
recompensa ou felicidade.
91

Estas substâncias introduzidas no cérebro em proteínas são transmitidas para


os receptores no estriado causando a sensação de felicidade; no cerebelo causando
o andar inseguro; no córtex causando problemas de associação e fragmentação dos
pensamentos e no hipocampo causando distúrbios de memória.

A dependência de drogas é considerada como um distúrbio psiquiátrico sendo


classificado como um distúrbio cerebral crônico e repetitivo (DSM-IV 303.90 (alcool),
304.30 (cannabis), 304.20 (cocaína) etc., mas a causalidade desta dependência
ainda é tema de discussão da Neurobiologia. Os novos modelos neurobiológicos
indicam uma influencia da dopamina na cadeia do processamento nos
neuromoduladores noradrenalina (“vigilância”) e serotonina (“domínio sobre os
impulsos”). As drogas não teriam então uma influencia direta nos neurônios
dopaminérgicos em forma de criação de dependência mas ela surge então pela
exposição repetida dos neurônios noradrelinergicos e serotonérgicos ( que estão
interligados entre si se controlando mutuamente) com a droga. ( Dr.Jean Pol Tas.
2009 )

Os efeitos permanentes do uso de drogas

Existem muitas pesquisas a respeito dos distúrbios permanentes nos circuitos


neurocognitivos nas áreas de motivação, atenção, tomada de decisões e no auto
controle de impulsos que surgem pelo uso crônico de drogas. A formação de
imagens neurológicas e das tecnologias genéticas podem dar sua contribuição dos
mecanismos psíquicos da dependência como também na identificação de pessoas
vulneráveis para a adição que precisam de abordagens preventivas.

1) Os efeitos cognitivos
92

CANABIS (haxixe, maconha)

MACONHA

Gerry Jager (2010) desenvolveu quatro pesquisas sobre os efeitos cognitivos


de Cannabis e Exstacy e chegou à conclusão de que na fase aguda (durante o
uso) há distúrbios de aprendizagem e da memória, mas não há certeza a respeito
dos efeitos depois de uso por muito tempo e freqüente de Cannabis quanto aos
mesmos defeitos.Alguns estudos mostram que pessoas que usavam cannabis
intensamente , depois do uso sofriam por bastante tempo de leves defeitos na
memória e também nas funções superiores como planejamento,raciocínio,
organização, solução de problemas, autodomínio mas outros estudos não chegaram
à mesma conclusão.
Ultimamente há um interesse crescente na aplicação de cannabis como
também ecstacy como remédio: diminuição de dores, aumento de apetite,
diminuição de medo, tensão e irrequietação em pacientes com esclerose múltipla,
no tratamento de pessoas portadores de estresse pós-psicotraumático.
Apesar dos problemas de problemas de associação e fragmentação dos
pensamentos e no hipocampo causando distúrbios de memória, pela falta de
93

receptores nas áreas de tronco cerebral, que regula pressão sanguínea e


respiração, dificilmente uma “overdose” de cannabis causa morte em contraste com
o uso de opíaceos (Swaab 2010).
O uso crônico da maconha pode levar a déficits de aprendizagem e memória,
diminuição progressiva da motivação (isto é, apatia e improdutividade, o que
caracteriza a "síndrome amotivacional"), aumenta os distúrbios preexistentes,
bronquites e infertilidade (reduz a quantidade de testosterona). No caso de
adolescentes, o déficit cognitivo está relacionado a dificuldades na aprendizagem e
repetência escolar (Lemos & Zaleski, 2004)

PESQUISA

Uma meta-análise feita sobre os efeitos do uso de ecstacy afirma a presença


de leves defeitos da memória verbal e da aprendizagem verbal, mas ainda não
ficou claro quais as regiões no cérebro estão ligadas causalmente com estes
defeitos. Restam então, quatro pontos de discussão a respeito da causalidade do
uso.
1. A CAUSALIDADE: será que os sentimentos depressivos são o efeito da
droga ou será que haja o contrário: a depressão leva ao uso das drogas?
2. OS EFEITOS NEUROTÓXICOS DE LONGA DURAÇÃO: há reversibilidade
depois da parada de uso da droga?
3. A RELEVAÇÃO CLÍNICA foi comprovada que o uso freqüente de ecstacy
causa modificações permanentes no sistema serotonico. A serotonina é um
neurotransmissor que regula o estado emocional e também a memória mas
não há certeza de que haja um efeito causal: há poucas pesquisas sobre os
efeitos de longa duração.
94

4. O USO DE UMA COMBINAÇÃO DE DROGAS: o uso de ecstay com canabis,


amfetamina, cocaína, álcool, tabaco. Qual é o efeito tóxico nas funções
cognitivas. Há poucas pesquisas sistemáticas.

Na pesquisa de Jager (2010) foram feitas duas abordagens simultaneamente:


testes cognitivos e o fMRI ( formação de imagem de ressonância magnética)
indicando quais as partes do cérebro funcionam enquanto a pessoa era submetida a
testes cognitivos. As pesquisas foram feitas entre 2001 e 2006.

AS CONCLUSÕES:
 O uso de Canabis (maconha)1300 joints num período de 5-7 joints por semana
durante quatro anos não mostraram diferenças grandes entre um grupo
experimental e um grupo de controle quanto à memória de curta duração e à
concentração.
 O uso de 1900 joints num período de 5-7 joints por semana durante seis anos ou
10-14 joints por semana durante três anos mostrou menos atividade cerebral
durante os testes de memória de longo prazo e mudanças no tecido neuronal
hipocampal (os neurônios hipocampais tem uma densidade muito alta de
receptores cannabinoides ( influenciável para cannabis). Hipocampo é ligado
com a memória. O resultados mostraram que –apesar da atividade cerebral
diminuída- não houve nenhuma relação entre a atividade diminuída cerebral, uso
de cannabis (maconha) e a memória. Portanto, a atividade cerebral diminuída
causada pelo uso de Cannabis não tem relação com problemas de cognição
(memória de longa duração).
 Os efeitos de longa duração no uso freqüente e durante muito tempo de ecstacy
junto com outras drogas (maconha, anfetaminas, cocaína, álcoo , tabaco.) foram
detectados na diminuição da memória de longa duração mas não da memória de
curta duração nem do grau de concentração . Interessante é notar que as
95

amfetaminas (sistema de dopaminas) influenciam negativamente a memória de


longa duração e não tanto o ecstacy (sistema de serotonina.)

Ecstacy (XTC)

A Substância

“Denominado farmacologicamente como 3,4-metilenodioximetanfetamina e


abreviado por MDMA, o ecstasy é uma substância fortemente psicoativa. Duas
outras substâncias farmacologicamente e psicoativamente semelhantes podem ser
encontradas no mercado ilegal como sendo o ecstasy. Uma delas é conhecida
popularmente como Eve e denominada farmacologicamente por N-etil-3,4-
metilenodioxianfetamina e a outra é um metabólito ativo (produto da degradação do
ecstasy pelo fígado, mas que ainda possui atividade psicoativa) conhecido por MDA
ou 3,4-metilenodioxianfetamina.
As reações e efeitos provocados por essas três substâncias são semelhantes,
mas durante toda nossa abordagem nessa seção, estaremos falando apenas do
96

MDMA, do ecstasy e seus efeitos podem ser estendidos para as outras duas”
(KALANT, 2003).

O efeito imediato, não necessariamente agradável pode se prolongar por mais


de oito horas. Em geral uns minutos após ingerir XTC o cérebro solta uma
quantidade extra de neurotransmissores (serotonina, oxytocina e vasopressina) com
que o cansaço desaparece, a pessoa se sente feliz, carinhoso, social e eufórico.
Uma repetição da dose várias vezes destrói os neurônios producentes de serotonina
diminuindo assim, a produção de neurotransmissores. Este diminuição leva o
usuário para usar cada vez mais XTC para obter um bom resultado (SWAAB
2010,182).
Depois de algum tempo a passagem do sangue no tálamo e no córtex começa a
diminuir mostrando já defeitos na memória. O XTC dilata ou contrai os vasos
sanguineos durante bastante tempo dependente da área do córtex podendo causar
AVC ou sangramentos em redor do córtex.

Dependência
Ainda não há evidências de que o ecstasy provoque dependência física.

Efeitos cognitivos de longo prazo

As altas concentrações de serotonina na fenda sináptica provocadas pelo


ecstasy provocam lesões celulares irreversíveis. Os neurônios não se regeneram
e quando são lesadas suas funções só se recuperam se outros neurônios
compensarem a função perdida. Quando isso não é possível a função é
definitivamente perdida. Estudos em animais têm demonstrado isso.
Nos seres humanos apenas estudos pos-mortem são possíveis, e nestes,
identificou-se uma acentuada diminuição das concentrações de serotonina, que
97

variam de 50 a 80% em diferentes regiões do cérebro indicando uma insuficiência


no funcionamento desses neurônios.
Estudos realizados com usuários vivos através de indicadores confirmam
essa perda de atividade serotoninérgica nos usuários de longo prazo de ecstasy. A
deficiência de serotonina é proporcional ao tempo e a quantidade de ecstasy
usados. Quanto mais tempo ou maior a dose, maior a deficiência da serotonina.
Esses resultados sugerem uma propriedade neurotóxica do ecstasy que levam
seus usuários a perturbações mentais ou comportamentais. Os problemas
resultantes mais comuns são:
 Dificuldade de memória, tanto verbal como visual.
 Dificuldade de tomar decisões
 Impulsividade e perda do autocontrole
 Ataques de pânico
 Recorrências de paranóia, alucinações, despersonalização
 Depressão profunda

Cocaína

Efeitos no cérebro:
98

Na ilustração acima, é possível verificar o corte cerebral pós-mortem de um


adito em cocaína. A lesão  refere-se a uma hemorragia cerebral massiva e está
associada ao uso da droga em questão.
As propriedades primárias da droga bloqueiam a condução de impulsos nas
fibras nervosas, quando aplicada externamente, produzindo uma sensação de
amortecimento e enregelamento. A droga também é vaso constritor, isto é, contrai
os vasos sangüíneos inibindo hemorragias, além de funcionar como anestésico
local, sendo este um dos seus usos na medicina. (S.H. Cardoso e R.M.E. Sabbatini
(1999)
Ingerida ou aspirada, a cocaína age sobre o sistema nervoso periférico,
inibindo a reabsorção, pelos nervos, da norepinefrina (uma substância orgânica
semelhante à adrenalina). Assim, ela potencializa os efeitos da estimulação dos
nervos. A cocaína é também um estimulante do sistema nervoso central, agindo
sobre ele com efeito similar ao das anfetaminas
O efeito da cocaína pode levar a um aumento de excitabilidade, ansiedade,
elevação da pressão sangüínea, náusea e até mesmo alucinações. Uma
característica peculiar é a psicose paranóica, resultante do abuso dessa droga,
representa um tipo de alucinação em que formigas, insetos ou cobras imaginárias
parecem estar caminhando sobre ou sob a pele. Embora existam controvérsias,
99

alguns estudiosos afirmam que os únicos perigos médicos do uso da cocaína são as
reações alérgicas fatais e a habilidade da droga em produzir forte dependência
psicológica, mas não física. Esta afirmação se dá por ser uma substância de efeito
rápido e intenso, acaba por estimular o usuário a utilizá-la seguidamente para fugir
da profunda depressão que se segue após o seu efeito.
No cérebro, a cocaína afeta especialmente as áreas motoras, produzindo
agitação intensa. A ação da cocaína no corpo é poderosa, porém breve, durando
cerca de meia hora, já que a droga é rapidamente metabolizada pelo organismo.
Interagindo com os neurotransmissores, tornam imprecisas as mensagens entre os
neurônios.

EFEITOS COGNITIVOS PERMANENTES

Numa pesquisa sistemática realizada por Mattos; Biscaia (1989) foram


avaliados 21 pacientes dependentes de cocaína, segundo o DSM-IV em regime
fechado de tratamento hospitalar, após 3 semanas de abstinência e sem uso de
medicaçöes com os testes de Memória Lógica (WMS-R), Reproduçäo visual (WMS-
R), Teste de Aprendizado Auditivo-Verbal de Rey e Figura Complexa de Rey-
Osterrieth. Os pacientes näo apresentavam quaisquer outras causas de disfunçäo
cognitiva. Os resultados indicaram uma dificuldade significativa de recuperaçäo de
material visual complexo, que exige o emprego de estratégias eficazes e ativas de
aprendizado.
Há desenvolvimento de vacinas contra a dependência da cocaína, da nicotina
e da metanfetamina Cientistas do The Scripps Research Institute, dos Estados
Unidos, um dos mais respeitados nesta área, apresentaram os resultados de um
trabalho que apontou avanços na criação de uma vacina contra a metanfetamina,
ou chrystal meth, como a droga também é conhecida. Em experimentos feitos com
cobaias, os pesquisadores confirmaram a eficácia de três partículas que, após
100

serem injetadas nos animais, conseguiram estimular a fabricação de anticorpos


contra a substância (Laranjeira, 2011).

Crack

Fumo de crack numa lata de alumínio

O Crack é uma droga geralmente fumada, feita a partir da mistura de pasta de


cocaína com bicarbonato de sódio, quer dizer, é uma forma impura de cocaína. O
nome deriva do verbo "to crack", que em inglês significa quebrar, devido aos
pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados,
como se estivessem quebrando.
A fumaça produzida pela queima da pedra de crack chega ao sistema
nervoso central em dez segundos, devido ao fácil e rápida e absorção pulmonar.
Seu efeito dura de 3 a 10 minutos em forma de uma euforia bem mais forte do que o
da cocaína. Em seguida leva o usuário para um estádio depressivo que o leva a usar
novamente para compensar o mal-estar, provocando intensa dependência. Não raro
o usuário tem alucinações e paranóia (ilusões de perseguição).O usuário não
necessita de seringa — basta um cachimbo, na maioria das vezes improvisado,
como, por exemplo, uma lata de alumínio furada.
O consumo de crack fumado através de latas de alumínio como cachimbo,
uma vez que a ingestão de alumínio está associada a dano neurológico, tem levado
a estudos em busca de evidências do aumento do alumínio sérico em usuários de
101

crack. Especificamente, o alumínio sérico é um termo usado por profissionais de


saúde para se referir a quantidade de uma determinada substância no sangue.

Os efeitos cognitivos

O crack leva 15 segundos para chegar ao cérebro e já começa a produzir


seus efeitos: forte aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão
arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremor muscular e excitação acentuada,
sensações de aparente bem-estar, aumento da capacidade física e mental,
indiferença à dor e ao cansaço. Mas, se os prazeres físicos e psíquicos chegam
rápido com uma pedra de crack, os sintomas da síndrome de abstinência também
não demoram a chegar. 
Em 15 minutos, surge de novo a necessidade de inalar a fumaça de outra
pedra, caso contrário chegará inevitavelmente o desgaste físico, a prostração e a
depressão profunda. Crack pode provocar lesões cerebrais irreversíveis por causa
de sua concentração no sistema nervoso central.
Quanto aos defeitos permanentes, as pesquisas de Viviane Samoel Rodrigues c.s.
(2006) mostraram, que pacientes em abstinência de, no mínimo, sete
dias,mostraram conforme os testes neuropsicológicos um prejuízo significativo no
que tange a memória não-verbal e as funções visuo-construtivas.
Os testes psicológicos usados são: Raven Geral, WAIS- R (Vocabulário,
Compreensão, Cubos e Símbolos Numéricos) e Figura Complexa de Rey,
102

OXI: uma nova e devastadora droga

Pedras Oxi na Polícia Federal de Rio Branco, Acre (Regiclay Alves Saady)

Desde a década de 1980, distante dos grandes centros brasileiros, o estado


do Acre convive com a destruição produzida pelo oxi, uma mistura de pasta-base de
cocaína, querosene e cal virgem mais devastadora do que o crack. A droga, vendida
no formato de pedra.
Duas características da droga ajudam a explicar por que ela se espalha pelo
país. A primeira é seu potencial alucinógeno. Assim como o crack, o oxi consegue
estimular em um usuário o dobro da euforia provocada pela cocaína, e o preço
acessível. Além, é claro, do risco de óbito no longo prazo, seu uso contínuo provoca
reações intensas. São comuns vômito e diarreia, aparecimento de lesões precoces
no sistema nervoso central e degeneração das funções hepáticas.
"Solventes na composição da droga podem aumentar seu potencial
cancerígeno", explica Ivan Mario Braun, psiquiatra e autor do livro Drogas:
Perguntas e Respostas.
Por último, mas não menos importante, uma particularidade do oxi assusta os
profissionais de saúde: a "fórmula" da droga varia de acordo com "receitas caseiras"
de usuários. É possível, por exemplo, encontrar a presença de ingredientes como
cimento (calcário comprometimento neurológico é de parestesias, fraqueza e
103

paralisia) acetona, ácido sulfúrico, amônia e soda cáustica - muitos dos itens podem
ser facilmente encontrados em lojas de material de construção. A variedade amplia
os riscos à saúde e dificulta o tratamento.
Confira a seguir as informações conhecidas sobre o oxi e uma comparação
dele com o crack:
104

Referências

BRAUN, I.M. Drogas – Perguntas e respostas. São Paulo: MG Editores, 2011.


CARDOSO,S.H. E SABBATINI,R.M.E Os Efeitos da Cocaína no Cérebro. Revista
Mente & Cérebro 3(8), jan/mar, 1999.

GRANT, S. Abordagem para o estudo da drogadição. Em GAZZANIGA, M.S.


Neurociência Cognitiva: a biologia da mente. Porto Alegre: Artmed, 2006.

JAGER.G (2006) ‘Cannabis use and memory brain function in adolescent boys: a
cross-sectional multicenter functional magnetic resonance imaging study’ Rudolf
Magnus Institute of Neuroscience, University Medical Center Utrecht, The
Netherlands. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 49:561-72, 572.e1-3

KALANT, H (2001) The Pharmacology and Toxicology of Ecstasy. Can Med Ass J
2001; 165: 917-929

LEMOS, T; ZALESKI, M. As principias drogas: como elas agem e quais os seus


efeitos. Em I. Pinsky & M. Bessa, Adolescência e drogas (pp. 16-29). São Paulo:
Contexto, 2004.

MATTOS,P E BISCAIA, M. Déficits cognitivos e cocaína. J. bras. psiquiatr;47(8):397-


400, ago. 1998.

RODRIGUES, V.S; CAMINHA,R. M. ; LESSA R.H. HORTA. Déficits


cognitivos em pacientes usuários de crack. Rev. bras.ter.
cogn. v.2 n.1. Rio de Janeiro jun. 2006

TAS.J.P. Neurobiologisch Onderzoek naar Drugs; ethische em beleidsimplicaties.


Publ: Europees Waarnemingscentrum voor drugs. 2000. Disponível em:
<http://europa.eu/legislation_summaries/contact/index_nl.htm>
105

ÁLCOOL

A dependência

O alcoolismo é uma doença onde há dependência do uso de álcool. O


alcoólatra tem grande dificuldade de parar de beber, está sujeito aos mesmos riscos
do abuso de álcool mas, como não consegue abandonar a bebida, apresenta muitas
vezes uma deterioração na saúde, na família, no trabalho e no círculo de amizades.
“O álcool pode provocar diversos malefícios ao organismo. Em relação a cirrose, por
exemplo, considera-se que um homem deve beber em média 80 gramas de álcool
( 60 g para mulheres ) por semana por 10 a 12 anos. O etanol ainda afeta diversos
órgãos, causando doenças do cérebro, nervos, coração, pâncreas, etc”.(Gonçalves.
2001). A cirrose hepática pode ser definida anatomicamente como um processo
difuso de fibrose e formação de nódulos, acompanhando-se freqüentemente de
necrose hepatocelular.  
As manifestações clínicas das hepatopatias (doenças do fígado) são diversas,
variando de alterações laboratoriais isoladas e silentes até uma falência hepática
dramática e rapidamente progressiva.(Dr. Stéfano Gonçalves Jorge,(2001). O
quadro de dependência de álcool é psiquiátrico porque 105R105áni vicia, altera o
estado mental da pessoa que o utiliza, levando-a a atos insensatos, muitas vezes
violentos .(DSM-IV ).
Para avaliar a gravidade de dependência de álcool aplicamos o teste Figuras
Complexas de Rey (objetivo básico é a compreensão  da memória não-verbal
(visual) e da habilidade visuo-espacial do cliente), aplicado em dois momentos, com
um intervalo de três meses entre os mesmos e uma única vez o SADD, objetivando
a gravidade da dependencia.
106

A SADD (Raistrick & cols., 1983) foi padronizada para uso no Brasil por Jorge
e Masur (1986). Trata-se de uma escala auto aplicável, constituída por 15 itens
relacionados ao consumo do álcool, que objetiva avaliar o grau de dependência
desta substância. Há quatro alternativas de respostas para cada questão: 0=Nunca;
1=Poucas vezes; 2=Muitas vezes; e 3=Sempre. De acordo com a soma total de
pontos, os alcoolistas são classificados nas seguintes categorias: 1 a
9=Dependência leve; 10 a 19=Dependência moderada; e 20 a 45=Dependência
grave.
As mudanças cognitivas em alcoolatras estão relacionadas com o grau de
decréscimo no uso de álcool, e que se isso não acontece, há um decréscimo
continuo na qualidade das funções cognitivas.
Apesar dos inúmeros prejuízos conseqüentes do abuso de álcool, os clientes
com tal disfunção apresentam dificuldades em se manter por um longo período em
tratamento psicoterápico (Edwards & Dare, 1997). O abandono dos programas de
tratamento do alcoolismo sugere que dois terços dos pacientes terminam o processo
de recuperação antes da décima sessão, com o número médio de quatro sessões
(Stark, 1992)

Efeitos cognitivos do uso crônico de álcool

Os efeitos colaterais do álcool sobre a saúde da pessoa são diversos e de


ordem física e mental, mas principalmente associados com as habilidades
cognitivas : dificuldades na coordenação, incapacidade de concentração e o
julgamento prejudicado. No longo prazo, este dano pode resultar em
comprometimento do crescimento e função cerebral e, eventualmente, provocar
desordens neuropsiquiátricas e cognitivas
O tratamento, em geral, é na base de vitaminas e de treinamento cognitivo
junto com psicoterapia.
107

Referência

EDWARDS, G. & DARE, C. (1997). Psicoterapia e tratamento de adições. São


Paulo, SP: Artes Médicas

GONÇALVES JORGE, S.(2001) Cirrose Hepática.WWW.Hepcentro.com.br

JORGE, M. R. & MASUR, J. (1986). Questionários padronizados para avaliação do


grau de severidade da síndrome de Dependência do Álcool. Jornal Brasileiro de
Psiquiatria, 35, 287-292

LEZAK,M.D (1995) Neuropsychological Assessment 3th edition. Oxford University


Press

SÍNDROME PSICO-ORGÂNICA

O conceito de “síndrome psico-orgânica” pode ser definida como o conjunto


dos distúrbios mentais correlatos a uma alteração difusa da função do tecido
cerebral. É clássico distinguir, além disso, a síndrome psico-orgânica aguda,
quando o processo orgânico evolui de maneira brutal e rápida, e a síndrome psico--
orgânica crônica, em que esse processo é mais lentamente evolutivo.
Podemos observar que o termo síndrome psico-orgânica, aguda ou crônica,
encontra correspondência, na nosologia francesa, com os termos confusão mental e
demência. Entretanto, parece explicar melhor os diferentes quadros apresentados
nos estados orgânicos, desde as formas clínicas mais atenuadas até as formas mais
graves, ao passo que os conceitos franceses não remetem, em sua acepção mais
corrente, senão às formas extremas desses quadros.
108

Podemos notar, todavia, que os termos “confusão” e “demência” talvez


tenham sido tomados em um sentido menos restritivo por certos autores, e se
tornaram agora quase sinônimos das noções de síndrome psico-orgânica aguda e
crônica; assim, a demência pôde ser definida como uma deterioração global do
funcionamento mental em seus aspectos cognitivos, afetivos e volitivo-ativos.
O termos “síndrome psico-orgânica “ainda é muito usado naS abordagens de
idosos que mostram alguns sinais “demenciais” no seu comportamento. Como fizera
K. Bonhoeffer para descrever os distúrbios característicos das lesões agudas do
cérebro, E. Bleuler adotou, para descrever os distúrbios psíquicos relacionados com
lesões mais crônicas, a noção de “síndrome” (conjunto sintomático que pode estar
ligado a diferentes etiologias), enquanto numerosos autores de sua época, como
Kraepelin, tendiam a fazer corresponder a uma causa única uma sintomatologia
precisa e particular.
Todo o valor dessa noção de síndrome psico-orgânica provém de um fato
clínico essencial: a semelhança dos quadros neuropsiquiátricos, em determinada
idade, subtendidos por uma organicidade cerebral crônica e difusa, estando o qua-
dro clínico, de algum modo, emancipado da etiologia em causa, que seria apenas
um dentre outros fatores responsáveis por variações clínicas no cerne dessa
síndrome.

SUBNUTRIÇÃO E DEFEITOS COGNITIVOS


109

Crianças
As pesquisas de Yara Lúcia Exposito (1975) em S.Paulo e Brasilia mostraram
que crianças com um alto rísico de desnutrição pregressiva apresentam déficits nas
funções neuropsicológicos: conceitos básicos, linguagem e operações
cognitivas. Gravioto; Robles (1965) na mesma época, constataram que o
desenvolvimento da linguagem era a área mais atingida por desnutrição infantil e
crianças com avançado grau de desnutrição durante os primeiros seis meses de
vida sofreram mais defeitos do que as crianças que sofriam desnutrição numa idade
avançada (Chase e Martins, 1970). Estes dados sugerem, portanto que os efeitos
tem um caráter permanente: o prejuízo causado por desnutrição na fase inicial da
vida se apresenta em estágios posteriores do desenvolvimento da crianças.

Alimentação

A ingestão de alimentos pode ser deficiente em quantidade e/ou qualidade.


Com freqüência, as deficiências ocorrem concomitantemente às deficiências de
aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais. Infecções respiratórias e diarréias são
problemas comuns entre as crianças e interagem com a ingestão de dietas
inadequadas causando subnutrição, incapacidade e morte. (MARTORELL, 2001)
É crucial para a maioria dos mecanismos propostos, que ligam subnutrição
com capacidade cognitiva deficiente, acontecerem no momento propício. É mais
110

provável que o dano ao cérebro aconteça durante as fases rápidas de crescimento,


que ocorrem durante o período pré-natal e início da infância.
A apatia e o recolhimento causados pela dieta, pela infecção, ou por ambos,
assim como o retardo do crescimento, constituem-se em mais que um problema
para as crianças.
O material diagnóstico usado para captar as deficiências cognitivas em
crianças subnutridas é:
 Para medir o fator geral “g” ou QI: Teste Wechsler e Stanford Binet, Raven;
 Para medir crianças até 14 anos de idade: Testes de Griffiths, Stanford-Binet
e WISC.

Ferro, zinco e adultos no contexto da alimentação

A ingestão de quantidades inadequadas de proteína e energia, denominada


de “síndrome de múltiplas deficiências nutricionais”, compromete o desenvolvimento
cognitivo de crianças e sua capacidade de aprender. Da mesma forma que em
adultos, a subnutrição resultante da ingestão inadequada de alimentos pode
contribuir para déficits cognitivos.
As deficiências de ferro e zinco podem afetar a cognição. Esses dois
componentes essenciais do cérebro e estão envolvidos no desenvolvimento do
cérebro e das funções do sistema nervoso central, incluindo a produção e o
catabolismo de neurotransmissores. Em humanos, a deficiência de ferro contribui
para falhas cognitivas incluindo menor desempenho neuropsicológica em bebês,
crianças em idade pré-escolar e em idade escolar, adolescentes e adultos.
A nutricionista Juliana Santin (2005) registra que algumas descobertas de
pesquisas indicam que a deficiência precoce de ferro (isto é, na infância) pode
causar conseqüências neuropsicológicas irreversíveis. “Entretanto, o fornecimento
111

adequado na pré-escola e em crianças mais velhas parece melhorar o desempenho


cognitivo”
Comparado com o ferro, existem menos estudos que avaliaram o papel do
zinco na performance neuropsicológica em humanos. Um estudo recente mostrou
que o fornecimento adequado de zinco melhorou alguns índices de desempenho
neuropsicológico em crianças com idade escolar quando outros micronutrientes
limitantes também foram fornecidos de forma adequada.
Subnutrição no período de gravidez causa distúrbios funcionais no cérebro
causando no feto quando adulto incapacidade para criar um ambiente ideal com
condições normais para assegurar e manter a geração seguinte (Swaab.2010.450).
Subnutrição do feto aumenta a possibilidade do desenvolvimento de comportamento
associal e esquizofrenia, (SWAAB.2010.390) Este processo ,em geral, é causado
pela deficiência da placenta.

TERAPIA
Crianças que tiveram um atraso no seu desenvolvimento psico-cognitivo por
subnutrição ou negligência afetiva, tem uma melhora bastante acentuado quando
colocados num ambiente estimulante.(Swaab.2010)

REFERÊNCIAS

CRAVIOTO,J.;BIRCH,H.G.,DELICARDIE.E.(1967) Influencias de La desnutrición


sobre La capacidad de aprendizage del niño escolar. Bol.Med.Hosp. Infant,.24;
217-233.

ESPOSITO,Y.L.(1975) Marginalização cultural: subsídios para um currículo pré-


escolar. Cadernos de Pesquisa, (14): 7-73, set.

MARTORELL, R (2001) Conseqüências de longo prazo da subnutrição no


desenvolvimento físico e mental. Anais Nestlé 2001; 61:31-43.
112

SANTIN,J (2005) Ferro, zinco, carne bovina e cognição Rede AgriPoint: AgriPoint |
Cursos Online AgriPoint | Interleite 2011 | Workshop BeefPoint.

SWAAB.D.(2010) Wij zijn nos brein. Amsterdam. Uitgeverij Kontakt.

Você também pode gostar