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Introdução à

Farmacognosia

Aula 01

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O que é Farmacognosia?

- A Farmacognosia tem como alvo de estudo os princípios ativos naturais, sejam


animais ou vegetais. O termo farmacognosia deriva do grego pharmakon (droga,
medicamento, remédio, veneno) e gnosis (conhecimento).

A definição mais ampla de Farmacognosia: “é a aplicação simultânea


de várias disciplinas científicas com o objetivo de conhecer fármacos
naturais sob todos os aspectos”.

Ou ainda, a Farmacognosia é uma ciência multidisciplinar que


contempla o estudo das propriedades físicas, químicas, bioquímicas e
biológicas dos fármacos ou dos fármacos potenciais de origem natural,
assim como busca novos fármacos a partir de fontes naturais.

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Farmacognosia
- História
- Produção
- Armazenamento
- Comercialização
Aspectos tratados na Farmacognosia:
- Uso
Princípio Ativo
- Identificação
- Avaliação
- Isolamento

- Pesquisa por novas plantas medicinais;


- Verificação da atividade biológica de extratos vegetais;
- Isolamento de princípios ativos e sua identificação.

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Definições
Planta Medicinal: É todo e qualquer vegetal que contém em um ou mais órgãos
substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que são precursores
de fármacos semissintéticos.

Planta Medicinal: “espécie vegetal, cultivada ou não,


utilizada com propósitos terapêuticos”.

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Conceito de Droga
Droga é todo produto de origem animal ou vegetal (planta ou suas partes) que,
coletado ou separado da natureza e submetido a processo de preparo e conservação,
tem composição e propriedades tais que possibilitam o seu uso como forma bruta de
medicamento ou como necessidade farmacêutica.

As folhas de EUCALIPTO (Eucalyptus globulus Labillardiere)

- Coletadas simplesmente do vegetal não constituem droga.

- Quando são então submetidas, subsequentemente, a processo de conservação,


como por exemplo secagem, passam a constituir droga.

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Conceito de Droga
Planta Medicinal

Processo de coleta

- Vegetal inteiro
Produto derivado
- Órgão vegetal diretamente do vegetal
- Parte do órgão (exsudatos)

Processo de preparo
e conservação

Droga comum Droga derivada

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Droga Derivada
Drogas derivadas são produtos derivados de animal ou planta, obtidos
diretamente, isto é, sem utilização de processo extrativo especializado.

- Incisões em tronco de pinheiro exsudato (mistura complexa) = terebentina


Terebentina após coleta e preparo = droga derivada

- Incisões em frutos verdes de papoula exsudato = pão de ópio


Pão de ópio após coleta e preparo = droga derivada

Pinus elliottii Papaver somniferum

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Droga Vegetal - Resumo

Comum
Droga vegetal
Derivada

Logo, para uma matéria ser considerada droga vegetal, deverá


preencher as seguintes condições:

- Ser de origem vegetal;


- Ter sido submetida a processo de coleta e de conservação;
- Não ser obtida mediante processos extrativos específicos (droga derivada);
- Apresentar propriedades farmacodinâmicas ou ser necessidade farmacêutica.

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Processo de Extração

Droga Vegetal
Extração Derivado vegetal
(comum ou derivada)
Planta Medicinal sólido-líquido
(fresca)
1) solvente e equipamentos
2) evaporação do solvente

Derivado vegetal: produto da extração da planta medicinal fresca ou da droga


vegetal, que contenha as substâncias responsáveis pela ação terapêutica, podendo
ocorrer na forma de extrato, óleo fixo e volátil, cera, exsudato e outros.

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Medicamento Fitoterápico

Fitoterápico: É todo medicamento tecnicamente obtido e elaborado, empregando-se


exclusivamente matérias primas ativas vegetais, com finalidade profilática, curativa
ou para fins de diagnóstico. É o produto final acabado, embalado e rotulado.

- Na sua preparação podem ser usados adjuvantes farmacêuticos permitidos pela legislação.

- Fitoterápicos são medicamentos obtidos empregando-se exclusivamente derivados de


droga vegetal (extrato, tintura, óleo, cera, exsudato, suco e outros).

- Não podem estar incluídas substâncias ativas de outras origens.

- Não é considerado fitoterápico quaisquer substâncias ativas, ainda que de origem vegetal,
isoladas ou mesmo suas misturas.

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Definições
Fitofármaco: Substância ativa de origem vegetal isolada de matérias-primas vegetais.

Pilocarpina Papaverina

Rutina

Digoxina

Não são considerados fitofármacos compostos isolados que sofreram


qualquer etapa de semissíntese ou modificação de sua estrutura química.

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Metabolismo Vegetal

Todos os organismos vivos precisam transformar e interconverter uma grande variedade


de moléculas orgânicas que os permitem viver, se desenvolver e se reproduzir.

Metabolismo

Um grande conjunto de reações químicas, catalisadas por enzimas


e cuidadosamente reguladas, fazem parte do metabolismo.

Metabolismo primário

Metabolismo Vegetal
Metabolismo secundário

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Metabolismo Vegetal
Metabolismo Primário

- É aquele essencial para a manutenção da vida do vegetal.

- É basicamente o mesmo para todos os seres vivos, com pequenas diferenças,


como a fotossíntese (vegetais).
- Metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucléicos.

Metabolismo Secundário

- Tipo de metabolismo com uma distribuição mais limitada na natureza.


- Os metabólitos secundários são encontrados apenas em organismos específicos.
- Responsável pela manutenção de um vegetal na biosfera.
- Esse metabolismo garante vantagens para sobrevivência e perpetuação da espécie.

- Produção de toxinas para defesa;


Exemplos - Produção de componentes voláteis (polinização e reprodução);
- Interação da espécie com o meio ambiente.
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Metabolismo Secundário

Metabolismo Inúmeros produtos naturais biologicamente ativos


Secundário Princípios ativos naturais (Produtos Naturais)

- Os blocos de construção do metabolismo secundário são provenientes do


metabolismo primário.

- Os principais blocos de construção empregados na biossíntese de metabólitos


secundários são:

Acetil coenzima A Ácido xiquímico


Ácido mevalônico
(acetil-CoA)

Via do Acetato Via do Mevalonato


Via do Xiquimato

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G
L
I
C
Ó
L
I
S
E

Ciclo de
Krebs
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Biossíntese
Biossíntese é um conjunto de reações químicas onde são produzidas moléculas
quimicamente complexas, a partir de reagentes mais simples, geralmente catalisadas
por enzimas.

- Ao contrário da síntese química, a biossíntese ocorre normalmente dentro dos


organismos vivos e é uma parte vital do metabolismo.
- No entanto, a biotecnologia permite a realização de biossíntese in vitro.

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Produção de Drogas
A produção de drogas vegetais emprega tanto vegetais
silvestres (espontâneos) como vegetais cultivados.

Seleção
Cultura
Colheita
Etapas de produção de drogas Preparo ou tratamento
Secagem
Estabilização
Conservação
Seleção

- A seleção visa à obtenção de drogas em condições padronizadas.


- Isso envolve a escolha de organismos pertencentes à espécie em questão.
- Busca-se também a seleção de formas de valor superior (diferenças morfológicas,
fisiológicas e bioquímicas).

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Produção de Drogas

Cultura

- No cultivo de plantas medicinais, forçosamente devem ser considerados fatores que


influenciam poderosamente na vida vegetal e, portanto, na sua composição.

Exemplos: temperatura, tipo do solo, umidade, idade da planta, clima e altitude.

- Inúmeros fatores influenciam no conteúdo de princípios ativos de uma droga


durante sua cultura. Esses fatores, em relação ao vegetal, podem ser divididos em:

Fatores extrínsecos: relacionados ao meio no qual o vegetal vive.

Fatores climáticos = temperaturas e irradiações solares (ambiente aéreo do vegetal)


Fatores climáticos-edáficos = derivam da relação clima x solo (água e CO2)
Fatores edáficos = têm relação essencialmente com o solo (água, arejamento, nutrientes)

Fatores intrínsecos: patrimônio genético do vegetal.

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Produção de Drogas

Colheita
- O teor de princípios ativos de uma planta medicinal varia de órgão para órgão, com a
idade, com a época da colheita e mesmo com o período do dia no qual é coletado.

Parte da Planta Teor de alcaloides


Cápsula imatura 0,88 – 1,04%
Sumidade florida 0,90 – 1,10%
Folha 0,42 – 0,43%
Fruto 0,35 – 0,38%
Raiz 0,54 – 0,56% Lobelia inflata

Período de Colheita Teor de sulfato de esparteína


Fevereiro – Abril 6,5 – 7,0%
Junho – Setembro 7,2 – 8,1%
Novembro - Janeiro 4,8 – 6,0%
Spartium junceum
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Produção de Drogas

Preparo ou Tratamento

- Após a colheita, o material deve passar por preparo.

Lavagem = retirar excesso de material inorgânico (ex.: raízes com terra).


Escolha = eliminar os materiais que não apresentam características convenientes.
Divisão em fragmentos menores = facilitar a secagem ou o processo extrativo.

Secagem

- Tem como objetivo eliminar certa quantidade de água do material vegetal.


- Diminui o volume da droga e facilita sua conservação.

Crescimento de microorganismos
Água
Reações de hidrólise

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Produção de Drogas

Estabilização
- A estabilização é obrigatória para muitas drogas, mas não é utilizada em todas.
- É realizada para inativar enzimas.

É um processo violento e só deve ser empregado quando a


secagem simples não for suficiente.

Aquecimento (80ºC por 15-30 min.)


Formas de se obter a
Emprego de Solventes (ex.: etanol)
estabilização
Irradiação (raios UV)

Conservação
- A conservação engloba não apenas a manutenção das drogas após a embalagem,
mas também as operações anteriores, como a estocagem.

Ambiente (temperatura e umidade)


Fatores que afetam Estado da Divisão (maior divisão = maior decomposição)
diretamente a
Embalagem (deve permitir trocas gasosas e não reagir)
conservação
Tempo de armazenamento (controle dos princípios ativos)

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Qualidade da Droga Vegetal
1) Identificação Botânica
- Binômio científico X nome vulgar (parte usada)
- Caracterização: Macroscópica e Microscópica
2) Cultivo
- Planta espontânea X Planta cultivada
3) Coleta
- Época e local de coleta são importantes para o teor de princípios ativos.
4) Conservação
- Umidade (secagem para não haver contaminação microbiana)
- Luz e Temperatura (frasco âmbar)
- Parasitas
- Carga Microbiológica (esterilização)
5) Adulterações
- Sofisticações: adição de substâncias isoladas quando o teor de ativos é baixo (Ex: cafeína no
pó de guaraná).
- Exaurimento da droga: drogas previamente extraídas (sachês para chás).
6) Falsificações
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Farmacognosia Farmacobotânica

Farmacobotânica = parte da Morfologia Vegetal Interna


Farmacognosia e se preocupa com o
estudo das matérias de origem vegetal Morfologia Vegetal Externa

Farmacoquímica
Farmacomorfologia / Farmacoanatomia (avaliação, identificação,
(identificação e pureza das drogas) isolamento de princípios ativos)

Toxicidade
Fitoterapia Farmacobotânica (plantas tóxicas)

Farmacoergasia
(seleção, cultura, colheita, preparação,
conservação, dispensação)

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Nomenclatura e Identificação de Plantas
- Alguns procedimentos precisam ser utilizados para facilitar a identificação de um
organismo vivo e sua inclusão em um sistema de classificação.

- A identificação de um organismo vegetal é realizada até espécie e consiste na


comparação com uma espécie já descrita.

Espécies: grupos de populações que têm semelhanças relativamente grandes


entre si, diferindo de outros grupos de populações menos semelhantes.

Nome científico: aceito internacionalmente

1) O nome científico é sempre um binômio escrito em latim


ou em palavras ou nomes latinizados.
Passiflora incarnata
2) Primeira palavra corresponde ao gênero (letra inicial
maiúscula) e a segunda palavra corresponde ao epíteto
específico para uma espécie (letra inicial minúscula).
3) O binômio científico deve ser grifado no texto (itálico ou
sublinhado).

Rhamnus purshiana
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Coleta, Preparação e Registro de Plantas

A coleta de plantas é o processo de se retirar um ou mais indivíduos inteiros ou


parte deles da natureza.

- Estudos científicos
- Trabalhos didáticos

A herborização do material destinado à identificação e conservação como material


testemunho é o processo de preparação do material coletado para preservá-lo em
uma coleção de plantas denominada herbário.

- Secagem de exemplares coletados procurando-se preservar a forma e a estrutura


- Quando não for possível, é válido usar recursos fotográficos

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Coleta, Preparação e Registro de Plantas

- Herbários são valiosos bancos de dados que armazenam ampla informação


sobre plantas individuais.

- O nome que se dá à planta herborizada e acondicionada em uma pasta ou folha


de papel é exsicata.

A preparação da exsicata se dá na seguinte ordem:

1) Os ramos ou plantas inteiras são colocadas entre folhas de papel absorvente


(ex.: jornal), procurando-se estender as folhas e flores para que não fiquem
dobradas. Então, podem ser colocadas na estufa para secagem.

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Coleta, Preparação e Registro de Plantas

2) O material que foi secado é preso em cartolina (30 x 40 cm) com fita adesiva,
cola ou linha e agulha.

3) Colar a etiqueta de coleta na porção inferior direita, na qual deve conter todas
as informações da planta (nome, local da coleta,...).

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Coleta, Preparação e Registro de Plantas

4) Incorporação da exsicata ao acervo: numeração, registro e arquivamento. Para


isso, as coleções precisam ser obtidas através de expedições à campo ou por
meio de intercâmbio entre herbários.

- O registro é parte importante de uma coleta. Inicia-se no campo e continua no


herbário, quando se anotam dados necessários que são anexados à exsicata.

- A identificação deve ser confiável, permitindo a reprodução de novas


investigações com a mesma espécie mediante novas coletas e comparação com o
material testemunho.

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Herbário do Jardim Botânico

O acervo inicial do Herbário foi constituído de 25.000 amostras doadas por D. Pedro II,
mas a história do herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e das demais coleções
a ele associadas começou em 25 de março de 1890, no momento em que o naturalista
João Barbosa Rodrigues assumiu a direção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

- Atualmente, o herbário conta com 850.000 exsicatas de todos os grupos vegetais e


fungos, sendo que cerca de 20 mil novas amostras são incorporadas anualmente.

- Toda esta preciosa coleção pode ser consultada on line por meio dos sistemas Jabot
e Herbário Virtual-Reflora.

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Bibliografia

Simões, Claudia M. Oliveira


Farmacognosia - Do Produto Natural ao Medicamento - 1ª Ed.

Oliveira, Fernando de
Farmacognosia - Identificação de Drogas Vegetais - 2ª Ed.

Yunes, Rosendo Augusto


Química de Produtos Naturais - 4ª Ed.

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Bibliografia

Simões, Claudia M. Oliveira


Farmacognosia da Planta ao Medicamento - 6 ª Ed.

Paul M. Dewick
Medicinal Natural Products: A Biosynthetic Approach -
3rd Edition

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