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coisas que todo

médico precisa saber


sobre Cannabis para
fins medicinais
1. Há muitos anos
se usa Cannabis
para fins medicinais
A história de muitos medicamentos usados atualmente
na medicina tem origem vegetal como morfina, atropina e
paclitaxel. Com o desenvolvimento de técnicas analíticas e
métodos de separação, foi possível isolar compostos individuais
e, consequentemente, definir seus mecanismos moleculares de
ação, avaliando suas interações com receptores.

Cannabis sativa L. é uma das espécies de plantas mais antigas


usadas por humanos, há mais de 10 mil anos. No século
XIX foram iniciados experimentos sobre as propriedades
farmacológicas e tóxicas da planta, sugerindo como tratamento
para o tétano e outras doenças convulsivas. Em 1851, pela
primeira vez, foi incluída na Farmacopéia Americana (USP)
com o uso como analgésico, anticonvulsivante e hipnótico.

A descoberta da estrutura química do Δ9-tetrahidrocanabinol


(Δ9-THC), que foi identificado por Gaoni e Mechoulam,
impulsionou a pesquisa multidirecional sobre Cannabis,
diferenciando os efeitos de cada composto e,
consequentemente, as plantas para uso adulto ou medicinal.
2. Diferença entre as
plantas que originam
os produtos

A Cannabis sativa é a principal fonte dos produtos para


fins medicinais à base de canabinoides. Isso porque,
diferentemente de outras variedades, a concentração de
CBD é maior tanto em quantidade quanto em proporção
em relação aos outros fitocanabinoides – entre eles o
tetraidrocanabinol (THC).

A Cannabis indica, ao contrário, tem maior concentração


de THC e, por isso, é a principal para uso adulto.

Espécie CANNABIS SATIVA

Subespécie Cannabis sativa Cannabis indica


Composição CBD > THC THC > CBD
Qualidade Controlada Não controlada
Administração Oral (óleo) Inalação (cigarro)
Dose Conhecida / objetiva Subjetiva

Fins Medicinais Uso Adulto


3. Variedade de
produtos de acordo
com moléculas
presentes
A maior parte dos produtos focados no conteúdo
e concentração de CBD e THC.

Terpenos
THC Terpenos

Outros Outros
CBD canabinoides CBD canabinoides CBD

FULL SPECTRUM BROAD SPECTRUM ISOLADO (99%)


4. Qualidade
A qualidade de produtos para saúde é um parâmetro essencial ao ser
considerado no momento da prescrição. No caso de produtos à base
de plantas, alguns parâmetros são bastante importantes para que
essa qualidade seja garantida:

• não haver quaisquer resíduos químicos da fase de extração das


moléculas farmacologicamente ativas;

• não haver contaminação por microrganismos ou metais pesados


advindos do cultivo ou produção;

• rótulo condizente com conteúdo do frasco principalmente


no caso do CBD e THC que são as principais moléculas
farmacologicamente ativas e as mais concentradas nestes
produtos.

A qualidade do produto é essencial para diminuir a ocorrência de


efeitos colaterais e permite a previsibilidade e continuidade de
tratamentos crônicos.
5. Ciência
pré-clínica
e clínica
As aplicabilidades dos canabinoides têm sido cada vez mais
evidenciadas na literatura científica internacional e exploradas
clinicamente.

As principais indicações ainda são epilepsias farmacorresistentes,


ansiedade, autismo e dor crônica. Os efeitos a curto prazo são
possíveis e a longo prazo ainda são desconhecidos, mas indicações
como doenças autoimunes, insônia, transtorno de estresse pós-
traumatico, sintomas de doença de Parkinson, entre outras, tem
se mostrado boas candidatas a novas indicações.
6. Interações
medicamentosas
As informações acerca das interações dos canabinoides com
outros medicamentos, das mais diversas classes, se baseia nas
enzimas hepáticas (citocromo P450) e informações teóricas sobre
a metabolização tanto dos canabinoides (principalmente CBD e
THC) quanto das outras moléculas.

O canabidiol é substrato principalmente das CYPs 2C19 e


3A4. O que o torna potencial interferente de antidepressivos,
gabapentina e clopidogrel.

Já o tetraidrocanabinol é substrato das CYPs 2C9 e 3A4. Podendo


aumentar a concentração de alguns antidepressivos e diminuir
a concentração de antiepilépticos.

Além disso, tanto o CBD quanto o THC são inibidores da CYP2D6,


podendo interferir diretamente na metabolização de alguns
antidepressivos, antipsicóticos, beta bloqueadores e opioides,
por exemplo.

CBD CYP2C19 7-OH-CBD CYP2C19 CBD-COOH

THC CYP2C9 11-OH-CBD CYP2C9 THC-COOH

Legenda: Principais metabólitos gerados a partir do CBD sob ação da enzima CYP2C19 e a partir do THC sob ação da
enzima CYP2C9. Em destaque as moléculas psicoativas: tetrahidrocanabinol (THC) e 11-hidroxi-tetrahidrocanabinol
(11-OH-THC).
7. Metabolismo e
biodisponibilidade
• Biodisponibilidade aproximada de 31%
• Meia-vida efetiva de 10-17h
• Meia-vida terminal de 60 horas após a retirada
da medicação
• Metabolização hepática pelas enzimas do citocromo P450
• Clearance renal é baixo
• Parcela inalterada da droga é excretada nas fezes
8. Peculiaridades de cada
idade/populações especiais
a. Crianças e jovens
Estudos de acompanhamento longitudinal em crianças com epilepsia
recebendo CBD puro sugerem alta tolerabilidade e segurança.

O conhecimento atual sobre os efeitos colaterais de longo prazo


dos canabinoides é baseado principalmente no acompanhamento
longitudinal de usuários recreativos da Cannabis. Vários grandes estudos
demonstraram que os principais riscos de diminuição da motivação,
dependência, declínio cognitivo leve e psicoses estão diretamente
relacionados às concentrações de THC e CBD – quanto maior a proporção
de THC para CBD, maior o risco. O risco também é elevado entre aqueles
com início de uso mais jovem (<18 anos) e na presença de outros fatores
de risco.

b. Gestantes
Em mulheres que estão em uso de canabinoides e engravidam, caso o
médico julgue uma opção melhor, é fácil realizar o desmame.

Ainda não há dados de segurança para o feto/bebê, mas já foi descrito


que canabinoides podem atravessar placenta e estão presentes no leite
materno de pacientes em uso de produtos à base de canabinoides.
O uso de Cannabis para fins recreativos está correlacionado com menor
peso ao nascer, parto prematuro, maior necessidade de UTI neonatal.
Este efeito já foi atribuído ao THC.
c. Adultos funcionais
O paciente pode apresentar sonolência e diminuição de reflexo
(especialmente após o uso de produtos com THC). Por isso,
recomenda-se evitar dirigir ou operar máquinas após o consumo
nas primeiras semanas de tratamento.

d. Idosos
• A maioria dos estudos disponíveis na literatura foram realizados com
pessoas abaixo dos 60 anos.
• Risco de alteração da cognição, de marcha e estabilidade ou
cardiovasculares (aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e
demanda do O2 pelo miocárdio) podem ser mais importantes nessa
faixa etária.
• São ótimos candidatos para o uso do CBD tópico em dores localizadas

9. Principais efeitos
colaterais
• Diarréia (dose dependente)
• Sonolência e sedação
• Diminuição de apetite (dose dependente)
• Aumento de transaminases (dose dependente)
• Mudanças comportamentais (irritabilidade,
agitação e agressividade)
• Rash cutâneo (dose dependente)
• Fadiga
• Distúrbios do sono
10. Como prescrever?
• Importação pessoa física - Prescrição médica (receita branca)
contendo data, assinatura, CRM, produto, dose diária
e quantitativo de frascos.
• Doses iniciais e a dose para titulação são dependentes da
indicação, mas de forma geral a titulação pode ser realizada
semanalmente.
• Exames laboratoriais prévios e nos meses 1, 3 e 6 são sugeridos
(enzimas hepáticas e provas de função hepática).
• Acompanhamento próximo até estabilização de dose.
• “START SLOW, GO SLOW”

Conclusão
De forma geral há uma percepção pública de que produtos
à base de canabinoides são seguros como excelente
tratamento para inúmeras doenças. Por isso, a busca por
produtos já é uma realidade.

Assim, é papel do médico reconhecê-los que pode ser


uma alternativa, mas o cuidado racional não pode ser
substituído pela percepção pública.
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Material destinado exclusivamente a profissionais


da área da saúde. / 07/2021

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