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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
CURSO DE FARMÁCIA

QUÍMICA FARMACÊUTICA

Prof. Dr. Damião Pergentino de Sousa


Objetivo do Curso de Química Farmacêutica

Transmitir aos alunos do curso de Farmácia


conhecimentos básicos sobre o processo de
planejamento racional e desenvolvimento de fármacos,
assim como a ação destes em diversos sistemas
terapêuticos.
Conteúdo programático

Aulas teóricas:
- Definição e importância da química farmacêutica origem e
desenvolvimento de fármacos;
- Interação entre biomacromoléculas e micromoléculas;
- Propriedades físico-químicas e ação dos fármacos;
- Estereoquímica e atividade farmacológica;
- Relação estrutura-atividade;
- Bioisosterismo;
- Metabolismo dos fármacos;
- Solubilidade de fármacos.
- Latenciação dos fármacos;
- Hibridação molecular;
- Noções de QSAR;
- Noções de modelagem molecular;
- Química Medicinal (estudo dirigido com artigos).
Conteúdo programático
• Classes Terapêuticas: Fármacos que atuam no Sistema Nervoso
Autônomo: Adrenérgicos e Bloqueadores adrenérgicos
• Alvos terapêuticos e ação dos Fármacos (Receptores moleculares,
Processo da interação receptor/mensageiro; Tipos de receptores).
• Fármacos que atuam no Sistema Nervoso Autônomo:
• Colinérgicos e Anticolinérgicos; Fármacos que atuam sobre o SNC
• Hipnóticos e Sedativos; Ansiolíticos e Anticonvulsivante;
• Fármacos que atuam sobre o SNC; Antipsicóticos; Hipnoanalgésicos
Antidepressivos; Fármacos Anti-Inflamatórios Não-Esteroidais
(AINES)
• Anti-hipertensivos: Bloqueadores Adrenérgicos, Diuréticos,
Bloqueadores do Canal de Cálcio, Fármacos Anti-hipertensivos:
Inibidores da ECA;
• Anticancerígenos; Fármacos Antiinfecciosos; Sulfonamidas e
Antibióticos; Fármacos Antivirais e antifúngicos.
Bibliografia básica
- Thomas G., Química Medicinal. Uma Introdução, Editora Guanabara
Koogan S.A,, 2003.
- Montanari, C.A. Química Medicinal-Métodos e Fundamentos em
Planejamento de Fármacos. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2011.
- John M. Beale Jr. John Block. Wilson and Gisvold's Textbook of Organic
Medicinal and Pharmaceutical Chemistry , Wolters Kluwer, 12a edition,
2010.
- Andrei, C. C., Ferreira, D. T., Faccione, M., Faria, T. J., Da Química
Medicinal à Química Combinatória e Modelagem Molecular: um curso
prático, Manole, 2ª Ed. 2012.
- Eliezer J. Barreiro, Carlos Alberto Manssour Fraga. Química Medicinal:
As bases moleculares da ação dos fármacos- Artmed, 3.Ed. 2014.
- Korolkovas, A.; Burckhalter, J. H. Química Farmacêutica. Guanabara
Koogan, 1988.
- Artigos científicos
Avaliações
Quatro avaliações
➢1ª nota = até 2 pontos do estudo dirigido + nota da 1ª avaliação
(até 8 pontos);
➢2ª nota = até 2 pontos do estudo dirigido + nota da 2ª avaliação
(até 8 pontos);
➢ 3ª nota (10 pontos)
➢ 4ª nota (10 pontos)
Datas das avaliações

•08/03/2023 às 08:00 h - Primeira avaliação

•05/04/2023 às 08:00 h - Segunda avaliação

•14/06/2023 às 08:00 h – Reposição

•19/06/2023 às 07:00 h - Exame Final


Química Farmacêutica

é o estudo e desenvolvimento de novos


medicamentos. Tem como foco a cura para doenças,
técnicas de análise, farmacologia, metabolismo, garantia
de qualidade, e química de fármacos. É uma disciplina
fundamental no âmbito das Ciências Farmacêuticas.
Química Farmacêutica

Utiliza conhecimentos de química, bioquímica,


biologia celular e farmacologia, entre outras matérias,
no desenvolvimento de produtos com aplicação
terapêutica.
Química Medicinal

➢ É uma ciência baseada na química, envolvendo aspectos


das ciências biológica, médica e farmacêutica, cuja missão
é o planejamento, descoberta, invenção, identificação e
preparação de compostos biologicamente ativos
(protótipos), o estudo do metabolismo, interpretação do
mecanismo de ação a nível molecular e a construção das
relações entre a estrutura química e atividade
farmacológica.
Mercado farmacêutico e a Importância
da Química Farmacêutica
O mercado farmacêutico mundial atingiu
cerca de 1,3 trilhões de dólares em 2020;

A expectativa no Brasil: 32,15 bilhões de reais;

➢ Está entre os seis maiores


mercados farmacêuticos
mundiais.

Ding et al. (eds.), Innovation and Marketing in the Pharmaceutical Industry, 2020; IBPT Pharma, 2015.
O “olhar” da Química Farmacêutica
Heroína (Diacetilmorfina)
droga opióide semissintética obtida a partir
da morfina. A lipossolubilidade é maior que a
da morfina e devido a isto, sua capacidade
de entrar no cérebro é maior.

Foi usada para tratamento de viciados


em morfina e como sedativo da tosse em
crianças de 1898 a 1910.

Causa grave dependência física!

Morfina
fármaco opióide e narcótico (hipnótico)
de alto poder analgésico, extraído da
Papaver somniferum.
Fármaco
• De acordo com a Anvisa, fármaco é a “substância
química que é o princípio ativo do medicamento”. Ou
seja, corresponde a um produto farmacêutico usado
para prevenção, diagnóstico ou tratamento de doenças,
ou ainda para modificações de funções fisiológicas (ex.
digestão, respiração).
Fármacos: sinonímias

Embora inapropriados, usa-se:


- Droga
- Princípio ativo
- Princípio terapêutico
- Base medicamentosa, entre outros.

Farmacoquímicos
São todas as substâncias ativas ou inativas que são empregadas
na fabricação de produtos farmacêuticos.

Exemplos: aglutinante, solubilizante,


suspensor, emulsificante, estabilizante,
entre outros.
Medicamentos
É o produto farmacêutico,
tecnicamente obtido ou elaborado,
com finalidade profilática, curativa,
paliativa ou para fins de diagnóstico.
Atividade de um fármaco – é o seu efeito farmacológico sobre
o indivíduo.
Exemplo: atividade analgésica.

Potência – é uma medida quantitativa do efeito farmacológico.

Substância bioativa 1 - Vermelho


Substância bioativa 2 - Verde
Efeitos colaterais de fármacos
• Os efeitos não-benéficos de alguns fármacos são tão
indesejáveis que o uso destes fármacos são rigorosamente
controlados por legislação ou proibidos.

H3C
N
CO2CH3

O
H
O
cocaína

Extraída de Erythroxylum coca apresenta efeito anestésico. O uso


contínuo, pode causar outros efeitos indesejados como dependência,
hipertensão arterial e distúrbios psiquiátricos.
Efeitos colaterais benéficos dos fármacos

Prometazina – anti-histamínico usado para


tratamento de alergia. Contudo, também
apresenta efeito hipnótico.
Efeitos colaterais benéficos dos fármacos

O dimenidrinato - anti-emético (usado para


evitar vômitos) e anti-vertiginoso. É um sal
cloroteofilinado do agente anti-histamínico
difenidramina, constituído por difenidramina e
8-cloroteofilina. CAUSA SONOLÊNCIA.
Tolerância (resistência aos fármacos)

Pode ocorrer devido a vários motivos:


1) Aumento na taxa de produção de uma enzima
que metaboliza um fármaco.

Por exemplo: A eficácia de barbitúricos


pode diminuir com doses repetidas.
Isto induz o aumento na produção de
oxidases de função mista no fígado que
metabolizam o fármaco e reduzem a
sua eficácia.

Barbital
Tolerância (resistência aos fármacos)

Interação fármaco-receptor Receptor degradado

2) Regulação negativa de receptores – a estimulação repetitiva de


um receptor resulta em sua degradação. Isto implica em menos
receptores disponíveis, portanto, menor eficácia do fármaco.
Tolerância (resistência aos fármacos)

Microrganismo Microrganismo Microrganismo


adaptando-se ao fármaco. sensível resistente

• Aparecimento de uma proporção relativamente alta de cepas


de microrganismos resistentes ao fármaco.
Breve história da descoberta dos
fármacos
• Em tempos antigos – produtos naturais eram
usados com o propósito medicinal.

• Obtidos a partir: fontes animais, vegetais e


minerais.
• Invenção da imprensa no século XV:
possibilitou a ampla publicação e circulação
de herbários e farmacopeias.
Breve história da descoberta dos fármacos

• Início do século XIX – extração de


substâncias puras e bioativas de plantas.

• Devido a elevada toxicidade, houve


redução no uso terapêutico de substâncias
naturais.

Tintura de ópio Sulfato de morfina


Substâncias sintéticas
• Final do século XIX e início do XX – busca por substâncias menos
tóxicas resultou na introdução de substâncias sintéticas como
fármacos.
• A substância farmacologicamente ativa, a partir da qual as análogas
eram desenvolvidas, é conhecida como substância-protótipo.
• Paul Ehrlich e Sacachiro Hata (1910): Pesquisaram mais de 600
compostos de arsênico estruturalmente relacionados contra sífilis que
levou a descoberta do composto 606, a Arsfenamina (Salvarsan).

Arsfenamina
Salvarsan Paul Ehrlich e Sacachiro Hata
Índice terapêutico
• Paul Ehrlich reconheceu que tanto as propriedades
benéficas como as tóxicas de um fármaco devem ser
avaliadas. Os fármacos mais eficazes eram mais seletivos
para com os microrganismos alvo do que para o hospedeiro.
Então, estabeleceu o índice quimioterápico (IQ):

IQ = Dose curativa mínima


Dose máxima tolerada Paul Ehrlich

Seu IQ foi atualizado devido a variabilidade dos indivíduos.


Agora é definido como seu inverso, o índice terapêutico (IT):

IT = ________Dose letal necessária para matar 50% dos animais teste (DL50)________
Dose que produz uma resposta terapêutica eficaz em 50% da amostra teste (DE50)
SAR (REA)
• A abordagem metodológica de Ehrlich é uma das técnicas
básicas usadas para desenhar e avaliar novos fármacos em
química medicinal.

• Atualmente, usa-se o termo Relação Estrutura-Atividade


(REA), Structure-Activity Relationship - (SAR). Consiste em
sintetizar e testar uma série de compostos estruturalmente
relacionados.
Construção de
uma série de
congêneres a
partir de um
análogo ativo
hidroxilado.

EJ Barreiro & CAM Fraga,


2008.
Estrutura química
da fenazina.

Relação estrutura-atividade (SAR) para bromofenazinas


antibacterianas contra S. aureus.
Borrero et al. Org Biomol Chem, 2014
Relações Estrutura-Atividade Quantitativas (QSAR)

É uma tentativa de remover o elemento sorte no desenho


de fármacos e estabelecer uma relação matemática entre a
atividade biológica e os parâmetros físico-químicos mensuráveis.
QSAR
• A técnica de Relações Estrutura-Atividade Quantitativas -
QSAR (Quantitative Structure-Activity Relationships) e
métodos de QSAR avançou ao longo dos anos e possibilitou o
desenvolvimento de vários fármacos. Por exemplo, os
fármacos antiúlcera cimetidina e ranitidina nos anos 70.

Cimetidina Ranitidina
❖ No QSAR é o relacionamento matemático entre uma atividade
biológica de um sistema molecular e suas características químicas.
Atividade
biológica (%)
55
62
57
43
53
69
49
78

❖ Diversos parâmetros podem ser utilizados: características


estruturais ou propriedades moleculares, de grupos atômicos
ou de átomos, tais como lipofilicidade, polarizabilidade,
propriedades eletrônicas e estéricas.
Teoria dos receptores
• Em 1905 John Langley propôs que as chamadas
substâncias receptivas do corpo poderiam aceitar
um composto estimulante, que causaria uma
resposta biológica;
• Ou um composto não-estimulante, que impediria
a resposta biológica; John Langley
• Atualmente, sabe-se que a ligação de um agente
químico (ligante) a um receptor inicia uma série de
eventos bioquímicos que resultam em um efeito
biológico ou farmacológico.

Ligação ligante-receptor
e eventos bioquímicos.
Farmacóforo
• Maior eficácia de um fármaco é obtida quando a sua estrutura, ou uma
parte significativa desta, é complementar com relação a conformação
molecular e à distribuição eletrônica e à estrutura estereoeletrônica
do receptor responsável pela ação biológica desejada.

• A porção da estrutura de um ligante


que se liga ao receptor é conhecida
como farmacóforo.
Relações Estrutura-Atividade (SAR)

• Determinar o grupo farmacóforo;


• Partes da estrutura responsável por efeitos colaterais adversos;
• Estas informações possibilitam desenvolver um novo fármaco
com:
- Atividade aumentada (otimização da SAR);
- Atividade diferente de um fármaco existente;
- Poucos efeitos colaterais indesejáveis;
- Facilidade de administração ao paciente.
Segunda metade do século XX – avanço da
química medicinal

• A partir de meados do século XX houve


uma aumento significativo da compreensão
da química dos estados patológicos, das
estruturas biológicas e dos processos.

• Houve uma visão mais clara sobre a ação


dos fármacos;
• Influencia na absorção, estabilidade,
distribuição, metabolização e excreção de
um fármaco através da adição de
grupamentos em sua estrutura molecular.
Modificação molecular e estabilidade dos fármacos

Grupo éster Grupo amida Parte da tabela periódica

• Estabilidade in situ (no local) de um fármaco e sua potência podem ser


aumentadas modificando-se racionalmente o fármaco.

• Por exemplo, amidas e ésteres tem estruturas


com formas e distribuições eletrônicas
semelhantes. Mas, as amidas hidrolisam-se
mais lentamente do que os ésteres. Ou seja,
pode aumentar a estabilidade do fármaco,
aumentar a potência e o tempo de duração
da atividade.
Modificação molecular e alteração da atividade
farmacológica dos fármacos

Procaína Procainamida
(anestésico local) (antiarrítmico)

• Mudança do grupo éster da procaína por uma amida


(procainamida) altera a atividade de anestésico local para um
antiarrítmico.
Polaridade dos fármacos
• À medida que a natureza polar de um fármaco aumenta, geralmente
torna-se difícil para o composto cruzar as barreiras apolares das
membranas lipídicas e alcançar o seu local de ação.
• Por outro lado, estruturas carregadas podem ser usadas para
restringir a distribuição de um fármaco.

Fisostigmina Neostigmina
Anticolinesterásico. Anticolinesterásico sem atividade
Usado no tratamento de toxicidade indesejada no SNC.
anticolinérgica grave
Diferente da fisostigmina, a neostigmina possui um nitrogênio quartenário,
portanto é mais polar e não consegue chegar ao Sistema Nervoso Central.
• A miotina, um análogo da neostigmina, pode formar uma
base livre e consegue cruzar as membranas lipídicas e
produzir efeitos colaterais indesejados no SNC.
Vias de administração

Vias parenterais – evitam o trato gastrintestinal. Ex.: Intramuscular, intravenosa,


subcutânea, aerossóis nasais e sistemas de liberação transdérmicos.
Vias entéricas – os fármacos são absorvidos a partir do tubo digestivo (via
oral), pelas vias retais e sublinguais.
Dose do fármaco
• A dose do fármaco que deve ser
administrada é a quantidade
necessária para atingir o sítio da
ação biológica e manter a
concentração necessária para
produzir uma resposta favorável.

• Janela terapêutica são os limites


entre os quais o fármaco é um
agente terapêutico eficaz.

CEM – Concentração Eficaz Mínima


farmacocinética

• A fase farmacocinética estuda


os parâmetros que controlam a
jornada do fármaco desde seu
ponto de administração até
seu local de ação e eliminação.
Absorção
• É a passagem do fármaco desde o seu sítio de administração até o plasma.
• Geralmente, as moléculas neutras são mais prontamente absorvidas
através das membranas do que as moléculas carregadas.

Ácido acetilsalicílico
A baixa solubilidade do AAS no pH do estômago
e pouca área de superfície da mucosa gástrica
compromete a absorção neste compartimento.

A maior permeabilidade da mucosa intestinal e


área de superfície torna-a o principal sítio de
absorção do AAS, apesar da sua forma ionizada
neste pH.
Estômago e parte do intestino delgado

O grau de absorção pode ser relacionado a parâmetros tais como o coeficiente


de partição e pKa. Ex.: a ionização do AAS é suprimida pelos ácidos do
estômago. Pequena quantidade de aspirina (cerca de 10%) são absorvidas
através da membrana do estômago para a corrente sanguínea, na forma
não-ionizada.
Schrör K. Acetylsalicylic Acid. Wiley‐VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, 2009.
Fármacos absorvidos na forma livre, mas
bioativos na forma carregada

Benzocaína (anestésico local) Forma ativa (carregada)


Forma inativa (base livre) transportada
através das membranas dos neurônios.

Neurônio
Distribuição

• Os fármacos são transportados na corrente


sanguínea na sua forma livre ou ligados a
proteínas plasmáticas.

• Os fármacos ligados as proteínas não tem


efeito farmacológico.

• É o transporte do fármaco desde seu ponto inicial de administração ou de absorção


até seu local de ação. A principal via é a circulação do sangue.
• Os fatores importantes que influenciam a distribuição são a solubilidade e a
estabilidade dos fármacos no sangue.
Metabolismo

• É a biotransformação do fármaco em outros compostos


(metabólitos). Geralmente, são mais hidrossolúveis do que o
fármaco precursor e excretados na urina.
• Ocorre principalmente no fígado, mas também no sangue,
cérebro, pulmões e rins.
• O metabolismo reduz a concentração do fármaco na corrente
sanguínea e, consequentemente, redução da ação
farmacológica.
Eliminação

É a remoção irreversível da
forma ativa do fármaco do
corpo por meio da degradação
metabólica e de todas as
formas de excreção.

• A Eliminação reduz o efeito do fármaco via


redução de sua concentração no sítio de ação.
• Um processo de eliminação lento pode resultar
no aumento da concentração do fármaco no
corpo. Neste caso, a dose necessária para
manter o efeito terapêutico pode ser reduzida,
beneficiando o paciente.
Farmacodinâmica

• Está envolvida com o resultado da interação entre um fármaco e o


corpo ao nível do sítio receptor, ou seja, como o fármaco influencia o
corpo.
• O fármaco é mais eficaz quando a sua conformação e distribuição
eletrônica é complementar à estrutura estereoeletrônica do sítio ativo
ou do receptor.
Classificação dos fármacos

• Estrutura química: é útil para os químicos medicinais que


estão envolvidos na síntese e nas relações estrutura-
atividade. Ex. esteroides, alcaloides, flavonoides.

Morfina Quercetina
(alcaloide) (flavonoide)
• Ação farmacológica: é útil para os médicos e outros
profissionais da saúde porque está de acordo com o
comportamento farmacodinâmico dos fármacos. Ex.
Diuréticos, hipnóticos, analgésicos e anticonvulsivantes.
• Classificação fisiológica: É baseada no sistema corporal sobre
o qual os fármacos agem.
1) Agentes que atuam no SNC – psicotrópicos (afetam o humor)
e neurológicos.
2) Agentes farmacodinâmicos – interferem nas funções
corporais normais. Ex. vasodilatadores, estimulantes
respiratórios e agentes antialérgicos.
3) Agentes quimioterápicos – usados para controlar o câncer.
4) Agentes mistos – contém fármacos que não se encaixam nas
outras três categorias.
Pró-fármacos

• São farmacologicamente inertes, mas que são convertidos


na forma ativa do fármaco no sítio-alvo, ou próximo a este,
por ação enzimática ou química.
• Por exemplo: Prontosil por si só não é ativo, mas é
metabolizado in situ, dando origem ao fármaco antibacteriano
sulfanilamida.
• Sua descoberta possibilitou o desenvolvimento de vários
antibacterianos do tipo sulfonamida (sulfa).
Estabilidade dos fármacos

1) o prazo de validade do fármaco

Fármaco não degradado

Fármaco degradado

• Validade é o tempo necessário para que a sua atividade farmacológica


decline até um nível inaceitável.
• Uma decomposição de 10% é geralmente considerada como um limite
aceitável, desde que os produtos de decomposição não sejam tóxicos.
Degradação por reações químicas

• Calor
• Luz
• Oxidação atmosférica
• Hidrólise por umidade atmosférica
• Racemização

- Podem ser minimizadas usando-se refrigeradores,


recipientes à prova de luz, tampas herméticas e
excipientes apropriados (ex. conservantes).
Estabilidade de fármacos in situ (no local)
• É essencial para que uma dose do fármaco alce o receptor.

Fármaco Receptor Resposta


farmacológica
Preparação de um análogo com a mesma
atividade farmacológica
• É o principal método para aumentar a estabilidade do fármaco
no sistema biológico.

• Pilocarpina, usada no controle do glaucoma (endurecimento do globo


ocular causado pelo aumento da pressão interna do olho), perde sua
atividade rapidamente porque o anel lactona abre-se sob condições
fisiológicas (o efeito dura cerca de 3 horas).
• Vários doses (3-6) por dia são necessárias.
• O análogo carbamato é mais estável.
Estabilidade via revestimento entérico
• Apresentam características de liberação retardada.
• Eles são desenvolvidos de modo a passarem intactos através do
estômago e alcançarem o intestino, onde se desintegram para
permitir a dissolução e absorção e/ou efeito terapêutico do
fármaco.
Os revestimentos entéricos são empregados quando a substância ativa é
destruída pelo suco gástrico e é particularmente irritante à mucosa.

• Ilustração de pastilhas com


revestimento entérico liberando o
fármaco no intestino.
Exemplo de medicamento com revestimento entérico

COMPRIMIDOS COM REVESTIMENTO ENTÉRICO –


Profenid Entérico 100 mg (cetoprofeno):
anti-inflamatório, analgésico e antitérmico.

Ácido (RS)-2-(3-benzoil-fenil)propanoico
Fonte dos fármacos

PRODUTO FONTE (ANO DE AÇÃO


NATURAL ISOLAMENTO) FARMACOLÓGICA
Morfina Papaver somniferum (1805) analgésico, narcótico
Emetina Cephaelis ipecacuanha (1817) amebicida, emético
Estricnina Strychnos nux-vomica (1817) estimulante do SNC
Quinina Cinchona officinalis (1820) antimalárico
Atropina Atropa belladona (1833) anticolinérgico
Papaverina Papaver somniferum (1848) espasmolítico
Cocaína Erythroxylon coca (1860) anestésico local
Chondodendron tomentosum Curarizante
Tubocurarina (1873) (anestésico e
relaxante muscular)
Pilocarpina Pilocarpo jaborandi (1875) glaucoma
Escopolamina Datura mentel (1881) sedativo
Efedrina Efedra vulgaris (1887) broncodilatador
Digitalina Digitalis purpurea (1930) cardiotônico
Reserpina Rauwolfia serpentina (1952) antihipertensivo
Vinblastina Vinca rosea (1958) antileucêmico
Testes biológicos, bioensaios ou
programas de triagem

• No passado – o paladar e a reação da pele eram


usados para detectar materiais bioativos;

• A triagem aleatória usando bioensaios é um


processo de sorte ou azar na descoberta de
substâncias bioativas;

• A triagem de medicamentos caseiros tradicionais


(etnofarmacologia) aumentou a probabilidade
de isolar uma substância bioativa;
• Dificuldade de isolar a substância bioativa de
forma quantitativa. Ex.: paclitaxel, nome
comercial Taxol®, isolado da casca do Teixo do
Pacífico (Taxus brevifolia)
National Cancer Institute (NCI) dos Estados Unidos
• A partir do 1960 , o NCI passou a coletar amostras de cerca de
1000 espécies de plantas por ano;
• Em 1962, a espécie Taxus brevifolia foi coletada;
• No ano 1964, o extrato da espécie mostrou-se ser citotóxico;
• Taxol foi isolado em 1966;

• Em 1969, de 1.200 kg de casca de árvore, obteve-se 28 kg de


extrato bruto. Apenas 10 g de material puro foi isolado
Estudos clínicos - taxol
• 1984 – iniciou-se os estudos clínicos com taxol;
• Aprovação da FDA (Food and Drug Administration) no final de
1992;
• A descoberta resultou em destruição em massa da planta;
• A empresa farmacêutica Bristol-Myers Squibb teve exclusividade
de venda nos primeiros 5 anos de comercialização;
Principais pesquisadores envolvidos na descoberta do Taxol

Monroe E. Wall e Mansukh C. Wani Susan B. horwitz


(iniciaram o estudo químico nos (descobriu um novo mecanismo
anos 60) de ação anticâncer via o estudo
do Taxol - 1979).
Interfere no crescimento do microtúbulo,
impedindo a divisão descontrolada da célula
Produção industrial de Paclitaxel via semi-síntese
Taxus baccata

10-Desacetilbacatina III

Na T. baccata há 10 vezes
a concentração deste
metabólito, em relação ao
paclitaxel em T. brevifolia

Paclitaxel
Fontes Marinhas

• 1407 novos compostos isolados de ambiente marinho em 2020


• Nos últimos 50 anos obteve-se muitos compostos bioativos de
fontes marinhas, com potencial uso medicinal, tais como
crustáceos, esponjas, algas, fungos e serpentes marinhas;
• Rica fonte de compostos-protótipos;
• Elevada toxicidade. doi:10.1039/D1NP00076D
Os ecossistemas marinhos ocupam mais
de 70% da superfície terrestre, apresentando
ambientes muito diversos e condições singulares

Os microrganismos marinhos destacam-se devido à capacidade


de serem cultivados em larga escala, produzindo grandes quantidades
de metabólitos primários e secundários a baixo custo e com baixo
impacto ambiental.

Fungo marinho
https://www.genengnews.com/
Fármaco trabectedina – origem marinha

Ecteinascidia turbinata,
uma ascídia caribenha

Trabectedina (Yondelis®) - alcalóide isolado


da ascídia caribenha. Fármaco anticâncer da
PharmaMar (2007) e Johnson & Johnson.
Produção industrial da Trabectedina via semi-síntese

Safracina B, um antibiótico
obtido por fermentação da Trabectedina
bactéria Pseudomonas
fluorescens
Microrganismos - Fonte de fármacos

• Milhares de compostos bioativos já


foram isolados desta fonte;
• São facilmente coletados, Alexander Fleming
transportados e cultivados;

• O efeito inibitório dos


microrganismos foi reportado em
1877 por Louis Paster - Micróbios
inibiram o crescimento da bactéria
Bacillus anthracis na urina; Estrutura da penicilina

• Em 1920 Fleming demonstrou que


o fungo Penicillium notatum inibia
culturas de bactérias estafilococos.
Síntese de fármacos
• Primeira década do século XX: síntese usando SAR
resultou em ampla variedade de fármacos;

Proposta de estudo Avaliação das


e síntese da série de atividades
compostos análogos biológicas

Fonte: DOI: 10.1002/anie.201508419

• Vantagens: fármacos menos tóxicos, maior escala


de produção e variedade de compostos a partir de
um composto-protótipo;
Síntese ideal
- Materiais de baixo custo;
- Materiais de fácil aquisição e não tóxicos;
- Número reduzido de etapas (uma só etapa);

A B (Molécula-alvo)

10 etapas com 80% de rend. em cada 10,7% rendimento total

- Cada reação deve formar somente o produto desejado;


- Rendimentos quantitativos (100%);
- Não formação de resíduos;
- Tempo reacional reduzido;
- Reações que não apresentem riscos para o homem e
ambientalmente corretos;
- e que possam ser reproduzidas em escala industrial;
Síntese ideal

- O planejamento sintético deve conduzir a construção do esqueleto


carbônico com todos os substituintes e grupos funcionais nas posições
corretas (regioquímica) e com as orientações tridimensionais requeridas
(estereoquímica).
O

O
O
O C 6H 5 O OH

C6H5 N O
H OH
OH O
C6H5 O O

Taxol O O

Isolado de Taxus brevifolia. Para se obter 1 Kg


de taxol, é necessária, em média, 3 mil árvores.
Total Synthesis of Taxol
K.C. Nicolaou, Z. Yang, J.J. Liu, H. Ueno, P.G. Nantermet,
R.K. Guy, C.F. Claiborne, J. Renaud, E.A. Couladouros, K. Paulvannan, E.J. Sorenson.
Nature. 1994, 367, 630.

Time do Prof. Nicolau que fez a primeira síntese do Taxol (1994).


Fármacos do tipo “Eu-Também” ou
“cópia terapêutica”, do inglês me-too

• Uma forma de cortar os custos na produção de fármacos é a


companhia produzir fármacos com atividades e estruturas
semelhantes àqueles de seus concorrentes.

• Estes fármacos são conhecidos como “fármacos eu-também”.

• São úteis para dar ao médico novas opções de escolha de


medicamento, por exemplo quando o paciente sofre uma reação
adversa a um fármaco receitado, ou quando o mesmo foi retirado
do mercado.
Os fármacos abaixo apresentam efeitos farmacológicos similares
e diversas aplicações terapêuticas:

Atropina Escopolamina Ciclopentolato


(Midriático*) (Antiespasmódico) (Midriático*)
Atropa beladona
(1833)

*Dilatação da pupila
(para exame ocular)
Desenho de fármacos e produção
• Substâncias com potencial para serem fármacos são avaliadas
sob diversos aspectos, inclusive em relação aos custos de
produção, possibilidade de larga escala de síntese, pureza,
estabilidade, potência, biodisponibilidade, entre outros.

ADME – Absorção, Distribuição, Metabolização e Excreção.


PÍLULA DO CÂNCER (FOSFOETANOLAMINA SINTÉTICA)
– UM FÁRMACO SEM TESTES CLÍNICOS?

• Substância produzida pelo próprio organismo


humano. Mas, sintetizada em laboratório,
poderia auxiliar na cura de alguns tipos de
câncer.
• A substância sinaliza ao organismo quais são
as células cancerígenas que seriam destruídas.

Estrutura química da fosfoetanolamina


Proteção por patentes

• As patentes são usadas para evitar que as empresas rivais


produzam e lancem no mercado um produto sem a permissão
do inventor do produto.
• As invenções tem proteção de 20 anos.

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