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Farmacologia clinica

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3
FARMACOLOGIA CLÍNICA ................................................................................................... 5
CONCEITOS IMPORTANTES ............................................................................................... 5
FARMACOTERAPIA.............................................................................................................. 6
FARMACOCINÉTICA CLÍNICA ............................................................................................. 6
DEPURAÇÃO ........................................................................................................................ 6
VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO ............................................................................................... 7
TEMPO DE MEIA-VIDA ......................................................................................................... 8
BIODISPONIBILIDADE .......................................................................................................... 9
FARMACODINÂMICA ......................................................................................................... 11
CONSIDERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS E FARMACODINÂMICAS NA TERAPÊUTICA16
FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO ................................................. 19
NEOMICINA/ ESTRETOMICINA = SÃO AGENTES ANTIMICROBIANOS DO TIPO .......... 27
FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL ..................................................... 37
FÁRMACOS SEDATIVOS E HIPNÓTICOS ......................................................................... 37
HIPNÓTICOS NÃO BENZODIAZEPÍNICOS ........................................................................ 38
BARBITÚRICOS .................................................................................................................. 38
BENZODIAZEPÍNICOS ....................................................................................................... 40
HIPNÓTICOS NÃO BENZODIAZEPÍNICOS ........................................................................ 45
BUSPIRONA ....................................................................................................................... 46
FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS ...................................................................................... 47
ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS .................................................................................... 48
ANTIDEPRESSIVOS DE SEGUNDA E TERCEIRA GERAÇÃO (HETEROCÍCLICOS) ....... 51
INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA ...................................... 53
INIBIDORES DA MONOAMINA OXIDASE (IMAO) .............................................................. 54
SAIS DE LÍTIO ..................................................................................................................... 55
ANTICONVULSIVANTES .................................................................................................... 57
FÁRMACOS QUE AUMENTAM A INIBIÇÃO MEDIADA PELOS CANAIS DE SÓDIO ......... 58
FÁRMACOS QUE INIBEM OS CANAIS DE CÁLCIO .......................................................... 61
FÁRMACOS QUE AUMENTAM A INIBIÇÃO MEDIADA PELO GABA................................. 62
FÁRMACOS QUE INIBEM OS RECEPTORES DE GLUTAMATO ...................................... 63
ANTIPSICÓTICOS .............................................................................................................. 64
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 72

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INTRODUÇÃO

Neste material serão abordados conceitos e princípios da farmacocinética


clínica, da farmacovigilância, da pesquisa clínica e da farmacoterapêutica nas
principais patologias, enfatizando os principais esquemas terapêuticos, a
farmacodinâmica dos fármacos, assim como suas propriedades farmacocinéticas,
seus efeitos colaterais e suas contraindicações.
A Farmacologia pode ser definida como o estudo dos efeitos das substâncias
químicas sobre a função dos sistemas biológicos. Como ciência, a farmacologia surgiu
em meados do século XIX, constituindo uma das numerosas e novas ciências
biomédicas baseadas mais em princípios de experimentação do que em dogma, que
surgiram nesse notável período. Antes desse surgimento, a civilização utilizou
amplamente remédios à base de ervas, como redigido nas farmacopeias, florescendo
a profissão de boticário, porém nada formava princípios científicos aplicados à
terapêutica. A necessidade de melhorar a qualidade da intervenção terapêutica dos
médicos, baseadas nas observações clínicas e em seus diagnósticos, e que se
mostrava incompetente quando se tratava da terapia, assim iniciou-se a farmacologia.
Entretanto, o seu estabelecimento como ciência só foi possível após a construção de
bases de fisiologia, patologia e química.
Em seus primórdios, antes do advento da química orgânica sintética, a
farmacologia ocupava-se exclusivamente com a compreensão dos efeitos das
substâncias naturais, principalmente extratos vegetais. Um avanço significativo na
química de isolamento de compostos ativos presentes em plantas foi a purificação da
morfina a partir do ópio (Papaver sominiferum) pelo botânico alemão Friedrich
Sertürner, em 1805. Outras substâncias formaram rapidamente descobertas, embora
suas estruturas ainda permanecessem desconhecidas, esses compostos mostravam
que as substâncias químicas eram responsáveis pelos efeitos produzidos por extratos
vegetais sobre os organismos vivos, e não forças vitais ou mágicas como se
acreditavam.
Os primeiros farmacologistas dedicaram a atenção em substâncias derivadas
de plantas, como quinina, atropina, efedrina, estricnina e outras.
No início do século XIX, o avanço da química sintética revolucionou a indústria
farmacêutica e, com ela, a ciência da farmacologia. Novos agentes sintéticos, como
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os barbitúricos e os anestésicos locais, começaram a aparecer, assim como a era da


quimioterapia antimicrobiana, em 1909. Paralelamente a esse avanço, a fisi ologia
estava fazendo um rápido progresso, com a descoberta de neurotransmissores,
hormônios e mediadores inflamatórios e a tentativa de se explicar a atuação desses
nas funções biológicas. A bioquímica também emergiu como ciência distinta no início
do séc ulo XX, e a descoberta de enzimas e elucidação das vias bioquímicas
proporcionaram outra base para a compreensão dos efeitos dos fármacos.
Atualmente, a medicina baseia -se em grande parte em fármacos como principal
instrumento da terapia.

O DESENVOLVIMENTO DA FARMACOLOGIA

FONTE: Rang & Dale, 2004.

A farmacologia não se apresenta hoje como uma ciência isolada, encontram-


se diversos compartimentos que constituem subdivisões convenientes, como:
• Farmacocinética;

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• Farmacologia Bioquímica;
• Farmacologia Molecular;
• Farmacologia dos Sistemas;
• Quimioterapia;

Farmacogenética;
Farmacoepidemiologia;
Farmacoeconomia.

FARMACOLOGIA CLÍNICA

Ramo da farmacologia que estuda os fármacos e suas aplicações clínicas.


Consideram os efeitos dos fármacos descobertos em laboratórios de pesquisa e
desenvolvimento, sobre o aspecto clínico e suas consequências a respeito da saúde
da população, proporcionando maior segurança e racionalidade às prescrições de
medicamentos.

CONCEITOS IMPORTANTES

Fármaco: substância definida, com propriedades ativas, produzindo efeito


terapêutico.

Pró-fármaco: molécula sem atividade farmacológica que se transforma em


molécula farmacologicamente ativa após biotransformação. Ex.: enalapril.

Droga: qualquer substância capaz de interagir com o organismo produzindo


algum efeito.

Medicamento: produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com


finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico (Portaria 344/98 –
Anvisa).
• Farmacogenômica;

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Remédio (re = novamente; medior = curar): substância animal, vegetal, mineral


ou sintética; procedimento (ginástica, massagem, acupuntura e banhos); fé ou crença;
influência: usados com intenção benéfica.

Placebo (placeo = agradar): substância sob a forma de medicamento, mas não


é medicamento. Administrado com a finalidade de causar um efeito sugestivo.
- Placebo inerte: amido, açúcar e solução fisiológica.
- Placebo ativo: fármaco em dose subterapêutica.
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- Placebo negativo (nocebo): causa reação adversa ao medicamento.

O placebo é utilizado na exclusão, na sugestão durante a avaliação de fármacos


e no tratamento de pacientes ansiosos, maníacos e psicóticos.
O efeito placebo consiste em um conjunto de fatores não farmacológicos que
influenciam o efeito terapêutico.

FARMACOTERAPIA

FARMACOCINÉTICA CLÍNICA

Ramo da Farmacologia que estuda o movimento dos fármacos no organismo


considerando os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção
dos fármacos. A farmacocinética clínica relaciona os efeitos farmacológicos de um
fármaco a uma concentração alcançável do fármaco no sangue ou no plasma,
traçando assim, uma relação quantitativa entre a dose e o efeito, como uma estrutura
para interpretar as dosagens das concentrações de fármacos nos líquidos orgânicos.
A importância da farmacocinética no atendimento do paciente se baseia na
melhora da eficácia terapêutica que pode ser obtida pela aplicação de seus princípios
ao escolher e modificar a posologia.
As variáveis fisiológicas e fisiopatológicas determinam o ajuste da dose para
cada paciente em função dos parâmetros farmacocinéticos, como a depuração, o
volume de distribuição, o tempo de meia-vida de eliminação e a biodisponibilidade.

Depuração
É o conceito mais importante ao se planejar um esquema racional para a
administração prolongada de fármacos. Em um regime terapêutico deseja-se manter
concentrações estáveis de fármacos em uma janela terapêutica segura, ou seja,
associada à uma eficácia terapêutica e a uma toxicidade mínima. Essa estabilidade
será alcançada quando a taxa de eliminação do fármaco for igual à taxa de
administração do fármaco:
velocidade da dose = CL x Css

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Em que CL é a depuração da circulação sistêmica e Css é a concentração


estável do fármaco. Se a concentração estável do fármaco no sangue ou no plasma
for conhecida, o que irá ditar a taxa na qual o fármaco deve ser administrado, será a
taxa de depuração do fármaco pelo paciente.
A depuração é um conceito extremamente útil na farmacocinética clínica, em
razão do seu valor ser constante para um determinado fármaco, na faixa de
concentração utilizada na clínica. Os princípios de depuração são semelhantes
àqueles da fisiologia renal, como a depuração de creatinina que é definida como a
taxa de eliminação da creatinina na urina relativa à sua concentração plasmática.
Traçando um paralelo, a depuração de um fármaco é sua taxa de eliminação por todas
as vias reguladas pela concentração do fármaco (C) em algum líquido corporal:

CL = taxa de eliminação / C

Dessa forma, quando a depuração é constante, a taxa de eliminação do


fármaco é diretamente proporcional à concentração do mesmo. A depuração indica o
quanto de volume de líquido biológico (plasma ou sangue) que deverá ser
completamente removido para ser eliminado. Assim, é expressa em volume por
unidade de tempo. A eliminação dos fármacos ocorre como resultado dos processos
renais, hepáticos ou em outros órgãos. Outra importância na definição de depuração,
é a compreensão dos efeitos das variáveis patológicas e fisiológicas na eliminação
dos fármacos, particularmente no que diz respeito a um determinado órgão.

Volume de Distribuição
O volume é o segundo parâmetro útil ao considerar os processos de distribuição
dos fármacos. O volume de distribuição relaciona a quantidade de fármaco no corpo
com a concentração de fármaco no sangue ou plasma (C), dependendo do líquido
dosado. Esse volume necessariamente não se refere a um volume identificado, mas
considerado como volume hipotético de fluido no qual o fármaco deve se dissolver, a
fim de atingir a mesma concentração em que se encontra no plasma.
V= quantidade de fármaco no corpo/ C

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O volume de distribuição de um fármaco, portanto, reflete a extensão em que


ele está presente nos tecidos extravasculares. Pode variar amplamente, dependendo
dos graus relativos de ligação às proteínas plasmáticas e teciduais, do coeficiente de
partição lipídica do fármaco. Alguns fármacos têm seu volume de distribuição
alterados em função da idade, do sexo, do peso corporal do paciente, da
hemodinâmica e da presença de doença.

Tempo de meia-vida

É o tempo necessário para as concentrações plasmáticas ou a quantidade de


fármaco no corpo serem reduzidas em 50%. O tempo de meia-vida pode ser
rapidamente determinado e utilizado para tomar decisões sobre a posologia.
Observase que esse parâmetro se altera em função tanto da depuração, como do
volume de distribuição. Uma relação aproximada útil entre o tempo de meia-vida com
relevância clínica, a depuração e o volume de distribuição em estado de equilíbrio (Vss)
é dada por:

t ½ = 0,693 x Vss/ CL

A depuração como visto anteriormente, é a medida da capacidade corporal de


eliminar um fármaco, era de se esperar que à medida que a depuração diminui, devido
a um processo patológico, o tempo de meia-vida aumentasse. Entretanto, na prática
clínica observa-se que esse fato só ocorre quando a patologia não altera o volume de
distribuição. Por exemplo, o tempo de meia-vida do diazepam aumenta com a idade,
todavia, não é a sua depuração que se altera em função da idade, mas o volume de
distribuição. Embora não possa ser utilizado isoladamente como indicador para avaliar
a eliminação de fármacos, o tempo de meia-vida fornece um indicação do tempo
necessário para alcançar o estado de equilíbrio após o início ou a alteração de um
esquema posológico (ex. quatro tempos de meias-vidas para obter aproximadamente
94% de um novo estado de equilíbrio), o tempo de remoção de um fármaco do corpo
e meios de avaliar o intervalo adequado entre as doses.

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Biodisponibilidade

Consiste na velocidade e na extensão de absorção de um fármaco a partir de


uma forma de administração. A fração de biodisponibilidade é a fração da dose
administrada que chega inalterada à circulação sistêmica, sendo considerada para via
intravenosa igual a 100% e para outras vias de administração menor que 100%.
Quando os fármacos são administrados por uma via sujeita a perda por efeito
de primeira passagem*, a velocidade da dose e a dose sofrem alteração. Dessa
forma:

F x velocidade da dose = CL x Css

Onde a velocidade da dose deve ser corrigida pela fra


ção de biodisponibilidade.
Após a administração de uma dose de um fármaco, seus efeitos mostram um
padrão característico como representado no gráfico concentração versus tempo da
figura 2, em que o início de ação do fármaco é precedido por um período de at raso,
seguido de amplitude do efeito que cresce até alcançar o máximo do efeito e depois
declínio. Caso não seja administrado outra dose, o efeito do fármaco desaparecerá.
Tal evolução temporal reflete o que foi descrito anteriormente, as propriedades
farmacocinéticas de cada fármaco, sua absorção, sua distribuição e sua eliminação.

PRINCÍPIO DO PLATÔ DE ACÚMULO DO FÁRMACO COM DOSES ORAIS


REPETIDAS

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FONTE: KD Tripathi, 2006.


A área inferior sombreada representa a administração intravenosa. A área
superior alcançada após alcance do platô da concentração plasmática.
A intensidade do efeito de um fármaco está relacionada com sua concentração acima
de uma concentração mínima eficaz, enquanto que a duração desse efeito é um reflexo da
extesão de tempo, no qual o nível do fármaco está acima desse valor. Tais considerações se
aplicam tanto aos efeitos terapêuticos desejados, como os efeitos adversos dos fármacos.
Dessa forma, cada fármaco possui uma faixa terapêutica de concentração eficaz sem
toxicidade inaceitável, relação essa denominada janela terapêutica.
O índice terapêutico constitui uma medida da margem de segurança de um
fármaco. É expressa numericamente como uma relação entre a dose do fármaco
capaz de causar letalidade (dose letal 50) em 50 % da população e a dose que
proporciona efeito terapêutico desejado em 50% da população (dose eficaz 50).
O conhecimento deste índice para cada fármaco proporciona uma medida de
segurança na utilização de fármacos, como digoxina e lítio que possuem baixo índice
terapêutico. A margem de segurança é tanto maior quanto maior é o valor do índice,
sendo extremamente reduzido e, portanto muito perigoso o consumo do medicamento
quando o valor se aproxima a 1.

FARMACODINÂMICA

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A farmacodinâmica pode ser definida como o estudo dos efeitos bioquímicos e


fisiológicos dos fármacos e de seus mecanismos de ação no organismo. A partir do
estudo da farmacodinâmica é possível delinear as interações químicas ou físicas entre
a molécula do fármaco e o alvo terapêutico e caracteri zar toda a rota de suas ações.
Esse estudo favorece a utilização racional do fármaco, serve de base para o
desenvolvimento de novos agentes terapêuticos e proporciona melhor entendimento
da regulação bioquímica e fisiológica.
A maioria dos efeitos farmacol ógicos resulta da interação do fármaco com
elementos macromoleculares do organismo. Tais interações alteram a função do
elemento pertinente, iniciando assim, alterações bioquímicas e fisiológicas
características da resposta ao agente terapêutico (Figura 3). O termo receptor refere-
se a qualquer componente macromolecular funcional do organismo que venha
interagir com o agente químico e possa ter sua função biológica modulada ou alterada.

TIPOS DE ALVOS PARA OS FÁRMACOS

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FONTE: Rang e Dale, 2004.

A ligação de uma droga a um receptor é determinada pelas seguintes forças:


pontes de hidrogênio; ligação iônica; força de Van der Waals e ligação covalente. Há
diferentes tipos de receptores (Figura 4) com os quais ligantes endógenos e drogas
podem interagir, incluindo: receptores hormonais, receptores ligados à enzima
tirosina-quinase, receptores acoplados à proteína G e receptores ligados a canais
iônicos.
Muitas substâncias tê m potencial para serem fármacos, porém os fatores que
determinam se uma substância vai se comportar como fármaco são afinidade e
atividade intrínseca. Define -se como afinidade a medida da tendência de ligação de
um fármaco ao receptor. A atividade intrínseca consiste na habilidade do fármaco de,
uma vez ligado ao receptor, desencadear a sua função de sinalização celular,
resultando em modificação do efeito fisiológico.

TIPOS DE RECEPTORES-ALVOS PARA AÇÃO DOS FÁRMACOS

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FONTE: Rang e Dale, 2004.

Os fármacos que interagem com os receptores podem atuar como agonistas


ou antagonistas. O agonista é o fármaco que ligado ao receptor fisiológico mimetiza
os efeitos reguladores dos compostos endógenos de sinalização. O agonista total é
um composto capaz de proporcio nar uma resposta máxima, após a ocupação e
ativação do receptor e o agonista parcial aquele composto que pode ativar o receptor,
mas não gerar uma resposta máxima do sistema. Já um agonista inverso é aquele
capaz de estabilizar o receptor em sua conformaçã o inativa.

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A curva dose-resposta utilizada na farmacologia serve como método gráfico


para avaliar de forma descritiva a habilidade do fármaco de produzir ou alterar efeitos
fisiológicos. O eixo da abscissa do gráfico representa a dose do fármaco e o eixo das
coordenadas a sua eficácia. Portanto, para uma determinada dose extrapola-se no
gráfico a eficácia do fármaco. O gráfico também pode ser expresso na forma de curva
sigmoide, em que o eixo da abscissa é convertido a log da dose do fármaco. Para
eficácia de 50% de um determinado fármaco extrapola-se na curva a dose
correspondente, essa dose é denominada como concentração eficaz de 50 % (CE50).

CURVA DOSE VERSUS RESPOSTA

O antagonista é o fármaco capaz de se ligar ao receptor sem exercer efeito


regulatório. Os tipos mais comuns de antagonismo entre os fármacos são: químico
(ex.: agentes quelantes e metais pesados); funcional (ex.: histamina e omeprazol);
farmacocinético (varfarina e fenobarbital); reversível e irreversível.
O antagonismo do tipo reversível caracteriza-se como o tipo mais comum e
importante de antagonismo. Na presença do antagonista, a curva dose/resposta do
agonista é desviada para a direita (Figura 6). Entretanto, não se observa alteração da
inclinação da curva ou da capacidade máxima de resposta do agonista. A relação
dose/efeito do agonista aumenta de modo linear com o aumento da concentração do
antagonista. A ligação deste tipo de antagonista é reversível ao receptor e o bloqueio
superado com o aumento da dose do agonista são algumas características destes
fármacos antagonistas, como observado na figura 6 (esquerda).

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O antagonista irreversível é um fármaco geralmente bastante reativo


quimicamente capaz de formar ligação covalente com o receptor, inativando-o. Como
observado no gráfico abaixo (direita), mesmo aumentando-se a concentração do
agonista, a noradrenalina, na presença de doses crescentes do antagonista

CURVA DOSE VERSUS RESPOSTA DE ANTAGONISMO.

O antagonismo competitivo no qual uma substância compete pelo sítio de


ligação com o fármaco agonista total possui relevância clínica. Fármacos como
flumazenil e naloxona, antagonistas competitivos dos receptores de
benzodiazepínicos e opioides, promovem reversão do quadro de intoxicação causado
por superdose de fármacos benzodiaz epínicos e analgésicos opioides, como será
abordado ao longo do curso.
Esse tipo de antagonismo, não afeta a eficácia máxima nem proporciona efeito
farmacodinâmico, apenas impede a interação do agonista em seu alvo. Dessa forma,
como observado na figura 7 o aumento da concentração de antagonista competitivo
(B) requer uma maior concentração de agonista (A) para deslocar a molécula do
antagonista do seu sítio de ligação e promover o mesmo percentual de eficácia.

ANTAGONISMO COMPETITIVO (GOODMAN E GILMAN, 2006).


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irreversível, a dibenamina, a eficácia é significativamente reduzida. O contrário se


observa no gráfico a esquerda em que doses maiores de noradrenalina garantem a
eficácia máxima do agonista mesmo na presença do antagonista reversível, a
tolazolina.

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FONTE: Goodman e Gilman, 2006.

CONSIDERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS E FARMACODINÂMICAS NA


TERAPÊUTICA

As variações interpacientes e intrapacientes na distribuição de um fármaco


deve ser considerada ao se escolher um regime farmacológico. Pode ocorrer uma
grande variação em suas propriedades farmacocinéticas entre os indivíduos que
utilizam um mesmo fármaco. A distribuição e eliminação são parâmetros
farmacocinéticos que refletem essa variabilidade. Os fármacos extensamente
metabolizados de forma lenta, podem apresentar acentuada diferença na taxa de
eliminação entre os indivíduos. Estudos mostram que muitos fármacos têm sua
eliminação influenciada pelas condições fisiológicas e patológicas das funções
orgânicas.
Indivíduos com comprometimento da função renal ou hepática têm a eliminação
do fármaco prejudicada e maior variabilidade em relação a sua distribuição. A idade
avançada e as doenças renais e hepáticas podem alterar a resposta dos fármacos nos
tecidos-alvo, devendo ser uma prioridade na determinação das doses terapêuticas
para esse grupo de pacientes.
Durante a terapia farmacológica pode-se também observar em alguns
pacientes, uma redução gradual rápida do efeito de um determinado fármaco
administrado de modo contínuo ou repetidamente, fenômeno conhecido como
dessensibilização. A tolerância também é observada em situações em que o
tratamento inclui fármacos como os analgésicos opioides, esse fenômeno é definido
como uma redução mais gradual da resposta a uma substância, cujo desenvolvimento
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leva dias ou semanas. A origem dos fenômenos de dessensibilização e tolerância


podem ser explicadas em alteração dos receptores; perda de receptores; exaustão de
mediadores intracelulares e adaptação fisiológica.
A idiossincrasia é uma resposta a determinada droga qualitativamente anormal
e inesperada, que difere das suas ações farmacológicas normais. São causadas por
variabilidade genética no metabolismo da droga, ou por mecanismos imunológicos
(reações alérgicas).

FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

O sistema nervoso pode ser dividido em nível estrutural e funcional, em


componentes periféricos e centrais. O sistema nervoso periférico inclui todos os
nervos que seguem o seu percurso entre o sistema nervoso central e os locais
somáticos e viscerais. O sistema nervoso central formado pelo encéfalo e pela medula
espinhal está envolvido na percepção, no estado de vigília, na linguagem e no estado
de consciência. O sistema nervoso periférico dividido no sistema nervoso autônomo,
sistema eferente somático (músculo esquelético) e sistema aferente somático e
visceral (transmite sinais da periferia para o sistema nervoso central).
O sistema nervoso autônomo (SNA) regula as respostas involuntárias do
organismo, sendo responsável no controle de diversas funções vitais como: frequência
cardíaca, contratilidade cardíaca, tônus da musculatura lisa, regulação da pressão
arterial, secreções exócrinas e endócrinas, metabolismo intermediário, peristaltismo,
frequência urinária, constrição/dilatação pupilar, salivação e pieloereção. O SNA em
três subdivisões:
• Parassimpático = respostas de “repouso e digestão”;
• Simpático = resposta de “luta ou fuga”;
• Entérico (plexos nervosos intrínsecos do TGI).
As fibras nervosas do SNA interagem com seus órgãos-alvo por meio de uma
via de dois neurônios. O primeiro neurônio origina-se no tronco encefálico ou na

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medula espinhal e é denominado neurônio pré-ganglionar. Esse faz sinapse fora da


medula espinhal com um neurônio pós-ganglionar, que inerva o órgão-alvo. Tais
localizações anatômicas diferem para o SNA simpático e parassimpático.
O sistema nervoso simpático (= adrenérgico) também é conhecido como
sistema toracolombar visto que suas fibras pré -ganglionares originam -se do primeiro
segmento torácico ao seg undo ou terceiro segmento lombar da medula espinhal. Os
primeiros três gânglios, cujas fibras pós -ganglionares seguem com os nervos
cervicais, são chamados, gânglio cervical superior (inervam pupila, glândulas
salivares e lacrimais), gânglio cervical médio e inferior (inervam coração e pulmão).
Os gânglios do sistema nervoso parassimpático (= colinérgico) localizam -se
nos órgãos que inervam ou em sua proximidade. As fibras pré-ganglionares originam-
se no tronco encefálico ou nos segmentos sacrais da medula espinhal, dessa forma,
o sistema parassimpático é conhecido como sistema craniossacral. Em alguns casos,
as fibras nervosas pré -ganglionares podem seguir um percurso mais longo, como no
caso de fibras que surgem do nervo craniano III, como o nervo oculomot or (inerva
pupila); as fibras oriundas do nervo craniano VII que estimulam a secreção salivar e
lacrimal; o nervo craniano IX (nervo glossofaríngeo) que estimula a parótida e o nervo
craniano X – nervo vago que inerva os principais órgãos da região tórax e do abdome
(coração, árvore traqueobrônquica, os rins e o sistema TGI).
Os nervos que originam da região sacral da medula espinhal inervam o colo, a
bexiga e a genitália.

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DIVISÃO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO FONTE:


Katzung, 2003.

FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

Farmacologia do SNA Parassimpático

Na transmissão parassimpática, a acetilcolina (ACh) é o principal


neurotransmissor que controla as funções colinérgicas. Esse neurotransmissor é
sintetizado em uma única etapa a partir da colina (transpo rtada do meio extracelular
para a terminação neuronal por um transportador de membrana) e da acetilcoenzima
A (sintetizada na mitocôndria a partir da glicólise acetilCoA), reação catalisada pela
enzima acetiltransferase.
Uma vez sintetizada no citoplasma, a ACh é transportada em vesículas
sinápticas para o seu armazenamento. A liberação de ACh na fenda sináptica
depende de Ca 2+ extracelular e ocorre quando um potencial de ação atinge a
terminação e desencadeia o influxo de cálcio.

TRANSMISSÃO COLINÉRGICA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO


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FONTE: Adaptado Katzung, 2003.

Após a liberação a ACh pode se ligar ao colinorreceptor e ativá -lo ou ser


degradada na fenda sináptica. A ACh é hidrolisada em colina e acetato, reação
catalisada pela enzima do tipo serina hidrolase - a acetilcolinesterase (AChE),
presente em neurônios colinérgicos e em outros tecidos, sua ação cessa as ações da
ACh. Como a hidrólise ocorre rapidamente a meia -vida da ACh na sinapse é
extremamente curta. A colina regenerada pela AChE retorna a terminação axônica
para nova síntese de ACh. Outras colinesterases com menor especificidade para
Ach como a butirilcolinesterase ou pseudocolinesterase são encontradas no plasma,
no fígado e na glia.
A ACh se liga aos receptores colinérgicos NICOTÍNICOS e MUSCARÍNICO:
→Receptor Nicotínico → polipeptídios transmembrana cujas subunidades
formam um canal iônico seletivo para cátions; localizados nas membranas
plasmáticas de células pós -ganglionares simpáticas e parassimpáticas em gânglios
autônomos, nas memb ranas de músculo inervado por fibras motoras somáticas e no
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SNC. Pode ser dividido em: RNm (muscular), presente na junção neuromuscular, sua
ativação pela ACh leva a abertura do canal de cátion e despolarização da placa
terminal, resultando na contração do musculoesquelético e RNn (neuronal) presente
em gânglios autonômicos/ medula adrenal, em que atua na despolarização e disparo
do neurônio pós-ganglionar/secreção de catecolaminas.

→Receptor Muscarínico → receptores transmembrana acoplados à


superfamília de proteínas G; subtipos M1-M5; regula a produção de mensageiros
intracelulares (trifosfato inositol (IP3), diacilglicerol (DAG) e Ca2+);
M1 – gânglios autonômicos e sistema nervoso central = ativação da fosfolipase
C por meio da proteína G quinase com formação de IP3 e DAG e aumento Ca 2+
intracelular resultando em despolarização;
M2 – coração (nodo atrioventricular, nodo sinoatrial, átrio e ventrículo) =
ativação dos canais de K+ por meio das subunidades da proteína G inibitória; inibição
da adenilatociclase = hiperpolarização (despolarização espontânea lenta); duração
encurtada do potencial de ação e menor força de contração do átrio, redução da
velocidade de condução, leve diminuição da força de contração do ventrículo;
M3 – músculo liso e glândulas secretórias; sinalização intracelular semelhante
ao subtipo M1, levando a contração e aumento de secreção;
M4- semelhante M2; localização em investigação;
M5 - semelhante M1; localização em investigação.

A ACh por meio dos receptores muscarínicos tem como efeitos fisiológicos:
• Vasculatura (células endoteliais) = liberação de NO e vasodilatação;
• Íris (músculo esfíncter da pupila) = contração e miose;
• Músculo ciliar = contração e acomodação da lente para visão de perto;
• Glândulas salivares e lacrimais = secreções ralas e aquosas;
• Brônquios = constrição; aumento secreções;
• Coração = bradicardia; menor velocidade de condução; bloqueio AV
com doses altas; ligeira redução da contratilidade;
• TGI = aumento do tônus e das secreções; relaxamento dos esfíncteres;
• Bexiga = contração do músculo detrusor; relaxamento do esfíncter;
• Glândulas sudoríparas = diaforese;

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• Trato Reprodutor Masculino = ereção.

E por meio dos receptores nicotínicos:


• Placa Motora = despolarização e contração; Suprarrenal =
liberação de catecolaminas.

Os agentes farmacológicos (substâncias colinérgicas) que imitam as ações e


os efeitos da ACh são denominados colinomiméticos ou parassimpaticomiméticos ou
parassimpatomiméticos. Podem ser classificados em:
• Diretos – atuam diretamente em receptores nicotínicos ou muscarínicos
ativando-os;
• Indiretos – exercem efeitos primários ao inibir a ação das colinesterases,
aumentando a concentração de ACh na fenda sináptica: anticolinesterásicos
reversíveis ou irreversíveis.

a. Agonistas dos Receptores Nicotínicos

Estimulam a abertura do canal do receptor nicotínico de ACh e produzem


despolarização da membrana celular. Atuam nos receptores nicotínicos ganglionares
e da placa motora.
• NICOTINA (Nicotiana tabacum) – afeta principalmente os gânglios
autonômicos;
• SUCCINILCOLINA (=SUXAMETÔNIO) – agente
bloqueador
despolarizante utilizado para induzir paralisia durante cirurgias. Age diretamente nos
receptores nicotínicos e produzem bloqueio por persistir na junção neuromuscular e
ativar continuamente os canais dos receptores nicotínicos. Proporciona breve período
de excitação com fasciculações nas células musculares, seguida de paralisia flácida
(receptores nicotínicos abertos mantendo a membrana celular despolarizada,
inativando os canais de sódio regulados por voltagem);
• DEXAMETÔNIO – mecanismo despolarizante semelhante à
succinilcolina; sendo a duração da ação mais prolongada.

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Esses agentes têm como efeitos indesejáveis: bradicardia (evitada com


administração intravenosa de atropina); hipocalemia (perda de potássio pelo
músculo) que resulta em disrritmia ventricular ou parada cardíaca; aumento
da pressão intraocular; paralisia prolongada; hipertermia maligna*; depressão
respiratória; mialgia e rabdomiólise.

b. Agonistas dos Receptores Muscarínicos

Fármacos que mimetizam os efeitos da ACh quando ligada aos receptores


muscarínicos. Os agentes do tipo éster de colina, semelhantes à ACh atuam tanto nos
receptores nicotínicos quanto muscarínicos, sendo que nesse último atuam de forma
mais potente.
Os agentes parassimpatomiméticos de ação direta são:
• MUSCARINA – alcaloide isolado do cogumelo Amanita muscaria;
• METACOLINA – éster de colina, atualmente obsoleto, todavia foi muito
utilizado no diagnóstico da asma. Efeitos adversos comuns: dispneia, tonteira,
irritação da garganta e prurido;
• CARBACOL – éster de colina, possui maior ação nicotínica do que
muscarínica frente a outros ésteres de colina. Não podem ser utilizados por vista
sistêmica, devido seus efeitos sobre os gânglios autônomos. Uso no glaucoma,
sua aplicação tópica resulta em miose e diminuição da pressão intraocular;
• BETANECOL - estável à hidrólise e seletivo para receptor muscarínico,
apresenta maior resistência à degradação pela acetilcolinesterase, utilizado
clinicamente na retenção urinária;
• PILOCARPINA - agonista dos receptores muscarínicos subtipo M1 e M3;
utilizada clinicamente para o tratamento da xerostomia (síndrome de Sjögren).
Os agonistas muscarínicos são contraindicados no glaucoma de ângulo estreito
(fechamento de ângulo); úlcera péptica e asma.

c. Anticolinesterásicos

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Agentes que atuam inibindo a atividade da acetilcolinesterase, levando ao


aumento da disponibilidade de ACh na fenda sináptica.
Os anticolinesterásicos podem ser divididos em reversíveis e irreversíveis.

I) Anticolinesterásicos reversíveis

Os anticolinesterásicos reversíveis são ainda classificados e utilizados na


prática clínica de acordo com sua duração de ação:

Anticolinesterásicos de Ação Curta


EDROFÔNIO = composto amônio quaternário que se liga reversivelmente ao
sítio aniônico da enzima. Usado no diagnóstico da miastenia gravis*.

Anticolinesterásico de Ação Intermediária


NEOSTIGMINA / FISOSTIGMINA (=ESERINA) = ésteres de carbamato que
sofrem hidrólise em duas etapas: transferência do grupo carbamil para o sítio
esterático, a enzima carbamilada sofre hidrólise mais lentamente.
A neostigmina é utilizada por via intravenosa para reversão de bloqueio
neuromuscular competitivo e por via oral para tratamento da miastenia gravis e em
casos de retenção urinária. A fisostigmina é indicada na forma de colírio no tratamento
do glaucoma.

II) Anticolinesterásicos irreversíveis

Os anticolinesterásicos irreversíveis, por sua vez são compostos pentavalentes


de fósforo, capazes de fosforilar a enzima, tornando-a inativa por meio da formação
de um complexo fósforo/enzima bastante estável e de hidrólise lenta. A recuperação
enzimática é lenta e depende da síntese de novas moléculas da enzima. Compostos
organofosforados como DIFLOS e PARATION apresentam elevada lipossolubilidade,
sendo rapidamente absorvidos pela pele e pelas mucosas apresentando como efeitos:
potencialização da transmissão colinérgica nas sinapses autônomas colinérgicas e na
junção neuromuscular, sinais clínicos como bradicardia, hipotensão, aumento das
secreções, broncoconstrição, hipermotilidade do trato gastrointestinal e redução da

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pressão intraocular; fasciculações musculares e neurotoxicidade por desmielinização


dos nervos periféricos, resultando em gradual fraqueza e perda sensitiva. Em casos
de intoxicação por organosfosforados, o fármaco utilizado para regenerar a enzima
acetilcolinesterase é a PRALIDOXIMA.
Os agentes anticolinesterásicos também podem ser utilizados no tratamento
dos sintomas da doença de Alzheimer e outras afecções que provocam disfunção
cognitiva e demência. Exemplos de fármacos anticolinesterásicos utilizados nessas
situações clínicas são: GALANTAMINA e RIVASTIGMINA (considerado um inibidor
“pseudoirreversível” por formar uma ligação covalente temporária com
acetilcolinesterase, inativando-a até a quebra desta ligação). Os efeitos adversos
destes fármacos são: diarreia, náusea, vômitos, cólicas, anorexia e sonhos.
Os agentes anticolinérgicos são aqueles que antagonizam as ações da ACh por
meio da competição pelos receptores colinérgicos.

d. Antagonistas dos Receptores Nicotínicos

Esses agentes impedem seletivamente a ligação da ACh endógena nos


receptores nicotínicos, antagonizando a despolarização das células musculares
caracterizado como bloqueio não despolarizante. Muitos destes fármacos são
utilizados como agentes adjuvantes da anestesia, associados com ventilação artificial,
como TUBOCURARINA, PANCURÔNIO, VECURÔNIO, ATRACÚRIO,
MIVACÚRIO e GALAMINA, que levam a paralisia motora. Os efeitos
indesejáveis mais comuns são hipertensão, taquicardia, apneia, broncoespasmo,
insuficiência respiratória, salivação e rubor. Tais efeitos podem ser revertidos pela
administração de anticolinesterásicos.
Fármacos como galamina e pancurônio podem também bloquear o receptor
muscarínico no coração levando a taquicardia.
Os agentes bloqueadores ganglionares TRIMETAFAN e MECAMILAMINA são
utilizados na clínica por via intravenosa na crise hipertensiva em pacientes com
dissecção aórtica aguda, reduzindo a pressão arterial por meio da atenuação dos
reflexos simpáticos. A utilização desses agentes pode proporcionar como efeitos
indesejáveis ileoparalítico, parada respiratória, retenção urinária, hipotensão
ortostática e sedação.
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e. Antagonistas dos Receptores Muscarínicos

Esses agentes antagonizam seletivamente as ações da ACh nos receptores


muscarínicos.
Os antagonistas muscarínicos de origem natural são

• ATROPINA (=hiosciamina) – alcaloide tropânico isolado da espécie


Atropa belladona (beladona) e Datura stramonium (estramômio). Usada na
clínica como adjuvante em anestesia; na intoxicação por anticolinesterásicos; na
bradicardia; como antiespasmódico e no excesso de salivação. A administração
da atropina leva a marcantes efeitos, como inibição das secreções,
ressecamento da boca e da pele; taquicardia; bradicardia paradoxal; midríase;
fotofobia; cicloplegia (perda de acomodação visual); redução da motilidade
gástrica; relaxamento da musculatura brônquica, biliar e urinária; ligeira
inquietação (dose baixa); ação estimulante (alta dose); aumento da pressão
intraocular; aumento do ritmo cardíaco e da condução pelo nodo atrioventricular.
Os tecidos mais sensíveis a ação da atropina são as glândulas salivares,
brônquicas e sudoríparas, resultando em elevação da temperatura corporal devido à
supressão da sudorese termorreguladora, quadro conhecido como febre atropínica.

• ESCOPOLAMINA (= hioscina) – alcaloide da Hyoscyamus niger


(meimendro). Usado clinicamente na cinetose, náusea e vômitos. Efeitos
indesejáveis: visão embaraçada, constipação, aumento da pressão intraocular,
depressão respiratória, arritmia cardíaca e coma.

Antagonistas muscarínicos sintéticos:


• PIRENZEPINA – antagonista seletivo dos receptores muscarínicos
subtipo M1 capaz de reduzir a produção de suco gástrico, sendo por muito tempo
utilizado na prática clínica na doença ulcerosa péptica e também na bradicardia
induzida cirurgicamente ou pelo nervo vago;
• IPATRÓPIO/ TIOTRÓPIO – ação broncodilatadora; utilizados na asma e
na doença pulmonar obstrutiva crônica;
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• OXIBUTINA/ PROPANTELINA – antagonistas não seletivos usados na


bexiga hiper-reflexia e hiperativa, na incontinência urinária. O tratamento é
acompanhado de efeitos indesejáveis, como ressecamento da boca, visão
embaraçada e constipação;
• TOLTERODINA – antagonista seletivo dos receptores muscarínicos
subtipo M3 utilizado na incontinência urinária; causa menos ressecamento da
boca e constipação;
• CICLOPENTOLATO/ TROPICAMIDA – utilizados como agentes
midriáticos utilizados na oftalmologia na forma de colírios.

Os antagonistas muscarínicos devem ser administrados com cautela em


pacientes com glaucoma de ângulo estreito ou fechados; lesões cerebrais, xerostomia,
hipertensão e hipertireoidismo.

f. Inibidores da Síntese, do Armazenamento e da Liberação de


Acetilcolina
Esses agentes atuam nível pré-sináptico (Figura 2).

Hemicolínio/ Trietilcolina = impede o transporte de colina para a terminação


nervosa, inibindo a síntese de ACh. Não apresenta aplicação clínica;

Vesamicol = impede o transporte de ACh no interior das vesículas sinápticas;

Neomicina/ Estretomicina = são agentes antimicrobianos do tipo


aminoglicosídios que impedem a entrada de cálcio impedindo a liberação de ACh;
Toxina botulínica/ -Burgarotoxina = componentes peptidases que clivam as
proteínas específicas de fusão, impedindo a liberação de ACh. Essa toxina provoca
paralisia motora e redução progressiva da atividade parassimpática, com
ressecamento da boca, visão turva, dificuldade da deglutição e paralisia respiratória.

Farmacologia Adrenérgica

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Na transmissão adrenérgica, as catecolaminas (norepinefrina, epinefrina,


dopamina) são os neurotransmissores que atuam no controle da função cardíaca, da
força de contração cardíaca, na resistência dos vasos sanguíneos e nos bronquíolos,
na liberação de insulina e na degradação de gordura.
As catecolaminas são sintetizadas a partir da tirosina. Essa síntese ocorre nas
terminações nervosas simpáticas e em menor extensão nos corpos celulares
neuronais. A síntese de epinefrina predomina na glândula suprarrenal, enquanto os
neurônios adrenérgicos produzem em sua maioria norepinefrina.
A tirosina, precursora das catecolaminas é transportada para dentro dos
neurônios por meio de um transportador de aminoácidos aromáticos por intermédio da
membrana neuronal.

Tirosina hidroxilase

TIROSINA ‫ۀ‬ DIIDROXIFENILALANINA (L-DOPA) ‫ ۀ‬DOPAMINA


Descarboxilase L- aminoácidos aromáticos

Em seguida, a dopamina é transportada em vesículas sinápticas por um


transportador de monoaminas vesicular. Nesta vesícula a dopamina é convertida em
norepinefrina por meio de uma reação de hidroxilação, catalisada pela dopamina -
hidroxilase.
Após sua liberação a molécula de catecolamina exerce seu efeito em um
receptor adrenérgico pós-sináptico, a resposta é levada ao seu término por três
mecanismos: recaptação de catecolaminas no neurônio pré-sináptico; metabolismo
das catecolaminas até um metabólito inativo e/ou difusão das catecolaminas a partir
da fenda sináptica. Os dois primeiros mecanismos dependem de proteínas de
transporte ou enzimas, sendo um importante alvo para intervenção farmacológica.

TRANSMISSÃO ADRENÉRGICA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

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FONTE: Katzung, 2003.


Alteração de autorreceptor.

A recaptação de catecolaminas é mediada por um transportador seletivo de


norepinefrina, processo que permite reciclar o transmissor para uma liberação
subsequente. No interior do citoplasma neuronal as c atecolaminas podem ainda ser
novamente concentradas em vesículas.
O metabolismo das catecolaminas envolve duas enzimas, a
monoaminaoxidase (MAO) presente na mitocôndria, existente em duas isoformas –
MAO-A, seletiva para serotonina, norepinefrina e epinefr ina e MAO -B, seletiva para
dopamina; e a catecol -O-metiltransferase (COMT), enzima citosólica expressa
primariamente no fígado.

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Os neurotransmissores norepinefrina e epinefrina se ligam aos receptores


adrenérgicos. Esses são divididos em duas classes: alfa e beta receptores que
pertencem à superfamília de receptores acoplados à proteína G.

Os receptores alfa-adrenérgicos são divididos em:

Alfa-1 adrenérgico - acoplado a uma proteína G quinase sua estimulação leva


a ativação da fosfolipase C e produção de mensageiros intracelulares (IP3 e DAG) e
influxo de cálcio. Sua estimulação leva a vasoconstrição, contração do músculo liso
geniturinário, relaxamento do músculo liso do trato gastrintestinal, secreção salivar,
broncoconstrição, glicogenólise e gliconeogênese.
Alfa-2 adrenérgico – acoplado a proteína G inibitória sua estimulação leva a
inibição da enzima adenilato ciclase e redução do nível intracelular de AMPc; abertura
dos canais de K+ e fechamento dos canais de Ca2+. Atua inibindo a liberação de
neurotransmissores, inibe a agregação plaquetária, inibe a liberação de insulina, no
relaxamento do músculo liso do trato gastrintestinal.
Os receptores beta-adrenérgicos, por sua vez, estão acoplados à proteína G
estimulatória e quando estimulados levam a ativação da enzima adenilato ciclase e
aumento do nível intracelular de AMPc.

Beta-1 adrenérgico – estimulação da enzima glicogênio fosforilase hepática;


no coração aumenta a frequência cardíaca e a velocidade de condução do nodo
atrioventricular; no sistema renal induz a liberação de renina;
Beta-2 adrenérgico – presente na musculatura lisa, no fígado e no
musculoesquelético, sua estimulação resulta em broncodilatação, vasodilatação,
relaxamento do músculo liso visceral, catabolismo do glicogênio e glicogenólise
(aumento do nível glicêmico);
Beta-3 adrenérgico – presente no tecido adiposo envolvido no aumento da
lipólise.
Os agentes farmacológicos adrenérgicos são classificados de acordo com sua
atuação na transmissão adrenérgica, podendo atuar na síntese de catecolaminas, na
etapa de armazenamento ou na recaptação, na biotransformação dos
neurotransmissores e diretamente sobre os receptores adrenérgicos.
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a. Inibidores da Síntese das Catecolaminas


A enzima tirosina hidroxilase atuante na síntese das catecolaminas pode ser
inibida pela ALFA-METILTIROSINA. Aplicada na terapêutica no tratamento da
hipertensão associada à feocromocitoma*. Os efeitos adversos consistem em quadro
de hipotensão ortostática e sedação.

b. Inibidores do Armazenamento de Catecolaminas


Inibem o armazenamento das catecolaminas nas vesículas, resultando em
aumento em curto prazo, na liberação de catecolaminas das terminações sinápticas,
porém, com depleção em longo prazo do reservatório disponível de catecolaminas.

 RESERPINA – interage com proteínas do transportador vesicular,


impedindo o armazenamento de norepinefrina e de dopamina. Antigamente utilizado
na terapêutica para tratamento da hipertensão, tornou-se obsoleto devido aos efeitos
adversos marcantes, como: arritmias cardíacas, hemorragia gastrintestinal e
depressão psicótica;
 GUANETIDINA/ GUANADREL = concentram-se nas vesículas
transmissoras e desloca a norepinefrina, resultando em depleção gradual. Esse efeito
provoca redução do débito cardíaco; a redução da resposta simpática leva à
ocorrência de hipotensão sintomática. A aplicação terapêutica na hipertensão
tornouse obsoleta em decorrência dos efeitos indesejáveis: doença renal, apneia,
hipotensão ortostática, retenção hídrica, visão embaraçada e impotência;
 ANFETAMINA/ METILFENIDATO = semelhantes estruturalmente com a
norepinefrina, sendo transportadas nas terminações pelo processo de recaptação.
São fármacos capazes de deslocar as catecolaminas endógenas das vesículas
de armazenamento, de inibir fracamente a MAO e de bloquear captação de
catecolaminas mediada pelo transportador de norepinefrina.
Apresenta como efeitos farmacodinâmicos: broncodilatação, aumento a
pressão arterial, vasoconstrição, aumento da frequência cardíaca e da força de
contração e inibição da motilidade intestinal. A anfetamina é utilizada no tratamento
da obesidade por promover perda de peso por meio da supressão do apetite. É
utilizada como droga de abuso para vencer o sono e aumentar o estado de alerta. O
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metilfenidato é empregado clinicamente na dose diária de 60 mg para tratamento no


distúrbio de hiperatividade com déficit de atenção.

c. Inibidores da Recaptação de Catecolaminas


Inibem a recaptação de catecolaminas mediada pelo transportador de
norepinefrina, potencializando a ação das catecolaminas. Nesse grupo encontram- se
os antidepressivos tricíclicos, como imipramina que serão detalhados mais adiante.
A cocaína, uma droga de abuso, é um potente inibidor do transporte de
catecolaminas. O quadro de intoxicação por essa droga reflete a exacerbação dos
efeitos simpáticos.

d. Inibidores do Metabolismo das Catecolaminas A


IPRONIAZIDA, TRANILCIPROMINA (seletiva para MAO-A),
MOCLOBEMIDA e SELEGILINA (seletivo MAO-B) são inibidores da MAO. A
inibição enzimática por esses fármacos resulta no aumento dos níveis de
catecolaminas. A TRANILCIPROMINA é utilizada clinicamente no tratamento de
alguns tipos depressão. A SELEGILINA é classificada como agente antiparkinsoniano,
aumentando o nível de dopamina, neurotransmissor deficiente na Doença de
Parkinson.

e. Agonistas dos Receptores Alfa-adrenérgicos


Os fármacos agonistas dos receptores alfa-1 adrenérgicos ativam
seletivamente esses receptores, levando a um aumento da resistência vascular
periférica, hipertensão e hipertrofia cardíaca:

 METOXAMINA = uso limitado no tratamento do choque tendo como


efeitos adversos: bradicardia reflexa, cefaleia e ansiedade;
 FENILEFRINA = utilizada como descongestionante nasal e midriático em
várias formulações nasais e oftálmicas; a infusão intravenosa para o tratamento do
choque cardiogênico leva a acentuada vasoconstrição arterial;

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 OXIMETAZOLINA/ TETRAIDRAZOLINA/ NAFAZOLINA = utilizados no


alívio da congestão nasal e hiperemia oftálmica; o uso abusivo leva a ocorrência de
efeito rebote dos sintomas.
Os agonistas dos receptores alfa-2 adrenérgicos ativam seletivamente os
autorreceptores alfa-2 adrenérgicos centrais e, portanto, inibem a descarga
simpática do sistema nervoso central.

 CLONIDINA – a principal utilização clínica é no tratamento da


hipertensão arterial; também se mostra útil no tratamento e na preparação de
dependentes para a suspensão de narcóticos, álcool e tabaco, reduzindo nesses
pacientes o desejo pelo fármaco. Pode ser utilizada associada com agentes
anestésicos, reduzindo a necessidade de anestésico, promovendo sedação e ação
ansiolítica. Na suspeita de feocromocitoma, a clonidina é administrada para
diagnóstico dessa patologia. Dentre os efeitos indesejáveis estão relacionados
bradicardia, insuficiência cardíaca, hipotensão, constipação, xerostomia, sedação e
tontura;
 ALFA-METILDOPA - metabolizada no cérebro
a alfa-
metilnorepinefrina, um anti-hipertensivo de ação central. Após ser liberado das
terminações nervosas adrenérgicas, passa a atuar como falso neurotransmissor
ativando os receptores alfa-2 adrenérgicos, reduzindo a pressão arterial semelhante à
clonidina. Utilizada na hipertensão arterial durante a gravidez. Efeitos indesejáveis:
hepatotoxicidade e anemia hemolítica autoimune.

f. Agonistas dos Receptores Beta-adrenérgicos


Os agonistas dos receptores beta-adrenérgicos foram utilizados em muitas
situações clínicas. Atualmente, são agentes importantes no tratamento da
broncoconstrição em pacientes asmáticos e na doença pulmonar obstrutiva crônica.
A epinefrina foi pela primeira vez utilizada como broncodilatador no início do
século XX. Entretanto, os pacientes apresentavam sinais da atividade alfa-
adrenérgica, como aumento da pressão arterial. Na década de 1940 então foi
desenvolvido o ISOPROTERENOL, um agonista seletivo dos receptores beta
adrenérgicos para tratamento da asma que carecia de atividade alfa-adrenérgica. O

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desenvolvimento de agonistas beta-2 seletivos forneceu fármacos com maior


biodisponibilidade oral, ausência de atividade alfa-adrenérgica e menor incidência de
efeitos cardiovasculares indesejáveis.
A DOBUTAMINA é considerada um agonista beta-1 relativamente seletivo, mas
por ser administrada como mistura racêmica tem seus efeitos como reflexos das
interações em receptores tanto alfa quanto beta-adrenérgicos. Indicada para
tratamento em curto prazo da descompensação cardíaca que pode ocorrer após
cirurgia cardíaca ou em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou infarto
agudo do miocárdio. A dobutamina aumenta o débito cardíaco e o volume sistólico. A
infusão de dobutamina para aumentar o débito cardíaco situa-se entre 2,5 e 10
Ɋg/kg/min respeitando as respostas hemodinâmicas e clínicas do paciente, tendo em
vista que a alta velocidade de infusão reflete efeitos alfa-adrenérgicos da dobutamina.
Os agonistas beta-2 seletivos são resultados de modificações estruturais a
partir da molécula de isoproterenol tornando a molécula mais volumosa. Muitos desses
agentes terapêuticos são utilizados em pequenas doses por via inalatória, na forma
de aerossol; permitindo a ativação eficaz de receptores beta-2 nos bronquíolos, com
concentrações sistêmicas extremamente baixas.

 SALBUTAMOL – também conhecido como albuterol é administrado por


inalação ou por via oral para alívio sintomático do broncoespasmo. Quando inalado,
causa broncodilatação significativa em 15 minutos e os efeitos persistem durante 3-4
h;
 TERBUTALINA – rápido efeito broncodilatador após inalação ou
administração parenteral, após inalação o efeito persiste por 3-6 h quando
administrado por via oral o efeito demora de 1 a 2h. É utilizada no tratamento em longo
prazo das doenças obstrutivas das vias respiratórias e no broncoespasmo agudo.
Além de ser uma ferramenta farmacológica na crise asmática emergencial;
 SALMETEROL – possui duração de ação prolongada de
aproximadamente 12h, entretanto seu início de ação é relativamente lento após
inalação, sendo inapropriado para alívio imediato das crises inesperadas de
broncoespasmo.
Os principais efeitos adversos dos agonistas beta-adrenérgicos são resultantes
da ativação excessiva dos receptores beta-adrenérgicos. O tremor muscular constitui
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um efeito adverso comum. O desenvolvimento de tolerância é observado com a


terapia em longo prazo com esses agentes, refletindo uma dessensibilização dos
receptores beta-2 adrenérgicos. Para minimizar esse efeito, deve-se iniciar a terapia
oral com dose baixa, e progressivamente aumentando à medida que surgir o tremor.
A sensação de inquietação, apreensão e ansiedade são sintomas apresentados pelos
pacientes tratados por via oral ou parenteral. A taquicardia é um efeito adverso comum
dos agonistas beta-adrenérgicos quando administrados por via sistêmica. A
estimulação da frequência cardíaca ocorre via receptor beta-1 adrenérgico.

g. Antagonista dos Receptores Alfa-Adrenérgicos


Bloqueiam a ligação das catecolaminas endógenas aos receptores alfa-1 e alfa-
2 adrenérgicos promovendo vasodilatação, redução da pressão arterial e redução da
resistência periférica. Observa-se ativação dos barorreceptores a fim de compensar a
diminuição da pressão arterial, resultando em aumento dos reflexos da frequência
cardíaca e do débito cardíaco.

A FENOXIBENZAMINA e FENTOLAMINA bloqueiam irreversivelmente e


reversivelmente, respectivamente os receptores alfa-1 e alfa-2 adrenérgico. Dessa
forma, a fentolamina apresenta duração de ação curta, é utilizada na hipertensão e
sudorese associadas ao feocromocitoma.
Os antagonistas dos receptores alfa-1 seletivos são:

 PRAZOSIN - relaxa o músculo liso arterial e venoso, produzindo


diminuição na resistência vascular periférica. Esse efeito não leva ao aumento da
frequência cardíaca como se observa com outros agentes vasodilatadores. O prazosin
também é um potente inibidor das fosfodiesterase e nucleotídeos. O tratamento
iniciase com uma dose de 1 mg, 2-3x/dia, geralmente administrada ao deitar, o
paciente deve permanecer deitado por um bom tempo a fim de reduzir os riscos de
hipotensão postural grave relacionada a primeira dose. O prazosin é utilizado no
tratamento da hiperplasia prostática benigna nas doses de 1-5 mg 2x/dia;
 TERAZOSIN/ DOXAZOSIN - são análogos estruturais da prazosina que
apresentam maior biodisponibilidade por via oral, sendo indicados para o tratamento

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da hiperplasia prostática benigna, nas doses de 10 mg/dia e 1 mg/dia,


respectivamente. Esses agentes também podem levar a hipotensão postural grave;
 TANSULOSIN – antagonista alfa-1A-seletivo, predominante no
músculo liso do trato geniturinário; biodisponibilidade muito alta; tempo de meia-vida
de 9-15h; metabolizada extensamente no fígado; indicada terapeuticamente para
hiperplasia prostática benigna na dose inicial de 0,4 mg/dia sem acarretar efeitos
significativos sobre a pressão arterial; a ejaculação anormal consiste em um efeito
adverso nestes pacientes.

A IOIMBINA, alcaloide encontrado na casca da árvore Pausinystalia yohimbe,


atua como antagonista competitivo seletivo para os receptores alfa-2 adrenérgicos.
Por penetrar facilmente no sistema nervoso central, atua aumentando a pressão
arterial e a frequência cardíaca. A atividade motora é intensificada provocando
tremores. Antigamente, a ioimbina era muito utilizada no tratamento da disfunção
sexual masculina.

h. Antagonistas dos Receptores Beta-Adrenérgicos


Os fármacos desta classe recebem muita atenção clínica devido a sua eficácia
na terapêutica da hipertensão, da cardiopatia isquêmica, da insuficiência cardíaca
congestiva e certos casos de arritmias.
O mecanismo de ação dos antagonistas beta-adrenérgicos consiste no
bloqueio dos receptores beta-adrenérgicos. Podem ser divididos em: agentes seletivos
ou não seletivos para os receptores beta-1 adrenérgico.
Os antagonistas não seletivos são PROPRANOLOL (dose 40-480 mg/dia),
NADOLOL (dose 40-80 mg/dia) e TIMOLOL (dose 10-40 mg/dia). O tratamento com
tais agentes podem ocasionar os seguintes efeitos adversos: broncoespasmo,
bradiarritmias, sedação, mascarar os sintomas de hipoglicemia, depressão, dispneia
e sibilos. Dessa forma, são contraindicados na asma brônquica e doença pulmonar
obstrutiva crônica, choque cardiogênico e insuficiência cardíaca não compensada.
Os agentes antagonistas beta-1 seletivos (cardiosseletivos) como
METOPROLOL (dose 100-400 mg/dia), ATENOLOL (dose 25-100 mg/dia),
ACEBUTOLOL (dose 400-1.200 mg/dia), BISOPROLOL (dose 2,5-10 mg/dia) são
indicados para tratamento de pacientes hipertensos ou cardiopatas com asma ou
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diabetes. Estes fármacos são mais potentes no bloqueio dos receptores cardíacos
(beta-1 adrenérgicos) do que os receptores beta-2. Todavia, a seletividade é relativa,
quando utilizados em altas doses, a seletividade é perdida.
Alguns agentes podem ainda exibir atividade dual, ou seja, são capazes de
bloquear os receptores beta-1, beta-2 e alfa-1 adrenérgicos, como LABETALOL (dose
300-600 mg/dia) e CARVEDILOL (dose 3,125-25 mg/dia) utilizados na angina e
hipertensão. O SOTALOL (dose 160-480 mg/dia) é um antagonista beta não seletivo
com propriedade adicional de bloqueio dos canais de potássio e com propriedades
antiarrítmicas classe III.

FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Os fármacos que atuam no sistema nervoso central (SNC) possuem grande


valor na terapêutica, pois podem exercer efeitos psicológicos e fisiológicos
específicos, como alívio da dor, reduzir a temperatura corporal, suprimir o movimento
desordenado, induz o sono ou o despertar, reduz o apetite ou a tendência ao vômito.
Os fármacos de ação seletiva podem ser usados para tratar a ansiedade, mania,
depressão ou esquizofrenia sem alterar o estado de consciência do indivíduo. Muitos
desses fármacos assemelham-se no sentido de levarem ao uso compulsivo, a
dependência física e a efeitos colaterais tóxicos. Esses riscos para a saúde dos
indivíduos são impulsionados pelo uso indiscriminado, pela prescrição irracional e
automedicação. As principais classes de fármacos atuantes no SNC utilizadas na
terapêutica serão abordadas neste curso.

FÁRMACOS SEDATIVOS E HIPNÓTICOS

Os agentes sedativo-hipnóticos produzem sedação, sono, inconsciência,


anestesia cirúrgica, coma e depressão respiratória e da função cardiovascular,
dependendo da dose. Um fármaco sedativo é definido como um agente capaz de
reduzir a excitação e exercer efeito calmante, sem induzir ao sono, embora produza
sonolência. A sedação está relacionada à diminuição da estimulação estando
associada a alguma redução da atividade motora e do processo de pensamento. Um
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agente hipnótico induz ao e/ou mantém o sono, semelhante ao estado de sono natural.
Em altas doses, os hipnóticos podem levar à anestesia geral. Ambos os fármacos
deprimem o SNC com leves diferenças nas relações de tempo e ação, assim como
dose e ação.
Esses agentes são classificados como:
 Barbitúricos;
 Benzodiazepínicos;

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Hipnóticos não benzodiazepínicos

Barbitúricos
Os barbitúricos são derivados substituídos do ácido barbitúrico (malonilureia).
Foram hipnóticos e sedativos populares no século XX até a década de 60, atualmente
não são utilizados de modo preferencial.

Fonte: Goodmam e Gilman, 2006.

Os barbitúricos são depressores gerais de todas as células excitáveis, sendo o


SNC o mais sensível a sua ação. Uma dose hipnótica de 100-200 mg de um barbitúrico

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de ação curta reduz o tempo de latência para o sono e aumenta a duração do sono.
O indivíduo pode despertar do sono e se sentir confuso e instável quando acordado
precocemente. Pode ocorrer tontura, distorções do humor, irritabilidade e letargia pela
manhã após uma dose noturna. A dose sedativa de um barbitúrico de ação mais longa
produz sonolência, redução da ansiedade e da excitabilidade. Todavia, essa ação
ansiolítica não se mostra seletiva.
O aprendizado, a memória em curto prazo e o raciocínio são influenciados com
o tratamento com barbitúricos. Em doses hipnóticas os barbitúricos levam a ligeira
redução da pressão arterial e da frequência cardíaca e redução do tônus e da
motilidade do intestino. Em doses anestésicas, os barbitúricos reduzem a contração
muscular, ao deprimir a excitabilidade da junção neuromuscular. Em doses tóxicas, a
função respiratória é deprimida; queda acentuada da pressão arterial com depressão
do centro vasomotor e bloqueio ganglionar; diminuição da contratilidade cardíaca;
redução do fluxo urinário e oligúria.
Os barbitúricos atuam no receptor de GABA subtipo GABAA potencializando a
ação GABAérgica aumentando o tempo de abertura do canal de cloreto induzida pelo
GABA, exercendo ação alostérica. Dessa forma, inibem a liberação de
neurotransmissores dependentes do cálcio; deprimem a despolarização neuronal
induzida pelo glutamato por meio dos receptores AMPA. Em concentrações elevadas,
são capazes de deprimir os canais de sódio e de potássio.

Barbitúrico Ação
TIOPENTAL ULTRACURTA
AMOBARBITAL INTERMEDIÁRIA
FENOBARBITAL PROLONGADA
PENTOBARBITAL PROLONGADA
SECOBARBITAL PROLONGADA

O uso dos barbitúricos é bastante limitado já que apresenta estreito índice


terapêutico. O fenobarbital é utilizado no tratamento da epilepsia na dose de 30-60
mg/3x dia por via oral e o tiopental empregado na anestesia. Como agentes
ansiolíticos e hipnóticos foram substituídos pelos benzodiazepínicos. O fenobarbital

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pode ainda ser utilizado para acelerar a resolução da icterícia hemolítica por melhorar
o transporte hepático da bilirrubina nestes pacientes.
Em relação a sua farmacocinética, os barbitúricos são bem absorvidos pelo
trato gastrintestinal e apresenta boa distribuição corporal. A penetração no SNC
depende da lipossolubilidade da molécula, o tiopental é altamente lipossolúvel
penetrando quase que imediatamente no SNC. A ligação às proteínas plasmáticas é
bastante variável no grupo, o tiopental liga-se 75% enquanto o fenobarbital 20%. É
importante destacar que a lipossolubilidade do tiopental, faz com que ocorra a
redistribuição do fármaco, ou seja, após a administração o fármaco se acumula nos
tecidos gordurosos prolongando seu efeito. Os barbitúricos induzem ao metabolismo
de vários fármacos, como varfarina, anticoncepcionais, griseofulvina e teofilina,
reduzindo a sua eficácia.
Alguns indivíduos tratados com barbitúricos apresentam excitação, sendo a
ocorrência mais comum em pacientes idosos. A ocorrência de precipitação de porfiria
em alguns indivíduos constitui uma idiosincrasia. Um quadro de hipersensibilidade,
exantema, edema nas pálpebras e nos lábios é apresentado por alguns pacientes.
Verifica-se o desenvolvimento de tolerância com doses repetidas de barbitúricos.
Ocorre dependência física e psicológica, risco para o uso abusivo. Os sintomas de
abstinência consistem em alucinação, convulsão, delírio, excitação e morte.

Benzodiazepínicos
O clordiazepóxido e o diazepam foram introduzidos na década de 60 como
agentes ansiolíticos. Desde então esta classe adquiriu popularidade, substituindo os
barbitúricos tanto como agentes hipnóticos quanto como sedativos. Das diversas
razões que levaram os benzodiazepínicos serem amplamente utilizados na clínica
podemos citar seu alto índice terapêutico, o risco de depressão respiratória e da
função cardiovascular necessitar de doses mais elevadas que as doses hipnóticas,
não alteram a eliminação de outros fármacos por indução das enzimas microssomais
e o desenvolvimento de um antagonista para reversão do quadro de envenenamento.
O termo benzodiazepina refere-se à porção da estrutura composta de um anel
benzênico ligado a um anel diazepínico de 7 membros. Contudo, já que todos os BZDs
contem um substituinte 5-aril e um anel 1,4-diazepina, o termo significa 5-aril-
1,4benzodiazepinas
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COMPOSTO R1 R2 R3 R4

Diazepam Cl CH3 H2 H

Nitrazepam NO2 H H2 H
Flurazepam Cl (CH2)2N(C2H5)2 H2 F
Flunitrazepam NO2 H H2 F
Oxazepam Cl H OH H
Temazepam Cl CH3 H2 H
Clonazepam NO2 H H2 Cl
Lorazepam Cl H OH Cl
Clorazepato Cl H COOH H
Nordiazepam Cl H H2 H

Os benzodiazepínicos atuam preferencialmente sobre a formação reticular


ascendente do mesencéfalo (que mantém o estado de vigília) e sobre o sistema
límbico (funções de pensamento e mental). O relaxamento muscular é produzido pela
ação dos benzodiazepínicos sobre o cerebelo. Esses efeitos resultam da ligação dos
benzodiazepínicos no sítio alostérico no receptor GABAérgico GABAA – denominado
receptor de benzodiazepínicos, aumentando a transmissão inibitória pré/pós-sináptica
(Figura 7). O mecanismo de ação assemelha-se ao dos barbitúricos, sendo que
diferente destes os benzodiazepínicos aumenta a frequência de abertura e não o
tempo que o canal de cloreto fica aberto como faz o primeiro.
A ação dos benzodiazepínicos no SNC é semelhante, diferindo em algumas
particularidades como seletividade e a sequência temporal de ação. Os
benzodiazepínicos exercem efeitos hipnóticos, ansiolíticos, miorrelaxantes e
anticonvulsivantes relativamente seletivos. Como agentes hipnóticos, os
benzodiazepínicos reduzem o tempo de latência para o sono e aumenta a duração do
sono no estado natural, efeito observado naqueles indivíduos com pelo menos 6 horas
de sono, tais efeitos hipnóticos declinam com a administração após 1-2 semanas.
O efeito ansiolítico dos benzodiazepínicos é indicado para alívio da ansiedade
e estado de agressividade, esse efeito é obtido em doses menores que a dose utilizada
como hipnótico.

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Os benzodiazepínicos produzem relaxamento do musculoesquelético mediado


centralmente, sem comprometimento da atividade voluntária. O clonazepam e o
diazepam possuem atividade miorrelaxante mais pronunciada, e doses muito altas
deprimem a transmissão muscular.
A atividade anticonvulsivante é exibida principalmente pelo clonazepam,
diazepam, nitrazepam e flurazepam, sendo utilizada no tratamento da epilepsia,
entretanto, sua utilização por pacientes epilépticos é limitada, pois há risco do
desenvolvimento de tolerância. O alprazolam além da ação hipnótica e sedativa exibe
atividade antidepressiva.

RECEPTOR DE GABAA E SÍTIO DE LIGAÇÃO DOS


BENZODIAZEPÍNICOS (BDZ)

FONTE: Katzung, 2003.

Os efeitos cardiovasculares dos benzodiazepínicos em indivíduos normais são


mínimos, exceto em casos de intoxicação. A administração intravenosa de doses
préanestésicas reduz a pressão arterial e aumentam a frequência cardíaca. O

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midazolam reduz a resistência periférica, e o diazepam reduz o trabalho ventricular


esquerdo e o débito cardíaco, assim como o aumento do fluxo coronário. Alguns
gastroenterologistas relatam melhora de vários distúrbios gastrintestinais relacionados
com a ansiedade com o uso do diazepam, estudos indicam que o diazepam reduz
significativamente a secreção gástrica noturna em seres humanos.
Os benzodiazepínicos são bem absorvidos por via oral enquanto que a
absorção por via intramuscular é lenta e irregular, com exceção do lorazepam. A
ligação às proteínas plasmáticas varia acentuadamente, de 10% para o flurazepam e
99% para o diazepam. São amplamente distribuídos por todo o corpo. Os
benzodiazepínicos com alta lipossolubilidade penetram rapidamente no SNC e sua
concentração plasmática declina em razão da fase de distribuição e posteriormente
pela sua eliminação. São metabolizados no fígado por reações de desalquilação e
hidroxilação, formando inúmeros metabólitos, sendo que a maioria desses preserva
as atividades farmacodinâmicas e apresentam o tempo de meia-vida maior que o da
molécula original (Figura 8). Os fármacos com tempo de meia-vida longa ou que
apresentam metabólitos ativos acumulam-se com o seu uso à noite, estendendo sua
ação até o dia seguinte.
Os benzodiazepínicos podem ser divididos de acordo com o tempo de meia-
vida de eliminação:
- Duração ultracurta (4-6 h) – TRIAZOLAM (0,125-025 mg), MIDAZOLAM (7,5
mg),
TEMAZEPAM (10-20 mg);
- Curta duração (12 - 18 h) – LORAZEPAM (2-4 mg) (metabolismo só por
conjugação),
OXAZEPAM (15-30 mg, 3-4x/dia);
- Média duração (12 - 24 h) – ALPRAZOLAM (0,25-2 mg), NITRAZEPAM (5-10
mg); - Longa duração (> 24 h) – FLURAZEPAM (15-30 mg), CLONAZEPAM (0,5-2
mg), FLUNITRAZEPAM (1-2 mg), DIAZEPAM (5-10 mg)

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BIOTRANSFORMAÇÃO DOS BENZODIAZEPÍNICOS

FONTE: Katzung, 2003.

Os benzodiazepínicos de curta duração são indicados para pacientes que


reagem desfavoravelmente a ambientes não familiares ou horários incomuns de sono
e com dificuldade no início do sono. Já osde longa duração são indicados para insônia
crônica, insônia em curto prazo com ansiedade, despertar noturno frequente e
véspera de cirurgia.
Apesar de fármacos relativamente seguros nas doses terapêuticas, os
benzodiazepínicos podem apresentam como efeit os colaterais: sonolência,
coordenação motora prejudicada (as habilidades manuais são afetadas), amnésia
retrógrada (bloqueio da memória de eventos durante o tratamento), confusão mental.
Em doses excessivas causa sono prolongado sem prejuízo da função res piratória e
cardiovascular, e quando associados com outros agentes depressores do SNC (ex.:
álcool, antidepressivos tricíclicos e barbitúricos) os benzodiazepínicos podem causar

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depressão respiratória severa, para reversão deste quadro utiliza-se o antagonista


FLUMAZENIL por via intravenosa. O flumazenil atua como antagonista competitivo
dos receptores gabaérgicos, com duração de ação de 2h, também é utilizado para
reverter os efeitos do midazolam em cirurgia.
Um dos inconvenientes da terapia com os benzodiazepínicos são os riscos de:
tolerância e dependência e o aparecimento de efeitos “rebote” (ansiedade, insônia,
tremor, distúrbios de percepção, tonteira e convulsões). A síndrome de retirada é bem
mais marcante com os benzodiazepínicos de ação curta, como o triazolam mesmo em
dose única após a retirada observa-se insônia e ansiedade. Deve-se proceder retirada
gradual dos agentes benzodiazepínicos quando utilizados por uma terapia em longo
prazo.

Hipnóticos Não Benzodiazepínicos

Zolpidem e zaleplon são agentes hipnóticos que atuam seletivamente no


receptor de benzodiazepínico subtipo ômega-1 (BZ1), acredita-se que esta
seletividade esteja associada a um risco menor de dependência em comparação com
os benzodiazepínicos. A ação ansiolítica, anticonvulsivante e miorrelaxante são pouco
significativas clinicamente. Esses agentes não formam metabólitos ativos, sendo
considerados hipnóticos de curta duração.

 ZOLPIDEM (5-10 mg) - derivado do imidazopiridínico com ação hipnótica


e ação curta; eficácia comprovada na indução e na manutenção do sono. Possui
tempo de meia-vida curto e relatos de sedação diurna mínima;

 ZALEPLON (5-20 mg) – derivado do pirazolopirimidima de ação curta;


administrado no meio da noite. Possui efeitos sedativos residuais mínimos após 4
horas da administração. Seu metabolismo é inibido por cimetidina.
O tratamento de pacientes com disfunção hepática deve ser monitorado. Os
efeitos adversos destes fármacos hipnóticos são semelhantes aos descritos com o
tratamento por benzodiazepínicos de ação curta, efeito amnésico e incoordenação
motora. Menor incidência no desenvolvimento de tolerância e dependência.

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Buspirona
Agente ansiolítico não relacionado aos benzodiazepínicos da classe da
azapirona indicado no tratamento dos distúrbios de ansiedade, como o transtorno de
ansiedade generalizada e no alívio em curto prazo dos sintomas de ansiedade,
acompanhados ou não de depressão. A BUSPIRONA (5 -10 mg) atua como um
agonista parcial dos receptores serotoninérgicos subtipo 5HT 1A localizados pós
sinapticamente no hipocampo, resultando na menor liberação de serotonina (5 -HT) e
como agonista total interferindo nas ações de despertar. Os efeitos farmacodinâmicos
podem levar dias ou semanas para aparecer.

A buspirona é rapidamente absorvida por via oral, porém apresenta baixa


biodisponibilidade (~5%); alta ligação ás proteínas plasmáticas (95%). Sofre extenso
metabolismo de primeira passagem por meio de reações de hidroxilação e
desalquilação com formação de vários meta bólitos ativos, como 1 -(2-pirimidil)-
piperazina que possui ações bloqueadoras dos receptores alfa -2 adrenérgicos e que
penetra no SNC. O tempo de meia -vida é de 2 -4 horas e a presença de disfunção
hepática reduz a depuração do fármaco.

Em contraste com os benzodiazepínicos e outros agentes ansiolíticos, a buspirona


alivia a ansiedade sem causar efeitos sedativos, miorrelaxantes ou o
comprometimento da vigília. Em estudos clínicos controlados e em estudos especiais

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da função psicomotora, não houve diferença significativa na incidência de sedação


(sonolência e/ou fadiga) ou de comprometimento psicomotor (incluindo habilidade
para dirigir veículos) entre os pacientes que receberam a buspirona e os pacientes
que receberam placebo.

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Os agentes sedativos e hi pnóticos usualmente prescritos são descritos no


quadro abaixo:

FONTE: Katzung, 2003.

FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS

A depressão é um dos distúrbios psiquiátricos mais comuns. Em qualquer


momento particular, 5 -6% da população apresenta depressão, e estima -se que 10%
das pessoas podem apresentar depressão durante toda vida. Os sintomas da
depressão são sutis e muitas vezes despercebidos tanto para o paciente quanto para
o médico. A depressão foi caracterizada e classificada de diversas maneiras. A
depressão maior e a distimia (menor) são síndromes depressivas puras enquanto que
o distúrbio bipolar está associado a manias. Uma classificação baseada na origem
está descrita no quadro baixo:

FONTE: Katzung, 2003.


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Os antidepressivos são fármacos que aumentam o tônus psíquico melhorando


o humor e a psicomotricidade. Acredita-se que esse efeito seja resultado do aumento
da disponibilidade de neurotransmissores no SNC, principalmente noradrenalina,
dopamina e serotonina. Levando -se a crer que a depressão seria uma patologia
resultante da deficiência de neurotransmissores em regiões do encéfalo. O aumento
de neurotransmi ssores na fenda sináptica se dá por meio de diversos mecanismos
nos quais dividem os antidepressivos nas seguintes classes:
Antidepressivos Tricíclicos;
Antidepressivos de Segunda e Terceira Geração (Heterocíclicos);
Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina;
Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO).

Antidepressivos Tricíclicos

São denominados tricíclicos pelo fato de apresentarem na estrutura um núcleo


com três anéis, estreitamente semelhantes às fenotiazinas; podem ser do tipo aminas
secundária ou terciária. São representantes desta classe:

ESTRUTURA QUÍMICA DOS ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS

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FONTE: Katzung, 2003.

Os antidepressivos tricíclicos atuam no sistema límbico aumentando a


noradrenalina e/ou serotonina na fenda sináptica por meio do bloqueio da recaptação
de aminas pelos terminais nervosos, por competir pelo sítio ligante da proteína
transportadora. Também ocorre o efeito indireto de bloquear os receptores alfa-2
présinápticos, aumentando ainda mais a disponibilidade de noradrenalina na fenda
sináptica. A maioria dos antidepressivos tricíclicos inibe a recaptação de noradrenalina
e serotonina, com poucos efeitos sobre a recaptação de dopamina.
O efeito sobre a transmissão serotoninérgica reflete uma melhora dos sintomas
emocionais, enquanto o alívio dos sintomas biológicos se dá pela facilitação da
transmissão noradrenérgica. Normalmente, esses resultados são obtidos após um
período de 15 dias de tratamento, e não raro, podendo chegar até 30 dias.
Os antidepressivos tricíclicos também afetam outros receptores, como os
receptores muscarínicos da acetilcolina, levando a efeitos adversos marcantes
conhecidos como anticolinérgicos, em que o paciente apresenta boca seca, visão
turva, constipação, retenção urinária e confusão mental, sendo muitas vezes motivo
da não adesão ao tratamento. Dessa forma, a orientação ao paciente torna
imprescindível para o sucesso da terapia. Além desses efeitos adversos, que não
exigem período de latência para o aparecimento, estão relacionados sedação, tremor,
insônia, efeitos cardiovasculares (hipotensão ortostática, defeitos de condução e
arritmias), psiquiátricos (agravamento psicose e síndrome de abstinência), ganho de
peso e distúrbios sexuais.

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MECANISMO DE A ÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (ADT)


(REMERON® (MIRTAZAPINA) ORGANON).

http://gballone.sites.uol.com.br/atlas/adt.htm

Em relação à farmacocinética, os antidepressivos tricíclicos possuem absorção


incompleta por via oral, sofrem efeito de primeira passagem; são extensamente
ligados às proteínas plasmáticas; alto volume de distribuição; o metabolismo se dá por
meio da trans formação do núcleo tricíclico por reações de hidroxilação do anel e
conjugação com ácido glicurônico, e da alteração da cadeia lateral alifática com
desmetilação do átomo de nitrogênio, são formados como resultado da
biotransformação de vários metabólitos ativos.
Os sinais de intoxicação começam a aparecer quando a ingestão dos
antidepressivos tricíclicos ultrapassa 500 mg/dia, porém, a dose letal é maior que isso:
varia entre 1.800 e 2.500 mg. No quadro de intoxicação por antidepressivos tricíclicos
podemos encontrar agitação ou sedação, midríase, taquicardia, convulsões

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generalizadas, perda da consciência, depressão respiratória, arritmia cardíaca, parada


cardíaca e morte. Para reversão do quadro de intoxicação está indicado o uso de
anticolenesterásicos, como fisostigmina por via intramuscular ou intravenosa.

Antidepressivos de Segunda e Terceira Geração (Heterocíclicos)


Entre 1980 e 1996, surgiram antidepressivos com estrutura heterocíclica,
designados por segunda e terceira geração. Do grupo da 2ª geração estão os
fármacos: AMOXAPINA e MAPROTILINA, estruturas semelhantes aos dos tricíclicos;
TRAZODONA e BUPROPIONA de estruturas distintas. Do grupo da 3ª geração estão:
MIRTAZAPINA, VENLAFAXINA e NEFAZODONA (figura 13).

 AMOXAPINA – forma metabólit o com a ação antipsicótico loxapina útil


para tratamento de pacientes deprimidos psicóticos. Inibe a recaptação de
noradrenalina e de dopamina. Exerce antagonismo nos receptores dopamínicos.
Apresenta como efeitos adversos acatisia, parkinsonismo, amenorr eia e
galactorreia;

 MAPROTILINA – estrutura semelhante à


desipramina. Inibe seletivamente a recaptação de noradrenalina. Menos
ações sedativas e anticolinérgicas que os antidepressivos tricíclicos;

ESTRUTURA QUÍMICA DE ALGUNS ANTIDEPRESSIVOS DE SEGUNDA E


TERCEIRA GERAÇÃO

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FONTE: Katzung, 2003.

TRAZODONA – inibe moderadamente a recaptação de serotonina.


Exerce efeito hipnótico. Não exibe efeitos anticolinérgicos. Efeitos adversos comuns:
sedação, hipotensão e arritmias cardíacas;
NEFAZODONA – ação semelhante à trazodona, com menor sedação.
Ações anticolinérgicas. Potente inibidor das enzimas microssomais CYP3A4;
VENLAFAXINA – potente inibidor da recaptação da serotonina (em dose
baixa) e fraca inibição da recaptação da noradrenalina (em alta dose). Observa -se
aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial quando administrado em altas
doses;

MIRTAZAPINA – bloqueio dos receptores alfa-2 adrenérgicos e


serotoninérgicos 5-HT2 e 5-HT3. Promove sedação intensa, boca seca e ganho de
peso.

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Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina


O pri meiro agente desta classe foi a FLUOXETINA, um antidepressivo eficaz
com toxicidade autônoma mínima, com ação seletiva em inibir a recaptação de
serotonina. A partir daí, muitos esforços foram feitos para se descobrir moléculas
semelhantes. Atualmente, dis põem -se dessa classe os seguintes antidepressivos:
CITALOPRAM, PAROXETINA, SERTRALINA e FLUVOXAMINA (Figura 14). Estão
indicados para o tratamento dos transtornos depressivos, transtorno
obsessivocompulsivo, transtorno do pânico, transtorno fobia -ansiedade, neuropatia
periférica, dor de cabeça tensional crônica, transtornos alimentares e tensão pré -
menstrual.

ESTRUTURA QUÍMICA DOS INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO


DE SEROTONINA

FONTE: Katzung, 2003.

Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina apresentam boa absorção por via oral. A
fluoxetina é biotransformada em metabólito ativo norfluoxetina com tempo de meia-vida de 7-
9 dias. A fluoxetina é capaz de inibir diversas enzimas microssomais estando este fármaco
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relacionado a diversas interações medicamentosas significativas. A fluoxetina e a paroxetina


não deve ser administrada
em associação com antidepressivos tricíclicos, por inibirem ao metabolismo desses
últimos, aumentando o risco dos efeitos adversos e toxicidade dos tricíclicos.
O tratamento com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina no geral
são mais bem tolerados do que os antidepressivos tricíclicos. Os efeitos adversos que
podem aparecer com o tratamento são: náusea, redução do apetite, insônia, perda de
libido e redução do orgasmo. Quando associados com os inibidores da monoamina
oxidase provoca tremor, colapso cardiovascular, hipertermia – síndrome
serotoninérgica que pode levar ao óbito.

Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO)

Esses fármacos promovem o aumento da disponibilidade da noradrenalina e da


serotonina por meio da inibição dessa enzima responsável pela degradação desses
neurotransmissores no meio intracelular. Os IMAO são análogos da feniletilamina e
são classificados de acordo com sua seletividade, inibidores seletivos da MAO-A
(responsável pelo metabolismo de noradrenalina e serotonina), FENELZINA e
TRANILCIPROMINA e inibidor seletivo da MAO-B (degradação seletiva da dopamina),
SELEGILINA. A inibição da enzima persiste mesmo após não ser mais detectável no
plasma. Na prática clínica, é importante lembrar que o efeito irá persistir de sete dias
(tranilcipromina) a 2-3 semanas (fenelzina) após a suspensão.
Os IMAO podem provocar como efeitos adversos, hipotensão postural (pelo
bloqueio da transmissão simpática), estimulação do SNC (tremor, excitação, insônia e
convulsão), ganho de peso (aumento do apetite), ação anticolinérgica e rara
hepatotoxicidade (associada ao uso de fenelzina).
O tratamento com os IMAO estão sujeitos a interações farmacológicas e
alimentares significativas. A associação de IMAO com antidepressivos tricíclicos
causa episódios de hipertensão, excitação e hiperatividade. A interação entre IMAO e
aminas simpaticomiméticas de ação indireta, como a anfetamina resulta em
hipertensão grave. A ingestão de alimentos ricos em tiramina (queijo, vinhos e
laticínios) em indivíduo fazendo uso de IMAO provoca um quadro conhecido como

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“reação do queijo”; a tiramina é degradada pela monoamina oxidase no intestino e


no fígado, quando a acentuada da pressão arterial, cefaleia pulsátil severa e
hemorragia intracraniana.

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Dessa forma, esses alimentos devem ser evitados em pacientes hipertensos


tratados com um IMAO. Os agentes antidepressivos são usualmen te prescritos e
utilizados nas doses descritas no quadro abaixo:

FONTE: Katzung, 2003.


Sais de Lítio

O tratamento com lítio é indicado para doença maníaco-depressiva, produzindo


melhora em cerca de 70-80% dos pacientes. As taxas de resposta variam em
diferentes tipos de transtorno bipolar. O mecanismo de ação antidepressivo do lítio
ainda não está totalmente esclarecido, o bloqueio da via inositolfosfaditil parece ser o
mecanismo provável. O lítio causaria depleção do inositol fosfato da membrana e
acúmulo intracelular, resultando na inibição da formação de inositol trifosfato, que
impediria a transmissão de circuitos hiperativos.
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MECANISMO DE AÇÃO PROVÁVEL DO LÍTIO

FONTE: Golan e cols., 2009.

O lítio é administrado por via oral na forma de carbonato de lítio na dose usual
de 300-600 mg/3-4x dia. Sofre absorção completa e é amplamente distribuído pelo
organismo. Apresenta longo tempo de meia-vida e índice terapêutico estreito, o que
constitui uma limitação na terapêutica, devido ao alto risco de toxicidade. A terapia
com carbonato de lítio leva a efeitos indesejáveis como náusea, sede, poliúria,
hipotireoidismo, tremor, fraqueza e confusão mental. Doses excessivas causam
confusão, convulsões e disritmias cardíacas. O lítio é contraindicado na gestação por
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ser teratogênico e na disfunção renal. A associação de diuréticos que atuam na região


do túbulo proximal aumenta a reabsorção do lítio aumentando a probabilidade de
toxicidade.

ANTICONVULSIVANTES

A epilepsia é um distúrbio com ataque associado à descarga temporária e


reversível de alta frequência dos impulsos de um grupo de neurônios cerebrais,
deixando o cérebro sem funcionamento. A descarga anormal local pode ficar restrita,
a crise será chamada parcial ou envolver os dois hemisférios cerebrais, generalizada.
Pode ainda ser simples, onde o indivíduo mantém a consciência ou complexa com
perda da consciência.
Os ataques podem ser do tipo tônico-clônico, conhecido como grande mal em
que o indivíduo apresenta forte contração de toda a musculatura com espasmos
extensores sincrônicos e violentos, respiração interrompida, defecação e micção e
salivação intensa ou do tipo ataques de ausência, conhecidos de pequeno mal, mais
frequentes em crianças, ocorre parada abrupta da atividade com recuperação total. A
causa da epilepsia ainda é desconhecida, mas pode originar de ferimentos sofridos na
cabeça, traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas, tumores e outras
doenças neurológicas.
Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode ser
considerada curada. As drogas antiepilépticas são eficazes no controle da epilepsia
de 75% dos pacientes, permitindo que esses indivíduos tenham uma vida normal,
inclusive destacando-se na sua carreira profissional. Os fármacos antiepilépticos
disponíveis podem ser divididos de acordo com seu mecanismo de ação: fármacos
que aumentam a inibição mediada pelos canais de sódio; fármacos que inibem os
canais de cálcio; fármacos que aumentam a inibição mediada pelo GABA e fármacos
que inibem os receptores de glutamato. Embora os antiepilépticos sejam divididos em
classes, a eficácia terapêutica decorre de muitos fármacos atuarem não apenas nos
mecanismos descritos anteriormente, todavia, atuarem de modo pleiotrópico.
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Fármacos que aumentam a inibição mediada pelos canais de sódio

Cada neurônio no cérebro possui mecanismos necessários para evitar uma


descarga rápida e repetitiva. A despolarização da membrana neuronal resulta na
inativação dos canais de s ódio, fornecendo um ponto de controle essencial para
prevenção de descargas elétricas repetitivas que poderiam originar uma potencial
convulsão. Os antiepilépticos FENITOÍNA, CARBAMAZEPINA, LAMOTRIGINA e
ÁCIDO VALPROICO aumentam a inibição em nível de uma única célula por meio de
sua ação direta sobre o canal de sódio (Figura 16). Esses agentes exibem uma
acentuada especificidade para o tratamento das convulsões parciais e generalizadas
secundárias.
ESQUEMA DO MECANISMO DE AÇÃO DOS PRINCIPAIS AGENTES
ANTIEPILÉPTICOS

FONTE: KD Tripathi, 2006.

FENITOÍNA (200-500 mg/dia; 2-3 vezes) – estrutura relacionada aos


barbitúricos, além de reduzir a velocidade de recuperação dos canais de
sódio, este fármaco interage com os lipídios de membrana, promovendo
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estabilização da membrana impedindo descargas repetitivas. O bloqueio dos


canais de sódio se dá de forma dependente do uso, assim como a sua
capacidade em prevenir descarga súbita rápida, constituindo um fármaco de
escolha para o tratamento das convulsões parciais e das convulsões tônico-
clônicas. Assim, como nas convulsões secundárias generalizadas. A
farmacocinética complexa e as diversas interações medicamentosas fazem
com que a decisão do tratamento com a fenitoína ou de fármacos com ação
semelhante, como a carbamazepina seja revista. Cerca de 95% da fenitoína
ligam-se às proteínas plasmáticas, é biotransformada no fígado em um
metabólito inativo; o tempo de meia-vida é de 24h; seu metabolismo exibe
propriedade saturável, pequenos aumentos na dose pode proporcionar
aumentos imprevisíveis na concentração plasmática elevando o risco de
efeitos adversos. Tais efeitos incluem: ataxia, nistagmo, incoordenação,
confusão, hiperplasia gengival, anemia megaloblástica, hirsutismo, traços
faciais mais grosseiros e exantema cutâneo sistêmico. O uso crônico de
fenitoína leva a redução dos reflexos tendinosos nos membros inferiores. O
uso durante a gestação leva a malformação fetal com a ocorrência de fenda
palatina. A fenitoína induz as enzimas microssomais, afetando diversos
fármacos (ex.: carbamazepina e fenobarbital), os fármacos que inibem o
metabolismo das enzimas do sistema P450, como isoniazida e cloranfenicol,
aumentam as concentrações plasmáticas de fenitoína;

 CARBAMAZEPINA (400-1800mg/dia; 2-4 vezes) – constitui o fármaco


de escolha para as convulsões parciais simples e complexas, devido à sua ação
supressora dos focos convulsivos e preventiva da propagação da atividade. Além da
epilepsia, pode ser uma alternativa para o tratamento do distúrbio bipolar por atuar
como estabilizante de humor. O tempo de meia-vida é de 10-20h, porém ao longo do
tratamento esse tempo é reduzido pelo fato da carbamazepina ser autoindutor do
metabolismo, necessitando de várias doses ao longo do dia. A biotransformação da
carbamazepina resulta em um metabólito com atividade anticonvulsivante, o
10,11epoxicarbamazepina. Os efeitos adversos estão relacionados com a dose, e
consistem em sonolência, tonteira, ataxia, retenção hídrica, hiponatremia, distúrbios
severos mentais e motores, distúrbios gastrintestinais e cardiovasculares e
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hipersensibilidade. É observada severa depressão da medula óssea (neutropenia,


agranulocitose e discrasias sanguíneas). A OXCARBAMAZEPINA (dose 300-1200
mg/dia) é um pró-fármaco da carbamazepina com efeito semelhante, sendo que a
dose é 50% maior para exercer o mesmo efeito, menor incidência de indução
enzimática e de interações medicamentosas que a carbamazepina;

 LAMOTRIGINA (50-100 mg/dia; 1-2 vezes) – além da capacidade de


inibir os canais de sódio, é observada inativação moderada dos canais de cálcio
ativados por voltagem. Constitui o terceiro fármaco de escolha para o tratamento das
crises de ausência. Os efeitos adversos mais comuns com o tratamento consistem em
náusea, tonteira, ataxia e erupções cutâneas;

 ÁCIDO VALPROICO (1000-3000 mg/dia; 2-4 vezes) – ação semelhante


à fenitoína e a carbamazepina, capaz de diminuir a velocidade de recuperação dos
canais de sódio do estado inativado. Em altas concentrações, observa-se inibição dos
canais de cálcio do tipo T, inibindo a descarga repetitiva. Outro mecanismo é o
aumento da disponibilidade de GABA no cérebro, por inibir fracamente dois sistemas
enzimáticos que inativam o GABA: GABA transaminase e semialdeído succínico
desidrogenase; em altas concentrações o ácido valproico inibe o transportador do
GABA (GAT-1), potencializando a ação inibitória do GABA. A absorção do ácido
valproico por via oral é boa, sendo afetada pela presença de alimentos; altamente
ligado às proteínas plasmáticas (90%) e tempo de meia-vida de 9-18h. Ocorre inibição
do metabolismo hepático de fármacos antiepiléticos (fenobarbital, fenitoína e
carbamazepina). O tratamento pode acarretar como efeitos indesejáveis náusea,
vômito e dor abdominal. Sedação é raramente observado; um pequeno número de
pacientes relata ganho de peso (pelo aumento do apetite) e alopecia (encrespamento
do cabelo). Podem ocorrer reações idiossincráticas, com hepatotoxicidade severa e
trombocitopenia. Na gestação é uma contraindicação absoluta, já que o fármaco é
extremamente teratogênico, levando a espinha bífida e defeitos no tubo neural.
O topiramato (dose 200 mg/dia) é um antiepiléptico mais novo com ação
complexa e em investigação. Sugere-se que o topiramato seja capaz de inibir os
canais de sódio; potencializa a transmissão gabaérgica e/ou antagoniza os receptores
AMPA de glutamato. É indicado para o tratamento de convulsões parciais e
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tônicoclônicas, como terapia adjuvante. Os efeitos adversos mais comuns consistem


em sedação, retardo psicomotor, fadiga, problemas de fala ou de linguagem, cálculos
renais e hipersensibilidade ao topiramato. Atualmente, tem-se investigado a ação do
topiramato em outras situações clínicas, como dor neuropática e enxaqueca.

Fármacos que inibem os canais de cálcio


Os fármacos utilizados na epilepsia que atuam por meio da inibição dos canais
de cálcio pertencem a duas classes principais: os que inibem os canais do tipo T e
aqueles que inibem o canal de cálcio ativado por alta voltagem (Figura 16). O canal
de cálcio tipo T é despolarizado e inativo durante o estado de vigília. Nas crises de
ausência, acredita-se que ocorra hiperpolarização que ativa esses canais durante o
estado de vigília, iniciando descargas de ponta e onda que caracterizam esse tipo de
convulsão. Consequentemente, os fármacos que atuam neste tipo de canal são
específicos para tratamento das crises de ausência. O canal de cálcio ativado por alta
voltagem desempenha papel importante no controle da entrada de cálcio na
terminação pré-sináptica e, por conseguinte, auxiliam na regulação da liberação de
neurotransmissores. Os fármacos que inibem os canais de cálcio ativados por alta
voltagem são utilizados no tratamento das conclusões parciais com ou sem
generalização secundária, podem ser também utilizados para as crises generalizadas
diferentes das crises de ausência.
Nesta classe estão os fármacos antiepilépticos:
 ETOSSUXIMIDA (250 mg/2 vezes dia; aumentar após 4-7 dias até 1,5
g/dia) – fármaco desenvolvido a partir de modificações estruturais do anel do ácido
barbitúrico. Seu efeito é seletivo nas crises de ausência, devido seu mecanismo
inibitório sobre os canais de cálcio do tipo T. O tratamento com etossuximida pode
ocasionar como efeitos adversos náusea, anorexia, letargia, sonolência, precipitação
de ataques tônico-clônicos e raramente reações de hipersensibilidade;

 GABAPENTINA (iniciar 300 mg/3 vezes ao dia; aumentar


gradativamente dose efetiva entre 900-1800 mg/dia) – análogo estrutural do
neurotransmissor GABA; aumenta a inibição mediada pelo GABA, mais o efeito
anticonvulsivante ocorre predominantemente pela inibição dos canais de cálcio
ativados por voltagem, resultando na menor liberação de neurotransmissores. Devido
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sua similaridade com os aminoácidos endógenos, a gabapentina apresenta poucas


interações medicamentosas. É utilizada nas crises parciais e tônico-clônica
generalizada. A administração isoladamente não se mostra eficaz para a maioria dos
pacientes. Assim sendo, é utilizada em associação com outros agentes antiepilépticos.

Fármacos que aumentam a inibição mediada pelo GABA


Os fármacos potencializadores da inibição mediada pelo GABA são os
benzodiazepínicos (DIAZEPAM, LORAZEPAM, MIDAZOLAM, CLONAZEPAM) e os
barbitúricos (FENOBARBITAL). Apesar do mecanismo de ação destes fármacos ser
semelhantes, eles diferem em relação à afinidade pelo receptor de GABA A. Os
benzodiazepínicos atuam sobre um subtipo específico de receptor de GABAA,
enquanto que os barbitúricos atuam sobre todos os canais de GABA A.
A ação intensificadora da inibição pelo GABA permite suprimir o foco da
convulsão elevando o limiar do potencial de ação e fortalece a inibição circundante
(Figura 12). O diazepam, o lorazepam e o midazolam são apropriados para o
tratamento das convulsões parciais e tônico-clônicas. O clonazepam em particular
pode também inibir as correntes do canal de cálcio do tipo T em circuitos
tálamocorticais; atua em receptores GABAA no núcleo reticular, aumentando a inibição
destes neurônios e desativando essencialmente o núcleo. De tal modo, o clonazepam
é útil no tratamento das crises de ausência. Entretanto, os benzodiazepínicos podem
levar a efeitos adversos proeminentes como tontura, ataxia e sonolência. Sendo
indicados apenas para interrupção aguda das convulsões.
O fenobarbital (50-200 mg/dia; 1 vez) possui o mesmo efeito dos
benzodiazepínicos, sendo útil no tratamento das convulsões parciais e tônicoclônicas.
Ao contrário dos benzodiazepínicos, os barbitúricos potencializam a transmissão
gabaérgica no núcleo reticular e nas células retransmissoras talâmicas, esse efeito
intensifica as correntes de cálcio do tipo T que são responsáveis pela crise de
ausência, onde na verdade deveria inibi-la. Assim, o fenobarbital não deve ser utilizado
nas crises de ausência, pois leva a exacerbação esse tipo de convulsão.
Em razão dos efeitos sedativos pronunciados, o fenobarbital deve ser usado
terapeuticamente como alternativa nas convulsões parciais e tônico-clônicas. Além da
sedação como efeito indesejável, o tratamento com fenobarbital prejudica a cognição

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e o desempenho motor, a anemia megaloblástica, osteomalacia e hipersensibilidade


moderada. Não é recomendável em pacientes com porfiria. Doses excessivas de
fenobarbital causam coma e falência respiratória.
O fenobarbital sofre boa absorção por via oral, liga -se em 50% às proteínas
plasmáticas, seu tempo de meia-vida varia de 50-140h e a eliminação é extremamente
lenta. É um potente indutor das enzimas microssomais hepáticas, levando a redução
da concentração plasmática de vários fármacos, como contraceptivos orais, varfarina
e antidepressivos tricíclicos.
A VIGABATRINA (dose inicial de 1g/2 vezes ao dia e dose d e manutenção de
2-3g/dia) e TIAGABINA (dose inicial de 7, 5-15 mg/dia e dose de manutenção de 15-
30 mg/dia) são antiepilépticos mais novos na prática clínica análogos do GABA. A
vigabatrina atua inibindo irreversivelmente a GABA transaminase, aumentando a
disponibilidade de GABA no cérebro, logo potencializando a transmissão inibitória.
Seu efeito é de longa duração proporcionando a administração de uma dose 1x/dia.
Dentre os efeitos adversos incluem atrofia da retina, angioedema, ganho de peso;
ocorrência de depressão, distúrbios psicóticos que acontecem numa pequena parcela
de pacientes. A tigabina inibe a recaptação de GABA pelos neurônios pré -sinápticos
e pela glia; aumentando a concentração cerebral de GABA. A sonolência e a confusão
mental são efeitos adversos do tratamento com tiagabina.

Fármacos que atuam no receptor de GABA

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Fármacos que inibem os receptores de glutamato Os receptores de


glutamato ionotrópicos medeiam os efeitos do glutamato, o principal
neurotransmissor excitatório do SNC. A ativação excessiva das sinapses
excitatórias constitui um componente essencial da maioria das formas de
atividade convulsiva.

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ANTIPSICÓTICOS

Os fármacos antipsicóticos ou neurolépticos são utilizados como sinônimos


para referir-se a fármacos prescritos principalmente para o tratamento da
esquizofrenia, mas eficazes também para outras psicoses e estados de agitação. Os
antipsicóticos têm sido utilizados na clínica desde a década de 60, a reserpina e a
cloropromazina foram os primeiros fármacos a se mostrarem eficazes nas psicoses.
Posteriormente, foram substituídas por fármacos mais novos. Com a introdução de
uma farmacoterapêutica para esses pacientes, reduziu os casos de internação e
contenção em casas de saúde e hospícios, proporcionando aos pacientes e seus
familiares uma melhor qualidade de vida.
O termo “psicose” refere-se a distúrbios mentais variados. A esquizofrenia é um
tipo particular de psicose, em que o paciente apresenta consciência lúcida e
acentuado distúrbio de percepção. A patogênese da esquizofrenia é desconhecida.
Primeiro episódio ocorre na adolescência ou em adultos jovens, onde 25%
apresentam somente um episódio agudo, 25% estado permanente e 50% dos
indivíduos apresentam episódios recorrentes ao longo da vida. A esquizofrenia tem
prevalência de 1% na população geral. Acredita-se que esse tipo de psicose pode
decorrer de hereditariedade, prevalência de 10% entre irmãos de pais esquizofrênicos
e 40% de concordância entre gêmeos monozigóticos. Os pacientes apresentam os
seguintes sintomas divididos em:
• Sintomas positivos: delírios e alucinações, fala e comportamento
desorganizados, afeto incongruente;
• Sintomas negativos: isolamento social, redução da produção e fluência
de pensamento e da fala, embotamento afetivo.
Acrescentados de redução da cognição (atenção e memória), ansiedade e
depressão, podendo evoluir para tentativa de suicídio.
Algumas teorias tentam explicar as psicoses, uma teoria neuroquímica que
constitui a mais minuciosa hipótese e a base racional da farmacoterapia é a hipótese
da dopamina. Diversas observações experimentais e clínicas evidenciaram que a
hiperatividade dopaminérgica precipita os sintomas positivos, a síntese excessiva de
dopamina, a liberação excessiva de dopamina DOPA leva a um aumento na
expressão de receptores dopaminérgicos; o abuso da anfetamina produz sintomas
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positivos; a análise post morten indicou aumento do número de receptores


dopaminérgicos e que os fármacos antipsicóticos atuariam por antagonizar os
receptores D2. Esta teoria não está completa tendo em vista que se a esquizofrenia
envolvesse apenas desequilíbrio da atividade dopaminérgica, os antipsicóticos seriam
eficazes em todos os pacientes, todavia, são apenas parcialmente eficazes.
A transmissão dopaminérgica é reconhecida no cérebro em cinco vias ou
sistemas dopaminérgicos importantes:
• As vias mesolímbica-mesocortical estão relacionadas ao comportamento
que se projeta dos corpos celulares próximos da substância negra até o sistema
límbico e o neocórtex.
• A via nigroestriatal consiste em neurônios que se projetam da substância
negra até o núcleo caudal e o putâmen, essa via está relacionada na coordenação de
movimentos voluntários.
• O sistema tuberoinfundibular liga os núcleos arqueados e neurônios
periventriculares ao hipotálamo e à hipófise posterior. A dopamina liberada nesse
sistema inibe fisiologicamente a secreção de prolactina.
• A via medular-periventricular consiste em neurônios no núcleo motor do
vago envolvido no comportamento da alimentação.
Acredita-se que os antipsicóticos sejam capazes de bloquear a dopamina nos
sistemas mesolímbico e mesofrontal. O antagonismo da dopamina no sistema
nigroestriatal explica o efeito indesejável conhecido como parkinsonismo induzido. A
hiperprolactinemia que acompanha o tratamento com antipsicóticos é causada pelo
bloqueio do efeito inibitório da dopamina sobre a produção de prolactina.
O alvo dos antipsicóticos são os receptores dopaminérgicos. Esses receptores
consistem de duas famílias distintas, os grupos de receptores semelhantes a D1 e
semelhantes a D2 como descrito abaixo:

RECEPTOR EFETOR 2º MENSAGEIRO LOCALIZAÇÃO


INTRACELULAR
D1 proteína Gs acoplada AMPc Putâmen/ núcleo accumbens/
adenilciclase
tubérculo olfativo
D2 proteína Gi acoplada AMPc; Pré- e pós-sináptico em neurônios no
adenilciclase condutância K ;+
caudado-putâmen/ núcleo
++
Ca accumbens/ tubérculo olfativo

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adenilciclase

D4 proteína Gi acoplada AMPc Pré- e pós-sináptico em neurônios no


adenilciclase Farmacologia clinica
caudado-putâmen/ núcleo
accumbens/ tubérculo olfativo
D5 proteína Gs acoplada AMPc Hipocampo/ hipotálamo
adenilciclase

Os antipsicóticos bloqueiam de modo estereosseletivo os receptores


dopaminérgicos subtipo D2, em sua maior parte, e sua afinidade está correlacionada
com sua potência clínica.

CORRELAÇÃO ENTRE A POTENCIA TERAPEUTICA DOS FÁRMACOS


ANTIPSICOTICOS E SUA AFINIDADES PELA LIGAÇÃO AOS RECEPTORES DO
DOPAMINÉRGICOS

D3 proteína Gi acoplada AMPc Córtex frontal/ bulbo/ mesencéfalo

Os antipsicóticos podem ser divididos em antipsicóticos típicos, fármacos com


ações proeminentes nos receptores D2; e antipsicóticos atípicos, que constituem uma
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geração nova de fármacos com antagonismo nos receptores D2 menos marcante,


consequentemente menor ocorrêcia de efeitos extrapiramidais.

Os antipsicóticos típicos de estruturas químicas derivadas de fenotiazínicos,


tioxantênicos e butirofenona bloqueiam os receptores D2 em todas as vias
dopaminérgicas no SNC, principalmente na região mesolímbica e mesocortical. Esse
bloqueio reflete uma melhora do paciente esquizofrênico em relação aos sintomas
positivos, já que estudos sustentam a ideia de que a hiperatividade da área
mesolímbica estaria relacionada com estes sintomas. Entretanto, os antipsicóticos
típicos são relativamente menos eficazes no controle dos sintomas negativos. A
hipótese de que os sintomas negativos relacionam -se com uma hipoatividade dos
neurônios mesocorticai s, dessa forma o antagonismo dos receptores D2 não seja
capaz de corrigir esses sintomas. Muitos dos efeitos adversos dos antipsicóticos
típicos refletem a ligação destes fármacos aos receptores D2 nos núcleos da base (via
nigroestriatal) e na hipófise.

ESTRUTURA QUÍMICA DOS FÁRMACOS ANTIPSICÓTICOS

Os efeitos adversos dos antipsicóticos típicos podem ser divididos em duas


categorias: aqueles relacionados com o antagonismo dos receptores D2 fora das
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regiões mesolímbica e mesocortical e aqueles causados pela ação antagonista


inespecífica em outros tipos de receptores. O efeito mais proeminente são os
chamados efeitos extrapiramidais; 15% dos pacientes começam a apresentar sinais
de parkinsonismo (acinesia, rigidez muscular, marcha arrastada) do 5º ao 30º dia após
a primeira administração. Esses sintomas podem ser algumas vezes tratados com
fármacos não dopaminérgicos para a doença de Parkinson (ex.: amantadina) e
agentes anticolinérgicos; o ajuste da dose também se faz necessário. A administração
de altas doses de antipsicóticos típicos de alta potência pode suprimir
temporariamente os distúrbios. Em geral, a interrupção do tratamento com
antipsicóticos leva a reversão lenta dos distúrbios de movimento. Os pacientes que
fazem uso de antipsicóticos típicos por longo tempo tendem a melhorar dos efeitos
parkinsonianos, acredita-se que os receptores D2 tornem-se supersensibilizados.
Entretanto, depois de meses ou anos de uso crônico verifica-se o desenvolvimento de
discinesia tardia em 20% dos pacientes. A discinesia caracteriza-se por movimentos
estereotipados involuntários e repetitivos da musculatura facial, braços e tronco.
O efeito mais grave dos antipsicóticos típicos é a síndrome maligna
neuroléptica, uma síndrome rara, mas potencialmente fatal caracterizada por
catatonia, estupor, febre e instabilidade autônoma, ocorre mioglobinemia e óbito em
10% dos casos. Esta síndrome está estreitamente relacionada com os antipsicóticos
típicos, como o haloperidol. A suspensão do fármaco deve ser realizada, assim como
a administração de bromocriptina e de dantrolene.
Alguns efeitos adversos são causados pela ação antagonista dos antipsicóticos
nos receptores dopaminérgicos na hipófise, onde a dopamina inibe a secreção de
prolactina. O antagonismo pelos antipsicóticos atípicos aumenta a secreção de
prolactina, resultando em amenorreia, galactorreia e teste falso-positivo para gravidez
em mulheres, resultando em ginecomastia e diminuição da libido em homens. Outros
efeitos estão relacionados ao antagonismo dos receptores muscarínicos, levando
perda da acomodação visual, boca seca, retenção urinária e constipação e ao
antagonismo dos receptores adrenérgicos, em decorrência da hipotensão ortostática,
impotência e dificuldade de ejaculação. A sedação pode ocorrer devido à inibição das
vias alfa adrenérgicas centrais no sistema de ativação reticular no SNC. Quando a

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sedação interfere na função normal do paciente constitui um efeito adverso,


entretanto, em alguns casos a sedação pode ser um objetivo terapêutico.
É observado que os antipsicóticos típicos de potência mais elevada e alta
afinidade pelos receptores D2 apresentam maior tendência a causar efeitos adversos
mediados pelos receptores dopaminérgicos (efeitos extrapiramidais), e mediados por
receptores musca rínicos e alfa -adrenérgicos (efeitos anticolinérgicos, hipotensão
postural e sedação).
Os antipsicóticos mais novos fármacos não possuem estruturas relacionadas,
são denominados atípicos. Possuem eficácia e perfis de efeitos adversos que diferem
dos típi cos. A CLONAZINA, OLANZAPINA, QUETIAPINA, ZIPRASIDONA e
RISPERIDONA são os antipsicóticos atípicos mais eficazes para o tratamento dos
sintomas negativos da esquizofrenia. A risperidona mostra-se mais eficaz no combate
dos sintomas positivos da esquizofrenia e na prevenção da recidiva da fase aguda da
doença do que o haloperidol.
FÓRMULAS ESTRUTURAIS DE FÁRMACOS ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS

Os antipsicóticos atípicos produzem sintomas de efeitos extrapiramidais mais


leves que os típicos, e só aparecem quando administrados em altas doses. Em relação
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à afinidade pelos receptores dopaminérgicos D2, os atípicos apresentam menor


afinidade. Ainda não está claro o mecanismo de ação antipsicótico dos fármacos
atípicos, acredita-se que tal efeito decorra da ação antagonista dos receptores
serotoninérgicos 5-HT2 e dopaminérgicos D2. Outra hipótese é que os atípicos, além
de serem antagonistas dos receptores dopaminérgicos D2 também antagonizam os
receptores D4, localizados no córtex frontal e no mesencéfalo, que parece não estar
envolvido na regulação do movimento. Portanto, justificaria a menor ocorrência de
efeitos extrapiramidais por atípicos.
Em relação à farmacocinética, os antipsicóticos são altamente lipossolúveis o
que facilita a sua absorção e penetração no SNC. A absorção da maioria dos
antipsicóticos é rápida, porém incompleta. Muitos destes fármacos sofrem efeito de
primeira passagem. A ligação às proteínas plasmáticas é extremamente elevada
(9299%), apresenta elevado volume de distribuição. Em geral, a duração de ação
clínica é maior do que se poderia esperar pelo tempo de meia-vida. Em sua maioria
os antipsicóticos são biotransformados por reações de oxidação e conjugação, os
metabólitos na maioria não são ativos, com exceção da 7-hidroxiclorpromazina e o
haloperidol reduzido que preservam a atividade antipsicótica.
Muitas formas farmacêuticas estão disponíveis de antipsicóticos. Existem
formulações orais de liberação prolongada, a formulação intramuscular na forma de
decanoato (ex.: decanoato de haloperidol). Os antipsicóticos podem ser administrados
inicialmente em doses fracionadas diárias até encontrar um nível de dose eficaz. Uma
vez definida a dose diária eficaz, a dose deve ser administrada em menor frequência,
de preferência à noite. A simplificação do esquema posológico possibilita uma maior
adesão ao tratamento. A associação de fármacos antipsicóticos deve ser criteriosa,
pois complica a avaliação da eficácia dos fármacos utilizados. Geralmente, os
antidepressivos tricíclicos, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina podem
ser associados com antipsicóticos para o alívio dos sintomas de depressão de
pacientes com esquizofrenia. A associação com lítio proporciona algum resultado para
aqueles pacientes refratários a agentes antipsicóticos administrados isoladamente.
As relações das doses terapêuticas dos antipsicóticos mais comuns utilizados
na prática clínica estão descritos na tabela abaixo:

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Farmacologia clinica

REFERÊNCIAS

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