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A Arte do Sopro

Desvendando a técnica dos


instrumentos de bocal

por
J. Angelino Bozzini

ANO 2.006

COPYRIGHT by J. Angelino Bozzini


Todos os direitos reservados
IMPRESSO NO BRASIL
KEYBOARD EDITORA MUSICAL LTDA.
CAIXA POSTAL 300
JUNDIAÍ - SP CEP 13201-970
Site: Keyboard.art.br

1 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os
meios: eletrônico, fotográfico, gravação ou quaisquer outros sem a permissão explícita
por escrito do autor.
J. Angelino Bozzini

Bozzini, J. A.
A Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal. Jundiaí, São Paulo:
Keyboard Editora Musical Ltda. 2.006, p.39
Didático/Pedagógico
ISBN nº: 85-86981-26-5
Copyright © 2.006 by Keyboard Editora Musical Ltda.. _ Todos os direitos reservados _
R. Rangel Pestana 1044 - Jundiaí - SP - SP CEP: 13201-000
E-mail: editkey@terra.com.br

Editoração
Heloísa Carolina Godoy Fagundes
Marcelo Dantas Fagundes

Capa
Plano 1

Figuras
J. Angelino Bozzini

Editado e Impresso por


Keyboard Editora Musical Ltda.

Registro na Fundação BIBLIOTECA NACIONAL


MINISTÉRIO da CULTURA
ESCRITÓRIOS de DIREITOS AUTORAIS

N°: 85-86981-26-5
Autor: J. Angelino Bozzini
Título da Obra: A Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal.

Caro estudante de Música:


Este livro foi propositalmente encadernado com espiral
visando seu manuseio em suportes específicos para o estudo da
música e/ou para os suportes existentes em instrumentos musicais
como o piano ou o teclado, evitando assim, o inconveniente que os
livros em brochura apresentam, como por exemplo, o fechar de suas
páginas durante o seu estudo.

2 J. Angelino Bozzini
Sobre o Autor

José Angelino Bozzini iniciou seus estudos de piano com a Prof. Maria Luiza
Damico em 1970. Ingressou na Escola Municipal de Música em 1972 estudando violino com
o Prof. George Salim e trompa com o Prof. Enzo Pedini.
Começou o curso de Composição na Universidade de São Paulo em 1975
transferindo-se para a Nordwestdeutsch Musikakademie Detmold , na Alemanha em 1976,
onde concluiu o curso de Licenciatura em música e bacharelou-se em trompa com o Prof.
Michael Höltzel.
Integra desde 1982 a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo.
Participou de diversos festivais nacionais e internacionais de música.
Foi professor de técnicas de reparo de instrumentos musicais no projeto Pró-
Bandas da FUNARTE.
Foi professor do Festival de Música de Londrina e do Festival de Inverno de
São João Del Rey e Campos (RJ).
Foi o primeiro colocado de trompa no concurso “Jovens Instrumentistas da
Música Brasileira” promovido pela Funarte em 1983.
Participa de vários grupos de câmera como o “Grupo Álamo” (sexteto de
trompas), o Quinteto de Metais da OSM e a banda renascentista PARAPHERNÁLIA. Tem
realizado inúmeros recitais com piano e outras formações.
Foi regente de diversas orquestras infanto-juvenis, entre elas a da Escola Waldorf
Rudolf Steiner de São Paulo.
Executou inúmeras primeiras audições de peças originais para trompa de
compositores brasileiros.
Vem trabalhando em parceria com a firma Weril no aperfeiçoamento das trompas
por ela produzidas. Paralelamente exerce uma intensa atividade pedagógica e de articulista,
sendo colaborador de Revista Weril há mais de 20 anos.

3 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal


Caro estudante,

Novamente numa parceria bem sucedida entre a Keyboard Editora Musical e a


Weril Instrumentos Musicais, lançamos este maravilhoso livro “A Arte do Sopro:
Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal” com o mesmo sucesso da Coleção DA
CAPO: 12 livros para os Instrumentos de Banda, coleção esta que dispensa apresentações e
que mudou o cenário da Pedagogia Musical no Brasil.
Hoje as principais escolas de música do país utilizam esta coleção
brilhantemente escrita pelo maestro Joel Luis Barbosa.
Não tenho dúvidas que este novo lançamento, “A Arte do Sopro: Desvendando
a técnica dos instrumentos de bocal”, escrito por J. Angelino Bozzini, também terá o mesmo
sucesso.
Com uma linguagem dinâmica e de fácil compreenção, o autor lhe apresentará
todas as dicas para executar seu instrumento de sopro com consciência, técnica, beleza e
principalmente uma sonoridade própria e de destaque.
Espero que este novo título o ajude a resolver aquelas pequenas dificuldades
encontradas durante o aprendizado musical, lhe proporcionando uma leitura muito prazerosa.
Com certeza estaremos sempre buscando novos títulos que lhe ajudarão a se
tornar um músico profissional com uma carreira brilhante.
Visite sempre o site da Weril (www.weril.com.br) e também o site da Keyboard
Editora Musical (www.keyboard.art.br), para conhecer as novidades do mundo da música.
Desejo-lhe uma excelente leitura.

Maestro Marcelo Dantas Fagundes


o editor

4 J. Angelino Bozzini
Caro músico,

“A Arte do Sopro: Desvendando a técnica dos instrumentos de bocal” é uma


reedição de Princípios Básicos da Execução dos Instrumentos de Metais, publicado pela Weril
no final dos anos 90. De autoria do grande músico Angelino Bozzini, esta obra reúne
informações essenciais, compiladas em um só volume, que fornecerão aos interessados,
requisitos importantes para exercerem a verdadeira arte de tocar um instrumento de sopro.
Atenta às necessidades presentes no mercado editorial voltado para as
publicações especializadas em música, a Keyboard Editora Musical se une a esta iniciativa da
Weril, garantindo a extensão deste conteúdo a um número maior de músicos, público pelo
qual trabalhamos e queremos sempre valorizar.
Esperamos que este livro se torne uma referência na descoberta de novos sons
e de novos talentos.
Boa leitura.

Nelson Eduardo Weingrill


Diretor Superintendente da Weril Instrumentos Musicais

5 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal


Sumário
Introdução ........................................................................................................................... 08

Qual o modo correto? Todos e nenhum! ................................................................................... 09


Existe uma fórmula mágica? ....................................................................................................... 09

As partes do sistema .......................................................................................................... 09


O diafragma - a fonte de energia ............................................................................................... 09
A coluna de ar - o condutor da energia ...................................................................................... 10
Os lábios - o corpo vibrante ..................................................................................................... 10
Bocal - um pré-amplificador ................................................................................................... 10
O corpo do instrumento - uma “corda de ar” vibrando por simpatia ........................................ 11
A campana ou pavilhão - a amplificação final do som .............................................................. 11

A respiração ............................................................................................................................ 11
Respiração, fonte da vida .............................................................................................................. 11
Devemos aprender uma coisa que já fazemos? ......................................................................... 12
Como funciona a respiração ............................................................................................... 12
Qual a melhor forma de respirar? ............................................................................................... 13
A respiração na execução musical .............................................................................................. 13
O apoio ............................................................................................................................................ 14
Devemos ficar com a barriga sempre dura quando tocamos? .............................................. 14
Como aprender a usar corretamente a respiração e o apoio? ................................................... 15

A prática da respiração .................................................................................................... 15


“Desaprender” para aprender ........................................................................................................ 15
O fortalecimento da musculatura ................................................................................................ 16
Perdendo a barriga ...................................................................................................................... 17
Afinando a cintura ...................................................................................................................... 17
Inspiração X expiração .................................................................................................................. 17
Em quantos dias se faz o músico ................................................................................................ 18
E na hora de tocar? ....................................................................................................................... 18

O funcionamento da embocadura ........................................................................... 19


A embocadura - o gerador de som ................................................................................... 19
Como colocar os lábios em vibração? ....................................................................................... 20
A técnica da pressão ................................................................................................................. 20
A técnica do sorriso ..................................................................................................................... 21
O que seria o ideal? ...................................................................................................................... 21

6 J. Angelino Bozzini
Como desenvolver os músculos da embocadura? ............................................ 22
A preparação muscular ....................................................................................................... 22
Um espelho e mãos à obra ........................................................................................................ 23
A primeira vibração ....................................................................................................................... 23
O bocal entra na história ............................................................................................................. 24
Descobrindo o instrumento ......................................................................................................... 25

Funcionamento e importância do uso correto da língua ........................... 26


O que é o mais importante? ...................................................................................................... 26
Para que serve a língua? ............................................................................................................... 26
Potenciômetro musical ........................................................................................................... 27
Língua X garganta ................................................................................................................. 27
Graves, médios e agudos - em um só alto-falante .................................................................... 28
Qual o porquê de tudo isso? ........................................................................................................ 28
E a língua nessa história? .......................................................................................................... 28
O ataque .......................................................................................................................................... 28

Exercícios práticos para o desenvolvimento e controle da língua ......... 29


As funções da língua ...................................................................................................... 29
O relaxamento - como preparação ao desenvolvimento da língua .......................................... 29
A língua como reguladora da pressão ........................................................................................ 30
Controlando a pressão na prática ............................................................................................ 30
A língua como controladora da passagem do ar ........................................................................ 31

Efeitos especiais na execução ....................................................................................... 31


Técnica como expressão X técnica como malabarismo .......................................................... 31
Efeitos X técnica de base ............................................................................................................ 32
O vibrato ...................................................................................................................................... 32
Como executar o vibrato? ......................................................................................................... 32
A respiração permanente .......................................................................................................... 33
A respiração contínua na prática ................................................................................................. 33

Conhecimento nunca é demais ................................................................................... 34


Preparativos de viagem ......................................................................................................... 34
Por onde começar? .................................................................................................................... 35
A técnica básica ............................................................................................................................. 36
A individualidade de cada instrumento ....................................................................................... 36
Completando a formação ............................................................................................................ 36
Sem desculpas ................................................................................................................................ 37

Bibliografia ................................................................................................................................ 39

7 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal


Introdução
Desde a idealização dos primeiros instrumentos de sopro pelo homem pré-
histórico até os dias de hoje a técnica de execução evoluiu muito. Porém, as leis da física que
possibilitam o fenômeno do som e à quais o funcionamento do nosso corpo está sujeito
continuam as mesmas. O que mudou é a nossa compreensão sobre elas e a forma de aplica-
-las. Um instrumentista de sopro hoje tem ao seu dispor a consciência conquistada por
incontáveis gerações de indivíduos que, após descobrirem que era possível produzir-se um
som soprando-se num tubo de bambu, numa concha, num chifre ou numa folha entre os dedos,
começaram a construir a linguagem da Música.
Podemos dizer que a origem da Música acontece nos primeiros momentos da
origem do homem como ser social e, hoje, é impossível conceber-se a espécie humana sem a
linguagem da Música.
Da mesma forma que o aparelho fonador teve de evoluir e adaptar-se aos
requisitos fonéticos da linguagem humana que se forjava, assim também os instrumentos
musicais e a forma de tocá-los teve de evoluir para atender à evolução da linguagem da Música.
No caso dos instrumentos de sopro de bocal prevaleceu por muito tempo uma
técnica baseada na forma mais intuitiva de se produzir um som: pressionar os lábios contra
o bocal e soprar com vigor através deles. Se dermos um instrumento de bocal a alguém que
nunca tocou e pedirmos para que tente emitir um som com certeza essa vai ser a primeira
forma experimentada.
Anos de estudo podem melhorar a aparência de esforço exagerado que esse tipo
embocadura produz na face da pessoa que o emprega, mas não muda o princípio: a força. É
claro que para se produzir um som é necessária uma energia que vem do trabalho de nossa
musculatura; a questão é: quanta energia é necessária?
Vamos abordar a seguir os princípios básicos da técnica dos instrumentos de
sopro, principalmente os de bocal, segundo a escola chamada de “baixa pressão”1.
Ela não tem um criador único e é fruto da pesquisa de vários músicos,
principalmente no pós-guerra, que buscavam uma forma de se obter um desempenho maior
em seus instrumentos (solicitado pela linguagem do Jazz e pelas grandes orquestras que se
consolidavam então), mas com um esforço reduzido, que não colocasse em risco o físico do
instrumentista, e possibilitasse um controle maior sobre o instrumento.

Na prática, temos hoje em dia uma série de escolas diferentes coexistindo simultaneamente.
O assunto é bem controvertido. Enquanto, por exemplo, adeptos de uma determinada escola postulam
que os músculos abdominais devem ser projetados para fora no momento da execução, os de outra
“escola” dizem que eles devem contrair-se para dentro. Enquanto uns dizem que os lábios devem ser
esticados como num sorriso, outros acham que eles devem ser arredondados como num beijo.

1
Em inglês conhecida por ‘non pressure ’, sem pressão, o que é um equívoco de nomenclatura, pois se não houvesse pressão
alguma o ar sairia pelas laterais dos lábios.

8 J. Angelino Bozzini
Qual o modo correto? Todos e nenhum!
Cada tipo de postura facilita a execução do instrumento em alguns aspectos, e
dificulta em outros. A atitude mais adequada, portanto, é a de se saber a função exata de cada
uma das partes de nosso corpo e do instrumento implicadas no ato da execução e quais efeitos
elas produzem alterando-se a forma de empregá-las.

Existe uma Fórmula Mágica?


Muitos instrumentistas de sopro passam a vida atrás de uma fórmula mágica que
os faça dominar seu instrumento: um bocal “que vende nos Estados Unidos”, uma “pomada
alemã”, um “método suíço”, um banho de óleo no instrumento, etc., etc., etc. Uma série de
esperanças seguidas por desilusões que, freqüentemente, terminam em afirmações do tipo:
“se eu tivesse os lábios de fulano”, “ se minha arcada dentária fosse de tal modo” ou, a pior de
todas: “eu não nasci pra isso!”.
Mas alguns conseguem achar a fórmula; e ela é muito simples: conhecimento
+ trabalho. Só isso! Um conhecimento profundo do nosso corpo e do nosso instrumento
(que pode às vezes ser substituído pela intuição) aliados a um trabalho constante e diligente é
a fórmula mágica que tantos procuram e que poderá fazer com que qualquer pessoa normal (e
mesmo com alguns problemas – quem não os tem?) domine seu instrumento.
A base do conhecimento estará aqui, o trabalho fica por sua conta!

As partes do Sistema
Vamos, primeiramente, analisar como funciona um instrumento de bocal e compará-lo a
outros sistemas sonoros.

O Diafragma - A fonte de energia


Para que exista som, é necessário que alguma força coloque algum corpo em
movimento. Este, por sua vez, transmite suas vibrações para o ar; as vibrações do ar fazem com
que a membrana de nossos tímpanos entre em vibração; essa vibração é transmitida pelo nervo
auditivo para o nosso cérebro que decodifica e processa esses sinais. Esse é, em poucas palavras,
o esquema de funcionamento de qualquer sistema sonoro. Essa força inicial pode ter várias
origens dependendo do sistema.
Num tambor ela vem da força produzida pelos músculos do braço do
instrumentista; num órgão eletrônico ela vem da energia elétrica que aciona os geradores de
som; num órgão de tubos ela vem da energia produzida pelo compressor de ar e assim por
diante.

9 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal


Nos instrumentos de sopro a energia que os fará soar origina-se num músculo
em forma de cúpula situado entre o tórax e o abdômen chamado diafragma. Esse músculo,
auxiliado por uma série de outros envolvidos no processo respiratório, é o gerador de força
dos instrumentos de sopro.
O bom funcionamento do diafragma e seus auxiliares é o fundamento da técnica
de qualquer instrumento de sopro.

A coluna de ar - o condutor da energia


Dificilmente a fonte geradora de energia atua diretamente sobre o corpo que irá
vibrar. No caso do tambor, por exemplo, a força do músculo do braço é transmitida à “pele” do
instrumento através da baqueta; no caso do órgão eletrônico a energia elétrica é transmitida
pelos fios; num violino, pelo arco; e etc. No caso dos instrumentos de sopro a energia produzida
pelo diafragma e seus auxiliares, é transmitida até os lábios por uma coluna de ar delimitada
pelos canais do nosso sistema respiratório. Ou seja, o ar que está em nosso corpo, entre a base
dos pulmões e nossos lábios, ao ser empurrado para fora passando entre nossos lábios, funciona
de maneira análoga ao arco de um violino passando pelas cordas.

Os lábios - O corpo vibrante


Em qualquer sistema sonoro, existe um ou mais corpos físicos que vibram. No
tambor é a “pele”; no violino são as cordas; num órgão eletrônico é o cone do alto-falante;
numa clarineta é a palheta e assim por diante. Nos instrumentos de metal o que vibra são os
lábios.

Bocal - Um pré-amplificador
Geralmente, na maior parte dos sistemas sonoros, os corpos que vibram não
têm potência suficiente para gerar um som forte o bastante para serem utilizados praticamente
como instrumentos musicais necessitando, portanto, de uma amplificação. A maneira mais
natural que existe de se amplificar um som é a de fazê-lo ressoar dentro de um espaço semi-
fechado. Assim, temos nos tambores a caixa de ressonância formada por suas laterais; num
violino, temos o corpo do instrumento funcionando como caixa de ressonância para as cordas;
num instrumento eletrônico temos a caixa-acústica funcionando como caixa de ressonância
para os alto-falantes, e etc.
Num instrumento de metal a situação é um pouco mais complexa. Podemos
dividir o ressoador em três partes: a área interna do bocal, a área interna do corpo do
instrumento e do pavilhão. Analisando-se o sistema como um todo podemos considerar ainda
a cavidade formada pela boca e garganta como um quarto ressoador.
O bocal funciona como uma espécie de “pré-ressoador”, ou pré-amplificador.
O som produzido pela vibração dos lábios coloca em vibração primeiramente o ar contido na
caixa de ressonância formada pela taça do bocal que depois, passando pelo orifício interno do
bocal, coloca em vibração o ar interno do corpo do instrumento.

10 J. Angelino Bozzini
O corpo do Instrumento
Uma “corda de ar” vibrando por simpatia
A maneira mais fácil de compreender o que acontece dentro de um instrumento
de metal é a de imaginar a coluna de ar em seu interior como sendo uma “corda de ar”. Aliás,
o seu comportamento é muito semelhante ao de uma corda. Se você abrir a tampa de um piano
e, abaixando o pedal da direita, cantar uma determinada nota dentro de sua caixa de ressonância,
poderá observar que a corda correspondente à nota que você cantou estará vibrando. Se você
cantar uma nota bem grave poderá notar que além da nota que você cantou também estarão
vibrando uma série de notas acima dela - é a chamada série harmônica. A série harmônica está
para o som, assim como o arco íris está para a luz, é um fenômeno físico, que se manifesta em
todo corpo que vibra. Quando os seus lábios vibram, acontece algo semelhante a quando você
canta dentro do piano: a “corda de ar” existente dentro do instrumento vibra por simpatia a
partir das vibrações de seus lábios.

A campana ou Pavilhão - A amplificação final do som


A última parte cônica do instrumento, que corresponde a 50% do comprimento
de um trompete, 39% de um trombone, e 28% de uma trompa é a principal responsável pelo
timbre do instrumento e pela amplificação final do som que foi produzido pelos lábios. Prova
disso é que introduzindo-se uma surdina no pavilhão de um instrumento altera--se drasticamente
seu timbre e volume sonoro, praticamente sem interferir em sua afinação.
Juntando-se as peças você pode ir se conscientizando do funcionamento desse
complexo sistema que se inicia no seu diafragma, e termina na saída do pavilhão de seu
instrumento (pode-se mesmo dizer que esse sistema termina nas paredes da sala onde você
está tocando).

Vamos agora analisar em detalhe cada uma das partes desse sistema.

A Respiração
Respiração, fonte da vida
O ato de respirar é condição primeira para que haja vida de qualquer espécie. Em
muitas línguas as palavras que designam o ser humano ou sua essência estão diretamente ligadas
à respiração.
Na nossa vida agitada de hoje em dia muitas vezes nos esquecemos da importância
do ato de respirar, é muito comum até ouvirmos a frase “não tenho tempo nem para respirar!”.
Mas, quem quiser usar sua respiração para tocar um instrumento de sopro terá de ficar atento
à sua respiração, aprendendo a usá-la primeiramente para viver de forma saudável e, então,
para tocar seu instrumento.

11 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal


Precisamos aprender algo que já fazemos?
Todas as pessoas e animais nascem sabendo respirar da melhor maneira possível.
Infelizmente, todas as repreensões, frustrações, tensões e medos por que passamos e
desenvolvemos durante o nosso crescimento agem diretamente sobre nossa respiração de
forma negativa, bloqueando o fluxo natural de nossa energia respiratória.
Podemos ouvir um bebê chorando ou um cachorro latindo a uma distância muito
grande; já para muitos instrumentistas ou cantores conseguirem se fazer ouvir por alguma
pessoa sentada na última fila de um teatro parece não ser uma tarefa tão fácil. A única solução
para recuperar aquelas habilidades que nós já possuímos um dia e perdemos será aprendermos
novamente como respirar de uma forma mais natural e efetiva.

Como funciona a respiração


O principal músculo responsável pela respiração é o diafragma. Esse músculo,
em forma de abóbada, está localizado horizontalmente na parte inferior da caixa torácica logo
abaixo dos pulmões, separando o tórax do abdômen. Quando inspiramos, ele faz um movimento
para baixo, aumentando a área dos pulmões. Esse aumento da área dos pulmões provoca uma
diminuição interna da pressão do ar, o que faz com que o ar que está do lado de fora, com uma
pressão maior, entre nos pulmões. Quando expiramos, ocorre o processo inverso; o diafragma
comprime o ar que está nos pulmões, provocando um aumento da pressão interna que expulsa
o ar. A essa respiração, damos o nome de respiração abdominal.

Figura 1 - Localização do diafragma Figura 2 - Localização do diafragma em


relação aos (1) pulmões, (2) fígado e (3)
estômago

Existem ainda duas outras formas de respiração: a intercostal e a clavicular. Na


intercostal, também chamada de torácica, provocamos o aumento da área interna dos pulmões,
afastando lateralmente as costelas. Na clavicular, também chamada de torácica superior,
provocamos o aumento da área interna dos pulmões elevando-se a clavícula, o esterno e as
costelas superiores.

12 J. Angelino Bozzini
Qual a melhor forma de respirar?
Para a execução dos instrumentos de sopro a forma mais indicada é a abdominal,
porque através dela:
1 – Conseguimos utilizar a maior parte da capacidade respiratória do pulmão (60% a 70%);
2 – Conseguimos um maior controle na expiração.
A forma intercostal é muito utilizada no canto e no teatro, porque aumentando-
se a caixa torácica aumenta-se a área de ressonância para voz.
A forma clavicular é a mais anti-natural e a mais prejudicial. É ela que requer o
maior esforço físico de todas, utiliza um mínimo da capacidade do pulmão (10% a 15%) e
permite um controle mínimo da expiração. Além disso, a respiração clavicular provoca uma
tensão muito grande na região dos músculos do pescoço. Infelizmente, é essa respiração que
vemos muitas vezes ser ensinada em aulas de educação física e constatamos nos desfiles de
bandas e fanfarras.
Inspiração Expiração

Espinha

Cartilagem

Diafragma

Figura 3 - As fases da respiração

A respiração na execução musical


O homem, pela sua evolução, está perfeitamente adaptado para andar ereto, o
que não impede que existam acrobatas. Podemos fazer uma analogia disso com a respiração.
O nosso sistema respiratório está perfeitamente adaptado para a fonação e para suprir a demanda
natural de ar do ser humano. Porém, se quisermos usá-lo para a execução de instrumentos
musicais, deveremos submetê-lo a um treinamento adequado, caso contrário, correremos o
risco de “quebrar a cara”, como alguém que quisesse fazer acrobacias sem um treinamento
prévio.
Para isso devemos trabalhar conscientemente cada aspecto envolvido no sistema
respiratório.

13 A Arte do Sopro - Desvendando a técnica dos instrumentos de Bocal

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