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Resenhado por:

Manoel Tosta Berlinck foi um sociólogo, psicanalista, professor, possuía PDH pela
universidade de cornell (EUA), além de ter sido diretor do laboratório de psicopatologia
fundamental da PUC/SP onde coordenava a rede universitária de pesquisa em psicopatologia
fundamental e escreveu vários livros no campo da psicanálise e da psicopatologia.

O texto “O que é Psicopatologia Fundamental” inicialmente nos apresenta uma breve


linha do tempo introdutória, acerca de alguns importantes marco na história da psicopatologia
fundamental, como a criação de uma rede universitária de pesquisa, e ao decorrer da leitura
são apresentadas palavras e conceitos que servem de base histórica para posteriormente
compreender-se o que de fato é a psicopatologia fundamental.

Partindo desses pressupostos o texto apresenta a palavra Posição sob uma nova
perspectiva e como o centro da discussão, trazendo no seu conceito e desdobramentos
diferentes visões da expressão, mas que, juntas corroboram para o objetivo primordial
proposto pelo autor.

Para os romanos posição é tida como simplesmente um lugar no qual uma pessoa ou
coisa está inserida, provavelmente devido a sua origem inicial ter se fundado nos campos
militares, sendo colocada dessa maneira principalmente em contextos de guerras e conquistas
territoriais. Já para os gregos a ideia de posição é muito mais complexa e correlacional, tendo
em vista que sua definição era muito mais voltada para o corpo, mais especificamente para
sua postura e aparência, na sociedade grega essa questão era tão estimada que a forma como
apresentava-se a pose corporal, era vista como demonstrações da moralidade e de
integralidade.

Dentro dessa visão surgiu ainda outras duas posições que são fundamentais para
entender aspectos diferentes nos quais a linguagem falada é tão relevante quanto a
estabelecida pelo corpo, uma é a do historiador que vai se referir justamente a história que é
narrada por meio daquilo que foi presenciado ou que simplesmente ouviu falar por aí, e não
aquilo relatado por meio de invenções. E a outra é do teatro que conduzia a plateia à
profundas sensações pois demonstrava através do corpo, uma condição natural de pathos, ou
seja, de sofrimento e aflição. Nesse sentido o teatro auxiliava no movimento corporal que por
sua vez mexia também com a psique humana ao colocar á mostra emoções que normalmente
são reprimidas.
Logo a palavra Psicopatologia advêm de três palavras gregas, seria um discurso, um
saber, (logos) sobre paixão, (pathos) da mente, da alma (psique). Um discurso sobre o
discurso representativo pathos psíquico.

Vejamos no que diz Platão no Banquete, segundo ele médico é aquele no qual está
atento ao pathos, paixão, pois as doenças são aquelas que apresentam um excesso de paixões.
Cuidado do eros, restabelecendo sua saúde, eros doente, sendo assim liberado desse
desequilíbrio, desse excesso. Com isso é importante ressaltar que o portador do sofrimento
que é acometido pela paixão do qual relatamos, o paciente, é aquele que padece e que a
origem por ele é desconhecida, com isso leva ele a reagir, de forma inesperada, imprevista. É
certo que nossas paixões confirmam a dependência ao outro. Se faz necessário lembrar que o
significado de pathos tem seu sentido etimológico passividade, dito por Descartes no inicio do
Tratado das Paixões.

Quando se fala de pathos, não necessariamente de forma patológica, mas podemos


incluir o amor, ódio, raiva, tudo o que aflige o individuo, causando uma desordem na paixão.
Com isso movimenta o individuo em uma busca e dá sentido a suas ações. O pathos conduz o
individuo a uma certa forma de sofrimento.

“Psicopatologia não consiste só em fazer o estudo da patologia do psíquico ou em fazer o


estudo psicológico do patológico. Consiste em realizar a articulação do pathos, entendido
como a disposição afetiva fundamental que move o sujeito constituindo-o na sua
humanidade, com o psíquico” (Martins, 1994)

Descartes trabalha duas definições aristotélica, agir e padecer, são conceitos


importantes embora sejam distintos um do outro, onde padecer é inferior ao agir. Portanto,
nesse doloroso complexo de inferioridade, descobriram-se a desqualificação da mobilidade
versus imobilidade, típica dos clássicos gregos. É exatamente porque contém matéria, ou seja,
incerteza, que a vida pode se mover. O fato de ter de mudar (localização ou quantidade ou
qualidade) para receber, aceitar a nova decisão mostra que não tem todas as qualidades ao
mesmo tempo, e o seu aparecimento depende da intervenção de agentes externos. Agora, este
último aspecto é a base para determinação do pathos. Fiquei com raiva quando reagi à ofensa.
Tenho medo de imaginar o perigo iminente que pode me machucar ou destruir. Pathos é
sempre causada pela existência ou imagem de coisas que me fazem reagir, geralmente
improvisação. Bem, isso é um sinal de que estou vivendo em uma dependência permanente do
outro. Não há tristeza para um individuo que basta a si próprio.
É preciso adentrar na biografia do paciente afim de se levar em conta sua história
clínica, a partir daí abrindo assim novos horizontes para os princípios da Psicopatologia
clínica que advém das posições das origens no teatro grego, tanto quanto o espectador e o
médico dos cidadãos se inclinam como na Psicopatologia Fundamental.

Na Psicopatologia Fundamental, compreende-se que tanto o sofrimento, paixão,


passividade se apoderam do corpo do indivíduo sem fazer parte dele, pois vem de fora para
dentro e o faz sofrer, longe de ser doença, pois o corpo não é doente, ele é natural, propício a
ficar doente e não que seja. E o aparelho psíquico ele responde como algo imunológico,
avisando quando algo não está bem no corpo assim acredita a Psicopatologia Fundamental,
transformar a narrativa do sujeito em experiência, pensar em algo que ainda não foi pensado,
narrado, a experiência é terapêutica, é importante suscitar essa experiência e que ela seja
compartilhada.

O texto utiliza de uma linguagem cientifica, culta e hermética, com ênfase em alguns
termos próprios da cultura grega e romana na qual se faz necessário uma leitura aprofundada
sobre tais questões para possibilitar uma compreensão acerca do que o autor apresenta no
texto expostas com o intuito de enriquecer e explicar tais questões. Ao decorrer da leitura,
conceitua-se os termos apresentados afim de elucidar o que de fato é a psicopatologia
fundamental, em uma lente vista através da psicanálise, fica evidente que a psicopatologia
procura perceber e entender o indivíduo enquanto sujeito do sintoma, desmistificando assim, a
forma como o sintoma vira o ponto central e primário da escuta.

A Psicopatologia Fundamental tem como primícia suscitar do individuo experiências.


A fim de compreender e propiciar uma escuta do individuo que está em pathos, como já
abordado no texto o indivíduo não é pathos. Uma vez explicitado que pathos provir de
angustia, paixão, sofrimento: estando em excesso, intensidade, passividade, vem de fora
agindo assim no sujeito.

Assim o texto apresenta de forma brilhante e rica os conceitos a cerca da


Psicopatologia Fundamental por meio da posição, primeira especificação, da qual trata-se de
uma honorífica tradição que trata o sofrimento do individuo e que precisa ser de fato
amanhado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERLINCK, M.T. Psicopatologia Fundamental. São Paulo: escuta; 2008

MARTINS, Francisco. O que é pathos? In: Psicopathologia I - Fundamentos. p. 2 – 17,


1994. Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Brasília.

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