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Afetividade Vigotski Wallon Piaget
Afetividade Vigotski Wallon Piaget
São Paulo
2012
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São Paulo
2012
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AGRADECIMENTOS
Ao meu Pai, Giuseppe Bruno Filho e a toda minha família pelo apoio, por
estarem ao meu lado em todos os momentos deste trabalho não deixando que eu
desistisse.
RESUMO
ABSTRACT
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This paper presents the views of three important authors in the field of psycology,
Jean Piaget, Lev S. Vygotsky and Henry Wallon that, in general, show their
conceptions about affection. Issues related to the role of affect in the development of
the individual as well as on the emotional relationship between teacher and student
are very complex and subject of debate. The reflection about affection becomes an
important issue for the researcher in human development and for the teacher. The
paper concludes by relating the ideas of the authors and raising hypotheses about
agreement and disagreement between these authors.
SUMÁRIO
6
1.0 Introdução.................................................................................... 7
Referências........................................................................................ 28
1.0 INTRODUÇÂO
7
A escolha do tema “Uma breve visão sobre a afetividade nas teorias de Wallon,
Vygotsky e Piaget” no presente trabalho deve-se principalmente ao fato de termos
necessidade de garantir um aprendizado com um maior nível de qualidade no país,
com isso a investigação do trabalho é verificar se existem meios mais adequados
para lecionar nas escolas de forma que os discentes realmente entendam a matéria
a fim de poderem discutir sobre o assunto, sem decorar o conteúdo exposto.
Nota-se que muitos alunos apenas decoram, memorizam o que será abordado nas
provas e outras avaliações, de forma que eles esquecem após o termino das
mesmas. Observa-se também durante os estágios obrigatórios do curso de
licenciatura que muitos alunos apenas pensam em copiar a matéria que o professor
expõe na lousa, de forma a reclamar caso o docente não decida escrever e apenas
explicar o conteúdo com as próprias palavras.
Assim se verifica uma grande necessidade de estudar métodos que possam auxiliar
no processo de ensino e aprendizagem, como analisar o papel da afetividade
estabelecida entre o professor e seus educandos no processo de ensino e
aprendizagem, de uma maneira que o aluno realmente entenda o que ele escreve
sobre a matéria, de maneira que ele interaja com o professor e com o conteúdo
abordado podendo até correlaciona-lo com o seu cotidiano. Tendo em vista este
problema resolveu-se analisar a forma como os professores e alunos podem
desenvolver a afetividade para que possam construir o conhecimento.
A análise será realizada de forma a relacionar cada teoria proposta pelos autores,
identificando semelhanças e diferenças a fim de organizar uma ideia sobre a
influência que a afetividade possui nas interações entre professor, aluno e objeto de
estudo e com isso permitir que o aluno desenvolva seus conhecimentos, permitir que
ele questione e realmente reflita sobre o conteúdo e assim tenha um aprendizado
bem qualificado.
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Com especial atenção aos trabalhos de Rosa (2007), uma de suas teorias chama-se
interacionista a qual menciona o processo de interação entre o professor e o aluno,
em que o aluno poderá construir seu conhecimento discutindo as ideias com o
professor. Isto pode remeter a ideia de afetividade que pode existir entre o professor
e o aluno, afetividade que pode ou não influenciar o processo de ensino e
aprendizagem de acordo com visões de autores bem conhecidos do campo da
psicologia.
Piaget escreveu em seu livro “Biologie et Connaissance” que os seres humanos para
desenvolverem sua inteligência deveriam interagir com outros indivíduos da
sociedade, mas segundo Yves de La Taille (1992), Piaget não discorreu muito sobre
o assunto da interatividade social como influência no desenvolvimento da
inteligência humana, mas o que escreveu foi muito importante para o tema e para
sua teoria.
Conforme disse Yves de La Taille (1992), Piaget menciona que o ser humano que
não se socializa com seus semelhantes não existe. O ser humano é por natureza
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social. Mesmo com esta afirmação não se pode criar uma teoria de como ser social
com seus semelhantes influencia as capacidades da inteligência.
Para Arantes (2002), Piaget diz que não existe uma ação de forma afetiva sem antes
o individuo utilizar a cognição, ou seja, o individuo precisa por meio de sua
inteligência entender a situação pela qual ele passa, para poder agir afetivamente
em acordo com o estímulo que sofrer. Também é mencionado por Piaget, segundo
Arantes (2002) que para haver a assimilação de algum conteúdo, seja ele teórico, ou
prático, seja em uma instituição de ensino ou em um laboratório deve haver uma
interação afetiva entre quem explica o conceito e quem recebe a informação. Isso se
dá, pois é por meio da interação que surge o interesse pelo objeto. É proposto por
Arantes (2002) que Piaget utiliza uma metáfora entre o motor de um carro e a
gasolina da seguinte forma: “a afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor
de um carro, mas não modifica sua estrutura” (ibidem.,p.5).
Resumindo pelo que temos explicitado acima, pode-se dizer que sem a afetividade
não existe um pensamento, pois o aluno não irá interagir com o objeto de estudo, ou
com o professor, no caso de uma escola, e assim não existirão pensamentos que
construam um conhecimento de acordo com o que foi abordado em sala de aula.
Para entendermos melhor o ser humano como sendo um ser sociável, que interage
com outros da mesma espécie temos abaixo o que Piaget escreve:
“O homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte anos de
idade, e, por conseguinte, sua individualidade não pode ser da mesma qualidade nesses
dois diferentes níveis.” (1992 p 12).
Para Yves de La Taille (1992), Piaget descreve o “ser social” como sendo o ser
humano que ao se relacionar com seus semelhantes de forma a garantir um
equilíbrio na conversa, ou seja, o homem deverá pensar e raciocinar com o mesmo
grau de desenvolvimento de ideias que o indivíduo com quem ele conversa. Uma
pessoa de dezesseis anos de idade não possui o mesmo nível de raciocínio de um
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indivíduo de trinta, assim como a maneira de uma criança de cinco anos de idade se
expressar diferirá muito com relação aos outros indivíduos citados, pois esta criança
nem mesmo consegue ser social com outras pessoas a ponto de trocar ideias
construtivas e com isso manter uma conversa intelectual.
A transmissão destes novos conhecimentos, não deixa de ser uma relação entre
indivíduos, enquanto uma pessoa estará transmitindo o conteúdo haverá aquelas
que a ouvem e a avaliam. Diante disso, Piaget preconiza que existem dois tipos de
relação social: a coação e a cooperação.
“A relação de coação, como seu nome indica, é uma relação assimétrica, na qual um dos
pólos impõe ao outro suas formas de pensar, seus critérios, suas verdades. Em uma
palavra, é uma relação onde não existe reciprocidade.” (1992, p-58).
Entende-se por coação de acordo com Piaget a relação entre dois ou mais
indivíduos em que um destes exerce papel autoritário ou papel prestigiador. Como
exemplo é proposto o caso em que o professor afirma ao aluno determinado
conceito e o aluno sem questionar acredita no que o professor fala, pois este
estudante prestigia o professor, por ele ser de uma universidade famosa, ou por ser
bem conhecido, não exigindo nem mesmo a consulta de outras fontes como artigos
ou revistas científicas para confirmar se é verdade o que foi afirmado.
Neste caso o professor e o aluno não possuem uma interação muito aparente, pois o
aluno nem mesmo participa de uma discussão, o estudante nem mesmo questiona o
seu mestre para ter certeza se as fontes de onde foi tirado o conteúdo exposto em
questão são confiáveis. Por não estar presente a interação entre os indivíduos
segundo De La Taille (1992), a coação empobrece as relações sociais.
“As relações de cooperação são simétricas; portanto, regidas pela reciprocidade. São
relações constituintes, que pedem, pois, mútuos acordos entre os participantes, uma vez
que as regras não são dadas de antemão. Somente com a cooperação, o desenvolvimento
intelectual e moral pode ocorrer, pois ele exige que os sujeitos descentrem para poder
compreender o ponto de vista alheio.” (Piaget,1992,apud Taille,1992, p- 59).
Tendo em mente que de acordo com Yves de La Taille (1992), Piaget diz que a
afetividade é interpretada como uma espécie de ”energia” que motiva o ser humano
a realizar ações, pode-se dizer que na relação de cooperação ao haver maior
discussão, maior participação do professor e do aluno juntos na construção do
conhecimento, existe um fator que motiva o estudante a procurar a resposta das
situações-problema. Este fator motivacional pode ser descrito como afetividade.
De acordo com Piaget (1999) durante os dois primeiros anos de vida o bebê passa
por uma revolução em seu intelecto que é caracterizada por processos
fundamentais, tais como: as construções de categorias do objeto e do espaço, no
sentido de que o bebê está em um processo de conhecimento dos objetos inseridos
no mundo onde vive e do espaço onde constrói as relações com estes objetos.
Outros processos citados também são o da causalidade e do tempo, de modo que o
bebê não tem a noção do tempo percorrido durante estes primeiros anos de vida.
No início de sua vida, o bebê toma a si mesmo como o centro do mundo que o
cerca, num processo que não tem consciência e é chamado de “egocentrismo”. O
esquema do objeto está voltado ao plano, em que o lactante não tem uma
percepção dos objetos tal como a do adulto. O bebê não nota as propriedades dos
objetos como peso, forma, volume e outras características.
Piaget também afirma que o bebê reconhece as pessoas que se encontram à sua
volta, aquelas que constantemente convivem com ele, mas não é provado que o
bebê tenha em mente que as mesmas pessoas que estão à sua volta realmente
existam quando elas vão embora saindo do seu campo de visão. Exemplificando
melhor temos uma citação de Piaget que diz: “Reconhece em particular as pessoas
e sabe que, gritando, fará retornar sua mãe.” (Piaget, 1999, p.21) Podemos entender
que as pessoas que visitam a casa de alguém que possui um bebê, por exemplo, ao
brincarem com o bebê, interagindo com ele de diferentes as formas, este bebê
perceberá sua existência, porém ao irem embora daquela casa, o bebê não se dará
conta de que aquelas pessoas realmente existem fora desse espaço físico até que
ele as reencontre outra vez.
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Somente por volta do fim do primeiro ano ocorre o que podemos chamar de
exteriorização do mundo material, pois o bebê passa a ter o desejo de procurar
pelos objetos, mesmo que estes não estejam em seu campo de visão. Devido a esta
exteriorização o bebê logo irá passar a procurar as pessoas que não se encontram
em seu campo de visão e assim desenvolve interações afetivas, quando o bebê
procura alguém, seja sua mãe ou seu pai ele passa a mostrar interesse na interação
com aquela pessoa, a afetividade no caso não está separada da inteligência.
Do mesmo modo, podemos dizer que entre discente e o docente também existem
estas relações de obediência. Nas escolas, a obediência do aluno caminha junto
com o respeito pelo professor. Em certos casos, nem todos os discentes têm
respeito podendo haver intercorrências durante as aulas e uma parte dos alunos
pode temer o professor, que se impõe por meio de ameaças com relação a notas
baixas.
Para crianças de sete anos de acordo com o que é descrito no livro: “Para certos
sujeitos, se transforma em água ou se liquefaz em um xarope que se mistura à
água.” (1999, p.56 )
No que diz respeito ao desenvolvimento da vontade nas crianças, Piaget afirma que
muitos confundem a vontade com o ato intencional e exemplifica com uma situação
em que o aluno possui um dever de casa para ser feito, o que seria a obrigação dele
mas também possui uma tendência a brincar em vez de fazer o dever. É aqui que o
autor menciona a vontade como sendo a atitude que o aluno toma em fazer o dever
mesmo tendo desejos mais fortes como brincar. Aqui ressaltamos no processo de
ensino e aprendizagem a vontade dos alunos em aprenderem, a vontade dos alunos
em buscarem o significado do conceito estudado em aula, ao invés de fazerem algo
que lhes pareça mais prazeroso.
Para Martha Kohl (1992), Vygotsky menciona que a mente humana não possui
estruturas que desde o nascimento contém conhecimento. É por meio da vivência na
sociedade e nas relações com outros seres humanos que a pessoa construirá novos
conhecimentos e novas relações entre os objetos de estudo. O aluno não nasce com
o conteúdo internalizado em sua mente, o conteúdo deve ser transmitido pelo
professor, mas somente transmiti-lo não é o bastante, a socialização com o
professor, a discussão e troca de ideias é fundamental para que o conteúdo se fixe
de forma que o discente elabore com suas próprias palavras o que foi aprendido.
De acordo com sua obra, Vygotsky (2001), também menciona a importância dos
conhecimentos construídos a partir da vivência do aluno, citado no parágrafo
anterior, no sentido de que as experiências pelos quais ele passa no seu cotidiano,
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por meio destas não somente se lembrará de determinados conceitos na hora dos
estudos, mas também entenderá a origem do conceito, entenderá a justificativa de
existir aquele conceito.
Com estas duas funções definidas um exemplo pode ser citado para melhor
compreensão de ambas. Exemplo: Ao transmitir um determinado conteúdo para os
seus alunos o professor utiliza a linguagem como meio de intercâmbio social para se
comunicar com os alunos e discutir a respeito do conteúdo. Os alunos, então, após a
socialização do conteúdo com o professor, de modo a expor seus pontos de vista
reterá a parte importante daquele conteúdo simplificando-o.
Para se formar um dado conceito um fator principal é o modo como ele se formará,
uma vez que para que o indivíduo assimile o conteúdo, ou seja, a matéria que o
docente quer que o aluno aprenda, é necessário um compartilhamento por parte do
aluno e do professor dos conhecimentos possuídos pelos dois com a finalidade de
transformar o conhecimento prévio do aluno em um conceito mais aceito pela
ciência. Desta maneira com a discussão e indagação o aluno fixará o conteúdo de
forma a lembrar do processo de raciocínio para alcançar o conceito aprendido.
Para elaborarmos respostas a cada um destes fatores que motivam o ser humano
existe uma necessidade de agir intelectualmente, refletindo e agindo de acordo com
o que sente. No espaço físico acadêmico podemos citar novamente os alunos
interessados na aula, como mencionado. Damos o exemplo do interesse ao
aprender sobre o corpo humano, porém não somente o fator interesse existe na sala
de aula, mas também o afeto no sentido do modo como o professor expõe o
conteúdo que pode variar com o seu humor, o modo como os alunos respondem
quando o docente os questiona e a emoção evidenciada nos discentes ao tirarem
uma boa nota ou então uma nota não satisfatória.
Kohl (1992) menciona que Vygotsky também escreveu textos relacionados com a
questão da emoção e afetividade, e um longo manuscrito cujo tema foi relacionado à
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Pode-se dizer que de acordo com Almeida (1993), a afetividade vem antes da
formação de diversas sensações da criança, não somente com o pensamento mais
sincrético que possui no início de sua vida, mas também diversos outros tipos de
pensamentos que a criança possui possuem a afetividade totalmente presente.
Mahoney (2005), diz que nesta teoria, Wallon menciona o professor como tendo
uma oportunidade de aprendizado de novos métodos a serem utilizados em sala de
aula para solucionar as diversas situações durante o ensino e aprendizagem durante
a gestão de sua aula.
Mahoney (2005), afirma que Wallon também menciona que a teoria ajuda o
professor a prever os acontecimentos de sua rotina, como as situações problema
que pode enfrentar em sala de aula assim como possibilita que o professor
questione tirando suas dúvidas sobre a prática da aula e até mesmo de conceitos
teóricos para melhor aproveitamento das aulas que aplicar aos discentes.
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Wallon enfatiza a questão do meio na formação do ser humano. O modo como o ser
humano reagirá a determinadas situações de afeto ou quaisquer que sejam as
situações pela qual passar, dependerá muito do meio. Uma vez que o meio molda a
personalidade humana.
Neste caso o fato do aluno vir a despertar o lado afetivo no professor ou vice e versa
também dependerá do meio em que eles se encontram, ou seja, da escola em geral.
Poderemos observar mudanças na relação de aprendizagem entre alunos e
professores de uma escola para outra, o grau de afetividade entre o discente e seu
aprendiz poderá variar também.
Ao explicar esta interação, Wallon menciona três conjuntos de acordo com Mahoney
; Ramalho, 2005:
De certa forma, pode-se entender pelo que Wallon menciona que esta interação
afetiva cognitiva motora também está entrelaçada na interação com o meio, uma vez
que o indivíduo se desloca, e reage de certa forma aos estímulos que recebe tanto
do ambiente como das outras pessoas nele inseridas.
Outro local de pesquisa para encontrarmos a base teórica para este trabalho foi no
site da Universidade de São Paulo (USP), na área de dissertações e teses. Também
para este trabalho foi encontrado um livro chamado “Piaget, Vygotsky, Wallon:
teorias psicogenéticas em discussão”, que chamou a atenção para o estudo da
afetividade em relação com o desenvolvimento humano.
Para a análise de dados será realizada uma comparação das visões que cada um
dos autores possuem sobre a relação que a afetividade tem com o desenvolvimento
humano e o processo de ensino e aprendizagem discutindo cada comparação.
Pode-se perceber que a teoria piagetiana guarda certa semelhança com a visão de
Wallon sobre o aprendizado do aluno relacionado com o modo como o sujeito se
relaciona com o objeto de estudo e com o professor, estabelecendo contato,
discutindo sobre seus pontos de vista, questionando e conhecendo melhor o modo
de pensar do docente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS