Você está na página 1de 17

As vicissitudes da formação docente em serviço: a

proposta reflexiva em debate


Julio Groppa Aquino
Mônica Cristina Mussi
Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo tem por objetivo apresentar algumas das con clu sões
de uma investigação realizada junto a professores da Rede Mu-
nicipal de Ensino de São Paulo que participam de grupos de
formação em servi ço, a fim de conferir visibilidade aos efeitos
que a prática for mativa concreta vem produzindo na pro fis si o-
nalidade docente. Destaca, em particular, as vicissitudes oca-
sionadas nesse grupo quando experienciam uma modalidade
formativa contemporânea, pa utada no modelo de formação
reflexiva.
As idéias de senvolvidas no artigo ins crevem-se no campo con-
ceitual da psicologia ins titucional. A partir desse enqua dra-
mento teórico, o texto trabalha com o pressuposto de que os
recentes pa radigmas de for mação docente em serviço, ao se rem
operados por práticas formativas concretas, promovem no vas
possibilidades de experiência de si para os professores, con fe-
rindo no vas figurações de sub jetividade para os professores no
tempo presente — professor-reflexivo, pro fessor-autônomo,
professor-investigativo. No in terior de re lações ins ti tu ci o na li-
zadas, a vivência destas figurações é metabolizada pe los do-
centes, que produzem uma forma pe culiar de re flexão, não
vislumbrada na pau ta dos programas de formação.
Instalados nas práticas concretas de formação em serviço, os
professores produzem um tipo de reflexão particular que es ca-
pa dos objetos definidos no design formativo e do contorno re-
flexivo ma pe a do a pri ori. A reflexão tangível nas falas do cen tes
narra o confronto desse protagonista com seu lugar ins tituído
na profissão, problematizando o “dever ser” de seu ofício nos
dias de hoje.

Cor res pon dên cia:


Palavras-chave
Ju lio Grop pa Aqui no
Fa cul da de de Edu ca ção (EDF) - USP
Av. da Uni ver si da de, 308 - Bl. A Formação em serviço – Reflexão – Subjetividade docente.
05508-900 - São Pa u lo, SP
e-mail: grop paq@usp.br

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 211
The in-service teacher education: the reflective proposal in
debate
Julio Groppa Aquino
Mônica Cristina Mussi
Universidade de São Paulo

Abstract

This article presents some of the findings of a study con duc ted
with teachers from the public school system of São Paulo
(capital), which take part in in-service teacher education
groups. The purpose is to give visibility to the effects that the
concrete formative practice has been producing upon
teacher’s professionality. The article highlights in particular
the vicissitudes ex perienced by the group when exposed to a
contemporary modality of te acher education based on the
model of reflective edu cation.
The ideas developed here belong to the conceptual framework of
Institutional Psychology. From this theoretical framework, the
text deals with the assumption that the recent paradigms in
teacher education, when worked through concrete formative
practices, promote new possibilities of self-experience to the
teachers, endowing them at the present time with new images
of subjectivity — reflective teacher, autonomous teacher,
research teacher. Within institutionalized relations, the
experience of those images is metabolized by the teachers, who
produce a peculiar form of reflection not envisaged in the
agenda of teacher education programs.
Teachers, en tered in con crete practices of in-service
education, produce a particular kind of reflection that es ca pes
from the objects defined in the formative design and from the
reflective borders tra ced a priori. The tangible reflection in the
teacher’s speeches tells of the clash between this agent and
her attributed professional place, problematizing the “must
be” of his craft no wa days.

Keywords
Cor res pon den ce:
Ju lio Grop pa Aqui no
In-service education – Reflection – Teacher subjectivity.
Fa cul da de de Edu ca ção (EDF) - USP
Av. da Uni ver si da de, 308 - Bl. A
05508-900 - São Pa u lo, SP
e-mail: grop paq@usp.br

212 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001
Nada ainda constitui um programa, res integrantes da rede municipal de ensino.
mesmo o niilismo é um dogma. Até então, de acordo com levantamento reali-
E. M. Cioran zado por Fusari (1997), as iniciativas de forma-
ção docente em serviço organizadas pela
A profissão docente vem, nas últimas dé- Secretaria Municipal de Educação de São Pau-
cadas, sendo confrontada com uma ordem tal de lo (SMESP) restringiram-se à participação de
problematizações sobre os limites e possibilida- educadores em situações formativas pontuais
des de sua ação que está a provocar um de sas- (cursos, palestras, etc.), caracterizando-se, no
sossego ímpar em seus protagonistas concretos. geral, por um conjunto de ações descontínuas,
Os códigos que tradicionalmente coman- parceladas, sem conexão entre si, e, ainda, com
daram as práticas profissionais docentes e, em grande rotatividade de pessoas, condição esta
particular, aqueles que definiram formas peculia- que privilegiava o caráter imediatista de seus
res de como se pensar professor – um certo “sa- objetivos.
ber de si” – hoje parecem já não encontrar As modalidades formativas que se des ta-
ressonância nas experiências cotidianas dos pro- caram no período que antecedeu a “gestão po-
fessores, impulsionando-os à árdua tarefa de se pular” — como foi denominado o período em
(re)posicionarem em relação aos modelos que até questão — compreendiam, portanto, situações
então prescreveram suas condutas profissionais. de aperfeiçoamento, atualização e mesmo
Ainda que essas problematizações pos- treinamento como eventos marcados pela
sam ser trazi das à baila por múltiplos fe nô me- concisão. Mesmo quando o tempo de du ra ção
nos (segundo análises, por sua vez, também dessas ações formativas era ampliado ou seus
diversas), acentuaremos algumas circunstân- espaços descentralizados, ocorrendo no es pa-
cias no que se refere às novas exigências do ofí- ço de trabalho ori ginal do professor, per du ra-
cio, com o intuito de analisar o desconforto ram razões de cu nho pragmático entre seus
atual que os professores experienciam e pelo objetivos centrais.
fato particular de terem suscitado o for ta le ci- De uma forma que consideramos singu-
mento de uma prática es pecífica de inter ven ção lar, a ênfase dada à formação de professores na
na docência: a formação de professores em ser- Rede Municipal de Ensino na referida adminis-
viço, prática esta objeto de uma pesquisa em pí- tração esteve associada a uma perspectiva mais
rica por nós levada a cabo e da qual extraímos ampla do processo educativo escolar. O projeto
as principais reflexões que serão apresentadas central que conduziu aos investimentos na
no presente artigo. formação em serviço esteve, desde sua origem,
O trabalho de investigação foi realizado comprometido com a concretização de uma
junto a oito professores da Rede Municipal de “escola pública popular e democrática de boa
Ensino de São Paulo, integrantes de “grupos de qualidade” (Saul, 1993), pela via do necessário
formação”, nomenclatura ori ginal de mo da li- desenvolvimento profissional nos que nela tra-
dade for mativa criada a partir de 1989 na balham, articulando de forma decisiva a reo-
gestão Luíza Erundina (1989-1992). Essa mo- rientação da democratização escolar com a
dalidade ainda permanece em vigor nas escolas formação contínua de professores.
municipais, reconhecida atualmente pe los pro- Dentre os projetos de formação que
fessores como “horários coletivos”. foram concretizados nesse período, o “grupo
Entre os objetivos centrais que nortearam de formação” des tacou-se por privilegiar o
a nova política educacional implantada na ges- trabalho em pequenos grupos e, mais adi an te,
tão Erundina, encontrava-se uma preocupação por se firmar no espaço cotidiano da escola. A
inédita com a formação contínua dos professo- SMESP à época concebeu a or ganização des se

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 213
espaço formativo sustentada em premissas que pelos discursos teóricos que concebem o pro-
sublinhavam a imagem do professor como um fessor como um profissional re flexivo, em
sujeito reflexivo. contraposição às con cepções que cir cuns cre-
Alguns trechos do documento oficial da veram a prática docente ao exer cício “téc ni-
SMESP são explícitos quanto a esse en fo que: co” de saberes, en tendendo esta última
posição segundo um enquadramento dis cur-
um dos prin cí pi os bá si cos do gru po de for ma ção sivo que cinde a ação prática da ação re fle ti da
é o de que o su je i to cons trói o co nhe ci men to na desse protagonista.
in te ra ção com os ou tros atra vés do es tu do da Na referida pesquisa propusemo-nos a
prá ti ca de seu tra ba lho e da te o ria que a fun da- investigar as representações que os pro fes so-
men ta. Esse su je i to cog ni ti vo, afe ti vo e so ci al é res produziam ao se inserirem em práticas de
uma to ta li da de que, imer so em seu tra ba lho, formação em serviço ori ginárias dessa con-
exer ci ta o fazer, o pen sar e o te o ri zar, pois não cepção. Mais especificamente, nosso objetivo
exis te prá ti ca sem te o ria. Todo edu ca dor faz foi o de descrever e analisar os efe itos que
teoria e prá ti ca. (1990, p. 9) essa prática vem produzindo na profis si o na li-
dade docente atu almente.
E con tinua, mais adiante: Para proceder a esse objetivo, optamos
por uma metodologia de pes quisa que se ajus-
Nos gru pos de for ma ção o educa dor pode en - tasse às pa utas de análise que in dicamos –
con trar o es pa ço ne ces sá rio para re fle tir so bre perscrutar o movimento das prá ticas for ma ti-
sua prá ti ca e seus co nhe ci men tos. A te o ria pode vas e seus efeitos no discurso docente. Assim,
ser elu ci da da, res ga ta da, apro pri a da, na re la ção realizamos en trevistas gravadas e pos te ri or-
di a lé ti ca com a prá ti ca. É fun da men tal que o mente transcritas, ado tando como referente
gru po de for ma ção pos si bi li te ao edu ca dor re to- básico a formulação de um roteiro de ques-
mar a sua his tó ria, per ce ben do qua is as hi pó te- tões, articuladas em torno de quatro cate go ri-
ses que teve du ran te sua vida de edu ca dor, e no as temáticas: 1) a formação ini cial; 2) a opção
que ele acre di ta hoje; qua is são as con tra di ções pelos “grupos de formação”: fi nalidades e
en tre o seu pen sar e dos ou tros. O gru po de for - funcionamento; 3) os efeitos dos “grupos de
ma ção não é o úni co meio para o des per tar da formação”: implicações para a sala de aula; e
cons ciên cia do edu ca dor, mas é um meio para 4) os “grupos de for mação” e a relação entre
isso se dar de for ma sis te ma ti za da. Par tin do do seus protagonistas.
tra ba lho diá rio sig ni fi ca ti vo dos edu ca do res, fa - Como enfatizaremos adiante, a prá tica
vo re ce a per cep ção do co ti di a no des sa prá ti ca. de formação de professores em serviço, em
No gru po, a di ver si da de de le i tu ras do co ti di a no seu (re)arranjo epistemológico recente, pro-
apu ra o olhar para ver além das apa rên ci as. Nes - duzirá em seu curso efeitos de sestabilizadores
se pro ces so po lí ti co de apro pri a ção da cons ciên- das formas tradicionalmente reconhecidas de
cia peda gó gi ca fun da men ta-se o pro ces so de existência docente, operando a promessa de
mu dan ça. O edu ca dor per ce be que faz prá ti ca e uma nova proposição de si, para os pro fes so-
te o ria. Com essa des co ber ta pode edu car o pró - res, nos nossos dias.
prio de se jo e ali cer çar sua op ção. Ele pode que - É a ocasião des ses efeitos, ras treados no
rer e fa zer mu dan ça. (SMESP, p. 9-10) discurso dos professores en trevistados, que
permeará o percurso das análises que ora
Desta fei ta, pri vilegiamos em nossa pes - apresentamos, o que evidencia e jus tifica a
quisa práticas de formação em serviço que, em necessidade de se colocar a formação docen te
sua proposta for mal, estivessem referenciadas em serviço, na proposta re flexiva, em debate.

214 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


O professor e a universalização uma maior qualificação, é rearranjada por dis-
das práticas escolares cursos que ina uguram uma nova exigência
profissionalizante para o ofício: uma vivência
Uma das razões que deflagraram um con- distinta dos modelos disponíveis até então no
junto de de mandas inéditas no interior da pro- cenário formativo docente.
fissão docente na atualidade pode ser lo ca li za- Já no campo interno da profissão, ou
da na atual crise de legitimidade da ins tituição seja, para seus protagonistas concretos, lo ca-
escolar na esfera so cial (Silva, 1996; Har gre a- lizamos uma segunda razão que incitaria um
ves, 1998). conjunto de demandas diversificadas para a
No campo externo à profissão, pro ta go- profissão no presente, qual seja: a des po ten-
nizado em particular pelo âmbito das insti tu i- cialização dos saberes em que os professores
ções acadêmicas, sindicais e de alguns setores assentavam suas condutas de trabalho.
políticos, essa crise inscreveu-se por meio da Essa des potencialização traduz-se
denúncia de uma renitente ex clusão da po pu la- especialmente pela per da de se gurança dos
ção aos bens culturais di fundidos pela prática professores no que concerne àqueles co nhe ci-
educativa esco lar. mentos ca nônicos sobre os quais es tava
Em sua configuração escolar, a exclusão fundada se cularmente a prá tica do ensino es -
não só refreou a plena apropriação por parte de colar. Perda esta que, em específico, encontra
crianças e adolescentes dos bens culturais ab - sustentação no bojo do colap so das certezas
sorvidos pela escola, como também vem pro du- científicas, precipitado na con tem po ra ne i da-
zindo roupagens inéditas para seu inventário. A de pe los inú meros pro blemas de ordem so cial
duvidosa qua lidade dos processos de ensi no e política vividos pe las populações mundiais
desencadeados no interior da prática institucio- (Demo, 1996; Veiga-Neto, 1995).
nal escolar pa rece ser a face revigorada desse No cotidiano do trabalho escolar, a des -
potencial excludente. potencialização dos saberes docentes é pres-
A denúncia reincidente sobre a produção sentida concretamente pela “incapacidade”,
de me canismos de exclusão de uma parcela autoproclamada pelos professores, de de sem-
significativa da população ao direito social à penhar seu ofício quando cli vado por um per-
educação escolarizada, seja essa produção as- fil de clientela que não mais corresponde às
severada pelos índices de repetência e evasão representações clássi cas da quilo que se
escolar alardeados nas pesquisas das décadas aprendeu a com preender e legitimar como ca-
de 1970-80, seja, em seu formato mais re cen te, racterísticas substantivas do alunado.
localizada na baixa qualificação das formas de O processo de expansão dos níveis de
aprendizagem es colar imputada àqueles que ensino e das oportunidades educativas na re a-
vêm conseguindo concluir a trajetória formal lidade brasileira, sancionado a partir da década
na instituição, compõe um dos cenários de de- de 1970, ocasionou uma fissura no suposto
sordem em que as práticas es colares foram lan- “equilíbrio” apregoado entre a formação pro-
çadas na contemporaneidade brasileira. fissional disponível e as demandas oriundas
As rachaduras des sa desordem não tar da- das salas de aula, deflagrando um grau sen sí-
rão a atingir o pa tamar docente, donde as pres- vel de abatimento sobre os docentes; fato este
sões e demandas so bre o desempenho de seu que interroga os modelos operativos com os
ofício irão se mostrar por meio da invenção de quais os professores tradicionalmente vinham
novos modelos formativos para a profissão. A desempenhando em seu dia-a-dia profissional.
legitimidade assegurada da competência do- Esses modelos pa recem, pois, não mais
cente, ao ser interseccionada pela demanda de encontrar ressonância numa imagem de

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 215
clientela que se desprende dos con tornos an te- da prática escolar figuram como os moti-
riormente de finidos para seu lugar insti tu ci o- vadores fundamentais da expansão e valoriza-
nal, defrontando-se agora com um aluno que ção da formação profissionalizante no interior
passa a se apresentar de acordo com uma mul- da prática educativa, provocando uma nova
tiplicidade de rostos e formas, um aluno que já interpretação dos modelos disponíveis se gun-
não comportaria uma sen si bi li da de a priori em do os quais a formação profissional do profes-
relação às promessas de emancipação futura, sor fora até então demarcada, temporal e
propaladas pela es cola da modernidade (For- espacialmente.
quin, 1993; Silva, 1996). Proceder com de di ca- Assistimos, nesse contexto, a um re mo-
ção aos rituais de aula (registros, leituras, delamento das práticas de formação docente
atenção, etc.) em prol da promessa de uma pro- em vigor no cenário da profissão. De um mo-
fissão virtuosa, ou exercer a responsabilidade delo for mativo instalado num intervalo de
estudantil como forma primeira de se habilitar tempo anterior ao in gresso no exer cício efe ti-
a uma cidadania autônoma na condição adul ta, vo da profissão e que se organizava em âm bi-
não mais se mostram como ações cor po ri fi ca- tos distintos da quele que seria seu locus de
das pelo aluno atual; estas agora necessitam trabalho, ins tauraram-se práticas formativas
ser ne gociadas, contratualizadas e (re)in ven ta- docentes que passam a ocorrer justapostas à
das (Aquino, 2000). experiência do ofício e, mais recentemente,
Esse dado pode ainda ser conjugado com no próprio lo cal de trabalho.
a notó ria perda de status social da profissão e Essas práticas, de uma maneira geral,
com a descaracterização pa ralela de sua au to ri- passam a ser reconhecidas e nomeadas na re a-
dade intelectual/pedagógica/moral, seja na es - lidade brasileira como “formação docente em
fera intra-escolar, em meio ao descrédito serviço”.
emanado da própria clientela, seja por outros Os cursos de treinamento, nomen cla tu-
âmbitos institucionais, como a família e o po- ra largamente adotada para os espaços de for-
der público, os quais, décadas antes, comun ga- mação em serviço, são os primeiros a ocupar
ram mais diretamente com o enaltecimento da lugar de finido em nossa realidade, e, em sua
profissão. imensa maioria, organizam-se com o objetivo
Em meio a essas razões, o professor foi de divulgar métodos e técnicas de trabalho
lançado num terreno pro fissional incerto, are- concebidos como meios eficazes para o al can-
noso, repleto de efeitos desconhecidos na fe i- ce de resultados satisfatórios nos processos
tura dia a dia de seu ofício. de ensino.
Uma das propostas firmadas como medida Prática enunciada. A par tir daí, in ten si-
do poder público com vistas à requalificação da fica-se a organização de novos programas
ação escolar foi a formação docente em serviço. formativos para pro fes so res. Aper fe i ço a men-
Que novas elaborações a formação do- to, capacitação, formação permanente são
cente em serviço trouxe para o pro fessor em expressões das várias mo dalidades segundo as
sua história presente? quais a prá tica de formação em serviço foi se
Aproximemo-nos des se ins tigante con- apresentando no cotidiano escolar (Barbieri,
texto. Carvalho & Uhle, 1995).
A formação concomitante ao exercício
A formação docente em serviço do ofí cio ina ugura, assim, uma nova raci o na-
lização da profissionalidade, e, por extensão,
A multiplicidade de entraves na ação do- da constituição dos saberes docentes. De um
cente e os resultados socialmente questionáveis ponto de vista teórico, tratava-se de um

216 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


dispositivo tá tico que fez circular, de for ma Na atu alidade, a invenção de novas for -
mais precisa e lo calizada no interior da pro fis- mas de formação docente concomitantes ao
são, modos de se pensar professor. exercício da profissão vem, no plano discur-
Pode-se afirmar que, a princípio, o ob je- sivo, produzindo ou tras estratégias de exis-
tivo prin cipal desse novo modelo regulador da tência para o professor, as quais não se
formação – a formação em serviço – foi o de apresentam necessariamente como res so nân-
funcionar como uma espécie de “corretivo” das cia ao obje ti vo primeiro de “correção” do
práticas docentes (Fusari, 1988). O efei to en se- ofício.
jado, presume-se, se ria o de promover uma cer- No final da dé cada de 1970, a abor da-
ta homogeneização, des sa vez mais con tro la da, gem tecnicista de educação, que regia grande
das condutas cotidianas dos professores. parte dos programas de for mação de pro fes-
Nessa perspectiva, seu alvo mai or seria a sores em serviço, é colocada sob suspeita. A
retomada da própria legitimidade da ins ti tu i- suposta eficácia da racionalidade técnica pas-
ção escolar pelo controle mais estreito das ati- sa a se confrontar di retamente com a fra gi li-
vidades docentes; em outras palavras, re vi go rar dade e as mazelas concretas dos resultados
a po sitividade e a con fiança nos resultados es - obtidos pelas práticas escolares (Fusari,
colares, ou seja: conferir fôlego à função so cial 1988).
da es cola, pela modulação permanente antes Protagonizada pelas ciências so ciais
alocada exclusivamente na região da formação (particularmente a vertente marxista), uma
inicial das condutas de seus agentes. nova tendência na pesquisa educacional de-
Validar de terminados procedimentos de flagra a crítica à crença em uma escola re den-
trabalho, divulgar saberes utilitários para a tora da sociedade, denunciando o pa pel desta
prática cotidiana de suas tarefas, alterar ou como reprodutora das relações de de si gual da-
constranger comportamentos considerados de- de impingidas no campo das relações eco nô-
sajustados ao ofício, en fim, fa zer circular um micas e políticas.
conjunto de mo delos teóricos/metodológicos Sob um olhar deterministo-reproduti-
que assegurassem respostas confiáveis para as vista, as re lações escolares mimetizariam as
problemáticas vividas no âmbito da sala de práticas econômicas hegemônicas, so frendo o
aula, compunham o quadro desse controle. A mesmo grau de submissão instalado na esfera
formação em serviço passa, as sim, a ter pre sen- produtiva. A pe netração dessas idéias no cam-
ça constante no exercício da profissão, aci o na- po educacional pro piciou a emergência de vo-
da sempre que os mandantes institucionais zes denunciativas no interior das escolas.
julgassem necessário dispô-la. Assim, muitos cursos de formação em serviço
Nesse sentido, a formação em serviço ope- foram utilizados como espa ço de anunciação
rou uma dilatação dos mecanismos de poder so- de uma cultura crítica no interior da
bre a profissão, ao funcionar como campo de profissão.
validação dos tipos de saber que deveriam circu- Para além das vertentes repro du ti vis tas,
lar no exercício mesmo da docência, indicando foram desenvolvidas no Brasil teorias edu-
gradualmente maneiras de se proceder no ofício. cacionais de referência dialético-crítica, as
Um outro efeito ensejado, talvez, fosse o de quais apresentavam a escola como um campo
anular qualquer proposição de dúvida ou estado privilegiado de luta soci al contra as do mi na-
de esmorecimento que acompanhasse o profes- ções vigentes. No seu conjunto, as teorias de
sor na rotina de seu posto. Este deveria apresen- caráter progressista, apesar de reconhecerem
tar-se seguro e convicto daquilo que deveria ser, a dominação e su bordinação ideológica per-
dizer e fazer em seu cotidiano profissional. sistentes na rela ção escola-sociedade, crêem

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 217
na capacidade crítica da ra zão hu mana e na fun da men tal men te, sua pró pria ma ne i ra de ser
ação emancipatória dos sujeitos históricos, em re la ção ao seu tra ba lho. Por isso, a ques tão
portanto, em ações passíveis de transformar a prá ti ca está du pli ca da por uma ques tão qua se
realidade por meio de embates constantes con- exis ten ci al e a trans for ma ção da prá ti ca está
tra os poderes dominantes no âmbito so cial du pli ca da pela trans for ma ção pes so al do pro -
(Giroux, 1986). fes sor. (1994, p. 49-50)
A inserção de teorias educacionais críticas A reflexão, nes sa perspectiva, é re a fir-
na realidade escolar brasileira nas últimas déca- mada por vári os autores como a categoria es -
das ofereceu, entre outros aspectos, contribui- sencial da formação docente: condição tida
ções para se pensar e mesmo refutar as concep- como capaz não só de transformar a prá tica
ções difundidas até então sobre o trabalho e a pedagógica do professor e prepará-lo para
formação de professores, propiciando novas atender às exigências que se colocam para sua
perspectivas para a pesquisa na área, bem como profissão na atualidade, mas, sobretudo,
outros referenciais teórico-metodológicos para como capaz de modificar a pessoa do pro fes-
os projetos de formação docente em serviço. sor, constituindo-o como suje i to autônomo
Entre as novas proposições de formação no mundo. Segundo Alar cão (1996, p. 174),
em serviço que foram formuladas nesse con tex- “reflectir para agir autonomamente parece ser
to, tomamos como foco, aqui, aquelas que pas- uma das expressões-chave no con texto edu -
sam a conceber os professores como cativo internacional deste final do século XX”.
profissionais reflexivos, pelo motivo de essa Nóvoa ex plicita os propósitos dessa mo-
concepção ter orientado a escolha das práticas dalidade quando afirma que
de formação que pesquisamos, assim como pelo
fato de a mesma firmar, como proposta, um a for ma ção deve es ti mu lar uma pers pec ti va
novo repertório de experiência de si no que con- crí ti co-reflexiva, que for ne ça aos pro fes so res
cerne à subjetividade docente na atualidade. os me i os de um pen sa men to autó no mo e que
Grande parte dos projetos de formação fa ci li te as di nâ mi cas de au to for ma ção par ti ci-
docente em serviço em vigor nos dias atuais, no pa da. Estar em for ma ção im pli ca um in ves ti-
Brasil e em outros países, aponta para a impor- men to pes so al, um tra ba lho livre e cri a ti vo
tância de se fomentar a experiência reflexiva no so bre os per cur sos e os pro jec tos pró pri os,
professor (Alarcão, 1996; Nóvoa, 1995; Schön, com vis tas à cons tru ção de uma iden ti da de,
1995; Zeichner, 1998, 1995, 1993), seja pelo que é tam bém uma iden ti da de pro fis si o nal.
re-exame das crenças pedagógicas que com- (1995, p.25)
põem suas decisões cotidianas, seja pela narrati-
va de suas histórias de vida; seja pela análise dos Um dos primeiros estu dos publicados
campos de conhecimento com os quais o profes- na perspectiva de compreender o professor
sor interage; seja pela problematização das fina- como um profissional reflexivo foi produzido
lidades e valor educativo das situações que por Schön (1995), autor cuja principal con tri-
promove; seja, em última instância, pela investi- buição foi a de ter atribuído um novo es ta tu to
gação das condições sociais e históricas que vêm à dimensão prática do trabalho docente, em
atravessando a constituição de sua profissão. contraposição ao modelo de aplicação téc ni ca
Larrosa, ao ana lisar o enfoque reflexivo que reduzia as prá ticas pedagógicas a um es-
na formação do professorado, afir ma que paço de acomodação dos conhecimentos ori-
undos da ciência aplicada.
o que se pre ten de for mar e trans for mar não é Schön concebe a dimensão prática do
ape nas o que o pro fes sor faz ou o que sabe, mas, trabalho profissional como um espaço

218 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


indefinido, incerto, inconcluso, factível de pro- bem como aponta um certo reducionismo des-
duzir situações sin gulares, e que, portanto, ne - sa abordagem, quando esta circunscreve em
cessita ser investigado e compreendido. Nessa demasia o processo de reflexão à prática ime-
perspectiva, a dimensão prática do trabalho diata, abstraindo de seu foco de análise as im-
profissional configura-se incompatível com a plicações sociais e políticas que perpassam as
previsibilidade e o controle ensejados na lógica práticas sociais de ensino. Zeichner irá ainda
do conhecimento técnico. defender que a atividade reflexiva não se pode
Pelo crivo do autor, a inventividade e manifestar por uma ação isolada do sujeito.
criatividade requeridas pelo professor no exer- Segundo este autor, ela exige uma situação re-
cício de seu ofício e os discernimentos au tô no- lacional para ocorrer. A prática reflexiva deve
mos que os professores serão convocados a fa - ser considerada como uma prática eminente-
zer, quando confrontados com os problemas mente social, portanto, só passível de ser de-
concretos que a prática edu cativa confere, só senvolvida como uma ação compartilhada
poderão, contudo, ve rem-se ativados na cons- coletivamente.
ciência docente quando mediados por pro ces- Ao privilegiar os fenômenos da prática
sos reflexivos sis temáticos – investigar, in ter- imediata e as intenções subjetivas do pro fes-
pretar, apropriar-se de intenções. sor como quadro de referência para o pro ces-
O professor, na abordagem de Schön, so reflexivo, corre-se o risco, se gundo
como diz Alarcão (1996, p. 18), Zeichner, de promover na formação docente
um modelo de reflexão que se mostra in com-
tem de as su mir uma pos tu ra de em pe nha men to pleto e limitado, por não estar articulado a
au to for ma ti vo e au to no mi zan te, tem de des co - uma análise que englobe o conjunto de sig ni-
brir em si as po ten ci a li da des que de tém, tem de ficados complexos que atra vessam a edu ca-
con se guir ir bus car ao seu pas sa do aqui lo que já ção escolarizada e que estão situados para
sabe e que já é e, so bre isso, cons tru ir o seu pre - além desse quadro de referência imediato.
sen te e o seu fu tu ro, tem de ser ca paz de in ter- Um outro eixo analítico-crítico sobre a
pre tar o que vê fa zer, de imi tar sem co pi ar, de reflexividade docente é apresentado por Gi-
re cri ar, de trans for mar. Só o con se gui rá se re - roux (1986). Para ele, a atividade reflexiva
flec tir sobre o que faz e so bre o que vê fa zer. deve ser operada pelo professor tendo em vis-
ta não só as problemáticas particulares que
Apesar de os estudos de Schön terem-se ecoam de sua experiência imediata, mas
contraposto diretamente ao modelo teórico da fundamentalmente aquelas que dizem res-
racionalidade técnica, conferindo à expe riên cia peito à cultura institucional na qual está
prática um es tatuto epistemológico de cisivo incorporado e, em última ins tância, as fi na li-
para o desenvolvimento profissional, a abor da- dades e sentidos so ciais, culturais e políticos
gem re flexiva por ele desenvolvida vem sendo que perpassam e orientam o trabalho escolar e
revisitada e am pliada por ou tros autores mais sua própria prática de en sino. Segundo
diretamente envolvidos com a formação es pe- Giroux,
cífica de pro fessores: Zeichner, Contreras, Nó-
voa, Geraldi, etc. a ca pa ci da de de pen sar so bre o pen sa men to
Zeichner (1998, 1995, 1993), por exem- apon ta para um modo de ra ci o cí nio que tem
plo, problematiza a excessiva valorização, con- como ob je ti vo rom per a ide o lo gia ”con ge la da”
ferida por Schön, à autoridade individual do que im pe de uma crí ti ca da vida e do mun do,
profissional para identificar e interpretar as situa- so bre a qual as ra ci o na li za ções da so ci e da de
ções problemáticas que perpassam sua prática, do mi nan te se ba se i am. (p. 249)

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 219
Assim, continua ele, O aporte teórico-metodológico
de nossa pesquisa: a psicologia
é impor tan te que os pro fes so res si tu em suas institucional
pró pri as cren ças, va lo res e prá ti cas den tro de
um con tex to, de for ma que seus sig ni fi ca dos Ao analisarmos, em nos sa pes quisa, os
latentes pos sam ser me lhor en ten di dos. Esse efeitos das práticas formativas vinculadas às
situar di a lé ti co, por as sim di zer, ajuda rá a es cla- abordagens reflexivas, identificamos um mo-
re cer a na tu re za so ci al e po lí ti ca das res tri ções vimento de deslocamento dos objetivos que
es tru tu ra is e ide o ló gi cas com que os pro fes so res configuraram os modelos de formação docen-
se de pa ram di a ri a men te. (p. 253) te em serviço que as precederam; efeitos es tes
que sinalizaram uma dispersão, e mesmo con-
De maneira ge ral, podemos dizer que os tradição, das estratégias pri meiras que ope ra-
autores que propõem a abordagem reflexiva na ram a organização dessas práticas. Nessa
formação docente apontam um esgarçamento perspectiva, estaríamos teoricamente diante
político e cultural do objeto de re flexão en fa ti- de um rearranjo dos propósitos estratégicos
zado por Schön, condicionando a necessidade que suportaram inicialmente o dispositivo
de alargamento do mesmo à capacidade de formativo, na versão “em servi ço”.
transformação das práticas docentes para além Propõe-se, assim, um novo enunciado,
do compromisso ex clusivo com as situações uma nova orientação para a existência de tal
pontuais de sala de aula. prática. Orientação esta que se distingue dos
Os programas recentes de for mação do- motivos ori ginários responsáveis pela for mu-
cente em serviço, em especial aqueles que qua- lação discursiva que inaugurou as práticas de
lificam o professor como um profissional formação em serviço.
reflexivo, apresentam-se como ocasião de con- Para formularmos esse tipo de pro ble-
vencer o professor de sua importância profis- matização, optamos por analisar a formação
sional e pleiteiam va lorizar seus modos de em serviço de professores (pautada no mo de lo
pensar e agir, convocando-o a saber-se suje i to reflexivo) não pelos registros acadêmicos, le-
do conhecimento, gestor pri mordial da prática gais ou estatais que a informam e a con ver tem
educativa que desenvolve, investigador de si em propos ta formativa na atual re alidade
mesmo, ex perimentador autônomo de seu ofí- educacional brasileira. Buscamos, ao con trá-
cio, cen tro decisório das transformações que rio, analisá-la como ato, na concretude mes-
deverá operar em sua prática cotidiana. ma de seu fazer particular, pela via de um de
Não mais sendo ordenada por um con ti- seus protagonistas centrais: o professor.
nente de conhecimentos externo aos seus Tratou-se de investigar os meandros
protagonistas, a formação em serviço cir cuns- cotidianos desse fazer e propor uma certa vi-
tanciada no modelo teórico-reflexivo for mu- sibilidade sobre o modelo forma ti vo-reflexivo
la-se como uma prática segundo a qual o e seus efeitos na profissionalidade docente
professor or questraria sua conduta pro fis si o nal pelo crivo de um olhar institucionalista. Ou
via um procedimento sis temático de in ves ti ga- melhor, pe los matizes es pecíficos de um certo
ção de si. conceito de instituição e subjetividade.
Como essa nova inserção for mativa vem Cumpre esclarecer que um universo
atuando nas práticas concretas de for mação? teórico específico orientou a proposição, re a-
Que novos efeitos são inscritos na experiência lização e con clusões de nos sa pes quisa: a psi-
docente? Quais modos de se saber professor cologia ins titucional (Guirado, 1994, 1986;
elas promovem? Aquino, 1996, 2000).

220 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


Pautados na concepção de que toda ins- sua plataforma exis tencial presente, pelo me-
tituição configura um conjunto de práticas ou nos duas promessas, certamente mo bi li za do-
relações sociais, as quais são disparadas por de- ras de um elevado grau de reconhecimento
terminado aparato discursivo, que define a um social, qualificar os saberes docentes e, por
só tempo seu acontecimento, seus mo vimentos extensão, plasmar a qualificação do professor
e os lu gares de seus protagonistas, pro pu se- à prática de ensino por ele desenvolvida.
mo-nos a recompor analiticamente a formação Promessas nada desprezíveis a julgar
em serviço de professores como uma prática pela renitente desqualificação que assola a
institucional, ou seja, um certo tipo de rede re- escola pú blica contemporânea! Contudo, vale
lacional produzida no âmbito es colar con tem- indagar: Que efeitos ins tituintes essa prática
porâneo, acionada e mo bilizada coti di a na men- vem produzindo? Esses efeitos corroboram
te por um corpus de saberes, técnicas de ação suas promessas atua is?
ou referentes que a legitimam na sua es pe ci fi- Para a compreensão da idéia de “efeitos
cidade e permanência histórica. instituintes”, faz-se ne cessário acessar o con-
Assim, uma compreensão di ferenciada da ceito de subjetividade com a qual a psi co lo gia
concretude da formação em serviço era dis pa- institucional comunga.
ra da à me dida que o conceito de prática (ins ti- Os atores que protagonizam as práticas
tucional) do qual partimos não se apresentava institucionais não seriam possuidores de uma
congruente com um tipo de análise com pul só- substância natural a priori, ou seja, não seriam
ria segundo a qual aquilo que se diz da for ma- portadores de uma certa es sência que os de fi-
ção em serviço no campo das idéias (crenças, nisse de antemão, à revelia de qual quer si tu a-
projetos e expectativas) se justaporia ou co- ção relacional em que os mesmos se vis sem
mandaria o modo pelo qual se produz co ti di a- implicados. Ao contrário de uma visão uni ver-
namente a própria ação formativa. sal de subjetividade (de um sujeito-expressão
Nosso pressuposto investigativo vislum- de razões transcendentais), os sujeitos se de-
brou uma direção outra: há um nível de proces- finiriam concretamente ao serem situados em
sualidade nas práticas concretas que, apesar de práticas institucionais es pecíficas, atreladas a
serem afetadas por determinadas redes de forças um contexto discursivo particular. Sujeitos
discursivas, produzem acontecimentos ímpares constituídos no exer cício mesmo das re lações
no movimento mesmo de sua existência. Esses que vivenciam. Um sujeito em prática;
acontecimentos mostram-se como efeitos cria- sujeito-de-lugar:
dos em meio à atualização cotidiana que toda vi-
vência relacional institucionalizada possibilita. Isso sig ni fi ca que o su je i to, nos ter mos da con -
De acordo com o plano teórico da psi co- cep ção ins ti tu ci o na lis ta aqui de fen di da, só
logia institucional, a permanência de de ter mi- pode ser pen sa do na me di da em que pode ser
nada prática institucional, ou mesmo sua si tu a do num com ple xo de lu ga res e re la ções
dilatação para outros ter ritórios relacionais con cre tas (re la ções sem pre ins ti tu ci o na li za-
(por exemplo, a migração de marcas dis cur si vas das, por tan to). A no ção de su je i to psi co ló gi co
da prá tica formativa para a prática de ensi no), pas sa a im pli car, des sa for ma, o lu gar ins ti tu-
serão configuradas ou não pelo poder de re co- ci o nal a par tir do qual pode ser re gi o na li za do
nhecimento so cial de suas promessas, aliadas no mun do (su je i to sem pre ins ti tu ci o nal, por -
aos efeitos que essa prática ins titucional po de- tan to). Su je i to que só o é, de fato, como efe i to
rá produzir num dado contexto histórico. de uma equa ção ins ti tu ci o nal que re quer obri -
Por esse aspecto, as práticas de formação ga to ri a men te um ou tro com ple men tar (uma
de professores em serviço apresentariam, em re la ção pon tu al, por tan to). E, sen do as sim,

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 221
que ocu pa um lu gar de ter mi na do em re la ção a riência de si mais livre e autônoma, não tra ta-
ou trem (par ce i ro de uma re la ção ins ti tu ci o na li- mos de averi guar em nossa pes quisa os saldos
za da, por tan to). E que o faz sem pre de modo positivos de seu curso no âmbito insti tu ci o-
sin gu lar. Ou seja, está in se ri do em uma re la ção, nalizado ou, então, de identificar suas in cor-
ocu pa um lu gar de ter mi na do nes sa re la ção, e reções com o intuito ingênuo de novamente
dele se apo de ra se gun do uma ma ne i ra es pe cí fi- ajustá-las ao itinerário preestabelecido pela
ca, isto é, uma po si ção. (Aqui no, 2000, p.18). instância teórica que a formulou.
Não partimos, pois, do pressuposto de
Pensemos a prá tica formativa (em ser vi- que o que está em jogo nessa lógica se ria a
ço) de professores. É possível afirmarmos que promoção de um certo es paço pedagógico
ela ina ugura historicamente o lugar de “pro fes- que criasse oportunidades fa voráveis para que
sor em formação”, disparando os contornos a essência da quilo que por algum mo tivo te ria
discursivos que ativarão a concretude da re la- se corrompido retornasse ao seu curso nor-
ção e certos estados de subjetivação docente. mal. Por último, não tomamos as prá ticas
Produção histórica, funda-se aí também a ins- concretas apenas como luga res de “me di a-
titucionalização de novas experiências de si. ção” para que a subjetividade docente en con-
Daí a sub jetividade ser efeito, e não pre cursora. trasse fi nalmente os recursos, até então
No tem po presente, é pos sível afir mar- sonegados, para o pleno desenvolvimento de
mos que há um conjunto de sa beres e técnicas sua autoconsciência, autodeterminação e au-
na prática formativa que qualificam modos to-reflexão, transformando-se su postamente
peculiares para a apropriação do lugar de pro- naquilo que já eram desde o princípio.
fessor em formação, os quais apresentam pos- As práticas ins titucionais concretas são,
sibilidades mo delares para sua ocupação – sobretudo, ins tâncias de produções inédi tas
“professor reflexivo”, “professor in vestigativo”, condição esta não passível de ser evidenciada
“professor transformador”, “pro fessor pessoa” de antemão pe los discursos teóricos. Por isso,
são faces das configurações atua is inventadas foi preciso conduzirmo-nos com um olhar
desse lugar. menos ca tivo às ordenações teóricas prévias,
Os dis cursos teóri cos informantes des ses capaz de oferecer visibilidade aos seus mo vi-
lugares, pelo crivo analítico no qual estamos mentos e construções peculiares.
sustentados, apresentam-se a nós como pos si- Isso posto, nosso principal objetivo foi,
bilidades contingenciais de existência docente. de um lado, o de conferir uma certa visibilida-
Isto é, essas novas conformações pautadas no de à “experiência de si” por parte dos docentes,
modelo de formação reflexiva não foram to ma- quando conformada às modulações de profes-
das como a maneira idealizada de ocupar o sor reflexivo; produzida no próprio aconteci-
posto docente ou como a possibilidade de res- mento concreto das práticas relacionais que a
taurar uma re lação supostamente distorcida dispararam; de outro lado, de evidenciar os
que o professor em formação cons tituiu con si- efeitos que essa experiência vem produzindo
go mesmo até então particularmente se aten- na subjetividade docente e quais movimentos
tássemos para a inegável violência prescritiva são protagonizados no seu interior.
que o modelo corretivo de formação em ser vi-
ço, gerido pela razão científica, compu tou à ex - As vicissitudes da formação
periência docente. reflexiva
Mesmo que essa nova marca subjetiva –
“professor reflexivo” – pos sa ser compreendida Os projetos e propostas de formação de
como potencialmente me diadora de uma ex pe- professores em serviço na atualidade, vincu la-

222 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


dos a uma abordagem reflexiva so bre a pro fis- mente pelo afastamento dos pro fessores dos
são, vêm concorrendo como uma das ações objetos de re flexão pri vilegiados nas ati vi da-
desestabilizadoras do eixo discursivo segundo des de formação e pelo (re)alocamento de
o qual as características distintivas da pro fis são seus esforços e conjecturas reflexivas num
foram an teriormente no meadas, reconhecidas e outro diagrama de proposições.
legitimadas. Dito de outra forma, ao serem convi da-
As formas clássicas quando in ter cep ta das dos a refletirem sobre situações oriundas do
por uma vivência for mativa de caráter con tí- universo concreto de seu ofício, os pro fes so-
nuo, coletivo e reflexivo, parecem ver-se aba la- res parecem ser convocados a operar um des -
das em sua consistência e naturalidade, oca si o- lizamento desses obje tos, ins talando suas
nando um nítido processo de realocamento das reflexões sobre os códigos estruturantes da
qualidades até então constitutivas e no meá ve is profissão, ou seja, sobre o lugar do professor
da profissão. no cenário es colar da atualidade.
Vejamos como isso se dá nas entrevistas Re cor ra mos a um exem plo cla ri fi ca dor
com os docentes, quando eles estão a viver a des se mo vi men to para me lhor apre en dê-lo.
prática concreta da formação em serviço pa u ta- Em uma si tu a ção de tra ba lho no in te ri or da
da no modelo reflexivo. prá ti ca for ma ti va, ao se rem mo bi li za dos a re -
As práticas re flexivas que investigamos fle tir so bre a te má ti ca “ava li a ção” – con vi da-
propõem pa utas de trabalho vinculadas a um dos a ana li sar o pró prio plano ava li a ti vo que
grupo de temáticas que or bitam no interior da de sen vol vem, a ler tex tos que pro ble ma ti zem
ação pedagógica. Enfatizando um ou outro as- e fun da men tem te o ri ca men te essa te má ti ca,
pecto, a proposição de temáticas no es paço a in ves ti gar so bre as fi na li da des so ci a is dos
formativo tem como objetivo mobilizar atos re- pro ces sos de ava li a ção es co lar que ado tam
flexivos nos pro fessores por meio de con te ú dos ou pro du zir ins tru men tos e re gis tros ava li a-
que suscitem questões relativas à dimensão ti vos para se rem so ci a li za dos co le ti va men te,
técnica, teórica e so cial de seu ofício. os pro fes so res operam como que um des vir-
A re levância das temáticas eleitas como tu a men to des ses pro pó si tos ao (re)alo ca rem
conteúdo de trabalho jus tifica-se, no geral, suas re fle xões em um ou tro pla no de
pelo vínculo que elas possuem em rela ção às si- in da ga ções.
tuações extraídas do processo de ensino em Indagam-se ta citamente por que estão
sala de aula. Esse vínculo representaria a pró- a fazer isso, por que precisam revisar ou
pria condição de suas escolhas. (re)visitar sua prática profissional siste ma ti-
As situações de ensino migradas para o camente: A au toridade de professor já não
espaço formativo de sempenham uma função lhes basta? Os saberes e esforços acumulados
primordial nessa mo dalidade, pelo fato de elas na vivência da sala de aula não são su ficientes
presentificarem o uni ver so stricto sensu da para referendar seu desenvolvimento profis-
ação profissional e servirem como es ti mu la do- sional? Por que estão eles tendo de discutir
ras con cretas dos es forços reflexivos que os publicamente aquilo que pen sam e realizam
professores irão acionar. Assim, elas fun ci o na- em sala de aula? Por que precisam, ago ra,
riam, ao mesmo tempo, como objeto tran si ci o- mostrar para um “outro” aquilo que sabem
nal en tre o âmbito da sala de aula e o da fazer e que sempre desenvolveram sozinhos?
formação em serviço. Agora é preciso contar sobre seu trabalho,
Esse design de organização da prática transformar suas ações, atuar coletivamente?
formativa acaba por produzir um efei to in só li to Para onde foram os modelos que admitiam in-
em seu percurso, que se configura si mul ta ne a- condicionalmente seus fazeres?

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 223
Essas indagações parecem ser o motivo Por último, e talvez o deslocamento que
pelo qual as falas docentes muito pou co ou parece ser mais penoso de ser in cor po ra do: as
quase nada dizem especificamente so bre as te - práticas de formação em serviço arremessam a
máticas ou situações en focadas nos grupos de profissão docente a uma condição de per ma-
formação, ou mesmo da su posta contribuição nente fluidez e revisitação de seu cotidiano, o
da formação em serviço para a qualificação de que pressuporia a (re)criação e revi são con tí-
seu trabalho. São essas indagações mais fortes nuas das ações que realizam, do que deriva
ou mais poderosas do que os ob jetos de re fle- uma reflexão ininterrupta. Esse caráter mu tá-
xão que objetivamente lhes são propostos vel imputado à atividade docente se con tra-
(mesmo que se jam elas produzidas pela exis- poria à imagem de um profissional cuja
tência dos mesmos). consolidação de uma sa piên cia a priori de fi-
Se se pode pressupor que a peculiaridade niria sua característica mai or.
do exercício reflexivo que os professores re a li- A condição de aprendiz permanente de
zam é fortalecida pe las condições discursivas seu ofício, legitimada pe los ei xos acima in di-
objetivadas no ce nário das práticas formativas cados, convo ca o professor a criar um novo
em servi ço, pode-se supor também que o acon- tipo de relação consigo mesmo, no vos pro ce-
tecimento cotidiano desse exercício cer ta men te dimentos de conduta na fabricação de si. Pro-
coloca em suspensão muitas das in ten ci o na li- põe, primordialmente, uma nova regulação
dades dos procedimentos de trabalho que ética para sua atividade profissional.
orientam a or ganização des sas práticas, Disso decorre que, se os re ferenciais éti-
“comprometendo” os re sultados imediatos cos de seu ofício estavam antes sustentados
que, em particular, seus mentores teóricos num “dever ser” que se pautava na re posição
projetam. de conhecimentos avalizados pelo estatuto
Conforme os resultados de nossa pes qui- científico, bem como numa adequação, com
sa, os principais efeitos derivados da inscrição maestria, dos saberes e técnicas emprestados
em práticas for mativas, organizadas pelo mo- de um “ou tro” pen sante, o professor vinha
delo teórico do professor reflexivo, orbitariam cumprindo sua existência, de um modo ou de
em torno de três eixos cen trais. outro, se gundo a oferta paulatina de tais sa-
Os dois primeiros eixos localizam-se na beres no percurso das aulas.
dimensão relacional da ação docente, pre ci sa- O que se esperava do aluno era uma en-
mente no deslocamento promovido pela com- trega convicta à autoridade do professor, uma
posição dos parceiros com quem comumente os fidelidade inconteste à sua oferta. E ali, o pro-
professores exerciam suas atividades pro fis si o- fessor estava convicto de ser tudo o que de ve-
na is. Eles passam a dividir sis tematicamente ria ser. Trocando em miúdos, tratava-se de
seu trabalho não mais apenas com os alunos – uma ética que se modulava pelo ato virtuoso
parceiros históricos de seu ofício – mas com os de conduzir o outro a descobrir a or dem do
próprios pa res. O “outro” agora é o próprio co- mundo por intermédio de uma autoridade
lega professor. que se pautava exatamente na não re ci pro ci-
Outro des locamento remete ao esta do dade do vínculo en tre aluno e professor, as-
sob o qual, culturalmente, os professores vêm sim como no isolamento dos vínculos en tre os
desenvolvendo suas atividades. De uma prática próprios professores.
profissional alicerçada no isolamento, peculiar Em nossa perspectiva, há, na ex pe riên-
ao âmbito da sala de aula, eles passam a vi vi fi- cia singular da prática reflexiva da formação
car um modelo de profissão que é baseado na em serviço, um forma to de profissionalidade
gestão coletiva e pú blica do ofício. em transição, que arremessa a profissão a um

224 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


“dever ser” delegado a si mesma. Quase ao parece estar sendo clamada pelo professor, a
avesso do molde de sujeição anterior, segundo si mesmo, reiteradamente: “quem se é
o qual seu status profissional es tava co di fi ca do profissionalmente?”.
por um tipo de ação embalada por um modo de Pelos efeitos que a prática reflexiva ins-
competência passi va e uma definição de ofí cio taura nos professores, o lugar docente pa rece
migrada da égide científica, esse novo formato estar sendo lan çado no vácuo da dú vida e da
incita o professor à adoção de um conjunto de incerteza cotidianamente, fato que lança pro-
condutas que o dispensa de ser um agente de messas de gestação inéditas no e do professor
repetição de modelos pré-fabricados para lan- sobre sua condição na atualidade.
çá-lo na perscrutação de si mesmo. Se se pode dizer que o professor na prá-
Uma nova ordem de codificação coloca-se tica formativa atual des virtua o fazer re fle xi vo
para o pensar-se professor. Um novo modo de que lhe é proposto, es quivando-se por vezes
“saber de si” no fulcro da prática formativa é en- dos objetos do “saber como”, do “saber so bre”
tão disparado e conferido ao professor. e do “saber por que” de seu ofício, é também
A experiência dessa vivência peculiar possível di zer que o professor não escapa da
contemporânea, acreditamos, obriga os suje i- afetação discursiva de um outro “dever ser”,
tos-professores desse tempo a co gitarem so bre forjado nos lugares que ocupa no cenário des -
quem são diante das novas ingerências do pre- sa prática. Afe tação que lhe incita um con jun-
sente sobre a profissão, quase a exigir que o to outro de proposições reflexivas. É a aflição
professor dilate antigos códigos do “dever ser” de um novo paradigma de “dever ser”, anun-
da profissão e se insira no interior de seu pró- ciado pela prática de formação reflexiva, que
prio presente. Que, en fim, ele aprenda a se ver lhe provo ca um acentuado “desconforto”,
altercado pe las teorias educacionais que o le gi- restando-lhe, ao que parece, a inevitabilidade
timam como um sujeito da reflexão, auto de ter- da pergunta permanente so bre quem se
minação e autonomia. é/quem já não se é.
Nas vozes dos professores: não para mi- Assim, estamos diante de um suje i to
metizar essa nova roupagem, como talvez en - que, justamente por seus paradoxos, dá mos-
sejariam seus mentores, mas justamente para se tras de seu fazer reflexivo. Uma subjetividade
haverem com ela. que, simultaneamente, já não é o “antes”,
No rastreamento da mai o ria das falas dos mas, ao mesmo tempo, ain da não sabe seu
docentes em nossa pesquisa, uma pergunta “depois”.

Referências bibliográficas

ALARCÃO, Isa bel. Ser pro fes sor refle xi vo. In:________. (org.) For ma ção re fle xi va de pro fes so res: estra té gi as de
su per vi são. Por to: Por to Edito ra, 1996. p.171-189.

AQUINO, Ju lio G. Do co ti di a no esco lar: en sa i os so bre a éti ca e seus aves sos. São Pa u lo: Sum mus, 2000.

________. Con fron tos na sala de aula: uma le i tu ra ins ti tu ci o nal da re la ção pro fes sor-aluno. São Pa u lo: Sum mus, 1996.

BARBIERI, Ma ri sa R.; CARVALHO, Cé lia P.; UHLE, Águe da B. For ma ção con ti nu a da dos pro fissi o na is de en si no: al gu mas
con si de ra ções. Ca der nos Ce des. Cam pi nas: Pa pi rus, n. 36, p. 29-35, 1995.

CONTRERAS, José. La au to no mía del pro fe so ra do. Ma drid: Mo ra ta, 1997.

DEMO, Pe dro. For ma ção per ma nen te de for ma do res: edu car pela pes qui sa. In: MENEZES, Luiz C. (org.) Pro fes so res:
for ma ção e pro fis são. São Pa u lo: Auto res Asso ci a dos, 1996. p. 264-297.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 225
FORQUIN, Je an-Claude. Esco la e cul tu ra: as ba ses so ci a is e epis te mo ló gi cas do co nhe ci men to es co lar. Por to Ale gre: Artes
Mé di cas, 1993.

FUSARI, José C. For ma ção con tí nua de edu ca do res: um es tu do de re pre sen ta ções de co or de na do res pe da gó gi cos da
Se cre ta ria Mu ni ci pal de Edu ca ção de São Pa u lo (SMESP). São Pa u lo; 1997. Tese (Dou to ra do) – Fa cul da de de Edu ca ção,
Uni ver si da de de São Pa u lo.

_____. A edu ca ção do edu ca dor em ser vi ço: o tre i na men to dos pro fes so res em ques tão. São Pa u lo; 1988. Dis ser ta ção
(Mes tra do) – Fa cul da de de Edu ca ção, Pon ti fí cia Uni ver si da de Ca tó li ca de São Pa u lo.

GERALDI, Co rin ta M. G.; FIORENTINI, Da rio; PEREIRA, Eli sa be te M. Tra je tó ria de um tra balho co le ti vo: apon ta men tos para
uma epis te mo lo gia da prá ti ca. In:________. (orgs.) Car to gra fi as do tra ba lho do cen te: pro fes sor(a)-pes qui sa dor(a).
Cam pi nas: Mer ca do das Le tras, 1998. p. 11-19.

_____; MESSIAS, Ma ria da Gló ria M.; GUERRA, Mí ri am D.S. Re fle tin do com Ze ich ner: um en con tro orien ta do por
pre o cu pa ções po lí ti cas, teó ri cas e epis te mo ló gi cas. In: GERALDI, Co rin ta M. G.; FIORENTINI, Da rio; PEREIRA, Eli sa be te
M. (orgs.) Car to gra fi as do tra ba lho do cen te: pro fes sor(a)-pes qui sa dor(a). Cam pi nas: Mer ca do das Le tras, 1998, p.
237-274.

GIROUX, Henry. Te o ria crí ti ca e resis tên cia em edu ca ção: para além das te o ri as de re pro du ção. Pe tró po lis: Vo zes, 1986.

GUIRADO, M. Psi ca ná li se e aná li se do dis cur so: ma tri zes ins ti tu ci o na is do su je i to psíqui co. São Pa u lo: Sum mus, 1994.

_____. Insti tu i ção e re la ções afe ti vas: o vín cu lo com o aban do no. São Pa u lo: Sum mus, 1986.

HARGREAVES, Andy. Pro fe so ra do, cul tu ra y post mo der ni dad: cam bi an los ti em pos, cam bia el pro fe so ra do. Ma drid:
Mo ra ta, 1998.

LARROSA, Jor ge. Tec no lo gi as do eu e edu ca ção. In: SILVA, To maz Ta deu (org.) O su je i to da edu ca ção: es tu dos
fou ca ul ti a nos. Pe tró po lis: Vo zes, 1994. p. 35-86.

NÓVOA, Antó nio. For ma ção de pro fes so res e pro fis são do cen te. In:________. (co ord.) Os profes so res e a sua for ma ção.
Lis boa: Nova Enci clo pé dia, 1995. p. 15-33.

SAUL, Ana Ma ria. For ma ção per ma nen te de edu ca do res na ci da de de São Pa u lo. ANDE. São Pa u lo: Cor tez, pp.63-67,
1993.

SCHÖN, Do nald A. For mar pro fes so res como pro fis si o na is refle xi vos. In: NÓVOA, Antó nio, (co ord.) Os pro fes so res e a sua
for ma ção. Lis boa: Nova Enci clo pé dia, 1995. p. 77-91.

SILVA, To maz Ta deu. Iden ti da des termi na is: as trans for ma ções na po lí ti ca da pe da go gia e na pe da go gia da po lí ti ca.
Pe tró po lis: Vozes, 1996.

SMESP – Se cre ta ria Mu ni ci pal de Edu ca ção da cida de de São Pa u lo. Gru pos de For ma ção: uma (re)vi são da edu ca ção do
edu ca dor. Ca der nos de for ma ção – CODOT-EIA/RT002/90. São Pa u lo, 1990.

VEIGA-NETO, Alfre do. Michel Fou ca ult e edu ca ção: há algo de novo sob o sol? In:________. (org.) Crí ti ca pós-estruturalista
e edu ca ção. Por to Ale gre: Edi to ra Su li na, 1995. pp. 9-56.

ZEICHNER, Ken neth M. Para além da di vi são en tre pro fes sor-pesquisador e pes qui sa dor aca dê mi co. In: GERALDI, Co rin ta
M. G.; FIORENTINI, Da rio; PEREIRA, Eli sa be te M. (orgs.) Car to gra fi as do tra ba lho do cen te: pro fes sor(a)-pes qui sa dor(a).
Cam pi nas: Mer ca do das Le tras, 1998. p. 207-236.

________. No vos ca mi nhos para o prac ti cum: uma pers pec ti va para os anos 90. In: NÓVOA, Antó nio (co ord.) Os
pro fes so res e a sua for ma ção. Lis boa: Nova Enci clo pé dia, 1995. p. 115-138.

________. A for ma ção refle xi va de pro fes so res: idéi as e prá ti cas. Lis boa: Edu ca, 1993.

226 Julio Groppa AQUINO e Mônica Cristina MUSSI. As vicissitudes da...


Re ce bi do em 31/07/2001
Apro va do em 19/11/2001

Julio Groppa Aquino é docente do Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, na área de Psicologia da Educação.

Mônica Cristina Mussi é coordenadora pedagógica junto à Rede Municipal de Ensino de São Paulo, e doutoranda do
Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001 227

Você também pode gostar