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Desenho e Representação Gráfica 2. Noções Propedêuticas em Desenho


Técnico

Chapter · September 2018

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Filipe Marques Paulo Flores


University of Minho University of Minho
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Desenho e
Representação
Gráfica
2. Noções Propedêuticas
em Desenho Técnico

Filipe Marques | Paulo Flores | António P. Souto

Universidade do Minho
Escola de Engenharia

Guimarães 2018
ÍNDICE

2. Noções Propedêuticas em Desenho Técnico............................................... 1

2.1. Materiais e Equipamentos ....................................................................... 1


2.2. Formatos de Papel ................................................................................... 5
2.3. Escrita Normalizada ................................................................................ 7
2.4. Tipos de Linhas ....................................................................................... 9
2.5. Elementos Gráficos das Folhas ............................................................. 11
2.6. Legenda e Lista de Peças ....................................................................... 12
2.7. Arquivo e Dobragem ............................................................................. 14
2.8. Revisão de Conhecimentos ................................................................... 15
2.9. Bibliografia Recomendada .................................................................... 16
A lei suprema da arte é a representação do belo.
Leonardo da Vinci

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO

2.1. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS


É por demais evidente que, ao longo dos tempos, os materiais e equipamentos uti-
lizados em desenho técnico têm acompanhado as evoluções tecnológicas. Nos pri-
mórdios do desenho usava-se, fundamentalmente, o lápis e a régua. Posteriormente
surgiu a régua T e a prancheta, seguidas da máquina de desenhar. Mais recentemente
apareceram, e tornaram-se populares, os sistemas computacionais de auxílio ao dese-
nho técnico. Atualmente, há diversas soluções para modelar bi e tridimensionalmente
objetos, com a possibilidade de conexão à impressão 2D e 3D, à manufatura e à pro-
dução (Silva et al., 2004).
Com efeito, para registar e veicular a informação em desenho técnico é necessário
utilizar materiais, equipamentos e instrumentos apropriados, tais como, por exemplo,
o papel, o lápis, a borracha, o computador, entre muitos outros. É oportuno referir
que os desenhos técnicos devem ser claros, limpos, arrumados e, evidentemente, le-
gíveis para que possam cumprir o seu propósito. Por conseguinte, é extremamente
importante que os projetistas e engenheiros estejam habilitados para executar os seus
desenhos técnicos com rapidez, rigor, legibilidade e clareza. A qualidade gráfica dos
desenhos técnicos depende, em larga medida, do treino do desenhador e dos equipa-
mentos utilizados. De seguida faz-se uma muito breve descrição dos principais mate-
riais e equipamentos a considerar no âmbito do desenho e representação gráfica (Cu-
nha, 2008; Flores e Marques, 2017b).
O papel surge naturalmente à cabeça como material a usar na elaboração de dese-
nhos técnicos. Para a execução de desenhos a lápis deve utiliza-se papel branco liso,
opaco e que apresente boas caraterísticas quando o traço a lápis é apagado. Uma das
principais qualidades do papel prende-se com o seu peso por unidade de superfície, o
qual é expresso em g/cm2. O papel de uso corrente em desenho técnico tem uma
gramagem que varia entre 63 ou 120 g/m2, tal como o que se ilustra na figura 2.1.
Pode afirmar-se que a gramagem é uma medida indireta da espessura das folhas de
papel (Cunha, 2008). Quanto aos formatos de papel, hoje em dia, as tipologias A4 e
A3 são os mais comummente utilizadas (Morais, 2009). Os formatos de papel serão
objeto de estudo aprofundado na secção seguinte.

Figura 2.1 – Exemplos de papel de uso frequente nas representações em desenho técnico.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 1


O lápis e a lapiseira são, por excelência, os instrumentos de trabalho em desenho
técnico. A figura 2.2 mostra um lápis e uma lapiseira. Em geral, as minas dos lápis
são caraterizadas pela sua dureza, a qual é frequentemente representada pelas letras
H (hard), F (firm) e B (black). A escala de dureza das minas é estabelecida pela
combinação daquelas letras entre si e/ou com algarismos (Cunha, 2008). As minas
das lapiseiras, sendo das mesmas caraterísticas das minas dos lápis, apresentam di-
versos diâmetros. Graças às vantagens e convenientes face aos lápis, as lapiseiras
são, sem dúvida, mais frequentemente utilizadas em desenho técnico, sendo que as
minas de 0,5 mm de diâmetros são as mais populares. A figura 2.2c mostra a maneira
correta de pegar num lápis ou numa lapiseira.

(a) (b) (c)


Figura 2.2 – (a) Lápis; (b) Lapiseira; (c) Modo correto de pegar num lápis ou lapiseira.

Para apagar os desenhos executados com lápis ou lapiseira deve utilizar-se uma
borracha branca, macia e compatível com o trabalho a realizar, de tal modo que não
se danifique a folha de papel durante o apagamento. Deve chamar-se a atenção para o
facto de a borracha dever estar sempre limpa e que aquela apenas elimina, com su-
cesso, os traços leves. Na utilização da borracha, devem estar presentes as técnicas e
regras básicas ensinadas na escola primária, designadamente no que diz respeito ao
fixar e esticar da folha de papel. A figura 2.3 mostra uma borracha de uso frequente
em desenho técnico. Deve evitar-se o uso de borrachas de tinta, uma vez que apre-
sentam elevada abrasividade e, por isso, facilmente danificam o papel de desenho.

Figura 2.3 – Exemplo de borracha branca e macia.

De entre os instrumentos de auxílio ao traçado de linhas, letras, algarismos e sím-


bolos em desenho técnico destacam-se a régua T, o esquadro, o compasso, a cércea e
o escantilhão, tal como mostra a figura 2.4. A régua T, tal como o próprio nome su-
gere, apresenta o formato de um tê, é um instrumento bastante facilitador e útil nos

2 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


traços retos longos. Os esquadros são triângulos retângulos que podem apresentar
dois ângulos de 45º, ou ângulos de 30º e 60º, evidentemente para além do ângulo de
90º. Estes instrumentos são úteis no traçado de linhas retas horizontais, verticais e
inclinadas, sendo bastante utilizados em combinação com a régua T. Por seu lado, o
compasso serve, essencialmente, para desenhar arcos de circunferência e circunfe-
rências. A cércea é um instrumento destinado ao traçado de curvas genéricas. As
cérceas podem ser rígidas ou flexíveis, sendo que as últimas se podem mais facil-
mente adaptar às curvas a desenhar. Há ainda os escantilhões que permitem traçar de
forma expedita circunferências, elipses, letras, algarismos e símbolos específicos.

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)


Figura 2.4 – Principais instrumentos de auxílio no traçado de linhas em desenho técnico:
(a) Régua T; (b) Esquadros; (c) Compasso; (d) Cércea; (e)-(f) Escantilhões.

Os principais instrumentos de medição utilizados em desenho técnico são a régua


graduada (vulgo escala) e o transferidor (Cf. figura 2.5). Estes instrumentos servem
para medir e marcar comprimentos ou ângulos, respetivamente. Em geral as réguas
graduadas são feitas em material polimérico e com secção trapezoidal, tal como a
que se mostra na figura 2.5a, em que a graduação em mm está na superfície biselada,
ficando assim mais próxima do desenho. De uma maneira geral, as dimensões linea-
res são expressas em milímetros (mm). Por seu lado, os transferidores são usados
para medir e marcar ângulos, usualmente expressos em graus (º).

(a) (b)
Figura 2.5 – Principais instrumentos de medição utilizados em desenho técnico: (a) Régua
graduada de 20 cm; (b) Transferidor semicircular.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 3


No contexto da sala de aula, é bastante prático e simples utilizar o esquadro do ti-
po do apresentado na figura 2.6, pois dispõe de um vasto leque de caraterísticas im-
portantes na execução de desenhos técnicos.

Figura 2.6 – Esquadro de uso corrente em desenho técnico em ambiente de sala de aula.

A prancheta e o estirador são dos principais equipamentos utilizados em desenho


técnico (ver figura 2.7). As pranchetas são formadas por placas retangulares cuja
superfície é lisa e plana, as quais são fixadas a uma estrutura (Cf. figura 2.7a). As
pranchetas podem ser fixas ou portáteis. As pranchetas são ainda parte integrante dos
estiradores (Cf. figura 2.7b), sendo que estas incluem, geralmente, uma máquina de
desenhar (Cf. figura 2.7c).

(a) (b) (c)


Figura 2.7 – (a) Prancheta; (b) Estirador; (c) Estirador com máquina de desenhar.

Os computadores e as impressões são também equipamentos fundamentais no


âmbito do desenho técnico, pois simplificam a execução de desenhos e permitem o
fácil acesso a representações arquivadas (Marques et al., 2017).

(a) (b)
Figura 2.8 – (a) Computador; (b) Impressora para grandes formatos.

4 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


2.2. FORMATOS DE PAPEL
Em geral, os desenhos técnicos são executados em folhas de papel cujo formato é
normalizado de modo a assegurar um arquivo adequado e uma economia de papel.
Os formatos de papel a usar em desenho técnico devem, por isso, cumprir as respeti-
vas normas em vigor. Assim, a norma NP EN ISO 5457:2002 especifica os formatos
de papel a utilizar nos desenhos técnicos. Um dos principais formatos diz respeito à
série A, cuja referência é o A0 (lê-se a-zero) com área igual a 1 m2. Para se obter as
dimensões finais dos lados de uma folha de papel de formato A0 deve considerar-se
que o seu lado maior mede o mesmo que a diagonal do maior quadrado nele inscrito,
tal como se representa na figura 2.9a, donde resulta a seguinte expressão
y  2x (2.1)
em que y denota o maior lado e x é o menor lado.
Considerando novamente que o formato A0 tem uma área igual a 1 m2, então po-
de escrever-se a seguinte equação
xy  106 mm2 . (2.2)
Com efeito, da resolução conjunta das equações (2.1) e (2.2) resultam as dimen-
sões finais dos lados do formato de papel de base A0, ou seja x = 841 mm e y = 1189
mm (Cunha, 2008; Morais, 2009).

A0 (1 m2) A0
A1

A1
y

A2
A3
A3
A2
A4
A4

x x x

(a) (b) (c)


Figura 2.9 – (a) Formato de papel de referência A0 com 1 m de área; (b) Representação da
2

regra da semelhança dos formatos de papel da série A; (c) Regra da bipartição.

No que concerne aos formatos de papel em desenho técnico, devem considerar-se


como bastante relevantes as regras da semelhança e da bipartição (Morais, 2009). A
primeira diz que os formatos sucessivos são constituídos por retângulos semelhantes,
tal como se ilustra na figura 2.9b. Por seu lado, a regra da bipartição preconiza que
qualquer formato imediatamente inferior resulta da divisão a meio do seu lado maior.
A figura 2.9c refere-se à aplicação da regra da bipartição. Por consequência, a área
de cada um dos formatos é metade da do formato imediatamente anterior. Assim, por
exemplo, o formato A1 tem 0,5 m2 de área.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 5


Na tabela 2.1 apresentam-se as áreas e as dimensões dos lados dos principais for-
matos de papel da série A para os formatos bruto e final. Deve chamar-se a atenção
para o facto do formato bruto ser ligeiramente maior que o formato final, porque, de
acordo a norma NP EN ISO 5457:2002, está prevista a existência de uma pequena
margem externa para a fixação do papel. O formato final é, portanto, o formato que
resulta da eliminação das margens externas (Cunha, 2008).

Tabela 2.1 – Áreas e dimensões dos formatos bruto e final da série A.


Área Formato bruto Formato final
[m2] x [mm] y [mm] x [mm] y [mm]
A0 1,0000 880 1230 841 1189
A1 0,5000 625 880 594 841
A2 0,2500 450 625 420 594
A3 0,1250 330 450 297 420
A4 0,0625 240 330 210 297

Como regra geral, os desenhos técnicos devem ser executados no formato de pa-
pel mais pequeno possível da série A, sem, no entanto, descurar a clareza e arruma-
ção da representação. À exceção do formato A4, os demais formatos supramenciona-
dos devem ser utilizados na horizontal, vulgo ao baixo, isto é, com o lado maior na
horizontal. O formato A4 só deve, pois, ser utilizado ao alto (Morais, 2009).
As normas relativas aos formatos de papel fixam ainda os formatos das séries B e
C. Estas séries existem porque nos formatos da série A há uma diferença significati-
va entre dois formatos consecutivos. Pode, por isso, dizer-se que os formatos das
séries B e C são formatos intermédios. Na verdade, as dimensões dos formatos da
série B obtêm-se pela média geométrica das dimensões de dois formatos consecuti-
vos da série A. Por seu turno, as dimensões dos formatos da série C resultam da mé-
dia geométrica de dois formatos consecutivos das séries A e B. Nas séries B e C apli-
cam-se as mesmas regras da série A. Deve reforçar-se a ideia de que em desenho
técnico usam-se, em geral, os formatos da série A (Cunha, 2008; Morais, 2009).
Para além dos formatos da série A, a norma NP EN ISO 5457:2002 preconiza a
existência de folhas de desenho no formato alongado, as quais são obtidas pelo alon-
gamento do lado maior dos formatos da série A. Por outras palavras, os formatos
alongados são obtidos por combinação dos formatos A3, A2 ou A1 (Morais, 2009).
A figura 2.10 exemplifica o alongamento do formato A3. Assim, A3.2 refere-se ao
alongamento do formato A3 combinado com o formato A2 (Costa, 2018).

420
A2
297

A3 A3.2

0
420 594
Figura 2.10 – Formato alongado A3.2, o qual combina o formato A3 com o formato A2.

6 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


2.3. ESCRITA NORMALIZADA
Em desenho técnico toda a escrita deve ser normalizada, ou seja, as letras, os alga-
rismos, os símbolos, etc., devem obedecer às normas correspondentes. De uma forma
geral, as normas da série NP EN ISO 3098:2002 estabelecem as especificações con-
cernentes à escrita normalizada no âmbito da execução de desenhos técnicos, e que
preconizam a utilização de escrita vertical ou direita e escrita inclinada ou cursiva, tal
como se mostra na representação da figura 2.11 (Costa, 2018).

DRG DRG

(a) (b)
Figura 2.11 – Tipos de escrita normalizada recomendada no âmbito do desenho técnico:
(a) Escrita vertical ou direita; (b) Escrita inclinada ou cursiva (Costa, 2018).

Como principais objetivos da escrita normalizada em desenho técnico podem


elencar-se a uniformidade, a legibilidade e ainda a capacidade de reprodução de de-
senhos técnicos sem que haja diminuição da sua legibilidade. Assim, a escrita norma-
lizada justifica-se pela rapidez de execução, pela facilidade de leitura e pelo aspeto
agradável das representações gráficas (Cunha, 2008; Morais, 2009).
A norma NP EN ISO 3098-0:2002 estabelece que a dimensão caraterística da es-
crita é representada pela altura, h, do contorno exterior das letras maiúsculas, tal co-
mo se representa na figura 2.12 (Silva et al., 2004). Aquela norma prevê oito alturas
distintas para a escrita, nomeadamente: 1,8; 2,5; 3,5; 5,0; 7,0; 10,0; 14,0 e 20,0. À
semelhança dos formatos de papel, duas alturas sucessivas da letra obedecem à razão
1 / 2 . As principais dimensões da escrita normalizada estão representadas na figura
2.12 e expressas na tabela 2.2 (Morais, 2009).
h

d a e
b
c

Figura 2.12 – Principais caraterísticas dimensionais da letra normalizada


de acordo com a norma NP EN ISO 3098-0:2002.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 7


Tabela 2.2 – Principais dimensões da escrita normalizada em desenho técnico.
Caraterística Símbolo Tipo A Tipo B
Altura das letras maiúsculas h (14/14) h (10/10) h
Altura das letras minúsculas c (10/14) h (7/10) h
Espaçamento entre carateres a (2/14) h (2/10) h
Espaço mínimo entre linhas b (20/14) h (14/10) h
Espaço mínimo entre palavras e (6/14) h (6/10) h
Espessura das linhas d (1/14) h (1/10) h

A norma NP EN ISO 3098-0:2002 estabelece dois tipos de escrita, designadamen-


te a escrita do tipo A e a escrita do tipo B (Cf. tabela 2.2). Assim, combinando estes
tipos de escrita com a escrita vertical e inclinada resulta um total de quatro formas
possíveis de escrita normalizada em desenho técnico. Em geral, deve optar-se pela
escrita do tipo A vertical, sendo que a altura da letra deve garantir harmonia e com-
patibilidade com a representação em causa, bem como a sua posterior reprodução. A
altura da letra não deve ser demasiado pequena, nem demasiado grande. Deve garan-
tir-se uma boa proporcionalidade e harmonia do desenho técnico (Cf. figura 2.13).

20

20
20

20 20 20

(a) (b) (c)


Figura 2.13 – (a) Escrita demasiado pequena; (b) Escrita demasiado grande;
(c) Escrita ajustada para a representação em causa.

Finalmente, deve chamar-se a atenção que o uso de linhas guia é fundamental para
o sucesso de escrita normalizada. Em alternativa pode utilizar-se um pequeno retân-
gulo de película fina e transparente como auxílio na escrita normalizada em desenho
técnico (Morais, 2009). Deve ainda referir-se que com a proliferação dos sistemas
CAD, a execução da escrita em desenho técnico tornou-se numa tarefa mais simples
e fácil para os engenheiros e projetistas. A norma NP EN ISO 3098-5:2002 estabele-
ce as principais indicações relativas a escrita em sistemas CAD do alfabeto latino, de
algarismos e sinais.

8 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


2.4. TIPOS DE LINHAS
Nos desenhos técnicos os objetos a representar são materializados através de li-
nhas e traços de diversos tipos, cujo significado é bem preciso. Na verdade, as linhas
constituem os principais elementos dos desenhos técnicos, pois, para além de ajuda-
rem a definir a forma dos elementos dos objetos e sua localização, são fundamentais
na determinação das dimensões e das caraterísticas dos elementos a representar. Por
conseguinte, as linhas dos desenhos técnicos devem, naturalmente, ser legíveis (visí-
veis), uniformes (espessura constante) e claras (contrastantes umas com as outras).
Com efeito, uma execução pouco cuidada no que respeita ao uso dos diversos tipos
de linhas penaliza sobremaneira a qualidade dos desenhos técnicos.
Pode definir-se linha como todo e qualquer elemento geométrico em que o seu
comprimento é maior do que metade da espessura. As linhas podem ser retas, curvas
ou à mão livre e podem ainda incluir traços e/ou pontos (Morais, 2009; Costa, 2018).
Por sua vez, os traços podem ser contínuos, longos ou curtos. Os traços grossos de-
vem ter o dobro da espessura (2d) dos traços finos (d). Em desenho técnico, um pon-
to diz respeito a um traço cujo comprimento é não superior a metade da sua espessu-
ra (Morais, 2009). Deve referir-se que d representa a espessura dos traços finos.
Em desenho técnico, a norma NP EN ISO 128-20:2002 define as linhas e traços a
utilizar nas representações. Já a norma NP EN ISO 128-21:2002 estabelece as regras
relativas à preparação das linhas e dos traços nos sistemas CAD. Na verdade, a nor-
ma NP EN ISO 128-20:2002 prevê uma vasta panóplia de linhas a usar nos desenhos
técnicos, contudo, no contexto do presente documento, devem salientar-se, pela sua
importância e utilidade, os tipos de linhas apresentados na tabela 2.3. De facto, o
traço contínuo grosso, o traço interrompido fino, o traço misto fino, o traço contínuo
fino e o traço contínuo fino à mão livre constituem os cinco principais tipos de linhas
e traços mais frequentemente utilizados em desenho técnico. Por vezes o traço misto
é também representado por um conjunto de traços e pontos, todavia, na prática, o
traço ponto é uma sequência de traços compridos e traços curtos (Cunha, 2008).

Tabela 2.3 – Principais tipos de linhas e traços utilizados em desenho técnico.


Designação Representação Espessura
Linha a traço contínuo grosso 2d
Linha a traço interrompido fino d
Linha a traço misto fino d
Linha a traço contínuo fino d
Linha a traço contínuo fino à mão livre d

A figura 2.14 diz respeito a uma representação onde se pode observar e identificar
os principais tipos de linhas e traços a utilizar em desenho técnico. Naquela represen-
tação estão linhas a traço contínuo grosso que materializam contornos visíveis. A
linha a traço interrompido fino refere-se a um contorno oculto. A linha a traço misto
fino diz respeito a linhas de eixo. A linha a traço contínuo fino à mão livre é relativa
ao limite do corte considerado. Finalmente, as linhas a traço contínuo fino materiali-
zam o tracejado de corte, linhas de chamada ou de extensão e linhas de cota. Atente-
se desde já para o facto de linhas a traço interrompido ou descontínuo serem absolu-
tamente distintas do tracejado. Este último tipo de traço tem um significado preciso,
sendo materializado por um conjunto de traços contínuos finos e paralelos entre si
que evidenciam uma superfície (Cunha, 2008).

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 9


Linha de eixo
Linha de fratura

Linha de contorno visível


Tracejado

Linha de contorno oculto Linha de chamada

Ø20

Linha de cota

Figura 2.14 – Principais tipos de linhas e traços a utilizar em desenho técnico.

As espessuras dos traços a usar em desenho técnico devem ser adequadas e execu-
tados em função dos objetos a representar e do formato de papel utilizado. Em todo o
caso, os traços grossos devem ter uma espessura igual ao dobro da dos traços finos.
As espessuras previstas pelas normas para os traços são as seguintes 0,13; 0,18; 0,25;
0,35; 0,5; 0,7; 1,0; 1,4 e 2,0. Deve chamar-se a atenção que a razão entre duas espes-
suras sucessivas é igual a 1 / 2 . Na prática, para desenhos técnicos executados em
folhas A3 e A4 pode usar-se 0,35 mm (2d) e 0,18 mm (d) para os valores das espes-
suras dos traços grossos e finos, respetivamente. Por seu turno, os intervalos nos tra-
ços interrompidos e nos traços mistos devem ser iguais ao triplo da espessura do tra-
ço fino (3d). Os traços longos nas linhas mistas devem ser iguais a 24d, sendo que os
respetivos traços curtos devem ser iguais a 6d (Costa, 2018). Por seu lado, o espaço
mínimo entre duas linhas paralelas deve ser o dobro da espessura do traço grosso, ou
seja, 4d (Morais, 2009). O cruzamento ou interseção de linhas e traços, bem como a
sua precedência, sendo aspetos bastante importantes em desenho técnico, serão obje-
to de estudo detalhado oportunamente.

10 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


2.5. ELEMENTOS GRÁFICOS DAS FOLHAS
As folhas de desenho incluem um vasto conjunto de elementos gráficos que facili-
tam a execução das representações, bem como a reprodução, o manuseamento e o
arquivo dos desenhos técnicos. De uma maneira geral, os elementos gráficos são
comuns e idênticos a todos os formatos de papel, porém, por simplicidade e comodi-
dade, apenas se apresenta aqui o caso do formato A3. Deve relembrar-se que o for-
mato A3 é utilizado na horizontal. Os principais elementos gráficos das folhas de
desenho são preconizados pela norma NP EN ISO 5457:2002. Com efeito, os ele-
mentos gráficos que neste documento se destacam são os seguintes: a esquadria, as
marcas de centragem e a legenda, tal como se ilustra na representação da figura 2.15.
Deve chamar-se a atenção que no presente contexto se considera apenas o formato
final da folha A3. 10

20 10

A3 (297420)
Esquadria
Marca de centragem

0,7
LEGENDA
10

Figura 2.15 – Principais elementos gráficos das folhas de desenho.

A área de trabalho ou de desenho é delimitada pela esquadria, tal como se pode


observar na figura 2.15. A esquadria é um retângulo desenhado a traço contínuo com
0,7 mm de espessura (Morais, 2009). Na esquadria, a margem de arquivo ou furação
mede 20 mm, ao passo que as restantes margens (i.e. direita, superior e inferior) me-
dem 10 mm. A existência de margens prende-se também com a necessidade de fixar
e puxar o papel aquando da utilização de impressoras para a produção de desenhos.
As folhas de desenho podem também incluir as marcas de centragem que não são
mais de quatro referências na folha que auxiliam no correto posicionamento na re-
produção de desenhos. As marcas de centragem são linhas contínuas com 10 mm de
comprimento e 0,7 mm de espessura (Cf. figura 2.15). As marcas de centragem ficam
igualmente situadas dentro e fora da esquadria, ou seja, 5 mm no interior e 5 mm no
exterior (Costa, 2018).
Um dos elementos gráficos mais relevantes das folhas de desenho é a legenda, que
está situada no canto inferior direito da folha (Cf. figura 2.15). A legenda é delimita-
da por um retângulo e contém informação pertinente da representação em causa. Da-
da a sua importância específica no contexto do desenho técnico, a legenda e os seus
elementos constituintes serão objeto de estudo detalhado na secção seguinte.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 11


2.6. LEGENDA E LISTA DE PEÇAS
A legenda é o elemento gráfico que se utiliza nos desenhos técnicos para veicular
informações e indicações concernentes à sua completa identificação. As principais
indicações que devem constar nas legendas são as seguintes: a designação ou nome
do objeto representado, a identificação dos responsáveis pela realização do desenho
técnico, a identificação da entidade ou pessoa para quem foi feito o desenho técnico,
as informações gerais relativas às caraterísticas da representação (e.g., escala), a refe-
renciação a alterações (Cunha, 2008). A legenda é, pois, o local do desenho onde se
compilam, de forma criteriosa e adequada, as indicações acima apresentadas, cujo
propósito é facilitar e simplificar a leitura, a consulta e a gestão de informação. A
figura 2.16 diz respeito a uma legenda do desenho de uma forqueta (Marques et al.,
2017). A norma NP EN ISO 7200:2002 estabelece as caraterísticas dos campos das
legendas, tais como o nome, o comprimento e o seu conteúdo.

Figura 2.16 – Exemplo de uma legenda preenchida do desenho de uma forqueta.

De acordo com a norma NP EN ISO 5457:2002, as legendas dos desenhos técni-


cos devem estar situadas no canto inferior direito da área útil das folhas, tal como se
exemplifica na figura 2.15. Por seu lado, a norma NP EN ISO 7200:2002 estabelece
os dados necessários e que devem ser incluídos na legenda. Deve chamar-se a aten-
ção para o facto de haver na legenda campos de cariz obrigatório, tais como o propri-
etário legal, o número de identificação do desenho técnico, a data de edição e o nú-
mero de folha (Costa, 2018).
As legendas incluem uma zona de informação adicional onde constam o símbolo
do método considerado na representação, a unidade, a escala, etc. A propósito da
escala deve referir-se que uma escala diz respeito à relação entre a dimensão da re-
presentação e a dimensão real do objeto. Assim, podem existir três tipos de escalas,
nomeadamente a escala de ampliação quando a dimensão da representação é maior
do que a dimensão real do objeto (X:1, em que X>1), escala de redução em que a
dimensão da representação é menor do que a dimensão real do objeto (1:X, em que
X>1) e a escala real ou de verdadeira grandeza (1:1). Neste contexto, a norma NP EN
ISO 5455:2002 estabelece um conjunto de escalas a utilizar em desenho técnico, as
quais se reproduzem na tabela 2.4.

12 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


Tabela 2.4 – Escalas a utilizar em desenho técnico.
Tipo de escala Escalas recomendadas
100:1 50:1 20:1
Escala de ampliação
10:1 5:1 2:1
Escala real ou natural 1:1
1:10 1:5 1:2
1:100 1:50 1:20
Escala de redução
1:1000 1:500 1:200
1:10000 1:5000 1:2000

Quando um desenho técnico diz respeito a um conjunto de peças, a legenda deve


ser complementada com uma lista de peças. A lista de peças, que deve obrigatoria-
mente acompanhar os desenhos de conjunto, inclui informação relativa à produção,
ao aprovisionamento, etc. A norma NP 205:1970 estabelece os requisitos a que a lista
de peças deve obedecer. Fundamentalmente, a lista de peças inclui: a designação da
norma da peça, a referência da identificação da peça, a quantidade de cada peça no
conjunto, o material que constitui a peça, o peso, etc. A figura 2.17 apresenta um
exemplo de uma legenda com lista de peças de um desenho de conjunto de uma uni-
ão cardan (Marques et al., 2017). Deve ainda referir-se que a lista de peças pode ser
preparada e disponibilizada numa folha independente do desenho.

Figura 2.17 – Exemplo de uma legenda com lista de peças do desenho de conjunto rela-
tivo a uma união cardan.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 13


2.7. ARQUIVO E DOBRAGEM
Os desenhos técnicos, depois de realizados, devem ser adequadamente arquivados
e assim facilitar o seu uso ulterior. Com efeito, facilmente se compreende que os
formatos de papel superiores ao A4 devam ser dobrados antes de serem arquivados.
A norma NP 49:1968 estabelece as regras relativas à dobragem de desenhos. Na fi-
gura 2.18 estão representados os modos de dobragem de desenhos nos formatos A0,
A1, A2 e A3. Deve notar-se que após a dobragem, o desenho dobrado apresenta a
dimensão do formato A4 e que a legenda fica no frontispício do desenho dobrado e
claramente visível. Quando os desenhos dobrados são colocados em bolsas, aqueles
devem ser dobrados em harmónio, fazendo primeiro uma série de dobras verticais
• DOBRAGEM
afastadas
(Cunha, 2008).
DOSumaDESENHOS
de 210 mm e depois (Exemplo
série de dobras horizontais ao297baixo)
afastadas de mm

Figura 2.18 – Dobragens de desenhos executados em formato A0, A1, A2 e A3.

14 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA


2.8. REVISÃO DE CONHECIMENTOS
Com o propósito de proporcionar uma revisão de conhecimentos, apresenta-se
nesta secção, um conjunto diversificado de questões relativas aos principais pontos
relacionados com os aspetos gerais em desenho técnico.

1. Diga quais são os principais materiais de uso corrente em desenho técnico em


ambiente de sala de aula.

2. Descreva o modo correto de pegar no lápis.

3. Qual é o formato de papel fundamental em desenho técnico?

4. Diga o valor da área do formato A0.

5. Apresente a regra da semelhança.

6. Exponha a regra da bipartição.

7. Distinga formato bruto de formato final.

8. Qual é a importância da escrita normalizada em desenho técnico?

9. Distinga escrita direita de escrita cursiva.

10. Quais são os principais tipos de linhas utilizados em desenho técnico?

11. Distinga tracejado de linha a traço interrompido ou descontínuo.

12. Diga qual é a espessura da linha grossa recomendada pelas normas para dese-
nhos executados no formato A4.

13. Qual é a razão entre duas espessuras sucessivas de traços?

14. Liste três elementos gráficos das folhas de desenho.

15. Qual é a necessidade e utilidade do uso da esquadria em desenhos técnicos?

16. Diga qual é a importância da legenda num desenho técnico.

17. Qual é a localização da legenda?

18. Defina escala.

19. Qual a importância da lista de peças?

20. Descreva como é feita a dobragem dos desenhos técnicos executados no for-
mato A3.

2. NOÇÕES PROPEDÊUTICAS EM DESENHO TÉCNICO 15


2.9. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
Chevalier, A. (2004) Guide du Dessinateur Industriel. Hachette Technique. Paris.
Costa, R. (2018) Desenho Técnico para Arquitetura, Engenharia e Construção. Quântica
Editora. Engebook, Porto.
Cunha, L.V. (2008) Desenho Técnico. 14ª Edição. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa.
Flores, P., Marques, F. (2017a) Desenho e Representação Gráfica. T.01 – Introdução ao
Desenho Técnico. Universidade do Minho, Guimarães, 28p.
Flores, P., Marques, F. (2017b) Desenho e Representação Gráfica. T.02 – Noções Propedêu-
ticas em Desenho Técnico. Universidade do Minho, Guimarães, 28p.
French, T.E., Vierck, C.J., Foster, R.J. (1993) Engineering Drawing and Graphic Technolo-
gy. 14th Edition. McGraw-Hill.
Giesecke, F.E., Mitchell, A., Spencer, H.C., Hill, I.L., Dygdon, J.T., Novak, J.E. (1999) Te-
chnical Drawing. Prentice Hall, 11ª Edição. Nova Iorque.
Manfé, G., Pozza, R., Scarato, G. (2014) Manuale di Disegno Meccanico. Principato Edito-
re. Milano.
Marques, F., Flores, P., Souto, A.P. (2017) Desenho e Representação Gráfica. 1. Introdução
ao Desenho Técnico. Universidade do Minho, Guimarães, 27p.
Martins, P. (2016) Desenho de Construção Metalomecânica. FCA – Editora de Informática.
Lisboa.
Morais, J.M.S. (2009) Desenho Técnico Básico. Volume 3, Desenho de Construções Mecâ-
nicas. 23ª Edição. Porto Editora, Porto.
NP 205 (1970) Desenho técnico. Lista de peças.
NP 49 (1968) Desenho técnico. Modo de dobrar folhas de desenho.
NP EN ISO 128-20 (2002) Desenhos técnicos. Princípios gerais de representação. Parte 20:
Convenções de base para as linhas (ISO 128-20:1996).
NP EN ISO 128-21 (2002) Desenhos técnicos. Princípios gerais de representação. Parte 21:
Preparação de linhas por sistemas de CAD (ISO 128-21:1997).
NP EN ISO 3098-0 (2002) Documentação técnica de produtos. Escrita. Parte 0: Requisitos
gerais (ISO 3098-0:1997).
NP EN ISO 3098-5 (2002) Documentação técnica de produtos. Escrita. Parte 5: Escrita em
aplicações de desenho assistido por computador (CAD) do alfabeto latino, de alga-
rismos e de sinais (ISO 3098-5:1997).
NP EN ISO 5455 (2002) Desenhos técnicos. Escalas (ISO 5455:1979).
NP EN ISO 5457 (2002) Documentação técnica de produtos. Formatos e apresentação dos
elementos gráficos das folhas de desenho (ISO 5457:1999 incluindo Emenda 1:2010).
NP EN ISO 7200 (2002) Documentação técnica de produtos. Campos de dados em legendas
e cabeçalhos de documentos.
Quinlan, C. (1995) Orthographic Projection Simplified. 5th Edition. McGraw-Hill.
Silva, A., Ribeiro, C.T., Dias, J., Sousa, L. (2004) Desenho Técnico Moderno. 11ª Edição.
Lidel. Lisboa.

16 DESENHO E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

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