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Processos e Mecanismos de Escorregamentos em Filitos

Alterados e Tálus: O Estudo do Talude Ponteio, Belo


Horizonte, Brasil
Landslides Processes and Mechanisms in Weathered Phyllites and Talus:
The Study of the Ponteio Slope, Belo Horizonte, Brazil

Procesos y Mecanismos de Deslizamientos en Filitas Alteradas y Depósitos


Coluviales: Lo Caso del Talud Ponteio en Belo Horizonte, Brasil
Maria Giovana Parizzi, Frederico Garcia Sobreira, Terezinha Cássia de Brito Galvão,
Marcos Antônio Timbó Elmiro

Resumo: Belo Horizonte apresenta uma média de cem ocorrências de escorregamentos por ano. Grande parte desses processos
ocorre em taludes de filitos, cobertos por depósitos de tálus. Alguns taludes, mesmo já possuindo obras de estabilização, sofrem
escorregamentos sucessivos e complexos em quase todos períodos chuvosos, como é o caso do talude conhecido como Ponteio,
localizado em uma das estradas mais movimentadas da cidade. É questionado se nesses casos, os reais mecanismos de ruptura dos
terrenos foram considerados durante o planejamento das técnicas de contenção utilizadas. Este trabalho apresenta uma análise
dos mecanismos de ruptura do Talude Ponteio. Os métodos utilizados envolveram a interpretação de fotografias aéreas de
diferentes anos, estudo dos aspectos morfológicos e geológicos do talude e ensaios geotécnicos de campo e laboratório. Pôde-se
verificar que o Ponteio vem sofrendo sucessivos escorregamentos desde 1953, época de construção da estrada. No talude ocorrem
diferentes tipos de escorregamentos como ruptura em cunha, planar e tombamento do filito, seguidas por fluxo de detritos do tálus
que repousa na face do talude. Esses processos são condicionados principalmente por três fatores: A presença de um sistema
natural de drenagem, as características morfológicas da área e a disposição e grau de alteração das descontinuidades presentes no
maciço. A análise aqui apresentada poderá contribuir para o planejamento de futuras obras de contenção, não somente do Talude
Ponteio, mas também de outros taludes com características físicas semelhantes.
Palavras-chave: mecanismos de ruptura, escorregamentos, filitos alterados, tálus.

Abstract: Every year, in the city of Belo Horizonte, it is registered an average of 100 landslides occurrences. Terrains formed by
phyllites and talus deposits are the most susceptible to landslides. Despite the use of many different stabilization techniques,
successive landslides have occurred in many slopes, like the Slope known as Ponteio, located adjacent to one of the busiest road
of the city. In these cases it is very important recognize the real failure mechanisms that had occurred in the analyzed sites. This
paper presents an analysis of the failure mechanisms of the Ponteio Slope. The methods used in this research include
interpretation of aerial photographs taken in different years, morphological and geological studies and geotechnical
investigations. It was possible to conclude that successive landslides had occurred in this site since 1953, when its declivity was
modified due to the road construction. Different types of landslides were reported such as: wedge failure, planar failure and
toppling of the rock mass, followed by debris flow of talus material rested along the slope face. These processes are triggered
mainly by three factors: a natural drainage system that occurs at the site, morphological aspects and the orientation and
weathering conditions of the rock mass discontinuities. This study may help in planning of future stabilization techniques not only
for Ponteio Slope, but also for other slopes in this region with similar physical aspects.
Key words: failure mechanisms, landslides, weathered phyllites, talus.

Maria Giovana Parizzi, M.Sc, Doutoranda, Profa. Assistente do Departamento de Geologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Campus da Pam-
pulha, Av. Antônio Carlos 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG. e-mail: giece@uai.com.br.
Frederico Garcia Sobreira, Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, DEGEO/UFOP Campus do Morro do Cruzeiro, 35400-000
Ouro Preto, MG. e-mail: sobreira@degeo.ufop.br.
Terezinha Cássia de Brito Galvão, PhD, Profa. Adjunta do Departamento de Geotecnia e Transportes, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Rua Espí-
rito Santo 35, 31160-030 Belo Horizonte, MG. e-mail: cassia@etg.ufmg.br.
Marcos Antonio Timbó Elmiro, M.Sc, Prof. Assistente do Departamento de Cartografia, Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Campus da Pampu-
lha, Av. Antônio Carlos 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG. e-mail: mtimbo@igc.ufmg.br.
Recebido em 27/10/2003; Aceitação final em 20/2/2004; Discussões até 31/8/2004.

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Parizzi et al.

Resumen: Todos los años una media de cien deslizamientos ocurre en Belo Horizonte. Gran parte ocurre en taludes de filitas
cubiertos por depósitos coluviales. Durante las lluvias muchos taludes, inclusive con obras de estabilización, pasan por sucesivos
y complejos deslizamientos, como es lo caso del Talud conocido como Ponteio, localizado en una de las estradas de mas
movimiento de la ciudad. La analice de los reales mecanismos de rotura es importante para la decisión de la obra de estabilización
mas adecuada. Este trabajo presenta una analice de los mecanismos de rotura del Talud Ponteio. Los métodos empleados enceran
la interpretación de fotografías aéreas de diferentes años, estudio de los aspectos morfológicos e geológicos del talud y ensayos
geotécnicos de campo y laboratorio. Se puede verificar que en el Ponteio ocurren diferentes tipos de deslizamientos como rotura
en cuña, plana y vuelco de estratos, seguidos por flujo de derrubios del depósito coluvial que recubre el talud. Estos procesos son
condicionados principalmente por tres factores: La presencia de un sistema de drenaje natural en el sitio, las características
morfológicas y de la orientación e intensidad de alteración de las discontinuidades del macizo rocoso. La analice aquí presentada
permitirá ayudar el planeamiento adecuado de las futuras obras de contenciones del talud y de otros sitios de la región con
características físicas semejantes.
Palabras claves: mecanismos de rotura, deslizamientos, filitas alteradas, depósitos coluviales.

1. Introdução de ruptura do Talude Ponteio, a metodologia empregada


No Brasil, principalmente durante o período das chu- envolveu as seguintes etapas:
vas, escorregamentos têm ocorrido com freqüência, cau- • Interpretação de fotos áreas de diferentes anos
sando sérios danos, principalmente nas áreas urbanas onde (1953, 1967, 1989, 1999) nas escalas de 1:5000 e 1:1000.
a ocupação desordenada e acelerada avança cada vez mais Esta análise foi de grande relevância para a reconstituição
para terrenos desfavoráveis à ocupação. da morfologia original do talude e de todas as sucessivas
Belo Horizonte, possuindo uma população que ultra- mudanças morfológicas e processos erosivos e de escorre-
passa 2 milhões de habitantes, é um clássico exemplo dessa gamentos ocorridos desde 1953;
situação. Possui uma média de 100 ocorrências de escorre- • Caracterização do maciço rochoso através de inspe-
gamentos por ano, geralmente associados com sérios danos ções geológicas de campo, incluindo o mapeamento das
sociais e econômicos. Apesar dos evidentes motivos de camadas litológicas que caracterizam o maciço do local e a
preocupação, poucos estudos até o momento foram realiza- medição das descontinuidades, conforme os aspectos de
dos objetivando compreender os mecanismos e fatores rugosidade, abertura, persistência, preenchimento e condi-
condicionantes dos escorregamentos. Muitas obras de esta- ções de umidade. Estas medidas foram executadas de acor-
bilização de taludes empregadas não têm sido totalmente do com as instruções da ISRM (1978). A boa exposição do
eficazes e os escorregamentos se tornam recorrentes. É maciço rochoso no talude tornou as investigações de subsu-
questionado se nesses casos, os reais mecanismos de rup- perfície desnecessárias
tura dos terrenos foram considerados durante o planeja- • Execução de levantamento topográfico do talude
mento das técnicas de contenção utilizadas. para a obtenção de suas características morfológicas atuais.
O talude, conhecido como Ponteio, exemplifica a
• Os dados obtidos das inspeções geológicas de cam-
situação acima descrita. Localizado em uma das estradas
po foram tratados através do Sistema de classificação dos
mais movimentas de Belo Horizonte, desde o ano de 1953,
maciços rochosos RMR de Bieniawiski (1989). A análise
época de abertura da estrada, o Talude Ponteio vem sofren-
de estabilidade do maciço foi executada seguindo-se os cri-
do sucessivos escorregamentos nos períodos chuvosos,
térios da análise cinemática das descontinuidades, com o
ocasionando prejuízos econômicos. Várias técnicas foram
auxílio de projeção estereográfica, e da análise de equilí-
utilizadas para sua contenção, porém, até o momento, ne-
brio limite de acordo com Hoek & Bray (1981). Para a
nhuma conseguiu garantir plena estabilidade.
execução da análise de equilíbrio limite utilizou-se os pro-
Este trabalho apresenta uma análise dos mecanismos
gramas “Planar Failure Analysis e Wedge Failure Analy-
de ruptura do Talude Ponteio. Esta análise considerou,
sis” desenvolvidos por Kroeger (1999) e Kroeger (2000).
dentre outros parâmetros, as principais características geo-
morfológicas e suas transformações ao longo dos anos, as • Caracterização física do depósito de tálus através de
características geológicas e hidrológicas. As informações ensaios de laboratório e de campo, em amostras defor-
sobre a estabilidade do talude poderão servir de orientação madas e indeformadas da matriz do tálus. Os ensaios in-
para o planejamento de futuras técnicas de contenção, não cluem granulometria, limites de liquidez e plasticidade,
só do Talude Ponteio, mas, certamente, de outros taludes massa específica dos grãos, cisalhamento direto com amos-
com semelhantes características geológicas, morfológicas tras inundadas e massa específica natural da matriz do tálus.
e hidrológicas em regiões do município. Ensaios em campo da permeabilidade da matriz foram
executados com o auxílio do Permeâmetro Guelph.
2. Métodos • Durante dois períodos chuvosos consecutivos (outu-
Com o objetivo de analisar os principais condicio- bro de 2001 a janeiro de 2002 e novembro de 2002 a janeiro
nantes dos escorregamentos e caracterizar os mecanismos de 2003) o Talude Ponteio foi observado diariamente.

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3. Descrição da Área de Estudo


A geologia desta área consiste de camadas de filitos
alterados alternados por camadas de quartzitos da Forma-
ção Cercadinho, integrante do Supergrupo Minas do Qua-
drilátero Ferrífero. A estrutura geológica condiciona a
morfologia do local, sendo que os filitos mais susceptíveis a
erosão geram depressões entre cristas de quartzitos mais
resistentes. Erosão e escorregamentos de fragmentos dos
maciços de filito e quartzitos alterados originam depósito
de tálus que repousa ao longo da face do talude, também em
situação de instabilidade.
O clima local caracteriza-se por uma estação seca
bem pronunciada, com duração de 3-4 meses, de maio a
agosto. Grande parte da média anual de precipitação de Figura 1 - Foto aérea do Talude Ponteio em 1953. Escala 1:5000.
1381 mm é concentrada entre outubro e Abril, quando Ja- O circulo branco e a seta indica a área do talude e a depressão
morfológica no topo. (Foto: Vista aérea).
neiro é o mês mais chuvoso.

3.1. Histórico dos escorregamentos do talude Ponteio por aterro constituído de fragmentos alterados de filitos e
O talude localiza-se no perímetro urbano da BR-356, quartzitos do próprio maciço. Esse material apresenta baixa
que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Observando resistência mecânica, conforme ensaios realizados durante
fotografias aéreas de diferentes épocas (Figs. 1 a 4), pôde- esta pesquisa. Posteriormente, o talude foi coberto por
se reconstituir a evolução dos processos de escorregamen- concreto projetado. O concreto foi jateado sobre uma tela
tos no local, em função de suas características morfológicas metálica fixada ao maciço por grampos de apenas 50 cm,
originais e de todas as modificações sofridas ao longo dos conforme constatado em recentes vistorias no local. Em
anos. muitos locais os grampos foram fixados no próprio aterro.
Na fotografia aérea de 1953 (Fig. 1) a BR-356 era De acordo com laudos geotécnicos (Gambossi, 1996) nesta
ainda uma via de terra. Observa-se que, no local onde
ocorrem mais escorregamentos, existia uma depressão
morfológica no topo do talude, semelhante a anfiteatro, que
funcionou como área de cabeceira de drenagem, tanto para
escoamento superficial, quanto para infiltração ao longo
das inúmeras descontinuidades presentes. Essa feição mor-
fológica é típica das áreas de ocorrência da Formação
Cercadinho, geralmente caracterizadas por pequenas cris-
tas e depressões resultantes de erosão diferencial entre
filitos e quartzitos. Os lineamentos estruturais possuem a
mesma direção da xistosidade dos filitos e quartzitos e
condicionam a drenagem natural, que tende para a direção
NE/SW ou N/S. O condicionamento da drenagem pelos
lineamentos e pelo anfiteatro no topo do talude tornam este
local um sistema de drenagem natural da água pluvial e
subsuperficial.
A partir do corte para a construção da BR-356 os
processos erosivos e de escorregamentos foram acelerados,
isso em função da inclinação bem mais íngreme imposta
pela obra, associado às características morfológicas e lito-
lógicas especiais ali presentes. Isso pode ser visto clara-
mente na foto aérea de 1967 (Fig. 2). Observa-se a
depressão no topo e as cicatrizes de erosão e escorrega-
mentos.
Na tentativa de estabilizar o talude, na década de 80,
foram executadas obras de retaludamento com implantação Figura 2 - Foto aérea do Talude Ponteio em 1967, a) escala
de bermas (Foto de 1989, Fig. 3). Durante o retaludamento 1:5000 e b) escala 1:1000, mostrando cicatriz de escorregamento
as cicatrizes de escorregamento e erosão foram preenchidas e feições erosivas. (Foto: Vista aérea).

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época nenhuma drenagem foi executada. Não obstante a 60° próximo ao topo. Em janeiro de 2003, esta cicatriz foi
implantação de obras de engenharia, houve subseqüentes recoberta por tela metálica e manta de bioengenharia.
escorregamentos do talude, como pode ser visto na foto
aérea de 1994 (Fig. 4).
A tela metálica e o concreto se romperam no ponto 4. Resultados
onde hoje existe a cicatriz de escorregamento. Por mais de 4.1. Análise geológica-geotécnica
uma vez o concreto projetado foi refeito e novamente se
rompeu. A falta de drenagem e a impermeabilização do Os filitos e quartzitos da Formação Cercadinho, que
maciço pode ter estimulado o aumento de poro pressões, constituem o maciço rochoso do Talude Ponteio, são facil-
tanto ao longo das descontinuidades, quanto dentro do ater- mente reconhecidos no campo pelas seguintes caracterís-
ro, o que desencadeou a ruptura da tela metálica e do ticas: as camadas de quartzitos ferruginosos de cor cinza
concreto. possuem espessura de poucos centímetros até um metro e
Atualmente, grande parte do Talude Ponteio ainda estão alternadas por espessas camadas de filitos prateados
está coberta por concreto projetado. Entretanto, no local alterados. Os principais minerais presentes no filito são
onde freqüentes escorregamentos ocorrem e o concreto se sericita (mica branca), quartzo e óxidos de ferro. Caolinita
rompeu, existe uma grande cicatriz de escorregamento, foi reconhecida, em análises mineralógicas realizadas na
como se pode ver na Fig. 5. Neste ponto, o talude apresenta fração argilosa das amostras obtidas, como o mineral de
uma altura de 35 m e inclinação média de 30°, tendendo a alteração da sericita.
Os maciços da Formação Cercadinho possuem gran-
de concentração de descontinuidades. De acordo com
Nicholson (2000) a intensidade e geometria das fraturas
reflete o grau de alteração da rocha, sendo responsável por
grande parte das rupturas de maciços rochosos.
4.1.1. Classificação RMR
No maciço rochoso foi possível distinguir 3 famílias
de juntas, além da xistosidade. O maciço é bastante intem-
perizado e as descontinuidades se quebram facilmente com
apenas uma pancada do martelo de geólogo. As principais
características das descontinuidades estão resumidas na
Tabela 1.
As descontinuidades não apresentam preenchimento
e a rugosidade de todas as famílias foi classificada como
plano/lisa. No dia da vistoria, todas as famílias estavam
Figura 3 - Modificações do taludes e construções de bermas em umedecidas, mas nenhum fluxo de água foi constatado. O
1989. Escala 1:5000. (Foto: Vista aérea). espaçamento entre as descontinuidades é pequeno, manten-
do média de 20 a 30 cm, como ilustrado na Fig. 6. De
acordo com Norrish & Willie (1996), juntos, persistência e
espaçamento das descontinuidades definem o comporta-
mento do maciço rochoso da seguinte forma: definem o

Figura 4 - Foto aérea do Talude Ponteio em 1994. O concreto


projetado está rompido e o círculo limita a cicatriz de ruptura.
Escala 1:5000. (Foto: Vista aérea). Figura 5 - Vista do Talude Ponteio em 2002.

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Tabela 1 - Parâmetros de caracterização das descontinuidades conforme critérios da ISRM (1978).

Atitude Abertura (mm) Espaçamento (cm) Persistência (m) Resistência


Talude 220/30
Xistosidade
F1 180/45 1a5 <3 > 20 Rocha extremamente fraca
J2 336/85 3a5 8 a 30 10 Rocha extremamente fraca
J3 20/60 3a5 6 a 15 3 a 10 Rocha extremamente fraca
J4 235/85 3a5 10 a 30 3 a 10 Rocha extremamente fraca

4.2.1. Análise cinemática do maciço


A caracterização do padrão de distribuição das des-
continuidades foi utilizada para a análise cinemática do
maciço rochoso, o que possibilitou a determinação da ori-
entação das descontinuidades favoráveis à instabilidade do
talude. De acordo com a projeção estereográfica da Fig. 7,
existem três tipos de ruptura possíveis no maciço, que
ocorrem na seguinte ordem:
1. Ruptura em cunha formada pela interseção das
famílias (J2) e a xistosidade (F1). A forma em “V” do
maciço, gerada pela ruptura em cunha, é responsável pela
exposição da xistosidade (F1) no interior da face do talude,
antes confinada.
Figura 6 - Descontinuidades do maciço do Talude Ponteio.
2. Ruptura planar ao longo da xistosidade F1, des-
confinada pelo plano de fratura J2 e não pelo plano do
tamanho dos blocos, influenciam na dilatância do maciço
Talude (P).
rochoso durante deslocamentos e determinam a intensidade
3. Ruptura por tombamento da xistosidade F1, tam-
em que as propriedades mecânicas da rocha intacta irão
bém desconfinada pelo plano J2.
governar o comportamento do maciço rochoso. No caso do
Talude Ponteio, o pequeno espaçamento e a grande persis-
tência definem blocos de pequenas dimensões, atingindo
valores máximos de até 30 cm. Estes fragmentos formam
um depósito de tálus que repousa dentro da superfície
côncava (cicatriz de escorregamento) na face do talude. De
acordo com a classificação RMR o maciço rochoso do
Talude Ponteio foi considerado pobre a muito pobre. Isso
corresponde a ângulo de atrito menor que 15° e coesão
menor que 0.10 MPa. Testes de cisalhamento direto nestes
filitos, realizados paralelos à xistosidade, forneceram valo-
res mais precisos, porém não muito diferentes. O ângulo de
atrito foi 17° e a coesão foi de 0.015 MPa. Estes valores
(Tabela 2) foram utilizados na análise de estabilidade do
talude pelo método de equilíbrio limite.

4.2. Mecanismos de ruptura identificados

As investigações de campo e análises de laboratório


permitiram a identificação de dois mecanismos principais
de ruptura no Talude Ponteio. O primeiro ocorre no maciço
rochoso com o desencadeamento de três tipos de ruptura:
Cunha, Planar e Tombamento. O segundo ocorre no depó-
sito de tálus presente ao longo da face do talude com a Figura 7 - Estereograma de Schmidt exibindo as principais des-
ocorrência de fluxo de detritos. Estes mecanismos foram continuidades do Talude Ponteio e suas relações com a estabi-
analisados de acordo com os seguintes critérios: lidade.

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do talude, exibindo o tálus e a disposição das famílias de


descontinuidades.

4.2.2. Análise da estabilidade da ruptura em cunha e


planar pelo método do equilíbrio limite

4.2.2.1. Ruptura em cunha associada à erosão


De acordo com a Fig. 7 existe a possibilidade de
ruptura em cunha, formada pela interseção das famílias de
juntas J2 e a xistosidade (F1). A linha de interseção entre
esses dois planos condiciona a passagem do escoamento
superficial e subsuperficial, e ravinas têm se desenvolvido
preferencialmente nesta direção (NE/SW).
O fator de segurança para a ruptura em cunha foi
calculado utilizando-se o programa de equilíbrio limite
Wedge Failure Analysis (Kroeger, 1999), baseado na teoria
de Hoek & Bray (1981). Os dados de entrada e os fatores de
segurança considerando tanto o maciço saturado quanto
seco estão expostos na Tabela 2. Para o maciço saturado
obteve-se o valor de 0.59 para o fator de segurança, o que
comprova sua instabilidade com relação a rupturas em
cunha. Para o maciço seco, o fator de segurança aumenta
para 2,95. Isso mostra a grande influência da água como
fator condicionante das rupturas em cunha.
Apesar de serem usados os parâmetros de coesão e
Figura 8 - Planta topográfica do Talude Ponteio exibindo a princi-
pal direção das descontinuidades, área de ocorrência do depósito atrito, a teoria de Hoeck & Bray não considera a condição
de tálus. A área em branco representa a parte coberta por concreto. frágil do material devido à presença das outras famílias de
descontinuidades (J3 e J4) bem como o efeito erosivo da
água que percola na linha de interseção, o que certamente
iria diminuir o valor do fator de segurança.

4.2.2.2. Ruptura planar e tombamento


A ação conjunta das rupturas em cunha (Fig 8a) e da
erosão podem ter causado a exposição do plano de xistosi-
dade no lado esquerdo do talude. O desconfinamento dessa
estrutura permite a ocorrência de rupturas planares neste
lado do talude, como pode ser visto no diagrama da Fig.7. e
na Fig. 8(b). As rupturas planares ocorrem no sentido do
mergulho da xistosidade, ou seja, para sul (às vezes para
sudeste). No lado direito do talude as faces expostas das
famílias J2, J3 e J4, estimulam a ocorrência de tomba-
mentos, conforme mostram as Figs. 7 e 8 (c).
O programa Planar Failure Analysis (Kroeger, 1999)
também foi utilizado para as condições de talude saturado e
seco. Os dados de entrada utilizados nos cálculos dos fato-
res de segurança para rupturas planares encontram-se na
Figura 9 - Perfil A-B do Talude Ponteio. Tabela 2. A altura utilizada nos cálculos foi de 2 metros,
correspondente à altura da face formada entre a linha de
A Fig. 8 exibe a planta topográfica do talude Ponteio. interseção da cunha F1 e J2 e a linha de topo do lado
Sobre ela foram representados as direções das principais esquerdo do talude.
famílias de descontinuidades e esquematizados os três tipos O fator de segurança igual a 1 foi obtido considerando
de ruptura descritos acima. O depósito de tálus também está o plano da xistosidade preenchida por água. Para a condi-
localizado, assim como os pontos de coleta de amostras e ção totalmente seca o fator de segurança sofreu um aumen-
dos ensaios de permeabilidade. A Fig 9 representa o perfil to discreto passando para 1,2.

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Table 2 - Dados de entrada para cálculo do FS do Talude Ponteio - ruptura em cunha e planar.

Dados de entrada Análise de estabilidade


Ruptura em cunha Ruptura planar
1
Ângulo de atrito* 17° 17°
Coesão*1 0.015 MPa 0.015 MPa
Altura do talude 35 m 2,0 m
2 3 3
Peso específico da rocha intacta* 21,32 kN/m 21,32 kN/m
3 3
Peso específico da água 9,8 kN/m 9,8 kN/m
Atitude da xistosidade 180/45 180/45
Orientação da face do talude considerada 220/30 160/80
Resultados:
Fatores de segurança: Condição saturada 0.59 1
Condição seca 2.96 1,2
1
* Fonte do dado: Laboratório de Mecânica das Rochas-DEMIM/ UFMG.
2
* Fonte do dado: Fernandes (2000).

4.3.3. Caracterização do depósito de tálus e modo de • Os valores de índices de vazios e porosidade obtidos
ocorrência dos fluxos de detritos (Tabela 3) são considerados altos, segundo os parâmetros
de classificação da IAEG (1979). No entanto, a conduti-
Os processo de ruptura do maciço rochoso libera
vidade hidráulica do material, medida através do ensaio de
fragmentos, com comprimentos de até 30 cm, que se depo- -4
permeabilidade in situ foi da ordem de 10 cm/s. Esse valor
sitam ao longo da face do talude gerando um depósito de
está na transição entre solos de boa a média permeabilidade
tálus. Durante períodos de chuvas intensas este material
e está de acordo com aqueles obtidos por Terzaghi & Peck
escorrega na forma de fluxo de detritos. Para compreender
(1962) para solos silto-arenosos e siltosos. Devido aos altos
os mecanismos de ruptura do tálus, algumas de suas carac-
valores dos índices de vazios encontrados esperava-se
terísticas físicas foram analisadas e são descritas abaixo:
maiores valores de permeabilidade, entretanto, de acordo
• O depósito possui pequena espessura de, no máxi-
com Terzaghi & Peck (1962), solos com altos índices de
mo, 70 cm. Esse fato é decorrente de sucessivos escorre-
vazios podem possuir menores valores de condutividade
gamentos sofridos por este material. Entretanto, na área do
hidráulica, quando constituídos por minerais micáceos, que
talude ainda coberta pelo concreto, a espessura do depósito
é o caso da matriz do tálus.
(utilizado como aterro em antigas obras) chega a dois met-
ros. Nestes locais fendas de tração mostram sinais de movi-
4.3.3.1. Modo de ocorrência dos fluxos de detritos
mentação desse material e indicam sua instabilidade.
• Pode-se dizer que o tálus é suportado pela matriz. A A vistoria do talude por dois períodos chuvosos con-
matriz constituída por partículas de silte e areia, conforme secutivos, permitiu estimar que os fluxos de detritos ocor-
indicou a análise granulométrica, foi transportada até o rem em dias com taxas diárias de precipitação de pelo
depósito pela erosão ou formada pela desintegração cons- menos 46 mm ou quando as taxas de precipitação, acumu-
tante dos frágeis pedregulhos de filito e quartzito. De acor- ladas durante quatro dias, ultrapassam 56 mm. Os detritos
do com Turner (1996), tálus suportados pela matriz fluem em direção a BR-356, causando bloqueio de pista e
transmitem a esse material mais fino a maior parte de sua acidentes.
tensão, e os fragmentos maiores são suportados ou “flu-
tuam” dentro da mesma. A Tabela 3 mostra os resultados Pode-se considerar que a permeabilidade da matriz do
obtidos pelas análises geotécnicas realizadas em amostras tálus, decorrente de sua constituição granulométrica e tex-
da matriz. tural e seu alto índice de vazios são características impor-
• Para a matriz do tálus os ensaios de cisalhamento tantes para o desencadeamento do fluxo de detritos.
direto inundado revelaram ângulo de atrito de 29° e coesão, Possuindo média permeabilidade o material permite a infil-
próxima de 6 kPa. Geralmente o ângulo de repouso do tração da água e criação de poro pressões. Quando as taxas
depósito é semelhante ao seu ângulo de atrito. A inclinação de precipitação mencionadas são alcançadas, as águas plu-
do Talude Ponteio possui média de 30°, valor próximo ao viais infiltradas no depósito podem causar dois efeitos:
ângulo de atrito obtido. Isso garante certa estabilidade ao • O primeiro é a perda do efeito da sucção matricial
depósito e o fator declividade do talude foi desconsiderado para condições não saturadas, como descrito por Morgens-
como condicionante do fluxo de detrito. tern & Mattos (1975) e Wolle & Carvalho (1989). A coesão

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Parizzi et al.

da matriz chega a zero, em ensaios de cisalhamento direto regamento formada pelos processos de erosão e ruptura em
com amostras inundadas (Tabela 3). cunha contribuiu para o desconfinamento da xistosidade e
• O segundo é o efeito da pressão da água ao longo da as conseqüentes rupturas planares e tombamentos. Modi-
superfície de contato tálus/maciço, criando uma superfície ficações da morfologia do talude pelo homem serão trata-
de instabilidade ao longo da qual os detritos fluem. dos como condicionantes antrópicos discutidos mais
adiante.
5. Conclusões
• Condicionantes Geológicos:
Embora escorregamentos sejam eventos abundantes
em quase todo o território nacional, principalmente durante • Com relação ao maciço: o alto grau de alteração
períodos chuvosos, não se pode atribuir aos escorrega- das camadas mais espessas de filito da Formação Cerca-
mentos causas e soluções corriqueiras. A diversidade das dinho e a disposição e características das descontinuidades
condicionantes do meio físico, como relevo e litologia são favoráveis a rupturas em cunha, percolação da água
atrelada às condições climáticas, e condicionantes de uso e seguida de erosão, rupturas planares e tombamentos. As
ocupação, induzem a diferentes causas dos escorregamen- características dos planos de descontinuidades como rugo-
tos, o que pode solicitar soluções ou medidas preventivas sidade do tipo plano/lisa, o pequeno espaçamento e a gran-
distintas de lugar para lugar. Generalizar soluções pode de persistência são responsáveis pela má qualidade do
tornar o risco maior e aumentar os prejuízos. Torna-se, maciço e seus baixos índices de resistência (coesão e atri-
portanto, fundamental que investigações sobre os mecanis- to).
mos de ruptura e as reais condicionantes dos escorrega- • Com relação ao tálus: O fluxo de detritos ocorre no
mentos precedam a implantação de técnicas corretivas de depósito de tálus. As características físicas desse depósito e
engenharia ou planos de defesa civil. sua posição no talude explicam o desencadeamento desse
A partir desse estudo foi possível constatar que os processo. A granulometria silto-arenosa da matriz, de me-
mecanismos de ruptura do Talude Ponteio são complexos, diana permeabilidade e alto índice de vazios, facilitam a
englobando quatro tipos de escorregamentos além de pro- infiltração da água, a geração de poro pressões e conse-
cessos erosivos: O escorregamento em cunha e a erosão qüente perda da sucção matricial. Os ensaios de cisalha-
foram os primeiros a ocorrer. Estes dois processos altera- mento direto, com corpos de prova inundados, revelaram
ram a morfologia do talude, favorecendo o desencadea- coesão baixa ou nula para a matriz, o que corrobora com a
mento das rupturas planares e os tombamentos. Por fim, análise acima. O ângulo de atrito de 29° é bem próximo ao
fluxos de detritos passaram a ocorrer, após a formação do ângulo de inclinação atual do talude (30°). Isso cria um
depósito de tálus. O desencadeamento dessas rupturas, con- estado limite de equilíbrio entre o depósito e o maciço,
forme as análises apresentadas neste estudo, foi condicio- permitindo o repouso do tálus na face do talude até que
nado pelos seguintes fatores: outros fatores aumentem as forças solicitantes da ruptura
• Condicionantes Morfológicos: a presença natural (água pluvial e perda da sucção). Além disso, o contato en-
do anfiteatro no topo do talude, observado na Foto aérea de tre o depósito e o maciço ocorre ao longo de um plano liso
1953, estimulou a criação de um ponto de concentração da (característica do filito), diminuindo a resistência na super-
água pluvial. Posteriormente, a forma da cicatriz de escor- fície de contato entre os dois materiais.

Tabela 3 - Parâmetros geotécnicos da matriz do tálus que cobre o Talude Ponteio, obtidos através de ensaios de caracterização física e
ensaios de cisalhamento direto com amostras inundadas, de acordo com as normas da ASTM (1995).

Amostra Pc ρs ρ nat ρd LL % LP % e n% c φ Granulometria


3 3 3
g/cm g/cm g/cm A% S% Af % Am % Ag % P%
P1 Topo 2.89 1.7 1.63 31 NP 0.8 44 6 29° 6 54 14 18 1 7
(aterro)
2A Topo 3.03 1.5 1.34 30 NP 1.3 56 – – 1 37 10 4 13 37
2B Topo 2.94 1.5 1.34 41 NP 1.2 54 – – 2 48 11 4 6 29
2C Topo 2.91 1.5 1.34 41 NP 1.2 54 – – 3 71 2 1 4 19
3A Meio 2.96 1.3 1.18 38 NP 1.5 60 – – 2 41 8 10 6 33
3B Meio 2.97 1.3 1.18 41 NP 1.5 60 – – 4 58 6 2 5 24
3C Meio 2.95 1.3 1.18 37 NP 1.5 60 0 29° 4 56 8 4 6 26
1 Base 2.92 1.3 1.18 37 NP 1.5 60 0 29° 2 31 8 7 4 48
2 Base 2.94 1.3 1.18 38 NP 1.5 60 – – 2 53 6 5 4 31
3 Base 2.93 1.3 1.18 40 NP 1.5 60 – – 2 50 7 5 5 32

Pc: Ponto de coleta da amostra no talude. ρ s: massa específica dos grãos. LL: limite de liquidez. LP: limite de plasticidade. NP: não
plástico. ρ nat: massa específica natural. ρ d: massa específica seca. e: índice de vazios. n: porosidade. c: coesão (kPa). φ: ângulo de atrito.
A: argila; S: silte; Af: areia fina; Am: areia média; Ag: areia grossa; P: pedregulho.

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Processos e Mecanismos de Escorregamentos em Filitos Alterados e Tálus: O Estudo do Talude Ponteio, Belo Horizonte, Brasil

• Condicionantes Antrópicos: o corte inicial do talu- lica, dessa vez ancorada por 112 grampos com 6 m de
de, muito inclinado e sem reforço foi a ação antrópica comprimento. Sobre este sistema, no lugar do concreto, foi
estimuladora dos primeiros escorregamentos e da erosão. utilizada técnica de bioengenharia para evitar erosão, per-
As técnicas de estabilização que foram implantadas após mitindo a drenagem e o crescimento de vegetação no talu-
1980, foram responsáveis pela mudança da geometria do de. Como essa técnica foi implantada recentemente e
talude, criação de um aterro com baixa resistência e imper- apenas na cicatriz de ruptura, é necessário monitorar a obra
meabilização do mesmo pelo concreto. Isso parece ter es- durante os próximos períodos chuvosos para averiguar so-
timulado o desenvolvimento de poro pressões nas bre sua eficiência. O restante do talude também deve ser
descontinuidades e no aterro. Além disso, a tela metálica do monitorado, pois ainda continua coberto pelo concreto pro-
concreto projetado foi fixada por grampos curtos direta- jetado já apresentando trincas em alguns pontos.
mente no aterro.
• Condicionantes Climáticos: as chuvas concentra- Agradecimentos
das, principalmente nos meses de novembro, dezembro e Ao CNPq, pelo apoio financeiro destinado a este
janeiro, são responsáveis pelo escoamento superficial que projeto, ao Dr. Evandro Gama, pelos dados do
provoca erosão do maciço, pela elevação de poro pressões DEMIM/UFMG e a Elder Antônio Beirigo, pelas análises
dentro das descontinuidades, desenvolvimento de poro geotécnicas de campo e laboratório.
pressões na matriz do tálus e no contato tálus/maciço. O
acompanhamento das ocorrências de escorregamentos do Referências
talude por dois períodos chuvosos consecutivos permitiu ASTM (1995). Annual Book of ASTM Standards, Phila-
estimar que taxas diárias de precipitação de pelo menos delphia, ASTM. 984 p. v. 04.08 Soil and Rock (I).
46 mm são necessárias para desencadear fluxo de detritos
Bieniawiski, Z.T. (1989) Engineering Rock Mass Classifi-
no talude. Taxas de precipitação acima de 56 mm, acumu-
cation. New York, John Wiley, 215 p.
ladas durante o período de quatro dias, também podem
Fernandes, G. (2000) Caracterização geológico-geotécnica
desencadear o processo. Esses valores estão de acordo com
e propostas de estabilização da encosta do Morro do
os valores pesquisados por Ferreira (1996). Para o autor, os
Curral - Centro de Artes e Convenções de Ouro Preto.
limites críticos de chuvas, suficientes para a detonação de
Dissertação de Mestrado, Escola de Minas, Depart-
um maior número de problemas de escorregamentos de
amento de Engenharia Civil, Universidade Federal de
encostas, situam-se em 40, 60, 80 e 120 mm para os acumu-
Ouro Preto, Ouro Preto, 136 p.
lados em 24, 48, 72 e 96 h, respectivamente nesta região.
Ferreira, V. de O. (1996) Eventos pluviais concentrados em
5.1. Recomendações e comentários finais Belo Horizonte, Minas Gerais - Caracterização genérica
e impactos físico-ambientais. Dissertação de Mestrado,
Este estudo permitiu a compreensão dos mecanismos
IGC, UFMG, 195 p.
de ruptura do Talude Ponteio e pode contribuir para o pla-
nejamento de futuras obras de contenção utilizadas para sua Gambossi, Z. (1996) Sumário técnico dos problemas rema-
estabilização. Os seguintes aspectos devem ser conside- nescentes do Bairro Santa Lúcia. Belo Horizonte, Asso-
rados: ciação de Moradores do Bairro Santa Lúcia. 50 p. (não
publicado).
No local existe área concentradora da água pluvial e
subterrânea. Qualquer obra deve permitir a drenagem irres- Hoek, E. & Bray, J. (1981). Rock Slope Engineering. Lon-
trita do talude, sem estimular a criação de poro pressões. No don, IMM e Elsevier Applied Science, 527 p.
entanto, é necessário combater a erosão evitando o contato IAEG (1979) Classification of rocks and soils for engineer-
direto do escoamento superficial com o filito alterado e o ing geology mapping. Part 1: rock and soil materials.
tálus. Bulletin of the International Association of Engineering
A cicatriz de ruptura existente, por onde flui água Geology, Krefeld, 19:364-371.
naturalmente, não deve ser preenchida por nenhum tipo de ISRM - International Society for Rock Mechanics (1978)
aterro, para evitar fluxos de detritos. Suggested Methods for the Quantitative Description of
A profundidade e intensidade do fraturamento devem Rock Masses. International Journal of Rock Mechanics
ser verificadas no momento de se projetar a ancoragem do and Mining Sciences and Geomechanics Abstracts, v.
talude, quando esta técnica for utilizada. Recomenda-se a 15:6, p. 319-368
execução de sondagens para localizar a profundidade em Kroeger, E.B. (1999) Slope Stability Software, 1: 1-3,
que há menor intensidade de fraturamento e menor grau de http://www.engr.siu.edu/mining/kroeger.
alteração do maciço. Kroeger, E.B. (2000) Analysis of plane failures in compund
Recentemente, em Janeiro de 2003, foi executada slopes. International Journal of Surface Mining, Recla-
nova obra de estabilização no talude. Esta parece ter sido a mation and Environment, v. 14, p. 215-222.
obra que mais considerou as características do terreno. A Morgenstern, N.R; Matos, M.M. (1975) Stability of slopes
cicatriz de ruptura côncava foi coberta por outra tela metá- in residual soil. In: Pan American Conference on Soil

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24 Solos e Rochas, São Paulo, 27, (1): 15-24, Janeiro-Abril, 2004.

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