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Resumo: Belo Horizonte apresenta uma média de cem ocorrências de escorregamentos por ano. Grande parte desses processos
ocorre em taludes de filitos, cobertos por depósitos de tálus. Alguns taludes, mesmo já possuindo obras de estabilização, sofrem
escorregamentos sucessivos e complexos em quase todos períodos chuvosos, como é o caso do talude conhecido como Ponteio,
localizado em uma das estradas mais movimentadas da cidade. É questionado se nesses casos, os reais mecanismos de ruptura dos
terrenos foram considerados durante o planejamento das técnicas de contenção utilizadas. Este trabalho apresenta uma análise
dos mecanismos de ruptura do Talude Ponteio. Os métodos utilizados envolveram a interpretação de fotografias aéreas de
diferentes anos, estudo dos aspectos morfológicos e geológicos do talude e ensaios geotécnicos de campo e laboratório. Pôde-se
verificar que o Ponteio vem sofrendo sucessivos escorregamentos desde 1953, época de construção da estrada. No talude ocorrem
diferentes tipos de escorregamentos como ruptura em cunha, planar e tombamento do filito, seguidas por fluxo de detritos do tálus
que repousa na face do talude. Esses processos são condicionados principalmente por três fatores: A presença de um sistema
natural de drenagem, as características morfológicas da área e a disposição e grau de alteração das descontinuidades presentes no
maciço. A análise aqui apresentada poderá contribuir para o planejamento de futuras obras de contenção, não somente do Talude
Ponteio, mas também de outros taludes com características físicas semelhantes.
Palavras-chave: mecanismos de ruptura, escorregamentos, filitos alterados, tálus.
Abstract: Every year, in the city of Belo Horizonte, it is registered an average of 100 landslides occurrences. Terrains formed by
phyllites and talus deposits are the most susceptible to landslides. Despite the use of many different stabilization techniques,
successive landslides have occurred in many slopes, like the Slope known as Ponteio, located adjacent to one of the busiest road
of the city. In these cases it is very important recognize the real failure mechanisms that had occurred in the analyzed sites. This
paper presents an analysis of the failure mechanisms of the Ponteio Slope. The methods used in this research include
interpretation of aerial photographs taken in different years, morphological and geological studies and geotechnical
investigations. It was possible to conclude that successive landslides had occurred in this site since 1953, when its declivity was
modified due to the road construction. Different types of landslides were reported such as: wedge failure, planar failure and
toppling of the rock mass, followed by debris flow of talus material rested along the slope face. These processes are triggered
mainly by three factors: a natural drainage system that occurs at the site, morphological aspects and the orientation and
weathering conditions of the rock mass discontinuities. This study may help in planning of future stabilization techniques not only
for Ponteio Slope, but also for other slopes in this region with similar physical aspects.
Key words: failure mechanisms, landslides, weathered phyllites, talus.
Maria Giovana Parizzi, M.Sc, Doutoranda, Profa. Assistente do Departamento de Geologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Campus da Pam-
pulha, Av. Antônio Carlos 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG. e-mail: giece@uai.com.br.
Frederico Garcia Sobreira, Dr., Prof. Adjunto do Departamento de Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, DEGEO/UFOP Campus do Morro do Cruzeiro, 35400-000
Ouro Preto, MG. e-mail: sobreira@degeo.ufop.br.
Terezinha Cássia de Brito Galvão, PhD, Profa. Adjunta do Departamento de Geotecnia e Transportes, Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Rua Espí-
rito Santo 35, 31160-030 Belo Horizonte, MG. e-mail: cassia@etg.ufmg.br.
Marcos Antonio Timbó Elmiro, M.Sc, Prof. Assistente do Departamento de Cartografia, Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Campus da Pampu-
lha, Av. Antônio Carlos 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG. e-mail: mtimbo@igc.ufmg.br.
Recebido em 27/10/2003; Aceitação final em 20/2/2004; Discussões até 31/8/2004.
Resumen: Todos los años una media de cien deslizamientos ocurre en Belo Horizonte. Gran parte ocurre en taludes de filitas
cubiertos por depósitos coluviales. Durante las lluvias muchos taludes, inclusive con obras de estabilización, pasan por sucesivos
y complejos deslizamientos, como es lo caso del Talud conocido como Ponteio, localizado en una de las estradas de mas
movimiento de la ciudad. La analice de los reales mecanismos de rotura es importante para la decisión de la obra de estabilización
mas adecuada. Este trabajo presenta una analice de los mecanismos de rotura del Talud Ponteio. Los métodos empleados enceran
la interpretación de fotografías aéreas de diferentes años, estudio de los aspectos morfológicos e geológicos del talud y ensayos
geotécnicos de campo y laboratorio. Se puede verificar que en el Ponteio ocurren diferentes tipos de deslizamientos como rotura
en cuña, plana y vuelco de estratos, seguidos por flujo de derrubios del depósito coluvial que recubre el talud. Estos procesos son
condicionados principalmente por tres factores: La presencia de un sistema de drenaje natural en el sitio, las características
morfológicas y de la orientación e intensidad de alteración de las discontinuidades del macizo rocoso. La analice aquí presentada
permitirá ayudar el planeamiento adecuado de las futuras obras de contenciones del talud y de otros sitios de la región con
características físicas semejantes.
Palabras claves: mecanismos de rotura, deslizamientos, filitas alteradas, depósitos coluviales.
3.1. Histórico dos escorregamentos do talude Ponteio por aterro constituído de fragmentos alterados de filitos e
O talude localiza-se no perímetro urbano da BR-356, quartzitos do próprio maciço. Esse material apresenta baixa
que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Observando resistência mecânica, conforme ensaios realizados durante
fotografias aéreas de diferentes épocas (Figs. 1 a 4), pôde- esta pesquisa. Posteriormente, o talude foi coberto por
se reconstituir a evolução dos processos de escorregamen- concreto projetado. O concreto foi jateado sobre uma tela
tos no local, em função de suas características morfológicas metálica fixada ao maciço por grampos de apenas 50 cm,
originais e de todas as modificações sofridas ao longo dos conforme constatado em recentes vistorias no local. Em
anos. muitos locais os grampos foram fixados no próprio aterro.
Na fotografia aérea de 1953 (Fig. 1) a BR-356 era De acordo com laudos geotécnicos (Gambossi, 1996) nesta
ainda uma via de terra. Observa-se que, no local onde
ocorrem mais escorregamentos, existia uma depressão
morfológica no topo do talude, semelhante a anfiteatro, que
funcionou como área de cabeceira de drenagem, tanto para
escoamento superficial, quanto para infiltração ao longo
das inúmeras descontinuidades presentes. Essa feição mor-
fológica é típica das áreas de ocorrência da Formação
Cercadinho, geralmente caracterizadas por pequenas cris-
tas e depressões resultantes de erosão diferencial entre
filitos e quartzitos. Os lineamentos estruturais possuem a
mesma direção da xistosidade dos filitos e quartzitos e
condicionam a drenagem natural, que tende para a direção
NE/SW ou N/S. O condicionamento da drenagem pelos
lineamentos e pelo anfiteatro no topo do talude tornam este
local um sistema de drenagem natural da água pluvial e
subsuperficial.
A partir do corte para a construção da BR-356 os
processos erosivos e de escorregamentos foram acelerados,
isso em função da inclinação bem mais íngreme imposta
pela obra, associado às características morfológicas e lito-
lógicas especiais ali presentes. Isso pode ser visto clara-
mente na foto aérea de 1967 (Fig. 2). Observa-se a
depressão no topo e as cicatrizes de erosão e escorrega-
mentos.
Na tentativa de estabilizar o talude, na década de 80,
foram executadas obras de retaludamento com implantação Figura 2 - Foto aérea do Talude Ponteio em 1967, a) escala
de bermas (Foto de 1989, Fig. 3). Durante o retaludamento 1:5000 e b) escala 1:1000, mostrando cicatriz de escorregamento
as cicatrizes de escorregamento e erosão foram preenchidas e feições erosivas. (Foto: Vista aérea).
época nenhuma drenagem foi executada. Não obstante a 60° próximo ao topo. Em janeiro de 2003, esta cicatriz foi
implantação de obras de engenharia, houve subseqüentes recoberta por tela metálica e manta de bioengenharia.
escorregamentos do talude, como pode ser visto na foto
aérea de 1994 (Fig. 4).
A tela metálica e o concreto se romperam no ponto 4. Resultados
onde hoje existe a cicatriz de escorregamento. Por mais de 4.1. Análise geológica-geotécnica
uma vez o concreto projetado foi refeito e novamente se
rompeu. A falta de drenagem e a impermeabilização do Os filitos e quartzitos da Formação Cercadinho, que
maciço pode ter estimulado o aumento de poro pressões, constituem o maciço rochoso do Talude Ponteio, são facil-
tanto ao longo das descontinuidades, quanto dentro do ater- mente reconhecidos no campo pelas seguintes caracterís-
ro, o que desencadeou a ruptura da tela metálica e do ticas: as camadas de quartzitos ferruginosos de cor cinza
concreto. possuem espessura de poucos centímetros até um metro e
Atualmente, grande parte do Talude Ponteio ainda estão alternadas por espessas camadas de filitos prateados
está coberta por concreto projetado. Entretanto, no local alterados. Os principais minerais presentes no filito são
onde freqüentes escorregamentos ocorrem e o concreto se sericita (mica branca), quartzo e óxidos de ferro. Caolinita
rompeu, existe uma grande cicatriz de escorregamento, foi reconhecida, em análises mineralógicas realizadas na
como se pode ver na Fig. 5. Neste ponto, o talude apresenta fração argilosa das amostras obtidas, como o mineral de
uma altura de 35 m e inclinação média de 30°, tendendo a alteração da sericita.
Os maciços da Formação Cercadinho possuem gran-
de concentração de descontinuidades. De acordo com
Nicholson (2000) a intensidade e geometria das fraturas
reflete o grau de alteração da rocha, sendo responsável por
grande parte das rupturas de maciços rochosos.
4.1.1. Classificação RMR
No maciço rochoso foi possível distinguir 3 famílias
de juntas, além da xistosidade. O maciço é bastante intem-
perizado e as descontinuidades se quebram facilmente com
apenas uma pancada do martelo de geólogo. As principais
características das descontinuidades estão resumidas na
Tabela 1.
As descontinuidades não apresentam preenchimento
e a rugosidade de todas as famílias foi classificada como
plano/lisa. No dia da vistoria, todas as famílias estavam
Figura 3 - Modificações do taludes e construções de bermas em umedecidas, mas nenhum fluxo de água foi constatado. O
1989. Escala 1:5000. (Foto: Vista aérea). espaçamento entre as descontinuidades é pequeno, manten-
do média de 20 a 30 cm, como ilustrado na Fig. 6. De
acordo com Norrish & Willie (1996), juntos, persistência e
espaçamento das descontinuidades definem o comporta-
mento do maciço rochoso da seguinte forma: definem o
Table 2 - Dados de entrada para cálculo do FS do Talude Ponteio - ruptura em cunha e planar.
4.3.3. Caracterização do depósito de tálus e modo de • Os valores de índices de vazios e porosidade obtidos
ocorrência dos fluxos de detritos (Tabela 3) são considerados altos, segundo os parâmetros
de classificação da IAEG (1979). No entanto, a conduti-
Os processo de ruptura do maciço rochoso libera
vidade hidráulica do material, medida através do ensaio de
fragmentos, com comprimentos de até 30 cm, que se depo- -4
permeabilidade in situ foi da ordem de 10 cm/s. Esse valor
sitam ao longo da face do talude gerando um depósito de
está na transição entre solos de boa a média permeabilidade
tálus. Durante períodos de chuvas intensas este material
e está de acordo com aqueles obtidos por Terzaghi & Peck
escorrega na forma de fluxo de detritos. Para compreender
(1962) para solos silto-arenosos e siltosos. Devido aos altos
os mecanismos de ruptura do tálus, algumas de suas carac-
valores dos índices de vazios encontrados esperava-se
terísticas físicas foram analisadas e são descritas abaixo:
maiores valores de permeabilidade, entretanto, de acordo
• O depósito possui pequena espessura de, no máxi-
com Terzaghi & Peck (1962), solos com altos índices de
mo, 70 cm. Esse fato é decorrente de sucessivos escorre-
vazios podem possuir menores valores de condutividade
gamentos sofridos por este material. Entretanto, na área do
hidráulica, quando constituídos por minerais micáceos, que
talude ainda coberta pelo concreto, a espessura do depósito
é o caso da matriz do tálus.
(utilizado como aterro em antigas obras) chega a dois met-
ros. Nestes locais fendas de tração mostram sinais de movi-
4.3.3.1. Modo de ocorrência dos fluxos de detritos
mentação desse material e indicam sua instabilidade.
• Pode-se dizer que o tálus é suportado pela matriz. A A vistoria do talude por dois períodos chuvosos con-
matriz constituída por partículas de silte e areia, conforme secutivos, permitiu estimar que os fluxos de detritos ocor-
indicou a análise granulométrica, foi transportada até o rem em dias com taxas diárias de precipitação de pelo
depósito pela erosão ou formada pela desintegração cons- menos 46 mm ou quando as taxas de precipitação, acumu-
tante dos frágeis pedregulhos de filito e quartzito. De acor- ladas durante quatro dias, ultrapassam 56 mm. Os detritos
do com Turner (1996), tálus suportados pela matriz fluem em direção a BR-356, causando bloqueio de pista e
transmitem a esse material mais fino a maior parte de sua acidentes.
tensão, e os fragmentos maiores são suportados ou “flu-
tuam” dentro da mesma. A Tabela 3 mostra os resultados Pode-se considerar que a permeabilidade da matriz do
obtidos pelas análises geotécnicas realizadas em amostras tálus, decorrente de sua constituição granulométrica e tex-
da matriz. tural e seu alto índice de vazios são características impor-
• Para a matriz do tálus os ensaios de cisalhamento tantes para o desencadeamento do fluxo de detritos.
direto inundado revelaram ângulo de atrito de 29° e coesão, Possuindo média permeabilidade o material permite a infil-
próxima de 6 kPa. Geralmente o ângulo de repouso do tração da água e criação de poro pressões. Quando as taxas
depósito é semelhante ao seu ângulo de atrito. A inclinação de precipitação mencionadas são alcançadas, as águas plu-
do Talude Ponteio possui média de 30°, valor próximo ao viais infiltradas no depósito podem causar dois efeitos:
ângulo de atrito obtido. Isso garante certa estabilidade ao • O primeiro é a perda do efeito da sucção matricial
depósito e o fator declividade do talude foi desconsiderado para condições não saturadas, como descrito por Morgens-
como condicionante do fluxo de detrito. tern & Mattos (1975) e Wolle & Carvalho (1989). A coesão
da matriz chega a zero, em ensaios de cisalhamento direto regamento formada pelos processos de erosão e ruptura em
com amostras inundadas (Tabela 3). cunha contribuiu para o desconfinamento da xistosidade e
• O segundo é o efeito da pressão da água ao longo da as conseqüentes rupturas planares e tombamentos. Modi-
superfície de contato tálus/maciço, criando uma superfície ficações da morfologia do talude pelo homem serão trata-
de instabilidade ao longo da qual os detritos fluem. dos como condicionantes antrópicos discutidos mais
adiante.
5. Conclusões
• Condicionantes Geológicos:
Embora escorregamentos sejam eventos abundantes
em quase todo o território nacional, principalmente durante • Com relação ao maciço: o alto grau de alteração
períodos chuvosos, não se pode atribuir aos escorrega- das camadas mais espessas de filito da Formação Cerca-
mentos causas e soluções corriqueiras. A diversidade das dinho e a disposição e características das descontinuidades
condicionantes do meio físico, como relevo e litologia são favoráveis a rupturas em cunha, percolação da água
atrelada às condições climáticas, e condicionantes de uso e seguida de erosão, rupturas planares e tombamentos. As
ocupação, induzem a diferentes causas dos escorregamen- características dos planos de descontinuidades como rugo-
tos, o que pode solicitar soluções ou medidas preventivas sidade do tipo plano/lisa, o pequeno espaçamento e a gran-
distintas de lugar para lugar. Generalizar soluções pode de persistência são responsáveis pela má qualidade do
tornar o risco maior e aumentar os prejuízos. Torna-se, maciço e seus baixos índices de resistência (coesão e atri-
portanto, fundamental que investigações sobre os mecanis- to).
mos de ruptura e as reais condicionantes dos escorrega- • Com relação ao tálus: O fluxo de detritos ocorre no
mentos precedam a implantação de técnicas corretivas de depósito de tálus. As características físicas desse depósito e
engenharia ou planos de defesa civil. sua posição no talude explicam o desencadeamento desse
A partir desse estudo foi possível constatar que os processo. A granulometria silto-arenosa da matriz, de me-
mecanismos de ruptura do Talude Ponteio são complexos, diana permeabilidade e alto índice de vazios, facilitam a
englobando quatro tipos de escorregamentos além de pro- infiltração da água, a geração de poro pressões e conse-
cessos erosivos: O escorregamento em cunha e a erosão qüente perda da sucção matricial. Os ensaios de cisalha-
foram os primeiros a ocorrer. Estes dois processos altera- mento direto, com corpos de prova inundados, revelaram
ram a morfologia do talude, favorecendo o desencadea- coesão baixa ou nula para a matriz, o que corrobora com a
mento das rupturas planares e os tombamentos. Por fim, análise acima. O ângulo de atrito de 29° é bem próximo ao
fluxos de detritos passaram a ocorrer, após a formação do ângulo de inclinação atual do talude (30°). Isso cria um
depósito de tálus. O desencadeamento dessas rupturas, con- estado limite de equilíbrio entre o depósito e o maciço,
forme as análises apresentadas neste estudo, foi condicio- permitindo o repouso do tálus na face do talude até que
nado pelos seguintes fatores: outros fatores aumentem as forças solicitantes da ruptura
• Condicionantes Morfológicos: a presença natural (água pluvial e perda da sucção). Além disso, o contato en-
do anfiteatro no topo do talude, observado na Foto aérea de tre o depósito e o maciço ocorre ao longo de um plano liso
1953, estimulou a criação de um ponto de concentração da (característica do filito), diminuindo a resistência na super-
água pluvial. Posteriormente, a forma da cicatriz de escor- fície de contato entre os dois materiais.
Tabela 3 - Parâmetros geotécnicos da matriz do tálus que cobre o Talude Ponteio, obtidos através de ensaios de caracterização física e
ensaios de cisalhamento direto com amostras inundadas, de acordo com as normas da ASTM (1995).
Pc: Ponto de coleta da amostra no talude. ρ s: massa específica dos grãos. LL: limite de liquidez. LP: limite de plasticidade. NP: não
plástico. ρ nat: massa específica natural. ρ d: massa específica seca. e: índice de vazios. n: porosidade. c: coesão (kPa). φ: ângulo de atrito.
A: argila; S: silte; Af: areia fina; Am: areia média; Ag: areia grossa; P: pedregulho.
• Condicionantes Antrópicos: o corte inicial do talu- lica, dessa vez ancorada por 112 grampos com 6 m de
de, muito inclinado e sem reforço foi a ação antrópica comprimento. Sobre este sistema, no lugar do concreto, foi
estimuladora dos primeiros escorregamentos e da erosão. utilizada técnica de bioengenharia para evitar erosão, per-
As técnicas de estabilização que foram implantadas após mitindo a drenagem e o crescimento de vegetação no talu-
1980, foram responsáveis pela mudança da geometria do de. Como essa técnica foi implantada recentemente e
talude, criação de um aterro com baixa resistência e imper- apenas na cicatriz de ruptura, é necessário monitorar a obra
meabilização do mesmo pelo concreto. Isso parece ter es- durante os próximos períodos chuvosos para averiguar so-
timulado o desenvolvimento de poro pressões nas bre sua eficiência. O restante do talude também deve ser
descontinuidades e no aterro. Além disso, a tela metálica do monitorado, pois ainda continua coberto pelo concreto pro-
concreto projetado foi fixada por grampos curtos direta- jetado já apresentando trincas em alguns pontos.
mente no aterro.
• Condicionantes Climáticos: as chuvas concentra- Agradecimentos
das, principalmente nos meses de novembro, dezembro e Ao CNPq, pelo apoio financeiro destinado a este
janeiro, são responsáveis pelo escoamento superficial que projeto, ao Dr. Evandro Gama, pelos dados do
provoca erosão do maciço, pela elevação de poro pressões DEMIM/UFMG e a Elder Antônio Beirigo, pelas análises
dentro das descontinuidades, desenvolvimento de poro geotécnicas de campo e laboratório.
pressões na matriz do tálus e no contato tálus/maciço. O
acompanhamento das ocorrências de escorregamentos do Referências
talude por dois períodos chuvosos consecutivos permitiu ASTM (1995). Annual Book of ASTM Standards, Phila-
estimar que taxas diárias de precipitação de pelo menos delphia, ASTM. 984 p. v. 04.08 Soil and Rock (I).
46 mm são necessárias para desencadear fluxo de detritos
Bieniawiski, Z.T. (1989) Engineering Rock Mass Classifi-
no talude. Taxas de precipitação acima de 56 mm, acumu-
cation. New York, John Wiley, 215 p.
ladas durante o período de quatro dias, também podem
Fernandes, G. (2000) Caracterização geológico-geotécnica
desencadear o processo. Esses valores estão de acordo com
e propostas de estabilização da encosta do Morro do
os valores pesquisados por Ferreira (1996). Para o autor, os
Curral - Centro de Artes e Convenções de Ouro Preto.
limites críticos de chuvas, suficientes para a detonação de
Dissertação de Mestrado, Escola de Minas, Depart-
um maior número de problemas de escorregamentos de
amento de Engenharia Civil, Universidade Federal de
encostas, situam-se em 40, 60, 80 e 120 mm para os acumu-
Ouro Preto, Ouro Preto, 136 p.
lados em 24, 48, 72 e 96 h, respectivamente nesta região.
Ferreira, V. de O. (1996) Eventos pluviais concentrados em
5.1. Recomendações e comentários finais Belo Horizonte, Minas Gerais - Caracterização genérica
e impactos físico-ambientais. Dissertação de Mestrado,
Este estudo permitiu a compreensão dos mecanismos
IGC, UFMG, 195 p.
de ruptura do Talude Ponteio e pode contribuir para o pla-
nejamento de futuras obras de contenção utilizadas para sua Gambossi, Z. (1996) Sumário técnico dos problemas rema-
estabilização. Os seguintes aspectos devem ser conside- nescentes do Bairro Santa Lúcia. Belo Horizonte, Asso-
rados: ciação de Moradores do Bairro Santa Lúcia. 50 p. (não
publicado).
No local existe área concentradora da água pluvial e
subterrânea. Qualquer obra deve permitir a drenagem irres- Hoek, E. & Bray, J. (1981). Rock Slope Engineering. Lon-
trita do talude, sem estimular a criação de poro pressões. No don, IMM e Elsevier Applied Science, 527 p.
entanto, é necessário combater a erosão evitando o contato IAEG (1979) Classification of rocks and soils for engineer-
direto do escoamento superficial com o filito alterado e o ing geology mapping. Part 1: rock and soil materials.
tálus. Bulletin of the International Association of Engineering
A cicatriz de ruptura existente, por onde flui água Geology, Krefeld, 19:364-371.
naturalmente, não deve ser preenchida por nenhum tipo de ISRM - International Society for Rock Mechanics (1978)
aterro, para evitar fluxos de detritos. Suggested Methods for the Quantitative Description of
A profundidade e intensidade do fraturamento devem Rock Masses. International Journal of Rock Mechanics
ser verificadas no momento de se projetar a ancoragem do and Mining Sciences and Geomechanics Abstracts, v.
talude, quando esta técnica for utilizada. Recomenda-se a 15:6, p. 319-368
execução de sondagens para localizar a profundidade em Kroeger, E.B. (1999) Slope Stability Software, 1: 1-3,
que há menor intensidade de fraturamento e menor grau de http://www.engr.siu.edu/mining/kroeger.
alteração do maciço. Kroeger, E.B. (2000) Analysis of plane failures in compund
Recentemente, em Janeiro de 2003, foi executada slopes. International Journal of Surface Mining, Recla-
nova obra de estabilização no talude. Esta parece ter sido a mation and Environment, v. 14, p. 215-222.
obra que mais considerou as características do terreno. A Morgenstern, N.R; Matos, M.M. (1975) Stability of slopes
cicatriz de ruptura côncava foi coberta por outra tela metá- in residual soil. In: Pan American Conference on Soil
Mech. and Foud. Eng., Vth, Buenos Aires, v. III, p. Washington D.C., National Academy Press, p.
367-383. 391-424.
Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1962) Soil mechanics in engi-
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