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TEXTO BÁSICO
Setembro/2004
Capítulo 1
Introdução à hidrologia
Aspectos gerais
A Hidrologia pode ser entendida como a ciência que estuda a água, como a
própria origem da palavra indica (do grego): hidrologia = hydor (“água”) + logos
(“ciência” ou “estudo”). Entretanto, uma boa definição adotada por vários autores é a
seguinte:
2
Entretanto, cabe salientar que a maioria dos estudos envolve mais de uma das
sub-áreas, já que os fenômenos e processos envolvendo a água na natureza (ocorrência,
distribuição, propriedades físico-químicas, etc.) estão interrelacionados de tal forma que
a explicação e o entendimento dos mesmos só são alcançados mediante a reunião dos
conhecimentos das diversas sub-áreas. Por exemplo, como estudar os processos de
deposição de nutrientes e sedimentos em um reservatório (limnologia) sem a
caracterização do aporte dessas substâncias oriundo do curso d’água (rio) barrado para
formar o reservatório (potamologia)?
3
Por outro lado, também cabe salientar que, a despeito dos vários profissionais
envolvidos na problemática da água, os estudos hidrológicos, propriamente ditos,
geralmente envolvem técnicas originárias ou desenvolvidas a partir de conceitos de
outras áreas, mas que o profissional que lida com a hidrologia deve estar familiarizado e
ser capaz de aplica-las e entender seus resultados. Entre tais técnicas pode-se citar:
teoria estocástica, séries temporais, análise multicritério, teoria das decisões, análise
econômica, programação dinâmica, inteligência artificial, otimização, interpretação de
imagens de satélite, etc.
4
• Com o advento do computador em conjunto com o aprimoramento de
técnicas estatísticas e numéricas, deu-se um grande avanço na hidrologia.
Foram desenvolvidos modelos precipitação-vazão e avanços na hidrologia
estocástica. O escoamento subterrâneo, a limnologia e a modelação
matemática de processos constituem outros desenvolvimentos importantes.
5
Assim, embora a Terra apresente 1.386 milhões de km3 de água, considera-se
que o que está disponível ao uso humano é apenas 0,007% dessa quantidade.
% do
% do
Volume volume
Reservatório 3 3 volume
(x 10 km ) de água
total
doce
Oceanos 1.338.000,0 96,5379 -
Subsolo: 23.400,0 1,6883 -
Água doce 10.530,0 0,7597 30,0607
Água salgada 12.870,0 0,9286 -
Umidade do solo 16,5 0,0012 0,0471
Áreas congeladas 24.064,0 1,7362 68,6971
Antártida 21.600,0 1,5585 61,6629
Groenlândia 2.340,0 0,1688 6,6802
Ártico 83,5 0,0060 0,2384
Montanhas 40,6 0,0029 0,1159
Solos congelados 300,0 0,0216 0,8564
Lagos 176,4 0,0127 -
Água doce 91,0 0,0066 0,2598
Água salgada 85,4 0,0062 -
Pântanos 11,5 0,0008 0,0328
Rios 2,1 0,0002 0,0061
Biomassa 1,1 0,0001 0,0032
Vapor d'água na atmosfera 12,9 0,0009 0,0368
Armazenamento total de água salgada 1.350.955,4 97,4726 -
Armazenamento total de água doce 35.029,1 2,5274 100,0
Armazenamento total de água 1.385.984,5 100,0 -
Água doce outros
2,5% 1%
30%
água doce no
água subsolo
congelada
Figura 1.1 – Distribuição da água na Terra (adaptado de Shiklomanov, 1997, apud Setti
et al. 2001).
6
Capítulo 2
Ciclo hidrológico
Descrição geral
7
Figura 2.1 – Ciclo hidrológico (fonte: adaptado de EPA, 1998).
De maneira simplificada, o ciclo hidrológico pode ser descrito da seguinte
forma:
8
Outro fato a ser ressaltado é que a evaporação está presente em quase todas as
etapas do ciclo.
Um termo normalmente usado para denotar a evaporação associada à
transpiração da vegetação é a evapotranspiração.
Apesar de haver algumas divergências quantos aos valores estimados de autor
para autor, convém comentar que cerca de 383.000 km3 de água evaporam por ano dos
oceanos (Wundt, 1953, apud Esteves, 1988). Isso equivaleria à retirada de uma camada
de 106 cm de espessura dos oceanos por ano. Desse total evaporado, estima-se que 75%
retornem diretamente aos oceanos sob a forma de precipitação, enquanto os 25%
restantes precipitam sobre os continentes.
Uma curiosidade evidenciada por Esteves (1988) é que a composição química da
precipitação oceânica difere nitidamente da continental, particularmente no que diz
respeito à concentração de íons como Na+, Mg2+ e Cl-, maior na precipitação oceânica.
O ciclo hidrológico, como já colocado anteriormente, promove a movimentação
de enormes quantidades de água ao redor do planeta. Entretanto, algumas das fases do
ciclo são consideradas rápidas e outras muito lentas, se comparadas entre si. A Tabela
2.1 ilustra esse comentário, ao apresentar alguns períodos médios de renovação da água
nos diferentes “reservatórios”. Tais valores dizem respeito ao tempo necessário para que
toda a água contida em cada um dos reservatórios seja renovada – dentro de uma visão
bastante simplificada, é claro, da “entrada”, “circulação” e “saída” de água neles.
9
A princípio, as etapas de precipitação e evaporação são consideradas as mais
importantes dentro do ciclo hidrológico, pensando em termos de volume de água
movimentado. Entretanto, à medida que se diminui a escala de análise, as demais fases
do ciclo se tornam muito importantes. Por exemplo, analisando uma determinada área
de dezenas de hectares, a interceptação, infiltração, percolação e escoamento superficial
são bastante relevantes para entendimento dos processos hidrológicos.
10
corresponder a 55% do total precipitado, enquanto esse percentual era equivalente a
apenas 10% da precipitação para a situação de cobertura natural do solo.
1
atividade antrópica = aquela relativa à ação humana.
11
Tabela 2.2 – Atividade humana e seus impactos sobre a disponibilidade hídrica. (Fonte:
adaptado de Tundisi, 2000).
Atividade humana Impacto nos ecossistemas aquáticos Valores/serviços em risco
Usos da água
Os setores usuários das águas são diversos, utilizando-as para diferentes fins.
Dependendo do uso, há a necessidade de derivação da água e ocorre um consumo (uso
consuntivo), retornando determinada parcela da água aos corpos d’águas. Outros usos,
12
como a navegação, por exemplo, são considerados não consuntivos, pois não alteram a
quantidade deste recurso na natureza.
Na Tabela 2.3 são listados os principais usos da água, explicitando algumas
características: existência ou não de derivação de águas do seu curso natural; a
finalidade e os tipos de uso; as perdas por uso consuntivo da água; os requisitos de
qualidade exigidos para cada uso e; os efeitos da utilização, especialmente de qualidade.
Tabela 2.3 – Usos da água (Fonte: adaptado de Barth, 1987, apud Setti et al., 2001).
Requisitos de
Forma Finalidade Tipo de uso Uso consuntivo Efeitos nas águas
qualidade
doméstico ou para
Alterações na qualidade
abastecimento dessedentação de baixo, de 10% Médios
com efeitos difusos
animais
estações de Carreamento de
aqüicultura baixo, de 10% Altos
piscicultura e outras matéria orgânica
manutenção de
navegação lançamento de óleo e
calados mínimos e não há baixos
fluvial combustíveis
eclusas
natação e outros
recreação, lazer altos, especialmente
esportes com contato
e harmonia lazer contemplativo recreação de contato não há
direto, como iatismo e
paisagística primário
motonáutica
sem
derivação com comerciais de
das águas espécies naturais ou altos, nos corpos d'água, alterações na qualidade
pesca introduzidas através de não há correntes, lagos, ou após mortandade de
estações de reservatórios artificiais peixes
piscicultura
diluição,
poluição orgânica,
assimilação de autodepuração e
não há não há física, química e
esgotos transporte de esgotos
bacteriológica
urbanos e industriais
13
Escassez da água
2
Lei Federal n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria
o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e dá outras providências.
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Capítulo 3
Bacia Hidrográfica
Superfícies
Superficies
Vertentes
vertentes
Rede de
Rede de
drenagem
drenagem
Fonte: adaptado
de EPA (1998)
Figura 3.1 – Superfícies vertentes e rede de drenagem que compõem uma bacia
hidrográfica.
15
Relembrando os processos envolvidos no ciclo hidrológico (Capítulo 2), a bacia
hidrográfica pode ser considerada como um sistema físico, cuja entrada é o volume de
água precipitado e cuja saída é o volume de água escoado pelo exutório. Entretanto, esse
é um sistema aberto, já que nem toda a precipitação (entrada de água) se torna
escoamento no exutório (saída) ou fica armazenada na própria bacia. Há perdas
intermediárias, relativas aos volumes evaporados, transpirados (pela vegetação) ou
infiltrados profundamente (Figura 3.2). Tais volumes de água representam parcela da
entrada no sistema que é “perdida” para a atmosfera ou para camadas profundas do
subsolo.
Precipitação
limite da bacia
hidrográfica
evaporação
Vazão
percolação profunda
16
bacia, como relevo, topografia, cobertura vegetal, tipo de solo, geologia, presença de
áreas urbanas, atividades agropecuárias ou industriais, etc.
Na Figura 3.3 são apresentados dois gráficos, denominados de hietograma e
hidrograma. O primeiro se refere à representação da precipitação ocorrida ao longo do
tempo, enquanto o hidrograma retrata o comportamento da vazão ao longo do tempo.
Tais gráficos são apenas exemplos típicos e serão discutidos em mais detalhes no
Capítulo referente ao Escoamento Superficial, mas permitem visualizar o papel
hidrológico da bacia, transformando a entrada de água concentrada no tempo em uma
saída mais distribuída.
tempo
precipitacao
(Hietograma)
Hietograma)
vazao
tempo
(Hidrograma)
Hidrograma)
17
À medida que se processa o escoamento superficial nas vertentes, ocorre
também o transporte de partículas do solo (sedimentos), devido à força erosiva das gotas
da chuva e à própria ação do escoamento. Isso é referido como “produção de
sedimentos” pelas vertentes, de forma análoga à produção de água, e será melhor
discutido no Capítulo referente ao Transporte de Sedimentos.
Importante ressaltar que as superfícies vertentes e a rede de drenagem são
indissociáveis, visto que estão em constante interação. Durante a precipitação, as
vertentes contribuem para os arroios e rios com água e sedimentos carreados.
Entretanto, quando ocorre cheia no rio, este extravasa da sua calha principal, alcançando
a planície de inundação, ocorrendo fluxo inverso de água e sedimentos (agora no
sentido calha do rio para planície de inundação).
18
chamados divisores topográficos da bacia. Como o escoamento se dá pela ação da
gravidade, e a bacia é definida como o conjunto de áreas que contribuem para um ponto,
é fácil perceber que as regiões de terreno mais elevado estabelecem uma divisão entre a
parte do terreno cujo escoamento segue até o rio em questão e a parte cujo escoamento
segue para outro rio de outra bacia.
Também é importante ter em mente o conceito de “bacias dentro de bacias”, o
qual é ilustrado pela Figura 3.5. Tendo o ponto A como base, a área contribuinte, ou
seja, sua bacia hidrográfica é a indicada em tal figura. Entretanto, essa bacia está
inserida na bacia do ponto B que, por sua vez, está contida na bacia do ponto C. Assim,
conforme a escala em que se trabalhe e, principalmente, o interesse do estudo a ser
realizado, serão tomadas as bacias “maiores” ou as sub-bacias e micro-bacias.
A
B
19
Fonte: Villela (1975)
Figura 3.6 – Indicação dos divisores topográficos e freáticos de uma bacia hidrográfica
(Fonte: Villela, 1975).
20
O território brasileiro foi dividido inicialmente em 8 regiões hidrográficas (R.
H.), mas atualmente, segundo a Resolução 32 do Conselho Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH) de 15 de outubro de 2003, são estabelecidas 12 regiões hidrográficas
(Figura 3.6): R. H. do Amazonas; R. H. do Tocantins; R. H. do Paraguai; R. H. do
Paraná; R. H. do Atlântico Nordeste Ocidental; R. H. do Atlântico Nordeste Oriental; R.
H. do Parnaíba; R. H. do São Francisco; R. H. do Atlântico Leste; R. H. do Atlântico
Sudeste; R. H. do Atlântico Sul; R. H. do Uruguai.
R.H. Atlântico
Nordeste Ocidental
R.H. do Parnaíba
R.H. Amazônica
R.H. Atlântico
Nordeste Oriental
R.H. do São
Francisco
R.H. do
Tocantins
R.H. Atlântico Leste
R.H. do Paraguai
R.H. do
Paraná R.H. Atlântico Sudeste
R.H. do Uruguai
21
da fronteira do Brasil, de modo que o traçado da região correspondente seguiu a
delimitação do país na parte norte.
No caso do Rio Grande do Sul, a Região Hidrográfica do Uruguai constitui o
conjunto de áreas que drenam para o Rio Uruguai, embora haja uma parcela de área
contribuinte a esse corpo d’água situada na Argentina e no Uruguai. A Região
Hidrográfica do Guaíba contempla todas as áreas cuja contribuição segue para o Lago
Guaíba. Já a Região Hidrográfica do Litoral é composta pelas áreas que drenam
diretamente para o oceano ou para o sistema de lagoas Mirim, Mangueira e Lagoa dos
Patos.
22
Fisiografia da bacia hidrográfica
Área da bacia
A área da bacia (A) corresponde a sua área de drenagem, cujo valor corresponde
à área plana entre os divisores topográficos projetada verticalmente. O conhecimento da
área da bacia permite estimar qual o volume precipitado de água, para uma certa lâmina
de precipitação3, pela expressão:
volume precipitado = lâmina precipitada x área da bacia
Como exemplo, a bacia do rio Caí tem uma área estimada em 4.983 km2,
enquanto a área da bacia dos rios Taquari-Antas é de cerca de 26.536 km2.
Forma da bacia
A forma da bacia, obviamente, é função da delimitação da área da bacia e tem
influência no tempo transcorrido entre a ocorrência da precipitação e o escoamento no
exutório. Em bacias de formato mais arredondado esse tempo tende a ser menor do que
em bacias mais compridas, como ilustra a Figura 3.9 para três bacias hipotéticas.
Dois coeficientes são comumente empregados como indicativos da forma da
bacia: fator de forma e coeficiente de compacidade.
- Fator de forma: esse coeficiente é definido pela relação entre a largura média da
bacia e o comprimento axial do curso d’água principal (LC ) . A largura média L
é calculada pela expressão:
3
O conceito de lâmina de precipitação é definido no Capítulo 4 – Precipitação.
23
A
L= ,
Lc
L A
Kf = = 2
Lc Lc
b. 1 b. 2 b. 3
Figura 3.9 – Bacias hipotéticas de mesma área, onde o tempo entre a precipitação e a
vazão no exutório tende a ser na seguinte ordem: t2<t1<t3, devido à forma da bacia.
24
Rede de drenagem
A rede de drenagem é constituída pelo rio principal e seus afluentes. O rio
principal é identificado a partir do exutório da bacia, “subindo o rio”, ou seja,
percorrendo o sentido inverso do fluxo da água, até percorrer a maior distância (em
outras palavras, o rio principal é aquele maior curso d’água do exutório até a cabeceira
da bacia). Quatro indicadores são utilizados, geralmente, para descrever a rede de
drenagem de uma bacia: ordem dos cursos d’água, densidade de drenagem, extensão
média do escoamento superficial e sinuosidade do curso d’água principal, os quais serão
descritos a seguir.
- Ordem dos cursos d’água: esse parâmetro dá uma idéia do grau de ramificação
da rede de drenagem, sendo a regra mais usual de classificar cada curso d’água a
que considera que todos os cursos d’água que não recebem afluência de outros
são de ordem 1; dois de ordem n formam um curso d’água de ordem n+1; dois
de ordens diferentes formam um de ordem igual àquele formador de maior
ordem. A bacia hipotética da Figura 3.10 exemplifica esse processo.
1
1
1 1
2
2
1 2
1
1 2
3
3
Figura 3.10 – Classificação dos cursos d’água de uma bacia quanto à ordem.
Dd =
∑l c
A
Os valores mais usuais da densidade de drenagem são: 0,5 ≤ Dd ≤ 3,5 km / km 2 .
- Extensão média do escoamento superficial: representa a distância média que
água teria que percorrer, em linha reta, do ponto onde atingiu o solo até a rede de
drenagem. Para sua determinação, considera-se um retângulo de área igual à da
25
bacia e com o maior lado igual à soma do comprimento total dos cursos d’água,
como exemplifica a Figura 3.11.
2lm
lm
4lm
x = ∑ lC
Figura 3.11 – Retângulo auxiliar de área igual à da bacia, para determinação da extensão
média do escoamento superficial.
26
LC
dC
Figura 3.13 – Foto de um rio nos EUA dando idéia da sinuosidade de um curso d’água
natural.
Relevo da bacia
As características do relevo da bacia têm influência direta sobre o escoamento
superficial, principalmente na velocidade do escoamento e na maior ou menor tendência
ao armazenamento da água na superfície ou depressões do solo. Entretanto, o relevo
também influencia a evaporação, a precipitação e a temperatura, por serem função da
altitude, dentre outras variáveis.
27
- Declividade da bacia: bacia com maior declividade tende a ter maior velocidade
do escoamento e ser mais susceptível à erosão do solo, caso este esteja
descoberto; a declividade da bacia é geralmente estimada pelo método das
quadrículas, analisando as curvas de nível do terreno. O referido método foge ao
escopo desta disciplina e não é descrito neste texto.
Cota (m)
150
100
50
38%
20% 40% 60% 80% 100%
Figura 3.14 – Exemplo de uma curva hipsométrica, segundo a qual, por exemplo, 38%
da área da bacia está em cotas superiores à 50 m.
28
Capítulo 4
Precipitação
Aspectos gerais
29
físicos, ocorre o crescimento das gotas, em parte devido ao choque das primeiras com
outras gotas menores. Ao atingir peso suficiente, as gotas precipitam.
Classificação da precipitação
30
Caracterização da precipitação
Medição da precipitação
31
Assim, o pluviômetro indica a precipitação ocorrida nas últimas 24 horas, desde
a última leitura, a qual é anotada pelo operador em uma caderneta diariamente.
Fonte: Studart,
2003.
32
o operador já passa a ser alguém com conhecimento mais especializado, geralmente um
técnico.
33
Análise de dados de precipitação
Preenchimento de falhas
34
brevemente apresentados, sendo a descrição detalhada encontrada na bibliografia
indicada ao final deste documento.
1 P P P
PX = Z + Y + W ⋅ PXm ,
3 PZm PYm PWm
onde PXm, PYm, PZm e PWm são as precipitações médias nos postos X, Y, Z e W,
respectivamente; PX, é a precipitação no posto X a determinar; PY, PZ e PW são as
precipitações nos postos Y, Z e W, respectivamente, no intervalo de tempo referente
àquele da precipitação no posto X a determinar.
Esse método é normalmente usado para séries mensais ou anuais, não sendo
recomendado para séries diárias, devido à grande variabilidade temporal e espacial da
precipitação.
35
PX = a ⋅ PY + b ⋅ PZ + c ⋅ PW + d ,
onde Px é a precipitação a ser determinada no posto X com falha; Py, Pz e Pw são as
precipitações nos postos vizinhos Y, Z e W, respectivamente; a, b, c, d são coeficientes
a ajustar com base nas séries de dados disponíveis dos quatro postos.
O método mais comum de determinar os coeficientes a, b, c, d é o método dos
mínimos quadrados, que procura ajustar tais valores de modo a minimizar o somatório
do quadrado das distâncias de cada valor em relação à média e cuja descrição foge ao
escopo deste texto, mas é facilmente encontrada em qualquer livro de Estatística, como
por exemplo Spiegel (1972).
Análise de consistência
Dispondo das séries de precipitação sem falhas, preenchidas por algum dos
métodos descritos anteriormente, convém realizar uma análise de consistência, para
avaliar a homogeneidade das informações entre os postos pluviométricos. Embora à
primeira vista os dados possam estar com valores supostamente coerentes, é possível
haver inconsistência nas informações dos totais precipitados, oriundos de problemas
como troca de operador, troca de equipamento, mudança nas condições vizinhas ao
local onde o equipamento está instalado, etc.
36
Caso sejam identificadas inconsistências, devem ser revistas as falhas
preenchidas bem como tentar identificar outras falhas não apontadas inicialmente.
Para detectar tais inconsistências, geralmente são empregados os métodos da
Dupla Massa e do Vetor Regional. O primeiro método é descrito resumidamente a
seguir, enquanto o segundo pode ser encontrado em detalhes em Tucci (2000).
Posto Y Posto Y
Posto Y Posto Y
37
Entretanto, pode ocorrer que os pontos se alinhem em uma reta até certo instante
e em outra a partir daí, sendo duas retas de declividades diferentes (Figura 4.4-b). Isso
indica uma mudança de tendência no posto a consistir (no caso, posto Y), que pode ser
causada por erros sistemáticos (por exemplo, mudança do operador, que está fazendo a
leitura do instrumento erroneamente), por alterações climáticas, como a construção de
um lago artificial próximo ao local de medição, entre outras.
Também pode ocorrer dos pontos se alinharem em duas ou mais retas de mesma
declividade (paralelas) (Figura 4.4-c). A principal causa são erros de transcrição dos
dados, causados pelo operador ou durante o processamento das informações.
Quando o gráfico dos totais acumulados apresenta a forma da Figura 4.4-d, onde
os pontos estão distribuídos de forma dispersa, sem haver nenhuma tendência clara, isso
indica, geralmente, que os postos em questão apresentam regimes pluviométricos
distintos, não devendo ser usados conjuntamente nos estudos hidrológicos.
m (método da Califórnia)
F=
n
m
F= (método de Kimball)
n +1
38
de grande variabilidade temporal e espacial, e a estimativa da freqüência F apenas dá
uma idéia da probabilidade de ocorrência de cada valor da precipitação na área em
estudo, havendo técnicas estatísticas mais complexas para realizar previsões mais
confiáveis.
Método artimético
Esse método é o mais simples e consiste apenas em obter a precipitação média a
partir da média aritmética das precipitações nos postos selecionados. Assim, supondo
que estejam disponíveis dados dos postos X, Y, Z e W, a precipitação média na bacia da
Figura 4.5 pode ser estimada como:
PX + PY + PZ + PW
Pm = ,
4
onde PX, PY, PZ, PW, são as precipitações nos postos X, Y, Z e W, respectivamente, e Pm
é a precipitação média na bacia.
39
Figura 4.5 – Postos com dados disponíveis para estimativa da precipitação média da
bacia do exemplo.
Método de Thiessen
Esse método determina a precipitação média em uma bacia a partir das
precipitações observadas nos postos disponíveis, incorporando um peso a cada um
deles, em função de suas “áreas de influência”. Com base na disposição espacial dos
postos, são traçados os chamados polígonos de Thiessen, que definem a área de
influência de cada posto em relação à bacia em questão.
Dessa forma, a precipitação média é obtida pela ponderação dos valores
registrados em cada posto e de suas áreas de influência. Considerando quatro postos
com informação disponível (postos X, Y, Z e W), a precipitação média estimada por
esse método é:
AX ⋅ PX + AY ⋅ PY + AZ ⋅ PZ + AW ⋅ PW
Pm = ,
A
onde: PX, PY, PZ, PW são as precipitações nos postos X, Y, Z e W, respectivamente; AX,
AY, AZ, AW são as áreas de influência dos postos X, Y, Z e W; Pm é a precipitação média
na bacia; A é a área da bacia que, no caso, corresponde à soma das áreas AX, AY, AZ, AW.
40
Para o traçado dos polígonos de Thiessen, inicialmente os postos são unidos por
linhas retas formando um polígono fechado (Figura 4.6-b); em seguida, são traçadas
retas perpendiculares aos segmentos que unem os postos, dividindo-os em duas partes
iguais (Figura 4.6-c); essas retas perpendiculares são prolongadas até o cruzamento com
as demais, definindo os polígonos de Thiessen e, portanto, as áreas de influência de
cada posto na bacia (Figura 4.7).
(a) (b)
Figura 4.7 – Definição dos polígonos de Thiessen e das áreas de influência dos postos
X, Y, Z e W para estimativa da precipitação média na bacia do exemplo.
41
cada um teria sua área de influência na bacia. Como essas áreas não variam, visto que os
postos têm localização fixa, o cálculo pode ser automatizado, agilizando o processo.
Entretanto, uma crítica a esse método é que ele não leva em conta as
características do relevo, apresentando bons resultados parar terrenos levemente
ondulados e também quando há uma boa densidade de postos de medição da
precipitação.
42
A precipitação média na bacia pode ser obtida, portanto, a partir das isoietas
traçadas, fazendo uma média ponderada em função das áreas entre duas isoietas
consecutivas e o valor médio entre elas, como mostra a expressão a seguir:
P + Pi +1
∑ Ai , i +1 ⋅ i
2
Pm = ,
A
onde Ai,i+1 é a área entre a isoieta i e a consecutiva i+1; Pi e Pi+1 são as precipitações
referentes às isoietas i e i+1; Pm é a precipitação média na bacia; e A é a área da bacia
que, no caso, é equivalente ao somatório das áreas entre as isoietas.
O emprego das isoietas para determinação da precipitação média em uma bacia
tem a vantagem de que leva em consideração a disposição espacial dos postos na bacia,
quando realiza a interpolação para traçado das isoietas, e também o relevo da bacia, ao
permitir ajustar o traçado por ele.
Precipitações máximas
43
Assim, para caracterizar a precipitação máxima em uma área, são normalmente
empregadas as chamadas curvas i-d-f ou curvas intensidade-duração-freqüência. Tais
curvas são obtidas a partir de dados de pluviógrafos, como apresentado por Tucci
(2000).
Para um determinado tempo de retorno (Tr), a curva i-d-f estabelece as máximas
intensidades da precipitação (i) para cada duração (t), tendo geralmente a seguinte
forma:
c
c1 ⋅ Tr 2
i= ,
(t + c3 )c 4
onde c1, c2, c3, c4, são coeficientes ajustados para cada região; i é a intensidade da
precipitação em mm/h; t é a duração em minutos e Tr é o tempo de retorno em anos.
Por exemplo, as curvas i-d-f para a cidade de Curitiba (PR) e para a região do
Parque da Redenção, em Porto Alegre (RS), são:
44
Figura 4.9 – Curva i-d-f de Caxias do Sul, para os tempos de retorno de 2, 5 e 10 anos
(nas ordenadas, tem-se a intensidade da precipitação, em mm/h; nas abscissas, a duração
da precipitação, em horas) (Fonte: IPH, 2001).
45
Capítulo 5
Escoamento Superficial
Introdução
4
Vazão = volume por unidade de tempo, geralmente em m3/s ou l/s.
46
parcela vai se juntar ao escoamento subterrâneo, alimentando os rios. A rigor, há ainda a
parcela da precipitação que cai diretamente sobre a superfície dos rios, mas que é
geralmente desprezível, se for considerada relativamente às demais contribuições.
Resumindo, em um corpo d’água o escoamento tem como origem as seguintes
componentes:
- precipitação direta sobre a superfície do corpo d’água;
- escoamento superficial nas vertentes da bacia;
- escoamento sub-superficial;
- escoamento subterrâneo.
Hidrograma
5
Em capítulo posterior, será dado maior ênfase às características do fluxo de água em um rio
propriamente dito (fluxo fluvial).
47
tempo), é reflexo direto das particularidades de cada bacia hidrográfica, estando
envolvidos fatores como grau de urbanização, tipo de solo, área, etc.
A título de curiosidade e ilustração, na Figura 5.1 é apresentado um hidrograma
composto por dados observados (vazões diárias medidas no próprio rio)6 no Rio
Uruguai, na seção localizada em Garruchos, a cerca de 300 km a montante de
Uruguaiana. Esse hidrograma é referente ao período entre julho e setembro de 1965,
com destaque para a cheia que ocorreu entre os dias 16 e 30 de agosto.
30.000
25.000
vazão (m3/s)
20.000
15.000
10.000
5.000
0
27/jul 06/ago 16/ago 26/ago 05/set 15/set 25/set
6
Também no capítulo sobre Fluxo Fluvial serão descritos os métodos de medição de vazão.
48
Figura 5.2 – Hidrograma típico resultante da ocorrência de uma precipitação na área
contribuinte.
49
- o ponto C caracteriza o instante de tempo em que não há mais escoamento superficial
devido àquela precipitação contribuindo para essa seção do rio; esse ponto C é
conhecido como ponto de inflexão;
- também é interessante a caracterização do tempo de pico (tpico), ou seja, o tempo
transcorrido desde o centro de massa da precipitação até o hidrograma atingir seu
máximo.
Tempo de Concentração
Uma característica importante do hidrograma de uma bacia é o tempo de
concentração (tc), definido como sendo o tempo necessário para que toda a bacia
hidrográfica contribua para o ponto (seção) analisado. Em outras palavras, o tempo de
concentração também pode ser entendido como o tempo necessário para que a água
precipitada no ponto mais distante da bacia se desloque até a seção analisada.
Na prática, há diversas equações empíricas que correlacionam aspectos físicos
da bacia com o tempo de concentração, sendo uma forma usual de estimar esse
parâmetro. A equação de Kirpich e a desenvolvida pelo California Culverts Practice
são dois exemplos:
50
onde: tC é o tempo de concentração (min); L é o comprimento do rio principal (km); S é
a declividade do rio principal (m/m); H é a diferença de cota entre o exutório da bacia e
o ponto mais a montante (m).
Tipo de solo
Conforme a bacia apresente solos mais ou menos permeáveis, haverá maior ou
menor infiltração, respectivamente, ditando portanto a geração de escoamento
superficial. Solos argilosos, por exemplo, apresentam menor permeabilidade do que
solos arenosos. Também influencia a questão da umidade inicial do solo, ou seja, a
umidade do solo no instante em que ocorre a precipitação. Obviamente, se o solo já está
51
saturado ou com uma certa umidade, decorrente de uma precipitação anterior, ao ocorrer
a nova precipitação sua capacidade de absorver essa água será nula ou bem inferior
àquela se ele estivesse em condições normais, repercutindo na maior geração de
escoamento superficial7.
urbanizada
rural
Figura 5.3 – Comparação esquemática entre os hidrogramas de uma bacia rural e depois
na situação urbanizada (Fonte: adaptado de Tucci, 2000).
Intervenções no rio
Procurando atender suas necessidades, o homem tem alterado substancialmente
os rios e arroios, seja na forma de barramentos como através de desvios, retificação e
canalização do rio. A construção de barragens altera drasticamente a variação natural da
vazão no rio a jusante da obra e, portanto, o hidrograma no trecho em questão é
7
Esse processo será melhor discutido em capítulo específico referente à Infiltração.
52
totalmente dependente do modo como é operada a barragem, do quanto de vazão ela
“deixa passar” para jusante – a vazão no rio a jusante de uma barragem é normalmente
referida como vazão regularizada (Figura 5.4).
As intervenções humanas no sentido de retificar e canalizar o curso d’água
também repercutem na forma do hidrograma, já que a canalização geralmente
possibilita um fluxo mais rápido, com maiores velocidades do escoamento.
natural
regularizada
Características da precipitação
Além dos demais fatores mencionados, que são função da própria bacia, as
características da precipitação também influenciam bastante o formato do hidrograma.
Chuvas rápidas mas com maior intensidade tendem a provocar hidrogramas com
maiores picos do que chuvas de menor intensidade e maior duração, cujo hidrograma é
“mais achatado”, ou seja, a vazão é mais uniforme ao longo tempo, relativamente ao
primeiro caso – a Figura 5.5 traz um exemplo.
Mas a distribuição espacial da chuva também repercute significativamente no
aspecto do hidrograma, pois a ocorrência da precipitação em uma área próxima à seção
do rio em análise vai gerar maiores vazões do que se essa mesma precipitação ocorresse
apenas na cabeceira da bacia.
53
P2
P1
P1
P2
Precipitação efetiva
evapora
arm. depres.
total
precipitado infiltra
gera
escoam.
superficial
54
Na tentativa de representar o processo de infiltração da água no solo, foram
desenvolvidas algumas equações, que serão descritas em capítulo posterior deste texto.
Tais equações não são normalmente empregadas para a determinação da precipitação
efetiva por requererem uma caracterização do solo da região, para estimar os parâmetros
da infiltração, o que nem sempre está disponível.
Índices
O uso de índices consiste em um método simplificado de determinar a
precipitação efetiva, através do emprego de um fator constante, chamado índice. Tal
fator pode ser estimado a partir dos dados de vazão ou adotando-se um valor pré-
ajustado com base em eventos anteriores de chuva ou com base no valor estimado para
outras bacias com características semelhantes.
O índice α é um fator constante multiplicativo da precipitação total (P), cujo
resultado é a precipitação efetiva (Pef), sendo seu valor geralmente entre 0,8 e 0,9
(Tucci, 2000):
Pef = α ⋅ P
Outro índice é o φ, cujo valor também constante deve ser subtraído do total
precipitado para obter a precipitação efetiva:
Pef = P − φ ,
onde φ pode ser determinado dividindo-se a diferença entre o total precipitado e o total
escoado pelo número de intervalos de tempo em que a precipitação foi discretizada:
φ= ∑ P − ∑Q
t t
,
nt
onde Pt e Qt é a precipitação e a vazão no instante de tempo t, e nt é o número de
intervalos de tempo.
55
w=
∑ P −∑Q − S
t t
nt
Método SCS
Esse método foi desenvolvido pelo Soil Conservation Service, do Departamento
de Agricultura dos EUA, em 1957, baseado em estudos que procuraram correlacionar a
precipitação total e a efetiva. Tais estudos indicaram uma relação do tipo:
(
Pef = P n + d n − d , )
onde P é a precipitação total, Pef é a precipitação efetiva, n é um coeficiente empírico e
d = P - Pef.
Fazendo algumas suposições e considerações, foi obtida a seguinte expressão
para determinação da precipitação efetiva:
Pef =
(P − 0,2S )2 (se P > 0,2S)
P + 0,8S
onde S representa a retenção potencial do solo, isto é, a sua capacidade de armazenar
água.
Este método considera que para cada precipitação ocorrem perdas iniciais
(evaporação, infiltração, etc) da ordem de 0,2S e, portanto, caso a precipitação seja
inferior a tais perdas iniciais, não há formação de escoamento superficial, ou seja, a
precipitação efetiva é zero:
Pef = 0 (se P < 0,2S)
56
Inicialmente deve-se escolher o tipo de solo dentre os quatro grupos
especificados na Tabela 5.1. Em seguida, é definida a condição de umidade antecedente
do solo, sendo estabelecidas três condições especificadas na Tabela 5.2. Independente
de qual condição de umidade do solo foi escolhida na tabela anterior, o próximo passo
consiste em escolher o valor do CN para a condição de umidade II, conforme o uso do
solo e o tratamento feito na sua superfície (Tabela 5.3). Por fim, caso a condição de
umidade não seja a II, procede-se à conversão do valor do CN escolhido no passo
anterior, utilizando-se da Tabela 5.4.
Tabela 5.1 – Tipos de solo considerados pelo SCS para escolha do CN.
Grupo Descrição
Solos arenosos com baixo teor de argila total, inferior a 8%, não
havendo rocha nem camadas argilosas, e nem mesmo
A
densificadas até a profundidade de 1,5 m. O teor de húmus é
muito baixo, não atingindo 1%.
Solos arenosos menos profundos que os do Grupo A e com menor
teor de argila total, porém ainda inferior a 15%. No caso de terras
roxas, esse limite pode subir a 20% graças à maior porosidade. Os
B dois teores de húmus podem subir, respectivamente, a 1,2 e 1,5%.
Não pode haver pedras e nem camadas argilosas até 1,5m, mas é,
quase sempre, presente camada mais densificada que a camada
superficial.
Solos barrentos com teor de argila de 20 a 30%, mas sem
camadas argilosas impermeáveis ou contendo pedras até
profundidades de 1,2m. No caso de terras roxas, esses dois limites
C
máximos podem ser de 40% e 1,5m. Nota-se a cerca de 60 cm de
profundidade, camada mais densificada que no Grupo B, mas
ainda longe das condições de impermebialidade.
Solos argilosos (30 - 40% de argila total) e ainda com camada
densificada a uns 50 cm de profundidade. Ou solos arenosos
D
como do Grupo B, mas com camada argilosa quase impermeável,
ou horizonte de seixos rolados.
Fonte: Porto (1995).
Tabela 5.2 – Condições de umidade antecedente do solo considerados pelo SCS para
escolha do CN.
Condição Descrição
Solos secos: as chuvas, nos últimos cinco dias, não
I
ultrapassaram 15 mm.
Situação média na época das cheias: as chuvas, nos últimos
II
cinco dias, totalizaram de 15 a 40 mm.
57
Tabela 5.3 – Valores de CN em função da cobertura do solo e do tipo hidrológico de
solo, para a condição de umidade II.
Grupo hidrológico de solos
Uso do solo/Tratamento/Condições hidrológicas
A B C D
Uso residencial
Tamanho médio do lote % Impermeável
2
até 500 m 65 77 85 90 92
2
1000 m 38 61 75 83 87
2
1500 m 30 57 72 81 86
Estacionamentos pavimentados, telhados 98 98 98 98
Ruas e estradas:
pavimentadas, com guias e drenagens 98 98 98 98
com cascalho 76 85 89 91
de terra 72 82 87 89
Áreas comerciais (85% de impermebialização) 89 92 94 95
Distritos industriais (72% de impermebialização) 81 88 91 93
Espaços abertos, parques, jardins:
boas condições, cobertura de grama > 75% 39 61 74 80
condições médias, cobertura de grama > 50% 49 69 79 84
Terreno preparado para plantio, descoberto
plantio em linha reta 77 86 91 94
Culturas em fileira
linha reta condições ruins 72 81 88 91
condições boas 67 78 85 89
curva de nível condições ruins 70 79 84 88
condições boas 65 75 82 86
Cultura de grãos
linha reta condições ruins 65 76 84 88
condições boas 63 75 83 87
curva de nível condições ruins 63 74 82 85
condições boas 61 73 81 84
Pasto
linha reta condições ruins 68 79 86 89
condições médias 49 69 79 84
condições boas 39 61 74 80
curva de nível condições ruins 47 67 81 88
condições médias 25 59 75 83
condições boas 6 35 70 79
Campos condições boas 30 58 71 78
Florestas condições ruins 45 66 77 83
condições médias 36 60 73 79
condições boas 25 55 70 77
Fonte: Porto (1995).
58
Tabela 5.4 – Conversão dos valores de CN conforme as condições de umidade
antecedente do solo.
Condições de umidade
I II III
100 100 100
87 95 99
78 90 98
70 85 97
63 80 94
57 75 91
51 70 87
45 65 83
40 60 79
35 55 75
31 50 70
27 45 65
23 40 60
19 35 55
15 30 50
Fonte: Porto (1995).
59
transformação chuva-vazão, sendo necessária uma grande quantidade de informações,
como dados históricos observados chuva e vazão, caracterização espacial do tipo e uso
do solo, parâmetros específicos para diversas equações, informações de relevo, rede de
drenagem, etc, além de um alto custo de recursos e de tempo.
Em função de fatores como objetivo do estudo, características da bacia (área,
tempo de concentração, homogeneidade, rede de drenagem), escala de trabalho,
disponibilidade e qualidade de informações, tempo e recursos disponíveis, deve-se optar
entre as duas metodologias citadas para estimar a transformação chuva-vazão.
Em projetos de drenagem urbana, geralmente são empregados métodos
simplificados, como o racional e do hidrograma unitário, os quais são descritos a seguir.
Método racional
Esse método consiste apenas em estimar a vazão de pico do hidrograma para
uma determinada bacia, considerando que a vazão é diretamente proporcional à área da
bacia e à intensidade da chuva. Essa consideração assume que a precipitação ocorre
uniformemente em toda a área da bacia, e também que a intensidade é constante ao
longo da duração da precipitação – em outras palavras, distribuição espacial e temporal
uniformes da precipitação.
A expressão do método racional, adotando unidades usuais para a área da bacia e
a intensidade da chuva, é:
Q p = 0,275 ⋅ C ⋅ i ⋅ A ,
60
onde: Cm é o coeficiente médio de escoamento superficial; A é área total da bacia; Cj e
Aj são o coeficiente de escoamento superficial e a área da bacia correspondentes ao tipo
de ocupação j, respectivamente; n é a quantidade de tipos de ocupação identificados na
bacia.
Em função das simplificações consideradas no método, a aplicação do mesmo é
recomendada para pequenas bacias, com área inferior a 3 km2 ou tempo de concentração
inferior a 1 h. Em bacias de tal ordem de grandeza, a consideração de distribuição
espacial e temporal uniforme da precipitação é mais aceitável.
61
precipitação unitária
duração d
HU
62
P = 2 x precipitação unitária
HU 2Q
Q
63
P1 P2
duração d Hidrog. 2
Hidrog. 1
Q = Q1 + Q2
Q2
Q1
d
tP = + 0,6 ⋅ tC
2
tb = 2,67 ⋅ t P
A
QP = 2,08
tP
onde: d é a duração da precipitação (h); tc é o tempo de concentração da bacia (h); tp é o
tempo de pico do HUS (h); tb é o tempo de base do HUS (duração do escoamento
superficial – h); Qp é a vazão de pico do HUS (m3/s); A é a área da bacia (km2).
precipitação
escoamento
Qp superficial
tp tempo
tb
64
Assim, segundo o SCS, a resposta da bacia à precipitação unitária é um
hidrograma triangular, cuja vazão de pico é estimada pela relação apresentada
anteriormente, assim como o tempo de pico e a duração do escoamento superficial (ou
tempo de base). Valem para o HUS os mesmos princípios que norteiam o HU
(proporcionalidade e superposição).
Dada a ocorrência de precipitações consecutivas de diferentes lâminas de água,
aplicando-se os princípios de proporcionalidade e superposição obtém-se o hidrograma
final resultante da bacia, como ilustrado na Figura 5.10 para o caso de duas
precipitações. Em tal exemplo, a superposição foi realizada graficamente, o que se torna
inviável quando se pensa em um maior número de precipitações.
Convém aqui fazer um esclarecimento. Ao se falar em precipitações
consecutivas, está se referindo aos volumes precipitados em cada intervalo de tempo
igual à duração estabelecida na precipitação unitária do HU (lembrando: o HU é
definido para uma determinada duração da chuva). Na prática, tem-se um volume total
precipitado que é discretizado (dividido) no tempo em tais intervalos de tempo.
Para realizar a superposição dos hidrogramas de cada precipitação individual, ou
seja, para aplicar o método do hidrograma unitário, faz-se o que se chama de
convolução. Esse processo nada mais é do que: (i) cálculo das ordenadas do hidrograma
(as vazões propriamente ditas) referentes a cada precipitação individual em intervalos
de tempo discretizados; e (ii) a soma das ordenadas dos diversos hidrogramas nos
intervalos de tempo correspondentes. A atenção maior deve-se dar ao “deslocamento”
no tempo dos hidrogramas de cada precipitação, conforme o instante de tempo em que
ocorreu cada uma delas.
A seguir é apresentado um exemplo ilustrativo da convolução.
65
q2
q1 q3
q4
1 2 3 4 t
Figura 5.12 – Hidrograma Unitário Sintético do SCS do exemplo.
Deve ser ressaltado que cada a resposta da bacia a cada precipitação foi
considerada tendo início no intervalo de tempo seguinte à ocorrência da precipitação (no
HUS desse exemplo, a precipitação ocorreu em t = 0 e a vazão gerada iniciou-se em t =
1). Dessa forma, a precipitação P1 ocorreu em t = 0, provocando uma vazão na seção
considerada que se inicia em t = 1. Analogamente, a primeira resposta à precipitação P2
(ocorrida em t = 1), foi no tempo t = 2.
66
Assim, o hidrograma resultante das duas precipitações é:
em t = 0, Q0 = 0;
em t = 1, Q1 = P1.q1;
em t = 2, Q2 = P1.q2 + P2.q1;
em t = 3, Q3 = P1.q3 + P2.q2;
em t = 4, Q4 = P1.q4 + P2.q3;
em t = 5, Q5 = P2.q4.
67
Capítulo 6
Interceptação e
Retenção Superficial
Introdução
Interceptação
68
do estudo hidrológico desenvolvido, a interceptação pode ser desprezível ou ser
considerada embutida junto com outras perdas em um termo ou coeficiente único.
Entretanto, dependendo principalmente do tipo e densidade da cobertura vegetal na
bacia e das características da precipitação, o volume retido na vegetação pode ser bem
significativo e merecer um tratamento específico no processo de transformação chuva-
vazão.
Por exemplo, Linsley (1949) apud Tucci (2000) menciona que, sob determinadas
condições, a interceptação pode ser de 25% do total precipitado anual em uma bacia
hidrográfica. Já segundo Wingham (1970) apud Tucci (2000), o volume interceptado
pela vegetação pode atingir 250 mm ao ano em regiões úmidas com florestas.
Processo de interceptação
O processo de interceptação pela cobertura vegetal é ilustrado pela seqüência da
Figura 6.1, apresentada abaixo.
69
Pode-se perceber, pelo processo descrito anteriormente, que o volume de água
interceptado pela vegetação varia ao longo do tempo, desde o início da precipitação,
quando estava “sem água acumulada” (ou seja, podia ocupar toda a sua capacidade de
armazenamento) até passado algum instante de tempo, quando fica com sua capacidade
preenchida.
Conclui-se, então, que a maior parte da interceptação ocorre no início da
precipitação e vai diminuindo ao longo do tempo, tendendo a zero. Um gráfico típico do
volume interceptado pela vegetação no decorrer do tempo, em termos percentuais do
total precipitado, tem a forma apresentada na Figura 6.2.
Interceptação (%)
80
40
20
tempo
Figura 6.2 – Comportamento típico da evolução da interceptação ao longo do tempo
transcorrido de precipitação, em uma bacia hidrográfica, em termos de percentual do
total precipitado.
70
período de tempo com menores taxas de interceptação. Da mesma forma, chuvas mais
intensas tendem a ter uma parcela menor do total precipitado sendo interceptada, já que
dificultam a retenção da água na folhagem e mais rapidamente “saturam” a capacidade
de armazenamento da vegetação. O gráfico da Figura 6.3 apresenta duas curvas do
percentual de interceptação ao longo do tempo, referentes a precipitações de
intensidades diferentes, que ilustram o comentário anterior.
Interceptação (%)
Intensidade da chuva
80 i2 > i1
40
20
i1
i2
Tempo de precipitação
- Época do ano: como o regime de chuvas, o clima e a própria vegetação (devido aos
ciclos de crescimento, reprodução e troca de folhagem) variam ao longo do ano,
conclui-se que a interceptação é um processo que também varia durante o ano.
71
Balanço hídrico da interceptação
A equação da continuidade ou o balanço hídrico da interceptação pode ser
escrito simplificadamente da seguinte forma (Figura 6.4):
Pi = P – T – C,
onde Pi é a precipitação interceptada, P é a precipitação total, T é a precipitação que
atravessa a cobertura vegetal e C é a precipitação que escorre pelos galhos e troncos.
72
Figura 6.5 – Equipamento desenvolvido por Silva et al. (2000) para medição da parcela
da precipitação que atravessa a vegetação, no Cariri paraibano, sendo composta por
calha que capta a água e conduz a um pluviômetro digital.
Estimativa da interceptação
Para a estimativa da interceptação, existem fórmulas conceituais que relacionam
o volume interceptado durante uma precipitação com a capacidade de interceptação da
vegetação e a taxa de evaporação, procurando descrever o processo em si, ou seja,
embutindo um significado físico. Um exemplo é a equação de Horton (modificada por
Meriam), apresentada a seguir:
Av
( )
Pi = Sv ⋅ 1 − e − P / Sv +
A
⋅E ⋅d ,
73
Retenção superficial
74
Capítulo 7
Infiltração
Aspectos gerais
zona de aeração
zona de saturação
75
Grandezas características
76
umidade no solo fica invertido, relativamente ao início da precipitação, sendo a maior
umidade do solo agora nas camadas inferiores do solo (Figura 7.2-b).
superfície superfície
do solo umidade do solo umidade
profundidade
profundidade
(a) (b)
Figura 7.2 – Perfis de umidade do solo: (a) transcorrido algum tempo do início da
precipitação; (b) e algum tempo depois de cessar a precipitação.
77
Supondo-se a continuação da precipitação, tem início a formação do escoamento
superficial, e a taxa e a capacidade de infiltração diminuem exponencialmente, sendo
iguais entre si.
Caso a precipitação cesse, é interrompido o aporte de água na superfície e não
ocorre mais infiltração. Logo, a taxa de infiltração é nula, enquanto a capacidade de
infiltração inicia a crescer, à medida que a água tende a descer para as camadas mais
profundas ou ser evaporada/absorvida pela vegetação na parte mais superficial. Ao
ocorrer nova precipitação, todo o processo acontece novamente.
Dessa forma, tem-se que a capacidade de infiltração do solo, durante a
precipitação, varia ao longo do tempo, sendo a curva típica de infiltração da forma
daquela apresentada na Figura 7.3. Em tal curva, a capacidade de infiltração é máxima
no início da precipitação (com valor Io) e vai decaindo com o tempo, tendendo
assintoticamente a um valor constante, que é a capacidade de infiltração do solo
saturado (Is).
Capacidade de
infiltração (I)
Io
Is
tempo
78
Tal equação representa o decaimento da taxa de infiltração ao longo do tempo,
sendo válida para uma precipitação sempre superior à capacidade de infiltração (Tucci,
2000).
- tipo de solo: aspectos como porosidade, tamanho e arranjo das partículas do solo vão
influir na capacidade do solo em absorver água (exemplo: solos arenosos apresentam
maior tendência à infiltração do que solos argilosos, mais impermeáveis) (Pinto, 1976);
- umidade do solo: conforme o solo se apresente com maior ou menor teor de umidade,
menor ou maior será sua capacidade de infiltração, ou seja, sua capacidade de “receber
mais água”;
- estado da superfície do solo: o mesmo tipo de solo pode apresentar regiões com
diferentes capacidades de infiltração, face ao estado da superfície; por exemplo, solos
compactados, seja devido ao trânsito de veículos, rebanhos, etc, tornam-se menos aptos
a infiltrar (mais impermeáveis) do que o mesmo solo no seu estado “natural”;
- cobertura vegetal: a presença de uma densa cobertura vegetal favorece a infiltração,
visto que dificulta o escoamento superficial (obstrução ao escoamento pelas raízes,
troncos, restos de folhas, etc), aumentando a disponibilidade de água para infiltrar; além
disso, ao cessar a precipitação, as raízes absorvem parcela da água na camada de
aeração, agilizando o processo de aumento da capacidade de infiltração;
- temperatura: o fator temperatura influi por alterar a viscosidade da água, sendo mais
fácil a infiltração para uma menor viscosidade (capacidade de infiltração nos meses
frios < capacidade nos meses quentes);
- precipitação: como a infiltração depende de haver água disponível para infiltrar, a
intensidade, duração e o volume total da precipitação irão influir substancialmente nesse
processo.
79
Além disso, a capacidade de infiltração varia temporalmente, tanto ao longo do
ano, devido à sazonalidade da precipitação, à variação da cobertura vegetal, à
temperatura, etc, como também durante o próprio evento chuvoso, à medida que a
umidade do solo vai variando, conforme foi descrito no item anterior.
80
Na Figura 7.5, é apresentada uma foto de ensaio de infiltração realizado na
região do Cariri paraibano por Silva et al. (2000), empregando anéis concêntricos. Face
ao objetivo daquele estudo, que procurou analisar a interação solo-vegetação-atmosfera,
quanto aos balanços radiativo, de energia e hídrico, a infiltração foi determinada a partir
do perfil de umidade do solo, utilizando equipamento especializado (sonda TDR e
resistores em cápsulas porosas, instaladas em diferentes profundidades do solo) (Figura
7.6).
Figura 7.5 – Foto de ensaio de infiltração usando anéis concêntricos, realizado por Silva
et al. (2000) no Cariri paraibano.
Figura 7.6 – Foto apresentando instalação de sonda TDR e resistores em cápsula porosa,
para obtenção do perfil de umidade do solo na região do Cariri paraibano por Silva et al.
(2000).
81
Capítulo 8
Evaporação e
Evapotranspiração
Evaporação
Dentro do ciclo hidrológico, a evaporação é o processo físico no qual se
transfere água do estado líquido para a atmosfera no estado de vapor, ocorrendo
principalmente devido à radiação solar e aos processos de difusão turbulenta e
molecular.
De uma superfície líquida qualquer, exposta à ação da radiação solar (ou a outra
fonte de energia), devido à evaporação partículas de água escapam para a atmosfera.
Entretanto, simultaneamente a esse processo ocorre uma “troca” de partículas no sentido
inverso, na medida que partículas de água na forma gasosa presentes na atmosfera se
chocam com a superfície líquida e são absorvidas por esta. A evaporação continua então
até que ocorra um equilíbrio entre o número de partículas que escapam para a atmosfera
e o número de partículas que são absorvidas pela superfície líquida. Quando esse
equilíbrio acontece, tem-se que o ar em contato com a água está saturado, isto é, está
com sua capacidade máxima de vapor de água preenchida, para aquelas condições de
temperatura e pressão. Conforme a pressão e temperatura, tem-se diferentes graus de
saturação do ar.
Portanto, a evaporação compreende uma troca de água entre dois corpos, que são
a superfície evaporante e a atmosfera. Para que esse processo ocorra, é necessária uma
fonte de energia (no caso, a radiação solar) e de um gradiente de concentração de vapor.
Tal gradiente é dado pela diferença entre a pressão de saturação do vapor, na
temperatura da superfície evaporante, e a pressão de vapor do ar. Em outras palavras,
esse gradiente pode ser entendido como a diferença entre a pressão de vapor quando o
ar está saturado (que seria a pressão máxima, pois estaria com a máxima quantidade de
vapor) e a pressão de vapor do ar nas condições reais, no instante em que está sendo
analisado o processo.
82
Fatores que influenciam o processo de evaporação
Pode-se dizer que a ocorrência da evaporação em uma bacia hidrográfica é
função de:
Balanço de energia
A radiação solar, que tem comprimento de onda curto, constitui a principal fonte
de energia para o processo de evaporação na superfície terrestre. Entretanto, apenas
parcela da radiação emitida pelo Sol atinge a superfície, já que uma parte do total
emitido é absorvida pela atmosfera (gases e outras partículas presentes) e outra parte é
dispersa para o espaço, como ilustra a Figura 8.1. Da parcela de radiação que atinge a
superfície, parte é refletida e parte é absorvida.
83
A radiação absorvida pela superfície resulta no aquecimento desta, provocando a
evaporação e a emissão de radiação térmica em direção à atmosfera. Ao contrário da
radiação emitida pelo Sol, a radiação térmica emitida pela superfície aquecida tem
comprimento de onda longo, fazendo com que ela seja muito absorvida pelos gases
presentes na atmosfera, como H2O, CO2, NO3, etc. O aquecimento da atmosfera resulta
na emissão de radiação de volta para a superfície, constituindo o que se chama de Efeito
Estufa.
Figura 8.1 – Balanço de energia esquemático (Fonte: adaptado de Schneider, 1987, apud
Tucci, 2000).
Estimativa da evaporação
Existem diversos métodos para estimar a evaporação que ocorre em uma
determinada bacia hidrográfica, sendo os principais:
84
para determinar a evaporação. O mais conhecido é o método de Penman, cuja descrição
pode ser encontrada em Tucci (2000) e foge aos objetivos desse texto.
- equações empíricas: com base em medições e observações de campo, foram
desenvolvidas algumas equações empíricas para estimar a evaporação. Entretanto, elas
geralmente são restritas para uso nas regiões onde foram desenvolvidas e para algumas
condições específicas.
- balanço hídrico: uma forma de estimar a evaporação de um lago ou reservatório é
através do balanço hídrico, pelo qual são computadas as entradas e saídas de volumes de
água. Já que a evaporação constitui uma das saídas, caso se tenha conhecimento das
demais componentes do balanço, pode-se estimá-la. A equação geral é da forma:
85
Figura 8.2 – Evaporímetro tipo tanque Classe A (Fonte: Villela, 1975).
Evapotranspiração
O termo evapotranspiração é empregado para denotar a evaporação que ocorre a
partir do solo em conjunto com a transpiração dos vegetais, em uma bacia hidrográfica.
Além dos estudos hidrológicos de modo geral, a evapotranspiração constitui um
interesse especial para o balanço hídrico agrícola, onde são avaliadas as
disponibilidades e as demandas hídricas, servindo para verificar a necessidade de
irrigação (época, quantidade).
A evapotranspiração é um dos processos envolvidos na interação solo-
vegetação-atmosfera, através da qual ocorrem trocas de calor, energia e água, e que
constitui objeto de estudo de muitas pesquisas atualmente.
Praticamente o total de água eliminada pelas plantas ocorre a partir dos
estômatos, situados na superfície das folhas, sendo tal perda de água motivada pela
diferença de pressão de vapor no ar acima da superfície da folha e a pressão de vapor no
espaço interno da folha. Percebe-se, assim, que o processo de evapotranspiração é
complexo e dinâmico, já que envolve organismos vivos, o que resulta na escassez de
informações e na dificuldade de quantificação.
86
Evapotranspiração potencial (ETP) é a quantidade de água transferida para a
atmosfera por evaporação e transpiração, na unidade de tempo, de uma superfície
extensa completamente coberta de vegetação de porte baixo e bem suprida de água
(Penman, 1956, apud Tucci, 2000).
Enquanto que a evapotranspiração real é a quantidade de água transferida para a
atmosfera por evaporação e transpiração, nas condições reais (existentes) de fatores
atmosféricos e umidade do solo. Logo, a evapotranspiração real é igual ou menor que a
evapotranspiração potencial (ETR ≤ ETP).
Por serem escassas as informações a respeito da evapotranspiração real, são
usados, geralmente, os valores de evapotranspiração potencial (estimados por equações
conceituais ou empíricas), sendo depois aplicadas relações entre a ETR e a ETP.
Estimativa da evapotranspiração
Existem alguns métodos desenvolvidos para a estimativa da evapotranspiração,
como aqueles baseados na temperatura (exemplo: método de Thornthaite) ou na
radiação. Também existem formas de medição direta, como através do emprego do
lisímetro, ou indireta, através de medições sucessivas da umidade do solo.
O lisímetro é constituído por um reservatório de solo de volume em torno de
1 m3, no qual tem-se controle dos volumes de água fornecidos, infiltrados e
armazenados no solo, de modo que o balanço de volume (ou de peso) permite estimar o
quanto foi absorvido pela vegetação e transpirado.
87
Capítulo 9
Fluxo Fluvial
Generalidades
Até meados do século XX, o estudo sobre rios se limitava, principalmente, aos
aspectos hidrológicos envolvidos tendo objetivos econômicos como a geração de
energia hidroelétrica e projetos de canalização e retificação de rios. Assim, procurava-se
saber o “funcionamento” do rio visando tão somente determinar possíveis locais para
barramento e construção de hidroelétricas.
Entretanto, com o tempo passou-se a fazer uma abordagem sistêmica de rio,
considerando-o como um local onde ocorrem múltiplos eventos físicos, químicos e
biológicos (Schwarzbold, 2000). Dentro dessa nova visão, o rio é entendido como um
sistema pulsátil, regulado pelo regime hidrológico de sua bacia hidrográfica, já que se
encontra sujeito a uma grande variação dos níveis de água e vazões ao longo do tempo,
com a ocorrência de cheias periódicas (pulsos de inundação). Todo o ecossistema do rio
é dependente dessa “pulsação”, de forma que a sua interrupção ou alteração (que ocorre
principalmente devido à ação antrópica) repercute na biota aquática, no transporte de
sedimentos e nutrientes, etc.
O rio também é visto como um sistema de fluxo extremamente aberto, contínuo
e que está em permanente busca de equilíbrio dinâmico. Ele interage com o ambiente ao
redor de diversas formas, como na troca de sedimentos e nutrientes, regulando a
formação da paisagem e dando condições de vida para diversas espécies e, de acordo
com a evolução das condições do meio, procura se re-adaptar.
Ainda segundo Schwarzbold (2000), ao rio é atribuída uma função renal na
paisagem, na medida que ele “recebe”, “transforma” e “entrega”. O rio recebe tudo que
é drenado pela sua bacia hidrográfica, seja de forma pontual ou difusa. De forma
pontual tem-se, por exemplo, o lançamento dos efluentes de uma indústria, cuja
localização se identifica claramente. De forma difusa estão referidos todos os materiais
e substâncias carreados pelo escoamento superficial sobre o solo – a passagem da água
88
erode o solo e leva consigo nutrientes, poluentes, restos de vegetais, sedimentos, etc,
disponíveis sobre a superfície do solo, até o rio.
Boa parte das substâncias que aporta ao rio é transformada por ele: fisicamente,
ocorre a transformação dos materiais em solução por dissolução ou por abrasão (atrito
com o leito do rio e com outras partículas em suspensão); quimicamente, ocorre a
transformação dos nutrientes, a formação de soluções eletrolíticas, a oxidação de
moléculas, etc; biologicamente, no rio também ocorrem oxi-reduções de compostos pela
atividade bacteriana.
A função de entrega está associada ao fato de que, tanto o que o rio transformou
quanto o que se manteve inalterado é transferido por ele, trecho a trecho, para jusante.
Geralmente, um rio é caracterizado por apresentar três regiões distintas, que são:
(i) curso superior ou terras altas: composta por um canal estreito, corredeiras e
cachoeiras, onde a água tem temperaturas mais baixas e alta oxigenação;
corresponde à região da cabeceira da bacia, onde nasce o rio e o terreno
apresenta maiores declividades;
(ii) curso médio: região de transição entre o curso superior e o curso inferior;
(iii) curso inferior ou terras baixas: por se situar na parte mais baixa da bacia, e
com menor declividade, o rio tende a apresentar maior largura nessa região,
formando grandes planícies de inundação, com uma diversidade de formas
de canais e meandros.
89
cota nascente
foz
distância
(1)
(2)
(3)
planície de inundação
(b)
(a)
Figura 9.3 – Seção transversal de um rio, com indicação da calha principal e da planície
de inundação, onde: (a) nível da água no rio quando o escoamento está apenas na calha
principal; (b) nível da água no rio na época de cheia, ocupando a planície de inundação.
90
É importante ter em mente sempre que a vazão do rio está diretamente
relacionada à seção transversal do rio especificada – para cada seção, há uma vazão
correspondente, podendo ser semelhantes ou bastante distintas entre si, conforme a
distância no rio entre elas e outros fatores. Na Figura 9.4 são indicadas, para uma
determinada seção transversal do rio, a profundidade, a largura, a área e a velocidade do
escoamento.
91
O escoamento não-permanente constitui uma situação que ocorre na maioria dos
problemas hidrológicos envolvendo o escoamento em rios e canais, sendo caracterizado
pela variação no tempo e no espaço das condições do escoamento.
Normalmente, são adotadas diversas simplificações para a definição das
equações que descrevem o escoamento em rios, sendo as principais as listadas a seguir:
- água como fluido incompressível e homogêneo: despreza-se os efeitos de
compressibilidade da água e consideram-se propriedades homogêneas em todo o
rio (massa específica e viscosidade constantes, por exemplo).
- pressão hidrostática na vertical: considera-se que na vertical a pressão em um
determinado ponto no interior da coluna de água varia conforme a sua
profundidade (pressão atmosférica + pressão da coluna de água acima);
- aproximação da declividade do fundo do rio;
- escoamento unidimensional: a rigor, a água se movimenta dentro do rio nas três
dimensões espaciais, mas como o escoamento na direção longitudinal (direção
do comprimento) do rio é preponderante, normalmente se desprezam as demais;
- aproximação da seção transversal: a geometria natural da seção transversal do
rio é aproximada por retas, formando trapézios e retângulos;
- variação gradual das seções transversais: em um rio, a seção transversal varia ao
longo do seu comprimento, e se considera, então, uma variação gradual entre
duas seções transversais diferentes consecutivas, o que não necessariamente
pode ser verdade a rigor.
dS
= I − O + q ⋅ dx
dt
92
A expressão anterior representa o balanço de massa no trecho dx, de onde pode-
se derivar a equação abaixo, que constitui a equação da continuidade na sua forma
usualmente empregada:
∂A ∂Q
+ =q
∂t ∂x
onde: A é a área da seção transversal ao escoamento; t é o tempo; Q é a vazão; x é a
distância ao longo do comprimento do rio; q é a vazão de contribuição lateral.
S
O
dx
Figura 9.5 – Trecho de um rio de comprimento dx, com representação das vazões nas
seções de montante (I) e de jusante (O), da contribuição lateral (q) e do volume
armazenado (S).
∂Q ∂ (Q 2 / A) ∂y
+ + g ⋅ A = g ⋅ A ⋅ S0 − g ⋅ A ⋅ S f
∂t ∂x ∂x
93
A equação da continuidade e a equação da conservação da quantidade de
movimento apresentadas anteriormente constituem as chamadas Equações de Saint
Venant, que são as equações unidimensionais do escoamento não-permanente
gradualmente variado.
Caso se considere o escoamento em corpos d’água como lagoas, banhados,
estuários e áreas costeiras, observa-se que a circulação da água já não é preponderante
apenas em uma única direção, mas sim em duas dimensões. Nessa situação, são
empregadas as equações bidimensionais do escoamento.
Maiores detalhes sobre o escoamento unidimensional ou bidimensional fogem
ao objetivo desse texto, podendo ser encontrados em Tucci (2000) e Rosman (1989),
por exemplo.
94
uso da água) pelo conjunto de todas as demandas, de modo a permanecer uma vazão
mínima escoando pelo rio e evitar o conflito entre usuários do rio.
250
200
150
Vazão (m3/s)
100
50
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
tempo (dias)
Q (m3/s)
Q90
90% % do tempo
95
Curva-chave
No estudo do comportamento do escoamento em rios, para uma determinada
seção transversal do rio pode ser traçada a curva-chave, que constitui a relação entre a
cota (nível da água) e a descarga (vazão) naquela seção (Figura 9.8). A relação
biunívoca entre nível da água e vazão, ou seja, para cada vazão corresponde um único
nível da água e vice-versa, constitui uma simplificação, sendo considerada válida
quando o rio apresenta morfologia constante e a geometria da seção transversal não se
modifica ao longo do tempo.
Por exemplo, durante uma cheia, enquanto está ocorrendo a ascensão do
hidrograma, ou seja, as vazões estão aumentando com o tempo, a relação entre a cota do
nível da água e a vazão é diferente da relação quando o rio está diminuindo sua vazão,
isto é, quando está ocorrendo a recessão do hidrograma. Simplificadamente, entretanto,
costuma-se considerar uma relação única entre cota e vazão.
Cota (m)
Vazão (m3/s)
96
Medição de vazão
A vazão de um rio está associada a uma seção transversal específica, visto que o
rio continua recebendo contribuição da bacia hidrográfica ao longo de todo o seu trajeto.
Dessa forma, o primeiro passo na medição de vazão constitui a escolha da seção
transversal. Obviamente, o objetivo do estudo vai determinar em que trecho do rio é
necessária a caracterização do regime fluvial, mas a escolha de qual seção propriamente
dita vai se dar conforme uma série de fatores, podendo-se enumerar os seguintes (Santos
et al., 2001):
- seção localizada em um trecho mais ou menos retilíneo;
- margens bem definidas e livres de pontos singulares que possam perturbar o
escoamento;
- natureza do leito, sendo preferível leito rochoso que não sofre alterações;
- obras hidráulicas existentes;
- facilidade de acesso ao local;
- presença de observador em potencial (em caso de instrumento lido por um
observador).
Tais fatores podem ser vistos como critérios para garantir que a geometria da
seção transversal escolhida permaneça praticamente constante ao longo do tempo,
permitindo comparações entre as medições em diversas épocas, que o escoamento na
seção não seja influenciado por características específicas daquele local e assim seja
considerado “representativo” do escoamento no trecho do rio em questão.
A medição da vazão compreende a obtenção de grandezas geométricas da seção,
como área, perímetro molhado, largura etc, e grandezas referentes ao escoamento da
água, como velocidade e vazão. É importante ressaltar que, em uma determinada seção
transversal do rio, a velocidade do escoamento varia ao longo da coluna de água
(profundidade) e ao longo da largura do rio (Figura 9.9). Por isso, alguns métodos a
seguir descritos procuram medir a velocidade da água em diversos pontos espalhados
pela seção transversal.
Os métodos mais usuais de medição da vazão são: uso de molinete; método
acústico; método químico; com flutuadores; uso de dispositivos regulares; e
indiretamente pela medição do nível da água.
97
Figura 9.9 – Exemplo do comportamento da velocidade do escoamento dentro de três
seções transversais do rio (variando ao longo da profundidade e da largura da seção) –
em cada seção, as regiões com tonalidade mais escura de azul indicam maior velocidade
do escoamento da água (Fonte: adptado de EPA, 1998).
Método acústico
Esse método consiste na obtenção das profundidades e velocidades a partir da
análise do eco de pulsos de ultrasom (ondas acústicas de alta freqüência) refletidas pelas
partículas sólidas em suspensão na massa líquida e pela superfície sólida do fundo
(Santos et al., 2001) – ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler). Assim,
simultaneamente, durante uma travessia do rio com uma embarcação na qual o
98
instrumento é afixado, é feita a batimetria (levantamento da “topografia” do fundo do
rio), o levantamento da trajetória de travessia e dos perfis e direções de velocidades –
informações que integradas fornecem a vazão que atravessa a vazão.
Método químico
Esse método é geralmente adotado para rios de pouca profundidade e com leito
rochoso, onde o uso de molinete é dificultado, e consiste em injetar uma substância
concentrada e medir a concentração em um certo ponto a jusante. A partir das
concentrações injetada e medida a jusante é determinada a vazão do rio. A escolha da
substância deve levar em conta os custos de aquisição, não ser corrosivo nem tóxico, ser
de fácil medição da concentração, ser bem solúvel e não estar presente naturalmente na
água do rio (Santos et al., 2001). Segundo tais autores, o bicromato de sódio é bastante
usado, além de isótopos radiativos (Na24, Br82, P32) ou mesmo sal comum (NaCl).
99
A medição do nível da água é geralmente realizada com o emprego de réguas
linimétricas ou linígrafos. As réguas (hastes de madeira ou metal graduadas) são
instaladas ao longo da seção transversal (fincadas no solo) e a leitura é feita diretamente
por um observador, que comparece ao local periodicamente – geralmente, uma ou duas
leituras diárias, às 7h e às 17h. Os linígrafos são instrumentos que registram
continuamente a variação do nível da água, havendo os linígrafos de bóia e os de
pressão. Os primeiros (bóia) registram o nível da água a partir da transmissão do
movimento de flutuador preso a um cabo, enquanto o segundo tipo determina o nível da
água em função da pressão detectada por um sensor específico.
100
Capítulo 10
Transporte de sedimentos
(baseado em Tucci, 2000, e Santos et al., 2001)
Introdução
Após ocorrida uma precipitação, descontados os volumes interceptados pela
vegetação, evapotranspirados, infiltrados e retidos nas depressões do solo, forma-se um
escoamento superficial pelas superfícies vertentes da bacia hidrográfica. A trajetória e a
velocidade desse escoamento são ditadas pelos “obstáculos” encontrados, como
irregularidades na superfície do solo, depressões, inclinação, rochas, árvores, etc. Por
isso, o fluxo perde uma parcela da energia durante seu percurso pelas vertentes (função
do atrito), sendo parte dessa energia gasta para desagregar solos e rochas, deslocando
partículas do seu local de origem até pontos a jusante, seja na própria superfície ou até
arroios e rios.
Durante o escoamento nos rios, também ocorre o deslocamento de partículas do
seu leito (fundo e paredes laterais), as quais são levadas pelo fluxo para jusante, assim
como aquelas partículas que aportaram vindo do escoamento das vertentes.
Assim, paralelo ao ciclo hidrológico, tem-se o que se denomina de ciclo
hidrossedimentológico, referente ao transporte de sedimentos na bacia hidrográfica.
Por sedimentos são entendidos os materiais erodidos e suscetíveis ao transporte e
deposição. O ciclo hidrossedimentológico é intimamente vinculado e dependente ao
ciclo hidrológico, visto que o primeiro necessita de escoamento superficial nas vertentes
e na rede de drenagem, o qual é “proporcionado” pelo segundo, para haver o
deslocamento, transporte e deposição de partículas sólidas.
O ciclo hidrossedimentológico é visto como um ciclo aberto, já que o
deslocamento e transporte de sedimentos sempre ocorrem para trechos a jusante da
bacia hidrográfica. Por exemplo, uma partícula sólida antes localizada na superfície
vertente da bacia, ao ser carreada pelo escoamento superficial até um rio, não mais
retorna àquele ponto na vertente, podendo ser levada para trechos a jusante do rio ou ser
depositada em planícies de inundação, também a jusante do local de origem.
101
Importância do estudo do transporte de sedimentos
Pode-se afirmar que o interesse pelo estudo do ciclo hidrossedimentológico é
relativamente recente, sendo motivado pelo aspecto de integração da gestão dos
recursos hídricos e da gestão ambiental, preconizado na legislação atual (Lei n. 9.433,
de 08/01/1997, que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos), bem como pela
maior conscientização geral a respeito dos riscos de degradação dos solos, leitos dos
rios e dos ecossistemas fluviais e também dos riscos de contaminação dos sedimentos
por produtos químicos, com sérios impactos ambientais.
A seguir são enumerados e comentados alguns dos principais problemas
associados aos transportes de sedimentos, que muitas vezes acarretam custos
econômicos e ambientais:
(a) remoção intensa de solos, fertilizantes e pesticidas: de acordo com o tipo de solo e a
ocupação que se faz dele (mata nativa, lavoura, área de desmatamento, etc), pode haver
uma perda intensa de solos, levando junto fertilizantes e pesticidas, trazendo prejuízos
para a agricultura (custos com mais adubos e agrotóxicos) e ambientais, na medida que
tais substâncias interferem no ecossistema de diversas maneiras; por isso, o manejo do
solo e da lavoura como um todo (preparo do solo, época de adubação, forma de
irrigação, etc) devem ser avaliados para minimizar o problema;
(b) recobrimento de áreas de lavoura por sedimentos estéreis, ocorrendo perdas de
produção agrícola; isso ocorre devido a sedimentos carreados de áreas da superfície
vertente a montante das lavouras e também pelo próprio rio, quando este extravasa e
parte dos sedimentos transportados é depositada na planície de inundação;
(c) assoreamento de reservatórios: a construção de reservatórios ou açudes obstrui o
transporte natural de sedimentos pelos rios, e pela menor velocidade do escoamento da
água nos açudes (em relação ao rio), as partículas que estão sendo transportadas se
depositam no fundo, causando o assoreamento; dependendo da intensidade com que
esse processo ocorra, o reservatório pode perder boa parte de sua capacidade de
armazenagem de água; convém ressaltar que isso tem uma série de impactos no
ambiente a jusante da barragem, já que tais sedimentos vão “fazer falta em algum lugar”
– por exemplo, no caso de rios que correm para o mar, o impedimento do aporte de
sedimentos trazidos pelo rio pode intensificar o processo de erosão das áreas costeiras
pelo mar, já que este antes retirava os sedimentos trazidos pelo rio;
102
(d) necessidade de manutenção de sistemas de irrigação e drenagem: o acúmulo de
sedimentos depositados nos sistemas de irrigação e drenagem, como valas de derivação
e condução de águas, prejudica o funcionamento adequado para o qual foram
projetados, necessitando de manutenção e, com isso, provocando mais custos
econômicos;
(e) necessidade de dragagem de vias navegáveis e portos: as vias navegáveis, seja em
rios ou lagos, necessitam de certa profundidade para que navios de maior porte (que
possuem maior calado8) possam passar; dependendo da dinâmica de sedimentos na
bacia, essas vias podem necessitar de dragagens periódicas, a fim de retirar os
sedimentos depositados e manter uma profundidade desejada; por exemplo, no Lago
Guaíba (RS) há um Canal de Navegação (na verdade, uma série de canais escavados,
com profundidades maiores que o restante do lago, em torno de 6 m, ligando o Delta do
Jacuí até a Lagoa dos Patos), onde há a necessidade de dragagem dos sedimentos
trazidos principalmente pelos rios formadores do lago – rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí
– para manter a profundidade e mantê-la navegável para navios de maior calado;
(f) degradação da qualidade de água: a maior presença de partículas sólidas na água de
rios e lagos (em suspensão ou dissolvidos) traz prejuízos ao ambiente, ao aumentar a
turbidez e diminuir a passagem da luz solar, entre outros, e também prejuízos
econômicos, por aumentar os custos de remoção dessas partículas na água captada para
abastecimento público de água ou de indústrias;
(g) erosão de rodovias, ferrovias e oleodutos: o manejo do solo incorreto e a ausência de
estruturas de contenção (como valas de drenagem) podem acarretar na erosão de
rodovias, ferrovias e oleodutos, devido ao escoamento superficial, com grandes
transtornos e prejuízos financeiros;
(h) necessidade de remoção de sedimentos em áreas inundadas: com a passagem da
onda de cheia, os sedimentos depositados precisam ser removidos, acarretando custos
adicionais.
Ciclo hidrossedimentológico
O ciclo hidrossedimentológico descreve os processos que regem o deslocamento
de partículas sólidas em uma bacia hidrográfica, que são: desagregação, erosão,
transporte, decantação, depósito e consolidação. Cada um deles é comentado a seguir:
8
Calado: termo usado para se referir à altura das embarcações que fica abaixo da linha da água, função do
tipo de embarcação e do peso da carga que está sendo transportada.
103
- desagregação: refere-se ao desprendimento de partículas sólidas do meio ao qual
fazem parte, causada por variações de temperatura, reações químicas, ações mecânicas,
etc; além de ações antrópicas, o impacto das gotas da chuva é o principal agente
desagregador, daí resultando a importância em se manter uma cobertura vegetal na
bacia e o impacto causado pelo desmatamento; como resultado, a desagregação “gera”
uma massa de partículas sólidas exposta à ação do escoamento superficial;
- erosão: processo de deslocamento do local de origem das partículas da superfície do
solo (vertentes) ou dos leitos dos rios, sob efeito do escoamento da água; tal
deslocamento ocorre quando as forças hidrodinâmicas exercidas pelo escoamento
ultrapassam a resistência oferecida pelas partículas (peso próprio de cada partícula e
forças de coesão entre elas) – para as partículas mais finas, é mais importante a força de
coesão, enquanto para as maiores a resistência devido ao peso próprio predomina;
- transporte: refere-se ao processo de transporte do material erodido pela água; as
partículas mais pesadas se deslocam sobre ou junto ao fundo, por rolamento,
deslizamento e/ou através de pequenos “saltos”; nesse caso, o material transportado é
exclusivamente material localizado no fundo dos rios, constituindo o que se chama de
arraste ou descarga sólida de fundo; as partículas mais leves, por sua vez, são
deslocadas no seio do escoamento (“flutuando”) e, nesse caso, o material é originado
tanto das superfícies vertentes quanto do próprio fundo dos rios e constitui a chamada
descarga sólida em suspensão;
- decantação ou sedimentação: processo pelo qual as partículas mais finas
transportadas em suspensão tendem a restabelecer contato com o fundo sob efeito da
gravidade;
- depósito: refere-se à parada total das partículas em suspensão recém decantadas sobre
o fundo ou daquelas transportadas por arraste;
- consolidação: após o depósito, consiste no acúmulo de partículas sobre o fundo do rio
e na compactação do depósito resultante, sendo motivada pelo próprio peso das
partículas, pela pressão hidrostática (peso da coluna de água acima), entre outros.
104
Observa-se, claramente, que o transporte de sedimentos pelo rio constitui um
fenômeno complexo, sendo dependente tanto do fornecimento de material, cuja origem
são os processos erosivos nas vertentes e no leito/margens do rio, quanto da energia do
fluxo. Isso atribui ao transporte de sedimentos uma grande variação no tempo e no
espaço.
Embora as atividades antrópicas interfiram substancialmente em alguns casos, o
ciclo hidrossedimentológico é um processo natural e faz parte da evolução da paisagem.
Como resultado, tem-se a moldagem das feições das bacias hidrográficas, incluindo os
perfis longitudinais dos rios, as redes de drenagem, a forma dos leitos dos rios, etc.
Em uma bacia hidrográfica, podem ser identificadas três “peças” principais do
sistema natural de produção de sedimentos, que são (Figura 10.1): (i) interflúvios ou
vertentes; (ii) leitos ou calhas dos rios; (iii) planícies aluviais ou várzeas.
105
interflúvios
leito do rio
planícies aluviais
106
planejamento e gerenciamento da bacia, tanto em termos de recursos hídricos quanto de
desenvolvimento urbano e ocupação do solo.
- alto curso: área da bacia com maior degradação, devido às maiores declividades e
maiores velocidades do escoamento; o rio transporta elevadas quantidades de material
grosseiro, havendo, portanto, o predomínio de arraste;
- médio curso: corresponde à área de maior estabilidade, de modo que não há elevados
acréscimos ou perdas de volume de sedimentos transportados, os quais apresentam
granulometria média;
- baixo curso: região onde ocorre o predomínio da deposição de sedimentos, já que
morfologicamente o rio tende a apresentar menores velocidades do escoamento,
desenvolvendo-se em áreas mais planas e com seções transversais mais largas; nessa
região, o rio transporta praticamente só partículas finas (em suspensão ou dissolvidas).
107
Entretanto, como a vazão do rio apresenta comportamento temporal bastante
variável, função do regime de precipitação na bacia contribuinte, entre outros fatores, o
transporte de sedimentos também varia ao longo do tempo. Assim, as maiores vazões
transportam os maiores volumes de sedimentos, estando fortemente correlacionados
entre si. Deve ser ressaltado, contudo, que tal relação não é linear, isto é, o volume de
sedimentos transportados não é linearmente proporcional à vazão, havendo relações
empíricas desenvolvidas para determinadas regiões, geralmente da forma exponencial.
108
Um método mais moderno de estimar o transporte de sedimentos em suspensão
e dissolvidos é através do emprego de equipamento ADCP (Acoustic Doppler Current
Profiler), o qual emite ondas sonoras e, através da recepção das respostas a essas ondas,
estima os sedimentos na água, além da velocidade do escoamento e da batimetria
(“relevo do fundo”) do corpo d’água.
A medição da descarga sólida do leito diretamente é bastante dificultada pela
própria característica dos sedimentos (tamanho, peso, etc), tornando tal medição de
complexa operacionalização e pouco uso prático. Há espécies de armadilhas
desenvolvidas para realizar a coleta, bem como certos tipos de amostradores portáteis de
fundo. Um meio mais comum é através da medição indireta. Nesse caso, são medidas
variáveis mais facilmente obtidas, como velocidade do escoamento, quantidade e
granulometria da descarga sólida em suspensão e granulometria do material do fundo,
sendo estimada então a descarga sólida do fundo em função de tais variáveis, através de
uma relação semi-empírica.
109
Capítulo 11
Desertificação
Introdução
Alguns autores atribuem a criação do termo desertificação ao período no final
dos anos 40, com o objetivo de caracterizar as áreas que estavam se tornando
“parecidas” com desertos ou desertos que estavam se expandindo. Considera-se que o
primeiro registro, ou o evento que deu início à discussão sobre o processo de
desertificação, tenha sido ainda nos anos 30, decorrente de um fenômeno ocorrido no
meio-oeste americano, conhecido como Dust Bowl, onde intensa degradação dos solos
afetou área de cerca de 380.000 km2 nos estados de Oklahoma, Kansas, Novo México e
Colorado (MMA, 1999).
Outro evento histórico marcante e decisivo para o reconhecimento da ocorrência
de um processo que gera intensos impactos econômicos, ambientais e sociais foi a
grande seca ocorrida no início dos anos 70, na região localizada abaixo do deserto do
Saara, conhecido como Sahel, na qual mais de 500.000 pessoas morreram de fome
(MMA, 1999). Nesse período, de modo geral foram identificados grandes movimentos
migratórios e intensos processos de devastação ambiental em toda a África.
Assim, inicialmente se pensava em fatores isolados locais como os geradores
desse processo de desertificação, ainda não completamente compreendido, ou seja, o
problema ocorria em regiões específicas e era decorrente de particularidades regionais.
Com o passar dos anos, os estudiosos verificaram que o referido processo ocorria em
todos os continentes, principalmente em países que tinham parte do seu território com
clima do tipo semi-árido e sujeito à seca. Também houve muita discussão e até uma
certa polêmica quanto às causas da desertificação, sendo atribuída ora a processos
naturais e ora a processos induzidos pelo homem (havia estudiosos defendendo cada
uma das hipóteses). Em meio a esse contexto, deu-se início, portanto, ao entendimento
de que a desertificação constituía um problema de escala mundial, necessitando de
ações de caráter global.
110
Essa crescente importância dispensada ao tema pode ser compreendida
observando as conferências e debates promovidos ao longo dos anos. Em 1972, em
Estocolmo (Suécia), durante a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente, foram
discutidas diversas questões ambientais, entre elas a desertificação. Nesse evento, ficou
acertado que tal assunto merecia uma atenção especial e, em 1977, em Nairóbi
(Quênia), foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação – tratava-
se, agora, de uma conferência exclusiva sobre a desertificação.
Já em 1992, durante a ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento) no Rio de Janeiro, foi aprovada a Agenda 21 (documento
constituído por um conjunto de diretrizes e recomendações sobre desenvolvimento
sustentável e preservação do meio ambiente). O capítulo 12 desse documento trata
especificamente da desertificação, sendo intitulado “Manejo de ecossistemas frágeis: a
luta contra a desertificação e a seca”.
Ainda durante a ECO-92 ficou acertado sobre a necessidade da realização de
uma convenção sobre a desertificação e, em 26/12/1996 foi aprovada então a
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. A convenção é um
instrumento jurídico considerado “forte”, pois obriga as partes signatárias (aqueles que
assinaram a convenção) a assumir uma série de compromissos, estabelecidos na própria
convenção. Com relação à referida convenção sobre desertificação, os países signatários
ficaram obrigados a elaborar um Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação, o qual é conhecido como PAN.
Cita-se que, até 1992, cerca de 179 países eram signatários da Convenção das
Nações Unidas de Combate à Desertificação. O Brasil aderiu em junho de 1997, tendo
lançado seu PAN em agosto de 2004. A consulta ao PAN brasileiro pode ser feita
através da página eletrônica da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente, cujo endereço eletrônico é http://desertificacao.cnrh-srh.gov.br. A descrição
e comentários sobre o referido programa brasileiro de combate à desertificação fogem
ao escopo desse texto.
Conceito de desertificação
A definição mais aceita para o termo desertificação é a proposta durante a
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, segundo a qual
“desertificação é a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas
111
secas resultante de fatores diversos tais como as variações climáticas e as
atividades humanas”.
A classificação de uma região em árida, semi-árida, etc, é usualmente
determinada em função do grau de aridez, que é estabelecido por sua vez em função da
quantidade de água advinda da precipitação e da perda máxima possível de água por
evaporação e transpiração (evapotranspiração potencial). É adotado o seguinte índice
indicativo do grau de aridez:
precipitação
índice de aridez =
evapotranspiração potencial
9
Sobre o tema biodiversidade há a publicação muito interessante intitulada “Seria melhor mandar
ladrilhar? Biodiversidade – como, para que, por quê”, Nurit Bensusan (org.), UnB, 2002.
112
camadas do solo do impacto das gotas e do transporte de sedimentos, os quais
atingem os corpos d’água;
- degradação das condições hidrogeológicas (águas subterrâneas): principalmente
devido a modificações nas condições de recarga;
- degradação da infra-estrutura econômica e da qualidade de vida nos
assentamentos humanos.
113
Pelo exposto anteriormente, já se pode visualizar uma série de conseqüências
decorrentes do processo de desertificação. As principais delas podem ser agrupadas e
enumeradas do seguinte modo:
- degradação da terra causa sérios problemas econômicos:
• setor agrícola é o principal afetado, devido à diminuição da produção,
perda da capacidade produtiva de áreas agrícolas, aumento dos custos
com adubação, etc;
• com a maior susceptibilidade do solo à erosão, ocorre também o
assoreamento de rios e reservatórios, desencadeando uma gama de
conseqüências, como custos de tratamento da água para consumo,
remoção de sedimentos, etc.
114
devido à desertificação, por ano. Alguns estudos também apontam que quase 1/3 de
toda a superfície do planeta pode ser afetada direta ou indiretamente as conseqüências
da desertificação, abrangendo em torno de 100 países.
Estima-se que, em todo o mundo, nas áreas susceptíveis à desertificação e à
seca, vivem hoje cerca de 900 milhões de pessoas e, dessas, cerca de 200 milhões já
estão afetadas por este processo, conforme dados do relatório “Status of Desertification
and Implementation of the U. N. Plan of Action to Combat Desertification”, elaborado
pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
Outros estudos indicam que, na América do Sul, cerca de 170 milhões de
hectares foram degradados, devido ao desmatamento e superpastagem, enquanto no
Caribe a urbanização acelerada e mal planejada resultou na perda de terras para uso
agrícola, proteção de bacias e conservação da biodiversidade.
A seguir é apresentada uma série de fotografias de regiões atingidas pelo
processo de desertificação (Figuras 11.1 e 11.2), as quais ilustram a grave situação de
degradação decorrente desse processo.
Figura 11.1 – Fotografias de diversas regiões em todo o planeta atingidas por intenso
processo de desertificação. (Fonte: IICA, 2004).
115
Figura 11.2 – Fotografias de diversas regiões em todo o planeta atingidas por intenso
processo de desertificação. (Fonte: IICA, 2004).
116
No Nordeste do Brasil, o processo de desertificação ocorre sob duas formas
principais:
(i) difusa no território: abrangendo diferentes níveis de degradação do solo,
vegetação e recursos hídricos;
(ii) concentrada em pequenas porções do território, com intensa degradação dos
recursos da terra; existem quatro núcleos de desertificação: Gilbués (PI),
Irauçuba (CE), Seridó (RN) e Cabrobó (PE). Na Figura 11.4 é ilustrado um
exemplo da gravidade do problema, no município de Gilbués.
117
extensões de terra em areia. Tal processo é motivado principalmente por fatores
naturais, mas intensificado pela adoção de práticas de manejo do solo inadequadas.
118
Há uma discussão sobre o processo de degradação ambiental que ocorre no
sudoeste gaúcho, onde diversos autores consideram a existência de um processo
chamado de arenização. Esse termo é descrito por Suertegaray et al. (2001) como o
processo de retrabalhamento de depósitos arenosos pouco ou não consolidados que
acarreta nestas áreas uma dificuldade de fixação da cobertura vegetal, devido à intensa
mobilidade dos sedimentos pela ação das águas e dos ventos. Conseqüentemente,
arenização indica uma área de degradação relacionada ao clima úmido, onde a
diminuição do potencial biológico não resulta em definitivo em condições de tipo
deserto – ao contrário, a dinâmica dos processos envolvidos nesta degradação dos solos
é fundamentalmente derivada da abundância da água.
Ainda segundo Suertegaray et al. (2001), a região de ocorrência dos areais está
localizada no sudoeste do Rio Grande do Sul, a partir do meridiano de 54º em direção
oeste até a fronteira com a Argentina e o Uruguai. A degradação do solo nesta área
apresenta-se sob a forma de areais, que ocupam uma larga faixa onde localizam-se os
municípios de Alegrete, Cacequi, Itaquí, Maçambará, Manuel Viana, Quaraí, Rosário do
Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda.
A seguir é transcrito texto descritivo sobre o processo de arenização no Rio
Grande do Sul, extraído da referência citada anteriormente.
A formação dos areais, interpretada a partir de estudos geomorfológicos,
associada à dinâmica hídrica e eólica indica que os areais resultam inicialmente de
processos hídricos. Estes, relacionados com uma topografia favorável permitem, numa
primeira fase, a formação de ravinas e voçorocas. Estas, na continuidade do processo,
desenvolvem-se por erosão lateral e regressiva, conseqüentemente, alargando suas
bordas por outro lado, à jusante destas ravinas e voçorocas em decorrência do
processo de transporte de sedimentos pela água durante episódios de chuvas
torrenciais, formam-se depósitos arenosos em forma de leques. Com o tempo esses
leques vão se agrupando e em conjunto dão origem a um areal. O vento que atua sobre
essas areias, em todas as direções, permite a ampliação deste processo, o qual pode ser
observado na Figura 11.7, onde se percebe a existência de uma vertente de elevada
declividade à montante do areal. Este contato abrupto derivado de litologias diferentes
favorece o escoamento das águas e o surgimento de ravinas. Estas ravinas, por
entalhamento de seu canal, atingem o lençol freático e desencadeiam processos de
voçorocamento. A ampliação dessas voçorocas, cuja evolução é remontante, possibilita
119
a jusante o alargamento do canal de escoamento, deposições em forma de leques e a
formação de areais.
Os areais ocorrem sobre unidades litológicas frágeis (depósitos arenosos) em
áreas com baixas altitudes e declividades. São comuns nas médias colinas ou nas
rampas em contato com escarpas de morros testemunhos (Figuras 11.7 e 11.8). Sobre
outro aspecto a formação de ravinas e voçorocas, processos que estão na origem dos
areais, podem também ser resultado do pisoteio do gado e do uso de maquinaria
pesada na atividade agrícola, originando sulcos e desencadeando condições de
escoamento concentrado.
120
Figura 11.8 – Representação da formação de areais em colinas (Fonte: Suertegaray et
al., 2001).
121
Capítulo 12
Controle de enchentes
(baseado em Tucci, 2000)
122
agrícola, comercial, industrial, etc. Tal ocupação é associada, muitas vezes, ao próprio
desenvolvimento histórico da região, na medida que a proximidade com os corpos
d’água (rios, arroios, lagos, etc) facilita o consumo de água, proporciona opção de lazer,
banho, pesca, etc, além do uso dos rios como via de transporte.
Entretanto, a despeito das razões históricas de ocupação das áreas próximas a
rios e lagos, o que tem ocorrido é o crescimento desordenado e acelerado das cidades,
principalmente dos grandes centros urbanos. Isso causa uma pressão para ocupação das
áreas ribeirinhas, na busca de áreas para expansão da cidade, seja irregularmente ou não.
Paralelo a isto, a urbanização da bacia contribuinte ao rio proporciona um aumento no
escoamento superficial, fazendo com que, para um mesmo volume precipitado durante o
mesmo tempo, passe a ocorrer um aporte maior de água ao rio e que chega mais rápido
– devido à redução da infiltração, armazenamento nas depressões, interceptação, etc
(ver capítulo sobre Escoamento Superficial). Esse aporte maior e mais concentrado no
tempo faz com que as inundações sejam mais intensas (impactando áreas maiores) e
mais freqüentes. Observa-se, portanto, que a ocorrência de enchentes tem trazido
prejuízos maiores, tanto em termos de perdas de vidas quanto em termos econômicos,
intensificados justamente pela ocupação das áreas ribeirinhas e pela urbanização da
bacia contribuinte (Figura 12.1).
123
população prefere então ocupar as áreas ribeirinhas, mesmo às vezes sabendo do risco
de inundações. Enquanto isso, a população com melhores condições financeiras ocupa
áreas da bacia geralmente com pequeno risco de inundação. Assim, a ocorrência das
enchentes traz prejuízos principalmente à população mais carente, agravando ainda mais
os problemas sociais.
É importante não deixar de ressaltar que a ocupação das áreas ribeirinhas
também está associada à freqüência de ocorrência das cheias. Cada região tem um
regime pluviométrico específico que condiciona a ocorrência periódica de precipitações
mais intensas e, conseqüentemente, de inundações. A despeito da aleatoriedade do
regime de chuvas e de vazões no rio, estatisticamente há uma tendência de que as
enchentes ocorram com uma certa freqüência, caracterizando o tempo de retorno, ou
seja, o tempo estimado para que um determinado evento seja igualado ou superado pelo
menos uma vez. No caso de enchentes associadas a tempos de retorno relativamente
altos, como 10 ou 20 anos, por exemplo, o que ocorre muitas vezes é que a população
“ganha confiança” de que a área é segura e ignora avisos e esforços das autoridades
competentes para removê-los. As pessoas têm a percepção errada das enchentes,
supondo que, por habitarem o local há vários anos e nunca terem presenciado alguma
enchente, duvidam que ocorram inundações ali.
124
Conforme as características da rede de drenagem (dimensões das seções transversais
dos arroios e rios, grau de ramificação, sinuosidade dos rios, etc), pode ocorrer a subida
do nível da água de vários metros em um curto intervalo de tempo, até mesmo em
poucas horas.
A presença da cobertura vegetal natural aumenta a infiltração de parte da
precipitação e protege o solo contra erosão, já que o impacto das gotas de chuva é o
principal fator natural de desagregação das partículas do solo, tornando-as expostas ao
escoamento superficial (ver capítulo sobre Transporte de Sedimentos). O aporte de
sedimentos em excesso aos cursos d’água provoca o assoreamento dos mesmos,
diminuindo sua capacidade de escoamento, na medida que os sedimentos depositados
no fundo diminuem a seção transversal disponível para o escoamento.
O efeito das características físicas da bacia sobre a maior ou menor tendência à
ocorrência de cheias foi apresentado em capítulos anteriores deste texto (“Bacia
Hidrográfica” e “Escoamento Superficial”), não sendo novamente discutido aqui.
Previsão de cheias
Como já foi colocada antes, a ocorrência de enchentes pode trazer prejuízos
econômicos e perdas de vidas, dependendo de sua intensidade e do local. Por isso muita
atenção tem sido dispensada ao que se chama de previsão de cheias, que é caracterizada
sob duas formas principais, quanto ao tempo de antecedência da previsão: (i) previsão
de curto prazo; (ii) previsão de longo prazo.
125
Para a previsão em tempo real é necessário um sistema de coleta e transmissão
de dados, geralmente precipitação e nível de água no rio, estando associado geralmente
a um Plano de Defesa Civil, constituído por um conjunto de ações visando combater a
situação. Esse tipo de previsão pode ser realizado com base em:
126
Medidas para controle das enchentes
Apesar de que se possa afirmar que as variações climáticas existem e os
fenômenos naturais são aleatórios, medidas devem ser tomadas no sentido de minimizar
os danos potenciais das cheias. Tais medidas são comumente divididas em dois grandes
grupos, as medidas estruturais e as não-estruturais. O primeiro grupo compreende
medidas que modificam o sistema fluvial, procurando evitar os prejuízos decorrentes
das inundações, embora não propiciem uma proteção completa, havendo um risco de
que ocorra uma cheia para a qual as medidas tomadas não suportem. Já as medidas ditas
não-estruturais visam reduzir os prejuízos com as enchentes pela “melhor convivência”
da população com tais eventos. O ideal geralmente apontado é composto por uma
combinação de medidas estruturais e não-estruturais. A seguir, cada um desses grupos é
descrito e comentado em mais detalhes.
127
- construção de reservatórios: a implantação de barragens nos rios permite reter
boa parte do volume de água da cheia, o qual é liberado para o trecho de jusante
do rio de forma mais distribuída no tempo.
128
Capítulo 13
Modelos hidrológicos
(baseado em Tucci, 1998)
Introdução
Antes de discutir os principais aspectos da modelagem hidrológica convém
esclarecer o conceito de um “modelo”. A definição citada por Tucci (1998) é que se
trata da “representação de algum objeto ou sistema, em uma linguagem ou forma de
fácil acesso e uso, com o objetivo de entendê-los e buscar suas principais respostas
para diferentes entradas”. Assim, considerando um modelo que represente um
determinado sistema, quanto mais complexo este sistema for, mais desafiador e
necessário é o modelo.
No caso de uma bacia hidrográfica, o uso de modelos hidrológicos visa
fundamentalmente entender seu comportamento para utilizar seus recursos e proteger
suas características.
Empregando os modelos hidrológicos, é possível prever ou estimar a resposta do
sistema (uma bacia hidrográfica, um trecho de rio, uma parte do solo, um aqüífero, uma
lagoa, etc) a diferentes situações, tais como a ocorrência de eventos extremos
(precipitações de grande intensidade com elevado tempo de retorno), modificações do
uso do solo, ocorrência de períodos de estiagem e cenários de planejamento e
desenvolvimento da região. Em outras palavras, o modelo propicia simular situações
que virão ou poderão vir a acontecer, como a urbanização de parte da bacia, o
desenvolvimento das atividades econômicas, etc, procurando avaliar como o sistema
modelado irá responder a tais alterações.
Para sistema uma definição bastante citada é a de Doodge (1973) apud Tucci
(1998), segundo a qual sistema “é qualquer estrutura, esquema ou procedimento, real
ou abstrato, que num dado tempo de referência interrelaciona-se com uma entrada,
causa ou estímulo de energia ou informação, e uma saída, efeito ou resposta de energia
ou informação”. Simplificadamente, considera-se que o funcionamento do sistema
consiste em responder a uma determinada entrada produzindo uma saída. Dentro desse
contexto, o modelo seria, então, a representação do sistema.
129
Convém também deixar claro que o modelo hidrológico constitui uma
ferramenta, de grande potencial e utilidade, mas que não deve ser encarado como um
objetivo. O desenvolvimento de um modelo sem as informações necessárias para
“alimentá-lo” e sem a devida interpretação dos seus resultados gerados não auxilia no
entendimento do comportamento dos sistemas. Por isso é fundamental que o
profissional encarregado pelo uso do modelo tenha conhecimento dos processos físicos
e do sistema que estão sendo modelados, bem como do próprio modelo.
130
Assim, o que ocorre geralmente é a simplificação do comportamento espacial
das variáveis e dos fenômenos representados no modelo em diferentes graus,
dependendo dos fatores anteriormente enumerados, motivada também pela dificuldade
em formular matematicamente alguns processos.
Tipos de modelos
Uma classificação básica dos modelos é quanto à forma com que representam os
sistemas, sendo divididos em modelos físicos, analógicos e matemáticos. Os modelos
131
físicos representam o sistema por um protótipo em escala menor. São bastante utilizados
na hidráulica, como modelos de vertedor de barragens, modelos de praias, de portos,
etc. Já os modelos analíticos são caracterizados por funcionarem fazendo analogia com
equações que regem diferentes fenômenos. O exemplo mais comum desse caso é a
analogia entre as equações do escoamento hidráulico e de um circuito elétrico.
O modelo matemático, por sua vez, representa a natureza do sistema através de
equações matemáticas. Isso os torna mais versáteis, permitindo facilmente que sejam
modificados e que seja obtida uma análise rápida de diferentes situações de um mesmo
sistema ou até de vários sistemas. Imagine um modelo matemático desenvolvido para
representar a circulação da água e o transporte de contaminantes em um rio. Caso seja
interesse estudar como a dispersão e a propagação para jusante do contaminante é
influenciada pelas dimensões da seção transversal do rio, bastaria alterar os valores no
modelo matemático e executar o cálculo novamente. Por outro lado, a mesma análise
sendo feita em um modelo físico, constituído por um “protótipo” do rio (por exemplo,
usando argila), requereria um enorme esforço, na medida que para cada seção
transversal estudada seria necessário reconstruir todo o modelo reduzido.
As desvantagens do modelo matemático residem principalmente na dificuldade
de representar matematicamente alguns processos físicos e na necessidade de discretizar
os processos no tempo e no espaço. Sabe-se que os processos naturais são contínuos
(por exemplo, a vazão em um rio varia continuamente de um valor em um determinado
instante do tempo a outro – ou seja, por mais rápida que seja a variação, não ocorrem
“saltos” de um valor para outro). Entretanto, na modelagem matemática,
simplificadamente, os processos são estudados em intervalos de tempo e em alguns
pontos do espaço. Em outras palavras, o modelo matemático calcula as variáveis
hidrológicas em passos de tempo pré-determinados (por exemplo, a cada minuto, hora,
dia, etc) e em alguns pontos do sistema. A forma como é feita tal discretização no tempo
e no espaço é função de uma série de fatores, não cabendo aqui discorrer sobre a
questão, mas é interessante perceber que quanto mais fina seja a discretização (menor
passo de tempo e distância entre os pontos no espaço), mais próxima da realidade do
sistema está sendo a sua representação no modelo, caso haja informações tão detalhadas
para alimentar o modelo.
132
Aplicação dos modelos hidrológicos
Antes de comentar sobre a aplicação dos modelos hidrológicos, é interessante
apresentar algumas definições fundamentais para a compreensão da modelagem:
(i) Estimativa ou ajuste dos parâmetros: essa fase é também conhecida como calibração
do modelo e consiste na determinação dos valores dos parâmetros do mesmo; a
estimativa de tais valores depende da disponibilidade de dados históricos, da medição
de amostras e da determinação de características físicas do sistema. Há diferentes
formas de se estimar os parâmetros do modelo:
i.a – Estimativa sem dados históricos: esse caso é usado quando não há registros
das variáveis dos sistemas, sendo os valores dos parâmetros determinados em função da
caracterização física do sistema. Normalmente, a literatura especializada estabelece
faixas de valores (intervalo de variação) para cada parâmetro, em função de observações
em campo/laboratório ou do significado físico do parâmetro.
i.b – Ajuste por tentativas: nessa situação, os parâmetros têm seus valores
variados, sendo comparados os resultados do modelo com os valores das variáveis
medidas. Por exemplo, em um modelo que simula a transformação chuva-vazão, um
determinado parâmetro pode ser ajustado variando-se seu valor e observando como o
hidrograma gerado pelo modelo se comporta em relação ao hidrograma medido –
133
obviamente, procura-se o valor do parâmetro que melhor ajuste os valores calculados
aos observados (que os torne mais próximos entre si). A decisão do melhor ajuste é
baseada geralmente na análise visual (graficamente) ou através de coeficientes
estatísticos. Este método requer a existência de valores medidos das variáveis de entrada
e saída do modelo;
(ii) Verificação: nesta fase o modelo já calibrado (ou seja, com os valores dos
parâmetros ajustados) é verificado ou testado com outro conjunto de dados – valores das
variáveis de entrada e saída distintos dos utilizados na fase de ajuste. Agora, os valores
das variáveis de saída são usados apenas para comparação com o resultado gerado pelo
modelo, sendo verificado se o modelo simula o sistema satisfatoriamente.
(iii) Previsão: esta é a fase da simulação onde o modelo, estando ajustado e verificado, é
utilizado para representar a saída do sistema para situações desconhecidas, como
alternativas de projeto (intervenções na bacia) ou modificações futuras possíveis na
bacia.
134
Classificação dos sistemas e modelos
Neste item são apresentadas algumas classificações dos sistemas e dos modelos,
fazendo-se já a ressalva que nem sempre um sistema classificado como um certo tipo
será representado por um modelo do mesmo tipo – as classificações são independentes.
* Concentrado x distribuído
O modelo concentrado é caracterizado por não levar em conta a variabilidade
espacial das variáveis, que são consideradas funções apenas do tempo. Já o modelo dito
distribuído têm variáveis e parâmetros que variam ao longo do espaço (além do tempo).
O exemplo mais clássico são os modelos chuva-vazão (que simulam a transformação da
chuva em vazão), onde os concentrados consideram a bacia como um elemento único e
os distribuídos subdividem-na em áreas menores, fazendo a referida transformação em
cada uma dessas sub-áreas. A rigor, não existiria modelo distribuído, pois ele seria
concentrado em cada subdivisão menor.
* Estocástico x determinístico
Na modelagem estocástica, é considerada a chance de ocorrência das variáveis,
ao ser introduzido o conceito de probabilidade. O modelo determinístico, por sua vez,
segue uma lei definida, sem considerar as chances de ocorrência dos valores das
variáveis. Simplificadamente, pode-se afirmar que enquanto o modelo determinístico
“produz” a mesma saída para uma mesma entrada, no modelo estocástico a relação entre
entrada e saída é estatística (há chances de ocorrência para cada determinado valor).
* Conceitual x empírico
Um modelo é referido como conceitual quando as funções utilizadas levam em
consideração os processos físicos, enquanto no modelo empírico as funções empregadas
foram desenvolvidas para ajustar os valores medidos e observações em
campo/laboratório, sem retratar o processo físico em si.
135
situações; exemplos: modelo de circulação da água e transporte de
contaminantes em um rio; modelo chuva-vazão; etc.
- modelos de otimização, que procuram obter a “melhor” solução para uma
determinada situação, atendendo a objetivos pré-definidos; exemplo: modelo de
operação de reservatório;
- modelos de planejamento, que simulam condições globais de um sistema maior
(acoplam modelos de comportamento e de otimização);
136
Referências Bibliográficas
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