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- ATOS ADMINISTRATIVOS:

1. Noções Preliminares:

A noção de fato administrativo não encontra relação com a de fato jurídico, presente no direito
privado. Fato jurídico significa o fato capaz de produzir efeitos na ordem jurídica, de modo que dele
se originem e se extingam direitos. A idéia de fato administrativo não tem correlação com tal
conceito, pois que não leva em consideração a produção de efeitos jurídicos, mas, ao revés, tem o
sentido de atividade material no exercício da função administrativa, que visa efeitos de ordem
prática para a AP, como por exemplo, a apreensão de mercadorias.

A noção indica tudo aquilo que retrata alteração dinâmica na AP, um movimento na ação
administrativa. Significa dizer que a noção de fato administrativo é mais ampla que a de fato
jurídico, uma vez que, além deste, engloba também os fatos simples, ou seja, aqueles que não
repercutem na esfera de direitos, mas estampam evento material ocorrido no seio da AP. Uma das
formas de se materializar o fato administrativo é através do ato administrativo.

 ato da administração ≠ ato administrativo

Todo ato praticado no exercício da função administrativa é ato da administração, inclusive os de


caráter privado, como locação, doação, permuta, compra e venda.

 ato jurídico ≠ ato administrativo

Os elementos do ato jurídico (sujeito capaz, objeto lícito e possível, vontade livre e forma prevista
ou não proibida em lei) garantem sua presença também no ato administrativo. Ocorre que nesse o
sujeito e o objeto têm qualificações especiais: o sujeito é sempre um agente revestido de
prerrogativas públicas, e o objeto há de estar preordenado a determinado fim de interesse público.
Mas no fundo será ele um instrumento da vontade para a produção dos mesmos efeitos do ato
jurídico. Temos, assim, uma relação de gênero e espécie. Os atos jurídicos (em sentido amplo) são o
gênero do qual são espécies os negócios jurídicos, os atos jurídicos em sentido estrito (ou
propriamente ditos) e os atos administrativos, o que denota que em ambos (ato jurídico e ato
administrativo) são idênticos os elementos estruturais.

2. Conceito:

O ato administrativo é manifestação unilateral de vontade, e pode ser conceituado como sendo a
exteriorização da vontade de agentes da AP ou de seus delegatários, nessa condição, que, sob regime
de direito público, vise à produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público.

Pode-se ainda definir o ato administrativo como a declaração do Estado ou de quem o represente,
que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito
público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário.
Portanto, para que tenhamos um ato administrativo é necessário que a vontade emane de agente da
AP ou dotado de prerrogativa desta (o ato administrativo constitui declaração do Estado ou de quem
lhe faça as vezes). Depois, seu conteúdo há de propiciar a produção de efeitos jurídicos com o fim
público (produz efeitos jurídicos imediatos e é sempre passível de controle judicial). Por fim, deve
toda essa categoria de atos ser regida basicamente pelo direito público (sujeita-se a regime jurídico
administrativo).

OBSERVAÇÃO: O silêncio é forma de manifestação de vontade da AP? O tema é muito


controvertido tanto na doutrina quanto na jurisprudência. No direito privado (direito civil), o silêncio
é forma de manifestação de vontade, pois significa consentimento tácito. Só não valerá como
anuência se a lei declarar indispensável a manifestação expressa (art.111, CC/02). A corrente
majoritária entende que o silêncio, no direito público, não revela a prática de ato administrativo, eis
que inexiste manifestação formal de vontade. Não há qualquer declaração do agente público acerca
de sua conduta, salvo se a lei, de forma expressa, disser que o silêncio implica anuência tácita. Se a
lei for omissa, nada disser, entende-se que o silêncio não gera conseqüência alguma.

3- Elementos ( ou requisitos):

Os elementos do ato administrativo são: competência, finalidade, forma, motivo e objeto


(COMFINFORMOB). O art. 2º, Lei 4.717/65 (lei de ação popular) indica o ato como nulo se
ausentes os elementos acima descritos.

A) COMPETÊNCIA:

Competência é o círculo definido por lei dentro do qual podem os agentes exercer legitimamente sua
atividade. No direito público, o sujeito, além de capaz, tem que ser competente, isto é, atue dentro da
esfera que a lei traçou. A competência tem que decorrer de norma legal expressa. Não há presunção
de competência administrativa; esta tem que decorrer de norma expressa.

Sujeito é aquele a quem a lei atribui competência para a prática do ato. Pode-se definir a
competência como o conjunto de atribuições das pessoas jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo
direito positivo. Somente se pode falar em incompetência propriamente dita (como vício do ato
administrativo), no caso em que haja sido infringida a competência definida em lei. A competência
decorre sempre de lei, não podendo o próprio órgão estabelecer, por si, suas atribuições.

A competência é inderrogável, ou seja, a competência de um órgão não se transfere a outro por


acordo entre as partes, ou por assentimento com terceiros, isso porque a competência é conferida em
benefício do interesse público.

A competência é improrrogável, ou seja, a incompetência não se transmuda em competência. Se um


órgão não tem competência para certa função, não poderá vir a tê-la supervenientemente, a menos
que a antiga norma definidora seja alterada.

A competência pode ser objeto de avocação ou de delegação, desde que não se trate de competência
conferida a determinado órgão ou agente, com exclusividade, pela lei (art.11, Lei 9.784/99).
Em algumas circunstâncias, pode a norma autorizar que um agente transfira a outro, normalmente de
plano hierárquico inferior, funções que originariamente lhe são atribuídas. É o fenômeno da
delegação de competência. Para que ocorra é mister que haja norma expressa autorizadora,
normalmente a lei (art.12, DL 200/67). A lei pode, por outro lado, impedir que algumas funções
sejam objeto de delegação. São as funções indelegáveis, que, se transferidas, acarretam a invalidade
não só do ato de transferência, como dos praticados em virtude da indevida delegação. O ato de
delegação não retira a competência da autoridade delegante, que continua competente
cumulativamente com a autoridade delegada.

Se o delegante atrair para sua esfera decisória a prática de ato objeto de delegação, ocorre o
fenômeno inverso, ou seja, a avocação, sem dúvida um meio de evitar decisões concorrentes e
eventualmente contraditórias.

B) OBJETO:

Objeto é o efeito jurídico imediato que o ato produz. Na prática, o objeto é a resposta à pergunta:
“para que serve o ato?”, o que expressa o fim imediato da vontade. O objeto do ato deve ser lícito e
possível, exeqüível.

Sendo o ato administrativo espécie do gênero ato jurídico, ele só existe quando produz efeito
jurídico, ou seja, quando, em decorrência dele, nasce, extingue-se, transforma-se um determinado
direito. Esse efeito jurídico é o objeto. Para identificar-se esse elemento, basta verificar o que o ato
enuncia, prescreve, dispõe.

Objeto é a alteração no mundo jurídico que o ato administrativo se propõe a processar. É o objetivo
imediato da vontade exteriorizada pelo ato, a proposta, enfim, do agente que manifestou a vontade
com vistas a determinado alvo.

C) FORMA:

A forma é o meio pelo qual se exterioriza a vontade. A forma é elemento que integra a própria
formação do ato. Sem sua presença, o ato sequer completa o seu ciclo de existência. Pode ser
considerada válida, a forma do ato deve compatibilizar-se com o que expressamente dispõe a lei ou
ato equivalente com força jurídica. Desse modo, não basta simplesmente a exteriorização da vontade
pelo agente administrativo; impõe-se que o faça nos termos em que a lei a estabeleceu, sob pena de
ficar o ato inquinado de vício de legalidade suficiente para provocar-lhe a invalidação.

Partindo-se da idéia de elemento do ato administrativo como condição de existência e de validade do


ato, é certo que a inobservância das formalidades que precedem o ato e o sucedem, desde que
estabelecidas em lei, determinam a sua invalidade. A inobservância da forma gera a ilicitude do ato.
No direito público, a regra é a solenidade das formas (≠ do direito privado, onde vigora a liberdade
das forma). Deve o ato ser escrito, mas se a lei estabelece determinada forma como revestimento do
ato, não pode a AP deixar de observá-la, sob pena de invalidação por vício de legalidade.

D) FINALIDADE:

Finalidade é o elemento pelo qual todo ato administrativo deve estar dirigido ao interesse público.
Finalidade é o resultado que a AP quer alcançar com a prática do ato. Enquanto o objeto é o efeito
jurídico imediato que o ato produz (aquisição, transformação e extinção de direitos), a finalidade é o
efeito mediato. Distingue-se do motivo, porque esse antecede a prática do ato, correspondendo aos
fatos, às circunstâncias que levam a AP a praticar o ato. Já a finalidade sucede à prática do ato,
porque corresponde a algo que a AP quer alcançar com a sua edição.

Tanto motivo como finalidade contribuem para a formação da vontade da AP: diante de certa
situação de fato ou de direito (motivo), a AP pratica certo ato (objeto) para alcançar determinado
resultado (finalidade).

O ato administrativo tem que ter sempre finalidade pública. A finalidade do ato administrativo é
sempre a que decorre explícita ou implicitamente da lei. Seja infringida a finalidade legal do ato, seja
desatendido o seu fim de interesse público, o ato será ilegal por desvio de poder. O desrespeito ao
interesse público constitui abuso de poder sob a forma de desvio de finalidade. A finalidade é
invariável para qualquer espécie de ato: será sempre o interesse público.

E) MOTIVO:

É situação de fato ou de direito que gera a vontade do agente quando pratica o ato administrativo.
Motivo é o pressuposto de fato ou de direito que serve de fundamento ao ato administrativo.
Pressuposto de direito é o dispositivo legal em que se baseia o ato. Pressuposto de fato é o conjunto
de circunstâncias, de acontecimentos, de situações que levam a AP a praticar o ato. A ausência de
motivo ou a indicação de motivo falso invalidam o ato. Ex: no ato de punição do funcionário, o
motivo é a infração; no tombamento, é o valor cultural do bem.

MOTIVO ≠ MOTIVAÇÃO

Não se confundem motivo e motivação. Motivação é a exposição dos motivos, ou seja, é a


demonstração, por escrito, de que os pressupostos de fato realmente existiram. Motivo é a situação
de fato por meio da qual é deflagrada a manifestação de vontade da AP. Já a motivação é a
justificativa do pronunciamento tomado. A motivação exprime de modo expresso e textual todas as
situações de fato que levaram o agente à manifestação de vontade. A motivação não significa a falta
de justificativa, mas a falta desta dentro do texto do ato. A simples falta de justificativa ofenderia a
legalidade por falta do motivo.

Quanto ao motivo, dúvida não há de que é realmente obrigatório. Sem ele, o ato é írrito e nulo.
Inconcebível é aceitar-se o ato administrativo sem que se tenha delineado determinada situação de
fato. No que se refere à motivação, há controvérsia na doutrina, mas predomina o entendimento de
que, em regra, a motivação é igualmente necessária, seja para os atos vinculados ou discricionários,
pois constitui garantia de legalidade, que tanto diz respeito ao interessado como à própria AP; a
motivação é que permite a verificação, a qualquer momento, da legalidade do ato, até mesmo pelos
demais poderes do Estado.

- Teoria dos Motivos Determinantes:

A teoria dos motivos determinantes baseia-se no princípio de que o motivo do ato administrativo
deve sempre guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a manifestação de vontade.
Se o motivo se conceitua como a própria situação de fato que impele a vontade da AP, a inexistência
desta situação provoca a invalidação do ato. Tais motivos é que determinam e justificam a realização
do ato, e, por isso mesmo, deve haver perfeita correspondência entre eles e a realidade. Portanto, a
validade do ato se vincula aos motivos indicados como seu fundamento, de tal modo que se
inexistirem ou forem falhos, implicam a sua nulidade. Quando a AP motiva o ato, mesmo que a lei
não exija motivação, ele só será válido se os motivos forem verdadeiros.

4 – Atributos (ou características):

A) imperatividade;
B) auto-executoriedade
C) presunção de legitimidade e veracidade.

A) IMPERATIVIDADE:

Imperatividade é o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros,


independentemente de sua concordância. Decorre da prerrogativa que tem o Poder Público de, por
meio de atos unilaterais, impor obrigações a terceiros.

Imperatividade (ou coercibilidade) significa que os atos administrativos são cogentes, obrigando a
todos quantos se encontrem em seu círculo de incidência ( ainda que o objetivo a ser por ele
alcançado contrarie interesses privados), na verdade, o único alvo da AP é o interesse público. O
princípio da supremacia do interesse público justifica a imperatividade dos atos.

A imperatividade é uma das características que distingue o ato administrativo do ato de direito
privado, pois esse não cria qualquer obrigação para terceiros sem a sua concordância. A
imperatividade não existe em todos os atos administrativos, mas só naqueles que impõem
obrigações. Quando se trata de atos negociais (aquele que confere direitos solicitados pelos
administrados, como a licença, autorização e permissão) ou atos enunciativos (como pareceres e
certidões), esse atributo não existe.

B) AUTO – EXECUTORIEDADE:

Consiste a auto-executoriedade em atributo pelo qual o ato administrativo pode ser posto em
execução pela própria AP, sem necessidade de intervenção do Poder Judiciário. O ato
administrativo, tão logo praticado, pode ser imediatamente executado e seu objeto imediatamente
alcançado.

A auto-executoriedade tem como fundamento jurídico a necessidade de salvaguardar com rapidez e


eficiência o interesse público, o que não ocorreria se a cada momento tivesse que submeter suas
decisões ao crivo do Judiciário. Além do mais, nada justificaria tal submissão, uma vez que assim
como o Judiciário tem a seu cargo uma das funções estatais (a função jurisdicional), a AP também
tem a incumbência de exercer função estatal (a função administrativa).

A auto-executoriedade só é possível quando expressamente prevista em lei, bem como quando se


trata de medida urgente que, caso não adotada de imediato, possa ocasionar prejuízo maior para o
interesse público.

C) PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE E VERACIDADE:

Os atos administrativos, quando editados, trazem em si a presunção de legitimidade, ou seja, a


presunção de que nasceram em conformidade com as devidas normas legais. Essa característica não
depende de lei expressa, mas deflui da própria natureza do ato administrativo, como ato emanado de
agente integrante da estrutura do Estado. A hipótese, no entanto, é de presunção relativa ( iuris
tantum), cabe prova em contrário, diferente da presunção absoluta (iuris et de iure).

A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei; em decorrência desse
atributo, presumem-se, até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com
observância da lei. A presunção de veracidade diz respeito aos fatos; em decorrência desse atributo,
presumem-se verdadeiros os fatos alegados pela AP.

Da presunção de veracidade decorrem alguns efeitos:

1- enquanto não decretada a invalidade do ato pela própria AP ou pelo Judiciário, ele produzirá
efeitos da mesma forma que o ato válido, devendo ser cumprido;
2- o Judiciário não pode apreciar de ofício a validade do ato;
3- a presunção de veracidade inverte o ônus da prova, cabendo a quem alegar não ser o ato
legítimo a comprovação da ilegalidade. Enquanto isso não ocorrer, o ato vai produzindo
normalmente os seus efeitos e sendo considerado válido, seja no revestimento formal, seja no
seu próprio conteúdo. Portanto, inverte-se, sem dúvida nenhuma, o ônus de agir, já que a
parte interessada é que deverá provar, perante o Judiciário, a alegação de ilegalidade do ato.

- DISCRICIONARIEDADE E VINCULAÇÃO; MÉRITO ADMINISTRATIVO:

Os poderes que exerce a AP são regrados pelo sistema jurídico vigente. Não pode a AP ultrapassar
os limites que a lei traça à sua atividade, sob pena de ilegalidade.

Diz-se que há vinculação quando a lei não traz opções, ou seja, a atuação da AP está objetivamente
prevista em lei, sem espaço para liberdades. Diante de um poder vinculado, o particular tem o direito
subjetivo de exigir da autoridade a edição de determinado ato, sob pena de, não o fazendo, sujeitar-
se à correção judicial.

Mas a lei pode deixar certa margem de liberdade de decisão diante do caso concreto, de tal modo
que a AP poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, todas válidas. Nesse caso, há
discricionariedade, porque a adoção de uma ou outra solução é feita segundo critérios de
conveniência e oportunidade. Porém, nesse mesmo caso a atuação da AP não é totalmente livre,
embora discricionária. A discricionariedade é o espaço de liberdade de atuação concedido pela lei.

Pode-se considerar mérito administrativo a avaliação da conveniência e da oportunidade relativas ao


motivo e objeto, inspiradoras de prática do ato discricionário. Não pode o agente proceder a qualquer
avaliação quanto aos demais elemento do ato – a competência, a finalidade e a forma – esses
vinculados em qualquer hipótese. Não se pode falar em mérito administrativo em se tratando de ato
vinculado. O mérito administrativo só está presente nos atos discricionários.

O Poder Judiciário não pode se intrometer na apreciação de conveniência e oportunidade, sendo-lhe


vedado exercer controle judicial sobre o mérito administrativo.

No ato vinculado, todos os elementos vêm definidos em lei. No ato discricionário, alguns elementos
vêm definidos em lei, com precisão, e outros são deixados à decisão da AP, com maior ou menor
liberdade de apreciação da conveniência e oportunidade. O ato vinculado é analisado apenas sob o
aspecto da legalidade e o ato discricionário deve ser analisado sob o aspecto da legalidade e do
mérito: o 1º diz respeito à conformidade do ato com a lei e o 2º diz respeito à oportunidade e
conveniência diante do interesse público a atingir. O mérito é o aspecto do ato administrativo
relativo à conveniência e oportunidade; só existe nos atos discricionários.

Com relação com os atos vinculados, não existe restrição, pois sendo todos os elementos definidos
em lei, caberá ao Judiciário examinar, em todos os seus aspectos, a conformidade do ato com a lei,
para decretar a sua nulidade se reconhecer que esta conformidade inexistiu.

Com relação aos atos discricionários, o controle judicial é possível mas terá que respeitar a
discricionariedade administrativa nos limites em que ela é assegurada. Porém, com relação aos atos
discricionários, o Judiciário pode apreciar os aspectos de legalidade e verificar se a AP não
ultrapassou os limites da discricionariedade; nesse caso, pode o Judiciário invalidar o ato, porque a
autoridade ultrapassou o espaço livre deixado pela lei e invadiu o campo da legalidade. Quando isso
acontece, ocorre o DESVIO DE PODER. Ocorre desvio de poder quando a AP usa o poder
discricionário para atingir fim diferente daquele que a lei fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder
Judiciário autorizado a decretar a nulidade do ato, já que a AP fez uso indevido da
discricionariedade, ao desviar-se dos fins de interesse público definidos em lei.

5) Classificação:

A) Quanto aos seus destinatários: Gerais e Individuais.


Gerais são os regulamentos, porque retratam um comando abstrato, geral e impessoal. Por isto,
prevalecem sobre os atos individuais, que possuem destinatários (um ou mais) certos, especificados,
como a licença e a autorização.

B) Quanto ao seu objeto: Atos de império e Atos de gestão (ou de expediente).

De império será o ato que retratar a supremacia do interesse público, expressando o poder de coerção
do Poder Público ( é chamado “ato de autoridade”, resultante da potestade). De gestão é o ato de
administração de bens e de serviços da AP, sem qualquer coerção sobre os administrados, e bem
assim os puramente negociais, quando convergem os interesses da AP e do particular. De expediente
é ato de rotina interna e quase sempre praparatório de outros atos ou componente de procedimento.

C) Quanto ao regimento: Atos vinculados e Atos discricionários.

A diferença entre eles é a possibilidade da lei prever certa margem de liberalidade ou não para a AP.
Prevendo a opção do administrador, o ato será discricionário; fixando de forma peremptória a
possibilidade de edição, é vinculado. O ato que impõe a aposentadoria compulsória é vinculado (a lei
contempla expressamente a sua ocorrência); já a nomeação de determinado servidor para uma
função de confiança é discricionária (a lei fixa que a possibilidade, a oportunidade e a conveniência
serão examinadas pela AP). Assim, sempre que a lei expressamente prever se o ato pode ser
praticado, como será editado e quando deverá sê-lo, tem-se o ato vinculado; se a lei, porém, fixa se o
ato pode ser praticado e como o será, deixando a oportunidade e conveniência (quando) ao juízo da
AP, tem-se o ato discricionário.

D) Quanto ao alcance de seus efeitos: Internos e Externos.

A diferença é ele se produzir dentro ou fora da AP. Ambos dependem de publicação para operar
efeitos, podendo ser gerais ou individuais. Os atos de efeito externos dependem de publicação
externa.

E) Quanto à composição da vontade: Simples, Complexos e Compostos.

Simples, quando provêm de única manifestação de vontade. Complexos, sempre que há conjugação
de vontades de mais um órgão. Compostos, sempre que a eficácia do ato somente é obtida pela
retificação ordenada por outro agente que não aquele que exteriorizou inicialmente a vontade de
Poder Público.

6 – Espécies:

a) atos normativos;
b) atos ordinatórios;
c) atos enunciativos;
d) atos negociais;
e) atos punitivos.

a) Atos Normativos:

São atos que contêm um comando geral e impessoal, como o regulamento, o decreto, o regimento, a
resolução. O regimento é ato administrativo normativo de aplicação interna, destinando-se a prover o
funcionamento dos órgãos. A resolução é ato editado por altas autoridades (ministros e secretários de
Estado) e se destina a esclarecer situação própria de sua área de atuação.

b) Atos Ordinatórios:

São atos disciplinadores da conduta interna da AP, endereçadas aos servidores, como as instruções,
os avisos, os ofícios, as portarias, as ordens de serviço, os memorandos. As portarias normalmente
são usadas para designar servidores para determinada função, ou dão início a sindicância e a
procedimento administrativo disciplinar. As ordens de serviço e os memorandos, por vezes, dão
início à execução do contrato administrativo, indicando ao particular a possibilidade de iniciar a
contraprestação avençada.

c) Atos Enunciativos:

São os atos que apenas atestam, certificam ou declaram uma situação de interesse particular ou da
própria AP, tal como ocorre com as certidões, pareceres normativos e técnicos.

d) Atos Negociais:

São os atos que exprimem manifestação de vontade bilateral e concordante: AP e particular


sugerindo a realização de um negócio jurídico. Licença, autorização e permissão são os exemplos
correntes. São atos expedidos a pedido ou a requerimento do interessado, carecendo sempre da
manifestação concordante da vontade de ambos. A licença não pode ser negada sempre que
cumpridas as exigências para a sua obtenção (ato vinculado) constituindo essa direito individual
líquido e certo. Daí ser indenizável a sua revogação posterior. A autorização pode ser recusada e a
qualquer tempo invalidada. A permissão exprime faculdade outorgada ao particular para a utilização
especial de bem público ou prestação de serviço público. Exemplo: licença para construir,
autorização para porte de arma de fogo, permissão para banca de jornal.

e) Atos Punitivos (ou sancionatórios):

São os atos que contêm uma sanção imposta ao particular ou ao agente público ante o desrespeito às
disposições legais, regulamentares ou ordinatórias. Exemplo: multa, interdição, destruição de coisas,
afastamento temporário de cargo ou função pública. Todos dependem de procedimento
administrativo contraditório (com ampla defesa) e são de iniciativa vinculada.

OBSERVAÇÃO: Autorização é o ato discricionário e precário pelo qual a AP faculta ao particular


o uso de bem público (autorização de uso), ou a prestação de serviço público (autorização de serviço
público), ou o desempenho de atividade material, ou a prática de ato que, sem esse consentimentos
seriam legalmente proibidos.

Licença é o ato administrativo unilateral e vinculado pelo qual a AP faculta àquele que preencha os
requisitos legais o exercício de uma atividade.

Permissão é o ato administrativo unilateral, discricionário e precário, oneroso ou gratuito, pelo qual a
AP faculta ao particular a execução de serviço público ou a utilização privativa de bem público.

7 – Extinção do Ato:

7.1) ANULAÇÃO:

Anulação é o desfazimento do ato administrativo por razões de ilegalidade. Como a


desconformidade com a lei atinge o ato em suas origens, a anulação produz efeitos retroativos à data
em que foi emitido (ex tunc – a partir de então). A anulação pode ser feita pela AP, com base em seu
poder de autotutela sobre os próprios atos. E a anulação também pode ser feita pelo Poder Judiciário,
mediante provocação dos interessados, que poderão usar, para esse fim, quer as ações ordinárias e
especiais previstas na legislação processual, quer os remédios constitucionais de controle judicial da
AP. A anulação feita pela própria AP independe de provocação do interessado uma vez que, estando
vinculada ao princípio da legalidade, ela tem o poder-dever de zelar pela sua observância.

Será ilegal o ato praticado por quem não seja detentor das atribuições fixadas na lei e também
quando o sujeito o pratica exorbitando de suas atribuições. O excesso de poder ocorre quando o
agente público excede os limites de sua competência. Constitui, juntamente com o desvio de poder,
que é vício quanto à finalidade, uma das espécies de abuso de poder, que é o vício do ato
administrativos que ocorre quando o agente público exorbita de suas atribuições (excesso de poder),
ou pratica o ato com finalidade diversa da que decorre implícita ou explicitamente da lei (desvio de
poder ou desvio de finalidade).

Convalidação ou saneamento é o ato administrativo pelo qual é suprido o vício existente em um ato
ilegal, com efeitos retroativos à data em que esse foi praticado.

7.2) REVOGAÇÃO:
É o ato administrativo discricionário pelo qual a AP extingue um ato válido, por razões de
conveniência ou oportunidade. Como a revogação atinge um ato que foi editado em conformidade
com a lei, ela não retroage; os seus efeitos se produzem a partir da própria revogação; são efeitos ex
nunc (a partir de agora).

A revogação respeita os efeitos já produzidos pelo ato, precisamente pelo fato desse ser válido.
Enquanto a anulação pode ser feita pelo Judiciário e pela AP, a revogação é privativa dessa última
porque os seus fundamentos (oportunidade e conveniência) são vedados à apreciação do Poder
Judiciário. Não podem ser revogados os atos vinculados. Não podem ser revogados os atos que
exauriram seus efeitos. A revogação supõe um ato que ainda esteja produzindo efeitos.

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