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Topologia Métrica

Espaços metrizáveis
Axioma Primeiro Enumerável

Notas de Aula - Topologia


Aula 5

Alexandre M Alves

Departamento de Matemática
UFV

2020/II

Notas de Aula - Topologia


Topologia Métrica
Espaços metrizáveis
Axioma Primeiro Enumerável

Uma das maneiras mais importantes de se impor uma topologia em um


conjunto é definir a topologia em termos de uma métrica no conjunto.

Uma métrica sobre um conjunto X é uma função

d :X ×X →R

satisfazendo as seguintes propriedades:


1 d(x, y ) ≥ 0 para todos x, y ∈ X . Tem-se d(x, y ) = 0 se, e só se,
x = y.
2 d(x, y ) = d(y , x) para todo x, y ∈ X .
3 d(x, z) ≤ d(x, y ) + d(y , z) para todos x, y , z ∈ X .

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Topologia Métrica
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Axioma Primeiro Enumerável

Dada uma métrica d sobre X , o número d(x, y ) é chamado de


distância entre x e y .

O conjunto
Bd (x, r ) = {y ∈ X ; d(x, y ) < r }
é chamado bola centrada em x de raio r > 0, em relação a métrica d.
Quando não houver dúvidas a respeito da métrica, usaremos a notação
B(x, r ).

Seja y ∈ B(x, r ), então existe 0 < δ < r tal que B(y , δ) ⊂ B(x, r ). De
fato, coloque δ = r − d(x, y ). Se z ∈ B(y , δ) então

d(y , z) < δ = r − d(x, y ).

Segue que
d(x, z) ≤ d(x, y ) + d(y , z) < r ,
portanto z ∈ B(x, r ). Veja figura abaixo.

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Axioma Primeiro Enumerável

Se d é um métrica sobre o conjunto X , então a coleção de todas as bolas


Bd (x, r ), para x ∈ X e r > 0, é uma base B para uma topologia sobre X ,
chamada de topologia métrica induzida pela métrica d. De fato, se
x ∈ X , então x ∈ Bd (x, r ). Agora sejam B1 , B2 ∈ B e x ∈ B1 ∩ B2 . Pelo
que vimos acima, existem números r1 e r2 tais que, B(x, r1 ) ⊂ B1 e
B(x, r2 ) ⊂ B2 . Coloque r = min{r1 , r2 }. Assim, B(x, r ) ⊂ B1 ∩ B2 .

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Axioma Primeiro Enumerável

Resumindo: Um conjunto U é aberto na topologia métrica induzida por


d se, e somente se, para cada y ∈ U, existe δ > 0 tal que Bd (y , δ) ⊂ U.

Exemplo 1. Seja X um conjunto qualquer. Defina a seguinte métrica


d : X × X → R por

1, x 6= y
d(x, y ) =
0, x = y .

A topologia induzida por d é chamada topologia discreta. Observe que


B(x, 1) = {x} e B(x, 2) = X .

Exemplo 2. A métrica padrão sobre R é definida pela equação

d(x, y ) = |x − y | (Verifique!).

A topologia induzida pela métrica d é a mesma topologia de ordem.

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Axioma Primeiro Enumerável

Um espaço topológico X é considerado metrizável, se existe uma


métrica d no conjunto X que induz a topologia de X . Um espaço
métrico é um espaço metrizável X junto com uma métrica d que induz a
topologia de X .

Exemplo 3. Seja X um conjunto com #X > 1 e munido com a


topologia T = {∅, X }. Seja d uma métrica qualquer sobre X . Tome
x, y ∈ X , com x 6= y , assim d(x, y ) = k > 0. Coloque
   
k k
B x, = z ∈ X ; d(x, z) < .
2 2

Note que B x, k2 6= ∅ já que x ∈ B x, k2 . Mas, B x, k2 ∈


  
/ T , já que
k

B x, 2 6= X . Portanto, Td 6= T e (X , T ) não é metrizável.

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Axioma Primeiro Enumerável

Um problema importante em topologia é encontrar condições em um


espaço topológico que garantam que ele seja metrizável. Nem todo
espaço topológico é metrizável.

A propriedade de ser metrizável de um espaço topológico X , depende


apenas da topologia do espaço em questão, mas as propriedades que
envolvem uma métrica especı́fica para X em geral não. Por exemplo,
pode-se fazer a seguinte definição em um espaço métrico.

Seja X um espaço métrico com métrica d. Um subconjunto A ⊂ X é


dito ser limitado se, existe um número M > 0 tal que

d(a1 , a2 ) < M,

para cada par a1 , a2 ∈ A. Se A for limitado e não vazio, o diâmetro de A


é definido como o número

diam(A) = sup{d(a1 , a2 ); a1 , a2 ∈ A}.

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Limitação de um conjunto não é uma propriedade topológica, pois


depende da métrica particular d associada a X . Vejamos no teorema à
seguir.

Teorema (1)
Seja X um espaço métrico com métrica d. Defina db : X × X → R por

d(x,
b y ) = min{d(x, y ), 1}.

Então db é uma métrica que induz a mesma topologia de d. A métrica db


é chamada de métrica limitada padrão correspondente a d.

Demonstração: As duas primeiras condições seguem imediatamente.


Em relação a desigualdade tringular, note que

d(x,
b z) = min{d(x, z), 1} ≤ min{d(x, y ) + d(y , z), 1}
≤ min{d(x, y ), 1} + min{d(y , z), 1}
= d(x,
b y ) + d(y
b , z)

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Agora, sejam B e Bb bases induzidas pelas métricas d e d,


b neste caso,
coleções de -bolas, considerando  < 1. Claramente, se B(x, ) ∈ B
então B(x, ) ∈ Bb e reciprocamente, de onde segue o resultado.

Observação: Se X = R, observe que todos os conjuntos são limitadas


no espaço métrico (X , d),
b mas não em (X , d). São espaços métricos
distintos, mas com a mesma topologia.

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Propriedades dos espaços métricos

Se A é um subespaço do espaço topológico X e d é uma métrica para X ,


então a restrição de d para A × A é uma métrica para a topologia de A.
(Verifique).

Os espaços métricos são Hausdorff. De fato, seja (X , d) um espaço


métrico. Se x, y ∈ X , com x 6= y e se k = d(x, y ), tome
B1 (x, k4 ), B2 (y , k4 ) ∈ Td . Claramente B1 ∩ B2 = ∅.

O restante desse tópico será reservado para tratarmos de funções


contı́nuas definidas sobre espaços métricos.

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Teorema (1)
Dados os epaços métricos (X , dX ) e (Y , dY ), uma função f : X → Y é
contı́nua se, e só se, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que, se dX (x, y ) < δ
então dY (f (x), f (y )) < ε (ε, δ condição).

Demonstração:(⇒) Sejam x ∈ X e ε > 0. A bola B(f (x), ε) é aberta


em Y , portanto f −1 (B(f (x), ε)) é aberto em X . Então, já que X é
métrico, existe δ > 0 tal que B(x, δ) ⊂ f −1 (B(f (x), ε)). Portanto,

f (B(x, δ)) ⊂ f (f −1 (B(f (x), ε)) ⊂ B(f (x), ε).

(⇐) Seja V aberto em Y e x ∈ f −1 (V ). Como V é aberto, existe ε > 0


tal que B(f (x), ε) ⊂ V . Pela ε, δ condição, existe δ > 0 tal que
f (B(x, δ)) ⊂ B(f (x), ε), ou seja, B(x, δ) ⊂ f −1 (V ), o que mostra que
f −1 (V ) é aberto.

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Consideramos agora a relação entre sequências convergentes e conjuntos


fechados.

Em um espaço topológico arbitrário, dizemos que uma sequência


x1 , x2 , . . . de pontos do espaço X , converge para o ponto x0 ∈ X se,
para cada vizinhança U de x0 , existe um inteiro positivo N tal que,
xn ∈ U para todo n > N.

Em geral, não é verdade que, se x pertence ao fecho um subconjunto A


do espaço X , então deve existir uma sequência de pontos de A
convergindo para x. O exemplo 7 da aula 2 mostra um caso dessa
natureza.

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Proposição (1)
Seja X um espaço topológico e A ⊂ X . Se existe uma sequência de
pontos de A convergindo para x, então x ∈ A. A recı́proca é válida se X
é metrizável.
Demonstração: Suponha xn → x. Então, cada vizinhança U de x
satisfaz U ∩ A 6= ∅, já que xn ∈ A ∩ U para todo n > N, para algum
inteiro N. Segue que x ∈ A. Reciprocamente, suponha X metrizável e
que x ∈ A. Considere a seguinte sequência: para cada n seja a bola
Bd (x, n1 ) que é uma vizinhança de x. Como x ∈ A, existe
xn ∈ A ∩ Bd (x, n1 ). Afirmamos que xn → x. De fato, seja U um aberto
contendo x. Existe δ > 0 tal que Bd (x, δ) ⊂ U. Tome um inteiro positivo
N tal que N1 < δ. Então, xn ∈ U para todo n > N e segue o
resultado.

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Proposição (2)
Se a função f : X → Y é contı́nua, então para cada sequência
convergente xn → x em X , a seqüência (f (xn )) converge para f (x). A
recı́proca é válida se X for metrizável.

Demonstração:(⇒) Suponha xn → x. Seja V uma vizinhança de f (x),


então f −1 (V ) é uma vizinhança de x, assim existe N > 0 tal que,
xn ∈ f −1 (V ) para cada n > N. Segue que f (xn ) ∈ V para cara n > N,
portanto f (xn ) → f (x).
(⇐) Seja A um subconjunto de X e x ∈ A. Pela Proposição 1, existe
uma sequência (xn ) em A, com xn → x. Por hipótese, f (xn ) → f (x),
assim existe N > 0 tal que f (xn ) ∈ f (A) para todo n > N. Novamente,
pela Proposição 1, f (x) ∈ f (A), ou seja, f (A) ⊂ f (A)), de onde segue
que f é contı́nua.

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Observações
1 Note que, na Proposição 2, não é necessário exigir que Y seja
metrizável.
2 Nas provas das Proposições 1 e 2, não usamos toda a força da
hipótese de que o espaço X é metrizável. O que foi necessário foi
usar a coleção enumerável de bolas Bd (x, n1 ) centradas em x.

Dizemos que um espaço X possui uma base enumerável no ponto x se


existe uma coleção enumerável {Un }n∈N de vizinhanças de x tal que,
qualquer vizinhança U de x contém pelo menos um dos conjuntos Un .

Um espaço X que possui uma base enumerável em cada um de seus


pontos é dito satisfazer o primeiro axioma da enumerabilidade, ou que
X é primeiro enumerável.

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Um espaço metrizável sempre satisfaz o primeiro axioma da


enumerabilidade, mas não vale a recı́proca. De fato, consideremos o
seguinte exemplo.

Exemplo 4. Seja X = {0, 1} e TX = {∅, {0}, {0, 1}}. Claramente


(X , TX ) é um espaço topológico. Note que X é primeiro enumerável, mas
não é Hausdorff, portanto não é metrizável.

Como o axioma de Hausdorff, o primeiro axioma da enumerabilidade é


um requisito que às vezes impomos a um espaço topológico a fim de
provar teoremas mais fortes sobre o espaço.

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Teorema (2)
As operações de adição, subtração, multiplicação são funções contı́nuas
de R × R em R. A operação quociente é uma função contı́nua de
R × (R \ {0}) em R.

Demonstração:exercı́cio.

Teorema (3)
Suponha X um espaço topológico e f , g : X → R funções contı́nuas.
Então são contı́nuas f ± g , f .g e também gf desde que g (x) 6= 0 para
todo x ∈ X .
Demonstração:exercı́cio.

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Seja fn : X → Y uma sequência de funções do conjunto X para o espaço


métrico Y . Seja d a métrica associada a Y . Dizemos que a sequência
(fn ) converge uniformemente para a função f : X → Y se, dado ε > 0,
existe um inteiro N > 0 tal que,

d(fn (x), f (x)) < ε

para todo n > N e todo x ∈ X .

A uniformidade da convergência, isto é, N depender somente de ε e não


depender do ponto x, depende não apenas da topologia de Y , mas
também de sua métrica.

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Teorema (4)
Seja fn : X → Y uma sequência de funções contı́nuas definidas no espaço
topológico X para o espaço métrico Y . Se (fn ) converge uniformemente
para f , então f é contı́nua.

Demonstração: Seja V um aberto em Y e x0 ∈ f −1 (V ). Seja ε > 0 tal


que B(f (x0 ), ε) ⊂ V . Pela convergência uniforme existe N tal que
ε
d(fn (x), f (x)) < , para n ≥ N.
3
Pela continuidade de fN , existe uma vizinhança U de x0 tal que
fN (U) ⊂ B(f (x0 ), ε3 ). Então, se x ∈ U tem-se

d(f (x), f (x0 )) ≤ d(f (x), fN (x)) + d(fN (x), fN (x0 )) + d(fN (x0 ), f (x0 ))
ε ε ε
≤ + + = ε.
3 3 3
Segue que f é contı́nua.

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