Você está na página 1de 30

INTENSIVO I

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 07

ROTEIRO DE AULA

Tema: Partes e litisconsórcio II


Intervenção de terceiros

2.5. Regime jurídico do litisconsórcio (art. 117, CPC)

Para explicar o regime jurídico do litisconsórcio, é necessário investigar como se dá a relação entre as partes ocupantes
do mesmo polo, ou seja, a relação entre os litisconsortes.
✓ Assim sendo, este tópico tem a função de investigar qual a relação dos atos praticados por um litisconsorte na
esfera do outro litisconsorte.

No processo, as partes podem praticar atos benéficos e atos prejudiciais.

1
www.g7juridico.com.br
José Carlos Barbosa Moreira usa a seguinte linguagem: condutas alternativas são os atos benéficos; e condutas
determinantes são os atos prejudiciais.

Exemplo de condutas benéficas: contestar, provar, recorrer, impugnar.


Exemplo de condutas prejudiciais: confessar, não contestar, reconhecer juridicamente do pedido, renunciar etc. Em geral,
são atos de disposição.

Questão: A prática de um ato benéfico ou prejudicial por um dos litisconsortes prejudica o outro?
Para responder a essa questão, é necessário verificar se o litisconsórcio é simples ou unitário.

CPC, art. 117: “Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos,
exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão
beneficiar.”

Observações:
• Litisconsórcio simples:
Quando o litisconsórcio é simples, há cindibilidade dos efeitos da decisão, ou seja, a decisão pode ser diferente
para os litisconsortes.

• Litisconsórcio unitário:
Quando o litisconsórcio é unitário, há incindibilidade da relação jurídica. Neste caso, se um litisconsorte ganha a
ação, todos os demais litisconsortes do mesmo polo também ganham. Se ele perde, todos os demais litisconsortes
do mesmo polo também perdem.

Comentários acerca do quadro comparativo:


• Litisconsórcio simples: em regra, se o ato for prejudicial, a ação de um não prejudicará o outro. Se a conduta for
benéfica, também não beneficiará o outro.
Exemplo: Se “A” e “B” são réus em um processo e o caso é de litisconsórcio simples, se “A” contesta e “B” não
contesta, o benefício da contestação não será estendido a “B” (que será revel).

Exceções: em se tratando de litisconsórcio simples, existem algumas exceções à ideia de que o litisconsórcio não
beneficia. Esses atos benéficos, no geral, referem-se às teses comuns de recurso (art. 1005, CPC), contestação
(art. 345, I, CPC) e produção de provas.
Nestes 3 casos, havendo teses comuns (que poderiam ser arguidas por quaisquer dos litisconsortes), o ato
benéfico se estende ao outro litisconsorte.

2
www.g7juridico.com.br
Exemplo: Se “A” e “B” são réus em um processo e o caso é de litisconsórcio simples e “A” não contesta, mas “B”
contesta e alega a prescrição, o ato benéfico se estenderá a “A”.

CPC, art. 1.005: “O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus
interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos outros quando as
defesas opostas ao credor lhes forem comuns.”

CPC, art. 345, I: “A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação; (...)”

• Litisconsórcio unitário: neste caso, se a conduta for benéfica, beneficiará o outro litisconsorte.
Exemplo: em caso de litisconsórcio unitário, se “A” recorre, seu ato beneficiará “B” (caso este não tenha
recorrido).
Entretanto, nos casos de litisconsórcio unitário, se o ato for prejudicial, a ação de um não prejudicará o outro.
Isso porque, entender o oposto, contrariaria a ideia de justiça e igualdade, pois seria possível que um único
litisconsorte que pratica o ato tivesse o poder de prejudicar os demais.
Exemplo: imagine que, em um litisconsórcio unitário, quatro réus negam o evento, mas um quinto litisconsorte
confessa/reconhece juridicamente o pedido/ou renuncia. Neste caso, para que haja, exemplificativamente, a
confissão, os 5 litisconsortes devem confessar.

CPC, art. 117: “Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos,
exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão
beneficiar.”

2.6. Efeitos da não formação do litisconsórcio

2.6.1. Facultativo: no caso da não formação do litisconsórcio facultativo, não há efeitos, pois ele é opcional. Assim sendo,
aquele que não participou do litisconsórcio facultativo pode ser autor ou réu de uma outra ação posterior.
Exemplo: “A” se envolveu em um acidente de carro com “B”, que estava dirigindo o carro de “C”. Neste caso, “A” pode
propor a ação contra “B” e contra “C”. Entretanto, nada impede que “A” proponha a ação contra “C” e, tendo o pedido
indeferido, posteriormente, proponha contra “B”.

CPC, art. 113: “Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;

3
www.g7juridico.com.br
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.
§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na
liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o
cumprimento da sentença.
§ 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da
decisão que o solucionar.”

2.6.2. Necessário (art. 114, CPC).

CPC, art. 114: “O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica
controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.”

a) antes da sentença (intervenção iussi iudicis – art. 115, parágrafo único, CPC): se não houver a formação do
litisconsórcio necessário e isso ocorrer antes da sentença, ocorrerá a intervenção iussi iudicis, ou seja, o juiz determinará
a citação de todos que devam ser litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinalar, sob pena de extinção do
processo.
✓ Neste âmbito, existe uma polêmica: alguns entendem que o próprio juiz acrescenta o litisconsorte no polo
passivo. Outros entendem que o juiz deve determinar ao autor que emende a inicial para acrescentar o
litisconsorte no polo passivo.
✓ Não há corrente majoritária. O professor Fernando Gajardoni adota a 2ª posição.

b) após a sentença (efeitos variáveis conforme se tratar de litisconsórcio unitário ou simples– art. 115, CPC):
O art. 115, CPC, faz uma divisão:
• O artigo 115, I, CPC, diz que será nula a sentença se a formação do litisconsórcio necessário unitário não for
observada. Essa nulidade abrangerá, inclusive, quem foi parte no processo.
Exemplo: ação anulatória de casamento. Se, eventualmente, o MP entra com uma anulação de casamento contra
o marido sem que a esposa seja litisconsorte e o juiz profere sentença, esta será nula tanto para o marido quanto
para a esposa.
• O inciso II, art. 115, CPC, diz que, se o litisconsórcio for necessário simples, o caso é de ineficácia apenas para
aquele que não integrou o processo.
Exemplo: a oposição, por força de lei, deve ser apresentada contra os opostos (art. 683, CPC1). Se, eventualmente,
“A” e “B” estão em litígio por conta de um automóvel. “C” propõe uma oposição apenas contra “A” (ao invés de

1
CPC, art. 683: “O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos exigidos para propositura da ação.

4
www.g7juridico.com.br
propor a ação contra “A” e “B”). Neste caso, o litisconsórcio é simples, já que a decisão pode ser diferente para
as partes que litigam. Assim sendo, eventual sentença que julga a oposição apenas contra “A” vale para este e é
ineficaz para “B” (que não foi parte).

CPC, art. 115: “A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será:
I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo;
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.
Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de
todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo.”

2.7. Casuística
Casuística é a análise do caso concreto.

2.7.1. Prazo em dobro (art. 229, e §§ CPC) (Súmula 641, STF) – Processos físicos.

O artigo 229, CPC, estabelece que os litisconsortes têm prazo em dobro, desde que preencham três condições:
• Os litisconsortes devem ter advogados distintos;
• Os advogados devem ser de escritórios distintos; e
• O processo deve ser físico.

CPC, art. 229. “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos
contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de
requerimento.
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles.
§ 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.”

Atenção: O prazo em dobro somente se aplica enquanto houver litisconsórcio.


Exemplo: “A” ingressou com uma ação em face de “B” e “C” (litisconsórcio passivo e simples). O juiz julgou o processo e
condenou apenas “B”. Neste caso, não há interesse recursal de “C” e, portanto, acaba o prazo em dobro, pois não há mais
litisconsórcio.

Súmula 641, STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja sucumbido.”

Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa de seus respectivos
advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias.”

5
www.g7juridico.com.br
✓ Atenção: não há prazo em dobro em processo digital.

2.7.2. Cumprimento de sentença físico e prazo em dobro (523 CPC- REsp 1693784-DF): FÍSICOS

O STJ entendeu que a regra do prazo em dobro se aplica, inclusive, à fase de cumprimento de sentença, desde que cumpra
os três requisitos citados:
• O processo deve ser físico.
• Os litisconsortes devem ter advogados diferentes;
• Os advogados devem ser de escritórios diferentes.

Exemplo: No caso do art. 523 do CPC, o prazo para o cumprimento de sentença de pagar quantia seguirá a regra do art.
229 do CPC, ou seja, quando houver litisconsortes com diferentes procuradores de escritórios diferentes e com processo
físico, o prazo será de 30 dias (para pagar) + 30 dias (para impugnar).

CPC, art. 523: “No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela
incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado
para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput , o débito será acrescido de multa de dez por cento e,
também, de honorários de advogado de dez por cento.
§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput , a multa e os honorários previstos no § 1º incidirão sobre
o restante.
§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e
avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.”

2.7.3. Alimentos avoengos (art. 1.698, CC2) (STJ Resp. 658.139-RS x 1.736.596-RS)

Esse tema encontra divergência no STJ.


✓ Alimentos avoengos são aqueles cobrados dos avós.

2
CC, art. 1.698: “Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente
o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas
devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser
chamadas a integrar a lide.”

6
www.g7juridico.com.br
Questão: quando alguém ingressa com uma ação para cobrar alimentos avoengos, é necessário que haja formação de
litisconsórcio passivo necessário simples contra todos os avós ou se trata de hipótese de litisconsórcio facultativo simples?

O STJ, no REsp 658.139/RS, ressaltou que, quando se trata de alimentos avoengos, há litisconsórcio passivo necessário e
simples de todos os parentes do mesmo grau. Se essa lógica fosse sempre seguida, toda a vez que houvesse alimentos
avoengos, o alimentando deveria demandar contra todos os avós (necessariamente). Entretanto, o valor cobrado de cada
litisconsorte dependeria da respectiva condição econômica.

Mais recentemente, o STJ (REsp 1.736.596-RS) entendeu que, nos alimentos avoengos, o litisconsórcio é passivo simples
e facultativo, isso significa que o credor pode eleger quem serão as partes passivas, ou seja, não precisa demandar contra
os quatro avós.

O professor cita que, em provas, o aluno deve adotar a posição mais recente.

2.7.4. Litisconsórcio passivo entre segurado e seguradora (Súmula 529 e Súmula 537, STJ3).

As súmulas 529 e 537 do STJ permitem que a vítima do evento cujo responsável é segurado demande em litisconsórcio
facultativo contra o segurado e a seguradora.

✓ Assim sendo, a vítima do dano pode ajuizar a ação em litisconsórcio passivo facultativo em face do segurado e da
seguradora.
✓ Atenção, nesses casos, é possível processar somente o segurado, ou o segurado e a seguradora. Entretanto, não
é possível ingressar com a ação somente em face da seguradora.
✓ Atenção: É vedado à vítima do sinistro demandar apenas contra a seguradora (pois não há relação jurídica entre
ambas).

2.7.5. Litisconsórcio e competência nos Juizados Especiais (Enunciado 02, FONAJE4)


O teto para litisconsórcio ativo é calculado por autor.

3
Súmulas 529 e 537, STJ: Súmula 529: “No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação
pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.”
Súmula 537 STJ: “Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o
pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida
à vítima, nos limites contratados na apólice.”
4
Enunciado 2 – FONAJE: “ENUNCIADO 02 – É cabível, nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, o litisconsórcio ativo,
ficando definido, para fins de fixação da competência, o valor individualmente considerado de até 60 salários mínimos.”

7
www.g7juridico.com.br
2.7.6. Litisconsórcio, pedidos cumulativos e competência/JF (art. 45, CPC e art. 327 do CPC5).

Não é possível formar litisconsórcio facultativo no âmbito da justiça federal para ampliar a sua respectiva competência.
Exemplo: a DPU quer processar a Caixa Econômica Federal por ocorrência de filas enormes. Entretanto, a DPU verifica
que o mesmo problema pode ser encontrado no Bradesco. Neste caso, se a DPU ingressa com a ação contra ambos, o juiz
federal aplica a regra do art. 327 do CPC (que não admite cumulação de pedidos diante de juízes absolutamente
incompetentes) e indefere a inicial no tocante ao Bradesco, prosseguindo o processo somente contra a CEF.

INTERVAÇÃO DE TERCEIROS

1. Generalidades.

1.1. Efeitos das sentenças e legitimidade p/intervir (art 5066).


Em princípio, os efeitos do processo são endoprocessuais, ou seja, como regra geral, só as partes são atingidas pelos
efeitos das decisões do processo. No entanto, pode haver casos em que terceiros são atingidos por efeitos dos processos
alheios (reflexamente/indiretamente ou diretamente).
A partir do momento em que o terceiro tem a sua esfera jurídica atingida pelos efeitos da sentença proferida em processo
alheio (direta ou indiretamente), ele se torna parte legítima para intervir no processo. Esse é o fenômeno da intervenção
de terceiros.

Observação: No momento em que terceiro ingressa no processo, ele deixa de ser terceiro e passa a ser parte processual,
conforme a doutrina ampliativa de Liebman.

5
CPC, art. 327: “É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles
não haja conexão.
§ 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que:
I - os pedidos sejam compatíveis entre si;
II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
§ 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor
empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos
procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as
disposições sobre o procedimento comum.
§ 3º O inciso I do § 1º não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326 .”
6
CPC, art. 506: “A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.”

8
www.g7juridico.com.br
O professor destaca que há uma polêmica em relação à assistência, pois, para quem adota o conceito restritivo, o
assistente não é parte (pois ele não faz pedido para si e nem pedidos contra si). Entretanto, para quem adota o conceito
ampliativo, o assistente, ao ingressar no processo, torna-se parte, já que participa do processo em contraditório.

Em suma: a intervenção de terceiros consiste em um instituto por meio do qual o terceiro que é alcançado, ainda que
potencialmente (reflexa ou diretamente), pela decisão proferida em processo alheio, passa a ter legitimidade para nele
intervir.

✓ O professor destaca que o nome “intervenção de terceiros” foi pensado sob a ótica daquele que ainda não
ingressou no processo, já que, após seu ingresso, ele se torna parte.

1.2. Classificação das formas de intervenção de terceiros.

a) intervenção típica (arts. 119 a 138) ou atípica (exemplos: arts. 674, 682, 908, 996, etc)
São típicas aquelas previstas na lei como intervenção de terceiros. São elas: assistência, denunciação à lide, incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, chamamento ao processo e amicus curiae.

Obs.: O professor não trabalhará com o tema “amicus curiae”, pois isso será estudado em direito constitucional.

As intervenções de terceiro atípicas não são previstas na lei como tal. São tratadas como ação, procedimento especial ou
incidente na execução.
Exemplos:
1º) Embargos de terceiro (art. 674, CPC7) – Neste caso, não há intervenção de terceiros típica, pois o legislador fez a opção
de consagrá-la como ação.
2º) Oposição (art. 682 do CPC8) - Ocorre todas as vezes que alguém que afirma ser titular do bem ou direito disputado em
processo alheio demanda contra as partes do processo original. Exemplo: A” e “B” estão em litígio por conta de um
automóvel. “C” propõe uma oposição contra as partes para afirmar que o veículo, na verdade, é seu.
✓ A oposição virou procedimento especial no CPC/2015 e não integra mais as modalidades típicas de intervenção
de terceiros.

7
CPC, art. 674, caput: “Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua
inibição por meio de embargos de terceiro.”
8
CPC, art. 682: “Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu poderá,
até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.”

9
www.g7juridico.com.br
3º) Concurso de credores ou concurso de prelações (art. 908 e 909 do CPC9) – Ocorre quando, na execução individual, há
disputa sobre o produto do pagamento. Exemplo: “A” ingressa com uma execução contra “B” e penhora o rancho do
devedor. Com a venda do bem imóvel, foram arrecadados R$ 500 mil. Ocorre que, antes da “A” ter seu crédito satisfeito,
houve uma petição da União por dívidas tributárias de “A”. Diante disso, o juiz instaura o concurso de prelações para
decidir quem levantará o dinheiro arrecadado.

4º) Recurso de terceiro prejudicado (art. 996 do CPC10) - Exemplo: em um mandado de segurança, o juiz concedeu a ordem
e, em virtude de ter constatado que a autoridade coatora (que não é parte) realizou um ato de improbidade
administrativa, remete a cópia dos autos ao MP. Perceba que, neste caso, ao remeter as cópias ao MP, a esfera jurídica
da autoridade coatora foi atingida e, assim sendo, trata-se de hipótese de intervenção de terceiros atípica.

b) intervenção espontânea ou provocada


A intervenção de terceiro espontânea é aquela em que o terceiro ingressa no processo sem ser provocado.
Exemplo: assistência e amicus curiae.

Intervenção provocada é aquela em que o terceiro é acionado pelo Poder Judiciário para que ele intervenha no processo.
Exemplo: denunciação da lide, chamamento ao processo, incidente de desconsideração da personalidade jurídica e
amicus curiae.
✓ Obs.: O amicus curiae pode pedir para ingressar no processo ou o próprio Poder Judiciário pode convidá-lo.

c) intervenção por inserção (maior complexidade subjetiva) ou por ação


A intervenção por inserção é aquela que ocorre dentro da mesma relação jurídica processual. Neste caso, o terceiro
ingressa na relação jurídica já formada e, diante disso, aumenta-se a complexidade subjetiva da demanda.
Não há uma nova relação jurídica processual.
Exemplo: assistência, chamamento ao processo, amicus curiae e incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

9
CPC, art. 908, caput: “Havendo pluralidade de credores ou exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e entregue
consoante a ordem das respectivas preferências.”
CPC, art. 909: “Os exequentes formularão as suas pretensões, que versarão unicamente sobre o direito de preferência e
a anterioridade da penhora, e, apresentadas as razões, o juiz decidirá.”
10
CPC, art. 996: “O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público,
como parte ou como fiscal da ordem jurídica.
Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à
apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual.”

10
www.g7juridico.com.br
No caso de intervenção de terceiro por ação, há uma nova relação jurídica processual. Assim, paralelamente à relação
jurídica primitiva, há a formação de uma nova relação jurídica processual, ou seja, haverá um único processo com duas
relações jurídicas. Neste caso, haverá duas partes dispositivas da sentença, duas sucumbências etc.
Exemplo: denunciação à lide e incidente de desconsideração da personalidade jurídica.

1.3. Prioridade na tramitação (art. 1.048, I, do CPC11)


Em qualquer das modalidades em que for autorizada a intervenção de terceiro e o terceiro interveniente estiver elencado
nas prioridades do art. 1.048, I, CPC, o processo terá prioridade de julgamento.

1.4. Agravo de instrumento (art. 1.015, IX,12 CPC) (Exceção: 138 CPC – STF RE 602584 AgR/ X ADI 3396)
O art. 1.015, IX, CPC, estabelece que cabe agravo de instrumento da decisão que admite e da que não admite a intervenção
de terceiro.

Exceção: amicus curiae.


O caput do art. 138, CPC, afirma que não cabe recurso da decisão que admite o amicus curiae.
Questão: Também seria irrecorrível a decisão que não admite a intervenção do amicus curiae? No STJ, o tema é
controvertido.
No STF, recentemente, entendeu-se que, no caso de ação de controle concentrado de constitucionalidade, da decisão
que admite a intervenção do amicus curiae, não cabe recurso. Da decisão que o inadmite, cabe recurso.
Por outro lado, nas ações que envolvem direitos subjetivos, o STF entendeu que, tanto da decisão que admite quanto da
decisão que inadmite o amicus curiae, não cabe recurso.

CPC, art. 138: “O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou
a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem
pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada,
com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos,
ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.

11
CPC, art. 1.048, I: “Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais:
I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de
doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6o, inciso XIV, da Lei no 7.713, de 22 de dezembro
de 1988;”
12
CPC, art. 1.015, IX: “Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
(...)
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros.”

11
www.g7juridico.com.br
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae .
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.”

1.5. Processo de execução (119, parágrafo13?) (138?) (134!)


Há polêmica sobre o cabimento ou não de assistência e amicus curiae na execução e no cumprimento de sentença. Não
há uma única resposta para essa questão.

✓ Em relação ao amicus curiae ser cabível ou não no processo de execução, há polêmica. O professor destaca que,
em princípio, não é vedada a sua participação, mas é raro que ela seja cabível.
No processo de execução e no cumprimento de sentença, não resta dúvida de que cabe o incidente de desconsideração
da personalidade jurídica.
No processo de execução e no cumprimento de sentença, não cabe chamamento ao processo e denunciação à lide, pois
tais intervenções de terceiro têm o objetivo de formar um título executivo.

1.6. JEC/JEF e JEFP (art. 10 da Lei 9.099/95 14e 1.062 CPC15)


Não cabe intervenção de terceiros no âmbito dos juizados especiais cíveis, federais e da Fazenda Pública.

Exceção: há uma hipótese em que cabe intervenção de terceiros no juizado especial. Trata-se do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica (art. 1.062, CPC).

2. Assistência (119/124 CPC)

2.1. Conceito e hipóteses de cabimento


A assistência ocorre nos casos em que terceiros têm interesse jurídico de que a causa seja favorável a determinada parte,
pois, se tal parte perder, o terceiro sofrerá efeitos da decisão.
✓ A assistência é uma modalidade de intervenção de terceiros que permite a quem tem interesse jurídico na
demanda colaborar com uma das partes para que ela obtenha sentença favorável aos seus interesses.

Representação gráfica da assistência:

13
CPC, art. 119, § único: “ A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição,
recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre.”
14
Lei 9.099/95, art. 10: “Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência.
Admitir-se-á o litisconsórcio.”
15
CPC, art. 1.062: “O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos
juizados especiais”

12
www.g7juridico.com.br
Exemplo 1: Imagine que “A” ingressou com uma ação de despejo contra “B” e este sublocou um quarto para “b”. Neste
caso, se “A” conseguir ter a demanda julgada procedente em face de “B”, “b” será prejudicado. Neste exemplo, “b” tem
interesse jurídico de que “B” ganhe a ação. Nesse caso, o “b” pode ser assistente de “B” (art. 59, §2º da Lei 8.245/9116).

Exemplo 2: indenização contra o empregador (art. 932, CC17). Imagine que “A” ingressou com uma ação contra “B”
(empregador), pois este responde pelos atos de seu empregado “b”. Neste caso, “b” pede para ingressar no processo,
pois ele tem interesse jurídico na vitória de “B”, já que, se este perder, “b” poderá sofrer uma ação regressiva (CC, art.
93418).

a) interesse jurídico (119 CPC19) (O que não é?):


O interesse jurídico é o estado no qual se é alcançado, ainda que reflexamente, pelos efeitos da decisão proferida no
processo alheio.
✓ Para haver interesse jurídico, é fundamental que o terceiro sofra a potencialidade de ter a sua esfera jurídica
alcançada pelos efeitos da decisão de processo alheio.

16
Lei 8.245/91, art. 59, §2º: “Qualquer que seja o fundamento da ação dar-se-á ciência do pedido aos sublocatários, que
poderão intervir no processo como assistentes.”
17
CC, art. 932: “São também responsáveis pela reparação civil: (...)
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir,
ou em razão dele; (...).”
18
CC, art. 934: “Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou,
salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.”
19
CPC, art. 119: “Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença
seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la.
Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o
assistente o processo no estado em que se encontre.”

13
www.g7juridico.com.br
Exemplo: ação de despejo por falta de pagamento entre locador e locatário. O locatário, entretanto, sublocou parte do
imóvel para um terceiro. Assim, se o locatário perder a ação, isso afetará o terceiro (sublocatário), que terá que sair do
imóvel.

Não é interesse jurídico o interesse meramente moral, corporativo ou meramente econômico.


Exemplo 1: imagine que “A” pega um cachorro na rua e o mate. Esse fato chega ao conhecimento do dono do cachorro
(“B”). “B” ajuíza uma ação por danos morais em face de “A”. Neste exemplo, uma entidade protetora dos animais tem
um interesse moral em colaborar com a defesa dos animais, mas ela não pode ser assistente de “B”, pois ela não possui
interesse jurídico na causa.
Exemplo 2: Em uma ação que envolva erro profissional e que haja o pedido de reparação civil, a entidade de classe não
pode ser assistente do profissional. Isso porque, neste caso, a esfera jurídica da entidade de classe não está sendo
atingida.
✓ Obs.: a rigor, nenhuma entidade de classe pode entrar como assistente nas ações em que um membro da
corporação é processado, salvo nos casos de defesa de prerrogativas.

Exemplo 3: “A” ingressa com uma ação contra “B”, pois este deve muito dinheiro ao autor. “B” também deve muito
dinheiro para “C”. Neste caso, não é possível que “C” seja assistente de “B” com fins a preservar o dinheiro do devedor e,
posteriormente, poder receber o dinheiro. Trata-se de interesse meramente econômico que não autoriza a assistência.

Obs.: O professor destaca que esta é a verdadeira assistência.

b) intervenção/assistência anódina (5º Lei 9.469/97) (138, § 1º e 565,§4º)


Anódina é a qualidade daquilo que “não possui cheiro”.
Essa intervenção ocorre quando o interveniente não possui interesse jurídico.

O principal exemplo é o do artigo 5º, Lei 9.469/97.


“Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas,
sociedades de economia mista e empresas públicas federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que
indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer
questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o
caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes.”

Atenção: a intervenção anódina somente pode ocorrer com expressa previsão legal.

14
www.g7juridico.com.br
Nas causas em que forem partes a administração pública federal indireta, a União pode ingressar no processo ainda que
não haja interesse jurídico. O interesse, nesse caso, é meramente econômico.
Exemplo: A União pode pedir para participar em um processo em que a Petrobrás seja parte. Trata-se de interesse
meramente econômico, pois a União é a maior acionista da Petrobrás.

Atenção: como a assistência anódina ocorre sem a necessidade de interesse jurídico, a consequência prática é que ela
não altera a competência material para julgar o processo.
Exemplo: No exemplo dado anteriormente, uma ação contra a Petrobrás é julgada na justiça estadual, pois se trata de
sociedade de economia mista. Se a União pedir para intervir no processo e isso for deferido, o processo não será
encaminhado à justiça federal.
Obs.: Somente haverá o deslocamento de competência se a assistência for a decorrente no disposto no CPC (verdadeira
assistência)

O STF e o STJ consideram inconstitucional a parte final do art. 5º da Lei 9.469/1997 (destacada em vermelho).

O professor destaca que, além do art. 5º da Lei 9.469/97, há mais duas hipóteses de intervenção anódina previstas na
legislação brasileira: amicus curiae (art. 138, § 1º, CPC20) e a participação da União nas ações possessórias (art. 565, §4º,
CPC21).

2.2. Momento e procedimento (súmula 15022 e 224 do STJ23) (arts. 119/12024)

20
CPC, art. 138, §1º: “A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a
interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3o.”
21
CPC, art. 565, §4º: “§ 4o Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do
Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a audiência, a fim de se
manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de possibilidade de solução para o conflito
possessório.”
22
Súmula 150, STJ: “COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL DECIDIR SOBRE A EXISTENCIA DE INTERESSE JURIDICO QUE JUSTIFIQUE
A PRESENÇA, NO PROCESSO, DA UNIÃO, SUAS AUTARQUIAS OU EMPRESAS PUBLICAS.”
23
Súmula 224: “Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o
Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.”
24
CPC, arts. 119 e 120: “Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a
sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la.
Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o
assistente o processo no estado em que se encontre.

15
www.g7juridico.com.br
Obs.: A partir de agora, o professor versará apenas sobre a assistência consagrada no CPC.

Em qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição, o terceiro pode pedir para ingressar no processo. Ao ingressar,
o assistente passa a atuar nos atos posteriores ao seu ingresso, não podendo se manifestar a respeito dos atos já
ocorridos.
O pedido de ingresso é feito por petição, com a demonstração de interesse jurídico do assistente.

As súmulas 150 e 224 do STJ afirmam que, se quem está pedindo para ingressar no processo, com interesse jurídico, é a
União ou um dos entes do art. 109, I da CF25, o juiz estadual remete o processo para a justiça federal.
Exemplo: Se o processo contra a Petrobrás está correndo na justiça federal e a União afirma possuir interesse jurídico no
caso, o juiz estadual remete o processo para a justiça federal. Perceba que, nesse caso, não se trata de intervenção
anódina.
Se, neste exemplo, o juiz federal analisar o caso e perceber que não há interesse jurídico da União, ele a excluirá da
demanda e devolverá os autos à justiça federal que, nos termos da Súmula 224 do STJ, prosseguirá no julgamento da
demanda sem suscitar conflito de competência. Se houver interesse da União, a justiça federal julgará o processo.

2.3. Espécies de assistência no CPC (não se aplica à anódina)

a) assistência simples (121 CPC26) (relação só com assistido)


Na assistência simples, o assistente só possui relação jurídica com o assistido.
✓ O assistente não se relaciona com a parte oposta.

Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso
de rejeição liminar.
Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o
incidente, sem suspensão do processo.”
25
CF, art. 109, I: “Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras,
rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça
do Trabalho;”
26
CPC, art. 121: “O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-
á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu
substituto processual.”

16
www.g7juridico.com.br
b) assistência litisconsorcial (125 CPC27) (relação com assistido e adversário) (especialmente para casos de legitimação
extraordinária concorrente)

Na assistência litisconsorcial, o assistente possui relação jurídica com o assistido e com o adversário.

Exemplo 1: ação de despejo


O sublocatário, em eventual ação de despejo, possui interesse jurídico de que o locatário ganhe a ação. Por esse motivo,
ele poderá ser assistente simples do locatário.
Observe que o sublocatário tem relação apenas com o locatário e não com o locador. Trata-se de assistência simples.

Exemplo 2: art. 932, CC

27 CPC, art. 125: “É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que
possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem
for vencido no processo.
§ 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar
de ser promovida ou não for permitida.
§ 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato
na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover
nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.”

17
www.g7juridico.com.br
No exemplo 2, a vítima “A” entra contra a ação contra o empregador (“B”), pois este é responsável pelos atos de seu
empregado (“b”). Neste exemplo, “b” tem interesse jurídico na demanda, de forma a não sofrer posterior ação regressiva.
A diferença entre o 1º e o 2º exemplos é que, neste caso, “b” tem relação com o empregador (“B”), mas também tem
relação com a vítima (“A”), que podia ter processado apenas o empregado ou o empregado juntamente com o
empregador.
Em suma: no exemplo 2, o empregado tem relação com o assistido e com o adversário do assistido.

Atenção:
O assistente litisconsorcial é aquele que poderia ter sido litisconsorte facultativo se tivesse ingressado originariamente no
processo, mas, por opção do autor da demanda, ele não foi.

Obs.: A grande diferença prática entre o assistente simples e o assistente litisconsorcial se encontra nos poderes de
ambos.
Os poderes do assistente litisconsorcial são equivalentes aos poderes das partes (atuação autônoma). Já o assistente
simples possui uma atuação completamente subordinada à do assistido.
Veja os tópicos a seguir.
2.4. Poderes do assistente simples (121 e 122 do CPC28) (SUBORDINAÇÃO, salvo inércia do assistido – substituição
processual)
Em regra, o assistente simples tem uma atividade completamente subordinada à do assistido.
Assim, o assistente, em regra, não pode ir contra a vontade do assistido.
Exceção: art. 121, parágrafo único, CPC. Se o assistido for revel ou omisso (inerte), o assistente pode agir como quiser.

Exemplo: “A” ingressou com ação para despejar “B” (locatário). “B” sublocou a edícula da casa para “b” (sublocatário).
Neste caso, se “B” não contestar a ação, ou seja, se ele ficar inerte, “b” pode contestar.
Entretanto, exemplificativamente, se “B” confessar, renunciar ou reconhecer juridicamente o pedido, o assistente não
pode ir contra a vontade do assistido, pois este não ficou inerte.

Nesse caso, há a regra do “acessório segue o principal”. Assim, o assistente age de forma dependente do assistido,
somente podendo atuar como substituto processual do assistido caso haja omissão ou inércia deste.

28
CPC, arts. 121 e 122: “Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos
poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu
substituto processual.
Art. 122. A assistência simples não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação,
renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos.”

18
www.g7juridico.com.br
2.4.1 Atingidos pela justiça da decisão (123, CPC)
O art. 123 do CPC criou a chamada “justiça da decisão”, a qual tem efeitos muito parecidos com a coisa julgada
(imutabilidade e a indiscutibilidade da decisão). Trata-se de uma espécie de “coisa julgada mitigada”, pois há duas
exceções, as quais estão expressas nos incisos I e II do art. 123, CPC:

CPC, art. 123: “Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente (simples), este não poderá,
em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:
I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas
suscetíveis de influir na sentença; (neste caso, o assistente ingressou tardiamente no processo).
II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.” (neste
segundo inciso, há referência a uma espécie de conluio entre o assistido e o autor da ação para prejudicar o assistente).

2.5. Poderes do assistente litisconsorcial (124 CPC29) (TRATAMENTO DE LITISCONSORTE – atuação autônoma)
O assistente litisconsorcial terá o mesmo tratamento do litisconsorte, ou seja, terá atuação autônoma, podendo, inclusive,
agir contra a vontade do assistido.
Exemplo 1: A vítima entra com a ação contra o empregador pela ocorrência de um ato do empregado. Se o empregado,
no meio do processo, pede para ser assistente, trata-se de assistência litisconsorcial, pois este poderia ter sido réu na
ação. Neste exemplo, o empregador pode desistir de fazer a defesa no processo contra a vítima, por ser possível,
posteriormente, ingressar com uma ação regressiva. Neste caso, o empregado pode apresentar defesa.
Nesta situação, a atuação do assistente é autônoma em relação ao assistido.

Exemplo 2: art. 1.314 do CC.

CC, art. 1.314: “Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos
compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a
estranhos, sem o consenso dos outros.”

2.5.1 Atingidos pela coisa julgada (502 do CPC30)


A coisa julgada, conforme art. 502, CPC, gera a imutabilidade e a indiscutibilidade da decisão.

29
CPC, art. 124: “Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica
entre ele e o adversário do assistido.”
30
CPC, art. 502: “Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito
não mais sujeita a recurso.”

19
www.g7juridico.com.br
O assistente litisconsorcial é atingido por todos os efeitos da coisa julgada.
Exemplo: No caso da ação entre a vítima e o empregador (em que o empregado é assistente litisconsorcial), se ficar
decidido que houve o ilícito/evento danoso, o empregado não poderá discutir esse assunto em outro processo.

3. Denunciação à lide (125/129 CPC)

3.1. Fundamento, conceito e natureza (2 RJs)


É hipótese de intervenção de terceiros que se baseia na economia processual (fundamento), pois permite que, no mesmo
processo, possa ser processada a ação regressiva contra o responsável pela obrigação.

✓ Atenção: a denunciação à lide pode ocorrer tanto no polo ativo quanto no polo passivo do processo, mas, em
ambos os casos, o fundamento é o mesmo: garantir o direito de regresso dentro do mesmo processo.
Exemplo 1 (denunciação à lide pelo autor): “A” é o comprador de um imóvel que, ao tentar ingressar na residência,
percebe que lá há um ocupante (“B”). “A” entra com uma ação possessória com o objetivo de tirar o invasor
(ação principal). Ao mesmo tempo, “A” ingressa com uma denunciação à lide contra “C” (vendedor do bem).
Neste caso, se “A” não conseguir tirar o invasor do imóvel, automaticamente, ele vai querer o direito de regresso
contra “C” por ocasião da ocorrência de evicção.

No exemplo dado, “C” tem interesse jurídico no sucesso de “A” em relação à demanda, de modo que, se “A”
vencer e conseguir tirar o invasor, a denunciação à lide fica prejudicada. Desse modo, a lei brasileira estabelece
que o denunciante “A” terá na ação a companhia do denunciado “C” como litisconsórcio ativo ulterior.
Neste caso, há duas relações jurídicas dentro da mesma ação e, por isso, a sentença desse processo terá duas
partes dispositivas e duas sucumbências (relativas à ação e à denunciação).

20
www.g7juridico.com.br
Exemplo 2: (denunciação à lide pelo réu): imagine que “A” é a vítima de um acidente e ingressa com a ação contra
“B” (causador do dano). “B”, nos mesmos autos, resolve se valer de uma ação regressiva contra “C” (seguradora),
com objetivo de garantir o direito de regresso fazendo uso do mesmo processo.
Neste caso, a seguradora “C” tem muito interesse jurídico no fato de que o segurado “B” ganhe a ação principal,
pois, neste caso, não haverá direito de regresso. Assim sendo, por imperativo legal, na ação, a seguradora será
litisconsorte passivo ulterior do causador do dano.

21
www.g7juridico.com.br
Natureza: a denunciação à lide é uma intervenção de terceiros que dá origem a uma nova relação jurídica. Assim sendo,
existirá uma relação jurídica principal e uma secundária. O resultado da relação jurídica secundária fica subordinada ao
resultado da principal.

3.2. Hipóteses de cabimento (125 CPC31)

31
CPC, art. 125: “É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa
exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido
no processo.
§ 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser
promovida ou não for permitida.
§ 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia
dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação,
hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.”

22
www.g7juridico.com.br
O professor ressalta que muitas coisas que ele já citou na abertura do tema “denunciação à lide”, ele irá repetir e fará isso
por uma questão de estrutura lógica.

a) transferência da propriedade/posse (evicção – 44732/457 CC33)


O CPC não cita a expressão “transferência de propriedade e posse”, mas fala que, nos casos de evicção, é possível a
denunciação à lide.

Evicção é uma garantia legal existente para contratos de transferência da propriedade/posse, por meio da qual, aquele
que transfere a propriedade/posse garante ao adquirente uma indenização se, porventura, a propriedade/posse
adquiridas forem perdidas por decisão judicial.

Essa hipótese é representada pelo exemplo de denunciação à lide feita pelo autor (exemplo trabalhado no bloco anterior).
No exemplo dado anteriormente, o comprador, no mesmo processo (ação possessória ou reivindicatória), faz a
denunciação à lide. Na denunciação à lide, há a discussão sobre o direito de regresso.

Observações:

1ª) A evicção pode ser limitada contratualmente. Assim, apesar de a lei prever tal garantia ao adquirente, nada impede
que as partes combinem, no contrato, a redução ou a exclusão da evicção.

2ª) Durante muito tempo, a evicção era entendida como garantia relativa apenas à propriedade. Atualmente, o
entendimento se estende para aquele que recebeu a posse (e não a propriedade) ter a possibilidade de demandar contra
aquele que transferiu a posse.

Exemplo: “A” arrendou uma fazenda. No momento em que ele ia ocupar o bem (transferência da posse), havia um invasor.
Neste exemplo, “A” (arrendatário) entrará com uma ação possessória contra o ocupante e denunciará o arrendante à lide,
pois este transferiu a posse a “A”.

32
CC, art. 447: “Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição
se tenha realizado em hasta pública.”
33
CC, art. 457: “Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.”

23
www.g7juridico.com.br
b) direito de regresso por contrato (Exemplos: 75734 e 787 do CC35 - Seguro facultativo) ou lei (932/934 CC36)
É a hipótese mais comum de denunciação à lide e pode ocorrer por contrato (exemplo: contrato de seguro facultativo)
ou por determinação legal.
Trata-se do exemplo dado no bloco anterior de denunciação à lide feita pelo réu. Se determinada pessoa é demandada
por um acidente de carro e ela possui seguro do veículo, ela pode denunciar a seguradora à lide.

34
CC, art. 757: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse
legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.”
35
CC, art. 787: “No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo
segurado a terceiro.
§ 1º Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na
garantia, comunicará o fato ao segurador.
§ 2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro
prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.
§ 3º Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador.
§ 4º Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente.”
36
CC, arts. 932 e 934: “Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que
estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem
nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que
gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo
se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.”

24
www.g7juridico.com.br
Cuidado: O direito de regresso não é garantido apenas por meio do contrato. Por vezes, ele é garantido por lei e o exemplo
clássico disso consta nos arts. 932 e 934 do CC.
O art. 932 do CC, conforme visto anteriormente, estabelece algumas hipóteses de responsabilidade civil por fato de
terceiro. Exemplo: o dono do hotel responde pelo comportamento do hóspede; o ato do empregado é suportado pelo
empregador etc.
O art. 934 do CC, por sua vez, estabelece que, exceto se o causador do dano for descendente, absoluta ou relativamente
incapaz daquele que ressarciu o prejuízo, em todas as demais hipóteses há direito de regresso contra o causador do dano.
Exemplo 1: a vítima entra com um processo contra o empregador pelo ato do empregado. Neste caso, o empregador
pode denunciar o empregado à lide.
Exemplo 2: a editora demandada por plágio pode denunciar à lide o autor responsável pelo plágio, já que isso consta na
lei de direitos autorais.

Obs.: O entendimento dominante do direito de regresso por lei é que somente é possível a denunciação à lide nos casos
de garantia legal própria.
✓ A garantia legal imprópria, prevista no art. 186 do CC37, segundo eles, não autoriza a denunciação à lide, por ser
genérica.
✓ Os arts. 932 e 934 do CC, por sua vez, tratam de garantias próprias, por serem específicas dos casos ali elencados.
✓ Essa diferenciação é importante porque, se ela não existisse, sempre seria possível realizar a denunciação à lide.

37
CC, art. 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

25
www.g7juridico.com.br
✓ Apesar de o entendimento dominante defender que somente é possível a denunciação à lide nos casos de
garantia legal própria, outros bons doutrinadores defendem que, por economia processual, a garantia imprópria
também possibilita a denunciação à lide.

3.3. Legitimidade (autor/réu) (126 CPC38)

Legitimidade: a assistência e a denunciação à lide podem ser feitas no polo ativo ou passivo, ou seja, podem ser feitas
pelo autor ou pelo réu.

✓ Obs.: O autor faz a denunciação à lide na petição inicial.


✓ O réu faz a denunciação à lide na contestação.

3.4. Momento e preclusão (126 CPC39) (intempestiva: REsp 1.637.108)

O art. 126 do CPC estabelece que o momento para a denunciação à lide se sujeita à preclusão.
✓ Em suma: Se a denunciação à lide for feita pelo autor, deve ser feita na petição inicial. Se for feita pelo réu, será
realizada na contestação. Se a denunciação não for feita no momento correto, em regra, haverá preclusão e a
ação de regresso não poderá ser feita no mesmo processo.
✓ Em caso de preclusão, entretanto, não impede que haja uma ação autônoma para intentar o direito de regresso.

Atenção:
O STJ, no REsp 1.637.108, relativizou a hipótese de intempestividade e, consequentemente, a preclusão para afirmar que,
caso não haja controvérsia sobre o direito de regresso, é possível processar a denunciação à lide intempestiva.
✓ Trata-se de precedente isolado.

3.5. Procedimento (2) e formação de litisconsórcio entre denunciante/denunciado na ação (127/128 CPC – 229 CPC: 2x)

O denunciado sempre vira litisconsorte do denunciante na ação principal, pois ele possui interesse jurídico em vê-lo
vencedor, de forma a não haver direito de regresso. Assim sendo, forma-se um litisconsórcio ulterior entre o denunciante
e o denunciado.

38
CPC, art. 126: “A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação,
se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131 .”
39
CPC, art. 126: “A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação,
se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131 .”

26
www.g7juridico.com.br
Obs.: A rigor, segundo o professor, não deveria se tratar de litisconsórcio ulterior, pois a figura do denunciado, na ação, é
mais similar à assistência simples. Entretanto, como os artigos 127 e 128 estabelecem uma hipótese legal de litisconsórcio,
não é possível fazer uma interpretação contrária ao disposto.

Como há litisconsórcio, eventualmente, pode ser aplicada a regra do prazo em dobro do art. 229 do CPC40, desde que
preenchidos os requisitos legais.

CPC:
“Art. 127. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante e
acrescentar novos argumentos à petição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu.
Art. 128. Feita a denunciação pelo réu:
I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo prosseguirá tendo, na ação principal, em
litisconsórcio, denunciante e denunciado;
II - se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-
se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva;
III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com sua
defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação de regresso.
Parágrafo único. Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso, requerer o cumprimento da sentença
também contra o denunciado, nos limites da condenação deste na ação regressiva.”

3.6. Casuística - denunciação

a) SEMPRE FACULTATIVA (art. 125, § 1º, CPC) (1.072 CPC e revogação do art. 456 CC).

A denunciação à lide é sempre facultativa, ou seja, a parte pode ajuizar ação autônoma de regresso. Isso consta
expressamente no art. 125, §1º, CPC.

CPC, art. 125, §1º: “O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida,
deixar de ser promovida ou não for permitida.”

40
CPC, art. 229: “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos
contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de
requerimento.
§ 1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles.
§ 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.”

27
www.g7juridico.com.br
b) Denunciações sucessivas (uma única vez no CPC – 125, § 2º, CPC).
O CPC autoriza, no máximo, duas denunciações (a primitiva e uma denunciação sucessiva).

CPC, art. 125, §2º: “Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor
imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover
nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.”

A lógica da vedação às denunciações sucessivas é evitar que o autor seja prejudicado com sucessivas denunciações que
tornariam o processo muito longo.

Exemplo: “A” comprou um carro de “B”, mas o chassi do veículo apresentava adulteração. Como “A” não conseguia
regularizar a documentação do carro, ele ajuizou ação em face de “B”. Na ação de “A” contra “B”, “B” alega que comprou
o carro de “C” e, portanto, ele aproveita o processo e denuncia à lide “C”. Entretanto, “C” comprou o carro de “D” e este
será litisconsorte de “C” na denunciação à lide (denunciação à lide 2). Até esse momento, os procedimentos de
denunciação à lide são regulares.
Ocorre que “D” comprou o carro de “E” e, neste momento, o carro também já apresentava o problema. Entretanto, neste
último caso, não é possível realizar uma terceira denunciação à lide.
✓ No exemplo dado, seria possível ocorrer até a denunciação 2, ou seja, haveria uma denunciação primitiva e uma
denunciação sucessiva. Apesar de não ser possível haver denunciações sucessivas, é possível que a parte
prejudicada ingresse com ação autônoma de indenização (“D” em face de “E”).

c) Denunciação per saltum (revogação do art. 456 do CC) (impossibilidade - 125, I, CPC).

O CPC não admite a denunciação per saltum, que é aquela em que o denunciante já denuncia à lide diretamente o
responsável por todo o evento danoso.
Para entender a denunciação per saltum, imagine que, no exemplo anterior, “A” ajuíze ação contra “B”. “B”, por sua vez,
denuncia “C” à lide. Neste caso, seria possível que “B”, ao invés de denunciar “C” (alienante imediato), denuncie “G” que
é o responsável de fato? Não, pois o art. 125, I, CPC, somente possibilita a denunciação do alienante imediato.

CPC, art. 125, I:


“Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa
exercer os direitos que da evicção lhe resultam”

d) Denunciação à lide no CDC (arts. 13 e 88 do CDC) (STJ: não cabimento amplo - REsp n. 1.165.279/SP, j. 22/05/2012)

28
www.g7juridico.com.br
O CDC, nos artigos 1341 e 8842, veda a denunciação à lide apenas nos casos de fato do produto ou fato do serviço (acidente
de consumo).
Exemplo: “A” compra uma camiseta na loja X, mas desenvolve uma forte alergia. Trata-se de acidente de consumo. Se
“A” entra com uma ação contra o comerciante, este não pode denunciar à lide o fabricante.

✓ Obs.: O fato do produto e do serviço tem previsão entre os arts. 12 e 17 do CDC.

Há também os casos de vício de qualidade.


Exemplo: “A” compra um eletrodoméstico estragado. Neste caso, não houve acidente, mas apenas vício na qualidade.
“A” pode processar a empresa comerciante para ter um novo produto ou para ser ressarcido. Neste caso, não existe
vedação para a denunciação à lide.

Em suma: em uma interpretação literal do CDC, não caberia denunciação à lide no fato do produto ou do serviço, mas
caberia no vício do produto ou do serviço.
Entretanto, o entendimento atual do STJ acerca do tema é de que não cabe denunciação à lide também nos casos de vício
do produto ou do serviço. Assim sendo, o STJ tem uma interpretação extensiva de que o art. 13 do CDC e o art. 88 do CDC
vedam a denunciação em qualquer tipo de relação de consumo. Esse entendimento pode ser verificado no julgamento
do REsp 1.165.279.

e) Denunciação à lide e ação regressiva contra servidor público (37, § 6º, CF) (STF, RE 1.027.633, Min. Marco Aurélio –
TEMA 940 – DUPLA GARANTIA)

O artigo 37, §6º, CF, estabelece que o servidor público responde ao Estado pelos danos que causar a terceiros.
Mediante tal responsabilidade, o poder público poderia denunciar o servidor à lide?

Em Repercussão Geral - RE 1.027.633 – Tema 940, o STF decidiu que, por conta do modelo constitucional vigente, não é
possível haver a denunciação à lide do servidor público, pois a responsabilidade do Estado é objetiva e a responsabilidade

41
CDC, art. 13: “O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.”
42
CDC, art. 88: “Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo
autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.”

29
www.g7juridico.com.br
do servidor é subjetiva, e essa discussão prejudica o autor (vítima do dano). A ação regressiva do Estado em face do
servidor somente pode ser feita autonomamente.
O fundamento para a decisão do STF foi a dupla garantia a que o servidor está sujeito. Assim, o servidor deve ter
tranquilidade para atuar e não pode ser processado diretamente. Desse modo, primeiro o Estado deve ser processado e
condenado (1ª garantia) e, depois, o Estado decide se houve dolo ou má-fé do servidor (2ª garantia) e ingressa (ou não)
com ação regressiva.

30
www.g7juridico.com.br

Você também pode gostar