AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.843.073 - SP (2019/0307482-9)
RELATÓRIO
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:
Trata-se de agravo interno interposto por APARECIDO BRAMBILLA
contra a decisão desta relatoria de fls. 1.959-1.962 (e-STJ), que deu parcial provimento à pretensão recursal.
O recurso especial foi fundado nas alíneas a e c do permissivo
constitucional, no qual se insurgiu o recorrente contra acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo assim ementado (e-STJ, fl. 1.712):
Ação de repetição de indébito - Contrato de abertura de crédito em
conta-corrente (cheque especial) - Limitação dos juros afastada - Possibilidade de capitalização dos juros reconhecida - Prevalência das cláusulas e condições, livremente, pactuadas pelas partes, no contrato - Ação julgada procedente - Recurso provido.
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (e-STJ, fls.
1.745-1.758).
No recurso especial, o recorrente apontou, além de divergência
jurisprudencial, violação dos arts. 122, 352 e 591 do Código Civil; 1º, 6º, V, e 47 do Código de Defesa do Consumidor; e às Súmulas 121/STF e 286 e 297 do STJ. Esclareceu que se opôs ao acórdão que entendeu viável a capitalização mensal de juros em contrato entabulado em março de 1986, anteriormente às MPs n. 1.963-17 e 2.170-36, destoando da Súmula 121/STF e dos arts. 122 e 591 do CC, dispositivo este que deveria dispor sobre a questão em comento, por ser norma mais recente acerca da matéria controvertida. Sustentou a inconstitucionalidade da MP n. 2.170/60/2006, pois, além de conter disposições desarrazoadas, não estariam presentes, para sua edição, os requisitos de relevância e urgência. Ponderou que o art. 5º do referido normativo não tem como objetivo regulamentar a matéria da capitalização de juros em períodos inferiores a 1 (um) ano; mas sim a disciplinar a administração de recursos do Tesouro Nacional. Defendeu que a imputação de pagamento, primeiramente nos juros, não está prevista no contrato, sendo certo que o julgador não pode aplicá-la de ofício. Ademais, enfatizou que, ainda que existisse tal previsão, ela somente poderia incidir Superior Tribunal de Justiça em dívidas vencidas e líquidas, o que não ocorre no caso em questão (e-STJ, fls. 1.761-1.786). Dado parcial provimento ao recurso especial, o recorrente maneja o presente agravo interno. Questiona a manutenção da imputação em pagamento, pois essa prática não faz desaparecer a capitalização de juros, mas apenas a camufla contabilmente. Frisa que a imputação em pagamento não estava prevista no contrato, logo, o Tribunal estadual não poderia aplicá-la de ofício. Sustenta que sua incidência somente pode ocorrer com dívidas líquidas e vencidas, o que não ocorre no presente caso, que se refere a contrato de conta-corrente/cheque especial (e-STJ, fls. 1.964-1.973). Contraminuta apresentada. É o relatório. Superior Tribunal de Justiça AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.843.073 - SP (2019/0307482-9)
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
IMPUTAÇÃO DE PAGAMENTO. POSSIBILIDADE, POIS AUSENTE ÓBICE CONTRATUAL. ACÓRDÃO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. SÚMULA 83/STJ, AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. Consoante a jurisprudência do STJ, a imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é diferido em parcelas, como o discutido nos autos (abertura de crédito em conta-corrente/cheque especial), porquanto "objetiva diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato não disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp 1.735.450/PR, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019). 2. O Supremo Tribunal Federal, "ao julgar o mérito do RE n.º 592.377/RS (tema em repercussão geral n.º 33), em acórdão transitado em 17/04/2015, firmou o entendimento no sentido de que o art. 5.º da Medida Provisória n.º 2.170-36/2001 não padece de inconstitucionalidade, na medida em que preenche os requisitos exigidos no art. 62 da Constituição da República" (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 460.876/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 7/10/2015, DJe 10/11/2015). 3. Agravo interno desprovido. Superior Tribunal de Justiça
VOTO
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE (RELATOR):
A decisão monocrática, proferida nesta Corte Superior, deu parcial
provimento ao recurso especial, apenas para afastar a capitalização de juros no período anterior à edição da MP. 1.963-17/2000. Neste agravo interno, questiona-se a manutenção da imputação do pagamento. Entretanto, razão não assiste ao recorrente. Isso porque, como não havia vedação à incidência da imputação do pagamento e se travava de contrato em que o pagamento é diferido em parcelas, não havia óbice à sua aplicação. A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é diferido em parcelas, como o discutido nos autos (abertura de crédito em conta-corrente/cheque especial), porquanto tem por objetivo diminuir a oneração do devedor, para evitar que os juros sejam integrados ao capital, para somente depois abater o valor das prestações, de modo a evitar que sobre eles incida novo cômputo de juros. Nessa linha é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que admite a utilização do instituto quando o contrato não disponha expressamente em contrário, quadro fático que ora se verifica.
Nesse contexto, observe-se:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. REGRA DE IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. ARTIGO 354 DO CC/2002. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO DIVERSA. APLICABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. "A imputação do pagamento primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança os contratos em que o pagamento é diferido em parcelas. Objetiva diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato não disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp 1.735.450/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019). 2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1642949/MT, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 15/05/2019)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
Superior Tribunal de Justiça ESPECIAL. REGRA DE IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. ARTIGO 354 DO CC/2002. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO DIVERSA. APLICABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. "A imputação do pagamento primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança os contratos em que o pagamento é diferido em parcelas. Objetiva diminuir a oneração do devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. É admitida a utilização do instituto quando o contrato não disponha expressamente em contrário" (AgInt no REsp 1.735.450/PR, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 2/4/2019, DJe 8/4/2019). 2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1642949/MT, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe 15/05/2019)
Por derradeiro, "o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o mérito do RE n.º
592.377/RS (tema em repercussão geral n.º 33), em acórdão transitado em 17/04/2015, firmou o entendimento no sentido de que o art. 5.º da Medida Provisória n.º 2.170-36/2001 não padece de inconstitucionalidade, na medida em que preenche os requisitos exigidos no art. 62 da Constituição da República" (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 460.876/MS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 7/10/2015, DJe 10/11/2015).
Na mesma direção:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL EM
AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - ACÓRDÃO DESTE ÓRGÃO FRACIONÁRIO NEGANDO PROVIMENTO AO RECLAMO, ANTE O ÓBICE DO VERBETE 83/STJ. 1. Ausência de omissão, contradição, obscuridade ou erro material do acórdão embargado. Recurso dotado de caráter manifestamente infringente. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, na data de 04/02/2015, por sete votos a um, deu provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 592.377, reconhecendo, em repercussão geral, que o dispositivo da referida medida provisória assentindo a capitalização mensal de juros no sistema financeiro, é constitucional. 3. Embargos de declaração rejeitados, com aplicação de multa. (EDcl no AgRg no AREsp 774.985/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 17/03/2016, DJe 12/04/2016)
Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.