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SUMÁRIO
1. Introdução.
2. A nova “dinâmica” do processo penal: consenso, sistema acusatório e a
verdade negociada.
3. As duas vertentes do consenso na justiça penal negociada e as contribuições
da Lei do Pacote Anticrime.
4. A atuação do Ministério Público diante da justiça penal negociada e as influ-
ências do plea bargaining.
5. Conclusões.
6. Referências.
RESUMO
1. Introdução
cional do processo.
O escopo é suprimir a formalização do procedimento acusatório e pro-
mover a composição conflitiva penal. Oportuno salientar, contudo, que há
uma sutil diferença com os institutos despenalizadores da Lei nº 9.099/95: o
acordo de não persecução penal exige a confissão formal e circunstancial do
delito pelo investigado, conforme previsto no artigo 28-A do CPP.
Em outra frente da consensualidade no processo penal está a colabo-
ração premiada. É um instituto pautado pela aceitação de ambas as partes
(Ministério Público e investigado, acusado ou condenado) para celebração de
um acordo de colaboração processual com o afastamento do imputado de sua
posição de resistência; porém, a finalidade é colher informações probatórias e
a incriminação de terceiros, além de recuperar valores oriundos do crime e a
localização da vítima. É um negócio jurídico processual que visa à obtenção de
provas, amoldando-se a uma técnica investigativa, conforme artigos 3º e 3º-A,
da Lei nº 12.850/13.
Enquanto o acordo de não persecução penal pressupõe apenas a as-
sunção da própria culpabilidade (confissão formal) e a imediata sanção ao
acusado, com o intuito de abreviar o rito e evitar o prosseguimento da ação
penal, a colaboração premiada é um acordo em que o juiz concede redução
ou substituição da pena privativa de liberdade ou, ainda, o perdão judicial, e
como contrapartida, fornece efetiva e voluntariamente informações probató-
rias para continuidade das investigações.
Destaque-se que os propósitos são distintos. A colaboração premiada é
uma técnica investigativa destinada a amealhar elementos de informação (bus-
ca da verdade) e ampliar a quantidade e a qualidade de provas processuais.
Assim, ela está voltada para a continuidade da atividade processual. É também
uma ferramenta de flexibilização da justiça. Não no sentido linear de sedimen-
tação do conflito penal entre autor e vítima, mas em direção à simplificação da
complexidade da investigação e da prova penal.
Pontua-se que, apesar de não constar expressamente a necessidade de
confissão formal, como no dispositivo relativo ao acordo de não persecução
penal, uma leitura atenta do artigo 3º-C, §3º, da Lei nº 12.850/13 permite
concluir pela imprescindibilidade da confissão nos pactos colaborativos. Pres-
creve o referido dispositivo que “no acordo de colaboração premiada, o co-
laborador deve narrar todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que
tenham relação direta com os fatos investigados”. Reitere-se que essa foi uma
alteração pontual da Lei nº 13.964/19.
Em que pese essa diferenciação de perspectivas da justiça penal ne-
gociada, o acordo de não persecução penal foi a grande novidade das prá-
ticas consensuais trazida pelo pacote anticrime. O artigo 18 das Resoluções
181/2017 e 183/2018 do Conselho Nacional do Ministério Público já previam
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a 6º, CPP)18.
Assim, a confissão pode ocorrer tanto na oportunidade do ANPP como
no decorrer das investigações, de maneira que “a inexistência de confissão
do investigado antes da formação da opinio delicti do Ministério Público não
pode ser interpretada como desinteresse em entabular eventual acordo de não
persecução penal”19.
O segundo ponto refere-se à extensão da confissão e a sua utilização em
caso de descumprimento do acordo de não persecução penal. A confissão ex-
trajudicial, conforme Superior Corte, não possui valor probatório, podendo ser
utilizada apenas para aplicação da atenuante20. Somente após a judicialização
da confissão é que se poderia utilizá-la como meio de prova, visto que, aquele
que confessasse o crime na investigação e depois fosse processado, não teria
sua palavra contra si na etapa judicial.
A confissão formalizada no ANPP representa uma formalidade para fins
de concretização do pacto, não podendo ser empregada para eventuais fins
probatórios. A natureza do acordo é de nolo contendere, de maneira que o
objetivo da confissão é meramente processual. “Apesar de pressupor sua con-
fissão, não há reconhecimento expresso de culpa pelo investigado. Há, se tanto,
uma admissão implícita de culpa, de índole puramente moral, sem repercussão
jurídica. A culpa, para ser efetivamente reconhecida, demanda o devido pro-
cesso legal”21.
5. Conclusões
6. Referências
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do. Poder Judicial, n. 23, pp. 33-47, 1991.
MCLEOD, Allegra M. Exporting U.S. Criminal Justice. Yale Law & Policy Review,
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MOREHOUSE, Lauren. Confess or die: why threatening a suspect with the de-
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TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: o juiz e a construção dos fatos. Tra-
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