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Ana Mae - Jornal Extra Classe
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BR
(Jornal do sindicato dos professores do Rio Grande do Sul)
ENTREVISTA | ANA MAE BARBOSA
Educação sem arte, educação para a obediência
A pioneira da arte-Educação fala sobre MBL, Escola Sem Partido, reforma do ensino
médio e alerta sobre a importância do ensino das artes
Por Marcelo Menna Barreto
Terça-feira, 28 de novembro de 2017
EC – E estamos falando de Estados Unidos, que muitas vezes servem de exemplo para o
discurso dos nossos atuais governantes, não?
Ana Mae – Pois é… Tendo em vista o fraco desempenho de estudantes norte-americanos em
Ciências, foi criado nos Estados Unidos, nos ensinos fundamental e médio, o sistema
interdisciplinar Stem, isto é, a inter-relação entre Ciências, Tecnologia, Engenharia e
Matemática. Entretanto, as pesquisas não demonstraram a melhoria esperada em ensino das
Ciências. A pesquisadora e professora Georgette Yakman, incluindo as Artes, conseguiu
melhores resultados e a partir do seu trabalho o Stem se transformou em Steam, sistema que
inclui Ciências, (Sciences) Tecnologia, Engenharia, Artes (e Design) e Matemática.
Acrescentando as Artes verificaram que a imaginação e os processos de criação foram
intensificados. Verificaram também que as Artes se tornaram importantes culturalmente,
comunicativamente e facilitadoras da aprendizagem das outras áreas envolvidas no sistema. O
cuidado agora é para que no Steam as Artes não virem mero trabalho de ilustração.
EC – A retirada do ensino de Artes do currículo do ensino médio é muito mais danosa e
complexa do que se parece?
Ana Mae – Até agora usei argumentos de ordem objetiva e resultados de pesquisas para
demonstrar a importância do ensino das Artes, porque a educação emocional não interessa a
políticos que em educação almejam apenas ver o Brasil subir no ranking mundial, reduzindo ao
mínimo o que tem de ser aprendido e criando testes para provar que a aprendizagem foi
realizada. Retirar Artes do ensino médio, portanto de adolescentes, é reduzir a possibilidade do
desenvolvimento de habilidades importantes em outras disciplinas além das Artes. Outro aspecto
da Arte na educação em nossos dias é o fato de se reconhecer que o conhecimento da imagem é
de fundamental importância não só para o desenvolvimento da subjetividade, mas também para o
desenvolvimento profissional e a decodificação do mundo ao redor.
EC – Porta?
Ana Mae – É totalmente permitido fazer o que quiser dentro do quarto, mas é a porta que me
chamou a atenção. Eu fotografei essa porta quando ela (a adolescente) estava com 14 anos.
Depois, quase aos 17, fotografei de novo e analisei a mudança. Aos 14, ela colava coisas todas
tiradas de internet, tinha uma ideia de feminismo assim vaga; achou a Carol Rossetti (ilustradora
mineira) na internet. Carol é uma jovem que produz imagens e usa frases em relação ao
empoderamento da mulher, faz críticas de como a sociedade cerceia a mulher. É muito
interessante essa jovem. Então, a menina estava encantada em poder falar sobre ser mulher.
EC – O que significa?
Ana Mae – É muito curioso porque é exatamente na passagem para dentro do quarto. A porta é
muito significativa porque é uma passagem para o universo dela. Então, ela faz quase que o seu
manifesto na porta, que é a entrada do seu universo, o quarto onde ela pode fazer tudo. O quarto
é o santuário dela.