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ESTADO DE RONDÔNIA

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
2ª Câmara Especial / Gabinete Des. Roosevelt Queiroz

Processo: 0802116-98.2016.8.22.0000 - RECLAMAÇÃO (244)

Relator: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

Data distribuição: 12/07/2016 11:02:34

Data julgamento: 06/06/2017

Polo Ativo: ESTADO DE RONDONIA

Advogado do(a) RECLAMANTE:

Polo Passivo: TATIANE ARAUJO CIESLAK

Advogado do(a) RECLAMADO:

RELATÓRIO

Cuida-se de Reclamação interposta pelo Estado de Rondônia contra acórdão da Turma Recursal que, em sítio de recurso
inominado, impôs honorários de advogados de R$880,00 contra a Defensoria Pública (ID. n. 660739).

Afirma que a decisão vulnera a Súmula 421 do Superior Tribunal de Justiça e precedentes de natureza obrigatória, que
devem, pois, ser observados pelos órgãos inferiores da justiça.

Discorrendo sobre a necessidade de garantir a autoridade da jurisprudência desta Corte e dos Tribunais Superiores,
postula medida liminar para suspender os efeitos da decisão.

Ao final, requer a reforma da decisão para, em consequência, ser desobrigado de pagar honorários de advogados para a
Defensoria Pública.

Deferi o efeito suspensivo (ID. n. 670577), e vieram para os autos as informações prestadas pelo juiz-presidente da
Turma Recursal, ID. n. 891674.

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: ROOSEVELT QUEIROZ COSTA Num. 1872462 - Pág. 1
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Número do documento: 17061215451457500000001859620
Na contestação, a Defensoria Pública arguiu preliminar de inadequação da via eleita para discutir matéria não elencada
no artigo 988 do Código de Processo Civil.

No que respeita ao mérito, afirma que exerce função privativa da advocacia, ressaltando que o princípio da causalidade
autoriza a imposição de honorários de advogados em favor da Defensoria Pública.

Diz que é órgão independente e não possui personalidade jurídica de direito público e que não se enquadra na definição
de administração pública, autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista ou empresa pública.

Por fim, diz que, por não ter força vinculante, a Súmula 421 do Superior Tribunal de Justiça não deve orientar a
proibição de fixação de honorários em favor da Defensoria Pública, ID. n. 886048.

Oficiou no feito o procurador de justiça Alzir Marques Cavalcante Júnior manifestando-se pela rejeição da preliminar
de inadequação da via eleita e, no mérito, pela procedência da reclamação, ID n. 1077069.

É o relatório.

VOTO

DESEMBARGADOR ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

I – Da Preliminar de Inadequação da Via Eleita

Diz a Defensoria Pública que a reclamação não é meio legítimo para discutir contrariedade da sentença com súmula não
vinculante do Superior Tribunal de Justiça, matéria não elencada no artigo 988 do Código de Processo Civil.

S e m r a z ã o .

Em que pese a Súmula 421 do Superior Tribunal de Justiça não ser dotada de força vinculante em relação aos órgãos do
Poder Judiciário, a imposição de honorários de advogados a favor da Defensoria Pública foi tratada em sítio de Recurso Especial
(REsp nº 1.199.715-RJ), julgado sob o rito de recursos repetitivos, hipótese prevista no inciso IV, do artigo 988 do Código de
Processo Civil, que pode ser discutida em sede de reclamação.

No mesmo sentido, a Resolução nº 03/2016 do Superior Tribunal de Justiça respalda o uso da reclamação para dirimir
divergência entre acórdão da Turma Recursal e súmula do Superior Tribunal de Justiça, ou de sua jurisprudência consolidada em
incidente de resolução de demanda repetitivas.

Convicto de que a reclamação preenche os pressupostos de admissibilidade, mantenho o juízo de admissibilidade e rejeito a
preliminar submetendo-a aos eminentes pares.

I I – D o M é r i t o

No acórdão paradigma, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no
sentido de que não são devidos honorários de advogados à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito
público que integra a mesma Fazenda Pública, verbis:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA


REPETITIVA. RIOPREVIDÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PAGAMENTO EM FAVOR DA DEFENSORIA
PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. NÃO CABIMENTO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
1. ‘Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público a
qual pertença’ (Súmula 421/STJ).
2. Também não são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público

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que integra a mesma Fazenda Pública.
3. Recurso especial conhecido e provido, para excluir da condenação imposta ao recorrente o pagamento de honorários
advocatícios. (REsp nº 1.199.715-RJ-2010-0121865-0, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Julg. 16/2/2011).

Portanto, a questão já se encontra superada, não restando dúvida quanto à impossibilidade de o Estado de
Rondônia pagar honorários de advogados à Defensoria Pública.

Nem mesmo a autonomia administrativa do órgão legitima o recebimento de honorários do Estado por expressa disposição
dos artigos 135 e 39, §4º da Constituição Federal c/c o artigo 130 da LC 80/1994, que vedam ao membro da Defensoria Pública
receber qualquer outra espécie remuneratória diversa do subsídio, ressalvada, apenas, a verba de sucumbência prevista no artigo
85 do Código de Processo Civil e, por óbvio, desde que não seja pago pela pessoa jurídica de direito público a que pertença,
conforme enuncia o verbete da Súmula 421 do Superior Tribunal de Justiça.

N e s t e s e n t i d o :

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CURATELA ESPECIAL EXERCIDA PELA DEFENSORIA
PÚBLICA ESTADUAL, EM FAVOR DE RÉU AUSENTE, CITADO POR EDITAL. INEXISTÊNCIA DE DIREITO A
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS, PELO EXERCÍCIO DE UMA FUNÇÃO INSTITUCIONAL. DIFERENCIAÇÃO EM
RELAÇÃO AOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA, DEVIDOS À DEFENSORIA PÚBLICA, PELO
VENCIDO, EM DECORRÊNCIA DO ÊXITO NA DEMANDA EM QUE ATUA COMO CURADORA ESPECIAL.
POSSIBILIDADE DE PAGAMENTO DE HONORÁRIOS, PELO MUNICÍPIO, À DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL,
NOS TERMOS DA SÚMULA 421/STJ. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
I. Quando a curatela especial for desempenhada pela Defensoria Pública, em favor do réu ausente citado por edital, não haverá
pagamento de honorários por seu exercício, tendo em vista tratar-se de uma função institucional, verdadeiro munus público,
r e m u n e r a d o v i a s u b s í d i o .
II. Este entendimento, no entanto, é compatível com a afirmação de que, nos casos em que a Defensoria Pública atuar como
curadora especial, e obtiver êxito na demanda, serão devidos honorários sucumbenciais à instituição, porquanto consistentes em
remuneração devida pelo vencido ao vencedor, nos termos do art. 20 do CPC, ressalvada a hipótese em que ela atua contra pessoa
jurídica de direito público à qual pertença (Súmula 421/STJ), o que não é a hipótese dos autos, em que a Defensoria Pública
Estadual atuou como curadora especial e obteve êxito, em Execução Fiscal movida por Município.
III. Como decidido pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, ‘A remuneração dos membros integrantes da Defensoria
Pública ocorre mediante subsídio em parcela única mensal, com expressa vedação a qualquer outra espécie remuneratória, nos
termos dos arts. 135 e 39, §4º da CF/88 combinado com o art. 130 da LC 80/1994. Destarte, o defensor público não faz jus ao
recebimento de honorários pelo exercício da curatela especial, por estar no exercício das suas funções institucionais, para o que já
é remunerado mediante o subsídio em parcela única. Todavia, caberá à Defensoria Pública, se for o caso, os honorários
sucumbenciais fixados ao final da demanda (art. 20 do CPC), ressalvada a hipótese em que ela venha a atuar contra pessoa jurídica
de direito público, à qual pertença (Súmula 421 do STJ)’ (STJ, REsp 1.201.674/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
CORTE ESPECIAL, DJe de 01/08/2012). Em igual sentido: STJ, AgRg no REsp 1.088.703/MG, Rel. Ministro SÉRGIO
KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 19/03/2014.
IV. É possível a condenação do Município de Dourados/MS ao pagamento de honorários sucumbenciais em favor da Defensoria
Pública, na medida em que esta pertence ao Estado do Mato Grosso do Sul, pessoa jurídica diversa da Municipalidade, nos termos
do que dispõe a Súmula 421 do STJ: ‘Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a
pessoa jurídica de direito público à qual pertença’.
V. Recurso Especial provido. (REsp nº 1516565/MS, Rel. Min. Assussete Magalhães, Segunda Turma, Julg. 17/3/2015).

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. IMPOSSIBILIDADE. DEFENSORIA


PÚBLICA FEDERAL. LIDE CONTRA INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO
TEIXEIRA – INEP. ENTENDIMENTO FIRMADO PELA CORTE ESPECIAL MEDIANTE UTILIZAÇÃO DA
SISTEMÁTICA PREVISTA NO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO STJ 8/2008.
1. ‘Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público a
qual pertença’ - Súmula 421/STJ.
2. Também não são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público
que integra a mesma Fazenda Pública.
3. Orientação reafirmada pela Corte Especial, no julgamento do REsp. 1.199.715/RJ, submetido ao rito do art. 543-C do CPC.
4. Agravo Regimental não provido. (AgRg no REsp 1444300/CE, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 20.05.2014).

RECLAMAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DEFENSORIA PÚBLICA. DESOBRIGAÇÃO DO ESTADO. SÚMULA


4 2 1 D O S T J .
1. Nos termos do acórdão paradigma (STJ, REsp 1.199.715-RJ- 2010-0121865-0) não são devidos honorários advocatícios à
Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública. Inteligência da
s ú m u l a 4 2 1 d o S T J .
2. Reclamação acolhida. (Reclamação n. 0802027-75.2016.8.22.0000, Rel. Des. Gilberto Barbosa, Julg. 9/12/2016).

Em face do exposto, rejeitada a preliminar de inadequação da via eleita, acolho a reclamação e, por consequência, casso a
decisão na parte que impôs ao Estado de Rondônia pagar honorários de advogados em R$880,00 em favor da Defensoria Pública
d o p r ó p r i o E s t a d o .

É como voto.

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EMENTA

Reclamação. Preliminar. Inadequação da via eleita. Matéria elencada no art. 988 do CPC. Rejeitada.
Verba honorária. Defensoria Pública. Desobrigação do Estado. Súmula 421 do STJ. Reclamação
acolhida.

É adequada a reclamação para discutir tema julgado pelo STJ sob o regime de recursos repetitivos,
hipótese prevista no inciso IV do artigo 988 do CPC.

A Resolução n. 03/2016/STJ respalda o uso da reclamação para dirimir divergência entre acórdão da Turma
Recursal e súmula do STJ ou de jurisprudência do STJ consolidada em incidente de resolução de demandas
repetitivas.

Consoante acórdão paradigma (STJ, REsp 1.199.715-RJ- 2010-0121865-0), não é devida verba honorária à
Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública.
Inteligência do verbete sumular 421 do STJ.

Não é devida verba honorária à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público
que integra a mesma Fazenda Pública. Inteligência do verbete sumular 421 do STJ.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Magistrados da 2ª Câmara Especial do Tribunal de Justiça
do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentose das notas taquigráficas, em, REJEITADA A PRELIMINAR. NO
MÉRITO, ACOLHIDA A RECLAMAÇÃO, POR UNANIMIDADE

Porto Velho, 06 de Junho de 2017

ROOSEVELT QUEIROZ COSTA

RELATOR

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