Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 35
Universidade Federal da Grande Dourados
do trabalho, modo de produção, distri- idealizada. Ainda hoje, faltam nas es-
buição, consumo, ideologia, etc. colas brasileiras bibliotecas, programas
de leitura literária e profissionais habi-
Em sociedades como a brasileira,
litados. Os livros didáticos acabam por
cuja cultura é grafocêntrica, a leitura
constituir-se no principal referencial
é vista como algo bom para o homem,
de apoio para o professor e a clientela
pois é através dela que se adquire co-
escolar de baixo poder aquisitivo não
nhecimento, cultura, além de resultar
pode adquirir livros sejam eles impres-
em prazer e constituir-se como lazer.
sos ou e-books. À voz oficial do ideá-
Mas, esta é uma visão unilateral da
rio liberal-democrático junta-se à do
classe dominante, pois nas culturas pre-
mercado editorial, proliferam projetos
dominantemente orais ela é vista com
e programas, livros didáticos e paradi-
desconfiança e seu valor é relativizado.
dáticos, recortes de textos extraídos do
A visão que a classe dominante tem da
cotidiano como receitas culinárias, ró-
leitura é diferente da visão da classe do-
tulos, gibis, jornais, etc.
minada, ou seja, enquanto para as clas-
ses dominantes a leitura é forma de am- Em 1995, os Parâmetros Curricula-
pliar seus conhecimentos, sua visão de res Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997)
mundo, enriquecer suas experiências, foram divulgados em uma versão preli-
obter fruição, ter lazer; para as classes minar, para uma discussão ampla, mas
dominadas ela é meio de sobrevivência, atropelada, em que os professores não ti-
é ingresso para o mundo do trabalho, veram o tempo necessário para conhecer
instrumento de luta. a proposta do MEC. A segunda versão
foi lançada em 1996, após um rápido
Não reconhecendo a leitura como
debate e algumas contribuições de textos
fenômeno social de construção de sen-
que foram produzidos para alimentar o
tidos, a escola faz da leitura uma ativi-
debate. Os PCNs foram implantados
dade mecânica, mera decodificação da
em um momento de fortalecimento do
língua escrita, esvaziada de significado.
neoliberalismo, alicerçado na globaliza-
Assim, se de um lado, a leitura repro-
ção da economia, o que implica discutir
duz ao nível simbólico as condições so-
a qualidade de ensino da educação bra-
ciais da sociedade capitalista, de outro,
sileira para adequá-la ao sistema inter-
pode criar um espaço de contradição
nacional de avaliação da qualidade do
nas relações de produção e de acesso
ensino fundamental.
aos bens culturais. Cabe aos professores
fazer a opção política de trabalhar a lei- Para Suassuna (1998), algumas
tura como instrumento de reprodução concepções que permeiam a área espe-
ou como espaço de contradição. cífica de língua portuguesa denotam
certas incongruências na proposta cur-
A partir da década de 1980, as
ricular. A língua é vista como um có-
propostas de democratização da leitu-
digo estático, acabado e, consequente-
ra, de cunho neoliberal, vêm pregando
mente, o texto é uma “entidade escrita
nas escolas brasileiras a formação de um
e verbal”; o discurso não contempla o
leitor ideal e de uma leitura também
conceito de historicidade. Quanto à
36 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.
Universidade Federal da Grande Dourados
leitura, adquire uma visão utilitaris- 4 livros por ano. Mais alarmante ainda
ta: ler para escrever, situação em que são os dados do MEC, mostrando que
a figura do leitor e do livro desenha-se dos 2,4 livros produzidos per capita, 1,7
como algo intocável. Também alguns são livros didáticos. O INAF acrescen-
conceitos pedagógicos são equivoca- ta, ainda, que 34% da população nun-
dos: a figura do professor é de um mero ca entraram em uma biblioteca, sendo
executor de propostas, ao passo que a que, entre as classes D e E, o número de
imagem do aluno é idealizada e o cur- pessoas que nunca frequentaram uma
rículo apresenta-se como ferramenta biblioteca sobe para 49%.
para a padronização cultural na medida
Vera Masagão, coordenadora da
dos interesses do mercado globalizado
Ação Educativa, organização não-go-
e, por isso, sem um projeto político e
vernamental, em entrevista para a Folha
social próprio que lhe dê sustentação.
de São Paulo (2004), diz que o lugar
Há uma década atrás, alguns da- onde as pessoas estabelecem o contato
dos divulgados sobre a situação atual de efetivo com o mundo da leitura ainda é
leitura pela Câmara Brasileira do Livro a escola e a família, apesar da precarie-
(CBL), o Instituto Brasileiro do Livro dade do sistema educacional e da falta
(IBL), o Ministério da Educação e Cul- de condições de grande parte das fa-
tura (MEC), o Indicador Nacional de mílias brasileiras. Portanto, o papel da
Analfabetismo Funcional (INAF) e o escola na formação de leitores é impres-
Banco Nacional de Desenvolvimento cindível, visto que a falta de acesso aos
(BNDES), em reportagem da Folha de bens culturais têm sido um dos obstá-
São Paulo, no caderno Sinapse de 28 de culos insuperáveis para o cumprimento
setembro de 2004, “na população brasi- deste papel. A situação cria um círculo
leira, de 15 a 64 anos: 8% são analfabe- vicioso, pois nos lares brasileiros faltam
tos; 30% localizam informações simples livros e práticas de leitura, e, na escola,
em uma frase; 37% localizam informa- o baixo letramento e as práticas de lei-
ção em texto curto; 25% estabelecem tura não têm contribuído para a forma-
relações entre textos longos” (FOLHA ção de leitores. Dez anos passaram-se e
DE SÃO PAULO, 2004, p. 2). pouco se avançou.
O brasileiro lê, em média, 1,8 li- Em Retratos de Leitura do Brasil
vros por ano; apenas 16% da população (2008), os principais indicadores re-
têm a posse de 73% dos livros postos velam que 77 milhões de não-leitores
em circulação; 61% têm pouquíssimo e 95 milhões de leitores, sendo que o
ou nenhum contato com livros; 47% número de livros comprados é de 1,2
possuem em casa no máximo 10 livros; por habitante ano, somando 36,2 mi-
cerca de 30% gostam de ler. Soma-se lhões de compradores de livros. A pes-
a esses dados, a informação de que a quisa mostrou que 77% dos brasileiros
venda de livros, no período de 1995 a assistem televisão em seu tempo livre,
2003, caiu 50%. De acordo com a CBL, menos da metade, 35% leem. A Bíblia
há apenas 26 milhões de leitores ativos, é o livro mais citado na pesquisa pelos
ou seja, aqueles que leem em torno de leitores de diferentes níveis de escolari-
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 37
Universidade Federal da Grande Dourados
38 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.
Universidade Federal da Grande Dourados
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 39
Universidade Federal da Grande Dourados
40 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.
Universidade Federal da Grande Dourados
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 41
Universidade Federal da Grande Dourados
42 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.
Universidade Federal da Grande Dourados
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 43
Universidade Federal da Grande Dourados
44 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.
Universidade Federal da Grande Dourados
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 45
Universidade Federal da Grande Dourados
46 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.
Universidade Federal da Grande Dourados
Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014. 47
Universidade Federal da Grande Dourados
48 Horizontes – Revista de Educação, Dourados, MS, n.3, v2, janeiro a junho de 2014.