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A Lenda da Mukanda.

Esta lenda é originária do nordeste de Angola.


            Essa é a lenda de como aconteceu a primeira Mukanda (circuncisão) de um
Tchokwé, e como isso passou a ser um ritual obrigatório entre os homens desse povo,
segundo o Soba Kaúka, da aldeia de Nakalumbo.
 
- Andava certo dia Safuanandenda Lunga, filho mais velho do Soba Variekelenwene,
pescando no rio quando, ao passar descuidadamente e nu, junto a um capim grosso
(Mwenkenene) a folha desse capim o circuncidou.

            O jovem, envergonhado e temeroso, em vez de voltar para a aldeia, escondeu-


se numas biçapas (que se aglomeravam no caminho para o rio).
 
            O tempo foi passando, os dias viram semanas, sem que o rapaz se decidisse a
voltar para junto da família; e durante esse tempo, sobrevivia alimentando-se do que
pescava e caçava na sua solidão.
            Fez ele próprio arco, flechas e lança, improvisou anzóis e armadilhas, observou
os bichos comendo frutas e tubérculo silvestres, dos quais também se serviu para se
nutrir, quando falhava a caça e a pesca.
 
            Passou-se muito tempo, e já a ferida estava cicatrizada, quando
Safuanandenda, saturado do seu exílio voluntário, se decidiu a voltar ao convívio do
Mussôco.
            Ainda envergonhado, para que não o reconhecessem, talhou numa cabaça o
formato de uma máscara, colocou-a na cabeça e entrou na aldeia.
 
            O espanto que causou foi enorme, tinha deixado de ser um rapazinho de quem
todos se lembravam; era agora um homem auto-suficiente e experiente, a quem todos
passaram a respeitar. Com a sua máscara infundia respeito entre os homens. Quanto
às mulheres, dada a sua originalidade anatômica, todas passaram a assediá-lo.
 
            As provações e auto-aprendizado por que passara, além de lhe desenvolver o
corpo, deram-lhe um autodomínio que magnetizava a todos que com ele conviviam.
            Apesar da pouca idade passou a ter lugar de destaque entre os homens, e
nada se decidia, sem que ele fosse consultado, e a sua opinião escutada.
            Os homens o respeitavam, as mulheres o desejavam, e todos o admiravam;
admiravam a sua astúcia, a sua calma, o seu bom senso e a sua agilidade.
 
            O fenômeno tomou proporções que levou o conselho dos velhos a reunir-se, e
a chegar à conclusão que a Mukanda (circuncisão) só podia ser benéfica a púberes da
tribo, deveriam a partir dessa data, submeter-se às mesmas coisas, e na mesma
seqüência em que haviam acontecido com Safuanandenda.
            Chamaram o Sobeta, e o convidaram para mestre de cerimônia e operador,
orientando a par e passo todos os atos dos jovens púberes.

            E assim teve início o ritual da Mukanda Kandongo

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