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Omolu e Nanã

Omolú foi salvo por Iemanjá quando sua


Omolú nasceu com o corpo coberto de mãe, Nanã Buruku, ao vê-lo doente, coberto
chagas e foi abandonado pela sua mãe, de chagas, purulento, abandonou-o numa
Nanã Buruku, na beira da praia. Nesse gruta perto da praia.Iemanjá recolheu Omolú
contratempo, um caranguejo provocou e o lavou com a água do mar, o sal da água
graves ferimentos na sua pele. Iemanjá secou sua feridas, Omolú tornou-se um
encontrou aquela criança e criou-a com todo homem vigoroso, mas ainda carregava as
amor e carinho; com folhas de bananeira cicatrizes, as marcas feias da varíola.Iemanjá
curou as suas feridas e pústulas e confeccionou para ele uma roupa toda de
transformou-a num grande guerreiro e hábil ráfia, e com ela ele escondia as marcas de
caçador, que se cobria com palha-da-costa suas doenças, ele era um homem poderoso,
(ikó) não porque escondia as marcas de sua andava pelas aldeias e por onde passava
doença, como muitos pensam, mas porque deixava um rastro ora de cura, ora de saúde,
se tornou um ser de brilho tão intenso quanto ora de doença, mas continuava sendo um
o próprio sol. Por essa passagem, o homem pobre.
caranguejo e a banana-prata tornaram-se os
maiores ewò de Obaluaiê. Iemanjá não se conformava com a pobreza
do filho adoptivo, Ela pensou:"Se eu dei a ele
a cura, a saúde, não posso deixar que seja
Obaluaê conquista Daomé sempre um homem pobre". Ficou imaginando
quais riquezas, poderia da a ele. Iemanjá era
Um dia Obaluaiyê saiu com seus guerreiros, a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos,
ia em direcção à terra dos mahis, no Daomé. os caramujos, as conchas, os corais, tudo
Obaluaiyê era conhecido como um guerreiro aquilo que dava vida ao oceano pertencia a
sanguinário, atingindo a todos com as sua mãe, Olocum, e ela dera tudo a Iemanjá.
pestes, quando estes se opunham a seus Iemanjá resolveu então ver suas jóias tinha
desejos.Os habitantes do lugar, quando algumas, mas enfeitava-se mesmo era com
souberam de sua chegada, foram em busca algas, ela enfeitava-se com água do mar,
de ajuda de um adivinho, ele recomendou vestia-se de espuma, ela adorava-se com o
que fizessem oferendas, com muita pipoca, reflexo de Oxu, a Lua. Mas, Iemanjá tinha
inhame pilado, dendê e todas as comidas de uma grande riqueza e essa riqueza eram as
que o guerreiro gostasse, pipocas acalmam pérolas, que as ostras fabricavam para ela.
Obaluaiyê, disse que seria aconselhável que
todos se prostrassem diante dele, assim o Iemanjá, muito contente com sua lembrança,
fizeram."Totô hum! Totô hum! Atotô! chamou Omolú e lhe disse:"De hoje em
Atotô!""Respeito! Silêncio!"Obaluaiyê, diante, és tu quem cuidas das pérolas do
satisfeito com a sujeição daquele povo, os mar. Serás assim chamado de Jeholu, o
poupou declamou que a partir daquele dia Senhor das Pérolas". Por isso as pérolas
viveria naquele reino, assim o fez e em pertencem a Omolú, por baixo de sua roupa
pouco tempo o país tornou-se próspero e de ráfia, enfeitando seu corpo marcado de
rico. Obaluaiyê recebeu nas terras mahis o chagas, Omolú ostenta colares e mais
nome de Sapatá, mesmo assim era preferível colares de pérola, belíssimos colares.( in:
chamá-lo de Ainon, senhor das Terras, ou Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi)
Jeholu, senhor das pérolas.
Esses diferentes nomes foram adoptados por
famílias importantes, mas infelizmente
provocaram desentendimentos entre elas e
os reis do Daomé. Muitas vezes as famílias
de Sapatá foram expulsas do reino e, em
represália, muitos reis daomeanos morreram
de varíola.Tanta discórdia provocou seu
nome, que hoje ninguém sabe mais qual o
melhor nome para se chamar Obaluaiyê.
Omolú ganha pérolas de Iemanjá
Xapanã ganha o segredo da peste na
partilha dos poderes
Omolu era muito mulherengo e não obedecia
Olodumarê, um dia decidiu distribuir seus a nenhum mandamento que fosse. Numa
bens.Disse aos seus filhos que se reunissem datam importante, Orunmilá advertiu-o que
e que eles mesmos repartissem entre si as se abstivesse de sexo, o que ele não
riquezas do mundo. Ogum, Exú, Orixá Ocô, cumpriu. Naquele mesmo dia possuiu uma
Xangô, Xapanã e os outros orixás deveriam de suas mulheres. Na manhã seguinte
dividir os poderes e mistérios sobre as coisas despertou com o corpo coberto de chagas.
na Terra. Num dia em que Xapanã estava Suas mulheres pediram a Orunmilá que
ausente, os demais se reuniram e fizeram a intercedesse junto a Olodumarê, mas este
partilha, dividindo todos os poderes entre não perdoou Obaluaiê, que morreu em
eles, não deixando nada de valor pra seguida. Orunmilá usando o mel de Oxum,
Xapanã. Um ficou com o trovão, o outro despejou-o por sobre todo o palácio de
recebeu as matas, outro quis os metais, outro Olodumarê. Este, deliciado, perguntou a
ganhou o mar. Escolheram o ouro, o raio, o Orunmilá quem havia despejado em sua
arco-íris; levaram a chuva, os campos casa tal iguaria. Orunmilá disse-lhe que havia
cultivados, os rios.Tudo foi distribuído entre sido uma mulher. Todas as divindades
eles, cada coisa com seus segredos, cada femininas foram chamadas, mas faltava
riqueza com o seu mistério. A única coisa Oxum, que confirmou ao chegar que era seu
que sobrou sem dono, desprezada, foi a aquele mel. Olodumarê pediu-lhe mais, ao
peste. que Oxum lhe fez uma proposta. Oxum daria
a ele todo o mel que quisesse, desde que
Ao voltar, nada encontrou Xapanã para si, a ressuscitasse Obaluaiê. Olodumarê aceitou a
não ser a peste, que ninguém quisera. condição de Oxum, e Obaluaiê saiu da terra
Xapanã guardou a peste para si, mas não se vivo e são.
conformou com o golpe dos irmãos. Foi
procurar Orunmilá, que lhe ensinou a fazer
sacrifícios, para que seu enjeitado poder
fosse maior que o do outros. Xapanã fez
sacrifícios e aguardou. Um dia, uma doença
muito contagiosa começou a espalhar-se
pelo mundo. Era a varíola. O povo,
desesperado, fazia sacrifícios para todos o
orixás, mas nenhum deles podia ajudar. A
varíola não poupava ninguém, era uma
mortandade. Cidades, vilas e povoados
ficavam vazios, já não havia espaço nos
cemitérios para tantos mortos. O povo foi
consultar Orunmilá para saber o que fazer.

Ele explicou que a epidemia acontecia


porque Xapanã estava revoltado, por ter sido
passado para trás pelos irmãos. Orunmilá
mandou fazer oferendas para Xapanã. Só
Xapanã poderia ajudá-los a conter a varíola,
pois só ele tinha o poder sobre as pestes, só
ele sabia os segredos das doenças. Tinha
sido essa sua única herança. Todos pediram
protecção a Xapanã e sacrifícios foram
realizados em sua homenagem. A epidemia
foi vencida. Xapanã então era respeitado por
todos. Seu poder era infinito, o maior de
todos os poderes.
Omolu e Oxum
Nanã e a criação dos seres humanos Nanã e Ogum
Olorum encarregou Oxalá da missão de fazer Ogum, o ferreiro guerreiro, era o Senhor de
o modelo que daria forma ao homem. Entre todos os metais. Pertenciam a Ogum os
tantas alternativas, o orixá encarregado instrumentos de ferro e aço, por isso ele era
tentou fazer uso do vento, da madeira, da tão considerado entre os orixás, pois todas
pedra, do fogo, do azeite e até do vinho. as outras divindades acabavam dependendo
Contudo, apesar de tanto esforço, ele dele. Sem a licença de Ogum, não havia
percebia que nenhum material era maleável sacrifícios. Sem sacrifício, não havia culto
o suficiente para que ele executasse a tarefa. aos Orixás. Ogum é o Oluobé, o Senhor da
Foi quando Nanã retirou uma porção de Faca. Por isso, todos os Orixás o
barro do fundo do lago em que morava. reverenciavam. Mesmo antes de comer,
Utilizando aquele material, Oxalá conseguiu pediam licença a ele pelo uso da faca, o obé,
finalmente dar forma ao homem. Logo em com que se abatiam os animais e se
seguida, Olorum pegou o modelo e com um preparava a comida sacrificial. Contrariada
sopro lhe concedeu força vital para realizar com essa precedência dada a Ogum, Nanã
tarefas. Depois disso, os outros orixás se disse que não precisava de Ogum para nada,
encarregaram de ajudar o homem a povoar pois se julgava mais importante do que ele.
as terras do mundo. Sendo feito de um “Quero ver como vais comer, sem faca para
elemento que pertence à Nanã, os homens matar os animais”, disse Ogum. Ela aceitou o
têm que morrer. Afinal de contas, ela cobra desafio e nunca mais usou a faca. A partir
de volta aquilo que um dia ofereceu para que daí, exigiu que os sacrifícios feitos a ela
o homem viesse a existir. Ligada ao princípio fossem feitos sem o uso da faca. Sem
e ao fim da existência, Nanã é precisar da licença de Ogum. E, assim,
costumeiramente reverenciada com cânticos baniu-se o uso de qualquer tipo de metal ou
que rogam pela extensão da vida e o objetos feitos de metal no culto de Nanã.
adiamento da morte. Em alguns rituais, Nanã
é evocada pelas mulheres que apresentam
dificuldade para engravidar.
EWÁ
Odé, numa de suas inúmeras caçadas, sem
O jardim de Nanã que tivesse consultado antes Ifá, encontrou
uma cobra no mato, Oxumarê. Ela lhe diz
Conta a lenda que Nanã só julgava os que não pode ser morta por ele, pois não é
homens, pois ela colocava as mulheres um bicho de penas, ele pouco se importou
acima do julgamento humano. Ela plantou com o aviso, e matou-a com a lança,
um jardim e quando uma mulher reclamava cortando-a em diversos pedaços e levando
de seu homem, ela o pendurava em uma para casa para ele mesmo preparar um
árvore e chamava os Eguns, espíritos guisado, com o qual se refastelou. No dia
desencarnados, para assustá-lo. Os Orixás seguinte, Oxum, sua esposa, prevendo
estavam revoltados. Então Ogum pediu a muitas catástrofes, por causa da quebra de
Oxalá para ir dominar Nanã. Ele enfeitiçou tantos tabus, encontra Odé, deitado no chão
Nanã e fez com que mostrasse seu jardim. morto e rastros de cobra que iam em direção
Nanã adormeceu e Oxalá vestiu-se de a floresta. Oxum chorou tanto e tão alto que
mulher, fugindo dos Eguns. Nanã acordou e Ifá, condoído pela sua dor, fez Odé, o
foi atrás de Oxalá, enfeitiçando-o e caçador, renascer sob a forma divina de
seduzindo para sempre o Orixá maior. Dessa Oxóssi.
união nasceu Oxumaré, o arco-íris e também
Iroko e Omulu.

NANÃ E OXUM IJIMÚ


Ijimú era feiticeira velha e sábia, que habitava Certa vez, Xangô viu Oxumarê passar, com
as águas escuras nas profundezas do rio. todas as cores de seu traje e todo o brilho de
Ogum, o general estava em guerra, tomando seu ouro. Xangô conhecia a fama de
vários reinos. Um dia o reino de Nanã foi Oxumarê não deixar ninguém dele se
ameçado. Nanã era versada em magia, mas aproximar. Preparou então uma armadilha
sua aldeia consistia em grande maioria, para capturar Oxumarê. Mandou uma
mulheres, velhos e crianças que não audiência em seu palácio e, quando
saberiam se defender e certamente iriam Oxumarê entrou na sala do trono, os
padecer na fúria de Ogum. Nanã foi procurar soldados chamaram para a presença de
Ijimú, e lhe rogou ajuda. A velha feiticeira do Xangô e fecharam todas as janelas e portas,
rio, aceitou o pedido da amiga e com seus aprisionando Oxumarê junto com Xangô.
feitiços, guardou as mulheres, velhos e Oxumarê ficou desesperado e tentou fugir,
crianças dentro de uma cabaça, prometendo mas todas as saídas estavam trancadas pelo
à Nanã que só a devolveria quando a aldeia lado de fora. Xangô tentava tomar Oxumarê
não corresse mais perigo. E Ijimú os levou nos braços e Oxumarê escapava, correndo
para o fundo do rio. Nanã, mesmo velha de um canto para outro. Não vendo como se
enfrentou Ogum e conseguiu vencê-lo. livrar, Oxumarê pediu a Olorum e Olorum
Porém, acabou ferida com uma ponta de ouviu sua súplica. No momento em que
ferro. Passado o perigo, Nanã voltou com Xangô imobilizava Oxumarê, Oxumarê foi
seus poucos guerreiros e Oxum Ijimú transformado numa cobra, que Xangô largou
devolveu a cabaça para ela. Daquele dia em com nojo e medo. A cobra deslizou pelo chão
diante, Nanã proibiu o uso de ferro em seu em movimentos rápidos e sinuosos. Havia
reino, e todos os instrumentos seriam feitos uma pequena fresta entre a porta e o chão
de madeira. Nanã, agradecia por Ijimú cuidar da sala e foi por ali que escapou a cobra, foi
do seu povo, convidou-a para um banquete, por ali que escapou Oxumarê. Assim livrou-
dando-lhe um lugar de honra e ofereceu uma se Oxumarê do assédio de Xangô. Quando
abebé em forma de boneca feito de madeira, Oxumarê e Xangô foram feitos Orixás,
palha e cabaça. Ijimú se enfeitou com palhas Oxumarê foi encarregado de levar água da
em respeito à Nanã. E esse foi o pacto entre Terra para o palácio de Xangô no Orum
as duas velhas feiticeiras. (céu), mas Xangô não pôde nunca
aproximar-se de Oxumarê.

Orixá do arco-íris
ADVINHO
Oxumarê era, antigamente, um adivinho presentes. Assim, Oxumarê tornou-se rico e
(babalaô). O adivinho do rei Oni. Sua única respeitado. Entretanto, Oxumarê era amigo
ocupação era ir ao palácio real no dia do de Chuva. Quando Chuva reunia as nuvens,
segredo; dia que dá início à semana de Oxumarê agitava sua faca de bronze a
quatro dias dos iorubas. O rei Oni não era um apontava em direção ao céu, como se
rei generoso. Ele dava apenas, a cada riscasse de um lado a outro. O arco-íris
semana, uma quantia irrisória a Oxumarê aparecia e Chuva fugia. Todos gritavam:
que, por esta razão, vivia na miséria com a Oxumarê apareceu! Oxumarê tornou-se
sua família. O pai de Oxumarê tinha um belo muito célebre.
apelido. Chamavam-no o proprietário do xale
de cores brilhantes. Mas, tal como seu filho,
ele não tinha poder. As pessoas da cidade
BELA PRINCESA
não o respeitavam. Oxumarê, magoado com
esta triste situação, consultou Ifá. Euá era uma linda mulher que morava num
reino distante de Ifé. Com seu jeito de
-Como tornar-se rico, respeitado, conhecido
princesa, causava admiração por onde
e admirado por todos? Ifá o aconselhou a
passava. Viviam as margens de um rio e
fazer oferendas. Disse-lhe que oferecessem
podia invocar as forças dos ventos e das
uma faca de bronze, quatro pombos e quatro
chuvas para favorecer as colheitas. Um dia,
sacos de búzios da costa. No momento que
quando se banhava no rio, um arco-íris se
Oxumarê fazia estas oferendas, o rei mandou
formou diante dela. A imensidão da luz
chamá-lo. Oxumarê respondeu:
impressionou Euá , a qual sentiu que alguém
Pois não, chegarei tão logo tenha terminado a protegia e envolvia. Correu para contar aos
a cerimônia. O rei, irritado pela espera, outros habitantes da região o que
humilhou Oxumarê, recriminou-o e presenciara, mas, assim que deixou a água,
negligenciou, até a remessa de seus olhou para trás e viu que o arco íris
pagamentos habituais. Entretanto, voltando à desaparecera, restando apenas algumas
sua casa, Oxumarê recebeu um recado: moedas no local. No outro dia, a cena se
Olokum, a rainha de um país vizinho, repetiu. Ela seguiu então em direção ao rio
desejava consultá-lo a respeito de seu filho, para ver onde terminava o arco-íris. Nadou
que estava doente. Ele não podia manter-se por três dias e três noites, até chegar à outra
de pé, caía, rolava no chão e queimava-se ponta. Lá havia uma coroa de ouro, que Euá,
nas cinzas do fogareiro. Oxumarê dirigiu-se à cheia da curiosidade, tomou nas mãos. Então
corte da rainha Olokum e consultou Ifá para Oxumarê, o Orixá da riqueza, apareceu
ela. Todas as doenças da criança foram diante dela, dizendo-se encantado com sua
curadas. Olokum, encantada com este beleza. Euá se apaixonou pelo deus e pediu-
resultado, recompensou Oxumarê. Ela lhe que a transformasse num Orixá. Assim
ofereceu-lhe uma roupa azul, feita de um rico transformou-se numa cobra, vivendo para
tecido. Ela deu-lhe muitas riquezas, sempre com Oxumarê.
servidores e um cavalo, com o qual Oxumarê
retornou à sua casa, em grande estilo. Um
escravo fazia rodopiar um guarda-sol sobre a
sua cabeça e músicos cantavam seus
louvores. Oxumarê foi saudar o rei. O rei Oni
ficou surpreso e disse-lhe:
-Oh! De onde viestes? De onde saíram todas
estas riquezas? Oxumarê respondeu-lhe a
rainha Olokum o havia consultado. Ah! Foi
então Olokum que fez tudo isto por você!

OXUMARÊ
Estimulado pela rivalidade, o rei Oni ofereceu
a Oxumarê uma roupa do mais belo Conta o mito que apesar de tudo que
vermelho, acompanhada de muitos outros houvera com Obaluaiê, Nanã e Oxalá tiveram
outro filho. Este era Oxumarê. Contudo, Irmão gêmeo de Euá e tendo como irmãos
como novamente eles haviam desobedecido mais velhos Osaim e Obaluaê, todos filhos
os preceitos de Orunmilá, Oxumarê nasceu de Nanã, Oxumarê sempre foi franzino, mas
sem braços e sem pernas, com a forma da dotado de grande inteligência e capacidade.
serpente, rastejando pela terra, e ao mesmo Um dia frente à frente com Olokum, mãe de
tempo com corpo de homem. Mais uma vez Iemanjá, perguntou-lhe como poderia achar
decepcionada, Nanã abandonou Oxumarê. pedras brilhantes, preciosas. Oxumarê
Oxumarê entretanto possuía grande pensou e respondeu: Senhora dos Oceanos,
capacidade adaptativa e, mesmo sem é preciso que faças um investimento, me
membros para locomover-se, aprendeu a dando seis mil búzios. -Sim , respondeu,
subir em árvores, a caçar para comer, a Olokum. Oxumarê apontou para a própria
colher as batatas doces de que tanto casa de Olokum, o mar, explicando-lhe que
gostava, a nadar e possuía imensa astúcia e nas partes rasas poderia encontrar o que
inteligência. Orunmilá, o deus da adivinhação procurava. Olokum ficou tão feliz que deu à
do futuro admirando-se e apiedando-se dele ele, além dos seis mil búzios, a capacidade
tornou-o um orixá belo, de sete cores de luz, de transformar-se em serpente e poder, com
encarregando-o de levar e trazer as águas do a ponta do rabo tocar a terra e com a cabeça
céu para o palácio de Xangô. É Oxumarê tocar o céu. Com tal poder Oxumarê
portanto quem traz as águas da chuva e é a transformou-se em serpente esticou-se até a
ele que se pede que chova. Como seu terra de Olorum, no céu e com os seus seis
percurso era longo, Oxalá, seu pai, fez com mil búzios falou ao criador: -Pai cheguei até o
que ele tomasse a forma do arco-íris quando Senhor. Tive de esticar-me demais para
tivesse esta missão a realizar. Com as águas pedir-lhe ajuda, para fazer de mim aquele
da chuva, Oxumarê traz as riquezas aos que tem capacidade de dobrar tudo que tem.
homens ou a pobreza. Oxumarê vive com E Olorum dobrou o número de búzios de seis
sua irmã Euá no fim do arco-íris. para doze mil. Daí pra frente Oxumarê
passou a ser consultado sobre os grandes
negócios. Xangô fez dele seu consultor e
grande conselheiro, aumentando sua riqueza
MENSAGEIRO
de Deus do Trovão, ao mesmo tempo que a
Quando xangô e Oxum quiseram se casar, do próprio Oxumarê.
perceberam que seria difícil viverem juntos,
pois a casa de Oxum era no fundo do rio e
xangô morava por cima das nuvens.
Resolveram arranjar um criado que
facilitasse a comunicação entre os dois.
Falaram com Oxumarê, que aceitou servir de
mensageiro entre eles. Só que, durante a
metade do ano em que é o arco- íris,
Oxumarê levava as águas de Oxum para o
céu; não chovia e a terra ficava seca. Por
isso, Oxumarê resolveu que, nos seis meses
em que fosse cobra, deixaria o serviço.
Nesse período, xangô precisa descer até
Oxum, e então acontecem os temporais da
estação das chuva

Oxumarê AZAWANY
Oxóssi se tornou o rei de Ketú e se tornara o Ossain, filho de Nanã e irmão de Oxumarê,
maior caçador de todos, com seu Aramefá Euá e Obaluayê, era o senhor das folhas, da
comandava as terras de Ketú, Ilê-Ifé e Igbô. ciência e das ervas, o orixá que conhece o
Já Omolú, se tronou o rei de Savé, tomando segredo da cura e o mistério da vida. Todos
o trono que Oxúmarê usurpou dele para sí, e os orixás recorriam a Ossain para curar
assim, Omolú foi proclamado Obáluaiyê. qualquer moléstia, qualquer mal do corpo.
Porém, houve um tempo de seca que Todos dependiam de Ossain na luta contra a
castigava Savé, e Omolú ficou muito doente doença. Todos iam à casa de Ossain
e fraco, seus povos Savalunos procuravam oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossain
às terras de Ketú para se abrigar, Oxóssi viu lhes dava preparados mágicos: banhos,
o ocorrido, e os povos das fronteiras de Savé chás, infusões, pomadas, abô, beberagens.
à Ketú começaram se unir, assim surgiu o Curava as dores, as feridas, os
povo Ewê-Fón. Oxóssi procurou Orúnmilá-Ifá sangramentos; as disenterias, os inchaços e
para entender o que acontecera com o reino fraturas; curava as pestes, febres, órgãos
Savaluno e com Omolú, este lhe disse que corrompidos; limpava a pele purulenta e o
Omolú estava muito doente e fraco, e que sangue pisado; livrava o corpo de todos os
sua doença se devia a seca e a escassez de males. Um dia Xangô, que era o deus da
comida. Oxóssi, sendo o deus da justiça, julgou que todos os Orixás deveriam
alimentação, levou grandes quantidades de compartilhar o poder de Ossain, conhecendo
comidas e comidas para Omolú. Cuidou de o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô
Omolú muito tempo, porém, nada que fazia sentenciou que Ossain dividisse suas folhas
curava Omolú, Oxóssi procurou Ossaíyn para com os outros Orixás. Mas Ossain negou-se
saber qual o antídoto poderia curar Omolú. a dividir suas folhas com os outros Orixás.
Ossáiyn diagnosticou Omolú, e disse que ele Xangô então ordenou que Iansã soltasse o
estava com lepra, e que a única cura para vento e trouxesse ao seu palácio todas as
Omolú seria a seiva da babosa. Oxóssi folhas das matas de Ossain para que fossem
precisava encontrar a planta, porém, se distribuídas aos Orixás. Iansã fez o que
saisse, Omolú ficaria sem seus cuidados. Xangô determinara. Gerou um furacão que
Então Oxóssi convocou Oyá, a esposa de derrubou as folhas das plantas e as arrastou
Omolú que estava em guerra para encontrar pelo ar em direção ao palácio de Xangô.
a tal planta. Oyá foi à procura, e encontrou a Ossain percebeu o que estava acontecendo
planta que Omolú tanto precisava. Mas ao e gritou: "Euê Uassá!". "As folhas funionam!"
chegar à terra de Savé, Omolú estava morto, Ossain ordenou às folhas que voltassem às
e não havia nada que poderia ser feito, então suas matas e as folhas obedeceram às
Oxóssi pegou seu pó mágico chamado Arolê ordens de Ossain. Quase todas as folhas
(pó vermelho que Oxóssi usa para adentrar retornaram para Ossain. As que já estavam
as matas) e jogou sobre Omolú, tornando em poder de Xangô perderam o Axé,
sua palha amarelado em tom de vermelho e perderam o poder da cura. O Orixá Rei, que
Oxóssi se juntara à essas palhas. Oyá correu era um orixá justo, admitiu a vitória de
para buscar o espírito de Omolú, e ao cair do Ossain. Entendeu que o poder das folhas
pó, Oyá pegou seu espiríto e voltou devia ser exclusivo de Ossain e que assim
novamente à seu corpo. Omolú voltou a vida! devia permanecer através dos séculos.
Desde então, Omolú ficou eternamente grato Ossain, contudo, deu uma folha para cada
à Oxóssi e Oyá sua mulher, com o Arolê, Orixá, deu uma euê para cada um deles.
Omolú teria em sí a energia de Oxóssi, este Cada folha com seus axés e seus efós, que
fora Oxóssi, é o único que se utilizou do pó são as cantigas de encantamento, sem as
vermelho. Desse dia em diante, Omolú quais as folhas não funcionam. Ossain
passou ser chamado de Azawany que em distribuiu as folhas aos orixás para que eles
linguagem Fón dos povos Dahoemanos não mais o invejassem. Eles também podiam
significa " Palha Vermelha ". O Omolú que se realizar proezas com as ervas, mas os
veste das palhas rubras seria també segredos mais profundos ele guardou para
considerado aquele que voltou da morte. si. Ossain não conta seus segredos para
ninguém, Ossain nem mesmo fala. Fala por
ele seu criado Aroni. Os Orixás ficaram
Ossain dá uma folha para cada Orixá.
gratos a Ossain e sempre o reverenciam Itan de Irôko
quando usam as folhas.
Conta uma lenda de Angola, que
Irôko/Tempo era um homem muito agitado.
Ele fazia e resolvia muitas coisas ao mesmo
Como Òsanyìn descobre o nome das tempo. Entretanto, este homem vivia
folhas. reclamando de não ter tempo de fazer tudo o
que se propunha. Por isso, sempre
Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das
reclamava a Zâmbi que o dia era muito
plantas. Ifá foi consultado por Òrúnmílá que
pequeno para que pudesse fazer e resolver
estava partindo da terra para o céu e que
tudo. Certo dia, Zâmbi resolveu, então,
estava indo apanhar todas as folhas. Quando
responder aos clamores de Irôko e, assim,
Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse,
lhe disse: “Eu errei em sua criação, pois você
eis todas as folhas que queria pegar o que
é muito apressado”. Irôko, então, respondeu
fará com elas? Òrùnmílá respondeu que iria
a Zâmbi: “Não tenho culpa se o dia é
usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio
pequeno e as horas miúdas. Assim, nunca há
dos seres humanos da Terra. Todas as
tempo suficiente para realizar tudo que
folhas que Òrunmílá estava pegando,
planejo”. A partir desse momento, Zâmbi,
Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando
então, determinou que esse homem
chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun
passasse a controlar o tempo. Irôko, passou,
(pedra que se encontra no meio do caminho
assim, a ter o domínio sobre os elementares,
entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou
movimentos da natureza e, além disso, sobre
Òsanyìn no caminho. Perguntou: Òsanyìn
a evolução do planeta e da humanidade.
onde vai? Òsanyìn disse; "Vou ao céu, disse
Assim nasceu o Orixá Irôko/Tempo, senhor
ele, vou buscar folhas e remédios". Òrúnmílá
do tempo, das estações e da ancestralidade.
disse, muito bem, disse, que já havia ido
buscar folhas no céu, disse, para benefício
dos seres humanos da terra. Disse, olhe
todas essas folhas, Òsanyìn pode apenas
arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer
remédios (feitiços) com elas porém não
conhecia seus nomes. Foi Òrúnmílá quem
deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá
nomeou todas as folhas naquele dia. Ele
disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas
para a terra, disse, volte, iremos para terra
juntos. Foi assim que Òrúnmílá entregou
todas as folhas para Òsanyìn naquele dia.
Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das
folhas apanhadas.

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