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PRÁTICAS

INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES
EM SAÚDE
Massoterapia,
reflexoterapia
e shantala
Marcella Gabrielle Mendes Machado

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar os benefícios da massoterapia e da reflexologia na terapia humana.


>> Apontar o tipo de atendimento e as manobras utilizadas a cada objetivo
terapêutico.
>> Identificar pontos de pressão relacionados aos órgãos de ação.

Introdução
A reflexoterapia e a técnica de massoterapia shantala são práticas integrativas
e complementares em saúde que foram introduzidas no Sistema Único de Saúde
(SUS) em 2017. Quando associadas à medicina convencional, tais práticas têm
apresentado diversos benefícios terapêuticos que vão além do relaxamento.
A reflexoterapia consiste na estimulação de áreas reflexas nos pés, mãos
ou orelhas, com o objetivo de equilibrar regiões do corpo que apresentam
bloqueios ou desregulação. Clinicamente, essa técnica é utilizada no alívio de
tensões e estímulo dos sistemas circulatório, linfático e nervoso, podendo ser
utilizada no tratamento de sinusites e gripes, infecção urinária, cólica menstrual,
dentre outros. Já a massoterapia é uma prática que estimula articulações
e musculatura e harmoniza os sistemas circulatório, linfático, imunológico,
respiratório e digestivo.
2 Massoterapia, reflexoterapia e shantala

Neste capítulo, você vai conhecer o histórico da massoterapia como recurso


terapêutico, seus benefícios e suas diferentes técnicas de massagem. Além disso,
vai estudar os benefícios da reflexoterapia e os mapas das zonas reflexas rela-
cionados aos órgãos de ação.

Massoterapia
A massoterapia consiste em um grupo de procedimentos e técnicas terapêuti-
cas naturais e não invasivas que busca manter a saúde do indivíduo, prevenir
desequilíbrios e melhorar a qualidade de vida e bem-estar. Quando associada
à medicina tradicional, a massoterapia coopera para uma maior eficácia dos
tratamentos e recuperação da saúde (DONATELLI, 2015). A massoterapia é uma
prática de integração terapêutica preconizada pela Organização Mundial de
Saúde (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2002), e seus objetivos principais
no cuidado à saúde são:

„„ prevenir o surgimento de doenças e promover saúde;


„„ potencializar a circulação da energia vital pelo corpo;
„„ estimular a circulação sanguínea;
„„ favorecer o autoconhecimento e a autoconsciência;
„„ contribuir para a normalização das funções fisiológicas e aumento do
tônus muscular, auxiliando no combate a dores, tensões, desequilíbrios,
disfunções, dentre outros.

Os métodos e técnicas da massoterapia empregam o toque direto no


corpo para alcançar os benefícios propostos. Esse toque pode ser sutil ou
profundo, dependendo do objetivo da técnica. Donatelli (2015, p. 5) relata
que, de acordo com a técnica de massoterapia utilizada, pode-se “[...] atuar
na estrutura mecânica do corpo, estimular ou sedar algum estado energético
e/ou fisiológico e conduzir à autoconsciência”.
Embora a prática da massoterapia seja muito antiga, esse termo é relativa-
mente novo no Brasil, pois passou a ser utilizado somente na década de 1990.
Antes disso, era comum utilizar o termo “massagem”, às vezes acompanhado
da sua natureza ou método (como massagem estética, massagem terapêutica,
massagem chinesa). A massagem oriental com aplicação terapêutica surgiu no
Brasil a partir da imigração de orientais no início do século XX. Nessa época,
a massagem ocidental já era utilizada na área desportiva, na reabilitação e
nas casas de banho (DONATELLI, 2015).
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 3

A massagem oriental é praticada desde a civilização ancestral da China,


sendo inclusive uma das vertentes da medicina tradicional chinesa, que
data de 2.800 a.C. Na Índia, há a prática da massagem ayurvédica, inserida
na medicina ayurvédica, e da técnica shantala. No Japão, foi incorporado o
sistema de massagem chinesa, com diferentes técnicas de atuação no corpo e
nos pontos da acupuntura chinesa, sendo que no início do século XX o termo
shiatsu foi criado, o qual desenvolveu-se em estilos variados, e passou a
abordar também a visão da fisiologia e da medicina ocidental.
De acordo com Donatelli (2015), podem ser considerados efeitos da mas-
sagem oriental:

„„ fortalecimento do sistema imunológico;


„„ circulação e regulação da energia (qì), a qual nutre, reserva e transforma
as substâncias fundamentais vitais;
„„ mitigação de desarranjos nos sistemas musculoesquelético e fisiológico;
„„ estabilidade mental e emocional.

A massagem foi difundida no Ocidente pelos gregos, com a proposta inicial


de melhoria da forma física e busca da beleza. Na área médica, Hipócrates,
por volta de 400 a.C., sugeriu que a massagem poderia melhorar a função
articular e aumentar o tônus muscular. Há relatos da época do imperador da
Roma Antiga Tibério (14 d.C. a 37 d.C.) de que muitos cidadãos romanos eram
praticantes da massagem, pelos seus efeitos benéficos sobre os músculos
e para o tratamento de diversas condições clínicas, desde cefaleia até pa-
ralisia. No entanto, foi somente no século XVI, com os avanços da medicina,
que os efeitos das técnicas ancestrais de massagem puderam ser finalmente
explicados.
De acordo com Donatelli (2015, p. 6):

[...] foi no século XIX, na Suécia, que o Dr. Henry Pahr Ling reintroduziu a massagem
em sua abordagem ocidental, como recurso terapêutico na comunidade médica,
disponibilizando a prática à sociedade — daí o termo massagem sueca ter se
difundido como sinônimo de massagem ocidental ou ‘clássica’.

Os princípios básicos da massagem ocidental estabelecidos pelo Dr. Ling


incluem a preparação desportiva, a estimulação dos sistemas circulatório e
linfático e a reabilitação tanto do sistema ósseo quanto dos sistemas articular
e muscular. Com isso, a partir do século XX as técnicas adotadas na massagem
ocidental foram aprimoradas, valorizando o toque no tecido conjuntivo e a
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consciência corporal e dos movimentos, bem como foi desenvolvida a relação


das técnicas com o aspecto psíquico. A seguir são listados os principais efeitos
da massagem ocidental por área corporal (DONATELLI, 2015).

„„ Pele — aumento da temperatura, desobstrução dos poros, vasodi-


latação local, ação esfoliante, remoção e toxinas e células mortas,
estímulo do fluxo sanguíneo.
„„ Fáscias — promove a tixotropia, que é a hidratação e solubilidade dos
tecidos.
„„ Músculos — estímulo na nutrição celular por meio do fluxo sanguíneo e
melhoria das propriedades de contratilidade, elasticidade e tonicidade
das células. Funcionalmente, alonga e organiza a direção das fibras
musculares.
„„ Tecidos — tem ação anti-inflamatória.
„„ Circulações sanguínea e linfática — estimula o fluxo do sangue e a cir-
culação da linfa, o que contribui para a remoção de restos metabólicos
e líquidos intersticiais.
„„ Sistema nervoso — excitação das terminações nervosas e efeito
calmante.
„„ Metabolismo — remoção dos resíduos celulares, possibilitando a che-
gada do sangue repleto de nutrientes a partes corporais diversas.
„„ Vísceras — por efeito reflexo, atua na funcionalidade visceral.
„„ Aspecto psicológico — promove conforto, bem-estar e percepção
sensorial, o que possibilita a ressignificação das memórias traumáticas.

Atualmente, há uma grande variedade de técnicas de massagem, o que


possibilita aplicar a mais adequada para resolver a necessidade terapêutica
do paciente. Dentre as técnicas disponíveis, pode-se destacar a massagem
relaxante, a qual constitui uma poderosa ferramenta para levar ao relaxa-
mento profundo. Além disso, apresenta os benefícios de controle da fadiga
muscular, controle da dor, aumento da flexibilidade dos tecidos moles e
aceleração do fluxo circulatório e linfático. Uma das variáveis da massagem
relaxante é a massagem expressa (quick massage), sendo esse tipo preferido
por pacientes que sofrem as consequências físicas de uma vida agitada e
possuem pouco tempo para dedicar aos seus próprios cuidados. Essa mas-
sagem é caracterizada pela sua rapidez, sendo realizada em curto período
(PEREZ; LEVIN, 2014; PEREZ; VASCONCELOS, 2014).
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 5

Outro tipo de massagem muito utilizada pelos massoterapeutas é a drena-


gem linfática manual. Essa técnica é considerada altamente especializada, e
requer alguns conhecimentos específicos em anatomia e fisiologia do sistema
linfático. Possui como principal objetivo a eliminação do excesso de líquidos
do espaço intercelular, sendo indicada na redução de edemas, tratamentos
estéticos pré e pós-cirurgias plásticas e tratamento da celulite. A drenagem
linfática apresenta diferenças frente a outras técnicas de massagem, uma
vez que não produz vasodilatação arteriolar superficial, ou seja, vermelhidão
na área, e também por não ser recomendado o uso de cremes ou óleos cor-
porais durante a prática, já que nessa técnica não se utiliza como manobra o
deslizamento das mãos. Basicamente, o procedimento da drenagem linfática
consiste em encaminhar a linfa na direção dos linfonodos, exercendo uma
pressão muito suave e com velocidade lenta (PEREZ; LEVIN, 2014).
Já a massagem modeladora é uma técnica também muito utilizada por
massoterapeutas e profissionais de estética, indicada para a redução da
perimetria de regiões corporais com gordura localizada, a fim de modelar o
contorno corporal. Essa técnica de massagem é caracterizada por movimentos
rápidos e vigorosos, produzindo um efeito totalmente mecânico, é capaz de
manipular vasos sanguíneos e capilares. Dentre as principais manobras da
massagem modeladora, estão o deslizamento superficial e profundo, amas-
samento, movimento em torção e pinçamento (PEREZ; LEVIN, 2014).

Shantala
A técnica shantala possui origem indiana e foi difundida no Ocidente na
década de 1970, pelo médico francês Frédérick Leboyer (DONATELLI, 2015).
De acordo com a Portaria nº 849, de 27 de março de 2017, do Ministério da
Saúde, que incluiu 14 atividades à Política Nacional de Práticas Integrativas
e Complementares, a massagem shantala pode ser definida como:

[...] uma prática de massagem para bebês e crianças, composta por uma série de
movimentos pelo corpo, que permite o despertar e a ampliação do vínculo cuida-
dor e bebê. Além disso, promove a saúde integral, reforçando vínculos afetivos,
a cooperação, confiança, criatividade, segurança, equilíbrio físico e emocional.

Nessa técnica, são utilizados movimentos roliços/amassamentos e desli-


zamentos. O toque geralmente é realizado do centro para a periferia, o que ao
mesmo tempo também promove alongamentos. Esse método é interessante
6 Massoterapia, reflexoterapia e shantala

para crianças que recebem bem o toque sem se “debater”, e para crianças
com hipertonia (aumento anormal do tônus muscular), que pode resultar em
aumento da rigidez (DONATELLI, 2015). De acordo a Portaria nº 849/2017, essa
técnica estimula as articulações e a musculatura, tendo forte impacto no
desenvolvimento motor, favorecendo certos tipos de movimentos, como rolar,
engatinhar, sentar e andar. Além disso, harmoniza os sistemas imunológico,
circulatório, linfático, respiratório e digestivo.

De acordo com Cruz e Caromano (2011), a massagem shantala


é ensinada na Índia de mãe para filha, devendo ser realizada
somente após o primeiro mês de vida do bebê. De acordo com a tradição
indiana, a aplicação da massagem pode durar de 20 a 30 minutos, devendo
ser realizada pela manhã e à tarde, por pelo menos quatro meses. A partir
da idade em que o bebê consegue rolar e mudar de posição, a massagem
pode ser interrompida.

Para a prática da técnica shantala, o recinto deve estar aquecido, para


que o bebê não sinta frio. A criança deve estar totalmente despida e em
jejum, ou seja, a massagem não deve ser realizada após a amamentação.
Deve-se utilizar um óleo natural, previamente aquecido. A pessoa que
aplicará a massagem deve ficar sentada no chão, com as pernas esticadas,
costas eretas e ombros relaxados. É recomendado o uso de um tecido
impermeável para coleta de urina ou fezes, caso ocorra relaxamento dos
esfíncteres do bebê durante a massagem. É importante que a pessoa que
aplica a massagem mantenha contato visual com o bebê e esteja totalmente
concentrada na atividade, realizando os movimentos de forma cuidadosa.
Ao fim da massagem, deve-se dar um banho no bebê, com o intuito de
completar a sensação de relaxamento, bem como para retirar da pele o
excesso de óleo (CRUZ; CAROMANO, 2011).
No tórax, os movimentos são circulares, do centro para fora, realizados
com ambas as mãos. Em seguida, uma das mãos parte da região lateral
inferior do quadril do bebê até o ombro oposto, e assim sucessivamente,
com alternância das mãos. No fim do movimento, a eminência hipotenar, ou
a região volar da mão, desliza pelo pescoço do bebê (Figura 1).
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 7

Figura 1. Manobra no tórax e na região lateral inferior do tronco até o ombro oposto.
Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 16–17).

As mãos de quem realiza a massagem executam um amassamento (com


um movimento de rosca), ou seja, trabalham simultaneamente. Na região
dos punhos e dos tornozelos do bebê, a manobra é mais demorada (Figura 2).

Figura 2. Amassamento de membros inferiores com movimento de “rosca” ou “rolo”.


Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 18).
8 Massoterapia, reflexoterapia e shantala

As mãos e os pés do bebê são massageados pelos polegares do cuidador,


da região proximal para a distal, ou seja, da palma da mão ou planta dos pés
até os dedos (Figura 3).

Figura 3. Manobra nas mãos e nos pés.


Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 18).

O abdome é massageado a partir da região imediatamente abaixo das


costelas até sua parte inferior, utilizando uma mão após a outra. Depois, os
pés do bebê são segurados e, mantendo as pernas estendidas na vertical,
as manobras são reaplicadas, massageando da região abaixo das costelas
até a parte inferior do abdome (Figura 4).

Figura 4. Manobra no abdome.


Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 19).

Para massagear as costas do bebê, ele deve ser colocado em decúbito


dorsal, transversalmente sobre as pernas da pessoa que irá massageá-lo,
de modo que a cabeça do bebê se encontre à esquerda da pessoa (Figura 5).
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 9

Figura 5. Manobra nas costas. Essa massagem é realizada em três tempos: primeiramente
são realizados deslizamentos perpendiculares às costas do bebê (setas brancas), ou seja, as
mãos do terapeuta se deslocam no trajeto laterolateral (movimentos de vaivém) da altura
das escápulas até as nádegas e novamente até as escápulas, sucessivamente. Em seguida,
a mão direita de quem está realizando a massagem fica espalmada sobre as nádegas do
bebê (seta cinza), enquanto a mão esquerda desliza de uma forma mais profunda e lenta da
nuca até as nádegas (seta preta). Por fim, a mão direita segura e sustenta os pés, enquanto a
esquerda parte da nuca em direção às costas, ao quadril, à coxa, às pernas e aos tornozelos
do bebê (seta tracejada).
Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 20).

Com a criança em decúbito dorsal, o rosto é massageado colocando dois


dedos no meio da testa do bebê e deslocando-os para os lados, até atingir
a lateral da cabeça. Em seguida, contorne as sobrancelhas e afaste os dedos
até as têmporas e, por fim, massageie do ápice até a base do nariz (Figura 6).

Figura 6. Manobra no rosto.


Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 20).
10 Massoterapia, reflexoterapia e shantala

A massagem é encerrada com três mobilizações, ilustradas na Figura 7.

Figura 7. Manobras finais: (a) e (b) cruzar e descruzar os braços do bebê sobre o tórax; (c) cruzar
o membro superior de um lado com o membro inferior contralateral, de modo que o pé do
bebê toque o ombro contralateral (a mão pode tocar a nádega contralateral); (d) cruzar as
pernas sobre o abdome do bebê, o que provoca a abertura e o relaxamento das articulações
da pelve, particularmente de sua articulação com o sacro e a base da coluna vertebral.
Fonte: Cruz e Caromano (2011, p. 21).

Reflexoterapia
A reflexoterapia, também conhecida como reflexologia, é definida pela Por-
taria nº 849/2017 (BRASIL, 2017, documento on-line) como “[...] uma prática
que utiliza estímulos em áreas reflexas com finalidade terapêutica”. Essa
modalidade terapêutica parte do princípio de que o corpo humano pode ser
dividido em diferentes regiões e que cada uma dessas regiões possuem o
seu reflexo, em especial nas mãos e nos pés.
Na prática, a reflexoterapia consiste em uma massagem com estimulação
de pontos-chave nas regiões dos pés, mãos e orelhas, o que ajuda a equilibrar
as regiões do corpo que apresentam certo tipo de bloqueio ou desregulação.
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 11

Na planta dos pés, por exemplo, existem mais de 72 mil terminações nervosas
e, diante de um processo patológico, a Portaria nº 849/2017 (BRASIL, 2017,
documento on-line) descreve que:

[...] vias eferentes enviam fortes descargas elétricas que percorrem a coluna
vertebral e descendo pelos nervos raquidianos, pelas pernas, as terminações
nervosas livres, que se encontram nos pés criam um campo eletromagnético
que gera uma concentração sanguínea ao redor de determinada área. Quanto
maior a concentração de sangue estagnado, mais crônicas e mais graves são
as patologias.

Embora a reflexoterapia tenha sido incluída como prática integrativa e


complementar no âmbito do SUS somente em 2017, essa técnica não é nova.
Perez e Levin (2014) relata que essa técnica é milenar, tendo sido utilizada
por povos da Antiguidade no tratamento de doenças e desequilíbrios do
organismo. Foi reconhecida e documentada pela primeira vez na China, no
século III a.C. Em meados do século XX, uma equipe de médicos deu início a
estudos da reflexoterapia moderna, com mapeamento das áreas que pro-
duzem efeitos reflexos no organismo (zonoterapia). Com isso, a zonoterapia
foi a precursora para o alívio de dores, pois os médicos perceberam que,
ao pressionar certas regiões, a intensidade da dor diminuía, podendo até
mesmo desaparecer.
Mais tarde, o cirurgião otorrinolaringologista norte-americano Dr. William
Fitzgerald (1872–1942) elaborou um sistema de trabalho reflexo batizado
terapia zonal. A partir do mapeamento das zonas longitudinais do corpo e
dos locais onde os efeitos eram produzidos, o Dr. Fitzgerald criou o primeiro
diagrama com a demonstração das linhas longitudinais que atravessam
o corpo, sendo esse percurso denominado trajetos zonais. Na década de
1930, a fisioterapeuta Eunice Ingham aperfeiçou a terapia zonal dos pés
e, de acordo com Perez e Levin (2014, p. 90), definiu que “[...] cada ponto
reflexo representava áreas de congestão e tensão tanto no local como em
correspondência a outras áreas do corpo”. Na Figura 8, é possível ver os
diagramas que representam os mapas das zonas reflexas correspondentes
a cada lado do organismo.
12 Massoterapia, reflexoterapia e shantala

Figura 8. Mapa reflexo dos pés.


Fonte: Perez e Levin (2014, p. 92).

A reflexoterapia dos pés é um dos tipos de reflexoterapia mais utilizados,


e apresenta diversas aplicações clínicas, como alívio de tensões e estímulo
dos sistemas circulatório, linfático e nervoso. Perez e Levin (2014) destaca
algumas indicações para a reflexoterapia dos pés, como tensão muscular,
sinusites e gripes, diabetes, infecção urinária e cólica menstrual. Por outro
lado, algumas contraindicações para essa técnica incluem pacientes que
apresentam verrugas plantares, joanetes e lesões musculoesqueléticas, bem
como pacientes oncológicos.
A seguir são listados alguns efeitos fisiológicos e terapêuticos decorrentes
da reflexoterapia dos pés:

„ aumento da vascularização e perfusão sanguínea;


„ oxigenação tecidual, estímulo do sistema linfático e eliminação de
toxinas;
„ estímulo das terminações nervosas livres, facilitando o funcionamento
da inervação;
„ estímulos de resposta humoral e neural;
„ produç ão de opioides endógenos para controle da dor (como
encefalinas).
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 13

A aplicação da reflexoterapia dos pés em gestantes deve ser realizada


com muita cautela, uma vez que movimentos nas áreas do calcanhar
podem levar à estimulação da contração uterina e, consequentemente, a risco de
contrações perigosas em mulheres no terceiro e quarto meses de gestação. Já em
pacientes em trabalho de parto, o estímulo nessa área pode ser recomendado,
para facilitar a expulsão do bebê.

Aplicação da técnica
A reflexoterapia pode ser realizada por diferentes técnicas que abordam a
estimulação reflexa. Quando aplicada aos pés, geralmente utiliza-se pelo
menos quatro principais movimentos: sustentação, caminhada com o polegar,
caminhada com os dedos e movimentação articular. Perez e Levin (2014) relata
que as manobras articulares costumam ser utilizadas para iniciar e terminar a
técnica de reflexologia. É necessário reservar uma etapa de relaxamento para
deixar os pés mais soltos para aplicação da massagem. Com isso, geralmente
são utilizados movimentos articulares passivos (Figura 9) do tornozelo, da
região metatársica e dos dedos. Para desbloqueio das articulações, são
praticadas rotações no sentido horário e anti-horário.

Figura 9. Movimentos articulares passivos.


Fonte: Perez e Levin (2014, p. 96).

Durante a aplicação da técnica, o profissional deve certificar-se que, ao


exercer pressão com uma das mãos sobre um ponto reflexo, a outra mão
esteja promovendo a estabilidade do pé do paciente. Além de uma maior
firmeza ao movimento, esse processo garante menor desgaste profissional.
14 Massoterapia, reflexoterapia e shantala

Vale ressaltar que, embora as massagens reflexas costumem ser aplicadas


diretamente com as mãos, o terapeuta pode recorrer a acessórios durante a
massagem, como indicado na Figura 10, em que um acessório de madeira é
utilizado para estimulação do ponto plexo solar (PEREZ; LEVIN, 2014).

Figura 10. Estímulo da região do plexo solar com acessório de madeira.


Fonte: Perez e Levin (2014, p. 94).

Como os pés são regiões bastante tensas, algumas manobras da


massagem relaxante podem visar o alívio das tensões antes mesmo
da realização da técnica de reflexoterapia. Além disso, pode-se associar à
reflexoterapia dos pés também técnicas de esfoliação e escalda-pés, a fim de
aumentar a hidratação da região e evitar ressecamentos e rachaduras.

São inúmeras, portanto, as aplicações clínicas da massoterapia e da re-


flexoterapia como práticas integrativas e complementares em saúde. Ambas
práticas apresentas diversos benefícios no cuidado ao paciente, que vão além
do relaxamento. Tendo em vista a grande variedade de técnicas, cabe ao
profissional massoterapeuta escolher a mais adequada para o tratamento da
condição clínica do paciente. Conhecimentos em anatomia e fisiologia humana,
bem como das diferentes manobras de cada modalidade, são indispensáveis
para os profissionais que desejam aplicar tais técnicas.
Massoterapia, reflexoterapia e shantala 15

Referências
BRASIL. Portaria nº 849, de 27 de março de 2017. Inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança,
Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia, Refle-
xoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível
em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt0849_28_03_2017.html.
Acesso em: 3 dez. 2020.
CRUZ, C. M. V.; CAROMANO, F. A. Como e por que massagear o bebê: do carinho às
técnicas e fundamentos. Barueri, SP: Manole, 2011.
DONATELLI, S. A linguagem do toque: massoterapia oriental e ocidental. Rio de Janeiro:
Roca, 2015.
PEREZ, E.; LEVIN, R. Técnicas de massagens ocidental e oriental. São Paulo: Érica, 2014.
(Série Eixos).
PEREZ, E.; VASCONCELOS, M. G. Técnicas estéticas corporais. São Paulo: Érica, 2014.
(Série Eixos).
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional
2002–2005. Ginebra: OMS, 2002. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/hq/2002/
WHO_EDM_TRM_2002.1_spa.pdf. Acesso em: 3 dez. 2020.

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