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o APARECIMENTO

DO LIVRO

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LUCIEN FEBVRE • HENRI-JEAN MARTIN

o APARECIMENTO
DO LIVRO

com a colaboração de
Anne Basanoff, Henri Bernard-Maitre,
Moché Catane, Marie-Roberte Guignard
e Marcel Thomas

Tradução de
Henrique Tavares e Castro
Revisão Científica de
Artur Anselmo

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Tradução
do original francês intitulado
L'APPARlTION DU LIVRE
Lucien Febvre e Henri-Jean Martin
© ÉditionsAlbin Michel, 1958 e 1971
22, rue Huyghens, Paris (XNe)

D()<1~ão para PRÓLOGO 1


UNI RIO - Bibl"oteca U(~.A'~---------
N: Resistro: _. Jº--:ik~--------.----------- ..----- 1')
Prece: __ . ...-"9,'00------ .-----.----------.--- Tudo aquilo que aparece nas épocas cruciais da História é com-
Data: Q_P... ..I. O~ .. 5,--g----;-- parável às «emergências» de que falam os biólogos e certos filósofos.
Assim aconteceu com a invenção da escrita, no terceiro milénio antes da
r nossa era.
E a transformação do manuscrito em livro impresso não constitui
r- \.) l-() \ \ também uma «mutação»? No percurso deste «ser» estranho que é o
texto, o escrito, graças ao qual se pode transmitir o pensamento através
do tempo e do espaço, surgem bruscamente características novas e
revolucionárias. Se, de início, o seu aspecto pouco se altera - o livro do
século xv assemelha-se, o mais que pode, ao manuscrito -, o material de
que é feito é bastante novo, pelo menos na Europa: uma película de natu-
reza vegetal, o papel, que se pode fabricar em grandes quantidades, subs-
titui o pergaminho, de origem animal, raro sempre e caro. Por outro lado,
graças aos caracteres móveis, reproduz-se infinitamente mais depressa e
mais facilmente: em vez de se irem acrescentando lentamente uns aos
outros, os exemplares aparecem às centenas, por vezes aos milhares, de
uma só vez.
A presente obra mostra quais foram as condições e as fases desta
metamorfose. Se, por um lado, permite revelar melhor os elementos que
exigia para se produzir, por outro, mostra as profundas modificações que,
Reservados todos os direitos de acordo com a lei por sua vez, o livro impresso - esse «fermento», na expressão de Lucien
Edição da Febvre pr duziu na cultura europeia. Filha, em certo sentido, do huma-
FUNDA ,ÃO CALO STE G LBENKIAN
Av. de B .rna I Lisboa nismo nascente e das uas exigências, a imprensa garantiu-lhe os progres-
.lOOO sos '() triunfo d efinitivo. em anos após o seu nascimento, tinha criado
11111nunulo novo c lima nova mcntalidad .
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2 o APARECIMENTO DO LIVRO

um mundo à parte, que, nessa época ainda impregnada de Idade Média,


possuía um estado de espírito, poder-se-ia dizer, surpreendentemente
aberto, moderno, progressista e cuja influência foi grande. Assim, os
homens fizeram os livros, e os livros, por sua vez, moldaram os homens.
História do pensamento, história das técnicas, erudição bibliográ-
fica, psicologia dos sentimentos - conhecimento dos homens -, tudo isso
era necessário, e tudo isso nos foi efectivamente creditado por Henri-
-Jean Martin, para assegurar o êxito desta obra. Por outro lado, nela se
encontrará um Prefácio da pena de Lueien Febvre, enquanto Mareei
Thomas redigiu uma Introdução consagrada aos manuscritos, que foram,
«durante tantos séculos, o único meio de difusão do pensamento escrito». PRÓLOGO 2
Deram igualmente a sua contribuição Marie-Roberte Guignard e o Reve-
rendo Henri Bernard-Maitre, sobre o livro e a sua difusão no Extremo
Oriente; Anne Basanojf, a propósito do livro nos países eslavos. Moehé Em 1953, Lucien Febvre convidou-me para redigir este livro; entre-
Catane, por sua vez, mostra como foi rápida a utilização da imprensa gou-me um plano de trabalho e o texto do Prefácio que se encontra mais
pelos Judeus de todos os países europeus. adiante. Combinámos, então, que lhe enviaria a primeira redacção, que
Graças a esta obra, cuja importância seria supérfluo salientar, ele se propunha alargar e completar. Em Outubro de 1955, confiei-lhe o
esclarecem-se melhor as reais origens da nossa maneira de viver e de manuscrito dos capítulos 1,11, IV e das duas primeiras secções do capí-
pensar: em cinco séculos o rosto do mundo foi transformado pela «civi- tulo v. Ele pôde rever e aprontar estes capítulos iniciais. Em Janeiro de
lização do livro». 1956, apresentei-lhe o capítulo m, o final do capítulo V, e os capítulos VI
e VII. Lucien Febvre nada mais pôde do que lê-Ios e confiar-me oralmente
Paul Chalus a sua aprovação e observações. Tencionava ele, então, retomar o livro no
Secretário Geral seu conjunto. Sabe-se por que tive de assumir esta segunda tarefa de redi-
do Centre lnternational de Synthêse gir o último capítulo sem os seus preciosos conselhos. Sou, por con-
seguinte, quase o único responsável pelo presente livro no seu conjunto.
Mas decidi manter o nome de Lucien Febvre à cabeça de uma obra por ele
concebida e inspirada. Foi o modo que encontrei de lha dedicar com todo
o afecto e reconhecimento.

Outubro de 1957.
Henri-Jean Martin*

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PREFÁCIO

Por volta de 1450, um pouco por todo o Ocidente, mas sobretudo, ao


que parece, nos países do Norte, assiste-se ao aparecimento de «manuscri-
tos» assaz singulares. Não muito diferentes, no aspecto, dos manuscritos
tradicionais, mas deixando logo perceber que tinham sido «impressos» em
papel, ou, por vezes, em pele rara e fina, o velino - por meio de caracte-
res móveis e de um prelo. Um processo bastante simples. Vivo movi-
mento de curiosidade nasce ao redor deste assunto. De facto, os novos
livros vão determinar alterações profundas, não só nos costumes, mas nas
condições de trabalho intelectual dos grandes leitores do tempo, religiosos
ou leigos. E estas alterações (não falemos de revolução), ultrapassando o
quadro original, bem cedo irão produzir no mundo os seus efeitos.
Estudar estas transformações, as suas causas e efeitos, mostrar como e
porquê o Livro se tornou, muito rapidamente, naquilo que o manuscrito
não era nem podia ser, por motivos que convirá precisar - eis o objectivo
deste livro. Se, porventura, não tivesse recebido do director da Colecção
um título excelente na sua sobriedade,

O APARECIMENTO DO LIVRO,

poder-se-ia charná-lo, com um toque de preciosismo,

o LIVRO AO SERVIÇO DA HISTÓRIA.

Portanto, nada ti, equfvocos c qu nin li m se pr par' para jul 'ar'


I1 nlnn IOIlHllldo u pu. nquilo ((11 Ia nao ~. Ela nao s' propOl' f IIll,
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6 o APARECIMENTO DO LIVRO PREFÁCIO 7

li vro de base de que nos servimos em França há já alguns anos, não visa o que ele trouxe aos homens do final do século xv e do início do
refazer o Mortet. século XVI, se não se tiver diante dos olhos este conjunto de inovações
Supõe, sem dúvida, que os seus autores conheçam bem a história do entre as quais, também ele, teve a sua quota-parte?
Livro tal como a podemos traçar hoje em dia; que estejam, digamos, ao Definir o valor desta quota-parte; estabelecer como e porquê o livro
corrente dos trabalhos realizados depois de Mortet, e dos seus resultados, impresso foi mais do que uma realização técnica cómoda e de engenhosa
sempre precários aliás, sobretudo no que respeita ao obscuro período ini- simplicidade - a fundação de um dos instrumentos mais poderosos de que
cial - e, por vezes, bem insuficientes. Mas nela não se encontrará um a civilização do Ocidente alguma vez dispôs para concentrar o pensa-
longo relato sobre o que se convencionou chamar «a descoberta da mento esparso dos seus representantes; conferir toda a eficácia à medi-
imprensa», nem se retomam os antigos e sempiternos debates sobre a tação individual dos pesquisadores pela sua transmissão imediata a outros"
prioridade deste ou daquele país, o papel deste mestre de oficina em com- pesquisadores; reunir, para conveniência de todos, e sem delongas, nem
paração com aqueloutro, a atribuição a este e não àquele do título hono- dificuldades, nem custo, o concílio permanente de grandes espíritos a que
rífico de inventor da imprensa e de alguns dos mais velhos incunábulos Michelet se referiu em termos imorredoiros; dar-lhe, assim, um vigor
que chegaram até nós. Existem belas obras que põem o leitor interessado centuplicado, uma nova coerência, e, por isso mesmo, um poder incom-
nestas discussões ao corrente das posições recentes. A nossa ambição parável de penetração e de irradiação; assegurar em tempo mínimo a
não é a de compor mais uma. difusão das ideias em todos os domínios onde os obstáculos da escrita
O Livro, esse recém-chegado ao seio das sociedades ocidentais; o e da língua não interditam o acesso; criar por acréscimo, entre os
Livro, que iniciou a sua carreira em meados do século xv, e que, hoje, não pensadores e, para além do seu pequeno círculo, entre todos os uti-
temos a certeza de que possa continuar a desempenhar o seu papel lizadores do pensamento, novos hábitos de trabalho intelectual; numa
durante longo tempo ainda, ameaçado que se encontra por tantas palavra, mostrar, no Livro, um dos meios mais eficazes deste domínio
invenções fundadas em princípios diferentes - o Livro, que necessidades sobre o mundo - tal é a finalidade desta obra, tal será, esperamos, a sua
satisfez, que tarefas cumpriu, que causas serviu ou desserviu? Nascido no novidade.
decurso de um daqueles períodos de criação e de transformação que
*
todas as civilizações susceptíveis de perdurarem conhecem; concebido e
realizado pouco depois do abalo causado por essa outra «invenção», a da
* *
pólvora e das armas de fogo portáteis cujas características, a partir do Como sempre, levanta-se um sério problema preliminar: o dos limi-
século xv, foi hábito opor às suas; tendo visto a luz do dia vários decénios tes e das divisões da obra.
antes do alargamento do mundo conhecido de Ptolomeu (que era o Será inútil afirmar que não nos ocuparemos de pueris divisões
mundo conhecido por S. Tomás de Aquino) e antes dessas navegações baseadas em datas falsamente provadas que, aos catorze anos, divertem os
audaciosas que, a partir de 1492, deveriam conduzir à posse pelos bons alunos dos nossos liceus, e, por conseguinte, os seus professores:
europeus de imensos pedaços de continentes desconhecidos; começando, «Em que dia, mês e ano terminou a Idade Média?». Traduzamos: «Quando
enfim, a produzir os seus próprios efeitos antes que a elaboração pro- nasce e quando morre, na cabeça dos seus inventores, um ser imaginário
gressiva de um novo sistema perspectivo dotasse, pelo menos durante sem outra originalidade que não seja a prática escolar?» Digamos, sem
cinco séculos, o homem do Ocidente de um espaço à sua conveniência, e perd r tempo com tais controvérsias, que nos propomos estudar aqui a
antes que os cálculos de um cónego astrónomo, nos países bálti os, ti ção ultural e a influência do livro durante os trezentos primeiros anos
tiv 'ss .rn .onduzido à primeira da. grandes desgra as que a Terra l 'ria da sua xist n ia. Digamos, de meados do século XV aos penúltimo
de cunhe r d '111m dalguns séculos o Livro ral'. assim par! ' de um d . nios do s ul XVIII. Numa palavra, entre dua: mudanças de lima.
conjunto d' pud 'rosas trunsfonuuçn 'S qu •• importa nccntuar, Ilau lias 'I' No in I in, 11m p '" 0<.10 <.I' a ita õ s int I ctuais, on rnicas so 'iais qu
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8 o APARECIMENTO DO LIVRO PREFÁCIO 9

Renascimento, sem deste modo, certamente, pretender criar uma daquelas *


temíveis abstracções personificadas que, ensombrando o domínio da * *
Ciência, com vãos debates ocupam espíritos que novos problemas deve-
riam solicitar. Assim, de início, o Renascimento, no sentido amplamente Se tratássemos de escrever uma História da Imprensa durante os
humano de Michelet; no final, esse outro período de agitações que as revo- primeiros séculos da sua existência, devíamos procurar, evidentemente, as
luções políticas tornam visíveis a todos os olhos e que, desenrolando-se nossas divisões nos próprios progressos da técnica. De qualquer modo,
no meio de um conjunto de transformações económicas e sociais graves, não sei se chegaríamos a obter bons resultados porque a maneira como se
termina, no plano intelectual, nessa Revolução artística e literária que, imprimia em 1787, no momento em que Francisco I Ambrósio-Didot,
sob a denominação de Romantismo, irá semear ideias e sentimentos novos .. herdeiro de tentativas anteriores, imaginou o prelo que permite imprimir
a folha inteira de uma só vez - essa maneira era tal que, se Gutenberg
no mundo. Não nos esquecemos, ao mesmo tempo, de evocar aquelas
novas investidas de sensibilidade que se traduzem, tanto num movimento ressuscitasse e penetrasse numa tipografia no tempo em que Luís XVI
notável de religiosidade cristã quanto numa busca apaixonada de satis- começava a reinar em França, ter-se-ia reconhecido em sua casa, excepto
fações sentimentais aliadas a ímpetos de reforma social, enquanto a em alguns minúsculos pormenores. Trata-se, porém, como vimos, de
grande indústria se prepara para criar, entre aqueles que se começa a algo diferente, de uma história técnica. Trata-se das incidências sobre a
chamar «proletários», uma consciência de classe conselheira de acção e cultura europeia de um novo modo de transmissão e de difusão do pensa-
rei vindicação. mento no seio de uma sociedade ainda aristocrática na sua textura - de
Fim de uma época, começo de uma época. Uma sociedade de escola vai uma sociedade que se acomoda e se acomodará durante muito tempo a
apagar-se cada vez mais perante uma sociedade de massas. E por isso a uma instrução e a uma cultura limitadas a certas categorias sociais:
imprensa vê-se conduzida para transformações novas e profundas. Novas retomemos o termo usado atrás, apesar das suas ambiguidades e equívo-
necessidades, uma clientela nova. E por isso a maquinaria substitui o cos, e falemos de um escol relativamente restrito - de um escol onde
antigo trabalho braçal. Aqui também, antagonismo do «braçal» e do tomam lugar, com os aristocratas de sangue, os aristocratas do dinheiro,
mecânico, da oficina artesanal e da produção fabril. Uma série de da força pública e do conhecimento. Em que medida o livro facilitou o
invenções intervêm de forma rápida, aumentando bruscamente o que reinado e a acção destes homens? Como salvou para eles uma parte dos
se poderia chamar a virulência da imprensa. Lentamente, mas podero- tesouros religiosos, morais, literários, acumulados pelos seus antecessores
samente, a máquina introduz-se no que se torna a indústria do livro. entre os séculos XI e XV, assegurando assim a continuidade das tradições
A imprensa procura e encontra outros motores além do músculo. De 1803 entre os contemporâneos de Gutenberg e as três Antiguidades: a grega, a
a 1814, Koenig produz sucessivamente os três tipos de máquinas que latina e a cristã? Em que medida, inversamente, foi o Livro um agente de
anunciam o material moderno: o prelo de platina, o prelo de interrupção, propaganda eficaz dos novos pensamentos que alinhamos sob o rótulo
o prelo com dupla rotação; mas já em 1791, o inglês Nicholson tinha con- quer de Renascimento quer de Humanismo? De que modo as tipografias
cebido o princípio do prelo cilíndrico a vapor e do rolo de tintagem. Tudo serviram as religiões - a católica, a ou as reformadas - sem contar com as
isso, em breve, irá acelerar a produção dos impressos em proporções cada outras? De que modo, contraditoriamente, serviram para o ataque, pri-
vez mais fortes. Tudo isso vai preparar e explicar o triunfo do Jornal, esse rnciro libertino, depois deísta, depois ateu e materialista, da Incredulidade
outro recém-chegado: o Jornal, tão característico da influência da contra as religiões reveladas? Que formas de literatura usaram para as
impr nsa sobre os homens no final do século XIX e no decur o d propu zar? que outras para as combater? Em que medida serviram o
seculo . Tudo isso, que resulta de tran formaçõe .. ociais de uma arnpli lntim na sua I n 'a rcsi tência contra as línguas vulgares e as línguas vul-
turh xin rulur, mas qu ' ajuda tamb m ao s u apare cimento. . 'ar 'S na sua lula contra o latim? Nã pr s ig . Um livro como este apenas
11111pl'l iodo, pois. de ai runs HO( li 400 unos, xnnprc 'ndido mtrc l'lllllpOII:t as diviso 'S no quadro primordial das struturas sociais que
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10 o APARECIMENTO DO LIVRO

Era necessário dizer tudo isto em poucas palavras, antes de embar- I:


carmos numa viagem onde nenhum guia, até hoje, revelou ao nosso
conhecimento os possíveis perigos ou os resultados esperados. Pelo menos,
tentaremos fazer com que não seja demasiado desagradável ao leitor - e
que, uma vez terminada a sua leitura, possa conservar o nosso livro com
a certeza de nele encontrar, pelo menos, os resultados de estatísticas
credíveis e de investigações cujos resultados ninguém antes compilara e
comentara.

Lucien FEBVRE
INTRODUÇÃO*

No início desta obra consagrada ao aparecimento e ao desenvolvi-


mento do livro impresso, pareceu necessário recordar sucintamente aquilo
que, no mundo ocidental, significou o livro manuscrito, o qual, durante
tantos séculos, foi o único instrumento de difusão do pensamento escrito.
Não se trata de retraçar aqui a história do livro manuscrito e da sua apresen-
tação, pois para isso seria preciso, pelo menos, um volume inteiro. O nosso
propósito é apenas mostrar, em algumas páginas, de que modo, a partir de
meados do século XIII, aproximadamente, até ao fim do século xv, se orga-
nizou no Ocidente a produção do livro manuscrito, face a uma procura
crescente, e indicar as necessidades a que ele respondia quando o livro
impresso veio ocupar o seu lugar.

*
* *
De há muito que os historiadores se acostumaram a dividir em dois
grandes períodos a evolução do livro manuscrito na Europa ocidental.
«P ríodo monástico» e «período laico» são termos consagrados e familia-
res a todos quantos se interessam um pouco por estes problemas. Não é,
aliás, contestável que a escolha destes qualificativos, carecendo embora
de alguma precisão, não seja feliz e justa, porquanto exprime uma reali-
dud ' indiscutível. No decurso dos sete séculos que transcorreram desde a
'lu 'da do Império Romano até ao século XII, foram de facto os mo. teiros
c, 11 • .ssoriarn ente, O conjunto dos outro. estabelecimentos eclesiásticos

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o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO 13
12

que conservaram o monopólio quase integral da cultura livres~a e d~ pro- ter tido importantes repercussões no fabrico e no preço dos livros:
dução do livro. Não é menos certo, por outro lado, que, a partir de fins do queremos referir-nos ao aparecimento do papel, que não vai, certamente,
século XII, se verificou uma profunda alteração e que as transformações substituir o pergaminho, bem longe disso, mas ombrear com ele, reve-
intelectuais e sociais, traduzidas nomeadamente pela fundação das uni- zar-se e permitir, paralelamente à produção de luxo ou semi-luxuosa, a
versidades e pelo desenvolvimento da instrução entre os leigos, ao mesmo introdução no mercado de livros menos caros (se bem que a diferença de
tempo que se assistia à formação de uma nova classe burguesa, tiveram preço, originalmente, não fosse tão considerável quanto, às vezes, se julga),
repercussões profundas nas condições em que os livros eram compostos, e produzidos em maior quantidade.
escritos, copiados e difundidos. Encontrar-se-á, depois, uma rápida cronologia da conquista da Europa
Deixaremos completamente de lado, nesta rápida exposição, o período ocidental pelo papel; ver-se-á, por outro lado, como o aparecimento do
dito «monástico», notavelmente estudado em obras recentes que consti- papel e o desenvolvimento da indústria papeleira permitiram o nasci-
tuem verdadeiros tratados sobre o tema'. A nossa intenção é mostrar (na mento da imprensa, No que toca ao manuscrito, as vantagens do papel, em
medida em que os documentos o permitem, já que muitos aspectos destes relação ao pergaminho, eram o seu menor preço e a possibilidade que se
problemas ainda se encontram envoltos num certo mistério) de que modo, tinha de, em princípio, produzir quantidades ilimitadas, Mais frágil, de
a partir do século XIII, novas estruturas profissionais permitiram s.atisfazer superfície mais rugosa (referimo-nos aqui apenas a papéis medievais,
razoavelmente as novas necessidades de livros de uma quantidade de claro está), de uma grande porosidade à tinta, não suportava tão bem os
clientes cada vez maior. pigmentos usados pelos iluminadores. Possuía, em compensação, a van-
tagem de ser mais leve - menos, todavia, do que se poderia imaginar, por-
* que no século XIII se chegou a fabricar um pergaminho de uma finura e de
* * uma leveza extremas, mais fino mesmo do que o papel daquele tempo.
Um grande número de pequenas bíblias latinas do século XIII podem,
Apesar da impossibilidade em que ainda hoje nos encontramos de
assim, através de um duplo esforço do pergaminheiro e do copista,
elaborar um repertório completo e preciso dos centros de produção de
alcançar dimensões inferiores às dos dois volumes que, por exemplo,
livros, e de fornecer um apanhado quantitativo dessa produção por épocas
ocupa a tradução moderna de Lemaistre de Sacy. É certo que para as
e regiões determinadas, é, no entanto, possível delinear, de modo bastante
decifrar são precisos olhos treinados e penetrantes, mas estas bíblias são,
exacto, as condições em que o livro era elaborado e difundido nos
sem contestação, mais maleáveis e ocupam menos espaço do que as
séculos XIll, XIV e XV. Não pretendemos, aliás, resumir aqui, mesmo a traços
primeiras e célebres bíblias impressas; somente no século XVI é que a
largos, a evolução cronológica do livro manuscrito, mas tão-somente
imprensa produzirá bíblias portáteis.
mostrar a situação a que se tinha progressivamente chegado quando os
primeiros impressos colocaram ao serviço dos produtores de livros a nova Acabámos de afirmar que a principal vantagem do papel residia no seu
técnica de fabrico. menor preço e, no século xv, sobretudo, na sua maior abundância no mercado,
No estrito plano da técnica material, e sem abordar o estudo da apre- mas não é fácil sobre este ponto fazer comparações precisas. Possuímos, na reali-
sentação e da decoração do livro, apenas poderíamos mencionar, para o dade, numeroso, manuscritos em que figura a menção do preço do pergaminho
11'e 'ssdri() para o seu fabrico, como contas - nomeadamente contas reais - em que
período «Iaico» da sua história, ínfimas alterações, em relação aos
suo anotadas compras de pergaminho e de papel'; infelizmente, os termos usados
séculos precedentes. Uma inovação, no entanto, deve ser mencionada, por JI,IO .stuo. hoje em dia, definido de forma suficientemente precisa. O pergaminho

I W;\TTENB;\('II, W., /)0.1' Sc/ir!{IWI',I'I'1/ itn Mtuetuíu», 'l,' xl. Ll'ipzi', IX()();
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IMI "I, '11 'lI, \\' III
o APARECIMENTO DO LIVRO
INTRODUÇÃO 15
14

era, geralmente, comprado à «mão» (normalmente uma dúzia e meia de peles Mas este último existia em abundância? Tanto em França como na Inglaterra,
inteiras), ou à dúzia, ou à unidade, ou ao caderno (isto é, já cortado e dobrado em o seu preço permaneceu sensivelmente constante, da segunda metade do século XIV
cadernos de seis ou oito folhas); quando, nas compras, se fala de «cadernos», não à segunda metade do século xv, época em que a produção de livros aumentara
podemos evidentemente saber as suas dimensões, nem mesmo o número de folhas, muito, o que poderia servir para demonstrar que, até então, não se tinha transfor-
pelo que nada podemos concluir dessa indicação. mado numa mercadoria rara. Seria interessante estudar se o gado, sobretudo ovino,
No final do século XI'y, em Paris, o preço da pele varia entre 12 e 20 dinheiros, no decurso do mesmo período, conhecera um crescimento importante. Seja como
mais ou menos. Como a superfície média de uma pele era aproximadamente de • for, sabemos que, três séculos mais tarde, numa época em que o pergaminho era
0,5 m', seriam precisas, portanto, de 10 a 12 peles para formar um volume de 150 usado apenas na cópia das actas jurídicas e em diversas utilizações industriais,
folhas, com as dimensões de 24 por 16 centímetros (dimensões médias correntes ainda se vendiam, em França, mais de 100000 mãos (contadas, então, a 40 peles)
nos séculos XIV e xv), A matéria-prima, o suporte de um tal volume podia, por isso, por ano'.
valer, no estado bruto, de 10 a 20 soldos. Era preciso, além disso, acrescentar a este Tudo isto, como é evidente, não significa que, sem o papel, a imprensa
preço uma soma de 4 a 6 dinheiros por pele para a curtir, ou seja, para desem- tivesse podido registar o desenvolvimento que teve. Mesmo admitindo que todas as
baraçá-Ia dos restos de pêlos e impurezas diversas, e tomá-Ia apropriada para rece- folhas de pergaminho tivessem podido passar facilmente no prelo, a menor das
ber a escrita. Estes números, claro está, são dados a título meramente indicativo e edições teria exigido várias centenas de peles, mesmo tratando-se de um formato
deviam variar muito segundo a qualidade das peles, a sua maior ou menor abundân- pequeno. Para formatos maiores, teriam sido precisas milhares. Aloys Ruppel",
cia no mercado, e o local onde eram vendidas. Em Paris, a feira do Lendit era um partindo dos mesmos dados que os nossos, calculou que cada um dos exemplares
centro muito importante para o comércio do pergaminho. em velino da Bíblia de Gutenberg, cujas 340 folhas medem 42 por 62 centímetros
Vê-se, todavia, que um simples cálculo aritmético permite reduzir a pó as cada uma, teria exigido 110 peles. Os poucos exemplares que foram tirados em per-
lendas repetidas demasiado complacentemente sobre o número fabuloso de gaminho (talvez trinta) teriam consumido, pois, 5000 peles. Para a centena de
carneiros ou de bezerros que teria sido necessário abater para se obterem as peles exemplares tirada em papel teriam sido precisas 15 000 peles suplementares.
necessárias para o exemplar de um só volume de dimensões consideráveis. É sur- Nestas condições, não podemos deixar de nos surpreender por tantos exemplares
preendente verificar que mesmo trabalhos recentes e de vastos conhecimentos de luxo terem sido impressos em velino, nos séculos xv e XVI. É verdade que se
caem ainda nesses erros antigos. Thompson, por exemplo', menciona a encomenda tratava, normalmente, de livros de horas de um formato muito pequeno.
feita a um escrivão pela condessa de Clare, na Inglaterra, em 1324, de um exem-
plar das viue Patrum, para o qual teriam sido necessárias cerca de 1000 peles, o
que, ao preço então corrente de 2 dinheiros em moeda inglesa por cada pele, teria *
feito ascender o preço do pergaminho necessário para este volume à soma fabulosa * *
de 6 libras esterlinas. Na realidade, basta examinar um exemplar manuscrito das
Vita Patrum, quer na versão-latina, quer nas diversas versões francesas, para veri- De igual modo, no decurso dos séculos anteriores, os mosteiros
ficar que, escrito a duas colunas, o texto ocupa geralmente entre 150 a 160 folhas,
continuam, mesmo durante o período dito laico, a copiar diversos manus-
de 25 por 16 centímetros, ou seja, uma superfície de pergaminho de 6 metros
quadrados, correspondendo a uma dúzia de peles, no máximo.
critos de que carecem para uso próprio. As regras das ordens monásticas
Mais ou menos na mesma época, as contas da Argenterie" atribuem ao papel prevêem sempre um certo número de horas de trabalho intelectual por
preços de 2 soldos e 6 dinheiros por mão da «fôrma pequena» (sem dúvida, à volta dia - e a cópia dos manuscritos representa uma parte importante deste
de 50 por 30 centímetros), ou seja, I dinheiro e meio por cada folha de 0,15 do trabalho. Os scriptoria, organizados segundo hábitos tradicionais",
metro quadrado, ao passo que o pergaminho, como vimos, valia então, no máximo,
produzem sempre, portanto, obras de estudo e manuscritos litúrgicos.
de 24 a 26 dinheiros por cada pele de 0,5 a 0,6 do metro quadrado (incluindo o
Continuará a ser assim, aliás, até ao dia em que a imprensa terá definiti-
preço da raspagem). A diferença é, certamente, apreciável, mas está longe de atin-
gir a importância que, por vezes, lhe foi atribuída. De facto, até ao século xv, o vam ente relegado o manuscrito para os domínios do passado - e ainda
papel não parece apresentar suficientes vantagens nem talvez chegasse ao mercado
em quantidade bastante para suplantar o pergaminho.
, I.A I.ANDE, .I, de, /,'(lr, d« [airo /t. purrhernin, Paris, 1761,
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16 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO


17

porque, tanto por tradição quanto por necessidade, os mosteiros conti- O empréstimo de livros sempre foi uma instituição estimada na Idade
nuarão, bem adentro do século XVI, a copiar missais, antifonários, bre- Média e os estabelecimentos monásticos, os capítulos, etc., sem dúvida
viários, etc. Mas a característica predominante do novo período, que nenhuma, emprestaram amiúde obras de que não teriam aceitado des-
começa com o início do século XIII, é a de os mosteiros deixarem de ser fazer-se definitivamente, vendendo-as às novas bibliotecas univer-
os únicos produtores de livros e só os produzirem para uso próprio. sitárias.
Os centros da vida intelectual foram deslocados: será nas universi- Apesar da importância do ensino oral, os estudantes também precisavam
dades que os eruditos, os professores e os estudantes, como veremos, irão de um mínimo de livros. Se podiam tomar aquilo a que chamaríamos
organizar, concertadamente com artistas especializados, um activo comér- «apontamentos» de aula e fiar-se em grande parte na memória, que os
cio de livros. métodos de ensino em voga na Idade Média muito haviam desenvolvido
Poderá, certamente, acontecer ainda (e durante mais tempo na nem por isso tinham menos necessidade de um mínimo de obras de base:
Inglaterra do que em França) que este ou aquele mosteiro, em que as gran- Se não dispunham de tempo para copiá-Ias pessoalmente, ou se eram
des tradições da caligrafia e da iluminura tenham sido particularmente demasiado ricos para o fazer, dirigiam-se aos copistas profissionais, que
bem conservadas, seja solicitado por um soberano ou por grandes senho- se multiplicaram à volta das universidades.
res para executar manuscritos de luxo, cuja venda será uma fonte suple- Pouco a pouco, formou-se, assim, em cada centro universitário, uma
mentar de receita para a abadia. O facto torna-se, contudo, cada vez mais verdadeira corporação de profissionais do livro, clérigos, ou, muitas
raro. Na Inglaterra, o caso de Lydgate, monge de Bury, que compõe e vezes, leigos (os livreiros eram leigos; os copistas ou «escreventes», fre-
copia até à sua morte, em 1446, textos em língua inglesa para uso dos quentemente, clérigos), que prontamente se considerou como fazendo
leigos a quem os vende", é excepcional. parte da Universidade na qualidade de «partidários». Como tal, gozavam
A partir do início do século XIII, e mesmo desde os finais do de certos privilégios, nomeadamente da isenção da derrama e da ronda,
século XII, o aparecimento e desenvolvimento das universidades deu e, no plano judiciário, dependiam das autoridades universitárias (é o
origem a um novo público de leitores - clérigos, na maioria, sem ligação privilégio do commitimus, que para eles remontava ao princípio do
estreita a outros estabelecimentos eclesiásticos para além da alma mater a século XIII)9.
que pertencem. Como contrapartida destas vantagens, os livreiros, estacionários
Para preparar os cursos, os professores vão precisar de textos, de (este termo remonta à antiguidade romana e foi primeiro posto em uso nas
obras de referência, de comentários. (Sabe-se da importância que, no universidades italianas), copistas, etc., estavam submetidos à rízida fis-
• b

ensino medieval, têm a glosa, a discussão, o comentário do texto de uma calização das universidades. Servidores de uma grande corporação que
autoridade, em todos os domínios do conhecimento.) Era, pois, indis- sobre eles estendia a sua protecção, não eram livres, como meros artesãos,
pensável que pudessem dispor comodamente desses instrumentos de dc trabalhar para seu único interesse pessoal. A todo o momento, a própria
trabalho - e, por isso, a universidade organizou uma biblioteca onde organização do trabalho recordava-lhes que, de facto, exerciam o que
poderiam consultá-los. Mas nem sempre era possível, nem fácil, com- apelidaríamos de «serviço público».
prar textos já copiados; impunha-se, portanto, a criação de oficinas onde Numerosos documentos" (os principais datados de 1275, 1302,
os artífices copiassem a baixo preço e sem grandes delongas as obras IJ 16, 1323 e 1342) permitem-nos fazer uma ideia precisa dos seus
indispensáveis. ti 'veres. Nomeado, após um inquérito prévio que permitia às autori-
Isto não exclui de nenhum modo a utilização de bibliotecas exte- dud s assegurarem-se da sua boa reputação e capacidades profissionais,
riorcs à Universidade, onde era possível encontrar obras raras c út is.

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18 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO 19

livreiros e estacionários deviam pagar uma caução e prestar juramento podia, então, alugá-Io de novo. Este método tinha a grande vantagem
na Uni versidade. de evitar alterações cada vez mais graves, de cópia para cópia, visto
Uma vez na posse do cargo, viam as suas actividades rigidamente que cada uma era feita a partir de um mesmo modelo único. Quem
delimitadas e constantemente vigiadas no seu exercício. O livreiro era alguma vez se tenha dedicado ao estudo dos problemas levantados pela
menos um mercador do que um depositário de livros usados: em razão fixação de textos antigos compreende até que ponto foi feliz um tal
da sua relativa raridade, os manuscritos, de facto, eram muitas vezes sistema.
postos à venda, e passavam de mão em mão durante várias gerações de O modelo, o exemplar, emprestado por mediação dos estacionários
estudantes e professores. Este comércio de livros usados operava-se por (também eles habilitados a multiplicar as cópias) aos estudantes desejosos
intermédio do livreiro, mas, na maior parte das vezes, ele não era senão de copiá-Io ou de mandar copiá-Io por copistas assalariados, não era
mandatário do vendedor, e a caução que tivera de pagar para se esta- entregue por inteiro, mas em cadernos separados, o que permitia imobi-
belecer garantia a sua solvência. Apenas podia vender ou comprar em lizar por menos tempo o exemplar, que vários copistas podiam copiar
certas condições, devia anunciar publicamente as obras que detinha simultaneamente. O preço de aluguer destes cadernos (ditos pecice ou
(para evitar que pudesse provocar a rarefacção artificial em seu benefí- peças) era fixado pela Universidade e os estacionários não podiam
cio) e o seu trabalho era remunerado unicamente com uma comissão aumentá-lo. Tinham, por outro lado, a obrigação de alugá-Ios a todos
tarifada, não podendo ultrapassar 4 dinheiros por volume, se o com- quantos o desejassem. Se um «exemplar» fosse considerado defeituoso,
prador fosse mestre ou estudante da universidade, ou 6 dinheiros se não era retirado da circulação.
lhe pertencesse. Conservou-se um certo número destes exemplaria, escritos geralmente
Ao lado dos livreiros, simples mercadores ou comissionários de numa caligrafia bastante grande, e já muito gastos por terem sido utiliza-
livros, os estacionários tinham um papel mais delicado, posto em dos frequentemente. Estabelecidos segundo um módulo mais ou menos
relevo nos belos trabalhos do Abade Destrez, graças a quem conhe- constante, apresentavam, além disso, a vantagem de fornecer um padrão
cemos, em pormenor, o mecanismo da taxação das cópias, da circulação indiscutível da «quantidade de cópia» fornecida por um copista, e facili-
dos exemplaria e, de um modo geral, do que se chamou a instituição tavam desse modo a discussão dos preços entre clientes e copistas
da pecia", assalariados.
Para exercer inspecção intelectual e económica sobre a circulação O sistema assim criado para difundir os textos subsistirá nas univer-
dos livros, a Universidade quisera, de facto, que as obras indispensáveis sidades até ao final da Idade Média, e ver-se-á que, especialmente em
aos mestres e estudantes fossem cuidadosamente verificadas no que Paris, foi no quadro desta organização que a imprensa foi introduzi da, sob
respeitava ao texto, para que nele não se introduzissem quaisquer erros os auspícios das autoridades universitárias. Para estas, com efeito, a
que pudessem deturpar o seu sentido. Para permitir a multiplicação das prensa de imprimir devia logicamente representar, na sua origem, um
cópias nas melhores condições, sem alteração do texto e sem especula- meio cómodo de multiplicar mais rápida e fielmente os textos indis-
ção abusiva da parte dos copistas, a Universidade pôs em marcha um pensáveis, coisa que o sistema da pecia não podia fazer, por mais enge-
sistema muito engenhoso de empréstimo de manuscritos controlados e nhoso que fosse.
cuidadosamente revistos, a partir dos quais podiam ser feitas cópias em
troca de uma remuneração tarifada (ctaxada»). O manuscrito de base, Os primeiros prelos parisienses, de que adiante se falará, foram, aliás, intro-
duzidos, não tant para reproduzir os grandes textos universitários como para
«o exemplar», era devolvido ao estacionário depois de copiado, e est
multiplicar os clássicos antigos ou o. textos de boa latinidadc, que eram par-
li .ulunn '111' )11'0 .urudos. D' Ia 'to, o sist 'ma da {Ieda par cc I 'r mu o pr 'CIl .hido
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20 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO 21

toda a Europa". Mais de 2000 exemplares de obras de Aristóteles, datadas dos


séculos XlII e XIV, chegaram até nós; tendo em conta os que desapareceram, veri-
fica-se, assim, que a obra de um determinado autor, graças aos manuscritos, podia
ser largamente conhecida, e, embora a difusão das ideias fosse então mais lenta,
nem por isso era menos efectiva. Neste aspecto, convém não subestimar o papel da .~. ·tif·
memória: o ensino na Idade Média estava de tal modo concebido que não podia
deixar de desenvolvê-Ia. Não esqueçamos que, ainda hoje, uma criança muçulmana
de doze anos é, em princípio, capaz de recitar de cor o Corão inteiro, por mais sur-
preendente que isto nos possa parecer.
, ..a.,
No entanto, nesse tempo, era muitas vezes difícil reunir os livros de que
se precisava para «empreender» uma investigação. É certo que, quando Raul de
Presles prepara a tradução da Cidade de Deus, colaciona cerca de 30 manuscritos
e, para compor os seus comentários e tornar a sua edição tão «crítica» quanto
possível", consulta 200 obras diferentes; mas esta nota, que se encontra num
manuscrito do século XIV, testemunha, entretanto, as dificuldades que se podiam
encontrar na pesquisa de um texto dado: «Tradidi scriptori hujus xiiii sol, paris.,
et tabernario x den. et pro illo qui decuit me invenire exemplar in taberna, ii sol.».
Esta gorgeta ao indicador do exemplar, alojado nesse lugar tão inesperado quanto
uma taberna, relembra as expedições bibliofílicas de Richard de Bury, o autor do
Philobiblion. No conjunto, porém, convirá não exagerar as dificuldades que se
teriam deparado aos trabalhadores do século XIV ou do século XV, apesar de os
textos serem então muito mais raros do que após a invenção da imprensa. As
indicações respeitantes às bibliotecas dos séculos xv e XVI, que se encontrarão
adiante, permitem-nos ter uma ideia disso.

*
* *
Mas, ao lado dos novos meios usados pelas universidades com a
finalidade de difundir ao máximo os livros «eruditos» cada vez mais
necessários, colocava-se um problema à produção dos livros que hoje cha-
maríamos obras «de vulgarização» ou «de distracção».
Um público novo havia-se constituído a partir do final do século XIII,
paralelamente à transformação da antiga feudalidade. Ao lado dos cléri-

CALLUS, D. A., «Introduction of aristotelian learning to Oxford», in Pro-


li

of the British Academy, 1943, v. XXIX. Antes ainda, São 8ernardo queixava-se
(·I'l'llil//{.I'

da dil'usuo das iel ias ele Abelardo, desmedidamente rápida, na sua opinião; quando cst Prirn iro (ólio ela pecia 9 de um «exemplar» parisicnsc
IIltilllO loi .xclufdo da univ crsidud " houv estudam 's qu Ih pagaram as uulus pnm corui do COlllcntório de S, Tomás de Aquino ao livro IV das Sel/I('I/çl/.\',
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22 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO 23

gos e dos nobres, tinha nascido uma nova classe burguesa, capaz, também de castelo em castelo, poemas, romances, vidas de santos, etc. (na maior
ela, de ter acesso à cultura. Legistas, conselheiros laicos dos reis, «altos parte das vezes, escritos em verso, de mais fácil memorização), são
funcionários» de todos os géneros, ricos mercadores ou burgueses (um frequentemente os autores dos textos que difundem. Troveiros*, trova-
pouco mais tarde), um grande número de indivíduos, enfim, tinha neces- dores**, os próprios nomes indiciam a sua actividade de criadores
sidade de livros. E não só de livros que versavam sobre a sua especiali- literários, enquanto o menestrel, ligado à casa de um nobre, dedica a este
dade (obras de direito, de política ou de ciências), mas também de livros último e aos seus familiares as obras que recita ou compõe.
«literários»: obras de edificação moral facilmente acessíveis, romances, As circunstâncias em que estes primeiros homens de letras eram
traduções, etc. obrigados a exercer o seu ofício criavam problemas delicados. Era-lhes
Esta literatura não se dirigia aos eclesiásticos (embora fosse com fre- rigorosamente impossível garantir o mínimo direito de propriedade literária
quência escrita por eles) e seria redigida principalmente em língua vulgar. sobre as suas obras, a não ser que conservassem ciosamente para si o texto
Obras originais, a princípio em verso, depois em prosa, novas versões de das suas composições ou adaptações. Mas, se o tivessem feito, ter-Ihes-ia
obras antigas, traduções ou adaptações de obras latinas clássicas ou sido impossível saborear as satisfações de amor-próprio que todo o criador
medievais em breve iriam pulular. Para difundi-Ias, para satisfazer as busca ao dar-se a conhecer a um público o mais vasto possível.
exigências de um público cada vez mais vasto, tornava-se necessário uma Estas duas exigências deviam conciliar-se, medianamente, à medida
nova organização da produção livresca. das necessidades materiais do autor. Naturalmente, a melhor solução para
Basta consultar qualquer história da literatura francesa para se veri- ele, à imagem do que já se praticava na antiguidade romana, era encontrar
ficar que, em França pelo menos, a literatura em língua vulgar existia já um mecenas a quem oferecer as suas obras nas quais, se preciso fosse,
no século XII. Mas as condições da sua difusão eram, então, comple- introduziria lisonjas ao benfeitor ou à sua família. À falta de mecenas,
tamente diferentes: a literatura da época era, antes de mais, feita para ser podia também, mediante remuneração, ensinar a outros jograis o texto das
recitada ou lida e~ voz alta diante dos ouvintes. O público que sabia ler suas composições, ou vender-lhes cópias delas.
ainda não era suficientemente numeroso para que pudesse ter sido de Com o aumento do número de pessoas capazes de ler um texto,
outra maneira. Pode parecer-nos surpreendente, à primeira vista, que uma em vez de apenas ouvi-Io, ver-se-a, no final do século XIII e durante o
tradição literária considerável tenha podido desenvolver-se nessas con- século XIV, aparecer uma certa especialização. O autor contentar-se-é,
dições, mas a verdade é que, penetrados como estamos pela cultura escrita; doravante, em escrever (ou compilar) a sua obra sem se preocupar com as
já não conseguimos fazer um esforço suficiente para imaginar o meca- condições graças às quais ela alcançará o seu futuro público.
nismo das transmissões literárias orais, atestado todavia em numerosas O melhor meio de consegui-lo, efectivamente, continuará sempre a
civilizações. Parece, no entanto, que, na nossa época, esses novos meios ser o recurso aos mecenas. Conseguir que um rei, um príncipe, ou algum
de difusão não escrita do pensamento, como o cinema, e sobretudo a rádio, grande senhor, aceite a dedicatória de uma obra e a oferta de um exemplar
deveriam ajudar-nos a conceber melhor o que pode ser, para milhões de de luxo, garantirá ao autor, não somente a quase-certeza de receber a
indivíduos, uma transmissão de obras e de ideias sem se usar o circuito recompensa material pelo seu trabalho, mas ainda uma boa oportunidade
normal do texto escrito. rara garantir uma carreira lisongeira para a sua composição. A moda vem
ti, cima, e o pretensiosismo é de todas as épocas: se o público sabe que
Nos séculos XI e XII, lê-se pouco em língua vulgar, mas, apesar
disso, compõem-se numerosos textos nas novas línguas. Faral" mos- lima tal tradução não só foi aceite mas encomendada por um rei de França,
trou r .rfcitarncnte como, nessa época, os jograis, recitando ou lendo,
+ '/'/,(/1/1'1/'1', poctu medi 'vai que 'ser 'via '111 ltnguu doil. Inludu lIO 1101ll' do
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24 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO 25

haverá quase obrigatoriamente uma clientela para seguir um exemplo mesmo que se tratasse, em alguns casos, de exemplares de luxo. Do
vindo de tão alto, e daí resultarão novas encomendas para o autor. Este ponto de vista do economista, podia de facto considerar-se que a totali-
poderá, então, mandar copiar o texto de novo, a partir do seu exemplar dade dos direitos de autor devia ser incorporada na primeira «edição» da
pessoal, por um copista que contratará; tornar-se-á, desse modo, o seu obra - edição que se compunha de um único exemplar, visto que o autor,
próprio editor. Foi o que, em especial, fez Boccaccio". Uma carta dirigida a partir daí, já não detinha nenhum outro direito sobre a sua obra.
ao seu amigo Maghinardo dei Cavalcanti, ao enviar-lhe um exemplar de Deste modo, a prática do mecenato permitia aos «letrados» viver da
luxo de uma das suas novas obras, explica como ela permanecera nas sua pena, pelo menos em parte. O preço era, naturalmente, a obrigação
suas mãos durante algum tempo após terminada, por não saber a quem que o autor tinha, não só de nada dizer que pudesse desagradar ao mece-
oferecê-Ia: finalmente, envia-a ao seu amigo para que este, após tê-Ia lido, nas, mas também de se especializar numa literatura capaz de agradar a um
a divulgue entre pessoas das suas relações, e, em seguida, a difunda junto público vasto". Chegava a acontecer com frequência que o livro fosse
do público (emittat in publicum). Esta missão parece ser uma das obri- objecto de uma encomenda expressa. Sabe-se, por exemplo, que Carlos V
gações tácitas do mecenas visto que, ao dedicar o seu De claris mulieribus remunerava vários autores e que, sendo favorável a reformas políticas, fez
a André Acciaioli, o mesmo Boccaccio escreve-lhe o seguinte: «Se achais com que os seus conselheiros e altos funcionários lessem as obras de
bem dar ao meu livro a coragem de aparecer em público (procedendi in Aristóteles (a Política, o Econômico, a Ética) que para o efeito mandou
publicum), uma vez difundido (emissus) sob os vossos auspícios, escapará traduzir por Nicolau Oresme, entre 1369 e 1372'9•
ele, creio, aos insultos dos mal-intencionados.» Uma vez composta a obra e oferecida «em primeira edição» ao
Outros autores, mais ciosos dos benefícios materiais da profissão, mecenas que a tinha encomendado ou, pelo menos, patrocinado, a difusão
podiam também conservar em seu poder um exemplar da sua obra e no grande público fazia-se por intermédio dos livreiros e copistas profis-
vender cópias mais ou menos numerosas. Às vezes, chegavam mesmo a sionais, com (no início, pelo menos) a colaboração do autor, em condições,
ter uma autêntica oficina de cópias, como sucede com João Wauquelin, o a bem dizer, bastante obscuras. Tal como os troveiros no século ante-
autor-editor de Mons". Às vezes também, serviam-se da intermediação rior, um «homem de letras» (passe a expressão), do ponto de vista mate-
de um livreiro. Assim, João Golein enviou ao livreiro Henrique du Trévou rial, não tinha interesse em que a sua obra se espalhasse muito rapidamente
um exemplar da sua tradução do Rationale de Guilherme Durand, que o porque, desse modo, ela escapava-lhe; mas, por outro lado, não desejava
livreiro, «em seu nome e por compromisso com o Sr. João Goulain ...», certamente permanecer mergulhado na obscuridade. Havia um ponto de
vendeu, em 1395, ao criado de quarto do Duque de Orleães para o seu .quilfbrio a ser encontrado entre estes dois interesses contraditórios.
senhor (a tradução tinha sido feita vinte anos antes pelo mesmo João Estamos mal informados sobre a organização da profissão de livreiro
Golein para Carlos V) 17. nos domínios que a não colocasse em contacto com os meios uni ver-
Em geral, e sobretudo nos séculos XIV e XV, o mecenato é uma insti- sitários. Sabemos todavia que os livreiros juramentados da Universidade
tuição largamente disseminada, pelo menos para o primeiro lançamento podiam fazer comércio de livros com particulares e que, neste caso, não
de uma obra. Isto explica, aliás, a diferença enorme entre as somas, por se mcomravam submetidos (deduzirno-lo por preterição) aos mesmos
vezes consideráveis, pagas por um rei ou um príncipe a um autor em troca r gularncntos. É verdade que, desde finais do século XII, em França, e
do primeiro exemplar de apresentação de uma obra recente, e o preço
infinitamente mais moderado a que eram vendidas as cópias posteriores,
IH Sohr () 111'.cnato nas cortes principescas do século XV, ver, cspccialrncnt "
I)()\ ITRIiPONT, /,1/ t inõmtnrefrancois« li la cour des dI/C.\' de BOIlrRORIIl', Paris, I ()()(); e
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26 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO
27

desde os primeiros anos do século XIV, na Inglaterra", havia verda- artesãos encarregados de o tornar mais fino, de o raspar e de o branquear;
deiras oficinas de copistas que trabalhavam por conta de certos livreiros a remuneração destes é geralmente indicada à parte. Quando o texto está
para produzir textos em língua vulgar, vendidos exactamente nas mesmas escrito, um copista especializado acrescenta-lhe as rubricas ou títulos de
condições em que o são hoje os livros impressos. capítulos, Um outro especialista, por fim, se houver motivo para tal,
Os grandes senhores, ainda que mantivessem as suas próprias ofici- encarregar-se-a de executar as maiúsculas a cor, iluminadas ou historiadas
nas de copistas, não hesitavam em dirigir-se a essas outras. Assim, por no início dos capítulos, Nem mesmo lerá o texto, pois para ele, ao repro-
exemplo, o Duque de Berry, que muitas vezes encomendava livros de duzir a obra (sem dúvida para lhe poupar qualquer hesitação ou perda de
luxo a artistas hospedados em sua casa e por ele subvencionados, com- tempo), terá o copista anotado, no espaço em branco reservado à maiús-
prava igualmente belos exemplares postos à venda por livreiros - e, par- cula, uma minúscula letra-guia, prova manifesta de que o trabalho era exe-
ticularmente, em 1403, adquiriu um manuscrito do ciclo arturiano em cutado a vários tempos.
prosa, que lhe vendeu Raul du Montet". Restava ainda, se fosse o caso, iluminar o manuscrito. Não insistire-
Os inventários precisam, neste caso, que se tratava de uma obra com- mos no trabalho do ilurninador, que muitas vezes foi estudado e cuja orga-
prada a um livreiro - e não encomendada. Prova de que, nesta época, a nização é conhecida desde Henri Martin"; Iimitar-nos-ernos a mostrar
clientela que se interessava por manuscritos de luxo era em número sufi- como, também aí, se fazia um esforço para trabalhar em série.
ciente para que um livreiro aceitasse fazer despesas consideráveis, exigi- Se a oficina do iluminador for inteiramente separada da do copista,
das pelo fabrico de um tal manuscrito (vendido por 300 escudos de ouro), .stc último fornecerá aos artistas indicações sobre a ilustração. Estas indi-
sem ter determinado comprador em vista. 'ações, colocadas nas margens, muitas vezes desapareceram; Léopold
Entretanto, o aumento da clientela, provocando uma demanda cres- J) ilisle", todavia, citou numerosos exemplos, e comprova-se que elas
cente, levava os copistas e os artífices do livro a «normalizar» a sua pro- eram muito sucintas (aqui, por exemplo, um papa no trono; ali, dois mon-
dução, procurando torná-Ia tão abundante e rápida quanto possível. 's; acolá, uma dama a cavalo, etc.). O mestre da oficina deita , então ,
I

Desde há muito que nos scriptoria monásticos se tinha chegado a III<.IOS à obra e determina com mais precisão as cenas ou personagens a
uma certa forma de especialização. Segundo as suas aptidões, uns con- representar". Se o manuscrito não for de grande valor, limitar-se-á, por
sagravam-se à cópia do texto, outros à iluminura. Ao menos assim, o vcr. S, a fazer a lápis um esboço rápido que ajudará os alunos a executar
monge copista e o monge iluminador trabalhavam lado a lado, em ligação li sua ornposição, segundo regras bem aprendidas e mil vezes aplicadas.
constante. Pelo contrário, quando as oficinas laicas se multiplicam, Foi assim que de uma oficina de iluminuras do início do século XV
assiste-se cada vez mais ao estabelecimento de estúdios separados, uns de pud eram sair, ao mesmo tempo, uma obra-prima da pintura francesa,
copistas, outros talvez de rubricadores, outros, enfim, com certeza, de corno as Grandes Horas, ditas «de Rohan», e muitas outras obras rapi-
iluministas. Assim se constituem, pouco a pouco, verdadeiras cadeias de dum .ruc executadas, em que se reconhecem a maneira e os hábitos do
produção, nas quais um grande número de artífices tem as suas tarefas mcstr , mas não o seu talento. Terminada esta tarefa, caberá ainda a outros
bem definidas. I spc .ialistas executar os fundos, no caso de a moda lhes impor o recurso

A matéria-prima (o «suporte») é cada vez mais raramente preparada I IIl11a t cnica particular: se se tratar, por exemplo, de fundo de ouro velho,

nas oficinas que a utilizam. As contas do Tesouro mostram que o perga- mundo ou não de folhagens ou ponteados, de quadrículas mais ou menos
minho, geralmente comprado em estado bruto, passa pelas mãos de I irus, 'I'.

'U LOOMIS, H., «The Auchinlcck rnanuscript and a possiblc London bookshop 01' , MI\HTIN, lI., 1.1'.1' Miniaturistesfrançais, Paris, 1906.
I no I ~40», in I~M. I,. Á .• 1942, I.VIII, 1'1'. 595-627. \ 1)1'1 ISI E. L., 1,1' Cabinct dos Mnnusrrits, passim.
'I Cillll'I,'REY,.I • .l..11I11('/I/(/ill'.\ th: .I('{/II, dur til' 1/1'/'/1', I·/(II l-l lt», (I:IIIS, IHI)'I %; "VI'I, 0111\' 'slus 01 ,,'IIIIIS dl' iluminurn do 'OIlW(,:O do S culo v, o l'lIl 10 o dll

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28 o APARECIMENTO DO LIVRO INTRODUÇÃO 29

descoberta, feita na Holanda por Lieftinck e apresentada, em 1955, por


*
* * Samaran, no Congresso de Ciências Históricas", dá uma ideia do que
podia ser a capacidade de produção das oficinas que recorriam a esses
Perante a multiplicidade e a complexidade destas operações, subli- métodos. Num manuscrito da Biblioteca da Universidade de Leide (B.P.L.
nhou-se muitas vezes que a confecção de um único livro representava 138), que contém o conjunto de textos conhecido pelo nome de Auctores
uma soma enorme de trabalho e de esforço. Este ponto de vista é segu- octo, e escrito em 1437, vem mencionada em flamengo a encomenda feita
ramente justificado, mas convém não generalizar em demasia. Realmente, por um particular (quase seguramente um livreiro grossista) a um mestre de
o livro de grande luxo, verdadeira obra de arte destinada a ser olhada e não oficina de copistas cujo nome não referido. Esta encomenda é relativa a
é

lida, como os sumptuosos volumes pertencentes ao Duque de Berry, sem um grande número de exemplares de diversos textos cujo conjunto formava
qualquer dúvida o maior bibliófilo do seu tempo, exigia meses (ou mesmo um pequeno manual utilizado nas Faculdades de Artes: 200 exemplares dos
anos) de trabalho e custava verdadeiras fortunas. Mas, na mesma época, Sete Salmos da Penitência, 200 dos Dísticos de Catão em flamengo, 400 do
fabricava-se também uma grande quantidade de livros, eventualmente pequeno livro de orações. Estes números surpreendentes representam, por-
com iluminuras e ornatos - em particular, livros-de-horas, cujo uso se tanto, verdadeiras edições.
espalhou por toda a Europa nos séculos XIV e XV - que estavam ao
alcance de bolsas mais modestas. *
A indústria do livro-de-horas, por sua vez, ocupava exclusivamente * *
certas oficinas especializadas: aí também (aí sobretudo), métodos enge-
nhosos de divisão de trabalho permitiam ganhar tempo e executar uma Assim, a partir de meados do século XIII, para satisfazer necessi-
verdadeira produção em série. Na Flandres, em particular, havia algu- dades crescentes, os copistas tinham sido levados a aperfeiçoar os seus
mas oficinas deste género, e Delaissé demonstrou que certos ilumi- métodos, que, em certos casos, conduziram a uma verdadeira produção
nadores fabricavam assim, em grande número, cenas sempre iguais, em série. Graças ao sistema da pecia, tinham conseguido multiplicar os
destinadas a ilustrar as grandes festas litúrgicas (Natal, Anunciação, manuscritos universitários, evitando fornecer textos cada vez com mais
etc.), enquanto os copistas produziam calendários diferentes consoante 'ITOS de cópia para cópia; graças, por outro lado, a uma organização

as dioceses, que se juntavam, depois, às partes «comuns» do livro de racional nas grandes oficinas, tinham podido fabricar, em maior quanti-
horas. dade ainda, manuais, tratados elementares, obras literárias (traduções,
Os iluminadores criaram mesmo processos técnicos que lhes permi- versões em prosa de canções de gesta e de romances corteses) e, sobre-
tiam reproduzir várias vezes um dado modelo. Como Henri Martin tudo, livros de piedade, dos quais não havia família burguesa que não pos-
mostrou, a partir do século XIV passou a usar-se uma espécie de papel de suísse alguns espécimes, por ser corrente oferecê-los como prendas de
calco (carta lustra), à base de resina, que permitia reproduzir de modo .asamento. Antes mesmo de reproduzida em múltiplas edições impressas,
idêntico um mesmo «cartão» ou modelo; e sabemos que houve frequentes n viagem de João de Mandeville, acabada em 1356, está já largamente
querelas, e até mesmo rixas, entre iluminadores que mutuamente se di lu nd ida: são 250 os manuscritos que chegaram até nós, em versões de
acusavam de lhes terem sido roubados os «cartões», os quais represen- (mias as línguas (73 em alemão e neerlandês; 37 em francês; 40 em inglês;
tavam para todos eles um inestimável instrumento de trabalho. Estes () '111 latim), sem contar as versões espanholas, italianas, dinamarquesas,

processos, de resto, não foram apenas usados na produção dos livros-de- ch 'C:lS ' irlandesas, quase todas elaboradas a partir dos primeiros anos
horas: talo caso do manuscrito 117-120 da Biblioteca Nacional francesa,
<1m' .ont m um 'ido arturiano e é a r plica cxacta de um manuscrito da
Hihliotecn do I\rs '1\:11: li III 'sma composi 'ao pu 'illal, o m SIlIO pro munn I \'''1/. ('(111,11/ ",I' '""'/"11,11111111, 1{IlIlIIl,.1 11 SI'Il'lllhro, I 11~'i;11111, 1,'101 1'Il~lI, I I) I,
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30 o APARECIMENTO DO LIVRO

do século XV Assim, o trabalho dos copistas prepara o dos impres-


26•

sores, ao mesmo tempo que se verifica, nas vésperas do aparecimento


da imprensa, uma crescente necessidade de livros, que parece fazer-se
sentir em camadas sociais cada vez maiores, mais precisamente entre
os burgueses e os mercadores - aqueles que são, nesta primeira metade
do século xv, os artífices e beneficiários de tantas transformações técni-
cas, como a que resulta da invenção do alto forno, para citar apenas esta.
A imprensa, que constitui essencialmente um progresso técnico, veio a ter
repercussões imprevisíveis no seu início. Mostrar como pôde estabe-
lecer-se e o que nos trouxe, excedendo o seu primeiro objectivo, eis a Capítulo I
intenção das páginas que se seguem.
A QUESTÃO PRÉVIA:
O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA

Por que razão apareceram os primeiros livros impressos, na Europa


() .idental, em meados do século xv? Por que razão, na primeira metade
do mesmo século, e um pouco por todo o lado, ao que parece, de Avinhão
li Mogúncia, de Harlem a Estrasburgo, pesquisadores isolados se empe-
nharam em resolver os múltiplos problemas levantados pela reprodução
111.cânica de um manuscrito em numerosos exemplares?

Razões de ordem intelectual? De facto, os homens do início do


M .ulo xv, e, em primeiro lugar, os grandes leitores, em perpétua busca de

Il' tos tão raros naquele tempo e dispersos pelas bibliotecas, sonhavam
s ' iurarncnte com um processo que permitisse multiplicar, a baixo custo,
IIS I'X nnplares de um mesmo livro, sem o que ninguém se teria lembrado

dl procurar a solução deste problema: a imprensa. De facto, no início


do x .ulo xv, ao passo que se anunciavam tantas transformações,
procurava-se cada vez mais produzir certos manuscritos em série, de
modo a r spondcr a necessidades crescentes. Mas, já no século XIII, a
lllll~'i1() das Universidades fizera sentir a necessidade de possuir um maior

1111111l'I'O ti, manuscritos - e a renovação das letras tinha tão-somente


111 ovocudo aperfeiçoamentos de pormenor: a adopção de abreviaturas
IIIIIIS d 's -uvolvidas c a organização do sistema da pecia, que permitia aos

\ IIpl 111"1 uuhalhar mais rapidarn nte e mobilizar apenas, de cada vez, um

\ ,1<1\ t no dlls 1m' 'iosos volurn 'S a s '1"111 reproduzidos. h continuara s a


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32 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 33

Que recursos? Pensamos logo nos caracteres móveis. Para criá-Ios, (pensou-se durante muito tempo que era fabricado com algodão), tinha
era preciso fabricar um punção de metal duro, proceder à execução de menos firmeza e rasgava-se facilmente. De início, desempenhou o
uma matriz, batendo com precisão suficiente com esse punção num bloco modesto papel de um ersatz, em todo o caso aceitável, e mesmo vantajoso
de metal menos duro; fundir, enfim, com a ajuda dessa matriz, caracteres em certos casos: principalmente quando o documento escrito não era des-
feitos de uma liga apropriada: todas estas operações nos explicam por que tinado a durar (cartas, por exemplo, ou rascunhos) ou ainda quando se
nasceu a nova arte nos círculos dos ourives, em meados do século xv. tratava de executar a minuta de um texto destinado a vir a ser uma
Mas nada teria impedido que tivesse ganho corpo um século antes. pública-forma. Foi assim que os notários genoveses não hesitaram em
Mesmo que se tratasse da impressão propriamente dita: todas as opera- utilizar cadernos de papel branco para os seus registos, e até, por vezes,
ções que esta expressão consagrada contém, quer se trate da junção de velhos manuscritos árabes em cujas margens escreviam.
caracteres, da aplicação da tinta ou do uso de um prelo (se, de facto, fos- A breve trecho afluem aos portos italianos fardos de papel. Uti-
sem absolutamente necessários) teriam podido ser levadas a cabo bem liza-se às vezes a nova matéria nas chancelarias, mas o temor de ver
antes de Gutenberg. Mas o importante não era isso. dcstruída esta matéria desconhecida e de aparência frágil leva os sobera-
Aquilo a que chamamos a «indústria tipográfica» - de uma expressão nos a proscrever o seu uso da redacção dos documentos: em 1145, o rei
que nos é justificada pela mecanização da imprensa a partir do início do Rogério II, da Sicília, ordena que todos os diplomas redigidos em carta
século XIX - era, desde o seu nascimento, sob a forma de artesanato, cuttanea no tempo dos seus antecessores sejam copiados de novo em per-
tributária de uma matéria-prima sem a qual nada era possível no seu iuminho e, depois, destruídos. Em 1231 ainda, o imperador Frederico II
domínio: referimo-nos ao papel. Que adiantaria ter de imprimir estampas, proíbe o uso do papel na redacção das actas públicas".
ou mesmo composições constituídas por caracteres móveis, se, para
receber a impressão, apenas se dispusesse de peles que recebiam a tinta
com dificuldade e só algumas - as mais raras e as mais caras, as peles de *
velino, isto é, de bezerro nado-morto - eram suficientemente lisas e * *
suficientemente macias para poderem passar com facilidade por um Apesar destas proibições, o papel ganha terreno. Na Itália consti-
prelo? A invenção da imprensa teria sido inoperante se um novo suporte ruem-se centros de fabricação; desde o início do século XIV, os papeleiros
do pensamento, o papel, proveniente da China através da Arábia, não ,'110 numerosos ao redor de Fabriano. Dois factos iam favorecer o desen-
tivesse feito a sua aparição na Europa, dois séculos antes, para ser de uso volvimento deste primeiro centro e facilitar a difusão da indústria papeleira
generalizado e corrente no final do século XIV. ('111 toda a Europa ocidental.

O primeiro, de ordem técnica: desde o século XI, e talvez antes, houve


iI 11I ia de adaptar «alavancas» aos moinhos, transformando o movimento
I. OS PERÍODOS DO PAPEL"
l nvular em movimento alternativo. Esta invenção estivera na origem de
Foi no século XII que se assistiu, na Itália, ao aparecimento desta ruuncrosas transformações industriais; a aplicação do processo pelos pape-
h'lIOS ti Fabriano permitiu substituir por macetes a antiga mó usada pelos
nova espécie de «pergaminho» trazido pelos mercadores que mantinham
relações com os árabes. O papel não apresentava certamente as mesmas rn ílh 'S para moer e triturar trapos, melhorando o rendimento, diminuindo o
qualidades externas do pergaminho. Mais fino, de aspecto algodoado pll','O d . custo e ajudando a produzir um papel de qualidade superior".

" Não trataremos neste capítulo do percurso do papel através da Ásia e da bacia , IIU1M. A., Lcs origines du papier, de i'imprimerie et de Ia gravure, Paris,
mediterrânica, assim como dos moinhos de papel espanhóis, que parece terem sido os l'II,pl1
primeiros a funcionar na Europa. É certo que, fora de Espanha, utilizou' se, por vezes, , Sohl" o nuunho movido a :\ zua ' os problemas 1 cnicos medi 'vais, v 'r BLOCII,
papel fabricado nesse país, mas a indústria pup 'I ira .urop 'ia nasceu na ltáliu . dltuu ~1 • VIII '1111'111 ('I cunqu 'I 'S du moulin :) C:lU", in ;\1/11/111',1 d'histoin: l'I'(/IIf11I/;'/III' 1'1

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34 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: o APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 35

o segundo facto foi a extensão da cultura do cânhamo e do linho, na com o peso de 1333 quilos, enquanto, no espaço de três anos e meio, envia
ponta final da Idade Média, e a substituição da lã pelo pano na roupa para Talamone 240 fardos, ou seja, 14 175 quilos".
branca, o que ia fazer com que os trapos velhos se tomassem menos caros Nessa época, o papel começa, por isso, a substituir o pergaminho um
e mais abundantes na época em que se generalizava o seu uso. pouco por todo o lado. Durante a segunda metade do século XIII, já é
Incrementados deste modo, os negócios dos papeleiros de Fabriano usado em registos no sul de França (1248, registos de notários marselhe-
não tardam a tomar um enorme desenvolvimento. Já em 1354, Bártolo, o ses; 1248, registo dos inquiridores do Languedoque; 1243-1248, registo
famoso jurista, ressalta a actividade dessa «nobre cidade» das Marchas de dos inquiridores de Afonso de Poitiers; 1272-1274, registo dos inqui-
Ancona onde se fabricam os melhores papéis; com efeito, a necessidade ridores reais em Toulousain). No final do século XIII e princípio do
de melhorar a qualidade e o rendimento leva rapidamente os fabricantes século XIV, o papel é de uso comum na Suíça. Na mesma data, é pouco
de Fabriano a buscar aperfeiçoamentos; e não somente são os primeiros a a pouco adoptado no norte de França e, em 1340, os escrivães da
usar os maços em lugar da mó mas melhoram também os processos de Chancelaria real utilizam um registo de papel hoje conservado no Trésor
colagem e substituem as colas vegetais utilizadas pelos orientais, que des Chartes". Ao mesmo tempo, o novo material espalha-se pelos Países
davam ao papel um aspecto algodoado, pelas gelatinas e colas de extracção Baixos e norte da Alemanha, numa altura em que, a sul, os mercadores
animal; prestam igualmente os melhores cuidados ao acetinado, que venezianos de há muito o tinham tomado de uso corrente.
entre eles é executado por operários especializados. E cada industrial
esforça-se por fazer distinguir a sua produção através de uma filigrana *
pessoal, frequentemente simbólica, pela qual em breve será consagrada na * *
Europa a naturalidade da nova matéria", Além disso, começa-se a fabricar papel fora de Itália. Desejosos de
A partir da segunda metade do século XIV, os papeleiros começam a ampliar os seus negócios, os mercadores italianos estabelecidos no
sentir-se apertados em Fabriano; vão estabelecer-se em Voltri, em Pádua, istrangeiro não hesitam, perante a demanda crescente, em mandar vir dos
em Treviso e em Génova, e formam muito cedo dois outros grandes cen- s ius territórios os primeiros técnicos encarregados de ensinar o ofício.
tros: na Ligúria, nos arredores de Génova; e, nos Estados de Veneza, em No século XIV, aparecem batedores na região de Troyes, no condado
redor do lago de Garde. Entretanto, mercadores italianos - sobretudo lom- Vcnaissin, e, nos arredores de Paris, em Corbeil, Essones e Saint-Cloud.
bardos - encarregam-se de difundir a nova mercadoria por toda a Europa. Em meados do século XV, a França basta-se a si própria, e a Champagne
Briquet, na sua admirável obra sobre as filigranas, assinala, por exemplo, pr 'para-se, por seu turno, para se tomar exportadora". A Itália continua
entre 1362 e 1386, a presença de um papel filigranado com uma águia a alimentar a Espanha, a Inglaterra, os Países Baixos, a Áustria e a
aureolada, não somente na Itália mas também em Espanha, França, Suíça AI 'manha, onde já há moinhos a funcionar, assim como na Suíça*. Na
e até na Holanda e na Bélgica". Na mesma época, por volta de 1365, o verdade, no país de Gutenberg só existia um pequeno número ao tempo da
diário de um papeleiro de Fabriano, Lodovico di Ambrogio, revela-nos IIIV nção da imprensa; mas encontravam-se depósitos de papel italiano
que ele escoava os seus produtos através de Fano, nas Marchas, e de ('111 rodos os grandes centros. Além disso, havia quase meio século que
Perúgia, na Úmbria. Através de um pequeno porto da costa toscana, ux últimos preconceitos contra o papel tinham acabado de desaparecer.
Talamone, fazia também expedições de papel para Veneza, e outras para
Montpellier, através de Aigues-Mortes. Em 23 de Novembro de ] 365, por
li ZONGIII, A., op. cit., p. 27; cf. BLANCHET, A., Essai sur l'histoire du papier e/
exemplo, enviou, com destino àquela última cidade, 20 fardos de papel .l, 1/1 tohrirntion, I." parte, Paris, 1900, p. 61 e segs.
" \ 1/'1111'/'.1 11II/;OI/O/i',I', J, J., 76 (1340 1348).
" Sllhl(' n n 1111() pnpclciro champunh 'S, ver LE LERT, L., /,1' Papiet: Recherclu:»
111 Ver, sobre este assunto, ZONGIII, A., Z(I/IMiIi :1' 11'IIII''''''lIrks, l lilversum, 19'i 1: (' 1/111111'\ /1/1/11 .II'/I'i/ li ,.,/1,1'/0;/,/' ti" /10/1;/'1; /lr;IIC"i/lIlIt'III/'1I1 à '/"OW',I' /'/11//\ 1'111';/'11I1,1', dcuuis
BRIC)lJET, c'M., O/I. rit I, \/\ I' 11111" I'III\~,I'llh, ' VIlI,

I BRIOI JI ,r, (' M 11'1 "'i/i,ll 1//11 1'1 , "/1/111I11111111' /11I/11/11///1' tll'l 11/1111//1/'1 ti,' /1/1/1/1'1, 1 111111/111 .\ I 111 I 11I11I\lil 11111 .1111\~'il 1(111' d •• \'011111 d.\ I', "11'11\101 d\ 11111 1110111110
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36 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 37

Durante muito tempo, os manuscritos continuaram a ser transcritos em moer trigo antes de ser utilizado para o fabrico de papel. O seu eixo é
pergaminho pelos estudantes e pelos copistas. Rotina? Certamente, mas guarnecido de lâminas, pequenos pedaços de madeira encarregados de
também desejo de usar um material sólido e ensaiado para garantir aos accionar e levantar os maços e pilões que se movem em recipientes de
textos maiores possibilidades de duração. Era nisso que pensava Gerson madeira, as pias, onde se encontra o trapo. Os maços e os pilões são
quando, em 1415, desaconselhou a cópia dos textos em papel, suporte guarnecidos de pregos e trinchetes nas pias de refinação, mas não nas pias
menos durável do que o pergaminho". Um póstumo pesar, nesta data, se para raspar.
assim se pode dizer. O papel tinha ganho a partida. O seu uso começava a O trapo é, assim, triturado numa água com sabão, cuidadosamente
generalizar-se na cópia dos manuscritos. Estava realizada uma das condi- doseada para dar uma pasta mais ou menos espessa, a pasta de papel; esta
ções indispensáveis para a difusão do livro impresso. é levada para uma cuba cheia de água aquecida a uma dada temperatura.
É aí que se mergulha a fôrma, moldura de madeira guarnecida de uma
rede de fios de latão que filtra a água e retém a pasta tão-somente. A forma
lI. AS CONDIÇÕES DE DESENVOLVIMENTO é agitada para que essa pasta se distribua uniformemente. Depois de uma
DOS CENTROS PAPELEIROS: primeira secagem, a folha assim obtida é retirada da forma pelo «aca-
CONDIÇÕES NATURAIS E INDUSTRIAIS rnador», operário que a estende sobre um feltro destinado a absorver a
água. As folhas e os feltros são, então, empilhados e colocados sob uma
Antes de ir mais longe e estudar a formação dos grandes centros prensa que permite expurgar a água. Esta última operação é geralmente
papeleiros encarregados de alimentar os prelos tipográficos, a influência repetida. Em seguida, as folhas são levadas para um pequeno estendal,
que a distribuição destes centros pôde ter na repartição das oficinas onde secam ao ar livre. Mas, se fossem utilizadas neste estado, as folhas
tipográficas e, em consequência, o progresso que a nova arte pôde garan- absorveriam a tinta. Falta, por isso, revesti-Ias com uma cola que lhes dá
tir à indústria do papel, detenhamo-nos no exame das condições necessá- um aspecto liso.
rias para o aparecimento de um centro papeleiro. As folhas são, então, levadas para um grande estendal, onde secam.
Em primeiro lugar, como se fabrica exactamente o papel? A técnica Depois, procede-se às operações de as acetinar e brunir com a ajuda de
nada evolui do século XIV ao século XVIII, porquanto a substituição dos sílcx. Após o que o papel, geralmente reunido em mãos de 25 folhas e em
maços pelos cilindros (a partir de finais do século XVII) somente em algu- resmas de 20 mãos, deixa o moinho para ser entregue ao consumo.
mas grandes empresas trouxe uma transformação considerável".
A matéria-prima, o trapo velho, recolhido geralmente por mercadores *
especializados, é conduzida para as proximidades do moinho onde é objecto
* *
de uma escolha. Para se obter papel de boa qualidade (e, por maioria de
razão, papel de impressão) são precisos, com efeito, trapos brancos, Para fazer papel era precisa muita água, e uma água muito pura.
separados de qualquer corpo áspero. Água necessária, simultaneamente, para o funcionamento dos maços e
Uma vez efectuada a escolha, segue-se a maceração. O trapo, ras- pura a trituração das pastas. A crer em Briquet, um quilo de papel exigia
gado em pequenos pedaços, é colocado em lugares especiais, geralmente I volta de 2000 litros. Um outro especialista, Janot, estabelece que, ainda

em caves, onde fermenta; a gordura começa a ser eliminada e a celulose hoj " são precisos 200000 litros de água para fabricar 300 quilos de papel
isola-se pouco a pouco. Esta matéria é, então, conduzida ao moinho pro- por hora,ou seja, eerca de 700 litros por quilo e por hora"
priamente dito; de uma maneira geral, um moinho a água que servira para Esta água d evc satisfazer certas exigências. Certos rios nunca permi-
tinun que dos moinhos situados nos seus cursos saíssem produtos conve-

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38 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 39

nientes. Dão uma cor demasiado acastanhada ao papel: é o caso das águas fabricavam tecidos - nos Vosges, onde as condições naturais eram, por
carregadas de ferro, de matérias terrosas, de algas ou de detritos orgâni- outro lado, favoráveis à criação de batedores; na Champagne, também;
cos. Em princípio, por conseguinte, a água devia ser límpida e pura; para e mesmo no Delfinado, onde a extensão da cultura do cânhamo, no
evitar 'o uso de uma água contaminada por detritos de todo o género, século XVIII, favoreceu o desenvolvimento da indústria papeleira nos
os fabricantes de papel, de preferência, instalam os moinhos a montante, arredores de Bourgoin, Saint-Jean-en-Royans, Tullins, Domêne e Peyrus".
e não a jusante das cidades. Por isso, talvez, é que eles se encontram Somente à medida que um centro produtor se desenvolve é que o
geralmente no curso superior dos grandes rios ou no curso médio dos seus trapo se torna mais raro e tem de ser procurado mais longe. Daí a
afluentes. Além disso, como a água também servia de agente motor, o importância dos trapeiros. A recolha dos tecidos velhos é uma actividade
curso superior, estreito e sinuoso, permite, quer uma melhor canalização com frequência muito lucrativa entre os séculos xv e XVIII. Nos Vosges,
directa, quer a instalação de um canal derivado (em geral, uma corda sus- r a colecta é assegurada por apanhadores que pagam os trapos velhos em
pensa de um arco). Por outro lado, vê-se que os primeiros grandes centros dinheiro ou em troca de miudezas (1588), e, mais tarde, de louça de
papeleiros nascem com frequência em regiões calcárias, ao passo que, faiança; trabalham geralmente por conta de «vendedores de roupa velha»,
hoje em dia, as águas calcárias parecem pouco próprias para o fabrico do instalados nas proximidades dos batedores que, antes da venda, procedem
papel". Se assim acontecia é porque, sem dúvida, os inconvenientes, a uma escolha sumária dos trapos. Primeiro, procura-se o trapo nos
menores que hoje, eram compensados pela presença de água clara em arredores, depois é preciso ir mais longe: a partir de 1576, até Metz, Pont-
grande abundância. -à-Mousson, e na Borgonha. Numa outra região, a de Toulouse, Antoine
De facto, muitos cursos de água reúnem as condições necessárias de Laugeriere, durante o primeiro terço do século XVI, vende trapo às
para a instalação de moinhos de papel. Em França, encontram-se centros centenas de quintais e faz fortuna. Muitos naypiers (fabricantes de cartas-
importantes na fronteira de regiões montanhosas: em Auvergne, em -de-jogar) são simultaneamente trapeiros".
Thiers, Ambert e Chamaliêres; nos Vosges, ao redor de Saint-Dié e de Ainda assim, não passam de centros industriais pouco importantes.
Épinal, assim como em Angoumois e nas planícies da Champagne. Em Troyes, parece que certos mercadores chegaram às feiras da Cham-
pagne com carroças cheias de trapos. Quando o centro de Auvergne se
* desenvolve, os melhores trapos - os da Borgonha - são levados pelo rio
* * Saône até Lyon, onde são recolhidos por carros, enquanto os recoveiros de
Auvergne, e até mesmo de Forez, recolhem o trapo velho em Velay e
Mais importante ainda, e mais inquietante para os antigos mestres, a N ivernais",
questão do trapo: para fazer um papel aceitável era preciso poder juntar
uma grande quantidade de trapos velhos ou cordas velhas. A necessidade
*
de encontrar trapo incitou os fabricantes a estabelecerem-se perto de um * *
centro urbano - por vezes, um porto que permitia expedir a mercadoria e
onde se podia, como em Génova, arranjar cordame velho. E, por outro Para terem a certeza de encontrar a matéria-prima necessária e para
lado, não é com certeza uma simples coincidência que os centros papelei- impedir os trapeiros de lhes impor condições exorbitantes, os papeleiros
ros tivessem sido frequentemente estabelecidos nas regiões em que se

\I' BI ,AN( 'IIARD, R., «L'mdustric du papier dans Ia France du Sud-Est», in Bulletin
1M Nos nossos dias, a colagem faz-se em cubas. As colas que se "usal11, à base de til' 111 S,I('II'II ,I'I'il'/I1i/7f(/lI' rI/I {)(/Ullhi/lé, XI.VI, 1925, pp. 279-460.
resina, precipitam-se com dificuldade nas fibras de papel 1l1l1111l1eio
culcário húsi '0. 'omo 111 C'( )1~RAí'.H, R .• «I ,'indu si de du pnpi r i't Toulous », in Contribution r) t'Iüstoire dI'
outrora 11colugcm Sl' operava ao ar livre, nao havia que rcceur os 11Il'SIlIOSinconvcuicntcs, ItI /'11/11'11'1'" 1'1/ /,'111111'1', li, I I) VI, p. ()'; t' Sl' 'S,

Nuo ohsl""h', " IIlilill",11I\ Ik 1111111


1'1111cnlcuriu IIIIS l'lIhllS Iit'vill 10"1111Illllis dilfl'11 11 "('I 111 ('I IIln, I", 11/"1'11,, NI('()I,i\Y, A, lIi,I'lolll'tll',I'IIIIII/IiIl.l'III'IIIIIt'1 du SI/ti

PIl'IIIIIil~ \11d I pll 111Ih' pl'lll'l (11//'.11 til' 1'11'1111'" (I/()II 18(111), Iloldl \I., lI) I , vul
40 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 41

apelam muitas vezes ao Estado e solicitam monopólios para a recolha do exemplares da sua obra Magnalia Dei in locis subterraneis em papel
trapo. A partir de 1366, os de Treviso obtêm do Senado de Veneza um desse género. Em 1741, um membro da Academia das Ciências, Jean-
privilégio deste género. Em 1424, um industrial, oriundo de Fabriano, e -Étienne Guetard, inicia experiências com as mais variadas espécies:
que trabalhava em Génova, obtém o monopólio de compra dos cordames palmeiras, esparto, aloés, urtigas, amoreiras, sargaços; o inglês John
velhos; em Génova ainda, em meados do século xv, os papeleiros quei- Strange e o saxão Schãfer, por seu lado, fazem pesquisas análogas. Em
xam-se de estar colocados sob a tutela de trapeiros com quem entram em 1786, Léorier Delisle, de Langlée, publica as obras do Marquês de Villette
litígio. Na Suíça, quando os batedores se desenvolvem na região de em papel de alteia; na Inglaterra, entre 1801 e 1804, tenta-se industrializar
Basileia, é preciso tomar medidas análogas para proteger a produção processos deste género. Mas não passam ainda de esforços de precursores.
local, e o Estado decide que, durante as 24 horas seguintes à sua colocação ertamente que, durante a Revolução Francesa, se praticou em larga
no mercado o trapo velho só poderá ser vendido aos habitantes daquela escala a reutilização de velhos papéis - é essa uma das causas de se terem
região. Quando a indústria papel eira aparece na Alemanha, cria-se o rasgado e desaparecido tantos dos nossos antigos arquivos. Mas foi
hábito de delimitar uma pequena zona nas imediações de cada centro e de somente em 1844 que o encadernador Gottlieb Keller teve a ideia de agre-
atribuir aos fabricantes privilégios locais; em 1622, por exemplo, todo o 'ar uma pasta mecânica de madeira à de trapos, e, em 1847, que Woelter
trapo recolhido na região de Bremen é reservado para os moinhos de obteve patentes para a comercialização deste processo. Até que, finalmente,
Bremervõrde e de Altkloster". por volta de 1860, a palha foi definitiva e universalmente usada como
A falta do trapo fez-se sentir em França talvez mais tarde do que sucedânea do trapo no fabrico do papel de jornal".
noutro lugar, mas com mais acuidade. O declínio da indústria papeleira de Assim, do século XIV ao século XIX - enquanto o trapo permanece
Troyes, no final do século XVI e no século XVII, parece ter sido causada como o material essencial para o papel -, apesar do desenvolvimento de
na origem por uma crise de matéria-prima. Em 1674, Colbert, preocupado 1I0VOS centros industriais, estes, cada vez em maior número, estão sempre
com a decadência da indústria papeleira francesa, percebe o problema sem , m ercê da penúria de matéria-prima. Em Troyes e talvez em Veneza, no
lhe dar uma verdadeira solução, e, pura e simplesmente, contenta-se com l .ulo XVI, em Auvergne e Angoumois, nos séculos XVII e XVIII, perante

prescrever aos fabricantes que tenham sempre as suas cubas cheias de 1I alimento da demanda, os papeleiros vêem-se obrigados a sacrificar a
«trapos». No século XVIII, escreve-se e lê-se cada vez mais; daí, uma nova qualidade à quantidade: têm de usar panos de má qualidade e, por con-
crise. Na Auvergne, em particular, a escassez é tanta que, em 1732 e em l' 'lIinte, produzir papel menos bom. Os clientes queixam-se e dirigem-se
1733, é preciso proibir a saída de «cueiros» velhos; e ainda, em 1754, para I outros lugares; novos batedores são criados em regiões onde ainda não
evitar a exportação de trapo, é interdito aos apanhadores estabelecer entre- I istiarn, frequentemente perto dos centros de consumo. Assim se apre-
postos perto dos portos e das fronteiras". cutu, .squematizado, o processo de difusão da indústria papeleira - difusão
lI' lida. pelo menos em parte, pela questão da matéria-prima.
*
* *
11I. AS CONDIÇÕES COMERCIAl~
Começa-se, então, a compreender que só novas soluções permitirão
evitar crises crónicas. Já em 1719, Réaumur tinha dado a conhecer à
Assim. do século XIV ao século XVII, as fábricas de papel multipli-
Academia das Ciências que devia ser possível fabricar papel a partir da
I ti11 I ~' pura r .spondcr a uma demanda crescente. Enquanto a falta de
madeira. Em 1727-1730, o alemão Bruckmann manda imprimir alguns
IlItlll 1111 pruuu r strin )' o descnvolvirn into dos grandes centros, novos

" HI.ANCIII\T, A., IIfI. cit .. pp, 60, I () l-I 02, 101{:BRIQUET, (' M ,1111 1'11, p. 70 ('
M'~'N, ( )l. IH ? 1 W 's ,I. I \\llllllllllllh I 1111111
Ilil' 1"'I1l'11111'1111 VIII' 11111",111/"
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42 o APARECIMENTO DO LIVRO
A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA
43

estabelecimentos se criam continuamente em regiões que até então igno-


ravam a arte de fazer papel; a fim de poderem escoar mais facilmente a
J .I
.1.;-,,,~ .
sua produção, encontram-se quase sempre situados na encruzilhada de Chartarius. ~(r~at1~l.tr. /,.,.;... /';//-,.'1
r"l .$nt~J'p·"':"',f.!..
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rotas comerciais e, se possível, perto de grandes centros de consumo.


Aí também os italianos desempenharam, no princípio, um papel Ex "tJetulispann;s tenuem (onte.'o(0/J.a'1jrumP~'1"~ /;..~.,
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V ertiturm. J ut: " r- J.r,;s .#,.p:.u"",,/~
gyros aummo ajcalJrafooS'I'''~r/' I..~/drc",,_
essencial, graças aos seus capitais e conhecimentos técnicos. A partir de 1n tabz,lisolim fla Jcripjit "tJerba"tJefujlas, - ,e:J '3. . < """,

finais do século xv, a produção italiana já não basta para acudir às neces- fJ.!!asruàis ex cer« dextra liquente dabat.
sidades do exterior. Além disso, o transporte onera pesadamente o preço
de venda desta mercadoria pesada que, antes de ser entregue ao cliente
francês ou alemão, passa por três ou quatro mãos diferentes; por isso, os
negociantes lombardos estabelecidos no estrangeiro atrevem-se muitas
vezes a financiar, em França, na Suíça ou na Alemanha, perto dos centros
de consumo, a transformação de moinhos de trigo em moinhos de papel,
mandando vir dos seus países operários encarregados de ensinar a nova ...~k~
técnica. Foi assim que, em 1374, um florentino criou o moinho de
~""Af
"., ç wI-
~'!t",.
J'.cl:P
Carpentras e que, durante o primeiro terço do século xv, mercadores de J~;:~~U'".... !
origem italiana mandaram vir fabricantes da região de Pignerol para pôr a If••.I,~H;;"1- ..
,W/~.•,,~.-
funcionar batedores em torno de Avinhão". Por vezes também, são mer- ,.,~~•.. :!/'1:"-1-'
cadores da região que mandam vir operários italianos: em 1391, por 'Z~1' 'f4~·
exemplo, um burguês de Nuremberga, Ulman Stroemer, transforma o
Ca;{'. 'J1tu#_""
moinho de pão de Gleismühl e confia a três italianos, Francisco de {,i.,J#d~ y."'''~
"oUK ..., ~ __ "
Marchio, seu irmão Marco e um empregado, o cuidado de ensinar aos
alemães como fabricar o papel. Muitas vezes também, membros do alto f'-,rk h. dlf.f1ii
leu- ~~
1I1tftlV~
clero interessam-se pela nova indústria: em 1466, João de Jouffroy, abade
A4 Oú:J"K~'
de Luxeuil, autoriza dois piemonteses a instalarem-se no Breuchin,
""~.~'~,
afluente do rio Lanterne, mediante uma renda anual de quatro resmas de CUltJm.e'<a jimplicit.tuuo rarij!im4 nopro, 1;67/"'- lJ'1 '/It.uJ",
papel; antes de 1455, o capítulo de Saint-Hilaire d' Angoulême manda Et mérus in terrisfiribere ;ufllt amor. ~ 4WlY 1""7'<1-

transformar moinhos de pão, que lhe pertencem, em fábricas de papel", As Prin.ci~i{,usnoftris"tJixfuffcitaurea,"arla, Jc!",,- ~ ~_
Slt ]icet aurataJ.ept notata man«, "/tA.ü~.u" JU~/i:
universidades, desejosas de dispor de papel a menores preços e em quan-
FIIm~ "tJ~tusnztUice~fo~adfcri/,fit honore!. SI« ltyN'I'"- "';ÇÚ(~
tidade suficiente, estimulam igualmente a instalação de moinhos de papel. 'flms mue"torqu'prlorarftSerat. , •.t:-"tJc~:__ J",..
A criação de batedores em Corbeil, Essonnes, Saint-Cloud, e, sobretudo, , C +
Contin~C/'.t..c~;ru.
nos arredores de Troyes, por exemplo, é grandemente favorecida pela .', ~: ~"""~~;I-. 7"" -:J...,. ~z-.~~/)"" t-P~~
Universidade de Paris. .tO'/: ~.""aA ••,'fIp, I-! CIIu/h.f /~t~-..~ ../'-::6ou.c..:..)
-, /)#4'J.~ ••: I;~""-~I ~' •.•.••
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" IIOBi\UT, 11., «L 'S d buts de lindustri ' du pnpi '," dans Il ('01111111 V '1Il1issill',
(11.11111111 dI! 1'111'1'1 'I'puudo 111111111111111 S('1I01'1'11<: l sr /111111//1//1il/ill/'"dllll/,I ///1;/1/1,1
in /,/' lIiillio!-lI'll/III/'/11I11I/'/I//', XIV, 19 XI (), pp. 1<;7 . I'i,
1/1',' 1/1,', !t/I/II, 11,11111'1/1. JoiIIIIlIOlI. I 11. ru I"
'"111 i\N('III\'J'.i\./I/1 d/.pp I 7/1
o APARECIMENTO DO LIVRO
A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 45
44

mcontra-se nos livros impressos nos Países Baixos em Lovaina, em


* Dclft, e na Alemanha, em Colónia e Mogúncia". '
* *
A história dos batedores que alimentavam Paris é bem conhecida *
graças aos trabalhos de Stein e de Le Clert"; ela mostra como a proximi- * *
dade de um centro consumidor importante, Paris, e de uma encruzilhada
Em Paris, entretanto, os paupeleurs formam uma corporação com
comercial conhecida, Troyes, favoreceu o desenvolvimento de uma pode-
'st~tutos desde 1398. Em 11 de Março de 1415, papeleiros de Troyes e de
rosa indústria, na qual insistiremos a título de exemplo.
Pur~s: notando que a criação de moinhos nos arredores da capital tivera
A partir de meados do século XIV, a Universidade de Paris, desejosa
() .fcito de fazer baixar o preço do papel, pedem à Universidade que inter-
de se abastecer aos melhores preços, obtém de João-o-Bom o direito de
v 'nh~ para obter a manutenção dos seus privilégios. Em Março de 1489,
ter, em Essonnes e em Troyes, fábricas de papel cujos proprietários
por fim, cartas de Carlos VIII confirmam os privilégios da Universidade de
ficariam isentos de impostos e de taxas, na qualidade de partidários da
Puris e fixam a lista das pessoas que, para além dos mestres, estudantes e
Universidade. Os moinhos de papel multiplicam-se, a partir de então, nos
1(' 'I1te~, p~derão vir a deles usufruir: vinte e quatro livreiros, quatro
I

arredores de Paris; desenvolve-se um centro perto de Corbeil e de


pcr lamlllheuos: quatro papeleiros parisienses, sete fabricantes de papel de
, Essonnes; mais perto ainda da capital, em Saint-Cloud, em 1376, dois I1 oy 'S, Corbeil e Essonnes, dois iluminadores, dois copistas e dois
papeleiros, burgueses de Paris, contratam enfiteuticamente com o bispo I·"l'adernad~res. ~urante muito tempo, o título de «papeleiro ajuramen-
daquela cidade «um grande moinho» para aí fazerem «doravante papel e I.\do. da Universidade» será cobiçado pelos negociantes parisienses e
outras coisas e obras tais como melhor lhe parecer em seu proveito, I" hricantes de papel de Troyes. Espécie de título de nobreza e além disso
excepto que em nenhum momento poderão moer ou mandar moer quais- 11111110 va~tajo~o, cou:portava isenções de impostos e múltipl~s vantagen~
quer grãos». '1\'" a Universidade CIOsamente se esforçava por salvaguardar.
Mas o papel utilizado em Paris vem sobretudo de Troyes. Muito lJ m pouco por todo o lado, a exemplo de Paris, a proximidade de
cedo, negociantes italianos levaram papel para as feiras da Champagne. 11111.1 grande cidade origina a criação de batedores; não teria havido tantas
Provavelmente, esta mercadoria chegava pelo Ródano e pelo Saône. Pelo 1.1I111l'aS de papel na região de Beaujolais, nem, sobretudo, em Auvergne,
Sena e seus afluentes podia depois ser facilmente conduzida para Paris e I I, 011,com os seus inumeráveis prelos, não estivesse próximo. Mas,
para os portos e, de lá, para Inglaterra. Por outro lado, eram frequentes as 1I1111tas vezes, o papel é utilizado longe do lugar do seu fabrico: é o caso
relações entre Troyes e a Flandres - e a Picardia, tal como a Champagne, do pap 'I champanhês na Flandres, nos Países Baixos e no norte da
era afamada pelo seu cânhamo. Nestas condições, não será de admirar que It manha, nos séculos XV, XVI e começos do século XVII; é o caso ainda
se veja aparecer, no Sena e seus afluentes, uma grande quantidade de moi- d" pup 'I de Angoulême na Espanha, na Inglaterra, na Holanda e nos
nhos de papel, por vezes criados com auxílio de capitais italianos. Desde 1'.11I ~ Bálti 'OS, no séculos XVI e XVII. Por isso, os grandes centros pro-
finais do século xv, a Champagne abastece uma parte do norte da Europa. dlltol t'S cn xmtrarn-se regularmente na confluência das rotas comerciais.
É lá também que Ulrich Gering, três quartos de século mais tarde, compra 1'1'1\1'da pl:oximidadc de Paris e de Lyon, as fábricas de papel de Troyes
o papel com filigrana de âncora, utilizado para a execução dos primeiros 11\11 11liam Sido tao numerosas sem as feiras da Champagne - nem as de
incunábulos parisienses. E, facto característico, esta mesma fiIigrana I1 I I '111SI'IlI, (~S r 'ir~ls ~e .Lyon, Sendo o papel uma mercadoria pesada,
'111I1dlll'l" SUl -un ~ jurisdição do transporte por água, a vizinhança de

" I li 'LERT, 1.., IIp. rit.; STEIN 11., «La Pap 'l,'ril' d'Jl,SI1I1I1 's" 111 11//(1/"\ ti" /0

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46 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA
47

grandes rios estimula o desenvolvimento da indústria papel eira - e, mais rendimento=. Nada de admirar, por isso, que um dos associados de
ainda, a vizinhança dos portos. A partir do século XIV, as fábricas italianas Gutenberg, em Estrasburgo, fosse possuidor de um moinho de papel" e
de papel instalam-se nos arredores de Veneza ou de Génova. Mais tarde, que os mais ricos negociantes de papel fossem precisamente os fornece-
nos séculos XVI e XVII, o caso é ainda mais evidente na região de dores dos livreiros. Nem que, por vezes, alguns dos seus filhos, atraídos
Angoulême. Muito cedo, ao tempo da ocupação inglesa, o papel italiano pelo mundo do Livro, se ocupassem da tipografia e reinvestissem nas
é expedido para a Grã-Bretanha por Bordéus. Depois, aparece uma indús- empresas de edição o dinheiro ganho a fabricar ou vender papel. Assim, o
tria local cuja produção se exporta, em grande parte, por La Rochelle e desenvolvimento do centro papeleiro favorece o do centro tipográfico
Bordéus, de modo que, no final do século XVII, quando o papel de próximo. Em 1486, por exemplo, a entrada de Carlos VIII na sua cidade de
Angoulême se torna célebre pela sua qualidade, os livreiros parisienses Troyes foi celebrada num poema - bastante mau, por sinal- onde os pape-
queixam-se de serem obrigados a mandá-lo vir por terra e, por isso, a I .iros figuram em lugar de destaque:
pagá-lo mais caro do que os seus concorrentes holandeses, os quais o
recebem por mar". Lá também de Troyes os papeleiros se apresentaram
Com grande pompa, de granada vestidos
E bem montados em belos e poderosos cavalos de batalha,
Cobertos de belas e impolutas vestes bordadas.
IV. O APARECIMENTO DO LIVRO Para lá estarem, o Sena deixaram correr,
E O DESENVOLVIMENTO As comportas ergueram, seus moinhos abandonando.
DA INDÚSTRIA PAPELEIRA (SÉCULOS XV - XVIII)
O autor destes versos - um papeleiro ou parente de papeleiros _,
Entretanto, ao passo que aparece o livro, as necessidades de papel I 'lindo hipóteses várias, não era outro senão um membro da família Le
aumentam em muitos domínios. A instrução propaga-se, as transacções Ih, Típico destino, o dessa família célebre pelos seus papéis e que havia
comerciais aperfeiçoam-se e complicam-se, as escrituras multiplicam-se; di dar alguns dos mais hábeis gravadores de punções e fundidores de
é preciso, por outro lado, «papel comum» para os trabalhos manuais: ven- 1.11 li 'leres dos séculos XVI e xvn=.

dem-no os capelistas, os merceeiros, os cerieiros. Cria-se uma grande


quantidade de ofícios que dependem da indústria papeleira: fabricantes de
*
cartas-de-jogar e de papelão, ou ainda coladores de papéis nas paredes e
* *
lugares públicos. Ofícios afins com atribuições muitas vezes mal delimi-
tadas, apesar dos múltiplos processos instaurados pelas corporações rivais. .fá em 1405, um certo Guyot I Le Ber (ou Le Bé), papeleiro, é
Mas o principal cliente do papeleiro continua a ser o impressor, esse 1lll'lIl,lrio de um moinho de papel em Saint-Quentin, perto de Troyes.
recém-chegado. O prelo. é um enorme consumidor de papel. Exige três 1'1111 'o ti pouco, estes Le Bé ampliam os seus negócios; em breve ficam na

resmas por dia para funcionar normalmente. Ora, no século XVII ( é impos- P"~St' ti' vários moinhos, e são, de pais para filhos, papeleiros juramenta-
sível, à falta de documentos, avançar com números para as épocas ante- dll, da Universidade, e eles próprios vendem a sua produção. De 1470 a
riores), existem em França, contando com os prelos de talhe-doce, de qui- I 11/0,d • Paris a Dortmund, de Troyes a Cantuária, de Heidelberga a Dijon,
nhentos a mil prelos de impressão. Portanto, para alimentá-Ios, os moinhos
de papel devem fornecer diariamente de 1000 a 3000 resmas, Oll seja,
de 450 000 a 900 000 por ano, se admitirmos que funcionam a pl no " VI'J'Hh, Antoin " Ce que les presses qui travaillent à présent dans Paris con-
""1/1/,'''1'',' flllflit'l; M nnóriu existente na Bibliothêque Nationalc de Paris, rns, (r. 16746,
1I IfI I" ,"~.
I ('I, p. 11<,' 111111111" 71
.'.('1 Mi\I~'IIN, 11.I.' ()IIl'lquI" :"Ill'l'" di' 1'1'111111111 pill "II'lU1I' <111 VII' I" h-. 111 11 ('li HI I "fi ,'I, v 11 P I li' ~I'P': I\()WI', I,,, .:1'111'11'111- Fallllly 111
\/II/lIft I, I" iun, 1'1 \. P 111,· , I I 11.1111/ I I'I IK
48 o APARECIMENTO DO LIVRO
A QUEST ÀO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA
49

de Mogúncia a Utreque, e de Bruges a Colónia, encontra-se o seu papel unos depois, funcionará a primeira máquina de papel contínuo, como se
filigranado com a letra B. No século XVI, são muito ricos; no século XVII, v 'rá em seguida.
nobres. Entretanto, um deles, Guilherme Le Bé, é atraído pela tipografia
Entre a indústria do papel e a indústria do livro, portanto, as relações
e o fabrico de punções; de 1545 a 1550, trabalha com Roberto Estienne. suo estreitas; a prosperidade de uma não existe sem a prosperidade da
Em pouco tempo, se não sabe hebraico, aprende pelo menos a decifrar os
outra. Para cornprová-Io basta comparar, nas diferentes épocas da sua
seus caracteres; depois, parte para Veneza e Roma, e aperfeiçoa a sua
história, o mapa das fábricas de papel com o das oficinas tipográficas na
arte pelo contacto com os Aldos e seus émulos. De regresso a Paris, Jo:lIropaocidental. Assim, não nos admiremos de que, entre 1475 e 1560,
estabelece-se na esquina da rua Saint-Jean-de-Latran com a rua Saint-
1111 'poca em que a imprensa conquista o Ocidente, a Europa se cubra de
-Jean-de-Beauvais, sob a designação de Grosse écritoire, e grava os tipos luhricas de papel.
hebraicos de Roberto Estienne, assim como os caracteres musicais que
Le Roy e Ballard irão utilizar. Funda a maior dinastia parisiense de fun-
didores de caracteres; o seu filho, Guilherme lI, no início do século XVII, *
é papeleiro, gravador de letras, livreiro e impressor. * *
O caso dos Le Bé não é único. Um pouco por toda a parte, são Nada mais esclarecedor, a este respeito, do que comparar o mapa
numerosos os exemplos de papeleiros ou de descendentes de grandes d(l' batedores existentes em 1475 e 1560. Em França, sobretudo=, Em
famílias papeleiras que investem capitais na edição. Por outro lado, nesta I I' . antes da invenção da imprensa ter feito sentir os seus efeitos
época, o livro vende-se lentamente, e o papel, muitas vezes, só pode ser 11 'III1S 111 inhos isolados funcionam na Lorena, no Franco-Condado, em
pago à medida das suas vendas. Por isso, os papeleiros surgem amiúde 11111('11. em Périgueux, em Toulouse. Apenas dois centros se mostram
como banqueiros dos impressores e dos livreiros. Reciprocamente, às I lnuvumcnte importantes: Troyes e Avinhão. Por volta de 1560, embora
vezes, os editores alugam moinhos de papel para usarem a sua produção: 1111 II ieira decadência em relação ao início do século, mas três vezes mais
o moinho de papel que pertencera a André Heilmann, o sócio estrasbur- IlIlpllllant' ainda do que em 1475, o centro champanhês. Igualmente
guês de Gutenberg, foi alugado desse modo, em 1526, ao impressor Wolf Illplll'udo, o número dos moinhos de papel dos Vosges. Por outro lado,
Kõpfel, e depois, em 1550, a outro impressor, Wendelin"; por volta de I 'I li n, h{j batedores na Normandia e na Bretanha. O centro de Angoulême,

1535, Eustácio Froschauer, cujo irmão, Cristóvão, é impressor em 1111 rk-v 'ria tornar-se tão importante no século XVII, encontra-se em pleno
Zurique, aluga um moinho nos arredores desta cidade e, quando morre, .11 I uvolvimcnto, A proximidade de Lyon, com as suas inúmeras oficinas
em 1549, Christophe aluga-o em seu nome". Entre 1575 e 1587, Eusebius IliI!! 'I uficus e feiras, originou a criação de fábricas de papel no Beaujolais
Episcopus, famoso impressor de Basileia, aluga o moinho de Courcelles, 1l11Il'IUdo, nos confins de Auvergne. A França substitui-se à Itália como
no vizinho condado de Montbéliard. No decurso da segunda metade '''I/h II dora de papel na Europa. A maior parte dos incunábulos estras-
do século XVII, os Boude, editores de Toulouse, exploram um moinho 1&111 '111''1 S impressa em papel com filigranas francesas - sobretudo
perto desta cidade". Mais tarde ainda, Beaumarchais, quando se torna 1I,II11pUIlh .sax. Durante muito tempo, o terreno fica livre para os pape-
editor de Voltaire, adquire os moinhos de Arches e de Archettes. Em 1789, "1111 til' Troycs e seus concorrentes, porque ainda não existe indústria
enfim, os Didot compram as fábricas de papel de Essonnes, onde, dez fi 'I li h'lIlI importnntc no norte da Alemanha, nos Países Baixos, na Flandres
11.1 111 ·lillt'II'1. () papel fabricado num pequeno centro, o de Bar-le-Duc,

qlll 1111(1 IOlllllva L'OIl1 mais de três moinhos, nos finais do século XV é
" RITIER, F., Histoire de l'imprimerie à Strasbourg aux XV" et XVI" si()c/I'.I', Paris, I1 1,11111 pilo rio Mos 'Ia ai Lovaina, Bruxelas, Utreque e ZwoIle, onde
1915, in B.", p, 467.
, BRI()lJET,C.M., 111'. rit .. n.'" H71 a HHI.
"<lANI)1I110N, R, ••lllIprilll('III~ \I PIlP(II'I~ dll Midi Ik lu 1111111('(',,111 ('/11/111/11/
I11 I, I', I '/1/'/11111//' ,!til/li/lI/I' ,'/I 11/111I1', /'111'//' IIi.\I/lI/IIIII' /'IIi/'/I~I((I/IIi/III",
11/1/1 /I I'!tlll/lll, ,/, '''/'''/'/'1/'/1'' /'/1 1/(1/1,,' \'01 li, I'I \ I J1 I11 I I' 1111 fil I' I"hlll 1/111 ri)
50 o APARECIMENTO DO LIVRO A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECIMENTO DO PAPEL NA EUROPA 51

serve para a impressão de obras do tipo da Ars moriendi, do Speculum negociantes holandeses investem capitais para desenvolver as fábricas de
humana: salvationis, do Fasciculus Temporum; e chega mesmo a Oxford, papel da Charente, cuja produção se encarregam de vender por toda a
onde é utilizado nos Contos de Cantuária, de Chaucer". Europa, da Inglaterra aos países do Báltico, da Espanha aos Países Baixos.
Entretanto, embora menos rapidamente do que em França, os moi- Perto de Angoulême, fabrica-se mesmo um excelente papel com as armas
nhos de papel multiplicam-se no resto da Europa. Na Suíça, surgem nas de Amesterdão que, no início do reinado de Luís XIV, como indicámos,
imediações de Friburgo e, sobretudo, de Basileia, onde se instala uma deixa o reino, virgem e isento de impostos, para regressar na forma de
família proveniente de Itália, os GaIliziani. Em 1570, ao redor de Basileia, livros e, às vezes, de panfletos cujo texto nem sempre devia agradar ao
sete moinhos de papel abastecem os prelos da cidade. Grande Rei.
Na Alemanha, o primeiro moinho de papel, o de Gleismühl, perto Mas a necessidade de fabricar papel no local não tarda a fazer-se sen-
de Nuremberga, começa a funcionar em 1391. Em 1420, a indústria rir na Holanda e noutras regiões. Quando, em 1671, os Estados proibem a
papeleira existe em Lübeck, alguns anos mais tarde em Gennep, perto de importação de papel francês - os holandeses criam moinhos no seu país.
Clêves (1428); em 1431, em Lüneburg; em 1460, em Augsburgo; em A necessidade de obter um melhor rendimento e de remediar os caprichos
1469, em Ulm, e em vários outros centros. Em 1480-1490, funciona em da sua força motriz nacional, o vento, encontra-se mesmo na origem de
Leipzig; em 1482, em Ettlingen; em 1489, em Landshut; em 1490, em lima nova invenção: a substituição dos antigos maços por cilindros desti-
Breslau; em 1496, em Reutlingen. Mas os progressos são lentos: somente nados a tratar o trapo, permitindo fabricar mais rapidamente produtos de
por meados do século XVI é que a Alemanha se pode bastar a si própria, e melhor qualidade. Este novo método, adoptado pouco tempo depois no
Nordlingen, Augsburgo e Nuremberga, em 1516, ainda se dirigem aos norte da Alemanha, mas apenas nos finais do século XVIII em França,
comerciantes milaneses. A oeste, recorrem à França". Assim, as cidades nsscgurou durante muito tempo a supremacia holandesa.
das margens do Reno, onde a imprensa conheceu um tão brilhante desen- Entretanto, após terem sofrido uma crise terrível cujos efeitos se
volvimento, continuaram importadoras de papel por muito tempo. II~, .rarn sentir até 1725, as fábricas de papel francesas ressurgiram. Um

Fenómeno surpreendente, certamente - menos, de qualquer modo, pouco por todo o lado, na Bretanha, no sudoeste, no Delfinado, na
do que nos Países Baixos, onde as fábricas de papel se desenvolvem mais ( 'humpagne, e no norte, surgiram novos batedores; mas os grandes cen-
tardiamente ainda. Plantin manda vir regularmente da Champagne o papel IIOS de Auvergne e da Charente não reencontraram o lugar que haviam
de que precisa". Em pleno século XVII, os Moretus ainda compram o seu o 'upado outrora no mercado europeu. Todos (ou quase todos) os países
papel em França, e os Elzevier receiam ver-se obrigados a fechar a sua criaram a sua própria indústria papeleira. As fábricas tinham-se multipli-
oficina tipográfica em consequência da suspensão do comércio com a cudo na Alemanha, onde, no final do século XVIII, havia cerca de 500
França": é para continuarem a manter em actividade os seus prelos que Iábricas de papel, que produziam 2 500 000 resmas de papel por ano.
adoptam um formato minúsculo para a época e inauguram, assim - apesar H. enquanto a indústria italiana se mantinha em actividade, a Inglaterra,
das queixas dos eruditos -, a sua célebre colecção in-IZ.". Entretanto, que, nos finais do século XVI, apenas contava com um pequeno número de
moinhos, em 1696 possuía uma centena, muitos deles construídos pelos
hugucnotes franceses. Em 1722, fabricavam-se 300 000 resmas de papel.
BRIQUET, C. M., Briquet's opuscula, p. 269 e segs.
57 11m 1750, é um inglês, John Baskerville, o primeiro a ter a ideia de
BRIQUET, C. M., Les Filigranes, passim.; SCHUTE, A., «Die âltcstcn
58 lahricar papel velino, sem vergaturas nem pontuais.
Papiermühlen der Rheinlande», in Gutenberg-Jahrbuch, 1932, pp. 44-52; «Papiermiihl '11
und Wasserzeichenforschung», in Gutenberg-Jahrbuch, 1934, pp. 9-27.
W ROOSES, R., Christophe Plantin, Antuérpia, 1892, 2." cd., p, 116 • p. 12). P;II iI *
os exemplares das tiragens especiais, Plantin compra pap 'I de l.yol1 c da luilin, aindll til' * *
melhor qualidade.
'" 1.1\111.:( H) I i, R., ,.1',\'. ('/lrl'l',I'/JllII dun 1,\' ti" "";1'(',\(' duns 1(',\' 111/, irn« "(/1',\ 111/.\, Assiru, I' 1111Il'SII 1110, 1III1IIiplir:t,'lIo til' moinho« de paI' 'I 1'01' Imla iI
1'1., , lI)
11111 1\ 11 111 Hlllllp I, 1\IIIIIIplil I ,11111"1 llltll Splllldl :t .ruuu-uro do l'IItI~1I11111 dI
11111
52 o APARECIMENTO DO LIVRO

papel e a uma actividade crescente dos prelos tipográficos. Pesquisas téc-


nicas, igualmente, nesta época em que a grande indústria se anuncia e
se prepara. A França, que conserva talvez, durante mais tempo, as for-
mas de fabrico artes anais e tradicionais, regista um certo atraso na pri-
meira metade do século XVIII. Depois, tenta recuperar o tempo perdido.
O inspector de manufacturas, Desmarestz, auxiliado por um engenheiro
formado na Holanda, Écrevisse, incita grandes industriais particularmente
empreendedores - como os Réveillon, de Courtalin-Faremoutiers, em
Brie; ou ainda, em Annonia, os Johannot e os Montgolfier (os primeiros
aeronautas) - a adoptarem os novos processos. Entretanto, em 26 de
Capítulo II
Março de 1789, nas vésperas da Revolução, os Didot, impressores céle-
bres+--~ iá se tinham empenhado em aperfeiçoar o prelo tipográfico,
AS DIFICULDADES TÉCNICAS
compravam as fábricas de papel de Essonnes, onde, dez anos mais tarde
E A SUA SOLUÇÃO
- na época em que, na Inglaterra e na Alemanha, se procurava substi-
tuir o antigo prelo manual por uma máquina mais moderna -, um dos
seus empregados, contabilista regressado da América, Louis-Nicolas
orno é que, em meados do século XV, Gutenberg e os investi-
Robert, ia construir a primeira máquina de papel contínuo. Na aurora do
I ulorcs do seu tempo conseguiram ultrapassar as dificuldades técnicas
século XIX, para satisfazer as novas necessidades de instrução e de infor-
" 1I .ionadas com a execução de um livro impresso? Por que fases passa-
mação, aumentava a necessidade de mais livros, publicações administra-
, 1111 (tanto quanto podemos saber ou conjecturar) antes de encontrarem a
tivas e jornais; por consequência, era preciso papel. Assim se explica a
0111 'ao adequada? Que aperfeiçoamentos foram aplicados à técnica
introdução dos processos mecânicos nas indústrias do livro e do papel.
111'11 irrifica, da época de Gutenberg à de Didot? De que modo estes aper-
Ii I OUIl1mtos técnicos favoreceram o progresso da imprensa e, por aí, a
dilllSIIOdo livro? Problemas aos quais gostaríamos de consagrar este capí-
111111 dil'f 'eis de resolver, aliás, sobretudo no que tange ao período inicial,
Ilhn' os quais se debruçou uma plêiade de eruditos e de historiadores:
IIlh,' d 'mais, os minuciosos especialistas das escolas de Hain, de Haebler
I dI Prol'!or,

I (pilamos: não se trata, aqui, depois de tantos outros o terem feito,


di uuhuir a 'ste ou àquele homem, a esta ou àquela nação, a paternidade
li I I ruv .nção ou daquele aperfeiçoamento, O que gostaríamos, na
1111 "td I do possfvcl, era de indicar por meio de que processos técnicos se
1111 , '11\11 lmprimir os primeiros incunábulos, e, depois, nos séculos xv
I• .J"lllt'i~'()ar O método primitivo para imprimir mais rapidamente e
111 1111101 quuntidudc. E de dizer como se imprimia com o antigo prelo
11111111.11.111111' () sécnlo VI' () século XVIII. De mostrar, enfim, como, nos
1111 11 dlll \'1110 VIII (' princípiu do s Sculo XIX, ( 'y , li' se operar uma
11111 .\11 1111\"':1 1\:1 lipo irul'iu plll'lI 1'111',('1' I'Ul't' I procurn l'l\'Srl'lIlt' ti'

11 '" I 111111,11
54 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 55

I. A XILOGRAFIA, ANTEPASSADA DO LIVRO? As primeiras xilografias que se conhecem, com efeito, parecem
remontar ao último quartel do século XIV; a partir dos primeiros anos
o papel, como vimos, era conhecido e utilizado um pouco por toda do século seguinte e talvez mesmo antes, são objecto de uma indústria
a parte na Europa ocidental, em meados do século XIV; no final deste uctiva na região renana e nos Estados franco-flamengos dos duques da
século, tinha-se tornado mercadoria corrente. Horgonha". Este novo processo, que permitia multiplicar as imagens reli-
Ofereciam-se, assim, novas possibilidades. Não tanto devido ao iiosas num grande número de exemplares por meio de um material muito
preço de custo do papel que só aos poucos foi baixando - mas porque era simples (alguns pedaços de madeira e uma faca), conheceu de repente um
possível fabricar o novo material em grandes quantidades e porque cxito enorme. Nesse tempo em que a religião era o centro de toda a vida
oferecia uma superfície perfeitamente lisa. Tudo isto fazia dele um suporte 1111 .lcctual e espiritual, em que a Igreja ocupava um lugar tão importante,
ideal para realizar uma vasta difusão das imagens e dos textos. em que toda a cultura era essencialmente oral, o uso de um processo grá-
II 'o que permitisse multiplicar as imagens piedosas revelava-se bem mais
necessário do que a imprensa. Fazer penetrar por todo o lado as imagens
*
* * dos santos que, até então, apenas se viam em torno dos capitéis, nos por-
I tis. nas paredes e nos vitrais das igrejas; difundir as suas lendas, permi-
Ora, no século XIV, de há muito se conhecia o meio de reproduzir 1I111lodos contemplar à vontade, em sua casa, os milagres de Cristo e as
industrialmente uma figura. Sabia-se ornamentar as encadernações com \ I IIIISda Paixão, fazer reviver as personagens da Bíblia, evocar o pro-
figuras e legendas obtidas mediante pressão, sobre couro, de uma placa de IIh'lIla da morte, mostrar a luta dos anjos e dos demónios à volta da alma
metal gravada em côncavo. Para estampar rapidamente no velino ou no dI) moribundo, tal foi o papel essencial das imagens xilográficas, cuja
pergaminho dos manuscritos as grandes iniciais ornamentadas que deviam 1II'I'l'ssidade se fez sentir bem antes e bem mais intensamente do que a de
ocupar o espaço branco reservado pelo copista no princípio dos capítulos II [n oduzi:: em numerosos exemplares, textos literários, teológicos ou
e dos parágrafos, recorria-se, por vezes, a gravuras em relevo talhadas em \ 1l11111'i.os (que, até então, permaneciam manuscritos) apenas a pedido de
madeira ou em metal. Era sobretudo conhecida a técnica de impressão em 11111 punhado de doutores e de clérigos,
tecido, provinda do Oriente; graças a ela, era possível estampar, por meio M .srno que a reprodução de tais textos tivesse sido - o que não era
de tintas coloridas, ornamentos decorativos, imagens de devoção ou cenas 11 \ ISO tão fácil de executar, técnica e materialmente, como a das
religiosas em tecidos de linho ou de seda". O papel prestava-se, assim, 1IIIIIpl'IIS,leria sido, por isso, natural e lógico que o aparecimento da
para receber, a negro ou a cores, a impressão de relevos talhados em 1.llllpilprecedesse o do livro impresso. O que não significa, como vere-
madeira ou em metal, que reproduzia ainda com mais precisão e nitidez 11111 .1(11' li técnica da xilografia tenha minimamente inspirado a técnica,
do que o tecido. Por isso, não devemos admirar-nos de que algumas das I" 111dil 'r .ntc, da tipografia".
primeiras realizações xilográficas que se conhecem pareçam ter sido tira-
gens em papel de marcas destinadas à impressão em tecidos, e que estas *
primeiras xilografias só apareçam pouco tempo depois da vulgarização do * *
uso do papel na Europa: digamos, alguns setenta anos antes do livro
impresso, abrindo-lhe caminho e, de algum modo, anunciando-o. sim, :I partir do início do século XV, surge um conjunto de
1111
I 'I 11 populur 'S de carácter religioso. E pôde admitir-se, com bastante
111111111111111,':1,
que as primeiras oficinas xilográficas se formaram junto
'" MORTET, t.es origines et les dãbuts de / 'imprimcri« (/'11/)/'1\1' lc» /'1'1 'h1'/t'l1I '.I' /1',1
.i

fI/II,I' Paris, 1922, p. H c s .gs.; BLlJM, A" /,1',1' origitu:« til' /11 gruvur« 1'// /"/(11I1"',
/'II(,('II/I'.\',

I'lIIis, lI) 7, p, I) I' SI' IS,; 1I01l('IIO'l', 11.,/,1'.1' til '11 I 1/'1/1,1' 11/1'11111/"'1',111'//1,11/1/11/1/11111',1 .tu ~IC 1111,'1.(', til' til, JI IK \' SI'IS,

/lI'II/I//I'/I/I'III til ',I 1',1/1111I/1(',1' I' 111 , II)() \, 1')1\(),lI) , I I JI r,l \ I I'
56 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 57

dos claustros, ou mesmo dentro dos claustros, e que as grandes ordens


monásticas favoreceram a difusão das imagens". Muito rapidamente, em
todo o caso, o comércio xilográfico tomou uma grande extensão; um
pouco por toda a parte espalham-se imagens como as da Virgem de
• Bruxelas (1423), do São Sebastião de Viena (1437), de São Roque ou de
Santa Apolónia, destinadas a ornamentar os lares da gente comum, mas
também para lhes servir de protecção: São Cristóvão, padroeiro dos via-
jantes, preservava da morte súbita; São Sebastião protegia contra os feri-
mentos; São Roque contra a peste; e Santa Apolónia, contra a dor de
dentes. Outras imagens, cuja posse estava talvez ligada a algumas indul-
gências, devem ter sido vendidas aos milhares nas peregrinações ou à
porta das igrejas e nas feiras.
As primeiras xilografias eram simples estampas sem texto. Mas logo
pareceu útil inserir, em bandeirolas para esse efeito talhadas, ou em nota
entre os espaços brancos que separavam as figuras, curtas legendas,
primeiro escritas à mão, depois gravadas na madeira como a própria
imagem. Ao mesmo tempo, as xilogravuras «secularizavam-se»: apare-
ciam alfabetos fantásticos com figuras de homens ou de animais; e fólios
representando histórias lendárias, como por exemplo, a dos Nove Valentes;
sobretudo, nascia uma verdadeira indústria que rapidamente viria a
tomar-se próspera - a das cartas de jogar, a partir de então gravadas em
madeira e coloridas, deixando de ser desenhadas à mão e com ilurninuras;
tudo isto sem prejuízo dos cartazes satíricos, folhetos comerciais e,
ainda, calendários onde o texto era naturalmente mais importante do que
a ilustração".
Bem depressa também uma só folha não chegou; os pequenos livros
xilográficos, formados de cadernos como os livros, de formato em geral
correspondente ao nosso pequeno in-d.", fizeram então o seu apareci-
mento. Uma literatura inteira desenvolveu-se desse modo; nela se encon-
travam os temas religiosos e morais mais populares da época: Apocalipses
figurados, Bíblias dos Pobres, Histórias da Virgem, ou, ainda, Espelhos da
Redenção, Paixões de Cristo, Vidas de Santos, Artes de Morrer, etc,
Pequenos livros, nos quais o texto ganhava importância ao lado da
ilustração, davam, aos «pobres clérigos» isolados, exemplos para a
preparação dos seus sermões e para o ensino da religião. obr tudo p '10
1110 'o xlloj.'llIvlldo /'101111 (ccrcu til' I lHO),
1'llIplllI'1I10 111'1111111
xllo '1IIVII"1 ,k,roI1l'111I1IIl Wl', XIX,
M M( )1(11 I, (' , (I/'. (11, )I, 1H, 'o I' 'I 'S, 1.11\1/ d, 1111.11111
01 dI d" uluu
01,11 1I111.1111i111111

• f\1()1! 11 I, ( ,(11' ,'1,)1 11 1I111f\I,


58 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO
59

preço e concepção, tornavam o livro, pela primeira vez, acessível às


classes populares; mesmo quem não sabia ler podia compreender o
sentido dessas sequências de imagens, e quem possuía alguns rudimentos
- o próprio êxito destes livrinhos cujo texto ganhava uma importância
crescente parece provar que tais pessoas eram em grande número - seguia
tanto mais facilmente as explicações quanto estivessem redigidas em lín-
gua vulgar.
É com estas obras, muitas das quais, sublinhamos, são posteriores à
descoberta da imprensa, que termina, mal tinha começado, a carreira do
livro xilográfico. Mas não a da xilografia; as figuras gravadas para estes
livrinhos, com efeito, estão na origem das ilustrações em madeira que se
encontrarão desde cedo nos incunábulos: os primeiros livros ilustrados
são mesmo frequentemente ornamentados com gravuras que tinham
servido para xilografias independentes. Durante séculos, até ao apareci-
mento da fotografia, o comércio das estampas permanecerá florescente ao
lado do livro.

*
* *
Nenhum outro documento, sem dúvida, foi esquadrinhado com tanta
atenção, interrogado com tanta perspicácia, quanto aos livros xi lográ-
ficos que chegaram até nós - raros vestígios de uma indústria certamente
muito activa e cuja raridade se explica precisamente pelo êxito que
conheceram junto de um vasto público que nada zelava pela sua conser-
vação. Sabe-se que a maior parte dos que chegaram até nós deve tão
somente a sobrevivência à sua inserção nas guardas dos livros encaderna-
dos ou no fundo de pequenos cofres. Não reavivemos aqui velhas contro-
vérsias sobre o país ou a região que detém a prioridade dessa arte, sobre a
data deste ou daquele livro xilográfico, a origem ou a qualidade dos
artesãos que talharam os blocos. Coloca-se outra questão que diz direc-
tamente respeito à marcha da invenção da tipografia: como as primeiras
xilografias apareceram bem antes da invenção da imprensa, seria tentador
estabelecer uma filiação entre a xilografia e o livro impresso: os gra to. «Hfblia dos Pobres»: Bibiia pauperum,

vadores de madeira, cansados de voltar a gravar novos caractcrcs para lhuxo R 'no ou Países Baixos, cerca de 14607

cada página, não terão imaginado, um dia, recortar dircctarnant ' na chapa
os caract ercs a s 'r Il1 gravados, ou m 'SIl10 talhar .aruct .rcx isolados que Sl'
pudcsxcm juslapol til' modo a cumpor 11111texto? Apos o qu,-, pOI 1111'10dI'
11111novo IIV/Ol o. IlIdo M' l'olljlllava plllJl 1I1l~111111I11Illildl'lIí1 11'1011111;11
60 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO
61

Hipótese sedutora. Teve outrora grande voga, e foi mais ou menos possibilidades que o papel oferecia para a reprodução industrial dos
adoptada por alguns historiadores da imprensa, no século passado. É preciso textos. É certo também que o êxito das xilografias permitiu entrever o
dizer que ela não resiste - pelo menos nessa forma tão simplista - a um I ito que obteria um processo mais aperfeiçoado. Talvez, em suma, a
exame, por pouco profundo que seja. Por um lado, muitas xilografias irunde difusão das xilografias tenha estimulado Gutenberg nas suas
(sobretudo entre aquelas que apenas contêm um texto escrito) datam, pesquisas e levado Fust a ajudá-lo com o seu dinheiro. Talvez também
como dissemos, da segunda metade do século XV: são, portanto, poste- .rl 'uns caracteres tenham sido fundidos, de início, em moldes de terra
riores ao aparecimento do livro impresso, a que continuam a fazer con- IIIld' tipos de madeira tinham deixado a sua marca. Ou ainda, talvez se
corrência no domínio da literatura popular. É preciso, sobretudo, levar I1Ilha experimentado, primeiro, processos metalográficos destinados a
em conta as dificuldades e mesmo as impossibilidades técnicas. Dificul- 11 produzir as chapas xilográficas. Uma vez mais, essas mesmas pesquisas
dades, por se tratar de talhar caracteres de madeira com precisão sufi- 1110podiam ter sido empreendidas e levadas a bom termo sem especialis-
ciente para se poderem juntar correctamente (visto que a madeira «dá ItI daquela actividade e, sobretudo, em fundição de metal. São elas que
de si» sob a acção da secura e da humidade). Dificuldades, ainda, resul- 111Vl'1l10S agora evocar.
tantes da rápida deterioração desses mesmos caracteres, que teria sido
necessário dar-se ao trabalho de talhar em grande número, um por um.
Impossibilidades, enfim, se se tratasse de substituir a madeira pelo metal: 11. «I)ESCOBERTA» DA IMPRENSA
o gravador de madeira ignorava tudo sobre o talhe e, sobretudo, sobre a
moldagem e a fundição de tipos de metal; ora, essas técnicas estão na base Que problemas se colocavam, pois, exactamente aos pesquisadores
da noção de imprensa, tal como ela viria a aparecer no Ocidente. '1111 . 11.ssa primeira metade do século xv, tentavam encontrar um meio
Por outro lado, os documentos provam bem que os primeiros livros Iuuodo de multiplicar os livros, susceptível de ser utilizado de maneira
impressos não saíram de oficinas xilográficas adaptadas à nova tarefa: 11111 ,1I1i'a? Para responder a estas questões, convém, primeiro, recordar
foram feitos por especialistas do metal. Gutenberg, que, talvez a justo 111I1I1IIS noções e indicar em poucas palavras qual foi a solução finalmente
título, é tido tradicionalmente por inventor da imprensa, tinha sido 11 h1111Ida no Ocidente: como dissemos, ela deveria permanecer, com modi-
ourives; ourives também, esse Procópio Waldvogel, de Praga, que, em 111,I tks ' aperfeiçoamentos de pormenor, na base de toda a indústria
simultâneo, prosseguia com investigações análogas às do homem de 111'11 "11ri 'a até à Revolução Industrial e técnica do século XIX.
Mogúncia. Ourives ainda, muitos mestres impressores da primeira gera- I ; .nica de impressão manual pode reduzir-se a três elementos
ção, de Basileia especialmente, aliás com frequência inscritos na corpo- 1111lUIS: os caracteres móveis em metal fundido, a tinta gordurosa e
ração dos ourives. . 1'11111"',
Assim, o livro impresso não poderia ser considerado como um aper- Nilo nos debruçaremos nem sobre a tinta gordurosa nem sobre o
feiçoamento da xilografia. Factos característicos: o uso da tinta espessa, a 11111I lul I icação de uma tinta mais espessa do que a comum; a construção
tinta da imprensa, negra e nítida, parece ter substituído nas xilografias a I 1111111 1'1'usa para imprimir que permitisse abandonar o antigo processo
antiga tinta, feita à base de negro de fumo, geralmente castanha e fluida 11 111 I11
11dor, 'aro aos praticantes da xilografia: problemas relativamente
em demasia, somente depois do aparecimento do livro impresso. Do 1111 I th resolver, secundários, digamos, se comparados com o problema
mesmo modo, na indústria xilográfica, o prelo substitui o antigo processo 1111111.nquclc que exprime a própria essência da imprensa ou, pelo
de brunidor, que só permitia imprimir a folha de um dos lados, unicam nt I 1111 • do processo d impre: são posto em prática no Ocidente no tempo
após a invenção da imprensa". 1,1111111111 " l' ti xdc ntão usado por todos os tipógrafos até ao final
Não que o livro impresso nada deva ao xilogrãfico. A vista das 11111I : compor uma pá zina por meio de caracteres móveis ind _
gravuras e dos textos gravados em madeira pôde tornar mais tan zfv is as IIdl 1111,

"., /,11/, JI '11 ~,


62 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DlFlCULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 63

,I probabilidade, os primeiros pesquisadores recorreram inicialmente a


*
* * 1IIIIrosmétodos - e só pouco a pouco chegaram à solução definitiva; tra-
h,IIhos recentes levam a supor que, sem dúvida receosos da extrema
Recordemos em que consiste o processo. Para cada tipo de carácter 111I1t1 'Z de uma página formada de múltiplos caracteres móveis, e também
ou signo tipográfico, é preciso, primeiro, fabricar um punção em metal I" Ia dificuldade de manter esses caracteres reunidos e formando, no
duro, em cuja extremidade é gravado o carácter ou signo em relevo. Esse 111I1\lll: nto da impressão no papel, uma superfície plana perfeitamente
punção serve para fazer pressão sobre uma matriz de metal menos duro, 1IIIIIIit'iadade tinta na sua totalidade - os primeiros pesquisadores, ou pelo
onde a imagem se imprime em côncavo. Colocada num molde, essa matriz 1111 IIOSalguns deles, tenham inicialmente tentado superar as dificuldades,
permite, enfim, fundir tantos exemplares quantos forem necessários para 1i .ihzundo páginas-blocos cujos caracteres eram fundidos juntos, a partir
executar a impressão desejada daqueles caracteres de metal fundível a di 11111;\ matriz-bloco construída com punções independentes".
baixa temperatura (estanho, por exemplo, ou chumbo), nos quais o signo Cnrn estes dados em mente (demo-los de uma só vez para permitir
tipográfico aparece em relevo como no punção. 111h unr compreender mais facilmente a exposição que se segue), passe-
Neste domínio, os pesquisadores beneficiaram da experiência dos 11111IlIS documentos que nos permitem entrever que pesquisas levaram ao
ourives e dos gravadores de medalhas e de moedas, aliás recrutados fre- ünu runumcnto da imprensa.
quentemente entre os ourives. No que diz mesmo respeito aos livros, já se 1111 -lizrnente, possuímos muito poucos. Raríssimos, os documentos
sabia como preparar estampilhas ou placas de metal em relevo ou em côn- I lilIIIIVOque chegaram até nós são dos mais difíceis de compreender.
cavo, destinadas a ornamentar as encadernações de legendas curtas e de 1I 11,llIdos de uma técnica em via de criação, não dispunha ainda do
figuras. Desde o século XIII, os fundidores de metais sabiam usar os I I ,illllllllio técnico apropriado para designar os utensílios e o material
punções gravados em relevo para fabricar matrizes côncavas em moldes 11 1111) pl,los pesquisadores que se esforçavam por desenvolver a nova
de terra - graças às quais obtinham inscrições em relevo nas peças de II I \I 110 -m gestação. Quase tão raras também, embora mais explícitas,
fundição. Desde o século XIV, os fundidores de vasos de estanho possuíam I 1111111 .1,'0'S que se podem recolher das crónicas do tempo. Quanto ao
matrizes de cobre. De há muito tempo, enfim, que se utilizavam punções 11111dns mais antigos livros impressos que até nós chegaram, se
para preparar moedas, medalhas e, mais tarde, sinetes. Se as medalhas e 1111111 u muitas hipóteses, nada nos ensina de seguro sobre o processo das
as moedas eram vulgarmente obtidas inserindo uma lâmina de metal doce I' '1"1"~, il maior parte deles parece, aliás, ter sido executada numa
entre dois cunhos que se batiam com um martelo, sabia-se também obtê- 11111 I 1111qu o processo era quase perfeito e já se aplicava de forma
I

-Ias fundindo o metal num molde. Este último processo, usado desde a 11.111 111,11
Antiguidade, conheceu precisamente um novo florescer na Itália dos I 111pnrn .iro lugar, os documentos dos arquivos. Vejamos, antes de
finais do século XIV68• I I 111,'as sibilinas do famoso processo de 1439, em Estrasburgo".
Conhecia-se, pois, perfeitamente, na primeira metade do século xv, 11111,11111,1111 ti Mogúncia, João Gensfleisch, dito Gutenberg, ourives de
I I

não só a técnica de fundição em moldes de metal ou de terra (areia fina e I 1I1 ,11. 1II1111ldo de uma família de moedeiros e pessoalmente estabele-
argila), como também a de cunhagem; sabia-se aliar estas duas técnicas
para obter uma matriz côncava a partir de punções em relevo, e, fundindo
metal nessa matriz, figuras em relevo, o que constitui o próprio princípio 1I11N.Muuricc, «La m tallographie et le problême du livre»,in Gutenberg-
t
da fabricação de caracteres. Restava conceber a ideia de adaptar esta t c- 11/1/1" 1 110. pp. 11 'i_: «Typographic
1 el stéréographie», in Gutenberg-Jahrbuch,
I 1'1' ' \I I 1ll)IN,Murius, SOIl/II/I' tvpographique, t. I, Paris, 1948.
nica às necessidades da imprensa - e, secundariamente, resolver os pro
1I1 I Ili lI{ 1>1',/),0/11I(1' d/, / 'ininritneri« () Strasbourg, Paris,IR40: MORTET, C"
blemas de pormenor que esta adaptação colocaria. Veremos qu • com toda II 1'1' \ 1 I 111'1'1'1 , A • Juhuntu:« (;IIII'IIII/'/g. ,\,";11 /."'1/'11 1I1II/.II'ill WI'rk, Hcrlin,
1 1'111.1 111111111 11111111" ~tlhl\'I1qlll'~IHtl,Il'PlIIllI1Nl' I11.l1l,'IN(i,11.,«Nciu-
11111 111 I•• IlIh1111
di 11111 hWI 'I'II~' 111 I/lMI'/,1I""/1111,1<1'\111"'1111', VII111'1 I

•• I/,/t/"/I/, P \ I, I'I' 'I I '" I


64 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO
65

cido em Estrasburgo em 1434, provavelmente havia vários anos, esteve juxta scientiam et praticam scribendi... una cum ingeniis de fuste, de
associado, de 1436 a 1439, a três outros personagens - Hans Riffe, André stagno et de ferro ... ingenia et instrumenta ad scribendum artificialiter in
Dritzehn e André Heilmann - para tirar partido, tendo em vista a feira de lettera latina.
Aix-la-Chapelle, de processos industriais que lhes comunicou secretamente Qual era exactamente o processo que Waldvogel se esforçava por
em troca de uma soma de dinheiro", Tendo morrido André Dritzehn, os criar? Aqui também, à falta de um vocabulário técnico apropriado, se
seus herdeiros pedem para lhe suceder na sociedade, e daí a instauração colocam problemas de interpretação litigiosos, de forma que é impossível
do processo cujas peças chegaram até nós. Por elas sabemos que os dar uma resposta certa. Chegou a pensar-se que se tratava de um simples
segredos de Gutenberg se referiam a três objectos diferentes: o polimento processo de estampagem, ou mesmo de uma espécie de máquina de escre-
de pedras, a fabricação de espelhos (se interpretarmos assim o termo ver. Isso parece bem improvável: os dois alfabetos de aço mencionados na
Spiegel) e uma «arte nova» para a qual se recorre a um prelo, a «peças» acta de 1444, as quarenta e oito letras gravadas de ferro e as 27 letras
(Stücke) que se separam ou que se fundem; a formas (Formen) de hebraicas das de 1446 poderiam muito bem ser punções, ou talvez
chumbo, e, por fim, a «coisas relativas à acção de pressionar» (der tu dem matrizes. As «formas de estanho» (formas de stagno) poderiam ser resul-
Trücken gehõreti. Estes textos, susceptíveis de múltiplas interpretações tado de fundições. Mas como interpretar o vocábulo forma já usado nos
contraditórias, parecem indicar, pelo menos, que Gutenberg se ocupava de documentos do processo de Estrasburgo? Trata-se de caracteres isolados
impressão. Mas nada, ou quase nada, permite conceber o sentido das suas ou de um conjunto de caracteres fundidos conjuntamente - talvez uma
pesquisas, o seu estado de avanço ou o processo por ele usado, embora página? Neste caso, não se trataria de páginas-bloco e, no caso das formas
se possa supor que já então imprimisse livros habitualmente. Não insis- ferreas referidas em 1444, não se trata de matrizes-bloco construídas
tamos, por conseguinte. De resto, ele não era o único a pesquisar. pela justaposição das marcas dos punções? Tal é a tese sustentada por
Documentos encontrados em Avinhão revelam-nos que um outro ourives, Maurice Audin".
Procópio Waldvogel, originário de Praga, entre 1444 e 1446, assinou
vários contratos com os habitantes de Avinhão", pelos quais se compro- *
metia a ensinar, a uns, a arte da ourivesaria (ars argentaria), a outros, a * *
arte de escrever artificialmente (ars scribendi artificialiter). Num contrato
de 1444, são referidos duo abecedaria calibis, et duas formas ferreas, Dos documentos de arquivos passemos às fontes narrativas. Em
unum instrumentum calibis vocatum vitis, quadraginta octo formas primeiro lugar, o famoso texto das Crónicas de Colónia (1499), tanto mais
stangni, necnon diversas formas ad artem scribendi pertinentes. Em interessante quanto o autor declara ater-se às informações de Ulrich ZeIl,
1446, refere-se também que Nonnulla instrumenta sive artificia, causa () primeiro impressor de Colónia que tivera relações com Schoeffer, um
artificialiter scribendi, tam de ferro, de callibe, de cupro, de lethono, dos colaboradores de Gutenberg. Eis uma tradução desse texto: «a arte
admirável [da imprensa] foi inventada primeiro na Alemanha, em
de plumbo, de stangno e de fuste. No mesmo ano, Waldvogel fornece,
M()g~ncia sobre o Reno ... Isso aconteceu pelo ano do Senhor de 1440, e,
ou promete fornecer ao judeu Davin de Caderousse um material desti-
ti 'pOIS dessa data, até ao ano de 1450, esta arte e tudo o que com ela se
nado à reprodução de textos hebraicos e de textos latinos: viginti
f' .luciona não deixou de ser aperfeiçoada ... Se bem que esta arte tenha sido
septem litteras ebreaycare formatas, s( c)isas in ferro bene et debite
mvcntada em Mogúncia, como dissemos, o seu primeiro esboço (vurbyl-
dI/11M), no entanto, foi realizado na Holanda, com os Donatos que lá se

7\ Lembremos, de passagem, que André Heilmann possuía uma fábrica de papel


imprimiam tgedruckt syn) antes dessa época. Desses livros data, assim, o
perto de Estrasburgo; cf. RITTER, F., op. cito p. 67 e p. 487. l ()IIH.'~·[)da art ' sobredita; actualmente, ela é muito mais magistral e mais

11 REQUIN. H .• «Docurncnts inédits SUl' Ics origines de Ia typographic», in Bullctin


historiqt«: /'1 ,'11ilol/lf.: i/IIIt' tI/I C'lIl11ill dcs Iml/{//II histmirnu» 1'1 scientifiqur«, I !NO. p. ")HH
I I" • 1 pp \'K \ O, I 'iuu» "'11" i,' "A"'l:llol/ rn 1,1,. PiI! ". I KI)() \ I II IIN MIIIIII ''''/'11",,,,,,
• ,\'11"""" 11'/'11 t I.
66 o APAREClMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 67

subtil do que era na primeira forma; com o tempo, aperfeiçoou-se ainda *


mais (mehr künstlicher wurdenys", * *
Eis, pois, evocada a tão controversa questão de uma «primeira
maneira» praticada na Holanda, e que suscitou e ainda suscita tantos tra- Perante a imprecisão de todos estes textos, perante os problemas d '
balhos e hipóteses", Levando em linha de conta o facto de ter sido muito interpretação que colocam, encontramo-nos, pois, reduzidos a conj '(.'
usada na Holanda, chegou a pensar-se que se tratava de xilografias. Mas turas, amiúde muito hipotéticas, sobre eventuais tentativas de imprcssao
conhecia-se também essa técnica na Alemanha, na região renana, e em realizadas na Holanda. O exame dos próprios livros também quase nada
França. E outros textos, tardios, é certo, mas atestando uma lenda viva, nos informa sobre a técnica dos primeiros pesquisadores. Um facto,
vêm confirmar a hipótese segundo a qual, na Holanda, se teriam pro- todavia, merece ser notado: referimo-nos a uma série de livros tipográf
duzido impressões por meio de um processo que frequentemente se tentou cos não datados, de proveniência holandesa muito provavelmente, entre
reconstituir. Em 1561, dois humanistas de Harlem, Jan Van Zuren e Dirk os quais duas folhas de Um Abecedarium e quatro folhas de um Donato,
Volkertroon Coomhert, reivindicam para a sua cidade a glória de ter sido conservados na Biblioteca de Harlem; alguns especialistas acreditaram
o berço da arte tipográfica. Por volta de 1568, um médico de Harlem, poder afirmar que os caracteres que serviram para imprimi-los foram fun-
Adriano de Jonghe, numa Crónica da Holanda que deveria ser impressa didos, não em matrizes de metal, mas em moldes de areia, talvez por meio
depois da sua morte, relata uma tradição local segundo a qual um habi- de punções de madeira. É bem provável que essas obras sejam posteriores
tante dessa cidade, Lourenço Janszoon, apelidado Coster, teria inventado, às primeiras impressões de Mogúncia, mas poderia admitir-se que a téc-
antes de 1441, a arte de juntar caracteres móveis de metal fundido com nica usada para produzi-Ias fosse inspirada num método anterior ao usado
vista à reprodução mecânica de um texto; teria impresso um Speculum naquela cidade".
humana: Salvationis, um Donato, e outros livros, e o seu segredo teria sido Outros, mais qualificados do que nós, esforçam-se ainda agora por
divulgado, em 1442, em Amesterdão, depois em Colónia e em Mogúncia, .sclarecer estes problemas. Limitemo-nos a observar que, sem dúvida,
por um operário que o teria abandonado". jamais será possível determinar com segurança as fases que os pesqui
Por vezes, compararam-se os textos mencionados acima com algu- sadores tiveram que ultrapassar antes de chegarem a resultados defini
mas menções de compras, feitas em Bruges, de Doutrinais «postos no tivos. A questão essencial que se coloca é a da fabricação dos caractcrcs.
molde»: encontram-se elas nos Memoriais de Jean le Robert, abade de Qual era a natureza dos punções usados logo nos primeiros ensaios? As
Saint-Aubert de Cambrai, datados de 1445 e 1451. Mas, aí também, matrizes foram sempre de metal, e não se utilizou, originariamente, a ar 'ia
coloca-se uma questão de interpretação. A expressão, «posto no molde», fina ou a argila? Neste caso, não se recorreu a punções de madeira? Nuo
é sinónima da expressão «talhado no molde»? Nesse caso, tratar-se-ia de se construíram moldes de chumbo, fundindo o chumbo em redor de um
simples xilografias (os fabricantes de cartas de jogar eram então qualifi- punção de madeira ou de metal, e não se fizeram caracteres de chumbo ou
cados como «talhadores de moldes»). Fará a expressão, «posto no dl' metal por meio destes moldes de chumbo? Executou-se, prim 'i
molde», pelo contrário, alusão a uma técnica metalográfica, pela qual a r:II" ntc, matrizes-bloco e páginas-bloco? Se é impossível indi ar n 'stl'
página teria sido moldada num único bloco, em matriz preparada de ilomfnio as fases que demarcaram o caminho dos pesquisadores, um íu 'to
antemão? Por vezes, chegou a pensar-se que sim. ( t' .rto, de qualquer modo: tacteou-se durante muito tempo antes (k
(ltl ':11' l solução definitiva. E outro facto parece igualmente S' '1110,
I (lI '"11 numerosos os pesquisadores que, um pouco por todo o lado, l'OIlUI
('ostl'r (se existiu) na l lolanda, como utcnbcrg, Fust ' Scho fi 'I, ('111
74 MORTET, C., op. cit., p. 37.
71 As principais discussões sobre esses trabalhos encontram-se enumeradas na biblio- Mil -uucin. como Waklvo 'I, 'Jll Avinhão, se 'sl'on;aratll por cruu 11111
1

'raria 'lahOl"ada por SCIIOLDERER, v.. «Thc Invcntion of printing», in Tii« Librarv, XXI,
JII"ho. 11/.10, pp. I ")
MIlH 11 I ( "/' /11, P \1/, \' S( 'I li li DI 1 1,I ,V "I' til., P ). ( 1 IIt1111 11" I
68 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 69

processo - ou processos - de reprodução mecânica dos textos. E a ausên-


cia de documentos impede-nos muito provavelmente de acrescentar a
estes nomes os de outros pesquisadores que, também eles, devem ter aten-
tado no mesmo problema nesses anos de 1430-1450, quando o êxito das
xilografias anunciava, a toda a gente e em todo o lado, a utilidade e o
futuro de uma tal invenção.

*
* *
Seja como for, em 1445-1450, estas pesquisas estão a ponto de
alcançar êxito, se é que o não alcançaram já, e os quinze anos que se
seguem correspondem a uma fase decisiva da história da imprensa: aquela
em que a invenção, definitivamente concluída, é aplicada no plano indus-
trial e começa a propagar-se na Europa.
Mogúncia, sem qualquer dúvida, foi o berço dessa primeira indús-
tria, cujo desenvolvimento aparece ligado a três nomes: Gutenberg, o
homem do processo de Estrasburgo, João Fust, um rico burguês que
desempenhava o papel de banqueiro, e Pedro Schoeffer, um antigo estu-
dante da Universidade de Paris que foi talvez copista e calígrafo antes de
se fazer impressor.
Gutenberg, na verdade, depois de ter permanecido em Estrasburgo
pelo menos até 1444, tinha regressado em seguida à sua cidade natal,
antes do mês de Outubro de 1448. Para continuar as suas pesquisas e con-
cluir a preparação do seu processo, precisava de capitais: encontrou um
capitalista na pessoa de Fust, que lhe emprestou, primeiro, 800 florins, a
um juro de 5% (1450), para providenciar o fabrico de alguns instrumen-
tos (Geczuge); após o que lhe prometeu 300 florins para o «trabalho dos
livros» (Werk der Bücher), mediante um novo contrato, no qual estavam
previstas as despesas de compra de papel, de pergaminho e de tinta: tudo
isto indica que Gutenberg estava a ponto de alcançar o objectivo, se já o
não tinha feito. Mas, em 1455, um golpe de teatro: Fust acusa Gutenberg
de não cumprir com os seus compromissos, leva-o a tribunal, e fá-lo ser
condenado a pagar os juros devidos e a restituir o capital ainda não gasto".
Dois anos mais tarde, em 14 de Outubro de 1457, aparecia a primeira obra
com data conhecida: o Saltério de Mogúncia, obra de Fust e do seu novo
A Bfhlia de lutcnbcrg, dita de 42 linhas. Levítico, f61io 15.

1M MORT ·T, ., op. cit., p. 51 e segs.; e BLUM, R., Der Prozess FIIsl /-:l'f.!ell
(illll'lIlwrf.!, Wicshnd, n, 19'i4.
70 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 71

SOCIO, Pedro Schoeffer. Em seguida, Schoeffer faria progredir os seus a ensinar os rudimentos do latim; calendários em língua vulgar; «cartas de
negócios e a sua oficina permaneceu durante longo tempo, até ao princí- indulgência», quer dizer, recibos dados a quem comprava as indulgências
pio do século XVI, como uma das mais importantes de toda a Europa. outorgadas, em 1451, pelo papa Nicolau V para socorrer o rei de Chipre,
Subsistem muitos mistérios. A perfeita execução do Saltério de Guy de Lusignan; obras mais importantes também: a famosa Bíblia de 42
Mogúncia prova que não se tratava de um ensaio. O exame de certos linhas na qual se reconhece tradicionalmente o primeiro livro impresso; a
Donatos e de calendários astronómicos alemães leva a pensar que já se Bíblia de 36 linhas, em 3 volumes in-folio, anterior a 1461; o Saltério de
imprimia, e já de modo industrial, desde 1450, o mais tardar. Nestas con- Mogúncia, a que acima nos referimos; o Missal de Constância, ou ainda o
dições, não terá Gutenberg realizado impressões antes mesmo do seu Catholicon, de Giovanni Balbi (1460), e, depois, muitas outras: todas
regresso a Mogúncia, e sobretudo por ocasião da sua associação com estas obras saídas dos primeiros prelos de Mogúncia e que, tendo sido
Fust? E este último, ao verificar que as pesquisas de Gutenberg tinham
objecto de estudos minuciosos, foram agrupadas em várias categorias,
resultado, não se terá, então, graças a um processo, desembaraçado de um
segundo a forma dos seus caracteres". Houve eruditos que tentaram
inventor que se tomara incómodo e que substituiu por um dos assistentes
atribuí-Ias a determinadas oficinas. Sem segui-los por essa via, verifique-
dele, Pedro Schoeffer, que conhecia os segredos do seu mestre, se
mos que, nesse período em que se começa a usar a imprensa para fins
mostrava mais flexível e possuía o sentido dos negócios? Neste caso, não
aparece Gutenberg como o tipo do sábio a quem se despoja do segredo a industriais, os tipógrafos ganham pouco a pouco confiança na sua força,
que consagrou anos de pesquisas? Terá continuado os seus trabalhos após sem dúvida à medida que a sua técnica se aperfeiçoa e que melhora o
a ruptura com Fust? Que aconteceu a Gutenberg? Terá prosseguido os método de produção: durante os primeiros anos, apenas imprimem avisos
seus trabalhos em Bamberg, como se chegou a imaginar sem provas deci- e pequenos livros; depois, ganham coragem e publicam grandes obras.
sivas? Aquilo que dele se sabe, após 1455, limita-se a bem pouca coisa: Quando o impressor Pfister, de Bamberg, tem a ideia de acrescentar figu-
pensou-se que teria vivido na penúria porque, de 1457 até à sua morte, não ras gravadas ao texto, o livro acaba por tomar o seu aspecto definitivo,
conseguiu pagar ao cabido de S. Tomás de Estrasburgo a soma de 4 libras ao mesmo tempo que os discípulos dos primeiros tipógrafos, dissemi-
que devia a título de juro anual por um empréstimo efectuado em 1442. nando-se por toda a Europa, começam a ensinar o processo de difusão do
Em 1465, no entanto, o arcebispo Eleitor de Mogúncia concedeu-lhe um pensamento mais eficaz que se virá a conhecer até ao nosso tempo.
título de nobreza por serviços pessoais e vinculou-o ao seu palácio de
Eltville, onde nos poderemos interrogar se não terá instalado uma oficina
de impressão. Em todo o caso, se numerosos textos contemporâneos subli- 11I. A FABRICAÇÃO DOS CARACTERES
nham o papel que ele desempenhou na invenção da imprensa, o nome de
Gutenberg, em compensação, não figura na assinatura de nenhum livro". Por mais primitivos que tenham podido ser os métodos emprega-
dos, os primeiros impressores conseguiram frequentemente produzir
* obras-primas. A Bíblia de 42 linhas, a famosa Bíblia de Gutenberg,
* * provoca ainda hoje a admiração dos especialistas que a examinam. Mas
t custa de quantas dificuldades, de quantos cuidados e de quanto tempo
A partir dos anos de 1450-1455, verifica-se que várias oficinas fun-
cionam simultaneamente em Mogúncia e produzem, de modo industrial, pôde um tal resultado ter sido obtido? Faltava ainda realizar outros pro-
um grande número de obras: gramáticas de Donato resumidas, destinadas ir essos técnicos para melhorar o rendimento da nova indústria. Muitos
problemas se colocavam, com efeito, que só pouco a pouco podiam ser
I 'solvidos P 'Ia prática e a experiência obtidas em resultado de tentati-
7" Sobre Gutcnbcrg, reportar-se essencialmente a RUPPEL, A., op. cito Sobre uma
-vcntuul estadia de lutcnberg em Barnberg, ver: ORES LER, A., «Hat Gutenberg in
1l;1I11111'1' P '(li 11'1-.1'1», in 0(/,\' 11111;1/1/(11;(1, 1955, pp, 197 20() e p. 229 'scgs, I iscuiido '" SII M()()I{ 1)1\ RIC'('I, ('(lI(I/IIM/II' rnisonn» dr» prcniiõn:« ;/1/111'1',\',\';0/1,\' til'

1'"1 IIII·IN(' 11 .. NIIII·1 ill'loIllII 111I (l1~l'IlIl'htl' chos 1l1l1·hwIM'IIS»./III' til (,/I" /" / ,MII~'1111l1\ 11)11
72 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DlFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 73

vas e de pesquisas que os eruditos e os historiadores não são capazes *


de reconstituir. * *
Em primeiro lugar, os múltiplos problemas que eram postos pelos
caracteres e pela sua fabricação. Não bastava ter criado o sistema punção- Os caracteres propriamente ditos colocavam problemas análogos.
-matrizes-caracteres que permitia obter tipos móveis; era preciso encon- Chegou-se de repente à descoberta de uma liga suficientemente resistente
trar ainda metais e ligas de resistências bem diferentes para que o punção para impedir um desgaste demasiado rápido? Perceber-se-á até que ponto
não se estragasse depois de ter pressionado apenas algumas matrizes e o problema era árduo se nos lembrarmos de que os caracteres actuais são
para que a matriz não se gastasse demasiado depressa depois do contacto compostos de uma liga de três metais - chumbo, estanho e antimónio -
com uma liga em fusão; era preciso também que esta liga pudesse ofere- misturados em proporções muito rigorosas para obter uma resistência
cer caracteres susceptíveis, não só de receberem a tinta de modo ade- máxima; feitos unicamente de chumbo, oxidar-se-iam; compostos de uma
quado, como também de não se deteriorarem demasiado rapidamente mistura de chumbo e estanho, não seriam bastante duros.
com o uso. Os caracteres do século xv (e mesmo os dos três séculos seguintes)
Ora, parece que os primeiros punções foram feitos com latão ou eram certamente resistentes. Menos talvez do que os caracteres actuais:
bronze, metais menos resistentes do que o aço (utilizado em seguida) e Ambrósio Firmin-Didot, ao estudar as impressões gregas dos Aldos, veri-
que se fez uso de moldes-matrizes obtidos vertendo chumbo à volta dos ficou que os caracteres que usavam se gastavam rapidamente; em 1570,
punções, e, seguidamente, de moldes de chumbo, antes de se ter recorrido Paulo Manúcio debatia-se ainda com dificuldades deste género, pois pedia
a matrizes de cobre. Muitas vezes se atribuiu a Schoeffer a introdução do para lhe fundirem caracteres novos para qualquer livro novo que estivesse
aço e do cobre no fabrico dos punções e das matrizes. Mas, por vezes, a preparar: sem o que, escrevia, estariam gastos em quatro meses, quando
também se pensou que o uso de punções de aço datasse apenas do último chegasse à metade do volume". Baseando-se essencialmente nas indi-
quartel do século XV, e, no início do século XVI, ainda se encontram cações fomecidas pelos colofones onde é com frequência indicado que a
matrizes de chumbo". Nestas condições, a natureza do metal usado, e impressão foi realizada staneis typis, chegou-se a supor que os primitivos
talvez também a sua qualidade, poderia contribuir para explicar a infinita caracteres eram feitos de uma liga à base de estanho. Ter-se-á hesitado em
diversidade de tipos do século xv - fabricados a partir de punções e de adicionar-lhe demasiado chumbo para evitar que a fundição de caracteres
matrizes que, por vezes, deviam ficar fora de uso muito depressa. < base de chumbo nas matrizes de chumbo (operação possível mas deli-
Inconveniente tanto mais grave quanto os signos tipográficos eram muito cada) as estragasse? Por outro lado, supôs-se que o antimónio terá sido
mais numerosos do que hoje - pois o desejo de imitar as escritas manus- introduzido demasiado tarde na mistura, visto que as minas de antimónio
critas levava os tipógrafos a mandar fundir juntamente letras reunidas por só foram exploradas no século XVI. Um único obstáculo a esta teoria que
ligamentos, e o uso de abreviaturas (ã = an .ou am; q = quia, etc.), trazia convém, pelo menos, matizar: os mais antigos caracteres chegados até
consequências análogas. E podemos interrogar-nos se o abandono pro-
nós, caracteres de Lyon dos finais do século XV ou inícios do século XVI,
gressivo da utilização desses ligamentos e abreviaturas, tão numerosas
que foram estudados por Maurice Audin, revelaram-se, à análise espec-
nos livros impressos do século XV e princípio do século XVI, não teve em
trul, formados de uma liga temária: estanho, chumbo, antimónio, e, por
parte origem no desejo de diminuir o número de punções a serem talha-
Vl''1. 'S, com um pouco de prata ou de ferro". Nestas condições, só uma
dos e de matrizes a serem cunhadas: manifestação dessa tendência para a
uniformização e a simplificação que, em muitos domínios, caracteriza a
evolução do livro e da sua indústria.
"' FIRMIN DIDOT, A., A/de Manuce et I'hellânisme à Venise, Paris, 1875, p, 99
I M'j!~.
"Suhl(' os curuct 'I'S mcontrudos no Sa H1 " V 'r AUI IN, Mauricc, «À propos d 'S
"(;lhESEKE, A., «Das Schriftmetall Gutenbergs», in Gutenberg-Jahrhuch, 1944- III I' IIIH (I' It'( IIIII(I\I('S typoj!llIphiq\l('s", in Bihlinth, 1/"/' //'1111/1111111.1'1111' /'IU('IIII1.ISIIII(·(',
111.111, Jl (), (' S(' is.: S('J IOI.DERER, V., «Thc Shupc 01' carly typcs», in Glllt'lI/u'rR t VIII pp 1111 110, I IJlllN, M,I(IIHI', 1".1 /1'111'1 /1'111111";'1 /lIi"II"!.1 ,'''1/1/'/1'/1 ,111
/"/11"/1' h 11»7 p II ( (' oS /1, /'11/1, 1/1 111 ti, \ /11'/'1/111' 1 111\1111>1111
1\111 N 111111111111'1111 (I)
74 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 75

diferença de proporção nesta liga muito difícil de dosear (a proporção serviços aos mestres desejosos de completar ou de consertar o seu material.
parece, aliás, variar segundo os caracteres estudados) poderia explicar Mas punções e matrizes permaneciam na propriedade de cada oficina, o que
uma menor resistência. Por outro lado, pode-se imaginar que alguns ajuda a explicar a infinita diversidade dos caracteres usados nos incunábu-
impressores, menos hábeis ou não dispondo de todos os metais necessá- los. A fabricação dos caracteres assim executados, por outro lado, exigia
rios, produziram ligas de qualidade inferior. E não se deve esquecer que, muito tempo; por isso, muitas vezes, teve-se de usar letras novas à medida
cerca de três séculos mais tarde, em 1764, um célebre fundidor de carac- que eram fabricadas, misturando-as com o alfabeto antigo que se ia substi-
tuindo pouco a pouco. Além do mais, tudo isto era muito caro; assim,
teres, Foumier, mostrava como era delicada a operação de produzir uma
quando se apresentava a oportunidade, não se deixava de recomprar o mate-
boa liga; durante muito tempo, dizia, tinha-se utilizado uma mistura de
rial posto à venda por ocasião de uma morte ou de uma falência. Caso rela-
chumbo, de latão (potin), de antimónio e, às vezes, de ferro - o que dava
tivamente raro. Restava, pois, solicitar a um confrade mais rico que vendesse
um metal demasiado espesso e fluido; após uma trintena de anos, simpli-
as fundições ou, de preferência, que cedesse as matrizes a partir das quais
ficara-se o processo e melhorara-se a qualidade do metal, recorrendo ao
fosse possível produzir as fundições, à medida que necessário: a partir do
chumbo e à liga de antimônio". O que mostra que, mesmo no século XVIII, último quartel do século XV, ao que parece, houve impressores que se
ainda não se tinha chegado a produzir ligas inteiramente satisfatórias. prestaram a este género de negócio, talvez com alguma hesitação de início,
e, parece também, alterando, todas as vezes, algumas maiúsculas que man-
* davam regravar com a finalidade de distinguir a produção de cada oficina.
* * E é assim que se chega a um começo de especialização. O comércio
dos caracteres regista uma grande expansão no início do século XVI.
Seja como for, os caracteres gastam-se rapidamente. Os impressores
Passou para as mãos de grandes impressores nos países germânicos, ao
deviam, pois, substituí-los com frequência; neste aspecto, debateram-se
passo que, em França, o talhe de caracteres tomou-se na especialidade de
durante largo tempo com muitas dificuldades", um pequeno número de gravadores, alguns ilustres, como Garamond ou
Para termos ideia dessas dificuldades, não esqueçamos que o tamanho lranjon. Ao mesmo tempo, o número de punções utilizados diminuía à
dos punções, a cunhagem e a justificação das matrizes, a fundição dos tipos, medida que se multiplicavam as matrizes e as fundições produzidas por
são tantas outras operações demoradas e delicadas: tantas que só especialis- meio de um mesmo punção; o abandono dos caracteres góticos e a
tas podem normalmente levá-Ias a bom termo. Um talhador de punções, udopção do redondo favoreceu esta unificação, tomando inutilizável
nomeadamente, deve ser um homem experimentado, tendo atrás de si longos lima grande parte do material antigo. Depois, pouco a pouco, durante o
anos de aprendizagem e de prática. Ora, quando a imprensa surgiu, indús- século XVI, o fabrico e a venda dos caracteres concentram-se num pequeno
tria criada com todas peças, os primeiros tipógrafos tiveram de começar, eles 1IÍ1l11crode empresas cujos chefes se dedicam a reunir colecções dos
próprios, a talhar os punções; a fazer, em seguida, as matrizes; a executarem, 111ilhores punções. No século XVII, e também no século XVIII, algumas
eles próprios, as suas fundições: esforços demorados e dispendiosos, exe- dezenas de poderosas oficinas estabelecem em toda a Europa o monopólio
cutados por meio de um material rudimentar, que, com toda a certeza, só do comércio de caracteres". Doravante, o mercado dos caracteres aparece
puderam realizar com facilidade porque muitos deles eram antigos ourives.
Muito em breve, no entanto - podemos imaginá-I o -, surgiram tipó-
HI, FOURNIER, PS" no seu Manuel Typographique, traça um quadro muito interes-
grafos especializados que iam de oficina em oficina, alugando os seus
1111 ' das fundições a laborar na Europa, em 1766: a Imprensa Régia francesa, cuja colecção
d\' punçõesé, nos nossos dias, a mais rica do mundo, e onde se conservam os punções dos
,( lI(' 'OS do Rei» talhados por Garamond; a do irmão do autor, Fournier, o Velho, sucessor
84 FOURNIER, P.S., Manuel typographique, Paris, 1764-1766, 2 V., t. 1, p. 109 IIlIs1.(' Il~ (punçi cs e matrizes de Guilherme I Le Bé, o célebre gravador de caracteres do
e segs. I I 1110,VI, d(' Gammond, de Simão de olincs, ctc.); a dos Sanlccquc (criada por Ja qucs
8S Sobre essas questões, ver HAEBLER, K., «Schriftguss und Schrifthandel in der dI ,'lIlIll'l'qlll',uluno ti' Guilh 'rnw I,' Hé, '1111596, i que p .rmun 'c 'li ti 'sde ntão nas mãos
Frühdruckzeit», in Zentralblatt [ur Bibliothekswesen, 1924, pp. 81-104; HARISSE, l l., 1111 1111' 11111
1lIlIlrlill),\' rill('OOUIIIIS,lI\ais 1('('('III('s.Jlo\lIlIi('j'('ila niudu ' flllltli~'\('S ik LYOIl,
Les premiers incunables bâlois et leurs dérivés: Toulouse, Lyon, vienne 1'11 Dauphinõ, 11111111 1\ 111111'11111111111 (SI'IUloII~1111111<
1'llIlh\'IIlIIl~ II~dll.~1011111'1, \'111PIIIIIIIiIlI,\ 11ei!'
SJlif'l', Wll'il/I', /'11'" 1471 1·184, Paris, 1902, 2." xí., l'IIII~lIpl 11111111'/1') N 1111111111111 \ !clllllle;III'\ 111 111li Idllll(\'11111I qllll ,I di 1111\1
76 o APARECIMENTO DO LIVRO
AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 77

organizado de maneira racional, pois cada impressor pode encontrar as de altura no papel de cada fundição - daí a impossibilidade de usar dunx
fundições necessárias sem ser obrigado a fabricá-Ias ele próprio. Mas fundições conjuntamente sem limar cada tipo de uma delas. O que devia
estas fundições são vendidas a bom preço - e eis aqui, sem dúvida, a razão colocar muitos problemas e retardar a execução de muitas obras. Pouco II
por que se conservou durante tanto tempo o hábito de comprar fundições
pouco, no entanto, quando a fabricação dos caracteres se tornou apanágio
muito pouco numerosas: normalmente, de 60 000 a 100 000 signos, nos
de alguns grandes fundidores, operou-se uma certa unificação - ainda que
finais do século XVI, o que dava para compor somente algumas dezenas
cada fundidor, ao que parece, tenha usado uma diferente altura no papel,
de páginas ao mesmo tempo. Por isso, era preciso usar de novo, uma e
outra vez, os mesmos caracteres, gastando-se estes mais rapidamente. Por o que lhe assegurava uma maior fidelidade da sua clientela. E, ainda no
isso também se levavam ao prelo as formas acabadas de compor para século XVIII, se bem que Luís xv tenha fixado a altura dos caracteres em
mais depressa se recuperarem os caracteres; daí que o autor consciencioso 10 linhas e meio, Fournier" revela-nos que os impressores e os fundidores
só podia fazer as suas correcções no decurso da tiragem, o que explica da região de Lyon se serviam de caracteres que tinham até onze linhas e
uma infinidade de variantes no interior de uma mesma edição. meia de altura.
A mesma falta de uniformidade persiste por muito tempo ainda
* no que diz respeito à dimensão dos caracteres propriamente ditos.
* * Nenhuma medida exacta neste domínio. Somente uma nomenclatura
tradicional e pitoresca: olho grande, parangona, cícero, redonda grande
Se o comércio dos caracteres demorou muito tempo a organizar-se, ou augustina, nomenclatura puramente empírica sobre a qual nem
mais tempo ainda tardou a «uniformização» - a «padronização», digamos- sempre havia entendimento, e que favorecia todas as confusões. Neste
das dimensões dos caracteres. E isto parece ter causado muitas dificulda- caso também, foi preciso esperar pelo século XVIII, pelos esforços de
des aos antigos tipógrafos. Fournier e o advento de Didot para que se chegasse a adoptar uma
A «altura no papel» (quer dizer, a altura total dos caracteres), fixada unidade de medida bem definida: o ponto tipográfico, 144 vezes mais
nos nossos dias através de acordos oficiais (em França, 24 mm) era essen- pequeno do que o pé de rei. É desta unidade que se servem ainda os
cialmente variável: cada oficina, cada região tinha os seus hábitos. Às uctuais tipógrafos".
vezes mesmo, talvez, não se fundiam na mesma oficina todas as fundições
com a mesma altura: pelo menos, é o que se pode imaginar quando se
verifica que, numa série de 222 tipos de Lyon, dos séculos xv e XVI, IV. COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO
chegados até nós, se descobrem 14 diferentes alturas no papel. Diferença
Depois de termos estudado a fabricação dos caracteres - trabalho do
(:t I hador de punções e do fundidor -, chegamos agora ao trabalho do
Bus, sucessor do famoso Van Deyck), uma em Harlem (a dos Wetstein, passada aos pl óprio impressor nas suas duas fases essenciais: a composição e a
Enschede, que ainda hoje funciona e onde se podem ver matrizes de chumbo do início do
século XVI) e quatro outras. Em Antuérpia, naturalmente, a fundição dos Plantin-Moretus impressão. Composição, ou trabalho pelo qual o impressor junta os carac-
(que figura hoje no Museu Plantin). Na Inglaterra, somente 4 fundições, mas muito bem (('ll'S .m páginas e em grupos de páginas, cujo conjunto - a forma - é
abasteci das (Cottrel, em Oxford; Jacques Watson, em Edimburgo; e, sobretudo, Caslon, em I ulocudo em seguida sob o prelo para a fase seguinte do trabalho tipográ-
Londres; e, em Birmingham, Baskerville, a quem Beaumarchais comprará novamente os
11111: iI iI11pr.ssão propriamente dita.
tipos para imprimir, em Kehl, a edição completa das obras de Voltaire). Na Itália, somente
algumas fundições, a mais célebre das quais é a do Vaticano, iniciada, em 1578, por
Roberto Granjon que viera a Roma a pedido de Gregório XIII, onde encontramos sobretudo
caractcrcs orientais destinados a permitir que a Tipografia da Propaganda imprimisse obras • 1/'"/"111, I. I, p. I ''1,
dC~linadas à cvan ' 'li/ação. Fournicr cita, por fim, duas fundições em Espanhu, uma na 1'1\'111' Ilidlll l'xplll" 1',11 sisll'lllll pl'liI pumen iI 1/,1'111 /01\/11 tI,'/II"','.\ 1/(1"1,,'1/,,\
SIIl"\'IiI, 1111111
'111('opl'nha 'lIl', 11m:! 1'111I ixbun, 11m:! em Ylil\ovin c duns 011 1I1'S na Ruvsiu. I'III,IH/h "1111110 11111111(1I11PII li. 1'111 1'()tIHNIJ'1 ,I'" \lI 11 I'" ""1/'11'-/ 1\/'"
I 011111" 1"11111110 I!O 11I1I1"~1I1 ,1111111;1111111,111111
h'll,lIl1 IlIdll" hlllll'il 1""/1/'1",,1 I I' I '1)I I'
78 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO
79

*
* *
A técnica da composição à mão, cada vez menos utilizada nos nos-
sos dias após a invenção das máquinas de composição (monotipos e linoti-
pos), em nada variou desde a invenção da imprensa. Os instrumentos são
os mesmos: o compositor, colocado diante da caixa, grande tabuleiro
plano subdividido numa série de pequenas casas, os caixotins, cada um
afectado a um sinal tipográfico determinado, pega nos caracteres um a um
e coloca-os no componedor, pequeno recipiente de forma alongada,
outrora de madeira, hoje de metal; quando uma linha está composta, o
compositor coloca-a na galé, pequena peça quadrangular onde se
encaixam as linhas entre duas entrelinhas, que mantêm as letras direitas,
depois agrupa-as em páginas e reúne estas páginas na forma onde são
amparadas com pedaços de madeira e solidamente atadas.
O compositor deve, pois, realizar uma série de operações manuais,
frequentemente muito delicadas, com grande rapidez e segurança; pre-
cisa de ter adquirido um verdadeiro automatismo em cada um dos gestos
- noção nova no século xv. Em que medida as necessidades do rendi-
mento industrial incitaram os impressores, do século xv ao século XVIII,
a procurar as soluções que permitissem executar estas operações nas
melhores condições possíveis"?

*
* *
Reparemos, em primeiro lugar, que, no início, os compositores
deviam ter menos comodidade do que na nossa época no exercício da sua
profissão. Nos nossos dias, trabalhavam de pé diante da caixa assente
sobre uma estante inclinada - e esta disposição dava-lhes uma grande
liberdade de movimentos. No século xv (e mesmo no século XVI), não
era assim: uma estampa da Dança dos mortos na tipogafia, editada em
1499-1500 na oficina de Mateus Husz, em Lyon, mostra o compositor
Uma oficina tipográfica no séc. xv,
sentado diante de uma caixa muito baixa, pouco inclinada e montada segundo a Grant danse macabre des hommes et desfemmes,
sobre cavaletes. Nos primeiros anos do século XVI, uma série de gravuras Lyon, M. Husz, 1499, in-fólio.
- geralmente, marcas de impressores mostram a caixa colocada mais alto,

'" Para o caixotim e os seus problemas, ver FOURNIER, P.S., op. cit., t. li, pp. 111)
I r> Vll 1:1I11IWIl1
FFRTFI •• J) , 11IId/'II/'/' prutiqu« d(' l'hnprimcric, Amicn«, 17' \.
80 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 81

mais inclinada, para permitir chegar mais facilmente aos caracteres alcançar mais facilmente os caracteres mais usuais, que devem, por isso,
alinhados na sua parte superior - independente do seu suporte, uma espé- estar situados nos caixotins mais acessíveis.
cie de escrivaninha sobre a qual está colocada -, o que facilita as
manipulações; mas o compositor ainda trabalha sentado. Só na segunda *
metade do século XVI é que a caixa toma a posição actual - e que o * *
compositor trabalha de pé, como agora.
Outra verificação: o trabalho dos antigos compositores devia ser fre- Como eram repartidos os caracteres nas caixas, outrora? Desde o
quentemente muito delicado. Nos nossos dias, por exemplo, o compositor princípio, as letras foram arrumadas de modo diferente, de país para país,
pode pegar numa letra da caixa, discernir com o simples tacto, graças a um como é hoje o caso, ou, pelo contrário, o uso do latim favoreceu uma certa
entalhe aberto na face superior do carácter, o significado desse carácter e, uniformidade e, neste caso, quando se operou a diferenciação? Eis colo-
por consequência, intercalá-lo no componedor sem ser obrigado a olhar cada a questão. Infelizmente, é quase impossível responder, pois nenhum
para o seu olho, de modo a evitar colocá-lo ao contrário. Ora, os antigos documento nos elucida sobre este aspecto de maneira precisa, antes do
final do século XVII.
caracteres chegados até nós e os vestígios deixados pelos tipos, que foram
inscritos nas páginas de certas obras no momento da impressão, provam- Se se considerar, em todo o caso, que, no século XV e no princípio
do século XVI, o número de sinais tipográficos era essencialmente
-nos que os tipos do século xv não possuíam qualquer entalhe - e, assim,
variável, em consequência do uso de múltiplas abreviaturas, e devido
o compositor devia, em certos casos, pelo menos, examinar o olho dos
também ao hábito frequente de gravar conjuntamente grupos de letras
caracteres antes de alinhá-los no componedor.
ligadas e fundidas no mesmo tipo - verifica-se que a caixa não podia estar
Mas o problema essencial respeitante ao trabalho de composição é o
organizada de maneira estável. Tudo nos leva, por outro lado, a pensar que
que coloca a distribuição das letras no interior da caixa. Expliquemo-nos:
os tipos estavam muitas vezes repartidos na caixa de modo diferente, con-
para poder trabalhar rapidamente, o compositor deve pegar nos signos
soante as regiões - em função de usos locais -, numa época em que as
tipográficos sem olhar nem hesitar: precisa, por isso, de ter adquirido no
tradições locais eram tão fortes no terreno da tipografia que facilmente se
trabalho um automatismo análogo ao da actual dactilógrafa diante do
rode distinguir a origem de uma xilogravura dos séculos XV ou XVI pelo
teclado da máquina de escrever. Para poder possuir um tal automatismo,
seu estilo, e a de um carácter do século XV pela sua forma; o próprio tipo
o tipógrafo deve trabalhar sempre com caixas onde as letras estão repar-
dos prelos variava segundo as regiões. Por outra parte, as migrações tão
tidas de modo idêntico; as caixas devem, por isso, ser uniformes nas dife-
frequentes dos impressores da época devem ter contribuído, muitas vezes,
rentes oficinas onde pode ser chamado a trabalhar sucessivamente, sem o para implantar estes costumes longe dos seus lugares de origem - e a
que deveria reeducar os seus reflexos todas as vezes que mudasse de prática levou, a longo prazo, a uma certa uniformização, fazendo triunfar
oficina - nos séculos xv e XVI, e mesmo no século XVII, uma mudança os usos reconhecidamente melhores.
mais frequente do que hoje. Foi, sem dúvida, assim, que desde cedo se devem ter adoptado os
Hoje em dia, para evitar estes inconvenientes, usa-se em toda a parte, pl incípios essenciais que, parece-nos, se impuseram por si: por exemplo, a
num mesmo país, o mesmo tipo de caixa - com poucas diferenças entre disposição dos caracteres nas caixas alta e baixa. Mas nenhuma regra
si. Na parte superior (caixa alta), duas secções distintas contêm as gran- vvrdudeiramente precisa se instituiu antes de terem transcorrido vários
des e as pequenas capitais. Na «caixa» inferior - mais próxima do tipó- t' 'trios O que, no entanto, teria facilitado o trabalho do compositor '
grafo - encontram-se os caracteres da caixa baixa. Mas as caixas dos luvorc 'ido ti aquisição daquele automatisrno cuja necessidade salicnuimos.
diversos países variam conforme a língua neles usada, à semelhança da Numa obra intitulada Ciência prática da impressão" Fcrt 'I, um
disposição das letras no teclado das máquinas de escrever, e pelas mesmas unprcssor dl Aniicns, informa nos qu " irn 1723, a distribuiçuo das I 'Iras
razões: se a dactilógrafa, para trabalhar mais facilmente, deve bater com
os ti 'dos mais ágeis c mais resistentes da mão (os d dos m \Iios) nas
It rias mni.• Vt/l s u..•
adas o l'olllposilor deve, pl'las IlH'Slll:lSnllm s, podt I I II I II I • I> "1' I 1/ • I' 11 I I'
82 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 83

na caixa variava ainda, em França, segundo as oficinas; os mestres, ao mármore polida e plana, mas substituída, no século XVIII,por uma placa
que parece, procediam a mudanças de acordo com as suas ideias, princi- de aço. A forma, assim colocada, é imbuída de tinta com o auxílio da bala;
palmente na caixa superior, de modo que os confrades, quando mudavam finalmente, a folha é colocada sobre os caracteres. Põe-se, então, o prelo
de oficina, deviam «retomar a noção da diferença das caixas». Por seu em acção: uma batida da barra põe em movimento uma rosca, em cuja
lado, Fertel aconselha duas disposições que julga cómodas e que aspira extremidade existe um prato horizontal, a platina, colocada mesmo por
ver generalizadas. Por uma destas disposições, as grandes e as pequenas cima do mármore. Deste modo, a folha, pressionada de encontro à forma
capitais são, como hoje, colocadas por ordem alfabética. As letras J e U, pela platina, recebe a impressão dos caracteres.
que não eram de uso corrente nos primeiros tempos da tipografia, seriam Esquematizado deste modo, nada mais simples do que o princípio do
deslocadas, o que parece indicar uma tradição antiga. Na parte esquerda prelo. Na prática, para poder utilizar este instrumento com fins indus-
baixa da caixa alta e na caixa baixa, são colocadas, como hoje, as letras da triais, era preciso ter resolvido três séries essenciais de problemas.
caixa baixa, em caixotins maiores ou menores, conforme o uso mais ou Em primeiro lugar, é praticamente impossível poder deitar tinta na
menos frequente das letras que contêm. Esta disposição encontra-se, apro- forma entre o mármore e a platina, pois esta não pode levantar-se o sufi-
ximadamente - embora com diferenças sensíveis - no Tratado elementar ciente para que a operação seja realizável. Por isso, para colocar a tinta, é
da imprensa, de Momoro, e no texto da Enciclopédia", em que o plano da preciso deslocar a forma; para poder realizar esta manobra, os tipógrafos
caixa e o desenho em alçado que o acompanha não concordam, aliás, na colocam o mármore e a forma sobre um pequeno carro montado sobre
parte inferior da caixa: assim, no final do século XVIII,em França, o lugar carris que avança e recua pela acção de uma manivela, a guia, graças a um
dos caracteres não tinha sido fixado de modo absolutamente definitivo. sistema de roldanas muito simples.
Seria preciso aguardar pelo início do século XIXpara que uma disposição Segunda série de problemas: colocados pela impressão propriamente
semelhante à de Momoro e à da Enciclopédia se generalizasse (sem ser, dita. Primeiro, convém que, no momento da impressão, a folha não se
aliás, absolutamente fixa) e começasse a ser usada a partir daí". manche - nas margens, sobretudo - com a tinta que corre o risco de se
espalhar pela forma toda, aquando da sua colocação. Para isso, utiliza-se
* um folha intercalar de papel ou pergaminho que deixa livres apenas as
* * partes da forma onde se encontram os caracteres. Por outro lado, qualquer
que seja a qualidade dos caracteres usados e o cuidado que o compositor
Da impressão propriamente dita, o instrumento essencial é o prelo. I .nha posto na justificação, os caracteres não chegam a ficar todos
Sólido, rústico, quase não se modificou desde meados do século XVI até rigorosamente à mesma altura. Se a folha fosse encostada directamente à
ao século XVIII. platina de metal, corria-se o risco de serem mal impressos alguns caracte-
O seu princípio é muito simples": a forma, conjunto de várias pági- I 'S colocados em nível um pouco mais baixo, outros a ficarem marcados
nas de caracteres solidamente unidas para não se poderem deslocar, é d' mais ou de menos. Para obter melhor resultado no momento da
colocada sobre o mármore - feito, inicialmente, de facto, de uma pedra de uuprcssão, convém colocar uma folha de feltro ou folhas de papel entre a
lulhu e a platina.
91 Ver,sobre este assunto,MOMORO.A.-F., Traité élementaire de l'imprimerie, Estas diversas necessidades levaram os tipógrafos a utilizar o
Paris, 1793; e o verbete«Imprimerie»da Encyclopédie. 1.'1'1IH1da [rasqueta e do tímpano. O tímpano é um caixilho duplo
n AUDIN,Marius,Somme typographique, t. lI, p. 124 e segs. I -rnndc ' pequeno tímpano), fixado ao cofre por dobradiças, e nele são
93 Sobre a prensa manual, ver: DIETRICHS,P., «Die Buchdruckerpressevon I Illol'ados o mármore e a forma. Cada uma destas partes é revestida de
JohannesGutenbergbis FriedrichKõnig», in Jahresbericht der Gutenberg Gesellschaft, 11111.1 tolha de p 'r zaminho, e o tímpano pequeno de uma branqueta, csp
Mogúncia, 1930; ENSCHEDE,J.W., «Houtenhand presen in de zestiendeeeuw», in
II di luu-tilhu dcstiuudu a 111 .lhorur () r .lcvo da impressão no v rso da
Tijdsschrift voor boek en Bibliothekswesen, 1906, pp. 195-208 e pp. 262-277; FERTEL,
D., 01'. cit.; MOXON,J., Mechanik exercises, or lhe doctrines ojhandy works, Londres, 111111.1 11"\qll\'I" l 01111'0 cai ilho li 'ado IHlI dohlildili:lS ao !'I:lIHk 11111
1H61: NEIPP, 1.., LI'.\'machines à imprimer depuis GIII('I/!1('I'M, Paris, 19"i I. I' 11111pclu . trcuiul.nl, Opll 1.1.1qll\' 1I .I \,.,1\ .111\ 11111,'11.11111'\
Id.1111111
84 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 85

uma folha de pergaminho ou de papel forte, perfurada nos lugares em que


essa folha recai sobre as páginas da composição, impede a folha de se
manchar aquando da impressão. Na impressão, a frasqueta abate-se sobre
o tímpano, prendendo a folha, que, por outro lado, presa ao tímpano por L ~ ImprImo dum -uarios«re micant» libro«;
punções, não pode mover-se. ~.~ ;riUi ~mflaji'tu,ljUte pttluere plena ia,eha~.
Derradeira série de problemas ainda mais difíceis de resolver: os que Ftdimus obféura noElerepu/ta premi.
decorrem da dimensão necessariamente reduzida da platina; para que a
impressão seja adequada, quando se faz accionar a barra, deve a platina
adaptar-se rigorosamente e com força suficiente a toda a superfície dos
caracteres, de tal modo que todos eles apareçam igualmente. A superfície
da platina devia, por isso, ficar exactamente paralela à dos caracteres.
Nestas condições, durante muito tempo, foi impossível imprimir de uma
só vez uma superfície tão importante como a de uma folha inteira;
imprimia-se às meias folhas: com a primeira batida da barra, imprimia-se
a primeira metade; fazia-se avançar a carreta - e imprimia-se a segunda
metade. Era preciso, portanto, accionar duas vezes a barra para imprimir
uma folha inteira.
*
* *
Tal foi o sistema usado na maior parte dos países da Europa, de mea-
dos do século XVI ao século XVIII. O prelo era, como se vê, um instru-
mento relativamente aperfeiçoado, além de ser bastante fácil de construir,
por um marceneiro ou um carpinteiro vulgar, de modo que, até ao
século XVIII, não houve, pelo menos em França, fabricantes especializa-
dos de prelos".
Antes de conceber a utilidade de um prelo para realizar impressões
tipográficas, e antes de aperfeiçoar um tal instrumento, não terão os
primeiros pesquisadores começado por recorrer ao processo do brunidor,
já usado para as impressões xilográficas? É possível. Em todo o caso,
desde muito cedo que se devem ter servido de prelos, pois parece impos-
sível que uma obra tão importante e de execução tão perfeita como a
Bíblia de 42 linhas, por exemplo, possa ter sido impressa de outro modo.
Mas que aspecto tinham esses primeiros prelos e como se conseguiu aper-
feiçoar um prelo adequado? Inicialmente, não se terá recorrido a soluções

() impr 'SSO!' no trabalho, segundo l Iartmaun S('IIOPFER,

'" Em França, pelo menos, ao que parece. Cf. FERTEL, D., op. cit., p. 231. Talvez /)/' 1I1/1/1i/m.\·illíhrralihu» I/I',i/III.I', Jil'anrl'ort. 156R, in R.o.
não fosse assim em alguns grandes centros. Na Inglaterra, havia carpinteiros zspccinlizn
dos na fabricação de prensas impressoras.
86 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 87

distintas das que foram adoptadas depois? E, em alguns casos - pensamos época, em que provavelmente não se conhecia a técnica que viria a permi-
sobretudo nos impressores itinerantes -, não terá sido possível executar tir obter a homogeneidade da página com uma potente compressão. Nestas
impressões sem prelo, ou por meio de um prelo muito leve e muito condições, apesar do mau equilíbrio dos tipos, apesar da sua deficiente
simples? fundição, apesar de uma precária compressão, como é que os livros do
A técnica de impressão dos primeiros tipógrafos - tanto quanto sabe- século xv conseguem apresentar páginas tão uniformemente impressas? Os
mos - parece-nos, de facto, muito misteriosa sob certos aspectos, e talvez técnicos que colocaram este problema chegaram a formular uma hipótese
bem diferente daquilo que possamos imaginar, sobretudo no que diz extremamente ousada. Segundo eles, a impressão devia fazer-se, nalguns
respeito à forma e junção dos caracteres. Examinando os mais antigos casos, ao inverso das impressões actuais, com a forma invertida colocada
caracteres chegados até nós, e também os vestígios deixados pelos tipos sobre a folha. Se assim foi, pode imaginar-se que os primeiros prelos eram
do século xv apostos nas páginas de alguns exemplares, chega-se a bastante diferentes dos prelos adaptados depois - muito mais simples, sem
conclusões desconcertantes. A maior parte destes tipos é perfurada com dúvida. A partir daqui basta um passo para admitir que, originalmente, o
um orifício ou uma fenda. Em muitos deles, a extremidade oposta ao olho prelo não era indispensável para executar uma impressão, sobretudo quando
é talhada em bisel ou em asna. E eis as hipóteses no terreno ... se tratasse de livros de pequenas dimensões, e também para perguntar se
Podemos perguntar, em primeiro lugar, se as perfurações laterais que os impressores itinerantes, tão numerosos no século XV, transportavam
se observam em muitos tipos não seriam destinadas a fazer passar um sempre consigo um prelo de imprimir. Esperemos que os estudos técnicos,
pequeno cordão ou uma haste de metal que servisse para manter os tipos 1\nualmente em curso, permitam resolver, um dia, estas questões".
alinhados, com a finalidade de conseguir um bloco de página mais homo- Seja como for, os primeiros prelos devem ter sido bastante primi-
géneo, numa altura em que os processos de aperto da forma ainda não tivos. Os mais antigos incunábulos foram impressos página a página,
eram os melhores. Isto pode soar, definitivamente, a pouco provável. De 111.smo quando se tratava de um in-quarto, e a forma tinha, então, apenas
qualquer modo, se considerarmos que essas aberturas eram feitas depois 11dimensão de uma página". Apesar de todo o cuidado que se pudesse
da fundição dos caracteres, por meio de um utensílio acerado e de uma dispensar a esse trabalho, as linhas das páginas assim impressas sucessi-
lima, em cada tipo separadamente, perceber-se-á o tempo que tal prática umcnte, que se achavam do mesmo lado da folha, não podiam, eviden-
devia exigir; e eis-nos perante as dificuldades, por vezes quase insu- 11111nte, encontrar-se exactamente à mesma altura, e a apresentação dos
peráveis, que os primitivos impressores tiveram de ultrapass~r no próprio livros ressentia-se disso frequentemente. A partir de 1470, no entanto, este
exercício da sua profissão, numa época em que a técnica tipográfica ainda
nuunvcniente tende a desaparecer; parece que, desde então, começa a
não era perfeita". I mprcgar-se o sistema da dupla batida da barra, sendo a forma composta
Mais enigmático ainda, o costume de talhar a extremidade dos carac-
di vrlrius páginas e podendo ter, quando necessário, as dimensões da
teres em bisel ou em asna. Certamente que podemos admitir que se pro-
11111111, Mas, para poder praticar este método, era preciso, rapidamente e
cedia assim para obter mais facilmente uma mesma altura no papel em
111111 pr 'cisão, deslocar a forma, doravante instalada numa carreta móvel.
todos os tipos, e, neste aspecto, a forma biselada permitia um trabalho
1II111depr essa, antes do fim do século XV, para efectuar este movimento
mais fácil e mais preciso. Mas um carácter apoia-se melhor em base rec-
1lIlIl/tllllal, utilizou-se um sistema de manivelas e de roldanas. Durante
tangular do que num bisel ou numa asna, e os tipos assim dispostos, fora
111111111IVlIlpO,bastou fazer deslizar esta carreta sobre uma mesa de madeira
de prumo, têm tendência, mesmo unidos, para descair, sobretudo nessa
1'1111 I. tll'pois, foi colocada sobre dois carris, o que permitiu operar com

11111I Il rlidud ' c precisão.


95 Ver, sobre o assunto, as pesquisas de AUDIN, Maurice. De facto, tais furos, para
AUDIN, aparentam ser «truques do ofício» que permitem, por exemplo, a impressão a
duas cores, executadas, não sobre toda a fundição, mas sobre certos caractcrcs. CI". , III11N. M .. /\ plllllOH dl'H pl '1IIi I\'S t 'l'hniqlll'H typo~'1'lIJ1hiqlll'H", 10(" 1'Í1.•
AUDTN, M., Les types lyonnais primiti]s: Bibliothêque Nationale, f)cffJ{/rll'IIII'1I1 drs I I' I" I 11I
II/Ip rim /',1', p, 21, 11 I 1\1 I I ,I • 1/1" S/II,II til 111, 111/,11111111
Nuv 1IIIIIJIII li' \ \,1'1' li' H 1
o APARECIMENTO DO LIVRO
AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 89
88

prelo de duas batidas uma folha a cada 20 segundos. Fica-se estupefacto


*
diante de tal rendimento".
* * Foi preciso esperar pelo final do século XVIII para que o aumento da
Estes aperfeiçoamentos não foram os únicos trazidos ao prelo, do ~rodução impressa, e também o interesse pelas questões técnicas, nessa
século xv ao século xvm=. Não que os impressores tivessem procurado epoca em que apareceu a Enciclopédia, levassem mestres impressores
alterar o próprio princípio do instrumento, mas esforçaram-se por aper- a procurar o meio de tornar mais rápido o trabalho do prelo e menos
extenuante o esforço exigido aos operários. Entre 1782 e 1785, dois gran-
feiçoá-Io. A partir do início do século XVI, substituíram a rosca de madeira
des m~stres impressores, Francisco Ambrósio Didot e Lourenço Anisson,
por uma de metal, e reforçaram os elementos submetidos a um maior
aperfeiçoavam, cada um por seu lado, o prelo de uma batida, modificando
esforço, para tornar o prelo mais robusto. Os aperfeiçoamentos assim
o sistema de rosca; mas a sua invenção não parece ter sido objecto de uma
realizados aparecem facilmente quando se examinam gravuras em madeira
aplicação generalizada. Só o' aumento do número das impressões (já
e marcas de impressores representando prelos: no início do século XVI, foi
responsável pelas revoluções que mencionámos na fabricação do papel)
possível distinguir três tipos de prelos: um, de Lyon; outro, do Norte da levou à adopção de um novo instrumento completamente diferente do
Alemanha; e um terceiro, flamengo. O prelo alemão, de aspecto mais antigo. Por volta de 1795, em Londres, Lord Stanhope, ajudado pelo
delicado e frágil, cede bem depressa o lugar, em muitas oficinas, ao rn~câ~ico Walker, construía o prelo quase inteiramente metálico de que
prelo flamengo. O prelo de Lyon é adoptado em Paris, e logo em toda hoje amda se servem muitos impressores para a tiragem das suas provas.
a França, na Suíça, na Inglaterra e, finalmente, nos Países Baixos e I epois disso, a revolução mecânica do século XIX fez o resto. Em 29 de
em Espanha. Parece de uso mais ou menos generalizado nos finais do Novembro de 1814, John Walker, director do Times (um dos primeiros
século XVI. [ornais de grande tiragem) mostrava aos tipógrafos, que se preparavam
Contudo, quando a indústria tipográfica se desenvolveu na Holanda, para .começar a sua tarefa no prelo manual, o número seguinte do seu jor-
no início do século XVII, um grande impressor, especialista de atlas, 1I/l1 tirado, durante a noite, num prelo mecânico utilizado industrialmente.
Willem Janszoon Blaeu, que trabalhara com Tycho Brahe, o astrónomo, e I' .screvia orgulhosamente nesse número do Times: «O nosso número de
fabricara instrumentos de matemática antes de se dedicar à edição, intro- hujc apresenta ao público o resultado prático do maior aperfeiçoamento
duziu no prelo numerosas modificações: para torná-lo ainda mais robusto, olrido pela imprensa desde a sua invenção». E acrescentava: «Numa
reforçou-lhe certos elementos e conseguiu, com a aplicação de uma mola, lima, imprimem-se, pelo menos, 1100 folhas»!".
o jugo, tornar a pressão da platina mais uniforme. O prelo holandês A imprensa entrava, assim, numa nova fase da sua história.
expandiu-se pouco a pouco pelos Países Baixos (que não iriam tardar a
fazer-se notar pela qualidade das suas impressões), depois na Inglaterra,
mas nunca foi adoptado em França, onde continuou a utilizar-se o prelo IMPOSIÇÃO'O'
de tipo clássico. Assim, do século XVI ao século XVIII, o tradicional prelo
de duas batidas sofreu tão somente modificações de pormenor; durante Ox problemas que acabámos de evocar não eram, no entanto, os
t"tli IIS que se colocavam aos antigos tipógrafos. Para realizar uma
cerca de três séculos, os tipógrafos contentaram-se com aquele instru-
unpn SS:lO adequada, precisavam ainda de dispor de um papel de boa
mento sólido no qual imprimiam a uma velocidade que nos espanta:
diariamente, os confrades do século XVI e do século XVII, que traba-
'I" rlulnd . 'isso nem sempre era fácil; era preciso também submeter
lhavam de 12 a 16 horas, deviam compor entre 2500 e 3500 folhas
(impressas de um só lado, é verdade); assim sendo, conseguiam tirar do ('I P I H\ I H,I
11l11N. Mnuuv, .\'II/III11I'/I'/I/I,lII'II//II;'/III'.1. li, p,94 \' s' is.
I1 IIh" 11 11 uuu», IlhH·tudll M( li li' I ('. /1'10/11I(// rI/',1 111'11'1, N/I/III111 pra
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o APARECIMENTO DO LIVRO
AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 91
90

esse papel a uma preparação. Tornava-se necessário, ainda, imprimir em dos in-fólio e dos in-d." leva a inserir duas folhas em simultâneo e a dar ,
cada folha várias páginas ao mesmo tempo, o que colocava problemas assim, aos cadernos um volume (e, ao mesmo tempo, um número de
páginas) em dobro. Por outro lado, nos pequenos formatos (in-16, in-24,
muito complicados, como iremos ver.
Para poder suportar a impressão e receber a tinta convenientemente, in-32), a excessiva espessura que apresentaria um caderno constituído por
o papel deve ser muito resistente e cuidadosamente colado. Ora, isto nem uma folha inteira, levava os tipógrafos a formar vários cadernos por meio
sempre era o caso no tempo do papel de forma; e, por isso, os papeleiros, de páginas impressas numa só folha: para os in-16, corta-se a folha em 2
a partir do século XV, adquiriram o hábito de tratar particularmente de e formam-se dois cadernos de 8 folhas, ou seja, de 16 páginas. Para os
certas qualidades de papel que destinavam à impressão. Os papeleiros in-24, corta-se a folha em três e fazem-se dois cadernos, um de 8 folhas,
italianos, sobretudo, produziram, nessa época, papéis de excelente apre- ou seja, de 16 páginas, e o outro de 4 folhas, ou seja, de oito páginas
sentação, bastante espessos, ligeiramente algodoados, de um tom branco- (o caderno grande e o folheto).
-acinzentado bastante uniforme, que parece terem agradado plenamente. Para poder dobrar a folha assim, os tipógrafos devem ter o cuidado
Mas o prelo é grande «devorador» de papel e, frequentes vezes, os de dar a cada página o seu lugar correcto na forma. Para o in-fólio,
moinhos tiveram dificuldade em produzi-lo em quantidade suficiente. No deve-se agrupar, lado a lado, as páginas 1 e 4 de um lado, e as páginas 2
século xv e princípio do século XVI, era-se geralmente obrigado a utilizar, c 3 do outro; e o mesmo com os outros formatos. Método complicado na
num mesmo volume, vários papéis de origem diferente. E, no século XVI, aparência, mas que assegura a cada caderno uma espessura conveniente e
quando os prelos se multiplicaram, a indústria papeleira, em muitos lugares, ao volume encadernado uma resistência máxima; e que também facilita
não conseguiu abastecer os impressores de papel apropriado. A falta de irandernente o trabalho do encadernador, pois este pode dobrar as folhas
trapo de boa qualidade, e talvez também o desejo de trabalhar mais de um mesmo volume de modo uniforme e mecânico, sem se arriscar a
depressa para ganhar mais, levaram então os papeleiros a fornecer produ- cometer erros de paginação, tão numerosos antes de se ter adoptado
tos de qualidade medíocre. Doravante, um pouco por todo o lado e durante l'~l método.
muito tempo, as correspondências dos impressores estão cheias de Descobertas recentes= mostram que os copistas já conheciam e utili-
queixas e recriminações contra aqueles que lhes entregam uma mercado- lavam estes processos de imposição, precisamente, ao que parece, nos
ria «gordurosa», «quebradiça», «pouco durável», «mal colada». A quali- umnuscritos de médio e pequeno formato destinados ao ensino (manuais
dade do livro ressente-se disso, tanto mais que a necessidade de realizar I culcctâneas de textos) ou à prática religiosa (breviários, livros de horas,

economias - e, por consequência, de comprar o papel perto das oficinas 1I tos de administração diocesana), geralmente distribuídos em grande
para reduzir as despesas de transporte - leva com muita frequência os 111I1lI ro de exemplares. No entanto, os tipógrafos tardaram muito a pro-

tipógrafos a abastecerem-se de papel fabricado pelos moinhos da região. I I d 'r assim. O hábito de imprimir as obras por página, a dimensão
Na realidade, estas práticas só cessarão no século XVIII. 1\ duvida da forma inferior à da folha, levou-os, sem dúvida, de início, a

Mas, neste aspecto, os problemas mais delicados eram os colocados m tur a Colha antes mesmo da impressão, o que tornava esta ainda mais
pela disposição das páginas na forma. Recordemos, primeiro, para clareza li IIIV I. Por outro lado, apresentando-se as folhas com algumas variantes,
da exposição, algumas noções essenciais referentes ao formato dos livros: 111dois formatos, o formato regalis (aproximadamente, 70 x 50 em) e o
o in-fólio é um volume no qual a folha é dobrada uma vez; em cada folha 1IIIIIIillo mediano (aproximadamente, 50 x 30 em), usava-se frequen-
são, portanto, impressas quatro páginas (duas de cada lado); num in-i.", a 111111"1111' as meias-folhas de formato regalis ao lado de folhas de formato
folha é dobrada duas vezes e contém oito páginas (quatro de cada lado); 1//1 diun«, ti ' 1110do que, numa mesma obra, encontram-se folhas em posição

num in-S.", é dobrada três vezes e contém dezasseis páginas (oito de cada
lado); e assim sucessivamente. As folhas assim dobradas constituem, em
princípio, um caderno que deveria, por isso, conter quatro páginas para " , 'M H N. (' • «L'unlt ihuliun ;) l'Iiistnirc <lu livre munuscrit du Moycn  'c.

um in-fólio, oito páginas para um in-4.o e dezasseis páginas para um in R.". 111111 '11( 11111"11 I'IIIIIIIIII~IIII, '1111111'0111""", 1II Conutnto '''''''1/(/'/(11/(//1' ri, I';"" I'
",,," \,' ('",,~, lI,. !t11,,"tI '"1111/",1-101"111,.1 l'> / I' ~~, I",
Mas, com frcquência, a 11 -ccssidad d conf rir mais solidez aos cndcrnos
92 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO
93

in-fólio, e outras em posição in-t.". Por fim, os cadernos continham tantas possível reconstituir perto de 2500 caracteres diferentes, fonte dos 80 000
folhas quantas as que se julgasse útil para a solidez da encadernação, e caracteres actuais. Ora, neles se encontra com bastante frequência o carác-
o número de páginas contidas em cada caderno variava com frequência ter que ainda hoje designa o fino fascículo do livro chinês. Composto de
numa mesma obra. Os cadernos dos in-d." dos incunábulos, por exem- 4 linhas verticais atravessadas horizontalmente por uma fivela larga,
plo, raramente são compostos de uma só folha dobrada duas vezes: representa, de facto, o livro na sua forma mais antiga: as tabuinhas de
usualmente, dobravam-se juntas duas ou três folhas; e, no final do madeira ou de bambu nas quais se escrevia verticalmente com a ajuda de
século xv, criou-se o costume de fazer um caderno in-d." com duas pauzinhos pontiagudos, molhados de uma espécie de verniz, que finas
folhas, ou seja, oito fólios. Percebe-se os inconvenientes destas práticas: correias de couro ou cordas de seda atavam e mantinham em perfeita
os erros que se podiam cometer durante a impressão, os cálculos que o ordem. Estes livros formados de fichas estiveram em uso vários séculos.
impressor devia fazer para que, na obra, cada página chegasse ao seu Confúcio já se servia deles para estudar o I Ching, e a sua assiduidade
lugar; as dificuldades, enfim, com que o encadernador se debatia quando ~ra tal, diz-se, que as correias se romperam três vezes. Das areias da
tinha de agrupar as folhas. E tudo isto mostra, neste campo como nos Asia Central saíram há cinquenta anos os mais antigos livros chineses
outros, como a tarefa dos tipógrafos se apresentava complicada até ao actualmente existentes: são fichas de madeira ou de bambu; vocabulários,
momento em que, com a ajuda da experiência, chegaram a adoptar, no calendários, compilações de receitas médicas, documentos oficiais sobre
decurso do século XVI, métodos uniformes e «truques do ofício» que, com o dia-a-dia das guarnições chinesas encarregadas de vigiar a rota da seda.
frequência, subsistiram até ao século XIX - e, às vezes, até aos nossos dias. A maior parte contém datas espaçadas entre 98 e 137 d.CHl4.Revelam já
um progresso, o de a escrita ser traçada a tinta por meio de um pincel. Mas
esses livros incómodos e pesados, votados à desordem a cada rompimento
VI. O PRECEDENTE CHINÊS* da atadura, foram bem depressa substituídos pela seda, maleável, leve e
resistente. Tecida com 30 centímetros de largura aproximadamente, era
Sabemos já que, ao inventar o papel, a China contribuiu indirec- enrolada numa vara de madeira com as extremidades mais ou menos orna-
tamente para a descoberta da tipografia europeia'?'. Até ao presente, nada me~tadas que lhe serviam de suporte. Tal como entre nós, a palavra que
permite supor que lhe devamos mais do que isso, e, no entanto, cerca de designou o volume quer dizer «enrolar»!".
cinco séculos antes da invenção atribuída a Gutenberg, a China conhecia Para a seda demasiado dispendiosa logo se procurou um substituto
a impressão por meio de caracteres móveis. barato e, por tentativas, recorrendo primeiro à borra da seda, e, depois, a
País de letrados por excelência, onde, mais do que em qualquer outro materiais ainda mais usuais - velhos trapos de telas, redes de pesca,
lugar do mundo, o estudo é venerado como fonte de vida, a sua imensa cânhamo, casca de amoreira -, chegou a fabricar-se uma pasta que, depois
literatura enriquece-se de época para época. Os mais antigos documentos de seca, permitia a escrita. A tão poderosa tradição na China, que da Corte
escritos permitem-nos supor que o livro existia desde a dinastia Chang Imperial faz emanar todo o benefício para o povo, atribui a invenção do
(1765-1123 a.c.). Em fragmentos de ossos ou em carapaças de tartaruga papel ao direct?r das Oficinas imperiais, o eunuco Ts' ai Luan (falecido
que se fraccionavam com pontas incandescentes para traçar oráculos, foi em 121 d.C.). E certo, no entanto, que muito antes se escrevia em papel.
À .stc propósito, apresentou essa personagem um relatório ao trono
( IOS d. .), o único que restou enquanto se apagava a lembrança dos esforços
\03 Sobre o caminho percorrido pelo papel da China até à Europa, ver CARTER, T.F.,
The Invention of printing in -China and its spread westward, revisto por GOODRICH,
L.Carrington, Nova Iorque, The Ronald Press Company, 1955, 2." ed., XXIV-p. 293, "" C'IIAVANNES. Édouard, Les documents chinois découverts par Aurel Stein
.stampa. ilun» /,,\ ,\'(IiII,',\' tlu Turkestan Oriental, Oxford, lmpr, da Universidade, 1913, XXIII p, 232,
, bw s 'ççao foi redigida por M.-R. Guignard, onservadora do Gabin te dos VII I Ir SIJII

11li 11til sn IlOs du /I;"'illlll/)III//' Natinnn!« de Pnrix. I" ('11 VI\NNI'S, I1d, .<I('S IIVI('s rhllltlls IIVIIJlI 1'lIlVl'JllllIJI 1111PIIPI('I " 111,/(11/1/11/1
A IIlhlitlf'llilllI 1111111illllll 111ll'JlIIN IS 1111111'1('dlf'IIII1S ('111 ltu 'IIIS ('\11 11111'iI I 11/'11111111. v, 1I1!) , pp 1
o APARECIMENTO 00 UVRO
AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 95
94

forma de biombo». Esta forma de livro meio-indiana, meio-chinesa, per-


de milhares de artesãos anommos. É ainda da Ásia Central que nos
maneceu em uso para os textos budistas e taoístas, para as colecções de
chegam os mais antigos papéis conhecidos: 7 cartas escritas em sogdiano,
estampas, de pinturas e os modelos de caligrafia. Mas o papel não seguro
em folhas cuidadosamente dobradas e contendo o endereço do seu desti-
estragava-se facilmente e, por isso, acabou-se por dobrar ao meio cada
natário. Sir Aurel Stein descobriu-as nas ruínas de uma torre da guarda da
folha e colar todas elas juntas por essa dobra, embora ficassem soltas e
Grande Muralha abandonada pelos militares chineses desde meados do
século II d.C.Ul6• A análise microscópica, feita pelo Prof. J. von Wiesner, podendo bater como asas, dando origem ao nome de «livro-borboleta».
revelou que a pasta era produzida unicamente com restos de tecidos de Este livro, equivalente ao nosso, era perfeito para conter um texto manus-
cânhamo, dos quais certas parcelas ainda permaneciam intactas'". Estes crito, mas a impressão de um texto por meio de escovadelas sobre uma
papéis, certamente fabricados na China e utilizados por estrangeiros longe prancha de madeira em relevo imbuída de tinta só podia fazer-se de um
do seu centro de produção, provam suficientemente até que ponto a nova lado da folha; assim, para ocultar o verso em branco, criou-se o hábito de
invenção se tinha rapidamente espalhado. O papel, por isso, substituiu a dobrar as folhas a meio e de cosê-Ias juntas, não pela dobra, mas pela
seda, excepto nos manuscritos de grande luxo, mas as folhas de pequenas borda. Os papéis muito finos e maleáveis da China, da Coreia e do Japão
dimensões (25 x 45 em aproximadamente) eram coladas extremidade com permitem esse género de brochura que não mais sofreu modificações até
extremidade, formando longas faixas que se enrolavam e desenrolavam aos nossos dias. Uma capa de papel ou de seda protege cada fascículo que
com ajuda de uma vara que servia de suporte. A biblioteca murada das frequentemente corresponde a um capítulo. Estes fascículos, agrupados
grutas de Tuen-Huang forneceu perto de 15 000 manuscritos (séc. v- aos seis ou oito, são guardados entre tábuas de madeiras preciosas ou em
-finais do séc. x) que se repartiram entre as Bibliotecas Nacionais de Paris estojos revestidos de tecidos mais ou menos ricos. Os livros são deitados
e de Pequim, e o Museu Britânico. A maior parte são rolos de papel, mas horizontalmente nas estantes e, como cada fascículo leva na sua lombada
também se encontram as diferentes formas de livros que a invenção da a indicação do texto que nele se contém, o leitor tem diante de si um
índice pormenorizado do plano da obra.
imprensa devia modificar.
O desejo de chegar imediatamente a qualquer passagem de um texto Mas os chineses não consideravam apenas o adorno das bibliotecas.
sem ter de desenrolar metros de papel, a piedosa intenção de imitar os Espíritos industriosos, procuraram desde cedo multiplicar os textos por
livros sagrados da Índia - folhas de palmeira estreitas e longas atadas meios práticos e económicos. Desde o início da nossa era, alcançaram
entre si por um cordel -, a necessidade ainda de constituir o livro de uma mestria notável na arte da gravura, quer se tratasse das grandes este-
folhas impressas separadamente, cedo transformaram o aspecto do livro. Ias de mármore onde se inscreviam em cavado os textos clássicos, quer
Entre os manuscritos de Tuen-Huang, alguns textos estão escritos em dos selos-talismãs, de que os monges budistas e taoístas se serviam para
folhas de papel forte, perfuradas com um orifício atravessado por um multiplicar fórmulas mágicas ou imagens pias.
cordel. Estas folhas, em vez de estarem soltas, são às vezes coladas pela A estampagem das lages em côncavo e em sentido recto oferece um
borda, dando assim lugar ao livro oblongo que se abre em acordeão, a que bom processo de reprodução dos textos ou das imagens, e se, de início,
os chineses chamaram «livro turbilhão», descrevendo imaginariamente o as estelas tinham por objectivo conservar a integridade de um texto,
movimento rápido com o qual podiam desfilar as páginas à vontade do .ornernorar um acontecimento ou prestar homenagem a um indivíduo,
leitor. Esta forma de livro foi tão rapidamente adoptada que o autor árabe p 'rmitiram também aos visitantes levar uma recordação da sua peregri-
Mohamed Ibn Ishaq observava, em 989: «Os chineses escrevem os livros nação. A técnica da estampagem, de resto, nunca mudou: esse meio rápido
da sua religião e das suas ciências em folhas de papel que se abrem em l' pouc oneroso de reprodução em nada perdeu a sua popularidade.
(,raças à flexibilidade e à resistência do papel chinês, pode-se incrustá-lo
pOl I1l »o da s ovadela e da martelagem, em toda a superfície gravada.
STEIN, Aurel, Serindia, detailed report of explorations in Central Asia and west-
"li>
I tumido, p n .tra profundamente nas concavidades da pedra. Em seguida,
/'''/ll/osl China, Oxford, larcndon Press, 1921, Y. li, pp. 669-677.
coru uu ilio til' um chumaço, mh h S a sup .rffcic .om tinta pr 'ta
"" Vou WIESNF.R, .I., «Üh 'r dic HlI 'SI '11 bis i '1/1 :llIf' ifund '11 '11 l lad rnpapi 'r -», in
011 dl l (li, ~II ItS pllI tl'S iu '1IIstadas 'S -upnm ao contu '10 du tiurn, l
,\11 /1/Il:1/II'Ii,hl/' tI/'/" AlUI tI/',1 Will, 1'//1/ lllst 1\1/11,1/', Vi '1111, 11)\ I, ('I :VIII !lI!
96 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO 97

quando a folha, uma vez seca, se solta sozinha, aparecem a branco sobre recentemente adaptada, mas as experiências com gravuras em pranchas de
fundo escuro. cobre e as experiências com caracteres móveis não foram conclusivas.
Foi, no entanto, o desenvolvimento da técnica dos selos gravados em Os primeiros ensaios de impressão por meio de caracteres móveis
relevo e invertidos que mais seguramente conduziu à imprensa: multipli- (1041-1048) atribuem-se ao ferreiro alquimista Pi Cheng, que, servindo-se
cam-se desde o início da nossa era, e os religiosos mandam gravar neles de argila e de cola líquida, conseguiu fabricar caracteres, que endurecia ao
longas fórmulas. Logo em seguida, preces a acompanhar as grandes fogo. A composição fazia-se numa placa de ferro revestida de uma mis-
imagens do Buda ou bodisatvas que devem ornamentar as celas dos mon- tura de cinza de papel, cera e resina, mantida por meio de caixilhos de
ges ou os quartos dos devotos. A habilidade dos gravadores toma-se ferro. Aquecendo ligeiramente o composto, e arrefecendo-o em seguida,
cada vez maior; a impressão faz-se admiravelmente, sobretudo sobre papel, obtinha-se uma adesão perfeita dos caracteres, que, aquecidos, se podiam
pois em seda não rendia nada. Na China, como no Ocidente, encontrado recuperar, uma vez terminada a impressão'?'. Ora gravando a madeira de
o suporte, multiplicam-se as experiências, aguça-se a audácia dos gra- jujubeira muito dura, ora fundindo o chumbo ou o cobre, procurou-se
vadores, pequenos impressos acompanham as orações, logo seguidos constituir jogos de caracteres móveis, mas, a bem dizer, esta técnica per-
de curtas obras religiosas ou textos populares, como calendários ou maneceu uma excepção na China. Foi utilizada sobretudo em algumas
dicionários. grandes empreitadas imperiais, como, por exemplo, no século XVIII, a da
O mais antigo testemunho que possuimos dessas madeiras gravadas enciclopédia Ku kin t'u chu tsi tch' eng, em 10 000 capítulos, para a qual
em relevo é uma pequena imagem do Buda, descoberta por Paul Pelliot, os caracteres de cobre foram gravados, e não fundidos. O novo método de
perto de Kutcha, e que ele datou de meados do século VIII d.e. A colecção classificação dos caracteres em 214 claves, adoptado no grande dicionário
Tuen-Huang, da Bibliothêque Nationale de França, oferece uma grande impresso por ordem do imperador K'ang-Hi, autorizava esperar que uma
variedade de imagens piedosas acompanhadas de orações (século IX). classificação prática das dezenas de milhares de caracteres permitiria
Mas, sobretudo, o Museu Britânico tem o inestimável privilégio de con- cncontrá-los e alinhá-los mais facilmente depois de usados. Os custos da
servar o mais antigo livro impresso datado do mundo. É um longo rolo
fundição dos caracteres e da mão-de-obra a manter eram tão elevados que
impresso xilograficamente no ano 868 e cujo texto búdico é precedido de
só o governo podia assumi-los. De facto, essas imensas publicações ofi-
um frontispício com uma composição erudita e uma gravura delicada,
.iais eram oferecidas aos funcionários e aos letrados como instrumento de
provas de uma arte já muito avançada. Foi preciso pelo menos um século
Irabalho e o seu custo de produção pouco importava. Nenhum particular
para vencer a oposição dos letrados que julgavam sacn1ego usar este
s podia permitir financiar tais empreitadas, suportar uma mão-de-obra
processo para imprimir livros clássicos, e que receavam também, ao que
1110 numerosa, conservar classificada uma matéria que tanto espaço
parece, ver prejudicada a sua indústria de copistas. Artesanato inicialmente
11 .upava. A qualidade da tinta chinesa tão fluida não se prestava também
localizado nos vales altos e baixos do Rio Azul, acabou por ser adoptado
para a impressão com recurso ao metal. Por fim, uma última razão, de ordem
pelos letrados como meio de conservação e de difusão dos textos canóni-
l sI li a e sentimental desta vez, pois os chineses gostam de encontrar, ao
coso A este título foi preconizado oficialmente pelo ministro Fong Tao
p -rcorrcr as páginas de um livro, o frémito de uma bela caligrafia e o estilo
num relatório apresentado ao trono. Este relatório, tanto quanto o de Ts'ai
ulmirado deste ou daquele calígrafo em harmonia subtil com o texto.
Luen, foi conservado, e ainda hoje se atribui aos seus autores o mérito de
iravura em madeira permite o reflexo fiel e, até aos nossos dias, conser-
invenções das quais se limitaram a chamar a atenção da Corte Imperial.
v 11 ruu s »Ihc fiéis. Somente no século XX foram de novo adoptados os
Foi, aliás, em má altura, que, em 932, Fong Tao propôs fixar o texto dos
l 11 Il'ler 's móveis, mas usados apenas nas edições populares e nos jornais.
clássicos por meio da xilografia, porquanto a dinastia já não possuía
meios para mandar executar a gravação de uma série de «Clássicos em
pedra», como teria podido fazer em tempos mais prósperos. O êxito da " 1'1'1 I 10')',1'11111,1/',\ tI/'/IIIIS dt! 1';11//11;1/1('1;/' /'11 ('11;11/', Paris, Maisonn .uv , 19'i1,
empresa (932-953) consagrou a nova arte e, pouco a pouco, toda a lit ra 111 I' 110 (Olll,1 1'0 111111,1 til' I' I' 'Ihol IV); Wll, h. '1'.• /'111' f)/'I'/'//I/I/III'III O/'/I"IIllIIli 11/

turu .xist .ntc foi irnpr ssa. Pro .urou s rapidarn nt ap .rf 'i .oar ti I ruira I 1111/1/ I 1111 I1 111 III !'It 1111110 1'1 Ih 1'1' 1\7 lhO
98 o APARECIMENTO DO LIVRO AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO
99

Enquanto, na China, a edição dos textos era muitas vezes subven- Pérsia para os reis de França, da Inglaterra e o Papa (dois exemplares,
cionada por particulares que não queriam abandonar a xilografia, na datados de 1289 e 1305, conservam-se em Paris, nos Arquivos Nacionais).
Coreia, os poderes públicos encarregaram-se da difusão dos textos, e a O próprio Marco Pólo, habitualmente tão atraído por todas as coisas,
impressão por meio de caracteres móveis conheceu aí o seu pleno maravilha-se com as notas de banco em uso na China, mas não se
desenvolvimento. Aparece, nesse país, a partir da primeira metade do apercebe que são impressas por meio de pranchas gravadas. Assim, pois,
século XIII, e conhece um progresso extraordinário no século XV, sob o as possibilidades dessa técnica, que devia revelar-se capital para o desen-
impulso do rei Htai-tjong, cuja política esclarecida se proclama num volvimento da Humanidade, parece terem escapado ao espírito de obser-
decreto de 1403: «Para governar é necessário divulgar o conhecimento vação de numerosos viajantes, ou, pelo menos, nenhum achou por bem
das leis e dos livros, de modo a preencher a razão e a tomar recto o consigná-Ias por escrito.
coração dos homens: deste modo se obterá a ordem e a paz. O nosso país
está situado a Oriente, para além do mar, e por isso os livros da China são
raros aqui. As pranchas gravadas gastam-se facilmente, e, além disso, é
difícil gravar todos os livros do universo. Quero que com cobre se
fabriquem os caracteres que servirão para a impressão, de modo a aumen-
tar a difusão dos livros: isto será uma vantagem sem limites. Quanto aos
custos deste trabalho, não é conveniente que sejam suportados pelo povo,
mas incumbirão ao Tesouro do Palácio». O jogo de 100 000 caracteres
fundidos em decorrência deste decreto foi completado com novas
fundições e, um século mais tarde, constituíram-se deste modo 10 jogos
postos em reserva nos armazéns dos prelos oficiais 109. As três primeiras
fundições (1403, 1420, 1434) precedem a invenção da imprensa na
Europa.
Outro vizinho da China, o povo nómada dos Uigures, parece igual-
mente ter adoptado esta técnica, que convinha perfeitamente à sua língua
provida de alfabeto; um lote de caracteres uigures, gravados, por volta do
ano 1300, em pequenos cubos de madeira, foi encontrado por P. Pelliot,
em Tuen-Huang. Não se vê como esta colónia turca da Ásia Central, em
contacto mais directo com o Ocidente, tenha podido dar a conhecer a
imprensa à Europa.
Se se exceptuar o testemunho de Rachid ed-Din, médico dos sobera-
nos mongóis do Irão, no início do século XIV, nenhum viajante menciona
a imprensa. A atenção dos europeus parece mesmo não ter sido atraída
pelas primeiras xilografias chegadas aos seus países, na forma de selos
impressos em vermelhão, nas mensagens dos imperadores mongóis da

109 WON- YOUNG, Kim, Early movable type in Korea, Seul, Eul Yu Publ. .0, 1954,
36 p. de texto coreano, 15 p. de texto inglês, 26 estampas. (National Museum of Koreu,
S('li('~ A, v. I).
Capítulo III

A APRESENTAÇÃO DO LIVRO

Abramos agora os livros; vejamos como a sua apresentação se modi-


ficou ao longo do tempo, em que sentido e por que razões.
Antes de mais, uma observação prévia: os primeiros incunábulos
apresentam exactamente o mesmo aspecto dos manuscritos. Nesse período
inicial, os impressores, bem longe de inovar, levam ao extremo o cuidado
da imitação'": a Biblia de 42 linhas, por exemplo, é impressa em caracte-
res que reproduzem muito fielmente a escrita dos missais manuscritos da
região renana. Durante muito tempo, os tipógrafos utilizam não somente
alfabetos de caracteres isolados mas também grupos de letras ligadas entre
si pelas mesmas ligaduras da escrita manuscrita. Por mais tempo ainda, as
iniciais dos livros impressos são rubricadas à mão pelos mesmos calí-
grafos e iluminadas pelos mesmos artistas que trabalham para os manus-
critos. De tal modo que um profano, às vezes, tem de examinar com bas-
tante atenção a obra antes de determinar se é impressa ou escrita à mão.
Múltiplas hipóteses se levantaram para explicar esta similitude:
admitiu-se, por vezes, que proviesse do desejo de enganar o comprador
desconfiado do novo processo. Ou, ainda, a necessidade de fazer passar os
livros impressos por manuscritos, de modo a não despertar susceptibilidades

1111 Ver, ti propósito. BEAULI UX, ., «Manuscrits et imprimés en France, xvs-


VI' \Iltll", III MI'ftlll/-lI'.I' offrrts (/ ÉII/i//' Chutelain, Paris, 1910; MORTET,
..{)h I I VIII 11I11 111 I'~ 1I1111l1'Iln', qu: onl dlVl'ISill\' lcs l'lIl'!1\'llll'S cmploycs pur les
IIIIJlIIIIIlIIl du v' IIlh .. , 111(,'l/ll'Ilh,'" /,'III,ft,,/I, lI) li, pp. '10 '1 \
102 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 103

ou mesmo a atenção dos copistas, e evitar, assim, as queixas das suas impresso e do manuscrito não devia ser a seus olhos a prova de um triunfo
«corporações», ciosas de conservar o monopólio'!'. técnico ao mesmo tempo que um aval de êxito comercial? Verifiquemos,
Hipóteses que não resistem ao seu exame. Desejo de enganar o portanto, que o aparecimento da imprensa não provoca súbita revolução
comprador? A fraude, se de fraude se tratava, era bem fácil de descobrir; na apresentação do livro: marca apenas o princípio de uma evolução que
o homem do século XV (cuja vista estava, neste aspecto, mais bem exercitada é, agora, necessário retraçar, para determinar por que processo o livro
do que a nossa) devia distinguir facilmente, apesar de todas as semelhanças, impresso, pouco a pouco, se afastou do seu modelo inicial - o manus-
um manuscrito de um livro impresso. Por outro lado, os leitores preferi- crito - para adquirir as suas características próprias, e indicar em que
ram bem rapidamente os textos impressos, mais legíveis e mais correctos, sentido e por que razão o seu aspecto variou durante quase um século
aos antigos manuscritos. antes de se ter chegado, em meados do século XVI, a dar-lhe, à excepção
Resistência dos copistas e dos estacionários? Certamente. Mas não de alguns pormenores, a apresentação que ainda hoje é a sua.
deve esquecer-se que a maior parte deles se encontrava submetida a uma
regulamentação universitária e não propriamente corporativa; achavam-
-se, por consequência, sob a autoridade dos chefes e dos conselhos das I. OS CARACTERES
universidades, todos eles muito favoráveis à imprensa, nesse período ini-
cial, de modo que as queixas de alguns deles foram inoperantes. Aliás, às Por volta de 1450, na época em que nascia a indústria tipográfica, os
vezes, tipógrafos e estacionários parece terem colaborado. Se os copistas textos eram copiados, de acordo com a sua natureza ou o seu destino, com
propriamente ditos tiveram, indubitavelmente, tendência para se queixar escritas muito diferentes. Era possível distinguir quatro tipos principais de
da concorrência do impressor, esse recém-chegado, os livreiros especiali- escrita, cada uma das quais com a sua própria finalidade'". Primeiro, a
zados na venda e no comérco dos manuscritos não tiveram talvez a mesma gótica dos escritos escolásticos, a tradicional letra de soma, cara aos teólo-
atitude. Em muitos casos, em Paris ou em Avinhão, por exemplo, aceita- gos e aos universitários. Em seguida, a gótica maior, menos redonda, com
ram vender livros impressos ao lado dos manuscritos; depois, muitos traços direitos e quebras nos caracteres: a letra de missal, usada para os
deles, apercebendo-se do interesse do novo processo de reprodução dos livros de igreja. Depois, um derivado caligráfico da escrita cursiva usada
textos, não hesitaram em tomar-se editores e em financiar o estabeleci- nas chancelarias (cada uma delas com o seu tipo tradicional); a gótica bas-
mento de oficinas tipográficas, como António Vérard, cujos livros, fre- tarda, escrita corrente dos manuscritos de luxo em língua vulgar, mas
quentemente impressos em velino e iluminados, reproduzem fielmente os também de certos textos latinos, geralmente narrativos. Por fim, a der-
manuscritos de luxo que ele mandava caligrafar e pintar previamente, uma radeira, destinada a grande futuro, já que virá a tomar-se na escrita nor-
vez que dirigia uma oficina de copistas. mal dos textos impressos em grande parte da Europa Ocidental: a escrita
Que os primeiros impressores se esforçaram por copiar exactamente, e, humanística, a littera antiqua, a futura redonda. Inspirada na minúscula
por vezes, reproduzir servilmente os manuscritos que tinham diante dos carolina, essa escrita, posta em moda por Petrarca e seus émulos, por volta
olhos, verdadeiramente, em nada nos deve surpreender, em nada deve sus- de 1450, era apenas usada por pequenos grupos de humanistas e de gran-
citar todas essas hipóteses. Se reflectirmos um pouco, não pode imagi- des senhores bibliófilos, desejosos de apresentar os textos antigos com
nar-se que tivesse sido de outra maneira. Como poderiam os primeiros
tipógrafos ter concebido, para os livros impressos, um aspecto diferente
dos manuscritos que lhes serviam de modelo? Mais ainda, a identidade do "2 GUIGNARD, Jacques, «Du manuscrit au livre», in La France graphique,
lcvcrciro 1955,9.° ano, pp. 8-16, assim com as obras citadas nas notas n.O' 110 e 111.
Sobre os prohl 'mas r -lativos à classificação das escritas manuscritas e à origem da escrita
hlllllilllr~li~-a,ver B1SCIIOFF, n.; L1EFTINCK, G.I., c BATTELLI, I., Nomenclature des
11101 ,SClIKI, L.S,,/IItI/II(/ilfto,l'illustn's il//il(/III/I'.I' 1//(/1I1/1'/'/il.\·, /~, fI(/I'M/,11I'
111/1//111I1/\/'/11 tI 1111111'.\ /11'11'11/111'.\ du 1\' 11I1 \\'/' sii ctr, Puus, I II .1. Y'I 11Imh '11\ MORHISON, S., «Enrly
uu livtr 1I11/'/1l1lt', 1'11111"11 I, 1II11 hu 11101111 111 (11)11.111111111111'1111111.1111 pl,illnU'/,iI,,"I', vl,I'PIl,ppl \()
104 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 105

uma aparência mais próxima do seu aspecto primitivo (ou, pelo menos, do Talleur, tipógrafo de Ruão, a impressão de dois tratados de direito anglo-
que eles pensavam ser o seu aspecto primitivo), e, com isso, opô-Ios aos -normando, Le Talleur prepara para o efeito uma fundição muito diferente
textos medievais tradicionais, até na sua apresentação. E, a esta redonda, da que usava normalmente, e esforça-se por imitar a muito particular
pode acrescentar-se uma escrita cursiva, a chancelaresca, que dará origem escrita cursiva que os copistas de além-Mancha'!' tinham por costume
ao itálico, que a chancelaria vaticana adopta em meados do século xv, e empregar nos textos desse género.
que passará, em seguida, para as chancelarias de Florença, Ferrara e Veneza. Pouco a pouco, a imprensa vai fazer sentir os seus efeitos unifi-
Que esta exposição, forçosamente rápida, de uma realidade com- cadores. Por motivos de ordem material, em primeiro lugar. Nessa época
plexa e inimiga de qualquer classificação rígida, não conduza o leitor ao em que o comércio dos caracteres ainda não está organizado, em que, com
engano. Entre os tipos extremos que acabámos de enumerar, existem muita frequência, têm de ser os próprios tipógrafos a talhar os punções,
intermediários de toda a espécie. A gótica dos copistas de Bolonha, por em que cada série de punções, cada fundição mesmo, representa uma
exemplo, é influenciada pela escrita humanística. Por outro lado, havia, pequena fortuna, e em que cada tipógrafo apenas possui um pequeno
consoante as regiões, diferenças sensíveis entre as escritas de um mesmo número de fundições, é frequentemente impossível talhar ou adquirir um
tipo: a bastarda parisiense, nascida na chancelaria real e usada nos manus- alfabeto de caracteres idênticos à escrita do modelo manuscrito. A neces-
critos em língua vulgar, que iria inspirar os caracteres de um Vérard ou de sidade de escoar os exemplares de uma mesma edição em cidades e,
um Le Noir, diferia da que os copistas dos Países Baixos usaram para muitas vezes, países diferentes, e sobretudo o nomadismo dos primitivos
caligrafar os manuscritos de João de Bruges, que irão servir de modelo impressores, conduzem obrigatoriamente à uniformização dos tipos regio-
aos tipos de Colard Mansion, impressor de Bruges: variedades regionais nais, que, muitas vezes, apresentam entre si tão-somente ligeiras diferenças.
tão características que permitem, muitas vezes, a um olhar precavido É certo que os primeiros tipógrafos alemães que, tendo saído do vale do
localizar um manuscrito sem dificuldade. Reno, vão ensinar a nova arte por toda a Europa, esforçam-se inicialmente
Tais eram, na sua diversidade, os diferentes modelos que se ofere- por imitar as escritas locais: na Itália, copiam a escrita humanística, e,
ciam aos primeiros tipógrafos. Diversidade que explica a extraordinária sobretudo, a escrita redonda dos copistas de Bolonha. Mas muitos deles,
variedade dos caracteres usados nos primeiros incunábulos e mesmo nos os mais pobres, não possuem os meios suficientes para poder agir desse
livros do início do século XVI. A cada categoria de obras - e, por con- modo: saídos dos seus países, tendo como única fortuna um pouco de
seguinte, de leitores - corresponde, como no tempo dos manuscritos, um material, matrizes e alguns punções, utilizam longe de casa os caracteres
carácter determinado: para o clérigo ou para o universitário, livros de já talhados. Foi possível reconstituir os traços de uma letra de soma origi-
escolástica ou de direito canónico impressos em letras de soma; para o nária de Basileia, não somente em Lyon, mas ainda em Toulouse e até em
leigo, obras narrativas escritas geralmente em língua vulgar e impressas Espanha'", Da mesma maneira, os caracteres utilizados por Le Roy nas
em caracteres bastardos; para os entusiastas do belo estilo, as edições dos primeiras impressões de Lyon foram talhados em países germânicos'".
clássicos latinos e os escritos dos humanistas, seus admiradores, em carac- Nessa época, por último, usam-se durante muito tempo ainda, na
teres redondos. Facto característico: se os primeiros impressores parisien- Inglaterra, caracteres provenientes de Paris e de Ruão'"
ses, Gering e os seus companheiros, chamados por um pequeno grupo de
amantes das belas-letras, utilizam, na oficina da Sorbonne, um alfabeto de
caracteres redondos, adoptam um tipo gótico quando trocam a Sorbonne 111 LEPREUX, G., Cal/ia typographica. Province de Normandie, v. I, p. 276.
pela rua Saint-Jacques para se consagrarem à publicação de obra de 114 I IARRISE, H., Les premiers incunables bâlois et leurs dérivés: Toulouse, Lyon ... ,
escolástica e de textos jurídicos destinados a um público mai vasto - o Puris, 2." cd., 1902.
'" PERRAT, ., «Barth ICl11y Buycr ct les débuts de l'irnprimerie à Lyon» , in
público dos estudantes da universidade. N ssa ép a, a pr ocupação de
Rcnuissanr«, li, I 1)\ 'i, pp, 101 121 c 149 lH7.
1//111/111/;1/111' 1'1
imitar as .scritus munuscritas in 'i Ia m 'SIlH) muitos lip<Í iralos a ir mais IH, (', RI'I'I), 'I' 1\, \ 111110/1' 0/1111' oM "",gli.\It [uunrh irs, lnndrcx, JOIINSON
10111'(. I)\lalldo I nhnnl P 11'011. livn-un 111,11•.••nllll ia li (Iuillu-uu. I I' I I • ( ti) 1'1\ I
106 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 107

* *
* * * *

Uniformização, pois, dos tipos regionais e, depois, menos rapi- Desejosos de atingir a mais extensa clientela, os primeiros impres-
damente, das grandes categorias de escrita: finalmente, um tipo de escrita sores começaram, geralmente, por utilizar os tipos de escrita tradicionais.
única, o carácter redondo, triunfará na maior parte da Europa: na Itália, em Mas já em Itália, a escrita redonda era muito usada. Numerosos também
França, numa parte da Suíça e, depois, em Espanha e na Inglaterra. eram os amantes das belas-letras que, um pouco por todo o lado, dese-
História característica, a da letra redonda, cujo triunfo materializa o javam possuir, e naturalmente segundo eles, nesse alfabeto inspirado na
do espírito humanista. História de uma conquista que, por isso, merece ser Antiguidade, os textos das obras que amavam e cujos manuscritos eram,
muitas vezes, relativamente raros. Muitos desses amantes financiaram ou
acompanhada.
originaram a formação de oficinas tipográficas. Assim, bem depressa a
A escrita redonda fora divulgada, como vimos, por pequenos grupos
imprensa contribuiu para dar a conhecer a escrita da moda, que Petrarca e
de humanistas italianos, entre os quais Petrarca e Niccolõde'Niccoli, que
os seus pares tinham lançado. É assim que Sweynheim e Pannartz, os
pretendiam dar aos textos dos Antigos que copiavam (como muitos letra-
impressores de Subiaco e de Roma, primeiros tipógrafos a terem traba-
dos do seu tempo, eles eram apaixonados copistas e bons calígrafos) uma
lhado na Itália, utilizam, primeiro, um carácter que se pode aceitar como
apresentação material mais próxima da sua apresentação original - dife-
redondo, e, depois, um redondo mais característico (1465-1467). Entretanto,
rente, em qualquer caso, da dos textos medievais, cuja escrita, por escárnio,
já nessa época, Adolfo Rusch, o impressor de Estrasburgo, parece possuir
qualificavam de «gótica», assim como Alberti qualificava de «góticos» os
também um tipo redondo que usa numa Enciclopédia de Rábano Mauro,
ornamentos da arquitectura medieval tradicional'".
anterior a 1467. A partir de 1469, por fim, o alemão, João de Speyer, esta-
A escrita redonda expande-se rapidamente na Itália. É usada nas
belecido em Veneza, emprega um carácter deste modelo numa edição das
oficinas dos copistas em Nápoles, Roma e Florença, sobretudo. Amantes Epistolce adfamiliares, de Cícero, e, em 1470, enquanto Gering utiliza, em
dos textos antigos, príncipes, bispos, abades, cardeais, banqueiros e ricos Paris, um alfabeto inspirado no de Sweynheim e Pannartz, Nicolau Jenson
mercadores compram esses manuscritos de um modelo novo. Os mais publica, em Veneza, as Epistola: ad Atticum, de Cícero, onde aparecem
ricos, como Matias Corvino, rei da Hungria, os reis de Nápoles, os duques caracteres redondos que ainda hoje se consideram obras-primas'".
de Ferrara, que possuem oficinas pessoais, pedem aos seus copistas para Assim, pois, entre os primeiros incunábulos - os impressos antes de
adoptarem a nova escrita na cópia dos textos dos clássicos latinos e 1480 - encontra-se um certo número de impressões em caracteres redon-
mesmo das obras dos Padres da Igreja. Fora de Itália, o duque de dos. Mas essas obras representam unicamente uma parte bem insignifi-
Gloucester e, mais tarde, o arcebispo de Ruão, Jorge d' Amboise, pos- cante da produção dos prelos da época. Por exemplo, conhece-se ape-
suem nas suas bibliotecas manuscritos «humanísticos»!". Assim, quando nas uma dezena de. fundições de redondo usadas na Alemanha até 1480.
a imprensa aparece, pequenos grupos de amantes das belas-letras - não Os clientes que procuram essas impressões são, de facto, pouco numero-
digamos humanistas - apreciam e sabem ler as novas escritas, se bem sos ainda, e o mercado em breve fica saturado. Ao passo que os tipógrafos
que, bem entendido, a imensa maioria dos homens e mesmo dos homens romanos, grandes impressores de clássicos, experimentam, em 1472, difi-
de letras do seu tempo, permaneça fiel aos tipos tradicionais de escrita culdades financeiras provocadas por uma verdadeira crise de superpro-
gótica. dução, Gering e os seus sócios, em Paris, trocam a Sorbonne pela rua
Suint-Jacques e, como vimos, substituem então o seu alfabeto redondo

117 .OLDS llMIDT, E.r., The printed books o] lhe RI'IIOis.\·(/II("(', Curnbridgc, uu Sohr U hisl ria dos curuct 'r 'S, ver css n 'ill1111'111'; JOIIN, ON, A,F., TYf?I'
19'iO, p. '- tI,',\lglIs: 1111'11' 1ti,1'lfl/l' 11//1/ dcvrlopnu-nt, I.ondl'l's, 19VI, in X,"; l1PDlKE, D,II" /'l'llIlillg
'1M /I.lrI"/II, P I' SI' S, 11'///'1, Ih"/I 1I/IItlI I' [oun» tIIltI 1/.\1', ('lIlIlIu ii! tI, 1 VIII. , 1" I d , I II ,
108 o APARECIMENTO DO UVRO A APRESENTAÇÃO DO UVRO 109

pela tradicional letra de soma. Em Espanha, se o flamengo Lambert


Palmart começa por imprima, em Valência, as obras de Fenollar em carac-
teres redondos, o seu exemplo não foi seguido. Do mesmo modo, um
pouco por todo o lado, a maior parte das oficinas estão geralmente equi-
padas com góticos bastardos que, naturalmente, utilizam quando se trata, ~~:i$ "ti.
ue mana
Ornl'qui. IIbett faipde qui rntnttm folfirllfl
Ucnofu.Illt1i)tbd ptONu..-.IhLOQpt.l8
por exemplo, de imprimir, em Paris, o Grant Testament, de Villon, a Farsa T\o(,e:.uBD"m"f'1UOoltsmfUl"u,~
J,.malllu ino. ordu\t: qukU filO(

de Pathelin, os romances de cavalaria, as crónicas em francês e as narra- gfaplc:na lpkqlllbua \701Cfallbto. unp:dlir in 'hbe
Qa=~~~~a;;:~an«
tivas populares, os Calendários dos pastores ou as Artes de morrer; e em bominue .aura. q&lip:imut nuncmonwtmU.ap!tITIIl
Quínfti.mmQ1tl~P1optiJe1bicanqJfi~
f:Roput:incibcnll;lcda1u •• 1rercrit

letras de soma também, usadas para a edição de Occam, de Nicolau de recü bene "Roboi. Ml\ldtUtqalftrinit,1tC ,"nCt

bícta tu m muuenb"
1:fqp.f:Rmcn:J'OI"'lrollbcoc1ltrib~
ZlKl'Ci3inaulo,matcrrcgu,u.,..;r:to,
Lira e dos múltiplos comentadores de Pedro Lombardo. ~~t~Q':orii!=~~"'po~~

Pouco a pouco, no entanto, a voga dos escritos humanistas e a er beneoícrue frucr' rtSlul,\Jomtnef!Sc-t(opn'otn •• sm
".~pkCm dominei" bkb' nofbU,
",,-..bIIl&WUStn"""'.(QUI.Ef\3klA
orll'tn~filaotbPlnrbonk1T

difusão das impressões italianas, onde o redondo é largamente utilizado, uenrne rui: íbáu9 euod~rlU't~tib,AI"'t4ftllÍlM~

fazem triunfar este último, acompanhado, logo a seguir, pelo itálico. Cl)líftutl amen. ~=:aE;~=~kwlmk
~OII"_~KnDe(UI~1Iu
.õiIl.cIducunqantmba*mlaann".oIn
Veneza desempenha, neste aspecto, um papel essencial. É aí que Aldo t;lo~ía laubía refonet ín oze ~tnI.,*WlNfaku~mIlDp(l'babc*
JS.~~~
S-qgjmflmDlnlilT"";rnmmumd
•••bouia.eriI

manda talhar tipos redondos que frequentemente vão servir de inspiração omníú "atrisenítoq;p:olí "blall:W.fIQJoraraotanftt:ClldM:I!m~

fpírituí fanetopariter 'Reful l:':..:'==~~:"''''


~·"."'!ftCIIIo·.illl' ••ro~
aos grandes gravadores de caracteres do século XVI; é lá também que tá lanbe perbénní l!.abozí, ~rtTvrlIlÍOUT"""~

Francisco Griffo manda gravar caracteres inspirados na chancelaresca bue bei "enbuntnobía om- Efl homini uirtus fuJuo prc:ooGor 1Um!
lngcnium quondam fuerat prc:cioGus auro,
%rUl.J

romana (1501) e lança, assim, a moda do itálico, escrita inclinada, mais nía bona.Iauâbononeirruf Mlramutqf magis quos munera mmtis adomit:
~otétía: 'l sratía~ amo nbi ~uamqui corporas emicuere bonis.
Si qua. uirture urres ne dcfpic.c qumquam
fechada, que permite imprimir em páginas de formato reduzido um texto cl.?tífle.:2lmen. Ex alia quadam foditan ipre meee

relativamente longo 120. Seguindo o exemplo veneziano, Amerbach (que,


:I:liuebeú lie'i'Cinesper CeCUh1elJ",
aliás, tinha aprendido o ofício em Veneza) e, depois dele, Froben, adop- em.~rOui1)et'itribtut~omni.l
nobie, ~loficitabCquetleo null9ill
tam cada vez mais o redondo e o itálico. Espalham esta moda na Alemanha olbe Iabo:. g1la p1acettcll9in qua
ree parua bcaní. IDc fadr'i tCIlUClJ
e favorecem a sua difusão em França. Bem depressa, aliás, em Lyon, lumrianrur opee.
copiam-se caracteres venezianos: desde o seu aparecimento, por exemplo, Si finronawldlics 'oCrl;lctOlC
conful.
Si'Oola~cabcmficsbccófu\erVctor.
Baltasar de Gabiano e Bartolomeu Trot imitam o itálico aldino. Em Paris, .euicqui'o amor iullírnó dl cócé'oerctIIlÚ
1tcgnarain'oomino9iu91,labatucfuoiJ
Josse Bade e Henrique Estienne popularizam a moda do redondo, e :lJinlbaraé'Océbal>9raéfincfmacnobÍ9. .x...,.~ite.Ma,..
t~ofA n
JUlI"".-1vH ,\
Tepdna 1I'01\v.AvfiaiO\Íp:lVUt
.Iêurua: neccerrapcrfolucn'oa bie.
assiste-se finalmente, nesta cidade, entre 1530 e 1540, ao aparecimento de n~If.<U_'""lsIY<ml
"""",.,..;o~~_.
Wu ••• rs t>ocu" quob ("!'lI omni. i)omo
uma série de caracteres redondos, utilizados, primeiro, por Roberto 21rs IiInlmos fransu 1 fannile buimir "'V!bclf
2lne cabunr rurree arte leuatur onDe gnNCÍlJcI?aNetQZbiucna,lZmane-
:'Arribue inscmjs qlle.fitg~.6lorilJ molri. riem implCffionipararam:.finilJ.
Estienne, Simão de Colines, Cristiano Wechel e António Augereau, alguns -.:tzlBctplj&obllarero mdualUl pararur

dos quais são tradicionalmente atribuídos ao famoso Garamond (sem que


Cum mala per lonaas ccnualuere m9lQs
0t:b ptopcrancc:te ~~Ne btfferm ~!U .t.:r~lrN 'itatbolt !Ilugultcnlie 'Cio
.eui non <fi bobae er •• ,mn •• optUoml, folãtiffinn:plCclaro i~o 'l min
ficaartequaolsn C>cncti,acucUuil
se possa determinar de qual deles se trata). Esses caracteres, mais per-
feitos ainda do que aqueles em que se tinham inspirado, transformam-se -.r,__
lIon bcnt pJO roco libm'» ftnbimrauro
eocctldlc bonum plaairo~ia: Opc8
'lbxxunaia anUnldt borúJ, 'KIIcnnbi libmN
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0ommIp<d,kDO.pa1bncoldmm.",1ItI
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pc:nanrbeJlfl fulfTUnai mUra ioui.


cdcblatiffimus. gn impcriali nune
wt>c!ll ugnftc 'CinbdícolZlaublltü1i
me impldfioni tlebit.ilrinoq, CaJu,
tiEJ.S)·c.c..o::..l..x.x.xag •.cIlIé.
1rtloclnonnun.Qaam IlaWlmltiaftt.
lDc p»pc OIrrm n fPnU)C nsan •• eqtr' !Il~lil!S.$iOCrcfclidcompfctut.
t1
'20 Para a história do itálico e dos seus começos, ver MORRISON, S., «Towards an
ideal type», in The Fleuron, li, 1924, pp. 57-76; «On script types», in The Fleuron, IV,
1925, pp. 1 42; Tlle Chancerv types vII/C/Iv and France, 1925, v. 111,pp, 51 60. O costum, h hnrd ({AI DOI I prova ti' div 'rsos caruct 'I'S, Augsburgo, 14116,
dL' IIS:1I o iuilicu nas l'ilaçOl's par .ce IL'r nas 'ido '111Basil 'ia, na oficina dos FIOlwll, L'II1I1'
1 1() l 1 1()
110 ° APARECIMENTO DO LIVRO ______________________ A_A_P_R_ES_E_NT_A_Ç_Â_O_D_O_L_IV_R_O ~

rapidamente no padrão dos tipos que se usam em toda a Europa. São eles escrita criada, na sua origem, de modo artificial, por pequenos grupos de
que Paulo Manúcio e Plantin procuram ou mandam copiar e que Egenolff homens letrados, o que poderia espantar-nos se não nos lembrássemos de
compra em Francfort. Adquiridos pelas fábricas de fundição que, então, se que, nessa época, o latim era língua internacional, e internacional também
constituem, os punções talhados nesta época serão ininterruptamente usa- o comércio do livro latino. A extraordinária diversidade dos caracteres
dos até ao século XVIII. deve ter entravado com frequência a venda das edições, de modo que o
O carácter redondo ocupa, por isso, lugar destacado, à medida que carácter redondo deve ter aparecido, por fim, como uma espécie de alfa-
cresce a popularidade do humanismo. Começa-se a utilizá-lo para beto internacional. Mas se ele foi rapidamente adaptado na impressão de
imprimir textos em língua vulgar, tradicionalmente editados até então em textos em língua vulgar na Itália e, depois, após sérias resistências, em
gótico bastardo: em 1529, Galiot Du Pré «rejuvenesce», dessa maneira, a França e em Espanha, e, com mais dificuldade ainda, na Inglaterra *, o tipo
apresentação do Romance da Rosa e das obras de Alain Chartier; e faz o redondo, em contrapartida, jamais triunfará completamente junto à massa
mesmo, em 1532, com o Grant Testament, de Villon. O público que lia de leitores dos países germânicos. É certo que, na Alemanha, nos Países
estas obras aprendera, pouco a pouco, a preferir os caracteres redondos, Baixos, na Áustria, imprimiam-se os textos latinos em caracteres redon-
que se encontram, a partir de então, ano após ano, num número de edições dos. Mas os textos escritos na língua do país continuaram a ser impressos
cada vez maior'". Mas o novo carácter não tem o direito de cidadania em geralmente em caracteres góticos. No século XVI, dois tipos de escrita, o
todo o lado. Por algum tempo ainda, os universitários preferem a letra de Umlaut e o Schwabach, que deveriam subsistir até aos nossos dias,
soma: esta só desaparecerá no decurso dos decénios seguintes, primeiro provieram, na Alemanha, dos modelos góticos 122. Confundindo menos a
dos tratados jurídicos, depois dos textos de teologia: manter-se-á durante maior parte dos leitores, foram adoptados por eles. Lutero, cujos primeiros
mais tempo ainda nos livros litúrgicos. Sobretudo, a imensa massa de bur- escritos tinham sido impressos em caracteres redondos, utilizou os carac-
gueses e gente comum, habituada a decifrar a escrita manuscrita, fica mais teres nacionais quando se lhe tornou necessário atingir a grande massa dos
tempo fiel à gótica bastarda, que dela se aproxima mais do que o redondo seus compatriotas.
ou o itálico. As Crónicas gargantuescas, não esqueçamos, destinadas a De um lado, portanto, o mundo latino e a Inglaterra; do outro, o mundo
serem vendidas nas feiras de Lyon a um vasto público popular, são germânico, onde se liam habitualmente (e se lerão durante séculos) textos
impressas em caracteres góticos: durante muito tempo, por isso, continua numa escrita diferente. E, durante esse tempo, nos países eslavos, os
a utilizar-se a letra bastarda tradicional para imprimir os pequenos livros impressores utilizam uma escrita totalmente diferent~: a escrita cirílica,
populares, almanaques e «opúsculos góticos»; os tipógrafos, geralmente inspirada na antiga escrita gótica'".
muito pobres, que tiram semelhantes obras aos milhares de exemplares,
usam até ao fim estes alfabetos, adquiridos a baixo preço aos impressores
mais ricos quando estes já não os querem. Só mais tarde, na segunda lI. O ESTADO CIVIL DO LIVRO.
metade do século, é que, obrigados a comprar material novo, se decidem INCIPIT, CÓLOFON E MARCA
por adoptar o carácter redondo, que, pouco a pouco, o seu público apren-
deu a conhecer. Nos nossos dias, o leitor que abre um novo livro sabe que encontrará
imediatamente, a partir da primeira página, todas as informações que o
* aconselharão à leitura ou que, pelo contrário, o levarão a não prosseguir:
* * na página de rosto estão indicados o nome do autor, o título da obra, o

Assim, pouco menos de um século após a invenção da imprensa, a


letra redonda é adaptada em grande parte da Europa. É o triunfo de uma
I)) lIP))IKE, n.B., 1111. rit., p, 1~9 C Sl'gS.
I 'I (') p. '(I') \' N(' 's.
I 'I (lOI,I)SCII M 11)'1',E.P., 1111. ctt.. p. 24. f ), 1'111 1'\I1111V-111 (N N)
112 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 113
-------------------------------------------

lugar da edição, o nome do editor e a data da publicação. Em teoria, a lei


zela para que seja assim, pelo menos na Europa Ocidental.
Os homens do século xv, e mesmo os do século seguinte, eram bem
menos favorecidos neste ponto de vista, pois tinham de folhear lon-
gamente uma obra antes de lhe conhecer o «estado civil»: de facto, não
havia página de rosto nos mais antigos livros impressos. Como nos
manuscritos, o texto começa no rosto da primeira folha, logo a seguir a
uma breve fórmula na qual se indica, normalmente, o assunto da obra e,
às vezes, o nome do seu autor. Por muito tempo ainda, até ao início do
século XVI, será necessário procurar informações mais amplas no final do
volume, no cólofon, herdeiro dos antigos manuscritos; é aí, na verdade,
que desde cedo se adquire o hábito de revelar o lugar de impressão, o
nome do tipógrafo e, muitas vezes também, o título exacto da obra e o
nome do seu autor.
Contudo, um novo elemento de identificação, a marca tipográfica
gravada em madeira, vem, a partir do século XV, juntar-se ao incipit e ao
cólofon. A princípio simples sigla, muitas vezes gravada sobre fundo
negro, reproduzindo o sinal que livreiros e impressores traçavam nos far-
dos de livros que enviavam aos seus correspondentes para comodidade
dos transportadores, impressa a seguir ao cólofon ou numa página do
último caderno deixada em branco, a marca não tarda a transformar-se
numa verdadeira ilustração publicitária, destinada não só a indicar a
origem do livro mas também a ornamentá-lo e a afirmar a sua qualidade.
Doravante, livreiros e impressores mandam reproduzir nela a insígnia da
sua oficina, assim como o texto da sua divisa. Quando, ao tempo do
humanismo triunfante, se desenvolve a moda das alegorias inspiradas na
Antiguidade e a dos emblemas, vê-se surgir um simbolismo por vezes
complicado: Aldo escolhe a âncora, Kerver o licórnio, Estienne a oliveira,
ou, ainda, Galliot Du Pré o navio - a «galé» -, em virtude do seu nome.
Ao mesmo tempo, a marca, de início relegada para o fim do volume, vai
servir para decorar a página de rosto, cujo uso começa a generalizar-se a
partir do final do século xv.

* 19°
* *
Marca tipográfica de imão de Colines.
Curiosa é a história do nascimento da página de rosto, cuja finalidade
essencial é, nos dias de hoje, indicar ao leitor o «rcgisto civil» do livro.
História cnructc r si icu, pois mostra airuv s ti ''lu proc 'sso :1(1:11 t'll :1111l'
114 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 115

se impuseram, pouco a pouco, novos usos que tornavam mais fácil a con-
sulta dos livros. Como a frente da primeira folha, mais do que qualquer
outra página, tinha tendência para se sujar e ganhar pó, alguns tipógrafos,
para evitar que o início do texto aparecesse manchado, tiveram a ideia de
começar a impressão no verso da primeira folha, permanecendo a frente
em branco. Depois, foram naturalmente levados a imprimir nessa página
em branco um título restrito que permitia identificar a obra mais
facilmente 124.
É assim que, a partir dos anos 1475-1480, faz a sua aparição a página
de rosto, cuja utilidade cedo se torna evidente. No que diz respeito à
França, os editores particularmente ciosos da boa apresentação dos seus
livros - Vérard, por exemplo - resolvem, então, ornamentar esta página
com uma grande inicial gravada em madeira, muitas vezes decorada com
figuras grotescas. Outros colocam no espaço em branco a sua marca,
debaixo do título - ou ainda uma figura gravada em madeira: pranchas
representando um mestre e os seus alunos, em certos livros de estudo para
uso dos iniciantes, como o Doutrinal, de Alexandre de Villedieu, e gravu-
ras emolduradas nos folhetos populares.
Nos finais do século xv, todos os livros, ou quase todos, têm página
de rosto; mas esta não se apresenta ainda com o aspecto actual; restrito, a
princípio, o título alonga-se, depois, desmesuradamente: durante o primeiro
terço do século XVI, a preocupação de preencher inteiramente a página
leva os editores a encerrar o título numa longa fórmula; muitas vezes,
acrescentam-lhe a indicação das principais partes da obra; muitas vezes
também, juntam-lhe alguns dísticos do autor e dos seus amigos. E se os
livreiros, desejosos de fazerem publicidade, adquirem rapidamente o
hábito de indicar o seu nome e morada no fundo da página, será ainda
preciso procurar no fim da obra, no cólofon, informações mais precisas
- o nome do impressor, por exemplo, e sobretudo a data exacta em que
terminou a impressão.
Ao mesmo tempo, há um cuidado cada vez maior em decorar a página
de rosto. Difunde-se a moda das cercaduras gravadas: Baldung-Grien, em
Estrasburgo, a partir de 1510, fez dessas composições para Knobloch e
Schott, depois para Grüninger, Um pouco mais tarde, Holbein desenha, Marca tipográfica de João Ou Pré.
em Basileia, um bom número de cercaduras para Froben. Em seguida, o

I"IIAI-'IIII(R, K, Thrsuutv ofiurunahutn, Novu lorquc, lI)';,


116 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 117

novo estilo chega a Nuremberga, a Augsburgo e a Paris, à oficina de Josse gravura em talhe-doce desde cedo se adquiriu o hábito de gravar o texto
Bade, que utiliza uma decoração de estilo arquitectónico'". do rosto na prancha de cobre em simultâneo com o enquadramento. Desde
Entretanto, ao passo que, nos países germânicos e na Inglaterra, onde então, a apresentação da folha de rosto foi apenas feita por artistas que,
a moda das cercaduras subsiste durante muito tempo!", o título permanece naturalmente, se sentiram inclinados a desenvolver a parte da ilustração às
com frequência submerso por uma longa fórmula entre múltiplas indi- custas do texto: pouco a pouco, a ilustração ocupa toda a superfície da
cações, os Aldo, na Itália, e, em França, impressores humanistas, (Simão página, o endereço do livreiro e a data de impressão são muitas vezes rele-
de Colines, os Estienne ou os de Toumes) aplicam-se a clarificar a apresen- gadas para uma só linha no fundo da página, ao passo que o título é
tação da página de rosto: a partir de 1530, na época em que o humanismo inscrito num livro aberto, sobre um pedestal ou um panejamento, coloca-
triunfa, procura-se cada vez mais dar aos livros novos títulos curtos que dos no centro da folha, É assim que se apresentam os títulos gravados a
se imprimem isolados, com o nome do autor, e, ao fundo da página, a indi- partir dos desenhos de Rubens, que os Moretus colocavam no início das
cação bibliográfica. Enquanto o carácter redondo e o itálico triunfam um suas edições!"; assim aparece também a folha de rosto de muitos livros da
pouco por toda a parte, a página de rosto toma, então, pouco a pouco, o primeira metade do século XVII, cujo aspecto tantas vezes choca o nosso
seu aspecto actual. olhar habituado a maior simplicidade, pois a arte, barroca talvez não tenha
agido em nenhum outro domínio com tantos excessos como neste. O dese-
nho do rosto das obras religiosas, sobretudo, toma-se muito frequen-
* temente o pretexto para um artista de tanto talento quanto Rubens exe-
* * cutar composições em que figuram múltiplas personagens, cada uma das
quais representando uma alegoria onde a confusão prejudica 'o vigor do
. A substituição da técnica da gravura em madeira pela da gravura em
conjunto. .
éobre, no final do século XVI, traz novas alterações no aspecto da página
de rosto. É evidente que o título da maior parte dos livros se apresenta Em França, contudo, procura-se maior simplicidade: Tomás de Leu,'
sempre do mesmo modo, mas verifica-se, primeiro nas edições de grande Leonardo Gautier e os seus alunos continuam a colocar o título no centro
formato particularmente cuidadas, depois nos volumes de todo o género, de um pórtico arquitectónico. Miguel Lasne - que, entretanto, trabalhara
uma renovação do título enquadrado. Com frequência, nos primórdios, o em Antuérpia - imita as composições de Rubens, mas evita as alegorias e
texto propriamente dito da página de rosto é impresso e colocado no cen- as composições demasiado pesadas. Bem cedo, em 1640, Poussin, ao ser
tro de um enquadramento gravado; mas este método exige que se recorra encarregado de compor os títulos das edições da Imprensa Real, opera, em
à técnica delicada da dupla impressão (não se pode imprimir, ao mesmo alguns desenhos que logo servem de inspiração um pouco por todo o lado,
tempo, o título, composto em caracteres tipográficos, e o enquadramento . uma verdadeira revolução!": seduzido pela clareza, faz figurar na folha
gravado em cobre, como se fazia para os enquadramentos gravados em unicamente algumas grandes personagens vestidas à moda da Antiguidade,
madeira). Como, por um lado, os traços espessos deixados pelos caracte- numa composição de simplicidade inteiramente clássica. Mas, sendo pin-
res ofereciam um contraste desagradável à vista, com os traços finos da tor como Rubens e empenhado, antes de tudo, em conferir unidade às
suas composições, relega o título para longe do centro da página. Com ele,
() título gravado, puramente ornamental, toma-se frontispicio, ilustração
125 JOHNSON, A.P., German Renaissance title borders, Oxford, 1929; Von .olocada no início do livro, de tal maneira que os editores têm de resignar-se
PFLUG-HARTUNG, J., Rahmen deutscher Buchtitel im 16. lahrhundert, Estugarda,
1909; JOHNSON, A.P., «The Title borders of Hans Holbein», in Gutenberg-Jahrbuch,
1937, pp. 115-120.
126 Ver a nota precedente e JOHNSON, AP., «A Catalog of engraved and ctchcd 1'1 ('I VOE')', 1..,in Bibliothõqu« Nationale. 11111'/,1',\', ville de Plantin 1'1 de Rubens.
Engli: h title-pages», Oxford, 1934; «A Catalog of italian engraved title-pagcs in thc XVIlh ( '111 Jlo 'o Ik (' poslI,1l0), PIIIIS, I lI'; I, p, ';6 'S' 'S,
ccntury», in Supplement of Bibliagraphical Societv, 1936, pp. I XI ' 1 27; BRUN, R, 1,(' I' I!lU'I'R, 1', 1I",tll/II,' hoo]; 1111/.111111/"" ,('.lllIhIHlpl, 1')';1,111 ,I li; /I,M/tlIII"'I""
livtr [runçaiv, Puris, I'I·IX, p. ·1 I' SI' 's 11,11/111//11,· I' 1/, '/"I"'/,·/II'''"/I/II///'/it II,II/II//"!.', 1'1111 1'/ I, Jl ti" I '
118 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 119

a reagrupar as indicações bibliográficas numa folha de rosto, essa inteira- 1520. É somente quando os gostos do público fazem triunfar uma nova
mente tipográfica, que se segue imediatamente ao jrontispício. Doravante, literatura, quando os caracteres redondos se tornam de uso geral, que a
a folha de rosto, cuja utilidade prática se revelou indispensável, conser- apresentação dos textos se modifica.
vará sempre o aspecto que ainda tem actualmente.

*
IH. A APRESENTAÇÃO DOS TEXTOS E O FORMATO DOS LIVROS * *
Facto característico, o uso de uma foliação impressa no livro, na sua
o mesmo esforço de clareza, a mesma tendência para a uniformiza-
origem parece ter tido a finalidade, não de facilitar a tarefa dos leitores,
ção se notam na apresentação dos textos. Mas, aí também, o aparecimento
mas de orientar o trabalho dos artífices que produziam o livro: o dos
da imprensa não provocou uma súbita transformação: só aos poucos se foi
encadernadores, em especial, tão delicado era esse trabalho numa época
tomando consciência das possibilidades que oferecia a nova arte.
em que cada caderno compreendia, geralmente, um número desigual de
Para melhor conceber os progressos obtidos graças à imprensa,
fólios e onde cada folha devia, por isso, ser encartada de maneira dife-
imaginemos, em primeiro lugar, as dificuldades com que se debatiam
rente: fora já para ajudar o encadernador que os impressores, imitando os
sábios, eruditos ou estudantes, ao tempo dos manuscritos: quando se
copistas de algumas grandes oficinas, tinham muitas vezes adicionado ao
citava um texto, era impossível indicar, como temos o hábito de fazer
volume um índice, no qual indicavam a primeira palavra de cada caderno ou
hoje, o número da folha ou da página de onde o texto tinha sido retirado,
de cada fólio duplo (registo); com a mesma finalidade tinham adquirido o
visto que o número, pelo menos em princípio, variava consoante o manus-
hábito de designar cada caderno por uma letra do alfabeto, impressa nor-
crito: era preciso indicar o título do capítulo ou o seu número, ou mesmo malmente em baixo e à direita da folha, e de acrescentar às letras um
o parágrafo em que se encontrava a passagem em questão, e dar também número indicativo da sucessão dos fólios (assinatura). Foi talvez, em
muitas vezes a cada parágrafo um título em particular, e, frequentemente parte, com o mesmo objectivo que começaram a numerar os fólios (nota-se,
mesmo, dividir o texto em pequenos parágrafos fáceis de encontrar, para de facto, que as obras foliadas mais antigas não têm assinaturas, e vice-versa).
tornar possível o uso de um sistema de referências. Se acrescentarmos Seja como for, o hábito de indicar a sucessão dos fólios só lentamente se
que, nessa época em que o pergaminho, e mesmo o papel, eram mercado- generalizou; no início do século XVI, muitos livros ainda não eram foliados
rias preciosas, os textos dos livros de trabalho eram copiados numa c a foliação (usualmente indicada com algarismos romanos) era, nos outros,
caligrafia cerrada, cheia de abreviaturas, quase sem entrelinhas, às vezes muitas vezes incorrecta. Foi preciso esperar muito mais tempo ainda para
sem nenhum espaço livre entre os parágrafos e mesmo entre os capítulos, que se numerassem, não já os fólios, mas, como hoje se faz, as páginas
compreender-se-á por que motivo os manuscritos de trabalho têm tantas dos livros: utilizada talvez pela primeira vez por Aldo, em 1490, nas
vezes um aspecto confuso e nos parecem de consulta tão difícil. Cornucopue de Nicolau Perotti, a paginação apenas se tornou corrente no
Os primeiros incunábulos, como dissemos, aprese?tavam-se exac- s igundo quartel do século XV, graças sobretudo aos impressores humanistas.
tamente como os manuscritos: a mesma disposição geral, as mesmas abre- Foi por esta altura, aliás, como vimos, que o livro tomou o seu aspecto
viaturas nos impressos e nos manuscritos de estudo, a mesma escrita cer- li .tual, quando o humanismo triunfante impôs o uso de caracteres redondos,
rada. Pouco a pouco, é certo, as linhas tornam-se mais espaçadas, os dI' UI11 tamanho normalmente maior do que os caracteres góticos - e, por
caracteres tendem a tornar-se maiores, as abreviaturas são um pouco t'OIlS squôncia, mais legíveis, Doravante, imprimem-se cada vez mais
menos numerosas. Mas a apresentação, durante muito tempo, permanece Il'xlos, j(! nao '111 colunas, ma. «à linha corrida». Ao mesmo tempo, as
a mesma, ou quase; pouca diferença há, por exemplo, entre a apresentação lillhas tornam Sl mnis espaçadas, procura s uma maior clar eza, os tftulos
do I exto dalgumas diçõ s de Aristótel s ou de Lanc '101 " publi .adas dI! lilpllulos •.•1I111lllll11 St' 111 11101', 110 I'SplH,'O 1'111 hrun 'o. Pou 'o li POIICO,
cntu I lHO l 1490, l as que, d 'ssas m smax ohrus, Sl fi/l rum pOI ulta rk 11 Il 111 "111\' 1111.1111 \ \ 11"1 I! iI IH \ 111 11"\ 11111 hlll\
120 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 121

da Bíblia e dos Simulacros da morte, que obtêm um êxito enorme!". Em


*
Lyon, na oficina de Toumes, depois, em Paris, na oficina de Dinis Janot,
* *
e, em breve, um pouco por toda a parte, surgem edições in-S." das Figuras
Entretanto, graças à imprensa e à multiplicação dos textos, o livro da Bíblia, dos Emblemas de Alciato ou das Metamorfoses de Ovídio!".
deixa de ser visto como objecto precioso que se consulta numa biblioteca: Contudo, os estudiosos preferem ainda os in-folio para os livros de traba-
deseja-se cada vez mais poder andar com ele e transportá-lo com facili- lho, pouco maleáveis, é certo, mas mais claros, nos quais é fácil encontrar
dade para consultá-lo ou lê-lo em qualquer momento. Daí o êxito cres- a referência que se procura.
cente dos «formatos portáteis», na primeira metade do século XVI - numa Há, pois, nesta época, um contraste entre as pesadas edições de
época, aliás, em que os clérigos, os estudiosos e os grandes s~nhores textos científicos, destinados a serem consultados nas bibliotecas, e as
deixam de ser, cada vez mais, os únicos a interessarem-se pelos hvros, e pequenas edições, mais leves, de obras literárias ou de textos de combate,
em que muitos burgueses formam as suas bibliotecas. destinados a um público mais numeroso. Contraste que caracteriza ainda
Sendo certo que, desde o século XV, se conheciam e utilizavam a história da edição do século XVII: na primeira metade deste século, na
muitas vezes o in-d." e o in-S.", usualmente só textos bastante curtos eram época do Renascimento católico, quando a França se cobre de conventos,
impressos nesses formatos, pois formariam um volume demasiado fino se cada um dos quais a formar a sua biblioteca, quando os teólogos protes-
fossem impressos in-folio; os livros, destinados a serem consultados num tantes rivalizam em erudição com os Jesuítas, quando os togados, imi-
cavalete, eram geralmente de grande formato. Na verdade, as únicas obras tando os eclesiásticos, se dedicam a reunir nas suas bibliotecas os grandes
para as quais, a partir desta época, se recorria sistematicamente aos textos religiosos, ao mesmo tempo que os burgueses parecem perder o
pequenos formatos, eram os livros de piedade e, sobretudo, livros de horas gosto pela leitura que haviam mostrado no século XVI, as grandes edições
_ porque estes volumes, de uso constante e destinados já a um vasto dos textos sagrados, as obras dos Padres da Igreja, as colectâneas conci-
público, deviam ser facilmente transportáveis; eram também impressas liares e os tratados de direito canónico conhecem um surto e multiplicam-se
em pequeno formato as «plaquetes góticas», obras de literatura popular as grandes publicações in-folio. Ao mesmo tempo, para os textos mais
destinadas a um público ainda mais vasto. curtos, nomeadamente para as obras em francês, prefere-se muitas vezes
Mas, desde finais do século XV, os Aldos, desejosos de facilitar a o in-S." ao in-t.", mais legível, é certo, mas menos manuseável. Assim,
leitura dos autores clássicos, lançam a célebre colecção «portátil». quando os Elzevier, por já não poderem mandar vir de França o papel de
Adoptada pelo pequeno mundo dos humanistas, a moda dos format?s que precisavam, devido às guerras, decidem, como vimos, adoptar nas
reduzidos expande-se continuamente nos inícios do século XVI: em Pans, suas edições de autores clássicos um formato muito reduzido, o in-12.0, e
por exemplo, Simão de Colines, que cria uma colecção análoga à dos caracteres muito pequenos, os seus clientes, na maioria estudiosos,
Aldos, encontra numerosos imitadores, em Lyon, sobretudo, onde se começam a queixar-se. Na segunda metade do século, pelo contrário,
copiam com frequência os modelos venezianos. Em breve, editam-se sis- aumenta o público que se interessa pelas coisas do espírito; multiplicam-
tematicamente as novas obras literárias em edições de pequeno formato, se os romances e os livros de vulgarização, ao passo que as condições
facilmente manuseáveis e consultáveis. Se os antigos romances de cava- econômicas são desfavoráveis para os empreendimentos importantes em
laria continuam a ser publicados nas edições in-folio ou in-t.", as poesias matéria de edição. Daí o êxito crescente dos pequenos formatos. No
latinas dos humanistas, as obras de Marot ou de Rabelais, as de Margarida século XVIII, da mesma forma, usa-se o in-folio quase exclusivamente nas
de Navarra, e, em breve, a dos poetas da Plêiade, são publicadas em volu-
mes de pequeno formato. É com esta forma que os Adágios de Erasmo se
espalham por toda a Europa, assim como os numerosos panfletos que
I '. I H 11'1 HSSIS, (; .• 1/,IWti sur tcs difli'/'('III,I' cditions dcs «/(00111',1' Vt'll'/'i,l' 'fi',I'/IIIIII'II/iu
Lutero e os reformistas mandam imprimir para difundir as suas idcias. ,I, 11/1//"'111 I'lIl" I XX 1. Fssu! hill/i/lgml,flilllI,' 1//11,'1 dl/II'I/'IIII',1 Irdili/lnl drs /lI'//\'/t',1

Simultuncum ntc, ssa moda chega aos livros ilustrados. ror volta de 1')40, ,1'/ )\,//ft ",11' ,'I di' 1,1//11/ lu«, 11/1"'//'/'1 11/1 \, /'/ /11/ \ ,'/, 111'//,' I'ill ". 1 XXI)
l lollu-in l'(II11PIll' pl'qlllllas vinhctus pnm cdi 'o 'S in ., ••I' 11\ H," das IlI/flgl'I/.\' I I (I \I 111\01 11111'1 I I (,.1, I / /111'//11/1 I di I" /1/1 1'.\11 1XX 1
122 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO ]23

obras de grande volume, por exemplo, nos dicionários ou nas enciclopé-


dias. As categorias das obras que se costuma publicar em in-d." e, sobretudo,
em in-S." - romances, obras literárias, tratados de divulgação científica,
livros de controvérsias, edições de autores latinos e gregos - representam
então a maior parte da produção impressa.

IV. A ILUSTRAÇÃO

Havia o costume, como sabemos, de ilustrar e decorar com pinturas


o texto de certos manuscritos - por exemplo, livros de horas, missais,
obras de piedade, romances de cavalaria ou tratados de montaria. Mas,
mais ainda do que os manuscritos comuns, esses manuscritos com pin-
turas, caligrafados por copistas particularmente hábeis e iluminados por
pintores às vezes célebres, só eram acessíveis a pequenos grupos de pri-
vilegiados, senhores, eclesiásticos ou leigos, e alguns burgueses ricos. Ban trFiftlidJrm tmm-
Também aqui o aparecimento da imprensa não provocou qualquer revo-
lução. Copistas e iluminadores continuaram o seu trabalho - recordemo-nos
1n9 male rin atldlilm trcrnl1t·jz)o te oil gutrc
das Horas de Ana da Bretanha, de Bourdichon (falecido em 1521), ou
null'r uant·ibrr btttt rt gdfm lltolf·lm lÚan
ainda de Colombo. E, quando os editores especializados em livros de
odagr nen btm bmlt· jz)rr unr gar lulliglidJ unir
luxo, como Vérard, queriam dispor de um exemplar de um livro impresso DUt.~frtltwm mau frin tbútntt muro Ü)O f[ ter pit
susceptível de rivalizar com os manuscritos de luxo, mandavam ilustrar o irdtrit mnhanr- jz)rr fdlalrnlla111arb ~1Ihanr- IPr;
texto impresso pelos mesmos pintores que iluminavam tais manuscritos. urritf tttrrfdJalrnbtttiltrit· Bon ltnttuffrn ift mie
Esse procedimento era, no entanto, demasiado demorado e caro para tTrrrit·~prfltb te bao ift mir luorllrnltltt1t·~it ha-
ser utilizado em exemplares que não fossem dedicados, geralmente tirados brn mir urrücnrr mrínm munr- t.)rn tunrffr Ir rir
em velino e destinados a grandes personagens. Quando foi preciso deco-
rar, não já alguns manuscritos, mas várias centenas de exemplares impres-
au tire fl'lbrnuarc·jl)rr Itrmt trr luirfrrm urc nmrr-
sos; quando o livro se «democratizou», houve necessidade de se recorrer
mcm fdbrn atfrn frin glrirl}·J1!)ritrutnq arm uune
a outro processo: à reprodução em série dos textos devia forçosamente
reirb·ü)ir nurcb Itllrat p.itttdiFlt. Bcr(dlnttbrn lan
corresponder um processo mecânico de reprodução em série das imagens. lTt furflltrit·wfnn mau bua frur nmmnm mil· ~a
Ora, era conhecido e utilizava-se um processo desse género - a wirtbm rtU'mt9 nith;;lI uí(· Ü)ft tlJut tinem in nm
gravura em madeira - antes mesmo do aparecimento dos primeiros livros tlugtll roer-turnn mau Jli!,I1!1pl~ttntrt·tDi(J te m
impressos: já verificámos que, a partir de finais do século XIV, as estam- !iunll't mirnunl- Bntl bon blu lJ1bt alu t6 (ol·Ü)af
pas xilográficas tinham começado a espalhar-se em grande número, e a fl'llr (ub üanm .rrlUigr.ibn9 t9 biu unllliebt gibt·
indústria xilográfica vivia em pleno progresso quando apareceu a imprensa. :RUa ift m umb gtiftlid}9Itbnl- Wdll19 mfr(b rarb
Inserir uma madeira gravada na forma, no meio dos caracteres tipográfi-
cos, imprimir ao mesmo tempo o texto e a ilustração não levantava qual- Ulrich BONHR, Edelstein, Bambcrg, À. Pfistcr, erca de 1461.
quer obstáculo técnico: solução cómoda que muito depressa se adoptou
para resolver o problema que a ilustração dos textos impressos colocava.
Por volta til' 1461, Alh rto Pfixtcr, 1Il11impu ssor til' IlIlIlllwrp, tl'Vl 11idl'in
124 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 125

de ilustrar desse modo vanos opúsculos, entre os quais uma pequena ilustração madeiras já empregadas em Colónia, em 1474, e em Basileia,
colectânea de fábulas populares, o Edelstein (A Pedra Preciosa), de Ulrich em 1476. Em Lovaina, Bruxelas, Bruges, Gouda e Antuérpia, serve de
Boner. As figuras deste primeiro livro ilustrado, simples, sem sombrea- inspiração o estilo dos gravadores de Colónia; mais tarde, descobrem-se
dos, facilmente coloridas a aguarela, na sua rudeza, não eram desagradá- também influências alemãs nos primeiros livros ilustrados ingleses ou
veis à vista: o seu aspecto não deve ter surpreendido o público a que a obra espanhóis 132.
se destinava - esse mesmo para quem tantas xilografias tinham sido exe-
cutadas. Em breve, enquanto Pfister publica, da mesma maneira, outras *
histórias ilustradas - por exemplo, o livro chamado das Quatro Histórias * *
(História de Daniel, José, Judite e Ester) - Gunther Zainer, em Augsburgo,
multiplica as edições de obras populares e de pequenos livros de piedade, Há, pois, influência do estilo e do espírito germânicos na ilustração
ornadas com madeiras. Outro tanto faz Ulrich Zell, em Ulm, e muitos do livro nesse período inicial. Mas bem depressa se fazem sentir as
outros ainda, em várias cidades alemãs. Como nos livros xilográficos, influências locais, e criam-se escolas regionais.
onde se utilizam por vezes as gravuras de madeira, nestas obras trata-se, Em alguns raros centros, as gravuras que ornamentam os primeiros
antes de mais, de explicar o texto, torná-lo concreto, e não tanto construir livros ilustrados parece terem sido executadas por artistas da região - anti-
obra de artista'". gos fabricantes de cartas, sem dúvida -, que nada devem aos modelos
Assim, na Alemanha, onde a indústria xilográfica era próspera, desde alemães. Nada há de germânico, por exemplo, nas pranchas que se encon-
cedo se cria o hábito de ilustrar com madeira as obras populares, e, depois, tram no primeiro livro com figuras impresso em Verona, De re militari, de
quando a técnica da gravura em madeira se aperfeiçoa, livros de todo o Valturius (1472); nada há de germânico também nas ilustrações que se
género. Entretanto, os tipógrafos renanos, que abandonam a terra natal encontram no cânone do Missal de Verdun, publicado em Paris, em 1481,
para irem exercer longe o seu ofício, levam consigo madeiras gravadas ou por João Du Pré. Figuram igualmente neste livro, pela primeira vez,
gravam eles mesmos novas madeiras para os livros que imprimem; de debruns formados de ornamentos de folhagens, com animais e figuras
modo que os primeiros livros de figuras que aparecem em toda a Europa grotescas, derivadas directamente dos manuscritos: desde os primórdios,
são, na maioria das vezes, de factura nitidamente germânica. Já em 1467, um estilo original de ilustração, mais leve que o das gravuras alemãs da
por exemplo, dois anos após o aparecimento do primeiro livro impresso mesma época, desenvolve-se, assim, em Paris, cuja influência se faz sen-
na Itália, dois impressores alemães, instalados em Roma, Sweynheim e tir em Ruão e na Inglaterra. Não tinha Vérard, o grande especialista
Pannartz, publicam uma edição das Meditações do Cardeal Torquemada, parisiense de livros com figuras dos finais do século xv, um depósito em
ilustrada com madeiras gravadas por mão alemã. Da mesma forma, o Londres, e não imprimia ele traduções inglesas de algumas das suas
primeiro livro ilustrado que apareceu em Nápoles (1478), um Boccaccio, xlições francesas?'" Na Itália, entretanto, em Roma, Nápoles, Veneza,
é impresso por um alemão, Riessinger, e as gravuras de madeira que o onde os primeiros livros ilustrados tinham sido executados por impres-
ornam parecem obra de um compatriota seu. A influência germânica faz-se sores alemães, formam-se escolas locais, mais do que em qualquer outro
sentir fortemente também em Veneza, onde tantos impressores alemães se local influenciadas pela pintura e pela arte do afresco; aliás, o público ita-
instalaram. O primeiro livro com figuras publicado em França, que se liano, habituado a uma arte menos rude, parece apreciar muito pouco os
saiba, Mirouerde la Rédemption de l'humain lignaige, impresso em Lyon, livros com figuras, até ao momento em que estes são adaptados aos seus
é ainda obra de um tipógrafo alemão, Mateus Husz, que utiliza para a ·ostos pessoais, Em breve, para satisfazer esse público, os próprios

131 POLLARD, A. W., Fine books, Londres, 1912, p. 96. Muitas vezes', a paJ:tir do
século XV, em lugar de se utilizarem pranchas de madeira, gravava-se em metal (chumbo 11 SAN 1)FI~, M , li' I ;1'11' li li~I/II'.\· italim drpui» 11f>7ju'\'(IU '() 15,10, Mi lno, 6 vol-, .•
ou cobre). Muitas ilustrações de livros-de-horas f ram feitas assim. Não d 'v '1110S insistir 11)1' I' 1lll'IItl' Pll'l'lllIl 111 tlllll'U 1111 11111111 IV

aqui nc stax 'lu 'S\( es mal cstudadus, 111 M ('I' I I NI' 1 1//ltI"'" \ rutn], ",,/,111' 1'/11/1/"//,11111111, I HI)I)
126 o APARECIMENTO DO LIVRO
A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 127

gravadores alemães, e, depois, os seus discípulos e émulos italianos,


esforçam-se por adoptar o estilo italiano; o gravador que esculpe as
madeiras das Meditações de Torquemada já copia talvez os desenhos de
um artista romano que se teria inspirado nos afrescos de Santa Maria
sopra Minerva. O gosto que se manifesta em Nápoles por uma certa forma
de riqueza oriental na decoração influencia o artista que decora os frisos
do Esopo impresso, em 1485, por impressores alemães que trabalhavam
t;S4.:v:.
..-...
------------'---------scq .•
para o humanista TUppOI34.
Formam-se, assim, pouco a pouco, nos grandes centros editoriais,
escolas de ilustradores influenciados amiúde pelos estilos regionais dos
pintores e iluminadores, bem como pela arquitectura dos monumentos que
têm diante dos olhos. Pouco a pouco, cada escola adquire então o seu
estilo, o seu espírito próprio, e constitui as suas especialidades. Em
Florença, por exemplo, os gravadores ilustram sobretudo livros populares
destinados a uma clientela local. Pelo contrário, em Veneza ou em Lyon,
cidades mercantis onde os editores trabalham para a exportação, estes
aplicam-se a ilustrar Bíblias e livros de igreja; em Lyon, aparecem
também livros populares - tratados morais e obras de piedade - e, para um
público mais restrito, as traduções dos autores latinos mais familiares aos
homens daquele tempo, Terêncio ou Ovídio, acompanhados de figuras.
Em Paris, publicam-se livros com figuras de todo o género: livros de
horas, obras de piedade, poesias de Villon, farsas como as de Pathelin,
livros de igreja, crónicas, romances de cavalaria. Em Gouda, Gerardo
Leeu, o grande especialista dos livros com figuras dos Países-Baixos, con- •
sagra-se sobretudo à publicação de obras de piedade e de romances de
cavalaria, destinados à burguesia rica dessa região. Em Nuremberga,
Anthoni Koberger, que publica sobretudo obras eruditas, publica
igualmente livros ilustrados. Encarrega o gravador Wolgemut de decorar
o Schatzebehalter com 91 composições de página inteira, representando
cenas da Bíblia ou alegorias (1491), e manda talhar umas 2000 madeiras
para ilustrar o Liber chronicarum, de Hartmann Schedel, mais conhecido
pelo nome de Crónica de Nuremberga (1493), de que faz simulta-
neamente uma edição latina e uma alemã'", ambas postas à venda em
René D' ANJOU,L'Abuzé en court, Lyon, cerca de 1480.

134 SANDER, M., op. cit., t. IV.


135 Costume praticado correntemente. também em Lyon, onde Trechsel publica simul-
taneamente uma edição latina e uma tradução francesa de Terêncio, ilustradas com as rnes
mas gravuras em madeira, que foram atribuídas a Pérreal, f. MARTIN, A,. Lo Livr« illus
tn' /'/1 Franrt: 11I/ xV" .vÍl di', Paris, 1911, p, 167,
128 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 129

França, na Itália, em Cracóvia e em Buda. Alguns anos mais tarde, por


fim, Koberger ilustrará com pranchas de Dürer as Revelações de Santa
Brígida (1500) e as obras de Hroswita (1501).

*
* *
Se cada escola possui um estilo e um espírito próprios, as influências
estrangeiras continuam a fazer-se sentir. Cada livro ilustrado, mesmo
pouco importante, é conhecido em toda a Europa e frequentemente imi-
tado. A Crónica de Nuremberga de Koberger, que acabámos de men-
cionar, é copiada em Augsburgo por Schõnsperger (1496, 1497, 1500).
As pranchas da edição de Basileia da Nave dos loucos, de Sebastião Brant
(1494), servem de modelo a gravadores de Paris (1497) e de Lyon (1498)136*.
Certamente, os artistas que executam cópias deste género esforçam-se, às
vezes, por realizar interpretações originais: o Sonho de Polífilo, um dos
mais célebres livros ilustrados parisienses do Renascimento, não passa, de
facto, da adaptação de uma edição impressa cinquenta anos antes, em
Veneza, na oficina de Aldo Manúcio; mas as pranchas são talhadas com
um espírito bem diferente do modelo italiano: a adaptação ao gosto
francês traduz-se na busca de um certo preciosismo. Mas, muitas vezes,
quando os gravadores são menos hábeis, menos exercitados ou mais
apressados, a cópia toma-se um simples plágio. Se, por exemplo, os
gravadores venezianos do século xv souberam assimilar a dupla influên-
cia francesa e alemã, o mesmo não aconteceu com os do século XVI; insta-
dos pelas encomendas de editores que trabalham sobretudo para a expor-
tação, limitam-se muitas vezes a reproduzir sem esforço de originalidade
os modelos estrangeiros.
Há influência, pois, dos estilos estrangeiros em cada centro; fre-
quentemente mesmo, as gravuras de madeira utilizadas numa cidade provêm
do estrangeiro. Muitas vezes, os editores que possuem lojas em várias
cidades procedem assim: Conrado Resch, livreiro em Basileia e em Paris,
utiliza pranchas gravadas em Basileia para ilustrar livros que publica em
Paris; do mesmo modo, alguns editores solicitam muitas vezes a confrades
estrangeiros que mandem gravar na sua oficina, por um artista reputado,
os blocos de que precisam. Assim, Urs Graf, o famoso artista de Basileia,
B c a ci .Des nobles malheureux, Pari, A. Vérard, 1492, in-fólio.
136 MARTIN, A., op. cit., p. 141.
* As gravuras da edição portuguesa da História de vespasiano (1496), impressa 'm
Lishon por Vai .ntim Fernandcs, serviram d modelo às da ediçno espanhola (S 'vilhn.
I IC)C)) Iltlpll'SS;\ pm I'('clto Hrun (N N)
130 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 131

ilustrador titular de Froben, trabalha, às vezes, para Matias Schürer e


Hupfuff, de Estrasburgo, para Tomás Anshelm, de Haguenau, e para Pedro
Vidovseus e Conrado Resch, de Paris'".

*
* *
Nestas condições, percebe-se como é complexo o estudo da ilus-
tração do livro; mais complexa ainda do que a arte do livro, arte menor
que seja, deve ser estudada em função das grandes correntes artísticas,
intelectuais e sociais de cada época. Esse não é o nosso objectivo, e, aliás,
um volume só não bastaria.
Percebe-se, de qualquer modo, a importância do papel que os livros ilustrados
puderam desempenhar, juntamente com as xiJogravuras, na difusão dos temas
iconográficos. Emílio Mâle mostrou a influência que tiveram livros xilográficos
como a Biblia dos pobres e o Speculum humanae salvationis. Já o miniaturista que
iluminara as Três riches heures, do duque de Berry, se tinha servido de um manus-
crito do Speculum humanae salvationis. Van Eyck, em 1440, e Van der Weyden, por
volta de 1460, possuíam esta obra manuscrita, ou talvez já xilografada, e nela se
inspiraram. Mas foi sobretudo quando a Biblia dos pobres e o Speculum foram
objecto de edições xilográficas que se tomaram populares e foram adoptadas pelos
artistas. As tapeçarias de Chaise-Dieu e as da Catedral de Reims são inspiradas
ERODOTl H,lic:un2f.-i bitlori", "'plic •...
nessas obras; o mesmo sucede com uma tapeçaria da Catedral de Sens, e uma outra tio hec ca: tri neqr ea qux gc(b Ji.Ulft (J rcbw
de Chalon-sur-Saône. Os dois grandes vitrais da Sainte-Chapelle de Vic-Ie-Comte humsnis oblúereene cx zuo;ncqJ ingtntia &
~dl\\ir3nd:l O['(T2: ud:l Gr%cis-cdlt2:ucla Bar
são ainda copiados da Biblia dos pobres e do Speculum. O mesmo acontece com cer- b2risgloria fl.lSldétur:ann afi3: Umloooo:qm.
tas esculturas do portal central de Saint-Maurice de Viena-do-Delfinado, ou do de reilli int~rchdliscr.aucrút. Pa(uú ninui
memor.1t dinênfionú audorts cxriWfcPha:J
grande portal da catedral de Troyes. O mesmo se passa, ainda, com os esmaltes de nic(iqui 2 m •• i 'quod Rubrum uot:lrur:in hoc nolhwll pro6cit.
crntts.& hancincolCDtts rcsionmt.qu2m nunc Ql1oCJtincofunt:
Limoges e alguns pequenos cofres de marfim esculpido. Jonginquis continuo n2uig:ltionlbos incubucrnnt; f2citndírqr
Tais exemplos não são de forma alguma excepcionais. As figuras dos livros Acgypri2ruM 8i: Alfyriarunt meeciã Dcduris in alias pl"S"" prz/
~~~'II cipu<'llArgos trai«<runt.ArsosBt:atJm ealtnlp<d21. omni/
de horas inspiram muitas vezes os fabricantes de tapeçarias ou de vitrais. A par dos
livros de horas, os Calendários dos Pastores e as Danças Macabras fornecem
modelos para as pinturas murais. É assim que as pinturas murais de Ferté-Loupiêre
e de Meslay-Ie-Grenet são inspiradas nas Danças Macabras impressas por Guy
Marchant e por Coustiau et Ménard. Reciprocamente, aliás, a Dança Macabra de
Marchant era talvez uma cópia da do cemitério dos Inocentes. Mais tarde ainda, no
século XVI, numerosos esmaltadores parece terem copiado as ilustrações de alguns
livros, por exemplo, da Eneida, aparecida em 1501 na oficina de Grüninger, ou
ainda a História da conquista do velo de oiro, de João de Meauregard, ao passo que
algumas figuras da Illustration des Gaules, de João Le Maire de Belges, servem de
inspiração a tapeçarias. l leródoto, l listoriarum Libri novem, tradução de Lourenço Valia, Veneza,
J, e G. de Gregoriis, 1494, in-fólio.

li' ,JOIlN. ON. A.r .• «Basl ornam nts on Paris books, I 'i 19 1516". in 'l'lu: I i/II'111\'.
I !P7 I!/ K, JlJl. l'i lhO
132 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 133

Mas o exemplo mais frisante do papel desempenhado pelo livro ilustrado em (1494), a Grande Paixão (1498-1510), a Vida da Virgem (1502-1510), que aparece-
matéria de difusão artística é talvez o fornecido pela Biblia e as Metamorfoses de ram primeiro sob a forma de estampas, e, depois, de volumes acompanhados de
Ovídio, produzidos na oficina de João de Tournes, em 1553, e em 1557, com vinhe- texto. A partir de 1512, Dürer encontra-se em Augsburgo e colabora com Schõnsperger,
tas de Bernardo Salomon, duas obras que tiveram grande êxito, sendo a segunda, na
o impressor titular de Maxirniliano. Para celebrar a glória do imperador, trabalha na
realidade, obra de propaganda protestante. As vinhetas de Bernardo Salomon inspi-
ilustração do Arco triunfal, depois na dos Triunfos, deste último. João Burgkmair
raram tapeçarias, sedas, esmaltes, peças de faiança, guarnições de madeira. Por outro
grava com frequência estas composições. E, em seguida, Burgkmair, Schãufelin e
lado, estas vinhetas parece terem inspirado directamente, ou por intermédio de gra-
vuras que as reproduziam, inúmeras séries de quadros, enquanto as cercaduras das Leonardo Beck reúnem-se para ilustrar o famoso Teuerdank, descrição alegórica do
páginas das Metamosfoses de Ovídio serviram de modelo para livros de rendas!". casamento imperial.
Na mesma época, os prelos de Estrasburgo, sobretudo os de Grüninger, mul-
Limitemo-nos a mencionar aqui algumas obras entre as mais céle- tiplicam os livros com figuras. João Weiditz, o Moço, de Estrasburgo, discípulo de
bres do século XVI, e a relembrar os nomes de alguns artistas que fre- Burgkmair, é talvez o melhor pintor-gravador do seu tempo; ilustra em particular
quentemente teremos ocasião de referir. uma Bíblia alemã para Knoblauch (1524), talvez o Glücksbuch, de Petrarca, publi-
cado por Steyner, em Augsburgo, em 1532, mas as suas melhores pranchas encon-
o livro com figuras atravessa, então, na Alemanha e em França, um período tram-se, sem dúvida, nos Eicones vivae herbarum, de Otto Brunfels (Schotten,
excepcionalmente fasto'". Se bem que se trate essencialmente de pranchas gravadas, 1530-1536): nesta obra, enquanto outros cederam à busca do pitoresco, Weiditz
não se poderia deixar de citar as grandes séries de Albrecht Dürer: o Apocalipse prepara-a com a única preocupação da exactidão, oferecendo com perfeito realismo
os animais e as plantas. Num género mais rude e trivial, citemos outro alsaciano,
João Baldung-Grien, que produziu nomeadamente 43 gravuras para o Hortulus
animae, de Flach (1511 e 1512), além de numerosas pranchas para Grüninger.
Para a Bíblia dos Pobres e o Speculum humanae salvationis, ver MÂLE, E.,
138
Mencionemos, finalmente, dois grandes gravadores de Nuremberga, Jost Amman e
L'Art religieux de lafin du Moyen Âge, Paris, 1922, p. 232 e segs., e, sobretudo, LUTZ, J. Virgílio Solis, que executaram uma grande quantidade de gravuras em madeira para
e PERDRIZET, P., «Speculum humanae salvationis» in Les sources et l'injluence icono- o editor Feyerabend.
graphiques, Mulhouse, 2 vols., 1909. Recordemos, por outro lado, que os Cranach trabalhavam, então, em
Para as relações entre os livros e as pinturas murais, HÉBERT, M., «Gravures d'il- Vitemberga, para Lutero, enquanto, em Basileia, Froben procurava Urs Graf, que já
lustration et peintures murales à Ia fin du Moyen Âge», in Association des bibliothécaires mencionámos e, sobretudo, Hans e Ambrósio Holbein. Hans Holbein não gravava
français. Bulletin d'information, n." 20, Junho 1956, p. 69 e segs. Agradecemos a
pessoalmente, mas as suas composições eram reproduzidas com uma grande habili-
Mademoiselle Hébert as indicações que nos deu sobre a ilustração do livro.
dade por gravadores como Lützelburger; foi este, sem dúvida, que reduziu a peque-
Para os esmaltes, ver MARQUET DE MASSELOT, «Une planche des "Grandes
nas vinhetas para as célebres Figuras da Bíblia, produzidas em 1538, na oficina de
heures" de Vostre, copiée par deux émailleurs limousins», in Bibliographe moderne, t. XVI,
1912-1913; e «Une suite d'émaux limousins à sujets tirés de I'Enéide», in Bulletin de Ia Trechsel, em Lyon, as composições de Holbein cujos desenhos originais se encon-
Societé de l'Histoire de l'artfrançais, 1.0 fase., 1912. tram actualmente conservados no Museu de Basileia.
Sobre a influência das gravuras de Bernard Salomon, ver STANDEN, E.A., «A Picture A ilustração do livro francês em nada fica atrás, então, do livro alemão. Simão
for every story», in The Metropolitan Museum of Art Bulletin, Abril 1957, pp. 165-175; Vostre, os Hardouyn, ou, mais tarde, Pedro Vidovreus, e muitos outros ainda, multi-
DAMIRON, c., La Faience de Lyon, Lyon, 1926. plicam as edições de livros de horas. Aí se vê misturada a influência alemã com a
Para as tapeçarias, WIGERT, R.A., La Tapisseriefrançaise, Paris, 1957; e SARTOR, italiana, que, por vezes, se confundem. A influência alemã penetra através dos
Margueritte, Les Tapisseries, toiles peintes et broderies de Reims, Reims, 1912. livreiros de origem germânica (Kerver, Wechel) e pelo ascendente de alguns gran-
Para as relações entre os modelos de rendas e as bandas de certos livros, MORRI-
des artistas (Dürer, Schongauer, Holbein); os franceses mantêm, então, contacto fre-
SON, S., e MEYNELL, F., «Printer's Flowers and Arabesques», in The Fleuron, n." 1,
quente .orn o Rena. cimento por intermédio da Alemanha e, sobretudo, de Basileia:
1923, pp. 1-43.
139 Para o livro ilustrado francês do século XVI, ver BRUN, R., Le livre illustré en , l'SSl' o l'USO de Oroncc Fin , o matemático do Delfinado que grava pranchas e
France au XVI' siêcle, e, do mesmo autor, Le livre [rançais, pp. 39-63. Para fi AI .manhu, ('IHllIlldl'llll\('tltos. I\sln inllu ncin (: 1'011('('111LY0!l, nllt urnl mcnt " onde TI' '('hs 'I,
ver sobr nudo MUTII ~R, R., Die dcutsrhe Rüclll'rillll.\·/rafio/l drr (;lIIih 111111 1"111110 VIIIIII , I1ldl/ll IIS l'OlllpOI~'II'. di IlolIH'1I1 1ll1111111' 'stl' 11'111(10, pOI V('l('~, 11

1',illlI/'III/1,''.''IIII(·(· (I,/W 15 /()), Munique, I HHtI. 1111111 11111111111,11111 I 11 1 (11111 11/1111.111111111 1111 (1I1111111Y I'PIY
134 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO
135

Pouco a pouco, o livro francês liberta-se das influências estrangeiras; atinge


o seu apogeu por meados do século. Entre as obras-primas então produzidas, cite-
mos o Sonho de Polífilo, certas pranchas do qual foram atribuídas a João Goujon.
Do célebre escultor são mais provavelmente as ilustrações de uma edição de
Vitrúvio, editada na oficina de Gazeau em 1547, e as de uma Entrada de Henrique li,

publicada por Roffet em 1549. Entretanto, João Cousin, o Velho, dá a lume, em


1560, o seu Tratado de perspectiva. Em Lyon, João de Tournes contrata o melhor
pintor-gravador da cidade, Bernardo Salomon; este cria pequenas vinhetas muito
vivas, de um estilo simultaneamente expressivo e suave, com fundo de paisagens
onde, às vezes, figuram templos «à romana». Citemos as gravuras que produziu para
o conto «La Coche», em A Margarida das Margaridas das princesas (1547), e,
sobretudo, a ilustração dos Quadrins historiques de Ia Bible, de Cláudio Paradin,
assim como a das Metamorfoses de Ovídio ilustradas; veremos mais adiante o êxito
que obras do mesmo género tiveram então.

Estas breves indicações permitem perceber a importância e a quali-


dade dos livros com figuras do século XVI - período particularmente bri-
lhante nesse capítulo. Sem nos alongarmos mais sobre o assunto, vejamos
agora que tipos de obras se procurou ilustrar do século xv ao século XVIII,
a que necessidades respondiam as ilustrações e a que público eram desti-
nadas.
Originariamente, como vimos, o livro ilustrado, herdeiro e sucessor
das pranchas xilogravadas, tem a mesma finalidade e a mesma clientela
que estas: edificar um vasto público que muitas vezes mal sabe ler,
explicar o texto por meio de imagens, tomar concretos e perceptíveis os
diversos episódios da vida de Cristo, dos Profetas e dos Santos, dar uma
aparência sensível aos demónios e aos anjos que disputam as almas dos
pecadores - e também as personagens míticas ou lendárias, familiares aos
homens daquele tempo. Essa era a finalidade dos livros xilográficos, essa
foi também a finalidade das figuras que se colocaram nos primeiros
impressos ilustrados. Não surpreende, por isso, que os livros ilustrados de
maior êxito no século XV fossem, primeiro, obras populares de carácter
piedoso ou moralizador, publicadas geralmente em língua vulgar. Ajulgar
VIROfLlO, Opera, Estrasburgo, J. Grüninger, 1502, in-fólio. Prancha
pelos catálogos de incunábulos, os livros ilustrados do século xv mais
gravada em madeira no início das Bucólicas.
vezes reeditados em França e na Alemanha são, de facto, histórias da Vida
e da Paixão de Cristo, a história de Satanás (o Bélial de Tiago de
Thcramo), o Espelho da Redenção, o Speculum humanae vi/a e, a Ar/e de
b(,1II morrer (' (I til' bem viver, ti tendo Dourada. de Ia iopo d ' Vara I lio, a
11;,1/01111 tllI lttbli«, l uunlu 111 () ('(dl'lItltII io tio ,I' /'11.1'/01"1',1' t' 1'1 111111III 1 :1'1
o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 137
136

fábulas populares e moralizadoras atribuídas a Esopo, a Bidpay ou a *


Catão. Mais do que a uma finalidade directamente artística, a ilustração * *
destes livros responde essencialmente a um objectivo prático: tomar con-
cretas e visíveis cenas que os homens daquele tempo ouviam evocar todos Em breve, a influência do Renascimento e da arte italiana fazem sen-
os dias. Nada, ou muito pouco, da procura de artifícios da luz e das som- tir-se na ilustração dos livros nos países germânicos, assim como na
Europa Ocidental.
bras; na maior parte das vezes, algumas figuras simples, desenhadas e
É certo que os primeiros humanistas, sobretudo os do final do século XV,
gravadas a grandes traços.
princípios do século XVI, gente amante do estudo antes de mais, mostra-
Graças ao aparecimento da imprensa, entretanto, o número de pos-
ram de início tanto desdém quanto os teólogos da Sorbonne pelos livros
suidores de livros de horas e o de leitores de romances de cavalaria não
ilustrados: não era a ilustração um simples meio de instruir os que eram
cessa de aumentar e, em pouco tempo também, as edições ilustradas
demasiado ignorantes para compreenderem bem um texto? As gravuras
daqueles autores latinos que desde há muito se costumava ler, como que acompanhavam as traduções dos autores antigos, como Terêncio e
Virgílio, por exemplo. Já se não pretendia que essas obras fossem decora- Ovídio, destinadas a um público que desprezavam, não podiam deixar de
das à mão, como os seus predecessores manuscritos. Por isso, também os irritar, por virem de artistas muito pouco preocupados com a arqueolo-
nelas se põem de lado os processos da iluminura, às vezes a contragosto e gia, e para leitores que, ignorando tudo da Antiguidade, ficavam muito
com alguma hesitação: em Veneza, por exemplo, tenta-se, primeiro, recor- satisfeitos quando se representavam as personagens de Terêncio vestidas
rer a processos intermédios - utilizar, por exemplo, cercaduras gravadas à moda do século xv. No momento em que Aldo se esforça por publicar
cujos desenhos servem de esboço a um pintor, ao passo que, na um livro com figuras mais conforme ao espírito antigo - o Sonho de
Alemanha, se coloram as ilustrações a aguarela. Durante muito tempo Polifilo - os humanistas seus clientes parecem desdenhar um pouco essa
ainda, até ao início do século XVI, continuar-se-á a reservar, em muitos magnífica produção, que, aliás, não teria qualquer outra edição executada
livros, o espaço em branco necessário para a pintura de iniciais orna- em Veneza.
mentadas no início dos capítulos de muitas edições, se bem que estas Em França, entretanto, as cercaduras decorativas despojadas e con-
pinturas, de facto, só pudessem ser executadas num pequeno número de formes aos modelos italianos, compostas por Geoffroy Tory, conhecem
grande voga e são imitadas por toda a parte; em breve, Kerver reedita, em
exemplares.
Paris, o Sonho de Polífilo, ilustrado com pranchas inspiradas nas gravuras
Para satisfazer um público que, mesmo não os possuindo, conhece os
de madeira italianas, e esta obra, que tivera apenas limitado êxito em
manuscritos com pinturas que tratam dos mesmos assuntos, gravadores e
Veneza, por volta de 1500, é apreciada em Paris a partir de 1549.
editores - Vérard, por exemplo - realizam um trabalho cuidadoso, e o
Entretanto, o matemático Oronce Finé, que fora levado pelos seus traba-
livro com gravuras começa a tomar o aspecto de livro de luxo. Mesmo as
lhos a interessar-se pela ilustração de livros, cria a moda das cercaduras
Horas, que, em França, tiveram tão grande voga, são oma~entadas com geométricas, frequentemente com temas alegóricos, fiéis ao espírito do
grande quantidade de pequenas gravuras de madeira talhadas artisti- Renascimento alemão. Porque, rendido ao espírito novo, existe um
camente e reunidas para formar cercaduras em todas as páginas. E, cada público cada vez mais vasto, constituído pelos filhos dos que, no século XV,
vez mais, existe a preocupação de apresentar o contraste entre a luz e a liam as Fábulas de Esopo, as Figuras da Bíblia, o Romance da Rosa, a
sombra. Na Itália, onde se multiplicam as estampas a buril, gravadas por llistária de Trôia ou Lancelote, ele habitua-se aos livros com figuras e
artistas ciosos de rivalizar com os pintores, transforma-se o estilo das gra- , i) agora que a ilustração esteja mais de acordo com os seus gostos. Em
vuras de madeira destinadas à ilustração dos livros; em Veneza, por exem- hr 'v , Holb in os seus editores de Basileia ilustram com pequenas
plo, a partir de 1500, multiplicam-se as meias-tintas, que tantas vezes vinil 'Ias finam 'nl ' recortadas os livros popular 'I', ti Histária do Âl/liRO o
prejudicam a pureza do desenho e retiram à prancha uma part do seu da NOI'() '/{',\'I(I///I'lIlo, 011 as tvfl'It/II/O/./fI.l'/',\' tI/' Ol'fdio i/II.I'lr(/(/fI.I', por cxcm
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138 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 139

todo o lado: em Lyon, na oficina de Toumes; em Paris, nas oficinas de *


Janot ou Grolleau. Assim se renova a ilustração de textos que, no século XV, * *
tinham tido grande voga e que, no século XVI, conhecem popularidade
A partir de 1550, no entanto, a edição começa a ressentir-se dos
ainda maior. Ao mesmo tempo, ilustram-se com vinhetas do mesmo
efeitos do movimento de alta de preços que afecta a economia europeia.
género os livros de emblemas que, a partir de meados do século XVI, des-
Prepara-se uma crise que vai marcar a segunda metade do século XVI.
pertam um êxito enorme.
A partir daí, o livro ilustrado já não se renova mais. Os gravadores que talham
novas gravuras de madeira parece terem pressa: limitam-se cada vez
* mais a executar cópias más de ilustrações anteriores. Consequentemente,
* * publicam-se menos livros com figuras. E quando, nos finais do século XVI,
os editores recomeçaram a publicar livros ilustrados, já não utilizaram
Contudo, uma parte do público - comerciantes e também pessoas gravuras de madeira, mas figuras gravadas em talhe-doce. Mudança de
simples que mal sabem ler - parece permanecer, por muito tempo ainda, técnica que traduz um novo estado de espírito e sobre o qual convém insistir.
fiel às velhas ilustrações. Para esse público, cujos gostos em nada Há muito (desde o século xv) que se conhecia a arte do talhe-doce
- a gravura côncava sobre metal. Tal como a imprensa, e pela mesma
evoluem, trabalham impressores e livreiros menos ricos, que por muito
altura, esse processo tinha sido criado no seio da ourivesaria. Permitindo
tempo continuam fiéis aos caracteres góticos e, por mais tempo ainda, às
traduzir melhor os jogos de luz e de sombras e obter traços de grande
velhas gravuras de madeira do século XV e do início do século XVI, que
finura, a gravura em talhe-doce fora a preferida dos pintores: a partir de
compram em segunda mão, usam até estarem completamente gastas, e finais do século XV, italianos como d' Andrea, alemães como Schongauer,
mandam regravar sem qualquer modificação. E é também devido à tinham produzido gravuras em cobre com uma técnica perfeita!". A partir
importância desse público que, a partir de 1570, se verifica um ressurgi- dessa época também, experimentou-se, por vezes, aplicar este processo à
mento da moda das estampas e das colectâneas de gravuras de madeira de ilustração dos livros, mas sem grande êxito, porque um obstáculo técnico
carácter popular. É a época em que os talhadores de imagens da rua tomava difícil a produção de livros ilustrados por esse meio: ao passo que
Montorgueil multiplicam as Histórias da Biblia, herdeiras das Bíblias dos era possível colocar conjuntamente, na forma, as gravuras de madeira e a
Pobres, onde, a cada página, se encontra uma grande prancha e algumas composição tipográfica, aplicar a tinta da mesma maneira e imprimir
linhas de explicação, enquanto as estampas e as colectâneas de pranchas simultaneamente o texto e as suas ilustrações, verificou-se que era preciso
_ antepassadas das imagens de Épinal-, nas quais são evocadas as prin- imprimir em separado o texto e as pranchas gravadas em cobre. Operação
cipais cenas de guerras religiosas, conhecem um êxito imenso. Assim delicada, caso se almejasse obter uma justificação correcta.
surge, nos finais do século XVI, uma nova categoria de livros ilustrados: a Durante muito tempo, enquanto o público se limitou a pedir às
imagens que secundassem os esforços da sua imaginação, a gravura em
dos livros de venda ambulante. Em França, em Paris, e, sobretudo, em
madeira, mais grosseira mas mais viva, foi preferida à gravura de cobre.
Troyes, um pequeno número de impressores e de livreiros continua a edi-
Mas, no final do século XVI, já não era assim. O século XVI, não
tar o Amadis e a Melusina, as Figuras da Bíblia e os Calendários dos
esqueçamos, nascera século de pintores. O gosto pela pintura difundira-se
Pastores, que os vendedores ambulantes, ao longo do século XVII e, mais por toda a Europa. Patrícios de Veneza ou de Antuérpia, ricos burgueses
ainda, do século XVIII, espalham em grande número nas zonas rurais, nas
pequenas cidades, e até em Paris. De tal modo que, no século XIX, quando
toda a gente sabe ler, a literatura de venda ambulante virá a registar um "li Vl'l sobre este assunto IIIND, A.M., e LVIN, 5., atatogue 01 early italian
ressurgimento espantoso e ver-se-á, um pouco por toda a parte, reaparecer "",lIIII\'illg,\ 1"I'.\I'II,/,tI 111 1111' 1>/'/'11/11/11'111 o] Print (11/(1 Drawing» in tlu: tlritish MII.\·('III11,

uma literatura que o século Xv tornara popular e que rasrno, Rabclais, Lu I IIl1chc' , I')OC) 10, vIII, 1'1'1('AI tI(lA, M ,I 'inrrsunu: /1111/1/1111 11/'1 ('/1/11//1'//'/1111, Mllllo.
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140 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 141

de Paris ou de Lyon, mandam executar os seus retratos e, aos pintores cujo exemplo, em 1574, João Thevet publica os Pourtraicts des hommes illus-
número aumenta incessantemente, encomendam quadros destinados a orna- tres, ornados com pranchas gravadas na Flandres. Os negociantes de
mentar, já não as igrejas, mas às paredes das suas moradias. Ao mesmo estampas e os buriladores flamengos afluem, então, a Paris e os editores
tempo, grandes pintores tomam-se gravadores, e as suas estampas franceses, doravante, encontram na cidade artistas capazes de executar as
gravadas em talhe-doce, verdadeiros «quadros dos pobres», conhecem figuras de que precisam!".
uma voga crescente. Mantegna, na Itália, e Dürer, na Alemanha, executam A partir dos últimos anos do século XVI, portanto, cessa quase por
pranchas que ficaram célebres, e que, num ápice, tiveram grande êxito. completo, salvo para os livros de venda ambulante, o recurso à gravura de
Em França, os gravadores de cobre, que se recrutam, na maior parte das madeira. Isto não somente para a ilustração de livros, mas em todos os
vezes, entre os ourives, são figuras isoladas até ao momento em que artis- domínios. Começa o reinado do talhe-doce, que durará mais de dois séculos
tas italianos, entre os quais se contam Primatice e Rosso, vão decorar o e cujo início regista algo mais do que uma mudança de técnica: se esta
castelo de Fontainebleau; forma-se, então, uma escola de gravadores de triunfa, é porque permite reproduzir fielmente, e com os mínimos porme-
talhe-doce à volta de Fontainebleau, cujo objectivo essencial é difundir o nores, quadros, monumentos e motivos decorativos, e dá-los a conhecer
novo estilo de decoração proveniente de Itália. por toda a parte e a toda a gente - reproduzir sobretudo a imagem exacta
Ao lado destes quadros, destas estampas de traços finos, as gravuras da realidade e dela deixar uma recordação perdurável; a estampa, no que
de madeira tradicionais afiguram-se grosseiras e frustes. O buril parece, toca à difusão de imagens, a partir de então cada vez mais, vai desempe-
agora, o único meio de oferecer a representação exacta de monumentos ou nhar um papel análogo ao que teve o livro impresso na difusão dos textos
objectos de arte ou de fazer um retrato gravado, preciso e fiel. Em breve durante mais de um século. Assim, a adopção do talhe-doce e o desen-
também, a despeito das dificuldades técnicas, utilizar-se-á cada vez mais volvimento do comércio internacional das estampas, no final do século XVI
o talhe-doce na ilustração de livros. A princípio, em casos excepcionais, e início do século XVII, alargam o horizonte dos homens daquela época.
quando se trata de obras técnicas ou de volumes ornados de retratos; Para não restarem dúvidas, basta lembrar que a monumental colecção das
depois, em livros de todos os géneros'". viagens de Tomás de Bry, pela primeira vez, no início do século XVII, e
O impulso decisivo neste domínio partiu de Antuérpia, onde os pin- por obra do talhe-doce, oferece uma reprodução, por vezes errónea mas
tores eram numerosos e onde Jerónimo Cock, grande negociante de sempre minuciosa, dos países longínquos e dos seus habitantes, do Brasil
estampas, dirigia uma oficina na qual o jovem Breughel foi aprender a téc- à Lapónia. Recorde-se também o enorme trabalho realizado, num domínio
nica do buril. Plantin, que mantinha relações diárias com Jerónimo Cock particular mas tão importante quanto o dos atlas, pelos editores holan-
e os artistas que trabalhavam na sua oficina, foi o primeiro a adquirir o deses do século XVII.
hábito de mandar ilustrar alguns dos seus livros por meio de pranchas
gravadas em cobre. Recorreu aos serviços dos melhores buriladores da *
Escola de Antuérpia, tais como Pedro Van der Borcht, os Huys ou ainda * *
os irmãos Wiericx. A partir de 1566, publica especialmente as Vivae ima-
gines partium corporis, de Vesálio e Valverda, ilustradas ,com 42 pran- A partir de então, pois, coleccionam-se cada vez mais os «livros de
chas; depois, em 1571, as Humanae Salutis monumenta, de Arias Montano; imagens» - as colecções de estampas. Cada vez mais também, burgueses
em 1574, os /cones reterum aliquot et novorum medico rum philosopho- . mesmo gente do povo, pobres demais para possuírem quadros de
rumque, de Sambuco, recolha de 67 retratos gravados por Van der Borcht. rn stre: ornamentam as paredes das suas casas com grandes estampas
Estas obras, difundidas por toda a Europa, são muito apreciadas; em breve, iruvadas: já não de madeira talhada mais ou menos grosseiramente, ma
segue-se, um pouco por todo o lado, o exemplo de Plantin. Em Paris, por

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142 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 143

de estampas gravadas em talhe-doce que reproduzem, com maior fidelidade que teria em popularizar e difundir a imagem dos seus quadros por meio
e quantidade de pormenores - ou seja, com maior aparência da realidade -, de gravuras que patrocinou uma oficina de gravadores encarregados de
temas religiosos, cenas históricas ou os diversos aspectos da vida quotidiana. reproduzir as suas obras. Desde então, nas lojas dos grandes comerciantes
Pretende-se, doravante, comemorar um acontecimento importante de estampas, entre outros na dos Mariette, em Paris, encontram-se lado a
que desperte as imaginações, um combate vitorioso, por exemplo, ou a lado as gravuras que reproduzem as obras dos grandes mestres italianos e
sagração de um rei, ou ainda as festas, os bailes e os espectáculos dados Ilamengos, franceses e alemães; todos podem examiná-Ias e compará-Ias
por um príncipe? Deseja-se conhecer a fisionornia de uma personagem de à vontade. Desde então também, são os gravadores que dão a conhecer e
relevo? Um homem de letras, ou mesmo um rico mercador, deseja dis- difundem os estilos ornamentais.
tribuir o seu retrato pelos amigos ou correspondentes? Pretende-se con-
servar a recordação de uma cena pitoresca entrevista na rua? Lá está o *
gravador, que, ainda mais do que o pintor, pois a sua obra será tirada a * *
numerosos exemplares, fará o papel do fotógrafo actual *. Assim dá Callot
A partir do século XVII, a estampa desempenha, portanto, um papel
a conhecer a toda gente os principais episódios do cerco de Breda ou do
informativo, essencial em muitas áreas. No meio dessas transformações,
de La Rochelle, assim evoca o espectáculo das feiras, retrata os horrores
() livro ilustrado perde parte do seu interesse. Para os ilustradores, as pran-
da guerra ou a vida errante dos ciganos, ou ainda, para os amadores do .has não representam mais do que uma oportunidade para executar
teatro, grava os retratos das personagens da Comédia italiana; assim fixa pequenos quadros de tipo pictórico. E, sobretudo, as condições económi-
Bosse, com um buril rigoroso, as cenas da vida dos burgueses parisienses; 'as impelem os editores do século XVII a procurar os preços mais baixos
assim Nanteuil e os seus émulos multiplicam os retratos dos príncipes e , levam-nos a reduzir a ilustração a algumas pranchas separadas do texto
dos burgueses da segunda metade do século XVII, enquanto, no século XVIII, ou até somente a um frontispício, para evitar os custos que exige a opera-
os gravadores da escola francesa, tornando-se críticos de costumes, repre- 'ão, sempre delicada, da dupla impressão do texto e de uma gravura na
sentam as cenas da vida quotidiana da marquesa ou do burguês, ou os me ma página. Como os gravadores se faziam pagar bem pelos seus tra-
aspectos pitorescos da rua parisiense. balhos, só as obras de grande luxo e de venda assegurada, como La
Ao mesmo tempo, a estampa desempenha um papel essencial na Pucelle, de Chapelain, por exemplo, que toda a sociedade literária aguar-
difusão das obras de arte. A partir do século XVII, e graças à gravura, todos dava com a impaciência que se conhece, são convenientemente ilustradas.
conhecem as obras-primas disseminadas pela Europa. Um grande número Nesses casos, não se hesita em solicitar aos maiores pintores que forneçam
de gravadores de todos os países dedica-se a reproduzir as pinturas, os de, enhos que os gravadores reproduzem: Rubens, Vignon, Poussin, Filipe
monumentos e as ruínas da Itália. Muitas vezes também, há gravadores de Champaigne, Le Brun, colaboram assim na ilustração de livros. Com
encarregados de reproduzir os quadros dos grandes pintores do seu tempo .lcs, o divórcio entre o texto e a imagem acentua-se a tal ponto que, no final
e do seu país: um Nanteuil, por exemplo, ou um Morin, multiplicam as do século XVII, para ilustrar um livro basta, por vezes, colocar nele o retrato
gravuras executadas a partir dos retratos de Filipe de Champaigne, e foi do eu autor. E a época clássica possui poucos verdadeiros ilustradores.
com certeza a estas gravuras que o grande retratista deveu, no seu tempo,
parte da sua celebridade!". Rubens soube de tal modo entender o interesse *
* *
No século XVIII, já não acontece assim'", As condições económicas
143 BOUVY, E., La gravure en France au xvir siêcle: Ia gravure de portrait et d'al- cvoluírarn; os editores voltam a preocupar-se com a qualidade da sua
légorie, Paris, 1927.
* Exemplo ligado à História de Portugal: o famoso Rinoceronte de Dürer, que st
desenhou a partir de elementos fornecidos por alguém que, em Lisboa, assistirn, no Paço
da Rih 'ira, à justa ntre um lcfuntc uma gnnda (ou rino .eronrc nsi tico) reccm chcgu '''('(HII(II(lIN,I' •. (i,I/I','11/1 ,'IIII""I"IIIdl '/'1'111/1///11'1 11I/ \\//1' .\ff,I,', l'íIII', 11/11:
do, 11 1'1li 1111111fllllll M'H'IlI, ti poi , euvindos 11111'1111.'1P 10 H'I I) Mumu-l (I I ) (N. U) C '0111 N. 1/ Ci/ll'//,f/ /'1111///1/'", tI/ /11"'1" '///1,,,,,'1 du li/li' 11I"/' 1'111,11111
144 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 145

produção, as vinhetas reaparecem no meio das páginas impressas; um anteriores ao século XIX, impõe-se desde logo uma observação: as enca-
público inteiro apaixona-se pelos livros com gravuras. Mas os tempos dernações que recobrem os livros de trabalho mais comuns apresentam-se
mudaram muito desde o século xv, ou mesmo XVI, durante os quais os muito resistentes e são de qualidade infinitamente superior à das encader-
livros ilustrados se dirigiam a um público muito vasto. No século XVIII, nações correspondentes da nossa época. Para dar um exemplo concreto,
trata-se, antes de mais, de livros de luxo destinados à aristocracia do diremos que os livros da Biblioteca Real (a actual Biblioteca Nacional de
dinheiro, aos banqueiros e aos financeiros que, orgulhosos da fortuna França) eram normalmente encadernados, no século XVII, num marro-
recente, pretendem constituir uma biblioteca, mas que, afastando-se das quim vermelho com filetes dourados, com as armas reais gravadas, ao
obras sérias que os entediam, se tomam bibliófilos e preferem os livros passo que a maior parte dos livros que, nos dias de hoje, chega àquela
com imagens, sumptuosamente encadernados: é a época em que os Biblioteca Nacional é somente recoberta com meia tela.
arrematantes de impostos régios mandam editar as Fábulas e os Contos de Não deve surpreender-nos este cuidado com a solidez, com a quali-
La Fontaine magnificamente ilustrados - e em que os mais célebres livros dade dos materiais utilizados outrora para confeccionar encadernações e
ilustrados são as insípidas Canções de Laborde ou, na melhor hipótese, o que ainda hoje, muitas vezes, provocam a admiração das pessoas ligadas
Templo de Cnide, pecado de juventude de Montesquieu. O livro com figu- ao ofício. Naqueles tempos, o manuscrito, e mesmo o seu sucedâneo, o
ras conhece, então - pelo menos, em França -, uma brilhante renovação
livro impresso, faziam figura de mercadorias raras e dispendiosas, mere-
artística; Boucher, Fragonard, confiam os seus desenhos aos excelentes
cendo, por isso, ser protegidas e ornadas; é certo que, após o aparecimento
gravadores da Escola francesa*. Mas o livro com figuras representa tão só
da imprensa, o público que lia foi aumentando de número, mas até ao
uma parte bem diminuta da imensa massa da produção impressa e alcança
éculo XVIII,pelo menos, o livro era destinado sobretudo a um escol rela-
apenas um público restrito, de certo modo comparável ao público dos
tivamente restrito e rico: nesses tempos em que o papel era fabricado na
actuais bibliófilos, amadores de livros de pintores de grande luxo, com
forma, e as folhas impressas em prelos manuais, sempre se revelou um
tiragem limitada. Nessa época, portanto, o livro ilustrado mal teria inte-
resse para o nosso assunto, não fosse o caso de os gravadores terem tido bjecto precioso, cuja conservação era conveniente garantir e que, por
o cuidado de dar às obras de carácter técnico ou científico as ilustrações conseguinte, convinha encadernar cuidadosamente.
indispensáveis para a compreensão do texto. E os livros deste género eram Como se apresentam as encadernações do século XV ao século XVIII?
numerosos e singularmente importantes, ao tempo dos filósofos. Referimo-nos às encadernações comuns, sobretudo àquelas que podem
Lembremo-nos das obras de Buffon e, sobretudo, do imenso empreendi- qualificar-se como encadernações comerciais, pois está fora do nosso
mento da Enciclopédia, que nem mesmo teria podido ser concebida se a propósito atermo-nos aqui, em particular, às encadernações de luxo,
técnica da gravura em cobre não tivesse permitido ilustrar o seu texto com objectos de arte reservados a uma minoria de príncipes e de bibliófilos.
pranchas precisas e pormenorizadas. Lembremo-nos também dos relatos orno é que, entre o século XV e o século XVIII,foram os encadernadores
de viagem que se tomam cada vez mais numerosos no tempo de Cook e levados a modificar as suas técnicas para poderem produzir encaderna-
de La Pérouse, e que são igualmente acompanhados de lâminas que repro- çoes em série, proporcionais ao número sempre crescente de exemplares
duzem fielmente os esboços feitos durante as expedições. que saíam dos prelos? Quais foram as consequências dessa multiplicação
de livros, no que se refere à qualidade e à apresentação das encaderna-
°0 s? Tais são as principais questões a que gostaríamos de responder.
V. O REVESTIMENTO DO LIVRO: A ENCADERNAÇÃO Neste, como noutros aspectos, o aparecimento da imprensa não
provocou nenhuma alteração súbita, e os mesmos artífices que já encader-
Quando se examinam as antigas encadernações, as que se conser-
nnvum manuscritos habituaram-se a revestir, do mesmo modo, os livros
varam no seu estado primitivo nos manuscritos e nos livros impresso,
unpr .ssos. ontinuarn p rmancntemente a recobrir a lombada e as pastas
(1lllas dl sólidas c p 'sadas ripas d mad 'ira) com tecidos preciosos (v '11I-
(l -rard ° Fra 'olwrd xiluhonuum na ínmosn °diç:lo d' 0,1 III.\flllll/.\ qUl' 11MIlI '11<10 11m, cluuuulute, d:lIl1:1Sl'O ou I' 'ido dl' OIIJO), quando se tuuu de ncud r
di Muu-u . ('111 1H 1 7 111.11111011
IIIIJlIIIIIII 1'111I' 11i~ (N. N ) 11.11 11 10 111' 111 li di 111\:1110 .1 'IilIIIII'" !lll,llIlóI!'IIl ••••IIOS ou!tos 1 ao, 1111
146 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 147

vez de tecido, utilizam sempre couro (vitela, carneira, e também pele de certeza de encontrar clientela. Instalam-se geralmente perto dos livreiros;
porco, na Alemanha) e imprimem nas pastas ornatos gravados por meio na maior parte dos casos, eles próprios são livreiros e também impres-
de pequenos ferros, repetidos várias vezes numa rede constituída por filetes sores. E os grandes editores, como os Koberger, por exemplo, possuem
estampados a frio, cuja disposição difere consoante as regiões. Os temas oficinas de encadernação bem equipadas, onde se executam trabalhos em
e os motivos representados variam infinitamente. São, por exemplo, flores série. Mas que não haja equívocos sobre este ponto - e o facto merece ser
de lis, águias de uma ou duas cabeças, animais de todos os géneros, reais destacado, porque se trata de uma questão importante para quem deseje
ou imaginários, leões ou grifos, galgos ou dragões, muitas vezes copiados identificar a origem de uma encadernação: os livros não são, como ainda
dos brasões; são também os símbolos dos quatro evangelistas, com ban- hoje acontece por vezes, encadernados regularmente, por encomenda do
deirolas e inscrições; às vezes ainda, encontra-se o monograma IHS, o seu editor, quando a impressão chega ao fim. Nessa época em que, em
cordeiro pascal ou a imagem de um santo, os instrumentos da Paixão ou cada cidade, apenas se consegue escoar um pequeníssimo número de
o retrato de Cristo'". exemplares de uma mesma edição, em que muitos editores têm corres-
pondentes em toda a Europa, a quem encarregam de escoar uma grande
* parte da sua produção, em que as encadernações são pesadas e muito
* * caras, em que, enfim, o preço do transporte das mercadorias é oneroso, os
livros são expedidos em folhas, dentro de caixotes, de uma cidade para
Assim se apresentavam as encadernações dos manuscritos da pri- outra. Seguidamente, são encadernados em pequenas quantidades, à
meira metade do século xv. Tal é ainda o aspecto das encadernações com medida das vendas. Os inventários dos fundos dos livreiros mostram-nos
que se recobrem os incunábulos ainda por volta de 1480: encadernações que estes possuem apenas um reduzido número de exemplares encader-
pesadas e sólidas, acompanhadas de fechos de metal e cujas pastas são nados de um mesmo livro, na sua loja ou na casa interior que lhe era con-
ornadas de tachas destinadas a proteger a própria encadernação, pois os tígua, sendo os outros exemplares conservados em folhas nos seus
livros eram guardados deitados ou conservados em estantes. Muitas delas armazéns. E podemos imaginar que, muitas vezes, o comprador preferia
foram certamente executadas nos múltiplos conventos onde se instalara adquirir uma obra em folhas, para poder mandá-Ia encadernar a seu gosto.
uma oficina de encadernação, perto daquela em que trabalhavam os copis- Não tendo em conta este costume, os historiadores da encadernação tiveram
tas. Outras são obra de oficinas particulares, onde os encadernadores tra- frequentemente a tendência, até data recente, de concluir que os livros
balhavam em ligação com os copistas que executavam manuscritos para eram regularmente encadernados na cidade onde tinham sido impressos.
uso dos leigos, e sobretudo com os estacionários instalados perto das uni- Entretanto, quando os prelos começam a produzir livros impressos
versidades. em número cada vez maior, os encadernadores têm que modificar a sua
A partir de 1480, aproximadamente, o aparecimento da imprensa t cnica para poder responder às novas necessidades; é preciso trabalhar
começa a fazer sentir os seus efeitos; os livros multiplicam-se e tornam-se de mais depressa, em série, e executar encadernações de qualidade conve-
uso mais corrente; os particulares, sempre em número crescente, constituem niente, mas menos onerosa, para satisfazer uma clientela mais vasta e
as suas bibliotecas; o livro deixa de ser mais ou menos exclusivamente menos rica. Como a imprensa favorecera o desenvolvimento do comércio
monástico. Assim, a importância das oficinas dos conventos diminui, ao do papel e, ao mesmo tempo, multiplicara o número de folhas soltas das
passo que as oficinas privadas, pelo contrário, se tornam mais numerosas, obras, adquire-se o hábito de substituir as antigas ripas de madeira por
em particular nas cidades universitárias, onde os encadernadores têm a r 'síduos de papelão, menos caros e menos pesados, constituídos por
papéis velhos de todo o género, colados uns aos outros: antigas provas de
unpr ssão, refugo d velhos livros, correspondência ou contas de empre-
'" Ver. obre este assunto BRUN, R., «Manuel de l'arnaicur d r liur unci nn e», in sas, ou ainda antigos arquivos. ror isso, a d smontagcm das cncad ma-
81111/'li/1 du ttihtinphi!», 1915 1917; c ,OI,DSCIIM 11)1', E.Ph., (;/lI!ti/' //1/11 R/'/11I1I"I//I/('/' \ III S dUiSl Il "'Im Il Sl'l Vil lu-qu -nt '1lIl'nll'. u quem u 1:11,. intcressnntc S xur
111It1~/liltl,"g, I olHlll'\, lIoSIOll, Novn lorquc, ' vulx , IIPK pll iI
148 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 149

* príncipes haviam sido, durante muito tempo, revestidos de tecido, era por-
* * que os couros não pareciam suficientemente bem preparados para serem
usados nessas ocasiões, numa altura em que somente se conheciam proces-
Ao mesmo tempo, os encadernadores esforçam-se por realizar mais sos de estampagem a frio. O mesmo já não sucedeu na altura em que,
depressa e a menor custo uma decoração adequada das pastas. À antiga primeiro na Itália, depois em todo o resto da Europa, apareceu um novo
técnica dos pequenos ferros, preferem a da chapa'"; em vez de decorar material proveniente dos países árabes, o marroquim, e quando se divul-
toda a superfície das pastas por meio de ferros pequenos justapostos e de gou a técnica da douração sobre couro. A partir de finais do século xv,
jogos de filetes, o que exige um trabalho longo e cuidados minuciosos, a com efeito, o marroquim de Córdova começa a chegar a Nápoles pela
partir de então, imprimem de uma só vez uma chapa capaz de cobrir uma escala das Baleares, e o do Levante é levado para Veneza pela escala de
pasta da encadernação e obtêm, desse modo, grande economia de tempo, onstantinopla: a partir desta época, Aldo, em Veneza, emprega o marro-
produzindo obra de maior efeito. Daí em diante, toma-se possível fazer quim; em contrapartida, este material só mais tarde, no segundo terço do
figurar uma cena verdadeira na encadernação; em França, por exemplo, estas século, será usado correntemente em França'". Ao mesmo tempo, a téc-
chapas reproduzem cenas extraídas do Antigo e do Novo Testamento, de nica do couro dourado, conhecida há muito no Oriente, aclimata-se na
preferência as que figuram nos livros de horas, ou ainda as imagens dos Itália; os napolitanos adoptam-na a partir de 1475 e decoram as encader-
santos. A maior parte dos temas éescolhida com piedosa intenção, mesmo nações destinadas a Fernando, rei de Aragão, por exemplo, por meio da
que a chapa seja aplicada na encadernação de um livro profano; às vezes, aplicação de finas folhas de ouro ou prata com o ferro quente. A partir do
também, há livreiros que mandam gravar a sua insígnia numa chapa; por fim do século, os venezianos seguem este exemplo; assim,Aldo, que acabara
fim, usam-se naturalmente chapas puramente decorativas!". Na Flandres, de fundar uma oficina especializada em tipografia grega, contribuiu mais
gostam por vezes de representar animais e pequenos personagens; um do que qualquer outro impressor ou livreiro veneziano para propagar a
pouco mais tarde, nos países germânicos, utilizam-se chapas com temas moda das encadernações decoradas a quente com motivos orientais, que
alegóricos ou mitológicos inspirados no Renascimento. se espalhou seguidamente no Norte da Itália. Os franceses que invadiram
Nos primeiros anos do século XVI, nova mudança: perante o afluxo a península itálica logo tomaram o gosto por esta ornamentação sump-
dos livros impressos que se multiplicam incessantemente, os encader- tuosa. Os reis de França, ou ainda o famoso Grolier, que foi tesoureiro de
nadores, sempre desejosos de encontrar uma técnica mais rápida, a fim de Milão, mandaram executar trabalhos deste género em oficinas italianas e
reduzir a mão-de-obra, de baixar os custos dos seus produtos e de traba- introduziram a nova técnica em França. Durante o segundo terço do
lhar mais depressa, vão usar outra técnica, a da roda, pequeno cilindro de século XVI, os artistas franceses, superando os seus mestres italianos, exe-
metal no qual se encontra gravado um motivo decorativo que se repete cutaram obras-primas: encadernações polícromas em mosaicos, com
indefinidamente; por este meio toma-se possível decorar as encaderna- entrelaçados e vinhetas pintadas com recurso ao mas tique, ou encaderna-
ções com séries de frisos executados com rapidez. Às vezes, utiliza-se ções de gosto mais sóbrio, ornamentadas com decorações geométricas ao
simultaneamente o sistema da chapa e o da roda; o centro das pastas é estilo do Renascimento. Encadernações inigualáveis, de uma técnica
decorado com a chapa e a imagem assim obtida é rodeada por uma cer- perfeita, mas sobre as quais não nos estenderemos mais, por se tratar de
cadura executada com a roda. trabalhos artísticos executados para os reis e pequenos grupos de bibliófi-
Assim se apresentam as encadernações comerciais do primeiro terço los muito ricos.
do século XVI. Entretanto, começam a ser utilizados novos processos no Ao mesmo tempo, é lançada a moda das encadernações de «meio-luxo»,
fabrico das encadernações de luxo; se os exemplares destinados aos aplicando a técnica da estampagem a quente no fabrico das encadernações
com 'r .iais. A partir d 1520, utiliza-se esta técnica nas encadernações

",.GOLD, MIOT, E. Ph., IIfI. cit., I, p, 54 ' s 'gs.


li MIC'IION,I M,,/oUt'li/lI/'//III/\,(/;I/' ,Plld" 1/) I,p 'l'M", "MJ('IIIIN,I,M,I,/lú//lII' /,,1/1 ti/I" ,1'1111 1/11,1' \/1/ I
150 o APARECIMENTO DO LIVRO A APRESENTAÇÃO DO LIVRO 151

à chapa - por exemplo, nas célebres encadernações do Pot cassé, de que os Pasdeloup, os Monnier, os Derôme, executam trabalhos que
Geoffroy Tory; usam-se também, às vezes, placas decoradas de filetes e de ficaram célebres, sobre livros de luxo ilustrados, pelos quais o público se
ornatos caligráficos para fazer encadernações mais económicas, que imi- apaixona. Mas, uma vez mais, estas encadernações são destinadas, como
tam as encadernações com pequenos ferros ou com roda; às vezes, também, os livros que recobrem, a um público restrito; as encadernações comuns,
coloca-se no centro da capa um medalhão onde figura a marca de um produzidas em grande série, são cada vez menos cuidadas. E, algumas
livreiro ou o busto de uma personagem. Outras vezes, até finais do vezes mesmo, a partir de finais do século XVII, utiliza-se para os livros
século XVI, sobretudo nos livros de piedade, prensa-se com o balancim pequenos ou para os jornais, que entretanto se multiplicam, o simples
um motivo central oval. Mas estas encadernações ainda são caras e relati- papel marmoreado.
vamente demoradas de realizar. Por isso, espalha-se cada vez mais o uso Assim, se compararmos as encadernações que se encontram nos
de encadernar solidamente os livros em vitela, sem a preocupação de livros mais correntes, entre os séculos XV e XVIII, verifica-se que a clien-
decorar as capas. E quando, na segunda metade do século XVI, as condi- tela dos livreiros permanece ainda relativamente restrita e que, durante o
ções económicas levam a procurar os preços mais baixos, começa-se a século xv e o início do século XVI, os encadernadores se esforçam por
encadernar com pergaminho os livros de menor valor, ao passo que as decorar as encadernações comerciais. Quando a produção de livros
grandes personagens, como o cardeal Carlos de Bourbon, por exemplo, se aumenta, quando a edição se desenvolve ao longo do século XVI, quando
contentam muitas vezes com encadernações de marroquim, cujas capas o livro atinge um público mais vasto, procuram encontrar meios técnicos
são apenas decoradas com cercaduras de filetes dourados!". susceptíveis de lhes permitir fazer com maior rapidez encadernações
decoradas convenientemente. Mas, a breve prazo, têm de renunciar a
* ornamentar as capas das encadernações comerciais. Enquanto a encader-
* * nação de luxo atinge grande desenvolvimento em meados do século XVI,
e, depois, durante o século XVIII, os livros comuns são encadernados soli-
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, as encadernações comuns conti- damente, de forma a garantir a sua conservação, mas sem nenhuma deco-
nuam a ser recobertas de vitela, sem outra decoração nas capas que não ração na capa; somente a lombada, que aparece nas prateleiras das biblio-
seja uma cercadura de filetes dourados; para as encadernações mais tecas (os livros são, então, conservados de pé, apertados uns de encontro
cuidadas, utiliza-se correntemente o marroquim; quando os livros per- aos outros, para ocuparem menos espaço, e já não deitados), é decorada
tencem a um grande senhor ou a um coleccionador, este muitas vezes com alguns motivos a ferros pequenos e com uma peça de couro na qual
manda gravar as suas armas no centro da capa*. Alguns bibliófilos, con- está inscrito o título da obra. E quando, no século XIX, o aparecimento da
tudo, no século XVII, continuam a mandar executar encadernações deco- prensa a vapor e a invenção da máquina de papel permitem a produção
radas com ferros pequenos, sobrecarregadas de ouro; e, quando a biblio- cada vez mais rápida e mais barata de livros e a multiplicação do número
filia se desenvolve, no século XVIII, a encadernação de luxo conhece, em das tiragens, renunciar-se-á muitas vezes a encadernar os livros, que serão
França, um novo surto: encadernações ornadas com mosaicos, realizadas vendidos e lidos em simples brochuras. Assim, enquanto aumenta o
para o Regente e seus amigos; encadernações polícromas decoradas num número de livros impressos e.estes se dirigem a um público cada vez mais
estilo inspirado na arte chinesa, que, então, estava na moda, e sobretudo vasto, as encadernações simples perdem pouco a pouco a sua beleza, e,
encadernações «rendadas», com as capas rodeadas por uma larga cer- depois, a sua solidez.
cadura a quente, cujas decorações douradas lembram rendas; é a época em

"9 Ibidem, p. 86 e segs.


* SI/II/'" libras, 10 .uçuo latina corrente em Portugal pura designur 'sI' tipo ti ' JlHIJ
I'i! cll Jll! I (N N)
Capítulo IV

o LIVRO, ESSA MERCADORIA

Desde as suas origens, a imprensa apareceu como uma indústria regida


pelas mesmas leis que as outras indústrias e o livro como uma mercadoria
que os homens fabricavam antes de tudo para ganhar o pão - mesmo quando,
como os Aldos ou os Estienne, eram tipógrafos humanistas e eruditos, ao
mesmo tempo. Era-lhes necessário, pois, primeiramente, achar capitais
para poderem trabalhar e imprimir livros susceptíveis de satisfazer a sua
clientela, e isso a preços capazes de sustentar a concorrência. O mercado
do livro sempre foi semelhante a todos os outros mercados. Problemas de
preço e de financiamento colocavam-se aos industriais que fabricavam o
livro, aos tipógrafos e aos comerciantes que o vendiam, ou seja, os livrei-
ros e os editores. Problemas que gostaríamos de estudar aqui, tentando
determinar como puderam condicionar a própria estrutura das profissões
do livro.

I. O PREÇO DE CUSTO

Em primeiro lugar, o preço de custo e os seus componentes. Qual é,


no custo de uma impressão, a parte da matéria-prima - antes de mais, o
papel - e a da mão-de-obra? As relações entre esses diversos elementos
variaram no decurso do tempo, tanto quanto é possível determiná-lo?
/\ íuis qucstõ 'S é, às v zcs, difícil responder: as contas e os diários
dos imprcssorc« t' dos livreiros que ch 'ganllll ai < n6s sao raros, sobretudo
1111
qUI I Il flll ilos II tifos v l VI; l, Sl' os ('onll aios Iloluliais sao nlllls
154 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSA MERCADORIA 155

numerosos, é difícil encontrar reunidos em documentos provenientes de um e sobretudo de matrizes, estimadas em mais de 200 libras - e letras enfei-
mesmo lugar, e com datas próximas, os dados que nos ajudariam. tadas, vinhetas, blocos de madeira e de cobre montando a mais de 75 libras.
Tomemos o caso de Paris, sobre o qual possuímos informações rela- No total, um material de valor superior a 700 libras.
tivamente numerosas e precisas, graças às pesquisas de Emest Coyecque'", De acordo com essas indicações, por volta de 1520-23, o preço
Primeiro, o material de impressão. Vejamos a oficina de um pequeno dos prelos varia em Paris - sem dúvida dependendo do seu estado - de
impressor, Jacques Ferrebouc, segundo um inventário de 1513151• O mate- 9 a 20 libras, quantia relativamente modesta. Os tipógrafos desejosos de
rial é bastante pobre: inclui apenas um prelo, estimado em 10 libras pari- se estabelecerem podem sempre evitar essa despesa alugando um prelo:
sienses (13 libras com as duas ramas); material diverso, estimado em o aluguer custava, em 1515,40 soldos tomeses por um ano, e entre 1540
menos de 8 libras, cinco fundições, mais ou menos usadas, montando a e 1550, 6 ou 8 libras tomesas. Nessa última época, um prelo em bom
cerca de 40 libras. No total, perto de 60 libras. estado valia entre 23 e 30 libras 155.
Oficina mais importante, a de Didier Maheu, tal como a descreve um É uma despesa relativamente pequena. A aquisição dos caracteres,
inventário de 1520152: três prelos «providos de ramas de ferro de parafuso, que era necessário renovar frequentemente, já era mais onerosa: o preço
platinas, parafusos e porcas», estimados em 60 libras parisienses; as das fundições varia, nos inventários que mencionamos, entre 10 e 70 libras,
matrizes de uma letra de missal, ornadas de curvaturas de um ponto, com de acordo com o estado de desgaste dos caracteres, a sua natureza e a
as duas formas, 24 libras parisienses; as matrizes de uma glosa de importância da fundição. Um contrato assinado em 1515, entre Nicolau
burguês:", 12 libras parisienses; as de uma letra de soma, 8 libras parisien- Le Rouge, livreiro de Troyes, e Sinforiano Barbier, impressor de Paris,
ses e as de uma «Suma angélica», 7 libras e 8 soldos parisienses. Oito informa-nos que uma fundição de «letras de burgueses para fazer breviá-
fundições, mais ou menos usadas, valem ao todo 122 libras parisienses, às rios» de 80 milhares custava 5 soldos tomeses o milhar, com o material.
quais convém acrescentar pranchas e alfabetos de cobre estimados em Esta fundição custa, assim, 20 libras 156. É aproximadamente o preço das
16 libras. As caixas e o resto do material estão avaliados em 102 libras. fundições de breviário grosso e miúdo que, em 1520, estavam na posse de
No total, esse prelo tão bem montado representa 351 libras parisienses. Didier Maheu. Em 1543, enfim, Tiago Regnault entrega a Pedro Gromors
Último exemplo: uma oficina muito bem montada, a do célebre uma fundição de romano médio (cícero) de 60 milhares, a 6 soldos tome-
impressor Wolfgang Hopyl'", que imprimiu numerosas obras de teologia e ses o milhar, mais 2 soldos tomeses por libra de material, ou seja, 18 libras
livros escolares. O inventário feito após a sua morte, em 1523, enumera para a fabricação e 12 soldos tomeses para o material. Sabemos que,
5 prelos, valendo 24 libras parisienses (46 libras com as ramas), uma alguns meses mais tarde, tendo as matrizes sido entregues ao mesmo
dezena de fundições em bom estado e muito completas, avaliadas mais ou tempo que a fundição, pagou Gromors 47 libras tomeses, ou seja, cerca de
menos em 360 libras parisienses; uma quantidade importante de punções 28 libras pelas matrizes, cifra que está de acordo com as que se encontram
nos inventários de Maheu e de Hopyl'",
Estas indicações permitem fazer uma ideia do dinheiro de que devia
dispor um impressor para se estabelecer. Mas, uma vez reunido o mate-
150 COYECQUE, E., «Cinq libraires parisiens sous François I (1521-1529»> e «La rial, era preciso usá-Ia. Ora, se ele próprio editava o livro que imprimia, o
Librairie de Didier Maheu en 1520», in Mémoires de Ia Société de l'histoire de Paris et de
tipógrafo devia fazer um investimento considerável. Alguns contratos
l'Íle-de-France, t. XXI, 1894, pp. 53-136, e pp. 197-205; do mesmo autor, Recuei! d'actes
notariés relatifs à l'histoire de Paris au XVI" siêcle, Paris, 1905-1929,2 vols. indicam a quanto podia montar o financiamento de certas edições. Em
151 COYECQUE, E., Cinq libraires parisiens, loco cito
152 COYECQUE, E., La librairie de Dider Maheu, loco cito
153 Denominavam-se «burgueses» os caracteres góticos bastardos que se utilizavam
precisamente nas obras destinadas aos burgueses (novelas de cavalaria, livros d • oraçõ s). '" (,OYI\C'QlJl\, I~.,R/'/'II/'i/ (/'1/('11',1' notariõs relatifs à l'histoire de Paris, n,o' 2029.
1\. STEIN, H., Wo(f!(on!( Hopyl, imprimeur-librairc parisicn du XV' si! di', Notr ,I'/I/' lI! ,I, 'I!' , \ 1P, \ \!lU. ,li P, tl1) I, (' tl61 0,
,WIn atciirr tvpographiqu«, Pontaincbleau, I H91; «NOllV'IHIX do '1Illlcnls SUl' Wolt' '!I 11 , I., tbtik-m, 11 " I
llnpyl, III1PIlIIl('UI I 1'111 "". 111 1/' lIi/lliollllll,11l' ntodrrnr, I I·, II)U ,pp I lI! 11) \ I 1/"'/'11I,11" li" I li)"1
156 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSA MERCADORIA 157

1524, Francisco Regnault promete a um comerciante de Toul imprimir . As despesas de impressão nem sempre, aliás, representam a parte
600 manuais para uso da cidade, mediante 55 libras torneses'". No pnncipal das somas investidas para executar uma edição. O papel é
mesmo ano, Didier Maheu imprime 400 missais para o bispo de Senlis, muito caro.
por 350 libras torneses'". Em Agosto de 1523, a impressão, em Paris, de Alguns dados, em primeiro lugar, sobre as despesas de impressão
600 breviários para serem usados em Nevers, custou 300 libras torneses'". propriamente ditas. Em 1518, João Vignon, impressor parisiense, promete
Em 1528, a impressão de Josse Bade de 1225 exemplares in-folio de uma imprimir todos os dias uma folha de um breviário para ser usado em
tradução de Tucídides, feita por Cláudio de Seyssel, exigia uma despesa Nantes, com tiragem de 1300 exemplares, a troco de 20 soldos parisien-
de 612 libras tomeses'". ses por dia'". Em 1524, outro impressor de Paris, João Kerbriant,
Para se poder empreender a edição de uma obra de certa importân- promete imprimir 650 breviários para serem usados em Nantes, traba-
cia, era preciso, assim, dispor de um capital bastante elevado. Mesmo lhando num prelo de três formas por dia, mediante 60 soldos torneses 163.
levando em conta a necessidade de renovar com muita frequência os No mesmo ano, Nicolau Higman promete imprimir as constituições sino-
caracteres, constituídos de uma liga talvez ainda pouco resistente, verifi- dais da diocese de Sens com 750 exemplares e três formas por dia, a
car-se-á que não era necessário a um artífice ter muito dinheiro para troco de 30 soldos torneses'". Em 1526, João Kerbriant pede 65 soldos
comprar um prelo, caixas tipográficas e mesmo algu~as fundições, e torneses por dia para executar a impressão de 1200 exemplares de um
estabelecer-se como impressor - mas que era preciso, no entanto, breviário para ser usado em Bourges'". Todos estes preços parecem
dispor de capitais consideráveis para fazer funcionar ?s prelos regu- bastante parcos se levarmos em linha de conta que o mestre deve alimen-
larmente: a edição de uma só obra exigia, segundo as cifras que forne- tar e pagar a dois homens no prelo e a outros dois na composição, e se
cemos, mais dinheiro do que a aquisição de uma oficina tipográfica nos lembrarmos de que o salário de um compositor de Lyon era de 6 soldos
bem equipada; assim, quando um impressor era, ao mesmo tempo, e 6 dinheiros por dia 166: o exame destes números permite compreender a
livreiro e editor, o seu capital de livraria constituía um fundo razão por que os mestres se esforçam por obter dos companheiros um
amplamente superior ao que representava a sua oficina. Tal é, por rendimento enorme, e por que empregam numerosos aprendizes a quem
exemplo, o caso de Didier Maheu ou de Ferrebouc. De facto, no mate- não pagam.
rial de impressão, os únicos elementos que correspondiam a um valor Qual era nessa época a importância relativa dos gastos de impres-
importante eram os alfabetos de iniciais ornamentadas, gravados em são, em relação às despesas da compra do papel? Pode ter-se uma ideia,
madeira, e, mais tarde, as letras grisadas (isto é, gravadas em cobre), e recorrendo às seguintes indicações: em 1539, o impressor Bonnemêre
as pranchas gravadas que somente se encontram nas grandes ofi~inas pede 14 soldos torneses por resma para imprimir o Colégio de Sapiência,
muitas vezes especializadas num determinado género de obras - os hvros de Pierre Doré'", Em 1543, Gromors pede a Tiago Regnault 18 soldos
de horas, por exemplo. Compreende-se, portanto, por que razão a maior torneses pela impressão de cada resma de uma Bíblia historiada'". Ora, o
parte dos impressores, quase sempre, apenas nos aparecem como assa- preço de uma resma de papel, nesta época, oscilava entre 10 e 30 soldos,
lariados de grandes livreiros-editores, proprietários de alfabetos de letras de acordo com a sua qualidade.
ornamentadas, pranchas, e, às vezes, de fundições que alugam ou empres-
tam aos tipógrafos a quem dão trabalho.

'02 OYE QUE, Recuei! d'actes notariés .." n." 37,


,., lbidem, n." 465,
158 COYECQUE, E., Recueil d'actes notariés relatifs à l'histoire de Paris, n." 544.
'M lbidem, 11,° 500,
'M IMIII'III, 11."64'i,
159 lbidem, n." 533.
''', 1Ii\IJSFR, 11, O/II'fiN.I til/ //'/IIf1,1 11111,1'/', Paris, 1917, p. IXS,
'o" lbidem, n.? 435.
",' RENOlJi\RD, P., l/ihli(}~rafl"il' des iuiprrssions 1'/ dc« (1('1/1'/'/',1 d/' .fO,','I' fllld/' "'('()\I'('(lIl1',I' ,"/' 11/,11"1 11
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I~ 1,'/'/1 1/// I Pai I , II)()I) \ VIII I I p, K I' I'
o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSA MERCADORIA 159
158

A compra das quantidades de papel necessárias para uma impressão 58 soldos e 10 dinheiros. Ou seja: impressão - 264 escudos; papel- 137
escudos e 58 soldos; transporte entre Lyon e Poitiers - 110 escudos.
representava, pois, uma parte importante da despesa total. E esta observação
Os 1250 exemplares impressos em Poitiers saem a 592 escudos e 11 soldos,
não é válida apenas pelo exemplo que damos - o da tipografia parisiense do
a saber, 100 escudos para a compra e o transporte das fundições necessá-
início do século XVI. Já em 1478, o tipógrafo Leonardo Wild, de Ratisbona,
rias, 204 escudos para a impressão, e, finalmente, 264 escudos para o
estabelecido em Veneza, recebe 5 ducados por cada um dos quinternos
papel - soma excepcionalmente elevada, é verdade, em virtude de a
de uma Bíblia de que imprime 930 exemplares - ou seja, 243 ducados
cidade, na ocasião, estar sob a acção de um bloqueio. Notemos que o
ao todo'". Ora, o preço do «papel comum», em Veneza, varia, então, entre
transporte majora em cerca de um quinto o custo dos exemplares feitos em
2 liras e 50 e 4 liras a resma, ou seja, no total, entre 200 e 300 ducados, apro-
Lyon173•
ximadamente 170.
Outro exemplo: em 1483, a oficina tipográfica de Ripoli toma a seu O exame do preço de custo, nos séculos XVII e XVIII, conduz a
cargo a impressão de uma tradução latina das obras de Platão por Marsílio conclusões análogas. O inventário feito após a morte de um impressor
parisiense, Miguel Brunet, falecido em 1648, mostra que ele possuía dois
Ficino, a 3 florins pela impressão de cada um dos 30 cadernos - ou seja,
90 florins ao todo. O preço de aquisição do papel desta obra, com tiragem prelos, um estimado em 90 e o outro em 60 libras. O seu material, que
de 1025 exemplares, e com quatro folhas por caderno, devia atingir 120 compreendia, além desses dois prelos, uma quinzena de fundições, vinhe-
ou 160 florins, aproximadamente. Custava mais do que a própria impres- tas, letras grisadas e instrumentos diversos, era estimado em 746 libras e
10 soldos, ao todo. Um contrato feito aproximadamente na mesma época,
são'".
O custo proporcional do papel em relação ao total continuou a ser em 1637, entre o livreiro-impressor Camusat e o fundidor de letras João
muito alto - talvez com tendência para diminuir - até ao século XVIII. Em de La Forge, informa-nos que uma fundição bem completa de pequeno
1571, o tipógrafo Pierre Roux, tendo de imprimir 500 exemplares dos texto romano, compreendendo 150000 letras, 25 000 espaços, 5000 quadra-
Estatutos da cidade de Avinhão, recebe 18 soldos pela compra de cada dos e letras romanas, e letras de dois pontos, custava um pouco menos de
resma de papel, e 37 soldos pela sua ímpressão'". Outras informações 30 libras, mais o material para as letras, espaços, quadrados e letras roma-
mostram a relação das diversas despesas de uma edição - desta vez, no nas. Em 1644, finalmente, um outro impressor parisiense, José Bouillerot,
final do século XVI. Trata-se de contratos feitos para a impressão de um ao imprimir um livro intitulado Judith, à custa do autor, Nicolau Lescalopier,
missal a ser usado em Poitiers, revisto segundo as decisões do Concílio de com 1000 exemplares, cada um deles compreendendo 50 folios in-S.", em
Trento. Duas sociedades tinham sido formadas para executar este traba- caracteres Santo Agostinho, pede 6 libras por folha. Ora, nessa época, um
lho; uma dirigira-se a um impressor de Lyon e a outra a um tipógrafo de papel de boa qualidade custava 63 soldos torneses a resma - ou seja, 3 libras
Poitiers. Tendo finalmente feito um acordo e uma fusão para financiar c 3 soldos. Podemos concluir que, na edição de uma obra in-S.", o preço
estas duas impressões com gastos em comum, as duas sociedades lavraram do papel representava mais ou menos tanto quanto o preço da impressão.
a conta das suas despesas respectivas perante um tabelião. Em Lyon, foram Por outro lado, poder-se-á calcular, nessa base, que o preço de custo de um
impressos 1300 breviários de 72 folhas e meia, cada um por 578 escudos, livro corrente, um in-S." de 240 páginas, com tiragem de 1000 exempla-
res, em bom papel, seria de cerca de 190 libras 000 libras para o papel, e
90 para a impressão).
Vejamos, agora, o cálculo das despesas de edição de um livro
169 FULIN, R., «Documenti per servire alla storia delIa tipografia veneziana», .scolar, (} Apparatus efegantiarum, in-d.", impressão com tiragem de
extracto do Archivio Veneto, t. XXlTI, parte I, p. 2. - Denominava-se «quinterniorn um
caderno formado por cinco folhas.
170 Cf. BROWN, H.F., The Venetian printing press, Londres, 1891, p. 17 scgs.
171 FINESCIII, V., NOli1.Í1' storichc sopra 10 sttnnperin di Ripoli, Flnrcnçu, 17KI.
1/\ llil I 11C1I IHAI 1I11{II, A , I 'iIIlll/llIIl'lll' 1'1 !tI lillllllll' 1i l'nltlcrx l'I'IItlI/III !t'
1/1 PANSIFR. 1'.• /1;1'/(1111' du livn: t'I til' l'irnprinu't i« (/ AI'I,I/II/I/I d/llV" (//1 \1'1' slt 1'11',
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160 o APARECIMENTO DO LIVRO
o LIVRO, ESSA MERCADORIA
161

1000 exemplares, ao cuidado de Guilherme Bénard e de João Jullien, em Que conclusões gerais podemos tirar de todas estas indicações?
papel Joseph, de 50 soldos a resma: o preço de impressão é de 10 libras Primeira: do século xv ao século XVIII, o preço de compra de um
por folha (trata-se de uma impressão relativamente delicada e que tem de papel de boa qualidade é superior ao preço da impressão propriamente
ser correcta). O preço do papel representa, por isso, metade do preço da dita; não nos admiremos, pois, ao verificar que, em épocas de deflação ou
impressão. Além disso, intervém aqui uma personagem que ainda não mes~o de estabilidade, se tenha quase sempre recorrido a papel de má
encontrámos: o autor, que, à sua parte, recebe 30 soldos por folha'". quahdade - o que permite baixar consideravelmente o custo do livro,
As mesmas conclusões, ou quase, quanto às impressões do século xvrn. Segunda: é fácil reunir os capitais necessários para a abertura de uma
De acordo com uma nota de 1771, uma folha de cícero espacejado, tirada ofici~~; o ~aterial «de base» não é muito caro, e um impressor pode
a 1000 exemplares, custava o seguinte: por duas resmas de papel, 16 libras; adquirir facilmente um prelo, caixas tipográficas, galés e algumas fundi-
pela composição, as provas e a correcção da terça, 12 libras; pela tiragem, ções. O problema é, em seguida, poder trabalhar, pois são necessários
6 libras; pela amortização do material e das despesas gerais, 50% dos capita.is consideráveis para editar um livro. Por outro lado, uma parte do
gastos de impressão, ou seja, 9 libras. Ao todo, 43 libras 175. matenal - os caracteres - deve ser renovada rapidamente, E não deve
Um último exemplo, enfim, relativo desta vez a um livro célebre, a esquecer-se que, nessa época, em que a clientela das livrarias ainda é
Enciclopédia 176. Segundo Luneau de Boisgermain, as despesas por cada restrita, o livro vende-se muito lentamente, e que, para escoar uma edição,
folha de 4250 exemplares repartiam-se deste modo:

Tiragem e impressão . 24 libras; 15 soldos


0
Lucro do impressor e amortização do material ... 12 libras; 7 soldos; 6 dinheiros 2. O Dicionário de MORERI, em 6 vols. in-folio, do início do século
- XVIII
Custo do papel .. 68 libras tirado a 2000 exemplares: '

Ou seja, ao todo . 105 libras; 2 soldos; 6 dinheiros


(em libras)
Papel.. . 54000
Composição .. 12000
Tiragem. 12750
Desgaste dos caracteres, tinta,
candeia, correcção, e diversas
174Arquivos nacionais, Registo central dos notários parisienses. despesas 15000
175MELLOTÉE, P., Histoire économique de l'Imprimerie, t. I (único publicado),
Paris, 1905, in-d.", p. 448 e segs. Total. 93750
176 lbidem, pp. 449-452. Acrescentemos a estas indicações o cálculo do preço de
custo de três obras: Cf. Mémoire sur les vexations ..., p. 35,

1. O Almanaque de COLOMBAT, impresso anualmente, no início do século


0
- XVllI,
3.
0

A terceira edição de Roman Empire de GIBBON (J 775), com tiragem de


-

com tiragens de 72 000 exemplares: 1000 exemplares:

(em libras)
(em libras)
Papel. 2000 Papel 171
Impressão. 540 Impressão 117
Composição, correcção, etc ... 2500 orrecção 5,5 S.
I) .spcsas diversas 16,15 S.
Total 5040
'Iilllll ~I()
CI. FAI/('OU. L., M/'/I/II/I/' SI/I lr» \'/'\/1/;01/1 t!l/'t'\/'lf'I'/lII/'1 llhmur» /'//tII!lI;tII/'lIr,1

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162 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSA MERCADORIA 163

é preciso enviar exemplares para todos os grandes centros da Europa, em incapacidade? Digamos que por falta de capital. Só os tipógrafos que
pequenas encomendas. Daí a dificuldade de recuperar rapidamente os conseguem encontrar um capitalista são capazes de estabelecer uma
capitais empregados. Sobrevém uma crise? O livro, «mercadoria de oficina conveniente.
luxo», cessa quase completamente de se vender, e os impressores não Nada mais significativo, nesse sentido, do que a história da imprensa
têm outro recurso para viver que não seja o de imprimirem panfletos que de Haguenau'". Essa pequena cidade alsaciana, desprovida de universi-
traduzem o descontentamento público. Enfim, a edição de um livro é dade, não parecia, em princípio, destinada a tornar-se um centro tipográ-
quase sempre uma empresa aleatória, porque se ignora o acolhimento que o fico importante. Mas, situada nas proximidades de Estrasburgo e de
público lhe reservará. Daí a avidez com que os editores procuram as obras Basileia, onde pululavam os impressores, e não longe de grandes centros
de venda segura - os livros da Igreja, por exemplo, os únicos cuja venda alemães, como Nuremberga e Francfort, Haguenau ocupava posição
está garantida em períodos de crise. Daí também, para evitar os riscos geográfica de «cidade de passagem». Com frequência, por ela passavam
devidos à falta de vendas de um volume único com o qual se contava, a livreiros e impressores nas suas constantes deslocações, e os livros que lá
necessidade de realizar simultaneamente várias edições - de empenhar, se imprimiam podiam ser transportados, sem gastos excessivos, para
portanto, capitais muito importantes. E daí um novo problema - o do várias e grandes cidades. Numa época em que as despesas de transporte
financiamento. eram muito elevadas, o papel produzido nas fábricas da Lorena e da Alta
Borgonha podia, por outro lado, ser enviado para lá com bastante facili-
dade. Além disso, nessa pequena cidade, devia encontrar-se mão-de-obra
11. O PROBLEMA DO FINANCIAMENTO barata sem muita dificuldade. Apesar disso, inicialmente, Gran vegeta
quando se instala em Haguenau, em 1489. Até 1496, a sua actividade é
O impressor - simples artífice - não possui esses capitais. São bem restrita: imprime gramáticas e sermonários. Ao todo, entre dois e
inúmeros os documentos que revelam a falta crónica de dinheiro dos tipó- quatro volumes por ano. É que ele trabalha por sua conta e risco, e não
grafos. Desde o século xv, os mestres de Basileia, desejosos de serem eles dispõe de capitais importantes.
próprios a executarem edições, são obrigados com frequência a contrair A partir de 1497, a situação altera-se. Desde 1497-1498 que os tipó-
empréstimos, garantidos pelo seu material. E, frequentemente, o empreen- grafos são suficientemente numerosos, ao ponto de terem o seu círculo
dimento termina mal; muitos dentre eles acabam por perder os punções e particular em Haguenau. O que sucedeu? Simplesmente, Gran estabeleceu
as matrizes que tinham fabricado ou reunido com muita dificuldade; os relações com um comerciante de Augsburgo, Rynrnan, que vende livros
mais felizes conseguem salvar uma parte delas e desaparecer sem pagar as «e outras coisas» (talvez, simplesmente, material de impressão e caracte-
suas dívidas - para se irem estabelecer noutro lugar, em França, por exem- res). A oficina de Gran torna-se, deste modo, muito activa. Trabalha
plo'". No século XVI, muitos impressores, para poderem trabalhar, são bastante para Rynman, entende-se com ele no que diz respeito ao papel,
ainda forçados a vaguear de cidade em cidade, ao acaso das encomendas aos caracteres e ao formato - e, em breve, trabalha também para outros
que lhes fazem as câmaras municipais, as comarcas judiciais ou os ecle- grandes livreiros que seguem o exemplo de Rynman: Lochner, Hyst, e,
siásticos, que mandam executar à sua custa as impressões de que necessi- sobretudo, Knobloch, de Estrasburgo. Daí em diante, Gran publica uma
tam. No século XVII, os impressores - os das cidades de província, prin- dúzia de in-folioou de grandes in-t." por ano - ao todo, cerca de 290 livros,
cipalmente - levam frequentemente uma vida miserável, retirando o seu dos quais 240 para Rynman e uns 20 para Knobloch. Cada vez mais, os
sustento apenas de encomendas dos municípios ou de particulares. Por

'" III\NI\IIFI{ 11•• 1"1/11/111'11'1'/11.1 d,' l tngnrnn«, 1~~IIII,h"r'o,1904:RITrER, 1'.,


111 III\RISSE, lI., 1,/',1' 11I'I'II/ÍI'r,l' ;I/I'III/IIIJfto,1 111110;,1/'/ lcurs d"I/I'I',I, toulous«, I \'tll/, 11/1/""1',((' /'III/IJ/J/I/I'III' "/111""1/1/1'11I11 lI" rt 1\/' 1'lr/"I, l'illl\ 1:,lla,hlll'o, lI) ,
I'i, '1/111, ('1/ ()Oll/'/IIII" "/'1/(', /'I/I'i/l,', 1'11, l/ll I /8/.l'illI , I')O!,) ,," 1'1' 1(11) II ()
164 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSA MERCADORIA 165

tipógrafos afluem à cidade. Enquanto Angst, entre 1511 e 1515, e depois Ora, Lyon é, ao mesmo tempo, um centro intelectual. É certo que,
de 1519, vem ajudar Rynman, de quem é corrector, Tomás Anshelm, de apesar dos seus esforços, a cidade não possui universidade. Mas o huma-
Baden-Baden, antigo estudante da universidade, troca Tubinga, onde a sua nismo penetra na corte arquiepiscopal: João de Bourbon, vigário do seu
tipografia não se desenvolve, por Haguenau, e aí trabalha para Koberger, sobrinho Carlos, nomeado arcebispo aos 10 anos, é homem de grande
Birckx, de Colónia, e Knobloch. E, depois dele, muitos outros, como, por ponderação e muito inteligente. Educado em Avinhão, interessa-se pelas
exemplo, J. Setzer, impressor de Melanchton. coisas do espírito, aplica-se a reconstituir a biblioteca da abadia de Cluny,
Assim, o investidor - o capitalista - intervém para desempenhar um pilhada por ordem do duque de Borgonha, e manda instalar no seu bispado
papel essencial. É ele que suporta os riscos das empresas, é ele que se de Puy uma magnífica biblioteca episcopal. Todos os membros desse
encarrega de escoar a produção, e é ele, frequentemente, que escolhe os ramo dos Bourbons são letrados; vários deles favorecerão a criação de
textos para editar. Às vezes, também, é levado a montar uma grande oficinas tipográficas - e Carlos de Bourbon, o jovem arcebispo, que mani-
oficina, na qual se trabalha segundo os métodos da grande indústria e já festa pelas letras e pelas artes os mesmos gostos dos outros membros da
não apenas do simples artesanato. Os exemplos de semelhantes capitalis- família, receberá um exemplar da Retórica, de Guilherme Fichet, um dos
tas surgem em grande número. Será interessante esboçar a fisionomia de primeiros livros impressos em Paris, decorado com as armas cardinalícias.
alguns deles. Na mesma época, o cabido de Saint-Jean brilha de vivo esplendor;
é famoso pela nobreza dos seus membros e também pela extensão da sua
* cultura; certamente, os cónegos estão muitas vezes ausentes de Lyon,
* * mas essas ausências explicam-se frequentemente pelos estudos que
prosseguem nas universidades francesas e estrangeiras: encontramo-los
Transportemo-nos para Lyon, para a oficina de Buyer'", na segunda
matriculados em Paris, Toulouse, Orleães, Avinhão, e igualmente em
metade do século xv - época em que a imprensa, nascida nas margens do
Turim, Florença, Pisa, Bolonha, Pavia ou Ferrara. Existe o mesmo gosto
Reno, se espalha pela Europa. A cidade está em plena prosperidade. As
pelos estudos entre os burgueses que depressa sucederão aos nobres arrui-
suas feiras são um «lugar de encontro» cosmopolita. De Milão, Florença,
nados nas suas senhorias. Encontramos os seus filhos em muitas universi-
Veneza, Luca, e também dos países germânicos, quatro vezes por ano,
dades - em Orleães, principalmente, onde estudam direito. Eles próprios
chegam os mercadores para efectuar os seus pagamentos. Banqueiros
lêem com deleite. É assim que, em 1460, um deles, Luís Garin, negociante
alemães fundam estabelecimentos lucrativos na cidade. Italianos,
também. Pelo contrário, os comerciantes de Lyon possuem corresponden- ligado ao comércio e aos velhos costumes, julga conveniente prevenir o
tes em todas as grandes cidades da Europa e, naturalmente e com frequên- filho contra os excessos da leitura:
cia, vão eles próprios ao estrangeiro. O comércio lionês tira benefício das
Ler histórias e belos livros
circunstâncias económicas favoráveis que vão assegurar a sua fortuna.
É passatempo gracioso.
Próxima da Alemanha e da Itália, na rota de passagem entre os cruzamen-
Não leias tanto que te inebries,
tos da Ilha-de-França e os países mediterrânicos, a cidade de Lyon ocupa Pois com isso muitos se tornam infelizes.
uma posição geográfica privilegiada. Vindos das cidades renanas, berço Amá-los demais não é o melhor
da tipografia, de Basileia, e mesmo da Itália, os tipógrafos logo para lá se Para quem se ocupa de mercadoria ...
encaminham. E parece que bem cedo se venderam livros nas feiras da
cidade. Assim era o ambiente no qual viveu Bartolomeu Buyer. O seu pai,
Pcdro, lon I ' ti, s 'r um simples homem de negócio, como durante muito
t IlIpO Sl' [ul '011, era já 11m ri .o hur IU'lS, p cssoa ilustre frequentemente

110 PERRAT, C., «Barth lcmy Buycr et les li buts de l'illlpJiIlll'Ji(' a lyon-, til
Ulllsllltada ipul, (il ((IIl, nliiis, f('/, parte. I arcc , t r se
l!lla 1,1I11:lIiI 111111111
ltumanisnu: t" Rrnnissnnr», I 11,11)\ pp. I()~ 1 1 (' .\.11)\X7 "(l,1I 011,1110(lllo I IlIdu lil dillltu I uulnnto, '111 I 1'11. IIn'lIl'1ado 1111
'
166 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSA MERCADORIA 167

leis, antes de 1437, faz o seu doutorado em 1458 - alguns meses antes da que garantia a Buyer numerosos mercados. Não contente com isso,
sua morte; era este o processo para passar de mestre Pedro a «Monsenhor» esforça-se por criar sucursais nas cidades francesas onde se fazia sentir
Pedro: um elo no caminho das honrarias. Pelo lado da mãe, Maria mais a necessidade de leitura: os grandes centros universitários de Paris,
Buartier, Bartolomeu Buyer pertencia a uma família de ricos capelistas, Toulouse e Avinhão.
cujos membros exerceram com frequência funções consulares. Todos Um exemplo: em 1481, Bartolomeu dirige-se a Avinhão e confia a
estes factos merecem ser assinalados, pois Bartolomeu Buyer parece ter-se dois dos negociantes mais bem abastecidos da cidade, Alão e Joaquim de
lançado como editor por amor às letras (herança do pai?) e ter perseverado Rome, o encargo da venda de um lote de 78 volumes, proveniente, por um
pelo amor ao dinheiro (herança de capelista?). De facto, usando de lado, da sua própria oficina - principalmente obras religiosas, em francês -,
conjunturas favoráveis, soube dar grande expansão aos seus negócios. e, por outro, de diversas oficinas lionesas (sobretudo livros de direito, em
Ora, em 1460, na altura da morte de seu pai, encontrava-se ele em Paris, latim, cuja necessidade se devia fazer sentir particularmente na cidade).
onde estudava na Faculdade de Artes; provavelmente, aí, encontrou dois Se, aí, parece debater-se com uma concorrência encarniçada por parte de
homens cujos nomes estão ligados à primeira oficina da Sorbonne: livreiros alemães e também lioneses, é mais feliz em Toulouse, esse
Guilherme Fichet e João Heynlin. Era também a época em que, depois da grande posto de passagem para a Espanha. Confere credenciais a João
passagem de Schoeffer pela capital francesa, se iniciava o interesse pela Claret, em 1482, como seu «auxiliar e servidor», antes de se dirigir a um
imprensa. Teria Buyer travado relações com Nicolau Jenson, impressor saboiano, Jorge de Bogne, livreiro e encademador, a quem Tiago Buyer,
francês de Veneza, a quem parece ter estado ligado em seguida - e cujo irmão de Bartolomeu, enviou pouco depois um lote de livros. No início do
filho estava em Lyon, em 1480? Em todo o caso, compreendeu muito bem século XVI, a família Buyer terá interesses consideráveis em Toulouse.
o interesse que poderia representar a nova arte, ao mesmo tempo como Também em Paris possui Bartolomeu Buyer um depósito importante,
confiado, à sua morte, a Nicolau Guillebaud; tão florescentes foram os
instrumento de cultura e como meio de fazer frutificar os seus capitais.
seus negócios na capital que pôde adiantar quantias bastante elevadas, de
Tanto assim que o vemos instalar na sua própria residência um tipógrafo
que a cidade de Lyon necessitava para a defesa dos seus direitos, em Paris.
ambulante, proveniente de Liêge, via Basileia e a Suíça, É Guilherme Le
Em 1481, aliás, Bartolomeu Buyer é uma figura bastante considerada na
Roy, encarregado de dirigir uma oficina que iria mostrar-se muito activa.
sua cidade, a ponto de ter o nome inscrito entre os homens ilustres encar-
Em 17 de Setembro de 1473, aparecia o primeiro fruto dessa associação,
regados de gerir o Consulado durante os dois anos seguintes. À sua morte,
o Compendium breve, do Cardeal Lotário, primeira produção conhecida
em 1483, é suficientemente rico para legar 2000 libras aos cónegos da
dos prelos de Lyon.
Colegiada, e deixar aos seus herdeiros uma fortuna considerável.
Qual foi a quota-parte de cada um nesta associação? Buyer desem-
Assim nos aparece um dos primeiros grandes capitalistas que se inte-
penhou o papel de um simples capitalista, ou, pelo contrário, teve a direc-
ressaram pela imprensa. Figura tanto mais fascinante quanto permite
ção efectiva do empreendimento? Assunto de numerosas controvérsias,
discernir como, nesse início da arte tipográfica, poderia um homem,
que será inútil expor aqui. Uma coisa é mais ou menos certa: deve ter sido dispondo de grande fortuna, ser levado a interessar-se pelo comércio do
o próprio Buyer a escolher os textos a serem impressos e a dar às primei- livro e a favorecer o desenvolvimento da imprensa. Através de documen-
ras oficinas lionesas a orientação que deviam ter, publicando textos em tos infelizmente raros demais, podemos imaginar a extensão das relações
língua vulgar destinados aos burgueses e aos negociantes, assim como de negócios, que se estendiam de Lyon a Avinhão, Toulouse e Paris,
colectâneas jurídicas. Mas ele desempenha, sobretudo, o papel de capita- provavelmente até Espanha - através de Toulouse -, à Alemanha e, ainda
lista. Não se contenta em vender ali mesmo os produtos da sua oficina; os mais provavelmente. até à Itália. Tudo indica que Bartolomeu terá traba-
outros tipógrafos lioneses tiveram de confiar-lhe a venda de alguns dos lhado em li lação com livreiros venezianos.
seus livros, e livreiros franceses e de outros países solicitaram-lhe
igualmente que escoasse parte da sua produção; entretanto, os livreiros
com ','aram a anuir é s feiras d ' I,YOIl 'a l stalwl -ccr conl'spOlldl'lIl'IaS, o
168 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSA MERCADORIA 169

Vimos que, no início, Bartolomeu Buyer deu hospedagem a um Petit-Pont, e depois na rua Neuve-Notre-Dame, perto do Hôtel-Dieu. Mas
impressor, Le Roy, certamente provendo também ao sustento deste, para também possui um depósito em Tours, onde controla o comércio do livro
poder dispor à vontade do seu prelo e do seu trabalho. Era, aliás, o e nego ceia com a Inglaterra, fundando talvez uma sucursal em Londres
costume do tempo. Dentro em pouco, quando a arte tipográfica estiver (edita mesmo livros em inglês).
difundida, os livreiros-editores não verão necessidade em continuar a A exemplo de Vérard, vários grandes livreiros-editores, em Paris,
recorrer a tal procedimento; preferirão dirigir-se a impressores já instala- têm o monopólio de diversas impressões, fornecem material ao tipógrafo,
dos, adiantar-lhes capitais, ou ajudar tipógrafos de reconhecida capaci- alugam-lhe prelos quando necessário, e adiantam capitais. Assim, Miguel
dade a abrirem uma oficina. Fazem-lhes encomendas, na maior parte das Le Noir - grande editor de romances de cavalaria - dá trabalho a Pedro
vezes sem exigir a exclusividade. Mas, facto particularmente importante, Levet; por seu turno, Durand Gerlier dirige-se a Hopyl e a Le Gier; e
conservam em seu poder algum material tipográfico - sobretudo fundi- Simão Vostre, grande especialista de livros de horas, mobiliza quase
ções, letras iluminadas e blocos gravados -, que apenas deixam utilizar exclusivamente os prelos de Pigouchet. Mas nenhum livreiro-editor pari-
nas impressões por eles financiadas. siense usou este método em tão vasta escala quanto João Petit'" - verda-
É o caso do famoso António Vérard'". Enquanto a imprensa se deiro capitalista que se tornou incontestavelmente o grande mestre do
desenvolvia em Paris, parece ter dirigido uma oficina onde se caligrafa- mercado do livro parisiense, no final do século xv e nos primeiros anos
vam e iluminavam manuscritos de luxo, destinados ao rei e a grandes do século XVI. De 1493 a 1530, edita mais de 1000 volumes - na sua
senhores. Bem depressa Vérard compreendeu o interesse da nova arte. maioria muito importantes -, ou seja, a décima parte da produção total das
Quando João Du Pré e Pasquier Bonhomme publicaram os primeiros impressoras parisienses. Mais ainda que Buyer, ele aparece como o
livros parisienses ilustrados, decidiu começar a trabalhar com os prelos. modelo do grande livreiro capitalista. Facto simbólico, talvez, Petit
Inicialmente, em 1485, confiou a Du Pré a execução de Decameron, de descende de uma família de ricos açougueiros, o que o não impede de ser
Boccaccio. Em seguida, tornou-se no grande especialista das edições ilus- culto e de manter as melhores relações com os sábios do seu tempo. A sua
tradas em língua francesa. Estas visavam uma clientela mais extensa do fortuna e a do seu filho, que lhe sucedeu à testa das suas empresas, é
que aquela que, outrora, lhe comprava os manuscritos iluminados. Mas, imensa. Os dois possuem inúmeros imóveis em Paris, e terras em Clamart,
para os seus antigos clientes, mandava tirar em velino exemplares de luxo, Issy, Meudon, Biêvres ou Poissy.
cujas xilogravuras estavam recobertas de miniaturas pintadas. Para asse- É este filho de açougueiro, que se tornou um dos quatro grandes
gurar a qualidade das publicações de luxo impressas, nas quais era perito, livreiros juramentados da Universidade de Paris, o principal editor dos
executava ele próprio as xilogravuras e encomendava as fundições de que estudantes e um dos melhores agentes de difusão do humanismo na capi-
permanecia proprietário - mas não imprimia, confiando esse trabalho a tal francesa. Talvez ninguém tenha publicado tantas edições originais
artífices escolhidos entre os melhores da capital: João Du Pré, Pedro Le quanto ele. Frequentemente, divide com outros livreiros ou com os
Rouge, Pedro Levet, João Maubanel, Gillet Coustiau, Pedro Le Caron, próprios impressores as despesas das edições; chega a encontrar-se à
João Ménard, Trepperel. frente de um grupo que compreende praticamente todos os melhores
Como Buyer, Vérard não se limita a vender no local as obras que edita. livreiros e os mais hábeis tipógrafos parisienses do seu tempo. Tem
Começa com duas lojas em Paris, uma no Palais, outra na Ponte Notre-Dame projectos em comum com Kerver, Marnef, Berthold Rembolt, Bocard,
(1485-1489), estabelecendo-se em seguida na rua Saint-Jacques, perto da João de Coblença, e, às vezes, Henrique Estienne. Faz trabalhar várias
dezenas de impressores, e não dos menores: inicialmente, Guy Marchant,

180 MACFARLANE, I., Antoine Vérard, libraire parisien, Londres, 1899, in 4.°;
CLAUDIN, A., Histoire de l'irnprimerie en France, Paris, 1900 1905,4 vols., in lulio, t. lI, '" HI'NC li IARI), 1', "C)lIl'1qlil S dOlllllll'llls Slll Il'S Pl'lil, libruin-s PUriSil'llS, ct leur
pp. :\85 -406; (fUIGNARI ,.I., "R ich .rches pour servir ~ I'hisloir' rlu livre ! 'nUIIS, .", in 1111111111 ( V' 1'1 VI' 11111 )", 11I//1111,'/il/ tlr lu S,,,.I,'/" dcl'ltisíol n: tlrPnris ,'1 tI"/'II,' d,'
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170 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSA MERCADORIA 171

de quem é mais ou menos sócio, depois Gaspar Phi1ippe, Ulrich Gering, Silvano Otmar (em Augsburgo), Jorge Stuchs e Jerónimo Holtzel (em
Pedro Le Dru, Félix Baligault e Nicolau des Prezo Além disso, é protector Nuremberga), Pedro Liechtenstein (em Veneza), João de Pforzheim e Adão
de Geoffroy Tory e de Josse Bade. Petri (em Basileia), Knobloch (em Estrasburgo).
A história das suas relações com Josse Bade, por outro lado, merece Às vezes, também, os membros de grandes famílias de livreiros
ser relatada, pois mostra como um grande livreiro capitalista podia enco- fundam estabelecimentos em cidades diferentes - o que facilita o escoa-
rajar certas tendências intelectuais. mento da produção de cada um deles. Assim se cria - acima das frontei-
Em 1499, um jovem tipógrafo já conhecido entre os humanistas da ras - uma verdadeira «internacional» dos grandes livreiros.
capital, Josse Bade, chega a Lyon, onde tinha trabalhado com Trechsel. E eis os Giunta'", Filipe, filho de um rico comerciante florentino de
João Petit, que tinha queda para descobrir talentos, esforça-se por lã, é, no início do século XVI, o mais poderoso livreiro e o maior impres-
contratá-lo. Começa por confiar-lhe tarefas de correcção de textos. Mas sor de Florença. Ajudado e aconselhado por uma plêiade de letrados e
Josse Bade queixa-se de perder o seu tempo nas idas e vindas entre os humanistas, manda imprimir nos seus prelos e nos de outros impressores,
diversos impressores. Petit lembra-se, então, de lhe confiar uma tipogra- um número muito vasto de obras. Quando morre, o filho Bernardo assume
fia. Assim nasceu a famosa oficina de Josse Bade'". a direcção da empresa e toma-se conde palatino no fim da vida. No
A partir daí, Petit dirigir-se-á com frequência a Josse Bade - sobre- entanto, um irmão de Filipe, Lucas António, após ter exercido a profissão
tudo, ao que parece, quando se trate de realizar edições de particular em Florença, vai estabelecer-se em Veneza (1489). Trabalhando junta-
correcção. Mas esta colaboração nada tem de exclusiva. Josse trabalha mente com os maiores livreiros da cidade, recorre a diversos impressores,
amiúde por conta própria, especialmente no caso de edições que possam e depois cria ele próprio um oficina tipográfica, rival da de Torresani e de
ser executadas com poucos gastos; às vezes também trabalha para livrei- Aldo, o Velho. O seu filho, Tomás, prossegue os negócios depois da morte
ros colegas seus. Por outro lado, Petit continua a dirigir-se a muitos dos do pai. As oficinas de Veneza e de Florença permanecem em estreito
impressores acima enumerados; podemos acrescentar-lhes Barbier, contacto; sendo os Giunta republicanos, o estabelecimento de Lucas
Bonnemêre, Gromors, Vidovaeus, Coustiau, e outros mais. Mantendo António serve de quartel-general dos exilados florentinos em Veneza, e
relações constantes com a Normandia, manda imprimir, em Ruão, e em Cosme de Médicis esforça-se por entravar os negócios de Filipe, encora-
seu nome, vários volumes; uma sentença do tribunal de Ruão assinala que jando António Francesco Doni a fundar uma grande oficina tipográfica em
ele «manda imprimir mais livros do que 1000 livreiros juntos». Mantém Veneza.
igualmente relações com Clermont, onde possui oficina, e com Limoges, No entanto, um outro membro da família, Tiago Giunta, filho de
onde manda imprimir e onde parece ter uma sucursal. Mesmo em Lyon, Francisco, nascido em Florença, em 1486, após ter aprendido a profissão,
tem prelos a laborar e detém uma oficina na cidade. Pelos documentos, em Veneza, com o tio Lucas António, vai estabelecer-se em Lyon. Aí,
vemo-lo a passar procurações para recuperar créditos em Troyes, Orleães, funda uma editora, graças a capitais pessoais, e provavelmente também
Blois, Tours, L'Ile-Bouchard, e noutros lugares. com a ajuda de Lucas António. Durante vinte e sete anos (de 1520 até ao
Ora, um tal poderio não é de forma alguma excepcional. Por toda a ano da sua morte, ocorrida em 1547), publica um grande número de
Europa, a edição está nas mãos de capitalistas do mesmo género. Na obras de teologia, de jurisprudência e de medicina. Dá trabalho a mais
Alemanha, certos livreiros fazem os impressores trabalhar em grande de vinte tipógrafos diferentes, fica à frente da Grande Companhia dos
número de cidades diferentes. Rynman financia edições, executadas não Livreiros Lioneses, associa-se algumas vezes a Lucas António Giunta
somente por Gran (em Haguenau) mas também por João Otmar, Oeglin e ou ti livreiros toscanos, É suficientemente rico para, em 1537, poder

'" RENOUARD, r..Bibllograpltie dcs ;1II/I/,e.l·s;OIl.I· et drs (I{'III'n'.\' di' .I0,1',I'{' lIade ,•• IHINOIJAHI), A A. I/II/a/I',I d,'/'III//I/ill/I'/h' drs !IId,·". PIIII,~. IX \,1. \ vols .•
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o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSA MERCADORIA 173
172

emprestar 50 000 libras torneses ao Cardeal de Tournon p~ra ac~~ir ao filosofia escolástica; edita, assim, as obras de Vicente de Beauvais, de
rei. Os seus negócios estendem-se por toda a Europa: pOSSUldepósitos e Guilherme Durand, de Duns Escoto, de São Tomás, São Jerónimo, Santo
sucursais em Francfort, Antuérpia, Medina dei Campo, Salamanca, Ambrósio e Santo Agostinho; além disso, numerosíssimas Bíblias, entre
Saragoça e Paris, onde o sobrinho, Francisco Barthélemy, se oc~pa ?os as quais a primeira Bíblia em alemão; as Decretais; numerosos tratados de
seus negócios. Imitam-no outros Giunta, e assim encontramos livreiros direito canónico: numa palavra, todo o material necessário aos estudantes
com esse nome - todos parentes, todos trabalhando conjuntamente - não das faculdades de teologia e de cânones.
apenas em Florença, Veneza e Lyon, mas ainda em Génova, Burgos, Abastecedor sobretudo das universidades, Koberger publica muito
poucos clássicos latinos. Mas fiscaliza a correcção dos textos que edita,
Salamanca e Madrid.
Ter-se-á reparado que certos membros da família recorriam a tem relações com homens convertidos ao humanismo, como Conrado
impressores contratados. Outros, pelo contrário, sem evi.tar ~ssa prática, Celtes e Pirckheimer; entre os seus correctores, figuram homens como
possuíam oficina particular. Frequentemente, os grande~ hvreIro~ e.s~orça- Amerbach, Frissner, Pirckheimer, Von Wyle, Wimpfeling, Berckhaut
vam-se por constituir grandes tipografias onde se praticava a dlVIS~~do ou Busch. E quando começa a editar a Bíblia de Hugo de Saint-Cher,
trabalho e onde cada operário tinha uma especialidade bem definida. em oito volumes, Busch encarrega-se de procurar os melhores manus-
Dois motivos os norteavam: o desejo de produzir a melhor preço, critos durante as suas estadias em Itália. Mas não nos enganemos:
graças a uma organização racional, e o de realizar impre!sões. de Koberger é, antes de tudo, um industrial - e, sobretudo, um comer-
melhor qualidade. As mais célebres edições do século XVI nao tenam ciante, preocupado em fazer frutificar os seus capitais. Em 1509, a sua
podido executar-se sem recorrer a este método. Foi assim que André tipografia tem nada menos que 24 prelos, à volta dos quais se agita uma
Torresano, rico cidadão de Asola, livreiro estabelecido em Veneza, onde centena de compositores, tiradores,correctores, gravadores e encader-
tinha começado a adjudicar trabalhos a um certo número de imp.ressor~s, nadores. A sua oficina de encadernação - onde todos executam sólidas
formou uma oficina cuja direcção não tardou a confiar a um erudito muito encadernações em série - é muito importante. E Dürer, amigo e compa-
pobre, Aldo, o Velho, que, aos cinquenta anos, se c~sou com ~~~, filha triota de Koberger, dá-lhe conselhos sobre a apresentação e ilustração
do seu patrão, a qual tinha vinte. Beneficiando, assl~, de ca!Jltms l~por- de certas obras.
tantes, auxiliado por abastados protectores, Aldo pode, entao, realizar a No entanto, a oficina não é suficiente: com frequência, Anthoni
obra que se conhece e publicar tantos textos antigos - sobretudo gregos -, Koberger, e depois dele os seus sucessores, recorrem a outros impres-
com a ajuda de um grupo de eruditos que trabalhavam na casa de sores: a João Grüninger, de Estrasburgo, por exemplo, e também a
Torresano, em Veneza, e a quem este se encarregava de retribuir. Amerbach, que trabalhara com Koberger antes de se estabelecer em
Praticava o mesmo método Anthoni Koberger, de Nuremberga'", Basileia, e que conservou estreitas relações com o antigo patrão.
talvez o mais poderoso editor do seu tempo, e que publicou, de 14~3 a Naturalmente, para escoar toda esta produção, é preciso montar uma
1513, pelo menos 236 obras, geralmente muito importantes e de uma tipo- verdadeira rede comercial. Koberger tem agentes e representantes não
grafia impecável. Nascido em 1440, de uma farm1ia que contara com u~ só em todas as grandes cidades da Alemanha - Francfort, Leipzig,
burgomestre entre os seus membros, talvez tenha começado por se de~l- Viena, Colónia, Basileia e Estrasburgo - mas também em todas as
car à ourivesaria; entre 1470 e 1472, toma-se impressor. Em 1473, publica cidades importantes da Europa: Budapeste, Varsóvia, Veneza, Florença,
o primeiro livro, um Boécio (De consolatione philoso~h~ae) com os Antu rpia, Bruges, Leida, e, naturalmente, Paris. Assim, toma-se o
comentários de São Tomás de Aquino. Escolha caractenstlca: desde o
int .rmcdiãrio obrigatório entre os livreiros com relações comerciais
começo, Koberger especializa-se na publicação de obras de teologia e de
11\ 'nos extensas.

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o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSA MERCADORIA 175
174

No entanto, o exemplo mais célebre de constituição de uma grande Comeille e Carlos Van Bomberghe; Tiago Scotti, banqueiro; Goropius
oficina tipográfica, graças a capitais importantes, é, sem qualquer dúvida, Buanno, médico. Durante os cinco anos que durou essa sociedade, saíram
dos prelos plantinianos 260 obras - edições de autores clássicos, Bíblias
o da oficina plantiniana, em Antuérpia'".
Embora bastante particular, o caso de Plantin mostra como a em hebraico, obras litúrgicas. Assim lançado, Plantin soube granjear
presença de capitais importantes num grande centro.comerc~al, Antuérpia, poderosos protectores, como o Cardeal Granvelle e Gabriel de Cayas,
em relação constante com grandes cidades européias, podia favorecer o secretário de Filipe 11. Desse modo, obteve o apoio financeiro e jurídico
do rei de Espanha, que financiou a edição da Bíblia poliglota - o trabalho
desenvolvimento da indústria tipográfica.
Nascido na Touraine, talvez em 1514, Plantin não tinha qualquer que deveria celebrizar Plantin - e lhe concedeu o monopólio para a
fortuna pessoal. Começou a trabalhar em diversas tipografias de Ruão e Espanha e suas colónias da edição da maioria dos livros litúrgicos refor-
de Paris; depois, foi-se estabelecer em Antuérpia, em 1549; ele próprio mados pelo Concílio de Trento. A partir de 1572, dezenas de milhares de
daria mais tarde, em carta dirigida ao Papa Gregório XIII, as razões desta breviários, de missais, saltérios, diumais e antifonários são expedidos de
decisão: «Teria podido, se apenas auscultasse os meus interesses pessoais, Antuérpia para Filipe 11 - que encarrega os monges do Escorial de fiscali-
assegurar-me das vantagens que me ofereciam noutros países e noutras zarem a distribuição e venda dessas obras nos seus territórios. Nessa
cidades; preferi estabelecer-me na Bélgica - e, de preferência a qualq~er época, Plantin tem cerca de 24 prelos em actividade, reúne uma colecção
outra cidade, em Antuérpia. O que principalmente ditou esta opção foi o única de punções e de matrizes; mais de cem operários trabalham na sua
facto de, na minha opinião, nenhuma outra cidade do mundo me poder oficina e possui depósitos e correspondentes em todas as cidades da
oferecer maiores facilidades para exercer a actividade que tinha em vista. Europa, de Francfort a Paris, de Dantzig a Bergen, de Lyon a Nuremberga,
O seu acesso é fácil; diversas nações vêm encontrar-se na sua feira; aí se de Veneza a Madrid, de Ruão a Lisboa e a Londres. Assim, a entrada de
encontram também todos os materiais indispensáveis ao exercício da capitais de Antuérpia, e depois o apoio do Estado, permitiram que Plantin
minha arte; aí se encontra, sem dificuldade, e para todas as profissões, criasse provavelmente a mais poderosa «manufactura de livros» que exis-
mão-de-obra que em pouco tempo se prepara ...; finalmente, neste país tiu até ao século XIX.
floresce a Universidade de Lovaina, ilustrada em todas as disciplinas pela
ciência dos seus mestres e da qual contava aproveitar-me, para o bem *
público, das orientações, das críticas e dos trabalhos.» * *
Inicialmente, para viver, Plantin precisou de fazer-se encademador e
trabalhar com o couro, após o que se tomou tipógrafo, muito modesto de Com Plantin, chegamos a um caso extremo: o de uma oficina equi-
início, no entanto. Até 1562, só colaborou numa obra importante, a magní- pada segundo os princípios da grande indústria. De facto, se exceptuarmos
fica e sumptuosa Pompa fúnebre feita nas exéquias de Carlos Quinto, algumas grandes oficinas - como a de Koberger, e, mais tarde, a dos
cujo texto imprimiu por conta do Estado. Em 1562, porém, acusado de ter Hlzevier e a dos Blaeu, na Holanda, assim como algumas impressoras
imprimido livros heréticos, foi obrigado a deixar a cidad~ por algu~s fundadas por soberanos (a Imprensa Real, de Paris, a de Nápoles ou a
meses, e a situação dos seus bens, calculada após a sua partida para efei- Imprensa do Vaticano), que frequentemente executavam, com prejuízo,
tos de penhora, revela que ainda não eram consideráveis. trabalho considerados de utilidade pública -, verificamos que o artesa-
Mas os membros de uma seita, a «Família da Caridade», começaram nato continua a ser a grande regra da tipografia. Em Paris, no século XVII,
a interessar-se por Plantin. No seu regresso a Antuérpia, em 1563, pôde , : o .xc epcionais as ficinas com mais de 4 prelos e de uma dezena de
formar uma sociedade editora com vários burgueses ricos da cidade: lIJ!ll'(!rios, Os grand 'S livr iros, que financiam as edições, preferem este
I~tlllla. que Ihls poupa trabalho' lhes p »rnitc ti rir com mais n xihili
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176 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSA MERCADOR1A
177

de capitais importantes, e, consequentemente, a intervenção de poderosos este meio, o Estado intervém muitas vezes no financiamento das
capitalistas, convém evitar a esquematização dessa organização em dema-
edições; estimula sistematicamente as grandes empresas e esforça-se
sia. Ao redor dos grandes livreiros-editores como os que acabámos de
deste modo, por atrair os impressores e fazer deles seus dóceis agen-
citar, gravita uma quantidade de livreiros mais ou menos ricos, que vivem
t~s - prontos a denunciar a publicação de maus livros. Deste modo
da venda dos livros do mesmo modo que da edição, frequentemente asso-
ainda, encontra-se reforçada no mercado do livro a importância dos
ciados a grandes livreiros em companhias ou sociedades particulares, e grandes livreiros-editores 187.
que dependem mais ou menos das redes comerciais estabelecidas por eles
para o seu abastecimento de livros.
Foi assim que Sebastião Cramoisy - que editou sozinho ou em socie-
dade cerca de um décimo dos livros publicados em Paris, entre 1625 e
1660 - dirigiu duas poderosas companhias que agrupavam quase todos os
livreiros parisienses de certa envergadura, uma especializada na edição
das obras dos Padres da Igreja, outra na edição de obras litúrgicas.
Acresce que Cramoisy era, em Paris, o depositário oficial de numerosos
livreiros da província e do estrangeiro, e a rede comercial que mantinha
cobria toda a Europa'".
Os grandes livreiros são, geralmente, por assim dizer, os banqueiros
dos seus próprios confrades menos afortunados. O processo de pagamento
por promissórias triangulares, de uso geral no comércio do livro, favorece
este estado de coisas e, com bastante fequência, quando .um livreiro neces-
sita de disponibilidades para empreender uma edição, contrai um emprés-
timo na forma de contrato de renda com um colega mais rico. Dinis
Thierry, no século XVII, em Paris, particularmente, tomou-se um especia-
lista neste género de negócios.
Por fim, é conveniente não esquecer, quando se estuda o financia-
mento da edição, o papel importante que os poderes públicos representa-
ram como financiadores. Com frequência, bispos e cabidos financiam a
impressão dos livros litúrgicos. Os Estados e as cidades fazem o mesmo
com certas obras - sobretudo com os documentos administrativos de que
necessitam. Grande número de impressores - particularmente nas cidades
pequenas - vive desses trabalhos. Enfim, o sistema de privilégios e os
monopólios concedidos pelo Estado a diversos livreiros para algumas
edições permitem encorajar grupos e empresas nacionais ou locais; por

1M. MARTTN, 11. J., «Sébasti n rarnoisy 'I le irand cornm .rc du livr nu XVIl' '" I I' 1'1 I, I J ,c: (,11/1111 11'/'tHI/'//'/II' li, S 111' pru I 11II~I ,I I ltvn: d'u: tll'.\ 111I/'/ /
SIl( II 'I, 111 (i/lII,,,III'rN '/1111,.111/1'11,I')~7, pp 17') I!lH 11I,'1// I ti" N"" 11 \ I I
Capítulo V

o PEQUENO MUNDO DO LIVRO

Criada a partir do zero, a indústria tipográfica cedo adquiriu um


aspecto relativamente moderno: assim apareceram oficinas que, para usar-
mos uma expressão de Hauser, pareciam mais oficinas modernas do que
salas de lavores da Idade Média!". A partir de 1455, Fust e Schoeffer diri-
gem em Mogúncia uma tipografia organizada para produção em série;
vinte anos mais tarde, grandes impressores funcionam em toda a Europa.
(~patente o esforço para chegar a aperfeiçoamentos técnicos que tomem
mais fácil e mais rápido o trabalho do prelo: em breve, o compositor já
não vai trabalhar sentado, mas de pé, a fim de obter um melhor rendi-
mento. A necessidade de produzir um número de livros cada vez maior e
1\ menor preço incita os impressores a tomar os seus métodos de produção

mais racionais. Extremamente livres, no início, e respeitados pelo seu


saber, os oficiais* tomam-se, então, operários como os outros, obrigados
1\ desempenhar, num tempo limitado e por um certo salário, uma determi-

nada tarefa. E, a partir desse momento, a imprensa cria um novo tipo de


homem: o tipógrafo. Trabalhando com as mãos, como qualquer outro
op 'r rio, os tipógrafos são trabalhadores manuais mas também «intelec-
tuuis», pois sabem ler e conhecem frequentemente um pouco de latim.

'" IIAI1SI\R, l l., (1111'I'/1'1",1'dl/II'III/I,\' tI{/'l'sé, Paris, 1917, p. 231,


f ('/lI/I/J(/gl/lil/,\' 110uri ,illlll f'1'II1Il' N, ('OIH'SPOIHIl' no 'IISll'lhllno ('(lII///II/II'm,l' no
1"111111'11 "/11"'110'\ 011O/i,irl/.I', 11Iqll' I p1l11V11I('(I/II/IIIIIIlI'illl,l' PIII\'('(' 11110
1('1 lido trudi
tu uu upo 'I illlll'011l1 11111 (N N)
180 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 181

Vivendo entre os livros, em contacto com os autores, estando a par, antes os pais, e rubricado pelo aprendiz; o tempo de aprendizagem varia de dois
de qualquer pessoa, das novas ideias, gostam de argumentar e revoltam-se a cinco anos. a mestre deve ensinar o seu ofício ao aprendiz, hospedá-lo,
com frequência contra a sua condição. A partir do século XVI, organizam alimentá-lo, vesti-lo e dar-lhe uma mesada. a aprendiz, por sua vez,
greves de carácter moderno e escrevem, para defender as suas reivindica- promete obediência ao mestre, compromete-se a não abandonar o seu
ções, dissertações que, como observou Henri Hauser, três séculos mais tarde domicílio e a servi-lo fielmente.
alguns sindicalistas não teriam desaprovado. E, no século XIX, encontram-se Durante a aprendizagem, o jovem tipógrafo leva uma vida muito
numerosos tipógrafos entre as fileiras dos primeiros socialistas. dura: alojado num recanto contíguo à oficina, às vezes na própria oficina,
a que nos propomos aqui é estudar as condições de trabalho dos é o criado dos oficiais, pessoas pouco indulgentes. Já de pé antes da sua
oficiais e também dos mestres, examinar de que maneira o exercício de chegada, pois deve preparar a oficina, e, no inverno, acender o fogo,
um ofício manual e, ao mesmo tempo, intelectual, cria uma mentalidade serve-os à mesa, encarrega-se dos serviços mais simples, mas também dos
especial naqueles que a ele se entregam, averiguar quais são as relações mais desagradáveis: é ele, em geral, que prepara a tinta ou que molha as
entre oficiais e mestres, assim como as suas condições de vida, materiais folhas antes da impressão; muitas vezes, está ligado mais particularmente
e morais. ao trabalho do prelo, mais simples mas extenuante, e, se deve tomar-se
compositor, ao final da sua aprendizagem, treina composição ao lado de
um oficial. Na verdade, para um aprendiz, os momentos mais felizes são
I. OS OFICIAIS aqueles em que é enviado para fazer alguma coisa fora, levar, por exem-
plo, um pacote de provas. À noite, enfim, quando os oficiais tiverem ido
Em primeiro lugar, o oficial impressor. embora, deve repor tudo em ordem antes de ir descansar. Acrescentemos
a futuro tipógrafo deve começar por fazer a sua aprendizagem'". a isso que é frequentemente muito mal visto pelos oficiais, pois os
Às vezes, tem apenas 12 anos; outras, mais de 25; a média de idade para mestres, desejosos de encontrar mão-de-obra quase gratuita, tiveram
iniciar a aprendizagem varia, geralmente, de 15 a 21 anos. a aprendiz sempre a tendência para multiplicar o número de aprendizes, a fim de
provém dos mais variados ofícios: em Paris, é, às vezes, filho de burgue- diminuir o dos oficiais.
ses, de boticários, de procuradores de bailiado, de oficiais de justiça do Tendo concluído a aprendizagem, recebe a sua carta de ofício e
Châtelet, de mercadores de vinho, de mestres serralheiros, de sapateiros, torna-se oficial. Ainda jovem, livre enfim, solteiro - era-lhe vedado casar-se
de mercadores de madeira ou de tecelões; frequentemente também, é filho durante a aprendizagem -, parte para um viagem de vários anos. Enquanto
de oficiais impressores; muitas vezes vem da província e mesmo do o flamengos e os alemães percorrem o seu país e não hesitam em partir
campo. Em princípio, deve saber ler e escrever e, geralmente, os regula- para o exterior (para Paris, sobretudo), os franceses dão a volta à França.
mentos prescrevem que saiba latim e, às vezes, que possa ler em grego. Fazem longos périplos, durante os quais vão de cidade em cidade, alugam
Mas tais conhecimentos, necessários a um compositor, não são indispen- os seus serviços aos impressores locais, permanecendo um mês aqui, um
sáveis ao prelista e, com muita frequência, os mestres aceitam aprendizes ou dois anos, além, dependendo da falta ou da existência de trabalho, de
quase iletrados, que se tomarão oficiais menos exigentes. acordo também com as amizades que fizerem. Durante tais viagens, o
oficial aperfeiçoa a sua técnica e aprende os hábitos das diferentes ofici-
As condições de aprendizagem estão geralmente especificadas num
contrato escrito, feito quase sempre, perante o notário, entre os mestres e
nas, faz também relações que lhe serão úteis, se um dia chegar a mestre.
s vezes, casa, de preferência com a filha de um mestre, e fixa-se no
lu lar, ao acaso, quando verifica que se encontram reunidas as condições
para abrir uma oficina'?'.
189 MORIN, L., Les Apprentis-imprimeurs du temps passé, Lyon, 1898. Encontram-
-se pormenores pitorescos sobre a vida dos aprendizes e dos confradcs m DE LA
BRETONNE, Restif, Monsieur Nicolas. Paul IIAUVET prepuru um imptu (UnI -studo
sohn os opnados uupu SSOIl'S fllllln Sl'S <IUIallll o AIIII 'o RI' IJlIll I·'('I P '\0 I'
182 o APARECIMENTO DO LIVRO o PEQUENO MUNDO DO LIVRO
183

Porém, na maior parte das vezes, o oficial, tendo terminado a sua tes somente um prelo. No século XVII, as oficinas com um ou dois prelos
viagem, regressa à cidade natal e aluga-se aos mestres. Ocupa o seu lugar constituem a grande maioria na França, como já indicámos; o mesmo
na hierarquia do ofício. Se for muito capaz, pode esperar tornar-se revisor acontece em Londres'". Os mestres não possuem, então, os meios para
tipográfico e, como tal, desempenhar, diante dos outros operários, o papel manter com regularidade um pessoal numeroso, tanto mais que muitas
do actual contramestre: é o revisor que orienta o trabalho dos composito- vezes não há encomendas; na maior parte delas, um ou dois oficiais traba-
res e prelistas, que vigia estes últimos, é ele igualmente que deve corrigir lham perto do mestre, que, se há um trabalho urgente, é frequentemente
as primeiras provas - deve, portanto, saber ortografia e latim; é ele, enfim, ajudado pela mulher ou pelos filhos. Nestas condições, podemos admitir
que paga aos operários e fiscaliza a limpeza da oficina. que os próprios compositores deviam com muita frequência manejar a
Auxiliando o revisor, há os «oficiais ajuramentados», pagos ao mês, barra do prelo.
que dispõem o material, executam os trabalhos delicados e não aceitam Nas grandes oficinas, os oficiais levam uma vida muito dura. Ajornada
remuneração por empreitada. Em seguida, os «oficiais à tarefa», que se de trabalho é ainda mais longa do que em muitos outros ofícios. Em
dividem em duas categorias: os compositores, que alinham os caracteres, Genebra, no final do século XVI, é fixada em 12 horas: das 5 horas da
fazem a paginação e preparam as formas, e os prelistas, encarregados da manhã às 7 horas da tarde, menos duas horas para almoço'", Em Antuérpia,
impressão propriamente dita. Os compositores devem ter uma certa na oficina de Plantin-Moretus, os oficiais chegam entre as 5 e as 6 horas
instrução; aos prelistas e tiradores, por seu lado, pede-se apenas cuidado, da manhã, podem voltar a casa para almoçar, entre o meio-dia e a uma
gosto e força - pois o manejo da barra do prelo é um trabalho cansativo. hora, e trabalham, geralmente, até às 8 horas da noite'". Em Lyon, os
Geralmente, os operários são divididos em grupos, cada um dos quais faz oficiais trabalham, no século XVI, das 5 horas da manhã às 8 horas da
funcionar um prelo. Do século XVI ao século XVIII, cada prelo comporta noite, e só dispõem de uma hora para almoçar; muito frequentemente,
um grupo de quatro ou cinco operários: quase sempre um ou dois compo- para executar o trabalho encomendado, devem chegar às duas e meia da
sitores, dois prelistas e um aprendiz que faz as compras e executa os manhã e partir à noite, por volta das 9 horas'"; em Paris, em 1650, a
pequenos trabalhos. Para completar esta descrição do pessoal, mencione- jornada de trabalho deve começar às 5 horas da manhã e acabar às 8 da
mos, enfim, o corrector que, muitas vezes, não é oficial, mas um estu- noite'": longa jornada de trabalho à luz das velas, em oficinas instaladas
dante, um homem instruído, ou mesmo um escritor: casos de Beatus
geralmente no andar térreo, ao longo de ruelas estreitas onde o sol mal
Rhenanus ou Melanchton, no século XVI, e Trichet du Fresne, no século XVII. penetra, mesmo em pleno dia.
Geralmente, porém, a correcção das provas era feita, salvo nas oficinas de
Durante todo esse tempo, exige-se dos oficiais um rendimento consi-
extrema importância, pelos próprios mestres ou por um membro da sua
derável. Se quase não dispomos de indicações válidas sobre o trabalho
família; era uma das tarefas principais de um Aldo, de um Josse Bade, de
encomendado aos compositores, que devia variar, aliás, consoante as difi-
um Simão de Colines, de um Roberto Estienne ou de um Vitré.
culdades da obra (os mestres impressores de Francfort propõem, por
Que esta descrição teórica da actividade de cada um na oficina não
exemplo, em 1563, que os compositores executem todos os dias de uma a
nos engane: podemos perguntar se a divisão do trabalho era, de facto,
três formas, segundo os caracteres usados e a natureza do trabalho), em
observada na maioria das tipografias. Nas oficinas dos grandes impresso-
res-editores, os Koberger, os Froben, os Plantin ou os Blaeu, ou ainda na
Imprensa Real de Paris, onde, às vezes, trabalhavam mais de cinquenta
operários numa dezena de prelos, cada um devia ter, é claro, .a sua tarefa 10' f. p. 255 e segs.
bem definida. O mesmo acontecia com os impressores particularmente ,., CIIAIX. P.• Recherches sur /'imprimerie à Genêve de 1550 à 1564, Genebra,
I ()~4. p. '1 • s '~s.
activos e cuidadosos, como os Estienne, que possuíam quatro prelos, ou
tv SABIIE. M . L'oruvn: d/' Christoph« Plantin 1'1 de ses successeurs, Bruxelas.
como Vitré. Mas não deve esquecer-se que a imprensa permaneceu quase I 'Il? Jl I KK ( '('~"
sempre uma indústria artesanal; em Genebra, em 1570, de vinte oficinas, "I'
,•• 1I 11'11'1(, 11 •• 1II

três possu .m quatro prelos, cinco POSSlIt:ll) dois prelo», l' as dOll r stun " 11 11111111 I >I N 11 IIIIIIIi d, '" 111 1 111 " I l()h I 1"1,1 11" I I)
184 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 185

compensação estamos bastante bem informados no que diz respeito aos suplementos: os oficiais aproveitam todas as ocasiões para pedir aos
prelistas: estes deviam tirar por dia, no final do século XVI, 3350 folhas, em mestres uma gratificação, partilham das gorgetas que recebem dos autores
Lyon, e 2650, em Paris; na mesma época, os mestres impressores de e os mestres devem frequentemente fornecer-Ihes bebida e alimento. Não
Francfort pedem que os prelistas tirem de 3050 a 3375 folhas, conforme a é menos verdade que o salário desses tipógrafos não parece muito mais
dificuldade do trabalho. No início do século XVII, segundo Montchrestien, os elevado do que o de muitos outros operários menos especializados e
holandeses conseguem tirar 4000 folhas, enquanto se tiram, em Paris, menos instruídos.
2500 folhas; em meados do século XVII, as cifras são fixadas, nessa cidade, Como todos os operários daquele tempo, os tipógrafos nunca se
em 2500 e, depois, em 2700 folhas para a impressão a preto e a vermelho. sentem seguros do dia de amanhã. É claro que um bom compositor tem
Cifras enormes: se tomarmos a de 2500, e se considerarmos que a jornada de possibilidade de encontrar um emprego estável numa grande oficina. Mas,
trabalho contava 14 horas, vemos que era preciso imprimir 178 folhas por nos períodos de crise, ou quando simplesmente há menos trabalho, os
hora, ou seja, mais ou menos uma folha a cada vinte segundosl!", oficiais podem ser despedidos quase sem aviso prévio, e são, então, redu-
Obrigados a realizar um trabalho opressivo, os oficiais impressores zidos ao desemprego e, em breve, à indigência. Nas oficinas que se dedi-
não seriam muito mais bem pagos do que os outros operários. É claro que, cam à impressão dos memoriais e dos actos judiciários, o encerramento
segundo os termos de uma declaração real de 10 de Setembro de 1572, os das sessões dos tribunais de justiça provoca verdadeiro desemprego saso-
compositores parisienses devem receber 18 libras tornesas por mês, ou naI. Não é, portanto, de admirar que quase sempre os tipógrafos sejam
seja, 12 soldos por dia, enquanto os operários da construção recebiam, em muito pobres: vivem, em geral, com a sua família num único quarto, tendo
1567, 10 libras tornes as por mês; porém, em 1539, os mestres de Lyon por fortuna apenas roupas velhas e alguns móveis indispensáveis. Nem é
oferecem aos seus compositores 6 soldos e 6 dinheiros por dia, salário de admirar que, para aumentar os seus salários ou para subsistir no desem-
ligeiramente mais elevado do que o de muitos outros operários - e os prego, recorram a expedientes: uns levam às escondidas exemplares de
impressores franceses serão sempre os mais bem pagos da Europa. Em cada folha que imprimem, para compor volumes que vão vender em
Antuérpia, os compositores de Plantin recebem um salário inferior ao que seguida; outros dedicam-se, por intermédio da mulher, ao tráfico de livros
percebe o operário encarregado de consertar um telhado; em Genebra, proibidos e de obras em segunda mão.
Pedro Bozon, o fundidor de caracteres, recebe de 8 a 10 soldos por dia,
enquanto, em 1570, um simples pedreiro recebe 6 soldos'". Facto curioso, *
enfim, os compositores parecem às vezes menos bem pagos do que os * *
prelistas: em 1654, em Paris, oferecem-se aos compositores comuns de 24
a 27 libras por mês, e 33 libras aos prelistas - tanto quanto aos composi- Contudo, os oficiais impressores têm orgulho do seu ofício e do seu
tores em grego'", A estes salários, é claro, acrescentam-se numerosos aber; formam uma verdadeira casta. Para lembrar que não exercem uma
profissão «mecânica», usam espada. Brigões e falando com arrogância,
insultam-se continuamente e, por vezes, batem-se. Na oficina, as multas
vêm punir o insulto dirigido a um colega; na de Plantin-Moretus, incluiu-se
196 HAUSER, H., op. cit., p. 218 e segs; MICHON, L.M., «À propos des grêves mesmo no regulamento' da oficina uma tarifa discriminada para cada
d'imprimeurs à Paris et à Lyon au XVle siêcle», in Fédération des sociétés historiques et insulto!", Nas escrituras públicas feitas em Paris, encontram-se com
archéologiques de Paris et de l'fle-de-France. Mémoires, 1953, pp. 103-115; PALL-
írcquôncia contratos em que o insultado renuncia à queixa a troco de uma
MANN, K., «FrankfurtsBuchdruckerordnungen», in Archiv fiir Geschichte des deuts-
chen Buchhandels, 1881, pp. 261-273; Biblioteca Nacional de França, ms. fr. 22064, soma fixada ti comum acordo.
peças n.OS 45 a 47.
197 HAUSER, H., op. cit., pp. 34, 99 e 104; ROOSES, M., OfJ. cit., p, 240, N." I;
CIIAIX, r..op. cit .. p. 39 c scgs.
I" BlhliOl('l'iI NóI('J(lllóll (Il' Frólll','óI. 1l1~. Ir 11()(>.I, ]I(~'a~ 11" 1 .J 17. , 11111, 1\1 I "1' ''',]I 1 'I I I'
186 o APARECIMENTO DO LIVRO
O PEQUENO MUNDO DO LIVRO
187

Pessoas difíceis, amantes da liberdade, os oficiais dificilmente Graças aos trabalhos de Hauser'?', sabe-se como os operários impres-
conseguem suportar a disciplina da oficina, excessivamente severa por sores de Lyon, e depois os de Paris, se sublevaram entre 1539 e 1542,
ser a imprensa um trabalho de grupo e porque a ausência de um único provocando uma paralisação quase total dos prelos. Descontentes por ver
elemento pode paralisar o trabalho dos outros; protestam continuamente diminuir o valor real do seu salário em consequência da alta dos preços - ao
contra a proibição de tomar as refeições fora da oficina ou nas horas que passo que os seus mestres, para baixar o preço de custo do livro, exigem
lhes convêm. Como comem bastante e sobretudo bebem muito, mandam continuamente deles um rendimento superior, economizam na alimenta-
constantemente os aprendizes à procura de alimento e bebida. Nessas ção e multiplicam o número de aprendizes -, organizam greves. A Câmara
condições, é com muita frequência difícil manter a disciplina. E, ainda de Lyon, o Supremo Tribunal de Paris, e, em breve, o Poder Real, têm de
por cima, reclamam o direito de trabalhar quando bem entendem e, se o intervir para restabelecer a ordem. Porém, em 1571-1572, a crise ressurge
desejarem, de faltar a um dia de trabalho. Em vésperas de festas, querem e os mestres são finalmente obrigados a fazer aos oficiais um certo
parar o trabalho mais cedo e voltar no dia seguinte para acabar a obra. número de concessões; doravante, particularmente, não usufruirão do
Caso se ausentem e o mestre lhes pergunte a razão, respondem com direito de ter mais do que dois aprendizes. (Declaração real de 10 de
graçolas. Setembro de 1572, registada em 17 de Abril de 1573.)
As longas horas vividas em conjunto na oficina, o hábito do traba- Revestindo-se de uma extrema amplitude - sem dúvida porque Lyon
lho em grupo, as dificuldades suportadas em comum, as refeições toma- e Paris eram, no século XVI, centros desenvolvidos da edição, onde mais
das junto, impelem os oficiais a unirem-se. Por quase toda a parte de mil operários trabalhavam lado a lado -, os movimentos sociais que
acabámos de descrever não constituem de modo algum casos isolados: um
formam confrarias: confrarias de oficinas nas grandes impressoras como
pouco por toda a Europa, a subida dos preços e a crise económica provo-
a de Plantin, confrarias sobretudo entre confrades de uma mesma cidade.
cam, na segunda metade do século XVI, conflitos entre patrões e operários:
Mais ou menos por toda a parte, elegem uma mesa e têm uma contabili-
de 1569 a 1572, por exemplo, os oficiais empregados por Plantin fazem
dade em comum, fixando as taxas dos aprendizes e dos novos oficiais,
greve por três vezes'"; em 1597, basta que João Lauer, grande impressor
assim como as multas dos insultos ou dos trabalhos mal executados.
de Francfort, obrigue os seus tipógrafos a ir buscar água ao poço para que
Graças aos montantes assim reunidos, mandam celebrar missas, reúnem-
estes decidam fazer greve, dizendo não ser esse o seu ofício. Este caso,
-se em banquetes, ajudam um colega infeliz ou uma viúva caída na misé- benigno na aparência, redunda num processo: o tribunal acaba afinal por
ria. Mas os mestres vêem com desconfiança estas associações, que indeferir as petições de ambas as partes, recusando conceder a Lauer os
permitem aos oficiais unirem-se para reivindicar uma melhoria da sua 80 florins de perdas e danos, que este reclama em consequência da para-
condição e para preparar eventuais greves. Se os Plantin-Moretus acei- lisação do trabalho dos seus operários, mas não autoriza que a estes se
tam a formação de uma confraria nas suas oficinas, se entregam muitas paguem os dias da greve?". Um pouco por toda a parte, nesta época, o
vezes o seu óbolo à caixa dessa confraria e se reconhecem o seu chefe Estado é obrigado a intervir em conflitos desse tipo e levado a regulamen-
como representante dos confrades, a imensa maioria dos mestres luta tar as relações entre patrões e operários. Em Genebra, por exemplo, onde
continuamente contra tais organizações, que agrupam quase sempre os
operários de várias oficinas, e esforçam-se para que o Poder as proíba:
proibições muitas vezes repetidas mas sempre vãs, pois as confrarias
I'" IIAUSER, Il., op. cit., p. 177 e segs. Ver também AUDIN, Marius, «Les greves
dissolvidas oficialmente são logo reconstituídas mais ou menos clandes- dUIls l'Imprimcrià Lyon au XVI" siêcle», in Gutenberg Jahrbuch; 1935, pp. 172-189; e
tinamente para retomarem a luta. MIC'lION, L.M., À propos des lV/)V{'.I' d'imprimeurs à Paris et à Lyon au XVI' siêcle (toe
cit ) ()o 'UIlltIllu inédito que I'OI11pkla os que foram estudados por 1/, Ilauser.
ROOSI\S, M ,/1/1,
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o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 189
188

os mestres, que são muitas vezes franceses refugiados, desejam que o custo de vida, reclamam aumentos de salários; pedem também que seja
perturbações sociais não venham entravar o desenvolvimento de uma reduzida a jornada de trabalho e que as normas de produção sejam dimi-
indústria tipográfica que se aproveita do declínio da edição em Lyon, o nuídas. No século XVII, época em que muitas vezes as tipografias não têm
Conselho local, em 1560, faz publicar regulamentos cujo espírito de equi- trabalho, e mesmo ainda no século XVIII, esforçam-se para que sejam
dade contrasta com o rigor de certas decisões reais tomadas em França na expulsos os oficiais estranhos à cidade, aí chegados ao acaso das viagens,
mesma época. A legislação de Genebra proibe que os mestres tenham e que trabalham por salário menor; os tipógrafos parisienses, em 1702,
mais de um aprendiz em cada prelo; mestres e oficiais não podem sepa- pedem que os seus colegas da Flandres ou da Alemanha só possam ficar
rar-se sem aviso prévio e sem uma razão válida; as responsabilidades de três meses em Paris - tempo considerado como suficiente para visitar a
cada um, em caso de trabalho estragado ou perdido, cuidadosamente espe- cidade. Preocupados em defender o seu trabalho, lutam contra os esforços
cificadas. Texto marcado pela moderação e pela humanidade, garante os dos mestres de algumas das grandes oficinas para multiplicar o número
direitos dos mestres mas protege visivelmente oficiais e aprendizes. dos aprendizes. Pedem que estes saibam latim e leiam grego e que o seu
Contudo, mesmo nesse caso, o Poder não pode impedir totalmente os número seja limitado, como exigem os regulamentos'", Para lutar contra
conflitos. Lá, como em França, os tipógrafos gostam de tirar dias de os oficiais parisienses e reduzir as suas despesas, os mestres adquirem,
descanso, além dos domingos e das festas estabelecidas. Em 1561, surgem contudo, cada vez mais o hábito de mandar executar o trabalho do prelo
divergências, porque, em algumas oficinas, se dá folga aos operários na por simples serventes. Assim aparece, pouco a pouco, apesar das queixas
quarta- feira, enquanto operários das outras oficinas continuam a trabalhar e das reclamações dos oficiais, uma nova categoria de trabalhadores: os
nesse dia. Após várias reuniões de arbitragem, ao longo das quais alguns precários, cuja existência é reconhecida oficialmente pelos regulamentos
oficiais insultam os seus patrões, acorda-se na concessão de um dia de do século XVIII. Contudo, no decurso dessas lutas, os oficiais obtêm algu-
folga por quinzena'?'. Em Francfort, os mestres apresentam, em 22 de mas vantagens: no século XVIII, por exemplo, somente podem ser despe-
Abril de 1563, uma petição para que seja decretado pelo Conselho da didos após um mês de aviso prévio. Todavia, se a sua condição é melhor
cidade um regulamento de oficina, fixando as tarefas quotidianas dos do que a dos operários que trabalham na maior parte dos outros ofícios,
oficiais e a lista dos dias de folga: um dia no Natal, um dia no Ano Novo, aparece sempre como muito dura aos nossos olhos de hoje. E mais dura
um dia na terça-feira de Carnaval, outro na Ascensão e, como em ainda a partir de 1666, data em que Colbert limitou o número de tipogra-
Genebra, um dia de folga a cada duas semanas. Em consequência dessa fias nas diferentes cidades da França, pois se lhes tomou praticamente
petição, surge, em 1573, a primeira regulamentação laboral, que será impossível chegarem a mestres, excepto se viessem a desposar a viúva de
um mestre falecido.
completada e retocada mais tarde.

*
11. OS MESTRES
* *
Porém, tais movimentos não são apenas observados no século XVI; Depois dos oficiais, surgem os mestres, impressores e livreiros cuja
ainda nos séculos XVII e XVIII, a despeito dos regulamentos corporativos actividade e existência estudaremos simultaneamente, pois a imensa
e do apoio concedido abertamente pelo Estado aos mestres, os oficiais maioria deles exerce as duas profissões ao mesmo tempo: é evidente que
franceses mantêm as suas reivindicações e unem-se para tentar fazê-Ias muitos livreiros, os pequenos sobretudo, que vendem os livros e só muito
aprovar. Estas, aliás, são mais ou menos sempre as mesmas: quando obe

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'I" CIIAIX, P.,li/'. cit., p, ~ l' S' 'S,
190 o APARECIMENTO DO LIVRO
O PEQUENO MUNDO DO LIVRO
191

raramente os editam, não possuem tipografia; mas a maior parte dos O chefe de uma tal empresa deve ser activo e conhecer bem o seu
impressores tem uma loja de livros e reinveste os lucros obtidos, em ofício: se o editor estiver descontente com a obra entregue, corre o risco
virtude das encomendas que lhes são feitas, na publicação de livros que de não receber mais encomendas e de não ter trabalho. Pago geralmente à
editam por sua própria conta, ou em sociedade; é o que faz, por exemplo, folha, esf~r~a-se por re~uzir o preço de custo da impressão, exigindo dos
Josse Bade. E se alguns dos grandes editores capitalistas que dominam o seus operanos um rendimento acrescido. Precisa, por isso, de dar o exem-
mercado do livro, como Cramoisy, ou ainda alguns dos Giunta, não plo: levantar-~e c~do, cheg~ à oficina por vezes antes dos oficiais, vigiar
possuem oficina tipográfica, outros, em compensação, como Koberger ou a sua obra, ajuda-Ias e onentá-Ios nos trabalhos difíceis; e, sobretudo,
Plantin, como vimos, possuem uma oficina pessoal, na qual é impressa zelar pela correcção dos textos; geralmente, na verdade é ele o seu
pelo menos uma parte dos livros cuja edição financiam. próprio corrector e limita-se a receber ajuda dos membros da farmlia. Este
mestre deve, pois, ser bom tipógrafo e saber bem latim. Filho de mestre
* na maior parte das vezes, fez estudos até aos 15 ou 16 anos, antes de traba-
* * lhar na oficina do pai ou na de um amigo, de modo a iniciar-se nos diver-
sos trabalhos do prelo e da composição.
Vejamos, em primeiro lugar, a actividade profissional desses Mantendo b~as relações com os seus fornecedores, obrigado a
homens, e, antes de tudo, o mestre impressor na sua oficina. procurar t~ab~lh~ Incessantemente para que os prelos não fiquem inacti-
O caso mais comum é o do pequeno impressor que apenas detém vos, e a distribuir a obra com regularidade, fiscalizando o trabalho dos
um ou dois prelos, como tantos houve por toda a Europa do século xv oficiais, retido sem cessar pela fastidiosa e delicada tarefa da correcção
ao século XVIII; na maior parte das vezes, estes artífices vivem essen- ?as pro~as, que devem s~r entregues no prazo estabelecido para que a
cialmente de trabalhos ligeiros: avisos, cartazes, folhetos de todo o género Impressao possa prosseguir, ao mestre impressor, portanto, não lhe falta
e também a impressão de abecedários ou ainda de cadernos escolares para com que se ocupar. Tanto mais que, em geral, detém uma livraria instalada
o colégio das vizinhanças; algumas vezes, os livreiros fazem-lhes encomen- per~o da sua oficina. Se consegue lucros suficientes, se pode reunir algum
das de pequenos livros, fáceis de imprimir e destinados a uma clientela capital, torna-se ele. próprio editor, às vezes associando-se, para suportar
pouco exigente. as despesas da publicação, a outro livreiro, que com ele partilha os riscos
Os mestres que dirigem as oficinas deste tipo são, muitas vezes, nos e os lucros da empresa, além de se encarregar de escoar uma parte da tira-
séculos XVI e XVII, antigos oficiais que conseguiram instalar-se; traba- gem. Graças a.este sistema, o impressor consegue, algumas vezes, tornar-se
lham ajudados apenas pelo filho, ou mesmo pela mulher ou pela filha. um grande editor,
Quando têm uma encomenda urgente para entregar, apelam a oficiais que
estão de passagem. Às vezes, conservam a seu lado, com função fixa, um
*
operário que figura como homem de confiança e que participa da vida da
* *
farmlia.
Se um desses homens for bastante hábil no seu ofício, se possuir " Tão complexo quanto o de impressor, é o ofício de mercador livreiro.
caracteres em número suficiente, pode fazer-se notar por um editor que h cs~e quase. sempre mais ou menos editor, e faz render os seus capitais
passa a fazer-lhe encomendas regulares. A partir de então, precisa, na sua publicando livros. Escolher os textos a serem editados, estar em contacto
tipografia, de maior número de gente: cinco pessoas, como vimos, são l'on~ os autor s (, e publica novos livros), conseguir o papel necessário
necessárias para fazer funcionar um prelo com rendimento total. O mestre (PIH,S ele, c não O impres. ar que se encarrega disso), escolher um tipó-
impressor figura doravante como chefe de uma empresa de certa impor- 'ralo 'apaz c 'xalllinar os 'u trabalho são os vários aspectos do seu ofício.
tância. A maior parte dos livros publicados nos séculos XVT1 ou XVIII M.as, xohn ludu, t' pre 'iso preparar a v onda das xliçõ 'S que manda irnpri
foram impressos em oficinas deste tipo, que possuem de dois a três pr elos 1111/ l' la!':ll l'011l quI' n xun lojll Il'llha lodas as ohras pnll'ul'lIdas pl'la xun
c onde trahalhn rc rulunncntc lima d zcnn.de oficiais c til npn-ndizcx. IIH'IIIII,I Paiol I . li, l fi 11, I li 11'1llllll.lllo. d. lallll' di flol dI' 1111101
II cll
192 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 193

de correspondentes e manter uma contabilidade complicada, conhecer composto, e o que fizestes com Vasberg e os outros livreiros, tanto da dita Amesterdão
perfeitamente a natureza dos livros que lhe são propostos e que devem ser como de outros lugares por onde passastes depois. Escrevestes-me uma carta de
do gosto dos clientes. Tudo isso o obriga a ser um infatigável epistoló- Antuérpia, a 17 do corrente, muito confusa, e em termos de uma pessoa que mais
grafo. Não há um dia em que não escreva dezenas de cartas. E, para viria da libertinagem que da igreja. Nela, nada há de essencial, a não ser que escre-
veis ao Sr. Kõnig, de Basileia, queixando-vos de ele não ter aceitado a permuta que
cumprir essas múltiplas tarefas, mesmo se for um editor importante, só
fizestes com o seu filho. Era preciso tê-Ia ajustado de ambas as partes de maneira
dispõe da ajuda de um ou dois empregados, cujo trabalho essencial é o de
a ele não poder desdizer-se. Há uma diferença entre processar o Sr. Chinon e
preparar os fardos de livros a serem expedidos e verificar o conteúdo dos procurar extrair dele alguma coisa de forma amigável.
que chegam - trabalho delicado numa época em que os livros são E pelo que respeita ao Sr. Meursius, dizeis que ele não tem mais Comélios e
normalmente expedidos em folhas. que lhos fareis ter, e que não podeis fazer com ele uma troca de Bonacina, a não ser
Muito frequentemente, as cartas podem não bastar para concluir partilhando com ele o privilégio do citado Cornélio que lhe concedereis, termo que
negócios delicados com alguns correspondentes. O mercador livreiro não compreendo. Não vos carregueis da Historia concilii, 4.°, de Palavicini, por
deve, então, meter-se à estrada. Muitas vezes, nas grandes empresas, e não ser conveniente para o meu negócio. Há muito que tomámos cuidado com os
para essa tarefa, os livreiros encarregam um sócio, um parente ou, à falta preços dos flamengos e dos holandeses, porque nos eram desvantajosos, pois eles
seguem os nossos antigos preços e somente aos novos nos podemos ater. Quem vos
deste, um empregado. Nessa época em que as empresas, em geral, têm um
aconselhou a agir, como pretendeis, contra Corneille Hackius, visto que já não
carácter essencialmente familiar, o livreiro, que na sua juventude viajou
estais no local? Era preciso tirar informações e verificar a quem havia ele entregue
muito, confia ao seu eventual sucessor - seu filho, um irmão mais novo
o fardo que diz ter-me enviado, e para quem o enviou em França. O fardo devia
ou um sobrinho - o cuidado de o substituir nos encontros das grandes conter principalmente três Calepinos, ao preço de 22 e 10 cada, e de um Gassend
feiras ou nas visitas aos seus correspondentes. E este percorre incessante- a 50 p. (cobramos agora mais por causa da sua raridade). A menos que façais a
mente as estradas da Europa. troca de um exemplar por algum bom livro, deixai-vos estar quieto. Não havia
Eis, por exemplo, uma carta que, em 1671, Lourenço Anisson, o nenhum Castillo no fardo que enviei ao Hackius.
grande editor de Lyon do século XVII, envia a um dos seus filhos para lhe É pouca coisa o que observais sobre o Sr. Patin, e quanto ao que diz respeito
dar instruções e recordar-lhe os deveres de comerciante, durante uma a Spolmannus, vou informar-me. Podíeis bem dizer ao Sr. Papenburg o que deveis
saber do Calepino, que, se receberam outras quantias muito mais consideráveis,
determinada viagem à Alemanha e à Flandres. Perrnita-se-nos citar este
que as transcrevam para mas enviar. Que julgamento quereis que faça do início, do
documento integralmente'?': meio e do citado final da vossa carta?
Recebi todas as mercadorias que enviastes de Francfort, bem acondiciona-
Lyon, 28 de Novembro de 1670 das, exceptuando um fardo. Faltam muitos livros comuns, que são mesmo
comuns e mais próprios para a nossa empresa. Nele pusestes 50 Antidotum
0
melancolia, tomo 2, in-12. dos quais teria bastado uma dúzia, e 12 Menzius In
,

Meu filho,
psalmos in-a.", em vez de três ou quatro. Finalmente, deveis considerar que as
despesas de uma viagem como a vossa são grandes e que não se deve precipitá-Ia
Se não tivesse recebido uma de vossas cartas escrita em Amsterdão, teria como fazeis, talvez em consideração das companhias que não faltam nos lugares
pensado que de Francfort teríeis ido directamente da citada Francfort para onde estais. Velai, pois, atentamente por vos corrigirdes, e crede-me vosso afei-
Antuérpia. Passastes por Colónia sem ver ninguém, e, contudo, é a cidade mais çoado pai,
abastecida de livros em permuta, e, por outro lado, de toda a vossa viagem, na Anisson.
sobrecitada carta de Amesterdão, dizeis muito levianamente que aí preparastes um
fardo que não devia ser enviado antes de quinze dias, sem me dizerdes de que é
Carta característica, que mostra bem o género de negócios que um
livreiro d 'via tratar no curso das, uas deslocações. Que mostra também
l'OIlIO os livre iros crum levados a p .rcorrcr a Europa para r alizar 'ss 'S
'li' Arqurvr», Pllllllin MOI('IIIS, N" _(I, pll~11II\lIls,oll, 1(171. 1H d(' Nove IIthlO 1Il' 'Ol'lo. 'Iurs vm 'l'I\S crnm coisa corn-nu pa!'a os 'llIllIks ldilllll'S
o APARECIMENTO DO LIVRO o PEQUENO MUNDO DO LIVRO 195
194

o filho de Lourenço Anisson, que ja estivera em Basileia, Colónia, regulamentação universitária, herança da época dos manuscritos e, claro
Francfort e Antuérpia, deslocar-se-ia também a Espanha e a Itália'". está, apenas nas cidades em que existia uma universidade; até meados do
século XVI, enquanto durou a prosperidade geral, subsistiu esse regime de
liberdade, mas, quando a crise económica provocou, entre os tipógrafos,
* greves e movimentos sociais, cuja amplitude já mostrámos, quando os
* * processos entre mestres e oficiais se multiplicaram, provocando a interven-
Naturalmente, livreiros e impressores da mesma localidade mantêm ção do Estado e a elaboração de uma regulamentação frequentemente
entre si estreitos contactos. Reunir-se para falar do seu ofício e trocar complexa, os mestres foram levados a agrupar-se e a encarregar alguns deles
informações, tomar disposições para ajudar os colegas caídos na miséria de representá-los perante a justiça. Em breve, a falta de trabalho incitou-os a
e, sobretudo, comemorar as festas em honra do seu padroeiro, São João: unirem-se para fazer com que se proibisse o acesso de recém-chegados à
outras tantas razões que incitavam os livreiros, os iluminadores e os enca- profissão; e, como essa mesma falta de trabalho provocou um grande
dernadores a formar confrarias, mesmo antes do aparecimento da número de contrafacções, contribuiu para levá-los a reunirem-se regular-
imprensa; mais tarde, impressores livreiros e mercadores de livros impres- mente, de forma a discutirem em comum os problemas referentes à sua
sos viriam a integrar-se nelas com toda a naturalidade. Em Paris, espe- profissão. O Estado, por sua vez, favoreceu esse movimento, que levou ao
cialmente, a Confraria de São João Evangelista, fundada em 1401, aparecimento de corporações, por desejar que se mantivesse a ordem e,
permanece muito activa até ao final do século xvm=. Duas vezes por ano, sobretudo, que se impedisse a publicação dos «maus livros», cada vez
em 6 de Maio, dia de São João à Porta Latina, e em 27 de Dezembro, dia em maior número, facilitando a criação de organismos através dos quais
de São João Evangelista, impressores e livreiros juntam-se para assistir a fiscalizassem mais facilmente a actividade dos livreiros e impressores.
missas e cerimónias solenes, frequentemente seguidas de banquetes, e, Deste modo, em Veneza (1548), Londres (1557), Paris (1570), assim
todos os domingos, a Confraria reúne-se para escutar a missa. Os direitos como noutras grandes cidades da Europa, excepto talvez na Holanda,
de admissão, muitas vezes caros, e as colectas, permitem prover às despe- organizaram-se corporações, encarregadas de fazer observar regulamen-
sas e servem, sobretudo, de caixa de auxílio mútuo'". tos cada vez mais complicados, as quais eram dirigi das por um síndico e
Em princípio, estas confrarias agrupavam todos os homens do ofício: adjuntos eleitos. Encontrando-se regularmente nas reuniões da corpora-
mestres, oficiais e aprendizes; na prática, muitas vezes só reuniam os ção, mestres impressores, mercadores livreiros e, às vezes, encadernado-
mestres, pois os oficiais preferiam criar as suas próprias confrarias, que, res, discutem problemas que é oportuno resolver em comum. Um cape-
como vimos, frequentemente se tornavam centros de resistência contra os lista começa a vender livros? A corporação reage de imediato. Um livro
patrões. Foi em grande parte para lutar contra elas que, na segunda metade proibido é posto à venda? O Estado encarrega imediatamente o síndico de
do século XVI e no século XVII, em quase toda a parte se formaram corpo- investigar e de revelar o nome dos culpados. Um livreiro da cidade vê uma
das suas obras contrafeita por um livreiro de fora? A corporação intervém.
rações de livreiros e de impressores.
Até então, os ofícios ligados ao livro tinham sido ofícios livres. Um privilégio abusivo é concedido a um livreiro? Os que têm razão de
Durante muito tempo, livreiros e impressores só haviam conhecido a queixa vêm expôr o seu agravo à assembleia da corporação. É nela
também que os livreiros de uma mesma cidade se põem de acordo para
não lançar simultaneamente duas edições da mesma obra e combinam a
luta contra os livreiro de uma outra cidade que os tenham prejudicado.
206 BROGLIE, E. de, Mabillon et Ia société de Saint-Germain-des-Prés au xvttr Neste p queno mundo, as rivalidades são numerosas, como é de
siêcle, Paris, 1888,2 vols., t. I, pp. 374 e 422; t. n, p. 363. Ver também VANEL, J.B., Les supor. Muito ír .qucntcmente, nas grandes cidades, formam-se clãs;
Bénédictins de Saint-Germain-des:Prés et les savants Iyonnais, Paris-Lyon, 1894. quando os impressores fa:t. '111parte da mesma corporação que os livreiros,
207 MELLOTÉE, P., Histoire économique de I'imprimerie, p. 142 e segs,
:)1'1 vczcx li 'I 11
pru 11Sl' para luuu l'Ollllll l'Stl'S; outras vezes, p .qucnos livrei
* Em Portugal, livreiros e tipógrafos [untarn-s na Irmandade de . unta Catarina,
IUlldadll 110 século V (N N)
IIlS ( 111I(l1l'IlU .111.1111111111;1os 'Ialldl'" dlloll., <t"1 "I (.,101 .uu
196 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 197

sempre por dominar a corporação; algumas vezes ainda, os livreiros agru- livreiros franceses, após terem feito fortuna, sonham com um cargo que
pam-se, segundo os seus interesses, em partidos opostos, quando se trata, permitirá a seus filhos subir um degrau na hierarquia social. Para estes já
particularmente, de lutar contra um privilégio considerado exorbitante. não há obrigação de continuar a exercer a profissão dos seus pais; fora de
Com frequência, a eleição da mesa causa rivalidades e, pelo menos em França, nem sempre acontece assim: os Moretus, por exemplo, conservam
França, vê-se o Estado intervir para favorecer a eleição de livreiros ricos a sua tipografia quando obtêm títulos de nobreza; às vezes, enfim, tanto na
ou de grandes impressores que, a seus olhos, representam os elementos da Itália como nos Países Baixos, alguns livreiros, enriquecidos no comércio
ordem. É delicado, aliás, o papel dos síndicos e dos adjuntos, árbitros de do livro, tomam-se banqueiros. É o caso dos Huguétan, oriundos de Lyon,
querelas que opõem os membros da corporação, além de intermediários refugiados na Holanda, que, tendo-se tomado condes palatinos, permane-
entre o Poder e os seus colegas, mantendo frequentemente relações ceram banqueiros'". Porém, tais casos são excepcionais. Na maior parte
pessoais com os ministros. Papel importante, sobretudo no que se refere à das vezes, em toda a Europa, livreiros e impressores casam-se entre si e
vigilância do livro. continuam, durante várias gerações, a exercer o seu ofício. Os de Toumes
continuam a ser impressores em Lyon, depois em Genebra e, enfim, nova-
* mente em Lyon, do século XVI ao século xvm=. Os Barbou exercem o
* * ofício de pais para filhos, em Lyon, Limoges e Paris, do século XVI ao
século XIX21O• Da mesma forma, os Desbordes, nos séculos XVII e XVIII,
Assim, a condição dos livreiros e dos impressores mostra-se muito em Saumur, e, depois, na Holanda'". E estas dinastias, que se perpetuam
diferente, segundo os casos. É claro que a natureza da profissão lhes traz, durante séculos, contribuem para fazer dos homens que exercem os
especialmente no século XVI, uma consideração especial. Gabam-se ofícios do livro um pequeno mundo fechado, com uma mentalidade
sempre de exercer ofícios «totalmente distintos das artes mecânicas» *. particular* .
Nas cidades universitárias, a sua qualidade de «partidários» da Universidade
vale-lhes um lugar destacado, depois dos professores e dos estudantes, nas
procissões e nas cerimónias. Mas tais honrarias não impedem, de facto, 111.DO IMPRESSOR HUMANISTA AO LIVREIRO FILÓSOFO
que se confundam entre os burgueses da cidade; os seus filhos e as suas
Vivendo dos livros e entre os livros, em contacto diário com os letra-
filhas casam-se com os filhos dos comerciantes de fortuna equivalente; as
dos, os eruditos, os teólogos - numa palavra, com todos os que escrevem
famílias dos livreiros mais ricos unem-se muitas vezes às dos ourives; as
, também com os que lêem, dos estudantes ao público culto -, impresso-
uniões com capelistas, cerieiros ou mercadores de vinho são frequentes,
r 'S e livreiros, para bem exercerem o seu ofício, devem interessar-se pelas
nos outros casos; em Paris, os livreiros do Palácio de Justiça, editores de
coisas do espírito tanto quanto pelos negócios.
grandes clássicos, unem muitas vezes os seus filhos aos dos lojistas vizi-
nhos - capelistas e vendedores de novidades, na maior parte dos casos.
O montante do dote e o princípio da igualdade de comparticipação das
duas partes é a regra suprema em todos os casos. 20'von BIENA, E., Les Huguétan de Mereur et de Vrijhoeven, Haia, 1918.
Às vezes, grandes livreiros possuem uma fortuna suficiente para "" CARTIER, A.; AUDIN, M. e VIAL, E., Bibliographie des éditions des Tournes,
I' 11 is, 1937.
figurar na primeira linha dos burgueses da cidade; em Paris e em Lyon,
'10 DO OURTTEUX, P., Les Barbou, imprimeurs; Lyon, Limoges, Paris (1524-1820),
muitos deles tomam-se cônsules ou almotacéis. Como é de esperar, os I IIIHlj!, 'S, 1895 1898.
'11 PÁSQUIER, E. c DAUPHIN, v., Imprimeurs etlibraires de l'Anjou; e KLEER-
I ()()PER, M.M - vnn STO 'KUM, wr; De boekliandel te Amsterdam.
10111mn'khl 'S as dinastias d ' impr 'ssor's • livr siros: os Craesb eck,
FII\ POIIII 1111,
* Salvador Mart 'I, impr 'SSIlI portu 'lI~S do S .ulo XVI, reclumnva p:1IiI os ~ u~ p:II,'S " ('o 1.1 ,11 1)1 IlIlIdl \, o, !ll'llI,llId, Il~ RI'yn IId, os BOll'I, 1'11', uunsmitinm tk '1''-11I,':)0
o I plll 111rk ··I"IIII~llm dll ~illwd(llla·· (N U) 111'1111 \0 o olh 1111011\111111, pl1l \111' ,I' 1,11>111"11"1
1111,lIiilll\oI 11111 i (N U)
198 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 199

Não é de admirar que, em todas as épocas, alguns escritores se Depois, juntamente com Erasmo, concentra os seus esforços em São
tenham tomado impressores e livreiros. Imprimir as próprias obras, e nos Jerónimo. Os maiores eruditos da Alemanha aceitam cotejar-lhe os manus-
próprios prelos, fiscalizar a sua correcção e boa apresentação, dirigir critos. Em 1510, Reuchlin instala-se em sua casa para trabalhar com ele.
sobretudo a sua difusão e exercer, assim, uma acção directa sobre o E Beatus Rhenanus, o grande humanista, renuncia à viagem a Itália para
público, era e será sempre a ambição de muitos homens de letras e de ser seu corrector. Se quisermos ter uma ideia do lugar que Amerbach ocupa
eruditos. Isto acontece principalmente nas épocas em que os conflitos de no mundo dos impressores e dos humanistas, basta passar os olhos pelas
ideias e as crises de consciência provocam o aparecimento de uma litera- cartas que recebe de toda a Europa: de Colónia e de Paris, de Dijon e de
tura de combate; mas a acção de tais homens nunca exerceu uma influên- Estrasburgo, de Dôle e de Nuremberga, de Speyer e de Londres, de
cia tão profunda quanto no início do século XVI, no tempo em que uma Francfort, de Friburgo, de Berna, de Sélestat, de Tubinga, de Heidelberga.
das missões essenciais da imprensa era a de tomar conhecidos os textos Cartas de impressores, como é natural, ocasionais ou permanentes: Anthoni
antigos, restituídos à sua pureza primitiva, quando a filologia era rainha. Koberger, Adolfo Rusch (de Estrasburgo), Pedro Metlinger - impressor
Numerosos eruditos e escritores entram ao serviço dos editores como nómada de Besançon, Dôle e Dijon (1488-1492) -, Paulo Hurus, de
correctores; muitos deles são naturalmente levados, por sua vez, a toma- Constança, que se estabeleceu em Barcelona (1475) e em Saragoça (1480);
rem-se impressores e livreiros. Homens de acção ao mesmo tempo que João Heynlin, João Petri, o tio de Adão; ou, ainda, João Schott, de
humanistas, vivendo numa época de excepcional prosperidade econó- Estrasburgo, neto de Mentelin. Cartas de teólogos e de humanistas, conhe-
mica, ajudados por editores e comanditários que sabem reconhecer os cidos ou desconhecidos: ilustres, como Lefêvre d'Étaples, Reuchlin,
seus méritos, alcançam não raro êxito brilhante ao pôr os seus prelos ao Albrecht Dürer; famosos, como Wimpfeling, Sebastião Brant, Ulrich
serviço do humanismo, ajudando, assim, ao triunfo da causa a que se Zasius, o jurista, Tritheim, o geógrafo de Saint-Dié, e muitos outros ainda.
consagraram. João Amerbach, esse rude trabalhador, esse infatigável impressor, é
O humanista impressor, portanto. Eis, por exemplo, um dos mais também um chefe de farrulia em toda a acepção da palavra. Quando
antigos, João Amerbach'". Nascido por volta de 1434, em Reutlingen, na manda os dois filhos, Bruno e Basílio, estudar em Paris, no colégio de
época em que Gutenberg começava as suas pesquisas em Estrasburgo, Lisieux, e conquistar os seus graus universitários, não cessa de lhes escre-
começa por estudar em Paris onde tem como professor um outro alemão, ver, de lhes prodigalizar conselhos. Correspondência que faz revi ver as
João Heynlin, de Stein, que iria fundar pouco depois a oficina da querelas das escolas, e também a actividade do pequeno mundo dos natu-
Sorbonne. Sob a direcção de um tal mestre, segue a via percorrida por rais de Basileia em Paris; o pai não cessa de avisar os filhos dos perigos
«Mestre Jehan da Escócia», Duns Escoto. Depois, encontramo-lo, já que podem espreitá-los. Incita-os a seguir, como ele, as lições de Escoto - e
mestre em Artes, trabalhando como empregado na oficina de Koberger, o não a via de Occam -, pois, fiel aos antigos mestres, está sempre com os
grande editor de Nuremberga. O primeiro contacto com os ofícios do livro Antigos contra os Modernos. Este empresário, filho das suas obras,
revela a este intelectual as possibilidades que a imprensa abre à difusão ocupa-se igualmente de muitas outras questões, mais comezinhas: que
dos textos. Em breve, por volta de 1475, talvez com a ajuda de Koberger, seus filhos fujam das más companhias, que, sobretudo, registem todas as
abre uma oficina em Basileia. Tal iniciativa responde a uma finalidade noites as suas despesas, e que evitem despesas inúteis. «Comedite et bibite
ut vivatis, non vivite ut edetis et bibatis». Mas, no meio de tudo isto, João
precisa: Amerbach assumiu a tarefa de fornecer ao público edições correc-
tas das obras dos Padres da Igreja. Prosseguirá nesta tarefa durante toda a Arncrbach não se esquece nem dos seus prelos nem de São Jerónimo.
Quando Basílio e Bruno regressam, põe-nos a trabalhar na famosa casa
sua vida: em 1492, publica Santo Ambrósio; em 1506, Santo Agostinho.
editora, encarregando João Kuhn, o célebre dominicano de Nuremberga,
li cornpl lar a sua educação. O filho mais novo de João, o mais brilhante
li • Iodos, Bonifá .io, tarnb J11 irá ajudar o pai. Mais tarde, vêmo-lo correc-

'11 !l1I//'r!/(wilklll/('.If1I11I1It./I." (cd, 1\1I11'tI 11111111\;11111),


1I:I,lIl'III. I<)·P 111.17.I vuls .• 111 tOl 1111 oficinu d • Frobcn, o sucessor de Am rbach, o editor de Erasmo, d

X '. ('I. I'I'IIVI~I', I , \,1,.,,,./11 du \\/. Illdl'll'ilgU'III, l'illl\, 1'1 7 qucut, (1111 11i! li. llil h tUlllllltl iru.
200 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 201

Oferecer edições correctas das obras dos Padres da Igreja, eis a tarefa textos - talvez mesmo como compositores - escolheu provavelmente
que o alemão Amerbach assumira. Multiplicar as edições dos clássicos antigos calígrafos cretenses refugiados. Em breve, publica os poemas
latinos e gregos, dar a conhecer as suas obras, restituídas no seu texto de Museu, acompanhados de uma tradução latina, um Saltério e a
exacto, tal foi a missão de outro humanista - italiano, desta vez -, Aldo-", Gallomyomachia, em cujo prefácio traça um ambicioso programa de
que, como Amerbach, foi um homem estudioso e mesmo professor, antes publicações. De facto, edita, em 1494, a gramática grega de Lascaris
de se tornar impressor. As razões que o levaram a mudar de orientação são com uma tradução latina, e, em 1495-1496, o Organon de Aristóteles,
bem significativas. a Gramática grega de Teodoro Gaza, acompanhada de tratados de
Aldo Manúcio nascera entre 1449 e 1454, em Sermonetta, perto de gramáticos gregos, e também as obras de Teócrito. E só então publica
Velletri, nos Estados romanos. Recebeu primeiro lições de pedagogos a sua primeira edição latina - o Aetna de Bembo. A partir de então, não
tradicionalistas, que lhe fizeram aprender de cor a sempiterna gramática há ano que não veja sair dos prelos aldinos grandes edições dos autores
rítmica de Alexandre de Villedieu - o que o levará, mais tarde, a redigir e latinos - mas, sobretudo, dos gregos: em particular, uma edição monu-
a publicar uma gramática metódica. Depois, dirigiu-se a Roma, onde mental das obras de Aristóteles, cujos tomos se sucedem.
terminou os estudos latinos sob a direcção de Gaspar de Verona e de Para levar a bom termo esta tarefa, Aldo, que mandou talhar carac-
Dornício Calderino, ambos professores célebres. Após o que foi estudar teres gregos de uma elegância perfeita, rodeia-se de tudo o que a Itália
grego em Ferrara, onde assistiu aos cursos de um excelente helenista, - e mesmo a Europa - conta por sábios e, sobretudo, por helenistas.
Guarini. Encontra-se, então, no estádio em que os estudantes desse tempo Assim se constitui, em Veneza, a Academia Aldina, saída da pequena
começam a ensinar, e dedica-se a ler e a explicar os melhores escritores academia dos príncipes de Carpi. Há reuniões em sua casa, em dias
gregos e latinos. Não existe qualquer dúvida de que começou então a fixos, para determinar os textos a imprimir e os manuscritos cuja versão
lamentar a falta de boas edições impressas desses autores, que gostaria de se deve seguir. Entre os membros desta academia, há senadores venezia-
usar e distribuir aos seus ouvintes - entre os quais figuram Hércules nos, futuros prelados, professores, médicos, sábios gregos. Citemos, um
Strozzi, o florentino, e Giovanni Pico de La Mirandola. Mas a guerra estala pouco ao acaso, de tal forma a lista é longa, Bembo, o poeta, Alberto
entre Veneza e o Duque de Ferrara, Hércules d'Este. Aldo vai refugiar-se Pio, príncipe de Carpi, Urbano Bolzani, Baptista Egnazio, o ilustre
em casa do seu discípulo, Giovanni Pico - que, nessa época, começa os professor, Sabellico, Gregoropoulos, Jerónimo Aleandro, que virá a ser
seus famosos trabalhos. Junto de Mirandola, goza durante dois anos de cardeal, Marco Musuros, de Cândia, que se tornará arcebispo de
uma hospitalidade generosa; liga-se a Emanuel Adramyttenos, um Monemvasie, e também Erasmo. Em breve, Aldo alarga o campo das
cretense, corresponde-se com Policiano e torna-se perceptor de Leonardo suas publicações; em 1501, manda gravar a Francesco Griffo, de
e Alberto Pico - os sobrinhos de Giovanni. Baseia o seu ensino no grego, Bolonha, um novo tipo, o tipo itálico, e lança a sua famosa colecção «de
pelo menos tanto quanto no latim. boi o», com formato in-S:", destinada a divulgar as obras dos clássicos
Nessa época, a queda de Bizâncio levou muitos sábios gregos a refu- latinos e os poetas italianos. Entre os editados, Virgílio e Horácio,
giarem-se na Itália. Aldo tem, então, a ideia de criar uma oficina tipográ- Pctrarca e Dante, Ovídio, Juvenal, Pérsio, Estácio, e ainda Bembo, os
fica especializada em impressões gregas, que Pico de La Mirandola pode- Adágios de Erasmo, e o Decameron de Boccaccio. Quando morre, em
ria financiar. Como a maioria dos refugiados gregos se fixara em Veneza, 1515, é longa a lista dos autores de que publicou as primeiras edições
onde os impressores e os livreiros eram numerosos e as comunicações Impressas. ntre eles, Aristóteles, Aristófanes, Tucídides, Sófocles,
fáceis, foi aí que Aldo optou por abrir a sua oficina. Como revisores de 11 r doto, Xcnofonte, Dcrnóstenes, Ésquines, Platão, para citar os
'I • 'OS ruo som nt .

J1 \ Wr sobr .tuclo RENOUARD, A.A., A 11I11I1/,,1' di' 1 'inunimeri« dr« Ald«, Puris, I X 14.
I vols., \. 1'11, I'IRMIN I)IJ)O'l', A, A1t1/' fII/11I1/1'/' /'11'111'11/'11/1/11/' a Vi'II/I/' 1'1111S , IX7
202 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO
203

Na galeria dos impressores humanistas, eis, por fim, Josse Bade214• parece não ter-se entendido com os seus sucessores. Muda de emprego e
De origem flamenga, fizera os seus estudos no colégio dos Irmãos da Vida trabalha, então, para diversos impressores de Lyon; vai depois para Paris,
Comum, em Gand, e, depois, fora para Lovaina, a fim de completar a sua talvez para responder ao apelo de Roberto Gaguin. Aí, entra em contacto
formação. Atraído pela Itália, sem dúvida desejoso de estudar grego em com João Petit, o todo-poderoso editor, que o toma ao seu serviço.
condições melhores, o futuro impressor tinha chegado a Ferrara, onde Entretanto, reata o curso das suas publicações. Vimos como João Petit
Baptista Guarini lhe ensinara literatura grega; depois disso, assistira, em comanditário extremamente prudente, ajudara Josse Bade a criar um~
Mântua ou em Ferrara, às aulas de Filipe Beroaldo, o Velho, o grande oficina típogrãfíca=, Tendo-se tomado impressor, Josse Bade executa
mestre das letras antigas, cujos textos impressos por toda a Europa iriam numerosas obras por conta de Petit; ao mesmo tempo, começa a publicar
conhecer uma voga imensa. Josse Bade começa, desde então, a ganhar algumas edições em associação com este último, ou por sua conta. Em
reputação de sábio. Mas a viagem à Itália chega ao fim, o aluno de b.reve, a sua casa toma-se o centro de reuniões onde os humanistas pari-
Beroaldo vai ensinar em Valence e, depois, em Lyon. Desejoso de fazer sienses encontram os sábios estrangeiros que estão de passagem. Entre os
com que os alunos partilhem as lições dos seus antigos mestres e de dar-lhes seu~ íntimos, a que chama os «Ascensiani» ou os seus «coadjutores»,
a conhecer os autores antigos, prepara, em 1492, nesta última cidade, uma Lefevre d'Etaples, Guilherme Budé, Pedro Danes, Tiago Toussaint, João
reedição das Orationes de Beroaldo, publicadas em Bolonha no an.o Vatable, Luís de Berquin, Nicolau Du Puis, chamado «Bonaspes», e ainda
precedente; depois, são as Silva mo rales, colectânea de trechos esc~lhl- Beatus Rhenanus ou Francisco Du Bois, sem contar com Erasrno, com
dos dos melhores autores antigos e modernos, acompanhados de COpIOSO quem - tanto quanto Aldo, - acaba por se desentender. Essa plêiade de
comentário; logo a seguir, uma edição de Terêncio, igualmente comen- eruditos facilita a tarefa de Josse Bade: eles indicam-lhe os melhores
tada. Josse Bade já se apercebe do poder que a imprensa representa. Todas manuscritos, às vezes fazem-lhe algumas cópias durante as suas viagens.
as obras que publica são editadas por Trechsel, o grande editor de Lyon. E, nesse ambiente de estudiosos, Josse Bade continua os seus trabalhos
No decurso dos seus frequentes contactos, os dois homens aprendem a pessoais. Conferindo à sua oficina uma orientação nitidamente literária
apreciar-se mutuamente; por isso, Trechsel confia a Josse Bade um papel publicando sobretudo autores antigos, multiplicando as edições de instru-
importante na sua empresa: é ele que revê os manuscritos, que corrige as mentos de trabalho, cada vez mais bem compreendidos, quando morre,
provas, e que, com frequência, redige as dedicatórias. Pesada tarefa qu~, em 1535, está à frente de uma empresa próspera, que o seu genro, Roberto
com as aulas que ministra, o impede, durante algum tempo, de prosseguir Estienne, dirigirá depois dele.
os seus trabalhos pessoais. Mas é uma tarefa apaixonante para esse huma- Formam-se, assim, as dinastias de impressores humanistas. As mais
nista, que impõe doravante, à mais poderosa oficina de Lyon, uma orien- .élebres, mas não as únicas, a dos Aldos, em Veneza, a dos Morel e
tação coerente com as ideias que defende há muito tempo: Josse Bade Vascosan em Paris - e também a que agrupa, em Paris, os Estienne
está, então, no coração do humanismo de Lyon; as dedicatórias que redige Simão de Colines e Josse Bade, todos aliados ou descendentes de
consolidam a sua reputação literária - João Tritheim cita-o, ainda jovem, Guyonne Viart, que casou três vezes: em primeiro lugar com Damião
entre os mais célebres autores que trataram de assuntos eclesiásticos. E, Iligman, depois com Henrique Estienne I, e, por fim, com Simão de
durante uma viagem a Paris, em 1497, para copiar um manuscrito de Colines. Uma das filhas que teve de Damião Higman casa-se com um
Avicena, conhece alguns círculos eruditos parisienses e alguns impresso- editor célebre, Reginaldo Chaudiêre, e os seus descendentes exercem
res favoráveis às novas tendências, como os Mamef. Quando Trechsel ",in~la a profissão de. livreiros no século XVII. Contudo, de Henrique
morre, Josse Bade desposa uma das filhas do seu antigo patrão, ma hstl mnc, Guyonne Viart tem uma filha e três filhos, todos impressores,
rntrc os quais arlos sticnne, o famoso médico-impressor, autor do

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o PEQUENO MUNDO DO LIVRO 205
o APARECIMENTO DO LIVRO
204

Guide des chemins de France, da Agriculture et maisons rust~ques e de pranchas, a talhar alguns ferros de encadernação e a ocupar-se do desenho
um célebre tratado de anatomia; e, sobretudo, Robert? Estlenn~ I, o e fundição dos seus caracteres.
erudito autor de múltiplas edições e traduções da Bíblia que, apo~ ter
aprendido a arte tipográfica em casa do seu padras~o, Simão .de Colme~, *
casa com Perrette Bade, filha de Josse Bade, tambem ela muito bo~ lati- * *
nista, que o ajuda na correcção das provas. Na .casa de Rob~rto Estienne,
vêm hospedar-se com muita frequência eruditos estrangeIros, e todos Vigiar o bom andamento de uma oficina tipográfica, corrigir as
falam latim, mesmo as crianças e os empregados. Entre os filhos ~e provas que saem continuamente dos prelos, dirigir igualmente uma
Robert Estienne I e de Perrette Bade, há ainda vários impressores erudi- empresa editorial, manter uma correspondência activa com os livreiros
tos: Henrique II, o grande helenista que trabalha em Paris e ~m ~enebr!, estrangeiros e com muitos letrados, construir simultaneamente uma obra
Francisco lI, e, também, Roberto Il, cuja viúva, filha do lIvreIro. Joao pessoal de erudito: tarefa esmagadora que, com razão, podemos admirar-nos
Barbé, casa em segundas núpcias com o he1enista Mamert Patisson, que um Aldo, um Josse Bade ou um Roberto Estienne tenham podido
corrector na oficina do seu primeiro marido'". realizar. Tarefa que somente os trabalhadores infatigáveis e entusiastas,
Esses editores humanistas não são unicamente eruditos preocupados como eram os homens do Renascimento, podiam levar a bom termo. Mas
em multiplicar textos correctos e fazer obra pessoal. São também - e à custa de quanta actividade! Henrique Estienne, por exemplo, no prefá-
talvez antes de qualquer outra coisa - impressores a~ostumados ~o seu cio do seu Tucídides, explica que, dividido durante o dia entre o trabalho
trabalho e preocupados com a apresentação e a qualidade matenal d~s minucioso de correcção de provas e as suas múltiplas obrigações como
suas edições. Aldo, como vimos, manda talhar caracteres grego~ ,~aIs empresário, se levantava de noite para preparar as suas edições eruditas,
legíveis e mais elegantes do que os usados até então e «lança» o It~lIco. como forma de se distrair! De facto, muitos impressores e livreiros do
Nessa época, os impressores humanistas revolu~ionam a apresent~çao do século XVI, que com justiça, se qualificam como humanistas, não tiveram
livro impresso, tornando-a mais clara. Os Estienne ~abem dar as suas tempo nem talvez mesmo o desejo de realizar obra pessoal. Mas, homens
páginas de rosto uma sobriedade harmoniosa. Alguns Impressores hu~~- de gosto e de cultura, souberam, como editores esclarecidos e para melhor
nistas preocupam-se mais - de tal modo é grande o seu amor pelo OfICIO proveito dos seus negócios, agrupar à sua volta escritores e eruditos cujos
_ com a forma do que com o fundo. É o caso de Geoffroy Tory217,por trabalhos encorajaram, dos quais souberam fazer colaboradores devotados
exemplo, antigo professor no colégio do Plessis, no colég~o Coqueret, e e, às vezes, amigos.
depois no colégio de Bourgogne, grande admirador da Itália, que visitara Entre eles, por exemplo, Sebastião Gryphe!", «príncipe» dos livrei-
várias vezes. Estabeleceu-se por conta própria, após ter trabalhado par~ ros de Lyon, divulgador das edições aldinas, incansável propagador dos
Gilles de Gourmont e para Henrique Estienne, cuja viúva desposou; publi- e critos erasmianos - e, sobretudo, homem de negócios competente.
cou um livro completo sobre as proporções das letras, o famoso Nascido em 1491, em Reutlingen, na Suábia, filho de impressor, aprende
Champfleury, e renovou a apresentação do livro francês, inspir~~o-se no o ofício na Alemanha e em Veneza. Depois disso, vai para Lyon, na quali-
Renascimento italiano *. O zelo desse antigo regente de colégio pelos dade de agente da Companhia dos Livreiros Venezianos, e estabelece-se
livros impressos faz presumir que tenha sido ele próprio a gravar algumas 'orno impressor nessa cidade. Trabalhando a princípio para essa socie-
dade, começa por imprimir tratados de jurisprudência em caracteres góti-
'OS, compra depois caracteres itálicos e redondos e especializa-se nas
l di 'o s de clássicos latinos de pequeno formato, imitadas das edições
216ARMSTRONG, E., Robert Estienne, royal printer, Cambridge, 1954.
217 BERNARD, AJ., Geoffroy Tory, Paris, 1865, 2." ed. "
* Cercaduras e vinhetas de Geoffroy Tory foram adquiridas em Paris pc.lo 1I11~r'S
SOl c livreiro poriugucs Luís Rodrigu 'S e !;lI'p"II11cnll' lIliliwdus em l'di~'() 'S q\lInlwll11stas
"\11 IJlII 11 I , 1,111/1/1" '1'1/,1111 1'/11/1/11/1,. I VIII
lIi1nOllilis. (N I? )
206 o APARECIMENTO DO LIVRO
O PEQUENO MUNDO DO LIVRO
207
aldinas; publica igualmente traduções latinas dos autores gregos e reim-
exclusivo de Lutero, de Melanchton e dos seus amigos, e, para fazer face
prime com frequência as dos melhores humanistas do seu tempo, os Budé,
~os seus ~v.ais, não hesitam ~m imprimir e~ segredo os panfletos de um
os Erasmos e os Policianos. É a ele que Sadolet, o liberal bispo de
Jovem médico espanhol, Miguel Servet. E o caso ainda, a serviço da
Carpentras, cede a edição da maioria das suas obras e Paleario con!ia o
mesma causa, de Simão Dubois, impressor de Paris e, depois, em
cuidado de publicar o seu tratado sobre a imortalidade da alma. E ele
Alençon, propagandista incansável dos escritos e do pensamento de
ainda que se encarrega de imprimir o De canonis linguae latinae, primeira Lutero.
obra de Júlio César Scalígero, o Thesaurus hebraicus, de Sanctes
. Na primeira fila do combate pela difusão das novas ideias, os
Pagninus, e os Commentarii linguae latinae, de Dolet, sem con.tar co.m as
Impres.sores e oS,liv.reiros são também, quando se iniciam as perseguições,
publicações científicas de Rabelais. E, a par destas obras eruditas, hvros
os m~Is vulneraveI.s,_ sempre à mercê de uma investigação que pode
menos sérios: os Arresta amorum, de Bento Court, por exemplo. Grande
manda-Ios para a pnsao e, bem frequentemente, para a fogueira. De facto,
editor, fornecedor de livros escolares para metade da Europa, Gryphe é o
para eles, no século XVI, os inquisidores são impiedosos. Que meio
animador do humanismo de Lyon; os melhores escritores e os maiores
melhor, com efeito, de extirpar a heresia, do que castigar severamente os
sábios louvam-no nas suas missivas, frequentam a sua casa, nela traba-
que.se encontram na origem da difusão dos livros suspeitos? Para evitar
lham, às vezes, como revisores. Assim, este impressor, ele próprio
os ngores da censura e do Supremo Tribunal, com o seu cortejo de espio-
bastante culto, consegue rodear-se de homens como Rabelais, Alciato,
nagem e de delacção, os mais célebres impressores humanistas de Paris e
Sadoleto, Huberto Sussaneau, Cláudio Baduel, Francisco Hotman,
de Lyon, quase todos partidários das novas ideias, têm de fugir da França,
Francisco Baudoin, António de Gouveia, Cláudio Guilland, Emílio Ferret,
na segunda metade do século XVI. Roberto Estienne e João de Tournes
Clemente Marot, Visagier, Nicolau Bourbon, Maurício e Guilherme
enc~ntram-se ambos em Genebra. E, com eles, quantos outros! Para poder
Scêve; Salmon Macrin, Bartolomeu Aneau, e muitos outros ainda conhe-
contmuar a exercer o seu ofício em Antuérpia, sucessivamente dominada
cem igualmente essa casa acolhedora. Assim, Gryphe aparece-nos já
por Guilherme de Orange e pelo duque de Alençon, revoltada contra os
como o tipo do editor amigo dos homens de letras, que pessoalmente não
espanhóis e conquistada à heresia, retomada depois pelas tropas do duque
escreve, mas que não deixa de ser pessoa esclarecida.
de ~l.ba, por quantas conversões, sinceras ou não, teve um Plantin que
Amigos, confidentes e, às vezes, protectores dos homens de letras,
decidir-se, ele que, apesar de tudo, se viu obrigado, num dado momento
livreiros e impressores são muitas vezes levados, mesmo que unicamente
a fugir da cidade? Porém, mais infelizes, menos hábeis ou mais convenci,
pelo interesse do negócio, a publicar um livro audacioso, que terá venda dos, alguns livreiros e impressores não puderam evitar pagar com a vida
tanto maior quanto mais escândalo fizer, a rece?er frequentemente as ousadias ,c~ntidas nos livros que editavam ou vendiam. Augereau, por
também e a ajudar um escritor suspeito de heresia. E assim que Gryphe exempl?, hãbil entalhador de caracteres e, ao mesmo tempo, editor de
não hesita em receber em sua casa Dolet, recém-saído das prisões de Marganda de Navarra, condenado a morrer na fogueira.
Toulouse. Sendo os primeiros a ler os manuscritos novos, os primeiros a
estar a par das novas ideias, os impressores e os livreiros, nessa época, ~ão
muitas vezes, aliás, os primeiros a converterem-se e a lutar por elas. E o
*
* *
caso, por exemplo, de Tomás Anshelm'", impressor em Tubinga, e depois
em Haguenau, amigo de Reuchlin; é o caso do seu sucessor e cunhado, Entre os írnpressores e os livreiros queimados na fogueira junta-
Setzer, amigo de Melanchton, que reúne à sua volta um pequeno círculo mente com os seus livros, entre esses «mártires» do Livro, eis, domi-
de reformistas luteranos. Ambos colocam os seus prelos ao serviço quase nando-os com a sua personalidade, Estêvão Dolet.
Doi l: l~I~l.d 'sses homens do século XVI cuja psicologia parece
t'UJllp,I' ti l di! I'" de npre .ndcr por um 'sflírilO de hoje. Um caso qu não
'nh '1'111l'sl\1<1l1l nqui, Sl I'SSI l'snilul' Jlau SI' livl'ssc: feil0 impu ••.•
sOI' I
.,. RITI'FR, F., I/i.\/(/II/' t!/"'IIII/II;III/'/I/' nlsurtrnnr, pp \77 IX7.
ltvrcuu, I' 11.1011\'1' I' Ido h\ 11111.)10 '1Illlil 1"11 1illI iI dil 11.1,1111\ Id.1I11
o APARECIMENTO DO LIVRO
O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 209
208

de livreiro - e se essa mesma actividade não colocasse problemas psico- elogios de Guilherme Durand, director do colégio de Lyon, mas, mais tarde,
lógicos que se apresentam com muita frequência quando se estuda a histó- a condenação do Supremo Tribunal de Paris. Sacrifício aos gostos do
público? Desejo de provar a sua ortodoxia? Vaidade de um autor que quis
ria de outros livreiros?".
Eis, pois, Dolet, esse homem violento, brutal, desequilibrado, que, mostrar ser capaz, como qualquer outro, de abordar temas religiosos? Não
um dia, numa rixa, matará um homem em condições misteriosas. saberíamos dizê-lo. Talvez, aliás, tudo isso ao mesmo tempo. A verdade é
Admirador apaixonado de Cícero e antigo aluno da Universidade de que, de 1538 a 1541, aquele gesto não tem continuidade. Abandonando os
Pádua, deseja colocar-se fora dos partidos e das lutas religiosas; mas, temas religiosos, Dolet imprime as obras dos seus amigos, Cottereau e
sufocando nos ambientes fechados, entre os espíritos acanhados que Cláudio Fontaine, as obras de Marot também, tratados de medicina e,
encontra em Toulouse no regresso de Itália, não pode impedir-se de naturalmente, alguns latinos: Terêncio, Virgílio, Suetónio, e, sobretudo, o
clamar o seu ódio às perseguições e o seu amor à liberdade quando o seu amado Cícero. Já em 1541, edita um Novo Testamento em latim e um
monge João de Caturce, adepto de Lutero, é queimado vivo, em 1532. opúsculo de Savonarola. Depois, é 1542, o ano fatal para Dolet.
Revoltado, insulta, então, os membros do tribunal; preso, é libertado pela Desenvolve o seu negócio, instala-se na rua Merciêre entre os grandes
intervenção de alguns amigos. Recomendado a Sebastião Gryphe por um livreiros, e publica 32 obras: cinco clássicos, sete livros de medicina, seis
deles, João de Boyssonne, é recebido amigavelmente por aquele ao chegar obras literárias e poéticas, todas em francês e todas bem escolhidas, entre
a Lyon, e, para sobreviver, entra logo na sua oficina como revisor. Aí, as quais um Rabelais e um Marot - e 14 livros cristãos, todos suspeitos:
continua os seus trabalhos, compõe obras, traduz os seus caros autores entre eles, o Enchiridion, de Erasmo, escritos de Lefêvre, de Sadoleto, de
latinos, acumula materiais para uma grande obra destinada a provar .a Berquin, uma tradução dos Salmos de David, os Salmos de Marot, e um
superioridade do estilo de Cícero, e, ainda para defender o seu autor predi- Novo Testamento, em francês, naturalmente. Não há demolidores entre
lecto, entra em polémica com Erasmo. Ao mesmo tempo, dirige para isses autores: antes um conjunto de obras que pregam o amor do
Gryphe a publicação de uns cinquenta livros diversos, iniciando-se, assim, Evangelho. Ao mesmo tempo, Dolet prepara uma tradução da Bíblia,
no ofício de tipógrafo, a actividade que é apenas interrompida, por uns segundo a versão de Olivetano. Tudo isso basta para atrair sobre ele a
tempos, devido ao assassínio de Nicolau Compaing, logo perdoado por .uenção dos ortodoxos. Em breve começa a devassa, no decurso da qual
; encontrada, em sua casa, a Instituição cristã de Calvino, a Bíblia
indulto real.
Mas chegamos ao ano de 1538: Dolet casa-se, em breve terá um Francesa de Olivetano, e opúsculos de Melanchton. Primeira fase de um
filho. Será o desejo de assegurar o futuro da família que leva Dolet a martírio que deveria acabar na fogueira, onde Dolet foi queimado com os
tomar-se impressor? A verdade é que ele cria, então, uma oficina tipográ- s .us livros, na praça Maubert, em 3 de Agosto de 1546.
fica, graças à ajuda de um comanditário cujo nome ficou misterioso até Estes são os factos - que colocam um problema psicológico. Como
hoje, apesar das pesquisas; em 6 de Março de 1538, obtém de Francisco I I por que razão Dolet, esse homem de letras amante do belo estilo, apai-

um privilégio para a exploração da sua tipografia. Dentro de pouco tempo, . onado pela liberdade e que durante tanto tempo apregoou o seu desdém
surge o seu primeiro livro. Surpresa: o amante do belo estilo, o admirador p -los combatentes de qualquer campo que fosse, aceita, de repente, descer
de Cícero, o homem que se vangloriava de permanecer acima dos parti- , arena - e tomar partido? Desejo mercantil de ganhar dinheiro? Dolet
dos, escolheu para primeira publicação a dar a lume, não uma edição clás- publicaria o que agrada ao público, editaria obras de tendência inovadora
sica, não uma recolha de poemas latinos ou uma obra de filosofia, mas um porque isso rende? Ou, então, ao envelhecer, voltar-se-ia para as questões
pequeno livro de piedade - o Cato christianus, que valeu a Dolet os 1I'I,'iosas, após o nascimento do seu filho? São hipóteses por demais
unplistas, evidente. Não no, cabe aqui resolver o «caso» Dolet; quise-
IIIOS1'1 'nas .vo 'ú 10 para mostrar os problemas que se levantam de cada
II qUI Sl 1'1Il'OlllralIlIl livreiro ou \1111
impressor capaz de assumir riscos
lIlI FEAVRE, 1,., «Doi 'I, propagat 'ur de I'(~van lil », in lIihlilllllll/l/l' d'//II/11I///i,\'I//I'
11 lia dI Illllh I 1111101 1'1111'>11
/'1/(/'111I;\.\11/11'/',1 VII, I!)"';, pp. !)K 170
210 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 211

e, mais tarde, um Leonardo, mantêm relações constantes com os minis-


*
* * tros, com o chanceler Séguier, encarregado de fiscalizar os negócios da
Livraria, por exemplo?" . É evidente que um Camusat, livreiro da Academia
A partir do fmal do século XVI, contudo, a mentalidade dos impresso- Francesa, um Desprez, livreiro dos jansenistas, continuam a prestar múlti-
res e dos livreiros transforma-se, ao mesmo tempo que as relações entre auto- plos serviços aos literatos. Mas, perante estes, fazem figura de servidores,
res e editores mudam de natureza. As grandes gerações de impressores e já não de iguais ou mesmo de protectores, como era o caso no século XVI.
humanistas desapareceram na tormenta do final do século XVI. A imprensa, Um Gabriel Naudé, bibliotecário de Mazarino, doa a Camusat algumas
que, no primeiro século da sua existência, beneficiara de um período de moedas de ouro como prenda de ano novo; Balzac, nas suas cartas, insulta
prosperidade excepcional, entra em crise. Os livros publicados durante Rocollet; e Chapelain, mais benevolente por natureza, trata grandes livrei-
um século atravancam o mercado, enquanto a crise económica impede os ros, como Rocollet e Leonardo, por «sujeito» e «bom rapaz»?".
editores de encontrar os capitais necessários e provoca, entre os operários Os tempos mudaram muito, portanto, desde a época dos Aldos e dos
impressores, agitação social e greves. Sobreviver é, então, o objectivo Estiennes, tempos que os livreiros evocam com melancolia. De facto,
principal dos empreendimentos editoriais, sobretudo em França. Depois, entre os homens de letras, somente os eruditos parecem conservar rela-
enquanto os países germânicos, que haviam sido menos atingidos pela ções amistosas com os impressores e os livreiros de que necessitam para
crise, são devastados ao longo da Guerra dos Trinta Anos, o trabalho é executarem impressões muitas vezes delicadas. Du Cange, Mabillon,
retomado pouco a pouco no resto da Europa, no início do século XVII. Mas mantêm correspondência constante com os Anisson de Lyon; os dois
o mundo do livro sai da prova empobrecido e diminuído. Facto caracterís- filhos de Lourenço Anisson guiam Mabillon, que sai à procura de manus-
tico, tipógrafos e livreiros tomaram-se homens de corporações e mais critos nos mosteiros da Itália?". Da mesma forma, os professores da
nenhum estudioso fundará uma nova oficina. Por demais numerosos, Universidade de Leida têm um grande respeito pelos conhecimentos e
tendo dificuldade em subsistir, vivendo muito frequentemente de maneira pela capacidade dos Elzevier, que encontram em Heinsius, erudito e
miserável, os mestres impressores são vistos doravante como pessoas homem de Estado, um amigo e protector. Continuando, numa certa medida,
simples. Os livreiros-editores estão preocupados, não tanto em prestar as tradições dos impressores humanistas do século precedente, os Elzevier
serviço ao mundo do espírito, mas em publicar livros que poderão real- são acolhidos amistosamente por Chapelain ou por Peiresc, durante as
mente vender. Os mais ricos preocupam-se antes de tudo em reeditar suas viagens incessantes.
livros antigos de venda certa - os livros religiosos sobretudo, e, parti- Nessa época, poucas figuras de livreiros ou de impressores se desta-
cularmente, as obras dos Padres da Igreja. É a época em que os grandes cam, pois, da monotonia em que se confundem os mercadores e os artis-
livreiros são os da Contra-Reforma - grandes mercadores e humildes servi- tas que constituem a massa dos membros da sua profissão. Contudo, total-
dores da política dos Jesuítas, totalmente devotados ao clã ultramontano. mente entregues ao serviço das letras e das ciências, alguns impressores e
Esses homens, que parecem fugir da originalidade e se mostram alguns livreiros mantêm, talvez mais modestamente do que os impresso-
submissos às autoridades, pouco se preocupam com a publicação das res humanistas, a grande tradição da sua profissão: em Paris, vemos um
novas obras que são escritas, o mais das vezes, doravante, na língua do António Vitré, que nem mesmo sabia latim, mas que dedicou uma parte
país. Os editores dos grandes clássicos franceses, em particular, fazem toda da sua vida à impressão de uma monumental Bíblia poliglota, desti-
figura modesta; os escritores quase não procuram abrir caminho com nada a fazer esquecer a de Plantin, em cinco línguas e sete volumes; Edme
esses donos de oficina, que são, de resto, muito pouco instruídos - e de
condição social inferior à sua. Agora, já não é nas lojas dos livreiros e nas
oficinas dos impressores que os escritores se reúnem, mas nos salões lite- 'li M/\RTIN, 11. J" «S bastien Cramoisy et le grand cornmerce du livre à Paris au
rários, entre a alta sociedade ou nas bibliotecas dos grandes, em volta d VII'" sicl'll"" 111 (;11//·,,11/'/:11 .11111,.11/11'11, 1957, pp, 179 188,
bihliot ecários 'rllditos, prol egidos por pod rosas p rsonag ns, III esmo nos '('II/\I'I·I./\IN,.1 ('/I/I/'.\//tll/dllll/'/', d.Tami/'ydl'l.aITOl)lI" 1880 IR81.
('I JIJI jI) I jI) \
conventos. h vidl'lItl que 11111
IlóllH!l l dilor, IIIll ('nlIlHIIS , pot l cmplo..
212 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 213

Martin, excelente helenista, muito respeitado pelos eruditos do seu tempo Port-Royal, de um Desprez ou de um Le Petit, editores das Provinciales:
- único impressor de Paris capaz, à época, de imprimir correctamente um estes não hesitam em correr riscos que sabem serem grandes, apesar das
livro em grego; Palliot, em Dijon, erudito e genealogista reputado, que amizades e das simpatias de que gozam os seus protectores, até mesmo na
realizou uma obra pessoal'": e, sobretudo, em Amesterdão, Blaeu'", aluno Chancelaria-": esforçando-se, aliás, por interromper a tempo as suas
de Tycho Brahe, fabricante de instrumentos de precisão, que se tomou publicações, antes que se iniciem perseguições realmente sérias, e
impressor, criou uma importante oficina, aperfeiçoou o prelo e realizou no mantendo-se a par, através da intermediação do seu síndico, das reacções
domínio dos atlas uma obra imensa. Mas tais casos são raros - excepto da Chancelaria e dos ministros.
talvez na Holanda. Os impressores isolados estão mais ameaçados: são pobres coitados
Ao mesmo tempo, os ofícios do livro são encerrados numa regula- que, nada tendo para colocar no prelo, se resignam, periodicamente, a
mentação cada vez mais precisa; os impressores e os livreiros são estrei- imprimir algum panfleto. A partir de Colbert, sobretudo, rnovem-Ihes uma
tamente vigiados pela Igreja ou, melhor, pelas Igrejas, a católica e as perseguição implacável. Muitos deles são encarcerados. O mesmo acon-
protestantes, por múltiplas jurisdições laicas que tomam muitas vezes tece com os que executam, não tanto livros proibidos, mas contrafacções.
decisões contraditórias, e é difícil, mesmo para um livreiro ortodoxo e É, por exemplo, o caso de Ribou, que foi preso várias vezes por ter impri-
muito submisso ao poder, evitar os rigores das censuras. O próprio mido libelos hostis ao Rei *, e a quem somente uma frágil constituição
Cramoisy, tendo recebido, um dia, de Roma, alguns exemplares do famoso permitiu escapar às galeras'".
Tractatus contra tyranos, de Santarelli, foi condenado pelo tribunal a
fazer confissão pública de culpa'". Raros os livreiros e os impressores que *
não são perseguidos assim, pelo menos uma vez na vida. Mas, geralmente, * *
as condenações permanecem benignas. E se, nessa época, os livreiros
«comprometidos» são também numerosos - o ofício exige-o -, a sua No final do século XVII, quando se desenvolve a luta contra o abso-
figura nunca tem o brilho dos seus predecessores do século XVI. O Poder lutismo real, após a Revogação do Edito de Nantes, e especialmente no
sente-o, e tem às vezes por eles uma indulgência espantosa, enquanto é século XVIll, ao tempo dos filósofos da Enciclopédia, a situação altera-se.
muito severo para com os autores. É assim que Sommaville, Estoc e As paixões religiosas inflamam-se novamente e as perseguições incitam
Rocollet, os editores do Parnasse satyrique, não são objecto de nenhuma numerosos impressores e livreiros franceses a fugir para o estrangeiro,
perseguição, enquanto Teófilo de Viau é condenado, por contumácia é onde continuam a exercer o seu ofício e, imprimindo panfletos virulentos,
verdade, a ser queimado; indulgência que levou a pensar-se serem eles c. forçam-se por fazer o maior mal possível ao Rei que os expulsou. Não
agentes do Padre Garasse - o inimigo mortal de Teófilo F27• Mas o Poder cessa de se desenvolver uma literatura de combate. O jornal entra nos
sabe perfeitamente que não é a eles que interessa punir. Pois, se impri- hábitos e, com ele, aparece um novo tipo de impressor: o impressor jorna-
mem ou vendem livros proibidos, os impressores e os livreiros fazem-no, lista. Nessas lutas, impressores e livreiros adquirem uma nova importân-
em geral, por interesse, e não por convicção: é preciso, enfim, satisfazer 'ia: os filósofos, que estão em conflito mais ou menos permanente com a
a clientela. Mas algumas vezes também, talvez, por fidelidade aos auto- .cnsura e fiscalizam com cuidado a difusão das suas obras, devem nova-
res e aos clãs que os protegem. Parece ser este o caso dos livreiros de mente contar com o editor. Muitas vezes, assim como no século XVI,

224CLÉMENT-JANIN, M.R., Recherches sur les imprimeurs dijonnais, pp. 30-43. .., MARTIN, H.-J., Guillaume Desprez; imprimeur de Pascal et de Port-Royal, loc. cito
225BAUDET, P.J.R., Leven en Werken van W J. Blaeu, Utreque, 1871. '" MON{/R(~()JEN, G., Lei vil' quotidienne sous Louis XIV, Paris, 1948, p. 175.
". MARTIN, H.-J., Séhastien Cramoisy, loc. cit, 1\111 1'1li 111'111, 11 puhlicução ti «lib 'Ios famosos», ou panfletos anônimos. é
m \.1\('11 ..•VR" '., 1./' Libcrtinage dcvant /i, P"r/i'/I//'/I1 di' Paris. /'/' {II'II('/.\' dr 11111\'\10 d\' 1"llIlIlI,. o 1111111ulvuu I ~'IO uc 17'P (>1111 mcsmn pocu, ar 'ria s a vigilância
11,,11I{1/1I/I' til' ViII/I, Paus. II)()I), ") vols 111111 11111111 " IllIlIdl 111I11 , I ollllill;1l \' r (N N)
214 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 215

alguns homens de letras tomam-se impressores e editores, a fim de difun- Mas Rousseau e Weissenbruch não ficam por aí. Para melhor pode-
direm as novas ideias. Este é, por exemplo, o caso de Beaumarchais, que, rem difundir as obras dos filósofos, patrocinam, em 1769, a criação de uma
em Kehl, abre uma oficina tipográfica para imprimir, ao abrigo da censura grande empresa editora, a Sociedade Tipográfica, e de uma nova tipogra-
francesa, uma edição completa das obras de Voltaire. E é este, sobretudo, fia que chegará a ter seis prelos, sociedade muito empreendedora que,
o caso de escritores de segunda ordem, amiúde jornalistas, que tentam durante aproximadamente vinte e cinco anos, difunde por toda a Europa,
difundir os escritos dos filósofos e as suas ideias, abrindo tipografias às entre outras obras, os Romances e os Contos de Voltaire, as Fábulas e os
portas do reino, a fim de publicarem livros e jornais. É o caso, por exem- Contos de La Fontaine, a História geral dos dogmas e opiniões filosóficas,
plo, de Pedro Rousseau'". Nascido em Toulouse, em 1716, aluno dos o Ensaio sobre os reinados de Cláudio e Nero, assim como uma colecção
jesuítas da cidade, mais tarde inscrito na Faculdade de Medicina de das obras completas de Diderot, as obras completas de Helvetius, as
Montpellier, chega a Paris aos 24 anos, antes mesmo de ter terminado os Memórias da banca de Madrid, de Mirabeau, e ainda muitos livros de
seus estudos. Apaixonado por literatura, com temperamento de polemista, Voltaire, de Jean-Jacques Rousseau e dos seus amigos.
frequenta as Tulherias, o Palais-Royal, os cafés - numa palavra, todos os São numerosos, nessa época, os publicistas e os escritores que criam,
lugares públicos onde se discutem letras e política. Faz amigos, entre os assim, oficinas tipográficas, de onde saem jornais e livros destinados a
quais D' Alembert, escreve peças de teatro, e depois, em 1750, funda um promover a difusão do movimento filosófico. Mas ainda mais eficaz se
jornal, Les Affiches. É a época em que se publicam os primeiros volumes revela a acção de um certo número de grandes editores. Eis, portanto, o
da Enciclopédia. Rousseau entusiasma-se pelo movimento em curso. O seu livreiro-filósofo, negociante prudente e homem de gosto que, como
sonho, daí em diante, é criar um Jornal enciclopédico e uma sociedade Sebastião Gryphe no tempo de Rabelais, se põe, no século XVIII, ao
editora destinada a publicar as obras dos encic1opedistas. serviço das novas ideias, por convicção, mas também por interesse. Ao
Mas os dois primeiros volumes da Enciclopédia acabam por ser longo das lutas comuns travadas contra a censura, toma-se amigo e confi-
suspensos, e D' Alembert e Diderot debatem-se no meio de mil dificulda- dente de um Diderot, de um Voltaire ou de um Rousseau. É o caso,
durante algum tempo, de Le Breton, que foi talvez o primeiro a ter a ideia
des. Nessas condições, é inútil solicitar um privilégio em Paris para um
da Enciclopédia, e que desempenhou na história da génese e da publica-
Jornal enciclopédico. Rousseau pensa, então, em Liêge, cidade onde tem
ção dessa obra um papel essencial. É o caso, sobretudo, dos estrangeiros
assegurada uma fácil correspondência com todos os países da Europa,
que podem travar com segurança, ao abrigo das fronteiras do seu país, a
permanecendo perto de França. Graças aos irmãos Paris, os grandes
luta contra a polícia real: Marc-Michel Rey, por exemplo, grande livreiro
banqueiros que protegem os filósofos, pode fazer-se recomendar a minis- holandês, amigo de Jean-Jacques Rousseau, cuja desconfiança doentia
tros do príncipe-bispo de Liege, e obtém a autorização para fundar, nessa soube acalmar'", a quem pediu para ser padrinho da sua filha e de quem
cidade, um jornal que será publicado quinzenalmente. Ao fim de quatro publicou a maior parte das suas obras. Ou ainda, tipos característicos dos
anos (1755-1759), diante dos protestos dos curas de Liege, foge e instala-se grandes editores filósofos, os genebrinos Gabriel e Filiberto Cramer'",
em Bruxelas, e, depois, em Bouillon, onde se fixa. Desde então, os seus editores habituais de Voltaire, pessoas da sociedade, diplomatas às vezes,
negócios não cessam de prosperar. Para se ocupar da redacção do seu homens de gosto e, ao mesmo tempo, experientes homens de negócios.
jornal, manda vir para junto de si vários homens de letras, enquanto o seu Provenientes de uma família de livreiros, aliados por parte da mãe aos de
cunhado, Maurício Weissenbruch, dirige a oficina de imprensa de onde 'Iournes, descendentes, por conseguinte, do célebre livreiro humanista de
sai, todas as quinzenas, um espesso jornal - verdadeiro volume. l.yon do século XVI, mantêm relações comerciais com toda a Europa, de

21"Museu ducal (Bouillon). Le Journol Rncyc/opédiqlll' et la .')ocih/ T'yflO/<fllfiltilll/l'. '" ('I". p, (d,
/;;,\flosilillll 1'11 1t001II1Wf.iI'ti Pierre f?OIl,I'SN//I (/7/6 /785) ('/ C/III r/I ',I' AI/MII.I'/I' di' !I' V()I Ti\IRI~. 11'/11'/',1' incdltr« Ii ,1'/111 ;'11/1/';11I1'111' Gabriol Crauu-r, (;CI1 'ora. cd,
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1
216 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO
217

Estocolmo a Nápoles, de Veneza a Cádiz ou Linz, Alicante, Lisboa e, impressões, especialmente de jornais, levam os impressores a tentar
naturalmente, Paris. À frente de uma grande fortuna, participam activa- melhorar a apresentação do livro e também a procurar aperfeiçoamentos
mente dos negócios públicos da sua cidade. Um deles, Filiberto, abandona técnicos que lhes permitirão trabalhar e produzir com maior rapidez. Não
mesmo, pouco a pouco, a sua profissão de livreiro para se consagrar às é, pois, de admirar que apareçam por toda a Europa, durante o século xvrrr,
funções oficiais que iriam conduzi-lo para junto de Choiseul e de Necker. impressores que haviam sido muitas vezes antigos gravadores de caracte-
E um homem de sociedade, que é recebido no palacete de La Rochefoucauld res e que, dignos sucessores dos Aldos e dos Tories, conseguem realizar
e que, na opinião de Voltaire, «tem espírito e bom gosto». Menos brilhante novos tipos de caracteres, e, ao mesmo tempo, com as suas pesquisas
talvez, seu irmão Gabriel, que permanece livreiro, músico e grande amigo técnicas, particularmente sobre o prelo e a fabricação de papel, abrem
das mulheres; num dado momento, é membro do Conselho dos Duzentos caminho à revolução mecânica que transformará o seu ofício nos come-
da cidade de Genebra, e, depois, auditor. Em breve, abandona essas ços do século XIX.
funções para se dedicar à sua empresa editorial. Amigo de Voltaire e exce- É o caso, por exemplo, do inglês Baskerville (1706-1775), que,
lente comediante, participa, com sua mulher, em quase todas as represen- após ter sido professor de escrita e gravador de epitáfios, começa, em
tações de Ferney e das Delícias. Ela, viva, espirituosa, alegre, mantém 1750, a ocupar-se de tipografia, passa dois anos a desenhar os seus
uma correspondência constante com Rousseau. Os Cramer, livreiros caracteres e a mandar gravar os seus punções, e, ao mesmo tempo, aper-
mundanos, cultos, na soleira da nobreza, possuem tudo para agradar a feiçoa um processo de fabricação de papel acetinado sem sulcos - o
Voltaire, de quem, de 1756 a 1775, publicam quase todas as obras, mesmo papel velino. Em 1757, publica o seu primeiro livro, um Virgílio, de uma
as mais audaciosas, como o Dicionário filosófico, e, com a intermediação qualidade excepcional. Morre arruinado, e o seu material, resgatado por
de Voltaire, editam também as obras de filósofos como D' Alembert e o Beaumar,chais à viúva, será utilizado para o Voltaire da edição de
abade de Morellet, que divulgam, em seguida, por toda a Europa e fazem Kehl233.E o caso ainda do italiano Bodoni, muito jovem admitido como
penetrar clandestinamente em França. compositor na Imprensa da Propaganda, em Roma, que começa a gravar
um novo tipo de caracteres; em 1768, tendo sido encarregado pelo infante
* Ferdinando de fundar uma imprensa oficial em Parma, não cessa de
* * gravar ou de mandar gravar caracteres e publica obras de uma qualidade
surpreendente'>.
Se, no século XVIII, Pedro Rousseau, Beaumarchais, e muitos outros, Baskerville, Bodoni ou, ainda, Caslon: impressores que ligaram os
puderam estabelecer oficinas; se grandes editores, como Marc-Michel seus nomes a tipos de caracteres em que ainda hoje nos inspiramos. Mas
Rey ou Cramer, puderam desenvolver uma tal actividade, foi porque, tal também os Didots=, que são, entre todos esses impressores técnicos que
como no século XVI, as circunstâncias favoreciam o desenvolvimento de amam o seu ofício e se apaixonam pela bela tipografia, os mais ilustres e
empresas livreiras. Nessa época de prosperidade material, de febre inte- os mais característicos. Dinastia de tipógrafos que começa com Francisco
lectual, cada um interessa-se por coisas do espírito, e os livreiros activos Didot, editor do abade Prévost - e também da Histoire générale des voya-
e cultos podem lançar grandes empreendimentos: Coustelier dá o seu ges. Um dos seus onze filhos, Francisco Ambrósio Didot, aperfeiçoa os
nome a uma colecção de antigos poetas franceses que permaneceu céle- utensílios da impressão, . que permaneciam os mesmos desde o século XVI ,
bre, Barbou publica, numa série de elegantes edições, clássicos latinos, e,
mais tarde, Panckouke empreende a edição de uma enorme enciclopédia
metódica, que compreenderá 166 volumes, enquanto Zedler publica, em
Leipzig, um léxico universal de 64 grossos volumes. Grandes editores 'li nnNNETr, W., .10111IBaskerville, lhe Rinningham printer, Birmingham, 1931;
IIJ1NTON,.I 11 • .1/1111Ittaskrrvit!». IY/lt'jillll/(/I'" 1/1/11printer, 1706-1775, Boston, 1914.
desempenham, então, um papel essencial no mundo das letras.
• III'RIIFRI, I< ,I 'AI/I (iltllllllllll/llttll/ltfll/li, Miluo, 1911
Contudo, a 'xl nsao do com Srcio d ' livraria, o gosto d boa pari' da , 1'11 \JSIlN 1 dt I. 1),,1111. til 1//1,'1 M,'/II'I.I gllll,lrill/lI'I. It)H) ItHO
xocicd.uk I' 'Ias 1ll'lilS puhlic« 'Ill'S, a 1I111111plllll ':to (k Indll a l' pl vil dl' 1'1' 11'1 11i'1
218 o APARECIMENTO DO LIVRO O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 219

especialmente o prelo de uma batida, e grava novos caracteres; introduz çam a solicitar privilégios, que lhes concedam, por algum tempo, o mono-
em França a fabricação do papel velino; para resolver a confusão que pólio da impressão e da venda das obras que mandaram imprimir, e procuram
reinava na designação e na força dos caracteres, inventa uma nova cada vez mais obras novas para publicar. Sentindo a influência que podem
medida, o ponto tipográfico; e edita muitas belas obras ilustradas ao estilo exercer graças à imprensa, um número cada vez maior de autores submete
de David. Durante o Império, os seus filhos, Pedro e Firmino, iriam conti- os seus manuscritos aos livreiros. Para muitos deles, amadores das belas
nuar a sua obra, enquanto outro Didot, Pedro Francisco, em 1789, letras, mais ou menos em ruptura com a clausura, coloca-se com acuidade
comprava a fábrica de papel de Essonnes, onde, sete anos mais tarde seria o problema da vida material.
fabricada a primeira máquina de papel contínuo. Nem todos são suficientemente felizes ou suficientemente discipli-
nados para encontrar um emprego estável de revisor. Pedir dinheiro ao
livreiro, a quem entregam as suas obras e que delas tirará benefício,
IV. AUTORES E DIREITOS DE AUTOR vender, portanto, a obra do seu espírito, ainda não entrara nos costumes:
os autores do século XVI - alguns do século XVII, ainda - recusam-se a
Por fim, o último ofício ligado à imprensa e que nasceu graças a ela: aceitar uma tal decadência. Nessas condições, o sistema a que muitos
o ofício de autor, no sentido moderno, isto é, aquele que aufere lucros pela autores parece terem recorrido procede do tradicional mecenato. Quando
venda dos exemplares de uma obra escrita por ele próprio. Esta realidade uma obra sai dos prelos, pedem alguns exemplares - nada há de mais
está hoje incorporada nos costumes, mas levou muito tempo a concebê-Ia natural - e adquirem logo, ao tempo de Erasmo, o hábito de enviá-los a
e a admiti-Ia; aliás, era impensável antes do aparecimento da tipografia. algum rico senhor, amigo das letras, acompanhados de lisonjeadoras
É evidente que os manuscritos eram reproduzidos em série pelos copistas, cartas-dedicatórias*. Presente que este saberá apreciar e recompensar
com envio de dinheiro. No século XVI, tudo isso parece lícito e muito
mas como conceber, na Idade Média, que estes remunerassem o autor por
honroso; tal como o hábito, rapidamente adquirido, de mandar imprimir,
um texto cujo monopólio não possuíam - e que, afinal, toda a gente tinha
no início ou no fim da obra, epístolas ou alguns versos de elogio dirigidos
o direito de copiar? Nessas condições, os autores que escreviam tendo em
a poderosos protectores que, também eles, não deixam de pagar; com o
vista não somente a glória e que não recebiam rendas suficientes, como
inconveniente, caso o montante não seja suficiente, de dar a conhecer a
vimos, apenas podiam recorrer à protecção de alguma grande personagem
lodos a avareza do poderoso em questão. Não se vê mesmo um humanista
(algum mecenas) e vender uns tantos exemplares mandados copiar por
como Petrus de Ponte, o «cego de Bruges», decepcionado com os seus
eles mesmos. Quando apareceu a imprensa, não houve mudanças bruscas.
protectores, dedicar uma obra aos seus alunos, denunciando os que não se
Os impressores, tal como os copistas, não possuíam o monopólio da
haviam mostrado suficientemente generosos?
edição das obras que publicavam. Aliás, colocavam-se no prelo sobretudo
Este sistema, que nos parece escandaloso, era então natural - bem
obras antigas e, geralmente, os editores somente precisavam dos serviços
mais honroso, uma vez mais, do que vender o próprio manuscrito a um
dos sábios e dos eruditos para escolher os manuscritos a serem editados e editor. Erasmo, por exemplo, a quem um dos adversários censurava o
para corrigir o trabalho dos tipógrafos. Portanto, foi antes a título de revi- íucto de extrair dinheiro dos seus livreiros, responde com indignação que
sor que o homem de letras fez, então, a sua entrada na oficina. Muitos não recebe outro dinheiro senão o que não deixam de lhe oferecer os
humanistas que se interessavam pelas letras tornaram-se, assim, revisores. urnigos a quem oferece um exemplar. Não nos enganemos, no entanto,
Citámos atrás vários casos'". pois Erasrno vivia muito bem da sua pena. Multiplicava as dedicatórias, a
Mas, em breve, a massa dos textos inéditos esgota-se, as contrafac-
ções aparecem e multiplicam-se, e, para se defenderem, os editores come-

E conhvculu dos 'sl\ldiosos ti ' Erasmo • da Cultura Portuguesa a carta dcdicató


11\ qm II II.IIUII IIIIIIHIIII,I.I dlll~'I1I 1I01l,j 1) . ./0110111,01"1'"lido lh ,l'll\ 1'i"7, IIs slIas
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220 o APARECIMENTO DO LIVRO
o PEQUENO MUNDO DO LIVRO
221

sua reputação permitia-lhe pedir aos editores uma quantidade bastante


seus manuscritos (aliás, não deixam de o dizer e disso se vangloriarem),
grande de exemplares, e tinha montado por toda a Europa uma verdadeira
Benserade, Rotrou, Corneille, La Fontaine, Moliêre, vendem as suas
rede de agentes que os distribuíam e recolhiam as recompensas'".
comédias e as suas tragédias. Em 1614, Honoré d'Urfé, por demais aris-
Os autores que, como Erasmo, recebem um número bem elevado de
tocrata para receber dinheiro dos seus livreiros, dá ao «camareiro» a
exemplares parecem ainda, no entanto, ao longo de todo o século XVI, singu-
terça parte da Astrée, e este «camareiro» recebe do livreiro 1000 libras
larmente pouco numerosos; provam-no os arquivos dos Plantin-Moretus.
a título de «gorgeta», além de 60 exemplares de autor. A partir de
Em certos casos mesmo, quando uma obra prenuncia ter uma venda
1660, possuímos muitos números, alguns consideráveis: Scarron
restrita, Plantin pede aos autores que se comprometam a comprar uma
recebe 1000 libras pelo Roman comique, 11 000 libras pelo Virgílio
parte da edição; é assim que, em 1568, Nicolau Mammeranus se vê obri-
travesti; Varillas obtém de Barbin 30000 libras pelo poema Heresia, e
gado a prometer comprar de 4 a 500 exemplares dos seus Epithalamia
os herdeiros de Monsieur de Saci obtêm 33 000 libras do livreiro
Alexandri Farnesii, e que, em 1572, Serianus compra, por 200 florins, 186
Desprez em troca dos manuscritos dele=. Nestas condições, compreen-
exemplares dos seus Comentarii in Levitici librum, de uma tiragem de
dem-se melhor os famosos versos de Boileau:
300. Tais casos são frequentes, em particular no que diz respeito aos
compositores de música. É evidente que a participação do autor é prati-
cada ainda hoje para as obras de venda limitada, mas notar-se-á, não sem Sei que um nobre espírito pode sem vergonha e sem crime
Tirar do seu espírito um legítimo tributo,
espanto, que a maioria dos autores de Plantin não recebia nenhuma espé-
Mas não posso tolerar esses renomados autores
cie de honorários; às vezes, apenas Plantin lhes dava alguns livros de
Que, enjoados de glória e famintos de dinheiro,
presente, como foi, por exemplo, o caso de Jorge Buchanan. Nestas condi-
Empenham o seu Apolo a um livreiro,
ções, João Isaac, que recebe 100 exemplares da Gramática hebraica
Fazendo de uma arte divina um ofício mercenário.
(1564), ou Agostinho Hunnteus, a quem Plantin doa 200 exemplares da
Dialectica, deviam considerar-se privilegiados. Por vezes, porém, Plantin
dá a esses autores pequenos presentes: em 1567, Adriano Funius recebe No entanto, os autores que, deste modo, conseguem subtrair grandes
pelo Nomenclator seis varas de veludo fino e é hospedado durante três quantias de dinheiro do livreiro são bem pouco numerosos. De facto,
dias. Acontece também - mas o caso é ainda relativamente raro - que
salvo talvez alguns casos isolados, no final do século sobretudo, os
Plantin aceite dar aos seus autores, além de certo número de exemplares,
montantes que os autores recebem continuam bastante pequenos. Para
uma certa soma pecuniária: em 1567, Pedro de Sarone recebe, pela
subsistirem, têm, por isso, de recorrer a outros meios. Continuam-se a
Instruction et maniêre de tenir livres de compte, 100 exemplares e 45
florins; e, em 1581, Guicciardini, 50 exemplares e 81 florins, pela revi- vender os prefácios; Corneille dedica Cinna a um financeiro, Monsieur de
são da Descrittione di tutti i Paesi bassi'", Montauron, que lhe dá 200 escudos>": exemplo tomado entre muitíssimos
Dentro em breve, parecerá normal aos autores venderem a um outros. Os senhores continuam, tanto pela preocupação de prestígio
livreiro o seu manuscrito por dinheiro ao contado. É verdade que muitos quanto por amor às letras, a manter escritores em suas casas. E com que
deles, os que são pessoas de certa posição, recusam aceitar dinheiro. Mas baixeza não se mendigavam as pensões concedidas por Luís XIV! Na
outros homens de letras não são tão altivos. Principalmente, os autores de v irdade, o homem de letras ainda não conquistara a sua independência
peças de teatro e os romancistas. Se Boileau e La Bruyêre não vendem os 11 rante os gandes e o Poder - pelo menos em França.

m HOYOUX, J., «Les moyens d'existence d'Érasrne», in Bibliothêqtu: cf'III//I/(/l/i,I'IIII'


'1'1 MAIr!'IN, 11. 1., «Ouclquc» usp 'rts dl' I' dition parisi nne au XVIIC si ele», in
1'1 RI'I//li,\'S/lI/('t" I. VI, 1944, pp, 7 ·59. snnat,«, 1" 11111.111 '.\,II 1(1) I111
1M I{OOSI;.S, M , ('/1/1.1111/11". 1'1/11/1111, .' ('(1., p. 7
"MIINloI IIIII·N. li. /"1"" 1111'//111" '111 \\/1' 1//,,1".1'1111 • IC).I7.\,. ' 7.
222 o APARECIMENTO DO LIVRO
O PEQUENO MUNDO DO LIVRO
223

* vistas pelos livreiros e pelos impressores. Estes procuravam entravar de


* * todos os _mo~os a .venda das obras publicadas «por conta do autor». As
c~rporaçoes. intervinham e esforçavam-se por mandar proibir aos autores
Se isto acontecia era porque, nessa época, os direitos dos autores tais ~rocedImentos; muito frequentemente, conseguiam-no. Contudo
ainda não estavam protegidos. Quando os livreiros tinham comprado um pressionados pela opinião, tal sistema, que mais ou menos obrigava o
manuscrito, o autor nada mais tinha a ver com a publicação da sua obra. autor a transformar-se em homem de negócios, quase se generalizou em
Mais ainda: como o princípio da propriedade literária ainda não existia, Fr~nça, em 1773, e~qu~nto na Alemanha, onde escritores como Lessing
qualquer livreiro tinha o direito de publicar os manuscritos de que podia ~dItavam as suas p:op~as obras, surgiam cooperativas de edição, a mais
arranjar uma cópia sem consultar o autor. Sabe-se, por exemplo, que o Importante das quais fOIa «República dos Sábios» (Gelehrtenrepublik) d
livreiro Ribou, tendo conseguido receber o texto das Précieuses ridicules, Klopstock (1774)243. e
publicou essa peça sem o consentimento de Moliêre, e obteve mesmo um
privilégio que proibia juridicamente o autor de, por sua vez, imprimir essa
obra. É certo que Moliêre conseguiu fazer anular esse privilégio>' , mas
*
* *
nem todos os autores tinham a mesma sorte ou eram tão bem vistos na
corte quanto ele. Seja como for, aliás, a forma de retribuição dos autores .pouco ~ p~~co, todavia, caminhava-se para a solução actual: o reco-
era propícia a levantar todas as contestações e a provocar todos os ranco- nhecirnenrn jurídico de uma «propriedade literária» do autor sobre a sua
res: a soma paga ao autor, para a compra do seu manuscrito, era fixada e obra, durante um certo tempo, antes de cair no «domínio público», e, em
paga, naturalmente, antes da publicação. Ora, como determinar então o todos os cas~s. em que fosse praticamente possível, sob uma ou outra
êxito que teria o livro? Se este fosse reimpresso com frequência, o autor forma, a participação do autor nos lucros realizados com a venda dos
não recebia mais nada. Compreende-se, nestas condições, que os livreiros exemplares.
tenham tido muitas vezes ocasião de se queixar das pretensões dos auto- Nesta .mat~ria, a Inglaterra abriu o caminho. A partir do século XVII,
res, naturalmente levados a sobrestimar a sua obra e a reclamar valores parece, os lIv:elros aceitaram, por vezes, prometer ao autor que lhes cedia
exorbitantes pelos seus manuscritos. Compreende-se também que muitos um manuscnto não reimprimi-Io sem a sua anuência - e, indubita-
escritores tenham ficado com a impressão de haverem sido enganados, velmente, sem lhe pagar nova importância. Em 27 de Abril de 1667 parti-
tanto mais que, no século XVIII, o uso das dilações dos privilégios se gene- culm:mente, q~ando. o poeta Milton vende o manuscrito do P~raíso
ralizara e que os livreiros gozavam, na prática, indefinidamente, do mono- perdido por .Clll~O lIb~a~, o seu editor, Samuel Simmons, promete que,
pólio da edição das obras cujo manuscrito tinham comprado; constituíam quando, a pnmeira e~lçao de 1300 exemplares estiver esgotada, Milton
assim, por vezes, fortunas enormes, enquanto os escritores, que delas recebera novamente ClllCO libras, e que a mesma soma lhe será paga outra
eram a fonte, ou os seus descendentes, podiam encontrar-se na miséria. ve~ ~uando forem vendidos todos os exemplares da segunda e da terceira
Por isso, para conservarem os benefícios e fiscalizarem a difusão das edições. E, em 1710, novos estatutos outorgados pela rainha Ana vêm
suas obras, muitos autores tentaram em toda a parte, a partir de finais do regulam~ntar a questão n~ p!~no j~rídico: doravante, a posse do copyright
século XVI, mandar imprimir os livros à sua custa. Saint-Amant, Cyran0242, , concedida ao au.tor e nao ja ao livreiro: é, portanto, a partir de então, o
por exemplo, não fizeram outra coisa, e com eles muitos outros, em autor que manda mscrever a sua obra no registo oficial e é considerado
França, na Inglaterra ou na Alemanha. Mas tais tentativas eram muito mal

KIRS 'IIBAUM, 1.., «Author 's copyright in England before 1640 . Th


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. pp. 41 R()' rAI K II I '», . P . '/} . I .10 "e ..
'." MONORÚDIEN, O., La Vil' littõraír« au XVW .1·ih·II', Paris, 191\7, p, ')7~ e St'As. /' " ',., ,I'.! nvt I ges c (' librairie
1/'1/.\ "1 u'n /(I'XIIIII', !'lIm, 11)()1l~ M II.K i\ li, 11., 1111I1/111111''' drs ltlhllotlu-l; ..\lI'i,\'.I'I'/I.I'I'''II/i
• MAI~TIN, 11 .J, lcn 111 I I J1 tIO " q' '
o PEQUENO MUNDO DO LIVRO 225
o APARECIMENTO DO LIVRO
224

seu proprietário. Ao mesmo tempo, conserva os monopólios da impressão pouco a pouco, iria surgir uma doutrina. Por ocasião da venda de acervos
e da venda por um período de catorze anos, renovável por outros catorze, de livrarias, alguns autores indignaram-se ao ver vendidos os privilégios
se ainda for vivo aquando do término do primeiro prazo. Daí em diante, das suas obras, sem que eles mesmos nada recebessem. Por exemplo,
os autores ingleses recebem dos seus livreiros montantes às vezes muito quando, em 1736, um grupo de livreiros compra o acervo de Ribou, que
compreendia cinco peças de Crébillon, este último ataca os livreiros no
significativos?". . .
No continente, levou-se muito mais tempo a reconhecer os direitos Conselho; estes propõem-hhe, então, 500 francos, na condição de realizar
dos autores, a quem os livreiros continuam a comprar manuscritos por algumas correcções nas suas obras; precisando de dinheiro, Crébillon
empreitada. Contudo, ao longo do século XVIII, os preços parecem aum~n- aceita essa transacção. Quinze anos mais tarde, contudo, em 1752, obtém
tar. Na Alemanha, os livreiros de Leipzig pagam, às vezes, somas muito um privilégio do rei pela colecção das suas obras impressas na Imprensa
elevadas na segunda metade do século. Em França, os preços permanecem Real. Os livreiros, que haviam comprado os manuscritos de Crébillon,
em geral baixos até por volta de 1750. O livreiro Prault dá, por exemplo, opuseram-se então ao registo desse privilégio, que só em 1755 teria efeito,
1000 libras a Voltaire pelo Filho pródigo, e essa soma é ainda bem supe- após ter expirado o que haviam obtido em 1746 (mas que teriam, em
rior às recebidas por Crébillon e Destouches, que não são, nem um nem condições normais, conseguido prorrogar).
outro, principiantes. Segundo Rousseau, Condillac teve dificuldade em Não se conhece o resultado desse caso. Seja como for, os livreiros
vender por 100 escudos, em 1747, o Ensaio sobre a origem dos conheci- sofreriam em breve uma grave perda: em 1761, as netas de La Fontaine
mentos humanos ao livreiro Durand. Quanto a Rousseau, recebe 25 luíses obtinham um privilégio para as Fábulas e os Contos da autoria de seu avô.
pelo Discurso sobre a desigualdade, 30 pela Carta a D'Alembert, e 6000 Os livreiros tentaram opor-se, argumentando que a propriedade dessas
libras pelo Emílio. Buffon recebe mais de 15000 libras por cada volume obras lhes pertencia em exclusividade, em virtude dos direitos adquiridos,
da História Natural, sendo verdade que assume despesas bastante altas em 1686, por Barbin, livreiro de La Fontaine, e dos privilégios e prorro-
para a realização das estampas. Mas, a partir de 1770, sobretudo, os auto- gações de privilégios obtidos desde então; por um decreto do Conselho,
res, mesmo secundários, recebem somas mais elevadas?". de 14 de Dezembro de 1761, inspirado por Malesherbes, a sua oposição
Se os livreiros aceitam cada vez mais pagar bastante caro um manus- foi declarada nula. Em breve, os direitos dos autores voltariam a ser
crito, geralmente não permitem que os autores participem dos lucros. No confirmados, quando um julgamento declarou nulo o sequestro operado
início do século, é certo que Tomás Corneille parece as~ociado à venda do pelos livreiros em casa de um escritor, Luneau de Boisgermain, que
seu Dicionário, mas trata-se de um caso excepcional. As vezes, em casos editava as obras à sua custa e procurava vendê-Ias.
particulares, os livreiros aceitam pagar, depois de satisfeitas t~das as Desde então, sucedem-se os memoriais sobre os respectivos direitos
despesas, uma parte dos lucros ao autor. Em 1742, Rousseau assma um dos autores e dos livreiros. Os livreiros encarregam Diderot de defender
contrato deste tipo pela Dissertação sobre a música moderna; aliás, nunca os seus pontos de vista, enquanto, na Direcção da Livraria, Malesherbes
recebeu nada. D' Alembert faz o mesmo em 1753, com Mélanges de liué- " depois, Sartines, estudam a questão. Ambos se mostram favoráveis aos
rature, d'histoire et de philosophie. Mas tal método, que exigia, segundo autores. Em Agosto de 1777, enfim, cinco decretos procuram regulamen-
Diderot, «demasiada confiança de um lado, demasiada probidade do lar a questão, completados depois por um outro decreto de 30 de Julho de
outro», permaneceu excepcional. 1778. Doravante, os autores gozam de privilégios indefinidos, e os livrei-
Contudo, ao longo do século, a questão dos direitos dos autores sobre ros de privilégios temporários de (pelo menos) dez anos, que não podem
as suas obras suscitava panfletos e processos cada vez mais numerosos, e, s 'r renovado , a menos que sejam aumentados de um quarto. Qualquer
uutor que obtiver um privilégio tem o direito de vender o livro em sua casa
l' pod rá, as v zcs que quiser, mandá-lo imprimir à sua custa pelo impres-
SOl que 'S .olh 'r e mandá 10 vcnd r pelo livreiro que escolher, sem que os
244 GREG, W.W., Some aspects and problems of London puhlishing /)1'/WI'('11 1550
l'Olllrulos ou acordos que tiv 'r conclufdo possam ser considerados cessão
(///11 16'iO, Oxford, 1956. dl' 1111 IIl' '111
, I'FI ISSON. 1,'.1 !/IIIIIII/I'.\ tlr 11'1//1'.1 (/lI \\'111' \';/11,', I'IIII~, I (li I
226 o APARECIMENTO DO LIVRO

Dezasseis anos mais tarde, por fim, a Convenção publica uma lei a
regulamentar os direitos de autor e a lançar as bases da actual legislação:
o autor tinha o direito de vender e distribuir as suas obras e de ceder a sua
propriedade, total ou parcialmente, e o direito de propriedade do autor
prolongava-se a favor dos seus herdeiros dez anos após a sua morte (prazo
elevado hoje para cinquenta anos). E, pouco a pouco, no final do século xvrn
e no início do século XIX, leis análogas proclamavam em toda a Europa os
direitos dos autores. Desde então, estes possuíam os meios de defender os
seus interesses. No século XIX, a maioria deles conclui com os seus edito-
res contratos sobre a impressão das suas obras para um dado número de
exemplares, que preserva os direitos em caso de reimpressão. É certo que Capítulo VI
o «ofício de autor» nem sempre assegura rendas consideráveis; Balzac
que, é verdade, não sabia fazer contas, vive crivado de dívidas, apesar de GEOGRAFIA DO LIVRO
um trabalho encarniçado. Mas, pelo menos, os autores podem obter remu-
. nerações proporcionais ao êxito das obras?".
Assim se constituiu, pouco a pouco, a profissão de autor. Assim, I. OS AGENTES DE DIFUSÃO
pouco a pouco, o autor admite e faz admitir o seu direito de obter proveito
material do seu trabalho e de ser dono da sua obra. Ao mesmo tempo, Uma vez aperfeiçoada a técnica de impressão, nas oficinas de
liberta-se frequentemente dos laços que o ligaram por muito tempo à Gute~berg, e d~.Fust e Schõffer, em Mogúncia, surgiu seguramente uma
generosidade de um me cenas ou às subvenções do Poder. Mas não talvez questao no espírito dos primeiros tipógrafos: a nova arte continuaria a ser
de todos os laços: associado costumeiramente aos lucros, a partir de agora, monopólio deles? Ou, pelo contrário, veriam nascer tipografias concor-
precisa de buscar as «grandes tiragens», e, portanto, tentar agradar a um rentes? Schoe~e:, por. seu lado, procurou impedir qualquer indiscrição:
público o mais vasto possível. De modo que, no fim de contas, encontra-se s~gu~do a tr~dlçao, tena mesmo obrigado os seus operários a jurarem que
talvez estimulada a produção de massa, em detrimento de uma produção nao divulgariam os seg~edos que lhes havia ensinado. Mas já havia alguns
de qualidade. ~nos qu: muitos 'pesqUIsadoras andavam a tentar resolver o problema da
rrnpressao - e o mteresse da nova invenção, quer no ponto de vista inte-
lectual quer no ponto de vista comercial, era grande demais para que o
segredo pudesse ser guardado.
E, assim, aqueles que tinham inventado a imprensa não conservaram
o "" monopólio P?r mais d~ d~z anos. Já em 1458, o rei de França
enviara talvez alguem a Mogüncia para se informar dos novos proces-
SOS247. Em 14:9, Me~telin publicava uma Bíblia em Estrasburgo.
Enquanto se cnavam diversas oficinas mesmo em Mogúncia, as cidades
do vale renano, e, depois, na Itália, as cidades da região do PÓ, viam

'1/ S h '
, () I~' a 'v 'nlllulllllSS, o de Jenson ver CLAUDJN A HI·stOI'.o••• do<- l' lmpnmene
, .
. ',"
14/, BOUVIER, R. e MAYNIAL, E., Les Compres dramatiques do RlIIZlIl", Paris, 1'"/',/11I/11" vol I, p. lI, N "." (HJlC/NARD. J" inl1ul/l'/ill de Ia Socié/é desAntiquaires
I I) 'H rlI' //1/1/11'. II1I 11)11, P \1)
228 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
229

chegar tipógrafos em grande número, antes de 1475, o mesmo aconte- 1459-1460. Alguns anos mais tarde, abandona as margens do Reno. Como
cendo com Paris, Lyon, Sevilha e muitas outras cidades'". muitos impressores alemães da primeira hora, foi atraído pela Itália - país
onde as letras são apreciadas e onde os tipógrafos podem aspirar ao êxito.
* Neumeister fez parte dessa colónia de operários alemães que foram leva-
* *
dos por Sweynheim e Pannartz a Subiaco e a Roma, em 1464? Ou foi
Durante muito tempo, a profissão de impressor (como antes a de fun- chamado a Roma com Ulrich Hahn pelo cardeal Torquemada? A verdade
didor de peças de artilharia)* permaneceu quase exclusivamente coisa é que, em 1470, instala-se em Foligno, pequena cidade da Úmbria e sede de
germânica. Os mestres das primeiras oficinas foram antigos operários de um bispado. Aí, encontra financiadores e sócios: o ourives Emiliano Orfini
Gutenberg ou de Schoeffer, ou homens que tinham aprendido a profissão e se~ irmão, Marietto, e, em seguida, Evangelista Angelini. Com a sua ajuda,
no contacto com esses operários. publica a Historia belli adversus Gothos, de Leonardo Bruni, depois as
Curiosa história a desse pequeno grupo de homens, cujo espírito Epistolae adfamiliares, de Cícero, e a primeira edição das obras de Dante.
empreendedor e aventureiro nos causa admiração, e que abandonam a ofi- Mas os seus sócios cansam-se, talvez por acharem essas impressões
cina do seu mestre e vão pela Europa, como muitos tipógrafos do seu pouco rendíveis. Os negócios vão difíceis para os impressores alemães na
tempo, levando consigo o material, praticando e ensinando a nova arte. Itália porque o comércio do livro ainda não está organizado: mesmo em
Frequentemente, são verdadeiros nómadas que param nas cidades ao Roma, Sweynheim e Pannartz estão à beira da falência, com as suas lojas
acaso das encomendas e que, ricos devido apenas ao seu saber e a um fe~letas de liv~os não vendidos: precisam de solicitar o apoio do Papa
material muitas vezes reduzido, vão em busca de um patrocinador que XIStOIV. DepOIS de ter estado algum tempo preso por dívidas, Neumeister
lhes permitirá fixarem-se numa terra com as condições necessárias para o tem de ir-se embora. Os operários que ele tinha reunido dispersam-se.
estabelecimento de uma oficina tipográfica estãvel'". Nada os detém Alguns dirigem-se a Perúgia, onde Bracio Baglione, um rico fidalgo, cria
durante as viagens: um médico de Nuremberga, Jerónimo Münzer, não uma nova oficina. Neumeister não os segue. Volta, quase de certeza, a
encontra três impressores alemães estabelecidos em Granada, em 1494 Mogúncia: é aí, muito provavelmente, que, em 1479, imprime as
- apenas dois anos após a libertação desta cidade do domínio árabe? Dois Medita~ões de Torquemada, ilustradas com gravuras de metal que traem
outros tipógrafos, originários de Estrasburgo e de Nordlingen, não hesitam lima ongem renana. Mas não se demora nessa cidade, onde a concorrên-
em fixar-se em São Tomé, ilha insalubre da África no Golfo da Guiné**. cia .é ~iolenta e os capitais lhe faltam, sem dúvida. Passa talvez por
Entre esses homens está João Neumeister=", um clérigo que, muito Bas~le,la,onde encontra numerosos confrades de oficina, e por Lyon, onde
provavelmente, trabalhara com Gutenberg, de quem teria sido sócio em os tipógrafos alemães afluem de todos os lados; depois, aventura-se pela
strada de Toulouse, incessantemente percorrida por comerciantes de
Lyon, alguns dos quais já levavam livros consigo. Em 1480, encontramo-Io
248 Cf. mapa, pp. 248-249.
inst~lado em Albi, cidade episcopal importante e rica, onde um tipógrafo
249 HAEBLER, K., Die deutschen Buchdrucker des XV. Jahrhunderts im Auslande,
p~)dlaespe.rar encon~rar:estabilidade. Talvez tenha sido atraído para lá pelo
Munique, 1924, in-folio. bispo Lenco, um italiano. De qualquer modo, imprime em Albi um
250 CLAUDIN, A., Les origines de l'imprimerie à Albi en Languedoc (1480-1484). p 'queno opúsculo moral de Eneias Sílvio Piccolomini, De amoris reme-
Les pérégrinations de J. Neumeister, compagnon de Gutenberg en Allemagne, en 1talie et dio, uma Historia septem sapientium, uma nova edição, com as mesmas
en France (1483-1484), Paris, 1880; CHARLES-BELLET, L., «Les deux séjours à Albi estampas das Meditações de Torquemada e um grosso missal romano in-
d'un compagnon de Gutenberg», in Revue du Tarn, 1881, pp. 81-91. folio obra de venda garantida, que lhe havia encomendado o cabido de
* Fr. cannonier, port. ant. bombardeiro, profissão de Herman de Kempis, tipógrafo I.yon. Y, nda tão bem garantida que logo foi imitado por Mateus Husz,
alemão instalado em Portugal nos princípios do século XVI. (N. R.) unprcssor d Lyon. Depois, Neumeister troca Albi por Lyon, talvez
** Está hoje provado, sem margem para dúvida, que não se tratava de «tipógrafos» cluuuudo pelo bispo Carlos ti' Bourbon, Em 1485, imprime nessa cidade
mas sim de «carpint iros prcnsadorcs», d signados por impressores, cquivocumcnn-, 110 ti 111Mixs.rl cujn t' ll'lU;:tO t póll ticuluruu-nu .uidada. lincontra. cntao. um
tl' to lnnno do /)/111;0 dl' MlllI/l" (N g) III1VO Jlllllt'llIlI 11'1'10 ('.lloIH .11' 111 JlOI' nllllll dI' VI 1Ií1do J)lllillado
230 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
231
- um amigo de Comines, o qual escreveu as suas Memórias a pedido do
é~ulos, foram levados a estabelecer os seus prelos nesta ou naquela
prelado. O próprio Catone reordenou e corrigiu um breviário da sua dio-
CIdade, e por quem foram atraídos? Quem forneceu a esses homens todos
cese, que pediu a Neumeister para imprimir, em 1489. Este, em 1495,
publica ainda o Missal de Uzês, de parceria com Topié. Mas todas essas eles desprovidos de capital, os meios para empreender uma edição? Em
peregrinações e trabalhos não tinham enriquecido o antigo parceiro de r:sumo: de que modo se espalhou a tipografia, pouco a pouco, durante três
seculos, por toda a Europa Ocidental?
Gutenberg; isento de imposto por ser «pobre», em 1498, nesse mesmo ano
ingressa, como simples oficial, na oficina de Topié, seu antigo sócio -
antes de morrer obscuramente, em 1507 ou 1508. *
É certo que os pares de Neumeister não conheceram todos um fim * *
semelhante; muitos deles tiveram mais êxito e fixaram-se mais depressa.
Mas este exemplo mostra bem como os primeiros tipógrafos, os oficiais Primeiro factor - importante sobretudo no período inicial: a acção de
de Gutenberg e de Schoeffer - e, mais tarde, os discípulos destes - ensi- alguns homens e de alguns grupos afadigados em obterem certos textos e
em difundi-Ios.
naram à Europa a arte da impressão. Mostra também por que razão o
nomadismo é um traço característico da profissão de impressor. Durante «Mecenas», em primeiro lugar. Como João de Rohan senhor de
muito tempo, encontram-se tipógrafos ambulantes que procuram, nas suas Bréhan-Loud~ac, menos rico e menos poderoso do que poderia sugerir o
viagens, lugar para instalarem um posto fixo; durante o século XVI, e se~ nome, POI~e~a Rohan do ramo mais novo, mas amigo das letras, pos-
mesmo no século XVII, sobretudo o Sudoeste da França é atravessado por s~mdo um behsSI~? castelo, estupenda residênci~ do século XV que se vê
uma multidão de tipógrafos ambulantes que se detêm durante alguns aI~da a alguns quilórnetros da comuna de Saint-Etienne du Gué de l'Isle.
meses, por vezes durante alguns anos, numa cidadezinha onde encontram FOIperto_dess~ castelo ~ue João de Rohan, em 1484, instalou dois impres-
trabalho, antes de tornarem a partir para outro lugar*. Factos isolados esses? sores, Joao Cres e Robm Fouquet, cuja oficina produziu pelo menos dez
Pensemos, no entanto, nos fabricantes de retábulos franco-flamengos, que obras e~ nove anos. Juntas, formavam uma verdadeira enciclopédia dos
levam a mesma vida itinerante, na mesma época. Ainda no século XVII, co~heclmentos que um senhor culto desse tempo poderia desejar obter: Le
muitos tipógrafos, durante as suas voltas pela França, deter-se-ão às vezes Tre~assement de Notre-Dame; Les Loys des Trépassés avec le Pêlerinage
numa cidade para nela se fixarem, encontrando simultaneamente uma Maistre Jean de Mung en vision; La Patiente de Grisélidis; Le Bréviaire
esposa e os capitais necessários para se estabelecerem por conta própria. des Nobles, poema em 445 versos; L'Oraison de Pierre de Nesson; Le
Ou então, ao cabo de alguns anos, voltarão a uma cidade que lhes pare- Songe d~ Ia.Pucelle; Le Miroer d'or de l'âme pécheresse; Les Coustumes
cera propícia para a sua actividade - quer para criar uma oficina de et ~onStltutlOns de Bretaigne, e, naturalmente, uma Vida de Jesus Cristo
impressão, quer para abrir uma loja de comércio livreiro'". aSSImcomo o inevitável Segredo dos Segredos de Aristóteles252. '

Cas~s semelhantes ocorrem com frequência. Às vezes, mesmo, são


pe~soas sl.mples que chamam um impressor, tão grande é o interesse que
11. O QUE ATRAI E FIXA AS OFICINAS
a t1po~rafla desperta. Mas, com maior frequência, os homens que estirnu-
I,am a lmpr~nsa no seu início são eclesiásticos: nos primeiros tempos, de
De que maneira os primeiros tipógrafos, que partiram de Mogúncia
Iact?, a Igreja mostrou-se muito favorável à nova arte. Os serviços que esta
e das cidades da região renana, e, depois deles, os seus discípulos e futuros
~(~d~aprestar apareciam mais claramente porque, no século XV e no
~11JC~O ~o século XVI, as guerras provocaram a destruição de muitas
251 MARCHAND, I., Une enquête sur l'imprimerie et ia librairie en Guyenne, Mars, I ircjas Juntamente com os livros litúrgicos que nelas se encontravam.
1701, Bordéus, 1939.
* Entre os impressores alemães que trabalharam em Portugal, o caso mais frisante
'" ('LAUDIN. A.• 1.1',\'IlIIprilllerie,\' particuliêres en France au XV" siêcle Par'
d nomadismo c o de Joao Ghcrlinc, () qual, vindo d Bar' 'lona, ch 'ga a Bru '11 i volta ck
I HII7 111 H u; 1>1'I A 1I01~nFRIE, A, 1,'IIII"I'illll'f'il' 1'11 Bretagne ali xV" siêcl«, ~ant~::
I lI)) l' Ililhlllllll dl'lHlI\ 1111 (inllll. SlIlillllóllll a l 'Ioulou I (N N)
IH7H
o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 233
232

Em 1508, por exemplo, os cónegos de Dole, após a conquista e o saque ser descoberta em Mogúncia é a arte das artes, ciência das ciências.
da cidade pelos franceses, lamentam-se e reclamam porque já não têm Graças à sua rápida difusão, o mundo foi dotado de um tesouro magnífioo,
«livros anotados ... e também outras coisas necessárias para cantar mati- até então enterrado, de sabedoria e de ciência. Um número infinito de
nas». E qual é o cónego que não canta matinas? Os impressores trabalham obras que muito poucos estudantes podiam consultar até então, em Paris,
sem descanso para produzir, em quantidade, os livros de igeja que, então, em Atenas, e nas bibliotecas de outras grandes cidades universitárias, são
fazem falta. A história do Missal de Besançon é suficiente para o com- agora traduzi das em todas as línguas e espalhadas por todas as nações do
provar: depois de ter sido impresso em Salins, em 1484, é impresso em mundo»>',
Paris por Nicolau Du Pré, em 1497, e reproduzido em Lyon, no mesmo Muito frequentemente, as oficinas tipográficas que realizaram seme-
ano, pelo impressor Maillet, com um endereço veneziano falso. Estas lhante obra foram criadas ou mantidas por eclesiásticos, muitos dos quais
múltiplas impressões do mesmo missal mostram como era preciso dispor se interessam pela Antiguidade Clássica. É assim que, a partir de 1466, o
dessas obras em grande número de exemplares. Em muitos lugares, para Cardeal Torquemada parece ter contribuído para chamar a Roma o tipó-
terem os livros de que precisam, os bispos mandam vir impressores, como grafo Ulrich Hahn d'Ingolstadt, confiando-lhe a impressão das suas
o prova a história de Neumeister. Frequentemente também, são simples Meditações, enquanto, em 1469, o Cardeal Caraffa, por sua vez, trazia à
cónegos que financiam as despesas de instalação de uma oficina destinada mesma cidade Jorge Lauer de Wurzburgo, que produziu, de 1470 a 1484,
a imprimir missais e breviários. Prova disso é o cónego que convida João pelo menos 33 edições, entre as quais a do Canzoniere de Petrarca. Quase
Du Pré, o melhor impressor de Paris, a ir a Chartres e o instala na casa do por toda a parte, em Paris especialmente, encontram-se casos análogos.
cabido, a fim de aí imprimir um breviário e um missal para uso da diocese São principalmente numerosos os conventos que acolhem impres-
(1482-1483)253. sores, e mesmo os monges que se tomam tipógrafos. Em França, os frades
Multiplicar os livros da Igreja foi certamente o que os eclesiásticos de Cluny acolhem o impressor Wenssler'", enquanto, em Dijon, João de
pediram com frequência aos tipógrafos, porque, antes de mais nada, pre- Cirey, abade de Cister, recebe João Metlinger, originário de Augsburgo,
cisavam desses livros. Mas não lhes pediram apenas isso. Era preciso mul- que vinha de Dôle (1490)256.Na Alemanha, os Irmãos da Vida Comum, de
tiplicar igualmente os textos sagrados e as obras de teologia, facilitando, Rostock, fundam uma oficina e, num dos primeiros livros que imprimem,
assim, o trabalho dos doutores; multiplicar também os textos da Antiguidade qualificam a tipografia de «mãe comum de todas ciências» e «auxiliar da
Clássica e as obras destinadas aos estudantes e contribuir, deste modo, Igreja». Eles próprios se dizem «padres de Deus, ensinando, não a palavra
para a aquisição do saber; multiplicar sobretudo os textos de devoção falada, mas a palavra escrita»?".
popular: pareceu ser esse, então - e assim foi, com efeito -, o papel da Aparecem, por esta altura, oficinas entre os cónegos regrantes de
imprensa. Não sem razão, o primeiro livro importante impresso em Beromünster, na Argóvia, em 1470; entre os Beneditinos de Santo Ulrich
Mogúncia foi uma Bíblia. Não admira, pois, que o arcebispo de Mogúncia, e Afra, em Augsburgo, em 1472; entre os de Bamberg, em 1474; entre os
Bertoldo de Henneberg, qualifique a imprensa, no seu início, de «arte de Blaubeuren, em 1475; entre os premonstratenses de Schussenried, em
divina», e que os bispos alemães concedam frequentemente indulgências 1478; entre os eremitas agostinhos de Nuremberga e os Beneditinos de
àqueles que imprimem e vendem livros. O entusiasmo do clero pela São Pedro de Erfurt, em 1479258M . ovimento idêntico na Itália, onde, sem
imprensa parece generalizado, então, e o redactor da Crónica de Koelhoff ralar no discutido caso de Subiaco, pode recordar-se que, durante mais de
pode escrever, ao ver a obra dos primeiros impressores: «Quanta elevação
até Deus, quantos íntimos sentimentos de devoção não se devem à leitura '" IANSSEN, I., L'Allemagne et Ia Reforme, Paris, 1887-1914,9 vols., t. I, p. 7 e segs.
de tantos livros que a imprensa nos legou», enquanto se lê, numa edição '" O LlSLE, L., Livres imprimés à Cluny au xv' siêcle, Paris, 1897, in-S.".
do Fasciculus tempo rum, as seguintes linhas: «A imprensa que acaba d "" L MENT-JANIN, M. H., Recherches sur les imprimeurs dijonnais et sur les
"11/11;1/11''',..1' do /1/ CÔII' d'Or, Dijon, 1883, in-B.", p. I e segs.
'1/ Ji\NSSI\N. J., tll'. cit .. p. 14~'S~·is,

!lI i\N(il()IS, M .11' Mil,11'! til' ('/11/11/1',1 inuu luu 1'1/ 118 ,('11111111' , filO I " thulrn!
GEOGRAFLA DO LIVRO 235
234 o APAREClMENTO DO LIVRO

Apesar das ruínas materiais e morais - resultado das guerras e da


vinte anos, funcionou uma oficina no Convento de São Tiago de Ripoli, em
ocupação inglesa - que entravaram o ensino durante a primeira metade do
Florença, onde se imprimiram, entre outros, os trabalhos de Marsílio Ficino'".
século xv, Paris tinha-se tornado de novo, no tempo em que a imprensa
Exemplos semelhantes abundam, mas a Igreja não podia assumir, ao
aparecia em Mogúncia, uma grande cidade universitária, povoada de
tempo da imprensa, o papel que desempenhara para difundir os textos na
doutores, de mestres e estudantes vindos de toda a parte .. Estes eram
época dos manuscritos. Não bastava chamar um impressor, fornecer os
numerosos nas Faculdades de Leis e de Medicina, e, sobretudo, de Artes
fundos necessários para o seu estabelecimento, fazer-lhe algumas enco-
mendas ou mesmo instalar prelos num mosteiro e ensinar aos monges a e de Teologia. De acordo com a organização tradicional, vinte e quatro
profissão de impressor*. A imprensa era uma indústria, e todo o empreen- estacionários, fiscalizados por quatro grandes livreiros, encarregavam-se
dimento estava fadado a um fracasso mais ou menos remoto se, ao fim de de copiar os clássicos indispensáveis: Hipócrates, Galeno e os seus intér-
algum tempo, a nova oficina não se achasse estabelecida sobre bases bas- pretes, para a Faculdade de Medicina: os textos dos decretos, com os seus
tante sólidas e saudáveis para obter lucros - ou, pelo menos, cobrir as suas comentários, para a Faculdade de Leis; para os artistas, as obras de
despesas. De modo que, na realidade, entre todas as oficinas criadas por Aristóteles, com os comentários de São Tomás, de Occam, de Escoto, de
mecenas ou eclesiásticos, e também entre aquelas cuja criação é por eles Buridan, o Doutrinal de Alexandre de Villedieu, a Aritmética de Boécio,
favorecida, apenas subsistem, ao fim de certo tempo, as que se encontram os tratados de Sacrobosco e de Pedro Alíaco sobre a Esfera. Finalmente,
em condições comerciais convenientes. ao grupo numeroso dos teólogos fornecem cópias da Bíblia e das
Sentenças de Pedro Lombardo. É a esses mesmos livreiros que os clérigos
* matriculados na universidade compram algumas outras obras, que for-
* * mam o núcleo de qualquer biblioteca clerical: as de Santo Agostinho, São
Bernardo, São Boaventura, Nicolau de Lira, Vicente de Beauvais, cuja
Antes de mais punha-se a questão do escoamento da produção: era
preciso encontrar, se possível no local, uma clientela estável e suficien- posse será o orgulho dos mais ricos, e sobretudo os Sermões de Iacopo da
temente ampla. Essa a razão por que as oficinas se multiplicam e pros- Varaggio, a Vita Christi de Ludolfo de Saxónia, assim como diversos
peram nas grandes cidades universitárias. Nada mais esclarecedor, nesse outros textos de devoção e de moral prática; ou, ainda, manuais para uso
ponto, do que a história dos primórdios da tipografia parisiense. Nada dos confessores, procurados, naturalmente, por serem mais manuseáveis,
mostra melhor, por outro lado, com que espírito e por que razões um de utilização mais corrente, e de peso e preço mais modestos do que os
pequeno grupo de clérigos podia ser levado a chamar impressores a uma grandes textos dos Doutores e dos Padres.
cidade; e como estes conseguiam fixar-se nela e desenvolver os seus
negócios graças à existência de condições favoráveis, sem hesitarem em
*
alterar, se necessário fosse, a orientação da sua empresa'".
* *
Entretanto, a obra dos humanistas italianos começa a penetrar em
França. Os grandes universitários parisienses do fim do século XIV e
25' FINESCHI, v., Notizie storiche sopra ia stamperia di Ripoli, Florença, 1781;
GALLI, G., «Gli ultimi mesi della stamperia di Ripoli e Ia stampa deI Platone», in Studi e
início do século xv, tanto quanto os seus predecessores do século XIII,
ricerche sulla storia delta stampa dei Quattrocento, Milão, 1942, pp. 159-184. aliás, não ignoravam a Antiguidade e a bela língua latina, cuja tradição
260 RENAUDET, A., Préréforme et humanisme à Paris pendant ies premiêres guer- nunca se perdeu completamante; as relações com a Itália são muito acti-
res d'Italie (1494-1517), Paris, 1953, passim; CLAUDIN, A., Origines de l'imprimerie à vas na segunda metade do século XV. Guilherme Fichet, que fez numero-
Paris. La premiêre presse à ia Sorbonne, Paris, 1899, in-S."; MONFRIN, J., «Les Lectures sas viagens a Itália e acabaria por morrer em Roma, ocupa, por volta de
de Guillaume Fichet et de Jean Heylin d'aprês les registres de prêt de Ia Bibliothêquc d 1470, o c mtro de um grupo onde se professa, ao mesmo tempo que o
Ia Sorbonne», in Bibliothêque d'Humanisme et Renaissance, 1955, t. XVII, pp. 7 '23. r 'sp .ito p 'Ias doutrinas ti Escoto c de , ão Tomás, () amor à Antiguidade
* No caso português, recorde S' li instuluçào da tipografia em Coimbrn, por (i(.'1 mnu l aos l'Iassil'1I1\ latinos N, SSl' 'IUpO. ral Sl' S -ntir a 11 ccssidndc til possuir
Clalllllldl" l'llI I 11),li pl'llldo dos rOIll 'O~ 1(' 'Ililttl ~ dl' Slilttil ('1111 (N /( )
236 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
237 I
textos correctos de autores antigos. Ora, se os manuscritos dos autores sobre o quarto livro das Sentenças de Pedro Lombardo? Vimos atrás que
mais ensinados são relativamente numerosos, as cópias das obras de este universitário, discípulo da doutrina de São Tomás, recrutava os seus
Cícero, de Virgílio ou de Salústio, são raras e cheias de erros. Reproduzir amigos entre os «antigos», ao mesmo tempo discípulos de Escoto e de São
esses textos com exactidão e em grande número de exemplares seria Tomás, e amadores das belas-letras.
trabalho impossível de executar em tal cadência, não fora a existência do Não é de admirar, portanto, que, depois de estabelecidos na rua
novo processo de reprodução dos textos - a imprensa. De facto, desde há Saint-Jacques, no Soleil d'Or, Gering e Friburger, tendo continuado a
alguns anos, os livros impressos são conhecidos e utilizados em Paris: publicar, sempre que houve ocasião para tal, obras de escritores clássicos
Fust e Schoeffer vendem aí uma parte da sua produção, e Fust, que na - especialmente de Virgílio -, tivessem imprimido, para um público mais
juventude estivera inscrito nos registos da nação alemã da Universidade, vasto, os textos filosóficos, teológicos e canónicos tradicionais, e já não
fez já numerosas viagens de negócios a Paris. Tem até um representante em caracteres redondos, mas em caracteres góticos: foi assim que publi-
nessa cidade: Hermann de Statboen. Nada de admirar, portanto, que um caram, por exemplo, algumas obras de Aristóteles, as Postilla de Nicolau
outro alemão, João Heynlin, de Stein, que era prior da Sorbonne em 1470, de Lira, ou ainda a reedição dos Comentários de Escoto sobre o quarto
tivesse a ideia de mandar vir tipógrafos do seu país de origem e de os livro das Sentenças, que já tinham imprimido na Sorbonne. Mas sobre-
instalar nos próprios edifícios do colégio que dirigia. Assim se criou a pri- tudo, a partir de então, executam obras de devoção, tratados de moral prática
meira oficina tipográfica parisiense, na qual Ulrich Gering, de Constança, e manuais para uso dos confessores, que estão certos de vender ainda mais
e Miguel Friburger, de Colmar (um mestre de artes da Universidade de facilmente: entre outros, o Manipulus curatorum de Guido de Montrocher,
os opúsculos devotos de João Nider, Sermões de Utino, e, por certo, a
Basileia, que devia ter conhecido Heylin durante os seus estudos), traba-
inevitável Lenda dourada de Iacopo da Varaggio.
lharam assistidos por um operário, Martim Krantz, de Stein, oriundo, pois,
Assim, a necessidade de adaptar a produção a um público mais vasto,
da mesma cidade que Heynlin. Durante três anos, os prelos da Sorbonne
para equilibrar as contas e obter lucros, leva os primeiros impressores
proporcionaram edições de Gasparino de Bérgamo (as Cartas e o tratado
parisienses a aventurarem-se na publicação dos textos mais procurados.
Da ortografia), obras de Salústio, de Valério Máximo, o De officiis de Evolução clássica, que mostra como os responsáveis pelas grandes casas
Cícero, as Elegâncias de Lourenço Valla, e a Retórica, na qual Guilherme editoras são levados, mais cedo ou mais tarde, a não darem a lume exclu-
Fichet, que tinha encorajado os esforços de Heylin e de Gering, resumia o sivamente obras cultas e publicações científicas, mas a interessarem-se
seu conhecimento prático das elegâncias latinas. pela edição de pequenos livros que, por serem mais acessíveis, são objecto
Mas o grupo dos humanistas parisienses ainda era restrito e os de frequentes reimpressões.
amadores das belas letras pouco numerosos; assim, o mercado deve ter
ficado saturado bem depressa. Por outro lado, os textos antigos a serem *
editados eram ainda, sem dúvida, difíceis de conseguir, e a partida de * *
Fichet para Itália deve ter reduzido a actividade do pequeno círculo de que Na época em que publicava as obras da nova série, Gering já não era
era o principal animador. Por isso, Gering e os seus companheiros tiveram o único impressor estabelecido perto da universidade: na mesma rua de
de mudar a orientação da oficina, dirigindo-a, já não para os poucos letra- Saint-Jacques, duas casas para lá do Soleil d'Or, em frente da rua
dos que os tinham chamado a Paris, mas para toda a Universidade. Graças Fromentalle e quase em frente do colégio de Cambrai, dois novos tipó-
aos lucros obtidos com os trabalhos executados na Sorbonne, puderam grafos, também de origem germânica, tinham instalado uma oficina com
abandonar a antiga oficina, renovar e adaptar o seu material e suportar as a tabuleta do Cavaleiro do Cisne: um mestre em artes, Pedro César, e o
despesas de novas instalações, provavelmente mais importantes, criando seu sócio, João Stoll, César começa, em 1474, pelo sempiterno Manipulus
então uma oficina independente, que se revelaria muito activa. Agindo curatorum*; depois disso, com Stoll, edita o Speculum vitae humana e de
assim, aliás, não rompiam com os seus antigos protectorcs: não imprimira
Hcylin na Sorbonn , nos prelos qu tinham s .rvido para a xlição das li< S('lloI pllhlil'óldo uunbcm ('111 "mil! ml, na oficina lixhncta de Gcnnão Galhardo. .m
'fi1,\'('II/III/O,\' dt' ( ICl'IO t' das Cartas dl' Platúo, os Couuutarios (k Hsroto I 2\ (N U)
238 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
239

Rodriguez, bispo de Zamora, e, em seguida, os Casus longi do juriscon-


mas também colecções de costumes, livros de direito, e, sobretudo, obras
sulto Bemardo de Parma (1475). Os dois homens publicam ainda tratados
profanas. Com frequência, para satisfazer a sua curiosidade livreiros e
de Eneias Sílvio Piccolomini, o Apparatus in Clementinas do Panormita.
À semelhança de Gering, dedicam também uma parte da sua actividade impressores instalam-se perto dos tribunais. Mesmo em Paris onde a
aos novos estudos: publicam os Rudimenta Gramaticae de Perotti, a maior parte das lojas de livreiros e a quase totalidade das oficinas estão
Margarita poetica de Eyb, as obras de Cícero, Salústio, Terêncio e Séneca, estab~lecidas na ~olin~ de Sainte-Geneviêve e ao longo da rua Saint-Jacques,
com frequência editadas já por Gering e destinadas à mesma clientela de no bairro da Universidade, um grupo muito activo de livreiros instala-se
mestres e estudantes da Universidade de Paris. nas salas e nas galerias do Palácio da Justiça, assim como nas ruas vizi-
Esta é a história do aparecimento da imprensa em Paris, que mostra n?as; é lá que, no século XV, se encontra a principal loja de Vérard, no
como as oficinas foram criadas e puderam desenvolver-se graças à clien- seculo XVI a de Corrozet, no século XVII as de Barbin e de Thierry, edi-
tela dos clérigos que frequentavam a Universidade. Observação seme- tores dos grandes clássicos. Esses livreiros, cujo balcão fica perto do bal-
lhante poderíamos fazer a respeito de todas as grandes cidades univer- cão ~os capelistas e dos mercadores de novidades, e que se dirigem aos
sitárias da Europa - a de Colónia, em particular. Mais tarde ainda, no fim magistrados, aos advogados, aos procuradores, aos inúmeros litigantes
do século XVI, em Leida, a criação de uma universidade, que cedo se e também aos elegantes e burgueses que vêm ao Palácio de passeio, ven-
tomou muito importante, provoca quase imediatamente o nascimento de dem não tanto textos jurídicos como livros de actualidade e textos literários
um centro tipográfico de primeiro plano: Plantin estabelece-se aí por em fra~~ês. O mesmo se verifica na província e no estrangeiro: em Ruão,
algum tempo; o seu genro, Rapheleng, funda lá uma empresa florescente; em Poitiers, em cujos Palácios da Justiça se abrigam os balcões de nume-
em seguida, os Elzevier, que seriam livreiros da Universidade, começam rosos livreiros; e, mais tarde, no século XVII, na Haia, onde os livreiros se
nessa cidade a espantosa carreira que deveria fazer deles talvez os maio- instalam no Palácio dos Estados>'.
res editores do seu tempo?" ; e, a seu lado, estabelece-se outro grande A presença de uma universidade ou de um tribunal supremo, com
livreiro, João Maire - o editor do Discurso do método. Mesma obser- tudo o que isso representa de clientela certa: eis o que, nos séculos XV e
vação, ainda, a propósito de Saumur, onde os protestantes franceses fun- XV~, com frequência atrai os impressores e os livreiros, eis a origem de
dam uma universidade muito concorrida no início do século XVII, e onde muitos centros tipográficos importantes. No fim do século XVI todas as
impressores como Desbordes se mostram particularmente activos=. cidades da Europa onde se encontram instituições desse género possuem
um número suficiente de oficinas tipográficas e de lojas de livreiros.
* Enquanto prossegue a criação de novas universidades, sobretudo nos
* * países protestantes (vimos o caso de Leida e de Saumur), espalham-se as
oficinas atraídas pela clientela universitária. Mas, na maior parte da
Mas a clientela universitária não é a única a atrair os livreiros e Europa, na Europa católica principalmente, já não é assim: nesses tempos
impressores. A presença de um clero numeroso e rico - nas cidades de escassez monetária, os livreiros instalados perto dos tribunais têm até
arquiepiscopais e, às vezes, na sede dos grandes bispados - produz com dificuldades para viver e entram em dura concorrência entre si; por outro
fequência o mesmo efeito. E, mais ainda, em certas cidades, a existência lado, as universidades perdem a sua importância e este declínio provoca,
de jurisdições importantes, à volta das quais gravitam homens de leis. São os às vezes, a ruína das oficinas que se tinham estabelecido perto delas. Daí
legistas, tanto quanto os eclesiásticos, talvez até mais do que eles, os melho- em diante, os impressores e os livreiros que desejam instalar-se são atraí-
res clientes dos livreiros: desejam possuir não somente obras religiosas dos para outros lugares, frequentemente para cidades menos importantes.

2.' WILLEMS. A., Le.I' Elzevier, Bruxelas. 1880.


'I"~ l,IlPRlllJ , CI., Gol/ia tvpograpliica. Provim-e de Normandie, t. I; DE LA
'I,) PASQIJIER. E .• ()AUPIIIN, V., /1/I/l/il/l/'/I1.1 /'1 lihruircs tI/' /'Anil/II, Ali 'l'IS,
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240 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 241

Em busca de clientela estável, fixam-se, já não próximo de um tribunal toda a Europa, a transferência de créditos, o abastecimento do papel, e a
supremo mas de uma comarca secundária, de uma sede de bispado, de um expedição das encomendas de livros tomam-se mais fáceis.
município importante, por exemplo: vivem, antes de mais, da impressão Sendo o transporte marítimo mais barato, os editores têm interesse
de documentos administrativos e religiosos, num tempo em que se multi- em estabelecer-se perto de um porto: em Ruão, por exemplo, de onde os
plica a papelada. A partir daí, fixam-se igualmente perto dos colégios dos livros são encaminhados por mar até à Flandres, os Países-Baixos, a
Jesuítas e dos Oratorianos, que surgem um pouco por todo o lado, por Espanha e, sobretudo, a Inglaterra, enquanto podem ser facilmente expe-
vezes substituindo as universidades. A tendência vai mais para os colégios didos para Paris, graças ao Sena. Da mesma forma, os Cromberger, insta-
dos Jesuítas, pois estes favorecem o estabelecimento das novas oficinas lados em Sevilha, enviam de navio uma parte da sua produção para a
tipográficas, que lhes imprimem apostilas e manuais para os alunos, assim América, enquanto no século xvm, Rainier Leers troca Haia por Roterdão,
como obras de piedade ou de controvérsia, necessárias à sua missão*. Em e pode assim divulgar com maior facilidade os escritos de Le Clerc e de
La Flêche, pequena cidade onde nenhum impressor tinha conseguido esta- Bayle, em França, na Inglaterra e no Norte da Alemanha. Os exemplos de
belecer-se até então, os Jesuítas, que aí criaram um colégio em 1603, man- portos que se tomaram sede de grandes empresas editoras não faltam,
daram vir um tipógrafo, Tiago Rezé; este imprimiu numerosas obras para como se vê; e não citámos nem o caso de Lübeck, no século XV, nem o de
o colégio e para a Companhia, cuja marca tinha adoptado. Mais tarde, Antuérpia, no século XVI, nem o de Amesterdão, no século xvn=.
houve até três oficinas e um grande número de lojas de livreiros à volta
desse colégio'".
111.A GEOGRAFIA DA EDIÇÃO

*
* * Tentemos, agora, determinar em que datas a imprensa, nascida na
região de Mogúncia, se espalhou pelos diferentes países da Europa.
No entanto, as oficinas tipográficas não se fixaram e prosperaram Sigamos os progressos da sua difusão. Tentemos discemir também quais
unicamente nessas cidades. Clérigos e legistas não eram os únicos a com- foram, no decurso desses três séculos e meio, os grandes centros editores
prar livros impressos. Nas cidades mercantis, os mercadores endinheira- - e qual foi a sua história.
dos, os burgueses abastados, e até oficiais mecânicos, no século XVI prin- Primeira observação: aos olhos de hoje, acostumados a todas as
cipalmente, gostavam de coleccionar livros e formar bibliotecas. Homens transformações técnicas, a imprensa pode parecer ter-se propagado len-
de negócios empreendedores não hesitavam em estimular a criação de ofi- tamente. No entanto, pensemos nas múltiplas dificuldades que os homens
cinas que trabalhavam para a exportação. Foi um comerciante, Bartolomeu do século XV tiveram que resolver - num século em que as comunicações
Buyer, que, como vimos, criou a primeira editora em Lyon265; os comer- ainda eram lentas e as técnicas rudimentares; pensemos que, entre 1450 e
ciantes de peles de Leipzig, no século XVI, financiaram as empresas dos 1460, somente um punhado de homens, reunidos em Mogúncia nalgumas
livreiros da cidade; Plantin, finalmente, com facilidade encontrou em oficinas, conheciam os segredos da arte tipográfica - delicada e compli-
Antuérpia os comanditários de que precisou nos primeiros tempos'". cada para a época; pensemos nas múltiplas dificuldades que os criadores
Nessas cidades, onde há um fluxo de relações comerciais contínuas com de novas oficinas tiveram que resolver - para reunir a matéria-prima
necessária, por exemplo: aço dos punções, cobre das matrizes, liga de
chumbo e estanho para os caracteres; pensemos na raridade dos técnicos,

264 PASQUIER E. e DAUPHIN, v., op. cito


2.' Cf. p. 164 e segs.
266 Cf. p. 174 e segs. + Na Pcnínsuln 11\ I icn, .idad s 'orno Lisboa, Sevilha, Valência e Barcelona bene-
+ Sào particulurrn ntc uctivas ern Portugal, nos s '1lIos XVI, XVII I' VIII, as impren IIlHIIII IlillllIlIIlIll di "111 jlOSI\'I\O !lI'O '111111'11
pllm I1 nnportuçuo ' cxporiuçuo de livros

il 11 IIflllil di' ('Ollllhlll, ('011, Mncuu 'I'VOIil (N R.) 1111)11 ti. l)ll 11d,1 \1 ,,11111\1,1
1111)111
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111 , 1111111111
242 o APARECIMENTO DO LIVRO

DIFUSÃO DA
TIPOGRAFIA
• antes de 1471
O de 1471 a 1480
o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO 245
244

entalhadores de punções, fundidores de caracteres e compositores. Numa de tipógrafo e editor. Em 1468, Günther Zainer publica o primeiro livro
palavra, pensemos em todas as dificuldades colocadas pela organização impresso em Augsburgo, enquanto Conrado Sweynheim e Amold Pannartz,
de uma indústria nova, criada a partir do nada, e pela formação de uma em 1464 ou 1465, trocam a Alemanha por Itália e, no mosteiro de Subiaco
rede comercial destinada a vender livros reproduzidos em série, daí em (ou talvez em Roma), fazem surgir o primeiro livro impresso nesse país;
diante: se tivermos em conta estas dificuldades, a difusão da imprensa a seguir, em 1469, João de Speyer, vindo também da Alemanha, imprime
parece, na verdade, singularmente rápida, e os homens do século xv sin- em Veneza as Epistola adfamiliares de Cícero. E, em 1470, Neumeister,
gularmente apaixonados por novidades. do qual já traçámos a carreira, começa a trabalhar em Foligno?".
Algumas datas e uma vista de olhos num mapa permitir-nos-ão veri- De 1470 a 1480, o movimento acelera-se ainda mais. Na Alemanha,
ficá-I0267• Entre 1455 e 1460, poucas oficinas são conhecidas, mas a prin- instalam-se impressores em Speyer (1471), Ulm (1473), Lübeck, ao norte
cipal é a de Fust e Schoeffer, em Mogúncia. Os impressores já se preo- (1475), Breslau (1475) e muitas outras cidades. Na Itália, um grande
cupam com a criação de uma rede comercial e dirigem-se aos esta- número de impressores, na sua maioria alemães, trabalha em Veneza,
cionários das cidades universitárias para escoar a sua produção. Fust e entre 1470 e 1480; aparecem oficinas em Trevi (1470), Ferrara, Milão,
Schoeffer vendem livros em Francfort, Lübeck e Angers, e logo depois Bolonha, Nápoles, Pavia, Savigliano, Treviso, Florença, Jessi, Parma,
possuirão uma loja em Paris'": e muito cedo encontram-se livros impres- Mondovi, Bréscia, Fivizzano, Mântua (1471-1472), e, durante os anos
sos nas lojas dos livreiros de Avinhão'". seguintes, em muitas outras cidades ainda. Em França, Ulrich Gering e os
No decénio 1460-70, a imprensa começa a espalhar-se e o comércio seus confrades, instalados na Sorbonne, publicam, já em 1470, o primeiro
do livro organiza-se. Primeiro na Alemanha, país de minas onde existem livro impresso em Paris; e, em 1473, Guilherme Le Roy vai imprimir em
cidades opulentas, nas quais se sabe trabalhar os metais e onde os ricos Lyon, na oficina de Bartolomeu Buyer, o Compendium breve do Cardeal
mercadores, capazes de financiar a criação de oficinas, são numerosos. Lotário; a partir daí, muito rapidamente, as oficinas multiplicam-se em
Ainda antes de 1460, Mentelin, antigo iluminador e notário do bispo, abre Paris e em Lyon, onde os impressores alemães se vão instalar; em 1476,
uma oficina tipográfica em Estrasburgo. Os concorrentes surgem rapi- abrem-se oficinas em Angers e Toulouse, e, em 1479, em Poitiers. Já em
damente: Henrique Eggestein, oficial e chanceler do bispo, Adolfo Rusch, 1479, na Polónia, um tipógrafo instala-se em Cracóvia, enquanto, nos
o misterioso impressor «do R esquisito», e muitos outros depois. Pela Países Baixos, Thierry Martens e João de Vestfália começam a trabalhar
mesma altura, Pfister, talvez discípulo de Gutenberg, cria uma impressora em Lovaina (1473), e Gerardo Leeu em Gouda, em 1477, abre uma ofi-
em Bamberg, e logo começa a publicar livros ilustrados. Depois, a partir cina da qual saíram muitos livros ilustrados. Em 1476, finalmente,
de 1465, antigos oficiais de Gutenberg e de Schoeffer abrem oficinas um Caxton, um mercador inglês que aprendeu tipografia em Colónia e fez fun-
pouco por toda a parte: Ulrich Zell, de Hanau, clérigo da diocese de cionar um prelo em Bruges, vai para Inglaterra e instala-se em Westminster.
Mogúncia, estabelece-se em Colónia (1466), Berthold Ruppel em Basileia Ainda no mesmo período, impressores alemães abrem oficinas em algu-
(1468), Henrique Kepfer e João Sensenschmidt em Nuremberga (1470), e, mas cidades de Espanha*.
pela mesma data, Anthoni Koberger começa na mesma cidade a sua carreira Em 1480, funcionaram oficinas tipográficas em mais de 110 cidades
situadas por toda a Europa ocidental, das quais umas cinquenta na Itália,
umas trinta na Alemanha, cinco na Suíça, duas na Boémia, nove em
267 Cf. mapa p. 242. A data do aparecimento da imprensa numa cidade é frequen- França, oito na Holanda, cinco na Bélgica, nove em Espanha, uma na
temente objecto de contestações; não pretendemos, neste caso, opinar sobre a matéria.
Procurámos tão somente adoptar as datas geralmente admitidas, considerando os grande
repertórios indicados na bibliografia.
268 CLAUDIN, A., Histoire de l'imprimerie en France, t.r, p. 67 e segs; L IIMANN- '''' f. pp, 228 229.
+ A imprcnsn em Espanhu introduzida em 1472 por João Parix, em Segóvia. Até
-HAUPT, l l., Peter Schoeffer 01 Gernsheim and Mainz, Rochest r, Nova lorque, 1900.
1,1/\) 11IVl'1' tlllllllllll 1I1'!lvidlldl' tipo 'I' lfiru cm Snlnmuucn, SlIra oça, Bnr .clona, Tortosa,
ir," PANSIER, P., l listoirc du livre /'1 d/' / 'imnrimcrir /) AviM"III, dn /I'" 1//1 I: VI" sli
1111111. V,hll\ 111,'\ 1'111111(N N)
r/r', p I \1 \ I' ~
246 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO
247

Polónia, e quatro em Inglaterra. Desde essa data, utilizam-se por toda a escritores italianos, e também, em semi-góticos ou góticos, livros de
parte os livros impressos. Na Alemanha e na Itália, sobretudo, aparecem direito e livros religiosos. Mas, se as oficinas tipográficas já são numero-
já grandes firmas, com redes comerciais bem organizadas. Graças ao sas por volta de 1480, na Itália e nos países germânicos, os impressores,
afluxo dos tipógrafos alemães, os maiores centros de imprensa não estão pelo contrário, ainda são raros, não somente na Inglaterra e em Espanha
somente situados na Alemanha, mas também na Itália. Não há uma só mas também em França. Em Paris, onde só existe, de facto, uma oficina
cidade importante neste país que não possua pelo menos uma oficina bem muito grande - a de Gering -, os estudantes e os professores da universidade
equipada. Se, nos repertórios dos incunábulos, examinarmos a produção mandam vir edições da Alemanha; e a indústria do livro, introduzida em
dos livros impressos entre 1480 e 1482, verifica-se que Veneza, graças à Lyon uns anos antes, ainda se encontra aí no seu começo,
sua posição geográfica, à sua riqueza e também à sua actividade intelec- , Estas observações permitem que se siga melhor o progresso da
tual, se tomou a capital dos impressores: 156 edições reconhecidas por Imprensa nos anos que se seguem. A Espanha e a Inglaterra, apesar do
Burger e identificadas de maneira segura?', publicadas entre 1480 e 1482, aparecimento de algumas oficinas novas, continuam ainda tributárias do
sem contar com as obras desaparecidas ou não identificadas. Aí se encon- estrangeiro. A França, no entanto, recupera o seu atraso nos últimos
tram firmas poderosas: as de Herbort, Jenson, Manzolies, Maufert, João 20 anos do século XV: em 1480, somente nove cidades francesas tinham
de Colónia, os Blávios, Escoto, Torti, Girardengis e Ratdolt, e muitos outros v~sto trabalhar impressores; em 1500, funcionaram oficinas numas quarenta
ainda. Num segundo plano, outra cidade italiana: Milão (82 edições), cidades. Mas, sobretudo, a indústria tipográfica desenvolveu-se em Paris
onde os Pachel, os Zarotti e os Valdafer publicam com frequência edições graças a Marchant, Vérard, e a muitos outros ainda - e, um pouco mais
de clássicos latinos. Depois, vem Augsburgo (67 edições), centro muito tarde, em Lyon igualmente, onde o alemão Trechsel se mostra muito
importante de fabricantes de cartas e de gravadores de madeira, onde Sorg, activo. Evolução análoga, se bem que menos evidente, dá-se na Alemanha
Schõnsperger e Baemler multiplicam as edições ilustradas. Em seguida, ~o Norte, onde Lübeck se toma um centro importante, a partir do qual a
Nuremberga (53 edições), onde funciona a oficina mais activa e bem orga- I~prensa alcança os países escandinavos. No Centro e no Sul, pelo contrá-
nizada da época - a dos Koberger; Florença (48 edições), cidade de artis- no, os grandes centros da época precedente mantêm-se estacionários, com
tas e de letrados onde os impressores se dedicam sobretudo a satisfazer a excepção de Leipzig, que começa a tomar-se, graças aos Kachelofen,
clientela local; Colónia (44 edições), centro da vida religiosa e univer- Stõckel, Lother ou Landsperg, um centro tipográfico muito importante.
sitária da região renana, onde os Quentell e os Koelhoff estão estabeleci- Na Itália, por fim, enquanto a imprensa continua a difundir-se em cidades
dos e onde se publicam especialmente livros religiosos e obras de escolás- de menor importância, a grande indústria tipográfica parece concentrar-se
tica. Depois, vêm Paris (35 edições), Roma (34 edições), Estrasburgo em Veneza, e Milão aparece já em declínio=.
(28 edições), Basileia (24 edições), Gouda, Bolonha, Treviso, Lyon, Pádua, O exame dos livros impressos durante os anos 1495-1497 permite
Delft, Lovaina (de 25 a 15 edições). avaliar a importância desta evolução: em 1821 edições que arrolámos,
Desde essa época, portanto, Mogúncia, berço da imprensa, perdeu 447, quase um quarto, surgem em Veneza, onde as oficinas de grande
uma parte da sua importância; os grandes centros tipográficos são nume- porte são numerosas: é a época dos grandes impressores venezianos:
rosos na Alemanha central e meridional, mas já os impressores são em Locatelli, Torti, Bevilaqua, Tacuino, Torresani, Aldo, e também Pincio e
maior número e mais activos na Itália do que na Alemanha. É a época em De Gregori. Mas, se Veneza permanece sempre - e de longe - em primeiro
que se publicam, nesse país, no belo papel que então aí se fabrica, em lugar, duas cidades francesas seguem-se-lhe, em breve, de perto: Paris
caracteres redondos, as edições princeps de clássicos latinos ou de grandes (181 edições), onde os grandes editores não são talvez muito numerosos,

!71 Naturalmente, e. tes números não se destinam a dar proporções. Baseiam se num • No estado actual dos conhc irncntos a este respeito, a mais antiga tipografia por-
cxcrnplur anotado d BURGER, K., TIl/' Printrrs IIl/rI 1111' 111Ihlishrr« oftlu: XI"Ii ('1'1/1/11 I' 14R9). Lisboa (14!l9). Lciria
lu 'Ul'SII c 11 IIl' 10'1110 (14K7) Sl' 'li '111 ~l' Ih Chuve» (14KK ou
11'1111 //.11,1 /111111'11 11'(// ks, Munique, II)() (1111'),111 I 'iI (1.1111) I' 1'111111 (I,I')/) (N N)
o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO 249
248

DIFUSÃO DA
TIPOGRAFIA
•• antes de 1481
(total do mapa antenor)
• de 1481 a 1490
O de 1491 a 1500
250 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
251

mas onde trabalha uma grande quantidade de impressores e de livreiros se põem a trabalhar para exportar, e imprimem, por exemplo, obras em
- e, depois, Lyon (95 edições), onde Trechsel é, sem dúvida, o mais inglês. Em pouco tempo, chegam a exercer uma verdadeira hegemonia
activo. Vêm, em seguida, Florença, a recém-vinda Leipzig, Deventer, outra nos Países Baixos: no total, entre 1500 e 1540, dos 133 impressores esta-
recém-chegada graças à actividade de Tiago de Breda e dos Paffroet, belecidos nos Países Baixos, 66 - perto de metade - instalaram-se em
Milão, graças a Pachel e a Scinzenzeler, Estrasburgo, onde trabalham Antuérpia. Dos 4000 livros, aproximadamente, que se publicam nesta
Grüningen e Flach, e, depois, Colónia, Augsburgo, Nuremberga e Basileia. região, 2254 - mais de metade - vêm de Antuérpia">,
Assim, no final do século xv, cerca de 50 anos após o aparecimento
Nos países germânicos, entre o Reno e o Elba, existem cidades opu-
do primeiro livro impresso, tinham-se publicado já 35 000 edições, pelo lentas nas quais vive uma burguesia rica e culta, o que faz desenvolver a
menos, o que, no mínimo, representa, sem dúvida, de 15 a 20 milhões de indústria do livro nos finais do século xv e no primeiro quartel do
exemplares'", e a imprensa espalhou-se por todos os países da Europa. século XVI. Estrasburgo, em especial, torna-se bem depressa um centro de
Nos países germânicos, depois, na Itália, e, em seguida, em França, for- extrema importância. Muito cedo, ainda no século xv, um genro de
maram-se grandes centros. No total, cerca de 240 localidades tiveram os Mentelin, Adolfo Rusch (1466-1489), financia numerosas edições e
prelos a funcionar (mapa pp. 248-249).
desenvolve os seus negócios, dedicando-se ao comércio do papel,
enquanto o seu cunhado, Martin Schott (1481-1499), se mostra também
* muito activo, talvez menos, no entanto, do que João Prüss (1480-1510) ou
* * Henrique Knoblochtzer (1476-1484). Desde então, a arte da ilustração
No século XVI, esse movimento continua: as oficinas funcionam sem desenvolve-se na capital da Alsácia para atingir o apogeu com João
parar, em novas cidades. Como em nenhuma outra ocasião, foi espe- Grüninger (1482-1531). Os prelos de Estrasburgo tornam-se célebres pela
cialmente durante a primeira metade do século XVI, época de prosperidade qualidade das edições que realizam; as encomendas vêm de longe:
económica excepcional, época também do Humanismo, que a indústria do Grüninger vende uma edição completa de 1000 exemplares a SchOnsperger,
livro beneficiou do investimento de abastados capitalistas; idade de ouro o famoso editor de Augsburgo, enquanto João Schott executa impressões
da imprensa, em que o comércio do livro faz figura de grande comércio para livreiros de Leipzig, Viena e Milão-",
internacional, tempo dos Froben, dos Koberger, dos Birckmann, dos Talvez mais importante ainda, eis Basileia. Amerbach, o livreiro
Aldos, dos João Petit, grandes livreiros mais ou menos humanistas, que humanista aí desenvolve, como veremos, enorme actividade; a seu lado,
mantêm relações comerciais com toda a Europa - sustentáculo das João Petri edita pesados tratados de teologia e de direito canónico, e
relações intelectuais do mundo letrado. E, sob o impulso desses grandes publica uma edição de Santo Agostinho em 11 volumes. Após a sua morte,
livreiros capitalistas, mesmo que continuem a nascer pequenas oficinas de 1511 a 1513, Froben, que permanece o editor de Erasmo, e em cuja ofi-
um pouco por todo o lado, a indústria do livro tende a concentrar-se nas cina o grande humanista prolonga por três anos (1514-1517) uma visita
cidades universitárias e nas grandes cidades mercantis. prevista para alguns dias, aumenta, com o cunhado, Wolfgang Lachner, a
Este fenómeno é particularmente frisante nos Países Baixos, mesmo importância da sua empresa, expande o uso dos caracteres redondos, cria
antes da época de Plantin. Antuérpia, grande cidade mercantil em plena um itálico inspirado no aldino e nos caracteres gregos, vende fundições
expansão, que, no final do século xv, se seguia a Deventer na hierarquia destes caracteres gregos a Josse Bade, matrizes a Melchior Lotter, e com-
dos centros tipográficos, passa muito depressa para o primeiro lugar. pra, em 1536, a fundição de Schoeffer; para gravar as cercaduras das folhas
Os editores de Antuérpia, inicialmente, esforçam-se por satisfazer a clien- de rosto, os frisos, as iniciais e as ilustrações dos seus livros, recorreu
tela de comerciantes e ricos burgueses, fornecendo-Ihes livros de piedade
e romances de cavalaria ilustrados, em f1amengo e em francês; mas 10 o
l1\ Biblioteca Na .ional de França. Anvers, ville de Plantin et de Rubens [Catálogo de
cXJl()Si~'II()I, p (I~ l S' 's.
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..
252 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO 253

primeiramente a Urs Graf, e, após 1516, a Hans e Ambrósio Holbein. E os Hermann von dem Busche e Murmellius, enquanto o livreiro Birckmann
seus correctores são Bonifácio Amerbach, o cunhado, juntamente com - que, em 1526, junta à sua empresa uma tipografia - dá trabalho a
Beatus Rhenanus. impressores de Antuérpia e possui uma sucursal em Londres. Muitas
Na maior parte das grandes cidades da Alemanha, os prelos desen- outras oficinas ainda fazem de Colónia um dos grandes centros da edição
volvem, então, uma actividade febril. Em Mogúncia, a velha casa dos alemã: talvez o primeiro em certos anos e o terceiro em fins do século XVI,
Schoeffer funciona por muito tempo. Peter Schoeffer, o filho, amigo de Ulrich logo a seguir a Francfort e Leipzig, de acordo com os catálogos das feiras
de Hutten, imprime os escritos deste. Possui enorme material - aquele que de Francfort-".
Froben virá a comprar - e aumenta-o sem cessar. Em Augsburgo, Erhard
Ratdolt imprime, até 1520, aproximadamente, numerosas obras litúrgicas, *
algumas delas sumptuosamente ilustradas, como o Missal de Constança * *
(1516); João Schõnsperger, o Velho, trabalha para o imperador Maxirniliano Na Alemanha, durante o século XVI, pelo menos durante algum
e imprime, entre outras obras, o Teuerdank, descrição alegórica do casa- tempo, funcionam prelos em cerca de 140 novas localidades. A imprensa
mento imperial, no qual emprega caracteres - protótipos do Fraktur -, que conhece, em França igualmente, sobretudo na primeira metade do século,
imitam a escrita dos copistas da chancelaria; João Otmar edita os Sermões uma excepcional actividade. Criam-se oficinas em grande número de
de Geiler de Kaysersberg, e, depois, o seu filho, Silvano, multiplica as cidades (Lepreux enumerou 39, de 1501 a 1550; e 40, na segunda metade
impressões de escritos luteranos, ao passo que João Miller publica edições do século)?", Mas, antes de tudo, Paris e Lyon parecem ser, juntamente
de Conrado Peutinger e de Ulrich de Hutten. Em Nuremberga, entretanto, com Veneza, os centros mais activos de toda a Europa. A época é tão
onde os Koberger continuam a editar uma enorme massa de livros, fecunda que seria vão pretender enumerar somente os maiores impres-
Jerónimo Hõltzel desenvolve actividade muito grande até 1532, e surgem sores e editores. De 1500 a 1599, no total, 25 000 livros são impressos em
novas oficinas tipográficas muito importantes: por exemplo, as de Paris, 15 000 em Lyon*. Bem distantes destes dois centros, Ruão,
Frederico Peypus (1510-1535), de Jobst Guntknecht (1514-1540), de João Toulouse, Poitiers, Troyes, Angers, Grenoble e Bordéus. No que se refere
Petrejus (1519-1550. Numa casa impressora mais modesta, enfim, Jerónimo ao ano de 1530, Philippe Renouard conseguiu, por exemplo, contar
Andrere usa belos caracteres Fraktur que mandara entalhar, e imprime os 297 volumes impressos em Paris, 110 em Lyon, 5 em Caen, 5 em Ruão,
Triumphwagen e os escritos teóricos de Dürer. 4 em Poitiers, 3 em Bordéus, Grenoble e Toulouse, enquanto 32 livros
Os grandes centros tipográficos são, como se vê, numerosos na saíam dos prelos de Estrasburgo e 19 de Haguenau-". A França aparece,
Alemanha, no momento em que começa a Reforma luterana. Seria necessário então, dividida em duas zonas: a França do Norte vende principalmente
citar muitos outros, não menores, como Leipzig, por exemplo. Veremos edições parisienses; Troyes e, sobretudo, Ruão são centros comple-
mentares de Paris, onde os tipógrafos trabalham frequentemente para os
mais adiante que numerosos centros se desenvolvem no tempo de Lutero
livreiros da capital; estes mantêm relações contínuas com os impressores
e, depois, na segunda metade do século. Limitemo-nos, por agora, a subli-
de Colónia ou de Basileia, que, às vezes, vêm estabelecer-se em Paris;
nhar a importância dos prelos de Colónia, a cidade católica. É certo que,
nos primeiros anos do século, a produção das oficinas diminui nesta
cidade. Apenas Henrique Quentell publica numerosos tratados de teolo- Sobre a edição alemã no século XVI, ver MILKAU, F., Handbuch der Bibliotheks-
275

gia. Mas logo muitas outras impressoras recomeçam a funcionar junto da -wissenschaft. 2: edição de Georg Leyn, t. 1: Schrift und Buch, Wiesbaden, 1952, p. 490 e
universidade, que conta com vários milhares de estudantes. O editor segs.; BENZING, J., Buchdrucker-Iexicon des /6.Jahrhunderts: Deutsches Sprachgebiet,
Francfort, 1952.
Hittorp põe a trabalhar só para ele muitos prelos e encomenda a execução
'7. LEPREUX, G., «Introduction de I'imprimerie dans les villes de France», in
de edições a empresas de Paris, Basileia e Tubinga. A sua rede comercial
8/1/11'11'11/1'111 (//1 /1/111/'1;11 officie! d/' l'Union des maitres imprimeurs, número especial,
estende-se a toda a Europa; com o sócio, Hornken, possui sucursais 111 1)" 'Illhro ti ' I') 'i, p, ') c sq.:s.
Paris, Leipzig, Vitcrnberga c Praga. Em Colônia ainda, Euchurio iII ImNO! lAR)), 1', f.'I\'dlliollji·(/(/\,(/;.\{' ru 1 /0, 1'11 ris, 1')\ I.
Ccrvicorno multiplica as uli,'Ol'S latinas pr 'puladas Iwlos humuuistus No IIU" IIUl 11\'110110, IIIIIIIIIIU "1111 1'111111 ',d JlII 111 d,' 11111 111111111 d, 1111111 (N N )
254 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
255

muitas vezes também, parisienses e normandos dirigem-se a Inglaterra,


estilo arcaico e de inspiração estrangeira. É verdade que o Cardeal
onde trabalham para este país. No Sul, pelo contrário, domina a influência de
Jimenez, ajudado pelo humanista António de Nebrija, manda executar,
Lyon; os livreiros desta cidade mantêm também relações constantes com
entre 1514 e 1517, em Alcalá, a famosa Biblia Poliglota, impressa por
Basileia e as regiões renanas. Graças às feiras de Lyon, a indústria tipográ-
Arnao Guillon de Brocar (talvez porque ele fosse de uma localidade do sul
fica da cidade surge, então, como indústria de exportação e os seus livreiros
de França que tem esse nome). Mas apenas os três centros de Salamanca,
mantêm laços estreitos com os seus confrades do estrangeiro - espe-
cialmente com os italianos. É a época em que a fanu1ia Giunta possui ofici- Barcelona e Sevilha, onde os Cromberger multiplicam as edições de
nas em Veneza, Florença e Lyon, assim como em Espanha. Os impressores de romances de cavalaria, atestam uma real actividade; é só na segunda
Lyon dedicam-se a imitar as edições italianas e fazem uma concorrência metade do século que se vê as oficinas tipográficas multiplicarem-se em
destemida aos venezianos. Com frequência, possuem sucursais em Toulouse Madrid, onde a indústria do livro se desenvolverá, especialmente no
e os seus agentes são numerosos em Madrid, Salamanca, Burgos e Barcelona. século seguinte, sem que a Espanha deixe por isso de apresentar-se como
Se o início do século XVI é para a França e países germânicos uma um bom mercado para os livreiros estrangeiros?", Por isso, com muita fre-
época de excepcional actividade, o mesmo não suce?e exactamente na quência, continuam a circular em Espanha livros impressos no estrangeiro,
Itália, onde as circunstâncias são menos favoráveis. E certo que Veneza sobretudo em Lyon e Antuérpia.
continua, e por largo tempo, a dominar o mercado do livro - é, ainda no Na Inglaterra, pelo contrário, impressores e livreiros conseguem
início do século XVII, mais activa do que Antuérpia no mercado alemão. criar uma indústria tipográfica independente'". O desejo de favorecer o
Mas se os Aldos continuam a produzir as suas célebres edições, e os trabalho nacional, o de evitar igualmente, por ocasião da Reforma, todo o
Giunta, os Nicolini da Sabio, os Marcolini, os Pagnanini, aí continuam a contacto com o exterior, leva os Tudor a praticar uma política protec-
desenvolver uma actividade de bom quilate, parece que há cada vez mais cionista rigorosa. História muito particular é a da imprensa ingleseenessa
a tendência para sacrificar a qualidade e a originalidade à quantidade. E se, época. No século xv, inicialmente, tinha sido feito um esforço para atrair
com Blado e a Imprensa Vaticana, a imprensa se mantém melhor em livreiros e tipógrafos a Inglaterra: em 1484, um Acto do Parlamento, em
Roma, onde a presença dos Papas e a Contra-Reforma favorecem o comér- particular, tinha-os dispensado, fosse qual fosse o seu país de origem, das
cio do livro e a indústria tipográfica, em Milão, pelo contrário, o declínio restrições impostas ao trabalho estrangeiro. No final do século XV e no
é latente desde 1500, a despeito da actividade dos Pachel, dos Bonacorse, século XVI, os impressores mais activos do país são oriundos do -contrc
dos Legnano e dos Le Signere. Em Bolonha, igualmente, apesar dos Faelli nente: Wynkyn de Worde, o sucessor de Caxton, que, até 1535, imprime
e dos Bonacci, e em Florença, onde, apesar dos Giunta e dos seus con- uns 700 volumes, é de Worth, na Alsácia. Guilherme Faques (que angli-
correntes, os Doni, a produção aparece cada vez mais destinada a satis- cisa o nome para Fawkes) e Pynson, cujos prelos produziram cerca de
fazer uma clientela local.
400 volumes, entre 1490 e 1530, ambos impressores do rei, são norman-
dos. Franceses ainda, provavelmente, são Notary e muitos outros. De
* 1476 a 1536, dois terços dos impressores, livreiros ou encadernadores que
* *
vivem na Inglaterra são estrangeiros. Muito frequentemente, o material
utilizado chega de França, e o mesmo sucede na Escócia, onde Andrew
Entretanto, em Espanha, a imprensa pouco progride. Durante
muito tempo; continuam a utilizar-se os antigos caracteres góticos de
aspecto pesado*. Até meados do século, ainda se usa a xilografia de
278 PEREZ PASTOR, c., Bibliografia Madrileiia, Madrid, 1891-1907,3 vols. De
acordo com esta bibliografia, imprimiram-se 769 obras, em Madrid, entre 1566 e 1600; e
1471 obras entre 1601 c 1626.
* A descoberta dos primeiros livros impressos em eg via veio chamar a at nçun 'N BENlrn, 11. S., 1:'lIgli.l'h hooks (11I(/ reade 1'.1',147510 1557, C'ambridgc, 19'i2;
para o uso de caractcrcs r dondos na pai otipo rrufia spanhola, fa .to j. notado a propósito
PI ANT n".
M, f'lIglilh 1100" 1)'1/r/1', 1,1111111
-x, 11)19, MIJMBY, F A, Puhhshuu; 11I/11
di olflr", '11l~'(W,mcuuabulnu- Iill1llll'11I ,I'l'lIlndas 1'1111'~'IWllhll (N U) 1'1/('" \(-///11' ,I olldrl I' No\.1 10111111.I I) li)
256 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 257

Myllan utiliza caracteres análogos aos de Marnef. Em Paris, em Ruão, e Reforma luterana começa a fazer sentir os seus efeitos na Alernanha'".
logo também em Antuérpia, imprimem-se livros destinados à Inglaterra. Leipzig, muito activa no início do século, com Martin Landsperg, Wolfgang
Inúmeros são os livreiros parisienses que, como Vérard e, mais tarde, Stõckel, Tiago Thanner, e sobretudo Melchior Lotther, conhece um
Regnault, possuem sucursais em Londres. eclipse quando o muito católico Jorge de Saxe (1471-1539) empreende
Quando os impressores britânicos começaram a multiplicar-se, os uma perseguição aos impressores de escritos reformistas. Para evitar os
ingleses esforçaram-se por reagir contra esta invasão. Em 1523, em par- rigores da censura, Stõckel, por exemplo, vai instalar-se em Eilenburgo.
ticular, proibe-se aos estrangeiros contratarem aprendizes que não sejam Pelo contrário, a acção de Lutero contribui, desde essa época, para favore-
ingleses e darem trabalho a mais de dois oficiais estrangeiros. Finalmente, cer o desenvolvimento de um centro muito activo, em Wittenberg. O esta-
um Acto de 1534 anula o de 1484. E, em 1543, o rei, ao verificar que os belecimento de uma universidade nesta cidade, em 1502, tinha atraído, em
ingleses podiam, a partir daí, executar essas impressões, concedia a 1508, o tipógrafo João Rhau-Grünenberg; foi ele que, em 1516, publicou
Richard Grafton e Edward Whitechurch um privilégio de exclusividade os primeiros escritos de Lutero, e, em 1517, as famosas teses sobre as
para os livros destinados ao serviço divino. Em 1557, por fim, Maria indulgências. A partir de então, a imprensa não deixa de se desenvolver
Tudor outorgava uma carta aos impressores e aos livreiros agrupados na em Vitemberga: em 1519, Melchior Lotther, de Leipzig, abre aí uma sucur-
Stationner's Company. sal que o filho, Melchior, o Jovem, é encarregado de dirigir, em 1520: é
Ao mesmo tempo, a produção dos prelos nacionais aumenta. De uma oficina inteiramente ao serviço de Lutero, na qual se imprimem e se
1520 a 1529, imprimem-se 550 livros; de 1530 a 1539, 739; de 1540 a reimprimem incessantemente as traduções que este faz dos textos sagra-
1549, 928. Estes números ainda são pouco significativos se tivermos em dos. Depois, todas dedicadas à Reforma, aparecem oficinas, como a de
conta que mesmo em Paris se publicavam, então, 300 volumes por ano, Cristiano Dõring, que trabalham também na edição da Bíblia luterana em
mas são já o indício de um progresso. Na segunda metade do século, publica- alemão. E logo surge uma grande quantidade de prelos: os de Nickel
-se uma quantidade cada vez mais importante de livros e as oficinas Schirlentz, de José Klug, Hans Weiss, ou ainda de João Lufft. Oficinas
tornam-se mais numerosas. O desejo de poder fiscalizar a actividade dos sem conta que espalham os escritos de Lutero às centenas de milhares:
prelos, e também o de impedir que o seu número excessivo provoque a traduções e sermões, obras edificantes e de polémica, que são objecto de
multiplicação dos panfletos, levam o Estado a concentrar em Londres toda contrafacções constantes nas cidades que aderiram à Reforma. Daí em
a indústria tipográfica inglesa (1586) e a limitar o número de oficinas; em diante, os prelos alemães trabalham sobretudo para multiplicar panfletos
1615, o número de impressores de Londres é fixado em vinte e dois; fora e escritos de propaganda publicados na língua do país. Surge uma literatura
da capital, apenas são autorizados os prelos que funcionem perto das uni- de combate, que os vendedores ambulantes se encarregam de divulgar.
versidades de Oxford e de Cambridge; em 1662, York é igualmente auto- Avaliaremos mais adiante as consequências de toda esta activi-
rizada a ter um prelo. Só em 1695 é abolida esta legislação draconiana. dade'". Limitemo-nos, por agora, a indicar as que dizem respeito à pro-
A partir daí, multiplicam-se as oficinas um pouco por toda a parte: em dução impressa alemã: enquanto as oficinas, até aí, eram numerosas
1725, encontramo-Ias em Manchester, Birmingham, Liverpool, Bristol, sobretudo no Sul da Alemanha, os prelos do Norte, pouco activos até
Circenster, Exeter, Worcester, Norwich, Cantuária, Tunbridge Wells, York, cerca de 1520, produzem uma quantidade enorme de obras, entre 1520 e
Newcast1e e Nottingham. 1540. Parecem em decadência entre 1540 e 1575, antes de reencontrarem
uma nova vitalidade no final do século. No total, a superioridade da pro-
* dução impressa da Alemanha do Sul sobre as regiões do Norte torna-se
menos nítida durante essa época, graças a Lutero e à Reforma.
* *
A Reforma, que tinha levado os reis de Inglaterra a refrear a troca de
livros entre () seu país e o continente, provoca, na AI 'manha, lima truns ''''('I. Jl \ Ir;, I' Nl' 'S,

forllla(,'ao no mapa dos 'Jilndls centros dal'di,·:!o. A partir dl' I )(). a "(', Jl \/0 I I'
258 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 259

torná-los conformes ao uso romano, favorece a renovação da edição


*
católica. Grandes editores, mantidos pela Igreja ou pelos príncipes católi-
* *
cos, obtêm o monopólio da edição dessas obras e podem, assim, desen-
Mas as querelas religiosas não se manifestam apenas na Alemanha; volver consideravelmente os seus negócios: tal é, como vimos, a origem
ao mesmo tempo, a crise económica que caracteriza a segunda metade do da fortuna dos Plantin-Moretus. Ao mesmo tempo, a acção dos Jesuítas,
século XVI provoca a decadência e até a ruína de certos centros editores. que multiplicam os colégios por toda a Europa e estimulam a criação de
Daí numerosas transformações. Em múltiplas cidades do sul de França, a tipografias junto desses colégios, o estabelecimento em toda a Europa
difusão do calvinismo provoca o aparecimento de oficinas frequen- católica de numerosos conventos com boas bibliotecas, a renovação da
temente efémeras, ao serviço da causa protestante; no entanto, a partir de religiosidade popular, que é acompanhada pelo aparecimento de uma lite-
1550, aproximadamente, a edição de Lyon entra numa decadência que não ratura piedosa - tudo isso favorece o desenvolvimento da edição religiosa.
mais cessará de se acentuar até à volta de 1630. Com muita frequência Na Europa católica, os centros editoriais são, então, os grandes centros
favoráveis às novas ideias ou convertidos ao calvinismo e, sobretudo, do Renascimento religioso: na Alemanha, a imprensa torna-se novamente
incomodados continuamente no trabalho pelas reclamações dos oficiais, activa no Sul do país, assim como em Colónia; nos Países Baixos espanhóis,
os livreiros e os impressores de Lyon emigram, então, em massa para fugir em Antuérpia - que, desde a reconquista espanhola, se tornou um baluarte
às perseguições e trabalhar tranquilamente. E, perto de Lyon, numa região da Contra-Reforma -, os Moretus continuarão a publicar por muito tempo
onde a mão-de-obra é disciplinada e menos exigente, e onde cedo os um número enorme de livros litúrgicos reformados segundo o Concílio de
moinhos de papel são numerosos - Genebra -, Calvino cria, como Lutero Trento, que difundem por toda a Europa e na América; juntamente com os
em Vitemberga, um centro de edição, refúgio de grandes impressores; Verdussen, também grandes editores de Antuérpia, imprimem uma grande
dentro em pouco, os próprios oficiais, com falta de trabalho em Lyon, quantidade de obras de erudição, compostas pelos Jesuítas. Em França,
tomam o caminho de Genebra?". Cramoisy e os seus parentes e sócios dominam do mesmo modo a edição
Uma terceira cidade, graças às suas feiras, vai aproveitar-se então da parisiense, graças à protecção da Igreja e dos Jesuítas. Ainda graças a
concorrência entre Lyon e Genebra: Francfort. A imprensa só apareceu estes, a imprensa de Lyon conhece uma certa renovação, especialmente a
nesta cidade relativamente tarde, em 1511. Mas, após 1530, Egenolff, que partir de 1620. O mesmo acontece em Veneza. Finalmente, em Roma, onde
viria a tornar-se um grande editor, instalou-se lá, e logo as feiras de Paulo Manúcio se instalou junto da Santa Sé, os prelos estão ao serviço da
Francfort se transformam, como veremos, no ponto de encontro dos tipó- Religião.
grafos do mundo inteiro, que vêm apresentar aí as suas novidades; até cerca Face à rede de prelos católicos, a dos prelos protestantes. Em França,
de 1625, esta cidade será à metrópole do comércio do livro europeu'", La Rochelle, até ao cerco, e, sobretudo, Saumur: a presença de uma uni-
versidade protestante, onde vão estudar os que vêm de Inglaterra, dos
Países Baixos e da Alemanha, contribui para o desenvolvimento de várias
*
empresas bastante activas nesta pequena cidade; em Sedan, no principado
* *
de Bouillon, criam-se também tipografias pela mesma razão. Na Suíça,
No entanto, a partir de 1570, aproximadamente, o Renascimento nota-se que a imprensa de Basileia se encontra em decadência, enquanto
Católico começa a dar a conhecer os seus efeitos, provocando um novo os genebrinos, para manterem os prelos em actividade, se vêem obrigados
abalo no mapa dos grandes centros de edição. A decisão, tomada no a imprimir, com lugar de edição falso, livros destinados aos países católi-
Concílio de Trento de unificar e rever o texto dos livros litúrgicos, para cos. Pelo contrário, nos Países Baixos setentrionais, livres do domínio
espanhol, os prelos multiplicam-se; a Holanda torna-se a metrópole da
edição protcstant '. , urgem oficinas tipográficas, especialmente em Lcida,
olHil' Guillu-: III ' (k Oranuc csrimula, ia em 1576, a criaçuo d lima uni
• Cl. p. 400 i s 'ps.
('I P ,()O l' se p" VI'I"'ldalh. lIa qllal I III tul.uu o, FI/l vier TaIlto quunto a tl'lllo '1i1. a
260 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 261

filologia reina nesta universidade e, prontamente, os Elzevier multiplicam Ao mesmo tempo, numa época em que a maior parte dos livros já
as edições de autores clássicos, procurados por todos os homens de letras não é impressa em latim mas nas línguas nacionais, o comércio do livro,
da Europa. Depois, enquanto Blaeu funda, em Amesterdão, uma poderosa pelo menos em boa parte, deixa de ser europeu. Os editores ingleses, em
oficina, especializada na publicação de mapas geográficos e de atlas monu- particular, parece não manterem relações muito importantes com os seus
mentais'", os Elzevier, que, paralelamente à de Leida, criam uma oficina confrades do continente. Na Alemanha, depois da crise provocada pela
em Amesterdão, começam a contrafazer as obras dos maiores escritores Guerra dos Trinta Anos, Francfort deixa de ser o grande mercado do livro;
franceses e ingleses, que espalham por toda a Europa, com lugares de Leipzig, graças às suas feiras, desempenha esse papel daí em diante, mas,
edição falsos, graças a uma rede comercial muito bem organizada. facto característico, ao passo que os livreiros de todos os países se encon-
travam em Francfort, em Leipzig apenas se encontram alemães, e os eru-
ditos franceses queixam-se das dificuldades que enfrentam ao mandarem
* vir livros de além-Reno. Em França, Paris, onde a actividade intelectual
* * se concentra cada vez mais, continua a ser um centro muito activo, mas só
se torna verdadeiramente importante porque os impressores de Ruão, de
Novas alterações ainda a partir de meados do século XVII. A grande
Lyon, de Troyes ou de Toulouse, não dispondo de manuscritos novos, têm
época do Renascimento Católico acabara. Os editores ricos, especialistas
de resignar-se a viver de contrafacções.
em livros religiosos, não escoam tão bem a sua produção. As obras
Entretanto, nesse período de crise disfarçada, e, em breve, de crise
monumentais, como as edições dos Padres da Igreja, vendem-se menos; a aberta, a edição experimenta enormes dificuldades na França. Dificuldades
criação de conventos torna-se menos frequente; as bibliotecas monásticas tanto maiores quanto, havia dois séculos, e até cerca de 1655, as oficinas
dos estabelecimentos recém-fundados, e também as que se reconstituíram tipográficas se tinham multiplicado infinitamente. Não existe povoação
nos conventos pilhados durante as guerras religiosas, encontram-se agora que não possua uma oficina tipográfica onde o mestre ganha o seu sus-
repletas. Ao mesmo tempo, a literatura profana na língua do país, desti- tento com a impressão de actas administrativas, de abecedários ou de
nada amiúde a um público que ignora o latim, em particular às mulheres, livros escolares elementares, e, muitas vezes também, de folhetos, pois
conhece uma nova voga em França, assim como em Espanha, na Inglaterra muitos oficiais, no decorrer das suas viagens, não resistem à tentação de
e, pouco depois, na Holanda. A escassez monetária, que, na segunda adquirir a baixo preço material usado, para se estabelecerem por conta
metade do século XVII, entrava o desenvolvimento dos negócios, leva os própria e levarem uma vida livre. Em Paris mesmo, em 1644, há 75 ofici-
editores, nessa altura, a multiplicar as «pequenas empresas». A partir de nas: 16 só têm um prelo, e 34 dois apenas; dos 181 prelos com que a capi-
então, editam-se e vendem-se, sobretudo, obras literárias em língua vul- tal conta, cerca de metade não tem trabalho regular. Para remediar esta
gar, de escoamento fácil e rápido. situação, para impedir as contrafacções e, sobretudo, evitar que os impres-
Estas mudanças provocam uma nova transformação no mapa dos sores sem trabalho publicassem folhetos ou livros escandalosos, Colbert
centros de edição. Entre 1640 e 1660, desencadeia-se uma verdadeira teve de tomar disposições draconianas: fixou o regime dos privilégios e,
guerra de contrafacções, a qual provoca a ruína de numerosos editores. em 1666, decidiu fechar um certo número de oficinas e de proibir a
Em Antuérpia, os editores de grandes obras religiosas vêem os seus lucros nomeação de novos mestres e a criação de novas oficinas; proibição que
diminuir todos os anos. Os Moretus decidem limitar-se à impressão de foi implacavelmente mantida até 1686285•
livros da Igreja, de venda sempre assegurada. Em Lyon, observa-se um A partir de então, e até à Revolução, o número das oficinas tipográficas
verdadeiro fenómeno de concentração; os Anisson passam a ser os únicos foi severamente regulamentado'": política severa, análoga à praticada na
grandes editores da cidade e encetam contra os parisienses uma luta sem
quartel. No entanto, Colónia e Veneza estão em declínio.
'" MARTIN, 11. J., «Quclqucs aspccts de l'édition parisiennc au xvus siêcle», iJ1

/IIIIIIt'.I, 7" AIIIl, I ll'i), PJl. '(lI) 'I II


'11 IJI>I,'I, l' I, 11./,,\,'/1 rn ~~í'/Á \'1/11 ~~./ ltluru, Iltll'q\ll' IX71, MI I I () II I I' /lII(t/"" ,', tI/I/lIlIIrI/l" ti" 1'11I11'III11"/Ir', P I Xl l',
262 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO
263

Inglaterra um século antes, que teve, no fim de contas, os mais deploráveis contrafacções das edições pansienses dos melhores autores franceses ,
efeitos e que não consumou o seu principal objectivo: impedir a impressão graças às suas extensas relações de negócios e à posição do seu país. Em
e a venda dos maus livros. Desde então, e cada vez mais, uma parte impor- breve, fazem uma concorrência obstinada aos livreiros franceses, pois as
tante dos livros franceses, não a menor, vai ser impressa no estrangeiro; suas edições chegam a Paris sem dificuldade - a não ser quando se trata
isto porque, enquanto, no final do século XVII, a edição francesa se debate de livros proibidos ou contrafeitos; e, em certos casos, é em geral sufi-
com uma crise terrível, começa o reinado da edição holandesa. ciente que tomem algumas precauções. Este tráfico irá desenvolver-se no
século XVIII, à medida que o francês se torna língua intemacional. Bem
* depressa os livreiros holandeses serão, a par de alguns editores belgas e
* * suíços, os melhores apoios dos filósofos. Para prová-lo, basta citar o nome
de Marc-Michel Rey288. Durante um século, de 1690 a 1790, as obras dos
Surpreendente história é a do «livro holandês-?". O desenvolvimento
mais célebres escritores franceses terão sido lidas em toda a Europa nas
da edição holandesa tinha começado, como verificámos, a partir dos
edições impressas fora de França.
primeiros anos do século XVII. Livres da tutela espanhola, lançando-se já na
conquista de um império colonial, os holandeses gozaram, no século XVII
- o seu «século de ouro» - de uma prosperidade muito grande. Nada con-
vinha mais do que o comércio do livro a esses mercadores possuídos de IV. A IMPRENSA À CONQUISTA DO MUNDO
liberdade, respeitosos das coisas da arte e do espírito. Nessa época, em
que Vermeer, Rembrandt e Franz Hals dão à escola de pintura holandesa A imprensa, como vimos, propagou-se muito rapidamente na Europa
um brilho excepcional, os eruditos são numerosos na Holanda e mantêm Ocidental. Não há cidade importante na Alemanha, na Itália, na França,
relações constantes com os letrados estrangeiros. Basta citar o nome de
nos Países Baixos, em que as oficinas não tenham funcionado desde o
Constantino Huygens. Em contacto com os intelectuais de três nações que
século xv: a partir deste século, mas principalmente no século XVI, na
se ignoram mais ou menos (Inglaterra, Alemanha e França), vão pron-
Espanha, em Portugal, na Polónia; ao passo que, na Inglaterra, a legis-
tamente servir de ligação entre todos - basta pensar nas inúmeras gazetas
holandesas. São numerosos os franceses que procuram a Holanda: lem- lação mantém artificialmente todas as tipografias, ou quase todas, apenas
bremo-nos de Balzac, Teófilo de Viau e, sobretudo, Descartes. Aliás, fala-se na cidade de Londres. Como e quando apareceu e se desenvolveu a
francês na corte de Maurício de Nassau e há numerosos livros franceses imprensa nos países menos populosos e mais distantes do Norte da
nas lojas dos livreiros da Haia. Depois de cada perseguição, os protes- Europa? Como se aclimatou nos países eslavos e, em particular, naqueles
tantes franceses vão refugiar-se nesse país predominantemente calvinista. em que se utilizava um alfabeto diferente? Como se adaptou, quando os
No reinado de Luís XIV em particular, na época das dragonadas e da europeus se lançaram à conquista do Novo Mundo, às condições intei-
Revogação do Édito de Nantes, os grandes livreiros provindos de França, ramente novas ocasionadas pela necessidade de dominar vastos espaços
como os Desbordes ou os Huguétan, encontram aí refugiados da Valónia, que permaneceram, durante muito tempo ainda, pouco povoados? Como
como os Mortier; encontram igualmente escritores franceses - e não dos é que, finalmente, a técnica de reprodução dos textos, aperfeiçoada no
menos importantes. De tal forma que, desde o final do século XVII, Ocidente, acabou por se impor na Ásia, em países de civilização antiga
Amsterdão torna-se, logo a seguir a Paris, no segundo centro da edição que muitas vezes conheciam técnicas talvez mais rudimentares mas bem
francesa, e grandes livreiros holandeses, como os Leers, de Roterdão, inseridas no meio? Questões a que convém responder quando se pretende
divulgam por toda a Europa, de Londres a Berlim, as obras de Bayle e a avaliar, em toda a extensão, o papel representado pelo livro impresso.

2H7 Neste domínio, a publicação de base é de KLEERKOOPER, M. c VAN STOCKUM.


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264 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 265

A) OS PAÍSES ESLAVOS* inspirou-se em manuscritos checos antigos. Em 1476 apareceram os Statuta


Arnesti, em latim, impressos em caracteres tipográficos «textura».
Boémia e Morávia Pelo fim do século, Mikulás Bakalár (1489-1513) tinha instalado, em
Pilsen, uma oficina permanente, onde imprimiu, pelo menos, vinte e duas
O primeiro país eslavo em que a invenção de Gutenberg penetrou foi obras que tiveram grande difusão: As Santas Peregrinações de Bernardo
a Boémia, no território da actual República Checa. Neste país de cultura de Breydenbach, o Mundo novo de Américo Vespúcio, os Países recente-
muito elevada, duas cidades tinham situação preponderante: Praga, a capi- mente descobertos de Montalboddo, Barlaão e Josafate, assim como o
tal, com universidade desde 1348, e Pilsen. Aqui, como em toda a Europa primeiro Saltério checo (1499) e o primeiro dicionário checo, em 1511; as
ocidental, ao lado da nobreza, tinha-se desenvolvido uma classe de mer- diferentes impressões de Bakalár apresentam traços comuns: são em
cadores cujo poderio económico os tornava influentes. O fim trágico de caracteres Schwabach, as páginas têm uma única coluna de 20 linhas e são
João Huss, em 1415, provocou, no limiar do Renascimento, e durante lon- todas em língua checa.
gos anos, desentendimentos religiosos e políticos. A introdução da imprensa A ele se deve igualmente o primeiro livro de inspiração satírica,
talvez tenha beneficiado de circunstâncias que aparentemente a prejudi- Podkoni a zak (O rapaz da cavalariça e o estudante), de 1498, obra escrita
cavam. Foi na Boémia, com efeito, mais do que em qualquer outro país em latim, no último quartel do século XIV. Bakalár, que conhecia várias
eslavo, que tomou corpo a ideia de exercer influência sobre um maior línguas, foi editor, livreiro e talvez mesmo impressor.
número de leitores. Em Praga, tinham sido instalados três prelos diferentes, o mais
Enquanto Praga repercutia polémicas hussitas, sob o olhar compla- antigo dos quais foi o de Jonas de Vykohevo Myto (1487), que publicou
cente do rei Jorge Podiebrado, Pilsen, cidade célebre pelas suas opiniões um Saltério e uma Historia Trojanska. Os dois primeiros incunábulos de
católicas (não se chamava ela Pilsna christianissima semperque fidelis?), Praga estão impressos com caracteres especificamente checos que apre-
opulento burgo comercial, situado no cruzamento de grandes estradas e na sentam uma mistura de redonda e de bastarda.
confluência de vários rios, viu funcionar o primeiro prelo em 1468. Depois, vieram as de dois sócios, João Kamp e João (7) Severyn
É a um impressor anónimo que se deve o estabelecimento da imprensa (1488-1520). Editor e proprietário da oficina, Severyn foi o fundador de
na Boémia. O primeiro incunábulo conhecido é a Kronika Trojanska, de uma pequena dinastia de impressores, que se tornaria, após 1520, sob a
Guido de Colonna (1468), também o primeiro livro impresso em língua direcção de Pavel Severyn, a mais importante de Praga. A esses dois
checa. É significativo que o impressor tenha escolhido, para lançar a sua sócios cabe a honra de terem publicado, em 1488, a primeira Bíblia checa
experiência na terra boémia, não uma obra litúrgica mas um livro profano, completa, intitulada Bíblia de Praga, um dos mais belos incunábulos da
que, na forma manuscrita, conhecera já fama e popularidade crescentes . Boémia. Severyn e Kamp, em 1499, receberam o primeiro privilégio real.
junto dos leitores da Europa ocidental, e que, uma vez impresso, deveria Publicaram vinte livros abundantemente ornados com gravuras em
continuar a mantê-Ias. Nos outros países eslavos, os primeiros impressos madeira, que revelam uma certa analogia com gravuras de Nuremberga;
tiveram carácter nitidamente religioso. Esse primeiro incunábulo pilseni- em 1488, uma edição de Esopo, um dos mais antigos livros ilustrados
ano está composto em caracteres bastardos de belíssimo efeito. O processo checos; em 1495, um Passionale; em 1501, uma tradução checa da obra
de impressão (que comporta um grande número de ligaduras) é seme- de Petrarca, De remediis utriusque fortunae, comportando o primeiro título
lhante ao de Ulrich Zell, de Colónia, mas encontra-se enriquecido pelo ilustrado. Até 1513, a oficina empregava a bastarda como caracteres
uso de novos signos diacríticos próprios da língua checa. O impressor tipográficos, e, depois dessa data, serviu-se da textura.
anónimo (alemão?) deve ter sido auxiliado pela mão-de-obra local, e Beneda trabalhava para o grande público em Praga, onde ganhou
fama pelo. seus calendários em caracteres Schwabach, ilustrados com
travuras .m mud 'ira ' cujos elementos lh eram fornecidos, todos os
* Esta parte é devida à Dr. Â. BASANOFI~ hibliot .cárin na ltiblintlu 1/1/1' National» anos, p 'los 1lll'Il1l11OS da Univcrsidad '. 1\111 s do rim do século, a impr 'lisa
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266 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 267

da Boémia, discípulos de Chelcicky, esse tolstoiano do século xv, por ortodoxo é Swiatopolk Fiol, da Francónia (1475). Bordador de ouro,
motivos de ordem cultural e económica. Em 1489, em Kutno, Martim de inscrito na corporação dos ourives de Cracóvia, inventor de uma máquina
Tisnova publicou duas Bíblias à moda de Nuremberga; em Vitemberga, para a secagem das pedreiras, Fiol desenvolvia uma actividade transbor-
foi Allakraw que trabalhou desde 1484; em Brno, em 1486, Conrado dante. Mantendo estreitas relações com os «beneditinos eslavos», que
Stahel pôs em movimento o primeiro prelo da Morávia; em Olomouc, a sonhavam unificar as duas igrejas, e esperando escoar a sua mercadoria
imprensa começou em 1499. Pela mesma época, penetrou igualmente em entre os eslavos da religião ortodoxa, Fiol consagrou toda a sua produção
Bratislava, na Eslováquia. à literatura dessa liturgia e foi o primeiro a aplicar o processo de
Contam-se, na Boémia, 39 incunábulos, dos quais 5 em latim, e o Gutenberg aos caracteres cin1icos. A difusão das suas edições é atestada
resto em checo; os onze incunábulos moravos são em latim, à excepção em muitos lugares: encontram-se exemplares delas em Leninegrado e em
de um único. Apesar da sua actividade, os tipógrafos checos não con- Moscovo. Fiol adquirira material tipográfico em 1483; oito anos mais tarde,
seguiram satisfazer a procura sempre crescente, sobretudo de livros litúr- em 1491, a oficina produzia cinco livros; Osmoglasnick (Octoteuco),
gicos. Fizeram-se, então, encomendas aos prelos estrangeiros, como os de Casoslovec (Horológio), Psaltir (Saltério), Triod postnaja (Tríduo Pascal),
Estrasburgo, Nuremberga, Veneza, e outros. Triod cvetnaja (Pentecostal). Depois desta data, o silêncio abateu-se sobre
a imprensa de Fiol. Acusado de heresia hussita, preso e, depois, solto, tro-
cou a Polónia pela Hungria.
Polônia Proprietário de uma tipografia estável em Cracóvia, João Haller, da
Francónia, era capitalista notório, mercador de vinhos e de animais. Desde
Se os ricos habitantes das cidades da Boémia foram os promotores o final do século, achava-se ligado ao mundo do livro. A sua actividade de
da imprensa, o mesmo não aconteceu na Polónia. No início do século xv, editor teve um desenvolvimento considerável a partir de 1505, ano em que
a Polónia encontrava-se em vésperas de vastas expansões económicas e o rei Alexandre lhe concedeu um privilégio editorial para todo o território
políticas. A conquista de Dantzig abriu-lhe o acesso ao golfo e o domínio polaco. Fundou, então, uma tipografia, da qual saíram vários livros em latim
do litoral. A vitória sobre a ordem teutónica, em 1410, estabeleceu o seu e em polaco. A sua obra-prima, impressa com privilégio de impressão e
poderio político e militar. Cracóvia, no entanto, foi a única cidade a pos- venda, foi o Missal de Cracôvia. Haller estabeleceu à sua custa uma
suir oficinas tipográficas no século xv. Esta capital era uma cidade uni- fábrica de papel e uma oficina de encadernação. Foi o primeiro, na Polónia,
versitária e um centro cultural, célebres além-fronteiras, e onde, à falta de a acumular as funções de impressor, livreiro e editor, como os seus gran-
oficinas locais, os eruditos se deviam dirigir com frequência aos impres- des confrades da Europa ocidental. Inundou o mercado de Breviários,
sores estrangeiros. A influência do humanismo tinha aí penetrado bastante Missais, Graduais, assim como de uma quantidade apreciável de manuais.
cedo graças aos jovens polacos que frequentavam as universidades de O monopólio-privilégio de 1505 estipulava igualmente que nenhuma obra
França, da Alemanha e da Itália. podia vir do estrangeiro se figurasse no catálogo da livraria de Haller. Essa
Cracóvia era, então, a encruzilhada onde, lado a lado, se encon- medida facilitou por algum tempo a difusão do livro de fabrico local no
travam húngaros, checos, ucranianos, bávaros, silésios, alsacianos e fran- interior do país, livrando-o da concorrência esmagadora dos livros impor-
cónios. Foi nessa multidão cosmopolita que se recrutaram os primeiros tados, sobretudo de proveniência italiana. Haller contribuiu, em larga
impressores, todos estrangeiros, mas burgueses de Cracóvia. medida, para desenvolver a vida cultural da Polónia; protegeu poetas e
O primeiro livro impresso na Polónia, obra talvez de um oficial de escritores, e foi considerado com/autor humanissimus vivorum doctorum.
Gunther Zainer, foi a Explanatio in Psalterium de Torquemada (cerca de Floriano Ungler, oriundo da Baviera, não passou, pelo contrário, de
1474-75), seguido, pouco depois, dos Omnes libri de Santo Agostinho. Os impressor. À sua oficina se deve o primeiro livro polaco chegado até nós,
anos de ]476-77 viram nascer os prelos do bávaro Gaspar Hochfeder, de () Hortulus unimae, de Ri ernat de Lublina (por volta de 1514), adaptação
Hcilsbronn, d João Krieger ou Krüg r, e de João P 'p law. Mas li p 'r do n'l hn tnuado /vntidntariu« anima» de Nicoluu de Salicct; o 110fI ulus
xonulidndc que domina a histórin da impr nsn ntn os slavos dl rito anunu« I '111111"1'1'11111
dI UIIl'I'lllw, pliltico" I' vulm i/ado por lIllla '11Il' til
268 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 269

gravuras em madeira. Correspondente de Rodolfo Agrícola, de Pavel de Pelos seus conhecimentos científicos, as suas edições e traduções,
Krozna e de outros homens célebres, Ungler estava bem ao corrente da Skorina teve uma influência considerável sobre a cultura dos eslavos do
actividade científica. Foi o primeiro a adaptar à imprensa a língua falada rito ortodoxo. Em 1525, não se sabe exactamente por que razão, abando-
pela grande massa dos polacos. O tratado de ortografia de Zaborovsky, edi- nou Praga com o seu material e fixou-se em Vilnius (Lituânia), na casa do
tado nessa época, talvez não fosse estranho a esse movimento. O Hortulus bailio Jacob Babie, onde imprimiu ainda dois livros, em 1525.
animae, com as suas adendas, marca o primeiro passo em direcção à popu- Entre as casas impressoras de Praga do século XVI, distinguem-se a
larização do livro. oficina de Mélantrich, discípulo de Melanchton, e a do seu sucessor e
O monopólio de Haller, de 1505, atrasou o desenvolvimento da cunhado, Adão Veleslavine, mantendo ambos relações constantes com a
terceira grande oficina polaca, a de Wietor, da Silésia. No momento em Universidade de Praga. Mélantrich utilizava caracteres tipográficos
que o privilégio de Haller expirava (1517), Wietor, que acabava de fundar Schwabach e antiqua; tinha um grande cuidado com a edição dos seus
uma tipografia em Viena, veio instalar-se em Cracóvia. Entre 1518 e textos, que eram publicados em quatro línguas. A oficina tinha onze com-
1546, imprimiu grande número de livros em latim, em magiar e em positores, cujos salários semanais variavam entre 18 gross checos e uma
polaco, cuja execução revelava inegável superioridade em relação às moeda de ouro do Reno.
impressões de Haller. Adão Veleslavine (1549-99), professor da Universidade, levou o
Na primeira metade do século XVI, surgiu a figura de Marco livro checo ao seu mais alto grau de perfeição. Foi com este vulto de
Scharfenberg, célebre pela sua luta e vitória sobre o famoso Haller; até ao sábio-impressor, comparável ao de Amerbach, que o Renascimento pene-
começo do século XVII, os Scharfenberg foram impessores de pais para trou na Boémia.
filhos. Durante o reinado de Estêvão Báthori (1576-1586), o filho de Se o livro checo e o livro polaco conheceram a idade de oiro no
Marco Scharfenberg, Nicolau, tornou-se o impressor do rei. Durante a século XVI, sofreram no século seguinte um declínio que se deve à cen-
guerra russo-polaca (Ivan, o Terrível, contra Báthori), imprimiu numero- sura, à guerra e à crise económica; o seu novo arranque só se deu no
sas proclamações e circulares. Os Scharfenberg ocuparam na Polónia o século XVIII.
lugar que os Koberger souberam manter na Alemanha ou os Plantin nos
Países- Baixos.
Eslavos da sul
*
* * Vimos que a Alemanha esteve na origem da introdução da imprensa
entre os eslavos ocidentais; é a Veneza, pelo contrário, que se deve o
A Reforma invadiu a Polónia por meados do século XVI, e assistiu-se,
nascimento da imprensa em todos os países situados no actual território da
um pouco por todo o lado, à abertura de oficinas, tanto nas cidades como
Jugoslávia, em relações constantes com a grande cidade italiana; graças a
na periferia, ou em domínios territoriais.
Na Checoslováquia, a idade de ouro da imprensa foi o século XVI. ela, os eslavos do sul desenvolveram essa arte no seu solo e, em certos
A obra inovadora de Fiol (de Cracóvia) foi continuada por Francisco casos, souberam criar verdadeiras obras-primas.
Skorina, emigrado de Polozk, cidade do noroeste da Rússia. Tendo estu- O primeiro prelo de Montenegro funcionou em Cetinia, cidade
dado filosofia na Universidade de Cracóvia e, depois, medicina na situada a alguns quilómetros do Adriático, sob a protecção do príncipe
Universidade de Pádua, Skorina passou PQr Veneza, onde deve ter conhe- regente Durad Crnojevic, casado com uma veneziana. Julga-se, no entanto,
cido o editor-impressor Bozidar Vukovic, que possuía material tipográfico qu ,por volta de 1490, lvan Crnojevic, o pai do príncipe reinante, já tinha
cirílico. Montou arraiais em Praga e a sua actividade concentrou-se nos instalado, em Obod, uma oficina que, em seguida, foi transferida para
livros da liturgia ortodoxa. Deve-se a Skorina a primeira Bíblia em cslavo C .tiniu. () impressor, () mon Makarii, que tinha aprendido () s 'li ofício
l'

n livros bíblicos), impressa em caractcrcs cirílicos com num 'rosas iruvuras em Yllll/a. 1111 'lIl'alllTado (k'ssa ori -inn, '1110llIall'l iul tinhn 'olllpklado

em 111:111 'ira (Pra 'a, I') 17 I') 1<»). IlIlI IIlI 111 da .11]111 I illl til l .u.u Il'H'. kllil IH' 1'01111 Il'1'o111 1 l 1<1 IIh·
270 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 271

A tipografia de Makarii é, depois da de Fiol (Cracóvia), a segunda tendo tido pouca importância as tentativas de Nedelisce (1574) e de
oficina do século xv a ter usado caracteres cirílicos. O primeiro livro do Varazdin (1586). As obras em latim dos autores croatas dos séculos xv e
Montenegro, um Octoteuco, apareceu em 1494, seguido, em 1495, do XVI foram impressas principalmente na Itália.
Saltério de Cetinia, livro muito raro cuja notável execução revela a marca Em Veneza, desde 1483, imprimiram-se livros croatas em caracteres
do Renascimento veneziano. Alguns anos mais tarde, em 1508, o monge tipográficos glagolíticos, destinados às liturgias da Dalmácia, da Ístria e
Makarii encontrava-se em Tergovisce, junto do voivoda da Valáquia e da da ilha de Camero, mas, em solo croata mesmo, em Senj (1491-1508) e
Moldávia, onde introduziu a imprensa e deixou três livros litúrgicos em Rijeka (1530-31), as imprensas glagolíticas conheceram tão somente
(1508, 1510, 1512), impressos em caracteres tipográficos ligeiramente uma actividade bem reduzida.
diferentes dos de Cetinia. No começo do século XVI, Bozidar Vukovic A Reforma penetrou na Eslovénia por intermédio de Primus Trubar
instalou uma oficina tipográfica (cirílica) na própria Veneza. (1508-1586), universitário e cónego em Liubliana, cujos sermões o
Na Sérvia, a imprensa foi introduzida no século XVI, sob o domínio tomaram muito popular, mas que, sob a pressão da Igreja Católica, teve
otomano; fixou-se nos mosteiros ou foi estabelecida sob os auspícios dos de exilar-se e procurar refúgio na Alemanha. Em Tubinga, em 1550-51,
príncipes. Em ambos os casos, os impressores foram, na maior parte, editou um Catecismo e um Abecedário em esloveno. Ligou-se ao barão
monges ortodoxos; a sua produção consistia unicamente de livros litúrgi- Ungnad, que abraçara igualmente a Reforma e que, em Urach, fundou
coso Em 1531, em Gorazde, imprimia-se um Livro de preces; em 1537, no uma tipografia especializada na edição de livros em croata e em esloveno,
mosteiro de Rujansk, o monge Teodósio dava ao prelo os Evangelhos, destinados à exportação.
suprindo a insuficiência das caixas com letras gravadas em madeü:a; em Em Liubliana, a imprensa só funcionou a partir de 1575-1578; na
1539, em Gracanica, aparecia um Octoteuco; em 1544, no mosteiro de Dalmácia, teve início em Dubrovnik (Ragusa), apenas em 1783.
Mileseva (Herzegovina), os monges Mardarii e Fedor publicavam um Em contrapartida, nos séculos XV e XVI, um grande número de súb-
Saltério; em 1552, em Belgrado, o príncipe Radisa Dimitrovic fundava ditos destas regiões, estabelecidos em Veneza, Pádua e outras cidades
uma oficina que deveria ser retomada, após a sua morte, por Trojan importantes da península, contribuíram para a glória do livro italiano; o
Gundulic; foi aí mesmo que o monge Mardarii veio a imprimir o croata André Paltasic de Kotor (Andreas de Paltasichis Cattarensis), o
Evangelho. Por fim, em 1562, no mosteiro de Merksin, e, em 1563, em croata Dobrussko Dobric, que, no seu país de adopção, se chamará
Skodar, os monges instalavam oficinas. Bonino Boninis, o dalmata Gregório Dalmatin, e, por fim, o esloveno
Todas estas oficinas sérvias tiveram uma vida efémera: deveriam Mateus Cerdonis de Windis. Nenhum deles usou cirílicos e glagolíticos.
durar tão só cinquenta anos, aproximadamente. O material gastava-se, os
monges-impressores tinham que superar uma crescente penúria, e, à falta
de fundidores de caracteres hábeis, puseram-se a recortar, à mão, letras de Rússia
ferro ou de cobre. Imprimiram alguns livros, e foram logo obrigados a
voltar aos processos seculares de reprodução ... dos scriptoria. Ignora-se por que canal penetrou a imprensa na Rússia. Terá havido
A ilustração dos incunábulos eslavos meridionais (com excepção do uma linha tangente na curva que vai de Fiol ao monge Makarii, em
Missal de Cetinia) reproduz as linhas essenciais dos manuscritos eslavo- Cetinia, deste até Bozidar Vukovic, e deste último até Skorina? Em
-bizantinos. São arabescos formados de múltiplos emaranhados sobre fundo Moscovo, conheciam-se certamente as edições dos eslavos do Oeste, e,
preto e branco, mas onde a habilidade do desenho não consegue mascarar sobretudo, as dos eslavos do Sul.
uma certa imperícia dos gravadores. O facto é que, em Moscovo, o primeiro livro datado é o Apostol, de
A situação da Croácia, no século XV, foi muito complexa. Se o norte 1563-1564; esta data é geralmente admitida para assinalar o começo da
do país, com Zagrebe, teve afinidades boémio-húngaras, a costa adriática imprensa na Moscóvia. No ntanto, d cvc s r tini ecipada para 15.53, S'
viveu sob a estreita influência de Vcncza. A imprensa instalou-se tarde 1 -vanuox em l'Olltas cdi 'Ol'S óll\(ílliIII:lS ' S '11\ dutn. Desde I) inrciu, li
l1l s1l' pais: o trnbulho contínuo s() l'Ollll' '011 no século . VII, em Za '1llll', nnpu-u 1 loi, "1\", tuuu r-mpu ·a do Htadol' 11 1 I '1l'pl; lll\\ •.•uuuu 1111101
dil
272 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LlVRO
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medidas administrativas instituídas pelo czar Ivan Groznyj (Ivan, o


a :e~unda é a tradução alemã de um livro de exercício militar (1647), cuja
Terrível), em meados do século XVI, após a conquista de Kazan, e desti- pagma de rosto foi gravada a partir do desenho de Gregório Blagusin.
nada a responder ao desenvolvimento das classes artesanais e mercantis e Apesar da actividade dos impressores, centrada sobretudo nos livros
à necessidade urgente de uma censura governamental em matéria de livros litúrgicos, nem por isso desapareceu a tradição do livro manuscrito· ela
litúrgicos. Foi um instrumento da política de centralização e de coerção. persistiu durante os séculos XVI, XVII e mesmo XVIII; as vidas dos santos
A primeira oficina de Moscovo, dita «Anónima», imprimiu seis livros: as narrativas de viagens, os livros de História, de ciência e outros, conti-
o Evangelho de 1556-57, de 1559 e de 1565-66, o Saltério, de 1557 (?), nuaram a ser copiados nos diversos scriptoria,
de 1566-67, e, finalmente, o Tríduo Pascal, de 1558-59. Foi nesta oficina Apesar da sua diversidade, existe um elemento de ligação entre todos
que, provavelmente, trabalharam os impressores Marousa Nefediev e os livros dessa é~oca: o emprego constante de caracteres cinlicos de igreja.
Vassjuk Nikiforov. Após 1567, os caracteres cirílicos desta tipografia .Embora de introdução tardia, a imprensa russa viria a ter um progresso
desapareceram completamente - talvez durante um incêndio. considerável e a edição atingiria, no século XX, números imbatíveis.
O primeiro funcionário conhecido que deixou o seu nome em livros
impressos foi o diácono Ivan Fedorov; imprimiu o Apostol (1564) e dois
B) NOVO MUND0289
Casovnik (1565), o primeiro abundantemente ilustrado com gravuras em
madeira. Teve como colaborador imediato, Pedro Mstislavec. Por volta de ,E~tretan.to, quase ao mesmo tempo que o aparecimento da imprensa,
1566, ambos saíram de Moscovo, levando uma parte do seu material nos ~ltlmos cmquenta anos do século XV e, sobretudo, nos primeiros anos
tipográfico e a quase totalidade das madeiras gravadas. Foram instalar-se do seculo XVI, outras «grandes descobertas», geográficas estas, alargam
em Zabludov, na Lituânia, junto do príncipe Khodkevic. Ivan, o Terrível, bruscamente o horizonte do mundo conhecido pelos homens do Ocidente.
tinha-os autorizado a emigrar para aquele país, talvez com a intenção de U_mgrande projecto em .que estes se comprometem, no decurso do qual
os ver reforçar aí a influência russa. Depois da junção da Lituânia à vao esforçar-se por donunar os espaços que para eles se abrem, e entrar
Polónia, Fedorov mudou-se novamente, e fixou-se em Lvov (1572), depois, em contacto com mundos até então desconhecidos, ou entrevistos somente
em Ostrog, na Volínia, onde imprimiu a Bíblia, em 1581, com caracteres a~ravés _denarr~tivas mais ou menos lendárias. Início de um projecto que
diferentes dos usados anteriormente. ainda nao termmou, e durante o qual a civilização do Ocidente age como
O papel de Ivan Fedorov foi muito importante na história do livro um fermento. Projecto no qual a imprensa tem o seu papel a desempenhar.
impresso em cirílico; a influência do seu Apostol pode atestar-se durante Primeiro, na América. E, nessas conquistas, a imprensa exerce desde
quase dois séculos; certas xilogravuras deste livro acham-se nas o início uma influência essencial: imagine-se, efectivamente, qual seria a
impressões de Lvov, de 1722. psicologia dos conquistadores que se lançaram ao assalto desses mundos
Em Moscovo, Andrónico Neveja substituiu I. Fedorov; imprimiu desconhecidos: desejo de encontrar oiro, gosto de aventuras? Certamente.
dois Saltérios, um Tríduo Pascal em 1589, um Tríduo Pentecostal em Ma~ d~~ejo alimentado por inúmeros romances de cavalaria de que os pre-
1591, e um Apostol em 1597, este último com tiragem de 1050 exem- los ibéricos de então multiplicavam as edições e que descreviam as terras
plares. A sua actividade prossegue até ao começo do século seguinte. longínquas e afortunadas, habitadas por povos fabulosamente ricos.
Desde então, os livros imprimiam-se nas oficinas de Moscovo, de Kiev, Desejo também de viver as aventuras desses heróis de romances: não por
de Lvov, de Novgorod, de Tchernigov e de outras grandes cidades da acaso, a era dos conquistadores foi também aquela em que o livreiro
Bielorússia, e em diversos mosteiros. Cromberger, de Sevilha, publicava Sergias de Esplandián, o segundo
Durante quase um século, apenas se imprimiram livros litúrgicos; só rom~nce de Montalvo, sequência do Amadis de Gaula, no qual se trata
perto de meados do século XVII, é que apareceram obras profanas, a pri- precisamente do povo das Amazonas que vivia na Ilha da Califórnia·
também não é por acaso que esse romance foi reeditado continuamente' ,
meira das quais um Abecedário, composto e impresso por Y.F. Bourcev
(1634), logo seguido d uma nova edição, 111 1639, com tira' '111 de
()()()() l cmplarcx l' ornndn, p Ia primeira ver, com lima nuvurn proluna; "VII" 1111>1111'I dll li 1111
o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 275
274

enquanto Cortez operava a conquista e a submissão dos vastos reinos do o novo impressor encontrado no local elementos para a sua clientela.
México, enquanto Pizarro, e depois Almagro, se lançavam na bacia do Pouco a pouco, a imprensa desenvolve-se no México. Em 1550, um fun-
Amazonas, de nome sintomático, em busca do Eldorado. Tudo isto mostra didor de letras proveniente de Sevilha, António de Espinosa, chega à
que a literatura dos romances de cavalaria, vulgarizada pela imprensa, criou cidade; começa por fundir para Pablo novos caracteres redondos e itálicos
de repente um clima favorável à exploração do Novo Mundo. Estes que vêm substituir os caracteres góticos que este utilizara até então, e
romances, aliás, estão sempre presentes no espírito dos conquistadores. Os depois cria uma segunda oficina de imprensa (1559). Em seguida, antes
impressos por Cromberger são expedidos em caixas cheias para a América: do final do século XVI, e, sobretudo, no século XVII, outros tipógrafos se
em certos períodos, não há navio que não contenha livros desses na sua carga. estabelecem na cidade. De tal forma que, no total, foi possível enumerar
O livro impresso penetra, pois, rapidamente nos territórios conquis- I] 6 obras impressas no México, no século XVI, e 1228 no século XVII;
tados pelos espanhóis. Muito cedo, igualmente, algumas oficinas tipográ- produção superior à de muitas cidades europeias importantes - tanto mais
ficas aparecem nos grandes centros tentaculares que se tomarão muito notável quanto era preciso mandar vir da Europa o papel indispensável
rapidamente as capitais desse império: México e Lima. Mas essas oficinas para as impressões.
não imprimem romances de cavalaria. As todo-poderosas autoridades Se a imprensa tinha podido desenvolver-se assim no México, fora por-
eclesiásticas a isso se oporiam; a própria introdução de livros de ficção no que, sem dúvida, a cidade já era muito importante; no início do século XVII,
novo. continente, teoricamente proibida, não é simplesmente tolerada? tem cerca de 25 000 habitantes, dos quais 12 000 brancos. Dentro em
Durante muito tempo também, mandar-se-á vir da Europa, para grande pouco, igualmente, numa outra grande cidade do império espanhol, Lima,
felicidade dos Plantin-Moretus, os livros de Igreja de que a América os prelos começam a funcionar. Em 1584, um impressor italiano que tinha
necessita. Durante muito tempo, pois, o Novo Mundo permanecerá tribu- trabalhado por algum tempo no México, António Ricardo, vem instalar-se
tário dos prelos de Espanha ou de Antuérpia. De facto, as oficinas tipográ- aí. Tinha sido chamado pelos Jesuítas, que possuíam na cidade um impor-
ficas da América, todas criadas pela autoridade eclesiástica, têm na sua tante colégio e que, desde 1576, tinham manifestado o desejo de ver uma
origem o objectivo estreitamente limitado de produzir as obras necessárias à tipografia funcionar no local, com a finalidade de imprimirem os livros
necessários para a evangelização dos índios. Por isso, a primeira obra
evangelização dos índios e também de fornecer à colónia nascente os
importante que Ricardo deu ao prelo, em Lima, foi um catecismo em três
indispensáveis livros de instrução e, sobretudo, de piedade. A história do
línguas. Desde então, a imprensa desenvolve-se nesta cidade, que, no
primeiro prelo estabelecido de modo seguro e, em' qualquer caso, estável,
século XVII, conta com 10 000 habitantes (incluídos os mestiços), onde
na cidade do México, é, nesse aspecto, característica.
existem cinco colégios, dos quais um reservado aos indígenas, e uma uni-
versidade compreendendo 80 professores; por volta de 1637, três oficinas
* funcionam aí, simultaneamente. Assim, bem rapidamente, dois grandes
* * centros tipográficos começam a constituir-se nas duas maiores cidades do
império espanhol da América. Mas, durante muito tempo, não haverá
Efectivamente, treze anos somente após a batalha de Tolumba - início quase nada ao lado deles. Conhecem-se, é certo, quatro livros com o local
da aventura de Cortez -, o bispo do México, Juan de Zumárraga, mani- de impressão em Juli, nas margens do lago Titicaca, onde os Jesuítas
festa a Carlos V o desejo de estabelecer moinhos de papel e um prelo no tinham fundado um colégio, mas, na realidade, esses livros parece terem
local. Em 1539, vê o seu desejo realizado com a aprovação do vice-rei sido impressos em Lima. Em 1626-1627, funciona uma imprensa em
Mendoza: nesse ano, com efeito, Cromberger enviava para o México um Cuenca (Equador); a partir de 1660, uma outra, em Santiago de Guatemala.
prelo e um impressor, Juan Pablo, não sem se ter garantido contra uma No total, pois, não contanto com o México e Lima, bem pouca coisa antes
eventual concorrência deste, por meio de um contrato extremamente do século XVIII: prova d que os espanhóis não tinham conseguido domi-
preciso. Pablo, ao que parece, começa por imprimir cartinhas, obras des- nar 'organizar os vastos ispa .os que haviam conquistado. Tudo s 'rá dif
tinadas à instrução cristã dos índios, alguns livros de picdad ai 'uns H'llll' nu 111 'I ira nn ,10 sn: onicn, onde os pr 'Ios, ntras dos piou 'iros,

II alados til carnctcr jllndiro. I IIHI\H;ao IIHHIl stn ai lida, max que prova lU • inh.u ali 11111111I 11111.1 I 1111 Illdllallll 1111'
276 o APARECIMENTO DO LIVRO
GEOGRAFIA DO LIVRO
277

* De resto, nada disto parece de espantar. No início do século XVIII, os


* * futuros Estados Unidos ainda não contam com mais de 400 000 habi-
tantes, disseminados por vastas extensões, e chegam-lhes às mãos os
Foi em 1638 que apareceu a primeira oficina tipográfica nos actuais
livros impressos na Inglaterra. Nestas condições, os impressores ameri-
Estados Unidos, na Nova Inglaterra, na colónia fundada em torno da baía
de Massachussets, uns vinte anos antes, pelos passageiros do Mayflower. canos vivem da publicação das actas oficiais ou administrativas, de com-
Entre esses emigrantes e os que a eles se vieram juntar, eram numerosos pilações das leis locais, de almanaques, de abecedários, de colectâneas de
os homens cultos: juristas e religiosos, muitas vezes licenciados pela sermões dos pastores do local, de livros de orações, ou de manuais dos
Universidade de Cambridge, que tinham abandonado o seu país por causa comerciantes. A publicação das actas oficiais e dos actos administrativos
da religião. Quando a colónia se desenvolveu, sentiram necessidade de permanece durante muito tempo a sua principal fonte de receita, de
nela fundar um colégio. Graças a doacções e legados - dos quais o prin- maneira que, na prática, só podem subsistir os impressores titulares das
cipal, 800 libras e 320 volumes, foi de John Harvard -, realizaram o seu diversas colónias; além disso, a situação destes é muitas vezes delicada:
intento em 1636, e criaram o estabelecimento projectado na vila de New com bastante frequência, os governadores desconfiam dos tipógrafos.
Town, que, em 1638, rebaptizaram com o nome de Cambridge. Durante Hesitam em dar-lhes autorização para se instalarem e vigiam de muito
esse tempo, um pastor não conformista, emigrado pouco antes, fora de perto a sua actividade, enquanto as câmaras locais, que pagam os seus
novo a Inglaterra com a intenção de procurar, especialmente, o material salários, reclamam igualmente o direito de fiscalizarem o que eles
necessário para a criação de uma imprensa e tipógrafos capazes de pô-Ia imprimem.
a funcionar. Na Inglaterra, procedeu às compras necessárias e contratou Efectivamente, a imprensa só se desenvolveu na América, durante o
um serralheiro, Estêvão Day, e com os seus dois filhos, um dos quais, século XVIII, a partir do momento em que os tipógrafos encontraram uma
Matias Day, de dezoito anos, era tipógrafo. Os três comprometeram-se a nova fonte de receita: o jornal. Estabelecidos longe do seu país de origem,
seguir Glover até a América. Este último morreu durante a viagem de em centros frequentemente pouco povoados ainda, os americanos
regresso, e a sua viúva tomou a direcção da empresa; naturalmente, esta- sentiam-se isolados, privados de contactos com o resto do mundo: foi,
beleceu a imprensa projectada em Cambridge, perto do colégio que acabara sem dúvida, por esta razão que o jornal, entre eles, se desenvolveu mais
de ser fundado. E as primeiras obras aí impressas foram o Freeman 's depressa do que em qualquer outro lugar. As primeiras gazetas ameri-
Oath, quer dizer, a fórmula do juramento de obediência prestado pelo canas, antes de Franklin especialmente, copiavam com frequência as notí-
cidadão ao Governo, um almanaque e uma tradução dos Salmos, enquanto, cias das gazetas europeias, mas encontravam-se nelas também infor-
em 1643, apareciam The Capital laws of Massachusett's Bay. Sob a mações preciosas relativas à vida local. É certo que os números das suas
direcção de Mateus Day, e, depois, de Samuel Green (1649-1692), a ofi- tiragens continuaram a ser com frequência bem modestos e muitas delas
cina de Cambridge deu provas de grande actividade. Nela se imprimiram, desapareceram após uma existência efémera. De qualquer forma, de 1691
principalmente, peças relativas à actividade do colégio, almanaques e a 1820, publicaram-se em trinta colónias e Estados, 2120 jornais, dos
catecismos e, em 1663, uma tradução da Bíblia em língua índia. quais 461 circularam durante mais de dez anos.
Foi preciso esperar muito tempo para ver aparecer outras oficinas. Assim, doravante, os impressores que fundam uma nova oficina não
Em 1674, John Foster instala uma imprensa em Boston; em 1685, William deixam de publicar um jornal do qual são muitas vezes o principal e, às
Bradford cria uma oficina em Filadélfia, e, em 1690, funda, com dois vezes, o único redactor. Impressor-jornalista, o tipo de impressor essen-
sócios, o primeiro moinho de papel americano, antes de ir instalar-se em cialmente americano. Contudo, nesses vastos espaços, o problema essen-
Nova Iorque (1693). No entanto, mais a sul, o impressor William Nuthead cial era alcançar o leitor, fazer-lhe chegar o jornal, e isso só podia ser feito
instala-se em Jamestown, na Virgínia (1682). Expulso pelo governador, com a ajuda de uma nova personagem, o postilhão. Não é, pois, de admi-
estabelece-se, a seguir, no Maryland, em Saint Mary City (1685). orno rar que os impressores trabalhem na publicação do jornal em estreita
se vê, as oficinas tipográficas continuam li ser pouco num 'rosas nas coló colahoruçno CO!1l() postilhuo •• 'lu 'si' S' torne amiúde impressor, ou o
lIias ill'ksas da AIIIl rica, no sl'l'lIlo , VII. impn SSOI,pl) tjlh 10 Nao l' cll ndruinu, PllIlil'lIl:lIllll'lIll" qlll o I u-mu
278 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO 279

postal oficial americano tenha sido criado por um impressor. E a oficina conheciam a escrita; nem, com tanto mais razão, as diversas tribos indí-
do impressor, que se desdobra muitas vezes em muda de postas - e, genas da Nova Espanha e do Brasil português, e isso é suficiente para
naturalmente, em loja de livreiro (onde, às vezes, também se vendem explicar o atraso relativo do livro europeu na América.
outras coisas, além de livros) - torna-se frequentemente o centro das notí- No entanto, os portugueses tinham imediatamente compreendido a
cias e, igualmente às vezes, da vida pública. utilidade desse meio de propaganda nos territórios da África e sobretudo
Graças a este sistema coerente, perfeitamente adaptado às necessi- da Ásia. É preciso pensar que o primeiro livro impresso na Rú'ssia data d~
dades do país, as oficinas tipográficas multiplicam-se na América, durante 1563, em Constantinopla de 1727, na Grécia de 1821, enquanto na
o século XVIII, e, na maior parte das vezes, o aparecimento de uma Abissínia é importado um já em 1515*, e a imprensa funciona em Goa em
tipografia faz nascer um jornal. No decurso do século, quase todas as coló- 1557, em Macau em 1588, em Nagasáqui em 1590!
nias ou Estados virão a possuir os seus prelos. Depois de Massachusetts, Os primeiros caracteres exóticos foram fundidos no Ocidente em
Virgínia, Maryland, Pensilvânia e o Estado de Nova lorque, que já tinham 1539-1540, em Lisboa, pelo cronista João de Barros, em intenção das
tido as suas no século XVII; no século XVIII, Connecticut (New London, crianças «etíopes, persas, indianas para cá e para lá do Ganges»: uma
1709), Nova Jersey (Perth Amboy, 1723), Rhode Island (New Port, 1727), gramática e uma Cartinha (catecismo)! Mais ainda, os soberanos portu-
Carolina do Sul (Charleston, 1731), Carolina do Norte (New Beru, 1749), gueses adoptaram muito cedo o princípio de fazer com que os primeiros
New Hampshire (Portsmouth, 1756), Delaware (Wilmington, 1761), exploradores fossem acompanhados de cargas de livros: assim aconteceu,
Geórgia (Savannah, 1762), Luisiana (Nova Orleães, 1764), Vermont em 1490, em relação ao Congo, para onde dois impressores alemães
(Dresden, agora Hanover, 1778), Florida (Santa Augustina, 1783), Maine foram enviados em 1494 (ignora-se, aliás, o que eles puderam lá fazer)**.
(Falmouth, agora Portland, 1785), Kentucky (Levington, 1787), o distrito Quando São Francisco Xavier deixou Lisboa (1541), D. João III muniu-o
de Colúmbia (Georgetown, 1789), Virgínia Ocidental (Shepherdstown, de uma biblioteca escolhida cujo valor era de «cem cruzados».
1790), Tennessee (Hawkins Court House, hoje Rogersville, 1791), Ohio É preciso reconhecer, por outro lado, que, na Índia Portuguesa, os
(Cincinnati, 1793), Michigan (Detroit, 1796). contactos com os hindus letrados só se estabeleceram nos começos do
Esta enumeração prova que os anglo-saxões souberam organizar os século XVII (Padre de Nobili), e que, consequentemente, as pequenas
espaços que tinham conquistado; prova também que, havendo-se limi- obras impressas, a partir de 1557, em Goa (três tipografias), Rachol
tado, durante muito tempo, a imprimir obras modestas, de carácter utilitá- (cinco), Cochim, Vaypicota, Punicale, Ambacalate, não passaram de cate-
rio, conseguiram, em suma, criar bem rapidamente uma indústria tipográ- cismos ou livros de orações. Conhecem-se até ao presente dezasseis em
fica activa, prontamente reforçada com uma indústria papeleira que os português, vinte e quatro ou vinte e sete bilingues e em diversos dialectos
tornou independentes do Velho Continente. do Oriente (um em malaio, dois em abissínio, um em português-tamul de
Lisboa, quatro ou seis em línguas indianas de Portugal, uma tradução de
indiano para português, etc.)
C) EXTREMO ORIENTE*

Se, da América dominada pelos espanhóis e pelos anglo-saxões, pas-


sarmos aos territórios onde se exerceu, desde 1500, a influência dos portu- * Alusão ao envio de cartinhas e outros livros na embaixada ao Négus da Abissínia,
a qual partiu de Lisboa, sob a direcção de Duarte Galvão, em 1515, e foi continuada por
gueses, verificaremos inicialmente, de acordo com a sugestiva observação
D. Rodrigo de Lima. A encomenda de livros, ao que parece, perdeu-se durante a viagem.
de Cournot, que «por toda a parte, a invenção da escrita constituiu um (N. R.)
momento essencial». Nem os astecas do México, nem os incas do Peru *'I< 01110 se disse atrás, os alemães enviados para S.Tomé (e não para o Congo)
-nun l'al piut 'iros 'llHO impr 'sso!" is. Quanto aos livros d .stinudo» ao Congo, sabe se ap
IIi1~, !ll'lo 1111III,liI RIII 111-"" li! , quv h"VIII 11 int de os IIV!:I!",
'11\':10 IllUS nudn prm a Il'II'IIl
I, li! palll' 0111a do 1{I'vI'II'IIdo I'ml,,· 111,I
111'1111. N R Il M III{ I, 1'1"111 IIIHIlIr 11111 li· (I,H h,1I11I (N U)
280 o APARECIMENTO DO LIVRO GEOGRAFIA DO LIVRO
281

Completamente diferente era a situação quando os portugueses muitos anos ao estudo da língua chinesa tal como era falada e escrita pelos
chegaram à China (15l3) e, especialmente, ao Japão (ao redor de 1542). eruditos do império, começou o seu trabalho de tradutor, utilizando os
Encontram aí uma arte autóctone, consideravelmente desenvolvida: a poucos livros de ciência (especialmente, matemática e cosmografia) e de
xilografia ou gravura em madeira. Foram os missionários, sobretudo literatura (colectâneas de Adágios, à maneira de Erasmo e dos estóicos).
jesuítas, que tomaram a iniciativa de transplantar para o Extremo-Oriente, Após a sua morte (11 de Maio de 1610), os seus sucessores jesuítas na
para uso dessas nações altamente civilizadas, os últimos aperfeiçoamen- China enviaram à Europa o jovem Nicolau Trigault, oriundo de Douai,
tos da imprensa ocidental. É preciso não esquecer, no entanto, que, no para recolher, entre outras coisas, o maior número possível de livros
final do século XVI, foram impressos livrinhos religiosos em chinês, pelo impressos. Trigault, tendo desembarcado em Roma, em 1616, conseguiu
processo da xilogravura, em Parian, subúrbio de Manila, sob a direcção quase imediatamente como oficial de tipógrafo um antigo médico, João
dos dominicanos. Schreck, dito Terrentius, recebido com Galileu na recém-criada Academia
São Francisco Xavier (a partir de 1549) e os seus primeiros sucessores dos Linces. Graças a relações influentes, sobretudo com o cardeal Frederico
(Padre Ruggieri, na China, por volta de 1584), inicialmente, admitiram ape- Borromeo, fundador da Biblioteca Ambrosiana de Milão, Terrentius e
nas a utilização dos processos do país, mas o Padre Alexandre Valignano, Trigault conseguiram, em alguns meses, reunir (por exemplo, na feira
tendo partido do Japão com quatro pequenos «embaixadores», em 1584, internacional de Francfort) um conjunto de volumes que teria honrado as
pensou bem cedo em prover essas regiões de caracteres móveis, fundidos melhores bibliotecas da Europa. Depois de numerosas peripécias, essa
à maneira europeia. Esse projecto realizou-se, desde 1588, em Macau, colecção única (só de medicina, foram conservadas mais de 200 obras da
com uma obra escolar, e, em 1590, com uma narrativa latina da grande época!) chegou a Pequim. No decorrer dos anos, esse primeiro fundo,
viagem da embaixada. No Japão, durante o «século cristão» (1549-1644), preservado quase intacto no meio dos maiores perigos (incêndio da capi-
imprimem-se cerca de vinte obras de carácter bastante variado, entre tal, no final dos Ming, em 1644, cerco dos Boxers, em 1900), foi acrescido
outras, de grandes adaptações do «Calepino» (dicionário europeu) que com numerosas doações, em especial com as da Missão dita francesa,
são, actualmente, procuradas tão avidamente quanto as primeiras produ- enviada pelo rei Luís XIV, em 1688, às quais se acrescentaram restos das
ções de Gutenberg ou as edições princeps de Shakespeare. Esses bibliotecas de outras residências missionárias, nos finais do século XVIII.
«incunábulos» japoneses têm, na história da literatura, a mesma importân- Actualmente, subsistem mais de 4000 obras, entre as quais vários
cia que as primeiras transcrições de obras budistas que traduziam os textos incunábulos, na Biblioteca do Pet'ang, em Pequim (o catálogo foi elaborado
do sânscrito para o chinês. Os eruditos não se cansam de os analisar minu- cuidadosamente por Verhaeren, lazarista, com a contribuição do Fundo
ciosamente, não apenas para encontrar matizes dialectais da época, mas Rockefeller).
para observar as modificações insensíveis da terminologia e da gramática O que há de verdadeiramente característico nessa «Fundação», é que
japonesas sob a influência dos modos europeus de pensar. a Biblioteca devia, antes de mais, ser utilizada para traduzir em língua chi-
Encontraríamos factos análogos nas adaptações, que habitualmente nesa o que a cultura ocidental tinha realizado de mais precioso, em todas as
permaneceram manuscritas, de várias obras ocidentais em chinês, vietna- áreas do conhecimento. O primeiro a dedicar-se a essa enorme tarefa foi
mita, coreano, indiano ..., mas, em face dessas tentativas, a experiência da Adão Schall, um alemão de Colónia; auxiliado por um letrado chinês, Paul
China tem um valor incomparavelmente mais alargado. De facto, ao lado Siu Koang-ki, veio assim a publicar uma Enciclopédia de matérias matemáti-
de obras xilogravadas em línguas europeias (uma dezena, aproxima- cas e científicas, em cem tomos. A queda da dinastia Ming e a instauração
damente), foi criada uma verdadeira biblioteca, em impressão xilográfica, da dinastia manchu dos Ts'ing (1644) interromperam aquele empreendi-
pelos «Padres de Pequim». A história desta, que seria longa, vale a pena mento durante um certo tempo, mas, com a protecção de Choen-Tche,
ser brevemente resumida. prirn .iro imperador rnanchu, Schall, feito presidente do Tribunal da
Ao primeiro adaptador de obras cristãs na China, o napolitano Mntcnuu ica, rccditou aqu 'Ia En .iclcpédiu. aído em desgraça, rn 1661,
Ruggicri, tinha s logo associado (1583) um outro autor italiano til: irandc Il'Vl' l'tlIIIII SlIll'SSCII 11111 Ilamcn 'O, Fl'rdil\:tnd Vl'I hi -xt, qu . s tornou no
l"ilparidadr, o Pndn- Mntcux Ricci, I\Sll" ~kpois (Il IIaVl'1 l'OIlSiI 'I:ldo pruru Iltl plllll \lI tI\l '10111<11 II1Ipll:ltltll 1\.'1111' hi (I()(II 17)))
282 o APARECIME TO DO LIVRO

A chegada dos cinco «matemáticos de Luís XIV», conduzidos pelo


francês de Fontaney, em 1688, tinha por finalidade criar uma espécie de
filial da Academia das Ciências de Paris. Um dos seus trabalhos mais
meritórios foi o levantamento do mapa do império manchu, a partir de
1706. Todos esses trabalhos, impressos em chinês, provocavam a admi-
ração de um Leibniz, advogado convicto da Eurásia. Mas, com a morte de
K'ang-Hi, o seu sucessor, K'ien-Long, limitou-se tão-somente a tolerar a
presença dos missionários do Ocidente no Tribunal da Matemática.
K'ien-Long (1735-1799) retomou em parte a atitude condescendente do
seu antepassado K'ang-Hi; foi por sua ordem que se elevaram os edifícios
europeus da Versalhes de Pequim. Foi ainda editada uma revisão do levan- Capítulo VII
tamento dos seus imensos Estados.
Por diversos motivos, entre outros a supressão da Companhia de o COMÉRCIO DO LIVRO
Jesus (1762), essas publicações chinesas, cujo número se eleva a várias
centenas de títulos, cessaram pouco a pouco. Foram compensadas, indi-
rectamente, pelo conjunto das obras dos «Padres de Pequim», sobretudo Do século xv ao século XVIII, como verificámos, os prelos multipli-
franceses, que, editadas na Europa, no século XVIII (Cartas edificantes e cam-se. Ao mesmo tempo, a produção impressa não cessa de aumentar,
curiosas depois de 1702, Descrição da China, pelo Padre du Halde, em mas - não nos enganemos - nada apresenta de comparável à produção
1735, os dezasseis tomos das Memórias relativas aos chineses ...), fun- actual. O que toda a gente lê - calendários, almanaques, cartinhas, livros
daram a «sinologia» científica. de horas, livros de piedade, e, a partir do final do século XVI, as velhas
Seguindo o mesmo modelo da China, no século XVIII, mas numa novelas de cavalaria - tal é o que se encontra nos fardos dos vendedores
escala restrita, a Índia viu edificarem-se observatórios astronómicos (par- ambulantes. Por outro lado, a multiplicação dos colégios, desde os finais
ticularmente, em Agra) e serem traduzidos vários dos seus textos essen- do século XVI, provoca uma necessidade crescente de livros escolares.
ciais (os Vedas, em especial). Certas epopeias foram mesmo compostas Ao lado destas obras, apenas os grandes êxitos de livraria alcançam um
em tâmul (Padre Beschi). Os tumultos da Revolução Francesa (1789) e as público vasto. Todos os outros livros - a grande maioria - interessam
guerras europeias do tempo de Napoleão (1802-1815) interromperam os apenas a um pequeno número de leitores. Coloca-se, portanto, aos edito-
contactos entre o Oriente e o Ocidente. Depois da tormenta, as relações res de então, mais ainda do que aos dos nossos dias, um problema que
foram retomadas pouco a pouco, sobretudo por intermédio das missões enfrentam todos aqueles que dirigem uma indústria cujo objectivo é fabri-
protestantes, mas numa atmosfera completamente diferente. A decadência car em série objectos idênticos: o da saída do produto. Organizar uma rede
momentânea das civilizações do Oriente e a superioridade técnica do comercial que lhes permita escoar a produção o mais rapidamente possí-
Ocidente opuseram-se às trocas bilaterais: a Europa, especialmente após a vel, tal foi, durante muito tempo, a constante preocupação dos editores.
Guerra do Ópio (1840), obteve uma proeminência quase exclusiva, na
qual o livro impresso desempenhou papel essencial, mas em sentido único,
até ao dia em que o Japão, primeiro (restauração de Meiji, 1853), e, depois, I. ALGUNS DADOS: TIRAGENS E FARDOS DE LIVROS
pouco a pouco, a China (renascimento literário de 1919) retomaram, por
sua própria conta, o caminho franqueado no século XVI. Vejamos, .m primeiro lugar, os «dados» do problema. Para começar,
uluumas indicuçocs rcsp itant s às tirag ns;
t 1111tl'xto ('Olllposto (' inscridn lias Iormns, COIllO vimos, podia ser
Il'PHldll/ldo IH 111 11111'11
'I. ílO 11\111\1I1111H'IOplilIIC:II1111l11 inl'llIi!o dI
284 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 285
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exemplares. Não há dificuldades técnicas em executar «grandes» tira- das lnstitutas de Justiniano, em Ferrara. A partir desta época, encontram-se
gens, e isto foi assim praticamente desde a origem da imprensa. Ora, o tiragens mais importantes, particularmente em Veneza, grande centro inte-
preço da composição e as despesas indispensáveis ao desenvolvimento da lectual e simultaneamente comercial, de onde é fácil expedir fardos de
empresa representam uma parte bastante importante das despesas de livros em todas as direcções: desde 1471, Wendelin von Speyer imprime
execução de uma edição. Impressores e livreiros tinham, portanto, com aí mil exemplares dos comentários do Panormita sobre a primeira e a
toda a certeza, interesse em fazer a tiragem da obra que publicavam com segunda Decretais; em 1478, Leonardo Wild imprime aí também 930
um número relativamente grande de exemplares a fim de «repartir» esse exemplares de uma Bíblia latina para Nicolau de Francfort. Números
investimento, e, por conseguinte, diminuir os preços de custo. Mas, uma enormes para aquele tempo e que explicam talvez a razão de Wendelin
vez atingido um certo número, já não tinham grande vantagem em executar von Speyer se encontrar de repente em situação financeira difícil.
uma tiragem maior: por um lado, de facto, os benefícios resultantes da Por volta de 1480, contudo, o mercado do livro começa a organizar-se;
repartição do investimento inicial tornavam-se, então, relativamente é a época em que começa a grande actividade dos Koberger, os primeiros
insignificantes; e, sobretudo (e aqui intervém o problema da saída do dos editores verdadeiramente internacionais. Enquanto o preço dos livros
produto), não podia, de modo algum, fazer uma tiragem de uma dada obra baixa em enormes proporções, o número médio das tiragens aumenta rapi-
com um número de exemplares que o mercado não pudesse absorver em damente. A partir de 1480-1490, podemos considerar, segundo Haebler,
tempo razoável, o que teria tido como efeito acumular as sobras ou, em tiragens de 400 ou 500 exemplares como números médios, que tendem a
todo o caso, imobilizar capitais importantes em consequência de uma ser ultrapassados cada vez mais. Em 1490, por exemplo, João Rix
venda demasiado lenta. imprime, em Valência, mais de 700 exemplares do romance Tirant lo
Eis alguns números sobre este tema. Os primeiros dizem respeito Blanch; alguns anos mais tarde, Alonzo di Alopa, em Florença, 1025 das
às tiragens realizadas nos primeiros tempos da imprensa, até 1480-1490, obras de Platão; em 1491, Mateus Capcasa, em Veneza, 1500 de um
na época, pois, em que o mercado do livro não se encontrava comple- Breviário; e, a partir de 1489, Matias Moravus, em Nápoles, atingiu os
tamente organizado'?'. Estes números parecem muitas vezes bem modes- 2000 exemplares com os Sermones de laudibus sanctorum de Roberto
tos: em 1469, por exemplo, João de Speyer imprime, em Veneza, as Caraccioli, ao passo que Battista Torti, em Veneza, no ano de 1490, tira
Epistolae ad familiares de Cícero, com uma tiragem de apenas 100 exem- 1300 exemplares do Código de Justiniano, e em 1491 e 1494, 2300 de
plares. O mesmo número ainda, em 1477 e 1480, para o Confessionale de cada uma das duas edições das Decretais de Gregório IX.
Santo Antonino, e para o Estácio, ambos saídos dos prelos do mosteiro de A partir do final do século XV, alguns grandes editores atingem, pois,
São Tiago de Ripoli, em Florença. Pela mesma época - de acordo com as o número de 1500 exemplares; é com este número, mais ou menos, que
Koberger lança no mercado as suas grandes edições'?'. Desde então, o
indicações que nos dá, em 1472, Johannes Philippus de Lignamine, em
número das tiragens parece estabilizar-se - e por muito tempo. Se Josse
Roma, executa tiragens médias de 150 exemplares. Mas, na mesma
Bade, em 1526, declara ter editado apenas 650 exemplares das Anotações
cidade, os seus concorrentes, Sweynheim e Pannartz, tiram já um Donato
de Noél Beda contra os textos de Lefêvre d'Étaples (ao responder a uma
com 300 exemplares e produzem normalmente tiragens de 275 exemplares.
inquirição do Tribunal de Paris, encarregado de censurar essa obra,
É verdade que estas tiragens se revelam rapidamente demasiado grandes
circunstância que não aconselharia Josse Bade a indicar uma grande tira-
para a época, visto que Sweynheim e Pannartz se queixam da falta de gem), sabe-se, em compensação, que, dois anos mais tarde, publicou 1225
vendas das impressões clássicas que o mercado romano não consegue exemplares de um Tucídides-". E se, no mesmo ano, Bonnemêre só
absorver. Entretanto, João Neumeister, em Foligno, imprime 200 exemplares
do seu Cícero (1465) e André Belfortis, em 1471, tira o mesmo número

" VON II SI', () .. l tu: ,,(I"I'I~I", l.l'lJlIi " I HH~,2.' 1'11., 111 H"
I~I NI li I I I), li "",I'tI '/tl/'/III' tll'I 111//""\ \'''1/\ I I til \ tll',/I',,\ .I, /tI\ 11 /I""" I I,
"IIAI'1I1 I'H, K , 1'/1/' "llItll' O/IIIt'III/II/IIIIII, Nova hlJq\ll', lI) \ \, 111 H", P 171 \ I" 111' I', I 11 P I
O COMÉRCIO DO LIVRO 287
286 o APARECIMENTO DO LIVRO

menores (800 exemplares), e só muito raramente executa tiragens superio-


imprime 650 exemplares de um Comentário sobre os Salmos, de Santo
res: 2500 exemplares para livros escolares e litúrgicos, para a gramática
Agostinho, que Wechel lhe encomendara?", em 1539, para Le Bl:et e
grega de Clenardo (1564), para o Corpus juris civilis (1566-1567); 2600
Brouilly, faz uma tiragem de 1500 do Colégio de Sapiência de Pierre
Doré294• Pela mesma época, em Avinhão, imprime-se o Luciani Palinurus, ou 3000 para certos livros da sua Bíblia hebraica, que pretende vender,
livrinho muito fino, com uma tiragem de 1500 exemplares, em 1497; e, em parte, nas colónias judaicas dos países não cristãos'?'. Contudo, na
em 1511, uma de 750 da Ars brevis de Raimundo Lúlio'". Em Haguenau, mesma época, em 1587, o número médio das tiragens, na Inglaterra, é
finalmente, o impressor Gran, em 1515, tira 1500 exemplares do limitado a 1250 ou 1500, podendo, em casos excepcionais, ascender a
Sanctorale do pregador espanhol Petrus d e Porta-'96 . 'T'ro d os estes numeros
/ 3000301•
permitem-nos supor que a média das tiragens oscila, no início do século XVI, Os mesmos números repetem-se no século XVII: Nicomedes,
entre 1000 e 1500 exemplares, embora, por vezes ainda, surjam números Pertharite e Andrómeda, três peças de Corneille, têm tiragens de 1200 ou
mais reduzidos. Pensou-se, por vezes, que as obras previsivelmente desti- 1250 exernplares'"; o editor de Boileau considera o número de 1200
nadas a ter grande êxito alcançaram tiragens muito maiores. Esta afirma- muito honroso para um poema como Le Lutrin'", Luynes, um dos princi-
ção baseia-se numa carta de Erasmo, na qual afirma que Simão de Colines pais editores dos grandes clássicos, imprime 1000 exemplares da
imprimira uma contrafacção de 24 000 exemplares dos seus Colóquios História da guerra da Holanda de Primi, na edição francesa, e 500, na
(1527): número indicado por Erasmo segundo rumores, mas contestado edição italiana>'. Da mesma forma, cada uma das oito primeiras edições
pelos bibliógrafos mais informados?"; de qualquer modo, número ab~r- dos Caracteres de La Bruyêre parece ter atingido, em média, 2000 exem-
rante, que Erasmo terá declarado por jactância. De facto, as obras de êxito plares'". Na Holanda, Elzevier executa uma reimpressão do tratado De
garantido, geralmente, não são objecto de tiragens muito mais el~vadas do veritate religionis christiance de Grotius (1675), destinada à Inglaterra,
que as outras. Uma edição do Encomium morue de Erasmo, publicada, em com 2000 exemplares'", e, em 1637, recordemos, o impressor João Maire,
1515, por Froben, em Basileia, teve uma tiragem de 1800 exemplares?", e de Leida, imprimiu 3000 exemplares da primeira edição do Discurso do
a Bíblia de Lutero, primeiro, teve uma tiragem de 4000 exernplares'". Não método'", Se certas obras muito importantes e ilustradas são impressas
pretendemos negar, entenda-se, que certas obras tenham alcançado
enorme difusão, mas esta deve-se ao facto de resultar de tiragens frequen-
temente repetidas, muitas vezes executadas por editores diferentes.
A partir desta época, por conseguinte, as tiragens parecem estabili- 300 ROOSES, M., Christophe Plantin, 2: ed.
zar-se. Na segunda metade do século, Plantin, impressor-editor poderoso 3{}1 Em 1587, o número das tiragens foi limitado pela Stationer's Company, de modo
a que não faltasse trabalho aos compositores. Apenas em certos casos podiam ser editadas,
e rico como poucos, dispondo de uma notável rede comercial, imprime em
com mais de 1250 ou 1500 exemplares, gramáticas, livros de orações, catecismos, estatu-
geral entre 1250 e 1500 exemplares. Excepcionalmente, executa, para tos e proclamações, calendários, almanaques e previsões. Na realidade, esta limitação em
obras especiais como o Frumentorum historiae de Dodoens, tiragens nada parece ter afectado os mestres, e os in-quarto de Shakespeare não ultrapassavam os
1000 exemplares, ao que tudo indica. Estes números foram revelados em 1635. Cf.
BOSWELL, E., e GREG, w., Records of the court of Stationer's Company, /576-1602,
[rom register B, Londres, 1930, p. XLIll e segs; e PLANT, M., The English book trade,
Londres, 1939.
293 COYECQUE, E., Recuei! d'actes notariés relatifs à l'histoire de Paris, t. I, N." 866.
10' Biblioteca Nacional de França, ms. francês 22 074, peça N." 2.
29.\ lbidem, N." 1262. 1111 MONGRÉDIEN, G., La Vie littéraire au XVII' siêcle, p. 272.
295 PANSIER, P., Histoire du livre et de l'imprimerie à Avignon du XIVe au XVI' siêc!e,
"" Biblioteca Nacional de França, rns. francês 21 856, fi. 40.
Avinhão, 1922, p. 85 e segs., e p. 100 e segs.
"" lbideni.
296 HANAUER, A., Les imprimeurs de Haguenau, p. 23.
"., KLEERKOOPER, «Dunicl Elzcvi 'r bctrckking '11 mel Engclund», in Tijdschrij)
297 RENOUARD, P., Bib/iographie des éditions de Simon de Colines, p. 96 e scgs.,
1'111I/ I}(II'/' 1'11 hihíinthrr}; 1'1' '1'11, 19 I (),
e 461. Ver também Bihliotlieca Belgica, 2." série, E. 466.
" ('()III'N, (i I, ';1'11;1/\ [tuuçni» ,'1/ /f"l/llI/tll' dun» !ti 1'11'//"1'11' I'III/il' tI/I \\11'
., /li"'illgmphil' drs õditions dI' Siuron dr Colinrs, p .• 3.
I/,,!t. 1',111 • ( 'h,"IIPIIlII, I 'I'()
, (', 11 \X I \' '" '\,
288 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 289

abaixo dos 1000 exemplares, a maioria das tiragens dos grandes repertó- res, que não se esgota com a mesma facilidade'!'. O Dictionnaire de
rios e dos livros de trabalho oscila entre 1000 e 2000: a primeira edição Moreri é impresso em Paris pelo livreiro Coignard, com várias edições de
do Dictionnaire de I' Académie [rançaise, comercializada, foi impressa 2000 exemplares'"; o Dictionnaire de Bayle, por sua vez, parece ser
por Coignard com 1500308; a edição de Pithou do Corps de Droit Canon, objecto de uma impressão maior (mais de 2500)319.Em 1770, Panckouke
em 1687, conta com 1500309; uma edição do mais modesto Praticienfran- propõe-se tirar 2150 exemplares da sua Enciclopédia, e a Enciclopédia de
çais sai dos prelos de Antoinette Carteron, de Lyon, com 1500 (1704)310; Diderot será finalmente impressa, na sua edição original, com 4250 exem-
Verdussen, o editor de Antuérpia, em 1677, fez uma tiragem de 1530 plares'". No entanto, a Sociedade Tipográfica de Liêge oferece simulta-
exemplares de um livro de teologia, as Disputationes theologicae de neamente três edições das obras de Helvetius, uma in-í.", de 500 exem-
Ariaga, enquanto, em Lyon, Anisson imprimia a mesma obra com 2200 plares, as duas outras in-S.", de 2000 e 1000; a mesma sociedade faz uma
exemplares'!'. E, em 1701, Francisco Halma, de Amesterdão, imprimiu contrafacção de 1500 exemplares dos Tableaux de Paris, de Sebastião
1500 exemplares do Nouveau dictionnaire hollandais-français de Pieter Mercier, muito rapidamente esgotada na região, além de uma edição ilus-
Marin'". As únicas obras que, nesta época, ultrapassam correntemente os trada de Daphnis e Cloé; e projecta ainda imprimir 1500 exemplares das
Obras de Rousseau, em 1788321.
2000 exemplares parecem ser os livros religiosos, e também os livros
Estes números mostram que, no século XVII, os editores hesitam
escolares: algumas Bíblias teriam sido impressas na Holanda com mais de
3000, ou mesmo de 4000 exemplares?". E, pelo final do século, os contra- sempre em realizar grandes tiragens. Os únicos escritos de carácter literá-
factores do Luxemburgo e de Liêge fazem tiragens de 2500 ou 3000 rio que apresentam excepções a essa regra parecem ser as obras de alguns
exemplares da Bíblia francesa de Saci, cujo privilégio pertencia ao filósofos - particularmente Voltaire. Cramer imprime 7000 exemplares do
parisiense Desprez'". Em Narbona, o impressor Besse tira 3000 exempla- Essai sur les moeurs e promete mandar para Paris 2000 exemplares da
res de um abecedário'", enquanto, em Lyon, André Molin imprime uma História do Império da Rússia, logo que a impressão estiver terminada, o
contrafacção do Petit apparat royal (um dicionário latim-francês), com que implica uma tiragem muito grande; o Siêcle de Louis XIV, por fim,
6500 exemplares'". aparece em Berlim com uma tiragem de 3000 exemplares'". Exceptuando
No século XVIII, as tiragens inferiores a 2000 exemplares são as mais talvez os livros escolares e os livros de venda ambulante, verifica-se, em
numerosas; em certos casos, contudo, as obras que se espera venham a ter resumo, que as tiragens continuam relativamente modestas no século XVIII:
grande êxito são impressas em número superior de exemplares. Os volu- dá a impressão de que, mesmo quando uma obra tem êxito assegurado, o
mes in-fólio da Antiquité expliquée de Montfaucon, por exemplo, são seu editor não se atreve a executar uma impressão muito maior do que
objecto de uma primeira tiragem de 1800 exemplares, que se esgota em habitualmente. Vamos ver porquê.
dois meses; é, então, executada uma segunda impressão de 2000 exempla-

JI7 Biblioteca Nacional de França, ms. latino 11 915.


'08 DELALAIN, P., Les libraires et imprimeurs de I'Académie jrançaise de 1634 à 318 Mémoire sur les vexations qu'exercent les libraires et imprimeurs de Paris, p. p.
1793, Paris, 1907, p. 57. Lucien Faucou, Paris, 1879.
lI" Ibidem.
309 lbidem.

lIO Decreto do Conselho de 17 de Outubro de 1704. 120 MELLOTÉE, Histoire économique de l'imprimerie, t. I, «L'Ancien Regime».
'li Arquivos Plantin-Moretus, 296, fls. 680-682. pp,449452.
m KLEERKOOPER, M.M., e VAN STOCKUM, w., artigo «Halma», in De '" Museu ducal de Bouillon, Le Journal encyclopédique et la Societé tvpographique.
Boekhandel te Amsterdam ... , Haia, 1914. I Sobre est ' assunto, ver a Introdução de Voltaire, in Ll'I/r(',I' indditcs 11 sou inipri
,

li' Ibidem.
11I/'/1/ Galnlc! ('/,(/1/11'1', cd. Gngnchin, Genebra: IIEN(lESCO, Bibli. V(lIIII;,(', 1, p, ',12
\I, MARTIN, H.-J., Guillaume Desprez: loc. cit. ( '1111'<lI' YOltillll' ck IX ck Ik/l'I\\!lro 111'17~ I). I~II\ 111'latl'IIOI, t:l1\\!lI'\\1 I' 11011\\111
IIIIVl'1 til;1

"" Biblioteca Nacional de França, rns. Iruncês 22 127, peça N." 52. '1'11 111 \)O\) I' 1'1\\1'1.11' J1"dl'lId" I'lIq'lIl ." \\'/1' .11" I O 000 ('I 1'1 N 1M, li"
"' ÂHIUi\ os da l'I<1.ICk dI' I 111\,1111 I () I 11' ·111" /I",,/.. 11'/'/'. Illlldl' I" li' I' II I
290 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 291

enviado 24 exemplares da Histoire de Ia Guerre de Hollande de Primi,


*
* * para Anisson e Posuel, de Lyon; 5 para Hugueville, de Nantes; 8 para
Garnier, de Reims; 6 para La Court, de Bordéus; 4 para um livreiro de
Quando se examinam as contas das casas editoras, ainda hoje nos Douai'"; é evidente que ele estava a começar a vender a obra, mas os
espantamos ao verificar que, com algumas excepções, como, por exem- números não deixam de mostrar que os livreiros só faziam encomendas
plo, a dos prémios Goncourt, um número geralmente muito pequeno de em pequenas quantidades.
exemplares de um mesmo volume basta para esgotar a curiosidade dos Cremos que é inútil insistir e multiplicar os números. Limitemo-nos
habitantes de uma cidade de importância média. Pode imaginar-se, nestas a revelar, último exemplo particularmente impressionante, de que forma
condições, as dificuldades com que um livreiro-editor dos séculos XVI, os Cramer venderam, durante o ano de sua publicação, os volumes da
XVII e mesmo do século XVIII, se debateria para escoar todos os exempla- colecção completa das Obras de Voltaire'": enviaram, em separado ou
res de uma edição, numa época em que as cidades eram bem menos popu- conjuntamente, 1600 exemplares a Robin, e 600 a Lambert, ambos livrei-
losas, menor a proporção dos leitores, a circulação difícil e muito grandes ros em Paris; 142 a livreiros de Avinhão; 80 a livreiros de Basileia; 36 para
os riscos da contrafacção. a repartição pública de vendas de Dijon; 50 a Marc-Michel Rey, em
Alguns números permitirão imaginar como podia, então, ser distri- Amesterdão; 75 a Pedro Machuel, em Ruão; 25 a Bassompierre; 25 a
buída uma edição - e demonstrarão que, geralmente, os livros deviam ser Gaude, de Nimes; 25 a Gillebert, cónego da catedral de Besançon; 25 a
distribuídos em lotes muito pequenos, em expedições de alguns exempla- Reycendes e Colomb, em Milão; 20 a Jean de Ia Ville, 18 a Jeanne-Marie
res de uma mesma obra, às vezes de um apenas. Reparemos, por exemplo, Bruyset, 12 a de La Roche e 15 a Camp, todos livreiros em Lyon; 24 a
como Josse Bade, em 1526, escoou os exemplares das Anotações de Noêl Cristiano Herold, em Hamburgo; 16 a Boyer e o mesmo número a José
Beda contra Lefevre d'Étaples e Erasmo: 32 para Melchior Koberger, em Colomb, ambos de Marselha; 12 a Cláudio Philibert, em Copenhaga; 12 a
Nuremberga, 50 enviados ao agente de Josse Bade em Lyon para serem Barbou, em Limoges; 10 a Pedro Vasse, em Bruxelas; 7 a Pedro Chouaud,
vendidos na Itália; a outro agente, 50; a Conrado Resch, livreiro em em Bruxelas; 6 a Johann-Georg Lochner, em Nuremberga, 6 a Elias
Basileia e em Paris, 20; 62 exemplares para a Inglaterra, 40 para Ruão, e
Luzac, em Leida, e exemplares em menor número para Génova, Cádiz,
6 para Orleães'". No século XVII, os fardos de livros parece conterem
Turim, Milão, Parma, Berna ou Veneza, sem contar com alguns volumes
sempre um pequeno número de obras semelhante a esse. Vejamos, por
isolados enviados a particulares.
outro lado, escolhida entre muitas outras, uma lista de obras encomenda-
das por Moretus a Sebastião Cramoisy, em 17 de Fevereiro de 1639: 3
exemplares das obras do jurisconsulto Chopin; 10 das Preuves des liber-
11. OS PROBLEMAS A SEREM RESOLVIDOS
tés de I' Église gallicane de Pierre Dupuy; 6 das lnstitutes de practicque
en matiêre civile et criminelle; 3 das Dies caniculares de Simone Naioli;
Vê-se, portanto, como era necessário para os editores possuir uma
3 das obras de Políbio; 3 das obras de Aristóteles; 6 dos Commentarii in
rede comercial bem organizada. Mas quantas dificuldades para expedir
patrias Britonum leges; 3 das obras de Du Perron'". Na segunda metade
assim os livros para toda a Europa e em pequenas quantidades!
do século, as encomendas continuam da mesma ordem. No decurso de
Em primeiro lugar, dificuldades de transporte: o livro é mercadoria
uma perquirição, o livreiro parisiense Guilherme de Luynes declara ter
preciosa,por certo, mas também pesada e estorvadora. Nessa época, em
"lu as despesas de transporte eram elevadas, o seu preço achava-se por

12.1 PLANT, M., op. cit, p. 257,


'''' Arquivos Plantin-Morctus, 148, fls. 16:lv,-164, Notemos que alguns dos volumes
llL'didos provinham do lundo do livreiro l-ouct , tinham sido illlprcssos IIIIS vint« anos , 11111111111111
NIIIIIIII>l1 di' I"IIIII~'II, IIIS, 11111\('(
S 21 X h, 11.,10,
IIIIII'~, li qUI' IIIIIS(IIII'OIlI qll~' Il'lI(idllo SI' I'Sl'1lilV1I1I1~'S(IISohrns ,,' V( 11 I.-\IHI 1IIII0dll 1111, ni l rttn-» 1II,',hl,'\ 1/ ,\""1111/'""11'11/ (""/'1/1'1 ('1111111'1,
li)
292 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO

isso frequentemente onerado. Era, sem dúvida, para diminuir o peso e o dos Alpes, em carros; para a Espanha, por terra até ao Loire, em se 'llldol.
estorvo que havia o hábito de enviar e vender os livros «em folha», sem por rio até Nantes e, daí, pelo Atlântico até um porto espanhol, e, dcpoi
encadernação. Mas este sistema não deixava de ter inconvenientes: os ainda, por terra até Medina deI Campo, onde eram redistribuídos'".
caixeiros que preparavam as remessas na loja deviam, todas as vezes,
escolher as folhas e agrupá-Ias: daqui nasciam muitos erros, e a corres-
pondência dos livreiros está cheia de pedidos de «folhas soltas», destina- l!7 Sobre o papel de Nantes como cidade de escala possuímos informações precisa
graças aos arquivos dos Ruiz, mercadores e banqueiros espanhóis que desempenhavum li
das a completar os exemplares que acabavam de ser enviados.
papel de intermediários entre a França e a Espanha. André e Simão Ruiz, pelo último lCI\'lI
Mas o livro é também uma mercadoria frágil. Não havia, então, mais do século XVI, estavam encarregados de encaminhar para Espanha o papel francês. Andi
do que dois meios de transporte: o navio ou o carro, e as folhas corriam o Ruiz mantinha, assim, relações estreitas com os papeleiros de Thiers onde se encontrava",
risco de se molharem no fundo de um porão ou de se estragarem por força agentes espanhóis. Em 1552, enviava para Espanha 2041 balas de papel, cada uma d 'lu,
contendo de 18 a 24 resmas de 500 folhas; em 1553,826; em 1554,383; em 1555, 4.'l(),
das intempéries. Para protegê-Ias, tanto quanto possível, era preciso colo-
etc. - Por outro lado, de 1557 a 1564, expediu 1057 fardos de livros cuja proveniên 'ia
car os fardos de livros em tonéis de madeira. Apesar destas precauções, os conhecemos, ou seja, 919 de Lyon e 103 de Paris (a maior parte enviada da capital por
livros chegavam frequentemente molhados e estragados. Muitas vezes encomenda de habitantes de Lyon). O tráfico executa-se com Burgos, Valladolid, Salamanca.
também, os tonéis de livros tinham de ser trocados várias vezes de veículo Mas é em Medina deI Campo que se encontra o centro do comércio do livro. Entre os
livreiros de Lyon, acham-se à frente destas transacções Senneton e Pesnot (o sobrinho do
antes de chegar. É bem sabido como os livreiros de Antuérpia, por exem-
dono da firma, Carlos Pesnot, trabalhou em Medina antes de retomar a Lyon, onde assu-
plo, faziam viajar os seus livros: os que se destinavam a Paris iam muitas miu, por sua vez, a direcção da casa). Depois, chegam os Giunta e o grupo Rouille-Portonari,
vezes em carros conduzidos por recoveiros mais ou menos especializados, assim como os Millis. Todos possuem representantes em Medina dei Campo. Por outro
mas também em navios que navegavam para Ruão e que eram rendidos lado, em 1574, André Ruiz encarrega-se de fazer chegar a Espanha 126 balas de livros de
igreja provenientes de Antuérpia. Notemos, finalmente, que André Ruiz e Francisco de Ia
pelas embarcações do Sena. Os que eram expedidos para Lyon, às vezes,
Presa, em 1578, tentaram montar uma grande casa tipográfica destinada a abastecer a Espanha
eram confiados aos recoveiros, que faziam o trajecto directamente, mas, de livros de uso. Não o conseguiram, mas das memórias que se encontram nos seus arqui
na maior parte das vezes, eram enviados para Paris, onde um represen- vos conclui-se que a Espanha contava com meia centena de bispados, precisando cada um
tante do livreiro de Lyon se encarregava deles e os enviava para o seu deles de 1500 breviários. Na totalidade, deviam funcionar em Castela quarenta prelos,
fornecendo 40 000 missais e 40 000 breviários por ano. - Cf. LAPEYRE, H., Une famille
destino, metade por terra, metade por via fluvial. Também os livros nume-
de marchands, les Ruys, Paris, 1955, p. 566 e segs. O papel de Nantes como cidade de
rosos que os Plantin enviavam para a Espanha, primeiro carregados num passagem explica-se pela sua situação na embocadura do Loire, tendo em vista que o preço
navio que se dirigia a Ruão ou a um porto bretão, eram depois expedidos do transporte fluvial era menor que o do transporte por terra, como mostram os dois
para um porto espanhol, de onde, muitas vezes, tomavam o caminho da quadros seguintes retirados, um de LAPEYRE, H., op. cit., p. 570, e o outro do livro de
TROCMÉ, E., e DELAFOSSE, M., Le commerce rochelais de la fin du xv' siêcle au début
América. Era o caso ainda de um Moretus, que também enviava livros para
du xvir siêcle, Paris, 1952, p. 95.
Dantzig, para Bergen e para a Inglaterra, constantemente à espera das parti- Preço de transporte de um fardo de livros de Lyon para Espanha e Portugal, via La
das de navios, aguardando, às vezes com impaciência, a notícia da sua Rochelle, em 1563:
chegada, temendo as tempestades e, em tempo de guerra, os corsários - Jean Lyon - La Rochelle (por terra): 5 a 6 libras por tomo.
Bart, entre outros. Surge uma guerra, o comércio periga. Durante a luta La Rochelle - Bilbau: 14 a 16 soldos por tomo (8 vezes menos);
La Rochelle - Lisboa: 20 soldos por tomo (6 vezes menos);
que, no tempo de Richelieu, a França susteve contra a Espanha, era La Rochelle - Sevilha: 1 libra e 10 soldos por tomo (4 vezes menos).
impossível, por exemplo, fazer comércio directamente com a França, em Preço de transporte de um lote de 21 volumes (menos de um fardo), de Lyon para
consequência das proibições reais: para manter o comércio, tinha-se Medina deI Campo, via Nantes:
forçosamente que recorrer a um subterfúgio usual na época: expedir os Lyon Nantes: I libra e 7 soldos por tomo (5ó3 maravedis);
Seguro marítirno: 4% (365 maravedis);
livros, sob uma bandeira neutra, para um livreiro de Douvres, que se encar-
Hilhau M xlina: 4HH maravcdis.
regava de encaminhá-los para Paris. Mesmo em tempo de paz, os riscos são I Imu '1111)111" (,0I11)1111 11\'110 P -rmitc compn'cmlct P()1 qUI' o I'ixo Lyou ln HOIh lh
grund .s: imagine-se o trabalho que d 'viam ter os livreiros de LYOIl, urnuck S 1'101 I ai illlll'l1l1' 1ll'11 lIllUlo (' POI IJII ' I), li\ 11'110\ )11l'II'III1I11 1illl'I )1iISSill.i' 1111 I 111111111111101

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294 o APARECIMENTO DO LIVRO o COMÉRCIO DO LIVRO li)

Consequentemente, OS transbordos exigiam quase sempre que um Paris, que recebia de Moretus, de Antuérpia, mais livros do que lhe cnvm .1
livreiro possuísse um correspondente no local, porquanto, nesses trans- e que, por consequência, se encontrava na posição de devedor, mas qru
bordos, os riscos de equívoco são maiores quando aqueles que os efec- por sua vez, enviava muitos livros para os livreiros de Bruxelas - p 11,1
tuam não sabem ler: o que indica o destino, mais do que o endereço Leonardo (o pai de Leonardo, de Paris), sobretudo - transferia para MoI' '111,
escrito, é o sinal em forma de monograma inscrito nos tonéis, que deve as importâncias que Leonardo lhe devia. Como Antuérpia e Bruxelas '1'(1111
muitas vezes prestar-se a confusão. E todas estas dificuldades explicam a duas cidades vizinhas, situadas na mesma região, o problema deixava ck
razão por que muitas vezes, como vimos, a indústria tipográfica se desen- existir. Este método, simples em teoria, era bastante complicado IlI!
volveu nos portos ou nos grandes centros comerciais, a partir dos quais prática, em virtude das letras de câmbio passarem frequentemente d'
eram mais fáceis as comunicações. mãos em mãos. Método que às vezes também parece ter levado os livrei
ros a negociar, à semelhança de muitos comerciantes, com as letras d '
* câmbio. Método, enfim, que continha os seus perigos: a interrupção do
* * comércio entre dois países continha o risco de paralisar, pelas faltas de
pagamento, a actividade dos editores, levar alguns à falência, e cada falên-
Eis, agora, o «fardo» arribado ao destino e em bom estado. Falta ainda
cia podia originar uma cascata de falências, de modo que os colegas do
pagar os livros que contém. Dificuldades maiores esperam o livreiro - tanto
livreiro em perigo preferiam muitas vezes «desencalhar» o confrade em
mais que a organização bancária ainda se encontra bem pouco adaptada a
perigo, no interesse de seus próprios negócios. Método, apesar de tudo, ao
tal negócio. Frequentemente, era impossível pagar à vista, em dinheiro.
qual se recorreu normalmente até ao século XVIII.
Mas como pode um livreiro que mora no estrangeiro mandar o dinheiro,
todas as vezes que recebe um fardo? Na maior parte das vezes, as dificul-
dades são demasiado grandes. É preciso usar outros sistemas, com o
IH. OS MÉTODOS COMERCIAIS. A ÉPOCA DAS FEIRAS
inconveniente de se aumentarem os preços.
Os sistemas usados, em geral, até ao fim do século XVII, parece terem
Uma das dificuldades com que se debateram os primeiros impresso-
sido a troca'" e a letra de câmbio; e, habitualmente, as duas ao mesmo
res foi, portanto, a necessidade de criar uma rede comercial extensa a fim
tempo. Eis, na verdade, como se passavam as coisas geralmente: ao rece-
de vender com bastante rapidez uma quantidade suficiente de exemplares.
ber os fardos, o livreiro anotava nos seus livros as quantias que ficava a
O primeiro método ao qual se recorreu neste domínio foi o dos
dever e, inversamente, quando por sua vez enviava um fardo, anotava o
«agentes». Os primeiros impressores, desde muito cedo, encarregaram
que o seu correspondente lhe devia. A intervalos, com frequência bem
homens de confiança de fazer o que se poderia chamar a «prospecção» da
longos, faziam-se as contas. O devedor liquidava, então, o saldo pelo sistema
clientela. Estes agentes percorriam as cidades, grandes ou pequenas,
tradicional da letra de câmbio triangular: por exemplo, um Cramoisy, de
procurando localizar todos os compradores potenciais dos livros à venda.
Muitas vezes, levavam consigo «folhas de anúncios», cartazes impressos
com a lista das obras que podiam fornecer; ao chegarem à cidade, manda-
328 Insistiremos sobretudo nesta obra sobre o tema da troca de «livro por livro». vam afixar e distribuir estas folhas, ao fundo das quais, por vezes, se
Entretanto, é certo que desde sempre muitos livreiros - e não os menos importantes - equi- encontravam indicados a estalagem em que se tinham hospedado e os dias
libraram as suas contas negociando com outros produtos. Todos, ou quase todos, expediam em que poderiam receber os clientes. Processos muito primitivos, como se
ou recebiam fardos de papel com esse objectivo. Outros também, especialmente os livrei-
vê. Entretanto, estes agentes, para reunirem as condições ncccssárins ao
ros das pequenas cidades, praticavam o comércio com produtos locais. Assim, em meados
do século XVll, o livreiro de Grenoble, Nicolas, também riquíssimo banqueiro, expedia
êxito da sua missão, eram, nuturulmcnt " levados li diri rir-se a lima .idnck-
luvas e peles de camelo para Paris e Lyon, ° que lhe permitia pagar aos editor 'S dcstus por o 'asino dt' uma I'l'sla local, que lhcs pcnuitixsc encontrar publico II1Ilis
cidades os livros que lhe tinham enviado (Cf. MARTIN, 11. .I" /,1/ vir ;/I/I'iIl'I'//lI'iII' I/ vuxto. Muito nuturulnu-ul • 1IIIIIh '111, rn quc-ntuvum as Il'il as, 11I i '1'111 dI 11111
(;'1'1/01111' 1/1/ \\'/1" ,1';1 di' (no pu-lo). 111111 o dI 111111' Ulllll V IIldo. , dI 111111" li' '111(, H '11, "'It/( 1'01 11 II 111
296 o APARECIME TO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 297

realizado lucros, estavam assim prontos para comprar algum livro ou Manthen, e a nova companhia passa a dispor de uma poderosa organiza-
almanaque. E, em particular, podiam proceder às encomendas de um ção comercial. Nestas condições, não devemos admirar-nos de que, em
compatriota que não se deslocara pessoalmente, e facilitar também as consequência da ampliação do mercado, o número das tiragens não deixe
transferências de dinheiro e os transportes. Às vezes também, alguns deles de aumentar durante esse período e, indirectamente, de diminuir o preço
estavam dispostos a encarregar-se de vender pessoalmente, em sua casa, dos livros'".
pequenos lotes de livros. De facto, quando numa cidade conseguiam Por volta de 1490, entretanto, a rede comercial do livro está organizada
fazer negócios particularmente lucrativos, os agentes regressavam com por toda a Europa. Um pouco por toda parte há livreiros retalhistas que rece-
frequência e acabavam por se fixar nela; abriam, então, uma loja, por bem os livros dos grandes editores; estes, por outro lado, possuem agentes
conta de um patrão, ou por conta própria. E é deste modo que, em muitas em numerosas cidades. Começa, então, a surgir uma hierarquização no
cidades, aparecem livreiros retalhistas que se encarregam de vender ao comércio do livro. Entre os maiores editores, Koberger, por exemplo, que
público as obras impressas pelos grandes editores. possui três lojas em França, em Paris, Lyon e Toulouse, é tão poderoso que
O mercado do livro organiza-se, então, muito rapidamente através da João de Paris, impressor de Toulouse, envia, depois de 1491, um dos seus
Europa. Paris, que já era um centro importante de produção e venda de próprios agentes a Espanha, para aí se entender com os representantes de
manuscritos, recebe, a partir dos anos 1460-1470, as visitas de Schoeffer Koberger. E, entretanto, mais cedo ainda, em 1489, vemos João Rix, ele
e dos seus agentes; a partir desta época, ele instala aí um agente perma- próprio impressor-livreiro em Valência, vender livros de firmas venezianas
nente, Hermann Statboen, que, ao tempo da sua morte, em 1474, possui em diferentes regiões da Espanha. Enfim, nesta mesma época - em França
livros que pertencem a Schoeffer, avaliados em 2425 coroas no seu e, especialmente, na Alemanha -, aparecem vendedores ambulantes que
conjunto. Entretanto, de Roma, Sweynheim e Pannartz enviam agentes à se encarregam de vender pequenos livros e almanaques nas vilas e nos
Alemanha. E, a partir dessa época, alguns impressores-livreiros menos campos. Estes vendedores, no século XVI, desempenharão um papel
poderosos encarregam grandes editores de vender os livros que saem dos essencial na difusão das ideias reformistas.
seus prelos, ou associam-se para vender a sua produção. Foi assim que
João Rheinardi, de Einingen, o qual apenas publicou um livro importante, *
conseguiu, graças às suas relações com livreiros italianos, vendê-Io no * *
próprio ano da sua publicação, em Roma e em Perúgia, enquanto um
Muito cedo, portanto, adquirira-se o hábito de vender livros nas
grupo de livreiros de Perúgia, que se associaram para publicar edições,
feiras. Isto continuará a ser assim por muito tempo, nas da região pari-
entre 1471 e 1476, possuem lojas em Roma, Nápoles, Siena, Pisa, Bolonha,
siense, por exemplo, e ainda mais na Inglaterra, nas grandes feiras de
Ferrara e Pádua. Em 1471, finalmente, António Matias e Lamberto de
Stoutbridge'", Os privilégios concedidos aos mercadores que vão às feiras
Delft, impressores instalados em Génova, vendem livros não somente
facilitam os transportes, os cambistas que lá se encontram tornam as tran-
noutras cidades, na Lombardia, mas também no reino de Nápoles. E já
sações mais fáceis, o afIuxo da população favorece as vendas. De modo
vimos que Bartolomeu Buyer, mercador de Lyon, antes de 1485, possui
que as grandes feiras se tornam, assim, locais de encontro de livreiros e
uma rede de negócios bem extensa, assim como Koberger, o grande editor
impressores. Ter aí encontros regulares, aí fazer as contas, liquidar as dívi-
de Nuremberga. Também a partir desta época, em Veneza, o comércio do
das, comprar o material tipográfico necessário para os fundidores e os
livro é muito bem organizado. Alguns anos antes da sua morte, o próprio
talhadores de caracteres que também lá chegam para discutir problemas
Nicolau Jenson deixa de imprimir, ao que parece, para se dedicar exclusi-
vamente à venda dos livros. Para tal, constitui uma poderosa associação
com vários mercadores-livreiros alemães, a firma Nicolaus Jenson sociique,
que mantém agentes num grande número de cidades da Itália, ispc " ('( lJI>IN. A. l listoin: di' l'imprinwric, t. I. p, 67 c scps.: Mil ,KAlJ. F.•
cialrn ntc '111 Roma, P rugia e Nápol s. O 'pois da mort d J 'I1S011, os 1I//II//lI/I/1t til'/ /l1/1/;/lIII/'/...\II'/.\.\/'I/.IIItIl/I. 1 I. P H7 I' SI' S.
SIIlS asso iados III1lIll Sl por cinco aIlos fI Iirm« de .10110 til' Colnniu l JO:1I1 ,·u 1'1 . N I t-.1 llu 11/ '/1I1t II/I"~ ojtuuh', (1 lI! I 1 I'
I •
298 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 299

comuns, anunciar a próxima publicação de um livro, garantir que nenhum profissional e nunca se pede aos mercadores que mostrem os livros de
outro editor possa imprimi-lo, fixar com os livreiros de outras cidades as conta-corrente; o empréstimo a juros está autorizado; os estrangeiros
bases de permutas regulares, eis várias razões que levam os livreiros e podem entrar no reino e dele sair livremente. Estão isentos de represálias,
impressores a frequentar as grandes feiras. Compreende-se, assim, o papel de letras de marcas e do direito de aubaine*, e as mercadorias que
que estas desempenharam no comércio do livro e, muito especialmente, as mandam vir estão protegidas por numerosos privilégios e isentas de taxas
de Lyon, Medina del Campo, Francfort e Leipzig. de circulação.
Inicialmente, a mais importante foi a de Lyon331• Desde cedo, como Duas vezes por ano, portanto, durante um período de quinze dias, os
vimos, esta cidade tornara-se um centro tipográfico importante. Ora, Lyon mercadores com os seus CaITOSafluem à cidade. Como não há mercados
era também, nesse tempo, a sede de grandes feiras internacionais; desde o onde os homens de negócios possam instalar-se, cada um se estabelece
fim da Guerra dos Cem Anos, de facto, os esforços dos habitantes, encora- como pode nas praças e nas ruas, em lojas ou abrigos improvisados, nas
jados pelas concessões de privilégios reais, levaram ao estabelecimento de próprias estalagens em que os mercadores depositam as mercadorias; o
feiras que, após muitas vicissitudes, tinham superado todos os obstáculos centro deste comércio encontra-se nas pontes do Saône e nas ruelas próximo
no final do reinado de Luís XI. E as guerras de Itália, tornando mais activas de Saint-Nizier.
as trocas entre este país e a França, conferiram importância ainda maior às Terminado o período de vendas, começa o dos pagamentos. As tran-
feiras de Lyon, cujo apogeu corresponde, grosso modo, à primeira metade sações efectuadas eram, em geral, pagas por compensações de crédito e o
do século XVI. mercado de câmbio servia para concluir as negociações puramente comer-
Se as feiras de Lyon conhecem tamanho êxito é, antes de mais, ciais: durante dois ou três dias, deconia o aceite das letras de câmbio por
porque a cidade constitui uma grande encruzilhada comercial. O movi- parte de quem deveria pagá-Ias. Depois disso, os delegados dos mercado-
mento fluvial, então, é intenso no Saône e no Ródano e, entre as estradas res reuniam-se para fixar os prazos de pagamento das letras de câmbio de
outras cidades e a taxa oficial dos juros até à feira seguinte. Três dias mais
terrestres, duas têm importância especial: a que, passando pela ponte da
tarde, finalmente, efectuava-se o pagamento dos créditos aceites, quer em
Guillotiêre, chega a Itália através do Delfinado e dos contrafortes dos
dinheiro, quer, preferentemente, por compensação. É escusado dizer que
Alpes; e a que alcança o Loire em Roanne. Lyon é, pois, um nó comer-
todas essas operações financeiras atraíram a Lyon numerosos banqueiros,
cial dos mais activos, que, como escrevia o veneziano Lippomano,
italianos sobretudo, e fizeram desta cidade o maior centro bancário de
«quase nas fronteiras da Itália e da França, em comunicação com a
França.
Alemanha através da Suíça, é, por isso, o entreposto dos três países mais
Instalados em maior número na rua Merciêre, os livreiros e os
populosos e mais ricos».
impressores de Lyon encontram-se no centro deste comércio. Muitos
Lyon recebia, pois, todas as mercadorias que a Europa comerciali-
deles são estrangeiros: de uns 49 impressores que trabalham na cidade,
zava, particularmente as sedas e as especiarias. É a partir de Lyon que o
antes de 1500, uma minoria é francesa: de 20 a 22 são alemães, cinco
arroz, as amêndoas, as especiarias, as plantas medicinais e as que servem
italianos, um belga, um espanhol. Pela sua situação geográfica, Lyon
para tingir, vindas da Itália, de Portugal e do Oriente, se espalham por toda
desempenha o papel de «plataforma giratória» de uma franja importante
a França. do comércio internacional do livro: são os livreiros de Lyon que introdu-
As feiras de Lyon têm, portanto, uma importância excepcional no
zcm em França a produção dos prelos italianos, tão importante nessa
que diz respeito às transacções comerciais. Para estimulá-Ias, os reis de época, e igualmente dos prelos suiços e alemães - que, por outro lado, não
França e os poderes locais concederam aos comerciantes de todos os se privam de imitar e de contrafazer. Possuindo, muitas vezes, agências
países que aí chegavam os mais amplos privilégios; respeita-se o segredo

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300 --- o APARECIMENTO DO LIVRO o COMÉRCIO DO LIVRO 301
- -------- --------------

em Toulouse, desempenham, por outro lado, papel essencial na exporta- Veneza, de Lyon, de Antuérpia, de Amesterdão, assim como os de
ção dos livros para Espanha. Nestas condições, compreende-se que os Estrasburgo, de Basileia, de VIm, de Nuremberga e de Augsburgo. Aí se
maiores livreiros italianos - os Giunta, os Gabiano ou os Portonari - não regulamenta o comércio do peixe, de cavalos, do lúpulo e dos metais das
hesitem em fundar agências na cidade e que essas agências se tornem rapi- cidades da Hansa, o dos vidros da Boémia, do aço, da prata e do estanho
damente muito importantes, a ponto de se transformarem com frequência da Estíria, do cobre da Turíngia, do linho de Ulm, dos vinhos da Alsácia,
em empresas independentes, permanecendo embora estreitamente relacio- das fazendas e da ourivesaria de Estrasburgo, dos vinhos da Suíça, dos
nadas com a antiga casa-mãe. Deste modo, as feiras de Lyon não tardam vinhos e do azeite da Itália e também dos produtos exóticos: feiras inter-
a tornar-se grandes feiras de livros, onde se negociam não apenas as nacionais, portanto, onde é mostrado um elefante antes mesmo de ser
remessas de livros italianos, alemães ou suíços para França e Espanha, conhecido o caminho marítimo para a Índia. Feiras de dinheiro e também
mas também a expedição para Itália, Alemanha ou Espanha, espe- de mercadorias onde, um pouco de toda parte, afluem as caravanas de
cialmente das grandes edições jurídicas que saem dos prelos de Lyon. Na carros e os mercadores, em grupos, escoltados pelos soldados do
feira, enfim, com grande afluência de povo, vendem-se, em grande quan- Imperador, guardião dos privilégios das feiras,
tidade, almanaques, reportórios de astrologia, livrinhos populares, muitas A imprensa só se desenvolveu bastante tarde em Francfort: na
vezes ilustrados. Aí, por exemplo, as Grandes et inestimables cronicques verdade, a partir de 1530, sobretudo, quando Egenolff se instalou na
du grand et énorme géant Gargantua obtêm êxito tão grande que, no dizer cidade. Desde muito cedo, no entanto, as feiras de Francfort tinham
de Rabelais, numa só feira se vendem mais exemplares do que Bíblias em atraído os agentes de grandes livreiros: sabemos que Pedro Schoeffer lá
dez anos'". esteve, assim como, depois de 1478, Wenssler e Amerbach. Este último
volta regularmente e, em breve, encontra na cidade livreiros vindos de
* Nuremberga e da Itália, A partir de 1495, por sua vez, Koberger traz com
* * regularidade fardos de livros; de 1498 a 1500, sobretudo, não perde
nenhuma feira. Em 1506, o dono do albergue em que se hospedava cons-
Ao longo do século XVI, entretanto, desenvolvem-se outras feiras de trói-lhe uma loja, para que seja fácil encontrar aí as suas edições e, sobre-
livros que adquirem importância ainda maior: as feiras de Francfort'". tudo, para que possa deixar os volumes de uma feira para a outra. E, de
Francfort era, desde há muito, um local feirante muito importante Francfort, Koberger mantém comércio activo com os livreiros de Basileia.
quando a imprensa apareceu, não longe daí, em Mogúncia. As feiras de Doravante, os livreiros que se deslocam às feiras de Francfort
Francfort, que haviam triunfado sobre as rivais, tinham-se tornado no tornam-se mais numerosos de ano para ano: vêm de Marburgo, Leipzig,
local de encontro comercial da região renana. São numerosos os textos do Vitemberga, Tubinga, Heidelberga ou Basileia, mas também do estran-
final do século xv e, sobretudo, do sééulo XVI, que salientam o papel que, geiro. Há vestígios da passagem de livreiros venezianos a partir de 1498.
então, desempenham: é aí que se encontram os mercadores de fazendas da O parisiense Jacques Du Puys aparece regularmente a partir de 1540, e,
Inglaterra e dos Países Baixos; aí se vendem as especiarias do Oriente, os logo depois, Roberto Estienne. Na última feira de 1557, aí se encontram
vinhos do sul da Europa, os produtos manufacturados das cidades alemãs. dois livreiros de Lyon, quatro de Paris, dois de Genebra, cinco de
É aí que se encontram amiúde os mercadores de Lübeck, de Viena, de Antuérpia, outros mais de Utreque, de Amesterdão, de Lovaina. Nas de
1569, há sinais da presença de 87 livreiros, dos quais 17 de Francfort, três
ti, Vcncza, quatro de Lyon, cinco de Genebra; cada um deles chega, natu-
mim rue, cheio de encomendas dos colegas que não vieram pessoalmente.
'" GUIGNARD, J., «Les premiers éditeurs de Rabelais», in Association des hiblio-
I~ fácil de .ncontrá-Ios na Büchcrgassc, o «beco dos livros», entre ()
thécaires [rançais. Bu/letin d'information, n." 13, Março de 1954, p. 13 e segs,
'" MILKAU, F., op. cit .. t. I, p. 879 e scgs.; KAPP, F. c GOLDFRIEDRICII, .I., Menu c u iPIl'jil dl' SilO I. .onardo. I urunt li sua estudia, trabulhum sem
(iI'sl'ilil'i,II' dcs (/I'/Ils('/'I'1I 111«hltar 11!d.I·
, Ll'ipli', I HHú; ESTIENNE, 11., Thr "'/"II/II:/ill! dl.'iUIII.'ill' u-rn til' dl'Sl'II1hrllllllll :I rucrcndurin quv lI'OIIXlI'H1I1,l'XI)(lI llS

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302 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 303

vender, enfim, as suas obras a livreiros ou mesmo a particulares. Durante A publicação de catálogos de livros é uma prática que remonta a
as conversas que não deixam de ter entre si, os editores que se encontram tempos longínquos. Desde 1470, e talvez antes, os agentes dos grandes
trocam notícias, anunciam os livros que têm no prelo ou que tencionam editores, como vimos, tinham-se habituado a fazer listas, a princípio
imprimir, e anotam as encomendas para as feiras seguintes. As transac- manuscritas, e depois impressas, dos livros que tinham à venda. Muito
ções versam frequentemente sobre quantidades apreciáveis de exempla- cedo também, no interesse da venda, ao que parece, publicam-se catálo-
res: numa carta de 10 de Outubro de 1534, o livreiro Froschauer revela, gos colectivos - ou melhor, «anúncios» colectivos, para usar o termo
por exemplo, que levou para as feiras 2000 exemplares das suas edições, correcto: é assim que o livreiro Albrecht, de Memmingen, em 1500,
in-folio e in-S.", da Epitome trium terrae partium; e acrescenta que publica uma lista de alguns 200 títulos, intitulada Libri venales Venetiis,
vendeu metade e conta vender o resto na próxima feira. Nurembergae et Basileae.
Francfort torna-se, muito rapidamente também, um grande mercado No século XVI, cada editor, para dar a conhecer as obras que edita,
de material de imprensa. É aí que os impressores compram fundições e começa a imprimir e a divulgar o mais possível o catálogo da sua própria
matrizes aos fundidores e aos gravadores de caracteres alemães - e, em oficina. Em 1541, Aldo Manúcio, o Moço, publica em Veneza um catá-
primeiro lugar, aos que se estabeleceram mesmo em Francfort. Entretanto, logo deste género. Simão de Colines faz o mesmo em Paris, antes de 1546,
gravadores de madeira e de cobre à procura de trabalho dirigem-se e, depois, Cristóvão Froschauer em Zurique (1548), Sebastião Gryphe em
também às feiras, que, pouco a pouco, no final do século XVI, se transfor- Lyon e João Froben em Basileia (1549), Roberto Estienne em Paris (1552 e
mam no ponto de encontro de todos quantos se interessam pela realidade 1569) e, por fim, Plantin em Antuérpia (1566, 1567, 1575 e 1587).
da edição. Tudo gente activa e fervilhante num espectáculo pitoresco que Estes catálogos foram distribuídos nas feiras de Francfort com
escritores do tempo (como Henrique Estienne) sentem prazer em evocar. frequência. Mas, em breve, julgou-se útil publicar um catálogo geral dos
Enquanto os livreiros e os seus empregados, às portas e janelas das lojas, livros apresentados nessas feiras. Era aí, de facto, que os livreiros alemães
gritam os títulos dos novos livros que oferecem aos transeuntes, os vende- e, muitas vezes, estrangeiros punham à venda pela primeira vez as obras
dores ambulantes circulam pelas ruas, vendendo almanaques, imagens e que tinham acabado de imprimir e às quais desejavam assegurar a maior
folhetos com relatos de acontecimentos recentes. E, no meio da multidão, difusão possível. Nestas condições, a publicação de um catálogo desti-
há autores que vieram fiscalizar a venda de um livro ou estão desejosos de nado a dar a conhecer todas essas novidades mostrou-se imediatamente
verem publicados os seus escritos, homens de letras à procura de trabalho indispensável: a partir de 1564, Jorge Willer, um livreiro de Augsburgo,
(traduções, correcção de provas, etc.). De tal modo que Henrique Estienne empreendia a publicação da lista dos livros postos à venda em cada feira.
não hesita em qualificar Francfort com a «nova Atenas», onde podem O seu catálogo saiu duas vezes por ano até 1592. Prontamente, outros
ver-se os mais ilustres sábios conversando entre si e discutindo em latim, livreiros, como João Sauer, Feyerabend e Pedro Schmidt, seguiram-lhe o
diante de um público embasbacado, ombro a ombro com os comediantes exemplo. A partir de 1598, o próprio Conselho da Cidade decidiu publi-
que pedem trabalho aos empresários teatrais que aí procuram organizar as car um catálogo oficial, que saiu sem interrupção até ao século XVIII e
suas companhias. Um espectáculo que, na verdade, teria interessado serviu de base aos primeiros trabalhos bibliográficos empreendidos na
Shakespeare. Alemanha, no século XVH.

* *
* * * *
Uma das novidades mais originais que devemo às feiras de o .xamc dcst s catálogos permite conhecer exactamente as obras
Francfort é a publicação dos catálogos das feiras - precursores das inurn ' que se vendiam nas f 'iras de Francfort: de 1564 a 1600, contêm mais de
ráveis bibliografias correntes qu permitem, hoje, .onh iccr as novas 'o 000 Il1l1los dd'vl '111'S, ou xcju, I 17' I impr .ssocs :11'mas provenientes
ohlas 10 'o apns () S \I lnn ':lIlH'lllo dI 11/111111.1l'lilllllllll" 11I1(lIlldlldlS,(lIl'lsllllllpl'llasl'IOIISlIIl
304 o APARECIMENTO DO LIVRO o COMÉRCIO DO LIVRO 305

indicação de lugar. Os do século XVII contêm ainda maior número de títu- Esta situação acabou por inquietar o poder imperial e provocou, no início
los: para a primeira metade do século, 18 304 impressões alemãs e 17 032 do século XVII, vigorosas reacções da Comissão Imperial do Livro. Desde
estrangeiras. Para a segunda, 38 662 alemãs e 4962 estrangeiras. Entre as então, em Francfort, tenta-se tornar a vida difícil aos livreiros protestan-
obras postas à venda, por outro lado, muitas são em alemão, mas, durante tes, razão que os leva a trocar cada vez mais estas feiras pelas de Leipzig,
largo tempo, predominam os livros em latim. De 1566 a 1570, dos 329 onde não encontram as mesmas dificuldades.
livros apresentados, 118 são em alemão e 226 em latim; no período de
1601 a 1605, de 1334 livros, 813 são em latim e 422 em alemão; no
período de 1631 a 1635, de 731 livros, 436 são em latim e 273 em alemão.
*
Só a partir da década 1680-1690 é que a relação se inverte e são vendidos
* *
em Francfort mais livros em alemão do que em latim'". A Guerra dos Trinta Anos, que, por algum tempo, reduziu a quase
As feiras de Francfort, na segunda metade do século XVI e na nada a produção dos prelos alemães, desferiu um golpe terrível nas feiras
primeira metade do século XVII, surgem, portanto, como o grande centro de Francfort. Enquanto os editores alemães tinham publicado 1511 obras
de difusão das impressões em alemão e também como mercado interna- em 1610 e 1780 em 1613, publicam apenas 1005 em 1626 e 307 em 1635.
cional de livros em latim. Plantin, por exemplo, aí efectua transacções Os livreiros estrangeiros, na sua maioria, deixam de aparecer; a partir de
muito importantes; aí tem a sua loja e vai a todas as feiras ou envia um 1620-1625, já não se encontram livreiros franceses. Passada a tormenta,
homem de confiança - geralmente, o seu genro, João Moretus; é aí que elas retomam, sem dúvida, uma certa actividade. Mas deixaram de ser um
encontra todos os seus agentes e com eles acerta as contas; é aí também mercado internacional da edição - e deixam mesmo, em breve, de ser o
que, muitas vezes, compra o material de impressão de que precisa. A partir principal ponto de encontro dos editores alemães. Há várias razões para
do início do século XVII, os Elzevier frequentam igualmente as feiras de
isso, sendo a principal a mudança de orientação da edição alemã: até cerca
Francfort. Todos os anos ainda, para lá se deslocam, pelo menos, três ou
de 1630-1640, editavam-se na Alemanha mais livros de teologia católica
quatro livreiros parisienses - e muitos outros, especialmente ingleses:
do que de escritores protestantes, e os prelos do Sul da Alemanha eram
estes últimos adquirem os livros impressos no continente que pretendem
mais activos do que os do Norte; após 1640, como vimos, deixa de ser
revender no seu país. Em 1617, o livreiro John Bill decide mesmo reim- assim.
primir, em Londres, os catálogos das feiras de Francfort'",
Ao mesmo tempo, o aumento da actividade da imprensa no Norte da
Estas feiras, evidentemente, são, antes de mais, o mercado internacio-
Alemanha e a multiplicação dos escritos protestantes, resultado da passa-
nal dos livros em latim e da edição católica. Mas também, no século XVI,
gem de Gustavo Adolfo, trouxeram como consequência o desenvolvi-
especialmente, constituem um ponto de encontro dos livreiros protestan-
mento das feiras de Leipzig'".
tes: os de Lyon, Estrasburgo, Genebra e Basileia encontram aí as impres-
Estas há muito que figuravam como rivais das feiras de Francfort.
sões reformistas alemãs de Vitemberga e de Leipzig; por seu turno, os
A imprensa tinha aparecido em Leipzig a partir de 1479, mais cedo do que
livreiros de Genebra fazem um esforço de última hora para terminarem a
em Francfort, E, desde 1476, Pedro Schoeffer e alguns impressores de
impressão das obras de polémica protestante, a fim de as levarem à feira.
Basileiajá lá vendiam livros. Mais tarde, Koberger, João Rynman e diver-
Francfort é, pois, nesta época, centro de difusão das obras da Reforma.
sos livreiros de Augsburgo e de Nuremberga seguem-lhes as pisadas. No
início do século XVI, a imprensa desenvolvera-se particularmente em
Lcipzig. É certo que grandes impressores protestantes, como Melchior
334 Ver, a propósito, KAPP e GOLDFRIEDRICH, op. cit., t. I; ESTIENNE, H., op. Lotthcr, tinham abandonado a cidade quando o Eleitor (Jorge de Saxe)
cito - Ver também DIETZ, A., Zur Geschichte der Frankfurter Büchermesse, 1462-1792,
Francfort, 1921.
'" GROWOLL, A .. Three centuries 4 English book tradc bihliograptiv. Nova
101que, I t)O t 11, I ,til' f 11. li Mlj I
306 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 307

começara a persegui-I os. Mas, em seguida, os Eleitores protestantes prati- correntemente as letras de câmbio para efectuar os seus pagamentos, e
caram uma política de tolerância sistemática, que permitiu aos próprios depois, no século XVIII, empregam em geral técnicas de compensação
livreiros católicos deslocarem-se às feiras, e essa política de tolerância bancária. Na Alemanha, todavia, continua-se por muito tempo fiel ao
continuou a ser praticada em relação aos protestantes quando o Eleitor se sistema da troca; nas suas relações com os livreiros alemães, os holande-
converteu ao catolicismo, em 1697. Desde então, por isso, as feiras de ses aceitam ainda recorrer a tal processo, mas apenas consentem em trocar
Leipzig não deixaram de crescer em importância. O seu desenvolvimento os seus livros, de aspecto tão cuidado, pelas impressões alemãs - que,
foi estimulado pela Reforma, devido à multiplicação dos prelos protestan- nessa altura, eram de frequente má qualidade - na base de um por três, ou
tes no Norte da Alemanha e pelo desenvolvimento do Estado Prussiano a de um por quatro. E só no final do século XVIII é que os livreiros de
leste da Europa. Em 1600, começa a publicar-se o catálogo dos livros que Leipzig, especialistas na edição de livros novos, e cujas impressões eram
figuram nas feiras de Leipzig e, desde então, estas passam a ter quase a de melhor qualidade, conseguiram, após longa luta, fazer cessar uma
mesma importância que as de Francfort; após a Guerra dos Trinta Anos, prática que lhes era prejudicial, e que, de uma forma mais geral, entravava
tornam-se o grande mercado da edição alemã. o desenvolvimento dos grandes empreendimentos editoriais.
O desenvolvimento das feiras de Leipzig e o declínio das de
Francfort, no século XVII, marcam uma fase muito importante no que diz
*
respeito à evolução do comércio do livro. Vimos que Francfort era o ponto
* *
de encontro de todos os grandes livreiros da Europa. As feiras de Leipzig,
pelo contrário, reúnem sobretudo os livreiros alemães, aos quais vêm À medida que o número de livros impressos aumentava todos os
juntar-se livreiros russos, polacos e holandeses. Deste modo, o êxito das anos, saber o que se publicava representava um problema cada dia mais
feiras de Leipzig, por volta de 1630-1640, marca, no ponto de vista da difícil de resolver, não apenas para os livreiros desejosos de se manterem
edição, o início de uma fragmentação: enquanto se editam cada vez menos a par das publicações recentes, mas também para os eruditos e o mundo
obras em latim, a proporção de textos em língua nacional é cada vez culto em geral'".
maior. O comércio do livro na Europa perde a sua unidade tradicional. Por muito tempo, como se disse, os catálogos das feiras de Francfort
tinham desempenhado o papel das actuais bibliografias correntes. Mas
quando estas feiras perderam a sua importância, quando o mercado do
IV. RUMO A NOVOS MÉTODOS COMERCIAIS livro se fragmentou, tornou-se necessário recorrer a outros instrumentos.
Os grandes editores, ao longo do século XVII, adquiriram o hábito de
Entretanto, em matéria de edição e de venda dos livros, os métodos publicar mais frequentemente os seus catálogos. Muitas vezes mesmo,
comerciais modificavam-se pouco a pouco. imprimiram-nos no fim dos livros que publicavam. Mas não bastavam
Em primeiro lugar, no que toca aos pagamentos. A troca, como estes catálogos individuais. Se a Alemanha possuía um instrumento
vimos, era, no século XVI, o meio mais utilizado pelos livreiros-editores precioso - os catálogos das feiras de Leipzig -, sentiu-se desde bastante
para vender a sua produção e para conseguir a provisão de livros de que cedo, em França e, sobretudo, na Inglaterra, a necessidade de dispor de
necessitavam. Este método, usado sistematicamente na Alemanha e, com publicações periódicas que indicassem as obras que acabavam de apare-
frequência também, nas relações entre editores de países diferentes, apre- cer. A partir de 1648, um bibliógrafo, o Padre Jacob, empreendia a publi-
sentava muitas vantagens, como é evidente, porquanto simplificava o cação anual de uma Bibliographia parisiana e de uma Bibliographia
acerto de contas. Mas tinha inconvenientes, de igual modo: por vezes, um gallica, onde se encontrava a lista dos livros publicados em Paris e em
grande editor era levado a aceitar, em troca dos livros que enviava a um
correspondente; obras que este tinha tido dificuldade em vend r. Por isso,
ao longo do .s <culo XVlI. os grand 's editores abandonam POlH;O li pouco
l Sll pIOl'l'SSO. Ào qru pau cc, coutinuum niuda por ul '11111 IL'IllPO II unlizru , (il IlWIlI 1 ,"1' 111,. ,. 11111,. Illul.l 111.111'1. N." \ \ I,
308 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 309

toda a França. Essa publicação - longínqua antepassada da Bibliographie letrado, caso fosse necessário. Foi essa a origem do Journal des Savants,
de Ia France - apareceu mais ou menos regularmente até 1654, sendo cujo primeiro número saiu em 1 de Janeiro de 1665. Sallo, ajudado por
depois interrompida, sem ter sido substituída, durante muito tempo. Na vários colaboradores, soube reunir numerosas informações no seu
Inglaterra, entretanto, começava-se, por então, a publicar bibliografias jornal, mas críticas demasiado francas aí publicadas irritaram uma parte
nacionais. A partir de 1657, aparecia um Catalogue of the most vendible do público e, sobretudo, os autores. Em breve, Sallo cedia o lugar ao
books in England, seguido de diferentes catálogos deste género. Depois, Abade Gallois, que, mais prudente, renunciou a criticar as obras de que
em 1668, um livreiro de Londres, John Starley, com a ajuda do bibliógrafo dava noticia. O Journal des Savants conheceu imediatamente grande
Roberto Clavel, iniciava a publicação de um «term catalogue» editado êxito. Foi traduzido na Itália e na Alemanha, e objecto de uma edição
quatro vezes por ano, o Mercurius librarius, que foi impresso regular- em latim; em 1678, Gallois reduziu-lhe o formato para poder enviá-lo
mente até 1709, e depois substituído por outras publicações análogas. por correio para o estrangeiro e para a província, tão facilmente quanto
Roberto Clavel, por outro lado, utilizando a documentação que reunia uma carta.
para o Mercurius librarius, publicava sucessivamente quatro edições Todavia, enquanto, a partir de 1668, a Sociedade Real de Londres
revistas e corrigidas de um catálogo geral dos livros impressos na Inglaterra começava a dar a lume, na Inglaterra, as Philosophical Transactions, que,
depois de 1666. a partir de 1675, foram objecto de uma edição em latim publicada em
Publicações desse tipo eram talvez mais destinadas aos livreiros do Leipzig, o Journal des Savants, depois de 1680, sofre a concorrência de
que aos eruditos ou aos homens de letras. Estes, para se manterem ao outras publicações com diferente inspiração, como, por exemplo, o
corrente da publicação dos livros susceptíveis de os interessar, dispunham Journal de Trévoux, editado pelos Jesuítas no principado soberano de
apenas das informações que lhes podiam ser fornecidas pelos amigos e os Dombes, entre 1712 e 1768, e sobretudo de numerosas gazetas que surgi-
correspondentes que, muitas vezes, possuíam por toda a Europa. Nesta ram na Holanda - à cabeça das quais é preciso referir as Nouvelles de la
rede de correspondência, alguns eruditos particularmente bem colocados République des lettres, de Bayle, que começaram a ser publicadas em
desempenhavam um papel de verdadeira agência central de informações, 1684, a Bibliothêque universelle et historique, que Le Clerc publicou
como, por exemplo, Peiresc, apelidado de «Procurador Geral da República a partir de 1686, e a Histoire des ouvrages des savants, de Basnage.
das Letras», Chapelain, ou ainda os irmãos Dupuy. Ao passo que o Journal des Savants evitava tomar partido, Bayle, Le
Na segunda metade do século XVII, contudo, estes procedimentos Clerc e Basnage faziam, antes de mais, obra crítica. Estabelecidos na
revelaram-se profundamente insuficientes. Foi por isso que, no exacto Holanda, foram eles os primeiros a permitir aos franceses conhecerem as
momento em que a imprensa periódica se desenvolvia cada vez mais, se ideias dos filósofos e dos pensadores ingleses, especialmente de Locke.
viu aparecer uma série de jornais bibliográficos mais ou menos críticos'". A recém-fundada imprensa bibliográfica exercia assim, de repente, influên-
A primeira iniciativa deste género cabe a Colbert. Desejoso de orien- cia profunda na evolução das ideias.
tar a vida intelectual do país, ao mesmo tempo que se esforçava por dirigir
a sua actividade económica, e aconselhado por Chapelain, encarregou *
Denis de Sallo, um erudito conselheiro do Supremo Tribunal, de publicar * *
um jornal mensal, destinado a fornecer informações sobre as descobertas
científicas e uma resenha crítica das obras recentemente publicadas - rese- Os livros impressos conservavam, então, o seu interesse por muito
mais tempo do que hoje. No século XVII ainda, o livro - o livro de estudo
nha evidentemente destinada a «orientar» a opinião do mundo erudito e
em especial - constitui um objecto de valor que se conserva cuidadosa-
mente, qu se revende às vezes e que, geralmente, tem uma longa carreira.
Foi pias 'di<,:õ's aldinas, por exemplo, que Racine tomou contacto com
11M WEILL, O., «Lc Journal; origine, évolution de Ia prcssc p riodiquc», in Ifl'lIl/1 os \1'11'kos r(' 'os, H. IIl'stas condi .õcs, o tom rcio do livro usado dcscn
/;(11/ til' /'''"1/1111/;/11, vul, TV, Pllris, 19VI, p. lI) (' Sl' 'S,. vulv, 11 l I Ol'III1I)1I 11111111'111 Si~'11ilklltivo
310 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 311

Este encontra-se, evidentemente, nas mãos dos alfarrabistas e dos Desde cedo, como vimos, os grandes editores criaram o hábito de
livreiros que se encontram em todas as grandes cidades: em Lyon, na enviar «agentes» para as cidades onde não tinham correspondentes. Mais
ponte do Saône; em Paris, nas pontes e nos cais do Sena. Mas também a ou menos periodicamente, os agentes visitavam a clientela, mas não
ele se dedicam, muitas vezes, grandes livreiros especializados: em Paris, tardou que livreiros grossistas se instalassem também nas cidades impor-
por exemplo, em finais do século XVI, David Douceur, que se aproveitou tantes, reduzindo a actividade dos agentes de livros. Contudo, nas peque-
da pilhagem de numerosas bibliotecas durante as guerras da religião para nas cidades, vilas e aldeias, onde nenhum livreiro tinha condições para se
reunir um acervo enorme de livros; no século XVII, Tomás Blaise e, mais instalar com permanência, assistiu-se ao aparecimento, a partir do século XV,
tarde, Luís Billaine, que compra no estrangeiro, especialmente na de vendedores ambulantes, que, com muita frequência, vendiam não
Inglaterra, milhares de obras, das quais, seguidamente, para as revender, somente livros mas também imagens piedosas e artigos de capelista.
publica catálogos com o título de Milliaria. Dirigindo-se a uma clientela geralmente pouco instruída, estes vendedo-
Os livreiros que vendem livros usados desempenham, assim, muitas res apregoavam especialmente livrinhos simples, almanaques ou reportó-
vezes, papel importante no mundo das letras. Enquanto Naudé vai procurar rios astrológicos, além de calendários dos pastores e cartinhas. Proliferaram
nos cais os livros da biblioteca de Mazarino, pilhada durante a Fronda, quando as ideias reformistas começaram a disseminar-se, e, escapando à
Camusat, livreiro da Academia Francesa, especializa-se, ao que tudo vigilância da polícia mais facilmente do que os livreiros estabelecidos
parece, a comprar no estrangeiro livros antigos de que os académicos com posto fixo, contaram-se entre os agentes mais activos das novas
precisam. Muitos grandes livreiros-editores dedicam-se a comércio ideias. Especialmente no início da Reforma alemã, tiveram um papel
análogo. extremamente importante, distribuindo por toda a parte panfletos católi-
Como hoje, os livreiros especializados em livros usados abastecem-se cos e, sobretudo, protestantes - em particular os ataques a Roma e ao
comprando em bloco as bibliotecas de sábios ou de homens de letras papada, destinados a minar o prestígio e a autoridade do clero. Foram
recém-falecidos. Quando, no decurso do século XVII, se desenvolve este eles, a partir dos anos 1540-1550, que se encarregaram de distribuir em
comércio, vê-se aparecer uma técnica comercial usada ainda hoje com França os escritos impressos em Genebra. Assim se constituíram, ao longo
muito frequência: a da venda em leilão. Doravante, quando morre uma do século XVI, a princípio na Alemanha e, depois, em França e por toda a
pessoa cuja biblioteca é renomada, adquire-se o hábito de dispersar os Europa, redes comerciais mais ou menos clandestinas, que difundiam
seus livros pelos leilões, depois de se ter publicado e distribuído o respec- obras de propaganda e panfletos proibidos.
tivo catálogo. Muitas vezes, os especialistas que procuram um livro raro Mediremos, mais adiante, as consequências de tudo isso. Estes
- e em breve também os bibliófilos, que começam já a multiplicar-se - livros, distribuídos clandestinamente, tanto mais procurados quanto eram
disputam duramente com os livreiros a obra que cobiçam. A primeira proibidos, vendem-se frequentemente por preço elevado; o ofício de
venda deste género que se conhece é a que o livreiro Cristóvão Poret reali- vendedor ambulante torna-se, então, um ofício bastante lucrativo e os
zou da biblioteca de Marnix de Saint-Aldegonde, em Leida, em 1599. vendedores ambulantes multiplicam-se, tanto mais que, em França,
O recurso ao leilão tornou-se então, rapidamente, um hábito generalizado durante a segunda metade do século, eram numerosos os operários e artí-
na Holanda, onde os Elzevier presidiram muitas vezes a tais vendas, e fices reduzidos ao desemprego. Entre estes vendedores ambulantes e
depois, durante a segunda metade do século, difundiu-se na Alemanha, vendedores de livros clandestinos contavam-se muitas crianças e mulhe-
Inglaterra e também na França, no início do século XVIII. res, assim como impressores e compositores tipográficos sem trabalho,
cujas relações no mundo da imprensa lhes permitiam abastecer-se de
* mercadoria com facilidade, e, por vezes mesmo, mandar imprimir elan-
* * d estinam .ntc alguns lib .los. Em breve, as grandes cidades enchem-se de
P 'sso:\s scm clm nem beira, 'lu" ap .sur ti' lodo o policiam 'Il!O, ispulhum
Eis, enfim, o último aspecto do comércio do livro, aqucl que Sl' lilwlos (' palllll'tos. nxsim CO!lHI dOl'IIII1('lltoS oficiais (' rl'la,'Ol's Ilotil'iosas.
COIlV-ncionou uhurcnr com a 'xpress:lo. venda umhulunü' ). iI IjIlOlI c uupunu.un dI ,lIa pillll dia ,'11111I11I'lI IIII\lll'IO
312 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 313

Quando voltou a paz, fizeram-se grandes esforços para que este V. PRIVILÉGIOS E CONTRAFACÇÕES
comércio cessasse. Nas grandes cidades, as corporações esforçaram-se
por proibir a venda de livros a todos aqueles que não fossem livreiros. Apesar do seu carácter internacional, far-se-ia uma ideia comple-
Foram instaurados numerosos processos, em particular contra os cape- tamente falsa do comércio do livro, entre o século xv e o século XVIII, se
listas, que tradicionalmente vendiam cartinhas, livros de horas e alma- julgássemos que o mercado não estava compartimentado; que a acção dos
naques. Ao mesmo tempo, em muitas cidades, sobretudo em Paris, editores se encontrava protegida por qualquer legislação apropriada; e,
procurou-se oficializar e tornar legal uma certa forma de venda ambu- também, que o livro circulava livremente. Ausência de acordo internacio-
lante: antigos oficiais de tipografia que se tinham tornado inaptos para o nal em matéria de livraria, protecção sempre imperfeita contra as contra-
trabalho do prelo ou da caixa eram nomeados vendedores ambulantes, facções, legislações locais e incompletas, administração policial enredada
com autorização de venderem documentos oficiais, impressos por ordem e impotente para refrear os abusos e as ilegalidades, inúmeras e contradi-
do Poder público, e folhetos impressos com a simples licença policial. tórias censuras - tais eram, então, na verdade, os entraves que se opunham
Mas este regime gerou muitos abusos. De facto, os vendedores ambulan- com frequência ao progresso da edição e à circulação do pensamento, cuja
tes autorizados transportavam nos seus fardos coisas muito diferentes das história exigiria muitos volumes e que, aqui, tão somente podemos evocar.
que lhes era permitido vender. Em períodos de crise, nos locais mais
frequentados, vendiam clandestinamente os panfletos e as relações que *
não podiam figurar abertamente nas lojas dos livreiros. Muitos vende- * *
dores ambulantes foram queimados no século XVI por terem sido
apanhados a vender livros heréticos, e outros foram presos, em França, Nos primeiros tempos da imprensa, quando um editor publicava uma
nos séculos XVII e XVIII, por terem vendido panfletos hostis ao Poder obra, nada impedia outro livreiro de imprimir o mesmo texto, se o julgasse
real. de interesse. Tal procedimento, a princípio, trouxe poucos inconvenientes:
Assim era a venda ambulante nas grandes cidades. Contudo, nas imprimiram-se inicialmente, sobretudo, textos antigos já conhecidos e
pequenas cidades e nos campos, onde praticamente nenhum regula- divulgados em manuscritos; entre as obras a serem publicadas a escolha
mento entravava o seu comércio, os vendedores ambulantes continuaram era enorme, e era tal a necessidade de livros que, com muita frequência,
a circular. Foram eles que, no século XVII e, sobretudo, no século XVIII, várias edições de um mesmo texto importante podiam ser impressas
venderam as inúmeras estampas gravadas em madeira - toda a «imagé- simultaneamente sem grande prejuízo; de resto, os editores tinham então
tica popular» que tradicionalmente se pendurava nas paredes das casas. pouco interesse em prejudicar-se mutuamente e em criar uma concorrên-
Eram eles que distribuíam também os calendários dos pastores, as cia que facilmente podiam evitar.
Bíblias ilustradas, os almanaques e as novelas de cavalaria - as A situação mudou quando o mercado do livro se organizou, quando
Me/usina e os Quatre Jils Aymon que se liam à noite, durante o serão, e os escritos mais comuns começaram a ser difundidos em grande número
que saíam aos milhares dos prelos de impressores especializados. Foram e à medida que se publicava um número cada vez maior de obras de auto-
eles ainda que, em França, no século XIX, se encarregaram de distribuir res coevos. Entre os editores, a concorrência tomou-se mais dura, com os
os «canards» impressos que se vendiam pelas ruas relatando um aconte- problemas relativos ao preço a intervirem, e aumentou a tentação de reim-
cimento do dia (antepassados da actual imprensa local e regional), as primir uma obra que acabara de sair, tanto mais que o defraudador não
imagens de Épinal, as estampas que celebravam a glória do Imperador e tinha de suportar nenhum encargo com a compaginação, sobretudo no
que mantinham o seu culto nas aldeias, e também toda a literatura de caso de uma reimpressão «página por página», e dispensava-se de remu-
cordel tradicional, ilustrada com xilogravuras copiadas das do século XVI, a nerar () autor; além disso, ainda podia vender a reimpressão a menor preço
qual, durante mais de três séculos, conhecera êxito. sempre crcsc nt '. do qu ' o ori rinul, .xccutundo um volume de menor qualidade e até
D este modo, a letra impressa tomou a seu cargo uma forma til' culturn 1\\l'''lllIl 1("(111/111110as nuu 'l'IIS dl lucro As pllhlil'íHiO 'S dos impr 'SSOl" 'S

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314 o APARECIMENTO DO LIVRO O COMÉRCIO DO LIVRO 315

século XVI. Em Paris, as impressões de Josse Bade são muitas vezes copia- Alemanha, o imperador tentou praticar a mesma política, mas não conse-
das por um grupo de livreiros e de impressores, e o tipógrafo Desprez, para guiu impor a sua autoridade: apesar de múltiplos esforços, os privilégios
que a imitação seja perfeita, chega ao ponto de mandar gravar uma cerca- regionais subsistiram sempre ao lado do privilégio imperial.
dura com a reprodução de uma das que Bade usava no rosto das suas O sistema dos privilégios provocou múltiplos inconvenientes, agra-
edições'". Da mesma forma, em Lyon, não se hesita em reproduzir as vados por uma legislação abundante e muitas vezes contraditória. Entre as
edições de Basileia e Veneza. Por isso, nesta altura, um Erasmo ou um questões mais debatidas, algumas referiam-se às prorrogações de privilé-
Despautério tinham a constante surpresa de ver publicadas, um pouco por gios e aos privilégios para livros antigos. Em princípio, estes podiam ser
toda a parte, reedições das suas obras, sem seu consentimento. concedidos tanto para livros antigos como para obras novas. Por isso, era
Estes procedimentos acarretavam o risco de paralisar as iniciativas grande a tentação dos editores bem vistos na corte se servirem da sua
dos editores mais empreendedores e mais cuidadosos, temerosos de que reputação para obterem verdadeiros monopólios, e para o Poder público
uma bela edição executada a alto custo, ao ser contrafeita logo que publi- favorecer os mais dóceis. Desejosos, por outro lado, de criar uma associa-
cada, pudesse não ser vendida. Para evitar tais inconvenientes, os editores ção bastante poderosa para produzir impressões de qualidade, Carlos IX e
que empreendiam uma publicação importante foram levados cada vez Henrique III não hesitaram, assim, em conceder a um grupo de livreiros
mais a solicitar dos Poderes públicos um privilégio que lhes concedesse, católicos, mais ou menos favoráveis à Liga, o monopólio exorbitante da
por algum tempo, o monopólio da impressão e da venda do texto que edição das obras dos principais Padres da Igreja e dos livros de uso, refor-
publicavam. Este procedimento parece ter sido utilizado, primeiro, por mados pelo Concílio de Trento. Fora de França, Paulo Manúcio recebeu
livreiros italianos e, em particular, por milaneses: em 1481, o editor André do papa, e Plantin do rei da Espanha, monopólios análogos. E, enquanto
de Bosiis recebe um privilégio para a Sforziade de João Simoneta, que estas vantagens enormes eram concedidas, às vezes por um período de
mandou imprimir a António Zarotti, e, em 1483, o duque de Milão trinta anos, editores mais recentes não conseguiam mais do que fazer pror-
concede a Pedro Justino de Tolentino um privilégio de cinco anos para rogar os privilégios que tinham obtido quando estes expiravam.
imprimir o Convivium de Francisco Filelfo. Pouco depois, também o A massa dos livreiros e dos editores que se sentiam lesados com estes
Senado de Veneza adquire o hábito de conceder privilégios. No início do procedimentos não deixava de protestar. Em França, foram apoiados pelo
século XVI, privilégios desse género são igualmente concedidos em Supremo Tribunal de Paris, desde sempre hostil a esse género de monopólio.
França pelo rei e pelos tribunais; na Alemanha, quer pelo imperador quer Perante estas queixas, o Poder real outorgou cada vez mais excepcio-
pelos Poderes locais*. Nestes dois países, os soberanos tentam reservar nalmente privilégios para livros antigos mas, em compensação, concedeu,
unicamente para si o direito de conceder privilégios de exclusividade cada vez com maior liberalidade, prorrogações de privilégios para os
editorial e transformar esses privilégios numa arma que lhes permita livros novos, com a finalidade de melhor proteger os direitos do editor que
vigiar melhor a actividade dos impressores. Por um édito de 1563, o rei de lançara a obra.
França estabeleceu mesmo que, para imprimir um livro, seria preciso Assim concebido, o regime dos privilégios de imprensa permitia
obter um privilégio real marcado com o selo real da chancelaria, o que favorecer determinado livreiro à custa dos outros: de facto, em França,
fazia com que pudesse vigiar o trabalho dos prelos; a partir de então, foi garantia vantagens aos grandes editores parisienses, mais próximos do
a única entidade em França a conceder privilégios de Impressão>", Na Poder real, mais dóceis e mais conhecidos, em prejuízo dos da província.
A partir da segunda metade do século XVII, como os autores praticamente
só imprimiam as suas obras em Paris, os editores da província começaram
a deixar d ter textos para levar aos prelos. Quando uma obra publicada
339 RENOUARD, P., «Introduction», in Bibliographie des impressions et dcs
'111 Paris obtinha êxito, esperavam com impaciência que o seu privilégio
oeuvres de fosse Bade Ascencius.
14() FALK, H., Les Privilêges de librairie SOIlS l'Ancie» Ré!iilll/', Paris, 1l)()6. .xpirussc para, por sua v '1., publicá-Ia, não deixavam de prot star
* Em Portugal. os primeiros livros impress:», com pr ivih:~io ,,'ai f0101I1I ilS (,'111.I11 qunnd« crn 1'(IJ1l'l'did:l 11\11:1 prorro mçuo de 1'1 ivilépio. E, para pod r \1\
111///1"/11////11 (I (1) \' II M(//l'O l'uulo (I (p), :lllIhos l'dilados pOI Val\'IIIIII1 F\'llIillllh , I V N) I1lillllll li \I Jlll 111. '111 ,1111 Idlltll. cr.uu 10111111\1\1:1 III qm'lll'lil I Vi/tio
316 o APARECIMENTO DO LIVRO
O COMÉRCIO DO LIVRO 317

a imprimir clandestinamente as obras, apesar dos privilégios obtidos pelos literatura de vulgarização; aparecem os primeiros jornais. Uma ruptura,
livreiros parisienses e apesar de uma polícia por vezes cúmplice e, portanto, em muitos domínios, numa época de relativa penúria monetária.
geralmente, impotente. Pouco depois, abate-se a crise sobre a edição, ao passo que o mercado do
Não era este talvez o principal inconveniente do regime dos privilé- livro tende a fragmentar-se. A partir daí, os livreiros de Antuérpia, de
gios. Cada país, cada príncipe, às vezes, outorgava privilégios válidos Lyon, de Colónia ou de Veneza já não conseguem vender as monumentais
somente para a extensão dos seus estados, mas não para fora deles. Se a edições religiosas que costumam publicar, os Ariaga, os Escobar, os São
França, a Inglaterra e a Espanha, unificadas mais cedo, podiam absorver JerÓnim0341•
ordinariamente edições inteiras, os privilégios concedidos pelos príncipes Enquanto a edição de Antuérpia declina de dia para dia, não resta
italianos ou alemães, ou mesmo pelo imperador, representavam para os senão um recurso aos livreiros de Colónia, de Ruão ou de Lyon: a contra-
editores apenas uma garantia muitas vezes ilusória. Nestas condições, os facção. À volta de 1650, eclode uma feroz guerra comercial que dura
grandes livreiros que se dedicavam ao comércio internacional do livro vários decénios. Na província, contrafazem-se sistematicamente as obras
viviam com o perpétuo receio de ver contrafeita a edição que acabavam impressas em Paris com algum êxito, e fazem-se esforços para provocar a
de publicar com grandes despesas. ruína de concorrentes tidos por incómodos. É assim que Berthier, trans-
Na realidade, de um modo geral, os livreiros não tinham interesse em fuga de Lyon estabelecido em Paris e detentor de um comércio activo com
culpar-se mutuamente. Numa época em que cada grande editor mantinha Espanha, é levado à falência. Entre os livreiros mais visados encontram-se
relações de negócios com colegas estrangeiros, a ruína de um continha o os mais importantes de Paris: Courbé e Cramoisy e, depois, Desprez.
risco de causar a de muitos outros. Cada livreiro, cada cidade possuía os Os livreiros parisienses defenderam-se, evidentemente; mas,
seus próprios comerciais, que as regras de convivência e o reconheci- enquanto a edição francesa atravessava esta crise, a edição holandesa
mento dos interesses de cada um impediam normalmente de contrafazer. organizava-se e desenvolvia-se; a partir de finais do século XVI, como
Se surgia uma contrafacção, os agentes das duas partes interessadas apres- dissemos, Amesterdão tomava-se o maior centro de edição em língua
savam-se a intervir para sanar o conflito através de um acordo amigável. francesa, depois de Paris. Instalados fora do alcance da polícia real, os
Porquanto, caso contrário, a vítima da contrafacção tomava disposições impressores holandeses podiam contrafazer em paz os livros impressos
de represália e, por sua vez, imprimia os trunfos do seu contrafactor. Estas em França e, frequentemente, fazer chegar essas contrafacções a Paris
guerras de contrafacções, em que os agentes de ambos os adversários sem dificuldade. Do mesmo modo, podiam imprimir livremente os livros
eram obrigados a recorrer à via judicial, degeneravam em provas de força, cuja impressão era proibida em Franca e fazê-los entrar nesse país sem
prejudiciais para todos. incorrer em riscos pessoais, graças à ausência de uma regulamentação
Os livreiros, em geral, tinham interesse em evitar contrafazerem-se internacional em matéria de privilégios e de edição.
mutuamente, mas já o mesmo não sucedia quando a edição atravessava
um período de crise. Se, no século XVI, e mesmo na primeira metade do
século XVII, as contrafacções não se multiplicaram demasiadamente, as VI. CENSURA E LIVROS PROIBIDOS
coisas mudaram a partir de 1650, aproximadamente. O período de 1640-1660
assinala, com efeito, uma data importante no que respeita à história da A regulamentação da edição ou, antes, a imperfeição dessa regula-
edição e, mais particularmente, à do comércio do livro. Salvo na Alemanha, mcntação, entre o século xv e o século XVIII, provocou, pois, de forma
as feiras perdem a sua importância e os grandes editores de todos os países incessante, a multiplicação das contrafacções e, por consequência, o
deixam de se encontrar nelas. As grandes publicações religiosas, que se
tinham multiplicado ao tempo da Reforma católica e foram objecto de um
importante comércio internacional, vendem-se menos; a proporção das
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obras impressas em latim diminui; começam a imprimir se obras 'i mtffi M SlIhlw VIII 1\/111, M IHIN, 11 I, 1'1'11111111\ pilli~II'III1" ,111 VII' 'I li I,' , 111
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o COMÉRCIO DO LIVRO
318 o APARECIMENTO DO LIVRO
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imprimam livros sem autorização das autoridades eclesiásticas: em ROIU",


desenvolvimento de um comércio do livro mais ou menos clandestino.
o vigário pontifício ou o mestre do Sacro Palácio; nos outros lugar 's, o
Os rigores da censura, unidos à tradicional impotência da polícia em
bispo, o inquisidor-geral ou os examinadores por eles delegados.
matéria de difusão das ideias, actuando no mesmo sentido, contribuíram
Seria impossível enumerar as decisões deste género e as condena
também, com muita frequência, para fazer do comércio do livro uma acti-
ções que se multiplicam no século XVI. Limitemo-nos a referir que, desde
vidade clandestina.
então, o número dos livros proibidos aumenta a tal ritmo que depressa, e
Nesse domínio, a Igreja católica desempenhou, no início sobretudo,
toma necessário compilar continuamente os índices que recenseavam os
um papel essencial?". Quando a imprensa surgiu, muitos prelados e ecle-
principais. Mas as autoridades eclesiásticas, em matéria de policiamento,
siásticos aplaudiram o invento e estimularam a criação de oficinas tipo-
pouco podiam fazer sem o apoio do braço secular. O Poder temporal
gráficas. Mas a Igreja, guardiã da ortodoxia, devia impedir a difusão das
aliás, ~ão podia deixar de se interessar por estas questões, uma vez que era
obras heréticas; numerosos tinham sido, já na Idade Média, os textos
essencial, também, proibir obras hostis ao príncipe ou ao governo.
condenados, cuja leitura, cópia e venda estavam proibidas. Muito em
Em primeiro lugar, foi talvez o imperador que julgou indispensável
breve, e especialmente quando surgiu a Reforma, as autoridades eclesiás-
intervir. Muito cedo, desde o início do século XVI, nomeia Tiago Oessler,
ticas inquietaram-se ao ver os prelos colocarem-se ao serviço de ideias
de Estrasburgo, censor e superintendente das tipografias do Sacro
heterodoxas e entenderam necessário impedir a tipografia de multiplicar
I~pério; e logo encarrega uma comissão imperial de se ocupar das ques-
os maus livros. Foi já por isso que, em 1475, a universidade de Co1ónia
toes de censura e da perseguição aos maus livros. Transferida para as
recebeu do Papa um privilégio autorizando-a a censurar os impressores,
mãos dos Jesuítas, esta comissão procurou, nos finais do século XVI,
os editores, os autores, e mesmo os leitores de livros perniciosos. Em
entravar o comércio dos livreiros protestantes nas feiras de Francfort.
1486, o arcebispo Bertoldo, de Mogúncia, embora muito favorável à nova
Apesar destes esforços, em matéria de censura o poder do imperador era
arte, e agindo em obediência a uma bula de Inocêncio VIII, encarregava
pouco importante: nos seus domínios, os príncipes alemães ocupavam-se
dois padres da catedral e dois doutores de examinar os livros; em 1496,
~o po.liciamento do livro; e sendo muitos deles adversários da polícia
proibia, sob pena de excomunhão, que qualquer livro fosse publicado se
imperial e da Igreja católica, um dos primeiros resultados dos rigores da
não estivesse munido da aprovação arquiepiscopal. Contudo, em 1491, na
polícia imperial foi favorecer, à custa das feiras de Francfort, o desenvol-
Itália, Nicolau Franco, arcebispo de Treviso e legado pontifício em Veneza,
vimento das de Leipzig, cidade situada em território saxónico.
promulgara uma constituição segundo a qual toda a obra que tratasse de
Em França, entretanto, não aconteceu exactamente o mesmo:
matéria de fé ou da autoridade da Igreja somente pudesse ser impressa
durante a primeira metade do século, enquanto a Sorbonne e o Supremo
com a autorização do bispo ou do vigário-geral da diocese; ao mesmo
Tribunal multiplicam as censuras, proibições e perseguições, o rei inter-
tempo, eram condenados o tratado de António Roselli sobre a monarquia
vém cada vez mais directamente em matéria de fiscalização do livro.
e textos de Pico della Mirandola. Este último só seis anos mais tarde fica-
A decisão que toma, em 1563, de apenas autorizar a impressão de um livro
ria isento da suspeita de heresia. se a este tivesse sido outorgado um privilégio próprio, permite-lhe fisca-
No século XVI, as intervenções da Igreja em matéria de censura não lizar, doravante, todas as novas publicações, já que os privilégios, eviden-
cessam de se multiplicar. A partir de 1501, Alexandre VI, na bula Inter temente, só eram concedidos após o conselho dos censores, que foram, a
multiplices, estabelece na Alemanha a censura prévia, ao proibir que um princípio, doutores da Sorbonne e, depois, no século XVII, laicos. Este
livro fosse impresso sem a aprovação eclesiástica, e encarregando os três sistema, que a maior parte dos príncipes da Europa aplicou, permitiu-Ihes
arcebispos Eleitores, além do de Magdeburgo, de exercer a fiscalização vigiar ti produção impressa a pretexto de evitarem os monopólios comerciais.
necessária. Ainda em 1515, no Concílio de Latrão, Leão X proíbe que se Não é m nos verdade que, apesar de todos os esforços, os «maus livr;s»
1I11IH::Iti 'i aram d 'rir .ulur, V 'remos adiant como os impressores fruncc-
Sl'S l'O1l1 irunu .un IIl'qlll'llllllll'llll', durnutc lodo o p rjodo da Reforma, a
publnru Ir 111 1111 'li 11,I'llCl"illllll,il PIIII" dlllllllll,lIllllllil\illlJlIlllilllllS
•• 1'111 M N, /lI' ( u.
320 o APARECIMENTO DO LIVRO

se especializavam nesse tipo de publicações. Nos séculos XVII e XVIII, os


livros proibidos continuam a circular um pouco por toda a parte com a
mesma facilidade. A multiplicidade dos livros susceptíveis de ocasionar
perseguições é tal, aliás, que mesmo os livreiros mais cumpridores das leis
podem vir a ser perseguidos, e resignam-se a isso docilmente, pois o facto
de se ser preso por tal motivo nada tem de infamante. Em França, a situa-
ção torna-se grave quando Colbert decide criar uma polícia eficaz e arvo-
rar-se em mentor da imprensa. As penas tornam-se, então, mais severas.
Para impedir as contrafacções e a multiplicação dos livros proibidos,
Colbert não hesita em limitar o número dos impressores e, com a sua
Capítulo VIII
acção, arruinar a edição da província. Perturbado com a introdução de
livros estrangeiros em França, especialmente holandeses, impressos longe
da sua polícia e frequentemente hostis à religião católica e à realeza, pensa
o LIVRO, ESSE FERMENTO
proibir a entrada dos livros holandeses em França; somente a autoridade
de Chapelain o dissuade disso, demonstrando-lhe que, entre esses livros,
Ao finalizar este estudo, tentemos fazer um balanço, avaliar o cami-
há alguns muito bons, sem os quais os eruditos não poderiam trabalhar.
IIho p 'rcorrido, assinalar, assim, o que a tipografia trouxe aos homens do
Enquanto a edição francesa, aliás em condições económicas difíceis,
1II111do século XV e início do século XVI. E, para tal, ao estudar a produção
se enfraquece, contrafactores e editores de livros proibidos tiram partido do
1IIII1Il'ssa no século que se seguiu ao do seu aparecimento, esforcemo-nos
vazio assim criado. É fácil introduzir os seus escritos em França, às vezes
IUII indicar o papel desempenhado pela nova técnica nas transformações
até mesmo nas prisões, onde estão detidos os huguenotes. Um pouco por
11111Sl' produziram no período do Renascimento e da Reforma.
toda a parte, formam-se redes mais ou menos clandestinas. Frequentemente,
são cúmplices os síndicos das corporações, encarregados de vigiar os
fardos provenientes do estrangeiro. Na prática, apenas se mostram seve-
ros quando obrigados a isso. E como impedir, sobretudo nesta época, o nn MANUSCRITO AO LIVRO IMPRESSO
contrabando dos livros, objectos pequenos e fáceis de esconder? Por isso,
o principal resultado dos rigores da censura real, no século XVIII, é favo I )lIranle os séculos que precederam a imprensa, aqueles que se
recer, ao redor da França, perto das fronteiras, a criação de uma rede de lI! ,1111'uivam de reproduzir livros à mão, tinham sabido, como vimos,
tipografias onde, sem perigo, se editam contrafacções e livros proibidos, IIllpllll 11 sua produção de modo a corresponder às novas necessidades. Na
É aí que são impressas as principais obras dos filósofos. E o chancclei 1'"1111'1111m .tudc do século xv, existiam sem dúvida oficinas um pouco
chega a ter a desagradável surpresa de verificar que o seu cocheiro intro "" loda 11parte, onde se recopiavam às dezenas, senão às centenas, os
duz, do interior da sua própria carruagem, livros perniciosos em Paris 11111111
('lltoS mais procurados: livros de horas ou de piedade e obras de
Em breve, com Malesherbes, as autoridades encarregadas da c nS1I11I 1111111 11'111.ntur, De tal modo que, no início, os contemporâneos de
tentarão suavizar os regulamentos por meio de autorizações tãcitus I' .1111IIlwlp talvez não tenham podido ver na reprodução mecânica dos
outro tipo de tolerâncias: prova do fracasso da censura, tal como, 'lItllo, I 111 IlIilis do que uma córnoda inovação técnica, útil sobretudo para a
era entendida. 1I111111plll.1110 dos I .xto» mais correntes.
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111.'l'I"I'ilm: trunsfonnudorcs. Porquanto, muito rapidamente, ao
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AI 'IIIIS nunu-rus
320 o APARECIMENTO DO LIVRO

se especializavam nesse tipo de publicações. Nos séculos XVII e XVIII, os


livros proibidos continuam a circular um pouco por toda a parte com a
mesma facilidade. A multiplicidade dos livros susceptíveis de ocasionar
perseguições é tal, aliás, que mesmo os livreiros mais cumpridores das leis
podem vir a ser perseguidos, e resignam-se a isso docilmente, pois o facto
de se ser preso por tal motivo nada tem de infamante. Em França, a situa-
ção torna-se grave quando Colbert decide criar uma polícia eficaz e arvo-
rar-se em mentor da imprensa. As penas tornam-se, então, mais severas.
Para impedir as contrafacções e a multiplicação dos livros proibidos,
Colbert não hesita em limitar o número dos impressores e, com a sua
acção, arruinar a edição da província. Perturbado com a introdução de Capítulo VIII
livros estrangeiros em França, especialmente holandeses, impressos longe
da ~u~ polícia e freque~temente hostis à religião católica e à realeza, pensa o LIVRO, ESSE FERMENTO
proibir a entrada dos livros holandeses em França; somente a autoridade
de Chapelain o dissuade disso, demonstrando-lhe que, entre esses livros,
há alguns muito bons, sem os quais os eruditos não poderiam trabalhar. Ao finalizar este estudo, tentemos fazer um balanço, avaliar o cami-
Enquanto a edição francesa, aliás em condições económicas difíceis, nho percorrido, assinalar, assim, o que a tipografia trouxe aos homens do
se e.nfraquece, contra,factores e editores de livros proibidos tiram partido do final do século xv e início do século XVI. E, para tal, ao estudar a produção
vaZIOassim criado. E fácil introduzir os seus escritos em França, às vezes impressa no século que se seguiu ao do seu aparecimento, esforcemo-nos
até mesmo nas prisões, onde estão detidos os huguenotes. Um pouco por por indicar o papel desempenhado pela nova técnica nas transformações
toda a parte, formam-se redes mais ou menos clandestinas. Frequentemente, que se produziram no período do Renascimento e da Reforma.
são cúmplices os síndicos das corporações, encarregados de vigiar os
fardos provenientes do estrangeiro. Na prática, apenas se mostram seve-
ros quando obrigados a isso. E como impedir, sobretudo nesta época, o I. DO MANUSCRITO AO LIVRO IMPRESSO
contrabando dos livros, objectos pequenos e fáceis de esconder? Por isso,
o principal resultado dos rigores da censura real, no século XVIII, é favo- Durante os séculos que precederam a imprensa, aqueles que se
recer, ao redor da França, perto das fronteiras, a criação de uma rede de encarregavam de reproduzir livros à mão, tinham sabido, como vimos,
tipografias onde, sem perigo, se editam contrafacções e livros proibidos. adaptar a sua produção de modo a corresponder às novas necessidades. Na
E aí que são impressas as principais obras dos filósofos. E o chanceler primeira metade do século XV, existiam sem dúvida oficinas um pouco
chega a ter a desagradável surpresa de verificar que o seu cocheiro intro- por toda a parte, onde se recopiavam às dezenas, senão às centenas, os
duz, do interior da sua própria carruagem, livros perniciosos em Paris. manuscritos mais procurados: livros de horas ou de piedade e obras de
Em breve, com Malesherbes, as autoridades encarregadas da censura ensino elementar. De tal modo que, no início, os contemporâneos de
tentarão suavizar os regulamentos por meio de autorizações tácitas e Gutenberg talvez não tenham podido ver na reprodução mecânica dos
outro tipo de tolerâncias: prova do fracasso da censura, tal como, então, textos mais do que uma cómoda inovação técnica, útil sobretudo para a
era entendida.
multiplicação dos textos mais correntes.
Mas logo se revelaram as possibilidades que o novo processo ofcrc-
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322 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO LJ

bastarão para mostrar a amplitude deste movimento: chegaram até nós de *


30 000 a 35 000 impressões diferentes, executadas entre 1450 e 1500, * *
representando cerca de 10 000 a 15 000 textos diferentes. Muitas mais,
talvez, se levarmos em conta impressões desaparecidas. Admitindo uma Em primeiro lugar, alguns números fornecem indicações gerais: na
tiragem média de 500, contamos uns vinte milhões de exemplares impres- massa dos livros impressos antes de 1500, que se convencionou apelidar
sos antes de 15003-13. Número impressionante, mesmo aos olhos de hoje, e de incunábulos, existe uma enorme proporção de livros em latim: 77% do
tanto mais impressionante quanto a Europa, não o esqueçamos, era muito total, aproximadamente; depois, uns 7% de livros em italiano, 5 a 6% de
menos povoada do que na nossa época: menos de cem milhões de habi- livros em alemão, 4 a 5% em francês, e um pouco mais de 1% em fla-
tantes, com toda a certeza, nos países em que a tipografia se tinha difun- mengo.
dido, e, entre estes habitantes, uma minoria de pessoas que sabiam ler. Entre essas obras, predominam evidentemente os textos religiosos:
Transformação, sim, e relativamente rápida. Qual vai ser o resul- cerca de 45% do total. Depois, os livros de carácter literário, clássicos,
tado? Que livros, doravante impressos, vai o público solicitar aos impres- medievais e coevos: um pouco mais de 30%; vêm, em seguida, os livros
sores e aos livreiros? Em que medida irá a imprensa garantir maior de direito (um pouco mais de 10%) e os livros de carácter científico (cerca
difusão aos textos medievais tradicionais? Que reterá da herança da Idade de 10%)344.
Média? Ao provocar uma ruptura no material usado para o trabalho inte- Portanto, uma maioria, ou quase, de textos religiosos e, naturalmente,
lectual, não vai a imprensa favorecer o progresso de uma literatura nova? um grande número de edições da Sagrada Escritura. Na verdade, que outra
Ou, pelo contrário, ao multiplicar, no início pelo menos, uma imensidão publicação podia, então, parecer mais rendível aos livreiros do que esta,
de textos medievais tradicionais, não lhes vai assegurar, por alguns especialmente numa época em que a maioria dos leitores eram clérigos?
decénios, uma sobrevivência inesperada, como escreveu Michelet? Tais Não é, com certeza, por acaso que, entre as primeiras grandes realizações da
são as questões a que convém responder agora. imprensa se encontram duas Bíblias, a de 42 e a de 36 linhas. Durante todo
Em primeiro lugar, um facto que importa não perder de vista: desde o século xv, são inúmeras as edições da Bíblia. Só Hain conta 109 Bíblias
o princípio, impressores e livreiros trabalham essencialmente com fins latinas; Copinger, 124, com ou sem comentários e glosas de Walafridus
lucrativos. A história de Fust e Schoeffer bem o demonstra. Tal como os Strabo, de Rábano Mauro, de Alcuíno, ou ainda de Anselmo de Laon.
editores actuais, os livreiros do século xv só aceitam financiar a impressão Além disso, ao lado destas edições latinas, destinadas sobretudo aos cléri-
de um livro se estiverem persuadidos de poderem vender um número sufi- gos e aos estudos universitários, figuram as traduções tradicionais da
ciente de exemplares em prazo razoável. Não é de admirar, por isso, que Bíblia integral: 11 .em alemão, 3 em baixo-alemão, 4 em italiano, uma em
o aparecimento da tipografia tenha por efeito quase imediato difundir francês, outras em espanhol, flamengo ou checo, sem contar com as
ainda mais os textos que já tinham conhecido grande êxito enquanto traduções parciais, ainda mais numerosas, em particular do Apocalipse,
manuscritos, e muitas vezes mergulhar os outros no esquecimento. dos Salmos ou do Livro de Job345•
Multiplicando esses textos às centenas e, de seguida, aos milhares de
exemplares, a imprensa realizou, assim, uma obra de amplificação e, ao
«La Civilisation écrite», in Encyclopédie française, t. XVIII, Paris, 1939; STEELE,
mesmo tempo, de selecção. Isto vai ajudar-nos a compreender melhor a ].14

R., «Whal fifteenth century books are about», in Library, new series, v, 1903-1907;
natureza da produção impressa do século xv.
I'/,(' Reformation printed books. A study in statistical and applied bibliagraphy, Nova
lorl]u"I(-.)'\5.
'" ('OPIN(;ER, W. A., Incunabula biblica, ar lhe first hal] century of latin Bible,
,., É certo que, nesta avaliação, nada mais pretendemos do que fornecer uma ordem I olHln's. Il{,).' Em npcndicc, o autor cita 437 edições da Bfblia publicadas no século XVI.
de grandeza. De acordo com Vladirnir Loublinsky, a produção situar-se ia mtrc dOI' , Vl'Illl' II' .. IIII\IIiI" 111(;/'.\1/1/11/"(/11/1(1,11. Naturuhncutc, os número que Iorn .ccmos llilS p;'tgi
vinil' milho 's de exemplares; ,I". o que foi ufirmudo na nossa I." cdiçao, in \h/ll/li/.. 1.\101li 1I.t qu I l' 'IIl'1I1 H'IIt,,,los dI' dIVl''',I\ luhho 'Ialt,l' SolOdildo, ill1l'lIi" a tuulo uulu ,I

/11'''01'0' /1.111111"', Mowovu, lI) (). N" I 11" 1111 ,1", .,11 ,,111111
324 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO 325

Paralelamente aos textos sagrados, e infinitamente mais numerosos, de João Balbi, o Mammetractus de João Marchesini, ou ainda a História
os livros indispensáveis para a celebração do culto e as preces dos cléri- escolástica, de Pedro Comestor.
gos e dos leigos são impossíveis de enumerar com rigor, pois é neste Com uma audiência muito mais ampla do que os grandes textos
domínio que se verifica a maior proporção de edições desaparecidas. Em teológicos, eis igualmente os livros de piedade e, entre eles, em especial,
todo o caso, uma enorme quantidade de breviários e de missais: não é, os escritos místicos, que representam, sozinhos, mais de um sexto da pro-
aliás, para imprimir destas obras que, com muita frequência, um tipógrafo dução impressa. A Imitação de Jesus Cristo inicia uma carreira que faz
é chamado por membros do clero a uma cidade onde nenhum prelo fun- dela, até uma época recente, e a par da Bíblia, a obra mais vezes impressa
cionava*? E, mais ainda, livros de horas, onde os leigos, grandes senho- até aos nossos dias. Dos Padres da Igreja imprimem-se mais facilmente os
res ou burgueses, encontram o texto das orações do dia a dia. Os livros de escritos de carácter místico do que as obras doutrinais: antes de mais,
horas que, desde o tempo dos manuscritos, eram objecto de cópias e de A Cidade de Deus de Santo Agostinho, e obras que, ao tempo, lhe eram
iluminuras em séries, a partir do século xv, e mais ainda no século XVI, atribuídas, como as Meditações, os Solilóquios, as Conversas da Alma
como veremos, absorvem a actividade de um grande número de prelos. com Deus e o Manual; de São Bernardo imprimem-se, com frequência
Muito menor, evidentemente, é o número das impressões dos gran- também, as obras místicas, misturadas com numerosos textos apócrifos;
des «clássicos» da filosofia e da teologia medieval, que se destinam uni- de São Boaventura, as Meditationes vitae Christi e a série de obras deste
género, tradicionalmente atribuídas ao «Doutor Seráfico». Do mesmo
camente a um público bem mais restrito; este público, o dos mestres e
modo, com maior frequência também do que as suas obras doutrinais,
estudantes das universidades, é, contudo, relativamente importante: vários
imprimem-se e reimprimem-se os pequenos tratados místicos de Gerson e
milhares de estudantes em Paris, e até mesmo em Colónia, por exemplo;
de Pierre d' Ail1y,e os livros deste género. Ao mesmo tempo, multiplicam-se
é para eles que os editores empreendem a edição das obras que figuram no
as edições das Fioretti de São Francisco de Assis, do Livro da Divina
programa e das que constituem os instrumentos de trabalho indispen-
Providência de Catarina de Siena, ou as Revelações de Santa Brígida da
sáveis para os estudos: além da Bíblia, claro está, e do material necessário
Suécia, sem contar com os escritos, mais procurados ainda, de certos
para a explicação das Escrituras, as Sentenças de Pedro Lombardo e, mais
autores espirituais germânicos que tantas gerações influenciaram: por
ainda, os seus grandes comentadores, Escoto, Occam, Buridan e São
exemplo, o Speculum Perfectiones de Henrique de Herp, o Horologium
Tomás. Facto sintomático: estes editores estão estabelecidos, não tanto
aeternae Sapientiae de Henrique Suso, e muitos outros ainda.
nos grandes centros universitários, mas nas grandes cidades mercantis,
Se estes textos alcançam tamanho êxito é, provavelmente, porque se
Basileia, Veneza ou Nuremberga, de onde podem expedir facilmente para destinam não apenas aos licenciados das universidades mas também aos
toda a Europa os pesados tratados que acabam de imprimir, o que Ihes simples clérigos, e mesmo a leigos piedosos, em intenção dos quais se
permite venderem mais facilmente as edições que deles fazem. É assim publicam edições em lingua vulgar. No entanto, muitas obras espe-
que, das dezasseis edições das Sentenças de Pedro Lombardo, que se cialmente destinadas aos clérigos são objecto de elevado número de
publicaram antes de 1500, oito, pelo menos, apareceram em Basileia, sete edições. Para os sacerdotes, tratados de título revelador: a Epistola de mis-
das quais da oficina de Kessler, e nenhuma em Paris, sede da maior uni- eria curatorum (25 edições citadas por Peddie) ou o Manipulus curatorum
versidade daquele tempo. Da mesma maneira, Aristóteles é especialmente de Guido de Montrocher, de título não menos revelador, impresso uma
editado em Veneza, Augsburgo, Colónia e Leipzig. Todavia, enquanto centena de vezes (98 edições levantadas por Peddie). Também se multi-
alguns destes grandes textos apenas são objecto de um número restrito de plicam obras de carácter utilitário destinadas aos eclesiásticos: colec-
edições, as compilações medievais (elaboradas frequentemente como léxi- tâneas de sermões, já largamente difundidos em manuscritos, e guias do
cos ou dicionários) obtêm ainda maior êxito; por exemplo, o Catholicon confessor: por exemplo, o Confessionale vulgarmente atribuído a Santo
Antonino, várias centenas de vezes impresso, o Modus confitendi de
Andr Es .ohur, que conhece urn êxito análogo, o Quadragesitna!« d
>I< No caso português, sucedeu isso em Braga, onde JOlO Ghcrlinc imprimiu, a n
(irits 'h, o pn uulor quv ilustrava os s 'us s nHO 'S com l'.íl1ulas I l:lli~'m's
Ill'dido do Iln'\'hi~po,o 111'1'1';111';11111 ttmcharcns» dI' 149/1. (N, N,) III OIlII.ld I. pOI I'l'ddil l, e. 111lis nindu, IIS 0111
as de .fOIlO Nl(h I.
326 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO 327

Ao mesmo tempo, surge uma literatura completa, destinada a ali- aparece, as lições do Humanismo italiano começavam a espalhar-se por
mentar a piedade popular. Nesta época, em que se desenvolve o culto de toda a Europa. Um pouco por todo o lado, mas principalmente e, muito
Maria, são impressas e reimpressas múltiplas obras que celebram a vida tempo antes, em Itália, desenvolvia-se a curiosidade pelas coisas da
maravilhosa e as virtudes da mãe de Cristo, como, por exemplo, os Antiguidade e pela língua latina. Sem abandonarem os estudos tradi-
Quodlibeta de Francesco de Insula, ou a Vida de Nossa Senhora de cionais, homens como Guilherme Fichet e João Heynlin, em Paris, ani-
Cornazzano (15 edições, segundo Peddie). Igualmente, no que se refere ao mavam pequenos grupos de pessoas apaixonadas pela bela latinidade;
culto dos santos, basta lembrar o êxito imenso da Lenda dourada de estes homens, como já verificámos, no desejo de disporem de textos cor-
Iacopo da Varaggio (88 edições latinas; 18 francesas, 5 inglesas, 2 alemãs, rectos dos autores antigos, e de os tomarem conhecidos, não hesitavam
2 checas, 13 flamengas, 6 italianas)?", e as inumeráveis Vidas de Santos em estimular o estabelecimento de oficinas tipográficas destinadas a
que, então, aparecem. imprimi-los.
Ao lado destas obras, enfim, tratados religiosos e de moral prática, Neste domínio, o papel essencial da imprensa foi, até aos últimos
frequentemente herdeiros da tradição xilográfica, e amiúde ilustrados: a anos do século xv, não tanto o de difundir textos recentemente encontra-
Arte de bem morrer (Ars moriendi) em todas as línguas, a Vita Antichristi, dos ou corrigidos pelos humanistas, quanto o de tornar conhecidos, mul-
a Vila Christi de Ludolfo Cartusiano*, as Bíblias moralizadas e as inúmeras tiplicando-os, os escritos pelos quais os homens da Idade Média entravam
obras deste género. Perante uma tal quantidade, deve concluir-se que um tradicionalmente em contacto com as letras clássicas.
dos primeiros efeitos da imprensa foi o de multiplicar as obras de piedade Observaremos, inicialmente, a multiplicação pela imprensa, em
popular e atestar a profundidade do sentimento religioso na segunda número enorme, dos textos de iniciação gramatical, e, antes de mais, do
metade do século xv. Doutrinal de Alexandre de Villedieu, e do De octo partibus linguae lati-
nae de Donato. Chegaram até nós mais de 300 edições do Doutrinal de
* Alexandre de Villedieu: obra de um gramático do século XIII que, desde
* * essa época, servira gerações de estudantes; obra medieval escrita em ver-
sos leoninos, cujo texto era de tal modo respeitado que os continuadores
Tornar a Bíblia directamente acessível a um maior número de e os sucessores de Alexandre de Villedieu não se atreveram a modificar, e
leitores, não somente em latim, mas também nas línguas vulgares, fornecer limitaram-se a acrescentar-Ihes glosas e comentários: obra de que os
aos estudantes e aos doutores das universidades os grandes tratados do humanistas escarneceram muitas vezes, mas que Josse Bade considerava
arsenal escolástico tradicional, multiplicar, para além dos livros de uso, suficientemente útil para editá-Ia com aditamentos, e que Erasmo, por seu
especialmente os breviários e os livros de horas necessários para a cele- lado, classificava entre as obras «suportáveis». E, sem dúvida, impresso
bração das cerimónias litúrgicas e a reza diária, as obras de mística e os tantas vezes quanto o Doutrinal, refira-se o Donato, que foi talvez, lem-
livros de piedade popular, tornar sobretudo a leitura dessas obras mais bremo-lo, o primeiro livro impresso: obra também inteiramente tradi-
facilmente acessível a um público muito vasto, tal foi, assim, uma das cional de um gramático do século IV, mestre de São Jerónimo, cujo
principais tarefas da tipografia no seu começo. estudo, até 1366, tinha figurado no programa da licenciatura e pela qual
A imprensa contribuiu também para o conhecimento mais exacto da todos os estudantes da Idade Média tinham aprendido os rudimentos*.
língua latina e dos autores da Antiguidade. No momento em que a tipografia Acrescentemos que, ao mesmo tempo, os clássicos latinos com
maior êxito continuam a ser, com certeza, aqueles que, na Idade Média,

346 PELLECHET, M., «Jacques de Voragine. Liste des éditions de ses ouvrages publiées

au xv« siêcle», in Revue des bibliotheques, Abril de 1895. 1':111 PllIlII .(\1, () uumnti 'U medieval mais 'sI lidado na universidade. '11l fins do
* Impressa em português (4 tomos) na oficina lisboeta de Valeruim Fcruund 'S ~
l'llllu V, 111I 111011\ dl'!'a 111111.1, II'lU 11IIIIIIill M' 1I11)lIIlIIlIlI'IIII.I\holl, pclu )l11l1ll1l.1 vvr,
Nuoluu di' SaXllI\I:t, 1'111 14<)'; (N U)
1111 111)/ 1101 1111111\,1111 V,I" 111111\ I 111111111 (N I( )
O LIVRO, ESSE FERMENTO 329
328 o APARECIMENTO DO LIVRO

tinham sido objecto do maior número de adaptações e de traduções em


língua vulgar. Entre eles, particularmente, os pais dos inumeráveis
«Ysopet-Catonet», inspiradores de tantos textos medievais, Esopo e Catão.
qf\m<fiS'
É nas obras destes dois autores que a maior parte dos estudantes se inicia
til!» a~. "OI1.u tlI!e !,fÍI"\C tlItlI! aU. I»'rth'í!' },.t;. ",,_.m !.,p~:1h",~nln (,tpú.ft d.I'VII
na leitura dos clássicos latinos, depois de ter concluído o estudo da lógica ftbnt ma: abams en 'W'3::r mCi:t g('uon~n "Tt1 4'.11mvn. ~I,p(cl)< I>!r. ","'t
lJ'Momtt.i m:ltil
lJ"lp. "'''gb<lp,J<·t>al1lmb got ~11 ere ranho t\q U'ant rc ia gh:-nomclt "3" an man", vmb~
e antes de penetrar nas ciências morais. O conhecimento da obra de Catão, einen ilacp in abam • <f
r.h- b:t tp putftapcn blle bingb.lttl) b".m.n ea l>!t .nl>c mooM
,.,as bo "3m"" em ean fit1t" ébben ~nb: «r-1 tnb:: ~t anbansJ,m ãnen wÍ'Uc:· cnt» fuU,"
em 1503, é ainda considerado tão importante que o reitor da Universidade "u(to> ..topo.", runl>!'got I>! 1)0••• I>! m'~th> tn-t fi" in ernen ""It),fct)c: ~rUtthtt fi: ll'.,an t.,
bI àbl>!,1>! I)r ".1> gl)mo<tn<n .an abam in ri tr ".ktt :Abam,rnb! fin l]uirFi»uw ••• ntll fc~
de Paris se indigna ao ver novos licenciados ignorá-lo, em proveito de "',j!f .tll>! bl:lcl) ••• "I» ab:i· ••• tlo abam (1'",1\, CIl fdjtJtitbznfie9 md:

Aristóteles. Se ignoram estes Dístieos, de que Erasmo publicará uma


edição glosada, não é, no entanto, por falta de edições impressas: até 1500,
na verdade, conhecem-se menos de 69 em latim, 36 em alemão e latim,
9 (talo-latinas, 2 hispano-latinas, sem contar com as edições em simples lín-
gua vulgar: uma em flamengo, nove em francês, 3 em alemão. Quanto às
Fábulas de Esopo, não conhecem voga menor: antes de 1500, mais de
80 edições latinas (na maior parte impressas em Itália), 15 [talo-latinas,
I grega e 1 greco-Iatina, 15 em alemão e em baixo-alemão, 7 francesas,
1 checa, 3 inglesas e 2 flamengas, estas últimas ilustradas na maior parte,
e, sem dúvida, destinadas a um público burguês.
Assim, no momento em que surge a tipografia, a iniciação aos estu-
dos latinos faz-se pelos textos mais tradicionais, e são estes que os prelos
começam a multiplicar: Esopo, Catão, mas também, por exemplo, os «J1b.t tIIrtll <Capir"'U -"'0
to. flangl)e ~uon .rnh: llo fc fi,., b.ltalll>cn b.t r. naktt " •••.• n.
'Wt>Q:)d) tilb:: flua aêam tnb \rtbcuff rc:got" llo Ioonbrit,r. fit" lO(iUtItt1 b".louft tlo. ~gm .
Auetores oeto, pequena obra de uso constante nas escolas, que as oficinas ••rt ben p.r.tb)'1ê entlo ••••••• r.t>r.bt b". •• til,
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leme.!tl>c maltotlonlicb
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g.bo.,.t l>cfivm#
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de copistas produziam já às centenas, como verificámos, e que contém, uC!nt>pg'tt cnI'atu.C'mt ~ ft~n ~ gct fil>cnl>cBp'I:I~"rcS cúrr"'fI1 ru!ltn ml>c
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para além dos Dístieos de Catão e das Fábulas de Esopo, textos ainda • l>c.",.. ".btl! gb<m.lttt
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tl.mrbb.S"ofil>cn .,o~<barcl]
tnh: fin I)uifl'ron •••• ín b.t mv~aolao.
fiel] !fIb.m
rara~,
boi r.s~.an!>rn .~gl)oficb ••• tl!9 b •••• , gal>cG·mtll
mais medievais: Theodolus, Facetus, Floretus, o Tobias de Mateus de bAt gI)P mil: •••••••• ean eitten pS;."rp,ki
,ft ~s parabrfu !bat ltll(f ãf~bo> lIl'P tR'R tl0t b)'. /jc •• a." àbam .n!>: fFracl\ tc. •••••"'''''
"a" t.r l't'Oc!)t trio 1)01•••.• b)'. bOf liri ín l>cm b)'1tu.,,, Ij>t>cI<l)oN ícl\'bOftl>c~in If"mm. in
Vendôme, as Parábolas de Alain de Lille, e um tratado de versos rimados, ~.n~ -ean 1»•• ",d)t tlo9 1701••• bat ba. i•• bI" parab)'f. -mbi ído. •••• I~h: mp ~a"'ltlb
in ~ nl)Ot>tloUt>r.l'.rab)'fosl]clh mo got f1C .I>at ilr. "a'u' \tOa.tnh: ",,1)Ml>!lo mr $ob ~
o De eontemptu mundi. É a época ainda em que o De eonsolatione i;Jabm bat U'j1 ~at' ean m« ~wnofF rucun""p "... fPaclr.l» én..". b<fft bp g.ra,!)t bJt bu

philosophiae de Boécio se cobre de imensa fama (mais de 70 reedições, I>at _nitt." fi",uon El1tlo l>c n.nH"
Ij>ra.ck iI•••.1t ••• rell: ban ,UfI'n. b.rm b.ll'n gl)o ••••
to ~ lS'ÍlIr gtin'(r Wp9 e " eeeee 9'l' rlmli ~. ".,~" l>cn I,olt>: I>at íck b" ~.""et m<t 10 .flo••
llotri "'.nt g'ot b)'. ", •• t an i..tI",n bago Gl' • .rnh:l'b.m'fj>",dt bae ",~ff bartu m" g.g."
antes de 1500), porque, aos olhos da grande maioria dos estudiosos dos __~n ":ln tmf:,u'tPtogttl tDtrben~P9',~an tr.t2 'U'" lJofl'n 10 e ein •• gl).r.Uinll.n ti! !Jl'fl' mV
g".....,h:t arro~g.!>r ••••••• nl>c:bat gu.l>c.n '.,~n bon bolt>:.n icl\ .t".iJl. b< fj>""J< mo l>cn
finais do século xv, assim como aos olhos dos seus predecessores, havia l>o qua~·bà.umb bo bat ",iifl' faci)· bar I)olt "alO •"' •••• e.,....nu
mm bat 9"'b •• n~ ~,,'
,bar <t guit ""0 10 fIIOn.nl>c "I)oon ~n ogtn ~n~",trll>cRangl)o ".Ift m" wbr.igb en- on"
séculos, Boécio representa o traço de união entre a Antiguidade e o pen- •• h: f1Cno"."r"cI\ aen I» fi.n ~p narn ~'n fin ,ti!.cI\atl) ••• trgot l>cl) ••.• rpntck 10 ao.rtã~
11 "cocbt ente ar cn~ gaff t» eu" manne •. W .lbatUmbbatIU ",!fI< 91].b.n t<r. bingl)f"tu
samento medieval. aUntllll""l:on •• re,bcj>l:ot ogll.n \'Fill).l>a", lipA: *"Ioklt "nl>ct ••UnI' r.u.nl>,,~ ,,,,.m""

* Bfblia em alemão, Colónia, H. Quendell, cerca de 1478, in-fólio: Adão


e Eva.
* *
A bem dizer, aprende-se, então, a conhecer a bela língua latina, antes
timais, p 'Ia I eitura dos Padres dos primeiros s 'culos (. ao J 'rúnitllo,
Lucl:lnrio. c, l'slll'l'ialllllllll'. Sanlo A 'ostillho. os quuis, lidvll l'lIl (lWll
330 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO 331

por essa razão, conhecem ampla voga) e, depois, pela leitura dos clássicos cristãos não podiam ser totalmente negligenciados, pois era deles que os
latinos que a Idade Média melhor conhecera, copiara, traduzira e adaptara. autores das gramáticas medievais ainda utilizadas escolhiam habitual-
Entre os autores da Antiguidade que se editam mais frequentemente, antes mente os exemplos. Tais parecem ser as razões que estiveram na origem
de 1500, Virgílio, em especial, é objecto de uma enorme quantidade de da edição de muitos poetas cristãos que, então, se fez um esforço rara
edições impressas, amiudadas vezes publicadas na Itália para uso dos ressuscitar: Juvencus, Prudência, Sedulius ou Arator, de modo a I"al, 'r
letrados, e também de traduções em língua vulgar. O mesmo se passa com esquecer Virgílio, ou ainda o De amicitia christiana de Pedra de Blois,
Ovídio, também um clássico da Idade Média, do qual a tipografia, con- que se punha em paralelo com o De amicitia de Cícero. Tentativas que, no
tinuando a obra dos copistas, multiplicará não apenas as edições eruditas seu conjunto, fracassaram, mas que, em todo o caso, tiveram o condão de
mas igualmente as traduções versificadas e as adaptações ilustradas, nos dar vida nova a certos escritores, graças à tipografia. Simultaneamente, e
séculos XVI e XVII. com maior êxito, autores contemporâneos, admiradores das letras antigas,
Ao lado destes dois poetas, citemos ainda Juvenal (61 edições das procuram fornecer textos cristãos de boa latinidade aos estudantes: é o
Sátiras reportoriadas por Hain), assim como Pérsio (33), Luciano (19), caso de Baptista Mantuano (1448-1516), cujas poesias - e, em particular,
Plauto (13) e, mais ainda, Terêncio, que a Idade Media privilegiara par- as Parthenicae e as Bucólicas - foram editadas mais de cem vezes, só
ticularmente e cujas comédias tinham sido tantas vezes imitadas nos entre 1488 e 1500, e cujo êxito deveria prolongar-se durante muito tempo,
séculos XII e XIII (67 edições). Entre os historiadores, por fim, mencionemos no século XVI. Por outro lado, se a obra dos humanistas italianos, fora de
Salústio (57 entradas em Hain), Tito Lívio, inúmeras vezes resumido e Itália, ainda não alcança um público alargado; se os autores de que se exu-
adaptado na Idade Média (23 edições em Hain, sem contar com os mam as obras, como Tácito, são apenas conhecidos de um público restrito;
resumos), além de Vegécio (99 edições, segundo Hain), César (16 edições se é preciso esperar mesmo pelos derradeiros anos do século XV e pelo
no Gesamtkatalog) e muitos outros. início do século XVI para se multiplicarem as edições corrigidas pelos
Entre os filósofos, Séneca obtém sempre grande êxito (71 edições filólogos e aparecerem numerosas edições de Homero ou de Platão, os
recensionadas por Hain). No entanto, nesta produção, o que talvez mais modelos de latinidade compostos por humanistas começam a conhecer
testemunhe um espírito novo é a imensa popularidade das obras de Cícero, um grande êxito: particularmente, os escritos de Andrelini ou Beroaldo, de
o clássico mais impresso do século XV (não somente os seus escritos Filelfo ou Gasparino de Bérgamo, cuja Retórica foi, lembremo-Ia, a pri-
filosóficos mas também as suas peças oratórias e, sobretudo, epistolares). meira obra impressa em Paris. Tais são os indícios de uma mudança de
No total, antes de 1500, saem dos prelos nada menos que 316 edições espírito que só dará frutos no início do século XVI.
suas, a maior parte publicada na Itália, mas muitas também na Alemanha
e, especialmente, em França. Também houve numerosas edições dos seus *
escritos filosóficos: 40 edições do De officiis, do De senectute, do De amici- * *
tia, entre as suas principais obras, mas também 38 dos seus diferentes dis-
Comparativamente às obras escritas em latim, os textos em língua
cursos e, sobretudo, mais ainda, 84 das suas Cartas e, em particular, das
vulgar que se imprimiam constituem, como indicámos, tão-só uma mino-
Epistolae ad familiares. ria: cerca de 22% da produção total dos prelos do século xv. Muitos
Como se sabe, este regresso às letras antigas, já muito nítido na destes textos, a maior parte sem dúvida, eram traduções de obras latinas,
Itália, não deixava de inquietar alguns espíritos, mesmo entre aqueles que de livros de piedade e de moral, textos sagrados, clássicos latinos também,
admitiam a necessidade de se voltar a uma melhor latinidade. O huma- ou ainda obras literárias medievais escritas originariamente em latim. No
nismo, na Itália, tinha introduzido o paganismo nas escolas. E, contudo, conjunto dos livros que se imprimem, as obras escritas directamente em
não havia autores cristãos que tinham escrito hexâmetros comparáveis aos língua vuluar são, de início, bem pouco numerosas. Algumas destas obras,
de Virgílio, oradores cristãos tão eloquentes quanto íccro? Era este, s m 110 .ntunto, conse iu '111 grande audiência, especialmente na Itália. Dante é
dúvida, o r nsarncnto de um Dominici, '111 Ftorcnça, d um Wimpfclin " hdn l' u-lulo (I l du,'o s onh .cidas da Divina Comédia). Boccacio não lhe
lia Alsal ia,l'lIk dl'UIIII oherto (,a ruiu, m Puris. Mais aillda,l'sll s nutuu S ' Illól illli! 1 II /)t'lIIIIIII'11I1/1 puhlundu cut nunu-roxasIradw;Ill's (l l cdiçoe»
332 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO
333

em italiano, duas em alemão, uma em francês, uma em espanhol). As obras


de Leonardo Bruni, assim como o Canzionere de Petrarca são igualmente
objecto de múltiplas edições e traduções.
Em França, entretanto, dão-se ao prelo as obras da literatura cortês e
as que os escritores da roda dos duques de Borgonha tinham composto.
O Roman de la Rose, de que se conhecem 8 edições aparecidas no século xv,
atinge uma popularidade que não será desmentida no século XVI. Imprime-se
também o Champion des dames, de Martinho Le Franc; entre os escritos
da corte, o Doctrinal de la Court, de Pedro Michault, e o Abuzé en cour,
geralmente atribuído ao rei René, a Melusina, de João d' Arras, o Procês
de Bélial e também, naturalmente, as obras de Cristina de Pisano e de Alain
Chartier. No fim do século, confirma-se o grande êxito das Lunettes des
princes, de Meschinot, do Chasteau de labour, de Gringore, dos Testaments
de Villon e do Mystêre de la Passion, de Jean Michel.
Algumas destas obras parece terem sido impressas não mais do que
uma ou duas vezes. Juntamente com o Roman de ia Rose, os mais pro-
curados terão sido o Bélial, o Abuze en cour, assim como as obras de Alain
Chartier, de Gringore, de Meschinot, de Villon. Entretanto, começa-se
muito cedo a imprimir outra categoria de obras de êxito garantido: as
novelas de cavalaria - particularmente aqueles que celebram os feitos
mais ou menos lendários dos heróis da Idade Média: Ferrabrás, por vezes
intitulado A Conquista do Grande Carlos Magno, impresso treze vezes
em francês e duas vezes em italiano; os Feitos e gestas de Godofredo de
Bulhão, uma vez em francês, uma em inglês, uma em alemão, duas em
flamengo. E, também, o Merlim, o Pedro da Provença, o Roberto Diabo, Jtõment iiU(o" »oit a (O,) aouisfc&
o Lancelote, o Tristão, e muitos outros ainda, aos quais convém acrescen-
tar, embora se trate de traduções ou de adaptações de textos latinos, as
6etfe ~eRurmiecefo}' CõpfRisxnant.
inúmeras composições sobre a história de Tróia: particularmente, as
traduções da Historia destructionis Troiae, tanto quanto certas obras como aSuis melf queiop regrettet
Mer des histoires, de que adiante se tratará. lR 6efCequif!;t 6cau(miere
Entre as obras mais largamente apreciadas, eis ainda as inúmeras ,êopieune (alte rou~Ri,tet:
narrativas morais ou moralizadoras, às vezes de inspiração piedosa, outras et parta ti) ceife mattícre
de veia gaulesa, como as Cent nouvelles nouvelles, compostas por escritores ~a iliefrefTe feton»e et fíere
da corte, ou escritos populares, antepassados dos pequenos livros góticos pour quop ItHtG ft toll a6atue
do século XVI. Obras mal conhecidas, com frequência desaparecidas,
abundantes, ao que parece, nas lojas dos livreiros, e muito mal represen-
~ui me tíent quí:que ne me fiere
tadas, pelo contrário, nas estantes das nossas bibliotecas: é o caso, por ~t qu e Rce coup íene me tue
exemplo, de numerosos tratados que expõem, em tons diversos, as alegrias
c tristezas do casamento - desde as Quinzejoies de mariage, atribuídas a VII I ON, I,,' GI'IIIII /1'.1'111I111'111, Paris, P Lcvct, 1489, in-4.o,

Antônio de Lu Sall " ar ao Doctrinal desfilles II/orilfes i o Doctrinal dcs


1/0//\','(1//\ l li' muitos casos Il'plt los (Il 'ollsl'lllos
111111;,',1, muis S(lÍos do
334 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSE FERMENTO
335

que poderiam deixar supor os seus títulos. Obras que raramente chegaram consulta das obras de Aristóteles, o Segredo dos segredos - colecção de
até nós mas que deviam figurar nas bibliotecas onde se encontrassem as fórmulas atribuída erradamente quer a Aristóteles quer a Alberto, o
Faintises du Monde, atribuídas a Guilherme Alexis, farsas como Pathelin,
Grande, copiada vezes sem conta - é objecto de múltiplas impressões, e
as Artes de morrer, os Calendários dos pastores, os almanaques, assim como
preferem-se quase sempre escritos deste género às obras que, aos olhos de
os calendários impressos de um só lado e as poesias populares ilustradas
hoje, apresentam verdadeiro interesse científico. É certo que numerosos
que se colocavam na parede. De todas essas obras houve, certamente,
escritos contemporâneos, então impressos, constituem cerca de 57% dos
numerosas impressões, sobretudo na Alemanha?", desde o século xv.
incunábulos científicos (255 textos italianos, 124 alemães, 46 franceses,
44 espanhóis e portugueses*, 26 dos Países Baixos, 21 ingleses e escoce-
* ses). Mas, neste campo, em que o tempo não realizou a sua obra de
* * ~elec.ção, o medíocre é nota dominante. Se o número dos autores que se
Também no domínio científico não houve progresso imediato'". imprimem aumenta de ano para ano, a maior parte dos escritos não é
Uma parte importante da produção impressa - aproximadamente um muito interessante no ponto de vista científico. Predomina a astrologia
décimo, ou seja, umas 3000 impressões - era, no entanto, constituída por prática. Nestas condições, não é de admirar que a narrativa das viagens de
textos que podemos qualificar de «científicos». Resta saber quais. É sempre Marco Pólo, o texto geográfico mais interessante da Idade Média, tenha
nas grandes compilações medievais que se procura a enciclopédia de sido reimpresso somente quatro vezes, antes de 1500**, e suscite interesse
todos os conhecimentos. Assim o testemunha o êxito inaudito que obtém bem menor do que as mentiras contidas na colecção das viagens de
ainda, ao longo dos cinquenta anos que se seguem ao aparecimento da Mandeville: portanto, carência total de espírito crítico, pelo menos a nosso
imprensa, o Speculum mundi, enorme enciclopédia formada por quatro ver. Mas, afinal de contas, não é assim em todas as épocas? Nao é de
partes, cada uma das quais trata de um dos grandes domínios do conheci- espantar que o mesmo aconteça também em relação às ciências matemáticas.
mento (Espelho doutrinal, Espelho histórico, Espelho da natureza, Imprimem-se muitas obras de matemática, desde cedo: em Treviso, desde
Espelho moral), e cujas três primeiras partes são obra do preceptor dos filhos 1478; em Veneza, em 1484; em Barcelona, em 1482. No entanto, o mais
de São Luís, o dominicano Vicente de Beauvais, falecido dois séculos original tratado de aritmética e álgebra da segunda metade do século xv,
antes, em 1264. No campo das coisas da natureza, ainda se lêem e relêem o Triparty de Nicolau Chuquet (1484), permanece manuscrito. Mais
as obras dos compiladores do século XIll, por exemplo o De proprietatibus ainda, o primeiro sábio contemporâneo a utilizar a nova arte, o célebre
rerum, de Pedro de Crescens, objecto de múltiplas reimpressões em todas as Regiomontano, matemático e astrónomo, a quem o seu mecenas ofereceu
línguas. Estas compilacões, na verdade, substituem a consulta às obras um prelo e o material necessário para a impressão de textos científicos,
dos grandes autores e são procuradas pelas mesmas razões de comodidade apenas edita uma parte das suas obras. A grande maioria aparecerá postu-
que levam os teólogos de então a recorrerem de preferência a dicionários, mamente, e a sua Trigonometria, o primeiro tratado ocidental de
léxicos ou compêndios, em vez dos textos originais. Enfim, entre os mestres lrigonometria plana e esférica, só será impressa em 1533.
do pensamento científico antigo, editam-se, principalmente, Aristóteles,
Euclides, Plínio, Ptolomeu e, entre os árabes, Avicena.
Mas não são estes grandes textos que a massa dos leitores procura. * Incunábulos portugueses de carácter científico são o Almanaque Perpétuo de
Ao passo que os teólogos preferem o estudo das Auctoritates Aristotelis à Ahraão Zacuto (Lei ria, 1496) e o Regimento proveitoso contra a pestenença (Lisboa, 1495
ou 1496), o prirneiro com tabelas náuticas e o segundo com instruções preventivas sobre
I1 p 'sI '. (N. R.)

347 Para o que precede, ver essencialmente WOLEDGE, B., Bibliographie des ;. ~A xlição portuguesa do Marco Paulo (assim se escrevia então o nome do famoso
romans et nouvelles en prose antérieurs à 1500, Genebra, 1954. viujunu- vcncziuno) c lima dus mais hcl~ls de quantas se imprimiram então. Datada de
li' Sobre a produçao cientfficn do século xv, v 'r, ARTON, G; «Thc Sd '11liltr litcrn 1 ()l. !til I' '1'lIldd,1 ,ol! a dlll'I\'IIO dI' Vulrutim l:l'III:lIHiL's, impressor til' uri rem al'llIa
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336 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO
337

Assim, insignificante papel parece ter representado a imprensa no também de certas formas literárias, como a da maioria das poesias
desenvolvimento dos conhecimentos científicos teóricos. Em contra- rimadas da literatura dos goliardos: só algumas se conservam um pouco
partida, contribuiu para fazer convergir as atenções do grande público por acaso, ao terem sido impressas no final de um livro para preencher
sobre as questões técnicas; muito cedo, com efeito, imprimiram-se obras uma página em branco, por exemplo.
técnicas. Em 1485, aparece o Tratado de Arquitectura de Alberti; em Mas, ao mesmo tempo, ressurgem, às vezes, certos textos esquecidos
1486, o Tratado de Agricultura de Pedro de Crescens; a partir de 1472, o desde há muito, e que, no século XV, parecem novamente despertar inte-
Tratado das Máquinas de VaIturio de Rimini, que é reeditado em 1482 e resse'". Ressurreição, não somente dos textos da Antiguidade que, um
1483, em Verona; em 1483, em Bolonha; em 1493, em Veneza. Indícios século antes, os humanistas italianos procuravam sistematicamente nos
de uma mudança de clima que se anunciava com os múltiplos progressos manuscritos antigos, e que, no século XVI, gozarão de uma popularidade
técnicos realizados no início do século xv, em tantos domínios, e de que de que trataremos mais adiante; ressurreição também de certos textos
a imprensa foi, afinal de contas, o mais espectacular'". medievais que, no século XV, se revelam de uma nova actualidade, ou de
uma renovada utilidade: textos latinos de poetas cristãos são, assim,
* desenterrados, consoante as necessidades (não se negligenciou imprimir,
* * por exemplo, o Anti-Claudianus de Alain de Lille, e a Aurora, de Pedro
de Riga, de que havia numerosos manuscritos). Mas, especialmente,
Estes são os principais aspectos da produção tipográfica durante os escritos místicos do século XII ou do século XIII, que Lefêvre d'Étaples,
quase cinquenta anos que se seguiram ao aparecimento da imprensa. Das entre outros, decide publicar. Entre todos estes escritos que a imprensa
indicações que demos, que conclusões retirar sobre as consequências que multiplica, o tempo fará a sua escolha: muitas obras não voltarão a ser
pôde ter o aparecimento da nova técnica de reprodução dos textos? reimpressas após 1510. Mas também, na selecção que a imprensa opera
Observa-se, em primeiro lugar, que o aparecimento da imprensa não entre 1450 e 1500, há muitas desaparecidas - e desaparecidas ilustres _
provoca nenhuma transformação súbita, e a cultura do tempo, à primeira que, não fora o caso de terem sido reencontradas por um humanista do
vista, nada parece ter mudado com ela, ou, mais precisamente, na sua século XVI ou por algum erudito beneditino dos séculos XVII e XVIII, já só
orientação. Mas, entre tantos manuscritos que formavam a herança da serão ressuscitadas pela filologia contemporânea, no século XIX ou
Idade Média, era impossível imprimir tudo, multiplicar cada texto por século XX. E, entre essas desaparecidas, por exemplo, estão as Cartas de
centenas de exemplares. Impunha-se uma selecção: esta selecção, como Heloísa e de Abelardo, que Petrarca conhecia, mas que só serão impres-
vimos, foi feita por livreiros, antes de mais preocupados em efectuar sas, pela primeira vez, em 1616; a maior parte dos escritos de João Escoto
lucros e vender a sua produção: portanto, procuravam primordialmente as Erígenes e de Rogério Bacon, as Cartas de Loup de Ferriêre e de Gerbert;
obras susceptíveis de interessar ao maior número dos seus contemporâ- as memórias de Ekk:ehart de Saint-Gall, as crónicas e as histórias de
neos. E o aparecimento da imprensa, neste sentido, pode ser tido como um Gervásio de Tilbury, de Mateus Paris, de Guilherme de Malmesbury, ou
passo em direcção ao aparecimento de uma civilização de massa e de ainda, entre muitas outras, as obras de Hildebert de Lavardin e a Canção
padronização. de Rolando. Selecção, pois, mas seleeção feita por homens do século XV,
Há selecção, pois, mas conforme ao gosto da mentalidade do século xv. com os seus gostos e as suas preocupações.
E há desaparecimento sem apelo das obras que se consideram prescritas: Estes gostos, no entanto, não são, no seu conjunto, os que convém
enciclopédias anteriores à de Vicente de Beauvais; muitos tratados qualificar com o termo fácil de «humanistas». Mas quer isto dizer que a
teológicos anteriores às grandes sumas do século XIII. Há desaparecimento imprensa não serviu o movimento humanista? Certamente que não: são

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338 o APARECIMENTO DO LIVRO o LIVRO. ESSE FERMENTO 339

numerosas, como dissemos, as belas edições dos clássicos antigos, em 1640, das quais 10 000, mais ou menos, do século XVI35J. Tudo isto per-
caracteres romanos, divulgadas sobretudo através dos prelos italianos. mite-nos pensar que se poderia elaborar uma lista de 150000 a 200 000
O comércio do livro já está suficientemente bem organizado para que edições diferentes, publicadas entre 1500 e ] 600. Se, para assentar ideias,
estas edições sejam conhecidas em toda a Europa: o tempo dos Aldos for adoptado o número de 1000 como tiragem média, terão sido impres-
aproxima-se e, em breve, o dos seus émulos franceses. Ao mesmo tempo, sos de ] 50 a 200 milhões de exemplares no século XVI. E este último
a imprensa, técnica exacta, vai obrigar os impressores e, em seguida, número não passa de um mínimo, bem inferior, provavelmente, à reali-
todos os ledores a reverem muitas das noções adquiridas: a busca da cor- dade. Certamente que esta produção não poderia ser comparada à dos nos-
recção tipográfica, o desejo de editar os textos do «bom manuscrito», tudo sos dias; somente em França, cerca de 15 000 volumes diferentes, com
isso estimula os estudos filológicos. Por outro lado, enquanto os homens tiragens entre os 5000 e os 10 000 exemplares, na maior parte das vezes,
da Idade Média não se preocupavam em pôr um nome numa obra, os chegam anualmente ao Depósito Legal, sem contar com as brochuras e os
impressores serão naturalmente levados a procurar ou a mandar procurar periódicos, alguns dos quais têm tiragens superiores a 500 000 exem-
o verdadeiro autor das obras que imprimem - às vezes, também, a plares. Mas a produção do século XVI atinge tal dimensão que o livro
inventá-lo, Ainda no século xv, muitas obras são impressas na sua forma impresso se toma, então, acessível a todos quantos sabem ler: ele desem-
medieval, com um nome de autor fictício; mas em breve deixará de ser penha papel essencial na difusão dos textos da Antiguidade Clássica no
assim. Por fim, não esqueçamos, existe a possibilidade de os autores con- início do século e, depois, na propagação das ideias reformistas; ele con-
temporâneos, a partir de então, mandarem imprimir e divulgar as suas tribui para fixar as línguas e favorece o desenvolvimento das literaturas
obras em múltiplos exemplares, de tomar conhecido o seu nome: estímulo nacionais.
precioso e indício também de um tempo novo, aquele em que os artistas
assinarão as suas obras, e os escritores igualmente - em que, pouco a Inicialmente, algumas indicações referentes ao público ledor'", Não é de
pouco, a «profissão de autor» revestirá outra forma. E, bem depressa, espantar, em primeiro lugar, que o número daqueles que procuram constituir uma
perante a onda crescente das novas obras destinadas a um público cada biblioteca aumente durante o século XVI e que a importância destas bibliotecas não
vez mais vasto, a herança da Idade Média vai perder a sua importância. pare de crescer. Os inventários de bibliotecas privadas contidos nos inventários
feitos perante notários, após falecimento, dão-nos, sobre este assunto, preciosas
indicações relativas à França, particularmente no que diz respeito às leituras dos
membros das classes abastadas.
11. O LIVRO E O HUMANISMO
Vejamos alguns números relacionados com os possuidores de bibliotecas,
primeiramente. De umas 377 bibliotecas do fim do século xv e do século XVI, cujo
Por volta de 1500-1510, com efeito, a imprensa ganhou a partida. inventário se conhece, 105 pertencem a eclesiásticos (52 a dignitários da Igreja,
Nas bibliotecas, os livros impressos relegam os manuscritos cada vez arcebispos, bispos, cónegos e abades; 18 a professores e a estudantes universitários;
mais para segundo plano; por volta de 1550, estes são consultados já
quase apenas por eruditos.
Semelhante transformação só se explica pela enorme actividade dos Os números fornecidos para Paris provêm das notas reunidas por RENOUARD,
351

prelos, que multiplicam os textos impressos a um ritmo cada vez mais P., cuja Bibliographie des impressions parisiennes au XVIe siêcle deve começar a ser
rápido: chegaram até nós entre 30 000 e 35 000 edições diferentes, ante- publicada proximamente. Para Lyon, ver BAUDRIER, 1., Bibliographie lyonnaise; para a
riores a 1500, representando entre 15 e 20 milhões de exemplares, como lnglaterra, hort title Catalogue. Para a Alemanha e Veneza, ver BENZING, I.,
Bibliographie, cuja publicação foi anunciada.
indicámos. Mas muito mais ainda no século XVI: para se ter uma ideia,
." Os núm zros que aqui se encontrarão são retirados da tese manuscrita que Nicole
basta lembrar alguns números já mencionados: em Paris, mais de 25 000
llourd 'I defendeu na ~col' li 'S hartcs; agradeço-lhe ter-rue autorizado a rcvclá-los. Ver
edições publicadas no decurso do século xvr: em Lyon, talvez 13 000; na IIIJlIlll'JlI J)()lJ( 'I :T, R.. 1./'.1' Ilihliot"((III(',1 parisicnncs (/11 XVI' siõrl«, Paris, 1956, c
Alemanha, umas 45000; em Vencza, 15000; nos Países Baixos, mais ti, S( '1111'1 /, Â 11 , 1'1'11I11I1I1t" /100,,"1' 111 /111/1,1'11/11 111/1'1111' /1/lI'II/'il',I' ojttu: ,11\1('('//1" ('('//1111 I',
I ()O, na primcir» metade do século; na lu ·lalt'l rn, () O()(),em in !]l'S, !llt C'li lJlI 1 11111. I II It
340 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO 341

35 a curas de paróquia ou a simples padres); maior número ainda a togados: 126, os homens de leis predominam, mas não são os únicos, porquanto alguns ricos bur-
entre os quais 25 a juízes ou a membros de cortes soberanas; 6 a funcionários judi- gueses ou artífices também compram livros. Obras mais modestas são com fre-
ciais; 45 a advogados; 10 a soliciradores; 15 a notários. Como se poderia esperar, a quência difundidas profusamente entre um público muito mais vasto: calendários,
proporção das bibliotecas pertencentes a togados não cessa de aumentar em relação almanaques, vidas de santos, livros de piedade, livros de horas e romances, É a este
às dos eclesiásticos. público que se dirigem os livreiros João Janot (que, em 1522, tem à venda nas suas
lojas cerca de 50 000 exemplares de obras de piedade e livros populares), Royer
(com 102 285 exemplares de livros de horas e de piedade em 1528) ou Guilherme
Togados Eclesiásticos
Godard (com 271 939 exemplares obras do mesmo gênero, em 1545)353.

1480-1500 1 24
54
1501-1550 60 *
1551-1600 71 21
* *
Assim, ao passo que a importância relativa da clientela eclesiástica não deixa Examinando a produção impressa durante os primeiros decénios do
de diminuir, a dos togados, categoria social em plena ascensão, não cessa de crescer. século XVI, verifica-se uma evolução muito nítida em relação ao período
A importância desta última clientela é particularmente impressionante em Paris, precedente: é certo que a quota-parte dos livros religiosos continua a ser
sede de numerosos órgãos do governo e de grandes cortes soberanas, onde a asso-
preponderante (imprimem-se mais livros religiosos do que no século xv),
ciação dos funcionários do Supremo Tribunal - a basoche - comporta 10 000 mem-
mas, no acréscimo geral da produção, a proporção relativa destes livros no
bros. Das 186 bibliotecas inventariadas entre 1500 e 1560, foi possível arrolar 109
pertencentes a juristas e a funcionários da Casa Real, mas somente 29 a clérigos. Em seu conjunto está em nítida regressão; ao mesmo tempo, fica-se impres-
contrapartida, são poucas as bibliotecas de membros da nobreza e de militares, e sionado com a quantidade sempre crescente de textos da Antiguidade que,
estas, geralmente, encontram-se na província (umas trinta das 377). Em compen- então, se publica, Em Estrasburgo, mais de 50% dos livros editados no
sação, encontram-se livros, e, às vezes, em número bastante grande, entre muitos século XV eram de carácter religioso, menos de 10% eram obras de
burgueses, mercadores e mesteirais: na totalidade, 66 das 377 bibliotecas pertencem autores antigos, Entre 1500 e 1520, pelo contrário, 33% dos volumes são
a capelistas, comerciantes de panos, inspectores das vias públicas, curtidores de
obras latinas ou gregas - ou escritos de humanistas -,27% somente ver-
peles, merceeiros, queijeiros, serralheiros, confeiteiros, peleiros, tintureiros, sapa-
sam a religião'". No que se refere a Paris, o quadro seguinte permitirá
teiros ou recoveiros. Naturalmente, todas estas bibliotecas são de importância muito
desigual. Ao lado da enorme colecção do cónego GuiJlaud d' Autun (4000 volumes),
verificar uma evolução análoga'", mas um pouco mais tardia:
bibliotecas há que compreendem apenas algumas obras. A despeito destas diferenças,
Autores latinos
no entanto, verifica-se que o número dos livros conservados nas bibliotecas não
Produção Livros e gregos e obras
deixa de aumentar ao longo do século. As mais antigas, as que começaram a ser for-
total religiosos de humanistas
madas no final do século xv, são em geral muito modestas: cerca de 15 a 20 volu-
mes, entre os quais vários manuscritos. Mas, já em 1529, um rico mercador
1501 88 53 25
parisiense, ao morrer, deixa 170 volumes. Por volta de 1525, deparam-se já grandes
1515 198 105 57
bibliotecas pertencentes a juristas e a oficiais da corte. Filipe Pot, alto magistrado do 116
1525 56 37
Supremo Tribunal de Paris, em 1526, possui 309 volumes, e, em 1529, François de 1528 269 93 134
Médulla, juiz-conselheiro do mesmo Tribunal, 235 obras. 1549 332 56 204
Crescimento contínuo: a partir de 1550, as colecções de 500 volumes tomam-se
comuns entre os altos magistrados do Supremo Tribunal: em 1550, Baudry tinha
700 obras; em 1554, Lizet era proprietário de 1513. E, a partir desta época, não há
juiz nem advogado, ou até solicitador, boticário ou barbeiro que não possua livros ,,, 'L DOU 'ET, R., 017, cit,
em número consideravelmente elevado. '" IUITHR. p,. llistoin: de / 'intprinterie atsacienne au XV" 1'1 ali XVI" siécle, p. 463 c
Nada ti' equívocos, por 111: os possuidor 's ti 'ssas bibliotecas representam
Iuo SO 1111111
JllIlIl' dul'lil'l1ll'ln dos livu-unx E ('l'll\l qu,-, 110 Sll'lIlo VI. os illlislll~ l'. , NO!.I di I' I~I' N()II 11)
342 o APARECIMENTO DO LIVRO o LIVRO. ESSE FERMENTO 343

Investigações deste tipo mostrariam, um pouco por toda a parte, a do século XVI, na maior parte das bibliotecas particulares de Paris, encon-
mesma evolução, prova de que, então, na Europa, triunfa o que se con- tra-se a colecção dos grandes clássicos latinos, com preferência particular
vencionou chamar «espírito humanista». pelos versos elegíacos de Catulo, Tibulo, Propércio, pelos satíricos de
Já no século xv, as belas edições de textos antigos saídas dos prelos Horácio e, sobretudo, por Pérsio (a edição que, em 1499, Josse Bade deu
italianos, venezianos ou milaneses, cuja actividade ressaltámos atrás, a lume é reeditada uma quinzena de vezes, antes de 1516), enquanto, entre
tinham começado a dar a conhecer melhor os autores da Antiguidade que os historiadores, Salústio, Tito Lívio, Suetónio, César e, especialmente,
a Idade Média não tinha esquecido, e a revelar a um público ainda restrito Valério Máximo, são os mais procurados.
outros que o trabalho dos humanistas permitira reencontrar. É o início de Os autores latinos, por conseguinte: e, em breve, também os gregos.
um movimento que se vai ampliando incessantemente. Nos últimos anos Uma vez mais, é Aldo que dá o impulso decisivo. Neste terreno, deparava-se
do século xv, e nos primeiros do século XVI, Aldo multiplica as edições aos impressores um problema técnico: o da feitura de alfabetos gregos.
eruditas dos gregos e dos latinos e empenha-se em tornar mais fácil a sua Problema tanto mais difícil de resolver quanto o alfabeto grego com-
consulta, ao adoptar um formato reduzido e mais agradável. Não tarda que preende maior número de sinais do que o alfabeto latino, se levarmos em
apareçam numerosos émulos, em Lyon, Basileia, Estrasburgo ou Paris. conta as letras acompanhadas de espíritos e de acentos, que convém exe-
Longa é a história das lutas e do triunfo final destes impressores huma- cutar num bloco único, a fim de se obterem bons resultados na impressão.
nistas - história que já evocámos e não retomaremos aqui, mas da qual
convém lembrar alguns resultados. Até cerca de 1500-1510, a Itália con- o grego'" foi indirectamente introduzido no livro impresso através das
serva, neste domínio, um nítido avanço. Fora de Itália, em Estrasburgo, na citações, particularmente numerosas nas obras de Cícero. No início, a maior parte
dos tipógrafos transcrevia essas citações em latim, ou deixava em seu lugar um
oficina de Matias Schürer e João Schott, em Paris, na de Josse Bade ou de
espaço em branco, onde, mais tarde, se podia escrever o texto grego à mão. A partir
Gilles de Gourmont, e igualmente um pouco por toda a parte, vemos, de
de 1465, no entanto, alguns deles decidiram mandar entalhar alguns caracteres
início, multiplicarem-se os pequenos livros de versos, modelos de
gregos de aspecto primitivo, quase sempre sem espíritos nem acentos; na maioria
latinidade compostos por mestres italianos emigrados, os Andrelini, os das vezes, para obter um alfabeto inteiro, acrescentam a esses caracteres os tipos
Beroaldos, os Mantuanos, ou pelos seus alunos. As Elegâncias de Lourenço latinos cuja forma difere menos dos tipos gregos (utilizando, por exemplo, A por a
Valla obtêm grande êxito. As obras tradicionais de iniciação à bela língua maiúscula, c por o ou ê, etc.); os primeiros a proceder assim foram talvez os impres-
latina sâo «rejuvenescidas» por Josse Bade ou por Erasmo, e, amiúde, sores de Subiaco (para o seu Lactâncio, em 30 de outubro de 1465) e Pedro Schoeffer
substituídas por novos tratados: a gramática de Despautério, que obterá (para a sua edição do De officiis de Cícero, 1465). Muitos impressores italianos
um êxito imenso, a de Tardif, a de Linacre, a Ars versificatoria de Ulrich de seguiram estes exemplos: encontram-se caracteres gregos nas citações de livros
Hutten, ou os Rudimenta de Nicolau Perotti. Depois, aparecem dicionários impressos por Hahn e Lignamine em Roma (1470), por Wendelin von Speyer em
Veneza e por Zarotti em Milão (1471); depois, em Ferrara (1474), em Treviso e em
novos, como o de Calepino ou as Cornucopice de Perotti, enquanto não
Vicenza (1476). A partir de 1474, alguns italianos decidem imprimir livros intei-
surge o Thesaurus latinus de Roberto Estienne, cuja carreira será longa.
ramente em grego ou fazem acompanhar o texto grego com a respectiva tradução
Ao mesmo tempo, o interesse pelos antigos aumenta cada vez mais. latina, em colunas paralelas. Por volta de 1474, Tomás Ferrabdus, de Bréscia, edita
Aqueles que já se liam no século XV difundem-se em larga escala. A fama desta maneira a 8atrachomiomachia; a partir de 1476, Dionísio Palavicinus, Bonus
de Terêncio, por exemplo, torna-se cada vez maior e a única edição que Accursius, e, depois, Henrique Scinzenzeller, imprimem ou mandam imprimir obras
dele fizeram Guido Jouenneaux e Josse Bade, publicada, em Lyon, por gregas em Milão.
Trechsel, em 1493, foi objecto de 31 reimpressões até 1517. As diversas Desde então, um pouco por toda a parte na Itália, mas, sobretudo, em Milão,
obras de Virgílio, já impressas 161 vezes no século XV, são-no 263 vezes Florença ' Vcncza, publicam-se obras de clássicos gregos na sua língua de origem.
no século XVI (sem contar com inúmeras traduções nas línguas vulgares,
de que nos ocuparemos adiante). Pouco a pouco, as obras latinas essen-
ciais espalham-se por todo o lado: Tácito, que só raramente fora publicado • 1'1 ()( 'IOle 1<.11,,' 1'''1111/1,1; of ,11/1'/'" ;1111,/, f'/II'/'III1r "'IIIII/\'. Chltlld II)()()

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344 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO 345

No final do século, começam a imprimir-se obras em grego fora de Itália. Seguindo conhecimento do grego. A partir de 1525, aproximadamente, o estudo do
o exemplo italiano, tipógrafos alemães e franceses, por vezes, tinham mandado grego, fora de Itália, suscita verdadeiro entusiasmo. Em Oxford e Lovaina
entalhar, primeiro, alguns caracteres gregos para imprimir citações. Em 1486, em (1517), em Alcalá (1528), em Paris (1529) e em várias cidades alemãs,
Basileia, Amerbach tinha publicado as Cartas de Filelfo com numerosas citações.
toma mesmo o carácter de ensino oficial. Em Paris, primeiro Josse Bade,
Em Deventer, Ricardo Paffroet (1488) e Tiago de Breda (1496) seguem-lhe o exem-
depois Simão de Colines, António Augereau, Cristiano Wechel e, logo a
plo. Em 1492, encontram-se citações gregas no comentário de uma edição de
Virgílio feita por Koberger. Algumas palavras gregas aparecem, primeiro, nas
seguir, os Estienne, multiplicam as edições das obras gregas. Em 1530,
edições de Lyon, a partir de 1492 (na oficina de Trechsel) e, depois, nas edições Clenardo escreve que, em poucos dias, se tinham vendido na capital francesa
parisienses, a partir de 1494 (primeiramente, nas de Gering e Rembolt). Mas será 500 exemplares das suas Institutiones linguaa: graecce: o testemunho poderia
preciso esperar pelo segundo decénio do século XVI para surgirem fora da Itália parecer duvidoso se não soubéssemos que, no mesmo ano, tinham sido
livros inteiramente impressos na língua de Homero. Em Paris, Gilles de Gourmont, impressas em França as obras de 40 autores gregos, 32 dos quais na sua
em 1507, sob a direcção de Tissard, empreende a produção de um alfabeto com língua, contra 33 edições de clássicos latinos. Em 1549, aparecerão ainda, em
espíritos e acentos independentes, que se utiliza para reimprimir uma parte da edição Paris, 33 obras em grego contra cerca de 40 em latim, sem contar com as
aldina de Teócrito, e, em 1512, manda entalhar uma série completa com espíritos e
traduções, Assim, durante a primeira metade do século XVI, a imprensa
acentos. Entretanto em 1511, João Rhau-Grunenberg dá ao prelo em Vitemberga o
torna acessível a um público vasto, por toda a Europa, a Antiguidade
ELO()(ywYfJ npóç 1:WV YP()(l-ll-ló:1:WV ÉÀÀTÍvwv, parcialmente em grego, e, em 1513,
latina, depois a grega, e - em certa medida também - a hebraica*.
edita o texto da Batrachomiomachia, com a tradução latina.
Está dado o impulso: aos alfabetos ainda primitivos utilizados nessas
Tomar-se homo trilinguis, saber hebraico ao mesmo tempo que grego, e latim,
primeiras produções, vêm substituir-se tipos mais elegantes. Enquanto o Cardeal
tal era o ideal de numerosos humanistas, que muitos realizaram, em particular
Jimenez manda entalhar tipos gregos para o seu Novo Testamento e a sua Biblia Nebrija, Reuchlin, Guidacerius, Münster, Clenardo. Tal era ainda, em França, o
poliglotas (1514-1517), certos editores mais activos, verificando que já se começa a objectivo do Colégio Real das três línguas, onde Vatable ensinava hebraico. A par-
dispor de uma quantidade suficiente de edições dos clássicos latinos, decidem publi- tir de 1520-1530, o conhecimento do hebraico expandiu-se de maneira relati-
car textos gregos. Tipos novos, na maior parte a imitar os de Aldo, aparecem por vamente ampla'",
todo o lado: em Nuremberga (na oficina de Conrado Celtes), em Estrasburgo (na de Para aprender grego, os humanistas tinham-se dirigido aos letrados bizantinos
Matias Schürer), em Augsburgo (na de João Miller), em Leipzig (na de Valentim fugidos à invasão turca. Para saber hebraico, procuraram os judeus, arrostando
Schumann), em Colónia (nas de Cervicorno, Soter e Gymnich), na oficina de assim com a desconfiança daqueles que os acusavam de quererem converter-se ao
Tomás Anshelm (que trabalha em Pforzheim, Tubinga e Haguenau) e, sobretudo, em judaismo e com os preconceitos dos que, como os adversários de Reuchlin, entendiam
Basileia (na de Froben, o qual vende caracteres na Alemanha e em França). Por fim, nada deverem à cultura judaica.
assinalando o culminar deste movimento, Francisco I, desejoso de estimular o
desenvolvimento dos estudos helénicos em Paris, manda entalhar a Garamond os
famosos «Gregos do Rei» (1541-1550), a imitar a escrita do calígrafo cretense, J57 COLOMIES, Paul, Gallia orientalis, Haia, 1665; do mesmo autor, ltalia et
Ângelo Vergécio, que os Estienne e outros impressores parisienses virão a utilizar I/ispania orientalis, Haia, 1730. - BACHER, Wilhelm, Die hebrãische Sprachwissenschajt
nos seus trabalhos. vom 10. Bis zum 16. Jahrhundert, Trêves, 1892; WALDE, Bernhard, Christliche Hebraisten
Deutschlands am Ausgang des Mittelalters, Münster-in-Westfalen, 1916. - «Hebraische
Estas informações permitem verificar como o conhecimento da lín- Sprache (Christliche Hebraisten)», in Encyclopedia Judaica. - MIEROWSKI, Daniel,
tlebrew grammar and grammarians throughout the ages, Joanesburgo, 1955 (tese de
gua helénica se espalhou e como, pouco a pouco, se formou uma clientela
doutoramento policopiada); KUKENHEIM, L., Contribution à l'histoire de Ia grammaire
desejosa de possuir o texto dos autores gregos na sua própria língua. Em
1i1l,(,(/I/I', latine et hébraique à I'époque de Ia Renaissance, Leida, 1951. - Para o período
Veneza, Aldo, como vimos, inicialmente decide-se a publicar tratados gra- ant '\101', podemos atcr nos a SOURY, l., Des études hébraiques et exégétiques chez les
maticais e pequenos livros de iniciação ao estudo da língua, antes de I /tn'III'I/.\' d'Urritlrnt, PiII is, I Ró7; BER ER, Samucl, Quem notitiam linguae hebraicae
meter ombro, às grandes publicações. Gille: de Gourmont, em Paris, e /t"III/I'1I1I1 ('/1/111/(1/11 in Gulli«, Nancy, IK91
11I/'11111II'1'i II'III/III/'illll.\'

Matias Schür 'r, 111 Estrasburgo, dispondo ti material mais primitivo, P,IIII' 11'111'1111' 1111 "VIII IH'l1ll1iltl~ 11)11\'(\11'1(\1111 pru tu dlls n(\la~ 100m'luh"
111/('111011110 uuuo. (;1:1 'as :I l:-.I('s lslor'lls uu-tódicox, d(Sl'IIVolvl M li 1'"1 r-. 11 11 111 ( I, NI'
346 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO

Nestas condições, desde muito cedo, tal como em relação ao grego, encon- No entanto, na Alemanha, Suíça, Países Baixos, França, Inglatcnn. l·tH1111
tram-se palavras ou frases em caracteres hebraicos em numerosas obras de exegese, travam-se, às vezes, algumas palavras em hebraico - nas obras de humanistas, llill.1
de teologia ou de linguística. Mas, contrariamente ao que habitualmente se crê, a dos de exegese, de teologia ou gramáticas. O primeiro caso deste género situa-se I"
maior parte das impressões hebraicas foram realizadas por judeus e para judeus. Não em 1475, no Tractatus contra perfidos Judeos, de Pedro Nigri, impresso em Essling,
raro, os impressores humanistas aprenderam com eles; por outro lado, as Bíblias Mas só em 1512 é que Tomás Murner, em Francfort, publica obras litúrgicas com-
hebraicas produzidas por Plantin, por exemplo, e tiradas a 2500 ou 3000 exem- pletas, e, em 1530, é que, em Oels, na Silésia, os judeus Hayim Schwarz e David,
plares, parece terem sido destinadas não tanto aos eruditos cristãos mas sobretudo filho de Jonas, por sua vez, publicam um Pentateuco. O mesmo Hayim Schwarz
às comunidades judaicas. imprime, com outros sócios, o incontornável comentário de Rachi, em Augsburgo,
A invenção da imprensa, com efeito, não podia deixar os judeus indiferentes. em 1533, e, depois, é encontrado em Ichenhausen, na Baviera, e em Heddernheim,
O hebraico era a sua verdadeira língua cultural; os seus escritos e as suas leituras perto de Francfort'".
eram hebraicas; mesmo os ignorantes e as mulheres, nas respectivas comunidades Grandes centros da imprensa judaica serão criados em Praga (1512), depois,
judaicas, liam e escreviam em caracteres hebraicos. Muito ligados ao culto da sua na Polónia, onde a família Helicz instala os prelos em Cracóvia (1534), e onde, a
religião, preocupados com a educação dos filhos e obedecendo ao preceito que man- partir de 1551, se verifica a publicação de livros de orações para os fiéis?",
dava não deixar passar um dia sem ter realizado um estudo sagrado, possuíam Na França, em 1488, aparecem em Lyon as Peregrinationes de Bernardo de
numerosos manuscritos, sagrados e profanos. Difundindo agora a baixo preço textos Breydenbach e mais tarde (1526) a Concordância bíblica de Sanctes Pagnino,
de estudos, rituais de orações e códigos de obrigações religiosas, bendiziam o
enquanto, em Paris, o primeiro livro a conter hebraico é uma gramática de Francisco
advento da tipografia, da qual saíam livros corrigidos com cuidado, com muito
Tissard, publicada por Gilles de Gourmont (que, como vimos, foi também o
menos incorrecções do que os manuscritos executados pelos escribas. Doravante,
primeiro impressor parisiense a mandar entalhar e a utilizar caracteres gregos). Em
seria possível, enfim, dispor habilmente os comentários ao lado dos textos.
1520, um opúsculo de David Kimji é impresso por Gourmont, e, depois, partes da
Foi no seio das duas comunidades mais desenvolvidas materialmente, em
Bíblia, Gourmont e Wechel, em Paris; Cephalon e Gryphe, em Lyon, publicaram
Espanha e na Itália, que os primeiros prelos hebraicos viram a luz do dia, quase
obras hebraicas, e, em seguida, Roberto I Estienne, que da sua Bíblia hebraica fez a
simultaneamente. As pesquisas desses últimos decénios demonstraram, com efeito,
obra-prima que se conhece'",
que a Itália não foi o único berço da nova arte entre os judeus. O primeiro livro
Como em França, numerosos humanistas estudam, então, o hebraico, na Suíça
datado vem, indiscutivelmente, de Itália (comentário de Salomão de Troyes [Rachi]
e nos Países Baixos. A partir de 1516, Froben publica Salmos hebraicos em Basileia,
ao Pentateuco, Reggio de Calábria, 1475), mas é quase certo que outras obras sem
data (as impressas por Conat, em Mântua, ou as que se crê saídas de Roma, embora e caracteres hebraicos são utilizados em Zurique desde 1526, mas só vinte anos mais
sem indicação de origem) lhe são anteriores, e que o primeiro livro hebraico da tarde aparece aí um livro inteiramente em hebraico, a Epítome histórica, chamado
Espanha (o mesmo comentário de Salomão de Troyes, impresso em Montalban, na
província de Teruel) seja sensivelmente da mesma data.
A expulsão dos judeus da Espanha (1492) pôs fim, brutalmente, a um capítulo 359 FRlEDBERG, C.B., Toledoth ha-defous ha-ivri be-arim ha-éle chêbe-Eropa ha-
da história da imprensa hebraica. Portugal - onde os Judeus, um pouco antes dos tikhona: Augsbourg, Offenbach (História da imprensa hebraica nas seguintes cidades da
cristãos, tinham começado a imprimir em 1487 - substituiu-a por algum tempo, mas Europa central), Antuérpia, 1935; HAEBLER, K., Die deutschen Buchdrucker des xv.
também daqui os Judeus foram expulsos (ou forçados a converter-se) em 1496. Jahrhunderts, Munique, 1924 (Capítulo intitulado Die hebrãische Drucker, 1475-1500).
Nestas condições, foi sobretudo na Itália que a tipografia hebraica se desenvolveu. 360 FRlEDBERG, C.B., Toledoth ha-defous ha-ivri be Polonye (História da imprensa
Houve prelos hebraicos em numerosas cidades. A tipografia mais conhecida funcio- hebraica na Polónia), Antuérpia, 1933.
nou em Soncino, perto de Mântua, donde saiu a mais famosa família de impressores 3.' Sobre estas questões, ver OMONT, H., «Alphabets grecs et hébreux publiés à
judaicos'". Paris au XVIe siêcle» (excerto ), in Bulletin de ia Societé de l'histoire de Paris et de rtu.
de-France ; Paris, 1885. - Do mesmo autor, «Spécimens de caracteres hébreux gravés à
Paris ct à Venise par Guillaume Le Bé (1546-1574»> (excerto), in Mémoires de ia Société
358 AMRAM, D.W., The makers of Hebrew books in ltaly, Filadélfia, 1909; FRIED- th: l'Histoire de Paris, Paris, 1887; e «Spécimens de caractêres hébreux, grecs, latins et de
BERG, C.B., Toledotn ha-defous ha-ivri bi-medinoth Italya, Aspamya-Portugalyo. musiquc, gruvés i Vcnixc 't 1'1Paris par Guillaume Le Bé (1545-1592»> (excerto), in in
Togarma we-arstoth hakedem (História da imprensa na Itália, em Espanha-Portugal, na 1II1''''lIIill',1 rlt' ln SII/ it;/t' rll' l'Histoin: di' Paris, Paris, 1889. Ver tamb m HOWE, E., «An
Turquia' nos p<líses orientais), Antu rpia, 1914. Sobre os Soncino, ver Mi\NI.ONI, 11I110dll\'11I11I 111 11'1111'\\ 1 pl! ·1.lphy.· l' ••'I'he IA' 1\ ' íumily», in SiRllIl/lIlI', 'i (I <r17) l' 8
('I,ll·t1IIIO'\III/1/!I ////(}}.Imf/t'1 dl'l .\'0/11111/, 1 II I' IV .!\lIl1U1Spuhluudo»). lIolonha IXX\ XII (1')U<l
o APARECIMENTO DO LIVRO o LIVRO. ESSE FERMENTO 349
348 -------------------~----------------~

Josippon. Em Lovaina e Antuérpia quase só se imprimem manuais onde figuram e as gramáticas. No conjunto, é possível enumerar 28 edições de gramáticas
algumas palavras hebraicas. No entanto, Daniel Bomberg, um impressor cristão de hebraicas, publicadas entre 1497 e 1529, as mais conhecidas das quais são as de
Antuérpia que se instalara em Veneza, em 1517, dedicou-se, por gosto e simpatia, Reuchlin, Nebrija, Capiton, João Eck, Clenardo, Sanctes Pagnino, Elie Levita e
como dizem os colofones, às impressões hebraicas, com a ajuda de tipógrafos e cor- Sebastião Munster. Prova de que o estudo do hebraico era, então, prestigiado, tal
rectores judeus. Foi ele o primeiro a publicar um Talmude completo; colocando, à como o do grego>'.
direita e à esquerda do texto, o comentário de Salomão de Troyes, e as notas dos
seus discípulos (os Tossafoth), fixou definitivamente a forma que esta obra conserva *
até hoje, pois as edições do Talmude mantêm ainda fielmente a paginação e a dispo- * *
sição da de Bornberg'". No total, entre 1517 e 1549, Bomberg produziu 250 obras
Entretanto, cada vez mais estas obras interessam a um público vasto,
hebraicas, entre as quais esse Talmude monumental, e teve ao seu serviço 200 tipó-
que, com frequência, conhece mal as línguas antigas mas que a imprensa for-
grafos judeus, sob as ordens do famoso Comélio Adelkind.
mou aos poucos, contribuindo para fomentar o gosto da leitura. Os impres-
Julga-se poder avaliar em 200, para o século xv, e em 4000, para o século XVI,
sores, por outro lado, vendo o mercado pouco a pouco saturado, têm todo
o número de edições que saíram dos prelos hebraicos. Mais de 100 dos incunábulos
que chegaram até nós foram impressos na Itália; os outros, excepto um, na Península
o interesse em ampliar a clientela. No campo que nos interessa, esta evo-
Ibérica (cerca de 2/3 em Espanha e 113em Portugalr'". Trata-se, sobretudo, de textos lução é atestada pela multiplicação das traduções. A partir de 1520, espe-
tradicionais (não há senão três obras contemporâneas). A Bíblia é impressa quatro cialmente, muitos editores, e não dos menos importantes, transformam as
vezes integralmente, trinta vezes parcialmente. Contam-se 27 edições de tratados suas lojas em oficinas de tradução - como, por exemplo, João de Toumes,
avulsos do Talmude, que só no século seguinte será publicado numa série completa, \'111 Lyon365• E, assim, as línguas nacionais, ainda em plena evolução,
e ainda dois textos da Michna. Os comentários da Bíblia (e, principalmente, do curiquecem-se e depuram-se em contacto com línguas antigas, graças ao
Pentateuco) são objecto de quinze volumes distintos, sem contar com várias edições trabalho de inúmeros tradutores.
do texto comentado. Os seus autores são, essencialmente, espanhóis e franceses e,
como vimos, Salomão de Troyes (Rachi) ocupa uma posição privilegiada (cinco
vezes editado na Itália, três em Espanha, uma em Portugal). Os códigos religiosos e
as obras de casuística têm também um lugar importante: contam-se por vinte e sete ''''' Indiquemos, por fim, que, ao serem expulsos de Espanha e, depois, de Portugal,
(dezasseis edições integrais ou parciais das «Quatro Ordens», a Arba'a turim, de unprcssores judeus transportaram prelos e caracteres para a Turquia, onde foram muito
Jacob, filho de Asher; cinco da "Segunda Lei», Michne Tara, de Maimónides, e dois 111'1\1
recebidos como pioneiros da imprensa em geral. Por isso, foi a Turquia um dos berços
do «Pequeno livro dos preceitos», de Moisés de Coucy). Além disso, enumeram-se 1111Imprensa hebraica e, desde os anos 1493-1503, aí foi publicado o livro dos «Quatro
catorze livros de orações, mais um comentário sobre o ritual, uma edição contendo 11IeI'118»de Jacob, filho de Aser, importante código de preceitos judaicos. Em 1503, vários
um calendário com textos litúrgicos, e calendários simples em número de dois. São, Ilpo irafos judeus trabalham no Império turco. O famoso Gerson de Soncino, em particular,
portanto, os livros de piedade (já que o estudo talmúdico é considerado pelo dl'pois de ter errado de cidade em cidade e trabalhado em oito cidades da Itália, entre 1489
judaísmo, talvez mais ainda do que o rito sinagogal, a realização de um dever reli- I I '114, e desencorajado pelos plágios da concorrência, acabou por partir para a Turquia,
gioso) que representam mais de 80% da totalidade. O resto pode ser repartido como 111111'a sua marca, desde 1527, aparece em Salónica e, posteriormente, em Constantinopla
se segue: gramáticas e dicionários (seis livros), belas-letras, poesia e filosofia 1i I MANZONJ, G., Annali tipografici dei Soncino, e HABERMANN, A.M., Ha-madpis-
(doze); viagens, história, medicina (um de cada). No século XVI, além das edições 1/111IlI'llé Soncino [os impressores da família Soncino], Viena, 1933. - De tal modo que,
eruditas da Bíblia (Bíblias poliglotas de Alealá, em que trabalhou Nebrija, Bíblia de I 1111586, N icolau de Nicolay, na obra Discours et histoires véritables des navigations,

Antuérpia, esta última editada por Plantin, Bíblia hebraica de Roberto Estienne, etc.), por 1"'/I'griIlClliol1s et voyages faits en Turquie, afirmava (porventura com exagero) que os
influência do humanismo, multiplicam-se os manuais de iniciação à língua hebraica JlIiII'IIS«instalaram em onstantinopla prelos que nunca antes tinham sido vistos naquelas
I . 'Hll'~, uuçus aos quais, em belos caracteres, dão à luz do dia livros de diversas línguas:
'11~'u, lntim, italiano, espanhol c as que são usadas no Levante». - Cf. BLUM, A.,
I '11l'\I '1\1\111
' I)('ul\s1anlinopk upr s Ia conqu 'I turqu », in Rl'I'IIl' des /)/'/1.\ Monde», Maio
'62 RABBINOWICZ, R.N., Maamar 'ai hadpassath ha-Talmoud (E tudo sobre a
P/I \, p. 1)1{I' SI' 's ,l' IH )'1'11,(' ..• <.\ -wish prinrcrs of non J -wixh huo\..s in Ilw l"ifl~'~'l\lhund
impressão do Talmude), Munique, 1877; Jerusalém, 2.· ed., 1940.
1 \I'llIlh ll'lIlll1 Y', in '/,,"1//111 0/"'11'1,111suulli:» IV, \, I.l1Ililil'S, lI) I,
li" MARX, AI xand 'r, Tlie Choice I~rhooks bv the printers Il"l'hl"l'w incnnublcs
(I '11I1PII" il\l1l11111e1l1lk'J'ullurl!lI R, Filllell'Il"iIl,11)4K)
• 11\ IIN(rI,l' 11/1/"'" ,t, I" ""/,'//lI/lI//~"/II,1 11 11/' 1/''/'',,, \
350 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO
351

* s~culo xv), 5 alemãs (nenhuma no século xv), 5 espanholas (nenhuma no


* * ?
seculo X:,), em fl~~eng~ (nenhuma no século xv)367. Mais ainda talvez
do ~ue VIrgIlIO, OVIdIO, cujas traduções mais ou menos livres ou as adap-
Nascido na Itália, o movimento é particularmente nítido em França. taçoes das Metamorfoses são inumeráveis. Mas também a maior parte dos
Os reis encorajam-no e procuram desenvolver o uso da língua nacional grandes clássicos - os historiadores, sobretudo: César Suetónio FI' .
J f T" , , avio
para estimular a sua política unificadora: em 1539, a Ordenança de ose o, . ,ac!to, Valério Máximo, Plutarco, Eusébio, Políbio, Herodiano,
Villers-Cotterets torna obrigatório o uso da língua francesa no exercício Paulo Diácono, Xenofonte ou Tucídides.
da justiça. Favorecer e encorajar os tradutores, é, aliás, política tradicional . A partir de então, em consequência do desenvolvimento da
dos reis por quase toda a parte: em França, Luís XII particularmente, e, imprensa, a Antiguidade é posta ao serviço de todos aqueles que sabem
depois, Francisco r, praticam essa política. Luís XII, por seu lado, encar- ler. As vezes m~smo, as traduções desempenham um papel mais impor-
rega Cláudio de Seyssel de fazer traduções, que Francisco r mandará reti- tant~ no, CO?he~lmento das obras do que as edições no texto original:
rar da biblioteca de Fontainebleau para as dar ao prelo. Mas é, princi- Platao so fOI editado em França, no texto grego completo (acompanhado
palmente, quando o irmão de Margarida de Navarra sobe ao trono que o de uma trad~ç~o latina), em 1578. Até aí, foi conhecido, em França, não
movimento se amplifica e se multiplicam as traduções executadas por t~n~o po~ edições gregas parciais, mas pela tradução latina de Marsílio
ordem do rei, as quais conhecem frequentemente êxito considerável. Entre Ficino, c~nco vezes reimpressa em França na primeira metade do século
os tradutores mais activos, muitos nomes ilustres: além de Guilherme de - e tambe~ pelas traduções francesas de alguns dos seus diálogos, muitas
Seyssel, Mellin de Saint-Gelais, seu contemporâneo, e também, por vezes pubhcadas por Gryphe, Tournes ou Vascosan.
exemplo, Guilherme Miguel de Tours, Marot, Amyot, Baif, Dolet. Não é de ~spantar que os mesmos humanistas, os mesmos filólogos,
Assim se multiplicam as traduções de autores antigos em França, a ~)s mesm~ escntore~ e ?s mesmos impressores que, assim, multiplicavam
partir da primeira metade do século. Neste país unificado, povoado e rico, as trad,uç.oes da Antiguidade, t~aduzissem igualmente os textos sagrados;
os livreiros têm garantido público suficiente para escoar essas traduções; de~te ~ltImo movimento, sublInharemos adiante a extensão e as conse-
mas é natural que o movimento seja mais lento em Espanha ou na t~UencIas. Na~a ~e espantar, igualmente, que os textos mais procurados da
Inglaterra. Neste último país, menos povoado do que a França, os livrei- Ilterat~ra novilatina, que se desenvolve com o hurnanismo, também sejam
ros só parece terem encontrado clientela na segunda metade do século: ,lradu,zIdos: os poemas do Mantuano, por exemplo, ou ainda a Utopia de
antes de 1550, 43 edições de autores clássicos em língua nacional; de Iornás More, as Facécias de Poggio e, sobretudo, as obras de historiado-
1550 a 1600, 119366• Não nos surpreendamos, por fim, que o movimento rcs como Paulo Emílio, Paulo Jóvio ou Guicciardini, para citarmos ape-
nas alguns nomes.
seja menos nítido na Alemanha, à época da Reforma, e que não seja
mesmo seguido nos Países Baixos, onde a exiguidade da área linguística ~ouve traduções do latim para uma língua moderna, mas também
leva unicamente a que se imprimam em língua vulgar as obras mais lra~uçoes de um~ língua moderna para outra. Nessa época, enquanto as
obr as, dos humanistas e dos poetas italianos - que, há muito, escrevem na
acessíveis: as novelas de cavalaria e os livros de piedade.
sua 11 ngua -. exercem enorme influência em toda a Europa, utilizam-se
Os autores então frequentemente traduzidos são aqueles cuja fama
.ada vez mais as línguas nacionais, e as traduções de obras italianas e
é mais antiga e mais segura: Virgílio, evidentemente, cujas traduções são
·spanhol.as multiplicam-se em francês, inglês e alemão. Petrarca e
inúmeras, no século XVI. As suas diversas obras, reeditadas 263 vezes em
Boccaccio contmuam a ser traduzidos um pouco por toda a parte assim
latim, são objecto, no transcurso do século, de 72 edições italianas (6
l'O1l1~) também A Nave dos Loucos, de Sebastião Brant, cujo êxito r~monta
no século xv), 27 francesas (uma no século xv), 11 inglesa (uma no
ao século precedente; não vem a propósito estabelecer aqui o inventário

,.."1./\'J'IIROI', 't'mnslntionsfnnn ttu: clussics into II'IIHlislt./iwlI ('(/\/1111 111('{,(/11I/1I11111


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o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSE FERMENTO 353
352

das inúmeras traduções de autores italianos, e mesmo espanhóis, que, Eis algumas indicações a respeito da difusão das obras de alguns
então, se fizeram por toda a Europa. Entre os autores mais célebres e mais deles: e, em primeiro lugar, naturalmente, de Erasm0369, cujos livros, como
se sabe, figuram na maior parte das bibliotecas do século XVI. De 1500 a
em voga, limitemo-nos a citar os nomes de Sannazaro, Bernbo, Maquiavel,
1525, 72 tiragens, reimpressões e reedições conhecidas dos Adágios, nas
e, mais tarde, Ariosto e Tasso. E a sublinhar a fama de obras mais ou
suas diversas formas. De 1525 a 1550, umas cinquenta; de 1550 a 1560,
menos inspiradas por Marsílio Ficino e a sua teoria platónica do amor: o
aproximadamente 40. Dos Colóquios, de 1518 a 1526, umas sessenta
Libro del Peregrino, de Caviceo, o Tratado do Amor, de Leão Hebreu, e,
impressões conhecidas; de 1526 a 1550, cerca de 70; de 1550 a 1560, uma
sobretudo, o Cortesão, de Baltasar Castiglione, retrato ideal do perfeito
vintena, sem contar com os excertos e as traduções. No total, sem dúvida
homem da corte'", assim como as traduções espanholas do Amadis de nenhuma, várias centenas de milhares de exemplares destas duas únicas
Gaula. Graças ao trabalho de numerosos tradutores de todos os países, a obras de Erasmo foram impressas durante os cinquenta anos que se
cultura europeia conserva, pois, a sua homogeneidade, a despeito do pro- seguiram à sua publicação, até serem definitivamente inseridas nos
gresso das literaturas em línguas nacionais. Por vezes mesmo, o número índices de obras proibidas ou expurgadas.
de traduções excede o das edições na língua original: para citar apenas Outro exemplo: ao lado de Erasmo, cujas obras, em latim, estavam
alguns exemplos retirados da literatura espanhola, o Libro aureo de difundidas por toda a Europa, Rabelais, que, por seu lado, escrevia em
Marco Aurelio, de Guevara, publicado em 1529, é impresso trinta e três francês?". Eis, em primeiro lugar, o seu Pantagruel, que apareceu, em
vezes em espanhol, até 1579. Traduzido para francês em 1530 e para 1533, sob o pseudónimo de Alcofribas Nasier; ao lado da edição original
inglês em 1532, é impresso mais de vinte vezes em francês e cinco vezes (de que se conhece um único exemplar), cinco outras edições, publicadas
em inglês; da mesma forma, o Cárcel de amor, de Diego de San Pedro, no mesmo ano, e talvez outras mais, hoje desaparecidas. E, de 1533 a
publicado em 1492, é objecto de 15 edições espanholas, de uma dúzia 1543, vinte e sete reimpressões desses dois livros e da Prognostication.
em francês e espanhol ou em francês, de 10 italianas e de uma inglesa; e Doze anos, entretanto, após a publicação do Pantagruel, Rabelais
a comédia de Calisto y Melibea (chamada, mais correntemente, A Celestina), publica o Tiers livre, já não em caracteres góticos e com pseudónimo, mas
de Femando de Rojas, de 60 edições espanholas, 12 francesas, 11 italia- em caracteres redondos. Este volume, publicado em Paris pelo impressor
nas, 3 alemãs, 3 holandesas, 2 latinas, 2 inglesas e uma catalã. Somente humanista Wechel, era, pois, destinado a um público mais culto; de 1546
ti 1552, em cerca de sete anos, foi reimpresso nove vezes, pelo menos.
no século XVII, com o apagar da língua latina, é que o desenvolvimento
Acrescentemos ainda que o Quart livre, publicado em 1548, foi reim-
das literaturas nacionais provocará uma fragmentação do mercado do
pressa pelo menos oito vezes, nos cinco anos que seguiram à sua publi-
livro, favorecida, aliás, pelo desenvolvimento das censuras políticas e reli-
cação, e que, por fim, o Cinquiême livre conheceu cinco reimpressões,
giosas, e se criarão verdadeiros compartimentos entre os diversos países da
entre 1562 e 1565. Finalmente, de 1553 a 1599, as obras de Rabelais
Europa. loram reimpressas pelo menos vinte e quatro vezes. Testemunhos que
provam terem sido os diferentes escritos rabelaisianos difundidos por
* várias dezenas de milhares de exemplares, a partir do século XVI - talvez
* * por mais de cem mil, tendo em conta as edições perdidas.
Erasmo e Rabelais. Mas também Budé, cujo tratado De asse, embora
Assim, a partir do século XVI, algumas obras contemporâneas obra de erudição, não deixa por isso de ter uma vintena de edições, tanto
atingem larga audiência. Entre todas, merecem referência especial as dos em francês, como em latim; ou, ainda, Tomás More, cuja Utopia, publi-
maiores humanistas, dada a vigorosa influência que suscitam. cada pela primeira vez, em 1516, em Lovaina, teve onze reimpressões no
s~ .ulo XVI, sem contar com duas traduções francesas, quatro alemãs, três

\t" FESTU(jlbRE, A..I., 1,(1 Philosophi« di' 1'(/11I0//" tle Marsi!« Firin et son ;'(/1//1'11('1'
\t", 111/1111111",,'11 III'1M/I'II, " sl'lic. t. VI XIV.
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354 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO 355
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inglesas e outras tantas italianas. Exemplos tomados entre uma imensidão de Arquimedes. Já em 1525, Galeno tinha sido publicado por Aldo, sob a
de outros. Pensemos em Vives, provando que um público muito vasto, a forma de cinco pequenos volumes in-folio - e, por Aldo também, em
partir de então, é capaz de compreender tais obras e de se interessar por 1526, o texto grego de Hipócrates, do qual fora publicada uma edição em
elas: um público a que só a imprensa podia responder. E, mais ainda, a Roma, no ano precedente. O árabe Avicena precedera-os (1473, 1476,
renovação da Antiguidade cria, às vezes, verdadeiras manias - modas, 1491), mas Plínio, publicado, em Veneza, por João von Speyer, em 1469
poderíamos dizer - que se traduzem em espantosos êxitos de livraria. (depois em 1470, 1473, 1476, 1479, etc.), surgira antes de todos. Assim se
A moda dos emblemas, por exemplo: em 1531, o jurisconsulto Alciato encontravam ao alcance de todos a mecânica, a cosmografia, a geografia,
publica, em Augsburgo, uma pequena colectânea de sentenças morais da a física, a história natural e a medicina dos antigos, em novas edições e
Antiguidade, cada uma das quais ilustrada com uma gravura. Graças às novas traduções, que vêm substituir as dos séculos XII e XIII. A partir de
suas ilustrações, os Emblemas de Alciato conhecem enorme êxito: 39 então, podia-se interpretar, completar, comentar o ensino dos velhos
edições, de 1531 a 1550, e 54, de 1551 a 1600. Logo a seguir, surgem imi-
mestres. Ou melhor, ter-se-ia podido, se tivessem sido menos reverencia-
tações, feitas por João Sambuco, Cláudio Paradain, Guilherme Guéroult,
371 dos, pois os humanistas parecem estimar que o retorno ao texto grego ou
e os livros de emblemas adquirem fama crescente até ao século XVII •
latino original, a Ptolomeu, Teofrasto, Arquimedes, é suficiente para
resolver tudo?'; e, com. bastante frequência, o seu interesse parece mais
* atraído pelos méritos literários da obra do que pelo seu valor científico.
* * Ao mesmo tempo, revelam frequentemente o mais completo desprezo
pelos autores medievais e, às vezes, tecem à sua volta uma verdadeira
Regressar aos clássicos gregos e latinos, desembaraçá-Ias das glosas
conspiração do silêncio, citando permanentemente os clássicos para
e comentários, tal é, igualmente, no domínio científico, o principal cuidado
ostentar a sua erudição. O que não impede certos impressores humanistas
dos humanistas.
de mandar copiar sistematicamente os escritos científicos da Idade Média ,
Assim, desde o século xv, imprimem-se e reimprimem-se constan-
" muitas vezes, de os imprimir, falsificando a sua origem.
temente os mestres da Antiguidade Clássica'". Em 1499, aparece em
Assim se cria, paralelamente à tradição escolástica, uma outra
Veneza, na oficina de Aldo Manúcio, a colectânea fundamental dos velhos
tradição, a clássica. Ao mesmo tempo, a imprensa provoca o aparecimento
astrónomos, os Astronomici veteres, gregos e latinos. Entre 1495 e 1498,
de toda uma literatura em língua vulgar, destinada às massas e constituída
já tinham sido publicados, pelo mesmo Aldo, os cinco volumes in-folio do
por resumos, receitas, prognósticos, efemérides, ao passo que os tipó-
texto grego de Aristóteles: no tomo III, o De historia animalium; no tomo IV,
irafos hesitam, às vezes, em dar ao prelo publicações latinas de carácter
a Historia plantarum, de Teofrasto, com as Problemata e as Mechanica:
já em 1475, publicara-se a Cosmografia de Ptolomeu, sem os mapas, e, .icntífico, destinadas a um público restrito. Em matéria de ciência, para se
I 'r acesso aos textos, houve que recorrer aos manuscritos, mais do que em
depois, em 1478, em Roma, com os mapas gravados em cobre.
Sucessivamente, Herwagen publica, em Basileia, em 1533, a primeira qualquer outro domínio; tratados científicos de valor, às vezes, per-
edição dos Elementos de Euclides, depois, em 1544, a primeira das obras manecem manuscritos ou são publicados somente depois da morte dos
s .us autores. O tratado De expetendis et fugiendis rebus, de Jorge Valla,
s<Íaparece em 150], após a sua morte. João Stoeffler, falecido em 1531,
371 DUPLESSIS, G., Les Emblêmes d'Alciat, Paris, 1884; PRAZ, M., Studies in
rorn quase 80 anos, tinha publicado numerosas efemérides; mas as suas
seventeenth century imagery, Londres, 1939,2 v.
m FEBVRE, L., Le problême de l'incroyance au XVI" siêcle: Ia religion de Rabelais, Cosmographicae aliquot descriptiones só são publicadas pela primeira
Paris, 1968 (reedição); THORNDlKE, L, Science and thought in the XVI" century, Nova Vl'Z em 1537, em Marburgo. Os exemplos poderiam multiplicar-se. Entre

Iorque, 1929. Limitamo-nos, aqui, a evocar rapidamente estas questões com a ajuda destas
duas obras. Mencionemos também a publicação, na América, de um guia precioso: SJ\R
TON. (il'm~ " Tlu: appreciutinn (Ir ancieut {///(III/NliI'I'CIi scicnrt: durins; 111/' NI'/lIliUI/IWI'.
hlólddllól 11) c; ( II 111111 11'1111 I I 1\ I I • I • "I' f /I • 1'11 \ K \ I)
356 o APARECIMENTO DO LIVRO
o LIVRO. ESSE FERMENTO
. ')7

as obras que registam, então, um certo êxito, como sucedera no século xv,
estão, antes de mais, as que tratam de astrologia prática. É por isso que tan-
!lI! llV~III~r CORPORlS T-IIORICI\ L'OG~ I. ,c!'J
tos togados ou burgueses de Paris possuem astrolábios. A conjunção, no mês
HVMANI COR" PORIS OSSIVM
de Fevereiro de 1524, de todos os planetas sob o signo de Peixes, pressá- JSIMVL COM1>.AOTO. 1l..VM <.JNTE.RIOJ>..1
Il li: f 1\ C I 8 Il X P R E B. s r o,
gio de terríveis catástrofes, suscita a publicação de tratados, compostos por
56 autores diferentes, entre os quais Stoeft1er, Agostinho Nifo, Pedro Martyr.
Isto, aliás, não nos deve espantar. A astrologia era, à luz dos conhecimen-
tos de então, um sistema perfeitamente racional. Mas, quando Copérnico,
em 1543, após muitas hesitações, decidiu publicar o resultado das suas
pesquisas, no De revolutionibus orbium ccelestium libri VI, na oficina de
João Petri, de Nuremberga, o público nada se interessou pelo sábio tratado;
foi preciso esperar 23 anos, até 1566, para que ele voltasse a ser impresso.

*
* *
De facto, foi talvez no campo das chamadas «ciências descritivas»
ciências naturais, anatomia - que a imprensa prestou os maiores
serviços. E isto, indirectamente, através das ilustrações?'.
Em 1543, no mesmo ano em que Copérnico publicava o De revolu-
tionibus orbium ccelestium. Vesálio fazia publicar em Basileia, na oficina
de Oporin, o De humani corporis fabrica libri septem, com belas estampas
gravadas em madeira por João de Calcar, aluno de Ticiano, já utilizadas,
em 1538, em Veneza, na edição que Vesálio publicara das Institutiones
anatomicce de João Guenterus. A obra é constantemente reeditada, copiada e
imitada, e, graças à gravura, todos aprendem a conhecer a anatomia do
género humano. Pela mesma época, cansado de tentar identificar as plan-
tas do seu país nos textos dos antigos - que, muitas vezes, não as conhe-
ciam -, os botânicos voltam-se para a observação directa e, em breve, os
zoólogos seguem-lhes o exemplo. Uma tarefa imensa, então, é levada a
cabo. Em 1530, em Estrasburgo, aparece o primeiro volume da decana das
floras ilustradas, a admirável Herbarum eicones ad natura: imitationem
effigiatce de Otto Brunfels; segue-se, em Basileia, em 1542, a Historia
stirpium de Leonardo Fuchs; em 1551, em Zurique, os quatro espessos
volumes in-folio nos quais Conrado Gesner publica o censo de todos os
animais de que achara menção num texto qualquer, colocando, lado a
lado, seres reais e seres fabulosos; logo depois, o tratado dos Peixes de
VI'S I I(). 1>1-11I11I/{/lIicorporis fabrica, Busileia, Oporin, 1543.
,/I Sobre I) modo como as ilustraçõ 's, originnriamcnt ' Iuntasiosas, se !OIIl,1I ,1111 pll'

1 i il' plllllll 11 plllll'1l I' h-vunun I Ilh~"1 VII,111l ditl','III, 1'1 Si\RTON "li til, p. H'I I' '" 'S
358 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO 359

Rondelet, primeiro em latim, como é natural (1551), depois em francês Pedro Martyr, relato das três primeiras viagens de Colombo. Depois, nos anos
seguintes, de 1505 a 1514, surge, em Roma, sobretudo, mas também em
(1558), com belíssimas xilogravuras. Quase ao mesmo tempo, Pedro
Nuremberga, em Colónia e noutros lugares, uma série de peças, com as primeiras
Belon, de Mans, publica também os Peixes e as Aves, enquanto Jorge
narrativas da acção dos portugueses nas Índias Orientais, redigidas amiúde sob a
Agrícola, ao estudar os minerais, publica, em 1546, De ortu et causis sub-
forma de cartas dirigidas ao papa em nome do rei de Portugal, impressas geralmente
terraneorum, em Basileia, e, em 1555, em Basileia igualmente, o esplên-
em latim, às vezes também, em alemão. Ao mesmo tempo, começa a circular outra
dido volume in-folio De re metallica. Todas essas obras estavam ornadas obra, esta relativa ao Novo Mundo: o Mundus novus, baseado numa carta escrita por
de estampas, as quais permitiam proceder às identificações necessárias, e era Américo Vespúcio a Lourenço de Médicis. Este relato, logo seguido de outros,
aos milhares que os gravadores, então, talhavam madeiras sob a indicação dos conhece um grande êxito e é reeditado, a partir de 1504, em várias línguas, em Paris,
naturalistas (conservam-se ainda umas 3000 no Museu Plantin-Moretus). Roma, Viena e Augsburgo; durante o primeiro quarto do século, é, em França,
As sumptuosas publicações realizadas por meio destas xilogravuras objecto de seis edições francesas e uma latina. Depois, de 1522 a 1532, três cartas
seduzem um público de coleccionadores esclarecidos, guiados por vezes, de Cortez têm 14 edições em Espanha, na Itália, em França e na Alemanha, Ao
nas suas compras, talvez por preocupações que nada têm de científico. mesmo tempo, o interesse que despertam as conquistas, e também o apoio dos reis
que encorajam os trabalhos sobre os países novos, provocam, em Espanha e
Portugal, o aparecimento de uma literatura sobre a sua descoberta e conquista. Em
* Espanha, Pedro Martyr, que já mencionámos, em 1511, publica as suas primeiras
* * Décadas, seguidas de outras. Em 1519, aparece a Summa de Geografia de Martin
A imprensa facilitou o trabalho dos eruditos em certos domínios, mas Fernandez de Enciso. Depois, a partir de 1526, Fernandez de Oviedo y Valdés ini-
cia a publicação de uma série de obras sobre a geografia e a história das Índias. Tudo
em nada contribuiu para apressar a adopção de teorias ou de novos conhe-
isso demonstra que as grandes descobertas geográficas, espanholas e portuguesas,
cimentos. Pelo contrário, vulgarizando certas noções há muito adquiridas,
não passaram despercebidas. Mas não haja ilusões: até cerca de 1550, fora da
enraizando velhos preconceitos - ou erros sedutores - parece ter contra- Península Ibérica, estas apenas interessam a um público relativamente restrito de
posto a força da inércia a muitas novidades. Confia-se com muita fre- sábios, de gente culta, de grandes mercadores. E, em especial, as novas noções não
quência na autoridade da tradição, sem se levarem em conta as descober- são totalmente assimiladas. Por isso, um grande número de obras manuscritas, do
tas contemporâneas: facto surpreendente quando se estuda a atitude do mais elevado interesse, não encontra editores, e é interessante verificar que, em
público do século XVI perante as descobertas geográficas e as conquistas França, em 1530, ainda se reeditam três vezes, em francês, as Viagens de
longínquas, que, sobre a vida quotidiana, exerceram uma influência cujo Mandeville, ao passo que, de Pedro Martyr, apenas se publica, na primeira metade
do século, um Extrait ... des fies trouvées, em 1533. Mais ainda, entre 1539 e 1558,
alcance só mais tarde se percebeu'".
reimprime-se sete vezes, em francês, a geografia de Boemius, na qual não se men-
Sabe-se que, durante muito tempo, os resultados das explorações portuguesas ciona a América e onde estão anotados somente alguns novos factos relativos à
foram mantidos em segredo; fora de um pequeno grupo de iniciados, ninguém pos- África e à Ásia.
suía conhecimento deles. De facto, a atenção do público parece ter sido atraída pela É somente a partir de 1550 que deixa de ser assim. A Europa toma, então,
primeira vez para a actividade dos exploradores quando surgiu a famosa carta de mais nitidamente consciência dos novos horizontes geográficos. Em Espanha,
Cristóvão Colombo, com o relato da sua primeira viagem. Incontestavelmente, as Francisco Lopez de Gomara, secretário de Cortez, publica uma Historia de Ias
notícias assim anunciadas provocaram um vastíssimo movimento de curiosidade, já lndias y conquista de Mexico, enquanto Las Casas, famoso padre dominicano,
que essa carta foi impressa, simultaneamente, em 1493, em Barcelona, Roma, publica uma série de cartas nas quais toma a defesa dos índios. Em Portugal, o movi-
Basileia e Paris, reimpressa em Basileia, em 1494, e ainda em Estrasburgo, em mento ainda mais importante e vê-se aparecer uma série notável de crónicas his-

1497, em alemão desta vez. Mas é principalmente nos primeiros anos do século XVI torico-geogrãficas: a partir de 1552, João de Barros publica as Décadas; em 1551,
que a cortina começa a levantar-se. Em 1504, aparece, em Veneza, o Libretto de começa a publicar-se a História do descobrimento e conquista da Índia pelos
Portugueses; em 1557, enfim, os Comentários de Albuquerque, redigidos pelo seu
filho, Movimento que culminará '111 Os 1.I/S(lIdo.\', de a111( 'S, de qu S' cnnh -ce a
'I' PENROSE, B.. Tropel and disroverv in tlu: Rt'lIl1i,\SIII/('C, Cnmbrid ic, 19';2; 1I111'1I~" 1.1111,1 NlIll1l'lmil~ ohr." rOIlI('~'iIIl1, pll1~. 1\ IIP:II(('('I, I '1lIlivôl~ IIO~ pi\í~l'

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O LIVRO. ESSE FERMENTO
360 o APARECIMENTO DO LIVRO

Dentro em breve, os missionários começam a enviar regularmente relatos por- aliás, que não figurarão, no seu tempo, as narrativas de Jacqu 'S (\1111 I 1111
menorizados da sua actividade. Ao mesmo tempo, a Cosmographia universalis de de Champlain. As obras mais frequentemente editadas em 11,1111
Münster, descrição geral do mundo editada em Basileia, em 1544, conhece um durante o século XVI, são, a par das cartas escritas do Japão p '10 1101111
enorme êxito (46 edições em seis línguas, no século que assiste à sua publicação). jesuíta Luís Fróis (19 edições), as Viagens à Turquia, à Síria e ao E 'Iplll
E, ao passo que se tinham publicado somente 83 obras geográficas, em francês, de Villamont, bem pouco interessantes aos nossos olhos (13 ediçue )
antes de 1550, imprimem-se 48, entre 1551 e 1560; 70, entre 1561 e 1570: 82, entre assim como os livros de Luís Le Roy, Postel, Belon ou Thevet, qu " l' I
1571 e 1580; 76, entre 1581 e 1590; 54, entre 1591 e 1600 (diminuição provocada tamente, são espíritos originais mas cujos conhecimentos, em mat 'lia
pelas guerras, ao que parece); e \12, entre 1601 e 1609. Encontrar-se-iam, talvez, geográfica, são de segunda mão e que, às vezes, carecem de espírito
análogas proporções entre as obras impressas nas outras línguas. Os livros de Pedro
crítico e de informação (salvo, talvez, Le Roy). E ao lado das obras d
Martyr conhecem, então, grande êxito, e as crónicas de Castanheda são traduzidas
Boemius, já mencionadas (que deixam de aparecer em 1558, é verdade),
para espanhol, latim e francês. Também as narrativas de Gomara e de A1buquerque
os diferentes volumes de Ortelius, frequentemente reimpressos, talvez
têm grande voga. Entre as novas obras mais procuradas, pode citar-se, um pouco ao
devido às belas gravuras. Facto sintomático: todas estas obras têm mais
acaso, a Historiarum indicarum libri XVI, do padre jesuíta Maffei (Veneza, 1588-
-1589), os volumes referentes ao Congo, de Filipe Pigafetta, e os relativos à China,
êxito do que as traduções dos grandes autores ibéricos, entre os mais pro-
de Bernardino de Escalante e Gonzalez de Mendoza. E muitos outros ainda, entre os curados dos quais se encontram Lopez Gomara (6 edições separadas, em
quais se pode reservar um lugar à parte para o De totius Africae descriptione, obra francês), Mendoza (5) e Castanheda (5). Não podemos dizer que se trate
de um árabe de Granada que percorrera a África antes de ser capturado por mari- de hostilidade inspirada por motivos políticos, porquanto os ataques do
nheiros cristãos que o tinham levado a Leão x, e que tinha redigido esta obra com o Padre Las Casas contra as crueldades espanholas no Novo Mundo só são
estímulo do Papa. editadas três vezes em francês.
Tantas são as publicações relativas às novas terras que se torna difícil enu- Mais ainda: a grande massa dos escritos geográficos em língua
merá-Ias. O interesse crescente com que são recebidas pelo público origina o apare- francesa é consagrada ao que, hoje, chamaríamos Próximo Oriente.
cimento de vastas colecções, um pouco por toda a parte. Entre as mais célebres, cite- Publica-se em relação aos turcos - sobre os quais converge uma enorme
mos as de Ramusio, na Itália, e, especialmente, de Halkug e Purchas, na Inglaterra.
curiosidade - o dobro dos livros sobre a América. A seguir, em grande
Em breve, em Francfort, uma família de mercadores de estampas, os De Bry, deci-
número, aparecem os que tratam das Índias Ocidentais e das viagens por-
dem publicar, sumptuosa e cuidadosamente ilustradas em talhe-doce, enormes
colecções de grandes e pequenas viagens, cuja impressão durará quarenta e quatro
tuguesas. Depois, quase tão numerosos, os que descrevem os países da
anos, e cujos volumes serão muitas vezes reeditados em latim e em alemão, Ásia, como a China e a Tartária - e, naturalmente, a Terra Santa (as nar-
enquanto o projecto de uma tradução francesa é abandonado talvez por falta de rativas de viagens a Jerusalém são particularmente numerosas). E só em
clientela suficiente. quarto lugar se encontram as obras referentes à América, enquanto a
África e os países setentrionais pouco parecem interessar. Portanto, dir-se-ia
Assim, na realidade, só depois de 1560 o público começa a admitir que os franceses do século XVI, a avaliar pelas suas leituras, atribuem
mais amplamente a existência de outros mundos e a interessar-se por eles, maior interesse ao mundo próximo do que ao mundo longínquo, ao mundo
e apenas nos últimos anos do século parece generalizar-se esse interesse. 11 conhecido desde há muito do que àquele até então ignorado. E os
Tudo isto mostra como, no século XVI, a opinião era lenta a admitir e, olhares dirigem-se para o Leste, mais do que para o Oeste. Durante o
poderíamos dizer, a «assimilar» dados novos que confundiam a sua visão R 'nascimento, é certo que os seus horizontes se alargaram, mas a imagem
do mundo. Pode, de resto perguntar-se em que medida essa visão, por do mundo surge-lhes ainda como que deformada.
volta de 1600, se tinha alterado. Os trabalhos de Atkinson dão-nos a este
respeito indicações particularmente supreendentes no que se refere à lite- *
ratura geográfica francesa. É interessante notar, a propósito, que, entre as * *
obras mais lidas em França, no século XVI, não figura, tanto quanto no
s culo xv, a narrativa da viagem de Marco Pólo ( ditada uma úni 'U v ''I. NII vcuhuh-, IlIai~ do que pclu PlO!'I'iIl'ia 0\1 Iwla~ eil'rlt'ias da nntu
1111IllIlIl'l s, <l11I;\lIttodo o s' '1110,('111Puris, 1111I C!); do 11Il'S111I111IOdo,' I ,/1, t.1I 1,/ 111111111111,11
do qru pIla 111l·dllllli\(1l1111111l11111...,) 1111
dI IlIa
362 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO 363

científica, não à literatura de receitas), o homem culto do século XVI parece entre elas, em especial, as que são acessíveis em língua vulgar, obtêm com
interessar-se pelo direito. As pesadas colectâneas jurídicas editam-se e frequência um enorme êxito. Entre os escritores da Antiguidade, os histo-
transaccionam-se activamente (em maior número do que no século xv), riadores, como vimos, eram particularmente apreciados e traduzidos.
por iniciativa de alguns grandes livreiros especializados de Lyon e de Nesta época, as obras de Heródoto, Tucídides, Tácito, Suetónio, Valério
Veneza. Não temos de surpreender-nos com o facto, porquanto, nessa Máximo, são editadas com frequência e encontram-se em muitas bibliote-
época, como vimos, os togados, os juristas e os advogados constituem cas. E, mais ainda, as Décadas de Tito Lívio, A Guerra das Gâlias de
uma franja importante da clientela dos livreiros. Mais de três quartos das César, as Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo, a História Eclesiástica,
bibliotecas francesas contêm, então, uma imensidão de livros de direito; e de Eusébio, e as Vidas Paralelas de Plutarco. A maior parte destas obras é
muitas delas pertencem mesmo a homens à primeira vista indiferentes a muitas vezes traduzida e circula também em edições ilustradas. Ao mesmo
tais especialidades - ourives, moleiros, boticários, por exemplo. Quanto tempo, numerosos são os humanistas que decidem fazer obra de historia-
àqueles que têm ligações com os tribunais, quase todos possuem, eviden- dores'". Desejosos de imitar os modelos da Antiguidade - Tito Lívio, em
temente, uma grande quantidade de livros de direito: em Paris, num total particular -, muitos deles escrevem em latim. Nisso também, a Itália é
de 55, o advogado Cousinot (1518) possui 42; um pouco mais tarde (1531), pioneira: no século XV, Leonardo Bruni decide escrever a história do seu
o presidente Lizet tem 318 entre 513 livros. E não são casos excepcionais. tempo, Poggio redige a do povo florentino e, depois, Bembo a de Veneza,
Entre as obras de direito geralmente editadas e que se encontram enquanto Eneias Sílvio Piccolomini deu às suas memórias o título de
com maior frequência nas bibliotecas, refira-se o Curso de Direito Civil e Historia rerum mirabilium sui temporis. No final do século xv, e, sobre-
o Curso de Direito Canónico, de que é impossível enumerar as edições, tudo, no século XVI, o exemplo italiano é seguido em toda a Europa. Em
algumas hoje desaparecidas; igualmente, as publicações avulsas das Espanha por Pedro Martyr, em França por um outro italiano, Paulo Emílio,
Institutas, do Digesto, do Código e das Novelas, e, ainda, o Decreto de que se tomou cronista oficial de Carlos VIII, e que compõe, já no fim do
Graciano ou as Decretais de Gregório IX. A estas obras convém acrescen- século XV, um De rebus gestis Franco rum; e, dentro em breve, por um
tar colectâneas e compilações de referências, as Flores legum, o Speculum francês, Roberto Gaguin, que publicará, por sua vez, um Compendium his-
juris e, sobretudo, o Modus legendi abbreviaturas in utroque jure. Se estes torice Francorum. Um pouco por toda a parte, desde então, aparecem obras
tratados de direito romano e canónico constituem obrigatoriamente o deste género. Não é nosso propósito traçar a história deste movimento, mas
fundo de qualquer biblioteca jurídica, os textos de direito consuetudinário sublinhar, como facto sintomático, que alguns destes textos obtêm grande
e de direito moderno multiplicam-se, então, especialmente em França, e são êxito e são muitas vezes traduzidos em língua vulgar. O Compendium de
objecto de impressões frequentes. Em muitas bibliotecas encontram-se Gaguin, por exemplo, é reimpresso dezanove vezes em latim, de 1494 a
estas obras; no entanto, neste mesmo país, enquanto se forma a legislação 1586, e sete vezes em francês, de 1514 a 1538. Mais tarde, a História de
real, editam-se cada vez mais compilações de decretos. Em breve, impres- Itália, de Francisco Guicciardini, publicada em 1561, é motivo para
sores especializados, designados pelo rei, serão encarregados de imprimir incontáveis edições italianas, de numerosas traduções francesas, assim
e difundir, desde a sua elaboração, as actas reais cujo texto é necessário como de traduções em inglês, espanhol e mesmo em flamengo.
dar a conhecer ao público; o exemplo real é prontamente seguido pelas O público que, então, se interessa pela história é constituído não ape-
cortes soberanas, em primeiro lugar, e, depois, pelas cortes secundárias. nas por clérigos, humanistas e estudiosos, mas também por homens de leis
Assim se multiplicam as peças soltas impressas, que desempenham o e, igualmente, pessoas da corte, militares, mercadores burgueses, e até meros
papel dos actuais diários oficiais e administrativos.
artesão .. É para ele que se traduzem os historiadores da Antiguidade e os
11 o-latinos. Mas este público, ávido de história, busca mais ainda as
*
* *
Todavia, mais ainda do que r los livros ti, dir ito, <I massa dos I t, VIIII II1 (illl'M, ,,111 lilll 1 ai 111\' latim dI' Ia RI·nai~salln'». in ttihtinthcqu«
k iton S rnu-n ssa Sl pclox livros de histOlia. As obras d 'stl' "1\('10, l.· '" /I1////r//1I 1/1/, I I I 't IItl/ I Ir"/I , , \ 1 1') 1 1 l'P I 77 11l1)
364 o APARECIMENTO DO LIVRO
_______________________ o_L_IV_R_o_,E_S_SE_F_E_RM
__EN_T~O 365

crónicas de estilo medieval, as obras dos memorialistas e dos autores de


anais. O velho Miroir historial de Vicente de Beauvais, o Fasciculus tem-
porum de Rolevinck, conservam numerosos leitores. O Mer des histoires
é várias vezes reimpresso e refeito no decurso do século, enquanto o Liber
chronicarum de Hartmann Schedel, conhecido geralmente por Crônica de
Nuremberga, conhece um grande êxito, assim como outras obras do
mesmo tipo, às vezes impressas de um só lado para que as folhas possam
ser coladas nas extremidades e formar um rolo. Ao mesmo tempo, as
histórias, anais e crónicas nacionais, e mesmo regionais, conhecem com
frequência grande voga. Em Espanha, por exemplo, a Crônica de Espanha
de Diego de Valera, e o De rebus Hispaniae memoralibus de Lúcio Marineo
Sículo (6 edições, das quais 5, entre 1530 e 1539: 3 em castelhano, e 2 em
latim). Em França, onde se recomeçam a ler as histórias e os anais
medievais, e, em particular, a Histoire de i' Église de France de Gregório
de Tours, os Annales et Chroniques de France de Nicole Gille, são edita-
dos dezenas de vezes no decorrer do século, ao mesmo tempo que se mul-
tiplicam os 'anais provinciais, alguns dos quais, como os Annales
d'Aquitaine de Jean Bouchet, ou os Annales de Bretagne de d' Argentré,
obtêm êxito duradouro que se prolonga até ao século XVII. E as Antiquitez
de Paris, de Corrozet, publicadas em 1531, são continuamente refeitas e
reeditadas no decurso do século. Entretanto, nenhuma destas obras seja
talvez tão procurada como as Memórias de Comines e, mais tarde, as de
Martin Du Bellay; e, em breve, aparecerão as Recherches des antiquités de
Ia France de Étienne Pasquier, cujas edições não tardarão a ser incon-
táveis. Entretanto, os leitores do século XVI procuram as Illustrations de
ia Gaule et singularite: de Troye de João Le Maire de Belges. Esta curiosa
obra de um parente de Molinet, a qual pretende mostrar que os gauleses e
os germânicos têm uma origem troiana comum, é reimpressa numerosas
vezes, enquanto as suas ilustrações servem de modelo a tapeçarias: prova
de que este público, que se interessava pela história, e cada vez mais pela
história nacional, era ainda incapaz, em geral, de distinguir entre a lenda
e os factos reais, ou pouco se preocupava com isso.

*
UI Merdes histoires, Lyon, João Du Pré, 1491, folha de rosto.
* *
Esse vasto público que se interessa pela história, e, com muita Ir
quónciu, 1ll'la hixtórin lcndárin mais do que IX Ia histórin real, que se
366 o APARECIMENTO DO LIVRO
______________________ o_L1_V_Ro_.~ES~S~E~FE~RM==EN~T~0~ ~367

apaixona, por exemplo, pela história de Tróia, interessa-se igualmente


pelas historias imaginárias.
Em primeiro lugar, no século XVI, os prelos continuam a multiplicar
as edições de obras romanescas e, particularmente, as antigas novelas de
cavalaria, cuja fama não deixa de expandir-se. Enquanto as novelas publi-
cadas no século precedente são constantemente reimpressas, os editores
vão procurar entre os manuscritos, um pouco ao acaso, os textos ainda
inéditos, que adaptam ao gosto da época antes de os publicarem. É assim
que, entre os que fazem papel de epopeias nacionais, surgem o Chevalier
au cygne ou Huon de Bordeaux, e, entre as novelas antigas e de cavalaria,
Gérard de Nevers, Florimont e muitas outras. Na totalidade, üutrepont
conseguiu enumerar, entre as versões em prosa de novelas de cavalaria e
de epopeias nacionais, treze epopeias nacionais impressas no século XVI
(duas no século XV), oito novelas antigas e cinco de cavalaria. Entre as
cerca de 80 novelas medievais que foram assim impressas, antes de 1550,
as que obtiveram maior êxito foram talvez os Quatrefils Aymon (18 edições
antes de 1536; cerca de 25 em todo o século), Ferrabrás (outro tanto,
aproximadamente) e Pierre de Provence (19 impressões, antes de 1536).
E, assim, em pleno século XVI, e bem para além dele, vê-se aumentar a
fama das lendas medievais relativas à história de Tróia, cujas narrativas
Raul Le Fêvre reagrupou sob o título de Recuei! des histoires de Troyes,
ao passo que os Faits merveilleux de Virgi!e continuam a apresentar
Virgílio como se fosse um feiticeiro medieval. Da mesma forma, conti-
nuam a espalhar-se as histórias lendárias de Baudoin de Flandre, de Huon
de Bordeaux, de Ogier le Danois ou de Perceforest, e as novelas dos cava-
leiros da Távola Redonda, do rei Artur, de Lancelote do Lago, de Merlim,
de Parsifal, o Gaulês, ou de Tristão.
Mas todas estas obras não são suficientes para saciar a sede de
romanesco dos homens do século XVI. É, sem dúvida, por isso que o Roman
de Ia Rose é reeditado ainda catorze vezes durante os quarenta primeiros
anos do século. E ainda por isso, em parte, que a Fiammetta de Boccaccio
obtém um tão grande sucesso. Também as novelas da Antiguidade conhe-
cem com frequência uma voga muito grande: O burro de ouro de Apuleio,
a História etiôpica de Heliodoro, por exemplo, traduzem-se e imprimem-se Les Quatrefi!» Aymon, Paris, A. Lotrian e D. Janot, meados do séc. XVI.
constantemente.
Ao mesmo tempo, em toda a Europa, desenvolve-se uma literatura
de caráctcr mais ou menos romanesco muito diversa e particularrn ente
upn -iudn (~tíllvl/, em parte, pelo Sl'U 'nrlÍl'tl'1' ron1:l'1 s{'o <lu' li Utopia
368 o APARECIMENTO DO LIVRO o LIVRO. ESSE FERMENTO
369

de Tomás More e as Obras de Rabelais, tiveram acolhimento tão favorável.


Mas os dois países onde, no século xv, mais aparecem os escritos deste
género são, sem contestação, a Espanha e a Itália.
Em Espanha, as novelas de cavalaria conhecem uma voga enorme.
Foi neste país que, no início do século XVI, se imprimiu um romance de
cavalaria de origem incerta, e que foi, sem dúvida, o maior êxito de
livraria do seu tempo: o Amadis de Gaula. Os seus diferentes livros e
suplementos contam com mais de 60 edições espanholas no século XVI,
uma grande quantidade de francesas e italianas, uma inglesa, uma alemã,
uma holandesa. Êxito tal que se viu nascer, no decurso do século, um ver-
dadeiro ciclo do Amadis e se publicam os feitos de Esplandián, filho de
Amadis, ou ainda, de Amadis da Inglaterra, Palmeirim de Oliva, Palmeirim
de Inglaterra, e muitos outros.
Enquanto o Amadis de Gaula prosseguia a sua carreira, obras nove-
lescas, de carácter muito diverso, não paravam de se multiplicar. Em
Espanha ainda, novelas de carácter sentimental: o Cárcel de amor do
bacharel Diego de San Pedro, em parte imitado da Fiammetta de
Boccaccio, cujo êxito salientámos, ou ainda o Tratado de amores de
Arnalte y Lucenda (3 edições espanholas, de 1522 a 1527; 17 francesas, a
partir de 1537; e 4 inglesas), a Historia de Grisel y Mirabella de Juan de
Flores (8 edições espanholas, 9 italianas, 19 francesas), e as anónimas
Questiones d'amor (umas quinze edições). Movimento que culminará na
moda da novela pastoril e sentimental *, com a Diana de Jorge de
Montemor e depois, no século XVII, em França, com a Astrée de Honoré
d'Urfé. Assim se desenvolve um género saído da Fiammetta de
Boccaccio, enquanto obras de outro tipo, as novelas de cavalaria nascidas
em França, sobretudo as do ciclo arturiano e do ciclo carolíngio, originam,
na Itália, uma série de epopeias cavaleirescas que, sem dúvida nenhuma,
devem o seu imenso êxito ao seu carácter romanesco, numa época em que
se tinha sede disso mesmo. Após a Morgante de Pulei e o Orlando
amoroso de Boiardo, o Orlando furioso de Ariosto obtém um êxito
enorme, enquanto os romances de cavalaria tradicionais e os escritos
romanescos, como o Petit Jean de Saintré, compostos para encantar as

//',1' ).11"1I11(//',1' 1'1ill/'.I'lillll/h!I',I· Croniques du grant et énorme Rhllll Gangantua, Lyon,


VIIIVII dI B, ( huusxard, I 'i17. in 4 .".
+ Em Portugal, a obra prima do g n iro a Menina e Moça de A ernardim Rib iro,
'0111 I dll;lw rn 1'\'1111111 (I ~ Ij l. Evora (I 'i 'i 7) (' COIOllill (I ~'il». (N. N)
370 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSE FERMENTO
371

horas de lazer dos senhores borgonheses, vão juntar-se, nos fardos dos
vendedores ambulantes, aos Calendários dos pastores. É a evolução nor-
mal, ainda hoje atestada pela experiência: uma obra-prima começa por ser
apreciada num escol e depois, nas gerações seguintes, abre-se a um
público cada vez mais vasto: quem outrora lia colecções de romances
seleccionados, hoje vai ao cinema, lê banda desenhada e vê televisão,
entrando assim, graças a estes novos meios, em contacto com Stendhal,
Maupassant ou Hugo - ou com aquilo que se pretende serem as suas
obras,

111. O LIVRO E A REFORMA

Enquanto a clientela dos livreiros se ia alargando e os prelos multi-


plicavam as obras da Antiguidade Clássica e as suas traduções, enquanto
se constituíam as novas literaturas, nem por isso abrandava a edição de
textos religiosos e morais tradicionais; no início do século XVI, continua-
vam a publicar-se repetidas edições da Imitação de Cristo e da Lenda
dourada, assim como das muitas Vidas de Santos, As obras de Catão mora-
lizadas obtinham o mesmo êxito, do mesmo modo que os Espelhos da
Redenção ou as narrativas da vida do Anticristo. Continuavam a ler-se
Henrique Suso, Gerson, Nider e os místicos tão procurados no século
precedente, assim como as colectâneas dos sermões já conhecidos, a que
vinham juntar-se os escritos de novos pregadores; da mesma forma, os
Padres da Igreja, e, particularmente, Santo Agostinho e São Bernardo.
Imprimiam-se, enfim, exactamente os monumentos da escolástica tradi- j'êecemb:c
cional, Occam e Pedro de Ia Palud, Guilherme Durand, Duns Escoto e bmtts%c rufe Ee(ai,fepm" :Ie ruíe Semtt61e ft coutfo1't'
):)u frOttltnt Se mOI) fopar gaí" que ~16tone Sof~ t~te foue
Buridan, a que se juntavam as obras mais recentes de João Mair, de )DoUt ~íUtt C~ftmJ'6 Se faSuml quãt ti) mOI) ttmpe fe tOp 8(6 ror-
Tateret, de Bricot, que os prelos parisienses multiplicaram à saciedade, até a nouef tt rOI) m(uíual1t jut Befa i)íttgc mfante
cerca de 1520, Ao mesmo tempo, é sabido, pela acção de Erasmo, de auec~Utma 801~ftl1~ric et Sd'iure Se rOI, co(fe
:Ir fal? Se ra ~tirrene )non fe lJ1on8e fut reríou1'
Lefêvre e seus amigos, começava a constituir-se toda uma literatura em lDourfouDÚr,8u pfll6 nt(Crra(rt, ir'lonncutap tOll6autm; porre
torno dos textos sagrados. ~e monSe. mlclÚ~"epOUtrope faleto ~uanttl, mOI' temp6 i~rll6 nt1fqui.
Assim, as obras religiosas continuam a ser impressas em grande
número no início do século XVI - em maior número, talvez mesmo, do que (' I/I/III/tll I' Calcutkírio dos Pastores, Paris, J, Murcham, 1499,

no s culo XV, Mas, no seio de uma produçã impressa que cresce COlHi
111rumcnte, ia uno representar». a pnrtir (ksta ai t \11':1. ('01110 vcrificruuos,
372 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO, ESSE FERMENTO
373

mais do que uma percentagem diminuta'". Feitas bem as contas, parece restaurada. Por. isso, nã? é sem razão, como sublinhou Hauser, «que ao
que não atingem, ao contrário de tantos escritos profanos, um público lagar. d~ ~nde Jorra o .vmho generoso, os reformistas comparem, até no
maior do que no século precedente. É certo que as obras de Lefêvre - por frontispício d.o~ seus livros, a máquina que permite distribuir às massas
exemplo, a sua tradução das Epístolas de São Paulo -, e, sobretudo, alguns alteradas o elixir da Salvação»?".
escritos de Erasmo têm grande procura: o número das reedições prova, Na ~erd~de, há. muito ~ue a imprensa se preparara para este papel,
então, uma difusão muito ampla das obras eruditas. Mas os livros deste d.esde a ~Ifusao m~cIça das Imagens piedosas nos livros xilográficos, dos
género, até cerca de 1520, só atingem os círculos, relativamente restritos, SImples livros de p~edade e dos livros de horas até aos textos sagrados, fre-
de religiosos letrados e de humanistas. que~temente em lmgua vulgar. Não se conhecem dezanove edições da
Bíbl~a. e~ alto-alemão anteriores a Lutero, vinte e quatro (muitas vezes
* parc~aIs,.e v~rdade) do Antigo Testamento, em francês, na antiga versão da
* * Bíblia historiada, antes da de Lefêvre d'Etaples? Mais ainda: ao mesmo
A situação, em breve, vai mudar. É o que sucede quando, bru- tempo que a imprensa facilita e estimula a renovação do estudo das
talmente, na Alemanha, em 1517 - e um pouco mais tarde e de modo mais Sagradas Esc~ituras, as impressoras multiplicam já os cartazes e as peças
difuso no resto da Europa -, os problemas religiosos passam para primeiro vol~nt~s, d~stmadas ao mais vasto público. Constitui-se, na verdade, uma
plano e desencadeiam as paixões. Pela primeira vez, irrompe o que, hoje, autent~ca literatura de informação, antepassada do nosso jornal actual:
chamaríamos uma «campanha de imprensa». De uma assentada, reve- uma literatura hoje difícil de conhecer, porque não se conservavam as
lam-se as possibilidades que a imprensa oferece àqueles que pretendem peças desse género, mas cuja importância não pode ser subestimada.
formar e agitar a opinião. Sabe-se. que ?S
cartazes e os editais impressos são, talvez, mais antigos do
É preciso, claro está, não exagerar o papel desempenhado pelo livro que o livro Impresso e muitos transmitem informações de actualidade
no nascimento e na expansão da Reforma, assim como o do pregador, e enquanto: a partir do século xv, se multiplicam e se difundem, aos milhares:
dar o devido relevo à propaganda e aos propagandistas. Não possuímos, as relaçoes de todo o género, referindo a passagem de um cometa
evidentemente, a ridícula pretensão de demonstrar que a Reforma é filha d~screvendo festas, narrando a entrada solene de um soberano num~
da imprensa. Talvez nunca um só livro, só por si, tenha convencido Cidade, dando notícia de uma batalha. Estas folhas volantes, que dão a
alguém. Mas, mesmo sem persuadir o leitor, o livro é, em todo o caso, a conhecer aos franceses os feitos do seu rei na Itália ou as vitórias do seu
prova tangível de uma convicção, materializada pela sua posse; fornece ~xérci.to, e permitem aos alemães acompanhar as peripécias da eleição
igualmente argumentos àqueles que já estão convencidos, permitindo-lhes imperial, preparam os incontáveis Flugschriften, que serão publicados no
aprofundar e documentar a sua fé, dando-lhes elementos que os ajudarão tempo da Reformar".
a triunfar nas discussões e arregimentar os indecisos. É, sem dúvida, por
. É bem frequentemente graças a peças deste género que o público se
todas estas razões que, no século XVI, desempenha um papel essencial no
Informa da acçã~ dos reformistas, das controvérsias que sustêm, dos pro-
desenvolvimento do protestantismo. Até então, a Igreja conhecera muitas
outras heresias; sobre todas elas tinha triunfado sempre - no Ocidente, ire sos ~a heresI~, das di.sposições tomadas para combatê-Ia. Se quiser-
IllOS avaliar a acçao exercida, então, pela imprensa, pensemos, por exem-
pelo menos - e é justo que se pergunte, como fez Henri Hauser, o que teria
acontecido a algumas delas - à hussita, por exemplo - se tivessem tido à plo, ~o papel que desempenharam os editais, antepassados dos cartazes
sua disposição a força todo-poderosa dos prelos, de que Lutero e Calvino u .tuais. Na verdade, na origem de cada grande episódio da Reforma, há
tão bem saberão servir-se nos ataques contra Roma, na difusão dos novos
dogmas e, sobretudo, no seu esforço sistemático para pôr nas mãos de
cada leitor, e na sua própria língua, os textos sagrados, base da religião ," '" IIAUS.ER, li.: La Naissance du protestantisme, Paris, 1940; e Élude.\· sur Ia
"uns, 1909, [l. H6 ' se 's., ' p, 255 e segs.
I , ItII 1/1,' Imll~·II/.I"',
" VI'I, 1111 1111I11'11111I, SE(I\IIN, .I,fI.. I L'lnlü,,"t11iou I 111 nu du XV" ~itl'll' eu
111 ('I Jl. \'11.
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374 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO
375

um edital: quando Lutero decide lutar contra o tráfico das indulgências, o A avidez com que se procurava o texto das proposições sobre as
acto que marca o início dessa luta, mais do que os sermões cujas palavras indulgências tinha surpreendido Lutero e, ao mesmo tempo, demonstrara-lhe
voam, é o edital afixado, em 31 de Outubro de 1517, à porta da capela dos que a Alemanha aguardava tão-somente um sinal, um homem, para reve-
agostinhos de Vitemberga. Traduzidas para alemão e condensadas, as lar publicamente os seus desejos secretos. A imprensa ia encarregar-se de
teses sobre as indulgências, impressas sob a forma de editais, espalham-se difundir este sinal. Enquanto Ulrich de Hutten, cansado de se dirigir ape-
imediatamente por toda a Alemanha. Em quinze dias, chegam a toda a nas aos doutos, traduzia para alemão os seus diálogos Febris prima e
parte. Alguns anos mais tarde (em 1521), quando Lutero, chamado a com- Febris secunda (1519-1520)380, Lutero, ao responder em latim aos teólo-
parecer em Worms, perante a Dieta do Império, atravessa a Alemanha pre- gos seus adversá:ios, de forma a alcançar um público maior, escreve em
cedido do arauto imperial, comove-se ao ver afixado em cada cidade o alemão o apelo A nobreza cristã da nação alemã (1520) e multiplica os
Edito de Carlos V que mandava queimar os seus livros. E bem se pode sermões, os livros de edificação, as obras de polémica na língua do seu
pensar que é muitas vezes por meio destes cartazes que a população toma país. Dos prelos de Vitemberga saem, logo reimpressos por toda a
conhecimento da existência de obras condenadas ou proibidas, que, então, Alemanha, pequenos livros manuseáveis, leves, mas tipograficamente
se apressa a procurar. Aliás, as respostas a essas condenações tomam elas nítidos, com títulos claros e sonantes, inscritos em belas cercaduras orna-
também, às vezes, a forma de cartazes; é assim que, em 1524-1525, em mentadas à alemã, sem data nem endereço do editor, mas com o nome
Meaux, se desencadeia uma autêntica guerra de proclamações; nos muros sonante de Martinho Lutero no cimo da obra, e muitas vezes também o
da cidade, são encontradas folhas a acusar Briçonnet de luterano; quando retrato gravado do chefe da Reforma, permitindo que todos conheçam os
este, em Dezembro de 1524, manda afixar, nas paredes da catedral e nas seus traços'".
portas da cidade, o grande perdão outorgado por Clemente VII, as bulas são Toda a Alemanha se inflama, então. Multiplicam-se os panfletos car-
retiradas e substituídas por textos denunciando o Papa como o Anticristo. regados de violência e clamor: arrolam-se 630 destes Flugschriften, referen-
Em breve, suprema injúria, a 13 de Janeiro de 1528, afixa-se nas paredes tes aos anos de 1520-1530. Recorreu-se a todos os meios, não apenas ao
da catedral uma falsa bula de Clemente VII, «pela qual o Papa permite e da tipografia, mas igualmente ao da ilustração e até mesmo ao da caricatura.
ordena que se leiam, releiam e se mandem ler os livros de Lutero». Para ridicularizar o papa, e os monges, eis o Asno-Papa, o Vitelo-Monge.
Pequena guerra que culmina, em 1534, com o caso dos editais, dos famosos Quanto a Murner, o frade autor do Grande louco luterano, lembra o seu
editais contra a missa, impressos por Pedro de Vingle, em Neuchâtel, de nome o do gato ou homem de mau carácter: ele será o monge com cabeça
que o rei encontra exemplares até às portas dos seus aposentos. É conhe- de gato. Ao mesmo tempo, a proporção de obras impressas em alemão não
cida a repressão que se seguiu a esta provocação, bem como as conclusões deixa de aumentar. O número das obras publicadas em baixo-alemão em
que daí retirou Francisco I sobre a imprensa. Magdeburgo, Rostock, Hamburgo, Vitemberga e Colónia passa de 70,
Todos estes editais são, seguramente, o sinal mais visível da luta que '~ltre 1501 e 1510, e de 98, entre 1511 e 1520, para 284 (das quais 232
se desenrola; encontramo-los nas paredes, às portas das igrejas, às portas dizem respeito à Igreja e à religião), entre 1521 e 1530; e a 224, entre 1531
das cocheiras, ora como folhas afixadas clandestinamente, durante a noite, c 1540 (das quais 180 relativas à religião). Entre essas obras, os livros de
atacando a missa ou insultando o papa, ora como textos oficiais anun- Lutero são particularmente numerosos; pôde calcular-se que, no seu total,
ciando as disposições tomadas contra a heresia, denunciando os livros r 'presentam mais de um terço dos textos alemães vendidos entre 1518 e
nocivos, ordenando a sua entrega. Lendo-as, o público mede os riscos que
corre. Como pano de fundo, entretanto, está a massa dos livros que
«cheiram mal», heréticos - e cuja difusão, agora, importa evocar.
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O LIVRO, ESSE FERMENTO
376 o APARECIMENTO DO LIVRO

1525382.Alguns deles conhecem enorme êxito. O sermão Von Ablasz und seis em oito; em Augsburgo, nove por cada três católicos. Mesmo nas
Gnade é reimpresso mais de vinte vezes, entre 1518 e 1520. Do sermão Von cidades onde a autoridade laica permanece fiel à antiga Igreja, imprimem-se
der Betrachtung Heiligen Leidens Christi (1519) conhecem-se umas vinte textos reformistas, em geral impunemente, na condição de se tomarem
algumas precauções: em Haguenau, Setzer, cujas relações com Melanchton
edições. Uma carta de Beatus Rhenanus, de 24 de Maio de 1519, revela-nos
são conhecidas, imprime os escritos deste último e os de Lutero, assim
que a sua Teologia e a Explicação do Pai Nosso foram «non venditi,
como os panfletos de Bugenhagen, Brenz, João Agrícola e Urbanus
sed rapti». O famoso panfleto À nobreza cristã da nação alemã, publicado
Rhegius; a chancelaria reage apenas ténue e timidamente, em 1524 e
em 18 de Agosto de 1520, teve de ser reimpresso logo no dia 25. Em três
1526, quando Setzer publica em latim obras destinadas à exportação;
semanas, haviam sido distribuídos 4000 exemplares: em dois anos, teve
chega mesmo a fazer preceder algumas delas de belos prefácios em latim
treze edições. Do tratado Da liberdade contam-se dezoito edições ante-
onde denuncia a «Sinagoga do Anticristo» - a Igreja romana, entenda-se.
riores a 1526. Os números relativos a três obras célebres de Lutero, publi-
Só em 1531, quando publica um libelo anabaptista em alemão, é que as
cadas num único ano - ] 522 - mostram ainda com que diligência se
autoridades decidem apreender a obra; o que não impedirá Setzer de man-
procurava o que saía da sua pena; contam-se por treze as edições de Von
dar publicar De Trinitatis erroribus, de Miguel Servet, em 1537384.
Menschenlehre zu Meiden; por onze, as de Libreto sobre o casamento; e
É certo que não se observa a mesma brandura em toda a parte. Em
de Betbuechlein, vinte e cinco, até 1545. 1527, por exemplo, em Nuremberga, João Guldenrund é perseguido por
Desde então, os prelos alemães, na sua maior parte, dedicam-se à ter publicado um escrito contra o papado. O eleitor, Jorge de Saxe, espe-
publicação de textos reformistas. À imagem de muitos burgueses do seu cialmente, não tolera impressores irrequietos nos seus Estados. Já nos
tempo, os impressores, com frequência, não gostam da Igreja antiga; as referimos às consequências desta política: Leipzig é abandonada por vários
relações que alguns deles mantêm com os círculos humanistas e cultos impressores, pois a publicação das obras católicas, as únicas autorizadas,
tornam-nos permeáveis às novidades. Muitas vezes, recusam-se a publi- não é rendível. Talvez por isso, Tiago Thanner, que permaneceu na cidade,
car panfletos católicos, ao passo que tratam com todo o carinho a edição é preso por dívidas, enquanto Wolfgang Stõckel, mais hábil, instala uma
dos textos de Hutten, Lutero ou Melanchton. Se não fazem isso por con- oficina fora dos estados do eleitor, graças à qual pode fazer bons negócios,
vicção, ao menos fazem-no por interesse. Tudo gira à volta de Lutero imprimindo escritos luteranos. Os vendedores ambulantes encarregam-se
nesta época; os ataques dos seus adversários não alcançam qualquer êxito de fazê-los entrar nos países onde são proibidos e de difundi-los no
_ o Grande louco luterano, de Murner, vende-se mal e, por outro lado, os campo. Entretanto, nas regiões conquistadas pela Reforma, as autoridades
escritos mais procurados até então, os de Erasmo, em particular, sofrem protestantes, em muitos casos, zelam com mais energia do que as católi-
uma quebra de audiência. Lutero, pelo contrário, faz a fortuna dos seus cas por fazer observar, à sua maneira, as decisões da Dieta de Worms de
impressores. Em Vitemberga, Melchior Lotther e João Luft contam-se início dirigi das contra Lutero, mas cujo texto proibia tão-somente a publi-
entre os cidadãos mais ricos e mais considerados; Lufft chega a bur- cação de libelos difamatórios. Perseguem, pois, aqueles que imprimem
gomestre da cidade. Em Estrasburgo, Knobloch, embora conhecido pela panfletos católicos: Segismundo Grim é preso em Augsburgo, em 1526,
generosidade para com as instituições católicas, transforma a sua oficina por ter publicado a Missa est sacrificium, de Von Eck; Grüninger, o único
em local de propaganda luterana. Em suma, em cerca de setenta impres- impressor de Estrasburgo que se manteve fiel à facção católica e que,
sores alemães estudados por Goetze'", pelo menos quarenta e cinco estão 'orajosamente, continuava a dar ao prelo escritos de Eck, Erasmo e Murner,
ao serviço de Lutero: em Vitemberga, todos, naturalmente; em Estrasburgo, viu os magistrados confiscarem, em 1522, o Grande louco luterano. E, por
toda a Alemanha, face à vaga dos escritos hostis à Igreja católica, raras são
.rx obras em que esta é defendida. Até 1522, certos tipógrafos - Adão Dyon
em Hrcslau, João Knapps em Magdeburgo, João Schoeffer em Mogúncia-
'"' GRAVTER, M., Luther et l'opinion publique, Pari, 1942.
1M. GOETZE, A., Die llochdeutschen Drucker der R(:/ilrll/(/Iiol/.I'zl'il, 1\~lrnHhllrgo,
1M, I I1 11-1 ,(' , /1/1/"11,' til' 1'11I1/11 ;11I1'/11' /"1111/111I11'/1/1 \I' I" 111/\I r l/I di ,PJl lI< I (1)1>
I!)()'i
378 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO
379
publicam simultaneamente escritos luteranos e católicos. Depois, é preciso
esperar pelos anos de 1526-1528 para se assistir à resposta católica organi- tradução e sabe-a de cor» - lamenta-se Cochlaeus. À tradução do A ti
TI t ' . , ' n [go
zada em Leipzig (graças a Jorge de Saxe), em Friburgo, na Suíça, em es ~ment~, cujo I~ClO ,aparece em 1523, depara-se êxito análogo. A Sagrada
Ingolstadt, velha cidade do papismo, onde Alexandre de Weissenhom, tipó- Escritura e, a partir dar, posta nas mãos de todos, e as paixões levantadas
grafo vindo de Augsburgo, se aproxima de Eck, Cochlaeus e dos teólogos pelos problem.as relig~osos são tais que, mesmo os que não sabem ler,
da universidade para lhes imprimir as obras, enquanto, em 1526, Mumer pedem aos amigos mais cultos que lhes expliquem os textos. De tal modo
decide montar uma oficina tipográfica, em Lucema, para publicar os seus que, como atestava Zuínglio por alturas da guerra dos camponeses, a casa
próprios escritos. Noutros lugares, os impressores que não se encontram de cada um destes tomara-se numa escola onde se liam o Antigo e o Novo
ao serviço da Reforma, geralmente, limitam-se a publicar textos científi- Testamento.
cos ou teológicos sem relação com a actualidade. Este movimento não iria parar, Enquanto Lutero, progredindo passo
Panfletos e livros reformistas, graças aos vendedores ambulantes, a passo,
, r aconselhando-se com Melanchton e os seus amigos" publica , liI Vf'O
eram difundidos no campo. Não restam dúvidas de que a imprensa tenha apos ivro, ~Antigo T:stamento, surgem no total 87 edições em alto-alemão,
contribuiu para a sublevação dos camponeses. Entre os tipógrafos, aliás, e. 19 e~ barxo-alemao, do seu Novo Testamento, entre 1519 e 1535. As
o radicalismo político e religioso parece ter feito um certo número de traduções q~e, separadament~, publica das diferentes partes do Antigo
adeptos convictos: em Augsburgo, por exemplo, Hetzer, corrector de Testamento sao prontamente reimpressas e contrafeitas por Frederico Peypus
Silvano Otmar, é um dos chefes do clã baptista da cidade; ele próprio em Nu~emberga, Forschauer em Zurique, Pedro Schoeffer em Worms e
redige alguns libelos. Conrado Kemer, impressor em Estrasburgo e em por muitos
. , outros ainda. Em resumo, de 1522 a 1546 , 430 edições totai '
ars ou
Rotenburgo, é condenado a pesada multa e havido como perigoso promo- ~~rclars, algumas das quais parece terem atingido uma tiragem excep-
tor de desordens, após os incidentes que tinham ocorrido nesta última clO~almente elevada, porquanto João Hergot, por exemplo, em 1526, não
cidade. Em Nuremberga, por fim, um impressor anabaptista muito conhe- hesita em fazer uma tiragem de 3000 exemplares de uma contrafacção do
cido é queimado vivo, em 1527. Compreende-se, nestas condições, que Novo Testamento, sem o nome do autor. Portanto, uma difusão enorme
Carlstadt e os anabaptistas e, depois, os camponeses, tenham conseguido se~ precedentes, que em nada abranda na segunda metade do século, já que
arranjar impressores guiados pelas suas convicções ou pelo incentivo do !~ao Lufft, entre 1546 ~ 1580, ainda publica 37 edições do Antigo
lucro. 1(: =r=: o facto perrrute supor que Crellius não exagera quando declara
qL~e~o este Impressor, entre 1534 e 1574, vendeu 100000 exemplares da
* B~bl~a.Em Francfort, aparecem na mesma época 24 edições completas da
* * Blbha,. se~ contar com as edições parciais. Por conseguinte, e em suma
u~11adifusão que, sem dúvida, atingiu um milhão na primeira metade do
É sabido como esta guerra e a derrota dos camponeses marcam um x '~~lo - e, mais, ainda na, segunda metade. Um «êxito de livraria», que,
dos pontos de viragem decisivos da Reforma luterana. Doravante, os pan- IllCSn:O?oJe, sena excepcional. Se considerarmos que a tradução da Bíblia
fletos tomam-se menos numerosos. O próprio Lutero publica menos obras l'OI1ShtUlapenas uma parte da obra de Lutero, juntando-lhe os sermões as
de polémica. Mas a Bíblia, cuja tradução prossegue, obtém um êxito obras poJél11ic~s(como, por exemplo, À nobreza cristã da nação alem~) e
imenso. A primeira edição do Novo Testamento, impressa em Vitemberga .unda os cat~~ISI110S- que, manuseáveis e acessíveis, são mais procurados
na oficina de Melchior Lotther, em três prelos a trabalhar a toda a força, .l!llda, verifica-se que, pela primeira vez, toma corpo uma literatura de
publicada em Setembro de 1522, esgotava em cerca de dez semanas, ape- Illassas, acessível a todos'".
sar do preço relativamente elevado. Em dois anos, de 1522 a 1524, são
executadas catorze reimpressões do Novo Testamento em Vitcrnbcrga, c
outras s .sscrua e seis CI11Augsburgo, Basilcia, Estrusburgo c l.cip/ ig.
", c' Ic li' pC'Clel 1'011\,111.11 11 C'c!I\'1I11 elc' WC'IIII,II VC'I lilllIll!'1I1 ('I [lMI'N ()
So por si, Adno Pl'lri, em Bnsilciu, publica sel('. «Toda a '('!lI!' Il ('Sl:.l 1)1/'
111//11//1. li. U'·ltllIl/lIII"'III/I'/'/1/ 1111' lulr u ~ IIIP/lf' IC)IC) •
380 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO
381

* '"
* * * *
Colocar os textos sagrados ao alcance de cada um, e na sua própria
língua, fora um dos serviços que Lutero solicitara da imprensa, e foi, Ao mesmo tempo, a França entrava em contacto com os escritos de
Luter0387•
quase ao mesmo tempo, um dos objectivos dos «biblienses» franceses.
Chamado a Meaux por Briçonnet, o bispo reformador, Lefêvre d'Étaples . O carácter internacional do comércio do livro permite perceber
abandonava os estudos eruditos, a partir de 1521, e empreendia a tradução racllm~nte como esses escritos puderam lá chegar tão cedo. Os livreiros
dos Livros Sagrados para consumo generalizado. A partir de 1523, na ofi- de Pa~Is e de Lyon encontravam-se com os de Vitemberga e de Leipzig
cina de Simão de Colines, publicaram-se o Evangelho, as Epístolas, os n.as feiras de Francfort; sem dúvida nenhuma, muitas vezes traziam con-
Actos dos Apóstolos; depois, por volta de 1524, os Salmos; e, por fim, em sigo alguns exemplares das obras que tanto alarido provocavam
1525, as Epístolas e Evangelhos para as cinquenta e duas semanas do ano, Alemanha. na
manual edificante destinado a relembrar as verdades mais elementares e
. Rapidamente, por outro lado, decidem alguns livreiros estrangeiros
mais populares do cristianismo. Em formato reduzido (in-S." ou in-16.0),
~~meçar a espal?ar em França edições preparadas com essa intenção.
a Escritura é posta ao alcance de todas as mãos, em França quase ao
',Ioben.' em particular, numa carta enviada ao Reformador, em 14 de
mesmo tempo que na Alemanha. Durante o verão de 1524, Briçonnet
Fevereíro de 1519, diz que tinha mandado reimprimir algumas das suas
organiza leituras públicas, exposições mais familiares do que os sermões;
todas as manhãs, durante uma hora, o orador comenta os textos sagrados (~l~ras,das ~~ais enviara 600 para França, outras ainda para Inglaterra,
diante do povo: para os mais letrados, interpreta os Salmos. Em breve, I.spanha, Itália e o Brabante. Em Paris mesmo Conrado Resch no E d
I B '1' " seu o
perante o êxito das primeiras tentativas, estas conferências propagam-se. ( c aSI ela e usando material desta cidade, fazia publicar uma série d
Quatro «conferencistas» são encarregados de percorrer os principais cen- I,ratados de po~émica religi~sa, entre os quais o texto no qual Luter~
tros e, para concluir o ensino dos fiéis mais instruídos, o próprio bispo I xpu.n~~ as razoes que, em Vitemberga, o tinham levado a queimar a bula

ordena que se distribuam os Evangelhos em francês e aconselha a levá-los l:on.tIfIc~aque o condenava. A partir de 1520, lê-se Lutero nas escolas de
para os actos de culto. Encorajado pelos resultados obtidos, um dos seus I uns, discutem-se as su~s obras: estas penetram prontamente em Lyon e
discípulos decide, então, montar um prelo em Meaux e enceta diligências I tl1Mea~x. Sabe-se qUaISforam as reacções das autoridades perante esta
para se apetrechar do material necessário. penetração da heresia. Depois da bula de 15 de Junho de 1520
I d Abril ' surge, em
Os resultados desta acção são conhecidos: em Meaux e na região
vizinha, a população mais humilde, a dos cardadores e dos tecelões, é con-
e n.?~
1521, a condenação da Universidade. Esta parece ter
provocado, inicialmente, uma verdadeira campanha de imprensa libelos
quistada pelo Evangelho, por obra e graça dos métodos característicos dos
I unções. A réplica de Melanchton, Adversus furiosum Parisiensiu~
reformistas huguenotes: um círculo onde as pessoas se reúnem para ler e
1/11'()lo~astrorurr: decretum, é, a partir do mês de Julho, vendida e traduzida
comentar a Bíblia, para entoar cânticos, mais acessíveis àqueles que não
I III Paris. Mas, Já ~m 18 de Março de 1521, obedecendo à bula pontifícia
sabem ler e que, tanto em França como na Alemanha, constitui com fre-
uniu ordem ~. real tinha
. determinado ao Supremo Tribunal q ue eXIgIsse
" a'
quência a origem das igrejas reformadas. A paixão que as questões reli-
giosas despertam é tão viva, então, que as traduções de Lefêvre se espalham Il1IllparencI~ de livreiros e impressores, e zelasse para que nenhum texto
com uma celeridade tal que nos surpreende; em pouco tempo, circulam não só IHIV(~ partIcularmente os referentes à Sagrada Escritura - pudesse s
em Meaux e em Paris, mas também em Lyon, na Normandia, na Champagne; ,,"1111 .ado sem. o imprimatur da Universidade ' e , em 13 de J un h o, uma er
e até na Provença e entre os habitantes da região do Vaud, nos Alpes do ('IIII'IH,:ado tribunal, que viria a tomar-se célebre, proibia a venda ou a
Delfinado e do Piemonte, se encontram vestígios delas. Paralelamente, 1111111'ssao das obras que tratavam da Sagrada Escritura sem terem sido
começam a imprimir-se em Paris colectâneas de orações em francês'",

li' 1>1' I A 'IOUI{, 1', lmluut, 1,'\ OI/J.lIIII'1 til' 11/ N,'/illllll', !'IUIS, I I) I 1.1 111
· VI:, 111111 I ~II i"~III1II1, M<)( mil, W (; , 11/ NI'/mllll' 1111,'1II1/1/tll , 1'1 11/ lil/IIIIIII/
I

I 1//1 11/ \ I" I 11, /, 11, \ \ 11/ 111/1/11"1/1'/, ti" I 11111,., I /I I /,111,,' I' 1111 IIIII~''', 11/ 10
382 o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO
383

examinadas pelos doutores da Faculdade de Teologia de ~aris. ~sta


Basileia, ao longo da fronteira francesa, os prelos multiplicam folhetos de
d . ão renovada em 22 de Março de 1522, instituía em teona o regime
eClsa , . d ,. d propaganda e de combate para serem difundidos em França. Estrasburgo
da censura prévia e, já no Concílio de Paris, ?S bISpOS a proVI?CIa e
é talvez o principal destes três centros. Nesta cidade, desde cedo seduzi da
Sens elaboraram um catálogo de livros subversivos. Em breve, Bnçonne~
pela Reforma, os refugiados franceses são bem acolhidos. Não tarda que
e os seus amigos tornar-se-ão também suspeitos e o grupo de ~eaux sera
sejam numerosos. Entre eles, nomes ilustres: Lambert, regressado de
dissolvido. Lefevre, por algum tempo, terá que ~efuglar:se. em
Vitemberga, reside na cidade de 1524 a 1526; fugido de Meaux em
Estrasburgo. Chamado de novo pelo rei em 1526, com a IncUmben~Ia de
Outubro de 1525, Lefevre d'Étaples aí chega, acompanhado de Roussel, e
gerir a livraria real em Blois, e, ao mesmo tempo, zelar ~ela ~d~caçao dos
instala-se na residência de Capiton, um dos reformistas de Estrasburgo.
príncipes, Lefêvre não poderá, no entanto, mandar rmpnrrur as suas
Perto deles, Miguel d' Arande e FareI. Mais tarde ainda, Estrasburgo rece-
traduções em França. É em Antuérpia, sem o nome do autor, que, em 1~2~,
berá Miguel Servet e Calvino, que aí reside, se casa e publica, em 1539, a
serão publicadas a tradução do Novo Testamento e, em 1530, a Biblia
Segunda edição latina da Instituição cristã. Ao lado destes refugiados
Sagrada, em francês. " .
insignes, está a massa daqueles que convergem para a cidade a cada nova
Assim se inicia, às vezes contra a vontade do ret, uma poh~Ica de
perseguição - de tal modo numerosos, a partir de 1538, que Calvino pôde
repressão conduzida pela Faculdade de Teologia.~ pelo Supremo Tnb~nal,
fundar uma paróquia francesa na cidade, e que, em 1575, depois do São
estreitamente unidos sob a direcção de Noel Beda .e Pedro Lizet.
Bartolomeu, atingirão o número de quinze mil.
Doravante, os impressores e ao livreiros deve~ t~r mais na ve~da ~as
obras suspeitas. É certo que, até ao caso dos editais, em 1534, so ~u~to Não é de admirar que, nestas condições, Estrasburgo se transforme
raras vezes foram seriamente inquietados - mas foram, com frequência, num foco de propaganda das novas ideias, dirigido para a França. É certo
avisados e muito estreitamente vigiados, em Paris pelo menos. ~estas que, durante muito tempo, para evitar complicações, os impressores só
condições, apesar dos esforços de alguns dele~ - Simão Du~o~s, por muito raramente se arriscam a publicar obras em francês, à excepção de
exemplo, impressor de Margarida de Navarra, ~uJos prel?s multiplicaram loão Prüss. Mas, na realidade, a sua missão é outra. O serviço que prestam
pequenas obras de propaganda luterana, em Pans e, depois, em Alençon - : causa da Reforma francesa, de 1520 a 1540, é o de multiplicar, com des-
tornou-se a partir daí difícil imprimir em França textos de combate neces- uno à França, as obras latinas de Lutero e, das alemãs, oferecer os textos
sários à propagação d as novas Iidei
elas '.
388 . lutinos estabelecidos por grupos de tradutores. Tarefa à qual se consagram
Muito naturalmente, os países estrangeiros encarregar-se-Iam de trandes impressores, como João Schott, Herwagen, Rizhel, aos quais vem
fornecer estes escritos de combate. Já os primeiros reformistas tinham.ten- luntar-se Setzer, o seu confrade de Haguenau; e esta produção maciça,
tado criar uma oficina de que eles próprios fossem os me.stres. A partir de vendida em França, irrita tanto os católicos franceses que estes não se
1523, Lambert, o frade franciscano de Avinhão que havia abandonado o 1 «nsarn de compor apóstrofes
violentas para difamar Estrasburgo. Pela
convento para se unir a Lutero em Vitemberga, pensa mont.ar em 111 'sma época, um grupo de impressores de Antuérpia especializa-se na
Hamburgo uma oficina destinada a imprimir as tra~uções dO,s escntos do puhiicação de pequenos textos de combate, agora em francês. Vorstermann
reformador alemão. Coctus e Farel alimentam projectos analogos. Far~l I , sobretudo, Martim de Keyseren (também chamado Martim Lempereur)
realizará estes projectos em Neuchâtel, em 1533, e em Ge?~bra, a partir os mais activos neste campo. O último, em 1528 e em 1530, edita as
,10

de 1536. Enquanto esperam, os refugiados frances~s ?mgem-se aos II .uíuçõcs da Sagrada Escritura que Lefêvre não podia publicar em França;
impressores dos países gerrnânicos. Em breve, em Antuérpia, Estrasburgo, 1 l'lv que publica igualmente a tradução do Enchiridion de Erasmo, que se
11(' 'r a de Berquin. É ele, em especial, que, juntamente
S com Simão
I )"flois, fi iura COIllO especialista da edição dos p qucnos manuais edifi
1 ,!1111'S qu • cir .ulum em Frunçn antes de 1530 c são talvez os melhor 's
1M. TRICARD, A., «Lu Propagundc -vcna iliqu cn Fruncc: l'Imprimcur Simo» I I1 IIltI" do pllll't:IIIll'lllo lutvruno. 1\1" SI"Ha. 1""" vI',d:t<Il'ira 1/11'1 ruurn
1)1111111 (I }h I \·1),1\11\\/1/'1'1\ dr lu /1/0/)",11(///(/1' /('/1,11;"111I', <; nehrn 11) 7, pp I \r 11
'li 11 ,1(1" ,wltl 11111 '1.1110 1/111' O~('OIlIl'III.lIlll l' \'l'Iu/l dllll ~ 111111,,1.11111
O LIVRO, ESSE FERMENTO \H
o APARECIMENTO DO LIVRO
384 ------
ambulantes, como tantas vezes se escreveu. Indubitavelrnentc: 1Ill\<,l
podiam facilmente introduzir em França. Talvez as autoridades espanho-
sobretu~o a partir de 1540-1550 que, de Genebra, se estabelecem r 'li x
las tenham de início fechado os olhos a esta produção destinada à expor-
clan~estmas~ e?carregadas de difundir os livros impressos na cidud ' til
tação; a Bíblia de Lefêvre possuía, aliás, a aprovação dos doutores de Ca~vmo. ~te at, os vendedores ambulantes mostarm-se, de facto, muito
Lovaina. Mas, por fim, inquietam-se: em 14 de Novembro de 1529, par- activos; sao eles que, partindo dos grandes centros se encarregam Ire
ticularmente, determinam que se não imprimam mais Novos Testamentos quentemente de distribuir os livros defesos nas pequenas cidades '1' ,
na cidade, «nem os evangelhos, epístolas, profecias, ou quaisquer outros veze . t édi ' mUI tiS
s por m erme 10 do livreiro local. Mas é lícito pensar que b '
t d íf d . uma 0.1
livros em francês ou em alemão com prefácios ou prólogos, apostilas ou
P ar eI o tra ,. ICO os livros «de má sina» se faz de modo quase o fICIa .I- e
glosas contendo ou exalando má doutrina ou erro». Esta proibição, reno- em argUlsslma. escal~. Os livreiros e os impressores franceses desem pc-
vada em 1531, parece ter levado os tipógrafos de Antuérpia a usarem de n~am pap~l ~u~to activo .em.tudo isto; muitos deles, em Lyon, sobretudo,
maior prudência. A partir desta data, mostram tendência para escolher sao favoráveis as novas ideias, e muitos aderirão à Reforma M t d
rela _ . . . an en o
textos menos comprometedores para as edições que imprimem em çoes comer~cla~sc~nstantes com os seus colegas estrangeiros, estimu-
francês. lam com f~equencIa a introdução dos livros proibidos em França' de igual
Em Basileia, entretanto, se Froben, a instâncias de Erasmo, havia I~od~ arrIs~am-se a imprimir textos audazes; muitos deles' mantêm
decidido não mais imprimir obras luteranas, o seu confrade Adão Petri Ielaçoes amistosas co.m os reformistas exilados, prestando-lhes serviços
não se priva disso, de que tira, aliás, bom proveito. Uma parte dessas ~~ toda a ?rdem, servindo-lhes às vezes de banqueiros e, com frequência
publicações é destinada à França. Por outro lado, os refugiados franceses t~~,nda,de informadores e agentes de ligação. Tudo isto sem riscos dema-
são numerosos na cidade, e mais influentes talvez do que em Estrasburgo; sldd~s, porque sabem tomar precauções e garantir as necessárias pro-
aí também, incentivam a publicação de obras de propaganda e ajudam a te~çoes, ao mes~o. tempo que a polícia é inexistente, os processos com-
passá-Ias para França. Um impressor de Basileia, Tomás Wolff, em espe- 1:~I~ados,e o propno r.ei nem sempre está muito disposto a usar de rigor.
cial, parece relacionar-se com eles; como Martinho Lempereur, em Antuérpia, I,~Ia compr.ova~ esta SItuação basta estudar, por exemplo, a actividade do
publica obras em francês: em 1523, a Suma da Sagrada Escritura; no ano IUpO de h~relfos, todos parentes ou associados, que durante tod
seguinte, a famosa sátira à Determinação da Universidade de Paris, conhe- I~cform~, ~gI~do em íntimo acordo e mantendo lojas ~m Paris e L ~na
cida pelo nome de Murmau; é ele ainda que, por exemplo, em 1525, l "" a mSI~ma dos Escudos de Basileia e Colónia, representavam ye~
publica uma edição do Novo Testamento, de Lefevre, ornamentada com França, os interesses dos livreiros de Basileia'", '
xilogravuras copiadas das que Cranach tinha feito para a primeira edição O fundador da. empresa, João Schabler, mais conhecido pelo nome
da tradução de Lutero. Ao mesmo tempo, tal como Herwagen, em , Wattenschnee,
til' t . . onundo da Suábia, chegara a Lyon ' em 1483 , c om o seu
Estrasburgo, e com a mesma finalidade, multiplica as traduções latinas l ompa nota e Impressor Mateus Husz, de quem parece ter sido capitalista

I',II,~1485, esta~elece-se por ,conta própria. Mais do que editor ou livreir~


das obras alemãs de Lutero.
Il :-;:de~te, el.e e,. um pouco a maneira de Bartolomeu Buyer, corretor de

1\\. Ó,~IOS e livreiro frequenta~or das feiras; muito rapidamente, toma-se o


* 111111 ipal representante dos livreiros de Basileia, em Lyon. Em 1495, em
* *

Toda esta literatura impressa às portas de França, geralmente desti-


nada ao público francês, penetra facilmente no país, e em grandes quanti- "I IlAUI RIER, L, Bibliographic lyonnaise, l. VIII; PLATTARD, 1.. «L'ÉclI de
dades. Sobre este ponto, abundam os testemunhos e, em primeiro lugar, a, 11111",111 N/'I'II/'
I' . tlu. xvr siêr!«. t. XIII, 1926
- , pp, 2R2 2H'i'. ,/RFN()UAI'O , , P.,« I mpnmcurs
'
".111/1'11', iluuiu- 1'1 Illlld 'UlS li' l'll1al'I~ll'S", /11/. rit .. urt. "('llhilll'l'» "RI'SI'h" ~,
menções aos livros apreendidos em casa dos suspeitos, nos processos de
11 11111
,1I111\1'IU I',· ('1111111'11
W"IIIl'I. IIIIJlIIIIlI'III "I'illl\, 111 1,,;,,/111I"
(;/111'/1///:/11
heresia. Mas como r n 'Ira 'Ia, ' tão íacilm ntc? Atrav s dos com 'r
1 JlP IMI IX . •
Iólllll • 110 Il 'Il .,SIl tia •.• viu 'l'lI., til III 'Ildo~, ai rnvcs dos vllldulorl's
o LIVRO, ESSE FERMENTO 387
386 ~O_A_PA_R_E_C_IM_E_N_T_O_D_O_L_I_V_RO _ -----------------------------------------------------

livros, pois no mesmo instante em que os trouxeram, mandei deixar todas as outras
Basileia, adquire o direito de burguesia. Em 1504, talvez desejoso de
coisas, para fazer as vossas. Do mesmo modo vo[los] envio e embalei-os para o
expandir os negócios, confia a direcção da casa de Lyon a um dos seus
cavaleiro, com 200 Pater [Exposição familiar da Oração dominical e dos artigos
empregados, Pedro Parmentier, a quem, entre 1521 e 1524, associará João do Credo, de Farei] e 50 Epístolas [provavelmente uma obra de Farei hoje desa-
Vaugris, seu primo em segundo grau. Os dois sócios ficam, então, encar- parecida), mas não sei como os quereis vender ou mandar vender. .. Os meus encar-
regados de tarefas bem determinadas: Parmentier, com a obrigação de per- regados fizeram negócio com alguns deles, a fim de ganharem gosto em vender
correr as cidades do sul de França, a Itália e a Espanha; Vaugris, com a de livros, e isto se fará pouco a pouco, e paralelamente se ganhará alguma coisa.
visitar Estrasburgo, Basileia, Genebra e a Flandres. Por volta de 1536, Do mesmo modo, peço-vos, se for possível, que se mande traduzir o novo testa-
Parmentier cria duas sucursais, uma em Avinhão, a outra em Toulouse. mento, segundo a tradução de M. L. [Martinho Lutero}, por algum homem que o
Schabler, entretanto, em 1504, após ter chegado a pensar instalar-se saiba fazer bem, o que seria um grande bem para o país de França e Barganha e
Sabôia; etc. E se fosse necessário levar uma letra francesa, mandá-la-ia levar de
em Nantes, possivelmente para assegurar aos editores de Lyon e de
Paris ou de Lyon, e se a tivermos em Basileia que seja boa, tanto melhor seria.
Basileia uma ligação com a Espanha, parece ocupar-se da edição em
Parto hoje de Basileia, para ir a Francfort. Basileia, 19 de Agosto de 1524.
Paris onde se encontra associado a Kerver e a Petit na edição de uma
mon~mental colecção canónica. Talvez já lá possua estabelecimento. Seja [Guiliome, mon bom frêre et amis, Ia grase et paix de Dieu soy en vous! J'ay
como for, em 1516, o seu sobrinho Conrado Resch está estabelecido na resu vous lettres, lesquelles lettres vous fêtes mension que on délivre dargent à
rua de Saint-Jacques, naturalmente no Escudo de Basileia. monsieur le Chevalier. Lequel je luy ay fet délivrés 10 eseus par les mein de mon
Podemos imaginar o que seria a rede de negócios constituída por onele Conrat. Item, j'ay fet relier vous livres, ear tout ineontinent que on les a
apporté, j'ay fet laiser toutes autres choses, pour fere les wautres. Item je vous
Schabler, com agentes e representantes por todo o lado - e que serviços,
envoye et les ay balié au ehevalier, avêque 200 Pater et 50 Epistolae, mês je ne say
graças às suas relações, podia prestar aos amigos. Na ép.oca das feiras. de
eoman vous les vollés vandre ou faire vandre ... Mês bailles les a quêque mersié,
Lyon, afluem cartas e pacotes ao estabelecimento de Miguel Parmentier, affin qui prêne apétit de vandre des livres et il se ferat de peu en peu et parallement
que se encarrega de os fazer chegar ao destino. Alciato, Rabelais, João Du il gagnierat quque ehose. Item je vous prie si il estoy possible, que on fit translaté le
Bellay, os Amerbach e muitos outros ainda (reformista incluídos) recor- noviau testament, selon Ia translation de M.L. a quêque home, qui le sut buen fere,
reram aos seus bons ofícios. Schabler, retirado em Basileia, pelo menos que se seroy un gran bien pour le paii de Franss et Burgone et Savoie, ete. Et si il
desde 1516, mantém relações com Farel e Coctus; e, mais ainda, Vaugris, fesoy beson de aporté une letre fransyse, je Ia feray aporté de Paris ou de Lion, et si
seu agente em Francfort e Estrasburgo, aparece ligado estreitamente ao nous en avons a Bâlle qui fut bone, tant miex vaudroy. Item je part aujourd'hui de
movimento reformista. Já em 22 de Novembro de 1520, escreve a Bassle.pour aller a Franekffort. A Basle, le 19 de augusto 1524.]

Amerbach: «Se tendes o Lutero alemão, enviai-mo para Lyon, pois há


bons confrades que o querem ler». Em virtude das suas viagens e relações, Como se vê, Vaugris desempenhou um papel importante na difusão
é muitas vezes o primeiro a tomar conhecimento das notícias. dos escritos reformistas. Não há dúvida de que, nas lojas que possui, em
Encarregado de remeter dinheiro a Bonifácio Amerbach, que prossegue os Paris ou em Châlons, são numerosos os livros suspeitos saídos dos prelos
estudos em Avinhão, anuncia-lhe, numa carta, a morte de Hutten e dá-lhe dos editores de Basileia que tem a seu cargo representar: os Schabler, os
notícias de Erasmo. Em 1524, vemo-lo intervir para apressar a publicação, I'rcbcn, os Cratander, os Curion. De tal maneira que, quando ele morre
em Basileia, de um tratado de Farel, o De Oratione dominica, e, em 20 de subitamente, em Junho de 1527 (em Nettancourt, na Lorena), ao regressar
Agosto do mesmo ano, envia a Farel, então em Montbéliard, uma carta de uma viagem a Paris onde se preparava para abrir uma loja, o capítulo
muito elucidativa sobre o papel que desempenha, e da qual merecem ser dl São Bento alerta o tribunal e tenta mandar apreender os livros coloca-
reproduzidas aqui ~lgumas linhas, na sua curiosa ortografia. dos por Vaugris na loja que acabara de instalar numa dependência da casa
do l.icórnio onde se encontrava a oficina dos Kerver -, e o bispo de
Guilherme, meu bom irmão e amigo, a graça e a paz de Deus estejam COII-
('hnlolls, pm Sl'U lado, cmpr , .ndc dili zêucius análogas. Os livreiros de
vosco! Recebi as vossas cartas, lUIS quais indicais que se entregue dinheiro 1/11
!l,!. rk-iu, Il'n'(l'.,os, previnem. l'lllno, c previnem () Conselho da l'ldadl;
'1'II11or Cavalviro 11I1I1fllllllll/ dI' C(lCI/. 11 quctu 1I11111t1l'i ('lIlr/'Mllr /0 (',\(,/11/(1,1 /11'/01
( h: 111111 'li.! (' ( 1111('1 ('111 Naul' 1 I Ijllillqlll'l IlIh·Il l· ('111 d(' l'l1l1l('lIlal
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388 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO 389

os Senhores das Ligas, e as perseguições diminuem. O que, mesmo assim, em Lyon e que, como marca, usava o escudo de Colónia. O mais velho,
não impede que André Weingartner, livreiro parente da mulher de Vaugris, João, depois de ter trabalhado na oficina de Conrado Resch, parece ter ido
e de Basileia como ele, seja molestado em Paris, em 1529. para Basileia, quer para se aperfeiçoar no ofício, quer para se afastar de
Tanto quanto Vaugris, Conrado Resch, no Escudo parisiense de Basileia, Paris, onde as suas opiniões religiosas faziam perigar a sua segurança.
devotou-se à Reforma; é na sua oficina, como vimos, que surge a primeira Ao regressar, fixara-se, não em Paris, onde se limitava a conservar uma
tradução francesa conhecida de Lutero. Resch, então, segue de muito loja, mas em Lyon, cidade mais tolerante. Pouco depois, associava-se ao
perto as controvérsias religiosas e, facto sintomático, dá trabalho a dois irmão, Francisco, e, a partir de 1542, tomava-se editor. Talvez por prudên-
impressores que também se interessam por elas, Pedro Vidovaeus e Simão cia, apregoava o seu catolicismo, mas as suas verdadeiras convicções não
Dubois. Em 1523, ainda, encarrega Pedro Vidoveu de imprimir as Paráfrases deixam dúvidas. Assim como não restam dúvidas de que tenha con-
de Erasmo sobre as Epístolas canónicas, publicação que parece ter provo- tribuído para introduzir em França numerosas obras heréticas impressas
cado a hostilidade da Universidade. pelos seus amigos livreiros de Basileia, dos quais, juntamente com
Em 1526, Conrado Resch, imitando Schabler e Vaugris, retira-se Conrado Resch, é representante em Paris. A tal ponto que, em 3 de Maio
para Basileia, talvez para ficar de mãos livres. Tal como os seus dois de 1538, o Conselho da cidade de Basileia, ao saber que Francisco I
parentes, continua a interessar-se pelos negócios livreiros, percorre as acabara de emitir um edito a proibir a venda de livros Lutherance farince,
feiras e conserva interesses em França. Parece, então, manter relações per- e renovando o procedimento de 1527, por alturas da morte de Vaugris,
manentes com Farei e Calvino. Em 1538, Luís du Tillet, em Paris, dirige uma carta ao adjunto do Preboste de Paris para as questões crimi-
oferece-se a Calvino, então em Basileia, para lhe fazer chegar fundos por nais, recomendando os seus dois concidadãos (cives nostros) Resch e
intermédio de Resch. Entretanto, no Escudo de Basileia parisiense, Frellon, bibliopolas, e pedindo-lhe que não leve em conta as calúnias de
Cristiano Wechel, antigo agente de Resch, é tão favorável às novas ideias que ambos são alvo. Calúnias? Talvez não. De facto, João Frellon, tal
quanto o seu antino patrão. Oriundo do Brabante, mantém estreitas como Resch, mantém relações com Farel e Calvino; Servet trabalha em sua
relações com os países germânicos e edita com fequência obras compostas casa como corrector, durante algum tempo; a correspondência entre Servet e
por alemães, particularmente as obras teóricas de Dürer. Entre o que edita, alvino faz-se por seu intermédio e quando, em Viena-do-Delfinado,
há frequentemente livros suspeitos, mas são sempre publicados com tais , ervet publica a Christianissimi restitutis, João Frellon aceita promover a
precauções que os riscos são reduzidos; é assim que, em 1528 e 1530, sua divulgação. Os livros que edita, aparentemente, têm estreita relação
publica, com privilégio real, um pequeno tratado, aparentemente inofen- com os livros destinados ao culto católico; mas, com muita frequência,
sivo, o Livro da perfeita oração, mas que, na realidade, era em parte a servem de veículo às doutrinas protestantes. Tal é o caso, por exemplo, de
adaptação de passagens do Betbüchlein, de Lutero. Ainda em 1530, dois livrinhos que publica em 1545, Precationes christianae ad imita-
publica as Preces e Orações da Bíblia, tradução das Precationes biblicte tionem psalmorum compositae e Precationes biblicae ...vete ris et novi
de OUo Brunfels: este livrinho permitia dar a conhecer os textos bíblicos 'Iestamenti; em 1553 ainda, no seu Novo Testamento, o Diabo da Tentação
cuja tradução não podia fazer-se livremente, mas que, em virtude da sua l' representado com a forma de um monge de pés forcados. A sua associa-

inofensiva aparência, só em 1551 foi posto no Index. Graças a métodos ,', o com António Vincent - o editor de Lyon e de Genebra, tão cioso da
semelhantes, Wechel parece nunca ter sido inquietado seriamente. Morreu causa protestante, como veremos - não deixa qualquer dúvida sobre o
em paz, em Paris; no entanto, o filho dele, que só pela intervenção do seu papel que Frellon representava.
inquilino Humberto Languet, ministro do Saxe em Paris, pudera escapar Assim, a coberto da cidadania de Basileia, um grupo de livreiros,
ao massacre do dia de São Bartolomeu, fixar-se-á em Francfort no ano .uni 10S dos reformistas, durante toda a primeira metade do século, pôde
seguinte. qllas' livr m 'nl manter, em França, lojas repletas de livros heréticos; por
Entretanto, ao lado do Escudo de Basileia, crescia uma nova oficina, vezes, i mpri 111i los em Lyon ' .m Paris; outras vez 'S, servir d int r
tumb rn ligada aos livreiros de Basilcia ' à Reforma: a que JOl\O c 11I1'(lIaIIOaos li u'Ílos dl' Huxilciu: uuuux, di' corr -io (l aI' de banqueiro)

I 't alll i 'il'O PI '11011. amhos fi lhos di um li vrt iro par isil use. t i Ilha 111íuududo . I I- 111I. ( ai 'illll I 111 .11\11 'li NI' \;1', lllll\ll ·m· •.• lIilo I di' l· •.•puuí.u t)111
390 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO 391

apesar de todas as disposições legais, os maus livros se espalhem cada de 1530, submete previamente a exame da Faculdade a edição que ele
vez mais em França. Mas o Escudo de Basileia e o Escudo de Colónia próprio prepara das obras de Santo Agostinho'".
não eram as únicas oficinas que se dedicavam a esse comércio. Longe Nesta época, os processos de Berquin e o seu suplício devem ter feito
disso. tremer mais de um livreiro. Mas é sobretudo a partir de 1530 que se mul-
tiplicam as discórdias. Em Abril de 1530, a Sorbonne condena a necessi-
* dade de saber grego e hebraico para comprender bem a Sagrada Escritura.
* * Em 2 de Março de 1531, censura uma série de livros, entre os quais a Unio
dissentium, a Oração de Jesus Cristo que é o Pai Nosso, o Credo com os
dez mandamentos da Lei, tudo em francês. Por sua instigação, em 12 de
Vender maus livros, menosprezar as censuras da Universidade e do Julho de 1531, o Supremo Tribunal encarrega dois dos seus membros de
Supremo Tribunal e as ordens do próprio rei, torna-se, na verdade, cada examinar, com dois doutores da Faculdade de Teologia, os livros que se
vez mais, uma necessidade comercial para muitos livreiros franceses. Já vendem em Paris e apreender os que fossem considerados «de má
em 1521, a proibição de vender os textos de Lutero, que tantas paixões doutrina». Esta decisão, renovada a 17 de Maio de 1532, permitia dora-
suscitam e são, por isso, êxitos garantidos de livraria, surge como um vante aos teólogos efectuar buscas nos estabelecimentos dos livreiros;
entrave ao negócio; e o mesmo se passa com a impossibilidade de publi- parece que os doutores se aproveitaram tão largamente da decisão que, em
car livremente os panfletos de Ulrich de Hutten, cujas obras literárias 15 de Setembro de 1533, o tribunal decidiu proibir as buscas e o exercí-
conhecem êxito enorme. Nesse época em que o Humanismo ainda não se cio da censura sem a presença dos seus magistrados. No início do ano de
encontra separado da Reforma, em que os escritos dos humanistas são 1534, por fim, eclodia o caso dos leitores reais. Ao lerem os avisos a anun-
objecto de larga audiência, os editores vêem sucessivamente proibidas as ciar que Agathas Guidacerius, Francisco Vatable e Pedro Danes se propu-
obras compostas pelos autores mais procurados. A partir de1525, torna-se nham comentar os textos sagrados e Aristóteles, a Sorbonne e o Supremo
impossível publicar, em França, as traduções dos textos sagrados feitas Tribunal explodiram: foi proibida a leitura e comentário das Sagradas
por Lefevre. E, em breve, o visado é Erasmo, cujas obras se encontram em Escrituras sem autorização da Faculdade. Fizeram-se então buscas aos
todas as lojas. Marot torna-se suspeito. Enquanto a Bíblia de Lefêvre livreiros qualificados dos leitores reais, tais como Wechel, Jerónimo de
aparece em Antuérpia e em Basileia, os livreiros de Paris e de Lyon têm, Gourmont, Augereau, cujos nomes eram mencinados nos avisos que ori-
em princípio, de contentar-se com a reimpressão da velha versão da Bíblia ginaram o caso. Augereau, em particular, esteve preso durante algum
historiada, que, aliás, se vende muito bem e é incessantemente reeditada, ternpo'".
tão grande é a avidez com que se procuram os textos sagrados. O que não Sendo funcionários da Universidade, mantendo muitas vezes relações
seria, então, se a versão de Lefêvre pudesse circular! Entretanto, em Maio amistosas com os teólogos da Faculdade e os magistrados do Supremo
e Junho de 1525, a Faculdade de Teologia condena quatro obras de Tribunal - dois baluartes da ortodoxia -, a maior parte dos livreiros e dos
Erasmo: Elogio do casamento, O modo de rezar, Símbolo dos Apóstolos e
Lamentação da paz. Em 15 de Maio de 1526, decide proibir, aos jovens
sobretudo, a leitura dos Colóquios de Erasmo, obra de que muitos livrei-
ros parisienses possuíam infalivelmente exemplares no seu estabeleci- 3'lO DELISLE, L., Notice sur un registre des procês-verbaux de Ia Faculté de théolo-
gi/' de Paris pendam les années 1505-1533. Separata de Notices et extraits des manuscrits
mento. Podemos imaginar quais foram as suas reacções. Aliás, mesmo
di' Ia Bibliothêque nationa!e et autres bibliothêques, t. XXXVI, 1899, pp. 17-27. Cf. GUIG-
para publicarem os tratados mais difundidos dos Padres da Igreja, devem
Ni\RD, .I., «Imprimcurs ct libraircs parisicns, 1525-1536», in Bulletin de l'Association
solicitar uma autorização. Erasmo é de tal forma suspeito na Faculdade 3." séri " N." 2, .Iunho -1953,p. 74.
(,'/111111I111I1'/llIrlf,
que esta vê com maus olhos que o livreiro Chevallon edite as obras de São "11VI\YIHN tlORRHR, .I., «Autoine Augercnu, gruvcur de leurc» " imprimcur
J .rónirno preparadas por Erasrno, e [á-lo saber em lermos cominatérios. p 1I1 u 11(VI'I I ,110\ I ~ \ I l». i 11 1'11I is 1'1 111' di' t/nuu», MI'IIIII/II',I' /III/IIil',1 1111I ta I'I'dl'/(///1I1I
atilll~ll' prudente, l'lIl I dl' Fl'vl'fl'im
Ik tul !llodo qlll' Chcvullon, 11\1111:1 dl'l 111'/"/'.1 IJ111111 Ít/IO I d,' /'11//1 ,'I di' ,'1/" d,' /,'UIII,,', 11) ,
392--------- o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO 393

impressores parisienses não era talvez excessivamente favorável às novas que figuram as obras de Marot, os utiliza também para a publicação de
ideias; mas tomava-se necessário satisfazer a clientela, pelo que todos se uma colectânea de versos destinados a glorificar a memória de Marot, em
sentiam prejudicados com os entraves que se interpunham ao seu negócio. 1544 - de Marot, o herege, mas também o poeta do rei.
Em 1545, ocorreu um incidente sintomático. Tendo o Supremo Tribunal Como estranhar, nestas condições, que a censura seja ineficaz, que os
confirmado a proibição de uma longa série de obras cujo rol havia sido maus livros pululem cada vez mais, que a heresia se espalhe? Na verdade,
elaborado pela Faculdade de Teologia, os vinte e quatro livreiros jura- os livreiros franceses, desde que tomem algumas precauções, e recorram
mentados da Universidade objectaram que essa medida poderia causar- a alguns subterfúgios bem simples, conseguem em muitos casos respon-
-lhes a ruína, ao implicar a perda total de obras já em armazém e a anulação der aos desejos de uma clientela ávida, e imprimir e vender livros de
de contratos de impressão em andamento. Nestas condições, solicitavam tendência heterodoxa sem correrem grande risco; certamente que está fora
autorização para vender essas obras, juntando-Ihes uma folha onde se indi- de questão publicarem abertamente um livro que acaba de ser proibido;
cariam as passagens censuradas, de modo a prevenir o público. A autoriza- mas é sempre possível fazer o mesmo que os editores de Rabelais fazem,
ção, naturalmente, foi recusada'". depois de cada condenação: suprimir da página de rosto o nome e o
Os livreiros e os impressores não podiam deixar de se sentir tentados endereço do editor. Nada os impede, em qualquer caso, antes pelo contrá-
a ignorar tais medidas; a tentação era tanto maior quanto, na realidade, a rio, de publicarem as refutações da heresia apresentadas por um João Eck,
polícia estava mal organizada e a facção da tolerância, sobretudo até 1534, um João Fischer ou um Noêl Beda (excepto quando proibidas pelo monarca).
com Margarida e os Du Bellay, tinha influência na corte e não hesitava em Há também pouco perigo em publicar uma obra de aparência ortodoxa
intervir. O rei, como se sabia, estava disposto a moderar os ardores dos mas onde, na realidade, se deixam insinuar proposições audaciosas. De facto,
doutores e dos magistrados. Enfim, entre a heresia e a ortodoxia, a fron- para enganar os doutores e confundir os magistrados, os expedientes são
teira era ainda imprecisa. É a época, não olvidemos, em que o rei intervém muitos.
a favor de Berquin e de Marot, tenta defender Erasmo contra a Sorbonne,
e protege Lefevre d'Étaples, ao mesmo tempo que se atribuem privilégios *
reais a obras «de mau cheiro», condenadas pela Faculdade, e que a própria * *
irmã do rei, considerada suspeita, vê atacado um dos seus livros. Mais
tarde ainda, em plena tormenta, durante os últimos anos do seu reinado, Assim, com uma violência mais declarada quando se trata de
Francisco I garante protecção a Roberto Estienne, seu impressor, contra a impressões estrangeiras, e com uma audácia mais dissimulada quando
Faculdade de Teologia; em 1545, concede um privilégio a Rabelais - autor saem dos prelos franceses, as edições suspeitas multiplicam-se, apesar das
de obras como Pantagruel e Gangântua, que figuravam no índice organi- proibições. Para comprová-lo, basta estudar a história de algumas obras.
zado pela Sorbonne e pelo Supremo Tribunal - para imprimir o Tiers Livre Vejamos, por exemplo, as Heures de Nostre Dame, da autoria do
na oficina de Wechel. A despeito do privilégio real, a Sorbonne condena poeta Gringore, cujo texto em francês (bem diferente do texto tradicional)
imediatamente essa obra e Rabelais julga prudente fugir para Metz, ape- aparecera impresso em 1525, sob o pseudónimo de Mêre Sote. Numa
sar das protecções de que goza; mas a condenação da Sorbonne não brincadeira de mau gosto, o autor ter-se-ia feito representar com as feições
impedirá o rei, em 1550, de renovar o privilégio concedido em 1545, e, de Cristo ultrajado, com um casacão e um gorro quadrado. A estampa, ao
desta vez, por dez anos. Época curosa, na verdade, aquela em que o que parece, passou despercebida, mas o texto incomodou o Supremo
livreiro João André - impressor do Supremo Tribunal, funcionário do Tribunal, que achou por bem consultar a Sorbonne. As Heures de Nostre
Presidente Lizet -, cujos prelos são usados para publicar os índices em Dame foram condenadas pela Sorbonne em 26 de Agosto de 1525 e o
Supr 1110 Tribunal proibiu que se imprimissem. Mas o editor, João Petit,
uno p .rd iu ti 'sI' 'rança de utilizar nevam ente as dispcndiosas xilogruvuras
"1' WFlSS, N., Jrun /)/1 III'//lIl', /I'.\" Protcstnnts et l« Sorbonnc (/ 52!) /515). 1'1IJ'\~. qm nuuulnra abril pura uquclc livro c de reimprimir o texto dl' Grin 'on'
I tl() I I' IH 11111 til .11111 llll I 'X, "ri r.uulu ll1l1l 'l', t 'lil 11 ra<i11 l' qllll Ido,
394 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO

publicou uma segunda edição da obra; por prudência, entretanto, num as Precationes biblicce, do mesmo Brunfels, obtêm êxito ainda maior: sô)n
certo número de exemplares substituíra a xilogravura grotesca por uma imediatamente traduzidas pelos reformistas franceses exilados, que, ôl
estampa menos comprometedora. De novo, em 1533, e depois, por volta míngua de edições do Novo Testamento em francês, procuram multipli '111
de 1540, agora outra vez com a figura grotesca, eram reimpressas as pequenos tratados enxameados de citações bíblicas. Com o título, Priêrc»
Heures de Nostre Dame. A obra, decerto, não era muito inquietante. Mas et oraisons de Ia Bible, o livro teve em francês um êxito considerável: em
mesmo os textos de Lutero, por vezes, devem ter sido editados e vendidos 1529, Vorstermann imprime-o em Antuérpia, e, depois disso, Martinho
em França sem muitas mais dificuldades. O Betbüchlein, por exemplo: Lempereur, em 1533. Em 1530, Wechel, ainda ele, publica uma edição em
publicada em 1522, esta obra tinha sido editada em latim, em 1525, na ofi- Paris. Em 1542, Dolet imprime-o também, e, em seguida, João de Tournes,
cina de Herwagen, em Estrasburgo; em 1528 e1530, como vimos, Wechel em 1543. Acabaria por ser censurado apenas em 1550 (em Lovaina) e em
publicava, a coberto de um privilégio real, um pequeno manual edificante, 1551 (em Paris).
o Livro da verdadeira e perfeita oração, cujo índice não fazia suspeitar do
seu carácter heterodoxo, mas que, na realidade, continha uma tradução *
parcial do texto de Lutero. Naquela época, porém, os inquisidores da * *
Sorbonne já estavam habituados a desconfiar: em 2 de Março de 1531,
condenavam a obra. Não importava: em 1534, Martim Lempereur encar- Até 1543, em boa verdade, os livreiros e os impressores que se dedi-
regava-se de imprimi-Ia em Antuérpia. Depois, com o passar do tempo, a cavam a essas traficâncias podiam contar com a impunidade; raros são,
viúva de João de Brie, em 1540, Tiago Regnault e Eustáquio Foucault, em com efeito, até essa data, os que se vêem seriamente importunados.
1543, voltavam a imprimir a obra às claras em Paris. Depois, em 1545, Depois do caso dos editais, as coisas mudam. São conhecidas as brutais
Guilherme Vissmaken, em Antuérpia, e Olivier ArnouUet, em data inde- reacções do rei'": enquanto se realizam procissões expiatórias, em 22, 23
terminada, em Lyon, ainda fazem sair novas edições do mesmo manual. e 25 de Outubro, o Supremo Tribunal manda ler uma proclamação no
Assim, sem que impressores e livreiros sejam punidos, divulgam-se Palácio, nos termos da qual, «se houvesse alguém capaz de fornecer
vários milhares de exemplares, em seis edições diferentes, dos textos de informações sobre aquele ou aqueles que tinham afixado os ditos editais
Lutero, em cuja tradução talvez tenha colaborado Berquin'". revelando-as sem quaisquer dúvidas, receberia uma gratificação de cem
Muitas obras reformistas são, nessa altura, difundidas com igual escudos, dada pela Corte. Pelo contrário, os que guardassem para si tais
amplitude. A Unio dissidentium, assinada por Hermann Bodius (pseudó- informações, se denunciados, morreriam na fogueira». A partir daí, as
nimo de Martinho Bucer), impressa no seu texto latino, em Colónia, em delações afluem em Paris; em Tours, realizam-se buscas entre os livreiros
1527, depois em Antuérpia e Lyon, em 1531, e ainda em Lyon, em 1532, \ os impressores, que levam à prisão numerosos suspeitos. A partir de
1533 e 1534, aparece em francês, na oficina de Martinho Lempereur, em Novembro, há uma primeira série de execuções espectaculares; no dia 10,
1528 e 1532; em 1539 e 1551, será ainda reeditada em Genebra. O De dis- na Praça Maubert, é queimado um impressor que imprimira e encadernara
ciplina et institutione puerorum, de Otto Brunfels, que a Sorbonne devia
condenar em 1533, e que foi publicado pela primeira vez em 1525, é edi-
tado antes da sua condenação, em 1527, por Roberto Estienne, em Paris,
depois, em 1538, em Lyon, na oficina de Gryphe, e em 1541 e 1542, em ",.,WEISS, N, e BOURILLY, Y.L., «Jean Du Bellay, les Protestants et Ia Sorbonne»,
11111/1111'1;1/de Ia Societé de l'Histoire du Protestantismefrançais, t. LllI, 1904, pp. 97-143;
Paris, a seguir a uma outra obra: a Institutio de Hegendorff. Em 1558,
I'I'IIVRE, L., «L'origine des placards 1534», in Bibliothêque d'Humanisme
de et
Roberto Granjon, em Lyon, publicará a sua tradução francesa. Entretanto,
N"IIfI;.I',I'fll//'(', I, VII, 1945, pp, 62-75; IlARJ, R., «Les Placards de 1534», in Aspects de Ia
I ""II/I,lI(IIItll' ,.I'i;g;('/I,I'/', Gcn zbru, Droz, 1957, in-S.", pp. 79-142. Este último volume,
11',1111111 II!,o~ nouivcix, IIcaha (k upurcc 'r no prc 'i~o 1l1()1l1.nto em que 'nviall1os CSI'
(I\' 111
1'11 MOORE, W.G., La R/f/imlll' allcmaud« /'1 10 1;lIlralll,./'./i·(II/{'fI;.I'(', p, ilil6 'SI' 's. ',IIUIUlo J111111
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li, I JlI'i 71 N,'sllls l'olldi\'II('s, I,', podido
1IIIIIl'IltlllllOS 11110111(' d;1I o
/'1 1'/111 1111 ,h I.lqm· q"l "1,' I"", I lI. lI. ,"1,11
396 o APARECIMENTO DO LIVRO
° LIVRO, ESSE FERMENTO

«falsos livros de Lutero»; no dia 19, é a vez de um livreiro. Em 24 de


vimos, é publicado o primeiro índice francês, organizado após uma St lI('
Dezembro, ainda, António Augereau, um dos impressores do Espelho da
de buscas feitas em anos anteriores nas lojas dos livreiros parisiens .s. HIII
alma pecadora, que já tinha sido preso por altura do caso dos leitores
Abril de 1547, o rei intervém para proibir, uma vez mais, por meio de 1II11
reais, sobe à fogueira. Facto simbólico, por fim: em 21 de Janeiro de 1535:
edito publicado em Fontainebleau, que se imprimam e vendam obras qu '
data em que, nas ruas de Paris, se realiza a procissão expiatória a que ~ rer
versem a Sagrada Escritura ou que se vendam as provenientes de Genebra
assiste, podem ser vistas, na noite do mesmo dia, e nas ruas por onde tm?a
ou da Alemanha, sem antes terem sido examinadas pela Faculdade de
passado Francisco I, as fogueiras dos seis heréticos queimados, nas qUaIS,
Teologia. Em 1551, por fim, num edito publicado em Châtaubrianl, o
antes da execução, se haviam lançado três grandes sacos contendo os
Poder confirma, codifica, completa todas as medidas anteriores e proibe,
livros encontrados nas suas casas.
em particular, que se mandem vir livros de Genebra e dos países heréticos
Em definitivo, o número dos editais encontrados e o dos livros sus- para França.
peitos apreendidos durante as buscas deve ter impressionado o rei. ~ste,
No total, um conjunto de regras muito precisas, draconianas, mas
de repente, parece tomar consciência do papel desempenhado pel?lIvro
que se não respeitam. De facto, essa legislação, sempre minuciosa, só
na propagação da heresia: o livro, única prova tangível da culpab~h.dade
serve para confirmar o progresso da heresia e a multiplicação dos livros
do suspeito e, de algum modo, materializador do seu pecado. D~CldI~O_a
proibidos. A partir de 1540, e, sobretudo, em 1550, os livreiros e os
extirpar a heresia, Francisco I, em 13 de Janeiro, toma uma disposição
impressores franceses tornam-se cada vez mais ousados. Aparecem prelos
extrema e proibe que se imprima qualquer livro no reino sob pena de
clandestinos em quase toda a parte, os vendedores ambulantes pululam, os
enforcamento. Disposição surpreendente, na verdade, impossível de ser
livros heréticos publicados sem indicação de origem são mais numerosos.
executada, e que nada teria resolvido, aliás: afinal de contas, os editais,
Ao mesmo tempo, com títulos inofensivos, desenvolve-se uma literatura
origem de todas essas decisões, não tinham sido impressos fora de França,
. icr-rvc ?
que tem toda a aparência de ortodoxa, mas que, na realidade, é veículo de
em Neuchâtel, por Pedro de Vingle, sem correr quaisquer nscos.
heresia e se reveste de todas as formas, incluindo as do almanaque e do
Disposição contra a qual se levantaram Budé e João Du Bellay, e que,
alfabeto: heréticas são, de facto, as Figuras do Apocalipse, publicadas em
finalmente, foi revogada; em 23 de Fevereiro, o rei declarava suspensa a
1552 com o endereço de Estêvão Groulleau, sucessor de Dinis Janot, um
sua decisão final; entretanto, doze impressores parisienses eram designa-
dos maiores editores parisienses de livrinhos populares; herético é
dos (<<elese só eles») para imprimirem os «livros aprovados e necessários
t:lI~bém o Alphabet ou Instruction chrétienne pour les petits enfants,
ao bem da coisa pública», ficando-lhes proibido dar ao prelo livros novos.
muitas vezes censurado, que Pedro Estiard imprime livremente em Lyon,
Essa decisão, que pode comparar-se às que, pela mesma época,
em 1558, antes de se dirigir a Estrasburgo. Herético ainda, o Miroir du
tomaram os soberanos britânicos, não foi executada; de facto, tudo indica
//(:nifent, pequeno volume de piedade editado, não menos livremente, por
que os impressores franceses nunca deixaram de trabalhar e,que o an~ de loão de Tournes, em Lyon, em 1559395•
1535 foi, nesse aspecto, como qualquer outro. Doravante, porem, passanam
Pouco importam os belos regulamentos elaborados pelos juristas!
a contar com uma vigilância mais rigorosa. Em 25 de Janeiro de 1535, na
I\, nestas condições, pouco importa também que, de tempos a tempos, um
lista dos fugitivos suspeitos de heresia, que se anuncia ao som de trombe-
livreiro ou um impressor seja peso, ou mesmo queimado! Para ser eficaz
tas há sete nomes de profissionais ligados à actividade livreira. Impressores
dt' facto, a repressão deveria ter sido bem mais severa - e, mesmo assim:
e livreiros são presos com frequência e alguns deles queimados na fogueira.
nao se sabe. Perseguem-se ou queimam-se, sobretudo vendedores arnbu-
E, para suspender a multiplicação dos livros proibidos, que muit~ nat~-
I.ll\t 'S, e, às vezes, pequenos livreiros, aprendizes de impressor. Entre as
ralmente acompanha os progressos da heresia, elabora-se uma legislação
\ rtirnas efcctivas da repressão, não encontramos, em contrapartida, nenhum
cada vez mais precisa e rigorosa: em 1542, por ocasião da apreensão de
nome das grand 'S famílias que dominam a profissão. Comprovando o
um certo número de exemplares da Instituição cristã, O Supremo Tribunal
proíbe a venda de quaisquer livros que não hajam sido mostrados ti <':~I~
vou- (',colllldos entre os doutor 'S da Univcrsidud '. Em I 'i4'i, t'OlllO 1(1
, " IISI I 11 ,1111'/"11/1/
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o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO 399
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facto, Imbart de La Tour declara que os grandes livreiros, os i~pressores propaganda, análogo ao que Lutero criara em Vitemberga - é realizado,
com casa própria, não se comprometiam, e que as obras heréticas era~ finalmente, por Farel, em 1530, quando, apoiado por uma parte dos bur-
impressas frequentemente em prelos clandestinos. ~sto ta!vez ~eJa gueses da cidade, penetra em Neuchâtel e, em 4 de Novembro, expulsa os
verdade, em parte, no que toca a Paris; mas os grandes ~dltores .tem m~ltas padres e suprime o antigo culto.
relações, muitas protecções. Quando o perigo se aproxirna, muitos a~l1~os Neuchâtel vai tornar-se, então, ao mesmo tempo, asilo de refugiados
empenham-se em salvá-Ias, prevenindo-os, retardando as perseguiçoes franceses e centro da propaganda evangélica. Homem de acção, realista,
No pior dos casos, como aconteceu com Camada Bade ou Roberto FareI, que conhece a força da imprensa, empenha-se em mandar vir um
impressor, Pedro de Vingle'". Filho de João de Vingle, também impressor,
Estienne, têm tempo suficiente para preparar a fuga. .
Em Lyon, sobretudo, a liberdade é total, ou quase. A partir de 1.542, oriundo da Picardia, Pedro de Vingle trabalhara, entre 1525 e 1531, como
deixa-se de imprimir a Bíblia historiada e adapta-se o texto da Bíblia de revisor de Claude Nourry, o especialista de Lyon em livrinhos populares,
Olivetano, que, «vestida» a preceito, fica com um aspecto ortod?xo; nem cuja filha desposou. Conquistado pela Reforma, colocara-se ao serviço de
Arnoullet, nem FreHon, nem Tournes, nem G~ilherm~ ~oUllle, nem Farel, talvez a partir de 1525, e utilizara os prelos de Nourry para imprimir
Payen, nem Pidier, nem Bacquenois, nem os Benngen sao mcomod~dos obras reformistas com endereços falsos; em 1531, publicava com o seu
por isso. Mais tarde, a partir de 1558, Roberto Granjon, gen~~ do pmtor nome uma pequena obra já mencionada, Unio dissidentium, que a
Bernardo Salomon, por sua vez genro de João de Tournes, utlhz~ os seus Sorbonne condenara já em 2 de Março do mesmo ano. Pouco depois,
caracteres de cortesia, aliás facilmente identificáveis" ~ara editar ~ma Pedra de Vingle era expulso de Lyon por ter imprimido, segundo declara,
pequena série de manuais edificantes perfeitame~te here~cos, o que nao o () Novo Testamento em francês. Aceita, então, um conselho dos habitantes
impedirá, aliás, de, em seguida, ir a .Ro~a ab~lr punçoes por conta ~o de Berna para se ir estabelecer em Genebra; mas a situação nessa cidade
Papa. Nessa época, os mais célebres livreiros e Imp~essores de Lyor:, aJu- era demasiado conturbada. Aconselhado por Farel, transfere-se então para
dam a heresia: muitos têm relações com Farel, Calvmo, Genebra. Jo~o de Manosque, numa região que a heresia estava a conquistar e onde Farel,
Tournes vive em pleno meio protestante; Gryphe acolhe Dolet ao sair da oriundo de Gap, tinha parentes. Lá, vendeu obras de propaganda, à mis-
prisão de Toulouse, e não ~esita e~ imprimir ob~as cond~nadas pela tura com o Calendário dos pastores. Depois, em Outubro de 1532, os habi-
Sorbonne: os Senneton, tívreíros muito poderosos, sao conquistados .p~:a (untes do Vaud pediam a FareI que, para a evangelização dos seus vales de
heresia, assim como Frellon. Baltasar Arnoullet pratica oficialmente a religião Dclfinado e do Piemonte, fossem impressas a Biblia e a União de vários
católica mas associa-se a Guilherme Guéroult, que encontraremos em passos da Sagrada Escritura, traduzida por Saulnier a partir do latim de
Genebra; mantém relações cordiais com Calvino e tem Servet co~o cor- Hucer, Pedro de Vingle estava particularmente habilitado para executar o
ctor: em 1533 deixa Gueroult imprimir secretamente, em VIena, a rrubalho; em Dezembro de 1532, o bardo Martinho Gonin esperava-o em
rector; . '1 S fará
Christiana restitutio. Só uma denúncia de Calvino, hosti ~ ervet, ~ra { i mebra com 500 escudos de ouro, recolhidos entre os habitantes do Vaud
com que Arnoullet seja preso. Valha a verd~de que, depois de. t.er sld~ para esse fim. Recomendado pelos cidadãos de Berna, chegava pouco
posto em liberdade, retomará o seu lugar de Impressor e r~conclh~-~e-a
com Calvino: nestas condições, não é de espantar que os livros he:etlc~s
pululem. Para fornecer capitais e dirigir o trabalho - numa escal~ ate e~t~o 1% DUFOUR, T., «Notice bibliographique sur le cathéchisme et Ia confession de foi
jamais a1cançada em Paris, Metz, Lyon e Genebra -, aí esta Antóruo dI' Culvin (1537) et sur les autres livres imprimés à Genêve et à Neuchâtel dans les pre-
Vincent, dono de duas oficinas, uma em Genebra e a outra em Lyon. IlIll'l~ 1 .mps de Ia Réforrne (1533-1540)>>, in Le Catéchisme français de Calvin, Genebra,
IK7K, 1'1'. CCX c 'LXXXVlll; GUINCHARD, J., L'introduction de l'imprimerie à Neuchãtel
,1 1""1 li' dt: vingl«, Neuchãtel, 1933; DELARUE, l I, «Olivétan et Pierre de Vingle à
* « h 11\ ve, 15' 151.h, inllii1l;otlll\qlll' d'l Iutnonisine 1'1 Renaissance, t. viu, 1946, pp, 105-118;
* * IIIH )1',1\, l'irrn: di' Vil/gll', 1';IIII";"'I"lr di' 1"1/1',,1; c BERTIIOl!J), (i., <<I.ivr 'S PSl'II(\O
to qu , havia muito t 'l11pO, nutriam Lamb rt, I 111t1l1t1J1I\"
!I\' 1\11111'1111 plIIll'\lillIl, . 111 11.1/11"'11 d,' 11111/1I1J/I,I.I/llId,' 1I'lig;"I/I", pp, IK 7K I'
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400 o APARECIMENTO DO LIVRO o LIVRO. ESSE FERMENTO
401

depois à cidade e instalava-se na casa vizinha da ocupada por um rico volantes, a1manaques. Farel iria imediatamente reparar esta situação, Foi,
comerciante, João Chautemps, que parece ter auxiliado a empresa com o sem dúvida, instigado por ele que João Gérard, oriundo de Suse, instalou
seu dinheiro, e cujos filhos tinham Olivetano por preceptor. A pedido de na cidade, em 1536, uma oficina tipográfica; nesse mesmo ano, publicava
Chautemps, os magistrados de Genebra consentiam em deixar imprimir e o Novo Testamento em francês, e, depois os Salmos de David e a
vender a Bíblia segundo o texto de Lefêvre, publicado em Antuérpia. Instruction des enfants, aos quais se sucedeu uma quantidade de pequenos
Mas, em 13 de Abril, proibiam a publicação da União. Esta continuou a opúsculos de propaganda; a partir de 1540, e, sobretudo, em 1545, a
ser publicada, mas clandestinamente, com o endereço falso «em Antuérpia, actividade de Gérard tornava-se ainda mais importante. A sua produção
na oficina de Pierre Du Pont», ao passo que o Novo Testamento, se não a comportava muitas obras de Viret e, especialmente, de Calvino, de quem
Bíblia inteira, saía dos prelos de Pedro de Vingle no mês de Abril. O impres- era o editor oficial.
sor punha, então, em andamento uma nova obra, a Instruction des enfants, Ao mesmo tempo, surgem outras tipografias em Genebra. De 1538 a
de Olivetano, e, depois, no mês de Agosto, estabelecia-se em Neuchâtel, 1544, Jean Michel trabalha nesta cidade com o material da oficina de
onde, trabalhando em paz, desenvolveu, com a ajuda de Marcourt, um Ne.uchâtel, assim como Miguel Du Bois, de 1537 a 1541. Em 1548, chega
pastor da cidade, e de Tomás Malingre, o antigo dominicano, intensa o filho de um advogado de Paris, João Crespin, também ele advogado, que
actividade; em 1533, publicava a liturgia de FareI e uma colectânea de se torna impressor; depois, em 1549 e 1550, chegam dois tipógrafos pari-
canções evangélicas; no ano seguinte, o Sumário, e, depois, uma série de sienses célebres, Conrado Bade e Roberto Estienne, Genebra conta, desde
panfletos, o Livro dos comerciantes e os famosos editais sobre a missa; em então, com várias oficinas muito importantes. Com o afluxo dos refugia-
1535, a Bíblia de Olivetano e muitas outras ainda, cuja proveniência foi dos, livreiros e impressores tornam-se cada vez mais numerosos: de 1550 a
revelada há cerca de meio século. Todas estas obras são destinadas, em 1560, chegarão mais de 130. De 1553 a 1540, publicam-se apenas 42 obras;
primeiro lugar, à França, publicadas sem endereço ou com endereços fal- de 1540 a 1550, umas 193. De 1550 a 1564, umas 527. Cerca de quarenta
sos: «Impresso em Corinto», ou «Impresso em Paris por Pedro de Vignolle, prelos funcionam, então, na cidade de Calvino, a maior parte ao serviço
residente na Rua da Sorbonne», ou, mais simplesmente, «Impresso em de um número restrito de grandes editores que comandam as operações do
Paris». .omércio do livro (João Crespin, Roberto Estienne e, sobretudo, António
Vincent e Lourenço da Normandia) e que centralizam entre eles as enco-
* mendas para França'",
* * Excepto o de Roberto Estienne, os prelos genebrinos consagram-se
quase unicamente à publicação de obras religiosas. Na cidade de Calvino,
Entretanto, de Neuchâtel, Farel prosseguia a investi da sobre Genebra, imprirne-se o seguinte: Bíblias e Novos Testamentos - são conhecidas, do
cidade onde, a 10 de Agosto de 1535, a missa era abolida, por decisão do p ríodo entre 1550 e 1564, cinquenta e nove edições em francês, sem con-
Conselho dos Duzentos, e na qual, onze meses mais tarde, entrava Calvino. tur com as edições latinas, gregas, italianas, espanholas. Salmos numero-
Com Genebra ocupada, o caminho para Lyon estava livre. De Estrasburgo "OS, como verificaremos. Panfletos também, atacando o Papa como a
a Genebra, por uma linha ininterrupta de povoações, a França estava iso- unutese de Jesus; por exemplo, a Comédie du Pape malade et tirant à sa
lada dos Estados católicos da Alemanha, e rodeada de cidades protes- [in; além disso, a fim de permitir a todos os fiéis sustentar uma discussão
tantes, cujos prelos produziam livros heréticos. Doravante, de Francfort e tl ológica e de fazer penetrar os novos dogmas nas camadas mais diversas
de Estrasburgo a Basileia e a Genebra, de Genebra a Lyon e a Paris, cir- da população, editam-se pequenos tratados teológicos em língua vulgar,
culam os emissários de FareI. Ao mesmo tempo, prepara-se a invasão da
França pelo livro genebrino.
Quando FareI e Calvino voltam a Genebra, a cidade conta apenas
. ''I VI'I, xuhn- (llI~MIIII(), C'lIAIX, p" NI'I'hl'/l'hl',I' ,1'111'/';'II/'I';IIW/,;/' 11 (i/'I//'I'/' dt: I 'i 'i()
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KOlIIl, limitavum Sl' 11impruuir livros dl' uso, pl ~'as 11'/11/', I 1(,/,(;111I1111/1111
402 o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO, ESSE FERMENTO 403

tais como o Abrégé de Ia doctrine évangélique et papistique, de Viret, o a Lyon, de onde se espalham pelas cidades menos importantes. Quase
Brief sommaire de Ia doctrine évangélique, de Bullinger, ou o Bouclier de sempre vão dar à oficina de um livreiro. Livreiros voluntariamente recep-
lafoi mis en dialogue, de Bartolomeu Causse. Mas, em maior número do t,adores encontram-se em Tours, Poitiers, Angers, Périgueux ou Bauge.
que todas estas obras, avultam os textos de Calvino: 256 edições, de 1550 As vezes, quando as circunstâncias se prestam a isso, quando na região se
a 1564, das quais 160 em Genebra. A Instituição cristã é, então, só por si, estabelece um clima de moderação, colocam a obra herética no meio dos
objecto de vinte e cinco edições, nove em latim e dezasseis em francês, a livros ortodoxos, sem correrem riscos, pois ela traz endereço falso e apre-
maior parte das quais provém dos prelos genebrinos; e maior foi talve~ o senta-se, para quem não estiver avisado, com o aspecto de um banal livro
número de edições do Catecismo em perguntas e respostas, que Calvino de piedade. Mas, na maior parte dos casos, os livros comprometedores são
publica em 1541, e a versão da Bíblia que executa em 1551. Está assim escondidos numa adega ou noutro qualquer reduto e vendidos apenas aos
garantida a divulgação da nova ortodoxia. iniciados. Muitas vezes também, os vendedores ambulantes que percor-
O financiamento e o escoamento dessa produção maciça de propa- rem a região encarregam-se de comercializar as cartinhas, os almanaques,
ganda levantavam, no entanto, múltiplos problemas; é certo que os edi- os saltérios, veículos da heresia. E, deste modo, os livros penetram por toda
tores de Genebra tinham a possibilidade de enviar para as feiras de a parte: encontram-se nos conventos, nos colégios, e é fácil escondê-los, em
Francfort uma parte desses livros. Aí, os livreiros dos países protestantes caso de perigo, pois são geralmente de formato reduzido, in-S." ou in-16.o39R•
podiam abastecer-se livremente, enquanto os livreiros franceses, também Em. Toulon, um boticário ameaçado enterra a sua biblioteca no jardim, e
presentes, tomavam disposições para fazer penetrar os livros proibidos em muitos exemplares desses livrinhos de propaganda são encontrados num
França. Mas, a partir de 1542, organiza-se a caça ao livro genebrino; em esconderijo qualquer, às vezes passados vários séculos.
1548, proibe-se que sejam introduzidos no reino livros impressos em É muito difícil avaliar a importância exacta do comércio clandestino.
Genebra, quaisquer que fossem. Nestas condições, a sua difusão faz-se Entre esses volumes, quantas edições desaparecidas haverá? Não restam
clandestinamente através da venda ambulante. Cada editor de Genebra dúvidas, no entanto, de que se trata de empreendimentos concebidos em
possui a sua rede de vendedores ambulantes, que se encarregam de vender escala muito elevada. A actividade de um Lourenço da Normandia, por
livros numa determinada região. O livreiro solidariza-se com as perdas do exemplo, assim o demonstra>". Este amigo de Calvino, como ele natural
vendedor nesse comércio arriscado, e o acerto das contas realiza-se ime- de Noyon, advogado em Genebra, mas sobretudo editor e livreiro, estava
diatamente após a venda. Em breve, essas redes aumentam, graças ao < frente de um negócio muito importante. Em 1563, põe quatro prelos a
apoio dos pregadores que Genebra envia para França, alguns dos quais trabalhar na oficina do impressor Perrin e, provavelmente, outras mais,
são profissionais do livro: é o caso de Conrado Bade, por exemplo, que algures. Ao morrer, em 1569, serão encontrados 34 912 volumes nas suas
encerra a sua oficina, em 1562, para ir pregar o evangelho na região de lojas. Para vendê-los, Lourenço da Normandia estabelece relações direc-
Orleães, onde morre de peste. Assim, os livros heréticos afluem a França tas com certos livreiros, tais como Lucas Josse e Cláudio Bocheron (em
por Collonges, Saint-Jean-de-Losne, Langres, Saint-Dizier, se vêm da M~tz~, Sebastião Martin (em Sisteron) e Luís de Hu (em Reims). Mas,
Alemanha; por Gex, pela Sabóia, por Chablais e, daí, por Lyon, no caso pnn~lpalmente, recruta vendedores ambulantes entre os refugiados
de chegarem de Genebra. Não alguns exemplares isolados, mas centenas provindos de todas as províncias de França e mais ou menos familiariza-
deles ao mesmo tempo, em tonéis, na bagagem de um mercador ou na car- dos com o comércio do livro. Atestam-no, por exemplo, Tiago Bernard e
roça de um vendedor ambulante. Não há perigo de serem interceptados Antônio Valleau, a quem envia 17 tonéis e 4 fardos de livros para serem
nas estradas, onde praticamente não existe qualquer policiamento; mais
arriscado é, talvez, a entrada nas cidades. Mas como encontrar, entre
outros tonéis com mercadorias em boa ordem, aquele ou aqueles que con- ,," IMBART ( h LA TOUR, P., Les origines de Ia Réforme, l, IV, Paris, 1935,
têm livros, especialmente se, por maior precaução, estes estiverem dis 1111 )c)'l C) C) ,

simulados debaixo de outros produtos? E, assim, os 'volumes ch igam ao , S( '111 (,1'1'1'((, 11.1 , ·1 dClfl 111 d~' NCIIIIIIClHIt~' •• , 111 AI{It'!I\ di' 11/ /111I/111,1111I111,'

III dl xtinu nnhitualnu ntc scru entraves. •• em primr iro lu 'ar, li Paris 011· I " '1,'1111, "li l/h I\()
O UVRO, ESSE FERMENTO ()I)
o APARECIMENTO DO UVRO
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transportados e vendidos em França, em 6 de Dezembro de 1563, ou designado pelo rei. Nestas condições, não devemos surpreender-nos (k
ainda, Lavaudo, oriundo do Havre-de-Grâce, a quem envia, em 15 do que, no final do Colóquio de Poissy, a pedido de Teodoro de Bêzc, o qual
mesmo mês, livros para serem vendidos em França. Outra prova ainda é recentemente concluíra a sua tradução, Catarina de Médicis tenha concor
dada por Nicolau Ballon, que, depois de se ter refugiado em Genebra, em dado em conceder um privilégio a António Vincent, livreiro de Lyon, para
1555, compra a Lourenço da Normandia livros religiosos, que vai reven- a edição dessa versão francesa dos Salmos. Na mesma época, aliás,
der em França; é preso em Poitiers, em 1556, e, tendo sido condenado à Margarida de Parma, também partidária da tolerância, atribuía um privi-
morte, escapa, e é preso de novo em Châlons-sur-Marne e queimado em légio semelhante a Cristóvão Plantin.
Paris, em 1558. Abundam tais exemplos. O Poder vê-se impotente para António Vincent montou a mais gigantesca operação até então
impedir a difusão dos livros heréticos. É em vão que, em 1542, após a empreendida em matéria de edição, procurando dar a cada protestante
apreensão de um certo número de exemplares da Instituição cristã, o francês o seu exemplar dos Salmos. Não era apenas livreiro em Lyon,
Supremo Tribunal publica um decreto reorganizando a censura, ordena a onde se associara aos irmãos Frellon, mas também impressor e editor em
queima dos exemplares apreendidos, condena o vendedor ambulante Genebra, onde dispunha de quatro prelos pessoais e dava trabalho a outros
António Lenoir - que proviera de Genebra, via Antuérpia - a confessar as tipógrafos. Todas as casas impressoras de Genebra, sob o seu impulso ou
suas culpas (primeiro, diante do portal de Notre-Dame e, depois, em por própria iniciativa, trabalham, então na publicação dos Salmos; em
Saint-Quentin) e expulsa-o do reino. É em vão que, em l544, se queima poucos meses, deles se produzem 27 400 exemplares. Em Lyon, há uma
simbolicamente a Instituição cristã na praça de Notre-Dame e se desen- actividade semelhante. No entanto, Vincent, aproveitando-se do seu privi-
volvem esforços para cercear o comércio do livro num conjunto de regu- légio, faz contratos com impressores de Metz, Poitiers, Saint-Lô e Paris.
lamentos. Em vão, igualmente, se perseguem os vendedores, alguns dos Nesta cidade, assina um acordo com dezanove grandes editores e impres-
quais, como sucedeu entre 1556 e 1560, são condenados à fogueira; nada, sores, que se comprometem a publicar os Salmos, ficando acordado que
de facto, pode impedir a invasão da França pelo l.ivro herético. 8% dos lucros serão distribuídos pelos pobres da Igreja reformista
parisiense. Assim, várias dezenas de milhares de exemplares do Saltério
são impressas em poucos meses. Esta produção em massa, nos alvores das
* guerras civis, não deixou de provocar violentas reacções. Em breve,
* *
vários dos grandes editores parisienses que tinham assinado contratos
A publicação dos Salmos, nas vésperas das guerras civis, iria per- com Vincent - Guilherme Le Noir, Le Preux, Oudin Petit, em particular-
mitrir que se medisse o alcance dessa invasão'?'. são conduzidos à prisão. Aproxima-se o momento em que será necessário
É conhecido o lugar que o canto dos Salmos ocupa na Igreja refor- escolher entre a ortodoxia e a fuga. Enquanto os Haultin se dirigem para
mada. Eram, como se sabe, os Salmos traduzidos por Marot e Teodoro de La Rochelle, André Wechel vai estabelecer-se em Francfort, João Le
Bêze que os reformistas cantavam quando se reuniam no Pré-aux-Clercs Preux e João Petit III fixam-se em Lausana e Genebra; ao mesmo tempo,
ou na granja de Wassy; eram os Salmos que os hereges cantavam ao subir desencadeia-se uma guerra de panfletos e manisfestos, acompanhando as
para a fogueira. São os Salmos que os grupos protestantes cantarão ao guerras civis que o Livro contribuíra para provocar. Mas essa é outra
marchar para o combate durante as guerras religiosas. A tradução de Marot história.
tinha sido proibida em França, em várias ocasiões; no entanto, Francisco l
gostava deles e lia-os, Henrique li cantava-os e ordenava que se cantassem.
Na corte, cada senhor adaptava o seu Salmo, que frequentemente lhe era IV. A TIPOGRAFIA E AS LíNGUAS

.À tipo nufia, que .ontribuíra para o desenvolvimento da Reforma,


dl'Sl'1l1lWllholl i rualmcntv pap 'I <.:ss.ncial na forma 'ao t' nu I'ixa~'Ho
11111
'''' DROZ, E., «Antuin Vinccnt. Lu propagand' protestante par lc PS:luticr», in
dll'l 1111
uuu Àll lIO 1I1ICio do Sl'cltloVl, li,' 1111
'\I, 11III1l'HlIUIÍS. 1I1Il. l'II1
AI/'/'rll til' /0 /'III/IO~llIltI/' Il'ii~il'/lSI' pp 17(, 't) \;
406 °APARECIMENTO DO LIVRO
_______________________ O_L_IV_R_O_,E_S_SE_F_·E_RM
__EN_T_O -=407

épocas distintas, se tinham imposto na Europa ocidental como línguas Assim, o século XVI, época de renovação da cultura antiga, é também
escritas e servido de línguas comuns, continuaram a evoluir, seguindo de aquele em que o latim começa a perder terreno. A partir de 1530, sobre-
perto a língua falada. É por tal razão, por exemplo, que o francês usado no tudo, esta tendência manifesta-se com nitidez, o que não deve surpreen-
século XII nas canções de gesta difere profundamente do que escrevia der-nos. O público das livrarias, como vimos, torna-se cada vez mais um
Villon no século XV40I• A partir do século XVI, deixa de ser assim. No público ,de leigos - frequentemente de mulheres e de burgueses, muitos
século XVII, as línguas nacionais parecem cristalizadas em quase toda a dos qU~ISpouco familiarizados com a língua latina, É por isso que os
parte. Ao mesmo tempo, algumas línguas escritas na Idade Média deixam Reformistas empregam sistematicamente as línguas vulgares modernas,
de o ser ou são-no cada vez mais excepcionalmente. É o caso, por exem- Os próprio~ humanistas não hesitam, então, em recorrer a essas línguas
plo, do irlandês e do provençal. Finalmente, o latim, pouco a pouco, deixa para conquistarem um público mais vasto. Desde há séculos, aliás, não
de ser usado e tende a tornar-se uma língua morta?". acontece o mesmo em Itália? O exemplo de Petrarca não está aí para fazer
Há, portanto, unificação no seio de áreas linguísticas bastante vastas. com que os hesitantes vençam os seus escrúpulos? Um Budé, tão orgu-
Assiste-se à fixação mais ou menos rápida, no interior dessas áreas, das lhoso de poder traduzir diante do rei uma carta que lhe escrevera em grego
línguas que, ainda hoje, são as línguas nacionais. Procede-se, depois, à o seu arrugo Lascaris, aceita, no fim da vida, redigir em francês a
fixação da ortografia, que corresponde cada vez menos à pronúncia e se Instituição do Príncipe. Mais ainda, o regresso às letras antigas contribui
complica, às vezes, pelo contacto com as línguas antigas. p~a fazer do latim uma língua morta: como sublinha Brunot, o cicero-
Obviamente, a tipografia não foi o único factor que contribuiu para rnsrno, o gosto pela bela língua latina, expulsando solecismos e, sobre-
provocar essa evolução. Desde há muito que, nas chancelarias, existia a tudo, barbarismos tradicionais, obrigando a recorrer a perífrases compli-
preocupação de generalizar usos que, em muitos casos, se tornaram os das cadas para expri~ir uma ideia ou para designar um objecto novo, começa
línguas nacionais. O aparecimento das monarquias nacionais centraliza- a afastar os escntores do uso do latim'?'.
doras, ou o seu fortalecimento no século XVI, estimulou a unificação lin- ,Não surpreende, por isso, que? percentagem das obras publicadas
guística, e a política dos reis de França e de Espanha é particularmente '~ hngua vulgar tenha aumentado. E impossível fornecer a este respeito
clara neste ponto. Mas, sem dúvida nenhuma, a imprensa exerceu, em numeros exactos. Contudo, é significativo, por exemplo, o facto de, em
todos os domínios, uma influência bem mais profunda do que Meillet e 2254 obras publicadas em Antuérpia, entre 1500 e 1540, terem sido
Ferdinand Brunot sublinharam: procurando alcançar a clientela mais vasta .scritas 787 em flamengo, 148 em francês, 88 em inglês e umas vinte em
possível, os editores são naturalmente levados a contribuir, em muitos dinamarquês, em espanhol ou em italiano - quase a metade=. É evidente
domínios, para o desenvolvimento das línguas vulgares. Por outro lado, a que a clientela dos impressores de Antuérpia, cidade comercial era con-
tipografia garante às publicações um carácter estável. Estas «escapam stituída, em parte, por burgueses recentemente enriquecidos e ainda pouco
doravante à acção dos copistas que, até então, em parte voluntariamente, cultos. Mas quase em toda a parte se fazem comprovações análogas e o
em parte sem nisso pensarem, modernizavam os textos à medida que os progresso das línguas nacionais é geral. Em Aragão, 25 livros em latim
reproduziam» (A. Meillet); e, doravante, os seus sucessores, os tipógrafos, contra 15 e~ castelhano, entre 1501 e 1510; durante os trinta anos seguintes,
têm tendência para eliminar as fantasias ortográficas e as expressões 115 em latirn contra 65 em castelhano. Mais tarde, entre 1541 e 1550,
dialectais que corriam o risco de tornar o livro menos facilmente acessível somente J 4 em latim e 72 em castelhano=. Ainda nesse caso, convém não
a um público vasto. urur conclu: ões precipitadas, embora as bibliografias mostrem que, então,

*
* * "" BRUNO'!'. I':. l!i,\'III;'~' dI' 1(1 laIlRI/('/i'CII/('ai,I'e. L 11: LI' XVI" siécl», p. 2 c scgs.
. "" l/i/lliollll'IIIII' II(/Iillll(/II' 1< '1I1!ÍI(I~oda cxposi,ao I, AIII,/,,.,I /l1/1/'III/J,I'//(' t'lantin ct dI'
"" ('I. MEIl LET. A .• I./',I'!-IIIIRI//',I' (/(lI/,I'I'HI/I"(II'I' 1/11/11'/'/11', Paris. 192X. p, 16, "/11"'//1 11 'I
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o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO
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se imprimiam essencialmente livros em inglês na Inglaterra: os centros que, muito antes do aparecimento dos prelos, tinha começado a ser .luho
tipográficos espanhóis e ingleses constituíam o que se poderia chamar rada uma língua comum nas chancelarias: obra de conhecedores, atentos,
«centros de complemento», pois, em ambos os países, importavam-se antes de mais, à clareza e à precisão. Desde a segunda metade do século v,
livros latinos publicados em França, na Alemanha e nos Países Baixos. antes que a arte tipográfica fizesse sentir os seus efeitos, vemos nascer um
Em compensação, o progresso das línguas modernas aparece como indis- sistema de formas e uma ortografia aceites pelas pessoas cultas como o
cutível quando se examina a produção parisiense: em 1501, somente 8 livros modelo certo da língua literária, o qual pode ser considerado o funda
em francês, num total de 88; em 1528, ainda apenas 38, em 269; mas, mento do alemão moderno'?'.
em 1530, surgem já, por toda a França actual (incluindo a Alsácia), 121 Com a ajuda da tipografia, Lutero desempenhará, nesse ponto, um
em francês e 10 em alemão, num total de 456 edições. Depois, em 1549, papel decisivo. Querendo, como ele próprio declarava, «ser compreendido
em 332 impressões parisienses, há 70 em francês; e, finalmente, em 1575, ao mesmo tempo pelos habitantes da Alta e da Baixa Alemanha», tentou
em 445, há 245 em francês, ou seja, a maioria. Entre elas, é verdade, há impor à língua que forjava, regras que permitissem realizar esse
muitos panfletos e peças volantes. Mas não deixa de ser verdade que, ao programa, e a difusão das suas obras, sobretudo da sua Bíblia, fez com que
terminarem as guerras religiosas, continuará a imprimir-se, em Paris, uma ele se tomasse o legislador da língua alemã. Essa reforma da língua, no
maioria de obras em francês'". entanto, não é realizada de uma só vez: no início, Lutero não discerniu as
O recuo do latim diante da língua nacional acontece, por fim, na difilcudades originadas pela diversidade dos usos nas diferentes partes da
Alemanha, mais precoce no tempo de Lutero mas menos definitivo. Alemanha e procedeu um pouco ao acaso. Só a partir de 1524 é que agirá
A bibliografia de Weiler, embora muito incompleta, enumera 4000 obras com método, tentando simplificar a ortografia, ao suprimir, por exemplo,
impressas nos diferentes dialectos alemães, entre 1501 e 1525. A partir de as consoantes geminadas (nn, tt).
1520, sobretudo, graças a Lutero, a língua vulgar faz progressos. Foram Mais ainda do que a fixação de uma ortografia, importava estabe-
arroladas, em 1519, apenas 40 impressões em alemão. Em 1521,211; em lecer uma língua acessível a todos, pela unificação das formas gramaticais
1522,347; em 1525,498 - entre as quais 198 edições de diversos escritos c do vocabulário. Originário da Baixa Saxónia, Lutero faz grandes
de Lutero'". Durante toda a Reforma imprime-se sobretudo em alemão. .sforços para se libertar do seu dialecto matemo; tendo vivido sobretudo
Mas, em seguida, o latim retoma a superioridade. No final do século, na Turíngia e na Saxónia, inspira-se na língua usada na chancelaria desta
como vimos, nas feiras de Francfort oferecem-se sobretudo livros em ultima região, por lhe parecer, naturalmente, a mais perfeita. Por muito
latim; certamente que, nos catálogos das feiras, não aparecem muitas I .mpo, todavia, revelam-se nos seus escritos traços de regionalismo em
obras em alemão destinadas a um comércio mais ou menos local. Todavia, matéria de gramática, dos quais apenas consegue libertar-se a custo de um
toma-se evidente que, nessa época, o recrudescimento da actividade dos paciente esforço. Mas é sobretudo o vocabulário que prende a sua atenção.
prelos católicos contribuiu para a renovação da edição latina. O alemão I'rocura a palavra exacta, mas não se esquece de escolher, entre os sinó-
triunfará definitivamente, mas mais tarde do que as outras línguas, no nimos, aquele que geralmente é mais usado pelo povo. Para isso, inspira-se
século XVII, quando as feiras de Leipzig substituírem as de Francfort. nos falares do povo da Média e da Baixa Alemanha; mas são o turíngio e
11 saxão que lhe fornecem o essencial do seu vocabulário.
Os serviços unificadores prestados pela tipografia à formação ?a lín-
gua literária são particularmente impressionantes na Alemanha?". E certo Assim, Lutero modela uma língua que, em todos os domínios, tende
li aproximar-se do alemão moderno. A enorme difusão das suas obras, as

lias qualidades literárias, o carácter quase sagrado que toma, aos olhos
406 Indicações retiradas dos manuscritos de P. Renouard. tios f(eis, () texto da Bíblia e do Novo Testamento que ele fixara, tudo isto
407 WEILER, E., Repertorium typographicum. Die deutsche Literatur im ersten vier
tIl'pll'ssa fará da sua língua um modelo. Imediatamente acessível a todos
lei des sechzehnteti Jahrhunderts, Nordlingen, 1864; MILKAU, F., Handbuch der
8ih/iolhekswissenschaft, t. I, p. 516 e segs.; CLAUSSE, B., «Niederdeutschc Druckc im
VI. Jnhrhund ert», in 71'il.l'C'lIrififitr Bibiiothekswesen, 29, 1912, p, 20 I c se 's.
" TONNI'I ,1\'1', I: , 1/1.\111I/1' d/' 111 lungu» 111//'II1rt1It!/', PlIlIS, 11)17, pp I '7 II~, ~"('I I()NNI'I 1.1'''1' 111"p,l'
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410

os leitores, o alto-alemão, a princípio, surpreende um pouco os da Baviera do que qualquer outra, contribuirá para dar aos ingleses o sentimento da
ou dos países germânicos. Mas, por fim, em quase todos os casos.em que dignidade da sua língua: o Book of the cotnmon Prayer and Administration
existem sinónimos, o termo empregado por Lutero acaba por tnunfar e ofthe Sacraments, ao qual se acrescenta, em 1567, o Wh.oleBook of Psalmes,
numerosas palavras usadas somente na Média Alemanha são adoptadas tradução em verso dos Salmos, na qual tinham colaborado Sternhold e
em toda a parte. O seu vocabulário impõe-se de forma tão imperiosa que Hopkins. Todas estas obras são escritas recorrendo a um vocabulário tanto
a maioria dos tipógrafos não ousa fazer-lhe a menor alteração. Alguns, de mais acessível quanto mais reduzido (6500 palavras, ao passo que
Basileia, de Estrasburgo, de Augsburgo ou de Nuremberga, atrevem-se a Shakespeare, nas suas obras, utiliza 21000), e as expressões que aí encon-
modificar a ortografia, mas não os termos, e têm cuidado de acrescentar tramos, tal como as de Lutero na Alemanha, não tardam a tornar-se de uso
um glossário à obra, sempre que essas palavras parecem demasiado generalizado. Assim, multiplicando estas obras por dezenas de milhares, a
obscuras para a população local. tipografia contribui para a fixação da língua. Mas, nessa época, em que o
Acha-se assim consagrada a preeminência do alto alemão; ao mesmo comércio do livro é muito activo, a Inglaterra recebe, sobretudo até 1540,
tempo, a tipografia multiplica os textos nessa língua, que, cada vez mais, grande número de livros do continente, vindos de Espanha e de França.
aparece como a língua literária nacional; mas em bre~e, como o .exemplo Muitos deles são traduzidos e, por outro lado, em breve os ingleses traduzem
de Lutero já não basta, sente-se a necessidade de ensinar metodicarnente igualmente os clássicos latinos e gregos para a sua língua. É com muita
a língua, e os gramáticos metem mãos à obra. A partir do segundo quartel frequência graças ao livro que a língua inglesa, ao mesmo tempo que se
do século, começam a surgir gramáticas da língua alemã, que até então fixa, é enriquecida com expressões espanholas, francesas e latinas; estas
jamais se pensara estudar, a princípio redigidas em latim, a .m~~scélebr~ contribuições estrangeiras, tão numerosas, provocarão no final do século
das quais será a Grammatica Germanicae linguae ... ex .blblus ~utherz uma violenta reacção - indício de uma verdadeira «crise de crescimento
Germanicis et aliis ejus libris collecta, que Johann Clajus publica em da língua nacional». E, enquanto as gramáticas da língua inglesa se mul-
Leipzig, em 1578. E, assim, a língua de que Lutero lançara as bases tiplicam, a ortografia tende a normalizar-se, em virtude da acção dos tipó-
espalha-se, a princípio nos meios protestantes, depois entre os católicos, grafos, que, por vezes sistematicamente, eliminam as fantasias ortográfi-
apesar de todas as resistências. cas mais embaraçosas dos manuscritos que os autores lhes confiam. Este
esforço de uniformização torna-se evidente quando se comparam os ori-
* ginais manuscritos que chegaram até nós com os textos impressos. Eis,
* * por exemplo, o resultado de tal confrontação no caso de uma tradução de
Ariosto por Harington'":
Ao provocar a multiplicação dos textos em língua vulgar, a tipografia
estimula, um pouco por todo o lado, como acontecera na Alemanha, o
Manuscrito Texto impresso
desenvolvimento e a fixação de línguas literárias nacionais. bee be
Na Inglaterra'", a Reforma provoca, tal como no país de Lutero, a on one
publicação de traduções dos textos sagrados e de obras religiosas cuj~ lín- greef grief
gua exerce uma grande influência. Tyndale e, depois, Coverdale publicam thease these
traduções da Sagrada Escritura; a partir daí, as versões sucedem-se até swoord sword
aparecer um dos monumentos da prosa inglesa, a Autorized Version, ~ noorse nurse
1611. Mas, sobretudo, a partir de 1549, é publicada uma obra que, mais skolding scolding
servaunt servant

·1111 M()SS(~. F.. [~'.I'ql/;.I'.\'/' d'I/I//' 11;.1'11I;((' di' 1111111/111/1' 1l1/1I111;,\'I'. Lynn, 1().17, p 10 ,.
<I, ('11,1<111 I '1IIIdll I' Mil I
l 's.
o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO I1
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Champfleury (1529), destinado a expor uma teoria algo surpre 'IHllIIII.
* segundo a qual se pode estabelecer um cânone das letras maiUSl'1I1.1
* * redondas segundo as proporções do corpo humano, exaltou a ljn '1111
francesa, vinte anos antes de Du Bellay, e, sobretudo, estudou a letra ti '
Se a tipografia contribui para a promoção das línguas nacionais a?
lodos os pontos de vista, indicando, particularmente, a sua pronúncia l'lIl
nível de línguas literárias e provoca em todos os domínios uma c~rta un~-
g~ego, em lati~, em francês e revelando como cada região e cada provrn
formização, os tipógrafos, todavia, parecem, a dada altura, m~lto / r~ti-
cia as pronuncia; ao mesmo tempo, propõe os elementos de uma reforma
centes diante dos esforços sistemáticos dos inovadores revoluclOna:lO~,
ortográfica, reclamando sobretudo o uso dos acentos, da cedilha e do
que desejam realizar uma codificaç~o dem~si~do avançada. Es~a.prudencla
apóstrofo. Em seguida, põe em prática estas reformas na Adolescente
é particularmente evidente no que dIZ respeito a ortografia. dormmo em que~
Clémentine e na Briesve doctrine pour deuement escripre selon Ia proprieté
na Alemanha, a acção de Lutero tinha sido menos decisiva. Na Inglaterra, e
du langaige françois, ambas publicadas por ele em 1533. A partir de
certo, os impressores suprimem as fantasias demasiado. incómodas para o~
então, levanta-se a questão da reforma ortográfica. Ao passo que, já em
leitores, mas deixam ainda subsistir muitas irregularIdades. Contudo, e
1529, Dubois publicara um Três utile et compendieux traicté de l'art et
porventura em França que a atitude dos tipógrafos, p~rante o~ ~ro~lem~s
science d'orthographie Gallicane, no qual preconizou um certo número
ortográficos, merece ser observada mais de perto, pOISas re~lcenclas sao
de s~mplificações, Estevão Dolet, humanista e impressor como Tory,
mais claramente perceptíveis. Aí, como noutros lugares, a língua vulgar
publica, em 1540, um obra de título significativo, Maniêre de bien trac-
torna-se no século XVI, definitivamente língua literária nacional; ao mes~o
(~/úre~'une langue en aultre. D'advantage de Ia punctuacion de Ia Zangue
tempo, ~ultiplicam-se os esforços para enriquecê-~a e codífíca-la'" ..Todavia,
[rançoise plus Des accents d'ycelle (que é, na realidade, um plágio da
graças a um longo trabalho empreendido no seio da Chance1ana Real e
Briesve doctrine). A questão ortográfica começa, então, a preocupar um
nos tribunais pelo mundo da basoche, graças aos esforços tenazes de um
pouco todos quantos se preocupam em fazer do francês uma língua culta,
Poder real relativamente forte, a língua escrita atingira já um certo gra~ de
I, m 1535, Olivetano, o tradutor da Bíblia, exprime a esperança de que
uniformidade. Os tipógrafos franceses - com excepção de. alg~ns .mo-
, haja nesta matéria algum decreto que imponha respeito».
vadores _ mostram-se conservadores: para que o seu matenal nao f~que
Luís Meigret tenta esse desígnio, em 1542, no Traité touchant le
fora de moda e o trabalho não se complique, têm, de facto, todo o mt~-
romun usage de l'escriture Françoise e nos escritos seguintes. Situando o
resse em impedir os sobressaltos, em manter a tradição, em serem reti-
problema no seu conjunto, mostra-se partidário de reformas radicais:
centes quanto à aplicação de regras demasiado rigorosas, so~ret~do ~m
upressão de letras inúteis (escrever, por exemplo, un em lugar de ung,
matéria de ortografia, e, em geral, em estimular uma lenta cnstahzaçao,
nutre em lugar de aultre, renars em lugar de renards); substituição de uam
que concilie a língua com os falares tradicionais.
k-tra por outra (ombre em lugar de umbre, maintenant em lugar de mein-
Contudo, não devemos surpreender-nos de que, por volta de 15~0,
trnant, manger em lugar de manjer); novas distinções entre as letras
sobretudo no momento em que se generaliza em França o uso do tlP?
(ri indicando o o aberto, escrevendo «mort», por exemplo, assim: «mort»).
redondo e do itálico, certos impressores humanistas particularmente audi-
ai do âmbito deste livro narrar as controvérsias desencadeadas
ciosos figurem à frente dos que persistem em reformar a língua: Entre
pl'las teorias de Meigret. Mas é preciso acentuar que, apesar do apoio dos
eles, Geoffroy Tory: este antigo professor do Colégio do Plessls: qu.e
IIII~ISilustres escritores, as tentativas dos inovadores, na prática, a pouca
vivera longo tempo na Itália e que gravava pessoalmente estampas 1.nspl-
I tllsa I'varam, talvez porque, regra geral, toda a tentativa revolucionária
radas nos modelos italianos, defendia que a sua língua materna devia ser
111\mal ria de língua e defronta com a força da inércia dos hábitos
regulamentada e tão civilizada quanto a grega ou a latina; no seu famoso
.ulqlliridos ou, mais particularmente, porque os grandes mestres na matéria
11.lllIlipo rrufos ' .stcs, na sua grande maioria, 'lu 'riam 'lu' os d .ixusscm
11.11111111111
'1\\paI.. h l'I'llo qlll 'r:lIl1{t1
Íl'os l'OIlIOP 'I 'I icr du Mnlls 011l kmomto
111 BRUNOT, F., ttistoirr til' 111 I{/II~I/I' [rançaise, t. 11: /.1' XVI'" siêrl«, Purix, 11)\1;
1 I' 111111;\1111qlll .11h.uu 1\\.11 ll)l\II)(lo plodll/ll 1111\itll.tlll'lo 101;\11I1I'1I1l'
\11' \111PII (',1//.\/0;/1' ti" 1'11I/0)1/1/1/1' [nuiçuis« I'IIIIS. 1 )1 7 ) v
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______________________ ~O~L~IV~R=O~.E=S~SE~F~E:R:M~EN~T~O~ 415

novo, encontram tipógrafos dispostos a ajudá-Ios, mas estes não são ortogra~ia ~~ conformidade com o latim. No fundo, portanto, nada de
seguidos pelos seus confrades. Charles Beaulieux, que estudou a pro- :~VoluclO~ano,. m.as um instrumento de trabalho fácil de consultar, que
dução de Arnoul Langelier, um dos principais editores da capital francesa, Ir~aaproxlm~r juristas e tipógrafos. Tanto assim foi que esse guia seguro
e comparou, em particular, as duas edições da Deffence et illustration, nao tardou a Impor-se e a valer como autoridade na matéria.
publicadas por Langelier em 1549 e 1557, demonstrou, por exemplo, que . Isto, não ~uer dizer que as fantasias ortográficas tenham desapare-
dentro da mesma oficina os hábitos variam: o y é muito menos apreciado cido; sera preCISOesperar ainda muito tempo por isso - pelo século XVII
em 1557 do que o fora em 1549; o é, que se encontrava por vezes em por Vaugelas, por Ménage e pel.o Dictionnaire de l'Académie Française:
1549, é frequentemente abandonado em ]557, ao passo que, nesta última Mas, PO~c? a pouco, a ortografIa tende a normalizar-se; nessa evolução,
data, se começa a utilizar, às vezes, a cedilha, já encontrada anteriormente outros tipógrafos, flamengos e holandeses, os Plantin e os Elzevier
nas edições de Geoffroy Tory ou de António Augereau. desempenham um papel que não deve ser subestimado. Grandes editore~
Durante muito tempo, a ortografia continuará submetida às fantasias d~ obras e~ francês, como vimos, debatiam-se com um problema delicado,
dos revisores e dos compositores. Os autores podem queixar-se, mas não ,viStOqu~ tinham de m~ndar cornpôr os textos a oficiais que, muitas vezes,
conseguem evitar que seja assim. Pouco a pouco, contudo, chega-se a uma apenas tI~ham dessa língua um conhecimento rudimentar. Para disfarçar
certa fixação, não em virtude de regras estabelecidas a priori por teóricos erros m.Ulta~ :ezes incómodos, foram levados a preconizar, em certos
mais ou menos inovadores, mas, pelo contrário, em função dos hábitos casos, SlI~~lIfIcações sistemáticas. Plantin, a quem os assuntos da língua
adquiridos. De facto, o homem que, no século XVI, indiscutivelmente, eram fam~hares e que encontara em Antuérpia, cidade verdadeiramente
desempenhou o principal papel na fixação da ortografia francesa foi um c~s:nopolIta, ampla ma~~ria de reflexão, foi o primeiro a compreender a
impressor humanista, embora singularmente conservador neste ponto: l.I~lhdade~ue, ~~ma regiao flamenga, poderia ter a adopção da ortografia
Roberto Estienne. Fê-lo, embora indirectamente, ao publicar os seus '.1a~cesa simplificarín ?esde as primeiras impressões, usa o j, suprime o
dicionários. \ final e um grande numero de letras interiores supérfluas que substitui
Nascido em 1503, filho do impressor Henrique Estienne I, Roberto por acentos,. tal como fazia Ronsard. No Prefácio do Trésor de Amadis
pudera beneficiar plenamente do renascimento dos estudos; era amigo de ( 1560), publica uma espécie de manifesto e anuncia que escreverá êt em
Guilherme Budé, que foi muitas vezes seu colaborador. A publicação e o vez de est .(prêt em vez de preste); em lugar de oultre escreve outre: em
aperfeiçoamento dos textos sagrados constitui sempre a sua principal lugar ~e mieulx, mieux. Mais tarde, talvez para não prejudicar a venda dos
preocupação. Mas esse incansável trabalhador realizou igualmente, em ~.us livros e~. Fr~~ça, renunciou a algumas das suas inovações; no
matéria de lexicografia, um trabalho enorme. Solicitado a reeditar e a cor- l nt~nto: nos. ~IclOnanos franco-flamengos utilizava ainda uma ortografia
rigir o Calepino, tinha preferido empreender uma nova obra, o Thesaurus IIIUllosimplificada para a época, e o seu exemplo foi seguido pelos con-
linguae latinae, que saiu em 1531-1532 e foi reeditado com aditamentos em /I:a.~es, ~os Países Baixos: por Waesberghe, especialista na edição de
1536. Mais tarde, em 1538, edita para uso dos estudantes um Dictionnaire di 10narlOs,.e ~obretud.o pelos Elzevier, que usaram sistematicamente o j
Latino-Gallicum, cujo êxito constante já sublinhámos. Finalmente, em l o v,.contnb~lDdo.asslm para generalizar o seu uso. Deste modo, alguns
1539-1540, é a vez do Dictionnaire francais-latin, também considera- tlpóglaf?s estrangeiros desempenharam papel importante na formação da
velmente ampliado na segunda edição, em 1549. Entretanto, extrai dos l:I~()g,l:aflafrancesa, graç~s aos .milhares de obras que espalharam pela
seus dicionários dois léxicos para uso nas escolas (1542, 1544). I Innça e que.' por serem tIpografIcamente muito cuidadas, eram acolhidas
Editando tais dicionários, Roberto Estienne era obrigatoriament l um zrande Interesse pelo mundo erudito francês.
chamado a tomar partido em matéria de ortografia francesa. Consultara as ~l~.alquer .que tenha sido a atitude dos tipógrafos perante as questões
gramáticas de Meigret e de Dubois, mas procurara sobretudo conformar-s 111/0'ra/lcas, a Imprensa, em geral, estimula o desenvolvimento das litera-
com a ortografia adoptada pela Chancelaria Real, pelo Supremo Tribunal IIIIaSt'I11If/1 ruas na .ionuis o progresso destas línguas, que, ao longo do
IK 10Tribunal de ornas; naturulrn ntc, ao comparar as palavras franc . lllllo VI, SI t()IIHIIlI(kfillitivilllWl1lr lfu 'lias litt'l':írias, J\o 11 Il'S1110
,óI lllll1 óI lIa\ ljllivakntlo., huinus, udopuuu nos t'ilSOSduvidoso« 11 11III 1I1llpO l piltlll/l, 11111 l"llll () P()I lod() () Indo, () l'~/()I,'() 1>11111
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o APARECIMENTO DO LIVRO
O LIVRO. ESSE FERMENTO I1 7
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recuperará terreno. É claro que, desde o século XVI, obras eruditas r 'di ,i
gramáticas. Logo em 1493, António de Nebrija publica a Gramática
das em latim são às vezes traduzidas ou adaptadas - como, por ex nnplu,
castelhana, que Juan Valdés iria criticar no século XVI, mas que nem por
em França o De asse de Budé ou a Anatomia de Carlos Estiennc; é c 'I to
isso deixou de desempenhar papel essencial na formação do castelhano e
que, desde essa época, Belon e, logo depois, Paré e Palissy escrevem '111
facilitou a adopção, em toda a Espanha, das formas dess~ língua. Foi. e~
francês. Mas trata-se ainda de casos excepcionais e a Faculdade til'
grande parte graças à gramática de Nebrija que os ~scr~ores e os. tipo-
Medi~ina de Paris não gosta de ver Paré escrever em francês. A Igreja
grafos de Aragão conseguiram eliminar das suas publIcaçoes os part~c~la-
Católica, que, ao contrário dos Reformistas, se opõe ao desenvolvimento
rismos regionais, até então abundantes4l3• Em França, os. gramatlcos
das línguas vulgares, apoia a resistência do latim. Com muita frequência,
(alguns dos quais referimos atrás) pululam no século XVI, assim como ,os
aprova os tratados consagrados às novas descobertas quando são publica-
teóricos do estilo e da língua no tempo de Du Bellay. Na Alemanha, a lín-
dos em latim, mas condena-os logo que os sábios tentam vulgarizar as
gua de Lutero, como vimos, serve de base aos gramáticos que empreen-
suas ideias numa língua acessível a toda a gente. Estes últimos preferirão
dem a codificação do alemão literário no último quarto do século XVI*.
ainda por muito tempo o latim, que tem o duplo privilégio de ser com-
Na Inglaterra, enquanto teóricos como Tomás Smith (1560), John Hart
preendido pelos seus pares e de pô-los ao abrigo das perseguições.
(1570) e William Bullokar (1580) se dão conta do afastamento cada vez
Quando a Contra-Reforma triunfa numa grande parte da Europa, os
maior entre a pronuncia e a grafia (esta cristalizada pela acção da
Jesuítas, graças aos seus colégios, difundem o conhecimento do latim nas
imprensa) e propõem reformas radicais, começam a aparecer garmáticas e
franjas mais activas da sociedade e fomentam o desenvolvimento de uma
dicionários. Por fim, na Itália, onde, entre 1304 e 1306, Dante escrevera
literatura novilatina, a que procuram dar vida graças a representações
De volgari eloquentia, Maquiavel, Bembo, Trissino e muitos outros estu-
teatrais, por exemplo. O teatro latino conhece nessa época uma enorme
dam a sua língua e esforçam-se por extrair dela uma gramática, ao mesmo
voga. Toda a Europa conhece e discute as tragédias latinas de grotius ou
tempo que Sperone Speroni, para proclamar a superioridad.e do ita~iano,
de Vernulz, sucessor de Justo Lípsio na Universidade de Lovaina. Usa-se
encontra argumentos que Du Bellay retomará na Défense et 11lustratlOn,~e
sempre o latim, como língua nobre, na epopeia, género nobre por excelên-
Ia langue française; mas a querela da língua retarda os progressos teon-
'ia; são incontáveis os poemas épicos em latim publicados no século XVII.
cos: por muito tempo ainda, os italianos, à falta de um poder.central sus-
Mesmo para um acontecimento ocasional, um casamento, um nascimento,
ceptível de impor o seu ponto de vista, ou de uma au~ondade como
lima vitória, bastava embocar a trombeta épica, mesmo que fosse só em
Lutero, discutirão para saber se convém adoptar pura e simplesmente o
quinze versos, para que se falasse em latim. Após a tomada de La Rochelle
toscano como língua literária ou se, para fixar esta última, é preferível
italianos, flamengos, alemães e mesmo franceses compõem em latim poe-
realizar uma síntese. mas em louvor de Luís XIII. Malherbe, que nessa ocasião compõe uma
mie em francês, é uma excepção. Depois dele, a ode irá afrancesar-se cada
(Nota: A maior parte das informações que se seguem foram-nos
v 'Z mais. Portanto, o latim só muito lentamente recua. É verdade que ape-
oferecidas por André Stegmann, a quem aqui agradecemos.)
lias recebe o golpe definitivo por volta de 1630, quando, com a decadên-
O latim, desde então, está condenado, mas a sua resistência será
cia das feiras de Francfort, o mercado do livro se fragmenta. Porém, em
muitos domínios, só é substituído pelas línguas nacionais no final do
longa: oferecendo a vantagem de ser universalmente compreendido, man-
seculo e mesmo no ínicio do século XVIII.
ter-se-á por muito tempo, sobretudo no domínio das ciências e, por veze: ,
V árias razões explicam essa sobrevivência. Em primeiro lugar. o
latim subsiste como Ifngua internacional por excelência. Nos países cujas
1111 iuux na .ionais são mal conhecidas no estrangeiro, escreve-se com
413 MENÉNDEZ PIDAL, R., «EI Lenguaje deI sigla XVI», in Cruz y Raya, 6, 15 S '\
umior Ircquên 'ia '111 latim, Purticularrn mtc na Flandr 'S, ' lambem lia
1933, pp. 7-63. hrunnhu. olltll óI l'olosslIl l quipn ti' jUlIstas :I!,IlIpados em volt,1 dl
+ Â primeira gramática da língua portugu esa li de Fcrniio ti, Oliveira, illlpll'SSiI
('''111 11\1 dl' 11111).1 I Clll(), pll\llll;I 111>
•.• li" 11illhtlllll '111l.uuu, 1)01111111101
111 I \(, (N u)
o APARECIMENTO DO LIVRO O LIVRO. ESSE FERMENTO 419
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forma, em Inglaterra, onde as obras de Shakespeare e o teatro dos Tudor, livro científico atinge melhor o seu público quando é publicado em latim.
escritos na língua nacional, são quase desconhecidos no continente, ao Será preciso esperar por Fontenelle para que as Memórias da Academia
passo que Camden, Hobbes, Barclay, ou mesmo os Epigramas de John das Ciências sejam redigidas em francês, e Leibniz ainda escreve geralmente
Owen, graças ao latim, têm uma voga igual à de qualquer outro escritor em latim, assim como muitos alemães da sua geração. De facto, é só no
europeu. Na Península Ibérica, na Itália, em França utiliza-se talvez final do século XVII que o latim parece definitivamente vencido, quando é
menos frequentemente o latim, mas esta é a língua que se usa quando é substituído como linguagem filosófica, científica e diplomática, pelo
preciso atingir um público europeu ou quando se intervém numa polémica francês e pelas línguas nacionais; quando o francês passa a ser conhecido
_ quer se trate de questões políticas, religiosas, literárias ou jurídicas - por qualquer europeu culto; quando os livros em francês são editados e
cujo interesse ultrapassa o quadro de um único país. difundidos quase em toda a parte por livreiros emigrados de origem
É, portanto, antes de mais, o destinatário que determina a escolha da francesa ou valónica; e quando Bayle, Basnage, Le Clerc e os seus ému-
língua. O jesuíta Fitzherbert, reitor do Colégio dos Ingleses em Roma, los criarem jornais de informação científica em francês.
escreve em inglês quando compõe um tratado de teologia destinado a Assim, a imprensa, ao estimular, por motivos económicos, o desen-
convencer apenas os Anglicanos. Quando ataca Maquiavel, para um volvimento das publicações em línguas nacionais, favoreceu, em última
auditório europeu, fá-lo em latim. Filesac, reitor da Universidade de Paris análise, o desenvolvimento destas últimas - e provocou a eliminação da
e teólogo, ao decidir um problema de jurisprudência eclesiástica que inte- língua latina. Evolução fatal: início talvez de uma cultura de massas, mas
ressa à França, escreve em francês (1606). Dez anos mais tarde, usa o de consequências incalculáveis - pela fragmentação que provoca, no fim
latim para redigir dois pequenos tratados sobre a questão, tão vivamente de contas, do mundo cultural. Ainda no século XVI, apesar da regressão do
controversa, dos limites da autoridade real, para que o seu livro encontre latim, o saber e as letras permanecem internacionais. As obras publicadas
mais facilmente leitores no estrangeiro. O mesmo fazem próceres de nas línguas nacionais, quando são dignas de interesse, já o vimos, tomam-se
Richelieu como Padre Sirmond, ao replicar em latim aos ataques do Padre logo objecto de múltiplas traduções. Mas, pouco a pouco, a fragmentação
Endmon Joannes sobre a guerra da Itália e a aliança do rei cristianíssimo faz sentir os seus efeitos. Que conheceram os franceses do século XVII da
com os Reformistas. A guerra da Flandres provoca igualmente o apareci- obra de um Shakespeare - e os do século XVIII dos escritores alemães?
mento de numerosos panfletos. Vários escritos com as histórias dessa Já em 1630, em França, Chapelain queixa-se de não saber o que se
guerra, redigidos nas línguas nacionais, são traduzidos para latim, fre- imprime na Alemanha - após o declínio das feiras de Francfort. No final
quentemente na Alemanha, nas cidades com feiras, para se lhes dar maior do século XVII e no início do século XVIII, é por intermédio de jornais
difusão. Foi este também o caso de numerosas obras literárias, sobretudo holandeses que a cultura inglesa penetra na França - e o francês, apesar
tragédias e poemas épicos, que imediatamente se traduziam para latim. dos serviços que, no século XVIII, presta como língua internacional, não
Se o latim se mantém assim, deve-o indiscutivelmente à sua pre- pode ocupar inteiramente o lugar que definitivamente ficou vago com a
cisão, à sua clareza. Face às línguas modernas em plena formação, tem a .liminação do latim. .
vantagem de possuir um vocabulário fixo, cujo sentido é fácil de determi-
nar graças a ilustres exemplos. É talvez em parte por isso que persiste,
ainda no século XVII, como a língua da diplomacia, da ciência e da
filosofia. Na medicina o seu uso toma-se cada vez mais raro, mas
mantém-se na matemática e na astronomia. Descartes, é certo, escreve O
Discurso do Método em francês, mas a sua correspondência, tal como a
de Pascal, está repleta de cartas em latim. O texto das Meditações metafisi-
cas que merece crédito é o texto em latim; é a ele que se recorre quando
S' trata ti ' clucidar um ponto difícil. O próprio hap lain, qu compô' '1\1
I r:l1I('l'" a sua uundc l'I)()pt'i;l, ;I 1'/(('1'111' \1,11<":1 ainda, em I ()(l), que \1111.
Bibliografia

SUMÁRIO

I. OBRAS GERAIS
lI. O PAPEL
III. O LIVRO IMPRESSO
A. Repertórios e instrumentos de trabalho.
B. Estudos de conjunto.
C. Algumas questões essenciais:
I. Xilografia e gravura em metal.
2. A «descoberta» da imprensa.
3. Técnica do livro e bibliografia material.
4. A encadernação do livro.
5. O Mundo do livro.
6. Economia e regime da edição - Direitos de autor.

IV. ESTUDOS LOCAIS


A. Estudos por país.
B. A imprensa e as técnicas de impressão fora da Europa Ocidental.
C. Estudos por regiões ou por cidades.
D. Monografias de impressores.

I. OBRAS GERAIS

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rico do que o Brunet para as obras alemãs).
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Ab anno MO and annum MOXXXVI continuati, 1722. -111. Ab anno MDXXXVI ad annum
Depois da primeira edição desta obra os trabalhos de história do livro multiplica- MOLVIl continuati, 1725. - IV. Annales typographici ab artis inventae origine ad

ram-se singularmente, em todas as direcções. Os mais importantes podem encontrar-se annum MOCl..XIV. Ed nova auctior et emandatior tomi primi, 1733. - V. Annalium
mencionados em MALCLES,L.-N., Les Sources du travail bibliographique, t. I, Paris, 2: ed., typographicum tomus quintus et ultimus, 1741 (Por ordem cronólogica, com rol da
1970. produção de alguns grandes impressores).
É provável que uma bibliografia internacional, patrocinada pela Federação PANZER, G. W., Annales typographici ab artis inventae origine ad annum MO post
Internacional das Associações de Bibliotecários, seja publicada em breve, por iniciativa de Maittairii Denissi aliorumque doetissimorum virorum curas in ordinem redacti
M. Vervliet, diretor da Biblioteca Universitária de Antuérpia. Entretanto, para nos manter- emendati et aucti. I-V, 1793-1797. Ab anno MDl ad annum MOXXXVI continuati,
mos actualizados, podemos reportar-nos às revistas especializadas. Entre as mais impor VI-XI, 1798-1803, Nuremberg, E. Zeh, 11 v., in-d." (Por locais de impressão e
tantes, indiquemos: impressores. Índices).
Na Alemanha: Archiv für Geschiehte des Buchwesens (Frankfurt); Beitrãge VII
Geschichte des Buchwesens (Leipzig), além do Gutenberg-Jahrbueh (M gúncia): nCSI'
não há resenhas, mas artigos muitas vezes importantes, com colaboração int irnucionul. Os repertário« til' incunábulos
Na Bélgica: De Gulden Passer (Antuérpia. Museu Plantin).
Nos Estados Unidos: T"I' Paprrs II( 1111'hill/itlRrtlllhil'll1 sorirt» /11 AII1I'I1/"/1 (NIlVII Ch 111\11111111111\1\,
l\'Iallvilllll'lIll' puuco 1IIIIIIl'I"OSoS (1IIai~ 011 1II'IIos l'i 000 l'di~'ol").

1110111111" , 111011 jllI' lU" 11111111dI' d,' 111111111


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o APARECIMENTODO LIVRO BIBLIOGRAFIA 429
428

GOFF, F. R., lncunabula in American lihrairies, a third census of fifteenth century books
o estudo destes livros, particularmente delicado, constitui uma verdadeira ciência, com
recorded in North American collections, Nova Iorque, 1964.
seus especialistas.
Na origem destes estudos, refira-se PANZER, MAITTAIRE e, sobretudo, HAIN, que, GUANARESCHI, T. M., e V ALENZIANI. E., lndice generale degli Incunabili delle biblioteche
d'ltalia, Roma, 4 v. publicados (letras A-R), 1943 e segs.
com os seus múltiplos suplementos, é ainda hoje obra essencial.
PELLECHET, M. Catalogue général des incunables des bibliothêques publiques de France,
HAIN, L., Repertoriuinhibliographicum in quo libri omnes ab arte typographica inventa Paris, 3 vols., 1897-1903. (Colab. de L. Polain, a partir do t. n; está prevista uma
usque ad annum MD tvpis expressi. Estugarda e Paris, 4 vols., 1826-1838. próxima continuação).
COPINGER, W. A., Supplement to Hain 's Repertorium bibliographicum, Londres, 2 partes POLAIN, L. Catalogue des livres imprimés au xve siêcle des bibliothêques de Belgique
Bruxelles, 4 vols., 1932.
em 3 vols., 1895-1902.
BURGER, K., The Printers and publishers of the xv'" century with. lists of their works,
Londres,1902.
__ Ludwig Hain's Repertorium
bibliographicum Register, Leipzig, 1891. . Livros do século XVI
REICHLlNG, D., Appendices ad Hainii-Copingeri Repertorium bibliographicum, Munique,

7 vols., 1905-1911.
As edições do século XVI geralmente são apresentadas no quadro dos países e dos
Supplementum ... cum indice urbium et typographorum accedit lndex auctorum locais de impressão, dos editores e dos livreiros ou dos autores principais; ver sobre este

generalis totius operis, Munique, 1914. assunto, além das bibliografias de MALCLES, BESTERMANN e KOLB, citadas acima, as
rubricas apresentadas abaixo com a menção de Estudos locais.
Em 1925, os alemães iniciaram a publicação de um repertório geral dos incunábu- Mencionemos aqui apenas os serviços consideráveis prestados pelos «Short title
los, começado em 1904. Este empreendimento colossal foi interrompido durante a g~erra catalogues» do Museu Britânico, uma série de volumes facilmente manuseáveis, com a
de 1939-45. Antes, haviam sido publicados numerosos fascículos, por ordem alfabética, lista das impressões do século XVI de cada país conservadas naquele estabelecimento; cite-

até Federicis: mos também um empreendimento geral particularmente importante: o Index


Aureliensis, Catalogus librorum sedeum saeculo impressorum, Baden-Baden, 3 vols.
Gesamtkatalog der Wiegendrucke ... Leipzig, Karl W. Hiersemann, t. I-VIII, n." I, 1925-1940. Publicados (A-BEM), 1965 e segs.

Ao mesmo tempo, os especialistas alemães publ icavam uma bibliografia e um reper-


Indiquemos, entre muitos outros repertórios:
tório de caracteres, destinados a facilitar o estudo dos incunábulos:

ANSELMO, António Joaquim, Bibliografia das obras impressas em Portugal no século XVI,
Der Buchdruck des 16. Iahrhunderts. Eine bib/iographische Uebersicht herausgegeben Lisboa, 1926.
von der Wiegendruck-Gesellschaji, Berlim, Wiegendruck-Gesellschaft, 1929-1936.
ATKINSON, G., La littérature géographiquefrançaise de la Renaissance. Répertoire biblio-
HAEBLER, K., Typenrepertorium der Wiegendrucke, Halle, H. Haupt, 5 t. em 4 v., graphique, Paris, 1927.
1905-1925. BANGESCO, G. Voltaire. Bibliographie de ses oeuvres, Paris, 4 vols. publicados (letras
A-R), 1882-1890.
Anuncia-se actualmente a retomada do Gesamtkatalog e este projecto já suscitou a
BENZING, J., Lutherbibiographie. Verzeichnis der gedrucken Schriften Martin Luthers bis
publicação de novos estudos preparatórios: zu dessen Tod, Baden-Baden, 1966.
BOHATTA, H., Bibliographie der Breviere. 1501-1850, Leipzig, 1937.
Beitriige zur Inkunabelkunde, Berlim, 1965 e segs. (3 volumes de colectâneas publi
-- Bibliographie der «livres d 'heures» des xv. und XVI. Jahrhunderts, Viena, 1924.
cados até hoje).
BOHATTA, H., e WEALE, W. H., Bibliographie liturgicev. Catalogus missalium ritus latini,

Enquanto se aguarda pela conclusão desse empreendimentos, poder-se-ão con ultat Londres, 1928.

os catálogos colectivos nacionais, dos quais mencionamos aqui os principais: BIJlSSON, F., Répertoire des ouvrages pédagogiques du xvr siêcle, Paris. 1880.
BUNKER, R., A Bibliographical study of Greek works and translations published in France
Catalogue of books printed in lhe XI"" century now in British Museum, Londres, 9 vols., during tlie Renaissance, Decade /540-1550, Nova Iorque, 1939.
in-folio, 1908-1970. (Admirável instrumento de trabalho; classificação rOi pa(sl's ' BIIRMI'IS 1i R, K, 11., Schustion MIIII.I'II'I: Ein« Bibtiographlo, Wicsbad n, 1964.

impressores com notas ti italhadas: os últimos volumes suo de (i. Pnintcr: IlHhLl' dil
('I( IN I~I'S( li, A , /lihlltlglollllt/, tI/' 10 littrmtut: [rnnçatsr tlu \1'/' ,\'i//'II', P:II is. 1!)'il)
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1" OVllIl('IH'IIIS lI'l'l'llt('Illl'llt(' puhlictulu)
430 o APARECIMENTODOLIVRO BIBLIOGRAFIA 431

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Scripture in the library of British and Foreign Bible Society. Nova Yorque, 4 vols. Somme typographique, Paris, 2 vols., 1947-1948. Les Origines (com a participação
de Maurice Audin et Robert Marichal). L'atelier et le matériel.
(reimp.), 1963.
DUPLESSIS, G., Essai sur les différentes éditions des [cones Veteris Testamenti d'Holbein, BARGE, H., e BOGENG, G. A. E., Geschichte der Buchdruckerkunst. Dresden, 2 vols.,
Paris, 1884 (Excerto de Mémoires de la Société des Antiquaires de France, t. XLIV, 1939-1941.

1883, pp. 45-64.


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Essai bibliographique sur les différentes éditions des oeuvres d'Ovide, ornées de FLOCCON, A., L' Univers du livre, Paris, 1961.

planches publiées au xve et au XVI' siêcle, Paris, 1889. LABARRE, A., Histoire du livre, Paris, 1970.
Les Livres à gravures du XVIe siêcle. Les Bmblemes d'Aiciat. Paris, 1884. LUFLlNG, H., «Neue Literatur zur Geschichte des Buchwesens», in Archiv für
HARRISSE, H., Excerpta Columbiniana. Bibliographie de quatre cents piêces gothiques Kulturgeschichte, t. XXXVII, fase, 2, 1955, pp. 244-263. (Relação dos trabalhos
françaises, italiennes et latines du commencement du XVI' siecle, Paris, 1887. recentes).
HEITZ, P., e RITIER, F., Versuch einer Zusammenstellung der deutschen volksbücher des MALO-RENAULT, L, L'art du livre, Paris, Garnier, 1931.

15. und 16. Iahrhunderts, Estrasburgo, 1924. Me MURTIE, D., The book, the story of printing and bookmaking, Nova Iorque, Toronto,
KLESCZEWSKI, R., Die Franrõsischen Uebersetzungen des «Cortegiano» von Baldassare 3." ed., 1943. (Ed. port.: Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1972; 2." ed., 1982)
MILKAU, F., e LEYH, G., Handbucn der Bibliothekswissenchaft. Wiesbaden, 4 vols., 2." ed.,
Castiglione, Heidelberga, 1966.
LACOMBE, P., Livres d'heures imprimés au xve siêcle conservés dans les Bibliothêques 1952-1961.

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LEGRAND, E., Bibliographie hellénique ou Description raisonnée des ouvrages publiés par PEDDTE, Rev. ALEX. A., Printing, a short history of the art, London, in-S.", 1927. (Por

des Grecs au xve et XVI' siêcles, Paris, 1885-1906. países. é redigido por um especialista).
Cada capítulo
__ Bibliographique hellénique ... au xvtr siêcle, Paris, 5 vols., 1894-1903. POLLARD, A. W., Fine books, Londres, 1912.
__ Bibliographie hellénique ... au XVIle siêcle, Paris, 2 vols., 1918-1928. PRESSER, H., Das Buch vom Buch, Bremen, 1962.
MAMBELLl, G., GliAnnali delle edizioni Virgiliane, Florença, 1954. Printing and the mind of Man. The impact of printing on five centuries of western civili-
PICOT, É., Catologue des livres composant Ia bibliothêque de [eu M. le baron Iames de zation, Cambridge, ed. por Carter e P. H. Muir, 1967.

Rothschild, Paris, 5 vols., 1884-1920. PUTMAN, G. H., Books and their makers during the Middle Age, a study of the conditions
PLAN, P'-P., Bibliographie rabelaisienne. Les éditions de Rabelais de 1532 à 1711, Paris, of the production and distribution of literature from the fali of the Roman Empire to
the dose of the xvir» century, Londres, Nova Iorque, 2 vols., 1896-1897.
1904.
PORCHER, L, Bioliotneque Nationale. Exposition organisée à I'occasion du quatriême SCHOTIENLOHER, K., Bücher bewegten die Welt, Estugarda, 2." ed., 1968.

centenaire de Ia publication de Pantagruel, Paris, 1933. STEINBERG, S. H., Five hundred years ofprinting, Harmondsworth, 1955.
SOMMERVOGEL, Pe. c., e BACKER, A. de., Bibliotheque de la Compagnie de Jésus, TEICHL, R., Der Wiegendruck im Kartenbild, Viena, 1926.

Bruxelas, Paris, 9 vols., 1890-1900. WIDMANN, H., Der Deutsche Buchhandel in Urkunden und Quelle, Hamburgo, 2 vols.,
VAN EYs, W. L, Bibliographie des Bibles et des Nouveaux Testaments en languefrançaise 1963.
des xvr et xvr siêcles, Genebra, 2 vols., 1900-1901. WROTH, C. C. (ed.), History ofthe printed book. Nova Iorque, 1938.
VOGEL, P. H., Europiüsche Bibeldruke des xv. und XVI. Iahrhunderts in deu
Volkssprachen, Baden-Baden, 1962. Reservamos, por fim, um lugar especial para uma obra particularmente inovadora:
WEALE, W. H. L, Bibliographia liturgica. Catalogus missalium ritus latini ab anno 1475
impressorum, Londres, 1886. Me LUHAN, H. M., La Galaxie Gutenbergface à l'ere éléctronique, trad. de J. Pare, Tours,
WOLEDGE, B., Bibliographie des romans et nouvelles en prose française aniérieurs ti 1967.

1500, Genebra, Lille, 1954.


Acrescentemos a esta obras algumas miscelâneas importantes:

(Misc 'Ifinca Rl\NZIN(õ)


B. ESTUDOS DE CONJUNTO

I\nWI'RS, 1\., Storia 1M librn, Flor mça. 1961. 1"1'.1111


""/1//1/ .111.\1'/111'11 /11,111//1/11'11/ i,lllll'ill (;I'''/11IIII/,r.:, 1 1"1"'11I11I 11)(,.1, Wil',hacll'C!
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o APARECIMENTO
DOLIVRO BIBLIOGRAFIA 433
432
~-----------------------------------------

(Miscelânea 1. CAIN) HINO, A. M .. e COLVIN, S" Catalogue of early italian engravings preserved in lhe
Departament of Print and drawings in the Britisli Museum, Londres, 2 vols.,
Humanisme actif. Mélanges d'art et de /ittérature offerts à lulien Cain, Paris, ed. de I. 1909-1910.
Porcher e A. Masson, 2 vols., 1968. HODNETT, E., Englisn woodcuts, 1480-1535, Londres, 1935.
LEMOISNE, P. A., Les Xvlographies du XIV" du xv- siêcles au Cabinet des Estampes, Paris,
(Miscelânea F. CALOT) 2 vols., 1927-1930,
LIEURE, I., L'Éco/efrançaise de gravure des origines à la fin du xvt« siêcle, Paris, 1928.
Mélanges d'histoire du livre et des bibliotheques offerts à M. Frant: Calot. Paris, PITTALUGA, M., L'lncisione italiana nel Cinquecento, Milão, S. d ..
d' Argences, 1965. ROSENTHAL, L., La Gravure, Paris, 2: ed. rev, e aumentada, 1939.
SCHREIBER, W. L., Manuel de l'amateur de Ia gravure sur bois et sur metal au
(Miscelânea G. HOFMANN) xve siêcle, Berlirn, 5 vols. in-S." e um atlas, 1891-1911. - 1-11. Gravures xylographi-
ques. - 11I, Gravures sur métal. - IV. Livres xylograptuques. - V. Incunables figu- à

Buch und Welt. Festschrift für Gustav Hofmann zum 65. Geburstag dargebracht, res imprimes en Allemagne, Suisse, Autriche-Hongrie et Scandinavie. (Essencial.
Wiesbaden, 1968. Edição alemã, Leipzig, 1927),
SOTHEBY, S. L., Principia typografica. The block books, Londres, 3 vols., 1853.
(Miscelânea A. KOLB)

Refugium animae bibliotheca. Mélanges offerts à Albert Kolb, ed. E. Van der Vekene, 2. A «descoberta» da imprensa
Wiesbaden, G. Pressler, 1969.
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111 111"/1/1""1111; , ,'111//1 \ I 0111111 l vul-. I') 111 11"" , 1011", 1'1
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«Das Mainzer Catholicon von 1460», in Zentralblatt für Bibliothekswesen, LIX, Hur=, Otto, «Der Neudruck der Canon Missae und der Sandguss», in Gutenberg-
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Nov.-Dez. 1942, pp. 461-478.
JOHNSON,A. F., «The Supply of types in the sisteenth century», in The Library, 4." série,
vol. XXIV, 1945, pp. 47-65.
MOMORO,A.-F, Traité élémentaire de l'imprimerie, Paris, 1793.
3. Técnica do livro e bibliografia material
MORTET, c., Le Format des livres. Notions pratiques suivies de recherches historiques,
Mencionemos, em primeiro lugar, alguns manuais clássicos: Paris, 1925.
MOXON,J., Mechanick exercises, or the doctrines of handy works. Londres, 1683.
Para os incunábulos:
Para a história, a tipografia e a identificação dos caracteres, citemos:
HAEBLER,K. Handbuch der lnkunabelkunde, Estugarda, A. Hiersman, 2." ed., 1966.
AUDIN, M., «La Fonderie des Iettres et les fondeurs francais», in Arts et métiers graphi-
ques, N." 25, Jun. 1933, pp. 27 e segs.
Para o livro do período artesanal:
-- Les Livrets typographiques desfonderiesfrançaises avant 1800. Étude historique et
Me KERROW,R.B., An introduction to bibliography for literary students, Oxford, 2." ed., bibliographique, Paris, 1933.
BALSAMO,L., e TINTO,A., Origini del corsivo nella tipografia italiana nel Cinquecento,
1927.
ESDAILE,A., Esdaile's manual of bibliography, ed. revista por Roy Stokes, Londres, 1967. Milão, 1967.
BRUN,R., Les beaux livres d'autrefois. Le XVI siecle, Paris, 1931.
Sobre os problemas estritamente técnicos, mencionemos: ENS HEDÉ, Ch., Fonderies de caractêres et leur matériel dans les Pays-Bas du xv' au
XIX' siecle, llaarlem, 1908.
AUDIN, M., «A propos des prerniêres techniques typ graphiques », in Bibliothi qu« IIFU.INOA, W. C 1.., The Fifteenth century printing types of lhe Low Countries,
. AIII 'S(('I"(I:\I1, II)M.
d'Humanisme et Renaissance, 1. XVIII, 1956, pp. 161 170.
/lihliollulflll' Natianntr. 1./'.1" IY/II'.\· 1I'II/IIIIIi.\ primiti]« ("(J//II'/"I'If.\. 11/1 /)('11111'11'11I1'111 ilr» IloWI , I' 1'1('11\li IYPI' '111'('1111('11
hooks», in l'lu: 1111/ /11 I', , " , 'lI '. VI, II) I, pp 'I{ ,11.
11/111/11'/1"\ 1',111 IIlhllolh qu Nntuuuih', 1 I I IrIIlN IIN. I' '1" I .11"11"1/1.1"," ""1,11 I' utu! ", \',1"1/1/1'1/1,1 IIl1dll 111I)
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1'1 ti 11 I • 11 I ,11'11I///11/ ('/11111/1 (11 " IIC) I ), 1.011d I ('S 192:;.
1'.111' 1\ 11111' I 11. Jl
po

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DOLIVRO
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11 " (), /)", Ali"",}!"" \."1'11 , WII',hadl'II, 11)(l7 du nu«, N "', I 'i 11111 11)\<;,)li! H I 111
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VOET, L., The Golden compasses. The history of the house of Plantin-Moretus, Antuérpia, Haya, 2 vols., 1936. '
Amesterdão, Londres, Nova Iorque, 2 vols., 1969.
Vingle (Pedro de)

Sobre os arquivos de Plantin-Moretus, ver:.


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Ratdolt (Erhard) Waesberghe

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Wechl'i
Rl'y (Marc-Michel)

R()\)SSI'i\II • .I, .I.• l rttrrs illl'tlit/',I' tI/' .//'1//1 ./1//'///1/'.1 !?tIIl.I.\/'II/I 1/ Mun: Mirfll'l NI'I'. l'tI I, (:111.11, C'hIlIIIlW·'·ll"I.I·IIII'II'III'111
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110 Ihol 1111' 11'111,111.IK K 1'1' I K I 1'1/
o APARECIMENTO
DO LIVRO
462

Weissenbruch

Bouillon. Musée ducal. Le Journal encyclopédique et Ia Société typographique.


Exposition en hommage à Pierre Rousseau (1716-1785) et Charles-Auguste de
Weissenbruch (1744-1826), Bouillon, 1955.

Índice de Assuntos

Os nomes das pessoas aparecem em pequenas maiúsculas redondas, os títulos das obras
em minúsculas itálicas, os nomes dos lugares e as noções em minúsculas redondas.

A Adolescence Clémentine, 413


ADOLFO,Gustavo, 305
Abeville. Mapa, 242-243 ADRAMYITENOS,Emanuel, 200
À nobreza cristã da nação alemã, 375, 376, Adversus furiosum Parisiensium theolo-
379 gastrorum decretum, 381
Abecedário, 55, 67, 190, 261, 271, 272, Aetna,201
276 segs., 283, 288, 311 segs., 403 Affiches, Les, 214
Abissínia, 279, 279 (N. R.) AFONSODE POITTERS,35
Abrégé de ia doctrine évangélique et papis- Agra,282
tique, 402 AGRÍCOLA,João, 377
Abuzé en cour, 332 AGRÍCOLA,Jorge, 358
Academia Aldina, 201 AGRÍCOLA,Rodo1fo, 268
Academia das Ciências de Paris, 281 Agriculture et maisons rustiques, 204
Academia dos Linces, 281 Aigues-Mortes,34
Academia dos Príncipes de Carpi, 20 I AILLY,Pierre d', 325
Academia Francesa, 211,310 Aix-Ia-Chapelle,64
ACCIAIOLI,André, 24 ALBERTI,106, 336
ACCURSIUS,Bonus, 343 ALBERTO,o Grande, 335
Actos dos ApnSIOlos, 380 Albi,229
A til/li "11 I 1 l(), zo I, 281, 353 ALBRE IIT (Livreiro), 101
'" , " 1I C 111111 110, \.lK I!)IlI'IU)IIi', 1\11111\1) til', \ lI, \/,()
1\1 111
,
464 o APARECIMENTO
DOLIVRO
íNDICEDEASSUNTOS
465
A1calá, 255. 345, 348 Altkloster, 40 Annales de Bretagne, 364
Aritmética, 235
ALCIATO,André, 121,206,354,386 Amadis de Gaula, 138,273,352,368 Annales et Chroniques de France, 364
ARNOULLET,Baltasar, 398
ALCUÍNO,323 Amazonas, 273 Annonia,52
ALDO (Família), MANÚCIO, Aldo ARNOULLET,Olivier, 394
V. Ambacalate, 279 Anotações, 285, 290
ARQUIMEDES,355
(Família) Ambert, 38, 49 ANSHELM,Tomás, 130, 164,206,344
ALEANDRO,Jerónimo (Cardeal), 201 AMBROGIO,Lodovico di, 34 Anti-Claudianus, 337 ARRAS,João d', 332

Alemanha, 35,40,42,45,49,50,51, 52, AMERBACH,Basílio, 199 Antidotarius animae, 267 Arresta amorum, 206

65,66,88,107,108,111,124,132, AMERBACH,Bonifácio, 199,252,386 Antidotum melancoliae, 193 Ars brevis, 286

133, 134, 136, 140, 146, 164, 167, AMERBACH,Bruno, 199 Antigo Testamento, 148,373, 379 Ars versijicatoria, 342

170, 173, 188, 192, 199, 205, 222, AMERBACH,João, 108, 173, 198, 199,200, Antiguidades Judaicas, 363 Arte de bem morrer (Ars moriendi}, 50, 55,
223, 224, 241, 244, 245, 246, 247, 251,269,301,344 Antiquité expliquée, 288 108, 326, 334
252,253,256,257,258,259,261, AMERBACH(Família), 386 AntiquiteZ de Paris, 364 Arte de bem morrer e a de bem viver, 134
262,263,266,268,269,271,296, América (conhecimento da), 358-36l. Antuérpia, 117, 125, 139, 140, 172, 173, ARTUR(Rei), 366
297, 298, 300, 303, 305, 306, 307, (Livros expeditos ou impressos na), 174, 175, 183, 184, 192, 193, 194, ASHER (Impressor judaico), 348
207, 240, 241, 250, 251, 253, 254, Asno-Papa, 375
309, 310,311,314,315,316,318, 263,273-278,292
255, 256, 259, 260, 274, 288, 292,
330, 334, 338, 344, 347, 350 , 359, Amesterdão, 51, 66, 192, 193, 212, 241, Asola,l72
295,301,303, 317,348,382,383,
372, 374, 375, 377, 380, 381, 397, 260,262,288,291,301,317 Astrée, 221, 368
384, 390, 394, 395, 400, 404, 407,
400, 402, 408, 409, 410, 411, 412, Amiens,81 Astronomici veteres, 354
415
416,417,418,419 AMMAN,João, 133 Atenas, 233
Apocalipse, 55, 132,323
Alençon, 207, 382 AMYOT,350 Apostol, 271, 272 ATKINSON,360
ALEXANDRED. (Rei da Polónia), 267 ANA D. (Rainha), 223 Apparatus elegantiarum, 159 Auctores octo, 29, 328
ALEXANDREVI (Papa), 318 ANADA BRETANHA,122 Apparatus in Clementinas, 238 Auctoritates Aristotelis, 334
Alfabeto, V. Abecedário Anatomia, 417 ApULEIO,366 AUDlN, Maurice, 65, 73
ALEXIS,Guilherme, 334 ANDRÉ,João, 392 Aquila. Mapa, 242-243 AUGEREAU,António, 108, 345, 391, 396,
ALÍACO, Pedra, 235 ANDREA(d'), 139 Aragão, 407, 416 414
Alicante,216 ANDREAE,Jerónimo, 252 ARANDE,Miguel d', 383
Augsburgo, 301,303, 305, 324, 344, 347,
ALIGHIERI,Dante, V. DANTEALIGillERI ANDRELINI,331 ARATOR,331
354, 359, 377, 378, 50, 116, 124,
ALLAKRAW,266 ANDRELINI(Família), 342 Arba' a turim, 348
128, 133, 163, 233, 245, 246, 250,
ALMAGRO,274 Andrómeda, 287 Arches,48
251,252
Almanaque Perpétuo, 335 (N. R.) ANEAU,Bartolomeu, 206 Archettes, 48
Aurora, 337
Almanaques, 283, 300, 311, 312, 334,341 ANGELINI,Evangelista, 229 Arco triunfal, 133
ARGENTRÉ,D', 364 Áustria, 35, /11
ALOPA,Alonzo di, 285 Angers, 244, 245, 253, 403
Argóvia, 233 Autorized Version, 410
Alpes, 293, 298 Angoulême, 45, 46, 49, 51
ARIAGA,287, 317 AUTUN,Guillaud d' (Cónego), 340
Alphabet ou lnstruction chrétienne pour Angoumois, 38, 41
ARIOSTO,352, 368, 411 Auvergne, 38, 39, 40, 41,45,49, 51
les petits enfants, 397 ANGST, 164
ARISTÓFANES,20 I Aves (Tratado dos), 358
AIsácia, 255, 30 I, 330 ÂNISSON, Lourenço, H9, 192, I(n, I,)ti,
ÂI{ISlOlI'lliS, 19, n,25, IIH, 201, 215, AVICENi\,202, 314, 155
AI~al'ia, 'IOX I I, 60, XX, ') I
1\7 'I(), P I, PH, 1101, ~ I'i, 1'i'l, Avinlllo, ~I,'I ,'I'),(l-I,1I7,IOI,1 X,II,.
11I 11111
'"11111 111\ 1/11/(/1,,\ '" '1"11"11"', \11I 1'/1
1111 '11, 'Hh, "11, IH', IXI.
o APARECIMENTO DO LIVRO
ÍNDICE DE ASSUNTOS 467
466
BARTHÉLEMY,Francisco, 172 BEMBO,Pedro, 201, 352, 363,416 Btblia Francesa, 209
B
BÉNARD,Guilherme, 160 Btbliafrancesa,288
BÁRTOLO,34
Basileia, 40, 48, 50, 60, 105,114, 125, 128, BENEDA,265 Biblia hebraica, 287, 346, 348
BABIE, Jacob, 269
133, 137, 162, 163, 164, 166, 171, Beneditinos de Santo Ulrich e Afra, 233 Btblia historiada, 373, 390, 398
BACON,Rogério, 337
173, 193, 194, 198, 199,229,236, Beneditinos de São Pedro de Erfurt, 233 Biblia latina, 285
BACQUENOIS,398
244, 246, 250, 251, 252, 253, 254, BENSERADE,Isac de, 221 Bíblia luterana, 257
BADE, Conrado, 398, 401, 402
259, 286, 290, 291, 301, 303, 304, BERCKHAUT,173 Bíblia poliglota, 255, 344, 348
BADE, Josse, 108, 116, 156, 170, 182, 190,
305, 314, 324, 342, 344, 347, 354, Bergen, 175, 292 Btblia Sagrada, 382
202, 203, 204, 205, 251, 285, 290,
356, 358, 360, 378, 383, 384, 385, BERINGEN(Família), 398 Bibliographia gallica, 307
314,327,342,343,345
386,387,388,389,390,400,410 Berlim, 262, 289 Bibliographia parisiana, 307
BADE, Perrette, 204
BASKERVILLE,John, 51, 217 Berna, 199,291,399 Bibliographie de Ia France, 308
Baden-Baden, 164
BASNAGE,309, 419 BERNARD,Tiago, 403 Bibliotecas, 28, 29, 67, 94, 96, 145, 165,
BADUEL,Cláudio, 206
BASSOMPIERRE,291 BERNARDODE PARMA,238 235, 259 segs., 281, 338, 339, 340,
BAEMLER,246
BÁTHORI,Estêvão, 268 BEROALDO,Filipe, 202, 331 350, 353, 362, 363
BAGLIONE,Bracio, 229
Batrachomiomachia, 343, 344 BEROALDO,Filipe (Família), 342 Bibliothêque universelle et historique, 309
BAIF,350
BAUDOIN,Francisco, 206 Beromünster, 233 BIDPAY,136
Baixa Saxónia, 409
BERQUIN,Luís de, 203, 209, 383, 391, 392, Bielorússia, 272
BAKALÁR,Mikulás, 265 BAUDRY,340
394 Biêvres, 169
BALBI, Giovanni, 71 Bauge,403
Baviera, 347,410 BERRY(Duque de), 26, 28, 130 BILL, John, 304
BALBI, João, 325
BAYLE,Pierre, 241, 262, 289, 309, 419 BERTHIER,317 BILLAINE,Luís, 310
BALDUNG-GRIEN,João, 114, 133
BERTOLDO(Arcebispo), 318 BIRCKMANN,250, 253
Beaujolais, 49
Baleares, 149
BEAULIEUX,Charles, 414 BERTRAND(Fanulia), 197 (N. R.) BIRCKX,I64
BALIGAULT,Félix, 170
BEAUMARCHAIS,48, 214, 216, 217 Besançon, 199,291 Birrningham, 256
BALLARD,48
BEAUVAIS,Vicente de, 173, 235, 334, 336, BESCHI(Padre), 282 Bispo de Senlis, 156
BALLON,Nicolau, 404
364 BESSE,288 Bizâncio, 200
BALZAC,Guez de, 211, 262
BECCADELI,Antonio (dito Panorrnita), 238, Betbüchlein, 376, 388, 394 BLADO,António (Família), 254
BALZAC,Honoré, 262
BEVILAQUA(Família), 247 BLAEU, WilIem Janszoon, 88, 175, 182,
Bamberg, 70, 71, 122,233,244 285
BECK, Leonardo, 133 BEZE, Teodoro de, 404, 405 212,260
BARBÉ,João, 204
BEDA, Noel, 285, 290, 382, 393 Bíblia, 15,71,84,101,126,132,133,157, BLAGUSIN,Gregório, 273
BARBIER,Sinforiano, 155, 170
BELFORTIS,André, 284 158, 173, 175,204,209,211,227, BLAISE,Tomás, 310
BARBIN,221, 225, 239
BELGES,João Le Maire de, 130,364 232, 235, 266, 268, 272, 276, 286, Blaubeuren, 233
BARBOU,197,216,291
Bélgica, 34, 174, 245 288, 300, 312, 323, 324, 325, 326, BLÁVIO,João (Família), 246
Barcelona, 199, 254, 255, 335, 358,
Belgrado, 270 347, 348, 373, 378, 379, 384, 390, Blois, 170, 382
230 (N. R.), 241 (N. R.), 245 (N. R.)
Bélial, 134, 332 398, 399, 400, 400, 401, 402, 409, BLOIS , Pedro de, 331
BARCLAY,418
BELLAY,João Du (Famflia), 392 413 BOCARD,169
Barlaão e Josafate, 265
BELLAY, João Du, 186, 396
Bthlia do Antuérpia, 348 Bo A I(), Giovanni, 24, 124, 168, 20 I,
Bar-le-Duc. 49
BI'I I.AY, Muniu nll, 'M 111""" til' /'/1/ '11, 6'1 "I, l'i I, 'M, 16K
BAIlIWS, Joào de, 79,1S9
1III IlN, 1'1'\h 11, \ K, Itll 111 /1'''''11 ,1,,\ I,/,/tl,'\ , I 10, I IK II!)( 111I(()N, ('llIlIhll, 10I
11 I I, 1',111 ('", ,11111) li)
468 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 469

BODIUS,Hermann, V. BUCER,Martinho Bouillon (Principado de), 214, 259 que, 402 BURIDAN,235, 324, 370
BODONI,217 BOURBON,Carlos de (Arcebispo) -165 Briesve doctrine, 413 Burro de ouro, O, 366
BOÉCIO, 172,235,328 BOURBON,João de, 165 Briesve doctrine pour deuement escripe BURY, Richard de, 20
Boémia, 245, 264/266, 269, 301 BOURBON,Nicolau, 206 selon Ia proprieté du langaige [ran- BUSCH,173
BOEMIUS,359, 361 BOURCEV,V. F, 272 çois,413 BUSCHE,Hermann von dem, 253
BOGNE,Jorge de, 167 BOURDICHON,122 BRIQUET,Charles, 34, 37 BUYER, Bartolomeu, 164, 165, 166, 167,
BOIARDO,368 Bourges, 157 Bristol, 256 168, 169,240,245,296,385
BOILEAU,220, 221,287 Bourgoin, 39 Brno,266 BUYER,Pedro, 165
BOISGERMAIN,Luneau de, 160 Boxers,281 BROUILLY,286 BUYER,Tiago, 167
Bois-le Duc. Mapa, 248-249 BOYER,291 BRUCKMANN,40
BOISlIS,André de, 314 BOYSSONNE,João de, 208 Bruges, 48, 66, 104, 125, 173, 245 c
Bolonha, 104, 105, 165, 201, 202, 245, BOZON,Pedra, 184 BRUGES,João de, 104
246, 254, 296, 336 Brabante, 381, 388 BRUN, Pedro, 128 (N. R.) Cabido de Saint-Jean, 165
BOLZANI,Urbano, 201 BRADFÚRD,William, 276 BRUNET,Miguel, 159 CADEROUSSE,Davin de, 64
Bombardeiro, 228 (N. R.) Braga, 230 (N. R), 247 (N. R.), 324 (N. R.) BRUNFELS,Otto, 133, 356, 388, 394, 395 Cádiz, 216, 291
BOMBERG,Daniel, 348 BRAHE,Tycho, 88,212 BRUNI, Leonardo, 229, 332, 363 Caen,253
BONACCI,254 BRANT, Sebastião, 128, 199, 351 BRUNOT,Ferdinand, 406 CALÁBRIA,Reggio de, 346
BONACINA,193 Brasil, 141,279 Bruxelas, 49, 125,214,291,295 CALCAR,João de, 356
BONACORSE,254 Bratislava, 266 BRUYSET,Jeanne-Marie, 291 CALDERINO,Domício, 200
BONER,Ulrich, 124 Breda, 142 BRY (Família), 360 Calendário dos Pastores, 130, 134, 138,
BONHOMME,Pasquier, 168 BREDA,Tiago de, 250, 344 BRY, Tomás de, 141 311,312,334,370,399
BONlNIS, Bonino, 27 I Bremen,40 BUANNO,Goropius, 175 Calendários, 283,334,341,348,71, 108,
BONNEMERE,157, 170,285 Bremervoerde, 40 BUARTlER,Maria, 166 265
Book of the common Prayer and Adminis- BRENZ,377 BUCER, Martinho, 394, 399 Calepino, 193,280,342,414
tration of the Sacraments, 411 Bréscia, 245, 343 BUCHANAN,Jorge, 220 Calisto y Melibea (A Celestina), 352
BORDEAUX,Huon de, 366 Breslau, 50, 245, 377 Bucólicas, 331 CALLOT,142
Bordéus, 46, 253, 291 Bretanha, 49, 51 Buda, 128 CALVINO, 209, 258, 372, 383, 385, 388,
BOREL (Falllllia), 197 (N. R) Breuchin, 42 BUDA,96 389,398,400,402,403
Borgonha, 39, 387 BREUGHEL,140 Budapeste, 173 Câmara de Lyon, 187
Borgonha (Duque de), 55, 165, 332 Bréviaire des Nobles, Le, 231 BUDÉ, Guilherme, 203, 206,353,396,407, Cambridge, 256, 276
BORROMEO,Frederico (Cardeal), 281 Breviários, 230, 267, 285, 324 414,417 CAMDEN,418
BOSSE, 142 Breviarium Bracharense, 324 (N. R) BUFFON, 144, 224 CAMÕES,Luís de, 359
Boston,276 BREYDENBACH,Bernardo de, 265, 347 BUGENHAGEN,377 CAMP, 291
BOUCHER,144 BRIÇONNET,374, 380, 382 BULLlNGER,402 CAMUSAT,159,211,310
BOUCHET,Jean, 364 BRICOT,370 BULI.OKAR,William, 416 Canção de Rolando, 337
ttouclicr di' Ia foi mis en dialogue, 402 Bri~, 52 HIJlHiI R, )'1(1 Canções, 144
BOIlIll',4X Blm, .101\0 de, \!l,' BI I (,~ 1 111 10,111, I' 1 Cançõ,» dI' /0(1',\11/, 406
11(11111111((11,10 I, I II 11/1/'/ ssnnnun n: tI/' 10 tiO/fI/lI! / \'/11/, '/'Ii 11111'li 1 / I I I (' /I( 1111, '01
o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 471
470

Cannonier, 228 (N. R.) CASLON,217 Châlons, 387 CHUQUET,Nicolau, 335

Cantuária, 47, 256 Casoslovec (Horológio), 267 Châlons-sur-Marne, 404 CíCERO, 107,208,209,229,236,238,245,

Canzoniere, 233, 332 Casovnik, 272 Chalon-sur-Saône, 130 284,330,331,343


CASTANHEDA,Fernão Lopes de, 360, 361 Chamaliêres.Bê Cidade de Deus, 20, 325
CAPCASA,Mateus, 285
CAPITON,349, 383 CASTIGLIONE,Baltasar, 352 Champagne, 35,38,39,44,45, 50, 51, 380 Cidade do México, 274

Capua. Mapa, 248-249 CASTILLO,193 CHAMPAIGNE,Filipe de, 142, 143 Ciência prática da impressão, 81

CARACCIOLI,Roberto, 285 Casus longi, 238 Champfleury, 204, 413 Cincinnati, 278

Caracteres, 287 Catálogos, 302, 303, 308, 382 Champion des dames, 332 Cinna,221

Caracteres (entalhadores e fundidores de), Catalogue of the mos! vendible books in CHAMPLAIN, Cinquiême livre, 353

48,60 segs., 73-76, 160, 183,207, England, 308 Chancelaria Real, 412, 414 Circenster, 256

217,302,398 CATÃO,136,328,328,370 CHANG(Dinastia ), 92 CrREY, João de (Abade de Cister), 233

Caracteres tipográficos, 32, 61 segs., 71- CATARINADE SlENA, 325 CHAPELAIN,143,211,308,320,418,419 CLAJUS,Johann, 410

89, 97-99, 103-111, 116, 154-156, Catecismo, 271, 279 Charente, 5 1 Clamart, 169

158 segs., 168 segs., 201, 205 segs., Catecismo em perguntas e respostas, 402 Charleston, 278 CLARET,João, 167

217,218,237,246,251 segs., 254 Catholicon, 71,324 CHARTIER,Alain, 110, 332 CLAVEL,Roberto, 308

segs., 279 segs., 343, 346 segs. Cato christianus, 208 Chartres, 232, 248 CLEMENTEVII, 374

Caracteres tipográficos cinlicos, 111,272 CATONE, Ângelo (Arcebispo e Conde), Chasteau de labour, 332 CLENARDO,Nicolau, 287, 345, 349

Caracteres tipográficos gregos, 343 segs. 229,230 Châtaubriant, 397 Clermont, 170
CATTARENSIS,
Andreas de Paltasichis, 271 CHAUCER,50 Clêves.óü
Caracteres tipográficos hebraicos, 64, 346
CARAFFA(Cardeal), 233 CATULO,343 CHAUDIERE,Reginaldo, 203 Cluny (Abadia), 165,233

Cárcel de amor, 352, 368 CATURCE,João de, 208 CHAUTEMPS,João, 400 Cochim,279

CARLOSDE BOURBON(Cardeal), 150,229 CAUSSE,Bartolomeu, 402 Chaves, 247 (N. R.) COCHLAEUS,378, 379

CARLOsv,24, 25, 274,374 CAVALCANTI,


Maghinardo dei, 24 Checoslováquia, 264, 268 COCK, Jerónimo, 140

CARLOSVIII, 45, 47, 363 CAVICEO,352 CHELCICKY,266 CocTus,382,386,398

CARLOSIX, 315 CAXTON,245, 255 CHENG, Pi, 97 Código, 362

CARLSTADT,378 CAYAS,Gabriel de (Secretário de Filipe II), Chevalier au cygne, 366 Código de Justiniano, 285

Carolina do Norte, 278 175 CHEVALLON,390 COIGNARD,288, 289

Carolina do Sul, 278 Celestina, A (Calisto y Melibea), 352 China, 32, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, Coimbra, 234 (N. R.), 240 (N. R.)

Carpentras,42 CELTES,Conrado, 173, 344 280,281,282,360,361 COLBERT,40, 188,213,261,308,320

Carta a D 'Alembert, 224 Censura, 382 CHINON,193 Colegiada de Paris, 167

Cartas, 236, 330, 337, 344, 358, 361 Cent nouvelles nouvelles, 332 Chivasso. Mapa, 248-249 Colégio de Cambrai, 237

Cartas de Heloísa e de Abelardo, 337 CEPHALON,347 CHOEN-TCHE, 281 Colégio de Lyon, 209

Cartas de indulgência, 71 CERVICORNO,Euchario, 252, 344 CHOISEUL,216 Colégio de Sapiência, 157,286

Cartas edificantes e curiosas, 282 CÉSAR, 330, 343,351, 363 CHOPIN(Jurisconsulto), 290 COLINES, Simão de, 108, 116, 120, 182,

CARTERON,Antoinette, 288 CÉSAR, Pedro, 237 CHOUAUD,Pedro, 291 203,204,286,303,345,380

ARTlliR,J acques, 361 esena. Mapa, 248-249 Cluisostomi l uruhrationes, 219 (N. R.) Collc di Valdclso. Mapa, 242-243

('11I1111has, 79, 79 (N. R.), !U,311 "tinia, 269, 270, 271 ('/11 ;llirl//r/ Ir'II/II/I/o, W!l Cnlloll zes, 402

(' 10" 1 NO, I 11110110 \ 'h {'hllhlilis, H)1 ( 'lu /11/1/11/ 1//// /r 111/1/1/1, l!l') ('01111111, ) lI!
472 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 7~

COLOMB,José, 291 Confessionale, 284, 325 CORTEZ,274, 359, 359 Cremona. Mapa, 242-243
COLOMBES,291 Confraria de São João Evangelista, 194 CORVINO,Matias (Rei da Hungria), 106 CRESCENS,Pedro de, 334, 336
COLOMBO,Cristóvão, 122, 358, 359 CONFÚCIO,93 Cosenza. Mapa, 242-243 CRESPIN,João, 401
Colónia, 45, 48, 66, 125, 164, 173, 192, Congo, 279, 279 (N. R.), 360 Cosmografia, 354 CRISTINADE PISANO,332
194, 199,238,244,245,246,250, Connecticut, 278 Cosmographia universalis, 360 CRNOJEVIC, Durad (Príncipe regente de
252,253,259,260,264,281,317, Conquista do Grande Carlos Magno, A, Cosmographicae aliquot descriptiones, Montenegro),269
318, 324, 344, 359, 375, 394, 368 332 355 CRNOJEVIC,Ivan, 269
(N. R.) Conselho de Francfort, 188 COSTA(Família), 197 (N. R.) Croácia, 270
COLONNA,Guido de, 264 Conselho de Lyon, 188 COSTER,Lourenço, 66, 67 CROMBERGER,(Família), 2:41, 255, 273,
Colóquios, 286, 353, 390 Conselho dos Duzentos, 400 COTTEREAU,209 274
Colúmbia, 278 Constança, 199,236 COURBÉ,3J7 Crônica da Holanda, 66
Comédia italiana, 142 Constantinopla, 149,279 Courcelles, 48 Crônica de Espanha, 364
Comédie du Pape malade et tirant à as fin, Contos, 144,215, 225 COURINE,417 Crónica de Koelhojf, 232
401 Contos de Cantuária, 50 COURNOT,278 Crónica de Nuremberga, 126, 128,364
Comentarii in Levitici librum, 220 Contra-Reforma; 417 COURT,Bento, 206 Crónicas, 108, 126,337, 360, 364
Comentarii in patrias Britonum leges, 290 Convento de São Tiago de Ripoli, 234 COURTALIN-FAREMOUTIERS,
52 Crónicas de Colánia, 65
Comentarii linguae latinae, 206 Conversas da Alma com Deus, 325 COUSIN,João (o-Velho), 134 Crónicas gargantuescas, 110
Comentários, 235, 236, 237, 286, 359 Convivium, 314 COUSINOT,362 Cuenca, 275
COMESTOR,Pedro, 325 COOK,144 COUSTELIER,216 Culembourg. Mapa, 248-249
COMINES,Filipe de, 230, 364 COORNHERT,Dirk Volkertoon, 66 COUSTIAU,Gillet, 130, 168, 170 CURION(Família), 387
Comissão Imperial do Livro, 305 Copenhaga, 291 Coustumes et constitutions de Bretaigne, CYRANO,222
Compagnon, 179 (N. R.) COPÉR}ITCO,
356, 356 Les,231
COMPAIGN,Nicolau, 208 COPINGER,Walter, 323 COVERDALE,410 D
Compafiero, 179 (N. R.) Copyright, 223 COYECQUE,Ernest, 154
Companhia de Jesus, 282 Corão,20 Cracóvia, 128, 245, 266, 267, 268, 270, D' URFÉ,Honoré , 221
Companhia dos Livreiros Venezianos, 205 Corbeil, 35, 42, 44, 45 347 D'ALEMBERT,214, 216,224
Compendium, 363 Córdova, 149 CRAESBEECK(Família), 197 (N. R.) D'AMBOISE, Jorge (Arcebispo de Ruão),
Compendium breve, 166,245 Coreia, 95, 98 CRAMER,(Família), 216, 289, 291 106
Compendium historiae Francorum, 363 Coria. Mapa, 248-249 CRAMER,Filiberto, 215, 216 D'ESTE, Hércules (Duque de Ferrara), 200
CONAT,346 Corinto, 400 CRAMER,Gabriel, 215, 216 D'ÉTAPLES, Lefêvre, 199, 203, 209, 285,
Concílio de Latrão, 318 CORNAZZANO,326 CRAMOISY,Sebastião, J76, 190,210,212, 290, 337, 370, 372, 373, 380, 382,
Concílio de Trento, 158, 175, 258, 259, CORNEILLE,Tomás, 175, 22J, 224, 287 259,290,294,317 383,384,390,392,400
315 CORNÉLIO,193 CRANACH,133,384 D'INGOLSTADT,Ulrich Hahn, 233
Concordância bíblica, 347 Cornucopiae, 119,342 CRATANDER(Farrulia), 387 Da liberdade, 376
Condado de Montbéliard, 48 Corps de Droit Canon, 288 CRÉBILLON,224, 225 Da ortografia, 236
Condado Venaissin, 35 Corpus juris civijis, 287 1'1'1111 ('1111I 0.1' dez mandamentos da Lei, Dalmácia, 271
('ONIlII 1 AC", 4 'OIUWZE'I,21'>, 1M '1lItlo ,'/li [mnrê», 191 DAI.MArIN, Gr 'gório, 271
('OIH' n 1 1111111111' di' IkwlIllll'lIkll'l, )\ \ ('(1/11'.1'1/11, \'1) ( " 1 , 1 Il \ 1'1 Ih/IIÇIl (/II,\' /11111/0.1' 1/11 11/11111111/111, 7K
,
o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS
474

De senectute, 330 Dicionário filosófico, 216 Donato, 70, 284, 327


Danças macabras, 130
DANES, Pedro, 203, 391 De totius Africae descriptione, 360 Dicionários, 224, 265, 288, 289, 342, 348 DONATO,327

DANOIS,Ogier le, 366 De Trinitatis erroribus, 377 Dictionnaire de /'Académiefrançaise, 288, Donato, 65, 66, 67, 70

DANTEALIGHIERI,201, 229, 331, 416 De veritate religionis christianae, 287 415 DON!,254

Dantzig, 175, 266, 292 De volgari eloquentia, 416 Dictionnaire français-latin, 414 DONI, António Francesco, 171

Daphnis e Cloé, 289 Décadas, 359, 359, 363 Dictionnaire Latino-Gallicum, 414 DORÉ, Pierre, 157,286

DAVID,218, 401 Decameron, 168,201,331 DIDEROT,214,215, 224, 225, 289 Dortmund, 47

DAVID(Impressor judaico), 347 Decretais, 173, 285, 362 DIDOT (Família), 48,52,53,77,217 Douai, 281, 291

DAY, Estêvão, 276 Decreto, 362 DIDOT,Firmino, 218 DOUCEUR,David, 310

DAY, Matias, 276 Défense et illustration de la langue fran- DIDOT,Francisco Ambrósio, 9, 73, 89,217 Doutrinal, 66, 114,235,327

De amicitia, 330, 331 çaise,416 DIDOT, Pedro Francisco, 218 Douvres, 292

De amicitia christiana, 331 Deffence et illustration, 414 Dies caniculares, 290 Dresden, nos Estados Unidos, 278

De amo ris remedio, 229 DELAISSÉ,28 Dieta de Worms, 374, 377 DRITZEHN,André, 64

De asse, 353, 417 Delaware, 278 Dieta do Império, 374 Du BELLAY,Joaquim, 413, 416

De canonis linguae latinae, 206 Delfmado, 39, 51, 229, 298, 380, 399 Du BOIS, Francisco, 203
Digesto, 362
De claris mulieribus, 24 Delft, 45, 246 Du BOIS, Migue1, 401
Dijon,47, 199,212,233,291
De consolatione philosophiae, 172, 328 Delícias, 216 Du CANGE, 211
DIMITROVIC,Radisa, 270
De contemptu mundi, 328 DELISLE,Léopold, 27 Du BALDE (Padre), 282
Discurso do Método, 238, 287, 418
De disciplina et institutione puerorum, 394 DELISLE,Léorier, 41 Du PERRON,290
Discurso sobre a desigualdade, 224
De expetendis et fugiendis rebus, 355 DEMÓSTENES,201 Du PONT, Pierre, 400
Disputationes theologicae, 288
DE GREGORI,247 DERÔME,151 Du PRÉ, Galiot, 110, 112
Dissertação sobre a música moderna, 224
De historia animalium, 354 DESBORDES,197,238,262 Du PRÉ, João, 125, 168,232
Disticos, 328, 328
De humani corporis fabrica libri septem, DESCARTES,262, 418 Du PRÉ, Nico1au, 232
Dísticos de Catão, 29
356 Descrottione di tutti i Paesi bassi, 220 Du PUiS, Nicolau (chamado «Bonaspes»),
Divina Comédia, A, 331
DE LA VILLE,Jean, 291 DESLANDES(Família), 197 (N, R,) 203
DOBRIC,Dobrussko, 271
De octo partibus linguae latinae, 327 DESMARESTZ,52 Du PUYS, Jacques, (Livreiro), 301
Doctrinal de Ia Court, 332
De officiis, 236, 330, 343 DESPAUTÉRIO,314, 342 DUBOIS, Simão, 207, 382, 383, 388, 413,
Doctrinal des filles mariées, 332
De Oratione dominica, 386 DESPREZ, Guilherme, 211, 213, 221, 288, 414
Doctrinal des nouveaux mariés, 332
De ortu et causis subterraneorum, 358 317 Dubrovnik, 271
DODOENS,286
De proprietatibus rerum, 334 DESPREZ,Nicolau, 170, 314 Duruv (Irmãos), 308
DOERING,Cristiano, 257 Duruv, Pierre, 290
De re metallica, 358 DESTOUCHES,224
Dôle, 199,233 DUQUEDEALBA, 207
De re militari, 125 DESTREZ,Abade de, 18
DOLET, Estêvão, 206,207, 208, 209, 350, DUQUEDEALENÇON,207
De rebus gestis Francorum, 363 Detroit, 278
Deventer, 250, 344 395,398,413 DURAND,Guilherme (Director do Colégio
De rebus Hispaniae memoralibus, 364
DIÁCONO,Paulo, 351 Dombes (Principado), 309 de Lyon), 224
De remediis utriusque fortunae, 265
Diolectica, 220 Dom nc, 19 DURAND,Guilherme, 24, 173, 209, 170
DI' revolutíanihus orbium coelestium, 356
n/' II'I'i,ful/!lI,ihll.\ arhium /,(1I'/1'.\'li,"" llbri Oi(//UI, 16H Duuruu, l""S. HO J)()RJlR, Alhrccht. I 'lH. 11 I lI, I 10,
l uurio. "H (N I{) 1)1IMI~ 11I I lU 11 (N I{ l. 171, 11)1),' ',IHH
vt I 11
476 o APARECIMENTO
DOLIVRO
ÍNDICEDEASSUNTOS
477
Du TILLET, Luís, 388 Eneida,130 Eslováquia, 266
Estrasburgo, 31, 47, 63, 64, 65, 68, 107,
DYON, Adão, 377 Ensaio sobre a origem dos conhecimentos, Eslovénia, 271
114, 130, 133, 163, 171, 173, 198,
224
Esoro, 126, 136, 137, 265, 328 199, 227, 228, 244, 246, 250, 251,
E Ensaio sobre os reinados de Cláudio e
Espanha, 34, 35, 45, 51, 88,105,106,108, 253,266,301,304,319,341 ,342,
Nero,215
111, 167, 175, 194, 241, 245, 245 344, 356, 358, 376, 377, 378, 382,
ECK,João, 349, 393 Entrada de Henrique lI, 134
(N. R.), 247, 254, 254 (N. R.), 255, 383,384,386,394,397,400,410
ECK, Von, 377, 378 Epigramas,418
260, 263, 274, 292, 293, 297, 300, Estrasburgo (Cabido de S. Tomás de), 70
Económico,25 Épinal, 312, 38
316, 317, 346, 348, 350, 359, 363, Ética, 25
ÉCREVISSE,52 Épinal (Imagens de), 138
364,368,381,386,406,411,416 Ettlingen, 50
ED-DIN,Rachid (Médico), 98 EPISCOPUS,Eusebius, 48
Espelho da alma pecadora, 396 EUCLlDES,334, 354
Edelstein (Y. A Pedra Preciosa), 124 Epistola de miseria curatorum, 325
Espelho da natureza, 334 Eurásia, 281
Editais, 374, 382 Epistolae ad Atticum, 107
Espelho da Redenção, 55, 134 EUSÉBIO,351,363
Edito de Nantes, 213, 262 Epistolae ad familiares, 107, 229, 245,
Espelho doutrinal, 334 Evangelhos, 209, 270, 272, 380
Editos, 374 284, 330
Espelho histórico, 334 Évora, 240 (N. R.), 368 (N. R.)
Efemérides, 355 Epístolas, 380, 387
Espelho moral, 334 Exeter, 256
EGENOLFF,110,258,301 Epístolas canónicas, 388
Espelhos da Redenção, 370 Explanatio in Psalterium, 266
EGGESTEIN,Henrique, 244 Epístolas de São Paulo, 372
ESPrNOSA,António de, 275 Extrait ... des fies trouvées, 359
EGNAZIO,Baptista, 201 Epístolas e Evangelhos para as cinquenta
ÉSQUINES,201 EYB,238
Eicones vivae herbarum, 133 e duas semanas do ano, 380
Eilenburgo, 257 Epithalamia Alexandri Farnesii, 220 Essai sur les moeurs, 289
Einingen, 296 Epítome histórica (Josippon), 347 Essling, 347 F
Elegâncias, 236, 342 Epitome trium terrae partium, 302 Essonnes, 35,42,44,45,48, 52, 218
Fabriano, 33, 34, 40
Elementos, 354 ERASMO DE ROTERDÃO, Y. ERASMO, ESTÀCIO,201, 284
Fábulas, 137, 144,215,225,328
Elogio do casamento, 390 Desidério Estado de Nova Iorque, 278
Facécias,351
Eltville,70 ERASMO, Desidério, 120, 138, 199, 201, Estados franco-flamengos, 55
FACETUS,328
ELZEVIER (Família), 50, 121, 175, 211, 203,206,208,209,219,219 (N. R.), Estados Unidos da América, 276, 277
Faculdades, 235
238,259,260,287,304,310,415 220, 251, 281, 286, 290, 314, 327, ESTIARD,Pedro, 397
FAELLI,254
Emblemas, 121,354 328, 34~ 353, 37~ 37~ 377, 383, ESTIENNE(Família), 112, 116, 153, 203,
Faintises du Monde, 334
Embrun. Mapa, 248-249 384,386: 388,390, 392 204,211, 344, 345
Faits merveilleux de Virgile, 366
Emílio,224 Eremitas agostinhos, 233 ESTIENNEI, Henrique, 108, 169, 203, 204,
Falmouth, 278
EMÍLlO, Paulo, 351, 363 ERÍGENES,João Escoto, 337 205,414
Fano, 34
Encadernação, 144/151 ESCALANTE,Bernardino de, 360 ESTIENNE,Carlos, 203, 417
FAQUES,Guilherme, 255
Enchiridion, 209, 383 ESCOBAR,André, 317, 325 ESTIENNEI, Roberto, 48, 108, 182, 203,
FARAL,E., 22
Enciclopédia de Rábano Mauro, 107 Escócia, 255 204, 205, 207, 301, 303, 342, 347,
FAREL,Guilherme, 382, 383, 386, 387, 388,
Enciclopédias, 82, 89,144,160,213,214, Escorial, 175 348,392,394,398,401,414
389,398,399,399,400,401
215,281,289,334,336 ESCOT , Duns, 173, 198, 199, 235, 236, ESI fria, 10 I
Faro, 247 (N. R.); Mapa, 24/l 249
I\N('ISO, Munin F smundez ti" 359 237,246,324, no Es'!()( " )I )
Farsu (/1' 1'/lI/II'/i", I ()/l
1''',.,,,,/11/11I 11I/11/1/1', HIl "'1t'l1I/I/I/.I, I "I. lHO
1,/1,.,,.,111/1/1'11I/1/1/1/11I, 0, '\', l/ll
478 o APARECIMENTO
DOLIVRO tNDICEDEASSUNTOS 479

FAWKES,255 FISCHER,João, 393 307,308,310,311,312,314,315, FROSCHAUER,Eustáquio, 48


Febris prima, 375 FITZHERBERT(Jesuíta), 418 316,317,319, 320, 330, 332, 339, Frumentorum historiae, 286
Febris secunda, 375 Fivizzano, 245 344, 345, 347, 350, 351, 359, 360, FUCHS,Leonardo, 356
FEDOROV,Ivan (Diácono), 272 FLACH, 133,250 362, 363, 364, 368, 380, 381, 382, FUNIUS,Adriano, 220
Feitos e gestos de Godofredo de Bulhão, FLANDRE,Baudoin de, 366 383, 383, 384, 385, 386, 387, 388, FUST (João), 61, 67, 68, 70, 179, 227, 236,
332 Flandres, 28, 44, 45, 49. 141, 148. 188, 389, 390, 394, 396, 397, 400, 40 I, 244,322
FENOLLAR,108 192,241,386,417 402,403, 404, 406, 408, 411, 412,
FERDlNANDO,D. (Infante), 217 Florença, 104, 106, 126, 164, 165 , 171, 415,416,417,418,419 G
FERNANDES,Valentim, 128 (N. R.), 314 172, 173, 234, 245, 246, 250, 254, França (Rei de), 314
(N. R.), 326 (N. R.), 327 (N. R.), 284,285,330,343 Francfort, llO, 163, 172, 173, 175, 183, GABIANO(Família), 300
335 (N. R.) Flores legum, 362 184,187, 188, 192, 193, 194, 199, GABIANO,Baltasar de, 108
FERNANDO,D. (Rei de Aragão), 149 FLORES,Juan de, 368 244,253,258,261,281,298,300, Gaete. Mapa, 248-249
Ferney, 216 FLORETUS,328 301,302,303,304,305,306,307, GAGUIN,Roberto, 203, 330, 363
FERRABDUS,Tomás, 343 Florida, 278 319,347,360,379,381,386,387, GALENO,235, 355
Ferrabrás, 332, 366 Florimont, 366 388,400,402,405,408,417,419 GALHARDE,Germão, 234 (N. R), 237 (N. R)
Ferrara, 104, 165,200,202,245,285,296 Flugschriften, 373, 375 FRANCISCO1,344, 350, 374, 389, 392, 396, GALILEU,281
343, 368 (N. R.) Foligno, 229, 245, 284 404 Galiza, 230 (N. R)
Ferrara (Duques de), 106 FONTAINE,Cláudio, 209 FRANCISCOII, 204, 208 GALLlZIANI(Família), 50
FERREBouc,Jacques, 154, 156 Fontainebleau, 140, 350, 397 FRANCO,Nicolau (Arcebispo), 318 GALLOIS(Abade), 309
FERRET,EITl11io,206 Fontaney, 281 Franco-Condado, 49 Gallomyomachia, 20 I
FERRIERE,Loup de, 337 FONTENELLE,419 Francónia, 267 GALVÃO,Duarte, 279 (N. R.)
FERTEL,81, 82 Forez,39 FRANKLIN,277 Gand,202
Ferté-Loupiêre, 130 Forli. Mapa, 248-249 FREDERICO11 (Imperador), 33 Gap, 399
FEYERABEND,João, 133,303 FOSTER,John, 276 Freeman S Oath, 276 GARAMOND,75, 108, 344
Fiammetta, 366, 368 FOUCAULT,Eustáquio, 394 Freiberg. Mapa, 248-249 GARASSE(Padre), 212
FICHET, Guilherme, 165, 166, 235, 236, FOUQUET,Robin, 231 FRELLON(Irmãos), 405 Gargântua, 392
327 FOURNIER,74, 77 FRELLON,Francisco, 388, 389 GARIN,Luís, 165
FICINO,Marsílio, 158,233,351,352 FRAGONARD,144, 144 (N. R) FRELLON,João, 388, 389, 398 GARNIER,291
Figuras da Bíblia, 121, 133, 137, 138 França, 6, 15, 16,22,25,34,35,38,40,42, FRESNE,Trichetdu, 182 GASPARINODE BÉRGAMO,236, 331
Figuras do Apocalipse, 397 46,49,50,51,52,66,75,76,82,84, FRlBURGER,Miguel, 236, 237 GASSEND,193
Filadélfia, 276 88, 99, 106, 108, 111, 114, 116, 117, Friburgo, 50, 199,378 GAUDE,291
FILELFO,Francisco, 314, 331, 344 121, 124, 128, 132, 134, 136, 137, FRISSNER,173 GAUTIER,Leonardo, 117
FILESAC,418 138, 140, 144, 148, 149, 150, 162, FROBEN, João, 114, 130, 133, 182, 199, GAZA, Teodoro, 20 I
Filho pródigo, 224 181, 183, 188, 193, 197,207,209, 251, 252, 259, 286, 303, 344, 347, GAZEAU,134
FILIPE11, (Filipe I de Portugal), 175 214,217,222,223,224,227,230, 381,384 Gazetas, 309
FINÉ, Oronce, 133, 137 233,235,241,245,247,250,253, FROBEN(Família). 31\7 Gdunsk, V. Dal1l;rig
FIOI , Swiaropolk, 2ó7, 61\, 270, ')71 2'i4, ss, 25H, 259, 260, 2fl I, 6". FIWIS, 1 uís (Pudn l, 161 c; "Wl1,óI, IHl, IHI, IH·I, IH7. IHH, 11)7,
I iou-ni, \I (),l. '()h, IIP, li) 7. I)H, 1)1), 100, 1'1 os< 11 1111, ('" 10\.10, IH, 101, 10\ \71) '0 I l() 7 'i h I H. 10 I, \() I, \ li,
480 o APARECIMENTO
DOLIVRO íNDICEDEASSUNTOS 481

382, 385, 386, 389, 394, 397, 397, Glücksbuch, 133 Grandes et inestimables cronicques du GUETARD, Jean-Étienne, 41
398, 399, 400, 401, 402, 403, 404, Goa, 240 (N. R.), 279 grand et énorme géant Gargantua, GUEVARA, 352
405 GODARD, Guilherme, 341 300 GUICCIARDINI, Francisco, 351, 363
GENEVE,398 GOETZE, A., 376 Grandes Horas, 27 GUIDACERlUS, Agathas, 345, 391
Gennep,50 GOLEIN, João, 24 GRANJON, Roberto, 75, 394, 398 Guide des chemins de France, 204
Génova, 34, 38, 40, 46, 172, 291, 296 Golfo da Guiné, 228 Grant Testament, 108, 110 GUILHERME DE ORANGE, 207, 259
GENSFLEISCH, 63 GOMARA, V. LOPEZ DE GOMARA, Francisco GRANVELLE (Cardeal), 175 GUILHERME lI, 48
Geografia, 359 GONCOURT, 290 Grécia,279 GUILLAND, Cláudio, 206
Georgetown, 278 GONIN, Martinho, 399 GREEN, Samuel, 276 GUILLEBAUD, Nicolau, 167

Geórgia, 278 GONZALEZ DE MENDOZA (Vice-Rei), 274, GREGÓRIO IX, (Papa), 285, 362 GUILLON DE BROCAR, Amao, 255

GÉRARD, 144 (N. R.) 360 GREGÓRIO XIII (Papa), 174 GULDENRuND,João,377

Gérard de Nevers, 366 Gorazde, 270 GREGOROPOULOS,201 GUNDULIC, Trojan, 270

GÉRARD, João, 401 Gouda, 125, 126,245,246 Grenoble, 253 GUNTKNECHT, Jobst, 252

GRES, João, 231 GUTENBERG,9, 15,32,35,47,48,53,60,


GERBERT, 337 GOUJON, João, 134
GRIFFO, Francisco, 108,201 61, 63, 64, 65, 67, 68, 70, 92, 198,
GERlNG, Ulrich, 44, 104, 107, 170, 236, GOULAIN, João, V. GOLEIN, João
227, 228, 230, 244, 264, 267, 280,
237,238,245,247,344 GOURMONT, Gilles de, 342, 344, 347 GRlM, Segismundo, 377
321
GERLIER, Durand, 169 GOURMONT, Jerónimo de, 391 GRlNGORE, 332, 393
GYMNICH, João, 344
GERSON, 36, 325,370 GOUVEIA, António de, 206 GRlTSCH,325
Gesamtkatalog,330 Grã-Bretanha, 46 GROLIER, 149
H
GESNER, Conrado, 356 Gracanica,270 GROLLEAU, 138
Gex,402 GRACIANO, 362 GROMORS, Pedro, 155, 157, 170
HACKIUS, Comeille, 193
GHERLINC, João, 230 (N. R.), 324 (N. R.) Graduais, 267 GROTIUS, 287,417
HAEBLER, Konrad, 53, 285
GILLE, Nicole, 364 GRAF, Urs, 128, 133,252 GROULLEAU, Estêvão, 397
Haguenau, 130, 163, 164, 170, 206, 253,
GILLEBERT (Cónego), 291 GRAFTON, Richard, 256 GROZNYJ, Ivan (Ivan, o Terrível), 272
286, 344, 377, 383
GIRARDENGIS, 246 Gramática, 279, 287, 342, 347, 348,416 GRÜNINGER, João, 114, 130, 133, 173,250,
HAHN, Ulrich, 229, 343
GIUCCIARDINI, 220 (N. R.) 251,377
Haia, 239, 241, 262
GIUNTA (Famflia), 190,254,300 Gramática castelhana, 416 GRYPHE, Sebastião, 205, 206, 208, 215,
HAIN, Luís, 53, 323, 330
GIUNTA, Bemardo, 171 Gramática hebraica, 220, 349 303, 347, 351, 394, 398 HALKUG,360
GIUNTA, Filipe, 171 Grammatica Germanicae linguae... ex Guadalajara. Mapa, 248-249 HALLER, João, 267, 268
GIUNTA, Francisco, 171 bibliis Lutheri Germanicis et aliis GUARINI, Baptista, 200, 202 HALMA, Franscisco, 288
GIUNTA, Lucas António, 171 ejus libris collecta, 410 GUENTERUS,João,356 HALS, Franz, 262
G1UNTA, Tiago, 171 GRAN, Henrique, 163, 170,286 GUÉROULT, Guilherme, 354, 398 Hamburgo, 291, 375, 382
GIUNTA, Tomás, 171 Granada, 228, 360 Guerra da Flandres, 418 Hanau,244
Gleismühl, 42, 50 Grande Companhia dos Livreiros Lione es, Guerra das Gálias, A, 363 Hanover, nos Estado Unidos, 278
Glosafamostssima, 314 (N. R.) 171 Guerra do Ópio, 282 Hansa, 301
Glouc 'sI 'I (J)II(jIl' d •l, 106 Grande 11111('11 lutcrana, O, n'i, n(l, \77 (;lIl'na dos C '11) Anos, 29!l IIAIWOIJYN, ID
(,IIIVII(, rt« (;/11/1111' "(// \1//1, I 1\ (iJlI'lllI dll 111111;1 1I0S, I() , 1011 11 IlINI dON, 1I1
482 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 483
----------------------------------------~------------

Harlem, 3 I, 66 HIGMAN,Damião, 203 Historia septem sapientium, 229 HUTTEN, Ulrich de, 252, 342, 375, 376,
HART, John, 416 HIGMAN,Nicolau, 157 Historia stirpium, 356 386,390
HARVARD,John, 276 HIPÓCRATES,235, 355 Historia Trajanska, 265 HUYGENS,Constantino, 262
HAULTIN(Família), 405 Histoire de l'Église de France, 364 Historiarum indicarum libri XVI, 360 HUYS,140
HAUSER, Henrique, l79, 180, 187, 372, Histoire de Ia Guerre de Hollande, 291 Histórias da Bíblia, 138 HYST,163
373 Histoire des ouvrages des savants, 309 HITTORP,252
Havre-de-Grâce, 404 Histoire générale des voyages, 217 HOBBES,418 I
Hawkins Court House. 278 Historia belli adversus Gothos, 229 HOCHFEDER,Gaspar, 266
HEBREU,Leão, 352 Historia conci/ii, 193 HOELTZEL,Jerónimo, 252 I Ching, 93
Heddernheim,347 História da Bíblia, 134 Holanda, 29, 34, 45, 51, 65, 66, 67, 175, Ichenhausen, 347
HEGENDORFF,394 História da conquista do velo de oiro, 130 195, 197,212,245,259,260,262, !cones reterum aliquot et novo rum medico-
Heidelberga,47, 199,301 História da guerra da Holanda, 287 287,288, 309, 310 rum philosophorumque, 140
HEILMANN,André, 48, 64 História da Virgem, 55 Ilha da CaJifórnia, 273
HOLBEIN,Ambrósio, 133,252
Heilsbronn, 266 História de Daniel, 124 Ilha de Carnero, 271
HOLBEIN,Hans, 114, 120,133,137,252
HEINSIUS,211 História de Ester, 124 Ilha-de- França, 164
HOLTZEL,Jerónimo, l71
HELICZ(Família), 347 Historia de Grisel y Mirabella, 368 Illustration des Gaules, 130
HOMERO,331, 344
HELIODORO,366 História de Itália, 363 Illustrations de Ia Gaule et singularitez de
HOPKINS,411
HELVETIUS,215, 289 História de José, 124 Traye,364
HOPYL, Wolfgang, 154, 155, 169
HENNEBERG, Bertoldo de (Arcebispo de História de Judite, 124 Imagens da Bíblia, 121
HORÁCIO,201, 343
Mogúncia), 232 Historia de Ias Indias y conquista de Imitação de Cristo, 325, 370
HORNKEN,252
HENRIQUE11,204, 404 Mexico, 359 Imprensa da Propaganda, 217
Horologium aeternae Sapientiae, 325
HENRIQUE11I,315 História de Tróia, 137 Imprensa do Vaticano, 175, 254
Hortulus animae, 133,267,268
Herbarum eicones ad naturae imitationem História de Vespasiano, 128 (N. R.) Imprensa Real de Paris, 175, 182, 225
HOTMAN,Francisco, 206
effigiatae, 356 Historia destructionis Troiae, 332 Index, 388
HROSWITA,128
HERBORT,João, 246 História do Antigo e do Novo Testamento, Índia, 94, 282, 30 I
HTAI-TIONG(Rei), 98
Heresia, 221 137 Índia Portuguesa, 279
História do descobrimento e conquista da Hu, Luís de, 403 Índias Orientais, 359, 361
HERGOT,João, 379
Índia pelos Portugueses, 359 HUGO,370 Inglaterra, 14, 15, 16,26,35,41,44,45,
HERODIANO,351
História do Império da Rússia, 289 HUGUÉTAN,197,262 49, 51, 52, 88, 99, 105, 106, 111,
HERÓDOTO,201,363
História Eclesiástica, 363 HUGUEVILLE,291 116, 169,222,241,245,246, 247,
HEROLD,Cristiano, 291
HERP, Henrique de, 325 História escolástica, 325 Humanae Salutis monumenta, 140 254, 255, 256, 259, 260, 262, 263,
HERWAGEN,354, 383,384, 394 História etiópica, 366 Hungria, 267 276, 277, 287, 290, 292, 297, 300,
Herzegovina, 270 História geral dos dogmas e opiniões filo- HUNNAEUS,Agostinho, 220 307,308,309,310,316,338,347,
HETZER,378 sóficas, 215 Huon de Bordeaux, 366 350, 360a, 381,408,410,411,412,
Heures de Nostre Dame, 393, 394 História Natural, 224 IluPFUFF, Matias, 130 416,418
HI'YNI IN, João (Prior da Sorbonne), 166, Historia plantarum, 354 1I11RlIS,Paulo, 199 Ingolstatll, 17R
I ()X, 199, 16, 17 ll istorin 1/'/"/1111 mirabitium ,1//1 //'11I/111/1,1, 111ISS, .I11illl, 1(11 INO('(N('IOVIII, (1'IIpa), \IX
111 N(, 111(1IIlpl'lildlll), 117 '(11 111' I 1\1.11111 IX l' I 1111 IX 111I111111\,,/(11'1/1/// '(lll IX I, Illh 10', 10 I
o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 485
484

JANOT,João, 37,138,341 K KOEPFEL,Wolf, 48


Instituição do Príncipe, 407
JANSZOON, Lourenço (Y. COSTER, Lou- KOTOR,André Paltasic de, 271
Institutas, 285, 362
renço) K'ANG-HI (Imperador), 281, 282 KRANTZ,Martin, 236
Institutes de practicque en matiêre civile et
Japão, 95, 280, 282, 361 K'IEN-LoNG (Imperador), 282 KRIEGER(ou KRUEGER),João, 266
criminelle, 290
KACHELOFEN,247 Kronika Trojanska, 264
Institutio, 394 JENSON,Nicolau, 107, 166,246,296
KAMP, João, 265 KRozNA,Pavel de, 268
Institutiones anatomicae, 356 Jerusalém, 361
KAYSERSBERG,Geiler de, 252 KRÜGER(ou KRIEGER),João, 266
Institutiones linguae graecae, 345 Jessi,245
KAYSERSBERG,Silvano de, 252 Ku kin t'u chu tsi tch'eng, 97
Instruction des enfants, 400, 401 Jesuítas, 240, 240 (N. R.), 259, 275, 281,
Kazan,272 KUHN, João, 199
Instruction et maniêre de tenir livres de 309,319,417
Kehl, 214, 217 Kutcha,96
compte, 220 JIMENEZ(Cardeal), 255, 344
KELLER,Gottlieb, 41 Kutno, 266
INSULA,Francesco de, 326 JOANNES,Endmon (Padre), 418
KEMPIS,Herman de, 228 (N. R.) Kuttenberg. Mapa, 248-249
Inter multiplices (Bula), 318 JOÃo DE COBLENÇA,169
Kentucky, 278
Irão, 98 JOÃo DE COLÓNIA,246, 296
KEPFER,Henrique, 244 L
Irmãos da Boémia, 266 JOÃODE PARIS, 297
KERBRIANT,João, 157
Irmãos da Vida Comum, 233 JOÃo DE VESTFÁLIA,245
KERNER,Conrado, 378 L'IIe-Bouchard, 170
ISAAC,João, 220 JOÃo m, D. (Rei de Portugal), 219 (N. R.),
KERVER,112, 133, 137, 169,386,387 L'Oraison de Pierre de Nesson, 231
ISHAQ,Mahamed Ibn, 94 279
KESSLER,324 LA BRUYERE,220, 287
Issy, 169 JOÃO-O-BOM,44
KEYSEREN, Martim de, Y. LEMPEREUR, LA COURT,(Livreiro de Bordéus), 291
Ístria, 271 JOHANNOT(Farru1ia), 52
Martinho La Fleche, 240
Itália, 32, 33, 35,49,50,61,105, 106,107, JONAS(Impressor judaico), 347 LA FONTAlNE,138, 144,215,221,225
KHODKEVIC(Príncipe), 272
111, 116, 125, 128, 136, 140, 142, JONGHE,Adriano de, 66 Kiev, 272 LA FORGE,João de, 159
149, 164, 167, 173, 194, 197, 199, Jornal enciclopédico, 214 KIMJI, David, 347 La Patiente de Griséldis, 231
200, 201, 202, 204, 208, 211, 227, JOSEFO,Flávio, 351, 363 Kirchheim. Mapa, 248-249 LA PÉROUSE,144
229, 233, 235, 236, 245, 246, 247, Josippon (Epítome histórica), 348 KLOPSTOCK,223 La Pucelle, 143
250, 254, 263, 266, 27l, 290, 292, JOSSE,Lucas, 403 KLuG, José, 257 LA ROCHE, 291
300, 296, 298, 301, 309, 327, 330, JOUENNEAUX.Guido, 342 KNAPPS,João, 377 LA ROCHEFOUCAULD,
216
331, 342, 343, 344, 345, 346, 348, JOUFFROY,João de (Abade de Luxeuil), 42 KNOBLOCH,114,133,163,164,171,376 La Rochelle, 417
350, 359, 360, 368, 368, 381, 386, Journal de Trévoux, 309 KNOBLOCHTZER,Henrique, 251 La Rochelle, 46, 142,259,405

407,412,416,418 Journal des Savants, 309 KOANG-KI, Paul Siu, 281 LA SALLE,António de, 332

IVAN,o Terrível (Czar), 268, 272 JÓVIO,Paulo, 351 KOBERGER,Anthoni, 126, 128, 147, 164, LA TOUR, Imbart de, 398
Judith,159 172, 173, 175, 182, 190, 198, 199, LABORDE,144
Jugoslávia, 269 244, 246, 250, 252, 268, 285, 296, LACHNER,Wolfgang, 251
J
Juli,275 297, 301, 305, 344 LACTÂNCIO,328, 343
JULLlEN,João, 160 KOBERGER,Melchior, 290 LAMBERT,291, 398
JACOB(Impressor judaico), 348
JUSTINIANO,285, 285 KOEI \101'1', 246 LAMBERT(Frad ), 3112,3R3
JA OB, Luís (Padre), 307
JlIVENAl, 20 I, 1.10 KOI I N, Wil '111111, 4()O I.AMIII·RTOIII' 11'11'1, %
Iam -srown, 276
IIIVI'N( li.', \\1 KIlI \I. K 11) I 1(///11'11111\'111' tllI 1'11 , II)()
I NO I 1)1111 , I ' I, \1)7
486 o APARECIMENTODO LIVRO ÍNDICEDE ASSUNTOS I ,

LANCELOTE,118,366 LE ROUGE, Pedro, 168 Libri venales Venetiis, Nurembergae et Livros religiosos, 288

Lancelote, 137,332 LE Rov, (Impressor de música), 48 Basileae, 303 Livros xilográficos, 373

Landshut, 50 LE Rov, Guilherme, 105, 166, 168,245 Libro aureo de Marco Aurelio, 352 LIZET, Pierre, (Presidente), 340, 362, -'H '.
LANDSPERG, Martim, 247, 257 LE Rov, Luís, 361 Libro dei Peregrino, 352 392
LANGELIER, Arnoul, 414 LE SIGNERE, 254 LIECHTENSTEIN, Pedro, 171 LOCATELLI, 247
Langlée,41 LE T ALLEUR, Guilherme, 104, 105 LIEFrlNCK, G. 1., 29 LOCHNER, (Cristóvão) 163
Langres, 402 LEÃO x (Papa), 318, 360 Liege, 166,214,288,289 LOCHNER, Johann-Georg, 291
Languedoque, 35 LEERS, Rainier, 241, 262 LIGNAM1NE, Johannes Philippus de, 284, LOCKE, 309
LANGUET, Humberto, 388 343 Lombardia,296
LEEU, Gerardo, 126,245
Lantenac. Mapa, 248-249 Ligúria,34 LOMBARDo,Pedro,108,235,237,324
LEGNANO, 254
LAON, Anselmo de, 323 LILLE, Alain de, 328, 337 Londres, 89, 125, 169, 175, 183, 195, 199,
LEIBNIZ, 281, 419
Lapónia, 141 Lima, 274, 275 253,256,262,263,304,308
Leida, 173, 211, 238,239, 259, 260, 287,
LAS CASAS (Dominicano), 359, 361 LIMA, Rodrigo de (D.), 279 V LOPEZ DE GOMARA, Francisco, 359, 360,
291, 310
LASCARIS, 201,407 Limoges, 130, 170, 197,291 361
Leipzig, 50,173,216,224,240,247,250,
LASNE, Miguel, 117 L1NACRE, 342 Lorena,49, 163,387
251, 252, 253, 257, 261, 298, 301,
LAUER, João, 187
Linz,216 LOTÁRIO (Cardeal, mais tarde Papa
304, 305, 306, 307, 309, 319, 324,
LAUER, Jorge, 233
LIPPOMANO, 298 Inocêncio III), 166,245
344,377,378,381,408,410
LAUGERIElRE, Antoine de, 39
LÍPSIO, Justo, 417 LOTTER, Melchior, 247, 251, 257, 305,
Leiria, 35 (N. R.), 247 (N. R.); Mapa, 248-
Lausana, 405
LIRA, Nicolau de, 108, 235, 237 376, 378
LAVARDIN, Hildebert de, 337 249
Lisboa, 128 (N. R.), 142 (N. R.), 175,216, LOTTHER, Melchior (o-Jovem), 257
LAVAUDO, 404 LEMPEREUR, Martinho, 383, 384, 394, 395
241 (N, R.), 247 (N, R.), 279, 279 LOURENÇO, Gonçalo, 35 (N. R.)
LE BÉ (Família), 47, 48 Lenda dourada, 134,237,326,370
(N. R.), 327 (N. R.) Lovaina, 45, 49, 125, 174, 202, 245, 246,
LE BÉ, Guilherme I, 48 Leninegrado, 267
Lituânia, 269, 272 301,345,348,353,384,395,417
LE BÉ, Guilherme lI, 48 LENOIR, António, 404
Liubliana, 271 Loyes des Trépassés avec le Pêlerinage
LE BÉ, Guyot I (ou LE BER, Guyot), 47 LEONARDO, Frederico (Livreiro de Bruxe-
Liverpoo1, 256 Maistre lean de Mung en vision,
LE BRET, 286 las), 211, 295
Livro da Divina Providência, 325 Les,231
LE BRETON, 215 LEPREUX, Jorge, 253
Livro da perfeita oração, 388 LUAN, Ts'ai, 93
LE BRUN, 143
LERICO (Bispo), 229
Livro da verdadeira e perfeita oração, 394 Lübeck,50, 241, 244,245, 247, 300
LE CARON, Pedro, 168
Lérida. Mapa, 242-243, 245 (N. R.)
Livro das Quatro Histórias, 124 LUBLINA, Biernat de, 267
LE CLERC, 44, 241, 309,419
LESCALOPIER, Nicolau, 159 Livro de 10b, 323 Luca,l64
LE DRU, Pedro, 170
LESS1NG, 223 Livro de preces, 270 Lucerna, 378
LE FEvRE, Raul, 366
LEU, Tomás de, 117 Livros de horas, 122, 130, 136, 169, 283, Luciani Palinurus, 286
LE FRANC, Martinho, 332
LEVET, Pedro, 168, 169 324,341,373 LUCIANO, 330
LE GIER, 169
Levington, 278 Livros de orações, 347 LUDOLFO DE SAXÓNIA, (ou CARTUSIANO),
LE NOIR, Guilherme, 104, 405
LEVITA, Elie, 349 Livros de piedade, 283, 331, 341, 348, 373 235
LE NOIR, Miguel, 169
LI; PETIT, 213 Liber chronicarum, 126, 364 Livro dO,I' comerciantes, 0, 400 LlJEN, Ts'ai, 96

I I' I'HllI ,.Ioao, 4()'i librrto ,\'(/111:/' (I 1'11.\'(/1111'11((1, \7(1 Livro I S\'OIIlI'S, 1H7, 2HH LIIH'I',lolll, ""17, ~76, \71)

1I 111111,1 NHIIJ.III, I 1111//'/(11, \ H I 1 111 111111 11 II , lH 7 I IIls I, l11H


488 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS

Luís XII, 350 M MANTUANO(Família), 342 Marselha, 291


Luís XIII,417 MANTUANO,Baptista, 331, 351 MARTEL,Salvador, 196 (N. R.)
Luís XIV, 51,221,262,281,282 MABILLON,211 Manual, 325 MARTENS,Thierry, 245
Luís XV, 77 Macau, 240 (N. R.), 279,280 MANÚCIO,Aldo, 108, 112, 119, 128, 137, MARTIN,Edrne, 212
Luisiana, 278 MACHUEL,Pedro, 291 149, 171, 172 182,200,201,203, MARTIN,Henri, 27, 28
LÚLIO, Raimundo, 286 Macon. Mapa, 248-249 204,247,342,343,344,354,355 MARTIN,Sebastião, 403
Lüneburg, 50 MACRIN,Salmon, 206
MANÚCIO, A1do (Família), 48, 73, 116, MARTYR,Pedro, 356, 359,360, 363
Lunettes des princes, 332 Madrid, 172, 175,254,255
120, 153,203,205,211,217,250, Maryland, 276, 278
Lusiadas, Os, 144 (N. R.), 359 MAFFEI(Padre), 360
254, 338 Massachussets, 276, 278
LUSIGNAN,Guy de (Rei de Chipre), 71 Magdeburgo, 318, 375, 377
MANÚCIO,Aldo (o Moço), 303 MATEUS,Morgado de, 144 (N. R.)
Luteranae [arinae, 389 Magna/ia Dei in locis subterraneis, 41
MANÚCIO,Paulo, 73, 110,259,315 MATIAS,Antônio, 296
LUTERO, Martinho, 111, 120, 133, 207, MAHEU, Didier, 154, 155, 156
MANUEL,D. (Rei de Portugal), 142 (N. R.) MAUBANEL,João, 168
208, 252, 257, 258, 286, 372, 373, MAILLET,232
MANZOLIES,246 MAUFERT,246
374, 375, 37~ 377, 378, 379, 380, MAIMÓNIDES,348
MAQUIAVEL,Nicolau, 352, 416, 418 MAUPASSANT,370
381, 382, 383, 384, 386, 387, 388, Maine,278
MAIR, João, 370 Marburgo, 301, 355 MAURÍCIODENASSAU,262
390, 394, 394, 395, 399, 408, 409,
410,411,412,416 MAIRE,João, 238, 287 MARCHANT,Gu~ 130, 169,247 MAURO,Rábano, 107, 323
Lutrin, Le, 287 MAKARII(Monge), 269, 270, 271 Marchas de Ancona, 34 MAXIMILIANO(Imperador), 133,252
LÜTZELBURGER,133 MÂLE, Emílio, 130 MARCHESINI,João, 325 MÁXIMO,Valério, 343, 351, 363
Luxemburgo, 288 MALESHERBES,225, 320 MARCHIO,Francisco de, 42 MAzARINO,211, 310
LUYNES,Guilherme de, 287, 290 MALHERBE,417 MARCHlO,Marco de, 42 MEAUREGARD,João de, 130
LUZAC,Elias, 291 MALINGRE,Tomás, 400 MARCOPo, 314 (N. R.), 335 (N. R.) Meaux,374, 380, 381, 382,383
Lvov, 272 MALMESBURY,Guilherme de, 337 MARCOLINI,254 Mechanica, 354
LYDGATE(Monge de Bury), 16 MAMMERANUS,Nico1au, 220 MARCOURT(Pastor), 400 MÉDICIS,Catarina de, 405
Lyon, 39, 45, 49, 73, 76, 77, 88, 105, 108, Mammetractus,325 Margarida das Margaridas das princesas, MÉDICIS,Cosme de, 171
110, 120, 121, 124, 126, 128, 133, Manchester, 256
A, 134 MÉDICIS,Lourenço de, 359
134, 138, 140, 157, 158, 159, 164, MANDEVILLE,359
MARGARIDADE NAVARRA,120, 207, 305, Medina dei Campo, 172,293,298
165, 166, 167, 170, 171, 172, 175, Maniêre de bien tracduire d'une langue en
382, 392 Meditações, 124, 126,229,233,325
183, 184, 187, 188, 192, 197,202, aultre ...,413
MARGARIDADE PARMA,405 Meditações metafísicas, 418
203, 205, 206, 207, 208, 211, 215, Manila, 280
Margarita poetica, 238 Meditationes vitae Christi, 325
228, 229, 232, 240, 245, 246, 247, Manipulus curatorum, 237, 325
MARIA (Mulher de Aldo, o Velho), 172 MÉDULLA,François de, 340
250, 253, 254, 255, 258, 259, 260, Manosque, 399
MARIETTE,143 MEIGRET,Luís, 413, 414
261, 287, 288, 290, 291, 292, 296, Mans,358
297,301,303,298,299,300,301, MANS, Peletier du, 413 MARIN, Pieter, 288 Meiji,282

304,310,314,317,338,342,344, MANSION,Colard, 104 MARNEF, 169,202,256 MEILLET,Antônio, 406


147,149,162, 380, 381, 385, 386, MANTEONA,140 MARNIX,310 Meissen, Mapa, 248 249
\1\7, 11\1), \!I(), 191\, 197, \91\, W9, MANTlII;N,)OiIO, ''')7 MAROT, ('I 111 nt , 120, 206, 209, \'iO, MI-I AN('1IION, 16'1, 111''. (l(" '(l7, l(ll),

100, 10' 101, 10 M 111111,\,


I() '1, I·II! 11)1 lI) I 10 I '1,1), \7(" 17 7, 171) IX I
o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 491
490

Milão, 149, 164.245,246,247,250,251, Mondonedo. Mapa, 248-249 Mundo novo, 0,265


Mélanges de littérature, d'histoire et de
254,281,291,343 Mondovi, 245 Mundus novus, 359
philosophie,224
Milão (Duque de), 314 Monges Mardarii, 270 Munique. Mapa, 248-249
MÉLANTRICH, 269
Mileseva, 270 MONNIER, 151 MÜNSTER, 345, 360
Melusina, 138, 312, 332
MILLER, João, 252, 344 Mons, 24 MUNSTER, Sebastião, 349
MEMMINGEN, Albrecht de, 303
Monserrate. Mapa, 248-249 MÜNZER, Jerónimo, 228
Memoriais, 66, 230 Milliaria,310
Montalban, 346 MÜNZER, 228 (N. R.)
Memórias, 282, 364 MILTON, 223
MONTALBODDO, 265 Murmau,384
Memórias da Academia das Ciências, 419 MING (Dinastia), 281
MONTALVO, 273 MURMELLlUS, 253
Memórias da banca de Madrid, 215 MIRABEAU, 215
MONTANO, Árias, 140 MURNER, Tomás, 347,375, 376, 377, 378
MÉNAGE,415 MIRANDOLA, V. PICO DELLA MIRANDOLA
MONTAURON, (Monsieur de), 221 MUSEU, 201
MÉNARD, João, 130, 168 Miroer d'or de l'ôme pécheresse, Le, 231
Montbéliard, 386 MUSUROS, Marco (Arcebispo de
MENDOZA,361 Miroir du pénitent, 397
MONTCHRESTIEN, 184 Monemvasie),201
MENDOZA V. GONZALEZ DE MENDOZA Miroir historial, 364
MONTEMOR, Jorge, 368 MYLLAN, Andrew, 256
Menina e Moça, 368 (N. R.) Mirouer de Ia Rédemption de l'humain
Montenegro, 269, 270 Mystêre de Ia Passion, 332
MENTELlN, João, 199. 227, 244, 251 lignaige, 124
Monterrey. Mapa, 248-249 MYTO, Jonas de Vykohevo, 265
Menzius In psalmos, 193 Missa est sacnficium, 377
MONTESQUIEU, 144
Mer des histoires, 332, 364 Missais, 229, 267, 324
MONTET, Raul du, 26 N
MERCIER, Sebastião, 289 Missal de Bessançon, 232
MONTFAUCON, 288
Mercurius librarius, 308
Missal de Cetinia, 270
MONTGOLFIER (Farru1ia), 52 Nagasáqui, 279
Merksin (Mosteiro ), 270
Missal de Constância, 71, 252
Montpellier, 34, 214 NAIOLl, Simone, 290
Merlim,332
Missal de Cracóvia, 267 MONTROCHER, Guido de, 237, 325 Nantes, 157,291,293,386
MERLlM,366
Missal de Urês, 230 Morávia, 264/266 NANTEUIL, 142
MESCHINOT, 332
Missal de Verdun, 125 MORAVUS, Matias, 285 Nápoles, 106, 124, 125, 126, 149, 175,
Meslay-le-Grenet, 130
Modo de rezar, 0,390 MORE, Tomás, 351, 353, 368 216,245,285,296
Metamorfoses, 121,132,134,137,351
Modus confitendi, 325 MOREL,203 Narbona, 288
METLlNGER, João, 233
Modus legendi abbreviaturas in utroque MORELLET (Abade de), 216 NAS lER, AJcofribas, 353
METLlNGER, Pedro, 199
jure, 362 MORERI,289 NAUDÉ, Gabriel, 211, 310
Metz, 39, 392, 398, 403, 405
Mogúncia, 31,45,48,60,63,65,66,67, MORETUS (Família), 50, 117, 197, 259, Nave dos Loucos, A, 128,351
Meudon, 169
68,70,71, 179,227,229,230,232, 260, 290, 292, 295 NEBRIJA, António de, 255, 345, 348, 349,
MEURSIUS, 193
233, 235, 241, 244, 246, 252, 300, MORETUS,João,304 416
México, 274, 275, 278
318,377 Morgante, 368 NECKER,216
MICHAULT, Pedro, 332
Mogúncia (Arcebispo Eleitor de), 70 MORIN,142 NEDELlSCE, 271
MICHEL, Jean, (Autor), 332
Moldávia, 270 MORTIER, 262 NEFEDIEV, Marousa, 272
MICHEL, Jean (impressor), 401
MOLlERE, 221, 222 Moscóvia, 271 Nettancourt, 387
MICHELET, 7, 8, 322
MOLlN, André, 288 Mos 'OVO, 267, 271,272 N zuchâtct, 374, 3H2, 396, :199, 400, 110 I
Michigan, 278
Michn«, 14H MOI.INl\r, 64 MuUli('IS Mapa, IIX 4() NI·IIMI·ISIII<, .I0!lU, "x. lH), '10, '\l,

MOMOIHl, X' M\l1 I VI ( 1'('(\111, 171 I I 'X I


1'11"/111" tom, \.IX
492 o APARECIMENTODO LIVRO ÍNDICEDE ASSUNTOS 493

NEVEJA, Andrónico, 272 Nova Jersey, 278 Omnes libri, 266 350,408,415
Nevers, 156 Nova Orleães, 278 OPORIN,356 Países Bálticos, 45, 51
New Beru, 278 Novela pastoril, 368 Oração de Jesus Cristo que é o Pai Nosso, Países Eslavos, 264/273
New Hampshire, 278 Novelas, 362 391 Países recentemente descobertos, 265
New London, 278 Novelas de cavalaria, 255, 274, 283, 312, Orationes, 202 Paixão de Cristo, 55
New Port, 278 332,366,368 Oratorianos, 240 PaI ais- Royal, 214
New Town, 276 Novgorod, 272 Orense. Mapa, 248-249 PALAVICINI,193
Newcast1e, 256 Novi. Mapa, 248-249 ORESME, Nicolau, 25 PALAVICINUS, Dionísio, 343
NICCOLI, Niccolõ de', 106 Novo Testamento, 148,209,344,378,379, ORFTNI, Emiliano, 229 PALEARTO,206
NICHOLSON, 8 382,384,395,399,400,401,409 ORFINI, Marietto, 229 PALISSY, Bernardo, 417
NICOLAU DE FRANCFORT, 285 Noyon,403 Organon, 201 PALLIOT, Pedro, 212

NICOLAU DE SAXÓNIA, 326 (N. R) Nozzano. Mapa, 248-249 Orlando amoroso, 368 PALMART, Lambert, 108

NICOLAU V (Papa), 71 Nuremberga, 42, 50, 116, 126, 133, 163, Orlando furioso, 368 PALUD, Pedro de Ia, 370
Nicomedes, 287 171, 172, 175, 198, 199,228,233, Orleães, 165, 170,290,402 Pamplona. Mapa, 248-249
NIDER,370 244, 246, 250, 252, 265, 266, 290, ORLEÃES (Duque de), 24 PANCKOUKE,216,289
NIDER, João, 237 291, 296, 301, 305, 324, 344, 356, ORTELIUS,361 PANNARTZ, Arnold, 107, 124, 229, 245,
NIDER, João, 325 359,377,378,379,410 Osmoglasnick (Octoteuco), 267 284,296
NIFO, Agostinho, 356 NUTHEAD, William, 276 Ostrog,272 Panormita V. BECCADELLI, Antonio
NIGRI, Pedro, 347 OTMAR, João, 170, 252 Pantagruel, 353, 392
NTKTFOROV,Vassjuk, 272 o OTMAR, Silvano, 171,378 Papa, 142 (N. R), 374, 375, 398, 401
Nimes,291 OUTREPONT,366 PAPENBURG, 193
Nivernais, 39 Obod,269 OVÍDTO, 121, 126, 132, 137,201,330,351 Parábolas, 328
NOBILI, De (Padre), 279 Obras, 289, 291, 368 OWEN, John, 418 PARADTN, Cláudio, 134,354
Nomenclator, 220 Obras de piedade, 326 Oxford, 50, 256, 345 Paráfrases, 388
Nonantola. Mapa, 242-243 OCCAM, Guilherme de, 108, 199,235,324, Paraíso perdido, 223
Nordlingen, 50, 228 370 p Parceiro, 179 (N. R)
Normandia,49, 170, 380 Octoteuco, 270 PARÉ, Ambroise, 417
NORMANDTA, Lourenço da, 401, 403, 404 Odense. Mapa, 248-249 PABLO, Juan, 274, 275 Parian,280
Norwich, 256 OEGLIN, Erhard, 170 PACHEL, 246,250, 254 Paris, 14, 35,44,45,47,48, 88, 89, 101,
NOTARY,255 Oels,347 Padres da Igreja, 315,325,328,370,390 105, 107, 108, 116, 120, 121, 125,
Nottingham, 256 OESSLER, Tiago, 319 Padres de Pequim, 280 126, 128, 130 137, 138, 140, 141,
NOURRY, Claude, 399 Offenbourg. Mapa, 248-249 Pádua, 34, 246,268, 271,296 143, 144(N.R.), 154, 155, 156, 157,
Nouveau dictionnaire hollandais-français, Oficial, 179 (N. R) P AFFROET, Ricardo, 250, 344 165, 166, 167, 168, 169, 172, 173,

288 Ohio,278 PAGNANINI,254 174, 175, 176, 180, 181, 183, 184,
Nouvelles de Ia République des lettres, 309 OLIVEIRA, Fernão de, (N. R.l PAGNINUS, Sanctes, 206, 347, 349 185, 187, 188, 194, 195, 196, 197,
Nova Espanha, 279 OUVI\TANO, 209, :1<>1{,400, ti I , Países Baixos, 35,45,49,50,51,88, 104, 198, 199,202,203,204,204 (N. R),
Nova Inplal 'ITiI, "76 Olnllll/, M IJlII,)'JH ),11) 111, 126, 197,241, 245,250,251, 207,211,212,214,216,228,232,
NII\,;I hllqw, '/li ()lotllOlH, '1111 ''i9, "6', "6H, 100, 135, l1R, 347, 233, 235, 236, 21H, 219, "41, 241\,
494 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 195

245, 246, 247, 252, 253, 256, 261, Pensilvânia, 278 PHILIPPE,Gaspar, 170 Podkoni a zac ("O rapaz da cavalariça (' ()
262, 263, 289, 290, 291, 292, 295 Pentateuco, 346, 347, 348 Philobiblion, 20 estudante"), 265
297,301, 303, 307, 310, 314, 315, PEPELAvv,João,266 Philosophical Transactions, 309 POGGIO,351, 363
317, 324, 327, 328, 330, 331, 338, Pequeno livros dos preceitos, 348 Piacenza. Mapa, 242-243 Poissy, 169,405
340, 341, 342, 343, 344, 345, 347, Pequim, 281, 282 Poitiers, 158, 159,239,245,253,403,404,
Picardia, 44, 399
353, 356, 358, 359, 360, 362, 380, PERCEFOREST,366 405
PICCOLOMINI,Eneias Sílvio, 229, 238, 363
381, 382, 385, 386, 387, 388, 389, Peregrinationes, 347 Pojano. Mapa, 242-243
PICO DE LA MIRANDOLA, Giovanni
390 391, 394, 395, 396, 398, 400, Périgueux, 49, 403 POLÍBIO,290, 351
Francesco, 200, 318
401,402,405,408,417 PEROTTI,238 POLICIANO,200, 206
PICO, Alberto, 20
PARIS(Irmãos ), 214 PEROTTI,Nicolau, 119,342 Politica, 25
PICO, Leonardo, 200
PARIS, Mateus, 337 Perpignan. Mapa, 248-249 PÓLO, Marco, 99, 335, 360
PIDIER,398
PARIX,João, 245 (N. R.) PERRIN,403 Polónia, 245, 246, 263, 266/269, 272; 347
Piemonte, 380, 399
Parma, 217, 245,245,291 Pérsia,99 Polozk,268
PARMENTIER,Miguel, 386 Pierre de Provence, 366
PÉRSIO,201,330,343 Pompa fúnebre feita nas exéquias de
PARMENTIER,Pedra, 386 PIGAFETTA,Filipe, 360
Perth Amboy, 27 Carlos Quinto, 174
Parnasse satyrique, 212 Pignerol, 42
Pertharite, 287 Pont-à-Mousson, 39
PARSIFAL(o Gaulês), 366 PIGOUCHET,169
Peru, 278 PONTE, Petrus de (O «cego de Bruges»),
Parthenicae, 331 Pilsen, 264, 265
Perúgia, 34, 229, 296 219
PAscAL,418 PINA, Rui de, 279 (N. R.)
Pescia. Mapa, 248-249 PORET,Cristóvão, 310
PASDELOUP,151 PINCIO,247
Pet'ang,281 PORTA,Petrus de, 286
PASQUIER,Étienne, 364 PIO, Alberto (Príncipe de Carpi), 201
PETIT,386 Portese. Mapa, 248-249
Passau. Mapa, 248-249 PIRCKHEIMER,173
Petit apparat royal, 288 Portland, 278
Passionale, 265 Pisa, 165,296
PETITtu, João, 405 Porto, 247 (N. R.)
PASTRANA,Juan de, 327 (N. R.)
Petit Jean de Saintré, 368 PITHOU,Pedra, 288
PATHELIN,126 PORTONARI(Família), 300
PETIT,João, 169, 170,203,250,393 PIZARRO,274
Pathelin, 334 Port-Royal, 213
PETIT, Oudin, 405 PLANTIN(Família), 415
PATIN, 193 Portsmouth, nos Estados Unidos, 278
PETRARCA,Francesco, 106, 107, 133,201, PLANTIN, Cristóvão, 50, 110, 140, 174, Portugal, 35 (N. R.), 111 (N. R.), 142 (N. R.),
PATISSON,Mamert, 204
233,265,332,337,351,407 175, 182, 184, 186, 187, 190,207, 194 (N. R.), 197 (N. R.), 213 (N. R.),
Pavia, 165,245
PETREJUS,João,252 211, 220, 238, 240, 250, 268, 286, 228 (N. R.), 230 (N. R.), 237 (N. R.),
PAYEN,398
PETRI,Adão, 171, 199, 378, 384 292,303,304,315,346,348,405 240 (N. R.), 253 (N. R.), 263, 279,
PEDDTE,325, 326
Pedra Preciosa, A (Y. Edelstein), 124 PETRI, João, 251, 356 PLANTIN-MoRETUS, 183, 185, 186, 220, 298, 314 (N. R.), 327 (N. R.), 346,
Pedro da Provença, 332 PEUTINGER,Conrado, 252 259,274 348, 359, 368 (N. R.)
PEDRODE RIGA, 337 PEYPUS,Frederico, 252, 379 PI./\NTIN-MoRETUS(Museu), 358 Portugal (Rei de), 359
PEIRESC,211, 308 Peyrus,39 1'1,/\'1'/\0, ISR, 20 I, 236, 285, 331, 351 POSTEL,Guilherme, 361
Peixes (Tratado dos), 356, 358 PFISTER,Albcrto, 71, 122, 244 PI./\ 11'1'0, :\30 Poslillo,237
PELLlOT,Paul, 96, 98 Píorzh 'im, 144 "IINln, \ 111, \'i'i POSlIfll., (Livr .iro de Lyou), I) I
Pcntnsulu Ihni 'a, 241 (N, R,), '4R, W), [>flOI{I',III'IM,.I011odl',111 1'1 111 11('( I, \ I, 1(11 1'111 ("1.1',\,(', I ()
·11 R 1'1111 IIII'UI, ('llIldlO, li) I 1'( 11111111' 111I, "'1 'I (I I I), 'li I 1'(11 1'111[11 (M Ipl IllIdo), \ 10
496 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS

Pourtraicts des hommes illustres, 141 PURCHAS, 360 Região do Vaud, 380, 399 RIFFE, Hans, 64
POUSSIN, 117, 143 PUY (Bispado), 165 Região renana, 55, 66, 230 Rijeka,271
Praga, 60, 64,252,264, 265,268, 269, 347 PYNSON, Richard, 104,255 Regimento proveitoso contra a pestenença, RIMINI, Valturio de, 336
Praticien français, 288 335 (N. R.) Rinoceronte, 142 (N. R.)
PRAULT,224 Q Regio-Emilia. Mapa, 242-243 Ripoli, 158
Precationes biblicae, 388, 395 REGIOMONTANO, 335 RIX, João, 285, 297
Precationes biblicae... veteris et novi Quadragesimale, 325 REGNAULT, Francisco, 156,256 RIZHEL,383
Testamenti, 389 Quadrins historiques de ia Bibie, 134 REGNAULT, Tiago, 155, 157,394 ROBERT (Louis-Nicolas), 52
Precationes christianae ad imitationem Quart livre, 353 Reims, 130,291,403 ROBERT, Jean le (Abade de Saint-Aubert de
psalmorum compositae, 389 Quatre fils Aymon, 312, 366 REMBOLT, Berthold, 169, 344 Cambrai), 66
Preces e Orações da Bíblia, 388 Quatro Ordens, 348 REMBRANDT, 262 Roberto Diabo, 332
Précieuses ridicules, 222 QUENTELL, Henrique, 246, 252 RENÉ D'ANJOU (Rei), 322 ROBERTO lI, 204
Preço dos livros, 153 Questiones d'amor, 368 Rennes. Mapa, 248-249 ROBIN,291
Premonstratenses, 233 Quinze joies de mariage, 332 RENOUARD, Philippe, 253 ROCKEFELLER (Fundo), 281
PRESLES, Raul de, 20 Quodlibeta, 326 Reportórios astrológicos, 300, 311 ROCOLLET, Pedro, 211, 212
Preuves des Iibertés de I'Église gallicane, RESCH, Conrado, 128, 130,290,381,386, RODRIGUES, Luís, 204 (N. R.)
290 R 386, 388, 389 RODRlGUEZ (Bispo de Zamora), 238
PRÉVOST (Abade de ), 217 Retórica, 165,236,331 ROFFET,134
Priêres et oraisons de ia Bible, 395 RABELAIS, 120, 138,206,209,215, 300, REUCHLlN, 199,206, 345, 349 ROGÉRIO II (Rei da Sicília), 33
PRIMATICE, 140 353,368,386,392,393 Reutlingen, 50, 198, 205 Rogersville, 278
PRIMI, 287, 291 Rachol,279 RÉVEILLON, 52 ROHAN, João de (Senhor de Bréhan-
Privilégios, 313/317 RACINE,309 Revelações, 128, 325 Loudéac), 231
Problemata, 354 RAMBAUD, Honorato, 413 REY, Marc-Michel, 215, 216, 263, 291 ROJAS, Fernando de, 352
Procês de Bélial, 332 RAMUSIO, 360 REYCEND (Família), 197 (N. R.) ROLEVINCK, Werner, 364
PROCTOR,53 RAPHELENG, 238 REYCENDES,291 Roma, 48, 106, 107, 124, 125, 200, 212,
Prognostication, 353 RATDOLT, 246 REZÉ. Tiago, 240 217, 229, 233, 235, 245, 246, 254,
Prognósticos, 355 RATDOLT, Erhard, 252 RHAU-GRUENENBERG, João, 257 , 344 259,281,284,296,311,319, 343,
PROPÉRCIO, 343 Rationale,24 RHEGIUS, Urbanus, 377 346, 354, 355, 358, 359, 372, 398,
Provença, 380 Ratisbona, 158 RHEINARDI, João, 296 418
Provinciaies,213 RÉAUMUR, 40 RIIENANUS, Beatus, 182, 199, 203, 252, Roman comique, 221
Provins. Mapa, 248-249 Recherches des antiquités de Ia France, 376 Roman de Ia Rose, 110, 137,332,366
PRUDÊNCIO,331 364 Rhodc [ land, 278 Romances, 108, 126, 136, 169,215,341
PRÜSS, João, 251, 383 Recueil des histoires de Troyes, 366 RIBEIRO, Bcrnardim, 368 (N. R.) ROME, Alão de, 167
Psaltir (Y. Saltério) Reforma, 304, 306, 311, 316, 318, 319, RIIIOU, 211, 222, 225 ROME, Joaquim de, 167
PTOLOMEU, 6,334, 354,355 350, 372, 373, 375, 377, 17X, 17x, RIC'AIUlO, Antóni», 275 RONI)EI.ET, 358
Pucel!e, 41!l 183, 85, '!lH, WO, WX, \<)1), 40 , 1{1('c!, Mutcus (1'11(11l, HO RONSAIUl, 4 1'i
1'111(I, LlIfs, ~6X 40X,410 I li 111111 11 l)l, IIX RI )SI-I li, AIIIIIIIIO, \ IH
1'lIlIll.lh. ) 111 I1I ,1/111011.1'1 RII li, I 10
498 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 499

Rostock, 233, 375 Saint Mary City, 276 SANTARELLI(Padre), 212 SCEVE,Maurício, 206
Rotenburgo, 378 Saint-Aldegonde,31O Santas Peregrinações, As, 265 SCHABLER(Família), 387
Roterdão, 241, 262 SAINT-AMANT,222 Santiago de Guatemala, 275 SCHABLER,João,385,386
ROTRou,221 SAINT-CHER,Hugo de, 173 SANTO AGOSTINHO, 159, 173, 198, 235, SCHÃFER,41
Rougemont. Mapa, 248-249 Saint-Cloud, 35, 42, 44 251,266,286,325,328,370,391 SCHALL,Adão, 281
ROUILLE,Guilherme, 398 Saint-Dié, 38, 199 SANTOAMBRÓSIO,173, 198 SCHARFENBERG,Marco, 268
ROUSSEAU, Jean-Jacques, 214, 215, 216, Saint-Dizier, 402 SANTOANTONINO,284, 325 SCHARFENBERG,Nicolau, 268
224, 289 Saint-Étienne du Gué de l'Isle, 231 Sant'Orso. Mapa, 242-243 Schatzebehalter, 126
ROUSSEAU,Pedro, 214, 216 SAINT-GALL,Ekkehart de, 337 SÃo BERNARDO,235, 325, 370 SCHÃUFELIN,133
ROUSSEL,383 SAINT-GELAIS,Mellin de, 350 SÃO BOAVENTURA,235, 325 SCHEDEL,Hartmann, 126,364
Roux, Pierre, 158 Saint-Hilaire d' Angoulême, 42 SÃo FRANCISCO DE ASSIS, 325 SCHIRLENTZ,Nickel, 257
ROYER,341 Saint-Jean-de-Losne,402 SÃO FRANCISCO XAVIER, 279, 280 SCHMIDT,Pedro, 303
Ruão, 105, 125, 170, 174, 175, 239, 241, Saint-Jean-en-Royans, 39 SÃo JERóNIMO, 173, 199,317,327, 328,
SCHOEFFER,72,227,228,230,296, 322
248, 253, 256, 261, 290, 291, 292, Saint-Lô, 405 390
SCHÓFFER,65, 166, 179, 236, 244, 251,
317 Saint-Quentin,47 SÃo LUÍS, 334
252
RUBENS,Pierre-Paul, 117, 142, 143 Salamanca, 172,230 (N. R.), 245 (N. R.), São Pedro de Erfurt, 233
SCHOEFFER,João, 377
Rudimenta, 342 254, 255 São Tiago de Ripoli (Mosteiro), 284
SCHOEFFER,Pedro, 67, 68, 70, 301, 305,
Rudimenta Gramaticae, 238 SALICET,Nicolau de, 267 SÃO TOMÁSDE AQUINO,6, 172, 173, 235,
343, 379
RUGGJERI(Padre), 280 Salins,232 237,324
SCHONGAUER,133, 139
Rujansk, 270 SALLO,Denis de, 308, 309 São Tomé, 228,279 (N. R.)
SCHÓNSPERGER,128, 133, 246, 251
RUPPEL,Aloys, 15 Salmos, 209, 276, 286, 323, 347, 380, 401, Saragoça, 172, 199, 245 (N. R.)
SCHÓNSPERGER,João (o-Velho), 252
RUPPEL,Berthold, 244 404,405,411 SARONE,Pedro de, 220
SCHOTT,João, 114, 199,251,342, 383
RUSCH,Adolfo, 107, 199,244,251 SALOMON,Bernardo, 132, 134, 398 SARTINES,225
SCHOTT,Martin, 251
Rússia, 268, 271/273, 279 Saltério, 265, 267, 270, 272,405 Sátiras, 330
Schotten, 133
RYNMANN,João, 163, 164, 170,305 Saltério de Mogúncia, 68, 70, 71 SAUER,João, 303
SCHRECK,João (dito TERRENTIUS),281
SALÚSTIO,236, 238, 330, 343 SAULNIER,399
SCHÚRER,Matias, 130,342,344,344
s SAMARAN,Charles, 29 Saumur, 197,238,239,259
SAMBUCO,João,140,354 SCHUMANN,Valentim, 344
Savannah, 278
SABELLICO,António, 201 San Cucufate. Mapa, 248-249 Savigliano, 245 Schussenried, 233

SABIO,Nicolini da, 254 San Germano. Mapa, 248-249 SAVONAROLA,Jerónimo, 209 SCHWARZ,Hayim, 347

Sabóia, 387,402 SAN PEDRO,Diego de, 352, 368 Saxe, 388 Schiedam. Mapa, 248-249
SACI, V. LEMAISTREDE SACY, 288 Sanctorale, 286 AXE, Jorge de (Eleitor), 257, 305, 377, Schleswig. Mapa, 248-249
Sacro Império, 319 SANNAZARO,Tiago, 352 378 Schoonhoven. Mapa, 248-249
SACROBosco,235 Santa Augustina, 278 Sux niu, 409 S INZENZELLER,
Henrique, 250, 343
SADOLET(Bispo de Carpentras), 206 SANTABRfolDA DA UÉ IA, 128, ' 25 SI'AI (lPRO, Júlio C sar, 206 S TrI, Tiago, 175
AOOLFiTO,206, 209 Santa atarinu (lrmundnd d ), 194 (N, H ) S 'lIl\(liulIO, MlIJlll, .4H 49 S'dnll,259
S(/f.lmd(/ 11.1'('/'1/11/,(/, 1 1, 171, 179, lH I, Sanlu ('I \I~ (C'WWI-\IlS l{t I Il1lt' tlt'), )I I S('AIIIWN.')1 1'11'1111111111, li 1
IX I. li> I. \I) I. 'li () (Nlt) '( 1 VI , ( '1111111'11111, '!lI! ,'t IIVII, 'i (N 1 ), , ., (N, 1 )
500 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 501

Segredo dos segredos, 231, 335 Simulacros da morte, 121 Stationner 's Company, 256 T
SÉGUIER, Pedro, (Chanceler), 211 Sion. Mapa, 248-249 Statuta Arnesti, 265
Segunda Lei, 348 SIRMOND (Padre), 418 STEGMANN, André, 416 Tableaux de Paris, 289
Sélestat, 199 Sisteron, 403 Stein, 198, 236 TÁCITO, 331, 342, 351, 363

SÉNECA,238,330 TACUINO, 247


Skodar, 270 STEIN, H. 44
Talamone, 34, 35
Senj,271 SKORINA, Francisco, 268,269,271 STEIN, Aurel (Sir), 94
Talmude, 348
SENNETON (Família), 398 SMITH, Tomás, 416 StendaJ. Mapa, 248-249
TAO, Fong (Ministro). 96
Sens, 130,157,382 Sociedade Real de Londres, 309 STENDHAL,370
TARDIF, Guilherme, 342
SENSENSCHMIDT, João, 244 Sociedade Tipográfica de Liêge, 289 STERNHOLD, 411
Tarragona. Mapa, 248-249
Sentenças, 235, 237, 324 SÓFOCLES, 201 STEYNER, 133 Tartária,361
SERIANUS, 220 Solilóquios, 325 STÓCKEL, Wolfgang, 247, 257, 377 TASSO, (Torquato), 352
Sergias de Esplandián, 273 SOLIS, Virgílio, 133 STOEFFLER, João, 355, 356 TATERET, Pedro, 370
Sermões, 235, 237, 252, 271 SOMAVILLE, 212 STOLL,João, 237 Távola Redonda (Cavaleiros), 366
Sermones de laudibus sanctorum, 285 Stoutbridge, 297 Tchernigov, 272
Soncino, 346
Sermonetta, 200 STRABO, Walafridus, 323 Templo de Cnide, 144
Songe de Ia Pucelle, Le, 231
SERVET, Miguel, 207, 377, 383, 389, 398 STRANGE,John,41 Tennessee, 278
Sonho de Polifilo, 128, 134, 137
Sérvia, 270 TEÓCRITO, 201, 344
STROEMER, Ulman,42
Sorbonne, 104, 107. 137, 166, 198, 236,
TEODÓSIO (Monge), 270
Sete Salmos da Penitência, 29 STROZZI, Hércu!es, 200
237, 245, 319, 391, 392, 393, 394, TEOFRASTO,354,355
SETZER, J., 164,206,377,383 STUCHS, Jorge, 171
398,399 Teologia e a Explicação do Pai Nosso, 376
SEVERYN, João, 265 Suábia, 205, 385
SORG,246 TERÊNCIO, 126, 137, 202, 209, 238, 330,
SEVERYN, Pavel, 265 Subiaco, 107, 229,233, 245, 343
SOTE, Mere, v. GRlNGORE 342
Sevilha, 128 (N. R.), 228,241,241 (N. R.), SUETÓNIO, 209, 343, 351, 363
SOTER,344 TERGOVISCE, 270
245 (N. R.), 255, 273, 275 Suíça, 34, 35, 35, 40, 42, 50, 88, 106, 166,
Speculum humanae salvationis, 50, 66, 130 Terra Santa, 361
SEYSSEL, Cláudio de, 156, 350 245,259,298,301,347,378
Speculum humanae vitae, 134,237 Teruel,346
SEYSSEL, Guilherme de, 350 Suma da Sagrada Escritura, 384 Testaments, 332
Speculum juris, 362
Sjorziade, 314 Sumário, 400 Teuerdank, 252
Speculum mundi, 334
SHAKESPEARE, 280, 302,411,418,419 Summa de Geografia, 359 THANNER, Tiago, 257, 377
Speculum Perfectiones, 325
Shepherdstown, 278 Super-libros, 150 (N. R.) The capital laws of Massachussett's Bay,
SPERONI, Sperone, 416
SíCULO, Lúcio Marineo, 364 Supremo Tribunal de Paris, 187,315,319, 276
Siêcle de Louis XIV, 289 Speyer, 199, 245
340, 381, 382, 39~ 391, 39~ 39~ THEODULUS, 328
Siena, 296 SPEYER, João de, 107,245,283, 355
393,395,396,404,414 THERAMO, Tiago de, 134
Silésia, 268 SPEYER, Wendelin von, 285, 343
Surscc. Mapa, 248-249 Thesaurus hebraicus, 206
Si lés ia, 347 SPOLMANNUS, 193 SlIS" 401 Thesaurus latinus, 342
Si/vae mo rales, 202 STAHEL, onrado, 266 SlISO, II~ nriquc, 32:'i, 170 Thl'.I'(I/II'II.\' liIlRI/{/(' lntinae, 414
Stmbolo dos Apóstolos, 390 • TANIIOI'E (Lord .), K9 SlISS. NI Ali, l lubvuu, ~O(, '('!II'VI'I, .101111,141, l61
SIMMONS, SU1l1\1l'1,2 1 S IARI IV, John, IOK SWI 'NIIIIM, ('11111111111,
107, 1'1, ) I), ) 1 , '11111IO!Y 1)1111, 17h, ' \1)
SIMIINI I. , 10,\0, I I 1 SI 111111
N, 111'1111
11111
di, ' h, lilh 'H I, "lfI 1111I , IH
502 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS 503

THOMPSON,J.w., 14 TOURNON(Cardeal de), 172 Triod postnaja (Tríduo Pascal), 267 Escritura, 399, 400
TIBULO,343 Tours, 169, 170. 395, 403 Triparty, 335 Unio dissentium , 391, 394, 399
TICIANO,356 TOURS, Gregório de, 364 TRISSINO,416 Universidades, 169, 174, 196, 208, 211.
Tiers livre, 353, 392 TOURS, Guilherme Miguel de, 350 Tristão, 332 236, 238, 239, 252, 265, 268, 269,
TILBURY,Gervásio de, 337 TOUSSAINT,Tiago, 203 TRISTÃO,366 276, 318, 328, 378, 381, 384, 388,
Times, 89 Tractatus contra perfidos Judeos, 347 TRITHEIM,João, 199,202 390,391,392,396,417,418
Tirant 10 Blanch, 285 Tractatus contra tyranos, 212 Triumphwagen, 252 Urach,271
TISNOVA,Martim de, 266 Traité touchant le comum usage de l'escri- Triunfos, 133 Urbino. Mapa, 248-249
TISSARD,Francisco, 344, 347 ture Françoise, 413 Tróia,366 URFÉ, Honoré d', 368
TITO LíVIO, 330, 343, 363 Tratado das Máquinas, 336 TROT, Bartolomeu, 108 Utopia, 351, 353, 366
Tobias,328 Tratado de Agricultura, 336 Troyes, 35, 39, 41,42,44,45,47,49,130, Utreque, 48, 49, 301
Toledo. Mapa, 248-249 Tratado de amores de Arnalte y Lucenda, 138, 155, 170, 253, 261
TOLENT!NO,Pedro Justino de, 314 368 TROYES, Salomão de (Rachi), 346, 347, v
TOPIÉ,230 Tratado de Arquitectura, 336 348
TORIES,217 Tratado de ortografia, 268 TRUBAR,Primus, 271 Valáquia, 270
TORQUEMADA(Cardeal), 124, J 26, 229, Tratado de perspectiva, 134 TS'!NG,281 V ALDAFER,246
233, 266 Tratado do Amor, 352 Tubinga. 164, 199,206,252,271,301,344 V ALDÉS,Fernandez de Oviedo y), 359
Torrebelvicino. Mapa, 242-243 Tratado elementar da imprensa, 82 TuCÍDEDES, 156,201,205,285,351,363 VALDÉS,Juan, 416
TORRESANI,171,247 TRECHSEL, 133, 170, 202, 247, 250, 342, TuDOR, (Dinastia), 255,418 Valence, 202
TORRESANO,André, 172 344 TUDOR,Maria, 256 Valência, 108, 241 (N. R.), 245 (N. R.),
TORT!,Battista, 246, 247, 285 Tréguier. Mapa, 248-249 Tuen-Huang, 94,96, 98 285, 297
Tortosa. Mapa, 242-243; 245 (N. R.) Trépassement de Notre-Dame, Le, 231 Tulherias, 214 Va1enciennes. Mapa, 248-249
TORY, Geoffroy, 133, 137, 150, 170, 204, TREPPEREL,168 Tullins,39 VALERA,Diego de, 364
204 (N. R.), 412, 413, 414 Três riches heures, 130 TuPPo,126 VALÉRIOMÁXIMO,236
Toscolano. Mapa, 242-243 Três utile et compendieux traicté de l'art et Turim, 165,291 VALlGNANO,Alexandre (Padre), 280
Tossafoth, 348 science d'ortographie Gallicane, Turíngia, 301, 409 VALLA,Jorge, 355
Toul,156 413 Turnbridge Wells, 256 VALLA,Lourenço, 236, 342
Toulon,403 Trésor de Amadis, 415 Tusculanas, 236 VALLEAU,António, 403
Toulousain, 35 Treves. Mapa, 248-249 TYNDALE,410 Valónia, 262
Toulouse, 39,48,49, 105, 165, 167,206, Tryvi,245 VALTURIUS,125
208,214, 229, 230 (N. R.), 245, 246, Treviso, 34, 40, 245, 246, 318, 335, 343 u VALVERDA,140
247245, 253, 254, 261, 297, 300, TRÉVOU,Henrique du, 24 VAN BOMBERGHE,Carlos, 175
386, 398 Tribunal da Matemática, 281, 282 Uigurcs,98 VAN DER BORCHT,Pedro, 140
Touraine, 174 Tríduo Pascal, 272 LJlm.50. 124.245,301 V ANDER WEVDEN, 130
TOURNES, João de, 121, 132, 134, 138, Trfduo Pentecostal, 272 Úmhrin, 14. 229 V AN EVCK, 130
197.207.215.349.351.395.397. TRI(JAlIlT. Nicolnu, 2H 1 IJN(1I I Il. 1·luIIIIIIU.1(,7. 1(,H V ARA( l( 1I0. lncopo dll. 2Yi. ,n, 3 (,, I \4
19H li IgII/lIIII'tll/l. ,\~ IIN(,N 11 (l11I1,hl) '71 V RAlIlIN, '11
'IIIIIIINI ~ 0'11111111.1),1111 /1I11t1 / I'I'I//t///I (I 'I 1111'111 I ti), 'li 1 ('II/t/(/ ti, I'tl/ /(/\ I't/ I 1111 ti" ,\" '/ tltI" V 111I 1 1 'I
504 o APARECIMENTO
DOLIVRO ÍNDICEDEASSUNTOS ()

Varsóvia, 173 Vermont, 278 Virgílio travesti, 221 W AUQUELIN, João, 24


V ASBERG, 193 VERNULZ,417 Virgínia, 276, 278 WECHEL, Cristiano, 108, 133, 2H6, \·1
VAscosAN,203,351 Verona, 125,336 Virgínia Ocidental, 278 347,353,388,391,39~394, 19
V ASSE, Pedro, 291 VERONA, Gaspar de, 200 VISAGIER, 206 WECHEL, André, 405
V ATABLE,Francisco, 345, 391 VESÁLIO, 140, 356 VISSMAKEN, Guilherme, 394 WEIDITZ, João (o-Moço), 133
VATABLE, João, 203 VESPÚCIO, Américo, 265, 359 Vita Antichristi, 326 WEILER,408
VAUGELAS,415 Viagem de João de Mandeville, 29 Vita Christi, 235, 326 WEINGARTNER, André, 388
V AUGRIS, João, 386, 387, 388, 389 Viagens, 359 Vitae Patrum, 14 WEISS, Hans, 257

Vaypicota, 279 Viagens à Turquia, à Síria e ao Egipto, 361 Vitemberga, 133,252, 257, 258 266, 301, WEISSENBRUCH, Maurício, 214, 215

Vedas, 282 Viagens de Mandeville, 335 304, 344, 374, 375, 376, 378, 381, WEISSENHORN, Alexandre de, 378

VEGÉCIO, 330 VIART, Guyonne, 203 382,383,399 WENDELIN, 48

Velay,39 Viterbo. Mapa, 248-249 WENSSLER, 233, 301


VIAU, Teófilo de, 212, 262
VELESLAVINE,Adão, 269 VITRÉ, António, 182,211 Westrninster, 245
Vicenza,343
VITRÚVIO, 134 WHITECHURCH, Edward, 256
Velletri, 200, Vic-le-Comte, 130
Vivae imagines partium corporis, 140 Whole Book of Psalmes, 411
Venda ambulante (Literatura de), 138,141, Vida da Virgem, 133
VIVES, Juan Luís, 354 WIERICX (Irmãos), 140
289 Vida de Jesus Cristo, 231
Volínia, 272 WIESNER, J. von (Prof.), 94
Vendedores ambulantes, 297, 302, 310-312, Vida de Nossa Senhora, 326
VOLTAIRE, 138,214,215,216,217,224, Wietor,268
370, 383-386, 397-403 Vidas de Santos, 55, 326, 341, 370
289, 291 WILD, Leonardo, 158, 285
VENDÔME, Mateus de, 328 Vidas Paralelas, 363
Voltaire, 48 WILLER, Jorge, 303
Veneza, 34,41, 46, 48, 104, 107, 108, 124, VIDOVAEUS, Pedra, 130, 133, 170,388
Voltri,34 Wilmington, 278
125, 126, 128, 136, 137, 139, 149, Viena, 173,251,268,300,359,398
Von Ablas; und Gnade, 376 WIMPFELING, 173, 199,330
158, 164, 166, 171, 172, 173, 175, Viena-do-Delfinado, 130, 229, 389
Von der Betrachtung Heiligen Leidens WINDlS, Mateus Cerdonis de, 271
195,200,201,203,205,216,245, VIGNOLLE, Pedro de, 400
Christi, 376 WOELTER,41
246, 247, 253, 254, 259, 260, 266, VIGNON, João, 143, 157
Von Menschenlehre zu meiden, 376 WOLFF, Tomás, 384
268, 269, 270, 271, 283, 285, 291, VILLAMONT, 361
Vosges, 38, 39, 49 WOLGEMUT,126
296,301,303,314,317,318,324, VILLEDIEU, Alexandre de, 114, 200, 235,
VOSTERMANN, 383, 395 Worcester, 256
335, 336, 338, 343, 344, 348, 354, 327
VOSTRE, Simão, 133, 169 WORDE, Wynkyn de, 255
355, 356, 358, 360, 362, 363 Villers-Cotterets (Ordenança de), 350 VUKOVIC, Bozidar, 268, 270, 271 Worms, 374, 379
Veneza (Senado de), 314 VILLETTE (Marquês de), 41 Worth,255
VÉRARD,António, 101, 104, 114, 122, 125, VILLON, 108, 110, 126,332,406 w Wurzburgo, 233
136,168,169,239,247,256 Vilnius, 269 WYLE, VON, 173
VERBIEST, Ferdinand, 281 VINCENT, Antonio, 389, 398, 40 I, 405 W AESBERGIIE, 415
Vercelly. Mapa, 248-249 VINGLE; João de, 399 WAI I)VOGEL, Procópio, 60, 64, 65, 67 x
VERDUSSEN,259,288 VINGLE, Pedro de, 374, 196, W(), 19(), ;]()O WAI KI'R (Mccflnico), !l9
VERC,(,CIO, Ângelo, 344 VIRI"!" 40 I, 402 W I J..I1(, John (!)II,'rlm do 'I'inu-s), !lI) I'NOJ'(lNTI', 201, Vil
VI'RIIAIRI N, 1HI V IIH:I II(), 1\(" '01, 'DI), 11 !lh, 'lI, WlI 101 do '1i1VllI,IS, 11'
VII!MIII, 'li' \10, I \ I li', 111, I li, I I • III/) III 111 111 11111,10,11. I IIII\' (!'oIPiI) 111)
506 o APARECIMENTO
DOLIVRO

y ZAINER,Gunther, 124,245,266
ZAROTTI,António, 246, 314,343
York,256 ZASIUS,Ulrich, 199
Ysopet-Catonet, 328 ZEDLER,Gottfried, 216
ZELL, Ulrich, 65, 124,244,264
Zinna. 11apa, 248-249
z ZUÍNGLIO,379
ZUMÁRRAGA,Juan de (Bispo), 274
Zabludov, 272 ZUREN,Jan Van, 66
ZABOROVSKY,268 Zurique, 48, 303,347,356,379
ÍNDICE GERAL
ZACUTO,Abraão, 335 (N. R.) Zwolle,49
Zagrebe, 270 Zweibrücken. Mapa, 248-249

PRÓLOGO 1

PRÓLOG02 . 3

PREFÁCIO . 5

INTRODUÇÃO 11

Capítulo I
A QUESTÃO PRÉVIA: O APARECI11ENTO DO PAPEL NA EUROPA 31
I. Os períodos do papel 32
11. As condições de desenvolvimento dos centros papeleiros:
Condições naturais e industriais 36
m. As condições comerciais 41
IV. O aparecimento do livro e o desenvolvimento da indústria papeleira
(séculos XV·XVIII) 46

Capítulo 11
AS DIFICULDADES TÉCNICAS E A SUA SOLUÇÃO . 53
I. A xilografia, antepassada do livro?.. 54
11. A «descoberta» da Imprensa . 61
IH. A fabricação dos caracteres .. . 71
IV. Composição e impressão .. 77
V. A imposição .. !l9
VI. O precedente chinês 92

Cnpítulo 111

1\ 1\1'1{liSIiN'J'I\(I\() oo LlVIW 1 () I

I () l 011.11 11 H In \
508 o APARECIMENTO DO LIVRO ÍNDICE GERAL 509

lI. O estado civil do livro. lncipit, cólofon e marca 111 Capítulo VIII
IlI. A apresentação dos textos e o formato dos livros 118 321
O LIVRO, ESSE FERMENTO ..
IV. A ilustração .. 122
I. Do manuscrito ao livro impresso. 321
V. O revestimento do livro: A encadernação 144
11. O livro e o humanismo 338
III. O livro e a reforma .. 370
Capítulo IV IV. A tipografia e as línguas . 405
O LIVRO, ESSA MERCADORIA 153
BIBLIOGRAFIA 421
I. O preço de custo. 153
11. O problema do financiamento 162
íNDICE DE ASSUNTOS. 463

Capítulo V

O PEQUENO MUNDO DO LIVRO 179


I. Os oficiais 180
lI. Os mestres . -l-89
III. Do imp.res~r.~o(oI-Ifl.·anista
ao livreiro filósofo 197
IV. Autores e direitos de autor ... 218

Capítulo VI

GEOGRAFIA DO LIVRO. 227


I. Os agentes de difusão 227
lI. O que atrai e fixa as oficinas .. .. . 230
III. A geografia da edição 241
IV. A Imprensa à conquista do mundo . 263
A) Os Países Eslavos . 264
Boémia e Morávia . 264
Polónia . 266
Eslavos do sul .. 269
Rússia .. 271
B) Novo Mundo. 273
C) Extremo Oriente .. 278

Capítulo VII

O COMÉRCIO DO LIVRO ..
I. Alguns dados: Tiragens e fardos de livros
lI. Os problemas a serem resolvidos
11l. Os métodos comerciais. A época das feiras
IV. RUl110 a novos métodos COIl1 crciais
V. l'livik ,io~l' cuntrulu '~'()l'~
VI ('('11 111,1,·11\10' ]11<11111110'

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