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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

CAMPUS MINISTRO REIS VELLOSO – CMRV


CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – CCBIO

PALEONTOLOGIA
CADERNO DE TEXTOS
Organizador: Johnson Fernandes Nogueira, Ms. Dr.

2012.1
UNIDADE I
A Ciência Paleontológica
Texto 1
CASSAB, R. de C. T. Objetivos e princípios. In: CARVALHO, I.S.
(Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência,
2010. cap. 1, p. 3-11.
Texto 2
NOBRE, P.H. Fósseis: coleta e métodos de estudo. In: CARVALHO,
I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência,
2010. cap. 22, p. 397-411.
UNIDADE II
Tafonomia
Texto 1
SIMÕES, M. S.; RODRIGUES, S. C.; BERTONI-MACHADO, C.; HOLZ,
MICHAEL. Tafonomia: processos e ambientes de fossilização. In:
CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro:
Interciência, 2010. cap. 3, p. 19-51.
Texto 2
MEDEIROS, M.A. Fossildiagênese. In: CARVALHO, I.S. (Ed.).
Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência, 2010. cap.
5, p. 65-77.
UNIDADE III
Tempo Geológico
Texto 1
PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Registro
das Rochas e Escala do
Tempo Geológico. In:_______. Para Entender a Terra. 4. ed.
Porto Alegre:
Bookman, 2006. cap. 10, p. 247-268.
Texto 2
ROHN, R. Uso estratigráfico dos fósseis e tempo geológico. In:
CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro:
Interciência, 2010. cap. 3, p. 19-51.
UNIDADE IV
Plantas Fósseis (Paleobotânica)
SIGEP
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil

SIGEP 104

Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional


O mais exuberante e importante registro
florístico tropical-subtropical permiano no
Hemisfério Sul
Dimas Dias-Brito*1
Rosemarie Rohn*2
Joel Carneiro de Castro*3
Ricardo Ribeiro Dias**4
Ronny Rössler***5

*UNESP, Rio Claro (SP).


**UFTO, Palmas (TO)
***Museum für Naturkunde, Chemnitz (Alemanha).
1 dimasdb@rc.unesp.br.
2 rohn@rc.unesp.br.
3 jocastro@rc.unesp.br.
4 ricdias@mandic.com.br.
5 roessler@naturkunde-chemnitz.de.

© Dias-Brito,D.; Rohn;R.; Castro,J.C.; Dias,R.R.; Rössler,R. 2007. Floresta Petrificada do


Tocantins Setentrional – O mais exuberante e importante registro florístico tropical-subtropical
permiano no Hemisfério Sul. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Berbert-Born,M.; Queiroz,E.T.;
Campos,D.A.; Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do
Brasil. Publicado na Internet em 23/01/2007 no endereço
http://www.unb.br/ig/sigep/sitio104/sitio104.pdf
[atualmente http://sigep.cprm.gov.br/sitio104/sitio104.pdf ]

[Ver versão final do CAPÍTULO IMPRESSO em: Winge,M. (Ed.) et al. 2009. Sítios
Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasília: CPRM, 2009. v. 2. 515 p. il. color.]
Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional
O mais exuberante e importante registro florístico tropical-
subtropical permiano no Hemisfério Sul
SIGEP 104
Dimas Dias-Brito*1
Rosemarie Rohn*2
Joel Carneiro de Castro*3
Ricardo Ribeiro Dias**4
Ronny Rössler***5
Fragmentos da Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional (FPTS) ocorrem na UC Monumento Natural das Árvores
Fossilizadas do Tocantins (MNAFTO) e arredores (Filadélfia, NNE Estado de Tocantins, SW Bacia do Parnaíba).
Dois patamares no relevo dão grande beleza cênica à região: o inferior (Permiano), topo da Formação Pedra de
Fogo ou base da Formação Motuca, e o superior (Triássico), topo da Formação Sambaíba. A floresta fossilizada
associa-se a depósitos aluviais da base da Formação Motuca, que estão sobrepostos a sedimentos marinhos
proximais da Formação Pedra de Fogo. Os vegetais, permineralizados por sílica - rolados ou encontrados em
quartzo-arenitos e pelitos - são abundantes e tridimensionalmente bem preservados. Caules muito longos,
ultrapassando 10m e com diâmetros basais de até 1,20 m, são comuns. Destacam-se caules das seguintes
samambaias arborescentes: Tietea, Psaronius (Psaroniales, os elementos dominantes e maiores), Grammatopteris
(Filicales) e Dernbachia (?Filicales). Também há pinas e pecíolos, relacionados aos caules, samambaias epífitas
(Botryopteris), esfenófitas arborescentes (e.g., Arthropitys) e caules de diferentes gimnospermas. A preservação dos
vegetais é excepcional para a investigação de aspectos tafonômicos, morfológicos, anatômicos e ontogenéticos
dos indivíduos, permitindo estudar a paleoecologia e evolução desta paleoflora. A FPTS, que ocupou terras
baixas, sob clima quente e úmido variável sazonalmente, contém elementos-chave para a compreensão das
relações evolutivas e horizontais das províncias florísticas neopaleozóicas de ambos hemisférios e para o
desenvolvimento de novos conceitos sobre a botânica daquele tempo. O MNAFTO constitui patrimônio
geobiológico ímpar no mundo, além de apresentar predicados arqueológicos (e.g., impressões rupestres),
ambientais e potencial ecoturístico.
Palavras-chave: paleobotânica, samambaias-fósseis arborescentes, floresta petrificada, Formação Motuca,
Permiano, Estado do Tocantins.

The Northern Tocantins Petrified Forest, the stems, Botryopteris (climbing or epiphytic fern), arboreal
State of Tocantins -The most luxuriant and sphenopsids (e.g., Arthropitys), and different gymnosperm
important Permian tropical-subtropical trunks also occur. The exceptional plant preservation allows
floristic record in the Southern Hemisphere taphonomic, morphologic, anatomic and ontogenetic studies, in
addition to palaeoecologic discussions. The NTPF is interpreted
Patches of the Northern Tocantins Petrified as a tree-fern-dominated wetland Permian flora under warm-
Forest (NTPF) occur in the Tocantins Fossil Trees humid conditions seasonally variable. It contains key-elements to
Natural Monument (TFTNM) and in its surroundings the comprehension of evolutive relationships among Late
(Filadelfia, NNE Tocantins, SW Parnaíba Basin). The Palaeozoic floristic provinces. The TFTNM is an extraordinary
scenic beauty of this region results from a contrast between two geobiological heritage, unique in the world, also presenting
landscape plans: the lower one (Permian) - expressing the top of archaeological (e.g., petroglyphs), environmental significance, and
the Pedra de Fogo Formation or the basal Motuca Formation - geo/ecotouristical attractiveness.
, and the upper one (Triassic), formed by the top of the eolian Key-words: palaeobotany, fossil tree-ferns, petrified forest,
Sambaíba Formation. The fossil plants are associated with Motuca Formation, Permian, State of Tocantins.
alluvial deposits in the base of the Motuca Formation that
overlies the restricted marine Pedra de Fogo Formation. The INTRODUÇÃO
plant material, three-dimensionally preserved as siliceous
cellular permineralization, is abundant over the soil surface or Florestas petrificadas são áreas que apresentam
embedded in quartz arenites, sometimes in pelitic sediments. grande quantidade de caules fósseis. Estes são
The stems commonly reach several meters in length, sometimes encontrados em posição de crescimento, de deposição
more than 10m, with a basal diameter up to 1.20 m. There ou simplesmente espalhados pelo chão, geralmente
are distinct tree ferns: Tietea, Psaronius (Psaroniales, the sem ramos ou outros órgãos vegetais conectados. O
dominant and longer stems), Grammatopteris (Filicales) processo de preservação envolveu o soterramento por
and Dernbachia (?Filicales). Leaves and petioles related to sedimentos siliciclásticos e/ou material vulcânico,
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seguido de impregnação dos tecidos por soluções ou seqüências paleozóicas (...) como a do Parnaíba, ainda
gel silicoso (permineralização). Mais tarde, com a permanecem inexploradas do ponto de vista
exposição dos depósitos fossilíferos ao intemperismo paleobotânico”. Convênio e acordo de cooperação,
e à erosão, os caules foram parcialmente exumados, recentemente firmados entre a UNESP – Rio Claro,
mantendo sua posição original ou tornando-se entidades governamentais do Tocantins e o Museu de
totalmente expostos, fragmentados e distribuídos Chemnitz, Alemanha, passaram a sustentar ações em
caoticamente. prol da investigação científica do material da FPTS em
Dezenas de florestas petrificadas têm sido instituições brasileiras, visando, inclusive, a criação de
registradas em todos os continentes e ao longo de um Museu de História Natural em Palmas-TO.
todo o Fanerozócio, a partir do Devoniano. No sul Esta comunicação também registra que o
do Brasil - RS, em São Pedro do Sul e Mata, ao sul da MNAFTO é portador de um mosaico de ecossistemas
Bacia do Paraná, são conhecidos troncos fósseis de de alta relevância para a preservação, tendo, por outro
coníferas (Minello, 1994) de idade neotriássica lado, grande potencial para o ensino de geologia,
(Guerra-Sommer et al., 1999; Guerra-Sommer & paleontologia, biologia e ecologia. Exibe, ainda, forte
Scherer, 2002; Pires et al., 2005). vocação geo/ecoturística decorrente de sua grande
Por sua beleza e significado científico, muitas beleza cênica. Alguns achados arqueológicos na área
florestas fossilizadas têm sido convertidas em áreas do Monumento vêm agregando mais valor científico e
de proteção ou unidades de conservação. cultural à área.
Monumentos estaduais e nacionais, além de parques
nacionais, vêm sendo criados em diversos países, LOCALIZAÇÃO
sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, o que
reflete o nível de importância que as diferentes O MNAFTO, com seu entorno, situa-se na
sociedades dão a estas ocorrências. A Floresta Amazônia Legal, no NNE do Estado de Tocantins, no
Petrificada do Tocantins Setentrional (FPTS) - listada entre município de Filadélfia, próximo à fronteira com o
as 31 mais belas florestas fossilizadas da Terra Estado do Maranhão. Posiciona-se entre as lat.
(Dernbach, 1996) - é um desses tesouros da natureza, 7°17’45’’ e 7°38’34”S e long. 47°35’17” e 48°01’05’’W.
constituindo-se no mais exuberante e importante No seu lado oeste está o distrito de Bielândia,
registro florístico tropical-subtropical permiano no antigamente conhecido como Zé Biel ou Venda do Zé
hemisfério sul. Os mais notáveis fragmentos desta Biela, muito citado como localidade fossilífera (Fig. 1).
floresta deram origem à UC Monumento Natural das O acesso à área, a partir de Araguaína, é feito pela
Árvores Fossilizadas do Tocantins – MNAFTO. Distantes rodovia TO-222, que atravessa quase todo o
do Monumento, outras manchas da FPTS ocorrem Monumento no sentido W-E em direção a Filadélfia. A
em Goiatins, Colinas do Tocantins e, talvez, na região rodovia TO-010, que corta o MNAFTO no sentido N-
de Carolina, Maranhão (Fig. 1). S, e algumas estradas secundárias permitem completar
O objetivo central deste trabalho é ressaltar a o acesso às manchas da FPTS.
grande relevância científica do MNAFTO para a geo-
história do Permiano tropical-subtropical no DESCRIÇÃO DO SÍTIO
hemisfério sul, de modo a integrá-lo entre os mais
importantes sítios geobiológicos do Brasil a serem Características atuais
preservados como Patrimônio Natural da
Humanidade. Para tal, apresenta uma síntese O MNAFTO é um mosaico de áreas naturais
atualizada dos conhecimentos sobre a FPTS, a partir entrecortadas por zonas com atividades de pecuária e
de investigações geológicas e paleobotânicas de de ocupação humana. Cobre uma área de
diferentes autores (e.g., Faria Jr., 1979; Coimbra & aproximadamente 32 mil hectares, situando-se em
Mussa, 1984; Pinto & Sad, 1986; Herbst, 1999; região prioritária para a conservação da biodiversidade
Martins, 2000; Dernbach et al., 2002; Robrahn- brasileira (MMA, 2002). A temperatura média anual da
Gonzáles et al., 2002; Rössler & Noll, 2002; Rössler & região é de 26,3°C, com máximas e mínimas de 28°C e
Galtier, 2002a,b; 2003; Dias-Brito & Castro, 2005; 25,3°C, registradas, respectivamente, nos meses de
Rössler, 2006). Adicionalmente, oferece alguns novos setembro e junho. O índice pluviométrico totaliza
elementos para a discussão da estratigrafia da região. 1800 mm/ano, as chuvas concentrando-se de outubro
A FPTS tem sido relativamente pouco estudada, a abril (mais de 90% do total médio anual). De janeiro
sobretudo pela comunidade acadêmica nacional a março as precipitações atingem 50% do total médio
brasileira. Pouca coisa mudou após Mussa & Coimbra anual. De junho a agosto ocorre o mínimo das
(1987, p. 902) terem asseverado: “... no Brasil (...) precipitações e a umidade relativa do ar fica em torno
desde os primórdios dos estudos paleobotânicos, os de 50%. O quadro climático é bastante variável,
pesquisadores, em sua maioria, têm se preocupado havendo anos em que o índice pluviométrico não
muito mais com as investigações sobre as tafofloras atinge 850 mm. A dinâmica dos ecossistemas é regida
gondwânicas...”. Mais à frente, p. 906: “...as pela forte sazonalidade na disponibilidade hídrica.
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Figura 1 – Localização do Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Tocantins (MNAFTO) e entorno.
Figure 1 – Location of the Tocantins Fossil Trees Natural Monument (TFTNM) and its surroundings.

Na paisagem distinguem-se dois patamares ou Contexto geológico regional


superfícies de aplainamentos, cujo contraste se traduz
em grande beleza cênica. De acordo com Pinto & Sad O MNAFTO ocupa o sudoeste da Bacia do
(1986), o patamar inferior, entre 200 e 250m, é em Parnaíba, tendo integrado o Pangea ocidental
parte preservado pela presença de leitos de sílex do meridional (Fig. 3; seta indicando a posição do
topo da Formação Pedra de Fogo ou pela silicificação MNAFTO). Neste setor afloram estratos sedimentares
do arenito basal da Formação Motuca; já o superior, horizontais compostos por rochas siliciclásticas,
com cotas por volta de 500m, refere-se a topos de carbonáticas e evaporíticas, incluindo as formações
morros ou mesetas de bordas íngremes. Tais corpos, Piauí (Neocarbonífero), Pedra de Fogo (Permiano),
presentes no lado leste do MNAFTO, correspondem Motuca (Permiano) e Sambaíba (Triássico). Esta última
à Formação Sambaíba (Fig. 2) e se destacam em formação - que apresenta propriedades litológicas
imagens de satélite CBERS. significativamente distintas das unidades subjacentes -
A vegetação dominante é a de cerrado (rupestre, não é aqui entendida como fazendo parte do Grupo
cerrado típico e cerradão). Também ocorrem florestas Balsas de Góes et al. (1989; 1992), mas refletindo um
de galeria com elementos amazônicos, que às vezes novo ciclo tectono-estratigráfico na bacia.
dão lugar a buritizais, e pequenas manchas de As unidades permianas são particularmente
florestas semidecíduas. Córregos perenes e importantes para as discussões deste trabalho. A
temporários compõem a rede de drenagem com Formação Pedra de Fogo resultou de sedimentação em
padrão dendrítico/subdentrítico. A área é um ambientes marinhos rasos restritos, costeiros e
ecótono de grande importância biogeográfica. continentais, sob clima predominantemente quente,
com variações na umidade ao longo da sua história;
carbonatos e evaporitos acumularam-se quando a bacia
apresentava balanço hídrico negativo (Lima & Leite,
1978; Faria & Truckenbrodt, 1980; Oliveira, 1982;
Coimbra, 1983; Góes & Feijó, 1994; Araújo, 2001;
Dino et al., 2002). A Formação Motuca originou-se em
domínio continental, sob variadas condições de
sedimentação - fluvial, lacustre e eólica -, com invasões
marinhas episódicas na parte intermediária da seção e
deposição de gipsita (Lima & Leite, 1978; Araújo,
2001).
Existem divergências quanto ao exato
posicionamento cronoestratigráfico das formações
Pedra de Fogo e Motuca. A comum existência de
Figura 2 – Vista panorâmica, Fazenda Santa Maria. horizontes sedimentares pobremente fossilíferos, ou
Figure 2 – Panoramic view from Santa Maria Farm. mesmo afossilíferos, e a escassez de bons fósseis-guia
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dificultam a datação destas rochas. Correlações 30 m abaixo dos sedimentos portadoras de caules
estratigráficas regionais (sobretudo com a Bacia do fósseis (classicamente referidos como Psaronius),
Amazonas), ou de longa distância, têm sido aplicadas correspondendo à parte alta da porção inferior do
para auxiliar no posicionamento cronoestratigráfico Membro Trisidela. Ambas as deduções advieram da
destas unidades. análise das figuras 4 e 2 apresentadas em Pinto & Sad
(1986, p. 355) e Dino et al. (op. cit., p. 26),
respectivamente.
À Formação Motuca tem sido atribuídas
diferentes idades, do Mesopermiano ao Triássico (e.g.,
Mesopermiano: Petri & Fúlfaro,1983; Neopermiano:
Mesner & Wooldridge, 1964; Góes & Feijó, 1994;
Neopermiano-Triássico: Lima & Leite, 1978).

Contexto geológico local

No mapa de Lima & Leite (1978), o MNAFTO é


essencialmente apresentado como área de afloramento
da Formação Pedra de Fogo; a Formação Sambaíba e
depósitos quaternários aparecem como manchas.
Também no mapa de Coimbra (1983), o MNAFTO
aparece como área de afloramento da Formação Pedra
de Fogo. Contudo, no mapeamento geológico de
superfície de Pinto & Sad (1986) - na escala 1:50.000,
especificamente focando a região e associado a uma
Figura 3 – Bacia do Parnaíba no Pangea. Geografia análise de dados de subsuperfície - a área do
mesopermiana (Guadalupiano) segundo Ross (1995). Monumento aparece como dominío de afloramento da
Figure 3 – Parnaíba Basin at the Pangea. Guadalupian geography Formação Motuca; contém, ainda, todas as demais
according to Ross (1995). unidades do Grupo Balsas, a Formação Sambaíba e
aluviões quaternários. Estes dois últimos autores
Historicamente, autores diversos - por diferentes interpretaram os arenitos finos avermelhados ou
métodos de investigação - sugeriram que a Formação creme, não carbonáticos e portadores de caules fósseis,
Pedra de Fogo estaria situada no intervalo como sendo pertencentes à base da Formação Motuca.
Carbonífero-Permiano. Progressivamente, houve uma O enquadramento do MNAFTO e seu entorno no
convergência para posicioná-la no Permiano. Entre mapa gerado por Pinto & Sad (op. cit.) está apresentado
os autores que a consideraram como Eopermiano na Fig. 4.
estão Price (1948), Mesner & Wooldridge (1964), Dentro desta nova concepção, a Formação
Barberena (1972), Cruz et al. (1972) apud Santos et al. Motuca passou a incorporar os caules fósseis
(1984) e Góes et al. (1992). Lima & Leite (1978), Faria classicamente relacionados à Formação Pedra de Fogo.
Jr. & Truckenbrodt (1980), Mussa & Coimbra (1987) Pinto & Sad (op.cit., p. 350) justificaram:
e Góes & Feijó (1994) situaram-na no intervalo eo- Optou-se por colocar tais rochas na base da Formação
mesopermiano, enquanto que Cox & Hutchinson Motuca com base principalmente em aspectos
(1991) posicionaram-na no Neopermiano. Dino et al. sedimentológicos. O topo da Formação Pedra de Fogo
(2002) apresentaram importantes dados palinológicos mostra rochas carbonáticas, em deposições
aparentemente cíclicas (arenitos, siltitos e folhelhos
referentes a folhelhos do Membro Trisidela e
calcíferos alternados com leitos de marga e sílex), com
inferiram uma idade Neopermiano para a parte estratificação plano-paralela em escala de afloramento,
superior da Formação Pedra de Fogo. Todavia, pela ao passo que os arenitos mencionados acima [arenitos
discussão apresentada por aqueles autores, finos não calcíferos avermelhados ou creme] mostram
depreende-se que a idade poderia estar entre o estratificação cruzada de porte médio, não são
Kunguriano (Eopermiano tardio, de acordo com carbonáticos, estão silicificados na base e portam
Menning et al., 2006) e o Neopermiano. Ademais, restos de madeiras petrificadas. [grifo nosso].
visto que o Membro Trisidela contém uma associação
polínica fortemente similar à da Formação Flowerpot Pinto & Sad ainda informaram, p.351:
de Oklahoma – como informam Dino et al. (op. cit.) – Em lugar algum encontrou-se Psaronius em rochas
nós sugerimos uma idade kunguriana para a parte carbonáticas. [grifo nosso]. Barbosa & Gomes (1957,
superior da Formação Pedra de Fogo, já que a pag. 24) escrevem: ‘Finalmente, deve ser esclarecido que
um dos autores (F.A. Gomes) durante cerca de seis
formação estadunidense é posicionada neste andar
anos de trabalhos estratigráficos no Maranhão,
por Lucas (2004). Adicionalmente, é importante frisar somente encontrou Psaronius in situ em folhelhos
que os referidos folhelhos estão aproximadamente a
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do topo da coluna paleozóica, acima do datum As madeiras fósseis, incluindo os Psaronius, são
bed ’. [grifo nosso]. O referido datum bed destes encontradas associadas aos siltitos e arenitos finos,
autores é ‘um banco de cerca de 2 metros de altura e avermelhados com manchas brancas, que pertencem às
com características concreções globóides, designadas partes mais superiores da Formação Pedra de Fogo
pupularmente [sic] por bolachas e com diâmetros da [incorporadas à base da Fm. Motuca por Pinto & Sad,
ordem de 2-4cm’. Estas concreções são de sílex e op.cit.]. Ressalte-se que o deslocamento dos Psaronius
situam-se na porção superior do Membro Superior [da para níveis mais baixos (...) provocou muitas confusões
Formação Pedra de Fogo]. nos trabalhos de mapeamento. (...) sugere-se que as
madeiras silicificadas possam ocorrer, também na
base da Formação Motuca [grifo nosso].

Andreis (in Robrahn-González et al., 2002), que


estudou a geologia do MNAFTO e elaborou sete
perfis estratigráficos para seções aflorantes em
diferentes pontos do oeste e leste do Monumento,
enunciou (p.12):
Ao confrontar as descrições dos perfis elaborados (...)
com as definições estabelecidas para a Formação Pedra-
de-Fogo e suas sub-unidades (membros Sílex Basal,
Médio e Trisidela, conforme Faria Jr. & Truckenbrodt,
1980), verifica-se que não há uma correspondência
satisfatória entre ambos. Por outro lado, o inverso é
verdadeiro quando se estabelece uma comparação
com a unidade superior, denominada Formação
Motuca.[grifo nosso].

Dias-Brito & Castro (2005) investigaram seções da


Formação Pedra de Fogo e da Formação Motuca na
área do MNAFTO. Ao concordarem com os critérios
de Pinto & Sad (1986), também vincularam os
sedimentos portadores de plantas fósseis à base da
Formação Motuca.
Figura 4 – Mapa geológico do MNAFTO e entorno (de O perfil referente ao intervalo superior da
acordo com Pinto & Sad, 1986). Formação Pedra de Fogo (Fig. 5) permitiu reconhecer,
Figure 4 – Geological map of the TFTNM and surroundings em ordem ascendente, seis associações faciológicas. As
(according to Pinto & Sad, 1986).
três inferiores são dominantemente siliciclásticas
(arenitos e arenitos/dolomitos; pelito com níveis
Anteriormente, Faria Jr. (1979, p. 18), carbonáticos e silicosos; pelito sílitico-argiloso),
descrevendo ocorrências de plantas fósseis na enquanto que as três superiores são mistas, com maior
localidade de São Bento, a 2 km oeste do Morro
freqüência de calcário e sílex (marga, dolomito, pelito e
Pelado, Serra do Ciriaco, noroeste de Bielândia, já
sílex; arenito calcífero e calcário; calcilutito e sílex).
escrevia: “...encontram-se Psaronius in situ nos Assume-se uma origem marinha restrita (ausência de
arenitos finos róseos e avermelhados, com “sinais” de mar aberto) para o pacote sedimentar,
estratificação cruzada, que formam paredões da
aumentando a aridez para o topo. Em outros perfis
Formação Motuca.” [grifo nosso]. Tais arenitos -
levantados na área, verifica-se o mesmo padrão para a
designados “Arenito Cacunda” por Sá et al. (1979), Formação Pedra de Fogo, ou seja, um domínio de
apud Pinto & Sad (1986), por ocorrerem próximos ao associações faciológicas mistas (e.g., W Bielândia, lado
Córrego Cacundo, a noroeste de Bielândia - estão
esquerdo da TO-222, 7º29'21"S - 47º52'32"W: margas
assentados, segundo Pinto & Sad (op. cit., p. 350), “...
dolomíticas, com intraclastos e nódulos silicosos,
diretamente sobre siltito creme do topo do Membro oncóides silicificados?, e raros ostracodes; calcarenitos
Superior da Formação Pedra de Fogo, o mesmo com intraclastos silicificados; Rio Pirarucu, 7º28'58"S -
acontecendo em outros locais [na Serra do Ciriaco]
47º39'51"W: lamito esverdeado, siltito ondulado
como nos Morros do Mutum e do Mutunzinho,
intercalado com sílex e dolomita sucedida por calcário
sendo marcante, em todos, a presença de Psaronius.” com greta de contração no topo).
Faria Jr. & Truckenbrodt (1980, p. 743), tratando Perfis estratigráficos que retratam a base da
da estratigrafia e petrografia da Fm. Pedra de Fogo,
Formação Motuca em algumas fazendas da região são
também discutiram a questão da relação das plantas
apresentados na Figura 6. Tais levantamentos
fósseis com as unidades litoestratigráficas e revelaram que a Formação Motuca é dominada por
escreveram: sistemas continentais (fluvial, deltaico e lacustre), em
contraposição à natureza de mar-restrito da Formação
5
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Pedra de Fogo. Arenitos com estratificação cruzada
na Fazenda Andradina, provavelmente representantes
de fácies de canais fluviais, indicam paleocorrentes
para NE (raramente SE). Há algumas dezenas de
metros distantes destes arenitos, e no mesmo
intervalo vertical, ocorrem fácies de paleossolos e
provavelmente de inundação, onde ocorrem grandes
caules in loco.
Na região nordeste do MNAFTO, em seu
entorno, localizam-se algumas ocorrências de gipsita
que se apresentam na forma bandada e com hábito
nodular e com hábito nodular em matriz argilosa
vermelha. Provavelmente estão associadas à seção
intermediária da Formação Motuca, como sugerem
Lima & Leite (1978). Considerando seu significado
paleoclimático, devem ser objeto de investigação
estratigráfica mais aprofundada.

A FLORESTA PETRIFICADA DO
TOCANTINS NO MNAFTO

Manchas da FPTS, amplamente dominadas por


samambaias arborescentes, afloram no MNAFTO e
entorno, como já indicado na Figura 1. As localidades
fossilíferas mais exuberantes estão nas fazendas Peba,
Andradina e Buritirana. As das fazendas Grotão,
Santa Maria e Vargem Limpa também oferecem
elementos importantes. As situadas na metade leste
têm melhor estado de preservação. Todas, entretanto,
apresentam grande valor e devem ser exploradas em
estudos futuros. As figuras 7, 8 e 9 oferecem uma
síntese de aspectos e elementos do Monumento e
entorno, destacando-se os vegetais fósseis,
aforamentos, impressões rupestres e panorâmicas
geomorfológicas.
Impressionam a quantidade e o porte dos caules
encontrados, os quais são permineralizados por sílica
e tridimensionalmente bem preservados. Muitos deles
atingem mais de dez metros, tendo diâmetros basais
que alcançam até 1,20 m. Quando em situação de
deposição, eles estão vinculados à base da Formação
Motuca, associados a quartzo-arenitos e a folhelhos e
siltitos. Algumas vezes grandes caules com ramos são
encontrados em posição para-autóctone em siltitos,
como figurado por Rössler (2006, p. 43, Fig. 3d). Pelo
seu peso e resistência à erosão, os grandes caules,
freqüentemente fragmentados, são encontrados
espalhados pelo chão, mas mantendo sua orientação
de fossilização (predominantemente NE na Fazenda
Andradina e ESE na Fazenda Buritirana). Figura 5 - Perfil referente ao intervalo superior da
Fragmentos menores comumente aparecem Formação Pedra de Fogo em colina situada ao lado direito
concentrados e misturados a peças de sílex da da rodovia TO-222 (sentido Bielândia), 7º26'44"S-
Formação Pedra de Fogo (e.g., em superfícies da 47º58'08"W, exceto a parte mais inferior (Rio Gameleira,
passagem Pedra de Fogo - Motuca, encostas, ravinas 7º30'58"S-47º57'34"W).
e riachos). Quando estão associados a pelitos, os Figure 5 – Stratigraphic section referring to the upper part of the
Pedra de Fogo Formation from hill situated in the right side of the
caules apresentam-se comprimidos, o que não é o
TO-222 road (towards Bielândia),7º26'44"S-47º58'08"W, except
caso daqueles que ocorrem associados aos arenitos.
the lowermost part (Gameleira River, 7º30'58"S-47º57'34"W).

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____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
florísiticos higrófilos a mesófilos (e.g., diferentes
espécies de esfenófitas arborescentes do tipo
Arthropitys, eixos permineralizados dos esfenófitas
herbáceas ou vários troncos pertencentes a coníferas,
Dadoxylon e cordaitales).
É importante registrar que Coimbra & Mussa
(1984) e Mussa & Coimbra (1987) escreveram a
respeito de caules procedentes do “Arenito Cacunda”,
da Formação Motuca. Noticiaram a presença de
diversas calamitáceas, a partir das quais são
introduzidos os táxons Arthropitys cacundensis Mussa
(Calamitaceae), Amyelon bieloi Mussa (Cordaitaceae) e o
gênero Carolinapitys Mussa com a espécie C. maranhensis
Mussa (gimnosperma com afinidades a formas
gondvânicas e de cordaitales euro-americanos, com
plano anatômico medular próximo de Scleromedulloxylon
da Bacia d’Autun). Registram, também, a presença de
medulas do tipo Artisia.
A partir do Maranhão - rodovia Carolina-Riachão,
altura do trevo para Araguaína - plantas fósseis
associadas a folhelhos descritos como subjacentes ao
“Arenito Cacunda” também foram descritas por Mussa
& Coimbra (1987). Eles introduziram os seguintes
novos táxons: o gênero Cyclomedulloxylon com a espécie
C. parnaibense Mussa, forma solenóide típica do
Permiano (particularmente do Eo- e Mesopermiano); a
espécie Cycadoxylon brasiliense (Pteridospermales,
Cycadoxyleae); e o gênero Araguainorachis com a
espécie A. simplissima. Esta última refere-se a um
fragmento que, segundo os autores, tem configuração
de certa forma próxima a da encontrada em bases
foliares de Botryopteridáceas e Coenopteridáceas e que
também lembra pecíolos atribuídos às Psaroniáceas.
Concluíram por referir-se ao novo táxon como ráquis
ou fragmento peciolar de planta pteridofítica ou
pteridospérmica. Os citados autores afirmaram (p.
906): “Portanto, à medida que novas descrições
vêm sendo apresentadas vê-se que a verdadeira
afinidade nórdica, para a associação florística
Figura 6 – Perfis estratigráficos referentes às fazendas Pedra-de-Fogo, cada vez mais se acentua.” [grifo
Andradina (7º27'19"S-47º50'21"W), Buritirana (7º27'36"S- nosso]. Fica evidente a necessidade de se conhecer, em
47º43'26"W) e Vargem Limpa (7º30'30"S-47º51'33"W). detalhe, as relações estratigráficas entre essa ocorrência
Figure 6 – Stratigraphic sections from Andradina(07º27'19"S- fossilífera maranhense e aquelas do MNAFTO,
47º50'21"W), Buritirana(7º27'36"S-47º43'26"W) and Vargem Goiatins e Colinas do Tocantins. Provavelmente
Limpa(7º30'30"S-47º51'33"W) farms. correspondem a manchas de um mesmo paleobioma.
Com vistas às discussões paleoclimáticas, é também
Levando-se em conta os estudos de Herbst muito importante a investigação da relação
(1999), Rössler & Galtier (2002a; 2002b; 2003) e estratigráfica entre a ocorrência fossilífera maranhense
Rössler (2006), a FPTS está representada por uma e aquela referente aos níveis de folhelhos portadores
paleoflora relativamente bem diversificada em que de palinomorfos estudados por Dino et al. (2002).
dominam as samambaias arborescentes psaroniales, As plantas fósseis da FPTS foram preservadas
tais como Tietea singularis, T. derby, Psaronius brasiliensis tridimensionalmente por processo de permineralização
e P. sinuosus (Tietea é o gênero mais abundante). De celular por sílica. A infiltração e impregnação de sílica
acordo com Rössler (op. cit.), a paleoflora inclui nas células e nos espaços intercelulares formaram uma
também a samambaia filicales arbórea Grammatopteris matriz inorgânica que sustentou os tecidos das plantas,
freitasii, a samambaia filicales epífita Botryopteris nollii e preservando-os. O rápido soterramento e a
a pequena samambaia arborescente filicales (?) subseqüente silicificação impediram a decomposição
Dernbachia brasiliensis, além de outros elementos
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____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 7 – Afloramentos e caules petrificados. Formação Motuca. MNAFTO e entorno. 1. Tietea singularis; 2. Tietea singularis;
3. porção basal de Tietea singularis; 4. Tietea deformada; 5. Tietea singularis; 6. Tietea singularis; 7. Tietea singularis; 8. arenito com
estratificação cruzada de canal fluvial. 1-3: Fazenda Peba; 4-6, 8: Fazenda Andradina; 7: Fazenda Buritirana.
Figure 7 – Outcrops and petrified stems. Motuca Formation. TFTNM and its surroundings. 1. Tietea singularis; 2. Tietea
singularis; 3. basal portion of Tietea singularis; 4. Tietea deformed; 5. Tietea singularis; 6. Tietea singularis; 7. Tietea
singularis; 8. sandstone presenting fluvial channel cross stratification. 1-3: Fazenda Peba; 4-6, 8: Fazenda Andradina; 7: Fazenda
Buritirana.

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Figura 8 – Afloramentos e caules petrificados. Formação Motuca. MNAFTO. 1. Fazenda Buritirana: em primeiro plano a
Formação Mutuca e, ao fundo, morro com arenitos eólicos da Formação Sambaíba; 2 e 3. Tietea singularis. 4. Grammatopteris
freitasii; 5. Dadoxylon sp.; 6. Tietea singularis; 7. Porção basal de Tietea singularis; 8. Pecopteris sp. (pina estéril de samambaia); 9.
Pina fértil de samambaia; 10. Porção distal de Tietea singularis em lamito; 11. Tietea singularis em lamito; 12. Psaronius sp. 2 a 10,
12: Fazenda Buritirana; 11: Fazenda Vargem Limpa.
Figure 8 – Outcrops and petrified stems. Motuca Formation. TFTNM. 1. Fazenda Buritirana: Mutuca formation at first plane and, at
backgrond, eolic sandstones in hills of the Sambaíbaformation; 2 and 3. Tietea singularis. 4. Grammatopteris freitasii; 5.
Dadoxylon sp.; 6. Tietea singularis; 7. Basal portion of Tietea singularis; 8. Pecopteris sp. (sterile pine of samambaia); 9. Fertile
pine of samambaia; 10. Distal portion of Tietea singularis in mudstone; 11. Tietea singularis in mudstone; 12. Psaronius sp. 2 a
10, 12: Fazenda Buritirana; 11: Fazenda Vargem Limpa.
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Figura 9 – Plantas fósseis, inscrições rupestres e mesetas da Formação Sambaíba. MNAFTO e entorno. 1. Seção transversal
de falso caule com membros caulinares de Botryopteris nollii e numerosos membros foliares de distintas ordens e raízes
adventícias. Espécime MfNC K 5150 (Rössler & Galtier, 2003, pl. VII, fig. 1); 2. Seção transversal de falso caule com dois
membros caulinares de Botryopteris nollii e vários membros foliares e raízes. Parátipo 2, MfNC K 4880 b (Rössler & Galtier,
2003, pl. VI, fig. 1); 3. Seção transversal de Dernbachia brasiliensis. Parátipo 1, MfNC K 5002 (Rössler & Galtier, 2002b, pl. IV,
fig. 1); 4. Seção transversal de Grammatopteris freitasii. Parátipo 4, espécime MfNC K 4893 (Rössler & Galtier, 2002a, pl. VI,
fig.1); 5 e 6. Impressões rupestres em caverna de arenito, com representações geométricas, fitomórficas e antropomórficas.
Provavelmente Formação Sambaíba; altitude 296m; UTM 826525x9173008. Fazenda das Águas Formosas. Sítio cadastrado
no IPHAN, como Filadélfia I, pelo Núcleo Tocantinense de Arqueologia – UNITINS; 7 e 8. Mesetas da Formação
Sambaíba.
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Figure 9 – Fossil plants, rupestrian draws and “mesetas” of the Sambaíba Formation. TFTNM and its surroundings. 1. Transverse section of
false trunk showing five cauline members of Botryopteris nollii and numerous foliar members of different order and adventitious roots.
Specimen MfNC K 5150 (Rössler & Galtier, 2003, pl. VII, fig. 1; 2. Transverse section of false trunk showing two cauline members of
Botryopteris nollii and many foliar members and roots. Paratype 2, MfNC K 4880 b (Rössler & Galtier, 2003, pl. VI, fig. 1); 3.
Transverse section of Dernbachia brasiliensis, showing the actinostelic stem surrounded by a mantle of broadly D-shaped petiole bases and
adventitious roots. Taphonomic compaction resulted in a crushed trunk portion. Paratype 1, MfNC K 5002 (Rössler & Galtier, 2002b, pl. IV,
fig. 1); 4. Transverse section of Grammatopteris freitasii from the middle to upper part of the plant showing the central large stem and the
concentric zonation of its cortex as well as the root traces departing from proximal abaxial leaf traces. Paratype 4, MfNC K 4893 (Rössler &
Galtier, 2002a, pl. VI, fig.1); 5 and 6. Petroglyphs in sandstone cave (Sambaíba Formation?) from Águas Formosas farm. Lat. 07°28'18"S e
Long. 48°02"31"W. Altitude: 296m. IPHAN site Filadelfia I (as recorded by Núcleo Tocantinense de Arqueologia - UNITINS); 7 and 8.
"Mesetas" of the Sambaíba Formation.

das plantas. Em função da quantidade de um considerável decréscimo no número de sítios


constituintes férricos, de cor vermelha a púrpura, e da florísticos permianos em todo o mundo. Existem,
inteireza da silificação, os fósseis geralmente mostram assim, poucas localidades dignas de serem
claros detalhes dos tecidos. Todavia o agente de categorizadas como florestas petrificadas permianas.
permineralização ainda permanece obscuro, embora Tal é o caso do Monumento Natural das Árvores
possa estar ligado à formação de nódulos de silcrete Fossilizadas do Tocantins, MNAFTO.
pedogênicos que são quantitativamente importantes Em razão da excepcional preservação das plantas
em alguns níveis (Rössler, 2006). Nódulos de sílica fósseis e de sua natureza como depósito autóctone a
produzidos em silcretes sugerem clima quente e parautóctone, a Floresta Petrificada do Tocantins
úmido em áreas de desenvolvimento de solos muito Setentrional possibilita investigações em várias
maturos (Milnes & Thirty, 1992) ou indicam dimensões: anatomia (plantas quase completas),
evaporação de água de solução de sílica durante fases taxonomia, tafonomia, biocronoestratigrafia,
quentes áridas (Walther, 1993). paleoecologia, paleofitogeografia, estratigrafia,
Faria Jr. & Truckenbrodt (1980), ao discutirem a paleoclimatologia e sedimentologia. Resultados destes
silicificação que atinge a Formação Pedra de Fogo, estudos interessam diretamente aos estudos
indicam na página 746: geológicos e paleobotânicos, em escalas local,
As placas que constituem as brechas regional e global.
intraformacionais, ‘guias’ da seqüência superior da Por sua posição paleolatitudinal, entre lat. 23 e
Formação, podem ter sido formadas a partir de 28° S de acordo com as construções paleogeográficas
processos inorgânicos de precipitação da sílica amorfa correntes, a FPTS constitui-se na mais importante
ou através da transformação dos silicatos hidratados
floresta petrificada permiana tropical-subtropical do
de sódio. Em ambos os casos é necessário um
ambiente restrito com intensa evaporação e pH hemisfério sul. É um elo de transição entre as
elevado (...). As gretas de contração e os fragmentos províncias paleoflorísticas euroamericana e
de ‘flat pebbles’ associadas às brechas gondvânica austral (Flora Glossopteris). Tal posição
intraformacionais apóiam esta origem. Nódulos e estratégica tem levado geocientistas à reflexão sobre o
concreções originaram-se segundo processos significado dos elementos da FPTS e a comparações
diagenéticos, durante os quais os carbonatos foram com outras florestas neopaleozóicas. Como já
substituídos. Não é impossível que trabalhos futuros registrado, Coimbra & Mussa (1984) e Mussa &
liguem a origem de sílex com uma atividade vulcânica, Coimbra (1987) – a partir de seus achados
ainda desconhecida, durante o Permiano. (Arthropitys, Amyelon, medulas do tipo Artisia e formas
Segundo sugere Martins (2000), a permineralização psaroniáceas) – anteviram relações entre a FPTS e a
por sílica das plantas teria ocorrido a temperaturas província tafoflorística euroamericana. Em estágio
relativamente baixas, abaixo de 200°C. Ainda de mais avançado, Rössler (2006) comparou a famosa
acordo com este último autor, a sílica é praticamente floresta petrificada eopermiana de Chemnitz, no
pura (valores variando de 77,27 a 99,73% de SiO2), sudeste da Alemanha, com a FPTS, e chegou às
sendo as impurezas compostas por Al2O3, Fe2O3, seguintes conclusões principais:
CaO, Na2O e TiO2. Cortes transversais e 1. ambas as regiões representaram terras úmidas, sob
longitudinais às estruturas dos vegetais revelam, ao clima quente úmido com variações sazonais,
microscópio ótico, a presença de quartzo cristalino dominadas por samambaias arborescentes.
granular, prismático e microcristalino, com destaque [Coimbra & Mussa,1984, também indicaram como
para a variedade calcedônia, tanto fibroradial como habitat das plantas do MNAFTO terras úmidas, em
em franjas (Martins, op. cit.). vista da presença das Calamitaceae e Cordaitaceae];
2. entre as florestas permianas, estas duas são as que
Importância e significado do MNAFTO e FPTS apresentam os caules mais completos de todo o
mundo;
Poucas florestas paleozóicas petrificadas são 3. em razão de haver algumas similaridades entre as
conhecidas. Comparativamente ao Carbonífero, há duas florestas, teria havido no Eopermiano uma
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____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
larga conexão fitogeográfica entre as duas áreas. Discussões
Condições climáticas similares na Europa central e
no Tocantins setentrional – afastados do Equador a A partir dos dados apresentados, constata-se que
distâncias comparáveis – deram ensejo a cinturões do ponto de vista geocientífico o MNAFTO e
megafaciológicos similares. arredores apresentam elementos-chave para a
O trabalho de Rössler (op.cit.) levantou e resumiu os compreensão da evolução da Bacia do Parnaíba. É
seguintes aspectos que enfatizam o alto significado possível retomar as discussões sobre as idades das
paleobotânico e paleofitogeográfico da FPTS: formações Pedra de Fogo e Motuca e deixar em
- a presença de Grammatopteris em Tocantins, até aberto algumas questões e comentários:
então apenas conhecido em Autun, França, e em a. considerando que a parte mais alta da parte inferior
Chemnitz, Alemanha, permitiu conhecer este táxon do Membro Trisidela (parte superior da Formação
em muito maior detalhe; isto pode ajudar no Pedra de Fogo) corresponde ao neokunguriano
entendimento da evolução inicial das (Eopermiano tardio), nós indicamos uma idade não
Osmundaceae, a mais velha família de samambaias mais nova do que Eopermiano para a Formação
viventes; Pedra de Fogo. Além disso, sugerimos que a parte
- Botryopteris, um táxon que foi muito abundante nas inferior da Formação Motuca, que é portadora das
florestas de terras úmidas equatoriais neo- plantas fósseis silicificadas, seja de idade
carboníferas, é a primeira samambaia neokunguriana a mesopermiana. As próprias
botryopterídea (B. nollii) descrita a partir do características dos elementos da FPTS, como
hemisfério sul, representando um dos maiores e revelado por Mussa & Coimbra (1987) e Rössler
mais jovens botryopterídeos conhecidos até hoje; (2006), indicam que tais sedimentos tenham sido
- alguns caules grandes, quase completos, de depositados em alguma fase deste intervalo de
esfenófitas arborescentes (Calamitales, incluindo tempo;
Arthropitys), que tiveram alto sucesso e floresceram b. as manchas de florestas petrificadas do norte de
em diferentes ambientes tropicais de terras úmidas, Tocantins – incluindo as do MNAFTO e seu
foram encontrados. Mostram diferentes tipos de entorno, de Goiatins e Colinas do Tocantins –
ramificação e alta variação de padrões de seriam de mesma idade? São elas mais novas ou de
ramificação, muito além do que se pensava mesma idade que aquela do Maranhão relatada por
anteriormente. Todas as caracterísiticas usadas para Mussa & Coimbra (1987)? Como esta última se
a sistemática de calamitales necessitam reavaliação relaciona estratigraficamente com os folhelhos
com respeito ao seu significado taxonômico; portadores de palinomorfos estudados por Dino et
- um considerável número de interações planta-planta al. (2002)?
foram constatadas (e.g., raízes de samambaias c. é essencial para o entendimento da evolução
crescidas dentro de uma gimnosperma trepadeira paleoclimática da região a compreensão da
que, por sua vez cresceu próxima a um estelo de seqüência de eventos representados pelas
Psaronius; raízes de Pasaronius crescidas dentro da ocorrências dos folhelhos com palinomorfos, das
medula de um gimnosperma; raízes de plantas fósseis da base do Motuca e dos depósitos
gimnospermas crescidas entre raízes aéreas de gipsita. Estes últimos seriam os mais jovens
adventíceas de Grammatopteris ou na periferia de (Motuca médio), enquanto que os folhelhos ricos
caules Tietea singularis; eixos de Sphenophyllum em polens e esporos os mais antigos. Há, todavia,
crescidos dentro de perfurações de um calamitales necessidade de aprofundar as investigações.
ou dentro do manto de raízes marginais de d. se o pacote formado pela parte mais alta da
Grammatopteris); Formação Pedra de Fogo e a base da Formação
- os achados do Tocantins oferecem a oportunidade Motuca (sensu Pinto & Sad, 1986) é tomado como
de uma caracterização bastante precisa dos táxons um todo, as interpretações baseadas em
fósseis, permitindo estabelecer ou apoiar conceitos palinomorfos e plantas fósseis entram em colisão.
sobre plantas completas de uma forma jamais Enquanto os estudos palinológicos sugerem um
julgada possível a partir de outras localidades; clima quente árido a semi-árido, as análises
- variações edáficas nos ambientes de terras úmidas paleobotânicas indicam condições quentes e
teriam controlado a distribuição de elementos úmidas. Este conflito é aparente e desaparecerá
florísiticos sub-dominantes, tais como esfenófitas com o progresso da investigação estratigráfica.
arborescentes e diferentes formas de crescimento Provavelmente, em um contexto de clima quente, o
de gimnospermas. referido intervalo temporal foi marcado por
- no tocante às gimnospermas, os achados do oscilação climática, em que um importante episódio
Tocantins revelam aparências algo exóticas ou úmido – na fase de deposição da base da Formação
lançam novas luzes sobre a evolução das Motuca - interrompeu um período de semi-aridez
características morfológicas e anatômicas destas que vinha predominando em tempos Pedra de
plantas. Fogo. Um outro cenário, por vezes observado (e.g.,
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____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Schneider et al., 1984) e que cabe aqui considerar, é como a criação de um Museu de Ciências da
a presença de áreas densamente vegetadas e Natureza do Tocantins, para o abrigo e estudo de
localmente mais úmidas em um domínio coleções científicas, e divulgação da importância do
regionalmente semi-árido. Neste caso, teriam MNAFTO, seria excelente estratégia para a
coexistido, lateralmente, faixas úmidas e semi- preservação do patrimônio desta e de outras unidades
áridas. de conservação do Tocantins. Levando-se em conta
e. teria existido uma grande barreira fitogeográfica que um Museu necessita de visibilidade, facilidade de
entre as regiões das bacias do Parnaíba e do acesso e status político, indica-se a cidade de Palmas
Paraná? Por que apenas Tietea e Psaronius como local adequado para a futura instituição. Uma
aparentemente são os únicos gêneros em comum base de pesquisa no MNAFTO deve ser estruturada
nestas duas bacias? Há semelhanças também em para viabilizar projetos multi-temáticos e marcar
nível de espécie das Psaroniales? Qual a relação presença na área.
temporal/cronoestratigráfica entre esses vegetais No plano de manejo do MNAFTO
nas duas bacias? (MRS/OIKOS, 2005) - que tem como objetivo geral
a proteção e a conservação das diversidades
MEDIDAS DE PROTEÇÃO paleontológica e biológica existentes no Monumento
– constam entre as ações prioritárias: a obtenção de
O Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do conhecimentos científicos básicos a respeito dos
Tocantins – MNAFTO, que abriga a Floresta recursos naturais da Unidade; a desapropriação de
Petrificada do Tocantins Setentrional – FPTS, está áreas selecionadas; a integração da UC com o
legalmente protegido. Esta entidade é hoje uma entorno; o estabelecimento de uma infra-estrutura
unidade de conservação de proteção integral, criada física e humana adequada. O mencionado plano
pelo Estado do Tocantins por meio da Lei Estadual reconhece que o problema central do MNAFTO
n° 1.179, de outubro de 2000 (D.O.E. 981). Uma vez ainda é a explotação ilegal das plantas fósseis e
que manchas da FPTS ocorrem no entorno do indica como fundamental ação para preservar o
MNAFTO, está sob análise dos órgãos ambientais do patrimônio a implementação de um efetivo
meio ambiente (SEPLAN e NATURATINS) uma programa de controle e fiscalização. Como
proposta de redefinição do perímetro do Monumento objetivos específicos, o plano destaca: a proteção dos
(Dias & Reis, 2005). Tal redefinição é importante sítios paleobotânicos, arqueológicos e das paisagens
para a proteção de outras localidades fossilíferas (e.g., naturais com notável beleza cênica; a proteção de
Fazenda Peba) e a inclusão de áreas com grande espécies botânicas, da mastofauna e da avifauna
beleza cênica e de grande importância para ameaçadas de extinção; a preservação e restauração
conservação ambiental. da diversidade dos ecossistemas naturais, incluindo a
No passado, a área do MNAFTO esteve sob criação de corredores ecológicos; o oferecimento de
forte explotação de seus fósseis, sobretudo na sua meios e incentivos para atividades de pesquisa
porção oeste, pela Mineração Pedra de Fogo Ltda científica; a promoção da educação ambiental e o
(www.pedradefogo.com.br). Tal empresa atuava e turismo ecológico.
atua na venda de fósseis no país e para o exterior, Por ser o MNAFTO um patrimônio de imenso
atingindo os mercados estadunidense e europeu. valor científico e cultural, que extrapola os interesses
Bielândia é internacionalmente conhecida por figurar nacionais, deve receber das autoridades e sociedade
na internet como origem de plantas fósseis à venda brasileira uma atenção especial. Trata-se de um
em sites internacionais. O Museu de Chemnitz, patrimônio humano a ser preservado adequadamente.
Alemanha, percebendo a importância científica do
material da FPTS, adquiriu peças e vem estudando o
material nos últimos anos. A partir daí várias novas
entidades taxonômicas têm sido descritas,
principalmente em trabalhos conduzidos por R. AGRADECIMENTOS
Rössler (vide referências), resultando em significativo
avanço no conhecimento sobre a FPTS. As medidas Os autores são gratos ao Governo do Estado do Tocantins que,
de proteção estabelecidas para o MNAFTO e os por meio da Secretaria do Planejamento (SEPLAN) e do
acordos firmados entre a UNESP, o governo de Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS), vem
Tocantins e o Museu de Chemnitz, ampliarão o apoiando ações em prol da preservação e do conhecimento da
conhecimento a respeito da FPTS. O material além Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional na área do
de protegido deverá ser alvo de estudos sistemáticos, Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Tocantins.
pois a proteção do patrimônio ganha maior relevância Agradecimentos também são devidos a Décio Luis Semensatto
na medida em que o conhecimento sobre sua Junior pelo apoio na preparação de ilustrações para o
natureza é dilatado. Isto está em consonância com as manuscrito e a Jailton Soares dos Reis (OIKOS Pesquisa
diretrizes do plano de manejo do Monumento. Ações Aplicada Ltda.) que colaborou na etapa de campo..
13
____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
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15
____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
CURRICULUM VITAE SINÓPTICOS DOS Unesp/Rio Claro, sempre na área sedimentar –
AUTORES disciplinas Petrologia, Estratigrafia, Geologia
Histórica e do Brasil, e Geologia do Petróleo. Tem
Dimas Dias-Brito é professor grande experiência em exploração e reservatórios das
livre-docente na Universidade bacias brasileiras, trabalhando com rochas
Estadual Paulista (UNESP), em siliciclásticas e carbonáticas. Desenvolve pesquisas
Rio Claro (SP). Geólogo pela UnB com seus alunos de graduação e pós-graduação,
(1976), fez mestrado na UFRJ, enfocando o Permocarbonífero da Bacia do Paraná.
doutorado na UFRGS,
especialização em microbiofácies Ricardo Ribeiro Dias é Doutor
carbonáticas na Universidade de em Geociências e Meio Ambiente
Genebra e em Jornalismo Científico na UNICAMP. pela Universidade Estadual
Trabalhou 13 anos no CENPES-Petrobras. Tem Paulista (2008), Mestre em
atuado e orientado alunos na investigação da Sensoriamento Remoto pelo
paleoceanografia do Atlântico Sul primitivo Instituto Nacional de Pesquisas
(microfácies carbonáticas e paleoecologia), do Espaciais (1994) e Geólogo pela
Cretáceo continental (micropaleontologia) e de Universidade de Brasília (1991).
modernos ambientes de sedimentação da costa Atualmente é professor da
brasileira, incluindo estudos de sensibilidade a Fundação Universidade Federal do Tocantins. Tem
derramamentos de petróleo. Participa na gerência do experiência profissional e mais do que 40 trabalhos
Programa de RH em Geologia e Ciências Ambientais publicados nas áreas de sensoriamento remoto,
Aplicadas ao Setor de Petróleo & Gás e de geoprocessamento, zoneamento ecológico-
Biocombustíveis (PRH-05). Coordena, pela UNESP, econômico, planejamento ambiental, estudos
a Rede Tecnológica Petrobras em Sedimentologia e ambientais e mapeamento de recursos naturais. Foi
Estratigrafia e o projeto UNESPetro. Coordenador e Diretor da Secretaria do Planejamento
do Estado do Tocantins - Diretoria de Zoneamento
Rosemarie Rohn possui Ecológico-econômico e liderou equipes do governo
graduação em Geologia (1982), do Tocantins em projetos com o Banco Mundial e
mestrado (1988) e doutorado Banco Interamericano para Desenvolvimento. É co-
(1994) em Geociências pela autor do livro Introdução à Gestão Ambiental de
Universidade de São Paulo (USP). Estradas (IME/Fundação Ricardo Franco, Coleção
Desde 1988 é docente da Disseminar).
Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - UNESP - Ronny Rössler é graduado em
Rio Claro (SP). Desenvolve trabalhos e orienta alunos Geologia pela Universidade de
na área de Geociências, com ênfase em Paleontologia Minas e Tecnologia de Freiberg
Estratigráfica, atuando principalmente nos seguintes (1992), Alemanha, doutor em
temas: Paleobotânica, Paleontologia de Invertebrados Geologia/Estratigrafia (1995) e
(particularmente conchostráceos) e Estratigrafia de com um segundo doutorado em
superfície e subsuperfície. Seus principais trabalhos Paleobotânica (2003), ambas na
referem-se ao Permiano da Bacia do Paraná. Algumas Universidade de Freiberg. Diretor
investigações enfocaram conchostráceos do Cretáceo desde 1995 do Museu de História Natural de
e vegetais do intervalo Cretáceo-Eoceno da Antártica. Chemnitz, Alemanha. Membro do “Ludwig-
Em 2006 iniciou suas pesquisas paleobotânicas no Reichenbach-Society, Dresden” e do
Permiano da Bacia do Parnaíba. “Palaeontological Society”. Homenageado através do
prêmio “Friedrich von Alberti Award” (“Alberti
Joel Carneiro de Castro é Foundation & Palaeontological Society”) por sua
formado em Geologia pela Escola atuação na Paleontologia. Foi pesquisador associado e
de Minas de Ouro Preto (1965), e docente na Universidade de Freiberg, onde ainda atua
titulado Doutor em Geociências como colaborador voluntário. Seus principais
(1991) e Livre-Docente em trabalhos (98 artigos publicados e 16 livros)
Estratigrafia e Sedimentação relacionam-se à paleobotânica do Permo-
(1999) pela Universidade Estadual Carbonífero.
Paulista-Campus de Rio Claro.
Trabalhou na Petrobras entre 1966 e 1991, período
esse dividido entre o Departamento de Exploração e
o Centro de Pesquisas (Cenpes). Desde 1992 dedica-
se integralmente ao magistério e à pesquisa na
16
____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
UNIDADE V
Icnofósseis
Texto 1
CARVALHO, I.S; FERNANDES, A.C.S. Icnofósseis. In: CARVALHO, I.S.
(Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência, 2010.
cap. 12, p. 196-227.
SIGEP

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil

SIGEP 013

Icnofósseis da Usina Porto Primavera, SP


Rastros de dinossauros e de mamíferos em rochas do
deserto neocretáceo Caiuá
Luiz Alberto Fernandes 1
Fernando Antonio Sedor 2
Rafael Costa da Silva 3
Luiz Roberto da Silva 4
Adalberto Aurélio Azevedo 5
Alessandra Gonçalves Siqueira 6
1 Universidade Federal do Paraná - Depto. de Geologia/Caixa Postal 19.001/CEP 81531-990, Curitiba, Paraná/
e-mail: lufernandes@ufpr.br
2 Universidade Federal do Paraná - Museu de Ciências Naturais/e-mail: sedor@ufpr.br
3 Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/RJ-DEGEO/DIPALE/e-mail: rcsilva@rj.cprm.gov.br
4 Companhia Energética de São Paulo – CESP/e-mail: luizroberto.silva@cesp.com.br
5 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A – IPT/e-mail: azevedoa@ipt.br
6 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A – IPT/e.mail: agsique@hotmail.com

© Fernandes,L.A.; Sedor,F.A.; Silva,R.C.; Silva,L.R.; Azevedo,A.A.; Siqueira,A.G. 2008. Icnofósseis da


Usina Porto Primavera, SP - Rastros de dinossauros e de mamíferos em rochas do deserto neocretáceo
Caiuá. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S.; Berbert-Born,M.;
Queiroz,E.T.; (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em
26/09/2008 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio013/sitio013.pdf
[atualmentehttp://www.sigep.cprm.gov.br/sitio013/sitio013.pdf ]

[Ver fac simile da versão final do CAPÍTULO IMPRESSO em: Winge,M. (Ed.) et al. 2009.
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasília: CPRM, 2009. v. 2. 515 p. il. color.]
Icnofósseis da Usina Porto Primavera, SP
Rastros de dinossauros e de mamíferos em rochas do deserto
neocretáceo Caiuá
SIGEP 013
Luiz Alberto Fernandes 1
Fernando Antonio Sedor 2
Rafael Costa da Silva 3
Luiz Roberto da Silva 4
Adalberto Aurélio Azevedo 5
Alessandra Gonçalves Siqueira 6

O sítio exibe registro de icnofósseis de tetrápodes em arenitos da Formação Rio Paraná (Grupo Caiuá) na
região de Pontal do Paranapanema, extremo oeste do estado de São Paulo. Situa-se a jusante da estrutura de
concreto da Usina Hidrelétrica de Porto Primavera. Ocorrem em depósitos de estratos frontais de dunas eólicas,
em quartzo-arenitos de cor marrom-avermelhado a arroxeado com estratificação cruzada de médio a grande
porte. Os icnofósseis encontram-se em intervalo de 6 a 8 metros acima do contato com basaltos, na base da
seqüência neocretácea. Encontram-se preservados como epirrelevo côncavo em arenitos, exibindo a típica “meia
lua“ de areia produzido pelo deslocamento do animal em substrato arenoso e inclinado. A associação faunística é
composta por pegadas de dinossauros terópodes e pequenos mamíferos. As pistas dinossauróides são bípedes e
apresentam ângulo do passo próximo de 180º, meio-passo com cerca de 13 cm; as pegadas são tridáctilas,
mesaxônicas, com garras, e apresentam cerca de 9 cm de comprimento e divergência total de aproximadamente
80º. As pistas mamiferóides são possivelmente quadrúpedes com sobreposição primária total. Apresentam
grande variação nas dimensões da passada. As pegadas são elípticas e apresentam cerca de 5 cm de comprimento.
Este sítio constitui novo registro de pegadas de tetrápodes para os arenitos do Grupo Caiuá e amplia a área de
ocorrência dessa fauna tão pouco conhecida dos ambientes desérticos do Cretáceo brasileiro, indicando que
mesmo as regiões mais centrais do Deserto Caiuá eram ocasionalmente freqüentadas por predadores ou
habitadas por animais adaptados à aridez.

Palavras-chave: Caiuá, icnofósseis, Cretáceo Superior, Bauru, arenitos, Rio Paraná

Ichnofossils of the Porto Primavera Power tetrapods footprints in the Caiuá Group sandstones and
Plant, State of São Paulo - Dinosaur and enlarges the area of occurrence of this so little known fauna of
mammal footprints in rocks from the Caiuá the Cretaceous Brazilian desert environments indicating that
neocretaceous desert even the most central regions of the Caiuá Desert were
The site exhibits records of tetrapodes ichnofossils in sandstones occasionally attended by predators or inhabited by animals
of the Rio Parana Formation (Caiuá Group), Pontal do adapted to aridity.
Paranapanema region, far west of São Paulo state in front of
the concrete structure of Porto Primavera hydroelectric plant. Keywords: Caiuá, ichnofossils, Upper Cretaceous, Bauru,
The ichnofossils occur in reddish-brown foreset strata of cross- sandstones, Rio Paraná
stratified medium to large size aeolian dune deposits, 6 to 8
meters above the basalt contact, on the base of the Upper INTRODUÇÃO
Cretaceous Sequence. They are preserved in sandstone as concave
epirelief that display typical crescent moon shape produced by the Durante a Era Mezosóica, a instalação de
displacement of the animal in sandy and tilted substrate. The ambientes desérticos ocorreu diversas vezes em
association is composed of faunistic footprints of tetrapod território brasileiro. Possivelmente o registro
dinosaurs and small mammals. The tracks are dinosaurs and geológico mais conspícuo deste tipo de sistema
have biped step angle of around 180° and a half-step with deposicional consiste nos arenitos formados em
about 13 cm. The footprints are tridactiles, mesaxonics, with extensos campos de dunas pela ação do vento,
claws, and have about 9 cm in length and total divergence of conforme pode ser observado, por exemplo, na
approximately 80°. The mammaloids tracks are possibly extensa formação Botucatu (reservatório aqüífero
quadruped with total primary overlapping and show great Guarani), Bacia do Paraná e na Formação Rio Paraná
variation in the size of the step. The footprints are elliptical and (Cretáceo Superior, Bacia Bauru). Geralmente,
about 5 cm in length. This site constitutes a new record of ambientes desérticos como campos de dunas não são

1
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
favoráveis à preservação de restos orgânicos ou não é possível ter certeza se o material descrito
esqueléticos, sendo mais comuns os icnofósseis, ou realmente procede do arenito Caiuá ou da Formação
registros da atividade dos organismos que ali viviam, Botucatu. Assim, a ocorrência paranaense deve ser
que constituem assim uma valiosa fonte de vista como incerta até que novas evidências permitam
informação para o estudo paleontológico desses um novo estudo.
ambientes. Nesses ambientes, os icnitos mais Novos icnofósseis de vertebrados (Fig. 1) foram
freqüentes são pegadas e pistas fósseis produzidas por seguramente registrados em rochas na Formação Rio
vertebrados, além de pistas e galerias de invertebrados. Paraná no sítio aqui descrito (Fernandes et al., 2003),
A única ocorrência de fósseis para a Formação fornecendo dados sobre a paleofauna desta unidade
Rio Paraná até o momento consiste em pegadas geológica e sobre condições deposicionais do início do
atribuídas a dinossauros Theropoda e pequenos desenvolvimento dos campos de dunas neocretáceos
mamíferos registradas no estado do Paraná no então do “Deserto Caiuá”. O material icnológico foi
chamado “arenito Caiuá” (Leonardi, 1977). No estudado in loco em março de 2004. Não foram
entanto, os autores não encontraram o material em coletadas amostras para preservação do sítio.
levantamentos realizados na coleção paleontológica do Entretanto, foram feitos moldes de borracha de
Departamento de Geologia da Universidade Federal silicone dos exemplares mais significativos, para
do Paraná, onde este material foi depositado. Além posteriores confecção de réplicas e estudos em
disso, segundo Leonardi (2005, comunicação pessoal), laboratório.

Figura 1 Vista geral do local de ocorrência dos icnofósseis, margem esquerda, jusante da UHE Porto Primavera.
Figure 1: General view of the site of ichnofossil occurrences, left side, downstream of Porto Primavera Hydroelectric Plant.

LOCALIZAÇÃO jusante da ombreira da barragem, na margem esquerda


do rio Paraná (Fig. 2), coordenadas 52º 57’
O sítio localiza-se no município de Rosana, oeste 28,7”W/22º 28’ 57,3”S.
do estado de São Paulo na região conhecida como Os icnofósseis encontram-se expostos em lajes de
“Pontal do Paranapanema”, nos limites da Usina arenito, com cerca de 1.600 m² e a área onde ocorrem
Hidrelétrica de Porto Primavera, imediatamente a as pegadas tem 800 m².

2
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 2: Mapas de localização regional e de detalhe, com posição dos icnofósseis de Porto Primavera.
Figure 2: Regional and detail location maps, with the position of Porto Primavera ichnofossils.

DESCRIÇÃO DO SÍTIO arenosa, que hoje se estende em área de 370.000 km2,


por São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do
Contexto geológico Sul, Goiás, Mato Grosso, nordeste do Paraguai (Fig.
2). A seqüência tem espessura máxima da ordem de
A Bacia Bauru (Cretáceo Superior) foi criada 300 m. Em termos litoestratigráficos, a seqüência
sobre a parte centro-sul da Plataforma Sul-Americana, suprabasáltica neocretácea é formada pelos grupos
após o rompimento do Gondwana e abertura do penecontemporâneos Caiuá e Bauru. O primeiro
Oceano Atlântico (Fernandes & Coimbra 1995, 1996). compreende as formações Rio Paraná, Goio Erê e
Formou-se por subsidência em resposta ao acúmulo Santo Anastácio. O segundo é composto pelas
de quase 2.000 m de derrames basálticos da Formação formações Uberaba, Vale do Rio do Peixe, Araçatuba,
Serra Geral, ocorridos no Cretáceo Inferior. Entre o São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Marília,
Coniaciano e o Maastrichtiano a bacia foi preenchida além de rochas vulcânicas alcalinas intercaladas, os
por uma seqüência siliciclástica essencialmente Analcimitos Taiúva (Fig. 3).

3
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 3: Mapa geológico da parte oriental da Bacia Bauru.
Figure 3: Geological map of the Bauru Basin eastern part.

Na porção sudeste da Bacia Bauru desenvolveu-se grandes complexos de dunas barcanóides (draas)
extenso deserto arenoso (sand sea), com cerca de acumulados por ventos para SW.
100.000 km2 e clima dominante quente e seco,
denominado Caiuá (Fernandes & Coimbra 2000,
Fernandes 2008, Fig. 4). Ali se acumularam: a)
depósitos de lençóis de areia secos, correspondentes à
Formação Santo Anastácio; b) depósitos de dunas
médio porte e interdunas úmidas nas zonas periféricas
do sand sea (Formação Goio Erê); e c) depósitos de
complexos de grandes dunas eólicas e draas,
correspondentes à parte central do sand sea (Formação
Rio Paraná). Essas formações compõem o Grupo
Caiuá.
A Formação Rio Paraná é composta por quartzo-
arenitos finos a médios, bem selecionados, textural e
mineralogicamente maturos, de cor marrom-
avermelhado (red beds, Figs. 5, 6b, 6c e 6d), com típica
estratificação tabular/acanalada de grande porte (sets Figura 4: Contexto deposicional da parte oriental da Bacia
com até 15 m de altura). Corresponde a depósitos de Bauru.
Figure 4: Deposicional setting of the Bauru Basin eastern part.
4
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 5: Seção-tipo da Formação Rio Paraná, U.H.E. Porto Primavera, Pontal do Paranapanema (São Paulo).
Figure 5: Rio Paraná Formation type-section, Porto Primavera Hydroelectric Plant, Pontal do Paranapanema (São Paulo State

Figura 6: a) contato inferior da Formação Rio Paraná/Grupo Caiuá com basalto. Na base da unidade, abaixo dos arenitos
com estratificação cruzada ocorre brecha arenosa imatura, maciça, com clastos angulosos de basalto, nódulos de argila e
comento carbonático. Ombreira esquerda da UHE Porto Primavera, próximo da ocorrências dos icnofósseis (foto da época
da construção da barragem); b) Vista geral de arenitos com estratificação cruzada de grande porte, de depósitos frontais de
dunas, da parte central do deserto Caiuá, Formação Rio Paraná; c) Detalhe da Formação Rio Paraná, com depósitos de partes
frontais de grandes dunas (litofácies Df) e de interdunas (Di), UHE Porto Primavera, SP; d) Formação Rio Paraná,
laminação característica de arenitos eólicos (testemunhos de sondagens da construção da UHE Porto Primavera); e)
fragmentos rotacionados de brechas intraformacionais de gravidade (deslizamentos de partes frontais de dunas), indicativos
de umidade no ambiente desértico. Formação Rio Paraná.
Figure 6: a) basal contact of the Rio Paraná Formation/Caiuá Group with basaltic substrat. On the base of the unity, below the cross-stratified
sandstone it can see a sandy immature brecia, massive, with angular clasts of basalt, clay nodules and carbonatic cement. Site: Left dam part of the

5
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Porto Primavera Hydroelectric Plant, near the ichnofossils occurrences (image from the time of construction of the dam) b) Overview of sandstones
with large cross-stratification of deposits front of dunes, the central part of the Desert Caiuá, Rio Paraná Formation c) Detail of the Rio Paraná
Formation, with deposits of fronts of large dunes (litofacies Df) and interdunes (Di), Porto Primavera Hydroelectric Plant, São Paulo State d)
Rio Paraná Formation, croos-bedded sandstone, characteristic of aeolian processes (core holes of the Porto Primavera Hydroelectric Plant
construction); e) rotated fragments of intraformational gravity breccia (of landslides on dune foresets), indicative of moisture in the desert
environment. Rio Paraná Formation.

Paleoicnologia do Mesozóico (Leonardi, 1991; Lockley & Conrad,


1991; Carvalho & Kattah, 1998). As pegadas do
Os icnofósseis encontram-se cerca de 6 a 8 m terceiro morfotipo assemelham-se a exemplares de
acima do contato dos arenitos com o substrato Ameghinicnus patagonicus com andadura ricochete,
basáltico, situando-se assim na base da seqüência descritos por Casamiquela (1964) para a Formação La
neocretácea (Fig. 7). Ocorrem em lajes de arenito Matilde, Jurássico Superior da Argentina. Pistas com
originalmente depositados como partes frontais de esse tipo de andadura foram descritas também para a
grandes dunas. Os icnofósseis descritos dispõem-se Formação Botucatu, correspondendo a uma variação
numa superfície contínua e foram agrupados em de Brasilichnium elusivum (e.g. Fernandes, 2005) e são
conjuntos, numerados como PP01 a PP11 (PP = típicas de pequenos mamíferos, o que permite atribuir
Porto Primavera, Fig. 2). Foram registrados icnitos as pegadas do conjunto PP06 a este grupo. As pegadas
produzidos por invertebrados assim como pegadas e do quarto morfotipo poderiam, a princípio, ser
pistas de tetrápodes. Os icnofósseis de vertebrados relacionadas à Sauropoda devido ao formato
podem ser agrupados em quatro morfotipos. O arredondado, mas cabe salientar que a ocorrência de
primeiro deles, presente nos conjuntos PP01, PP02 e dinossauros saurópodes em ambientes desérticos de
PP03, consiste em pegadas tridáctilas, digitígradas e deposição eólica seria pouco provável devido à
mesaxônicas, com dígitos terminados em escassez de alimentos (e.g. Fernandes, 2005). Por outro
extremidades agudas, medindo entre 3 e 8 cm de lado, pegadas de dinossauros Ornithopoda, com
comprimento, sem um padrão característico das preservação em ambiente semelhante, ocorrem na
pistas, embora algumas seqüências de pegadas Formação Botucatu, apresentando formato
orientadas na mesma direção indiquem bipedismo; arredondado e diâmetros de até 34 cm. Assim, estas
algumas destas pegadas ocorrem como impressões pegadas poderiam ser tentativamente atribuídas aos
arredondadas. O segundo morfotipo, presente nos dinossauros herbívoros Ornithopoda. Os icnofósseis
conjuntos PP04 e PP07, consiste em pegadas de invertebrados, presentes nos conjuntos PP05 e
tridáctilas, digitígradas e mesaxônicas medindo entre 7 PP09, correspondem a escavações endoestratais
e 12 cm de comprimento, formando pistas de horizontais e meniscadas identificadas como Taenidium
andadura bípede e irregular; os dígitos são terminados isp., icnogênero freqüentemente atribuído a pequenos
em extremidades agudas e ocorrem almofadas artrópodes e comum em ambientes de deposição
falangeais; o passo varia entre 21 e 35 cm. O terceiro eólica do Mesozóico. Pegadas de tetrápodes de
morfotipo, presente no conjunto PP06, corresponde a ambientes desérticos ocorrem também, no Brasil, na
uma pista quadrúpede com andadura ricochete e Formação Botucatu (Cretáceo Inferior, Bacia do
pegadas arredondadas, sendo as mãos anteriores aos Paraná), no Grupo Areado (Jurássico Superior-
pés, sem ultrapassagem. A maioria das pegadas Cretáceo Inferior, Bacia Sanfranciscana) e na
estudadas encontra-se associada a marcas em forma Formação Corda (Jurássico, Bacia do Parnaíba).
de meia-lua de areia, resultantes do deslocamento dos
animais produtores em uma superfície inclinada. O Considerações paleoambientais
quarto morfotipo, presente nos conjuntos PP08 e
PP10, corresponde a pegadas de grande porte com Algumas evidências paleontológicas encontradas no
formato circular medindo cerca de 24 cm de diâmetro; sítio estudado sugerem a presença de certa quantidade
não ocorrem características morfológicas dos de umidade na ocasião da produção dos registros.
autopódios dos animais produtores. Pegadas produzidas em areia seca,quando preservadas,
As pegadas do primeiro morfotipo podem ser apresentam forma arredondada sem distinção dos
atribuídas, com base nas características morfológicas dígitos ou outras estruturas morfológicas (e.g. Brand,
(e.g. Lockley, 1991), a pequenos dinossauros 1979, 1996; McKeever, 1994; Fernandes, 2005). A
Theropoda. Da mesma forma, os icnitos dos preservação de dígitos tal como encontrada em
conjuntos PP04 e PP07, segundo morfotipo, diversas das pegadas estudadas, inclusive com
correspondem a pegadas de dinossauros Theropoda impressões de almofadas falangeais e garras, ocorre
de porte pequeno a médio, bípede e com postura em areia úmida (Reynolds, 1991; Lockley, 1991;
ereta. Pegadas de Theropoda são freqüentemente as Brand, 1996).
mais comuns e abundantes em ambientes desérticos

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Figura 7: Icnofósseis em depósitos frontais de dunas, arenitos da Formação, Rio Paraná. UHE Porto Primavera, SP.
Figure 7: Ichnofossils on forests dune deposits, Rio Paraná Formation sandstones, Paraná River. Porto Primavera Hydroelectric Plant, Brazil.

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Segundo Fernandes (2005), as ocorrências de SINOPSE SOBRE A ORIGEM, EVOLUÇÃO
pegadas em arenitos eólicos da Formação Botucatu GEOLÓGICA E IMPORTÂNCIA DO SÍTIO
geralmente não correspondem à superfície original
onde as marcas foram produzidas, constituindo Os arenitos do Grupo Caiuá acumularam-se na
“subpegadas” geradas pelo afundamento do forma de complexos de grandes dunas, na parte
autopódio do animal produtor no substrato com a central de um extenso deserto arenoso, no i nterior
formação de impressões em camadas subsuperficiais. da Bacia Bauru (Fernandes & Coimbra, 2000; Fig. 4).
Este tipo de preservação seria o mais freqüente em Tal bacia desenvolveu-se em clima quente, úmido nas
ambientes de deposição eólica visto que as camadas bordas, mais desértico no interior, durante o período
mais superficiais são mais secas, diminuindo as Cretáceo Superior, aproximadamente entre 99,6 a 65,6
chances de preservação de estruturas reconhecíveis, e milhões de anos atrás.
mais facilmente modificadas. Sendo assim, os As lages inclinadas de arenito onde hoje
intervalos com areia úmida provavelmente estariam encontramos os registros de pegadas correspondem a
situados poucos centímetros abaixo da superfície do
estrato s tabulares frontais de grandes dunas de
substrato, tendo sido impressionados pelo animal
areia, formados durante seu avanço, movidas por
produtor após o afundamento dos autopódios e
ventos rumo a sul e sudoeste (Fernandes 2008). As
imediatamente soterrados pela areia seca. Além disso,
marcas estão impressas em arenito marrom-
pistas superficiais de pequenos artrópodes apenas
avermelhado a arroxeado, com típica estratificação
seriam preservadas em areia seca, visto que sua
cruzada de médio porte (Fig. 1).
pequena massa corporal não seria suficiente para
Em geral, ambientes áridos não são favoráveis ao
quebrar a tensão superficial do sedimento úmido e
assim deixar marcas passíveis de preservação desenvolvimento e preservação pós-morte de
(Fernandes, 2005). Dessa forma, a ausência de pistas elementos faunísticos ou florísticos. A areia seca, por
desse tipo no afloramento estudado seria outra sua incoerência natural dificilmente forma bons
evidência de umidade no ambiente de formação destes moldes. Por sua vez, o ambiente altamente oxidante
depósitos. não preserva a matéria orgânica mole (carne, tecidos,
Algumas vezes encontram-se brechas partes vegetais). Acrescente-se ain da o fato de que a
intraformacionais de colapso em depósitos de frentes escassez de água constitui importante fator limitante,
de dunas (foresets, Fig. 6e). São feições de deformação dificultando a existência de vida de maior porte, tanto
por escorregamento preservadas entre estratos animal, quanto vegetal. Nestas condições ambientais
indeformados com laminação eólica. Tais estruturas os icnofósseis tornam-se então valiosa fonte de
indicam a existência de umidade no ambiente, talvez informação para estudos paleontológicos e
noturna (sereno) que possibiltou a agregação da areia paleoambientais.
em crostas superficiais frágeis, fragmentadas e H á pouquíssimas referências sobre fósseis
rotacionadas na forma de tabletes no deslizamento. em rochas do Grupo Caiuá .. As únicas ocorrências
A ocorrência de pegadas preservadas com detalhes conhecidas na Formação Rio Paraná são pegadas
morfológicos, produzidas em sedimento úmido pode produzidas por dinossauros terópodes e pequenos
ser explicada pela presença de nível freático alto em mamíferos primitivos registradas no estado do
determinados eventos de deposição. As flutuações no Paraná (Leonardi, 1977). O sítio ora apresentado
nível freático teriam como resultado a preservação de constitui nova ocorrência de icnofósseis nestes
pegadas com detalhes e outras apenas com forma arenitos, encontrados na região do Pontal do
arredondada, produzidas em sedimento seco Paranapanema (São Paulo), a jusante da estrutura de
(Reynolds, 1991; Lockley, 1991; Carvalho & Kattah, concreto da Usina Hidrelétrica Porto Primavera (Fig.
1998). Alguns dos exemplares estudados, presentes 2). A ocorrência situa-se na área central do antigo
nos conjuntos PP01, PP02, PP03 e PP06, deserto Caiuá.
correspondem a depressões erosivas sem marcas em O sítio descrito constitui novo e importante
forma de meia-lua ou estruturas de deformação registro de pegadas de tetrápodes em arenitos do
aparentes. Uma possível explicação é que a formação Grupo Caiuá. Situa-se em antigos depósitos de
das pegadas poderia gerar uma diferença na ambientes desérticos, onde é mais difícil preservação
compactação e arranjo tridimensional dos grãos em de registros de vida, naturalmente mais escassos. Tais
relação à rocha circundante, ocasionando uma icnofósseis ampliam assim a área de ocorrência da
diagênese diferencial, possivelmente com menor fauna tão pouco conhecida dos ambientes desérticos
cimentação, e tornando essa região mais suscetível à do Cretáceo brasileiro e sul americano.
erosão. Dessa forma, as depressões erosivas não Outra conseqüência interessante do ponto de vista
correspondem às pegadas originais, mas marcam a paleoambiental e evolutivo da bacia é a indicação de
posição onde elas foram produzidas. que mesmo as regiões mais centrais do Deserto Caiuá
foram relativamente úmidas e ocasionalmente
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freqüentadas por predadores e/ou habitadas por AGRADECIMENTOS
animais adaptados à aridez. Os autores agradecem ao engenheiro Isaac Amaral Alves,
Gerente de Obras de Porto Primavera, e à geóloga Silvia
MEDIDAS DE PROTEÇÃO Kitahara , Gerente da Divisão Civil, ambos da Companhia
Energética de São Paulo – CESP, pelo pronto apoio oferecido
A vulnerabilidade do sítio é alta. Quando o arenito durante as pesquisas e relações institucionais necessárias.
é submetido a ciclos de saturação e secagem apresenta
alteração rápida e desplacamento. O local é submetido REFERÊNCIAS
a dois tipos de processos de ciclagem (alteração): o
natural, causado pelas chuvas e o induzido pela Brand, L.R. 1979. Field and laboratory studies on the
variação do rio devido à operação da barragem. coconino sandstone (Permian) vertebrate
Ademais, é sujeito a outro tipo de desgaste por footprints and their paleoecological implications.
atividades antrópicas devido ao pisoteio sobre os Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 28, 25-
iconofósseis. 38.
O sítio apresentaria condições de relativa Brand, L.R. 1996. Variations in salamander trackways
manutenção dos fósseis ao ar livre, desde que resulting from substrate differences. Journal of
observadas medidas de conservação, tais como: 1) Paleontology, 70:1004-1010.
construção de mureta de proteção à variação no nível Carvalho, I.S. & Kattah, S.S. 1998. As pegadas fósseis
da água do lago, para evitar a ciclagem do arenito; 2) da Bacia Sanfranciscana (Jurássico Superior-
cobertura das áreas principais com vidro; 3) restrição Cretáceo Inferior, Minas Gerais). Anais da
ao acesso de pessoas não autorizadas o que é viável, Academia Brasileira de Ciências, 70(1):53-67.
posto que o sítio localiza-se em área interna da usina; Casamiquela, R.M. 1964. Estudios Icnológicos. Buenos
4) limitação do número diário de visitantes, com Aires: Colegio Industrial Pio IX, 229 p.
monitoramento sob responsabilidade da empresa, Fernandes, L.A.; Costa, R.; Sedor, F.A.; Silva, L.R.;
posto que o pisoteio danifica os fósseis; 5) Azevedo, A.A., Siqueira, A.G. 2003. Uma nova
monitoramento periódico do estado de conservação e icnocenose neocretácea no interior do Deserto
desgaste, e se necessário, manutenção com controle de Caiuá (Formação Rio Paraná, Bacia Bauru) In:
especialista, tal como impregnar os fósseis ou XVIII Congresso Brasileiro de Paleontologia,
preencher rachaduras; 6) caso se suspeite de risco para Brasília, Sociedade Brasileira de Paleontologia,
a integridade dos fósseis, deve-se providenciar coleta e Boletim de Resumos, p.124–125.
depósito do material em coleção científica. Por fim Fernandes, M.A. 2005. Paleoicnologia em ambientes
recomenda-se permitir acesso de visitantes com desérticos: análise da icnocenose de vertebrados da
acompanhamento de pessoal capacitado em turismo pedreira São Bento (Formação Botucatu, Jurássico
paleontológico/geológico, assim como de pesquisadores, Superior – Cretáceo Inferior, Bacia do Paraná),
com coleta e/ou confecção de moldes apenas quando Araraquara, SP, Rio de Janeiro, Instituto de
autorizados por órgãos ou instituições competentes. Geociências da Universidade Federal do Rio de
A CESP demonstrou intenção de proteger e até Janeiro. (Tese de Doutorado). 198 p.
promover o local como de interesse para divulgação Fernandes, L.A. 2008. Palaeowind patterns during the
científica. São marcas raras e, portanto, muito Late Cretaceous on South-American Platform:
preciosas do ponto de vista científico. Todavia, não evidence from aeolian deposits cross-strata of the
foi tomada nenhuma medida efetiva desde a visita de Caiuá Desert (Bauru Basin). 33rd International
identificação e estudo do sítio. Tampouco temos Geological Congress, IUGS, Oslo. CD-ROM.
conhecimento de plano de manejo ou de proteção da Fernandes, L.A. & Coimbra, A.M. 1995. Estratigrafía
área por parte da empresa. Na oportunidade da visita y ambientes deposicionales de la Cuenca Bauru
a equipe se ofereceu para discutir medidas de proteção (Cretácico Superior, Brasil). Acta Geològica
e exposição controlada de visitantes. Ofereceu-se Hispànica, 30(4):11-30.
também para auxiliar na elaboração de painéis, textos Fernandes, L.A. & Coimbra, A.M. 1996. A Bacia
e outros meios de divulgação científica, como Bauru (Cretáceo Superior, Brasil). Anais da
colaboração das instituições envolvidas. Academia Brasileira de Ciências, 68(2):195-205.
A empresa tem condições de implementar Fernandes, L.A. & Coimbra, A.M. 2000. The Late
rapidamente medidas efetivas de proteção, Cretaceous Caiuá Desert (Bauru Basin, Brazil).
compromisso manifestado em declaração anexada à Abstracts. 31th. International Geological Congress.
proposta de cadastro na SIGEP. Caso contrário, se Rio de Janeiro, Brazil. cd-rom, General Symposia,
sugere que os icnofósseis sejam coletados e removidos 3.6.
da área para um museu. Leonardi, G. 1977. On a new occurrence of Tetrapod
trackways in the Botucatu Formation in the State

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of São Paulo, Brazil. Dusenia, Curitiba, 10(3):181- Fernando Antonio Sedor possui
183. graduação em Ciências Biológicas
Lockley, M.G. 1991. Tracking Dinosaurs. Cambridge pela Universidade Federal do
University Press, Cambridge, 238 p. Paraná (1987) e mestrado em
Lockley, M.G. & Conrad, K. 1991. The Geociências pela Universidade
paleoenvironmental context, preservation and Federal do Rio Grande do Sul
paleoecological significance of dinosaur tracksites (1994). Atualmente é doutorando
in the Western USA. In: Gillette, D.D. e Lockley, da UFRGS, sem vínculo
M.G. (eds.). Dinosaur Tracks and Traces. Cambridge institucional. Tem experiência na
University Press, Cambridge, p. 121-134. área de Geociências e Paleontologia de Vertebrados,
McKeever, P.J. 1994. The behavioral and com ênfase em Icnologia.
biostratigraphical significance and origin of
vertebrate trackways from the Permian of Rafael Costa da Silva possui
Scotland., Palaios, 9(5), 477–487. graduação em Ciências Biológicas
Reynolds, R.E. 1991. Dinosaur trackways in the pela Universidade Federal do
Lower Jurassic Aztec Sandstone of California. In: Paraná (2001), mestrado em
Gillette, D.D. e Lockley, M.G. (eds.). Dinosaur Ciências Biológicas (Zoologia) pelo
Tracks and Traces. Cambridge University Press, Museu Nacional, Universidade
Cambridge, p. 285-292. Federal do Rio de Janeiro (2004) e
doutorado pelo Instituto de Geociências,
1 Universidade Federal do Paraná - Depto. de Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008). Tem
Geologia/Caixa Postal 19.001/CEP 81531-990, experiência nas áreas de Paleontologia e Zoologia,
Curitiba, Paraná/e-mail: lufernandes@ufpr.br atuando principalmente em Paleozoologia e Icnologia
2 Universidade Federal do Paraná - Museu de Ciências de Vertebrados e Invertebrados.
Naturais/e-mail: sedor@ufpr.br
3 Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/RJ- Luiz Roberto da Silva é graduado
DEGEO/DIPALE/e-mail: rcsilva@rj.cprm.gov.br em Engenharia Civil (1981), pela
4 Companhia Energética de São Paulo – CESP/e-mail: Escola de Engenharia de Lins. De
luizroberto.silva@cesp.com.br 1982 a 1988, atuou como
5 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de engenheiro autônomo, funcionário
São Paulo S/A – IPT/e-mail: azevedoa@ipt.br público, proprietário de escritório
6 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de de engenharia e construtora, em
São Paulo S/A – IPT/e.mail: agsique@hotmail.com atividades relacionadas a projetos,
construções e fiscalização de obras civis na cidade de
AUTORES Assis-SP. Desde 1988 é contratado pela CESP,
Companhia Energética de São Paulo, tendo atuado em
Luiz Alberto Fernandes possui diversas áreas relacionadas à engenharia civil nas
graduação em Geologia (1977), usinas hidrelétricas de Porto Primavera, Rosana e
mestrado (1992) e doutorado Taquarussu. De 2003 a 2005 gerenciou parte da
(1998) em Ciências - Geologia construção de 2 edifícios da CESP na Av. Paulista em
Sedimentar, pelo Instituto de São Paulo. Desde 2006 trabalha como engenheiro de
Geociências da Universidade de manutenção civil nas usinas e instalações de geração
São Paulo. Pós-doutorado (2008) de energia elétrica da CESP.
na Universidad Complutense de Madrid.
Atualmente é professor Associado I da Universidade Adalberto Aurélio Azevedo é
Federal do Paraná. Entre 1978 e 1980 atuou em graduado em Geologia pela
contaminação de águas subterrâneas na Companhia de Universidade de São Paulo (1975),
Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB/SP). mestrado em Geotecnia pela
De 1980 a 1998 foi pesquisador do Instituto de Universidade de São Paulo (1993) e
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). doutorado em Geociências
Desde então é professor do Departamento de (Recursos Minerais e
Geologia da UFPR. Sua experiência tem ênfase em Hidrogeologia) pela Universidade de São Paulo
Geologia Sedimentar e Análise de Bacias Sedimentares (2002). Atualmente é pesquisador V do Instituto de
(Petrologia Sedimentar, Estratigrafia; bacias Bauru, do Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Tem
Paraná e de Curitiba); educação tutorial; divulgação experiência na área de Geociências, com ênfase em
cientifica. É bolsista de Produtividade em Pesquisa do Geologia de Engenharia, atuando principalmente nos
CNPq - Nível 2.
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___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
seguintes temas: barragem, hidrogeotecnia, áreas
cársticas e mecânica das rochas.

Alessandra Gonçalves Siqueira


possui graduação em Geologia pela
Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - UNESP
(1997) e mestrado em Geotecnia
pela Escola de Engenharia de São
Carlos - EESC/USP (2001).
Atualmente é assistente de pesquisa
do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT. Tem
experiência na área de Geociências, com ênfase em
Geotecnia Ambiental, atuando principalmente nos
seguintes temas: monitoramento de erosão de
encostas em reservatórios, monitoramento de erosão à
jusante de barragens e estudos de bacias hidrográficas.

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___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
SCHOBBENHAUS, C. / CAMPOS, D.A. / QUEIROZ, E.T. / WINGE, M. / BERBERT-BORN, M.

Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB


O mais marcante registro de pegadas de dinossauros do Brasil
SIGEP 26
Giuseppe Leonardi1
Ismar de Souza Carvalho2

Sousa e Uiraúna-Brejo das Freiras são duas bacias cretáceas da região do Rio do Peixe que
possuem uma grande quantidade de pegadas de dinossauros. Estas bacias estão localizadas no oeste
do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, e suas origens relacionam-se aos movimentos de falhas
transcorrentes ao longo de lineamentos pré-existentes do embasamento, durante a abertura do Oceano
Atlântico.
A principal icnofauna de tetrápodes compõe-se de pegadas isoladas e pistas de grandes e
pequenos terópodes, além de ornitópodes. Também há icnofósseis de invertebrados tais como
pistas e escavações produzidas por artrópodes e anelídeos. Os fósseis são palinomorfos, fragmentos
de plantas, ostracodes, conchostráceos, escamas de peixes e ossos de crocodilomorfos. Estes fósseis
estão preservados em depósitos de leques aluviais, rios anastomosados, meandrantes e lagos rasos
de idade neocomiana - Berriasiano a Barremiano inferior. A relevância paleontológica-geológica das
bacias de Sousa e Uiraúna é a abundância em icnofaunas dinossaurianas. Já foram identificados e
mapeados 22 sítios icnofossilíferos, e reconhecidas 296 pistas de grandes terópodes; 29 de pequenos
terópodes; 42 de saurópodes; 2 de ornitísquios quadrúpedes; 28 de ornitópodes graviportais; um
conjunto de pegadas batracopódidas; uma impressão lacertóide; um grande número de pegadas
não classificáveis e muitas pistas de semi-natação atribuídas a quelônios. Ao todo já foram classificados
um número superior a 395 indivíduos dinossaurianos.
A área mais importante de distribuição de pegadas fósseis, localizada em Passagem das Pedras
(Fazenda Ilha) no município de Sousa é atualmente um parque natural - Monumento Natural Vale
dos Dinossauros. O parque com 40 hectares de área é presentemente um dos sítios paleontológicos
melhor preservados no Brasil. Possui infra-estrutura turística e guias treinados para o turismo ecológico
e para proteção do sítio icnofossilífero.

Icnofossils of the Rio do Peixe Basin, State of The paleontological-geological relevance of Sousa and
Paraíba - The most remarkable record of dinosaur Uiuraúna Basins is the abundance of dinosaurian ichnofaunas.
tracks of Brazil It have alread been identified, as well as mapped 22
ichnofossiliferous sites, and recognized 296 large theropod tracks;
Sousa and Uiraúna-Brejo das Freiras are two Cretaceous
29 smaller theropods; 42 sauropods; 2 quadrupedal
basins from the Rio do Peixe region that present a great amount
ornithischians; 2 small ornithopods; 28 graviportal ornithopods;
of dinosaur footprins. These basins are located on the west of
a set of batrachopodid prints; a lacertoid print; a large number
Paraíba State, Northeast Brazil, and their origin are related to of unclassifiable dinosaurian tracks and a large number of small
fault movements along preexisting structural trends of the basement chelonian half-swimming tracks. Altogether the classified
during South Atlantic Ocean opening. The main tetrapod dinosaurian individuals number is more than 395. The main
ichnofauna comprises isolate footprints and trackways of large distribution area of dinosaur footprints at Passagem das Pedras
and small theropods, besides ornithopods. There are also (Ilha Farm), in Sousa County is nowadays a natural park -
invertebrate ichnofossils such as trails and burrows produced by The Dinosaur Valley Natural Monument. The park, with 40
arthropods and annelids. The fossils are palynomorphs, plant ha of area, is presently one of the best preserved paleontological
fragments, ostracods, conchostraceans, fish scales and sites in Brazil. This area is now a tourist complex and offers an
crocodilomorph bone fragments. These were preserved in alluvial entire tourism infrastructure, besides a trained staff to guide
fans, anastomosing, meandering rivers and shallow lakes deposits tourists and to protect the paleontological site.
of Neocomian age - Berriasian to lower Barremian.

SítiosSítios
geológicos
geológicos
e paleontológicos
e paleontológicos
do Brasil
do Brasil 101
101
Freiras está na abundância de icnofaunas dinossaurianas
que representam parte de um amplo megatracksite do
As bacias do rio do Peixe são quatro bacias
início do Cretáceo (Viana et al., 1993; Carvalho 2000a)
sedimentares denominadas como Sousa, Uiraúna-Brejo
estabelecido durante os estágios iniciais da abertura do
das Freiras, Pombal e Vertentes. Localizam-se no oeste
Atlântico Sul. Nesta região foram encontrados 22 sítios
do estado da Paraíba nos municípios de Sousa, Uiraúna,
icnofossilíferos com mais de 395 indivíduos
Poço, Brejo das Freiras, Triunfo, Santa Helena e Pombal
dinossaurianos.
(Figura 1). As duas primeiras bacias - Sousa e Uiraúna-
Brejo das Freiras - contém uma abundante icnofauna
de tetrápodes, consistindo de pegadas e pistas de
carnossauros, e ornitópodes. Icnofósseis de Há cerca de 80 anos, no início da década de 20,
invertebrados tais como pistas e escavações produzidas Luciano Jacques de Moraes, um engenheiro de minas
por artrópodes e anelídeos também são comuns brasileiro, trabalhava para o Departamento Nacional
(Fernandes & Carvalho, 1997). Apesar da forte cor de Obras contra as Seccas (DNOCS) na região
avermelhada, típica de ambientes subaéreos, há alguns Nordeste do Brasil, até então muito pouco conhecida
níveis de folhelhos esverdeados, argilitos e siltitos, onde geologicamente. No oeste do estado da Paraíba,
os fósseis estão presentes. São ostracodes, Moraes descobriu duas pistas em rochas do leito do
conchostráceos, fragmentos de vegetais, palinomorfos, rio do Peixe, na localidade de fazenda Ilha. Tratavam-
escamas de peixes e fragmentos ósseos de se de duas pistas de diferentes dimensões que se
crocodilomorfos. intercruzavam e possuíam distintos produtores.
Sousa e Uiraúna-Brejo das Freiras são bacias Aparentemente Moraes enviou uma laje com
intracratônicas do Nordeste do Brasil, que se uma pegada original escavada da pista codificada como
desenvolveram ao longo de lineamentos estruturais pré- SOPP2 e um molde de uma pegada da pista SOPP1
existentes do embasamento, durante a abertura do para os Estados Unidos para ser estudada por
Oceano Atlântico. A idade destes depósitos, baseada paleontólogos norte-americanos. Jamais recebeu
em material polínico, é característica dos andares locais qualquer resposta sobre o material enviado. Apesar das
Rio da Serra (Berriasiano ao Hauteriviano) e Aratu tentativas feitas por Giuseppe Leonardi, durante o ano
(Barremiano inferior) segundo dados de Lima & de 1985 em reencontrar este material (o qual
Coelho (1987) e Regali (1990). acreditava-se estar no American Museum of Natural
A sedimentação nestas bacias foi controlada History), nada foi localizado. Em seu livro,
pelos processos tectônicos regionais (Lima Filho, 1991; Moraes(1924) classificou a maior pista (SOPP1) como
Lima Filho et al., 1999). Durante o tempo Dom João de um Stegosauria ou secundariamente como
(andar Purbeckiano), devido ao estiramento crustal, Ceratopsia; evidentemente ele a interpretou como
bacias sigmoidais desenvolveram-se na inflexão das pertencente a um quadrúpede. Atribuiu a pista SOPP2
falhas noroeste-sudoeste e este-oeste. Durante o tempo como de um dinossauro bípede, sem definir entre os
Rio da Serra (Berriasiano ao Hauteriviano), sob o Theropoda ou os Ornithopoda. Moraes descreveu as
mesmo regime tectônico, as áreas bacinais aumentaram pistas em detalhe, com desenhos e fotografias. Também
e suas formas passaram a romboidais. No último extrapolou as dimensões dos presumíveis produtores
estágio, provavelmente no final do tempo Aratu (andar das pegadas. Um trabalho meticuloso para a época;
Barremiano inferior), houve uma mudança no padrão contudo Moraes não era nem um icnológo, nem um
tectônico e a acumulação de sedimentos entrou em paleontólogo e seus desenhos mostram algumas
declínio. Os depósitos aí encontrados refletem um incorreções.
controle direto da sedimentação pela atividade Luciano Jacques de Moraes enviou fotografias
tectônica. Ao longo das bordas falhadas das bacias, a para F. von Huene da Universidade de Tübingen
deposição consistia de leques aluviais, modificando-se (Alemanha), o qual publicou em seu livro de 1931 os
distalmente para sistemas fluviais entrelaçados. Na desenhos de Moraes. Huene (1931) descreveu a
região central destas bacias, estabeleceu-se um sistema primeira pista (SOPP1) como a de um quadrúpede
fluvial meandrante com uma ampla planície de com total sobreposição dos pés, e a segunda pista,
inundação, onde ocorriam lagos perenes e temporários como a de um bípede (SOPP2). Ele atribuiu a pista
(Carvalho 2000a). A relevância paleontológica e SOPP1 aos ceratópsidos ou preferencialmente aos
geológica das bacias de Sousa e Uiraúna-Brejo das nodosaurídeos e SOPP2 aos ornitópodes

102 Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB


Figura 1 – Mapa de localização das bacias de Souza e Uiraúna-Brejo das Freiras, Nordeste do Brasil e distribuição das principais
ocorrências icnofossilíferas
Figure 1 – Location map of Sousa and Uiraúna-Brejo das Freiras Basin, Northeasth Brazil and distribuition of the main ichnofossiliferous
sites.

tracodontídeos ou kalodontídeos. A classificação de (Leonardi,1980c,1994): Poço do Motor, Pedregulho,


Huene baseou-se nos desenhos de Moraes. Huene Piedade e Juazeirinho na Formação Sousa; Serrote do
trabalhou no Brasil nos anos 20, mas nunca visitou a Letreiro na Formação Antenor Navarro, considerada
Paraíba. até então como uma unidade paleozóica. Uma pegada
As pistas descritas por Moraes em Sousa foram incomum (em realidade duas pegadas sobrepostas de
novamente analisadas em 1969 por Llewellyn I. Price Grallator mas erroneamente interpretadas por Leonardi
(1961) com Diógenes de Almeida Campos do como Isochirotherium sp.) sugeriram uma idade
Departamento Nacional de Produção Mineral. (incorreta) triássica para este nível (Leonardi, 1979b,
Em 1975 Giuseppe Leonardi visitou Sousa e 1980b). Contudo, foi posteriormente percebido que
encontrou as pistas que até então encontravam-se todo o Grupo Rio do Peixe pertencia ao Cretáceo
esquecidas. Posteriormente uma lenda local surgiu: Inferior e que o contato entre suas unidades era
aquela que as pistas haviam sido descobertas por um transicional (Carvalho & Leonardi, 1992). Outras
fazendeiro da região, Anísio Fausto Silva. O centenário expedições de Giuseppe Leonardi se seguiram (28 ao
desta descoberta foi celebrado em Sousa em 1997. todo, confor me Leonardi, 1994, p. 169),
Provavelmente as principais pistas tenham sido compreendendo quase que um ano ao todo de trabalhos
obsevadas por muitos fazendeiros, e antes deles mesmo de campo, apoiadas pelo Conselho Nacional de
por índios, devido ao fato de serem muito evidentes. Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Contudo, a descoberta, com um caráter científico, deve Na expedição de 1979, Leonardi (1984b, 1994)
ser seguramente atribuída a Moraes. Localmente as descobriu os sítios de Piau-Caiçara e Matadouro
pegadas são conhecidas como “pistas de boi” (SOPP1) (Formação Sousa); Serrote do Letreiro (Formação
e “pistas de ema” (SOPP2). Em 1975-1976 Leonardi Antenor Navarro), Mãe d’Água e Curral Velho
escavou estas duas pistas a partir de dois metros de (Formação Piranhas). Em 1980 e 1981 ele trabalhou
areia acumulada pelo rio do Peixe e através da margem no sítio Piau-Caiçara, enfatizando o comportamento
do canal, descobrindo cinco novas pistas (Leonardi, dos dinossauros produtores das pegadas (Godoy &
1979a). Em 1977 Leonardi descobriu novas pistas na Leonardi, 1985). Durante o ano de 1981 descobriu,
fazenda Ilha e algumas outras localidades junto com Geraldo da Costa Barros Muniz, pistas

Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil 103


dinossaurianas relacionadas às bacias de Lima Campos, Durante todos esses anos, um longo e muitas
Iguatu e Palestina (Leonardi & Muniz, 1985; Leonardi vezes infrutífero esforço foi feito para obter a proteção
& Spezzamonte, 1994). Realizou a expedição Ligabue destes sítios em todos os níveis administrativos dos
de 1983, que representou uma ação conjunta dos governos municipal, estadual e federal para o
paleontólogos Giancarlo Ligabue (Veneza - Itália), estabelecimento do Parque Natural Vale dos
Dinossauros. Em 1984, Leonardi com João Carlos M.
Philippe Taquet (Museu de História Natural de Paris -
Rodrigues do Museu Emílio Goeldi de Belém (Pará)
França), Díógenes de Almeida Campos (Departamento
iniciaram a construção de réplicas dos principais tipos
Nacional de Produção Mineral - Brasil), e outros de dinossauros encontrados em Sousa. Em 1988 foram
(Leonardi, 1984a). Posterior mente as pegadas descobertos os sítios de Saguim e Piau II por Leonardi,
receberam as visitas de inúmeros paleontólogos, bem juntamente com Anna Alessandrello do Museo Civico
como de turistas. Em 1984, Leonardi descobriu os di Storia Naturale de Milan (Itália). Leonardi e
sítios do Zoador, Barragem do Domício, Poço da Volta Alessandrello exploraram a bacia de Pombal sem
e Engenho Novo na Formação Sousa; Aroeira e Cabra nenhum resultado positivo. O sítio Paraíso foi
Assada na Formação Antenor Navarro (Leonardi, descoberto em 1992 por Sérgio Alex Kugland de
1985, 1994). A partir de 1994, Leonardi associou-se Azevedo (Universidade Federal do Rio de Janeiro,
ao trabalho de campo com Maria de Fátima C.F. dos Museu Nacional; 1993). Após Leonardi ter deixado o
Santos e Claude L. de A. Santos do Museu Câmara Brasil em 1989, o trabalho icnológico de vertebrados
Cascudo de Natal (Rio Grande do Norte, Brasil), vem sendo sistematicamente realizado por Ismar de
Souza Carvalho (Carvalho et al., 1994, 1995; Carvalho,
frequentemente com Ismar de Souza Carvalho
1996a; 2000a, b), o qual vem descobrindo novas
(Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil) (1989,
localidades icnofossilíferas em parceria com
1992, 1994) e Luís Carlos Godoy (Ponta Grossa, pesquisadores (Maria Somália Sales Viana, Mário Lima
Paraná). Em 1985 W.V. Barbosa descobriu o sítio Filho e Narendra Kumar Srivastava) de instituições
Várzea dos Ramos. Em 1987 Ismar de Souza Carvalho universitárias localizadas no Nordeste do Brasil
com Leonardi descobriram o sítio Pocinhos na bacia (Universidade Federal de Pernambuco e Universidade
de Brejo das Freiras (Carvalho, 1989, 1996a). Federal do Rio Grande do Norte).

Figura 2 – Reconstrução paleoambiental da bacia de Souza


(ilustração de Ariel Milani Martine)
Figure 2 – Paleoenvireonmental reconstruction of Sousa Basin
(Illustration by Ariel Milani Martine).

104 Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB


metamórficas em uma matriz grossa arcoseana. Estes
tipos litológicos são encontrados próximos aos bordos
As icnofaunas dinossaurianas destas bacias estão
falhados das bacias. Em direção ao depocentro, os
inseridas num mesmo contexto estratigráfico-temporal-
conglomerados e arenitos finos podem estar
paleogeográfico, e representam partes de um amplo
intercalados com siltitos e folhelhos. Estratificações
megatracksite. As similaridades das litofácies dentre os
cruzadas acanaladas e tabulares, estratificações cruzadas
depósitos onde ocorrem as pegadas denotam os
cavalgantes e marcas de onda são as principais estruturas
mesmos processos tectônicos, climáticos e sedimentares.
sedimentares. A Formação Sousa é composta por
Os ambientes de sedimentação eram então
arenitos avermelhados, siltitos, argilitos e nódulos
influenciados pelo desenvolvimento inicial da região
carbonáticos; margas também podem ocorrer sob a
Atlântica equatorial, com uma biota endêmica vivendo
forma de delgados estratos. As principais estruturas
nas proximidades de rios efêmeros e lagos rasos em
sedimentares são gretas de ressecamento, estruturas
condições climáticas quentes (Carvalho, 2000a).
convolutas, marcas de onda, estratificações cruzadas
Durante o Cretáceo Inferior, predominava um cavalgantes, marcas de gotas de chuva e bioturbações.
clima quente, havendo provavelmente uma ampla
Nas formações Antenor Navarro e Piranhas as
variação das condições de umidade (Petri, 1998). De
pegadas são menos frequentes, quando comparadas
acordo com Petri (1983) e Lima (1983) no início do
com a abundância em que ocorrem na Formação Sousa.
Cretáceo, as condições climáticas eram mais úmidas
As litologias destas duas primeiras unidades são
nas regiões localizadas à sul do domínio tropical (bacias
conglomerados, arenitos grossos e arenitos intercalados
de Recôncavo-Tucano-Jatobá). Apesar de um clima
com siltitos. As litofácies, estruturas sedimentares e
mais quente e seco em direção à norte, a interpretação
geometria das camadas indicam uma sedimentação em
dos ambientes deposicionais e os fósseis sugerem a
fan-deltas, leques aluviais e ambientes fluviais
existência de alguns lagos, nos quais durante o
entrelaçados. As pegadas estão preservadas em
Neocomiano, as regiões adjacentes mostravam-se mais
sedimentos mais finos das barras arenosas subaéreas
úmidas. Durante este tempo, a América do Sul ainda
dos leques aluviais e rios entrelaçados (Figura 2). Tais
encontrava-se conectada à África, e o Oceano Altântico
depósitos localizam-se próximo das bordas das bacias
estava em sua fase inicial de desenvolvimento. Na atual
e sua acumulação foi controlada diretamente pela
região Nordeste do Brasil, numa área de centenas de
atividade tectônica regional (Carvalho 2000a).
quilômetros, rios efêmeros e lagos rasos foram
importantes ecossistemas. Na Formação Sousa as litologias são arenitos,
folhelhos e argilitos, cuja granulação fina foi mais
A bacia de Sousa compreende uma área de
susceptível para a preservação de pegadas. Trata-se de
1.250 km2. Já Uiraúna-Brejo das Freiras é uma bacia
uma sucessão essencialmente microclástica que indica
menor com 480 km2. Estão localizadas no oeste do
ambientes lacustres, pantanosos e de rios meandrantes.
estado da Paraíba, nos municípios de Sousa, Uiraúna,
Através do estudo das conchostracofaunas, Carvalho
Poço, Brejo das Freiras, Triunfo e Santa Helena. O
& Carvalho (1990) e Carvalho (1993, 1996b) inferiram
embasamento destas bacias é composto por rochas
as condições físicas e químicas dos lagos em cujas
metamórficas pré-cambrianas altamente
bordas a dinoturbação foi significativa. Tratavam-se
metamorfizadas, alinhadas estruturalmente nas direções
de lagos pequenos e temporários, quentes e rasos, nos
noroeste-sudoeste ou este-oeste. As rochas mais
quais o quimismo da água caracterizavam-nos com um
frequentes são migmatitos, granitos, gabros e
caráter alcalino (pH entre 7 e 9). Devido as dimensões
anfibolitos.
que alcançavam alguns conchostráceos (cerca de 3,5
A subdivisão litoestratigráfica formal dos cm de comprimento), deveriam ter existido nestes lagos
depósitos cretácicos das bacias de Sousa e Uiraúna- optimum ecológicos, com águas ricas em nutrientes e
Brejo das Freiras foi proposta por Mabesoone (1972) íons abundantes tais como o cálcio e fósforo.
e Mabesoone & Campanha (1974). Estes autores
designaram o Grupo Rio do Peixe, com espessura total
de 2.870 metros, subdividindo-o nas formações
Antenor Navarro, Sousa e Piranhas. As formações Formação Sousa
Antenor Navarro e Piranhas, são compostas por O conjunto de 13 sítios da Formação Sousa
sedimentos imaturos, incluindo brechas e (Barragem do Domício, Engenho Novo, Juazeirinho,
conglomerados com seixos de rochas magmáticas e Matadouro, Pedregulho, Piau-Caiçara, Piedade, A

Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil 105


Camada do Rio do Peixe entre Passagem das Pedras e dinossaurianas não classificadas e muitas impressões
Poço do Motor, Piau II, Poço da Volta, Sítio Saguim, de semi-natação atribuídas aos quelônios. Ao todo os
Várzea dos Ramos e Zoador) em pelo menos 60 níveis indivíduos dinossaurianos classificados totalizam mais
incluem aproximadamente a seguinte icnofauna: 220 que 395. A relação de pegadas herbívoro/carnívoro
grandes terópodes; 29 pequenos terópodes nesta icnofauna é cerca de 1/4,6; a relação de pistas
classicamente considerados como Coelurosauria; 11 individuais quadrúpede / bípede é de cerca de 1/8,6.
saurópodes; 15 ornitópodes graviportais; 1 pequeno Somente 34 pistas de dinossauros estão associadas em
ornitísquio quadrúpede; um número de pistas de quatro grupos gregários (Leonardi et al., 1987a, 1987b,
dinossauros não-classificáveis ou incertas; 1 conjunto 1987c).
batracopódido; um grande número de pegadas de Não é fácil atribuir uma pegada a um produtor.
pequenos quelônios. Ao todo o número de indivíduos Contudo as pegadas descritas acima podem ser
dinossaurianos é superior a 276 (Santos & Santos, consideradas com alguma probabilidade de
1987a). pertencerem aos seguintes grupos: as pistas de grandes
terópodes são possivelmente de uma família cretácica
Formação Antenor Navarro sul-americana de grandes predadores conhecida como
Os 5 sítios da Formação Antenor Navarro Abelisauridae Bonaparte & Novas, 1985 e
(Aroeira, Pocinhos, Riacho do Cazê, Serrote do Letreiro consequentemente Ceratosauria. As pequenas pistas de
e Serrote do Pimenta) em pelo menos 12 níveis incluem terópodes com o dígito III substancialmente maior
aproximadamente: 53 grandes terópodes; 31 que o II e IV, que foram normalmente atribuídas aos
saurópodes; 5 ornitópodes graviportais, sendo um deles Coelurosauria, podem ser referidas à algumas famílias
quadrúpede; 1 ornitísquio quadrúpede, provavelmente teropodomorfas sul-americanas que se presume tenham
um anquilossauro; uma pegada lacertóide; um número ocupado neste continente o nicho ecológico dos
de pistas não-classificáveis ou incertas. O número de Coelurosauria na Laurásia (e.g. Noasauridae Bonaparte
indivíduos dinossaurianos é superior a 90 (Figuras & Powell, 1980). Os saurópodes foram talvez grupos
3 e 4 ). assemelhados aos Dicraeosauridae, Rebbachisauridae,
ou mais provavelmente os primeiros titanossauros
Formação Piranhas (Bonaparte, 1986).
Os 4 sítios da Formação Piranhas (Cabra A pequena pista quadrúpede do Serrote do
Assada, Curral Velho, Mãe d’Água e Fazenda Paraíso) Pimenta pode ser a de um anquilossauro, mais
incluem cerca de 6 níveis com a seguinte icnofauna: 23 provavelmente um nodosaurídeo, a semelhança com
grandes terópodes; 2 pequenos ornitópodes; 8 o pequeno Minmi Molnar, 1980 de Queensland. Uma
ornitópodes graviportais, um dos quais quadrúpede; pista quadrúpede (sub-icnito) de Passagem das Pedras
um número de pistas não-classificáveis ou incertas. Os também poderia pertencer a este grupo. Pistas de
indivíduos dinossaurianos excedem em 33 (Leonardi, anquilossauros são conhecidas da Bolívia (Leonardi,
1987, 1989; Santos & Santos, 1987b). 1984a) e mais recentemente (1988) identificadas por
Christian Meyer, Martin Lockley e Leonardi (material
ainda não publicado). As pistas de grandes bípedes ou
quadrúpedes com três cascos arredondados são
atribuídas a ornitópodes graviportais, similares à
Os vinte e dois sítios e setenta e oito níveis das Ouranosaurus Taquet, 1976; algumas pistas raras de
bacias do Rio do Peixe contêm a seguinte icnofauna ornitópodes podem pertencer a iguanodontídeos
de tetrápodes: 296 grandes terópodes; 29 pequenos jovens ou a alguma forma de pequeno ornitópode,
terópodes têm o terceiro dedo substancialmente maior talvez driossaurídeos, já conhecidos na América do Sul
que os outros dois, o que era classicamente considerado (Coria & Salgado, 1996).
como assignável aos Coelurosauria; 42 saurópodes; 2 O conjunto batracopodídeo de Piau é
ornitísquios quadrúpedes, provavelmente pobremente preservado, contudo pode ser atribuído
anquilossauros; 2 pequenos ornitópodes; 28 a Crocodylia. As inúmeras pegadas pequenas de semi-
ornitópodes graviportais (um quadrúpede); um natação do sítio Piau foram provavelmente produzidas
conjunto de impressões batracopodídeas; uma por quelônios; a família Araripemydae é a mais
impressão lacertóide; um grande número de pegadas provável.

106 Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB


3
A principal área de distribuição das pegadas de
dinossauros localizada em Passagem das Pedras
(fazenda Ilha) no município de Sousa, é atualmente um
parque natural. Em 20 de dezembro de 1992 através
de um Decreto-Lei estadual (Decreto nº 14.833, de 20
de dezembro de 1992, Diário Oficial do Estado da
Paraíba) esta localidade icnofossilífera foi tombada
como Monumento Natural e designada como
“Monumento Natural Vale dos Dinossauros” (Figuras
5 e 6 ).
Em 1996 foi assinado um convênio entre o
Ministério do Meio Ambiente, Estado da Paraíba/
Superintendência de Administração do Meio Ambiente
e Prefeitura Municipal de Sousa (Convênio MMA/
PNMA/PED nº 96 CV00030/96) visando a
consolidação do “Monumento Natural Vale dos
Dinossauros”. Inicialmente com base no Decreto nº
14.833 desapropriou-se o sítio de Passagem das Pedras,
com 40 hectares de área. Posteriormente foi concebido
um canal de alívio da vazão do rio do Peixe, numa
extensão de 621 metros que permitirá, sem alterar as
características originais do rio do Peixe e ecossistemas
associados, a proteção das pegadas contra a ação erosiva 4
deste rio e represamento d’água sobre o sítio
paleontológico (Sônia Matos Falcão - Coordenadora
de Projetos de Execução Descentralizada - PED/
SUDEMA, informação pessoal).

Figura 3 - Pegada de um terópode associada a um petroglifo


indígena. Serrote do Letreiro, bacia de Sousa.
5
Figure 3 - Theropod footprint associated with ancient indian rock
engraving. Serrote do Letreiro, Sousa Basin.
Figura 4 - Pegada de um terópode. Serrote do Letreiro, bacia
de Sousa
Figure 4 - Theropod footprint. Serrote do Letreiro, Sousa basin.
Figura 5 - Monumento Natural Vale dos Dinossauros.
Parque natural com 40 hectares de Área protegida pelo governo
do estado da Paraíba e Prefeitura Municipal de Sousa
Figure 5 - Dinosaur Valley Natural Monument, a natural park
with 40 hectares of protect area established by the Paraíba State
Government and Sousa Municipal City Hall.

Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil 107


108 Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB
Os investimentos já realizados neste sítio Podemos considerar que após um esforço de
paleontológico são de aproximadamente US$ mais de 20 anos, este é atualmente o melhor sítio
800,000.00 (oitocentos mil dólares americanos). Ainda paleontológico preservado no Brasil. A região é agora
de acordo com as informações de Sônia Matos Falcão um complexo turístico - Vale dos Dinossauros - e
(Governo do Estado da Paraíba) a proteção deste oferece uma completa infra-estrutura turística, bem
jazigo fossilífero compreendeu:
como pessoal treinado para o turismo ecológico e para
• Modificação do curso principal do rio do Peixe a proteção do sítio paleontológico.
objetivando a proteção dos níveis estratigráficos
com pegadas fósseis, os quais vinham sendo
erodidos durante os períodos de inundações.
Foi construído um canal secundário (artificial) e Ao Sr. Tim Halley do Departamento de
pontes sobre este e sobre o canal do rio. Zoologia da Universidade de Queensland Brisbane
• Plantio de vegetação nativa nas bordas do canal (Austrália) e Dr. José E. Bonaparte do Museu Argentino
e áreas adjacentes ao rio do Peixe. de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia (Buenos
• Estrada de acesso ao Monumento Natural Vale Aires) pela revisão crítica. Sônia Matos Falcão
dos Dinossauros a partir da rodovia federal BR- (Superintendência de Administração do Meio
391. Ambiente - SUDEMA - Governo do Estado da
Paraíba) pelo auxílio com os dados de investimentos
• Pontes de estrutura concreto-aço sobre as
financeiros e técnicos realizados no Monumento Natural
pegadas, evitando o contato direto dos visitantes
Vale dos Dinossauros.
com a superfície rochosa onde estão dispostas.
Este estudo contou com o suporte financeiro
• Centro de Recepção com 222 m 2 de área.
das agências de fomento Conselho Nacional de
Abrange exposição com dioramas e painéis
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
temáticos, fósseis, sala de vídeo, centro de
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
documentação, biblioteca, loja de lembranças,
de Janeiro (FAPERJ) e Fundação Universitária José
lanchonete, sanitários e administração ( Figuras
Bonifácio (FUJB-UFRJ).
7 e 8 ).

Figura 6 (esquerda)- Pista de


Dinossauro Ornitópode no
Monumento Natural Vale dos
Dinossauros. Passagem das
Pedras (fazenda Ilha), município
de Sousa.
Figure 6 (on left)- Dinosaur track
at the Dinosaur Valley Natural
Monument. Passagem das Pedras
(Ilha farm), Sousa county.
Figura 7 - Réplicas dos
dinossauros que habitaram a
região da bacia de Sousa. Arte de
João Carlos M. Rodrigues.
Figure 7 - Replicas of the dinosaurs
that lived in the Sousa basin. Art of
João Carlos M. Rodrigues.

Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil 109


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Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil 111


UNIDADE VI
História Geológica da Vida
Texto 1
ALMEIDA, J.A.C. de; BARRETO, A.M.F. O tempo geológico e evolução
da vida. In: CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de
Janeiro: Interciência, 2010. cap. 7, p. 93-109.
UNIDADE VII
Paleoecologia e Paleoclimas
SIGEP
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil

SIGEP 052

Pavimento Estriado de Calembre, Brejo do Piauí


Registro de geleiras continentais há 360 milhões de anos no
Nordeste do Brasil
Mario Vicente Caputo1
Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano2,3,4
1 Consultor independente. caputo@interconect.com.br
2 Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ, bolsista doutorado CNPq. Av. Athos da Silveira Ramos,
274, CCMN, Cidade Universitária, 21941-916, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. luizaponciano@gmail.com
3 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional/UFRJ. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ.
4 Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas, Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro/UNIRIO, Avenida Pasteur, 458, 22.240-290, Rio de Janeiro, RJ.

© Caputo,M.V.; Ponciano,L.C.M.O. 2010. Pavimento Estriado de Calembre, Brejo do Piauí - Registro


de geleiras continentais há 360 milhões de anos no Nordeste do Brasil. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.;
Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S.; Berbert-Born,M.; Sallun filho,W.; Queiroz,E.T.; (Edit.) Sítios Geológicos
e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 01/07/2010 no endereço
http://www.unb.br/ig/sigep/sitio052/sitio052.pdf
[atualmente http://sigep.cprm.gov.br/sitio052/sitio052.pdf ]
(A referência bibliográfica de autoria acima é requerida para qualquer uso deste artigo em qualquer mídia, sendo proibido o
uso para qualquer finalidade comercial)
Pavimento Estriado de Calembre, Brejo do Piauí
Registro de geleiras continentais há 360 milhões de anos no
Nordeste do Brasil
SIGEP 052*
Mario Vicente Caputo1
Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano2,3,4
RESUMO - Na Bacia do Parnaíba, a influência glacial na porção mais superior da Formação Cabeças, de idade
fameniana terminal, é evidenciada pela presença de clastos estriados, facetados e polidos em pavimentos
estriados e tilitos, ritmitos com seixos pingados, matacões exóticos do embasamento e arenitos e tilitos
glacialmente deformados. Nos municípios de Brejo do Piauí e Canto do Buriti (Estado do Piauí), afloram
pavimentos estriados, destacando-se aquele nas proximidades do povoado Calembre, por sua maior dimensão e
melhor qualidade de preservação. O citado pavimento é estriado, em parte polido, com cristas e sulcos
subparalelos que apresentam espaçamentos decimétricos irregulares e profundidades centimétricas, tendo sido
esculpido em arenitos conglomeráticos maciços ou com estratificação cruzada. Na superfície do pavimento
ocorrem clastos, com tamanhos variando de seixos a blocos, alinhados ou dispersos e encravados no arenito,
com feições de abrasão glacial. As estrias, cristas e sulcos possuem uma orientação média de N60oW neste
pavimento. O deslocamento das geleiras de sudeste para noroeste, determinado pelas formas de desgaste em
alguns clastos encravados, é coincidente com o sentido da paleocorrente principal do sistema fluvial da parte
superior da Formação Cabeças. Em direção à margem oeste da bacia, os tilitos devonianos sobrepõem-se aos
pavimentos estriados, às unidades estratigráficas cada vez mais antigas e ao embasamento, indicando que o
processo relacionado à erosão glacial produziu uma significativa discordância na Bacia do Parnaíba. Apesar de
este evento glacial ter abrangido todas as bacias sedimentares paleozóicas brasileiras e o embasamento pré-neo-
ordoviciano, pavimentos resultantes desta glaciação têm sido identificados exclusivamente na Bacia do Parnaíba,
constituindo a principal evidência direta da glaciação neofameniana no Supercontinente Gonduana Ocidental.

Palavras-chave: pavimento estriado; Formação Cabeças; idade neofameniana; tilito; Bacia do Parnaíba.

Striated Pavement of Calembre, Brejo do Piauí, State of Piauí


Record of 360 million years old continental glaciers in Northeastern Brazil

ABSTRACT – In the Parnaíba Basin, evidence of latest Famennian glacial influence is manifested in the uppermost portion
of the Cabeças Formation, notably in the form of striated, faceted and polished clasts in tillites, striated pavements,
rhythmites with dropstones, exotic basement boulders and deformed sandstones and tillites. Striated pavements are well-
represented in the municipalities of Brejo do Piauí and Canto do Buriti (State of Piauí), particularly in outcrops near the
locality of Calembre. This remarkably extensive and well-preserved pavement is polished and striated, with subparallel ridges
and grooves that have irregular decimetric spacings and centimetric depths and are sculptured into massive conglomeratic or
cross-stratified sandstones. Clasts occurring on the pavement surfaces vary in size from large pebbles to small cobbles; these
are aligned or irregularly dispersed and embedded into the sandstone, some showing features of glacial abrasion. Striae,
ridges and grooves generally trend N60oW. Southeast to northwest displacement of the glaciers, evidenced by the shape of
some abraded clasts, coincides with the main paleocurrent direction of the upper Cabeças Formation’s fluvial system.
Toward the western margin of the Parnaíba Basin, Devonian tillites overlap striated pavements, progressively older
stratigraphic units, and basement rocks, indicating that glacial erosion produced a significant unconformity in the Parnaíba
Basin. Although the glacial event affected all Brazilian Paleozoic sedimentary basins and the pre-Late Ordovician basement,
pavements resulting from this glaciation have only been identified in the Parnaíba Basin, thus providing direct evidence of
latest Famennian glaciation on the Western Gondwana supercontinent.

Key words: striated pavement, Cabeças Formation, late Famennian, tillite, Parnaíba Basin.

* Publicado na Internet em 01/07/2010 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio052/sitio052.pdf


1 Consultor independente. caputo@interconect.com.br
2 Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ, bolsista doutorado CNPq. Av. Athos da Silveira Ramos,

274, CCMN, Cidade Universitária, 21941-916, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. luizaponciano@gmail.com
3 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional/UFRJ. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ.
4 Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas, Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro/UNIRIO, Avenida Pasteur, 458, 22.240-290, Rio de Janeiro, RJ.

1
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
INTRODUÇÃO Na Bacia do Amazonas os afloramentos de camadas
desta idade (exibindo influência glacial) são mais
Pavimentos estriados constituem a principal restritos, enquanto nas bacias do Paraná e do
evidência direta de glaciação pretérita em uma região, Solimões tais sedimentos são encontrados apenas em
onde informações como a direção e o sentido de subsuperfície (Caputo et al., 2008).
movimentação das geleiras ainda podem ser Na região andina da Argentina, Bolívia e Peru
recuperadas. Além disso, auxiliam no também foram identificadas formações com influência
desenvolvimento de estudos sobre paleoambientes glacial (Díaz-Martínez & Isaacson, 1994; Díaz-
deposicionais e reconstituições paleogeográficas, Martínez et al., 1999; Isaacson et al., 1999; Carlotto et
tendo sua relevância paleoclimática muito valorizada al., 2006), de mesma idade que nas bacias brasileiras.
atualmente, devido ao crescente interesse da sociedade Na África há vários países que apresentam evidência
pelas mudanças climáticas pretéritas e futuras. glacial no Devoniano terminal, dentre os quais podem
A característica fundamental de uma geleira é a ser citados: Líbia, Níger, Gana e África do Sul
sua capacidade de mover-se pela ação da gravidade. O (Caputo, 1985; Streel et al., 2000a). Outros países
gelo isento de fragmentos tem um poder erosivo africanos também possuem registros de glaciação, mas
insignificante. Os pavimentos se formam pelo atrito sua idade devoniana ainda não foi definitivamente
da geleira, carregada em sua base com fragmentos de comprovada. Mais recentemente, pesquisadores
rochas duras, durante seu movimento sobre um americanos reconheceram que a parte leste dos
substrato rochoso menos resistente. A espessa massa Estados Unidos da América também apresenta
de gelo funciona como uma lixa gigante ao longo dos vestígios de uma glaciação neodevoniana (diamictitos
vales e superfícies glaciais, raspando o substrato e e laminitos com alguns seixos estriados e pingados),
produzindo uma “farinha” de rochas que, juntamente em uma faixa com cerca de 400 km de extensão,
com os fragmentos remanescentes da fusão do gelo, desde o Estado da Virgínia Ocidental ao Estado da
forma uma rocha classificada como tilito. Durante a Pensilvânia (Cecil et al. 2002, 2004; Brezinski et al.,
fase de crescimento do gelo na geleira (fase expansiva) 2008). O fato de ainda não terem sido encontrados
predomina a erosão e quando a geleira recua devido pavimentos estriados nessa região tem provocado a
ao degelo (fase retrativa) deposita o tilito. Tilito é um contestação da interpretação glacial, por parte de
termo genético que pode ser descrito como uma rocha alguns investigadores. Porém, esses depósitos são
formada sob influência e contato glacial, sendo contemporâneos aos da América do Sul e da África,
constituída por fragmentos de rochas de grande sugerindo que o esfriamento climático no final do
variedade petrográfica e com diversos tamanhos, Neodevoniano também foi de caráter global,
dispersos em uma matriz síltico-argilosa. Diamictito é envolvendo grande parte do Supercontinente
um termo descritivo (não genético) que abrange Gonduana Ocidental e alcançando, inclusive, uma
também os tilitos. Todo tilito é um diamictito, mas porção adjacente do Supercontinente Laurásia. Esta
nem todo diamictito é um tilito. Deve ser provada a condição paleoclimática sugere que o oceano, que
influência glacial na sedimentação do tilito, pois separava estes supercontinentes no fim do
existem diamictitos de outras origens, como os Devoniano, era muito mais estreito do que mostram
resultantes de fluxo de detritos. No tilito, os as reconstituições paleogeográficas, realizadas por
fragmentos de rocha podem apresentar estrias, vários autores.
facetas, polimento e adquirir formato de ferro de O mesmo episódio de esfriamento climático
engomar. Blocos de gelo flutuantes (icebergs) podem também é detectado indiretamente no registro
liberar fragmentos de rochas em meio aquoso, que se geológico de outros continentes, através de estudos
incorporam aos sedimentos do fundo lacustre ou sedimentológicos, geoquímicos e paleontológicos que
marinho e são denominados de seixos pingados. evidenciam discordâncias estratigráficas, rebaixamento
Várias glaciações foram identificadas no registro do nível do mar, redução da biodiversidade e
geológico do Brasil, dentre elas a que ocorreu no final extinções faunísticas no final do Devoniano (Isaacson
do Devoniano. Nas bacias paleozóicas brasileiras, et al., 1999; Streel et al., 2000b; Caputo et al., 2008).
somente há pouco mais de duas décadas a glaciação Deste modo, os pavimentos estriados dos
neodevoniana foi confirmada e passou a ser analisada municípios de Canto do Buriti e Brejo do Piauí (onde
detalhadamente (Caputo, 1984a-b; Caputo 1985; se localiza o maior pavimento exposto, no povoado
Caputo & Crowell, 1985; Caputo et al., 2006a-b; Calembre, Estado do Piauí) tornam essa região muito
Caputo et al., 2008). Apesar de o evento glacial importante para a interpretação da paleoclimatologia
neodevoniano ter abrangido todas as grandes bacias na parte final do Período Devoniano (Fig. 1). Além
sedimentares paleozóicas do Brasil, pavimentos disso, no registro geológico, são raras as ocorrências
estriados do Neodevoniano foram identificados de afloramentos com pavimentos estriados. Trata-se
exclusivamente na Bacia do Parnaíba, onde se de um tipo de feição de difícil preservação, pois se
localizam os melhores registros deste evento glacial. limita a uma superfície. O pavimento estriado de
2
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Calembre deve ser protegido, pois além do seu valor Raimundo Nonato, abrangendo os afloramentos ao
científico único, poderá ser utilizado na ampliação do norte do parque (que se encontram próximos à
roteiro turístico do Estado do Piauí. Calembre). Complementando este roteiro figuram os
Atualmente, excursões com enfoques educativos, belos afloramentos da Formação Cabeças no Parque
turísticos e culturais são realizadas principalmente no Nacional de Sete Cidades, no Município de Piripiri.
Parque Nacional da Serra da Capivara, em São

Figura 1 - Vista parcial do pavimento estriado de Calembre, com seixos e blocos esparsos encravados no arenito
da parte superior da Formação Cabeças. Martelo na parte central da foto como escala. Foto: L.C.M.O. Ponciano,
2008.
Figure 1 - Partial view of the striated pavement of Calembre, with sparse pebbles and cobbles embedded in sandstone of the
uppermost part of the Cabeças Formation. Scale indicated by hammer in center of photo. Photo: L.C.M.O. Ponciano, 2008.

LOCALIZAÇÃO A partir de Canto do Buriti, deve-se seguir por 10 km


na rodovia PI-140 (Canto do Buriti - São Raimundo
O sítio localiza-se, por via rodoviária, a 423 km ao sul Nonato), e entrar à esquerda na rodovia PI-141, em
da capital do Estado do Piauí, Teresina. O pavimento direção a Brejo do Piauí. Nesta, continuar por cerca
em questão ocorre no Município de Brejo do Piauí, na de 3 km para leste até a Escola Elesbão Marques e a
estrada de terra próxima ao povoado Calembre. As partir desse ponto virar à direita, percorrendo a
coordenadas geográficas do pavimento, aferidas por estrada de terra por mais 8 km até Calembre.
GPS, são: 08o15'02''S - 042o52'57''WW, com elevação O segundo acesso é feito a partir de Canto do
de 271m. Buriti em direção a São Raimundo Nonato, através da
O acesso a esta feição pode ser feito através de rodovia PI-140, seguindo por 16 km para sul, ou seja,
duas rodovias asfaltadas. O povoado Calembre é 6 km após o cruzamento das estradas PI–140 e PI-
cruzado por uma estrada de terra que comunica as 141. Nesse ponto, onde há uma tabuleta com o nome
rodovias estaduais PI-140 e PI-141. do povoado, dobra-se a esquerda e percorre-se 2,5 km
O primeiro acesso ao pavimento localiza-se 21 km de estrada de terra até Calembre. O pavimento fica a
ao sul de Canto do Buriti, em direção a Brejo do Piauí. cerca de 600 m ao sul deste povoado (Fig. 2).
3
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 2 – Mapa índice e localização do sítio Pavimento estriado de Calembre, no Município de Brejo do Piauí,
Estado do Piauí. Figura: M.V. Caputo & L.C.M.O. Ponciano.
Figure 2 - Index map showing site location of the striated pavement of Calembre, Brejo do Piauí Municipality, State of Piauí.
Figure: M.V. Caputo & L.C.M.O. Ponciano.

HISTÓRICO Carolina na parte superior da Formação Cabeças.


Aguiar (1971) também posicionou os diamictitos de
A primeira menção, na literatura brasileira, sobre forma idêntica, caracterizando a Formação Cabeças
camadas devonianas de origem glacial deve-se a como composta dominantemente por arenitos finos,
Moura (1938), que interpretou os diamictitos de médios e grossos, quartzosos, com delgadas
testemunhos de sondagens rasas, no Município de intercalações de siltitos e folhelhos. Essa unidade
Itaituba (Estado do Pará), como tendo sido apresenta em sua parte superior tilitos, os quais, por
depositados sob condições glaciais na Bacia do sua vez, são sucedidos por delgadas camadas de
Amazonas (Formação Curuá). Na borda oeste da arenito (5-10 m), que localmente podem estar
Bacia do Parnaíba, os diamictitos foram interpretados ausentes, ou por folhelhos ainda do Devoniano da
primeiramente por Kegel (1953) como tilitos, em Formação Longá. Na parte sudeste da Bacia do
função de suas feições texturais e seixos estriados, em Parnaíba ocorrem também diamictitos e arenitos
testemunhos do poço 1-CL-1-MA, no Município de grossos com matacões dispersos de quartzo e
Carolina (Estado do Maranhão). Malzahn (1957) quartzito, estes provavelmente de origem proglacial
mapeou tilitos e varvitos com seixos pingados (Caputo, 1985; Caputo et al., 2005).
sobrepostos a pavimentos estriados na porção sudeste Daemon (1974), baseado em estudos
da Bacia do Parnaíba, ao longo da antiga estrada palinológicos, referiu estes tilitos ao Estruniano
(atualmente abandonada) de Canto do Buriti para São (Fameniano terminal). Loboziak et al. (1991, 1992,
Raimundo Nonato, 51,8 km a SSE da primeira cidade 1993), Melo et al. (1998) e Melo & Loboziak
(Bigarella, 1973), no Estado do Piauí. (2003) refinaram a bioestratigrafia dos mesmos,
A atribuição litoestratigráfica desses sedimentos correlacionando-os com as zonas de esporos Retispora
permaneceu incerta por muitos anos, e variou desde a lepidophyta–Indotriradites explanatus (LE) e Retispora
parte superior da Formação Serra Grande (Malzahn, lepidophyta–Verrucosisporites nitidus (LN) da Europa
1957; Bigarella, 1973), passando pela Formação Ocidental, ambas correspondentes ao final do
Pimenteira (Malzahn, 1957; Barbosa et al., 1966; Fameniano. Conjuntamente, as duas palinozonas
Andrade & Daemon, 1974), até a parte média da equivalem à Zona praesulcata de conodontes, o que
Formação Longá (Kegel, 1953; Barbosa et al., 1966). restringe o tempo deposicional dos estratos
Moore (1963), em seu mapeamento realizado no glaciogênicos aos últimos três milhões de anos do
sudeste da Bacia do Parnaíba, situou o tilito de período Devoniano, segundo a escala geocronológica

4
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
de Gradstein et al. (2004), ou aos últimos dois milhões Solimões, Marajó e Jatobá). Elas comprovam
de anos, conforme a escala de Kaufmann (2006). A definitivamente a influência glacial nestes sedimentos
idade do fim do Devoniano estimada por Gradstein et da América do Sul, depositados em paleoambientes
al. (2004) é 359,2 +/- 2,5 Ma e por Kaufmann (2006) é continentais e marinhos no final do Devoniano.
360,7 +/- 2.7 Ma.
Houve muita polêmica quanto à natureza dos DESCRIÇÃO DO SÍTIO
tilitos devonianos, pois as primeiras interpretações
foram recebidas com ceticismo pela grande maioria da Embora outras ocorrências de pavimentos
comunidade geológica. À época, poucos geólogos estriados tenham sido relatadas por Malzahn (1957),
trataram do assunto. Os sedimentos eram Bigarella (1973) e Caputo (1984a-b, 1985) no Estado
considerados como resultantes de correntes de do Piauí, o afloramento de Calembre é a melhor
turbidez por Ludwig (1964), fluxo de lama ou região exposta deste tipo de feição na borda sudeste
sedimentação glacial por Rodrigues (1967), ou fluxo da Bacia do Parnaíba, ocupando uma área aproximada
de detritos relacionados a falhas por Lima (1978) e de 350 m2.
Lima & Leite (1978). De acordo com Della Piazza et No local encontra-se um pavimento horizontal,
al. (1966), os seixos pingados nos ritmitos de pequena relativamente plano, polido e estriado, com cristas e
espessura e localizados, que ocorrem no flanco leste sulcos subparalelos, espaçamentos irregulares
da bacia, poderiam ser originados pela ação de decimétricos e profundidades centimétricas.
jangadas. Estes autores não discutem a natureza das O pavimento foi esculpido em arenitos
jangadas. Andrade & Daemon (1974) contestaram a conglomeráticos maciços ou com estratificação
deposição desses sedimentos em condições glaciais ou cruzada, com a superfície endurecida e enegrecida por
por correntes de turbidez, argumentando que a fauna óxidos de ferro, situados na porção superior da
da Formação Cabeças era incompatível com o Formação Cabeças, de idade neofameniana (Fig. 3).
ambiente glacial e que o ambiente deposicional era Esta feição é parcialmente cruzada por uma antiga
demasiado raso para o desenvolvimento de correntes estrada de terra (felizmente desativada) e por um
de turbidez. Sabe-se hoje, porém, que os macrofósseis riacho, que em épocas de cheia extravasa por sobre o
marinhos da Formação Cabeças limitam-se somente à pavimento, ora lavando, ora cobrindo com detritos a
parte basal e mais antiga da unidade, designada superfície exposta.
Membro Passagem por Plummer (1948) e cuja idade é Estão presentes na superfície do pavimento
givetiana (Melo, 1988). Esses arenitos costeiros, de clastos de tamanhos diversos, variando de seixos a
ocorrência restrita ao flanco leste da bacia, blocos, alinhados ou dispersos e encravados no
interdigitam-se com pelitos e arenitos givetianos de arenito (Fig. 4), alguns dos quais apresentando
plataforma rasa da Formação Pimenteira (como visto, também feições de abrasão glacial, como faces, estrias
por exemplo, na localidade Barreiro Branco, Estado e polimento (Figs. 5 e 6). A profusão de clastos, com
do Piauí), sendo provavelmente separados do restante feições de abrasão glacial ocorrida dentro da geleira e
da Formação Cabeças (fameniana) por uma no arenito do pavimento, sugere que o arenito seja de
discordância regional. origem interglacial e proglacial, situação esta que
Muitos investigadores também não reconheceram ocorre em outras localidades como em Pedro Afonso
a ocorrência de glaciação durante o Devoniano (Estado do Tocantins), onde dois níveis de diamictito
(Dickins, 1993, da Austrália e Mabesoone, 1975, do estão separados por um corpo de arenito interglacial.
Brasil), alegando que durante todo este período o As estrias, cristas e sulcos do pavimento possuem
clima manteve-se quente e úmido, também no uma orientação média de N60oW neste local. O
nordeste do Brasil. Outros geólogos argumentaram deslocamento das geleiras, de sudeste para noroeste,
que, se realmente os sedimentos tivessem sofrido determinado pelas formas de desgaste em alguns dos
influência glacial, eles poderiam ter sido depositados seixos encravados, é coincidente com o sentido da
apenas em condições alpinas. Se fossem depósitos de paleocorrente principal do sistema fluvial da parte
altitude, não implicariam na existência de uma superior da Formação Cabeças (Ponciano, 2009).
verdadeira idade glacial, nem em uma refrigeração Malzahn (1957), o primeiro a divulgar a presença
climática de caráter mundial no Devoniano. Contudo, de pavimento estriado nesta bacia, na antiga estrada
estudos palinológicos confirmaram a influência Canto do Buriti-São Raimundo Nonato, descreveu
marinha e a idade devoniana terminal dos tilitos acima da superfície estriada tilito (1,5m), seguido por
(Loboziak et al., 1991, 1992, 1993). varvito (ritmito-3,5m) e no topo do platô, arenito
Diversas evidências foram coletadas, organizadas síltico e siltito (2,0m). Afloramento este também
e apresentadas por Caputo (1984, 1985) e Caputo et al. descrito por Bigarella (1973) que informou que os
(2005, 2008) sobre os tilitos presentes em superfície sulcos apresentam 5 cm de profundidade e o
(bacias do Parnaíba e do Amazonas) e em diamictito apresenta uma espessura de 3,5m.
subsuperfície (bacias do Paraná, Parnaíba, Amazonas,
5
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 3 - Seção transversal do arenito conglomerático maciço ou com estratificação cruzada, no topo da
Formação Cabeças, com sulcos e estrias na superfície e de provável origem proglacial. Foto: L.C.M.O. Ponciano,
2008.
Figure 3 - Cross-section of massive conglomeratic or cross-stratified sandstone beds at the top of the Cabeças Formation,
with striae and grooves on the surface. These strata are probably of proglacial origin. Photo: L.C.M.O. Ponciano, 2008

Figura 4 - Superfície estriada e endurecida com sulcos, cristas e clastos encravados, alinhados ou dispersos.
Foto: L.C.M.O. Ponciano, 2008.
Figure 4 - Hardened striated surface showing ridges and grooves with embedded, aligned or dispersed clasts. Photo:
L.C.M.O. Ponciano, 2008

6
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Em direção à margem oeste da bacia, os tilitos
devonianos sobrepõem-se discordantemente aos
pavimentos estriados, às unidades estratigráficas cada
vez mais antigas e ao embasamento. Isso comprova
que o processo relacionado à erosão glacial foi muito
enérgico, tendo produzido, em curto espaço de
tempo, uma notável discordância anteriormente
insuspeitada na Bacia do Parnaíba (Loboziak et al.,
2000; Caputo & Reis, 2006). Localmente, a erosão
glacial removeu a porção arenosa da Formação
Cabeças, abaixo dos tilitos, e ainda as formações
Pimenteira, Itaim e Jaicós, assentando os sedimentos
glaciais diretamente sobre o embasamento
metamórfico, como ocorre em Colinas do Tocantins
Figura 5 - Seixo biselado pela ação glacial encravado (Fig. 7). Ali, os tilitos da Formação Cabeças
no pavimento, indicando o sentido do transporte do interpõem-se entre o embasamento e a Formação
gelo, da direita para a esquerda (N60oW). Foto: M.V. Longá. O perfil esquemático da figura 7 exclui as
Caputo, 1998. formações mais novas que o Eocarbonífero nos poços
Figure 5 - Glacially beveled pebble embedded in the amostrados. O perfil começa no poço 1-CA-1-MA
pavement, indicating the direction of ice transport from (Caraíba - Estado do Maranhão), passa pelo poço 1-
right to left (N60oW). Photo: M.V. Caputo, 1998. CL-1-MA (Carolina – Estado do Maranhão), alcança
os afloramentos na estrada Belém-Brasília (Estado do
Tocantins), onde também ocorrem pavimentos, e
termina nos afloramentos da estrada que dá acesso à
cidade de Colinas do Tocantins.
Ainda na borda ocidental da bacia, a datação
bioestratigráfica de diferentes camadas da Formação
Pimenteira, sotopostas aos tilitos, mostra que elas se
tornam mais antigas para oeste (Loboziak et al., 2000).
Fragmentos de folhelhos e oólitos ferruginosos de
níveis inferiores da Formação Pimenteira foram
erodidos e incorporados ao tilito, enquanto que em
outros locais, o mesmo contém matacões do arenito
Itaim e do embasamento (Ribeiro, 1984).
Os tilitos e ritmitos da borda oeste também
exibem uma proporção muito elevada (até 95%) de
palinomorfos eifelianos a famenianos retrabalhados,
oriundos de formações devonianas mais antigas (Streel
Figura 6 – Seixo facetado encravado no arenito do et al., 1993; Streel et al., 2000b; Loboziak et al., 2000),
pavimento da Formação Cabeças. A geleira aplainou a sugerindo intenso retrabalhamento e rápida erosão
superfície do seixo. Foto: M.V. Caputo, 2010. durante o evento glacial. A existência de tilitos sobre
Figure 6 – Faceted pebble embedded in the pavement of várias unidades estratigráficas levou à formulação de 3
the Cabeças Formation. The glacier planed the pebble hipóteses errôneas, como a de que existiriam tilitos de
surface. Photo: M.V. Caputo, 2010.
diferentes idades, ou ainda, que o contato dos tilitos
com outras formações aflorantes seria indicativo de
Num antigo acesso ao pavimento, a partir da rodovia
falhas ou o desaparecimento das areias da Formação
PI-140 (atualmente desativado), ocorrem tilitos pouco
Cabeças, sob os diamictitos, seria devido à mudança
consolidados e bastante alterados, com coloração
de fácies para os folhelhos da Formação Pimenteira.
castanha amarelada ou avermelhada, que capeiam
também os platôs da região. O tilito devoniano
SINOPSE SOBRE A ORIGEM, EVOLUÇÃO
alterado vinha sendo confundido com sedimentos
GEOLÓGICA E IMPORTÂNCIA DO SÍTIO
terciários nos mapas geológicos da região (Lima &
Leite, 1978; Correia Filho, 2006, 2009). Estes
Durante o Devoniano, o clima global manteve-se
depósitos apresentam vários metros de espessura e
relativamente quente e uniforme até o fim do
incluem alguns clastos com característica abrasão
Frasniano, quando o nível do mar apresentou uma das
glacial, tais como seixos estriados e com forma de
maiores elevações na história da Terra, inundando
sabonete ou de ferro de engomar.
grandes áreas no interior dos continentes, e
7
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
originando plataformas mais amplas e mares desencadeou a glaciação do final do Fameniano
epicontinentais. A elevação eustática subtraiu grande (Caputo, 1994). Em consequência, o nível do mar
quantidade de CO2 da atmosfera e do mar, o qual foi baixou acentuadamente, e a parte ocidental do
incorporado na forma de matéria orgânica em Continente Gonduana, então situada sobre a região do
sedimentos marinhos acumulados sob condições Polo Sul, foi encoberta por geleiras que promoveram
anóxicas. Esta enorme e contínua depleção em CO2 extensa erosão glacial. (Fig. 8)
atmosférico causou um efeito anti-estufa que

Figura 7 - Em direção à margem sudoeste da Bacia do Parnaíba, os tilitos devonianos sobrepõem-se aos
pavimentos estriados, às unidades litoestratigráficas cada vez mais antigas e ao embasamento. Figura: M.V.
Caputo.
Figure 7 - Toward the western margin of the Parnaíba Basin, Devonian tillites overlap striated pavements, increasingly
older stratigraphic units, and basement rocks. Figure: M.V. Caputo.

A fase erosiva (expansiva) com o avanço das geocronológica destas últimas segundo as escalas de
geleiras resultou na ausência, sob o tilito, da Gradstein et al. (2004) e Kaufmann (2006), as fases
Palinozona LL (lepidophyta-literatus) por praticamente glaciais expansiva e retrativa de geleiras teriam tido
toda a extensão da Bacia do Parnaíba, o mesmo se durações aproximadas de 1-1,5 Ma e 2,5-3 Ma,
verificando nas bacias do Amazonas e Solimões. A respectivamente. Portanto, em conjunto, ambas
fase deposicional, (retrativa) originou tilitos e outros correspondem a uma duração de cerca de 3,5-4,5 Ma
sedimentos glaciogênicos portadores da Palinozona do período Devoniano. Entretanto, cerca de 500.000
LE (lepidophyta-explanatus) e parte da Palinozona LN anos antes do fim do Devoniano cessou a glaciação,
(lepidophyta-nitidus). Levando em conta a correlação iniciando a acumulação dos folhelhos da Formação
destas três palinozonas com as zonas de conodontes Longá, ainda dentro da parte superior da Palinozona
neodevonianos da Europa Ocidental (Streel et al., LN situada no Devoniano. O topo da Palinozona LN
1987; Maziane et al., 1999), e a calibração marca o topo do Devoniano.
8
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
região ocorreu de sudeste para noroeste, coincidindo
com o sentido da paleocorrente principal do sistema
fluvial da parte superior da Formação Cabeças. Na
estrada de terra abandonada que dá acesso ao
pavimento, e no topo dos platôs da região, também
estão presentes tilitos, já bastante alterados e um tanto
desagregados pelo intemperismo.
O estudo da relação estratigráfica entre os
pavimentos estriados neodevonianos e os tilitos
presentes em superfície (bacias do Parnaíba e
Amazonas) e subsuperfície (bacias do Paraná,
Parnaíba, Amazonas, Solimões, Marajó e Jatobá),
comprovou definitivamente a influência glacial nestes
depósitos da América do Sul, após vários anos de
questionamentos sobre a gênese dos diamictitos e a
idade da glaciação relacionada aos mesmos.

Figura 8 - Área do Continente Gonduana Ocidental MEDIDAS DE PROTEÇÃO


sob influência glacial no Fameniano. Pavimento
estriado (P) plotado sobre uma reconstituição Vulnerabilidade do Sítio
continental devoniana preparada pessoalmente por C.
R. Scotese. O sítio se encontra numa região rural, sem
Figure 8 - Western Gondwana area under glacial influence perspectivas de desenvolvimento urbano ou industrial
in Famennian time. Striated pavement (P) plotted on a significativo. Não existem atividades de mineração na
Continental Devonian assembly prepared personally by C.
área, mas, devido à falta de esclarecimentos sobre sua
R. Scotese.
importância, há marcas de clastos que foram
Na Bacia do Parnaíba, a vigência de climas muito arrancados do pavimento.
frios durante o final do Neodevoniano é indicada Além disso, o fluxo de veículos e o contínuo
pelos sedimentos glaciogênicos da parte superior da asfaltamento das estradas da região também
Formação Cabeças. Além dos tilitos na borda oeste da constituem ameaças potenciais à preservação do
Bacia do Parnaíba (Kegel, 1953), a influência glacial citado pavimento. Localmente, o afloramento está
nesta unidade também é observada, na borda leste, sendo exumado e destruído pela erosão superficial e
através da presença de pavimentos estriados e tilitos pelas águas de um riacho que atravessa parcialmente o
com clastos facetados, polidos e estriados, matacões local. Apesar disso, o pavimento ainda se encontra em
exóticos do embasamento, ritmitos com clastos bom estado, pois o tráfego de veículos sobre esta
pingados e arenitos com estruturas de escorregamento superfície ainda é raro. Esta importante feição
sinsedimentares, convolutas e deformadas. geológica não está incluída em uma unidade de
Apesar do evento glacial no Devoniano terminal conservação, nem existe um órgão responsável por
ter abrangido todas as grandes bacias sedimentares sua proteção.
paleozóicas brasileiras (Caputo et al., 2008), além de
africanas e a bacia apalachiana (EUA), pavimentos Sugestões dos Autores
resultantes desta glaciação foram até o presente
identificados exclusivamente na Bacia do Parnaíba, Pretende-se iniciar um trabalho de conscientização
onde se localizam os melhores registros em superfície da população local sobre a importância da preservação
deste evento glacial, o que torna este sítio de grande do sítio, durante os trabalhos de campo e através de
importância. palestras nas escolas da região, principalmente nas
No Município de Brejo do Piauí, os pavimentos unidades escolares Elesbão Marques e Pedro
estriados apresentam maior dimensão e melhor Francisco dos Santos, no povoado Calembre.
qualidade de preservação, tornando essa região muito Atualmente o retorno que o município vizinho (São
importante para a interpretação da paleoclimatologia Raimundo Nonato) tem recebido do turismo já
no final do Período Devoniano. Nos arredores do provocou uma mudança no interesse dos moradores
povoado Calembre encontra-se um extenso sobre esta nova forma de fonte de renda. Alguns deles
pavimento polido, com estrias, cristas e sulcos já retornaram às escolas e estão se formando como
subparalelos, esculpido em arenitos da porção guias de turismo para atender a demanda da Serra da
superior da Formação Cabeças, de idade Capivara. Em decorrência disso, passaram a buscar
neofameniana. As formas de abrasão nos seixos cada vez mais informações sobre a gênese e a
permitem inferir que o deslocamento das geleiras na importância das rochas de sua região.
9
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
AGRADECIMENTOS Luiza Ponciano agradece a Sônia M. O. Agostinho (Universidade
Os autores agradecem a José Henrique Gonçalves de Melo Federal de Pernambuco/UFPe), Mário F. de Lima Filho (UFPe),
(Petrobras/Cenpes) e Geoffrey Playford (The University of Cristiano Aprigio dos Santos (UFPe), Victor Hugo Santos
Queensland - Austrália) por sugestões que resultaram no (Universidade Estadual do Norte Fluminense/Uenf) e Helio J.P.
aprimoramento do texto e pela revisão lingüística e Christopher C. Severiano Ribeiro (Uenf) pela oportunidade de conhecer o citado
Scotese da Paleomap pela confecção da Figura 8 para este artigo. pavimento durante o trabalho de campo organizado pelos mesmos e ao
Mario Caputo agradece ao geólogo Raimundo Oliver Brasil dos Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Santos (Consultor independente) pelo apoio no trabalho de campo. Tecnológico/CNPq pela concessão da bolsa de doutorado.

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Petróleo Brasileiro S.A. Região de Exploração do Norte, Belém, Brasil (PETROBRAS, Sistema de Informação em Exploração - SIEX
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CURRICULUM VITAE SINÓPTICO DOS AUTORES

Mario Vicente Caputo - Graduado em Geologia (1961 – UFRGS), com doutorado em Geologia (1984 –
Universidade da Califórnia, Santa Barbara - EUA). Trabalhou na Petrobras de 1962 até 1992 e no mesmo ano
ingressou como professor de Recursos Energéticos na Universidade Federal do Pará. Lecionou até 2008, quando se
aposentou na mesma instituição. Na Petrobras, teve responsabilidade pela descoberta de petróleo (campos de gás e
condensado) na área do Rio Juruá, na Bacia do Solimões. Sua área de atuação, além de geologia do petróleo, inclui
mapeamento de unidades geológicas das bacias do Solimões, Amazonas e Parnaíba, com ênfase em estratigrafia,
geologia estrutural e paleoclimatologia. Evidenciou e estudou diversas glaciações de idade pré-neocarbonífera em
bacias intracratônicas brasileiras. Atualmente exerce consultoria sobre bens minerais das bacias sedimentares do
norte do Brasil.

Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano - Atualmente realiza Doutorado em Geologia na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, bolsista CNPq). Mestre em Ciências – Geologia pela UFRJ. Bacharel e
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Participa das exposições
de Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ e de projetos do Laboratório de Estudos de Comunidades
Paleozóicas/UNIRIO. Tem desempenhado atividades profissionais na área de Geociências, com ênfase em
Invertebrados Paleozóicos. Sua área atual de especialização é a tafonomia e paleoecologia de macroinvertebrados
devonianos das bacias do Parnaíba e Amazonas. Também realiza trabalhos associados às áreas de Geoconservação
e Museus.

11
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
UNIDADE VIII
A Bacia do Parnaíba e seus Fósseis
SIGEP
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil

SIGEP 051

Afloramento Fossilífero de Oiti,


Bacia do Parnaíba, PI
Registro de um mar devoniano no Nordeste do Brasil
Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano 1,2,3
Vera Maria Medina da Fonseca 1
Antonio Carlos Sequeira Fernandes 1
Deusana Maria da Costa Machado 3
Aline Rocha de Souza 3

1 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quinta da Boa Vista, São

Cristóvão, 20940-040 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. vmmedinafonseca@gmail.com, luizaponciano@gmail.com, fernande@acd.ufrj.br


2 Departamento de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Av. Athos da Silveira Ramos, 274,

CCMN, Cidade Universitária, 21941-916 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.


3 Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas, Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro - UNIRIO, Avenida Pasteur, 458, 22.240-290, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. deusana@gmail.com, emsiano@yahoo.com.br

© Ponciano,L.C.M.O.; Fonseca,V.M.M.; Fernandes,A.C.S.; Machado,D.M.C.; Souza,A.R. 2010.


Afloramento Fossilífero de Oiti, Bacia do Parnaíba, PI - Registro de um mar devoniano no Nordeste
do Brasil. In: Winge,M.; Schobbenhaus,C.; Souza,C.R.G.; Fernandes,A.C.S.; Berbert-Born,M.; Sallun
filho,W.; Queiroz,E.T.; (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em
18/01/2010 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio051/sitio051.pdf
[atualmente http://sigep.cprm.gov.br/sitio051/sitio051.pdf ]

(A referência bibliográfica de autoria acima é requerida para qualquer uso deste artigo em qualquer mídia, sendo proibido o
uso para qualquer finalidade comercial)
Afloramento Fossilífero de Oiti,
Bacia do Parnaíba, PI
Registro de um mar devoniano no Nordeste do Brasil
SIGEP 051 *
Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano 1,2,3
Vera Maria Medina da Fonseca 1
Antonio Carlos Sequeira Fernandes 1
Deusana Maria da Costa Machado 3
Aline Rocha de Souza 3

RESUMO - Na região de Oiti (Município de Pimenteiras, Piauí) afloram arenitos fossilíferos do Membro
Passagem (base da Formação Cabeças), depositados por um sistema flúvio-deltaico. Estes depósitos contêm
invertebrados marinhos concentrados em intervalos fossilíferos pouco espessos (centimétricos a decimétricos) e
com uma ampla distribuição lateral. Neles, os braquiópodes são predominantes, associados a outros fósseis
marinhos de ocorrência mais esparsa, como biválvios, gastrópodes, tentaculitídeos, trilobitas, crinoides e
fragmentos de plantas continentais. Os táxons presentes são do Devoniano Médio, portanto contemporâneos da
transgressão marinha de maior porte que inundou as bacias paleozóicas brasileiras. O afloramento de Oiti
destaca-se daqueles que lhes são homócronos na borda leste da Bacia do Parnaíba pela maior concentração e
melhor qualidade do registro fossilífero. Seus macrofósseis ocorrem em arenitos muito micáceos de granulação
muito fina a fina, intercalados a raros siltitos e arenitos conglomeráticos. Estes intervalos fossilíferos estão
associados a clinoformas sigmoidais com estratificação cruzada assintótica e climbing ripples, assim como a arenitos
com estratificação cruzada hummocky. Uma interpretação para a gênese destas concentrações fossilíferas sugere
que as mesmas estejam relacionadas à desaceleração de correntes de turbidez (fluxos hiperpicnais), originadas em
um sistema flúvio-deltaico influenciado por inundações, ao adentrarem um paleoambiente marinho raso.

Palavras-chave: Formação Cabeças; Membro Passagem; Devoniano; Bacia do Parnaíba; braquiópodes

Fossiliferous Outcrop of Oiti, Parnaíba Basin, State of Piauí


Record of a devonian sea in Northeastern Brazil

ABSTRACT - Fossiliferous Passagem Member (basal Cabeças Formation) sandstones of fluvio-deltaic origin crop out in
the Oiti region (Pimenteiras municipality, State of Piauí). These strata contain marine invertebrates concentrated in
centimeter to decimeter-thick intervals with widespread lateral distribution. The brachiopod-dominated fossil assemblages
also exhibit other less common invertebrates, such as bivalves, gastropods, tentaculitids, trilobites, and crinoids, in addition
to plant debris. The fossils are of Middle Devonian age, therefore coeval with a major marine transgression which flooded
the Brazilian Paleozoic basins. The Oiti outcrop is distinguished from other Devonian sites on the eastern margin of the
Parnaíba Basin by the greater abundance and better preservation of its fossil assemblages. These occur in very fine to fine-
grained micaceous sandstones, which are interbedded with rare siltstones and conglomeratic sandstones. Sigmoidal
clinoforms with asymptotic cross-stratification and climbing ripples are associated with the fossiliferous intervals, as well as
hummocky cross-stratified sandstones. The genesis of the fossil assemblages could be related to the deceleration of turbidity
currents (hyperpycnal flows) in a flood-dominated fluvio-deltaic system entering a shallow marine paleoenvironment.

Key words: Cabeças Formation; Passagem Member; Devonian; Parnaíba Basin; brachiopods

* Publicado na Internet em 18/01/2010 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio051/sitio051.pdf


1 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quinta da Boa Vista, São
Cristóvão, 20940-040 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. vmmedinafonseca@gmail.com, luizaponciano@gmail.com, fernande@acd.ufrj.br
2 Departamento de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Av. Athos da Silveira Ramos, 274,

CCMN, Cidade Universitária, 21941-916 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.


3 Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas, Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Estado do Rio de

Janeiro - UNIRIO, Avenida Pasteur, 458, 22.240-290, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. deusana@gmail.com, emsiano@yahoo.com.br

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 1


INTRODUÇÃO regressivo que culminou com a maior ingressão
marinha já registrada naquela região.
As rochas sedimentares depositadas nos períodos Na região de Oiti (Município de Pimenteiras,
iniciais da Era Paleozoica guardam restos das Piauí) afloram arenitos fossilíferos do Membro
primeiras formas de vida macroscópica, constituída Passagem (base da Formação Cabeças), que fazem
pelos organismos pioneiros na colonização do parte da sequência mesodevoniana-eocarbonífera de
assoalho oceânico, os invertebrados marinhos. Vaz et al. (2007), depositados por um sistema flúvio-
No Brasil, o registro fossilífero desses grupos de deltaico em um paleoambiente marinho raso (Fig. 1).
animais só se torna mais abundante a partir do Esses arenitos contem fósseis de invertebrados
período Devoniano, quando grande parte do território marinhos, concentrados em intervalos pouco espessos
brasileiro esteve encoberta por extensos mares (centimétricos a decimétricos) e com uma ampla
epicontinentais, incluindo regiões hoje ocupadas pelo distribuição lateral. Neles, predominam restos de
sertão nordestino. Em alguns estados do Norte e braquiópodes associados a outros fósseis marinhos de
Nordeste, afloramentos de rochas devonianas da ocorrência mais esparsa, como biválvios, gastrópodes,
Bacia do Parnaíba são testemunhos da deposição tentaculitídeos, trilobitas e crinoides. São também
sedimentar em ambientes marinhos costeiros e comuns os fragmentos de plantas continentais
plataformais, durante um ciclo transgressivo- carreados das terras emersas circunjacentes.

Figura 1 – Aspecto de campo do afloramento fossilífero de Oiti


Figure 1 – Field aspect of the fossiliferous outcrop of Oiti

O afloramento de Oiti destaca-se daqueles que (Fig. 2). Constitui um sítio paleontológico raro, uma
lhes são homócronos na borda leste da Bacia do vez que só existem mais três localidades conhecidas
Parnaíba pela maior concentração e melhor qualidade onde ocorrem fósseis da mesma unidade
do registro fossilífero, tendo sido registrados, além do litoestratigráfica, cada qual apresentando tafocenoses
sítio principal, pelo menos cinco outros pontos com distintas, além de diversidade específica e modos de
expressiva riqueza de macrofósseis ao longo da preservação diferenciados. Intervalos fossilíferos do
estrada de terra que une a rodovia PI-120 (trecho Membro Passagem são registrados atualmente
Valença do Piauí – Pimenteiras) ao povoado de Oiti também no Km 305 da BR-316 (Município de Picos),

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 2


no povoado de Barreiro Branco (Município de definição da Formação Pimenteira de Plummer
Sussuapara) e na Serra de Pedro II (Município de (1948), suprimindo o antigo Membro Oitis.
Pedro II), todos no Estado do Piauí. A julgar pela Através de fósseis coletados por Llewellyn Ivor
dispersão geográfica dos afloramentos ao longo da Price na região de Oiti (municípios de Valença do
margem oriental da bacia, a extensão do nível Piauí e Pimenteiras) e nos arredores da cidade de
fossilífero em questão seria superior a 400 km. Picos, Caster (1948) reconheceu pela primeira vez a
Devido a tais características (posição estratigráfica existência de rochas devonianas na Bacia do Parnaíba,
restrita, com espessura centimétrica a decimétrica e corrigindo a proposta de Plummer (1948) de uma
ampla distribuição no leste da bacia), as concentrações idade carbonífera para a Formação Cabeças.
fossilíferas do Membro Passagem podem ser utilizadas Desde então, observações de campo e coletas
como camadas-guia, auxiliando no estabelecimento de sistemáticas na área vem permitindo o
uma estratigrafia de sequências e no mapeamento desenvolvimento de trabalhos versando sobre a
regional das formações devonianas da Bacia do litoestratigrafia da Formação Cabeças, assim como a
Parnaíba (Della Fávera, 1990; Freitas, 1990). sistemática, tafonomia, paleoecologia e
O reconhecimento do sítio fossilífero de Oiti em paleobiogeografia dos macrofósseis característicos do
meados do século XX, durante trabalhos de campo na Membro Passagem. Esses trabalhos reúnem grande
bacia executados pelo Conselho Nacional do Petróleo parte das informações geológicas e paleontológicas
foi, inicialmente, de fundamental importância para o concernentes à base da Formação Cabeças, conforme
estabelecimento das unidades lito e demonstrado em diversos estudos recentes (Freitas,
cronoestratigráficas da Bacia do Parnaíba, o que lhe 1990; Della Fávera, 1990, 2001; Machado, 1990, 1995,
confere também importância histórica. 1999; Carvalho et al., 1997; Fonseca & Machado, 1999;
Oiti é uma localidade de referência para a Fonseca, 2001, 2004; Ponciano, Souza & Machado,
Formação Cabeças, citada na literatura desde 2008; Ponciano & Della Fávera, 2008, 2009;
Plummer (1948) e Caster (1948), por ocasião do Ponciano, 2009).
reconhecimento geológico da bacia pelo Conselho
Nacional do Petróleo. A seção-tipo original da LOCALIZAÇÃO
Formação Cabeças foi definida por Plummer (1948)
ao longo das rodovias percorridas pelo autor entre as O afloramento fossilífero de Oiti localiza-se no
cidades de Oeiras, Picos e Valença do Piauí, as quais Estado do Piauí, região sudoeste do Município de
tiveram seu traçado alterado ao serem asfaltadas. Pimenteiras, sendo atravessado pela estrada de terra
Contudo, a definição de uma subunidade basal para a que une o povoado de Oiti à rodovia Valença do Piauí
Formação Pimenteira, o “Membro Oitis”, proposta – Pimenteiras (PI-120). O centroide da área do sítio
no mesmo trabalho, revela que esta localidade foi uma fica a 4 km do entroncamento da estrada de terra com
das pioneiras na definição da litoestratigrafia da Bacia a PI-120, o qual, por sua vez, situa-se a 32 km da
do Parnaíba. Pouco mais tarde, Kegel (1953), prefeitura de Valença do Piauí. Deste modo, a área
constatando que os invertebrados fósseis da região de proposta totaliza 16 km2, sendo as coordenadas do
Oiti eram os mesmos encontrados no Membro ponto principal, tomadas por GPS, 06o16’33’’S -
Passagem da Formação Cabeças, modificou a 041o31’21’’ W, no datum Córrego Alegre (Fig. 2).

Figura 2 – Mapa simplificado da localização do afloramento de Oiti no Município de Pimenteiras, Estado do


Piauí.
Figure 2 –Simplified map of the Oiti outcrop location in Pimenteiras municipality, State of Piauí.

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 3


DESCRIÇÃO DO SÍTIO de maré, Della Fávera (1990) propôs que os arenitos
da Formação Cabeças teriam sido depositados sob a
Contexto Geológico influência de correntes de maré e de tempestades.
Os macrofósseis do afloramento de Oiti ocorrem Deste modo, o referido autor utilizou o análogo da
em arenitos muito micáceos de granulação muito fina Formação Roda (Eoceno) daquela bacia para explicar
a fina e coloração esbranquiçada a arroxeada, tal semelhança, embora atualmente a mesma formação
intercalados a raros siltitos e arenitos conglomeráticos. seja interpretada como resultante de inundações
Estes intervalos fossilíferos estão associados a catastróficas (Tinterri, 2007).
clinoformas sigmoidais com estratificação cruzada A partir de então, as hipóteses constituíram-se em
assintótica (sensu Zavala, 2008) e climbing ripples, assim combinações das propostas anteriores, associando
como a arenitos com estratificação cruzada hummocky sistemas deltaicos com a influência de marés e/ou
(Fig. 3). tempestades num paleoambiente marinho raso.
A Formação Cabeças foi proposta por Plummer Della Fávera (2001) mudou este quadro ao iniciar
(1948) para uma espessa sequência de arenitos a aplicação, na Bacia do Parnaíba, do modelo de
aflorantes na localidade denominada Cabeças (atual sistemas flúvio-deltaicos dominados por inundações,
Dom Expedito Lopes), na borda leste da Bacia do proposto inicialmente por Mutti et al. (1996) para
Parnaíba. Plummer (1948) dividiu inicialmente esta depósitos de diversas bacias mesozóicas e cenozóicas
formação, da base para o topo, nos membros da Itália, Espanha e Argentina.
Passagem, Oeiras e Ipiranga. Atualmente, somente os Recentemente, Ponciano & Della Fávera (2008,
dois primeiros ainda são utilizados na literatura, 2009) reinterpretaram as litofácies do Membro
porém sua validade permanece problemática, devido Passagem (inclusive as da região de Oiti) como a
às observações de Beurlen (1965), Campanha & porção distal da barra de desembocadura de deltas
Mabesoone (1974), Caputo (1984) e Mabesoone dominados por inundações, intercalados com lobos
(1994), de que as fácies marinhas da parte inferior do arenosos tabulares de frente deltaica. O tipo das
Membro Passagem seriam melhor relacionadas ao clinoformas sigmoidais (com estratificação cruzada
topo da Formação Pimenteira. assintótica e laminação cruzada cavalgante), e a sua
Adotando-se a divisão predominante na literatura predominância na Formação Cabeças, foram
nos membros Passagem e Oeiras, a Formação consideradas as principais evidências da influência de
Cabeças compõe-se principalmente de arenitos inundações nesta unidade. Nos depósitos do Membro
quartzosos, bem selecionados, de granulometria muito Passagem, intervalos fossilíferos com abundantes
fina a grossa e coloração esbranquiçada a arroxeada, restos de invertebrados marinhos e fragmentos de
com intercalações de siltitos, arenitos conglomeráticos plantas continentais ocorrem tanto nos lobos
e raramente folhelhos, que afloram nas bordas leste e arenosos tabulares de frente deltaica (com
oeste da Bacia do Parnaíba. A estratificação cruzada estratificação cruzada hummocky) quanto nos depósitos
assintótica predomina na Formação Cabeças, distais de barra de desembocadura (com estratificação
ocorrendo intercalada a arenitos com estratificação cruzada assintótica), ainda no contexto de um
cruzada hummocky em sua base, no Membro Passagem. paleoambiente marinho raso.
Na porção superior deste membro, os arenitos seriam
mais semelhantes aos do Membro Oeiras, de Paleobiologia
granulometria fina a média e com pouca mica
(Beurlen, 1965; Caputo, 1984). Rumo ao topo da No afloramento de Oiti foram identificados até o
formação, passam a predominar arenitos fluidizados, momento: (a) oito táxons de braquiópodes -
associados a tilitos/diamictitos, ritmitos e pavimentos Pleurochonetes comstocki (Rathbun, 1874), Mucrospirifer
estriados, especialmente na borda oeste e pedroanus (Rathbun, 1874), Derbyina (?) sp., Rhipidothyris
subsuperfície da bacia (Kegel, 1953; Caputo et al., sp., três morfotipos de Rhipidothyrididae indet. ou
2005, 2008; Vaz et al., 2007). Mutatiollidae indet. e lingulídeos indeterminados; (b)
O modelo deposicional da Formação Cabeças foi duas formas de trilobitas - Metacryphaeus meloi
objeto de diferentes interpretações nas últimas Carvalho, Edgecombe & Lieberman, 1997 e um
décadas. As primeiras análises paleoambientais homalonotídeo; (c) cinco táxons de biválvios –
relacionaram estes depósitos a sistemas deltaicos Palaeoneilo sp., Grammysioidea lundi (Clarke,1899),
(Carozzi et al., 1975; Oliveira & Barros, 1976; Lima & Spathella pimentana (Hartt & Rathbun, 1875), Nuculites?
Leite, 1978). Posteriormente, a influência de marés aff. N. (Nuculites) oblongatus Conrad, 1841 e Cucullella
e/ou tempestades num paleoambiente marinho raso triquetra (Conrad, 1841); (d) uma espécie de
passou a ser considerada como a gênese mais provável belerofontídeo - Plectonotus (Plectonotus) derbyi Clarke,
para os depósitos da Formação Cabeças (Della Fávera, 1899; (e) uma espécie de tentaculitídeo - Tentaculites sp.
1982). Baseado em sua experiência na Bacia do Sul (cf. Tentaculites eldredgianus Hart & Rathbun, 1875); (f)
dos Pirineus, onde estruturas arenosas com sigmoides três morfotipos de crinóides (Scheffler et al., 2009); e
eram tradicionalmente interpretadas como depósitos (g) fragmentos vegetais (Spongiophyton sp.).

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 4


Figura 3 – Perfil estratigráfico do afloramento de Oiti, com o posicionamento das tafofácies e fotos das
respectivas concentrações fossilíferas. Barras de escala = 1 cm.
Figure 3 – Stratigrafic profile of Oiti outcrop, with taphofacies positioning and photos of resepctive fossiliferous
concentration. Bars scale = 1 cm

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 5


Ponciano (2009) descreveu pela primeira vez os interpretado como a região da barra de
atributos tafonômicos das concentrações de desembocadura deste sistema flúvio-deltaico. Esta
macroinvertebrados e fragmentos vegetais do tafofácies, onde prevalece o braquiópode Pleurochonetes
Membro Passagem. No decorrer da análise, três comstocki (Fig. 4), resulta da desaceleração de correntes
tafofácies foram identificadas e caracterizadas, sendo de turbidez de alta densidade, com o predomínio da
o sítio de Oiti o mais completo dentre os utilizados, componente unidirecional do fluxo turbulento. A
pois foi o único onde as três tafofácies ocorrem numa deposição da tafofácies 2, ocasionada pela
mesma localidade. Em seu estudo, relacionou a gênese desaceleração de correntes de turbidez de baixa
das concentrações fossilíferas à desaceleração de densidade, teria ocorrido já num contexto mais distal,
correntes de turbidez (fluxos hiperpicnais), originadas caracterizando os lobos arenosos tabulares de
em um sistema flúvio-deltaico influenciado por plataforma, ricos em braquiópodes terebratulídeos.
inundações, ao adentrarem um paleoambiente Finalmente, a tafofácies 3 representa a decantação da
marinho raso. porção superior (mais distal e diluída) das correntes de
As assinaturas tafonômicas da tafofácies 1 turbidez, onde predominam os fragmentos vegetais
sugerem um paleoambiente mais proximal, (Fig. 3).

Figura 4 – Concentração fossilífera do afloramento de Oiti, dominada por braquiópodes. Tafofácies 1. Barra de
escala = 1 cm.
Figure 4 – Brachiopod-dominated macroinvertebrate assemblage from the Oiti outcrop. Taphofacies 1. Bar scale = 1 cm.

Os fósseis de invertebrados devonianos Paraná, conectando-as com as da margem oeste da


encontrados na região de Oiti são também América do Sul e do noroeste da África, propiciando a
importantes na elucidação das relações mistura das faunas destas bacias. Em virtude da
paleobiogeográficas e na paleogeografia do Gondwana similitude faunística entre a parte basal da Formação
Ocidental e terrenos vizinhos, durante o Devoniano Cabeças e a Formação Ererê, na Bacia do Amazonas,
Médio. Além disso, a fauna marinha da Formação a deposição de ambas as unidades deve ter sido
Cabeças possui especial importância para os estudos parcialmente síncrona. Outra semelhança entre estas
paleobiogeográficos do Brasil, devido ao duas unidades reside na diminuição da diversidade de
posicionamento intermediário da Bacia do Parnaíba espécies da Formação Pimenteira com relação à
com relação às bacias do Amazonas e Paraná (Fonseca Formação Cabeças, que ocorreu de forma análoga,
& Melo, 1987). embora, sabe-se hoje, não simultaneamente, àquela
Estudos realizados até o momento apontam que a observada entre as faunas da Formação Maecuru e da
transgressão marinha iniciada no final do Eifeliano Formação Ererê, na Bacia do Amazonas (Melo, 1988).
teria interligado as bacias do Amazonas, Parnaíba e
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 6
Considerações biocronoestratigráficas
As rochas que afloram no sítio de Oiti, hoje
Até o momento, os macrofósseis de invertebrados localizado em plena caatinga, no Estado do Piauí,
são a única ferramenta disponível para a datação dos foram depositadas originalmente como areias flúvio-
depósitos do Membro Passagem, pois ainda não foi deltaicas em um paleoambiente marinho raso. Nelas
possível a obtenção de amostras adequadas para são encontrados restos de invertebrados
análise palinológica na parte inferior da Formação característicos da fauna marinha paleozóica, sendo os
Cabeças. Assim sendo, esse intervalo tem sido datado braquiópodes os organismos predominantes. Além
como Givetiano, com base em braquiópodes e destes, encontram-se nos jazigos de Oiti fósseis de
trilobitas (Melo, 1988). Segundo Fonseca (2004), biválvios, gastrópodes, tentaculitídeos, trilobitas e
Pleurochonetes comstocki (Fig. 5), um Chonetoidea crinoides, assim como fragmentos de plantas
presente no Membro Passagem e muito abundante em continentais carreadas das terras emersas
Oiti, é conespecífico com formas ocorrentes na circunjacentes. Estes depósitos datam do Devoniano
Formação Ererê, da Bacia do Amazonas, datada Médio, época da maior ingressão marinha nas terras
palinologicamente como neo-eifeliana – eogivetiana do atual território brasileiro, quando o mesmo fazia
por Melo & Loboziak (2003). parte do paleocontinente Gondwana e a região
Nordeste do Brasil se comunicava com o noroeste do
continente africano.
Dentro desse contexto, o afloramento fossilífero
de Oiti representa uma área expositiva clássica da
Formação Cabeças, que tem sido utilizada desde
meados do século XX na correlação dos estratos
devonianos da Bacia do Parnaíba, o que lhe confere
valor científico e pedagógico, além de importância
histórica. Além disso, os fósseis ali registrados são
relevantes para as reconstruções paleobiogeográficas
das bacias do Parnaíba, Amazonas e Paraná, incluindo
novas espécies, atualmente em processo de descrição,
que poderão complementar as lacunas ainda existentes
nessa área do conhecimento.
O conteúdo fossilífero da região de Oiti também
foi utilizado como marco estratigráfico no
Figura 5 – Pleurochonetes comstocki, molde interno de desenvolvimento de uma estratigrafia de sequências
valva ventral. Barra de escala = 1 cm para a Bacia do Parnaíba (Della Fávera, 1990; Freitas,
Figure 5 - Pleurochonetes comstocki, internal mold of ventral 1990). No mesmo sítio, o estudo das litofácies
valve. Bar scale = 1 cm possibilitou a proposta de um novo modelo
deposicional para a Formação Cabeças, representado
Os dados bioestratigráficos mais atualizados sobre por fácies e associações de fácies de paleoambientes
a Formação Cabeças foram estabelecidos por Grahn et flúvio-deltaicos dominados por inundações (Ponciano
al. (2006), através da correlação palinológica de poços & Della Fávera, 2008, 2009). A análise das tafofácies
da Petrobras na borda oeste e parte central da Bacia de Oiti (Ponciano, 2009) permitiu relacionar a gênese
do Parnaíba, que dataram o topo da Formação das concentrações fossilíferas do Membro Passagem à
Cabeças como neofameniano terminal. desaceleração de correntes de turbidez (fluxos
Mais tarde, Grahn et al. (2008) dataram a hiperpicnais) ao adentrarem o paleoambiente marinho
Formação Pimenteira como neo-eifeliana – raso.
eogivetiana, através da análise de quitinozoários em
sondagens rasas na faixa de afloramentos do Piauí MEDIDAS DE PROTEÇÃO
(borda leste da bacia). Apesar da base da Formação
Cabeças também ter sido amostrada, não foram O afloramento fossilífero de Oiti se encontra
recuperados quitinozoários. Contudo, a idade numa região rural, ainda carente de perspectivas de
eogivetiana do topo da Formação Pimenteira, desenvolvimento urbano ou industrial significativo. As
determinada em seções próximas às do Membro concentrações mais abundantes de macrofósseis
Passagem, e que se interdigitam nos afloramentos, ocorrem ao longo da estrada de terra que une a PI-120
corrobora a proposta prévia de uma idade givetiana ao povoado de Oiti, e também no leito do rio Banguê.
para o referido membro. Não existem atividades de mineração na área.
Porém, o crescimento do povoado de Oiti, o contínuo
SINOPSE SOBRE A ORIGEM, EVOLUÇÃO asfaltamento de estradas na região e a apropriação de
GEOLÓGICA E IMPORTÂNCIA DO SÍTIO terras ao longo dessas estradas podem constituir

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 7


ameaças em potencial à preservação do afloramento. atuar como “agentes voluntários” na preservação do
Os terrenos onde se encontram o sítio fossilífero patrimônio local, se devidamente orientados sobre a
principal de Oiti e os demais pontos onde já foram importância dos fósseis e dos estratos rochosos onde
coletados fósseis são em parte públicos e em parte ocorrem. Tal iniciativa também poderá melhorar as
privados. Apresentam um grau intermediário de condições de vida dos habitantes do povoado Oiti,
fragilidade porque, apesar dos macrofósseis serem pela remuneração advinda de visitas guiadas aos
encontrados em diversos pontos numa área de 16 afloramentos e da venda de réplicas, entre outras
km2, o intervalo fossilífero em questão (utilizado na atividades.
maioria dos estudos citados anteriormente) tem sido Numa segunda etapa, com a mobilização da
alvo de coletas intensivas. população, pretende-se planejar atividades de
Apesar de seu bom estado, a área expositiva de geoturismo e a criação de um pequeno museu local,
Oiti não está incluída em uma unidade de onde seriam expostos fósseis característicos de Oiti.
conservação. O povoado de mesmo nome pertence ao Isso permitiria ampliar as relações de identidade dos
Município de Pimenteiras, cuja Secretaria de Educação moradores da região com os fósseis, a fim de
e Cultura já demonstrou interesse em participar de preservá-los como seu patrimônio.
projetos de geoconservação dos afloramentos ali Exemplares de macroinvertebrados e vegetais
existentes. fósseis utilizados nos estudos prévios acima referidos
Visando tal objetivo, os trabalhos nesta área estão depositados nas coleções do Laboratório de
foram iniciados a partir do inventário dos dados Estudos de Comunidades Paleozóicas
científicos, com o propósito de ressaltar a importância (LECP/UNIRIO), na coleção de paleoinvertebrados
do local para o meio acadêmico, e de sensibilizar o do Departamento de Geologia e Paleontologia do
poder público para desenvolver a educação Museu Nacional/UFRJ e no Museu de Ciências da
patrimonial da população na escola municipal de Oiti Terra/DNPM-RJ. Constituem um acervo que não
(Unidade Escolar Vitor Ferreira), em conjunto com as apenas facilita o acesso dos pesquisadores aos fósseis
associações de moradores e instituições da região, como também contribui na preservação
governamentais. tanto dos espécimes em si quanto das informações
A educação patrimonial é um retorno que a relacionadas à sua coleta. A coleção do
academia propicia à sociedade, além de envolver a LECP/UNIRIO disponibiliza, inclusive, as fichas
população na proteção dos atributos geológicos e catalográficas de seu acervo na página
paleontológicos da região. População esta que poderia http://www.unirio.br/lecp.

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CURRICULUM VITAE SINÓPTICO DOS AUTORES
LUIZA CORRAL MARTINS DE OLIVEIRA PONCIANO - Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas
pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente realiza Doutorado em Ciências - Geologia na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (bolsista CNPq), além de participar das exposições de Paleontologia do
Museu Nacional/UFRJ e de projetos do Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas/UNIRIO. Tem
experiência na área de Geociências, ênfase em Invertebrados Paleozóicos, atuando principalmente no seguinte
tema: Tafonomia e Paleoecologia dos macroinvertebrados das bacias do Parnaíba e Amazonas. Também realiza
trabalhos associados às áreas de Geoconservação e Museus.

Vera Maria Medina da Fonseca - Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula (1976),
Mestre (1991) e Doutor (2001) em Ciências - Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bióloga do
Projeto Radambrasil (1978-1984), Pesquisadora em Ciências Exatas e da Natureza do Departamento Nacional da
Produção Mineral (1984-1997), Professora Assistente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997-2002).
Desde setembro de 2002, Professor Adjunto da UFRJ, lotada no Departamento de Geologia e Paleontologia do
Museu Nacional, onde desenvolve também trabalho de curadoria junto à Coleção de Paleoinvertebrados. Possui
experiência na área de Geociências, ênfase em Paleontologia, atuando principalmente no estudo de braquiópodes
devonianos e carboníferos das bacias paleozóicas brasileiras.

Antonio Carlos Sequeira Fernandes - Licenciado e Bacharel em História Natural pela Universidade Gama Filho
(1973), Licenciado em História pela Universidade Veiga de Almeida (2004), Mestre (1978) e Doutor (1996) em
Ciências - Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Associado da UFRJ, lotado no
Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional. Presidente (1995/1997) e vice-presidente (1998-
2001) da Sociedade Brasileira de Paleontologia representa-a atualmente junto à SIGEP. Curador da coleção de
paleoinvertebrados do Museu Nacional e Bolsista do CNPq, desenvolve pesquisas relacionadas a Icnologia,
Paleontologia de Invertebrados e história das coleções paleontológicas do Museu Nacional.

Deusana Maria da Costa Machado - Possui graduação em Geologia pela Universidade Federal do Pará (1986),
mestrado em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990) e doutorado em Geociências pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geologia, atuando
principalmente nos seguintes temas: Devoniano, Bivalvia, Comunidades Paleozóicas, Patrimônio e Educação.

Aline Rocha de Souza - Bacharel em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –
UNIRIO (2006) e Mestre em Museologia e Patrimônio pela mesma universidade (término 2008). Atualmente é
pesquisadora do Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas / UNIRIO, atuando principalmente nos
seguintes temas: Museologia, Museus, Paleontologia, Patrimônio Natural (com ênfase para a Geodiversidade e
Geoconservação).

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 10


UNIDADE IX
Paleontologia e Ensino de Ciências e Biologia
Texto 1
SCHWANKE, C.; SILVA, M. do A. J. Educação e paleontologia.
In: CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de
Janeiro:
Interciência, 2010. cap. 34, p. 682-688.
Texto 2
HENRIQUES, M. H. P. TPaleontologia e educação para a
sustentabilidade. In: CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1,
Rio de Janeiro: Interciência, 2010. cap. 35, p. 689-700.

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