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PALEONTOLOGIA
CADERNO DE TEXTOS
Organizador: Johnson Fernandes Nogueira, Ms. Dr.
2012.1
UNIDADE I
A Ciência Paleontológica
Texto 1
CASSAB, R. de C. T. Objetivos e princípios. In: CARVALHO, I.S.
(Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência,
2010. cap. 1, p. 3-11.
Texto 2
NOBRE, P.H. Fósseis: coleta e métodos de estudo. In: CARVALHO,
I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência,
2010. cap. 22, p. 397-411.
UNIDADE II
Tafonomia
Texto 1
SIMÕES, M. S.; RODRIGUES, S. C.; BERTONI-MACHADO, C.; HOLZ,
MICHAEL. Tafonomia: processos e ambientes de fossilização. In:
CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro:
Interciência, 2010. cap. 3, p. 19-51.
Texto 2
MEDEIROS, M.A. Fossildiagênese. In: CARVALHO, I.S. (Ed.).
Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência, 2010. cap.
5, p. 65-77.
UNIDADE III
Tempo Geológico
Texto 1
PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Registro
das Rochas e Escala do
Tempo Geológico. In:_______. Para Entender a Terra. 4. ed.
Porto Alegre:
Bookman, 2006. cap. 10, p. 247-268.
Texto 2
ROHN, R. Uso estratigráfico dos fósseis e tempo geológico. In:
CARVALHO, I.S. (Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro:
Interciência, 2010. cap. 3, p. 19-51.
UNIDADE IV
Plantas Fósseis (Paleobotânica)
SIGEP
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
SIGEP 104
[Ver versão final do CAPÍTULO IMPRESSO em: Winge,M. (Ed.) et al. 2009. Sítios
Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasília: CPRM, 2009. v. 2. 515 p. il. color.]
Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional
O mais exuberante e importante registro florístico tropical-
subtropical permiano no Hemisfério Sul
SIGEP 104
Dimas Dias-Brito*1
Rosemarie Rohn*2
Joel Carneiro de Castro*3
Ricardo Ribeiro Dias**4
Ronny Rössler***5
Fragmentos da Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional (FPTS) ocorrem na UC Monumento Natural das Árvores
Fossilizadas do Tocantins (MNAFTO) e arredores (Filadélfia, NNE Estado de Tocantins, SW Bacia do Parnaíba).
Dois patamares no relevo dão grande beleza cênica à região: o inferior (Permiano), topo da Formação Pedra de
Fogo ou base da Formação Motuca, e o superior (Triássico), topo da Formação Sambaíba. A floresta fossilizada
associa-se a depósitos aluviais da base da Formação Motuca, que estão sobrepostos a sedimentos marinhos
proximais da Formação Pedra de Fogo. Os vegetais, permineralizados por sílica - rolados ou encontrados em
quartzo-arenitos e pelitos - são abundantes e tridimensionalmente bem preservados. Caules muito longos,
ultrapassando 10m e com diâmetros basais de até 1,20 m, são comuns. Destacam-se caules das seguintes
samambaias arborescentes: Tietea, Psaronius (Psaroniales, os elementos dominantes e maiores), Grammatopteris
(Filicales) e Dernbachia (?Filicales). Também há pinas e pecíolos, relacionados aos caules, samambaias epífitas
(Botryopteris), esfenófitas arborescentes (e.g., Arthropitys) e caules de diferentes gimnospermas. A preservação dos
vegetais é excepcional para a investigação de aspectos tafonômicos, morfológicos, anatômicos e ontogenéticos
dos indivíduos, permitindo estudar a paleoecologia e evolução desta paleoflora. A FPTS, que ocupou terras
baixas, sob clima quente e úmido variável sazonalmente, contém elementos-chave para a compreensão das
relações evolutivas e horizontais das províncias florísticas neopaleozóicas de ambos hemisférios e para o
desenvolvimento de novos conceitos sobre a botânica daquele tempo. O MNAFTO constitui patrimônio
geobiológico ímpar no mundo, além de apresentar predicados arqueológicos (e.g., impressões rupestres),
ambientais e potencial ecoturístico.
Palavras-chave: paleobotânica, samambaias-fósseis arborescentes, floresta petrificada, Formação Motuca,
Permiano, Estado do Tocantins.
The Northern Tocantins Petrified Forest, the stems, Botryopteris (climbing or epiphytic fern), arboreal
State of Tocantins -The most luxuriant and sphenopsids (e.g., Arthropitys), and different gymnosperm
important Permian tropical-subtropical trunks also occur. The exceptional plant preservation allows
floristic record in the Southern Hemisphere taphonomic, morphologic, anatomic and ontogenetic studies, in
addition to palaeoecologic discussions. The NTPF is interpreted
Patches of the Northern Tocantins Petrified as a tree-fern-dominated wetland Permian flora under warm-
Forest (NTPF) occur in the Tocantins Fossil Trees humid conditions seasonally variable. It contains key-elements to
Natural Monument (TFTNM) and in its surroundings the comprehension of evolutive relationships among Late
(Filadelfia, NNE Tocantins, SW Parnaíba Basin). The Palaeozoic floristic provinces. The TFTNM is an extraordinary
scenic beauty of this region results from a contrast between two geobiological heritage, unique in the world, also presenting
landscape plans: the lower one (Permian) - expressing the top of archaeological (e.g., petroglyphs), environmental significance, and
the Pedra de Fogo Formation or the basal Motuca Formation - geo/ecotouristical attractiveness.
, and the upper one (Triassic), formed by the top of the eolian Key-words: palaeobotany, fossil tree-ferns, petrified forest,
Sambaíba Formation. The fossil plants are associated with Motuca Formation, Permian, State of Tocantins.
alluvial deposits in the base of the Motuca Formation that
overlies the restricted marine Pedra de Fogo Formation. The INTRODUÇÃO
plant material, three-dimensionally preserved as siliceous
cellular permineralization, is abundant over the soil surface or Florestas petrificadas são áreas que apresentam
embedded in quartz arenites, sometimes in pelitic sediments. grande quantidade de caules fósseis. Estes são
The stems commonly reach several meters in length, sometimes encontrados em posição de crescimento, de deposição
more than 10m, with a basal diameter up to 1.20 m. There ou simplesmente espalhados pelo chão, geralmente
are distinct tree ferns: Tietea, Psaronius (Psaroniales, the sem ramos ou outros órgãos vegetais conectados. O
dominant and longer stems), Grammatopteris (Filicales) processo de preservação envolveu o soterramento por
and Dernbachia (?Filicales). Leaves and petioles related to sedimentos siliciclásticos e/ou material vulcânico,
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seguido de impregnação dos tecidos por soluções ou seqüências paleozóicas (...) como a do Parnaíba, ainda
gel silicoso (permineralização). Mais tarde, com a permanecem inexploradas do ponto de vista
exposição dos depósitos fossilíferos ao intemperismo paleobotânico”. Convênio e acordo de cooperação,
e à erosão, os caules foram parcialmente exumados, recentemente firmados entre a UNESP – Rio Claro,
mantendo sua posição original ou tornando-se entidades governamentais do Tocantins e o Museu de
totalmente expostos, fragmentados e distribuídos Chemnitz, Alemanha, passaram a sustentar ações em
caoticamente. prol da investigação científica do material da FPTS em
Dezenas de florestas petrificadas têm sido instituições brasileiras, visando, inclusive, a criação de
registradas em todos os continentes e ao longo de um Museu de História Natural em Palmas-TO.
todo o Fanerozócio, a partir do Devoniano. No sul Esta comunicação também registra que o
do Brasil - RS, em São Pedro do Sul e Mata, ao sul da MNAFTO é portador de um mosaico de ecossistemas
Bacia do Paraná, são conhecidos troncos fósseis de de alta relevância para a preservação, tendo, por outro
coníferas (Minello, 1994) de idade neotriássica lado, grande potencial para o ensino de geologia,
(Guerra-Sommer et al., 1999; Guerra-Sommer & paleontologia, biologia e ecologia. Exibe, ainda, forte
Scherer, 2002; Pires et al., 2005). vocação geo/ecoturística decorrente de sua grande
Por sua beleza e significado científico, muitas beleza cênica. Alguns achados arqueológicos na área
florestas fossilizadas têm sido convertidas em áreas do Monumento vêm agregando mais valor científico e
de proteção ou unidades de conservação. cultural à área.
Monumentos estaduais e nacionais, além de parques
nacionais, vêm sendo criados em diversos países, LOCALIZAÇÃO
sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, o que
reflete o nível de importância que as diferentes O MNAFTO, com seu entorno, situa-se na
sociedades dão a estas ocorrências. A Floresta Amazônia Legal, no NNE do Estado de Tocantins, no
Petrificada do Tocantins Setentrional (FPTS) - listada entre município de Filadélfia, próximo à fronteira com o
as 31 mais belas florestas fossilizadas da Terra Estado do Maranhão. Posiciona-se entre as lat.
(Dernbach, 1996) - é um desses tesouros da natureza, 7°17’45’’ e 7°38’34”S e long. 47°35’17” e 48°01’05’’W.
constituindo-se no mais exuberante e importante No seu lado oeste está o distrito de Bielândia,
registro florístico tropical-subtropical permiano no antigamente conhecido como Zé Biel ou Venda do Zé
hemisfério sul. Os mais notáveis fragmentos desta Biela, muito citado como localidade fossilífera (Fig. 1).
floresta deram origem à UC Monumento Natural das O acesso à área, a partir de Araguaína, é feito pela
Árvores Fossilizadas do Tocantins – MNAFTO. Distantes rodovia TO-222, que atravessa quase todo o
do Monumento, outras manchas da FPTS ocorrem Monumento no sentido W-E em direção a Filadélfia. A
em Goiatins, Colinas do Tocantins e, talvez, na região rodovia TO-010, que corta o MNAFTO no sentido N-
de Carolina, Maranhão (Fig. 1). S, e algumas estradas secundárias permitem completar
O objetivo central deste trabalho é ressaltar a o acesso às manchas da FPTS.
grande relevância científica do MNAFTO para a geo-
história do Permiano tropical-subtropical no DESCRIÇÃO DO SÍTIO
hemisfério sul, de modo a integrá-lo entre os mais
importantes sítios geobiológicos do Brasil a serem Características atuais
preservados como Patrimônio Natural da
Humanidade. Para tal, apresenta uma síntese O MNAFTO é um mosaico de áreas naturais
atualizada dos conhecimentos sobre a FPTS, a partir entrecortadas por zonas com atividades de pecuária e
de investigações geológicas e paleobotânicas de de ocupação humana. Cobre uma área de
diferentes autores (e.g., Faria Jr., 1979; Coimbra & aproximadamente 32 mil hectares, situando-se em
Mussa, 1984; Pinto & Sad, 1986; Herbst, 1999; região prioritária para a conservação da biodiversidade
Martins, 2000; Dernbach et al., 2002; Robrahn- brasileira (MMA, 2002). A temperatura média anual da
Gonzáles et al., 2002; Rössler & Noll, 2002; Rössler & região é de 26,3°C, com máximas e mínimas de 28°C e
Galtier, 2002a,b; 2003; Dias-Brito & Castro, 2005; 25,3°C, registradas, respectivamente, nos meses de
Rössler, 2006). Adicionalmente, oferece alguns novos setembro e junho. O índice pluviométrico totaliza
elementos para a discussão da estratigrafia da região. 1800 mm/ano, as chuvas concentrando-se de outubro
A FPTS tem sido relativamente pouco estudada, a abril (mais de 90% do total médio anual). De janeiro
sobretudo pela comunidade acadêmica nacional a março as precipitações atingem 50% do total médio
brasileira. Pouca coisa mudou após Mussa & Coimbra anual. De junho a agosto ocorre o mínimo das
(1987, p. 902) terem asseverado: “... no Brasil (...) precipitações e a umidade relativa do ar fica em torno
desde os primórdios dos estudos paleobotânicos, os de 50%. O quadro climático é bastante variável,
pesquisadores, em sua maioria, têm se preocupado havendo anos em que o índice pluviométrico não
muito mais com as investigações sobre as tafofloras atinge 850 mm. A dinâmica dos ecossistemas é regida
gondwânicas...”. Mais à frente, p. 906: “...as pela forte sazonalidade na disponibilidade hídrica.
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Figura 1 – Localização do Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Tocantins (MNAFTO) e entorno.
Figure 1 – Location of the Tocantins Fossil Trees Natural Monument (TFTNM) and its surroundings.
A FLORESTA PETRIFICADA DO
TOCANTINS NO MNAFTO
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florísiticos higrófilos a mesófilos (e.g., diferentes
espécies de esfenófitas arborescentes do tipo
Arthropitys, eixos permineralizados dos esfenófitas
herbáceas ou vários troncos pertencentes a coníferas,
Dadoxylon e cordaitales).
É importante registrar que Coimbra & Mussa
(1984) e Mussa & Coimbra (1987) escreveram a
respeito de caules procedentes do “Arenito Cacunda”,
da Formação Motuca. Noticiaram a presença de
diversas calamitáceas, a partir das quais são
introduzidos os táxons Arthropitys cacundensis Mussa
(Calamitaceae), Amyelon bieloi Mussa (Cordaitaceae) e o
gênero Carolinapitys Mussa com a espécie C. maranhensis
Mussa (gimnosperma com afinidades a formas
gondvânicas e de cordaitales euro-americanos, com
plano anatômico medular próximo de Scleromedulloxylon
da Bacia d’Autun). Registram, também, a presença de
medulas do tipo Artisia.
A partir do Maranhão - rodovia Carolina-Riachão,
altura do trevo para Araguaína - plantas fósseis
associadas a folhelhos descritos como subjacentes ao
“Arenito Cacunda” também foram descritas por Mussa
& Coimbra (1987). Eles introduziram os seguintes
novos táxons: o gênero Cyclomedulloxylon com a espécie
C. parnaibense Mussa, forma solenóide típica do
Permiano (particularmente do Eo- e Mesopermiano); a
espécie Cycadoxylon brasiliense (Pteridospermales,
Cycadoxyleae); e o gênero Araguainorachis com a
espécie A. simplissima. Esta última refere-se a um
fragmento que, segundo os autores, tem configuração
de certa forma próxima a da encontrada em bases
foliares de Botryopteridáceas e Coenopteridáceas e que
também lembra pecíolos atribuídos às Psaroniáceas.
Concluíram por referir-se ao novo táxon como ráquis
ou fragmento peciolar de planta pteridofítica ou
pteridospérmica. Os citados autores afirmaram (p.
906): “Portanto, à medida que novas descrições
vêm sendo apresentadas vê-se que a verdadeira
afinidade nórdica, para a associação florística
Figura 6 – Perfis estratigráficos referentes às fazendas Pedra-de-Fogo, cada vez mais se acentua.” [grifo
Andradina (7º27'19"S-47º50'21"W), Buritirana (7º27'36"S- nosso]. Fica evidente a necessidade de se conhecer, em
47º43'26"W) e Vargem Limpa (7º30'30"S-47º51'33"W). detalhe, as relações estratigráficas entre essa ocorrência
Figure 6 – Stratigraphic sections from Andradina(07º27'19"S- fossilífera maranhense e aquelas do MNAFTO,
47º50'21"W), Buritirana(7º27'36"S-47º43'26"W) and Vargem Goiatins e Colinas do Tocantins. Provavelmente
Limpa(7º30'30"S-47º51'33"W) farms. correspondem a manchas de um mesmo paleobioma.
Com vistas às discussões paleoclimáticas, é também
Levando-se em conta os estudos de Herbst muito importante a investigação da relação
(1999), Rössler & Galtier (2002a; 2002b; 2003) e estratigráfica entre a ocorrência fossilífera maranhense
Rössler (2006), a FPTS está representada por uma e aquela referente aos níveis de folhelhos portadores
paleoflora relativamente bem diversificada em que de palinomorfos estudados por Dino et al. (2002).
dominam as samambaias arborescentes psaroniales, As plantas fósseis da FPTS foram preservadas
tais como Tietea singularis, T. derby, Psaronius brasiliensis tridimensionalmente por processo de permineralização
e P. sinuosus (Tietea é o gênero mais abundante). De celular por sílica. A infiltração e impregnação de sílica
acordo com Rössler (op. cit.), a paleoflora inclui nas células e nos espaços intercelulares formaram uma
também a samambaia filicales arbórea Grammatopteris matriz inorgânica que sustentou os tecidos das plantas,
freitasii, a samambaia filicales epífita Botryopteris nollii e preservando-os. O rápido soterramento e a
a pequena samambaia arborescente filicales (?) subseqüente silicificação impediram a decomposição
Dernbachia brasiliensis, além de outros elementos
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Figura 7 – Afloramentos e caules petrificados. Formação Motuca. MNAFTO e entorno. 1. Tietea singularis; 2. Tietea singularis;
3. porção basal de Tietea singularis; 4. Tietea deformada; 5. Tietea singularis; 6. Tietea singularis; 7. Tietea singularis; 8. arenito com
estratificação cruzada de canal fluvial. 1-3: Fazenda Peba; 4-6, 8: Fazenda Andradina; 7: Fazenda Buritirana.
Figure 7 – Outcrops and petrified stems. Motuca Formation. TFTNM and its surroundings. 1. Tietea singularis; 2. Tietea
singularis; 3. basal portion of Tietea singularis; 4. Tietea deformed; 5. Tietea singularis; 6. Tietea singularis; 7. Tietea
singularis; 8. sandstone presenting fluvial channel cross stratification. 1-3: Fazenda Peba; 4-6, 8: Fazenda Andradina; 7: Fazenda
Buritirana.
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Figura 8 – Afloramentos e caules petrificados. Formação Motuca. MNAFTO. 1. Fazenda Buritirana: em primeiro plano a
Formação Mutuca e, ao fundo, morro com arenitos eólicos da Formação Sambaíba; 2 e 3. Tietea singularis. 4. Grammatopteris
freitasii; 5. Dadoxylon sp.; 6. Tietea singularis; 7. Porção basal de Tietea singularis; 8. Pecopteris sp. (pina estéril de samambaia); 9.
Pina fértil de samambaia; 10. Porção distal de Tietea singularis em lamito; 11. Tietea singularis em lamito; 12. Psaronius sp. 2 a 10,
12: Fazenda Buritirana; 11: Fazenda Vargem Limpa.
Figure 8 – Outcrops and petrified stems. Motuca Formation. TFTNM. 1. Fazenda Buritirana: Mutuca formation at first plane and, at
backgrond, eolic sandstones in hills of the Sambaíbaformation; 2 and 3. Tietea singularis. 4. Grammatopteris freitasii; 5.
Dadoxylon sp.; 6. Tietea singularis; 7. Basal portion of Tietea singularis; 8. Pecopteris sp. (sterile pine of samambaia); 9. Fertile
pine of samambaia; 10. Distal portion of Tietea singularis in mudstone; 11. Tietea singularis in mudstone; 12. Psaronius sp. 2 a
10, 12: Fazenda Buritirana; 11: Fazenda Vargem Limpa.
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Figura 9 – Plantas fósseis, inscrições rupestres e mesetas da Formação Sambaíba. MNAFTO e entorno. 1. Seção transversal
de falso caule com membros caulinares de Botryopteris nollii e numerosos membros foliares de distintas ordens e raízes
adventícias. Espécime MfNC K 5150 (Rössler & Galtier, 2003, pl. VII, fig. 1); 2. Seção transversal de falso caule com dois
membros caulinares de Botryopteris nollii e vários membros foliares e raízes. Parátipo 2, MfNC K 4880 b (Rössler & Galtier,
2003, pl. VI, fig. 1); 3. Seção transversal de Dernbachia brasiliensis. Parátipo 1, MfNC K 5002 (Rössler & Galtier, 2002b, pl. IV,
fig. 1); 4. Seção transversal de Grammatopteris freitasii. Parátipo 4, espécime MfNC K 4893 (Rössler & Galtier, 2002a, pl. VI,
fig.1); 5 e 6. Impressões rupestres em caverna de arenito, com representações geométricas, fitomórficas e antropomórficas.
Provavelmente Formação Sambaíba; altitude 296m; UTM 826525x9173008. Fazenda das Águas Formosas. Sítio cadastrado
no IPHAN, como Filadélfia I, pelo Núcleo Tocantinense de Arqueologia – UNITINS; 7 e 8. Mesetas da Formação
Sambaíba.
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Figure 9 – Fossil plants, rupestrian draws and “mesetas” of the Sambaíba Formation. TFTNM and its surroundings. 1. Transverse section of
false trunk showing five cauline members of Botryopteris nollii and numerous foliar members of different order and adventitious roots.
Specimen MfNC K 5150 (Rössler & Galtier, 2003, pl. VII, fig. 1; 2. Transverse section of false trunk showing two cauline members of
Botryopteris nollii and many foliar members and roots. Paratype 2, MfNC K 4880 b (Rössler & Galtier, 2003, pl. VI, fig. 1); 3.
Transverse section of Dernbachia brasiliensis, showing the actinostelic stem surrounded by a mantle of broadly D-shaped petiole bases and
adventitious roots. Taphonomic compaction resulted in a crushed trunk portion. Paratype 1, MfNC K 5002 (Rössler & Galtier, 2002b, pl. IV,
fig. 1); 4. Transverse section of Grammatopteris freitasii from the middle to upper part of the plant showing the central large stem and the
concentric zonation of its cortex as well as the root traces departing from proximal abaxial leaf traces. Paratype 4, MfNC K 4893 (Rössler &
Galtier, 2002a, pl. VI, fig.1); 5 and 6. Petroglyphs in sandstone cave (Sambaíba Formation?) from Águas Formosas farm. Lat. 07°28'18"S e
Long. 48°02"31"W. Altitude: 296m. IPHAN site Filadelfia I (as recorded by Núcleo Tocantinense de Arqueologia - UNITINS); 7 and 8.
"Mesetas" of the Sambaíba Formation.
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MMA. 2002. Biodiversidade brasileira: avaliação e Rössler,R.; Galtier,J. 2002a. First Grammatopteris tree
identificação de áreas e ações prioritárias para ferns from the Southern Hemisphere – new insights in
conservação,utilização sustentável e repartição de benefícios the evolution of the Osmundaceae from the
da biodiversidade brasileira. Brasília, MMA. Permian of Brazil. Review of Palaeobotany and
MRS/OIKOS 2005. Plano de manejo do Palynology, 121: 205-230.
Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Rössler,R.; Galtier,J. 2002b. Dernbachia brasiliensis gen.
Tocantins. Brasília: MRS, 2005. Planos de manejo e de nov. et sp. nov. – a new small tree fern from the
uso público no Monumento Natural das Árvores Permian of Brazil. Review of Paleobotany and
Fossilizadas do Tocantins e diagnóstico biofísico e sócio- Palynology, 122: 239-263.
econômico. (Encarte 4). Rössler,R.; Galtier,J. 2003. The first evidence of the
Mussa, D. & Coimbra, A. M. 1987. Novas fern Botryopteris from the Permian of the Southern
perspectivas de comparação entre as tafofloras Hemisphere reflecting growth form diversity.
permianas (de lenhos) das bacias do Parnaíba e do Review of Paleobotany and Palynology, 127: 99-124.
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Geociências. 94 p. (Dissertação). nordeste e a Bacia do Parnaíba, incluindo o cráton
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Bacia do Parnaíba. In: Congreso Brasileiro de Schneider,J.; Siegesmund,S.; Gebhardt,U. 1984.
Geologia, 34, Goiânia. Anais..., SBG. V. 1, p. 346- Paläontologie und Genese limnischer Schill- und
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Pires,E.F.; Guerra-Sommer,M.; Scherer,C.M.S. 2005. kohleführenden Wettiner Schichten (Oberkarbon,
Late Triassic climate in southermost Parana Basin Stefan C) des NE-Saaletroges. Hallesches Jahrbuch
(Brazil): evidence from dendrochronological data. für Geowissenschaften, 9: 35-51; Gotha, Leipzig.
Journal of South American Earth Sciences, 18(2): 213- Schobbenhaus,C.; Campos,D.A. 1984. A evolução da
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Rio de Janeiro. p. 87-134. texto explicativo do mapa geológico do Brasil e da área
Price,L.I. 1948. Um anfíbio labitintodonte da Formação oceânica adjacente incluindo depósitos minerais, esc.
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DGM, DNPM (Boletim 124). Walther,H.B. 1993.Silcretes in Germany and Australia.
Robrahn-González,E.M.; Iannuzzi,R.; Vieira,C.E.L.; Freiburg, Alemanha. (Tese)
Andreis,R.R. 2002. Estudos geológicos e paleontológicos
da Unidade de Conservação “Monumento Natural das * UNESP, Rio Claro (SP).
** UFTO, Palmas (TO)
árvores fossilizadas”, no município de Filadélfia-TO.
*** Museum für Naturkunde, Chemnitz (Alemanha).
Relatório final. Magna Engenharia Ltda. Porto 1 dimasdb@rc.unesp.br.
Alegre-RS. 2 rohn@rc.unesp.br.
Ross,J.R.P. 1995. Permian Bryozoa. In: Scholle, P.; 3 jocastro@rc.unesp.br.
Peryt, T. M.; Ulmer-Scholle, D. S. (eds.): The 4 ricdias@mandic.com.br.
Permian of Northern Pangea. Springer Verlag. New 5 roessler@naturkunde-chemnitz.de.
York. p. 196-209.
Rössler,R. 2000. The late Palaeozoic tree fern
Psaronius – an ecosystem unto itself. Review of
Paleobotany and Palynology 108: 55-74.
Rössler,R.; Noll,R. 2002. Der permische versteinerte
Wald von Araguaina/Brasilien - Geologie,
Taphonomie und Fossilführung.
Veröffentlichungendes Museums für Naturkunde
Chemnitz, 25:5-44.
15
____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
CURRICULUM VITAE SINÓPTICOS DOS Unesp/Rio Claro, sempre na área sedimentar –
AUTORES disciplinas Petrologia, Estratigrafia, Geologia
Histórica e do Brasil, e Geologia do Petróleo. Tem
Dimas Dias-Brito é professor grande experiência em exploração e reservatórios das
livre-docente na Universidade bacias brasileiras, trabalhando com rochas
Estadual Paulista (UNESP), em siliciclásticas e carbonáticas. Desenvolve pesquisas
Rio Claro (SP). Geólogo pela UnB com seus alunos de graduação e pós-graduação,
(1976), fez mestrado na UFRJ, enfocando o Permocarbonífero da Bacia do Paraná.
doutorado na UFRGS,
especialização em microbiofácies Ricardo Ribeiro Dias é Doutor
carbonáticas na Universidade de em Geociências e Meio Ambiente
Genebra e em Jornalismo Científico na UNICAMP. pela Universidade Estadual
Trabalhou 13 anos no CENPES-Petrobras. Tem Paulista (2008), Mestre em
atuado e orientado alunos na investigação da Sensoriamento Remoto pelo
paleoceanografia do Atlântico Sul primitivo Instituto Nacional de Pesquisas
(microfácies carbonáticas e paleoecologia), do Espaciais (1994) e Geólogo pela
Cretáceo continental (micropaleontologia) e de Universidade de Brasília (1991).
modernos ambientes de sedimentação da costa Atualmente é professor da
brasileira, incluindo estudos de sensibilidade a Fundação Universidade Federal do Tocantins. Tem
derramamentos de petróleo. Participa na gerência do experiência profissional e mais do que 40 trabalhos
Programa de RH em Geologia e Ciências Ambientais publicados nas áreas de sensoriamento remoto,
Aplicadas ao Setor de Petróleo & Gás e de geoprocessamento, zoneamento ecológico-
Biocombustíveis (PRH-05). Coordena, pela UNESP, econômico, planejamento ambiental, estudos
a Rede Tecnológica Petrobras em Sedimentologia e ambientais e mapeamento de recursos naturais. Foi
Estratigrafia e o projeto UNESPetro. Coordenador e Diretor da Secretaria do Planejamento
do Estado do Tocantins - Diretoria de Zoneamento
Rosemarie Rohn possui Ecológico-econômico e liderou equipes do governo
graduação em Geologia (1982), do Tocantins em projetos com o Banco Mundial e
mestrado (1988) e doutorado Banco Interamericano para Desenvolvimento. É co-
(1994) em Geociências pela autor do livro Introdução à Gestão Ambiental de
Universidade de São Paulo (USP). Estradas (IME/Fundação Ricardo Franco, Coleção
Desde 1988 é docente da Disseminar).
Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - UNESP - Ronny Rössler é graduado em
Rio Claro (SP). Desenvolve trabalhos e orienta alunos Geologia pela Universidade de
na área de Geociências, com ênfase em Paleontologia Minas e Tecnologia de Freiberg
Estratigráfica, atuando principalmente nos seguintes (1992), Alemanha, doutor em
temas: Paleobotânica, Paleontologia de Invertebrados Geologia/Estratigrafia (1995) e
(particularmente conchostráceos) e Estratigrafia de com um segundo doutorado em
superfície e subsuperfície. Seus principais trabalhos Paleobotânica (2003), ambas na
referem-se ao Permiano da Bacia do Paraná. Algumas Universidade de Freiberg. Diretor
investigações enfocaram conchostráceos do Cretáceo desde 1995 do Museu de História Natural de
e vegetais do intervalo Cretáceo-Eoceno da Antártica. Chemnitz, Alemanha. Membro do “Ludwig-
Em 2006 iniciou suas pesquisas paleobotânicas no Reichenbach-Society, Dresden” e do
Permiano da Bacia do Parnaíba. “Palaeontological Society”. Homenageado através do
prêmio “Friedrich von Alberti Award” (“Alberti
Joel Carneiro de Castro é Foundation & Palaeontological Society”) por sua
formado em Geologia pela Escola atuação na Paleontologia. Foi pesquisador associado e
de Minas de Ouro Preto (1965), e docente na Universidade de Freiberg, onde ainda atua
titulado Doutor em Geociências como colaborador voluntário. Seus principais
(1991) e Livre-Docente em trabalhos (98 artigos publicados e 16 livros)
Estratigrafia e Sedimentação relacionam-se à paleobotânica do Permo-
(1999) pela Universidade Estadual Carbonífero.
Paulista-Campus de Rio Claro.
Trabalhou na Petrobras entre 1966 e 1991, período
esse dividido entre o Departamento de Exploração e
o Centro de Pesquisas (Cenpes). Desde 1992 dedica-
se integralmente ao magistério e à pesquisa na
16
____________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
UNIDADE V
Icnofósseis
Texto 1
CARVALHO, I.S; FERNANDES, A.C.S. Icnofósseis. In: CARVALHO, I.S.
(Ed.). Paleontologia. 3 ed., vol.1, Rio de Janeiro: Interciência, 2010.
cap. 12, p. 196-227.
SIGEP
SIGEP 013
[Ver fac simile da versão final do CAPÍTULO IMPRESSO em: Winge,M. (Ed.) et al. 2009.
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Brasília: CPRM, 2009. v. 2. 515 p. il. color.]
Icnofósseis da Usina Porto Primavera, SP
Rastros de dinossauros e de mamíferos em rochas do deserto
neocretáceo Caiuá
SIGEP 013
Luiz Alberto Fernandes 1
Fernando Antonio Sedor 2
Rafael Costa da Silva 3
Luiz Roberto da Silva 4
Adalberto Aurélio Azevedo 5
Alessandra Gonçalves Siqueira 6
O sítio exibe registro de icnofósseis de tetrápodes em arenitos da Formação Rio Paraná (Grupo Caiuá) na
região de Pontal do Paranapanema, extremo oeste do estado de São Paulo. Situa-se a jusante da estrutura de
concreto da Usina Hidrelétrica de Porto Primavera. Ocorrem em depósitos de estratos frontais de dunas eólicas,
em quartzo-arenitos de cor marrom-avermelhado a arroxeado com estratificação cruzada de médio a grande
porte. Os icnofósseis encontram-se em intervalo de 6 a 8 metros acima do contato com basaltos, na base da
seqüência neocretácea. Encontram-se preservados como epirrelevo côncavo em arenitos, exibindo a típica “meia
lua“ de areia produzido pelo deslocamento do animal em substrato arenoso e inclinado. A associação faunística é
composta por pegadas de dinossauros terópodes e pequenos mamíferos. As pistas dinossauróides são bípedes e
apresentam ângulo do passo próximo de 180º, meio-passo com cerca de 13 cm; as pegadas são tridáctilas,
mesaxônicas, com garras, e apresentam cerca de 9 cm de comprimento e divergência total de aproximadamente
80º. As pistas mamiferóides são possivelmente quadrúpedes com sobreposição primária total. Apresentam
grande variação nas dimensões da passada. As pegadas são elípticas e apresentam cerca de 5 cm de comprimento.
Este sítio constitui novo registro de pegadas de tetrápodes para os arenitos do Grupo Caiuá e amplia a área de
ocorrência dessa fauna tão pouco conhecida dos ambientes desérticos do Cretáceo brasileiro, indicando que
mesmo as regiões mais centrais do Deserto Caiuá eram ocasionalmente freqüentadas por predadores ou
habitadas por animais adaptados à aridez.
Ichnofossils of the Porto Primavera Power tetrapods footprints in the Caiuá Group sandstones and
Plant, State of São Paulo - Dinosaur and enlarges the area of occurrence of this so little known fauna of
mammal footprints in rocks from the Caiuá the Cretaceous Brazilian desert environments indicating that
neocretaceous desert even the most central regions of the Caiuá Desert were
The site exhibits records of tetrapodes ichnofossils in sandstones occasionally attended by predators or inhabited by animals
of the Rio Parana Formation (Caiuá Group), Pontal do adapted to aridity.
Paranapanema region, far west of São Paulo state in front of
the concrete structure of Porto Primavera hydroelectric plant. Keywords: Caiuá, ichnofossils, Upper Cretaceous, Bauru,
The ichnofossils occur in reddish-brown foreset strata of cross- sandstones, Rio Paraná
stratified medium to large size aeolian dune deposits, 6 to 8
meters above the basalt contact, on the base of the Upper INTRODUÇÃO
Cretaceous Sequence. They are preserved in sandstone as concave
epirelief that display typical crescent moon shape produced by the Durante a Era Mezosóica, a instalação de
displacement of the animal in sandy and tilted substrate. The ambientes desérticos ocorreu diversas vezes em
association is composed of faunistic footprints of tetrapod território brasileiro. Possivelmente o registro
dinosaurs and small mammals. The tracks are dinosaurs and geológico mais conspícuo deste tipo de sistema
have biped step angle of around 180° and a half-step with deposicional consiste nos arenitos formados em
about 13 cm. The footprints are tridactiles, mesaxonics, with extensos campos de dunas pela ação do vento,
claws, and have about 9 cm in length and total divergence of conforme pode ser observado, por exemplo, na
approximately 80°. The mammaloids tracks are possibly extensa formação Botucatu (reservatório aqüífero
quadruped with total primary overlapping and show great Guarani), Bacia do Paraná e na Formação Rio Paraná
variation in the size of the step. The footprints are elliptical and (Cretáceo Superior, Bacia Bauru). Geralmente,
about 5 cm in length. This site constitutes a new record of ambientes desérticos como campos de dunas não são
1
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
favoráveis à preservação de restos orgânicos ou não é possível ter certeza se o material descrito
esqueléticos, sendo mais comuns os icnofósseis, ou realmente procede do arenito Caiuá ou da Formação
registros da atividade dos organismos que ali viviam, Botucatu. Assim, a ocorrência paranaense deve ser
que constituem assim uma valiosa fonte de vista como incerta até que novas evidências permitam
informação para o estudo paleontológico desses um novo estudo.
ambientes. Nesses ambientes, os icnitos mais Novos icnofósseis de vertebrados (Fig. 1) foram
freqüentes são pegadas e pistas fósseis produzidas por seguramente registrados em rochas na Formação Rio
vertebrados, além de pistas e galerias de invertebrados. Paraná no sítio aqui descrito (Fernandes et al., 2003),
A única ocorrência de fósseis para a Formação fornecendo dados sobre a paleofauna desta unidade
Rio Paraná até o momento consiste em pegadas geológica e sobre condições deposicionais do início do
atribuídas a dinossauros Theropoda e pequenos desenvolvimento dos campos de dunas neocretáceos
mamíferos registradas no estado do Paraná no então do “Deserto Caiuá”. O material icnológico foi
chamado “arenito Caiuá” (Leonardi, 1977). No estudado in loco em março de 2004. Não foram
entanto, os autores não encontraram o material em coletadas amostras para preservação do sítio.
levantamentos realizados na coleção paleontológica do Entretanto, foram feitos moldes de borracha de
Departamento de Geologia da Universidade Federal silicone dos exemplares mais significativos, para
do Paraná, onde este material foi depositado. Além posteriores confecção de réplicas e estudos em
disso, segundo Leonardi (2005, comunicação pessoal), laboratório.
Figura 1 Vista geral do local de ocorrência dos icnofósseis, margem esquerda, jusante da UHE Porto Primavera.
Figure 1: General view of the site of ichnofossil occurrences, left side, downstream of Porto Primavera Hydroelectric Plant.
2
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 2: Mapas de localização regional e de detalhe, com posição dos icnofósseis de Porto Primavera.
Figure 2: Regional and detail location maps, with the position of Porto Primavera ichnofossils.
3
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 3: Mapa geológico da parte oriental da Bacia Bauru.
Figure 3: Geological map of the Bauru Basin eastern part.
Na porção sudeste da Bacia Bauru desenvolveu-se grandes complexos de dunas barcanóides (draas)
extenso deserto arenoso (sand sea), com cerca de acumulados por ventos para SW.
100.000 km2 e clima dominante quente e seco,
denominado Caiuá (Fernandes & Coimbra 2000,
Fernandes 2008, Fig. 4). Ali se acumularam: a)
depósitos de lençóis de areia secos, correspondentes à
Formação Santo Anastácio; b) depósitos de dunas
médio porte e interdunas úmidas nas zonas periféricas
do sand sea (Formação Goio Erê); e c) depósitos de
complexos de grandes dunas eólicas e draas,
correspondentes à parte central do sand sea (Formação
Rio Paraná). Essas formações compõem o Grupo
Caiuá.
A Formação Rio Paraná é composta por quartzo-
arenitos finos a médios, bem selecionados, textural e
mineralogicamente maturos, de cor marrom-
avermelhado (red beds, Figs. 5, 6b, 6c e 6d), com típica
estratificação tabular/acanalada de grande porte (sets Figura 4: Contexto deposicional da parte oriental da Bacia
com até 15 m de altura). Corresponde a depósitos de Bauru.
Figure 4: Deposicional setting of the Bauru Basin eastern part.
4
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 5: Seção-tipo da Formação Rio Paraná, U.H.E. Porto Primavera, Pontal do Paranapanema (São Paulo).
Figure 5: Rio Paraná Formation type-section, Porto Primavera Hydroelectric Plant, Pontal do Paranapanema (São Paulo State
Figura 6: a) contato inferior da Formação Rio Paraná/Grupo Caiuá com basalto. Na base da unidade, abaixo dos arenitos
com estratificação cruzada ocorre brecha arenosa imatura, maciça, com clastos angulosos de basalto, nódulos de argila e
comento carbonático. Ombreira esquerda da UHE Porto Primavera, próximo da ocorrências dos icnofósseis (foto da época
da construção da barragem); b) Vista geral de arenitos com estratificação cruzada de grande porte, de depósitos frontais de
dunas, da parte central do deserto Caiuá, Formação Rio Paraná; c) Detalhe da Formação Rio Paraná, com depósitos de partes
frontais de grandes dunas (litofácies Df) e de interdunas (Di), UHE Porto Primavera, SP; d) Formação Rio Paraná,
laminação característica de arenitos eólicos (testemunhos de sondagens da construção da UHE Porto Primavera); e)
fragmentos rotacionados de brechas intraformacionais de gravidade (deslizamentos de partes frontais de dunas), indicativos
de umidade no ambiente desértico. Formação Rio Paraná.
Figure 6: a) basal contact of the Rio Paraná Formation/Caiuá Group with basaltic substrat. On the base of the unity, below the cross-stratified
sandstone it can see a sandy immature brecia, massive, with angular clasts of basalt, clay nodules and carbonatic cement. Site: Left dam part of the
5
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Porto Primavera Hydroelectric Plant, near the ichnofossils occurrences (image from the time of construction of the dam) b) Overview of sandstones
with large cross-stratification of deposits front of dunes, the central part of the Desert Caiuá, Rio Paraná Formation c) Detail of the Rio Paraná
Formation, with deposits of fronts of large dunes (litofacies Df) and interdunes (Di), Porto Primavera Hydroelectric Plant, São Paulo State d)
Rio Paraná Formation, croos-bedded sandstone, characteristic of aeolian processes (core holes of the Porto Primavera Hydroelectric Plant
construction); e) rotated fragments of intraformational gravity breccia (of landslides on dune foresets), indicative of moisture in the desert
environment. Rio Paraná Formation.
6
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 7: Icnofósseis em depósitos frontais de dunas, arenitos da Formação, Rio Paraná. UHE Porto Primavera, SP.
Figure 7: Ichnofossils on forests dune deposits, Rio Paraná Formation sandstones, Paraná River. Porto Primavera Hydroelectric Plant, Brazil.
7
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Segundo Fernandes (2005), as ocorrências de SINOPSE SOBRE A ORIGEM, EVOLUÇÃO
pegadas em arenitos eólicos da Formação Botucatu GEOLÓGICA E IMPORTÂNCIA DO SÍTIO
geralmente não correspondem à superfície original
onde as marcas foram produzidas, constituindo Os arenitos do Grupo Caiuá acumularam-se na
“subpegadas” geradas pelo afundamento do forma de complexos de grandes dunas, na parte
autopódio do animal produtor no substrato com a central de um extenso deserto arenoso, no i nterior
formação de impressões em camadas subsuperficiais. da Bacia Bauru (Fernandes & Coimbra, 2000; Fig. 4).
Este tipo de preservação seria o mais freqüente em Tal bacia desenvolveu-se em clima quente, úmido nas
ambientes de deposição eólica visto que as camadas bordas, mais desértico no interior, durante o período
mais superficiais são mais secas, diminuindo as Cretáceo Superior, aproximadamente entre 99,6 a 65,6
chances de preservação de estruturas reconhecíveis, e milhões de anos atrás.
mais facilmente modificadas. Sendo assim, os As lages inclinadas de arenito onde hoje
intervalos com areia úmida provavelmente estariam encontramos os registros de pegadas correspondem a
situados poucos centímetros abaixo da superfície do
estrato s tabulares frontais de grandes dunas de
substrato, tendo sido impressionados pelo animal
areia, formados durante seu avanço, movidas por
produtor após o afundamento dos autopódios e
ventos rumo a sul e sudoeste (Fernandes 2008). As
imediatamente soterrados pela areia seca. Além disso,
marcas estão impressas em arenito marrom-
pistas superficiais de pequenos artrópodes apenas
avermelhado a arroxeado, com típica estratificação
seriam preservadas em areia seca, visto que sua
cruzada de médio porte (Fig. 1).
pequena massa corporal não seria suficiente para
Em geral, ambientes áridos não são favoráveis ao
quebrar a tensão superficial do sedimento úmido e
assim deixar marcas passíveis de preservação desenvolvimento e preservação pós-morte de
(Fernandes, 2005). Dessa forma, a ausência de pistas elementos faunísticos ou florísticos. A areia seca, por
desse tipo no afloramento estudado seria outra sua incoerência natural dificilmente forma bons
evidência de umidade no ambiente de formação destes moldes. Por sua vez, o ambiente altamente oxidante
depósitos. não preserva a matéria orgânica mole (carne, tecidos,
Algumas vezes encontram-se brechas partes vegetais). Acrescente-se ain da o fato de que a
intraformacionais de colapso em depósitos de frentes escassez de água constitui importante fator limitante,
de dunas (foresets, Fig. 6e). São feições de deformação dificultando a existência de vida de maior porte, tanto
por escorregamento preservadas entre estratos animal, quanto vegetal. Nestas condições ambientais
indeformados com laminação eólica. Tais estruturas os icnofósseis tornam-se então valiosa fonte de
indicam a existência de umidade no ambiente, talvez informação para estudos paleontológicos e
noturna (sereno) que possibiltou a agregação da areia paleoambientais.
em crostas superficiais frágeis, fragmentadas e H á pouquíssimas referências sobre fósseis
rotacionadas na forma de tabletes no deslizamento. em rochas do Grupo Caiuá .. As únicas ocorrências
A ocorrência de pegadas preservadas com detalhes conhecidas na Formação Rio Paraná são pegadas
morfológicos, produzidas em sedimento úmido pode produzidas por dinossauros terópodes e pequenos
ser explicada pela presença de nível freático alto em mamíferos primitivos registradas no estado do
determinados eventos de deposição. As flutuações no Paraná (Leonardi, 1977). O sítio ora apresentado
nível freático teriam como resultado a preservação de constitui nova ocorrência de icnofósseis nestes
pegadas com detalhes e outras apenas com forma arenitos, encontrados na região do Pontal do
arredondada, produzidas em sedimento seco Paranapanema (São Paulo), a jusante da estrutura de
(Reynolds, 1991; Lockley, 1991; Carvalho & Kattah, concreto da Usina Hidrelétrica Porto Primavera (Fig.
1998). Alguns dos exemplares estudados, presentes 2). A ocorrência situa-se na área central do antigo
nos conjuntos PP01, PP02, PP03 e PP06, deserto Caiuá.
correspondem a depressões erosivas sem marcas em O sítio descrito constitui novo e importante
forma de meia-lua ou estruturas de deformação registro de pegadas de tetrápodes em arenitos do
aparentes. Uma possível explicação é que a formação Grupo Caiuá. Situa-se em antigos depósitos de
das pegadas poderia gerar uma diferença na ambientes desérticos, onde é mais difícil preservação
compactação e arranjo tridimensional dos grãos em de registros de vida, naturalmente mais escassos. Tais
relação à rocha circundante, ocasionando uma icnofósseis ampliam assim a área de ocorrência da
diagênese diferencial, possivelmente com menor fauna tão pouco conhecida dos ambientes desérticos
cimentação, e tornando essa região mais suscetível à do Cretáceo brasileiro e sul americano.
erosão. Dessa forma, as depressões erosivas não Outra conseqüência interessante do ponto de vista
correspondem às pegadas originais, mas marcam a paleoambiental e evolutivo da bacia é a indicação de
posição onde elas foram produzidas. que mesmo as regiões mais centrais do Deserto Caiuá
foram relativamente úmidas e ocasionalmente
8
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
freqüentadas por predadores e/ou habitadas por AGRADECIMENTOS
animais adaptados à aridez. Os autores agradecem ao engenheiro Isaac Amaral Alves,
Gerente de Obras de Porto Primavera, e à geóloga Silvia
MEDIDAS DE PROTEÇÃO Kitahara , Gerente da Divisão Civil, ambos da Companhia
Energética de São Paulo – CESP, pelo pronto apoio oferecido
A vulnerabilidade do sítio é alta. Quando o arenito durante as pesquisas e relações institucionais necessárias.
é submetido a ciclos de saturação e secagem apresenta
alteração rápida e desplacamento. O local é submetido REFERÊNCIAS
a dois tipos de processos de ciclagem (alteração): o
natural, causado pelas chuvas e o induzido pela Brand, L.R. 1979. Field and laboratory studies on the
variação do rio devido à operação da barragem. coconino sandstone (Permian) vertebrate
Ademais, é sujeito a outro tipo de desgaste por footprints and their paleoecological implications.
atividades antrópicas devido ao pisoteio sobre os Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 28, 25-
iconofósseis. 38.
O sítio apresentaria condições de relativa Brand, L.R. 1996. Variations in salamander trackways
manutenção dos fósseis ao ar livre, desde que resulting from substrate differences. Journal of
observadas medidas de conservação, tais como: 1) Paleontology, 70:1004-1010.
construção de mureta de proteção à variação no nível Carvalho, I.S. & Kattah, S.S. 1998. As pegadas fósseis
da água do lago, para evitar a ciclagem do arenito; 2) da Bacia Sanfranciscana (Jurássico Superior-
cobertura das áreas principais com vidro; 3) restrição Cretáceo Inferior, Minas Gerais). Anais da
ao acesso de pessoas não autorizadas o que é viável, Academia Brasileira de Ciências, 70(1):53-67.
posto que o sítio localiza-se em área interna da usina; Casamiquela, R.M. 1964. Estudios Icnológicos. Buenos
4) limitação do número diário de visitantes, com Aires: Colegio Industrial Pio IX, 229 p.
monitoramento sob responsabilidade da empresa, Fernandes, L.A.; Costa, R.; Sedor, F.A.; Silva, L.R.;
posto que o pisoteio danifica os fósseis; 5) Azevedo, A.A., Siqueira, A.G. 2003. Uma nova
monitoramento periódico do estado de conservação e icnocenose neocretácea no interior do Deserto
desgaste, e se necessário, manutenção com controle de Caiuá (Formação Rio Paraná, Bacia Bauru) In:
especialista, tal como impregnar os fósseis ou XVIII Congresso Brasileiro de Paleontologia,
preencher rachaduras; 6) caso se suspeite de risco para Brasília, Sociedade Brasileira de Paleontologia,
a integridade dos fósseis, deve-se providenciar coleta e Boletim de Resumos, p.124–125.
depósito do material em coleção científica. Por fim Fernandes, M.A. 2005. Paleoicnologia em ambientes
recomenda-se permitir acesso de visitantes com desérticos: análise da icnocenose de vertebrados da
acompanhamento de pessoal capacitado em turismo pedreira São Bento (Formação Botucatu, Jurássico
paleontológico/geológico, assim como de pesquisadores, Superior – Cretáceo Inferior, Bacia do Paraná),
com coleta e/ou confecção de moldes apenas quando Araraquara, SP, Rio de Janeiro, Instituto de
autorizados por órgãos ou instituições competentes. Geociências da Universidade Federal do Rio de
A CESP demonstrou intenção de proteger e até Janeiro. (Tese de Doutorado). 198 p.
promover o local como de interesse para divulgação Fernandes, L.A. 2008. Palaeowind patterns during the
científica. São marcas raras e, portanto, muito Late Cretaceous on South-American Platform:
preciosas do ponto de vista científico. Todavia, não evidence from aeolian deposits cross-strata of the
foi tomada nenhuma medida efetiva desde a visita de Caiuá Desert (Bauru Basin). 33rd International
identificação e estudo do sítio. Tampouco temos Geological Congress, IUGS, Oslo. CD-ROM.
conhecimento de plano de manejo ou de proteção da Fernandes, L.A. & Coimbra, A.M. 1995. Estratigrafía
área por parte da empresa. Na oportunidade da visita y ambientes deposicionales de la Cuenca Bauru
a equipe se ofereceu para discutir medidas de proteção (Cretácico Superior, Brasil). Acta Geològica
e exposição controlada de visitantes. Ofereceu-se Hispànica, 30(4):11-30.
também para auxiliar na elaboração de painéis, textos Fernandes, L.A. & Coimbra, A.M. 1996. A Bacia
e outros meios de divulgação científica, como Bauru (Cretáceo Superior, Brasil). Anais da
colaboração das instituições envolvidas. Academia Brasileira de Ciências, 68(2):195-205.
A empresa tem condições de implementar Fernandes, L.A. & Coimbra, A.M. 2000. The Late
rapidamente medidas efetivas de proteção, Cretaceous Caiuá Desert (Bauru Basin, Brazil).
compromisso manifestado em declaração anexada à Abstracts. 31th. International Geological Congress.
proposta de cadastro na SIGEP. Caso contrário, se Rio de Janeiro, Brazil. cd-rom, General Symposia,
sugere que os icnofósseis sejam coletados e removidos 3.6.
da área para um museu. Leonardi, G. 1977. On a new occurrence of Tetrapod
trackways in the Botucatu Formation in the State
9
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
of São Paulo, Brazil. Dusenia, Curitiba, 10(3):181- Fernando Antonio Sedor possui
183. graduação em Ciências Biológicas
Lockley, M.G. 1991. Tracking Dinosaurs. Cambridge pela Universidade Federal do
University Press, Cambridge, 238 p. Paraná (1987) e mestrado em
Lockley, M.G. & Conrad, K. 1991. The Geociências pela Universidade
paleoenvironmental context, preservation and Federal do Rio Grande do Sul
paleoecological significance of dinosaur tracksites (1994). Atualmente é doutorando
in the Western USA. In: Gillette, D.D. e Lockley, da UFRGS, sem vínculo
M.G. (eds.). Dinosaur Tracks and Traces. Cambridge institucional. Tem experiência na
University Press, Cambridge, p. 121-134. área de Geociências e Paleontologia de Vertebrados,
McKeever, P.J. 1994. The behavioral and com ênfase em Icnologia.
biostratigraphical significance and origin of
vertebrate trackways from the Permian of Rafael Costa da Silva possui
Scotland., Palaios, 9(5), 477–487. graduação em Ciências Biológicas
Reynolds, R.E. 1991. Dinosaur trackways in the pela Universidade Federal do
Lower Jurassic Aztec Sandstone of California. In: Paraná (2001), mestrado em
Gillette, D.D. e Lockley, M.G. (eds.). Dinosaur Ciências Biológicas (Zoologia) pelo
Tracks and Traces. Cambridge University Press, Museu Nacional, Universidade
Cambridge, p. 285-292. Federal do Rio de Janeiro (2004) e
doutorado pelo Instituto de Geociências,
1 Universidade Federal do Paraná - Depto. de Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008). Tem
Geologia/Caixa Postal 19.001/CEP 81531-990, experiência nas áreas de Paleontologia e Zoologia,
Curitiba, Paraná/e-mail: lufernandes@ufpr.br atuando principalmente em Paleozoologia e Icnologia
2 Universidade Federal do Paraná - Museu de Ciências de Vertebrados e Invertebrados.
Naturais/e-mail: sedor@ufpr.br
3 Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/RJ- Luiz Roberto da Silva é graduado
DEGEO/DIPALE/e-mail: rcsilva@rj.cprm.gov.br em Engenharia Civil (1981), pela
4 Companhia Energética de São Paulo – CESP/e-mail: Escola de Engenharia de Lins. De
luizroberto.silva@cesp.com.br 1982 a 1988, atuou como
5 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de engenheiro autônomo, funcionário
São Paulo S/A – IPT/e-mail: azevedoa@ipt.br público, proprietário de escritório
6 Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de de engenharia e construtora, em
São Paulo S/A – IPT/e.mail: agsique@hotmail.com atividades relacionadas a projetos,
construções e fiscalização de obras civis na cidade de
AUTORES Assis-SP. Desde 1988 é contratado pela CESP,
Companhia Energética de São Paulo, tendo atuado em
Luiz Alberto Fernandes possui diversas áreas relacionadas à engenharia civil nas
graduação em Geologia (1977), usinas hidrelétricas de Porto Primavera, Rosana e
mestrado (1992) e doutorado Taquarussu. De 2003 a 2005 gerenciou parte da
(1998) em Ciências - Geologia construção de 2 edifícios da CESP na Av. Paulista em
Sedimentar, pelo Instituto de São Paulo. Desde 2006 trabalha como engenheiro de
Geociências da Universidade de manutenção civil nas usinas e instalações de geração
São Paulo. Pós-doutorado (2008) de energia elétrica da CESP.
na Universidad Complutense de Madrid.
Atualmente é professor Associado I da Universidade Adalberto Aurélio Azevedo é
Federal do Paraná. Entre 1978 e 1980 atuou em graduado em Geologia pela
contaminação de águas subterrâneas na Companhia de Universidade de São Paulo (1975),
Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB/SP). mestrado em Geotecnia pela
De 1980 a 1998 foi pesquisador do Instituto de Universidade de São Paulo (1993) e
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). doutorado em Geociências
Desde então é professor do Departamento de (Recursos Minerais e
Geologia da UFPR. Sua experiência tem ênfase em Hidrogeologia) pela Universidade de São Paulo
Geologia Sedimentar e Análise de Bacias Sedimentares (2002). Atualmente é pesquisador V do Instituto de
(Petrologia Sedimentar, Estratigrafia; bacias Bauru, do Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Tem
Paraná e de Curitiba); educação tutorial; divulgação experiência na área de Geociências, com ênfase em
cientifica. É bolsista de Produtividade em Pesquisa do Geologia de Engenharia, atuando principalmente nos
CNPq - Nível 2.
10
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
seguintes temas: barragem, hidrogeotecnia, áreas
cársticas e mecânica das rochas.
11
___________________________________________________________Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
SCHOBBENHAUS, C. / CAMPOS, D.A. / QUEIROZ, E.T. / WINGE, M. / BERBERT-BORN, M.
Sousa e Uiraúna-Brejo das Freiras são duas bacias cretáceas da região do Rio do Peixe que
possuem uma grande quantidade de pegadas de dinossauros. Estas bacias estão localizadas no oeste
do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, e suas origens relacionam-se aos movimentos de falhas
transcorrentes ao longo de lineamentos pré-existentes do embasamento, durante a abertura do Oceano
Atlântico.
A principal icnofauna de tetrápodes compõe-se de pegadas isoladas e pistas de grandes e
pequenos terópodes, além de ornitópodes. Também há icnofósseis de invertebrados tais como
pistas e escavações produzidas por artrópodes e anelídeos. Os fósseis são palinomorfos, fragmentos
de plantas, ostracodes, conchostráceos, escamas de peixes e ossos de crocodilomorfos. Estes fósseis
estão preservados em depósitos de leques aluviais, rios anastomosados, meandrantes e lagos rasos
de idade neocomiana - Berriasiano a Barremiano inferior. A relevância paleontológica-geológica das
bacias de Sousa e Uiraúna é a abundância em icnofaunas dinossaurianas. Já foram identificados e
mapeados 22 sítios icnofossilíferos, e reconhecidas 296 pistas de grandes terópodes; 29 de pequenos
terópodes; 42 de saurópodes; 2 de ornitísquios quadrúpedes; 28 de ornitópodes graviportais; um
conjunto de pegadas batracopódidas; uma impressão lacertóide; um grande número de pegadas
não classificáveis e muitas pistas de semi-natação atribuídas a quelônios. Ao todo já foram classificados
um número superior a 395 indivíduos dinossaurianos.
A área mais importante de distribuição de pegadas fósseis, localizada em Passagem das Pedras
(Fazenda Ilha) no município de Sousa é atualmente um parque natural - Monumento Natural Vale
dos Dinossauros. O parque com 40 hectares de área é presentemente um dos sítios paleontológicos
melhor preservados no Brasil. Possui infra-estrutura turística e guias treinados para o turismo ecológico
e para proteção do sítio icnofossilífero.
Icnofossils of the Rio do Peixe Basin, State of The paleontological-geological relevance of Sousa and
Paraíba - The most remarkable record of dinosaur Uiuraúna Basins is the abundance of dinosaurian ichnofaunas.
tracks of Brazil It have alread been identified, as well as mapped 22
ichnofossiliferous sites, and recognized 296 large theropod tracks;
Sousa and Uiraúna-Brejo das Freiras are two Cretaceous
29 smaller theropods; 42 sauropods; 2 quadrupedal
basins from the Rio do Peixe region that present a great amount
ornithischians; 2 small ornithopods; 28 graviportal ornithopods;
of dinosaur footprins. These basins are located on the west of
a set of batrachopodid prints; a lacertoid print; a large number
Paraíba State, Northeast Brazil, and their origin are related to of unclassifiable dinosaurian tracks and a large number of small
fault movements along preexisting structural trends of the basement chelonian half-swimming tracks. Altogether the classified
during South Atlantic Ocean opening. The main tetrapod dinosaurian individuals number is more than 395. The main
ichnofauna comprises isolate footprints and trackways of large distribution area of dinosaur footprints at Passagem das Pedras
and small theropods, besides ornithopods. There are also (Ilha Farm), in Sousa County is nowadays a natural park -
invertebrate ichnofossils such as trails and burrows produced by The Dinosaur Valley Natural Monument. The park, with 40
arthropods and annelids. The fossils are palynomorphs, plant ha of area, is presently one of the best preserved paleontological
fragments, ostracods, conchostraceans, fish scales and sites in Brazil. This area is now a tourist complex and offers an
crocodilomorph bone fragments. These were preserved in alluvial entire tourism infrastructure, besides a trained staff to guide
fans, anastomosing, meandering rivers and shallow lakes deposits tourists and to protect the paleontological site.
of Neocomian age - Berriasian to lower Barremian.
SítiosSítios
geológicos
geológicos
e paleontológicos
e paleontológicos
do Brasil
do Brasil 101
101
Freiras está na abundância de icnofaunas dinossaurianas
que representam parte de um amplo megatracksite do
As bacias do rio do Peixe são quatro bacias
início do Cretáceo (Viana et al., 1993; Carvalho 2000a)
sedimentares denominadas como Sousa, Uiraúna-Brejo
estabelecido durante os estágios iniciais da abertura do
das Freiras, Pombal e Vertentes. Localizam-se no oeste
Atlântico Sul. Nesta região foram encontrados 22 sítios
do estado da Paraíba nos municípios de Sousa, Uiraúna,
icnofossilíferos com mais de 395 indivíduos
Poço, Brejo das Freiras, Triunfo, Santa Helena e Pombal
dinossaurianos.
(Figura 1). As duas primeiras bacias - Sousa e Uiraúna-
Brejo das Freiras - contém uma abundante icnofauna
de tetrápodes, consistindo de pegadas e pistas de
carnossauros, e ornitópodes. Icnofósseis de Há cerca de 80 anos, no início da década de 20,
invertebrados tais como pistas e escavações produzidas Luciano Jacques de Moraes, um engenheiro de minas
por artrópodes e anelídeos também são comuns brasileiro, trabalhava para o Departamento Nacional
(Fernandes & Carvalho, 1997). Apesar da forte cor de Obras contra as Seccas (DNOCS) na região
avermelhada, típica de ambientes subaéreos, há alguns Nordeste do Brasil, até então muito pouco conhecida
níveis de folhelhos esverdeados, argilitos e siltitos, onde geologicamente. No oeste do estado da Paraíba,
os fósseis estão presentes. São ostracodes, Moraes descobriu duas pistas em rochas do leito do
conchostráceos, fragmentos de vegetais, palinomorfos, rio do Peixe, na localidade de fazenda Ilha. Tratavam-
escamas de peixes e fragmentos ósseos de se de duas pistas de diferentes dimensões que se
crocodilomorfos. intercruzavam e possuíam distintos produtores.
Sousa e Uiraúna-Brejo das Freiras são bacias Aparentemente Moraes enviou uma laje com
intracratônicas do Nordeste do Brasil, que se uma pegada original escavada da pista codificada como
desenvolveram ao longo de lineamentos estruturais pré- SOPP2 e um molde de uma pegada da pista SOPP1
existentes do embasamento, durante a abertura do para os Estados Unidos para ser estudada por
Oceano Atlântico. A idade destes depósitos, baseada paleontólogos norte-americanos. Jamais recebeu
em material polínico, é característica dos andares locais qualquer resposta sobre o material enviado. Apesar das
Rio da Serra (Berriasiano ao Hauteriviano) e Aratu tentativas feitas por Giuseppe Leonardi, durante o ano
(Barremiano inferior) segundo dados de Lima & de 1985 em reencontrar este material (o qual
Coelho (1987) e Regali (1990). acreditava-se estar no American Museum of Natural
A sedimentação nestas bacias foi controlada History), nada foi localizado. Em seu livro,
pelos processos tectônicos regionais (Lima Filho, 1991; Moraes(1924) classificou a maior pista (SOPP1) como
Lima Filho et al., 1999). Durante o tempo Dom João de um Stegosauria ou secundariamente como
(andar Purbeckiano), devido ao estiramento crustal, Ceratopsia; evidentemente ele a interpretou como
bacias sigmoidais desenvolveram-se na inflexão das pertencente a um quadrúpede. Atribuiu a pista SOPP2
falhas noroeste-sudoeste e este-oeste. Durante o tempo como de um dinossauro bípede, sem definir entre os
Rio da Serra (Berriasiano ao Hauteriviano), sob o Theropoda ou os Ornithopoda. Moraes descreveu as
mesmo regime tectônico, as áreas bacinais aumentaram pistas em detalhe, com desenhos e fotografias. Também
e suas formas passaram a romboidais. No último extrapolou as dimensões dos presumíveis produtores
estágio, provavelmente no final do tempo Aratu (andar das pegadas. Um trabalho meticuloso para a época;
Barremiano inferior), houve uma mudança no padrão contudo Moraes não era nem um icnológo, nem um
tectônico e a acumulação de sedimentos entrou em paleontólogo e seus desenhos mostram algumas
declínio. Os depósitos aí encontrados refletem um incorreções.
controle direto da sedimentação pela atividade Luciano Jacques de Moraes enviou fotografias
tectônica. Ao longo das bordas falhadas das bacias, a para F. von Huene da Universidade de Tübingen
deposição consistia de leques aluviais, modificando-se (Alemanha), o qual publicou em seu livro de 1931 os
distalmente para sistemas fluviais entrelaçados. Na desenhos de Moraes. Huene (1931) descreveu a
região central destas bacias, estabeleceu-se um sistema primeira pista (SOPP1) como a de um quadrúpede
fluvial meandrante com uma ampla planície de com total sobreposição dos pés, e a segunda pista,
inundação, onde ocorriam lagos perenes e temporários como a de um bípede (SOPP2). Ele atribuiu a pista
(Carvalho 2000a). A relevância paleontológica e SOPP1 aos ceratópsidos ou preferencialmente aos
geológica das bacias de Sousa e Uiraúna-Brejo das nodosaurídeos e SOPP2 aos ornitópodes
SIGEP 052
Palavras-chave: pavimento estriado; Formação Cabeças; idade neofameniana; tilito; Bacia do Parnaíba.
ABSTRACT – In the Parnaíba Basin, evidence of latest Famennian glacial influence is manifested in the uppermost portion
of the Cabeças Formation, notably in the form of striated, faceted and polished clasts in tillites, striated pavements,
rhythmites with dropstones, exotic basement boulders and deformed sandstones and tillites. Striated pavements are well-
represented in the municipalities of Brejo do Piauí and Canto do Buriti (State of Piauí), particularly in outcrops near the
locality of Calembre. This remarkably extensive and well-preserved pavement is polished and striated, with subparallel ridges
and grooves that have irregular decimetric spacings and centimetric depths and are sculptured into massive conglomeratic or
cross-stratified sandstones. Clasts occurring on the pavement surfaces vary in size from large pebbles to small cobbles; these
are aligned or irregularly dispersed and embedded into the sandstone, some showing features of glacial abrasion. Striae,
ridges and grooves generally trend N60oW. Southeast to northwest displacement of the glaciers, evidenced by the shape of
some abraded clasts, coincides with the main paleocurrent direction of the upper Cabeças Formation’s fluvial system.
Toward the western margin of the Parnaíba Basin, Devonian tillites overlap striated pavements, progressively older
stratigraphic units, and basement rocks, indicating that glacial erosion produced a significant unconformity in the Parnaíba
Basin. Although the glacial event affected all Brazilian Paleozoic sedimentary basins and the pre-Late Ordovician basement,
pavements resulting from this glaciation have only been identified in the Parnaíba Basin, thus providing direct evidence of
latest Famennian glaciation on the Western Gondwana supercontinent.
Key words: striated pavement, Cabeças Formation, late Famennian, tillite, Parnaíba Basin.
274, CCMN, Cidade Universitária, 21941-916, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. luizaponciano@gmail.com
3 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional/UFRJ. Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040, Rio de Janeiro, RJ.
4 Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas, Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Estado do Rio de
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Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
INTRODUÇÃO Na Bacia do Amazonas os afloramentos de camadas
desta idade (exibindo influência glacial) são mais
Pavimentos estriados constituem a principal restritos, enquanto nas bacias do Paraná e do
evidência direta de glaciação pretérita em uma região, Solimões tais sedimentos são encontrados apenas em
onde informações como a direção e o sentido de subsuperfície (Caputo et al., 2008).
movimentação das geleiras ainda podem ser Na região andina da Argentina, Bolívia e Peru
recuperadas. Além disso, auxiliam no também foram identificadas formações com influência
desenvolvimento de estudos sobre paleoambientes glacial (Díaz-Martínez & Isaacson, 1994; Díaz-
deposicionais e reconstituições paleogeográficas, Martínez et al., 1999; Isaacson et al., 1999; Carlotto et
tendo sua relevância paleoclimática muito valorizada al., 2006), de mesma idade que nas bacias brasileiras.
atualmente, devido ao crescente interesse da sociedade Na África há vários países que apresentam evidência
pelas mudanças climáticas pretéritas e futuras. glacial no Devoniano terminal, dentre os quais podem
A característica fundamental de uma geleira é a ser citados: Líbia, Níger, Gana e África do Sul
sua capacidade de mover-se pela ação da gravidade. O (Caputo, 1985; Streel et al., 2000a). Outros países
gelo isento de fragmentos tem um poder erosivo africanos também possuem registros de glaciação, mas
insignificante. Os pavimentos se formam pelo atrito sua idade devoniana ainda não foi definitivamente
da geleira, carregada em sua base com fragmentos de comprovada. Mais recentemente, pesquisadores
rochas duras, durante seu movimento sobre um americanos reconheceram que a parte leste dos
substrato rochoso menos resistente. A espessa massa Estados Unidos da América também apresenta
de gelo funciona como uma lixa gigante ao longo dos vestígios de uma glaciação neodevoniana (diamictitos
vales e superfícies glaciais, raspando o substrato e e laminitos com alguns seixos estriados e pingados),
produzindo uma “farinha” de rochas que, juntamente em uma faixa com cerca de 400 km de extensão,
com os fragmentos remanescentes da fusão do gelo, desde o Estado da Virgínia Ocidental ao Estado da
forma uma rocha classificada como tilito. Durante a Pensilvânia (Cecil et al. 2002, 2004; Brezinski et al.,
fase de crescimento do gelo na geleira (fase expansiva) 2008). O fato de ainda não terem sido encontrados
predomina a erosão e quando a geleira recua devido pavimentos estriados nessa região tem provocado a
ao degelo (fase retrativa) deposita o tilito. Tilito é um contestação da interpretação glacial, por parte de
termo genético que pode ser descrito como uma rocha alguns investigadores. Porém, esses depósitos são
formada sob influência e contato glacial, sendo contemporâneos aos da América do Sul e da África,
constituída por fragmentos de rochas de grande sugerindo que o esfriamento climático no final do
variedade petrográfica e com diversos tamanhos, Neodevoniano também foi de caráter global,
dispersos em uma matriz síltico-argilosa. Diamictito é envolvendo grande parte do Supercontinente
um termo descritivo (não genético) que abrange Gonduana Ocidental e alcançando, inclusive, uma
também os tilitos. Todo tilito é um diamictito, mas porção adjacente do Supercontinente Laurásia. Esta
nem todo diamictito é um tilito. Deve ser provada a condição paleoclimática sugere que o oceano, que
influência glacial na sedimentação do tilito, pois separava estes supercontinentes no fim do
existem diamictitos de outras origens, como os Devoniano, era muito mais estreito do que mostram
resultantes de fluxo de detritos. No tilito, os as reconstituições paleogeográficas, realizadas por
fragmentos de rocha podem apresentar estrias, vários autores.
facetas, polimento e adquirir formato de ferro de O mesmo episódio de esfriamento climático
engomar. Blocos de gelo flutuantes (icebergs) podem também é detectado indiretamente no registro
liberar fragmentos de rochas em meio aquoso, que se geológico de outros continentes, através de estudos
incorporam aos sedimentos do fundo lacustre ou sedimentológicos, geoquímicos e paleontológicos que
marinho e são denominados de seixos pingados. evidenciam discordâncias estratigráficas, rebaixamento
Várias glaciações foram identificadas no registro do nível do mar, redução da biodiversidade e
geológico do Brasil, dentre elas a que ocorreu no final extinções faunísticas no final do Devoniano (Isaacson
do Devoniano. Nas bacias paleozóicas brasileiras, et al., 1999; Streel et al., 2000b; Caputo et al., 2008).
somente há pouco mais de duas décadas a glaciação Deste modo, os pavimentos estriados dos
neodevoniana foi confirmada e passou a ser analisada municípios de Canto do Buriti e Brejo do Piauí (onde
detalhadamente (Caputo, 1984a-b; Caputo 1985; se localiza o maior pavimento exposto, no povoado
Caputo & Crowell, 1985; Caputo et al., 2006a-b; Calembre, Estado do Piauí) tornam essa região muito
Caputo et al., 2008). Apesar de o evento glacial importante para a interpretação da paleoclimatologia
neodevoniano ter abrangido todas as grandes bacias na parte final do Período Devoniano (Fig. 1). Além
sedimentares paleozóicas do Brasil, pavimentos disso, no registro geológico, são raras as ocorrências
estriados do Neodevoniano foram identificados de afloramentos com pavimentos estriados. Trata-se
exclusivamente na Bacia do Parnaíba, onde se de um tipo de feição de difícil preservação, pois se
localizam os melhores registros deste evento glacial. limita a uma superfície. O pavimento estriado de
2
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Calembre deve ser protegido, pois além do seu valor Raimundo Nonato, abrangendo os afloramentos ao
científico único, poderá ser utilizado na ampliação do norte do parque (que se encontram próximos à
roteiro turístico do Estado do Piauí. Calembre). Complementando este roteiro figuram os
Atualmente, excursões com enfoques educativos, belos afloramentos da Formação Cabeças no Parque
turísticos e culturais são realizadas principalmente no Nacional de Sete Cidades, no Município de Piripiri.
Parque Nacional da Serra da Capivara, em São
Figura 1 - Vista parcial do pavimento estriado de Calembre, com seixos e blocos esparsos encravados no arenito
da parte superior da Formação Cabeças. Martelo na parte central da foto como escala. Foto: L.C.M.O. Ponciano,
2008.
Figure 1 - Partial view of the striated pavement of Calembre, with sparse pebbles and cobbles embedded in sandstone of the
uppermost part of the Cabeças Formation. Scale indicated by hammer in center of photo. Photo: L.C.M.O. Ponciano, 2008.
4
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
de Gradstein et al. (2004), ou aos últimos dois milhões Solimões, Marajó e Jatobá). Elas comprovam
de anos, conforme a escala de Kaufmann (2006). A definitivamente a influência glacial nestes sedimentos
idade do fim do Devoniano estimada por Gradstein et da América do Sul, depositados em paleoambientes
al. (2004) é 359,2 +/- 2,5 Ma e por Kaufmann (2006) é continentais e marinhos no final do Devoniano.
360,7 +/- 2.7 Ma.
Houve muita polêmica quanto à natureza dos DESCRIÇÃO DO SÍTIO
tilitos devonianos, pois as primeiras interpretações
foram recebidas com ceticismo pela grande maioria da Embora outras ocorrências de pavimentos
comunidade geológica. À época, poucos geólogos estriados tenham sido relatadas por Malzahn (1957),
trataram do assunto. Os sedimentos eram Bigarella (1973) e Caputo (1984a-b, 1985) no Estado
considerados como resultantes de correntes de do Piauí, o afloramento de Calembre é a melhor
turbidez por Ludwig (1964), fluxo de lama ou região exposta deste tipo de feição na borda sudeste
sedimentação glacial por Rodrigues (1967), ou fluxo da Bacia do Parnaíba, ocupando uma área aproximada
de detritos relacionados a falhas por Lima (1978) e de 350 m2.
Lima & Leite (1978). De acordo com Della Piazza et No local encontra-se um pavimento horizontal,
al. (1966), os seixos pingados nos ritmitos de pequena relativamente plano, polido e estriado, com cristas e
espessura e localizados, que ocorrem no flanco leste sulcos subparalelos, espaçamentos irregulares
da bacia, poderiam ser originados pela ação de decimétricos e profundidades centimétricas.
jangadas. Estes autores não discutem a natureza das O pavimento foi esculpido em arenitos
jangadas. Andrade & Daemon (1974) contestaram a conglomeráticos maciços ou com estratificação
deposição desses sedimentos em condições glaciais ou cruzada, com a superfície endurecida e enegrecida por
por correntes de turbidez, argumentando que a fauna óxidos de ferro, situados na porção superior da
da Formação Cabeças era incompatível com o Formação Cabeças, de idade neofameniana (Fig. 3).
ambiente glacial e que o ambiente deposicional era Esta feição é parcialmente cruzada por uma antiga
demasiado raso para o desenvolvimento de correntes estrada de terra (felizmente desativada) e por um
de turbidez. Sabe-se hoje, porém, que os macrofósseis riacho, que em épocas de cheia extravasa por sobre o
marinhos da Formação Cabeças limitam-se somente à pavimento, ora lavando, ora cobrindo com detritos a
parte basal e mais antiga da unidade, designada superfície exposta.
Membro Passagem por Plummer (1948) e cuja idade é Estão presentes na superfície do pavimento
givetiana (Melo, 1988). Esses arenitos costeiros, de clastos de tamanhos diversos, variando de seixos a
ocorrência restrita ao flanco leste da bacia, blocos, alinhados ou dispersos e encravados no
interdigitam-se com pelitos e arenitos givetianos de arenito (Fig. 4), alguns dos quais apresentando
plataforma rasa da Formação Pimenteira (como visto, também feições de abrasão glacial, como faces, estrias
por exemplo, na localidade Barreiro Branco, Estado e polimento (Figs. 5 e 6). A profusão de clastos, com
do Piauí), sendo provavelmente separados do restante feições de abrasão glacial ocorrida dentro da geleira e
da Formação Cabeças (fameniana) por uma no arenito do pavimento, sugere que o arenito seja de
discordância regional. origem interglacial e proglacial, situação esta que
Muitos investigadores também não reconheceram ocorre em outras localidades como em Pedro Afonso
a ocorrência de glaciação durante o Devoniano (Estado do Tocantins), onde dois níveis de diamictito
(Dickins, 1993, da Austrália e Mabesoone, 1975, do estão separados por um corpo de arenito interglacial.
Brasil), alegando que durante todo este período o As estrias, cristas e sulcos do pavimento possuem
clima manteve-se quente e úmido, também no uma orientação média de N60oW neste local. O
nordeste do Brasil. Outros geólogos argumentaram deslocamento das geleiras, de sudeste para noroeste,
que, se realmente os sedimentos tivessem sofrido determinado pelas formas de desgaste em alguns dos
influência glacial, eles poderiam ter sido depositados seixos encravados, é coincidente com o sentido da
apenas em condições alpinas. Se fossem depósitos de paleocorrente principal do sistema fluvial da parte
altitude, não implicariam na existência de uma superior da Formação Cabeças (Ponciano, 2009).
verdadeira idade glacial, nem em uma refrigeração Malzahn (1957), o primeiro a divulgar a presença
climática de caráter mundial no Devoniano. Contudo, de pavimento estriado nesta bacia, na antiga estrada
estudos palinológicos confirmaram a influência Canto do Buriti-São Raimundo Nonato, descreveu
marinha e a idade devoniana terminal dos tilitos acima da superfície estriada tilito (1,5m), seguido por
(Loboziak et al., 1991, 1992, 1993). varvito (ritmito-3,5m) e no topo do platô, arenito
Diversas evidências foram coletadas, organizadas síltico e siltito (2,0m). Afloramento este também
e apresentadas por Caputo (1984, 1985) e Caputo et al. descrito por Bigarella (1973) que informou que os
(2005, 2008) sobre os tilitos presentes em superfície sulcos apresentam 5 cm de profundidade e o
(bacias do Parnaíba e do Amazonas) e em diamictito apresenta uma espessura de 3,5m.
subsuperfície (bacias do Paraná, Parnaíba, Amazonas,
5
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Figura 3 - Seção transversal do arenito conglomerático maciço ou com estratificação cruzada, no topo da
Formação Cabeças, com sulcos e estrias na superfície e de provável origem proglacial. Foto: L.C.M.O. Ponciano,
2008.
Figure 3 - Cross-section of massive conglomeratic or cross-stratified sandstone beds at the top of the Cabeças Formation,
with striae and grooves on the surface. These strata are probably of proglacial origin. Photo: L.C.M.O. Ponciano, 2008
Figura 4 - Superfície estriada e endurecida com sulcos, cristas e clastos encravados, alinhados ou dispersos.
Foto: L.C.M.O. Ponciano, 2008.
Figure 4 - Hardened striated surface showing ridges and grooves with embedded, aligned or dispersed clasts. Photo:
L.C.M.O. Ponciano, 2008
6
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
Em direção à margem oeste da bacia, os tilitos
devonianos sobrepõem-se discordantemente aos
pavimentos estriados, às unidades estratigráficas cada
vez mais antigas e ao embasamento. Isso comprova
que o processo relacionado à erosão glacial foi muito
enérgico, tendo produzido, em curto espaço de
tempo, uma notável discordância anteriormente
insuspeitada na Bacia do Parnaíba (Loboziak et al.,
2000; Caputo & Reis, 2006). Localmente, a erosão
glacial removeu a porção arenosa da Formação
Cabeças, abaixo dos tilitos, e ainda as formações
Pimenteira, Itaim e Jaicós, assentando os sedimentos
glaciais diretamente sobre o embasamento
metamórfico, como ocorre em Colinas do Tocantins
Figura 5 - Seixo biselado pela ação glacial encravado (Fig. 7). Ali, os tilitos da Formação Cabeças
no pavimento, indicando o sentido do transporte do interpõem-se entre o embasamento e a Formação
gelo, da direita para a esquerda (N60oW). Foto: M.V. Longá. O perfil esquemático da figura 7 exclui as
Caputo, 1998. formações mais novas que o Eocarbonífero nos poços
Figure 5 - Glacially beveled pebble embedded in the amostrados. O perfil começa no poço 1-CA-1-MA
pavement, indicating the direction of ice transport from (Caraíba - Estado do Maranhão), passa pelo poço 1-
right to left (N60oW). Photo: M.V. Caputo, 1998. CL-1-MA (Carolina – Estado do Maranhão), alcança
os afloramentos na estrada Belém-Brasília (Estado do
Tocantins), onde também ocorrem pavimentos, e
termina nos afloramentos da estrada que dá acesso à
cidade de Colinas do Tocantins.
Ainda na borda ocidental da bacia, a datação
bioestratigráfica de diferentes camadas da Formação
Pimenteira, sotopostas aos tilitos, mostra que elas se
tornam mais antigas para oeste (Loboziak et al., 2000).
Fragmentos de folhelhos e oólitos ferruginosos de
níveis inferiores da Formação Pimenteira foram
erodidos e incorporados ao tilito, enquanto que em
outros locais, o mesmo contém matacões do arenito
Itaim e do embasamento (Ribeiro, 1984).
Os tilitos e ritmitos da borda oeste também
exibem uma proporção muito elevada (até 95%) de
palinomorfos eifelianos a famenianos retrabalhados,
oriundos de formações devonianas mais antigas (Streel
Figura 6 – Seixo facetado encravado no arenito do et al., 1993; Streel et al., 2000b; Loboziak et al., 2000),
pavimento da Formação Cabeças. A geleira aplainou a sugerindo intenso retrabalhamento e rápida erosão
superfície do seixo. Foto: M.V. Caputo, 2010. durante o evento glacial. A existência de tilitos sobre
Figure 6 – Faceted pebble embedded in the pavement of várias unidades estratigráficas levou à formulação de 3
the Cabeças Formation. The glacier planed the pebble hipóteses errôneas, como a de que existiriam tilitos de
surface. Photo: M.V. Caputo, 2010.
diferentes idades, ou ainda, que o contato dos tilitos
com outras formações aflorantes seria indicativo de
Num antigo acesso ao pavimento, a partir da rodovia
falhas ou o desaparecimento das areias da Formação
PI-140 (atualmente desativado), ocorrem tilitos pouco
Cabeças, sob os diamictitos, seria devido à mudança
consolidados e bastante alterados, com coloração
de fácies para os folhelhos da Formação Pimenteira.
castanha amarelada ou avermelhada, que capeiam
também os platôs da região. O tilito devoniano
SINOPSE SOBRE A ORIGEM, EVOLUÇÃO
alterado vinha sendo confundido com sedimentos
GEOLÓGICA E IMPORTÂNCIA DO SÍTIO
terciários nos mapas geológicos da região (Lima &
Leite, 1978; Correia Filho, 2006, 2009). Estes
Durante o Devoniano, o clima global manteve-se
depósitos apresentam vários metros de espessura e
relativamente quente e uniforme até o fim do
incluem alguns clastos com característica abrasão
Frasniano, quando o nível do mar apresentou uma das
glacial, tais como seixos estriados e com forma de
maiores elevações na história da Terra, inundando
sabonete ou de ferro de engomar.
grandes áreas no interior dos continentes, e
7
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
originando plataformas mais amplas e mares desencadeou a glaciação do final do Fameniano
epicontinentais. A elevação eustática subtraiu grande (Caputo, 1994). Em consequência, o nível do mar
quantidade de CO2 da atmosfera e do mar, o qual foi baixou acentuadamente, e a parte ocidental do
incorporado na forma de matéria orgânica em Continente Gonduana, então situada sobre a região do
sedimentos marinhos acumulados sob condições Polo Sul, foi encoberta por geleiras que promoveram
anóxicas. Esta enorme e contínua depleção em CO2 extensa erosão glacial. (Fig. 8)
atmosférico causou um efeito anti-estufa que
Figura 7 - Em direção à margem sudoeste da Bacia do Parnaíba, os tilitos devonianos sobrepõem-se aos
pavimentos estriados, às unidades litoestratigráficas cada vez mais antigas e ao embasamento. Figura: M.V.
Caputo.
Figure 7 - Toward the western margin of the Parnaíba Basin, Devonian tillites overlap striated pavements, increasingly
older stratigraphic units, and basement rocks. Figure: M.V. Caputo.
A fase erosiva (expansiva) com o avanço das geocronológica destas últimas segundo as escalas de
geleiras resultou na ausência, sob o tilito, da Gradstein et al. (2004) e Kaufmann (2006), as fases
Palinozona LL (lepidophyta-literatus) por praticamente glaciais expansiva e retrativa de geleiras teriam tido
toda a extensão da Bacia do Parnaíba, o mesmo se durações aproximadas de 1-1,5 Ma e 2,5-3 Ma,
verificando nas bacias do Amazonas e Solimões. A respectivamente. Portanto, em conjunto, ambas
fase deposicional, (retrativa) originou tilitos e outros correspondem a uma duração de cerca de 3,5-4,5 Ma
sedimentos glaciogênicos portadores da Palinozona do período Devoniano. Entretanto, cerca de 500.000
LE (lepidophyta-explanatus) e parte da Palinozona LN anos antes do fim do Devoniano cessou a glaciação,
(lepidophyta-nitidus). Levando em conta a correlação iniciando a acumulação dos folhelhos da Formação
destas três palinozonas com as zonas de conodontes Longá, ainda dentro da parte superior da Palinozona
neodevonianos da Europa Ocidental (Streel et al., LN situada no Devoniano. O topo da Palinozona LN
1987; Maziane et al., 1999), e a calibração marca o topo do Devoniano.
8
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
região ocorreu de sudeste para noroeste, coincidindo
com o sentido da paleocorrente principal do sistema
fluvial da parte superior da Formação Cabeças. Na
estrada de terra abandonada que dá acesso ao
pavimento, e no topo dos platôs da região, também
estão presentes tilitos, já bastante alterados e um tanto
desagregados pelo intemperismo.
O estudo da relação estratigráfica entre os
pavimentos estriados neodevonianos e os tilitos
presentes em superfície (bacias do Parnaíba e
Amazonas) e subsuperfície (bacias do Paraná,
Parnaíba, Amazonas, Solimões, Marajó e Jatobá),
comprovou definitivamente a influência glacial nestes
depósitos da América do Sul, após vários anos de
questionamentos sobre a gênese dos diamictitos e a
idade da glaciação relacionada aos mesmos.
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Mario Vicente Caputo - Graduado em Geologia (1961 – UFRGS), com doutorado em Geologia (1984 –
Universidade da Califórnia, Santa Barbara - EUA). Trabalhou na Petrobras de 1962 até 1992 e no mesmo ano
ingressou como professor de Recursos Energéticos na Universidade Federal do Pará. Lecionou até 2008, quando se
aposentou na mesma instituição. Na Petrobras, teve responsabilidade pela descoberta de petróleo (campos de gás e
condensado) na área do Rio Juruá, na Bacia do Solimões. Sua área de atuação, além de geologia do petróleo, inclui
mapeamento de unidades geológicas das bacias do Solimões, Amazonas e Parnaíba, com ênfase em estratigrafia,
geologia estrutural e paleoclimatologia. Evidenciou e estudou diversas glaciações de idade pré-neocarbonífera em
bacias intracratônicas brasileiras. Atualmente exerce consultoria sobre bens minerais das bacias sedimentares do
norte do Brasil.
Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano - Atualmente realiza Doutorado em Geologia na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, bolsista CNPq). Mestre em Ciências – Geologia pela UFRJ. Bacharel e
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Participa das exposições
de Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ e de projetos do Laboratório de Estudos de Comunidades
Paleozóicas/UNIRIO. Tem desempenhado atividades profissionais na área de Geociências, com ênfase em
Invertebrados Paleozóicos. Sua área atual de especialização é a tafonomia e paleoecologia de macroinvertebrados
devonianos das bacias do Parnaíba e Amazonas. Também realiza trabalhos associados às áreas de Geoconservação
e Museus.
11
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
UNIDADE VIII
A Bacia do Parnaíba e seus Fósseis
SIGEP
Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil
SIGEP 051
1 Departamento de Geologia e Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quinta da Boa Vista, São
Janeiro - UNIRIO, Avenida Pasteur, 458, 22.240-290, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. deusana@gmail.com, emsiano@yahoo.com.br
(A referência bibliográfica de autoria acima é requerida para qualquer uso deste artigo em qualquer mídia, sendo proibido o
uso para qualquer finalidade comercial)
Afloramento Fossilífero de Oiti,
Bacia do Parnaíba, PI
Registro de um mar devoniano no Nordeste do Brasil
SIGEP 051 *
Luiza Corral Martins de Oliveira Ponciano 1,2,3
Vera Maria Medina da Fonseca 1
Antonio Carlos Sequeira Fernandes 1
Deusana Maria da Costa Machado 3
Aline Rocha de Souza 3
RESUMO - Na região de Oiti (Município de Pimenteiras, Piauí) afloram arenitos fossilíferos do Membro
Passagem (base da Formação Cabeças), depositados por um sistema flúvio-deltaico. Estes depósitos contêm
invertebrados marinhos concentrados em intervalos fossilíferos pouco espessos (centimétricos a decimétricos) e
com uma ampla distribuição lateral. Neles, os braquiópodes são predominantes, associados a outros fósseis
marinhos de ocorrência mais esparsa, como biválvios, gastrópodes, tentaculitídeos, trilobitas, crinoides e
fragmentos de plantas continentais. Os táxons presentes são do Devoniano Médio, portanto contemporâneos da
transgressão marinha de maior porte que inundou as bacias paleozóicas brasileiras. O afloramento de Oiti
destaca-se daqueles que lhes são homócronos na borda leste da Bacia do Parnaíba pela maior concentração e
melhor qualidade do registro fossilífero. Seus macrofósseis ocorrem em arenitos muito micáceos de granulação
muito fina a fina, intercalados a raros siltitos e arenitos conglomeráticos. Estes intervalos fossilíferos estão
associados a clinoformas sigmoidais com estratificação cruzada assintótica e climbing ripples, assim como a arenitos
com estratificação cruzada hummocky. Uma interpretação para a gênese destas concentrações fossilíferas sugere
que as mesmas estejam relacionadas à desaceleração de correntes de turbidez (fluxos hiperpicnais), originadas em
um sistema flúvio-deltaico influenciado por inundações, ao adentrarem um paleoambiente marinho raso.
ABSTRACT - Fossiliferous Passagem Member (basal Cabeças Formation) sandstones of fluvio-deltaic origin crop out in
the Oiti region (Pimenteiras municipality, State of Piauí). These strata contain marine invertebrates concentrated in
centimeter to decimeter-thick intervals with widespread lateral distribution. The brachiopod-dominated fossil assemblages
also exhibit other less common invertebrates, such as bivalves, gastropods, tentaculitids, trilobites, and crinoids, in addition
to plant debris. The fossils are of Middle Devonian age, therefore coeval with a major marine transgression which flooded
the Brazilian Paleozoic basins. The Oiti outcrop is distinguished from other Devonian sites on the eastern margin of the
Parnaíba Basin by the greater abundance and better preservation of its fossil assemblages. These occur in very fine to fine-
grained micaceous sandstones, which are interbedded with rare siltstones and conglomeratic sandstones. Sigmoidal
clinoforms with asymptotic cross-stratification and climbing ripples are associated with the fossiliferous intervals, as well as
hummocky cross-stratified sandstones. The genesis of the fossil assemblages could be related to the deceleration of turbidity
currents (hyperpycnal flows) in a flood-dominated fluvio-deltaic system entering a shallow marine paleoenvironment.
Key words: Cabeças Formation; Passagem Member; Devonian; Parnaíba Basin; brachiopods
Janeiro - UNIRIO, Avenida Pasteur, 458, 22.240-290, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. deusana@gmail.com, emsiano@yahoo.com.br
O afloramento de Oiti destaca-se daqueles que (Fig. 2). Constitui um sítio paleontológico raro, uma
lhes são homócronos na borda leste da Bacia do vez que só existem mais três localidades conhecidas
Parnaíba pela maior concentração e melhor qualidade onde ocorrem fósseis da mesma unidade
do registro fossilífero, tendo sido registrados, além do litoestratigráfica, cada qual apresentando tafocenoses
sítio principal, pelo menos cinco outros pontos com distintas, além de diversidade específica e modos de
expressiva riqueza de macrofósseis ao longo da preservação diferenciados. Intervalos fossilíferos do
estrada de terra que une a rodovia PI-120 (trecho Membro Passagem são registrados atualmente
Valença do Piauí – Pimenteiras) ao povoado de Oiti também no Km 305 da BR-316 (Município de Picos),
Figura 4 – Concentração fossilífera do afloramento de Oiti, dominada por braquiópodes. Tafofácies 1. Barra de
escala = 1 cm.
Figure 4 – Brachiopod-dominated macroinvertebrate assemblage from the Oiti outcrop. Taphofacies 1. Bar scale = 1 cm.
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Dissertação de Mestrado, Departamento de Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, 175 p.
Vera Maria Medina da Fonseca - Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula (1976),
Mestre (1991) e Doutor (2001) em Ciências - Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Bióloga do
Projeto Radambrasil (1978-1984), Pesquisadora em Ciências Exatas e da Natureza do Departamento Nacional da
Produção Mineral (1984-1997), Professora Assistente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997-2002).
Desde setembro de 2002, Professor Adjunto da UFRJ, lotada no Departamento de Geologia e Paleontologia do
Museu Nacional, onde desenvolve também trabalho de curadoria junto à Coleção de Paleoinvertebrados. Possui
experiência na área de Geociências, ênfase em Paleontologia, atuando principalmente no estudo de braquiópodes
devonianos e carboníferos das bacias paleozóicas brasileiras.
Antonio Carlos Sequeira Fernandes - Licenciado e Bacharel em História Natural pela Universidade Gama Filho
(1973), Licenciado em História pela Universidade Veiga de Almeida (2004), Mestre (1978) e Doutor (1996) em
Ciências - Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Associado da UFRJ, lotado no
Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional. Presidente (1995/1997) e vice-presidente (1998-
2001) da Sociedade Brasileira de Paleontologia representa-a atualmente junto à SIGEP. Curador da coleção de
paleoinvertebrados do Museu Nacional e Bolsista do CNPq, desenvolve pesquisas relacionadas a Icnologia,
Paleontologia de Invertebrados e história das coleções paleontológicas do Museu Nacional.
Deusana Maria da Costa Machado - Possui graduação em Geologia pela Universidade Federal do Pará (1986),
mestrado em Geologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990) e doutorado em Geociências pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Geologia, atuando
principalmente nos seguintes temas: Devoniano, Bivalvia, Comunidades Paleozóicas, Patrimônio e Educação.
Aline Rocha de Souza - Bacharel em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro –
UNIRIO (2006) e Mestre em Museologia e Patrimônio pela mesma universidade (término 2008). Atualmente é
pesquisadora do Laboratório de Estudos de Comunidades Paleozóicas / UNIRIO, atuando principalmente nos
seguintes temas: Museologia, Museus, Paleontologia, Patrimônio Natural (com ênfase para a Geodiversidade e
Geoconservação).