Você está na página 1de 7

19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

×
Receba os resultados dos principais julgamentos tributários no STF, no STJ e no Carf diretamente
no seu e-mail no mesmo dia da decisão. Conheça e assine o JOTA PRO!

REGULAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS

Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados


pessoais
Os impactos da LGPD nas operações de recuperação de crédito tributário

LUIZA LEITE
JOÃO PEDRO GARCIA

13/02/2021 08:00

O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

Crédito: Pixabay
ESTOU CIENTE

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 1/7
19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

Há muito se sente o impacto da inovação em nosso cotidiano. Em virtude de novas


dinâmicas baseadas na tecnologia da informação, as duas primeiras décadas do
século XXI foram marcadas pela celeridade e intensidade de mudanças na vida
humana. Grande parte do que se conhecia anteriormente foi se digitalizando, dando
espaço para novos produtos, serviços e hábitos. Dentro desse contexto, a análise
econômica sobre os setores foi ganhando novos contornos e os dados se tornaram um
dos principais ativos de uma instituição.

Contudo, a percepção do valor agregado aos dados pessoais por muito tempo se
restringiu a empresas. O próprio cidadão nem sempre deteve consciência do valor
contido na disponibilização de suas informações e o compartilhamento delas tornou-se
algo vulgarizado. Nascendo, assim, uma cultura pautada na falta de consciência sobre
proteção de dados no Brasil.

O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

Nessa perspectiva, em 2018, com a promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados


ESTOU CIENTE
(LGPD), houve quem dissesse que a lei não iria pegar. Mas, em um ambiente de
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 2/7
19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

modernidade líquida, os movimentos de transformações são constantes e o efeito foi


reverso. Rapidamente as pessoas enxergaram oportunidades com a lei e diversos
setores tiverem que se adaptar, dentre eles as consultorias especializadas que lidam
com a recuperação de crédito tributário.

A recuperação de créditos é um direito do contribuinte, para este reaver tributos pagos


– indevidamente – à maior. Tal procedimento pode ser feito pela via administrativa, por
meio de Pedido Eletrônico de Restituição e Declaração de Compensação
(PER/DCOMP), assim como, pela via judicial. No atual momento de pandemia, a busca
pelo ressarcimento desses valores tem aumentado consideravelmente, tendo em vista
a consequente redução da carga tributária, além do impacto positivo no caixa da
empresa. Para tanto, é necessário um planejamento tributário minucioso e a revisão de
todos os tributos devidos.

Assim sendo, a identi cação desses valores pagos indevidamente e a realização do


pedido de ressarcimento pressupõe a análise de uma série documentos contábeis da
companhia como, por exemplo, o Manual Normativo de Arquivos Digitais (MANAD), o
Relatório Relação de Empregados, SPED scal, comprovantes de recolhimentos de
tributos, entre outros. Ocorre que, o compartilhamento dessas informações com
consultorias e auditorias terceirizadas deve ser objeto de adequação à LGPD.

Isso, pois, tais documentos muitas vezes contêm não apenas informações da empresa
como também, dados pessoais de funcionários, de representantes legais e, até
mesmo, de fornecedores. Nesse sentido, surge o questionamento sobre qual a base
legal que ampara esse tipo de tratamento de dados.

Embora, grande parte do mercado acredite, equivocadamente, que para todo e qualquer
tratamento é devida a coleta do consentimento do titular de dados, a LGPD dispõe ao
contrário. No artigo sétimo da lei, estão previstas outras hipóteses de tratamento de
dados pessoais que dispensam a coleta de consentimento como, por exemplo, para o
legítimo interesse do controlador, para cumprimento de contrato, para tutela da saúde,
entre outras. Como não existe qualquer hierarquia entre as bases legais, a correta
atribuição das mesmas se dá com base na análise de cada caso e das nalidades do
tratamento em questão.

OAssim
JOTA fazsendo, em separa
uso de cookies tratando da realização
oferecer uma de recuperação
melhor experiência denossos
a você. Ao utilizar crédito tributário,
serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
precisamos analisar três momentos para a realização da correta classi cação das
bases legais, (i) tratamento dos dados na emissão dos documentos, (ii) tratamento
ESTOU CIENTE

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 3/7
19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

dos dados no compartilhamento de informações com as consultorias externas e, (iii)


tratamento dos dados no pedido de ressarcimento.

No primeiro caso, esbarramos nas obrigações tributárias acessórias. Como está


previsto no art. 113, § 2, do  do Código Tributário Nacional (CTN), independentemente
de ser exigido ou não o cumprimento de obrigação principal, o contribuinte é sempre
obrigado a cumprir a obrigação acessória, como é o caso de emissão de Notas Fiscais
e GFIP/SEFIP. Dessa forma, quando falamos de GFIP/SEFIP, por exemplo, como existe
uma obrigação legal que prevê a necessidade de coleta e compartilhamento de dados
pessoais, como o nome dos funcionários e número do PIS/PASEP, o tratamento desses
dados se dá com base no art. 7, II, da LGPD, para o cumprimento de obrigação legal e
regulatória pelo Controlador, neste caso, o Empregador.

Somado a isso, podemos citar, também, os dados tratados no âmbito do e-social, para
o cumprimento de obrigações acessórias trabalhistas que tangenciam a esfera
tributária, como o recolhimento de INSS, FGTS e DIRF. Os referidos tratamentos
também dispensarem o consentimento do titular. Nesta circunstância, além de se
justi carem pelo cumprimento de obrigação legal, também se fazem necessário para a
execução do contrato, neste exemplo, de trabalho, conforme art. 7, V da LGPD.

Por outro lado, o compartilhamento de informações com consultorias externas


(operadores) pode ser analisado por outro prisma. Neste caso, pode existir a
necessidade de cumprimento de obrigação legal e regulatória pelo Controlador (a
empresa), visto que a mesma precisa de suporte para realizar o pagamento correto de
seus tributos. Assim como, o legítimo interesse da empresa em realizar um
planejamento contábil e scal para redução da carga tributária.

Vale ressaltar que a dispensa do consentimento em


todas estas hipóteses não afasta a observância aos
princípios elencados na LGPD, como da nalidade,
adequação e segurança.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
Desse modo, recomendando-se, sempre que possível a anonimização dos dados
pessoais não relevantes para as análises e, na sua impossibilidade, o reforço da
ESTOU CIENTE
segurança no tratamento dos mesmos. Na mesma linha,   ndada a nalidade pela qual
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 4/7
19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

os dados foram tratados, deve-se proceder com o descarte dos mesmos,  não podendo
utilizá-los para objetivos diversos.

Por m, o compartilhamento de documentos que contenham dados pessoais para ns


de solicitação do ressarcimento dos valores dos créditos tributários, pela via
administrativa ou judicial, é amparado pelo art. 7, VI, da LGPD. Dado que os mesmos
estão sendo utilizados para o exercício regular de direito em processos judiciais e/ou
administrativos. Neste cenário, o tratamento de dados não se limita ao
compartilhamento dos dados pessoais nos processos, mas a manutenção de tais
informações pelas empresas, de acordo com os prazos prescricionais elencados em
lei.

Com isso, a partir dos artigos 173 e 174 do CTN, as empresas podem armazenar tais
informação pelo período de 5 anos, dada a possibilidade de ingresso de ação de
cobrança de crédito tributário. Contudo, tendo em vista que o crédito tributário pode ser
constituído em até 5 anos, sob pena de decadência, este período até a sua constituição
também deve ser considerado pela empresa.

Em outras palavras, durante os 5 anos de período decadencial para a constituição do


crédito, os documentos podem ser tratados. Sendo o crédito constituído, a empresa
pode tratar por mais 5 anos os dados pessoais para ns de defesa em processo
judicial. A ação sendo constituída interrompe o prazo prescricional de constituição do
crédito e o tratamento dos dados passa a se pautado nos prazos prescricionais
processuais.  Dessa forma,  por mais que seja solicitado a exclusão dos dados
pessoais pelo titular, é legítima a manutenção dos mesmo para essa nalidade.

Resta claro, então, que a LGPD embora tenha levantado pontos de adaptação e
melhorias da proteção de dados no processo de recuperação de créditos tributários
não impede que tal atividade proceda com mesma efetividade de antes. Contudo, é
imprescindível que as consultorias, escritório e empresas estejam atentos às políticas
de descarte e segurança da informação, prazos para os tratamentos de dados e suas
respectivas nalidade.

O episódio 48 do podcast Sem Precedentes faz uma análise sobre a atuação do


Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020 e mostra o que esperar em 2021. Ouça:
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

Sem
ESTOU CIENTE Precedentes, ep. 48: o STF em 2020 e o que …

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 5/7
19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

LUIZA LEITE – CEO da Dados Legais. Head de educação do Instituto Propague. Co-fundadora da Destro
Consultoria Jurídica. Pesquisadora do Laboratório de Estudos Institucionais – LETACI/UFRJ e do Núcleo de
pesquisa em Direito e Tecnologia no Lima ≡ Feigelson Advogados.
JOÃO PEDRO GARCIA – CEO na Tax Vision.

O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com
essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

ESTOU CIENTE

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 6/7
19/02/2021 Nada é mais certo que a morte, os tributos e os dados pessoais | JOTA Info

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/regulacao-e-novas-tecnologias/nada-e-mais-certo-que-a-morte-os-tributos-e-os-dados-pessoais-13022… 7/7

Você também pode gostar