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N° 20326

UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI


- UFVJM

REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DOCENTE NA FORMAÇÃO DA PESSOA


HUMANA: RELATOS DE EXPERIÊNCIA

Linha de pesquisa do Mestrado de Ciências


Humanas da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri- UFVJM: Psicologia,
Educação e Cultura. Sublinha: Fenomenologia;
Processos Culturais; Formação da Pessoa.

DIAMANTINA- MG
2021
N° 20326

REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DOCENTE NA FORMAÇÃO DA PESSOA


HUMANA: RELATOS DE EXPERIÊNCIA

Linha de pesquisa do Mestrado de Ciências


Humanas da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri- UFVJM: Psicologia,
Educação e Cultura. Sublinha: Fenomenologia;
Processos Culturais; Formação da Pessoa.

DIAMANTINA-MG
2021
N° 20326

Sumário

Introdução ....................................................................................................................4
Objetivo Geral e objetivo específico............................................................................5
Definição do problema .................................................................................................5
Justificativa ...................................................................................................................5
Fundamentação teórica.................................................................................................6
Metodologia .................................................................................................................14
Cronograma.................................................................................................................15
Referências Bibliografias ...........................................................................................16
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Introdução

Quando somos inseridos em uma cultura, ao nascermos, desde então começamos a


apreender o que está ao nosso meio, para que assim possamos de fato aprender as normas e
comportamentos que diz respeito a convivência social.

Os professores é um dos principais agentes responsáveis por auxiliar as crianças e


adolescentes no processo de aprendizado. E será que tem um método mais eficaz para
potencializar o ensino? O professor está diretamente ligado ao processo de formação humana?
Qual a melhor maneira de um professor se portar dentro de sala de aula para auxiliar no
processo do aluno? Perguntas como essas serão colocadas para a reflexão no decorrer do
projeto de pesquisa. E ainda será relatado as experiências vividas no contexto do Distrito de
Maria Nunes que servirá de exemplo de vivência empírica do papel do professor na formação
da pessoa humana.

Várias dessas reflexões surgiram quando fiz contato com a escola de Maria Nunes, foi
a partir de então que me surgiu muitos questionamentos a respeito do papel do professor na
sala de aula. Foi as experiências vividas nessa escola que incitaram dúvidas e reflexão sobre
meu próprio posicionamento como docente. Adiante, por meio dos meus relatos, as
experiências se revelarão e, por si mesmas, proporcionarão a reflexão proposta pelo tema.

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Objetivo Geral

Se tem por objetivo geral questionar o papel do professor nas escolas e, por meio de
relatos de experiências, clarear as possibilidades cabíveis ao posicionamento docente no
âmbito escolar.

Objetivo Específico

A partir da experiência vivida por mim em Maria Nunes foi gerado questionamentos
sobre a atuação e o papel do professor na sala de aula, tais questionamentos revelaram
possíveis horizontes de como o professor pode vir a se posicionar diante dos alunos no
ambiente escolar. Especificamente procurei por posicionamentos que me auxiliassem no
ambiente escolar em Maria Nunes e que também pudessem servir de exemplo de atuação para
outros docentes.

Definição do problema

O que realmente importa transmitir para o aluno no processo de aprendizagem? Como


o professor deve se portar diante dos desafios do contexto escolar? E quando os alunos se
mostrarem desinteressados? Nós, enquanto professores, nos deparamos com muitos
questionamentos numa sala de aula. Mas, será mesmo que temos respostas para todas essas
inquietações? Talvez a solução não seja responder todas as perguntas incitadas, mas sim o
importante seja nos colocar em movimento em busca do como ser um profissional melhor e,
consequentemente, melhorar as aulas no ambiente escolar.

Justificativa

O tema abordado coloca em ênfase o papel docente na formação humana do aluno. A


pesquisa é de suma importância por trazer clareza para o professor que atua na formação das
crianças e adolescentes. Mesmo que as reflexões aconteçam a partir de um contexto
específico, são reflexões significativas e que podem servir de exemplo para outros ambientes
escolares.

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Fundamentação teórica

Ao longo da história humana se foi acumulado um arsenal de conhecimento, arsenal


esse que se tornou necessário ser transmitido de geração a geração. Toda essa produção que
foi acumulada de forma coletiva é maior que o próprio indivíduo que acabou de nascer e que
se encontra no processo de ser inserido na sociedade. Todos os indivíduos necessitam
apropriar desse conhecimento acumulado para saber sobre a história da própria espécie
humana. Contudo, a escola se coloca como mediadora desse conhecimento acumulado para as
novas gerações. E qual o conhecimento pertinente para ser transmitido na escola? A escola
propicia um saber não cotidiano. A escola visa propagar um aprendizado baseado nos saberes
da ciência. O professor se planeja, faz o levantamento do que é essencial para ser ensinado.
Ou seja, o professor sabe até onde o ser humano chegou a nível de conhecimento e ensina
aquilo que se considera essencial a ser transmitido para as novas gerações.

Hoje existe muitas teorias que buscam entender o palco da educação. Teorias que
clareiam o ensino e a aprendizagem. Qual está certa e qual está errada? Aqui não está em foco
apontar erros e acertos no campo pedagógico. O foco é incitar reflexões. A partir da minha
experiência eu busquei por respostas e eu não as encontrei de maneira generalizada, isto é, de
maneira que seja a resposta de todos os conflitos das escolas que existam. O foco não é
generalizar soluções porque cada escola possui um contexto, ou seja, cada lugar que a escola
se encontra possui determinados valores, com isso, podemos concluir que cada escola possui
uma realidade. A carência de uma escola pode não ser a carência da outra. E aqui eu irei focar
na realidade que eu me deparei. Na escola que eu me apresentei como docente. As
experiências que tive nessa determinada escola me trouxe inquietações que me levou a
questionamentos. E estes questionamentos nortearam as minhas ações. Pode-se dizer que foi a
primeira vez que eu questionei o papel do professor na sala de aula. E ainda, foi a primeira
vez que eu me vi como professora e questionei o meu próprio papel naquela escola em que eu
me encontrava. Desde então eu não fui a mesma. O meu olhar mudou, pois eu queira clarear
as minhas ações e objetivos diante dos alunos.

Para ficar ainda mais claro, adiante terá um capítulo sobre a escola referida no
parágrafo anterior.

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Escola Municipal de Maria Nunes

Essa escola se localiza perto de Diamantina. Ela fica em um distrito chamado Maria
Nunes. Maria Nunes é um povoado que possui características marcantes, uma delas é a
cultura do garimpo que é forte e, ainda outra característica, por ter poucos habitantes,
praticamente todas as pessoas se conhecem.

Conheci Maria Nunes por meio do PIBID- programa de iniciação a docência.


Cursando Humanidades na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri) me inscrevi para o PIBID. E antes mesmo de eu conhecer a escola, minha
supervisora havia me falado sobre o que eu iria me deparar, disse que as crianças eram
desinteressadas e que não interagiam com o conteúdo, me deixou a par de que era
praticamente em vão realizar atividades com os alunos daquela escola, pois eles não se
envolviam com nenhuma dessas atividades escolares.

A escola acolhe todas as crianças do povoado e, na medida do possível, transmite o


conhecimento necessário para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Aqui foi dito
“na medida do possível” porque há claras evidências que, especificamente nesse distrito, a
escola não cumpre o seu papel. E afinal, qual o papel da escola? A escola tem o dever social
de propiciar aos alunos a aprendizagem do conhecimento já produzido pela humanidade até os
dias de hoje, tal conhecimento esse considerado essencial ser transmitido de geração para
geração. Nesse processo de aprendizagem, aprender a ler e a escrever é primordial. Porém, na
Escola Municipal de Maria Nunes eu me deparei com criança que não sabia ler e nem
escrever e que mesmo assim estava no nono ano. O que uma criança que não sabe ler e
escrever aprendeu na escola durante esses anos que esteve lá? Esse fato era real e me fez
questionar também o papel escolar naquele distrito. Percebi que a escola tem o foco de
transmitir conhecimento, mas não é só isso, ela também tem outros papéis como, por
exemplo, o papel de acolher e alimentar aquelas crianças. Ouvi relatos de criança em total
vulnerabilidade que não tinha o que comer e que sua única refeição era no ambiente escolar.

Quando finalmente cheguei na escola municipal de Maria Nunes e deparei com aquele
contexto, não sei se foi por já ter imaginado o pior, a visita inicial não me causou tanto
choque. O que vi foi crianças que possuíam um legado cultural e tal legado é o que ditava o
ritmo daquele lugar. E claro, cada lugar com suas particularidades. No mais, vi crianças com

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dificuldade de leitura, de concentração, algumas até mesmo não sabiam ler e mesmo assim se
encontravam no nono ano do Ensino Fundamental. Porém, era importante lembrar o que
estava por detrás daqueles conflitos, isto é, atrás daqueles conflitos tínhamos crianças que
continuavam sendo crianças. E logo, ao ser criança, eram seres dotados de uma maneira
vibrante ao brincar, alegres e curiosos. Está aí uma imagem do “ser criança” diferente da
imagem que diziam fazer jus às crianças de Maria Nunes: conhecidas como bagunceiras,
desleixadas, burras e incapazes. Naquele momento deixei essas duas imagens do “ser criança”
colidirem de frente. Me permiti ver sem enquadrar, ou seja, me deixei sentir e trouxe para a
consciência o que senti em relação a elas, ao invés de tomar como verdade inquestionável a
linguagem “pronta” que eu havia tido contato antes de chegar na escola de Maria Nunes.
(ALTISSIMO, ARAÚJO, 2019, p.24)

Fui designada a auxiliar os estudantes do sexto ao nono ano na disciplina de Língua


Portuguesa. Eu juntamente com os outros pibidianos focamos em atividades visando à
formação humana e cultural. Realizamos atividades que permitiam a reflexão sobre os
próprios sentimentos. Propusemos que eles se conectassem com eles mesmos, no sentido de
trazerem para a consciência o que estavam sentindo no momento das atividades. Eu e o grupo
também sentimos a necessidade de abordar certos assuntos como bullying, pois eles se
insultavam muito. Importante ressaltar que foi quando cheguei nessa escola que eu comecei a
questionar o papel do professor na educação. Eu olhei para mim diante daqueles conflitos:
como fazer os alunos se interessarem mais pelo processo de aprendizagem? Quais atividades
propor para que eles se sintam curiosos e se envolvam com o tema abordado? O que fazer
para termos de fato a relação de aprendizado e ensino na escola? Afinal, esse era para ser o
papel social da escola. Eu me vi ali diante dessas questões, buscando soluções para resgatar o
interesse dos alunos pelo conhecimento escolar sistematizado. Além de que, mesmo quando
meu contrato do PIBID acabou, eu continuei indo em Maria Nunes fazendo trabalho
voluntário e ainda me vinculei a escola por meio de um outro projeto, “Programa Mais
Alfabetização”, nesse projeto eu me apresentei as turmas como professora de português e
matemática.

A complexidade das experiências como docente

Fato que, se nos mantermos mais atentos com a realidade ao nosso redor do que
ficarmos focados apenas com as teorias escritas no papel, ficamos mais abertos para enxergar
as complexidades advindas da experiência. O papel da escola é mais complexo do que apenas

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transmitir conhecimentos essenciais para as mais novas gerações. Olhos atentos perceberão a
complexidade das situações escolares. Eu, bem atenta, me deparei com essas complexidades
na escola de Maria Nunes.

Foi diante disso que estudei alguns autores que contribuíram/contribuem de forma
profunda e sugestiva para o significado das interações humanas e de como podemos fazer
delas relações saudáveis na busca de ajudar e compreender o outro. Procurei o suporte
necessário diante dos conflitos institucionais com os quais me deparei no decorrer do projeto.

A pedagogia histórico-crítica me trouxe uma perspectiva interessante, de acordo com


essa teoria, indivíduos são transformados pela sociedade, porém, a sociedade também é
transformada pelo indivíduo. Isso quer dizer que a escola pode não ser apenas um instrumento
de transmissão de conhecimento que perpetua os princípios necessários para a manutenção do
sistema capitalista, não é apenas isso, a escola também é um espaço de reflexão em que o
aluno se posicionam diante da realidade a partir dos conhecimentos que lhe são clarificados.
Onde há posicionamento há transformação. Ou seja, se a escola fosse apenas um instrumento
de transmissão, ela não formaria sujeitos críticos, sujeitos passíveis de formar uma opinião
clara sobre o atual sistema. A seguir uma definição que exemplifica bem o que é educação
para a pedagogia histórico-crítica: “Para a pedagogia histórico-crítica, educação é o ato de
produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é
produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens".(SAVIANI. 2011, pag.2)

Eis a importância do papel da escola, é por meio dela que a criança e adolescentes tem
acesso ao conhecimento acumulado até os dias de hoje. Outro ponto a se ressaltar é que,
apesar de o conhecimento sistemático escolar ser sim importante, tal conhecimento deve
dialogar com a realidade do aluno, isto é, aquilo que deve ser aprendido na escola tem que
fazer sentido pro aluno, e fará sentido se o conteúdo dialogar com o seu contexto, dialogar
com o que está no seu entorno. A escola não deve ocultar a realidade ao redor, pelo contrário,
ela deve trazer para a sala de aula as vivências dos alunos fora do muro escolar e, a partir
dessas vivências, construir conhecimento. Para exemplificar o que foi dito acima, trarei um
fato que vivenciei em Maria Nunes (MN):

Como já foi dito, os alunos de MN eram tidos como desinteressados, então, como o
que levávamos para a sala de aula não os despertavam curiosidade, eu pedi para a
coordenação para autorizarem a visita de uma psicóloga. Essa visita me trouxe clareza de
como agir diante do desinteresse das crianças. A psicóloga abriu um espaço de escuta e ali eu
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pude ver o quão importante é abrir esse momento de diálogo. Deixar os alunos falarem e se
expressarem. A dinâmica com a psicóloga trabalhou valores como cooperação, comunicação e
acolhimento. Tivemos nossos desafios para manter a organização, mas a maioria dos
adolescentes participaram da dinâmica. O que pude perceber é que conteúdo escolar é
importante, porém tem que ter essa abertura para ouvir as demandas dos alunos que diz
respeito sobre a realidade deles.

A importância da escuta nas relações interpessoais

Carl Ransom Rogers é um outro autor muito significativo que me auxiliou no como
me portar em sala de aula. Rogres nasceu em Oak Park (1902-1987). Foi um norte-americano,
pastor e terapeuta. A partir de suas experiências com crianças que sofreram abuso,
desenvolveu teorias sobre a personalidade e prática terapêutica. Em seu livro Um Jeito de Ser,
no capítulo 1, “Experiências em comunicação”, ele elabora a experiência de ouvir e ser
ouvido a partir das interações humanas que teve ao longo de sua vida. Em seus relatos, o autor
traz lições que acredita construírem uma relação interpessoal independente e construtiva.
Rogers também fala sobre como uma comunicação centrada positivamente no outro faz com
que este se sinta acolhido e aceito. Quando trazemos esse “sentido positivo”, partimos da
ideia de uma experiência aberta e confortável para o indivíduo. (ALTISSIMO; ARAÚJO,
2019, p.18). Isso diz muito da pessoa que está ouvindo a outra, observemos esse trecho:
“Ouvir verdadeiramente alguém resulta numa outra satisfação especial. É como ouvir a
música das estrelas, pois por trás da mensagem imediata de uma pessoa, qualquer que seja
essa mensagem, há o universal.”. (ROGERS, 1980, p.7).

Entende-se que ouvir alguém é um processo de aprendizado, quando nos permitimos


de fato ouvir alguém, é criado a partir de então um momento de conexão e, ao desempenhar
tal ato, conseguimos compreender o significado das palavras de quem diz, adentramos no seu
mundo interno como se fosse nosso e percebemos o que todas as pessoas que necessitam de
falar têm em comum: a busca pela compreensão. Esse adentrar no mundo interno é entender
coisas que não diz respeito a nós, mas sim diz respeito a um outro indivíduo e, por meio da
sensibilidade de ouvir, conseguimos captar e proporcionar a ele satisfação em ser ouvido.

Em seu outro livro, Tornar-se Pessoa, no capítulo 2, Rogers vai abordar questões sobre
compreensão. Repare no trecho a seguir:

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É somente à medida que compreendo os sentimentos e pensamentos


que parecem tão terríveis para você, ou tão fracos, ou tão sentimentais,
ou tão bizarros - é somente quando eu os vejo como você os vê, e os
aceito como a você, que você se sente realmente livre para explorar
todos os cantos recônditos e fendas assustadoras de sua experiência
interior e frequentemente enterrada. (ROGERS, 1956, p.38-39).

Nesse fragmento, reconhecemos condições para que haja uma experiência de ajuda na
interação de duas pessoas ou em um grupo, sendo uma delas a liberdade que podemos dar ao
indivíduo de ser quem ele é em potência nos seus níveis conscientes e inconscientes. Por isso,
a relação de ajuda diz muito da pessoa que está ouvindo, e para que a pessoa ouvida cresça e
se desenvolva vai depender de como ela é recebida.

Foi essa a vivência tida em Maria Nunes quando a psicóloga abriu espaço para que os
adolescentes pudessem se expressar, nesse momento ficou claro o quão importante é ouvir os
alunos, o quão importante é, nós professores, nos colocarmos diante deles para os
compreender. Não há relação de ensino-aprendizagem se não houver esse diálogo aberto do
professor com as demandas estudantis. E quais são essas demandas estudantis? Os próprios
alunos irão falar se eles sentirem essa abertura para o diálogo.

Carl Rogers, ao longo dos seus estudos, formulou sua teoria sobre a abordagem
centrada na pessoa humana. Será colocado a seguir pontos principais sobre essa teoria que me
auxiliou, como docente, ao aplicar na sala de aula com os alunos de Maria Nunes.

Na Abordagem Centrada na Pessoa, Roger diz sobre conceitos como autenticidade,


aceitação e compreensão, estes são considerados como requisitos essenciais de uma relação
que visa o amadurecimento dos envolvidos. Na sala de aula, a relação professor-aluno precisa
propiciar, principalmente ao aluno, esse amadurecimento. Os próximos tópicos pontuarão
aspectos da Abordagem da Pessoa (teoria desenvolvida por Rogers) que podem ser levados
para a sala de aula.

Compreensão Empática

Ser empático com o outro é permitir sentir a pessoa a nível de sentimento, é algo além
da razão. Esse é um momento de comum união, em que ambos os seres se comunicam e se
compreendem. Há uma conexão entre ambos. Em Maria Nunes, nas atividades, por mais
difícil que fosse manter uma organização dos alunos na sala de aula, nós pibidianos,
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propúnhamos a vivência da empatia. Foi colocado para eles atividades de reconhecimento das
próprias emoções espelhadas no outro. Essas dinâmicas propostas mostravam que as mesmas
emoções de alegria, raiva, medo, encontrados em si, também eram encontrados no outro.
Trabalhar a empatia é trabalhar a boa convivência. É deixar o ambiente escolar mais propício
para o ensino-aprendizagem.

Aceitação Incondicional

No capítulo 2 do livro Torna-se Pessoa, são identificadas algumas hipóteses em


relação à facilitação do crescimento pessoal. Vejamos:

Como uma segunda condição, acho que quanto mais aceitação e


apreço sinto com relação a esse indivíduo, mais estarei criando uma
relação que ele poderá utilizar. Por aceitação, quero dizer uma
consideração afetuosa por ele enquanto uma pessoa de autovalia
incondicional – de valor, independente de sua condição, de seu
comportamento ou de seus sentimentos. Significa um respeito e
apreço por ele como uma pessoa separada, um desejo de que ele
possua seus próprios sentimentos à sua própria maneira. (ROGERS,
1956. p.38).

Além de transmitir conhecimento para o aluno, nós docentes devemos os ajudar a


tornarem pessoas mais confiantes em si mesmas. O que foi muito visto em Maria Nunes, foi o
ato de um se direcionar ao outro com palavras ofensivas. Isso trava a criança e o adolescente,
com isso eles provavelmente terão problemas com a autoestima e a autoexpressão. Já que é
proporcionando ao próximo uma relação livre de ofensas e julgamentos, que faz com que ele
consiga construir e expressar sua personalidade sem receio em relação à opinião das pessoas,
ou seja, torna-se uma pessoa voltada a si sem se perder nos ruídos das opiniões alheias. Por
conseguinte, numa relação genuína ligada à liberdade individual, empatia com compreensão e
afetividade positiva, consegue reforçar no outro todas as suas potencialidades existenciais e
possibilidades de vir a ser, com isso ele confirma em si os seus potenciais e, de forma natural,
pode desenvolver-se e evoluir.

Em Maria Nunes o processo de aceitação de nós pibidianos para com os alunos


ocorreu mediante a relação que criamos em cada experiência na sala de aula, de maneira a
proporcionar uma abertura pelo diálogo para todos os envolvidos, no qual pudessem exprimir

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seus sentimentos por intermédio da fala. Em uma ocasião de conflito, deixamos duas alunas
se expressarem e se resolverem sem intervir na discussão delas. Demos a liberdade para que
elas resolvessem o conflito por si mesmas. Estávamos ali para mostrar que com respeito ao
próximo pode se resolver qualquer questão.

Portanto, podemos perceber o quanto é importante a aceitação incondicional em


qualquer âmbito, mas principalmente o escolar, pois este é um espaço onde a criança ou
adolescente entra em contato com o outro fora do âmbito familiar e, assim, passa a se
questionar sobre o processo na formação da sua identidade, por isso é essencial que eles se
sintam aceitos para escolher seus próprios valores. Lembrando que a aceitação incondicional
não é falta de limites e regras, mas sim a abertura para que as crianças se expressem sem
receio de não serem aceitas e acolhidas.

Autenticidade – Genuinidade

Vejamos as palavras de Rogers no seguinte trecho do capítulo 2 em seu livro Tornar-


se Pessoa:

Ser genuíno também envolve a disposição para ser e expressar, em


minhas palavras e em meu comportamento, os vários sentimentos e
atitudes que existem em mim. É somente dessa maneira que o
relacionamento pode ter realidade, e realidade parece ser
profundamente importante como uma primeira condição. É somente
ao apresentar a realidade genuína que está em mim, que a outra pessoa
pode procurar pela realidade em si com êxito. (ROGERS, 1956, p.38).

Ser autêntico é se aceitar e se compreender, é tomar consciência do sentimento que


perpassa a si mesmo e ainda o expressar independentemente do desconforto que a princípio
apareça. É desafiador ser autêntico. Muitas vezes temos o movimento de julgar o que se passa
em nosso mundo interior como algo negativo e acabamos por bloquear determinados
sentimentos, emoções, pensamentos e até mesmo certas lembranças.

Como professora em Maria Nunes percebi que o ser autêntica foi o reconhecimento
das minhas próprias expectativas frustradas diante dos trabalhos realizados na escola. O ser
autêntica foi identificar em mim o querer que a realidade daquele ambiente fosse diferente.
Seria lindo encontrar ali crianças que obedecessem às regras e que acompanhassem com
brilho nos olhos o conteúdo escolar. Eu vi em mim que eu queria que fosse diferente. E foi
libertador quando eu identifiquei tudo isso e escolhi mudar essa perspectiva de tentar

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controlar aquilo que não controlo. Eu tive uma mudança de olhar, me perguntei como poderia
dar o meu melhor naquela escola mesmo que não trouxesse o resultado que, a princípio, eu
queria que fosse. O que importa é que, quando damos o nosso melhor, ficamos mais leves
pelo fato de saber que aquela experiência é/foi significativa, pois tal experiência te convidou a
ser um profissional melhor.

Congruência

Como uma das últimas condições, porém não menos importante, temos a congruência.

O que seria a congruência? É a ponte que une o pensar e o agir. Está ligada à
autenticidade de tomarmos consciência do que se passa no nosso mundo interno e nos
expressar de forma real, coerente/harmoniosa em qualquer experiência com o outro. Em
Maria Nunes percebi que ser congruente é me respeitar e não violar meus próprios
sentimentos e valores. Mesmo que eu não mude a realidade daquela escola, mostrar que não
concordo com muitas atitudes, como, por exemplo, ter aluno no nono ano não saber ler, isso
eu não concordo e, quando você se posicionar de acordo com o que faz sentido pra você, isso
é viver a própria realidade com nossa liberdade de expressão, mas sempre se posicionando
com o devido respeito ao próximo, mesmo que este tenha opinião divergente da sua.

Continuidade do projeto

O que se pode notar é que por mais que conhecimento formalizado nas escolas seja
importante para a formação das crianças, também é necessário manter o ambiente propício e
acolhedor para que haja o processo do aprendizado. Só tendo uma base sólida é possível
construir algo a partir da base. Essa base no ambiente escolar se dá por um bom convívio na
sala de aula.

A escola de Maria Nunes propicia essa pesquisa as experiências necessárias ao


posicionamento teórico. Pois todas as possibilidades do professor se portar na sala de aula
deve ser conciliada de teoria e prática, isso é fundamental para construir conhecimento de
uma forma concreta.

Metodologia

A pesquisa de campo é um método poderosíssimo para esse tema e a coleta de


entrevista dos professores e funcionários da escola de Maria Nunes pode também enriquecer
ainda mais o levantamento teórico já apresentado.

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Cronograma

2022/ 1° semestre Revisão bibliográfica,


planejamento de ação para o
projeto Mestrado.
2022/ 2° parte Coleta de dados, pesquisa de
campo.
2023/ 1° parte Agrupamento de dados na
pesquisa, escrita redatória.
2023/ 2° parte Reformulação final,
treinamento da defesa.
Coroação final: defesa

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REFERÊNCIAS

ALTISSIMO, Alexia; ARAÚJO, Bruna. Contribuições da Abordagem Centrada na Pessoa


para as Relações Interpessoais na Educação: Relatos de Experiências. Orientador: Yuri
Elias Gaspar. 2019. 39 f. TCC (Graduação). Curso de Bacharel em Humanidades.
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Diamantina-MG. 2019.

FERREIRA, Márcio. Carl Rogers, um psicólogo a serviço do estudante. Disponível em:


<https://novaescola.org.br/conteudo/1453/carl-rogers-um-psicologo-a-servico-do-estudante>.
Acesso em: 12 de setembro. 2021.
ROGERS, Ransom. Um jeito de Ser. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Lida,
1987.
ROGERS, Ransom. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes Ltda, 2009.
ROGERS, Ransom. Psicoterapia e relações humanas: teoria e prática da terapia não-
diretiva. Belo Horizonte: Editora Interlivros, 1977.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico Crítica. São Paulo: Editora Autores Associados
Ltda, 2011.
TAFFORELLI, Julio. Empatia, Autenticidade e Congruência. Disponível em: <
http://orientahumanista.blogspot.com/?m=0>. Acesso em: 11 setembro. 2021.

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