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Teoria
Gestão de Contratos
Elaborador:
Rogério José dos Santos
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1. CONTRATO -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5
2. TEORIA DOS CONTRATOS INCOMPLETOS ------------------------------------------------------------ 7
3. DIFICULDADE EM SE FAZER CUMPRIR OS CONTRATOS ---------------------------------------- 9
3.1. Seleção Adversa ----------------------------------------------------------------------------------------- 10
3.2. Risco Moral ------------------------------------------------------------------------------------------------ 10
4. TEORIA DOS CONTRATOS CLÁSSICOS E RELACIONAIS --------------------------------------- 12
4.1. Contrato Clássico ----------------------------------------------------------------------------------------- 12
4.2. Contrato Relacional -------------------------------------------------------------------------------------- 13
4.2.1. Contratos e Incentivos ---------------------------------------------------------------------------------- 14
5. TEORIA DE CUSTO DE TRANSAÇÃO – TCT ----------------------------------------------------------- 17
5.1. Pressupostos Comportamentais ---------------------------------------------------------------------- 20
5.1.1. Racionalidade Limitada --------------------------------------------------------------------------------- 20
5.1.2. Oportunismo ----------------------------------------------------------------------------------------------- 21
5.2. Dimensões das Transações --------------------------------------------------------------------------- 22
5.2.1. Especificidade de Ativos -------------------------------------------------------------------------------- 22
5.2.2. Frequência ------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
5.2.3. Incerteza ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 28
6. ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA ------------------------------------------------------------------------ 31
6.1. Mercado ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 32
6.2. Integração Vertical ou Hierarquia --------------------------------------------------------------------------- 33
6.3. Contratos ou Formas Hibridas ------------------------------------------------------------------------------- 34
7. TERCEIRIZAÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------------ 35
7.1. Make or Buy ----------------------------------------------------------------------------------------------- 39
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------------------------------------ 43
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 3
INTRODUÇÃO
Na atualidade dos negócios globais, encontram-se em causa os fragmentos teóricos que foram
sendo justapostos pela doutrina, desde o liberalismo clássico, com vistas à sedimentação das
bases analíticas do contrato, enquanto operador social e econômico, o que tem provocado
importantes discussões em torno de seus princípios norteadores, do seu tempo de duração, dos
novos instrumentos de equilíbrio contratual e, por conseguinte, das maneiras mais recentes de
lidar com a questão dos riscos. As mudanças ocorridas na esfera contratual conseguem por na
berlinda muitos elementos que hoje compõem a teoria dos contratos, num duplo movimento que
assinala a presença de tendências aparentemente opostas e contraditórias. No contexto atual
dos negócios, formas neoclássicas de subjetivação e de voluntarismo contratual, exercitadas na
esfera do comércio internacional, parecem correr em paralelo com as possibilidades de
intervenção imperativa no conteúdo do contrato, ainda exercitada pelos poderes locais. Enquanto
no primeiro ambiente, acompanha-se a reconfiguração da autonomia negocial privada, nas
instâncias públicas estatais ou comunitárias consolidam-se medidas garantidoras das formas
básicas de proteção e de controle dos excessos, inseridas no espaço de comunicação entre o
ordenamento civil e os postulados constitucionais.
Afirmar que existe algo de especialmente inédito entre o instituto do contrato e o risco pode, em
princípio, parecer repreensível, afinal, o risco (e, de certo modo, a alea) enquanto variável de
retorno, sempre esteve efetivamente vinculado ao resultado dos pactos em geral. Contratar é, em
si, uma potencial situação de risco e esta afirmação não comporta qualquer novidade. Convém
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 4
antes, porém, entender que, nesse quadro genérico, o risco corresponde, em suma, à
plausibilidade de prejuízo financeiro, sub-reptícia a qualquer acordo e proveniente, via de regra,
de acontecimentos inesperados que afetam os negócios, tomados isoladamente. Referem-se,
portanto, a possibilidades genéricas de perdas específicas.
1. CONTRATO
Um contrato é um acordo, entre duas ou mais partes, que transmite direitos entre elas, assim
como estabelece, exclui ou modifica deveres. Esse tipo de relação se manifesta-se
concretamente de diversos modos, variando em:
Complexidade;
Forma;
Tempo;
Salvaguardas e
Capacidade de se fazer cumprir os termos acordados (enforcement).
Os contratos podem ser entendidos como estruturas institucionalizadas que regem os direitos, os
deveres e as expectativas de uma transação acordada entre dois agentes. Ou seja, ele configura-
se como ícone central na análise dos modos de coordenação, facilitando o respeito e a
harmonização dos interesses individuais em uma sociedade descentralizada (BROSSEAU, 1995).
Pela ótica da Economia das Organizações, um contrato significa uma maneira de coordenar as
transações, provendo incentivos para os agentes atuarem de maneira coordenada na produção e
prestação de serviços, o que permite planejamento de longo prazo e, em especial, que agentes
independentes tenham incentivos para engajarem em esforços conjuntos na execução do
contrato.
Assim, são três as razões apontadas para a existencia dos contratos, a saber:
Prover a alocação eficiente do risco (Teoria de Agencia);
Prover incentivos eficientes (Teoria dos Incentivos) e
Economizar em Custos de Transação ex post (Economia dos Custos de Transação – ECT).
Com base no fato de que o desenho de contratos que considerem todas as contingências
possíveis é custoso, a teoria considera que os agentes deixam lacunas contratuais, que serão
preenchidas a posteriori. Tais teorias são fundamentais pelo pressuposto da Racionalidade
Limitada, que impede o desenho de contratos completos e consideram que existe uma lógica de
eficiência para a definição dos direitos pós-contratuais.
Outro ponto importante a ser discutido com relação à incompletude dos contratos está relacionado
aos investimentos necessários para a otimização da relação. Um modelo de contrato incompleto
pode ser explicitado pela Figura 1 (BRÉCHEMIER; SAUSSIER, 1999). Na data 0, as partes
assinam o contrato, no qual muitas dimensões da transação (e investimentos específicos) não são
especificadas e difíceis de serem descritas. Então, o contrato torna-se incompleto. Na data ½, os
investimentos e esforços são escolhidos. Na data 1, visto que os investimentos foram efetuados, o
contrato é renegociado. No entanto, conforme asseveram Brousseau e Fares (1998), como os
investimentos não foram especificados ex-ante, ambas as partes farão um investimento menor
devido ao receio de que a outra parte (especialmente a parte com maior poder de barganha)
capture ex-post a rentabilidade de seuinvestimento.
11
Para Williamson (1993) e Saussier (2003), a teoria dos contratos incompletos é a formalização da teoria dos custos
de transação.
12
Segundo Rocha (2002) “completa” e “perfeita” são qualidades distintas da informação. Diz-se que ela é completa
se são conhecidas todas as possibilidades de trajetórias e de estados da natureza. É perfeita quando se sabe o exato
posicionamento dos agentes nesse complexo de possibilidades. A assimetria incorre no fato de que alguns agentes
têm a informação mais completa e/ou perfeita que outros.
13
As contingências citadas por este e demais autores são frutos de assimetrias de informações e comportamentos
oportunistas dos agentes.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 8
Tirole apud Aubert, Rivard e Patry (1996) identifica quatro fatores que impedem que os contratos
sejam descritos de forma completa, quais sejam:
Dois ex- ante:
(i) devido à existência de muitas contingências que seriam impossíveis de serem listadas e
(ii) a complexidade na estimação das probabilidades existentes para cada uma das
contingências.
Dois ex-post:
(i) o gerenciamento destes contratos se tornaria muito oneroso e
(ii) os custos legais poderiam prevenir uma das partes de fazer uso da corte para executar um
contrato emdisputa.
Para tanto, os mecanismos de governança servem como forma de preencher o gap oriundo
desses contratos, ao passo que descrevem leis, processos de monitoramento e sistemas de
incentivo que promovem comportamentos desejáveis e inibem os indesejáveis (SAUVÉE, 2002).
No entanto, o desafio das instituições se baseia no encontro de meios capazes de criar esses
processos e sistemas, sem que a transação e o contrato em si se tornemonerosos.
Desta forma, antes da realização do contrato, as partes envolvidas devem tomar conhecimento
das atividades a serem desenvolvidas durante o cumprimento do mesmo. Entretanto, alguns
problemas parecem ser inevitáveis. Knoepfel e Burger (1987), ao analisarem a gestão de
contratos relacionados a projetos, descreveram alguns destes problemas:
Baixa ou alta estimativa de procedimentoslegais;
Estabelecimento do contrato de forma precipitada ou prolongada (muitas pressões conduzindo
a clausulas contraditórias, confusas e ineficientes ou negociações que tomam muitotempo);
Contradições entre o contrato e arranjos organizacionais favoráveis (trabalho organizacional
não realizado na sua totalidade ou que não tenha sido efetuado antes dacontratação).
Como colocam Claro, Zylbersztajn e Omta (2004), Sauvée (2001), essas adaptações não são
apenas uma forma de solucionar as disputas conjuntamente; elas acabam por levar a um
planejamento conjunto e cooperativo (ambos os atores participam da formulação de novos
processos) de ações futuras que irão alcançar um entendimentomútuo.
Segundo Nadalini (2002), Bréchemier e Saussier (1999), Williamson (1985), para que as relações
contratuais perdurem, algumas ferramentas podem ser utilizadas. São elas:
Mecanismos de adaptação: o surgimento de problemas certamente gerará procedimentos
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 9
específicos para seus ajustes. Pode-se então implementar salvaguardas mecânicas capazes
de realinhar os incentivos, incluindo penalidades erecompensas;
Mecanismos de divisão de riscos: definição dos trade-offs, em que os desalinhamentos
possam serabsorvidos;
Disponibilidade de informações para que alterações contingenciais possam ser
realizadas: ambos os atores devem compartilhar informações para que ajustes devido à
incerteza (alterações no custo de produção por um lado e na demanda por outro, por exemplo)
possam ocorrer. Importante nesta etapa é a definição dos níveis de investimento em ativos
específicos necessários para asalterações;
Arbitragem: os contratos devem conter cláusulas que evitem que a solução das disputas seja
levada aos tribunais. Mecanismos especializados podem ser implementados, contratando-se
uma terceira parte para governar a transação e resolver conflitos potenciais; a nomeação de
um árbitro para que as disputas não sejam litigiosas é recomendada. Podem ser utilizadas,
ainda, penalidades para o não cumprimento de condições e cláusulasregulatórias.
Para tanto, os contratos deverão ser criados em conjunto com os profissionais que irão atuar no
serviço (neste caso, um nutricionista e o representante da empresa que ficará responsável pela
supervisão do serviço prestado) para que o contrato se cumpra dentro dos requisitos
estabelecidos (MEZOMO, 1994). Busca-se um maior conhecimento e entendimento das fases de
cumprimento do contrato com o objetivo de que suas cláusulas e salvaguardas sejam explicitadas
previamente com o intuito de motivar a interação entre os atores e antever possíveis conflitos.
Busca-se, de forma geral, a minimização dos custos operacionais que devem ser controlados
mediante análise constante das cláusulas contratuais. No entanto, como coloca Bréchemier e
Saussier (1999), as transações não podem ser governadas exclusivamente por contratos (a
longo-prazo), mas deve-se utilizar também meios extra-contratuais.
Nas situações em que soluções contratuais não são implementadas de forma eficaz, soluções
extra-contratuais ou organizacionais (estruturas de governança) são necessárias (BRÉCHEMIER;
SAUSSIER, 1999;BROUSSEAU; FARES, 1998).
Assim sendo, o contrato já não especifica apenas os ativos transacionados, mas o modo dela se
realizar. Tais mecanismos são mais organizacionais do que contratuais no sentido de que o
contrato não é suficiente para governar a transação.
Em que pese haver motivos de sobra para que as pessoas realizem contratos e possam dividir
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os ganhos resultantes da coordenação de suas ações, não é fácil transformar esse acordo em
uma ação comum. Em outras palavras, mesmo estando cientes dos ganhos coletivos e
desejosos ao submeter-se a uma restrição de comportamento, as partes podem não conseguir,
de fato, impor para si os termos contratuais. O problema de fazer cumprir os contratos, que a
literatura denomina de enforcement é um dos principais elementos que define o desenho dos
contratos. Como as partes desejam que seu acordo resulte em efetivo direcionamento de
comportamentos, elas também acordam sobre aspectos do contrato que tem o papel de forçar o
cumprimento de seus deveres fundamentais.
Um acordo contratual, algo de interesse mútuo das partes, precisa se transformar em uma
transferência de direitos e no estabelecimento de deveres. Um contrato ao criar deveres, limita as
possibilidades de ação das partes. Alem disso, mais do que uma restrição ao comportamento
(coibir um conjunto de atitudes), um contrato sugere comportamentos desejáveis às partes. O
interesse das partes em restringir suas possibilidades de ação está em que à ação na busca do
interesse individual resulta em uma situação indesejável pelo coletivo, ou seja, ao escolher o que
é melhor para si, cada parte pode impor perdas às contrapartes, o que pode acarretar um
resultado pior para todos. Há ganhos, portanto, ao limitar o comportamento das partes (em
especial aquele que é mais desejado do ponto de vista individual), com o objetivo de alcançar
uma situação coletivamente superior.
A simples consideração de que uma parte pode deter informações que a sua contraparte não
possui (informação assimétrica) foi suficiente para que o desenho do contrato passasse a ser
um determinante do desempenho econômico. Em síntese, a informação assimétrica pode
resultar na não efetivação de relações econômicas socialmente desejáveis (seleção adversa) ou
em práticas indesejáveis, em desacordo com os termos negociados pelas partes (risco moral).
Em outras palavras, contratar é uma atividade custosa e, portanto, o modo de se proceder à
contratação é relevante para atenuar esses custos, com efeitos diretos sobre o desempenho
econômico. Paralelamente, as analises que tomaram como fundamento que as pessoas têm
limites cognitivos e que o uso do Judiciário não é instantâneo e sem custos mostraram que o
desenho dos contratos era um dos principais fundamentos do custo das interações humanas e,
portanto, das possibilidades de desenvolvimento econômico e do desempenho das empresas. Os
contratos conquistaram então um espaço de destaque na Economia.
contrato) e para a constatação de que os termos do contrato estão de fato sendo cumpridos.
Uma simples transação de compra e venda de um produto requer que vendedor e comprador
tenham informações mínimas sobre o que está sendo transacionado. Em Nelson (1970), já havia
uma distinção entre três tipos de produtos, que diferiam na capacidade de os consumidores
obterem as informações relevantes ao processo de troca. Em um primeiro grupo de produtos,
denominamos bens de procura, onde toda informação relevante pode ser obtida por mera
inspeção, antes do estabelecimento do contrato, ou seja, não apresenta custos relevantes à
contratação (ex. Commodites, como soja e petróleo). No segundo grupo, denominamos bens de
experiência, onde mais frequentemente algumas informações a respeito do produto somente
poderá ser obtidas após a efetivação da troca ou, mais grave, após o consumo do produto (ex.
Aquisição de uma fruta de mesa), segundo Brousseau (1997). O terceiro grupo denomina de
bens de crença, pois o problema de mensuração das informações é ainda maior, onde algumas
informações relevantes à transação não são obtidas após o consumo do produto, o que equivale
a dizer que o problema não é apenas custoso, mas insolúvel por inspeção direta nos produtos
(ex. Frango destinado ao mercado muçulmano).
Commodites: significa mercadoria, é utilizado nas transações comerciais de produtos
de origem primária nas bolsas de mercadorias.
Se uma parte conhece algo que a outra desconhece, ou seja, há alguma informação assimétrica,
dois tipos de problemas podem emergir na elaboração de contratos: a seleção adversa e o
risco moral (Moral Hazard), conforme Arrow (1984).
Desta forma, o delineamento do contrato deve estar intimamente ligado à estrutura de governança
escolhida que configura a relação entre dois atores. Williamson (1985) cita as distinções
contratuais descritas por Macneil (1978):
Na área econômica, a teoria concebe o contrato como uma forma de comunicar os objetivos
destinados a obter a performance acordada. Reconhece a impossibilidade de definir contratos
completos, entretanto assume que as cortes são capazes de resolver os conflitos pós-contratuais
a custo zero e de modo não tendencioso. Portanto, os tribunais são os agentes públicos capazes
de implementar as modificações que levam a otimizar o valor da relação, em substituição aos
agentes privados . é mais importante a definição de regras para garantir a performance dos
contratos e menos importante a lógica da transação que originou o contrato.
Este tipo de contrato é freqüentemente utilizado em transações de longo prazo e por isso
considera a incerteza do mercado, a dificuldade de serem previstas todas as contingências
(racionalidade limitada) e os perigos de disputas e de comportamentos oportunistas na tentativa
de solucionar os possíveis problemas.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 14
Macneil sugere que o contrato real a que as partes aderem é definido não somente por seus
interesses circunstanciais, mas também pela historia do relacionamento. Há, portanto, restrições
às mudanças contratuais, que tornam esses menos voláteis do que as variáveis econômicas que
balizariam o seu desenho.
O contrato relacional como uma “mini sociedade”, com um conjunto próprio de regras e normas
dentro de um padrão muitas vezes próprio e específico definido para aquela relação contratual.
Muito da literatura acerca de alianças estratégicas, negociações trabalhistas, contratos verticais
de suprimento entre fornecedores de matérias primas e indústrias, estão fortemente centrados no
comportamento relacional, ou seja, a continuidade não apenas importa, mas todos os
pressupostos contratuais são revistos a cada mudança de variável ambiental. Troca‐se o esforço
de desenhar um contrato completo, pelo esforço de manter um sistema negocial continuado.
A ameaça de perder futuros negócios (e sua futura cadeia de lucros) é suficiente para deter o
comportamento oportunista em qualquer período. O desejo de proteger a reputação no mercado
pode ser outro mecanismo que viabiliza os contratos implícitos. A cultura corporativa vista como
um conjunto compartilhado de valores, formas de pensamento e crenças sobre como as coisas
devem ser feitas é um aspecto fundamental de contrato implícito.
O desenho dos contratos lida sempre com o balanceamento entre flexibilidade e os custos
associados aos oportunismos dos agentes em face desta flexibilidade Klein (1992) comenta
que os contratos são muito mais do que uma forma de alocar risco de acordo com as
preferências, sendo também arranjos que permitem que as partes se organizem em esforços
comuns de produção. O autor explora o conceito de que o desenho dos contratos irá buscar
reduzir a probabilidade de terminação unilateral de cunho oportunista, que Klein denomina de
“holdup event”. Assim, em face dos custos de elaboração, pesquisa, negociação e
mensuração, associados ao pressuposto de racionalidade limitada, pode ser mais factível
utilizar contratos reconhecidamente incompletos e flexíveis, que sejam re‐elaborados à medida
em que as contingências o exijam.
Klein (op. Cit., p.155) considera que a execução destes tipos de contratos pode ser garantida
(“enforced”) por mecanismos privados, ou seja, sem depender do sistema judicial.
Duas variáveis são destacadamente importantes para motivara auto regulação; as perdas
futuras de cada parte em caso do término do contrato (“tied in”) e o custo associado à perda
da reputação no mercado. Assim sendo, existe um amplo espectro de situações onde, mesmo
em condições de grande flexibilidade contratual, ambos os agentes terão incentivos para
continuar o contrato e tentarão o uso de soluções internas às disputas antes de recorrerem ao
sistema de arbitragem. Segue o compartilhamento de Riscos e Contratos de Incentivo:
• Para promover incentivos, é desejável responsabilizar os funcionários por sua performance;
isso significa que a compensação dos funcionários ou uma futura promoção deve depender
da sua performance.
• Contudo, manter/reter a responsabilidade com os empregados tipicamente envolve eles
aceitarem riscos em sua atual e futura renda. No entanto, no geral, a maioria das pessoas
não são propensas a riscos e essa é a razão de elas serem empregadas e não
empregadores, por exemplo. Além disso, há custos para prover os incentivos.
• Na maioria das situações reais, no entanto, a tentativa de impor a responsabilidade sobre
os trabalhadores pelo seu desempenho expõe a riscos porque os monitoramento perfeito
(medição) do comportamento raramente estão disponíveis.
• Mesmo que a qualidade do esforço individual ou a exatidão das informações a respeito dos
empregados não pode ser observado por completo, podemos avaliá-los pelo resultado
observado; a compensação com base nos resultados pode ser uma maneira eficaz de
fornecer incentivos.
• Formas de compensação: ao invés de tentar controlar diretamente o esforço do trabalhador,
o empregador simplesmente paga/bonifica pelo resultado.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 16
incluindo o ritmo de trabalho, as ferramentas e métodos que eles usam, e assim por diante.
Um empregado com ampla margem de atuação podem encontrar maneiras inovadoras para
aumentar seu desempenho, resultando em aumentos significativos nos lucros.
Balanço entre os riscos e incentivos:
Contratos eficazes equilibram os ganhos promover os incentivos contra os custos de
forçar os funcionários a assumirem riscos. (Effective contracts balance the gains from
providing incentives against the costs off orcing employees to bearrisk.)
O problema principal‐agente abrange não só o desenho do pagamento de incentivos,
mas também problemas na concepção do trabalho e do desenho das instituições para
colher informações, proteger os investimentos, alocar decisão e os direitos de
propriedade, e assim por diante.
O problema geral de motivar uma pessoa ou organização a agir em nome de outro e já foi
discutido em outros capítulos como o problema principal‐agente. O problema
principal‐agente abrange não só o desenho do pagamento de incentivos, mas também
problemas na concepção do trabalho e do desenho das instituições para colher
informações, proteger os investimentos, alocar decisão e os direitos de propriedade, e
assim por diante.
A historia de uma empresa, as suas competências e o conjunto de relações econômicas que ela
desenvolveu desempenham um papel relevante na opção por um determinado tipo de contrato. A
influencia do passado nas decisões presentes decorre de um fenômeno denominado
“dependência de trajetória” (path dependence). Em síntese, uma opção contratual no passado
pode influenciar as vantagens relativas de uma opção no presente, se houver algum ganho ao se
manter em uma mesma atividade. A escolha de um contrato não depende apenas das
características da transação a qual ele se destina, mas é também influenciada pelo conjunto de
transações, estratégias e competências já desenvolvidas pela empresa, conforme Argyres e
Liebeskind (1999).
Esta diferenciação pode ser melhor visualizada através do Quadro 1, adaptado de Kern e
Willcocks (2000); Nakhla (2003), que se baseia no grau de comprometimento dos atores
envolvidos na transação para classificar os tipos de contrato.
O quadro acima demonstra o alto grau de flexibilidade dos contratos relacionais. Estes tipos de
contrato sugerem o desenvolvimento de uma estrutura de governança relacional em que a
confiança e a cooperação entre os atores são as características mais importantes da relação. As
possíveis disputas não são resolvidas apenas através de salvaguardas contratuais, mas a partir
de um sistema de ajustes e de entendimento mútuo (POPPO; ZENGER,2002).
Uma estrutura de governança relacional é vista como um complemento necessário aos limites
passíveis de adaptação dos contratos. Ela é definida levando- se em conta os fatores exógenos
(demandas e restrições ambientais) e internos ou específicos à relação (confiança, dependência,
cooperação e satisfação). Dentre os fatores exógenos, as características do mercado ou do setor
em questão e o ambiente institucional são os mais importantes (SAUVÉE, 2001; POPPO;
ZENGER, 2002).
Os conflitos e os diferentes comportamentos dos atores envolvidos em uma transação podem ser
explicados através da Teoria de Custo de Transação – ECT, que contempla os pressupostos
comportamentais e os elementos transacionais, que caracterizarão uma determinada relação.
No entanto, a teoria elucida as dificuldades de serem previstos todos os acontecimentos futuros
concernentes ao contrato. Com vistas a esta série de dificuldades, as partes normalmente optam
por deixar lacunas contratuais a serem negociadas posteriormente. Por isso, quando se estuda o
delineamento dos contratos, é factível a observância de sua incompletude11
A TCT é uma das abordagens que apresenta como foco de análise o estudo sobre a formação de
estruturas de governança organizacionais. Dessa forma, esse tópico é direcionado a sua
apresentação, com destaque para aspectos como suas origens e consolidação. Seus princípios
teóricos básicos também são abordados, notadamente no que se refere aos atributos de
transação – especificidade de ativos, frequência e incertezas -, e aos pressupostos
comportamentais relacionados – comportamento oportunista e racionalidade limitada.
Discutem-se, ainda, os tipos de estruturas de governança que podem ser utilizadas no processo
de coordenação – integração vertical, contratos e mercado livre – e, também, como se dá o
alinhamento dessas estruturas frente aos atributos de transação e pressupostos comportamentais
presentes.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 19
Na tentativa de explicar mais precisamente a natureza dos custos de transações e como eles
podem enviezar a tomada de decisões econômicas, Williamson (1985) introduz alguns conceitos,
entre os quais se destacam o de quase renda (quase-rents) e o do problema da apropriação
(hold up problem).
O termo renda denota lucros econômicos ‐ lucros após todos os custos econômicos, incluindo o
custo do capital deduzido. Portanto, a quase renda, para o autor, surge da produção de ativos
específicos e refere-se à diferença do lucro que se obtém se a negociação sair como o
planejado, em comparação ao lucro que se obteria se tivesse que apelar para a próxima melhor
opção, ou seja, é o excesso de lucro econômico de uma transação. Quando uma empresa
investe em um ativo específico de relacionamento, a quase‐renda deve ser positiva, isto é, ela
sempre obterá mais renda da sua melhor alternativa do que a sua segunda alternativa. Como
explicam Klein, Crawford e Alchian (1978, p. 298, tradução nossa), “o valor de quase-renda do
ativo é o excesso de seu valor ao longo do seu valor residual, ou seja, o seu valor em seu
próximo melhor uso para outro locatário”35 . Sendo assim, são o valor do uso de ativos da firma
na troca atual, em comparação com o valor do uso deste mesmo ativo em uma troca alternativa.
Ou seja, caso a negociação inicialmente combinada não seja cumprida, a quase renda será o
lucro que deixa de ser ganho ao se partir para a segunda melhor alternativa.
Nesse sentido, Klein, Krawford e Alchian (1978) assinalam que a ideia fundamental é que quando
ativos tornam-se mais específicos e apropriáveis, quase-rendas podem ser criadas e as
possibilidades de comportamento oportunista aumentam. Nessa perspectiva, os custos de
contratação podem aumentar mais do que os custos de internalização. Com isso, a quase-renda
está relacionada ao potencial de hold up, isto é, à quebra de contrato, cuja ocorrência pode se
dar quando há ativos específicos em relacionamento. A empresa contratante pode se aproveitar
da perda que o contratado teria, caso tivesse que partir para a sua segunda melhor alternativa, e
estipular um valor aquém do combinado, se apropriando da quase renda do contratado.
Em termos organizacionais, as firmas enfrentam o dilema de fazer ou comprar, que pode ser
resumido em competir com ativos próprios ou compartilhar ativos de outras empresas. Pela TCT,
a escolha entre fazer ou comprar, ou seja, a definição das estruturas de governança a serem
utilizadas, se dá com base em determinados atributos de transação e pressupostos
comportamentais relacionados. A análise adequada desses atributos e pressupostos possibilita
a escolha de estruturas de governança apropriadas, que controlem os direitos de propriedade e
reduzam os custos de transação.
Simon (1979) afirma que a mente humana é tão limitada quanto às ferramentas criadas pelo
homem para a tomada de decisão. O autor discorda das idéias clássicas de que o
conhecimento é definido como alternativas passíveis de escolha, que a certeza nada mais é do
que a avaliação do tomador de decisão sobre as conseqüências atuais e futuras daquelas
alternativas e que é possível comparar estas conseqüências, não importando sua diversidade e
heterogeneidade.
Sua inquietação advém da noção de que o mundo externo real é cheio de incertezas e que,
portanto, as conseqüências das escolhas são em certa medida imprevisíveis – devido à
imperfeição das ferramentas que o homem (caracterizado como o tomador de decisão) utiliza e
também à sua limitada capacidade de comparar alternativasheterogêneas.
Assim sendo, o conceito de racionalidade limitada se configura como nada mais do que a
capacidade humana de compreender e estimar, dentro de um limite, as características das
transações entre as organizações num ambiente complexo e incerto.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 22
5.1.2. Oportunismo
Certamente a eficiência do desenho que regula as atividades entre dois atores é limitada por
imperfeições provenientes da racionalidade limitada, descrita anteriormente, e de
comportamentos oportunistas. Sendo assim, a atividade econômica deve ser organizada de
forma a economizar a racionalidade limitada e, simultaneamente, resguardar as transações dos
perigos dooportunismo.
Tendo em vista o contrato como referencial, o oportunismo pode ser classificado como ex-ante
e ex-post. Aquele tem por objetivo disfarçar riscos, enquanto o oportunismo ex-post gera
problemas referentes a atitudes irresponsáveis, sendo difícil a diminuição de seus riscos
(WILLIAMSON, 1985). As atividades oportunistas ex-post devem ser previstas quando da
formulação do contrato, ou seja, ex-ante, para que as partes estejam menos expostas às ações
do atordesonesto.
O tema oportunismo está intimamente ligado ao grau de dependência dos atores na transação
em que se inserem. Nakhla (2003) assevera que quanto maior for a dependência entre os
atores, maior será o grau de comprometimento deste com as atividades acordadas (ex-ante e
ex-post) e maior sua susceptibilidade a comportamentosoportunistas.
Vários são os tipos de dependências que podem surgir a partir da relação entre duas
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 23
organizações: dependência histórica, quando os atores já têm uma relação estabilizada após
algum tempo de relação e por isso sentem-se confortáveis; dependência econômica, quando
uma das partes tem maior poder de barganha; dependência tecnológica refere-se à posse de
algum ativo (físico, humano, processo, etc) importante para a outra parte ou que ainda tenha
sido desenvolvido em conjunto; dependência política, quando há necessidade de relação para
transpor pressões do ambiente externo ou da própria organização (COUSINS,2002).
É importante ressaltar que a dependência é saudável ao passo que cria uma condição de
engajamento entre os atores na busca por possíveis benefícios mútuos e frente à resolução de
dificuldades. No entanto, ela não deve ser unilateral ou então discrepante, visto o perigo de
comportamentos de má-fé de um ator independente frente ao dependente.
Deste modo, a negociação e gestão dos contratos devem criar condições apropriadas para que
não haja dependência unilateral entre os atores e que informações imperfeitas (erradas ou
incompletas) permitam comportamentos oportunistas.
3
As transações extraordinárias nada mais são do que as transações que têm como resultado os “lucros
extraordinários” descritos por Frank Knight em 1972, contraposição aos lucros máximos dos teóricos neoclássicos.
4
A seleção natural aqui é definida partindo-se da análise proposta por Nelson e Winter em 1982 acerca do
desenvolvimento econômico com base semelhante à teoria evolucionária da biologia.
5
Os lucros positivos, de acordo com o autor, são aqueles que são melhores que os lucros ou resultados dos demais
competidores.
6
Representado aqui como o tomador de decisão em um ambiente econômico.
7
Os direitos residuais de controle são considerados pelo autor como sendo o direito de utilização dos bens
contratados sem que haja intervenção legal, de costumes ou de um contrato prévio.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 24
Os investimentos específicos a uma transação são aqueles que têm seu valor máximo quando
utilizados para servir a uma transação em particular (LYONS, 1995; WILLIAMSON, 1985;
ARNOLD, 2000). Ou seja, o seu grau de especificidade dependerá do número de usos e/ou
usuários alternativos que um produto ou serviço pode ter, sem que haja perda de seu valor.
A especificidade dos ativos diz respeito aos investimentos e/ou conhecimentos específicos
requeridos para que um contrato seja realizado (SLATER; SPENCER, 2000). No que se refere
aos investimentos necessários à transação, o papel do contrato será de minimizar
investimentos desnecessários ex- ante que possam dificultar o compartilhamento de rendas ex-
post. Da mesma forma, servirá como uma ferramenta para incentivar e assegurar
investimentos, visto que, no surgimento de possíveis contingências, as adaptações serão
rápidas e sem grandes custos (SAUSSIER,2000).
Os ativos específicos podem ser medidos pelo grau de especificidade dos investimentos feitos
por ambas as partes para participar da transação, podendo ser representada pelo nível de
ativos idiossincráticos necessários à relação e também pelo grau de dependência existente
entre contratado e contratante (GONZÁLEZ- DÍAZ; LOPEZ; VENTURA, 2000; WILLIAMSON,
2002; SAUVÉE, 2001).
Parece claro que a quantidade e qualidade dos ativos específicos a determinada transação
servirá como balizador na determinação das obrigações dos atores e no grau de
comprometimento destes na promoção de um contrato estável entre as partes.
Essa condição pode ser melhor analisada quando da impossibilidade de serem efetuados
contratos completos, comum neste ambiente incerto e racionalmente limitado. Poderá haver
uma certa resistência ao se aplicarem todos os recursos necessários para o desenvolvimento
dos ativos específicos de uma transação. No momento de uma renegociação, para amenizar
esse risco, os níveis de investimentos específicos devem ser levados em consideração. Assim,
cada parte contratante se certifica que não será recuperado apenas seu investimento marginal
mais o seu excedente, mas, também, suas despesas adicionais (NAKHLA, 2003).
Williamson (2002) relata os investimentos em ativos específicos como sendo de natureza física
(equipamentos, ativos imobilizados), capital humano (treinamento, contratação, learning-by-
doing específico), especificidade local (necessidade de localização específica), dedicação de
ativos em geral (investimentos em geral efetuados na expectativa do negócio ser efetuado ou
mantido) e capital de marca (atribuição da marca do produto/serviço à contratante).
O tipo de transação entre os atores determinará o tipo de ativo específico para tal relação. É
natural esperar-se que diferentes transações requeiram diferentes investimentos específicos.
Uma transação poderá determinar a contratação de vários tipos de ativos específicos. No
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 25
entanto, são encontradas outras transações em que poucos ativos específicos são
necessários, visto que os investimentos podem ser realocados, sem perda devalor.
É também importante a análise da origem dos ativos específicos. Como descreve Lyons
(2001), eles podem provir de um lado quando apenas um dos atores investe (1-sided); de
ambos os lados (2-sided); e pode ainda beneficiar somente o investidor ou a outra parte
(investimento cooperado, feito por uma das partes mas para o benefício da outra).
Essa análise é importante para determinar o grau de dependência entre as partes que
transacionam. Quando ambas as partes colaboram com parte do investimento a ser
previamente destinado para o desenvolvimento dos ativos específicos básicos, bem como para
aqueles que possam ser incrementados, os atores se tornam mais equivalentes e os riscos de
comportamentos oportunistas diminuem (uma vez que, feitos os investimentos específicos,
uma das partes poderá ficar vulnerável a uma renegociação ou recontratação de má-fé).
Desse modo, a análise dos ativos específicos envolvidos na transação servirá como avaliação
dos diferentes graus de comprometimento e de dependência dos atores. Esses fatores
indicarão uma maior ou menor necessidade de salvaguardas e renegociações que garantam
um contrato estável e também, para que não haja prejuízo de nenhuma das partes no
momento de um possível rompimento da relação.
for maior se a transação for efetuada com uma contraparte localizada próximo;
Especificidade Humana → quando a especificidade de um ativo pode derivar de algum
componente do capital humano, ou seja, capacitações e aprendizado incorporado à pessoa;
Ativos Dedicados → quando um investimento é realizado com a única finalidade de atender à
demanda de uma contraparte.
A presença de ativos específicos tem uma importante implicação para a analise dos contratos.
O retorno da atividade econômica é, necessariamente, fruto de uma ação cooperativa entre as
partes que detêm os ativos específicos. Como conseqüência, não é possível identificar a priori
a porção do retorno da atividade econômica que cabe a cada parte. Há, de fato, um lucro
conjunto que é resultado da ação cooperativa, sendo posteriormente partilhado entre os
membros da rede por alguma regra (ou rotina) de divisão do resultado.
Essa visão econômica dos contratos tem um paralelo no campo do Direito, em particular na
Teoria de Contratos Relacionais, a qual tem em Iam Macneil um dos seus mais importantes
representantes. Em resumo, a visão relacional dos contratos, segundo Speidel (1993), destaca
três pontos com importantes implicações a contratação:
1) A transação se prolonga no tempo (longo prazo);
2) Elementos da troca não podem ser mensurados ou especificados precisamente por
ocasião da celebração do contrato; e
3) A interdependência das partes com relação à troca transcende, em alguns momentos,
uma única transação, passando a um conjunto de inter-relações sociais.
5.2.2. Frequência
Entendida como o grau de recorrência ao mercado, a freqüência das transações é um
componente que, juntamente com os demais elementos transacionais citados, determinará
primeiramente a estrutura de governança e, se aplicável, o regime contratual requerido.
A freqüência de transações pode ser determinada pelo número de vezes que um agente
precisa transacionar com outros agentes para adquirir algum produto ou serviço, seja dentro de
uma estrutura já institucionalizada ou fora de seus limites. Dessa forma, de acordo com a
periodicidade da transação, serão realizados acordos formais ou informais, de forma com que
os custos de transação não se tornem elevados.
A freqüência das transações também será determinada pela especificidade dos ativos
envolvidos em tal relação. Se há pouca especificidade, a empresa vai preferir recorrer ao
mercado com mais freqüência, optando por contratos de curto- prazo (compra e venda, por
exemplo). No entanto, se há um alto grau de especificidade, o grau de comprometimento e
dependência será elevado e o mecanismo de governança a ser escolhido, mais formal,
dependerá também do nível de incerteza da transação e do volume de material transacionado.
Neste caso, buscam-se transações mais duradouras, que necessitem determinadas
adaptações e que não demandem elevados custos a cada momento que necessitam ser
efetuadas. Desta forma, a freqüência de recorrência ao mercado diminuirá e contratos de
longo-prazo serão preferíveis. (WILLIAMSON, 1985; AUBERT; RIVARD; PATRY,1996).
Aubert, Rivard e Patry (1996) observam que as transações de baixa freqüência são
preferivelmente organizadas via mercado (contratos de curto-prazo). Nessas situações, os
custos associados ao estabelecimento de uma estrutura de governança superam os custos
gerados pela incerteza e pela possibilidade de comportamentos oportunistas advindos do
mercado. Por outro lado, quando há maior freqüência de interação entre as partes, os custos
de se efetuar um contrato são amenizados, podendo ser mais econômico,então,a efetuação de
um contrato de longo-prazo (principalmente quando o nível de incerteza é menor; caso
contrário, pode-se optar por integrar verticalmente o serviço).
A freqüência das transações pode ser medida pelo número de vezes em que o serviço
demanda a utilização de recursos que não os normalmente requeridos para o cumprimento das
atividades. Desta maneira, a freqüência se refere ao uso de diferentes habilidades e/ou
equipamentos (treinamento, avaliação, campanhas, eventos, etc), ou que envolva diferentes
departamentos da empresa contratante ou contratada (comercial, jurídico, marketing, etc) para
a solução de eventuais problemas ou para atender requerimentosexcepcionais.
Para o estudo em questão, a freqüência das transações será considerada a proposta por
Brockhoff (1992), que as referem como sendo a freqüência de contatos necessários para o
alcance dos objetivos de uma das partes, então encarada como a operacionalização de
transaçõesrecorrentes.
Conforme visto anteriormente, para que um contrato seja concebido, devem ser desenvolvidas
ferramentas capazes de prever circunstâncias adversas (mesmo considerando-se a limitação
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 28
da racionalidade humana) que diminuam o nível de incerteza, sem que a contemplação destas
contingências se torne onerosa. Além disso, busca-se o estabelecimento de relações de
confiança que possibilitem o investimento em ativos específicos, sem que haja o estímulo a
comportamentos oportunistas. Sob esta lógica, criam-se condições para que a relação
contratual seja estável.
O estudo dos elementos a serem considerados em relações inter- organizacionais não seria
completo sem antes ser analisado por que e como esses relacionamentos são necessários ou
desejados. Desta forma, este estudo passa a discutir as razões pelas quais as empresas
decidem contratar serviços fora de suas fronteiras, ou seja, a razão de escolherem a
terceirização como estrutura de governança para algumas de suas operações.
5.2.3. Incerteza
Posto que o elemento tempo se insere em uma transação, a análise da incerteza, sem dúvida
alguma, é um elemento essencial na teoria dos custos de transação contratual. A característica
desconhecida dos eventos futuros, sobre o mundo que está por ser criado e de seus
resultados, se encaixa perfeitamente ao estudo dos contratos posto que, à medida que se
aumenta a probabilidade de mudança, aumenta a possibilidade de contingências não previstas
e, consequentemente, a estrutura dos contratos.
Ao analisar as incertezas contratuais pelo âmbito jurídico, Ménard (2001) verifica que, devido à
incompletude dos contratos, até mesmo o recurso judicial é impedido de ser requerido pois os
deveres e direitos são muito vagos. Assim, as próprias partes podem ter dúvidas quanto ao
cumprimento ou não das atividades acordadas.
Em certas situações, o elemento incerteza pode estar inserido em cláusulas que tratam de
questões muito subjetivas (qualidade do produto ou serviço ou princípios comportamentais
como cooperação, por exemplo). A subjetividade de algumas cláusulas torna a investigação do
seu cumprimento muito complicada, seja por ambas das partes ou por uma terceira parte (o
sistema jurídico). Ainda, a verificação do cumprimento dessas cláusulas é dificultada porque
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 29
algumas delas podem ter sido melhor explicitadas ou contratadas, informalmente (verbalmente,
por exemplo).
Quando da análise de contratos de longo-prazo, Slater e Spencer (2000) referenciam que
esses dificultam ainda mais a previsão de eventos futuros, contribuindo para que muitas
cláusulas sejam deixadas em aberto ou muito vagas e, ainda, que alguns fatos sejam omitidos.
Além disso, como afirma Ménard (2001), sob a observância de incerteza e do longo-prazo de
cumprimento, sua estabilidade e eficácia de implementação dependerão da credibilidade das
partes e da aceitação dos agentes às regras do jogo.
Pode-se dizer que a incerteza que permeia as relações se refere a incertezas comportamentais
e ambientais. A primeira decorre da racionalidade humana limitada de assimilar todas as
informações disponíveis e necessárias de uma relação e, portanto, passível de inúmeras
percepções e reações, ou seja, refere-se à insegurança quanto às decisões tomadas por
outros agentes econômicos. Já a incerteza ambiental relaciona-se à impossibilidade do
conhecimento de eventos futuros (demanda, custos, tecnologia) associada à complexidade dos
agentes econômicos.
Assim sendo, a firma tomará uma forma determinada pelos diferentes modos de lidar com a
incerteza e o futuro das estruturas econômicas que resolvem problemas e suprem as
necessidades dos clientes. Neste sentido, a firma deve ser olhada não pelas transações
inerentes a ela mesma, mas sim pelas transações extraordinárias3 que determinarão sua
seleção natural4 (ZAWISLAK, 2003).
A incerteza excede os limites da firma, ao passo que deve ser analisada em uma visão mais
abrangente, determinando sua sobrevivência e posição no mercado. A sua análise é
importante não apenas no que tange à escolha do melhor arranjo organizacional para se inserir
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 30
O maior desafio das estruturas de governança é saber lidar com a incerteza dos eventos
futuros, visto que o desequilíbrio leva à obtenção do lucro extraordinário e apenas as formas
que conseguirem melhor se adaptar realizarão o maior lucro (ROCHA, 2002). Dito de outra
forma, a escolha da ação com distribuição ótima é que trará os lucros positivos 5 e, portanto,
representará a manutenção da organização no mercado (ALCHIAN,1950).
Visto que o ser humano é racionalmente limitado, e que as incertezas são impossíveis de
serem previstas na sua totalidade, é preciso que os atores sejam capazes de se adaptarem ao
ambiente econômico, em constante mutação, para que sejam selecionados pelo mercado. Para
Knight (1972), “a capacidade de fazer julgamentos corretos é que torna o homem prestimoso
nos negócios”.Assim,o economista6 deverá ser apto a diagnosticar as condições mais
prováveis de se tornar um sobrevivente (ALCHIAN,1950).
6. ESTRUTURAS DE GOVERNANÇA
De forma geral, as estruturas de governança são definidas a partir da decisão de uma empresa de
ela própria executar uma atividade ou comprá-la de uma empresa independente. Na abordagem
da TCT, produzir e comprar são dois extremos ao longo de um caminho de possibilidades,
entendidas como formas híbridas. É válido destacar que não há, a priori, uma estrutura de
governança superior às demais, sendo que o conceito de eficiência apóia-se na sua adequação
aos atributos de transação e pressupostos comportamentais diante dos quais a transação se
vincula.
Crook et al (2013, 65) também esclarecem: “[...] a medida que as empresas deslocam as
transações dos mercados para as formas híbridas e das híbridas para as hierarquias, o aumento
da autoridade permite um maior monitoramento e controle e simplifica a resolução Pressupostos
Comportamentais + Atributos das Transações Forma organizacional adequada para garantir a
continuidade da transação Mercado Híbrida Estrutura de Governança Hierarquia de disputas” 38 .
Assim, quando as empresas aumentam o grau de integração em torno de uma transação, elas se
afastam dos mercados em direção a governança hierárquica, onde maior autoridade gerencial
está disponível para resolver disputas e controlar a forma como os ativos são empregados.
Segundo esses autores, no que os mercados faltam em autoridade, eles compensam em
incentivos.
Mizumoto e Zylbersztajn (2006, p. 150) complementam que “arranjos via mercado são os que
oferecem mais incentivos, mas a possibilidade de controle depende da existência de parceiros
substitutos para disciplinar os desvios em relação ao acordo”. Dessa forma, conforme a
necessidade de controle aumenta, a firma passa a optar por arranjos contratuais em que é
possível utilizar a ameaça de litígio para fazer cumprir o contrato. Crook et al (2013) consideram
que, em contraste com os mercados, o aumento dos compromissos encontrados nas formas
híbridas torna mais difícil para as partes se afastar, o que reduz o poder do incentivo e aumenta o
do controle.
6.1. Mercado
A escolha por externalizar a produção via mercado se dá quando as empresas optam por adquirir
os produtos ou as atividades que precisam no mercado livre, ao invés de produzirem
internamente ou fazerem contratos. Na visão de Mizumoto e Zylbersztajn (2006), para tomar as
decisões sobre produzir ou comprar, a empresa deve comparar os benefícios e custos de usar o
mercado em oposição aos de executar a atividade internamente. De acordo com Williamson
(1985, p. 90, tradução nossa), as principais diferenças entre mercado e hierarquia são que:
(1) Mercados promovem um alto poder de incentivo e restringem distorções burocráticas mais
efetivamente do que a organização interna;
(2) Mercados podem Shift Parameters Strategic Behavioral Endogenous Attributes Preferences
Individual Institutional Environment Governance algumas vezes agregar demandas vantajosas
e, assim, realizar economias de escala e de escopo; e
(3) Organização interna tem acesso a instrumentos de governança distintos.
Como explica Williamson (1985), as transações via mercado são caracterizadas pela oferta e
demanda de mercadorias, cujas trocas são motivadas pelo preço e não estabelecem relações de
dependência, favorecendo ativos com baixos níveis de especificidade. Logo, os custos de
transação são mínimos, pois se alguma das partes envolvidas no negócio desistirem da transação
não haverá grande perda no valor dos investimentos em ativos, já que eles possuem alternativas
de uso. Os agentes conhecem as características dos bens e serviços transacionados, sendo a
incerteza baixa. Ademais, normalmente não há frequência nas transações e, portanto, a
reputação entre os agentes não é desenvolvida de forma significativa.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 33
De acordo com Crook et al (2013), os mercados são a primeira escolha dos gestores de acordo
com o TCE, sendo adequados para transações simples onde a necessidade por uma
coordenação estreita entre as partes é baixa. Em linhas gerais, o mercado é o modo preferido de
abastecimento quando a especificidade de ativos não for alta, devido ao “[...] incentivo e
deficiências burocráticas de organização interna nos aspectos de controle de custos de produção”
(WILLIAMSON, 1985, p. 91). No entanto, as hierarquias são favoráveis onde a especificidade de
ativos for alta, por causa do alto grau de dependência bilateral que existe nestas circunstancias e
da possibilidade de comportamento oportunista, como é discutido a seguir.
A firma atingiria o limite de seus crescimento, segundo Coase (1937), quando os custos dessa
estrutura de coordenação interna, elaborada para a produção de um bem ou serviço, forem iguais
ou superiores ao custos para se organizar a produção externa do mesmo bem ou serviço. Quando
esse ponto é atingido, conforme o autor, o processo de internalização começa a apresentar
retornos decrescentes para a firma ou deseconomias administrativas. A partir desse momento,
torna-se viável a firma estabelecer uma relação cliente-fornecedor e passar a comprar o bem ou
serviço diretamente de outra firma. Outra opção seria negociar no mercado aberto, usando como
referência para a compra o sistema de preços.
Partindo das discussões de Coase (1937) sobre as condições nas quais as empresas optam por
abandonar os mercados em favor da integração vertical, Jacobides e Winter (2005) identificam o
potencial de hold-ups e os comportamentos oportunistas como os principais determinantes da
integração vertical. Além disso, os autores apontam “[...] a dificuldade de obter adequada
capacidade de resposta dos atuais fornecedores externos e também a necessidade de identificar
e aprender a gerenciar uma interface eficiente entre os estágios [...]” como motivadores da
integração vertical (JACOBIDES; WINTER, 2005, p.405, tradução nossa).
A utilização de contratos implica que “[...] existe aumento do valor da organização pela via
contratual, evitando-se custos associados ao funcionamento dos mercados e tal aumento de valor
serve de incentivo para as partes envolvidas no contrato” (ZYLBERSZTAJN, 2009, p. 392). Sendo
assim, os contratos surgem como estruturas de amparo às transações que visam controlar a
variabilidade e mitigar riscos, aumentando o valor da transação ou de um conjunto complexo de
transações.
Em sua grande maioria as relações inter organizacionais se dão por meio de contratos. Por
contrato formal, entende-se a formalização de compromissos entre duas organizações
independentes juridicamente. Quando essa relação contratual formal é interrompida, ocorre o que
se entende como quebra de contrato, ou hold up. Sobre esse fator, Klein, Crawford e Alchian
(1978, p. 307, tradução nossa) indicam que hold ups “[...] podem ocorrer quando um fato
inesperado desestabiliza uma relação contratual entre dois agentes econômicos conhecidos”.
Nesse âmbito, o conceito de quebra contratual oportunista é investigado pelos autores com base
em incentivos de apropriação das quase-rendas provenientes de investimentos em ativos
específicos. Assim, caso uma parte do contrato realize investimentos específicos, geradores de
rendas, na ausência de salvaguardas, parte do seu valor pode ser expropriada ex-post pela outra
parte.
Dessa forma, como salienta Zylbersztajn (2009), a contratação também apresenta custos e exige
salvaguardas com respeito a possíveis quebras contratuais40. Tais salvaguardas podem se
assentar em mecanismos de natureza privada, como parte dos arranjos entre os agentes
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 35
produtivos. Também podem amparar-se em mecanismos públicos dos tribunais, que sinalizam
para o cumprimento dos contratos. No caso brasileiro, o autor aponta que dois problemas são
discutidos. O primeiro é o da eficiência do judiciário, que pode não sinalizar os agentes como
esperado. O segundo é a fragilização do instituto do contrato, que adquire nova roupagem com o
surgimento do conceito jurídico de “papel social do contrato”41 .
Sobre esse tipo de estrutura de governança, vale destacar a contribuição recente do grupo
ATOM, ligado à Sorbonne em Paris, com destaque para os trabalhos de Ménard (2004). As
formas híbridas são apresentadas no cotidiano das empresas, na visão de Ménard (2004), como a
quase integração vertical de um conjunto de subcontratantes: as redes de franquias; as alianças
estratégicas; os clusters; as joint ventures produtivas, tecnológicas e comerciais e os consórcios e
relações contratuais. A intenção é assegurar os benefícios do controle na presença de
especificidades e incertezas, a um custo apropriado, garantindo incentivos e estímulos por meio
da continuidade da transação.
Ao focar a relação contratual42 , Ménard (2004), propõe que, entre os extremos do mercado e da
hierarquia, a estrutura de governança híbrida pode assumir diferentes configurações, constituindo
arranjos menos formais até arranjos mais formais. Essa configuração se dá em função da
especificidade de ativos e dos custos de transação envolvidos. Na presença da primeira, os
últimos podem ser minimizados a partir da maior formalização contratual.
Partindo da ótica da TCT, Ménard (2004) desdobra a figura inicialmente desenvolvida por
Williamson para explicar as decisões de formas alternativas de governança (mercado-contratos-
hierarquia). Como se utilizasse uma lente de aumento, Ménard desdobra a fronteira de eficiência
dos contratos, buscando destacar, de um menor para um maior nível de formalização, o papel das
relações de confiança, redes relacionais, liderança e governança formalizada. A partir desse
ponto, a hierarquia se mostra a forma de governança mais apropriada na presença de alto nível
de especificidade de ativos.
Vale notar que o desenho de contratos pode se fazer necessário para garantir que não haja
captura da quase renda pelas partes envolvidas, ou seja, para garantir que não ocorra a perda ou
expropriação do valor econômico do produto ou serviço transacionado. Nesse sentido, Ménard
(2002) aponta que, com o tempo, os contratos podem ser aprimorados devido à gradativa quebra
de assimetria informacional. Além disso, na medida em que as partes vão se conhecendo
aumenta o uso de mecanismos informais, tais como reputação, confiança, compartilhamento de
informações e ajuda mútua, que são utilizados na coerção dos agentes.
Seguindo esta linha de raciocínio, Crook et al (2013) afirmam que os gerentes usam cada vez
mais “governança relacional” em suas interações com parceiros de troca. Governança relacional
se refere a utilização de meios extracontratuais, tais como a confiança, e participações cruzadas
de capital que permitem que os gerentes criem relações estáveis. Tais relações permitem que os
gerentes combinem recursos em feixes altamente específicos que criam mais valor do que
qualquer outra empresa poderia criar individualmente43 .
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 36
7. TERCEIRIZAÇÃO
A terceirização pode ser definida como a delegação de serviços a empresas e/ou pessoas que
estejam em um terceiro nível acima do consumidor final, ou seja, que servem, em troca de
remuneração e durante um período de tempo previamente delimitado, a empresas que mantém
algum tipo de vínculo com o cliente final.
Com relação à forma organizacional, para Barthelemy e Quelin (2000, p. 3), a prestação de
serviços pode configurar como uma alternativa contrária à integração vertical9 das atividades
(referindo-se à clássica make or buy decision). Quando a transação não depender de ativos
específicos e a incerteza puder ser contornada por meio de salvaguardas e renegociações, a
forma híbrida de governança parece ser uma alternativa à desintegração vertical.
Por outro lado, a integração vertical se configura como a melhor estrutura organizacional quando
há grande investimento em ativos específicos e incerteza (ROCHA, 2002). Invariavelmente, a
mediação de transações, que são realizadas fora da estrutura de mercado, exigirá investimentos
em estruturas de governança especializadas (BUVIK,2000).
A forma híbrida de governança situa-se entre o tipo de coordenação via mercado e a verticalizada
(hierarquia ou firma), isto por que possui um grau intermediário de aparato administrativo, possui
uma estrutura contratual mais elástica (quando comparada aos contratos de mercado) e mais
legal que os contratos de verticalização. Normalmente, a transação é firmada por um contrato de
médio a longo-prazo, complexos e incompletos, pois devem prever implicações presentes e
futuras. Como tem autonomia de propriedade, e sua atividade produtiva independente, os
incentivos e adaptações são favorecidos (WILLIAMSON,1996).
A decisão de uma empresa de reter atividades que não fazem parte de suas competências
principais ocorria antigamente por se levarem em consideração apenas as diferenças de custo
entre a produção in-house (verticalização) e a opção em terceirizar. Coase (1937), utilizando-se
da Teoria dos Retornos Decrescentes, observa que à medida que as empresas crescem, os
custos transacionais de buscar certos serviços fora da organização tornam-se iguais, ou até
menores, aos da produção in-house.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 38
Neste sentido, Stuckey e White (1993), Barthelemy e Quelin (2000) e Buvik (2000) consideram
imprescindível o exame da especificidade de localização, da especificidade técnica (investimentos
em equipamentos, especificações de qualidade, desenvolvimento de novos produtos, novas
tecnologias e imobilizados em geral) e, por último, mas não menos importante, a especificidade
de capital humano (desenvolvimento de capacidades e conhecimentos) necessários para que o
produto ou serviço seja realizado no momento de se escolher a estrutura de governança de
determinada operação.
Platts, Probert e Cáñez (2002) colocam que o clima político também deve ser analisado, visto que
alguns dos serviços terceirizados, como os abordados neste estudo, são incentivados pelo
governo. Além disso, o clima social (entre a empresa e seus funcionários) deve ser avaliado no
sentido de serem levantadas as possíveis vantagens e desvantagens de se buscar o serviço além
das fronteiras da empresa.
As indústrias metalúrgicas, por exemplo, pelo fato de possuírem sindicatos fortes e bem
organizados representam um setor em que a terceirização ganha resistência e dificuldade para
ser implantada. Isto porque este tipo de coordenação ainda parece representar perdas
trabalhistas e de benefícios para esses trabalhadores sindicalizados e com capacidade de
conseguir benefícios e salários bem maiores do que maioria dos trabalhadores de outros setores
(MARCON, 1997).
A ECT serve de arcabouço teórico para elucidar o motivo pelo qual as relações de terceirização
são explicadas não apenas através de uma visão econômica, mas também pelo entendimento
das trocas individuais que são guiadas por contratos, que acabam por regular os riscos e construir
a fundamentação dessas relações.
Os riscos e custos de uma transação podem ser minimizados ao passo em que são elucidadas as
características e expectativas dos atores envolvidos nas transações contratadas. Assim, pode-se
formular contratos capazes de monitorar as atividades acordadas e que permitam a estabilidade
do relacionamento.
Os contratos podem ser entendidos como estruturas institucionalizadas que regem os direitos, os
deveres e as expectativas de uma transação acordada entre dois agentes. Ou seja, ele configura-
se como ícone central na análise dos modos de coordenação, facilitando o respeito e a
harmonização dos interesses individuais em uma sociedade descentralizada (BROSSEAU, 1995).
Empresa deve fazer, em vez de comprar ativos que proporcionam vantagens competitivas:
a empresa pode acreditar que um determinado ativo é uma fonte de vantagem competitiva, mas
se o ativo está facilmente disponível no mercado a crença sobre vantagem competitiva terá de
ser reavaliado
Terceirização de uma atividade elimina o custo dessa atividade: não deve importar se os
custos de realização de uma atividade são incorridos pela empresa (adicione) ou pelo fornecedor
(Buy). A consideração relevante é saber se é mais eficiente “fazer” ou “comprar”.
Muitas vezes as grandes empresas sofrem da burocracia que podem ser traduzidos em custos
de agencia e de influencia.
• Custos de Agencia: são os custos associados à negligencia profissional e aos controles
administrativos para prevenir a negligência. Eles reduzem a lucratividade de uma empresa,
porque os trabalhadores agem segundo seus próprios interesses, que não são necessariamente
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 41
Cada um dos três problemas acima pode ser atribuída aos custos associados à elaboração e
cumprimento dos contratos (dificuldades na contratação).
8
Como descreve Saussier (2003): “Cada estrutura de governança é caracterizada por um regime contratual que lhe
traz mais ou menos eficácia para a realização de uma transação”.
9
Segundo Stuckey e White (1993), integração vertical ou verticalização é uma forma de coordenação de diferentes
estágios de uma cadeia que se promove quando “acordos” bilaterais não são benéficos.
TEORIA DA GESTAO DE CONTRATOS 42
1. CONTEXTO
TERCEIRIZAÇÃO: 2. ECT
Estrutura de governança
escolhida para a relação ELEMENTOS 3. CONTRATOS
entre os atores COMPORTAMENTAIS
NEGOCIAÇÃO:
OPORTUNISMO Elementos
RELACIONAMENTO:
Formalizado através de importantes
contratos relacionais de RACIONALIDADE durante a
longo-prazo LIMITADA negociação das
atividades
CONTRATOS:
ELEMENTOS ESTRUTURAÇÃO:
Formulação de contratos
capazes de prever e TRANSACIONAIS Descrição dos tipos
minimizar as contingências ATIVOS e conteúdo dos
do mercado e do ESPECÍFICOS contratos
relacionamento entre os
atores INCERTEZA GESTÃO:
Elementos
considerados e
FREQÜÊNCIA DE monitorados
TRANSAÇÕES durante o
cumprimento das
atividades
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCHIAN, A. Uncertainty, Evolution, and Economic Theory. Journal of Political Economy. v. 58,
p. 211-121, 1950.
AUBERT, B.; RIVARD, S.; PATRY, M. A transaction cost approach to outsourcing behavior: Some
empirical evidence. Information & Management. v. 30, p. 51-64, 1996.
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