Você está na página 1de 323

PM-MG

Polícia Militar de Minas Gerais

SOLDADO
æ Língua Portuguesa
æ Direito Penal
æ Direito Constitucional
æ Direito Penal Militar
æ Direito Humanos
æ Estatística
æ Legislação Extravagante (disponível On-line)

conteúdo
Edital DRH/CRS Nº 06/2021
ON-LINE
CURSO COM 10H
DE VIDEOAULAS
Polícia Militar de Minas Gerais

PM-MG
Soldado

NV-002JH-21
Cód.: 7908428800604
Obra Produção Editorial

Carolina Gomes
PM-MG – Polícia Militar de Minas Gerais Josiane Inácio

Soldado Karolaine Assis

Organização

Arthur de Carvalho
Autores
Roberth Kairo
LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares e Saula Isabela Diniz
Giselli Neves

DIREITO PENAL • Renato Philippini, Rodrigo Gonçalves e Revisão de Conteúdo


Jonatas Albino Ana Cláudia Prado

DIREITO CONSTITUCIONAL • Samara Kich e Giovana Marques Fernanda Silva


Jaíne Martins
DIREITO PENAL MILITAR • Rodrigo Gonçalves Maciel Rigoni
Nataly Ternero
DIREITO HUMANOS • Ana Philippini e Alexandre Nápoles

ESTATÍSTICA • Henrique Tiezzi Análise de Conteúdo

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE (ON-LINE) • Samantha Rodrigues, Ana Beatriz Mamede


Fernando Zantedeschi, Renato Philippini, Nathan Pilonetto e João Augusto Borges
Antônio Pequeno
Diagramação

Dayverson Ramon
Higor Moreira
Willian Lopes

Capa

Joel Ferreira dos Santos

Projeto Gráfico

Daniela Jardim & Rene Bueno

Edição:

Junho/2021

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
editora Nova Concursos.

Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso Dúvidas


de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site
www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e www.novaconcursos.com.br/contato
Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. sac@novaconcursos.com.br
APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento é determinante para a sua preparação
de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen-
sando no máximo aproveitamento de seus estudos, esse livro
foi organizado de acordo com os itens exigidos no Edital DRH/
CRS Nº 06/2021 da PM-MG para o cargo de Soldado. O edital foi
didaticamente sistematizado em um sumário subdividido para
otimizar o seu tempo e o seu aprendizado.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados
nas provas, além de Questões Comentadas e a seção Hora de
Praticar, trazendo exercícios gabaritados da banca organizado-
ra do certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos On-line – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensan-
do no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Ago-
ra é com você!

Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os con-


teúdos disponíveis online para este livro em nossa plataforma:
Legislação Extravagante e o Curso com 10 horas de videoaulas,
conforme os assuntos cobrados no edital. Para acessar, basta
seguir as orientações na próxima página.
CONTEÚDO ON-LINE

Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on-
line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta
deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente.

BÔNUS:

• Curso On-line.

à Língua Portuguesa - Interpretação de Texto: Conceitos Importantes



à Direito Penal - Da Aplicação da Lei Penal

à Direito Constitucional - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas: Das

Forças Armadas e Da Segurança Pública
à Direito Penal Militar - Teoria do Crime

à Direito Humanos - Declaração Universal dos Direitos Humanos

à Legislação Extravagante - Lei n° 13.869/2019 - Crimes de Abuso de Autoridade:

Das Sanções de Natureza Civil e Administrativa e Dos Crimes e Das Penas
à Estatística - Estatística Descritiva: Tabelas - Distribuição de Frequências

CONTEÚDO COMPLEMENTAR:

• Legislação Extravagante.

COMO ACESSAR O CONTEÚDO ON-LINE

Se você comprou esse livro em nosso site, o bônus já está liberado na sua área
do cliente. Basta fazer login com seus dados e aproveitar.

Mas, caso você não tenha comprado no nosso site, siga os passos abaixo para ter
acesso ao conteúdo on-line.

Acesse o endereço novaconcursos.com.br/bônus DÚVIDAS E SUGESTÕES


Código Bônus sac@no vaconcursos.com.br

NV-003MR-20 Código Bônus


Digite o código que se encontra atrás da NV-003MR-20
apostila (conforme foto ao lado)

Siga os passos para realizar um breve 9 088121 44215 3

cadastro e acessar seu conteúdo on-line


VERSO DA APOSTILA
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................11
ADEQUAÇÃO CONCEITUAL................................................................................................................ 11

PERTINÊNCIA, RELEVÂNCIA E ARTICULAÇÃO DOS ARGUMENTOS.............................................................11

SELEÇÃO VOCABULAR.....................................................................................................................................13

ESTUDO DE TEXTO (QUESTÕES OBJETIVAS SOBRE TEXTOS DE CONTEÚDO LITERÁRIO


OU INFORMATIVO OU CRÔNICA)...................................................................................................... 14

TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS TEXTUAIS.................................................................................. 16

ORTOGRAFIA....................................................................................................................................... 27

ACENTUAÇÃO GRÁFICA.................................................................................................................... 30

PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 31

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS...................................................................................... 34

CLASSES DE PALAVRAS.................................................................................................................... 37

FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO.............................................................................................................. 49

TERMOS DA ORAÇÃO......................................................................................................................... 50

PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO.................................................. 56

FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS PRONOMES RELATIVOS................................................................... 58

EMPREGO DE NOMES E PRONOMES................................................................................................ 59

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS..................................................................................... 62

REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL (CRASE)........................................................................................ 63

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL............................................................................................ 67

ORAÇÕES REDUZIDAS........................................................................................................................ 72

COLOCAÇÃO PRONOMINAL.............................................................................................................. 73

ESTILÍSTICA........................................................................................................................................ 73

FIGURAS DE LINGUAGEM.................................................................................................................................73

DIREITO PENAL...................................................................................................................83
CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: PARTE GERAL - APLICAÇÃO DA LEI PENAL ..................... 83
TÍTULO II: DO CRIME........................................................................................................................... 92

TÍTULO III: DA IMPUTABILIDADE PENAL........................................................................................102

TÍTULO IV: DO CONCURSO DE PESSOAS.................................................................................105

TÍTULO V: DAS PENAS..................................................................................................................111


CAPÍTULO I: DAS ESPÉCIES DE PENA, CAPÍTULO II: DA COMINAÇÃO DAS PENAS E
CAPÍTULO III: DA APLICAÇÃO DA PENA.......................................................................................................111

DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA.......................................................................................................112

DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE....................................................................................................112

PARTE ESPECIAL: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA...................................................................114

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO..........................................................................................138

DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL...............................................................................160

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL..............................................................................................160

DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL.....................................................................................................165

DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL............................................................................................166

DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA.............................................................................................169

DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO.............................................................................169

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................182

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL........................182

DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS............................................................193

DIREITO CONSTITUCIONAL ...................................................................................... 199


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL..........................................................199

DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS................................................................................................................200

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.....................................................................................202

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS .......................................................................................202

DA NACIONALIDADE.......................................................................................................................................210

DOS DIREITOS POLÍTICOS..............................................................................................................................212

DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO......................................................................................................213

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................................................................................................................213

Disposições Gerais......................................................................................................................................... 213


Dos Militares Dos Estados, Do Distrito Federal E dos Territórios................................................................216
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES..................................................................................................218

DO PODER JUDICIÁRIO ..................................................................................................................................218

Dos Tribunais E Juízes Militares ........................................................................................................ 222


Dos Tribunais E Juízes Dos Estados............................................................................................................. 223

DAS DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS.............................................224

DAS FORÇAS ARMADAS.................................................................................................................................224

DA SEGURANÇA PÚBLICA..............................................................................................................................225

DIREITO PENAL MILITAR............................................................................................. 231


DECRETO-LEI Nº 1001, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969 – CÓDIGO PENAL MILITAR,
PARTE GERAL....................................................................................................................................231

TÍTULO I: DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR.......................................................................................231

TÍTULO II: DO CRIME.......................................................................................................................................233

TÍTULO IV: DO CONCURSO DE AGENTES......................................................................................................239

TÍTULO V: DAS PENAS, CAPÍTULO I: DAS PENAS PRINCIPAIS...................................................................239

CAPÍTULO V: DAS PENAS ACESSÓRIAS.......................................................................................................241

TÍTULO VII: DA AÇÃO PENAL..........................................................................................................................242

TÍTULO VIII: DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.............................................................................................242

PARTE ESPECIAL..............................................................................................................................246

LIVRO I: DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ.................................................................................246

TÍTULO II: DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR.............................................250

CAPÍTULO I: DO MOTIM E DA REVOLTA.........................................................................................................250

CAPÍTULO II: DA ALICIAÇÃO E DO INCITAMENTO........................................................................................251

CAPÍTULO III: DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR OU MILITAR DE SERVIÇO............................................251

CAPÍTULO IV: DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO NACIONAL OU À FARDA.............................252

CAPÍTULO V: DA INSUBORDINAÇÃO.............................................................................................................252

CAPÍTULO VII: DA RESISTÊNCIA....................................................................................................................253

TÍTULO III: DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR,


CAPÍTULO II: DESERÇÃO.................................................................................................................................254

CAPÍTULO III: DO ABANDONO DE POSTO E DE OUTROS CRIMES EM SERVIÇO........................................255

TÍTULO IV: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA, CAPÍTULO I: DO HOMICÍDIO..............................................255

CAPÍTULO III: DA LESÃO CORPORAL E DA RIXA..........................................................................................257


CAPÍTULO IV: DA PERICLITAÇÃO DA VIDA OU DA SAÚDE...........................................................................260

CAPÍTULO VI: DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE,


SEÇÃO I: DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL.......................................................................260

SEÇÃO II: DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO.......................................................262

SEÇÃO IV: DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS DE CARÁTER


PARTICULAR....................................................................................................................................................263

TÍTULO VII: DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR,


CAPÍTULO I: DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA.....................................................................................264

CAPÍTULO II: DO PECULATO...........................................................................................................................264

CAPITULO III: DA CONCUSSÃO, EXCESSO DE EXAÇÃO E DESVIO..............................................................265

CAPÍTULO IV: DA CORRUPÇÃO......................................................................................................................266

CAPÍTULO V: DA FALSIDADE..........................................................................................................................267

CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL........................................................................................267

DIREITO HUMANOS........................................................................................................ 277


DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1948...........277

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


(PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA).........................................................................................288

ESTATÍSTICA..................................................................................................................... 301
VISÃO CONCEITUAL BÁSICA...........................................................................................................301

POPULAÇÃO OU UNIVERSO E CENSO...........................................................................................................301

AMOSTRAGEM X AMOSTRA..........................................................................................................................301

EXPERIMENTO ALEATÓRIO............................................................................................................................302

MÉTODO ESTATÍSTICO...................................................................................................................................302

VARIÁVEIS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS.............................................................................307

MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL...............................................................................................308

MÉDIA...............................................................................................................................................................308

MEDIANA..........................................................................................................................................................309

MODA................................................................................................................................................................310

MEDIDAS DE DISPERSÃO.................................................................................................................310

AMPLITUDE......................................................................................................................................................310
VARIÂNCIA.......................................................................................................................................................311

DESVIO PADRÃO..............................................................................................................................................311

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO MATEMÁTICA DE GRÁFICOS, TABELAS E DIAGRAMAS


ESTATÍSTICOS..................................................................................................................................312
(1) A tese: a tecnologia vem implementando novos
valores à vida do homem moderno principalmente no
que diz respeito a sua vida em sociedade;
(2), (3), (4) Os argumentos são levantados a fim

LÍNGUA PORTUGUESA
de sustentar a tese: o desenvolvimento da tecnologia
em campos como o da educação (2) / o dos serviços
sociais (3) / inovações atingindo vários outros espaços
do cotidiano (4).

ADEQUAÇÃO CONCEITUAL Desenvolvimento

PERTINÊNCIA, RELEVÂNCIA E ARTICULAÇÃO DOS O desenvolvimento é a parte em que você deve


ARGUMENTOS expor os elementos que vão fundamentar sua tese que
pode vir especificada por intermédio de argumentos,
Neste assunto trabalharemos alguns elementos de pormenores, de exemplos, de citações, de dados
importantes para iniciarmos nossa análise de textos. estatísticos, de explicações, de definições, de confron-
Começaremos com a estrutura do texto dissertati- tos de ideias e contra argumentações. Você poderá
vo, uma vez que pertinência e relevância se relacio- usar tantos parágrafos quanto achar necessário para
nam intimamente com a articulação dos argumentos desenvolver suas teorias, porém em redações de cur-
e da estruturação de um texto dissertativo. ta extensão o ideal é que cada parágrafo apresente
Como todos sabem, a dissertação é um tipo de tex- objetivamente apenas um dos argumentos a serem
to que se caracteriza pela exposição e defesa de uma desenvolvidos, ou ainda, que esses argumentos sejam
ideia que será analisada e discutida a partir de um agrupados caso vários deles devam ser apresentados
ponto de vista. Para tal defesa o autor do texto dis- para sustentar sua tese.
sertativo trabalha com argumentos, com fatos, com Ex.: apresentação do primeiro argumento sobre “o
dados, os quais utiliza para reforçar ou justificar o desenvolvimento da tecnologia em campos como o
desenvolvimento de suas ideias. da educação”
Para atender a esse propósito, a dissertação deve Alguns argumentam que é importante reconhecer
apresentar uma organização estrutural que conduza o papel das redes mundiais de informação para
as informações ao leitor de forma a seduzi-lo quanto o favorecimento da construção do conhecimento.
ao reconhecimento da verdade proposta como tese. Hoje é possível visitar um museu, consultar uma biblio-
Compreende-se como estrutura básica de uma disser- teca e até mesmo estudar sem sair de casa. Por meio da
tação a divisão da exposição da argumentação em três internet, muito da sabedoria mundial pode ser alcança-
partes distintas: a introdução, o desenvolvimento e a da por qualquer pessoa que a deseje. Basta estar diante
conclusão: de um computador, ou de posse de um desses modernos
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: aparelhos celulares para se ligar a qualquer momento
ao universo virtual. Hoje é possível ler qualquer livro a
Introdução qualquer momento em um desses dispositivos.
Ex.: apresentação do segundo argumento sobre “o
A introdução do texto dissertativo é a apresenta- desenvolvimento da tecnologia em campos como o
ção de seu projeto. Ela deve conter a tese de sua dis- dos serviços sociais”
sertação, ou seja, deve apresentar seu posicionamento Outro aspecto que merece destaque especial é quan-
sobre o tema proposto pela banca. Esse momento
to ao atendimento oferecido ao cidadão pelos
é muito importante para o leitor, pois é aí que será
órgãos do serviço público. Já é possível registrar
mostrada a identificação de suas ideias com o tema. É
um boletim de ocorrências via computador ou ainda
um bom momento para apresentá-lo aos argumentos
agendar a emissão de passaportes junto às agencias da
sequencialmente ordenados de acordo com a progres-
Policia Federal em qualquer lugar do Brasil. Consultas
são que você dará a sua redação (progressão textual).
médicas podem ser marcadas em hospitais públicos ou
A introdução deve ser clara e chamar a atenção
privados e os exames realizados podem ser consultados
para dois itens básicos: os objetivos do texto e o pla-
no do desenvolvimento. Sem ter medo de apresentar diretamente do banco de dados dessas entidades.
alguma previsibilidade de seu projeto, você, autor, Ex.: apresentação do terceiro argumento sobre “as
deve expor os caminhos por que percorrerá em sua inovações em vários outros espaços do cotidiano”
explanação. Lembre-se de que o leitor, corretor de seu E isso não para por aí. Ainda convém lembrar que
trabalho, é um professor experiente e é a organização de muitas outras formas a tecnologia interfere
LÍNGUA PORTUGUESA

que mais o impressionará nesse momento. Por isso, positivamente em nossas vidas. As relações sócias
não tenha medo de ser objetivo e previamente ilustra- se intensificaram depois do surgimento das várias
tivo quanto aos seus propósitos de trabalho. redes de relacionamento tendo início com o Orkut e o
Ex.: Parágrafo de introdução Facebook, permitindo que as pessoas se reencontrem
Todos sabem o quanto a tecnologia vem imple- em ambientes virtuais, o que antigamente exigiria mui-
mentando novos valores à vida do homem moder- to esforço coletivo para tais eventos. Programas como
no principalmente no que diz respeito a sua vida o Zoom e o Google Meet possibilitam que as pessoas
em sociedade (1). É notório o desenvolvimento da conversem e interajam em diferentes partes do mundo
tecnologia em campos como o da educação (2) e o sem nenhum custo além dos já dispensados com seus
dos serviços sociais (3). Essas inovações vão ainda provedores residenciais. Uma mãe que mora longe dos
muito além disso, atingindo vários outros espaços filhos já pode vê-los ou aos netos, pela tela de um note-
do cotidiano (4) da maioria das pessoas. book ou celular, sempre que sentir saudade. 11
Conclusão A repetição de palavras compromete a qualidade
do texto, mostrando falta de vocabulário do redator.
A conclusão é a retomada da ideia principal, que Assim, é aconselhável a utilização de sinônimos:
agora deve aparecer de forma muito mais convin- Ex.: Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase -
cente, uma vez que já foi fundamentada durante o êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha
desenvolvimento da dissertação. Deve, pois, conter vida por umas poucas horas dessa alegria.
de forma sintética, o objetivo proposto na instrução, a Nesse caso a palavra alegria aparece como sinôni-
confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argu- mo semântico da palavra amor, representando-a.
mentação básica empregada no desenvolvimento. z Coesão por elipse ou zeugma (omissão): é a
Ex.: considerações finais omissão de um termo facilmente identificável.
Tendo em vista esses aspectos observados sobre
esse admirável mundo de facilidades técnicas, só nos Podemos ocultar o sujeito da frase e fazer o leitor
resta comentar que não foi só o computador que procurar no contexto quem é o agente, fazendo corre-
tornou a vida do cidadão mais simples e confor- lações entre as partes:
tável, mas outros campos da tecnologia também Ex.: O marechal marchava rumo ao leste. Não
contribuíram para isso. Os aparelhos de GPS, que tinha medo, (?) sabia que ao seu lado a sorte também
nos orientam a qualquer direção, ou ainda diver- galopava.
sos dispositivos médicos portáteis, garantem a A interrogação representa a omissão do sujeito
melhora da qualidade de vida de todos os homens marechal que fica subentendido na oração.
do nosso tempo. z Conectivos principais: preposições e suas locu-
ções: em, para, de, por, sem, com...
ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS
Conjunções e suas locuções: e, que, quando, para
Coesão que, mas...
Pronomes relativos, demonstrativos, possessivos,
Coesão pode ser considerada a “costura” textual, pessoais: onde, que, cujo, seu, este, esse, ele...
a “amarração” na estrutura das frases, dos períodos Ex.: Os programas de TV, em que nós podemos ver
e dos parágrafos que fazemos com palavras. Para muitas mulheres nuas, são imorais. Desde seu iní-
garantir uma boa coesão no seu texto, você deve pres- cio, a televisão foi usada para facilitar o domínio da
tar atenção a alguns mecanismos. Abaixo, em negrito, sociedade. Como exemplo, podemos citar a chegada
do homem à Lua, onde os EUA conseguiram com sua
há exemplos de períodos que podem ser melhorados
propaganda capitalista frente a uma Guerra Fria, a
utilizando os mecanismos de coesão:
simpatia de grande parte da população do planeta.
z Elementos Anafóricos: Esse, essa, isso, aquilo, Coerência
isso, ele...
Coerência textual é uma relação harmônica que se
São palavras referentes a outras que apareceram estabelece entre as partes de um texto, em um contex-
no texto, a fim de retomá-las. to específico, e que é responsável pela percepção de
uma unidade de sentido. Sendo assim, os principais
aspectos envolvidos nessa questão são:
Ela = Dolores seu = Ela
z Coerência semântica
Ex.: Dolores e ra beleza única. Ela sabia do seu Refere-se à relação entre significados dos elemen-
poder de seduzir e o usava tos da frase (local) ou entre os elementos do texto
como um todo:
Ex.: Paulo e Maria queria chegar ao centro da
o = poder questão. - Não caberia aqui pensar em centro como
bairro de uma cidade.
É nesse caso que entra o estudo da coesão por meio
z Elementos Catafóricos: Este, esta, isto, tal como, do vocabulário.
a saber...
z Coerência sintática: refere-se aos meios sintáti-
São palavras referentes a outras que irão aparecer cos que o autor utiliza para expressar a coerência
no texto: semântica: “A felicidade, para cuja obtenção não
existem técnicas científicas, faz-se de pequenos
fragmentos...” - como leitor do texto, você deve
entender que o pronome cuja foi empregado para
Ex.: Este novo produto a deixará maravilhosa, é o estabelecer posse entre obtenção e felicidade.
xampu Ela. Use-o e você não vai se arrepender!
É nesse caso que entra o estudo da coesão com o
emprego dos conectivos.
O pronome demonstrativo este apresenta um ele-
mento do qual ainda não se falou = o xampu. z Coerência estilística: refere-se ao estilo do autor,
à linguagem que ele emprega para redigir. O lei-
z Coesão lexical: são palavras ou expressões tor atento a isso consegue facilmente entender a
12 equivalentes. estrutura do texto e relacionar bem as informações
textuais. Além disso, percebendo se a linguagem a comunicação, o autor escolhe um nível maior ou
do texto é figurada ou não, seu raciocínio inter- menor de formalidade e, para isso, leva em considera-
pretativo deverá funcionar de uma determinada ção, entre outras coisas:
maneira, como podemos ver neste texto de Fer-
nando Pessoa: z O seu interlocutor;
z Ambiente em que se encontra;
Já sobre a fronte vã se me acinzenta z O assunto a ser tratado; e
O cabelo do jovem que perdi. z A intenção, objetivo a ser atingido (informar, soli-
Meus olhos brilham menos.
citar, persuadir etc.).
Já não tem jus a beijos minha boca.
Se me ainda amas por amor, não ames:
Trairias-me comigo. É observando esses elementos que o autor adequa:

(Ricardo Reis/Fernando Pessoa) z Os vocábulos;


z A pronúncia (no caso da fala);
z Elementos importantes de coesão e coerência: z A ortografia (no caso da escrita); e
para continuarmos o estudo de coesão e coerência, z A estruturação das sentenças.
devemos relembrar alguns elementos gramaticais
importantes: Quanto mais formal for um ato de linguagem, mais
z Pronome demonstrativo: indicam posição dos cuidado deve ser dedicado aos itens acima.
seres em relação às pessoas do discurso, situando- Observe a tabela baixo, retirada do manual de Tex-
-o no tempo e/ou no espaço (função dêitica destes tos Dissertativo-Argumentativo do Inep, que ilustra os
pronomes). Podem também ser empregados fazen- dois tipos de registro, o formal e o informal.
do referência aos elementos do texto (função ana-
fórica ou catafórica). São eles:
REGISTRO FORMAL REGISTRO INFORMAL

ESTE (A/S), ESSE (A/S), Têm função de pronome Jovem para o chefe: Jovem para a mãe:
AQUELE (A/S) adjetivo.
Boa tarde, chefe. Infeliz- Que droga, mãe! Bateram
ISSO, ISTO, AQUILO, O Têm função de pronome mente, acabei de sofrer no meu carro!
(A/S) substantivo. um acidente de trânsito e Tô bem, não se preocupe.
MESMO, PRÓPRIO, Quando são demons- devo me atrasar, pois es- Me mande o
SEMELHANTE, TAL (E trativos, são pronomes tou aguardando a polícia, número da seguradora.
FLEXÕES). adjetivos. para os trâmites formais, Depois te ligo.
e a seguradora, para o re-
colhimento do veículo.
SELEÇÃO VOCABULAR

Dependendo da situação, a linguagem verbal Note que o fato é o mesmo: o acidente de trânsito
(escrita e oral) pode ser mais ou menos formal. Quan- no caminho para o trabalho. No entanto, função das
do você conversa ao telefone com um velho amigo ou duas diferentes situações (avisar duas pessoas com as
envia uma mensagem de texto para um parente, se quais tem diferentes níveis de intimidade), o registro
comunica de uma forma mais livre; já numa entrevista se faz necessário em suas duas espécies: no registro
de emprego ou ao escrever um e-mail solicitando algo a formal e no registro informal.
uma autoridade, você escolhe melhor as palavras. Assim, ao elaborar o texto da redação oficial,
Ou seja, o nível de formalidade nas comunica- deve-se atentar para o uso do registro formal, uma
ções varia conforme a circunstância. vez que se espera o uso da modalidade escrita formal
A linguagem informal (oral ou escrita) geralmen- da língua portuguesa.
te é usada quando temos certo nível de intimidade Resumindo, a diferença entre linguagem formal e
entre os interlocutores, como nas correspondências linguagem informal está no contexto em que elas são
entre familiares ou amigos. Já a linguagem formal
utilizadas e na escolha das palavras e expressões
(na sua forma oral ou escrita), caracterizada pela poli-
utilizadas para comunicar.
dez e escolha cuidadosa das palavras, é normalmen-
A tabela abaixo apresenta uma comparação entre
te empregada quando nos dirigimos a alguém com
as duas formas de linguagem.
quem não temos proximidade, como no exemplo da
seleção de emprego e em outras situações que exigem
LINGUAGEM LINGUAGEM
LÍNGUA PORTUGUESA

tal protocolo, como na escrita de um texto científico,


um livro didático, na correspondência entre empre- FORMAL INFORMAL
sas e, como veremos mais adiante, na comunicação
A linguagem formal
oficial.
é aquela utilizada A linguagem in-
O termo “registro” é usado para se fazer referência
em situações que formal é utilizada
aos níveis de formalidade na língua falada e na língua
exigem maior em situações
escrita. Os níveis de formalidade são chamados, ain-
protocolo (situa- mais descon-
da, de níveis de fala ou níveis de linguagem. O que é
ções profissionais, traídas, quando
Em qualquer ato de linguagem, para a escolha do
acadêmicas ou existe maior li-
registro (do nível de formalidade), o indivíduo leva
quando não existe berdade entre os
em conta, mesmo que de forma inconscientemente,
intimidade entre os interlocutores.
a situação em que se encontra ao produzir seu tex-
interlocutores).
to (oral ou escrito). Em outras palavras, ao praticar 13
determinado tema. Quando a citação afirma que
LINGUAGEM LINGUAGEM
Montaigne deu nome a um novo gênero literário, e
FORMAL INFORMAL
que esse gênero aborda o “espaço do eu” e contém
Não requer o uso “hesitações, autocríticas e correções”, demonstra
da norma culta, que esse gênero é subjetivo. Analisando as caracte-
sendo normal rísticas do gênero ensaio e as alternativas forneci-
Uso da norma culta o uso de gírias, das, fica clara a ligação entre a citação e o gênero
(respeito rigoroso expressões popu- literário. Resposta: Letra B.
às normas grama- lares, neologismos
Caracte- 2. (INEP - ENEM - 2020) Seixas era homem honesto; mas ao
ticais) e utilização (palavras inven-
rísticas atrito da secretaria e ao calor das salas, sua honestidade
de vocabulário tadas) e palavras
extenso; abreviadas, como havia tomado essa têmpera flexível da cera que se molda
vc, cê e tá. às fantasias da vaidade e aos reclamos da ambição.
Sofre influência de Era incapaz de apropriar-se do alheio, ou de praticar
variações culturais um abuso de confiança; mas professava a moral fácil e
e regionais. cômoda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade.
Segundo essa doutrina, tudo é permitido em matéria
Situações mais de amor; e o interesse próprio tem plena liberdade,
formais, como desde que se transija com a lei e evite o escândalo.
Utilizada em con-
entrevistas de em-
versas cotidianas, ALENCAR, J. Senhora. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
pregos, palestras,
em mensagens de Acesso em: 7 out. 2015.
concursos públicos
texto enviadas por
e documentos
celular, chats. A literatura romântica reproduziu valores sociais em
Quando oficiais.
Normalmente é sintonia com seu contexto de mudanças. No fragmen-
se usa Geralmente, é uti-
usada em conver- to de Senhora, as concepções românticas do narrador
lizada quando se
sas entre amigos repercutem a
dirige a superiores,
e familiares. O uso
autoridades ou ao
mais comum se dá a) resistência à relativização dos parâmetros éticos.
público em geral.
quando se fala. b) idealização de personagens pela nobreza de atitudes.
É mais utilizada
quando se escreve. c) crítica aos modelos de austeridade dos espaços
coletivos.
Estou muito Caramba, tô muito d) defesa da importância da família na formação moral
atrasado. atrasado. do indivíduo.
e) representação do amor como fator de aperfeiçoamen-
to do espírito.

Quando observamos a afirmação de que “Seixas era


ESTUDO DE TEXTO (QUESTÕES um homem honesto”, “incapaz de apropriar-se do
OBJETIVAS SOBRE TEXTOS alheio”, “incapaz de praticar um abuso de confian-
ça”, mas que por outro lado “professava a moral
DE CONTEÚDO LITERÁRIO OU fácil e cômoda, tão cultivada atualmente em nossa
INFORMATIVO OU CRÔNICA) sociedade” e “sua honestidade havia tomado essa
têmpera flexível da cera que se molda às fantasias
da vaidade e aos reclamos da ambição” é evidente
que exista uma resistência à relativização dos parâ-
EXERCÍCIOS COMENTADOS metros éticos. Resposta: Letra A.

1. (INEP - ENEM - 2020) Montaigne deu o nome para um 3. (ENEM – 2009) Gênero dramático é aquele em que o artista
novo gênero literário; foi dos primeiros a instituir na usa como intermediária entre si e o público a representa-
literatura moderna um espaço privado, o espaço do ção. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação.
“eu”, do texto íntimo. Ele cria um novo processo de A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada
escrita filosófica, no qual hesitações, autocríticas, cor- à apresentação por atores em um palco, atuando e dialo-
reções entram no próprio texto. gando entre si. O texto dramático é complementado pela
COELHO. M. Montaigne. São Paulo Publicita. 2001 (adaptado). atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma
estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de
O novo gênero de escrita aludido no texto é o(a) personagens que devem estar ligados com lógica uns aos
outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que
a) confissão, que relata experiências de transformação. é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir
b) ensaio, que expõe concepções subjetivas de um tema. das personagens encadeadas à unidade do efeito e segun-
c) carta, que comunica informações para um conhecido. do uma ordem composta de exposição, conflito, complica-
d) meditação, que propõe preparações para o conhecimento. ção, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que
e) diálogo, que discute assuntos com diferentes é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais
interlocutores. em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o
autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real
O gênero ensaio se caracteriza por ser um texto por meio da representação.
de caráter opinativo, ou seja, através dele se expõe
ideias, críticas, reflexões e impressões pessoais, COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização
14 realizando uma possível avaliação subjetiva sobre Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que E esse alheamento do que na vida é porosidade e
constituem um espetáculo teatral, conclui-se que: comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulhe-
fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua res e sem horizontes.
concepção de forma coletiva. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebi- é doce herança itabirana.
do e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
independente do tema da peça e do trabalho interpre- esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
tativo dos atores. este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados este couro de anta, estendido no sofá da sala de
gêneros textuais, como contos, lendas, romances, visitas;
poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos tex- este orgulho, esta cabeça baixa…
tuais, entre outros. Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na Hoje sou funcionário público.
comunicação teatral, visto que o mais importante é Itabira é apenas uma fotografia na parede.
a expressão verbal, base da comunicação cênica em Mas como dói!
toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico inde- ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
pendem do processo de produção/recepção do espe- 2003.
táculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas
diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral. Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do
movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
A criação de um espetáculo acontece de forma cole- penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poetica-
tiva, em cenário que corresponda ao tema da peça e mente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poe-
ao trabalho interpretativo dos atores, que assumem sia é feita de uma relação tensa entre o universal e o
a importância central da peça, seguidos dos efeitos particular, como se percebe claramente na construção
de luz e som. Essa afirmação invalida as alternati- do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os
vas a, b, d e e. Além disso, há vários textos cênicos procedimentos de construção do texto literário e as
que se originaram de contos, lendas, romances, poe- concepções artísticas modernistas, conclui-se que o
sias e crônicas, entre outros. Resposta: Letra C. poema acima:

4. (ENEM – 2009) Assinale a alternativa que que melhor des- a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao
creve este trecho de Juca Pirama, de Gonçalves Dias. tom contestatório e à utilização de expressões e usos
linguísticos típicos da oralidade.
“IV b) apresenta uma característica importante do gênero
Meu canto de morte, lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados
Guerreiros, ouvi: históricos.
Sou filho das selvas, c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
Nas selvas cresci; comunidade, por intermédio de imagens que represen-
Guerreiros, descendo tam a forma como a sociedade e o mundo colaboram
Da tribo tupi. para a constituição do indivíduo.
Da tribo pujante, d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
Que agora anda errante inutilidade do poeta e da poesia em comparação com
Por fado inconstante, as prendas resgatadas de Itabira.
Guerreiros, nasci; e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da
Sou bravo, sou forte, individualidade, da saudade da infância e do amor pela
Sou filho do Norte; terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.” O gênero lírico é caracterizado pela subjetividade,
pela emoção e pelo sentimento do eu-lírico. Suas
a) Possui características do gênero lírico e do épico. experiências em Itabira, de acordo com o texto, o
b) Possui características do gênero épico e dramático. fizeram triste, orgulhoso e habituado ao sofrimento
c) Possui características do gênero lírico e do dramático e à dor. Resposta: Letra C.
d) Possui características apenas do épico.
6. (CPCON – 2016) Leia o texto a seguir para responder
Embora seja um poema narrativo, com uma musi- à questão 1
LÍNGUA PORTUGUESA

calidade que alterna versos contos e rimas que


ajudam a dar o ritmo da aventura de um herói, o Tempos Loucos – Parte 2
lirismo também é um ponto forte no poema. Respos-
ta: Letra A. Os adultos que educam hoje vivem na cultura que
incentiva ao extremo o consumo. Somos levados a
5. (ENEM – 2009) consumir de tudo um pouco: além de coisas materiais,
consumimos informações, ideias, estilos de ser e de
Confidência do Itabirano viver, conceitos que interferem na vida (qualidade de
Alguns anos vivi em Itabira. vida, por exemplo), o sexo, músicas, moda, culturas
Principalmente nasci em Itabira. variadas, aparência do corpo, a obrigatoriedade de ser
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. feliz etc. Até a educação escolar virou item de consu-
Noventa por cento de ferro nas calçadas. mo agora. A ordem é consumir, e obedecemos muitas
Oitenta por cento de ferro nas almas. vezes cegamente a esse imperativo. 15
Quem viveu sem usar telefone celular por muito tempo d) Artigo de opinião, por ser um texto argumentativo que
não sabe mais como seria a vida sem essa inovação aborda um tema polêmico e de interesse social.
tecnológica, por exemplo. O problema é que a oferta e) Depoimento, por narrar acontecimentos de vida dos
cria a demanda em sociedades consumistas, que é o jovens.
caso atual, e os produtos e as ideias que o mercado
oferece passam a ser considerados absolutamente Como podemos notar pela leitura, o texto apresenta
necessários a partir de então. a opinião da autora sobre um tema bem atual que
A questão é que temos tido comportamento exemplar envolve o consumo de bens em excesso e a criação
de consumistas, boa parte das vezes sem crítica algu- de indivíduos nesse sistema. Sobre a configuração
ma. Não sabemos mais o que é ter uma vida simples do texto, podemos identificar bem a tese defendida
porque almejamos ter mais, por isso trabalhamos mais por Sayão, as informações que compreendem os
etc. Vejam que a ideia de lazer, hoje, faz todo sentido argumentos desenvolvidos e a retomada da tese ini-
para quase todos nós. Já a ideia do ócio, não. Ou seja: cial na conclusão, dando ao texto um teor de gênero
para descansar de uma atividade, nos ocupamos com opinativo. Resposta: Letra D.
outra. A vadiagem e a preguiça são desvalorizadas.
Bem, é isso que temos ensinado aos mais novos, mais 7. (PREFEITURA DE CONTAGEM – 2016)
do que qualquer outra coisa. Quando uma criança de
oito anos pede a seus pais um celular e ganha, ensi-
namos a consumir o que é oferecido; quando um filho
pede para o pai levá-la ao show do RBD, e este leva
mesmo se considera o espetáculo ruim, ensinamos a
consumir, seja qual for a estética em questão; quando
um jovem pede uma roupa de marca para ir a uma fes-
ta e os pais dão, ensinamos que o que consumimos é
mais importante do que o que somos.
Não há problema em consumir; o problema passa a
existir quando o consumo determina a vida. Isso é
extremamente perigoso, principalmente quando os
filhos chegam à adolescência. Há um mercado gene-
roso de oferta de drogas. Ensinamos a consumir des-
de cedo e, nessa hora, queremos e esperamos que
eles recusem essa oferta. Como?!
Na educação, essa nossa característica leva a conse-
quências sutis, mas decisivas na formação dos mais
novos. Como exemplo, podemos lembrar que estes
aprendem a avaliar as pessoas pelo que elas aparen-
tam poder consumir e não por aquilo que são e pelas
ideias que têm e que o grupo social deles é formado por Fonte: Internet. Acessado em: 01/03/21.
pares que consomem coisa semelhantes. Não é à toa
que os pequenos furtos são um fenômeno presente em Considerando-se que os gêneros textuais apresentam
todas as escolas, sejam elas públicas ou privadas.
objetivos distintos, pode-se afirmar que é objetivo do
Nessa ideologia consumista, é importante considerar
texto:
que os objetos perdem sua primeira função. Um car-
ro deixa de ser um veículo de transporte, um telefone
celular deixa de ser um meio de comunicação; ambos a) Apresentar um produto para o leitor.
passam a significar status, poder de consumo, condi- b) Persuadir o leitor a aderir a uma determinada ideia.
ção social, entre outras coisas. c) Discutir um problema importante do cotidiano.
A educação tem o objetivo de formar pessoas autôno- d) Argumentar sobre a importância da preservação da
mas e livres. Mas, sob essa cultura do consumo, esses água.
dois conceitos se transformaram completamente e
perderam o seu sentido original. Os jovens hoje acre- O texto apresenta uma peça publicitária que busca
ditam que têm liberdade para escolher qualquer coi- persuadir o leitor a realizar uma determinada ação.
sa, por exemplo. Na verdade, as escolhas que fazem No caso em questão, busca-se que o leitor economi-
estão, na maioria das vezes, determinadas pelo con- ze água. Os gêneros publicitários usam, predomi-
sumo e pela publicidade. Tempos loucos, ou não? nantemente, a sequência textual injuntiva, na qual
predomina verbos no imperativo, como os verbos
Rosely Sayão. utilizados na primeira oração do cartaz avaliado.
Fonte: https://bit.ly/3jCKFT1. Acessado em 18/09/2020. Resposta: Letra B.

O texto pode ser considerado:

a) Resenha, porque tem a finalidade de criticar, avaliar e


orientar o leitor, estimulando ou desestimulando-o ao
TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS
consumismo. TEXTUAIS
b) Relato pessoal, pois tem o objetivo de relatar expe-
riências vividas, episódios marcantes na vida de quem CONHECENDO OS TIPOS TEXTUAIS
escreve.
c) Gênero Jornalístico Notícia, pois tem a intenção de Tipos ou sequências textuais são unidades que
informar o leitor sobre os valores que regem o consu- estruturam o texto. Para Bronckart (1999 apud CAVAL-
16 mismo, de forma objetiva e impessoal. CANTE, 2013), “são unidades estruturais, relativamente
autônomas, organizadas em frases”. Os tipos textuais Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati-
marcam uma forma de organização da estrutura do vo pode ser caracterizado por sete aspectos:
texto que se molda a depender do gênero discursivo e
z Situação inicial: envolve a “quebra” de um equi-
da necessidade comunicativa. Por exemplo, há gêneros
líbrio, o qual demanda uma situação conflituosa;
que apresentam a predominância de narrações – con- z Complicação: desenvolvimento da tensão apre-
tos, fábulas, romances, história em quadrinhos etc –, sentada inicialmente;
em outros predomina a argumentação – redação do z Ações (para o clímax) – Acontecimentos que
ENEM, teses, dissertações, artigo de opinião etc. ampliam a tensão;
No intuito de conceituar melhor os tipos textuais, z Resolução: Momento de solução da tensão;
inspiramo-nos em Cavalcante (2013) e apresentamos z Situação final: Retorno da situação equilibrada;
essa figura que demonstra como podemos identificar os z Avaliação: Apresentação de uma “opinião” sobre
tipos textuais e suas principais características, tendo em a resolução;
vista que cada sequência textual apresenta característi- z Moral: Apresentação de valores morais que a histó-
ria possa ter apresentado.
cas próprias as quais, conforme mencionamos, pouco
ou nada sofrem em alterações, mantendo uma estrutu- Esses sete passos podem ser encontrados no seguin-
ra linguística quase rígida que nos permite classificar os te exemplo, a canção Era um garoto que como eu...
tipos textuais em 5 categorias (Narrativo; Descritivo; Vamos ler e identificar essas características, bem
Expositivo; Instrucional; Argumentativo). como aprender a identificar outros pontos do tipo tex-
tual narrativo.
GÊNERO TEXTUAL
Era um garoto que como eu
1. Situação
Amava os Beatles e os Rolling
inicial: pre-
Stones
FRASES domínio de
TIPO TEXTUAL TEXTO Girava o mundo sempre a cantar
equilíbrio
As coisas lindas da América

Não era belo, mas mesmo assim


A partir desse esquema, podemos identificar que a Havia uma garota afim
orientação gramatical mantida pelas frases apresen- Cantava Help and Ticket to Ride
tam marcas linguísticas, assinalando o tipo textual Oh Lady Jane, Yesterday 2. Complica-
predominante que o texto deve manter, organizado Cantava viva à liberdade ção: início da
pelas marcas do gênero textual a qual o texto pertence. Mas uma carta sem esperar tensão
Da sua guitarra, o separou
TIPO TEXTUAL Fora chamado na América
Stop! Com Rolling Stones
Classifica-se conforme as marcas linguísticas
apresentadas no texto. Também é chamado de Stop! Com Beatles songs
sequência textual Mandado foi ao Vietnã 3. Clímax
Lutar com vietcongs
GÊNERO TEXTUAL
Classifica-se conforme a função do texto, atribuí- Era um garoto que como eu
da socialmente Amava os Beatles e os Rolling
4. Resolução
Stones
Girava o mundo, mas acabou
Uma última informação muito importante sobre
tipos textuais que devemos considerar é que nem todos Fazendo a guerra no Vietnã
texto é composto apenas por um tipo textual, o que ocor- Cabelos longos não usa mais
re é a existência de predominância de algumas sequên- Não toca a sua guitarra e sim
Um instrumento que sempre dá 6. Situação
cias em detrimento de outras, de acordo com o texto.
A mesma nota, final
Dito isso, vamos seguir nossos estudos aprendendo a
ra-tá-tá-tá 7. Avaliação
diferenciar cada classe de tipos textuais, reconhecendo Não tem amigos, não vê garotas
suas principais características e marcas linguísticas. Só gente morta caindo ao chão
Ao seu país não voltará
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS E SUAS
Pois está morto no Vietnã
LÍNGUA PORTUGUESA

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs
Narrativo 8. Moral
Stop! Com Beatles songs
No peito, um coração não há
Os textos compostos predominantemente por se- Mas duas medalhas sim
quências narrativas cumprem o objetivo de contar
uma história, narrar um fato, por isso precisam man-
Essas sete marcas que definem o tipo textual narra-
ter a atenção do leitor/ouvinte. Para tal, lançam mão tivo podem ser resumidas em marcas de organização
de algumas estratégias, como a organização dos fatos linguística caracterizadas por: presença de marcado-
a partir de marcadores temporais, espaciais, inclusão res temporais e espaciais; verbos, predominante-
de um momento de tensão, chamado de clímax, e um mente, utilizados no passado; presença de narrador
desfecho que poderá ou não apresentar uma moral. e personagens. 17
Importante!

Os gêneros textuais que são, predominantemente, narrativos, apresentam outras tipologias textuais em
sua composição, tendo em vista que nenhum texto é composto exclusivamente por uma sequência textual.
Por isso, devemos sempre identificar as marcas linguísticas que são predominantes em um texto, a fim de
classificá-lo.

Para sua compreensão, também é preciso saber o que são marcadores temporais e espaciais.
São formas linguísticas como advérbios, pronomes, locuções etc. utilizados para demarcar um espaço físico
ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elementos são essenciais para marcar o equilíbrio e a
tensão da história, além de garantirem a coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais e espaciais: Atual-
mente, naquele dia, nesse momento, aqui, ali, então...
Um outro indicador do texto narrativo é a presença do narrador da história. Por isso, é importante aprender-
mos a identificar os principais tipos de narrador de um texto:

Narrador: também conhecido como foco narrativo é o responsável por contar os fatos que compõem o texto

Narrador personagem: Verbos flexionados em 1ª pessoa. O narrador participa dos fatos

Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pessoa. O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém não
participa das ações

Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados em 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não
participa das ações, porém o fluxo de consciência do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa

Alguns gêneros são conhecidos por suas marcas predominantemente narrativas, são eles: notícia, diário, con-
to, fábula, entre outros. É importante reafirmar que o fato de esses gêneros serem essencialmente narrativos não
significa que não possam apresentar outras sequências em sua composição.

Para diferenciar os tipos textuais e proceder na classificação correta, é sempre essencial prestar atenção nas
marcas que predominam no texto.

Após demarcarmos as principais características do tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as marcas
mais importantes da sequência textual classificada como descritiva.

Descritivo

O tipo textual descritivo é marcado pelas formas nominais que dominam o texto. Os gêneros que utilizam esse
tipo textual, geralmente, utilizam a sequência descritiva como suporte para um propósito maior. São exemplos
de textos cujo tipo textual predominante é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio, classificados, lista
de compras etc. Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha que relata suas impressões a respeito de alguns
aspectos do território que viria a ser chamado de Brasil no ano de 1500.

Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo,
assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam
mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta;
e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos
pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.

Fonte: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha

Note que apesar da presença pontual da sequência narrativa, há predominância da descrição do cenário e dos
personagens, evidenciada pela presença de adjetivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, descobertas etc). A
carta de Pero Vaz constitui uma espécie de relato descritivo para manter a comunicação entre a Corte Portuguesa
e os navegadores. Todavia, considerando as emergências comunicativas do mundo moderno, a carta tornou-se
um gênero menos usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros como, por exemplo, o e-mail.
A sequência descritiva também pode se apresentar de forma esquemática em alguns gêneros, como podemos
ver no cardápio a seguir:

18
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-divulgar-cardapio-e-ajudar-o-
pai-a-vender-na-web.ghtml

Note que há presença de muitos adjetivos, locuções e substantivos que buscam levar o leitor a imaginar o
objeto descrito. O gênero acima apresenta a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne etc) com uso de
adjetivos ou locuções adjetivas (de queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc). Ele está organizado de forma
esquematizada em seções (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira que facilita a leitura (o pedido, no
caso) do cliente. 19
Organização do texto descritivo: Assim como os tipos textuais apresentados ante-
riormente, os textos expositivos também apresentam
uma estrutura que mistura elementos tipológicos de
outras sequências textuais, tendo em vista que, para
apresentar fatos e ideias, utilizamos aspectos descriti-
vos, narrativos e, por vezes, injuntivos.
É importante destacar que os textos expositivos
podem, muitas vezes, serem confundidos com textos
argumentativos, uma vez que existem textos argu-
mentativos que são classificados como expositivos,
pois utilizam exemplos e fatos para fundamentar uma
argumentação.
Outra importante diferença entre a sequência
expositiva e a argumentativa é que esta apresenta uma
opinião pessoal, enquanto aquela não abre margem
para a argumentação, uma vez que o fato exposto
é apresentado como dado, ou seja, o conhecimento
sobre uma questão não é posto em debate.
Apresenta-se um conceito e expõem-se as caracte-
rísticas desse conceito sem espaço para opiniões.
Expositivo
Marcas linguísticas do texto expositivo:
O texto expositivo visa apresentar fatos e ideias a
z Apresenta informações sobre algo ou alguém, pre-
fim de deixar claro o tema principal do texto. Nesse tipo
sença de verbos de estado;
textual, é muito comum a presença de dados, informa-
z Presença de adjetivos, locuções e substantivos que
ções científicas, citações diretas e indiretas, que servem
organizam a informação;
para embasar o assunto do qual o texto trata. Para lus-
z Desenvolve-se mediante uso de recursos enumerativos;
trar essa explicação, veja o exemplo a seguir:
z Presença de figuras de linguagem como metáfora
e comparação;
z Pode apresentar um pensamento contrastivo ao
final do texto.

Os textos expositivos são comuns em gêneros cien-


tíficos ou que desencadeiam algum aspecto de curiosi-
dade nos leitores, como o exemplo a seguir:

VEJA 10 MULHERES INVENTORAS QUE REVOLUCIO-


NARAM O MUNDO
08/03/2015 07h43 - Atualizado em 08/03/2015 07h43

Hedy Lamarr - conexão wireless

Além de atriz de Hollywood, famosa pelo longa “Ecstasy”


(1933), a austríaca naturalizada norte-americana Hedy
Lamarr foi a inventora de uma tecnologia que permitia
controlar torpedos à distância, durante a Segunda Guer-
ra Mundial, alterando rapidamente os canais de frequên-
cia de rádio para que não fossem interceptados pelo ini-
migo. Esse conceito de transmissão acabou, mais tarde,
permitindo o desenvolvimento de tecnologias como o
Wi-Fi e o Bluetooth.
Fonte: https://glo.bo/2Jgh4Cj Acessado em: 07/09/2020. Adaptado.

Instrucional ou Injuntivo

O tipo textual instrucional, ou injuntivo, é caracteri-


Fonte: https://www.boavontade.com/pt/ecologia/infografico-dados- zado por estabelecer um “propósito autônomo” (CAVAL-
mostram-panorama-mundial-da-situacao-da-agua CANTE, 2013, p. 73) que busca convencer o leitor a
realizar alguma tarefa. Esse tipo textual é predominante
O infográfico acima apresenta as informações per- em gêneros como: bula de remédio, tutoriais na internet,
tinentes sobre o panorama mundial da situação da horóscopos e também nos manuais de instrução.
água no ano de 2016. O gênero foi construído com o A principal marca linguística dessa tipologia é a
objetivo de deixar o leitor informado a respeito do presença de verbos conjugados no modo imperati-
tema tratado, e para isso, o autor dispõe, além da lin- vo e também em sua forma infinitiva. Isso se deve
guagem clara e objetiva, de recursos visuais para atin- ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e
20 gir esse objetivo. levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero.
Para que possamos identificar corretamente essa A seguir, apresentamos um quadro sintético com
tipologia textual, faz-se necessário observar um gêne- algumas estruturas linguísticas que funcionam como
ro textual que apresente esse tipo de texto, como o operadores argumentativos e que facilitam a escrita e
exemplo a seguir: a leitura de textos argumentativos:

OPERADORES ARGUMENTATIVOS
Como faço para criar uma conta do Instagram?
É incontestável que...
Para criar uma conta do Instagram pelo aplicativo:
Tal atitude é louvável, repudiável, notável...
1. Baixe o aplicativo do Instagram na App Store (iPhone)
É mister, é fundamental, é essencial...
ou Google Play Store (Android).
2. Depois de instalar o aplicativo, toque no ícone
para abri-lo. Essas estruturas, se utilizadas adequadamente no
3. Toque em Cadastrar-se com e-mail ou número de texto argumentativo, expõem a opinião do autor, aju-
telefone (Android) ou Criar nova conta (iPhone) e insira dando na defesa de seu ponto de vista e construindo a
seu endereço de e-mail ou número de telefone (que exigi- estrutura argumentativa desse tipo textual.
rá um código de confirmação), toque em Avançar. Tam-
bém é possível tocar em Entrar com o Facebook para se
cadastrar com sua conta do Facebook. Importante!
4. Se você se cadastrar com o e-mail ou número de te-
lefone, crie um nome de usuário e uma senha, preencha O tipo textual argumentativo não pode ser
as informações do perfil e toque em Avançar. Se você confundido com o gênero textual dissertativo-
se cadastrar com o Facebook, será necessário entrar na -argumentativo. Esse gênero é composto por
conta do Facebook, caso tenha saído dela. sequências argumentativas, mas também há
a apresentação, dissertação de ideias, a fim de
Fonte: https://www.facebook.com/help/instagram/. Acessado em: alcançar a persuasão do ouvinte/leitor. O Exame
07/09/2020.
Nacional do Ensino Médio – ENEM é um certame
que cobra esse gênero em sua prova de redação.
No exemplo acima, podemos destacar a presença
de verbos conjugados no modo imperativo, como: bai-
xe, toque, crie, além de muitos verbos no infinitivo, Agora que já conhecemos os cinco principais tipos
como: instalar, cadastrar, avançar. Outra caracte- textuais, vamos exercitar nossos conhecimentos com
rística dos textos injuntivos é a enumeração de passos as seguintes questões de concurso:
a serem cumpridos para a realização correta da tare-
fa ensinada e também a fim de tornar a leitura mais
didática.
É importante lembrar que a principal marca EXERCÍCIOS COMENTADOS
linguística dessa tipologia é a presença de verbos
conjugados no modo imperativo e em sua forma infi- 1. (COMPERVE – 2017) A questão refere-se ao texto
nitiva. Isso se deve ao fato de essa tipologia buscar abaixo.
persuadir o leitor e levá-lo a realizar as ações mencio-
nadas pelo gênero. Há vida fora da Terra?

Argumentativo 1º Em 15 de agosto de 1977, um radiotelescópio do


Instituto Seti (“Busca por Inteligência Extraterrestre”,
O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais na sigla em inglês), nos EUA, captou uma mensagem
complexo e, por vezes, pode apresentar um maior estranha. Foi um sinal de rádio que durou apenas 72
grau de dificuldade na identificação, bem como em segundos, só que muito mais intenso que os ruídos
comuns vindos do Cosmo. Ao analisar as impressões
sua análise. O texto argumentativo tem por objetivo
em papel feitas pelo aparelho, o cientista Jerry Ehman
a defesa de um ponto de vista, portanto, envolve a
tomou um susto. O sistema captara um sinal 30 vezes
defesa de uma tese e a apresentação de argumen-
mais forte que o normal. Seria alguma civilização ten-
tos que visam sustentar essa tese.
tando fazer contato? Ehman ficou tão impressionado
Um exemplo típico desse tipo de texto argumen-
que circulou os dados do computador e escreveu ao
tativo são as redações do ENEM. Nesse tipo de texto,
lado: “Wow!”. O caso ficou conhecido como Wow sig-
a introdução apresenta o ponto de vista (tese) a ser nal  (sinal “uau”!), e até hoje é o episódio mais mar-
defendido pelo autor de maneira contextualizada. No cante na busca por inteligência extraterrestre. O Seti
LÍNGUA PORTUGUESA

segundo e terceiro parágrafos, o autor pode utilizar e outras instituições tentaram detectar o sinal várias
estratégias argumentativas para sustentar o seu ponto vezes depois, mas ele nunca foi encontrado.
de vista, como dados estatísticos, definições, exempli- 2º Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam
ficações, alusões históricas e filosóficas, referências que o contato com extraterrestres é mera questão
a outras áreas do conhecimento etc. Na conclusão, o de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10
autor conclui, ratificando seu ponto de vista, e apre- (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer
senta possíveis soluções para o problema em questão. contato com ETs em meados deste século é 8”, acre-
Outro aspecto importante dos textos argumentati- dita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York.
vos é que eles são compostos por estruturas linguísti- Esse otimismo tem justificativa. “Pelo menos 25% das
cas conhecidas como operadores argumentativos, que estrelas têm planetas. E, dessas estrelas, pelo menos
organizam as orações subordinadas, estruturas mais a metade tem planetas semelhantes à Terra”, explica
comuns nesse tipo textual. o físico Marcelo Gleiser. Isso significa que, na nossa 21
galáxia, podem existir até 10 bilhões de planetas pare- c) Explicação e descrição.
cidos com o nosso. Uma quantidade imensa. Ou seja: d) Explicação e injunção.
pela lei das probabilidades, é muito possível que haja
civilizações alienígenas. O satélite Kepler, da Nasa, já No primeiro parágrafo, há a narração de uma his-
catalogou 2740 planetas parecidos com a Terra, onde tória sobre um contato de possíveis extraterrestres
água líquida e vida talvez possam existir. Um dos mais com a Terra; para contar essa história, o autor
“próximos” é o Kepler 42d, a 126 anos -luz do Sol (um utilizou muitos verbos no passado, predominando
ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros). trechos como este: “o cientista Jerry Ehman tomou
3º Kaku acredita que, para civilizações muito avan- um susto”. Já o segundo parágrafo apresenta a pre-
çadas, essa distância não seria um problema – pois dominância de informações que visam a explicar o
elas poderiam manipular o espaço-tempo e utilizar fenômeno narrado anteriormente, o que fica claro
portais no Cosmos, como nos filmes de ficção cientí- por trechos assim: “Esse otimismo tem justificati-
fica. Ok, mas então por que até hoje esse pessoal não va. ‘Pelo menos 25% das estrelas têm planetas. E,
veio aqui? “Se são mesmo tão avançados, talvez não dessas estrelas, pelo menos a metade tem planetas
estejam interessados em nós”, opina Kaku. “É como a semelhantes à Terra’, explica o físico Marcelo Glei-
gente ir a um formigueiro e dizer às formigas: ‘Levem- ser”. Resposta: Letra B.
-nos a seu líder!’.” Para outros cientistas, contudo, a
existência de civilizações avançadas é mera especula- 2. (FUNDEP – 2019)
ção. E explicar por que elas não colonizaram a Terra já
é querer dar uma de psicólogo de aliens. Circuito Fechado
4º Tudo bem que existem bilhões de terras por aí. E Ricardo Ramos
que a probabilidade de existir vida lá fora é muito gran-
de. Mas não significa que seja vida inteligente. “Você
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Esco-
pode ter um planeta cheio de vida, mas formada por
va, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pin-
amebas e outros seres unicelulares”, acredita Glei-
cel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria,
ser. Afinal, com a Terra foi assim. A vida aqui existe
água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca,
há cerca de 3,5 bilhões de anos. Mas durante quase camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata,
todo esse tempo (3 bilhões de anos), só havia seres paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves,
unicelulares: as cianobactérias, também chamadas de lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jor-
algas verdes e azuis. nal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres,
5º Além disso, não basta o tempo passar para que as guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo.
formas de vida se tornem complexas e inteligentes. A Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone,
função essencial da vida é se adaptar bem ao ambien- agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas,
te onde ela está. A vida só muda – na esteira de algu- espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso
ma mutação genética – se uma mudança ambiental com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bande-
exigir que ela mude. Assim, se o ambiente não mudar ja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone,
e a vida estiver bem adaptada, as mutações genéticas relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos,
que, em geral, aparecem ao longo de gerações não vão bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cin-
fazer diferença. Tudo depende da história de cada pla- zeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro,
neta. Se o asteroide que matou os dinossauros há 65 fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes,
milhões de anos não tivesse caído aqui na Terra, e os xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadronegro, giz,
dinossauros não tivessem sido extintos, não estaría- papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras,
mos aqui. copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara.
6º “Não temos nenhuma prova ou argumento forte Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de den-
sobre a existência de vida inteligente fora da Terra”, tes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone,
diz Gleiser. “Existe vida? Certamente. Mas como não revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone inter-
entendemos bem como a evolução varia de planeta no, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel,
para planeta, é muito difícil prever ou responder se relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta,
existe ou não vida inteligente fora daqui”, completa. telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xíca-
“Se existe, a vida inteligente fora da Terra é muito rara.” ra, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço
Decepcionante. de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Pol-
7º Mas antes de lamentar a solidão da humanidade trona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos,
no Cosmos, saiba que ela pode ser uma boa notícia. talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fós-
Porque, se aliens inteligentes realmente existirem, não foro. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltro-
serão necessariamente bondosos. “Se eles algum dia na. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos,
nos visitarem, acho que o resultado será o mesmo que meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos.
quando Cristóvão Colombo chegou à América. Não foi Coberta, cama, travesseiro.
bom para os índios nativos”, afirmou, certa vez, o físi-
co Stephen Hawking. Disponível em: <https://tinyurl.com/y4e7n4u7>. Acesso em: 17 jul.
2019.
Disponível em:< http://super.abril.com.br/ciencia/ha-vida-fora-da-
terra-2/>. Acesso em: 7 jul. 2017. [Adaptado] A respeito da tipologia desse texto, é correto afirmar
que ele é:
No primeiro e no segundo parágrafos, predominam,
respectivamente: a) dissertativo-argumentativo.
b) dissertativo-expositivo.
a) Narração e descrição. c) descritivo.
22 b) Narração e explicação. d) narrativo.
O texto descritivo é caracterizado pela forte presen-
ça de formas nominais, conforme o texto em debate.
Resposta: Letra C.

GÊNEROS TEXTUAIS

Quando pensamos em uma definição para gêne-


ros textuais, somos levados a inúmeros autores que
buscaram definir e classificar esses elementos, e, ini-
cialmente, é interessante nos lembrarmos dos gêne-
ros literários que estudamos na escola. Podemos nos
remeter aos conceitos de Tragédia e Comédia, refe-
rentes aos clássicos da literatura grega. Afinal, quem Fonte: https://bit.ly/34yptsR. Acessado em: 12/09/2020.
nunca ouviu falar das histórias de Ilíada ou A Odis-
seia, ambas de Homero? Mas o que esses textos têm O gênero anúncio apresenta uma clara referên-
em comum? Inicialmente, você pode ser levado a pen- cia ao gênero contos de fada, porém, a estrutura des-
sar que nada, além do fato de terem sido escritos pelo se gênero que é, predominantemente, narrativo foi
mesmo autor; porém, a estrutura dessas histórias res- modificada para que o propósito do anúncio fosse
peita um padrão textual estabelecido e reconhecido alcançado, ou seja, persuadir o leitor e levá-lo a adqui-
na época em que foram escritas.
rir os produtos da marca. No caso do gênero anún-
De maneira análoga, quando pensamos em gêne-
cio publicitário, usar outros gêneros e modificar sua
ros textuais, devemos identificar os elementos que
estrutura básica é uma estratégia que é estabelecida a
caracterizam textos, aparentemente, tão diferentes.
fim de que a principal função do anúncio se cumpra,
Logo, da mesma forma que comparamos as estruturas
qual seja: vender um produto.
de Ilíada e Odisseia, é preciso buscar as semelhanças
entre uma notícia e um artigo de opinião, por exem- A partir desses exemplos, já podemos enumerar
plo, e também é fundamental identificar as razões que mais algumas características comuns a todos os tipos
nos levam a classificar cada um desses gêneros com de gêneros textuais: presença de aspectos sociais e o
termos diferentes. propósito de um gênero, para alguns autores, como
Swales (1990), chamado de propósito comunicativo.
Segundo esse autor, os gêneros têm a função de rea-
Importante! lizar um objetivo ou objetivos; então, ele sustenta a
posição de que o propósito comunicativo é o critério
Esse ponto de interseção é o que podemos esta-
de maior importância, pois é o que motiva uma ação e
belecer como os principais aspectos de classifi-
é vinculado ao poder do autor.
cação de um gênero textual.
Além disso, um gênero textual, para ser identifica-
do como tal, é amparado por um protótipo textual, o
Dessa forma, conforme Maingueneau (2018, p. qual também pode ser reconhecido como estereótipo
71), o ponto de interseção que estabelece sobre qual textual, que resguarda características básicas do gêne-
gênero estamos tratando é indicado por “rotinas de ro. Por exemplo, ao olharmos para o anúncio mencio-
comportamentos estereotipados e anônimos que se nado acima, identificamos traços do gênero contos de
estabilizaram pouco a pouco, mas que continuam fada tanto na porção textual do anúncio que começa
sujeitos a uma variação contínua”. Logo, o primeiro com a frase: “era uma vez...” quanto pelas imagens
elemento que precisamos identificar para classificar que remetem ao conto da “Branca de Neve”.
um gênero é o papel social, marcado pelos compor- Tais marcas, sobretudo as linguísticas, auxiliam os
tamentos e pelas “rotinas” humanas típicas de quem falantes de uma comunidade a reconhecer o gênero e
vive em sociedade e, portanto, precisa se fazer com- também a escrever esse gênero quando necessitam.
preender tão bem quanto ser compreendido. Isso é o que torna a característica da prototipicidade
Esse é sem dúvidas o elemento que melhor dife-
tão importante no reconhecimento e na classificação
rencia tipos e gêneros textuais, uma vez que os tipos
de um gênero. Ademais, os traços estereotipados de
textuais não têm apelo ao ambiente social e são mui-
um gênero devem ser reconhecidos por uma comu-
to mais identificáveis por suas marcas linguísticas. O
nidade, reafirmando o teor social desses elementos e
LÍNGUA PORTUGUESA

fator social dos gêneros textuais também irá direcio-


estabelecendo a importância de um indivíduo adqui-
nar outros aspectos importantes na classificação des-
ses elementos, justamente devido à dinâmica social rir o hábito da leitura, pois quanto mais se lê, a mais
em que estão inseridos, os gêneros são passíveis de gêneros se é exposto.
alterações em sua estrutura. Portanto, a partir de todas essas informações sobre
Tais alterações podem ocorrer ao longo do tempo, os gêneros textuais, podemos afirmar que, de maneira
tornando o gênero completamente modificado, como resumida, os gêneros textuais são ações linguísti-
se deu com as cartas pessoais e os e-mails, por exem- cas situadas socialmente que servem a propósitos
plo; ou podem ser alterações pontuais que se prestam específicos e são reconhecidos pelos seus traços
a uma finalidade específica e momentânea, como em comum. A seguir, demonstramos uma tabela com
aconteceu com o anúncio, apresentado a seguir, da as características básicas para a correta identificação
loja “O Boticário”: dos gêneros textuais: 23
GÊNEROS TEXTUAIS SÃO: Casal suspeito de assaltos é preso após
z Ações sociais colidir carro na contramão enquanto fugia Manchete
z Ações com configuração prototípica da polícia, em Fortaleza
z Reconhecidos pelos membros de uma comunidade Foram apreendidos três aparelhos celu-
z O propósito de uma ação social lares roubados e uma arma de fogo com Lead
z Divididos em classes seis munições.
Um casal suspeito de realizar assaltos foi
Outra importante característica que devemos refor- preso após capotar um carro ao dirigir na
çar é que os gêneros textuais não são quantificáveis, contramão enquanto fugia da polícia na
existem inúmeros. Justamente pelo fato de os gêneros tarde deste domingo (13), no Bairro Henri-
sofrerem com as relações sociais, que são instáveis, não que Jorge, em Fortaleza.
há um número exato de gêneros textuais que possamos Uma das vítimas, que preferiu não se iden- Corpo
estudar, diferentemente dos tipos textuais. tificar, disse que os assaltantes dirigiam da notícia
em alta velocidade pelas ruas após abor-
GÊNEROS TEXTUAIS TIPOS TEXTUAIS dar de forma fria os pertences. “A mulher
estava conduzindo o carro e o comparsa
Relação com aspectos Associação a aspectos dela abordava as pessoas colocando a
sociais linguísticos arma na cabeça”, afirmou.
Não podem sofrer altera- Fonte: https://glo.bo/35KM591. Acessado em: 14/09/2020.
Podem ser alterados ção, sob pena de serem
reclassificados Na formulação de uma notícia, para que ela atinja
seu propósito de informar, é fundamental que o autor
Estabelecem uma função Organizam os gêneros
do texto seja guiado por essas perguntas a fim de tor-
social textuais
nar seu texto imparcial e objetivo:

Apesar de não existir um número quantificável


de gêneros textuais, podemos estudar a estrutura dos
gêneros mais comuns nas provas de concursos, com o
fito de nos prepararmos melhor e ganharmos tempo
na resolução de questões que envolvam esse assun-
to. Por isso, a seguir, iremos nos deter aos principais
gêneros textuais abordados em importantes bancas
de concursos no país. Posteriormente, trazemos ques-
tões de provas de concursos anteriores que irão nos
auxiliar a praticar esse conteúdo.

Notícia

A notícia é um gênero textual de caráter jornalís- É importante ressaltar que, com o advento das
tico e, como tal, deve apresentar os fatos narrados de redes sociais, tornou-se cada vez mais comum que o
gênero notícia seja divulgado por meio de plataformas
maneira objetiva e imparcial. A notícia pode apresen-
diferentes, como as redes sociais. Isso democratiza a
tar sequências textuais narrativas e descritivas na sua
informação, porém também abre margem para a cria-
composição linguística, por isso, é fundamental sem-
ção de notícias falsas que se baseiam nesse esquema
pre termos em mente as características basilares de de organização das notícias tentando passar alguma
todos os principais tipos textuais, os quais tratamos credibilidade ao público. Então, atualmente, podemos
anteriormente. afirmar que a fonte de publicação é tão importante
Como aprendemos no início deste capítulo, os para o reconhecimento de uma notícia quanto a estru-
gêneros textuais possuem características que os dis- tura padrão do gênero da qual tratamos acima.
tinguem dos tipos textuais, dentre elas o fato de ter O próximo gênero que trataremos é a reportagem
um apelo a questões sociais, um propósito comunica- que guarda sutis diferenças em comparação com a notí-
tivo e apresentar uma configuração mais ou menos cia e também é muito abordada em provas de concursos.
padrão que varia em poucos ou nenhum aspecto
entre os gêneros. Reportagem
Por ser um gênero, a notícia também apresenta
essas características. Seu propósito comunicativo é A reportagem é um gênero textual que, diferen-
informar uma comunidade sobre assuntos de inte- temente da notícia, além de oferecer informações
resse comum, por isso, a notícia deve ser comunicada acerca de um assunto, também apresenta os pontos
com imparcialidade, ou seja, sem que o meio que a de vista sobre um tema, tendo, portanto, um caráter
transmite apresente sua opinião sobre os fatos; outra argumentativo; essa é a principal diferença entre os
importante característica da notícia é a sua configura- gêneros notícia e reportagem.
ção prototípica, seu padrão textual reconhecido por Como vimos anteriormente, a notícia deve ser, ou
leitores de uma comunidade. buscar ser, imparcial, ou seja, não devemos encontrar
Essa configuração própria da notícia é reconheci- nesse gênero a opinião do meio que a divulga. Por
da pelos termos: Manchete, Lead e Corpo da Notícia. isso, nesse texto, as sequências textuais mais encon-
Vejamos na prática como reconhecer o esquema pro- tradas são a narrativa e a descritiva, justamente com
24 totípico desse gênero: a finalidade de se evitar apresentar um ponto de vista.
Porém, a reportagem apresenta as opiniões sobre Artigo de opinião
um mesmo fato, pois essa opinião é o principal “ingre-
diente” dos textos desse gênero que são representados, O artigo de opinião faz parte da ordem de textos
predominantemente, pela sequência argumentativa. que buscam argumentar. Esse gênero usa a argumen-
É importante relembrarmos que o tipo textual tação para analisar, avaliar e responder a uma ques-
argumentativo é organizado em três macro partes: tão controversa. Esse instrumento textual situa-se no
tese, desenvolvimento e conclusão. Por manter esse âmbito do discurso jornalístico, pois é um gênero que
padrão, a reportagem aprofunda-se em temas sociais circula, principalmente, em jornais e revistas impres-
de ampla repercussão e interesse do público, algo que sos ou virtuais. Com o artigo de opinião, temos a dis-
não é o foco da notícia, tendo em vista que a notícia cussão de um problema de âmbito social. E, por meio
busca apenas a divulgação da informação. dessa discussão, podemos defender nossa opinião,
Diante disso, o suporte de veiculação das repor- como também refutar opiniões contrárias às nossas,
tagens é, quase sempre, aquele que faz uso do vídeo, ou ainda, propor soluções para a questão controversa.
como a televisão, o computador, o tablet, o celular. A intenção do escritor ao escolher o artigo de opi-
nião é a de convencer seu interlocutor; para isso, ele
As reportagens têm um caráter de “matérias espe-
terá que usar de informações, fatos, opiniões que
ciais” em jornais de ampla repercussão, mas também
serão seus argumentos. Bräkling apud Ohuschi e Bar-
podem ser veiculadas em suportes escritos, como
bosa aponta:
revistas e jornais, apesar de, com o avanço do uso das
redes sociais, estas são os principais meios de divulga-
O artigo de opinião é um gênero de discurso em que
ção desse gênero atualmente. se busca convencer o outro de uma determinada
Conforme a Academia Jornalística (2019), a repor- ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores por
tagem apresenta informações mais detalhadas sobre meio de um processo de argumentação a favor de
um fato e/ou fenômeno de grande relevância social. uma determinada posição assumida pelo produtor
Isso significa que o repórter deve demonstrar os lados e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É
que compõem a matéria, a fim de que o leitor cons- um processo que prevê uma operação constante de
trua sua própria opinião sobre o tema. sustentação das afirmações realizadas, por meio
A despeito dessas diferenças na construção dos da apresentação de dados consistentes que possam
gêneros mencionados, a reportagem e a notícia guar- convencer o interlocutor (2011. p. 305).
dam semelhanças, como a busca pelas respostas às
Dessa forma, para alcançar o objetivo do gênero,
perguntas O quê? Como? Por quê? Onde? Quando?
o escritor deverá usar diversos conhecimentos, como:
Quem? Essas perguntas norteiam a escrita tanto da
enciclopédicos, interacionais, textuais e linguísticos.
reportagem quanto da notícia, que se diferencia da
É por meio da escolha de determinados recursos lin-
primeira por seu caráter essencialmente informativo.
guísticos que percebemos que nada é por acaso, pois,
a cada escolha há uma intenção: “... toda atividade
NOTÍCIA REPORTAGEM de interpretação presente no cotidiano da linguagem
Apresenta um fato de Questiona fatos e efeitos fundamenta-se na suposição de quem fala tem certas
forma simples e objetiva; de um fato determinado; intenções ao comunicar-se” (KOCH, 2011, p. 22).
Quando queremos dar uma opinião sobre determi-
Apresenta argumentos nado tema, é necessário que tenhamos conhecimento
Objetivo é informar;
sobre um mesmo fato; sobre ele. Por isso, normalmente, os autores de artigos
Apuração dos fatos de opinião são especialistas no assunto por eles abor-
Apuração extensa; dado. Ao escolherem um assunto, os autores devem
objetiva;
considerar as diversas “vozes” já existentes sobre
Conteúdo sem ordem mesmo assunto. E, dependendo da intenção, apoiar
determinada, pode apre- ou negar determinadas vozes.
Conteúdo de curto prazo;
sentar entrevistas, dados, Por isso, a linguagem utilizada pelo articulista de
imagens, etc. um texto de opinião deve ser simples, direta, convin-
Conteúdo segue o mode- cente. Utiliza-se a terceira pessoa, apesar de a primei-
lo da pirâmide invertida ra ser adequada para um artigo de opinião pessoal;
(conf. acima). porém, ao escolher a terceira pessoa do singular, o
articulista consegue dar um tom impessoal ao seu tex-
to, fazendo com que sua produção textual não fique
LÍNGUA PORTUGUESA

Fonte: https://bit.ly/3kD9tvk. Acessado em: 17/09/2020. Adaptado. centrada só em suas próprias opiniões.
Quanto à composição estrutural, Kaufman e Rodri-
É importante ressaltar que nenhum gênero é com- guez (1995) apud Pereira (2008) propõem a seguinte
posto apenas por uma única sequência textual e que, estruturação:
portanto, a reportagem também apresentará esse
paradigma, pois esse gênero é essencialmente argu- z Identificação do tema, acompanhada de seus ante-
mentativo, porém pode apresentar outras sequências cedentes e alcance para situar a questão polêmica;
textuais a fim de alcançar seu objetivo final. z Tomada de posição, exposição de argumentos de
A seguir, daremos continuidade aos nossos estu- modo a justificar a tese;
dos sobre os principais gêneros textuais objeto de pro- z Reafirmação da posição adotada no início da pro-
vas de concurso com um dos gêneros mais comuns em dução, ao mesmo tempo em que as ideias são arti-
provas de seleções: o artigo de opinião. culadas e o texto é concluído. 25
seguir, apresentamos um breve esquema para facili-
ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO ARTIGO DE OPINIÃO
tar a escrita desse gênero, especialmente em certames
Identificação da questão polêmica que cobrem redação.
Introdução
alvo de debate no texto
Tese do autor (posicionamento EDITORIAL – ESTRUTURA TEXTUAL POR
defendido) – Tese contrária (posi- PARÁGRAFOS
Desenvolvimento cionamentos de terceiros) – Acei-
tação ou refutação – Argumentos Apresentação do tema (situando o leitor)
a favor da tese do autor do texto e já com um posicionamento definido.
Parágrafo 1
Ser didático ao apresentar o assunto ao
Fechamento do texto e reforço do leitor
Conclusão
posicionamento adotado
Contextualização do tema, comparando-
-o com a realidade e trazendo as causas
No processo de escrita de qualquer texto, é preci-
Parágrafo 2 e indicativos concretos do problema.
so estar atento aos elementos de coesão que ligam as
Mais uma vez, posicionamento sobre o
ideias do autor aos seus argumentos, porém, nos tex-
assunto
tos argumentativos, é fundamental prestar ainda mais
atenção a esse processo; por isso, muito cuidado com Análise e as possíveis motivações que
a coesão na escrita e na leitura de textos opinativos. tornam o tema polêmico (ou justificativas
A fim de mantermos a linha de pensamento nos Parágrafo 3 de especialista da área). É preciso trazer
estudos de textos argumentativos, seguimos nossa dados factuais, exemplos concretos que
abordagem apresentando outro gênero sempre pre- ilustram a argumentação
sente nas provas de língua portuguesa em concursos Conclusivo, com o posicionamento crí-
públicos: o editorial. Parágrafo 4 tico final, retomando o posicionamento
inicial sem se repetir
Editorial
A seguir, apresentamos nosso último gênero tex-
Até aqui, estudamos dois gêneros com predominân- tual abordado neste material. Lembramos que o
cia de sequência argumentativa. O terceiro será o edi- universo de gêneros textuais é imenso, por isso, é
torial, gênero muito marcante no âmbito jornalístico e impossível apresentar uma compilação de estudos
que expressa a opinião de um veículo de comunicação. com todos os gêneros; apesar disso, trazemos aqui os
Como já debatemos muito sobre a estrutura dos principais gêneros cobrados em avaliações de língua
textos argumentativos de uma forma geral, iremos portuguesa. Seguindo esse critério, o próximo gênero
estudado é a crônica.
nos atentar aqui para as principais características do
gênero editorial e no que ele se diferencia do artigo de
Crônica
opinião, por exemplo.
O gênero crônica é muito conhecido no meio lite-
EDITORIAL - CARACTERÍSTICAS rário no Brasil. Podemos citar ilustres autores que se
z Expressa opinião de um jornal ou revista a respeito tornaram famosos pelo uso do gênero, como Luís Fer-
nando Veríssimo e Marina Colasanti. Também por ser
de um tema atual
um gênero curto de cunho social voltado para temas
z O objetivo desse gênero é esclarecer ou alertar os
atuais, é muito usado em provas de concurso para
leitores sobre alguma temática importante
ilustrar questões de interpretação textual e também
z Busca persuadir os leitores, mobilizando-os a
para contextualizar questões que avaliam a compe-
favor de uma causa de interesse coletivo tência gramatical dos candidatos.
z Sua estrutura também é baseada em: Introdu- As crônicas apresentam uma abordagem cotidia-
ção, Desenvolvimento e Conclusão na sobre um assunto atual e podem ser narrativas ou
argumentativas.
O início de um editorial é bem semelhante ao de
um artigo de opinião: apresenta-se a ideia central
ou problema social a ser debatido no texto, poste- CRÔNICA
CRÔNICA NARRATIVA
riormente segue-se a apresentação do ponto de vista ARGUMENTATIVA
defendido e conclui-se com a retomada da opinião z Defesa de um ponto de
apresentada incialmente. A principal diferença entre vista, relacionado ao
editorial e artigo de opinião é que aquele representa z Limita-se a contar fatos assunto em debate
a opinião de uma corporação, empresa ou instituição. do cotidiano z Uso de argumentos e
z Pode apresentar um fatos
EDITORIAL – MARCAS LINGUÍSTICAS tom humorístico z Também pode ser escri-
z Foco narrativo em 1ª ta em 1ª ou 3ª pessoa
z Verbos na 3ª pessoa do singular ou plural ou 3ª pessoa z Uso de argumentos
z Uso do modo indicativo nas formas verbais de modo pessoal e
predominante subjetivo
z Linguagem clara, objetiva e impessoal
Apesar de as formas de texto verbais serem o for-
O editorial, além de ser um gênero muito comum mato mais comum na construção de uma crônica,
nas provas de interpretação textual em concursos atualmente, podemos encontrar crônicas veiculadas
públicos, também é, recorrentemente, cobrado por em outros formatos, como vídeo, muito divulgados
26 muitas bancas em provas de redação. Por isso, a nas redes sociais.
No tocante ao estilo da crônica argumentativa, Dica
trata-se de um texto com estrutura argumentativa
Gêneros do discurso marcam o processo de inte-
padrão (introdução, desenvolvimento, conclusão),
ração verbal; como todo discurso materializa-se
muito veiculado em jornais e revistas, e, por isso, é
por meio de textos, a nomenclatura gêneros tex-
um gênero que passeia pelos ambientes literários e
tuais torna-se mais adequada para essa pers-
jornalísticos; apresenta um teor opinativo forte, com
pectiva de estudos. Podemos distinguir as duas
observação dos fatos sociais mais atuais. Outra carac-
variantes vocabulares de acordo com as deman-
terística presente nesse gênero é o uso de figuras de
das sociais e culturais de estudo dos gêneros.
linguagem, como a ironia e a metáfora, que auxiliam
na presença do tom sarcástico que a crônica pode ter.
A seguir, apresentamos um trecho da crônica “O
que é um livro?” da escritora Marina Colasanti em que
podemos identificar as principais características des- ORTOGRAFIA
se gênero:
As regras de ortografia são muitas e, na maioria dos
casos, contraproducentes, tendo em vista que a lógica
O que é um livro? da grafia e da acentuação das palavras, muitas vezes, é
derivada de processos históricos de evolução da língua.
O que é um livro? A pergunta se impõe neste Por isso, vale lembrar a dica de ouro do aluno cra-
momento em que que a isenção de impostos sobre que em ortografia: leia sempre! Somente a prática de
o objeto primeiro da cultura e do conhecimento leitura irá lhe garantir segurança no processo de gra-
está em risco. Uma contribuição tributária de 12% fia das palavras.
afastaria ainda mais a leitura de quem tanto pre- Em relação à acentuação, por outro lado, a maior
cisa dela. parte das regras não são efêmeras, porém, são em
Um livro é: grande número. Neste material, iremos apresen-
– A casa das palavras. Acabei de gravar um tar uma forma condensada e prática de nunca mais
vídeo para jovens estudantes e disse a eles que o esquecer os acentos e os motivos pelos quais as pala-
ofício de um escritor é cuidar dessa casa, varre-la, vras são acentuadas.
fazer a cama das palavras, providenciar sua comi- Ainda sobre aspectos ortográficos da língua portu-
da, vesti-las com harmonia. guesa, é importante estarmos atentos ao uso de letras
–  A nave espacial que nos permite viajar no cujos sons são semelhantes e geram confusão quanto
tempo para a frente e para trás. Habitar o passa- à escrita correta. Veja:
do ao tempo em que foi escrito. Ou revisitá-lo de
outro ponto de vista, inalcançável quando o passa- z É com X ou CH? Empregamos X após os ditongos.
do aconteceu: o do presente, com todos os conhe- Ex.: ameixa, frouxo, trouxe.
cimentos adquiridos e as novas maneiras de viver.
[…]
USAMOS X: USAMOS CH:
- Ao mesmo tempo, espelho da realidade e
ponte que nos liga aos sonhos. Crítica e fantasia. � Depois da sílaba em, se � Depois da sílaba em, se
Palavra e música, prosa e poesia. Luz e sombra. a palavra não for derivada a palavra for derivada de
Metáfora da vida e dos sentimentos. Lugar de pre- de palavras iniciadas por palavras iniciadas por CH:
servação do alheio e ponto de encontro com nosso CH: enxerido, enxada encher, encharcar
núcleo mais profundo. Onde muitas portas estão � Depois de ditongo: cai- � Em palavras derivadas
disponíveis, para que cada um possa abrir a sua. xa, faixa de vocábulos que são gra-
–  A selva na qual, entre rugidos e labaredas, � Depois da sílaba ini- fados com CH: recauchu-
dragões enfrentam centauros. O pântano onde as cial me se a palavra não tar, fechadura
hidras agitam suas múltiplas cabeças. for derivada de vocábulo
–  Todas as palavras do sagrado, todas elas iniciado por CH: mexer,
foram postas nos livros que deram origem às reli- mexilhão
giões e neles conservadas.
Fonte: https://bit.ly/2HIecxi. Acessado em:17/09/2020. Adaptado. Fonte: instagram/academiadotexto. Acesso em: 10/10/2020.

Como podemos notar, a crônica trata de um assun- z É com G ou com J? Usamos G em substantivos termi-
to bem atual: o aumento da carga tributária que inci- nados em: -agem; igem; -ugem. Ex.: viagem, ferrugem;
Palavras terminadas em: ágio, -égio, -ígio, -ógio,
LÍNGUA PORTUGUESA

de sobre o preço dos livros. A autora apresenta sua


-úgio. Ex.: sacrilégio, pedágio;
opinião e segue argumentando sobre a importância
Verbos terminados em -ger e -gir. Ex.: proteger, fugir;
dos livros na sociedade com um ponto de vista ladea- Usamos J em formas verbais terminadas em -jar ou
do pela literatura, o que fortalece sua argumentação. -jer. Ex.: viajar, lisonjear;
Para finalizar nossos estudos sobre gêneros tex- Termos derivados do latim escritos com j.
tuais, é importante deixarmos uma informação rele- z É com Ç ou S? Após ditongos, usamos, geralmente,
vante sobre esse assunto. Para muitos autores, os Ç quando houver som de S, e escrevemos S quando
gêneros não apenas moldam formas de texto, mas houver som de Z. Ex.: eleição; Neusa; coisa.
formas de dizer marcadas pelo discurso; por isso, z É com S ou com Z? palavras que designam nacio-
em algumas metodologias (e também em alguns edi- nalidade ou títulos de nobreza e terminam em -ês
tais de concurso), os gêneros serão tratados como do e -esa devem ser grafadas com S. Ex.: norueguesa;
discurso. inglês; marquesa; duquesa. 27
Palavras que designam qualidade, cuja termina- b) Ninguém teria porque negar a Paraty esse duplo mereci-
ção seja -ez ou -eza, são grafadas com Z: mento de ser poesia e história, por que o tempo a esco-
Embriaguez; lucidez; acidez. lheu para ser preservada e a natureza, para ser bela.
c) Os dissabores por que passa uma cidade turística
Essas regras para correção ortográfica das pala- devem ser prevenidos e evitados pela Casa Azul, por-
vras, em geral, apresentam muitas exceções; por isso é
que ela nasceu para disciplinar o turismo.
importante ficar atento e manter uma rotina de leitu-
d) Porque teria a cidade passado por tão longos anos
ra, pois esse aprendizado é consolidado com a prática.
Sua capacidade ortográfica ficará melhor a partir da de esquecimento? Criou-se uma estrada de ferro, eis
leitura e da escrita de textos, por isso, recomendamos porque.
que se mantenha atualizado e leia fontes confiáveis de e) Não há porquê imaginar que um esquecimento é sem-
informação, pois além de contribuir para seu conhe- pre deplorável; veja-se como e por quê Paraty acabou
cimento geral, sua habilidade em língua portuguesa se tornando um atraente centro turístico.
também aumentará.
O “por que” na sentença da alternativa C está correta-
USO DOS PORQUÊS mente empregado, pois possui sentido de “pelo qual”.
O “porque” logo em seguida também está correto, pois
É muito comum haver confusão com os usos das
tem função de explicar o nascimento da Casa Azul:
formas dos porquês, pois no contexto de uso discursi-
vo (fala) não necessitamos distinguir foneticamente. para disciplinar o turismo. Resposta: Letra C.
Porém, existem quatro formas de escrita dos porquês,
as quais se distinguem por função sintática, morfo- DEMAIS E DE MAIS
lógica e pela sua posição no período. Veja a tirinha a
seguir e como são realizadas essas distinções: Demais

Advérbio de intensidade. Assume também a fun-


ção de pronome indefinido.
Ex.: Gritamos demais no jogo, por isso estamos
roucos. (advérbio)
Eu amo essa cantora, ela é demais! (advérbio)
Sabemos o motivo principal, os demais não foram
divulgados. (pronome indefinido)
Disponível em: https://bit.ly/3oIvkDs
De mais
Os tipos de porquês:
Locução adjetiva que manifesta quantidade. Para
� Porque: conjunção causal ou explicativa (igual a diferenciá-la de “demais”, basta trocar pelo antônimo,
“pois”, “uma vez que”). “de menos”; se der certo, escreve-se “de mais”.
Jogava vôlei porque os amigos o chamavam. Ex.: Essa sobremesa tem açúcar de mais para o
� Porquê: substantivo abstrato com propósito de meu paladar.
justificar. Pode ser acompanhado de artigo, prono- Preparei comida de mais, vou precisar congelar.
me, adjetivo ou numeral. Pode vir no singular e no É só uma injeção, não tem nada de mais.
plural.
Ex.: Não sabia o porquê de ela ter ido embora. A CERCA DE / ACERCA DE / HÁ CERCA DE
Ele não entendeu os porquês de tantas brigas.
� Por que: inicia perguntas diretas ou está presen- A cerca de
te no interior de perguntas indiretas, podendo
ser substituído por “por qual razão” ou “por qual Quando se referir a algo ou alguém, com ideia de
motivo”. Pode ser também que tenha o significado quantidade aproximada.
de “pelo qual” e suas flexões. Ex.: Ele falou a cerca de mil ouvintes.
Ex.: Quero saber por que você não visitou seu primo.
Os lugares por que passei são incríveis. Acerca de
� Por quê: aparecerá sempre no final de uma fra-
se, podendo ser substituído por “por qual motivo”, Equivale a “sobre”, “a respeito de”, “em relação a”.
“por qual razão”. Ex.: O professou dissertou acerca dos progressos
Ex.: Você não me falou nada, por quê? científicos.
Ela escutou tudo isso sem saber por quê.
Há cerca de

Quando se trata de uma média de tempo passado.


EXERCÍCIO COMENTADO Ex.: Há cerca de trinta dias, foi feita essa proposta.

1. (FCC – 2012) Está correto o emprego de ambos os Dica


elementos destacados em:
Para evitar redundância, não se deve usar o “há
a) Se o por quê da importância primitiva de Paraty estava cerca de” com outro termo que dê ideia de pas-
na sua localização estratégica, a importância de que sado numa mesma sentença.
goza atualmente está na relevância histórica porque é Ex.: Há cerca de trinta dias atrás. (inadequado)
28 reconhecida. Há cerca de trinta dias. (adequado)
SEÇÃO / SESSÃO / CESSÃO HÁ / A (EXPRESSÃO DE TEMPO)

Seção Há

Tem sentido de “parte”, “divisão”, “segmento”. Usa-se para espaço de tempo referente ao passado.
Ex.: A seção onde trabalho é muito requisitada. Ex.: Ela saiu de casa há duas horas.
Saiba que o verbo há pode ser substituído também
Sessão por faz, sendo invariável, sempre no singular.
Ex.: Ela saiu de casa faz meia hora. / Ela saiu de
Tem sentido de “reunião”, “encontro”, “espaço de casa faz duas horas.
tempo”.
Ex.: Os ingressos para a sessão de estreia estão A
disponíveis.
Usa-se para espaço de tempo referente ao futuro.
Cessão Ex.: Ele chegará daqui a duas horas.
Tem sentido de “ceder”, “repartir”.
Ex.: O governo autorizou a cessão de livros para
as escolas.
EXERCÍCIO COMENTADO
AO ENCONTRO DE / DE ENCONTRO A
1. (TJ-SC - 2010) “As eleições vão acontecer daqui ___
três meses, mas as discussões intrapartidárias come-
Ao encontro de
çaram ____ bastante tempo. Entretanto, não ___ como
deixar de constatar o irrealismo da legislação eleitoral,
Significa “ser favorável a” e “aproximar-se de”.
que cria certas restrições a pretexto de proporcionar
Ex.: A opinião dos estudantes ia ao encontro das
nossas. (sentido de “corresponder”) igualdade de oportunidades a todos quantos dispu-
Ele foi ao encontro dos amigos. (sentido de tem mandato eletivo mas tenham pouco ou nada _____
“encontrar-se com”) com a dinâmica do processo político.”
A sequência que preenche corretamente as lacunas
De encontro a do texto é:

Indica “oposição”, “confronto”, “colisão”. a) a – há – há – haver


Ex.: A sua maneira de agir veio de encontro à b) há – há – a – há ver
minha. (sentido de “confronto”) c) a – a – a – haver
O caminhão foi de encontro ao poste. (sentido de d) a – a – há – a ver
“colisão”) e) a – há – há – a ver
O que ele fez foi de encontro ao que havia dito.
(sentido de oposição”) A lacuna “daqui a três meses” representa tempo
futuro, logo o “a” é uma preposição; “há bastante
SENÃO / SE NÃO tempo” se refere ao que já passou, então se usa o
verbo “há”; “não há como deixar” tem que ser com-
Senão pletado com o verbo “haver” conjugado (“há”); em
“pouco ou nada a ver com a dinâmica”, utiliza-se “a
Significa “do contrário, caso contrário”, “mas sim, ver”, e não “haver”, pois não se pode usar o verbo
mas”, “a não ser, exceto, mais do que”, “mas também”, nessa situação. Resposta: Letra E.
“falha, defeito, obstáculo (como substantivo)”.
Ex.: Saio cedo, senão chego atrasado. EM VEZ DE / AO INVÉS DE
Não era diamante nem rubi, senão cristal.
Ninguém, senão os convidados, podia entrar na festa. Em vez de
O aprendizado não depende somente do professor,
senão do esforço do aluno.
Significa “substituição”, “troca”.
Não encontrei um senão em seu texto. (substanti-
Ex.: Em vez de estudar, ficou brincando com os
vo com sentido de “falha”)
amigos.
LÍNGUA PORTUGUESA

Se não
Ao invés de
Formado de uma conjunção condicional se e do
advérbio de negação não, tem valor de “caso não”, Indica “algo inverso”, “oposição”.
“quando não”. Ex.: Ao invés de ligar o som, desligou-o.
Ex.: Se não fizer sol, não lavarei roupas.
Havia duas pessoas interessadas, se não três. TRAZ / TRÁS / ATRÁS

Para não errar mais: Traz


Se não (separado): Caso não
Ex.: Se não estudar, será reprovado. Do verbo “trazer”, conjugado na terceira pessoa do
Senão (junto): Caso contrário singular.
Ex.: Estude, senão será reprovado. Ex.: Ele sempre me traz flores quando vem me ver. 29
Trás z Palavras oxítonas: acentuam-se as palavras oxíto-
nas terminadas em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: cajá, gua-
Significa “na parte posterior” e é sempre precedi- raná; Pelé, você; cipó, mocotó; também, parabéns.
do de preposição. z Palavras paroxítonas: acentuam-se as paroxíto-
Ex.: Ele estava por trás disso tudo desde o começo. nas que não terminam em: A, E, O, EM/ENS. Ex.:
Ande mais depressa, senão ficará pra trás. bíceps, fórceps; júri, táxis, lápis; vírus, úteis, lótus;
abdômen, hímen.
Atrás

Advérbio de lugar. Importante!


Ex.: O ponto de ônibus fica atrás do shopping. Acentuam-se as paroxítonas terminadas em
ditongo.
Na frase “Ele estava atrás de mim quando tudo Ex.: imóveis, bromélia, história, cenário, Brasília,
aconteceu”, o advérbio atrás pode apresentar dois
rádio etc.
significados: no sentido literal, “estar atrás” é locali-
zar-se atrás de alguém, mas o “estar atrás” também
apresenta um sentido figurado de “estar buscando” z Palavras proparoxítonas: A regra mais simples e
ou “procurando”. fácil de lembrar: todas as proparoxítonas devem
ser acentuadas!
MAL / MAU
Porém, esse grupo de palavras divide uma polê-
Mal mica com as palavras paroxítonas, pois, em alguns
vocábulos, o Vocabulário Ortográfico da Língua Por-
Conjunção ou substantivo. Como substantivo,
tuguesa (VOLP) aceita a classificação em paroxítona
refere-se a uma desgraça, calamidade, dano, doença,
ou proparoxítona.
enfermidade, pesar, aflição, sofrimento, defeito, pro-
São as chamadas proparoxítonas aparentes.
blema, maldade. O substantivo mal forma o plural Essas palavras apresentam um ditongo crescente no
males. Como conjunção subordinativa temporal, final de suas sílabas; esse ditongo pode ser aceito ou
tem sentido de “assim que” e “logo que”. pode ser considerado hiato. É o que ocorre com as
Ex.: Todos sabem que essa personagem é do mal. palavras:
(substantivo)
Não temos como fugir dos males do mundo. HIS-TÓ-RIA/ HIS-TÓ-RI-A
(substantivo) VÁ-CUO/ VA-CU-O
Mal ele chegou, ela saiu da sala. (conjunção) PÁ-TIO/ PÁ-TI-O
Mal você possa, venha falar comigo. (conjunção) Antes de concluir, é importante mencionar o uso
do acento nas formas verbais TER e VIR:
Mau

Adjetivo. Indica alguém ou alguma coisa que: faz Ele tem / Eles têm
maldades, não é de boa qualidade, faz grosserias, traz Ele vem / Eles vêm
infortúnio, não tem competência, é pouco produtivo,
Percebam que, no plural, essas formas admitem o
é inconveniente e impróprio, é contrário aos bons cos-
uso de um acento (^); portanto, atente-se à concordân-
tumes, é travesso e desobediente.
cia verbal quando usar esses verbos.
Ex.: Que chato! Sempre de mau humor!
Ele seguiu por maus caminhos.
Desculpa o mau jeito! Eu estava nervoso!
Você está fazendo mau uso desse equipamento.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Para não errar mais, faça a seguinte operação sem- 1. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir em relação à con-
pre que em dúvida: Mal é antônimo de Bem / Mau é formidade com a norma-padrão da língua: “As opera-
antônimo de Bom. ções de saída com destino a empresas do comercio
varejista e insumos agropecuários dispõem de isen-
ção fiscal e redução de base de cálculo, conforme já
prevê em lei, desde que observados os requisitos exi-
ACENTUAÇÃO GRÁFICA gidos para cada caso.”

Muitas são as regras de acentuação das palavras ( ) CERTO  ( ) ERRADO


da língua portuguesa; para compreender essas regras,
faz-se necessário entender a tonicidade das sílabas e Ainda que tenha sido respeitadas quase todas as
respeitar a divisão das sílabas. regras gramaticais, faltou o acento da palavra
“comércio”, que deve ser acentuada, pois é uma paro-
Regras de Acentuação xítona terminada em ditongo. Resposta: Errado.

z Palavras monossílabas: Acentuam-se os monossí- 2. (FCC – 2019) “Um juramento expõe a beleza da von-
labos tônicos terminados em: A, E, O. Ex.: pá, vá, tade humana, como afirmação nossa, mas sua quebra
30 chá; pé, fé, mês; nó, pó, só. mostra também nossos limites”.
Numa nova e igualmente correta redação da frase Irei à praia amanhã se não chover. / Irei à praia
acima, iniciada agora pelo segmento “A quebra de um amanhã, se não chover.
juramento mostra nossos limites”, pode-se seguir esta
coerente complementação: “não fosse a beleza que Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações
também têm na quebra mesma da nossa vontade”.
� Entre o sujeito e o verbo
( ) CERTO  ( ) ERRADO Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende-
ram a explicação. (errado)
A forma verbal ter admite a marcação de plural Muitas coisas que quebraram meu coração, con-
com o uso do acento diferencial ^, porém na recons- sertaram minha visão. (errado)
trução da frase mencionada o sujeito está no singu-
lar, não sendo necessário o uso do plural do verbo � Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre-
citado. Resposta: Errado. dicativo do sujeito:
Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica-
ção. (errado)
Os alunos precisam de, que os professores os aju-
PONTUAÇÃO dem. (errado)
Os alunos entenderam, toda aquela explicação.
Outro tópico que gera dúvidas é a pontuação. Vere- (errado)
mos a seguir as regras sobre seus usos. � Entre um substantivo e seu complemento nominal
ou adjunto adnominal.
Uso de Vírgula Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida
pelos alunos. (errado)
A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três
funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da � Entre locução verbal de voz passiva e agente da
voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e passiva:
orações; e esclarecer o significado da frase, afastando Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele
qualquer ambiguidade. professor para a feira. (errado)
Quando se trata de separar termos de uma mesma
� Entre o objeto e o predicativo do objeto:
oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos:
Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado)
Considero interessantes, as suas aulas. (errado)
� Para separar os termos de mesma função
Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta.

z Usa-se a vírgula para separar os elementos de


enumeração.
EXERCÍCIO COMENTADO
Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi
1. (TJ-SC – 2011) Indique o período que não apresenta
arrastado pelo tsunami.
erro de pontuação:
� Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que
já apareceu na frase) do verbo a) Morte de florestas; chuvas ácidas, e animais marinhos
Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate. cobertos por petróleo, são questões ambientais que
Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado, teriam suficiente relevância para alarmar a população,
filmes de terror. e automaticamente, motivar encontros e discussões.
b) Ao final, conclui o autor, que todos esses elementos
� Para separar palavras ou locuções explicativas, apontados são faces de uma nova abordagem meto-
retificativas dológica para a proteção do meio ambiente.
Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15 c) Não é justo e razoável que o servidor tenha que des-
anos.
pender recursos financeiros com o recolhimento das
� Para separar datas e nomes de lugar custas judiciais – que serão destinadas ao seu deve-
Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985. dor – para obter o que lhe é devido e, depois, reclamar
a restituição, se julgada procedente a sua pretensão.
� Para separar as conjunções coordenativas, exceto
d) Outra providência muito recomendada, é evitar polari-
e, nem, ou.
zação entre os setores de planejamento e produção,
Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem.
LÍNGUA PORTUGUESA

privilegiando o trabalho em equipe, realizado de forma


A vírgula também é facultativa quando a expres- coordenada.
são de tempo, modo e lugar não for uma expressão, e) Segundo Meirelles o ato administrativo – vinculado ou
mas uma palavra só. Exemplos: discricionário –, há que ser praticado com a observân-
Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar. cia formal e ideológica da lei.
Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço
em casa. No trecho “o que lhe é devido e, depois, reclamar a
Ontem choveu o esperado para o mês todo. / restituição, se julgada procedente a sua pretensão”,
Ontem, choveu o esperado para o mês todo. as duas primeiras vírgulas isolam o advérbio de
Ela acordou muito cedo. Por isso ficou com sono tempo “depois”, que está deslocado; a última vírgula
durante a aula. / Ela acordou muito cedo. Por isso, justifica-se pela condicional “se julgada procedente
ficou com sono durante a aula. a sua pretensão”. Resposta: Letra C. 31
Uso de Ponto e Vírgula Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario-
ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que
e vírgula (;): vamos jantar. (oração intercalada)

� Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui-
Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu, na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”.
ficou triste.
Parênteses
� No lugar das conjunções coordenativas deslocadas
Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan-
Têm função semelhante à dos travessões e das
to, exausto.
vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter-
� No lugar do e seguido de elipse do verbo (= zeugma) mos, expressões ou orações.
Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca)
ouvinte. vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai, Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos
sorvete. jantar. (oração intercalada)
� Em enumerações, portarias, sequências
Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal: Ponto-final
o Procurador-Geral da República;
o Colégio de Procuradores da República; É o sinal que denota maior pausa.
o Conselho Superior do Ministério Público Federal. Usa-se:

Dois-pontos � Para indicar o fim de oração absoluta ou de


período.
Marcam uma supressão de voz em frase que ainda Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.”
não foi concluída. Carlos Drummond de Andrade
Servem para: � Nas abreviaturas
Ex.: apart. ou apto. = apartamento
� Introduzir uma citação (discurso direto): sec. = secretário
Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um a.C. = antes de Cristo
homem mais pelas suas perguntas que pelas suas
respostas”.
Dica
� Introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
Símbolos do sistema métrico decimal e elemen-
distributivo ou uma oração subordinada substan-
tiva apositiva tos químicos não vêm com ponto final:
Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes- Exemplos: km, m, cm, He, K, C
sores, jornalistas, médicos.
Ponto de Interrogação
� Introduzir uma explicação ou enumeração após
expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a Marca uma entonação ascendente (elevação da
saber, como. voz) em tom questionador.
Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens, Usa-se:
Filosofia, Ciências...
z Marcar uma pausa entre orações coordenadas � Em frase interrogativa direta:
(relação semântica de oposição, explicação/causa Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia?
ou consequência)
Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um � Entre parênteses para indicar incerteza:
homem culto. Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho
Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com que havia palavra melhor no contexto.
cautela. � Junto com o ponto de exclamação, para denotar
� Marcar invocação em correspondências surpresa:
Ex.: Prezados senhores: Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou !?)
Comunico, por meio deste, que...
� E interrogações retóricas:
Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro
Travessão
que não jogaremos comida fora à toa”).
� Usado em discursos diretos, indica a mudança de
Ponto de Exclamação
discurso de interlocutor: Ex.:
– Bom dia, Maria!
� É empregado para marcar o fim de uma frase com
– Bom dia, Pedro!
entonação exclamativa:
Ex.: Que linda mulher!
� Serve também para colocar em relevo certas
Coitada dessa criança!
expressões, orações ou termos. Pode ser subs-
tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou � Aparece após uma interjeição:
32 colchetes: Ex.: Nossa! Isso é fantástico.
� Usado para substituir vírgulas em vocativos enfáticos: Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de
Ex.: “Fernando José! onde estava até esta hora?” Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”.
� É repetido duas ou mais vezes quando se quer � Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”),
marcar uma ênfase: a fim de indicar que, por mais estranho ou errado
Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50 que pareça, o texto original é assim mesmo:
metros em 20 segundos!!! Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga-
do.” (Machado de Assis)
Reticências
� Para indicar os sons da fala, quando se estuda
Fonologia:
São usadas para:
Ex.: mel: [mɛw]; nem: [bẽy]
� Assinalar interrupção do pensamento: � Para suprimir parte de um texto (assim como
Ex.: ― Estou ciente de que... parênteses)
― Pode dizer... Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois
desceu as escadas apressadamente. ou
� Indicar partes suprimidas de um texto:
Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des-
Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois
ceu as escadas apressadamente. (caso não preferí-
desceu as escadas apressadamente. (Também pode
ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e vel segundo as normas da ABNT)
depois desceu as escadas apressadamente.)
Asterisco
� Para sugerir prolongamento da fala:
Ex.: ―O que vocês vão fazer nas férias? � É colocado à direita e no canto superior de uma
― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar... palavra do trecho para se fazer uma citação ou
� Para indicar hesitação: comentário qualquer sobre o termo em uma nota
Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha de rodapé:
vergonha. Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo
triste acrescido do sufixo -eza*.
� Para realçar uma palavra ou expressão, normal- *-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti-
mente com outras intenções: vo, o que origina um novo substantivo.
Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...!
� Quando repetido três vezes, indica uma omissão
Uso das Aspas ou lacuna em um texto, principalmente em substi-
tuição a um substantivo próprio:
São usadas em citações ou em algum termo que Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami-
precisa ser destacado no texto. Pode ser substituído nhado aos responsáveis.
por itálico ou negrito, que têm a mesma função de � Quando colocado antes e no alto da palavra, repre-
destaque. senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto
Usam-se nos seguintes casos: é, cuja existência é provável, mas não comprovada:
Ex.: Parecer, do latim *parescere.
� Antes e depois de citações:
Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”, � Antes de uma frase para indicar que ela é agrama-
afirma Dad Squarisi, 64. tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras
da gramática.
� Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaís- * Edifício elaborou projeto o engenheiro.
mos, gírias e expressões populares ou vulgares,
conotativas: Uso da Barra
Ex.: O home, “ledo” de paixão, não teve a fortuna
que desejava. A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado:
Não gosto de “pavonismos”.
Dê um “up” no seu visual.
� Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser
� Para realçar uma palavra ou expressão imprópria, substituída pela conjunção “ou”:
às vezes com ironia ou malícia Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta.
Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão. Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta.
Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não”
� Para indicar inclusão, quando utilizada na separa-
LÍNGUA PORTUGUESA

sonoro.
ção das conjunções e/ou.
� Para citar nomes de mídias, livros etc. Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais
Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”. e/ou escritos.
� Para indicar itens que possuem algum tipo de rela-
Colchetes
ção entre si.
Ex.: A palavra será classificada quanto ao número
Representam uma variante dos parênteses, porém
(plural/singular).
tem uso mais restrito.
O carro atingiu os 220 km/h.
Usam-se nos seguintes casos:
� Para separar os versos de poesias, quando escritos
� Para incluir num texto uma observação de nature- seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas
za elucidativa: barras para indicar a separação das estrofes. 33
Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que por pequenas estruturas. Para isso, podemos imaginar
passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon- que uma palavra é uma peça de um quebra-cabeça
te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi- no qual podemos juntar outra peça para formar uma
te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles estrutura maior; porém, se você já montou um que-
� Na escrita abreviada, para indicar que a palavra bra-cabeça, deve se lembrar que não podemos unir as
não foi escrita na sua totalidade:
peças arbitrariamente, é preciso buscar aquelas que
Ex.: a/c = aos cuidados de;
s/ = sem se encaixam.
Assim, como falantes da língua, reconhecemos
� Para separar o numerador do denominador nos essas estruturas morfológicas e os seus sentidos, pois,
números fracionários, substituindo a barra da a todo momento estamos aptos a criar novas pala-
fração:
vras a partir das regras que o sistema linguístico nos
Ex.: 1/3 = um terço
oferece.
� Nas datas: Tornou-se comum, sobretudo nas redes sociais, o
Ex.: 31/03/1983 surgimento de novos vocábulos a partir de “peças”
� Nos números de telefone: existentes na língua, algumas misturando termos de
Ex.: 225 03 50/51/52 outras línguas com morfemas da língua portuguesa
para a formação de novas palavras, como: bloguei-
� Nos endereços:
Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232 ro (blogger), deletar (delete); já algumas palavras
ganham novos morfemas e, consequentemente, novas
� Na indicação de dois anos consecutivos: acepções nas redes socias como, por exemplo, biscoi-
Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso. teiro, termo usado para se referir a pessoas que bus-
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua: cam receber elogios nesse ambiente.
Ex.: /s/ As peças do quebra-cabeças que formam as pala-
vras da língua portuguesa possuem os seguintes
Embora não existam regras muito definidas sobre nomes:
a existência de espaços antes e depois da barra oblí-
qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu-
lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo. Radical, desinência, vogal temática, afixos,
consoantes e vogais de ligação.

O radical, também chamado de semantema, é o


ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE núcleo da palavra, pois é o detentor do sentido ao qual
se anexam os demais morfemas, criando as palavras
PALAVRAS derivadas. Devido a essa importante característica, o
radical é também conhecido como morfema lexical,
No dia a dia, usamos unidades comunicativas pois se trata da significação própria dos vocábulos,
para estabelecer diálogos e contatos, formando enun-
designando a sua natureza lexical, ou seja, o seu senti-
ciados. Essas unidades comunicativas chamamos de
do propriamente dito.
palavras. Elas surgem da necessidade de comunica-
Alguns exemplos de radicais:
ção e os processos de formação para sua construção
são conhecidos da nossa competência linguística, pois
como falantes da língua, ainda que não saibamos o Ex.: pastel – pastelaria – pasteleiro;
significado de antever, podemos inferir que esse ter- pedra – pedreiro - pedregulho;
mo tem relação com o ato de ver antecipadamente, Terra – aterrado – enterrado - terreiro.
dado o uso do prefixo diante do verbo ver.
Reconhecer os processos que auxiliam na forma-
ção de novas palavras é essencial para o estudante da Importante!
língua. Esse assunto, como dissemos, já é reconhecido
Palavras da mesma família etimológica, ou seja,
pelo nosso cérebro, que identifica os prefixos, sufixos e
que apresentam o mesmo radical e guardam o
palavras novas que podem ser criadas a partir da estru-
tura da língua; não é à toa que, muitas vezes, somos mesmo valor semântico no radical, são conheci-
surpreendidos com o uso inédito de algum termo. das como cognatas.
Porém, precisamos ter consciência de que nem todo
contexto é apropriado para o uso de novas estruturas
Afixos ou Morfemas Derivacionais
vocabulares; por isso, neste capítulo, iremos estudar os
processos de formação de palavras e as consequências
dessas novas constituições, focando nesse conteúdo; A partir dos morfemas lexicais, a língua ganha
sempre cobrado pelas bancas mais exigentes. outras formas e sentidos pelos morfemas derivacio-
nais, que são assim chamados pois auxiliam no pro-
ESTRUTURA DAS PALAVRAS cesso de criação de palavras a partir da derivação, ou
seja, a inclusão de prefixos e sufixos no radical dos
Radical e Morfema Lexical vocábulos.
Vale notar que algumas bancas denominam os afi-
As palavras são formadas por estruturas que, uni- xos de infixos.
das, podem se modificar e criar novos sentidos em São morfemas derivacionais os afixos, estruturas
contextos diversos. Os morfemas são as menores uni- morfológicas que se anexam ao radical das palavras e
dades gramaticais com sentido da língua. Para iden- auxiliam o processo de formação de novos vocábulos.
34 tificá-los é preciso notar que uma palavra é formada Os afixos da língua portuguesa são de duas categorias:
z Prefixos: afixos que são anexados na parte ante- Nos verbos, a vogal temática marca ainda a conju-
rior do radical. gação verbal, indicando se o verbo pertence à 1º, 2º ou
3º conjugação:
Exs.:
In: infeliz.
Anti: antipatia Exs.:
Pós: posterior Amar – 1º conjugação;
Bi: bisavô Comer – 2º conjugação;
Contra: contradizer Partir – 3º conjugação.

z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste- É importante não se confundir: a vogal temática
rior do radical. não existe em palavras que apresentam flexão de
Exs.: gênero. Logo, as palavras gato/gato possuem uma
mente: Felizmente. desinência e não uma vogal temática!
dada: Lealdade Caso a dúvida persista, faça esse exercício: Igreja
eiro: Blogueiro (essa palavra existe); “Igrejo” (essa palavra não exis-
ista: Dentista te), então o -a de igreja é uma vogal temática que irá
gudo: Narigudo ligar o vocábulo a desinências, como -inha, -s.
Note que as palavras terminadas em vogais tônicas
É importante destacar que essa pequena amostra,
não apresentam vogais temática: Ex.: cajá, Pelé, bobó.
listando alguns sufixos e prefixos da língua portugue-
sa, é meramente ilustrativa e serve apenas para que
você tenha consciência do quão rico é o processo de Tema
formação de palavras por afixos.
Além disso, não é interessante que você decore esses O tema é a união do radical com a vogal temática.
morfemas derivacionais, mas que você compreenda A partir do exposto no tópico sobre vogal temática,
o valor semântico que cada um deles estabelece na esperamos ter deixado claro que nem toda palavra irá
língua, como os sufixos -eiro e -ista que são usados, apresentar vogal temática; dessa forma, as palavras
comumente, para criar uma relação com o ambiente que não apresentem vogal temática também não irão
profissional de alguma área, como: padeiro, costureiro, possuir tema.
blogueiro, dentista, escafandrista, equilibrista etc.
Exs.:
Os sufixos costumam mudar mais a classes das
palavras. Já os prefixos modificam mais o sentido dos Vendesse – tema: vende;
vocábulos. Mares – tema: mare.

Desinências ou Morfemas Flexionais Vogais e Consoantes de Ligação

Os morfemas flexionais, mais conhecidos como As consoantes e vogais de ligação têm uma função
desinências, são os mais estudados na língua portu-
eufônica, ou seja, servem para facilitar a pronúncia de
guesa, pois são esses os morfemas que organizam as
estruturas no singular e no plural, os verbos em tem- palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais
pos e conjugações e as relações de gênero em femini- de ligação e as vogais temáticas, estas unem desinên-
no e masculino. cias, aquelas facilitam a pronúncia.
Para facilitar a compreensão, podemos dividir os
morfemas flexionais em: Exs.:
Gas - ô - metro;
z Aditivos: Adiciona-se ao morfema lexical. Ex.: pro- Alv - i - negro;
fessor/professora; livro/livros.
Tecn - o - cracia;
� Subtrativos: Elimina-se um elemento do morfema Pe - z - inho;
lexical. Ex.: Irmão/irmã; Órfão/órfã. Cafe - t- eira;
z Nulos: Quando a ausência de uma letra indica Pau - l - ada;
uma flexão. Ex.: o singular dos substantivos é mar- Cha - l - eira;
cado por essa ausência, como em: mesa (0)1 /mesas Inset - i - cida;
Pobre - t- ão;
Não confunda: Paris - i - ense;
Morfema derivacional: afixos (prefixos e sufixos); Gira - s - sol;
Morfema flexional: aditivos, subtrativos, nulos;
Legal - i - dade.
Morfema lexical: radical.
LÍNGUA PORTUGUESA

Morfema gramatical: significado interno à estrutu-


ra gramatical, como artigos, preposições, conjunções PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS PALAVRAS
etc.
A partir do conhecimento dos morfemas que auxi-
Vogais temáticas liam o processo de ampliação das palavras da língua,
podemos iniciar o estudo sobre os processos de for-
A vogal temática liga o radical a uma desinência,
mação de palavras.
que estabelece o modo e o tempo da conjugação ver-
bal, no caso de verbos, e, nos substantivos, junta-se ao As palavras na língua portuguesa são criadas a
radical para a união de outras desinências. partir de dois processos básicos que apresentam clas-
ses específicas. O quadro a seguir organiza bem os
Ex.: Amar e Amor. processos de formação de palavras:
1  O morfema flexional nulo é mais conhecido como morfema zero nas gramáticas; sua marcação é feita com a presença do numeral 0 (zero). 35
Inquietude (prefiro in- com sufixo -tude); infeliz-
FORMAÇÃO DE PALAVRAS
mente (prefixo in- com sufixo -mente); ultrapassagem
DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO (prefixo ultra- com sufixo -agem); reconsideração
� Prefixal � Justaposição (prefixo -re com sufixo -ção).
� sufixal � Aglutinação
� Prefixal e sufixal Derivação Parassintética
� Parassintética
� Regressiva Na derivação parassintética, um acréscimo simul-
� Imprópria ou conversão tâneo de afixos, prefixos e sufixos é realizado a uma
estrutura primitiva. É importante não confundir, con-
Como é possível notar, os dois processos de formação tudo, com o processo de derivação por sufixação e
de palavras são a derivação e a composição. As pala- prefixação. Veja:
vras formadas por processos derivativos apresentam Se, ao retirar os afixos, a palavra perder o senti-
mais classes a serem estudas. Vamos conhecê-las agora! do, como em “emagrecer” (sem um dos afixos: “ema-
gro-” não existe), basta fazer o seguinte exercício para
PROCESSOS DE DERIVAÇÃO estabelecer por qual processo a palavra foi formada:
retirar o prefixo ou o sufixo da palavra em que paira
As palavras formadas por processos de derivação dúvida. Caso a palavra que restou exista, estaremos
são classificadas a partir de seis categorias: diante de um processo por derivação sufixal e prefi-
xal; caso contrário, a palavra terá sido formada por
z Prefixal ou prefixação; derivação parassintética.
z Sufixal ou sufixação;
z Prefixal e sufixal; Ex.: Entristecer, desalmado, espairecer, desgelar,
z Parassintética ou parassíntese; entediar etc.
z Regressiva;
z Imprópria ou conversão. Derivação Regressiva

A seguir, iremos estudar a diferença entre cada Já na derivação regressiva, a nova palavra será
uma dessas classes e identificar as peculiaridades de formada pela subtração de um elemento da estrutura
cada uma. primitiva da palavra. Vejamos alguns exemplos:
Almoço (almoçar);
Derivação Prefixal Ataque (atacar);
Amasso (amassar).
Como o próprio nome indica, as palavras forma- A derivação regressiva, geralmente, forma subs-
das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci- tantivos abstratos derivados de verbos. É possível
mo de um prefixo à estrutura primitiva, como: que alguns autores reconheçam esse processo como
Pré-vestibular; disposição; deslealdade; super-ho- redução.
mem; infeliz; refazer.
Pré-vestibular: prefixo pré-; Derivação Imprópria
Disposição: prefixo dis-;
Deslealdade: prefixo des-;
A derivação imprópria, a partir de seu processo de
Super-homem: prefixo super;
formação de palavras, provoca a conversão de uma
Infeliz: prefixo in-;
classe gramatical, que pode passar de verbo a subs-
Refazer: prefixo re-.
tantivo, por exemplo.
A seguir, apresentamos alguns processos de con-
Derivação Sufixal
versão das palavras por derivação imprópria:
De maneira comparativa, podemos afirmar que
z Particípio do verbo - substantivo: Teria passado
a formação de palavras por derivação sufixal refere-
-se ao acréscimo de um sufixo à estrutura primitiva, - O passado;
como em: z Verbos - substantivos: Almoçar - O almoço;
Lealdade; francesa; belíssimo; inquietude; sofri- z Substantivos - adjetivos: o gato - mulher gato;
mento; harmonizar; gentileza; lotação; assessoria. z Substantivos comuns - substantivos próprios:
Lealdade: sufixo -dade; leão - Nara Leão;
Francesa: sufixo -esa; z Substantivos próprios - comuns: Gillete - gilete;
Belíssimo: sufixo -íssimo; Judas - ele é o judas do programa.
Inquietude: sufixo -tude;
Sofrimento: sufixo -mento; Sufixos e formação de palavras: Alguns sufixos
Harmonizar: sufixo -izar; são mais comuns no processo de formação de deter-
Gentileza: sufixo -eza; minadas classes gramaticais, vejamos:
Lotação: sufixo -ção;
Assessoria: sufixo -ria. z Sufixos nominais: originam substantivos, adjeti-
vos. Ex.: -dor, -ada, -eiro, -oso, -ão, -aço.
Derivação Prefixal e Sufixal z Sufixos verbais: originam verbos. Ex.: -ear, -ecer,
-izar, -ar.
Nesse caso, juntam-se à palavra primitiva tanto z Sufixos adverbiais: originam advérbios. Ex.:
36 um sufixo quanto um prefixo; vejamos alguns casos: -mente.
LISTA DE RADICAIS E PREFIXOS z Composição por aglutinação: na formação de
palavras por aglutinação, há mudanças na toni-
Apresentamos alguns radicais e prefixos na lista a cidade dos termos envolvidos, que passam a ser
seguir que podem auxiliar na compreensão do proces- subordinados a uma única tonicidade. Ex.: petró-
so de formação de palavras. Novamente, alertamos que leo (petra + óleo); aguardente (água + ardente);
essa lista não deve ser encarada como uma “tabuada” a vinagre (vinho + agre); você (vossa + mercê).
ser decorada, mas como um método para apreender o
sentido de alguns desses radicais e prefixos. Palavras Compostas e Derivadas

Agora que já conhecemos os processos de forma-


RADICAIS E PREFIXOS GREGOS ção de palavras, precisamos identificar as palavras
que são compostas e as palavras que são derivadas.
RADICAL/
SENTIDO EXEMPLO
PREFIXO z São compostas: planalto, couve-flor, aguardente etc.

Acro Alto Acrofobia/acrobata z São derivadas: pedreiro, floricultura, pedal etc.

Palavras derivadas são aquelas formadas a partir


Agro Campo Agropecuária
de palavras primitivas, ou seja, a partir de palavras
que detêm a raiz com sentido lexical independente.
Algia Dor Nevralgia
São palavras primitivas: porta, livro, pedra etc.
A partir das palavras primitivas, o falante pode
Bio Vida Biologia
anexar afixos (sufixos e prefixos), formando as pala-
vras derivadas, assim chamadas pois derivam de um
Biblio Livro Biblioteca
dos seis processos derivacionais.
Já as palavras compostas guardam a independên-
Crono Tempo Cronologia
cia semântica e ortográfica, unindo-se a outras pala-
vras para a formação de um novo sentido.
Caco Mau cacofonia

Cali Belo Caligrafia

Dromo Local Autódromo CLASSES DE PALAVRAS


Além dos radicais e prefixos gregos, as palavras da ARTIGOS
língua portuguesa também se aglutinam a radicais e
Os artigos devem concordar em gênero e número
prefixos latinos.
com os substantivos. São, por isso, considerados deter-
minantes dos substantivos.
RADICAIS E PREFIXO LATINOS Essa classe está dividida em artigos definidos e arti-
gos indefinidos: os primeiros funcionam como deter-
RADICAL/PREFIXO SENTIDO EXEMPLO minantes objetivos, individualizando a palavra, já os
segundos funcionam como determinantes imprecisos.
Arbori Árvore Arborizar
z Artigos definidos: o, os; a, as.
Beli Guerra Belicoso
z Artigos indefinidos: um, uns; uma, umas.
Cida Que mata Homicida
Os artigos podem ser combinados às preposições:
Des- dis Separação Discordar são as chamadas contrações. Algumas contrações
comuns na língua são: em + a = na; a + o = ao; a + a =
Equi Igual Equivalente
à; de + a = da.
Ex- Para fora Exonerar Toda palavra determinada por um artigo torna-se
um substantivo! Ex.: o não, o porquê, o cuidar etc.
Fide Fé Fidelidade

Mater Mãe Materno


EXERCÍCIO COMENTADO
Processos de Composição
1. (SCT – 2020) Marque a alternativa cujo período apre-
As palavras formadas por processos de composi- senta apenas artigos indefinidos:
LÍNGUA PORTUGUESA

ção podem ser classificadas em duas categorias: justa-


posição e aglutinação.
a) Uma das vantagens de ser garçonete é que acabo
As palavras formadas por qualquer um desses pro-
cessos estabelecem um sentido novo na língua, uma conhecendo todas as pessoas.
vez que nesse processo há a junção de duas palavras b) A garota prefere lutar por ele, pois o considera uma
que já existem para a formação de um novo termo, boa pessoa.
com um novo sentido. c) A família está em festa com a chegada do bebê.
d) Poderia me passar a colher, por favor?
z Composição por justaposição: nesse processo, e) Mariana é uma mulher com um coração de ouro.
as palavras envolvidas conservam sua autonomia
morfológica, permanecendo a tonicidade original Os artigos indefinidos são “um/uma” e suas flexões
de cada palavra. Ex.: pé de moleque, dia a dia, faz de plural. A única opção que apresenta somente
de conta, navio-escola, malmequer. artigos indefinidos é a e Resposta: Letra E. 37
NUMERAIS Os numerais entre parênteses foram grafados correta-
mente, conforme apresentados em destaque, em:
Palavra que se relaciona diretamente ao substanti-
vo, inferindo ideia de quantidade ou posição. a) 1 e 2, apenas.
Os numerais podem ser: b) 2 e 3, apenas.
c) 1 e 3, apenas.
z Cardinais: indicam quantidade em si. Ex.: dois d) 1, 2, e 3.
potes de sorvete; zero coisas a comprar; ambos os
meninos eram bons em português. Todas as frases colocam adequadamente os nume-
z Ordinais: indicam a ordem de sucessão de uma rais nas frases, por extenso, e entre parênteses. Res-
série. Ex.: foi o segundo colocado do concurso; che- posta: Letra D.
gou em último/penúltimo/antepenúltimo lugar.
z Multiplicativos: indicam o aumento proporcio- SUBSTANTIVOS
nal de uma quantidade. Ex.: Ele ganha o triplo no
novo emprego. Os substantivos classificam os seres em geral. Uma
característica básica dessa classe é admitir um deter-
z Fracionários: indicam a diminuição proporcio- minante, artigo, pronome etc. Os substantivos flexio-
nal de uma quantidade. Ex.: Tomou um terço nam-se em gênero, número e grau.
de vinho; o copo estava meio cheio; ele recebeu
metade do pagamento.
Tipos de Substantivos
Um numeral ou um artigo?
A classificação dos substantivos admite nove tipos
diferentes de substantivos. São eles:
A forma um pode assumir na língua a função de
artigo indefinido ou de numeral cardinal; então, como
podemos reconhecer cada função? É preciso observar z Simples: Formados a partir de um único radical.
o contexto em uso. Ex.: vento, escola;
Durante a votação, houve um deputado que se z Composto: Formados pelo processo de justaposi-
posicionou contra o projeto.
ção. Ex.: couve-flor, aguardente;
z Durante a votação, apenas um deputado se posi- z Primitivo: Possibilitam a formação de um novo
cionou contra o projeto. substantivo. Ex.: pedra, dente;
z Derivado: Formados a partir dos primitivos. Ex.:
Na primeira frase, podemos substituir o termo um
por uma, realizando as devidas alterações sintáticas, e pedreiro, dentista;
o sentido será mantido, pois o que se pretende defen- z Concreto: Designam seres com independência
der é que a espécie do indivíduo que se posicionou ontológica, ou seja, um ser que existe por si, inde-
contra o projeto é um deputado e não uma deputada, pendente da sua conotação espiritual ou real. Ex.:
por exemplo. Deus, fada, carro;
Já na segunda oração, a alteração do gênero não
implicaria em mudanças no sentido, pois o que se z Abstrato: Indica estado, sentimento, ação, quali-
pretende indicar é que o projeto foi rejeitado por UM dade. Ex.: coragem, Liberalismo;
deputado, marcando a quantidade.
Outra forma de notarmos a diferença é ficarmos z Comum: Designam determinados seres e lugares.
atentos com a aparição das expressões adverbiais, o Ex.: homem, cidade;
que sempre fará com que a palavra “um” seja numeral. z Próprio: Designam uma determinada espécie. Ex.:
Sobre o numeral milhão/milhares, importa desta- Maria, Fortaleza;
car que sua forma é masculina, logo, o artigo que pre-
cede será sempre no masculino z Coletivo: Usados no singular, designam um con-
junto de uma mesma espécie. Ex: pinacoteca,
z Errado: As milhares de vacinas chegaram hoje. manada.
z Correto: Os milhares de vacina chegaram hoje.
É importante destacar que a classificação de um
substantivo depende do contexto em que ele está inse-
Dica rido. Vejamos:
A forma 14 por extenso apresenta duas for- Judas foi um apóstolo (Judas = Próprio).
mas aceitas pela norma gramatical: catorze e O amigo se mostrou um judas (judas = traidor/
quatorze. comum).

ADJETIVOS

EXERCÍCIO COMENTADO Os adjetivos associam-se aos substantivos garan-


tindo a estes um significado mais preciso. Os adjetivos
1. (CONSESP – 2018) Analise os itens a seguir: podem indicar:

I. A quadragésima quinta Feira do Livro foi um sucesso (45ª). z Qualidade: professor chato.
II. Pela milésima vez ele acenou positivamente (1000ª). z Estado: aluno triste.
38 III. Há uma década que não o vejo (10 anos). z Aspecto, aparência: estrada esburacada.
Locuções Adjetivas Alguns exemplos de adjetivos relativos: Presiden-
te americano (não é subjetivo; posicionado após o
As locuções adjetivas apresentam o mesmo valor dos substantivo; derivado de substantivo; não existe a
adjetivos, indicando as mesmas características deles. forma variada em grau “americaníssimo”); platafor-
Elas são formadas por preposição + substantivo, ma petrolífera; economia mundial; vinho francês;
referindo-se a outro substantivo ou expressão subs- roteiro carnavalesco.
tantivada, atribuindo-lhe o mesmo valor adjetivo.
A seguir, colocamos algumas locuções adjetivas Variação de Grau
com valores diferentes ao lado da forma adjetiva,
importantes para seu estudo: O adjetivo pode variar em dois graus: Compara-
tivo ou superlativo. Cada um deles apresenta suas
z Voo de águia / aquilino; respectivas categorias.
z Poder de aluno / discente; z Grau comparativo: exprime a característica de
um ser, comparando-o com outro da mesma classe
z Cor de chumbo / plúmbeo;
nos seguintes sentidos:
z Bodas de cobre / cúprico;
„ Igualdade: igual a, como, tanto quanto, tão
z Sangue de baço / esplênico; quanto;
z Nervo do intestino / celíaco ou entérico; „ Superioridade: mais do que;
z Noite de inverno / hibernal ou invernal. „ Inferioridade: menos do que.
Ex.: Somos tão complexos quanto simplórios
É importante destacar que mais do que “decorar” (comparativo de igualdade);
formas adjetivas e suas respectivas locuções, é fun- O amor é mais suficiente do que o dinheiro
damental reconhecer as principais características de (comparativo de superioridade);
uma locução adjetiva: caracterizar o substantivo e Homens são menos engajados do que mulhe-
apresentar valor de posse. Ex.: Viu o crime pela aber- res (comparativo de inferioridade).
tura da porta; A abertura de conta pode ser realiza-
da on-line. z Grau superlativo: em relação ao grau superlati-
Quando a locução adjetiva é composta pela pre- vo, é importante considerar que o valor semântico
posição “de”, ela pode ser confundida com a locução desse grau apresenta variações, podendo indicar:
adverbial. Nesse caso, para diferenciá-las, é importan-
te perceber que a locução adjetiva apresenta valor de „ Característica de um ser elevada ao último
posse, pois, nesse caso, o meio usado pelo sujeito para grau: Superlativo absoluto, que pode ser analí-
ver “o crime”, indicado na frase, foi pela abertura da tico (associado ao advérbio) ou sintético (asso-
porta. Além disso, a locução destacada está caracteri- ciação de prefixo ou sufixo ao adjetivo);
zando o substantivo “abertura”. „ Característica de um ser relacionada com
Já na segunda frase, a locução destacada é adver- outros indivíduos da mesma classe: Superla-
bial, pois quem sofre a “ação” de ser aberta é a “con- tivo relativo, que pode ser de superioridade (O
ta”, o que indica o valor de passividade da locução, mais) ou de inferioridade (O menos)
demonstrando seu caráter adverbial. Ex.: O candidato é muito humilde (Superlativo
As locuções adjetivas também desempenham fun- absoluto analítico).
ção de adjetivo e modificam substantivos, pronomes, O candidato é humílimo (Superlativo absoluto
numerais, oração substantiva. Ex.: amor de mãe, café sintético).
com açúcar. O candidato é o mais humilde dos concorren-
Já as locuções adverbiais desempenham função tes? (Superlativo relativo de superioridade).
de advérbio. Modificam advérbios, verbos, adjetivos, O candidato é o menos preparado entre os con-
orações adjetivas com esses valores. Ex.: morreu de correntes à prefeitura (Superlativo relativo de
fome; agiu com rapidez. inferioridade).

Adjetivo de Relação Ao compararmos duas qualidades de um mesmo


ser, devemos empregar a forma analítica (mais alta,
No estudo dos adjetivos, é fundamental estudar mais magra, mais bonito etc.).
o aspecto morfológico designado como “adjetivo de Ex.: A modelo é mais alta que magra.
relação”, muito cobrado por bancas de concursos. Porém, se uma mesma característica se referir
Para identificar um adjetivo de relação, observe as a seres diferentes, empregamos a forma sintética
seguintes características: (melhor, pior, menor etc.).
Ex.: Nossa sala é menor que a sala da diretoria.
z Seu valor é objetivo, não podendo, portanto, apre-
LÍNGUA PORTUGUESA

sentar meios de subjetividade. Ex.: Em “Menino Formação dos Adjetivos


bonito”, o adjetivo não é de relação, já que é sub-
jetivo, pois a beleza do menino depende dos olhos Os adjetivos podem ser primitivos, derivados,
de quem o descreve. simples ou compostos.
z Posição posterior ao substantivo: os adjetivos de
relação sempre são posicionados após o substanti- z Primitivos: são os Adjetivos que não derivam de
vo. Ex.: casa paterna. outras palavras e, a partir deles, é possível formar
novos termos. Ex.: útil, forte, bom, triste, mau etc.
z Derivado do substantivo: derivam-se do substan- z Derivados: são formados a partir dos adjetivos pri-
tivo por derivação prefixal ou sufixal. mitivos. Ex.: bondade, lealdade, mulherengo etc.
z Não admitem variação de grau: os graus compa- z Simples: Os adjetivos simples apresentam um
rativo e superlativo não são admitidos. único radical. Ex.: português, escuro, honesto etc.
39
z Compostos: são formados a partir da união de dois ou mais radicais. Ex.: verde-escuro, luso-brasileiro, ama-
relo-ouro etc.

Dica
O plural dos adjetivos simples é realizado da mesma forma que o plural dos substantivos.

Plural dos adjetivos compostos

O plural dos adjetivos compostos segue as seguintes regras:

z Invariável: adjetivos compostos como azul-marinho, azul-celeste, azul-ferrete; locuções formadas de cor +
de + substantivo, como em cor-de-rosa, cor-de-cáqui; adjetivo + substantivo, como tapetes azul-turquesa,
camisas amarelo-ouro.
z Varia o último elemento: 1º elemento é palavra invariável, como em mal-educados, recém-formados; adjeti-
vo + adjetivo, como em lençóis verde-claros, cabelos castanho-escuros.

Adjetivos Pátrios

Os adjetivos pátrios também são conhecidos como gentílicos e designam a naturalidade ou nacionalidade dos seres.
O sufixo -ense, geralmente, designa a origem de um ser relacionada a um estado brasileiro. Ex.: amazonense,
fluminense, cearense.
Uma outra curiosidade sobre os adjetivos pátrios diz respeito ao adjetivo brasileiro, formado com o sufixo -eiro,
costumeiramente usado para designar profissões.
O gentílico que designa nossa nacionalidade teve origem com as pessoas que comercializavam o pau-brasil, esse
ofício dava-lhes a alcunha de “brasileiros”, termo que passou a indicar os nascidos em nosso país.
Veja abaixo alguns deles:

40
EXERCÍCIO COMENTADO
1. (FGV – 2017) Há, em língua portuguesa, um grupo de adjetivos chamados “adjetivos de relação”, que possuem marcas
diferentes de outros adjetivos, como a de não poder ser empregado antes do substantivo a que se refere, nem receber
grau superlativo. Assinale a opção que indica o adjetivo do texto que não está incluído nessa categoria:

a) Herói nacional.
b) Guerra mundial.
c) Diferença social.
d) Povo cordial.
e) Traço cultural.

Como vimos, uma outra característica dos adjetivos de relação é a objetividade. Esses adjetivos não denotam
questões subjetivas, tal qual o adjetivo “cordial”, na letra D, a única sem adjetivo de relação. Resposta: Letra D

ADVÉRBIOS

Advérbios são palavras invariáveis que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Em alguns
casos, os advérbios também podem modificar uma frase inteira, indicando circunstância.
Os grandes cientistas da gramática da língua portuguesa apresentam uma lista exaustiva com as funções dos
advérbios, porém; decorar as funções dos advérbios, além de desgastante, pode não ter o resultado esperado na
resolução de questões de concurso.
Dessa forma, sugerimos que você fique atento às principais funções designadas por um advérbio e, a partir
delas, consiga interpretar a função exercida nos enunciados das questões que tratem dessa classe de palavras.
Ainda assim, julgamos pertinente apresentar algumas funções basilares exercidas pelo advérbio:

z Dúvida: Talvez, caso, porventura, quiçá etc.


z Intensidade: Bastante, bem, mais, pouco etc.
z Lugar: Ali, aqui, atrás, lá etc.
z Tempo: Jamais, nunca, agora etc.
z Modo: Assim, depressa, devagar etc.

Novamente, chamamos sua atenção para a função que o advérbio deve exercer na oração. Como dissemos,
essas palavras modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio; por isso, para identificar com mais pro-
priedade a função denotada pelos advérbios, é preciso perguntar: Como? Onde? Como? Por quê?
As respostas sempre irão indicar circunstâncias adverbiais expressas por advérbios, locuções adverbiais ou
orações adverbiais.
Vejamos como podemos identificar a classificação/função adequada dos advérbios:

z O homem morreu... de fome (causa); com sua família (companhia); em casa (lugar); envergonhado (modo).
z A criança comeu... demais (intensidade); ontem (tempo); com garfo e faca (instrumento); às claras (modo).

Locuções dverbiais

As locuções adverbiais, como já mostramos anteriormente, são bem semelhantes às locuções adjetivas. É
importante saber que as locuções adverbiais apresentam um valor passivo.
Ex.: Ameaça de colapso.
Nesse exemplo, o termo em negrito é uma locução adverbial, pois o valor é de passividade, ou seja, se inverter-
mos a ordem e inserirmos um verbo na voz passiva, a frase manterá seu sentido. Vejamos:
Colapso foi ameaçado: essa frase faz sentido e apresenta valor passivo, logo, sem o verbo, a locução destaca-
da anteriormente é adverbial.
Ainda sobre esse assunto, perceba que em locuções como esta: “Característica da nação”, o termo destacado
não terá o mesmo valor passivo, pois não aceitará a inserção de um verbo com essa função:
LÍNGUA PORTUGUESA

Nação foi característica*: essa frase quebra a estrutura gramatical da língua portuguesa, que não admite voz
passiva em termos com função de posse, caso das locuções adjetivas. Isso torna tal estrutura agramatical, por
isso, inserimos um asterisco (*) para indicar essa característica.

Dica
Locuções adverbiais apresentam valor passivo.
Locuções adjetivas apresentam valor de posse.

Com essa dica, esperamos que você seja capaz de diferenciar essas locuções em questões; ademais, buscamos
desenvolver seu aprendizado para que não seja preciso gastar seu valioso tempo decorando listas de locuções
adverbiais. Lembre-se: o sentido está no texto. 41
Advérbios Interrogativos

Os advérbios interrogativos são, muitas vezes, confundidos com pronomes interrogativos. Para evitar essa
confusão, devemos saber que os advérbios interrogativos introduzem uma pergunta, exprimindo ideia de tempo,
modo ou causa.

Exs.:
Como foi a prova?
Quando será a prova?
Onde será realizada a prova?
Por que a prova não foi realizada?

De maneira geral, as palavras como, onde, quando e por que são advérbios interrogativos, pois não substi-
tuem nenhum nome de ser (vivo), exprimindo ideia de modo, lugar, tempo e causa.

Grau do Advérbio

Assim como os adjetivos, os advérbios podem ser flexionados nos graus comparativo e superlativo.
Vejamos as principais mudanças sofridas pelos advérbios quando flexionados em grau:

GRAU COMPARATIVO
NORMAL SUPERIORIDADE INFERIORIDADE IGUALDADE
Bem Melhor (mais bem*) - Tão bem
Mal Pior (mais mal*) - Tão mal
Muito Mais - -
Pouco menos - -

Obs.: As formas “mais bem” e “mais mal” são aceitas quando acompanham o particípio verbal.

GRAU SUPERLATIVO

NORMAL ABSOLUTO SINTÉTICO ABSOLUTO ANALÍTICO RELATIVO


Bem Otimamente Muito bem Inferioridade
Mal Pessimamente Muito mal Superioridade
Muito Muitíssimo - Superioridade: o mais
Pouco Pouquíssimo - Superioridade: o menos

Advérbios e Adjetivos

O adjetivo é, como vimos, uma classe de palavras variável, porém, quando se refere a um verbo, ele fica inva-
riável, confundindo-se com o advérbio.
Nesses casos, para ter certeza de qual é classe da palavra, basta tentar colocá-la no feminino ou no plural; caso
a palavra aceite uma dessas flexões, será adjetivo.
Ex.: A cerveja que desce redondo/ As cervejas que descem redondo.
Nesse caso, trata-se de um advérbio.

Palavras Denotativas

São termos que apresentam semelhança aos advérbios, em alguns casos são até classificados como tal, mas
não exercem função modificadora de verbo, adjetivo ou advérbio.
Sobre as palavras denotativas, é fundamental que você saiba identificar o sentido a elas atribuído, pois, geral-
mente, é isso que as bancas de concurso cobram.

z Eis: sentido de designação;


z Isto é, por exemplo, ou seja: sentido de explicação;
z Ou melhor, aliás, ou antes: sentido de ratificação;
z Somente, só, salvo, exceto: sentido de exclusão;
z Além disso, inclusive: sentido de inclusão.

Além dessas expressões, há, ainda, as partículas expletivas ou de realce, geralmente formadas pela forma ser
+ que (é que). A principal característica dessas palavras é que podem ser retiradas sem causar prejuízo sintático
42 ou semântico na frase. Ex.: Eu é que faço as regras / Eu faço as regras.
Outras palavras denotativas expletivas são: lá, cá,
PRONOMES PRONOMES
não, é porque etc.
PESSOAS DO CASO DO CASO
RETO OBLÍQUO
Algumas Observações Interessantes
3º pessoa do Se, si, consigo,
z O adjunto adverbial deve sempre vir posicionado ELE/ELA
singular o, a, lhe
após o verbo ou complemento verbal, caso venha
deslocado, em geral, separamos por vírgulas. 1ª pessoa do
NÓS Nos, conosco.
z Em uma sequência de advérbios terminados com o plural
sufixo -mente, apenas o último elemento recebe a 2º pessoa do
terminação destacada. VÓS Vos, convosco
plural

3º pessoa do Se, si, consigo,


ELES/ELAS
plural os, as, lhes
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Os pronomes pessoais do caso reto costumam
1. (SCT – 2020) Assinale a opção em que as palavras substituir o sujeito. Ex.: Pedro é bonito / Ele é bonito.
denotativas não foram bem classificadas: Já os pronomes pessoais oblíquos costumam funcio-
nar como complemento verbal ou adjunto. Ex.: Eu a vi
a) A palavra SE, por exemplo, pode ter muitas funções
com o namorado; Maura saiu comigo.
(explicação).
b) Todos saíram exceto o vigia (exclusão).
z Os pronomes que estarão relacionados ao objeto
c) O pároco, isto é, o vigário da nossa paróquia, esteve
direto são: O, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Ex.: Infor-
aqui (de adição).
mei-o sobre todas as questões.
d) Mesmo eu não sabia de nada (exclusão).
e) Ele também participou da homenagem (inclusão). z Já os que se relacionam com o objeto indireto são:
Lhe, lhes, (me, te, se, nos, vos – complementados
A expressão “isto é” designa explicação, portanto, o por preposição). Ex.: Já lhe disse tudo (disse tudo
item incorreto é a alternativa C. Resposta: Letra C. a ele).
2. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir:
Devemos lembrar que todos os pronomes pessoais
O antônimo de “bem-estar” se constrói com o adjetivo
mau. são pronomes substantivos; além disso, é importan-
te saber que eu e tu não podem ser regidos por pre-
( ) CERTO  ( ) ERRADO posição e que os pronomes ele(s), ela (s), nós e vós
podem ser retos ou oblíquos, dependendo da função
O contrário de “bem-estar” é “mal-estar”, admitin- que exercem.
do-se apenas a forma adverbial da palavra. Respos- Os pronomes oblíquos tônicos são pronunciados
ta: Errado. com força e precedidos de preposição. Costumam ter
função de complemento:
PRONOMES
z 1ª pessoa: Mim, comigo (singular); nós, conosco
Pronomes são palavras que representam ou acom-
(plural).
panham um termo substantivo. Dessa forma, a função
dos pronomes é substituir ou determinar uma pala- z 2ª pessoa: Ti, contigo (singular); vós, convosco
vra. Os pronomes indicam: pessoas, relações de pos- (plural).
se, indefinição, quantidade, localização no tempo, no
z 3ª pessoa: Si, consigo (singular ou plural); ele (s), ela (s)
espaço e no meio textual, entre tantas outras funções.
Destacamos, ainda, que os pronomes exercem
Importante lembrar que não devemos usar prono-
papel importante na análise sintática e também na
mes do caso reto como objeto ou complemento ver-
interpretação textual, pois colaboram para a comple-
bal, como em: “mate ele”. Contudo, o gramático Celso
mentação de sentido de termos essenciais da oração,
Cunha destaca que é possível usar os pronomes do
além de estruturar a organização textual, contribuindo
caso reto como complemento verbal, desde que ante-
para a coesão e também para a coerência de um texto.
cedidos pelos vocábulos “todos”, “só”, “apenas” ou
Pronomes Pessoais “numeral”. Ex.: Encontrei todos eles na festa; Encon-
trei apenas ela na festa.
LÍNGUA PORTUGUESA

Os pronomes pessoais designam as pessoas do dis- Após a preposição “entre”, em estrutura de reci-
curso; algumas informações relevantes sobre eles são: procidade, devemos usar os pronomes oblíquos tôni-
cos. Ex.: Entre mim e ele não há segredos.
PRONOMES PRONOMES
PESSOAS DO CASO DO CASO VERBOS
RETO OBLÍQUO
Certamente, a classe de palavras mais complexa e
1º pessoa do Me, mim, importante dentre as palavras da língua portuguesa é
EU
singular comigo o verbo. A partir dos verbos, são estruturados as ações
e os agentes desses atos, além de ser uma importante
2º pessoa do
TU Te, ti, contigo classe sempre abordada nos editais de concursos; por
singular
isso; fique atento às nossas dicas. 43
Os verbos são palavras variáveis que se flexionam
PRETÉRITO PERFEITO
em número, pessoa, modo e tempo, além da designação PRESENTE INDICATIVO
INDICATIVO
da voz que exprime uma ação, um estado ou um fato.
Nós cantamos Cantamos
Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais
Vós cantais Cantastes
As formas nominais do verbo são as formas infi- Eles/ vocês cantam Cantaram
nitiva, particípio e gerúndio que eles assumem em
determinados contextos. São chamadas nominais pois z Irregulares: os verbos irregulares apresentam
funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios.
alteração no radical e nas desinências verbais, por
z Gerúndio: é marcado pela terminação -NDO, seu isso recebem esse nome, pois sua conjugação ocor-
valor indica duração de uma ação e, por vezes, re irregularmente, seguindo um paradigma pró-
pode funcionar como um advérbio ou um adjetivo. prio para cada grupo verbal. Perceba como ocorre
Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se uma sutil diferença na conjugação do verbo estar
compadeceu. que utilizamos como exemplo, isso é importante
z Particípio: é marcado pelas terminações -ado, para não confundir os verbos irregulares com os
-ido, -do, -to, -go, -so, corresponde nominalmente verbos anômalos. Ex.: Verbo estar.
ao adjetivo, pode flexionar-se, em alguns casos, em
número e gênero.
Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses. PRETÉRITO PERFEITO
PRESENTE INDICATIVO
INDICATIVO
z Infinitivo: forma verbal que indica a própria ação
do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenômeno desig- Eu estou Estive
nado. Pode ser pessoal ou impessoal.
Tu estás Esteves
„ Pessoal: o infinitivo pessoal é passível de con-
jugação, pois está ligado às pessoas do discurso. Ele/ você está Esteve
É usado na formação de orações reduzidas. Ex.: Nós estamos Estivemos
Comer eu; Comermos nós; É para aprenderem
que ele ensina. Vós estais Estiveste
„ Impessoal: não é passível de flexão. É o nome
do verbo, servindo para indicar apenas a con- Eles/ vocês estão Estiveram
jugação. Ex.: Estudar - 1ª conjugação; Comer - 2ª
conjugação; Partir - 3ª conjugação. z Anômalos: esses verbos apresentam profundas
alterações no radical e nas desinências verbais,
O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou
orações reduzidas. consideradas anomalias morfológicas, por isso,
recebem essa classificação. Um exemplo bem
„ Locuções verbais: sequência de dois ou mais ver- usual de verbos dessa categoria é o verbo ser. Na
bos que funcionam como um verbo. Ex.: Ter de língua portuguesa, apenas dois verbos são classi-
+ verbo principal no infinitivo: Ter de trabalhar ficados dessa forma, os verbos ser e ir. Vejamos a
para pagar as contas; Haver de + verbo principal conjugação do verbo ser:
no infinitivo: Havemos de encontrar uma solução.

Não confunda locuções verbais com tempos com- PRETÉRITO PERFEITO


postos. O particípio formador de tempo composto na PRESENTE INDICATIVO
INDICATIVO
voz ativa não se flexiona. Ex.: O homem teria realiza-
do sua missão. Eu sou Fui
Classificação dos Verbos Tu és Foste

Os verbos são classificados quanto a sua forma de Ele/ você é Foi


conjugação e podem ser divididos em: regulares, irre-
gulares, anômalos, abundantes, defectivos, pronomi- Nós somos Fomos
nais, reflexivos, impessoais e os auxiliares, além das
Vós sois Fostes
formas nominais. Vamos conhecer as particularida-
des de cada um a seguir: Eles/ vocês são Foram
z Regulares: os verbos regulares são os mais fáceis
de compreender, pois apresentam regularidade no Os verbos ser e ir são irregulares, porém, apresen-
uso das desinências, ou seja, as terminações ver- tam uma forma específica de irregularidade, que oca-
bais. Da mesma forma, os verbos regulares man- siona uma anomalia em sua conjugação, por isso, são
têm o paradigma morfológico com o radical, que classificados como anômalos.
permanece inalterado. Ex.: Verbo cantar.
z Abundantes: são formas verbais abundantes os
PRETÉRITO PERFEITO verbos que apresentam mais de uma forma de
PRESENTE INDICATIVO
INDICATIVO particípio aceitas pela norma culta gramatical.
Eu canto Cantei Geralmente, apresentam uma forma de particípio
Tu cantas Cantaste regular e outra irregular; falaremos disso poste-
riormente, quando trataremos das formas nomi-
44 Ele/ você canta Cantou nais do verbo. Vejamos alguns verbos abundantes:
Os verbos impessoais não apresentam sujeito; sin-
PARTICÍPIO PARTICÍPIO
INFINITIVO taticamente, classificamos como sujeito inexistente.
REGULAR IRREGULAR

Acender Acendido Aceso Dica


Afligir Afligido Aflito O verbo ser será impessoal quando o espaço
sintático ocupado pelo sujeito não estiver preen-
Corrigir Corrigido Correto chido: “Já é natal”. Segue o mesmo paradigma
Encher Enchido Cheio do verbo fazer, podendo ser impessoal, tam-
bém, o verbo IR: “vai uns bons anos que não vejo
Fixar Fixado Fixo Mariana”

� Defectivos: são verbos que não apresentam algu- z Verbos Auxiliares: os verbos auxiliares são
mas pessoas conjugadas em suas formas, gerando empregados nas formas compostas dos verbos e
um defeito na conjugação, por isso o nome. São também nas locuções verbais. Os principais verbos
defectivos os verbos colorir, precaver, reaver. auxiliares dos tempos compostos são ter e haver.
Esses verbos não são conjugados na primeira pessoa
do singular do presente do indicativo. Bem como: Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a
Aturdir, exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder, concordância verbal, porém, o verbo principal deter-
fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colo- mina a regência estabelecida na oração.
rir, carpir, banir, brandir, bramir, soer. Apresentam forte carga semântica que indica
Verbos que expressam onomatopeias ou fenôme- modo e aspecto da oração; tratamos mais desse assun-
nos temporais também apresentam essa caracte- to no tópico verbos auxiliares no final da gramática.
rística, como latir, bramir, chover. São importantes na formação da voz passiva
analítica.
� Pronominais: esses verbos apresentam um pro-
nome oblíquo átono integrando sua forma verbal;
z Formas Nominais: na língua portuguesa, usamos
é importante lembrar que esses pronomes não
três formas nominais dos verbos:
apresentam função sintática. Predominantemen-
te, os verbos pronominas apresentam transitivida-
de indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se „ Gerúndio: terminação -NDO. Apresenta valor
durativo da ação e equivale a um advérbio ou
adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando.
PRETÉRITO PERFEITO
PRESENTE INDICATIVO „ Particípio: terminações: -ADO, -IDO, -DO, -TO,
INDICATIVO
-GO, -SO. Apresenta valor adjetivo e pode ser
Eu me sento Sentei-me classificado em particípio regular e irregular,
sendo as formas regulares finalizadas em -ADO
Tu te sentas Sentaste-te e -IDO.
Ele/ você se senta Sentou-se
A norma culta gramatical recomenda o uso do par-
Nós nos sentamos Sentamo-nos ticípio regular com os verbos ter e haver, já com os
verbos ser e estar, recomenda-se o uso do particípio
Vós vos sentais Sentastes-vos irregular. Ex.: Os policiais haviam expulsado os ban-
didos / Os traficantes foram expulsos pelos policiais.
Eles/ vocês se sentam Sentaram-se
„ Infinitivo: marca as conjugações verbais.
z Reflexivos: são os verbos que apresentam pro- AR: verbos que compõem a 1ª conjugação (AmAR,
nome oblíquo átono reflexivo, funcionando sinta- PasseAR);
ticamente como objeto direto ou indireto. Nesses ER: verbos que compõem a 2ª conjugação (ComER,
verbos, o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao pÔR);
mesmo tempo. Ex.: Ela se veste mal; Nós nos cum- IR: verbos que compõem a 3ª conjugação (Par-
primentamos friamente. tIR, SaIR)
z Impessoais: são verbos que designam fenômenos O verbo pôr corresponde à segunda conjuga-
da natureza, como chover, trovejar, nevar etc. ção, pois origina-se do verbo poer, o mesmo
acontece com verbos que deste derivam.
O verbo haver com sentido de existir ou marcando
LÍNGUA PORTUGUESA

tempo decorrido também será impessoal. Ex.: Havia Vozes verbais


muitos candidatos e poucas vagas; Há dois anos, fui
aprovado em concurso público. As vozes verbais definem o papel do sujeito na
Os verbos ser e estar também são verbos impes- oração, demonstrando se o sujeito é o agente da ação
soais, quando designam fenômeno climático ou tempo. verbal ou se ele recebe a ação verbal.
Ex.: Está muito quente!; Era tarde quando chegamos.
O verbo ser para indicar hora, distância ou data z Ativa: O sujeito é o agente, praticando a ação ver-
concorda com esses elementos. bal. Ex.: O policial deteve os bandidos.
O verbo fazer também poderá ser impessoal, z Passiva: O sujeito é paciente, sofre a ação verbal.
quando indicar tempo decorrido ou tempo climáti- Ex.: Os bandidos foram detidos pelo policial – pas-
co. Ex.: Faz anos que estudo para concursos; Aqui faz siva analítica; Detiveram-se os criminosos – pas-
muito calor. siva sintética. 45
z Reflexiva: O sujeito é agente e paciente ao mesmo
tempo, pois o sujeito pratica e recebe a ação ver- PRESENTE - INDICATIVO
bal. Ex.: Os bandidos se entregaram à polícia. Nós Passeamos
z Recíproca: O sujeito é agente e paciente ao mesmo
tempo, porém percebemos que há uma ação com- Vós Passeais
partilhada entre dois indivíduos. Ex.: Os bandidos
Eles/Vocês Passeiam
se olharam antes do julgamento.
Conjugação de Alguns Verbos
A voz passiva é realizada a partir da troca de
funções entre sujeito e objeto da voz ativa; falamos Vamos agora conhecer algumas conjugações de
melhor desse processo no capítulo funções do SE em verbos irregulares importantes, que sempre são obje-
verbos transitivos direto.
to de questões em concursos.
Só podemos transformar uma frase da voz ativa
Fazem paradigma com o verbo aderir, mantendo
para a voz passiva se o verbo for transitivo direto ou
transitivo direto e indireto, logo, só há voz passiva as mesmas desinências desse verbo, as formas
com a presença do objeto direto.
A voz reflexiva indica uma ação praticada e rece- PRESENTE - INDICATIVO
bida pelo sujeito ao mesmo tempo; essa relação pode
ser alcançada com apenas um indivíduo que pratica e Eu Adiro
sofre a ação. Ex.: O menino se agrediu.
Tu Aderes
Ou a ação pode ser compartilhada entre dois ou mais
indivíduos que praticam e sofrem a ação. Ex.: Apesar Ele/Você Adere
do ódio mútuo, os candidatos se cumprimentaram.
No último caso, a voz reflexiva é também chamada Nós Aderimos
de recíproca, por isso, fique atento.
Não confunda os verbos pronominais com as Vós Aderis
vozes verbais. Os verbos pronominais que indicam Eles/Vocês Aderem
sentimentos, como arrepender-se, queixar-se, dignar-
-se, entre outros acompanham um pronome que faz
parte integrante do seu significado, diferentemente PRESENTE - INDICATIVO
das vozes verbais que acompanham o pronome SE Eu Ponho
com função sintática própria.
Tu Pões
Conjugação de Verbos Derivados Ele/Você Põe
Nós Pomos
Vamos conhecer agora alguns verbos cuja conjuga-
ção apresenta paradigma derivado, auxiliando a com- Vós Pondes
preensão dessas conjugações verbais. Eles/Vocês Põem
O verbo criar é conjugado da mesma forma que os
verbos “variar”, “copiar”, “expiar” e todos os demais
São conjugados da mesma forma os verbos: dispor,
que terminam em -iar. Os verbos com essa termina-
interpor, sobrepor, compor, opor, repor, transpor, en-
ção são, predominantemente, regulares.
trepor, supor.

PRESENTE - INDICATIVO
EXERCÍCIO COMENTADO
Eu Crio

Tu Crias 1. (FCC – 2018) “Uma tendência que já coroava as edi-


ções anteriores do prêmio”.
Ele/Você Cria O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo do que
se encontra acima está sublinhado em:
Nós Criamos

Vós Criais a) Por meio do qual definia uma suposta obra de arte.
b) O novo prêmio atenderia o mercado.
Eles/Vocês Criam c) Ou o que o contraria.
d) O leitor elegerá títulos apenas entre os finalistas.
Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral- e) Ele contempla os títulos com mais chance.
mente, são irregulares e apresentam alguma modi-
ficação no radical ou nas desinências. Assim como o “Coroava”, assim como “definia”, está conjugado no
verbo passear, são derivados dessa terminação os pretérito imperfeito do indicativo. Resposta: Letra A.
verbos:
PREPOSIÇÕES
PRESENTE - INDICATIVO
Conceito
Eu Passeio
São palavras invariáveis que ligam orações ou
Tu Passeias outras palavras. As preposições apresentam funções
importantes tanto no aspecto semântico quanto no
Ele/Você Passeia
46 aspecto sintático, pois complementam o sentido de
verbos e/ou palavras cujo sentido pode ser alterado z Preposição + advérbio:
sem a presença da preposição, modificando a transiti- De + aqui, ali, além: daqui, dali, dalém.
vidade verbal e colaborando para o preenchimento de
sentido de palavras deverbais2. z Preposição + pronomes pessoais:
As preposições essenciais são: a, ante, até, após, Em + ele, ela, eles, elas: nele, nela, neles, nelas.
com, contra, de, desde, em, entre, para, per, peran- De + ele, ela, eles, elas: dele, dela, deles, delas.
te, por, sem, sob, trás.
Existem, ainda, as preposições acidentais, assim z Preposição + pronome relativo:
chamadas pois pertencem a outras classes gramaticais, A + onde: aonde.
mas, ocasionalmente, funcionam como preposições. z Preposição + pronomes indefinidos:
Eis algumas: afora, conforme (quando equivaler a
De + outro, outras: doutro, doutros, doutra, doutras.
“de acordo com”), consoante, durante, exceto, salvo,
segundo, senão, mediante, que, visto (quando equi-
valer a “por causa de”). Algumas Relações Semânticas Estabelecidas por
Preposições
Locuções Prepositivas
É importante ressaltar que as preposições podem
São grupos de palavras que equivalem a uma pre-
apresentar valor relacional ou podem atribuir um
posição. Ex.: Falei sobre o tema da prova; Falei acerca
do tema da prova. valor nocional. As preposições que apresentam um
A locução prepositiva na segunda frase substitui valor relacional cumprem uma relação sintática
perfeitamente a preposição sobre. As locuções pre- com verbos ou substantivos, que, em alguns casos, são
positivas sempre terminam em uma preposição, e há chamados deverbais, conforme já mencionamos ante-
apenas uma exceção: a locução prepositiva com sen- riormente. Essa mesma relação sintática pode ocorrer
tido concessivo “não obstante”. A seguir, elencamos com adjetivos e advérbios, os quais também apresen-
alguns exemplos de locuções prepositivas: tarão função deverbal.
Abaixo de; acerca de; acima de; devido a; a despeito Ex.: Concordo com o advogado (preposição exigida
de; adiante de; defronte de; embaixo de; em frente de;
pela regência do verbo concordar).
graças a; junto de; perto de; por entre; por trás de; quan-
Tenho medo da queda (preposição exigida pelo
to a; a fim de; a respeito de; por meio de; em virtude de.
Algumas locuções prepositivas apresentam seme- complemento nominal).
lhanças morfológicas, mas significados completamen- Estou desconfiado do funcionário (preposição exi-
te diferentes, como: gida pelo adjetivo).
A opinião dos diretores vai ao encontro do pla- Fui favorável à eleição (preposição exigida pelo
nejamento inicial = Concordância. / As decisões do advérbio).
público foram de encontro à proposta do programa Em todos esses casos, a preposição mantém uma
= Discordância. relação sintática com a classe de palavras a qual se liga,
Em vez de comer lanches gordurosos, coma frutas sendo, portanto, obrigatória sua presença na sentença.
= substituição. / Ao invés de chegar molhado, chegou
De modo oposto, as preposições cujo valor nocio-
cedo = oposição.
nal é preponderante apresentam uma modificação
Fonte: instagram.com/academiadotexto. Acessado em: 19/11/2020. no sentido da palavra a qual se liga. Elas não são
Combinações e Contrações componentes obrigatórios na construção da senten-
ça, divergindo das preposições de valor relacional.
As preposições podem ser contraídas com outras As preposições de valor nocional estabelecem uma
classes de palavras, veja: noção de posse, causa, instrumento, matéria, modo
etc. Vejamos algumas:
z Preposição + artigo:
A + a, as, o, os: à, às, ao, aos.
De + a, as, o, os, um, uns, uma, umas: da, das, do, VALOR NOCIONAL DAS
SENTIDO
dos, dum, duns, duma, dumas. PREPOSIÇÕES
Por + a, as, o, os: pela, pelas, pelo, pelos. Posse Carro de Marcelo
Em + a, as, o, os, um, uns, uma, umas: na, nas, no,
nos, num, nuns, numa, numas. O cachorro está sob a
Lugar
z Preposição + pronome demonstrativo: mesa
A + aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo: àque- Votar em branco, chegar
le, àqueles, àquela, àquelas, àquilo. Modo
aos gritos
LÍNGUA PORTUGUESA

Em + este, esta, estes, estas, isto, esse, essa, esses,


essas, isso, aquele, aquela, aqueles, aquelas, aqui- Causa Preso por estupro
lo: neste, nesta, nestes, nestas, nisto, nesse, nes-
sa, nesses, nessas, nisso, naquele, naquela, na- Assunto Falar sobre política
queles, naquelas, naquilo.
De + este, esta, estes, estas, isto, esse, essa, esses, es- Descende de família
Origem
sas, isso, aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo: simples
deste, desta, destes, destas, disto, desse, dessa, Olhe para frente! Iremos
desses, dessas, disso, daquele, daquela, daque- Destino
a Paris
les, daquelas, daquilo.
2  Palavras deverbais são substantivos que expressam, de forma nominal e abstrata, o sentido de um verbo com o qual mantêm relação.
Exemplo: A filmagem, O pagamento, A falência etc. Geralmente, os nomes deverbais são acompanhados por preposições e, sintaticamente, o
termo que completa o sentido desses nomes é conhecido como complemento nominal. 47
„ Importante: Pois com sentido explicativo ini-
EXERCÍCIO COMENTADO cia uma oração e justifica outra. Ex.: Volte, pois
sinto saudades.
1. (FCC – 2018) Observe as seguintes passagens:
Pois conclusivo fica após o verbo, deslocado entre
I. Para o comitê, Brasília era um marco do desenvolvi- vírgulas: Nessa instabilidade, o dólar voltará, pois, a
mento moderno. subir.
II. Mas, para ganhar o título de patrimônio mundial, preci-
sava de leis... z Conclusiva: Logo, portanto, então, por isso, assim,
III. Criadas por Lucio Costa para organizar o sítio urbano... por conseguinte, destarte, pois (deslocado na fra-
IV. Para muitos, o Plano Piloto lembra um avião. se). Ex.: Estava despreparado, por isso, não fui
aprovado.
Considerando-se o contexto, o vocábulo para exprime
ideia de finalidade em: As conjunções e, nem não devem ser empregadas
juntas (e nem), tendo em vista que ambas indicam a
a) I e III, apenas. mesma relação aditiva o uso concomitante acarreta
b) I, II e IV, apenas. em redundância.
c) III e IV, apenas.
d) II e III, apenas.
Conjunções Subordinativas
e) I, II, III e IV.
Tal qual as conjunções coordenativas, as subor-
A preposição “para” indicará finalidade quando puder
ser substituída pela locução “a fim de”, como ocorre dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias
nos itens II e III. Resposta: Letra D. apresentadas em um texto; porém, diferentemente
daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações
CONJUNÇÕES subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra
para terem o sentido apreendido.
Assim como as preposições, as conjunções também
são invariáveis e também auxiliam na organização z Causal: Haja vista, que, porque, pois, porquanto,
das orações, ligando termos e, em alguns casos, ora- visto que, uma vez que, como (equivale a porque)
ções. Por manterem relação direta com a organização etc. Ex.: Como não era vaidosa, nunca se arrumava.
das orações nas sentenças, as conjunções podem ser: z Consecutiva: Que (depois de tal, tanto, tão), de
coordenativas ou subordinativas. modo que, de forma que, de sorte que etc. Ex.:
Estudei tanto que fiquei com dor de cabeça.
Conjunções Coordenativas
z Comparativa: Como, que nem, que (depois de
As conjunções coordenativas são aquelas que mais, menos, melhor, pior, maior) etc. Ex.: Corria
ligam orações coordenadas, ou seja, orações que não como um touro.
fazem parte de uma outra ou, em alguns casos, essas
z Conformativa: Conforme, como, segundo, de
conjunções ligam núcleos de um mesmo termo da ora-
acordo com, consoante etc. Ex.: Tudo ocorreu con-
ção. As conjunções coordenadas podem ser:
forme o planejado.
z Aditivas: E, nem, bem como, não só, mas também, z Concessiva: Embora, conquanto, ainda que, mes-
não apenas, como ainda, senão (após não só). Ex.: mo que, em que pese, posto que etc. Ex.: Teve que
Não fiz os exercícios nem revisei. O gato era o pre- aceitar a crítica, conquanto não tivesse gostado.
ferido, não só da filha, senão de toda família.
z Adversativa: Mas, porém, contudo, todavia, entre- z Condicional: Se, caso, desde que, contanto que,
tanto, não obstante, senão (equivalente a mas). Ex.: a menos que, somente se etc. Ex.: Se eu quisesse
Não tenho um filho, mas dois. A culpa não foi a falar com você, teria respondido sua mensagem.
população, senão dos vereadores (equivale a “mas z Proporcional: À proporção que, à medida que,
sim”). quanto mais...mais, quanto menos...menos etc. Ex.:
Quanto mais estudo, mais chances tenho de ser
„ Importante: a conjunção E pode apresentar aprovado.
valor adversativo, principalmente quando é
antecedido por vírgula: Estava querendo dor- z Final: Final, para que, a fim de que etc. Ex.: A pro-
mir, e o barulho não deixava. fessora dá exemplos para que você aprenda!
z Temporal: Quando, enquanto, assim que, até que,
z Alternativas: Ou, ou...ou, quer...quer, seja...seja,
mal, logo que, desde que etc. Ex.: Quando viajei
ora...ora, já...já. Ex.: Estude ou vá para a festa. Seja
por bem, seja por mal, vou convencê-la. para Fortaleza, estive na Praia do Futuro. Mal che-
guei à cidade, fui assaltado.
„ Importante: a palavra senão pode funcionar
como conjunção alternativa: Saia agora, senão Os valores semânticos das conjunções não se
chamarei os guardas! (podemos trocá-la por ou). prendem às formas morfológicas desses elementos.
O valor das conjunções é construído contextualmen-
z Explicativas: Que, porque, pois, (se vier no início te, por isso, é fundamental estar atento aos sentidos
da oração), porquanto. Estude, porque a caneta é estabelecidos no texto. Ex.: Se Mariana gosta de você,
mais leve que a enxada! por que você não a procura? (SE = causal = já que);
Por que ficar preso na cidade, quando existe tanto ar
48 puro no campo. (quando = causal = já que).
Conjunções Integrantes É salutar lembrar que o sentido exato de cada
interjeição só poderá ser apreendido diante do con-
As conjunções integrantes fazem parte das orações texto; por isso, em questões que abordem essa classe
subordinadas e, na realidade, elas apenas integram de palavras, o candidato deve reler o trecho em que a
uma oração principal à outra, subordinada. Existem interjeição aparece, a fim de se certificar do sentido
apenas dois tipos de conjunções integrantes: que e se. expresso no texto.
Isso acontece pois qualquer expressão exclamati-
z Quando é possível substituir o que pelo pronome va que expresse sentimento ou emoção pode funcionar
isso, estamos diante de uma conjunção integrante. como uma interjeição. Lembrem-se dos palavrões, por
Ex.: Quero que a prova esteja fácil. Quero = isso. exemplo, que são interjeições por excelência, mas, depen-
dendo do contexto, podem ter seu sentido alterado.
z Sempre haverá conjunção integrante em orações
Antes de concluirmos, é importante ressaltar o
substantivas e, consequentemente, em períodos
papel das locuções interjetivas, conjunto de palavras
compostos. Ex.: Perguntei se ele estava em casa.
que funciona como uma interjeição, como: Meu Deus!
Perguntei = isso.
Ora bolas! Valha-me Deus!
z Nunca devemos inserir uma vírgula entre um ver-
bo e uma conjunção integrante. Ex.: Sabe-se, que
o Brasil é um país desigual (errado). Sabe-se que o
Brasil é um país desigual (certo). FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre
os grandes grupos de palavras existentes na língua,
EXERCÍCIO COMENTADO como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são gru-
pos morfológicos. Ao combinar as palavras em frases,
1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) O uso da conjunção nós construímos um painel morfológico.
“embora” pela conjunção “conquanto” prejudicaria o As palavras normalmente recebem uma dupla
sentido original do texto: classificação: a morfológica, que está relacionada à
classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela-
( ) CERTO  ( ) ERRADO cionada à função específica que assumem em deter-
minada frase.
Nem precisamos ler o texto mencionado pela ques-
tão para sabermos que o item está errado, pois Frase
conquanto, assim como embora, é uma conjunção
concessiva. Resposta: Errado. Frase é todo enunciado com sentido completo.
Pode ser formada por apenas uma palavra ou por um
INTERJEIÇÕES conjunto de palavras.
Ex.: Fogo!
As interjeições também fazem parte do grupo de Silêncio!
palavras invariáveis, tal como as preposições e as con- “A igreja, com este calor, é fornalha...” (Graciliano
junções. Sua função é expressar estado de espírito e Ramos)
emoções, por isso, apresenta forte conotação semânti-
ca; ademais, uma interjeição sozinha pode equivaler Oração
a uma frase. Ex.: Tchau!
As interjeições, como mencionamos, indicam rela- Enunciado que se estrutura em torno de um verbo
ções de sentido diversas; a seguir, apresentamos um (explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu-
quadro com os sentimentos e sensações mais expres- ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen-
sos pelo uso de interjeições: tá-lo completo ou incompleto.
Ex.: Você é um dos que se preocupam com a
VALOR SEMÂNTICO INTERJEIÇÃO poluição.
“A roda de samba acabou” (Chico Buarque)
Advertência Cuidado! Devagar! Calma!
Período
Alívio Arre! Ufa! Ah!
LÍNGUA PORTUGUESA

Alegria/satisfação Eba! Oba! Viva! Período é o enunciado constituído de uma ou mais


orações.
Desejo Oh! Tomara! Oxalá! Classifica-se em:
Repulsa Irra! Fora! Abaixo!
� Simples: possui apenas uma oração.
Dor/tristeza Ai! Ui! Que pena! Ex.: O sol surgiu radiante.
Espanto Oh! Ah! Opa! Putz! Ninguém viu o acidente.
� Composto: possui duas ou mais orações.
Saudação Salve! Viva! Adeus! Tchau! Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.”
(Chico Buarque)
Medo Credo! Cruzes! Uh! Oh!
Chegou Em Casa E Tomou Banho. 49
Dica
TERMOS DA ORAÇÃO
Para determinar o sujeito da oração, colocam-se
Os termos que formam o período simples são dis- as expressões interrogativas quem? ou o quê?
tribuídos em: essenciais (Sujeito e Predicado), inte- Antes do verbo.
grantes (complemento verbal, complemento nominal Ex.: A população pediu uma providência ao
e agente da passiva) e acessórios (adjunto adnominal, governador.
adjunto adverbial e aposto). quem pediu uma providência ao governador?
Resposta: A população (sujeito).
Termos Essenciais da Oração Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o
outro.
São aqueles indispensáveis para a estrutura básica o que iria de um lado para o outro?
da oração. Costuma-se associar esses termos a situa- Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito).
ções analógicas, como um almoço tradicional brasi-
leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por Tipos de Sujeito
exemplo. São eles: Sujeito e Predicado. Veremos a
seguir cada um deles. Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se em:

SUJEITO Simples

É o elemento que faz ou sofre a ação determinada DETERMINADO Composto


pelo verbo. Elíptico
O sujeito pode ser:
Com verbos flexionados na 3ª
� o termo sobre o qual o restante da oração diz algo; pessoa do singular
� o elemento que pratica ou recebe a ação expressa INDETERMINADO Com verbos acompanhados do
pelo verbo; se (índice de indeterminação do
� o termo que pode ser substituído por um pronome sujeito)
do caso reto;
Usado para fenômenos da
� o termo com o qual o verbo concorda. INEXISTENTE natureza ou com verbos
Ex.: A população implorou pela compra da vacina impessoais
da COVID-19.
z Determinado: quando se identifica a pessoa, o
No exemplo anterior a população é: lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em:

z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo- „ Simples: quando há apenas um núcleo.
rou pela compra da vacina); Ex.: O [aluguel] da casa é caro.
z O elemento que pratica a ação de implorar; Núcleo: aluguel
Sujeito simples: O aluguel da casa
z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular); „ Composto: quando há dois núcleos ou mais.
Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
z O termo que pode ser substituído por um pronome
Núcleos: sons, cores.
do caso reto.
Sujeito composto: Os sons e as cores
(Ele implorou pela compra da vacina da COVID-19.)
„ Elíptico, oculto ou desinencial: quando não
Núcleo do sujeito aparece na oração, mas é possível de ser identifi-
cado devido à flexão do verbo ao qual se refere.
Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: (Eu)
O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal
porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O
z Indeterminado: quando não é possível identificar
núcleo indica a palavra que realmente está exercen-
o sujeito na oração, mas ainda sim está presente.
do determinada função sintática, que atua ou sofre
Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa-
a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan-
do por um índice de indeterminação do sujeito, a
tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou partícula “se”.
pronome.
„ Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural,
z O sujeito simples contém apenas um núcleo. não se referindo a nenhuma palavra determi-
Ex.: O povo pediu providências ao governador. nada no contexto.
Sujeito: O povo Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje.
Núcleo do sujeito: povo Entende-se que alguém passou cedo.
z Já o sujeito composto, o núcleo será constituído „ Colocando-se verbos sem complemento direto
de dois ou mais termos. (intransitivos, transitivos diretos ou de ligação)
As luzes e as cores são bem visíveis. na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro-
Sujeito: As luzes e as cores nome se, que atua como índice de indetermina-
50 Núcleo do sujeito: luzes/cores ção do sujeito.
Ex.: Não se vê com a neblina. Importante notar que não há preposição entre
Entende-se que ninguém consegue ver nessa o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo,
condição. “de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais
sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal.
Precisa-se de cabelo.
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal,
EXERCÍCIO COMENTADO e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é
indeterminado, marcado pelo índice de indetermina-
1. (CONSESP – 2018) Assinale a alternativa em que ção “-se”.
temos sujeito indeterminado.
z Voz passiva analítica (sujeito paciente)
a) Levaram-me para uma casa velha. Ex.: A minha saia azul está rasgada.
b) Era uma tarde maravilhosa. O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen-
c) Vendem-se espetos de carne aqui. ça da partícula -se.
d) Alguns assistiram ao filme até o final.

A construção verbal “Levaram-me”, da alternativa


A, indica que o sujeito está na 3ª pessoa do plural EXERCÍCIO COMENTADO
e é indeterminado porque não se sabe quem levou.
Resposta: Letra A. 1. (FURB – 2019) Assinale a alternativa que contém
a classificação correta do sujeito da oração “Neste
Sujeito Inexistente ou Oração sem Sujeito primeiro momento, foram entregues 30 aparelhos
auditivos”.
Esse tipo de situação ocorre quando uma oração
não tem sujeito mas tem sentido completo. Os verbos a) Sujeito composto.
são impessoais e normalmente representam fenôme- b) Oração sem sujeito.
nos da natureza. Pode ocorrer também o verbo fazer c) Sujeito oculto (desinencial).
ou haver no sentido de existir. d) Sujeito indeterminado.
Geia no Paraná. e) Sujeito simples.
Fazia um mês que tinha sumido.
Basta de confusão.
Há dois anos esse restaurante abriu. O sujeito da oração é “30 aparelhos auditivos”. Na
ordem direta, a sentença fica: “30 aparelhos audi-
tivos foram entregues neste primeiro momento”.
Como o sujeito é formado por apenas um núcleo, o
EXERCÍCIO COMENTADO sujeito é simples. Resposta: Letra E.

1. (FEPESE – 2016) Na oração “Uma partícula extrema- PREDICADO


mente quente e pesada começou a se ‘contorcer’”, o
núcleo do sujeito é a palavra: É o termo que contém o verbo e informa algo sobre
o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter-
mos essenciais na oração, há casos em que a oração
a) quente.
não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em
b) pesada.
torno de um verbo e ele está contido no predicado, é
c) partícula.
impossível existir uma oração sem sujeito.
d) contorcer
e) extremamente.
O predicado pode ser:
“Partícula” corresponde ao termo central do sujei-
z Aquilo que se declara a respeito do sujeito.
to “uma partícula extremamente quente e pesada”.
Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.”
Portanto, tem função de núcleo do sujeito. Resposta: (José de Alencar)
Letra C. Predicado: seguem sua marcha
z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei-
Classificação do Sujeito Quanto à Voz to (oração sem sujeito):
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: Chove pouco nesta época do ano.


z Voz ativa (sujeito agente) Predicado: Chove pouco nesta época do ano.
Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado.
Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer- Para determinar o predicado, basta separar o
ce a ação na frase. sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica-
do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo
z Voz passiva sintética (sujeito paciente) é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita:
Ex.: Corta-se cabelo. Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves
Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito Dias)
“cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida.
item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias)
oração. Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores. 51
Classificação do Predicado Noel Rosa
Verbo Transitivo Direto: Fazer.
A classificação do predicado depende do significa- Ex.: Ele trouxe os livros ontem.
do e do tipo de verbo que apresenta. Verbo Transitivo Direto: trouxe.
z Verbo transitivo indireto (VTI): o verbo transiti-
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig- vo indireto tem como necessidade o complemen-
nificativo se concentra em um nome (corresponde to acompanhado de uma preposição para fazer
a um predicativo do sujeito). sentido.
O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação.
Ex.: Nós acreditamos em você.
O predicado nominal tem por núcleo um nome
Verbo transitivo indireto: acreditamos
(substantivo, adjetivo ou pronome).
Preposição: em
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo
Ex.: Frida obedeceu aos seus pais.
Mendes)
Verbo transitivo indireto: obedeceu
Predicado: são mais bonitas.
Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo Preposição: a (a + os)
Bilac) Ex.: Os professores concordaram com isso.
Predicado: estão cheias de calafrios. Verbo transitivo indireto: concordaram
Preposição: com
É importante não confundir: z Verbo transitivo direto e indireto (VTDI): é o
verbo de sentido incompleto que exige dois com-
z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação, plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto
mas um estado momentâneo ou permanente que indireto (com preposição).
relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou-
o predicativo do sujeito. tras.” (Machado de Assis)
z Predicativo do sujeito; função exercida por subs- Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri- Objeto direto 1: anedotas
buem uma condição ou qualidade ao sujeito.
Objeto indireto 1: lhe
Ex.: O garoto está bastante feliz.
Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia
Verbo de ligação: está.
Objeto direto 2: outras
Predicativo do sujeito: bastante feliz.
Objeto indireto 2: lhe.
Ex.: Seu batom é muito forte.
Verbo de ligação: é. z Verbo intransitivo (VI): É aquele capaz de cons-
Predicativo do sujeito: muito forte. truir sozinho o predicado, que não precisa de com-
plementos verbais, sem prejudicar o sentido da
oração.
EXERCÍCIO COMENTADO Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam.
Verbo intransitivo: adormeciam.
1. (AMEOSC – 2019) “Elas são diferentes uma da outra,
[...]”. Na oração, os termos destacados exercem fun-
ção sintática de: EXERCÍCIO COMENTADO
a) Predicado nominal. 1. (CRESCER CONSULTORIAS – 2019) Ocorre predicado
b) Predicado verbal. verbal em:
c) Predicado verbo-nominal.
d) Predicativo do sujeito. a) “O rapaz foi condenado a dez anos de liberdade vigia-
da e terapia”.
O verbo “são” é de ligação, o que confere uma
b) “Mesmo se formos todos bem intencionados”.
característica do sujeito com os termos posteriores
c) “Crianças ricas são mais vulneráveis a problemas de
“diferentes uma da outra”, que são o predicativo do
abuso de substâncias”.
sujeito. Portanto, a alternativa correta é a A, consi-
d) “Filhos de pais ricos não estão necessariamente livres
derando que o predicado da oração é nominal. Res-
de problemas de adequação”.
posta: Letra A.

Predicado Verbal O predicado “foi condenado a dez anos de liberdade


vigiada e terapia” contém um verbo intransitivo dire-
Ocorre quando há dois núcleos significativos: um to (“foi”) e, consequentemente, um complemento de
verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi- mesmo valor sintático. Resposta: Letra A
cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do
objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os Predicado Verbo-Nominal
demais termos do predicado.
O verbo do predicado pode ser classificado em Ocorre quando há dois núcleos significativos:
transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi- um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um
tivo direto e indireto ou verbo intransitivo. nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo
transitivo, predicativo do objeto).
z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi-
ge um complemento não preposicionado, o objeto Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes)
direto. Verbo intransitivo: parou
52 Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.” Predicativo do sujeito: atento
Repare que no primeiro exemplo o termo “atento” Oração sem sujeito acontece quando não há um ele-
está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é mento ao qual se atribui o predicado. Ocorre, por
considerado predicativo do sujeito. exemplo, quando temos o verbo “haver” no sentido
de existir, acontecer, pois o mesmo não tem sujeito.
Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo Bilac) Na alternativa B, temos o verbo falar na 3º pessoa do
Verbo intransitivo: marchou singular + SE, indicando indeterminação do sujeito.
Predicativo do sujeito: desorientado Na alternativa C, temos o verbo haver, mas no sen-
tido de ter, por isso, o mesmo encontra-se no plural;
No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi- temos, portanto, Sujeito indeterminado. Na letra D,
ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei- temos como sujeito “esse processo de abstração da
to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito. linguagem, de sentimentos”. Resposta: Letra A.

Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha- TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO


do de Assis)
Verbo transitivo direto: achou São vocábulos que se agregam a determinadas
Objeto direto: o raciocínio estruturas para torná-las completas. De acordo com
Predicativo do objeto: exato a gramática da língua portuguesa, esses termos são
divididos em:
No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza um
julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”, que é o Complementos Verbais
objeto direto dessa oração. Com isso, podemos concluir
que temos um caso de predicativo do objeto, visto que São termos que completam o sentido de verbos
“exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é o sujeito. transitivos diretos e transitivos indiretos.
O que é o predicativo do objeto?
z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom-
É o termo que confere uma característica, uma
qualidade, ao que se refere. panhado de preposição.
A formação do predicativo do objeto se dá por um Ex.: Examinei o relógio de pulso.
adjetivo ou por um substantivo. Gostaria de vê-lo no topo do mundo.
Ex.: Consideramos o filme proveitoso. O técnico convocou somente os do Brasil. (os =
Predicativo do objeto: proveitoso aqueles)
Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas.
Predicativo do objeto: vitoriosa Pronomes e sua relação com o objeto direto
Para facilitar a identificação do predicativo do Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas
objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres- variações lo(s), la(s), no(s), na(s), “que” quase sem-
centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí- pre exercem função de objeto direto, os pronomes
fica é relacionar o predicativo ao nome. oblíquos me, te, se, nos, vos também podem exercer
O filme foi proveitoso. essa função sintática.
Ela era vitoriosa. Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram
Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre- quem? A minha pessoa”)
dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de Nunca vos tomeis como grandes personalidades.
ligação (foi e era, respectivamente). (= “Nunca tomeis quem? Vós”)
Convidaram-na para o almoço de despedida. (=
“Convidaram quem? Ela”)
Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (=
EXERCÍCIOS COMENTADOS “Receberam quem? Nós”)
Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem
1. (SERCTAM – 2016) Na oração “Este homem parece ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do
uma criança”, o termo destacado é: pronome relativo que.
Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo:
a) sujeito. esse algo é o objeto direto)
b) predicado verbal. Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome
c) predicativo do objeto. feminino definido)
d) predicado nominal.
e) predicado verbo-nominal. z Objeto direto preposicionado

Mesmo que o verbo transitivo direto não exija


O verbo “parece” é transitivo direto, e “uma crian-
preposição no seu complemento, algumas palavras
ça” tanto complementa o sentido do verbo como
LÍNGUA PORTUGUESA

requerem o uso da preposição para não perder o sen-


caracteriza o sujeito “Este homem”. Portanto, o tre-
tido de “alvo” do sujeito.
cho “parece uma criança” corresponde a um predi-
Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros
cado nominal. Resposta: Letra D.
facultativos.
2. (FUMARC – 2012) Há oração sem sujeito em: Exemplos com ocorrência obrigatória de preposição:

a) “Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.” Não entendo nem a ele nem a ti.
b) “Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade [...]” Respeitava-se aos mais antigos.
c) “Com certeza, já haviam tomado café da manhã em Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
casa [...]” Amavam-se um ao outro.
d) “É muito grave esse processo de abstração da lingua- “Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
gem, de sentimentos [...]” feita.” (Ciro dos Anjos) 53
Exemplos com ocorrência facultativa de preposição: Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado.
Estou longe de casa e tão perto do paraíso.
Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- Para melhor identificar um complemento nomi-
le templo. nal, siga a instrução:
A escultura atrai a todos os visitantes. Nome + preposição + quem ou quê
Não admito que coloquem a Sua Excelência num Como diferenciar complemento nominal de com-
pedestal. plemento verbal?
Ao povo ninguém engana. Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles. (complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se
No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des- diretamente ao verbo “obedecia”)
sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre- Naquela época, a obediência ao meu coração pre-
sente para indicar parte de um todo, quando assim valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora-
for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”).
bebeu uma porção da água, e não ela toda.
Agente da Passiva
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
dessa função sintática na mesma oração, a fim de
É o complemento de um verbo na voz passiva ana-
enfatizar um único significado.
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais
raramente, da preposição de.
Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares
Andrade)
ser, estar, viver, andar, ficar.
z Objeto direto interno: Representado por palavra
que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta Termos Acessórios da Oração
mesmo significado.
Ex.: Riu um riso aterrador. Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu-
Dormiu o sono dos justos. ra básica da oração, são importantes para compreen-
são do enunciado porque trazem informações novas.
Como diferenciar objeto direto de sujeito? Esses termos são chamados acessórios da oração.
Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto) Adjunto Adnominal
O objeto direto pode ser passado para a voz passi-
va analítica e se transforma em sujeito. São termos que acompanham o substantivo,
Os jogos da seleção foram ignorados. núcleo de outra função, para qualificar, quantificar,
especificar o elemento representado pelo substantivo.
z Objeto indireto: É complemento verbal regido de Categorias morfológicas que podem funcionar
preposição obrigatória, que se liga diretamente a como adjunto adnominal:
verbos transitivos indiretos e diretos. Representa
o ser beneficiado ou o alvo de uma ação. z Artigos
Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da z Adjetivos
casa 260. z Numerais
Gosto de ti, meu nobre. z Pronomes
Não troque o certo pelo duvidoso. z Locuções adjetivas
Vamos insistir em promover o novo romance de
ficção. Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo
ficaram esquecidos no quarto.
Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais Iam cheios de si.
Estava conquistando o respeito dos seus.
Pode ser representado pelos seguintes pronomes O novo regulamento originou a revolta dos
oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro- funcionários.
nomes o, a, os, as não exercerão essa função. O doutor possuía mil lembranças de suas viagens.
Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor.
Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim,
z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto
comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
indireto, já que sempre ocorrem com preposição. adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes
Ex.: Você escreveu esta carta para mim? exercem essa função sintática quando assumem
valor de pronomes possessivos.
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo).
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
uma mensagem. z Como diferenciar adjunto adnominal de com-
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda. plemento nominal?

COMPLEMENTO NOMINAL Quando o adjunto adnominal for representado


por uma locução adjetiva, ele pode ser confundido
Completa o sentido de substantivos, adjetivos e com complemento nominal. Para diferenciá-los, siga
advérbios. É uma função sintática regida de preposi- a dica:
ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A
presença de um complemento nominal nos contextos „ Será adjunto adnominal: se o substantivo ao
de uso é fundamental para o esclarecimento do senti- qual se liga for concreto.
54 do do nome. Ex.: A casa da idosa desapareceu.
Se indicar posse ou o agente daquilo que
expressa o substantivo abstrato. EXERCÍCIO COMENTADO
Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada.
1. (NOVA CONCURSOS – 2021) O termo grifado em:
„ Será complemento nominal: se indicar o alvo “Watson estava  numa sala ao lado” exerce a função
daquilo que expressa o substantivo. sintática de:
Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não
foi respeitada. a) Adjunto adnominal
Notava-se o amor pelo seu trabalho. b) Objeto direto
Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio: c) Predicativo
Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos. d) Complemento nominal
e) Adjunto adverbial

O verbo “estava” é seguido de um adjunto adverbial


EXERCÍCIO COMENTADO de lugar; neste caso, temos um adjunto adverbial.
Resposta: Letra E.
1. (NOVA CONCURSOS – 2021) Identifique os adjuntos
adnominais das orações abaixo. Aposto

a) Os inscritos atrasados não puderam entrar. Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes


b) As consequências serão graves. ou orações. O aposto tem como propósito explicar,
c) Os alunos calados estiveram atentos. identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon-
d) Os funcionários da recepção continuaram calados. tar algo, alguém ou um fato.
e) O romance da jovem escritora foi publicado. Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma
bicicleta.
a) “atrasados”, qualificando o termo “inscritos” Aposto: filha de D. Raimunda
b) “As”, artigo relacionado do termo “consequências” Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran-
d) “calados”, qualificando o termo “alunos” des obras.
d) “da recepção”, indicando quais são os funcionários Aposto: Machado de Assis.
e) “da jovem escritora”, indicando de quem é o
romance. Resposta. Classifica-se nas seguintes categorias:

Adjunto Adverbial z Explicativo: usado para explicar o termo anterior.


Separa-se do substantivo a que se refere por uma
pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões
Termo representado por advérbios, locuções
ou dois-pontos.
adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio-
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram
na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas ontem, acabaram de voltar de férias.
circunstâncias. Jéssica uma ótima pessoa, conseguiu apoio de todos.

z Tempo: Quero que ele venha logo; � Enumerativo: usado para desenvolver ideias que
foram resumidas ou abreviadas em um termo ante-
z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
rior. Mostra os elementos contidos em um só termo.
z Modo: O dia começou alegremente; Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e
z Intensidade: Almoçou pouco; riachos.
Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber,
z Causa: Ela tremia de frio;
preconceito, antipatia e arrogância.
z Companhia: Venha jantar comigo; z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado
z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as para resumir termos anteriores. É expresso, nor-
roupas; malmente, por um pronome indefinido.
z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo; Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos
estavam empolgados com a feira.
z Finalidade: Vivia para o trabalho; Irei a Macau, Cabo Verde, Angola e Timor-Leste,
z Meio: Viajou de avião devido à rapidez; países africanos onde se fala português.
z Assunto: Falávamos sobre o aluguel; � Comparativo: Estabelece uma comparação implícita.
z Negação: Não permitirei que permaneça aqui; Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem
LÍNGUA PORTUGUESA

z Afirmação: Sairia sim naquela manhã; rumo.


z Origem: Descendia de nobres. � Circunstancial: Exprime uma característica
circunstancial.
Não confunda! Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas
Para conseguir distinguir adjunto adverbial de apropriadas.
adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio- � Especificativo: É o aposto que aparece junto a um
nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que substantivo de sentido genérico, sem pausa, para
o sentido seja parecido. especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por
Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui substantivos próprios.
é um adjunto adnominal) Exs.: O mês de abril.
Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um O rio Amazonas.
adjunto adverbial) Meu primo José. 55
z Aposto da oração: É um comentário sobre o Vocativo
fato expresso pela oração, ou uma palavra que
condensa. O vocativo é um termo que não mantém relação
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua sintática com outro termo dentro da oração. Não per-
preocupação. tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para
O noticiário disse que amanhã fará muito calor – chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese-
ideia que não me agrada. ja se comunicar. É um termo independente, pois
� Distributivo: Dispõe os elementos equitativamente. não faz parte da estrutura da oração.
Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha
para as perguntas. consulta.
Sua presença era inesperada, o que causou surpresa. Ela te diz isso desde ontem, Fábio.

z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-


Dica vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
� O aposto pode aparecer antes do termo a que outro termo da oração.
se refere, normalmente antes do sujeito. Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen- O aposto se relaciona sintaticamente com outro
na marcou uma geração. termo da oração.
� Segundo “o gramático” Cegalla, quando o apos- A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impecável.
to se refere a um termo preposicionado, pode ele Sujeito: a cozinha de lufe.
vir igualmente preposicionado. Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao
Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de sujeito).
tudo ele tinha medo.
� O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial.
Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas.
(adjetivos, apostos do predicativo do sujeito) PERÍODO COMPOSTO POR
Falou comigo deste modo: calma e maliciosa- COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO
mente. (advérbios, aposto do adjunto adverbial
de modo). Observe os exemplos a seguir:
A apostila de Português está completa.
z Diferença de aposto especificativo e adjunto Um verbo: Uma oração = período simples
adnominal: Normalmente, é possível retirar a Português e Matemática são disciplinas essen-
preposição que precede o aposto. Caso seja um ciais para ser aprovado em concursos.
adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura Dois verbos: duas orações = período composto
fica prejudicada. O período composto é formado por duas ou mais
Ex.: A cidade Fortaleza é quente. orações. Num parágrafo, podem aparecer misturado
(aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade) períodos simples e período compostos.
O clima de Fortaleza é quente.
(adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?)
PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO
z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O
aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo O povo levantou-se cedo
Era dia de eleição
adjetivo. para evitar aglomeração
Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle.
(predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad- Para não esquecer:
jetivo) Período simples é aquele formado por uma só
Homem desesperado, João sempre perde o con- oração.
trole. Período composto é aquele formado por duas ou
(aposto; núcleo: homem – substantivo) mais orações.
Classifica-se nas seguintes categorias:

EXERCÍCIO COMENTADO z Por coordenação: orações coordenadas assindéticas;

1. (CESPE-CEBRASPE – 2014) No trecho, as vírgulas iso- „ Orações coordenadas sindéticas: aditivas, adver-
lam segmento – “Sua vocação eminentemente hídrica sativas, alternativas, conclusivas, explicativas.
impõe, ao longo dos séculos, a necessidade do deslo-
camento...” com função de aposto explicativo. z Por subordinação:

( ) CERTO  ( ) ERRADO „ Orações subordinadas substantivas: subjeti-


vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com-
O trecho “ao longo dos séculos” não é um aposto e pletivas nominais, predicativas, apositivas;
não sugere explicação. Na verdade, ele é um adjunto „ Orações subordinadas adjetivas: restritivas,
adverbial de tempo deslocado na frase, intercalado explicativas;
por vírgulas. Se trouxéssemos esse trecho para o iní- „ Orações subordinadas adverbiais: causais,
cio do período, ficaria: “Ao longo dos séculos, sua comparativas, concessivas, condicionais, con-
vocação eminentemente hídrica impõe a necessida- formativas, consecutivas, finais, proporcionais,
56 de do deslocamento.” Resposta: Errado. temporais.
z Por coordenação e subordinação: orações for- Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale
madas por períodos mistos; a “pois”)
z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo. Vamos almoçar de novo porque ainda estamos
com fome.
Período Composto por Coordenação
PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
As orações são sintaticamente independentes. Isso
significa que uma não possui relação sintática com Formado por orações sintaticamente dependentes,
verbos, nomes ou pronomes das demais orações no considerando a função sintática em relação a um ver-
período. bo, nome ou pronome de outra oração.
Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” Tipos de orações subordinadas:
(Fernando Pessoa)
Oração coordenada 1: Deus quer z Substantivas;
Oração coordenada 2: o homem sonha z Adjetivas;
Oração coordenada 3: a obra nasce. z Adverbiais.
Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da
sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis) Orações Subordinadas Substantivas
Oração coordenada assindética: Subi devagarinho
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à São classificadas nas seguintes categorias:
porta da sala de Damasceno
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi z Orações subordinadas substantivas conectivas:
Conjunção adversativa: mas nada são introduzidas pelas conjunções subordinativas
integrantes que e se.
Orações Coordenadas Sindéticas Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de
impostos.
As orações coordenadas podem aparecer ligadas Não sei se poderei sair hoje à noite.
às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra- z Orações subordinadas substantivas justapos-
vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome tas: introduzidas por advérbios ou pronomes
sindética. Veremos agora cada uma delas: interrogativos (onde, como, quando, quanto,
quem etc.)
z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou
simultaneidade. z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias
Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam- roubadas.
bém, mas ainda, bem como, como também, se- Não sei quem lhe disse tamanha mentira.
não também, que (= e). z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos. não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica
Os convidados não compareceram nem explica- no infinitivo.
ram o motivo. Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras.
z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con- z Orações subordinadas substantivas subjetivas:
traste ou ressalva em relação ao fato anterior. exercem a função de sujeito. O verbo da oração
principal deve vir na voz ativa, passiva analítica
Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia,
ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe-
contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs-
rir a nenhum termo na oração.
tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso. Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito)
Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas. Foi importante que você regressasse. (sujeito ora-
“A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a cional) (or. sub. subst. subje.)
morte.” (Laurindo Rabelo)
z Orações subordinadas substantivas objetivas
z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou diretas: exercem a função de objeto direto de um
se excluem. verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi-
Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ... reto da oração principal.
ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez Ex.: Desejo o seu regresso. (OD)
... talvez). Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
Ex.: Ora responde, ora fica calado. subst. obj. dir.)
Você quer suco de laranja ou refrigerante?
z Orações subordinadas substantivas completi-
LÍNGUA PORTUGUESA

z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica vas nominais: exercem a função de complemento
sobre um raciocínio. nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- da oração principal.
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple-
de frase). mento nominal)
Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima Tenho necessidade de que você me apoie. (com-
semana. plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com-
“Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo pl. nom.)
Mendes Campos)
z Orações subordinadas substantivas predicati-
z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem vas: funcionam como predicativos do sujeito da
expressa. Conjunções constitutivas: que, porque, oração principal. Sempre figuram após o verbo de
porquanto, pois. ligação ser. 57
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do � Orações subordinadas adverbiais condicionais:
sujeito) são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se,
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do contanto que, a menos que etc.
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.) Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para tal.
z Orações subordinadas substantivas apositivas: � Orações subordinadas adverbiais conformati-
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois vas: são introduzidas por: como, conforme, segun-
de dois-pontos ou entre vírgulas. do, consoante.
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (aposto) Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos.
Só quero uma coisa: que você volte imediata-
mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.) � Orações subordinadas adverbiais consecutivas:
são introduzidas por: que (precedido na oração
z Orações subordinadas adjetivas: desempenham anterior de termos intensivos como tão, tanto,
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma
raramente, aposto explicativo). São introduzidas que, sem que.
por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os Ex.: A garota rio tanto, que se engasgou.
quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per-
orações subordinadas adjetivas classificam-se em: fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles)
explicativas e restritivas.
� Orações subordinadas adverbiais finais: indi-
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: cam um objetivo a ser alcançado. São introduzidas
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- por: para que, a fim de que, porque e que (= para
tam uma explicação sobre o termo antecedente. que).
São consideradas termo acessório no período, Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos
podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola- tivessem bom estudo.
das por vírgulas.
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos, � Orações subordinadas adverbiais proporcio-
cria trinta gatos. nais: são introduzidas por: à medida que, à pro-
porção que, quanto mais, quanto menos etc.
z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a
especificam ou limitam a significação do termo
aprecio.
antecedente, acrescentando-lhe um elemento indis-
pensável ao sentido. Não são isoladas por vírgulas. � Orações subordinadas adverbiais temporais:
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é são introduzidas por: quando, enquanto, logo que,
incurável. depois que, assim que, sempre que, cada vez que,
agora que etc.
Dica Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor.

Como diferenciar as orações subordinadas adje- Para separar as orações de um período composto, é
tivas restritivas das orações subordinadas adjeti- necessário atentar-se para dois elementos fundamen-
vas explicativas? tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
Ele visitará o irmão que mora em Recife. (conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
(restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai esses elementos, deve-se contar quantas orações ele
visitar apenas o que mora em Recife) representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
Ele visitará o irmão, que mora em Recife. ções verbais. Exs.:
(explicativa, pois ele tem apenas um irmão que [“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª oração
mora em Recife) [para fixar outros] – 2ª oração
[que os rodeiam] – 3ª oração
� Orações subordinadas adverbiais: exprimem [e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora-
uma circunstância relativa a um fato expresso em ção (M. de Assis)
outra oração. Têm função de adjunto adverbial.
São introduzidas por conjunções subordinativas Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo
(exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin- basta, pertencente à 1ª (oração principal).
tes grupos: A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém
ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
� Orações subordinadas adverbiais causais: são
introduzidas por: como, já que, uma vez que, por-
que, visto que etc.
Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por-
que ficamos sem gasolina. FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS
� Orações subordinadas adverbiais comparati-
PRONOMES RELATIVOS
vas: são introduzidas por: como, assim como, tal
Uma das classes de pronomes mais complexas, os
qual, como, mais etc.
pronomes relativos têm função muito importante na
Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do)
língua, refletida em assuntos de grande relevância
que a importada.
em concursos, como a análise sintática. Dessa forma,
� Orações subordinadas adverbiais concessivas: é essencial conhecer adequadamente a função desses
indica certo obstáculo em relação ao fato expres- elementos a fim de saber utilizá-los corretamente.
so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São Os pronomes relativos referem-se a um substantivo
introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que, ou a um pronome substantivo, mencionado anterior-
por mais que, se bem que etc. mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio-
58 Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã. nado anteriormente) chamamos de antecedente.
São pronomes relativos:
EMPREGO DE NOMES E PRONOMES
z Variáveis: O qual, os quais, cujo, cujos, quanto,
quantos / A qual, as quais, cuja, cujas, quanta, Vejamos como o emprego de nomes se dá em con-
quantas. textos de flexão e variação.

z Invariáveis: Que, quem, onde, como. Flexão de Gênero


z Emprego do pronome relativo que: pode ser asso-
ciado a pessoas, coisas ou objetos. Ex.: Encontrei Os gêneros do substantivo são masculinos e femi-
o homem que desapareceu; O cachorro que esta- ninos. Porém, alguns admitem apenas uma forma
va doente morreu; A caneta que emprestei nunca para os dois gêneros, são, por isso, chamados de uni-
formes. Os substantivos uniformes podem ser:
recebi de volta.
z Comuns-de-dois-gêneros: designam seres huma-
Em alguns casos, há a omissão do antecedente do
nos e sua diferença é marcada pelo artigo. Ex.: o
relativo que. Ex.: Não teve que dizer (não teve nada pianista / a pianista; o gerente / a gerente; o cliente
que dizer). / a cliente; o líder / a líder.

z Emprego do relativo quem: seu antecedente deve z Epicenos: designam animais ou plantas que apre-
ser uma pessoa ou objeto personificado. Ex.: Fomos sentam distinção entre masculino e feminino; a
diferença é marcada pelo uso do adjetivo macho
nós quem fizemos o bolo.
ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea; onça
O pronome relativo quem pode fazer referência a algo
macho / onça fêmea; gambá macho / gambá fêmea;
subentendido: Quem cala consente (aquele que cala). girafa macho / girafa fêmea.
z Emprego do relativo quanto: seu antecedente z Sobrecomuns: designam seres de forma geral que
deve ser um pronome indefinido ou demonstra- não são distinguidos por artigo ou adjetivo, o gêne-
tivo, pode sofrer flexões. Ex.: Esqueci-me de tudo ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.:
quanto foi me ensinado; Perdi tudo quanto pou- A criança; O monstro; A testemunha; O indivíduo.
pei a vida inteira.
Os substantivos biformes, como o nome indi-
z Emprego do relativo cujo: deve ser empregado
ca, designam os substantivos que apresentam duas
para indicar posse e aparecer relacionando dois formas para os gêneros masculino ou feminino. Ex.:
termos que devem ser um possuidor e uma coisa professor/professora.
possuída. Ex.: A matéria cuja aula faltei foi Língua Destacamos que alguns substantivos apresentam
portuguesa (o relativo cuja está ligando aula (pos- formas diferentes nas terminações para designar for-
suidor) a matéria (coisa possuída). mas diferentes no masculino e no feminino:

O relativo cujo deve concordar em gênero e núme- Ex.: Ator/atriz; Ateu/ ateia; Réu/ré.
ro com a coisa possuída.
Jamais devemos inserir um artigo após o pronome Outros substantivos modificam o radical para
cujo: Cujo o, cuja a designar formas diferentes no masculino e no femini-
Não podemos substituir cujo por outro pronome no, estes são chamados de substantivos heteroformes:
relativo;
O pronome relativo cujo pode ser preposiciona- Ex.: Pai/mãe; Boi/vaca; Genro/nora.
do. Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri.
Para encontrar o possuidor faça-se a seguinte per- Gênero e Significação
gunta: “de quem/do que?” Ex.: Vi o filme cujo dire-
tor ganhou o Óscar (diretor do que? Do filme.); Vi o É importante salientar que alguns substantivos
uniformes podem aparecer com marcação de gênero
rapaz cujas pernas você se referiu (pernas de quem?
diferente, ocasionando uma modificação no sentido.
Do rapaz.)
Veja, por exemplo:
z Emprego do pronome relativo onde: empregado z A testemunha: pessoa que presenciou um crime;
para indicar locais físicos. Ex.: Conheci a cidade z O testemunho: relato de experiência, associado a
onde meu pai nasceu. religiões.
Em alguns casos, pode ser preposicionado, assumin-
LÍNGUA PORTUGUESA

do as formas aonde e donde. Ex.: Irei aonde você for. Algumas formas substantivas mantêm o radical,
O relativo onde pode ser empregado sem antece- mas a alteração do gênero interfere no significado:
dente. Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém.
z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo;
z Emprego de o qual: o pronome relativo o qual e
z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais;
suas variações (os quais, a qual, as quais) é usa-
z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão.
do em substituição a outros pronomes relativos,
sobretudo o que, a fim de evitar fenômenos lin- Além disso, algumas palavras na língua causam
guísticos, como queísmo. Ex.: O Brasil tem um pas- dificuldade na identificação do gênero, pois são usa-
sado do qual (que) ninguém se lembra. das em contextos informais com gêneros diferentes, é
o caso de: a alface; a cal; a derme; a libido; a gênese;
O pronome o qual pode auxiliar na compreensão a omoplata / o guaraná; o catolicismo; o formicida; o
textual, desfazendo estruturas ambíguas. telefonema; o trema. 59
Algumas formas que não apresentam, necessaria- Destacamos, ainda, que os substantivos compostos
mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no formados por verbo + advérbio e verbo + substan-
masculino quanto no feminino: O personagem / a per- tivo plural ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os
sonagem; O laringe / a laringe; O xerox / a xerox. saca-rolha.

Flexão de Número Variação de Grau

Os substantivos flexionam-se em gênero, de manei- A flexão de grau dos adjetivos exprime a variação
ra geral, pelo acréscimo do morfema -s: Casa / casas. de tamanho dos seres, indicando um aumento ou uma
Porém, podem apresentar outras terminações: males, diminuição.
reais, animais, projéteis etc. Geralmente, devemos acres-
centar -es ao singular das formas terminadas em R ou Z,
z Grau aumentativo: quando o acréscimo de sufi-
como: flor / flores; paz / pazes. Porém, há exceções, como
xos aos substantivos indicar um grau aumentativo.
mal/males.
Ex.: bocarra, homenzarrão, gatalhão, cabeçorra,
Já os substantivos terminados em AL, EL, OL, UL
fazem plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral fogaréu, boqueirão, poetastro.
/ corais; papel / papéis; anzol / anzóis. Mas também z Grau diminutivo: quando o acréscimo de sufi-
há exceções. Ex.: a forma mel apresenta duas formas xos aos substantivos indicar um grau diminutivo.
aceitas meles e méis. Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta,
Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem pequenina, papelucho.
plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es.
Ex.: capelães, capitães, escrivães. Contudo, há subs-
tantivos que admitem até três formas de plural: Dica
O emprego do grau aumentativo ou diminutivo
z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães. dos substantivos pode alterar o sentido das pala-
z Ancião: anciãos, anciões, anciães. vras, podendo assumir um valor:
Afetivo: filhinha;
z Vilão: vilãos, vilões, vilães.
Pejorativo: mulherzinha / porcalhão.
Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas
que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão / O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas
órgãos; órfão / órfãos.
O novo acordo ortográfico estabelece novas regras
Plural dos Substantivos Compostos para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso
da inicial maiúscula. Dessa forma, devemos usar com
Os substantivos compostos são aqueles formados letra maiúscula as iniciais das palavras que designam:
por justaposição; o plural dessas formas obedece às
seguintes regras: z Nomes de instituições. Ex.: Embaixada do Brasil;
Ministério das Relações Exteriores; Gabinete da
z Variam os dois elementos: Vice-presidência.
z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás
substantivo + substantivo: Cubas. Caso a obra apresente em seu título um
Ex.: mestre-sala / mestres-salas;
nome próprio, este também deverá ser escrito com
inicial maiúscula.
Substantivo + adjetivo:
Ex.: guarda-noturno / guardas - noturnos; z Nomenclatura legislativa especificada deve ser
escrita com inicial maiúscula. Ex.: Lei de Diretri-
Adjetivo + substantivo: zes e Bases da Educação (LDB).
Ex.: boas-vindas;
z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da
Vacina; Guerra Fria.
Numeral + substantivo:
Ex.: terça-feira / terças - feiras.
Em palavras com hífen, podemos optar pelo uso
z Varia apenas um elemento: de maiúsculas ou minúsculas, portanto, são aceitas as
formas: Vice-Presidente; Vice-presidente e vice-pre-
Substantivo + preposição + substantivo. sidente, porém é preciso manter a mesma forma em
Ex.: canas-de-açúcar; todo o texto. Já nomes próprios compostos por hífen
devem ser escritos com as iniciais maiúsculas: Grã-
Substantivo + substantivo (com função adjetiva). -Bretanha, Timor-Leste.
Ex.: navios-escola.

Palavra invariável + palavra invariável.


Ex.: abaixo-assinados. EXERCÍCIO COMENTADO
Verbo + substantivo. 1. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir:
Ex.: guarda-roupas.
Organiza-se o sentido, nos versos 1 e 3, por meio de
Redução + substantivo. sequências verbais, das quais se destaca o uso recor-
60 Ex.: bel-prazeres. rente do substantivo “seco” devidamente flexionado.
Terra seca árvore seca Porém, na maioria das abreviaturas terminadas
E a bomba de gasolina com a letra a, por exemplo, o plural é feito com o
Casa seca paiol seco acréscimo do s: V. Exa. / V. Exas.; V. Ema. / V.Emas.
E a bomba de gasolina O tratamento adequado a Juízes de Direito é Meri-
tíssimo Juiz. O tratamento dispensado ao Presidente
( ) CERTO  ( ) ERRADO da República nunca deve ser abreviado.

A palavra “seco” no contexto mencionado não é Pronomes Indefinidos


substantivo, e sim funciona como adjetivo. Respos-
ta: Errado. Os pronomes indefinidos indicam quantidade de
maneira vaga e sempre devem ser utilizados na 3ª
Pronomes de Tratamento pessoa do discurso. Os pronomes indefinidos podem
variar e podem ser invariáveis, vejamos:
Os pronomes de tratamento são formas que expres-
sam uma hierarquia social institucionalizada linguis- z Variáveis: Algum, Alguma / Alguns, Algumas;
ticamente. As formas de pronomes de tratamento Nenhum, Nenhuma / Nenhuns, Nenhumas; Todo,
apresentam algumas peculiaridades importantes: Toda/ Todos, Todas; Outro, Outra / Outros, Outras;
Muito, Muita / Muitos, Muitas; Tanto, Tanta / Tan-
z Vossa: designa a pessoa a quem se fala (relativo a tos, Tantas; Quanto, Quanta / Quantos, Quantas;
2ª pessoa), apesar disso, os verbos relacionados a Pouco, Pouca / Poucos, Poucas etc.
esse pronome devem ser flexionados na 3ª pessoa
z Invariáveis: Alguém; Ninguém; Tudo; Outrem;
do singular. Ex: Vossa excelência deve conhecer a
Nada; Cada; Quem; Menos; Mais; Que.
Constituição.
z Sua: designa a pessoa de quem se fala (relativo As palavras certo e bastante serão pronomes
a 3ª pessoa). Ex.: Sua excelência, o presidente do indefinidos quando vierem antes do substantivo, e
Supremo Tribunal, fará um pronunciamento hoje serão adjetivos quando vierem depois. Ex.: Busco cer-
à noite. to modelo de carro (Pronome indefinido) / Busco o
modelo de carro certo (adjetivo).
Como mencionamos anteriormente, os pronomes A palavra bastante frequentemente gera dúvida
de tratamento estabelecem uma hierarquia social na quanto a ser advérbio, adjetivo ou pronome indefini-
linguagem, ou seja, a partir das formas usadas, pode- do, por isso, fique atento:
mos reconhecer o nível de discurso e o tipo de poder
instituídos pelos falantes. z Bastante (advérbio): será invariável e equivalen-
Por isso, é eficaz reconhecer que alguns pronomes te ao termo “muito”. Ex.: Elas são bastante famosas.
de tratamento só devem ser utilizados em contextos
cujos interlocutores sejam reconhecidos socialmen- z Bastante (adjetivo): será variável e equivalente
te por suas funções, como juízes, reis, clérigos, entre ao termo “suficiente”. Ex.: A comida e a bebida não
outras. Dessa forma, apresentamos alguns pronomes foram bastantes para a festa.
de tratamento com as funções sociais que designam:
z Bastante (Pronome indefinido): “Bastantes ban-
cos aumentaram os juros”
z Vossa Alteza (V. A.): Príncipes, duques, arquidu-
ques e seus respectivos femininos;
Pronomes Demonstrativos
z Vossa Eminência (V. Ema.): Cardeais;
Os pronomes demonstrativos indicam a posição e
z Vossa Excelência (V. Exa.): Autoridades do governo
apontam elementos a que se referem as pessoas do
e das Forças Armadas membros do alto escalão;
discurso (1ª, 2ª e 3ª). Essa posição pode ser designa-
z Vossa Majestade (V. M.): Reis, imperadores e seus da por eles no tempo, no espaço físico ou no espaço
respectivos femininos; textual.
z Vossa Reverendíssima (V. Rev. Ma.): Sacerdotes;
z 1ª pessoa: Este, Estes / Esta, Estas.
z Vossa Senhoria (V. Sa.): Funcionários públicos gra- z 2ª pessoa: Esse, Esses / Essa, Essas.
duados, oficiais até o posto de coronel, tratamento z 3ª pessoa: Aquele, Aqueles / Aquela, Aquelas.
cerimonioso a comerciantes importantes; z Invariáveis: isto, isso, aquilo.
z Vossa Santidade (V. S.): Papa;
Usamos este, esta, isto para indicar:
LÍNGUA PORTUGUESA

z Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Revma.):


Bispos. z Referência ao espaço físico, indicando a proximi-
dade de algo ao falante. Ex.: Esta caneta aqui é
Os exemplos acima fazem referência a pronomes minha; Entreguei-lhe isto como prova.
de tratamento e suas respectivas designações sociais
conforme indica o Manual de Redação Oficial da Pre- z Referência ao tempo presente. Ex.: Esta semana
sidência da República; portanto, essas designações começarei a dieta; Neste mês, pagarei a última
devem ser seguidas com atenção quando o gênero prestação da casa.
textual abordado for um gênero oficial.
Sobre o uso das abreviaturas das formas de trata- z Referência ao espaço textual. Ex.: Encontrei Joana
mento, é importante destacar: e Carla no shopping, esta procurava um presente
O plural de algumas abreviaturas é feito com letras para o marido (o pronome refere-se ao último ter-
dobradas, como: V. M. / VV. MM.; V. A. / VV. AA. mo mencionado). 61
Usamos esse, essa, isso para indicar: O ponto de exclamação só é usado nas interrogati-
vas diretas. Nas indiretas, aparece apenas a intenção
z Referência ao espaço físico, indicando o afasta- interrogativa, indicada por um verbo como: pergun-
mento de algo de quem fala. Ex.: Essa sua gravata
tar, indagar etc. Ex.: Indaguei quem era ela.
combinou muito com você.
Os pronomes interrogativos que e quem são pro-
z Pode indicar distância que se deseja manter. Ex.: nomes substantivos.
Não me fale mais nisso; A população não confia
nesses políticos.
Pronomes Possessivos
z Referência ao tempo passado. Ex.: Nessa semana,
eu estava doente; Esses dias estive em São Paulo. Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do
z Referência a algo já mencionado no texto/ na fala. discurso e indicam posse:
Ex.: Continuo sem entender o porquê de você ter
falado sobre isso; Sinto uma energia negativa nes- 1ª pessoa Meu, minha, meus, minhas
sa sua expressão. SINGULAR 2ª pessoa Teu, tua, teus, tuas
Usamos aquele, aquela, aquilo para indicar: 3ª pessoa Seu, sua, seus, suas
1ª pessoa Nosso, nossa, nossos, nossas
z Referência ao espaço físico, indicando afastamen- PLURAL 2ª pessoa Vosso, vossa, vossos, vossas
to de quem fala e de quem ouve. Ex.: Margarete, 3ª pessoa Seu, sua, seus, suas
quem é aquele ali perto da porta?
z Referência a um tempo muito remoto, um passado Os pronomes pessoais oblíquos (me, te, se, lhe, o,
muito distante. Ex.: Naquele tempo, podíamos dor- a, nos, vos) também podem atribuir valor possessivo
mir com as portas abertas; Bons tempos aqueles! a uma coisa. Ex.: Apertou-lhe a mão (a sua mão). Ain-
z Referência a um afastamento afetivo. Ex.: Não da que o pronome esteja ligado ao verbo pelo hífen, a
conheço aquela mulher. relação do pronome é com o objeto da posse.
z Referência ao espaço textual, indicando o primeiro Outras funções dos pronomes possessivos:
termo de uma relação expositiva. Ex.: Saí para lan-
char com Ana e Beatriz, esta preferiu beber chá, z Delimitam o substantivo a que se referem;
aquela, refrigerante. z Concordam com o substantivo que vem depois dele;
z Não concordam com o referente;
Dica
z O pronome possessivo que acompanha o substan-
O pronome “mesmo” não pode ser usado em tivo exerce função sintática de adjunto adnominal.
função demonstrativa referencial, veja:
O candidato fez a prova, porém o mesmo esque-
ceu de preencher o gabarito. ERRADO.
O candidato fez a prova, porém esqueceu de
preencher o gabarito. CORRETO.
EMPREGO DE TEMPOS E MODOS
VERBAIS
Tempos
EXERCÍCIO COMENTADO
O tempo designa o recorte temporal em que a ação
1. (FCC – 2018) “Tratando do estado de solidão ou da verbal foi realizada. Basicamente, podemos indicar
necessidade de convívio, Sêneca vê no estado de soli- o tempo dessa ação no Passado, Presente ou Futuro.
dão uma contrapartida da necessidade de convívio, Porém, existem ramificações específicas.
assim como vê na necessidade de convívio uma aber-
tura para encontrar satisfação no estado de solidão.”
Evitam-se as viciosas repetições do texto acima subs- z Presente: pode expressar não apenas um fato
tituindo-se os elementos grifados, na ordem dada, por: atual, como também uma ação habitual. Ex.:
Estudo todos os dias no mesmo horário.
a) naquele – desta – nesta – naquele. Uma ação passada.
b) nisso – daquilo – naquela – deste. Ex.: Vargas assume o cargo e instala uma ditadura.
c) este – do outro – na primeira – no último. Uma ação futura.
d) nisto – disso – naquela – desse. Ex.: Amanhã, estudo mais! (equivalente a estudarei)
e) na primeira – do segundo – numa – noutra.
z Pretérito perfeito: ação realizada plenamente no
Devemos lembrar das regras de proximidade e dis- passado. Ex.: Estudei até ser aprovado.
tância que organizam o uso dos pronomes demons- Pretérito imperfeito: ação inacabada, que pode
trativos. Resposta: Letra A. indicar uma ação frequentativa, vaga ou durativa.
Ex.: Estudava todos os dias.
Pronomes Interrogativos Pretérito mais-que-perfeito: ação anterior à ou-
tra mais antiga. Ex.: Quando notei, a água já trans-
São utilizados para introduzir uma pergunta ao tex- bordara da banheira.
to e se apresentam de formas variáveis (Que? Quais?
Quanto? Quantos?) e invariáveis (Que? Quem?). Ex.: z Futuro do presente: indica um fato que deve ser
O que é aquilo? Quem é ela? Qual sua idade? Quantos realizado em um momento vindouro. Ex.: Estuda-
62 anos tem seu pai? rei bastante ano que vem.
z Futuro do pretérito: expressa um fato posterior z Futuro composto: Verbo auxiliar: TER (futuro sim-
em relação a outro fato já passado. Ex.: Estudaria ples do subjuntivo) + verbo principal no particípio.
muito, se tivesse me planejado. Ex.: (quando eu) tiver estudado.

A partir dessas informações, podemos também iden- Modos


tificar os verbos conjugados nos tempos simples e nos
tempos compostos. Os tempos verbais simples são for- Indica a atitude da ação/sujeito frente a uma rela-
mados por uma única palavra, ou verbo, conjugado no ção enunciada pelo verbo.
presente, passado ou futuro; já os tempos compostos são
formados por dois verbos, um auxiliar e um principal, z Indicativo: exprime atitude de certeza. Ex.: Estu-
dei muito para ser aprovado.
nesse caso, o verbo auxiliar é o único a sofrer flexões.
Agora, vamos conhecer as desinências modo-temporais z Subjuntivo: exprime atitude de dúvida, desejo ou
dos tempos simples e compostos, respectivamente: possibilidade. Ex.: Se eu estudasse, seria aprovado.
Flexões modo-temporais – tempos simples z Imperativo: designa ordem, convite, conselho, súpli-
ca ou pedido. Ex.: Estuda! Assim, serás aprovado.
MODO MODO
TEMPO
INDICATIVO SUBJUNTIVO
-e(1ªconjugação)
Presente * e -a ( 2ª e 3ª REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
conjugações) (CRASE)
Pretérito -ra(3ª pessoa do
*
perfeito plural) Regência é a maneira como o nome ou o verbo se
-va (1ª conjuga- relacionam com seus complementos, com ou sem pre-
Pretérito posição. Quando um nome (substantivo, adjetivo ou
ção) -ia (2ª e 3ª -sse
imperfeito advérbio) exige complemento preposicionado, esse
conjugações)
nome é um termo regente, e seu complemento é um
Pretérito termo regido, pois há uma relação de dependência
mais-que-per- -ra * entre o nome e seu complemento.
feito O nome exige um complemento nominal sempre ini-
Futuro -rá e -re -r ciado por preposição, exceto se o complemento vier em
Futuro do forma de pronome oblíquo átono.
-ria * Ex.: Os discípulos daquele mestre sempre lhe
pretérito
foram leais.
Observação: Complemento de “lhe”: predicativo do sujei-
* Nem todas as formas verbais apresentam desi-
to (desprovido de preposição)
nências modo-temporais. Pronome oblíquo átono: lhe
Foram leais: complemento de “lhe”, predicativo do
Flexões Modo-Temporais – Tempos Compostos sujeito (desprovido de preposição).
(Indicativo)
Regência Verbal
z Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: TER
(presente do indicativo) + verbo principal particí- Relação de dependência entre um verbo e seu
pio. Ex.: Tenho estudado. complemento. As relações podem ser diretas ou indi-
retas, isto é, com ou sem preposição.
z Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxi-
liar: TER (pretérito imperfeito do indicativo) + ver-
Há verbos que admitem mais de uma regência
bo principal no particípio. Ex.: Tinha passado.
sem que o sentido seja alterado.
z Futuro composto: Verbo auxiliar: TER (futuro do
indicativo) + verbo principal no particípio. Ex.: Ex.: Aquela moça não esquecia os favores recebidos.
Terei saído. V. T. D: esquecia
Objeto direto: os favores recebidos.
z Futuro do pretérito composto: Verbo auxiliar: TER Aquela moça não se esquecia dos favores recebidos.
(futuro do pretérito simples) + verbo principal no V. T. I.: se esquecia
particípio. Ex.: Teria estudado.
LÍNGUA PORTUGUESA

Objeto indireto: dos favores recebidos.

Flexões Modo-Temporais – Tempos Compostos No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos


(Subjuntivo) que, mudando-se a regência, mudam de sentido,
alterando seu significado.
z Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: TER
(presente o subjuntivo) + Verbo principal particí- Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos.
pio. Ex.: (que eu) Tenha estudado. (aspiramos = sorvemos)
V. T. D.: aspiramos
z Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxi- Objeto direto: ar poluídos.
liar: TER (pretérito imperfeito do subjuntivo) + Os funcionários aspiram a um mês de férias.
verbo principal no particípio. Ex.: (se eu) Tivesse (aspiram = almejam)
estudado V. T. I.: aspiram 63
Objeto indireto: a um mês de férias � Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de
predicativo do objeto
A seguir, uma lista dos principais verbos que Ex.: Chamou o filho para o almoço. (transitivo dire-
geram dúvidas quanto à regência: to com sentido de “convocar”)
Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre-
� Abraçar: transitivo direto dicativo do objeto com sentido de “denominar,
Ex.: Abraçou a namorada com ternura. qualificar”)
O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço � Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi-
� Agradar: transitivo direto; transitivo indireto reto; intransitivo
Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire- Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo
to com sentido de “acariciar”) indireto com sentido de “ser difícil”)
A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti-
no sentido de “ser agradável a”) vo direto e indireto: sentido de “acarretar”)
Este vinho custou trinta reais. (intransitivo)
� Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto;
transitivo direto e indireto � Esquecer: admite três possibilidades
Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não Ex.: Esqueci os acontecimentos.
personificado) Esqueci-me dos acontecimentos.
Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto Esqueceram-me os acontecimentos.
personificado) � Implicar: transitivo direto; transitivo indireto;
Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi- transitivo direto e indireto
reto: refere-se a coisas e pessoas) Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria.
� Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto (transitivo direto com sentido de “acarretar”)
Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da Mamãe sempre implicou com meus hábitos.
preposição a, rege indiferentemente objeto direto (transitivo indireto com sentido de “mostrar má
disposição”)
e objeto indireto.
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo
Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo direto)
direto e indireto com sentido de envolver-se”)
Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
indireto) � Informar: transitivo direto e indireto
Se o infinitivo preposicionado for intransitivo, Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à
rege apenas objeto direto: coisa: objeto indireto, com as preposições de ou
Ajudaram o ladrão a fugir. sobre
Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto Informaram o réu de sua condenação.
direto: Informaram o réu sobre sua condenação.
Ajudei-o muito à noite. Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi-
sa: objeto indireto, com a preposição a
� Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto Informaram a condenação ao réu.
Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran-
� Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi-
sitivo direto com sentido de “angustiar”) reto, com as preposições em e por
Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com Ex.: Ela interessou-se por minha companhia.
sentido de “desejar muito” – não admite “lhe”
como complemento) � Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi-
tivo direto e indireto
� Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran-
Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti- sitivo com sentido de “cortejar”)
vo direto com sentido de “respirar”) Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo
Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo indireto com sentido de “desejar muito”)
indireto no sentido de “desejar”) “Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar-
� Assistir: transitivo direto; transitivo indireto ret) (transitivo direto e indireto com sentido de
Ex.: - Transitivo direto ou indireto no sentido de “encantar-se”)
“prestar assistência” � Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos
O médico assistia os acidentados. Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito.
O médico assistia aos acidentados. Não desobedeçam à sinalização de trânsito.
- Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar”
Não assisti ao final da série. � Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi-
tivo direto e indireto
O verbo assistir não pode ser empregado no particípio. Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto)
É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha- Você pagou ao dono do armazém? (transitivo
res de pessoas.” indireto)
Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo
direto e indireto)
� Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo
direto e indireto � Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto;
Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo) transitivo direto e indireto
A jovem não queria casar com ninguém. (transiti- Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
vo indireto) A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto)
O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire- Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e
64 to e indireto) indireto)
� Suceder: intransitivo; transitivo direto d) As objeções contra as quais se levantaram não tinham
Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no qualquer fundamento.
sentido de “ocorrer”) e) As leis às quais se referem foram julgadas pela
A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido pesquisa.
de “vir depois”)
O correto é “A pesquisa à qual foram submetidos”,
Regência Nominal para respeitar a regência do nome “submetidos”.
Faz-se a pergunta: “Submetidos a quem ou a quê?”.
Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér- Resposta: Letra C.
bios) exigem complementos preposicionados, exceto
quando vêm em forma de pronome oblíquo átono. 2. (TJ-SC – 201) Analise as proposições sob o aspecto
da regência verbal:
Advérbios Terminados em “mente”
I. Comunique aos candidatos de que as provas serão
realizadas em outro local.
Os advérbios derivados de adjetivos seguem a
II. Fundação, pilares, lajes, vigas, caixas-d’água, escadas
regência dos adjetivos:
em concreto armado devem obedecer às normas da
ABNT.
análoga / analogicamente a III. Essa mudança de percepção dos riscos ambientais
contrária / contrariamente a implica maior influência da participação popular nos
compatível / compativelmente com projetos industriais.
diferente / diferentemente de IV. Esperamos que cheguem logo a nossas mãos os
favorável / favoravelmente a documentos visando a instruir o processo.
paralela / paralelamente a
próxima / proximamente a/de a) Estão corretas somente as proposições II, III e IV.
relativa / relativamente a b) Estão corretas somente as proposições I, II e III.
c) Estão corretas somente as proposições I, III e IV.
Preposições Prefixos Verbais d) Estão corretas somente as proposições I, II e IV.
e) Todas as proposições estão corretas.
Alguns nomes regem preposições semelhantes a
seus “prefixos”: A forma correta de I seria: “Comunique aos candida-
tos que as provas serão realizadas em outro local”.
dependente, dependência de O verbo “comunicar” é transitivo direto e indireto,
inclusão, inserção em e, no contexto, o objeto direto é a oração subordina-
inerente em/a da substantiva “que as provas serão realizadas em
descrente de/em outro local”. Resposta: Letra A.
desiludido de/com
desesperançado de USO DA CRASE
desapego de/a
convívio com Outro assunto que causa grande dúvida é o uso da
convivência com crase, fenômeno gramatical que corresponde à junção
demissão, demitido de da preposição a + artigo feminino definido a, ou da
encerrado em junção da preposição a + os pronomes relativos aque-
enfiado em le, aquela ou aquilo. Representa-se graficamente pela
imersão, imergido, imerso em marcação (`) + (a) = (à).
instalação, instalado em
interessado, interesse em Ex.: Entregue o relatório à diretoria.
Refiro-me àquele vestido que está na vitrine.
intercalação, intercalado entre
supremacia sobre
Regra geral: haverá crase sempre que o termo
antecedente exija a preposição a e o termo conse-
quente aceite o artigo a.
EXERCÍCIOS COMENTADOS Ex.: Fui à cidade (a + a = preposição + artigo)
Conheço a cidade (verbo transitivo direto: não exi-
ge preposição).
1. (CEPERJ – 2013) “...não passa de uma manifestação Vou a Brasília (verbo que exige preposição a +
de racismo, do qual, aliás, o brasileiro gosta de decla-
LÍNGUA PORTUGUESA

palavra que não aceita artigo).


rar-se isento”. Nessa oração, o emprego da forma “do Essas dicas são facilitadoras quanto à orientação
qual” está ligado à presença do termo “isento”, que no uso da crase, mas existem especificidades que aju-
solicita a presença da preposição de. A frase criada dam no momento de identificação:
apresenta desvio da norma culta nesse mesmo tipo de
estrutura em: Casos Convencionados

a) Os assaltos dos quais falam são cotidianos na cidade z Locuções adverbiais formadas por palavras
de São Paulo. femininas:
b) Os crimes contra os quais lutam os policiais oferecem Ex.: Ela foi às pressas para o camarim.
perigo à sociedade. Entregou o dinheiro às ocultas para o ministro.
c) A pesquisa da qual foram submetidos revelou infor- Espero vocês à noite na estação de metrô.
mações novas. Estou à beira-mar desde cedo. 65
z Locuções prepositivas formadas por palavras � Antes de pronomes indefinidos alguma, nenhu-
femininas: ma, tanta, certa, qualquer, toda, tamanha
Ex.: Ficaram à frente do projeto. Ex.: Direcione o assunto a alguma cláusula do
contrato.
z Locuções conjuntivas formadas por palavras Não disponibilizaremos verbas a nenhuma ação
femininas: suspeita de fraude.
Ex.: À medida que o prédio é erguido, os gastos vão Eles estavam conservando a certa altura.
aumentando. Faremos a obra a qualquer custo.
� Quando indicar marcação de horário, no plural A campanha será disponibilizada a toda a comunidade.
Ex.: Pegaremos o ônibus às oito horas. � Antes de demonstrativos
Fique atento ao seguinte: entre números teremos Ex.: Não te dirijas a essa pessoa
que de = a / da = à, portanto:
Ex.: De 7 as 16 h. De quinta a sexta. (sem crase) � Antes de nomes próprios, mesmo femininos, de
Das 7 às 16 h. Da quinta à sexta. (com crase) personalidades históricas
Ex.: O documentário referia-se a Janis Joplin.
� Com os pronomes relativos aquele, aquela ou
aquilo: � Antes dos pronomes pessoais retos e oblíquos
Ex.: A lembrança de boas-vindas foi reservada Ex.: Por favor, entregue as frutas a ela.
O pacote foi entregue a ti ontem.
àquele outono.
Por favor, entregue as flores àquela moça que está � Nas expressões tautológicas (face a face, lado a
sentada. lado)
Dedique-se àquilo que lhe faz bem. Ex.: Pai e filho ficaram frente a frente no tribunal
de justiça.
� Com o pronome demonstrativo a antes de que ou
de: � Antes das palavras casa, Terra ou terra, distância
Ex.: Referimo-nos à que está de preto. sem determinante
Referimo-nos à de preto. Ex.: Precisa chegar a casa antes das 22h.
Astronauta volta a Terra em dois meses.
� Com o pronome relativo a qual, as quais: Os pesquisadores chegaram a terra depois da
Ex.: A secretária à qual entreguei o ofício acabou expedição marinha.
de sair. Vocês o observaram a distância.
As alunas às quais atribuí tais atividades estão de
férias. Crase Facultativa

Casos Proibitivos Nestes casos, podemos escrever as palavras das


duas formas: utilizando ou não a crase. Para entender
Em resumo, seguem-se as dicas abaixo para melhor detalhadamente, observe as seguintes dicas:
orientação de quando não usar a crase. � Antes de nomes de mulheres comuns ou com quem
se tem proximidade
� Antes de nomes masculinos Ex.: Ele fez homenagem a/à Bárbara.
Ex.: “O mundo intelectual deleita a poucos, o mate-
rial agrada a todos.” (MM) � Antes de pronomes possessivos no singular
O carro é movido a álcool. Ex.: Iremos a/à sua residência.
Venda a prazo. � Após preposição até, com ideia de limite
� Antes de palavras femininas que não aceitam Ex.: Dirija-se até a/à portaria.
artigos “Ouvindo isto, o desembargador comoveu-se até
Ex.: Iremos a Portugal. às (ou “as”) lágrimas, e disse com mui estranho
afeto.” (CBr. 1, 67)
Macete de crase: Casos Especiais
Se vou a; Volto da = Crase há!
Se vou a; Volto de = Crase pra quê? Veremos a seguir alguns casos que fogem à regra.
Ex.: Vou à escola / Volto da escola. Quando se relacionar a instrumentos cujos nomes
Vou a Fortaleza / Volto de Fortaleza. forem femininos, normalmente a crase não será utili-
zada. Porém, em alguns casos, utiliza-se a crase para
� Antes de forma verbal infinitiva evitar ambiguidades.
Ex.: Os produtos começaram a chegar. Ex.: Matar a fome. (Quando “fome” for objeto direto)
“Os homens, dizendo em certos casos que vão falar Matar à fome. (Quando “fome” for advérbio de
com franqueza, parecem dar a entender que o instrumento)
fazem por exceção de regra.” (MM) Fechar a chave. (Quando “chave” for objeto direto)
Fechar à chave. (Quando “chave” for advérbio de
� Antes de expressão de tratamento instrumento)
Ex.: O requerimento foi direcionado a Vossa
Excelência. Quando Usar ou Não a Crase em Sentenças com
Nomes de Lugares
� No a (singular) antes de palavra no plural, quando
a regência do verbo exigir preposição z Regidos por preposições de, em, por: não se usa crase
Ex.: Durante o filme assistimos a cenas chocantes. Ex.: Fui a Copacabana. (Venho de Copacabana,
moro em Copacabana, passo por Copacabana)
� Antes dos pronomes relativos quem e cuja
Ex.: Por favor, chame a pessoa a quem entregamos � Regidos por preposições da, na, pela: usa-se crase
o pacote. Ex.: Fui à Bahia. (Venho da Bahia, moro na Bahia,
66 Falo de alguém a cuja filha foi entregue o prêmio. passo pela Bahia)
Macetes A pequena garota andava sozinha pela cidade.
A: Artigo, feminino, singular;
z Haverá crase quando o “à” puder ser substituído Pequena: Adjetivo, feminino, singular;
por ao, da na, pela, para a, sob a, sobre a, contra Garota: Substantivo, feminino, singular.
a, com a, à moda de, durante a;
Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos
z Quando o de ocorre paralelo ao a, não há crase. adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o
Quando o da ocorre paralelo ao à, há crase; número (singular) do substantivo.
Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân-
z Na indicação de horas, quando o “à uma” puder
cia: verbal e nominal.
ser substituído por às duas, há crase. Quando o a
uma equivaler a a duas, não ocorre crase;
Concordância Verbal
z Usa-se a crase no “a” de àquele(s), àquela(s) e àqui-
lo quando tais pronomes puderem ser substituídos É a adaptação em número – singular ou plural –
por a este, a esta e a isto; e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo
sujeito.
z Usa-se crase antes de casa, distância, terra e “De todos os povos mais plurais culturalmente, o
nomes de cidades quando esses termos estiverem Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as quais
acompanhados de determinantes. Ex.: Estou à dis- insistem em desmentir que nosso país é cheio de ‘bra-
tância de 200 metros do pico da montanha. sis’ – digamos assim –, ganha disparando dos outros,
pois houve influências de todos os povos aqui: euro-
A compreensão da crase vai muito além da estética peus, asiáticos e africanos.”
gramatical, pois serve também para evitar ambigui- Esse período, apesar de extenso, constitui-se de
dades comuns, como o caso seguinte: Lavando a mão. um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor-
Nessa ocasião, usa-se a forma “Lavando a mão”, respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no
pois “a mão” é o objeto direto, e, portanto, não exi- singular.
Destrinchando o período, temos que os termos
ge preposição. Usa-se a forma “à mão” em situações
essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas
como “Pintura feita à mão”, já que “à mão” seria o
“[...] o Brasil [...]” – sujeito – e “[...] ganha [...]” – predi-
advérbio de instrumento da ação de pintar. cado verbal.
Veja um caso de uso de verbo bitransitivo:
Ex.: Prefiro natação a futebol.
Verbo bitransitivo: Prefiro
EXERCÍCIO COMENTADO Objeto direto: natação
Objeto indireto: a futebol
1. (TJ-SC – 2010) Quanto ao uso da crase: Popularmente, usa-se “do que” no lugar de “a”,
o que tornaria a oração da seguinte forma: “Prefiro
I. O anúncio foi feito por meio da rede de miniblogs Twirter, natação do que futebol”. Porém, segundo a norma-pa-
à qual ele aderiu duas semanas atrás. drão, a forma correta é como consta no exemplo.
II. Estou esperando por você desde às 8 horas da manhã.
III. Alguns investigadores preferiram seguir a pista do Concordância Verbal com o Sujeito Simples
dinheiro à da honra.
IV. Cabe a cada um decidir o rumo que dará à sua vida. Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do
sujeito.
a) Somente as proposições II e IV estão corretas. Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário
exorbitante.
b) Estão corretas somente as proposições I, III e IV.
c) Estão corretas somente as proposições II, III e IV.
Diferentes situações:
d) Estão corretas somente as proposições I, II e III.
e) Todas as proposições estão corretas.
z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de
sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A
Justificativa do erro no item II: a palavra “desde” multidão gritou entusiasmada.
é uma preposição que “designa o ponto de partida
de um movimento ou extensão (no espaço, no tem- z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o ver-
po ou numa série), para assinalar especialmente a bo posterior ao pronome relativo concorda com o
distância” (ROCHA LIMA, 1997). Portanto, a forma antecedente do relativo. Ex.: Quais os limites do
correta é “desde as 8h”.As outras alternativas estão Brasil que se situam mais próximos do Meridiano?
corretas: na I, cabe crase antes do pronome relativo; z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o
LÍNGUA PORTUGUESA

na III, há paralelismo – no primeiro termo, “a pista” verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós
tem artigo, no segundo, deverá ter também, além da quem resolveu a questão.
preposição a, originando a crase.
Por questão de ênfase, o verbo pode também con-
cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos
nós quem resolvemos a questão.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL z Quando o sujeito é um pronome interrogativo,
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós /
Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se de vós, o verbo pode concordar com o pronome no
umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede- plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol-
cem a alguns princípios: um deles é a concordância. viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos
Observe o exemplo: essa questão. 67
z Quando o sujeito é formado por palavras plurali- d) mostram que três quartos dos pagamentos realizados
zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias, por intermédio de instituições financeiras foram tribu-
Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou- tados apenas por aquela contribuição.
ver artigo definido antes de uma palavra plura- e) mostram que 1,6 milhão dos pagamentos realizados
lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse por intermédio de instituições financeiras foi tributado
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados apenas por aquela contribuição.
Unidos continuam uma potência.
Estados Unidos continua uma potência. Em “grande parte dos pagamentos realizados...
Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida- foi tributado”, não houve concordância adequada,
de de Santos fica em São Paulo.”) deveria ser “foi tributada”, para concordar com o
núcleo do sujeito, “parte”. Resposta: Letra C.

Importante! � Os verbos bater, dar e soar concordam com o


número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a
Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não
verbo fica no singular ou no plural. chegou. (Duas horas deram...)
Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram Camões. Bateu o sino duas vezes. (O sino bateu)
Soaram dez badaladas no relógio da sala. (Dez
badaladas soaram)
z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais Soou dez badaladas o relógio da escola. (O relógio
de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de, da escola soou dez badaladas)
obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.:
Mais de um aluno compareceu à aula. z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o
Mais de cinco alunos compareceram à aula. verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven-
dem-se casas de veraneio aqui.
A expressão mais de um tem particularidades: Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão
se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo interessada.
recíproco se), se houver coletivo especificado ou se z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.:
verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa
Mais de um irmão se abraçaram.
Majestade está preocupada?
Suas Excelências precisam de algo?
Mais de um grupo de crianças veio/vieram à festa.
Mais de um aluno, mais de um professor esta- z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou
vam presentes. exclamativas. Ex.: Vivam os campeões!

z Quando o sujeito é formado po um número per- Concordância Verbal com o Sujeito Composto
centual ou fracionário, o verbo concorda com o
numerado ou com o número inteiro, mas pode � Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama-
concordar com o especificador dele. Se o numeral ticais diferentes
vier precedido de um determinante, o verbo con- Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos.
cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3
das pessoas do mundo sabe o que é viver bem. � Núcleos do sujeito ligados pela preposição com
Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che-
Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é garam ontem.
viver bem. � Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada
Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem. ou nenhum
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem. Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man-
Os 30% da população não sabem o que é viver mal. ter o espírito esportivo.
� Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no
EXERCÍCIO COMENTADO singular
Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju-
1. (FGV – 2008) “... mostram que um terço dos pagamen- davam. (preferencialmente no singular)
tos realizados por intermédio de instituições financei- � Gradação entre os núcleos do sujeito
ras foi tributado apenas por aquela contribuição...” Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para
Assinale a alternativa em que, ao se alterar o termo me acalmar. (preferencialmente no singular)
“um terço”, não se tenha mantido a concordância em
conformidade com a norma culta. Desconsidere a � Núcleos do sujeito no infinitivo
possibilidade de concordância atrativa. Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde.
� Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
a) mostram que 0,27% dos pagamentos realizados por mitivo (nada, tudo, ninguém)
intermédio de instituições financeiras foi tributado Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu.
apenas por aquela contribuição.
b) mostram que menos de 2% dos pagamentos realiza- � Sujeito constituído pelas expressões um e outro,
dos por intermédio de instituições financeiras foram nem um nem outro
Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui.
tributados apenas por aquela contribuição.
c) mostram que grande parte dos pagamentos realiza- � Núcleos do sujeito ligados por nem... nem
dos por intermédio de instituições financeiras foi tribu- Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu
68 tado apenas por aquela contribuição. foco nos estudos.
� Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site.
como, menos, inclusive, exceto ou as expressões (dois pronomes implícitos: eu, nós)
bem como, assim como, tanto quanto Até me encontrarem, vocês terão de procurar
Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na muito. (preposição no início da oração)
final. Para nós nos precavermos, precisaremos de luz.
(verbos pronominais)
z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas
Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser
aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim
indicando tempo)
como; não só... mas também etc.) Estudo para me considerarem capaz de aprova-
Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua ção. (pretensão de indeterminar o sujeito)
popularidade em alta. Para vocês terem adquirido esse conhecimento,
z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni- foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com-
co núcleo, o verbo fica no singular concordando posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no
com o núcleo único. Mas, se houver determinante particípio)
após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal:
sujeito passa a ser composto. Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu-
Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis ção verbal)
aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono
combustíveis aumentaram. sendo sujeito do infinitivo)
Concordância Verbal do Verbo Ser
Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo
� Concorda com o sujeito no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
Ex.: Nós somos unha e carne. impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”.

� Concorda com o sujeito (pessoa) Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
Ex.: Os meninos foram ao supermercado. com valor genérico)
� Em predicados nominais, quando o sujeito for São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece-
representado por um dos pronomes tudo, nada, dido de preposição de ou para)
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor- Soldados, recuar! (infinitivo com valor de imperativo)
dará com o predicativo (preferencialmente) ou � Concordância do verbo parecer
com o sujeito Flexiona-se ou não o infinitivo.
Ex.: No início, tudo é/são flores. Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta-
vam confiantes”, portanto o infinitivo é flexionado
que ou quem
de acordo com o sujeito, no plural)
Ex.: Quem foram os classificados?
Eles parecem estudar bastante. (locução verbal,
� Em indicações de horas, datas, tempo, distância logo o infinitivo será impessoal)
(predicativo), o verbo concorda com o predicativo
� Concordância dos verbos impessoais
Ex.: São nove horas.
São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica
É frio aqui.
sempre na 3ª pessoa do singular.
Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
� O verbo fica no singular quando precede termos Fazia quinze anos que ele havia se formado.
como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais, Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo
menos etc. junto a especificações de preço, peso, auxiliar fica no singular)
quantidade, distância, e também quando seguido Trata-se de problemas psicológicos.
do pronome o Geou muitas horas no sul.
Ex.: Cem metros é muito para uma criança. � Concordância com sujeito oracional
Divertimentos é o que não lhe falta. Quando o sujeito é uma oração subordinada, o
Dez reais é nada diante do que foi gasto. verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do
� Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora- singular.
ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos.
ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados.
verbo concordará com o termo não preposiciona- Ficou combinado que sairíamos à tarde.
do entre eles. Urge que você estude.
Ex.: Eles é que sempre chegam cedo. Era preciso encontrar a verdade
São eles que sempre chegam cedo.
LÍNGUA PORTUGUESA

É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons- Casos mais frequentes em provas
trução adequada)
São nessas horas que a gente precisa de ajuda. Veja agora uma lista com os casos mais abordados
(construção inadequada) em concursos:

CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL � Sujeito posposto distanciado


Ex.: Viviam o meio de uma grande floresta tropical
Concordância do Infinitivo brasileira seres estranhos.
z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal: � Verbos impessoais (haver e fazer)
Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei- Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte.
to esclarecido) Havia problemas no setor.
Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir
implícito “nós”) vai ter sujeito “problemas”, e vai ser variável) 69
� Verbo na voz passiva sintética O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em
Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta. gênero e número com o nome a que se referem.
Ex.: Parede alta. / Paredes altas.
� Verbo concordando com o antecedente correto Muro alto. / Muros altos.
do pronome relativo ao qual se liga
Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que
Casos com adjetivos
tinham experiência.
� Sujeito coletivo com especificador plural z Com função de adjunto adnominal: quando o
Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram. adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti-
ver após os substantivos, poderá concordar com
� Sujeito oracional as somas desses ou com o elemento mais próximo.
Ex.: Convém a eles alterar a voz. (verbo no Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. /
singular) Encontrei colégios e faculdades ótimos.
� Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun-
to ou complemento no plural Há casos em que o adjetivo concordará apenas
Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar com o nome mais próximo, quando a qualidade per-
atrito. (verbo no singular) tencer somente a este.
Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira.
Casos Facultativos Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho

z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno-


estádio. minal e estiver antes dos substantivos, poderá con-
cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.:
z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/ Existem complicadas regras e conceitos.
fizeram rir. Quando houver apenas um substantivo qualifica-
do por dois ou mais adjetivos pode-se:
z Fui eu quem faltou/faltei à aula.
Colocar o substantivo no plural e enumerar o ad-
z Quais de vós me ajudarão/ajudareis? jetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas inglesa,
francesa e alemã.
z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura Colocar o substantivo no singular e, ao enumerar
brasileira. os adjetivos (também no singular), antepor um artigo
z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele estuda a
ciência. (1,5% corresponde ao singular) língua inglesa, a francesa e a alemã.

z Chegaram/Chegou João e Maria. z Com função de predicativo do sujeito


z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram
aqui. Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará
com a soma dos elementos.
z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados.
brasileira. Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su-
z O problema do sistema é/são os impostos. jeito acompanhará a concordância do verbo, que por
sua vez concordará tanto com a soma dos elementos
z Hoje é/são 22 de agosto. quanto com o nome mais próximo.
Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta-
z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos
vam abandonados a casa e o quintal.
a aprovação.
Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun-
z Deixei os rapazes falar/falarem tudo. to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os
substantivos por um pronome:
Silepse de Número e de Pessoa Ex.: Existem conceitos e regras complicados.
(substitui-se por “eles”)
Conhecida também como “concordância irregular, Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles
ideológica ou figurada”. Vejamos os casos: existem complicados”.
Como o adjetivo desapareceu com a substituição,
z Silepse de número: usa-se um termo discordando então é um adjunto adnominal.
do número da palavra referente, para concordar
com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem z Com função de predicativo do objeto
vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali-
dade: todas as flores) Recomenda-se concordar com a soma dos substan-
tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor-
z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do dância com o termo mais próximo.
processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu- Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados.
ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e
diversas etnias, somos multiculturais. seus subordinados.

Concordância Nominal Algumas convenções

Define-se como a adaptação em gênero e número � Obrigado / próprio / mesmo


que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”.
o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes, A própria enfermeira virá para o debate.
70 adjetivos, numerais). Elas mesmas conversaram conosco.
Dica Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é
linda!)
O termo mesmo no sentido de “realmente” será Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos
invariável. com o estabelecimento aberto no final de semana.)
Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação. Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi-
leiros, estamos esperançosos.)
z Só / sós
� Possível
Variáveis quando significarem “sozinho” /
Concordará com o artigo, em gênero e número, em
“sozinhos”.
Invariáveis quando significarem “apenas, frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”.
somente”. Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. /
Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas Conheci crianças as mais belas possíveis.
apenas queriam ficar sozinhas.)
A locução “a sós” é invariável.
Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de
ficar a sós. EXERCÍCIOS COMENTADOS
� Quite / anexo / incluso
1. (FAFIPA – 2020) Para que haja concordância, todos os
Concordam com os elementos a que se referem.
elementos que compõem a oração precisam estar em
Ex.: Estamos quites com o banco.
harmonia. A partir disso, assinale a alternativa em que
Seguem anexas as certidões negativas.
NÃO há erro de concordância nominal:
Inclusos, enviamos os documentos solicitados.
� Meio a) Sempre educada e prestativa, a menina olhou para
Quando significar “metade”: concordará com o todos os convidados e disse: “Muito obrigado!”
elemento referente. b) As taxas inclusa no pacote de viagem são muito altas.
Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa. c) Os diretores mesmo realizaram a campanha na escola.
Quando significar “um pouco”: será invariável. d) Bebi meia garrafa de vinho e fiquei meia tonta.
Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora). e) Gosto muito de ler Clarice Lispector. Na biblioteca há
bastantes livros de sua autoria.
� Grama
Quando significar “vegetação”, é feminino; quan-
do significar unidade de medida, é masculino. Na alternativa A, a frase enunciada pela menina
Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha. deveria flexionar no feminino o adjetivo “obrigada”,
“A grama do vizinho sempre é mais verde.” portanto está incorreta. Na alternativa B, o adjeti-
vo “inclusa” deve concordar em gênero e número,
� É proibido entrada / É proibida a entrada havendo a necessidade do plural, o mesmo ocorre
Se o sujeito vier determinado, a concordância do em C, portanto mais duas alternativas incorretas.
verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou Na alternativa D a palavra “meia” é um advérbio,
seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda- pois modifica o adjetivo tonta, sendo, portanto,
rão com o determinante. invariável, acarretando o erro dessa alternativa. Já
Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami- na alternativa E termos “bastantes” corretamente
nhada está boa. empregado, pois assume valor de “muitos”. Respos-
É proibido entrada de crianças. / É proibida a ta: Letra E
entrada de crianças.
Pimenta é bom? / A pimenta é boa? 2. (TJ-SC – 2010) Assinale a frase correta em termos de
� Menos / pseudo concordância nominal:
São invariáveis.
Ex.: Havia menos violência antigamente. a) Por essa razão se faz necessária a agilização de pro-
Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen- cedimentos como a apuração da base de cálculos.
to é pseudo-objetivo. b) Julgo procedente em parte os pedidos promovidos
por Maria e José.
� Muito / bastante c) As duplicatas apenso não foram resgatadas.
Quando modificam o substantivo: concordam com d) O veículo estará à sua disposição no local e hora
ele. aprazado.
Quando modificam o verbo: invariáveis. e) Embora meia tonta, a moça conseguiu dizer “muito
Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito obrigado”.
irritados.
Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas- O trecho “[...] se faz necessária a agilização” está
tante irritados. correto porque o termo “necessária” concorda com
LÍNGUA PORTUGUESA

Se ambos os termos puderem ser substituídos por o artigo definido feminino singular “a”. Resposta:
“vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi- Letra A
tuídos por “bem”, ficarão invariáveis.
� Tal qual 3. (TJ-SC – 2010) “Ao meio-dia e ____ , encontrando a
Tal concorda com o substantivo anterior; qual, porta da lancheria _____ aberta, Joana entrou e pediu
com o substantivo posterior. ____ grama de sal e _____ porção de sanduíche.” O tex-
Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os to fica gramaticalmente correto com a inserção de:
pais.
Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais a) meia – meio – meia – meia
quais os pais. b) meio – meia – meio – meia
Silepse (também chamada concordância figurada) c) meia – meia – meia – meia
É a que se opera não com o termo expresso, mas o d) meia – meio – meio – meia
que está subentendido. e) meio – meio – meio – meio 71
Ao meio-dia e [meia hora], [...] a porta da lancheria cidade-satélite – cidades-satélite;
[meio = um pouco] aberta, [...] pediu [meio = meta- público-alvo – públicos-alvo;
de do termo masculino grama] grama de sal e meia elemento-chave – elementos-chave.
porção [...]. Resposta: Letra D Nestes substantivos também é possível a flexão
dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites,
PLURAL DE COMPOSTOS públicos-alvos, elementos-chaves.

Substantivos z Nos substantivos compostos preposicionados:


cana-de-açúcar – canas-de-açúcar;
O adjetivo concorda com o substantivo referen- pôr do sol – pores do sol;
te em gênero e número. Se o termo que funciona fim de semana – fins de semana;
como adjetivo for originalmente um substantivo fica pé de moleque – pés de moleque.
invariável.
Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola Flexão apenas do segundo elemento
também é um substantivo; mantém-se no singular)
Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é � Nos substantivos compostos formados por tema
um substantivo; mantém-se no singular) verbal ou palavra invariável + substantivo ou
adjetivo:
Adjetivos bate-papo – bate-papos;
quebra-cabeça – quebra-cabeças;
Quando houver adjetivo composto, apenas o últi- arranha-céu – arranha-céus;
mo elemento concordará com o substantivo referente.
ex-namorado – ex-namorados;
Os demais ficarão na forma masculina singular.
vice-presidente – vice-presidentes.
Se um dos elementos for originalmente um subs-
tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável. � Nos substantivos compostos em que há repeti-
Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo. ção do primeiro elemento:
No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o zum-zum – zum-zuns;
plural, pois ambos são adjetivos. tico-tico – tico-ticos;
No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no lufa-lufa – lufa-lufas;
singular, assim como “verde”, por ser substantivo.
reco-reco – reco-recos.
Nesse caso, o termo composto não concorda com o
plural do substantivo referente, “folhas”. � Nos substantivos compostos grafados ligada-
Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar. mente, sem hífen:
O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam- girassol – girassóis;
bém pode ser um substantivo. pontapé – pontapés;
O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma mandachuva – mandachuvas;
lógica de “musgo” do exemplo anterior. fidalgo – fidalgos.

Dica � Nos substantivos compostos formados com


grão, grã e bel:
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual- grão-duque – grão-duques;
quer adjetivo composto iniciado por “cor-de” são grã-fino – grã-finos;
sempre invariáveis. bel-prazer – bel-prazeres.
O adjetivo composto pele-vermelha tem os dois ele- Não flexão dos elementos
mentos flexionados no plural (peles-vermelhas).
� Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos
formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor-
Lista de Flexão dos dois elementos
re em frases substantivadas e em substantivos
� Nos substantivos compostos formados por pala- compostos por um tema verbal e uma palavra
vras variáveis, especialmente substantivos e invariável ou outro tema verbal oposto:
adjetivos: o disse me disse – os disse me disse;
segunda-feira – segundas-feiras; o leva e traz – os leva e traz;
matéria-prima – matérias-primas; o cola-tudo – os cola-tudo.
couve-flor – couves-flores;
guarda-noturno – guardas-noturnos;
primeira-dama – primeiras-damas.
� Nos substantivos compostos formados por ORAÇÕES REDUZIDAS
temas verbais repetidos:
corre-corre – corres-corres; Orações Reduzidas
pisca-pisca – piscas-piscas;
pula-pula – pulas-pulas.
z Apresentam o mesmo verbo em uma das formas
Nestes substantivos também é possível a flexão
apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca- nominais (gerúndio, particípio e infinitivo);
-piscas, pula-pulas. z As que são substantivas e adverbiais: nunca são
iniciadas por conjunções;
Flexão apenas do primeiro elemento
z As que são adjetivas: nunca podem ser iniciadas
z Nos substantivos compostos formados por subs- por pronomes relativos;
tantivo + substantivo em que o segundo termo
limita o sentido do primeiro termo: z Podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses
72 decreto-lei – decretos-lei; conectivos;
z Podem ser iniciadas por preposição ou locução Essas orações reduzidas adverbiais são bem fre-
prepositiva. quentes em provas de concurso.
Ex.: Terminada a prova, fomos ao restaurante.
O. S. Adv. reduzida de particípio: não começa com
conjunção
Quando terminou a prova, fomos ao restaurante.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
(desenvolvida)
O. S. Adv. Desenvolvida: começa com conjunção
Estudo da posição dos pronomes na oração.
Orações Reduzidas de Infinitivo
z Próclise: pronome posicionado antes do verbo.
Podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais.
Casos que atraem o pronome para próclise:
Se o infinitivo for pessoal, irá flexionar normalmente.
„ Palavras negativas: nunca, jamais, não. Ex.:
z Substantivas: Ex.: É preciso trabalhar muito. (O.
Não me submeto a essas condições.
S. substantiva subjetiva reduzida de infinitivo)
„ Pronomes indefinidos, demonstrativos, rela-
Deixe o aluno pensar. (O. S. substantiva objetiva
tivos. Ex: Foi ela que me colocou nesse papel.
direta reduzida de infinitivo)
„ Conjunções subordinativas. Ex.: Embora se
A melhor política é ser honesto. (O. S. substantiva
predicativa reduzida de infinitivo) apresente como um rico investidor, ele nada tem.
Este é um difícil livro de se ler. (O. S. substantiva „ Gerúndio precedido da preposição em. Ex: Em
completiva nominal reduzida de infinitivo) se tratando de futebol, Maradona foi um ídolo.
Temos uma missão: subir aquela escada. (O. S. „ Infinitivo pessoal preposicionado. Ex.:
substantiva apositiva reduzida de infinitivo) Na esperança de sermos ouvidos, muito lhe
agradecemos.
z Adjetivas: Ex.: João não é homem de meter os pés „ Orações interrogativas, exclamativas, opta-
pelas mãos. tivas (exprimem desejo). Ex.: Como te iludes!
O meu manual para fazer bolos certamente vai
agradar a todos. z Mesóclise: pronome posicionado no meio do verbo.
z Adverbiais: Ex.: Apesar de estar machucado,
continua jogando bola. Casos que atraem o pronome para mesóclise:
Sem estudar, não passarão. Os pronomes devem ficar no meio dos verbos que
Ele passou mal, de tanto comer doces. estejam conjugados no futuro, caso não haja nenhum
Orações Reduzidas de Gerúndio motivo para uso da próclise. Ex.: “Dar-te-ei meus bei-
jos agora...”
Podem ser coordenadas aditivas, substantivas apo-
sitivas, adjetivas, adverbiais. z Ênclise: pronome posicionado após o verbo.

z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando Casos que atraem o pronome para ênclise:
livre dos juros.
„ Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me mui-
z Substantiva apositiva: Ex.: Não mais se vê amigo
to honrada com esse título.
ajudando um ao outro. (subjetiva)
„ Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por favor.
Agora ouvimos artistas cantando no shopping.
„ Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o
(objetiva direta)
quanto sou importante.
z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o
coração. Casos proibidos: Início de frase: Me dá esse cader-
no! (errado) / Dá-me esse caderno! (certo).
z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não
Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lembrou
contou a verdade.
de nada (errado) / Falou pouco; lembrou-se de nada
(correto).
Orações Reduzidas de Particípio
Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato
Podem ser adjetivas ou adverbiais. (errado) / Tinha se lembrado do fato (correto).
LÍNGUA PORTUGUESA

� Adjetiva: Ex.: A notícia divulgada pela mídia era falsa.


Nosso planeta, ameaçado constantemente por
nós mesmos, ainda resiste. ESTILÍSTICA
� Adverbiais: Ex.: Aceitas as condições, não have-
ria problemas. (condicional) FIGURAS DE LINGUAGEM
Dada a notícia da herança, as brigas começaram.
(causal/temporal) Figuras de sintaxe
Comprada a casa, a família se mudou logo.
(temporal) Consistem em modificações da estrutura da oração
(ou parte dela) por meio da omissão, inversão ou repe-
O particípio concorda em gênero e número com os tição de termos. Nesse caso, essas alterações ocorrem
termos referentes. para conferir mais expressividade ao enunciado. 73
z Elipse Ex.: “É o pau, é a pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
Utilizada para omitir termos numa oração que não É um caco de vidro, é a vida, é o sol
foram mencionados anteriormente, mas que podem É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol.” (Tom
ser facilmente identificados pelo interlocutor. Essa Jobim)
omissão pode ser percebida por indícios gramaticais “Quando não tinha nada eu quis
ou dentro do próprio contexto. Quando tudo era ausência, esperei
Ex.: Ana Rita arrumou-se para o trabalho. Estava Quando tive frio, tremi
atrasada. (“elipse sujeito -ela”)
Quando tive coragem, liguei”. (Daniela Mercury)
Os alunos e as alunas, mãos erguidas contra os
políticos, caminhavam pelas ruas. (elipse da preposi-
ção – “de mãos erguidas”) z Aliteração

z Zeugma Recurso sonoro que consiste na repetição de sons


consonantais para intensificar a rima e o ritmo.
Considerado um caso particular de elipse, o zeug- Ex.: “Chove chuva choverando” (Oswald de
ma consiste omissão em orações seguintes de palavras Andrade)
expressas na oração anterior. “Se desmorono ou se edifico,
Ex.: Eu sou professora; minha amiga, advogada. se permaneço ou me desfaço,
Desembrulhe essa caixa enquanto eu desembru- — não sei, não sei. Não sei se fico
lho a outra. ou passo.” (Cecília Meireles)

z Pleonasmo z Assonância

Consiste na repetição de termos ou ideias com o Figura de linguagem que aborda o uso de som em
objetivo de realçá-las, tornando-as mais expressivas. harmonia. Caracterizada pela repetição de vogais.
Ex.: “É rir meu riso e derramar meu pranto”. (Viní- Ex.: “A pálida lágrima de Flávia” – repetição da
cius de Moraes) vogal a.
“Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se
“Amo muito tudo isso” – repetição do som da vogal u.
a si mesma.” (Machado de Assis).
z Onomatopeia
Dica
Existe o pleonasmo literário, que é um recurso Recurso sonoro que procura representar os sons
estilístico aceitável e muito explorado na litera- específicos de objetos, animais ou pessoas a partir de
tura e na música. O problema é quando o pleo- uma percepção aproximada da realidade.
nasmo se torna vicioso. Expressões como “fatos Ex.: “O tic tac do relógio me deixava mais angus-
reais”, “subir para cima”, “ganhar de graça”, “cego tiado na prova”.
dos olhos” e outras constituem um vício de lin- “Psiiiiiu! – Falou o professor no momento da
guagem. A repetição da ideia torna-se, portanto, reunião”.
desnecessária, pois não traz nenhum reforço à
ideia apresentada. z Hipérbato ou Inversão

z Polissíndeto Caracteriza-se pela inversão proposital da ordem


direta dos termos da oração. Essa inversão confere
Figura que consiste no uso excessivo e repetitivo maior efeito estilístico na construção do enunciado.
de conjunções. Ex.: “Os bons vi sempre passar / no mundo graves
Ex.: “Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Ola- tormentos” (Luiz Vaz de Camões)
vo Bilac) Na ordem direta seria: Eu sempre vi passar os
“Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira.” (Alberto
bons no mundo de graves tormentos.
Oliveira)
z Anástrofe
z Assíndeto

É a figura que consiste na omissão reiterada de Diferentemente do hipérbato, a anástrofe consiste


conjunções. Geralmente a conjunção omitida é a coor- na inversão mais sutil dos termos da oração, não pre-
denativa. Essa estratégia torna a leitura do texto mais judicando o entendimento do enunciado.
clara e dinâmica. Ex.:
Ex.: “Pense, fale, compre, beba, leia, vote, não se “Sabes também quanto é passageira essa desavença
esqueça.” (Pitty) Não destrates o amor”. (Jacob do Bandolim)
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) Utilizando a figura de linguagem teríamos: “Sabes
também quanto essa desavença é passageira”.
z Anáfora
z Silepse
Consiste na repetição de palavra ou expressões no
início da oração. Esse tipo de recurso é muito comum Consiste na concordância com o termo que está
em textos estruturados em versos consecutivos (poe- subtendido na oração e não com o termo expresso na
mas, músicas, entre outros). O propósito é valorizar a oração. (Concordância ideológica). Existem três tipos
74 mensagem por meio da ênfase ao elemento repetido. de silepse:
„ Silepse de Gênero: Há uma discordância entre Meu pensamento é um rio subterrâneo. (Fernan-
os gêneros dos artigos, substantivos, prono- do Pessoa)
mes e adjetivos. Notamos na oração a presen- Observe:
ça do contraste entre os gêneros masculino e Metáfora: relação de semelhança não explícita.
feminino.

Ex.: Vossa Excelência é falso. - O pronome de tra-


O que foi isso, Foi um candidato
tamento certamente se refere a alguma autoridade do
homem? “ficha suja” que
sexo masculino (deputado, prefeito, vereador etc.)
me abraçou...
„ Silepse de Número: Há uma discordância
entre o verbo e o sujeito da oração quando ele
expressa uma ideia de coletividade. Nesse caso,
o verbo concorda com a ideia que nele está
contida.

Ex.: A turma era barulhenta, falavam alto. (“fala-


vam” concorda com “alunos”)

„ Silepse de Pessoa: Há uma discordância


entre o verbo e a pessoa do discurso expressa
Comparação: relação de semelhança estabele-
pelo sujeito da oração. Geralmente o emissor
se inclui no sujeito expresso em 3ª pessoa do cida por conectivos.
plural, realizando a flexão verbal na primeira
pessoa.

Ex.: Dizem que os brasileiros somos amantes do


futebol. (brasileiros //3ª p. plural) (somos// 1ª p. plural)

z Anacoluto

Consiste na quebra ou interrupção da estrutura


normal. Um dos termos da oração fica desvinculado
do restante da sentença e não estabelece nenhuma
ligação sintática com os demais.
Ex.: Meu vizinho, ouvi dizer que está muito doente.

Figuras de palavras Fonte: instagram.com/academiadotexto. Acesso em: 16/10/2020.

As figuras de palavras estão associadas ao signifi- z Metonímia


cado delas. Caracterizam-se por apresentar uma subs-
tituição ou transposição do sentido real da palavra Consiste na substituição de um termo pelo outro
para assumir um sentido figurado construído dentro em virtude de uma relação de proximidade ou conti-
de um contexto. A substituição de uma palavra por nuidade. Essa relação é qualitativa e pode ser realiza-
outra pode acontecer por uma relação muito próxi- da dos seguintes modos:
ma (contiguidade) ou por uma comparação/analogia
(similaridade). „ A parte pelo todo:

z Comparação Ex.: O brasileiro trabalha muito para garantir o


pão aos filhos (O brasileiro trabalha muito para
Analogia explícita entre dois termos; a principal garantir alimento aos filhos).
diferença entre a comparação e a metáfora, que é
outro tipo de relação de semelhança, é que a compa- „ O autor pela obra:
ração se estabelece com o uso de conectivos.
Ex.: Minha boca é como um túmulo.
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: Os leitores de Machado de Assis são cultos (Os


A menina é como um doce.
leitores da obra de Machado de Assis são cultos).
Seu sorriso é tal qual um raio de sol numa manhã
nublada.
„ O continente pelo conteúdo:
z Metáfora
Ex.: A menina bebeu a jarra de suco inteira (A
Consiste em usar uma palavra ou expressão em lu- menina bebeu todo o suco da jarra).
gar da outra em razão de algumas semelhanças (ana-
logia) conceituais. É recurso que está associado ao em- „ A marca pelo produto:
prego da palavra fora do seu sentido normal.
Ex.: O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais. Ex.: Minha filha pediu uma Melissa de aniversário
(Carlos Drummond de Andrade) (Minha filha pediu uma sandália de aniversário). 75
„ Singular pelo plural: Observação: A antonomásia é uma espécie de
perífrase. A diferença é que esta designa um ser (coi-
Ex.: O cidadão deve cumprir seus deveres legais sas, animais ou lugares) por meio de características,
(Os cidadãos devem cumprir seus deveres legais). atributos ou um fato que o celebrizou.
Ex.: Fomos ao zoológico ver o rei da selva. (leão)
„ O concreto pelo abstrato: Adoraria conhecer a cidade luz. (Paris)
Qualquer dúvida consulte o pai dos burros.
Ex.: A juventude está cada vez mais ansiosa (Os (dicionário)
jovens estão cada vez mais ansiosos).
z Sinestesia
„ A causa pelo efeito:
Consiste no recurso que engloba um conjunto de
percepções e sensações interligadas aos processos
Ex.: Comprei a casa com o meu suor (Comprei a
sensoriais provenientes de diferentes sentidos (visão,
casa com o meu trabalho).
audição, olfato, paladar e tato). Na sinestesia, a per-
cepção ou sensação de um sentido é atribuída a outro.
„ O instrumento pelo agente:
Ex.: “As falas sentidas, que os olhos falavam.” (Ca-
simiro de Abreu)
Ex.: O carro atropelou o cachorro (O motorista do “E o pão preserve aquele branco sabor de alvora-
veículo atropelou o cachorro). da”. (Ferreira Gullar)

„ A coisa pela sua representação: Figuras de pensamento

Ex.: O sonho de muitos candidatos é chegar ao Processo expressivo que enfatiza o aspecto semân-
Palácio do Planalto (O sonho de muitos candida- tico da linguagem. As figuras de pensamento introdu-
tos é chegar à Presidência da República). zem uma ideia diferente daquela que a palavra em
seu sentido real exprime.
„ O inventor pelo invento:
z Antítese
Ex.: Diego comprou um Picasso no museu (Diego
comprou uma obra de Picasso no museu). Consiste no emprego de conceitos que se opõem e
que podem ocorrer de maneira simultânea em uma
„ A matéria pelo objeto: mesma oração. Na antítese, os conceitos antônimos
não se contradizem e estão relacionados a referentes
Ex.: Custou-me apenas algumas pratas aque- distintos.
la mobília. (Custou-me apenas algumas moedas Ex.: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” (Viní-
aquela mobília.) cius de Moraes)
“O mito não é nada que é tudo”. (Fernando Pessoa)
„ O proprietário pela propriedade
z Personificação ou Prosopopeia
Ex.: Vou ao médico buscar meus exames (Vou ao
consultório médico buscar meus exames). Consiste em atribuir características, sentimentos e
comportamentos próprios de seres humanos a seres
z Sinédoque irracionais ou inanimados. É uma figura muito usada
em textos literários, como fábulas e apólogos.
Ex.: “O cravo brigou com a rosa debaixo de uma
Atualmente as gramáticas não realizam distinção
sacada...” (cantiga popular).
entre metonímia e sinédoque; a diferença entre essas
“As pedras andam vagarosamente”.
figuras é tênue. Na sinédoque, a relação que se estabe-
lece entre os termos é quantitativa, ou seja, quando
z Paradoxo
se amplia ou se reduz a significação das palavras. As
relações entre os termos são basicamente as seguin-
Consiste no emprego de conceitos opostos e contra-
tes: parte pelo todo, singular pelo plural, gênero pela
ditórios na representação de uma ideia. No paradoxo,
espécie, particular pelo geral (ou vice-versa).
embora os termos pareçam ilógicos, são perfeitamen-
Ex.: O homem é um ser mortal (os homens). te aceitáveis no campo da literatura, o que confere ao
É preciso pensar na criança (nas crianças). autor uma licença poética.
Ex.: “Se lembra quando a gente chegou um dia a
z Antonomásia ou Perífrase acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o
pra sempre sempre acaba” (Cássia Eller)
A antonomásia é uma figura que consiste na subs- “Dor, tu és um prazer!” (Castro Alves)
tituição de um nome próprio (de pessoa) por uma ex-
pressão que lhe confere alguma característica ou atri- z Eufemismo
buto que o distingue (epíteto). É a substituição de um
nome por outro, o que pode configurar uma espécie Consiste no emprego de uma palavra ou expressão
de apelido para o ser designado. que serve para amenizar/ suavizar uma informação
Ex.: O poeta dos escravos é autor do célebre poema desagradável ou fatídica. É um recurso essencial para
“O navio negreiro”. (Castro Alves) validar a polidez nas relações sociais.
Este aeroporto tem o nome do pai da aviação. (San- Ex.: “Suzanna é uma mulher desprovida de bele-
76 tos Dumont) za.” (feia)
“Aquele pobre homem entregou a alma a Deus” 2. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO – 2020) A amiza-
(morreu) de é tema recorrente na música popular, e as letras
das canções fazem uso, muitas vezes, de recursos da
z Hipérbole linguagem poética. Há uma hipérbole nos seguintes
versos de uma canção:
Uso de expressões intencionalmente exageradas
para dar maior ênfase à mensagem expressa pelo a) “Amigo, você é o mais certo das horas incertas” –
emissor. Roberto Carlos
Ex.: “Amor da minha vida, daqui até a eternidade b) “Você meu amigo de fé, meu irmão, camarada” –
Nossos destinos foram traçados na maternidade”. Roberto Carlos
(Cazuza) c) “Quero levar o meu canto amigo a qualquer amigo que
“Vou caçar mais um milhão de vagalumes por aí”. precisar” – Roberto Carlos
(Pollo) d) “Eu quero ter um milhão de amigos / E bem mais forte
poder cantar” – Roberto Carlos.
z Ironia
A única opção em que encontramos um exagero no
Consiste em expressar ideias, pensamentos e julga- uso da linguagem, característica da hipérbole, é a
mentos com o sentido contrário do que se diz. A ironia letra D. Resposta: Letra D.
tem como objetivo satirizar uma situação desagradá-
vel ou depreciar alguém pelo seu comportamento.
3. (INAZ DO PARÁ – 2019) Em “a capa verde da mata se
Ex.: “Marcela amou-me durante quinze meses e
espreguiçava ao longo das praias” ocorre uma figura
onze contos de réis...” (Machado de Assis)
de linguagem denominada:
“Parece um anjinho, briga com todos”.
a) Metáfora.
z Gradação
b) Prosopopeia.
c) Gradação.
Consiste na apresentação de ideias sinônimas (ou
d) Antítese.
não) em uma escala progressiva de maior ou menor
intensidade à expressão. Os termos da oração são fru-
A frase destacada pelo enunciado apresenta carac-
tos de uma hierarquia e podem ser de ordem crescen-
terísticas de seres animados em seres inanimados,
te ou decrescente.
marcando o uso da prosopopeia. Resposta: Letra B.
Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bi-
lião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados.”
(Machado de Assis)
“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Montei-
ro Lobato)
HORA DE PRATICAR!
1. (CRS – 2010) Assinale a alternativa em que todas as
z Apóstrofe
palavras acentuadas nos seguintes trechos recebem o
acento pela mesma regra:
Consiste na invocação de alguém ou alguma coisa
personificada. Essa figura de linguagem realiza-se por
a) Se não é saudável nem prudente apostar na loucura
meio de um vocativo. A apóstrofe é um recurso estilís-
geral, imaginando-se em plena sanidade, há evidên-
tico muito utilizado na linguagem informal (cotidia-
cias (...)
na), nos textos religiosos, políticos e poéticos.
Ex.: “Liberdade, Liberdade! É isso que pretende- b) ... na era moderna, o domínio da lei, o monopólio do
mos nessa luta”. poder coercitivo e a soberania nacional (...). A lei trata
“Senhor, tende piedade de nós”. as pessoas, se não como iguais, pelo menos sem con-
siderar as contingências sociais mais óbvias.
c) Alguém já dizia que há método na loucura, mas a des-
razão caprichou na metodologia.
EXERCÍCIOS COMENTADOS d) Tal estado de excepcionalidade deságua na prolife-
ração legislativa casuística e na ameaça permanente
1. (CONSESP – 2018) Assinale a alternativa que apre- ao caráter abstrato e universal da norma jurídica. A
senta a figura de linguagem denominada metáfora. contradição se torna aguda: de um lado, a liberdade
LÍNGUA PORTUGUESA

dos indivíduos no mercado exige a independência do


a) Vossa excelência é pouco conhecido. Judiciário.
b) Meu pensamento é um rio subterrâneo.
c) O pé da mesa estava quebrado. 2. (CRS – 2015) Na frase “Prefiro o doce a salgado, da
d) Um doce abraço ele recebeu da irmã. mesma forma que prefiro mais o amanhecer ao entar-
decer”, é correto dizer, quanto à regência verbal, que o
O item que apresenta uma relação de semelhança verbo preferir é:
sem apresentar elementos conectivos, caracterizan-
do o uso da metáfora, é a letra B. Na letra A, há uma a) Somente intransitivo.
silepse de gênero; na letra C, o uso de catacrese, e na b) Transitivo direto e indireto.
letra D, encontramos o uso de sinestesia. Resposta: c) Transitivo direto e intransitivo.
Letra B. d) Somente transitivo. 77
3. (CRS – 2017) “Não existem marcas que mostrem a 8. (CRS – 2015) Quanto ao emprego da vírgula, marque a
mudança do discurso. Por isso, as falas dos perso- alternativa CORRETA.
nagens e do narrador – que sabe tudo o que se pas-
sa no pensamento dos personagens – podem ser a) A maior riqueza do país, eram os poços de petróleo.
confundidas.” b) E quando lhe pediram a opinião, disse que o assunto,
Marque a alternativa que contém o tipo de discurso não era com ele.
correto utilizado no excerto apresentado: c) O empregado faz o serviço, e o patrão ganha o
reconhecimento.
a) Discurso indireto. d) Quando nervoso não fale, nem grite, apenas busque
manter a calma.
b) Discurso indireto livre.
c) Discurso direto livre.
9. (CRS – 2013) Quanto ao uso do pronome relativo, mar-
d) Discurso direto.
que a alternativa correta.
4. (CRS – 2013) Observe as palavras sublinhadas:
a) Incentivamos a literatura, cuja é importante na absor-
ção de conhecimentos.
I. Os curta-metragens forma vistos por milhares de b) Reli o poema de Fernando Pessoa, cujo me emocionou
pessoas. muito.
II. Os micos-leões-dourados estão em extinção. c) Encontrei o estudante que foi aprovado no vestibular
III. Os bota-foras realizaram-se, hoje, na comunidade 2013.
fluminense. d) Na vida, conhecemos pessoas, de quem não nos lem-
IV. As frutas-pão estavam estragadas. bramos os nomes.

Quanto à pluralização, estão corretas as assertivas: 10. (CRS – 2018)

a) I e III. Passeio noturno


b) II e III.
c) II e IV. Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis,
d) I e IV. relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos.
Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo
5. (CRS – 2010) Assinale a alternativa que indica corre- de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os
tamente a função sintática do pronome relativo subli- olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os
nhado no período: sons da casa: minha filha no quarto dela treinando
impostação de voz, a música quadrifônica do quarto
a) Cuida-se de examinar as reações aos fatos e avaliar o do meu filho. Você não vai largar essa mala?, pergun-
tou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho,
estado da consciência jurídica que predomina entre os
você precisa aprender a relaxar.
cidadãos deste país. (objeto direto)
Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava
b) Fico a imaginar como seria a vida dos humanos direi-
de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o
tos na moderna sociedade capitalista de massas, cri- volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras
vada de conflitos e contradições, sem as instituições e números, eu esperava apenas. Você não pára de tra-
que garantam os direitos civis, sociais e econômicos balhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem
conquistados a duras penas. (adjunto adnominal do a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha
sujeito) mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar
c) O regime nacional-socialista aboliu estas proprieda- servir o jantar?
des da lei que a tinham elevado acima dos riscos da A copeira servia à francesa, meus filhos tinham cres-
luta social”. (...) (complemento nominal) cido, eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele
d) Junto dois textos que julgo oportuno republicar diante vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer.
das manifestações – contra, a favor e muito ao contrá- Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no
rio – suscitadas pela prisão dos diretores da Camargo cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do
Correa e de Eliana Tranchesi. (objeto direto) licor. Minha mulher nada pediu, nós tínhamos conta
bancária conjunta. Vamos dar uma volta de carro?,
6. (CRS – 2013) Assinale a alternativa em que TODAS as convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da nove-
palavras foram grafadas CORRETAMENTE: la. Não sei que graça você acha em passear de carro
todas as noites, também aquele carro custou uma for-
tuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego
a) intrugice, vicissitude, revezes
menos aos bens materiais, minha mulher respondeu.
b) grizar, chale, toesa
Os carros dos meninos bloqueavam a porta da gara-
c) xarque, herege, ascessível
gem, impedindo que eu tirasse o meu. Tirei os carros
d) haurir, rebotalho, buliçoso dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, colo-
quei os dois carros novamente na garagem, fechei a
7. (CRS – 2017) Escolha a alternativa correta que apre- porta, essas manobras todas me deixaram levemente
senta coesão: irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu
carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o
a) Solange e Ana caminham e conversam. coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na
b) Maria estuda. Maria trabalha. Maria dorme. ignição, era um motor poderoso que gerava a sua for-
c) Tatisa olha. Tatisa bebe. Tatisa come. ça em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí,
78 d) Batendo as asas cai na escravidão. Perde a liberdade. como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser
uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do e satisfazer seus interesses e desejos. Sem vida em
que moscas. Na avenida Brasil, ali não podia ser, mui- sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver,
to movimento. Cheguei numa rua mal iluminada, cheia pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de
de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou mulher? outros para conseguir alimentação e abrigo.
Realmente não fazia grande diferença, mas não apare- E no mundo moderno, com a grande maioria das pes-
cia ninguém em condições, comecei a ficar tenso, isso soas morando na cidade, com hábitos que tornam
sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. necessários muitos bens produzidos pela indústria,
Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fos- não há quem não necessite dos outros muitas vezes
se menos emocionante, por ser mais fácil. Ela cami- por dia. Mas as necessidades dos seres humanos não
nhava apressadamente, carregando um embrulho de são apenas de ordem material, como os alimentos, a
papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, roupa, a moradia, os meios de transportes e os cuida-
estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvo- dos de saúde.
res na calçada, de vinte em vinte metros, um interes-
Elas são também de ordem espiritual e psicológi-
sante problema a exigir uma grande dose de perícia.
ca. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa
Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu
amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe
que eu ia para cima dela quando ouviu o som da bor-
dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo
racha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher
ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma
acima dos joelhos, bem no meio das duas pernas,
coisa, que é a base de suas esperanças.
um pouco mais sobre a esquerda, um golpe perfeito,
ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em
dei uma guinada rápida para a esquerda, passei como sociedade, apenas porque escolhem esse modo de
um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os vida, mas porque a vida em sociedade é uma neces-
pneus cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o sidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se
meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos. dependesse apenas da vontade, seria possível uma
Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tives-
mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima se armazenado grande quantidade de alimentos. Mas
de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio. essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de
Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando
mão de leve pelos pára-lamas, os pára-choques sem de alguém com quem falar e trocar ideias, necessitada
marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria
a minha habilidade no uso daquelas máquinas. louca se continuasse sozinha por muito tempo.
A família estava vendo televisão. Deu a sua voltinha, Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que
agora está mais calmo?, perguntou minha mulher, dei- a pessoa humana pode satisfazer suas necessida-
tada no sofá, olhando fixamente o vídeo. Vou dormir, des, é preciso que a sociedade seja organizada de
boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não
terrível na companhia. basta que a vida social permita apenas a satisfação
de algumas necessidades da pessoa humana ou de
(FONSECA, Rubem. Passeio Noturno, in: Contos todas as necessidades de apenas algumas pessoas.
Reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994) A sociedade organizada com justiça é aquela em que
se procura fazer com que todas as pessoas possam
“(...) Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em
fosse menos emocionante, por ser mais fácil. (...) Ela só que todos, desde o momento em que nascem, têm as
percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios
da borracha dos pneus batendo no meio-fio. (...) ouvi o e encargos são repartidos igualmente entre todos.
barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma gui- Para que essa repartição se faça com justiça, é preci-
nada rápida para a esquerda, passei como um foguete so que todos procurem conhecer seus direitos e exi-
rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantan- jam que eles sejam respeitados, como também devem
do, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabili-
a cem quilômetros em nove segundos. (...).” dades sociais.

Marque a alternativa CORRETA que corresponda ao (Rosenthal, Marcelo et al. Interpretação de textos e
momento da narrativa que é evidenciado pelo trecho semântica para concursos. Rio de Janeiro: Essevier,
acima: 2012)

a) Momento ápice ou clímax da narrativa. A partir do texto lido, podemos afirmar que, para o
b) Momento subsequente ao ápice ou clímax da narrativa. autor, viver em sociedade é:
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Momento do desfecho final da narrativa.


d) Momento introdutório da trama da narrativa. a) uma condição imprescindível para a sobrevivência,
uma vez que o homem não conseguiria viver isolado.
11. (CRS – 2017) b) uma forma que um grupo de pessoas unidas encontra
para satisfazer seus interesses pessoais.
Viver em sociedade c) como viver em uma comunidade preparada para o
caos futuro.
Dalmo de Abreu Dallari d) uma forma de regressão como ser humano.

A sociedade humana é um conjunto de pessoas liga-


das pela necessidade de se ajudarem umas às outras,
a fim de que possam garantir a continuidade da vida 79
12. (CRS – 2015) Leia o texto para responder às questões negação que surge uma nova era no Brasil, pois ela
12 e 13. quebra o círculo da dádiva e rompe com o poder do
doador, estabelecendo uma condição de igualdade
baseada na troca de serviços – e não de favores.
“Minha empregada é muito abusada” As transformações recentes da sociedade brasileira
indicam um leve rompimento (...) de uma relação tão
Rosana Pinheiro Machado pessoal quanto doentia entre patroas e empregadas.
Indica o fim do ser humano como posse de outro ser
Esta coluna começou no churrasco de domingo, quan- humano. E isso, é claro, causa desespero, lamentação,
do, na fila do supermercado, uma mulher disse: “Minha recalque e conflitos.
empregada está muito abusada”. Sua interlocutora
respondeu: “Nem me fale, a minha também”. Ao longo Ainda tem muito a ser feito e conquistado. Muito mes-
do almoço, eu e meus amigos tentávamos explicar o mo. Espero que chegue o dia em que eu não precise
que significava a palavra “abusada” para um estrangei- explicar o sentido da palavra “abusada”. Neste dia,
ro. Como fazê-lo entender que, independentemente da perder-se-á também alguma flexibilidade do modelo
eficiência, a maioria das empregadas brasileiras seria, de empregadas dentro de casa. Será preciso se acos-
em algum momento, considerada “abusada”? tumar a ouvir “não, obrigada” e aprender a curtir genui-
namente as fotos postadas daquela viagem. Neste
A dificuldade era dimensionar a extensão do conceito. dia, o serviço da limpeza será mais custoso, mas não
Começamos pela obviedade do significado da palavra há saída: esse é o preço de nosso desenvolvimento e
“abuso”, que remete a algo de superlativo. Abusar é de nossa liberdade enquanto nação.
usar alguma coisa além do limite socialmente espera-
do. Por exemplo, quando a empregada é abusada por (Disponível em: h ttp://www.cartacapital.com.
não subir no elevador de serviço, mas no social. br/sociedade/201cminha-empregada-e-muito-
Prossegui, explicando que se a empregada come mui- abusada201d-7617.html - Acessado em 14/05/2014 -
to, se toma muito refrigerante da geladeira ou come Texto adaptado)
as bolachas de chocolate, ela é abusada. Se ela pede
uma roupa emprestada, é abusada. Se ela senta à “Espero que chegue o dia em que eu não precise expli-
mesa com a família, é abusada. car o sentido da palavra “abusada”. Neste dia, per-
De todos esses exemplos, ele concluiu que abusada é der-se-á também alguma flexibilidade do modelo de
aquela que quer mais do que lhe foi dado, que cobiça empregadas dentro de casa. Será preciso se acostu-
as coisas da patroa. A conversa ficou mais complexa mar a ouvir “não, obrigada” e aprender a curtir genuina-
porque tivemos de responder que “não”, que o opos- mente as fotos postadas daquela viagem. Neste dia, o
to também era verdadeiro: uma empregada que quer serviço da limpeza será mais custoso (...)”. De acordo
“de menos” também é abusada. Seguimos explican- com o trecho, podemos afirmar que:
do que, se a patroa oferece uma roupa velha, furada
e fedida e empregada “tem a au-dá-cia” de não aceitar, a) O serviço de limpeza será devidamente valorizado.
ela é abusada. b) A tendência é que o serviço de limpeza seja menos
Ele concluiu, então, que uma boa empregada seria, custoso.
então, aquela que assume “o seu lugar”: não pede c) Haverá maior flexibilidade do modelo de atuação das
muito, mas aceita de bom grado o que lhe é dado. empregadas.
Colocando o pé para fora dessa faixa muito estreita de d) As empregadas não mais serão chamadas de abusadas.
atuação, ela é abusada. (...)
13. (CRS – 2015) “A negação revela a emergência de uma
A negação de presentes indignos por parte das empre-
subjetividade repleta de vontades que se impõem na
gadas traz à tona diversas camadas complexas de
esfera do trabalho”. De acordo com o trecho, é correto
significados. A forma desajeitada como as patroas
afirmar que:
reagem escancara a profunda patologia social de uma
classe média presa ao século XVII – provavelmente,
a) A negação e a subjetividade devem sempre se impor
em uma época em que ela se imagina numa casa-gran-
às relações trabalhistas.
de, cheia de porcelana inglesa e de escravos à volta,
b) A negação é prejudicial às relações trabalhistas.
preferencialmente com uma negra para cozinhar. Ou
c) A subjetividade é prejudicial às relações trabalhistas.
melhor, ela se imagina em uma novela da Rede Globo
d) A subjetividade e a vontade são essenciais nas rela-
do século XXI, onde a mulher negra ainda é explorada
ções trabalhistas.
24 horas por dia a serviço de suas patroas ricas.
Essas patroas esperam empregadas sem agência, 14. (CRS – 2015) Leia o texto para responder às questões
sem protagonismo, sem voz, sem vontade e sem opi- 14 e 15.
nião. (...). Elas esperam seres eternamente gratos por
receberem restos. Nessa lógica em que, já diria Marcel Corda sensível
Mauss, dar é poder, uma empregada que pede mais
dinheiro para lavar a privada suja ou exige seus direi- Um fardão de coronel estava enfiado sobre o espaldar
tos garantidos na Constituição, só pode ser abusada. da cadeira de balanço, e a pequena Maria, apertando
(...) na mão uma fatia de pão com manteiga, olhava exta-
Por tudo isso, eu penso que não aceitar qualquer pre- siada. A cor azul escura da casimira, sob a claridade
sente é um marco muito importante na passagem de noturna que enchia a sala, modelava macieza de velu-
uma relação servil para a profissional (...). A negação do e fingia reflexos de roxo. Nas ombreiras do fardão
revela a emergência de uma subjetividade repleta de poisavam as dragonas maciças, de grande gala, com
80 vontades que se impõem na esfera do trabalho. É da o seu chuveiro de torçais de ouro; e na frente o papo
se escancarava, deixando ver a tela de croché, com filhinhos com um daqueles olhares que só em mulhe-
que se costuma proteger as mobílias. A um lado cor- res se depara, exclamou cheia de profundo sentimento
riam-lhe os oito botões, cada um crescido como um materno:
olho-de-boi... Espera, que é uma ratinha que deu à luz na ratoeira!
Mas, quando a pequena deu com o empastamento de O duro militar ficou basbaque. Enquanto a rata puérpe-
condecorações que encobria lado a lado o peito ao ra, impunemente, pacatamente, com o salvo-conduto
fardão, não pôde resistir ao chamariz, e pondo um joe- de sua boa estrela de mãe, Saia, como um anão no
lho à beira do assento e com os bracinhos estirados meio de enormes gigantes de conto de fada, e galgava
agarrando-se aos braços da cadeira, subiu, apesar do novamente as prateleiras prenhes de queijo. A ninha-
balanço. As mangas da farda começaram então um da se amontoava no regaço da pequena Maria, - uma
movimento de pêndulo, roçando no tapete os canhões porção de bichinhos vermelhos, da cor das carnes ten-
encastoados pelas pesadas divisas de coronel. O ras do caçula, cujo corpinho nu estava ali acocorado, a
amor ao equilíbrio forçou a pequena Maria a ir com alma de criança aberta nuns olhos admirativos, excla-
a mão ao tope da cadeira, e aí, olha lá manteiga pelas mando com jubilosa admiração:
abas. Uói! - apontando para os ratinhos com o dedinho
Acode naquela cabecinha castanha uma ligeira idéia vermelho.
de remorso, e o que há de mais simples é deixar as
coisas como estavam. A esse tempo brilhavam no (PAIVA, Manoel de Oliveira. Corda Sensível. Rio de
escuro da rua, à altura do peitoril da janela, os olhos da Janeiro: Graphia, 1993. Disponível em: h ttp://www.
filha do cabo de ordens, que espiava para dentro, pode literaturabrasileira.ufsc.br/documentos. Acessado em
30/10/2014)
ser que arrastada pelo cheiro da ceia, cujos tirlintintins
se ouvia. Que ótimo desvio! E as duas começaram a
conversar-se na janela, como pessoas sisudas; bem Acerca da identificação da personagem protagonista
entendido, a pequena do cabo de ordens comendo o da história, marque a alternativa correta
enfastiado pão com manteiga, a célebre fatia.
a) A mãe da menina Maria é a protagonista da história.
No dia seguinte, quando a criada veio sacudir os b) A criada é a protagonista da história.
móveis, caiu das nuvens, coitada! Cada rombo deste c) A menina Maria é a protagonista da história.
tamanho, afora uma porção de relidinhas, na casimira d) O coronel é o protagonista da história.
do fardão, de modo que a intertela e os recheios do
peitilho estava tudo estripado e esbrugado. Conse- 15. (CRS – 2015) Marque a alternativa correta que corres-
qüência: um ódio entranhado aos ratos. Os cantos da ponda à comparação entre os ratos recém-nascidos e
casa povoaram-se de ratoeiras. Era um nunca acabar. a criança caçula da família:
Pois, senhores, roerem a mais linda, a mais garbosa,
a mais rica, a mais nobre farda da província?! Ah! se o a) Os ratos não eram vermelhos e suas carnes eram dife-
coronel pudesse estrepar toda a ratagem unânime das rentes das carnes duras do caçula.
nações na ponta de seu gládio! b) Os ratos possuíam a carne de cor azulada como a cor
Em um amanhecer de abril, sofrivelmente belo, a cria- das carnes velhas do caçula.
da, deixando para mais tarde a visita às ratoeiras, acon- c) Os ratos eram vermelhos como a carne delicada do
teceu que ajuntaram-se à pequena Maria o pequeno caçula.
Manuel e o caçula, e foram despescar, por sua conta e d) Os ratos não possuíam a carne de cor semelhante à
risco, as da despensa. O cabeça do motim, que todos vermelha, diferente da carne tenra do caçula.
sabem ser a senhora dona Maria, como lhe chama a
mãe quando se enfeza, não teve mais o que fazer, e, 16. (CRS – 2013) Assinale a alternativa correta quanto às
cercada pelos dois bargados consócios, assentou-se regras de concordância:
no chão, depondo a ratoeira sobre o pano do vestido
que se fazia entre as duas perninhas abertas. a) Manoel e Jordana comprometeram-se cedo: um por
dinheiro, a outra, por amor.
A ratoeira não era mais de que uma cúpula de arame
b) Suas pernas estavam todo enlameadas.
cozida a uma rodelazinha de pinho. Dentro, porém,
c) Estas são fatalidades que não adiantam ocultar.
havia era um bicho cinzento e uma porção de bichi-
d) Bem haja os colaboradores dessa festa!
nhos vermelhos, da cor dos dedinhos do caçula:
fenômeno raro, que provocou uma gritaria hilariante,
17. (CRS – 2013) Quanto à estrutura das palavras, marque
aliás inconveniente, porque atrás acudiram a criada, a
a alternativa CORRETA:
mamãe e até o coronel, a ver o que fazia aquela troça
de quenquéns.
LÍNGUA PORTUGUESA

a) No vocábulo “rodovia” há ausência de vogal de ligação.


Maria estava metendo a mão para abocanhar a bicha- b) Na palavra “amavas” o item “-s” é desinência nominal
rada – em tempo de ser mordida! – e o Manuel procu- de número.
rava também se havia outro buraco onde ele pudesse c) No vocábulo “exorbitar” há apenas um afixo.
meter a dele. d) Na palavra “internacional” há dois afixos.
Virgem Maria! – vozeava a criada.
Isto é o diabo! – roncava o coronel. 18. (CRS – 2013) Marque a alternativa correta que apre-
senta um exemplo de metonímia:
Recuaram todas as mãos, e a curiosidade das crianci-
nhas foi achar nos olhos delas o desejado e inviolável a) João se alimenta como um pássaro.
refúgio. b) As fêmeas cassam para o rei dos animais.
A mamãe, porém, encarando o caso, juntou as mãos c) Gosto de ler Machado à noite.
enternecidamente, e, cobrindo o marido e os três d) Antônio foi um burro. 81
19. (CRS – 2018) Quanto ao emprego de pronomes, mar-
que a alternativa correta.

a) Os pneus, troquei-os logo após o passeio noturno.


b) Me espantei com a potência do motor e a rigidez dos
parachoques.
c) Não maltratei-a, apenas acelerei até deixar ela caída
em meio a poeira.
d) Depois, me encaminhei para casa eufórico e feliz.

20. (CRS – 2013) Quanto ao emprego dos pronomes,


segundo o padrão culto, marque a alternativa correta:

a) Jean, nós queremos falar consigo.


b) Com nós outros tal problema não acontece.
c) Havia pouco o que reduzir.
d) Na árvore, para lá da montanha, houve uma reunião de
tropeiros, que fui convidado.

9 GABARITO

1 B

2 B

3 B

4 C

5 D

6 D

7 A

8 C

9 C

10 A

11 A

12 D

13 C

14 C

15 C

16 B

17 D

18 C

19 A

20 B

ANOTAÇÕES

82
Importante!
A regra é a atividade da lei penal, ou seja, sua
aplicação somente durante seu período de
DIREITO PENAL vigência. Como exceção, temos a extratividade
da lei penal mais benéfica, ou seja, sua aplicação
para regular situações passadas (retroatividade)
ou futuras (ultratividade)

CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: PARTE


Observe o art. 2º do Código Penal:
GERAL - APLICAÇÃO DA LEI PENAL
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei
Vamos, agora, responder a três perguntas sobre a
posterior deixa de considerar crime, cessando em
lei penal: virtude dela a execução e os efeitos penais da sen-
tença condenatória.
z Quando ela se aplica? Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer
z Onde ela se aplica? modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante-
z Em face de quem ela se aplica (ou não se aplica)? riores, ainda que decididos por sentença condena-
z Ou seja, o nosso estudo da eficácia da lei penal, se tória transitada em julgado.
dará sob três aspectos:
z Ao tempo (a lei penal não tem eficácia permanen- O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma vez
te; entra em vigor em determinado momento e não que está analisando a aplicação da lei penal tomando
é eterna); por base a data do fato delituoso. Assim, temos duas
z Ao espaço (não vige em tudo o mundo; não é uni- situações:
versal); e
z Às funções exercidas por certas e determinadas z Ou se aplica regra do tempus regit actum, se for
pessoas (muito embora o ordenamento jurídico mais benéfico; ou
afirme que todos são iguais perante a lei, existem
determinadas funções que concedem prerrogati- z Se aplica a lei posterior (aquela que entra em
vas a determinadas pessoas frente à aplicação da vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa-
lei penal., como por exemplo, os parlamentares, tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada
conforme veremos mais adiante). também de lex mitior.

Assim sendo, nossos próximos passos serão estu- Observe as duas situações no Fluxograma a seguir:
dar a eficácia da lei penal no tempo e no espaço. Nas
próximas páginas conhecer os princípios que regem a Retroativida de Benéfica
aplicação da lei penal nestas duas dimensões: Quanto
ao lugar (espaço), veremos que ser aplica o princípio
da ubiquidade; em relação ao tempo, o princípio da
atividade. Um mnemônico que resume os dois princí- Nova lei
pios que iremos estudar: L. U. T. A. (Lugar, Ubiquida- Fato Sentença
em vigor
de, Tempo, Atividade).

A LEI PENAL NO TEMPO


LEI “A” LEI “B”
Eficácia da Lei Penal no Tempo
Se esta for mais Se esta for mais
benéfica adota-se a favorável, usa-se
A lei penal nasce (é sancionada, promulgada e
regra da Atividade Retroatividade
publicada), tem seu tempo de vida (vigência) e morre
(tempus regit actum) Benéfica
(é revogada). A revogação pode ser expressa (quan-
do lei posterior textualmente afirma que a lei ante-
rior não mais produz efeitos) ou tácita (quando não
há revogação expressa, mas a nova lei é incompatível Vejamos um exemplo para melhor fixar o expos-
com a anterior ou regula totalmente a matéria que to anteriormente: imagine que um indivíduo pratica
constava na lei mais antiga). um fato delituoso em 10 de fevereiro de 2021. Naquela
A regra é que a lei regula todas as situações ocor- data, encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena
ridas entre a sua entrada em vigor e sua revogação mínima de 4 anos de reclusão para o crime. No entan-
(tempus regit actum). Esse fenômeno jurídico é cha- to, em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a Lei
DIREITO PENAL

mado de atividade. “B”, que comina a pena mínima de 2 anos de reclusão


Se, excepcionalmente, a lei regula situações fora para o mesmo delito. Qual delas deve o juiz utilizar
de seu período de vigência, temos o fenômeno da ao proferir a sentença? Neste caso, o magistrado deve
extratividade. aplicar a Lei “B”, por ser mais favorável ao réu (a Lei
A extratividade se dá de duas formas: quando a “B”, embora não estivesse em vigor na data do fato,
lei regula situações ocorridas antes de sua vigên- volta no tempo, retroagindo para beneficiar o agente).
cia (passado), chamamos a extratividade de retroa- Observe que, no exemplo acima, a lei posterior
tividade. Se, por outro lado, a lei se aplica mesmo (Lei “B” é mais favorável ao agente). No entanto, lei
depois de cessada sua vigência (futuro), temos a posterior pode entrar em conflito com a anterior de
ultratividade. maneiras diferentes, gerando situações diversas. Para 83
solucionar cada uma delas, o CP aponta regras que são Ultratividade
aplicadas conjuntamente com os princípios constitu-
cionais que vimos anteriormente. São quatro diferen-
tes situações:

z Abolitio criminis ou Novatio Legis ou Lei Fato Nova lei em


Sentença
supressiva de incriminações: a lei nova suprime vigor
deixa de considerar como infração um fato que
era anteriormente punido (passa a ser considera-
do atípico). Tem como consequências: por força da LEI “A” LEI “B”
retroatividade (art. 5º, XL, CF e art. 2º, caput, CP)
aplica-se a lei nova. Ocorre a extinção da punibili- Revogada. Se esta Se esta for mais favo-
dade (é, pois, causa extintiva da punibilidade, con- for mais benéfica rável, aplica-se na
forme o art. 107, III, CP). Os agentes que estiverem adota-se a regra da sentença a regra geral
sendo processados, terão seus processos extintos, ultratividade (tempus regit actum)
já os que não tiverem ainda sido denunciados,
terão seus inquéritos trancados. Com a abolitio cri-
minis, cessam os “efeitos penais da sentença con- Note que, diferentemente do primeiro esquema,
denatória”. Não cessam os efeitos civis (quanto aos neste o foco está na sentença e não no fato. É uma
efeitos, veremos mais adiante quando tratarmos questão de perspectiva.
de efeitos da condenação. De quem é a competência para aplicar a lei poste-
z Novatio legis in mellius: é a lei nova (novatio rior favorável? Antes do juiz proferir a sentença, não
legis) que, sem excluir a incriminação, ou seja, há dificuldade: cabe ao juiz de 1º grau sua aplicação;
sem constituir abolitio criminis, é mais favorável em grau de recurso, a competência é do Tribunal; e se
ao agente (in mellius). Por exemplo quando comi- já transitada em julgado a sentença, a competência é
na pena mais branda, inclui atenuantes, permite a do juiz da execução penal, de acordo com o art. 66, I da
obtenção de benefícios como a sursis e o livramen- Lei de Execução Penal (LEP). Este é o posicionamento
to condicional, entre outros. Tem como consequên- majoritário da doutrina e jurisprudência (Súmula 611
cias: de acordo com o art. 5º, XL, CF e art. 2º, caput, do STF).
CP, retroage para favorecer o agente, aplicando-se Todas as situações que vimos acima podem ser
aos fatos anteriores “ainda que decididos por sen- resolvidas pela seguinte regra: A Lei só Retroage
tença condenatória transitada em julgado”. para Beneficiar o Sujeito. No entanto, como saber
z Novatio legis in pejus: Ocorre quando a lei pos- qual das leis em conflito é a mais favorável ao agente?
terior, sem criar novo tipo incriminador, de qual-
Para avaliar a mais benéfica, o juiz deve sempre apre-
quer modo agrava a situação do agente (in pejus).
ciar o caso concreto sob a eficácia de cada uma das
Por exemplo, aumenta a pena, ou impõe uma
leis em com conflito, comparando o resultado: o que
forma de execução mais severa (hipoteticamente
mais favorecer o agente deve prevalecer.
instituindo o mesmo rigor inicial da reclusão ao
cumprimento dos crimes apenados com detenção)
Lei intermediária
Nesta hipótese, a lei melhor (lex mitior) passa a ser
a lei anterior. A lei mais severa recebe o nome de
lex gravior (lei mais grave). Tem como consequên- O que acontece se houver uma lei intermediária,
cias: em relação à lei nova, aplica-se os princípios ou seja, que entrou em vigor depois da data do fato
da irretroatividade da lei mais severa. Quanto à lei e foi revogada antes da sentença? Neste caso, deve
antiga, mais benéfica, aplica-se a ultratividade. ser aplicada em favor do réu a mais favorável delas,
z Novatio legis incriminadora: se dá quando a mesmo que for a intermediária (também chamada de
lei nova cria um tipo incriminador, consideran- intermédia) e não a última.
do infração uma conduta considerada irrelevante
pela lei anterior. Por exemplo, a Lei nº 10.224/01, Combinação de Leis
introduziu no Código Penal o art. 216-A, e criou o
tipo de assédio sexual no ordenamento jurídico O que acontece se houverem várias leis sucessivas
brasileiro. Tem como consequências: a nova lei e cada uma delas tem uma parte, um aspecto mais
gravosa é irretroativa (art. 1º, CP). favorável ao sujeito. É possível combinar várias leis,
criando uma “terceira lei” para beneficiar o agente?
Veja que o texto do Código Penal não menciona a Segundo a maior parte da doutrina, não, por violar o
ultratividade, ou seja, a possibilidade do o juiz apli- princípio da legalidade. Essa é a posição do STJ e do
car uma lei já revogada. No entanto, essa aplicação STF.
pode ocorrer na sentença, se esta for mais benéfica
e vigente à época do fato criminoso. Veja o seguinte Leis temporárias e excepcionais
exemplo: em 10 de fevereiro de 2021 encontra-se em
vigor a Lei “A”, que prevê a pena mínima de 2 anos A regra da retroatividade benéfica não se aplica
de reclusão para determinado crime; em 10 de março no caso das chamadas leis intermitentes (leis tem-
do mesmo ano, entra em vigor a Lei “B”, que comina porárias e leis excepcionais). Veja o art. 3º, CP:
a pena mínima de 4 anos de reclusão para o mesmo
delito. Em 10 de agosto, ao sentenciar, o juiz deve uti- Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora
lizar a Lei “A”, já revogada, mas vez que mais benéfica decorrido o período de sua duração ou cessadas as
torna-se ultrativa. Observe tal fenômeno no Fluxogra- circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao
84 ma a seguir: fato praticado durante sua vigência.
z Lei Excepcional: é aquela feita para vigorar em branco em sentido lato ou imprópria ou homogê-
épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É nea: a complementação do preceito primário se faz
aprovada para vigorar enquanto perdurar o perío- com auxílio de uma lei.
do excepcional. São facilmente identificáveis por Norma penal em branco é um assunto dos mais
expressões como “esta lei terá vigência enquanto cobrados em concursos. É importante guardar não
durar o estado de calamidade pública”. só suas relações com o direito temporal, mas também
z Lei Temporária: é aquela feita para vigorar por suas classificações. Assim, vamos incluir mais três em
determinado tempo, estabelecido previamente na nosso vocabulário jurídico-penal:
própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de
cessação de sua vigência. Um exemplo de lei tem- z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Homo-
porária é a Lei nº 12.663/12, denominada Lei Geral vitelina: o complemento se encontra no mesmo
da Copa, que criou tipos penais que duraram até o diploma legal da norma incompleta (exemplo:
dia 31 de dezembro de 2014. vários tipos do Código Penal tratam de crimes
cometidos por funcionário público; o conceito de
Posto isso, rege o art. 3º do Código Penal que, mes- funcionário público é encontrado no artigo 327 do
mo cessadas as circunstâncias que a determinaram próprio CP)
(lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura- z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Hete-
ção (lei temporária), é possível aplica-las aos fatos pra- rovitelina: o complemento está em diploma legal
ticados durante sua vigência. diferente do da norma incompleta (exemplo: o art.
Desta forma, são leis ultra-ativas, isso porque 237, CP fala em impedimento que cause a nulidade
regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo absoluta do casamento; o complemento encontra-
após sua revogação. -se no Código Civil (CC).
z Quando o complemento é dado por uma norma
constante da CF, temos a chamada norma penal
Importante! em branco de fundo constitucional (exemplo: o
Ultratividade: as leis de vigência temporária art. 246 do CP que fala em “idade escolar”; tal con-
(excepcionais e temporárias) são ultra-ativas, ceito encontra-se no art. 208, I, CF).
no sentido de continuarem a ser aplicadas aos
Agora veja o caso da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas):
fatos praticados durante a sua vigência mesmo
depois de sua auto revogação.
Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
Normas penais em branco e direito intertemporal
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
Questão interessante que diz respeito à alteração autorização ou em desacordo com determinação
do complemento da norma penal em branco. legal ou regulamentar:
Primeiro vamos entender o que é norma penal Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
em branco e ver algumas particularidades a ela rela- pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui-
cionadas para depois vermos sua relação com o fator nhentos) dias-multa.
“tempo”.
Norma penal em branco ou cega pode ser defi- No caso do art. 33 da Lei de 11.346/06, o dispositivo
nida como uma lei penal incriminadora que possui não define o que são “drogas”, nem o que seja “sem
um elemento indeterminado no que diz respeito à autorização legal ou em desacordo com determinação
descrição da conduta. Lembre-se que a norma penal legal ou regulamentar”. A definição de quais substân-
incriminadora estabelece uma conduta (uma ação ou cias são ilícitas é encontrada em Portaria da Agência
omissão) em seu preceito primário e uma sanção Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que, por ser
penal em seu preceito secundário. Quando um tipo fonte legislativa hierarquicamente inferior, é denomi-
penal traz seu preceito primário incompleto, preci- nada norma penal em branco em sentido estrito ou
sando ser complementado por outra norma, estamos própria ou heterogênea.
diante de uma norma penal em branco ou cega. Por outro lado, temos a chamada norma penal
Vamos ver dois exemplos de norma penal em bran- em branco ao revés ou invertida ou inversa ou ao
co, o primeiro constante no art. 237 do Código Penal e avesso quando o complemento necessário se refere à
o outro no art. 33 da Lei de Drogas: sanção (preceito secundário). Um exemplo de norma
penal em branco ao revés é o tipo do crime de geno-
Conhecimento prévio de impedimento cídio, previsto na Lei nº 2.889/56, que apresenta um
branco em relação à pena, sendo necessário recorrer
Art. 237 Contrair casamento, conhecendo a existên- a outras leis para completar tal branco. Pode aconte-
DIREITO PENAL

cia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: cer de o próprio complemento da norma incompleta
Pena - detenção, de três meses a um ano. necessitar de outro complemento, ou seja, é preciso
uma dupla complementação. Neste acaso, temos o
Neste caso, o dispositivo penal não esclarece o que se usa chamar de normal penal em branco ao
que é “impedimento que lhe cause nulidade absolu- quadrado.
ta”. O complemento, neste caso, deve ser buscado em Ainda em relação às normas penais em branco,
fonte legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco vale a pena lembrar que é importante saber diferen-
do art. 237, CP é complementado pelas hipóteses de ciá-las dos tipos penais abertos. O tipo penal aber-
impedimento tratadas pelo Código Civil, em seu art. to, assim como na norma em branco, é uma norma
1521. Este caso é o que se chama de norma penal em incompleta que necessita de complementação. A 85
diferença, no entanto, é que no tipo penal aberto a O Direito Penal brasileiro adotou, em relação
complementação é feita por meio de um juízo de valo- ao tempo do crime, a teoria da Atividade, por isso,
ração realizado pelo juiz, isto é, o complemento vem considera-se praticado o crime no momento da
da valoração feita pelo magistrado e não de uma outra conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o
norma. momento do resultado (art. 4º, CP).
Agora que já vimos o conceito de norma penal em Ilustrando: no caso de um homicídio, é essencial
branco e suas particularidades, vamos fazer uma rela- que se determine o instante da ação (momento dos
ção dela com a questão do direito no tempo. tiros, por exemplo) e não o momento do resultado
Vamos voltar ao exemplo do art. 33 da Lei nº (morte) pois, se o autor for menor de 18 anos à época
11.343/06 (tráfico ilícito de drogas). O que ocorreria, dos tiros, ainda que a vítima morra depois do atirador
por exemplo, se houvesse a retirada de certa substân- ter completado a maioridade penal, ele não pode res-
cia psicoativa da portaria da ANVISA, que define as ponder criminalmente pelo ato.
drogas para efeito da Lei nº 11.343? Imagine um sujei- A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º, em relação
to que é pego vendendo a droga “X”, que consta na ao tempo do crime, é a teoria da ATIVIDADE. Leva-
Portaria, e passa a responder pelo crime de tráfico de -se em conta, pois, o momento da conduta (ação ou
omissão), pouco importando o instante do resultado.
drogas. Com a retirada da substância da norma com-
Veja o esquema a seguir como exemplo:
plementar, como ficaria a situação do agente?
Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica,
descriminalizando o comportamento, por força da Tempo do Crime (Art. 4º)
abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico
não pela revogação da Lei que considerava o fato típi- Conduta Resultado
co, mas sim de seu complemento.
Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237 do CP. O
Sentença Morte da
Código Civil de 1916, em seu art. 183, VII, previa que Vítima
um dos impedimentos absolutamente dirimentes era
o casamento do cônjuge adúltero com o corréu conde-
nado por tal crime. No entanto, o Código Civil de 2002 Vítima
não trouxe tal impedimento, ocorrendo, pois, abolitio Considera-se hospitalizada
criminis, que retroagiu em favor de eventuais réus. praticado no tempo
A retroação benéfica, por outro lado, não ocor- da conduta (Teoria
re quando se tratar de complementos que tenham da Atividade, art. 4º)
caráter excepcional ou temporário, como foi o
caso, por exemplo, da Lei nº 1.521/51, a Lei de Crimes
Contra a Economia Popular: o comerciante que fosse É na data da conduta, portanto, que:
flagrado vendendo produto com preço acima do que
constasse em tabela oficial respondia pelo ato, ainda z Se verifica a imputabilidade penal: no nosso
que o congelamento, com a respetiva revogação da exemplo, o fato de ser o autor, maior ou menor de
tabela, se encerrasse antes da conclusão do inquérito 18 anos;
policial ou do processo penal. z Se fixam as circunstâncias do crime: qualifica-
doras, causas de aumento ou diminuição de pena,
Do tempo do crime agravantes ou atenuantes (como, por exemplo, ser
a vítima criança ou maior de 60 anos, que contam
Como vimos anteriormente, logo em seus primei- como agravantes; ou ser o autor menor de 21 anos,
ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da o que vai servir como atenuante).
aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân-
cia de se conhecer o tempo do crime? Tempo do crime nas infrações permanentes e
Determinar o tempo do crime é essencial, em pri- continuadas
meiro lugar, para saber que lei será aplicada no
caso concreto. Da mesma forma, é imprescindível Nestes casos, será aplicada regra especial, que
para verificar a imputabilidade do agente (que consta na Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave
aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
pode ser menor de 18 no momento da conduta), fixar
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade
as circunstâncias do tipo penal, verificar a prescri-
ou da permanência”.
ção, dentre outros aspectos.
Crime permanente é aquele cuja consumação
Existem três teorias que podem ser consideradas
se prolonga no tempo pela vontade do sujeito ativo
para se determinar o tempo do crime:
como, por exemplo, no caso de um sequestro. Neste
caso, é considerado tempo do crime todo o período em
TEORIA DA Considera-se praticado o crime que se desenrolar a atividade criminosa. Assim sen-
ATIVIDADE no momento da conduta. do, se um sequestrador, menor de 18 anos quando do
início da prática do crime atinge a maioridade ainda
TEORIA DO Considera-se praticado o crime com o delito em curso, é considerado imputável para
RESULTADO no momento do resultado. os fins penais.
Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí-
Considera-se praticado o cri-
dica criada para beneficiar o réu, prevista no art. 71
TEORIA MISTA OU me tanto no momento da con-
do CP e será estudado mais adiante. Por enquanto,
DA UBIQUIDADE duta quanto no momento do
basta saber que o crime continuado ocorre quando o
resultado.
86 agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie,
mediante duas ou mais condutas, sendo que, pelas z Especialidade;
condições de tempo, lugar, modo de execução, são z Subsidiariedade;
tidos uns como continuação dos outros. z Consunção (ou absorção);
Por exemplo, um empregado de uma loja de fer- z Alternatividade (este último não é unânime entre
ramentas visando subtrair um kit de ferramentas os autores, conforme veremos ao estuda-lo).
do estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta
por dia, até ter em suas mãos o kit completo. 60 dias Antes de verificar se há leis concorrentes, deve-
depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e -se analisar se não é o caso da ocorrência de suces-
vai ter cometido 60 furtos! Não fosse a regra benéfica são temporal de leis. Ou seja, a primeira “peneira”
do art. 71 do CP, a pena mínima neste caso somaria 120 a ser feita, é verificar se não se trata de conflito de
anos de reclusão! Reconhecendo-se a ocorrência de leis no tempo, que são solucionados pelo princípio
crime continuado, ocorrerá a chamada exasperação: de que lei posterior revoga lei anterior (lex posterior
no nosso exemplo específico, será aplicada ao agente derogat priori). Por exemplo, a Lei “A” regra determi-
a pena de um só dos furtos aumentadas de 1/6 até 2/3. nada situação; Lei “B”, posterior, revogando a lei mais
No entanto, não nos interessa, neste momento, ingres- antiga, passa a viger tratando do mesmo conteúdo;
sar no tema do crime continuado, nos basta apenas neste caso não há conflito aparente de normas, mas
a noção do fenômeno para que possamos discutir a sim aplicação das regras relativas à lei penal no tempo
questão do tempo do crime quando de sua ocorrência. vistas anteriormente.
Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá- Uma corrente minoritária de autores inclui a
vel ao crime permanente (Súmula 711 do STF) deve sucessão temporal de leis como um princípio de solu-
ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva ção do conflito aparente de normas (como é caso do
quanto às condutas praticadas pelos menores de 18 Prof. Guilherme Nucci, que o apresenta como “critério
anos, por força do artigo 228 da CF que determina sua da sucessividade”).
inimputabilidade: na hipótese de um sujeito cometer Vamos agora, analisar detalhadamente cada um
quatro furtos, possuindo 17 anos quando do come- deles.
timento dos dois primeiros, e já 18, no momento da
Princípio da Especialidade
prática dos dois últimos, somente estes dois é que ser-
virão para constituir o crime continuado. Lei especial afasta a aplicação de lei geral (lex spe-
cialis derogat generali), como, a propósito, encontra-se
Tempo do Crime e conflito aparente de normas previsto no art. 12 do Código Penal:

O conflito aparente de normas (ou concurso apa- Art. 12 As regras gerais deste Código aplicam-se
rente de normas) se estabelece quando duas ou mais aos fatos incriminados por lei especial, se esta não
normas aparentemente parecem ser aplicáveis ao dispuser de modo diverso
mesmo fato.
Por exemplo: um sujeito resolve importar, via cor- Uma norma penal incriminadora (que descreve
reio, uma determinada substância entorpecente. Num crimes e comina penas) é especial em relação a outra
primeiro momento, pode parecer que se aplique ao quando:
caso o previsto no art. 334 do Código Penal, que trata
z Possui em sua definição legal todos os elementos
do crime de contrabando. Ocorre que o mesmo fato
típicos que constam na geral; e
está previsto no art. 33 da Lei de Drogas. Parece, pois,
que as duas normas parecem ser aplicáveis ao mes- z Apresenta mais alguns elementos (de natureza
mo fato. No entanto o conflito é apenas aparente, uma objetiva ou subjetiva), chamados de especializan-
vez que a própria lei apresenta mecanismos para sua tes, que a tornam mais ou menos severa do que a
solução: no caso do nosso exemplo, aplica-se o art. 33 geral.
da Lei de Drogas (tráfico ilícito de drogas), por se tra-
Vamos exemplificar. O tipo penal do homicídio
tar de lei especial (o tráfico internacional de drogas se
simples, descrito abaixo, é lei geral:
distingue do contrabando porque se refere, especifi-
camente, a um determinado tipo de mercadoria proi- Homicídio simples
bida, a droga. O mesmo ocorre com o tráfico de armas,
previsto no Estatuto do Desarmamento). Art. 121 Matar alguém.
Note, o conflito é apenas aparente, pois somente
uma delas acaba regulamentando o fato, afastan- Compare com o tipo penal do infanticídio, outro
do as demais. dos crimes contra a vida:
Para que ocorra o conflito aparente de normas,
Infanticídio
devem estar presentes dois pressupostos:
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe-
z Unidade de fato, ou seja, a existência de uma única ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
infração penal (por exemplo: uma morte);
DIREITO PENAL

z Pluralidade de normas identificando o mesmo fato O infanticídio (crime específico) é lei especial em
como delituoso, isto é, duas ou mais normas pre- relação ao homicídio (crime genérico), uma vez que
tensamente regulando o mesmo fato criminoso. contém mais elementos:

z Sob a influência do estado puerperal,


A solução se dá pela aplicação de alguns princí-
pios que vamos ver a seguir (chamados de princípios z O próprio filho,
que solucionam o conflito aparente de normas). z Durante o parto ou logo após
São quatro os princípios que solucionam o con-
flito aparente de normas: 87
Assim, estando presentes as especializantes, o identificada, sendo reconhecida por expressões
tipo genérico é preterido pelo especial, a fim de tais como “se o fato não constituir crime mais gra-
que se evite a dupla punição (bis in idem). Em outras ve”. Um exemplo é o delito de perigo para a vida
palavras, no conflito aparente entre norma geral e ou saúde de outrem: o art. 132 do CP descreve em
norma especial, afasta-se a geral e aplica-se a especial. seu preceito secundário a pena de detenção, de
Note que no exemplo colocado acima, ambos dis- três meses a um ano, “se o fato não constitui crime
positivos se encontram dispostos na mesma lei (CP). mais grave”. Ou seja, a lei explicitamente indica
Pode ocorrer, no entanto, de estarem contidas em leis que o art. 132 só é aplicável se o fato não constituir
distintas, como nos exemplos abaixo. Observe, res- crime mais grave, como a tentativa de homicídio, o
pectivamente os tipos penais do homicídio culposo, perigo de contágio de moléstia grave e o abandono
previsto no Código Penal, e o homicídio culposo na de incapaz, entre outros. São outros exemplos de
direção de veículo automotor, que consta do Código subsidiariedade expressa os arts. 129, § 3º, 238, 239
de Trânsito Brasileiro (CTB): e 307, todos do CP e os arts. 21, 29 e 46 da Lei de
Contravenções Penais (LCP).
Art. 121 Matar alguém: z Tácita ou implícita: neste caso, a norma nada fala.
[...] No entanto, o fato incriminado na norma subsidiá-
Homicídio culposo
ria serve como elemento componente ou agravan-
te especial da norma principal, como, por exemplo,
§ 3º Se o homicídio é culposo (Vide Lei nº 4.611, de 1965) no caso do estupro (norma principal) que contém
Pena – detenção, de um a três anos. o constrangimento ilegal (norma subsidiária) e do
Art. 302 Praticar homicídio culposo na direção de furto qualificado pelo arrombamento, que contém
veículo automotor. o dano (o constrangimento ilegal é subsidiário de
todos os crimes que têm como meio de execução a
Pode ocorrer também, que a relação entre norma violência física ou a grave ameaça; o dano, por sua
geral e especial ocorra “dentro” de determinados cri- vez funciona como circunstância qualificadora do
mes que apresentem um tipo simples e formas típicas furto). Outro exemplo é a omissão de socorro (art.
qualificadas ou privilegiadas. Assim, o tipo funda- 135, CP) que serve como qualificadora do homicí-
mental é excluído pelo qualificado ou privilegiado, dio culposo (art. 121, § 4º, CP).
que deriva daquele. Nesses termos, o furto simples
(art. 155, caput) é excluído pelo privilegiado (art. 155, Na prática, o princípio da subsidiariedade acaba
§ 2o); o estelionato simples (art. 171, caput) é excluído por gerar os mesmos resultados do princípio da espe-
pelo qualificado (art. 171, § 3o) etc. cialidade. No entanto, trata-se de institutos diferentes.
A distinção pode ser feita de duas maneiras:
Princípio da Subsidiariedade (Tipo de Reserva)
z Na especialidade: há relação entre o fato descrito
Uma norma é considerada subsidiária em relação pela norma genérica e o estabelecido pela especial
a outra quando a conduta nela prevista (de menor (relação de gênero e espécie); na subsidiariedade
gravidade) integra o tipo da principal (que descreve o não existe essa relação;
fato de forma mais abrangente). Neste caso, a lei prin-
z Na subsidiariedade: quando se afasta a incidên-
cipal afasta a aplicação de lei secundária (lex primaria
cia da norma primária a pena do tipo subsidiário
derogat subsidiariae), justamente porque esta última
pode ser aplicada, como um ‘soldado de reserva’ e
cabe dentro dela.
aplicar-se pelo residuum.
Ou seja, a figura típica subsidiária (chamada pelo
grande penalista brasileiro Nelson Hungria, de “sol- Para fixar o entendimento, vamos ilustrar o princí-
dado de reserva”) é parte da principal, estando nela pio da subsidiariedade:
contida. Observe que não se trata de ser especial, mas
sim mais ampla. Veja os exemplos abaixo: z Lei principal (é o todo)

z O crime de ameaça (art. 147, CP) é subsidiá- „ Ex.: Extorsão mediante sequestro (art. 159)
rio (“cabe”) no delito de constrangimento ilegal
mediante ameaça (art.146). Este, por sua vez, é z Lei subsidiária (é parte)
subsidiário ao crime de extorsão (art. 158. CP); „ Ex.: Sequestro e cárcere privado (art. 148)
z O crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei
nº 10.826/03) se encaixa no crime de homicídio Princípio da Consunção ou absorção
cometido com disparo de arma de fogo (art. 121, CP)
Trata-se do princípio segundo o qual o fato previs-
Veja que há um só fato. No exemplo da morte cau- to por uma lei está, igualmente, contido em outra de
sada por disparo de arma de fogo, o fato (disparo que maior amplitude, aplicando-se somente esta última.
acaba matando) é maior do que a norma subsidiara Os fatos menos amplos e menos graves servem como
(mero disparo), só podendo, portanto, se encaixar na preparação ou execução ou mero exaurimento.
norma principal (mais ampla). Ou seja, ocorre a consunção ou absorção, quando:
A subsidiariedade se apresenta nas seguintes
formas: z Um fato definido por uma norma incriminadora é
meio necessário ou normal fase de preparação ou
z Expressa ou explícita: ocorre quando a própria execução de outro crime;
norma indica expressamente em seu texto seu
caráter subsidiário, ou seja, afirma que só vai ser z Quando constitui conduta anterior ou posterior do
aplicada se não for o caso da aplicação de outra, agente, cometida com a mesma finalidade prática
de maior gravidade. Esta é mais simples de ser relativa ao crime que absorve.
88
A consunção tem várias aplicações: a tentativa é Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
absorvida pela consumação; a participação pela coau- duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
toria; e o porte de arma é absorvido no homicídio recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
quanto a arma é adquirida e portada com a finalida- guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
de de matar a vítima. É utilizada, também, no crime ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
progressivo (aquele no qual o agente possui um só autorização ou em desacordo com determinação
desígnio, mas, para alcançar o resultado mais grave, legal ou regulamentar.
passa pelo menos grave. Em outras palavras, é quan-
do o agente desde o início quer alcançar o resultado Note que são dezessete verbos (núcleos diferen-
mais grave, e o busca, por meio de atos sucessivos e tes): pelo princípio da alternatividade, se o agente
crescentes, como por exemplo no caso do homicida pratica mais de um verbo, no mesmo contexto fático,
que deseja matar a vítima cortando as partes do cor- só responderá por um único crime (por exemplo, se o
po: embora cometa várias ações, sua intenção é matar sujeito oferece e ministra).
a vítima e, assim, reponde por um único crime de
homicídio qualificado. A LEI PENAL NO ESPAÇO
Outra aplicação da consunção se dá na progres-
são criminosa, ou seja, quando o agente possui um Ao estudar, nos arts. 5º a 8º do CP, a aplicação da
dolo inicial e, no mesmo contexto fático, resolve subs- lei penal no espaço vamos tratar do lugar de incidên-
tituir o desígnio, como, por exemplo, quando o sujeito, cia da legislação penal brasileira, ou seja, ONDE ela é
desejando causar lesões à vítima, corta seus dedos. No aplicada. Não vamos ver, neste momento, regras de
entanto, no mesmo momento, muda de ideia e resolve competência, que se encontram nos arts. 70 e seguin-
matar o ofendido com um tiro na cabeça. Neste caso, o tes do Código de Processo Penal (CPP).
agente responde pelo homicídio, ficando as lesões cor-
porais absorvidas (se não fossem no mesmo contexto Territorialidade
fático, como por exemplo no caso do agente que mata
a vítima um mês após causar-lhe lesões, haveria, por O princípio adotado para tratar do âmbito da apli-
outro lado, concurso de crimes, respondendo o agente cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri-
pelos dois delitos). torialidade, que se encontra disposto no art. 5º do CP:
Duas outras aplicações do princípio se dão nos
chamados ante factum impunível e no post factum Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
convenções, tratados e regras de direito internacio-
impunível. No primeiro caso, podemos citar, como
nal, ao crime cometido no território nacional.
exemplo, o agente que toca o corpo da vítima e, na
mesma linha de desdobramento, praticar a conjun-
O princípio da territorialidade significa que a lei
ção carnal: responde pelo estupro, ficando os toques
penal de um país só é aplicável no território do Estado
absorvidos. Já no caso do fato posterior não punível, o
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade
exemplo clássico é o do sujeito que furta determinada
coisa e em seguida a destrói: vai responder somente do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima).
pelo furto. O princípio da territorialidade pode se dar de duas
Em relação ao princípio da consunção, duas ques- formas:
tões são recorrentes em concursos:
z De forma absoluta (princípio da territorialidade
z A primeira diz respeito ao porte ilegal de arma absoluta) quando somente a lei penal do país é
de fogo, disparo de arma de fogo e homicídio aplicável aos crimes cometidos em seu território
doloso: se tudo ocorreu no mesmo contexto fático nacional; e
(mesmo desdobramento, ou seja, o agente só por- z De forma temperada, relativizada ou mitigada
tou irregularmente a arma e a disparou pois tinha (princípio da territorialidade temperada) quan-
a intenção de matar alguém) o homicídio absorve do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao
os anteriores; e crime cometido no território nacional, mas, excep-
z A segunda é relacionada aos crimes de falsida- cionalmente, por força de tratados e convenções
de e estelionato: neste caso, basta observar o que internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli-
dispõe a Súmula 17 do STJ: quando o sujeito falsifi- tos praticados em território nacional.
ca documento para aplicar um golpe, o estelionato
(crime-fim) absorve o falso (crime-meio). Como regra, o Brasil adota o princípio da territoria-
lidade temperada e 4 outros princípios como exceção:
E lembre-se: em qualquer situação, para que haja
consunção é imprescindível que os fatos de deem den- z Real ou de proteção ou da defesa: art. 7º, I e § 3º,
tro do mesmo contexto. CP (exceção: extrataterritorialidade). A lei penal
A figura utilizada para fazer referência ao prin- leva em conta a nacionalidade do bem jurídico
cípio da consunção é da de um peixão, que engole lesado pelo delito, sem se importar com local de
um peixinho que engole o girino: isto é, o homicídio sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo.
absorve as lesões graves, que absorvem as lesões leves z Justiça penal universal ou princípio universal
DIREITO PENAL

que, por sua vez, absorvem as vias de fato.


ou da universalidade da justiça cosmopolita,
Princípio da Alternatividade ou da jurisdição mundial ou da repressão uni-
versal ou da universalidade do direito de punir:
O último dos princípios é do da alternatividade e é art. 7º, II, a (exceção: extrataterritorialidade). Cada
aplicado quando há a prática, no mesmo contexto fáti- Estado tem o poder de punir qualquer crime, inde-
co, dos crimes de conteúdo múltiplo ou variado ou pendentemente da nacionalidade do autor ou da
plurinuclear, que são os crimes que descrevem várias vítima ou, ainda, do local da sua prática. Basta que
condutas no mesmo artigo, ou seja, contém vários ver- o criminoso esteja dentro do território do país.
bos como núcleos do tipo. Um exemplo desse tipo de
crime encontra-se no art. 33, caput, da Lei de Drogas: 89
z Nacionalidade ativa ou princípio da personali- respectivamente, no espaço aéreo corresponden-
dade: art. 7º, II, b (exceção: extrataterritorialida- te ou em alto-mar.
de). Segundo o princípio da nacionalidade, a lei
penal do Estado se aplica a seus cidadãos onde Vale notar que embaixada estrangeira, localizada
quer que se encontrem. O Brasil adota a naciona- no Brasil, constitui território brasileiro para efeito de
lidade ativa, que impõe a aplicação da lei nacional incidência da Lei penal brasileira.
ao cidadão que comete crime no estrangeiro não
importando a nacionalidade da vítima. Lugar do crime
z Representação ou pavilhão ou bandeira: art. 7º, O CP trata do lugar do crime no art. 6º:
II, c (exceção: extrataterritorialidade). Ficam sujei-
tos à lei do Brasil os delitos cometidos em aerona- Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em
ves e embarcações privadas, quando ocorridos no que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em par-
estrangeiro e aí não venham lá a ser julgados. te, bem como onde se produziu ou deveria produzir-
-se o resultado.
Território nacional
Conforme já vimos antes, não se trata de fixar nor-
mas de competência (medida de jurisdição) uma vez
O texto do art. 5º fala em território. O território que
que tais normas são cuidadas pelos arts. 70 e seguin-
nos interessa é o território jurídico, ou seja, o espaço
tes do CPP. O disposto no art. 6º, CP destina-se aos
em que o Estado exerce sua soberania. O território
nacional é composto pelas seguintes partes: chamados crimes à distância, isto é, aqueles delitos
em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o
z o solo; resultado, em outro. Em relação ao local do crime, o
CP adota o princípio da ubiquidade.
z o subsolo; Vamos exemplificar: na divisa Brasil-Paraguai, um
z o espaço aéreo correspondente; cidadão brasileiro, que se encontra em Foz do Iguaçu,
z os cursos d’água internos (rios, lagos, mares inte- atira em uma pessoa, que se encontra no Paraguai, vin-
riores); e do esta a falecer. Ou ainda, um indivíduo envia uma
z o mar territorial, assim entendido como a faixa carta-bomba do Chile para o Brasil, que ao ser aberta
de mar exterior que compreende as 12 milhas em São Paulo, mata a vítima. Quem vai punir os auto-
marítimas medidas a partir da linha do baixa-mar res? Para solucionar tais situações, existem três teorias:
do litoral continental e insular brasileiro, de acor-
Extraterritorialidade
do com as referências contidas nas cartas náuticas
brasileiras (art. 1º da Lei nº 8.617/93). Extraterritorialidade é a aplicação da lei brasilei-
ra aos crimes cometidos fora do Brasil. Sua sistema-
Em relação aos rios internacionais que constituem tização se encontra nos arts. 7º e 8º do CP.
limites entre dois países, normalmente existe tratado Tal fenômeno se justifica por dois motivos:
sobre o tema que ou determina que a divisa se encontra
na linha mediana do leito do rio ou que a divisa acom- z Para proteger certos bens jurídicos (como, por
panhe a linha de maior profundidade da corrente. Se o exemplo, o patrimônio público);
rio não for divisa, mas sucessivo, como o Amazonas, é
indiviso, e cada Estado exerce soberania sobre ele. z Para impedir que certos delitos fiquem sem res-
No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o limi- posta da lei penal. Não se aplica a extraterrito-
te é fixado pela linha da meia distância entre as mar- rialidade a todas as infrações penais (crimes e
gens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais Estados. contravenções): de acordo com o art. 2º da Lei
de Contravenções Penais, não se aplica a lei
brasileira às contravenções ocorridas fora do
Dica território nacional. Ou seja, não há extraterrito-
Por se relacionarem aos assuntos que estamos rialidade de contravenção.
vendo, vale a pena estudar as hipóteses de não
incidência da lei a fatos cometidos no Brasil: A aplicação da lei brasileira no estrangeiro pode
ser dar sem que seja necessária qualquer condi-
a) as imunidades diplomáticas;
ção, recebendo o nome de extraterritorialidade
b) as imunidades parlamentares; e
incondicionada:
c) a inviolabilidade do advogado.
Esses assuntos são tratados em Direito Consti- z Hipóteses do art. 7, I, do CP:
tucional, Direito Processual Penal e no estudo do
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
Território por extensão República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
De acordo com o § 1º do art. 5º do Código Penal, para do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
Município, de empresa pública, sociedade de eco-
fins penais, é considerado território por extensão:
nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
Poder Público;
z As embarcações e aeronaves brasileiras, de
c) contra a administração pública, por quem
natureza pública ou a serviço do governo brasilei- está a seu serviço;
ro onde quer que se encontrem; e d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
z As aeronaves e as embarcações brasileiras, mer- domiciliado no Brasil;
90 cantes ou de propriedade privada, que se achem, [grifos nossos]
Nestes casos, aplica-se a lei penal brasileira ainda z Frações de penas: não são computadas as horas
que o crime tenha sido julgado no estrangeiro e nas penas privativas de liberdade e restritivas de
independentemente de o agente entrar no Brasil. direitos, nem os centavos na pena pecuniária.
Se preenchidas certas condições indicadas na lei,
teremos a extraterritorialidade condicionada:
Importante!
z Hipóteses do art. 7, II, do CP: art. 7º, II, ‘a’ e ‘b’ +
Para fins de prescrição e decadência, os prazos
requisitos do art. 7º, § 2º;
são contados de acordo com a regra do art. 10,
art. 7º, II, ‘c’, do CP + requisitos do art. 7º, § 2º+ 7º,
CP.
II, ‘c’ in fine (não ter sido julgado no estrangeiro);
art. 7º, § 3º, do CP + requisitos do art. 7º, § 2º +
requisitos do § 3º (não ter sido pedida ou ter sido
negada a extradição) + requisição do Ministro da
Justiça.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
1. (CESPE-CEBRASPE – 2019) Considerando esse dispo-
Pena cumprida no estrangeiro sitivo legal, bem como os princípios e as repercussões
jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue.
Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a
O presidente da República, em caso de extrema rele-
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
vância e urgência, pode editar medida provisória para
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
agravar a pena de determinado crime, desde que a
aplicação da pena agravada ocorra somente após a
Quando se fala em extraterritorialidade condicio- aprovação da medida pelo Congresso Nacional.
nada, uma vez tendo sido cumprida a pena no estran-
geiro, desaparece o interesse do Brasil em punir o ( ) CERTO  ( ) ERRADO
delinquente.
Por outro lado, nos casos de extraterritorialidade O princípio da legalidade veda a edição de medida
incondicionada, se o sujeito ativo entra em território provisória em matéria de Direito Penal. De acordo
brasileiro, estará sujeito à punição, independente- com o texto constitucional:
mente de já ter sido condenado ou absolvido no exte- Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Pre-
rior. Nesta hipótese, se aplicaria a fórmula do art. 8º, sidente da República poderá adotar medidas pro-
CP. No entanto, tal dispositivo é inconstitucional, por visórias, com força de lei, devendo submetê-las de
ir contra a garantia constitucional de que ninguém imediato ao Congresso Nacional.
pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, constan- § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre
te da Convenção Americana dos Direitos Humanos, matéria:
em vigor no Brasil. b) direito penal, processual penal e processual civil
(...) Resposta: Errado.
Eficácia da Sentença Penal Estrangeira
2. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue o item subsequen-
O art. 9º do CP trata dos efeitos da sentença penal te, relativo à aplicação da lei penal e seus princípios.
estrangeira. De acordo com o disposto, somente pode No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra
ser homologada para produzir os seguintes efeitos: é a aplicação da lei apenas durante o seu período de
vigência; a  exceção é a extra-atividade da lei penal
z Obrigar o condenado à reparação do dano (art. 9º mais benéfica, que comporta duas espécies: a retroa-
I, CP); e tividade e a ultra-atividade.
z Sujeitar o condenado à medida de segurança (art.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
9º II, CP).
Sobre a lei penal no tempo, temos a regra da Ativi-
A homologação é feita por meio de sentença pelo
dade: fatos praticados durante sua vigência da lei.
STJ (art. 105, I, ‘i’, da CF). No caso art. 9º, I, CP depende Porém, há exceção: a extratividade que se divide
de pedido da parte interessada; já na hipótese do 9º em retroatividade e ultratividade. Na retroativi-
II, CP, depende da existência de tratado de extradição dade a lei mais nova  e benéfica retroage aos fatos
com o país respectivo ou, na fala de ratado, de requisi- antes da entrada em vigor. E na ultratividade, a lei
ção do Ministro da Justiça. mais  benéfica,  quando  revogada, continua a reger
os fatos durante vigência. Resposta: Certo.
Prazo Penal
3. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin-
DIREITO PENAL

Antes de finalizar a chamada teoria da norma e tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação
ingressar na teoria do crime, falta falar brevemente temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e
sobre o prazo penal, estabelecido no art. 10, CP. à pena cumprida no estrangeiro.
O prazo penal e o prazo, processual são contados A lei penal que, de qualquer modo, beneficia o agen-
de maneiras diferentes: te tem, em regra, efeito extra-ativo, ou seja, pode
retroagir ou avançar no tempo e, assim, aplicar-se ao
z Prazo penal (regra art. 10, CP): inclui-se o primei- fato praticado antes de sua entrada em vigor, como
ro dia, despreza-se o último; também seguir regulando, embora revogada, o fato
z Prazo processual penal (regra art. 798, § 1º, CPP): praticado no período em que ainda estava vigente. A
despreza-se o primeiro dia, conta-se o último; única exceção a essa regra é a lei penal excepcional 91
ou temporária que, sendo favorável ao acusado, terá Nessa questão, devemos saber conhecer a Extrater-
somente efeito retroativo. ritorialidade: condicionada e incondicionada. Na
extraterritorialidade condicionada:
( ) CERTO  ( ) ERRADO � o agente deve entrar em território brasileiro,
� o fato deve ser punível em ambos territórios,
A regra no Direito Penal é de que Leis Excepcionais � o crime deve estar incluído entre aqueles pelos
não possuem efeito retroativo, apenas ultra ativo. quais o Brasil autoriza a extradição.
Vejamos o texto do art. 3º, do CP: Não há o que se falar em cumprir no Brasil nas
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária,  embora seguintes hipóteses:
decorrido o período de sua duração ou cessadas � se o agente cumpriu a pena no exterior;
as circunstâncias  que a determinaram,  aplica-se � se o agente for absolvido ou perdoado no estrangeiro;
ao fato praticado durante sua vigência. Resposta: � não estar extinta a punibilidade.
Na extraterritorialidade incondicionada  o indiví-
Errado.
duo é condenado no Brasil, mesmo que tenha sido
absolvido ou condenado no estrangeiro. Resposta:
4. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- Errado.
tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação
temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e
à pena cumprida no estrangeiro.
A bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, em
sobrevoo pelo território argentino, Andrés, cidadão TÍTULO II: DO CRIME
guatemalteco, disparou dois tiros contra Daniel, cida-
dão uruguaio, no decorrer de uma discussão. Contu- Nomenclatura
do, em virtude da inabilidade de Andrés no manejo da
arma, os tiros atingiram Hernando, cidadão venezue- A doutrina brasileira utiliza o termo Infração de
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e
lano que também estava a bordo. Nessa situação, em
as contravenções.
decorrência do princípio da territorialidade, aplicar-se-
O Código Penal não utiliza em seu texto a expres-
-á a lei penal brasileira.
são delito, optando por utilizar as expressões infra-
ção, crime e contravenção, sendo que estas duas
( ) CERTO  ( ) ERRADO últimas estão incluídas na primeira
No Código de Processo Penal há certa confusão:
Encontramos a resposta da questão no Princípio da algumas vezes usa o termo infração, de forma genéri-
Territorialidade. Vejamos o texto do art. 5º, do CP: ca, incluindo os crimes (ou delitos) e as contravenções
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 etc.). Em
convenções, tratados e regras de direito internacio- outras situações, emprega a expressão delitos como
nal, ao crime cometido no território nacional. sinônimo de infração (por exemplo, conforme consta
§ 1º -  Para os efeitos penais, consideram-se como nos arts. 301 e 302, CPP).
extensão do território nacional as embarcações e Para os fins do nosso estudo temos, então que
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a ser- infração penal pode significar crime (ou delito) e
viço do governo brasileiro onde quer que se encon- contravenção penal.
trem, bem como as aeronaves e as embarcações As diferenças entre crime e contravenção serão
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, vistas mais adiante.
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
Conceito de crime
correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes
O conceito de crime não é natural e sim algo arti-
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes-
estrangeiras de propriedade privada, achando-se
ses da sociedade. Mas o que é crime?
aquelas em pouso no território nacional ou em voo Podemos responder esta pergunta de três dife-
no espaço aéreo correspondente, e estas em porto rentes formas, olhando para o crime sob diferentes
ou mar territorial do Brasil. Resposta: Certo. aspectos: material, formal e analítico.
Vamos ver o conceito de crime de acordo com cada
5. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- um desses pontos de vista:
tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação
temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
à pena cumprida no estrangeiro. dade tem sobre o que pode e deve ser proibido
Jurandir, cidadão brasileiro, foi processado e conde- por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse
nado no exterior por ter praticado tráfico internacional aspecto, o conceito material de crime consiste
de drogas, e ali cumpriu seis anos de pena privativa de na conduta que ofende um bem juridicamen-
liberdade. Pelo mesmo crime, também foi condenado, te tutelado (bem juridicamente considerado
no Brasil, a pena privativa de liberdade igual a dez anos essencial para a existência da própria sociedade e
e dois meses. manutenção da paz social);
Nessa situação hipotética, de acordo com o Código z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi-
Penal, a pena privativa de liberdade a ser cumprida por to. Assim, o conceito formal de crime constitui
Jurandir, no Brasil, não poderá ser maior que quatro uma conduta proibida por lei, que se realizada,
anos e dois meses. resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
crime, dessa forma, o que o legislador apontar
92 ( ) CERTO  ( ) ERRADO como tal;
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
dos: sob o aspecto analítico, se procura apontar, Importante!
estabelecer os elementos estruturais do crime.
A Constituição Federal prevê nos arts. 173, § 5º,
Vejamos:
e 225, § 3º, que a legislação ordinária estabeleça
Conceito analítico de crime a punição da pessoa jurídica nos atos cometidos
contra a economia popular, a ordem econômica
Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado- e financeira e o meio ambiente. Atualmente ape-
res enxergam o crime de formas diferentes. Existem nas a Lei nº 9.605/98, Lei de Proteção Ambiental
várias correntes, mas as principais são duas: prevê essa responsabilidade. Ou seja, a pessoa
jurídica responde por crime ambientais.
� A que entende que o crime é Fato Típico + Anti-
jurídico (concepção bipartida), sendo a culpabi-
lidade pressuposto de aplicação da pena (entre Existem várias nomenclaturas em lei para se refe-
eles René Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de rir ao sujeito ativo: “agente” (por exemplo, nos arts.
Jesus, Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson); e 14, II; 15; 18, I e II; 19; 20, § 3º; 21, parágrafo único;
z A que concebe o crime como um Fato Típico + 23, caput e parágrafo único; 26, caput e parágrafo
Antijurídico + Culpável (concepção tripartida único, todos do CP); “indiciado”, na fase do inquérito;
ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil acusado, denunciado, réu durante a fase processual;
quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto “sentenciado”, “preso”, “condenado”, “detento” ou
aqueles que adotam a teoria da conduta finalista “recluso”, para aqueles que já foram condenados.
(como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni, Usa-se, ainda, sob o ponto de vista biopsíquico, as
Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou expressões “criminoso” ou “delinquente”.
causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques, Por outro lado, sujeito passivo é entendido como
Aníbal Bruno e Magalhães Noronha). o titular do bem jurídico cuja ofensa fundamenta o
crime. Existem duas espécies:
Diferença entre crime e contravenção
z Sujeito passivo formal ou constante ou geral ou
Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte- genérico: é o Estado;
ressante fazer a distinção entre crime e contravenção z Sujeito passivo material ou eventual ou particu-
penal (também chamada de crime anão ou delito Lili- lar ou acidental: o titular do interesse protegido
putiano ou crime vagabundo ou delitti nani). penalmente (pode ser o ser humano, pessoa jurídi-
Existem países que utilizam a classificação tripar- ca, a coletividade ou o Estado).
tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven-
ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação
É importante salientar que pessoa incapaz pode
bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou
ser sujeito passivo do crime (recém-nascido, menor
delitos) e contravenções.
em idade escolar, portador de deficiência mental etc.).
Não existe um dado único que faça a distinção
É possível ser sujeito passivo mesmo antes de nascer,
entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes
quanto as contravenções configuram comportamen- pois o feto tem direito à vida, bem jurídico protegido
tos que violam mandamentos legais que possuem pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126, CP). Pes-
como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis- soa morta e animais não podem ser sujeitos passivo,
tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê pois não são titulares de direitos (podem ser objetos
tais condutas. materiais; a titularidade é de outros: família, coletivi-
No entanto existem outros elementos que ajudam dade etc.). Aproveitando que mencionamos objeto do
na distinção. crime, guarde:
Em relação às penas: os crimes são punidos com
penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção), z Objeto jurídico consiste no bem ou interesse tute-
restritivas de direitos e multa; já as contravenções são lado pela norma penal (como vida, patrimônio,
punidas com prisão simples e/ou multa. honra etc.); e
Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o z Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual
dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade. recai a conduta criminosa (por exemplo a coisa
Por último, é possível a tentativa nos crimes, móvel, no furto).
enquanto ela é incabível nas contravenções.
Classificação dos crimes
Sujeitos do crime
Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra-
DIREITO PENAL

Antes de analisarmos os elementos do crime é


ção, seja pela doutrina ou pela lei. Assim temos:
importante fixar alguns conceitos sobre os sujeitos do
crime.
z É o nome que a lei dá (nomen juris). Por exem-
Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na nor-
plo, “ofender a integridade corporal ou a saúde
ma penal incriminadora. O crime é uma ação huma-
na, sendo que apenas o ser humano pode delinquir. de outrem” é chamada pelo art. 129, CP de “lesão
Animais e entes inanimados não possuem capacidade corporal”.
penal (conjunto de condições necessárias para que z Que são os nomes dados pela doutrina aos fatos
um sujeito possa ser titular de direitos e obrigações criminosos. Por exemplo: crime de mera conduta,
na esfera penal). crime permanente, crime próprio etc.) 93
z É o nome dado à modalidade a que o fato pertence: Dividem-se nas seguintes modalidades:
crime ou contravenção. Por exemplo, “homicídio” é
crime, enquanto o “jogo do bicho” é contravenção. z Comissivos por omissão: são os delitos de ação,
praticado de forma excepcional por omissão (nos
A classificação doutrinária dos crimes serve casos em que o agente tem o dever jurídico de
para facilitar o estudo e o entendimento dos tipos impedir o resultado e não o faz – art. 13, §2º, CP)
penais incriminadores. No entanto, existem muitos z Omissivos por comissão.
nomes, ficando difícil fazer uma classificação defini-
tiva, uma vez que os estudiosos do Direito Penal ao Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de
sistematizarem a matéria, acabam por criar novas efeitos permanentes
nomenclaturas.
As principais são: Crime instantâneo é aquele que se consuma em
momento determinado, sem prolongamento.
Crimes comuns e especiais Crimes permanentes são aqueles nos quais a
consumação prolonga-se no tempo (Ex.: extorsão
São os definidos no Direito Penal Comum; os espe- mediante sequestro).
ciais, são os descritos no Direito Penal Especial. Crime instantâneo de efeitos permanentes é aque-
le em que a consumação também ocorre em momento
Crimes comuns (quanto ao agente) e próprios determinado, mas os efeitos da consumação têm efei-
tos duradouros (como no homicídio).
Crime comum é aquele que pode ser praticado por Existem uma série de outras classificações, como
qualquer pessoa (furto, homicídio etc.). Crime próprio é crime continuado, delito putativo, por exemplo, que
o que só pode ser cometido por um agente com qualida- serão vistas ao tratar de outros temas mais à frente.
des especiais (uma condição jurídica, como ser funcioná-
rio público; de parentesco, como mãe, filho; profissional, Sistemas penais
como médico; ou natural, como no caso da gestante.
Dentro do contexto dos crimes próprios há uma O conceito analítico de crime, que é o que nos inte-
categoria chamada crimes de mão própria ou de ressa no presente estudo, apresenta várias concepções
atuação pessoal, que são os que só podem ser cometi- diferentes sobre sua estrutura, elementos e maneira
dos pelo agente em pessoa, de forma direta, como por como esses elementos interagem entre si.
exemplo no caso de falso testemunho (a testemunha Dentre essas diferentes teorias, o Código Penal
não pode mentir por meio de outro sujeito). O crime de adotou a teoria finalista, de modo que, conforme
mão própria admite participação, mas não coautoria. vamos ver a seguir, é imprescindível a presença
do dolo ou da culpa a fim de que se configure uma
Crimes de dano e de perigo conduta penalmente relevante.
Concebida nos anos 1930 por Hans Welzel, um
Crime de dano é o que apenas se consuma quando alemão jurista e filósofo do direito, foi adotada no
ocorre a efetiva lesão ao bem jurídico (como no homi- Brasil por doutrinadores como Damásio E. De Jesus,
cídio, nas lesões corporais). Crime de perigo são os Júlio Fabrinni Mirabete e Miguel Reale Júnior, den-
que se consumam com a mera possibilidade do dano tre outros penalistas. Para a teoria finalista, também
(como, por exemplo, na rixa, art. 137, CP e no incên- chamada de “teoria final”, “finalismo penal”, “teoria
dio, art. 250, CP). finalista da ação” ou, ainda, “teoria da ação finalista”,
Os crimes de perigo, por sua vez, subdividem-se em: o crime é fato típico (seus elementos são: conduta,
dolosa ou culposa; resultado naturalístico; relação de
z Crime de perigo presumido (ou abstrato) e crime causalidade ou nexo causal; e tipicidade), ilícito (anti-
de perigo concreto: No presumido ou abstrato o jurídico) e culpável (imputabilidade; exigibilidade de
perigo é presumido pela lei. Basta a ação ou omis- conduta diversa e potencial consciência da ilicitude).
são (exemplo, art. 135, CP; art. 306, CTB e arts. 14 Fator importante a ser lembrado quando se fala nes-
ao 16 do Estatuto do Desarmamento). Já o concreto ta teoria, é que o dolo e a culpa integram o fato típico.
depende de prova efetiva de perigo (exemplo, no Assim, segundo a teoria finalista, o conceito analí-
crime de exposição ou abandono de recém-nasci- tico de crime é composto pelos seguintes elementos:
do, art. 134, CP)
z Crime de perigo individual e crime de perigo z Fato Típico
comum (coletivo). Perigo individual é o que coloca
em risco de dano o bem jurídico de uma só pessoa „ Conduta
ou de grupo determinado de pessoas (por exem- „ Resultado
plo, perigo de contágio venéreo, art. 130, CP). Já no „ Nexo causal
perigo comum ou coletivo o risco atinge um núme- „ Tipicidade
ro indeterminado de pessoas (como no delito de
incêndio, art. 250, CP). z Antijurídico (ou Ilícito)

Crimes comissivos e omissivos „ Contrariedade ao ordenamento jurídico

Crime comissivo é aquele que implica em uma z Culpabilidade


ação, um fazer do sujeito; já o crime omissivo, carac-
Juízo de reprobabilidade formado pela:
teriza-se por um não-fazer.
94 „ imputabilidade;
„ exigibilidade de conduta diversa; e A conduta pode se realizar:
„ potencial consciência da ilicitude.
z Por uma ação (um fazer, um comportamento posi-
Vamos agora estudar os elementos do crime, de tivo); ou
forma separada, assim como suas causas de exclusão.
z Por uma omissão (um não fazer, uma abstenção).
FATO TÍPICO
Existem várias teorias que tratam da definição
Não importa a posição adotada, bipartite (Crime da conduta criminosa; é essencial conhecer a Teoria
= Fato Típico + Antijurídico) ou tripartite (Crime = Finalista da Conduta, elaborada por Hans Welzel e
Fato Típico + Antijurídico + Culpável) o primeiro sobre a qual já mencionamos. Para a teoria finalista,
elemento (requisito, característica) do conceito analí-
adotada pelo cp como vimos, a conduta precisa ser
tico de crime é o fato típico.
ou dolosa ou culposa, ou seja, dolo e culpa, integram
O fato típico possui 4 elementos:
o Fato Típico (estão dentro da conduta, que é um de
z Conduta dolosa ou culposa; seus elementos).
z Nexo de causalidade (exceto nos crimes de mera Mas o que são dolo e culpa?
conduta e nos formais); Ainda dentro do estudo da conduta, vamos estabe-
lecer os conceitos de dolo e de culpa, essenciais para
z Resultado (salvo nos crimes de mera conduta);
o entendimento do próprio conceito de crime. Vamos,
z Tipicidade. em primeiro lugar ao Código Penal verificar o que
está disposto sobre o dolo e a culpa.
Dos 4 elementos do fato típico, 2 deles, a conduta
e a tipicidade são obrigatórios. Em alguns casos, não
são necessários o nexo de causalidade e o resultado. Art. 18 Diz-se o crime:
No caso dos crimes materiais (como já vimos aci- Crime doloso
ma, que é aquele que descreve uma conduta + um I – doloso, quando o agente quis o resultado ou
resultado naturalístico e, para que o crime ocorra, é assumiu o risco de produzi-lo;
preciso que acontece o resultado descrito na norma), Crime culposo
são necessários os 4 elementos para que se configure II – culposo, quando o agente deu causa ao resulta-
do por imprudência, negligência ou imperícia.
o crime, como por exemplo, no caso do homicídio:
Parágrafo único – Salvo os casos expressos em lei,
ninguém pode ser punido por fato previsto como
Conduta
crime, senão quando o pratica dolosamente.

Nexo Causal Vamos ver, agora de forma separada, o dolo e a


Resultado culpa, que são os elementos subjetivos da conduta.
Uma Relação de
facada, causa e efeito
por Tipicidade
entre a Sendo crime
exemplo. facada (ação) material, Adequação
Importante!
e o resultado requer o entre o fato
(morte) resultado, no praticado e a
Não existe crime sem dolo ou culpa (princípio da
caso, a morte. previsão legal: responsabilidade subjetiva)!
Art.121,CP Os crimes, em geral, são dolosos e, excepcional-
(Matar alguém)
mente, culposos (apenas quando a lei, de forma
expressa, determinar).
No entanto, em alguns casos, vão bastar apenas a
conduta e a tipicidade. Isto ocorre nos crimes formais
Dolo
(que dispensam a ocorrência do resultado, que é mero
exaurimento; ou ainda, nem o preveem, fazendo com
Podemos definir dolo como sendo a vontade de
que seja desnecessário verificar o nexo causal) como
produzir o resultado típico.
no exemplo abaixo:
No dolo direito (ou imediato ou determinado) exis-
te a intenção do agente de ofender o bem jurídico.
Exemplo: querendo a morte da vítima, o atirador des-
Conduta
fere um tiro fatal.
Nexo Causal Já no dolo indireto ou eventual, o sujeito assume o
Exigir que se risco de produzir o resultado.
assine um Resultado
contrato A diferença relevante está entre o dolo direito e o
Não é
favorável ao necessário Tipicidade eventual. Mas existem outras classificações de dolo,
autor, sob Não é sem muita utilidade. Dentre essas, cabe mencionar o
ameaça necessário Adequação
dolo alternativo, que pode aparecer em algum enun-
DIREITO PENAL

entre o fato
praticado e a ciado de questão.
previsão legal: Dolo alternativo se configura quando o agente age
Art.158,CP com indiferença, buscando um resultado ou outro
(Extorsão)
(não se trata de uma forma independente de dolo).
Exemplo de dolo alternativo é o do agente que encon-
Conduta tra uma carteira em um banco de praça e a leva para
casa, pouco se importando se alguém a esqueceu ali
ou é de alguém que se encontra brincado com o filho
A conduta é toda ação ou omissão humana, cons-
no parque que fica dentro da praça. Neste caso pode
ciente e voluntária, dirigida a determinada finalidade. 95
ter praticado o crime de furto (art. 155, CP) ou de apro- consumando-se no momento da prática da conduta,
priação de coisa achada (art. 169, II, CP). como no caso do delito de invasão de domicílio).
São elementos do Dolo:
Nexo de causalidade ou nexo causal ou relação de
z Consciência da conduta e do resultado; causalidade
z Consciência da relação causal objetiva entre a
conduta e o resultado; Trata-se do elo que une a causa ao resultado e
z Vontade de realizar a conduta e de produzir o encontra-se expressamente previsto no art. 13, CP:
resultado.
Relação de causalidade
Culpa
Art. 13 O resultado, de que depende a existência do
A culpa, por sua vez, não exige a intenção do agen- crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
te de agredir a norma, mas ele acaba agindo de forma Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
descuidada para com o bem jurídico. No crime culpo- resultado não teria ocorrido.
so, o resultado ilícito não é desejado, mas é previsível
e poderia ter sido evitado. Tal descuido se concretiza De forma simples, o resultado naturalístico deve
por meio da negligência, imprudência ou imperícia ter sido causado pela conduta praticada pelo agente (o
(espécies de culpa, conforme o art. 18, II, CP). agente só responde se sua conduta tiver influenciado
z Imprudência: é a forma ativa de culpa em que no resultado).
o agente executa um comportamento sem caute- Ao tratar do nexo de causalidade, o CP adotou, no
la (de forma precipitada ou com insensatez). Ex.: art. 13, caput, 2ª parte, a chamada teoria da equiva-
o sujeito que dirige em alta velocidade dentro da lência dos antecedentes causais (também conhecida
cidade, onde pedestres por todos os lados. por conditio sine qua non) que considera causa a ação
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocor-
z Negligência: é a forma passiva de culpa em que o rido. Por esta teoria todos os antecedentes se equiva-
agente deixa de agir, fica inerte, por descuido ou lem, ou seja, todas as causas tem o mesmo valor.
desatenção, quando era necessário agir de modo Para saber se uma conduta é causa do resultado
contrário. Ex. não acionar o freio de mão ao esta- basta, mentalmente, excluí-la da série causal. Se, com
cionar o veículo em uma ladeira sua exclusão, o resultado deixar de ocorrer do modo
z Imperícia: consiste na imprudência no campo que ocorreu, é considerada causa (esse processo é cha-
técnico, pressupondo a falta de cautela relativa ao mado de Processo Hipotético de Eliminação Thyrén).
exercício de uma arte, um ofício ou uma profissão. Esta teoria, se mal interpretada, pode levar a
Ex.: no caso do médico que deixa de tomar os cui- excessos (regressus ad infinitum), como no caso de um
dados necessários quanto à assepsia antes de uma homicídio com arma de fogo, em o comerciante que
cirurgia, o que acaba por causar uma infecção que vendeu a arma e, antes dele, o dono da fábrica que
provoca a morte do paciente. produziu o armamento também teriam dado causa ao
resultado! Como solucionar tal situação injusta? Neste
Sempre nas questões que envolvem o dolo even- caso, temos que verificar se tanto o comerciante quan-
tual e culpa consciente, se fizermos uma leitura to o industrial agiram com dolo ou culpa: caso nega-
rápida, podemos ficar com dúvida. Portanto, vamos tivo, não serão responsabilizados (não há fato típico).
fazer a segunda leitura da questão e identificar as Tema importantíssimo ao tratar de nexo causal diz
palavras que diferenciam o dolo eventual da culpa respeito às concausas e seus efeitos
consciente. Concausas são as causas concomitantes que se
unem para gerar o resultado. Na prática não há dis-
Crime Preterdoloso ou Preterintencional
tinção entre causas e concausas. As causas podem ser
Trata-se de uma espécie de crime qualificado preexistentes, concomitantes e supervenientes, abso-
pelo resultado. Neste caso, o agente quer causar um luta ou relativamente independentes da conduta do
determinado resultado (possui dolo quanto a este sujeito.
resultado), mas acaba causando outro resultado, de A questão aqui é que temos duas possíveis causas
forma culposa (possui dolo no antecedente e culpa no para um único resultado, e é necessário se determinar
consequente. de que forma o agente deverá ser responsabilizado,
Ocorre, por exemplo, na lesão corporal seguida tendo em vista sua contribuição para o resultado final
de morte, quando o agente quer lesionar (dolo) mas do crime. Ou seja, a responsabilização vai variar de
acaba matando (por culpa). Neste caso a conduta sub- acordo com a relevância da concausa (se ela contri-
sequente (morte) vai servir como um evento qualifica- buiu ou não para o resultado produzido).
dor (vai responder pelo crime na forma mais grave). Primeiramente vamos ver a hipótese das causas
absolutamente independentes: da conduta do sujeito.
Resultado Vamos tratar por meio de exemplos, pois é a forma
mais fácil de se entender:
O segundo elemento do fato típico é o resultado,
que nada mais é do que a modificação do mundo exte- z 1º caso (causa preexistente): imagine a situa-
rior causada pela conduta (é o que se chama de resul- ção em que o genro envenena a sogra no café da
tado naturalístico: aplicação da teoria naturalística). manhã. O veneno “A” leva tempo para agir. Na
No entanto nem todo crime tem resultado (natu- hora do almoço, a nora envenena (veneno “B”) o
ralístico), como no caso dos crimes de mera con- suco da sogra, que logo após, cai morta. A necrop-
duta (conforme já vimos, que é aquele em que a lei sia conclui que o veneno “A”, exclusivamente, foi a
96 descreve apenas uma conduta e não um resultado, causa mortis.
Neste caso a conduta da nora não causou o resul- Tipicidade
tado, a morte foi causada por causa preexistente
(envenenamento pelo genro). A nora só vai responder A tipicidade nada mais é do que a convergência, a
pelos atos já praticados, ou seja, tentativa de homi- cominação do fato no mundo com o tipo abstrato pre-
cídio; o genro, por sua vez, responde por homicídio visto na lei. Por exemplo, o fato de eliminar a vida de
consumado. alguém encontra adequação ao previsto no art. 121,
CP, “matar alguém”.
z 2º caso (causa concomitante): nesta hipótese, a As excludentes de tipicidade dividem-se em legais
nora envenena o suco da sogra, uma mulher idosa. (quando expressamente previstas em lei) e suprale-
No momento em que tomava o suco envenenado, gais (implicitamente previstas em lei). Podemos men-
um indivíduo invade a casa para cometer um rou- cionar como exemplos:
bo; assustada, a idosa morre de colapso cardíaco,
exclusivamente. Neste caso, há quebra do nexo z De excludentes legais, o crime impossível (art. 17, CP);
causal e a nora só responde pelos atos já praticados z O impedimento de suicídio (art. 146, § 3º); e
z 3º caso (causa superveniente): neste exemplo a z Retratação no crime de falso testemunho (art. 342, § 2º).
nora envenena o suco da sogra, que o toma, faz
todos os afazeres normais e, mais tarde ao sair de Veja que elas não estão agrupadas em um único
casa, é atropelada e morre, exclusivamente por artigo.
causa do acidente (o veneno não teve tempo de Por sua vez, como causas supralegais podemos
agir). Aqui também não há relação de causalida- citar o princípio da insignificância, já visto anterior-
de, respondendo a nora pelos atos já praticados
mente e também com a chamada adequação social
(homicídio tentado).
(comportamentos que são aceitos normalmente pela
Os três casos acima mostram causas absoluta- sociedade e deixa de ser entendida como lesiva a
mente independentes da conduta do sujeito: houve algum bem jurídico).
quebra no nexo causal e o agente só responde pelos
atos já praticados. Crime impossível
Agora vamos ver as três hipóteses de causas relati-
vamente independentes da conduta do sujeito: Disposto no art. 17, CP.
Pode se dar de três formas:
z 1º caso (causa preexistente): numa briga entre
vizinhos, o vizinho “A” dá um golpe de estilete no z Inidoneidade absoluta do meio: meio escolhi-
braço do vizinho “B’, com a intenção de mata-lo. A do não tem qualquer possibilidade razoável de
vítima era hemofílica, o que fez com que perdesse lesar o bem jurídico (matar alguém com “poder da
grande quantidade de sangue, vindo a falecer. Nes- mente”)
te caso, existe uma relação de causalidade entre a
conduta (“estiletada”) e o resultado (morte), sen- z Impropriedade absoluta do objeto: o objeto
do a causa da morte a hemofilia (condição). Nesta material não reveste o bem jurídico protegido pela
hipótese, a conduta e a causa não são absoluta- norma penal, como tentar matar alguém já morto
mente independentes, mantendo-se o nexo causal: ou abortar não estando a mulher grávida
portanto o vizinho que desferiu o golpe vai respon- z Obra do agente provocador: flagrante prepara-
der pelo resultado. do, ou seja, quando o Estado instiga o crime para
z 2º caso (causa concomitante): um assaltante entra que o sujeito caia em uma “armadilha”, tendo
numa casa e atira no morador que, no momento, tomado providências para que o bem jurídico não
estava infartando, sendo que a lesão causada pelo sofra risco
projétil contribuiu para que ocorresse o evento
morte. Neste caso, há relação de dependência casa- Desistência voluntária, arrependimento eficaz e
-conduta, não havendo quebra do nexo causal; arrependimento posterior
assim sendo o agente responde pelo resultado.
z 3º caso (causa superveniente): uma pessoa balea- A desistência voluntária e o arrependimento efi-
da no peito é socorrida por uma ambulância que, no caz encontram-se previstos no artigo 15 CP.
percurso até o hospital, sofre um acidente, fazendo A desistência voluntária se configura quando
com que a vítima venha a falecer de traumatismo o sujeito inicia o processo executório, mas desiste
craniano. Neste caso há nexo causal, no entanto o voluntariamente de nele prosseguir, evitando a con-
art. 13, § 1º do CP, apresenta uma exceção, excluin- sumação. É o caso, por exemplo, do sujeito que ingres-
do a imputação, fazendo com que o agente só res- sa na casa da vítima e, voluntariamente, desiste da
ponda pelos atos já praticados (superveniência de subtração que pretendia efetuar. Veja que, no caso do
causa relativamente independente). exemplo, se o sujeito desiste do furto pelo risco de ser
surpreendido em flagrante diante do funcionamento
Importante! do sistema de alarme, não se fala em desistência, mas
sim em tentativa punível.
DIREITO PENAL

Se as causas forem relativamente independen- Já o arrependimento eficaz se dá após esgotado


tes (preexistentes ou concomitantes) o agente o processo executório imaginado, mas resolve agir
responde pelo resultado. Por exceção da lei (art. voluntariamente atuar para evitar, com sucesso, a
13, § 1º, CP) no caso da superveniência de causa consumação.
relativamente independente, o agente só respon- Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a conse-
de pelos atos já praticados. quência é que o sujeito deve responder apenas pelos
resultados já produzidos.
Esses dois institutos são incompatíveis com os cri-
mes culposos, pela sua própria natureza, salvo na cul-
pa imprópria. 97
MOTIVOS ALHEIOS À VONTADE DO AGENTE z Cogitação ou fase interna: É a fase mental de pre-
paração do crime: idealização, deliberação e reso-
z Antes de esgotar a execução: lução. Não há conduta penalmente relevante.
z Atos preparatórios: O crime começa a se proje-
„ Tentativa tar no mundo exterior. O agente adquire arma
„ imperfeita ou de fogo. Em regra, não são puníveis, salvo nos
„ inacabada crimes-obstáculo.
z Atos de execução: O agente começa a realizar o
z Depois de esgotar a Execução: núcleo do tipo penal, de forma idônea e inequívo-
ca. Essa fase pode haver punição pela tentativa.
„ Tentativa perfeita ou acabada ou crime falho z Consumação: Crime consumado é quando nele se
reúnem todos os elementos de sua definição legal.
z Consequência jurídica: Fim do iter criminis.
z Exaurimento: Não influi na tipicidade, mas pode
„ Responde pela tentativa: pena do crime
influenciar na dosimetria da pena, ser reconhe-
consumado reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3
cido como qualificadora ou configurar crime
(dois terços)
autônomo.

Crime-obstáculo
MODIFICAÇÃO DA VONTADE DO AGENTE
Classifica-se de crime-obstáculo quando os atos
z Antes de esgotar a execução:
preparatórios são punidos como crime autônomo, por
exemplo, associação criminosa, art. 288, do CP.
„ Desistência
„ Voluntária
Atos preparatórios e atos de execução
z Depois de esgotar a Execução:
z Teoria subjetiva: importa a exteriorização da
vontade criminosa pelo agente e não distingue
„ Arrependimento eficaz
atos preparatórios de atos executórios.
z Consequência jurídica: z Teoria objetiva-formal (majoritária): a execu-
ção inicia-se quando o agente começa a praticar o
„ Só responde pelos atos já praticados núcleo contido no tipo penal. Antes disso, os atos
são preparatórios.
O arrependimento posterior é uma causa obriga- z Teoria objetiva-material: são atos executórios
tória de diminuição de pena para os crimes pratica- aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
dos sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa, tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do com base na visão de terceira pessoa alheia à con-
infrator até o momento do recebimento da denúncia duta criminosa. (Rogério Cunha Sanches)
ou queixa.
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois z Teoria objetiva-individual: são atos executórios
terços, e prevalece que a redução será tanto maior aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
quando mais célere a reparação. tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
com base no plano concreto do agente.
Casos excepcionais de arrependimento posterior no z Teoria da hostilidade ao bem jurídico: a execu-
Código Penal ção inicia-se quando o agente ataca o bem jurídico

A reparação do dano no crime de estelionato por E se persistirem a dúvida se o ato é preparató-


meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem rio ou de execução? Deve-se considerar, neste caso,
efeito diverso. o ato preparatório, por ser mais benéfico ao agente.
No peculato culposo (art. 312, § 2º, do CP), a reparação Para cada classificação do crime há o momento da
do dano até a sentença definitiva extingue a punibilidade, consumação.
e se posterior ainda reduz a pena em metade (art. 312, § Vejamos a consumação de crime entre Roubo X
3º, do CP). Latrocínio:

Crime consumado e crime tentado z Roubo: Súmula 582, STJ: consuma-se o crime de
roubo com a inversão da posse do bem median-
Para estudarmos os crimes consumados e os crimes te emprego de violência ou grave ameaça, ainda
tentados, é importante conhecermos a iter criminis. que breve tempo e em seguida à perseguição ime-
Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho diata ao agente e recuperação da coisa roubada,
do crime, corresponde às etapas percorridas pelo sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
agente para a prática de um fato previsto em lei como desvigiada.
infração penal. z Latrocínio: Súmula 610, STF: há crime de latro-
Considerando que já estudamos crime doloso, cínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
podemos concluir que iter criminis é um instituto não realize a agente a subtração de bens da vítima.
exclusivo dos crimes dolosos. Há tentativa de latrocínio quando o sujeito age com
98 Os crimes possuem as seguintes fases:
dolo de subtrair e dolo de matar, mas o resultado A redução deve ser basear no iter criminis percor-
morte não ocorre por circunstâncias alheias à sua rido pelo agente.
vontade. O fator determinante para a consumação A definição do crime tentado (at. 14, II, do CP) é
do latrocínio é a ocorrência do resultado morte, uma norma de extensão ou de ampliação, uma vez
sendo dispensada a efetiva inversão da posse. que, o tipo penal deve ser conjugado com o art. 14, II,
O crime é consumado quando nele se reúnem do CP.
todos os elementos da sua definição legal. A tentativa O art. 14, II, do CP, dispõe que a tentativa é o início
ocorre, quando, iniciada a execução, não se consuma de execução de um crime que somente não se consu-
por circunstância alheias à vontade do agente. ma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
O ato de tentativa é um ato de execução.
Tentativa Exige-se que o sujeito tenha praticado atos execu-
tórios, daí não sobrevindo a consumação por forças
z Branca ou incruenta (improfícua): o objeto do
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipici-
crime não é atingido pela conduta. O iter criminis
percorrido, o quantum de redução deve se aproxi- dade não finalizada, sem conclusão.
mar da fração máxima (2/3). A tentativa tem três elementos em sua estrutura:
z Vermelha ou cruenta: o objeto de crime é atingi-
do pela conduta. Considerando o iter criminis per- z Início da execução do crime;
corrido, o quantum de redução da tentativa deve se z Ausência de consumação por circunstâncias alheia
aproximar do mínimo (1/3). à vontade do agente;
z Perfeita ou acabada: o agente esgota todos os z Dolo de consumação.
meios de execução à sua disposição e, mesmo
assim, a consumação não sobrevém por circuns- Não esqueça que o dolo da tentativa é igual ao dolo
tância alheias a sua vontade. da consumação: o sujeito quer o resultado!
z Crime falho: agente dispara tiros na vítima, mas é Exemplo: “A” quer subtrair o celular de “B”. Na
socorrida e sobrevive. consumação, “A” consegue subtrair. Na tentativa,
z Imperfeita ou inacabada: o agente, por fatores quando “A” consegue colocar a mão no celular, é sur-
alheios a sua vontade, não esgota os meios de preendido por “C” que, à distância, percebeu a ação de
execução ao seu alcance, dentro daquilo que con- “A”. Neste momento, “A” deixa o celular e foge do local.
sidera suficiente, em seu projeto criminoso, para A vontade de “A” era: subtrair o celular.
alcançar resultado. O art. 14, II, do CP não tem autonomia, pois a tenta-
z Tentativa propriamente dita: agente, no segundo tiva não existe por si só, isoladamente.
disparo, é interrompido pela chegada de policiais Sua aplicação exige a realização de um tipo incri-
e o crime não se consuma por circunstância alheia minador, previsto na Parte Especial do CP ou pela
à sua vontade. legislação penal especial.
O CP e a legislação extravagante não preveem,
São crimes que admitem tentativa: para cada crime, a figura da tentativa, nada obstante
z Crimes dolosos; a maioria deles seja com ela compatível.
Isso explica o motivo pelo qual não encontramos
z Crime plurissubsistentes (formais e de mera conduta);
a descrição do crime, pois há uma pena prevista em
z Omissivos impróprios; caso de consumação e outra pena para a hipótese de
z Crimes de perigo concreto; tentativa.
z Crimes permanentes. A tentativa de furto é a combinação de “subtrair,
para si ou para outrem, coisa alheia móvel” com a exe-
Crimes que não admitem tentativa: cução iniciada, mas que não se consuma por circuns-
tâncias alheias à vontade do agente”.
z Crimes culposos, exceto a culpa imprópria;
Furto tentado é: art. 155, caput, c/c o art. 14, II,
z Contravenções penais; ambos do CP.
z Crimes habituais;
z Crimes omissivos próprios;
z Crimes unissubjetivos; Importante!
z Crimes preterdolosos; A lei penal (CP ou lei extravagante) não prevê a
z Crimes de resultado; tentativa para cada crime, mas define o delito e
z Crimes de empreendimento (atendado); prevê a pena para o caso de consumação.
z Crimes impossíveis; Por isso, todo o crime tentado deve incluir na
z Crimes de perigo comum; descrição do delito o art. 14, II, do CP.
DIREITO PENAL

z Crimes subordinados a uma condição objetiva de


punibilidade; E a pena para o caso de crime tentado?
z Crimes-obstáculo. A punibilidade da tentativa é disciplinada pelo art.
14, parágrafo único, do CP. O CP acolheu como regra a
Pena da tentativa
teoria objetiva, realística ou dualista.
Salvo disposição em contrário, pune-se a tentati- Teoria objetiva, realística ou dualista significa que
va com a pena correspondente ao crime consumado, ao se determinar a pena da tentativa, ela deve corres-
diminuída de 1/3 a 2/3. ponder à pena do crime consumado, diminuída de 1/3
A tentativa é uma causa de diminuição de pena. (um terço) a 2/3 (dois terços). 99
Como o desvalor do resultado é menor quando z Culpa imprópria: decorre do erro de tipo evitável
comparado ao do crime consumado, o agente deve nas descriminantes putativas ou do excesso nas
suportar uma punição mais branda. causas de justificação. O agente quer o resultado
Vamos exemplificar: em razão de a sua vontade encontrar-se viciada
por um erro que, com mais cuidado poderia ser
z “A” subtrai o celular de “B” e foi condenado a pena evitado.
de 2 anos. z Crime unissubsistente: é realizado por ato único,
z “A” tentou subtrair o celular de “B” e foi condenado não sendo admitido o fracionamento da conduta,
a pena de 1 ano e 4 meses. como, por exemplo, no desacato (art. 331, do CP)
praticado verbalmente.
No exemplo 1, o crime foi consumado, por isso foi
aplicada a pena de 2 anos (lembrando que a pena pre- Entretanto, em hipóteses raríssimas somente é
vista para furto é de um a quatro anos, e multa). cabível a punição de determinados delitos na forma
No exemplo 2 o crime foi tentado, motivo pelo qual tentada, pois nesse sentido orientou-se a previsão
a pena de 2 anos foi diminuída de 2/3, resultando em legislativa quando da elaboração do tipo penal.
1 ano e 4 meses. Exemplos disso encontram-se nos arts. 9º e 11 da
A tentativa constitui-se em causa obrigatória de Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional.
diminuição da pena.
Incide na terceira fase de aplicação da pena priva- Art. 9º Tentar submeter o território nacional, ou
tiva de liberdade, e sempre a reduz. parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país.
A liberdade do magistrado repousa unicamente no Pena: reclusão, de 4 a 20 anos.
quantum da diminuição, balizando-se entre os limi- Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal
tes legais, de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). Deve grave, a pena aumenta-se até um terço; se resulta
reduzi-la, podendo somente escolher o montante da morte aumenta-se até a metade.
diminuição. E, para navegar entre tais parâmetros, o Art. 10 Aliciar indivíduos de outro país para inva-
critério decisivo é a maior ou menor proximidade da são do território nacional.
consumação, ou seja, a distância percorrida do iter Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
criminis. Parágrafo único - Ocorrendo a invasão, a pena
Excepcionalmente, entretanto, é aceita a teoria aumenta-se até o dobro.
subjetiva, voluntarística ou monista, consagrada pela Art. 11 Tentar desmembrar parte do território
nacional para constituir país independente.
expressão “salvo disposição em contrário”.
Pena: reclusão, de 4 a 12 anos.
Essas teorias têm a tese de que a pena para os crimes
consumados são as mesmas para os crimes tentados.
Aplica-se essas teorias em alguns casos. ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)
Há casos restritos em que o crime consumado e o
crime tentado comportam igual punição: são os deli- A antijuridicidade, segundo requisito do crime,
tos de atentado ou de empreendimento. Por exemplo: consiste na contradição entre fato e o ordenamento
jurídico, resultando na lesão ao bem jurídico tutelado.
z Evasão mediante violência contra a pessoa (art. O fato típico, até prova em contrário, é um fato que,
352 do CP), em que o preso ou indivíduo submetido ajustando-se a um tipo penal, é antijurídico, a não ser
à medida de segurança detentiva, usando de vio- que haja uma causa que o torne lícito.
lência contra a pessoa, recebe igual punição quan-
do se evade ou tenta evadir-se do estabelecimento Exclusão de ilicitude
em que se encontra privado de sua liberdade;
z Lei nº 4.737/1965 – Código Eleitoral, art. 309, no A antijuridicidade pode ser afastada por certas
qual se sujeita à igual pena o eleitor que vota causas, chamadas de “causas de exclusão da antiju-
ou tenta votar mais de uma vez, ou em lugar de ridicidade” ou “justificativas”. Na incidência de uma
outrem. delas, o fato permanece típico, mas não há crime:
excluindo-se a ilicitude, e sendo ela um quesito do cri-
Crimes punidos apenas na forma tentada me, fica excluído o próprio crime. Como consequên-
cia, o sujeito deve ser absolvido.
A regra vigente no sistema penal brasileiro é a O art. 23 do CP apresenta as causas de exclusão da
punição dos crimes nas modalidades consumada e antijuridicidade:
tentada.
Mas em algumas situações não se admite a tendên- z Estado de necessidade;
cia, seja pela natureza da infração penal, seja em obe- z Legítima defesa;
diência a determinado mandamento legal, razão pela z Estrito cumprimento de dever legal;
qual apenas é possível a imposição de sanção penal z Exercício regular de direito.
para a forma consumada do delito ou da contraven-
ção penal. Estado de necessidade
É o que se verifica, a título ilustrativo, nos crimes
culposos (salvo na culpa imprópria) e nos crimes Conforme expressa o art. 24, CP, o estado de neces-
unissubsistentes. sidade é a situação de perigo atual, que não foi provo-
Relembrando: cada voluntariamente pelo agente, na qual este viola
bem de outrem, para não sacrificar direito seu ou de
z Culpa: O agente não quer e nem assume o risco de terceiros, sacrifício que não poderia razoavelmente
100 produzir o resultado. ser exigido.
Para que se configure: Excesso punível

z O perigo deve ser atual; Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou
em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agen-
z Deve haver ameaça a direito próprio ou alheio,
te pode encontrar-se em três situações diferentes:
cujo sacrifício não era razoável de se exigir;
z Que a situação não tenha sido provocada pela von- z Usa de um meio moderado e dentro do necessário
tade do agente; para repelir à agressão.
z Que seja inevitável de outro modo;
z Que o agente saiba que se encontra em estado de Haverá necessariamente o reconhecimento da
necessidade (requisito subjetivo); legítima defesa.

z Que não haja o dever legal do agente de enfrentar z De maneira consciente emprega um meio desneces-
o perigo (art. 24, § 1º, CP). sário ou usa imoderadamente o meio necessário.

O exemplo clássico é o de dois tripulantes de um A legítima defesa fica afastada se for excluído um
navio que, após o naufrágio, dividem um único salva- dos seus requisitos essenciais.
-vidas. Percebendo que vai afundar, um deles mata o
outro com a finalidade de ficar com o salva-vidas para z Após a reação justa (meio e moderação) por impre-
si só, salvando-se. vidência ou conscientemente continua desneces-
sariamente na ação.
Legítima Defesa
Estará agindo com excesso o agente que intensi-
Constitui outra causa excludente de ilicitude, des- fica demasiada e desnecessariamente a reação ini-
ta vez prevista no art. 25, CP. Encontra-se em legítima cialmente justificada. O excesso poderá ser doloso ou
defesa aquele que, utilizando os meios necessários culposo. O agente responderá pela conduta constituti-
com moderação, repele injusta agressão, atual ou imi- va do excesso.
nente, a direito seu ou de terceiros.
Para que se configure é necessário: CULPABILIDADE E SUAS EXCLUDENTES

z Agressão injusta atual ou iminente, ou seja, pre- As excludentes de culpabilidade podem ser divi-
sente ou prestes a acontecer; didas, para fins de estudo, em dois grupos: as que se
z Preservação de qualquer bem jurídico, próprio ou relacionam com o agente e as que dizem respeito ao
alheio (legítima defesa própria ou de terceiros); fato:
z Repulsa utilizando os meios necessários, de forma
z Quanto ao agente do fato:
moderada.
Existência de doença mental ou desenvolvimento
Estrito cumprimento do dever legal
mental incompleto ou retardado (art. 26, caput, CP);
Existência de embriaguez decorrente de vício (art.
Encontra-se no art. 23, III, primeira parte, CP. Se
26, caput, CP);
o agente atua rigorosamente dentro do imposto por Menoridade (art. 27, CP).
norma legal, o comportamento não pode ser antiju-
rídico. É o caso do oficial de justiça que, cumprindo z Quanto ao fato (legais):
determinação legal, realiza a apreensão de determi-
nado bem de um cidadão. Coação moral irresistível (art. 22, CP);
Obediência hierárquica (art. 22, CP);
Exercício regular de direito Embriaguez decorrente de caso fortuito ou força
maior (art. 28, § 1º, CP);
Está disposto no art. 23, III, segunda parte, CP. Da Erro de proibição escusável (art. 21, CP);
mesma forma que a anterior, não pode ser ilícita a Descriminantes putativas;
conduta daquele que age estritamente exercendo
direito seu. z Quanto ao fato (supralegais):

Causas supralegais de exclusão da antijuridicidade Inexigibilidade de conduta diversa;


Estado de necessidade exculpante;
Existem condutas consideradas justas pela cons- Excesso exculpante;
DIREITO PENAL

ciência social que não se encontram previstas nas Excesso acidental.


causas de exclusão da antijuridicidade elencadas no
art. 23, CP. Nesse sentido, a doutrina aponta que o con- Doença mental
sentimento do ofendido (fora das hipóteses em que o
dissenso da vítima constitui requisito da figura típi- Doença mental pode ser conceituada como o qua-
ca), pode vir a excluir a ilicitude, caso se praticado em dro de alterações e doenças psíquicas que retiram do
situação justificante, como é o caso do indivíduo que indivíduo a faculdade de controlar e comandar a pró-
tatua o corpo de outras pessoas, praticando conduta pria vontade. Importante esclarecer que a dependên-
típica de lesões corporais, que, no entanto, são lícitas cia patológica, como drogas, configura doença mental
se presente o consentimento do ofendido. quando retira a capacidade de entender ou querer. 101
Desenvolvimento mental incompleto ou retardado 10 dias para provar a existência da causa excludente
da culpabilidade (Lei nº 11.719, de junho de 2008).
Por desenvolvimento mental incompleto se Os requisitos biopsicológicos da inimputabilidade são:
entende as limitações na capacidade de compreensão
da ilicitude do fato ou a incapacidade de se autodeter- z Somente há inimputabilidade se os três requisitos
minar de acordo com o entendimento (precário) uma estiverem presentes, sendo exceção aos menores
vez que o sujeito ainda não atingiu maturidade (seja de 18 anos, regidos pelo sistema biológico.
física ou mental). São causas:
z Causal: existencial de doença mental ou de desen-
volvimento incompleto ou retardado, causas pre-
z A menoridade: os menores de 18 anos, em razão de
vistas em lei.
não sofrerem sanção penal pela prática de ilícito
penal, em decorrência da ausência de culpabilida- z Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omis-
de, estão sujeitos ao procedimento medidas sócio são delituosa.
educativos prevista no ECA; z Consequencial: perda total da capacidade de
z Características pessoais do agente, como a falta de entender ou da capacidade de querer.
convivência social (surdo que ainda não aprendeu
a se comunicar) Dispõe o Código Penal:

Desenvolvimento mental retardado Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
Configura aqui, o indivíduo que tem uma capa- retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
cidade que não corresponde às experiências para inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
aquele momento de vida, o que significa que a plena do fato ou de determinar-se de acordo com esse
potencialidade jamais será atingida. Os inimputáveis entendimento.
aqui tratados não possuem condições de entender o
crime que cometeram. Redução de pena
Como acabamos de ver, ao menor de 18 anos se
aplicam regras próprias. Ao completar 18 anos, a lei Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
a dois terços, se o agente, em virtude de perturba-
presume que todos os indivíduos são imputáveis.
ção de saúde mental ou por desenvolvimento men-
Porém, tal presunção é relativa, ou seja, é passível de
tal incompleto ou retardado não era inteiramente
aferição. Assim, existem três possíveis critérios para a
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
verificação da inimputabilidade: determinar-se de acordo com esse entendimento.

z Sistema psicológico: interessa é somente o momen- Menores de dezoito anos


to da ação ou omissão delituosa, se ele tinha ou não
condições de avaliar o caráter criminoso do fato e Art. 27 Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
de orientar-se de acordo com esse entendimento, mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
ou seja, o momento da pratica do crime. A emoção estabelecidas na legislação especial.
não excluir a imputabilidade. E pessoa que comete Emoção e paixão
crime, com integral alternação de seu estado físico-
-psíquico responde pelos seus atos. No caso de embriaguez acidental completa, temos:
z Sistema biológico: interessa saber se o agente é
portador de alguma doença mental ou desenvolvi- Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal:
mento mental incompleto ou retardo, caso positivo I - a emoção ou a paixão;
é considerado inimputável. Tal sistema é usado pela Embriaguez
doutrina: Código Penal, sobre a menoridade penal. II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool
z Sistema biopsicológico: exige-se que a causa ou substância de efeitos análogos.
geradora esteja prevista em lei e que, além disso, § 1º - É isento de pena o agente que, por embria-
atue efetivamente no momento da ação delituo- guez completa, proveniente de caso fortuito ou
sa, retirando do agente a capacidade de entendi- força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão,
mento e vontade. Desta forma, será inimputável inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
aquele que, em razão de uma causa prevista em lei do fato ou de determinar-se de acordo com esse
(doença mental, incompleto ou retardado), atue no entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
momento da pratica da infração penal sem capaci-
se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
dade de entender o caráter criminoso do fato.
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da
ação ou da omissão, a plena capacidade de enten-
Somente há inimputabilidade se os três requisitos der o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
estiverem presentes, sendo exceção aos menores de acordo com esse entendimento.
18 anos, regidos pelo sistema biológico.
Adoção do critério psicológico. A embriaguez
admite qualquer meio probatório.
TÍTULO III: DA IMPUTABILIDADE PENAL Já na embriaguez acidental fortuita, decorrente
de caso fortuito ou de força maior, que ocorre, por
A inimputabilidade do acusado é fornecida pelo exemplo, quando o agente não conhece o caráter
exame pericial feito pelo médico legal, exame que é alcoólico da bebida ou o agente é forçado a ingerir a
denominado “incidente de insanidade mental”, em que bebida, adota-se o critério psicológico. Porém, não
se suspende o processo até o resulto final. Há prazo de basta estar embriagado fortuitamente.
102
Deve-se analisar se ao momento da ação ou omis- Descriminantes putativas
são o agente era incapaz de entender o caráter ilíci-
to do fato ou de determinar-se de acordo com esse § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente
entendimento. justificado pelas circunstâncias, supõe situação de
Posto isso, teremos duas possibilidades: fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e
z Completa isenção de pena: art. 28, § 1°, CP. o fato é punível como crime culposo.
z Incompleta redução de pena de 1/3 a 2/3: art. 28,
§ 2°, CP. Pela redação do artigo 20 é possível aferir que o
erro de tipo pode ou não excluir o dolo, isto é, o ele-
A embriaguez patológica deve ser tratada como mento vontade. Mas qual é a importância da vonta-
doença mental, regida pelo art. 26, CP.
de para o estudo do erro de tipo? Tal elemento é de
Já na embriaguez preordenada o agente se embria-
fundamental importância, uma vez que se inexistir a
ga para encorajar-se a praticar o crime. Será punido
pelo crime doloso cometido e terá a pena aumentada. forma culposa de algum crime, o agente que praticou
Aplicação da agravante genérica, at. 61, II, l, CP. o fato não cometerá crime algum, a contrário sensu,
se existir forma culposa este agente será punido pela
ERRO DE TIPO E DE PROIBIÇÃO prática do crime na sua forma culposa.
O parágrafo §1º do citado artigo dispõe sobre as
Erro de Tipo: discriminantes putativas. A palavra putativa deve ser
entendida no sentido de aparentar ou parecer. Por
Como bem explicam André Estefam e Victor
exemplo:
Eduardo Gonçalves1, o erro, corresponde à falsa per-
cepção da realidade dos fatos, ou seja, há uma per-
cepção errônea pela qual o agente que comete o fato Catarina foi ameaçada por Beatriz, que disse que
acredita piamente não estar diante de um dos elemen- iria lhe dar uma facada. A partir deste dia, Catari-
tos essenciais que constituem o crime. Exemplo, Carol na, assustada pelas ameaças de Beatriz, passou a
pega a chave do carro de Josiane, acreditando que a andar sempre com um canivete de bolso. Na sema-
chave era dela. na seguinte, Catarina desapercebida se encontra
Neste caso, sem analisar corretamente os fatos com Beatriz numa rua sem saída. Beatriz então,
era de se pensar que Carol teria cometido o crime de com movimentos suspeitos, inclina-se para dar um
furto, vez que preenchia quase todos os elementos da abraço em Catarina e lhe dar uma flor como pedi-
conduta tipificada no art. 155, do Código Penal. Toda- do de desculpas. Mas Catarina desfere de imediato
via, esta interpretação seria errônea, pois pendia do uma facada em Beatriz.
elemento de vontade, já que que para Carol o objeto
não alheio. Estamos aqui, diante de uma tese de legítima defe-
Após este introito, acredito que você já deve pos- sa putativa. A verdade é que havia uma falsa percep-
suir uma noção do que é um erro. Agora iremos apro- ção de realidade, que se passava somente na mente
fundar nos conceitos de erro de tipo escusável e erro de Catarina, que acreditava que seria esfaqueada por
de tipo inescusável. Beatriz.
Como veremos no próximo parágrafo, do mes-
ERRO ESCUSÁVEL ERRO INESCUSÁVEL mo artigo, o erro também pode ser determinado por
terceiro.
É aquele que deriva de É aquele que deriva de
fato imprevisível, que pe- fato evitável, que pelas Erro determinado por terceiro
las circunstâncias concre- circunstâncias concre-
tas, qualquer pessoa de tas qualquer pessoa de § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina
discernimento mediano discernimento médio, te- o erro.
incorreria em tal erro. Por ria percebido o equívoco
consequência, neste caso e teria assim o evitado. Para entender este dispositivo nada melhor que
exclui-se o dolo – por Esta espécie de erro é um clássico exemplo:
inexistir o elemento von- conhecida também por
tade – e a culpa, por ser erro de tipo permissi- Maciel é pai de Carolina. Sua filha só possui 16
imprevisível. Esta espécie vo, pois recai sobre cir- anos de idade, no entanto aparenta ser mais velha,
de erro também pode ser cunstâncias fáticas de podendo ser facilmente confundida por uma pessoa
conceituada como erro uma causa de justifica- maior de idade. Maciel sempre frequenta determi-
de tipo penal incrimina- ção, ou seja, excludente nado bar, por isso já é conhecido pelo garçom, que
dor, pois recaí sobre uma de ilicitude (tipo penal como de costume lhe serve um chope. Certo dia,
situação fática elementar permissivo). Maciel comparece no bar com sua filha, o garçom
do crime. de prontidão lhe serve o seu chope, mas Maciel
pede mais um para Carolina.
DIREITO PENAL

Agora, vamos ao estudo do que dispõe o artigo 20,


do Código Penal Brasileiro: Sabe-se que é proibida a venda e o consumo de
bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade.
Erro sobre elementos do tipo Aqui, estamos diante de um típico caso de erro deter-
minado por terceiro, pelas circunstâncias do caso
Art. 20 O erro sobre elemento constitutivo do tipo – Carolina aparentava ser mais velha e seu próprio
legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição pai que pediu o chopp – não era exigível que o gar-
por crime culposo, se previsto em lei. çom tivesse conhecimento sobre o fato, já que não é
1  Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios
Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, p. 516, 2020. 103
costume de os bares solicitarem a carteira identidade O erro de proibição
para aferir a idade. Neste caso, reponde quem deter-
minou o erro, in casu, Maciel. Erro sobre a ilicitude do fato
Vamos conhecer agora, o erro sobre a pessoa (§ 3º,
do art. 20, do Código Penal): Art. 21 O desconhecimento da lei é inescusável. O
erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta
Erro sobre a pessoa de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto
a um terço.
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o
é praticado não isenta de pena. Não se consideram, agente atua ou se omite sem a consciência da ilici-
neste caso, as condições ou qualidades da vítima, tude do fato, quando lhe era possível, nas circuns-
senão as da pessoa contra quem o agente queria tâncias, ter ou atingir essa consciência.
praticar o crime.
O citado artigo traz apontamentos muito importan-
Esta figura pode ser conhecida também por error tes. O primeiro é que o desconhecimento da lei é ines-
in persona ou, ainda, por erro de tipo acidental. No cusável, isto quer dizer que ninguém pode usar como
erro sobre a pessoa existe o crime, o agente quer o forma de desculpa a justificativa que praticou o fato por
resultado, todavia confunde a pessoa visada, isto é, desconhecer que a conduta era considerada criminosa.
quem ela queria realmente atingir. Por esta razão, Ainda no mesmo artigo é trabalhado o erro sobre
nesta hipótese inexiste isenção de pena. a ilicitude do fato evitável e o erro sobre a ilicitude
É importante diferenciar a figura erro de tipo do fato inevitável, os conceitos deles são retirados do
acidental da figura de erro na execução, apesar de parágrafo único do mesmo artigo.
muito parecidas são conceitos distintos, a diferença
principal desta última é que, como o próprio nome z Erro sobre a Ilicitude Evitável:
diz, o erro é na execução. Exemplo: por não saber ati-
rar acerta pessoa diversa. „ O erro sobre a ilicitude evitável, como visto aci-
Vamos para a tabela: ma, ocorrerá quando o agente através de uma
ação ou omissão praticar o fato sem consciên-
ERRO DE TIPO ERRO DE TIPO cia de que é ilegal, mas que pelas circunstân-
ACIDENTAL QUANTO ACIDENTAL QUANTO cias do fato concreto era possível e exigível que
À PESSOA À EXECUÇÃO este soubesse que a sua conduta era ilícita. Nes-
te caso, o Juiz poderá diminuir a pena de um
O agente confunde a pes- O erro do agente ocorre no sexto a um terço.
soa que queria atingir. ato da execução.
Ex. no manuseio da arma. z Erro sobre a Ilicitude Inevitável:

Para sua prova é extremamente importante que „ O erro inevitável é aquele em que pelas cir-
você saiba que em ambas são desconsideradas as qua- cunstâncias do caso concreto, era quase que
lidades da pessoa que foi efetivamente atingida pelo impossível exigir do agente a consciência
erro e consideradas as qualidades da pessoa que o necessária para evitar a prática do crime. Neste
caso, haverá isenção de pena. Ex. Estrangeiro
agente realmente queria atingir.
– que no seu país os adolescentes de 16 anos
Mas no que isso importa para o direito? Novamen-
podem dirigir – vem visitar o Brasil e é parado
te para explicação, iremos estudar um exemplo.
numa blitz, embora ainda fosse possível saber
Mévio é casado com Clara, os dois possuem uma
que no Brasil não é permitido dirigir aos 16
relação bastante conturbada. Mévio, prevalecendo de
anos, era extremamente difícil exigir que este
relações domésticas, muito nervoso por certa atitude
tivesse conhecimento.
de Clara, dispara diversos tiros em sua direção, acer-
tando o seu vizinho Joãozinho, que passava pelo local.
Joãozinho, veio à óbito.
Nesta situação, Mévio mesmo tendo acertado um EXERCÍCIOS COMENTADOS
homem responderá por feminicídio, pois apenas se
consideram as qualidades da vítima que realmente 1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Na tentativa de entrar em
queria atingir. território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um
Temos ainda o erro de tipo acidental sobre o veículo, um traficante disparou um tiro contra agente
objeto (error in objecto), esta figura é essencialmen- policial federal que estava em missão em unidade fron-
te doutrinária. Aqui, como diz o próprio nome, o erro teiriça. Após troca de tiros, outros agentes prenderam
ocorre sobre o objeto visado. Ex. Mário vai a uma joa- o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade
lheria e furta um colar que acredita ser de diamantes, policial local e levaram o colega ferido ao hospital da
mas ao chegar em casa descobre que em verdade tra- região.
ta-se de uma bijuteria barata. Neste caso, não haverá Nessa situação hipotética, se o policial ferido não fale-
exclusão de dolo, culpa, tampouco isenção de pena. cer em decorrência do tiro disparado pelo traficante,
Respondendo Mário pelo crime de furto consumado estar-se-á diante de homicídio tentado, que, no caso,
(art. 155, do Código Penal). terá como elementos caracterizadores: a conduta
dolosa do traficante; o ingresso do traficante nos atos
Erro de Proibição: preparatórios; e a impossibilidade de se chegar à con-
sumação do crime por circunstâncias alheias à vonta-
Após o estudo do erro sobre os elementos do tipo,
de do traficante.
iremos estudar o erro sobre a ilicitude do fato, tam-
bém conhecidos como erros de proibição. Veja o que
( ) CERTO  ( ) ERRADO
104 dispõe o artigo 21, do Código Penal:
O traficante ingressou nos atos executórios do cri- As causas excludentes de ilicitude são causas de jus-
me, ultrapassando a preparação do iter criminis. tificação, que permitem ao agente a prática de um
O agente iniciou a execução do fato, ao efetuar o fato típico, que será legalmente admitido pelo orde-
disparo contra o agente policial federal, que só não namento jurídico. Nos casos em que a ilicitude do
se consumou por circunstâncias alheias à vontade fato é excluída, diz-se que o próprio crime é excluí-
do agente. O erro da questão está em afirmar que o do. Resposta: Certo.
delinquente ingressou nos atos preparatórios, uma
vez que se caracterizou os atos executórios do crime 5. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A respeito da culpabilida-
ao realizar o disparo. Resposta: Errado. de, da ilicitude e de suas excludentes, julgue o item
que se segue.
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau- Situação hipotética: Um policial, ao cumprir um man-
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente dado de condução coercitiva expedido pela auto-
Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. ridade judiciária competente, submeteu, embora
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi- temporariamente, um cidadão a situação de privação
dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um de liberdade. 
Assertiva: Nessa circunstância, a conduta do policial
revólver pertencente à corporação policial de que seu
está abarcada por uma excludente de ilicitude repre-
pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta
sentada pelo exercício regular de direito.
minutos, armado com o revólver, sob a influência de
emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez
( ) CERTO  ( ) ERRADO
disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale-
ceu no local antes mesmo de ser socorrida.
O policial que, para cumprir mandado de condu-
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
ção coercitiva expedido pela autoridade judiciária
Carlos agiu sob o pálio da legítima defesa putativa.
competente, submete, embora temporariamente,
um cidadão a situação de privação de liberdade,
( ) CERTO  ( ) ERRADO pratica fato típico, que não será ilícito por aplicação
da excludente de antijuridicidade do estrito cum-
Ao fato narrado pelo item, não se aplica hipótese primento de dever legal. O cumprimento à determi-
de legítima defesa, muito menos a putativa. Não há nação judicial não constitui um direito do policial,
que se falar em injusta agressão praticada por Pau- mas sim uma obrigação. Sendo assim, não se aplica
la (seria possível falar em injusta provocação, que a ele, no efetivo desempenho das atribuições do seu
admitiria, presente os demais requisitos, a aplica- cargo, em regra, o exercício regular de direito, mas,
ção do privilégio ao homicídio), não se aplicando, sim, o estrito cumprimento de dever legal. Resposta:
portanto, a mencionada excludente de ilicitude a Errado.
Carlos. Em momento algum, a alternativa fala que
Carlos incorreu em erro, não se aplicando a legítima
defesa putativa, que é hipótese de exclusão da ilici-
tude quando o agente incorre em erro. Neste caso,
o agente imagina estar em uma hipótese de injusta
TÍTULO IV: DO CONCURSO DE
agressão, atual ou iminente, que, na verdade, não PESSOAS
existe na realidade. Resposta: Errado.
DEFINIÇÃO
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Considerando que crime
é fato típico, ilícito e culpável, julgue o item a seguir. O Código Penal define o concurso de pessoas no
São causas excludentes de culpabilidade o estado de caput do art. 29.
necessidade, a legítima defesa e o estrito cumprimen-
to do dever legal. Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
da de sua culpabilidade.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
[...]

A alternativa apresenta hipóteses de excludente de Guilherme Nucci (2018) diz que concurso de pes-
ilicitude legais, expressamente previstas no Código soas é cooperação desenvolvida por várias pessoas
Penal: estado de necessidade, legítima defesa, estri- para o cometimento de uma infração penal. Define-se,
to cumprimento de dever legal e exercício regular de ainda, por coautoria, participação, concurso de delin-
direito. As excludentes de culpabilidade são: inim- quentes, concurso de agentes e cumplicidade.
putabilidade, ausência de potencial conhecimento Podemos dizer que há concurso de pessoas quan-
da ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa. do dois ou mais agentes concorrem para a prática do
DIREITO PENAL

Resposta: Errado. mesmo crime ou contravenção.

4. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A respeito da culpabilida- Requisitos


de, da ilicitude e de suas excludentes, julgue o item
que se segue. São requisitos do concurso de pessoas:
Conforme a doutrina pátria, uma causa excludente de
antijuridicidade, também denominada de causa de jus- z Pluralidades de agentes;
tificação, exclui o próprio crime. z Conduta relevante;
z Vínculo subjetivo; e
( ) CERTO  ( ) ERRADO z Unidade de crime. 105
Pluralidade de Agentes Conduta Relevante

O próprio nome, pluralidade de agentes, incida Neste requisito identifica-se que há pelo menos
que a conduta criminosa é praticada por duas ou mais duas condutas penalmente relevantes.
pessoas. Parece simples, mas devemos estar muito O que devemos gravar na memória é que a contri-
familiarizados com esse assunto quando tratamos de: buição do partícipe deve ter influência sobre o resul-
tado, caso contrário, a participação é inócua.
z Crimes unissubjetivos; Vamos ao exemplo:
z Crimes plurissubjetivos; e Conduta relevante: “A” se compromete a auxiliar
z Crimes eventualmente plurissubjetivos. “B” a fugir após o homicídio, concurso de pessoas no
delito de homicídio, art. 121 do CP.
Nos crimes unissubjetivos, o delito pode ser pra- Conduta não relevante: “A” auxilia “B” a fugir após
ticado por um agente ou por dois ou mais agentes, o o homicídio sem a comprometimento prévio, “A” pra-
que chamamos de concurso eventual. tica favorecimento pessoal, art. 348 do CP e “B” pratica
Aqui, quando praticado em concurso (dois ou mais homicídio, art. 121 do CP.
agentes) é necessária a adequação típica mediata.
É importante lembrar que adequação típica ime- Vínculo Subjetivo
diata ou indireta é quando para completar a tipici-
dade é necessário conjugar o crime (tipo penal) com
Trata-se de nexo psicológico entre os agentes.
uma norma de extensão.
Sem o nexo psicológico, haverá vários crimes autô-
A tentativa, por exemplo, o agente tenta matar a
nomos e, portanto, não é concurso de pessoas.
vítima, o art. 121 do CP (homicídio) é complementado
Vejamos o exemplo:
pelo art. 14, II do CP (tentativa).
Paulo, em contato com Renata, afirma que preten-
A participação, por exemplo, o agente mata a víti-
ma a pedido de outrem, o art. 121 do CP (homicídio) é de matar Ana, às 20h em determinado local. Laura,
conjugado com o art. 29 do CP (concurso de pessoa). inimiga de Ana, escuta a conversa e comparece ao
Para configurar concurso de pessoas em crimes local na hora indicada. Paulo ataca Ana, que conse-
unissubjetivos é necessário que todos os agentes gue se soltar e sai correndo. Laura, que estava atrás da
sejam culpáveis. Se um agente não for culpável, não árvore, derruba Ana e facilita a ação de Paulo. Ainda
haverá concurso de pessoas, e sim autoria mediata. que Paulo e Laura não tenham acordado, Laura res-
Portanto, não será concurso de pessoas, por exemplo, ponderá como partícipe do homicídio porque aderiu
se o agente (imputável) encomenda a morte da vítima a conscientemente à conduta de Paulo (Correia, 2018).
um menor de 18 anos (inimputável). Será caso de auto-
ria mediata pelo fato de o agente imputável utilizar o Unidade de Crime
inimputável como instrumento para a prática do delito.
Sendo assim, lembre-se que no Concurso de pes- Em síntese, o Código Penal adotou a Teoria Monis-
soas em crimes unissubjetivos é necessário: ta, Unitária ou Igualitária.
Isso significa que todos os agentes que concorrem
z Adequação típica; e para o mesmo crime devem receber tratamento iguali-
z Agentes culpáveis. tário no que diz respeito à classificação jurídica do fato.
Há crime único e pluralidade de agentes.
Nos crimes plurissubjetivos, como o próprio
nome indica, são os delitos que só podem ser pratica- z Crime único: se dois agentes praticam em concur-
dos por duas ou mais pessoas, denominados crimes so o crime de roubo, não é possível que um agen-
de concurso necessário. te responda por roubo consumado e outro agente
O tipo penal exige a pluralidade de pessoas e não responsa por roubo tentado.
necessita de norma de extensão. Por exemplo: o Códi- z Teoria Moderada: os agentes não receberão a mes-
go Penal tipifica no art. 288 o delito de associação cri- ma pena; a aplicação da pena é individualizada de
minosa, que exige 3 ou mais pessoas. acordo com a culpa de cada agente.
É necessário que apenas um agente seja culpável.
Aproveitando o exemplo acima, no caso de associação Autoria
criminosa, um agente é culpável e ou demais agentes
são inimputáveis. Mesmo assim, é caso de concurso de
Existem ainda três teorias sobre o concurso de
pessoas em crimes plurissubjetivos.
pessoas:
Nos crimes eventualmente plurissubjetivo,
podendo ser chamado também de pseudoconcurso,
concurso impróprio ou concurso aparente, o delito z Teoria Unitária (monista);
pode ser praticado por uma pessoa, mas tem a pena z Teoria Pluralista; e
aumentada quando praticados em concursos de z Teoria Dualista.
pessoas.
Vejamos, o crime de furto pode ser praticado por Vamos ver cada uma das teorias.
um único agente. Mas, há a modalidade de furto qua-
lificado mediante concurso de dois ou mais agentes. z Teoria Unitária (monista): trata-se de um crime
Aqui também basta que um agente seja culpável. único e indivisível. Ocorre quando mais de um
Seguindo o mesmo exemplo acima, se no furto qualifi- agente concorre para a prática do delito, prati-
cado mediante concurso de pessoas, um dos agentes é cando o ato na sua totalidade ou não, e estes, res-
imputável e os demais agentes são inimputáveis. Mes- ponderão pelo mesmo crime. Haverá somente um
mo assim, estaremos diante de curso de pessoas em delito e todos os agentes incorrem no mesmo tipo
106 crimes eventualmente plurissubjetivos. penal. Essa teoria é adotada pelo Código Penal.
z Teoria Pluralista: para essa teoria, quando mais O conceito de autor na teoria do domínio do fato,
de um agente estiver realizando um delito, sendo compreende:
as condutas diversas um dos outros ainda que para
realizar o mesmo resultado, cada qual responderá z autor propriamente dito: é aquele que pratica o
pelas suas condutas, ou seja, cada agente pratica um núcleo do tipo penal;
z autor intelectual: é aquele que planeja mental-
crime autônomo dos demais. Esta teoria foi adotada
mente a empreitada criminosa;
pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois quando
z autor mediato: é aquele que se vale de um incul-
praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do pável ou de pessoa que atua sem dolo ou culpa
art. 124 do CP, se praticado por outrem, aplicar-se-á para cometer a conduta criminosa;
a pena do art. 126 do CP. O mesmo procedimento z coautores: é aquele que age em colaboração recí-
ocorre na corrupção ativa e passiva. proca e voluntária com o outro para a realização
z Teoria Dualista: de acordo com essa teoria, quan- da conduta principal. A conduta principal é o ver-
do houver mais de um agente, com condutas diver- bo do tipo penal;
sas entre si, provocando-se um resultado, deve-se z partícipe: quem de qualquer modo concorre para
separar os coautores e partícipes, sendo que cada o crime, desde que não realize o núcleo do tipo
um deles responderá por um crime autônomo. penal nem possua o controle final do fato.
z partícipe na teoria do domínio do fato: Guilher-
Além das teorias estudadas, vamos destacar as teo- me Nucci (2018) esclarece que partícipe só possui
rias que conceituam o autor. o domínio da vontade da própria conduta, tratan-
do-se de um “colaborador”, uma figura lateral, não
tendo o domínio finalista do crime. O delito não
Teorias do Autor
lhe pertence: ele colabora no crime alheio.
z Teoria subjetiva ou unitária: não diferencia o autor
do partícipe. Então, autor (e partícipe) é o agente que Importante!
de qualquer modo contribui para a produção de um
resultado penalmente relevante. Temos por exemplo Qual a teoria adotada pelo Código Penal?
o art. 349 do CP, que dispõe, prestar a criminoso, fora O art. 29, caput, do CP, acolheu a teoria objetiva
dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio des- ou dualista (objetivo-formal).
tinado a tornar seguro o proveito do crime. Diferencia autor e partícipe:
z Teoria extensiva: não diferencia o autor do partícipe, � Autor: quem realiza o núcleo do tipo penal; e
mas, traz a definição de cúmplice, o agente que con- � Partícipe: quem de qualquer modo concorre
corre de modo menos importante para o resultado. para o crime, sem executar a conduta criminosa.
z Teoria objetiva ou dualista: diferencia autor e
partícipe. Esta teoria se subdivide:
Coautoria e Concurso de Pessoas
„ Teoria objetivo-formal (teoria restritiva):
autor é quem realiza o núcleo do tipo penal Coautoria é a forma de concurso de pessoas que
(“verbo”), ou seja, a conduta criminosa descri- ocorre quando o núcleo do tipo penal é executado por
ta pelo preceito primário da norma incrimi- duas ou mais pessoas (Nucci, 2018).
nadora. Partícipe é quem de qualquer modo Esclarecendo: se dois ou mais autores unidos entre
concorre para o crime, sem praticar o núcleo si para a prática de um determinado crime, por exem-
do tipo. Vejamos o exemplo: autor do crime plo, furto, estamos diante da hipótese de coautoria.
de homicídio é o agente que efetua disparos A coautoria pode ser:
de revólver em alguém, matando-o. Partícipe
é o agente que empresta a arma de fogo para a z Parcial ou funcional; ou
finalidade da prática de homicídio. z Direta ou material.

O artigo 29 do Código Penal adotou essa teoria. „ Coautoria parcial, ou funcional: diversos
Vejamos: autores praticam atos de execução diversos, os
quais, somados, produzem o resultado desejado,
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o por exemplo, uma agente segura a vítima, outro
crime incide nas penas a este cominadas, na medi- agente a esfaqueia, produzindo a sua morte.
da de sua culpabilidade. „ Coautoria direta ou material: todos os autores
efetuam igual conduta criminosa, por exemplo,
„ Teoria objetivo-material: autor é quem pres- vários agentes efetuam disparos com arma de
ta a contribuição objetiva mais importante fogo em direção à vítima, matando-a.
para a produção do resultado, e não necessa-
DIREITO PENAL

riamente aquele que realiza o núcleo do tipo Todas as vezes que estudamos coautoria pergunta-
penal, o verbo. Partícipe é quem concorre de mos se é admissível nos casos de crimes próprios e de
forma menos relevante, ainda que mediante a crimes de mão própria.
realização do núcleo do tipo.
z Crimes próprios ou especiais: são os casos em
z Teoria do domínio do fato: em síntese é uma teo- que o tipo penal exige uma situação de fato ou de
ria intermediaria entre a teoria objetiva e a teo- direito diferenciada por parte do sujeito ativo, por
ria subjetiva. Autor é aquele que tem o controle exemplo, dois funcionários públicos, juntos, prati-
final do fato, apesar de não realizar o núcleo do cam o crime de peculato, art. 312 do CP. Nos crimes
tipo penal. próprios ou especiais é admitida a coautoria. 107
z Crimes de mão própria, de atuação pessoal z Multidão delinquente: o fato ocorre por influên-
ou de conduta infungível: são as hipóteses que cia de indivíduos reunidos, que, em clima de
somente podem ser praticados pelo sujeito expres- tumultuo, ou manipulação, tornam-se desprovidos
samente indicado pelo tipo penal. O crime só pode de limites éticos e morais (Sanches Cunha, 2016).
ser praticado pelo agente indicado no tipo penal, z Coautoria sucessiva: a regra é que todos os coau-
e ninguém mais, por exemplo, crime de falsa perí- tores iniciem, juntos, a empreitada criminosa.
cia, art. 342 do CP. Nos crimes de mão própria não Rogério Greco (2015) adverte que pode acontecer
que alguém, ou mesmo o grupo, já tenha começado
é admitida a coautoria.
a percorrer o iter criminis (fases do crime: cogita-
Há outros temas importantes que devemos conhe- ção, atos preparatórios, atos de execução e consu-
mação), ingressando na fase dos atos de execução,
cer sobre autoria e coautoria:
quando outra pessoa adere à conduta criminosa
z Executor de reserva: agente que acompanha, pre- daquele, e agora, unidos pelo vínculo psicológico,
passam, juntos, a praticar a infração penal.
sencialmente, a execução da conduta típica, fican-
z Coautoria em crimes omissivos: há corrente na
do à disposição, se necessário, para nela interferir.
doutrina que não admite a coautoria em crimes
omissivos. Porém, vamos tratar aqui da corrente
Ou seja:
que admite a coautoria em crimes omissivos (pró-
„ Se o agente interfere, será tratado como coautor; prios, ou puros; impróprios, espúrios ou comissi-
„ Se o agente não interfere, será trado como partícipe. vos por omissão). Ocorre a coautoria quando dois
ou mais agentes, vinculados pela unidade de pro-
z Autor intelectual: a definição se encontra no art. 62, pósitos, prestam contribuições relevantes para a
I, do CP, afirmando que a pena será agrava em relação produção do resultado, realizando atos de execu-
ção previstos na lei penal (Nucci, 2018). Por exem-
ao agente que promove, ou organiza a cooperação no
plo, dois agentes podem, caminhando pela rua,
crime ou dirige a atividade dos demais agentes. deparar-se com outra, ferida, em busca de ajuda.
z Autoria de escritório ou autoria mediata espe- Associadas, uma conhecendo a conduta da outra
cial: agente que dita a ordem a ser executada por e até havendo incentivo recíproco, resolvem ir
outro autor direto, dotado de culpabilidade e pas- embora, ou seja, os agentes são coautores do crime
sível de ser substituído a qualquer momento por de omissão de socorro definido no art. 135 do CP.
outra pessoa, no âmbito de uma organização ilí- z Autoria mediata: não está expresso no Código
cita de poder. Temos por exemplo, o líder do PCC Penal, porém a doutrina trata do tema. De acordo
(Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, ou com Guilherme Nucci (2018) “trata-se de espécie de
do CV (Comando Vermelho), no Rio de Janeiro que autoria em que alguém, o “sujeito de trás” se utiliza,
comandam as redes ilícitas e hierarquizadas. para a execução da infração penal, de uma pessoa
z Autoria por convicção: o agente comete um cri- inculpável ou que atua sem dolo ou culpa.”
me motivado por convicções pessoais, por exem-
Há dois sujeitos nessa relação:
plo, religião, moral, política, esporte (futebol).
z Autor por determinação: é quem se vale de outro, „ autor mediato: quem ordena a prática do cri-
que não realiza conduta punível, por ausência de me; e
dolo, em um crime de mão própria, ou ainda o „ autor imediato: aquele que executa a conduta
sujeito que não reúne as condições legalmente exi- criminosa.
gidas para a prática de um crime próprio, quando
se utiliza de quem possui tais qualidades e se com- Guilherme Nucci exemplifica: “A”, desejando matar
sua esposa, entrega uma arma de fogo municiada à “B”,
porta de forma atípica, ou acobertado por uma
criança de pouca idade, dizendo-lhe que, se apertar o
causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade
gatilho na cabeça da mulher, essa lhe dará balas. Quan-
(Sanches Cunha, 2016). Podemos exemplificar uma do se fala em pessoa sem culpabilidade, aí se insere
mulher que dá sonífero a outra e depois hipnotiza qualquer um dos seus elementos: imputabilidade,
um amigo, ordenando-lhe que com ela mantenha potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
relações sexuais durante o transe. conduta diversa. Ausente qualquer deles, faltará a
z Autoria colateral: dois ou mais agentes querem pra- culpabilidade. A pessoa que atua sem discernimento,
ticar o mesmo crime, mas não estão ligados pelo vín- funciona como mero instrumento do crime.
culo psicológico. Acompanhe o raciocínio do exemplo:

Tiago e Felipe, sem vínculo psicológico, querem Importante!


matar Paulo.
A autoria mediata é incompatível com os crimes
Tiago e Felipe ficam de tocaia na rua por onde Pau-
lo costuma transitar. culposos, pois nesses crimes, o resultado natura-
Quando Paulo passar pela rua, Tiago e Felipe ati- lístico é involuntariamente produzido pelo agente.
ram simultaneamente. Consequentemente, não se pode conceber a uti-
Após o resultado da perícia, temos duas hipóteses: lização de um inculpável ou de pessoa sem dolo
ou culpa para funcionar como instrumento de um
I. Se a morte resultou do disparo de Tiago, este res- crime cujo resultado o agente não quer nem assu-
ponderá por homicídio consumado e Felipe res- me o risco de produzir (Nucci, 2018)
ponderá por homicídio tentado. A autoria mediata é incompatível com os crimes
II. Se quando o tiro disparado por Felipe atingiu Pau- de mão própria, porque a conduta somente pode
lo quando ele já estava morto pelo disparo de Tia- ser praticada pela pessoa diretamente indica-
go, este responderá por homicídio consumado e da pelo tipo penal, ou seja, a infração penal não
Felipe não responderá por nenhum crime, pois se pode ter a sua execução delegada a outrem.
108 trata de crime impossível.
Participação z Material: o agente presta auxílio ao autor do cri-
me. O partícipe que auxilia é chamado pela dou-
Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora
trina de cúmplice. Auxiliar é facilitar a execução
ambos dentro da teoria objetiva, formal ou normati-
do crime sem, porém, executar o núcleo do tipo. O
va, vejamos:
auxílio pode-se dar durante os atos preparatórios
z Teoria Formal: autor é o agente que pratica a figu- ou executórios. Vamos exemplificar o auxílio na
ra típica descrita no tipo penal, e partícipe é aquele participação material:
que comete ações não contidas no tipo, responden-
do apenas pelo auxílio que prestou (entendimento „ emprestar o dinheiro para a compra de remé-
majoritário). O agente que furta os bens de uma dio abortivo;
pessoa, incorre nas penas do art. 155 do CP, enquan- „ ensinar a fórmula do veneno que se irá minis-
to aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo a trar à vítima; e
fugir, responderá apenas pela colaboração. „ vigiar o local do crime para o agente executar
o roubo.
z Teoria Normativa: autor é o agente que, além de
praticar a figura típica, comanda a ação dos demais
z Participação de menor importância: Partici-
(“autor executor” e “autor intelectual”).
pação de menor importância, ou mínima, é a de
O partícipe é aquele que colabora para a prática reduzida eficiência causal. Por quê? Porque con-
da conduta delitiva, mas sem realizar a figura típica tribui para a produção do resultado, mas de forma
descrita, e sem ter controle das ações dos demais. menos decisiva. Entendeu? Apenas participa.
Aquele que planeja o delito e aquele que o executa
são coautores. O melhor critério para constatar a participação de
Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária teo- menor importância é o da equivalência dos antecedentes.
ria formal, o executor de reserva é apenas partícipe, ou A participação de menor importância está prevista
seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mário no art. 29, § 1º, do CP, com pena pode ser diminuída
também desfere tiros em Pedro, Mário (executor de de 1/6 a 1/3.
reserva) responderá apenas pela participação, pois não Encontramos em algumas doutrinas que a redu-
praticou a conduta matar, já que atirou em um cadáver. ção é mera faculdade do juiz, mas oriento que outras
O juiz poderá aplicar penas iguais para autor e doutrinas têm a tese de que quando a lei concede ao
partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este últi- agente a possibilidade de obter certos benefícios, tal
mo, quando, por exemplo, for o mentor do crime. possibilidade ingressa nos chamados direitos públicos
de liberdade do réu.
Sobre o assunto, ver o que preceitua o art. 29 do CP: É necessário saber que a participação de menor
importância somente se aplica à participação. A atua-
“[...] quem, de qualquer modo, concorre para o cri- ção do coautor é sempre relevante.
me incide nas penas a este cominadas, na medida Além disso, a participação de menor importância
de sua culpabilidade” descreve uma causa de diminuição da pena, aplicável
na terceira fase da fixação da pena. Trata-se de direito
Dessa forma deve-se analisar cada caso concreto
subjetivo do réu.
de modo a verificar a proporção da colaboração (Nuc-
Lembre-se de que a diminuição da pena se relacio-
ci, 2018).
na à participação, ou seja, ao comportamento adotado
A participação é a modalidade de concurso de pessoas pelo sujeito, e não à sua pessoa.
em que o sujeito não realiza diretamente o núcleo do tipo A redução da pena não alcançará o coautor nem
penal, mas de qualquer modo concorre para o crime. o partícipe intelectual, isto é, o que planejou o crime,
Trata-se de qualquer tipo de colaboração, desde porque em tal caso não se pode falar em participação
que não relacionada à prática do verbo contido na de somenos importância.
descrição da conduta criminosa. É relevante saber que a menor importância da
Exemplo: é partícipe de um homicídio aquele que, cooperação pode ocorrer na preparação ou execução
ciente do propósito criminoso do autor, e disposto a do crime, embora seja mais frequente durante os atos
com ele colaborar, empresta uma arma de fogo muni- preparatórios.
ciada para ser utilizada na execução do delito. As condições pessoais, referentes ao autor ser pri-
mário ou reincidente, perigoso ou não, não impedem
A participação possui dois requisitos:
a redução da pena, se tiver contribuído minimamente
z propósito de colaborar para a conduta do autor para a produção do resultado.
(principal); e
z colaboração efetiva, por meio de um comportamen- Agravante
to acessório que concorra para a conduta principal.
DIREITO PENAL

O Código Penal, no art. 61, trata das circunstâncias


A participação pode ser: agravantes, ou seja, reincidência, ter o agente come-
tido o crime, por exemplo, por motivo fútil ou torpe,
z Moral: a conduta do agente se restringe a induzir dentre outras hipóteses legal.
ou instigar terceira pessoa a cometer uma infração Aqui vamos dedicar o estudo do art. 62 do CP, pois
penal. Não há colaboração com meios materiais, mas se trata das agravantes aplicáveis no caso de concurso
apenas com ideias de natureza penalmente ilícitas. de pessoas.
Induzir é fazer surgir na mente de outrem a vontade
criminosa, até então inexistente. Instigar é reforçar a Art. 62 A pena será ainda agravada em relação ao
vontade criminosa que já existe na mente de outrem. agente que: 109
I- promove, ou organiza a cooperação no crime ou A Teoria do domínio do fato é aquela que afirma
dirige a atividade dos demais agentes; que o autor do delito é aquele que tem o controle
II- coage ou induz outrem à execução material do final do fato, apesar de não realizar o núcleo do
crime; tipo penal, independente se o agente é o partícipe
III- instiga ou determina a cometer o crime alguém ou autor mediato. Pode-se exemplificar a figura do
sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude autor intelectual, aquele que planeja mentalmente a
de condição ou qualidade pessoal; empreitada criminosa. Resposta: Letra C.
IV- executa o crime, ou nele participa, mediante
paga ou promessa de recompensa. 2. (CESPE-CEBRASPE — 2019) Considerando essa situa-
ção hipotética, julgue o item que se segue.
Vamos estudar:
Juan González, estrangeiro, enfermeiro, residente
z quem promove ou organiza a cooperação no crime, havia dois anos em Boa Vista – RR, apresentava-se
como médico no Brasil e atendia pacientes gratuita-
ou dirige a atividade dos demais agentes. São os auto-
mente em um posto de saúde da rede pública muni-
res intelectuais. O agente é organizador do delito.
cipal, embora não fosse funcionário público. Seu
z quem coage outrem à execução material do crime.
verdadeiro objetivo com essa prática era retirar medi-
Veja, a coação pode ser física ou moral, resistível ou camentos do local e revendê-los para obter lucro.
irresistível. Se a coação for resistível, coator e coagi- Em razão de denúncia anônima a respeito do desvio
do respondem pelo delito. Se a coação for irresistí- de medicamentos, Juan, portando caixas de remédios
vel, só o coator responde pelo crime, sem a aludida retiradas do local, foi abordado em seu automóvel por
agravante. Nessa coação não há propriamente con- policiais logo após ter saído do posto e foi, então, con-
curso de pessoas, e, sim, autoria mediata. duzido à delegacia. Para que seu verdadeiro nome não
fosse descoberto, Juan identificou-se à autoridade poli-
Coagir alguém a praticar crime configura delito de cial como Pedro Rodríguez, buscando, assim, evitar o
tortura, pois o coator será responsabilizado pelo deli- cumprimento de mandado de prisão expedido por ter
to praticado pelo coagido em concurso material com sido condenado pelo crime de moeda falsa no Brasil.
o crime de tortura do art. 1º, I, b, da Lei n° 9.455/1997. Questionado sobre a propriedade do veículo no qual se
encontrava no momento da abordagem, Juan informou
z quem instiga ou determina a cometer o crime tê-lo comprado de uma pessoa desconhecida, em Boa
alguém sujeito à sua autoridade ou não punível em Vista. Durante a investigação policial, verificou-se que o
virtude de condição ou qualidade pessoal. veículo havia sido furtado por outra pessoa no Brasil e
z quem induz ou instiga a cometer crime pessoa não que a placa estava adulterada. Verificou-se, ainda, que a
punível, como o doente mental. placa identificava um veículo registrado no país de origem
de Juan e em seu nome, embora Juan tivesse alegado ter
adquirido o veículo já com a referida placa.
Importante! Juan deverá responder por participação no crime de
Aquele que induz menor de dezoito anos a pra- furto do veículo que adquiriu, apesar de o autor do cri-
ticar crime contra determinada vítima será par- me ter sido outra pessoa.
ticipe do delito e ainda responderá pelo crime de
( ) CERTO  ( ) ERRADO
corrupção de menores previsto no art. 244-B do
ECA.
O Código Penal adotou a teoria dualista sobre o par-
tícipe, aquele que de qualquer modo concorre para
z quem executa o crime, ou nele participa, median- o crime, sem executar a conduta criminosa. Sendo
te paga ou promessa de recompensa. Em paga, o assim, umas condutas praticadas por do Juan é o
crime de receptação, por ter adquirido produto que
recebimento é prévio. Em promessa de recompen-
sabia ser advindo de crime, e não o delito de partici-
sa, o recebimento é posterior à prática do delito.
pação em roubo. Resposta: Errado.

3. (CESPE-CEBRASPE — 2018) Cada um do item a seguir


EXERCÍCIOS COMENTADOS apresenta uma situação hipotética seguida de uma asser-
tiva a ser julgada, a respeito da aplicação e da interpretação
1. (CESPE-CEBRASPE — 2020) Em regra, consideram- da lei penal, do concurso de pessoas e da culpabilidade.
-se autores de um delito aqueles que praticam dire-
tamente os atos de execução, e partícipes aqueles João e Manoel, penalmente imputáveis, decidiram
que atuam induzindo, instigando ou auxiliando a ação matar Francisco. Sem que um soubesse da intenção
dos autores principais. No entanto, é possível que um do outro, João e Manoel se posicionaram de tocaia
agente, ainda que não participe diretamente da execu- e, concomitantemente, atiraram na direção da víti-
ção da ação criminosa, possa ter o controle de toda a ma, que veio a falecer em decorrência de um dos dis-
situação, determinando a conduta de seus subordina- paros. Não foi possível determinar de qual arma foi
dos. Nessa hipótese, ainda que não seja executor do deflagrado o projétil que atingiu fatalmente Francis-
crime, o agente mandante poderá ser responsabiliza- co. Nessa situação, João e Manoel responderão pelo
do criminalmente. Essa possibilidade de responsabili- crime de homicídio na forma tentada.
zar o mandante pelo crime decorre da teoria
( ) CERTO  (  ) ERRADO
a) da acessoriedade limitada.
b) do favorecimento. Vejamos em síntese algumas definições. Coautoria
c) do domínio do fato. exige vínculo subjetivo ligando as condutas de ambos
d) pluralística da ação. os autores. Autoria colateral ocorre quando ambos
110 e) da causação. praticam o núcleo do tipo, mas um não age em acordo
de vontades com o outro. Nesta questão, os agentes Art. 37 As mulheres cumprem pena em estabeleci-
não estão mais próximos da autoria colateral, mas mento próprio, observando-se os deveres e direitos
por não ser possível identificar o autor do delito, cha- inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que
mamos de autoria incerta. Resposta: Certo. couber, o disposto neste Capítulo.

„ O condenado à pena superior a 8 anos começa


em regime fechado.
„ O condenado (não reincidente) à pena superior
TÍTULO V: DAS PENAS
a 4 anos e que não exceda a 8 anos poderá cum-
CAPÍTULO I: DAS ESPÉCIES DE PENA, CAPÍTULO pri-la em regime semiaberto.
II: DA COMINAÇÃO DAS PENAS E CAPÍTULO III: DA „ O condenado (não reincidente) a pena igual
APLICAÇÃO DA PENA ou inferior a 4 anos pode cumpri-la em regime
aberto. O reincidente, neste caso, pode iniciar o
A pena no Brasil tem uma finalidade mista, isto é, cumprimento no regime semiaberto.
retributiva e preventiva. A finalidade retributiva (teo- „ O art. 59 do CP é usado para definir o início do
ria absoluta) coloca a pena como um castigo. Já a teo- cumprimento da pena.
ria relativa tem como objetivo evitar novas infrações „ O condenado por crime contra a Administração
penais. Dentro da teoria relativa, existe a prevenção Pública terá a progressão condicionada à repa-
geral e a prevenção especial. ração do dano.

z Prevenção geral (direcionada à sociedade) Dica


„ negativa: intimidação pela pena; Regime Especial = Prisão da mulher
„ positiva: demonstra a vigência da lei penal;
Em caso de superveniência de doença mental, o con-
z Prevenção especial (direcionada ao condenado) denado a quem sobrevém a doença deve ser recolhido a
hospital de custódia e receber tratamento psiquiátrico.
„ negativa: evita a reincidência; O tempo de prisão provisória, prisão administra-
„ positiva: busca a ressocialização. tiva e internação computam-se na pena privativa de
liberdade e na medida de segurança, de acordo com o
Após o trânsito em julgado, o juiz das execuções instituto da detração.
assume o processo, de maneira que é ele quem irá As penas restritivas de direitos dividem-se em:
aplicar os institutos da execução penal, por exemplo:
remição de pena pelo trabalho e pelo estudo. Os deta-
z Prestação pecuniária: Pagamento em dinheiro à
lhes da execução da pena são tratados na Lei 7.210/84.
vítima ou entidade (pública ou privada social) de 1
Existem as seguintes espécies de penas: privativa
de liberdade; restritiva de direitos; multa. a 360 salários-mínimos. O valor pago será deduzido
Dentro da pena privativa de liberdade, existe a de eventual indenização, se coincidentes os bene-
possibilidade da reclusão ou detenção. A reclusão ficiários. A prestação não precisa ser em dinheiro;
pode ser cumprida no regime fechado, semiaberto ou z Perda de bens e valores: Pagamento ao Fundo Peni-
aberto. Já a detenção só pode iniciar-se nos regimes tenciário Nacional, tendo como teto o montante do pre-
semiaberto ou aberto, podendo regredir para regime juízo causado ou do provento obtido (o que for maior);
fechado. Observe as diferenças entre os regimes: z Prestação de serviços à comunidade: Aplica-se
as condenações superiores a 6 meses de privação
z Regime fechado: A execução da pena acontece em de liberdade. As tarefas devem ser cumpridas em
estabelecimento de segurança máxima ou média. uma hora por dia de condenação. Se a pena for
Exige-se exame criminológico. Há trabalho no superior a um ano, o condenado pode cumprir a
período diurno (em comum dentro do estabeleci-
pena substitutiva em menor tempo, nunca inferior
mento) e isolamento durante o repouso noturno.
à metade da pena fixada;
Observação: o trabalho externo é admissível em
serviços/obras públicas; z Interdição temporária de direitos: Proibição de
z Regime semiaberto: A execução da pena acontece exercer atividade pública ou profissão que depen-
em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento da de autorização do poder público, suspensão para
similar. Há trabalho comum durante o dia, sendo dirigir, proibição de frequentar determinados luga-
possível, também, o trabalho externo e a frequên- res, proibição de inscrever-se em exame público;
cia a cursos; z Limitação de fim de semana: Permanecer aos sába-
z Regime aberto: A execução da pena acontece em dos e domingos por 5 horas em casa de albergado.
casa de albergado ou estabelecimento adequado.
Baseia-se na autodisciplina e é de responsabilidade
DIREITO PENAL

As penas restritivas de direito são autônomas e


do condenado, que precisará trabalhar, frequentar substitutivas. Para conseguir substituir a pena pri-
curso ou exercer outra atividade autorizada (fora
vativa de liberdade imposta por uma pena restritiva
e sem vigilância); deve, também, permanecer reco-
de direitos, o condenado precisa reunir os seguintes
lhido durante o período noturno e nos dias de fol-
ga. Regredirá de regime se praticar crime doloso, requisitos:
frustrar os fins da execução ou não pagar a multa.
z Regime especial: Consiste no cumprimento de pena z A pena não ser superior a 4 anos;
em estabelecimento próprio, destinado somente às z Não haver violência ou grave ameaça;
mulheres, e devidamente adequado às condições z Não reincidência em crime doloso específico;
necessárias ao sexo feminino. z O art. 59 do CP ser favorável a essa conversão. 111
O crime culposo pode ser substituído independen- Prazo
temente da quantidade de pena.
Condenações iguais ou inferiores a um ano rece- § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial,
bem em substituição 1 multa ou 1 restritiva de direi- será por tempo indeterminado, perdurando enquan-
tos. Condenações superiores a um ano recebem em to não for averiguada, mediante perícia médica, a
substituição 1 multa + 1 restritiva de direitos ou 2 res- cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá
tritivas de direitos. ser de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dada pela
Em caso de descumprimento injustificado da res- Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
trição imposta, a pena restritiva de direitos é recon-
vertida em privativa de liberdade. Será deduzido o Perícia médica
tempo cumprido, mas o indivíduo ficará em privação
de liberdade por pelo menos 30 dias. § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do
A pena de multa dirige-se ao Fundo Penitenciá- prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano
rio e tem como valor de 1/30 de salário-mínimo a 5 em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz
da execução. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
salários-mínimos, durante o período de 10 a 360 dias.
11.7.1984)
Após o trânsito em julgado, a pena de multa deve ser
paga em 10 dias. Todavia, o juiz pode considerar o
Desinternação ou liberação condicional
parcelamento.
A execução da multa ocorre perante o juiz da exe-
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre
cução penal e é considerada dívida de valor (aplicadas
condicional devendo ser restabelecida a situação
normas da dívida ativa). Como a multa é uma pena, se
anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano,
sobrevém ao condenado doença mental, será suspen- pratica fato indicativo de persistência de sua periculo-
sa a execução. sidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A multa pode ser aumentada até o triplo se o juiz § 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial,
considerar que, em virtude da situação econômica poderá o juiz determinar a internação do agente, se
do réu, é ineficaz, mesmo que aplicada no patamar essa providência for necessária para fins curativos.
máximo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Na fixação da pena privativa de liberdade, utiliza-
-se o método trifásico, no qual, primeiro, o juiz ava- Substituição da pena por medida de segurança
lia as circunstâncias judiciais (artigo 59), depois, as para o semi-imputável
agravantes e atenuantes (artigos 61 a 67) e, no fim,
as causas de aumento e diminuição de pena (frações Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art.
legais). 26 deste Código e necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de
liberdade pode ser substituída pela internação, ou
Importante! tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1
(um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior
Em concurso de causas de aumento e dimi- e respectivos §§ 1º a 4º. (Redação dada pela Lei nº
nuição de pena previstas na parte especial do 7.209, de 11.7.1984)
código, pode o juiz limitar-se a um aumento ou a
uma diminuição, prevalecendo a causa que mais Direitos do internado
aumente ou mais diminua.
Art. 99 - O internado será recolhido a estabeleci-
mento dotado de características hospitalares e será
submetido a tratamento. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Espécies de medidas de segurança
DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Extinção da punibilidade
I - Internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimen- Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação
to adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
11.7.1984) I - pela morte do agente;
II - sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação II - pela anistia, graça ou indulto;
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - pela retroatividade de lei que não mais conside-
Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se ra o fato como criminoso;
impõe medida de segurança nem subsiste a que IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
tenha sido imposta. (Redação dada pela Lei nº V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo per-
7.209, de 11.7.1984) dão aceito, nos crimes de ação privada;
Imposição da medida de segurança para inimputável VI - pela retratação do agente, nos casos em que a
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determi- lei a admite;
nará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato pre- VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
visto como crime for punível com detenção, poderá VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. (Reda- IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 108 - A extinção da punibilidade de cri-
112 me que é pressuposto, elemento constitutivo ou
circunstância agravante de outro não se estende a 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver
este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilida- sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei
de de um deles não impede, quanto aos outros, a nº 12.650, de 2012)
agravação da pena resultante da conexão. (Reda-
ção dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Termo inicial da prescrição após a sentença conde-
natória irrecorrível
Prescrição antes de transitar em julgado a sentença
Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a pres-
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em jul- crição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº
gado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do 7.209, de 11.7.1984)
art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da I - do dia em que transita em julgado a sentença
pena privativa de liberdade cominada ao crime, condenatória, para a acusação, ou a que revoga
verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, a suspensão condicional da pena ou o livramento
de 2010). condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior 11.7.1984)
a doze; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é supe- quando o tempo da interrupção deva computar-
rior a oito anos e não excede a doze; -se na pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior 11.7.1984)
a quatro anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a Prescrição no caso de evasão do condenado ou de
dois anos e não excede a quatro; revogação do livramento condicional
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a
Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de
um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
revogar-se o livramento condicional, a prescrição é
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior
regulada pelo tempo que resta da pena. (Redação
a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
2010).
Prescrição da multa
Prescrição das penas restritivas de direito
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:
Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
de direito os mesmos prazos previstos para as pri- I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única
vativas de liberdade. (Redação dada pela Lei nº cominada ou aplicada; (Incluído pela Lei nº 9.268,
7.209, de 11.7.1984) de 1º.4.1996)
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição
Prescrição depois de transitar em julgado sentença
da pena privativa de liberdade, quando a multa
final condenatória
for alternativa ou cumulativamente cominada ou
Art. 110 - A prescrição depois de transitar em jul- cumulativamente aplicada. (Incluído pela Lei nº
gado a sentença condenatória regula-se pela pena 9.268, de 1º.4.1996)
aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo
Redução dos prazos de prescrição
anterior, os quais se aumentam de um terço, se o
condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de
nº 7.209, de 11.7.1984) prescrição quando o criminoso era, ao tempo do
§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data
com trânsito em julgado para a acusação ou depois da sentença, maior de 70 (setenta) anos.(Redação
de improvido seu recurso, regula-se pela pena apli- dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
cada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por
termo inicial data anterior à da denúncia ou quei- Causas impeditivas da prescrição
xa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.234, de 2010). Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença
final, a prescrição não corre: (Redação dada pela
Termo inicial da prescrição antes de transitar em Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
julgado a sentença final I - enquanto não resolvida, em outro processo,
questão de que dependa o reconhecimento da exis-
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em jul- tência do crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209,
gado a sentença final, começa a correr: (Redação de 11.7.1984)
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
I - do dia em que o crime se consumou; (Redação (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - na pendência de embargos de declaração ou de
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati- recursos aos Tribunais Superiores, quando inad-
vidade criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, missíveis; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
de 11.7.1984)
DIREITO PENAL

IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o


III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou acordo de não persecução penal. (Incluído pela
a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, Lei nº 13.964, de 2019)
de 11.7.1984) Parágrafo único - Depois de passada em julgado
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou altera- a sentença condenatória, a prescrição não corre
ção de assentamento do registro civil, da data em durante o tempo em que o condenado está preso
que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) de 11.7.1984)
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças
e adolescentes, previstos neste Código ou em legis-
lação especial, da data em que a vítima completar 113
Causas interruptivas da prescrição z É crime comum: pode ser praticado por qualquer
pessoa, sem que necessite de quaisquer condições
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: especiais;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) z É crime material: para sua consumação, é exigida
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; a ocorrência do resultado morte;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) z É crime de forma livre: pode ser praticado com
II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, qualquer modo de execução (a tiros, facadas, pau-
de 11.7.1984) ladas, por meio de veneno, entre outros);
III - pela decisão confirmatória da pronúncia; z É crime instantâneo de efeitos permanentes: a con-
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) duta delituosa não se prolonga no tempo e, após a
IV - pela publicação da sentença ou acórdão con- consumação, os efeitos são irreversíveis;
denatórios recorríveis; (Redação dada pela Lei nº z É crime plurissubsistente: pode ser praticado por
11.596, de 2007). meio de um ou mais atos de execução;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da z É crime unissubjetivo: pode ser praticado por um
pena; (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) ou mais agentes.
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº z É importante que você saiba as classificações descritas
9.268, de 1º.4.1996) acima, já que elas são bastante cobradas em provas.
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste
artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos O crime de homicídio é dividido em:
relativamente a todos os autores do crime. Nos cri-
mes conexos, que sejam objeto do mesmo proces- z Homicídio simples (art. 121, caput, do CP);
so, estende-se aos demais a interrupção relativa a z Homicídio privilegiado (art. 121, § 1º, do CP);
qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de z Homicídio qualificado (art. 121, § 2º, do CP); e
11.7.1984) z Homicídio culposo (art. 121, § 3º, do CP).
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese
do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a cor- Veremos a seguir cada um deles.
rer, novamente, do dia da interrupção. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Homicídio Simples
Art. 118 - As penas mais leves prescrevem com as
mais graves. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de O Homicídio simples está previsto no caput do artigo
11.7.1984) 121.
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extin- Ele é bastante difícil de ser configurado, já que difi-
ção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada cilmente ocorre este crime sem que alguma qualifica-
um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, dora (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos
de 11.7.1984) entender, então, que o homicídio simples é residual.
Será simples o homicídio quando ele não for
Perdão judicial qualificado.
Sobre o homicídio simples, a informação mais
Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial importante é que, em regra, ele não é crime hedion-
não será considerada para efeitos de reincidência. do, entretanto, se for praticado em atividade típica de
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, será crime hediondo.
O homicídio simples só será crime hediondo quan-
do praticado em atividade típica de grupo de extermí-
PARTE ESPECIAL: DOS CRIMES nio, ainda que cometido por um só agente, conforme
art. 1º, I, primeira parte, da Lei nº 8.092/1990.
CONTRA A PESSOA Atenção: o art. 1º, I, segunda parte, da Lei nº
8.092/1990, com redação dada por meio da Lei nº
CRIMES CONTRA A VIDA 13.964/2019, trata de hipóteses de homicídio qualificado.

Trataremos neste tópico dos crimes contra a vida, Homicídio Privilegiado


que estão incorporados nos artigos 121 ao 128. Eles
tutelam o bem jurídico mais relevante que temos: a Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias
vida, nas suas modalidades intrauterina ou extraute- legais específicas, vinculadas ao tipo penal incrimi-
rina. Os crimes contra a vida poderão ser dolosos ou nador, provocadoras da diminuição da faixa de apli-
culposos. Sendo que os primeiros poderão ter conduta cação da pena, em patamares prévia e abstratamente
comissiva ou omissiva. estabelecidas pelo legislador, alterando o mínimo e o
máximo previstos para o crime.
Homicídio Para fins do nosso estudo, vamos entender o homi-
cídio privilegiado como uma modalidade mais branda
do crime de homicídio.
O crime de homicídio tem como ação a seguinte
O homicídio privilegiado está previsto no Artigo
conduta: Matar Alguém. 121, § 1º, e se configura em uma das seguintes situações:
O verbo descrito no tipo penal é matar, que fica
configurado quando se faz ao interromper ou cessar a z Relevante valor social – possível e compreensível
vida. O alguém, previsto na conduta, necessariamen- para a sociedade. Ex.: indivíduo acaba com a vida
te, deve ser a pessoa humana. de malfeitor em prol da sociedade; 
É um crime classificado de diversas modalidades. z Relevante valor moral – referente ao valor
114 As principais classificações são: moral individual, temos como exemplos ações
movidas por compaixão, beneficiação, amparo. VIII - (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Ex.: Eutanásia; 
z Sob o domínio de violenta emoção, logo em segui- Atenção: o art. 1º, I, segunda parte, da Lei nº
da a injusta provocação da vítima – como o próprio 8.092/1990, com redação dada por meio da Lei nº
nome diz, a ação tem que ter acontecido logo após 13.964/2019, diz que será hediondo o homicídio quali-
o ato, e o agente estando sob condições de grandes ficado em todas as hipóteses do art. 121, § 2º, incisos I,
emoções. Ex.: O marido chega em casa e pega sua II, III, IV, V, VI, VII e VIII, do CP.
companheira em flagrante com outro indivíduo, Agora, vamos esclarecer cada um dos incisos do § 2º,
dominado pela raiva, sem pensar, e sem controle, do art. 121, do CP:
acaba matando o indivíduo. Se o homicídio é cometido:

Quando reconhecido o privilégio, no crime de I - Mediante paga ou promessa de recompensa, ou


homicídio, quais as consequências? O juiz pode redu- por outro motivo torpe;
zir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
Motivo torpe refere-se a algo repugnante, nojento,
abjeto
Importante! O Código Penal nos exemplifica o que vem a ser
Muita atenção com o patamar de redução da motivo torpe: mediante paga ou promessa de recom-
pena. pensa. Os demais casos de torpeza serão interpreta-
dos analogicamente pela autoridade judicial.
O homicídio praticado mediante paga ou promessa
Sobre o homicídio privilegiado, algumas conside- de recompensa é conhecido doutrinariamente como
rações são muito importantes para a sua prova: homicídio mercenário.
Ele fica configurado quando o agente pratica o
z Não é considerado crime hediondo; crime motivado por alguma recompensa (segundo a
z Não se comunica para coautores ou partícipes. doutrina, deve ser de natureza econômica), que pode
ser anterior (na modalidade paga) ou posterior (na
O crime de homicídio é cometido por 2 (dois) agen- modalidade promessa de recompensa).
tes (Vicente e Gabriel). Gabriel o pratica sob o domínio de A 6ª Turma do STJ entende que a comunicabilida-
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação de da qualificadora “mediante paga ou promessa de
da vítima; Vicente, não. Nesta hipótese, Gabriel respon- recompensa” não é automática, tratando-se de qualifi-
derá por homicídio privilegiado e Vicente por Homicídio. cadora de natureza pessoal, que não irá se comunicar
automaticamente ao mandante do crime, responden-
Homicídio Qualificado do este, na modalidade qualificada se torpe for o moti-
vo que o levou a pagar pela morte da vítima.
No homicídio qualificado, o agente estará subme- Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a
tido a uma pena maior, mais grave. As qualificadoras intenção de matar um desafeto, chamado Antoniel,
são fatores que tornam a conduta praticada pelo agen- pagar R$ 1.000,00 (mil reais) a Fabrício, para que este
te, de alguma forma, mais reprováveis por parte da mate Antoniel, a qualificadora será aplicada a Fabrí-
sociedade. A pena do homicídio qualificado está pre- cio, já para Alessandro, o mandante, o homicídio não
vista entre 12 (doze) e 30 (trinta) anos. será necessariamente qualificado.
O Código Penal, em seu Artigo 121, § 2º, estabelece
as seguintes qualificadoras. II. Por motivo fútil;

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou


Motivo fútil refere-se a um motivo pequeno, des-
por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil; proporcional, banal. Há desproporcionalidade entre a
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi- conduta praticado e a motivação.
xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de O homicídio será qualificado por motivo fútil
que possa resultar perigo comum; quando, por exemplo, for motivado por uma dívida
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu- de uma carteira de cigarro.
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
sível a defesa do ofendido; III. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfi-
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu- xia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
nidade ou vantagem de outro crime: que possa resultar perigo comum;

Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Temos aqui qualificadoras relacionadas aos meios
DIREITO PENAL

empregados pelo agente para praticar o crime, que


Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) podem estar relacionadas a meios insidiosos (empre-
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo go de veneno) ou cruéis (asfixia, tortura) ou que pos-
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
sam resultar em perigo comum (fogo, explosivo).
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
Em relação ao emprego de veneno, segundo a
142 e 144 da Constituição Federal,  integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança doutrina majoritária, tal qualificadora só irá se con-
Pública, no exercício da função ou em decorrência figurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou paren- veneno sem saber que o fazia. Caso a vítima saiba que
te consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser
condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) aplicada, a de meio cruel. 115
Compreenda que Direito Penal, o agente é puni- Ferroviária Federal; Polícias Civis; Policiais Milita-
do, em regra, pelo crime que queria praticar. Assim, res; Corpo de Bombeiros Militares; Polícias Penais
caso o agente queira torturar, mas se exceda e acabe federal, estadual e municipal.
matando a vítima, irá responder por tortura qualifi-
cada pelo resultado morte. Se o agente queria matar e Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para
usa a tortura como meio para atingir a sua finalidade, a sua prova que não é a morte de qualquer dos agen-
irá responder por homicídio qualificado pela tortura. tes ou autoridades descritas acima que irá qualificar o
homicídio, mas sim se a morte deles for praticada no
IV. À traição, de emboscada, ou mediante dissimu- exercício da função (enquanto eles trabalham) ou em
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos- razão da função (devido ao cargo que eles ocupam ou
sível a defesa do ofendido; função que eles exercem).
A qualificadora também será aplicada se o homi-
As qualificadoras acima também estão relacio- cídio for praticado contra o cônjuge, companheiro ou
nadas aos meios empregados pelo agente. Quando o parente consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos agen-
agente comete um homicídio, praticando-o de forma tes ou autoridades que vimos acima, também motivado
que a defesa da vítima seja dificultada ou se torne pela função que os agentes ou autoridades exercem.
impossível, ele responderá na modalidade qualificada.

V. Para assegurar a execução, a ocultação, a impu-


Dica
nidade ou a vantagem de outro crime; É possível que o homicídio seja privilegiado e
qualificado ao mesmo tempo? Sim.
Nesta forma qualificada, o agente pratica o homi- É possível, porém, é necessário que a qualifica-
cídio para, de alguma forma, garantir uma vantagem dora seja de natureza objetiva, ou seja, relacio-
relacionado a um outro crime. A doutrina chama esta nada aos meios empregados pelo agente para
qualificadora de conexão instrumental, que pode ser executar o crime.
teleológica ou consequencial.
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio
Conexão instrumental teleológica assegura a exe-
privilegiado-qualificado não será considerado
cução futura de um outro crime.
Conexão instrumental consequencial assegura a hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez.
ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime,
praticado anteriormente. Homicídio Culposo
Segundo a doutrina majoritária, não é necessário
que o crime anterior ou posterior pode ter sido prati- O homicídio culposo é aquele que o agente não
cado por uma outra pessoa, não existindo a obrigato- quer como o resultado a morte, nem assume o risco
riedade de que seja o próprio autor do homicídio. de assumi-lo, mas acaba causando a morte de alguém
por imprudência, negligência ou imperícia.
VI. Contra a mulher por razões da condição de sexo A imprudência fica configurada quando o agente
feminino. é afoito, praticando conduta não recomendada pela
vida em sociedade. Exemplo: Ciclano está mudando
Fique atento, pois este dispositivo tem grande alguns móveis em apartamento, que fica no 4º andar.
incidência em provas de concursos públicos. Estamos Ele decide que não quer mais um jarro de plantas e,
falando do feminicídio. para se livrar do objeto, joga-o pela janela. O jarro cai
Você acertará todos os itens correspondentes na cabeça de Beltrano, que morre imediatamente.
quando entender que nem toda morte de mulher será Observe que Ciclano não queria a morte de Beltra-
considerada feminicídio, mas sim a morte de mulher no, nem assumiu o risco de matá-lo, mas, por ter sido
praticada devido a sua condição de sexo feminino. imprudente (praticado uma ação não recomendável),
O Código Penal estabelece que se considera que há acabou causando a morte da vítima.
razões de condição de sexo feminino quando a morte Nesse caso, a negligência fica configurada quando
da mulher envolver violência doméstica ou familiar ou o agente é omisso ou relapso. Ele não faz algo que a
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. vida em sociedade recomenda.
O feminicídio ficará configurado com a morte da Além disso, a imperícia é a falta de aptidão técnica
mulher devido à violência de gênero e não quando para o desempenho de determinada atividade.
ocorrer a morte da mulher em qualquer situação. Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresen-
ta com mais frequência, poderemos ver a diferença
VII. Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 entre a negligência e a imperícia.
e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no z Ex.: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia, ao fazer
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra uma cirurgia renal, ele deixa um bisturi dentro do
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo paciente, que vem a óbito.
até terceiro grau, em razão dessa condição. z Ex.: Teobaldo é médico clínico geral em período de
residência. Ele vai fazer uma cirurgia renal, erra
O homicídio será qualificado quando praticado no procedimento e a vítima morre.
contra os seguintes agentes ou autoridades:
No primeiro exemplo: Adolfo irá responder por
z Integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exérci- homicídio culposo por negligência. Observe que ele é
to ou Aeronáutica) médico cirurgião, logo, tem perícia para a realização
z Integrantes dos órgãos de segurança pública: Polí- de cirurgias, mas foi omisso ao esquecer o equipa-
116 cia Federal; Polícia Rodoviária Federal; Polícia mento dentro do paciente.
No segundo exemplo: Teobaldo irá responder por O tipo penal que iremos estudar não pune o suicí-
homicídio culposo por imperícia, já que faltava a ele dio, que consiste na eliminação da própria vida, mas
aptidão necessária para realizar perícias. sim a conduta daquele que induz, instiga ou auxilia a
No caso do homicídio culposo, é possível a aplica- prática de um suicídio ou a automutilação.
ção do instituto do perdão judicial, previsto no Arti-
go 121, § 5° do Código Penal: o juiz poderá deixar de Art. 122 Induzir ou instigar alguém a suicidar-se
aplicar a pena, se as consequências da infração atingi- ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio
rem o próprio agente de forma tão grave que a sanção material para que o faça:
penal se torne desnecessária. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Você pode entender a aplicação do perdão judicial
ao seguinte caso: pai que, por imprudência, provoca Inicialmente, devemos entender o que significa
um acidente de trânsito e mata o próprio filho. Nes- cada um dos verbos que configuram o tipo penal:
te caso, as consequências da infração penal (homi-
cídio) atingem o pai de forma tão grave (a morte de z Induzir: é criar uma ideia que não existe. A vítima
seu filho) que é desnecessária a aplicação de sanção nunca pensou em se suicidar e o agente faz surgir
penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. esta ideia na cabeça dela;
O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos z Instigar: é reforçar uma ideia que já existe. A víti-
casos de homicídio culposo. ma pensa ou já pensou em se suicidar e o agente
Falaremos agora das causas de aumento de pena reforça essa ideia;
z Auxiliar: o agente presta auxílio material à vítima.
aplicadas ao homicídio.
Por exemplo, emprestando uma arma, uma corda,
entre outras formas de auxílio.
Homicídio Majorado
Com o advento da Lei nº 13.968/2019, na hipótese
Para facilitar nosso estudo, veremos as causas de de a automutilação ou de a tentativa de suicídio resul-
aumento de pena aplicadas ao homicídio doloso e, em tar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima,
seguida, as aplicadas ao homicídio culposo. nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129, do CP a pena
Causas de aumento de pena aplicáveis ao homicí- cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
dio doloso: Com essa redação (§ 1º, do art. 122, do CP) citada aci-
ma, põe fim a discussão sobre a possibilidade de tentati-
z Se praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) va para o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
anos ou maior de 60 (sessenta) anos, com deficiên- Pois bem, hoje, a lei diz que o crime de induzimen-
cia ou portadora de doenças degenerativas que to, instigação ou auxílio ao suicídio e, agora, da auto-
acarretem condição limitante ou de vulnerabilida- mutilação admite tentativa.
de física ou mental, na presença física ou virtual de Porém, em caso de consumação do suicídio ou da
descendente ou de ascendente da vítima, em des- automutilação resultar morte, a pena prevista é de
cumprimento das medidas protetivas de urgência reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Forma qualificada:
Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006  – aumento de Com a redação da Lei nº 13.968/2019, a pena para o
1/3 (um terço) conforme dispõe o artigo 121, § 7º crime de induzimento, instigação e auxílio ao suicídio
incisos II, III e IV do Código Penal. e de automutilação é duplicada em dois casos:
z Se praticado por milícia privada, sob o pretexto de
prestação de serviço de segurança ou por grupo de z se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe
extermínio – aumento de 1/3 (um terço) até a metade. ou fútil; ou
z Nos casos de feminicídio, se o crime for praticado z se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
durante a gestação ou nos 3 (três) meses posterio- quer causa, a capacidade de resistência.
res ao parto; se praticado contra pessoa menor de
14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, ou Aumento de Pena
com deficiência, ou se praticado na presença de
descendente ou ascendente da vítima – aumento Incluído no Código Penal por meio da Lei nº
de 1/3 (um terço) até a metade. 13.968/2019, a pena pode ser aumentada até o dobro
se a conduta é realizada por meio da rede de compu-
tadores, de rede social ou transmitida em tempo real.
Causas de aumento de pena aplicáveis ao homicí-
Outra hipótese, aumenta-se a pena em metade se o
dio culposo:
agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.
Não é caso de crime de induzimento, instigação ou
z Se o crime resulta de inobservância de regra téc- auxílio ao suicídio e da automutilação quando a vítima
nica de profissão, arte ou ofício – aumento de 1/3 não tem algum discernimento para a prática do suicí-
(um terço); dio e da autolesão. Caso a conduta seja praticada con-
z Se o agente deixa de prestar imediato socorro à tra alguém sem qualquer discernimento, por exemplo,
DIREITO PENAL

vítima, não procura diminuir as consequências do uma criança de 10 anos de idade, não estaremos diante
seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante – do crime de induzir, instigar ou auxiliar a prática de
aumento de 1/3 (um terço). suicídio, mas sim diante do crime de homicídio.
Neste sentido, o Código Penal, trata, com a inclusão
Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou a da redação dada por meio da Lei nº 13.968/2019, da
Automutilação hipótese da automutilação ou da tentativa de suicídio
resulta lesão corporal de natureza gravíssima, e for
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autole- cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
são, ou seja, uma pessoa não será punida penalmente quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem
caso provoque mal somente a si próprio. o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, 117
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, considerada absolutamente inimputável, conforme
responde o agente pelo crime lesão corporal gravíssima. art. 26, caput, do Código Penal.
Por fim, se o crime de suicídio se consuma ou se A mãe infanticida é isenta de pena, nos termos do art.
dá automutilação resulta morte e a vítima é menor de 26, caput, do Código Penal. Aplica-se medida de segurança
14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o neces- somente na hipótese de persistência da periculosidade.
sário discernimento para a prática do ato, ou que, por Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência do
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, estado puerperal, tiver outra causa de semi imputabili-
responde o agente pelo crime de homicídio. dade, consistente em perturbação da saúde mental, que
não lhe retire a inteira capacidade de entendimento ou
Infanticídio autodeterminação, deverá ser aplicada a regra do pará-
grafo único do art. 26 do Código Penal, ou seja, a pena do
O infanticídio é classificado pela doutrina como infanticídio poderá ser reduzida de um a dois terços, ou
crime bipróprio, já que ele exige qualidades especiais poderá ser substituída por medida de segurança.
tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo.
É necessário que o sujeito ativo – quem pratica a HOMICÍDIO
conduta – seja a própria mãe e que o sujeito passivo –
quem é ameaçado pela conduta criminosa – seja o pró- A parturiente mata o filho,
prio filho, para que este tipo penal fique configurado. sem estar influenciada pelo Homicídio, art. 121, do CP.
São outros requisitos que devem estar presentes estado puerperal.
para configuração do crime de infanticídio:
INFANTICÍDIO
z Que a mãe esteja sob a influência do estado
A parturiente mata o filho,
puerperal;
sob a influência do estado Infanticídio, art. 123, do CP.
puerperal.
O estado puerperal é uma alteração emocional
pela qual passam algumas mães durante o período A parturiente mata o filho, Infanticídio, art. 123, com-
correspondente ao parto. influenciada pelo estado binado com o art. 26, pará-
Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou na puerperal e por apresentar grafo único, do CP.
jurisprudência, sobre quanto tempo dura este estado alguma outra causa que Redução da pena de um a
puerperal. lhe tire a plenitude do po- dois terços, ou medida de
der de autodeterminação. segurança.
z Que a conduta seja praticada durante ou logo após
Infanticídio, art. 123, combi-
o parto.
A parturiente mata o filho, por nado com o art. 26, caput,
estar acometida de doença do CP.
O Código Penal adota, para o crime de infanticídio,
mental, psicose puerperal. Absolvição sumária, causa
critério fisiológico, também denominado biopsicológi-
excludente da culpabilidade.
co ou fisiopsicológico, afastando-se do sistema psico-
lógico, que exigia o motivo de honra. O simples estado
puerperal é apto ao reconhecimento do infanticídio. O infanticídio admite tentativa.
Estado puerperal é o conjunto das perturbações psí-
quicas e fisiológicas sofridas pela mulher em razão do Aborto
fenômeno do parto. Diversos fatores como, por exem-
plo, sofrimento, a perda de sangue, a angústia, a inquie- O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes
tação ou outros que podem levar a parturiente a sofrer contra a vida. É tutelado o nascituro desde a concep-
um colapso do senso moral, uma liberação de impulsos ção. O Código Penal estabelece três modalidades de
maldosos, chegando por isso a matar o próprio filho. aborto, previstos nos artigos 124, 125 e 126.
A influência do estado puerperal normalmente No art. 124, do CP, temos o aborto praticado pela
acontece em qualquer parto, havendo, inclusive, jul- gestante. O sujeito ativo é a própria gestante e a vítima
gados dispensando a prova pericial para comprová-lo. é o feto. No art. 125, do CP, o crime de aborto é pra-
O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo ticado por terceiro, porém sem o consentimento da
após, ou seja, logo em seguida ao parto, sem intervalo. gestante. Observe que neste delito o sujeito ativo é o
Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e terceiro, aquele que realiza o aborto. A vítima, sujeito
se não ocorrer logo após o parto, será homicídio. passivo, é a gestante e o feto.
A expressão “logo após o parto” compreende todo Já no art. 126, do CP, o crime de aborto é praticado
o período em que permanecer a influência do estado por terceiro, mas com o consentimento da gestante.
puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que pre- Aqui temos na condição de sujeito ativo o terceiro e
domina o instinto materno, cessa a influência do esta-
a gestante, e a vítima, sujeito passivo, apenas o feto.
do puerperal. Não permanecendo o estado puerperal
O Código Penal não define aborto. Cabe a juris-
e a mão matar o filho, não estaremos diante do crime
prudência e a doutrina definir o crime de aborto. De
de infanticídio, mas de homicídio.
acordo com termos relacionados a medicina, aborto é
O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou
eventual. expulsão do produto da concepção.
Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em O aborto consiste na interrupção da gravidez com
estado puerperal, logo após o parto, culposamente a morte do produto da concepção. Dessa definição
matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo. sobressaem os seguintes elementos necessários à
Há certos casos em que a mulher, após o par- constituição do delito:
to, se vê acometida da chamada psicose puerperal,
que é uma doença mental que lhe tira totalmente o z estado fisiológico da gravidez;
118 poder de autodeterminação. Nesta hipótese, a mão é z emprego de meios dirigidos à provocação do aborto;
z morte do produto da concepção; O não consentimento da gestante é o elemento
z dolo. essencial à configuração do delito e pode ser:
z O aborto é crime de forma livre, admitindo uma
infinidade de meios executórios. z Expresso; ou
z Presumido.
Os meios abortivos mais citados são:
Expresso, também conhecido de real, ocorre quando
z processos químicos: introdução de certas subs- a gestante se opõe ao aborto, mas é vencida pela violên-
tâncias químicas no organismo, como o fósforo,
cia física, grave ameaça e fraude, ou seja, respectiva-
chumbo, álcool, ácido etc.;
mente, chute na barriga, ameaça de matar a gestante se
z processos físicos mecânicos: curetagem, jogos
esportivos, quedas voluntárias, etc.; não abortar e colocar substância abortiva na alimenta-
z processos físicos térmicos: bolsas de água quente ção da gestante, sem consentimento da vítima, mãe.
e bolsas de gelo; Presumido é quando a gestante está incapaz de
z processos psíquicos: susto, sugestão, induzimento consentir nas formas previstas no parágrafo único do
de terror, etc. art. 126, do CP:

O crime de aborto admite tentativa, na hipótese z a gestante não é maior de catorze anos;
em que se emprega meios abortivos, mas não sobre- z a gestante é alienada mental (doente mental) ou
vêm a morte do feto por circunstâncias alheias a von- débil mental (desenvolvimento mental retardado).
tade do agente.
Há quatro modalidades de aborto: Aborto Qualificado

z autoaborto (art. 124, 1ª parte); O art. 127, do CP, estabelece duas hipóteses de
z aborto consentido (art. 124, 2ª parte);
aborto qualificado:
z aborto consensual (art. 126);
z aborto sem o consentimento da gestante (art. 125 e
z aborto qualificado pela morte;
parágrafo único do art. 126).
z aborto qualificado pela lesão corporal de natureza
Autoaborto grave.

O autoaborto é o praticado pela própria gestante. As lesões graves são aquelas tipificadas nos §§ 1º e
Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela quem executa 2º do art. 129, do CP.
diretamente a conduta criminosa. Trata-se de crime
de mão própria ou de atuação pessoal, pois só pode Dica
ser cometido pela gestante em pessoa.
Terceiros podem atuar como partícipes, mas não Os dois resultados qualificativos do delito, isto é,
como coautores. a morte e a lesão grave, devem ser imputadas ao
agente a título de culpa. Estamos diante de hipótese
Aborto Consentido e Aborto Consensual de crime preterdoloso, o agente age com dolo em
relação ao aborto e culpa em relação ao resultado.
O aborto consentido ocorre quando a gestante per-
Agora, se o agente atua com dolo em relação à
mite que outrem o provoque.
É essencial ao crime o concurso dos dois elementos:
morte ou lesão grave, responde por aborto em
concurso formal com o crime de homicídio ou
z consentimento da gestante; e crime de lesão corporal.
z execução do aborto por terceiro.
Aborto Legal
Observe-se, porém, desde logo, que o aborto con-
sentido é crime bilateral, exigindo a presença de duas O art. 128, do CP, estabelece duas modalidades em
pessoas: a gestante e o terceiro executor. que o aborto não constitui delito, desde que praticado
O terceiro responde pelo art. 126, do CP (aborto por médico:
consensual), enquanto a gestante, pelo art. 124, 2ª par-
te, do CP (aborto consentido). z se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
O aborto consentido é crime de mão própria ou de z se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre-
atuação pessoal, podendo ser cometido apenas pela
cedido de consentimento da gestante ou, quando
DIREITO PENAL

gestante. Mas, evidentemente, admite a presença do


incapaz, de seu representante legal.
partícipe, consistente na conduta acessória do tercei-
ro que se limita a induzir, instigar ou auxiliar a ges-
tante a consentir na realização do aborto. Exclui-se a antijuridicidade, uma vez que a norma
penal permite expressamente o abortamento, estabe-
Aborto Praticado sem Consentimento da Gestante lecendo a licitude do fato.
A doutrina trata do aborto legal da seguinte forma:
O art. 125, do CP comina pena de reclusão de 3
(três) a 10 (dez) anos, o aborto provocado sem o con- z Aborto necessário ou terapêutico ou profilático;
sentimento da gestante. z Aborto sentimental ou humanitário ou ético. 119
Aborto Necessário ou Terapêutico ou Profilático Lesão Corporal Leve

Aborto necessário é o praticado por médico, se não A lesão leve, também chamada de simples, previs-
há outro meio de salvar a vida da gestante, conforme ta no Caput do Artigo 129, é residual. Teremos confi-
art. 128, I, do CP, desde que presentes três requisitos: gurada tal modalidade de lesão, caso não se configure
nenhuma das outras.
z perigo real à vida da gestante; A lesão corporal qualificada está prevista nos pará-
z que não haja outro meio de salvar-lhe a vida; grafos 1º, 2º e 3º do Artigo 129.
z execução por médico.
Lesão Corporal Grave
O aborto necessário exige perigo à vida, e não saú- A lesão corporal grave irá se configurar se resultar:
de, da gestante.
Quando chamado de terapêutico tem efeito curati- z Incapacidade para as ocupações habituais, por
vo, e quando profilático, preventivo. mais de 30 (trinta) dias;

Aborto Sentimental ou Humanitário ou Ético É necessário que a incapacidade dure mais de 30


(trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso contrá-
Aborto sentimental é aquele praticado para inter- rio, a lesão corporal não será grave.
romper a gravidez resultante do estupro. A incapacidade está relacionada a qualquer ocu-
Os requisitos necessários para a exclusão da ilici- pação habitual, como estudo, treinos, rotinas domésti-
tude do aborto humanitário são: cas, e não somente ao trabalho;

z gravidez resultante de estupro; z Perigo de vida;


z prévio consentimento da gestante ou, quando z Debilidade permanente de membro, sentido ou
incapaz, de seu representante legal; função;
z execução por médico, se praticado por outras pes- z Aceleração do parto;
soas, respondem pelo crime.
Lesão Corporal Gravíssima
A prova do estupro pode ser feita por todos os A lesão corporal gravíssima irá se configurar se
meios admissíveis em direito. resultar:
Para a prática do aborto humanitário, não é neces-
sário processo (ação penal), autorização judicial e z Incapacidade permanente para o trabalho;
nem sentença condenatória. z Enfermidade incurável;
z Perda ou inutilização do membro, sentido ou
Ação Penal função;
z Deformidade permanente;
É pública incondicionada. z Aborto.

LESÕES CORPORAIS Tome cuidado para não se confundir:

Você pode entender lesão corporal como qualquer LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA
alteração provocada na integridade corporal ou na Debilidade permanente de Perda ou inutilização do
saúde de uma pessoa. membro, sentido ou função membro sentido ou função.
A lesão corporal é comum, material, instantâneo e
de forma livre, portanto, pode ser praticado por qual- Exemplo: Devido às lesões Exemplo: Devido às lesões
quer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins sofridas, a vítima perde 1 sofridas, a vítima perde a
de consumação, a conduta não se prolonga no tempo (um) dos olhos, mas ainda visão.
e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas, enxerga.
pauladas, tiros, socos, chutes, arranhões etc.).
As lesões corporais estão previstas no Artigo 129 do O Código Penal não divide as lesões em graves ou gra-
Código Penal e podem ser divididas da seguinte forma: víssimas. Para o CPB (Código Penal Brasileiro), todas elas
são graves. Esta divisão é uma construção doutrinária.
z Lesão corporal simples;
z Lesão corporal grave; Lesão Corporal Seguida de Morte
z Lesão corporal gravíssima;
z Lesão corporal seguida de morte; A lesão corporal seguida de morte irá ficar configu-
z Lesão corporal culposa; rada quando ficar configurado que o agente não que-
z Lesão corporal privilegiada. ria o resultado morte (dolo direto no resultado morte)
ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual no
As lesões corporais graves, gravíssimas e seguida resultado morte).
de morte compõem o grupo lesões corporais qualifi- Se o agente quer matar, ele responderá pelo
cadas, segundo a doutrina penalista. homicídio. Porém, caso o agente queira apenas cau-
Antes de analisarmos cada uma das lesões, vamos sar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe
falar da ação penal. se excedendo, provocando a morte da vítima, ele irá
O crime de lesão corporal é classificado como delito responder por lesão corporal seguida de morte, desde
não-transeunte, que é aquele que deixa vestígios, sen- que fique evidenciado que ele não quis nem assumiu
120 do necessário a realização de exame de corpo de delito. o risco de produzir o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um z Se o autor não procura diminuir as consequências
crime preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado do seu ato;
pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial z Se o agente foge para evitar prisão em flagrante.
e culpa no resultado produzido.
Nos casos de lesão corporal dolosa:
Lesão Corporal Culposa A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se:

A lesão corporal culposa é aquela que o agente não z A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
quer causar lesão corporal na vítima, mas a produz (sessenta) anos;
por ter sido imprudente, negligente ou imperito. z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima
É importante que você compreenda que não há ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos
gradações na lesão corporal culposa, ou seja, ela casos de violência doméstica vistas acima;
não se divide em leve, grave ou gravíssima, mas tão z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio-
somente irá ser lesão corporal culposa. lência doméstica vistas logo acima, for pessoa por-
No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o tadora de deficiência.
instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena se as consequências da infração penal A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a
atingirem o agente de forma que a aplicação de san- metade:
ção penal se torne desnecessária.
Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão cor- z Se a lesão corporal for praticada por milícia priva-
poral culposa da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu-
rança, ou por grupo de extermínio;
Lesão Corporal Privilegiada
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
Os motivos que levam o agente a praticar a lesão (dois terços):
corporal privilegiada são os mesmos do homicídio
privilegiado. z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agen-
Se o agente comete o crime impelido por motivo te das forças armadas (Marinha, Exército ou Aero-
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio náutica), das forças de segurança pública (Polícia
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provo- Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Fer-
cação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um roviária Federal, Policiais Civis, Policias Militares
sexto) a 1/3 (um terço). ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes do
É aplicável o instituto da substituição de pena nos sistema prisional (agentes penitenciários) e da For-
casos de lesão corporal. ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão pri- função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
vilegiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pes- companheiro ou parente consanguíneo até o ter-
soas se lesionam umas às outras), o juiz poderá ainda ceiro grau, em razão dessa condição.
substituir a pena de detenção pela de multa.
O Código Penal traz disposições específicas para os PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
casos de lesão corporal praticada no âmbito de violência
doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais grave, A periclitação da vida e da saúde são considera-
estando ele submetido a auto de prisão em flagrante e dos crimes de perigo, sendo criada, pelo autor do fato,
não somente a mero termo circunstanciado (salvo nos uma situação de perigo a que é exposta a vítima.
casos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte). Crimes de perigo são aqueles que não exigem a
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência efetiva ocorrência de dano, apesar de poder aconte-
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou cer, para que se configurem.
nos seguintes casos: Os crimes de perigo são divididos em:

z Ascendente; z Crimes de perigo concreto: é exigida uma com-


z Descendente; provação de que realmente aconteceu um risco
z Cônjuge ou companheiro; de perigo ou lesão ao bem jurídico protegido pela
z Quem conviva ou tenha convivido. norma penal.
z Crimes de perigo abstrato: Não se exige nenhuma
É importante mencionar que, caso a vítima seja comprovação, já que o perigo é presumido. Ex.:
mulher, teremos a aplicação da Lei Maria da Penha Um indíviduo dirigir após ter ingerido álcool.
e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação
penal será pública incondicionada. Iremos analisar os seguintes crimes: perigo de
DIREITO PENAL

Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime de contágeo venéreo, perigo de contágio de moléstia gra-
lesões corporais. Há diversas causas de aumento de pena ve; abandono de incapaz; exposição ou abandono de
para este crime, portanto, leia-as com bastante atenção. recém-nascido e omissão de socorro.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Perigo de Contágio Venéreo

z Se o crime resulta de inobservância de regra técni- Este crime fica configurado quando o agente expõe
ca de profissão, arte ou ofício; alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
z Se o agente deixa de prestar imediato socorro à libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que
vítima; sabe ou deve saber que está contaminado. 121
A forma qualificada deste crime se dá se o agente Ao contrário do crime de Perigo de Contágeo Venéreo,
tem a intenção de transmitir a moléstia venérea. Este procede-se mediante ação penal pública incondicionada.
crime somente se procede mediante representação, Antes de passarmos para a análise de outros tipos
ou seja, trata-se de crime promovido mediante ação penais, é importante que façamos uma distinção entre
penal pública condicionada. os dois tipos penais que acabamos de ver:
Moléstia venérea, segundo a doutrina, refere-se ao
nome genérico dado a qualquer doença que possa ser
transmitida por meio de relação sexual, como sifilis. PERIGO DE CONTÁGIO PERIGO DE CONTÁGIO
O crime se consuma com a prática do ato sexual, VENÉREO DE MOLÉSTIA GRAVE
capaz de transmitir a moléstia venérea. Caso a vítima seja
contaminada, tal fato será mero exaurimento do crime. A transmissão deve se dar A transmissão se dá por
O crime é de conduta vinculada, exigindo a conjun- por meio de relação sexual qualquer meio
ção carnal, o coito anal, o sexo oral ou qualquer outro
ato de libidinagem que sirva para a satisfação da libido. Transmite-se moléstia Transmite-se moléstia
Caso a contaminação provenha de outra ação físi- venérea grave
ca, como o aperto de mão ou a ingestão de alimen-
tos, inexistirá o crime de perigo de contágio venéreo, É norma penal em branco É norma penal em branco
podendo subsistir o delito de lesão corporal, dolosa ou
culposa, ou os crimes dos artigos 131 e 132, do CP. Não se exige dolo
Exige-se dolo específico
específico
Ação penal pública Ação penal pública
Importante! condicionada incondicionada
É importante mencionar, pela própria natureza do
tipo penal, que não se exige, para a sua configura- Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
ção simples, dolo específico do agente em trans-
mitir a doença venérea (caso ocorra esta hipótese, O art. 132, do CP, trata do crime de perigo para a
o crime será qualificado), bastando que ele tenha vida ou saúde de outrem:
a intenção de ter a relação sexual, sabendo ou
devendo saber que está contaminado. Art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a peri-
go direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato
Como o fato se relaciona a uma ou mais pessoas não constitui crime mais grave.
determinadas, estamos diante de um delito de perigo Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto
individual, o qual deve ser averiguado diante do caso a um terço se a exposição da vida ou da saúde de
concreto. Isso porque da simples relação sexual do outrem a perigo decorre do transporte de pessoas
agente com a vítima não decorre presunção absolu- para a prestação de serviços em estabelecimentos
ta da existência desse perigo. A presunção é relativa, de qualquer natureza, em desacordo com as nor-
admitindo prova em contrário, como no caso de a víti- mas legais.
ma já ser portadora de doença venérea.
A conduta nuclear é expor, ou seja, colocar em peri-
Perigo de Contágio de Moléstia Grave
go a vida, a integridade física ou a saúde de alguém. O
perigo é concreto, direto, iminente e anormal.
Este crime se configura quando o agente praticar,
com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que Perigo concreto refere-se a mera prática do compor-
está contaminado, ato capaz de transmitir o contágio. tamento ilícito não é suficiente para a caracterização
É necessário que o sujeito passivo, que pode ser do crime, sendo imprescindível que, em face da con-
qualquer pessoa, não seja contaminado pela moléstia duta do agente, a vítima tenha a sua vida, a sua integri-
grave que o sujeito ativo pretende transmitir. dade corporal ou a sua saúde exposta a risco de lesão.
A moléstia grave, neste caso, não precisa, necessa- Perigo direto visa a pessoa ou pessoas determinadas.
riamente, ser transmitida por meio de relação sexual, Perigo iminente, está prestes a ocorrer. Se a possibili-
podendo, entretanto, ser transmitida por qualquer dade de ocorrência do perigo é futura ou presumida, não
outro meio.
estará caracterizada a infração penal do art. 132, do CP.
Temos como exemplo o agente que, de qualquer
forma ou por qualquer meio, intencionalmente (exi- Perigo anormal, não decorre da atividade de profis-
ge-se o dolo específico de transmitir a doença) trans- sionais que trabalham com o risco, como o policial e o
mite à vítima a tuberculose (moléstia grave). bombeiro. Portanto, se o patrão não toma providências
Trata-se de norma penal em branco, complemen- para a segurança e proteção dos operários que traba-
tada por meio dos atos praticados por órgãos adminis- lham na fábrica de explosivos, e dessa inação resulta
trativos da área de saúde. uma situação concreta de perigo, estará configurado o
Mais uma vez, reitero: exige-se para a configura- crime do art. 132, do CP, na sua modalidade omissiva.
ção deste tipo penal o dolo específico, que consiste na
intenção do agente de transmitir a moléstia grave. Abandono de Incapaz
A doutrina não admite, para este crime, o dolo even-
tual, quando o agente não quer diretamente transmi-
tir a doença, mas assume o risco de transmiti-la. O crime de abandono de incapaz se configura
Trata-se de crime formal, que se consuma com a quando o agente abandona pessoa que está sob seu
prática do ato destinado a transmitir a moléstia grave, cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qual-
não se exigindo, para fins de consumação, a efetiva quer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resul-
122 transmissão da moléstia. tantes do abandono.
São formas qualificadas do crime de abandono de Ainda, conforme doutrina majoritária, trata-se de
incapaz: crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo
pai ou pela mãe que buscam ocultar desonra própria.
z Se do abandono, resulta lesão corporal de natureza Ex.: Mãe que expõe ou abandona o filho recém-
grave; -nascido numa lata de lixo para ocultar uma desonra
z Se do abandono, resulta a morte. (sua infidelidade).
O crime será promovido mediante ação penal
Você pode se perguntar sobre quem configura pública incondicionada.
incapaz. Incapaz refere-se a qualquer pessoa que não
tenha condições de se proteger sozinha, podendo ficar Omissão de Socorro
exposta, em razão do abandono, a situação de perigo.
O crime de omissão de socorro está previsto no
Tenha como exemplo o pai que deixa o filho, de ape-
artigo 135 do Código Penal. Irá se configurar quando
nas dois anos de idade, sozinho em casa. Esta criança
o agente deixar de prestar assitência, quando possível
não tem capacidade de se defender sozinha, configu- fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
rando, assim, o tipo penal de abandono de incapaz. extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desam-
Para que o crime de abandono de incapaz seja qua- paro ou em grave e iminente perigo; ou não pedir,
lificado, é necessário que o resultado seja lesão corpo- nesses casos, o socorro da autoridade competente.
ral grave ou a morte. Caso resulte apenas lesão corporal Não se aplica este tipo penal ao agente que cau-
de natureza leve – bastante explorado pelas bancas – o sou o perigo. Assim, se um indivíduo, com a intenção
crime será configurado em sua modalidade simples. de causar lesões corporais, arremessa uma pedra na
Veja características do crime de abandono de incapaz: vítima e foge, não poderá ele ser responsabilizado por
omissão de socorro por não ter prestado socorro à
z É crime próprio, já que se exige uma condição vítima ou por não ter comunicado o fato à autoridade.
especial do agente: ser pessoa que tem o cuidado, Fique atento às seguintes informações sobre a
guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima; omissão de socorro:
z É crime formal, que não exige que ocorra qualquer
coisa com o abandonado (vítima) para fins de con- z Não admite tentativa (é crime omissivo próprio);
sumação do crime. z Não admite a modalidade culposa.

A pena prevista para o crime de abando de incapaz é: Dica


Fique bastante atento às causas de aumento de
Art. 133 Abandonar pessoa que está sob seu cui-
pena do crime de omissão de socorro.
dado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
Em 2012, foi inserido no Código Penal um novo tipo
resultantes do abandono:
penal, chamado de condicionamento de atendimento
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
médico-hospitalar emergencial, que se configura quan-
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de
do o agente exigir cheque-caução, nota promissória ou
natureza grave:
qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
de formulários administrativos, como condição para o
§ 2º - Se resulta a morte:
atendimento médico-hospitalar emergencial.
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Suponha que um indivíduo ingresse em um hos-
pital necessitando de atendimento médico emergen-
As penas cominadas neste artigo aumentam-se de cial. O funcionário do hospital exige que ele deixe um
um terço: cheque-caução para que o atendimento médico seja
realizado. Pronto, a situação configurou-se como tipo
z se o abandono ocorre em lugar ermo; penal de condicionamento de atendimento médico-
z se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, -hospitalar emergencial.
irmão, tutor ou curador da vítima; É necessário que o atendimento médico seja emer-
z se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. gencial. Assim, este crime não ira se configurar caso
o atendimento médico seja algo rotineiro, com uma
Exposição ou Abandono de Recém Nascido simples consulta, por exemplo.
O crime de omissão de socorro apresenta causas
O crime de exposição ou abandono de recém-nas- de aumento de pena.
cido se configura quando o agente expõe ou abandona A pena será aumentada até o dobro se da negativa
recém-nascido, para ocultar desonra própria. de atendimento resulta: lesão corporal grave.
A pena será aumentada até o triplo se da negativa
Este crime será praticado na modalidade qualifica-
de atendimento resulta: morte.
da se do fato resultar:
DIREITO PENAL

Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar


z Lesão corporal de natureza grave; Emergencial
z Morte.
O art. 135-A, do CP, tipifica o crime de exigir che-
Este crime exige dolo específico, ou seja, um espe- que-caução, nota promissória ou qualquer garantia,
cial fim de agir, que consiste na prática da conduta bem como o preenchimento prévio de formulários
para ocultar desonra própria. administrativos, como condição para o atendimento
Segundo a doutrina majoritária, é exigido que o médico-hospitalar emergencial.
recém-nascido fique exposto à situação concreta de O crime é próprio, pois somente poderá ser prati-
perigo para que o crime se consume. cado por representantes ou funcionários hospitalares 123
(sócios, administradores, atendentes, seguranças) ou No caso de ocorrer uma briga entre a torcida do Corin-
profissionais da área da saúde (médicos, enfermeiros) thians e a torcida do Palmeiras, não há que se falar no
incumbidos do atendimento emergencial. crime de rixa, já que temos 2 (dois) grupos bem definidos.
O sujeito ativo deve ser a pessoa com poderes para Aquele que participa da rixa, apenas com a finali-
exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer
dade de separar os contendores não irá responder por
garantia, bem como o preenchimento prévio de for-
este tipo penal.
mulários administrativos, como condição para o aten-
dimento médico-hospitalar emergencial. O crime de rixa não admite a forma culposa.
Para esse crime, a pena cominada é detenção, de Sobre este crime, é importante que você fique
três meses a um ano, e multa. atento aos posicionamentos da doutrina dominante.
A pena é aumentada até:
z Não admite tentativa;
z o dobro se da negativa de atendimento resulta z Consuma-se quando se inicia a rixa ou, caso já ini-
lesão corporal de natureza grave; ciada, quando o agente entra na rixa;
z o triplo se resulta a morte. z Pode ser praticado à distância, não se exigindo que
necessariamente ocorre contato físico.
Maus-Tratos
Ex.: Rixa em que os agentes jogam pedras, garrafas
O crime de maus-tratos, definido no art. 136, do CP, ou mesas uns nos outros.
é a conduta de expor a perigo a vida ou a saúde de pes- A rixa será qualificada quando ocorrer, devido
soa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim à rixa, lesão corporal de natureza grave ou a morte.
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer pri- Segundo a doutrina majoritária, salvo no caso de ser
vando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, possível se identificar corretamente o autor da lesão
quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, grave ou da morte, todos os agentes que participaram
quer abusando de meios de correção ou disciplina. da rixa irão responder pela modalidade qualificada,
O crime de maus-tratos consuma-se com a efetiva exceto, também, se tiverem ingressado na rixa após a
exposição da vítima a perigo, que deverá ser demons- ocorrência da lesão grave ou da morte.
trada no caso concreto. Não há, portanto, necessidade
de resultado material, com dano efetivo à vítima. CRIMES CONTRA A HONRA
É crime permanente, na modalidade privação de
cuidados ou alimentos e sujeição a trabalho excessivo Os crimes contra a honra estão entre aqueles que
ou inadequado, o delito é permanente, hipótese em mais são cobrados em provas de concurso público,
que a consumação se prolonga no tempo, já que há então vamos aprendê-los passo a passo.
contínua e incessante agressão ao bem jurídico. Eles estão previstos entre os artigos 138 e 145 do
Também é crime instantâneo, na modalidade Código Penal e se dividem em 3 (três) crimes diferentes:
abuso de meios de correção ou disciplina o delito é
instantâneo, já que a consumação se dá em momento z Calúnia;
determinado, sem continuidade no tempo. No entan- z Difamação;
to, entendemos que se o pai, com o fim de aplicar z Injúria.
castigo ao filho, trancá-lo por tempo excessivamente
prolongado, haverá crime permanente. Antes de analisarmos cada um dos tipos penais, é
A tentativa somente será possível nas formas importante que você compreenda que se protege a hon-
comissivas, como no caso do agente que amarra a ra da pessoa, na sua modalidade objetiva e subjetiva.
vítima e apanha um porrete, a fim de agredi-la, sendo A honra é classificada em:
neste exato momento surpreendido. As modalidades
omissivas não aceitarão a forma tentada. É o conceito que o indiví-
O crime qualificado se resulta: duo possui perante seus
pares em relação aos seus
z lesão corporal de natureza grave; atributos morais, éticos, fí-
z morte. HONRA OBJETIVA
sicos e intelectuais. Refe-
(HONRA EXTERNA)
re-se ao apreço e respeito
Porém, aumenta-se a pena de um terço, se o cri- da pessoa no grupo so-
me é praticado contra pessoa menor de 14 anos.  cial. É a reputação social
da pessoa;
RIXA
É o conceito que o indi-
A rixa está prevista no artigo 137 do Código Penal. víduo possui de sua pró-
O crime irá ocorrer quando o agente participar de pria dignidade e decoro,
rixa, salvo para separar os contendores. HONRA SUBJETIVA trata-se do autoconceito
Estamos diante de crime de concurso necessário, (HONRA INTERNA) dos atributos morais, éti-
que só irá existir caso presente no mínimo 3 (três) pes- cos, físicos e intelectuais.
soas, umas contra as outras. Caso seja possível definir Refere-se ao nosso amor-
dois grupos específicos (grupo A x grupo B), este tipo -próprio e autoestima;
penal não irá existir.
Como o próprio nome diz,
Para que a rixa se configure, exige-se que haja no
HONRA ESPECIAL OU é aquela referente a deter-
mínimo três grupos distintos (independentemente
PROFISSIONAL minado grupo social ou
da quantidade de pessoas que integre cada grupo) se
profissional.
124 agredindo mutuamente.
Dica Mas se o réu conseguir provar que o fato que impu-
tou à vítima é verdadeiro ele será absolvido.
Honra objetiva é aquilo que as pessoas (grupo
É importante destacar que a calúnia é crime for-
social) pensam sobre o indivíduo; mal, que se consuma com a prática da conduta, inde-
Honra subjetiva é aquilo que o indivíduo pensa pendentemente de o agente conseguir macular a
sobre si mesmo. honra objetiva da vítima.
Observe que o objeto jurídico protegido é a honra
Calúnia objetiva, que consiste na reputação que a pessoa possui
na sociedade.
A calúnia, que protege a honra objetiva, está
prevista no artigo 138 do Código Pena, configura-se
quando o agente caluniar alguém, imputando-lhe fal- Importante!
samente fato definido como crime.
Exige-se que o fato imputado falsamente seja defi- Observe que os crimes contra a honra dos Che-
nido com um crime, não podendo ser uma mera con- fes dos Três Poderes, com exceção da injúria,
travenção penal. O crime pode ter acontecido ou não, (Presidente da República, Presidente do Senado
para fins de consumação deste tipo penal. Federal, Presidente da Câmara dos Deputados
Ex.: Joãozinho diz que Pedrinho praticou um rou-
e Presidente do Supremo Tribunal Federal), em
bo a padaria da esquina de onde moram, sabendo ser
falso. Pronto, Joãozinho praticou o crime de calúnia. caso de motivação política, configurará delito
O crime de calúnia não admite a modalidade cul- contra a Segurança Nacional.
posa e, segundo doutrina majoritária, pode ser prati-
cada, além do dolo direto, por dolo eventual.
Excepcionalmente, é proibida a prova da verdade,
Não é exigido que o crime seja praticado na moda-
em três hipóteses previstas no § 3º do art. 138.
lidade verbal, podendo ser praticado por outros
Nessas três hipóteses do § 3º do art. 138, do CP, ain-
meios, como por exemplo da modalidade escrita.
da que verdadeira a imputação, o crime de calúnia
Em regra, a calúnia é crime unissubsistente, que
não será excluído.
se perfaz com a prática de um único ato, não sendo
Observa-se a possibilidade da calúnia incidir sobre
possível o fracionamento do seu iter criminis, entre-
o fato verdadeiro nessas três hipóteses em que a lei
tanto, caberá tentativa quando for possível promover
proíbe a exceção da verdade. A primeira ocorre quan-
este fracionamento, a exemplo de calúnia praticada
do o fato imputado constituir delito de ação privada e
por meio de uma carta.
o ofendido não houver sido condenado por sentença
Em se tratando de intenção de brincar (animus
transitada em julgado. A vedação é justificada pelo
ludendi) por parte do agente, não há que se falar no
princípio da disponibilidade da ação penal privada,
crime de calúnia. que pode ou não ser ajuizada, consoante a exclusiva
Pune-se a calúnia praticada contra os mortos (nes- vontade do ofendido ou de seu representante legal.
te caso, o sujeito passivo será família do morto): A segunda hipótese em que não se admite a exce-
ção da verdade é quando a ofensa for irrogada contra
z Segundo parte da doutrina, é possível que a calúnia o presidente da República, ou chefe de governo estran-
seja praticada contra pessoa jurídica, se o fato falsa- geiro. Justifica-se a proibição pela alta relevância polí-
mente imputado for referente a crime ambiental; tica desempenhada pelo presidente da República,
z Equipara-se à calúnia, incorrendo nas mesmas que não pode ficar à mercê de qualquer acusação.
penas, a conduta daquele que, sabendo falsa a No tocante ao chefe de governo estrangeiro, expres-
imputação, a propala (espalha) ou divulga. são que abrange o primeiro-ministro e o presidente, a
proibição encontra suas raízes na política de diploma-
O crime de calúnia se consuma quando o fato che- cia que deve reinar nas relações internacionais.
ga ao conhecimento de um terceiro, distinto do autor A terceira hipótese de proibição da vedação se dá
e da vítima, já que o crime tutela a honra objetiva. quando o ofendido tiver sido absolvido por senten-
A calúnia admite, como regra, a exceção da verda- ça transitada em julgado do fato criminoso que lhe é
de, que nada mais se trata de prova da verdade, que é a imputado, respeitando a coisa julgada.
possibilidade que tem o agente de demonstrar que o fato
que ele imputou realmente aconteceu. Porém, em algu- Difamação
mas hipóteses não será admitida a exceção da verdade.
Admite-se a prova da verdade, salvo: A difamação que, assim como a calúnia, tutela a hon-
ra objetiva da pessoa, está prevista no Artigo 139 do CPB.
z se, constituindo o fato imputado crime de ação pri- A difamação se configura quando o agente difamar
vada, o ofendido não foi condenado por sentença alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação.
irrecorrível; Ex.: Suponha que Lili diga para um grupo de vizinhos
z se o fato é imputado a qualquer das pessoas indica- que Márcia, também vizinha, é garota de programa e
das no inciso I do art. 141; atende aos clientes no período noturno em sua residência.
DIREITO PENAL

z se do crime imputado, embora de ação pública, o A conduta praticada por Lili configura o crime de
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. difamação.
Observe que o fato imputado não constitui um cri-
Como regra, admite exceção da verdade, ou seja, me, podendo, inclusive, constituir uma contravenção
admite que o réu prove que a vítima realmente prati- penal. Entretanto, caso constitua crime, será calúnia.
cou o crime que lhe foi imputado. A difamação irá ocorrer, independentemente de
No entanto, nos casos de o crime imputado, embo- o fato imputado ser verdadeiro ou não. A difamação,
ra de ação pública, o ofendido tenha sido absolvido assim como a calúnia, também se consuma quando o
por sentença irrecorrível, há uma presunção de que a fato chega ao conhecimento de um terceiro, distinto
imputação é falsa, respondendo o agente por ela. do autor e da vítima, já que também protege a honra 125
objetiva. Trata-se de crime formal e irá se configurar É possível que a injuria seja racial, quando consis-
ainda que a conduta não desonre objetivamente a tir na utilização de elementos referentes a raça, cor,
vítima. etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou
Não há difamação praticada na modalidade cul- portadora de deficiência.
posa. É possível a tentativa da difamação, quando for Você deve levar para sua prova os elementos que
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa- podem caracterizar a injuria racial, já que esse assunto
mação cometida por meio de carta. tem grande incidência em provas.Sendo assim, caso o
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime agente ofenda a vítima, fazendo uso de um dos elemen-
de difamação. tos acima, a exemplo do agente que chama a vítima de
Na difamação, a exceção da verdade não pode ser macaco (Utilize como exemplo o caso do ex-goleiro do
aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a Santos Futebol Clube, o Aranha, que fora chamado de
ofensa é relativa ao exercício da função. Macaco), irá cometer o crime de injúria racial.
Fique atento para não confundir a injúria racial
Injúria com o crime de racismo.
Na injúria racial, o animus do agente é ofender;
A injúria, que tutela a honra subjetiva do agente, no racismo, o animus é segregar.
está prevista no Artigo 140 do Código Penal, e se confi- O STJ entendeu, na análise do AREsp (agravo
gura quando o agente injuriar alguém, ofendendo-lhe em recurso especial), que a injúria racial é crime
a dignidade ou o decoro. imprescritível.
Na injúria, o agente ofende a dignidade e o deco-
ro da vítima, emitindo ofensa depreciativa, mas sem
imputar a ele fato definido como crime ou ofensivo
Importante!
a sua reputação. Exemplo: Fernando xinga Leandro,
chamando o de burro e idiota. Nos termos do art. 138, § 2º, do CP é punível a
A conduta de Fernando configura o crime de injúria. calúnia contra os mortos.
Na injúria, há lesão à honra subjetiva da vítima, ou Observe-se que não há a mesma previsão para
seja, se afeta o sentimento da pessoa em relação aos difamação e injúria.
seus próprios atributos morais (dignidade), físicos e Nos casos de difamação e injúria o sujeito passi-
intelectuais (decoro). Não é necessário que o fato che-
vo não é o morto, mas familiar seu.
gue ao conhecimento de um terceiro.
A injuria também é crime formal, consumando-se
com a prática da conduta, independentemente de a Disposições Comuns
vítima sentir lesada ou não a sua honra subjetiva.
A injuria só pode ser praticada dolosamente, não sen- Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
do admitida a modalidade culposa. É admitida a tentativa aos crimes contra a honra em geral (calúnia, difamação
de injuria, quando o iter criminis puder ser fracionado. e injúria).
Lembre-se que a injuria, assim como os demais A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
crimes contra a honra, pode ser praticada por outros me contra a honra for praticado:
meios e não somente de forma verbal.
A injúria não admite exceção da verdade. z Contra o Presidente da República, ou contra chefe
Sendo assim, é importante que você leve em consi- de governo estrangeiro;
deração o seguinte: z Contra funcionário público, em razão de suas
funções;
EXCEÇÃO DA VERDADE z Na presença de várias pessoas, ou por meio que
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria;
Calúnia É admitida como regra z Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou por-
tadora de deficiência, exceto no caso da injúria (a
É admitida pena não irá aumentar de 1/3 no caso de injúria
Difamação
excepcionalmente praticada contra pessoa maior de 60 anos ou por-
tadora de deficiência).
Injúria Não é admitida
A pena será aplicada em dobro se o crime contra a
honra for praticado:
Na injúria, o juiz pode deixar de aplicar a pena nos
seguintes casos: z Mediante paga ou promessa de recompensa.

z Quando o ofendido, de forma reprovável, provo- Veja as hipóteses de exclusão dos crimes contra a
honra.
cou diretamente a injúria;
Não constituem injúria ou difamação punível:
z No caso de retorsão imediata, que consista em
outra injúria.
z A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
pela parte ou por seu procurados;
Conheça a injúria real, ela se configura quando a z A opinião desfavorável da crítica literária, artística
injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por ou científica, exceto quando inequívoca a intenção
sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem de injuriar ou difamar – responderá pela injúria
aviltantes. Assim, caso o agente desfira um tapa no ou pela difamação quem der publicidade;
rosto da vítima, com a intenção de ofendê-la (humi- z O conceito desfavorável emitido por funcionário
126 lhá-la), irá praticar uma injúria real. público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever de ofício – responderá pela se extrai que qualquer espécie de violação à liberdade
injúria ou pela difamação quem der publicidade. do ser humano reclama punição.
O objeto jurídico é a liberdade do ser humano para
Para encerrarmos o assunto referente aos crimes agir dentro dos limites legais.
contra a honra, iremos tratar da retratação e da ação Já o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a
penal. Segundo o Código Penal, a retratação, quando conduta criminosa.
admitida, constitui excludente de punibilidade. Estudaremos, então, os crimes contra a liberdade
Retratação refere-se à possibilidade que tem o individual.
agente de retirar aquilo que disse, ou seja, de mani-
festar que se equivocou em suas declarações, mani- Constrangimento Legal
festando-se contrariamente ao que disse inicialmente.
A injúria não admite retratação. O querelado que, Trata-se de crime comum que não admite a modali-
antes da sentença (segundo doutrina majoritária: sen- dade culposa. É a imposição ilegal à vítima de um com-
tença de 1º grau), se retrata cabalmente da calúnia ou portamento certo e determinado, comissivo ou omissivo.
da difamação, fica isento de pena. Consuma-se o crime de constrangimento ilegal no
Caso o querelado tenha praticado a calúnia ou instante em que a vítima faz ou deixa de fazer algo, em
difamação, fazendo uso de meios de comunicação, a decorrência da violência ou grave ameaça utilizada
retratação se dará, caso assim deseje o ofendido, pelos pelo agente. Admite tentativa.
mesmos meios em que se praticou a ofensa. Ação penal: pública incondicionada.
Suponha que o agente tenha praticado o crime O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra-
de calúnia ou difamação pelo Facebook. Neste caso, ta-se de crime comum.
a retratação se dará também pelo Facebook, se assim Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato
desejar a vítima. for cometido no exercício de suas funções, responderá
Caso alguém faça uso de referências, alusões ou por abuso de autoridade, na forma na Lei 13.869/2019.
frases, sendo possível inferir calúnia, difamação ou O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde
injúria, aquele que se julgar ofendido, poderá pedir que dotada de capacidade de autodeterminação.
explicações em juízo. Caso seja recusado o pedido de A Lei nº 10.741/2003, Estatuto do Idoso, em seu art.
explicações ou, a critério da autoridade judicial, não 107, pune com reclusão, de 2 a 5 anos, aquele que coa-
as dá de maneira satisfatória, responderá pela ofensa. ge, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar
Por fim, sobre a ação penal nos crimes contra a ou outorgar procuração.
honra, é importante que você saiba: A Lei nº 7.170/1983, Crimes contra a Segurança
Nacional, no art. 28, sujeita à pena de reclusão, de 4 a 12
anos, a conduta de atentar contra a liberdade pessoal do
AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA
Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara
Regra Exceções dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal.
A Lei nº 8.078/1990, Código de Defesa do Consumi-
Ação será publicada con- dor, no art. 71, prevê a pena de detenção, de 3 a 1 ano,
dicionada, nos casos de: e multa, para quem utilizar, na cobrança de dívidas,
de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,
z Injúria real; afirmações falsas, incorretas ou enganosas, ou de
Ação será privada,
z Injúria racial; qualquer outro procedimento que exponha o consu-
procedendo-se mediante
z Se os crimes contra a midor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com
queixa
honra foram pratica- seu trabalho, descanso ou lazer.
dos contra funcioná- Irá se configurar como constrangimento ilegal
rio público, em rezão quando o agente constranger alguém, mediante
de suas funções. violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
Súmula 714 do STF, é concorrente a legitimidade do resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer
ofendido, mediante queixa e do Ministério Público, o que ela não manda.
condicionada à representação do ofendido, para a O crime de constrangimento ilegal irá ocorrer quan-
ação penal por crime contra a honra de servidor do o agente, fazendo uso de violência ou grave ameaça,
público em razão do exercício de suas funções. fazer com que a vítima faça algo que a lei não manda ou
que a vítima deixe de fazer algo que a lei lhe permite.
Logo, fiquem atentos a esta informação: nos casos Exemplo: Jorge e Luís são vizinhos. Jorge é um
de crimes contra a honra de funcionário público em valentão que se sente dono do bairro. Certo dia, Luís
razão de suas funções, a ação penal será privada ou passava pela rua, quando Jorge o aborda. Este, por-
condicionada à representação do ofendido. A doutri- tando uma arma de fogo, saca a arma e a aponta para
na dominante também entende desta forma. Luís e diz que, sob pena de levar um tiro na cara, é
DIREITO PENAL

A ação será pública condicionada à requisição do para este dar meia volta e passar por outro lugar,
Ministro da Justiça caso a conduta que configura cri- já que não o quer mais passando por sua rua. Luís,
me contra a honra seja praticada contra o Presidente temendo por sua vida, dá meia volta e retorna.
da República, ou contra chefe de governo estrangeiro. A conduta de Jorge se enquadra no constrangi-
mento ilegal. Ele, fazendo uso de grave ameaça, cons-
CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL E CRIMES trangeu Luís para que ele deixasse de fazer algo que a
CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL lei lhe permite (liberdade de locomoção).
A doutrina entende corretamente que o crime
O art. 5º, caput, da Constituição Federal assegura a de constrangimento ilegal é subsidiário, o agente
todos o direito à liberdade. A partir dessa afirmação por ele irá responder, caso não seja enquadrado em 127
uma outra conduta um tanto mais grave. Assim, caso Em regra, não cabe tentativa, já que se trata de cri-
o agente constranja a vítima, por meio de violência, me unissubsistente, que se consuma com a prática de
para que ela deixa de fazer alguma coisa, com o fim um único ato, porém, a doutrina majoritária admite
de obter para si vantagem econômica, não irá cometer a tentativa se a ameaça for praticada na modalidade
constrangimento ilegal, mas sim o crime de extorsão. escrita – por meio de uma carta, por exemplo.
O constrangimento ilegal admite tentativa, já que é A doutrina admite a ameaça condicionada, que
crime plurissubsistente, é crime comum, que pode ser ocorrerá quando o agente colocar uma condição para
praticado por qualquer pessoa. a prática do mal injusto e grave. Exemplo: Mévio diz a
Além das penas previstas para o constrangimento Tício: se você não fizer pelo menos um gol na final do
ilegal, o agente irá responder pelas penas correspon- campeonato, eu irei te matar.
dentes à violência, assim, caso o agente pratique o cri- O crime de ameaça se procede mediante ação
me por meio de violência, provocando lesões corporais penal pública condicionada à representação.
na vítima, ele responderá por constrangimento ilegal
em concurso material com o crime de lesões corporais. Sequestro e Cárcere Privado
A pena será aplicada cumulativamente e em dobro
quando, para a execução do crime: Antes de iniciarmos o estudo deste crime, é impor-
tante que você compreenda a diferença entre o
z Reúnem-se mais de 3 (três pessoas) – deve haver sequestro e o cárcere privado.
no mínimo 4 (quatro) pessoas;
No sequestro, ocorre restrição de liberdade da
z Há emprego de arma – segundo a doutrina domi-
vítima, mas ela não fica necessariamente mantida em
nante, pode ser qualquer arma e não necessaria-
recinto fechado. Já no cárcere privado, necessaria-
mente arma de fogo.
mente a vítima terá sua liberdade restringida, sendo
mantida em recinto fechado.
Não irão ser enquadrados como constrangimento
ilegal: O crime de sequestro e cárcere privado se configu-
ra quando o agente privar alguém de sua liberdade,
z A intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen- mediante sequestro ou cárcere privado.
timento do paciente ou de seu representante legal,
caso justificada por iminente perigo de vida;
z A coação exercida para impedir o suicídio. Importante!
Quando falamos em cárcere privado, estamos
Ameaça pensando em confinamento, clausura, já quando
falamos em sequestro, estamos considerando
O crime de ameaça, previsto no Artigo 147 do Códi-
limites espaciais mais amplos.
go Penal, irá se configurar quando o agente ameaçar
alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer Ambos consistem na privação da liberdade da
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. vítima, sem o seu consentimento, por tempo
O bem jurídico tutelado pela lei penal é a liberdade juridicamente relevante. Podem ser cometidos
da pessoa humana, notadamente no tocante à paz de mediante detenção ou retenção.
espírito, ao sossego, à tranquilidade e ao sentimento
de segurança.
É a pessoa contra a qual se dirige a ameaça. A tentativa é possível, tanto no sequestro como no
Consuma-se quando a vítima toma conhecimento cárcere privado.
do conteúdo da ameaça, pouco importando sua efe- O objeto jurídico é a liberdade de locomoção, con-
tiva intimidação e a real intenção do autor em fazer sistente no direito de ir, vir e permanecer, de toda e
valer sua promessa. qualquer pessoa humana.
O crime é formal, de consumação antecipada ou de Tão relevante é esse direito que a CF/88 prevê o
resultado cortado. queira o agente intimidar, e tenha habeas corpus como garantia para zelar pelo seu res-
sua ameaça capacidade para fazê-lo. peito, sempre que alguém sofrer ou se achar ameaça-
A tentativa é admissível nas hipóteses de ameaça do de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
escrita, simbólica ou por gestos, e incompatível nos locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
casos de ameaça verbal. O objeto material é a pessoa humana que suporta
Não se reclama nenhuma finalidade específica, e a conduta criminosa.
não se admite a modalidade culposa. A Ação penal é Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Se, toda-
pública condicionada à representação. via, tratar-se de funcionário público, no exercício das
É possível verificar que o crime de ameaça e de
suas funções, estará caracterizado o crime de abuso
ação livre, podendo ser praticado de qualquer forma
de autoridade.
pelo agente: verbalmente, por escrita, gestualmente,
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Se a víti-
entre outras formas.
ma for ascendente, descendente, cônjuge, ou compa-
Assim, caso um indivíduo olhe para um desafeto
e faça o gesto de uma arma com a mão e aponte para nheiro do agente, ou pessoa com idade superior a 60
este, o crime de ameaça poderá se configurar. (sessenta) anos ou inferior a 18 (dezoito) anos, inci-
É muito importante que você compreenda que a de a figura qualificada (CP, art. 148, § 1º, inc. I ou IV).
ameaça está relacionada a um mal “injusto” e “grave”, Se a vítima for o Presidente da República, do Senado
contrário ao direito. Caso o agente ameace, por exem- Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo
plo, de entrar na justiça para cobrar uma dívida (mal Tribunal Federal, estará caracterizado crime contra a
justo), ele não irá cometer o crime de ameaça previsto Segurança Nacional (art. 28, da Lei 7.170/1983).
no artigo 147 do CPB. O elemento subjetivo é o dolo, sem qualquer fina-
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado lidade específica. Não se admite a modalidade culpo-
128 por qualquer pessoa. sa. Se o propósito do agente for obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço na conduta agressiva do agente que ofende a moral, o
do resgate, o crime será de extorsão mediante seques- corpo ou a saúde da vítima, sem produzir lesão corpo-
tro (CP, art. 159). Se o delito for cometido com fins libi- ral. Se ocorrer lesão corporal ou morte haverá concurso
dinosos, incidirá a figura qualificada definida pelo art. material entre o sequestro ou cárcere privado, na for-
158, § 1º, V, do CP./ ma simples, e o crime de lesão corporal ou homicídio.
O consentimento da vítima, se válido, exclui o crime. Por fim, saiba que este crime é comum, podendo ser
Este crime apresenta formas que o qualificam, praticado por qualquer pessoa e permanente (muito
vejamos elas. importante que você fique atento à Súmula 711 do STF
Será qualificado o crime de sequestro e cárcere – A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
privado: ou ao crime permanente se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência).
z Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou Ex.: determinado agente pratica vários crimes em
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) continuidade delitiva. Os primeiros atos são praticados
anos: sob a égide de uma lei anterior menos grave. Os últimos
atos são praticados sob a vigência de uma lei posterior
A maior gravidade da conduta repousa no fato de mais gravosa. Aplica-se ao crime continuado ou crime
ter sido o crime praticado no âmbito das relações fami- permanente a sob cuja égide tenha cessado a continui-
liares, no seio da união estável, ou ainda contra pessoa dade, isto é, a última lei, mesmo que seja mais grave.
idosa, mais frágil em razão da avançada idade, e, con-
sequentemente, com menor possibilidade de defesa. Redução à Condição Análoga à de Escravo

z Se o crime é praticado mediante internação da víti- Este crime irá se configurar quando o agente redu-
ma em casa de saúde ou hospital: zir alguém a condição análoga (similar) à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
Crime conhecido como internação fraudulenta, exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes
pode ser praticado por médico ou por qualquer outra de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,
pessoa. sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto.
z Se a privação da liberdade dura mais de 15 (quin- A doutrina o classifica como crime de ação múltipla.
ze) dias (inc. III): quanto mais longa a supressão da O tipo penal apresenta duas hipóteses equipara-
liberdade, maiores são as possibilidades de a víti- das, respondendo o agente com as mesmas penas do
ma suportar danos físicos e psíquicos. tipo penal principal.
Incorrerá nas mesmas penas aquele que cerceia o
Trata-se de crime a prazo. O período legalmente uso de qualquer meio de transporte por parte do traba-
exigido deve ser computado em conformidade com lhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho e aquele
a regra traçada pelo art. 10, do CP, compreendendo o que mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou
intervalo entre a consumação do delito e a libertação se apodera de documentos ou objetos pessoais do traba-
do ofendido. lhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Observe o exemplo: Silvio, fazendeiro conhecido
z Se o crime é praticado contra menor de dezoito no interior de Goiás, coloca como jornada de traba-
anos: lho para os funcionários de sua fazenda a carga horá-
ria de 15 (quinze) horas diárias, pagando a eles um
Aplica-se às hipóteses em que a vítima é criança ou valor muito pequeno como contraprestação. Silvio se
adolescente e, nesse último caso, impede a utilização recusa a fornecer transporte para os trabalhadores
da agravante genérica prevista no art. 61, II, “h”, do irem embora, já que, segundo ele, eles o devem valo-
CP. Não se confunde com o crime tipificado no art. 230, res referentes à moradia fornecida pela fazenda, não
da Lei nº 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adoles- dispondo eles de outra maneira de ir para casa senão
cente, que apresenta crime menos rigoroso. pelo transporte da fazenda. Silvio está cometendo o
tipo penal que estamos estudando.
z Se o crime é praticado com fins libidinosos: O crime de redução à condição análoga à de escra-
vo não admite a modalidade culposa, podendo ser
Esse inciso foi acrescido pela Lei nº 11.106/2005 praticado apenas dolosamente.
para suprir a lacuna surgida em razão da revogação É também crime permanente, portanto, sua con-
do crime de rapto, que cuidava somente da privação duta se prolonga no tempo.
da liberdade de mulher honesta. Atualmente, a qua- Vejamos as causas de aumento de pena:
lificadora consiste na privação da liberdade de uma
pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. Trata-se
z Contra criança ou adolescente;
de crime formal, de resultado cortado ou de consu-
z Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, reli-
mação antecipada – consuma-se com a privação da
DIREITO PENAL

gião ou origem.
liberdade, desde que o sujeito deseje praticar atos
libidinosos com a vítima, pouco importando se alcan-
Tráfico de Pessoas
ça ou não o fim almejado. Se envolver-se sexualmen-
te com a vítima, responderá, em concurso material,
pelo delito em apreço e pelo respectivo crime contra a Irá praticar o crime de tráfico de pessoas o agente
liberdade sexual, tal como o estupro. que agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,
O § 2º qualifica o crime se resultar à vítima, em comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave
razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, gra- ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
ve sofrimento físico ou moral. Estamos diante de crime finalidade de remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do
qualificado pelo resultado. Os maus-tratos consistem corpo, submetê-la a trabalhos em condições análogas 129
à de escravo; submetê-la a qualquer tipo de servidão; Crimes Contra a Inviolabilidade do Domicílio
adoção ilegal ou exploração sexual.
O tipo penal de tráfico de pessoas é misto alterna- O agente que entrar ou permanecer, clandestina ou
tivo, podendo ser praticado mediante a execução de astuciosamente, ou contra vontade expressa ou tácita
qualquer um dos seus 8 (oito) verbos. de quem de direito, em casa alheia ou em suas depen-
Importante levar em consideração que, para dências irá cometer o crime de violação de domicílio.
compreender este tipo penal, é importante que você O crime de violação de domicílio é crime de mera
conheça os verbos, os meios empregados para a práti- conduta, já que a lei não descreve a conduta, mas não
ca do crime e as finalidades. descreve resultado naturalístico, é, também, crime
comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
MEIOS Tutela-se, nesse crime, a tranquilidade doméstica,
VERBOS FINALIDADES abrangente da intimidade, da segurança e da vida pri-
EMPREGADOS
vada proporcionadas pelo domicílio.
Agenciar Remover A incriminação da violação de domicílio não pro-
órgãos, tecidos tege a posse ou a propriedade.
Aliciar ou partes do Observa-se, não configura o delito em análise o ingres-
Grave Ameaça corpo; so em casa abandonada ou desabitada, podendo restar
Submeter a caracterizado o crime de esbulho possessório, previsto no
Recrutar
trabalhos em art. 161, § 1º, II, do CP, (crime contra o patrimônio).
Violência
condições
Transportar
análogas à de
Coação
Transferir
escravo; Importante!
Submeter a
Fraude Casa desabitada não se confunde com casa na
qualquer tipo de
Comprar ausência de seus moradores, pois nesse caso é
servidão;
Abuso Adotar possível o crime de violação de domicílio, uma
Alojar ilegalmente; vez que subsiste a proteção da tranquilidade
Explorar doméstica.
colher sexualmente.

Quanto ao objetivo material, é o domicílio invadi-


Vamos exemplificar! do, que suporta a entrada ou permanência de alguém,
O agente, aqui no Brasil, realiza recrutamento de clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade
mulheres, por meio de fraude, faz propaganda de que expressa ou tácita de quem de direito.
o objetivo é selecionar modelos para uma determina-
Verifica-se que é necessário que a conduta seja
da marca de produtos de beleza e que o trabalho será
praticada clandestina ou astuciosamente, ou contra a
na Europa. Porém, as vítimas recrutas seguem para a
Europa e são submetidas à exploração sexual. vontade expressa ou tácita de quem de direito.
Veja que esse crime é comum, podendo ser pratica- Se presente o consentimento do morador, explícito
do por qualquer pessoa. Não se exige, também, nenhu- ou implícito, o fato é atípico.
ma condição especial do sujeito passivo do crime. Entrar ou permanecer clandestinamente em casa
Quando há algumas circunstâncias específicas do alheia ou em suas dependências significa fazê-lo de
agente ou da vítima e essas condições se encaixam nas forma oculta, sem se deixar notar pela vítima. Por sua
hipóteses da lei, a pena do crime de tráfico de pessoas será vez, entrar ou permanecer astuciosamente consiste
aumentada de 1/3 (um terço) até a metade, vejamos: em conduta fraudulenta, maliciosa.
Entrar ou permanecer em casa alheia ou em suas
z O crime for cometido por funcionário público no dependências contra a vontade expressa ou tácita de
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; quem de direito enseja a entrada ou permanência
z O crime for cometido contra criança, adolescente francas. Nesses casos, o dissentimento de quem de
ou pessoa idosa ou com deficiência; direito pode ser expresso ou tácito.
z O agente se prevalecer de relações de parentes- Sobre o sujeito ativo, o crime é comum, poden-
co, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, do ser praticado por qualquer pessoa, inclusive pelo
de dependência econômica, de autoridade ou de proprietário do bem, quando entra ou permanece na
superioridade hierárquica inerente ao exercício residência ocupada pelo inquilino contra sua vontade
de emprego, cargo ou função;
expressa ou tácita.
z Se a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
O Código Penal não protege a propriedade nem a
território nacional.
posse indireta do locador.
O locatário, possuidor direto do imóvel, não é ofen-
Por fim, para encerramos os crimes contra a liber-
dade pessoal, é importante mencionar que o crime de dido em sua posse, e sim em sua tranquilidade domés-
tráfico de pessoas apresenta causa de diminuição de tica. A serviçal que permite o ingresso do amante em
pena, desde que o agente preencha os 2 (dois) requisi- seu quarto pratica o crime em concurso com ele.
tos, que são cumulativos. O divorciado pode cometer o crime ao entrar ou
A pena é reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois ter- permanecer na residência do seu ex-cônjuge contra
ços) se o agente: sua vontade.
Não há crime quando uma mulher, na ausência
z For primário; e do seu marido, permite a entrada do amante em sua
z Não integrar organização criminosa. residência.
Vejamos, o sujeito passivo é o titular do direito à
130 tranquilidade doméstica.
É o “quem de direito”, o sujeito que tem o poder de z A qualquer hora do dia ou da noite, quando algum cri-
admitir ou excluir alguém da sua casa, pouco impor- me está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
tando seja ou não seu proprietário.
Pode ser: Em concurso de crimes. A caracterização do deli-
to reclama tenha o agente, como finalidade própria, o
z uma pessoa a quem os demais habitantes da casa ingresso ou permanência em casa alheia, e nada mais
estão subordinados (regime de subordinação); ou do que isso.
z diversas pessoas, habitantes da mesma residência, Quando assim atua como meio de execução de
em relação isonômica (regime de igualdade). outro crime mais grave, a violação de domicílio fica
absorvida (princípio da consunção).
O elemento subjetivo desse crime é o dolo, abran- Subsiste o crime de violação de domicílio quando
gente do elemento normativo “contra a vontade há dúvida acerca do verdadeiro propósito do agente
expressa ou tácita de quem de direito”. e quando caracteriza desistência voluntária, pois o
O crime é incompatível com o dolo eventual. agente só responde pelos atos praticados.
Há atipicidade, por ausência de dolo, nas condutas Ação penal: pública incondicionada.
de entrar em casa alheia para esconder-se da polícia ou
quando o sujeito supõe ingressar em local diverso do proi- CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE
bido (erro de tipo). Não se admite a modalidade culposa. CORRESPONDÊNCIA
O crime de mera conduta ou de simples atividade.
Consuma-se quando o sujeito ingressa completa- Violação de Correspondência
mente na casa da vítima, ou então quando, ciente de
que deve sair do local, não o faz por tempo juridica- Observe:
mente relevante. É imprescindível a entrada concreta
em casa alheia. Art. 151 Devassar indevidamente o conteúdo de
correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Importante!
O art. 151, caput, do CP foi revogado pelo art. 40,
Cabe tentativa? caput, da Lei 6.538/1978, que regula os serviços postais:
É possível na conduta “entrar” (crime comissivo).
Incabível no núcleo “permanecer” (crime omissi- Art. 40 Devassar indevidamente o conteúdo de cor-
vo próprio ou puro). respondência fechada dirigida a outrem:
Pena – detenção, até seis meses, ou pagamento não
excedente a vinte dias-multa.
Este crime apresenta forma qualificada:
A lei penal, por objeto jurídico, tutela a liberdade
z Durante a noite de comunicação do pensamento, concretizada pelo
z Em lugar ermo sigilo da correspondência.
z Com o emprego de violência ou de arma É a correspondência, objeto material, por exemplo
z Por 2 (duas) ou mais pessoas carta, bilhete, telegrama etc., violada pela conduta
criminosa.
Os patamares mínimo e máximo da pena do crime A correspondência pode ser particular ou oficial,
serão alterados (de 1 a 3 meses para 6 meses a 2 anos) pouco importando esteja ou não redigida em portu-
se praticado em uma das hipóteses previstas acima. guês. Exige-se, porém, que se trate de idioma conhe-
Observe o que o Código Penal diz sobre a expres- cido, pois, na hipótese de ser veiculada por códigos
são “casa”. incompreensíveis e indecifráveis, haverá crime impos-
Compreende: sível por absoluta impropriedade do objeto (CP, art. 17).
A lei penal protege a correspondência fechada,
z Qualquer compartimento habitado; pois somente esta contém em seu interior um segre-
z Aposento ocupado de habitação coletiva; do. É preciso que seja a correspondência endereçada
z Compartimento não aberto ao público, onde a destinatário específico.
alguém exerce profissão ou atividade. Não há crime de violação de correspondência:
Conduta do sujeito que lê uma carta cujo envelope
A expressão “casa” não compreende: está aberto.
Correspondências cujos envelopes possuem a
z Hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita- expressão “este envelope pode ser aberto pela Empre-
ção coletiva, enquanto aberta, exceto se aposento sa de Correios e Telégrafos”.
DIREITO PENAL

ocupado de habitação coletiva. Aquele que abre uma carta que encontrou e estava
perdida há décadas em lugar público.
Para encerrarmos o assunto violação de domicílio, Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos elei-
por fim, veremos os casos em que, mesmo com a vio- tores em geral, aos amantes do futebol etc.
lação, o fato não irá constituir crime. Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas
Não constituirá crime a entrada ou permanência aos filhos menores.
em casa alheia ou em suas dependências: Ao diretor do estabelecimento prisional é assegu-
rado o direito de acessar o conteúdo de correspon-
z Durante o dia, com observância das formalidades dências suspeitas remetidas aos presos (Art. 41, XV e
legais, para efetuar prisão ou outra diligência; parágrafo único, da Lei de Execução Penal). 131
Quando um dos cônjuges abre correspondências destinatário da correspondência. Se um deles quiser
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em representar, e o outro não, prevalece a vontade daquele
face do exercício regular de direito. que deseja autorizar a instauração da persecução penal.
Devassar significa tomar conhecimento de algo
proibido. O sigilo da correspondência é inviolável, por Sonegação ou Destruição de Correspondência
expressa disposição constitucional (art. 5º, XII).
A devassa pode ser efetuada por qualquer meio, Observe:
embora seja o método mais comum, não é obrigatória
a abertura da correspondência – o sujeito pode conhe- § 1º - Na mesma pena incorre:
cer o conteúdo de uma carta apalpando o objeto que I - quem se apossa indevidamente de correspondên-
está em seu interior, por exemplos, dinheiro, cartão cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em
bancário, objetos de valor. parte, a sonega ou destrói;
Assim, também pode praticar o delito o agente
O art. 151, § 1º, inciso I, do Código Penal foi revoga-
pode inteirar-se do seu conteúdo sem abri-la.
Para caracterização do crime não basta ao agente do pelo art. 40, § 1º, da Lei nº 6.538/1978.
devassar o conteúdo de correspondência fechada, diri- É preciso seja a correspondência endereçada a
gida a outrem. É preciso que o faça indevidamente, sem destinatário específico.
ter o direito de tomar conhecimento do seu conteúdo. O crime previsto no art. 40, § 1º, da Lei 6.538/1978 é
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois se crime autônomo em relação ao caput. As penas alter-
trata de crime comum. nativas cominadas em abstrato são as mesmas do deli-
Incidirá uma agravante genérica se o crime for to de violação de correspondência, mas o legislador
cometido por pessoa prevalecendo-se do cargo, ou em utilizou outro núcleo e inseriu novas elementares.
abuso da função. O objeto jurídico é a inviolabilidade da correspon-
É imprescindível que o sujeito pratique o fato em dência, no sentido de ser preservada pelo seu titular
decorrência do cargo ou função específica por ele até quando reputar conveniente.
desempenhada, relativa ao serviço postal. Tem como objetivo material a correspondência
Detalhe, para ser sujeito passivo, observamos que alheia, mas agora retirada da esfera de disponibilida-
há duas vítimas o remetente e o destinatário. de do seu titular.
Exclui-se o crime se qualquer um deles autorizar Pode, no entanto, estar aberta ou fechada, uma vez
o conhecimento do conteúdo da correspondência por que a conduta consiste em apossar-se da correspondên-
terceira pessoa. Enquanto não chega ao destinatário, cia para sonegá-la ou destruí-la, indevidamente, e não
pertence unicamente ao remetente. para tomar conhecimento ilegítimo do seu conteúdo.
Vejamos alguns pontos importantes: A conduta consiste em se apossar de correspon-
dência alheia, ainda que aberta, para sonegá-la ou
z A impossibilidade de localização do destinatário destruí-la, no todo ou em parte.
não afasta o crime. A modalidade desse crime é o dolo, abrangente da
z O falecimento do remetente não exclui o delito. ilegitimidade da conduta de apossar-se de correspon-
z Se a correspondência ainda não foi enviada, e sobre-
dência alheia, com a exigência da finalidade específi-
veio sua morte, seus herdeiros têm o direito de
ca de sonegá-la ou destruí-la”.
conhecer seu conteúdo, pois ela agora lhes pertence.
É possível a tentativa.
z Se o destinatário falece antes de receber a corres-
pondência, seus sucessores poderão conhecer seu Causa de aumento da pena:
conteúdo, que provavelmente a eles interessa. z As penas são aumentadas da metade quando há
dano a outrem.
O crime de violação de correspondência é doloso,
abrange a ilegitimidade da conduta de devassar a corres- O dano pode ser econômico ou moral, e o prejudi-
pondência alheia. Não se admite a modalidade culposa. cado pode ser o remetente, o destinatário ou mesmo
Se a finalidade do agente for praticar espionagem um terceiro.
contrária à Segurança Nacional, serão aplicáveis os arts. Por se tratar de crime de dupla subjetividade passi-
13, caput, e 14, da Lei nº 7.170/1983, conforme o caso. va, o direito de representação pode ser exercido tanto
O crime de violação de correspondência se consuma
pelo remetente como pelo destinatário da correspon-
com o conhecimento do conteúdo da correspondência.
dência. Se um deles quiser representar, e o outro não,
É possível a tentativa.
prevalece a vontade daquele que deseja autorizar a
Pena e causa de aumento de pena estão, respecti-
instauração da persecução penal.
vamente, cominadas e descritas na Lei nº 6.538/1978.
A pena cominada é detenção, de até seis meses, ou Violação de Comunicação Telegráfica, Radioelétrica
pagamento não excedente a vinte dias-multa
ou Telefônica
O juiz pode aplicar a pena de 1 (um) dia a 6 (seis)
meses de detenção. II - quem indevidamente divulga, transmite a
Por sua vez, a pena de multa parte do mínimo legal, outrem ou utiliza abusivamente comunicação tele-
de 10 (dez) dias-multa, nos termos do art. 49, caput, do gráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou con-
CP, e vai até o máximo de 20 (vinte) dias-multa. versação telefônica entre outras pessoas;
As penas são aumentadas da metade quando há III - quem impede a comunicação ou a conversação
dano a outrem. Esse dano pode ser econômico ou referidas no número anterior;
moral, e o prejudicado pode ser o remetente, o desti- IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho
natário ou mesmo um terceiro. radioelétrico, sem observância de disposição legal.
A ação penal é pública condicionada à representação.
Tratando-se de crime de dupla subjetividade passi- A primeira parte do art. 151, § 1º, II, do CP está em
va (remetente e destinatário), o direito de representa- vigor unicamente nas hipóteses em que a violação é
132 ção pode ser exercido tanto pelo remetente como pelo efetuada por pessoas comuns.
Aplica-se o art. 56, § 1º, da Lei nº 4.117/1962, Códi- A ação penal na hipótese do inciso I é pública
go Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóteses em incondicionada. Nas hipóteses dos incisos II e III, é
que a violação é praticada por funcionário do governo pública condicionada à representação. Já para o pre-
encarregado da transmissão da mensagem. visto no inciso IV, é pública incondicionada.
A parte final do art. 151, § 1º, II, do CP foi derroga- As penas aumentam-se de metade, se há dano para
da pela Lei nº 9.296/1996, que regulamenta o art. 5º, outrem.
XII, parte final, da CF/88. As penas, em todas as hipóteses, aumentam-se de
metade, se há dano para outrem.
A Lei nº 9.296/1996, Interceptação Telefônica, criou
Esse dano pode ser econômico ou moral, e perti-
um tipo penal específico para a violação do sigilo telefôni-
nente a qualquer pessoa.
co no art. 10, dispondo que constitui crime realizar inter-
ceptação de comunicações telefônicas, de informática ou § 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de fun-
telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autoriza- ção em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou
ção judicial ou com objetivos não autorizados em lei. telefônico:
O dispositivo continua aplicável ao terceiro que Pena - detenção, de um a três anos.
não interveio na interceptação telefônica criminosa,
Aplicável às hipóteses não revogadas pela Lei nº
mas divulgou-a a outras pessoas.
4.117/1962, Código Brasileiro de Telecomunicações, e
Esse inciso II tem como núcleo divulgar, transmitir pela Lei nº 6.538/1978, Serviços Postais.
e utilizar, tipo misto alternativo. A prática de mais de A incidência da figura qualificada só será cabível
uma conduta visando igual objeto material caracteriza quando o sujeito ativo desempenhar alguma função
crime único. em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefô-
Divulgar é tornar algo público, dando conheci- nico, e dela abusar.
mento do seu conteúdo a outras pessoas. Exige-se a relação de causalidade entre a função
Transmitir significa enviar de um local para outro. exercida abusivamente pelo agente e o delito praticado.
Utilizar é fazer uso de algo. Quanto à qualificadora, a ação penal é pública
incondicionada.

Importante! Correspondência Comercial

Na hipótese de um terceiro concorrer de qual- Art. 152 Abusar da condição de sócio ou emprega-
do de estabelecimento comercial ou industrial para,
quer modo para a interceptação telefônica ilegal,
no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
será partícipe do crime definido pelo art. 10 da suprimir correspondência, ou revelar a estranho
Lei 9.296/1996. Se tiver ciência de uma gravação seu conteúdo:
oriunda de violação telefônica indevida, e divul- Pena - detenção, de três meses a dois anos.
gá-la, a ele será imputado o crime definido pelo Parágrafo único - Somente se procede mediante
art. 151, § 1º, I, do CP. representação.

O objeto jurídico desse crime é a inviolabilidade


de correspondência. A lei penal tutela a liberdade de
A modalidade do crime prevista no art. 151, § 3º,
comunicação do pensamento transmitida por meio de
III, do CP, está em vigor.
correspondência comercial.
A figura do inciso III, é impedir, obstruir a comunica-
É o objeto material é a correspondência comercial
ção ou conversação telegráfica, radioelétrica ou telefôni- que suporta a conduta criminosa. No conceito de cor-
ca. Pune-se o indivíduo que, sem amparo legal, não deixa respondência comercial se encaixa toda e qualquer
ser realizada a comunicação ou conversação alheia. carta, bilhete ou telegrama inerente à atividade mer-
O art. 151, § 1º, IV, do CP foi substituído pelo cantil. Deve relacionar-se às atividades exercidas pelo
art. 70 da Lei nº 4.117/1962, Código Brasileiro de estabelecimento comercial ou industrial.
Telecomunicações. O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar de
A finalidade da lei é vedar a uma pessoa, sem auto- forma excessiva ou inadequada.
rização legal, a instalação ou utilização de aparelho Os sócios ou empregados, no exercício de suas
clandestino de telecomunicações. atividades, geralmente têm acesso a informações
Nesse crime, tem por objeto jurídico o sigilo da contidas em correspondências endereçadas ao esta-
comunicação transmitida pelo telégrafo, pelo rádio e belecimento comercial ou industrial.
pelo telefone. A conduta de abusar se concretiza mediante o ato
O objeto material é a comunicação telegráfica ou de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
radioelétrica dirigida a terceiro, ou a conversação suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu
conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação, por exem-
telefônica entre pessoas indevidamente divulgada,
plo, abrir uma carta, ou por omissão, por exemplo, dei-
transmitida a outrem ou utilizada abusivamente.
DIREITO PENAL

xar uma correspondência ser destruída pela chuva.


O crime é de modalidade dolosa. Quanto à utilização Desviar é afastar a correspondência do seu real
de comunicação telegráfica ou radioelétrica exige-se que destino.
o sujeito cometa o fato abusivamente, isto é, com a cons- Sonegar é esconder, no sentido de obstar a che-
ciência de abusar quanto ao uso indevido da mensagem. gada da correspondência ao correto estabelecimento
Sobre a consumação, observa-se que no tipo pre- comercial ou industrial.
visto no inciso II, ocorre com a divulgação, transmis- Subtrair é apoderar-se da correspondência comer-
são ou utilização abusiva. A divulgação necessita do cial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu
conhecimento do conteúdo da comunicação por um envio ao destino original. Suprimir é destruir para
número indeterminado de pessoas. que a correspondência não seja entregue em seu 133
destino, ou para que seja retirada do estabelecimento Divulgação de Segredo
comercial ou industrial para o qual foi encaminhada.
Revelar é permitir o acesso ao conteúdo da correspon- Art. 153 Divulgar alguém, sem justa causa, conteú-
dência do estabelecimento comercial ou industrial a do de documento particular ou de correspondência
quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha o confidencial, de que é destinatário ou detentor, e
direito de conhecer o que nela se contém. cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Sobre o sujeito ativo, somente pode ser o sócio ou Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, de
empregado do estabelecimento comercial ou indus- trezentos mil réis a dois contos de réis.
trial, por ser crime próprio. § 1º Somente se procede mediante representação.
Já o sujeito passivo é o estabelecimento comercial
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade
ou industrial titular da correspondência violada.
ou da vida privada. Veda-se a divulgação de segredos
Esse crime é praticado na modalidade dolosa. Exi-
cujo conhecimento por terceiros pode trazer prejuízos
ge-se também um especial fim de agir, representa-
ao seu titular.
do pela intenção de abusar da condição de sócio ou
O objeto material é o conteúdo secreto de docu-
empregado. É necessário tenha o agente, ao tempo da
mento particular ou de correspondência confidencial.
conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar
Vejamos que o núcleo do tipo é divulgar, vulgari-
condição em relação à vítima.
zar, tornar público ou conhecido um fato ou informa-
Não se admite a modalidade culposa.
ção. Não basta a comunicação a uma só pessoa ou a
O crime é formal, de consumação antecipada ou de
um número reduzido e limitado, exige-se propagação,
resultado cortado. Consuma-se quando o agente desvia,
difusão, possibilitando o conhecimento do fato a um
sonega, subtrai ou suprime a correspondência comer-
número indeterminado de pessoas.
cial, ou então quando revela a terceiro seu conteúdo.
A conduta de divulgar pode ser praticada por
É possível a tentativa.
variados meios, crime de forma livre. Veda-se que
A ação penal é pública condicionada à representação.
uma pessoa, destinatária de um documento particular
ou de uma correspondência confidencial, possa divul-
CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS
gá-la a terceiros, provocando danos a alguém.
SEGREDOS
Esse tipo penal não se aplica ao documento públi-
co, por ausência de previsão legal. A revelação do seu
Observamos que o art. 5º, X, da CF/88 é respon-
conteúdo pode, contudo, caracterizar o crime de vio-
sável por assegurar a inviolabilidade de dois direitos
lação de sigilo funcional, previsto no art. 325, do CP.
fundamentais do ser humano: honra e vida privada.
O elemento do tipo está contido na expressão sem
Reserva-se a toda pessoa o direito de manter segredo
justa causa. Não é qualquer divulgação de conteúdo
acerca de fatos afetos à sua vida privada. Nessa seara,
de documento particular ou de correspondência confi-
a norma constitucional resguarda os segredos pessoais.
dencial que caracteriza o delito de divulgação de segre-
De fato, um segredo inerente a alguém, quando
do – a divulgação deve ser realizada sem justa causa.
divulgado ou revelado sem justa causa, tem o condão
A justa causa conduz à exclusão da tipicidade do fato.
de acarretar sérios danos às pessoas em geral.
Há justa causa, entre outras, nas seguintes hipóteses:
Vejamos, o Código Penal, nos arts. 153 e 154, res-
guardar o conhecimento público segredos cuja reve- z comunicação à autoridade policial, ao Ministério
lação possa produzir danos a uma pessoa. Público ou ao Poder Judiciário de infração penal;
Não ingressa na proteção penal, consequentemen- z consentimento do interessado; para servir de prova
te, a punição pela revelação ou divulgação de fatos da existência de uma infração penal ou de sua autoria;
secretos incapazes de proporcionar consequências z dever de testemunhar em juízo; e
jurídicas ao seu titular. z defesa de interesse legítimo.
Secreto é o fato da vida privada que se tem interes-
se em ocultar. Também não há crime quando alguém entrega à
Pressupõe dois elementos: autoridade policial, ao Ministério Público ou à autorida-
de judiciária uma missiva recebida de outrem, contendo
z negativo – ausência de notoriedade; a confissão de um delito pelo verdadeiro autor.
z positivo – vontade determinante de sua custódia Por se tratar de crime próprio, observa-se que
ou preservação. o sujeito ativo somente pode ser o destinatário ou
detentor do documento particular ou correspondên-
cia de conteúdo confidencial.
Importante! Sujeito passivo é aquele a quem a divulgação do
segredo possa produzir dano, remetente, destinatário
Crimes contra a inviolabilidade de correspondên-
ou qualquer outra pessoa.
cia: o legislador busca coibir o conhecimento do
Esse crime é praticado na modalidade dolosa.
conteúdo de uma missiva sem autorização para
Não se admite a forma culposa.
tanto, tutela-se unicamente a inviolabilidade de Consuma-se no instante em que o segredo é divul-
correspondência. gado para um número indeterminado de pessoas.
Crimes contra a inviolabilidade dos segredos pro- É possível a tentativa.
tege-se um segredo nela contido, capaz de ser
divulgado ou revelado, causar danos a outrem. § 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigi-
Além disso, o bem jurídico resguardado pela lei losas ou reservadas, assim definidas em lei, conti-
penal é a inviolabilidade dos segredos. das ou não nos sistemas de informações ou banco
de dados da Administração Pública:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
134 multa.
A qualificadora, denominada de divulgação de O crime é de forma livre, comportando qualquer
sigilo funcional de sistemas de informações, foi insti- meio de execução.
tuída pela Lei Nº 9.983/2000, com o fim de tutelar as Por ser crime próprio, somente pode ser cometido
informações sigilosas ou reservadas de interesse da por quem teve conhecimento do segredo em razão de
Administração Pública, notadamente as relativas à sua função, ministério, ofício ou profissão.
Previdência Social. Qualquer pessoa suscetível de ser, sujeito passivo,
É necessário que a informação sigilosa ou reserva- prejudicada pela revelação do segredo, seja seu titular
da tenha conteúdo material. ou até mesmo um terceiro.
Logo, não há crime quando se tratar de informação Esse crime é praticado na modalidade dolosa,
meramente verbal, ainda que sigilosa ou reservada. abrangente da ciência da ilegitimidade da conduta
e da possibilidade de causar dano a outrem. Não se
admite a modalidade culposa, e não se exige nenhu-
Importante! ma finalidade específica.
Consuma-se no instante em que o confidente neces-
Informações são os dados sobre alguém ou algo. sário revela a terceira pessoa o segredo de que tem
Sigilosa é a informação confidencial, secreta. ciência em razão de função, ministério, ofício ou pro-
Reservada é a informação merecedora de cuida- fissão. Basta seja contado o conteúdo do segredo a uma
dos especiais relativamente às pessoas que dela única pessoa, desde que esta conduta possa causar
possam ter ciência. dano a alguém, patrimonial ou moral. Prescinde-se da
produção do resultado naturalístico. O crime é formal,
de resultado cortado ou de consumação antecipada.
Trata-se de crime comum: pode ser praticado por É admissível a tentativa na revelação do segredo
qualquer pessoa. por escrito, tal como na carta que se extravia (delito
Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele será plurissubsistente).
imputado o crime de violação de sigilo funcional, con- É pública condicionada à representação, a teor do
forme art. 325, do CP. art. 154, parágrafo único, do CP.
O sujeito passivo é o Estado.
Nada impede a existência de um particular como Invasão de Dispositivo Informático
sujeito passivo, desde que possa ser prejudicado pela
divulgação das informações sigilosas ou reservadas. Art. 154-A  Invadir dispositivo informático alheio,
conectado ou não à rede de computadores, median-
§ 2o  Quando resultar prejuízo para a Administra- te violação indevida de mecanismo de segurança e
ção Pública, a ação penal será incondicionada. com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou
informações sem autorização expressa ou tácita do
No caput, a ação penal é pública condicionada à titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades
representação. para obter vantagem ilícita:
Não se aplica a regra prevista no art. 153, § 2º, do Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
CP, pois o tipo fundamental fala somente em dano a
outrem, excluindo, portanto, a eficácia penal da con- O objeto jurídico é a liberdade individual, especi-
duta criminosa em relação à Administração Pública. ficamente no tocante à inviolabilidade dos segredos.
Na figura qualificada, em regra, é pública condicio- E o objeto material é o dispositivo informático alheio,
nada à representação. conectado ou não à rede de computadores.
Nesse caso, somente o particular é ofendido pela Os dispositivos informáticos dividem-se basica-
conduta criminosa. No entanto, se do fato resultar mente em quatro grupos:
prejuízo para a Administração Pública, a ação penal
será pública incondicionada. z dispositivos de processamento: são responsá-
veis pela análise de dados, com o fornecimento
Violação do Segredo Profissional de informações, visando a compreensão de uma
informação do dispositivo de entrada para envio
De acordo com: aos dispositivos de saída ou de armazenamen-
to. Exemplos: placas de vídeo e processadores de
Art. 154 Revelar alguém, sem justa causa, segredo, computadores e smartphones;
de que tem ciência em razão de função, ministério, z dispositivos de entrada: relacionam-se à capta-
ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir ção de dados escritos, orais ou visuais (exemplos:
dano a outrem: teclados, microfones e webcam);
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa z dispositivos de saída: fornecem uma interface des-
de um conto a dez contos de réis. tinada ao conhecimento ou captação, para outros
DIREITO PENAL

Parágrafo único - Somente se procede mediante dispositivos, da informação escrita, oral ou visual
representação. produzida no processamento (exemplos: impres-
soras e monitores); e
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade e da z dispositivos de armazenamento: dizem respeito
vida privada das pessoas, relativamente ao segredo pro- à guarda de dados ou informações para posterior
fissional. O dever de guardá-lo, contudo, não é absoluto. análise (exemplos: pendrives, HDs – hard disks e
Já o objeto material é o assunto transmitido ao pro- CDs – discos compactos). Só há crime quando a
fissional em caráter sigiloso. conduta recai em dispositivo informático alheio.
O núcleo do tipo é revelar, no sentido de delatar ou
denunciar. 135
O fato será atípico quando o sujeito devassa um § 4° Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a
dispositivo próprio, ainda que não esteja sob sua pos- dois terços se houver divulgação, comercialização
se. É irrelevante se o dispositivo informático alheio se ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
encontra ou não conectado à rede de computadores. dados ou informações obtidos.
Não se exige sua interligação com outro disposi-
tivo informático, possibilitando o compartilhamento Aplica-se unicamente à modalidade qualificada
de dados ou informações. O núcleo do tipo é invadir, prevista no § 3º do art. 154-A. Nesse caso, o exauri-
no sentido de devassar dispositivo informático alheio, mento justifica a maior severidade no tratamento
conectado ou não à rede de computadores. penal. A divulgação, comercialização ou transmissão
a terceiro, embora normalmente envolva alguma
Por se tratar de crime comum ou geral, o sujeito ati-
contraprestação, pode ser gratuita, pois o legislador
vo pode ser cometido por qualquer pessoa. Embora esta
empregou a expressão “a qualquer título”.
condição não seja exigida pelo tipo penal, normalmente o
Aumenta-se a pena de um terço à metade se o cri-
crime é praticado por sujeitos dotados de especiais conhe-
me for praticado contra:
cimentos de informática, conhecidos como crackers.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física
z Presidente da República, governadores e prefeitos;
ou jurídica.
z Presidente do Supremo Tribunal Federal;
Esse crime é praticado na modalidade dolosa, z Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado
acrescido de um especial fim de agir representado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
pela expressão e com o fim de obter, adulterar ou des- Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
truir dados ou informações sem autorização expressa Municipal; ou
ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnera- z Dirigente máximo da administração direta e indireta
bilidades para obter vantagem ilícita. federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
Consuma-se com o simples ato de invadir dispositivo
informático alheio, conectado ou não à rede de compu- Ação Penal
tadores, mediante violação indevida de mecanismo de
segurança, com a finalidade de obter, adulterar ou des- Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A, somen-
truir dados ou informações sem autorização expressa te se procede mediante representação, salvo se o cri-
ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabili- me é cometido contra a administração pública direta
dades para obter vantagem ilícita, pouco importando se ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Esta-
este objetivo vem a ser efetivamente alcançado. dos, Distrito Federal ou Municípios ou contra empre-
É possível a tentativa, em face do caráter pluris- sas concessionárias de serviços públicos.
subsistente do delito, permitindo o fracionamento do
iter criminis. No crime de invasão de dispositivo informativo,
em regra, a ação é pública condicionada à represen-
tação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
representá-lo.
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa
Isso é justificado pela disponibilidade do interesse
de computador com o intuito de permitir a prática
atacado pelo delito, vinculado precipuamente à esfera
da conduta definida no caput.
de intimidade da vítima.
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se Reserva-se ao ofendido ou ao seu representante
da invasão resulta prejuízo econômico. a oportunidade (ou conveniência) para autorizar ou
não o início da persecução penal.
Cuida-se de causa de aumento da pena, a ser uti- Excepcionalmente, a ação penal será pública
lizada na terceira e última fase da aplicação da pena incondicionada, nas hipóteses em que o delito envol-
privativa de liberdade. ver a Administração Pública, pois nesses casos há
Diversos fatores podem proporcionar o prejuízo ofensa a valores de natureza indisponível.
econômico: divulgação de informações capazes de
macular a honra da vítima, tempo de trabalho neces-
sário para a reprodução dos dados ou informações EXERCÍCIOS COMENTADOS
destruídos ou adulterados, valores gastos para livrar
o dispositivo informático de vírus etc. 1. (CESPE-CEBRASPE – 2013) No que concerne a cri-
Em qualquer dos casos, a elevação da pena será mes, julgue o item a seguir.
obrigatória. Considere a seguinte situação hipotética.
Alex agrediu fisicamente seu desafeto Lúcio, causan-
§ 3°  Se da invasão resultar a obtenção de conteú-
do-lhe vários ferimentos, e, durante a briga, decidiu
matá-lo, efetuando um disparo com sua arma de fogo,
do de comunicações eletrônicas privadas, segredos
sem, contudo, acertá-lo.
comerciais ou industriais, informações sigilosas,
Nessa situação hipotética, Alex responderá pelos cri-
assim definidas em lei, ou o controle remoto não
mes de lesão corporal em concurso material com ten-
autorizado do dispositivo invadido:
tativa de homicídio.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa, De forma simples, podemos, pelo princípio da con-
se a conduta não constitui crime mais grave. cussão, entender que o crime de homicídio é mais
Evidentemente, não há crime se existia permissão grave que o crime de lesão corporal. A vontade do
para tanto, como ocorre nos computadores instalados agente, inicialmente foi de provocar lesões corpo-
em escolas infantis, pelos quais os pais acompanham à rais na vítima. Até aqui, crime de lesão corporal.
136 distância as atividades desenvolvidas pelos seus filhos. Quando o agente passa a ter vontade de matar, o
crime muda: homicídio. O crime mais grave absorve Homicídio simples
o crime menos grave. Então, responde apenas por Art. 121. Matar alguém:
homicídio. Resposta: Errado. Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau- § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro-
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi- vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um sexto a um terço.
revólver pertencente à corporação policial de que seu (...)
pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta Observe que há duas exigências: domínio de violen-
minutos, armado com o revólver, sob a influência de
ta emoção e que a situação cronológica seja logo em
emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez
seguida. O domínio de violenta emoção é o que dou-
disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale-
ceu no local antes mesmo de ser socorrida. trina chama de ações em curto circuito, pois o agen-
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item. te age sem mesmo antes de pensar. A situação logo
Na situação considerada, em que Paula foi vitimada em seguida não é 40 minutos entre a provocação e
por Carlos por motivação torpe, caso haja vínculo a atitude, pois teria, conforme a doutrina, tempo de
familiar entre eles, o reconhecimento das qualificado- pensar. Resposta: Errado.
ras da motivação torpe e de feminicídio não caracteri-
zará bis in idem. 4. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau-
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente
( ) CERTO  ( ) ERRADO Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos.
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi-
Bis in idem ocorre, em síntese, na hipótese de um dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um
agente responder mais de uma vez pela mesma revólver pertencente à corporação policial de que seu
conduta, ou seja, repetição de sanção pelo mesmo pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta
fato. Na questão não há bis in idem, já que estamos minutos, armado com o revólver, sob a influência de
diante de qualificadoras de ordem distintas. Sendo emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez
o feminicídio de ordem objetiva e o motivo torpe de disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale-
ordem subjetiva. O informativo 625/STJ confirma tal ceu no local antes mesmo de ser socorrida.
tese. Tome nota: vermelha = qualificadora objetiva; Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
azul = qualificadora subjetiva: Carlos agiu sob o pálio da legítima defesa putativa.
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
( ) CERTO  ( ) ERRADO
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou
por outro motivo torpe;  Vejamos o texto do Código Penal:
II - por motivo futil;  Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usan-
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, do moderadamente dos meios necessários, repe-
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que le injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
possa resultar perigo comum; 
ou de outrem.
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
no caput deste artigo, considera-se também em legí-
sivel a defesa do ofendido; 
tima defesa o agente de segurança pública que repe-
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
le agressão ou risco de agressão a vítima mantida
nidade ou vantagem de outro crime:
refém durante a prática de crimes.
Feminicídio
A legítima defesa putativa, no ensinamento da dou-
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
trina, é o fato de o autor imaginar estar em estado
feminino:
de legítima defesa, ao se defender de agressão ine-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Resposta: Certo.
xistente. Resposta: Errado.
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau- 5. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Francisco, maior e capaz,
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente em razão de desavenças decorrentes de disputa de
Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. terras, planeja matar seu desafeto Paulo, também
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi- maior e capaz. Após analisar detidamente a rotina
dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um de Paulo, Francisco aguarda pelo momento oportuno
revólver pertencente à corporação policial de que seu para efetivar seu plano.
pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta A partir dessa situação hipotética e de assuntos a ela
minutos, armado com o revólver, sob a influência de correlatos, julgue o item seguinte.
emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez Se Francisco atacar Paulo utilizando-se de uma
DIREITO PENAL

disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale- emboscada, isto é, se ocultar e aguardar a vítima des-
ceu no local antes mesmo de ser socorrida.
prevenida para atacá-la, a ação de Francisco, nessa
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
hipótese, caracterizará uma forma de premeditação.
Por ter agido influenciado por emoção extrema, Car-
los poderá ser beneficiado pela incidência de causa de ( ) CERTO  ( ) ERRADO
diminuição de pena.
Premeditação: essa palavra não está no Código Penal.
( ) CERTO  ( ) ERRADO Então buscamos na doutrina e resumimos.
A qualificadora da premeditação no homicídio é o TED:
Vamos ao texto do Código Penal: Traição, Emboscada e Dissimulação. Resposta: Certo. 137
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Em regra, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa,
exceto o proprietário.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol . 1, O sujeito passivo à vítima do furto: o proprietário,
19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016. o possuidor ou detentor da coisa legítima.
CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrimes – Lei Furto Simples
13.964/2019: Comentários às Alterações no CP,
CPP e LEP. Salvador: Juspodium, 2020. O art. 155, do CP, define o furto simples.
Configura-se quando o agente subtrai, para si ou
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal para outrem, coisa alheia móvel.
esquematizado: parte especial. 6ª ed. São Paulo:
Para entendê-lo, dividiremos em duas partes:
Saraiva, 2016.

JESUS, Damásio de. Código Penal Anotado. 22ª. z Subtrair (verbo) – consiste no ato de se apossar de
Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. propriedade de outra pessoa, seja para si ou para
outra pessoa, por exemplo, o agente subtrai para
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª. si uma bicicleta que estava estacionada próximo
Ed. São Paulo: Método, 2014. à lanchonete;
z Coisa alheia móvel – necessário que o objeto mate-
rial do crime de furto seja coisa móvel e que per-
tença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou que
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO pertença ao próprio autor, não configurará furto,
por exemplo, o agente que, aproveitando da distra-
FURTO ção da vítima, subtraia o aparelho celular.

O primeiro crime contra o patrimônio é o furto. Não há emprego de violência nem grave ameaça
Em síntese, o crime de furto é definido por ser a sub- à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de
tração de coisa alheia móvel para si ou para outrem. roubo.
Há o furto (art. 155, do CP) e o furto de coisa comum
(art. 156). O furto tem as seguintes características:
Sobre o bem jurídico, não há consenso na doutri-
na, vejamos: z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
z Somente a propriedade (Hungria); quer pessoa, por exemplo, o agente subtrai o apa-
z A propriedade e a posse (Nucci; Greco; Masson); relho celular;
z A propriedade, a posse e a detenção (Mirabete; z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
Delmanto; Bitencourt). tado naturalístico para fins de consumação, ou
seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo sub-
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, trai a coisa móvel, por exemplo, quando o agente
passando ao poder do agente. Pode ocorrer por apo- subtrai a bicicleta;
deramento direto, quando o agente apreende a coisa z O furto só se pratica dolosamente;
manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipó- z Não admite a modalidade culposa;
tese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal. z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do
agente para praticar o furto é fracionada em
z Coisa: refere-se a tudo aquilo que possui existên-
diversos atos que somados consumam o delito,
cia de natureza corpórea.
z Coisa alheia: significa pertencente a outrem. portanto, admite a tentativa quando o agente, por
motivos alheios a sua vontade pratica alguns atos
A coisa sem dono não é objeto de furto. e não ocorre a consumação do delito. Por exemplo,
Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a o agente com animus de furtar objetos eletrôni-
subtração de coisa própria, mesmo que em poder de cos de uma casa, pula o muro para ingressar no
terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito interior da residência, mas o proprietário da casa
no art. 346, do CP, ou o crime de furto de coisa comum acorda e acende a luz, momento em que o agente
(art. 156, do CP). deixa de praticar os demais atos.
Não há furto de coisa abandonada, pois não inte-
gra o patrimônio de ninguém. A lei tutela a propriedade e a posse. A simples
Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode detenção não configura o crime de furto.
configurar o crime do art. 169, parágrafo único, II, do Sobre a consumação deste crime, é importan-
CP.
te conhecer o posicionamento adotado pelas cortes
Sobre o valor afetivo, para alguns autores (como
superiores (STF e STJ).
Damásio e Rogério Greco), coisa de valor afetivo ou
Os tribunais superiores adotam a teoria da
sentimental também pode ser objeto material de fur-
to. Segundo Hungria, “a coisa subtraída deve represen- apprehensio, também chamada de amotio, que consi-
tar para o dono, se não um valor reduzível a dinheiro, dera consumado o crime de furto (e isso vale para o
pelo menos uma utilidade (valor de uso), seja qual for, crime de roubo) quando o agente se apossa da coisa
de modo que possa ser considerada como integrante do alheia móvel, mesmo que por um breve período de
seu patrimônio”. tempo, não sendo necessário que a coisa saia da área
No mesmo sentido: STF, RE 100103. de vigilância da vítima.
Em sentido contrário, uma parcela da doutrina Um questionamento oportuno, trata-se de verifi-
(Nucci, por exemplo) sustenta que deve haver subtra- car se o bem subtraído deve ter valor econômico, ou
138 ção de coisa com valor patrimonial. seja, se o objeto material pode ser negociável.
Vejamos os bens que integram o patrimônio: a subtração de droga é crime do art. 33 da Lei nº
11.343/2006; a subtração de arma de fogo é crime
z Os bens corpóreos, com existência material, por do art.16 da Lei nº 10.826/2003.
exemplo, um veículo, e incorpóreos, com existên- z Algumas partes naturais do corpo humano: podem
cia abstrata, por exemplo, um direito autoral, de ser objeto de furto se passíveis de figurarem numa
valor econômico; relação jurídica, por exemplo, subtração do cabelo
z Os bens de valor afetivo ou sentimental, por exem- com o fim de obter lucro. Portanto, a subtração de
um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão
plo, cartas e fotografia;
corporal grave, ou homicídio consumado ou tentado.
z Os bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor
z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois cons-
econômico ou sentimental, por exemplo, folha de
titui delito do art. 211, do CP, destruição, subtra-
cheque em branco e cartão de crédito.
ção ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver
Portanto, vimos que não se pode restringir o patri- tem valor econômico, por exemplo, pertencente a
mônio às coisas de valor econômico. Faculdade de Medicina, haverá furto. Se o furto de
Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode algum objeto que foi sepultado junto ao cadáver,
ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum ou por exemplo, arcada dentária de ouro, o crime
geral. será furto, e a vítima será o herdeiro do de cujos.
z Energia elétrica, discutia-se se constituía ou não coi-
Mas, há exceção: sa móvel. O legislador penal tipificou o furto de ener-
gia elétrica no art. 155, § 3º, do CP, equiparando-se
z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previsto a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra
no art. 155, § 4º, II, por ser crime próprio, o agente que tenha valor econômico, por exemplo, energia
é aquela pessoa que a vítima confia, por exemplo, radioativa, energia cinética, energia atômica, ener-
o furto praticado por um empregado; gia genética etc. Porém, a energia deve ser suscetível
z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria coi- de apossamento, ou seja, que possa ser separada da
sa que se encontra em poder de terceiro, não res- coisa que a produz. Assim, não caracteriza furto o
ponderá por furto, mas sim pelo crime de exercício apossamento da energia física do animal.
arbitrário das próprias razões (arts. 345 ou 346, do z Instalação clandestina de TV a cabo, há duas
CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima); correntes:
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa,
o condômino que a subtrair responderá pelo deli- „ Primeira: trata-se de fato atípico, pois não há
to de furto de coisa comum (art. 156, do CP), por propriamente a subtração de energia e, sim,
exemplo, um dos condôminos furta cadeiras da o aproveitamento de um serviço. A energia se
área de uso comum do condomínio; consome ou se reduz com o uso e isto não ocor-
z O funcionário público, que subtrai bem público, re com a TV a cabo, cuja utilização não gera
responderá por peculato-furto (§ 1º do art. 312, do qualquer custo adicional para a operadora. É
CP), desde que a função pública tenha facilitado a um mero ilícito civil. Observe que o art. 35 da
subtração, pois, se em nada facilitou, o delito será Lei nº 8.977/1995 dispõe que é “ilícito penal a
de furto (art. 155 do CP); interceptação ou a recepção não autorizada
dos sinais de TV a Cabo”, entretanto, não lhe
„ Funcionário público que subtrai bem particu-
cominou qualquer pena, sendo vedada a sua
lar que se encontra sob a guarda ou custódia da
imposição pela via da analogia.
Administração Pública, desde que a função tenha
„ Segunda: dominante no STJ, considera que há
facilitado a subtração, responderá por peculato-
-furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub- crime de furto. Argumenta-se que o sinal de
trai veículo que estava apreendido no pátio do televisão se propaga por meio de ondas, o que
posto de fiscalização da Polícia Rodoviária. na definição técnica se enquadra como energia
„ Funcionário público que subtrai bem particu- radiante, que é uma forma de energia associa-
lar que não estava sob a guarda ou custódia da da à radiação eletromagnética.
Administração Pública ou estava, mas a função
em nada facilitou a subtração, responderá por Furto Qualificado
furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub-
trai um bem que se encontrava no porta-malas O furto qualificado é aquele que as suas penas
de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não são modificadas nos patamares mínimos e máximo,
estava apreendido, cometerá o crime de furto. aumentando consideravelmente.
Trata-se de qualificado por ter pena própria e não
O sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado mera causa de aumento de pena. Podemos exempli-
ou exposto a perigo de lesão. ficar o caso de o agente furtar objetos eletrônicos de
O titular do bem jurídico, apesar de divergências uma casa utilizado chave falsa para abrir o portão e a
na doutrina, prevalece que é proprietário e possuidor. porta da casa.
O detentor é arrolado no processo como testemu-
nha, e não como vítima. O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:
DIREITO PENAL

Vejamos os pontos mais questionados sobre o A reclusão será de 2 (dois) a 8 (oito) anos, se
crime de furto: cometido:

z Coisas ilícitas: podem ser objeto de furto, por exem- z Com destruição ou rompimento de obstáculo à
plo, responde por furto quem subtrai mercadoria subtração da coisa.
contrabandeada e, neste caso, a vítima responderá z Com abuso de confiança, ou mediante fraude,
pelo crime de contrabando. Por outro lado, as coi- escalada ou destreza.
sas ilícitas não podem ser objeto de furto se cons- z Com emprego de chave falsa.
tituírem elemento de outro crime, por exemplo, z Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.
139
Com destruição ou rompimento de obstáculo à Com emprego de chave falsa:
subtração da coisa:
No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o
Destruir é desfazer, demolir, por exemplo, o agen- agente faz uso de chave distinta da chave original ou obje-
te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daque- to capaz de abrir um cadeado ou fechadura, por exemplo,
le que arromba o portão de uma casa, para entrar e gazuas, pedaço de arame, micha, clips e etc. Anote-se que
subtrair uma televisão. a chave falsa pode ou não ter formato de chave.
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, ser- A jurisprudência não é unânime no caso de se a
rar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o agente abre a ligação direta do veículo caracteriza ou não chave fal-
porta da casa com um pé de cabra para entrar e sub- sa. A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita-
trair uma televisão. mente pelo agente, não caracteriza chave.
Nos dois casos, o delito deixa vestígios, sendo A cópia da chave verdadeira, quando obtida lici-
imprescindível o exame de corpo delito. tamente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada
Em ambos há uma danificação, que é total no ver- clandestinamente, incide a qualificadora do crime de
bo “destruir”, sendo parcial no verbo “romper”. furto.
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado,
por força do princípio da subsidiariedade implícita. Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas:
A destruição e o rompimento devem ser praticados
contra obstáculo, e não sobre a própria coisa furtada, por O reconhecimento da qualificadora depende de
exemplo, o agente rompe a porta do veículo para subtraí-lo. pelo menos duas pessoas.
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para difi- Computam-se os inimputáveis (menores e doentes
cultar a sua subtração, por exemplo, matar o cão de mentais) e os desconhecidos.Detalhe, se o comparsa é
guarda da residência, destruir as telhas para adentrar menor de dezoito anos, o agente responderá por fur-
na residência, ou mesmo, cortar os fios do alarme do to qualificado em concurso material com o delito de
automóvel ou da cerca eletrificada. corrupção de menores, previsto no art. 244-B do ECA,
A mera remoção de obstáculo, quando destituída desde que haja prova da efetiva corrupção do menor.
da danificação, não qualifica o furto, por exemplo, Sobre a presença no local do crime, basta a simples
desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da participação, independentemente da presença na fase
corda que prende a canoa. da execução.
A absolvição do coautor nem sempre exclui a qua-
Com abuso de confiança, ou mediante fraude, lificadora. De fato, havendo prova da pluralidade de
escalada ou destreza: agentes, a qualificadora deve ser reconhecida.
No delito de roubo, o concurso de pessoas gera
No abuso de confiança, o agente se vale da confian- aumento de pena de um terço até metade. No furto,
ça que o dono da coisa tem nele, para poder subtrair, a pena dobra.
como, por exemplo, quando o agente é amigo do dono Há doutrina que sustenta a violação do princípio
da casa, que deixa sua carteira sobre a mesa e vai ao da proporcionalidade da pena, porque o roubo é mais
banheiro despreocupado. Momento em que o agente, grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso
aproveitando desta confiança, subtrai a carteira. de pessoas deveria sofrer apenas o aumento de um
O uso de fraude fica configurado quando o agente terço até metade.
usa de artificio para enganar a vítima, para subtrair O STJ editou a Súmula 442: “É inadmissível aplicar
a coisa, a exemplo do agente que se passa por funcio- no furto qualificado pelo concurso de agentes a majo-
nário de empresa de telefonia para conseguir entrar rante do roubo”.
numa casa e subtrair um aparelho celular que nela
estava. Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo

Dica O § 4º-A do art. 155, do CP, foi introduzido por meio


da Lei nº 13.654/2.018, e dispõe que: “A pena é de reclu-
Você não pode confundir o furto mediante frau- são de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver
de com o estelionato. emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
No furto mediante fraude, o agente usa a fraude perigo comum”.
sobre a vítima para subtrair a coisa. É o único furto que é crime hediondo (art. 1º, IX, da
No estelionato, o agente emprega a fraude para Lei 8072/90, com redação dada pela Lei 13.964/2019).
ludibriar a vítima e fazer com que ela mesma O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo,
entregue a coisa. torna o fato mais grave, justificando-se o rigor da
reprimenda penal, em razão da provocação de perigo
coletivo.
No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a
Meio explosivo é o que causa estrondo, por exem-
entrada em um local se dá por um meio anormal, que
plos, dinamite, pólvora.
exige do agente esforço físico incomum. Para a dou-
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário
trina majoritária, não é relevante se ocorre por cima
do art. 251 do CP, não se refere a substância explosiva,
ou por baixo, desde que o agente não pratique nenhu-
mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utiliza-
ma forma de destruição ou rompimento de obstáculo,
do para explodir caixas eletrônicos de agências ban-
quando aplicaremos outra qualificadora ao fato.
cárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo
No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso
do art. 155, § 4º A, do CP. Já o crime do art. 251, do CP,
de alguma habilidade especial. Segundo a doutrina, o
podemos trazer a hipótese de o agente que lança um
exemplo clássico é o batedor de carteira.
artefato explosivo num ponto de ônibus e que expõe
Não há a qualificadora quando a vítima percebe a
as pessoas a risco.
subtração. Em tal situação, o agente responde por ten-
O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qua-
tativa de furto simples, ou furto simples consumado,
lificadora em análise, abrange qualquer explosão, seja
140 caso consiga arrebatar o objeto.
ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, ainda que abatido ou dividido em partes no local de
mas o assunto certamente ensejará polêmica. subtração.
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer O bem jurídico primário é o patrimônio do produ-
objeto confeccionado por trabalho mecânico ou à tor e, o secundário é a saúde pública. Isto porque o
mão, por exemplo, as denominadas bombas caseiras. animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem
Para a incidência da qualificadora, seja um explo- que haja fiscalização do poder público, principalmen-
sivo ou artefato que causa perigo comum, ou seja, que te sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na
coloque em risco um número indeterminado de pes-
condição de patrimônio lesado.
soas ou de patrimônios.
Na prática, dificilmente esta qualificadora será apli-
O agente que se utiliza de um explosivo com poten-
cial para causar perigo comum que, entretanto, mes- cada, pois este tipo de delito geralmente é praticado
mo diante da explosão, não se concretiza, responderá, por mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá a quali-
em caso de destruição ou rompimento de obstáculo, ficadora do § 4º, IV, do art. 155, do CP, que é mais grave.
pelo furto qualificado do art. 155, § 4º, I, do CP e não Com efeito, presentes uma das qualificadoras do
pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A. § 4º, exclui-se a incidência da qualificadora em apre-
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de ço, pois sua pena é mais branda, podendo funcionar,
caixas eletrônicos de bancos, sendo que, diante do nesse caso, como circunstância judicial do art. 59 do
advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo CP, servindo de parâmetro apenas para dosagem da
debate travado acerca da adequação típica, que dividia pena-base. Entretanto, outra corrente mais favorável
as opiniões entre o furto qualificado pela destruição ao réu que, com base no princípio da especialidade,
ou rompimento de obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP) e afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de
a explosão com intuito de obter vantagem pecuniária semovente domesticável de produção, impondo-se,
(art. 251, § 2º, do CP). O enquadramento do art. 155, § nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, conside-
4º-A, do CP, absorve delitos de explosão e de dano, pois rando-a novatio legis in melius.
já funcionam como causa de aumento de pena, aplican- O objeto material é o animal domesticável de pro-
do-se o princípio da subsidiariedade tácita. dução, ainda que abatido ou dividido em partes no
local da subtração.
Furto de veículo automotor que venha a ser Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a defi-
transportado para outro Estado ou para o exterior: nição deste elemento normativo é complementada
pelo juiz.
A pena será de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, Para a incidência da qualificadora, é necessário que
se a subtração for de veículo automotor que venha a o agente subtraia o animal por inteiro ou na sua essên-
ser transportado para outro Estado ou para o exterior. cia. O tipo penal refere-se à subtração de semovente,
Não basta, porém, para a incidência da qualifica- e não de partes dele, de modo que quando o animal já
dora, o furto de veículo automotor, pois ainda se exige estava abatido ou dividido em partes a incidência da
o efetivo transporte para outro Estado ou exterior. qualificadora estará condicionada à subtração do todo
Veículo automotor, por exemplo, carros, motos, ou das partes substanciais. Numa hipótese de o agen-
lanchas, aviões e etc. Não é necessário que o transpor- te deixar no local apenas as patas do boi e subtrai o
te para outro Estado ou exterior seja realizado pelo restante, persiste a qualificadora. Não teria cabimento,
próprio agente. Basta que o agente saiba da intenção
por exemplo, qualificar o delito pelo furto de uma pica-
de eventual receptador transportar o veículo para
nha extraída de um animal já abatido. Também, não
outro Estado ou exterior. Quem realiza o transporte
incide a qualificadora quando o próprio agente abate
após a consumação do furto responde pelo crime de
o animal, subtraindo-lhe apenas uma de suas partes.
receptação. Por consequência, o agente que é contra-
tado para realizar o transporte responde pelo furto, se Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário
o contrato for anterior à subtração, e por receptação, que o animal ainda pertença ao produtor, posto que o
se só foi contratado após a consumação. intuito da lei foi protegê-lo.
Consuma-se o transporte quando o veículo trans- A subtração, por exemplo, de um porco que se
põe os limites das fronteiras do Estado ou do país, com encontra no açougue não qualifica o delito.
intuito de ali permanecer. Não há falar-se também no delito em estudo, quan-
A mera condução do veículo para outro Estado ou do se subtrai o leite da vaca ou outro bem produzido
exterior, com o intuito de retornar ao local de origem, pelo animal, porquanto o tipo penal refere-se à sub-
é insuficiente para a caracterização da qualificadora. tração do semovente e não dos bens que ele produz.
Admite-se a tentativa quando o agente realiza a Nessas hipóteses, o furto será simples.
subtração e é preso em flagrante, próximo à trans-
posição da fronteira, antes de obter a posse pacífica. A subtração for de substâncias explosivas ou de
Sabemos que a jurisprudência considera o furto con- acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi-
sumado como o simples apossamento do bem, inde- litem sua fabricação, montagem ou emprego:
pendentemente da posse pacífica. Porém, a tentativa
tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do O objeto material consiste em substâncias explosi-
bem, o furto já se consuma nas modalidades anterio-
DIREITO PENAL

vas ou acessórios que possibilitem a fabricação, mon-


res, ainda que o agente seja preso próximo à fronteira. tagem ou emprego de substância explosiva.
O que é substância explosiva? Substância explosi-
Furto de semovente domesticável (animais,
va é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arre-
como: bovinos, suínos, equinos) de produção, ain-
bentação, por exemplos, pólvora ou dinamite.
da que abatido ou dividido em partes no local de
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
subtração:
conjunto ou isoladamente, são capazes de se transfor-
A pena será de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, mar quimicamente numa substância explosiva, aqui
se a subtração for de semovente domesticável (ani- podemos exemplificar o estopim, a espoleta e o cor-
mais, como: bovinos, suínos, equinos) de produção, del detonante. São estes acessórios que possibilitam 141
a fabricação, montagem ou emprego da substância No caso do furto privilegiado, o juiz poderá ado-
explosiva. A fabricação é a produção ou confecção. tar uma das seguintes medidas:
Montagem é a junção dos componentes.
Emprego é a utilização. z Substituir a pena de reclusão pela de detenção;
O tipo penal não se refere aos maquinários e outros z Diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
objetos que também são utilizados para fabricar, mon- terços);
tar ou utilizar os explosivos, mas tão somente aos aces- z Aplicar somente a pena de multa.
sórios que compõe a própria substância explosiva.
É bom lembrar que configura crime, nos termos Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilé-
do art. 16, parágrafo único, III, da Lei nº 10.846/2003, gio para o furto simples ou para o furto qualificado,
Estatuto do Desarmamento, possuir, deter, fabricar entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser
ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem de natureza objetiva (emprego de chave falsa, por
autorização ou em desacordo com determinação legal exemplo).
ou regulamentar.
Esse delito será absorvido pelo crime do § 7º do art. Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do
155 do CP, pois já funciona como qualificadora. privilégio previsto no § 2º do art. 155 o CP nos casos
A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) de crime de furto qualificado, se estiverem presen-
anos, se a subtração for de substâncias explosivas ou tes a primariedade do agente, o pequeno valor da
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibi- coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.
litem sua fabricação, montagem ou emprego.
O termo “pequeno valor da coisa” é entendido,
Furto Majorado pela jurisprudência, que o valor não excede ao valor
do salário mínimo. É necessário o auto de avaliação.
O furto será majorado quando a ele for aplicado a cau- É claro que o referencial do salário mínimo não é tão
sa de aumento de pena prevista no art. 155, § 1º, do CP. rígido, admitindo-se o privilégio quando a coisa exce-
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri- de modicamente esse valor.
me de furto for praticado durante o repouso noturno. Considera-se “ordem subjetiva”, a hipótese de fur-
Sobre o repouso noturno, considere que, segundo to qualificado por abuso de confiança. Deve-se identi-
o STJ (jurisprudência atual), a causa de aumento de ficar a confiança da vítima para com o agente. E por
pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado. isso não se trata de furto privilegiado.
O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o A regra é que as qualificadoras do crime de fur-
agente, aproveitando-se do repouso noturno, entra to são objetivas, por exemplo, emprego de chave
numa casa para furtar os eletroportáteis. falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto
Há discussão sobre a necessidade de a casa estar qualificado.
habitada e os moradores repousando, para que incida
o aumento de um terço. Furto de uso
Duas teorias tratam da discussão:
Teoria subjetiva: a razão de ser do aumento da Esta conduta não exige a intenção de se apoderar,
pena é a maior proteção à tranquilidade dos que para si ou para outra pessoa, da coisa alheia móvel
repousam, bem como à incolumidade da vítima, que que foi subtraída.
se encontra dormindo e desprotegida. Neste caso, O furto de uso é fato atípico, tal instituto não se
restringem o aumento da pena ao furto cometido em aplica ao crime de roubo.
casa habitada com os moradores repousando. Por exemplo, se o agente subtrai a coisa, com a
Teoria objetiva: o fundamento do aumento da intenção de usar e devolver depois, não cometerá o
pena é a proteção do patrimônio, que, nesse perío- crime de furto.
do, encontra-se vulnerável à subtração. A finalidade Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta,
da lei visa proteger primordialmente o patrimônio, e devolvendo-a após dar uma volta no quarteirão, não
depois a tranquilidade. configura crime de furto.
As duas teorias são aceitas, mas devemos com-
preender que incide o aumento de um terço não só Para o reconhecimento do furto de uso, necessi-
em furtos de residência, mas também em bancos, joa- ta da presença de dois requisitos:
lherias, casas comerciais, bem como de automóveis
estacionados na rua, de gado (abigeato). z Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o
Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o uso duradouro constitui crime de furto. Tratando-
local seja área comercial ou local desabitado. -se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso
momentâneo seguido da pronta restituição exclui
Furto Privilegiado o delito;
z Restituição imediata e integral da coisa, nesta
Está previsto no art. 155, § 2º, do CP. Ocorre, por hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do furto de
exemplo, no caso de o agente, primário, que subtraiu uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a
uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é subtraiu ou nas proximidades.
inferior ao salário mínimo.
Furto de Coisa Comum
São características do furto privilegiado:
Mas, você acabou de dizer que é necessário que a
z Réu primário; coisa seja alheia no crime de furto!
z Coisa furtada de pequeno valor – Segundo a juris- Agora estamos diante de um crime específico, o
142 prudência, até 1 (um) salário mínimo. furto de coisa comum.
O furto de coisa comum, que irá se configurar Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum,
quando o agente for condômino, coerdeiro ou sócio, e podendo ser praticado por qualquer pessoa.
subtrair, para si ou para outrem, a quem legitimamen- Nada obsta que um dos criminosos execute a vio-
te a detém, coisa comum. lência para que o seu comparsa subtraia a coisa. Nesta
Temos aqui um crime próprio, que somente pode- hipótese, ambos serão coautores de roubo.
rá ser praticado pelo condômino, coerdeiro ou sócio. E, quanto ao sujeito passivo, pode ser tanto a pes-
É crime de ação penal pública condicionada à soa que sofre a violência física, moral e imprópria,
representação. quanto aquela que sofre a lesão patrimonial.
O Código Penal é expresso ao fixar que, se a coisa Saiba:
comum for fungível (substituível por outra da mesma O agente que, no mesmo contexto, aborda diversas
espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a vítimas, subtraindo bens de todas elas, por exemplo,
sua subtração caso o valor não exceda a quota a que um assalto no interior do ônibus, responde por tanto
tem direito o agente. roubos quanto forem as vítimas, em concurso formal
Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego de delitos.
sejam sócios. A sociedade é avaliada no valor de R$ No crime de roubo, a conduta do agente recai
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). As partes na sobre a pessoa e coisa alheia móvel.
sociedade são iguais. O objeto material é duplo: pessoa e coisa.
Assim, caso Alessandro subtraia R$ 50.000,00 (cin-
O roubo, previsto no Artigo 157, do CP, é dividi-
quenta mil), não cometerá crime, já que o valor sub-
do em 3 (três) espécies:
traído não é superior à sua quota.
z Roubo próprio: antes ou durante a subtração da
Dica coisa móvel, o agente emprega violência ou grave
ameaça;
O furto de coisa comum não é tão cobrado em z Roubo impróprio: o agente subtrai a coisa móvel,
provas de concursos públicos. Porém, quando em seguida, a fim de assegurar a impunidade do
cobrado, tentam misturar suas características crime ou a detenção da coisa para si ou para ter-
com as características do furto tradicional. ceiro, emprega violência contra pessoa ou grave
ameaça;
z Furto: coisa alheia, crime comum e ação penal z Roubo com violência imprópria: o agente subtrai
incondicionada. coisa móvel alheia, depois de havê-la, por qualquer
z Furto de coisa comum: coisa comum, crime pró- meio, reduzido à impossibilidade de resistência.
prio e ação penal condicionada. Exemplo 1: Tício, fazendo uso de arma de fogo para
intimidar a vítima, anuncia um assalto e subtrai a
Outras Hipóteses mochila de Mévio – temos aqui o roubo próprio.
Exemplo 2: Tício subtrai uma garrafa de vinho
Não há furto na hipótese de o credor subtrair bens caro em um supermercado. Ao sair, verifica que
do devedor para ressarcir-se, pois se trata de um cri- o segurança está vindo em sua direção. Neste
me específico, previsto no art. 345, do CP, exercício momento, Tício, para poder fugir com a garrafa de
arbitrário das próprias razões. Vejamos: “A” deve uma vinho, desfere um soco no rosto do segurança, que
quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o cai – temos aqui o roubo impróprio.
valor da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la. Exemplo 3: Tício conhece Mévia em uma festa.
O furto famélico é aquele em que o agente bus- Os dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero
ca saciar a fome, não é estado de necessidade, salvo na bebida dela, que entra em sono profundo, em
se a subtração for o único meio de se alimentar. Por seguida, o agente subtrai todos o dinheiro existen-
exemplo, a mãe, diante da necessidade de alimentar o te na carteira de Mévia – temos aqui o roubo com
filho, subtrai uma maça de uma barraca de feira para violência imprópria.
alimentá-lo.
O furto em estado de precisão, aquele em que o Roubo Simples
agente está desempregado e subtrai alimentos, eletro-
Irá praticar o crime de roubo o agente que subtrair
domésticos e etc. constitui crime. Por exemplo, o pai,
coisa móvel alheia, para si ou para outrem, median-
estando desempregado e sem condições de manter o
te grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de
sustento da família, subtrai alimentos e eletroportá-
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilida-
teis de um hipermercado para suprir o sustento do lar
de de resistência.
Também irá praticar o crime de roubo o agente
ROUBO E EXTORSÃO que, logo depois de subtraída a coisa, emprega violên-
cia contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar
Roubo a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si
ou para terceiro.
O roubo é a subtração de, por exemplo, um reló-
DIREITO PENAL

gio alheio, para si ou para outrem, mediante violência Vamos falar das características do crime de
contra pessoa. roubo:
O roubo pode ser simples, majorado ou qualifica-
do. Veremos sobre esses assuntos mais adiante! z É crime comum, já que pode ser praticado por
O roubo é delito pluriofensivo, isto é, ofende mais qualquer pessoa;
de um bem jurídico. z É crime complexo, já que atinge mais de um bem
A incriminação do roubo visa a tutela do patrimô- jurídico penalmente relevante (há mais de um cri-
nio, integridade fisiopsíquica, a saúde e a tranquilidade. me configurando o tipo penal do crime de roubo):
Na forma qualificada como latrocínio, tutela-se furto (+) ameaça ou violência;
também a vida. z Não admite a modalidade culposa; 143
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- A segunda causa de aumento ocorre
tado para fins de consumação; quando a vítima está em serviço de
z Para consumação, adota-se, assim como o furto, a transporte de valores e o agente conhe-
teoria da apprehensio, ou amotio. ce tal circunstância.
A SEGUNDA
Objetiva-se tutelar a segurança do
Há duas definições em que devemos ter atenção: MAJORANTE
transporte.
arrebatamento inopino e trombada. Valores abrange dinheiro, joias precio-
No arrebatamento, que é o ato de arrancar com sas e qualquer outro bem passível de
violência a coisa que está em poder da vítima ou no ser convertido em pecúnia.
corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar
do pescoço da vítima. A terceira majorante consiste na sub-
A doutrina se dividi. Alguns defendem a tese de tração de veículo automotor que venha
que a arrebatamento caracteriza violência contra coi- a ser transportado para outro Estado
sa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há ou Exterior.
quem defenda que se trata de violência contra pessoa, A expressão “veículo automotor” abran-
ge, do mesmo modo que estudamos no
configurando crime de roubo, teoria mais aceita.
crime de furto: aeronaves, automóveis,
A trombada contra a vítima tem suas divergências
A TERCEIRA motocicletas, lanchas.
na jurisprudência.
MAJORANTE Para a incidência do aumento da pena,
Há quem afirma que se trata de furto, exceto quan-
é necessário que o veículo seja efetiva-
do reduzir a vítima à impossibilidade de resistência,
mente transportado para outro Estado
quando então configurará roubo.
ou Exterior. Isto porque o transporte
Outra parte defende que sempre se enquadrará na
diminui a possibilidade de recuperação
hipótese de roubo, visto que o ato tem violência física. do bem, facilitando ainda a adulteração
Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que e negociação do veículo, envolvendo,
se trata de furto. muitas vezes, terceiros de boa-fé.

Roubo Majorado A quarta majorante ocorre quando o


A QUARTA agente mantém a vítima em seu poder,
O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o MAJORANTE restringindo a sua liberdade. Viola-se a
agente, sabendo que a vítima está prestando serviço liberdade pessoal de locomoção.
de transporte de valores, subtrai, mediante violência,
A quinta majorante, se a subtração for
os malotes que a vítima portava.
de substâncias explosivas ou de aces-
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis A QUINTA
sórios que, conjunta ou isoladamente,
ao crime de roubo. MAJORANTE
possibilitem sua fabricação, monta-
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até gem ou emprego.
metade:

z Se há concurso de duas ou mais pessoas; z Substância explosiva é a que causa estrondo, dis-
z Se a vítima está em serviço de transporte de valo- solvendo-se com a arrebentação, por exemplo, pól-
res e o agente conhece tal circunstância; vora ou dinamite.
z Se a subtração for de veículo automotor que venha z Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
a ser transportado para outro Estado ou para o conjunto ou isoladamente, são capazes de se trans-
exterior; formar quimicamente numa substância explosiva,
z Se o agente mantém a vítima em seu poder, res- aqui podemos exemplificar o estopim, a espoleta e
tringindo sua liberdade; o cordel detonante. São estes acessórios que pos-
z Se a subtração for de substâncias explosivas ou sibilitam a fabricação, montagem ou emprego da
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, pos- substância explosiva.
sibilitem sua fabricação, montagem ou emprego z A fabricação é a produção ou confecção.
– causa de aumento de pena acrescida pela Lei z Montagem é a junção dos componentes.
13.654/2018; z Emprego é a utilização.
z Se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma branca. Incluído pela Lei nº A última causa de aumento de pena é a violên-
13.964, de 2019, Pacote Anticrimes. cia ou grave ameaça exercida com emprego de arma
branca. Arma branca é a que não é arma de fogo.
Vejamos cada uma das majorantes: Abrange as armas impróprias, que são os instru-
mentos que servem para ataque ou defesa, embora
não seja esta a sua finalidade, como a tesoura, faca
A primeira majorante, concurso de
de cozinha, pedaço de pau, caco de vidro, etc., bem
duas ou mais pessoas, justifica-se pela
como as armas próprias que não sejam de fogo, que
maior organização do delito, aumen-
são os instrumentos cuja finalidade específica é o ata-
tando a possibilidade de consumação
que ou defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês
A PRIMEIRA à medida em que diminui a chance de
e outros.
MAJORANTE defesa da vítima.
Mas, há correntes que consideram arma branca as
Os menores de 18 anos, os doentes
armas próprias, ou seja, o instrumento que tem a fina-
mentais e os desconhecidos, partici-
lidade específica de ataque ou defesa.
pantes da conduta criminosa, também
A majoração da pena consiste no uso efetivo ou
são computados.
144 exibição ostensiva da arma branca.
Atente-se: Quanto à arma de brinquedo, não funciona como
Em relação à causa de aumento de pena referente causa de aumento de pena, pois não se trata de arma
ao concurso de duas ou mais pessoas, entende o STJ, de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execu-
em se tratando de hipótese de associação criminosa, ção de um roubo simples.
que os agentes respondem pelo roubo com aumento Quanto à arma descarregada, também não majora
de pena e pelo crime de associação criminosa, em con- a pena do roubo, falta-lhe potencialidade ofensiva e,
curso material. portanto, não se trata de arma, respondendo o agente
por roubo simples.
O roubo praticado com restrição da liberdade é Já a arma não apreendida, compete ao agente
aquele que o agente mantém a vítima em seu poder, exibi-la em juízo para que seja periciada, sob pena
restringindo a sua liberdade. Por exemplo, imagine de incidência da majorante diante da presunção de
que Tiago, portando uma faca, anuncie um assalto potencialidade ofensiva.
para subtrair o veículo de Diego. O autor subtrai o veí- Se a violência ou ameaça é exercida com emprego
culo, coloca a vítima no porta-malas e o leva por 10 de arma de fogo – causa de aumento de pena acresci-
quilômetros, liberando-o em seguida. da pela Lei 13.654/2018, devemos observar o seguinte:
No exemplo acima, será aplicada a causa de
aumento de pena a Tiago, já que ele restringiu a liber- z Quem praticou o crime de roubo com arma branca
dade de Diego, vítima do roubo. antes da Lei nº 13.654/2018 não terá incidência de
A pena será aumentada de 2/3 (dois terços): majorante.
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca
z Se a violência ou ameaça é exercida com emprego depois da Lei nº 13.654/2018 e antes do pacote anti-
de arma de fogo – causa de aumento de pena acres- crime não terá incidência de majorante.
cida pela Lei 13.654/2018; z Quem praticou o crime de roubo com arma bran-
z Se há destruição ou rompimento de obstáculo ca depois do pacote anticrime terá a incidência da
mediante o emprego de explosivo ou de artefa- majorante de 1/3 a 1/2.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
to análogo que cause perigo comum – causa de
de uso permitido antes da Lei nº 13.654/2018 terá a
aumento de pena acrescida pela Lei 13.654/2018.
incidência da majorante de 1/3 a 1/2.
Se a violência ou grave ameaça é exercida com z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, de uso permitido depois da Lei nº 13.654/2018 terá
aplica-se em dobro a pena. a incidência da majorante de 2/3.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de
Pena prevista: reclusão de quatro a dez anos, e
fogo de uso restrito ou proibido antes da Lei nº
multa. Aplica-se a pena e multiplica por dois.
13.654/2018 terá a incidência da majorante de 1/3
Aqui estamos diante de três majorantes do roubo
a 1/2.
com emprego de arma de fogo.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de
São elas: fogo de uso restrito ou proibido depois da Lei nº
13.654/2018 e antes do pacote anticrime terá a inci-
É aquela cujo porte é passível dência da majorante de 2/3.
de obtenção. Nesse caso, a z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
ARMA DE FOGO DE pena é aumentada de 2/3 (dois de uso restrito ou proibido depois do pacote anti-
USO PERMITIDO terços), por força do art. 157, § crime terá pena em dobro.
2º-A, I, do CP, introduzido pela
Lei nº 13.654/2018. Vamos estudar agora o roubo majorado pela des-
É aquela cujo porte é restri- truição ou rompimento de obstáculo com emprego de
to a determinadas pessoas. explosivo.
ARMA DE FOGO DE Neste caso, a pena é dobrada, Observa-se que a qualificadora do §4-A, do crime
USO RESTRITO nos termos do art. 157, § 2º-B, de furto, tem incidência ainda que não haja destrui-
do CP, introduzido pela Lei nº ção ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego
13.964/2019. de explosivo ou de artefato que cause perigo comum,
ao passo, no roubo, a majorante em análise depen-
É aquela cujo porte é vedado. de, além do explosivo ou artefato que cause perigo
A pena também é dobrada, comum, que haja ainda destruição ou rompimento de
ARMA DE FOGO DE obstáculo.
nos termos do art. 157, § 2º-B,
USO PROIBIDO
do CP, introduzido pela Lei nº
13.964/2019. Roubo Qualificado

O roubo será qualificado pelo resultado em duas


Justifica-se a majorante, em razão da maior poten- hipóteses:
DIREITO PENAL

cialidade lesiva do fato, que cria risco de morte à


vítima. z Lesão corporal grave;
O porte velado, oculto, não majora a pena do rou- z Morte – latrocínio.
bo, porque a lei exige o emprego da arma, consisten-
te no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide A doutrina majoritária entende que a lesão cor-
a majorante quando a violência ou grave ameaça é poral grave e a morte não precisam ser praticadas
exercida com emprego de arma de fogo. intencionalmente pelo agente, ou seja, é possível que
Observe que o roubo majorado absorve o delito de o roubo seja qualificado pelo resultado, mesmo se o
arma de fogo, previsto na legislação especial, que já resultado tiver sido provocado pelo agente culposa-
funciona como causa de aumento de pena. mente, quando ele faz uso de violência. 145
Iniciaremos o estudo do roubo qualificado pela Não há necessidade que morra a vítima do patri-
lesão corporal. mônio, sendo suficiente, para a caracterização do deli-
Se da violência resulta: lesão corporal grave, a to, a morte de qualquer outra pessoa.
pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos
multa. com unidade de subtração patrimonial, haverá um só
Entende-se por lesão grave, nesta qualificadora, delito de latrocínio. Por exemplo, o agente mata três
tanto os resultados previstos nos § 1º, do art. 129, do empregados e em seguida subtrai bens do patrão.
CP (lesão corporal grave), quanto os previstos no § 2º, O latrocínio é delito qualificado pelo resultado,
do art. 129, do CP (lesão corporal gravíssima). tendo em vista a duplicidade de eventos. A morte
Se houver lesão leve, o roubo é simples. pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente na
Trata-se de crime qualificado pelo resultado.
hipótese de o latrocínio ser na modalidade culposa é
A lesão grave pode ocorrer a título de dolo ou culpa,
que o delito será preterdoloso.
sendo que, nessa última hipótese, o delito será preter-
A morte deve decorrer da violência física. Se decor-
doloso. Em ambos os casos, o delito de lesão corporal
rer de grave ameaça ou violência imprópria, exclui-se
é absorvido, porque já funciona como qualificadora.
Observe que se houver lesão grave consumada o delito de latrocínio, respondendo o agente por rou-
e subtração patrimonial tentada, para uns autores bo em concurso com homicídio.
haverá o crime do art.157, § 3º, 1ª parte, consumado, Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre
outros, porém, sustentam que o delito seria tentado. o latrocínio, fique atento ao seguinte: o latrocínio é o
O roubo qualificado pelo resultado morte, o latro- roubo qualificado pelo resultado da violência empre-
cínio, é um crime qualificado pelo resultado morte. gada pelo agente, resultando-se uma morte.
Por incrível que pareça, não se trata de crime con- Logo, se a morte resultar de outro elemento que
tra vida, mas sim de crime contra o patrimônio. não seja a violência empregada, não há que se falar
Constitui crime hediondo. em latrocínio.
Para compreendermos o momento de consumação O emprego de arma de brinquedo não caracteriza
do latrocínio, é necessário que você conheça a Súmula a aplicação da causa de aumento de pena, entretanto,
610 do STF. pode contribuir para a configuração do crime de rou-
bo, já que pode caracterizar a grave ameaça.
Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando
o homicídio se consuma, ainda que não realize o Extorsão
agente a subtração de bens da vítima.
O crime de extorsão, previsto no art. 158, do CP, irá
SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO se configurar quando o agente constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de
Consumada Tentada Latrocínio tentado
obter para si ou para outrem indevida vantagem eco-
Tentada Tentada nômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa.
Consumada Consumada Latrocínio consumado Por exemplo, o agente chantageia uma mulher e o
marido, ameaçando de morte o seu filho, objetivando
Tentada Consumada
a obtenção de vantagem econômica.
Neste crime, observe que não se fala em coisa
móvel, mas sim em indevida vantagem econômica.
Importante! Logo, para a configuração da extorsão, é possível que
a vantagem econômica seja coisa imóvel.
Caso o agente mate o seu comparsa, após a
prática do roubo, para ficar com a vantagem do
Características da Extorsão:
crime somente para si, não há que se falar, neste
caso, em crime de latrocínio.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
A palavra latrocínio não se encontra no atual Códi- z É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio
go Penal. Trata-se de uma expressão tradicional. quanto a liberdade individual;
O latrocínio pode ser próprio ou impróprio: z Não admite a modalidade culposa (só pode ser pra-
O latrocínio próprio ocorre quando a morte ocorre ticado dolosamente);
antes ou durante a subtração da coisa, por exemplo, z É crime formal, que se consuma com o constran-
o agente mata o empregado de um estabelecimento gimento, mediante violência ou grave ameaça,
comercial, subtraindo em seguida o dinheiro do caixa. independentemente de o agente conseguir ou não
No latrocínio impróprio, o agente primeiro se obter a indevida vantagem econômica.
apodera da coisa, sem qualquer violência, matando
a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-
a subtração ou a impunidade. Por exemplo, o agen- -se independentemente da obtenção da vantagem
te, logo após subtrair um bem, mata o policial que o indevida.
surpreende.
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão É importante que você não confunda o crime de
patrimonial, quanto aquela que é morta, podendo extorsão com o crime de roubo, que acabamos de
esta última ser até mesmo um policial ou terceiro. estudar:
Observe que estamos diante de crime pluriofensi- Roubo: o agente emprega a violência ou grave
vo, que ofende mais de um bem jurídico, qual seja, o ameaça, visando à subtração; a participação da víti-
146 patrimônio e a vida. ma é dispensável;
Extorsão: o agente emprega a violência ou grave Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocor-
ameaça para determinar um comportamento da víti- re quando, em razão da violência, resulta a lesão cor-
ma e obter indevida vantagem econômica; a partici- poral de natureza grave ou morte.
pação da vítima é indispensável, sem ela, o autor não Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de
consegue obter a indevida vantagem econômica. 7 a 15 anos, além de multa; no caso de morte, reclusão
de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
No delito de extorsão, há a presença dos seguin- Observe que a lesão grave ou a morte deve decor-
tes elementos: rer de violência física, podendo ocorrer a título de
dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando
z O constrangimento para obter da vítima uma ação, resultar de grave ameaça.
omissão ou tolerância;
z Emprego de violência ou grave ameaça; Extorsão qualificada pelo sequestro – sequestro
z Finalidade de obter, para si ou para outrem, inde- relâmpago
vida vantagem econômica.
Dispõe o § 3º do art. 158, do CP, que se o crime é
Tutela-se a propriedade, a posse, a integridade cometido mediante restrição da liberdade da vítima, e
física e fisiopsíquica bem como a liberdade pessoal. essa condição é necessária para a obtenção da vanta-
Trata-se de delito pluriofensivo, porque ofende mais gem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 anos,
de um bem jurídico. além de multa. Se resultar lesão corporal grave ou
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum, morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, § 2º e
podendo ser praticado por qualquer pessoa. Obser- § 3º, respectivamente.
ve que o funcionário público também pode cometer Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio
extorsão. A doutrina ilustra a hipótese de o escri- veículo, sendo coagida a percorrer caixas eletrônicos
vão de polícia que exige dinheiro de uma pessoa para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o
para influenciar o delegado de polícia a realizar o código secreto de seu cartão bancário magnético.
indiciamento.
O bem jurídico protegido é o patrimônio e a liber-
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou
dade pessoal de movimento, isto é, o direito de ir, vir e
jurídica, inclusive a que sofre constrangimento sem
ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se,
lesão patrimonial.
destarte, à extorsão mediante sequestro.
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que signi-
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se
fica coagir, forçar, obrigar alguém a fazer, deixar de
de crime comum.
fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não
É ainda crime permanente, viabilizando-se,
lhe impõe.
O delito é punido a título de dolo. O agente visa enquanto não cessar o estado de permanência, a par-
conseguir da vítima uma ação ou omissão, com o fim ticipação, a legítima defesa e a prisão em flagrante.
de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física
econômica. ou jurídica.
A finalidade específica é a intenção de obter uma Admite-se a presença de mais de um sujeito passi-
vantagem indevida e econômica. vo. Por exemplo, o extorsionário realiza o sequestro
A vantagem econômica pode consistir em bem relâmpago do dirigente de uma pessoa jurídica, obri-
móvel ou imóvel, diferentemente do roubo, cuja van- gando-o a assinar cheques da empresa.
tagem restringe-se ao bem móvel. Para sua tipificação, exige-se a presença dos ele-
A vantagem, além de econômica, deve ainda ser mentos da extorsão fundamental: constrangimento,
indevida, contrária ao direito. por meio de violência ou grave ameaça, para se obter
da vítima uma ação ou omissão, com o fim de obter,
Extorsão qualificada: para si ou para outrem, indevida vantagem econômica.
Observe que, se a vantagem for absolutamente
Dispõe o § 1º do art.158, do CP, que se o crime é impossível de se obter, não há extorsão, respondendo
cometido por duas ou mais pessoas, ou com o empre- o agente apenas pelo delito de sequestro. Por exem-
go de arma, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade. plo, sequestro relâmpago para obrigar menor impú-
Por exemplo, dois agentes chantageiam uma bere a assinar nota promissória.
mulher, ameaçando de morte a sua mãe, objetivando Não esqueça, além do constrangimento, por meio
a obtenção de vantagem econômica. de violência ou grave ameaça, exige ainda a restrição
Trata-se de causa de aumento de pena em quan- da liberdade, isto é, um sequestro “relâmpago”, rápido
tidade fixa, que, em face da posição topográfica, é No roubo, a violência pode ser anterior, concomi-
inaplicável à extorsão do § 2º do art.158. tante ou posterior à obtenção da vantagem, ao passo
São duas as majorantes da pena, vejamos: que, na extorsão, o legislador é omisso quanto à vio-
lência posterior, de modo que esta deve ser anterior
z Concurso de duas ou mais pessoas. ou concomitante à obtenção da vantagem.
DIREITO PENAL

z Emprego de arma. Observe que há emprego de Para que o sequestro relâmpago fique configura-
qualquer arma, própria ou imprópria, não neces- do, o Código Penal exige a restrição da liberdade da
sita ser arma de fogo. vítima e que essa condição seja necessária para a
obtenção da vantagem econômica.
Extorsão qualificada pelo resultado: Ex.: “A”, criminoso conhecido na Cidade, aborda
“B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan-
Vejamos que o § 2º do art. 158, do CP, dispõe que do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco-
será aplicado a extorsão praticada mediante violência nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo
ao disposto no § 3° do artigo anterior, ou seja, do cri- de origem duvidosa, ao Banco, constrangendo a víti-
me de roubo. ma, que sacar R$ 1.000,00 para o autor. 147
No exemplo acima, ficou configurado o crime de for ao local combinado com os sequestradores, a pedi-
extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os do de seus patrões, entregar o resgate e for morto
elementos: pelos autores, a qualificadora será aplicada da mesma
forma (observe que o empregado não é vítima do cri-
z Emprego de grave ameaça; me – não foi sequestrado e nem pagou o resgate).
z Constrangimento à vítima; A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão
z Objetivo de obter indevida vantagem econômica; mediante sequestro, segundo entendimento doutriná-
z Restrição da liberdade, que foi condição necessá- rio dominante, quando dela for exigida a vantagem
ria para obtenção da vantagem. correspondente ao resgate.
A extorsão mediante sequestro traz em suas dis-
Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o posições a possibilidade de aplicação do instituto da
resultado morte ou o resultado lesão corpora de delação premiada.
natureza grave, o agente será punido com as mes- A delação será aplicada no caso de o crime ser
mas penas aplicadas ao crime de extorsão median- cometido em concurso de pessoas, ao concorrente
te sequestro qualificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos, que denunciar à autoridade, facilitando a libertação
respectivamente). do sequestrado.
Neste caso, o concorrente que denunciou terá a
Extorsão Hedionda
pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
O delito de extorsão só é crime hediondo na situa-
Extorsão Mediante Sequestro Qualificada
ção do art. 158, § 3º, do CP.
Esta hipótese foi introduzida pela lei 13.964/2019. No § 1º do art. 159, do CP, está prevista a extorsão
Assim, dispõe o art. 1 º, III, da Lei nº 8.072/1990, mediante sequestro qualificada, passando ser a pena
que é crime hediondo a extorsão qualificada pela res- de 8 a 15 anos para de 12 a 20 anos de reclusão, na
trição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão cor- hipótese de o sequestro durar mais de 24 (vinte e qua-
poral ou morte. tro) horas, ou quando o sequestrado for menor de 18
A Lei nº 13.964/2019, em vez de manter como hedion- anos, ou maior de 60 anos, ou ainda quando o crime
do o art. 158, §2º, do CP e acrescentar o 158, §3º, do CP, for cometido por quadrilha ou bando.
em sua nova redação, só fez menção ao art. 158, §3º. Trata-se de qualificadora, porque o preceito secun-
Por exemplo, o agente restringe a liberdade da víti- dário tem pena própria.
ma, com o emprego de violência à sua pessoa como
forma de obter indevida vantagem econômica. Há quatro qualificadoras:

Extorsão Mediante Sequestro z Se o sequestrado é menor de 18 anos;


z Se o sequestro dura mais de 24 horas;
A extorsão mediante sequestro, prevista no Artigo z Se o sequestrado é maior de 60 anos;
159 do Código Penal, se configurará quando o agente z Se o crime é cometido por quadrilha ou bando.
sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço A primeira encontra sua razão de ser na maior fra-
de resgate. gilidade emocional do sequestrado menor de 18 anos,
Neste crime, amigos, temos a restrição da liberdade cuja personalidade encontra-se ainda em formação.
da vítima (mediante sequestro ou cárcere privado), só A segunda qualificadora, o sequestro que dura
que o agente possui uma finalidade específica (exige-se mais de 24 horas, é um crime a prazo, porque o seu
dolo específico): obter qualquer vantagem (segundo a reconhecimento depende de um lapso de tempo.
doutrina, deve ser vantagem indevida e de natureza Quanto mais duradouro o sequestro, maior o sofri-
patrimonial), como condição ou preço de resgate. mento da vítima e familiares, daí a razão da qualifi-
cadora. Contam-se as horas, minuto a minuto, a partir
Características da extorsão mediante sequestro: do início da privação da liberdade.
A terceira qualificadora foi introduzida pelo Esta-
z É crime comum – qualquer pessoa pode cometê-lo;
tuto do Idoso. Ocorre quando o sequestrado é maior
z É crime complexo (junção de 2 (dois) crimes –
de 60 anos. Se no início do sequestro era menor de ses-
extorsão mais sequestro ou cárcere privado;
senta, ao atingir esta idade incide a causa de aumen-
z É crime permanente, já que sua conduta se protrai
to, caso ainda esteja em poder dos sequestradores. Há
(prolonga) – atenção com a aplicação da Súmula
tese que afirma que a lei diz maior de 60 anos, motivo
711 do STF;
pelo qual não se aplica qualificadora.
z É crime formal, que se consuma com a restrição da
A quarta qualificadora, crime cometido por quadri-
liberdade, desde que motivada pela obtenção de
lha ou bando, justifica-se pela maior organização dos
condição ou preço de resgate.
sequestradores, aumentando as chances de êxito no
z Não admite a modalidade culposa;
delito. Quadrilha ou bando é a associação estável ou
z Admite tentativa. permanente entre três ou mais pessoas, com o intuito
É importante mencionar que o agente deve seques- de cometer uma série indeterminada de delitos.
trar “pessoa”. Caso seja um animal (parece bobo, mas Extorsão mediante sequestro qualificada pelo
já foi cobrado em prova), não haverá o crime de extor- resultado
são mediante sequestro.
É importante mencionar um entendimento defen- A extorsão mediante sequestro é qualificada se do
dido pela doutrina majoritária: sobre o resultado fato resulta:
morte, não é necessário que seja a vítima, podendo ser
qualquer pessoa em decorrência da extorsão median- z Lesão corporal de natureza grave; ou
148 te sequestro. Assim, por exemplo, se um empregado z Morte.
Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima da liberdade, colocando-a sob vigilância em um cativeiro. Em
seguida, visando obter vantagem, exige de familiares da vítima o preço do resgate, mas devido a um impasse com
os familiares, o agente mata a vítima.
O § 2º do 159, do CP, dispõe que se o fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena cominada é de reclu-
são, de 16 a 24 anos.
E o § 3º do 159, do CP, dispõe que se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas.
Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são, absorvidos, porque já funcionam
como qualificadoras.
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como pena mínima 24 anos
de reclusão.
Não há necessidade que seja provocado por violência física ou grave ameaça. O suicídio do sequestrado, por
exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora, porque em tal situação é evidente a culpa dos
sequestradores.

A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:

Se o sequestro du- Se o sequestra- Se o crime é come- Se do fato resultar Se do fato resultar


rar mais de 24 (vin- do é menor de 18 tido por bando ou lesão corporal de a morte
te e quatro) horas (dezoito) anos ou quadrilha (agora é natureza grave
maior de 60 (ses- associação crimi-
senta) anos nosa - responde
pelos 2 crimes)

Reclusão de 12 a Reclusão de 12 a Reclusão de 12 a Reclusão de 16 a Reclusão de 24 a


20 anos 20 anos 20 anos 24 anos 30 anos

Causa de redução de pena

Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do


sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços, conforme disposto no § 4º do art.159, do CP.
Para que incida a redução da pena, que a delação tenha sido feita à autoridade, devendo essa expressão ser
tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do combate à criminalidade, por exemplo,
juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13, da Lei nº 9.807/1999, dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão judicial ao acusado que, sen-
do primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa
colaboração tenha resultado cumulativamente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima com sua
integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Presentes apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3, independentemente da
primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807/1999.

Extorsão Indireta

A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimen-
to criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito acima, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três)
anos, enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que
possa dar causa a procedimento criminal – pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abu-
sou da condição da vítima.
DIREITO PENAL

No verbo exigir, este crime é formal, consumando-se com a exigência do documento.


Já no verbo receber, é crime material, consumando-se com o efetivo recebimento do documento.
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter criminis fracionado.
É crime comum, já que não se exige qualquer condição especial do sujeito.

USURPAÇÃO

Alteração de Limites

O objetivo da lei é resguardar a posse e a propriedade dos bens imóveis. 149


Esse tipo penal possui duas condutas típicas É possível que o agente invada a propriedade
alternativas: alheia sozinho ou em concurso com apenas mais uma
pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça.
z Supressão, ou seja, a total retirada do marco divisório; Nesse caso, o fato é atípico. Não obstante, o art. 1.210,
z Deslocamento do marco divisório, afastando-o § 1º, do Código Civil, permite que o dono retome a pos-
do local correto, de modo a aumentar a área do se, desde que o faça imediatamente, por meio do cha-
agente. mado desforço imediato.
É necessário que o agente tenha intenção de apro- Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica,
priar-se, no todo ou em parte, da propriedade alheia, o invasor empregar violência para se manter na posse
por meio da supressão ou deslocamento do marco quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo
divisório. desforço imediato, haverá a configuração do delito.
Temos, por exemplo, a hipótese que não configu- O crime só existe se a invasão se dá com o fim espe-
ra crime, o fato de um agricultor retirar a cerca que cífico de esbulho possessório, ou seja, a retirada força-
divide as terras com outro proprietário apenas para da do legítimo possuidor, desde que o agente queira
reformá-la. excluir a posse da vítima para passar a exercê-la ele
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser próprio.
praticado pelo vizinho do imóvel, quer na zona urba- O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o
na, quer na rural. dono.
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só Trata-se de crime comum.
pode ser o vizinho, dono ou possuidor do imóvel. O dono que invade imóvel alugado não incorre no
Consuma-se no exato instante em que o agente tipo penal em análise, que exige expressamente que o
suprime ou desloca o marco divisório, ainda que a bem seja alheio.
vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a Dependendo da hipótese, poderá incorrer em cri-
parte de que foi tolhida. me de violação de domicílio (art. 150) ou retirada de
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado coisa própria do poder de terceiro (art. 346 do CP).
iniciando a supressão ou deslocamento e é impedido Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imó-
de prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já vel invadido.
mencionado, o crime está consumado, ainda que a Consuma-se no momento da invasão.
vítima retome posteriormente a parte a que faz jus. É possível quando a invasão não se aperfeiçoe em
Usurpação de Águas razão da oposição apresentada pelo dono, possuidor
ou por terceiro.
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas Observe que se o agente comete o esbulho com
ou particulares que passem por determinado local, emprego de violência, responde também pelas lesões
evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso corporais causadas, ainda que leves, nos termos do
alguém queira desviar o seu curso ou represá-las, sem art. 161, § 2º, do CP e as penas serão somadas.
autorização para tanto.
Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja Supressão ou Alteração de Marca em Animais
desviado ou represado pelo agente, alterando, portan-
to, seu fluxo pela propriedade. Este crime tutela a propriedade e a posse dos ani-
mais semoventes.
Dica Para a prática deste crime é necessário que não
Não configura crime de usurpação de águas, tenha havido prévio furto ou apropriação indébita
mas crime de furto, quando se trata de água reti- dos animais, pois, nesses casos, o agente só será puni-
do pela conduta anterior, sendo a supressão ou altera-
rada de água represada pelo dono para criação
ção da marca impunível.
de peixes.
A conduta típica consiste em apagar ou modificar
o sinal indicativo de propriedade em gado ou rebanho
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra- alheios.
ta-se de crime comum. Quando a lei se refere a gado, está protegendo a
O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que propriedade de animais de grande porte, como bois
pode sofrer dano em decorrência do desvio ou ou cavalos, e quando se refere a rebanho, o faz em
represamento. relação a animais de porte menor, como porcos, ove-
Consuma-se o crime no instante em que o agente lhas, cabras e etc.
efetua o desvio ou represamento, ainda que não obte- Marcas são feitas por ferro em brasa ou elementos
nha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o químicos no couro do animal.
texto legal se refere. A tentativa é possível. Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive
quem possui animal que pertence a terceiro.
Esbulho Possessório
O sujeito passivo é dono do animal.
Veja que o crime de esbulho possessório tem por
objeto jurídico o patrimônio, no tocante à propriedade Consuma-se com a simples supressão ou alteração
e, especialmente, à posse legítima de um imóvel, bem da marca ou sinal, ainda que se dê apenas em relação
como a integridade física e a liberdade individual da a um animal.
pessoa humana atingida pela conduta criminosa. É possível a tentativa quando o agente não conse-
Pressupõe-se, neste crime, a invasão de proprieda- gue concretizar a remarcação iniciada, pela repentina
de imóvel alheia, edificada ou não, desde que o fato se chegada de alguém ao local, ou até mesmo quando
dê mediante emprego de violência ou grave ameaça concretiza a remarcação, porém a faz de tal forma
a pessoa, bem como mediante concurso de duas ou que continua sendo possível identificar a marca do
150 mais pessoas. verdadeiro dono.
DANO Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra
o dano causado por animais.
O crime de dano, previsto no art. 163, do CP poderá O objetivo primordial da lei é a proteção da pro-
ser praticado mediante a execução das seguintes con- priedade rural, onde o delito é comumente cometido.
dutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina urbana, tendo em vista que a lei não restringiu a exis-
estabelece sobre cada um dos verbos): tência do delito à propriedade rural.
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido
z Destruir – dano total da coisa alheia; por qualquer pessoa.
z Inutilizar – dano parcial, mas que torna a coisa Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor,
alheia sem utilidade; titulares do patrimônio ofendido.
z Deteriorar – dano parcial da coisa alheia, que fica Consuma-se com a danificação total ou parcial da
estragado, por exemplo. propriedade alheia, isto é, com o efetivo prejuízo.
Este crime somente se procede mediante queixa.
Tutela-se a propriedade e a posse.
Trata-se de crime doloso. Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou
O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que Histórico
seja móvel. Portanto, caso o agente destrua, por exem-
plo, uma casa, praticará o crime de dano. O proprietário comete o delito de dano ambien-
Características do crime de dano: tal, previsto no art. 62 da Lei nº 9.605/98, e não do art.
165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quando
z Crime comum – pode ser praticado por qualquer tratar-se de coisa de valor artístico, arqueológico, his-
pessoa; tórico ou outro bem especialmente protegido por lei,
z Não admite a forma culposa. O dano culposo cons- ato administrativo ou decisão judicial, pois nesse tipo
titui ilícito de ordem civil; penal não se exige que a coisa seja alheia.
z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
tado (destruição, inutilização ou deterioração). Alteração de Local Especialmente Protegido

Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605/1998, que
deteriora a coisa. dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou
A danificação parcial constitui crime consumado, estrutura de edificação ou local especialmente prote-
enquadrando-se no verbo deteriorar. gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico,
Dano Qualificado artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico,
etnográfico ou monumental, sem autorização da auto-
O dano será praticado na modalidade qualificada, ridade competente ou em desacordo com a concedida.
se o dano for cometido em uma das hipóteses a seguir: A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa.

z Com violência à pessoa ou grave ameaça. Ação Penal


z Com emprego de substância inflamável ou explo-
siva, se o fato não constitui crime mais grave (caso A ação penal é privada no dano simples (art.163,
constitua crime mais grave, o agente responderá caput, do CP) e no dano qualificado por motivo egoís-
por ele e não pelo dano). tico ou considerável prejuízo para a vítima (art.163,
z Contra patrimônio da União, de Estado, do Distri- parágrafo único, inciso IV, do CP). Nas demais formas
to Federal, de Município ou de autarquia, fundação de dano qualificado, a ação é pública incondicionada.
pública, empresa pública, sociedade de economia mis-
ta ou empresa concessionária de serviços públicos. APROPRIAÇÃO INDÉBITA
z Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
para a vítima.
O crime de apropriação indébita está previsto no
artigo 168 do Código Penal. Este crime irá se confi-
Caso o crime de dano seja praticado com violência
gurar quando o agente se apropriar de coisa alheia
à pessoa (forma qualificada vista acima), o agente res-
móvel, de que tem a posse ou a detenção.
ponderá pelo crime de dano em concurso com a pena
correspondente à violência. Neste crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel.
Das hipóteses acima, com exceção da qualificadora Para que você compreenda a apropriação indébi-
por motivo egoístico ou com prejuízo para a vítima ta, é necessário que você saiba que o agente já tem
(ação penal privada), nos demais casos, a ação penal a posse ou a detenção da coisa, passando, posterior-
DIREITO PENAL

será pública incondicionada. mente, a agir como se fosse dono da coisa.


Você não pode confundir a apropriação indébita
Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade com o crime de estelionato.
Alheia Veja a diferença:

Dispõe o art.164, do CP, que é crime a conduta de z Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa
introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, de boa-fé, depois, muda seu ânimo e passa a agir
sem consentimento de quem de direito, desde que do como se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé).
fato resulte prejuízo: pena – detenção, de 15 dias a 6 z Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
meses, ou multa. com a intenção de ficar com ela desde o início. 151
A apropriação indébita é crime que decorre de z Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
uma relação de confiança entre o autor e a vítima. importância destinada à previdência social que
Este entrega a coisa móvel ao agente, devido à con- tenha sido descontada de pagamento efetuado a
fiança que deposita nele. segurados, a terceiros ou arrecadada do público.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas, z Recolher contribuições devidas à previdência
depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen- social que tenham integrado despesas contábeis
te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a ou custos relativos à venda de produtos ou à pres-
agir como dono dela. tação de serviços.
Veja as principais características da apropriação z Pagar benefício devido a segurando, quando as
indébita: respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem-
bolsados à empresa pela previdência social.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Trata-se de norma penal em branco, complemen-
quer pessoa;
tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária
z Não admite a forma culposa;
correspondente.
z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá-
Veja as características do crime de apropriação
ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja, indébita previdenciária:
é o conjunto de um só ato, a realização da condu-
ta esgota a concretização do delito, por exemplo, z É crime omissivo, como falado acima, já que o
apropriar-se de objeto de valor; agente não pratica a conduta que se espera dele
z É crime material, que se consuma quando o agente (repassar);
inverte a posse da coisa alheia móvel. z Não admite a modalidade culposa;
z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o
Aumento de Pena STF, não é necessário dolo específico (especial fim
de agir);
A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando z Não admite tentativa.
o agente receber a coisa:
O entendimento majoritário na doutrina é o de que
z Em depósito necessário; a apropriação indébita previdenciária é crime formal
z Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida- e, por isto, dispensa-se o enriquecimento indevido por
tário, inventariante, testamenteiro ou depositário parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário.
judicial; Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que
z Em razão de ofício, emprego ou profissão. o crime de apropriação indébita previdenciária é
material, pois quando o agente omitiu o repasse, con-
Apropriação indébita previdenciária figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen-
te prejuízo ao Erário.
O crime de apropriação indébita previdenciário Decisão esta que corrobora com o entendimento
é um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo exarado na Súmula Vinculante nº 24.
substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as
Na linha da jurisprudência deste Tribunal Supe-
contribuições sociais em nome do INSS para depois
rior, o crime de apropriação indébita previden-
repassá-las. ciária, previsto no art. 168-A, ostenta natureza de
No caso do contribuinte individual, ele é o res- delito material. Portanto, o momento consumativo
ponsável por esse desconto das contribuições e pelo do delito em tela corresponde à data da constitui-
repasse ao INSS, de modo que é ele que irá responder ção definitiva do crédito tributário, com o exauri-
pelo crime. mento da via administrativa (ut, (RHC 36.704/SC,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe
No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
26/02/2016). Nos termos do art. 111, I, do CP, este
ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem é o termo inicial da contagem do prazo prescricio-
o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a nal” (AgRg no REsp 1.644.719/SP, DJe 31/05/2017).
contribuição arrecadada.
Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia Importante estudar também o tema do princípio
federal, de modo que a competência é da Justiça Federal, da insignificância no crime de apropriação indébita
conforme o art. 109, inciso IV da Constituição Federal. previdenciária.
Logo, o sujeito passivo é o INSS. Neste caso, a Portaria nº 296/2007 da Previdência
Social diz que o INSS não executa, não move ação de
execução fiscal por dívida de até R$ 10 mil, de modo
Importante! que se o indivíduo pagasse débitos até esse valor a
punibilidade estaria extinta pelo perdão judicial,
Conduta principal: ficará configurada quando o obviamente, desde que ele seja primário e de bons
agente deixar de repassar à previdência social antecedentes.
as contribuições recolhidas dos contribuintes, Não se trata de aplicação do princípio da insigni-
no prazo e forma legal ou convencional. ficância, porque a dívida tem um valor significativo,
mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$
200 ou R$ 300 ele poderá ser absolvido pelo princípio
Observe que o tipo penal principal é praticado na da insignificância.
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoá-
uma conduta que deveria (repassar à previdência as vel de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que não é preciso
contribuições recolhidas após reter os valores). mover a execução fiscal, nesse caso o réu poderá rece-
Condutas equiparadas: receberá a mesma pena do ber o perdão judicial ou então ser condenado apenas
152 crime principal o agente que deixar de: na pena de multa, conforme o § 3º do art. 168, CP.
A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o
punibilidade), caso o agente, espontaneamente, decla- agente recebe, identifica que não lhe pertence, mas
re, confesse e efetue o pagamento das contribuições, fica com o patrimônio.
importâncias ou valores e preste as informações devi- O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a
das à previdência social, na forma definida em lei ou disponibilidade da coisa ao sujeito ativo. É necessário
regulamento, antes do início da ação fiscal. que o agente não perceba o aludido erro.
Apesar de o Código Penal estabelecer que a condu- Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e
ta do agente, para que sua punibilidade seja extinta, de quem recebe a coisa.
seja praticada antes do início da ação fiscal, o STF e Quanto à distinção entre caso fortuito e força da
o STJ têm admitido a aplicação da exclusão da puni- natureza, uma parcela significativa da doutrina consi-
bilidade com o pagamento efetuado a qualquer tem- dera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos
po, desde que antes do trânsito em julgado (sentença estabelecer uma diferenciação.
definitiva). Força da natureza é o acontecimento de eventos
Para encerrarmos o crime de apropriação indébita físicos ou naturais, de índole ininteligente, como o gra-
previdenciária, vamos verificar uma hipótese de per- nizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto.
dão judicial e de crime privilegiado. Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a gre-
A Lei nº 13.606/2018, lei bastante atual, diga-se ve, o motim, a guerra, a queda de um avião e etc.
de passagem (importante que você preste bastante No delito em apreço, a coisa chega ao agente atra-
atenção), acrescentou dispositivo ao Código Penal que vés de um evento imprevisível.
estabelece que a faculdade atribuída ao juiz de dei- Exemplo clássico, um vendaval lança as roupas do
xar de aplicar a pena ou de aplicar somente a pena varal do vizinho ao quintal da casa de B e este apro-
de multa não se aplica aos casos de parcelamento de pria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião,
contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja caindo na chácara de B, que dela se apropria. Ainda,
superior àquele estabelecido, administrativamente, o animal de uma fazenda passa para a fazenda de B,
como sendo mínimo para ajuizamento de suas execu- que dele se apropria.
ções fiscais. Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao
Faculta-se ao juiz: agente, originando-se o apossamento de um aconteci-
mento imprevisível.
z Deixar de aplicar a pena (perdão judicial); Este crime não admite a modalidade culposa,
z Aplicar somente a pena de multa (crime podendo ser praticado apenas a título de dolo.
privilegiado). Trata-se de crime comum, podendo ser praticado
por qualquer pessoa.
Se o agente for primário e de bons antecedentes, O Código Penal apresenta duas hipóteses asseme-
desde que o agente: lhadas, punidas com a mesma pena: a apropriação de
tesouro e a apropriação de coisa achada.
z Tenha promovido, após o início da ação fiscal
e antes de oferecida a denúncia, o pagamento Apropriação de Tesouro
da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; Irá praticar este crime o agente que achar tesouro
z O valor das contribuições devidas, inclusive aces- em prédio alheio e se apropriar, no todo ou em parte,
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido da quota a que tem direito o proprietário do prédio.
Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha
pela previdência social, administrativamente,
tesouro em prédio que pertence a outra pessoa e se
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
apropria da quota-parte que o proprietário do prédio
execuções fiscais, de acordo com a Procuradoria-
tem direito, de acordo com o Código Civil, que estabe-
-Geral da Fazenda Nacional o valor mínimo para lece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre
ajuizar execuções fiscais por débito para com o fis- aquele que achou e entre o proprietário do local em
co é de R$ 20 mil. que ele foi achado.
O Código Civil conceitua tesouro como depósito
Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não
ou Força da Natureza haja memória.
O tipo penal não se caracteriza com o verbo
Neste crime, a apropriação se dá, não devido a “achar”. Tome cuidado. Aquele que acha tesouro não
relação de confiança existente entre autor e vítima, comete crime algum. A conduta criminosa se encontra
mas sim, porque a coisa chegou ao poder do agente no verbo “apropriar-se”, quando o agente se apropria
por erro, caso fortuito ou força da natureza. da parte a que tem direito o proprietário do prédio.
Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entrega- Para que este crime se configure, é necessário que
dor das Casas Bahia, uma televisão de 50 polegadas. O o tesouro tenha sido localizado em prédio que possua
agente se apropria da coisa havida por erro. proprietário.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas,
posteriormente, altere a posse da coisa, apropriando- Apropriação de Coisa Achada
DIREITO PENAL

-se dela, irá cometer o crime de apropriação de coisa


havida por erro, caso fortuito ou força da natureza. E aquele lance do “achado não é roubado”, ditado
Entretanto, para configuração do delito, o agente popular muito conhecido?
não pode ter induzido nem mantido a pessoa em erro O crime de apropriação de coisa achada não é cos-
no momento do recebimento da coisa, caso contrário, tuma ser mencionado, mas existe, mas existe.
tendo em vista a fraude, haverá o crime de estelionato. Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia
Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo perdida e dela se apropriar, total ou parcialmente,
do recebimento da coisa, o agente procede de boa-fé, deixando de restitui-la ao dono ou legítimo possuidor
não percebe o erro. Este é constatado após o recebi- ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do
mento da coisa. prazo de 15 (quinze) dias. 153
Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para Observe que o crime fala em vantagem ilícita
sua consumação, exige que transcorra determinado (segundo a doutrina majoritária, deve ser vantagem
período (15 dias). de natureza patrimonial), podendo ser coisa móvel ou
Sujeito ativo é aquele que acha a coisa perdida. imóvel.
Trata-se de crime próprio, pois é praticado por A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se
aquele que acha a coisa perdida. utiliza de artificio ardil (método de enganar) ou qual-
Na hipótese de o sujeito ativo emprestar a coisa quer outro tipo de fraude.
à uma outra pessoa, vindo esta a apropriar-se, não
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro
cometerá o delito em apreço, e sim o crime de apro-
e o agente o faz) ou mantém a vítima em erro (ela
priação indébita, previsto no art.168, do CP.
Se, por outro lado, o proprietário achar a própria estava em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela
coisa e deixar de restitui-la ao legítimo possuidor, que permaneça).
a havia perdido, também não se configura o delito, No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido
porque o tipo penal exige que a coisa seja alheia. enganada, colabora com o agente, entregando-lhe, de
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor. alguma forma, a vantagem.
O objeto material é coisa alheia perdida. Esta condição, inclusive, é fator que serve para
Trata-se de elemento normativo do tipo, cujo signi- diferenciar o estelionato de outros tipos penais que
ficado requer um juízo de valor do magistrado. com ele possam se confundir.
Coisa perdida é a que se encontra em lugar públi- Características do crime de estelionato:
co ou de uso público em circunstâncias indicativas do
extravio, por exemplos, uma carteira exposta no meio z Crime comum: não se exige características especí-
da rua. ficas do sujeito ativo;
Coisa abandonada (res derelicta) ou coisa sem
z Crime material: o crime se consuma com a ocor-
dono (res nullius), não haverá crime algum por parte
rência do resultado obtenção da vantagem ilícita,
de quem apropriar-se.
Este torna-se dono da coisa. acarretando prejuízo a terceiro;
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente z Não admite a forma culposa: só se pratica a título
na vontade de apropriar-se da coisa. de dolo;
Quanto à consumação, ocorre quando o agente z Admite a modalidade tentada.
deixa de restituir a coisa ao dono ou legítimo possui-
dor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro O estelionato privilegiado é aquele em que o agen-
do prazo de quinze dias. te é primário e é de pequeno valor o prejuízo. Poderá
O crime de apropriação de coisa achada poderá se o juiz, neste caso, substituir a pena de reclusão pela
configurar: pena de detenção, diminuir a pena de 1/3 a 2/3 ou apli-
car somente a pena de multa.
z Se o agente deixa de restituir a coisa achada ao Vejamos as formas equiparadas do crime de este-
dono ou legítimo possuidor; lionato, que serão submetidas às mesmas penas.
z Se o agente deixa de entregar a coisa achada à
autoridade competente.
Disposição de Coisa Alheia como Própria
Por fim, o Código Penal estabelece a possibilida-
Este crime está previsto no art. 171, § 2º, I, do CP,
de de se aplicar aos crimes previstos no capítulo da
apropriação indébita, os institutos aplicáveis ao furto ou seja, o agente vende, permuta, dá em pagamento,
privilegiado. em locação ou em garantia coisa alheia como própria
Logo: – disposição de coisa alheia como própria. O agente,
neste crime, faz com que coisa alheia se passe como
z Se o criminoso é primário; dele, enganando outrem.
z Se é de pequeno valor a coisa. Os verbos previstos no tipo são: vender, permutar
(trocar), dar como pagamento, locação ou garantia.
O juiz poderá: Vender: a venda é o contrato pelo qual as partes se
obrigam a dar uma coisa por dinheiro. Aperfeiçoa-se
z Substituir a pena de reclusão pela pena de com o acordo de vontades acerca da coisa e do pre-
detenção; ço, independentemente da tradição. Esta é necessária
z Diminuir a pena de 1/3 a 2/3; para a aquisição da propriedade, e não para a forma-
z Aplicar somente a pena de multa. ção do contrato. Consuma-se o crime com a obtenção
da vantagem e causação do prejuízo.
ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES Permutar (trocar): a permuta ou troca é o contrato
pelo qual as partes assumem a obrigação de dar uma
Estelionato coisa por outra. Aperfeiçoa-se também com o simples
acordo de vontades, independentemente da entrega
O crime de estelionato, art. 171, do CP, será pratica- do bem. Consuma-se o crime quando a vítima entrega
do quando o agente obtiver, para si ou para outrem, ao estelionatário a coisa, pois, nesse momento, opera-
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou -se o prejuízo e a obtenção da vantagem.
mantendo alguém em erro, mediante artifício ardil Dar em pagamento: a dação em pagamento con-
ou qualquer outro meio fraudulento. siste na extinção de uma obrigação vencida pelo fato
O agente altera, de modo consciente, a data de óbi- de o credor consentir em receber prestação diversa
to de seu genitor, induzindo o tabelião em erro para da que lhe é devida. Consuma-se o crime quando o
não pagar multa em procedimento extrajudicial de estelionatário obtém a quitação da dívida, mediante a
154 inventário (vantagem econômica). promessa de entregar ao seu credor uma certa coisa.
Locação: a locação é o contrato pelo qual uma das Se não houver uma obrigação antecedente, a
partes se obriga a ceder a outra, por tempo determina- entrega de coisa defraudada pode configurar o delito
do ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante do art.171 caput.
certa retribuição. Consuma-se o crime quando o este-
lionatário recebe o sinal ou o pagamento do primeiro Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de
aluguel. Seguro
Garantia: a garantia compreende o penhor, a hipo-
teca e a anticrese. Consuma-se o crime quando o este- Este crime está previsto no art. 171, § 2º, V, do CP,
lionatário obtém o empréstimo, dando em garantia em que o agente destrói, total ou parcialmente, ou
uma coisa alheia. oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saú-
de, ou agrava as consequências da lesão ou doença,
Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria com o intuito de haver indenização ou valor de seguro.
O crime de fraude para recebimento de indeniza-
ção ou valor de seguro, segundo a doutrina majoritá-
Este crime está previsto no art. 171, § 2º, II, do CP,
ria, é crime formal, que se consuma com a prática da
que consiste no agente que vende, permuta, dá em
conduta, independentemente de o agente conseguir
pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, ou não receber os valores referentes a indenização ou
gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu valor de seguro.
vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, Lembre-se que o agente não é punido penalmen-
silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias. te por causar mal somente a si mesmo, sendo assim,
Temos que destacar que o objeto material do crime caso ele se lesione sem o fim de receber seguro, ele
pode ser bem móvel ou imóvel. não será sujeito passivo do crime.
Vejamos: O sujeito passivo será a seguradora.
Coisa própria inalienável – os bens inalienáveis
são: bem de família do Código Civil, bem doado com Fraude no Pagamento por Meio de Cheque
cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testa-
mento com cláusula de inalienabilidade. Este crime está previsto no art. 171, § 2º, VI, do CP,
Coisa própria gravada de ônus, por exemplos: consiste no ato de o agente emitir cheque, sem sufi-
penhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse, servidão, ciente prisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
superfície, uso, usufruto, habitação e superfície. frustra o pagamento.
Coisa própria litigiosa: bem sub-judice é aquele em Leve em consideração que, para configuração des-
que há uma ação judicial acerca da titularidade da ta forma equiparada de estelionato é necessário que o
propriedade. agente saiba desde o início que não dispõe de fundos
Imóvel próprio que prometeu vender a terceiro, para cobrir o cheque, não se englobando nesta moda-
mediante pagamento em prestações. lidade criminosa os casos de não pagamento de che-
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel que por motivos cotidianos (sem má-fé).
que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento É importante conhecer duas súmulas do STF, refe-
a vista. Também é omissa sobre o compromisso que rentes ao crime de fraude no pagamento por meio de
cheque.
recai sobre bens móveis, ainda que em prestações.
Súmula 521: O foro competente para o processo e
Defraudação de Penhor julgamento dos crimes de estelionato, sob a modali-
dade da emissão dolosa de cheque sem provisão de
Este crime está previsto no art. 171, § 2º, III, do CP, fundos, é o local onde se deu a recusa do pagamento
consiste na conduta de o agente defraudar, median- pelo sacado.
te alienação não consentida pelo credor ou por outro Súmula 554: O pagamento de cheque emitido sem
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do provisão de fundos, após o recebimento da denún-
objeto empenhado. cia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização
do credor. O consentimento deste exclui o crime. Podemos concluir, pela leitura da Súmula 554, que
A consumação ocorre com a efetiva defraudação, se o agente pagar os valores referentes ao cheque emi-
isto é, com a alienação, ocultação, abandono e etc. da tido sem fundos, antes do recebimento da denúncia,
coisa empenhada. será impedido o início da ação penal.
A defraudação parcial é suficiente para a consu- Vejamos também a Súmula 17 do STJ: Quando o
mação, porque diminui a garantia do credor, gerando falso se exaure no estelionato, sem mais potencialida-
de lesiva, é por este absorvido.
prejuízo.
Entenda da seguinte forma: se o uso do documento
falso se exaurir (extinguir) na prática do estelionato,
Fraude na Entrega de Coisa este crime absorverá aquele.
Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois
Este crime está previsto no art. 171, § 2º, IV, do CP, crimes em concurso formal.
em que o agente defrauda substância, qualidade ou Observe as causas de aumento de pena previstas
DIREITO PENAL

quantidade, de coisa que deve entregar a alguém. no Código Penal para o estelionato.
Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan- me é praticado:
to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratui- z Em detrimento de entidade de direito público
ta, como o comodato e a doação, desaparece o delito, ou de instituto de economia popular, assistência
porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gra- social ou beneficência;
tuitos não se pode reclamar sequer vício redibitório, z É chamado de estelionato previdenciário.
de modo que o devedor não é sancionado nem na
esfera cível. A pena será aplicada em dobro: 155
Estelionato Contra Idoso A primeira conduta é tomar refeição em restauran-
te sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.
Estelionato contra idoso é causa de aumento de pena,
A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal
que foi incluída pela Lei nº 13.228/2015, que acrescentou
forma que abrange lanchonetes, cafés, bares e outros
o §4º do art. 171 do CP, cuja redação é a seguinte:
estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás,
Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido
contra idoso. engloba a ingestão de bebidas. Entende-se que o deli-
Idoso é a pessoa com mais de 60 (sessenta) anos ao to não se configura quando o agente é servido em sua
tempo da conduta criminosa. própria residência.
Esta majorante incide sobre todas as modalidades A segunda conduta incriminada é alojar-se em
de estelionato. Somente se procede mediante repre- hotel sem dispor de recursos para efetuar o pagamen-
sentação, salvo se a vítima for: to. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que
ocorram em estabelecimentos similares, como pen-
z A Administração Pública, direta ou indireta; sões ou pousadas.
z Criança ou adolescente; A terceira e última conduta criminosa consiste em
z Pessoa com deficiência mental; ou utilizar-se de meio de transporte (ônibus, táxi, lota-
z Maior de 60 (sessenta) anos de idade ou incapaz. ção, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar
o pagamento.
Duplicata Simulada O tipo penal expressamente exige que o agente
realize as condutas típicas sem dispor de recursos
O crime consiste em emitir fatura, duplicata ou nota
para efetuar o pagamento naquele instante.
de venda que não corresponda à mercadoria vendida,
É necessário (elementar do tipo penal) que o agen-
em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
te não tenha recursos para pagar a refeição, o aloja-
Pena cominada é detenção, de 2 a 4 anos, e multa.
Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar mento ou o meio de transporte.
ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Caso o agente tenha os recursos necessários, entre-
Duplicatas. tanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não cometerá
o crime de outras fraudes.
Abuso de Incapazes Deve-se se identificar a má-fé do agente, quando
da prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve
Este crime de estelionato consiste em abusar, em saber que não dispõe de recursos para pagar e mes-
proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou mo assim utilizar dos serviços descritos. Caso ocor-
inexperiência de menor, ou da alienação ou debilida- ra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem
de mental de outrem, induzindo qualquer deles à prá- saber, por exemplo, ele não será responsabilizado
tica de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em penalmente.
prejuízo próprio ou de terceiro. Trata-se de crime promovido mediante ação penal
pública condicionada à representação da vítima.
Induzimento à Especulação
Admite-se a aplicação do instituto do perdão judi-
O induzimento à especulação é o crime de abusar, cial, já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá
em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou deixar de aplicar a pena.
da simplicidade ou inferioridade mental de outrem,
induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especula- Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de
ção com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo Sociedade por Ações
saber que a operação é ruinosa.
A modalidade criminosa prevista no caput do art.
Fraude no Comércio
177 refere-se à fundação da sociedade por ações.
A fraude no comércio é o crime de enganar, no Trata-se de crime em que o fundador da socieda-
exercício de atividade comercial, o adquirente ou con- de por ações (sociedade anônima ou comandita por
sumidor que: ações) induz ou mantém em erro os candidatos a
sócios, o público ou presentes à assembleia, fazendo
z Vende, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsa afirmação sobre circunstâncias referentes à sua
falsificada ou deteriorada; constituição ou ocultando fato relevante desta. Podem
z Entrega uma mercadoria por outra. girar elas sobre falsa informação a respeito de subs-
É também crime de fraude no comércio, a conduta crições ou entradas, de recursos técnicos da compa-
de alterar em obra que lhe é encomendada a qualida- nhia, de nomes de pseudoinvestidores e etc. Na forma
de ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, omissiva, pode o agente cometer o crime ocultando o
pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor nome dos fundadores, de problemas técnicos etc., cujo
valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, conhecimento poderia prejudicar ou impedir a subs-
como precioso, metal de outra qualidade. crição de ações e a própria constituição da sociedade.
No crime de fraude no comércio, se o criminoso é A fraude pode constar de prospecto ou de comunica-
primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz ção feita ao público ou em assembleia da empresa.
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a o responsável pela fundação da sociedade por ações.
pena de multa. Sujeito passivo são as pessoas físicas ou jurídicas
que subscreveram o capital ludibriadas.
Outras Fraudes
É crime formal que se consuma no momento em
O crime fica configurado quando o agente tomar que é lançado o prospecto ou o comunicado com a
refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utili- afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta
zar-se de meio de transporte sem dispor de recursos de informação relevante, ainda que disso não decorra
156 para efetuar o pagamento. qualquer resultado lesivo.
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º do art. Quem possui ambos tem a plena propriedade
177, do CP, é subsidiário, ou seja, cede lugar quando delas.
o fato se enquadra como crime contra a economia Delito é a circulação desses títulos em desacordo
popular da Lei nº 1.521/1951. com disposição legal.
Nas figuras descritas no § 1º do art. 177, do CP, a Trata-se de norma penal em branco, complemen-
lei penal incrimina fraudes e abusos na administra- tada pelo Decreto nº 1.102/1903.
ção da sociedade por ações, estabelecendo as mesmas De acordo com seus ditames, a emissão é irregular
penas para: quando:

z O diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por z A empresa não está legalmente constituída (art. 1º);
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan- z Inexiste autorização do Governo Federal para a
ço ou comunicação ao público ou à assembleia faz emissão (arts. 2º e 4º);
afirmação falsa sobre as condições econômicas da z Inexistem as mercadorias no documento
especificadas;
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo
z Há emissão de mais de um título para a mesma
ou em parte, fato a elas relativo, e o liquidante,
mercadoria ou gêneros especificados no título;
bem como o representante da sociedade anônima
z O título não perfaz as exigências reclamadas no
estrangeira, autorizada a funcionar no País, que art. 15 do decreto.
pratica os atos mencionados, ou dá falsa informa-
ção ao Governo;
Sujeito ativo é o depositário da mercadoria. Sujei-
z O diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por to passivo é o endossatário ou portador que recebe o
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de título sem saber da ilegalidade.
outros títulos da sociedade, e o liquidante, bem como O crime se consuma quando o título é colocado
o representante da sociedade anônima estrangeira, em circulação e a tentativa não é possível, pois, ou o
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos agente o coloca em circulação, consumando o crime,
mencionados, ou dá falsa informação ao Governo; ou não o faz, sendo atípica a conduta.
z O diretor ou o gerente que toma empréstimo à
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de ter- Fraude à Execução
ceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia
autorização da assembleia geral, e o liquidante; O crime consiste na existência de uma senten-
z O diretor ou o gerente que compra ou vende, por ça a ser executada ou de uma ação executiva e
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo mandamento.
quando a lei o permite, e o liquidante; O agente, com o fim de fraudar a execução, desfa-
z O diretor ou o gerente que, como garantia de crédi- z-se de seus bens por meio de uma das condutas des-
to social, aceita em penhor ou em caução ações da critas na lei:
própria sociedade e o liquidante;
z O diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em z Alienando;
desacordo com este, ou mediante balanço falso, z Desviando;
distribui lucros ou dividendos fictícios; z Destruindo ou danificando bens; ou
z O diretor, o gerente ou o fiscal que, por interpos- z Simulando dívidas.
ta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a
aprovação de conta ou parecer, e o liquidante. Sujeito ativo é o devedor.
Se for empresário e as condutas forem perpetra-
Observe-se que, em tal dispositivo, o legislador das após decretada sua quebra, o ato caracterizará
pune o diretor, o gerente e, em alguns casos, o fiscal crime falimentar.
e o liquidante, que incidam em fraude em afirmação O sujeito passivo é o credor.
referente à situação econômica da empresa, realizem Trata-se de crime material que somente se consu-
falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem ma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial
indevidamente bens ou haveres da sociedade, com- em consequência da atitude do agente.
prem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução A tentativa é possível quando o sujeito não conse-
gue realizar a conduta típica pretendida.
ou penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos
A ação penal é privada.
fictícios ou aprovem fraudulentamente conta ou pare-
Se a fraude atingir execução promovida pela
cer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem
União, Estado ou Município, a ação será pública
ser cometidos pelas pessoas expressamente mencio-
incondicionada.
nadas no texto legal.
RECEPTAÇÃO
Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
“Warrant” O crime de receptação pode ser dividido em:
DIREITO PENAL

Trata-se de dispositivo fundamentado no Decreto z Receptação simples;


nº 1.102/1903, que permite a emissão do conhecimen- z Receptação qualificada;
to de depósito e do warrant quando mercadorias são z Receptação culposa;
depositadas em armazéns gerais. z Receptação de animal.
Esses títulos, negociáveis por endosso, são entre-
gues ao depositante, sendo que o primeiro é documen- Antes de iniciarmos a análise de cada uma das
to de propriedade da mercadoria e confere ao dono o divisões feitas acima, é importante mencionar que,
poder de disposição sobre a coisa, enquanto o segun- segundo posicionamento doutrinário majoritária,
do confere ao portador direito real de garantia sobre confirmada pela jurisprudência do STF, a coisa deve
as mercadorias. ser móvel. 157
É importante que você saiba, também, que a recep- À receptação culposa se aplica o instituto do per-
tação é punível ainda que desconhecido ou isento de dão judicial, podendo o juiz deixar de aplicar a pena,
pena o autor do crime de que proveio a coisa. levando em consideração as circunstâncias do fato e
Logo, a punição da receptação não depende da caso o criminoso seja primário.
punição do crime anterior, de que se obteve a coisa. No caso de receptação dolosa, aplica-se o institu-
to do privilégio, podendo o juiz, caso o agente seja
Receptação Simples primário e seja de pequeno valor a coisa, substituir
a pena de reclusão pela pena de detenção, reduzir a
O crime de receptação, previsto no Artigo 180 do pena de 1/3 a 2/3; ou aplicar somente a pena de multa.
Código Penal, pratica-se quando o agente adquirir, Em 2017, por meio da Lei 13.531, foi inserido
receber, transportar, conduzir ou ocultar, em provei- importante dispositivo ao Código Penal, que aumenta
to próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de cri- a pena do agente ao dobro.
me, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, A pena prevista para a receptação simples (própria
receba ou oculte. ou imprópria) será aplicada em dobro, tratando-se
É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, de bens do patrimônio da União, de Estado, do Dis-
como em relação ao sujeito passivo. trito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
A doutrina divide a receptação simples em própria pública, empresa pública, sociedade de economia mis-
ou imprópria. Conheça tal divisão: ta ou empresa concessionária de serviços públicos.
z Receptação Própria: adquirir, receber, transpor- Receptação de Animal
tar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime.
Trata-se de um tipo autônomo de receptação e não
z Receptação Imprópria: influir para que terceiro,
uma forma qualificada de receptação, já que se altera
de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
os patamares mínimos e máximos da pena.
A receptação de animal (semovente domesticável
A receptação é crime de tipo misto alternativo,
de produção) tem a pena de reclusão, de 2 a 5 anos e
podendo o agente ser responsabilizado penalmente,
caso pratique qualquer um dos verbos descritos no multa.
tipo penal. O crime de receptação de animal está previsto no
artigo 180-A do Código Penal.
Receptação Qualificada Foi inserido pela Lei nº 13.330/2016, sendo, portan-
to, um tipo penal bastante recente.
A receptação qualificada é aquela praticada no Este crime será praticado quando o agente adqui-
exercício de atividade comercial ou industrial. rir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em
Será qualificada a receptação quando o agente depósito ou vender, com a finalidade de produção ou
adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter de comercialização, semovente domesticável de pro-
em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, dução, ainda que abatido ou dividido em partes, que
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em deve saber ser produto de crime.
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade Aqui, também é admitido o dolo eventual (que
comercial ou industrial, coisa que deve saber ser pro- deve saber ser produto de crime).
duto de crime. Semovente domesticável de produção pode ser
A pena no caso da modalidade qualificada será de entendido como o animal de bando, como bovinos e
3 (três) a 8 (oito) anos. suínos, que constituem patrimônio de alguém, domes-
É admitido, na receptação qualificada, tanto o dolo ticados com finalidade produtiva.
direto quanto o dolo eventual (coisa que deve saber Ex.: Fulano adquiri, no exercício do comércio em
ser produto de crime). seu açougue, gado abatido após ser furtado em uma
Será equiparada à atividade comercial, para fins fazenda, com a finalidade de comercializar a carne.
de receptação qualificada, qualquer forma de comér- Fulano praticou o crime de receptação de animal.
cio irregular ou clandestino, inclusive aquele exerci-
do em residência. DISPOSIÇÕES GERAIS

Receptação Culposa Imunidades nos Crimes Contra o Patrimônio

Segundo entendimento doutrinário majoritário, a Introdução


receptação será culposa quando o agente adquirir ou
receber coisa que, por sua natureza ou pela despro- As disposições gerais dos crimes contra o patrimô-
porção entre o valor e o preço, ou pela condição de nio versam sobre as:
quem a oferece, presume-se que tenha sido obtida por
meio criminoso.
z Imunidades
Ex.: Fulano adquiri uma motocicleta, avaliada em
R$ 10.000,00, de Ciclano, que pediu por ela o valor „ Imunidades absolutas
de R$ 2.500,00. Fulano é abordado por policiais civis, „ Imunidades relativas ou processuais penais
identificando-se, posteriormente, que a motocicleta é
objeto de furto. z Exceções às imunidades
É possível que Fulano seja responsabilizado cri-
minalmente por receptação culposa, já que há muita As imunidades absolutas isentam de pena quem
desproporção entre o valor da coisa e o preço pedido comete delito contra o patrimônio em prejuízo de
pelo agente, tendo ele elementos para presumir que a ascendente, descendente ou cônjuge, na constância
158 coisa foi obtida por meio criminoso. da sociedade conjugal.
São autênticas escusas absolutórias, vedando É claro que a imunidade também se estende aos
inclusive a instauração do inquérito policial. irmãos adotivos.
Trata-se de um perdão legal. Observa-se que, se o agente comete delito de furto
Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpá- em prejuízo de cunhado:
vel, há um impedimento legal da punibilidade, que é
excluída antes mesmo da prática do delito, distinguin- z Se a sua irmã for casada no regime da comunhão
do-se do perdão judicial, que é concedido pelo juiz na universal, haverá imunidade.
sentença, após o devido processo legal. z Se o regime for o da comunhão parcial, só have-
A primeira causa de imunidade é o delito prati- rá imunidade se o furto recaiu sobre bem comum,
cado em prejuízo de cônjuge, na constância da socie- isto é, comunicável em razão do casamento.
dade conjugal, por exemplo, não se instaura sequer z Se o regime for o da separação de bens, não
inquérito policial quando a esposa furta o marido, ou há falar-se em imunidade, pois os bens não se
vice-versa. comunicam.
A imunidade subsiste na separação de fato.
A última causa de imunidade, delito praticado em
Exclui-se a imunidade se por ocasião do delito eles
prejuízo de tio ou sobrinho com quem o agente coabi-
estavam separados judicialmente.
ta, pode se caracterizar ainda que o crime tenha sido
A tendência é estender a imunidade à união está-
praticado fora do local em que eles vivem, como, por
vel, considerando-a equiparada ao casamento.
exemplo, numa pescaria.
Se não houver coabitação, mas apenas relação de
hospitalidade, moradia eventual, como a que ocor-
Importante!
re nas férias escolares em que o sobrinho vai passar
O art. 7º, IV, da Lei Maria da Penha considera alguns dias na casa de um tio, não há falar-se em
também violência doméstica o atentado contra imunidade.
o patrimônio da mulher. O art. 183, do CP, dispõe que as imunidades absolu-
Diante disso, uma corrente doutrinária susten- tas e relativas não se aplicam:
ta que não haveria mais imunidade nos crimes
z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com
patrimoniais contra a mulher.
violência imprópria, como a subtração ocorrida
Entretanto, o STJ já decidiu pela manutenção após o ladrão hipnotizar a vítima, exclui-se a imu-
da imunidade, à medida que a referida lei não a nidade, pois a lei não abre qualquer exceção ao
afastou expressamente. delito de roubo.
z O crime de extorsão, ainda que se trate da extorsão
indireta, onde não há violência ou grave ameaça,
A segunda causa de imunidade, crime contra o
exclui-se a imunidade.
patrimônio praticado em prejuízo de ascendente, inci-
de também nos casos de adoção. z Aos delitos cometidos com emprego de grave
Porém, se o filho adotivo furta o pai biológico, este ameaça ou violência à pessoa.
responderá pelo delito, e vice-versa, pois a adoção z Ao estranho que participa do crime, pois, a imuni-
extingue os vínculos com a família de sangue. dade é uma circunstância pessoal, logo incomuni-
Tratando-se de vínculo de afinidade, como sogro, cável, por exemplo, o terceiro que auxilia o marido
sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteado e a furtar a esposa responde pelo crime de furto.
enteada, não há imunidade, tendo em vista a vedação z Aos delitos praticados contra pessoa com idade
da analogia. igual ou superior a 60 anos.
A última causa de imunidade absoluta, quando se
pratica crime contra o patrimônio em prejuízo de des-
cendente, é aplicada também nos casos de adoção.
Nas imunidades penais relativas, previstas no art. EXERCÍCIOS COMENTADOS
182 do CP, o delito, de ação pública incondicionada,
transmuda-se para ação pública condicionada à repre- 1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Com relação aos crimes
sentação da vítima ou de seu representante legal. em espécie, julgue o item que se segue, considerando
Tratando-se de crime de ação privada, não há o entendimento firmado pelos tribunais superiores e a
falar-se em imunidade processual, cuja finalidade é doutrina majoritária.
beneficiar, ao invés de prejudicar. Situação hipotética: Um indivíduo, penalmente impu-
A ação penal privada é mais vantajosa do que a tável, ameaçou com arma de fogo um adolescente e
ação penal pública condicionada à representação. subtraiu-lhe todos os pertences, incluindo-se valores e
A primeira causa de imunidade processual con- objetos pessoais. O autor foi preso logo depois, em fla-
siste no fato de o delito ser praticado em prejuízo de grante delito, todavia, quando da abordagem policial,
cônjuge judicialmente separado. Vejamos, marido fur- já não mais portava a arma utilizada no roubo.
ta esposa um tempo depois de o casamento ser dis- Assertiva: Nessa situação, o agente responderá pelo
solvido, estão separados judicialmente. Neste caso, há
DIREITO PENAL

roubo na forma simples, sendo indispensável a apreen-


imunidade relativa. são da arma de fogo pela autoridade policial para a
Tratando-se de cônjuges divorciados ao tempo do caracterização da correspondente majorante do crime.
crime, não há qualquer imunidade. Por exemplo, após
separados judicialmente, ex-esposa furta ex-marido.
( ) CERTO  ( ) ERRADO
A segunda causa, delito praticado em prejuízo
de irmão, abrange os irmãos germanos ou bilaterais
(filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que Neste caso, o agente responderá por roubo majora-
podem ser consanguíneos (filhos do mesmo pai) ou do, pois, de acordo com os tribunais superiores, dis-
uterinos (filhos da mesma mãe). pensa-se a apreensão da arma quando for possível
comprovar o seu uso por outros meios de prova. 159
Informativo 536: Não é obrigatório que a arma competente, dentro do prazo de quinze dias, pratica
de fogo seja periciada ou apreendida, desde que, o crime de apropriação de coisa achada. Resposta:
outros meios de prova demonstrem seu potencial Errado.
lesivo. Exemplos de provas: testemunhas, imagens
de câmera de segurança. 5. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Em cada item a seguir, é
Resposta: Errado. apresentada uma situação hipotética, seguida de uma
assertiva a ser julgada com base no direito penal.
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Cada um do itens a Três criminosos interceptaram um carro forte e domi-
seguir apresenta uma situação hipotética seguida de naram os seguranças, reduzindo-lhes por completo
uma assertiva a ser julgada, a respeito da aplicação e qualquer possibilidade de resistência, mediante grave
da interpretação da lei penal, do concurso de pessoas ameaça e emprego de armamento de elevado calibre.
e da culpabilidade. O grupo, entretanto, encontrou vazio o cofre do veícu-
Um indivíduo, penalmente imputável, em continuidade lo, pois, por erro de estratégia, efetuara a abordagem
delitiva, foi flagrado por autoridade policial no decor- depois que os valores e documentos já haviam sido
rer da prática criminosa de furtar sinal de TV a cabo. deixados na agência bancária. Por fim, os criminosos
Nessa situação, de acordo com o atual entendimento acabaram fugindo sem nada subtrair. Nessa situa-
do Supremo Tribunal Federal, aplica-se a analogia ao ção, ante a inexistência de valores no veículo e ante
caso concreto, no sentido de imputar ao agente a con- a ausência de subtração de bens, elementos consti-
duta típica do crime de furto de energia elétrica. tutivos dos delitos patrimoniais, ficou descaracteriza-
do o delito de roubo, subsistindo apenas o crime de
( ) CERTO  ( ) ERRADO constrangimento ilegal qualificado pelo concurso de
pessoas e emprego de armas.
Vamos ser bem objetivos:
STF entende que “o sinal de TV a cabo não é energia, ( ) CERTO  ( ) ERRADO
e assim, não pode ser objeto material do delito pre-
visto no art. 155, § 3º, do Código Penal”. Muita atenção nessa questão. Segundo o STF, “A
STJ entende que sinal de TV é energia, punindo-se na inexistência de bens ou dinheiro em poder da víti-
forma do art. 155, § 3º, do Código Penal. ma de roubo não caracteriza a hipótese de crime
Resposta: Errado. impossível, uma vez que o delito de roubo é comple-
xo, cuja execução inicia-se com a violência ou grave
3. (CESPE-CEBRASPE – 2015) A respeito dos crimes ameaça à vítima” (HC 78.700-SP, rel. Min. Ilmar Gal-
contra o patrimônio, julgue o item a seguir. O crime de vão, 16.3.99). Resposta: Errado.
extorsão mediante sequestro, desde que se prove que a
intenção do agente era, de fato, sequestrar a vítima, se
consuma no exato instante em que a pessoa é seques-
trada, privada de sua liberdade, independentemente de
o(s) sequestrador(es) conseguir(em) solicitar(em) ou DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
receber(em) o resgate. SEXUAL
( ) CERTO  ( ) ERRADO DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

A questão deixa claro que o crime avaliado é o de Bem jurídico tutelado


extorsão, mediante sequestro, art. 159, do CP. O crime
de extorsão mediante sequestro se consuma quando Na redação original do Código Penal de 1940, os
o agente priva a vítima de sua liberdade, pois, trata- tipos constantes no Título VI, da Parte Especial, eram
-se de crime formal. Observa-se, no mesmo sentido, a chamados de “Crimes conta os costumes”. Costumes,
Súmula 96, do STJ, o crime de extorsão consuma-se
na época, tinha o significado de hábitos, condutas
independentemente da obtenção da vantagem indevi-
sexuais que eram aprovadas pela moral vigente.
da. O recebimento da quantia exigida pelo sequestra-
Com a promulgação da Constituição Federal de
dor é mero exaurimento do crime.  Resposta: Certo.
1988, que adotou a dignidade da pessoa humana
como fundamento, a dotrina passou a entender que
4. (CESPE-CEBRASPE – 2015) A respeito dos crimes
ao invés de tutelar os costumes, a lei penal deveria
contra o patrimônio, julgue o item a seguir.
Considere que um indivíduo tenha encontrado, na rua, proteger o bem jurídico liberdade sexual em sentindo
um celular identificado e totalmente desbloqueado. amplo. Seguindo esse entendimento, a Lei nº 12.015/09
Considere, ainda, que esse indivíduo tenha mantido o promoveu alterações em alguns tipos penais e mudou
objeto em sua posse, deixando de restituí-lo ao dono. o bem jurídico do Título VI do CP, que passou a ser
Nessa situação, só existirá infração penal se o legíti- denominado “Dos crimes contra a dignidade sexual”.
mo dono do objeto tiver reclamado a sua posse e o Os crimes contra a dignidade sexual trazem, por-
objeto não lhe tiver sido devolvido. tanto, a tipificação de condutas sexuais praticadas:

( ) CERTO  ( ) ERRADO a) contra a vontade da vítima – Capítulo I;


b) mediante fraude (vontade viciada) – Capítulo I; e
A questão trata do crime de apropriação de coisa c) contra vulneráveis – Capítulo II
achada, art. 168, II, do Código Penal. O sujeito que
acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total Em todos os tipos penais dos crimes contra a dig-
ou parcialmente, deixando de restitui-la ao dono ou nidade sexual o bem jurídico tutelado é a liberdade
160 legítimo possuidor, ou de entregá-la à autoridade sexual.
Atenção: não houve abolitio criminis, pois, apesar
Importante! do art. 214 de ter sido revogado, as condutas por
ele tratadas encontram-se hoje previstas no art.
Inseridos ao tema crimes contra a dignidade
213, CP (houve, portanto, o que chamamos de con-
sexual encontram-se o tipo do estupro (art. 213,
tinuidade típico-normativa).
CP), o assédio sexual (art. 216-A), o registro não
autorizado da intimidade sexual (art. 216-B) e o O estupro tem, também, duas formas qualifica-
estupro de vulnerável (art. 217-A) tipos penais das pelo resultado. A primeira pela ocorrência de
recorrentes em provas de concursos. Dentre lesão corporal grave (tanto faz as graves quanto as
estes, merece destaque o tipo do art. 217-A que gravíssímas) ou pela idade da vítima:
costuma receber maior destaque nas provas.
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de
natureza grave ou se a vítima é menor de 18
ESTUPRO (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
Estupro
E a outra forma é qualificada pela morte:
Art. 213 Constranger alguém, mediante violência § 2º Se da conduta resulta morte:
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a pra- Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
ticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso: São, assim, três as formas qualificadas:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
z Estupro com resultado lesão corporal grave (§ 1º)
No caput do art. 213 encontra-se a modalidade z Estupro contra vítima menor de 18 e maior de 14 (§ 1º)
simples. Constranger significa forçar, coagir alguém z Estupro com resultado morte (§ 2º)
usando de violência (vis absoluta) ou grave ameaça
(vis compulsiva). No caso do estupro a coação tem a Todos dos tipos de estupro (caput e parágrafos) são
finalidade de se obter: considerados hediondos, confome o art. 1º, V, da Lei
nº 8.072/90.
a) a conjunção carnal, que é a introdução do pênis
z Hediondos:
na vagina (cópula vagínica); ou
b) outro ato libidinoso (diverso da conjunção carnal „ Art. 213, caput (estupro simples)
como, por exemplo, sexo oral, sexo anal, toques „ Art. 213, § 1º (qualif. pela lesão grave/ idade)
íntimos ou sobre a roupa, masturbação e o beijo „ Art. 213, § 2º (qualif. pela morte)
lascivo). A conjunção carnal é um tipo de ato libi-
dinoso (gênero). O sujeito ativo e o sujeito passivo do estupro
podem ser qualquer pessoa, sem qualquer qualifi-
cação especial (crime comum). Homens e mulheres
Atos libidinosos podem ser tanto autores quanto vítimas (crime bico-
(gênero) mum). A esposa pode ser vítitma do crime pratica-
do pelo marido, ou seja, ocorre o estupro quando
o marido constrange, mediante violência ou grave
ameaça, sua esposa à prática de conjunção carnal
Conjunção carnal
ou ato libidinoso. Não há nada que impeça, também,
(espécie)
que a prostituta seja sujeito passivo.
É possível a participação (quando um dos autores
Trata-se de um tipo misto alternativo, conforme segura a vítima para que com ela se pratique os atos)
doutrina e jurisprudência do STF e STJ. Ou seja, se o e a coautoria (quando há instigação, por exemplo).
sujeito constrange a vítima à conjunção carnal e pra- Só existe estupro doloso, se consumado com a efe-
tica sexo oral, responde por um só crime. Da mesma tiva prática da conjunção carnal ou dos atos libidino-
forma a prática de vários atos libidinosos configura sos (crime material).
crime único (claro desde que contra a mesma víti- A grave ameaça ou a violência constituem cri-
ma, no mesmo contexto). mes-meio para a prática do estupro, ficando por
A redação do estupro antes da Lei nº 12.012/09 era ele absorvidos (princípio da consunção).
assim: Vamos agora ver algumas particularidades sobre
o crime de estupro que já foram objeto de questiona-
Art. 213 Constranger mulher à conjunção carnal, mento em provas:
mediante violência ou grave ameaça.
DIREITO PENAL

Só mulher poderia ser vítima e somente o homem z consumação e tentativa. Observe os dois
poderia ser sujeito ativo, uma vez que só se consu- exemplos:
mava o crime pela conjunção carnal.
Os demais atos libidinosos eram protegidos pelo „ o
agente aborda sua vítima na rua e a leva para
tipo do atentado violento ao pudor, que se encon- um local ermo com a intenção de estuprá-la;
trava no art. 214, CP, hoje revogado: lá chegando começa a tirar a roupa da vítima,
Art. 214 Constranger alguém, mediante violência momento que é interrompido pela chegada da
ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com polícia, antes da prática de algum ato libidinoso
ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção ou de conjunção carnal. Neste caso vai respon-
carnal. der pelo estupro na forma tentada. 161
„ vamos modificar um pouco o exemplo acima. IDADE DA VÍTIMA CONSEQUÊNCIA
Nesta situação, ao retirar as roupas da vítima, o
sujeito toca e beija suas partes íntimas, quando Estupro simples (art.
Maior de 18 anos
é surpreendio pela polícia. Muito embora não 213, caput, CP)
tenha praticado a conjunção carnal, que era
seu dolo, antes de ser interropido pela polícia Vítima maior de 14 e me- Estupro qualificado (art.
praticou atos libidinosos ao tocar as partes ínti- nor de 18 213, § 1º, CP)
mas da vítima. Neste caso, vai responder pelo Estupro de vulnerável
estupro consumado. Vítima menor de 14 anos
(art. 217-A, CP)

z “curra” é o nome vulgarmente dado para a situa-


Você notou uma “falha”? O que acontece se a víti-
ção na qual dois ou mais agentes se revezam
ma tiver exatos 14 anos, ou seja, se for estuprada exa-
na prática do estupro contra a mesma vítima.
tamente no dia em que completa 14 anos? Existe uma
Ocorre, por exemplo, quando um agente segura
lacuna na lei que deixa de fora da forma qualifica-
a vítima, enquanto o outro mantém com ela con-
da a vítima com exatos 14 anos completos na data
junção carnal; logo após, eles se revezam. Neste
do crime (que fala em vítima “maior de” 14, mas não
caso, cada um dos agentes vai responder por
menciona com idade “igual”) bem como não tipifica
dois crimes (um como autor e outro como coau-
a conduta com estupro de vulnerável (“menor de”
tor, como no nosso exemplo; ou ainda como partí-
14 anos). Neste caso, o enquadramento é feito como
cipe, dependendo da situação).
estupro simples (art. 213, caput). Fique antento a este
z a presença de lesões na vítima não é requisito fato, que pode ser uma típica “pegadinha’.
necessário, uma vez que certos atos libidinosos
não deixam marcas visíveis que sejam passíveis Causas de aumento de pena
de serem apuradas por meio de exame de corpo
de delito. Na verdade, em algumas situações, o Preste atenção que as causas de aumento de pena que
contato físico entre a vítima e o agressor não é se aplicam a todos os crimes contra a dignidade sexual,
necessário para que haja consumação do estu- encontram-se no art. 226, que vamos ver mais adiante.
pro (com relação aos atos libidinosos). O tipo do Com a entrada em vigor da Lei nº 13.718/18, que
art. 213, menciona “praticar” ou “permitir” [a víti- alterou o art. 225 do Código Penal, TODOS os crimes
ma], que com ela se pratique ato libidinoso diverso contra a dignidade sexual passaram a ser crimes de
da conjunção carnal. Imagine a situação hipotética ação penal pública incondicionada, não precisando
na qual o agente constrage a vítima mediante gra- mais da representação da vítima.
ve ameaça a tocar seu próprio corpo de maneira Agora vamos praticar um pouco para fixar alguns
erótica (automasturbação). Neste caso o agente vai pontos do que já estudamos.
responder pelo estupro, uma vez que constrangeu
a vítima a praticar ato libidinoso, mediante grave
ameaça.
z absurdamente, o casamento da vítima com o EXERCÍCIOS COMENTADOS
agressor (ou com terceiro), até 2005, configura-
va causa extintiva da punibilidade para os cri- 1. (CESPE-CEBRASPE – 2015) Cometerá o crime de
mes de estupro. A Lei nº 11.106/05, entre outras estupro a mulher que constranger homem, mediante
mudanças, acabou com essa possibilidade. grave ameaça, a com ela praticar conjunção carnal.

Formas qualificadas pelo resultado ( ) CERTO  ( ) ERRADO

O art. 213, apresenta duas formas de estupro qua- A questão está correta. Com as alterações feitas no
lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no § art. 213, CP pela Lei nº 12.015/09, tanto o homem
2º (morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser quanto a mulher podem ser tanto sujeitos ativos
tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra- quanto passivos do crime de estupro (seja na prá-
-se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As tica de conjunção carnal ou de outros atos libidi-
lesões leves são absorvidas. nosos). Antes da modificação apenas a mulher era
Em relação a estes resultados mais graves (lesão vítima de estupro. Resposta: Certo.
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado 2. (CESPE-CEBRASPE – 2020) A revogação do crime
lesão ou morte se dá por culpa do atente (lembre-se de atentado violento ao pudor não configurou abolitio
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na criminis, pois houve continuidade típico-normativa do
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu- fato criminoso.
prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar,
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns ( ) CERTO  ( ) ERRADO
doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc-
ci, entendem ser indiferente o fato do agente agir com A questão está correta. As condutas previstas no
dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave. revogado art. 214, CP (atentado violento ao pudor)
O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela ida- foram incorporadas ao tipo do art. 213, configuran-
de da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. do o que se denomina continuidade típico-normati-
Em relação à idade da vítima, temos as seguintes hi- va (o tipo foi revogado, mas a conduta não deixou
póteses (atenção que há uma possível “pegadinha” de de ser criminosa, sendo incorporada a outra norma
162 prova). penal incriminadora). Resposta: Certo.
3. (CESPE-CEBRASPE – 2019) Júnia, de quatorze anos
de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de idade, de Importante!
ter praticado crime de natureza sexual consistente em
Na hora da prova não confunda o crime do art.
conjunção carnal forçada no dia do último aniversário
215 com o do art. 217-A (que vamos ver logo
da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi
mais). A redação da violação sexual mediante
consentido.
A respeito dessa situação hipotética, julgue os itens a
fraude (art. 215) aponta que o agente deve impe-
seguir, tendo como referência aspectos legais e juris- dir ou dificultar a livre manifestação da vontade
prudenciais a ela relacionados. da vítima: se o agente retira por completo a von-
Se comprovada a prática do crime, Pierre responderá tade da vítima (embebedando-a completamen-
por estupro de vulnerável, haja vista a idade da vítima. te, por exemplo), esta se torna vulnerável, sendo
o caso então da aplicação do tipo penal do art.
( ) CERTO  ( ) ERRADO 217-A (estupro de vulnerável).
Também não confunda o art. 215 com o 213
A questão está errrada. Você se lembra da possível (estupro): o meio de execução é diferente:
“pegadinha”? A questão se refere ao absurdo legis- � Art. 213 (estupro): Violência ou grave ameaça.
lativo: a “falha” na lei que deixa de fora da forma � Art. 215 (violação): Fraude ou outro meio que
qualificada a vítima com exatos 14 anos completos impeça ou dificulte a manifestação de vontade.
na data do crime (que fala en vítima em “maior de”
14, mas não menciona com idade “igual”) bem como
Veja que para que configure este tipo, deve haver
não tipifica a conduta com estupro de vulnerável
fraude, engano, ardil; se houver violência ou grave
(“menor de” 14 anos). Resposta: Errado.
ameaça não configura o art. 215, CP.
Se a vítima for menor de 14 anos, vai ser o caso da
4. (CESPE-CEBRASPE – 2019) A respeito de crimes con-
incidência do art. 217-A.
tra a dignidade sexual, assinale a opção correta.
Em se tratando de crime de estupro em que a vítima
Não é crime hediondo.
seja maior de dezoito anos de idade e plenamente
capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda
O parágrafo único do art. 215 prevê a aplicação
que não tenha ocorrido violência real na prática do
também da pena de multa se o delito é praticado com
crime. a finalidade de obter vantagem econômica, como no
caso do agente que deixa de pagar a prostituta após
( ) CERTO  ( ) ERRADO a realização da conjunção carnal ou de outro ato
libidinoso.
A questão está errada pois, como vimos, todos os
crimes contra a dignidade sexual são crimes de ação IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
penal pública incondicionada. Resposta: Errado.
Incluído pela Lei nº 13.718/18, o art. 215-A revogou
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE o art. 61 da Lei de Contravenções Penais (que previa
conduta semelhante), criando o tipo penal de impor-
A atual redação do art. 215, CP se deu com as tunação sexual:
modificações da Lei nº 12.015/09, dá qual já falamos
quando estudamos o estupro. Aqui houve nova conti- Art. 215-A Praticar contra alguém e sem a sua
nuidade típico-normativa: o tipo do 216 foi revogado anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
e a conduta incluída no art. 215, CP. a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar outro não constitui crime mais grave.
ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifes- Exemplo de conduta tratada por este tipo penal
tação de vontade da vítima: foi objeto de destaque na mídia em tempos recentes,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. que se materializava quando o sujeito, dentro de um
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de transporte coletivo, ejaculava na vítima ou se esfre-
obter vantagem econômica, aplica-se também multa. gava nela.
Os principais aspectos sobre esse crime são:
Consiste na prática de conjunção carnal ou outro
ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com z não é hediondo;
emprego de fraude ou outro meio que impeça ou z é crime subsidiário (só vai se aplicar se não consti-
DIREITO PENAL

dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. tuir crime mais grave);


O exemplo clássico (que já apareceu em mais de uma z é bicomum (homem e mulher podem ser sujeitos
prova) é o do médico que pede para que a paciente tire ativos/passivos);
toda a roupa, pois precisa examiná-la e, sem que seja z se praticado contra menor de 14 anos, é afastado,
necessário, toca as partes íntimas da vítima (que foi en- incindo o tipo do art. 217-A; e
ganada, pois pensou que os toques fossem parte normal z deve ser praticado contra vítima(s) determina(s);
do exame; ou seja houve engano sobre a legitimidade se não é praticado contra pessoa específica, cons-
do ato). Outro exemplo muito usado é o do irmão gêmeo titui ato obsceno (art. 233, CP) como por exemplo,
que toma o lugar de seu irmão e pratica conjunção car- quando o agente se masturba no meio de um par-
nal com a namorada deste (engano sobre a pessoa). que, sem se dirigir a ninguém de forma particular. 163
ASSÉDIO SEXUAL aproxima-se e toca sua barriga e seus seios? Nes-
te caso temos duas posições: a primeira corren-
O assédio sexual encontra-se previsto no art. 216-A: te afirma que não, por não haver hierarquia ou
ascendência do docente em relação ao aluno (já
Art. 216-A Constranger alguém com o intuito de foi o entendimento predominante e ainda preva-
obter vantagem ou favorecimento sexual, prevale- lece na doutrina); já pela segunda corrente, ado-
cendo-se o agente da sua condição de superior hie- tada pelo STJ em 2019 (ao analisar exatemente um
rárquico ou ascendência inerentes ao exercício de caso como o do exemplo), afirma que, apesar de
emprego, cargo ou função.
não haver relação de hierarquia, há um domínio
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos
do docente sobre o aluno, sendo aplicável o tipo do
Parágrafo único.
§ 2º o A pena é aumentada em até um terço se a
assédio sexual. Essa discussão se aplica na relação
vítima é menor de 18 (dezoito) anos. entre líderes religiosos, como pastores e padres, e
seus fiéis; neste caso, aplica-se a posição da doutri-
O Párágrafo único foi vetado. Temos apenas o § 2º. na que afirma não ser possível.
A palavra constranger, no caso do art. 216-A, não
tem o mesmo sentido do que no estupro: o assédio Em relação à configuração de crime de assédio na
sexual tem a ideia de intimidar alguém a fazer relação entre professor e aluno:
alguma coisa (atos sexuais, libidinosos) sem o uso
de violência ou grave ameaça. O intuito do agente é z n
uma prova objetiva, o mais indicado é seguir a
obter favorecimento sexual de qualquer forma (pode posição do STJ, no sentido de que é possível o assé-
ser até um beijo), mediante uma ameaça (quer pode dio sexual entre professores e alunos;
ser explícita ou não) ou de uma promessa (de promo- z n
uma prova discursiva, explique as duas posições.
ção, por exemplo), que também pode ser explícita ou Veja o posicionamento, por exemplo, de Guilher-
implícita. me Nucci.
O sujeito ativo está em posição hierarquicamente
superior à vitima (tem maior autoridade na estrutura Lembre-se que em relação à hipótese de assédio
administrativa) ou que tem ascendência inerente ao sexual entre líderes religiosos: não cabe.
emprego, cargo ou função que exerce (setor privado);
por sua vez, o sujeito passivo é o subordinado (assé-
dio vertical). É o que se chama de crime bipróprio
(exige carecterísticas especiais do sujeito ativo e do EXERCÍCIOS COMENTADOS
passivo).
Não há assédio sexual entre funcionários do mes- 1. (CESPE-CEBRASPE – 2019) A respeito de crimes con-
mo nível (assédio horizontal). Também não se confi- tra a dignidade sexual, assinale a opção correta.
gura quando o subordinado assedia o superior. Caracteriza o crime de assédio sexual a conduta de
São aspectos relevantes relativos ao tipo do art. 216-A: médico ginecologista que, durante atendimento, pratica
ato libidinoso contra paciente, aproveitando-se do con-
z é crime bicomum; sentimento dado por ela para a realização de exame
z o
flerte (paquera) ou o namoro não configuram a ginecológico.
conduta descrita;
( ) CERTO  ( ) ERRADO
z s e a vítima é menor de 14 anos, configura o tipo do
art. 217-A;
Questão errada. Como vimos, a questão descreve o
z é
crime formal (de resultado cortado), ou seja, clássico exemplo de violação sexual mediante frau-
consuma-se com o constrangimento; de (art. 215, CP). Resposta: Errado.
z o
parágrafo § 2º determina o aumento de até um
terço se a vítima tem mais de 14 e é menor do que 2. (CESPE-CEBRASPE – 2017) Deverá responder por cri-
18 anos (cuidado que o dispositivo fala em menor me de assédio sexual o líder religioso que, no ambien-
de 18, mas como vimos, os menores de 14 são cui- te ecumênico, por reiteradas vezes, importunar fiel
dados pelo art. 217-A); não estabelece, no entan- para que realize ato de natureza sexual.
to, o quantitativo mínimo de aumento: a doutrina
aponta que deve ser aplicado o aumento mínimo ( ) CERTO  ( ) ERRADO
existente no CP: um sexto;
z a
paixão do agente pela vítima não excluem o Questão errada. Neste caso, a doutrina aponta que
crime (veja o art. 28, I do CP, que afirma expres- não há a necessária relação de hierarquia e subor-
samente que a emoção e a paixão não afastam a dinação entre religioso e fiel, necessária para a con-
responsabilidade penal); figuração do tipo de assédio sexual. Cuidado para
não fazer a mesma relação existente entre professor
z c onforme a doutrina majoritária é crime instan-
e aluno. Resposta: Errado.
tâneo, não exigindo a prática de atos de forma
reiterada;
3. (CESPE-CEBRASPE – 2017) Deverá responder por
z n
ão se exige que o assédio ocorra dentro do crime de assédio sexual o empregador que, fora do
ambiente de trabalho; e ambiente laboral, constranger funcionário a conceder
z p
or último temos a questão da relação professor favorecimento sexual, valendo-se de sua condição
e aluno. Existe o crime, por exemplo, quando o hierárquica.
professor, ao afirmar a uma aluna que precisava
164 de pontos para ser aprovada em sua disciplina, ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Questão correta. A quetão descreve perfeitamente libidinoso de caráter íntimo. Com o avanço de soft-
a conduda de assédio sexual (constrangimento de wares de manipulação de imagem cada vez mais po-
subordinado com a finalidade de obter vantagem tentes, essa forma de crime tem aumentado cada vez
sexual); apenas tenta confundir incluindo a expres- mais na Internet, sobretudo com a inclusão do rosto
são “fora do ambiente de trabalho”. Como estu- de pessoas famosas em cenas de filmes pornográficos
damos, o tipo do assédio não estabelece qualquer (provavelmente você já ouviu falar do chamado deep-
condição especial em relação ao local do crime. Res- fake, que consiste na manipulação de rostos por meio
posta: Certo. de inteligência artificial).

Vamos aproveitar e estudar outro tipo penal que


DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL tem relação direta com o crime do art. 216-B.

Incluído em dezembro de 2018, no CP, pela Lei nº Leia atentamente os verbos que constam no art.
13.772/18 é o único crime que consta do Capítulo I-A 216-B: produzir, fotografar, filmar ou registrar.
do Título VI: Observe que não há a expressão divulgar. E então,
o que acontece se alguém divulga a cena registrada?
Art. 216-B Produzir, fotografar, filmar ou registrar, Neste caso, incide em uma das formas previstas no
por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou art. 218-C, incluído no CP em 2018, Divulgação de
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerá-
sem autorização dos participantes: vel, de cena de sexo ou de pornografia:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
qualquer outro registro com o fim de incluir pes- divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
soa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso comunicação de massa ou sistema de informática
de caráter íntimo. ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
Note que art. 216-B constitui em um tipo misto al- de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
ternativo, trazendo os seguintes núcleos: produzir, induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
Pode se configurar tal crime por exemplo, quando
não constitui crime mais grave.
um locador instala um equipamento de gravação de
vídeo em um imóvel com a finalidade de captar ima- Veja bem, o art. 218-C (divulgação) prevê um crime
gens íntimas sem o conhecimento dos ocupantes. Ou, mais grave do que o previsto no art. 216-B (divulgação).
ainda, quando o vizinho filma a vizinha trocando de Uma das formas mais comuns de prática é o que
roupa. se conhece por pornô de vingança (revenge porn, em
O consentimento do ofendido, afasta a tipicidade, inglês) na qual após o término de um relacionamento,
uma vez no tipo consta a expressão “sem a autoriza- o agente divulga cenas íntimas da(o) ex-parceira(o).
ção dos participantes”. Os pontos relevantes em relação ao tipo do art.
218-C são:

Importante! z trata-se de crime subsidiário;


z é tipo misto alternativo, ou seja, se o agente praticar
Apenas o maior de idade, capaz, pode consentir
todos os núcleos que constam no artigo, dentro do mes-
com o registro. Se a vítima for menor, configura
mo contexto fático, responde somente por um crime;
o delito do art. 240 do Estatuto da Criança e do
z assim como os demais crimes contra a digni-
Adolescente: dade sexual, procede-se mediante ação pública
Art. 240 Produzir, reproduzir, dirigir, fotogra- incondicionada;
far, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena z em relação ao sujeito passivo: pode ser qualquer
de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo um, desde que não seja menor de 18 anos. Neste
criança ou adolescente: caso, sendo criança ou adolescente, aplica-se o dis-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e posto no art. 241-B do ECA:
multa.
Art. 241-B Adquirir, possuir ou armazenar, por
qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
É importante notar que a lei fala em “caráter ín- registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
timo e privado”. Por exemplo, filmar um casal reali- nográfica envolvendo criança ou adolescente:
zando ato sexual numa praia não configura o tipo do Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
art. 216-B. multa.
É cabível a tentativa: o agente pode tentar regis-
DIREITO PENAL

trar e não consequir. z o parágrafo estipula causa especial de aumento de


pena (de 1/3 a 2/3) se o agente mantém ou já man-
Forma equiparada teve relação íntima de afeto com a vítima, ou se o
crime é cometido com a finalidade de vingança ou
O parágrafo único do artigo 216-B apresenta uma de humilhar a pessoa exposta.
forma equiparada ao registro do caput. Neste caso o z por fim, o § 2º indica causa especial de exclusão
agente não registra cena verdadeira (ou seja, a víti- da ilicitude: não há crime com a conduta se dá em
ma não participa do ato), mas sim faz uma montagem publicação que adote recurso que impossibilite
(de fotografia, vídeo, áudio ou qualquer meio) para identificar a vítima ou se devidamente autorizado,
incluir alguém em cena de nudez ou ato sexual ou no caso de pessoa maior e capaz. 165
DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL Os parágrafos 3º e 4º apresentam formas qualifi-
cadas, pela ocorrência de lesão corporal grave ou de
É primeiro dos crimes do Capítulo II, Crimes morte:
sexuais contra vulnerável. No caput do art. 217-A temos
o estupro de vulnerável simples ou próprio: § 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natu-
reza grave:
Art. 217-A Ter conjunção carnal ou praticar outro Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: § 4º Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Conforme podemos notar do tipo do art. 217-A, Todas as hipóteses de estupro de vulnerável (§§
não é necessário o constrangimento da vítima (me- 1º, 3º e 4º) são consideradas hediondas (conforme
diante violência ou grave ameaça): qualquer prática prevê o art. 1º, VII, da Lei nº 8.072/90).
de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com
pessoa menor de 14 anos, configura estupro de vul- z Hediondos:
nerável (o constrangimento é presumido: presunção
absoluta). „ Art. 217-A caput (estupro de vulnerável próprio)
„ Art. 217-A, § 3º (qualificada pela lesão grave)
Forma equiparada „ Art. 217-A, § 4º (qualificada pela morte)

O § 1º do art. 217-A apresenta a figura equiparada O art. 217-A tem os seguintes aspectos:
do estupro de vulnerável:
z é crime material, consumando-se com a prática da
[...] § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as conjunção carnal ou de outro ato libidinoso;
ações descritas no caput com alguém que, por z é cabível a tentativa;
enfermidade ou deficiência mental, não tem o z trata-se de tipo misto alternativo (lembre-se dos
necessário discernimento para a prática do ato, ou comentários já feitos em outros crimes contra a
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer dignidade sexual);
resistência. z assim como comentamos no caso do estupro do
art. 213, não é necessário o contato físico entre o
Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas- autor e a vítima.
sivos) para os fins dos crimes sexuais:
Por fim, cabe mencionar um tema muito interes-
z Art. 217-A, caput: sante: trata-se da chamada Exceção de Romeu e Ju-
lieta. Você certamente já ouviu falar do clássico de
William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se apai-
„ Menores de 14 anos (o Professor Rogério San-
xona por Romeu, de uma família rival. A personagem
chez denomina esta de vulnerabilidade absoluta).
Julieta, na obra, tinha 13 quando se relacionou amo-
rosamente com Romeu (que, tinha 17). Agora imagine
z Art. 217-A, primeira parte:
tal situação frente à legislação penal brasileira: Julieta
se enquadraria, como vimos, no conceito de vulnerá-
„ Enfermos e doentes mentais que não pos- vel. Segundo a teoria da Exceção de Romeu e Julieta,
suem o discernimento necessário para a prá- caso haja consentimento e, desde que haja pequena
tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina diferença de idade entre os parceiros (normalmente
esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que, se fala em até 5 anos) não seria o caso de considerar o
por se tratar de critério biopsicológico, pode ato sexual, por exemplo, de um casal de namorados de
acontecer do enfermo ou doente mental ter o 13 e 18 anos, como estupro. No entanto, no Brasil, con-
discernimento exigido para a prática do ato). forme jurisprudência consolidada, tal exceção não
se aplica (lembre-se, de acordo com o STJ, “o consen-
z Art. 217-A, parte final: timento da vítima, sua eventual experiência sexual
anterior ou a existência de relacionamento amoroso
„ Qualquer um que, por outra causa, não pos- entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do
sa oferecer resistência (por exemplo uma crime” – Resp 148.0881/PI, julgado em 26/08/2015).
pessoa que se encontra em coma ou sob efei-
to de sedação; pessoa desacordada, por moti- CORRUPÇÃO DE MENORES
vo de embriaguez; vítima do golpe “boa noite
cinderela”). O art. 218 do CP trata do crime de corrupção de
menores
O parágrafo 5º do art. 217-A consiste em norma
penal explicativa: aplica-se a pena do estupro de vul- Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze)
nerável mesmo que a vítima tenha consentido com o anos a satisfazer a lascívia de outrem.
ato ou ainda que já tenha praticado relações sexuais Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
anteriores (ou seja a virgindade é irrelevante)
Alguns autores entendem quo nomen juris (nome do
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º crime) foi revogado (a redação anterior falava em “cor-
deste artigo aplicam-se independentemente do con- romper”, que foi trocada por “induzir”), e tratam este
sentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido delito de “indução de vulnerável à lascívia”. No entanto
166 relações sexuais anteriormente ao crime. essa divergência não traz maiores implicações.
Induzir, como você já sabe, é sugerir, dar a ideia de forma de exploração) ou impedir que a vítima
algo a alguém. Nesta figura, o sujeito ativo é o media- saia desse meio (neste último caso trata-se de crime
dor (intermediário ou proxeneta) que induz a vítima o permanente).
menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (desejo sexual)
de outrem (do beneficiário: o voyeur ou observador). Existem 4 formas de exploração sexual:
É importante saber que para se configurar o tipo do
art. 218, CP, o agente deve induzir a vítima (menor de z Prostituição;
14) a praticar algum ato que tenha a finalidade satis- z Turismo sexual;
fazer a lascívia de outra pessoa (o beneficário). Veja z Tráfico para fins sexuais; e
bem, o ato deve ser unicamente contemplativo (como z Pornografia.
por exemplo, fazer a vítima vestir uma fantasia sensual
ou se mostrar nua), ou seja, não ocorre contato físico O art. 218-B só cuida da prostiuição e do turismo
entre o beneficiado e a vítima. Este terceiro também sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado
não pode vir a filmar, fotografar ou, de qualquer meio, pelo art. 149-A, CP,V (tráfico de pessoas); a pornografia
registrar a cena; caso isso ocorra, vai responder pelo envonvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A e
previsto no art. 240 do ECA (crime mais grave, com
241-e, do ECA.
penas de reclusão entre 4 e 8 anos, além de multa).
Caso ocorra a prática de conjunção carnal ou outro
ato libidinoso envolvendo a vítima, aquele que indu- Proxenetismo mercenário
ziu (caso tenha agido dolosamente) e beneficiado, vão
responder pelo tipo do art. 217-A (estupro de vulne- Se houver a intenção do agente em obter lucro,
rável). Esta é a corrente majoritária, defendida por aplica-se também a pena de multa:
Rogério Greco, Fernando Capez, Rogério Sanches e
Cleber Masson, entre outros. § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van-
tagem econômica, aplica-se também multa.
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE Neste caso, se dá o nome ao o agente de proxeneta
mercenário.
Art. 218-A Praticar, na presença de alguém menor
de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de Formas equiparadas
satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas:

O tipo do artigo 218-A pode ser divido em duas I – quem pratica conjunção carnal ou outro ato libi-
partes: dinoso com vítima vulnerável em situação de pros-
tiuição ou exploração sexual
z praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso II – o proprietário, gerente ou responsável do local
apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti- em que ocorre a prática do delito do caput, lem-
ma menor de 14 anos; brando, claro, que devem ter conhecimento (pois
z induzir menor de 14 a presenciar tais atos. não há responsabilidade objetiva). Neste caso a
cassação da licença do local é efeito obrigatório
Aspectos que merecem destaque: (§ 3º).
z de acordo com a maior parte da doutrina não se
exige a presença física da vítima no mesmo local Trata-se de crime hediondo, em todas as formas:
onde ocorre a conjunção ou o ato libidonoso. Ou caput, § 2º, I e II. Agora já sabemos quais são os três os
seja, pode ser praticado por meio virtual; crimes contra a dignidade sexual que são hediondos:
z é tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre-
senciar e também pratica os atos, responde por um z Art.213, caput e §§:
só crime; „ Estrupo.
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU z Art.217-A, caput e §§:
ADOLESCENTE OU DE VUNERÁVEL „ Estrupo de vulnerável.
O art. 218-B tem seis núcleos:
z Art.218-B, caput e §§:
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostitui-
„ Favorecimento da prostituição ou outra forma
ção ou outra forma de exploração sexual alguém
de exploração sexual de vulnerável.
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discer-
nimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA
DIREITO PENAL

ou dificultar que a abandone: Pena – reclusão, de 4 DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO


(quatro) a 10 (dez) anos. OU DE PORNOGRAFIA

O art, 218-B visa punir o sujeito que insere (subme- O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que
te, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vulnerável possui seis núcleos (tipo misto alternativo):
(homem ou mulher) no âmbito da exploração sexual
(prostituição e turismo sexual), tráfico para fins se- Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
xuais e pornografia) ou facilita sua permanência ou tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
impede ou dificulta sua saída. Em resumo é trazer divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
a vítima vulnerável para a prostiuição (ou outra comunicação de massa ou sistema de informática 167
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis- Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou apresenta disposições que são aplicáveis a todo o
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou Título dos crimes contra a dignidade sexual, confo-
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da me observado abaixo:
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a
não constitui crime mais grave.
dignidade sexual:

Visa coibir qualquer tipo de divulgação de mate- „ Aumento de pena (234-A):


rial que contenha:
III – de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resul-
z c ena de estupro ou estupro de vulnerável ou que ta gravidez;
faça apologia ou induza a prática de tais crimes; ou IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente:
z c ena de sexo, nudez ou pornografia, sem o consen- a) transmite à vítima doença sexualmente
timento da vítima. transmissível de que sabe ou deveria saber ser
portador;
Para os fins do art. 218-C são vulneráveis: pessoas b) ou se a vítima é idosa (igual ou maior de 60 anos)
com enfermidades ou doença mental ou que não pos- ou pessoa com deficiência.
sam, por qualquer razão, oferecer resistência. Veja
bem: que estas devem ter mais de 18 anos! No caso „ Correm em segredo de justiça. (234-B)
da divulgação de imagens de estupro, estupro de vul-
nerável ou cenas de pornografia, nudez ou sexo, apli- E assim finalizamos o estudo dos crimes contra a
cam-se as disposições do ECA. dignidade sexual.
Bem, agora sabemos quais são os crimes contra a Agora, vamos fazer alguns exercícios.
dignidade sexual mais importantes (Capíulos I e II) e
quais as divergências doutrinárias e jurisprudenciais
que são aplicados a eles. O Capítulo III, que tratava
sobre o Rapto, está revogado. EXERCÍCIOS COMENTADOS
O Capítulo IV, nos arts. 225 e 226 apresentantam
disposições gerais que se aplicam aos crimes que já 1. (CESPE-CEBRASPE – 2019) Júnia, de quatorze anos
vimos até agora (do art. 213 ao 218-C). Veja abaixo. de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de idade, de
ter praticado crime de natureza sexual consistente em
z Disposições aplicáveis a todos os crimes dos Cap. I conjunção carnal forçada no dia do último aniversário
e II: da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi
consentido.
„ Procedem-se mediante ação penal pública A respeito dessa situação hipotética, julgue os itens a
incondicionada (art. 225) seguir, tendo como referência aspectos legais e juris-
prudenciais a ela relacionados.
„ Aumento de pena (art. 226): No caso em questão, se comprovada a prática do cri-
I – de quarta parte, se o crime é cometido com o me, a ação penal cabível será pública incondicionada,
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; pois não há previsão de ação pública condicionada à
II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto representação em crimes contra a dignidade sexual.
ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companhei-
ro, tutor, curador, preceptor ou empregador ( ) CERTO  ( ) ERRADO
da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela; A questão está correta. De acordo com o art. 225,
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime CP todos os crimes dos Capítulos I e II, dentre os
é praticado: quais se insere o estupro, procedem-se mediante
a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agen- ação penal pública incondicionada. Resposta: Certo.
tes (estupro coletivo);
b) para controlar o comportamento social ou 2. (CESPE-CEBRASPE – 2016) Em relação aos crimes
sexual da vítima (estupro corretivo) contra a dignidade sexual, assinale a opção correta.
Considere que em uma casa de prostituição, uma
O Capítulo V apresenta 5 tipos penais (arts. 227, garota de dezessete anos de idade tenha sido explo-
228, 229, 230 e 232-A). Sobre estes tipos, não há diver- rada sexualmente. Nesse caso, o cliente que praticar
gências doutrinárias ou jurisprudênciais, valendo a conjunção carnal com essa garota responderá pelo
leitura da lei seca (note que o art. 232-A não tem nada crime de favorecimento à prostituição ou outra forma
a ver com dignidade sexual, tratando de migração). Os de exploração sexual de vulnerável.
arts. 231 e 231-A foram revogados, passando o tema a
ser tratado pelo art. 149, CP. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
O Capítulo VI traz dois tipos, o do art. 233 (ato obs-
ceno) e 234 (escrito ou objeto obsceno). Sobre eles, A questão está correta. Neste caso, por força do art.
além da leitura da lei, cabe mencionar que há discus- 218-B, § 2º, I, o agente responde pelo favorecimen-
são sobre a constitucionalidade de ambos, em relação to da prostituição ou de outra forma de exploração
ao primeiro por violação ao princípio da taxatividade sexual uma vez que a vítima encontra-se na condi-
(seria muito vago, subjetivo) e, quanto ao segundo, ção de explorada. Fora dessa condição, o fato é atí-
168 por ferir a liberdade de expressão. pico. Resposta: Certo.
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em relação ao crime de
FALSIFICAR A MOEDA METÁLICA OU PAPEL-MOE-
estupro, considera-se vulnerável a vítima.
DA DE CURSO LEGAL NO PAÍS ESTRANGEIRO
a) que morre em consquência da violência sexual Neste caso, o agente
b) que pratica ato sexual mediante fraude ou dissimução Fabricando-a cria a moeda falsa ou
papel-moeda
c) mentalmente enferma, sem discernimento para o ato
Neste caso, o agente
sexual
altera uma moeda ou
d) com quatorze anos de idade completos
Alterando-a papel-moeda que são ver-
e) com até dezoito anos dadeiros, transformando-
-os em falsos
São considerados vulneráveis, para os fins dos cri-
mes sexuais, os menores de 14 anos, os enfermos e
Sobre o crime de moeda falsa, é importante levar
doentes mentais que não possuem o discernimento em consideração o seguinte:
necessário para a prática do ato sexual; e quem, por
qualquer motivo, não possa oferecer resistência. A z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
letra “a” está errada pois a morte configura qualifi- quer pessoa;
cadora; por sua vez a fraude ou dissimulação men- z Não admite a modalidade culposa, podendo ser
cionada na letra “b” configura meio de execução. praticado somente a título de dolo;
z Admite a tentativa;
Neste caso, por força do art. 218-B, § 2º, I, o agen-
z Segundo posicionamento doutrinário majoritário,
te responde pelo favorecimento da prostituição ou para configuração deste crime, a falsificação ou
de outra forma de exploração sexual uma vez que alteração não podem ser grosseiras (aquela vista a
a vítima encontra-se na condição de explorada. Por olho nu por qualquer pessoa dotada de capacidade
fim, as hipóteses das letras “d” e “e” estão erradas, mediana) – neste caso, estaremos diante de condu-
tendo em vista que a vunerabilidade por idade inclui ta que configura crime impossível em relação ao
apenas os menores de 14 anos (14 anos incomple- crime de moeda falsa.
tos). Resposta: Letra C.
Contudo, caso a falsificação seja grosseira, o seu
uso pode caracterizar o crime de estelionato, confor-
me entendimento sumulado do STJ.
Súmula 73 do STJ:
DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA A utilização de papel moeda grosseiramente falsifi-
cado configura, em tese, o crime de estelionato, da
DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE competência da Justiça Estadual.
PÚBLICO
Exige-se que a moeda metálica ou papel-moeda
Moeda Falsa tenham curso legal no país ou no estrangeiro. Caso
não tenham, ou estejam fora de circulação, não irá se
Art. 289 Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, configurar este crime.
moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no
país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa. Importante!
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta Configurará o crime de circulação de moeda
própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, falsa, incorrendo na mesma pena do crime de
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz moeda falsa, a conduta do agente que, por con-
na circulação moeda falsa.
ta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire,
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verda-
vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz
deira, moeda falsa ou alterada, a restitui à circula-
na circulação moeda falsa.
ção, depois de conhecer a falsidade, é punido com
detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, Sobre o crime de circulação de moeda falsa, fique
e multa, o funcionário público ou diretor, gerente, atento às seguintes informações:
ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou
autoriza a fabricação ou emissão: z É crime de ação múltipla, que se configura com a
I - de moeda com título ou peso inferior ao determi- prática de quaisquer um dos verbos descritos no
nado em lei; tipo penal;
II - de papel-moeda em quantidade superior à z Caso o agente pratique mais de um verbo, no mes-
mo contexto fático, responderá por apenas um cri-
DIREITO PENAL

autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz me de circulação de moeda falsa.
circular moeda, cuja circulação não estava ainda z O crime somente poderá ser praticado dolosamen-
autorizada. te, portanto, é necessário que o agente saiba ou
tenha dúvida sobre a falsidade da moeda;
z Admite tentativa;
O crime de moeda falsa tem como figura típica a
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
seguinte conduta: falsificar, fabricando-a ou alteran- quer pessoa, salvo aquele que falsifica a moeda
do-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal – não se trata de hipótese de concurso de crimes,
no país ou no estrangeiro. assim, caso o agente falsifique a moeda e a guarde,
Este crime pode ser praticado de duas formas: responderá apenas pelo crime de moeda falsa. 169
Se o agente recebe a moeda de boa-fé, mas, para Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
não ficar no prejuízo, a restitui à circulação, ele res- Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado
ponderá criminalmente? Sim. A resposta é positiva. a doze anos e multa, se o crime é cometido por fun-
Neste caso, responderá o agente pelo crime de cionário que trabalha na repartição onde o dinhei-
circulação de moeda falsa na modalidade privilegia- ro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso,
da, com uma pena bem mais branda em relação aos em razão do cargo.
outros dois tipos penais que já estudamos.
Praticará crime assimilado ao de moeda falsa, pre-
visto no art. 290, do CP, o agente que formar cédula,
Circulação de moeda falsa privilegiada
nota ou bilhete representativo de moeda com frag-
mentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros, ou
suprimir em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o
Quem, tendo recebido de boa fé, como ver-
fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua
dadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui
à circulação, depois de conhecer a falsida- inutilização, bem como restituir à circulação de cédu-
de, é punido com detenção, de seis meses a la, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos
dois anos e multa. para o fim de inutilização.
É importante saber sobre o delito assimilado à moeda
falsa:
Sobre o crime de circulação de moeda falsa pri-
vilegiada, fique atento ao seguinte: z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
z O recebimento da moeda se dá de boa-fé, pois o z O crime é doloso;
agente acredita que é verdadeira; z Não admite a modalidade culposa;
z A restituição à circulação deve se dar dolosamen-
z Admite tentativa;
te, isto é, o agente já conhece sobre a falsidade da
moeda; z É processado e julgado pela Justiça Federal, median-
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- te ação penal pública incondicionada;
quer pessoa, exceto o falsificador que pratica o cri- z Trata-se de tipo penal misto alternativo, que se
me de falsificar moeda; consuma com a prática de quaisquer das condutas
z Admite tentativa. previstas no tipo penal.

O crime de moeda falsa possui formas qualificadas. Existe a possibilidade de ser crime próprio, caso
Responderá pelo crime de moeda falsa na moda- seja cometido por funcionário que trabalha na repar-
lidade qualificada o funcionário público ou diretor, tição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela
gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica,
tenha fácil ingresso, em razão do cargo.
emite ou autoriza a fabricação ou emissão de moeda
com título ou peso inferior ao determinado em Lei ou Neste caso, o máximo da reclusão é elevado a doze
de papel-moeda em quantidade superior à autoriza- anos.
da. Neste caso, trata-se de crime próprio, que somente
poderá ser praticado pelo funcionário público ou dire- Petrechos para Falsificação de Moeda
tor, gerente ou fiscal de banco de emissão.
Também pratica o delito de moeda falsa na moda- Art. 291 Fabricar, adquirir, fornecer, a título one-
lidade qualificada o agente que desvia e faz circular roso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
O crime de moeda falsa na modalidade qualificada mente destinado à falsificação de moeda:
não admite a forma culposa. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Os crimes relacionados à moeda falsa são proces-
sados e julgados pela Justiça Federal. O crime de petrechos para falsificação de moeda
A ação penal é pública incondicionada.
tem por conduta fabricar, adquirir, fornecer, a título
oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
Importante!
mente destinado à falsificação de moeda.
Caso se trate de falsificação grosseira, poderá O objeto material deste crime é o maquinismo,
caracterizar o estelionato, de competência da aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
Justiça Estadual. mente destinado à falsificação de moeda.
E, anote: não se aplica o princípio da insignificância Veja que o tipo penal exige que o equipamento
ao crime de moeda falsa. tenha destinação específica, não configurando o delito
de petrechos para falsificação de moeda caso o equi-
pamento tenha outras finalidades e, também possa,
Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa
de alguma forma, ser utilizado para falsificar moeda.
Art. 290 Formar cédula, nota ou bilhete representa-
Temos aqui uma conduta que constitui exceção à puni-
tivo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou ção de um crime a partir do momento em que se inicia a
bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou execução do crime. Isto porque, caso um agente tenha a
bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circu- finalidade de falsificar moeda e, para isso, adquira um
lação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir aparelho, mesmo que não inicie a execução da falsifica-
à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condi- ção, poderá ser responsabilizado criminalmente pelos
170 ções, ou já recolhidos para o fim de inutilização: atos preparatórios, que constituem crime autônomo.
Sobre o crime de petrechos para emissão de V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro
moeda, é importante ficar atento ao seguinte: documento relativo a arrecadação de rendas públi-
cas ou a depósito ou caução por que o poder públi-
z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado co seja responsável;
por meio da execução de quaisquer um dos verbos VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne- transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município:
cer, possuir ou guardar.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
quer pessoa;
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos
z O crime se configura ainda que o agente pratique papéis falsificados a que se refere este artigo;
as condutas descritas no tipo penal sem finalidade II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
onerosa; empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, selo falsificado destinado a controle tributário;
que admite a prisão em flagrante enquanto não se III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à
cessar a permanência; venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
z O delito é doloso; empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
z Não admite a modalidade culposa; utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
z Admite tentativa. de atividade comercial ou industrial, produto ou
mercadoria:
Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a
controle tributário, falsificado;
Art. 292 Emitir, sem permissão legal, nota, bilhe- b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação
te, ficha, vale ou título que contenha promessa de tributária determina a obrigatoriedade de sua
pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte aplicação.
indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago: § 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quan-
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. do legítimos, com o fim de torná-los novamente
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua
dinheiro qualquer dos documentos referidos neste inutilização:
artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
a três meses, ou multa. § 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois
de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
O crime de emissão de título ao portador sem parágrafo anterior.
emissão legal é praticado quando o agente emite, sem § 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora
permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao ou alterados, a que se referem este artigo e o seu
portador ou a que falte indicação do nome da pessoa § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração,
a quem deva ser pago. incorre na pena de detenção, de seis meses a dois
Considera-se menos grave a conduta de quem uti- anos, ou multa.
liza nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha § 5º Equipara-se a atividade comercial, para os
promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou fins do inciso III do § 1o, qualquer forma de comér-
cio irregular ou clandestino, inclusive o exercido
a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva
em vias, praças ou outros logradouros públicos e
ser pago como dinheiro.
em residências.
É importante saber sobre o delito de emissão de
título ao portador legal:
É um tipo penal bastante extenso, que irá se con-
z Exige-se que o agente não tenha permissão legal figurar quando o agente falsificar, fabricando-os ou
para a emissão; alterando-os:
z Se o agente tem permissão para emitir o título ao
portador, o fato será atípico; z Selo destinado a controle tributário, papel selado
z O delito é doloso; ou qualquer papel de emissão legal destinado à
z Não admite a modalidade culposa; arrecadação de tributo;
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z Papel de crédito público, ou seja, apólices e títulos
quer pessoa. da dívida pública;
z Vale postal;
FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS z Cautela de penhor, ou seja, o título com o qual o
PÚBLICOS sujeito pode retirar o bem empenhado das mãos
do credor;
Falsificação de Papéis Públicos z Talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro docu-
DIREITO PENAL

mento relativo à arrecadação de rendas públicas


Art. 293 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
ou a depósito ou caução pelo qual o poder público
I – selo destinado a controle tributário, papel sela-
do ou qualquer papel de emissão legal destinado à
seja responsável;
arrecadação de tributo; z Bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
II - papel de crédito público que não seja moeda de transporte de mercadorias administrada pela
curso legal; União, por Estado ou Município.
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de cai- Este tipo penal poderá ser praticado com a falsifi-
xa econômica ou de outro estabelecimento mantido cação de quaisquer um dos documentos vistos acima,
por entidade de direito público; de duas formas: fabricando-os (neste caso, o agente 171
cria um documento) ou alterando-os (o agente altera z Será de competência do Juizado Especial Criminal
documento já existente). Federal na hipóteses de crime privilegiado, defini-
Existem formas equiparadas ao crime de falsificação do no art. 293, §4º, do CP.
de papéis públicos, incorrendo o agente nas mesmas
penas deste. Nas mesmas penas irá incorrer aquele que: Petrechos de Falsificação

z Usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou
falsificados a que se refere este artigo; guardar objeto especialmente destinado à falsifi-
z Importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, cação de qualquer dos papéis referidos no artigo
empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação anterior:
selo falsificado destinado a controle tributário; Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 295 Se o agente é funcionário público, e come-
z Importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda,
te o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
mantém em depósito, guarda, troca, cede, empres-
pena de sexta parte.
ta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
Cometerá este crime, previsto no art. 294 do Códi-
comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
go Penal, o agente que fabricar, adquirir, fornecer,
possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
„ Em que tenha sido aplicado selo que se destine
falsificação de qualquer dos papeis previstos no crime
a controle tributário, falsificado;
de falsificação de papéis públicos (art. 293 do Código
„ Sem selo oficial, nos casos em que a legislação
Penal).
tributária determina a obrigatoriedade de sua
Sobre o crime de petrechos de falsificação,
aplicação. é importante que você leve para a sua prova as
seguintes informações:
O tipo penal do crime de falsificação de papéis
públicos apresenta três modalidades em que a pena z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado
será mais branda se comparada ao tipo penal prin- mediante à execução de quaisquer um dos verbos
cipal e às formas equiparadas, que tem como pena a previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne-
reclusão de dois a oito anos e multa: cer, possuir ou guardar;
z É crime comum, que poderá ser praticado por
z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vis- qualquer agente.
tos logo anteriormente, quando legítimos, com o z Entretanto, caso o crime seja praticado por fun-
fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo cionário público, prevalecendo-se este do cargo, a
ou sinal indicativo de sua inutilização, incorrerá pena será aumentada da sexta parte (1/6).
na pena de reclusão de um a quatro anos e multa;
z Aquele que usar os papéis, depois de alterados A pena do crime de petrechos de falsificação será
(após a supressão de carimbo ou sinal indicativo aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente é funcionário
de inutilização, quando legítimos, com o fim de público e comete o crime prevalecendo-se do cargo.
torna-los utilizáveis), incorrerá na pena de reclu-
são de um a quatro anos e multa; z Assim como o crime de petrecho para falsificação
z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora de moeda, o objeto deve ser destinado especial-
recebido de boa-fé, qualquer dos papeis falsifica- mente para falsificar os papéis previstos no art.
dos ou alterados, depois de conhecer a falsidade 293. Caso o objeto tenha outras finalidades (tem
outras utilidades e também serve para falsificar
ou alteração, incorrerá na pena de detenção, de
papéis), não há que se falar na prática deste tipo
seis meses a dois anos, ou multa.
penal;
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada;
Qualquer forma de
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente,
comércio irregular ou
protraindo-se a conduta no tempo.
Equipara-se a clandestino, inclusive
atividade o exercido em vias, FALSIDADE DOCUMENTAL
comercial praças ou outros
logradouros públicos e De acordo com o art. 232, do CPP, documentos são
em residências quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos
ou particulares.
O CPP estabelece requisitos para que um papel
Sobre o crime de falsificação de papéis públicos, seja considerado documento: forma escrita, autor
é importante levar em consideração o seguinte: certo, possuir conteúdo de relevância jurídica e valor
probatório.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa; Falsificação do Selo ou Sinal Público
z Só admite a modalidade dolosa – não pode ser pra-
ticado culposamente; Art. 296 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
z Caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipici- I - selo público destinado a autenticar atos oficiais
dade deste crime; da União, de Estado ou de Município;
z Admite a tentativa; II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
z Se o papel for de emissão da União, será processa- direito público, ou a autoridade, ou sinal público de
172 do e julgado pela Justiça Federal. tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Trata-se de crime de forma livre, que pode ser pra-
§ 1º - Incorre nas mesmas penas: ticado de qualquer modo pelo agente.
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal ver- Falsificação de Documento Público
dadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito pró-
prio ou alheio. Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, documento
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de público, ou alterar documento público verdadeiro:
marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros sím- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
bolos utilizados ou identificadores de órgãos ou § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o
entidades da Administração Pública. crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o de sexta parte.
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
de sexta parte. mento público o emanado de entidade paraestatal,
o título ao portador ou transmissível por endosso,
Configura-se com a prática da seguinte condu- as ações de sociedade comercial, os livros mercan-
ta típica: falsificar, fabricando ou alterando os selos tis e o testamento particular.
públicos destinados a autentificação dos atos oficiais § 3° Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
da União, do Estado ou do Município ou selo ou sinal inserir:
atribuído por Lei á entidade de direito público ou à I – na folha de pagamento ou em documento de
autoridade, ou sinal público de tabelião. informações que seja destinado a fazer prova
perante a previdência social, pessoa que não pos-
sua a qualidade de segurado obrigatório;
Falsificação de selo ou sinal público II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social
do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa
Falsificar, fabricando ou alterando
ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro
Selo ou sinal atribuído documento relacionado com as obrigações da
Selo público destinado a empresa perante a previdência social, declaração
por lei à entidade de
autenticar atos oficiais falsa ou diversa da que deveria ter constado.
direito público, ou à
da Uniâo, do Estado ou § 4° Nas mesmas penas incorre quem omite, nos
autoridade ou sinal
do Município documentos mencionados no § 3o, nome do segu-
público de tabelião
rado e seus dados pessoais, a remuneração, a
vigência do contrato de trabalho ou de prestação
São condutas equiparadas ao crime de falsifica- de serviços.
ção de selo ou sinal público, incorrendo nas mesmas
penas o agente que: A sua conduta típica é: falsificar, no todo ou em
parte, documento público, ou alterar documento
z Faz o uso de selo ou de sinal falsificado, isto é, não público verdadeiro.
seja verdadeiro e que o uso seja indevido, resul- O crime pode ser praticado das seguintes formas:
tando, por exemplo, na obtenção de vantagem
econômica;
Falsificar, total
z Utiliza indevidamente o selo ou o sinal verdadeiro Alterar documento
ou parcialmente,
em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou público verdadeiro
documento público
alheio;
z Só incorre no uso do selo ou do sinal quem não foi
a responsável pela falsificação;
z Altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas,
Aqui, o agente cria um Aqui, o agente modifica
logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos uti-
documento público que o documento público
lizados ou identificadores de órgãos ou entidades
não existia que já existia
da Administração Pública.

Sobre este crime, é importante que você leve Trata-se de falsidade material, na qual o agente cria
em consideração as seguintes disposições: um documento público falso ou modifica o documento
público verdadeiro, tornando-se falsos em seu aspecto
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- material, podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
quer pessoa; São condutas equiparadas ao crime de falsificação
z Caso o crime seja praticado por funcionário públi- de documento público, incorrendo nas mesmas penas
o agente que insere ou faz inserir, estão descritas nos
DIREITO PENAL

co, prevalecendo-se do cargo, a pena será aumen-


incisos do § 3º, do art. 297, do CP, vejamos:
tada da sexta parte (aumento de 1/6);
z Só pode ser praticado dolosamente;
Na folha de pagamento ou em documento de infor-
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de mações que seja destinado a fazer prova perante a
crime plurissubsistente, quando o delito, para ser previdência social, pessoa que não possua a quali-
praticado, necessita de vários atos para atingir o dade de segurado obrigatório;
resultado; Na Carteira de Trabalho e Previdência Social do
z A falsificação pode se dar de duas formas com a empregado ou em documento que deva produzir
fabricação (o agente cria o selo ou sinal) ou com a efeito perante a previdência social, declaração falsa
alteração (o agente modifica o selo ou sinal). ou diversa da que deveria ter sido escrita; 173
Em documento contábil ou em qualquer outro z Não admite a modalidade culposa;
documento relacionado com as obrigações da z Admite a tentativa;
empresa perante a previdência social, declaração z O objeto material do crime é o documento público.
falsa ou diversa da que deveria ter constado.
Incorre, também, nas mesmas penas, quem omite, É muito importante que você saiba o que é docu-
nos documentos mencionados ao lado, nome do mento público, para fins de configuração deste crime,
segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a já que existe, também, o crime de falsificação de docu-
vigência do contrato de trabalho ou de prestação mento particular, sendo os dois apenados de formas
de serviços. diferentes, sendo aquele mais grave do que este.
Para fins de concurso público, pode-se conceituar
documento público como aquele emitido por funcio-
Importante! nário público, no exercício de suas funções, a serviço
da União, estados-membros, Distrito Federal ou muni-
Cleber Masson (2018) destaca que se a falsida- cípios (emitido por órgãos ou entidades públicas).
de lançada na Carteira de Trabalho e Previdência Porém, o Código Penal equipara alguns outros docu-
Social relacionar-se com os direitos trabalhistas mentos, embora emitidos por particulares, a documento
público.
do empregado, incidirá o crime definido no art.
49 do Decreto-lei 5.452/1943. Por seu turno, se z F alsificação total: criação de todo o material
a falsidade atingir a Previdência Social, estará escrito que representa o documento.
caracterizado o crime tipificado no art. 297, §3º, z Falsificação parcial: há uma criação de uma par-
II, do CP. te falsa do documento público verdadeiro, a qual
pode dele ser individualizada.
z Alteração de documento público: inserir ou
É de suma importância você saber que não se suprimir falsamente informações escritas no pró-
pode confundir a falsidade material com a falsidade prio corpo do documento verdadeiro, após a sua
ideológica. criação.

FALSIFICAÇÃO
ALTERAÇÃO
Falsidade Material PARCIAL
z O agente cria um documento falso ou A falsidade diz respeito
modifica um documento verdadeiro; às informações Parte do documento,
z O documento é materialmente falso; falsamente inseridas ou que dele pode ser
z Altera-se o aspecto formal do documento, retiradas do papel, o que individualizada, é criada
podendo o conteúdo ser verdadeiro ou ocorre posteriormente à falsamente
não; criação do documento
z Crimes: falsificação de documento públi-
co ou particular;
z Por exemplo, criar uma certidão de O título ao portador é documento de crédito que
nascimento. não informa o seu beneficiário, a exemplo do cheque
no valor de até R$ 100,00 (cem reais). O endosso é uma
forma de transferir a propriedade de um título (do
endossante para o endossatário), como os cheques em
geral e as notas promissórias, que constituem exem-
plos de títulos transmissíveis por endosso.
Falsidade Ideológica
Súmula 17
z O agente falsifica a declaração que deve- Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
ria constar no documento público ou pri- potencialidade lesiva, é por este absorvido.
vado, que são verdadeiros;
z O documento é materialmente verdadei- Esta súmula se refere à aplicação do princípio da
ro, com o conteúdo falso; consunção ou absorção. Quando o crime de falsifica-
z Altera-se o conteúdo do documento, mas ção de documento público for meio para praticar o
o aspecto formal continua intacto; crime de estelionato, será por este absorvido.
z Crime: falsidade ideológica; Por exemplo, agente que, para obter ilícita van-
z Por exemplo, alterar data de nascimento tagem em prejuízo de terceiro, altera sua carteira de
em certidão de nascimento. identidade verdadeira, responderá apenas pelo crime
de estelionato caso a potencialidade lesiva da falsifica-
ção fique exaurida com a prática do estelionato.
Caso a falsificação ou alteração sejam grosseiras,
Sobre o crime de falsificação de documento haverá atipicidade deste crime, podendo configurar
público, é importante que você leve em considera- outra infração penal.
ção as seguintes informações:
Falsificação de Documento Particular   
z O crime é comum, podendo ser praticado por qual-
quer pessoa; Art. 298 Falsificar, no todo ou em parte, documento
z Na hipótese de o agente ser funcionário público e, particular ou alterar documento particular verdadeiro:
ainda, se prevaleça do cargo para praticar o delito, Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
a pena será aumentada em um sexto;
174 z O delito é doloso, não exige fim especial;
O crime de falsificação de documento particular Configura-se com a prática da seguinte conduta
é praticado quando o agente age de acordo com o típica: omitir, em documento público ou particular,
núcleo do tipo, ou seja, falsifica, no todo ou em parte, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou
documento particular ou altera (segundo núcleo do fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
tipo) documento particular verdadeiro. ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obri-
A conduta é muito semelhante ao crime de falsifi- gação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
cação de documento público, sendo diferente no que relevante.
se refere ao objeto material do crime. Estes crimes
também se diferenciam em relação à pena cominada.
Importante!
FALSIFICAÇÃO OBJETO A falsidade ideológica se configura das seguin-
PENA
DE DOCUMENTO MATERIAL
tes formas:
Documento Reclusão, de dois a Omitir, em documento público ou particular,
Público declaração que dele devia constar.
público seis ano se multa
Inserir ou fazer inserir, em documento público
Documento Reclusão, de um a ou particular, declaração falsa ou diversa da que
Particular
Particular cinco anos e multa devia constar.

Já estudamos o documento público e agora esta-


A falsidade ideológica pode ser praticada tanto em
mos compreendendo o documento particular. Mas, o
documento público quanto em documento parti-
que é documento particular?
cular, tendo como distinção, tão somente a pena,
Documento particular é aquele que não é docu-
vejamos:
mento público, nem equiparado a documento público,
como por exemplo, cartão de identificação de veículo z Documento público: reclusão, de um a cinco
de moradores de condomínio residencial. anos, e multa;
Neste delito, a falsidade também pode ser mate- z Documento particular: reclusão, de um a três
rial, alterando-se a forma estrutural do documento, anos, e multa.
podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
É importante destacar sobre o crime de falsifi- O tipo penal deste crime apresenta causa de
cação de documento particular o seguinte: aumento de pena, um sexto.
Se o agente é funcionário público, e comete o cri-
z É crime comum; me prevalecendo-se do cargo.
z Admite a tentativa;
z É delito doloso, sem a necessidade de exigir especial z Se a falsificação ou alteração é de assentamento de
fim; registo civil.
z Aplica-se a Súmula 17 do STJ: quando o falso se
exaure no estelionato, sem mais potencialidade Em relação ao crime de falsidade ideológica, é
lesiva, é por este absorvido; importante que você leve em consideração as
z Na hipótese de a falsificação ser grosseira, não irá seguintes informações:
se configurar este crime, mas poderá se configurar z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
outro tipo penal. praticado dolosamente;
z Exige-se dolo específico (especial fim de agir): fim
Para fins de aplicação deste crime, equipara-se a de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a
documento particular o cartão de crédito ou de débito. verdade sobre fato juridicamente relevante;
z É crime comum.
Falsificação de Cartão
Atenção: se praticado por funcionário público, que
Art. 298 [...] se prevalece do cargo, haverá aumento de pena de 1/6
Parágrafo único.   Para fins do disposto no caput, (um sexto).
equipara-se a documento particular o cartão de Não basta que seja praticado por funcionário
crédito ou débito. público, para se aplicar a causa de aumento da pena,
Falsidade Ideológica mas, também, que ele se prevaleça do cargo para pra-
ticar o crime.
Art. 299 Omitir, em documento público ou parti- Caso a conduta seja praticada sem uma das fina-
cular, declaração que dele devia constar, ou nele lidades específicas vistas acima, o crime não irá se
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa configurar.
da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
DIREITO PENAL

direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre z Admite a modalidade tentada nas condutas comis-
fato juridicamente relevante: sivas, mas não admite, segundo posicionamen-
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o to doutrinário majoritário, na conduta omissiva
documento é público, e reclusão de um a três anos, (omitir);
e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de z Neste crime, a forma do documento segue intacta;
réis, se o documento é particular. o que se falsifica é o conteúdo das informações con-
Parágrafo único - Se o agente é funcionário públi- tidas no documento público ou particular (com a
co, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou omissão de declaração ou com a declaração falsa).
se a falsificação ou alteração é de assentamento de
registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. 175
Falso Reconhecimento de Firma ou Letra z Para a configuração deste crime, exige-se que a
certificação ou atestado se deem para as finali-
Art. 300 Reconhecer, como verdadeira, no exercício dades previstas no tipo penal: habilitar alguém a
de função pública, firma ou letra que o não seja: obter cargo público; isentar de ônus ou de serviço
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o de caráter público ou qualquer outra vantagem;
documento é público; e de um a três anos, e multa,
z Caso o crime tenha como finalidade a obtenção de
se o documento é particular.
lucro (finalidade específica), será aplicada, além
da pena privativa de liberdade, a pena de multa.
Este crime se configura com a prática da seguinte
conduta típica: reconhecer, como verdadeira, no exer-
Falsidade Material de Atestado ou Certidão
cício de função pública, firma ou letra que o não seja.
Entenda da seguinte forma:
Art. 301 [...]
§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
z Firma = assinatura; certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atesta-
z Letra = manuscrito daquele que assina. do verdadeiro, para prova de fato ou circunstância
que habilite alguém a obter cargo público, isenção
A pena do crime será distinta conforme a natureza de ônus ou de serviço de caráter público, ou qual-
do documento: quer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
SE DOCUMENTO SE DOCUMENTO § 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro,
PÚBLICO PRIVADO aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de
multa.
Reclusão de um a cinco Reclusão de um a três
anos e multa anos e multa Ainda no art. 301, do CP, em seu § 1º, temos um
outro tipo penal: Certidão ou Atestado Ideologicamen-
te Falso.
Sobre o crime de falso reconhecimento de firma ou
O crime de certidão ou atestado ideologicamente
letra, você deve ficar atento ao seguinte:
falso irá se configurar quando o agente falsificar, no
z É crime próprio, que só poderá ser praticado pelo todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o
funcionário público que pode reconhecer firma ou teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para pro-
letra; va de fato ou circunstância que habilite alguém a
z Admite a participação de particular, desde que obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de
conheça a condição de funcionário público do caráter público, ou qualquer outra vantagem.
agente. Sobre este crime, é importante levar em conside-
z Só poderá ser praticado dolosamente; ração o seguinte:
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z Segundo posicionamento que prevalece, trata-se z É crime comum, que poderá ser praticado por
de crime plurissubsistente, que admite, portanto, qualquer pessoa;
a tentativa; z Só pode ser praticado dolosamente – não admite a
z A ação penal será pública incondicionada. forma culposa;
z Admite a modalidade tentada;
Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso z É crime de ação múltipla, que pode ser pratica-
do mediante a execuçxão de quaisquer uma das
Art. 301 Atestar ou certificar falsamente, em razão seguintes condutas:
de função pública, fato ou circunstância que habi-
lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus „ Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra certidão;
vantagem:
„ Alterar o teor de certidão ou atestado verdadeiro.
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Conduta típica: atestar ou certificar falsamente, em


razão de função pública, fato ou circunstância que habi- Importante!
lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de Caso o crime tenha como finalidade a obtenção
serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem. de lucro (finalidade específica), será aplicada,
Sobre este crime, é importante levar em consi- também, a pena de multa.
deração o seguinte:

z Trata-se de crime próprio, que só pode ser prati- Falsidade de Atestado Médico
cado por funcionário público, em razão da função
pública; Art. 302 Dar o médico, no exercício da sua profis-
z Admite o concurso de pessoas com particulares, são, atestado falso:
desde que estes conheçam sobre a situação de fun- Pena - detenção, de um mês a um ano.
cionário público; Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim
z Não admite a modalidade culposa; de lucro, aplica-se também multa.
z Admite a forma tentada;
z É crime de ação múltipla, que pode se configurar Este crime tem como figura típica a seguinte con-
com a prática de quaisquer um dos verbos previs- duta: dar o médico, no exercício da sua profissão, ates-
176 tos no tipo penal: atestar ou certificar; tado falso.
Sobre este crime, é importante levar em consideração: e multa, mesma pena aplicada ao crime de falsificação
de documento público.
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por Se o agente que fez uso do documento falso foi o
médico; mesmo que o falsificou, ele será responsabilizado de
z Não admite a forma culposa – deve ser praticado que forma?
dolosamente; Segundo entendimento que predomina no STJ,
z Não exige fim especial de agir (dolo específico), sal- neste caso, deverá o agente responder apenas por fal-
vo no caso de obtenção de lucro; sificação de documento público.
z Admite a tentativa; Assim, caso o agente falsifique e use o documento
z Caso o médico pratique a conduta com finalidade de falso, deverá responder apenas por aquele.A Súmula
obter lucro (dolo específico), será aplicada a ele, além 546 do STJ:
da pena privativa de liberdade, a pena de multa;
z Exige-se que a conduta praticada pelo médico se A competência para processar e julgar o crime de
dê no exercício da função Reprodução ou Adultera- uso de documento falso é firmada em razão da enti-
ção de Selo ou Peça Filatélica dade ou órgão ao qual foi apresentado o documen-
to público, não importando a qualificação do órgão
Art. 303 Reproduzir ou alterar selo ou peça filaté- expedidor.
lica que tenha valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração está visivelmente anota-
Assim, caso o agente utilize uma carteira de iden-
da na face ou no verso do selo ou peça:
tidade falsa, não será relevante para fins de análise
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para
de competência para processo e julgamento o órgão
fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica. expedidor do documento (unidade da federação que
o expediu), mas sim o órgão ou entidade ao qual foi
apresentado o documento.
O crime tipificado neste artigo foi tacitamente
revogado pelo art. 39 da Lei nº 6.538/1978. Caso o agente apresente o documento falso a um
Trata-se de lei relacionada ao serviço postal e sua órgão ou entidade federais, a exemplo da Polícia Rodo-
redação é a seguinte: viária Federal e do INSS, a competência para processo
e julgamento será da Justiça Federal. Se o documento
Art. 39 Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica falso for apresentado a órgão ou entidades estaduais,
de valor para coleção, salvo quando a reprodução a exemplo das polícias civis ou da SANEAGO, o pro-
ou a alteração estiver visivelmente anotada na face cesso e julgamento será de competência da Justiça
ou no verso do selo ou peça: Estadual.
Pena: detenção, até dois anos, e pagamento de três
a dez dias-multa. Sobre este crime é importante saber:
Forma assimilada
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas, quem, z Para caracterização deste crime, não basta o mero
para fins de comércio, faz uso de selo ou peça fila- porte do documento falso, exigindo-se que o agen-
télica de valor para coleção, ilegalmente reproduzi- te o use efetivamente, apresentando-o a alguém;
dos ou alterados.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
Uso de Documento Falso z É crime formal;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsifica- praticado dolosamente;
dos ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. z Caso o agente desconheça sobre a falsidade do
documento e o utilize, não há que se falar na confi-
O crime de uso de documento falso tem como figu- guração deste tipo penal, já que, como visto acima,
ra típica a seguinte conduta: fazer uso de qualquer o elemento subjetivo é somente o dolo;
dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem z Prevalece o entendimento de que não admite a
os arts. 297 a 302 do Código Penal. modalidade tentada, já que se trata de crime unis-
Vamos recordar quais são os tipos penais previstos subsistente, perfazendo-se mediante a execução
entre os arts. 297 e 302 do Código Penal: de um único ato (ou o agente usa o documento e
pratica o crime; ou o agente não usa o documento
z Falsificação de documento público; e o fato será atípico);
z Falsificação de documento particular; z Segundo o STJ, se o documento usado for grosseira-
z Falsidade ideológica; mente falsificado, perceptível aos olhos do homem
z Falso reconhecimento de firma ou letra; comum, não irá se configurar o crime de uso de
z Certidão ou atestado ideologicamente falso; documento falso.
DIREITO PENAL

z Falsidade material de atestado ou certidão;


z Falsidade de atestado médico. Supressão de Documento

O uso de qualquer um dos documentos previstos Art. 305 Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
acima configura o crime de uso de documento falso, próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu-
respondendo o agente com a mesma pena correspon- mento público ou particular verdadeiro, de que não
dente à falsificação ou alteração. podia dispor:
Por exemplo, caso um agente seja surpreendido Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o
utilizando um documento público falso, será respon- documento é público, e reclusão, de um a cinco
sabilizado com a pena de reclusão de dois a seis anos, anos, e multa, se o documento é particular. 177
Configura-se quando o agente destruir, suprimir alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa nature-
ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em za, falsificado por outrem
prejuízo alheio, documento público ou particular ver-
dadeiro, de que não podia dispor. Trata-se de crime de ação múltipla, que pode ser
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser praticado mediante a execução dos verbos:
praticado com a execução das seguintes condutas:
z Falsificar; ou
Documento público ou z Usar
particular verdadeiro, de
DESTRUIR que não podia dispor Responderá o agente com uma pena mais branda,
SUPRIMIR podendo ser reclusão ou detenção, de um a três anos,
OCULTAR Em benefício próprio ou e multa, se a marca ou sinal falsificado é o que usa a
de outrem, ou em prejuízo autoridade pública para o fim de
alheio
z Fiscalização sanitária;
A pena do crime será diferente, a depender da z Autenticar ou encerrar determinados objetos;
natureza do documento destruído, suprimido ou z Comprovar o cumprimento de formalidade legais.
ocultado.
Sobre este crime, é importante levar as seguin-
tes informações para a sua prova:
Documento Público Documento Particular
Reclusão, de dois a Reclusão, de um a z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
seis anos, e multa cinco anos, e multa quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
praticado dolosamente;
z Não exige dolo específico;
Em relação aos tipos penais que apresentam penas
z Admite a forma tentada, salvo quando executado
como visto acima, você deve ter um cuidado redobra-
por meio verbo usar.
do ao analisar o tipo penal e possíveis questões de pro-
va sobre o tema.
Sobre este crime, faz-se necessário ficar atento Dica
às seguintes informações: Falsificar, fabricando-o ou alterando-o admite
tentativa.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Usar não admite tentativa.
quer agente;
z Não admite a modalidade culposa;
Falsa Identidade
z É necessário que o agente pratique as condutas des-
critas no tipo penal em benefício próprio ou alheio
Art. 307 Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa
ou em prejuízo alheio (finalidade específica);
identidade para obter vantagem, em proveito pró-
z Exige-se, para configuração deste tipo penal, que o
prio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
agente não possa dispor do documento público ou
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa,
particular; se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
z Admite a tentativa. Art. 308 Usar, como próprio, passaporte, título de
eleitor, caderneta de reservista ou qualquer docu-
OUTRAS FALSIDADES mento de identidade alheia ou ceder a outrem, para
que dele se utilize, documento dessa natureza, pró-
Falsificação do sinal empregado no contraste de prio ou de terceiro:
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e
para outros fins: multa, se o fato não constitui elemento de crime
mais grave.
Art. 306 Falsificar, fabricando-o ou alterando-
-o, marca ou sinal empregado pelo poder público Figura típica: atribuir-se ou atribuir a terceiro fal-
no contraste de metal precioso ou na fiscalização sa identidade para obter vantagem, em proveito pró-
alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa nature- prio ou alheio, ou para causar dano a outrem.
za, falsificado por outrem: O crime pode ser praticado das seguintes formas:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é
o que usa a autoridade pública para o fim de fisca- Falsa identidade
lização sanitária, ou para autenticar ou encerrar
determinados objetos, ou comprovar o cumprimen-
to de formalidade legal: Atribuir-se Atribuir a terceiro
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e
multa.
O agente atribuiu falsa
O agente atribui a falsa
Sua conduta típica é: identidade a uma outra
identidade a si próprio
pessoa
Art. 306 Falsificar, fabricando-o ou alterando-
-o, marca ou sinal empregado pelo poder público
178 no contraste de metal precioso ou na fiscalização
Neste crime, o agente se passa por uma outra pessoa. O tipo penal apresenta hipótese de interpretação
Por exemplo, um indivíduo, chamado Carlos Eduar- analógica, já que exemplifica quais são os documentos
do Diogo, sabendo que se encontra, em seu desfavor, de identidade, a exemplo do passaporte, título de elei-
um mandado de prisão em aberto, com a finalidade tor e caderneta de reservista (fórmulas casuísticas), e
de não ser preso e de que não se descubra a sua con- por fim, amplia as possibilidades ao utilizar a eressão
dição de procurado, ao ser abordado por uma equipe “qualquer documento de identidade (fórmula genéri-
policial, atribui a si próprio o nome de Antônio Carlos ca)”.Sobre este crime, é importante que você leve
dos Céus, contra quem não existe nenhuma medida para a sua prova o seguinte:
judicial. É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Vejamos que, no exemplo acima, configurou-se o quer indivíduo;
crime de falsa identidade, já que o agente, com a fina-
lidade de obter proveito próprio, atribuiu a si mesmo z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
falsa identidade. praticado dolosamente;
Mas, o fato de Carlos Eduardo Diogo atribuir a si z Admite-se a modalidade tentada;
falsa identidade para evitar prisão não está de acordo z É crime subsidiário, não respondendo o agente por
com o princípio do Direito Processual Penal que per- ele se o fato constituir elemento de crime mais grave.
mite que o indivíduo não seja compelido a produzir
provas contra si mesmo, podendo, inclusive, mentir? Os crimes a seguir apresentam condutas bastante
Caso ele seja responsabilizado penalmente, não have- parecidas. Cuidado para não as confundir:
ria violação ao princípio da não autoincriminação?
Por muito tempo, este assunto foi divergente.
O entendimento que predomina atualmente é o de
Falsificação de Uso de documento
que a responsabilização penal por falsa identidade,
documento Público falso
ainda que diante de situação de alegada autodefesa,
ou Particular
não viola o princípio da não autoincriminação, sen- Conduta: fazer uso
do, portanto, fato típico. Conduta: falsificar, de qualquer dos
no todo ou em parte, papéis falsificados
STJ - Súmula 522 documento público ou alterados, a que
ou particular ou se referem os arts.
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante alterar documento 297 a 302 (incluindo
autoridade policial é típica, ainda que em situação público ou particular documento público
de alegada autodefesa. verdadeiro ou particular)

Sobre o crime de falsa identidade, é importante


que você leve em consideração:

z É crime comum, que pode ser praticado por qual-


quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa – o elemento
Falsa identidade
subjetivo exigido é sempre o dolo;
z Exige dolo específico: o agente deve praticar a con- Conduta: atribuir-se ou atribuir a terceiro
duta com o fim de obter vantagem, em proveito falsa identidade para obter vantagem, em
próprio ou alheio, ou para causar dano; proveito próprio ou alheio, ou para causar
z Não admite tentativa. Parte da doutrina a admite, dano a outrem
ainda que de difícil configuração, caso o crime seja
praticado de forma escrita;
z Trata-se de crime subsidiário, respondendo o
agente por ele apenas se o fato não constituir ele-
mento de crime mais grave;
z Não se exige que o agente atribua a si ou a tercei-
ro nome de pessoa real, podendo ocorrer caso o Uso de documento de identidade alheio
nome seja inexistente;
Conduta: usar, como próprio, passaporte,
z É crime formal, que se consuma independente-
título de eleitor, caderneta de reservista ou
mente de o agente conseguir obter a vantagem ou
qualquer documento de identidade alheia
efetivamente causar dano.
ou ceder a outrem, para que dele se utilize,
documento dessa natureza, próprio ou de
Conduta típica: usar, como próprio, passaporte,
terceiro
título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer
DIREITO PENAL

documento de identidade alheia ou ceder a outrem,


para que dele se utilize, documento dessa natureza, Fraude de Lei sobre Estrangeiro
próprio ou de terceiros.
Este crime pode ser praticado das seguintes Art. 309 Usar o estrangeiro, para entrar ou perma-
formas: necer no território nacional, nome que não é o seu:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
z Quando o agente faz uso de documento de identi- Parágrafo único - Atribuir a estrangeiro falsa qua-
ficação alheio; lidade para promover-lhe a entrada em território
z Quando o agente cede, para que outro utilize, nacional:
documento de identificação próprio ou alheio. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 179
Art. 310 Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos
casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Este crime se configura com a prática da seguinte conduta: usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no
território nacional, nome que não é o seu.
Trata-se de crime bastante parecido com o crime de falsa identidade, porém, com este não se confunde.

DIFERENÇAS

Falsa identidade Fraude de Lei sobre Estrangeiro

Crime comum, que pode Finalidade específica: obter Crime próprio, que só Finalidade específica: en-
ser praticado por qualquer vantagem, em proveito pró- pode ser praticado pelo trar ou permanecer no ter-
pessoa prio ou alheio, ou para causar estrangeiro ritório nacional
dano a outrem

Este crime apresenta uma modalidade qualificada, que irá se configurar quando o agente atribuir a estrangei-
ro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional.Forma Simples

z Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:

„ Detenção, de um a três anos, e multa.

Forma Qualificada

z Atribuir a estrangeiro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional.

„ Reclusão, de um a quatro anos e multa.

Sobre este crime, é importante que você leve em consideração as seguintes informações:

z É crime próprio;
z Não admite a modalidade culposa – só poderá ser praticado dolosamente;
z Exige finalidade especial de agir (dolo específico):

„ Forma simples: entrar ou permanecer no território nacional;


„ Forma qualificada: promover a entrada do estrangeiro no território nacional.

z Não admite a modalidade tentada;


z Caso o estrangeiro tente entrar ou permanecer no território nacional utilizando-se de documento falso, irá
responder pelo art. 304 do Código Penal (uso de documento falso);
z Caso pratique as duas condutas, irá responder pelos crimes em concurso.

No art. 310 do Código Penal, há a seguinte conduta típica, nomeada por alguns doutrinadores de falsidade em
prejuízo da nacionalização de sociedade: prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou
valor pertencente a estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens.
Este crime tipifica a conduta daquele que figura como “laranja” de estrangeiro, que age como proprietário ou
possuidor de valores, ações ou títulos que, na verdade, pertencem a um estrangeiro, já que a lei proíbe a este a
propriedade ou a posse.
Por exemplo, a Constituição Federal estabelece que a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão
sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, não podendo o
estrangeiro ser proprietário de uma dessas empresas.
Suponha que Augusto, brasileiro nato, preste-se a figurar como proprietário de empresa jornalística e de
radiodifusão sonora e de sons e imagens, que, na verdade, pertence a Alfred, estadunidense nato.
Vejamos, a conduta praticada por Augusto configura o tipo penal previsto no art. 310 do CP, podendo ele ser
incurso nas penas de detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Sobre o crime previsto no art. 310, é importante levar em consideração:

z É crime próprio, que só poderá ser praticado por brasileiro, seja nato ou naturalizado;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser praticado dolosamente;
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z É necessário que o agente saiba que a propriedade ou posse dos bens seja proibida por lei ao estrangeiro (lem-
bre-se que o crime não admite a forma culposa);
z Admite tentativa.

Adulteração de Sinal Identificador de Veículo Automotor

Art. 311 Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu com-
ponente ou equipamento:
180 Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de compro-
função pública ou em razão dela, a pena é aumen- meter a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
tada de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público z Concurso público (segundo Sanches, instrumento
que contribui para o licenciamento ou registro do veícu- de acesso a cargos e empregos públicos);
lo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente z Avaliação ou exame públicos (segundo Sanches,
material ou informação oficial. abrange, por exemplo, os exames psicotécnicos);
z Processo seletivo para ingresso no ensino superior
Este crime tem como figura típica a seguinte con-
(conforme Sanches, engloba vestibulares e outras
duta: adulterar ou remarcar número de chassi ou
formas de avaliação para ingresso no ensino supe-
qualquer sinal identificador de veículo automotor, de
rior, a exemplo do ENEM);
seu componente ou equipamento.
z Exame ou processo seletivo previstos em lei (con-
forme ensina Rogério Sanches, a exemplo do exa-
me da OAB).
Importante!
Este crime apresenta uma causa de aumento de Fraudes em certames de interesse público
pena, ou seja, a pena será aumentada de um ter-
ço se o agente cometer o crime no exercício da
função pública ou em razão dela. Conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim
de beneficiar a se ou a outrem, ou de comprometer a
credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de
Incorrerá nas mesmas penas (forma equiparada) o
funcionário público que contribui para o licenciamento
ou registro do veículo remarcado ou adulterado, forne-
cendo indevidamente material ou informação oficial. Processo
Exame ou
Neste caso, trata-se de crime próprio, que só pode- seletivo
Avaliação processo
rá ser praticado pelo funcionário público. Concurso para
ou exame seletivo
Sobre o crime de adulteração de sinal identifi- público ingresso
públicos previstos em
cador de veículos, fique atento ao seguinte: no ensino
lei
superior
z Em regra, é crime comum, que pode ser praticado
por qualquer pessoa;
O crime de fraude em certames de interesse público
z O aumento de pena aplicável no caso de ser pra-
apresenta uma forma equiparada, uma forma qualifi-
ticado no exercício da função ou em razão dela e
à forma equiparada, que constitui crime próprio; cada e uma forma majorada (com aumento de pena):
z Trata-se de crime instantâneo;
z Este crime não é permanente. Portanto, a sua con- z Forma equiparada: incorre nas mesmas penas o
duta não se prolonga no tempo; agente que permite ou facilita, por qualquer meio,
z Não admite a modalidade culposa – só será prati- o acesso de pessoas não autorizadas às informa-
cado com dolo; ções sigilosas relacionadas a concurso público;
z Não exige dolo específico; avaliação ou exame públicos; processo seletivo
z Admite a modalidade tentada. para ingresso no ensino superior; ou exame ou
processo seletivo previstos em lei;
DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE z Forma qualificada: se da ação ou omissão resul-
PÚBLICO tar dano à administração pública;
z Forma majorada: a pena será aumentada de 1/3
Fraudes em Certames de Interesse Público (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público.
Art. 311-A Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o
fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer
a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
Sobre este crime, é importante ficar atento às
I - concurso público; seguintes informações:
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino supe- z Este crime se aplica a certames de interesse públi-
rior; ou co de maneira geral, e não apenas a concursos
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: públicos em sentido estrito;
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem permite ou quer pessoa.
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
autorizadas às informações mencionadas no caput.
DIREITO PENAL

É comum acharem que se trata de crime próprio,


§ 2° Se da ação ou omissão resulta dano à adminis-
que só pode ser praticado por funcionário público.
tração pública:
Não é crime próprio. Na verdade, para este crime,
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 3° Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é a condição de funcionário público não é elementar,
cometido por funcionário público. constituindo, contudo, causa de aumento de pena de
1/3 (um terço).
Este tipo penal foi editado para proteger a lisura Vejamos os pontos importantes deste crime:
dos certames de interesse público.
Este crime tem como figura típica a prática da z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
seguinte conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, praticado dolosamente; 181
z Exige fim especial de agir (dolo específico): fim de por receptação culposa, pois o bem foi comprado a
beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a valor de mercado, se fosse um valor abaixo do mer-
credibilidade do certame; cado, ela poderia responder. Sobre o crime de uso de
z Trata-se de crime formal, que se consuma com a documento falso - Aqui, vale lembrar que todos os
mera divulgação ou utilização das informações crimes contra a fé pública são dolosos, e Pâmela ale-
sigilosas, ainda que o agente não consiga benefi- gou desconhecimento de que o veículo era clonado,
ciar a si ou a terceiro ou não consiga comprometer então o elemento subjetivo: dolo. Quanto ao crime
a credibilidade do certame público; de resistência, sabemos ocorre quando o cidadão se
z Admite a forma tentada; opõe à execução de um ato, mediante violência ou
z Caso o agente promova a utilização ou divulgação ameaça, no caso de Pâmela, ela não se utilizou de
das informações sigilosas devidamente (com justa violência ou ameaça, apenas desobedeceu, configu-
causa), não há que se falar na prática deste crime. rando o crime de: desobediência. Resposta: Errado.

3. (CESPE-CEBRASPE — 2018) Julgue o item seguin-


EXERCÍCIOS COMENTADOS te, relativos a institutos complementares do direito
empresarial, teoria geral dos títulos de crédito, res-
1. (CESPE-CEBRASPE — 2020) Ainda com relação a ponsabilidade dos sócios, falência e recuperação
aspectos legais que concernem aos procedimentos empresarial.
policiais, julgue o item seguinte. Os livros comerciais, os títulos ao portador e os trans-
Para que o crime de falsidade ideológica se configure, missíveis por endosso equiparam-se, para fins penais,
é necessário que o objeto da conduta seja a inserção a documento público, sendo a sua falsificação tipifica-
de declarações falsas em documentos públicos, não da como crime.
se configurando esse tipo penal no caso de documen-
tos particulares. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
( ) CERTO  ( ) ERRADO
Verifica-se que pode ser objeto deste crime o cheque,
carteira de trabalho, livros comerciais ou mercan-
No crime de falsidade ideológica, o agente tem o tis, ações de sociedade comercial, título ao portador
documento verdadeiro, mas inseriu dados falsos. O
ou endosso e testamento particular ou testamento
documento é formalmente perfeito e emana da pes-
holográfico. Neste sentido dispões o art. 297, § 2º, do
soa competente, mas o conteúdo ou a informação
CP, que para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
é falsa. Assim dispõe o art. 299, do CP, omitir, em
mento público o emanado de entidade paraestatal, o
documento público ou particular, declaração que
título ao portador ou transmissível por endosso, as
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
ações de sociedade comercial, os livros mercantis e
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
o testamento particular. Resposta: Certo.
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevan-
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
te. Resposta: Errado.

2. (CESPE-CEBRASPE — 2019) Durante operação em CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol . 1,
rodovia federal, uma equipe da PRF abordou Pamela 19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
e solicitou a apresentação de sua carteira nacional
de habilitação (CNH) e do certificado de registro e CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrimes – Lei
licenciamento de veículo (CRLV). Pamela entregou os 13.964/2019: Comentários às Alterações no CP, CPP
documentos, mas estava muito nervosa, o que gerou e LEP. Salvador: Juspodium, 2020.
desconfiança no policial, que, ao consultar o sistema,
verificou que o veículo era clonado. Pamela alegou GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal
que tinha comprado o veículo de um amigo pelo preço esquematizado: parte especial. 6ª ed. São Paulo:
de mercado e que não sabia que o carro era clonado. Saraiva, 2016.
O policial, por sua vez, solicitou que Pamela saísse do
veículo, mas ela se negou, então, o policial usou de for- JESUS, Damásio de. Código Penal Anotado. 22ª. Ed.
ça necessária para fazê-la cumprir a ordem. Em razão São Paulo: Saraiva, 2017.
da conduta de Pamela, o policial realizou uma busca
pessoal nela, fazendo comentários sobre o corpo dela. MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª. Ed.
Após a revista pessoal, ele fez uma vistoria no veículo São Paulo: Método, 2019.
e revistou a mochila dela. Pamela ficou constrangida
com a atitude do policial. Em seguida, ela foi presa em
flagrante.
A respeito dessa situação hipotética, julgue o item
subsequente.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
Pamela deverá responder por receptação culposa, uso PÚBLICA
de documento falso e resistência.
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR
( ) CERTO  ( ) ERRADO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Vamos observar três crimes: receptação, uso de Tratam-se de crimes próprios, que exigem uma
documento falso e resistência. No crime de recepta- condição especial do sujeito ativo: ser funcionário
182 ção culposa, não há como alegar que ela responderá público.
Nos crimes contra a Administração Pública, o bem exclusão o conceito de emprego público como sendo
jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou todo aquele que não se classifica como cargo público.
probidade administrativa. z Função pública é toda e qualquer atividade que
Os crimes praticados por funcionário público con- realiza os fins próprios do Estado, como por, exem-
tra a administração em geral são chamados de crimes plo, perito judicial, estagiário do Ministério Públi-
funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati- co ou da Defensoria Pública ou de qualquer outro
cados contra a administração pública por indivíduo órgão público, juiz de direito, Presidente da Repú-
que se encontra investido em uma função pública. São blica, Governador de Estado, escreventes, Prefei-
divididos em funcionais próprios ou puros e funcio- tos, vereadores, faxineira do fórum etc.
nais impróprios ou impuros.
Os crimes funcionais próprios são aqueles que No § 2º do art. 327, o Código Penal apresenta uma
serão atípicos caso não sejam praticados por funcio- causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes
nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor- praticados por funcionário público contra a adminis-
rerá uma hipótese de atipicidade absoluta. tração em geral. Observe:
Vejamos que a conduta que define o crime de pre- A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quan-
varicação será atípica caso não seja praticada por um do os autores dos crimes praticados por funcionário
funcionário público. público contra a administração em geral forem ocu-
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que pantes de cargos em comissão ou de função de dire-
serão desclassificados para outras infrações penais ção ou assessoramento de órgão da administração
caso não sejam praticados por funcionários públicos. direta, sociedade de economia mista, empresa pública
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma ou fundação instituída pelo poder público.
hipótese de atipicidade relativa. É importante saber que a pena não será aumen-
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, tada caso o funcionário público ocupe cargo em
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi- comissão ou função de direção ou assessoramento em
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se que
o nosso ordenamento jurídico não admite a analogia
por um funcionário público.
para prejudicar o agente.
O Código Penal responde a esta pergunta em seu
Os crimes funcionais admitem a coautoria de
art. 327.
particular, sendo possível que este venha a ser res-
ponsabilizado por delito funcional contra a adminis-
tração pública, desde que pratique a infração penal
Importante! em concurso com funcionário público e conheça esta
Considera-se funcionário público, para os efeitos qualidade.
penais, quem, embora transitoriamente ou sem Vamos exemplificar: José, funcionário público,
remuneração, exerce cargo, emprego ou função convida seu amigo de infância, Jonas, para juntos,
pública. subtraírem um computador na repartição pública
No art. 327, § 1º, o Código Penal equipara o fun- que aquele trabalha. O funcionário público obteria
facilidades para praticar o crime, já que havia ficado
cionário público a quem exerce cargo, empre­go
com a chave da repartição naquele período. No dia
ou função em entidade paraestatal e quem traba-
determinado, os agentes vão ao local e subtraem o
lha para empresa prestadora de serviço contrata- computador.
da ou conveniada para a execução de atividade No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
típica da Administração Pública. responderão pelo crime de peculato (vamos estudar
suas características a seguir), já que praticaram a con-
duta em concurso de pessoas e a condição de caráter
É importante diferenciar o conceito de funcioná-
pessoal (ser funcionário público) se comunica aos
rio público do direito administrativo e o de funcioná- demais agentes (é necessário que eles conheçam a
rio público do direito penal. condição).
No direito administrativo, considera-se funcio- Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
nário público apenas quem exerce cargo público na soas nos crimes funcionais. Os crimes funcionais são
administração direta, isto é, junto à União, Estados, crimes próprios, à medida que o autor deve ser fun-
Distrito Federal ou Municípios. cionário público.
No direito penal, o conceito de funcionário públi- Em regra, não podem serem praticados por qual-
co é mais amplo, pois abrange quem exerce cargo, quer pessoa, entretanto, admitem a participação e a
emprego ou função pública, ainda que transitoria- coautoria, bem como a autoria mediata.
mente ou sem remuneração. Observe que o particular sozinho não pratica cri-
O mesário de eleição, por exemplo, é funcionário me funcional, mas, se unido com outro funcionário
público para efeitos penais, à medida que exerce uma público, também responderá pelo delito.
DIREITO PENAL

função pública. Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da


O art. 327, do CP, faz menção a cargo público, ação, prevista nos arts. 29 e 30 do CP, na qual “todo
emprego público e função pública, vamos distinguir: aquele que concorre para o crime responde para o
mesmo crime”.
z Cargo público é o criado por lei, com nomenclatu- Nesse sentido, vamos exemplificar, pois responde
ra e número certo, junto à administração direta; por peculato o particular que, a mando do funcioná-
z Emprego público, por sua vez, é a função pública rio público subtrai bens da repartição pública. Igual-
exercida em caráter temporário ou extraordinário, mente, enquadra-se na corrupção passiva a mulher
por exemplo, diarista que presta serviço de faxi- do funcionário público que instiga o marido a aceitar
na numa repartição pública. Assim, obtém-se por a propina. 183
Peculato Importante!
Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de É importante que você saiba que parte da doutri-
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públi- na, minoritária, defende que, para que se configu-
co ou particular, de que tem a posse em razão do re o peculato-desvio, não é necessário a intenção
cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: de assenhoramento (apoderar-se) por parte do
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. funcionário público, podendo se configurar com
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi- o mero uso irregular da coisa pública, em provei-
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou to próprio ou alheio.
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído,
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilida-
de que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Com base no que foi exposto, é importante men-
Peculato culposo cionar que o peculato de uso, em regra, é considerado
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para figura atípica.
o crime de outrem: Segundo Cleber Masson,
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do o uso momentâneo de coisa infungível, sem a inten-
dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a ção de incorporá-lo ao patrimônio pessoal ou de
punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a terceiro, seguido da sua integral restituição a quem
pena imposta. de direito é atípico.

O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é É necessário sabermos o que se trata de infungível.
O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis
dividido da seguinte forma:
que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
z Peculato-apropriação; qualidade e quantidade.
z Peculato-desvio; O Código Civil não define os bens infungíveis,
z Peculato-furto; mas podemos compreender que são os bens que não
z Peculato culposo; podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
quantidade e qualidade.
z Peculato mediante erro de outrem.
É importante mencionar que é necessário, para
Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte divisão que não seja típica a conduta do peculato de uso, que
para o crime de peculato: o bem seja infungível e não consumível, a exemplo
de um carro oficial ou de um computador.
z Próprio: peculato-apropriação e peculato-desvio; Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo
do dinheiro, a conduta será típica.
z Impróprio: peculato-furto.
Se a conduta relacionada ao Peculato de Uso for
O peculato-apropriação irá se configurar quando praticada por Prefeito, o fato será típico, independen-
o funcionário público se apropriar de dinheiro, valor temente da natureza do bem, por expressa previsão
ou qualquer outro bem móvel, público ou particu- legal no art. 1º, II, do Decreto-Lei nº 201/1967.
O Peculato-furto irá se configurar quando o fun-
lar, de que tem a posse em razão do cargo, como por
cionário público, embora não tendo a posse do dinhei-
exemplo, vereador que se apropria de bens (aparelho
ro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja
de celular, notebook) do qual tem posse em razão do
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
cargo (eletivo) que ocupa.
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
É muito importante que você fique atento, em rela-
funcionário.
ção ao peculato-apropriação, ao seguinte: O peculato-furto pode ser praticado de duas
formas:
z Para que se configure, é necessário que o agente
tenha a posse do bem em razão do seu cargo;
z Subtraindo o dinheiro, valor ou bem;
z O bem pode ser público ou particular (imagine um
z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
objeto particular apreendido numa delegacia de
valor ou bem.
polícia);
z O sujeito passivo é a administração pública, con- É importante mencionar que:
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
também será sujeito passivo do delito. z Para que se configure este crime, é necessário que
o funcionário público não tenha a posse da coisa;
O peculato-desvio irá se configurar quando o
z O primeiro é o verbo subtrair, que é o fato de o
funcionário público desviar, em proveito próprio ou
bem ser arrebatado pelo próprio funcionário
alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público;
público ou particular. z O segundo é o verbo concorrer, que significa indu-
Segundo posicionamento majoritário, apesar de zir, instigar ou auxiliar uma outra pessoa a reali-
algumas posições jurisprudenciais em sentido con- zar a subtração, como por, exemplo, o funcionário
trário, para que se configure o peculato-desvio, é público que distrai os demais para que o seu ami-
necessário que o bem seja desviado para integrar o go, que é ladrão, ingresse na repartição com o obje-
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter- tivo de surrupiar os bens.
ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra z Para que se configure o peculato-furto é necessário
184 mero desvio de finalidade. que o ato seja doloso;
z A qualidade de funcionário público deve acarre- Neste exemplo, José poderá ser responsabiliza-
tar alguma facilidade para a subtração da coisa. do criminalmente pelo crime de peculato culposo, já
Caso não haja facilidade, o agente responderá por que concorreu culposamente para o crime de outrem
furto normalmente. (peculato-furto de João). O agente foi omisso ao deixar
de trancar a porta, fator que contribuiu para a prática
da subtração.
Vamos trazer dois exemplos:
Sobre o peculato culposo, é importante saber que no §
Exemplo 1: Carlos é funcionário
3º do art. 312, do CP, dispõe que:
Público. Certo dia, na hora de sair, valendo-se do
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
fato de estar sozinho na repartição, ele subtrai um
poso ocorrer antes da sentença transitar em julga-
notebook do órgão público. Está certamente configura-
do, extingue a punibilidade;
do o crime de peculato-furto, já que a condição de fun-
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
cionário público do servidor foi uma facilidade para
poso ocorrer após a sentença transitar em julgado,
que ele subtraísse o bem.
a pena será reduzida da metade.
Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tri-
bunal Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma
O peculato mediante erro de outrem está previs-
escola que se encontra próxima à sua casa, Michele
to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio-
percebe que o vigilante esqueceu a porta dos fundos
nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
aberta, estando próximo um aparelho celular da esco-
la. Michele entra pela porta e subtrai o aparelho. Não utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
há que se falar em peculato-furto, já que a qualidade de outrem.
de funcionária pública de Michele em nada contri- Parte da doutrina chama esta modalidade de
buiu para a prática da subtração, podendo qualquer peculato-estelionato.
pessoa, na mesma situação, praticar essa conduta Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro
delituosa. Dessa forma, Michele responderá pelo cri- de outrem toma posse de um bem móvel, em razão
me de furto. da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que
Observe que: induz o funcionário a apropriar-se do bem que rece-
beu por erro será partícipe deste delito de peculato
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de mediante erro.
crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou seja, o O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente,
autor entra no local subtrai a coisa); isto é, posterior ao recebimento da coisa.
z O bem subtraído pode ser público ou particular; Num primeiro momento, o funcionário público
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro
o bem seja particular, também será sujeito passivo alheio, mas posteriormente, após detectar o erro,
da infração penal o dono do bem; apropria-se da coisa.
z É crime material. É importante levar em consideração as seguintes
características do crime de peculato mediante
O peculato culposo, previsto no § 2° art. 312 confi- erro de outrem:
gura-se quando o funcionário público concorre culpo-
samente para o crime de outrem. z É crime material, que se consuma quando o agen-
Dos crimes praticados por funcionário público te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti-
contra a administração em geral, o peculato é o úni- lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder
co que prevê expressamente a possibilidade de ser por erro de outra pessoa, passando a agir como se
cometido na modalidade culposa. dono fosse;
No peculato culposo, o funcionário público não z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
tem intenção em praticar o crime, contudo, por culpa, dade tentada;
acaba concorrendo para a subtração da coisa. z O funcionário público deve receber a coisa em
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato razão do cargo que exerce;
culposo podem ocorrer as seguintes situações: z O sujeito passivo é a administração pública. Caso o
bem seja particular, também será sujeito passivo o
z Um funcionário, por culpa, concorre para que dono do bem;
outro funcionário cometa peculato (caput ou §1º); z Parte da doutrina entende que se a pessoa for
z Um funcionário, por culpa, concorre para que outro induzida ao erro, irá se configurar o crime de este-
funcionário ou um particular cometam o fato; e lionato, previsto no art. 171, do CP, sendo neces-
z Um funcionário, por culpa, concorre para que um sário, portanto, para caracterização do crime de
particular cometa o fato (furto etc.). peculato mediante erro de outrem, que a vítima
entregue a coisa por erro próprio.
DIREITO PENAL

Vejamos agora outro exemplo prático: José, agen-


te de polícia legislativa, esquece, por omissão, já que Inserção de Dados Falsos em Sistemas de Informação
queria assistir a um jogo de futebol, de trancar uma
porta da Câmara Legislativa do Distrito Federal, ao O crime de inserção de dados falsos em sistemas
qual somente ele tem acesso. No ambiente em que a de informação está previsto no art. 313-A, do CP.
porta se encontra, há vários objetos de valor conside-
rável para o Poder Legislativo distrital. João, também Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autori-
policial legislativo, aproveitando-se do fato de a porta zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
estar aberta, ingressa no local e subtrai uma câmera indevidamente dados corretos nos sistemas infor-
fotográfica. matizados ou bancos de dados da Administração 185
Pública com o fim de obter vantagem indevida para Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser
si ou para outrem ou para causar dano: surpreendido antes de ultimar a conduta, por exem-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e plo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos
multa. dados corretos.

Modificação ou Alteração não Autorizada de


Importante! Sistemas de Informação
Inserção de dados falsos em sistemas de infor- O crime de modificação ou alteração não autori-
mação é chamado de peculato eletrônico. zada de sistemas de informação está previsto no art.
313-B, do Código Penal.
Sujeito ativo é apenas o funcionário público auto-
Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário, sis-
rizado a inserir ou excluir dados do sistema. Outros
tema de informações ou programa de informáti-
funcionários, que não dispõem desta competência, ca sem autorização ou solicitação de autoridade
respondem pelo crime do art. 313-B, do CP. competente:
A fraude no sistema informatizado ou em bancos Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
de dados pelo funcionário competente, para obter e multa.
vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
em análise, sendo que o estelionato, por ser um crime terço até a metade se da modificação ou alteração
menos grave, é absorvido. resulta dano para a Administração Pública ou para
A conduta que define este tipo penal é a seguinte: o administrado.

z Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a Este tipo penal irá se configurar quando o agente
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevi- modificar ou alterar sistema de informações ou pro-
damente dados corretos nos sistemas informatiza- grama de informática sem autorização ou solicitação
dos ou bancos de dados da Administração Pública de autoridade competente.
com o fim de obter vantagem indevida para si ou Caso o funcionário público seja autorizado ou pra-
para outrem ou para causar dano. tique a conduta por solicitação da autoridade compe-
tente, o fato será atípico.
Para que este crime se configure, é necessário que A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas terço) até metade: caso da modificação ou alteração
por funcionário público autorizado a operar os siste- resulte dano para a Administração Pública ou para o
mas informatizados ou bancos de dados da adminis- administrado.
tração pública. Fique atento às diferenças entre os tipos penais
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal do crime de inserção de dados falsos em sistemas de
descreve vários verbos que podem ser praticados informação e do crime de modificação ou alteração
para a sua configuração. não autorizada de sistemas de informação.
Condutas:
z Inserção de Dados Falsos em Sistemas de
z Inserir dados falsos; Informação:
z Facilitar a inserção de dados falsos;
z Alterar dados corretos; „ Verbos: Inserir, facilitar a inserção, alterar,
z Excluir indevidamente dados corretos. excluir indevidamente;
„ Deve ser praticado por funcionário autorizado;
É necessário, para a tipificação do delito, que as „ Exige dolo específico de obter vantagem indevi-
condutas acima sejam realizadas em sistema informa- da ou de causar dano.
tizado (computador) ou bancos de dados (fichários,
livros ou outro meio físico) da Administração Pública. z Modificação ou Alteração não Autorizada de Siste-
mas de Informação:
Objeto Material:Sistemas informatizados ou ban-
cos de dados da Administração Pública. „ Verbos: modificar ou alterar;
„ Se praticado por funcionário autorizado, será
z Finalidade (dolo específico): fato atípico;
„ Não exige dolo específico.
„ Obter vantagem indevida para si ou para
outrem; Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
„ Causar dano. Documento

O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico, Está previsto no art. 314 do Código Penal.
que consiste no fim de obter vantagem indevida para
si ou para outrem ou causar dano à Administração Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu-
Pública ou a uma terceira pessoa. mento, de que tem a guarda em razão do cargo;
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
dano, haverá o crime do art. 313-B do CP. Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
O crime se consuma com a conduta, independente- constitui crime mais grave.
mente do resultado. Trata-se de crime formal, que se
caracteriza ainda que a vantagem ou o dano almejado Este crime se configurará quando o agente extra-
186 não se verifique. viar livro oficial ou qualquer documento, de que tem
a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, construir um abrigo durante perigo de chuvas que
total ou parcialmente. desabrigaram grande parte da população), o fato será
Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer típico, mas não será antijurídico.
desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas
(tornar imprestável). públicas, é importante mencionar:
Sobre este crime, é importante que você saiba:
z Este crime será praticado pelo funcionário público
z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi- que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren-
do quando o fato constitui crime mais grave), res- das públicas, podendo delas dispor;
pondendo por ele, o funcionário público, apenas se z Não exige nenhum fim específico;
não se configurar crime mais grave; z Não admite a modalidade culposa;
z Não admite a modalidade culposa; z Admite a tentativa;
z Admite tentativa; z Não exige a ocorrência de dano pela administra-
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser ção pública para a sua configuração.
parciais ou totais.
Concussão
Sujeito ativo é apenas o funcionário público res-
ponsável pela guarda do livro oficial ou documen- Previsto no art. 316, do CP, a concussão é pratica-
to. Se a conduta for praticada por outro funcionário da quando o agente público exigir, para si ou para
público o crime será o previsto no art. 337 do CP. Caso outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
seja praticado por advogado ou procurador, que inu- função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, van-
tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra- tagem indevida.
mento será no art. 356 do CP.
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou
O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli-
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
cado se não houver outro crime mais grave.
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
para destruir livro ou documento responderá apenas
pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave.
No crime de concussão, o funcionário público,
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos
valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais
relativos a tributos, o funcionário que tinha a guarda
forte do que apenas pedir) o pagamento de vantagem,
e praticou uma das condutas acima, responderá pelo
não devida pela pessoa. O particular, por temer qual-
crime do art. 3º, I, da Lei nº 8.137/1990, quando o fato quer represália por parte do funcionário público pode
acarretar pagamento indevido ou inexato de tributo. ou não pagar a vantagem indevida.
Vamos exemplificar: funcionário público, agen-
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas te de trânsito, exige de particular a quantia de R$
2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de
Previsto no art. 315, do CP, o crime de emprego irre- levá-lo indevidamente ao pátio do Detran.
gular de verbas ou rendas públicas irá se configurar com A vantagem indevida, segundo posicionamento
a prática da seguinte conduta: dar às verbas ou rendas majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: ser qualquer outra vantagem.
É importante mencionar que a concussão se dará
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- em razão da função do agente público, não se exigindo
ção diversa da estabelecida em lei: que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
cometido por funcionário público de férias e, segundo
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res- a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
(antes de assumi-la).
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o
A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não
Decreto nº 201/1967. são elementos integrantes do crime de concussão.
Exige que o emprego irregular se dê em benefí- Se o funcionário público exigir o pagamento de
cio da própria administração pública, contrariando a vantagem indevida, mediante violência ou grave
legislação, não podendo o agente desviar as verbas ou ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre-
rendas em benefício próprio, sob pena de responder visto no art. 158 do Código Penal.
por outro crime. Sobre a concussão, é importante que você
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do conheça as seguintes informações, frequentemen-
Município XYZ aprova a utilização de um milhão de te cobradas em prova:Não pode ser praticada na
reais para construção de uma passarela. A autoridade modalidade culposa;
pública competente utiliza a verba mencionada para
a construção de uma escola. z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
DIREITO PENAL

Pronto, configurou-se o crime de emprego irregular prática da exigência, sendo o recebimento da van-
de verbas ou rendas públicas. O agente deu às verbas tagem mero exaurimento do crime;O particular,
públicas destinação diversa daquela estabelecida em lei. de quem se exigiu a vantagem indevida, é sujeito
Observe que a destinação da verba se deu no inte- passivo secundário deste crime. A administração
pública é o sujeito passivo primário.
resse da administração, já que, caso se dê em benefí-
cio próprio, o agente responderá por outro crime.
„ Em regra, não admite a tentativa, salvo quando
É importante mencionar a aplicação da excludente
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo
de ilicitude do estado de necessidade: caso o emprego
da concussão praticada mediante carta endere-
se dê devido a uma situação de perigo iminente (uti- çada à vítima;
lizou-se verba pública destinada ao esporte, para se 187
„ É possível se praticar a concussão indiretamen- ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas
te, quando, por exemplo, o funcionário público totalmente desnecessárias.
exige a vantagem indevida por intermédio de O crime se consuma com a simples cobrança vexa-
outra pessoa. tória ou gravosa, independentemente do recebimento.
Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató-
É importante diferenciar concussão e corrupção ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir-
passiva: cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta
antes que a vítima tomasse conhecimento.
Vejamos:
Tem no núcleo do tipo
José, funcionário público da prefeitura do Municí-
o verbo “exigir”, há um
pio de Simplicidade, sabendo que seu vizinho, Márcio,
caráter intimidativo na
deve dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca
CONCUSSÃO conduta
uma faixa enorme na entrada da rua, com a seguinte
escrita: Márcio, deixe de ser irresponsável e pague os
O ato de exigir é algo
dez mil reais que você deve de tributo à prefeitura.
impositivo No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo
Tem os verbos “solicitar uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi-
ou receber, ou aceitar” gurando-se, assim, o excesso de exação.
Sobre o excesso de exação, é importante
Solicitar é pedir, o que, mencionar:
portanto, não pressupõe
intimidação z Não admite a modalidade culposa, pois a expres-
CORRUPÇÃO PASSIVA são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia
Receber e aceitar pressu- saber” é dolo eventual;
põem uma conduta ativa z Admite a tentativa quando for possível fracionar o
do particular, ou seja, iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati-
além de não ocorrer inti- cado mediante carta endereçada à vítima;
midação, há uma conduta z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
inicial do terceiro de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos, responderá por
excesso de exação na modalidade qualificada.
Excesso de Exação
Quando observamos a forma qualificada do exces-
O excesso de exação, previsto no art. 316, § 1º, do so de exação, é possível compreender que o tipo penal
CP, é uma forma de concussão. Configura-se quando não exige que o funcionário público tenha a intenção
o funcionário público exige tributo ou contribuição de ficar para si ou para outro aquilo que recebeu. Caso
social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan- o faça, responderá pelo crime na forma qualificada.
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou Na concussão propriamente dita, exige-se que o
gravoso, que a lei não autoriza. funcionário público pratique a conduta visando obter
a vantagem indevida para si ou para outrem, consti-
Art. 316 [...] tuindo-se, assim, elemento de distinção entre os tipos
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição penais.
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan-
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
Corrupção Passiva
gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
Exação significa correção, exatidão.
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
São dois os delitos que recebem o nome de excesso vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
de exação: vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
z Exigência indevida de tributo ou contribuição social; multa.
z Cobrança devida de tributo ou contribuição social, § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em con-
mas de forma vexatória ou gravosa. sequência da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou
O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferen- o pratica infringindo dever funcional.
temente do crime de concussão, não significa uma § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
ameaça, mas sim a simples cobrança indevida. retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
A cobrança é indevida quando o tributo ou con- cedendo a pedido ou influência de outrem:
tribuição social não existe ou então já foi pago, bem Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em
valor maior que o devido. A corrupção passiva, prevista no art. 317 do Código
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste Penal, irá se configurar quando o funcionário público
no fato de o agente ter consciência ou dúvida, que se solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
trata de uma cobrança indevida. indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
Na segunda modalidade criminosa, cobrança assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social aceitar promessa de tal vantagem.
é devido. O problema reside no modus operandi da A doutrina classifica a corrupção passiva em pró-
188 cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante, pria ou imprópria, antecedente ou subsequente.
Corrupção passiva: Dica
Não seja surpreendido por pegadinhas em pro-
z Própria: Quando o funcionário público pratica os
va, a corrupção passiva e a concussão se dife-
verbos do tipo penal para praticar ato ilícito, por
exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para renciam nos verbos que configuram o tipo penal
retardar o cumprimento do mandado de citação; incriminador. Corrupção passiva: solicitar, rece-
z Imprópria: Quando o funcionário público pratica ber ou aceitar promessa. Concussão: exigir.
os verbos do tipo penal para praticar ato lícito, por
exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a Facilitação de Contrabando ou Descaminho
certidão seja expedida dentro do prazo;
z Antecedente: Quando a vantagem indevida é O crime de facilitação de contrabando ou descami-
entregue ao funcionário público antes de sua ação nho está previsto no art. 318, do CP.
ou omissão, por exemplo, juiz recebe vantagem
indevida para prolatar sentença absolutória; Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcional,
z Subsequente: Quando a vantagem indevida é a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
entregue ao funcionário público depois de sua Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
ação ou omissão, por exemplo, após retardar o
processo até levá-lo à prescrição, o juiz solicita Irá se configurar quando o funcionário público
vantagem indevida ao réu.
facilitar, com infração de dever funcional, a prática
Observe que a corrupção passiva pode ser direta de contrabando ou descaminho.
ou indireta:
z Contrabando é a exportação ou a importação do
z Direta: quando é o próprio funcionário público território nacional de uma mercadoria proibida;
que solicita, recebe ou aceita promessa de vanta- z Descaminho é a exportação ou importação do ter-
gem indevida; ritório nacional de uma mercadoria lícita, mas
z Indireta: quando uma interposta pessoa, em con-
mediante sonegação dos direitos ou impostos
luio com o funcionário público, solicita, recebe
ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse devidos.
caso, tanto o “testa de ferro” quanto o funcionário
público responderão por corrupção passiva. O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que signifi-
ca viabilizar, tornar mais simples o contrabando ou
Entende a doutrina majoritária que o mero pre- descaminho.
sente recebido pelo funcionário público, por grati- O elemento subjetivo é o dolo que pode ser direto
dão ou amizade, por exemplo, uma lembrancinha de ou eventual.
natal, não configura o crime de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo Lembrando:
ser qualquer outra vantagem.
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração z Dolo direto (determinado): ocorre quando o
que: agente prevê determinado resultado, dirigindo
sua conduta na busca de realizar esse mesmo
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; resultado;
z Trata-se de crime formal, quando praticada por z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de
meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, resultados, porém dirige sua conduta na realiza-
que se consuma com a conduta, sendo o efetivo
ção de um deles. Quer um resultado, mas aceita o
recebimento da vantagem mero exaurimento do
crime; outro.
z Quando praticada por meio do verbo receber, é
crime material, que exige o efetivo recebimento Observa-se que o crime se consuma com a primei-
para se consumar (art. 317, § 2º, do CP) ra conduta que facilita o contrabando ou descaminho,
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da cor- da mercadoria do território nacional.
rupção passiva praticada mediante emprego de carta; Trata-se de crime formal, pois se consuma com a
z É possível se praticar a corrupção passiva indireta- conduta, independentemente da ocorrência do con-
mente, quando, por exemplo, o funcionário públi- trabando ou descaminho.
co exige a vantagem indevida por meio de outra
Admite-se a tentativa quando o agente se empenha
pessoa.
para realizar a conduta de facilitar o contrabando ou
O particular que paga a vantagem indevida soli- descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la.
citada pelo funcionário público não pratica crime É possível se extrair da leitura do tipo penal que
algum, por falta de tipicidade penal.
DIREITO PENAL

o crime será praticado pelo funcionário público que


A corrupção passiva possui uma forma privilegiada. tem o dever funcional de evitar a prática dos crimes
Observe que na corrupção passiva privilegiada de contrabando e descaminho.
o agente pratica a conduta não com a finalidade de A doutrina dominante entende que, caso o funcio-
conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com
nário público não tenha o dever funcional de evitar
a finalidade de ceder a pedido ou influência de outro.
A pena da corrupção passiva será aumentada de a prática do contrabando ou descaminho, responderá
1/3 (um terço) se, em consequência da vantagem ou como partícipe do crime de contrabando ou do crime
promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar de descaminho.
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional. 189
Sobre este crime, é pertinente saber: z Admite tentativa apenas quando praticado de for-
ma comissiva.
z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o z Tentativa na prevaricação:
funcionário indica uma forma de o contrabandista
desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o „ Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
funcionário, ciente de que há produto de descami- ato de ofício: não admite tentativa;
nho em um compartimento, não o inspeciona, libe- „ Praticar ato de ofício contra disposição expres-
rando as mercadorias); sa de lei: admite tentativa.
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a facilitação, A prevaricação imprópria irá se configurar quan-
independente ou não de o agente conseguir prati- do o diretor de penitenciária e/ou agente público dei-
car o contrabando ou o descaminho; xar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a
z Admite a tentativa somente na forma comissiva, aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita
quando o funcionário público indica o método a comunicação com outros presos ou com o ambiente
de se desviar da fiscalização, mas outro servidor externo.
impede o desvio; A prevaricação imprópria só poderá ser pratica-
z A competência é da Justiça Federal. da pelo diretor de penitenciária ou pelo funcionário
público que tem o dever funcional de impedir que o
Prevaricação preso tenha acesso a aparelho de comunicação com
outros presos ou com o ambiente externo.
Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevida- Sobre a prevaricação imprópria, é importante
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição ressaltar:
expressa de lei, para satisfazer interesse ou senti-
mento pessoal:
z Não admite a forma culposa;
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
z Não admite tentativa.
Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou
agente público, de cumprir seu dever de vedar ao
preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou Condescendência Criminosa
similar, que permita a comunicação com outros
presos ou com o ambiente externo: A condescendência criminosa está prevista no art.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 320 do Código Penal.

O crime de prevaricação é dividido em: Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de
responsabilizar subordinado que cometeu infração
z Própria : prevista no art. 319 do Código Penal; no exercício do cargo ou, quando lhe falte compe-
z Imprópria : prevista no art. 319-A do Código Penal. tência, não levar o fato ao conhecimento da autori-
dade competente:
A prevaricação própria irá se configurar quando Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
o funcionário público retardar ou deixar de praticar,
indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra dis- Observe a conduta que configura este tipo penal:
posição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal.
O crime em estudo não se confunde com a corrup- z Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabi-
ção passiva privilegiada, em que o agente age ou deixa lizar subordinado que cometeu infração no exercício
de agir cedendo a pedido ou influência de outrem. do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar
Na prevaricação não existe este pedido ou influên- o fato ao conhecimento da autoridade competente.
cia. O agente toma a iniciativa de agir ou se omitir para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, se Este crime pode ser praticado de duas formas:
um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregu-
laridade e deixa de autuá-lo em razão de insistentes z Quando o funcionário público, por indulgência,
pedidos deste, há corrupção passiva privilegiada, mas, deixa de responsabilizar o subordinado que come-
se o fiscal deixa de autuar porque percebe que a pes- teu infração no exercício do cargo;
soa é um antigo amigo, configura-se a prevaricação. z Quando o funcionário público, que não é compe-
A prevaricação poderá ser praticada de 3 (três) for- tente para responsabilizar aquele que cometeu
mas diferentes: infração no exercício do cargo, por indulgência,
não levar o fato ao conhecimento da autoridade
z Retardar indevidamente a prática de ato de ofício; competente.
z Deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
z Praticar ato de ofício contra disposição expressa
A doutrina majoritária entende que o crime de
de lei.
condescendência criminosa só pode ser praticado por
O crime de prevaricação exige um fim específico superior hierárquico.
de agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Você pode entender indulgência como compaixão,
Você pode entender interesse ou sentimento pes- pena, piedade.
soal de diversas formas: vingança, compaixão, ódio, Há um requisito que deve ser cumprido para a
amizade, preguiça, entre outros. prática da condescendência criminosa: uma infração
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova: funcional (que pode ser uma violação administrativa
ou penal) praticada por subordinado no exercício das
z Não admite a forma culposa; atribuições do seu cargo.
z Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou
190 deixar de praticar) ou comissiva (praticar);
Sobre a condescendência criminosa, fique atento: Art. 322 Praticar violência, no exercício de função
ou a pretexto de exercê-la.
z Não admite a forma culposa; Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
z É crime omissivo; pena correspondente à violência.
z Não admite tentativa.
Na vigência da antiga Lei de abuso de autoridade,
Como é possível observar, os crimes de corrupção encontrávamos alguns posicionamentos jurispruden-
passiva privilegiada, prevaricação e condescendência ciais, tanto do STF quanto do STJ, entendendo que este
crime continua em vigência.
criminosa possuem características similares.
Agora, a nova Lei de Abuso de Autoridade admite a
Vejamos as diferenças:
possibilidade de aplicação subsidiária do art. 322, do CP.
A prática da violência deve se dar em razão da fun-
z Corrupção Passiva Privilegiada: O agente dei- ção pública, não havendo a exigência de que seja pra-
xa de praticar ato de ofício cedendo a pedido ou ticado no efetivo desempenho das funções do cargo,
influência de outrem; podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, por
z Prevaricação: O agente deixa de praticar ato de ofí- um funcionário público que se encontre de folga.
cio para satisfazer sentimento ou interesse pessoal; O agente que fizer uso de violência arbitrária res-
z Condescendência Criminosa: O agente deixa de ponderá por este crime e pelo crime correspondente à
praticar ato de ofício (responsabilizar o subalter- violência praticada.
no) por indulgência. Apesar da divergência existente sobre a revogação
ou não deste tipo penal, leve em consideração que:
Advocacia Administrativa
z A violência arbitrária não admite a forma culposa,
O crime de advocacia administrativa, previsto no devendo ser praticado dolosamente;
art. 321 do Código Penal, pode ser praticado na moda- z Admite tentativa;
lidade simples ou qualificada. z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o
administrado contra o qual é praticada a violência
Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, inte-
arbitrária;
resse privado perante a administração pública,
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente,
valendo-se da qualidade de funcionário
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
de uso necessário e progressivo da força, admiti-
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
dos em lei.
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
multa.
Abandono de Função
z Modalidade simples: configura-se quando o fun-
cionário público patrocinar, direta ou indireta- O crime de abandono de função está tipificado no
mente, interesse privado perante à administração art. 323, do CP.
pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos
É necessário que a condição de funcionário públi- permitidos em lei:
co proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
patrocina interesse de terceiro, pessoa privada, caso § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
o fato será atípico. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na
O agente pode praticar este crime de diversas faixa de fronteira:
maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
solicitando um benefício;
A conduta típica é a de abandonar cargo público,
z Modalidade qualificada: o crime de advocacia fora dos casos permitidos em Lei.
administrativa será qualificado caso o interesse O nome do crime é abandono de função, porém,
privado seja ilegítimo. o tipo penal fala em abandono de cargo público. É
z Forma simples: interesse privado legítimo; importante que você saiba que o conceito de função
z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo. pública é mais amplo que o de cargo público (não há
cargo sem função, mas há função sem cargo).
Dica Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero
abandono de função pública (apesar do nome) ou de
Sobre a advocacia administrativa, leve isso para emprego público, mas tão somente no caso de aban-
sua prova: dono de cargo público (não se admite a analogia in
� Não admite a modalidade culposa; malam partem).
� É crime formal, que se consuma com a con- De acordo com posicionamento doutrinário majo-
duta, não se exigindo que se atinja o interesse ritário, as hipóteses de greve não configuram este tipo
DIREITO PENAL

privado pleiteado; penal.


� Segundo doutrina majoritária, admite tentativa As hipóteses em que o agente abandona o cargo
quando for possível se fracionar o iter criminis. público, admitidas em Lei, não configuram o crime de
abandono de função.
Violência Arbitrária O crime de abandono de função tem circunstân-
cias que o qualificam:
Este crime, previsto no art. 322, do CP, irá se confi-
gurar quando o funcionário público praticar violência z Se o fato resulta prejuízo público;
no exercício de função ou a pretexto de exercê-la. z Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
de fronteira. 191
Cabe destacar a faixa de fronteira. Essa qualifi- Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria,
cadora é uma norma penal em branco, visto que a de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois
definição da faixa de fronteira é fornecida pela Lei somente pode ser cometido pela pessoa expressamen-
nº 6.634/1979, compreendendo um raio de 150 (cen- te indicada no tipo penal.
to e cinquenta) quilômetros ao longo das fronteiras Se um particular entrar no exercício da função
nacionais. pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa-
O fundamento desta qualificadora é a proteção à ção de função pública (art. 328 do CP).
soberania nacional que, nas fronteiras, torna-se mais Sobre o tipo penal em comento, é importante
vulnerável. saber:
Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
z Não admite a forma culposa;
vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo deter-
z Admite tentativa.
minado. Entende a doutrina que o prazo será fixado
pelo estatuto a que estiver submetido o funcionário Violação de Sigilo Funcional
público.
Em regra: o prazo será de 30 (trinta) dias – pra- O crime de violação de sigilo funcional se encontra
zo previsto na maioria dos estatutos de servidores previsto no art. 325 do Código Penal.
públicos.
Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
Dica facilitar-lhe a revelação:
Sobre o crime de abandono de função, leve para Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
ta, se o fato não constitui crime mais grave.
a sua prova: § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
� É crime omissivo; I – permite ou facilita, mediante atribuição, forne-
� Não admite tentativa; cimento e empréstimo de senha ou qualquer outra
� Só pode ser praticado dolosamente – não forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
admite a culpa. mas de informações ou banco de dados da Adminis-
tração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou
§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis-
Prolongado
tração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Este crime está previsto no art. 324, do CP.

Art. 324 Entrar no exercício de função pública Este delito irá se configurar quando o agente públi-
antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti- co revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a
oficialmente que foi exonerado, removido, substi-
revelação.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
tuído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao e que deva permanecer em segredo;
seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em
razão do cargo e que deva permanecer em segredo.
função pública afeta a prestação de serviços públicos.

z Conduta típica: entrar no exercício de função É importante mencionar que o agente toma conhe-
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou cimento do fato que deve permanecer em segredo em
continuar a exercê-la, sem autorização, depois de razão do cargo que ocupa, não se exigindo que tenha
sido no efetivo desempenho das atribuições do cargo.
saber oficialmente que foi exonerado, removido,
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o
substituído ou suspenso: agente tomar conhecimento do fato durante período
de licença, mas em razão do cargo.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
O Código Penal apresenta duas formas equipara-
„ Entrar no exercício de função pública antes de das do crime de violação de sigilo funcional.
satisfeitas as exigências legais; Observe:
Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público
„ Continuar a exercer a função pública, sem auto-
que:
rização, depois de saber oficialmente que foi
exonerado, removido, substituído ou suspenso.
z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
É exigido que o funcionário público tenha sido mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
oficialmente comunicado sobre sua exonera- forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
ção, remoção, substituição ou suspensão. mas de informações ou banco de dados da Admi-
nistração Pública;
Observe que no exercício funcional ilegalmente z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.
antecipado ou prolongado somente pode ser prati-
cado por funcionário público já nomeado, mas ainda Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte), dano à Administração Pública ou a outrem.
ou então pelo indivíduo que era funcionário público, Sobre este crime, fique atento:
porém deixou de ser em razão de ter sido oficialmente
exonerado, removido, substituído ou suspenso (parte z Só será praticado dolosamente – não admite forma
192 final). culposa;
z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep- novo dispositivo. O crime é doloso não havendo previ-
cionais, a exemplo de ser praticado na forma são de modalidade culposa. É, ainda, plurissubsistente
escrita. (a conduta é fracionada em diversos atos) e, portanto,
possibilita a punição pela tentativa.
Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência Em seguida, temos o tipo frustração do caráter
competitivo de licitação no art. 337-F.
Este tipo penal está previsto no art. 326 do Código
Penal. Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de
obter para si ou para outrem vantagem decorren-
Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concor- te da adjudicação do objeto da licitação, o caráter
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo competitivo do processo licitatório:
de devassá-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos,
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. e multa.

z Conduta típica: devassar o sigilo de proposta de Trata-se de hipótese de crime formal, não sendo
concorrência pública ou proporcionar a terceiro o necessária a obtenção de vantagem para que reste
ensejo de devassá-lo. caracterizada a prática criminal. Aqui, também, tem-
-se a hipótese de crime doloso. Trata-se de crime de
É um crime relacionado ao procedimento licitatório. tipo misto alternativo, pois existe mais de um núcleo.
A doutrina dominante entende que o crime de vio- A jurisprudência existente em relação ao tipo equiva-
lação de sigilo de proposta de concorrência foi revoga- lente da lei anterior afirma que se trata de crime for-
do tacitamente pela Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações). mal. Vejamos:

DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS A natureza formal da conduta descrita no art. 90 da


ADMINISTRATIVOS Lei 8.666/93 dispensa a demonstração de prejuízo
ou dano aos cofres públicos. Basta a comprovação
Capítulo II da fraude para se configurar o crime em questão.
(STJ, AgRg no AREsp 1003485/BA)
Neste tópico, vamos conhecer as alterações legisla-
tivas trazidas pela nova Lei de Licitações em âmbito Trata-se de crime comum, não sendo exigida qua-
criminal. Trata-se do Capítulo II da referida lei, o qual lificação específica para o sujeito ativo e é doloso, não
se encontra, praticamente, no encerramento desse ato existindo possibilidade de modalidade culposa.
normativo. O Capítulo II-B – Dos Crimes em Licitações Vejamos, agora, o patrocínio de contratação indevida.
e Contratos Administrativos – alterou, inclusive, o
Código Penal, Título IX – Dos Crimes Contra a Admi- Art. 337-G Patrocinar, direta ou indiretamente,
nistração Pública. interesse privado perante a Administração Pública,
É interessante frisar que, com a inserção desses dando causa à instauração de licitação ou à cele-
dispositivos no Código Penal, encerra-se a discussão bração de contrato cuja invalidação vier a ser
sobre serem ou não crimes contra a Administração decretada pelo Poder Judiciário:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e
Pública. Uma consequência imediata é a aplicação do
multa.
disposto no art. 33, § 4º. Vejamos:
Aqui, temos uma modalidade especial para o cri-
Art. 33 [...]
§ 4º O condenado por crime contra a administração me de advocacia administrativa. É bom frisar que há
pública terá a progressão de regime do cumprimen- a necessidade de que o sujeito ativo seja agente públi-
to da pena condicionada à reparação do dano que co, sendo que o interesse eventualmente patrocinado
causou, ou à devolução do produto do ilícito prati- pode ser legítimo ou não. Trata-se, portanto, de crime
cado, com os acréscimos legais. material, pois o tipo exige a instauração de licitação
ou celebração de contrato.
O art. 337-E traz a conduta penal chamada contra- Perceba que há, ainda, a necessidade de invalida-
tação direta ilegal. ção, pelo Judiciário, do contrato administrativo. Caso
seja invalidado pela própria Administração Públi-
Art. 337-E Admitir, possibilitar ou dar causa à con- ca, não sofrendo, desta forma, intervenção do Poder
tratação direta fora das hipóteses previstas em lei: Judiciário, não haverá justa causa para a ação penal,
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e conforme decidido pelo STJ. Assim, trata-se de crime
multa. próprio, doloso e material.
Vamos conhecer, agora, o tipo modificação ou
Lembre-se de que a contratação direta deverá pagamento irregular em contrato administrativo.
ocorrer nos casos em que a Lei permite que não seja
DIREITO PENAL

realizado o procedimento licitatório. Art. 337-H Admitir, possibilitar ou dar causa


O tipo encontra equivalência com o art. 89 da lei a qualquer modificação ou vantagem, inclusive
anterior. Assim, é importante destacar que o STF e o prorrogação contratual, em favor do contratado,
STJ se posicionaram em relação ao dispositivo ante- durante a execução dos contratos celebrados com a
rior pela necessidade de dolo específico, ou seja, Administração Pública, sem autorização em lei, no
vontade consciente de produzir o resultado lesivo ao edital da licitação ou nos respectivos instrumentos
contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preteri-
erário, além do dolo genérico (contratação fora das
ção da ordem cronológica de sua exigibilidade:
hipóteses legais). Com base nessas informações, é pro-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos,
vável que o entendimento seja o mesmo em relação ao
e multa.
193
Aqui, temos duas figuras distintas no tipo – modifi- I - entrega de mercadoria ou prestação de serviços
cação irregular de contrato e pagamento irregular de com qualidade ou em quantidade diversas das pre-
contrato. Vale dizer que, sobre a ordem cronológica vistas no edital ou nos instrumentos contratuais;
de pagamento, há regramento específico no art. 141 II - fornecimento, como verdadeira ou perfeita, de
e seguintes, da Lei nº 14.133/21. Trata-se, portanto, de mercadoria falsificada, deteriorada, inservível para
norma penal em branco. consumo ou com prazo de validade vencido;
Perceba, ainda, que há duas figuras dentro do III - entrega de uma mercadoria por outra;
IV - alteração da substância, qualidade ou quanti-
mesmo tipo. A primeira traz um tipo misto alternativo
dade da mercadoria ou do serviço fornecido;
(admitir, possibilitar ou dar causa). A prática de mais
V - qualquer meio fraudulento que torne injusta-
de uma dessas condutas configurará a prática de úni- mente mais onerosa para a Administração Pública
co crime. No entanto, caso a prática de uma ou mais a proposta ou a execução do contrato:
dessas condutas seja combinada com a prática de con- Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos,
duta enquadrada na segunda figura do tipo, teremos e multa.
um concurso de crimes.
Ademais, o crime é próprio quanto a segunda figu- Trata-se de crime de forma vinculada, pois a Lei,
ra (pagamento irregular), mas comum em relação a por meio dos incisos dispostos, elencou as condutas
primeira, pois alguns núcleos podem ser praticados nas quais incidirá no tipo o sujeito ativo. Ademais, é
por sujeitos ativos que não são agentes públicos. crime comum, doloso e material, pois é exigido o pre-
Vamos, agora, ao tipo perturbação de processo juízo à Administração Pública para a sua consumação,
licitatório. sendo admissível a tentativa.
Art. 337-I Impedir, perturbar ou fraudar a realiza- Vejamos, agora, a contratação inidônea.
ção de qualquer ato de processo licitatório:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, Art. 337-M Admitir à licitação empresa ou profis-
e multa. sional declarado inidôneo:
Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 3 (três) anos, e
Aqui, temos um crime comum e de tipo misto alterna- multa.
tivo. Trata-se de crime material, sendo exigido o impedi- § 1º Celebrar contrato com empresa ou profissional
mento, a perturbação ou a fraude para a sua consumação. declarado inidôneo:
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 6 (seis) anos, e
Em seguida, vejamos o tipo violação de sigilo em
multa.
licitação.
§ 2º Incide na mesma pena do caput deste artigo
Art. 337-J Devassar o sigilo de proposta apresenta- aquele que, declarado inidôneo, venha a participar
da em processo licitatório ou proporcionar a tercei- de licitação e, na mesma pena do § 1º deste artigo,
ro o ensejo de devassá-lo: aquele que, declarado inidôneo, venha a contratar
Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 3 (três) anos, e com a Administração Pública.
multa.
Diferentemente da conduta constante do § 2º, a qual
Trata-se de crime de tipo alternativo e comum, constitui crime comum, a conduta incriminada no caput
podendo ser praticado por qualquer pessoa. Em rela- é um crime próprio, podendo ser praticada somente por
ção à conduta de devassar, é exigido que seja quebra- agente público. Já o § 1º traz forma qualificada do delito
do o sigilo para a consumação, sendo o crime, nessa previsto no caput, ocorrendo a absorção da conduta de
hipótese, material. admissão no caso da celebração do contrato.
Já em relação à hipótese de proporcionar que um Nas formas simples e qualificada, são normas
terceiro o faça, não será necessário o resultado natu- penais em branco, por dependerem da definição da
ralístico, sendo, portanto, hipótese formal. declaração de inidoneidade. Ainda, trata-se de crime
Vejamos, agora, o tipo afastamento de licitante. doloso, não sendo admitida a forma culposa.
Vejamos, agora, o crime de impedimento indevido.
Art. 337-K Afastar ou tentar afastar licitante
por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofe- Art. 337-N Obstar, impedir ou dificultar injusta-
recimento de vantagem de qualquer tipo: mente a inscrição de qualquer interessado nos
Pena - reclusão, de 3 (três) anos a 5 (cinco) anos, registros cadastrais ou promover indevidamente a
e multa, além da pena correspondente à violência. alteração, a suspensão ou o cancelamento de regis-
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se tro do inscrito:
abstém ou desiste de licitar em razão de vantagem Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
oferecida. multa.

Trata-se de delito de atentado ou de mero empreen- Nesse tipo penal, temos duas figuras distintas.
dimento, pois as formas tentada e consumada são Ambas configuram crime próprio. Dentre os verbos
equivalentes. O Parágrafo Único traz a modalidade constantes do tipo, apenas “dificultar” será crime de
equiparada, em que um licitante se afasta mediante mera conduta, sendo que, nos demais, há necessida-
vantagem a ele oferecida. Já no caso do emprego de de de resultado naturalístico, tratando-se de crimes
violência, há possibilidade de concurso de crimes. materiais. Cabe frisar que, em todas as modalidades,
Trata-se, portanto, de crime formal e comum e de será cabível a tentativa. O crime poderá ser instantâ-
mero empreendimento, como vimos anteriormente. neo (dificultar ou promover) ou permanente (obstar
Vejamos, agora, à fraude em licitação ou contrato. ou impedir).
Vamos, agora, conhecer o tipo omissão grave de
Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administra- dado ou de informação por projetista.
ção Pública, licitação ou contrato dela decorrente,
194 mediante:
Art. 337-O Omitir, modificar ou entregar à Admi- Vale destacar que a metodologia para o cálculo da
nistração Pública levantamento cadastral ou con- multa será a constante do Código Penal, porém com
dição de contorno em relevante dissonância com a piso mínimo de 2% do valor do contrato licitado ou
realidade, em frustração ao caráter competitivo da celebrado por meio de contratação direta.
licitação ou em detrimento da seleção da proposta
mais vantajosa para a Administração Pública, em
contratação para a elaboração de projeto básico,
projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo com-
petitivo ou em procedimento de manifestação de
HORA DE PRATICAR!
interesse:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e 1. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi-
multa. go Penal (CP) brasileiro acerca do concurso de pes-
§ 1º Consideram-se condição de contorno as infor- soas, marque a alternativa CORRETA:
mações e os levantamentos suficientes e necessá-
rios para a definição da solução de projeto e dos a) Na hipótese de crime praticado em concurso de pes-
respectivos preços pelo licitante, incluídos son- soas, se a participação de um dos agentes for de
dagens, topografia, estudos de demanda, condi- menor importância, este não responde pelo delito.
ções ambientais e demais elementos ambientais b) Se algum dos concorrentes quis participar de crime
impactantes, considerados requisitos mínimos ou menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste.
obrigatórios em normas técnicas que orientam a c) A instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em
elaboração de projetos. contrário, não são puníveis quando o delito ocorrer na
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter modalidade tentada.
benefício, direto ou indireto, próprio ou de outrem,
d) No concurso de pessoas, as circunstâncias e as condi-
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
ções de caráter pessoal não se comunicam, ainda que
artigo.
elementares do crime.
Aqui, temos um crime que não encontra corres-
2. (CRS – 2015) A violação de domicílio, prevista no
pondência na lei anterior. Perceba que, ainda que o
art. 150 do Código Penal, consiste em “entrar ou per-
nome do tipo traga o termo “omissão”, apenas um dos
manecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a
três núcleos presentes no caput será crime omissivo
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em
puro (omitir).
casa alheia ou em suas dependências”. No entanto, o
O tipo traz as condições. Vejamos:
Código Penal elenca, no parágrafo 3º do art. 150, hipó-
teses em que a conduta não constitui crime e, com
z Contorno em relevante dissonância com a realidade;
base exclusivamente nessas hipóteses, analise as
z Em frustração ao caráter competitivo da licitação;
assertivas abaixo:
z Em detrimento da seleção da proposta mais vanta-
josa para a Administração Pública.
I. Não constitui crime de violação de domicílio a entrada
ou permanência em casa alheia ou em suas depen-
Ainda, traz os contextos em que deverá ocorrer a
dências quando algum crime está sendo ali praticado.
conduta, para que se caracterize o crime:
II. Não constitui crime de violação de domicílio a entrada
ou permanência em casa alheia ou em suas depen-
z Contratação para a elaboração de projeto básico,
dências, durante o dia, com observância das formali-
projeto executivo ou anteprojeto;
dades legais, para efetuar prisão.
z Diálogo competitivo;
z Procedimento de manifestação de interesse.
Marque a alternativa correta:
As formas de contração colocadas acima são pre-
a) Apenas a assertiva I está correta.
vistas na Lei nº 14.133/21, por isso se trata de norma
b) Apenas a assertiva II está correta.
penal em branco. O § 2º traz a hipótese de majoração
c) As assertivas I e II estão corretas.
da pena. Como não há restrição, deve-se interpretar
d) As assertivas I e II estão incorretas.
que qualquer benefício será suficiente para o enqua-
dramento na hipótese.
3. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi-
Trata-se, portanto, de crime comum, pois, embora
go Penal (CP) brasileiro acerca dos crimes contra a
a Lei use o termo projetista, o verbo trazido constante
administração pública, é correto afirmar que:
do caput (entregar) poderá ser praticado por qualquer
pessoa. Ainda, é hipótese de delito formal, sendo pos-
sível a tentativa, exceto na modalidade “omitir”, por a) Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público
se tratar de crime omissivo próprio. de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a
Por fim, temos um regramento específico para a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
aplicação de multas nos casos dos crimes constantes comunicação com outros presos ou com o ambiente
DIREITO PENAL

dos artigos que estudamos até aqui. externo, trata-se do crime de condescendência crimi-
nosa, tipificado no art. 320 do Código Penal.
Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes
b) No crime de peculato (art. 312 do CP), na sua moda-
previstos neste Capítulo seguirá a metodologia de lidade culposa, a reparação do dano, se precede à
cálculo prevista neste Código e não poderá ser infe- sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
rior a 2% (dois por cento) do valor do contrato lici- posterior, reduz de metade a pena imposta.
tado ou celebrado com contratação direta.” c) Configura-se o crime de concussão (art. 316 do CP),
quando o funcionário público solicita ou recebe, para
si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
195
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão do CP), é uma circunstância irrelevante para fins de
dela, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal aplicação da pena.
vantagem. d) Aquele que se apropria de coisa alheia móvel, de que
d) No crime de facilitação de contrabando ou descami- tem a posse ou a detenção, pratica o crime de furto
nho (art. 318 do CP), a pena é aumentada de um ter- (art. 155 do CP).
ço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato 7. (CRS – 2015) Com base no Código Penal, são crimes
de ofício ou o pratica infringindo o dever funcional. contra o patrimônio EXCETO:

4. (CRS – 2017) Marque a alternativa correta em relação a) Estelionato.


ao Código Penal Brasileiro: b) Peculato.
c) Furto.
a) É isento de pena o agente que, sob forte emoção ou d) Apropriação indébita.
paixão, ou ainda em estado de embriaguez, voluntária
ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análo- 8. (CRS – 2017) Em relação ao crime de Furto (Art 155
gos, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramen- do Código Penal), marque a alternativa CORRETA:
te incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. a) A destruição ou rompimento de obstáculo à subtração
b) Aquele que tinha o dever legal de enfrentar o perigo da coisa, o abuso de confiança, a escalada ou destre-
pode alegar estado de necessidade. za, o cometimento do crime com emprego de chave
c) Não há crime quando o agente pratica o fato dando falsa ou mediante concurso de duas ou mais pessoas
causa ao resultado por imprudência, negligência ou são qualificadoras do crime de furto.
imperícia. b) Se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa
d) A moderação no emprego dos meios necessários à furtada, há a extinção da punibilidade.
repulsa da injusta agressão, constitui um dos requisi- c) A pena aumenta-se da metade, se o crime é praticado
tos legais para a configuração da legítima defesa. durante o repouso noturno.
d) Se a subtração for de semovente domesticável de
5. (CRS – 2017) Com relação ao Código Penal Brasileiro, produção, ainda que abatido ou dividido em partes no
analise as assertivas abaixo: local da subtração ou se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser transportado para outro
I. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou Estado ou para o exterior, a pena prevista será a do
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou caput, ou seja, de um a quatro anos, e multa.
não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou,
se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em 9. (CRS – 2017) Com relação às penas previstas no
qualquer caso, de um sexto até metade. Código Penal Brasileiro, analise as assertivas abaixo:
II. No concurso de crimes, as penas de multa são aplica-
das distinta e integralmente. I. As penas previstas são: privativas de liberdade, restri-
III. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou tivas de direitos e de multa.
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espé- II. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime
cie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de exe- fechado, semi-aberto ou aberto.
cução e outras semelhantes, devem os subsequentes III. Considera-se regime fechado a execução da pena em
ser havidos como continuação do primeiro, aplica- estabelecimento de segurança máxima ou média.
-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou IV. No cumprimento da pena em regime semi-aberto, o
a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer condenado fica sujeito a trabalho em comum duran-
caso, de um sexto a dois terços. te o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou
IV. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, estabelecimento similar.
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-
-se cumulativamente as penas privativas de liberdade Estão corretas as assertivas:
em que haja incorrido.
a) Todas estão corretas
Estão corretas as assertivas: b) I, II e IV apenas
c) I e III apenas
a) Todas estão Corretas d) II, III e IV apenas
b) II e III apenas
c) I, II e III apenas 10. (CRS – 2015) Com relação as Penas Privativas de
d) II, III e IV apenas Liberdade, analise as assertivas abaixo:

6. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi- I. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime
go Penal (CP) brasileiro, é correto afirmar que: fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em
regime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de
a) Para efeito de configuração do crime de furto (art. 155 transferência a regime fechado.
do CP), a energia elétrica é equiparada à coisa móvel. II. O trabalho externo é inadmissível no regime fechado.
b) O crime de roubo (art. 157 do CP) consiste na conduta de III. O condenado por crime contra a administração públi-
subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, sem ca terá a progressão de regime do cumprimento da
o emprego de violência ou de grave ameaça à pessoa. pena condicionada à reparação do dano que causou,
c) O emprego de arma de fogo para o exercício da violên- ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os
196 cia ou da grave ameaça, no crime de roubo (art. 157 acréscimos legais.
Estão corretas as assertivas: 16. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi-
go Penal (CP) brasileiro acerca das excludentes de ili-
a) I e II, apenas. citude e de culpabilidade, é correto afirmar que:
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas. a) Entende-se em legítima defesa, quem pratica o fato
d) III apenas. para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito pró-
11.(CRS – 2015) A conduta de “Abandonar pessoa que prio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autorida- era razoável exigir-se.
de, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos b) O Código Penal brasileiro restringe a alegação do esta-
riscos resultantes do abandono” configura o crime de: do de necessidade apenas a quem tinha o dever legal
de enfrentar o perigo.
c) Aquele que, usando moderadamente dos meios
a) Omissão de socorro.
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminen-
b) Maus-tratos.
te, a direito seu ou de outrem, pode alegar como exclu-
c) Abandono de incapaz.
dente de ilicitude o exercício regular de direito.
d) Lesão corporal.
d) Não há crime quando o agente pratica o fato em esta-
do de necessidade, em legítima defesa, em estrito
12. (CRS – 2018) Marque a alternativa INCORRETA em cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
relação às excludentes de ilicitude previstas no Códi- direito.
go Penal.
17. (CRS – 2015) Marque a alternativa que completa cor-
a) Imputabilidade penal. retamente a lacuna no texto abaixo:
b) Estado de necessidade. “Considera-se em quem pratica o fato para salvar de
c) Legítima defesa. perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem
d) Estrito cumprimento de dever legal. podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
13. (CRS – 2018) “Apropriar-se o funcionário público de exigir-se.”
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, a) Estado de necessidade.
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”. b) Legítima defesa.
A descrição acima se refere a qual crime tipificado no c) Inexigibilidade de conduta diversa.
Código Penal Brasileiro? Marque a alternativa correta. d) Estrito cumprimento de dever legal.

a) Concussão. 18. (CRS – 2018) Analise as assertivas abaixo em relação


b) Peculato. ao Código Penal:
c) Corrupção passiva.
d) Apropriação indébita. I. Trata-se de crime consumado, quando nele se reúnem
todos os elementos de sua definição legal.
14. (CRS – 2018) Marque a alternativa correta em rela- II. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absolu-
ção à idade prevista no Código Penal para as pessoas ta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
penalmente inimputáveis: impossível consumar-se o crime.
III. Considera-se crime tentado, quando, iniciada a exe-
cução, não se consuma por circunstâncias alheias à
a) Menores de 21 (vinte e um) anos.
vontade do agente.
b) Menores de 16 (dezesseis) anos.
IV. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir
c) Menores de 18 (dezoito) anos.
na execução ou impede que o resultado se produza, só
d) Menores de 14 (quatorze) anos.
responde pelos atos já praticados.
15. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Estão corretas as assertivas:
Código Penal (CP) brasileiro acerca da imputabilidade
penal, é correto afirmar que: a) I, II e III, apenas.
b) Todas estão corretas.
a) Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente res- c) I, II e IV, apenas.
ponsáveis somente nas hipóteses de crimes hediondos. d) III e IV, apenas.
b) O agente que age impelido por emoção ou por paixão
é penalmente inimputável. 19. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do
c) É isento de pena o agente que, por embriaguez volun- Código Penal (CP) brasileiro acerca da aplicação da
DIREITO PENAL

tária ou culposa, não possuía, ao tempo da ação ou lei penal no tempo e no espaço, marque a alternativa
da omissão, a plena capacidade de entender o caráter correta:
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. a) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agen-
d) A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o te, aplica-se aos fatos anteriores desde que não tenha
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou havido o trânsito em julgado da sentença condenatória.
por desenvolvimento mental incompleto ou retardado b) Para efeito de aplicação da lei penal, considera-se pra-
não era inteiramente capaz de entender o caráter ilí- ticado o crime no momento em que houve a produção
cito do fato ou de determinar-se de acordo com esse do resultado.
entendimento. 197
c) Os crimes cometidos no estrangeiro não estão sujei-
19 D
tos à aplicação da lei penal brasileira.
d) Aplica-se a lei penal brasileira aos crimes praticados 20 A
a bordo de aeronaves ou de embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ao
território nacional ou em alto-mar.
ANOTAÇÕES
20. (CRS – 2018) Analise as assertivas abaixo acerca do
crime de homicídio previsto no Código Penal.

I. Se o agente comete o crime de homicídio impelido


por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injus-
ta provocação da vítima, o juiz pode aumentar a pena.
II. Motivo fútil, traição, emboscada, emprego de veneno,
fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum, são
qualificadoras do crime de homicídio.
III. Se o crime de homicídio for praticado por milícia priva-
da, sob o pretexto de prestação de serviço de seguran-
ça, ou por grupo de extermínio, a pena é aumentada de
1/3 (um terço) até a metade.
IV. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá dei-
xar de aplicar a pena, se as consequências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
sanção penal se torne desnecessária.

Estão corretas as assertivas:

a) II, III e IV, apenas.


b) II e III, apenas.
c) I, II e IV, apenas.
d) I e III, apenas.

9 GABARITO

1 B

2 C

3 B

4 D

5 B

6 A

7 B

8 A

9 A

10 C

11 C

12 A

13 B

14 C

15 D

16 D

17 A

18 B
198
Fundamentos

Os fundamentos da República Federativa do Brasil


servem como base para todo o ordenamento jurídico,
pois se refere aos valores de formação da República
DIREITO CONSTITUCIONAL Federativa do Brasil. Veja a importância do artigo, não
somente em relação à Constituição, mas como para
toda a ordem jurídica do Estado. Assim, vamos anali-
sar o art. 1º da Constituição Federal.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
FEDERATIVA DO BRASIL pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo-
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS crático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
Os princípios fundamentais são mandamentos que
III - a dignidade da pessoa humana;
vão influenciar em toda ordem jurídica, por exemplo, é IV - os valores sociais do trabalho e da livre
nesse momento que o texto constitucional formaliza a iniciativa;
relação entre povo, poder e território. Além disso, servem V - o pluralismo político.
como um norte para outras normas e estão localizados Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que
no título I da CF/88, o qual é composto por quatro artigos. o exerce por meio de representantes eleitos ou dire-
tamente, nos termos desta Constituição.
Note que é nesses artigos que se proclama o regime
político democrático com fundamento na soberania
A soberania
popular e garantia da separação de função entre os
governos. Bem como, também se determina os valores A soberania se refere a um poder supremo e inde-
e diretrizes para o ordenamento constitucional. pendente, é a capacidade de editar suas próprias nor-
Vejamos no texto a seguir um resumo: mas, de forma que qualquer outra lei só possa existir
caso respeite as normas norteadoras definidas na
z Título I: Dos Princípios Fundamentais Constituição. Em suma, é a autonomia que o Brasil
„ Art. 1º. Fundamentos: tem para se organizar politicamente sem a interferên-
cia de outro Estado.
“SO.CI.DI.VA.PLU”
Nesse sentido, preleciona José Afonso da Silva
SOberania; (2017), a soberania é um poder político, supremo e
CIdadania; independente, ainda, é fundamento do próprio con-
DIgnidade da pessoa humana; ceito de Estado, diante disto, não precisaria ser men-
VAlores sociais do trabalho e da livre iniciativa; cionada no texto constitucional.
PLUralismo Político. Não obstante, a demonstração do poder supremo
pode ser vista de forma interna (poder do Estado) ou
„ Art. 2º Separação dos Poderes: externa (quando nos relacionamos com entidades
Judiciário: Aplica as leis; internacionais).
Legislativo: Elabora as leis;
Executivo: Administra o Estado. A cidadania

Podemos considerar cidadania como um objeto de


„ Art. 3º Objetivos Fundamentais:
direito fundamental, pois é a participação do indiví-
“CON.GA.ER.PRO”
duo no Estado Democrático de Direito. No texto consti-
CONstruir uma sociedade livre, justa e solidária; tucional, em sentido amplo, a existência da cidadania
GArantir o desenvolvimento nacional; está atrelada à vivencia social, na construção de rela-
ERradicar a pobreza e a marginalização e redu- ções, na mudança de mentalidade, na reivindicação
zir as desigualdades sociais e regionais; de direitos e no cumprimento de deveres.
PROmover o bem de todos, sem preconceitos Assim, podemos concluir que a cidadania pode
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer ser exercida não somente com o direito de voto, mas
DIREITO CONSTITUCIONAL

outras formas de discriminação. também com a participação do cidadão em conselhos


de temas importantes, como saúde, educação, compa-
„ Art. 4º Princípios das Relações Internacionais: recimento em audiências públicas e participação nas
Independência nacional; reuniões referentes ao orçamento participativo.
Prevalência dos direitos humanos; Atenção, nem toda pessoa é considerada cida-
dão. Em provas de concurso é importante observar
Autodeterminação dos povos;
que cidadão é todo ser humano que está em condição
Não intervenção;
de votar e ser votado. Assim, podemos concluir que
Igualdade entre os Estados;
uma criança e os estrangeiros não naturalizados não
Defesa da paz; podem ser considerados cidadãos.
Solução pacífica dos conflitos; Cuidado para não confundir cidadania com
Repúdio ao terrorismo e ao racismo; nacionalidade:
Cooperação entre os povos para o progresso da Nacionalidade é o vínculo jurídico político
humanidade. que une uma pessoa a um Estado e a cidadania é a 199
participação do indivíduo no Estado. Inclusive a chamado princípio da separação dos poderes, ou prin-
nacionalidade é requisito para ser cidadão, ou seja, cípio da divisão funcional do poder do Estado.
para ser cidadão o indivíduo deve ser brasileiro nato
ou naturalizado. Art. 2º: São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
A dignidade da pessoa humana Judiciário.

A dignidade da pessoa humana é um valor que Assim, cada poder tem suas funções e organização
influencia o conteúdo de todos os direitos fundamen- definidas, vejamos:
tais do homem consagrados no texto constitucional, é
uma proteção não somente do indivíduo em face do z Poder executivo exerce as funções de governo e
Estado, mas também perante a toda sociedade. Nesse administração. Como exemplo de administração,
sentido, considera Alexandre de Moraes (2011), a dig- podemos mencionar o art. 84, I da CF, que define
nidade da pessoa humana é valor espiritual e moral, como competência do Presidente da República
que se manifesta na autodeterminação da própria nomear e exonerar Ministros;
vida e traz consigo a busca pelo respeito por parte das z Poder legislativo é exercido pelo Congresso
demais pessoas1. Nacional, sua função é legislar, ou seja, tem a
Nesse tópico de estudo é importante mencionar a função de elaborar as normas jurídicas gerais e
súmula vinculante nº 11 editada pelo STF sobre o uso abstratas. Por exemplo, é de competência do Con-
de algemas, vejamos: gresso Nacional a votação para aprovação de lei
complementar (art. 69 da CF);
Súmula Vinculante 11 z Poder judiciário cabe o exercício da jurisdição,
por exemplo, a aplicação do Direito em um caso
Só é lícito o uso de algemas  em casos de resis-
concreto através de um processo judicial.
tência e de fundado receio de fuga ou de perigo à
integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalida- A Teoria da tripartição de poderes foi idealizada
de por escrito, sob pena de responsabilidade disci- por Montesquieu e determina a composição e divisão
plinar,  civil e penal do agente ou da autoridade e do Estado, a teoria objetiva que cada poder deve ser
de nulidade da prisão ou do ato processual a que independente e harmônico entre si, como forma de
se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do dividir as funções do Estado, entre poder executivo,
Estado. poder legislativo e poder judiciário, entendimento esse
também chamado de teoria dos freios e contrapesos.
Note que, a dignidade da pessoa humana é o direi-
to de titularidade universal, isto é, todos têm acesso Objetivos da República Federativa do Brasil
a esse direito pelo simples fato de ser pessoa, assim,
a nacionalidade e/ou capacidade não são fatores que O artigo 3° da Constituição Federal apresenta os
possibilitam maior proteção, mas sim o fato de ser objetivos fundamentais do Estado brasileiro, ou seja,
cidadão, seja ele nacional ou estrangeiro. dita os compromissos que o Estado tem em relação
aos cidadãos, em especial na garantia plena de igual-
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa  dade entre todos os brasileiros.
José Afonso da Silva observa que (2017), é a primei-
Dispositivo que objetiva a proteção ao trabalho, ra vez que uma Constituição relaciona especificamen-
pois é através deste que o homem garante sua subsis- te os objetivos do Estado brasileiro, que valem como
tência e o crescimento do Brasil, aqui não se menciona base para as prestações positivas que venham a con-
somente o “trabalhador CLT2”, mas também os autôno- cretizar a democracia econômica, social e cultural3.
mos, empresários, empreendedores e empregadores.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
O pluralismo político República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
O legislador originário se preocupou em afirmar a II - garantir o desenvolvimento nacional;
ampla participação popular nos destinos políticos do III - erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
Brasil, com a inclusão da sociedade na participação dos zir as desigualdades sociais e regionais;
processos de formação da vontade geral da nação, garan- IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
tindo a liberdade e a participação dos partidos políticos. origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
Ainda, podemos conceituar o pluralismo como a formas de discriminação.
garantia de que todo aquele de vive em sociedade terá
direito a sua própria convicção política e partidária. O rol dos objetivos fundamentais relacionados no
art. 3º da CF é um rol meramente exemplificativo, pois
Separação dos Poderes se refere a metas, ou seja, objetivos que o Estado bus-
ca alcançar.
O art. 2º da Constituição, ao definir a indepen- A seguir, vamos analisar cada um dos incisos deste
dência e a harmonia entre si dos poderes, consagra o artigo tão importante da Constituição Federal.
1  MORAES, op. cit, p. 24.
2  Trabalhador CLT – Termo vulgar utilizado para definir trabalhador/funcionário regido pela CLT (carteira assinada).
200 3  SILVA, op. cit, p. 107.
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
Preceito estabelecido visando o bem estar e qua- III - autodeterminação dos povos;
lidade de vida, o objetivo é construir uma sociedade IV - não-intervenção;
livre, sem uma intervenção estatal exagerada, justa, V - igualdade entre os Estados;
aplicando as normas do ordenamento jurídico e soli- VI - defesa da paz;
dária, que se preocupa com o próximo. VII - solução pacífica dos conflitos;
O objetivo em tela consagra as três gerações de VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
direitos fundamentais, como direito de primeira gera- IX - cooperação entre os povos para o progresso da
ção, menciona a liberdade, direito de segunda geração
humanidade;
está relacionado ao direito de justiça social, e por fim
X - concessão de asilo político.
os direitos de terceira geração estão relacionados à
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
ideia de fraternidade e solidariedade.
buscará a integração econômica, política, social e
Cuidado: esse objetivo também pode ser chamado
de princípio da solidariedade. cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
II - garantir o desenvolvimento nacional

Neste caso, aplica-se pelo aperfeiçoamento do ser Os princípios enumerados no mencionado dispo-
humano, ou seja, que o desenvolvimento seja esten- sitivo reconhecem a soberania do Estado no plano
dido à política, à economia e à vida social. Bem como, internacional, ou seja, não deve haver subordina-
ao buscar o desenvolvimento econômico, deve ser res- ção entre os Estados. Sob esse mesmo entendimento
peitada às normas ambientais. temos o princípio da não-intervenção e o princípio da
Cuidado: na questão de prova as bancas exa- autodeterminação dos povos, assegurando que inter-
minadoras gostam de trocar a palavra nacional por namente o Estado não deve sofrer nenhum tipo de
regional. interferência sobre assuntos de interesse interno.
O repúdio ao terrorismo e a concessão de asilo
político têm relação com o princípio da prevalência
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
dos direitos humanos relacionado no inciso II, este
as desigualdades sociais e regionais
último deve ser rigorosamente respeitado. Nesse sen-
tido, em caso de extrema violação da prevalência dos
Tem como objetivo a igualdade de condições para
direitos humanos, pode até levar a interferência de
todos os cidadãos, com a intenção de reduzir as desi-
gualdades, ou seja, deve trazer melhorias para áreas outros Estados naquele, com o apoio do Brasil.
como educação, saúde e emprego para todos, mas na Ainda a Constituição determina que o Brasil busca-
medida de suas desigualdades, entenda a seguir: rá integração econômica, política, social e cultural dos
O objetivo é reduzir a chamada desigualdade povos da América Latina, visando à formação de uma
material, que significa tratar iguais os iguais e os comunidade latino-americana de nações4.
desiguais com desigualdade na medida de suas desi-
gualdades, ou seja, é uma forma de proteção a certos
grupos sociais, pessoas que foram discriminadas ao
longo da história do Brasil. Isso ocorre por meio das EXERCÍCIOS COMENTADOS
chamadas ações afirmativas, que visam, por meio da
política pública, reduzir os prejuízos. 1. (CESPE-CEBRASPE – 2020) Assinale a opção que
Sobre esse tema e explicações referente igualdade apresenta um princípio que rege as relações interna-
formal e igualdade material será abordado na sequên- cionais do Brasil.
cia, no tópico de estudo do princípio da igualdade (art.
5º, caput da CF). a) prevalência dos direitos humanos
b) garantia do desenvolvimento nacional
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos c) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras d) pluralismo político
formas de discriminação. e) construção de sociedade livre, justa e solidária

Todo direito e todo dever tem de ser estendido a Conforme determina o inciso II do art. 4º da CF, a
qualquer indivíduo, independente de gênero ou cor, prevalência dos direitos humanos faz parte do rol
DIREITO CONSTITUCIONAL

visando aqui à igualdade plena. Conforme a letra da lei, dos princípios que regem as relações internacionais
nenhum tipo de preconceito deve ser tolerado no Brasil. do país. Resposta: Letra A.

Princípios das relações internacionais 2. (CESPE-CEBRASPE – 2019) É fundamento da Repúbli-


ca Federativa do Brasil
O art. 4º da Constituição enumera os princípios
fundamentais orientadores das relações internacio- a) a erradicação da pobreza.
nais; consagra, ainda, a não subordinação no plano b) a promoção do bem de todos, sem preconceito de
internacional e a igualdade estre os Estados. Vejamos: origem, raça, sexo, cor e quaisquer outras formas de
discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se c) a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
nas suas relações internacionais pelos seguintes d) a forma democrática de Estado.
princípios: e) a dignidade da pessoa humana.
4  MORAES, op. cit, p. 27. 201
Os fundamentos da República Federativa do Brasil Importante mencionar que o STF já se posicionou
estão relacionados no art. 1º da Constituição, a dig- sobre gravidez de feto anencéfalo, decidindo, em
nidade da pessoa humana se encontra no inciso III julgamento de grande repercussão, que não constitui
do mencionado dispositivo. Resposta: Letra E. crime a interrupção da gravidez nestes casos. Ainda, o
julgamento somente autorizou a interrupção da gravi-
dez de feto portador de anencefalia, não se estenden-
do a nenhuma outra deficiência.5
É importante ressaltar também que o STF decidiu
DIREITOS E GARANTIAS pela legitimidade da realização de pesquisas com
FUNDAMENTAIS a utilização de células-tronco6 embrionárias, obti-
das de embriões humanos produzidos por fertilização
Os direitos fundamentais estão localizados no títu- in vitro e não utilizados no respectivo procedimento,
lo II da CF/88, do art. 5º ao art. 17, e estão classifica- atendidas as condições estipuladas no art. 5º da Lei
dos em cinco grupos: direitos individuais e coletivos, 11.105/2005, que estabelece as normas de segurança
direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos e maneiras de fiscalização das atividades que envol-
políticos e direitos relacionados à existência, organi- vam organismos geneticamente modificados. Nesse
zação e participação em partidos políticos. sentido, o STF considerou que as mencionadas pesqui-
Também são classificados em três dimensões de sas não violam direito à vida, vejamos o dispositivo
direito, pois surgiram em épocas diferentes. mencionado:

DIREITOS DIREITOS DIREITOS Lei 11.105 de 25 de março de 2005


FUNDAMENTAIS FUNDAMENTAIS FUNDAMENTAIS Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia,
DE 1º DIMENSÃO DE 2º DIMENSÃO DE 3º DIMENSÃO a utilização de células-tronco embrionárias obtidas
Direitos civis e po- Direitos sociais, eco- de embriões humanos produzidos por fertilização
Fraternidade in vitro e não utilizados no respectivo procedimen-
líticos nômicos e culturais
to, atendidas as seguintes condições:
I – sejam embriões inviáveis; ou
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou
mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já
Conforme prevê o art. 5º da CF/88 todos são iguais congelados na data da publicação desta Lei, depois
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, de completarem 3 (três) anos, contados a partir da
garantindo aos brasileiros direito à vida, à liberdade, data de congelamento.
à igualdade, à segurança e à propriedade. § 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimen-
to dos genitores.
Direito à Vida § 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde
que realizem pesquisa ou terapia com células-tron-
A Constituição protege a vida, extrauterina e co embrionárias humanas deverão submeter seus
intrauterina – neste caso, com a proibição do aborto. projetos à apreciação e aprovação dos respectivos
Entretanto, o art. 128 do Código Penal prevê a autori- comitês de ética em pesquisa.
§ 3º É vedada a comercialização do material bioló-
zação do aborto como exceção em duas hipóteses, são
gico a que se refere este artigo e sua prática implica
eles como único meio para salvar a vida da mulher e
o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434, de 4 de
no caso de gravidez resultante de estupro.
fevereiro de 1997.
Art. 128 Não se pune o aborto praticado por
médico:
Importante!
Aborto Necessário As decisões do STF também são objeto de ques-
tionamento em provas.
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no Caso de Gravidez Resultante de Estupro Direito à Liberdade

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é Trata-se de direito fundamental de primeira


precedido de consentimento da gestante ou, quando dimensão, ou seja, são os direitos fundamentais que
incapaz, de seu representante legal estão ligados ao valor liberdade, sendo eles: os direi-
tos civis e os direitos políticos.
Subentende-se direito à saúde, na vedação à pena Liberdade de pensamento, prevista no inciso IV
de morte, proibição do aborto e, por fim, direito às da CF, determina a livre manifestação do pensamento,
porém, é importante se atentar à parte final do inciso,
condições mínimas necessárias para uma existência
que veda o anonimato, por exemplo: um indivíduo vai
digna, conforme também prevê o princípio da digni-
até uma manifestação nas ruas com panos no rosto e
dade da pessoa humana, apresentado no art. 1º, inciso comete atos ilícitos (como furto).
III da CF/88. Questão muito cobrada em provas.
Note que, a constituição ao determinar o direito à Ainda sobre a liberdade de pensamento, é impor-
vida, possui dois aspectos, direito à integridade física tante mencionar que no Brasil a denúncia anôni-
e psíquica. ma é permitida. Contudo, o poder público não pode

5 ADPF 54/DF Min Marco Aurélio, julgado em 11.04.2012, DJe 24.04.2013.


202 6 ADI 3.510/DF, rel. Min. Carlos Brito, julgamento em 29.05.2008, DJe em 05.06.2008
iniciar o procedimento formal tendo como base única O que é Calamidade Pública?
uma denúncia anônima.
O dicionário Aurélio assim define calamidade:
O STF considerou desnecessária a utilização
“desgraça pública; grande infortúnio; catástrofe”. Ou
de diploma de jornalismo e registro profissional no
seja, é um estado anormal resultante de um desastre
Ministério do Trabalho como condição para o exercí-
de natureza, pandemia ou até financeiro, situações
cio da profissão de jornalista, pois tem na sua essên-
em que o Governo Federal deve intervir nos outros
cia a manifestação do pensamento.7
Entes Federativos (entenda entes: Estados - DF e Muni-
Liberdade de consciência e crença está localiza-
cípios) para auxiliar no combate à situação.
do nos incisos VI, VII e VIII do art. 5º da CF. É impor-
Conforme o Governo Federal, o reconhecimento
tante mencionar que o Brasil não tem religião oficial,
do estado de calamidade pública estava previsto para
sendo considerado um Estado laico que tem como
durar até 31 de dezembro de 2020, prologando-se
base o pluralismo político.
até o início de 2021. Ele é necessário “em virtude do
monitoramento permanente da pandemia Covid-19,
Art. 5° [...]
da necessidade de elevação dos gastos públicos para
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
proteger a saúde e os empregos dos brasileiros e da
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cul-
perspectiva de queda de arrecadação”8
tos religiosos e garantida, na forma da lei, a prote-
Entenda a explicação sobre calamidade pública:
ção aos locais de culto e a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de z D ecretado estado de Calamidade Pública, através
assistência religiosa nas entidades civis e militares
de aprovação das duas casas: Senado Federal e
de internação coletiva;
Câmara dos Deputados. Permite que o Executivo
VIII - ninguém será privado de direitos por moti-
gaste mais do que o previsto e desobedeça às metas
vo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
fiscais para custear ações de combate à pandemia;
política, salvo se as invocar para eximir-se de obri-
gação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir z O Governo Federal já pode determinar quais medi-
prestação alternativa, fixada em lei; das de apoio serão tomadas, com base na lei com-
plementar 101/2020;
Liberdade de locomoção, localizado no inciso z Governo Federal poderá:
XV da CF, é um tópico muito importante e está ligado
ao direito de ir e vir. Esse não é um direito absolu- „ Liberar recursos; enviar defesa civil militar;
to, pois temos os casos de prisão previstos na lei, ou enviar kits emergenciais.
seja, as diversas situações em que prisões são necessá-
rias deixam claro que o direito a locomoção não é um z Estados podem:
direito absoluto.
„ Parcelar dívidas; atrasar execução de gastos;
Atualidade! Direito de Ir e Vir x Coronavírus não precisa fazer licitações.
(Covid-19)
Agora que entendemos como funciona o estado
de calamidade pública, vamos à análise do direito de
Aqui temos um tema muito comentado, o isola-
locomoção que foi restringido.
mento, ou seja, a proibição das pessoas de abrirem
Primeiramente, é importante mencionar que
suas próprias empresas, de permanecerem em pra-
nenhum direito fundamental pode ser considerado
ças, lugares públicos, isto é, seu direito de ir e vir limi-
absoluto (quando dizemos isso, significa que esse direi-
tado.. entenda: to pode ser violado, desde que se cumpra alguns
requisitos), e a proporcionalidade de cada situação
Somente grupo de risco deve deve ser observada.
ficar isolado em casa. (idosos O interesse da coletividade deve ser sempre
Vertical
e pessoas com problemas de observado e ter preferência em relação ao direito
saúde)
do particular, com o objetivo de aplicar o denomina-
Isolamento do princípio da supremacia do interesse público
sobre o particular, que inclusive é um dos principais
Toda população deve ficar princípios do direito administrativo.
Horizontal isolada em casa e empresas
DIREITO CONSTITUCIONAL

fechadas
Aqui cabe mencionar também o art. 196 da CF, que
prevê o direito à saúde como sendo um dever do Esta-
do (no sentido de nação politicamente organizada, ou
Se o direito à liberdade de locomoção é um direito seja, é um dever do País/Governo Federal).
fundamental de ir e vir, pode-se proibir que a pessoas
se locomovam? Mas e a constituição? Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Esta-
No caso da Covid-19, em 18 de março de 2020, foi do, garantido mediante políticas sociais e econômi-
aprovado pelo Congresso Nacional o decreto que colo- cas que visem à redução do risco de doença e de
ca o país em estado de calamidade pública, tendo em outros agravos e ao acesso universal e igualitário
vista a situação excepcional de emergência de saúde. às ações e serviços para sua promoção, proteção e
Para você entender melhor, vamos estudar por etapas. recuperação.

7 STF RE/511961, Min. Gilmar Mendes, 17.06.2009.


8 Disponível em <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/notas-oficiais/2020/copy_of_nota-a-imprensa> Acesso em: 10 out
2020. 203
Ainda, cabe mencionar o princípio da propor- Igualdade Formal x Igualdade Material
cionalidade, que tem como finalidade equilibrar os
direitos individuais com os da sociedade, exatamente A igualdade formal, também chamada de igual-
como no caso que aqui estamos analisando. dade jurídica, significa que todos devem ser tratados
Ou seja, no caso em tela, pode-se proibir, confor- da mesma forma. Já a igualdade material significa
me os requisitos demonstrados na situação atual para tratar igual os iguais e os desiguais com desigualda-
provas: direito de ir e vir é um direito fundamen- de, na medida de suas desigualdades, ou seja, é uma
tal, mas fique atento: não é um direito absoluto! No forma de proteção a certos grupos sociais, certos gru-
caso da violação desse direito em face do covid-19, pos de pessoas que foram discriminadas ao longo da
foi observado o princípio da proporcionalidade história do Brasil. Isso ocorre por meio das chamadas
e o princípio da supremacia do interesse público ações afirmativas, que visam, por meio da política
sobre o particular. pública, reduzir os prejuízos. Por exemplo, temos o
Lembrando que o desrespeito a qualquer medida sistema de cotas para os afrodescendentes nas univer-
imposta configura como crime contra a saúde públi- sidades públicas. Sobre o tema, o STF já se posicionou
ca prevista no art. 268 do código penal, que pune cri- pela constitucionalidade, e a decisão foi tomada no
minalmente a conduta de “infringir determinação do julgamento do Recurso Extraordinário (RE 597285),
poder público, destinada a impedir introdução ou pro- com repercussão geral, em que um estudante questio-
pagação de doença contagiosa”. nava os critérios adotados pela UFRGS para reserva
A liberdade de reunião, prevista no inciso XVI de vagas.9
do art. 5º da CF, deve ser pacífica e sem armas, bem
como não deve frustrar outra reunião anteriormente Igualdade nos Concursos Públicos
convocada para aquele local. Tem preferência quem
avisar primeiro, chamado o aviso prévio à autoridade
Tem como base o também chamado princípio da
competente, o que é diferente de autorização, pois a
isonomia, o qual deve ser rigorosamente observado
reunião não depende de autorização.
sob pena de nulidade da prova a ser realizada pelo
Liberdade de associação tem previsão no inci-
so XVII até o XXI do art. 5º da CF. É importante men- respectivo concurso público.
cionar que todos esses incisos já foram cobrados em Entretanto, alguns concursos exigem, por exem-
provas em geral. Cuidado com o texto constitucional, plo, idade, altura etc. Note que todas as exigências
como por exemplo: contidas no edital que façam distinção entre as pes-
soas somente serão lícitas e constitucionais desde
Art. 5º [...] que preencham dois requisitos:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins
lícitos, vedada a de caráter paramilitar; z Deve estar previsto em lei – igualdade formal;
z Deve ser necessário ao cargo.
A Expressão “plena”, Utilizada no Dispositivo, Tem o
Mesmo Sentido de Ser Considera Livre a Liberdade Como por exemplo, concurso para contratação de
de Associação, Desde que Para Fins Lícitos. agente penitenciário para presídio feminino e o edi-
tal constar que é permitido somente mulheres para
Por conseguinte, o texto constitucional prevê a investidura do cargo.
possibilidade de criação de associações e cooperati- Exemplo muito comentado também é sobre a proi-
vas, independente de autorização. Ainda, só pode- bição de tatuagem contida nos editais de concurso
rão ser dissolvidas ou ter suspensas as atividades público. Sobre o tema o STF assim entendeu:
por decisão judicial. Ninguém pode ser obrigado a
associar-se ou permanecer associado. Por fim, o tex- Editais de concurso público não podem estabelecer
to constitucional autoriza, desde que expressamente restrição a pessoas com tatuagem, salvo situa-
autorizada, a representação dos associados pelas enti- ções excepcionais, em razão de conteúdo que vio-
dades associativas. le valores constitucionais.

Igualdade Entenda: como situação excepcional tatuagem que


viole os princípios constitucionais e os princípios do
Princípio da igualdade, previsto também no caput Estado brasileiros. Ex.: Tatuagem de suástica nazista.
do art. 5º da CF, é muito importante, e, deste princípio,
inúmeros outros decorrem diretamente, conforme União Estável Homoafetiva
veremos a seguir.
Tema muito comentado e, em 2011, o STF se posi-
Igualdade na Lei x Igualdade Perante a Lei cionou sobre o reconhecimento da união estável para
casais do mesmo sexo, decisão tomada sob o argu-
A igualdade na lei obriga o legislador a tratar mento que o art. 3º, inciso IV, da CF veda qualquer
todos da mesma forma ao criar as normas; já a igual- discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que,
dade perante a lei significa que quem administra o nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou dis-
Estado também deve observar o princípio da igual- criminado em função de sua orientação sexual.
dade, por exemplo, o poder executivo ao adminis- “O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não
trar e o poder judiciário ao julgar. Importante frisar se presta para desigualação jurídica”: conclui-se, por-
que o princípio da igualdade também tem efeitos aos tanto, que qualquer depreciação da união estável
particulares. homoafetiva colide, com o inciso IV do art. 3º da CF.10
9 RE 597285, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 09.05.2012, DJe 21.05.2012.
204 10 STF. ADI 4277 e ADPF 132, rel. Min. Ayres Britto, julgado em 05.05.2011, DJe 06.05.2011.
Legalidade mesmo no período noturno – fundamentada e
devidamente justificada, se indicado que no interior
Princípio da legalidade está previsto no art. 5º, na casa se está praticando algum crime, ou seja, em
inciso II da CF, e preceitua que “ninguém será obriga- estado de flagrante delito.
do a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em É importante frisar que, se o agente policial entrar
virtude de lei”. Note que, quando se fala em princípio na residência e não constatar a ocorrência de crime
da legalidade, se está falando no âmbito particular e em flagrante, não haverá ilicitude na conduta dos
não da administração pública. agentes policiais se forem apresentadas fundadas
No tocante aos particulares, o princípio da lega- razões que os levaram a invadir aquela casa, o que,
lidade quer dizer que apenas a lei tem legitimidade sem dúvida, deve ser objeto de controle – mesmo que
para criar obrigações de fazer, também chamadas de posterior – por parte da própria polícia e, claro, pelo
obrigações positivas, e também as chamadas obriga- Ministério Público (a quem compete exercer o con-
ções de não fazer, chamadas obrigações negativas, e, trole externo da atividade policial, nos termos do art.
nos casos em que a lei não dispuser obrigação algu- 129, VII, da CF) ou mesmo pelo Judiciário, ao analisar-
ma, é dado ao particular fazer o que bem entender, -se a legitimidade de eventual prova colhida durante
ou seja, não havendo qualquer proibição disposta em essa entrada à residência.
lei, o particular está livre para agir, vigorando nesse Sobre a entrada forçada em domicílio, o STF assim
ponto o princípio da autonomia da vontade. considerou:
Em refêrencia ao poder público, o conteúdo do A entrada forçada em domicílio sem mandado
princípio da legalidade é outro: tem a ideia de que o judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
Estado se sujeita às leis e, ao mesmo tempo, de que quando amparada em fundadas razões, devida-
governar é atividade cuja realização exige a edição mente justificadas “a posteriori”, que indiquem
de leis; assim, o poder público não pode atuar nem que dentro da casa ocorre situação de flagrante
contrário às leis, nem na ausência da lei. delito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade, e de nuli-
Inviolabilidade dade dos atos praticados.
Essa a orientação do Plenário, que reconheceu a
Inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da repercussão geral do tema e, por maioria, negou pro-
honra e da imagem das pessoas tem previsão no art. vimento ao recurso extraordinário em que se discutia,
5º, inciso X da CF; vejamos: à luz do art. 5º, XI, LV e LVI, da Constituição, a legalida-
de das provas obtidas mediante invasão de domicílio
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, por autoridades policiais sem o devido mandado de
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o busca e apreensão. O acórdão impugnado assentou
direito a indenização pelo dano material ou moral o caráter permanente do delito de tráfico de drogas
decorrente de sua violação; e manteve condenação criminal fundada em busca
domiciliar sem a apresentação de mandado de busca
Essa proteção se refere às pessoas físicas ou jurí- e apreensão. A Corte asseverou que o texto constitu-
dicas, abrangendo inclusive a proteção necessária à cional trata da inviolabilidade domiciliar e de suas
própria imagem frente aos meios de comunicação em exceções no art. 5º, XI (“a casa é asilo inviolável do
massa (televisão, jornais etc.). indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consen-
Inviolabilidade domiciliar tem previsão no inciso timento do morador, salvo em caso de flagrante delito
XI do art. 5º da CF: ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial”). Seriam estabelecidas, por-
Art. 5º [...] tanto, quatro exceções à inviolabilidade:
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do a - flagrante delito;
morador, salvo em caso de flagrante delito ou b -desastre;
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o c) - prestação de socorro; e
dia, por determinação judicial; d) - determinação judicial.

A interpretação adotada pelo STF seria no sentido


Importante! de que, se dentro da casa estivesse ocorrendo um cri-
me permanente, seria viável o ingresso forçado pelas
Memorize que como dia entende-se o período forças policiais, independentemente de determinação
das 6h às 18h. judicial. Isso se daria porque, por definição, nos cri-
DIREITO CONSTITUCIONAL

mes permanentes haveria um interregno entre a con-


sumação e o exaurimento. Nesse interregno, o crime
Note que existem exceções à inviolabilidade: fla- estaria em curso. Assim, se dentro do local protegido o
grante delito, desastre, prestação de socorro e deter- crime permanente estivesse ocorrendo, o perpetrador
minação judicial. Convém lembrar também que, de estaria cometendo o delito. Caracterizada a situação
acordo com o magistério jurisprudencial do STF, o de flagrante, seria viável o ingresso forçado no domi-
conceito de “casa” é amplo, abarcando qualquer com- cílio. (RE 603616/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
partimento habitado (casa, apartamento, trailer ou em 5.11.2015 e DJe 13.11.2015)
barraca); qualquer aposento ocupado de habitação A inviolabilidade das correspondências e comu-
coletiva (hotel, apart-hotel ou pensão), bem como nicações tem como previsão o inciso XII do art. 5º da
qualquer compartimento privado onde alguém exerça CF, vejamos.
profissão ou atividade, incluindo as pessoas jurídicas.
O STF, em relevante julgamento com repercus- XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
são geral (art. 102, § 3° da CF), firmou compreensão comunicações telegráficas, de dados e das comuni-
no sentido de que pode ocorrer a inviolabilidade cações telefônicas, salvo, no último caso, por 205
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei O direito de propriedade assegurado na constitui-
estabelecer para fins de investigação criminal ou ção como direito constitucional abrange tanto os bens
instrução processual penal; corpóreos quanto os incorpóreos.
Bens corpóreos Os bens possuidores de existência
As correspondências são invioláveis, com exce- física, concretos e visíveis, como por exemplo, uma
ção nos casos de decretação de estado de defesa casa, um automóvel etc. Já os bens incorpóreos são
e de sítio (arts. 136 e seguintes da CF). É importante bens abstratos que não possuem existência física, ou
mencionar também que o STF já reconheceu a possi- seja, não são concretos, mas possuem um valor eco-
bilidade de interceptar carta de presidiário, pois a
nômico, como por exemplo, propriedade intelectual,
inviolabilidade de correspondência não pode ser usa-
direitos do autor etc.
da como defesa para atividades ilícitas.11
Em relação à propriedade de bens incorpóreos,
Possibilidade de interceptação telefônica: inter-
ceptação telefônica é a captação e gravação de conver- existe a específica proteção constitucional denomina-
sa telefônica, no momento em que ela se realiza, por da propriedade intelectual, que abrange os direitos de
terceira pessoa sem o conhecimento de qualquer um autor e os direitos relativos à propriedade industrial,
dos interlocutores, conforme prevê exceção do inciso como a proteção de marcas e patentes.
XII do art. 5º da CF acima mencionado, que para ser
lícita deve obedecer três requisitos: Desapropriação

Como característica dos direitos fundamentais, o


Ordem Judicial;
Para fins de investigação
direito de propriedade também não é um direito abso-
Interceptação telefônica criminal; luto. Apesar da exigência de que a propriedade aten-
Hipóteses e formas que a da uma função social, há outras hipóteses em que
lei estabelecer. o interesse público pode justificar a imposição de
limitações.
Ao elaborar a Constituição, o legislador se preo-
Ainda, a interceptação telefônica dependerá de
cupou em atribuir tratamento especial à política de
ordem judicial, conforme art. 1º da Lei 9.926/96.
desenvolvimento urbano. Referente à desapropria-
ção de imóvel rural, somente é lícita para fins de
Art. 1º A interceptação de comunicações telefôni-
interesse social, ou seja, imóvel rural que não esti-
cas, de qualquer natureza, para prova em investi-
gação criminal e em instrução processual penal,
ver cumprindo sua função social é desapropriado.
observará o disposto nesta Lei e dependerá de Nesse sentido, é importante verificar a importân-
ordem do juiz competente da ação principal, sob cia do art. 5°, XXIV, que determina o poder geral de
segredo de justiça. desapropriação por interesse social. Ora, desde que
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à seja paga a indenização mencionada neste artigo,
interceptação do fluxo de comunicações em siste- qualquer imóvel poderá ser desapropriado por inte-
mas de informática e telemática. resse social para fins de reforma agrária.

O segundo requisito necessário exige que a pro- Defesa do Consumidor


dução desse meio de prova seja dirigida para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal; Conforme prevê o art. 5º, inciso XXXII da CF “o
assim, não é possível a autorização da interceptação estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consu-
telefônica em processos civis, administrativos, disci- midor”. Tema também mencionado no art. 170, inciso
plinares etc. V da CF, que estabeleceu como princípio fundamental
Já o último requisito refere-se a uma lei que deve de nossa ordem econômica a “defesa do consumidor”.
prever as hipóteses e a forma em que pode ocorrer a
interceptação telefônica, obrigatoriamente no âmbito Art. 170 A ordem econômica, fundada na valoriza-
de investigação criminal ou instrução processual penal.
ção do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
A regulamentação deste dispositivo veio com a Lei
por fim assegurar a todos existência digna, con-
9.296/1996, que legitimou a interceptação das comu-
forme os ditames da justiça social, observados os
nicações como meio de prova, estendendo também
a sua regulamentação à interceptação de fluxo de seguintes princípios:
comunicações em sistemas de informática e telemáti- [...]
ca (combinação de meios eletrônicos de comunicação V - defesa do consumidor;
com informática, e-mail e outros).
Assim que foi promulgada a Constituição em 1988,
Direito de Propriedade o legislador se preocupou em estipular um prazo de
cento e vinte dias para que fosse elaborado o Código
Está amparado junto ao caput e inciso XXII do art. de Defesa do Consumidor, exigência estipulada por
5º, bem como no inciso II do art. 170, ambos da CF. meio do nº 48 da ADCT. (Ato das Disposições Consti-
tucionais Transitórias. São regras que estabelecem
Art. 5º [...] XXII - é garantido o direito de propriedade;
a harmonia da transição do regime constitucional
Art. 170 A ordem econômica, fundada na valoriza-
ção do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
anterior – 1969, para o novo regime - 1988).
por fim assegurar a todos existência digna, con- Entretanto, o prazo exigido não foi observado e o
forme os ditames da justiça social, observados os Código de Defesa do Consumidor foi publicado ape-
seguintes princípios: nas dois anos após a publicação da Constituição – Lei
II - propriedade privada; 8.078/1990.
206 11 STF. HC 70.814-5/SP, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24.06.1994.
Direito de Informação Coisa julgada ocorre no âmbito do processo judi-
cial, decisão judicial a qual não cabe mais recurso, tor-
Instrumento de natureza administrativa derivado nando-a imutável e indiscutível.
do princípio da publicidade da atuação da adminis-
tração pública, tem como objetivo a atuação transpa-
Júri Popular
rente em decorrência da própria indisponibilidade
do interesse público, disciplinado nos incisos XXXIII
A nossa carta magna reconhece no seu inciso XXX-
e LXXII do art. 5º da CF e Lei 9507/1997 que regula o
direito de acesso a informações e disciplina o rito pro- VIII a instituição do júri, que é visto como uma prerro-
cessual do habeas data. gativa democrática do cidadão, e que exige que o réu
deve ser julgado pelos seus semelhantes. O tribunal
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos é composto por um juiz togado e vinte cinco jurados
públicos informações de seu interesse parti- que serão sorteados dentre os alistados.
cular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabi- XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
lidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja impres- organização que lhe der a lei, assegurados:
cindível à segurança da sociedade e do Estado; a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
Direito de Certidão c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes
O Estado é obrigado a fornecer as informações dolosos contra a vida;
solicitadas, com exceção nas hipóteses de proteção
por sigilo. Caso haja uma violação desse direito, que
Destarte, a competência mencionada na alínea “d”
é líquido e certo, o remédio constitucional cabível é o
não é absoluta, pois não abrange os crimes pratica-
mandado de segurança, tema que também será abor-
dos contra a vida perpetrados por detentores de foro
dado no título Garantias Constitucionais.
O direito de certidão tem previsão no inciso XXXIV, especial por prerrogativa de função, que deverão ser
“b” do art. 5º da CF, e assegura a todos, independente julgados por tribunais específicos conforme previsto
do pagamento de taxas, o seguinte: na Constituição.
Ainda, o foro especial por prerrogativa de fun-
XXXIV - são a todos assegurados, independente- ção se refere ao órgão competente para julgar ações
mente do pagamento de taxas: penais contra certas autoridades públicas, levando-se
[...] em conta o cargo ou a função que elas ocupam, de
b) a obtenção de certidões em repartições públi- modo a proteger a função e a coisa pública, ou seja,
cas, para defesa de direitos e esclarecimento de
por ligar-se à função e não à pessoa, essa forma de
situações de interesse pessoal;
determinar o órgão julgador competente não acompa-
Importante frisar aqui que, conforme entendi- nha a pessoa após o fim do exercício do cargo.
mento dos Tribunais, já se consolidou o entendimen-
to no sentido de que não se exige do administrado a Princípio da Legalidade Penal e da Retroatividade da
demonstração da finalidade específica do pedido. Lei

Direito Adquirido, Coisa Julgada e Ato Jurídico Princípio da legalidade penal, com previsão no
Perfeito inciso XXXIX do art. 5º da CF, também chamado de
princípio da reserva legal, refere-se à aplicação do
Assim prevê o inciso XXXVI do art. 5º da CF: “a lei princípio da legalidade, de forma mais específica no
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico âmbito do direito penal.
perfeito e a coisa julgada”. Entenda: Nesse sentido, crime será a conduta delituosa pre-
vista exclusivamente em lei, da mesma forma que a
Direito adquirido é aquele direito que cumpriu cominação da pena, que não é admissível à configura-
todos os requisitos previstos em lei, como por exem- ção de crime baseado nos costumes.
plo, o homem que cumpriu todos os requisitos exi-
gidos para concessão da aposentadoria por idade,
DIREITO CONSTITUCIONAL

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,


conforme determina o art. 201, § 7º, I da CF, tem o nem pena sem prévia cominação legal;
direito adquirido para requerer seu benefício.
Princípio da retroatividade da lei tem previsão no
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral
inciso XL do art. 5º da CF, consiste em analisar um fato
de previdência social, nos termos da lei, obedecidas
passado à luz de um direito presente, estabelece que
as seguintes condições:
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e os fatos sejam apreciados com base na lei em vigor no
62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, obser- tempo do crime. Assim, a lei aplicável é a lei do tem-
vado tempo mínimo de contribuição; po do crime, ou seja, na regra geral, as normas penais
não retroagem, salvo se trouxerem algum tipo de
Ato jurídico perfeito é o ato já realizado, confor- benefício para o réu.
me a lei vigente ao tempo que se realizou, pois nes-
te caso já cumpriu todos os requisitos conforme a lei XL - a lei penal não retroagirá, salvo para benefi-
vigente na época, tornando-se, portanto, completo. ciar o réu; 207
Cuidado, aqui temos um exemplo de “exceção da b) circunstanciado pelo emprego de arma de
exceção”: fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de
Crimes praticados durante a vigência de lei tempo- arma de fogo de uso proibido ou restrito (art.
rária ou excepcional não podem ser beneficiados pela 157, § 2º-B);
retroatividade da lei mais benéfica. III – extorsão qualificada pela restrição da liber-
Lei excepcional é a lei criada para regular fatos dade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou
ocorridos dentro de uma situação irregular, a qual morte (art. 158, § 3º);
perde seus efeitos após findar situação irregular que IX – furto qualificado pelo emprego de explo-
a motivou. sivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum (art. 155, § 4º-A).
Lei temporária vigorou até extinguir-se o prazo de
III – o crime de comércio ilegal de armas de
duração fixado pelo legislador, por exemplo, uma lei
fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de
que fixa a tabela de preços de artigos de consumo.
dezembro de 2003;
IV – o crime de tráfico internacional de arma de
Crimes fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
O legislador originário também se preocupou em V – o crime de organização criminosa, quando
mencionar e observar crimes de tortura, tráfico ilíci- direcionado;
to de drogas, terrorismo e a ação de grupos armados
contra ordem constitucional. Fique atento com os artigos mencionados acima
e as novidades legislativas,pois são temas utilizados
XLII - a prática do racismo constitui crime com frequência pelas bancas examinadoras.
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
GARANTIAS CONSTITUCIONAIS
A pena de reclusão é a pena prevista para os casos É importante não confundir direitos fundamentais
mais graves, o qual o regime inicial será fechado, em
com garantias fundamentais. Os direitos fundamen-
prisão de segurança máxima.
tais são vantagens, proteção em favor das pessoas,
como por exemplo o direito de informação. Já as
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
garantias fundamentais são instrumentos processuais
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tor-
tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
para defesa daqueles direitos, conhecidos como ações
afins, o terrorismo e os definidos como crimes ou remédios constitucionais, como por exemplo:
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os habeas data, habeas corpus, Mandado de Segurança,
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Mandado de Injunção e a Ação Popular, conforme
veremos a seguir.
Crimes hediondos são aqueles que a legislação
entende que geram maior reprovação por parte da Habeas corpus
sociedade, assim merecem uma rigidez maior. Não
são necessariamente crimes cometidos com alto grau Tem como objetivo proteger o direito de ir e vir,
de violência ou crueldade, mas sim os crimes previs- ou seja, pode ser requerido sempre que alguém sofrer
tos expressamente no art. 1º da Lei 8.072/90. ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
O homicídio qualificado é o primeiro mencionado em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
na legislação, ou seja, quando praticado em circuns- abuso de poder; está fundamentado no art. 5º, LXVIII
tância que revele perversidade – por exemplo, se o da CF e art. 647 a 667 do CPP,
crime é praticado por motivo fútil ou torpe. Pode ser habeas corpus preventivo para evitar
Bem como, o homicídio praticado por grupo de uma futura violação à liberdade, ou habeas corpus
extermínio também está no rol dos crimes hediondos, repressivo, o qual busca o fim de uma coação já
mesmo que cometido por uma só pessoa do grupo. cometida. Importante frisar também que não existe a
necessidade de um advogado para entrar com a ação.
XLIV - constitui crime inafiançável e impres-
critível a ação de grupos armados, civis ou mili- z Sujeito ativo (impetrante): qualquer pessoa;
tares, contra a ordem constitucional e o Estado z Vítima (paciente): qualquer pessoa, brasileiro ou
Democrático; estrangeiro;
z Sujeito passivo (coator): autoridade ou agen-
Entenda: prescrição é a perda do direito de punir te público que cometeu ilegalidade ou abuso de
do Estado pelo seu não exercício em determinado poder contra particular.
lapso de tempo. Em 2015, duas leis incluíram, no rol
de crimes hediondos, o assassinato de policiais e o Habeas corpus também pode ser impetrado por
feminicídio. estrangeiro (desde que na língua portuguesa) contra
Em 2019, houve alterações na legislação penal e particular.
processual diante da aprovação da Lei nº 13.964, tam- Não cabe habeas corpus contra punição disciplinar
bém chamada de Pacote Anticrime; nessa oportuni- militar, salvo se imposta pela autoridade competente.
dade houve a inclusão de crimes no rol dos crimes Destacamos a seguir algumas Súmulas importan-
hediondos. tes do STF sobre o tema:
Veja quais foram os crimes incluídos:
Súmula 395 Não se conhece de recurso de habeas
II – roubo: corpus cujo objeto seja resolver sobre o ônus das
a) circunstanciado pela restrição de liberdade custas, por não estar mais em causa à liberdade de
208 da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); locomoção.
Súmula 431 É nulo o julgamento de recurso crimi- No entanto, sendo a impetração do mandado de
nal, na segunda instância, sem prévia intimação, ou segurança anterior ao trânsito em julgado da
publicação da pauta, salvo em habeas corpus. decisão questionada, mesmo que venha a acon-
Súmula 692 Não se conhece de habeas corpus con- tecer, posteriormente, não poderá ser invocado o
tra omissão de relator de extradição, se fundado em seu não cabimento ou a sua perda de objeto, mas
fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava preenchidas as demais exigências jurídico-proces-
dos autos, nem foi ele provocado a respeito. suais, deverá ter seu mérito apreciado. (EDcl no MS
Súmula 693 Não cabe habeas corpus contra deci- 22.157/DF, Rel. Ministro Herman Benjamin, Rel. p/
são condenatória a pena de multa, ou relativo a Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em
processo em curso por infração penal a que a pena 14.03.2019, DJe 11.06.2019)
pecuniária seja a única cominada.
Súmula 694 Não cabe habeas corpus contra a „ Agente ativo: Pessoa física ou jurídica. Agentes
imposição da pena de exclusão de militar ou de per- políticos podem ser sujeitos ativo ou passivo;
da de patente ou de função pública. „ Agente passivo: autoridade, pessoa física
Súmula 695 Não cabe habeas corpus quando já revestida de poder público. União, Estados e
extinta a pena privativa de liberdade. DF ingressarão como litisconsortes necessá-
rios, por meio de seus procuradores; no caso do
Habeas data município, através de seu Prefeito;
„ Liminar: cabimento conforme art. 7º, III da Lei
A previsão no art. 5º, LXXII da CF e Lei 9507/1997 12.016/2009, o juiz poderá determinar a suspen-
regula o direito de acesso às informações e disciplina o são do ato (que causou a violação do direito),
rito processual do habeas data tem o objetivo de acessar desde que exista motivo relevante, vejamos:
e retificar informações do impetrante que estão em um
órgão público ou de caráter público12, como por exem- Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:
plo: entidade privada de caráter público = SPC/SERASA. III - que se suspenda o ato que deu motivo ao
Note que, neste caso, precisa ser demonstrado pedido, quando houver fundamento relevante e
que foram solicitadas as informações em um pri- do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
meiro momento, ou seja, precisa-se esgotar a via medida, caso seja finalmente deferida, sendo facul-
administrativa. tado exigir do impetrante caução, fiança ou depósi-
A doutrina e jurisprudência admitem que cônjuge, to, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à
ascendente, descendente ou irmão podem impetrar pessoa jurídica.
habeas data em favor de terceiro, caso este esteja inca-
pacitado ou ausente. z Mandado de Segurança Coletivo

Mandado de Segurança Previsto no art. 5º, LXX da CF e no art. 21 da Lei


12.016/2009, tem o objetivo de proteger certo grupo de
pessoas (corporativo). Os requisitos e o prazo decaden-
Agora passaremos à análise do mandado de segu-
cial são os mesmos do Mandado de Segurança individual.
rança, sendo que este pode ser individual ou coletivo:
„ Agente ativo: Partido político com representa-
z Mandado de Segurança Individual
ção no Congresso Nacional; ou organização sindi-
cal, entidade de classe ou associação legalmente
Previsto no art. 5º LXIX da CF e Lei 12.016/2009,
constituída e em funcionamento há pelo menos
tem o objetivo de proteger direito líquido e certo
um ano, em defesa de seus membros ou associa-
(requerido no prazo de 120 dias do conhecimento da
dos; deve demonstrar pertinência temática;
lesão), devidamente comprovado com provas docu-
„ Agente passivo: autoridade coatora;
mentais; não há prova testemunhal nem pericial. Tem
„ Liminar: cabimento conforme art. 7º, III e art. 22 §
caráter subsidiário, ou seja, quando não for caso de
2º da Lei 12.016/2009. Basta representar os requisi-
habeas corpus e nem habeas data.
tos “fumus boni iuris” e “periculum in mora”.
Cabível quando existe abuso ou ilegalidade de
autoridade pública. A súmula 625 do STF dispõe que
Súmulas importantes do STF sobre o tema:
“Controvérsia sobre matéria de direito não impede con-
cessão de mandado de segurança”, ou seja, caso houver Súmula 629 do STF: A impetração de mandado de
dúvida a respeito de interpretação da lei não impede segurança coletivo por entidade de classe em favor
DIREITO CONSTITUCIONAL

o deferimento do mandado de segurança. dos associados independe da autorização destes.


Não cabe Mandado de segurança nos seguintes Súmula 630 do STF: A entidade de classe tem legi-
casos: timação para o mandado de segurança ainda quan-
do a pretensão veiculada interesse apenas a uma
„ Atos meramente informativos; parte da respectiva categoria.
„ Atos que transitaram em julgado;
„ Ato administrativo que comporte recurso com Mandado de Injunção
efeito suspensivo; e
„ Ato judicial em fase recursal. Tem previsão no art. 5º, LXXI da CF e Lei 13.300/2016
(lei do mandando de Injução) e é cabível nas hipóte-
Cuidado! Referente aos atos que transitaram em ses em que não tem lei específica regulamentando o
julgado hoje, a jurisprudência entende por uma possí- direito. É importante frisar que, alémda Lei 13.300,
vel mitigação da súmula 268 do STF. Vejamos: devem ser observadas as normas da Lei do Mandado
12 Caso a banca da sua prova for a FGV, esta entende que o habeas data é uma ação personalíssima. 209
de Segurança, não tem lei específica própria; devem z Liminar: Basta representar os requisitos “fumus
ser observadas as normas da lei do Mandado de Segu- boni iuris” e “periculum in mora”.
rança,conforme prevê o art. 24, parágrafo único da lei
8.038/1990. Súmula 101 do STF: O mandado de segurança não
substitui a ação popular.
Art. 24 [...] Súmula 365 do STF: Pessoa jurídica não tem legiti-
Parágrafo único - No mandado de injunção e midade para propor ação popular.
no habeas data, serão observadas, no que couber,
as normas do mandado de segurança, enquanto A Ação popular é isenta de custas judiciais e do
não editada legislação específica.
ônus de sucumbência.
Sobre o tema, vejamos também art. 5º, § 4º da Lei
z Aplicabilidade: falta de uma norma regulamen- 4.717/1965:
tadora de direito, liberdade constitucional e das
prerrogativas inerentes a nacionalidade, sobera- Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é
nia e cidadania. Buscar o exercício do direito para competente para conhecer da ação, processá-la e
uma pessoa ou certo grupo de pessoas. julgá-la o juiz que, de acordo com a organização
Exemplo: Conseguir se aposentar ou exercer o judiciária de cada Estado, o for para as causas que
direito de greve; interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado
z Agente ativo: Qualquer pessoa; ou ao Município.
z Liminar: Mandado de Injunção não tem liminar. § 4º Na defesa do patrimônio público caberá à sus-
pensão liminar do ato lesivo impugnado.
Ação Popular
Ainda, é possível requerer a condenação por per-
É um direito fundamental e individual de todo cida- das e danos dos responsáveis pela lesão. Cabe a todos
dão, fundamentado no art. 5º, LXXIII e regulado pela lei os cidadãos a fiscalização da vida pública, auxiliando
4.717/1965, e tem como objetivo a proteção do patrimô- o Estado na boa gestão da vida pública.
nio público (erário), histórico, cultural, do meio ambien-
te e da moralidade administrativa. Protege o patrimônio § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen-
público contra, por exemplo, obras superfaturadas. ciais e disporá sobre o atendimento das necessida-
Ação popular pode ter duas formas, a preventi- des inadiáveis da comunidade.
va, que é ajuizada antes da consumação dos efeitos § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis
do ato, e repressiva, que visa corrigir os atos danosos às penas da lei.
consumados. Art. 10 É assegurada a participação dos trabalha-
dores e empregadores nos colegiados dos órgãos
públicos em que seus interesses profissionais
z Agente ativo: Qualquer cidadão brasileiro. Se este
ou previdenciários sejam objeto de discussão e
abandonar ação, outro cidadão poderá assumir.
deliberação.
Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos empre-
O Ministério Público não pode propor, mas pode gados, é assegurada a eleição de um representante
assumir andamento e dar execução à decisão da ação destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes
popular (legitimidade extraordinária ou superveniente). o entendimento direto com os empregadores.

z Agente passivo: administrador da entidade que As garantias deste último grupo de direitos sociais
lesionou. estão divididas em: direito de associação sindical,
direito de greve e direito de representação.
Lei 4.717/1965 Direito de associação sindical tem relação com o
princípio da liberdade de associação. Direito de gre-
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas ve, citado no art. 9º, não é o mesmo direito de greve
públicas ou privadas e as entidades referidas no art. assegurado ao servidor público no art. 37 da CF, ou
1º, contra as autoridades, funcionários ou adminis-
seja, a greve mencionada no art. 9º é autoaplicável
tradores que houverem autorizado, aprovado, rati-
(norma de eficácia contida), não sendo necessária lei
ficado ou praticado o ato impugnado, ou que, por
omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e con-
para regulamentar o direito de greve. Já o direito de
tra os beneficiários diretos do mesmo. representação, está presente no art. 11 da CF.

DA NACIONALIDADE
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear
a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos Ligação que une um indivíduo a cada território.
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, Grande parte dos países determina o modo de aqui-
dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades sição e perda da nacionalidade em suas respectivas
de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de constituições.
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represen-
A nacionalidade é considerada pela CF/88 um
te os segurados ausentes, de empresas públicas, de servi-
direito fundamental, e tem previsão no título II da CF.
ços sociais autônomos, de instituições ou fundações para
cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido
O Brasil adota dois critérios para definir a aquisi-
ou concorra com mais de cinquenta por cento do patri- ção da nacionalidade brasileira:
mônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao
patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e z jus solis: atribui nacionalidade ao território onde
dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou o indivíduo nasce;
entidades subvencionadas pelos cofres públicos. z jus sanguinis: atribui a nacionalidade ao vínculo
210 sanguíneo.
Brasileiro Nato z Estrangeiros provenientes de países de língua
portuguesa devem ter um ano de residência no
Conforme prevê o art. 12, inciso I da CF, é conside- Brasil e idoneidade moral;
rado brasileiro nato: Ex.: Portugal, Angola, Cabo Verde e etc.
z Nacionalidade extraordinária: para os demais
z Nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, estrangeiros, deve-se ter 15 anos de residência
desde que estes não estejam a serviço de seu ininterrupta e ausência de condenação penal.
país.
O Supremo Tribunal Federal entende que a natu-
No que diz respeito à necessidade de ambos os ralização extraordinária é ato declaratório do Brasil.
genitores estrangeiros estarem a serviço do país, Estrangeiro que provar os requisitos necessários,
entende-se que deve haver a verificação do fato do ou seja, possuir 15 anos de residência ininterrupta e
deslocamento desse Estado (país) ao Brasil ter ocorri- ausência de condenação penal, tem o direito subjetivo
à naturalização. Negado este pedido, caberá Mandado
do em virtude de interesse do seu país. Ainda que um
de Segurança.
deles não exerça função governamental, por exemplo:
Importante mencionar também a leitura do Esta-
Pais argentinos, a serviço da Argentina – nesse caso tuto do Estrangeiro, a Lei nº 6.815/1980.
o filho nascido no Brasil não será brasileiro nato13.
Pais argentinos a serviço do Uruguai – nesse caso o Perda da Nacionalidade
filho nascido no Brasil será brasileiro nato, pois os pais
não estão a serviço de seu país (no exemplo, Argentina). Conforme art. 14 § 4º da CF/88, tanto o brasilei-
ro nato quanto o naturalizado poderá perder a sua
z Nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, nacionalidade.
desde que qualquer um deles esteja a serviço Existem dois instrumentos que podem ser usados
do Brasil; para decretar a perda da nacionalidade brasileira:

Neste caso o termo a “serviço da República Federati- z S


entença Judicial transitada em julgado: esta
va do Brasil” engloba a serviço da administração direta e alcança apenas o brasileiro naturalizado que feriu o
indireta da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. interesse nacional. Neste caso, o indivíduo que per-
deu a nacionalidade poderá apenas readquiri-la por
z Nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou mãe meio de uma ação, chamada de Ação Rescisória.14
brasileira, desde que sejam registrados em repar- z
Brasileiro nato e naturalizado que adquire
tição brasileira competente (embaixada ou con- voluntariamente outra nacionalidade; este ato
engloba tanto a aceitação quanto o pedido da natu-
sulado) ou venham a residir no Brasil e optem,
ralização oferecida por outro país. Neste caso, exis-
em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.
tem duas exceções, ou seja, existem dois casos em
que é permitida a dupla cidadania:
O filho poderá optar pela nacionalidade brasileira
observando três requisitos cumulativos: „ R econhecimento da nacionalidade pela lei
estrangeira;
z I dade mínima: 18 anos; „ Imposição por outro país, como condição de
z Residência no Brasil; permanência em seu território ou para exer-
z Obedecendo aos dois requisitos acima, deve- cício dos direitos civis. Exemplo: atletas/joga-
-se optar a qualquer tempo pela nacionalidade dores de futebol quando são “vendidos” e
brasileira. representam times estrangeiros.

A Constituição Federal em seu art. 12 § 3º determi- Atualmente compete ao Ministro da Justiça decla-
na quais os cargos que são PRIVATIVOS para brasilei- rar a perda e a requisição da nacionalidade.
ro nato, vejamos: Ainda, o art. 5º, inciso LI da CF, dispõe que nenhum
brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
z �Presidente e Vice-Presidente da República; em caso de crime comum, praticado antes da natura-
z �Presidente da Câmara dos Deputados; lização, ou se comprovado envolvimento em tráfico
z �Presidente do Senado Federal; ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Importante frisar que o brasileiro nato não pode
z �Ministro do STF;
DIREITO CONSTITUCIONAL

ser extraditado. Se for o caso, deve ser entregue ao


z �Carreira Diplomática;
TPI-Tribunal Penal Internacional, sendo que; podem
z �Oficial das Forças Armadas; ser entregues ao TPI os brasileiros natos, naturaliza-
z �Ministro de Estado da Defesa. dos e estrangeiros.
Ainda, o Estatuto de Roma do Tribunal Penal
Naturalizados Internacional, decreto Lei nº 4388/2002, em seu art.
102, define a diferença entre a entrega e extradição,
Neste caso, o indivíduo não tem vínculo nem de vejamos:
solo nem de sangue com o Brasil, mas quer tornar-
-se brasileiro, simplesmente por vontade, ou seja, é o z P
or “entrega”, entende-se a entrega de uma pessoa
estrangeiro que optou pela nacionalidade brasileira por um Estado ao Tribunal nos termos do presente
(art. 12, inciso II da CF). Estatuto;
13 Observe nos exemplos como pode ser cobrada a matéria na prova.
14 Ação rescisória é um meio processual que tem o objetivo de desconstituir ou revogar acórdão ou sentença transitada em julgado. 211
z P
or “extradição”, entende-se a entrega de uma DOS DIREITOS POLÍTICOS
pessoa por um Estado a outro Estado, conforme
previsto em um tratado, em uma convenção ou no Tem regras fixadas pela constituição no Capítulo
IV referente à participação popular no processo polí-
direito interno.
tico, art.14 e seguintes da Constituição.
Os direitos políticos conferidos à população brasi-
CONSIDERAÇÕES REFERENTES À NACIONALIDADE leira são o sufrágio universal, o voto direto e secreto
e a participação em plebiscitos, referendos ou inicia-
Extradição tivas populares.
Sufrágio universal é o direito de homens e mulhe-
Entrega de um Estado (país) a outro Estado (país) res naturalizados ou nascidos em um país de partici-
de pessoa acusada de delito ou já condenada. Note par das eleições, ou seja:
que, conforme a súmula 421 do STF, não há impedi-
mento à extradição o fato de o extraditado ser casado z Capacidade eleitoral ativa: direito de votar;
com brasileira ou ter filho brasileiro. z Capacidade eleitoral passiva: direito de ser
Conforme prevê o art. 22, inciso XV da CF, compete votado.
à União legislar sobre extradição.
A constituição brasileira também dispõe que Condições de Elegibilidade

Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu- Conforme art. 14, § 3º da CF, são condições de elegi-
ralizado, em caso de crime comum, praticado antes bilidade, na forma da lei:
da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, Nacionalidade brasileira;
na forma da lei. Bem como, não será concedida Não ter direitos políticos cassados;
extradição de estrangeiro por crime político ou de Alistamento eleitoral;
ELEGIBILIDADE
opinião (art. 5º, incisos LI e LII da CF). Domicilio eleitoral na circunscrição
correspondente;
Filiação partidária.
Ainda, o art. 102, I, g da CF dispõe que o Supremo
Tribunal Federal será o responsável por processar e
julgar a extradição solicitada pelo Estado estrangeiro. A constituição também define a idade mínima que
cada candidato, correspondente a seu cargo, deve ter:
Expulsão
z Presidente + Vice Senador: 35 anos;
z Governador + Vice dos Estados e DF: 30 anos;
Modo de tirar o estrangeiro do Brasil de modo
z Deputado Federal, Estadual e Distrital, Prefeito +
coativo, por infração ou ato que o torne inconve-
Vice e Juiz de Paz e 21 anos;
niente à defesa e à conservação da ordem interna do
z Vereador: 18 anos.
Estado.
Neste caso, a União é responsável para legislar
Perda ou Suspensão dos Direitos Políticos
sobre expulsão, conforme art. 22, inciso XV da CF.
Não ocorrerá a expulsão em duas hipóteses: dife-
A perda ou suspensão dos direitos políticos estão
rente da extradição, a expulsão não será admitida
apresentadas no art. 15 da Constituição.
quando o indivíduo tiver cônjuge brasileiro (desde
Como o nome já diz, a suspensão é o cancelamento
que não esteja divorciado ou separado de fato) e o
por um tempo determinado, já a perda, o cancelamen-
casamento tiver sido celebrado há mais de cinco anos,
to por prazo indeterminado. Vejamos em quais situa-
ou que tenha filho brasileiro, desde que este esteja sob
ções podem ocorrer perda ou suspensão, analisando o
sua guarda e dependência econômica. art. 15 da CF/88.

Deportação Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos,


cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
Refere-se ao estrangeiro que ingressou ou perma- I - cancelamento da naturalização por sentença
neceu de forma irregular no território nacional, ou transitada em julgado; PERDA.
seja, é a devolução do estrangeiro por entrar no Brasil II - incapacidade civil absoluta; (grifo nosso)
de forma irregular. Assim, não há deportação de brasi- Suspensão
leiros no Brasil (art. 5º, inciso XV da CF). III - condenação criminal transitada em julgado,
enquanto durarem seus efeitos; SUSPENSÃO
XV - é livre a locomoção no território nacional em IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta
tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter- ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair PERDA.
com seus bens; V - improbidade administrativa, nos termos do art.
37, § 4º. SUSPENSÃO
Note que a deportação não tem relação com a prática
do estrangeiro em território brasileiro, mas sim, do não Dica
cumprimento dos requisitos legais para sua entrada. Não existe a cassação dos direitos políticos.
Não existe mais o instituto do banimento, que era
o envio compulsório de brasileiros para o exterior.
Observe também que há vedação constitucional de
212 seu reestabelecimento no art. 5º, XLVII, d, da CF.
Natureza e Elementos
EXERCÍCIOS COMENTADOS
O Título III, da Constituição Federal refere-se às nor-
1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Servidores públicos de mas das orientações de atuação dos agentes adminis-
determinado estado da Federação iniciaram movi- trativos, empregos públicos, responsabilidade civil etc.,
mento grevista, motivados pelo atraso no pagamen- ou seja, trata-se da administração de bens e interesse
to de seus vencimentos, na tentativa de regularizar público, assim, conclui-se que a administração públi-
a situação salarial. Inconformado com a paralisação ca tem natureza de “múnus público”. Por exemplo,
de atividades que julgava essenciais, o gestor público os agentes públicos são obrigados a velar pela estrita
expediu ato administrativo determinando o desconto observância dos princípios de legalidade, impessoa-
do salário dos servidores grevistas, bem como o pro- lidade, moralidade e publicidade no trato dos assun-
cessamento da devida anotação funcional. tos que lhe são afetos, caso contrário o agente estará
Nessa situação hipotética, o instrumento processual cometendo ato de improbidade administrativa sujeito
de controle judicial que o sindicato dos servidores as sanções e penalidades previstas na Lei nº 8429/1992.
deverá invocar para suspender o ato administrativo de
desconto e anotação dos dias não trabalhados é o Dica
a) mandado de injunção. A palavra múnus tem origem no latim e signifi-
b) recurso ordinário. ca dever, obrigação etc. O múnus público é uma
c) habeas corpus. obrigação imposta por lei, em atendimento ao
d) habeas data. poder público, que beneficia a coletividade e não
e) mandado de segurança. pode ser recusado, exceto nos casos previstos
em lei. Por exemplo: dever de votar, depor como
No caso em tela, houve uma violação de um direito testemunha, atuar como mesário eleitoral, servi-
líquido e certo previsto na constituição; uma afron- ço militar, entre outros.16
ta a esse direito de greve dá causa ao Mandado de
Segurança. Sobre o tema, o STF já se posicionou Toda vez que a administração pública pratica uma
sobre a ilegalidade do desconto, em virtude de greve ação que produz um efeito jurídico, chamamos de ato
motivada por ilicitude do poder público – STF. RE n. administrativo que produz efeitos que podem criar,
693.456 - Tema 531. Resposta: Letra E. modificar ou extinguir direitos.
Os elementos dos atos administrativos são com-
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Julgue o item seguinte, petência, objeto, motivo, finalidade e forma. Toda
relativo ao direito de nacionalidade. vez que um ato é praticado deve se observar qual é a
Os indivíduos que possuem multinacionalidade vincu- competência da pessoa que o praticou, ou seja, a com-
lam-se a dois requisitos de aquisição de nacionalidade petência é a função atribuída a cada órgão ou autori-
primária: o direito de sangue e o direito de solo. dade por lei, tem como característica ser irrenunciável,
imprescritível, inderrogável e improrrogável.
( )CERTO  ( )ERRADO O art. 12 da   Lei nº 9.784/1999 (Lei que regula o
processo administrativo no âmbito da administração
O Brasil adota dois critérios para definir a aquisição pública), permite a delegação de competência, vejamos:
da nacionalidade brasileira: direito de solo (na sua
prova também pode ser chamada de jus solis), que Art. 12 Um órgão administrativo e seu titular pode-
atribui nacionalidade ao território onde o indivíduo rão, se não houver impedimento legal, delegar par-
nasce, e direito de sangue (também pode ser chama- te da sua competência a outros órgãos ou titulares,
do de jus sanguinis), que atribui a nacionalidade ao ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
vínculo sanguíneo. Resposta: Certo. subordinados, quando for conveniente, em razão de
circunstâncias de índole técnica, social, econômica,
jurídica ou territorial.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO aplica-se à delegação de competência dos órgãos
colegiados aos respectivos presidentes.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O resultado do ato administrativo é o objeto, ou
Disposições Gerais seja, é aquilo que o ato decide, por exemplo, a puni-
DIREITO CONSTITUCIONAL

ção decorrente de uma multa de trânsito. O elemento


Segundo José Afonso da Silva (2017), adminis- motivo são as razões de fato e de direito que levaram
tração pública é o conjunto de meios institucionais, a Administração Pública a praticar determinado ato,
financeiros e humanos destinados à execução das por exemplo, é a infração de trânsito que deu origem
decisões políticas15. a multa. A finalidade deve objetivar alcançar sempre
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu regras o interesse público (definido em lei), é o resultado
gerais e preceitos específicos no Título III, Capítulo que a Administração Pública pretende alcançar com
VII. São normas que tratam da organização, diretrizes, determinado ato, por exemplo, a desapropriação por
remuneração e atuação dos servidores, acesso aos car- utilidade pública. Por fim, a forma é manifestação do
gos públicos etc. Assim, a seguir passaremos a estudar as ato, por exemplo, publicar no Diário Oficial da União
regras e preceitos específicos da Administração Pública. a nomeação do Servidor Público.
15  SILVA, op. cit, p. 665.
16 Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/munus-publico.> Acesso
em: 12 out 2020. 213
COMPETÊNCIA Atribuição legal para praticar o ato. condições (limites) ao exercício de direitos individuais,
para garantia da ordem pública, segurança pública,
OBJETO Resultado do ato, o que o ato decide. interesse público e saúde pública. Por exemplo, a
determinação pela autoridade competente de fecha-
MOTIVO Razões fáticas e jurídicas. mento de um estabelecimento comercial por vender
Resultado que o ato deseja (interesse produtos com prazo de validade vencido.
FINALIDADE Cuidado para não confundir poder de polícia com
público).
a prestação de serviço público que são ações positi-
FORMA Manifestação do ato. vas, fazeres do Estado. O art. 78 do Código Tributário
Nacional traz o conceito do poder de polícia, observe:
Poderes da Administração Pública
Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade
Os poderes que a Administração Pública possui são da administração pública que, limitando ou dis-
exercidos quando o Estado assume a sua função admi- ciplinando direito, interesse ou liberdade, regula
a prática de ato ou abstenção de fato, em razão
nistrativa. A função administrativa é exercida pelos
de interesse público concernente à segurança, à
três poderes da República, de forma típica pelo exe-
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
cutivo e de forma atípica pelo legislativo e judiciário.
produção e do mercado, ao exercício de atividades
Ainda, a Administração Pública não pode renun- econômicas dependentes de concessão ou autoriza-
ciar os poderes, sendo exercício obrigatório. Assim, ção do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
agora vamos falar sobre cada um dos poderes atribuí- respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
dos à Administração Pública. coletivos. 
Temos a princípio o poder vinculado que é o Parágrafo único. Considera-se regular o exercício
poder que a Administração Pública deve exercer nos do poder de polícia quando desempenhado pelo
termos da lei. órgão competente nos limites da lei aplicável, com
Quanto ao poder discricionário, a Administração observância do processo legal e, tratando-se de
possui uma margem de escolha entre as opções exis- atividade que a lei tenha como discricionária, sem
tentes na lei. abuso ou desvio de poder.
Por sua vez, o poder normativo é aquele conferi-
do ao Poder Executivo para editar normas, por exem- Organização
plo, conforme art. 84 da CF/88, inciso IV, vejamos:
A organização no Estado Federal é complexa, por-
Art. 84 Compete privativamente ao Presidente da que a função administrativa é institucionalmente
República: imputada a diversas entidades governamentais
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, autônomas, que, no caso brasileiro estão expressa-
bem como expedir decretos e regulamentos para mente referidas no próprio art. 37, de onde decorre
sua fiel execução; a existência de várias Administrações Públicas: a
federal (da União), a de cada Estado (Administra-
Por conseguinte, o poder disciplinar é o poder ção estadual), a do Distrito Federal e a de cada
que fundamenta a Administração Pública a aplicar Município (Administração municipal ou local),
sanção disciplinar e apurar possíveis infrações dos cada qual submetida a um Poder político próprio,
servidores públicos. Importante frisar que os parti- expresso por uma organização governamental
culares contratados pela administração pública tam- autônoma. (SILVA, 2017, p. 665).
bém se sujeitam ao poder disciplinar, por exemplo,
estão sujeitos às penalidades impostas no art. 87 da Conforme o art. 4º do Decreto-Lei 200/1967 a Admi-
Lei 8.666/1993. nistração Pública no Brasil compreende em adminis-
tração direta e administração indireta.
Art.  87 Pela inexecução total ou parcial do con-
trato a Administração poderá, garantida a prévia Art. 4º A Administração Federal compreende:
defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções: I - A Administração Direta, que se constitui dos
I - advertência; serviços integrados na estrutura administrativa da
II - multa, na forma prevista no instrumento convo- Presidência da República e dos Ministérios.
Exemplo: São os também os chamados entes políti-
catório ou no contrato;
cos com autonomia para se organizar e editar suas
III - suspensão temporária de participação em lici-
normas.
tação e impedimento de contratar com a Adminis-
II - A Administração Indireta, que compreende
tração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;
as seguintes categorias de entidades, dotadas de
IV  -  declaração de inidoneidade para licitar ou personalidade jurídica própria:
contratar com a Administração Pública enquanto a) Autarquias;
perdurarem os motivos determinantes da punição b) Empresas Públicas;
ou até que seja promovida a reabilitação perante a c) Sociedades de Economia Mista.
própria autoridade que aplicou a penalidade, que d) fundações públicas.            
será concedida sempre que o contratado ressarcir Parágrafo único. As entidades compreendidas na
a Administração pelos prejuízos resultantes e após Administração Indireta vinculam-se ao Ministério
decorrido o prazo da sanção aplicada com base no em cuja área de competência estiver enquadrada
inciso anterior. sua principal atividade.

O poder hierárquico atribui a distribuição de A Administração Pública direta é composta por


competências no âmbito da Administração Pública, pessoas jurídicas de direito público regidas pelos
ou seja, é o escalonamento de competências e fun- princípios da supremacia do interesse público sobre o
214 ções. Já o poder de polícia é quando o Estado coloca particular e da indisponibilidade do interesse público.
Ainda, tem autonomia política (para editar normas), administrativa (organização) e financeira (podem realizar
auditoria das próprias contas, além da lei de responsabilidade fiscal), sendo que os Entes da Administração Públi-
ca direta não possuem hierarquia. O texto constitucional no art. 18 dispõe da administração direta, vejamos:

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

A banca examinadora ao formular uma questão também pode se referir aos entes da Administração Direta
pelos seguintes nomes:

z �Entes Federados;
z �Entes Políticos;
z �Pessoas Políticas;
z �Administração Centralizada.

Já as entidades da Administração Pública indireta são entidades criadas pela administração pública direta
(por meio de lei, tendo uma finalidade específica), que tem autonomia administrativa (para se organizar), técnica
(atribuições especificadas em lei) e financeira, ou seja, a Administração Pública indireta é quando o serviço públi-
co é prestado pelo estado de forma descentralizada.
Fazem parte da Administração Pública indireta as Autarquias, Fundações Públicas, Sociedade de Economia
Mista e Empresas Públicas:

z A utarquias Federais são responsáveis pela fiscalização e regulamentação de atividades ligadas à telecomuni-
cação, energia elétrica e petróleo. Ex.: ANATEL, ANEEL, ANP;
z Fundações são entidades que executam atividades sociais (pesquisa/saúde/ensino) sem fins lucrativos. Ex.:
FUNASA, FUNAI etc.;
z Empresas Públicas são entidades em que 100% do capital é público, podendo ser tanto uma sociedade anôni-
ma como uma sociedade limitada. Ex.: Correios e Caixa Econômica Federal;
z Sociedade de Economia Mista deve ser criada necessariamente sobre a forma de uma sociedade anônima
(S.A). Seu capital é formado por dinheiro público e privado. Ex.: Banco do Brasil e Petrobras.

A administração direta exerce o chamado controle finalístico ou supervisão ministerial sobre a administração
indireta.
Ainda, a banca examinadora ao formular uma questão também pode se referir aos entes da Administração
Indireta com os seguintes nomes:

z Entidade Administrativa;
z Administração Pública Descentralizada;
z A Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista na prova também podem ser chamadas de: Empresas
Estatais.

ADM. PÚBLICA DIRETA ADM. PÚBLICA INDIRETA

Entidade administrativa.
Entes políticos
FORMAÇÃO Autarquias-fundações públicas-sociedade de
União - Estados - DF - Municípios
economia mista – empresas públicas.

Pessoas jurídicas de direito público, com autono-


Pessoas jurídicas de direito público e privado, com
NATUREZA mia política, administrativa e financeira. Entes polí-
autonomia administrativa, técnica e financeira.
ticos são PJ de DP interno.

ESPECIFI- Não existe hierarquia entre os entes, esses têm


Não tem subordinação entre elas.
DADES autonomia.

Princípios Específicos Da Administração Pública


DIREITO CONSTITUCIONAL

Os princípios específicos da Administração Pública estão fundamentados no caput do art. 37 da Constituição,


são os chamados princípios constitucionais explícitos da administração pública, vejamos:

Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...].

Vamos à análise de cada um dos princípios expressos no caput dispositivo em comento.


No princípio da legalidade o agente público está restringido ao que a lei o autoriza a fazer (competência de
atuação), ou seja, deve atuar somente dentro dos limites estabelecidos em lei, assim, quando o agente pratica um
ato que não está previsto em lei, este pratica um ato inválido. Por exemplo, o agente público recebe vantagem
econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar.
No princípio da impessoalidade (ou princípio da finalidade) o agente público sempre deve prezar pela defesa
do interesse público, ainda objetiva a isonomia (tratar a todos sem privilégio) no exercício das funções públicas. 215
Já o princípio da moralidade está relacionado à coletividade deve ser sempre observado e ter prefe-
ideia de boa fé e probidade, sendo que o agente deve rência em relação ao direito do particular.
atuar buscando o interesse público e evitar se valer do No que tange ao princípio da autotutela, esse
cargo público e do poder incumbido para se promover se refere ao poder que a Administração Pública tem
ou atender algum interesse individual. para anular seus próprios atos, ou seja, não depende
No que tange ao princípio da publicidade, este do poder judiciário para dar eficácia às suas práticas.
exige que a atuação do poder público seja transparen- Por exemplo, a Previdência Social defere a con-
te e com acesso à informação a toda população, sendo cessão de benefício previdenciário (por força de uma
que as informações devem ser claras e publicadas no interpretação errônea) a um determinado cidadão,
Diário Oficial, ou em canais oficiais de publicidade entretanto após identificar o erro à própria Previdên-
(editais) conforme a lei de acesso à informação, assim cia Social pode cancelar esse benefício.
os cidadãos podem fiscalizar os atos praticados pelos Por fim, o Princípio da segurança jurídica tem
agentes públicos. por objetivo proteger o cidadão, ou seja, é a garantia
No que concerne aos princípios, o princípio da efi- de que o agente público irá desempenhar sua função
ciência, como o próprio nome já demonstra, refere-se observando as diretrizes da Administração Pública.
à atuação da administração pública com presteza e da
maneira mais eficiente possível, por exemplo, a pres-
teza do agente público no atendimento em um hospi- PRINCÍPIOS DA
tal, objetivando garantir o atendimento mais rápido ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
possível aos pacientes, garantindo a estes o acesso ao
EXPLÍCITOS IMPLÍCITOS
médico e medicamentos de maneira eficiente.
Expressos art. 37 CF/88
z Princípios implícitos
“L I M P E”
� Supremacia do Inte-
Ainda, além dos princípios expressos no art. 37 da z Legalidade; resse Público;
Constituição, a Administração Pública também deve z Impessoalidade; � Razoabilidade;
observar os da supremacia do interesse público, z Moralidade; z Proporcionalidade;
princípio da razoabilidade, princípio da propor- z Publicidade; z Autotutela;
cionalidade, princípio da autotutela e princípio da z Eficiência. z Segurança Jurídica.
segurança jurídica. Essas são as prerrogativas cha-
madas de “princípios implícitos” que, apesar de não
O Agente público deve observar os princípios
estarem expressos na Constituição, também devem
administrativos explícitos do art. 37 da CF e também
ser observados pela Administração Pública.
os princípios implícitos da Administração Pública,
Os princípios implícitos são obtidos por meio de
sendo que a não observância do mesmo resultará em
uma construção lógica e doutrinária, ora, estão implí-
citos no texto mesmo não aparecendo expressamente. responsabilização criminal, civil e administrativa.
Por exemplo, o princípio da razoabilidade, não está
escrito (expresso) na Constituição Federal, mas ele Dos Militares dos Estados, Do Distrito Federal e dos
também pode ser observado a partir do que dispõe o Territórios
art. 5º, inciso LXXVIII da CF, vejamos:
A Emenda Constitucional n. 18/1998 modificou o
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administra- texto constitucional, que antes consagrava os milita-
tivo, são assegurados a razoável duração do pro- res como servidores públicos e dispôs dos militares
cesso e os meios que garantam a celeridade de sua como um grupo separado, ou seja, formalmente dei-
tramitação.  xaram de ser tratados pela Constituição como servi-
dores públicos.
Referente ao princípio da razoabilidade e pro- Entretanto, na prática não houve mudanças e con-
porcionalidade o agente público quando vai agir tinuam sendo agentes públicos. Bem como, são remu-
deve praticar os atos de forma proporcional, para nerados por subsídio, conforme art. 39, § 4º da CF.
evitar os excessos, serve de limite para os atos discri-
cionários. Por exemplo, o art. 132, VII, da Lei nº Lei § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
8.112/90, prevê a demissão do servidor público em eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
caso de ofensa física, em serviço, entretanto no caso Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
das carreiras policiais esse dispositivo deve ser anali- sivamente por subsídio fixado em parcela única,
sado com cautela, até pelo fato da necessidade do uso vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adi-
de força física em alguns casos, sendo que esta não é cional, abono, prêmio, verba de representação ou
uma regra e deve ser analisada junto ao caso concreto. outra espécie remuneratória, obedecido, em qual-
Já o princípio da supremacia do interesse público quer caso, o disposto no art. 37, X e XI.     
se refere ao interesse público, devendo este sempre
sobressair ao interesse particular, ou seja, interesse A seção III do título III da Constituição que trata
da sociedade prevalece sobre o interesse individual. dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Por exemplo, como ocorreu no Brasil em março de Territórios tem apenas um artigo (art. 42), pois as
2020 com a pandemia (Covid-19) e a determinação forças armadas são tratadas em capítulo diverso (art.
pelo poder público para que ocorresse o isolamento 142), ou seja, após a EC 18/1998 a Constituição passou
(lockdown) horizontal, ou seja, a população teve seu a tratar de forma diversa os militares, dividindo em
direito fundamental de ir e vir restrito, diante da cala- dois capítulos. Conforme considerações de Alexandre
216 midade pública decretada, note que, o interesse da de Moraes:
A organização e o regime únicos dos servidores XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos militares já diferiam entre si, até porque públicos, exceto, quando houver compatibilidade
o ingresso nas Forças Armadas dá-se tanto pela via de horários, observado em qualquer caso o dispos-
compulsória do recrutamento oficial, quanto pela to no inciso XI:     
via voluntária do concurso de ingresso nos cursos a) a de dois cargos de professor;  
de formação dos oficiais; enquanto o ingresso dos b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
servidores militares das polícias militares ocor- científico;         
re somente por vontade própria do interessado, c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis-
que se submeterá a obrigatório concurso público. sionais de saúde, com profissões regulamentadas;         
(MORAES, 2011, p. 413)
Dica
Entenda:
Cuidado ao responder questão de prova: confor-
me a Constituição Federal (EC nº18/19998), os
MILITARES NA CF/88
militares não são denominados como servidores
POLÍCIA MILITAR FORÇAS ARMADAS públicos civis.
Art. 42 da CF Art. 142 e 143 da CF

Ingresso: Ingresso:
EXERCÍCIOS COMENTADOS
z Voluntário: median- z Compulsório
te aprovação em – recrutamento; 1. (CESPE-CEBRASPE – 2019) De acordo com os prin-
concurso público; z Voluntário – curso de cípios e valores que regem a administração pública, o
formação; servidor público.

Conforme art. 42 da CF, com base na hierarquia e a) deverá zelar pelo princípio da supremacia do interesse
disciplina, os militares dos Estados, Distrito Federal e público, que veda, ao servidor, o questionamento da
Territórios são compostos por membros das Polícias validade do ato a ser praticado.
Militares e Corpos de Bombeiros Militares.  Ainda, o b) deverá impor a penalidade cabível àquele que deixar
mencionado dispositivo no § 1º dispõe que os milita- de observar a legislação aplicável a um caso concreto,
res são alistáveis e elegíveis, devendo ser observadas sendo irrelevante a comprovada boa-fé demonstrada
as regras do art. 14, § 8º da CF: pelo particular.
c) deverá zelar pelos princípios que regem a adminis-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as tração pública e deles não poderá se afastar, sob
seguintes condições: pena de eventual responsabilização criminal, civil e
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
administrativa.
afastar-se da atividade;
d) poderá afastar o comando da lei diante de uma
II - se contar mais de dez anos de serviço, será
injustiça.
agregado pela autoridade superior e, se eleito, pas-
sará automaticamente, no ato da diplomação, para e) poderá deixar de entregar documentos sigilosos soli-
a inatividade. citados pelas autoridades competentes que possam
comprometer a administração pública e o interesse
Conforme nova redação atribuída pela Emenda público.
Constitucional nº 109/2019, para fins de aposentado-
ria será assegurada a contagem recíproca do tempo O agente público deve observar os princípios admi-
de contribuição entre o Regime Geral de Previdência nistrativos explícitos do art. 37 da CF e também os
Social e os regimes próprios de previdência social, e princípios implícitos da Administração Pública, sen-
destes entre si, observada a compensação financeira, do que a não observância do mesmo resultará em
de acordo com os critérios estabelecidos em lei. Bem responsabilização criminal, civil e administrativa.
como, o tempo de serviço correspondente será conta- Resposta: Letra C.
do para fins de disponibilidade (art. 40 § 9º da CF).             
Ainda, terão contagem recíproca para fins de ina- 2. (FCC – 2020) De acordo com o artigo 37 da Constitui-
DIREITO CONSTITUCIONAL

tivação militar ou aposentadoria e a compensação ção Federal de 1988, os princípios da Administração


financeira será devida entre as receitas de contribui- pública da
ção referentes aos militares e as receitas de contribui-
ção aos demais regimes. Por exemplo, caso o militar a) moralidade e publicidade devem ser obedecidas por
tenha atuado nas forças armadas e posteriormente uma autarquia estadual.
tomou posse em cargo público poderá averbar esse b) legalidade e universalidade devem ser obedecidas por
tempo que atuou como militar para fins de aposenta- uma assembleia legislativa estadual.
doria civil. c) eficiência e competência devem ser obedecidas por
Por conseguinte, a Emenda Constitucional nº empresas públicas estaduais.
101/2019 também incluiu o § 3º ao art. 42 da CF para d) exclusividade e impessoalidade devem ser obe-
vedar a acumulação remunerada de cargos públicos decidas por instituições sem fins lucrativos não
pelos militares, ou seja, determinou a aplicação do art. governamentais.
37, XVI da CF para os militares dos Estados, DF e Ter- e) prudência e eficiência devem ser obedecidas pelos
ritórios, vejamos. órgãos da administração direta estadual. 217
Conforme art. 37 da CF/88 a Administração pública indi-
PODER JUDICIÁRIO
reta também deve obediência aos princípios da mora-
lidade e publicidade conforme caput do art. 37 da CF.
Resposta: Letra A.
JUSTIÇA FEDERAL JUSTIÇA ESTADUAL

DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES COMUM


ESPECIALIZADA
Art. 109 da CF
Conforme abordado brevemente no início deste
material, a teoria criada por Montesquieu determina
a composição e divisão do Estado. Ela objetiva que
TRABALHO ELEITORAL MILITAR JUIZADOS ESPECIAIS
cada poder seja independente e harmônico entre si, Art. 111 Art. 118 Art. 124 Art. 98, inciso I e II
como forma de dividir as funções do Estado, entre Autorização cons-
poder executivo, poder legislativo e poder judiciário, titucional para a
criação dos Juizados
a esse entendimento chamamos de Teoria da Separa- Especiais e a Justiça
ção dos Poderes. de paz.
O poder legislativo tem o poder de fazer emendas,
alterar e revogar leis, já o poder executivo, função de Órgãos do poder judiciário
administrar o Estado, e por fim, o poder judiciário é
quem tem a função jurisdicional, por exemplo, a apli- Como previsão no art. 92 da CF/88, vejamos os
cação do Direito em um caso concreto, através de um
órgãos que compõem o Poder Judiciário:
processo judicial.
STF. Supremo Tribunal Federal
LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO CNJ. Conselho Nacional de Justiça
Administra o STJ. Superior Tribunal de Justiça
Elabora as leis Aplica as leis
Estado TJ. Tribunal de Justiça (Estados)
Presidente da TRF. Tribunal Regional Federal (Justiça Federal)
Senadores e Deputados; Supremo Tribunal
República; TST. Tribunal Superior do Trabalho
Federais; Federal;
Governadores
Deputados Estaduais; Tribunais; TRT. Tribunal Regional do Trabalho
do Estado;
Vereadores. Juízes. TSE. Tribunal Superior Eleitoral
Prefeitos.
TRE. Tribunal Regional Eleitoral
A seguir iniciaremos o estudo específico de Poder STM. Superior Tribunal Militar
Judiciário.
STF CNJ
DO PODER JUDICIÁRIO

O poder judiciário está consagrado no texto cons- JUSTIÇA COMUM


titucional do art. 92 ao 126 da CF, tem o objetivo de
exercer a jurisdição (administrar justiça, aplicar o STF JUSTIÇA ESPECIALIZADA
direito com o objetivo de solucionar conflito de inte-
resses), bem como, no âmbito de sua função atípica
ESTADUAL FEDERAL TST TSE STM
administrativa, como exemplo, podemos citar o art.
92, inciso I - A da CF, incluído pela emenda Constitu-
cional nº 45/2004, criando como órgão do poder judi- TJ TRF TRT TRE JUÍZES
MILITARES
ciário também o “Conselho Nacional de Justiça”.

Juízes Juízes Juízes do Juiz


Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: Estaduais Federais Trabalho Eleitoral
I-A o Conselho Nacional de Justiça

De acordo com a Constituição Federal, compete ao Conforme dispõe o art. 93 da CF, o ingresso na
CNJ zelar pela autonomia do  Poder Judiciário  e pelo carreira da magistratura é feito através de concurso
cumprimento do Estatuto da Magistratura, definir os público de provas e títulos, inicialmente no cargo de
planos, metas e programas de avaliação institucional juiz substituto, a qual exige do Bacharel em Direito no
do Poder Judiciário, receber reclamações, petições mínimo três anos de atividade jurídica.
eletrônicas e representações contra membros ou
órgãos do Judiciário, julgar processos disciplinares
e melhorar práticas e celeridade, publicando semes-
Importante!
tralmente relatórios estatísticos referentes à atividade
jurisdicional em todo o país17, composto por membros CNJ não tem competência jurisdicional.
do Ministério Público, Advogados e representantes da
sociedade civil. O Poder judiciário é dividido em duas
esferas: Justiça Federal e a Justiça Estadual.
218 17 Disponível em <http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj>. Acesso em 20 de set. de 2020.
Quinto constitucional Cabe ressaltar que os magistrados também tem
foro especial por prerrogativa de função, sendo julga-
Conforme art. 94 da CF, um quinto dos lugares dos dos originalmente por tribunais indicados na Consti-
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Esta- tuição Federal. Vejamos:
dos, e do Distrito Federal e Territórios são compostos
de membros do Ministério Público e Advogados. Com-
posto por membros: ÓRGÃO
AUTORIDADE INFRAÇÃO
JULGADOR
Juízes Estaduais Comum/ TJ
TJ
Ministério Público: e do DF responsabilidade Art. 96, III.
1/5 com + 10 anos de carreira

TRF
Juízes Fede-
rais, bem como TRF
Comum/
JUSTIÇA ESPECIALIZADA ADVOGADOS: Juízes da Jus- Art. 108, inciso
responsabilidade
notório saber jurídico e reputação tiça Militar e do I, “a”.
ilibada + 10 anos de efetiva atividade Trabalho.
jurídica

Membros: STJ
Como é feita a indicação destes profissionais: Comum/
TJ, TRF, TER e Art. 105, inciso
responsabilidade
Através de indicações dos nomes feitas através de TRT I, “a”.
uma lista (lista sêxtupla) pelos órgãos de represen-
tação das respectivas classes. Enviada esta lista para Membros
o Tribunal, este escolherá três nomes (lista tríplice) dos Tribunais STF
Comum/
de sua preferência, e enviará ao Poder Executivo. Superiores: Art. 102, inciso
responsabilidade
Entenda: STJ, TST, TSE e I, “c”.
STM.
Chefe do Poder ÓRGÃO
Lista Tríplice AUTORIDADE INFRAÇÃO
Lista Sêxtupla Executivo decide JULGADOR
qual dos três
Tribunal Escolhe três STF
OAB indica nomes será
nomes e exclui os
seis nomes
demais
escolhido no prazo Ministros STF Comum Art. 102, Inciso
de 20 dias. I, “b”.
Senado Federal
Ministros STF Responsabilidade
A Emenda Constitucional 45/2004 inseriu o quinto Art. 52, II.
constitucional na Justiça do Trabalho, nos Tribunais
Regionais do trabalho (art. 115, I da CF) e no Tribunal O foro especial por prerrogativa de função não se
Superior de Justiça (art. 111-A da CF). estende a magistrados aposentados18. Conforme Súmu-
la nº 451 do STF, a competência especial por prerroga-
Garantias constitucionais dos magistrados tiva de função não se estende ao crime cometido após
a cessação definitiva do exercício funcional.
A Constituição Federal em seu art. 95 assegura aos O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas
magistrados as garantias da vitaliciedade, inamovibi- aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
lidade e irredutibilidade de subsídios. relacionados às funções desempenhadas.
Vitaliciedade: só pode ser demitido depois do Note que, após o final da instrução processual, com
trânsito em julgado da decisão judicial. a publicação do despacho de intimação para apresen-
tação de alegações finais, a competência para proces-
z No primeiro grau de jurisdição somente é adquiri- sar e julgar ações penais não será mais afetada em
da depois de dois anos de estágio probatório, que razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou
se inicia com o efetivo exercício da posse. deixar o cargo que ocupava por qualquer que seja o
z No segundo grau de jurisdição, este benefício se dá motivo.19
com o efetivo exercício (quando nome deste Magis-
trado já está no quinto constitucional). Supremo Tribunal Federal
DIREITO CONSTITUCIONAL

Inamovibilidade: proibição de remoção do ma- Órgão máximo do Poder Judiciário, também deno-
gistrado de um cargo para outro, salvo por motivo de minado como guardião da Constituição. Composto por
interesse público, mediante voto da maioria absoluta onze membros, nomeados pelo Presidente da Repúbli-
do respectivo tribunal, assegurada ampla defesa. ca, conforme o art. 101, parágrafo único, da CF, após
Irredutibilidade de subsídios: Assegura que o aprovação por maioria absoluta do Senado Federal.
magistrado não tenha diminuído o valor de seus sub- Composto por onze Ministros do Supremo Tribu-
sídios, salvo imposição constitucional. nal Federal, os quais devem ser brasileiros natos, com
Sendo que, tais garantias são asseguradas também idade entre 35 e 65 anos, cidadão em pleno gozo dos
aos membros do Ministério Público e Conselheiros e direitos e possuir notável saber jurídico e reputação
Ministros dos Tribunais de Contas. ilibada.
18  RE 549.560, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22.3.2012, DJe 30.5.2014.
19  AP 937 QO, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03.05.2018, DJe 11.12.2018. 219
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus
de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com julgados;
mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco l) a reclamação para a preservação de sua compe-
anos de idade, de notável saber jurídico e reputação tência e garantia da autoridade de suas decisões;
ilibada. m) a execução de sentença nas causas de sua
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribu- competência originária, facultada a delegação de
nal Federal serão nomeados pelo Presidente da atribuições para a prática de atos processuais;
República, depois de aprovada a escolha pela maio- n) a ação em que todos os membros da magistra-
ria absoluta do Senado Federal. tura sejam direta ou indiretamente interessados,
e aquela em que mais da metade dos membros do
Dica para memorizar: lembre-se que 11 ministros tribunal de origem estejam impedidos ou sejam
é o mesmo nº de jogadores de um time de futebol. direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior
Competência do Supremo Tribunal Federal: Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre
Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer
outro tribunal;
A competência está prevista nos arts. 102 e 103
p) o pedido de medida cautelar das ações dire-
da Constituição, sendo dividida em competência ori- tas de inconstitucionalidade;
ginária e competência recursal, sendo que, na com- q) o mandado de injunção, quando a elabora-
petência originária, o STF processa e julga em única ção da norma regulamentadora for atribuição
instância, e na competência recursal, o STF aprecia do Presidente da República, do Congresso Nacional,
a matéria a ele chegada por meio de recurso ordinário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
ou extraordinário. Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribu-
A seguir será exposto o art. 102 da CF. nal de Contas da União, de um dos Tribunais Supe-
Observe que os incisos destacados são os mais riores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
cobrados em provas, bem como, observe os demais r) as ações contra o Conselho Nacional de Jus-
grifos com aspectos importantes para memoriza- tiça e contra o Conselho Nacional do Ministé-
ção. É de suma importância a leitura deste artigo para rio Público;
auxiliar na memorização. II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus , o mandado de segurança,
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Fede- o habeas data e o mandado de injunção decidi-
ral, precipuamente, a guarda da Constituição, dos em única instância pelos Tribunais Superiores,
cabendo-lhe: se denegatória a decisão;
I - processar e julgar, originariamente: b) o crime político;
a) a ação direta de inconstitucionalidade de III - julgar, mediante recurso extraordinário,
lei ou ato normativo federal ou estadual e a as causas decididas em única ou última ins-
ação declaratória de constitucionalidade de tância, quando a decisão recorrida:
lei ou ato normativo federal; a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou
República, o Vice-Presidente, os membros do Con- lei federal;
gresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procu- c) julgar válida lei ou ato de governo local contesta-
rador-Geral da República; do em face desta Constituição.
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de d) julgar válida lei local contestada em face de
responsabilidade, os Ministros de Estado e os lei federal.         
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero- § 1º A arguição de descumprimento de preceito
náutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os mem- fundamental, decorrente desta Constituição, será
bros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na for-
Contas da União e os chefes de missão diplomática ma da lei
de caráter permanente; § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas
d) o  habeas corpus  , sendo paciente qualquer das pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas
pessoas referidas nas alíneas anteriores; o man- de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias
dado de segurança e o  habeas data  contra atos de constitucionalidade produzirão eficácia contra
do Presidente da República, das Mesas da Câmara todos e efeito vinculante, relativamente aos demais
dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de órgãos do Poder Judiciário e à administração públi-
Contas da União, do Procurador-Geral da Repúbli- ca direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
ca e do próprio Supremo Tribunal Federal; municipal.    
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou orga-
deverá demonstrar a repercussão geral das ques-
nismo internacional e a União, o Estado, o Dis-
tões constitucionais discutidas no caso, nos termos
trito Federal ou o Território;
da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão
f) as causas e os conflitos entre a União e os
do recurso, somente podendo recusá-lo pela mani-
Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre
festação de dois terços de seus membros.  (grifos
uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
nosso)
administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus , quando o coator for Tribu- Súmula Vinculante
nal Superior ou quando o coator ou o paciente for
autoridade ou funcionário cujos atos estejam A súmula vinculante é um instrumento que rela-
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tri- ciona as principais e reiteradas decisões do Supremo
bunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma Tribunal Federal em matéria constitucional, tem pre-
220 jurisdição em uma única instância; visão no art. 103-A da CF (incluído pela EC 45/2004) e
na Lei 11.417/2006. Vejamos o que dispõe a Constitui- VII – partido político com representação no Con-
ção sobre o tema: gresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de âmbito nacional;
de ofício ou por provocação, mediante decisão de IX – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câma-
dois terços dos seus membros, após reiteradas ra Legislativa do Distrito Federal;
decisões sobre matéria constitucional, aprovar X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
súmula que, a partir de sua publicação na impren- XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça
sa oficial, terá efeito vinculante em relação aos de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os
demais órgãos do Poder Judiciário e à admi- Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regio-
nistração pública direta e indireta, nas esferas nais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais
federal, estadual e municipal, bem como proceder e os Tribunais Militares.
à sua revisão ou cancelamento, na forma estabele- § 1º O Município poderá propor, incidentalmente ao
cida em lei.      curso de processo em que seja parte, a edição, a revi-
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a inter- são ou o cancelamento de enunciado de súmula vin-
pretação e a eficácia de normas determinadas, acer- culante, o que não autoriza a suspensão do processo.
ca das quais haja controvérsia atual entre órgãos
judiciários ou entre esses e a administração pública Existem órgãos que podem descumprir a Súmula
que acarrete grave insegurança jurídica e relevante Vinculante sem sofrer penalidades. São os seguintes:
multiplicação de processos sobre questão idêntica.        
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em
z STF de oficio para rever ou cancelar;
lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmu-
z Processo legislativo – na sua função típica, ou seja,
la poderá ser provocada por aqueles que podem
propor a ação direta de inconstitucionalidade ao legislar.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamen- Cuidado: Na sua função atípica, que seria admi-
te a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribu- nistrar e julgar, deve respeitar a súmula vinculante:
nal Federal que, julgando-a procedente, anulará o
ato administrativo ou cassará a decisão judicial z Presidente da República pode editar Medida Pro-
reclamada, e determinará que outra seja proferi- visória contrária à súmula vinculante (pois, neste
da com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso, ele estaria legislando).   
caso. (grifos nosso)
Superior Tribunal de Justiça
Note que a revisão, edição e cancelamento depen-
de da decisão de (dois terços) dos membros do Supre- O STJ é composto por no mínimo 33 Ministros,
mo Tribunal Federal, em sessão plenária. Art. 2º § 3º nomeados pelo Presidente da República, sendo estes
da Lei 11.417/2006. brasileiros com mais de 35 anos e menos de 65 anos, de
O art. 103-A é uma norma constitucional de eficá- notável saber jurídico e reputação ilibada, depois da
cia limitada (normas cuja aplicabilidade é mediata, aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.
indireta e reduzida).
A Súmula terá efeito vinculante em relação aos Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça com-
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração põe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal
e municipal, bem como proceder à sua revisão ou can- de Justiça serão nomeados pelo Presidente da
celamento, na forma estabelecida em lei.  República, dentre brasileiros com mais de trinta
Caso haja descumprimento de Súmula Vinculante, e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de
o recurso cabível é Reclamação ao STF, conforme art. notável saber jurídico e reputação ilibada, depois
7º da lei 11.417/2006. de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo:
Art. 7º Da decisão judicial ou do ato administrativo I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regio-
que contrariar enunciado de súmula vinculan- nais Federais e um terço dentre desembarga-
te, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente dores dos Tribunais de Justiça, indicados em
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Fede- lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal;
ral, sem prejuízo dos recursos ou outros meios II - um terço, em partes iguais, dentre advoga-
admissíveis de impugnação. (grifo nosso) dos e membros do Ministério Público Federal,
DIREITO CONSTITUCIONAL

Estadual, do Distrito Federal e Territórios,


Ainda, podem propor (fazer a proposta e não o alternadamente, indicados na forma do art. 94.
julgamento) aprovação, revisão ou cancelamento dos Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais
legitimados previstos no art. 3º da lei 11.417/2006. Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e
do Distrito Federal e Territórios será composto de
Art. 3º São legitimados a propor a edição, a revi- membros, do Ministério Público, com mais de dez
são ou o cancelamento de enunciado de súmula anos de carreira, e de advogados de notório saber
vinculante: jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez
I - o Presidente da República; anos de efetiva atividade profissional, indicados em
II - a Mesa do Senado Federal; lista sêxtupla pelos órgãos de representação das
III – a Mesa da Câmara dos Deputados; respectivas classes.
IV – o Procurador-Geral da República; Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribu-
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do nal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Exe-
Brasil; cutivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá
VI - o Defensor Público-Geral da União; um de seus integrantes para nomeação. 221
Requisitos para escolha dos Ministros: STJ
ART. 105 DA CF
z Idade entre 35 e 65 anos; Mandado de Segurança e Habeas Data contra ato de Ministro
z Possuir notável saber jurídico e reputação ilibada. de Estado, Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica,
ou Ministros do STJ;
Conflito de competência entre os Tribunais (salvo art. 102, I “o”
„ 1/3 de juízes dos Tribunais Regionais Federais – conflito entre STJ x Tribunais);
– TRF Revisão Criminal e Ação Rescisória de seus julgados;
„ 1/3 de desembargadores dos tribunais de Justi- Reclamação – preservação de sua competência;
Conflito entre autoridades administrativas e judiciárias da
ça estaduais – TJ
União, entre autoridades judiciárias de um Estado e administra-
„ 1/3 divididos desta forma: 1/6 de advogados; e tivas de outro ou do DF, ou entre esses e a União;
„ 1/6 de membros MP, estaduais e do DF Mandado de Injunção quando a elaboração da norma for atri-
„ Indicados na forma do art. 94 da CF/88 – quinto buição de autoridade Federal, salvo casos de competência do
STF, Justiça Militar, Eleitoral e do Trabalho;
constitucional. Competência em recurso Ordinário:
Habeas Corpus decidido em única ou última instância pelos
Competência STF X STJ TRF ou TJ dos Estados e DF quando denegatória.
Mandado de Segurança decidido em única instância
A seguir, organizamos dois quadros das competên- pelo TRF ou TJ dos Estados e DF, também quando denegatória
cias do STF e STJ, com fundamento nos arts. 102 e 105 a decisão. Causas em que forem partes Estado estrangeiro ou
organismo Internacional de um lado, e, de outro, Município ou
da CF. Pedimos atenção especial nesses artigos, pois pessoa residente ou domiciliada no país;
são de extrema importância. Cuidado para não con-
Competência em Recurso Especial: Causas decididas
fundir as competências de cada órgão.
em única ou ultima instância pelo TRF ou TJ dos Estados ou DF,
quando decisão recorrida contrariar Lei Federal.
STF *Muito cobrado em provas
ART. 102 DA CF
ADI, ADC e ADPF*
Crime comum: Dos Tribunais e Juízes Militares
Presidente República + Vice
Membros Congresso Nacional, Ministros e o PGR Art. 122 São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
Crime de comum e responsabilidade: II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Ministros estado, Comandante Marinha, Exército e Aeronáu- Art. 123 O Superior Tribunal Militar compor-se-á
tica, membros Tribunais Superiores, TCU e Chefes de missão
de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presi-
diplomática.
dente da República, depois de aprovada a indicação
HC quando coator for Tribunal Superior e o paciente for auto-
ridade/funcionários quando atos estejam sujeitos jurisdição pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-ge-
STF; nerais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais
MS e HD contra atos do Presidente República, Mesa da Câmara do Exército, três dentre oficiais-generais da Aero-
dos Deputados e Senadores; náutica, todos da ativa e do posto mais elevado da
carreira, e cinco dentre civis.
Extradição;
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhi-
Litigio entre Estado estrangeiro e a União, o Estado, o Distrito
Federal ou o Território*;
dos pelo Presidente da República dentre brasileiros
Ações contra CNJ e CNMP (Conselho Nacional do Ministério maiores de trinta e cinco anos, sendo:
Público); I - três dentre advogados de notório saber jurídico
Extradição solicitada por estado estrangeiro; e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva
Revisão criminal e ação rescisória de seus julgados; atividade profissional;
Reclamação – preservação de sua competência; II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores
Ações contra CNJ e o CNMP. e membros do Ministério Público da Justiça Militar.
Competência em recurso Ordinário: habeas corpus, mandado Art. 124 À Justiça Militar compete processar e jul-
de segurança, habeas data e mandado de injunção, decididos gar os crimes militares definidos em lei.
em única instância pelos Tribunais Superiores; Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização,
Competência em Recurso Extraordinário: o funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Causas decididas em única ou última instância, caso decisão
recorrida contrariar dispositivo da Constituição Federal.
Diferente de outros ramos do Judiciário, a Justiça
Militar não conta necessariamente com três instân-
STJ cias. Isso porque os Tribunais Militares só existem em
ART. 105 DA CF tempos de guerra e na prática o STM funciona como
uma 2ª instância da Justiça Militar.
ADI, ADC e ADPF*
A Constituição não especifica as competências da
Crime comum: Justiça Militar. Em suma, a Justiça Militar da União é
Governador de Estado e DF; responsável por julgar os casos que envolvam milita-
Crimes comuns e de responsabilidade: res das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aero-
Desembargadores do TJ (Estados e DF), membros do TCE e náutica, enquanto a Justiça Militar dos Estados e do
TCDF, dos TRF, TER e TRT, dos conselhos do TCU e do MPU;* DF julga os integrantes das forças auxiliares do Exér-
HC quando coator ou paciente for pessoas acima menciona- cito, que correspondem a Polícia Militar e o Corpo de
das, ou quando for Tribunal sujeito a sua jurisdição, Ministro Bombeiros. Assim, PMs e Bombeiros Militares, nos
de Estado ou Comandante do Exército, Marinha e Aeronáutica, casos de crimes militares, serão julgados pelas Varas
salvo competência da Justiça Eleitoral;
222 de Auditoria Militar ou Conselhos de Justiça Militar.
Em caso de recurso, este deverá ser para o Tribunal de § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça iti-
Justiça Militar, após ao STJ ou STF. nerante, com a realização de audiências e demais
Em se tratando de crime doloso contra a vida prati- funções da atividade jurisdicional, nos limites ter-
cado por militar das Forças Armadas contra civil, este ritoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
será julgado pela Justiça Militar. Já os militares dos equipamentos públicos e comunitários (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
Estados são julgados pelo Tribunal do Júri. É impor-
Art. 126 Para dirimir conflitos fundiários, o Tribu-
tante frisar que apenas crimes dolosos contra a vida
nal de Justiça proporá a criação de varas especia-
praticados por militar vão a júri. Em se tratando de lizadas, com competência exclusiva para questões
homicídio culposo, a competência será sempre da Jus- agrárias (Redação dada pela Emenda Constitucio-
tiça Militar Estadual. Em caso de homicídio de militar nal nº 45, de 2004).
por outro militar este também será de competência da Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente
Justiça Militar e não do Tribunal do Júri. prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no
local do litígio.
Dos Tribunais e juízes dos Estados

Os Tribunais de Justiça compreendem a 2ª instân-


cia do judiciário brasileiro e os juízes estaduais ou EXERCÍCIOS COMENTADOS
juízes de direito correspondem à primeira instância
da Justiça comum. Cada estado tem seu tribunal. Os 1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) No âmbito do Poder
Tribunais de Justiça são também responsáveis pelos Legislativo Federal, as comissões parlamentares de
Juizados Especiais Cíveis e Criminais e suas Turmas inquérito
Recursais, regidos pela Lei 9.099/1995, e os Centros
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania – a) podem investigar fatos referentes a questões de inte-
CEJUSCs. Em sede de 1ª instância, os juízes de direito resse de um estado-membro, ou seja, sem relevância
são os responsáveis pelas diversas varas, espalhadas nacional.
nas comarcas. Cada tribunal será responsável por sua b) podem determinar medida de arresto e sequestro de
organização estrutural. bens de investigados.
A competência da Justiça Comum Estadual é resi- c) têm poderes para determinar medida de busca e
dual, ou seja, abrangerá apenas o que não for cargo da apreensão domiciliar e interceptação telefônica.
Justiça Especializada – Trabalhista, Eleitoral e Militar d) podem determinar que um investigado não se ausente
–, dos Tribunais Superiores ou da Justiça Federal. do país.
e) têm poderes para quebrar sigilo de dados telefônicos.
Art. 125 Os Estados organizarão sua Justiça, obser-
vados os princípios estabelecidos nesta Constituição. Conforme o STF, a CPI tem competência constitucio-
§ 1º A competência dos tribunais será definida na
nal para ordenar a quebra de sigilo bancário, fiscal
Constituição do Estado, sendo a lei de organização
e telefônico (MS 23.868, rel Min. Celso de Mello, jul-
judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação
gamento em 30.8.2001, DJ de 21.6.2002). Resposta:
de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos Letra E.
estaduais ou municipais em face da Constituição
Estadual, vedada a atribuição da legitimação para 2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A Constituição Federal
agir a um único órgão. de 1988 elenca como atribuição do presidente da
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta República
do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual,
constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direi- a) dispor, por decreto, sobre o funcionamento da admi-
to e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, nistração pública federal, ainda que isso implique
pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de aumento de despesa.
Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar b) conceder indulto e comutação de penas.
seja superior a vinte mil integrantes (Redação dada
c) autorizar empréstimos contraídos pela União no
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
exterior.
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e
julgar os militares dos Estados, nos crimes militares d) celebrar e referendar acordos internacionais, na condi-
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disci- ção de chefe de Estado.
plinares militares, ressalvada a competência do júri e) celebrar a paz, com referendo do Senado Federal.
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal com-
DIREITO CONSTITUCIONAL

petente decidir sobre a perda do posto e da paten- A Constituição Federal no art. 84 trata da competên-
te dos oficiais e da graduação das praças (Redação cia do Presidente da República, sendo que no inci-
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). so XII dispõe que compete ao Presidente conceder
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar indulto e comutar penas, com audiência, se necessá-
processar e julgar, singularmente, os crimes milita- rio, dos órgãos instituídos em lei. Resposta: Letra B.
res cometidos contra civis e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Acerca da administração
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, proces-
pública e da organização dos poderes, julgue o item
sar e julgar os demais crimes militares. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). subsequente à luz da CF.
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descen- Cabe ao Congresso Nacional exercer, mediante con-
tralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a trole externo, a fiscalização contábil, financeira, orça-
fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à mentária, operacional e patrimonial da União.
justiça em todas as fases do processo. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004). ( ) CERTO  ( ) ERRADO 223
Sim, a função será exercida pelo Congresso Nacio- Conforme dispõe o § 2º do art. 142 da CF, não cabe
nal mediante controle externo, conforme o art. 70 habeas corpus em caso de punição militar, sendo que
da CF/88. Resposta: Certo. este segue as próprias regras de hierarquia e disciplina.
Mas cuidado! A doutrina e jurisprudência enten-
de que se aplica o mencionado dispositivo quanto ao
mérito das punições militares, ou seja, quando for
o caso de ilegalidade dos pressupostos, como com-
DAS DEFESA DO ESTADO E DAS petência e cumprimento de regras estabelecidas no
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS regulamento militar é cabível a impetração de habeas
corpus para análise do poder judiciário.
DAS FORÇAS ARMADAS
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMI-
As forças armadas estão consagradas no título V da NAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há
Constituição Federal, conforme art. 142, as forças arma- que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se
das são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáu- a concessão de habeas corpus, impetrado con-
tica, a qual são instituições nacionais permanentes e tra punição disciplinar militar, volta-se tão-so-
regulares, organizadas com base na hierarquia e dis- mente para os pressupostos de sua legalidade,
ciplina, sob autoridade do Presidente da República. As excluindo a apreciação de questões referentes
funções das forças armadas, além da defesa da pátria, ao mérito. Concessão de ordem que se pautou pela
também englobam a defesa do estado e das instituições apreciação dos aspectos fáticos da medida punitiva
democráticas (garantidoras da lei e da ordem). militar, invadindo seu mérito. A punição disciplinar
militar atendeu aos pressupostos de legalidade,
quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar, o ato
Dica ligado à função e a pena susceptível de ser aplica-
As forças armadas estão inseridas na estrutura da disciplinarmente, tornando, portanto, incabível
a apreciação do habeas corpus. Recurso conhecido
do Poder Executivo.
e provido. (STF. RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie,
Segunda Turma, DJ de 12.09.2003)
Os membros das forças armadas são denomina-
dos como militares e tem função subsidiária, ou seja,
A Constituição também prevê o serviço militar
desempenham funções que originalmente são de
competência das forças da segurança pública (polícia obrigatório, conforme art. 143, entretanto o inciso
federal, civil e militar dos estados e DF). VIII do art. 5º desobriga o alistado do serviço militar
Ainda, conforme dispõe o art. 142 do texto constitu- por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou
cional, as forças armadas estão sob a autoridade supre- política, desde que cumpra prestação alternativa, que
ma do Presidente da República, e destinam-se à defesa é de competência das forças armadas atribuir.
da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Art. 143 O serviço militar é obrigatório nos termos
da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei,
FORÇAS ARMADAS atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de
PRESIDENTE DA REPÚBLICA É AUTORIDADE paz, após alistados, alegarem imperativo de cons-
SUPREMA ciência, entendendo-se como tal o decorrente de
crença religiosa e de convicção filosófica ou políti-
MARINHA EXÉRCITO AERONÁUTICA ca, para se eximirem de atividades de caráter essen-
cialmente militar.
Internamente são subordinadas aos seus respecti- § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
vos comandantes, integrados no Ministério da Defesa serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujei-
com obediência ao Presidente da República. Assim, as tos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.  
patentes são conferidas pelo Presidente da República,
entretanto a perda desta só ocorrerá se for julgado Exemplo prático de uso das Forças Armadas:
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por Em 20/10/2020 foi publicado no DOU decreto pre-
decisão de tribunal militar de caráter permanente, sidencial que autoriza o uso das Forças Armadas nas
em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo eleições municipais de 2020.
de guerra, conforme incisos I e VI do art. 142 da CF/88. O objeto é garantir a ordem pública durante a
Aos militares é proibida a sindicalização e greve. votação e segurança do processo eleitoral.
Ainda, no serviço ativo não pode estar filiado a parti- DECRETO Nº 10.522, DE 19 DE OUTUBRO DE 2020
do político. Autoriza o emprego das Forças Armadas para a
STF já se posicionou sobre o tema: garantia da ordem pública durante a votação e a apu-
ração das eleições de 2020.
z O exercício do direito de greve, sob qualquer for- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribui-
ma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e ções que lhe confere o art. 84, caput , incisos IV e XIII,
a todos os servidores públicos que atuem direta- da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 15
mente na área de segurança pública. da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e no
z É obrigatória a participação do poder público em art. 23, caput , inciso XIV, da Lei nº 4.737, de 15 de julho
mediação instaurada pelos órgãos classistas das de 1965 - Código Eleitoral, DECRETA:
carreiras de segurança pública, nos termos do art.
165 do CPC, para vocalização dos interesses da cate- Art. 1º Fica autorizado o emprego das Forças Arma-
goria. (STF. ARE 654.432, rel. Min. Alexandre de das para a garantia da ordem pública durante a vota-
224 Moraes, j. 5-4-2017, P, DJE de 11.60.2018, Tema 541) ção e a apuração das eleições de 2020.
Art. 2º As localidades e o período de emprego das § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
Forças Armadas serão definidos conforme os ter- eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
mos de requisição do Tribunal Superior Eleitoral. Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua sivamente por subsídio fixado em parcela úni-
publicação. ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação
DA SEGURANÇA PÚBLICA ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
A segurança pública é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva- z Polícia Federal (art. 144, § 1º da CF) é órgão per-
ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e manente, organizado e mantido pela União. Exer-
do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto ce a função de polícia judiciária da União, que está
constitucional. disposto nos incisos I ao IV, vejamos:
É exercido por meio de órgãos federais e esta-
duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede- § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão
ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias permanente, organizado e mantido pela União e
militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias estruturado em carreira, destina-se a:
penais federal, estadual e distrital, esta última acres- I - apurar infrações penais contra a ordem polí-
centada pela Emenda Constitucional nº 104/2019. tica e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárqui-
Conforme o § 8º do art. 144 da CF os municípios
cas e empresas públicas, assim como outras infra-
podem constituir guardas municipais destinados à pro-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual
teção de seus bens, serviços e instalações (deve atuar ou internacional e exija repressão uniforme, segun-
somente na municipalidade). Cuidado! Esse órgão não do se dispuser em lei;
integra a estrutura de segurança pública para exercer II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entor-
a função de polícia ostensiva. pecentes e drogas afins, o contrabando e o desca-
Para o STF os órgãos que compõe a segurança minho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art. órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
144 da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
os municípios ou estados criarem outros órgãos para Conforme considerações do STF, na busca e apreen-
integrarem à segurança pública. são de tráfico de drogas o cumprimento da ordem
judicial pela polícia militar não contamina o flagrante
Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, e a busca e apreensão realizadas.
direito e responsabilidade de todos, é exercida para
a preservação da ordem pública e da incolumidade III - exercer as funções de polícia marítima, aero-
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes portuária e de fronteiras;         
órgãos: IV - exercer, com exclusividade, as funções de polí-
I - polícia federal; cia judiciária da União.
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal; z Polícia Rodoviária Federal (art. 144, § 2º da CF)
IV - polícias civis; é órgão permanente, organizado e mantido pela
V - polícias militares e corpos de bombeiros União, tem como função o patrulhamento ostensi-
militares. vo das rodovias federais.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.     z Polícia Ferroviária Federal (art. 144, § 3º da CF)
é órgão permanente, organizado e mantido pela
Sobre o Departamento de Trânsito o STF já manifestou: União, tem como função o patrulhamento ostensi-
Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede- vo das ferrovias federais.
ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da Cons-
tituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da A Polícia Ferroviária Federal surgiu no Brasil em
segurança pública. Entre eles não está o Departamen- 1852 por Decreto Imperial, nessa época era denomi-
to de Trânsito. Resta, pois, vedada aos Estados-mem- nada como “Polícia dos Caminhos de Ferro” e tinha o
bros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte objetivo de cuidar das riquezas que eram transporta-
já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Depar- das pelos trilhos de ferro.
tamento de Trânsito. Entretanto, apesar de ter autorização na atual
[ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11- constituição, hoje essa polícia não existe de fato.
DIREITO CONSTITUCIONAL

2005, P, DJ de 10-3-2006.]
Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9- z Polícias Civis (art. 144, § 4º da CF) são dirigidas
2010, P, DJE de 6-4-2011 por delegados de carreiras e subordinadas aos
Serviços da segurança pública são custeados Governadores dos estados ou DF têm função de
mediante impostos, sendo que não é permitida a cria- polícia judiciária (exercício da segurança pública)
ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remunera- e apuração de infrações penais, salvo as militares.
ção dos servidores será exclusivamente por subsídio
fixado em parcela única, na forma do § 4º do art. 39 Art. 144 [...]
da CF/88. § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os tência da União, as funções de polícia judiciária e a
Municípios instituirão conselho de política de admi- apuração de infrações penais, exceto as militares.
nistração e remuneração de pessoal, integrado por
servidores designados pelos respectivos Poderes.     Fique atento que o art. 144 § 4º não menciona a ati-
[...] vidade penitenciária como atividade da polícia civil. 225
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define Grau, j. 24-11-2005, P, DJ de 10-3-2006.) Fique aten-
incumbirem às polícias civis “as funções de polícia to! A Emenda Constitucional nº 104 de 2019 incluiu
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as no rol também às Polícias Penais Federal, estaduais
militares”. Não menciona a atividade penitenciária, e distrital. Resposta: Letra D.
que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais;
não atribui essa atividade específica à polícia civil.
(STF. ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, DJE de 14-5-2010)
HORA DE PRATICAR!
z Polícias militares e Corpo de Bombeiros Militar
(art. 144, § 5º da CF): as polícias militares cabem 1. (CRS – 2017) Título I da Constituição Federal é nomi-
à polícia ostensiva sendo atribuído a preservação nado “Dos Princípios Fundamentais”. Com base no
da ordem pública e ao corpo de bombeiros milita- presente Título, marque a opção correta:
res objetivam a execução das atividades de defesa
civil, prevenção e combate a incêndios, buscas e a) A erradicação da pobreza e da marginalização e a
salvamentos públicos. redução das desigualdades sociais e regionais é um
dos princípios ao qual o Brasil rege em suas relações
Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF internacionais.
ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias civis b) Todo o poder emana do povo, que o exerce exclusiva-
e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governado- mente por meio de representantes eleitos, nos termos
res dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”. desta Constituição.
c) O pluralismo político é um dos fundamentos da Repú-
z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital blica Federativa do Brasil.
(art. 144 § 5º-A) foi incluído pela Emenda Consti- d) O Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Ministério
tucional nº 104 de 2019, às polícias penais cabe à Público são Poderes da União, independentes e har-
segurança dos estabelecimentos penais, vincula- mônicos entre si.
das ao órgão administrador do sistema penal da
unidade federativa a que pertencem. 2. (CRS – 2017) A República Federativa do Brasil, forma-
da pela união indissolúvel dos Estados, Munícipios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá-
tico de Direito. Com relação aos princípios que regem
EXERCÍCIOS COMENTADOS as relações internacionais do Brasil, analise as alterna-
tivas abaixo:
1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Conforme a CF, às polícias
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, cabe I. Construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
II. Promoção do bem de todos, sem preconceitos de ori-
a) exercer as funções de polícia marítima, aérea e de gem, raça, sexo, cor e idade.
fronteiras.
III. Repúdio ao terrorismo e ao racismo.
b) patrulhar ostensivamente as ferrovias federais.
IV. Garantia do desenvolvimento nacional.
c) apurar as infrações penais contra a ordem política e social
V. Solução pacífica dos conflitos.
ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União.
d) exercer as funções de polícia judiciária e apurar as VI. Prevalência dos direitos humanos.
infrações penais, exceto as de natureza militar.
e) responder pelo policiamento ostensivo, pela preserva- Estão corretas as assertivas:
ção da ordem pública e pela defesa civil.
a) I, II e IV, apenas.
O item “d” está em consonância com o Art. 144. § 40º: “Às b) III, V e VI, apenas.
polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de car- c) II, IV e VI, apenas.
reira, incumbem, ressalvada a competência da União, as d) Todas estão corretas.
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares”. Resposta: Letra D. 3. (CRS – 2017) De acordo com os princípios fundamen-
tais previstos na Constituição da República Federativa
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A CF, em seu art. 144, do Brasil de 1988, assinale a alternativa correta:
apresenta o rol dos órgãos encarregados da seguran-
ça pública. Esse rol é a) São Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Judiciário, o Ministério Público, a Advocacia-
a) taxativo para a União e inaplicável aos estados e ao -Geral da União e a Defensoria Pública.
Distrito Federal. b) A República Federativa do Brasil, formada pela união
b) taxativo para a União e exemplificativo para os esta- indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
dos e o Distrito Federal.
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direi-
c) exemplificativo para a União e taxativo para os esta-
to e tem como um de seus fundamentos a cidadania.
dos e para o Distrito Federal.
d) taxativo para a União, para os estados e para o Distrito c) Constitui um dos objetivos fundamentais da República
Federal. Federativa do Brasil a solução pacífica dos conflitos.
e) exemplificativo para a União, para os estados e para o d) Constitui um princípio da República Federativa do
Distrito Federal. Brasil que rege as suas relações internacionais pro-
mover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
Conforme entendimento do STF os órgãos que com- raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
põe a segurança pública estão relacionados nos discriminação.
incisos I ao VI do art. 144 da CF são rol taxativo,
226 numerus clausus (ADI 1.182, voto do rel. min. Eros
4. (CRS – 2017) Em relação à Constituição Federal de 8. (CRS – 2017) De acordo com os direitos e garantias
1988, NÃO se relaciona no rol dos objetivos funda- fundamentais previstos na Constituição da República
mentais da República Federativa do Brasil: Federativa do Brasil de 1988 é correto afirmar que:

a) A garantia do desenvolvimento nacional. a) É livre a manifestação do pensamento, sendo consen-


b) A construção de uma sociedade livre, justa e solidária. tido apenas o anonimato.
c) A promoção do bem de todos, sem preconceitos de b) A casa é asilo inviolável do indivíduo e ninguém nela
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras for- nunca pode penetrar durante a noite.
mas de discriminação. c) Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
d) A Garantia dos valores sociais do trabalho e da livre ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciá-
iniciativa. ria competente, salvo nos casos de transgressão mili-
tar ou crime propriamente militar, definidos em lei.
5. (CRS – 2017) Marque a resposta que contém todos d) O preso poderá ser informado de seus direitos, entre
os fundamentos da República Federativa do Brasil: os quais o de permanecer quieto, sendo-lhe assegura-
do a assistência de defensor constituído às expensas
a) A soberania; o Legislativo; a dignidade da pessoa do Estado.
humana; os valores sociais do trabalho e da livre ini-
ciativa; o pluralismo político. 9. (CRS – 2017) De acordo com os direitos e garantias
b) A soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa huma- fundamentais previstos na Constituição da República
na; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; o Federativa do Brasil de 1988, assinale a alternativa
pluralismo político. correta:
c) A soberania; a cidadania; a construção de uma socie-
dade livre, justa e solidária; os valores sociais do tra- a) O Estado indenizará o condenado por erro judiciário,
balho e da livre iniciativa; o pluralismo político. assim como o que ficar preso além do tempo fixado
d) A soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa huma- na sentença.
na; os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; a b) Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando
prevalência dos direitos humanos. a lei admitir a prisão preventiva ou a prisão temporária.
c) O Estado prestará assistência jurídica integral e one-
6. (CRS – 2017) Sobre os direitos e garantias fundamen- rosa aos que comprovarem insuficiência de recursos
tais previstos na Constituição da República Federativa logísticos.
do Brasil de 1988 – CRFB/88, assinale a alternativa d) A todos, no âmbito judicial e administrativo, são defe-
correta. sos a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.
a) Ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando
tiver condições de contratar um defensor ou caso não 10. (CRS – 2017) Em relação aos direitos e deveres indi-
tenha condições, será nomeado um defensor público. viduais e coletivos abaixo, previstos na Constituição
b) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon- Federal de 1988, marque “V” para as afirmativas verda-
tre serão comunicados imediatamente ao delegado de deiras e “F” para as falsas e, a seguir, marque a alterna-
Polícia Civil competente e à família do preso ou à pes- tiva que contém a sequência de respostas correta, na
soa por ele indicada. ordem de cima para baixo.
c) O preso tem direito à identificação dos responsáveis
por sua prisão ou por seu interrogatório policial. ( ) Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,
d) O Brasil não admite pena de morte em hipótese em locais abertos ao público, independentemen-
alguma. te de autorização, desde que a reunião não impeça
outra que tenha sido convocada antes para o mesmo
7. (CRS – 2017) A CRFB/88 estabelece que todos são local, não sendo necessário aviso prévio à autoridade
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu- competente.
reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros ( ) Será concedido habeas-data sempre que alguém
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. coação em sua liberdade de locomoção, somente por
Nestes termos, assinale a alternativa CORRETA. abuso de poder.
( ) O Estado indenizará o condenado por erro judicial,
a) Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, assim como o preso que ficar além do tempo fixado
em locais abertos ao público, mediante autorização, na sentença.
DIREITO CONSTITUCIONAL

desde que não frustrem outra reunião anteriormente ( ) Os tratados e convenções internacionais sobre direi-
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido tos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
prévio aviso à autoridade competente. Congresso Nacional, em dois turnos, por dois quintos
b) É assegurado a todos o acesso à informação de segu- dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
rança pública sempre com a indicação da respecti- tes às emendas constitucionais.
va fonte, visando manter a transparência das ações ( ) São direitos do preso, dentre outros, o de permane-
quando necessário ao exercício profissional. cer calado, assistência da família, à identificação dos
c) Não haverá juízo ou tribunal de exceção, ressalvados responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
os casos envolvendo parlamentares. policial.
d) No caso de iminente perigo público, a autoridade com-
petente poderá usar de propriedade particular, asse- a) F, F, F, V, F.
gurada ao proprietário indenização ulterior, se houver b) V, F, V, F, F.
dano. c) V, F, F, F, V.
d) F, F, V, F, V. 227
11. (CRS – 2017) Nas assertivas abaixo, marque “V” se 14. (CRS – 2017) “A”, Policial Militar da ativa, candidatou
for verdadeira ou “F” se for falsa, em relação ao con- ao cargo eletivo de vereador nas eleições municipais
tido na Constituição da República Federativa do Brasil de sua cidade. Para ser considerado alistável e ele-
de 1988 de acordo com os direitos e deveres indivi- gível deverá atender determinadas condições. Com
duais e coletivos. base na Constituição da República Federativa do Bra-
sil de 1988, marque a alternativa correta:
( ) Salvo no caso de flagrante delito, ninguém será sub-
metido a tratamento desumano ou degradante. a) se “A” contar mais de dez anos de serviço, será agrega-
( ) É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assis- do pela autoridade subordinada pelo prazo de 30 dias.
tência religiosa nas entidades civis e militares de inter- b) se “A” for eleito, passará automaticamente, no ato da
nação coletiva. diplomação, para a atividade remunerada.
( ) É inviolável o sigilo da correspondência e das comu- c) “A” não pode candidatar, pois durante o período do ser-
nicações telegráficas, de dados e das comunicações viço na Polícia Militar é considerado conscrito.
telefônicas, salvo, em último caso, por ordem judicial, d) se “A” contar menos de dez anos de serviço, deverá
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para afastar-se da atividade.
fins de investigação criminal ou instrução processual
penal. 15. (CRS – 2017) De acordo com a Constituição da Repú-
( ) No caso de iminente perigo público, a autoridade com- blica Federativa do Brasil de 1988, marque a alternati-
petente poderá usar de propriedade particular, asse- va incorreta:
gurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano. a) A sindicalização e a greve são proibidas ao militar.
b) O militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar
Marque a alternativa que contém a sequência correta filiado a partidos políticos.
de respostas: c) O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
d) Os membros das Forças Armadas são denominados
a) F, V, V, V. policiais militares.
b) V, F, V, V.
c) F, F, V, F. 16. (CRS – 2017) Sobre a Administração Pública, de acor-
d) F, V, V, F. do com o disposto na Constituição da República Fede-
rativa do Brasil/1988, marque a opção incorreta:
12. (CRS – 2017) Conforme a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, em relação aos direitos a) Para efeitos administrativos, a União poderá articular
e deveres individuais e coletivos, marque a alternativa sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e
incorreta: social, visando a seu desenvolvimento e à redução das
desigualdades regionais.
a) A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos b) A investidura em cargo ou emprego público depende
direitos e liberdades fundamentais. de aprovação prévia em concurso público de provas
b) Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem complexidade do cargo ou emprego, na forma pre-
constitucional e o Estado Democrático. vista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
c) A lei penal retroagirá para beneficiar ou aplicar penali- em comissão declarado em lei de livre nomeação e
dade mais gravosa ao réu. exoneração.
d) Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens c) Somente por lei específica poderá ser criada autar-
sem o devido processo legal. quia e autorizada a instituição de empresa pública, de
sociedade de economia mista e de fundação, cabendo
13. (CRS – 2013) De acordo com a Constituição da Repú- à lei complementar, neste último caso, definir as áreas
blica Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º de sua atuação.
e seus incisos que trata dos direitos e deveres indivi- d) Permite-se a vinculação ou equiparação de espécies
duais e coletivos, é correto afirmar que: remuneratórias para o efeito de remuneração de pes-
soal do serviço público.
a) A criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
perativas independem de autorização desde que seu 17. (CRS – 2017) Nos termos da Constituição da Repú-
estatuto de funcionamento esteja em concordân- blica Federativa do Brasil de 1988, marque a resposta
cia com parâmetros de funcionamento do governo incorreta:
estatal.
b) Todos têm direito a receber dos órgãos públicos infor- a) A investidura em cargo ou emprego público depende
mações do seu interesse particular, ou de interesse de aprovação prévia em concurso público de provas
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas a complexidade do cargo ou emprego, na forma pre-
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da socie- vista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
dade e do Estado. em comissão declarado em lei de livre nomeação e
c) A lei penal não retroagirá, salvo para punição do réu. exoneração.
d) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis b) Permite-se a vinculação ou equiparação de espécies
de graça ou anistia a prática da tortura, peculato, o trá- remuneratórias para o efeito de remuneração de pes-
fico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terroris- soal do serviço público.
mo e os definidos como crimes hediondos, por eles c) É garantido ao servidor público civil o direito à livre
respondendo os mandantes, os executores e os que, associação sindical.
228 podendo evitá-los, se omitirem.
d) A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo 9 GABARITO
determinado para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público.
1 C
18. (CRS – 2017) As Forças Armadas, constituídas pela
2 B
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são institui-
ções nacionais permanentes e regulares, organizadas 3 B
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autori-
dade suprema do Presidente da República. Conforme 4 D
CRFB/88 marque a alternativa correta.
5 B
a) As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do ser- 6 C
viço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos,
porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. 7 D
b) Ao militar são permitidas a sindicalização e a greve.
8 C
c) O serviço militar é voluntário nos termos da lei.
d) Os membros das Forças Armadas são denominados 9 A
policiais.
10 D
19. (CRS – 2017) Sobre os aspectos da segurança públi-
11 A
ca, de acordo com a CRFB/88 marque a opção correta.
12 C
a) Às polícias militares cabe, exclusivamente, a polícia
repressiva criminal; aos corpos de bombeiros milita- 13 B
res incumbe a execução de atividades de defesa civil. 14 D
b) Os Municípios poderão constituir guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e insta- 15 D
lações, conforme dispuser a lei.
c) As polícias militares e corpos de bombeiros militares, 16 D
forças complementares do Exército, subordinam-se,
17 B
juntamente com as polícias civis, aos Governadores
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 18 A
d) Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da 19 B
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
20 C
infrações penais, inclusive as militares.

20. (CRS – 2017) De acordo com o disposto na Constitui-


ção da República Federativa do Brasil de 1988, marque
a alternativa correta: ANOTAÇÕES
a) As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército, pela Aeronáutica, pelas Polícias Militares
e Corpos de Bombeiros Militares e pelas Guardas
Municipais são instituições nacionais permanentes e
regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia
dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qual-
quer destes, da lei e da ordem.
b) O oficial somente perderá o posto e a patente e a praça
a graduação, se forem julgados indignos com a car-
reira militar ou com ela incompatível, por decisão de
tribunal militar de caráter excepcional, em tempo de
DIREITO CONSTITUCIONAL

paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra.


c) Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a pre-
servação da ordem pública; aos corpos de bombeiros
militares, além das atribuições definidas em lei, incum-
be a execução de atividades de defesa civil.
d) A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
zado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensi-
vo das rodovias e ferrovias federais.

229
ANOTAÇÕES

230
Defesa, órgão do Governo Federal que exerce a
direção superior das Forças Armadas, a qual é
constituída pelos Comandos da Marinha, do Exér-
cito e da Aeronáutica;

DIREITO PENAL MILITAR


z O “assemelhado” era um servidor civil submetido
a preceitos de disciplina militar em virtude de lei
ou regulamento (Art. 21, CPM) que não existe mais
no universo jurídico desde a edição do Decreto nº
23.203/1947.
DECRETO-LEI Nº 1001, DE 21 DE
O art. 1º, do CPM, possui a mesma redação do art.
OUTUBRO DE 1969 – CÓDIGO PENAL 1º, do CP, e do inciso XXXIX, art. 5º, da CF.
MILITAR
ART. 1º, DO CPM
PARTE GERAL Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem pré-
via cominação legal
Título I: Da Aplicação da Lei Penal Militar ART. 1º, DO CP
Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
O Direito Penal Militar possui legislação específica,
prévia cominação legal.
o CPM (Código Penal Militar – Decreto-Lei nº 1.001, de
21 de outubro de 1969). O referido dispositivo é divi- ART. 5º, XXXIX, DA CF
dido em Parte Geral (Livro Único) e Parte Especial, a Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem pré-
qual se subdivide em Livro I (Dos Crimes Militares via cominação legal;
em Tempo de Paz) e Livro II (Dos Crimes Militares em
Tempo de Guerra). Assim, pode-se conclu ir que está contido o prin-
cípio da Legalidade. Por esse princípio, somente a
União, por meio do Poder Legislativo (ou seja, por
meio de lei), pode definir fato típico e cominar a pena.
Parte Especial
Aplicação da Lei Penal Militar no Tempo
� Crimes Militares em
Parte Geral Tempo de Paz
� Crimes Militares em O princípio da Anterioridade também está presen-
Tempo de Guerra te na legislação em estudo. Além de definir o delito e
cominar a pena, a lei deve estar em vigor antes de o
agente praticar a conduta delitiva. Então, assim como
no Código Penal, o CPM afirma que ninguém pode ser
punido por fato que lei posterior deixa de considerar
Muitas teorias e conceitos presentes nessa legis- crime (abolitio criminis – lei supressiva de incrimina-
lação são semelhantes àqueles presentes no direito ção), cessando, em virtude dela, a própria vigência de
penal (aqui, iremos chamar de direito penal comum, sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos
a fim de diferenciar do direito penal militar). Em con- efeitos de natureza civil.
trapartida, deve-se ter atenção aos tipos penais que Ademais, a lei penal militar, em regra, não retroa-
ge. No entanto, cabe uma exceção: quando nova lei
estão previstos somente no CPM e, também, deve-se
penal retroagir, para beneficiar o réu.
identificar as circunstâncias imprescindíveis, para
que um crime, possuindo idênticas definições na
legislação penal comum e na lei penal militar, seja de
Importante!
competência da Justiça Militar.
Ademais, é importante conhecer as semelhanças e Quando se trata de novatio legis in pejus, a lei
as diferenças entre a Justiça Militar da União e a Jus- não retroage. Porém, no caso de novatio legis in
tiça Militar Estadual, as quais competem, respectiva- mellius, a lei retroage por beneficiar o réu.
mente, o julgamento dos seguintes acusados:

JUSTIÇA MILITAR DA JUSTIÇA MILITAR Aprecia-se a nova lei penal militar, nos casos con-
UNIÃO ESTADUAL cretos, para verificar se a lei posterior é realmente
DIREITO PENAL MILITAR

benéfica ao réu. Por exemplo, se a nova lei reduzir o


Marinha
mínimo e o máximo da pena em abstrato e majorar
Exército Polícia Militar
o aumento de pena para as qualificadoras do crime,
Aeronáutica Bombeiro Militar
Civis apreciam-se as circunstâncias para concluir sobre a
retroatividade da lei. Faz-se uma análise, para saber o
que será mais benéfico ao réu.
Vale frisar que todos os tipos penais contidos no
CPM são de competência de julgamento da Justiça Cas- z Pena: reclusão de 3 a 8 anos;
trense (militar). Além disso, o referido dispositivo faz
referência a dois conceitos que merecem destaque: Reduz

z O Ministério ao qual o militar pertence deve ser z Pena: reclusão de 2 a 6 anos;


entendido como um “Comando”, visto que, a par-
tir de 1999, foi criado o Ministério de Estado da z A pena é aumentada de 1/6 até 1/3; 231
Majora A doutrina do direito penal comum exemplifi-
ca, por meio do art. 1º, da Lei nº 2.889/1956 (crime
z A pena é aumentada de 1/3 até 1/2. de Genocídio) que traz, no preceito secundário, que
a pena para o agente que matar membro de grupo
No caso de leis excepcionais ou temporárias, a lei nacional, étnico, racial ou religioso (prevista no art.
penal militar é ultra ativa. Isso significa que a lei pode 121, § 2º, do CP) é de reclusão de 12 a 30 anos.
manter seus efeitos de regular acontecimento ocor- Do Direito Penal Militar, um exemplo de norma
rido durante sua vigência, mesmo que os fatos estão penal em branco ao inverso que pode ser citado é,
sendo apurados após a sua revogação. novamente, o art. 290, do CPM. O preceito secundá-
As leis temporárias são as que entram em vigor rio desse artigo é a pena abstrata de reclusão de até
após a publicação e são revogadas em data preestabe- 5 anos. Já o complemento encontra-se no art. 58, do
lecida. Vejamos um exemplo: próprio CPM, o qual estabelece que o mínimo da pena
Lei Geral da Copa – Lei nº 12.663, de 5 de junho de de reclusão é de 1 ano.
2012
A Entrada em Vigor da Lei Penal Militar e seu
Os tipos penais previstos neste Capítulo terão Período de Vigência
vigência até o dia 31 de dezembro de 2014.
Conforme vimos, a lei não retroage, exceto em
Utilização Indevida de Símbolos Oficiais benefício ao réu. No entanto, cabe, aqui, um questio-
namento: quando se considera o tempo do crime?
Art. 30 Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar Pois bem, considera-se o tempo do crime o momen-
indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titu- to da conduta correspondente à ação (teoria da ativi-
laridade da FIFA: dade) ou à omissão. Nos crimes de ação (comissivos),
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou
como no Homicídio, o tempo do crime é o momento
multa.
em que o agente efetua os disparos contra a vítima. Já
Já as leis excepcionais possuem apenas data de no Estelionato, por exemplo, é quando o agente ilude
início da entrada em vigor, sendo a data da revoga- a vítima para obter vantagem ilícita. Nos crimes omis-
ção correspondente ao fim da situação excepcional. sivos, o fato é considerado praticado no lugar em que
Um exemplo seria o Livro II, da Parte Especial do CPM deveria realizar-se a ação omitida, por exemplo, na
(Crimes Militares em Tempo de Guerra). Trata-se de Omissão de Socorro. O lugar do crime é aquele em que
uma lei que entra em vigor com a declaração da guer- se iniciou a execução da conduta criminosa.
ra e é revogada com o fim das atividades beligerantes. Há, ainda, os crimes omissivos impróprios. O CPM
Ainda sobre a aplicação da lei penal militar no adotou, nesses casos, a teoria normativa, hipótese
tempo, há a norma penal militar em branco. Essa em que o agente está obrigado a agir, para impedir o
norma necessita de complementação para efetivar o resultado, assumindo, assim, a condição de garantidor
preceito primário do tipo penal. Ela pode ser em sen- (garante). Não é qualquer pessoa que está obrigada a
tido lato ou homogênea, quando o complemento pro- agir para evitar o resultado, mas, sim, aquelas que
vém da mesma fonte material que a norma penal, ou estão nas situações previstas na norma. São exemplos:
pode ser em sentido estrito ou heterogênea, quando se o médico militar, que tem por obrigação de cuidado
busca o complemento em fonte material de natureza garantir que não haja o resultado morte, e o salva-vi-
diversa da norma penal. das, como garantidor de banhistas.
É exemplo de norma penal em branco em sentido
lato ou homogênea o crime de Desobediência: Aplicação da Lei Penal Militar no Espaço

Art. 301 (CPM) Desobedecer a ordem legal de auto- Considera-se praticado o crime no momento da
ridade militar. ação ou da omissão, no todo ou em parte, ainda que
Art. 22 (CPM) É considerada militar, para efeito da sob forma de participação, bem como o lugar onde se
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em produziu ou deveria se produzir o resultado.
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às for- Neste sentido, é possível identificar que o CPM ado-
ças armadas, para nelas servir em posto, gradua- tou a teoria mista ou da ubiquidade para os crimes
ção, ou sujeição à disciplina militar. comissivos, ou seja, o lugar em que se desenvolveu o fato
pode ser tanto o lugar do início da execução como aquele
Um exemplo de norma penal em branco em senti- em que ocorreu o resultado ou deveria ter ocorrido.
do estrito ou heterogênea é o art. 290, do CPM. Ainda, a norma adotou a teoria da atividade para
os crimes omissivos, pois considera praticado o crime
Art. 290 Receber, preparar, produzir, vender, forne-
no lugar em que deveria realizar-se a conduta omitida.
cer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, trans-
portar, trazer consigo, ainda que para uso próprio,
guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a Tempo do crime
consumo substância entorpecente, ou que determine
dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à Art. 5º Considera-se praticado o crime no momen-
administração militar, sem autorização ou em desa- to da ação ou omissão, ainda que outro seja o do
cordo com determinação legal ou regulamentar. resultado.

z Complemento: Portaria nº 344, de 12 de maio de Lugar do crime


1998, que aprova o regulamento técnico sobre subs-
tâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar em que se
desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte,
Há, ainda, norma penal em branco ao inverso e ainda que sob forma de participação, bem como onde
(avesso ou revés) quando o complemento é necessário se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos cri-
para integrar o preceito secundário, ou seja, a pena mes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar
232 em abstrato. em que deveria realizar-se a ação omitida.
LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO Consideram-se, como extensão do território nacio-
nal, as aeronaves e os navios do país, onde quer que se
Teoria Mista ou da Ubiquidade Teoria da Atividade encontrem, sob comando militar ou militarmente uti-
Crimes Comissivos Crimes Omissivos lizados ou, ainda, ocupados por ordem legal de autori-
dade competente, ainda que de propriedade privada.
Considerando o fato de o agente poder ser proces-
Dica sado ou ter sido julgado pela justiça estrangeira, não
podemos esquecer que a homologação da decisão
L ugar
estrangeira deve ser feita pelo Superior Tribunal de
U biquidade Justiça (STJ), conforme art. 101, I, i, da CF. A pena cum-
T empo prida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil
A tividade pelo mesmo crime quando diversas, ou nela é compu-
tada quando idênticas.
Outro ponto a ser tratado como aplicação da lei
penal militar no espaço versa sobre a territorialida- TÍTULO II: DO CRIME
de e a extraterritorialidade. O CP adota, como regra,
o princípio da territorialidade e o CPM, o princípio
Os crimes militares estão definidos no CPM, sendo
da extraterritorialidade, uma vez que se aplica a lei que, em tempo de paz, as circunstâncias estão descri-
penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e tas no art. 9º e, em tempo de guerra, no art. 10 do CPM.
regras de direito internacional, ao crime cometido, no Aqui, cabe-nos uma pergunta: o que é crime?
todo ou em parte, no território nacional ou fora dele, Guilherme de Souza Nucci, em sua obra “Código
ainda que, nesse caso, o agente esteja sendo processa- Penal Militar Comentado”, de 2014, conceitua crime
do ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira. como conduta lesiva a bem juridicamente tutelado,
A doutrina justifica a adoção do princípio da extra- merecedora de pena devidamente prevista em lei.
territorialidade ao direito penal militar pelo fato de os O conceito formal desdobra-se no analítico, para o
militares atuarem em missões de manutenção da paz qual o crime é um fato típico, antijurídico (ou ilícito)
ou outras atividades fora do território nacional. e culpável. A punibilidade não é elemento do delito,
mas somente um dado fundamental para assegurar a
CÓDIGO PENAL
aplicação efetiva da sanção penal.
Princípio da Territorialidade O citado autor afirma, ainda, que a corrente tripar-
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tida (fato típico, antijurídico e culpável) é amplamente
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido majoritária na doutrina brasileira, abrangendo causa-
no território nacional. listas, finalistas e funcionalistas. Vale dizer que a ótica
§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do bipartida (fato típico e antijurídico, sendo a culpabili-
território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de na- dade um pressuposto de aplicação da pena), de fundo
tureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que
finalista, teve o seu apogeu nos anos 80, experimen-
se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasi-
leiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, res-
tando um declínio acentuado de lá para a atualidade.
pectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. Comparemos as duas correntes:
§ 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a
bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de proprieda- TRIPARTIDA BIPARTIDA
de privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional
ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou
Fato típico
Fato típico
mar territorial do Brasil. Antijurídico
Antijurídico
Culpável

CÓDIGO PENAL MILITAR


O crime possui a figura do sujeito ativo e do sujeito
Princípio da Extraterritorialidade
passivo.
Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de conven- O sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta
ções, tratados e regras de direito internacional, ao crime co- descrita pelo tipo penal. Não é contemplada, na seara
metido, no todo ou em parte no território nacional, ou fora dele,
penal militar, a discussão sobre a possibilidade de a
ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou
tenha sido julgado pela justiça estrangeira.
pessoa jurídica ser sujeito ativo em crime ambiental
Território Nacional por Extensão (NUCCI, 2014).
§ 1° Para os efeitos da lei penal militar consideram-se como O sujeito passivo é o titular do bem jurídico pro-
extensão do território nacional as aeronaves e os navios bra- tegido pelo tipo penal incriminador, que foi violado.
sileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militar ou Divide-se em sujeito passivo formal (ou constante),
DIREITO PENAL MILITAR

militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autori- que é o titular do interesse jurídico de punir que sur-
dade competente, ainda que de propriedade privada. ge com a prática da infração penal. É sempre o Esta-
Ampliação a Aeronaves ou Navios Estrangeiros
§ 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado
do. O sujeito passivo material (ou eventual) é o titular
a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em do bem jurídico diretamente lesado pela conduta do
lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as agente (NUCCI, 2014).
instituições militares.
Conceito de navio z Sujeito Ativo;
§ 3º Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio z Sujeito Passivo;
toda embarcação sob comando militar.
„ Formal ou Constante: titular do interesse jurí-
Entendem-se, por território, o solo, o subsolo, as dico de punir;
águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo „ Material ou Eventual: titular do bem jurídico
onde o Estado exerce a sua soberania. diretamente lesado. 233
Para que a conduta seja tipificada como crime § 2º A omissão é relevante como causa quando o
militar, é necessária a realização de análise em razão: omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
O dever de agir incumbe a quem tenha por lei obri-
z Da matéria (ratione materiae): o bem jurídico que gação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem,
é protegido pela lei penal e que é lesado ou posto de outra forma, assumiu a responsabilidade de
em perigo pela ação delituosa; impedir o resultado; e a quem, com seu comporta-
mento anterior, criou o risco de sua superveniência.
z Do local (ratione loci): não importa a condição do
agente e do sujeito passivo, o fato é considerado
militar se for praticado em local sujeito à adminis- Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
tração militar; resultado não teria ocorrido. Para tratar da relação de
z Da pessoa (ratione personae): pressupõe militar o causalidade, estudaremos duas teorias: a teoria cau-
delito praticado por militar, sem outras condições; sal ou naturalista e a teoria finalista da ação.
z Do tempo (ratione temporis): se for praticado em Sobre a teoria causal ou naturalista, Mirabete
tempo de guerra; afirma que “[…] basta a certeza de que o agente atuou
z Da função (propter officium): o fato criminoso é voluntariamente, sendo irrelevante o que queria, para
considerado ilícito militar se o agente, ainda que se afirmar que praticou a ação típica”. Percebe-se,
fora do horário de serviço, praticá-lo em razão da então, que há um vínculo entre a conduta do agente
função. e o resultado ilícito.
Para essa teoria, o dolo e a culpa não integram o
crime (os conceitos de dolo e culpa serão melhor abor-
Diante das razões, é oportuno distinguir, por meio
dados no tópico sobre crime), prevalecendo a vontade
de simples definição, o que se entente por civil e o que
de fazer ou não do indivíduo, sendo irrelevante o que
se entende por militar:
o agente queria.
Já com relação à teoria finalista da ação, Heleno
z Civil é o cidadão. Ele representa todas as pessoas
Fragoso entende que é “… comportamento humano
que não fazem parte das forças armadas do seu
voluntário conscientemente dirigido a um fim. Crime
país, ou seja, que não são militares (Direito Inter-
nada mais é que atividade humana”. Deve-se observar,
nacional Humanitário);
aqui, a intenção e a finalidade objetiva do autor para
z Militar é relativo à guerra, às Forças Armadas, à
que possa lhe imputar a conduta.
sua organização e às suas atividades.
Para essa teoria, a ação ou a omissão combinada
com o dolo e com a culpa são os elementos para a com-
Os membros das Forças Armadas, em razão de
posição da conduta.
sua destinação constitucional, formam uma categoria
Diante do exposto, cabem-nos outras perguntas:
especial de servidores da Pátria e são denominados
qual a teoria adotada no Código Penal?
militares, como descreve o art. 3º, da Lei nº 6.880/1980
Antes da reforma do CP (Parte Geral, Lei nº
– Estatuto dos Militares.
7.209/1984), o dolo encontrava-se na culpabilidade
propriamente dita. Após a efetuação da mesma, o dolo
MILITAR DA ATIVA MILITAR INATIVO passou a ser um elemento constitutivo do tipo penal
De Serviço Reserva (Art. 18, I, do CP).
Qual a teoria adotada no CPM?
De Folga Reformado O CPM não foi alterado com a reforma de 1984.
Nele, o dolo e a culpa não integram o fato típico, mas,
sim, a culpabilidade, consoante o seu art. 33. Portan-
Deve-se ler com atenção o disposto no art. 12, CPM:
to, o CPM adota a teoria causalista neoclássica da
culpabilidade.
Equiparação a militar da ativa
Pode-se trabalhar com a doutrina finalista da ação,
sendo o CPM causalista?
Art. 12 O militar da reserva ou reformado, empre-
Conforme Enio Luiz Rossetto, a sistematização de
gado na administração militar, equipara-se ao
militar em situação de atividade, para o efeito da conceitos extraídos de um programa de política crimi-
aplicação da lei penal militar. nal permite aplicar a teoria finalista da ação no CPM,
que está formalizada em lei e a construção dogmática
Nexo de Causalidade é transcendente à letra da lei. A adoção da teoria psi-
cológico-normativa da culpabilidade, com o dolo e a
O art. 29, do CPM, diz que o resultado de que culpa no conceito de culpabilidade, não obsta à apli-
depende a existência do crime somente é imputável a cação de dogmas finalistas ao conceito causal da ação.
quem lhe deu causa. O CPM permite a aplicação de qual teoria sobre o
autor?
Relação de causalidade Enio Luiz Rossetto ensina que o CPM não adota
a teoria finalista, sem que isso signifique, definitiva-
Art. 29 O resultado de que depende a existência do mente, a adoção da teoria do domínio do fato. O Códi-
crime sòmente é imputável a quem lhe deu causa. go Castrense permite a punição de cada concorrente
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o segundo sua culpabilidade, agrava a pena daquele
resultado não teria ocorrido. que promove ou organiza a cooperação do crime ou
§ 1º A superveniência de causa relativamente inde- dirige a atividade dos demais agentes, do cabeça e
pendente exclui a imputação quando, por si só, pro- daquele que instiga ou determina a cometer o crime
duziu o resultado. Os fatos anteriores, imputam-se, alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em
234 entretanto, a quem os praticou. virtude de condição ou qualidade pessoal.
Neste sentido, o CPM adota a teoria subjetiva z Tentativa perfeita (crime falho): é quando a consu-
causal ou extensiva. Para essa teoria (vide texto do mação não ocorre, apesar de ter o agente praticado
art. 53, do CPM), a pena para o autor (ou coautor) e os atos necessários à produção do evento (ex.: vítima
partícipe pode ser a mesma. de envenenamento é salva por intervenção médica);
Como a doutrina aponta, há certos casos em que a z Tentativa imperfeita: ocorre quando o agente
participação é tão tênue que a aplicação da pena igual não consegue praticar todos os atos necessários
para autor e partícipe mostra-se extremamente injus- à consumação por interferência externa (ex.: o
ta. Sendo assim, o CPM, na mesma linha que o Código agente é segurado quando está desferindo golpes
Penal, possibilita a aplicação de pena diferente. de faca contra a vítima).
Observa-se que o art. 53, § 3º, do CPM, não define
participação de menos importância, ficando ao arbí-
Quando se estuda a tentativa, deve-se ter mui-
trio do juiz (conselho de justiça). Também não define
to cuidado para não a confundir com a desistência
o quantum para a redução da pena, devendo-se utili-
voluntária ou com o arrependimento eficaz. Vejamos:
zar o art. 73, do CPM, que fixa entre um terço (redução
máxima) e um quinto (redução mínima) – redução
Art. 31 O agente que, voluntariamente, desiste de
máxima e mínima genérica.
prosseguir na execução ou impede que o resultado
se produza, só responde pelos atos já praticados.
z Podem ter a mesma pena:
z Desistência voluntária: o agente, voluntariamen-
„ Autor;
„ Coautor; te, desiste de prosseguir na execução;
„ Partícipe. z Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente,
tendo praticado todos os atos necessários e sufi-
A respeito do crime militar, vejamos o que dispõe cientes para que advenha o resultado, pratica,
o art. 30. também, atos que o impedem.

Art. 30 Diz-se o crime: Vale frisar que o agente só responderá pelos atos
I - Consumado, quando nele se reúnem todos os ele- já praticados. Por exemplo, se o agente deseja matar
mentos de sua definição legal; a vítima, mas, após executar a conduta, impede que
II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se o resultado morte aconteça, responderá por lesão
consuma por circunstâncias alheias à vontade do corporal.
agente.
No Código Penal Militar, há previsão de crime
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena
impossível?
correspondente ao crime, diminuída de um a dois
terços, podendo o juiz, no caso de excepcional gra- Sim. O crime impossível está previsto no art. 32,
vidade, aplicar a pena do crime consumado. do CPM.

É importante saber o momento da consumação Art. 32 Quando, por ineficácia absoluta do meio
dos crimes: materiais, de mera conduta e formais. empregado ou por absoluta impropriedade do obje-
Nos crimes materiais, de ação e resultado, o to, é impossível consumar se o crime, nenhuma
momento consumativo é o da produção deste (ex.: pena é aplicável.
homicídio com a morte da vítima; o aborto com a mor-
te do feto). Nos crimes de mera conduta, em que o Observe que, para ser crime impossível, é necessário:
tipo não faz menção ao resultado, a consumação se dá
com a simples ação (ex.: violação de domicílio, simples z Ineficácia absoluta do meio: impossibilidade de
entrada). Já nos crimes formais, existe o resultado, o instrumento utilizado consumar o delito de qual-
mas a lei não o exige para a consumação (ex.: extorsão quer forma (ex.: usar um alfinete para matar uma
mediante sequestro – não é necessário o aferimento pessoa adulta; um sujeito que deseja matar a víti-
da vantagem para que o crime esteja consumado; o ma por meio de ato de magia ou bruxaria);
arrebatamento da vítima caracteriza o crime). z Absoluta impropriedade do objeto: a conduta do
agente não é capaz provocar qualquer resultado
z CRIMES MATERIAIS, DE AÇÃO E RESULTADO lesivo à vítima (ex.: matar um cadáver).

„ Produção do resultado; Ineficácia Absoluta do meio:


„ Homicídio com a morte da vítma.
DIREITO PENAL MILITAR

impossibilidade de o instru-
mento utilizado consumar o
z CRIMES DE MERA CONDUTA delito de qualquer forma
CRIME IMPOSSÍVEL Absoluta Impropriedade do
„ Simples ação;
Objeto: a conduta do agen-
„ Violação de domicílio.
te não é capaz de provocar
qualquer resultado lesivo à
z CRIMES FORMAIS
vítima
„ Não exige a consumação;
„ Extorsão mediante sequestro. Sobre o crime impossível, o CPM adota a Teoria
Objetiva Temperada: se houver ineficácia relativa
Sobre a tentativa, é importante lembrar que há a do meio e relativa impropriedade do objeto, haverá
tentativa perfeita e a tentativa imperfeita. tentativa. 235
Com relação à culpabilidade, vejamos o que dispõe O Código Penal Militar adota a previsibilidade
o art. 33, do CPM: subjetiva, ou seja, o homo medius. A previsibilidade
subjetiva diz que o agente que, deixando de empregar
Art. 33 Diz-se o crime: a diligência ordinária ou especial a que estava obri-
I – Doloso, quando o agente quis o resultado ou gado, segundo as aptidões, poder pessoal e circuns-
assumiu o risco de produzi-lo; tâncias, não prevê o resultado que podia prever e dá
II – Culposo, quando o agente, deixando de empre- causa ao resultado (homem médio).
gar a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou
especial, a que estava obrigado em face das circuns-
Dolo eventual: o agente tem
tâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
a previsão do resultado e
prevendo o supõe levianamente que não se realiza-
consente na sua produção,
ria ou que poderia evitá-lo.
não desiste, prefere se ar-
DOLO EVENTUAL riscar a interromper a sua
Dolo × ação.
CULPA CONSCIENTE
O dolo é quando o agente quis o resultado ou assu- Culpa consciente: o agen-
miu o risco de produzi-lo. te tem a previsão do resul-
tado e supõe que não se
realizará.
z Elementos do dolo:

„ Consciência da conduta e do resultado; Agora, para sabermos se o crime é militar, além


„ Consciência da relação causal objetiva entre a de tudo que vimos até agora, devemos analisar se a
conduta e o resultado; conduta está inserida em uma das hipóteses dispos-
„ Vontade de realizar a conduta e de produzir o tas no art. 9º do CPM. Assim, é possível identificar se
resultado. determinado crime é de natureza militar ou comum.
Vejamos:
O dolo pode ser direto, indireto alternativo ou indi-
reto eventual. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo
de paz:
z Dolo direto: o agente quer o resultado; I – os crimes de que trata este Código, quando defi-
z Dolo indireto alternativo: quer um ou outro nidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela
resultado previsto; não previstos, qualquer que seja o agente, salvo dis-
z Dolo indireto eventual: não quer diretamente o posição especial;
resultado, mas assume o risco.
Ato Obsceno
Culpa
Art. 238 (CPM) Praticar ato obsceno em lugar sujei-
A culpa é quando o agente, deixando de empregar to à administração militar.
Art. 233 (CP) Praticar ato obsceno em lugar públi-
a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou especial,
co, ou lugar aberto, ou exposto ao público.
a que estava obrigado em face das circunstâncias, não
prevê o resultado que podia prever (Inconsciente) ou,
Desobediência
prevendo-o supõe, levianamente, que não se realiza-
ria ou que poderia evitá-lo (Consciente).
Art. 301(CPM) Desobedecer a ordem legal de auto-
ridade militar.
z Culpa inconsciente: não prevê o resultado que
Art. 330 (CP) Desobedecer a ordem legal de funcio-
podia prever;
nário público.
z Culpa consciente: prevendo-o supõe, levianamen-
te, que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
Autoridade Militar
Quando se estuda a culpa, não se pode deixar Art. 22(CPM) É considerada militar, para efeito da
de lado os conceitos de imprudência, negligência e aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em
imperícia. tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às for-
ças armadas, para nelas servir em posto, gradua-
z Imprudência: o agente que, deixando de empre- ção, ou sujeição à disciplina militar.
gar a atenção a que estava obrigado pelas circuns-
tâncias, não prevê o resultado que podia prever e Funcionário Público:
dá causa ao resultado, desatenção (ex.: militar que
dirige veículo automotor em alta velocidade); Art. 327 (CP) Considera-se funcionário público, pa-
z Negligência: o agente que, deixando de empregar ra os efeitos penais, quem, embora transitoriamen-
a atenção a que estava obrigado pelas circunstân- te ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
cias, não prevê o resultado que podia prever e dá função pública.”
causa ao resultado, desatenção (ex.: militar que
limpa a arma carregada na proximidade de outros Embriaguez em Serviço:
militares);
z Imperícia: falta de conhecimento técnico no exer- Art. 202 Embriagar-se o militar, quando em servi-
236 cício da profissão – o CPM não cuida da imperícia. ço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo.
Dormir em Serviço c) por militar em serviço ou atuando em razão da
função, em comissão de natureza militar, ou em
Art. 203 Dormir o militar, quando em serviço, como formatura, ainda que fora do lugar sujeito à admi-
oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equi- nistração militar contra militar da reserva, ou
valente, ou, não sendo oficial, em serviço de senti- reformado, ou civil;
nela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda
ou em qualquer serviço de natureza semelhante. z Sujeito ativo: militar da ativa;
z Circunstância: serviço, razão da função, comis-
Insubmissão são, formatura;
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à reformado.
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado,
ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi-
d) por militar durante o período de manobras ou
cial de incorporação:
exercício, contra militar da reserva, ou reformado,
Pena – impedimento, de três meses a um ano.”
ou assemelhado, ou civil;
E se o crime estiver tipificado no CPM e no CP ou
z Sujeito ativo: militar da ativa;
em outra lei penal?
z Circunstância: período de manobras;
Observe os exemplos a seguir:
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
reformado.
Furto Simples (CPM):
e) por militar em situação de atividade, ou asseme-
Art. 240 Subtrair, para si ou para outrem, coisa
lhado, contra o patrimônio sob a administração
alheia móvel:
militar, ou a ordem administrativa militar.
Pena – reclusão, até seis anos.

z Sujeito ativo: militar da ativa;


Furto (CP):
z Sujeito passivo: patrimônio sob à administração
Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa militar, ordem administrativa militar.
alheia móvel:
Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Há casos em que os crimes poderão ser cometidos
pelos militares da reserva, ou reformados, ou ainda
Homicídio Simples (CPM): por civil. Sobre esses, deve-se estar atento ao previsto
no art. 9º, III, do CPM.
Art. 205 Matar alguém:
Pena – reclusão, de seis a vinte anos. III – Os crimes praticados por militar da reserva,
ou reformado, ou por civil, contra as institui-
Homicídio Simples (CP): ções militares, considerando se como tais não só os
compreendidos no inciso I, como os do inciso II nos
Art. 121 Matar alguém: seguintes casos:
Pena – reclusão, de seis a vinte anos. a) contra o patrimônio sob a administração militar,
ou contra a ordem administrativa militar;
Essa pergunta é fácil de responder. Independente-
mente do crime, deve-se recorrer ao art. 9, II, do CPM: z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar re-
formado;
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo z Sujeito passivo: patrimônio sob à administração
de paz: militar, ordem administrativa militar.
II - os crimes previstos neste Código e os previstos
na legislação penal, quando praticados: b) em lugar sujeito à administração militar contra
a) por militar em situação de atividade ou asse- militar em situação de atividade ou assemelhado,
melhado contra militar da mesma situação ou ou contra funcionário de Ministério militar ou da
assemelhado; Justiça Militar, no exercício de função inerente ao
seu cargo;
z Sujeito ativo: militar da ativa;
z Sujeito passivo: militar da ativa. z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar
reformado;
DIREITO PENAL MILITAR

Obs.: o termo assemelhado (Art. 21, do CPM) não z Circunstâncias: lugar sujeito à administração
existe mais no universo jurídico desde a edição do militar;
Decreto nº 23.203/1947. z Sujeito passivo: militar da ativa, funcionário de
ministério militar ou justiça militar no exercício
b) por militar em situação de atividade ou asseme- de função.
lhado, em lugar sujeito à administração militar,
contra militar da reserva, ou reformado, ou asse- c) contra militar em formatura, ou durante o perío-
melhado, ou civil; do e prontidão, vigilância, observação, explora-
ção, exercício, acampamento, acantonamento ou
z Sujeito ativo: militar da ativa; manobras;
z Circunstância: lugar sujeito à administração militar;
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar
reformado. reformado; 237
z Circunstâncias: formatura, prontidão, vigilância, definido apenas no Código Penal Militar e que somen-
observação, exploração, acampamento, acantona- te civil pode ser agente, conforme tipificado no art.
mento, manobras; 183, do CPM. Vejamos:
z Sujeito passivo: militar.
Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à
d) ainda que fora do lugar sujeito à administra- incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado,
ção militar, contra militar em função de natureza ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi-
militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, cial de incorporação.
garantia e preservação de ordem pública, adminis-
trativa ou jurídica, quando legalmente requisitado Crime impropriamente militar é aquele que,
para aquele fim, ou em obediência à determinação apesar de estar tipificado no Código Penal Militar,
legal superior. pode ser agente militar ou civil. Como exemplos,
pode-se citar os crimes de lesão corporal, estelionato,
z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar re- dentre outros.
formado;
z Sujeito passivo: militar em função de nature- Excludente de Ilicitude
za militar, desempenhando serviço de vigilância
quando legalmente requisitado ou em obediência Ilicitude ou antijuridicidade é a contrariedade de
à determinação legal superior. uma conduta com o direito, causando lesão a um bem
jurídico protegido.
Os parágrafos do art. 9, do CPM, foram alterados O art. 42, do CPM, afirma que não há crime quando
pela Lei nº 13.491/2017. Vejamos: o agente pratica o fato em:

Art. 9º [...] � Estado de necessidade;


§ 1º Os crimes de que trata este artigo (artigo 9), z Legítima defesa;
quando dolosos contra a vida e cometidos por mili- z Estrito cumprimento do dever legal;
tares contra civil, serão da competência do Tribu-
z Exercício regular de direito.
nal do Júri.
§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolo-
sos contra a vida e cometidos por militares das For- Ainda, é afirmado, no parágrafo único desse mes-
ças Armadas contra civil, serão da competência da mo artigo, que não há crime quando o comandante de
Justiça Militar da União, se praticados no contexto: navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem perigo ou grave calamidade, compele os subalternos,
estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo por meios violentos, a executar serviços e manobras
Ministro de Estado da Defesa; urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o
II – de ação que envolva a segurança de instituição desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta
militar ou de missão militar, mesmo que não beli- ou o saque.
gerante; ou
III – de atividade de natureza militar, de operação Art. 42 Não há crime quando o agente pratica o
de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribui- fato:
ção subsidiária, realizadas em conformidade com I – em estado de necessidade;
o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na II – em legítima defesa;
forma dos seguintes diplomas legais: III – em estrito cumprimento do dever legal;
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código IV – em exercício regular de direito.
Brasileiro de Aeronáutica; Parágrafo único – Não há igualmente crime quan-
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999 do o comandante de navio, aeronave ou praça de
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - guerra, na iminência de perigo ou grave calamida-
Código de Processo Penal Militar; e de, compele os subalternos, por meios violentos, a
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código executar serviços e manobras urgentes, para salvar
Eleitoral. a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a
desordem, a rendição, a revolta ou o saque
z Compete à justiça militar processar e julgar os cri-
mes propriamente militares e os impropriamente O próprio Código Penal Militar define estado de
militares; necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do
z São julgados, pela Justiça Militar da União, os mili- dever legal e exercício regular do direito. Vejamos:
tares das Forças Armadas (Marinha, Exército e
Aeronáutica) e civis; ESTADO DE NECESSIDADE
z A Justiça Militar dos Estados julga os integrantes
Art. 43 Considera-se em estado de necessidade quem
da Polícia Militar e Corpo de Bombeiro Militar,
pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de
exceto os crimes dolosos contra a vide de civil.
perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de
outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua
Apesar de a Lei não definir e nem listar quais são
natureza e importância é consideravelmente inferior ao
os crimes propriamente militares e os impropriamen-
mal evitado, e o agente não era legalmente obrigado a
te militares, é importante saber diferenciá-los.
arrostar o perigo.
De acordo com a doutrina majoritária, o crime
propriamente militar é aquele definido somente no LEGÍTIMA DEFESA
Código Penal Militar e que apenas pode ser praticado Art. 44 Entende-se em legítima defesa quem, usando
por militar (ex.: dormir em serviço; deserção). Toda- moderadamente dos meios necessários, repele injusta
via, é bom lembrar que a insubmissão é um crime agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
238
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL circunstâncias legais (ex.: Capitão do Exército Brasilei-
ro condenado por roubo à pena de reclusão de quatro
Não há crime quando o agente pratica o fato em estrito
anos (pena principal) e indignidade com o oficialato
cumprimento de dever legal, como no caso do oficial de
(pena acessória).
justiça que apreende bens a penhora, ou militar que efe-
tua uma prisão em flagrante, ou, ainda, quando ocorre
Art. 242, do CPM
o fuzilamento do condenado pelo executor no caso de Crime de roubo Art. 100, do CPM
pena de morte. Capitão
simples Indignidade para
(Oficial)
Pena: reclusão o oficialato
EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO de quatro anos
Não há crime quando o agente pratica o fato no exercí-
cio regular de direito, como na recusa em depor em juízo
De acordo com o disposto no art. 55, do CPM, as
por parte de quem tem o dever legal de sigilo, na inter-
penas principais são:
venção cirúrgica ou na violência esportiva, desde que
respeitadas, respectivamente, as regras da atividade ou
Art. 55 As penas principais são:
profissão. a) morte;
b) reclusão;
TÍTULO IV: DO CONCURSO DE AGENTES c) detenção;
d) prisão;
Co-autoria e) impedimento;
f) suspensão do exercício do pôsto, graduação, car-
Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o go ou função;
crime incide nas penas a êste cominadas. g) reforma.
Condições ou circunstâncias pessoais
§ 1º A punibilidade de qualquer dos concorrentes Pena de Morte
é independente da dos outros, determinando-se
segundo a sua própria culpabilidade. Não se comu- Art. 56 A pena de morte é executada por fuzilamento
nicam, outrossim, as condições ou circunstâncias
de caráter pessoal, salvo quando elementares do Exemplo: Sargento da Marinha, no teatro de opera-
crime. ções, local de conflito armado (guerra), pratica homi-
Agravação de pena
cídio qualificado, ao matar, por asfixia, outro militar
§ 2° A pena é agravada em relação ao agente que:
da Marinha do Brasil.
I - promove ou organiza a cooperação no crime ou
dirige a atividade dos demais agentes;
II - coage outrem à execução material do crime; Art. 400 Praticar homicídio, em presença do inimigo.
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém […]
sujeito à sua autoridade, ou não punível em virtude III – no caso do § 2º do artigo 205.
de condição ou qualidade pessoal; Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos,
IV - executa o crime, ou nêle participa, mediante grau mínimo.
paga ou promessa de recompensa.
Atenuação de pena Homicídio Simples
§ 3º A pena é atenuada com relação ao agente, cuja
participação no crime é de somenos importância. Art. 205 Matar alguém:
Cabeças Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 4º Na prática de crime de autoria coletiva neces-
sária, reputam-se cabeças os que dirigem, provo- Homicídio Qualificado
cam, instigam ou excitam a ação.
§ 5º Quando o crime é cometido por inferiores e um § 2º Se o homicídio é cometido:
ou mais oficiais, são êstes considerados cabeças, I - por motivo fútil;
assim como os inferiores que exercem função de II - mediante paga ou promessa de recompensa, por
oficial. cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou
por outro motivo torpe;
Casos de impunibilidade III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo,
explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
Art. 54. O ajuste, a determinação ou instigação e cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
o auxílio, salvo disposição em contrário, não são IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou
puníveis se o crime não chega, pelo menos, a ser mediante outro recurso insidioso, que dificultou ou
DIREITO PENAL MILITAR

tentado. tornou impossível a defesa da vítima;


V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
TÍTULO V: DAS PENAS nidade ou vantagem de outro crime;
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:
CAPÍTULO I: DAS PENAS PRINCIPAIS Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Penas Principais Com a condenação do réu à pena de morte, far-se-á


o seguinte:
O Código Penal Militar, diferente do Código Penal,
Art. 707 (CPPM) O militar que tiver de ser fuzilado
dispõe, num rol taxativo, as penas principais, aquelas
sairá da prisão com uniforme comum e sem insíg-
que integram o preceito secundário do tipo penal e,
nias, e terá os olhos vendados, salvo se o recusar,
em outro rol, as penas acessórias que podem ser apli-
no momento em que tiver de receber as descargas.
cadas cumulativamente com as penas principais em As vozes de fogo serão substituídas por sinais. 239
z Observações importantes sobre a pena de morte: Art. 61 A pena privativa da liberdade por mais de
2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em
„ O civil será executado nas mesmas condições penitenciária militar e, na falta dessa, em estabele-
que o militar; cimento prisional civil, ficando o recluso ou deten-
to sujeito ao regime conforme a legislação penal
„ Será permitido ao condenado receber socorro
comum, de cujos benefícios e concessões, também,
espiritual; poderá gozar.
„ A pena será executada sete dias após a comuni-
cação ao Presidente da República. E se a pena privativa de liberdade for aplicada a
civil?
As penas de reclusão, detenção e prisão são
penas privativas de liberdade. Art. 62 O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça
Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando
ele sujeito ao regime conforme a legislação penal
z As penas de reclusão e de detenção estão contidas comum, de cujos benefícios e concessões, também,
no preceito secundário do tipo penal; poderá gozar.
z A pena de prisão está disposta no CPM na condição
de conversão da pena de detenção em prisão. Dentre as penas principais, há a pena não capital e as
penas não privativas de liberdade – impedimento, sus-
Veremos, a seguir, uma a uma. pensão do posto, graduação, cargo ou função e reforma.

Impedimento
Reclusão
A pena de impedimento está prevista no art. 63,
Art. 58 O mínimo da pena de reclusão é de um ano, do CPM, o qual diz que a pena de impedimento sujeita
e o máximo de trinta anos. o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem
prejuízo da instrução militar.
Detenção Exemplo:

Art. 58 […] o mínimo da pena de detenção é de trin- Crime de Insubmissão


ta dias, e o máximo de dez anos.
Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado,
Aqui, cabe-nos algumas perguntas: por que o CPM
ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi-
ensina que há mínimo e máximo genérico para as cial de incorporação:
penas de reclusão e de detenção? Pena – impedimento, de três meses a um ano.
Leia com atenção os seguintes crimes:
Suspensão do Exercício do Posto, Graduação, Cargo
Art. 298 Desacatar superior, ofendendo-lhe a dig- ou Função
nidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a
autoridade: De acordo com o art. 64, do CPM, a pena de suspen-
Pena – reclusão até quatro anos, se o fato não são do exercício do posto, graduação, cargo ou função
constitui crime mais grave. consiste no afastamento, no licenciamento ou na dis-
Art. 228 Divulgar, sem justa causa, conteúdo de ponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sen-
documento particular sigiloso ou de correspondên- tença, sem prejuízo do seu comparecimento regular à
cia confidencial, de que é detentor ou destinatário, sede do serviço. Não será contado como tempo de ser-
desde que da divulgação possa resultar dano a viço, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena.
outrem: Exemplo:
Pena – detenção, até seis meses.
Art. 324 Deixar, no exercício da função, de observar
Há crimes, no código penal militar, que necessitam lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à
de complementação no preceito secundário, o que a dou- prática de ato prejudicial à administração militar:
trina denomina de norma penal em branco ao inverso. Pena: [...] se por negligência, suspensão do exercí-
Por isso, é importante saber o mínimo e o máximo gené- cio do posto, graduação, cargo ou função, de 3
rico das penas principais de reclusão e detenção. (três) meses a 1 (um) ano.

Prisão É importante destacar que se o condenado, quan-


do proferida a sentença, já estiver na reserva, ou
A pena privativa de liberdade de prisão é aplica- reformado ou aposentado, a pena prevista no art. 324,
da na forma do art. 59, do CPM, a pena de reclusão ou do CPM, será convertida em pena de detenção de três
detenção até dois anos, aplicada a militar, é convertida meses a um ano.
em pena de prisão e cumprida, quando não cabível a
suspensão condicional. Reforma

z Oficial cumpre a pena de prisão em estabelecimen- A pena de reforma está no art. 65, do CPM, o qual
to militar; afirma que a pena de reforma sujeita o condenado à
z Praça cumpre a pena de prisão em estabelecimen- situação de inatividade. Vejamos:
to penal militar, separado de presos disciplinares e
presos com pena superior a dois anos. Art. 65 A pena de reforma sujeita o condenado à
situação de inatividade, não podendo perceber mais
Como proceder se a pena aplicada de reclusão ou de um vinte e cinco avos do sôldo, por ano de ser-
240 detenção for superior a dois anos? viço, nem receber importância superior à do sôldo.
Exemplo: d) confessado espontâneamente, perante a autori-
dade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a
Art. 201 Deixar o comandante de socorrer, sem jus- outrem;
ta causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou e) sofrido tratamento com rigor não permitido em
estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos lei. Não atendimento de atenuantes
que hajam pedido socorro: Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima
Pena – suspensão do exercício do posto, de um a cominada é de morte, ao juiz é facultado atender,
três anos ou reforma. ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas
no artigo.
Além de saber quais são as penas principais, é
importante conhecer as circunstâncias que as agravam Penas Acessórias
quando não integrantes ou qualificativas do crime:
O Código Penal Militar define as penas principais
Circunstâncias Agravantes – morte, reclusão, detenção, prisão, impedimento,
reforma e suspensão do exercício do posto, gradua-
Art. 70 São circunstâncias que sempre agravam a
ção, cargo ou função. Vejamos:
pena, quando não integrantes ou qualificativas do
crime: CAPÍTULO V: DAS PENAS ACESSÓRIAS
I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime: Art. 98 São penas acessórias:
a) por motivo fútil ou torpe; I - a perda de pôsto e patente;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocul- II - a indignidade para o oficialato;
tação, a impunidade ou vantagem de outro crime; III - a incompatibilidade com o oficialato;
c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez IV - a exclusão das fôrças armadas;
decorre de caso fortuito, engano ou fôrça maior; V - a perda da função pública, ainda que eletiva;
d) à traição, de emboscada, com surprêsa, ou VI - a inabilitação para o exercício de função
pública;
mediante outro recurso insidioso que dificultou ou
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
tornou impossível a defesa da vítima;
VIII - a suspensão dos direitos políticos.
e) com o emprêgo de veneno, asfixia, tortura, fogo,
explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
cruel, ou de que podia resultar perigo comum; É bom lembrar de que as Forças Armadas são com-
f) contra ascendente, descendente, irmão ou postas por militares, os quais são divididos em círcu-
cônjuge; los hierárquicos: Círculos de Oficiais Generais, Oficiais
g) com abuso de poder ou violação de dever ineren- Superiores, Oficiais Intermediários, Oficiais Subalter-
te a cargo, ofício, ministério ou profissão; nos e Praças. Os oficiais possuem posto e patente e as
h) contra criança, velho ou enfêrmo; praças possuem graduação.
i) quando o ofendido estava sob a imediata prote- Dentre as penas acessórias, a perda do posto e
ção da autoridade; patente, a indignidade para oficialato, a incompatibi-
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, ala- lidade com o oficialato são sanções (penas) aplicadas
gamento, inundação, ou qualquer calamidade para os oficiais.
pública, ou de desgraça particular do ofendido;
l) estando de serviço; Perda de Posto e Patente
m) com emprêgo de arma, material ou instrumento
de serviço, para êsse fim procurado; Art. 99 A perda de pôsto e patente resulta da con-
n) em auditório da Justiça Militar ou local onde denação a pena privativa de liberdade por tem-
tenha sede a sua administração; po superior a dois anos, e importa a perda das
o) em país estrangeiro. condecorações.
Parágrafo único. As circunstâncias das letras c ,
salvo no caso de embriaguez preordenada, l , m e o, Indignidade Para o Oficialato
só agravam o crime quando praticado por militar.
Art. 100 Fica sujeito à declaração de indignidade
Há, ainda, as atenuantes – circunstâncias que ate- para o oficialato o militar condenado, qualquer que
nuam a pena. seja a pena, nos crimes de traição, espionagem ou
cobardia, ou em qualquer dos definidos nos arts.
Circunstância Atenuantes 161, 235, 240, 242, 243, 244, 245, 251, 252, 303, 304,
DIREITO PENAL MILITAR

311 e 312.
Art. 72[...]
I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de Incompatibilidade Com o Oficialato
setenta anos;
II - ser meritório seu comportamento anterior; Art. 101 Fica sujeito à declaração de incompatibili-
III - ter o agente: dade com o oficialato o militar condenado nos cri-
a) cometido o crime por motivo de relevante valor mes dos arts. 141 e 142.
social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com A pena acessória de exclusão das Forças Armadas
eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- é aplicada somente para as praças.
-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano; Art. 102 A condenação da praça a pena privati-
c) cometido o crime sob a influência de violenta va de liberdade, por tempo superior a dois anos,
emoção, provocada por ato injusto da vítima; importa sua exclusão das Forças Armadas. 241
PENA ACESSÓRIA TÍTULO VII: DA AÇÃO PENAL

Para praças condenados à Estudar o assunto ação penal militar é quase que
Para Oficiais pena privativa de liberdade impossível se não importar conceitos, doutrinas e tex-
superior a 2 anos to de lei do direito processual penal militar.
Perda do posto e patente A propositura da ação penal está no art. 121, do
Indignidade para oficialato Exclusão das Forças CPM.
Incompatibilidade como o Armadas
oficialato Art. 121 A ação penal somente pode ser promovi-
da por denúncia do Ministério Público da Justiça
Militar.
A pena acessória de perda da função pública é
aplicada ao civil ou ao militar da reserva, ou refor- A dependência de requisição para a ação penal
mado, se estiver no exercício de função pública nas está contida no art. 122, do CPM.
seguintes hipóteses:
Art. 122 Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a
z Perda da função pública: ação penal, quando o agente for militar ou asseme-
lhado, depende da requisição do Ministério Militar
a que aquele estiver subordinado; no caso do art.
„ Condenado à pena privativa de liberdade por
141, quando o agente for civil e não houver coautor
crime cometido com abuso de poder ou viola-
militar, a requisição será do Ministério da Justiça.
ção de dever inerente à função pública;
„ Condenado por outro crime à pena privativa de São apenas esses dois artigos do Código Penal
liberdade por mais de dois anos. Militar que tratam da ação penal. Realize uma leitura
atenta desses dispositivos, buscando compreendê-los.
A perda da função pública, ainda que eletiva, é A seguir, veremos o conteúdo disposto no Código de
aplicada a qualquer agente, civil ou militar. Processo Penal Militar pertinente ao tema.
A fim de prosseguirmos com o nosso estudo, cabe-
Inabilitação para o Exercício de Função Pública -nos alguns questionamentos: a ação penal militar é
de iniciativa pública ou de iniciativa privada?
Art. 104 Incorre na inabilitação para o exercício de De acordo com o art. 29, do CPPM, a ação penal é
função pública, pelo prazo de dois até vinte anos, pública e somente pode ser promovida por denúncia
o condenado a reclusão por mais de quatro anos, do Ministério Público Militar.
em virtude de crime praticado com abuso de poder A ação penal é pública incondicionada ou pública
ou violação do dever militar ou inerente à função condicionada?
pública.
A regra é que, no silêncio da lei, a ação penal é
pública incondicionada. O art. 31, do CPPM, diz que,
A pena acessória de suspensão do pátrio poder,
nos crimes dos arts. 136 a 141, do COM, serão de ação
tutela ou curatela é aplicada a qualquer agente que penal pública condicionada.
tenha sido condenado à pena privativa de liberdade Quais são esses crimes?
por mais de 2 anos. São os crimes contra a segurança externa do país,
A título de atualização, deve-se substituir o termo quais sejam:
“pátrio poder” por “poder familiar”, conforme defini-
ção contida no Código Civil. Observe a redação do art. z Hostilidade contra país estrangeiro;
105, do CPM: z Provocação a país estrangeiro;
z Ato de jurisdição indevida;
Art. 105 O condenado a pena privativa de liberdade z Violação de território estrangeiro;
por mais de dois anos, seja qual for o crime pra- z Entendimento para empenhar o Brasil à neutrali-
ticado, fica suspenso do exercício do pátrio poder, dade ou à guerra.
tutela ou curatela, enquanto dura a execução da
pena, ou da medida de segurança imposta em subs- Na justiça militar, há ação penal condicionada à
tituição (art. 113). requisição do Ministério Militar. O Ministro da Defe-
Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz sa e o Comandante de cada força singular (Marinha,
decretar a suspensão provisória do exercício do Exército e Aeronáutica) a que pertence o agente (mili-
pátrio poder, tutela ou curatela. tar) estão condicionados à requisição do Ministério
da Justiça somente se o acusado for civil e não tiver
A pena acessória de suspensão dos direitos políti- militar coautor.
cos é a consequência da execução da pena privativa
de liberdade ou da medida de segurança imposta em AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação para Requisição do Ministro da Defesa Requisição do Ministro
a função pública. Isso significa que o condenado, seja ou Comandantes da Justiça
civil ou militar, não pode votar, nem ser votado. Veja (autor civil sem coautor
a redação do art. 106, do CPM: militar)
Hostilidade contra país estrangeiro Entendimento para em-
Art. 106 Durante a execução da pena privativa de Provocação a país estrangeiro penhar a Brasil à neutra-
liberdade ou da medida de segurança imposta em Ato de jurisdição indevida lidade ou à guerra
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação Violação de território estrangeiro
para função pública, o condenado não pode votar, Entendimento para empenhar a
Brasil à neutralidade ou à guerra
242 nem ser votado.
Vejamos, a seguir, cada um desses crimes: O dono da ação penal, o Ministério Público, poderá
requerer ao juiz o arquivamento do IPM nas seguintes
Hostilidade Contra País Estrangeiro hipóteses:

Art. 136 Praticar o militar ato de hostilidade con- z Se não houver indícios de autoria: é uma decisão
tra país estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de jurisprudencial interlocutória mista de nature-
guerra: za terminativa; não faz coisa julgada, portanto
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. podem surgir provas novas e ser dada continuida-
de à persecução penal. Há exceção: caso julgado e
Resultado Mais Grave casos de extinção de punibilidade;
z Se o fato for atípico: fórmula descritiva; a conduta
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, deve-se ajustar a um modelo legal;
represália ou retorsão: z Prova de fato que, em tese, não constitua crime:
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. impossibilidade de oferecer denúncia ante à
§ 2º Se resulta guerra: ausência da prova do crime fornecida, por exem-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. plo, por meio de laudo técnico.

Provocação a País Estrangeiro MPM REQUER ARQUIVAMENTO DO IPM


se não houver indícios de autoria
Art. 137 Provocar o militar, diretamente, país
se o fato for atípico
estrangeiro a declarar guerra ou mover hostilidade
prova de fato que, em tese, não constitua crime
contra o Brasil ou a intervir em questão que respei-
te à soberania nacional:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. TÍTULO VIII: DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Ato de Jurisdição Indevida A extinção da punibilidade, conforme os ensina-


mentos de Cícero Coimbra (2009), ocorre nos seguin-
Art. 138 Praticar o militar, indevidamente, no ter- tes casos:
ritório nacional, ato de jurisdição de país estran-
geiro, ou favorecer a prática de ato dessa natureza: z Pela morte do agente: alinha-se ao princípio de que
Pena - reclusão, de cinco a quinze anos. a morte apaga tudo, do modo como está enunciado
na Constituição Federal ao dispor, no art. 5, XLV, que
Violação de Território Estrangeiro nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decre-
Art. 139 Violar o militar território estrangeiro, tação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
com o fim de praticar ato de jurisdição em nome estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
do Brasil: até o limite do valor do patrimônio transferido;
Pena - reclusão, de dois a seis anos. z Pela anistia (exclui-se o crime, abrangendo fatos e,
não, pessoas) ou indulto (exclui-se a punibilidade
Entendimento para Empenhar o Brasil à Neutralidade e, não, o crime) que competem ao Presidente da
ou à Guerra República): anistia consiste no esquecimento do
crime ou dos crimes, por alguma razão de interesse
Art. 140 Entrar ou tentar entrar o militar em enten- do Estado, como, por exemplo, a não conveniência
dimento com país estrangeiro, para empenhar o em se reprimir mais um crime político em razão
Brasil à neutralidade ou à guerra: da mudança de orientação política de um país.
Pena - reclusão, de seis a doze anos.
A anistia é alcançada por vontade do Congresso
Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência Nacional, nos termos do art. 48, VIII, da CF, e, se antes
com o Brasil da sentença, atingirá, também, os efeitos extrapenais.
O indulto pode ser coletivo ou individual, sendo,
Art. 141 Entrar em entendimento com país estran- neste caso, sinônimo de graça. É uma forma de cle-
geiro, ou organização nele existente, para gerar mência soberana destinada à pessoa determinada e,
conflito ou divergência de caráter internacional não, ao fato.
entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes
perturbar as relações diplomáticas:
DIREITO PENAL MILITAR

Dica
Pena - reclusão, de quatro a oito anos.
Anistia: competência do Congresso Nacional;
Resultado Mais Grave atinge o fato – crime);
Indulto: competência do Presidente da Repúbli-
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: ca; tem, por objeto, o autor do fato.
Pena - reclusão, de seis a dezoito anos.
§ 2º Se resulta guerra: z Pela retroatividade de lei que não mais considera
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. o fato como criminoso, chamada de “abolitio cri-
minis”: estende-se a todos os codelinquentes; pode
O art. 5º, LIX, da CF, permite, nessa única hipótese, ser aplicada pelo juiz do processo, em qualquer
ação penal de iniciativa privada subsidiária da públi- fase, ou pelo juiz da execução penal, se já houver
ca. Porém, não há registros dessa ação no âmbito da sentença condenatória definitiva e atingirá apenas
justiça militar. os efeitos penais da condenação; 243
z Pela prescrição: consiste na perda de “jus punien- Quanto ao requisito subjetivo, o bom comporta-
di” do Estado em razão de inércia em satisfazê-la mento público e privado se refere à vida pública e
durante os prazos estipulados pela lei. O prazo privada do agente, respectivamente, no trabalho e na
prescricional é definido, em primeiro momento, vida familiar. A demonstração pode ser feita por todos
de acordo com a pena abstratamente cominada os meios de provas.
para o tipo e está definido nos incisos do art. 125 Já o requisito objetivo, consiste em ressarcir o
do CPM. dano causado pelo crime ou demonstrar a absoluta
impossibilidade de o fazer até o dia do pedido, ou exi-
A prescrição da ação penal ocorre em: bir documento que comprove a renúncia da vítima ou
novação de dívida:
Art. 125 [...]
z Pelo ressarcimento do dano no Peculato Culposo
I – 30 anos, se a pena é de morte;
(Art. 303, § 4º): nesse tipo penal, a completa repa-
II – 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12
ração do dano, que pode se dar pela restituição da
anos;
coisa íntegra ou pela indenização correspondente
III – 16 anos, se o máximo da pena é superior a 8
ao valor do dano, promovida pelo agente ou por
anos e não excede a 12 anos;
IV – 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4
terceiro, pode ter dois efeitos: se preceder a sen-
anos e não excede a 8 anos; tença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe
V – 8 anos, se o máximo da pena é de 2 anos e não for posterior, reduz a pena pela metade. Os efei-
excede a 4 anos; tos penais da reparação do dano não prejudicam
VI – 4 anos, se o máximo da pena é igual a 1 ano ou, o reconhecimento de eventual responsabilidade
sendo superior, não excede a 2 anos; e administrativa (ROSSETTO, 2015).
VII – 2 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano.
Art. 125 [...]
Além da prescrição descrita no art. 125, do CPM,
Superveniência de Sentença Condenatória de Que
deve-se ter muita atenção à prescrição específica para
Somente o Réu Recorre
o crime de Deserção e de Insubmissão, bem como para
o crime em que a pena cominada é de reforma. Para
§ 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que
o crime de Deserção, cuja pena máxima cominada é
somente o réu tenha recorrido, a prescrição pas-
de 4 anos, o art. 132 dispõe que, mesmo decorrido o
sa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo
prazo prescricional, a punição só será extinta quando declarada, sem prejuízo do andamento do recurso
o desertor, praça, atingir a idade de 45 anos ou, se ofi- se, entre a última causa interruptiva do curso da
cial, 60 anos. prescrição (§ 5º) e a sentença, já decorreu tempo
A prescrição começa a correr, no crime de insub- suficiente.
missão, do dia em que o insubmisso atinge a idade de
trinta anos. Para os crimes em que a pena máxima Têrmo Inicial da Prescrição da Ação Penal
seja a reforma ou a suspensão de exercício do posto,
graduação, cargo ou função, a prescrição será de 4 § 2º A prescrição da ação penal começa a correr:
anos. a) do dia em que o crime se consumou;
b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati-
vidade criminosa;
c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência;
d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se
Deserção: Insubmissão: tornou conhecido.
prescrição para prescrição
oficiais 30 anos de idade
60 anos de idade Caso de Concurso de Crimes ou de Crime Continuado

§ 3º No caso de concurso de crimes ou de crime con-


Deserção: tinuado, a prescrição é referida, não à pena unifica-
prescrição para praças da, mas à de cada crime considerado isoladamente.
45 anos de idade
Suspensão da Prescrição

§ 4º A prescrição da ação penal não corre:


z Pela reabilitação – cumprida ou extinta a pena, I - enquanto não resolvida, em outro processo,
não constarão da folha corrida, atestados ou cer- questão de que dependa o reconhecimento da exis-
tência do crime;
tidões fornecidas por autoridade policial ou por
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou refe-
rência à condenação, salvo para instruir processo
Interrupção da Prescrição
pela prática de nova infração penal ou nos casos
expressos em lei.
§ 5º O curso da prescrição da ação penal interrompe-se:
I - pela instauração do processo;
A reabilitação só pode ser requerida decorridos 5 II - pela sentença condenatória recorrível.
anos (requisito temporal) do dia em que for extinta § 6º A interrupção da prescrição produz efeito rela-
a pena principal. No caso de livramento condicional tivamente a todos os autores do crime; e nos cri-
e de “sursis”, a contagem do prazo começa a correr mes conexos, que sejam objeto do mesmo processo,
do dia em que terminar o período de prova e, não, da a interrupção relativa a qualquer dêles estende-se
244 declaração de extinção da pena. aos demais.
Prescrição da Execução da Pena ou da Medida de Cancelamento do Registro de Condenações Penais
Segurança que a Substitui
Art. 135 Declarada a reabilitação, serão can-
Art. 126 A prescrição da execução da pena privativa celados, mediante averbação, os antecedentes
de liberdade ou da medida de segurança que a subs- criminais.
titui (art. 113) regula-se pelo tempo fixado na sen-
tença e verifica-se nos mesmos prazos estabelecidos
Sigilo sobre Antecedentes Criminais
no art. 125, os quais se aumentam de um têrço, se
o condenado é criminoso habitual ou por tendência.
§ 1º Começa a correr a prescrição: Parágrafo único. Concedida a reabilitação, o regis-
a) do dia em que passa em julgado a sentença con- tro oficial de condenações penais não pode ser
denatória ou a que revoga a suspensão condicional comunicado senão à autoridade policial ou judi-
da pena ou o livramento condicional; ciária, ou ao representante do Ministério Público,
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo para instrução de processo penal que venha a ser
quando o tempo da interrupção deva computar-se instaurado contra o reabilitado.
na pena.
§ 2º No caso de evadir-se o condenado ou de revo-
gar-se o livramento ou desinternação condicionais, a
prescrição se regula pelo restante tempo da execução. EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 3º O curso da prescrição da execução da pena sus-
pende-se enquanto o condenado está prêso por outro 1. (FCC – 2019) De acordo com o Direito Penal Militar:
motivo, e interrompe-se pelo início ou continuação
do cumprimento da pena, ou pela reincidência.
I. É previsto na legislação castrense o perdão judicial.
São reduzidos pela metade os prazos da prescrição II. O Código Penal Militar adotou a teoria da previsibilida-
quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de de na conceituação do delito culposo.
vinte e um anos ou maior de setenta. III. Não se aplica aos crimes militares a substituição da
É imprescritível a execução das penas acessórias. pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
A prescrição, embora não alegada, deve ser decla- prevista no Código Penal Comum.
rada de ofício. IV. O Código Penal Militar adota a teoria da ubiquidade
em relação ao lugar do crime tanto para os crimes
Reabilitação omissivos quanto para os comissivos
V. É punível a cogitação no Direito Penal Militar.
Art. 134 A reabilitação alcança quaisquer penas Está correto o que se afirma APENAS em.
impostas por sentença definitiva.
§ 1º A reabilitação poderá ser requerida decorridos
a) I e IV.
cinco anos do dia em que fôr extinta, de qualquer
modo, a pena principal ou terminar a execução des-
b) I e III.
ta ou da medida de segurança aplicada em substi- c) II e III.
tuição (art. 113), ou do dia em que terminar o prazo d) II e V.
da suspensão condicional da pena ou do livramento e) IV e V.
condicional, desde que o condenado:
a) tenha tido domicílio no País, no prazo acima Item I: o art. 123, do CPM, não prevê a hipótese de
referido; perdão judicial. Item II: o Código Penal Militar ado-
b) tenha dado, durante êsse tempo, demonstração tou a teoria da previsibilidade, ou seja, o agente deve
efetiva e constante de bom comportamento público ser responsabilizado penalmente quando ele adotar
e privado; conduta que possa gerar fato ilícito, independente-
c) tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou mente da culpa ser consciente ou inconsciente. Item
demonstre absoluta impossibilidade de o fazer até III: no Código Penal Militar, existe a possibilidade de
o dia do pedido, ou exiba documento que comprove penas alternativas, conforme disposto no art. 69, §
a renúncia da vítima ou novação da dívida. 1º. Porém, nas decisões dos tribunais superiores, o
§ 2º A reabilitação não pode ser concedida: entendimento é de que o benefício da pena restritiva
a) em favor dos que foram reconhecidos perigosos, de direitos não se aplica. Item IV: a teoria da ubi-
salvo prova cabal em contrário;
quidade é usada apenas nos casos comissivos. Nos
b) em relação aos atingidos pelas penas acessó-
omissivos, a teoria é a da atividade. Item V: Cogitar
rias do art. 98, inciso VII, se o crime fôr de natu-
não é crime na legislação penal comum e na legisla-
reza sexual em detrimento de filho, tutelado ou
curatelado. ção penal Castrense. Resposta: Letra C.
DIREITO PENAL MILITAR

Prazo para Renovação do Pedido 2. (FCC – 2018) Segundo o Código Penal Militar brasileiro,

§ 3º Negada a reabilitação, não pode ser novamente a) a reforma é uma espécie de pena acessória que sujei-
requerida senão após o decurso de dois anos. ta o condenado a permanecer no recinto da unidade,
§ 4º Os prazos para o pedido de reabilitação serão sem prejuízo da instrução militar.
contados em dôbro no caso de criminoso habitual b) a pena de impedimento sujeita o condenado à situa-
ou por tendência. ção de inatividade e fora da unidade militar.
Revogação c) o crime cometido em país estrangeiro só atenua o cri-
me quando praticado por civil.
§ 5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a d) a suspensão dos direitos políticos é efeito automático
requerimento do Ministério Público, se a pessoa das condenações militares, ainda que o réu seja civil.
reabilitada fôr condenada, por decisão definitiva, e) é vedada, em tempos de paz, a suspensão condicional
ao cumprimento de pena privativa da liberdade. da pena para o crime de desrespeito a superior. 245
Em síntese, a suspensão condicional da pena não A tutela penal é a segurança externa do país. O
se aplica ao condenado por qualquer crime come- sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar
tido em tempo de guerra, bem como não se aplica da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia
ao condenado em tempo de paz por crime contra a Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o
segurança nacional, de aliciação e incitamento, de crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei-
violência contra superior, oficial de dia, de serviço to passivo é o Estado, secundariamente a instituição
ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desres- militar das Forças Armadas.
peito a superior, de insubordinação, ou de deserção. Praticar (executar algo) ato de hostilidade (agres-
Resposta: Letra E. sivo, provocador) é a conduta do militar que se volta
contra pessoas ou instituições estrangeiras, causando
distúrbio suficiente para provocar guerra, conflito
3. (CESPE-CEBRASPE – 2015) À luz do Código Penal
bélico, entre o país que provoca e o país provocado.
Militar, julgue o item a seguir, no que diz respeito a
O delito é de perigo concreto, devendo ser provada
aplicação da lei penal, imputabilidade penal, crime e
a conduta hostil do agente e a clara reação negativa
extinção da punibilidade. do país estrangeiro. Por isso, o tipo penal refere-se a
Situação hipotética: Um soldado das Forças Armadas, expor o Brasil a perigo de guerra.
no cumprimento das atribuições que lhe foram esta- O crime é doloso, não há modalidade culposa e
belecidas pelo ministro de Estado da Defesa, cometeu não há a forma tentada. É um crime qualificado pelo
crime doloso contra a vida de um civil.  resultado:
Assertiva: Nessa situação, o autor do delito deverá ser
processado e julgado pela justiça militar da União. z O ato agressivo praticado pelo agente pode acarre-
tar resultado mais grave do que a mera exposição
( ) CERTO  ( ) ERRADO a perigo, como a ruptura de relações diplomáti-
cas, represália (desforra, retaliação) ou retorsão
O militar das Forças Armadas que praticar crimes (contraposição). Esse resultado advém somente da
dolosos contra a vida de civil será processado e jul- culpa do agente, pois o dolo de perigo na conduta
gado pela Justiça Militar da União, se praticados no antecedente é incompatível com a vontade de pro-
contexto, dentre as hipóteses legais, no cumprimen- vocar um dano;
to de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo z Havendo o resultado naturalístico danoso consis-
tente em conflito armado (guerra, propriamente
Presidente da República ou pelo Ministro de Estado
dita), pune-se mais severamente o autor.
da Defesa. Resposta: Certo.
A ação penal depende de requisição do Ministro
da Defesa.

Provocação a País Estrangeiro


PARTE ESPECIAL
Art. 137 Provocar o militar, diretamente, país
LIVRO I: DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE estrangeiro a declarar guerra ou mover hostilidade
PAZ contra o Brasil ou a intervir em questão que respei-
te à soberania nacional:
O Código Penal Militar é dividido em Parte Geral e Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Parte Especial. A Parte Especial está dividida em Cri-
A tutela penal é a segurança externa do país. O
mes Militares em Tempo de Paz e Crimes Militares em
sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar
Tempo de Guerra (aplicado somente na hipótese de
da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia
guerra declarada).
Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o
Os delitos militares tutelam bens jurídicos espe-
crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei-
ciais, diversos do cenário da legislação penal comum,
to passivo é o Estado, secundariamente a instituição
tais como disciplina e hierarquia. Por isso, não aten-
militar das Forças Armadas.
dem ao objetivo da Lei nº 9.099/1995, cuja finalidade
Observe que, neste artigo, prevê-se a prática de
foi dar aplicabilidade ao inciso I do art. 98 da Cons-
ato de hostilidade do militar contra país estrangeiro,
tituição Federal, visando à rápida solução dos casos
podendo determinar uma guerra ou qualquer espé-
envolvendo infrações de menor potencial ofensivo.
cie de retorsão ou represália. Por exemplo: o militar
Assim, iniciamos a seguir o estudo dos Crimes Mili-
provoca o país estrangeiro para que seja declarada a
tares em Tempo de Paz.
guerra e o país provocado vem a declarar guerra con-
tra o Brasil.
CRIMES CONTRA A SEGURANÇA EXTERNA DO PAÍS
Pode-se argumentar, como faz Enio Luiz Rosseto,
que a diferença se encontra no elemento subjetivo, visto
Hostilidade Contra País Estrangeiro
que, no art. 137 do CPM, há finalidade especial de agir.
Aqui, no art. 137 do CPM, há dolo direto do autor
Art. 136 Praticar o militar ato de hostilidade con-
na conduta antecedente, com elemento subjetivo
tra país estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de
específico (causar retorsão ao Brasil), constituindo
guerra:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. delito de dano. No art. 136, a declaração da guerra é
Resultado mais grave forma qualificada pelo resultado.
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, O crime é doloso. Há o elemento específico, consis-
represália ou retorsão: tente em causar guerra ou outra represália estrangei-
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 24 (vinte e quatro) ra ao Brasil. Não há modalidade culposa. Admite-se a
anos. tentativa se o resultado pretendido pelo agente (guer-
§ 2º Se resulta guerra: ra) não se produzir por circunstâncias alheias a sua
246 Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. vontade.
A ação penal depende de requisição do Ministro Entendimento para Empenhar o Brasil à Neutralidade
da Defesa. ou à Guerra

Ato de Jurisdição Indevida Art. 140 Entrar ou tentar entrar o militar em enten-
dimento com país estrangeiro, para empenhar o
Art. 138 Praticar o militar, indevidamente, no ter- Brasil à neutralidade ou à guerra:
ritório nacional, ato de jurisdição de país estran- Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos.
geiro, ou favorecer a prática de ato dessa natureza:
Pena - reclusão, de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos.
Tutela-se a segurança externa do Brasil, embora
A tutela penal é a segurança externa do país. O esse crime seja praticamente inviável na atualidade.
sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar Militares não negociam paz nem tampouco guerra,
da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia em particular, fazendo-o individualmente.
Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei- militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
to passivo é o Estado, secundariamente a instituição (Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concor-
militar das Forças Armadas. rem para o crime na condição de coautores ou partí-
O crime de ato de jurisdição indevida busca punir cipe. O sujeito passivo é o Estado, secundariamente a
o militar que dê cumprimento a decisões judiciais instituição militar das Forças Armadas.
estrangeiras indevidamente, ou seja, não autorizadas. O crime é o dolo. A finalidade específica do agen-
Por exemplo, a Justiça Militar determina a liberdade
te é comprometer o Brasil à neutralidade ou guerra.
de um militar preso em outro país e o militar, aqui no
Brasil, sem autorização, ingressa no estrangeiro com Não há previsão da modalidade culposa. A tentativa
a finalidade de cumprir a decisão. é inadmissível.
Quando a decisão estrangeira puder ser cumprida A ação penal é pública condicionada à representa-
em solo nacional, como ocorre, por exemplo, no caso ção do Ministro da Defesa.
de homologação por juiz brasileiro, o fato é atípico.
O crime é doloso. Não há elemento subjetivo espe- Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência
cífico e não há a modalidade culposa. com o Brasil
Admite-se a tentativa, por exemplo, se acontecer
de o militar, ao prender o suspeito de crime par entre- Art. 141 Entrar em entendimento com país estran-
gá-lo a autoridade estrangeira, mas, antes de apresen- geiro, ou organização nele existente, para gerar
tá-lo à autoridade, o suspeito fugir por circunstâncias conflito ou divergência de caráter internacional
alheias à vontade de quem efetuou a prisão. entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes
A ação penal é pública condicionada à representa- perturbar as relações diplomáticas:
ção do Ministro da Defesa. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
Violação de Território Estrangeiro
Tutela-se a segurança externa do Brasil e a sobera-
Art. 139 Violar o militar território estrangeiro, nia. O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
com o fim de praticar ato de jurisdição em nome militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
do Brasil: (Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concor-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. rem para o crime na condição de coautores ou partí-
cipe. O sujeito passivo é o Estado, secundariamente a
A tutela penal é a segurança externa do país, que
instituição militar das Forças Armadas.
se vê ameaçada com a atitude usurpadora do militar
Pune-se quem contata organização internacional,
em violar o território estrangeiro.
ainda que não se trate de meio oficial. A finalidade
O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
do agente é promover desentendimento em nível de
militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
países, o que pode envolver o Brasil e outra nação.
(Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem
para o crime na condição de coautores ou partícipe. O O delito é formal, bastando o contato indevido para
sujeito passivo é o Estado, secundariamente a ordem concretizá-lo.
militar atingida pela ação abusiva do militar. Quando o sujeito ativo for civil, será tratado como
O verbo nuclear violar significa transgredir e crime político, previsto no art. 8.º da Lei nº 7.170/83,
designa ingressar ilicitamente no território estran- entrar em entendimento ou negociação com governo
geiro, em desrespeito aos tratados, às convenções e ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para provocar
às normas de direito internacional, que disciplinam a guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil.
O crime é doloso. O elemento subjetivo específico
DIREITO PENAL MILITAR

entrada e a saída em território estrangeiro, que com-


preende o território estrangeiro o solo, o mar territo- é a geração de conflito internacional entre o Brasil e
rial ou o espaço aéreo. outro país. Não há a modalidade culposa e a tentativa
A finalidade específica do agente é o cumprimento é inadmissível.
de ato jurisdicional, ou seja, o cumprimento da deci- A ação penal é pública condicionada à representa-
são emanada do Poder Judiciário. ção do Ministro da Defesa.
O crime é doloso. Há elemento subjetivo específico,
consistente em praticar ato jurisdicional em nome do z Resultado mais Grave
Brasil. Não há a modalidade culposa.
Praticar ato de jurisdição no território estrangeiro § 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas:
é exaurimento do crime e é levada a efeito na dosime- Pena - reclusão, de 6 (seis) a 18 (dezoito) anos.
tria da pena. A forma tentada é de difícil configuração. § 2º Se resulta guerra:
A ação penal é pública condicionada à requisição Pena - reclusão, de 10 (dez) a 24 (vinte e quatro)
do Ministério da Defesa. anos. 247
Crime qualificado pelo resultado: Exige-se, ainda, a produção de perigo concreto à
segurança externa do Brasil ou à sua soberania. É cri-
z Se a prática do entendimento gerar o efetivo resul- me doloso. Não há elemento subjetivo específico e não
tado pretendido pelo agente, consistente em rom- há a modalidade culposa.
pimento de relação diplomática, a pena se torna Sobre a conduta de o agente tentar internaciona-
mais severa; lizar, por qualquer meio, região ou parte do território
z O resultado conflito armado consistiria na pior nacional, devemos saber que:
hipótese de divergência entre o Brasil e país estran-
geiro, motivo pelo qual implica pena mais grave. z Tutela-se a soberania nacional e a segurança
externa;
Tentativa Contra a Soberania do Brasil z O sujeito ativo pode ser militar ou civil;
z O sujeito passivo é o Estado, que sofre perigo de
Art. 142 Tentar: dano à soberania.
I - submeter o território nacional, ou parte dele, à
soberania de país estrangeiro;
A conduta de internacionalizar significa que o
II - desmembrar, por meio de movimento armado agente tem o objetivo de ter o domínio de várias
ou tumultos planejados, o território nacional, des- nações. Veja-se que, na realidade, cuida-se de outra
de que o fato atente contra a segurança externa do maneira de desmembrar o território, tendo em vista
Brasil ou a sua soberania; desfazer a soberania nacional da área.
III - internacionalizar, por qualquer meio, região ou O meio para tanto não necessita ser violento ou
parte do território nacional: tumultuado, podendo consistir em atividade pacífica,
Pena - reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos, pela via política, inclusive. Por exemplo: em tempo de
para os cabeças; de 10 (dez) a 20 (vinte) anos, para paz, o agente tentar ceder parte do território de um
os demais agentes. Estado Membro à administração de outro país.
É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí-
Vamos analisar o crime por partes: fico e não há a modalidade culposa.
Atente-se ao fato de que, como regra, os cabeças
z Tentar submeter; dos delitos devem receber pena mais elevada, mas
z Tentar desmembrar; sem expressa previsão no preceito sancionador do
z Tentar internacionalizar. tipo penal. Assim, cabe ao julgador, conforme a medi-
da da culpabilidade, dosar a pena entre o mínimo e o
Sobre a conduta de o agente tentar submeter o máximo, aplicando até mesmo agravante.
território nacional, ou parte dele, à soberania de país O crime de tentativa contra a soberania do Brasil
estrangeiro, devemos saber que: será de ação penal pública condicionada à requisição
do Ministro da Defesa.
z Tutela-se a soberania nacional;
z O sujeito ativo pode ser civil ou militar; Consecução de Notícia, Informação ou Documento
z O sujeito passivo é o Estado, que sofre perigo de para Fim de Espionagem
dano à soberania. Art. 143 Conseguir, para o fim de espionagem mili-
tar, notícia, informação ou documento, cujo sigilo
Trata-se de crime de atentado, que não comporta seja de interesse da segurança externa do Brasil:
tentativa, pois esta já é punida como delito consumado. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
O crime se configura por meio de uma forma de § 1º A pena é de reclusão de 10 (dez) a 20 (vinte)
traição à pátria, pois o agente busca submeter o ter- anos:
ritório brasileiro, integral ou parcialmente, à sobera- I - se o fato compromete a preparação ou eficiência
nia suprema de país estrangeiro. bélica do Brasil, ou o agente transmite ou fornece,
Quando o sujeito ativo for civil, aplica-se a figura por qualquer meio, mesmo sem remuneração, a
típica do art. 9º da Lei de Segurança Nacional, Lei nº notícia, informação ou documento, a autoridade ou
7.170/1983, ou seja, tentar submeter o território nacional, pessoa estrangeira;
ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país. II - se o agente, em detrimento da segurança externa
O crime é doloso. Não há elemento subjetivo espe- do Brasil, promove ou mantém no território nacio-
cífico e não há previsão da modalidade culposa. nal atividade ou serviço destinado à espionagem;
III - se o agente se utiliza, ou contribui para que
Sobre a conduta de o agente tentar desmembrar,
outrem se utilize, de meio de comunicação, para
por meio de movimento armado ou tumultos planeja-
dar indicação que ponha ou possa pôr em perigo a
dos, o território nacional, desde que o fato atente con-
segurança externa do Brasil.
tra a segurança externa do Brasil ou a sua soberania,
devemos saber que: Modalidade Culposa
z O sujeito ativo por ser militar ou civil; § 2º Contribuir culposamente para a execução do
z O sujeito passivo é o Estado, que sofre perigo de crime:
dano à soberania. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
no caso do artigo; ou até 4 (quatro) anos, no caso
Trata-se de crime de atentado, que não admite ten- do § 1.º, I.
tativa, pois esta já é punida como consumado.
Ao analisar o tipo penal, compreendemos que a ten- O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou
tativa de desmembramento é por meio de movimento militar. Destacamos aqui a figura do espião, indiví-
armado, qualquer ação organizada, valendo-se seus duo que, clandestinamente, com disfarce ou sob o fal-
integrantes de armas próprias ou impróprias, tumultos so pretexto, procura informações com a finalidade de
248 ou desordens planejados, de qualquer espécie. as comunicar ao inimigo. O sujeito passivo é o Estado.
A conduta típica é a obtenção de qualquer informe, O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou
escrito ou verbal (notícia, informação ou documento) militar. O sujeito passivo é o Estado. A conduta típi-
secreto (não sujeito à publicidade e ao conhecimento ca refere-se a revelar (descortinar, descobrir) algo,
de várias pessoas, mas somente de algumas autorida- demonstrando haver sigilo em jogo.
des), de interesse da segurança externa brasileira. O foco, nas palavras de Nucci, é notícia, informa-
Exemplo: o agente ingressa em local onde há docu- ção ou documento, formado em segredo, que possa
mentos com classificação de sigilo e consegue obter comprometer a segurança externa do Brasil, bem jurí-
as informações secretas que colocam em risco a segu- dico tutelado.
rança do país. O crime é doloso e não há elemento específico na
Cabe destacar que, nas Organizações Militares, há figura do caput.
documentos com classificações de sigilo e que podem Admite-se a modalidade culposa, pois, imagine que
comprometer a segurança do país. Há legislação específi- alguém encarregado da guarda do segredo, ou poden-
ca que trata das classificações, motivo pelo qual podemos do evitar a sua revelação, deixa de o fazer por descuido.
afirmar que o crime de consecução de notícia, informa- A figura qualificada pelo resultado é que a reve-
ção ou documento para fim de espionagem é norma lação do segredo de Estado pode gerar algum tipo de
penal em branco, uma vez que necessita de complemento prejuízo ao arsenal militar brasileiro, motivo pelo
(dizer se o documento é classificado como sigiloso). qual cria-se um perigo concreto à segurança externa.
O crime possui finalidade específica, demonstran- A pena é agravada com maior rigor se o fato com-
do ser típica ação de espionagem no campo militar, prometer a preparação bélica do país.
ou seja, atuação de agente secreto designado especifi-
camente para o fim de alcançar informes sigilosos de Turbação de Objeto ou Documento
país estrangeiro.
O crime é doloso e possui elemento subjetivo espe- Art. 145 Suprimir, subtrair, deturpar, alterar, des-
cífico, consistente em fim de espionagem militar. Este viar, ainda que temporariamente, objeto ou docu-
crime admite a modalidade culposa, quando o § 2º do mento concernente à segurança externa do Brasil:
art. 143 diz contribuir culposamente para a execução Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
do crime.
São formas qualificadas pelo resultado, de acordo Resultado Mais Grave
com o autor Guilherme Nucci:
§ 1º Se o fato compromete a segurança ou a eficiên-
z Comprometer: O agente compromete o prepa- cia bélica do país:
ro (fabricação) ou eficiência bélica (utilização de Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
armas) do Brasil, constituindo perigo concreto.
Pode, ainda, levar ao conhecimento de autoridade Modalidade Culposa
ou pessoa estrangeira o material obtido, forman-
do, igualmente, hipótese de perigo concreto para a § 2º Contribuir culposamente para o fato:
segurança externa; Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
z Promover: O agente, após a obtenção da informa-
ção, documento ou notícia sigilosa, constitui ou O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou
sustenta atividade ou serviço de espionagem em militar; aplica-se o critério do local do crime. O sujeito
território nacional; passivo é o Estado.
z Utilizar: O agente se vale, pessoalmente ou por Há variadas formas alternativas para a turbação
interposta pessoa, de meio de comunicação, seja de objeto ou documento (título deveras estranho para
rádio, telefone, telégrafo, internet, para dar qual- o tema):
quer revelação perigosa ao Brasil.
z Suprimir (fazer desaparecer);
Revelação de Notícia, Informação ou Documento
z Subtrair (apoderar-se de algo);
Art. 144 Revelar notícia, informação ou documen- z Deturpar (desfigurar a forma original);
to, cujo sigilo seja de interesse da segurança exter- z Alterar (modificar);
na do Brasil: z Desviar (encaminhar para local inadequado).
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
Dica
Fim de Espionagem Militar
O agente pode praticar uma ou mais dessas for-
§ 1º Se o fato é cometido com o fim de espionagem mas e cometer apenas um crime, desde que seja
DIREITO PENAL MILITAR

militar:
contra o mesmo objeto, nas mesmas circunstân-
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos.
cias de tempo e local.
Resultado Mais Grave
O crime é doloso. Não há elemento subjetivo especí-
§ 2º Se o fato compromete a preparação ou a efi- fico. No § 1º, temos a forma qualificada, quando o fato
ciência bélica do país: compromete a segurança ou a eficiência bélica do país.
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. A modalidade culposa encontra-se no § 2º. Somen-
te caracteriza-se tal figura se e quando alguém realiza
Modalidade Culposa
a conduta típica prevista no caput (dolosamente) e o
§ 3º Se a revelação é culposa: agente deste tipo culposo lhe dá contribuição por pura
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, negligência de sua parte.
no caso do artigo; ou até 4 (quatro) anos, nos casos A ação penal é pública condicionada à requisição
dos §§ 1º e 2º. do Ministro da Defesa. 249
Penetração com o Fim de Espionagem O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou
militar. O sujeito passivo é o Estado.
Art. 146 Penetrar, sem licença, ou introduzir-se A conduta punível é sobrevoar (voar por cima de
clandestinamente ou sob falso pretexto, em lugar algo), tendo por objeto o lugar declarado (oficialmente
sujeito à administração militar, ou centro indus-
reconhecido) interdito (proibido, vedado).
trial a serviço de construção ou fabricação sob
fiscalização militar, para colher informação desti- É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí-
nada a país estrangeiro ou agente seu: fico e não há a modalidade culposa.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
Parágrafo único. Entrar, em local referido no arti-
go, sem licença de autoridade competente, munido
de máquina fotográfica ou qualquer outro meio
EXERCÍCIO COMENTADO
hábil para a prática de espionagem:
Pena - reclusão, até 3 (três) anos. 1. (NOVA CONCURSOS – 2020) Diante da prática de cri-
me contra a segurança externa do Brasil, mesmo que
Tutela-se a segurança externa, mas também as ins- não haja menção no tipo penal, o cabeça deve ter a
talações militares. O sujeito ativo pode ser qualquer pena maior.
pessoa: civil ou militar. O sujeito passivo é o Estado. ( ) CERTO  ( ) ERRADO
Busca-se punir quem ingressa, de algum modo,
sem autorização, em local administrado pelos mili- Como regra, os cabeças dos delitos, que comandam
tares ou em centro industrial (fábrica em geral) que a ação dos demais atuando como mentores ou líde-
produza produtos concernentes ao interesse militar. res efetivos, devem receber pena mais elevada, mas
O ingresso é fundado pelo objetivo de alcançar sem expressa previsão no preceito sancionador do
informação voltada a país ou espião estrangeiro. tipo penal. Sendo assim, cabe ao julgador, confor-
É crime doloso e se revela na penetração clandesti- me a medida da culpabilidade, dosar a pena entre o
na ou sob falso pretexto, ou sem licença de autoridade mínimo e o máximo, aplicando até mesmo agravan-
competente. Observe que há elemento subjetivo espe- te. Resposta: Certo.
cífico, consistente em colher informação destinada a
país estrangeiro ou agente seu. Não há a modalidade TÍTULO II: DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE
culposa. OU DISCIPLINA MILITAR
A ação penal é pública condicionada à requisição
do Ministro da Defesa. Os crimes contra a autoridade ou disciplina militar
são aqueles que tutelam a hierarquia e a disciplina,
Desenho ou Levantamento de Plano ou Planta de bem como os valores de respeito aos símbolos nacio-
Local Militar ou de Engenho de Guerra nais. Neste tópico, estudaremos os seguintes capítulos
do Código Penal Militar, que contêm os crimes mais
Art. 147 Fazer desenho ou levantar plano ou planta exigidos em provas de concursos:
de fortificação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou
z Motim e revolta;
aeródromo, ou de navio, aeronave ou engenho de
guerra motomecanizado, utilizados ou em constru- z Aliciação e incitamento;
ção sob administração ou fiscalização militar, ou z Violência contra superior ou militar de serviço;
fotografá-los ou filmá-los: z Desrespeito a superior e a símbolo nacional ou
Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos, se o fato não farda;
constitui crime mais grave. z Insubordinação;
z Usurpação e excesso ou abuso de autoridade;
Tutela-se a segurança externa do país. O sujeito ati- z Resistência;
vo pode ser qualquer pessoa: civil ou militar. O sujeito z Fuga, evasão, arrebatamento e amotinamento de
passivo é o Estado. preso.
Temos quatro condutas incriminadoras alternati-
CAPÍTULO I: DO MOTIM E DA REVOLTA
vas. Nas palavras de Nucci:
O crime de motim está prescrito no art. 149 do
z Faz desenho, constitui ilustração acerca de algo; CPM, e o crime de revolta está no parágrafo único des-
z Consegue plano ou planta, desenho específico te mesmo artigo. O crime de motim é:
para construção de algo;
z Fotografa, registra ilustração por meio de máqui- Art. 149 Reunirem-se militares ou assemelhados:
na apropriada; I - contra a ordem recebida de superior ou negan-
z Filma, registra ação em movimento por meio de do-se a cumpri-la;
máquina apropriada. II - recusando obediência a superior, quando este-
jam agindo sem ordem ou praticando violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência,
O objeto das condutas é fortificação, quartel, fábri-
ou em resistência ou violência, em comum, contra
ca, arsenal, hangar, aeródromo, navio, aeronave ou
superior;
engenho de guerra motorizado. IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou
É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí- estabelecimento militar, ou dependência de qual-
fico e não há a modalidade culposa. quer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio
ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer
Sobrevoo em Local Interdito daqueles locais ou meios de transporte, para ação
militar, ou prática de violência em desobediência à
Art. 148 Sobrevoar local declarado interdito: ordem superior ou em detrimento da ordem ou da
250 Pena - reclusão, até 3 (três) anos. disciplina militar.
O assemelhado, servidor civil que estava sujeito à Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
disciplina militar, não tem previsão legal atualmente. introduz, afixa ou distribui, em lugar sujeito à
Portanto, todas as vezes em que encontrarmos o asse- administração militar, impressos, manuscritos ou
melhado no CPM, deixaremos de lado e focaremos no material mimeografado, fotocopiado ou gravado,
termo “militar”. em que se contenha incitamento à prática dos atos
Sendo assim, se os militares se reunirem para tra- previstos no artigo.
tar de uma das quatro circunstâncias descritas nos
incisos do art. 149, praticarão crime de motim. CAPÍTULO III: DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR
Observe a pena para o crime de motim: OU MILITAR DE SERVIÇO

Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumen- Violência Contra Superior
to de um terço para os cabeças.

Quem são os cabeças? O art. 53 do CPM, ao tratar O crime de violência contra superior está previsto
de concurso de agentes, em seus §§ 4º e 5º, dispõe o no art. 157 do CPM.
seguinte:
Art. 157 Praticar violência contra superior:
§ 4º na prática de crime de autoria coletiva neces- Pena - detenção, de três meses a dois anos.
sária, reputam-se cabeças os que dirigem, provo-
cam, instigam ou excitam a ação. Sujeito ativo é o subordinado hierárquico. A auto-
§ 5º quando o crime é cometido por inferiores e um ridade do superior hierárquico agredido é maculada
ou mais oficiais, são êstes considerados cabeças, perante o subordinado ou terceiros que tenham pre-
assim como os inferiores que exercem função de senciado ou tomado conhecimento do fato.
oficial.
Violência = força física, próprio corpo ou objeto.
O crime de revolta é a forma qualificada do crime Exemplos: empurrão, bofetada, arrancar distintivo,
de motim., disposto no art. 149 do COM. Observe: bater com um objeto.
São formas qualificadas:
Revolta
§1º Se o superior é comandante da unidade a que
Parágrafo único - Se os agentes estavam armados: pertence o agente ou oficial general:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento Pena - reclusão, de três a nove anos.
de um terço para os cabeças. §2º Se a violência é praticada com arma, a pena é
aumentada de um terço.
Com Armas Sem Armas
Conforme decisão do TJM/RS, o delito foi configu-
rado no caso concreto em que o soldado que agride e
ofende um cabo e comete violência contra superior,
Revolta Motim ainda que da agressão não resultem lesões corporais
na vítima.

Importante! VIOLÊNCIA CONTRA MILITAR DE SERVIÇO

Distinção entre motim e revolta: Este crime, violência contra mitar de serviço, está
Revolta: Grupamento de militares armados disposto no art. 158 do CPM:
Motim: Reunião sem armas
Art. 158 Praticar violência contra oficial de dia, de
serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou
Sujeito ativo: crime plurissubjetivo, com a necessi- plantão:
dade de no mínimo 2 militares. Exemplo: companhia Pena - reclusão, de três a oito anos.
recebe ordem para instrução ou outra atividade e, em
vez de obedecê-la, dirige-se, sem ordem ou autoriza- O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa. Porém
ção, à sede do Comando para apresentação de suas o sujeito passivo, como exige o tipo penal, deve ser
reivindicações. Oficial de dia, Oficial de serviço ou Oficial de quarto,
ou, ainda, sentinela, vigia ou plantão.
DIREITO PENAL MILITAR

CAPÍTULO II: DA ALICIAÇÃO E DO INCITAMENTO São formas qualificadas:

Aliciação para Motim ou Revolta z Se a violência é praticada com arma, a pena é


aumentada de um terço;
Art. 154 Aliciar militar ou assemelhado para a prá-
z Se a violência resulta lesão corporal, aplica-se, além
tica de qualquer dos crimes previstos no capítulo
anterior: da pena da violência, a do crime contra a pessoa;
Pena - reclusão, de dois a quatro anos. z Se da violência resulta morte, a pena será de reclu-
são de 12 a 30 anos.
Incitamento
Conforme decisão do TJM/RS, comete o crime des-
Art. 155 Incitar à desobediência, à indisciplina ou à crito no § 3º do art. 158 o militar que desfere, contra
prática de crime militar: seu oficial de serviço, seis tiros de revólver, pelas cos-
Pena - reclusão, de dois a quatro anos. tas, causando-lhe a morte. 251
CAPÍTULO IV: DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A A ordem que trata o texto legal deve ser impe-
SÍMBOLO NACIONAL OU À FARDA rativa, uma exigência para o subordinado; pessoal,
dirigida a um ou mais subordinados, descartando as
Desrespeito a Superior ordens de caráter geral, que constituem transgressão
disciplinar; e, por fim, concreta, pois o cumprimen-
Conforme descrito no art. 160 do CPM: to da ordem não deve estar sujeito à apreciação do
subordinado.
Art. 160 Desrespeitar superior diante de outro Para fixar o entendimento, lembre-se de que a
militar: ordem deve ser:
Pena - detenções de três meses a um ano, se o fato
não constitui crime mais grave.
z Imperativa: Deve importar em uma exigência
para o subordinado, por isso, não são ordens os
O desrespeito consiste na falta de consideração,
conselhos, exortações e advertências;
respeito, acatamento, praticada pelo subordinado na
z Pessoal: Significa que deve ser dirigida a um ou
relação com seu superior hierárquico, na presença de
mais subordinados. As ordens de caráter geral não
outro militar, e desde que o fato não constitua crime
são ordens pessoais e seu não cumprimento cons-
mais grave.
titui transgressão disciplinar;
Conforme decisão do TJM/MG, o soldado que, com
z Concreta: Pura e simples, seu cumprimento não
palavras insolentes e desdenhosas, desrespeita o cabo,
deve estar sujeito à apreciação do subordinado.
na presença de outros militares, fica incurso nas san-
ções do art. 160 do CPM.
OPOSIÇÃO À ORDEM DE SENTINELA
O parágrafo único do artigo em comento, apresen-
ta circunstância qualificadora:
Este crime, definido no art. 164 do CPM, asseme-
lha-se ao crime de desrespeito a superior. Aqui, o des-
Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o
respeito é à sentinela:
comandante da unidade a que pertence o agente,
oficial general, oficial de dia, de serviço ou de quar-
to, a pena é aumentada da metade. Art. 164 Opor-se às ordens da sentinela:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato
não constitui crime mais grave.
Podemos exemplificar por meio da hipótese de
Cabo PM que molesta civis e, ao ser censurado pelo
Sargento PM, parte para agredi-lo, ofendendo-o na Dica
presença de outros policiais militares e civis, sendo O que é sentinela? É o militar legalmente encarre-
contido por colegas, praticando assim o crime de des-
gado de guardar, com ou sem arma, determinado
respeito a superior.
lugar sob administração militar, usando acessó-
rios que indiquem encontrar-se em serviço.
DESRESPEITO A SÍMBOLO NACIONAL E
DESPOJAMENTO DESPREZÍVEL
Sabendo quem é a sentinela, podemos dizer que
o sujeito ativo desse crime pode ser qualquer pessoa:
Art. 161 Praticar o militar diante da tropa, ou em
lugar sujeito à administração militar, ato que se
civil ou militar.
traduza em ultraje a símbolo nacional: Em uma hipótese, o Soldado designado para a
Pena - detenção, de um a dois anos. função de sentinela dá ordem para outro militar não
entrar no recinto em guarnece. Todavia, o militar se
Despojamento Desprezível opõe à ordem recebida e entra no local.

Art. 162 Despojar-se de uniforme, condecoração REUNIÃO ILÍCITA


militar, insígnia ou distintivo, por menosprêzo ou
vilipêndio: Diferente do crime de motim, no crime de reunião
Pena - detenção, de seis meses a um ano. ilícita os militares apenas discutem ato de superior ou
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, assunto atinente à disciplina militar.
se o fato é praticado diante da tropa, ou em público.
Art. 165 Promover a reunião de militares, ou nela
CAPÍTULO V: DA INSUBORDINAÇÃO tomar parte, para discussão de ato de superior ou
assunto atinente à disciplina militar:
Recusa de Obediência Pena - detenção, de seis meses a um ano a quem
promove a reunião, de dois a seis meses a quem
A obediência que trata o art. 163 do CPM é a expres- dela participa, se o fato, não constitui crime mais
são da vontade do superior dirigida a um ou mais grave.
subordinados determinados para que cumpram com
uma prestação ou abstenção no interesse do serviço. Quem é o superior? É o militar que, em virtude da
função, exerce autoridade sobre outro de igual posto
Art. 163 Recusar obedecer à ordem do superior ou graduação.
sobre assunto ou matéria de serviço, ou relativa- A finalidade dessa reunião é a discussão de ato
mente a dever imposto em lei, regulamento ou de superior ou assunto atinente à disciplina militar.
instrução: Assim, pratica o delito os militares que se reúnem e,
Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não contrariando ordem de superior, decidem não exerce-
252 constitui crime mais grave. rem a função que lhes foi atribuída.
PUBLICAÇÃO OU CRÍTICA INDEVIDA c) Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto
ou matéria de serviço, ou relativamente a dever impos-
Art. 166 Publicar o militar ou assemelhado, sem to em lei, regulamento ou instrução.
licença, ato ou documento oficial, ou criticar pública- d) Promover a reunião de militares, ou nela tomar parte,
mente ato de seu superior ou assunto atinente à dis- para discussão de ato de superior ou assunto atinente
ciplina militar, ou a qualquer resolução do Govêrno: à disciplina militar.
Pena - detenção, de dois meses a um ano, se o fato e) Praticar o militar diante da tropa, ou em lugar sujeito à
não constitui crime mais grave. administração militar, ato que se traduza em ultraje a
símbolo nacional.
CAPÍTULO VII: DA RESISTÊNCIA

Resistência Mediante Ameaça ou Violência O crime de recusa de obediência está definido no art.
163 do CPM, que dispõe que a conduta é recusar-se
Art. 177 Opor-se à execução de ato legal, mediante a obedecer a ordem do superior sobre assunto ou
ameaça ou violência ao executor, ou a quem esteja matéria de serviço, ou relativamente a dever impos-
prestando auxílio: to em lei, regulamento ou instrução. Resposta: C.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
2. (IBFC – 2020) Sobre o que constitui a conduta típi-
Forma Qualificada ca de crime militar de motim, assinale a alternativa
correta.
§ 1º Se o ato não se executa em razão da resistência:
Pena - reclusão de dois a quatro anos.
a) Reunirem-se dois militares, com armamento de pro-
Cumulação de Penas priedade militar, praticando violência à coisa pública
ou particular em lugar não sujeito à administração
§ 2º As penas dêste artigo são aplicáveis sem prejuí- militar.
zo das correspondentes à violência, ou ao fato que b) Reunirem-se militares desarmados agindo contra a
constitua crime mais grave. ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la.
c) Reunirem-se mais de dois militares ou assemelhados,
FUGA DE PRESO OU INTERDITO com material bélico de propriedade militar, praticando
violência à pessoa em lugar sujeito à administração
Este crime está no capítulo que trata da fuga, eva-
militar.
são, do arrebatamento e amotinamento de preso. Des- d) Deixar o militar de levar ao conhecimento do supe-
tacamos os arts. 178 e 180 do CPM. rior conspiração de cuja preparação teve notícia, ou,
Art. 178 Promover ou facilitar a fuga de pessoa
estando presente ao ato criminoso, não usar de todos
legalmente presa ou submetida à medida de segu- os meios ao seu alcance para impedi-lo.
rança detentiva: e) Reunirem-se militares armados, recusando obediência
Sujeito passivo: qualquer pessoa. a superior, quando estejam agindo sem ordem ou pra-
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. ticando violência.

Este crime está vinculado exclusivamente à prisão O crime de motim está definido no art. 149 do CPM,
militar. Se o preso se encontrar sob custódia de presí- que dispõe que a conduta é de se reunirem militares,
dio civil, o crime será o previsto no art. 351 do CP. Nes- dentre as hipóteses, agindo contra a ordem recebida
se sentido, pratica o crime o militar que permite que o de superior, ou negando-se a cumpri-la. O detalhe
preso serre a grade da janela para empreender fuga. no crime é que os militares estão desarmados, pois
se os militares, no ato de praticar a reunião crimi-
Art. 180 Evadir-se, ou tentar evadir-se o preso ou nosa, estiverem armados, o delito será de revolta.
internado, usando de violência contra a pessoa. Resposta: B.
Pena - detenção, de 1 a 2 anos, além da correspon-
dente à violência. 3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) À luz do Código Penal
Militar, julgue o item a seguir, no que diz respeito a
Os militares presos classificam-se em três categorias: aplicação da lei penal, imputabilidade penal, crime e
extinção da punibilidade.
z Disciplinares;
Situação hipotética: Um cabo das Forças Armadas
z Preventivos;
escalado para serviço na organização militar a que
z Cumprindo sentença.
servia compareceu e assumiu a incumbência em esta-
do de embriaguez, tendo ingerido, voluntariamente,
DIREITO PENAL MILITAR

O CPM abrange, para efeitos deste crime, os militares


presos preventivos ou que estejam cumprindo pena. grande quantidade de bebida alcoólica momentos
antes de se apresentar no serviço. Todavia, seu esta-
do não foi notado, e, nas primeiras horas da ativida-
de, ao discutir com um militar que também estava em
EXERCÍCIOS COMENTADOS serviço, disparou sua arma de fogo na direção deste,
matando-o instantaneamente.
1. (IBFC – 2020) Sobre o que configura conduta típica do Assertiva: Nessa situação, será considerado inim-
crime de recusa de obediência, assinale a alternativa putável o cabo, se ficar comprovado que, naquele
correta. momento, sua embriaguez era completa e que ele era
plenamente incapaz de entender o caráter criminoso
a) Desrespeitar superior diante de outro militar. do fato.
b) Despojar-se de uniforme, condecoração militar, insíg-
nia ou distintivo, por menosprezo ou vilipêndio. ( ) CERTO  ( ) ERRADO 253
O Código Penal Militar estabelece no art. 202 o crime Art. 189 [...]
propriamente militar de “embriaguez em serviço” e II - se a deserção ocorre em unidade estacionada
o tipifica da seguinte forma: “Art. 202 Embriagar- em fronteira ou país estrangeiro, a pena é agravada
-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se de um têrço.
embriagado para prestá-lo: Pena - detenção, de 6
Considera-se, ainda, deserção especial:
(seis) meses a 2 (dois) anos.” É necessário entender
que a embriaguez como circunstância de inimputa- Art. 190 Deixar o militar de apresentar-se no
bilidade do agente deve ser completa e proveniente momento da partida do navio ou aeronave, de que
de caso fortuito ou força maior, conforme o art. 49 é tripulante, ou da partida ou deslocamento da uni-
do CPM. Resposta: Errado. dade ou força em que serve
Pena - detenção, até três meses, se, após a partida
TÍTULO III: DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO ou deslocamento, se apresentar, dentro em vinte e
MILITAR E O DEVER MILITAR, CAPÍTULO II: quatro horas, à autoridade militar do lugar, ou, na
DESERÇÃO falta desta, à autoridade policial, para ser comuni-
cada a apresentação a comando militar da região,
distrito ou zona.
Um dos crimes mais exigidos em concursos públi-
§ 1º Se a apresentação se der dentro do prazo superior
cos, a deserção, é delito contra o serviço militar.
a vinte e quatro horas e não excedente a cinco dias:
Pena - detenção, de dois a oito meses.
Art. 187 Ausentar-se militar, sem licença, da unida- § 2º Se superior a cinco dias e não excedente a dez
de em que serve, ou de lugar em que deve permane- dias:
cer, por mais de oito dias: Pena - detenção de três meses a um ano.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se ofi- § 3º Se tratar de oficial, a pena é agravada.
cial, a pena é agravada.
Na mesma pena incorre o militar que: Atente-se ao fato de que a deserção, no momento
I - não se apresenta no lugar designado, dentro de da partida, denomina-se deserção instantânea, por-
oito dias, findo o prazo de transito ou férias; que decorre de ausência do militar em determinado
II - deixa de se apresentar à autoridade competente,
momento. Inexiste, nessa espécie, o prazo de graça.
dentro do prazo de oito dias contado daquele em
que termina ou é cassada a licença ou agregação ou Concerto para Deserção
em que é declarado o estado de sítio ou de guerra;
III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar Art. 191 Concertarem-se militares para a prática
dentro do prazo de oito dias; da deserção:
IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação I - se a deserção não chega a consumar-se:
inatividade, criando ou simulando incapacidade. Pena - detenção, de três meses a um ano.

Atente-se ao fato de que o crime de deserção é: Modalidade Complexa

z Permanente, porque a consumação se prolon- II - se consumada a deserção:


ga no tempo e somente cessa quando o militar se Pena - reclusão, de dois a quatro anos.
apresenta ou é capturado;
z Formal, porque se configura com a ausência pura Deserção por Evasão ou Fuga
e simples do militar além do prazo estabelecido em
lei. Art. 192 Evadir-se o militar do poder da escolta,
ou de recinto de detenção ou de prisão, ou fugir em
Dica seguida à prática de crime para evitar prisão, per-
manecendo ausente por mais de oito dias:
A deserção somente se consuma depois de Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
transcorridos oito dias de ausência do militar.
Favorecimento a Desertor
Antes desse prazo, não haverá militar desertor e,
sim, militar ausente, definido como transgressão dis- Art. 193 Dar asilo a desertor, ou tomá-lo a seu ser-
ciplinar nos termos dos regulamentos de cada força viço, ou proporcionar-lhe ou facilitar-lhe transpor-
singular (Marinha, Exército e Aeronáutica) e das for- te ou meio de ocultação, sabendo ou tendo razão
ças auxiliares (Polícia Militar e Bombeiro Militar). para saber que cometeu qualquer dos crimes pre-
A contagem do prazo de graça inicia-se no dia vistos neste capítulo:
seguinte ao dia da verificação da ausência, enquanto Pena - detenção, de quatro meses a um ano.
o dia final é contado por inteiro. Se, por exemplo, a
ausência ocorreu no dia 13, inicia-se a contagem do Isenção de Pena
prazo à zero hora do dia 14 e consumar-se-á a deser-
ção a partir de zero hora do dia 22. Parágrafo único. Se o favorecedor é ascendente,
Considera-se atenuante especial: descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica
isento de pena.
Art. 189 [...]
I - se o agente se apresenta voluntariamente dentro Omissão de Oficial
de oito dias após a consumação do crime, a pena é
diminuída de metade; e de um terço, se de mais de Art. 194 Deixar o oficial de proceder contra deser-
oito dias e até sessenta. tor, sabendo, ou devendo saber encontrar-se entre
os seus comandados:
E é considerada agravante especial: Pena - detenção, de seis meses a um ano.
254
CAPÍTULO III: DO ABANDONO DE POSTO E DE Guilherme Nucci ensina que, para caracterizar o
OUTROS CRIMES EM SERVIÇO momento da morte, a fim de se detectar a consuma-
ção do delito de homicídio, que é crime material, sem-
O crime de abandono de posto está previsto no art. pre se considerou a cessação das funções vitais do ser
195 do CPM: humano (coração, pulmão e cérebro), de modo que
não possa mais sobreviver, por suas próprias ener-
Art. 195 Abandonar, sem ordem superior, o posto gias, terminados os recursos validados pela medicina
ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, contemporânea, experimentados por um tempo sufi-
ou a serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo: ciente, o qual somente os médicos poderão estipular
Pena - detenção, de três meses a um ano. para cada caso isoladamente.
O crime é doloso e não há elemento subjetivo específico.
O abandono de posto é delito instantâneo, consu- A forma culposa constitui tipo autônomo (art. 206 do CPM).
mando-se no exato momento em que o militar se afas- Quanto ao homicídio privilegiado, entende-se
ta do local no qual deveria permanecer. que o crime se revela a favor do agente pelos moti-
Conforme decisão do STM, configura-se o crime do vos especiais que o determinaram: relevante valor
art. 195 do CPM o fato de o militar, sem ordem supe- social, relevante valor moral e o domínio de violenta
rior, ausentar-se do posto onde deveria permanecer emoção, logo em seguida à injusta provocação da víti-
ma. Utiliza-se a pena do homicídio simples, com uma
em virtude de escala regular de serviço. O pouco tem-
redução de 1/6 a 1/3. Trata-se de direito subjetivo do
po de vida militar e a primariedade do agente não
acusado e não faculdade do julgador.
excluem a culpabilidade, tal a gravidade do crime,
Quando se tratar de relevante valor social, deve-
face à segurança do quartel. mos levar em consideração o interesse não exclusi-
vamente individual, mas de ordem geral (interesse
Descumprimento de Missão coletivo). Exemplos: quem aprisiona um bandido na
zona rural por alguns dias até que a polícia seja avi-
Art. 196 Deixar o militar de desempenhar a missão sada; quem invade domicílio de traidor da pátria para
que lhe foi confiada: destruir objetos empregados na traição.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato No caso de relevante valor moral, o valor em ques-
não constitui crime mais grave. tão leva em conta interesse de ordem pessoal (interes-
§ 1º Se é oficial o agente, a pena é aumentada de se particular). Exemplos: agressão (ou morte) contra
um têrço. amante do cônjuge e apressar a morte de quem está
§ 2º Se o agente exercia função de comando, a pena desenganado, de acordo com o autor Guilherme Nucci.
é aumentada de metade. Também configura a hipótese do homicídio privi-
legiado quando o sujeito está dominado pela excita-
Modalidade Culposa ção dos seus sentimentos, que pode ser, por exemplo,
ódio, desejo de vingança, amor exacerbado ou ciúme
§ 3º Se a abstenção é culposa: intenso, e foi injustamente provocado pela vítima
Pena - detenção, de três meses a um ano. momentos antes de ter a vida tirada.

TÍTULO IV: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA,


CAPÍTULO L: DO HOMICÍDIO Importante!
Homicídio Simples
Pontos que diferenciam o privilégio da atenuante
(alínea “c” do inciso III do art. 72 do CPM):
Art. 205 Matar alguém: Para o privilégio, a lei exige que o agente esteja
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. dominado por violenta emoção e não meramente
Minoração facultativa da pena influenciado (tocado, inspirado), como no caso da
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo atenuante. Determina também a causa de dimi-
de relevante valor social ou moral, ou sob o domí-
nio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
nuição de pena que a reação à injusta provocação
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena, da vítima se dê logo em seguida, enquanto a ate-
de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). nuante nada menciona nesse sentido.

O crime de homicídio no Código Penal Militar é


muito semelhante ao homicídio tipificado no Código Homicídio Qualificado
Penal. Em geral, podemos dizer que o sujeito ativo
pode ser qualquer pessoa, assim como o passivo. Mas, § 2º Se o homicídio é cometido:
DIREITO PENAL MILITAR

para que seja crime militar, o homicídio deve preen- I - por motivo fútil;
cher os requisitos do art. 9º do Código Penal Militar. II - mediante paga ou promessa de recompensa, por
Por exemplo: um Tenente, após discutir com um cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou
Sargento na saída de um estádio de futebol, desfere por outro motivo torpe;
tiros contra a vítima, que morre. O Tenente conhece a III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo,
condição de militar da vítima. explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
Outro exemplo: um Cabo, no interior do quartel, cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
não aceitando a ordem de superior para lavar a viatu- IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou
ra, desfere tiros contra o superior, que morre. mediante outro recurso insidioso, que dificultou ou
Todavia, se o Sargento, em uma briga de trânsito, tornou impossível a defesa da vítima;
disparar tiros e matar civil, o homicídio praticado é o V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
tipificado no Código Penal. nidade ou vantagem de outro crime;
Tanto no Código Penal quanto no Código Penal VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:
Militar o objeto jurídico é a vida. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 255
O homicídio qualificado se reveste de circunstân- z Tortura: Qualquer ato pelo qual dores ou sofri-
cias taxativamente previstas que o torna mais grave, mentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
sendo por isso para ele cominada pena especial mais intencionalmente a uma pessoa a fim de obter,
severa, ou seja, passa de reclusão de 6 a 20 anos, pre- dela ou de uma terceira pessoa, informações ou
vista para o homicídio simples, para de 12 a 30, para a confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma
figura qualificada. terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de
Atente-se aos pontos a seguir, elucidados por Gui- ter cometido; de intimidar ou coagir essa pessoa
lherme Nucci: ou outras pessoas; ou por qualquer motivo basea-
do em discriminação de qualquer natureza, quan-
z Motivo fútil: Flagrantemente desproporcional ao do tais dores ou sofrimentos são infligidos por
resultado produzido, que merece ser verificado funcionário público ou outra pessoa no exercício
sempre no caso concreto. Por exemplo, o autor de funções públicas, ou por sua instigação, ou com
seu consentimento ou aquiescência;
suprime a vida da vítima porque esta, dona de um
z Traição: Enganar, ser infiel, mas, no contexto do
bar, não lhe vendeu fiado;
homicídio, é a ação do agente que colhe a vítima
z Mediante paga ou promessa de recompensa:
por trás, desprevenida, sem ter esta qualquer
Homicídio mercenário cometido porque o agente foi
visualização do ataque. O ataque de súbito, pela
recompensado previamente pela morte da vítima frente, pode constituir surpresa, mas não traição;
(paga) ou porque lhe foi prometido um prêmio após z Emboscada: Significa ocultar-se para poder ata-
ter eliminado o ofendido (promessa de recompensa); car, o que, na prática, é a tocaia. O agente fica à
z Cobiça: Avidez por bens materiais, algo equiva- espreita do ofendido para agredi-lo;
lente à paga ou promessa de recompensa. Trata-se z Surpresa: Acontecimento imprevisto, constituin-
de circunstância específica do Código Penal Militar, do situação similar às anteriores (traição, embos-
não possuindo equivalente no Código Penal comum; cada etc.);
z Excitação ou preenchimento de desejo sexual: z Finalidade especial do agente: Caracteriza-se
Cuida-se do estímulo ou da fartura da vontade pela evidência do ânimo especial de agir. Quer o
de possuir alguém, em nível carnal. É interessan- agente, ao matar a vítima, assegurar a execução
te observar que esta circunstância qualificadora de outro crime. Por exemplo: mata-se o coman-
é exclusiva do CPM, não encontrando similar na dante da guarda de um quartel para que se possa
legislação penal comum; invadi-lo com maior chance de êxito; assegurar a
z Torpe: Motivo repugnante, abjeto, vil, que causa ocultação de um delito – por exemplo, o sujeito que
repulsa excessiva à sociedade. Observa-se que a lei viola uma sepultura e, percebendo que foi visto,
penal se vale da interpretação analógica, admitida elimina a testemunha a fim de que seu crime não
em Direito Penal, pois estabelece exemplos iniciais seja descoberto; assegurar a impunidade do delito:
de torpeza e, em seguida, generaliza, afirmando por exemplo, o ladrão, notando ter sido reconheci-
“ou outro motivo torpe”, para deixar ao encargo do por alguém durante a prática do furto, elimina
do intérprete a inclusão de circunstâncias não essa pessoa para não ser identificado; assegurar a
expressamente previstas, mas consideradas igual- vantagem de outro crime: por exemplo, mata-se o
mente desprezíveis; parceiro para ficar integralmente com o dinheiro
z Veneno: Substância que, introduzida no organis- conseguido à custa de algum delito;
mo, altera momentaneamente ou suprime defini- z Situação de serviço: No cenário militar, diver-
samente do que ocorre no Código Penal comum,
tivamente as manifestações vitais de toda matéria
insere-se como circunstância qualificadora o
organizada;
cometimento do homicídio tirando proveito da
z Fogo: Pode constituir-se em meio cruel ou que sua posição laborativa. Note-se que o militar, em
gera perigo comum. A queimadura, em regra, é um muitas situações, trabalha armado, favorecendo a
sofrimento atroz, concretizando, pois, o desiderato execução do crime contra a vida.
cruento do agente. Por outro lado, pode atingir ter-
ceiros, conforme sua volatilidade; HOMICÍDIO CULPOSO
z Explosivo: Provocar a morte da vítima por meio
da explosão de determinada substância, em regra, Art. 206 Se o homicídio é culposo:
gera perigo comum, mas também pode constituir- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
-se em meio cruel, caso a detonação, previamente § 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta
calculada pelo autor, provoque no ofendido a per- de inobservância de regra técnica de profissão, arte
da de membros e, consequentemente, morte agô- ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
nica e lenta; socorro à vítima.
z Asfixia: Supressão da respiração, que se origina
de um processo mecânico ou tóxico. São exemplos: Multiplicidade de Vítimas
estrangulamento (compressão do pescoço por um
§ 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão
laço conduzido por força que pode ser a do agente
culposa, ocorre morte de mais de uma pessoa ou
agressor ou de outra fonte, exceto o peso do corpo também lesões corporais em outras pessoas, a pena
do ofendido); enforcamento (compressão do pes- é aumentada de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade).
coço por um laço, causada pelo peso do próprio
corpo da vítima); esganadura (aperto do pesco- O Código Penal Militar, na Parte Geral, descreve
ço provocado pelo agente agressor diretamente, o que vem a ser culpa: deixar de empregar cautela,
valendo-se das mãos, pernas ou antebraço); afo- atenção ou diligência ordinária ou especial a que esta-
gamento (inspiração de líquido, estando ou não va obrigado pelo dever de cuidado objetivo (inciso II
imerso) e uso de gases ou drogas asfixiantes, entre do art. 33 do COM).
256 outros; Lembre-se: todo crime culposo não admite tentativa.
Conforme decisão do STM (1994), no CPM, a cul- Exemplo: Um colega do quartel diz que está com mui-
pa tem conceito mais abrangente do que a ação por tas dívidas e com dificuldades no relacionamento fami-
imprudência, imperícia ou negligência; na lei penal liar. O agente, então, dá a ideia para o colega suicidar-se.
militar, a raiz da culpa está na previsibilidade. Noutro caso, o colega do quartel diz que está com
Sobre o § 1º do art. 206 do CPM, a inobservância de dívidas e que está pensando em se matar. O agente
ordem regulamentar não se confunde com a imperí-
incentiva o colega a se suicidar, dizendo que o seguro
cia, que indica inabilidade de ordem profissional ou
insuficiência de capacidade técnica. Aqui, o sujeito de vida trará conforto à família.
conhece a regra técnica, mas não a observa. Exemplo: No último exemplo, o colega de quartel diz que
instrutor de tiro que não observa as regras de segu- está com dívidas e que pretende se suicidar, mas que,
rança para verificar se o estande de tiro está livre e para isso, precisa de uma arma. O agente, solícito, for-
autoriza a instrução enquanto o auxiliar está con- nece a arma para que o colega pratique o suicídio.
cluindo a preparação dos alvos. O crime de instigar, induzir e auxiliar o suicídio é
O § 2º do art. 206 Conversa sobre a omissão de doloso, não se admitindo a forma culposa.
socorro, que consiste na omissão do agente em procu- A pena para o crime de instigação, induzimento e
rar diminuir as consequências do seu ato. Essa majo- auxílio ao suicídio será agravada nas seguintes hipóteses:
rante da pena só é possível em caso de se ter a opção
de socorrer a vítima, pois, se a vítima tiver morte ins-
tantânea, isso impedirá a circunstância especial de z Motivo egoístico: Excessivo apego a si mesmo,
aumento de penal. evidenciando o desprezo pela vida alheia, desde
que algum benefício concreto advenha ao agente.
PROVOCAÇÃO DIRETA OU AUXÍLIO A SUICÍDIO Por exemplo: induzir alguém a se matar para ficar
com a herança ou para receber valor de seguro
Art. 207 Instigar ou induzir alguém a suicidar-se, (NUCCI, 2016);
ou prestar-lhe auxílio para que o faça, vindo o sui- z Vítima menor ou com resistência diminuída:
cídio a consumar-se: A resistência diminuída configura-se por fases
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. críticas de doenças graves (físicas ou mentais),
abalos psicológicos, senilidade, infantilidade ou
Agravação de Pena
ainda pela ingestão de álcool ou substância de
efeitos análogos. Essa pessoa tem menor condição
§ 1º Se o crime é praticado por motivo egoístico, ou
a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer de resistir à ideia do suicídio que lhe foi passada,
motivo, a resistência moral, a pena é agravada. diante da particular condição que experimenta ou
da situação que está vivenciando. No tocante ao
Provocação Indireta ao Suicídio menor, deve-se entender como pessoa entre 14 e
18 anos (NUCCI, 2016).
§ 2º Com a detenção de 1 (um) a 3 (três) anos, será
punido quem, desumana e reiteradamente, infli- O suicida com resistência diminuída e de idade
ge maus-tratos a alguém, sob sua autoridade ou
inferior a 14 anos é vítima de homicídio, e não de
dependência, levando-o, em razão disso, à prática
de suicídio. induzimento, instigação ou auxílio a suicídio.

Redução de Pena CAPÍTULO III: DA LESÃO CORPORAL E DA RIXA;

§ 3º Se o suicídio é apenas tentado, e da tentativa Lesão Leve


resulta lesão grave, a pena é reduzida de 1 (um) a
2/3 (dois terços). Art. 209 Ofender a integridade corporal ou a saúde
de outrem:
O suicídio é a morte voluntária, resultado direi- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
to ou indireto de um ato positivo ou negativo, reali-
zado pela própria vítima, a qual sabia produzir este Lesão Grave
resultado.
Tendo em vista que o autor e a vítima são as mes- § 1º Se se produz, dolosamente, perigo de vida, debi-
mas pessoas, não se pune o autor da tentativa de lidade permanente de membro, sentido ou função,
suicídio. ou incapacidade para as ocupações habituais, por
Como é a livre manifestação da pessoa, por óbvio, mais de 30 (trinta) dias:
o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Porém, o Pena - reclusão, até 5 (cinco) anos.
DIREITO PENAL MILITAR

agente que, valendo-se da insanidade da vítima, con- § 2º Se se produz, dolosamente, enfermidade incu-
vence-a a se matar, incide no art. 207 do CPM. rável, perda ou inutilização de membro, sentido ou
Há três modos de cometimento do delito: função, incapacidade permanente para o trabalho,
ou deformidade duradoura:
z Instigando, ou seja, incentivando ideia já existen- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
te por parte da vítima;
z Induzindo, neste caso, fornecendo a ideia; Lesões Qualificadas pelo Resultado
z Auxiliando, no sentido de proporcionar material
para o suicídio. § 3º Se os resultados previstos nos §§ 1.º e 2.º forem
causados culposamente, a pena será de detenção,
O crime é condicionado, possuindo, no tipo, condi- de 1 (um) a 4 (quatro) anos; se da lesão resultar
morte e as circunstâncias evidenciarem que o agen-
ção objetiva de punibilidade, consistente na consuma-
te não quis o resultado, nem assumiu o risco de pro-
ção do suicídio.
duzi-lo, a pena será de reclusão, até 8 (oito) anos. 257
Minoração Facultativa da Pena z Perigo de vida: Concreta possibilidade de a vítima
morrer em face das lesões sofridas. Não bastam
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo conjecturas ou hipóteses vagas e imprecisas, mas
de relevante valor moral ou social ou sob o domínio um fator real de risco inerente ao ferimento cau-
de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro- sado. Trata-se de um diagnóstico. É praticamente
vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena, de
indispensável o laudo pericial, sendo muito rara
1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
a sua substituição por prova testemunhal, salvo
§ 5º No caso de lesões leves, se estas são recípro-
quando esta for qualificada, vale dizer, produzida
cas, não se sabendo qual dos contendores atacou
primeiro, ou quando ocorre qualquer das hipóteses pelo depoimento de especialistas, como o médico
do parágrafo anterior, o juiz pode diminuir a pena que cuidou da vítima durante a sua convalescença;
de 1 (um) a 2/3 (dois terços). z Debilidade permanente: Frouxidão duradoura
no corpo ou na saúde, que se instala na vítima
Lesão Levíssima após a lesão corporal provocada pelo agente. Não
se exige que seja uma debilidade perpétua, bastan-
§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode consi- do ter longa duração;
derar a infração como disciplinar. z Membro: Os membros do corpo humano são os
braços, as mãos, as pernas e os pés. Os dedos são
O crime de lesão corporal previsto no Código Penal apenas partes dos membros, de modo que a perda
Militar é de muita semelhança com o Código Penal de um dos dedos se constitui em debilidade perma-
comum. Assim, lesão corporal é uma ofensa física ou nente da mão ou do pé;
psíquica voltada à integridade ou à saúde do corpo z Sentido: O ser humano possui cinco sentidos, ou
humano. Tutela-se a integridade corporal e a saúde seja, visão, olfato, audição, paladar e tato. Assim,
do ser humano. exemplificando, perder a visão em um dos olhos é
É preciso que a vítima sofra algum dano ao seu debilidade permanente;
corpo, alterando-se interna ou externamente e poden- z Função: Ação própria de um órgão do corpo
do, ainda, abranger qualquer modificação prejudicial humano, por exemplo, função respiratória, função
à sua saúde, transfigurando-se qualquer função orgâ- excretória, função circulatória;
nica ou causando-lhe abalos psíquicos compromete- z Ocupação habitual: Deve-se compreender qual-
dores. Exemplos: hematoma, corte na pele, fratura na quer atividade regularmente desempenhada pela
costela. vítima, e não apenas a sua ocupação laborativa.
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer Assim, uma pessoa que não trabalhe, vivendo
pessoa e, para configurar o crime de lesão corporal de renda ou sustentada por outra, deixando de
como delito militar, é necessário que ele esteja nas exercitar suas habituais ocupações, sejam elas
hipóteses do art. 9º do CPM. quais forem, até mesmo de simples lazer, pode ser
Exemplos: soldado que desfere golpes no rosto de enquadrada nesse inciso, desde que fique incapa-
outro soldado no interior do alojamento do quartel; citada por mais de trinta dias;
soldado que, durante o desfile cívico militar, mesmo z Enfermidade incurável: Doença irremediável,
que fora da organização militar, defere golpes em de acordo com os recursos da medicina na época
civil que tentava se aproximar da tropa. do resultado, causada na vítima. Não configura
a qualificadora a simples debilidade enfrentada
pelo organismo da pessoa ofendida, necessitando
Dica existir uma séria alteração na saúde;
A autolesão não é punida no direito brasileiro, z Perda: Implica destruição ou privação de algum
embora seja considerada ilícita, salvo se estiver membro (por exemplo, corte de um braço), senti-
vinculada à violação de outro bem ou interesse do (exemplo: aniquilamento dos olhos), ou função
(por exemplo, ablação da bolsa escrotal, impedin-
juridicamente protegido, como ocorre quando
do a função reprodutora);
o agente, pretendendo evitar o serviço militar,
z Inutilização: Falta de utilidade, ainda que fisica-
cria incapacidade física, ferindo-se (Guilherme
mente esteja presente o membro ou o órgão huma-
Nucci). no. Assim, inutilizar um membro seria a perda de
movimento da mão ou a impotência para o coito,
O crime é doloso, não se exigindo elemento sub- embora sem remoção do órgão sexual;
jetivo específico. A forma culposa é prevista em tipo z Incapacidade permanente para o trabalho: Tra-
penal autônomo (art. 210 do CPM). ta-se da inaptidão duradoura para exercer qual-
quer atividade laborativa lícita. Nesse contexto,
Lesão Corporal Grave diferentemente da incapacidade para as ocupa-
ções habituais, exige-se atividade remunerada,
No § 1º, encontram-se os casos de lesão corpo- que implique sustento, portanto, acarrete prejuízo
ral grave; no § 2º, estão os casos de lesão corporal financeiro para o ofendido.
gravíssima. z Deformidade duradoura: Deformar significa
A diferença entre ambas as denominações está alterar a forma original. Ocorre quando há modi-
pena cominada: reclusão de 1 a 5 anos para a hipótese ficação duradoura de uma parte do corpo humano
grave, e reclusão de 2 a 8 anos para a gravíssima. da vítima.
Assim, a lesão corporal grave (ou mesmo a gravís-
sima) é uma ofensa à integridade física ou à saúde Atente-se ao fato de que o Código Penal Militar
da pessoa humana, considerada muito mais séria e estabelece que, no caso de lesão corporal grave e gra-
importante do que a lesão simples ou leve. Observe o víssima, se o resultado qualificador for causado por
258 que pontua Guilherme Nucci: culpa, a pena é atenuada.
Se houver dolo na lesão e dolo no resultado mais Por exemplo: sargento desfere um tapa no rosto no
grave, aplica-se as penas da lesão corporal grave ou soldado após uma discussão sobre o local onde guar-
gravíssima. Assim, há dolo na lesão e culpa no resul- dar o material de acampamento.
tado mais grave.
Lesão Culposa
Lesão Corporal Seguida de Morte
Art. 210 Se a lesão é culposa:
Estamos diante de um clássico exemplo de preter- Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
doloso. Exige-se dolo no antecedente, na lesão corpo- § 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta
ral, e somente a forma culposa no evento subsequente, de inobservância de regra técnica de profissão, arte
ou seja, a morte da vítima. ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
Vejamos: um sargento empurra um soldado que socorro à vítima.
estava em pé dentro do caminhão de transporte de
tropa, com o objetivo de que este sente – independen- Aumento de Pena
te de sofrer ou não lesão corporal como resultado –
mas ele cai para fora do veículo e morre. § 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão
Ao mencionar que a morte não pode ter sido dese- culposa, ocorrem lesões em várias pessoas, a pena
jada pelo agente, nem tampouco pode ele ter assumi- é aumentada de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade).
do o risco de produzi-la, está-se fixando a culpa como
único elemento subjetivo possível para o resultado A culpa, conforme o inciso II do art. 33 do Códi-
qualificador (NUCCI, 2016). go Penal Militar, é constituída de conduta desaten-
ciosa. Portanto, lesionar alguém por infração ao
Lesão Corporal Privilegiada dever de cuidado objetivo concretiza este tipo penal
incriminador.
Esta hipótese é aplicável somente nos casos de Exemplo: Policial Militar que, totalmente impru-
lesões grave, gravíssima ou seguida de morte. dente, aponta a arma contra o colega, supondo inexis-
Se o agente comete o crime impelido por motivo de tir munição, dispara a arma de fogo e causa-lhe lesão
relevante valor moral (interesse particular) ou social corporal.
(interesse coletivo) ou sob o domínio de violenta emo-
ção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, PARTICIPAÇÃO EM RIXA
o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um
terço). Art. 211 Participar de rixa, salvo para separar os
contendores:
Pena - detenção, até 2 (dois) meses.
Lesões Leves e Causa de Diminuição da Pena
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão grave,
aplica-se, pelo fato de participação na rixa, a pena
Representa causa de diminuição de pena, de maior de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
amplitude, porque envolve tão somente as lesões leves,
em situação de reciprocidade ou nas condições de o Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
agente cometer o crime impelido por motivo de rele-
pessoa, embora, no caso peculiar da rixa, sejam todos
vante valor moral (interesse particular) ou social (inte-
agentes e vítimas ao mesmo tempo. Isso porque a par-
resse coletivo) ou sob o domínio de violenta emoção,
ticipação em rixa é crime plurissubjetivo, ou seja, con-
logo em seguida à injusta provocação da vítima. O juiz
curso necessário, só existindo se houver pluralidade
pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
de participantes (no mínimo, três pessoas).
Admite-se que haja, entre os contendores, para a
Lesão Levíssima
tipificação deste delito, inimputáveis, sendo que se
exige, no mínimo, três imputáveis.
A lesão corporal levíssima não tem correspon-
O fato de o participante ser ou não culpável não
dência no Código Penal comum. Trata-se de uma
possibilidade de a conduta ser atípica para o crime, afasta a possibilidade real de estar havendo uma
mas uma transgressão disciplinar a ser apurada em desordem generalizada com troca de agressões; por
âmbito administrativo que pode ensejar à punição isso, ficará a cargo da interpretação do juiz.
disciplinar, pelos seguintes motivos, nas palavras de Jorge César de Assis ensina que participar signi-
Guilherme Nucci: fica associar-se ou tomar parte, enquanto rixa é uma
briga, uma desordem caracterizada pela existência
de, pelo menos, três pessoas valendo-se de agressões
DIREITO PENAL MILITAR

z Se a lesão é detectada por laudo pericial, há mate-


rialidade; mútuas de ordem material.
z Se a lei penal não considera relevante, sob o pon- Acrescente-se a isso que não pode existir vítima
to de vista do bem jurídico tutelado, a lesão deno- certa, ou seja, três pessoas contra uma, pois não se
minada levíssima, deveria simplesmente eliminar está diante de confusão generalizada, vale dizer, de
qualquer punição; rixa. Portanto, havendo individualização nítida de
z Argumentar que a lesão levíssima é fato atípico, condutas, não há mais a figura do crime do art. 211
mesmo materialmente, levaria à conclusão que o (NUCCI, 2014).
agente nenhum ilícito cometeu, motivo pelo qual Admite-se tentativa se a rixa for preordenada, isto
não teria cabimento puni-lo; é: os participantes têm um grupo de pessoas para atin-
z Pode-se falar em desclassificação, o que, em ver- gir, por exemplo, torcedores de time de futebol que
dade, seria tecnicamente irregular, pois não há pretendem agredir mutuamente grupo de torcedores
alteração de tipo penal, passando-se de crime para de time adversário.
infração disciplinar. É crime doloso e não se pune a forma culposa. 259
CAPÍTULO IV: DA PERICLITAÇÃO DA VIDA OU DA CAPÍTULO VI: DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE,
SAÚDE SEÇÃO I: DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE
INDIVIDUAL
Abandono de Pessoa
Art. 222 Constranger alguém, mediante violência
Art. 212 Abandonar o militar pessoa que está sob
ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido,
seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade e,
por qualquer outro meio, a capacidade de resistên-
por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos cia, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer ou a
riscos resultantes do abandono: tolerar que se faça, o que ela não manda:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. Pena - detenção, até 1 (um) ano, se o fato não cons-
titui crime mais grave.
Formas Qualificadas pelo Resultado

§ 1º Se do abandono resulta lesão grave: Aumento de Pena


Pena - reclusão, até 5 (cinco) anos.
§ 2º Se resulta morte: § 1º A pena aplica-se em dobro, quando, para a exe-
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. cução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou
há emprego de arma, ou quando o constrangimento
O autor deve ser um militar que tem a função de é exercido com abuso de autoridade, para obter de
guarda, de protetor ou de autoridade designada por alguém confissão de autoria de crime ou declara-
lei para garantir a segurança da vítima, que pode ser ção como testemunha.
pessoa de qualquer idade, desde que incapaz, coloca- § 2º Além da pena cominada, aplica-se a correspon-
da sob sua vigilância. dente à violência.
Tutela-se a vida e a saúde do ser humano. Aqui, o
verbo abandonar quer dizer deixar só, sem a devida Exclusão de Crime
assistência.
O abandono, neste caso, é físico. Não é o caso de § 3º Não constitui crime:
se enquadrar, nesta figura, o pai que deixa de dar I - salvo o caso de transplante de órgãos, a inter-
alimentos ao filho menor, e sim aquele que deixa a venção médica ou cirúrgica, sem o consentimento
criança sozinha, sem condições de se proteger. do paciente ou de seu representante legal, se justi-
A incapacidade de se defender dos riscos do aban- ficada para conjurar iminente perigo de vida ou de
dono deve ser apreciada caso a caso, visto que o even- grave dano ao corpo ou à saúde;
to consiste em periclitação para a vida ou saúde, e II - a coação exercida para impedir suicídio.
esse perigo não se presume.
As formas qualificadas que ocorrem o abandono No crime de constrangimento ilegal, apesar de ser
resultam lesão corporal de natureza grave ou morte. crime previsto no Código Penal Militar, o sujeito ativo
e o sujeito passivo podem ser qualquer pessoa: civil
Maus Tratos
ou militar. Tutela-se a liberdade individual.
Art. 213 Expor a perigo a vida ou saúde, em lugar Excepcionalmente, tratando-se de servidor civil
sujeito à administração militar ou no exercício de em organização militar no exercício da sua função,
função militar, de pessoa sob sua autoridade, guar- quando da prática de conduta constranger alguém,
da ou vigilância, para o fim de educação, instrução, poderá constituir-se abuso de autoridade, crime pre-
tratamento ou custódia, quer privando-a de ali- visto na Lei nº 13.869/2019, sem prejuízo de ser julga-
mentação ou cuidados indispensáveis, quer sujei- do pela justiça militar.
tando-a a trabalhos excessivos ou inadequados, O crime de constrangimento ilegal tem por centro
quer abusando de meios de correção ou disciplina: o verbo constranger, ou seja, forçar alguém a fazer
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. alguma coisa ou impedir os movimentos de alguém
para que deixe de fazer, impor à força.
Formas Qualificadas pelo Resultado Já a violência (física) e a grave ameaça (intimida-
§ 1º Se do fato resulta lesão grave: ção) são os meios de se cometer o delito de constrangi-
Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos. mento ilegal, como observa-se na definição do crime.
§ 2º Se resulta morte: Por exemplo: o sargento força o cabo a permane-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 10 (dez) anos. cer em um determinado local insalubre, obrigando-o
a fazer esforços físicos excessivos.
Observe que o crime de maus tratos exige que a Observe que a violência e a grave ameaça têm por
exposição a perigo ocorra em lugar sujeito à adminis- objetivo diminuir ou anular a capacidade de a vítima
tração militar (quartel, batalhão) ou no exercício da resistir o constrangimento.
função. O crime exige o dolo. Não existe a modalidade
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, civil ou culposa.
militar, ressalvando-se que o civil tem a sua punibili-
dade condicionada ao fato de o delito atentar contra Dica
as instituições militares.
Quanto ao sujeito passivo, a lei prevê uma situação Diversamente da figura prevista no Código Penal
a mais, isto é, a de estar submetida à autoridade do comum, este tipo é subsidiário, somente punin-
agente, para o fim de instrução, caso específico, por do por constrangimento ilegal caso não se con-
exemplo, de alunos de cursos de formação. figure infração mais grave, por exemplo, lesão
É importante lembrar que o agente necessita ser corporal (NUCCI, 2014).
pessoa responsável por outra, que é mantida sob sua
autoridade, guarda ou vigilância (por exemplo: recru- Circunstâncias em que a pena será aplicada em
260 tamento). O crime é doloso. dobro:
z Participação de pelo menos quatro pessoas; Este crime é exclusivo do Código Penal Militar.
z Agente valer-se de arma. Os sujeitos ativo e passivo somente podem ser mili-
tar. Busca-se evitar o duelo como forma de proteção
Quando da violência decorre outro resultado, à vida e à saúde.
por exemplo, lesão corporal, as penas cumulam-se Constitui-se a natureza subsidiária do crime na
(somam-se). expressão se o fato não constitui crime mais grave.
O § 3º do art. 222 do CPM trata da exclusão do cri- Nesse sentido, caso o duelo se realize, havendo lesão
me de constrangimento ilegal. Com exceção da hipó- ou morte, o crime será de lesão corporal ou homicídio.
tese de transplante de órgãos, a intervenção médica Assim, o crime de desafio para duelo será consu-
ou cirúrgica sem o consentimento do paciente ou de mado com o simples “convite”, por exemplo, um sol-
seu representante legal pode ser realizada, desde que dado convida o outro para “briga” pelo fato de ter
a finalidade seja para tratar iminente perigo de vida atrasado na entrega do café da manhã da equipe de
ou de grave dano ao corpo ou à saúde. serviço; mesmo que o soldado “convidado” não aceite
A outra possibilidade em que a lei trata sobre a o duelo, o soldado que convidou responderá pela con-
exclusão do crime de constrangimento ilegal é a hipó- sumação do delito.
tese de o agente realizar a conduta para impedir o Não é admitida a tentativa. Pune-se a título de dolo
suicídio. e não há a modalidade culposa.

AMEAÇA SEQUESTRO OU CÁRCERE PRIVADO

Art. 223 Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou Art. 225 Privar alguém de sua liberdade, mediante
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de lhe sequestro ou cárcere privado:
causar mal injusto e grave: Pena - reclusão, até 3 (três) anos.
Pena - detenção, até 6 (seis) meses, se o fato não
constitui crime mais grave. Aumento de Pena
Parágrafo único. Se a ameaça é motivada por fato
referente a serviço de natureza militar, a pena é § 1º A pena é aumentada de 1/2 (metade):
aumentada de 1/3 (um terço). I - se a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge
do agente;
Qualquer pessoa pode cometer e sofrer o delito de II - se o crime é praticado mediante internação da
ameaça, seja civil ou militar. vítima em casa de saúde ou hospital;
Encontramos o melhor ensinamento sobre o crime III - se a privação de liberdade dura mais de 15
de ameaça nas lições de Guilherme Nucci, que em sín- (quinze) dias.
tese esclarece que se exige no crime em comento que o
sujeito passivo tenha a capacidade de compreensão e Formas Qualificadas pelo Resultado
entendimento da ameaça realizada, por exemplo, que
a pessoa vítima da ameaça altere o trajeto de sua casa § 2º Se resulta à vítima, em razão de maus tratos
para o trabalho com temor de encontrar o agente. ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
O autor acrescenta que não se pode considerar ou moral:
ameaça, por exemplo, quando a vítima não expressa Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
sentimento de temor, ou quando a vítima é doente § 3º Se, pela razão do parágrafo anterior, resulta
mental ou criança de tenra idade. morte:
Nucci destaca que inexiste o delito de ameaça Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
contra sujeito indeterminado e ensina que o verbo
ameaçar significa procurar intimidar alguém, anun- Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
ciando-lhe um mal futuro, sendo irrelevante se o pessoa. Tutela-se a liberdade individual de ir e vir.
agente irá cumpri-la ou não. O verbo privar, no crime de sequestro ou cár-
Somente se pune a ameaça quando praticada dolo- cere privado, significa tolher, impedir, tirar o gozo,
samente. Não existe a modalidade culposa e não se desapossar.
admite a tentativa, visto que é necessário que a vítima Nas lições de Guilherme Nucci, o importante é
sinta o temor. detectar a intenção do agente para a tipificação do
Ainda segundo Nucci (2014), em uma discussão, delito correto:
quando os ânimos estão alterados, é possível que as
pessoas troquem ameaças sem qualquer concretude, z Se o autor age com a intenção de reter a vítima por
DIREITO PENAL MILITAR

isto é, são palavras lançadas a esmo, como forma de pouco tempo para que não pratique determina-
desabafo ou fúria, que não correspondem à vontade do ato, é constrangimento ilegal;
de preencher o tipo penal. z Se atua com a vontade de reter a vítima para cer-
O agravamento da pena, disposto no parágrafo cear a liberdade de locomoção, é sequestro;
único do art. 223 do CPM, prevê a ameaça motivada z Se atua com a intenção de privar-lhe a liberdade
em razão de serviço de natureza militar. para exigir alguma vantagem, trata-se de extor-
são mediante sequestro.
DESAFIO PARA DUELO
O crime é doloso e inexiste a modalidade culposa.
Art. 224 Desafiar outro militar para duelo ou acei- Guilherme Nucci lembra que a liberdade, bem
tar-lhe o desafio, embora o duelo não se realize: precioso e fundamental do ser humano, não deve ser
Pena - detenção, até 3 (três) meses, se o fato não cerceada um minuto sequer, caso a lei não autorize.
constitui crime mais grave. Ainda segundo o autor: 261
Os maus-tratos e natureza da detenção parece se II - a qualquer hora do dia ou da noite para acu-
tratar de resultado qualificador (crime qualificado dir vítima de desastre ou quando alguma infração
pelo resultado), mas não é o caso. penal está sendo ali praticada ou na iminência de
O tipo penal se alterou para serem incluídos os o ser.
maus tratos e a natureza da detenção.
Portanto, não é o grave sofrimento, físico ou moral, Compreensão do Termo “casa”
uma simples resultante do sequestro ou cárcere priva-
do, mas sim um particular modo de praticar o crime.
§ 4º O termo “casa” compreende:
Assim, o agente que priva a liberdade de outrem
I - qualquer compartimento habitado;
e, além disso, submete a vítima a maus tratos, por
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
exemplo, espancando-a ou ameaçando-a constan-
temente, enquanto sua liberdade está tolhida, ou III - compartimento não aberto ao público, onde
coloca-a em lugar imundo e infecto, causando-lhe, alguém exerce profissão ou atividade.
além da conta, particularizado sofrimento físico ou § 5º Não se compreende no termo “casa”:
moral, deve responder mais gravemente. I - hotel, hospedaria, ou qualquer outra habitação
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do inci-
Há três causas de aumento de pena: so II do parágrafo anterior;
II - taverna, boate, casa de jogo e outras do mesmo
z Se a vítima é ascendente, descendente ou cônju- gênero.
ge do agente, quando se evidencia a falta de afe-
to do criminoso, bem como o abuso de confiança Neste crime, o sujeito ativo pode ser qualquer pes-
que geralmente inspira-se às pessoas ligadas pelo soa. O sujeito passivo se restringe à pessoa que tem
matrimônio ou parentesco; direito sobre o lugar invadido.
z Se o crime é praticado mediante internação em Observemos duas hipóteses apresentadas por
casa de saúde ou hospitalar em razão de desvio, Nucci:
por parte dos responsáveis por tais estabelecimen-
tos, da finalidade a que se destinam, ou então pela z Diante de uma família, não são todos os que podem
dissimulação que o agente procurou dar ao crime, autorizar ou determinar a permanência ou entra-
mascarando-o com um aspecto saudável de cuida- da de terceiros no lar, mas somente o casal (pai e
do pela saúde da vítima;
mãe) que, em igualdade de condições, administra
z Se a privação de liberdade ultrapassar o lapso tem-
os interesses familiares;
poral de quinze dias.
z Quando se tratar de um aposento coletivo, qual-
Na prática, o TJM-RS afirmou ser insuficiente o quer um que tenha direito a ali permanecer pode
conjunto probatório para a condenação pelo crime de autorizar a entrada de terceiro, desde que respei-
sequestro quando a própria vítima admite ter ingres- tada a individualidade dos demais. Se neste local,
sado voluntariamente na viatura policial, e as teste- no entanto, houver um administrador, cabe a este
munhas não assistiram qualquer coação dos agentes. controlar a entrada e a saída de visitantes.

SEÇÃO II; DOS CRIMES CONTRA A O crime está contido em dois verbos: entrar e per-
INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO manecer. Entrar é a ação de ir de fora para dentro,
de penetração; permanecer é a conduta de deixar de
Violação de Domicílio sair, ou seja, não sair da residência.
O crime se perfaz de duas formas distintas: quando
Art. 226 Entrar ou permanecer, clandestina ou alguém entra ou quando alguém permanece em casa
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou alheia ou em suas dependências, desde que seja con-
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em tra a vontade expressa ou tácita de quem é direito, ou
suas dependências:
ainda que a entrada ou permanência seja clandestina.
Pena - detenção, até 3 (três) meses.
O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
Forma Qualificada Durante repouso noturno, à noite, período em que
as pessoas estão menos vigilantes, do anoitecer ao
§ 1º Se o crime é cometido durante o repouso notur- alvorecer, pune-se com maior rigor.
no, ou com emprego de violência ou de arma, ou Quando se fala de violência, esta deve ser física
mediante arrombamento, ou por duas ou mais e exercida contra a pessoa, não contra a coisa. Aqui,
pessoas: o legislador incluiu o emprego de arma, seja própria
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, (por exemplo, armas de fogo, punhais), ou imprópria
além da pena correspondente à violência. (faca de cozinha, pedaço de pau etc.).
Agravação de Pena
Dica
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço), se o fato é
cometido por militar em serviço ou por funcionário Quando se fala de arrombamento, trata-se do
público civil, fora dos casos legais, ou com inobser- rompimento de obstáculo protetor da casa, nas
vância das formalidades prescritas em lei, ou com mais variadas formas, como cercas, vidros, por-
abuso de poder. tas, grades etc. É circunstância exclusiva do
Código Penal Militar, sem similar na legislação
Exclusão de Crime
penal comum (NUCCI, 2014).
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência
em casa alheia ou em suas dependências: Observe-se que o crime será qualificado, além da
I - durante o dia, com observância das formalidades hipótese de ser praticado no período noturno, caso
legais, para efetuar prisão ou outra diligência em seja a conduta praticada em concurso de duas ou mais
262 cumprimento de lei ou regulamento militar; pessoas.
A causa de aumento da pena é fixa de um terço, O crime tem similaridade com o art. 153 do CP. A
que deve ser acrescentado às penas previstas no caput divulgação do segredo somente é considerada crime
ou no § 1º do art. 226. militar se for pratica por militar em situação de ativi-
A causa excludente de ilicitude, conforme ensina dade contra militar na mesma situação.
Nucci, já está abrangida pelo inciso III do art. 42 do Destaca-se que deve ser, o destinatário ou detentor
CPM (estrito cumprimento do dever legal) e pela pró- do documento particular ou da correspondência sigi-
pria Constituição Federal (inciso XI do art. 5º), autori- losa, o guardião do segredo.
zando o ingresso, sem o consentimento do morador, O núcleo do crime é o verbo divulgar, ou seja, dar
para efetuar prisão em flagrante (dever das autorida- conhecimento a alguém ou tornar o assunto público.
des) ou para acudir desastre ou prestar socorro (dever É indispensável que o segredo esteja concretizado
das autoridades, também). na forma escrita e não oral, conforme estabelece a Lei
As definições e distinções do termo casa são impor- de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).
tantes. Nesse sentido, observe as definições de Gui- O crime é doloso e não existe a modalidade culposa.
lherme Nucci:
Violação de Recato
z Compartimento habitado: qualquer lugar sujeito
à ocupação do ser humano é, como regra, passível Art. 229 Violar, mediante processo técnico o direito
de divisão. O resultado dessa divisão é o comparti- ao recato pessoal ou o direito ao resguardo das pala-
mento. Portanto, compartimento habitado é o local vras que não forem pronunciadas publicamente:
específico de um contexto maior, devidamente ocu- Pena - detenção, até 1 (um) ano.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
pado por alguém para morar, viver ou usar. Assim,
divulga os fatos captados.
o quarto de um hotel é um compartimento habi-
tado. Pode ser o trailer ligado a um carro, onde se
Jorge César de Assis (2004) chama a atenção para esse
encontra morada, bem como a cabine de um barco;
crime no ponto em que os sujeitos ativo e passivo neces-
z Aposento ocupado de habitação coletiva: com-
sariamente devem ser militares em situação de atividade.
partimentos de habitação coletiva, por exemplo,
O agente deve violar (revelar) o conteúdo pessoal.
hotéis, motéis, flats, pensões, “repúblicas” etc., que
Podemos exemplificar com o caso hipotético de
estejam ocupados por alguém. Assim, um quarto
um militar divulgar por meio de rede social imagens
vazio de hotel pode ser invadido, pois é parte de de outra militar que estava trocando de roupas em
habitação coletiva não ocupado, mas o crime existe barracas durante operação militar.
quando o aposento estiver destinado a um hóspede; Observe que, conforme o exemplo acima, o recato
z Compartimento fechado ao público, onde pessoal é a intimidade. A tutela penal é a intimidade.
alguém exerce profissão ou atividade: é o local O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
onde alguém ali exerce profissão ou atividade,
por exemplo, o escritório do advogado, o consul-
tório do médico. Observe-se, ainda, que o quintal Importante!
de uma casa ou a garagem externa da habitação,
quando devidamente cercados, fazem parte do O divulgador é aquele que espalha os dados ínti-
conceito de domicílio, penalmente protegido; mos captados e responde pelo mesmo delito. Se
z Hospedaria, estalagem ou outra habitação cole- quem violou a privacidade alheia também divul-
tiva: as habitações coletivas, abertas ao público, ga os fatos, responde por um só crime (NUCCI,
não gozam da proteção do art. 226, pois admitem a 2014).
entrada e a permanência de variadas pessoas, sem
necessidade de prévia autorização. O ingresso no
saguão de um hotel não depende de autorização, A lei não define o que seja processo técnico, o que
pois local aberto ao público, não se constituindo permite que possamos entender que seja o modo,
objeto da proteção penal. Inclui-se as áreas de conforme a tecnologia avança, pelo qual o agente vio-
lazer dos hotéis e motéis, campings (não incluídas la a intimidade de outrem. Quando a lei entrou em
as barracas), parques etc.; vigor, o processo técnico era fotografia em papel ou
z Taverna, casa de jogo e outras: taverna (bares em negativos ou gravações em fita. Hoje, é por meio
e restaurante) é o lugar onde são servidas e ven- de recursos de mídias digitais: conversas por meio de
didas bebidas e refeições. As casas de jogo são, aplicativos, que incluem áudio e imagem.
Na prática, o STM condenou um militar por viola-
normalmente, proibidas, pois não se aceitam cas-
ção de recato por fotografar e divulgar as imagens de
sinos no Brasil. A generalização se dá em torno dos
uma militar, expondo sua intimidade.
demais lugares de diversão pública, tais como tea-
DIREITO PENAL MILITAR

tros, cinemas etc.


Violação de Segredo Profissional
SEÇÃO IV: DOS CRIMES CONTRA A
INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS DE CARÁTER Art. 230 Revelar, sem justa causa, segredo de que
PARTICULAR tem ciência, em razão de função ou profissão, exer-
cida em local sob administração militar, desde que
Divulgação de Segredo da revelação possa resultar dano a outrem:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Art. 228 Divulgar, sem justa causa, conteúdo de
documento particular sigiloso ou de correspondên- Natureza Militar do Crime
cia confidencial, de que é detentor ou destinatário,
desde que da divulgação possa resultar dano a Art. 231 Os crimes previstos nos arts. 228 e 229
outrem: somente são considerados militares no caso do art.
Pena - detenção, até 6 (seis) meses. 9º, II, letra a. 263
Este crime não possuía tipificação nas legislações O agente ativo do delito pode ser qualquer pessoa,
penais anteriores. sendo necessário que a vítima se encontre no exercí-
Cícero Coimbra (2013) ensina que o sujeito ativo cio de função militar ou que a ofensa se relacione com
do crime de violação de segredo profissional é quem essa função.
detém as informações. Pode tanto ser militar que exer- O Código Penal Miliar dispõe no art. 300 o desaca-
ce atividades relacionadas a material bélico quanto to a servidor civil. Nas Forças Armadas, há servidores
civil, engenheiro de empresa que desenvolve material civis que desempenham funções administrativas na
bélico de uso exclusivo para as Forças Armadas. área da saúde e no magistério.
Já o sujeito passivo pode ser a administração mili- É importante destacar que o termo assemelhado não
tar ou alguém que sofre algum dano com a divulgação. tem aplicação no âmbito militar, uma vez que não há pre-
Por exemplo, o militar que tem a identidade revela-
visão legal de servidor civil sujeito à disciplina militar
da para membros de associação criminosa enquanto
exercia missão de garantia da lei e da ordem. DESOBEDIÊNCIA
A lei penal militar evitou uma enumeração taxati-
va, preferindo tratar de modo genérico. Via de regra, O crime de desobediência está relacionado à
são penalmente obrigados ao sigilo os médicos, advo- ordem legal de autoridade militar.
gados, peritos, psicólogos, sacerdotes etc.
O crime contém uma condição para o seu aperfei- Art. 301 Desobedecer a ordem legal de autoridade
çoamento, traduzido na expressão desde que da reve- militar.
lação possa resultar dano a outrem. Pena - detenção, até 6 meses.
O dano de que trata a lei penal militar é potencial,
não necessitando a efetiva ocorrência, bastando a sim- O agente ativo do delito pode ser qualquer pessoa,
ples possibilidade para tal. A conduta típica é revelar, sendo necessário que a vítima se encontre no exercí-
significando desvendar, contar a terceiro ou delatar. cio de função militar ou que a ofensa se relacione a
O crime é doloso e inexiste a modalidade culposa. essa função.
Podemos exemplificar com a hipótese de civil que
TÍTULO VII: DOS CRIMES CONTRA A desobedece a ordem de sentinela de reduzir a veloci-
ADMINISTRAÇÃO MILITAR, CAPÍTULO I: DO dade do veículo, ou desobedece a ordem do coman-
DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA dante de tropa para parar o veículo, porque a tropa
tem preferência no trânsito em relação aos veículos.
Desacato a Superior
CAPÍTULO II: DO PECULATO
Desacato a superior é crime doloso devido à von-
tade livre e consciente de proferir palavra ou praticar O crime de peculato tem duas proteções. Primei-
ato injurioso e o especial fim de agir na finalidade de ro, protege-se a administração militar. Em segundo, e
desprestigiar a autoridade do superior hierárquico. eventualmente, protege-se também o patrimônio do
Vejamos: particular, quando o objeto material lhe pertence.

Art. 303 Apropriar-se de dinheiro, valor ou qual-


Art. 298 Desacatar superior, ofendendo-lhe a dig-
nidade ou procurando deprimir-lhe a autoridade: quer outro bem móvel, público ou particular, de
Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não cons- que tem posse ou detenção, em razão do cargo
titui crime mais grave. ou comissão, ou desviá-lo em proveito próprio ou
alheio:
É crime militar próprio que exige do agente a Pena - reclusão de três a quinze anos.
condição especial de ser militar e, além disso, de ser §1º A pena aumenta um terço, se o objeto da
subordinado da vítima. apropriação ou desvio é de valor superior a vinte
vezes o salário mínimo.
Conforme decisão do TJM/MG, a utilização de pala-
vras de baixo calão, de desrespeito a superior hierár-
Peculato-furto
quico, ofendendo-lhe a dignidade diante de terceiros,
deprimindo-lhe a autoridade, caracteriza o crime de § 2º Aplica-se a mesma pena a quem, embora não
desacato a superior. tendo a posse ou detenção do dinheiro, valor ou
O Tribunal decidiu que comete o crime de desa- bem, o subtrai, ou contribui para que seja subtraí-
cato a superior, atentando contra a ordem adminis- do, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da
trativa militar, o militar que, inconformado com as facilidade que lhe proporciona a qualidade de mili-
determinações recebidas, encara o superior, irrogan- tar ou de funcionário.
do-lhe palavras altamente ofensivas, em franco desa-
fio à autoridade de que se acha investido. Peculato culposo
A pena é agravada se o superior é oficial general
ou comandante da unidade a que pertence o agente. § 3º Se o funcionário ou o militar contribui cul-
posamente para que outrem subtraia ou desvie o
DESACATO A MILITAR dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Observe o art. 299 do CPM:
Extinção ou minoração da pena
Art. 299 Desacatar militar no exercício de função § 4º No caso do parágrafo anterior, a reparação
de natureza militar ou em razão dela: do dano, se precede a sentença irrecorrível, extin-
Pena - detenção de seis meses a dois anos, se o fato gue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de
não constitui outro crime.
264 metade a pena imposta.
EXTINÇÃO/MINORAÇÃO DA PENA NO PECULATO É necessário, para que não seja típica a conduta
CULPOSO do peculato de uso, que o bem seja infungível e não
Antes da sentença irrecorrível: Depois da sentença irrecorrível: consumível, a exemplo de um carro oficial ou de um
computador. Caso o bem seja fungível e consumível, a
Extingue a punibilidade Reduz metade a pena imposta
exemplo do dinheiro, a conduta será típica
Peculato mediante aproveitamento do êrro de outrem
Peculato-furto
Art. 304 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer uti-
lidade que, no exercício do cargo ou comissão, rece- O Peculato-furto se configurará quando o funcioná-
beu por êrro de outrem: rio público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
Pena - reclusão, de dois a sete anos. ou bem, subtrai-o, ou concorre para que ele seja subtraí-
do, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facili-
O peculato somente pode ser praticado por fun- dade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
cionário público, militar ou civil. Se o peculato for O peculato-furto pode ser praticado de duas
culposo e o funcionário ressarcir o patrimônio antes formas:
da sentença transitar em julgado, será extinta a
punibilidade. z Subtraindo o dinheiro, valor ou o objeto;
O crime de peculato é dividido da seguinte forma: z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
valor ou objeto.
z Peculato-apropriação;
z Peculato-furto;
É importante mencionar que:
z Peculato culposo.
z Para que se configure este crime, é necessário que
Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte
o funcionário público não tenha a posse da coisa;
divisão para o crime de peculato:
z Para que se configure o peculato-furto na modali-
dade “concorrer para que seja subtraído”, é neces-
z Próprio: Peculato-apropriação e peculato-desvio;
z Impróprio: Peculato-furto. sário que o ato seja doloso;
z A qualidade de funcionário público deve acarretar
O peculato-apropriação se configurará quando o alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso
funcionário público ou militar se apropriar de dinhei- não haja facilidade, o agente responderá por furto
ro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou normalmente.
particular, de que tem a posse em razão do cargo.
É muito importante atentar-se ao seguinte em rela- Exemplo: Soldado “A”, aos finais de semana, é res-
ção ao peculato apropriação: ponsável por trancar a seção, sendo o último a sair.
Certo dia, na hora de sair, valendo-se do fato de estar
z Para que se configure, é necessário que o agente sozinho na seção, “A” subtrai um notebook do órgão
tenha a posse do bem em razão do seu cargo; público. Está certamente configurado o crime de pecu-
z O bem pode ser público ou particular (imagine um lato-furto, já que, na condição de militar, teve facilida-
objeto particular apreendido em uma delegacia de de para que subtraísse o bem.
polícia); Admite-se a modalidade tentada, já que se trata
z O sujeito passivo é a administração pública, con- de crime plurissubsistente. O bem subtraído pode ser
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem público ou particular. O sujeito passivo é a adminis-
também será sujeito passivo do delito. tração pública. Caso o bem seja particular, também
será sujeito passivo da infração penal o dono do bem.
O peculato-desvio se configurará quando o fun- É crime material.
cionário público ou militar desviar, em proveito pró-
prio ou alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem CAPITULO III: DA CONCUSSÃO, EXCESSO DE
móvel, público ou particular. EXAÇÃO E DESVIO
Segundo posicionamento majoritário (apesar de
algumas posições jurisprudenciais em sentido con- indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
trário), para que se configure o peculato-desvio, é assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
necessário que o bem seja desviado para integrar o Pena - reclusão, de dois a oito anos.
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter-
ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra
A concussão é praticada quando o agente público
DIREITO PENAL MILITAR

mero desvio de finalidade.


exigir vantagem indevida, para si ou para outrem,
É importante saber que parte minoritária da
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
doutrina defende que, para que se configure o pecu-
lato-desvio, não é necessária a intenção de assenho- antes de assumi-la, mas em razão dela.
reamento (apoderar-se) por parte do funcionário No crime de concussão, o militar, valendo-se de
público, podendo se configurar com o mero uso irre- sua autoridade, exige (conduta mais forte do que ape-
gular da coisa pública em proveito próprio ou alheio. nas pedir) o pagamento de vantagem não devida pela
Com base no que foi exposto acima, é importante pessoa. O particular, por temer qualquer represália
mencionar que o peculato de uso, em regra, é consi- por parte do funcionário público, pode ou não pagar a
derado figura atípica. Segundo Cleber Masson, o uso vantagem indevida.
momentâneo de coisa infungível, sem a intenção de Podemos exemplificar com o caso de policial mili-
incorporá-lo ao patrimônio pessoal ou de terceiro, tar exigir de particular a quantia de R$ 2.000,00 para
seguido da sua integral restituição a quem de direito, que libere o seu veículo, sob pena de levá-lo indevida-
é atípico. mente ao pátio do Detran. 265
A vantagem indevida, segundo posicionamento z O crime apenas ocorre a título de dolo;
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo z Consuma-se o crime de desvio com a destinação
ser qualquer outra vantagem. diversa do cofre público;
É importante mencionar que a concussão se dará z Admite-se tentativa.
em razão da função do militar, não se exigindo que o
fato seja praticado no efetivo desempenho das atribui- CAPÍTULO IV: DA CORRUPÇÃO
ções do cargo. Sendo assim, este crime pode ser come-
tido por militar de férias. Vejamos a tipificação:
EXCESSO DE EXAÇÃO
Art. 309 Dar, oferecer ou prometer dinheiro
Art. 306 Exigir imposto, taxa ou emolumento que ou vantagem indevida para a prática, omissão ou
sabe indevido, ou, quando devido, empregar na retardamento de ato funcional:
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não Pena - Reclusão, até oito anos.
autoriza:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Aumento de pena

O excesso de exação é uma forma de concussão. Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço,
Configura-se quando o militar exige tributo ou contri- se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é
buição social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, retardado ou omitido o ato, ou praticado com infra-
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ção de dever funcional.
ou gravoso, que a lei não autoriza.
Sobre o excesso de exação, é importante mencionar: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que dá,
oferece ou promete dinheiro ou vantagem indevida.
z Não admite a modalidade culposa; O servidor público, civil ou militar, também pode ser
z Admite a tentativa quando for possível fracionar o sujeito ativo, desde que esteja agindo como particular
iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati- e despido de sua qualidade funcional.
cado mediante carta endereçada à vítima; O sujeito passivo, ao contrário do que se possa pen-
z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou sar, não é o servidor público, mas, sim, a administra-
de outrem, o que recebeu indevidamente para ção militar, em favor da qual está aquele que opera na
recolher aos cofres públicos, responderá por qualidade de seu agente.
excesso de exação na modalidade qualificada. Oferecer vantagem indevida a policial militar
para que se omita quanto ao flagrante que presenciou
DESVIO caracteriza o delito de corrupção ativa, ainda que o
policial esteja fora de seu horário de trabalho e à pai-
Art. 307 Desviar, em proveito próprio ou de outrem,
o que recebeu indevidamente, em razão do cargo ou sana, pois, ao surpreender a prática de crime, age no
função, para recolher aos cofres públicos: cumprimento do dever legal e nos limites de sua com-
Pena - reclusão, de dois a doze anos. petência, conforme decisão do TJSP.

z O crime de desvio tem por objeto jurídico a Admi- Corrupção Ativa


Corrupção Passiva
nistração Militar; Verbos: solicitar,
Concussão
Verbos: oferecer e
z O sujeito ativo é o funcionário público ou o mili- receber e aceitar Verbo: exigir
× ×
prometer
promessa Crime praticado
tar. O particular, que não possua função pública, Crime praticado por
Crime praticado por funcionário
particular contra a
obviamente poderá, no concurso de pessoas, figu- administração da
por funcionário público contra a
público contra a administração pública
rar no polo ativo; justiça
administração pública
z O sujeito passivo, titular do bem jurídico agredido,
é o Estado representado pela administração militar;
CORRUPÇÃO PASSIVA
Observe que como o recebimento foi indevido,
aquele que pagou o valor desviado também é afetado Vejamos o art. 308 do CPM:
pela conduta.
No Código Penal Militar há conduta. O núcleo da Art. 308 Receber, para si ou para outrem, direta ou
conduta é o verbo desviar, ou seja, dar destino diver- indiretamente, ainda que fora da função, ou antes
so do legal ou regulamentar, em proveito próprio de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevi-
ou alheio, a valor percebido indevidamente para ser da, ou aceitar promessa de tal vantagem:
recolhido aos cofres públicos. Pena - Reclusão, de dois a oito anos.
Cícero Coimbra (2013) exemplifica o delito por
meio da conduta de militar que recebeu cheque de Aumento de pena
pensionista, destinado a pagamento de contribuições
faltantes, e o depositou em sua própria conta em vez § 1º a pena é aumentada de um terço, se, em conse-
de depositá-lo na conta da União, com o objetivo de quência da vantagem ou promessa, o agente retar-
fazer saldo médio e obter talão de cheques (STM, Ap. da ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o
2003.01.049479-0/MS, rel. Min. Marcos Augusto Leal pratica infringindo o dever funcional.
de Azevedo, j. em 10-3-2005), assim como quem desvia
em proveito próprio dinheiro em espécie referente a Diminuição de pena
valor que cobra indevidamente, na função de Secretá-
rio de Junta de Serviço Militar, por serviço que a legis- § 2º se o agente pratica, deixa de praticar ou retar-
lação do serviço militar considera gratuito (STM, Ap. da o ato de ofício com infração de dever funcional,
1986.02.042917-4/MS, rel. Min. Alzir Benjamin Cha- cedendo a pedido ou influência de outrem.
266 loub, j. em 24-2-1987). Pena - Detenção, de três meses a um ano.
O sujeito ativo é o servidor, militar ou civil, que Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é
recebe ou aceita a vantagem. público; reclusão, até três anos, se o documento é
particular.

Importante! A falsidade documental material se revela no pró-


prio documento, recaindo sobre elemento físico do
Para a consumação do crime de corrupção pas- papel escrito e verdadeiro. Já a falsidade documental
siva, não é imprescindível estar o agente no exer- ideológica não se revela em sinais exteriores da escrita,
cício da função, já que a lei ressalva a hipótese mas concerne ao conteúdo do documento. Na falsida-
de a vantagem indevida ser recebida ainda que de ideológica, inexiste rasurar, emendas, omissões ou
fora da função, ou antes de assumi-la, mas sem- acréscimos, sendo falsa a ideia que o documento contém.
pre em razão dela. O TJM/RS determinou que os policiais militares, ao
encontrarem um veículo furtado, façam constar no
boletim de ocorrência que o veículo estava depena-
A corrupção passiva é delito formal e consuma-se do, isto é, destruído. Isso evita, por conseguinte, que
com a simples solicitação, a não ser se esta for impos- o proprietário do automóvel tente fraudar o contrato
sível de ser cumprida, ou seja, não esteja ao alcance de seguro.
da pessoa que é solicitada, segundo Jorge César de
Assis (2003). Não admite tentativa.
O TJM/MG decidiu que militar, instrutor de autoes-
cola em Unidade Militar, responsável pelo treinamen-
to e exames de candidatos à habilitação para condução CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL
de automóveis, que se vale dessa função para receber
vantagens indevidas, facilitando ou dispensando exa- Inserido dentro do Título VII que trata dos Crimes
mes, comete o crime de corrupção passiva, e são coau- Contra a Administração Pública Militar, encontra-se
tores aqueles que intermedeiam. o Capítulo VI, que dispõe sobre os Crimes Contra o
Podemos trazer o exemplo do policial militar que Dever Funcional.
exige certa quantia em dinheiro para não aplicar mul- Tais tipos penais estão previstos entre os arts. 319
ta em condutor de veículo que estava acima da veloci- e 334 do Código Penal Militar (CPM), com destaque
dade permitida na via. para os crimes de prevaricação (art. 319) e extravio,
sonegação ou inutilização de livro ou documento (art.
CAPÍTULO V: DA FALSIDADE 321), que costumam ser, deste bloco, os mais recorren-
tes em concursos militares.
Falsificação de Documento

Art. 311 Falsificar, no todo ou em parte, docu- PREVARICAÇÃO


mento público ou particular, ou alterar docu-
mento verdadeiro, desde que o fato atente contra a Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevida-
administração ou o serviço militar: mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa
Pena - sendo documento público, reclusão, de dois a disposição de lei, para satisfazer interêsse ou
seis anos; sendo o documento particular, reclusão, sentimento pessoal:
até cinco anos. Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce A prevaricação consiste em um crime militar impró-
função em repartição militar. Equipara-se a documento,
prio, ou seja, é um tipo penal previsto tanto no CPM
para os efeitos penais, o disco fonográfico ou a fita ou fio
quanto no Código Penal (coincidentemente, também
de aparelho eletromagnético a que se incorpore declara-
no art. 319 do CP) e pode ser praticado tanto por militar
ção destinada à prova de fato juridicamente relevante.
quanto por civil, desde que este seja funcionário público.
O sujeito ativo pode ser tanto o militar quanto o
A prevaricação requer um fim especial de agir por
civil, desde que o fato atente contra as instituições
parte do sujeito (chamado de elemento subjetivo do
militares. O sujeito passivo é a administração militar.
Para que configure o delito, é imprescindível que tipo) que pode ser identificado pela expressão “para
a falsificação seja idônea de iludir terceiro. Se a falsi- satisfazer interesse pessoal”.
ficação for grosseira, perceptível à primeira vista, ine- O crime se consuma de três maneiras (sempre ten-
xiste o delito, em face da ausência de potencialidade do em vista o fim especial de agir, que é o favoreci-
lesiva do comportamento. mento de interesse pessoal):
O STM decidiu que pratica o crime de falsidade
de documento o militar que falsifica atestado médico Retarda
com o objetivo de conseguir prorrogação de licença
DIREITO PENAL MILITAR

(protela, adia)
para tratamento de saúde.

FALSIDADE IDEOLÓGICA
Deixa de Praticar O ato de ofício, contra
(omite) disposição legal
A falsidade documental pode ser de duas espécies:
material e ideológica.

Art. 312 Omitir, em documento público ou par- Pratica


ticular, declaração que dela devia constar, ou (age)
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fim de pre-
judicar direito, criar obrigação ou alterar a verda- Ato de ofício é aquele que se encontra dentro das
de sobre fato juridicamente relevante, desde que o atribuições e da competência do militar ou do funcio-
fato atente contra a administração militar ou ser- nário civil. São exemplos de atos que configuram o
viço militar: tipo do art. 319 do CPM: 267
z Militar que presenciar uma agressão e deixar de andamento ao procedimento para satisfazer interesse
deter o agressor por sentimento pessoal; pessoal, responde por prevaricação.
z Encarregado que deixar de dar andamento a
Inquérito Policial Militar (IPM) para satisfação de
Dica
interesse familiar (o investigado era seu parente);
z Policiais militares, movidos por sentimento pes- Para identificar um crime subsidiário, procure no
soal de inconformismo com a demora da lavratura preceito secundário do crime (onde se dispõe
do termo circunstanciado por parte da autoridade sobre a pena) expressões tais como “se o fato
policial, liberam o custodiado e somem com a pro-
não constitui crime mais grave”.
va da materialidade do crime.

É importante notar que, para que se configure a Pode ser cometido por militar ou por civil no
prevaricação, o agente deve agir motivado por inte- desempenho de função pública (sempre com a ressal-
resse ou sentimento pessoal; se o militar ou o funcio- va de que a Justiça Militar Estadual não julga civil),
nário público civil receber vantagem indevida para desde que tenha a guarda (responsabilidade) sobre o
retardar, deixar de praticar ou praticar de maneira documento em razão do cargo.
diversa do que é previsto em lei, pratica o crime de Os verbos-núcleo são três: extraviar (dar destino
corrupção passiva, previsto no art. 308 do CPM. diverso, fazer desaparecer); sonegar (ocultar, escon-
der); e inutilizar (tornar inútil, danificar).
VIOLAÇÃO DO DEVER FUNCIONAL COM O FIM DE O objeto sobre o qual recai a conduta é o livro ofi-
LUCRO cial, assim entendido como qualquer livro no qual
conste assunto de interesse da Administração Mili-
Art. 320 Violar, em qualquer negócio de que tenha tar, ou outro documento. A definição de documentos,
sido incumbido pela administração militar, seu para fins penais militares, encontra-se no art. 371 do
dever funcional para obter especulativamente Código de Processo Penal Militar (CPPM), assim defini-
vantagem pessoal, para si ou para outrem:
dos como quaisquer escritos, instrumentos ou papéis,
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
públicos ou particulares.
O sujeito ativo deve ser militar ou funcionário civil
CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
da Administração Militar e a violação deve estar rela-
cionada com sua esfera de atuação. Quando se fala
Art. 322 Deixar de responsabilizar subordina-
em cometimento de crime militar praticado por civil,
do que comete infração no exercício do cargo, ou,
deve-se ter em mente a distinção de competências da
quando lhe falte competência, não levar o fato ao
Justiça Militar da União e da Justiça Militar Estadual.
conhecimento da autoridade competente:
Em nível estadual, não é possivel que um civil seja jul-
Pena - se o fato foi praticado por indulgência,
gado pela Justiça Militar. detenção até seis meses; se por negligência, deten-
Para que se caracterize esse delito, o agente deve ção até três meses.
agir com o dolo de locupletar-se (enriquecer-se) inde-
vidamente, obtendo vantagem pessoal (veja que o
O art. 322 possui duas condutas como núcleo: a
legislador não define o tipo de vantagem, mas pelo
primeira consiste em deixar de responsabilizar o
nome dado ao delito – fim de lucro –, entende-se ser
subordinado por suposta prática de crime ou infração
econômica) por meio de especulação (especular é agir
disciplinar (neste caso, o militar deve ter a capacidade
de má-fé, buscando tirar proveito de uma situação
legal de punir seu subordinado e não o faz); e a segun-
para obter vantagem).
da, em deixar de levar o fato ao conhecimento de quem
Um exemplo da prática do delito previsto no art.
320 do CPM seria o do militar, com atribuição para tenha a competência legal para responsabilizar (quan-
confecção de edital de compra de material para a do o sujeito ativo não possui essa competência por não
Administração Militar, que viesse a obter vantagem ter superioridade hierárquica ou competência sobre o
por meio da especulação sobre o preço dos bens a militar ou funcionário a ser responsabilizado).
serem adquiridos. Outro exemplo seria o do militar Pode ser praticado em duas modalidades (logica-
envolvido na área de seleção que procure interessa- mente, sendo distintas as penas para cada):
dos em comprar gabaritos do certame para ingresso
em curso de formação militar.
Dolosa
(indulgência, iso é,
EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE piedade, pena)
LIVRO OU DOCUMENTO
Modalidades
Art. 321 Extraviar livro oficial, ou qualquer
Culposa
documento, de que tem a guarda em razão
(negligência, isto é,
do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou descuido, desleixo
parcialmente:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o fato não
constitui crime mais grave.
É importante relembrar que, se o militar deixa de
O delito previsto no art. 321 do CPM constitui cri- agir motivado por aceitação de promessa de vanta-
me subsidiário, isto é, apenas se configurará se não gem indevida, vai se configurar o crime de corrupção
constituir delito mais grave. Por exemplo: o oficial passiva, previsto no art. 308 do CPM); caso aja para
da Polícia Militar, encarregado de um IPM, que faz satisfazer interesse pessoal de outra espécie, pode
268 desaparecer os autos do inquérito, deixando de dar configurar prevaricação (art. 319 do CPM).
NÃO INCLUSÃO DE NOME EM LISTA Pena - detenção, de dois a seis meses, se o fato não
constitui crime mais grave.
Art. 323 Deixar, no exercício de função, de incluir, Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem,
por negligência, qualquer nome em relação ou ainda que não seja funcionário, mas desde que
lista para o efeito de alistamento ou de convoca- o fato atente contra a administração militar:
ção militar: I - indevidamente se se apossa de correspon-
Pena - detenção, até seis meses. dência, embora não fechada, e no todo ou em parte
a sonega ou destrói;
II - indevidamente divulga, transmite a outrem,
Esse crime pode ser praticado por qualquer pessoa
ou abusivamente utiliza comunicação de interes-
que tenha função relacionada ao serviço militar. Trata-
se militar;
-se de crime exclusivamente culposo, uma vez que é pra- III - impede a comunicação referida no número
ticado mediante negligência por parte do sujeito ativo. anterior.
Observe na tabela a seguir a diferença entre alista-
mento e convocação: Esse é outro crime subsidiário; apenas vai se confi-
gurar caso não haja a incidência de crime mais grave.
ALISTAMENTO É um tipo semelhante ao do art. 227 do CPM (violação
Seleção ou regularização do serviço militar do brasilei- de correspondência), com a diferença que, no tipo do
ro, conforme previsão no art. 13 da Lei do Serviço Militar art. 325, a correspondência violada é oficial.
(Lei nº 4.375/64) O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que
atente dolosamente contra a Administração Militar.
CONVOCAÇÃO
Devassar sigifica violar, tomar conhecimento.
Chamamento dos que irão prestar o serviço militar obri- Objeto sobre o qual recai a conduta é a correspondên-
gatório nas Forças Armadas, de acordo com o art. 16 da cia recebida ou enviada pela Administração Militar. O
Lei do Serviço Militar acesso à correspondência deve ser indevido, ou seja,
deve ocorrer sem que haja a permissão para tal.
O parágrafo único apresenta três formas equipara-
INOBSERVÂNCIA DE LEI, REGULAMENTO OU
das (o agente responde pela mesma pena).
INSTRUÇÃO
VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL
Art. 324 Deixar, no exercício de função, de
observar lei, regulamento ou instrução, dando
Art. 326 Revelar fato de que tem ciência em razão
causa direta à prática de ato prejudicial à adminis-
do cargo ou função e que deva permanecer em
tração militar:
segrêdo, ou facilitar-lhe a revelação, em prejuízo
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, deten- da administração militar:
ção até seis meses; se por negligência, suspensão Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato
do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função, não constitui crime mais grave.
de três meses a um ano.
Mais outro crime subsidiário; só vai se configurar
Esse crime pode ser praticado por militar em exer- se não constituir crime mais grave, como espionagem
cício de função ou por civil (sempre lembrando da (previsto no art. 366 como um dos crimes militares em
limitação da Justiça Estadual em relação a este). Tra- tempo de guerra), por exemplo.
ta-se de uma norma penal em branco, pois necessita O sujeito ativo deve ter ciência do segredo em
de complemento em outra norma (o agente deixar de razão do cargo ou função que exerce. O prejuízo à
cumprir o previsto em lei, regulamento ou instrução). Administração Militar deve ser causado pela revela-
Com sua conduta, o agente deve, obrigatoriamen- ção (divulgação, transmissão) ou pela facilitação da
te, prejudicar a Administração Militar. revelação (dar condições para que outro o faça).
Um exemplo de conduta que pode configurar a
prática deste crime encontra-se na jurisprudência VIOLAÇÃO DE SIGILO DE PROPOSTA DE
como, por exemplo, no caso do comandante de uma CONCORRÊNCIA
organização militar de saúde que, contrariando deter-
minação superior contida em Portaria, autorizou o Art. 327 Devassar o sigilo de proposta de
atendimento médico de pessoas não autorizadas, sem concorrência de interêsse da administração
militar ou proporcionar a terceiro o ensejo de
que houvesse uma emergência (STM, Apelação n.
devassá-lo:
0000088-15.2012.7.07.0007, rel. Min. Cleonilson Nicá-
Pena - detenção, de três meses a um ano.
cio Silva, J. 12/05/2015).
DIREITO PENAL MILITAR

Outro exemplo que configura a prática do delito do Trata-se de um crime especial em relação ao pre-
art. 324 é o de militares que, deixando de observar as visto no art. 94 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações).
regras pertinentes, utilizam veículo militar para satis- Quando a concorrência (modalidade de licitação) for
fazer interesses pessoais. de interesse da Administração Militar, aplica-se o art.
Pode ser praticado na forma dolosa (tolerância) ou 327 do CPM, ficando afastado o crime previsto na Lei
culposa (negligência). de Licitações.
Pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que
VIOLAÇÃO OU DIVULGAÇÃO INDEVIDA DE o fato atente contra a Administração Militar.
CORRESPONDÊNCIA OU COMUNICAÇÃO Devassar é tomar conhecimento, descobrir o con-
teúdo da proposta de concorrência. Esta é a primeira
Art. 325 Devassar indevidamente o conteúdo de modalidade pela qual o delito pode ser praticado. A
correspondência dirigida à administração mili- segunda modalidade consiste na conduta de facilitar
tar, ou por esta expedida: para que terceiro tome conhecimento da proposta 269
(contaminando, portanto, o processo licitatório, que Pena - detenção, até quatro meses, se o fato não
deve ser sigiloso). Ambas as modalidades devem ser constitui crime mais grave.
praticadas dolosamente.
Trata-se de uma norma penal em branco, pois as
Dica exigências legais para se entrar em exercício encon-
tram-se em outros diplomas legais: posse, inspeção de
Concorrência é uma modalidade de licitação, saúde etc. Pode se consumar de duas formas (dolosas):
prevista no art. 22 da Lei de Licitações, da qual
os interessados participam mediante uma habi- ENTRAR NO EXERCÍCIO ANTES DE SATISFEITAS AS
litação preliminar, oportunidade na qual se com- EXIGÊNCIAS LEGAIS
provam os requisitos mínimos de qualificação
De posto (oficial) ou função militar (oficial ou praça), ou
previstos em edital.
de cargo ou função em repartição militar (civil)
OBSTÁCULO À HASTA PÚBLICA, CONCORRÊNCIA CONTINUAR NO EXERCÍCIO, SEM AUTORIZAÇÃO
OU TOMADA DE PREÇOS Depois de saber que foi exonerado, ou afastado, legal e
definitivamente, qualquer que seja o ato determinante
Art. 328 Impedir, perturbar ou fraudar a reali- do afastamento
zação de hasta pública, concorrência ou tomada de
preços, de interêsse da administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. ABANDONO DE CARGO

Esse delito pode ser praticado por qualquer pes- Art. 330 Abandonar cargo público, em reparti-
soa. Tratam-se, novamente, de duas condutas previs- ção ou estabelecimento militar:
Pena - detenção, até dois meses.
tas pela Lei de Licitações, em seus arts. 93 e 95; pelo
princípio da especialidade, configurará o tipo do art.
328 do CPM, quando a conduta atentar contra a Admi- Abandonar é deixar de totalmente exercer suas
funções inerentes ao cargo público que se ocupa. Pode
nistração Militar.
ser praticado por qualquer um, desde militar ou civil,
O crime consuma-se com a realização de um dos
que que exerça cargo junto à Administração Militar.
três verbos-núcleo: impedir (bloquear, imposibilitar),
Em relação aos militares da ativa, pode haver con-
perturbar (tumultuar, atrapalhar) ou fraudar (burlar, flito com o crime de deserção, previsto no art. 187 do
adulterar) o processo licitatório de interesse da Admi- CPM; em relação a eles, o melhor entendimento seria
nistração Militar. de que só se aplicaria o art. 330 caso houvesse alguma
São três as espécies licitatórias que podem ser falha no Procedimento de Deserção.
objeto do crime previsto no art. 328:
Formas qualificadas
Impedir, Perturbar
ou Fraudar § 1º Se do fato resulta prejuízo à administra-
ção militar:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na
faixa de fronteira:
Hasta pública Concorrência Tomada de preços Pena - detenção, de um a três anos.

Os parágrafos apresentam duas formas qualifica-


Hasta pública consiste no leilão público do qual das: se do fato resulta prejuízo à Administração, con-
participam interessados em adquirir móveis da Admi- forme prevê o § 1º (por exemplo, a unidade militar
nistração ou produtos apreendidos ou penhorados; que ficou sem oficial médico por meses após o aban-
quem der o maior lance, fica com o bem. Concorrên- dono); e se o fato ocorre em lugar compreendido na
cia, como já apontamos antes, é a modalidade licitató- faixa de fronteira (nos termos do § 2º do art. 20 da
ria caracterizada por uma habilitação prévia, na qual Constituição Federal, a zona de fronteira é a faixa de
se comprova estarem presentes os requisitos míni- até 150 km de largura ao longo das fronteiras). Nessa
mos de qualificação. Por fim, tomada de preços é a segunda hipótese, a pena é maior, pois a faixa de fron-
modalidade caraterizada pelo envio de propostas por teira é considerada fundamental para a segurança
nacional e não pode ficar desguarnecida.
parte de interessados previamente cadastrados (que
atenderem às condições de cadastro até o terceiro dia
APLICAÇÃO ILEGAL DE VERBA OU DINHEIRO
antes do envio das propostas).
É importante notar que o delito do art. 328 do CPM
Art. 331 Dar às verbas ou ao dinheiro público apli-
não se aplica a outras modalidades licitatórias, como
cação diversa da estabelecida em lei:
o convite e o concurso. Pena - detenção, até seis meses.

EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGAL


Dica
Art. 329 Entrar no exercício de pôsto ou função Vale sempre lembrar qual é a pena mínima nes-
militar, ou de cargo ou função em repartição mili- ses crimes previstos no CPM que apresentam,
tar, antes de satisfeitas as exigências legais, ou em seu preceito secundário, apenas a pena máxi-
continuar o exercício, sem autorização, depois de ma. De acordo com o art. 58 do CPM, o mínimo,
saber que foi exonerado, ou afastado, legal e defini- quando a pena é de reclusão, é de um ano; quan-
tivamente, qualquer que seja o ato determinante do
do a pena é detenção, o mínimo é de trinta dias.
270 afastamento:
Trata-se, exclusivamente, de crime doloso, no Um exemplo de conduta que se enquadra no tipo
qual o agente emprega verbas ou dinheiro público do art. 332 do CPM é o militar que elabora documento
de forma diversa da prevista em lei. O tipo não prevê oficial visando a liberação de viatura oficial, para fins
qualquer qualidade especial por parte do sujeito ati- particulares, abusando da confiança do Comandante
vo, mas o entendimento doutrinário é de que o crime da Unidade.
somente pode ser praticado por quem tenha o poder
de gerir as verbas ou o dinheiro público. VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA
Verbas públicas são dinheiros especificamente des-
tinados em lei orçamentária para determinado fim Art. 333 Praticar violência, em repartição ou
público. Já dinheiro público (ou renda pública) é um estabelecimento militar, no exercício de fun-
conceito mais amplo, abrangendo todos os dinheiros ção ou a pretexto de exercê-la:
percebidos pela Fazenda Pública ou a ela pertencentes. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
Como exemplo do crime previsto no art. 331 do correspondente à violência.
CPM, encontra-se aquele que se convencionou cha-
mar de “química”, que consiste na utilização de uma O entendimento majoritário (inclusive conforme
verba orçamentária como, por exemplo, destinada à entendimento do Supremo Tribunal Federal, de 1972)
aquisição de combustíveis, para a compra de apare- é que este dispositivo estaria tacitamente revogado
lhos telefônicos. pela alínea “i” do art. 3º da Lei nº 4.898/1965, Lei de
A distinção com o crime de peculato, previsto no art. Abuso de Autoridade (atualmente revogada comple-
303 do CPM, é que no crime do art. 331 o proveito do des- tamente por força da Lei nº 13.869/2019, nova Lei de
vio é da própria Administração, enquanto no peculato o Abuso de Autoridade – LAA).
proveito é daquele que se apropria ou de terceiro. No entanto, há posições mais recentes, inclusive do
Tribuna de Justiça Militar de Minas Gerais (TJMMG),
ABUSO DE CONFIANÇA OU BOA-FÉ que entende pela vigência do art. 333 do CPM, quando
a violência ocorre dentro de repartição ou estabele-
Art. 332 Abusar da confiança ou boa-fé de mili- cimento militar. O Superior Tribunal de Justiça con-
tar, assemelhado ou funcionário, em serviço ou em firmou tal posição no julgamento do Habeas Corpus
razão dêste, apresentando-lhe ou remetendo- nº 103.763/MG, em 17 de fevereiro de 2009. O TJMMG
-lhe, para aprovação, recebimento, anuência ou , aliás, entende que a punição pelo art. 333 do CPM
aposição de visto, relação, nota, empenho de des-
dá-se de forma independente da punição por abuso de
pesa, ordem ou fôlha de pagamento, comunicação,
ofício ou qualquer outro documento, que sabe,
autoridade (TJM/MG – Ap. 2.102 – Rel. Juiz Dr. Décio de
ou deve saber, serem inexatos ou irregulares, Carvalo Mitre, j. 22.12.98).
desde que o fato atente contra a administração O tipo do art. 333 consiste em qualquer forma de
ou o serviço militar: violência física perpetrada dentro dos locais estabe-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato lecidos no caput do artigo, cometida no exercício de
não constitui crime mais grave. função ou a pretexto de exercê-la (deve, pois, haver
nexo entre a função pública e a violência).
Forma qualificada Em relação à pena, temos a ocorrência de um
cúmulo material obrigatório: o sujeito ativo responde
§ 1º A pena é agravada, se do fato decorre prejuízo pela pena do art. 333 mais a pena correspondente à da
material ou processo penal militar para a pessoa de violência (lesão corporal, homicídio etc).
cuja confiança ou boa-fé se abusou.
PATROCÍNIO INDÉBITO
Modalidade culposa
Art. 334 Patrocinar, direta ou indiretamente,
§ 2º Se a apresentação ou remessa decorre de culpa: interêsse privado perante a administração mili-
Pena - detenção, até seis meses. tar, valendo-se da qualidade de funcionário ou de
militar:
O delito do art. 332 do CPM pode ser praticado por Pena - detenção, até três meses.
qualquer pessoa. Abusar é aproveitar, enganar, mal- Parágrafo único. Se o interêsse é ilegítimo:
-usar, ultrapassar os limites. Pena - detenção, de três meses a um ano.
Exige um fim especial de agir por parte do sujeito
ativo, que consiste no objetivo de conseguir aprova- Esse crime só pode ser praticado por funcionário
ção, recebimento ou anuência ou aprovação de visto, público ou militar da ativa. Consiste na advocacia,
por parte do sujeito passivo; tal ato se dá mediante a defesa, no favorecimento, de um pleito particular
apresentação de algum dos documentos previstos no perante a Administração Militar. Não interessa se a
caput do art. 332 do CPM
DIREITO PENAL MILITAR

causa é legítima ou não, sempre haverá o crime (no


caso de ser o interesse ilegítimo, a pena é aumentada,
relação, nota, empenho de despesa, ordem ou fôlha
conforme o parágrafo único do art. 334).
de pagamento, comunicação, ofício ou qualquer
Exemplo de conduta que se enquadra neste tipo
outro documento, que sabe, ou deve saber, serem
inexatos ou irregulares penal é a do policial militar que intervém em ocor-
rência para convencer a guarnição de serviço a não
Trata-se de crime subsidiário, que apenas vai ser recolher veículo de um conhecido ao pátio de veículos
aplicável caso a conduta não constitua crime mais grave. apreendidos.
O § 1º apresenta forma qualificada, caso haja pre-
juízo para a Administração ou para aquele que teve
a boa-fé ou confiança abusada (resultado mais gravo-
so). É possível a prática na modalidade dolosa e culpo-
sa (por força do previsto no § 2º).
271
ao crime de Inobservância de lei, regulamento ou
EXERCÍCIOS COMENTADOS instrução, previsto no art. 324 do CPM. Por fim, a
alternativa E refere-se ao delito do art. 329 do CPM,
1. (IBFC – 2020) O ato de “retardar ou deixar de prati- Exercício funcional ilegal. Resposta: Letra A.
car, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
expressa disposição de lei, para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal” configura o crime militar de:
HORA DE PRATICAR!
a) Abuso de confiança.
b) Condescendência criminosa. 1. (CRS – 2017) O militar que se opuser à execução de
c) Omissão de dever funcional. ato legal, mediante ameaça ou violência ao executor, ou
d) Retardamento de ato de ofício. a quem esteja prestando auxílio, comete crime militar.
e) Prevaricação. Marque a alternativa correta com relação à tipificação
do crime cometido e previsto no Código Penal Militar:
O enunciado faz referência ao crime de prevarica-
a) Desacato a militar (art. 299 do CPM).
ção, previsto no art. 319 do CPM, que consiste em
b) Resistência mediante ameaça ou violência (art. 177
retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato do CPM).
de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição c) Abuso de requisição militar (art. 173 do CPM).
de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pes- d) Oposição a ordem de sentinela (art. 164 do CPM).
soal. Resposta: Letra E.
2. (CRS – 2017) Nos termos do Código Penal Militar
2. (NOVACONCURSOS – 2021) O Sargento PM Tício está (CPM), marque a alternativa correta que apresenta o
atuando em uma operação de fiscalização de trânsito momento em que o crime de “Omissão de lealdade mili-
e determina a parada de um veículo que notadamente tar”, previsto no art. 151 do CPM, se consuma:
encontra-se sem equipamentos obrigatórios. Ao diri-
a) Quando concentrarem-se militares para a prática do
gir-se ao condutor, descobre ser um grande amigo seu,
crime previsto no artigo 149 (Motim).
de longa data, e acaba por liberar o veículo sem que
b) Quando reunirem-se dois ou mais militares, com arma-
sejam adotadas as providências legais cabíveis. Neste mento ou material bélico, de propriedade militar, pratican-
caso, o sargento cometeu o crime militar de: do violência à pessoa ou à coisa pública ou particular
em lugar sujeito ou não à administração militar.
a) Patrocínio indébito, previsto no art. 334 do CPM. c) Quando o militar fizer apologia de fato que a lei mili-
b) Prevaricação, previsto no art. 319 do CPM. tar considera crime, ou do autor do mesmo, em lugar
c) Violação do dever funcional com o fim de lucro, previs- sujeito à administração militar.
to no art. 320 do CPM. d) Quando deixar o militar de levar ao conhecimento do
d) Concussão, previsto no art. 305 do CPM. superior o motim ou revolta de cuja preparação teve
e) Corrupção ativa, previsto no art. 309 do CPM. notícia, ou, estando presente ao ato criminoso, não
usar de todos os meios ao seu alcance para impedi-lo.
O enunciado aponta a ocorrência de crime de preva-
3. (CRS – 2017) Nos termos do Código Penal Militar (CPM),
ricação, previsto no art. 319 do CPM, uma vez que
marque a alternativa correta:
o militar deixou de praticar, indevidamente, ato de
ofício (apreensão do veículo), para satisfazer inte- a) O crime de Violência contra superior, previsto no art.
resse ou sentimento pessoal (amizade com o condu- 157 do CPM, exige que a conduta delituosa seja prati-
tor). A alternativa A está incorreta, pois patrocínio cada diante de outro militar.
indébito consiste na defesa de um pleito particular b) O crime de Rigor excessivo, previsto no art. 174 do
perante a Administração Militar. A alternativa C CPM, exige, obrigatoriamente, para sua consumação
também está incorreta, pois ainda que haja a viola- a prática de violência.
ção do dever funcional (ao liberar o veículo), tal ato c) O crime de Motim, previsto no art. 149 do CPM, é um
não ocorreu com o intuito de lucro. A alternativa crime atentatório a autoridade ou disciplina militar.
D está errada, uma vez que o crime de concussão d) O crime de Deserção, previsto no art. 187 do CPM, se
consiste na exigência de vantagem indevida por consuma no oitavo dia de ausência injustificada do
parte do sujeito ativo. Por fim, a alternativa E está militar.
incorreta, pois a corrupção ativa consiste em dar,
4. (CRS – 2017) Marque a alternativa correta. Em rela-
oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem indevi-
ção ao disposto no Código Penal Militar, inferior da
da para a prática, omissão ou retardamento de ato ativa que agir ofendendo a dignidade ou o decoro de
de ofício. Resposta: Letra B. superior também da ativa, ou procurando deprimir-lhe
a autoridade, pratica crime de:
e) Entrar no exercício de posto ou função militar, ou de
cargo ou função em repartição militar, antes de satis- a) Desacato a funcionário público.
feitas as exigências legais, ou continuar o exercício, b) Desacato a superior.
sem autorização. c) Rigor excessivo.
d) Difamação.
A alternativa A apresenta corretamente o tipo
5. (CRS – 2017) Nos termos do Código Penal Militar
penal da prevaricação, previsto no art. 319 do
(CPM), marque a alternativa correta que define o crime
CPM. A alternativa B apresenta o crime de Viola- de Falsidade Ideológica, previsto no art. 312 da men-
ção do dever funcional com o fim de lucro, previsto cionada legislação:
no art. 320 do CPM. A alternativa C trata do crime
de condescendência criminosa, previsto no art. 322 a) Omitir, em documento público ou particular, declara-
272 do CPM. Por sua vez, a alternativa D faz menção ção que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser a) A condenação da praça a pena privativa de liberdade,
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação por tempo superior a dois anos, importa na aplicação
ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevan- da pena acessória de “exclusão das forças armadas”.
te, desde que o fato atente contra a administração ou b) A “reserva” constitui uma das penas principais.
o serviço militar. c) A pena acessória de “suspensão dos vencimentos”
b) Falsificar, no todo ou em parte, documento público ou pode ser aplicada pelo juiz durante o processo.
particular, ou alterar documento verdadeiro, desde que o d) A pena principal de “impedimento” será aplicada ao
fato atente contra a administração ou o serviço militar. condenado a reclusão por mais de quatro anos.
c) Atestar ou certificar falsamente, em razão da função,
ou profissão, fato ou circunstância que habilite alguém 11. (CRS – 2017) Em relação ao disposto no Código Penal
a obter cargo, posto ou função, ou isenção de ônus ou Militar, quanto às penas principais em tempo de guer-
de serviço, ou qualquer outra vantagem, desde que o ra, marque a alternativa correta:
fato atente contra a administração ou serviço militar.
d) Omitir ou obstruir, em documento público, declaração a) Não haverá penas de morte, de caráter perpétuo, de
que dele devia constar, ou colar declaração verdadeira trabalhos forçados, de banimento ou cruéis.
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, b) O mínimo da pena de reclusão é de trinta dias.
criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridi- c) O mínimo da pena de detenção é de dez anos.
camente relevante, desde que o fato atente contra a d) A pena de morte é executada por fuzilamento.
administração ou o serviço militar.

6. (CRS – 2018) O art. 162 do Código Penal Militar (CPM) 12. (CRS – 2018) Em relação ao crime militar, é correto afirmar:
trata do crime de “Despojar-se de uniforme, condeco-
ração militar, insígnia ou distintivo, por menosprezo ou a) Nos casos previstos no Código Penal Militar, não há
vilipêndio”. Em relação à pena e seu aumento, é corre- punição em relação ao crime tentado.
to afirmar: b) Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao cri-
me consumado, diminuída de um a dois terços, poden-
a) A pena é de reclusão, de um a dois anos. Se o fato é do o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a
praticado durante solenidade militar, a pena é aumen- pena do crime consumado.
tada de um terço. c) Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao cri-
b) A pena é de até seis meses de detenção. Se o fato é pra- me consumado, sempre diminuída de um terço.
ticado diante da tropa, a pena é aumentada da metade. d) Nos casos previstos no Código Penal Militar, em rela-
c) A pena é de detenção, de seis meses a um ano. Se o ção à tentativa, é vedada a aplicação da pena corres-
fato é praticado diante da tropa, ou em público, a pena pondente ao crime consumado.
é aumentada da metade.
d) A pena é de seis meses de detenção. Se o fato é prati- 13. (CRS – 2017) Nos termos do Código Penal Militar (CPM),
cado diante da tropa, a pena é aumentada de um terço. considera-se tentado o crime quando:

7. (CRS – 2017) O militar que se negar a obedecer a a) Iniciada a execução, o crime somente se consuma por
ordem de seu superior hierárquico, chefe direto, rela- vontade direta do agente.
tivo a serviço ou dever imposto em lei, comete crime b) Iniciada a execução, o crime não se consuma por cir-
militar de: cunstâncias alheias à vontade do agente.
c) Iniciada a execução, o agente desiste de prosseguir na
a) Descumprimento de missão. execução do crime.
b) Recusa de Obediência. d) Consumada a execução, o agente repara o dano causado.
c) Desobediência.
d) Omissão de providências para evitar danos.
14. (CRS – 2017) Sobre o crime culposo, considerando o
8. (CRS – 2017) Marque a alternativa correta. De acordo regramento estabelecido no Código Penal Militar (CPM),
com o disposto no Código Penal Militar, recusar a obe- marque a alternativa correta:
decer a ordem do superior sobre assunto ou matéria
de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, a) Somente nos casos expressos em lei o agente poderá
regulamento ou instrução, configura: ser punido por fato previsto como crime, quando prati-
cado de forma culposa.
a) Desrespeito a superior. b) O agente do crime culposo sempre prevê a possibilida-
b) Descumprimento de missão. de de ocorrência do seu resultado.
c) Omissão de oficial. c) Será culposo o crime quando o agente assumir o risco
d) Recusa de obediência. de produzir o seu resultado.
DIREITO PENAL MILITAR

d) O CPM não prevê a possibilidade de crime militar culposo.


9. (CRS – 2018) São penas principais previstas no Códi-
go Penal Militar - CPM, exceto. 15. (CRS – 2018) Em relação aos crimes militares em
tempo de paz, previstos no CPM, analise as assertivas
a) Exclusão das forças armadas. e marque a alternativa correta:
b) Prisão.
c) Morte.
I. Militar em serviço ou atuando em razão da função, em
d) Detenção.
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda
10. (CRS – 2017) Sobre as penas principais e acessórias que fora do lugar sujeito à administração militar come-
previstas no Código Penal Militar (CPM), marque a te crime militar contra militar da reserva, ou reforma-
alternativa correta: do, ou civil.

273
II. Militar em situação de atividade ou assemelhado d) Consideram-se crimes militares, em tempo de paz, os
comete crime militar em lugar sujeito à administra- crimes de que trata o CPM, quando definidos de modo
ção militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, des-
assemelhado, ou civil. de que o agente seja militar em situação de atividade.
III. Militar em situação de atividade ou assemelhado
comete crime militar contra militar da reserva em qual- 19. (CRS – 2017) Considerando os dispositivos contidos
quer circunstância. no Código Penal Militar, marque “V” para verdadeira e
IV. Militar durante o período de manobras ou exercício “F” para falsa nas alternativas a seguir.
comete crime militar somente contra militar da reser-
va ou civil. ( ) O militar da reserva não remunerada possui as res-
V. Militar em situação de atividade, ou assemelhado, ponsabilidades e prerrogativas do posto e da gra-
comete crime militar contra o patrimônio sob a admi- duação, para efeito da aplicação da lei penal militar,
nistração militar, ou a ordem administrativa militar. quando pratica ou contra ele é praticado crime militar,
por estar desobrigado de forma permanente do servi-
A alternativa correta é: ço ativo.
( ) Um militar de folga que se opõe à determinação de
a) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas. uma ordem da sentinela do quartel, comete o crime
b) Somente a assertiva II está correta. do art. 162 (despojamento desprezível).
c) Todas as assertivas estão corretas. ( ) Equipara-se a Comandante, para efeito de aplicação
d) Somente as assertivas I, II e V estão corretas. do Código Penal Militar, toda a autoridade com fun-
ção de direção.
16. (CRS – 2018) Para os efeitos da aplicação da lei penal ( ) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
militar, é correto afirmar: deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela,
a própria vigência de sentença condenatória irrecor-
a) O militar da reserva conserva as responsabilidades e rível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil.
prerrogativas do posto ou graduação, somente quan-
do contra ele é praticado crime militar. Marque a alternativa que contém a sequência correta
b) O oficial da reserva, ou reformado, conserva as res- de respostas:
ponsabilidades e prerrogativas do posto, quando pra-
tica ou contra ele é praticado crime militar, o que não a) F, F, V, F.
ocorre com a praça, por não haverem tais prerrogati- b) F, V, F, V.
vas em relação à sua graduação. c) F, F, V, V.
c) O militar da reserva, ou reformado, empregado na admi- d) V, V, V, F.
nistração militar, equipara-se ao militar em situação de
atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar. 20. (CRS – 2017) O policial militar que durante sua ativida-
d) O militar da reserva ou reformado não goza de prerro- de laboral retarda ou deixa de praticar, indevidamente,
gativas do posto ou graduação relativas à aplicação ato de ofício, ou o pratica contra expressa disposição
da lei penal militar. de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal
comete crime militar de:
17. (CRS – 2017) Sobre a aplicação da Lei Penal Militar,
considerando o regramento estabelecido no Código a) Condescendência criminosa.
Penal Militar, marque a alternativa correta: b) Inobservância de lei, regulamento ou instrução.
c) Prevaricação.
a) Há crime sem lei anterior que o defina e pena sem pré- d) Abuso de confiança ou boa-fé.
via cominação legal.
b) Considera-se praticado o crime no momento da ação, 9 GABARITO
omissão ou do resultado.
c) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, 1 B
a própria vigência de sentença condenatória irrecorrí-
vel, salvo quanto aos efeitos de natureza civil. 2 D
d) Considera-se praticado o fato, no lugar em que se 3 C
desenvolveu a atividade criminosa, e não no local
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 4 B

18. (CRS – 2017) Nos termos do Código Penal Militar (CPM), 5 A


marque a alternativa correta: 6 C

a) O militar da reserva, ou reformado, conserva as res- 7 B


ponsabilidades e prerrogativas do posto ou gradua-
ção, para o efeito da aplicação da lei penal militar, 8 D
quando pratica ou contra ele é praticado crime militar. 9 A
b) Nas infrações disciplinares militares (ilícito adminis-
trativo) aplicam-se as penas previstas no CPM. 10 A
c) Em se tratando de concurso de agentes, tem-se que o
ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são puní- 11 D
veis mesmo que o crime não chegue a ser tentado. 12 B
274
13 B

14 A

15 D

16 C

17 C

18 A

19 C

20 C

ANOTAÇÕES

DIREITO PENAL MILITAR

275
ANOTAÇÕES

276
direito natural. Em princípio, estabeleceu-se no Esta-
do Moderno, com a Magna Carta Inglesa (conhecida
como Carta de João Sem Terra), de 1215, primeiro
documento que reconheceu que ninguém pode anular
os direitos do povo, nem mesmo o rei. Posteriormente,
DIREITOS HUMANOS com a Petição de Direitos, de 1628, uma declaração de
liberdade civis inglesa, que reafirmou alguns direitos
mínimos e limitou, também, o poder dos soberanos.
Aos poucos, esse direito natural e universal adqui-
riu contornos dentro do ordenamento jurídico de
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS cada Estado, passando a ser positivado, ou seja, viran-
DIREITOS HUMANOS, DE 10 DE do norma interna, elaborada segundo as peculiarida-
des e interesses de cada país. Foi assim na Revolução
DEZEMBRO DE 1948
Inglesa, com a Declaração Inglesa de Direitos, de 1689,
a qual consagrou a supremacia do parlamento e o
Direitos Humanos são os direitos inerentes aos seres
humanos como um todo, independentemente de qual- império da lei; na Revolução Americana, com a inde-
quer condição, tais como sexo, idade, nacionalidade, pendência das colônias britânicas na América do Nor-
religião, entre outros. No entanto, tais direitos são cons- te e a elaboração da Constituição estadunidense, de
tantemente relativizados, por ser objeto de interpreta- 1787; e, por fim, na Revolução Francesa, com a Decla-
ções equivocadas, normalmente ligados à proteção de ração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão,
grupos específicos, como, por exemplo, a proteção de de 1789, um marco para a proteção de direitos huma-
criminosos. Todavia, não é possível reduzi-lo dessa for- nos no plano nacional.
ma, uma vez que sua proteção é bastante abrangente. No entanto, para sua plena efetivação, fazia-se
Entender que absolutamente todas as pessoas pos- necessário um processo de internacionalização des-
suem direitos é o primeiro passo para compreender o ses direitos, o que significa dizer que era preciso que
que são os direitos humanos. Portanto, eu, você, seu esses direitos fossem normatizados pelos Estados de
vizinho, seu amigo, seu inimigo, aquele vendedor da forma conjunta, de modo a formar um conjunto de
esquina, aquela senhora que frequenta a igreja, o pas- direitos positivos universais. Observa-se, entretanto,
tor, a moça da lanchonete, o rapaz da academia e, até que os países da Europa não estavam muito interes-
mesmo, os desconhecidos: todos nós somos titulares sados em garantir a todos, que não os europeus, a
dos direitos humanos. consecução desses direitos. Se todos tivessem os mes-
O segundo passo para entender os direitos huma- mos direitos, como seria justificado a violência e o
nos é abandonar os preconceitos, isto é, os conceitos desrespeito no processo de colonização? Como se jus-
preconcebidos, ou melhor, os conceitos invisíveis que tificaria o processo de escravidão dos povos nativos?
carregamos sem perceber, assim como os esterióti-
Consequentemente, até a primeira metade do século
pos, como, por exemplo, rotulações relativas ao sexo,
XX, todos os acordos estavam voltados para a Europa
envolvendo generalizações sobre as capacidades físi-
e seus interesses.
cas, emocionais e intelectuais de mulheres e homens,
tais como “homens são naturalmente provedores”, Com a Segunda Guerra Mundial, muita coisa mudou.
“feministas odeiam os homens”, “filhos de pais sepa- Primeiro, a participação importante de países de
rados são desajustados”, entre outras. outros continentes fizeram com que o foco deixasse de
Assim sendo, os direitos humanos não estão liga- recair somente na Europa. Além disso, os atos cometi-
dos a nenhum grupo, então generalizar e estereotipar dos durante a guerra deram ensejo a um movimento
os direitos e as pessoas somente ajuda a perpetuar o de reconstrução dos direitos. Esse movimento nasceu
desrespeito e a impedir a igualdade, além de contri- consubstanciado na concepção de que todos os Estados
buir para a propagação do desconhecimento, pois, têm a obrigação de respeitar os direitos humanos e que
quando se relativiza os direitos humanos, aqueles que compete à comunidade internacional a responsabilida-
deveriam lutar por seus direitos não sabem que os de de exigir o cumprimento dessa obrigação.
têm, muito menos sabem como se proteger. Surgiu, assim, o Sistema de Proteção dos Direitos
Observa-se que, embora os direitos humanos sejam Humanos, que teve, como marco, a Declaração Uni-
inerentes à própria humanidade, o Sistema de Prote- versal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948.
ção dos Direitos Humanos, que visa a assegurar a tute- Antes de iniciar o estudo da DUDH, é preciso ter
la de tais direitos, é um fenômeno recente na história. em mente que, para melhor compreendê-la, é primor-
Nos primórdios, os direitos estavam atrelados ao uso dial entender a estrutura e identificar as ideias mais
da força, de modo que, para saber se a pessoa estava importantes da Declaração. Por essa razão, é extrema-
segura ou não, dependia do seu grupo estar na posi- mente importante ler os artigos e tentar compreender
ção de vencedor ou vencido. Populações derrotadas os pontos mais importantes, sem precisar, contudo,
eram escravizadas e perdiam seus direitos, tanto que decorá-los.
DIREITO HUMANOS

o primeiro esboço de declaração de direitos huma-


Feitas essas considerações iniciais, bons estudos!
nos foi quando o rei persa, Ciro II, após conquistar a
Babilônia, em 539 a.C., permitiu que os povos exilados
regressassem as suas terras de origem. ESTRUTURA DA DUDH
É possível visualizar, também, alguns esboços
de direitos humanos na Grécia e Roma Antiga, onde A Declaração Universal dos Direitos Humanos
se consolidou a ideia de lei do mais forte, ou seja, lei (DUDH) foi adotada e proclamada em 10 de dezem-
natural, com direitos pertencentes ao ser humano por bro de 1948, por meio da Resolução nº 217 A III, da
sua própria natureza. Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
Com o passar dos tempos, esse conceito de lei natu- (ONU). Ela não é, tecnicamente, um tratado interna-
ral foi adquirindo contornos de um direito universal, cional, sendo, apenas, uma declaração política e, não,
estabelecido pela própria natureza, ou seja, de um jurídica, que apenas delineia os direitos humanos. 277
Isso significa dizer que ela não é obrigatória? Bem, Deste modo, há uma combinação de discurso libe-
temos, aqui, dois posicionamentos doutrinários dife- ral com o discurso social da cidadania, ou seja, o valor
rentes. Para parte da doutrina, por não ser a DUDH da liberdade com o valor da igualdade.
um tratado propriamente dito, ela não possui obri- Explicando melhor: a Declaração combina os direi-
gatoriedade legal e, consequentemente, funcionaria tos ligados às prerrogativas inerentes ao indivíduo,
como uma espécie de recomendações aos Estados. como a vida, a liberdade, a propriedade, denominados
É por essa razão que quem defende esse caráter de direitos civis ou individuais e os direitos de cida-
de soft law (quase direito ou direito flexível) da DUDH dania, que envolve o direito de votar e ser votado, de
afirma que os direitos humanos previstos na Decla- ocupar cargos ou funções políticas e de permanecer nes-
ração somente se tornaram obrigatórios com a trans- ses cargos, os denominados direitos políticos, com os
formação dela em dois pactos, o Pacto Internacional direitos ligados à concepção de que é dever do Estado
dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional garantir igualdade de oportunidades a todos através de
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de políticas públicas, sendo os denominados direitos eco-
1966, pois apenas quando os Estados firmam o tratado nômicos, sociais e culturais.
é que eles assumem os compromissos nele contidos. Neste primeiro momento, basta entender que a
Em contrapartida, para outra parte da doutrina, a DUDH é uma junção de dois tipos de direitos. Quan-
DUDH é uma norma jus cogens1, ou seja, uma norma de do nosso estudo adentrar nos artigos propriamente
direito internacional tida como aceita e reconhecida por ditos, as diferenças ficarão mais visíveis e será mais
todos os Estados independentemente de estar positiva- fácil compreender a proteção e o papel dos Estados.
da ou não em tratado, sendo, por essa razão, imperativa Então, guarde essa informação, para que ela possa ser
e vinculante. Deste modo, mesmo sendo uma declaração bem compreendida quando os artigos começarem a
política e não ter sido firmada pelos Estados, os direitos ser analisados:
contidos nela independem da aquiescência dos Estados,
por serem inderrogáveis. Por exemplo, nos dias de hoje,
tanto a tortura como a escravidão são tidas como condu- 7 (sete) Considerandos
tas inaceitáveis, de forma que não haveria a necessidade (Considerações)
de ser feito um tratado pelos Estados para transformar
tais condutas em proibidas.

Direitos Civis e
Dica Preâmbulo
Políticos

Natureza jurídica da DUDH – Duas posições Artigo 1°


Artigos 21 e 22
doutrinárias:
� Recomendação (não é um tratado);
� Norma imperativa (norma jus cogens). Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais
A DUDH é composta por um preâmbulo e trinta
artigos O preâmbulo, que é a parte que precede o tex- Artigos 28, 29 e 30
to articulado da Declaração, é composto por sete Con-
siderandos (considerações). PREÂMBULO
Diferentemente do que ocorre com o preâmbulo
da Constituição, sobre o qual o interesse das bancas A DUDH inovou na concepção dos direitos huma-
examinadoras é muito pequeno, por ter a função de nos ao introduzir algumas das características ineren-
servir de interpretação e integração da própria norma tes aos direitos humanos em seus Considerandos. Na
constitucional ao reafirmar as intenções do Estado- realidade, ela reafirmou os conceitos e fundamentos
-membro com a elaboração da Constituição, o preâm- que baseiam toda a sua formulação. Vejamos cada
bulo da DUDH traz considerações importantes, como, uma das considerações, com as características e fun-
por exemplo, a característica da indivisibilidade dos damentos trazidos.
direitos humanos e, por essa razão, é necessário ser
estudado da mesma forma que seus artigos Considerando que o reconhecimento da dignidade
Com relação aos artigos, os trinta, contidos na DUDH, inerente a todos os membros da família humana
podem ser divididos em dois grandes grupos: e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fun-
damento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, [...].
z Liberdades Civis e Direitos Políticos: arts. 1º ao
21; A primeira consideração traz as características
z Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: arts. 22 da universalidade e a inalienabilidade dos direi-
ao 28. tos humanos. Universal no sentido de que se aplica a
todos os seres humanos e inalienável na medida em
Os arts. 29 e 30 não se enquadram nem em um gru- que, por terem como fundamento a liberdade, justi-
po nem no outro. Eles tratam de deveres e regras de ça e paz no mundo, não podem ser transferidos ou
interpretação, fazendo o fechamento da declaração. negociados.
1  A noção de jus cogens foi elaborada, expressamente, pela primeira vez, no artigo 53 da Convenção de Viena, sobre direito dos tratados de 1969,
que assim estabeleceu “É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral.
Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade
internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior
278 de Direito Internacional geral da mesma natureza”.
Os direitos são conferidos a todos os seres huma- Considerando que os povos das Nações Unidas
nos, os quais deles não podem se desfazer, porque são reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fun-
indisponíveis, tendo em vista a proteção da pessoa damentais do ser humano, na dignidade e no
valor da pessoa humana e na igualdade de direitos
humana.
do homem e da mulher e que decidiram promover
Do seu caráter universal decorre a garantia da dig- o progresso social e melhores condições de vida em
nidade da pessoa humana, uma vez que o direito de uma liberdade mais ampla, [...].
possuir condições mínimas para ter uma vida plena
e digna é inerente a todos os indivíduos. Observa-se, A quinta consideração remete a um dos propósitos
ainda, que o reconhecimento da dignidade traz con- da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU).
sigo o fundamento da igualdade, por não comportar Com o final da Segunda Guerra Mundial e criação da
distinções relacionadas à raça, sexo, língua, religião, ONU, uma organização internacional, com o objetivo de
origem social ou nacional, entre outros. manter a paz e a segurança internacional, foi observado
pelos Estados-membros que não existia, no âmbito inter-
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos nacional, um documento que pudesse tutelar os direitos
direitos humanos resultaram em atos bárbaros inerentes a todos os seres humanos. Assim, a Carta da
que ultrajaram a consciência da humanidade e que ONU deu respaldo à proteção dos direitos humanos.
o advento de um mundo em que mulheres e homens A Carta da ONU trouxe, pela primeira vez, a expres-
gozem de liberdade de palavra, de crença e da liber- são direitos humanos. No entanto, a Carta prestou-se
dade de viverem a salvo do temor e da necessidade somente a mencionar a expressão em seus dispositi-
foi proclamado como a mais alta aspiração do ser vos, sem dar sentido ou definição a ela.
humano comum, [...]. Por conseguinte, para dar interpretação à expres-
são direitos humanos contida na Carta, foi elaborada
A segunda consideração traz a historicidade a Resolução nº 217 A III, da Assembleia Geral, a qual
como uma das características, visto que os direitos proclamou a DUDH.
humanos são frutos de um desenvolvimento histó-
Considerando que os Países-Membros se com-
rico marcado por lutas, barbaries e desrespeitos. Os
prometeram a promover, em cooperação com
direitos humanos não surgiram em 1948 com a DUDH. as Nações Unidas, o respeito universal aos direi-
Eles nasceram aos poucos, quer na Babilônia, quer na tos e liberdades fundamentais do ser humano e a
Inglaterra, quer nos Estados Unidos, quer na França, observância desses direitos e liberdades, [...].
entre outros países. Foi por meio destes esboços que os
direitos humanos puderam se desenvolver até, final- A essencialidade e a inviolabilidade dos direitos
mente, se firmarem na ordem jurídica internacional. humanos são as características trazidas no sexto Con-
Entender o contexto histórico é extremamente siderando. Os direitos humanos, por serem essenciais,
importante para compreender o porquê da proteção devem gozar de status diferenciado perante o ordena-
dada pelos direitos humanos em cada momento da mento jurídico dos Estados. Da essencialidade decorre a
história mundial. inviolabilidade, destacando que é dever tanto dos Esta-
dos como dos indivíduos respeitar os direitos humanos.
Considerando ser essencial que os direitos huma- Por conseguinte, os Estados-membros da ONU compro-
nos sejam protegidos pelo império da lei, para
metem-se a não violar os direitos humanos.
que o ser humano não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão, Considerando que uma compreensão comum des-
ses direitos e liberdades é da mais alta importância
[...].
para o pleno cumprimento desse compromisso, [...].

A característica da efetividade dos direitos huma- Por fim, a sétima consideração traz a característica
nos é encontrada na terceira consideração, uma vez que da indivisibilidade desses direitos. Não existe hierar-
é dever do Estado a sua tutela. Os direitos humanos quia entre os direitos humanos, pois todos possuem
devem ser protegidos pelo “império da lei”, ou seja, o mesmo valor como direito. Consequentemente, eles
por normas gerais e abstratas aplicáveis a todos. No são indivisíveis na medida em que a garantia dos
entanto, de nada adianta a mera previsão abstrata do direitos civis e políticos é condição para a observância
direito se o Estado não agir para a sua concretização, dos direitos econômicos, sociais e culturais. Portanto,
pois é seu dever agir de maneira eficaz, de modo a quando um deles é violado, os outros também o são.
permitir o pleno desenvolvimento e efetividade dos Agora, portanto, a Assembleia Geral proclama a
direitos. presente Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos como o ideal comum a ser atingido por todos os
Considerando ser essencial promover o desen- povos e todas as nações, com o objetivo de que cada
volvimento de relações amistosas entre as indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre
nações, [...].
em mente esta Declaração, esforcem-se, por meio do
DIREITO HUMANOS

ensino e da educação, em promover o respeito a esses


direitos e liberdades e pela adoção de medidas pro-
A quarta consideração não traz uma característica gressivas de caráter nacional e internacional, por
em si, mas uma regra no que tange à resolução dos assegurar o seu reconhecimento e a sua observância
conflitos internacionais. Observa-se que os Estados universais e efetivos, tanto entre os povos dos pró-
são diferentes uns dos outros, seja em termos cultu- prios Países-Membros quanto entre os povos dos ter-
rais, históricos, geográficos, políticos, entre outros. ritórios sob sua jurisdição.
Entretanto, por mais que os países sejam diferentes, Assim sendo, após essas sete considerações, foi pro-
deve-se primar pela resolução pacífica das contro- clamada a DUDH.
vérsias, ou seja, para que os problemas sejam solu- A proclamação da DUDH contém uma das caracte-
cionados pela paz. Para tanto, faz-se necessário que as rísticas dos direitos humanos: a vedação ao retroces-
relações amistosas sejam desenvolvidas. so. Os direitos humanos jamais podem regredir, ou 279
seja, ser diminuídos ou reduzidos no seu aspecto de Por fim, os terceiros direitos reconhecidos encon-
proteção. Eles devem ser progressivos, o que significa tram-se atrelados ao ideal de fraternidade, por dize-
dizer que os Estados não podem proteger menos do rem respeito à coletividade. O olhar é mais amplo,
que já protegem. visualizando direitos que transcendem os indivíduos,
Passaremos, agora, à análise de seus artigos ou seja, direitos transindividuais. Esses direitos são
constituídos por interesses indivisíveis, que podem
DUDH abranger um número indeterminado de pessoas,
sujeitos indeterminados e indetermináveis, denomi-
A estrutura bipartite da DUDH decorre da ideia de nados de direitos difusos, como, por exemplo, o direi-
progressividade dos direitos humanos, contida, inclu- to ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
sive, em sua proclamação. o direito à autodeterminação dos povos, o direito à
É importante lembrar de que os direitos não sur- comunicação, entre outros. Podem, também, abran-
giram de uma vez só. Eles são frutos de um desen- ger um grupo ou categoria determinada de pessoas
volvimento histórico. Se, no início, os seres humanos determináveis unidas pelo mesmo interesse jurídico,
não tinham direitos, com o decorrer dos tempos, eles denominados de direito coletivo, como, por exem-
começaram a ser firmados. plo, a proteção de determinados grupos sociais, tidos
Os primeiros direitos reconhecidos foram aque- como vulneráveis.
les ligados ao próprio indivíduo, como, por exemplo, Assim sendo, a DUDH inicia seus dispositivos com
o direito de viver, de possuir bens, de se locomover. os direitos de primeira geração/dimensão, ou seja,
É como se fosse um primeiro olhar do Estado para os direitos civis e políticos, que exigem uma postura
o indivíduo. Um olhar que reconheceu que os seres negativa do Estado (uma não interferência). Depois,
humanos possuem direitos mínimos e que o poder do passa a disciplinar os direitos de segunda geração/
Estado não é ilimitado. Tratou-se, portanto, da defe- dimensão, isto é, os direitos econômicos, sociais e cul-
sa do indivíduo diante do abuso do poder do Esta- turais, que demandam uma postura positiva do Esta-
do. Neste primeiro momento, foram reconhecidas as do (uma prestação).
liberdades dos indivíduos, ou seja, seus direitos civis
e individuais, que abrangem todas as pessoas, sem
qualquer distinção. Também foram reconhecidos os Importante!
direitos de participação popular na administração do
A DUDH não traz os direitos de terceira geração/
Estado, isto é, os direitos políticos. No entanto, esses
dimensão.
direitos de cidadania eram bem limitados, pois esta-
vam restritos a quem detinha a qualidade de cidadão
e, por isso, atingiam somente os eleitores. As mulhe- Vamos, então, estudar cada um desses direitos.
res, por exemplo, não eram consideradas cidadãs,
assim como os estrangeiros e, consequentemente, não Direitos Civis e Políticos
possuíam os direitos políticos, embora fossem titula-
res dos direitos civis mínimos garantidos pelo Estado.
Englobam os artigos 1º ao 21 da DUDH. Vejamos
A esses direitos dá-se o nome de direitos de primei-
cada um deles:
ra geração/dimensão, por serem os primeiros direitos
tutelados pelo Estado.
Artigo 1º Todas as pessoas nascem livres e iguais
Usa-se tanto a expressão geração como dimensão. em dignidade e direitos. São dotadas de razão
Trata-se de uma classificação elaborada por Karel e consciência e devem agir em relação umas às
Vasak para classificar os direitos em categorias, con- outras com espírito de fraternidade.
forme o contexto histórico do qual surgiram. Dida-
ticamente, o jurista atrelou as três categorias dos Pela leitura desse artigo, depreende-se que os indi-
direitos humanos aos princípios da Revolução Fran- víduos nascem com direitos iguais e com todas as
cesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, os liberdades inerentes aos seres humanos. Nascer livre
direitos de primeira geração/dimensão são os direitos significa nascer com a possibilidade de fazer escolhas,
de liberdade; os de segunda, igualdade e, os de tercei- de dar rumo à própria vida de acordo com a pró-
ra, fraternidade. pria inteligência e consciência e, não, por estipulações
Os segundos direitos reconhecidos foram aqueles alheias.
voltados a estabelecer a igualdade entre os indivíduos. É saber que, por mais que o meio social possa
Depois do olhar inicial para o indivíduo, reconhecendo influenciar nas escolhas, a pessoa é livre para mudar
suas liberdades, o Estado passou a visualizá-lo como o rumo dado a ela por aquela sociedade. Só que de
membro da sociedade. Assim, foi possível reconhecer nada adiantaria nascer com liberdade se os direitos
as diferenças entre as pessoas. Como consequência,
fossem diferentes. Portanto, nascer igual significa
passou-se a exigir um papel mais ativo do Estado para
poder gozar de todos os direitos, independente de ser
garantir direitos de oportunidade iguais aos indiví-
duos, por meio de políticas públicas, como, por exem- homem ou mulher, rico ou pobre, religioso ou não, da
plo, o acesso à educação e à saúde, o voto feminino, a cor da pele, da nacionalidade, entre outros fatores.
regulamentação das regras trabalhistas e previdenciá-
rias, entre outros. Por conseguinte, passa-se a exigir Dica
uma ação e, não mais, uma omissão do Estado2.
A esses direitos dá-se o nome de direitos de segun- A menção “espírito de fraternidade” não
da geração/dimensão, estando ligados ao poder de guarda relação com os direitos de terceira
exigir do Estado a consecução dos direitos econô- dimensão/geração. A expressão é no sentido
micos, sociais e culturais. de evitar condutas individualistas.
280 2  São chamados de liberdades positiva ou prestacional.
Artigo 2º 1. Todo ser humano tem capacidade para tiver sua liberdade individual controlada ou restri-
gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta ta de forma ilícita e sistemática, será caracterizado
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, o primeiro elemento. O segundo elemento envolve o
seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião polí- exercício de algum dos atributos atinentes ao direito
tica ou de outra natureza, origem nacional ou social, de propriedade, como, por exemplo, o controle que
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. restrinja ou prive, significativamente, a pessoa de
2. Não será também feita nenhuma distinção fun- sua liberdade individual com intenção de exploração.
dada na condição política, jurídica ou inter-
Exemplo: execução de trabalho forçado, exploração
nacional do país ou território a que pertença
sexual, entre outros.
uma pessoa, quer se trate de um território inde-
É importante considerar que, no Código Penal,
pendente, sob tutela, sem governo próprio, quer
sujeito a qualquer outra limitação de soberania.
encontram-se previstos dois crimes relacionados a
essa proibição, a saber:
Esse artigo é composto de dois itens. O primeiro
item estabelece que os direitos e liberdades contidos Artigo 149 Reduzir alguém a condição análoga à
na DUDH podem ser invocados por todos os indiví- de escravo, quer submetendo-o a trabalhos força-
duos independentemente de qualquer condição pes- dos ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a
condições degradantes de trabalho, quer restrin-
soal, tais como sexo, raça, nacionalidade, condição
gindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão
social, entre outros. Trata-se, portanto, da não distin-
de dívida contraída com o empregador ou preposto:
ção fundada em atributo pessoal. Em contrapartida,
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além
o segundo item amplia a abrangência do dispositivo, da pena correspondente à violência.
para vedar as distinções fundadas em condições polí- § 1º Nas mesmas penas incorre quem:
tica, jurídica ou internacional do país ou território I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
a que pertença o indivíduo. Deste modo, os posicio- parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
namentos políticos e jurídicos adotados pelo Estado, de trabalho;
interna ou externamente, não podem servir de moti- II – mantém vigilância ostensiva no local de traba-
vo para tratamentos diferenciados entre as pessoas. lho ou se apodera de documentos ou objetos pes-
Entenda a diferença: soais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
Item 1 – tratamento distinto por ser brasileiro de trabalho.
(condição pessoal); § 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é
Item 2 – tratamento distinto ao brasileiro, devido a cometido:
uma determinada postura adotada pelo Brasil (condi- I – contra criança ou adolescente;
ção política e jurídica do Estado). II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou origem.
Artigo 3º Todo ser humano tem direito à vida, à Artigo 149-A Agenciar, aliciar, recrutar, transpor-
liberdade e à segurança pessoal. tar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude
O Artigo 3º traz três direitos distintos: vida, liber- ou abuso, com a finalidade de:
dade e segurança. O direito à vida engloba não só a I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
garantia do indivíduo de não ter interrompido o seu II - submetê-la a trabalho em condições análogas à
processo vital, salvo pela morte espontânea e inevi- de escravo;
tável, como também o direito de não ter violada a III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
sua integridade física e moral, o direito de ter uma
V - exploração sexual.
vida digna, justa, entre outros. O direito à liberdade
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
é a faculdade de fazer ou não algo, ou seja, de efetuar § 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
escolhas, mesmo que estas não sejam exteriorizadas. I - o crime for cometido por funcionário público no
É ter a liberdade tanto para pensar como para exterio- exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
rizar esse pensamento. II - o crime for cometido contra criança, adolescen-
Por fim, o direito à segurança refere-se à possibili- te ou pessoa idosa ou com deficiência;
dade de exercer com tranquilidade os direitos huma- III - o agente se prevalecer de relações de paren-
nos. Segurança abrange não só os direitos relativos tesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade,
à segurança do indivíduo, como também os direito à de dependência econômica, de autoridade ou de
segurança das relações jurídicas. superioridade hierárquica inerente ao exercício de
emprego, cargo ou função; ou
Artigo 4 º Ninguém será mantido em escravidão ou IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do
servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão território nacional.
proibidos em todas as suas formas. § 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o
agente for primário e não integrar organização
DIREITO HUMANOS

O artigo 4º veda a escravatura e o comércio de escra- criminosa


vos. O conceito de escravidão, no direito internacional, Artigo 5º Ninguém será submetido à tortura, nem
comporta dois elementos fundamentais3. O primeiro a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
é o estado ou condição do indivíduo, ou seja, basta a degradante.
restrição ou controle sistemático da autonomia indi-
vidual e liberdade de movimento independentemente O artigo 5º trata da tortura, que é um dos desdo-
da condição jurídica. Isso significa dizer que, mesmo bramentos do direito à vida, por decorrer da violação
que a norma do Estado não permita a escravidão ou à integridade humana, tanto física como psicológica.
que não exista um documento formal, se a pessoa Torturar4 é causar, ao indivíduo, sofrimento físico ou
3  Conforme artigo 6º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica).
4  Conforme art. 2º da Convenção Interamericana, para prevenir e punir a tortura. 281
mental como forma de intimidação ou castigo. É, tam- garantias processuais, tais como os princípios da dura-
bém, utilizar-se de métodos como forma de anular a ção razoável do processo, do devido processo legal, do
personalidade ou diminuir a capacidade física ou contraditório e da ampla defesa, entre outros, além de
mental, mesmo que sem dor (física ou mental). seu reconhecimento pelas constituições ou pelas leis.
A expressão “remédio efetivo” não tem relação
Dica direta com os remédios constitucionais previsto na
CF/88 (habeas corpos, habeas data, mandado de segu-
Embora a Constituição Federal de 1988 pos- rança, mandado de injunção, e ação popular). O senti-
sua um dispositivo semelhante, ela não traz a do dado pelo artigo diz respeito à efetividade da tutela
expressão “castigo cruel”. Como é possível que jurisdicional, para evitar, por exemplo, a justiça tardia
seja cobrado a literalidade do artigo, é importan- ou a não apreciação da demanda por parte do Estado.
te perceber a diferença entre os dispositivos:
Artigo 9º Ninguém será arbitrariamente preso,
Artigo 5º[...]
detido ou exilado.
III, CF/88 Ninguém será submetido a tortura nem a
tratamento desumano ou degradante.
Artigo 6º Todo ser humano tem o direito de ser, A liberdade é a regra e a sua restrição só é legíti-
em todos os lugares, reconhecido como pessoa ma quando efetuada nos estritos limites legais. Assim,
perante a lei. o artigo 9º protege os indivíduos da força do Estado,
uma vez que veda a prisão arbitrária ou abusiva e
O artigo 6º trata do reconhecimento da personali- estabelece que a restrição da liberdade só será legí-
dade humana, ou seja, da qualidade de pessoa, inde- tima quando respeitados os parâmetros da lei. Trata-
pendente da análise de condutas praticadas. Significa
-se, também, de um dos desdobramentos do direito à
que lei deve reconhecer todos os seres humanos como
segurança, por envolver garantias processuais.
detentores de direitos e deveres sem valorações, pois
todos são merecedores de proteção. Consequente- No Brasil, as garantias processuais relacionadas à
mente, não é possível efetuar gradações da dignida- prisão estão previstas no artigo 5º da CF/88. Abaixo,
de humana, uma vez que a dignidade da pessoa não estão dispostas duas dessas garantias:
pode ser retirada ou desprezada pela prática de con-
dutas tidas como reprováveis pela sociedade. Por essa LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
razão, até mesmo os criminosos devem ser considera- bens sem o devido processo legal;
dos sujeitos de direito. LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito
Em termos simples, ser reconhecido como pessoa ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
é pressuposto para ter direito a possuir direitos, inde- judiciária competente, salvo nos casos de transgres-
pendentemente de qualquer análise de suas condutas. são militar ou crime propriamente militar, definidos
em lei;
Artigo 7º Todos são iguais perante a lei e têm
direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da Artigo 10 Todo ser humano tem direito, em plena
lei. Todos têm direito a igual proteção contra qual- igualdade, a uma justa e pública audiência por
quer discriminação que viole a presente Declaração parte de um tribunal independente e imparcial,
e contra qualquer incitamento a tal discriminação. para decidir seus direitos e deveres ou fundamento
de qualquer acusação criminal contra ele.
O artigo 7º traz o direito à igualdade. Trata-se
da necessidade da lei reconhecer que todos os seres O artigo 10 também estabelece uma garantia proces-
humanos possuem os mesmos direitos e as mesmas sual, ou seja, o direito que todas as pessoas têm de serem
proteções. Além disso, a lei não pode ser aplicada de julgadas por um tribunal independente e imparcial. Tra-
modo discriminatório, de modo a negar direitos bási- ta-se, portanto, do desdobramento do direito à seguran-
cos aos indivíduos em razão de qualquer condição ça (jurídica) somado ao direito à igualdade. Isso significa
pessoal, como sexo, cor, origem, entre outros. dizer que a prestação jurisdicional não deve estar atrela-
da a outros interesses que não os amparados e tutelados
Importante! pela lei. E mais além, que ela seja prestada igualmente a
todas as pessoas, de forma independente e imparcial.
A ideia de igualdade possui duas acepções: Por mais que a interpretação do artigo conduza à
Igualdade formal: todos são iguais perante a lei. esfera penal, sua abrangência não pode estar limitada
Tratar a todos de forma igual; a essa área do direito. Isso porque a prestação jurisdi-
Igualdade material: igualdade, de fato, perante a cional igualitária não se restringe a questões penais.
lei (tratar igualmente os iguais e, desigualmente, Ela pode envolver outros âmbitos do direito, como, por
os desiguais. exemplo, a garantia de acesso de todos os indivíduos
à Justiça, independentemente de sua condição econô-
mica. Assim, a possibilidade de pessoas sem condições
Artigo 8º Todo ser humano tem direito a receber econômicas pleitearem a tutela do Estado por intermé-
dos tribunais nacionais competentes remédio dio da Defensoria Pública (Estado prestando assistên-
efetivo para os atos que violem os direitos funda- cia jurídica) é um exemplo de prestação igualitária
mentais que lhe sejam reconhecidos pela constitui-
ção ou pela lei. Artigo 11 1.Todo ser humano acusado de um ato
delituoso tem o direito de ser presumido inocente
O artigo 8º estabelece que a prestação jurisdicional até que a sua culpabilidade tenha sido provada
dada pelo Estado aos indivíduos deve ser efetiva. Tra- de acordo com a lei, em julgamento público no qual
ta-se de um dos desdobramentos do direito à seguran- lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
282 ça, por trazer a ideia de segurança jurídica. Envolve as necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação Embora a Constituição Federal de 1988 possua um
ou omissão que, no momento, não constituíam dispositivo semelhante, a liberdade de locomoção da
delito perante o direito nacional ou interna- CF/88 é limitada ao tempo de paz, diferentemente da
cional. Também não será imposta pena mais forte DUDH, que não estabelece restrição temporal. Como
de que aquela que, no momento da prática, era apli- é possível que seja cobrado a literalidade do artigo, é
cável ao ato delituoso. importante perceber a diferença entre os dispositivos:

O artigo 11 é composto de dois itens. O primeiro Artigo 5º, XV, CF/88: é livre a locomoção no terri-
item traz o princípio da presunção de que todos os tório nacional em tempo de paz, podendo qualquer
seres humanos acusados de práticas delituosas são pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
inocentes até que a culpabilidade tenha sido prova- ou dele sair com seus bens;
da. Isso significa dizer que não é o acusado que tem
que provar que é inocente, mas o Estado que tem a Se o primeiro item estabelece a liberdade de loco-
responsabilidade de demonstrar a responsabilidade
moção interna, o segundo item trata da liberdade de
criminal deste. Portanto, por essa garantia processual,
locomoção externa e, portanto, do direito de locomo-
decorrente do direito à segurança, compete ao Estado
ção entre os Estados, ou seja, o direito de entrar, per-
o ônus de provar a culpa do indivíduo.
manecer ou sair de um país.
Assim como qualquer um dos direitos humanos, a
z Presunção de inocência = ônus da prova do Estado
liberdade de locomoção, tanto interna como externa,
não é ilimitada. Exemplo: mesmo possuindo o direito de
A inocência é presumida, porque quem deve pro-
locomoção, não é possível ingressar em uma proprieda-
var a culpa do indivíduo é o Estado.
de alheia fora das hipóteses previstas na CF/88 (convi-
O segundo item do artigo 11 estabelece uma regra
de aplicação da norma penal, trazendo a ideia de ante- te, desastre, flagrante delito, prestar socorro ou ordem
rioridade da lei penal. Trata-se de mais uma garantia judicial durante o dia), podendo, inclusive, caracterizar
processual decorrente do direito à segurança, no senti- o crime de invasão de domicílio. Do mesmo modo, a Lei
do de que é necessário que exista de uma norma penal nº 13.445/2017 (Lei de Migração) estabelece as hipóteses
anterior estabelecendo tanto a conduta (primeira parte de ingresso e permanência do estrangeiro no Brasil.
do item) como a sanção (segunda parte do item), para
que os indivíduos possam ser condenados pela sua prá- Artigo 14
tica. Veda-se, portanto, o direito penal retroativo. 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direi-
Neste sentido, a conduta tem que ser considerada to de procurar e de gozar asilo em outros países.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de
crime antes da sua prática (anterioridade da lei penal).
perseguição legitimamente motivada por cri-
A pena imposta deve ser aquela prevista pela lei no mes de direito comum ou por atos contrários aos
momento de sua prática, mesmo que a lei a modifique objetivos e princípios das Nações Unidas.
posteriormente (irretroatividade da lei penal mais grave).
O artigo 14 disciplina o instituto de proteção interna-
Artigo 12 Ninguém será sujeito à interferência na
cional denominado de asilo. Asilo é o acolhimento, pelo
sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na
Estado, do indivíduo que está sendo perseguido injusta-
sua correspondência, nem a ataque à sua honra e
mente. Essa proteção pode ser tanto no próprio território
reputação. Todo ser humano tem direito à proteção
do Estado (asilo territorial) como em órgão de representa-
da lei contra tais interferências ou ataques.
ção em Estado estrangeiro, como embaixada ou consula-
O artigo 12 disciplina um dos diretos decorrentes do do (asilo diplomático). Assim, o primeiro item estabelece
direito à vida, ou seja, o direito à vida privada. Trata- o direito à proteção territorial ou diplomática, enquanto
o segundo item disciplina o caso de não aplicação do ins-
-se da proteção da intimidade como essencial aos seres
tituto, ou seja, no caso de a perseguição ser legitimamente
humanos, o que significa dizer que as pessoas têm o
motivada por crime comum ou por ato contrário aos pro-
poder de decidir quais informações, condutas, esco-
pósitos ou princípios das Nações Unidas. Assim, se uma
lhas, preferências, entre outros, quer levar ao conhe-
determinada pessoa comete um crime, tal perseguição
cimento público e quais quer manter exclusivamente
não pode ser considerada como injusta.
em sigilo. Para tanto, cabe à lei garantir a privacidade. É importante ressaltar que, quando a pessoa come-
São exemplos de proteção à esfera privada, trazidas te um crime em um Estado e vai para outro, para evitar
pela CF/88, a inviolabilidade do domicílio (Artigo 5º, XI) a punição, o direito internacional estabelece o instituto
e a inviolabilidade do sigilo da correspondência e das da extradição como forma de os países colaborarem
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações uns com os outros. Assim, é possível que um Estado
telefônicas (Artigo 5º, XII), além do direito de indeniza- entregue uma pessoa para à Justiça de outro Estado.
ção por dano material ou moral no caso de violação da Aqui, a perseguição (para processar e punir) é legítima,
intimidade, vida privada, honra e imagem (Artigo 5º, X). diferentemente do asilo, em que a perseguição é ilegí-
tima, como nos casos de crimes políticos e de opinião.
Artigo 13
DIREITO HUMANOS

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomo-


Artigo 15
ção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qual- 2. Ninguém será arbitrariamente privado de
quer país, inclusive o próprio e a esse regressar. sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade.
O artigo 13, que decorre do direito à liberdade, é
dividido em dois itens. O primeiro item estabelece o O artigo 15 estabelece o direito à nacionalidade, ou
direito que todas as pessoas têm de se locomoverem seja, ter um vínculo político-jurídico com um país, pois
em decorrência da própria vontade, ou seja, o direito todos os seres humanos têm direito de se vincularem a
de acesso, de ingresso ou de trânsito dentro dos limi- um Estado soberano para que este possa lhe assegurar
tes territoriais do seu País. Ressalta-se que o item tam- proteção aos seus direitos fundamentais. A ausência de
bém disciplina a liberdade de residência. vínculo enseja a condição de apátrida e impede que o 283
indivíduo pleiteie proteção jurídica básica por não estar O segundo item do artigo 16 refere-se ao consen-
vinculado a nenhum estatuto pessoal. Deste modo, o pri- timento do nubente, que deve ser livre e pleno. O
meiro item estabelece o direito à proteção jurídica e polí- casamento é uma escolha e, por essa razão, não pode
tica por parte de um Estado, ou seja, o direito de ter uma ser imposto. Busca-se, portanto, evitar casamentos
nacionalidade. arranjados ou forçados. Por fim, o terceiro item trata
A nacionalidade pode ser originária ou derivada. da proteção que deve ser concedida à família, tanto
Nacionalidade originária é aquela que decorre do pela sociedade como pelo Estado, pois é da família que
nascimento e, a depender do Estado, pode seguir o cri- advêm os indivíduos, ou seja, é o núcleo natural e fun-
tério de vínculo biológico (jus sanguinis) ou o critério damental de onde emana a sociedade.
do local do nascimento (jus solis), ou os dois, como no
caso do Brasil. Nesse tipo de nacionalidade (originá- Artigo 17
ria), é possível a coexistência de mais de uma nacio- 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só
nalidade. Exemplo: filho de italiano nascido no Brasil ou em sociedade com outros.
é italiano por sangue e brasileiro por solo. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de
Nacionalidade derivada é aquela que decorre de sua propriedade.
qualquer outro fator que não o nascimento, como,
por exemplo, passar a residir em um país ou casar-se O artigo 17 trata do direito à propriedade. Trata-se
com um estrangeiro e adquirir a nacionalidade deste do direito que todos os seres humanos têm de usar,
(essa hipótese não existe no direito brasileiro, pois o gozar e dispor da coisa, assim como retomá-la de
casamento com brasileiro, por si só, não dá o direito quem, injustamente, a detenha. O primeiro item esta-
à nacionalidade brasileira). Para adquirir a naciona- belece que a propriedade pode ser individual ou em
lidade derivada é necessário um procedimento cha- conjunto. Já o segundo item veda a perda arbitrária
da propriedade. Deste modo, para que a pessoa seja
mado de naturalização. Em regra, ao se adquirir uma
privada de sua propriedade, deve a lei estabelecer os
nova nacionalidade, por ser esta voluntária, perde-se a
critérios e as hipóteses. Por exemplo, o direito brasi-
nacionalidade anterior (direito de opção).
leiro autoriza a expropriação de propriedade em que
O segundo item, por sua vez, estabelece que o direito
for encontrado trabalho escravo.
à nacionalidade não pode ser retirado arbitrariamen-
A CF/88 garante o direito à propriedade e que esta
te, assim como não pode ser imposto. Neste sentido, o
deve atender a sua função social (Artigo 5º, XXII e XXIII).
brasileiro continuará a ser brasileiro, independente de
qualquer conduta praticada, porém, se quiser adquirir
Artigo 18 Todo ser humano tem direito à liber-
outra nacionalidade, como, por exemplo, passar a resi-
dade de pensamento, consciência e religião; esse
dir em outro país e tornar-se nacional deste, não será
direito inclui a liberdade de mudar de religião ou
compelido a continuar como brasileiro. Essa hipótese é crença e a liberdade de manifestar essa religião
muito comum entre atletas, que optam por outra nacio- ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em
nalidade, para poderem competir por estes países em público ou em particular.
uma Copa do Mundo ou Olimpíada.
O direito à liberdade está disciplinado no artigo 18
Artigo 161. Os homens e mulheres de maior ida-
da DUDH. De acordo com o dispositivo, os seres huma-
de, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade
nos têm direito de liberdade de foro íntimo, ou seja,
ou religião, têm o direito de contrair matrimônio
e fundar uma família. Gozam de iguais direi-
de ter convicções religiosas, filosóficas, políticas, entre
tos em relação ao casamento, sua duração e sua outros. Portanto, têm direito de pensar e de expres-
dissolução. sar livremente esses pensamentos. Com relação à
2. O casamento não será válido senão com o livre e religião, assegura tanto a liberdade de crença (foro
pleno consentimento dos nubentes. íntimo), ou seja, de ter uma religião, como a liberdade
3. A família é o núcleo natural e fundamental de expressão, isto é, de culto. Além disso, estabelece a
da sociedade e tem direito à proteção da sociedade liberdade religiosa, de mudar de crença ou religião e
e do Estado. de manifestação desta.
O pensamento, em si, é absolutamente livre, por
O artigo 16 estabelece o direito de contrair matri- ser uma questão de foro íntimo. O indivíduo pode
mônio, ou seja, de se casar. Ele é dividido em três itens. pensar em que quiser sem que o Estado possa interfe-
O primeiro item traz duas importantes proteções. A rir. No entanto, quando esse pensamento é exteriori-
primeira refere-se à idade núbil, ou seja, que o casa- zado, passa a ser possível a tutela e proteção do Estado
mento seja possível somente a partir de uma deter-
minada idade. Observa-se, no entanto, que o item Artigo 19 Todo ser humano tem direito à liber-
não estabelece nenhuma idade, mencionando apenas dade de opinião e expressão; esse direito inclui
“maior idade”. Por conseguinte, a idade núbil pode a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e
ser fixada a critério da legislação de cada país, não se de procurar, receber e transmitir informações e
podendo admitir casamento de crianças. A outra pro- ideias por quaisquer meios e independentemente de
teção importante decorre do princípio da igualdade, fronteiras.
ou seja, da igualdade entre homens e mulheres nas
relações conjugais. Complementando o artigo 18, o artigo 19 trata do
A idade núbil, no Brasil, é 16 (dezesseis) anos e a direito à liberdade de opinião e expressão, ou seja, de
igualdade entre homem e mulher nas relações conju- expressar livremente os pensamentos em qualquer
gais passou a ser protegida com a CF/88. Como exem- evento ou área do conhecimento. Cumpre mencio-
plo, pode-se citar a transformação do pátrio poder em nar que é da liberdade de expressão que decorrem a
poder familiar, em que a vontade do cônjuge varão proibição de censura e a vedação do anonimato por
284 deixou de ser preponderante. exemplo.
A expressão do pensamento é livre, porém não é Artigo 22 Todo ser humano, como membro da
absoluta. Assim, a pessoa é livre para expor sua opi- sociedade, tem direito à segurança social, à
nião, mas se esta atingir a honra de alguém, por exem- realização pelo esforço nacional, pela coope-
plo, ela poderá ser responsabilizada civil e penalmente. ração internacional e de acordo com a orga-
nização e recursos de cada Estado, dos direitos
Artigo 20 econômicos, sociais e culturais indispensáveis à
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
reunião e associação pacífica personalidade.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
associação.
O artigo 22 assegura aos indivíduos um sistema de
A liberdade de reunião e associação encontram- assistência e proteção econômica em determinados
-se disciplinadas no artigo 20 da DUDH. Por reunião momentos, tais como incapacidade temporária ou defi-
depreende-se o agrupamento organizado de pessoas nitiva, velhice, maternidade, entre outros, ou seja, um
para uma determinada finalidade e com caráter tran- programa de proteção social para amparar as pessoas
sitório. Se o caráter do agrupamento for permanente, em determinados eventos. Também garante a consecu-
tem-se uma associação. Importante mencionar que ção de esforços nacionais, de cooperação internacional
tanto a reunião como a associação devem servir para e de organização e gerenciamento dos recursos dispo-
fins pacíficos. Além disso, ninguém poderá ser com- níveis pelos Estados com o objetivo de garantir as con-
pelido a se associar e, uma vez associado, será livre, dições indispensáveis a uma vida com dignidade.
também, para decidir se permanece ou não associado. Desse artigo, advém a ideia de “reserva do possí-
vel”, pois o Estado deve garantir os direitos em confor-
midade com seus recursos.
Importante!
No Brasil, é proibida a associação para fins ilíci- Artigo 23
tos e paramilitares. 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre
escolha de emprego, a condições justas e favorá-
veis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
Artigo 21 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem
1. Todo ser humano tem o direito de tomar direito a igual remuneração por igual trabalho.
parte no governo de seu país diretamente ou 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a
por intermédio de representantes livremente uma remuneração justa e satisfatória que lhe
escolhidos assegure, assim como à sua família, uma existên-
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso cia compatível com a dignidade humana e a que se
ao serviço público do seu país. acrescentarão, se necessário, outros meios de pro-
3. A vontade do povo será a base da autoridade do teção social.
governo; essa vontade será expressa em eleições 4. Todo ser humano tem direito a organizar sin-
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, dicatos e a neles ingressar para proteção de seus
por voto secreto ou processo equivalente que
interesses.
assegure a liberdade de voto.

O artigo 21 encerra o rol dos direitos civis e políticos O artigo 23 assegura às pessoas o direito ao traba-
previstos na DUDH. Na realidade, o dispositivo é o úni- lho e à livre escolha do emprego, ou seja, a liberdade
co que disciplina os direitos políticos, sendo dividido em de escolha profissional. Para tanto, deve o Estado esti-
três itens. O primeiro item dá ênfase ao regime demo- pular as condições necessárias para a realização do
crático de governo, ao estabelecer os indivíduos como trabalho e adotar medidas de proteção ao trabalhador
titulares da soberania. Desse modo, os seres humanos contra o desemprego.
podem participar diretamente do governo (democracia Considerando-se que todo trabalho tem direito
direta) ou indiretamente, por meio de seus representan- a uma contraprestação, essa remuneração deve ser
tes escolhidos pelo voto (democracia indireta). Trata-se, pautada pelo princípio da igualdade, evitando que
também, do direito de votar e ser votado. pessoas que exerçam as mesmas funções e nos mes-
O segundo item refere-se aos serviços prestados mos locais recebam valores diferentes de acordo com
pelo Estado, os quais devem respeitar o direito à igual- suas características pessoais, como sexo, cor, naciona-
dade, ou seja, todos os indivíduos tem acesso aos mes- lidade, religião, entre outros. Assim sendo, também é
mos serviços prestados. dever do Estado adotar medidas de proteção ao traba-
Por fim, o terceiro item trata do direito de voto, lhador contra tratamentos discriminatórios.
que deve ser periódico, legítimo, universal e secreto. O dispositivo garante, ainda, que a remuneração
É importante frisar que, no Brasil, não é possível
seja justa e suficiente para assegurar ao trabalhador
DIREITO HUMANOS

alterar as regras com relação ao voto direto, secreto,


e à sua família uma vida digna. Por fim, estabelece
universal e periódico (são cláusulas pétreas). A obri-
o direito à livre criação de sindicatos, para que estes
gatoriedade do voto, por sua vez, pode ser alterada
possam garantir os meios de proteção aos direitos dos
(tornar-se facultativo).
trabalhadores.
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Sobre isso, vale ressaltar que a CF/88 disciplina os
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais em seu
Conforme visto, esta segunda parte engloba os direi- artigo 7º.
tos de segunda geração/dimensão, ou seja, aqueles que
demandam a atuação e proteção do Estado para assegu- Artigo 24 Todo ser humano tem direito a repouso
rar a todas as pessoas a igualdade. Eles estão previstos e lazer, inclusive a limitação razoável das horas
nos artigos 22 ao 28 da DUDH. Vejamos cada um deles: de trabalho e a férias remuneradas periódicas. 285
O artigo 24 também assegura um direito dos tra- direito prioritário dos pais na escolha do gênero de
balhadores. Trata-se de duas regras para evitar que instrução, ele também limita sua liberdade de esco-
o trabalhador seja levado à exaustão. A primeira é a lha ao estipular caráter obrigatório à instrução ele-
estipulação de períodos de descanso, ou seja, da pro- mentar, uma vez que os pais não poderão privar seus
teção do repouso e do lazer, assim como a garantia de filhos do ensino elementar formal.
gozo de férias remuneradas e periódicas. A segunda é
a limitação da jornada do trabalho.
Importante!
Artigo 25
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida A DUDH não define o que é ensino elementar.
capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-
-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensá- Artigo 27
veis e direito à segurança em caso de desemprego, 1. Todo ser humano tem o direito de participar
doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de livremente da vida cultural da comunidade, de fruir
perda dos meios de subsistência em circunstâncias as artes e de participar do progresso científico e de
fora de seu controle. seus benefícios.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados 2. Todo ser humano tem direito à proteção dos
e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas interesses morais e materiais decorrentes de qual-
dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma quer produção científica literária ou artística da
proteção social. qual seja autor.

O artigo 25 traz a ideia de mínimo existencial, ou O artigo 27 busca assegurar o acesso dos indiví-
seja, de um padrão mínimo de condições materiais duos ao direito cultural. O primeiro item do artigo
aceitáveis para uma vida com dignidade. Nestes ter- refere-se ao direito de participar, ou seja, de ter aces-
mos, deve-se assegurar que a quantidade de alimen- so aos meios de cultura e artes, bem como aos meios
tos deve ser suficiente para o indivíduo e sua família, científicos. Já o segundo item estabelece os meios de
que ele possa se vestir, ter moradia, acesso aos servi- proteção ao direito do autor, quer em seu aspecto
ços médicos, sociais e segurança em caso de imprevis- material, quer em seu aspecto moral.
tos, tais como desemprego, incapacidade, velhice etc.
Além disso, devem-se assegurar os cuidados e assis- Artigo 28 Todo ser humano tem direito a uma
tência devidos à maternidade e à infância, sem qual- ordem social e internacional em que os direitos e
quer distinção entre os filhos. liberdades estabelecidos na presente Declaração
É importante saber que, antes da CF/88, a prote- possam ser plenamente realizados.
ção aos filhos concebidos no casamento era diferente
dos gerados fora do matrimônio. Por exemplo, uma Finalizando os direitos econômicos, sociais e cul-
pessoa casada não poderia registrar filho havido fora turais, o artigo 28 reafirma os direitos elencados na
deste casamento. DUDH e estabelece que uma ordem social condizente
com os valores da dignidade humana somente poderá
Artigo 26 ser efetivada com a consecução de todos os direitos
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A ins- previstos na declaração. Portanto, os Estados devem
trução será gratuita, pelo menos nos graus elemen-
se comprometer a adotar a Declaração, tanto em seu
tares e fundamentais. A instrução elementar será
âmbito interno como em seu âmbito externo.
obrigatória. A instrução técnico-profissional será
acessível a todos, bem como a instrução superior,
esta baseada no mérito. Outros Dispositivos
2. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do Os artigos 29 e 30 da DUDH não se enquadram
fortalecimento do respeito pelos direitos do ser como direitos civis e políticos nem como direitos eco-
humano e pelas liberdades fundamentais. A ins- nômicos, sociais e culturais. A eles compete fazer o
trução promoverá a compreensão, a tolerância e a fechamento da Declaração.
amizade entre todas as nações e grupos raciais ou
religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Artigo 29
Unidas em prol da manutenção da paz. 1. Todo ser humano tem deveres para com a comu-
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do nidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento
gênero de instrução que será ministrada a seus de sua personalidade é possível.
filhos.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo
ser humano estará sujeito apenas às limitações
O artigo 26 assegura aos seres humanos o direito à determinadas pela lei, exclusivamente com o fim
educação. O dispositivo traz a ideia de que a formação de assegurar o devido reconhecimento e respeito
integral da pessoa depende de instrução, pois somente dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer
com uma instrução adequada o indivíduo pode exer- as justas exigências da moral, da ordem pública e
cer outros direitos, tais como a liberdade de expres- do bem-estar de uma sociedade democrática.
são, a liberdade de associação, os direitos políticos, 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipó-
entre outros. Deste modo, cabe ao Estado assegurar o tese alguma, ser exercidos contrariamente aos
acesso à instrução e garantir sua gratuidade ao menos objetivos e princípios das Nações Unidas.
nos níveis elementares e fundamentais.
Quanto à obrigatoriedade, esta deve ser apenas Depois de vinte e oito artigos estabelecendo os
da instrução elementar, assegurando o acesso nos direitos inerentes aos seres humanos, o artigo 29 é o
demais níveis de instrução. Nesse ponto é importan- único que traz os deveres. Assim, cabe ao indivíduo
te observar que, embora o dispositivo estabeleça o contribuir para o desenvolvimento da comunidade, o
286
que significa dizer que, se por um lado a sociedade se Artigo 30 Nenhuma disposição da presente Decla-
compromete a garantir a consecução dos direitos das ração poder ser interpretada como o reconheci-
pessoas, por outro, essas pessoas também se compro- mento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do
metem com a sociedade. direito de exercer qualquer atividade ou praticar
qualquer ato destinado à destruição de quaisquer
Além disso, o dispositivo estabelece que os direitos
dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
e liberdades somente podem ser limitados pela lei, de
modo a evitar, por exemplo, o abuso do direito. Por
O artigo 30 traz a regra de interpretação da Decla-
fim, o artigo estabelece a relação entre a DUDH e a ração para garantir a adequação entre os direitos
Carta das Nações Unidas, de maneira que nenhum estabelecidos e a consecução da dignidade da pessoa
direito tutelado possa ser exercido contrariando os humana. Consequentemente, não é possível a redu-
objetivos e princípios da outra. ção da proteção, a exclusão do direito, a distorção de
A título de conhecimento, os propósitos e princí- acesso a algum direito baseado em uma interpretação
pios da ONU são: errônea do conteúdo e estrutura. Portanto, a interpre-
tação deve respeitar a própria DUDH.
Artigo 1º
1. Manter a paz e a segurança internacionais e,
para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efe-
tivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos EXERCÍCIOS COMENTADOS
de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e
chegar, por meios pacíficos e de conformidade com 1. (VUNESP – 2020) Com relação à Declaração dos Direi-
os princípios da justiça e do direito internacional, tos do Homem (ONU, 1948), é correto afirmar:
a um ajuste ou solução das controvérsias ou situa-
ções que possam levar a uma perturbação da paz; a) a família é o núcleo natural e fundamental da socieda-
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, basea- de e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
das no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de b) todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
uma justa e secreta audiência por parte de um tribu-
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
nal independente e imparcial, para decidir sobre seus
3. Conseguir uma cooperação internacional para
resolver os problemas internacionais de caráter direitos e deveres ou sobre o fundamento de qualquer
econômico, social, cultural ou humanitário, e para acusação criminal contra ele.
promover e estimular o respeito aos direitos huma- c) todo ser humano tem direito a instrução. A instrução
nos e às liberdades fundamentais para todos, sem será gratuita, pelo menos nos graus elementares, fun-
distinção de raça, sexo, língua ou religião; e damentais e superiores.
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das d) todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o
nações para a consecução desses objetivos comuns. direito de ser presumido inocente até que a sua culpa-
Artigo 2º bilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em jul-
1. A Organização é baseada no princípio da igual- gamento público, no qual lhe tenha sido assegurado ao
dade de todos os seus Membros. menos uma das garantias necessárias à sua defesa.
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para
todos em geral os direitos e vantagens resultantes
de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de A resposta está prevista no artigo 16. Vejamos: 1.
boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo Os homens e mulheres de maior idade, sem qual-
com a presente Carta. quer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
3. Todos os Membros deverão resolver suas contro- têm o direito de contrair matrimônio e fundar
vérsias internacionais por meios pacíficos, de modo uma família. Gozam de iguais direitos em relação
que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O
justiça internacionais. casamento não será válido senão com o livre e pleno
4. Todos os Membros deverão evitar em suas rela- consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo
ções internacionais a ameaça ou o uso da força natural e fundamental da sociedade e tem direito à
contra a integridade territorial ou a dependência proteção da sociedade e do Estado. As demais alter-
política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação
nativas estão incorretas, segundo os artigos 10, 25 e
incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
5. Todos os Membros darão às Nações toda assis-
11, respectivamente. Resposta: Letra A.
tência em qualquer ação a que elas recorrerem de
acordo com a presente Carta e se absterão de dar 2. (VUNESP – 2018) A respeito da Declaração Universal
auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Uni- dos Direitos Humanos (DUDH), assinale a alternativa
das agirem de modo preventivo ou coercitivo. correta.
6. A Organização fará com que os Estados que
não são Membros das Nações Unidas ajam de a) Ninguém pode ser preso, detido ou exilado.
acordo com esses Princípios em tudo quanto for b) Ninguém será condenado por ação ou omissão, ainda
DIREITO HUMANOS

necessário à manutenção da paz e da segurança que, no momento de sua prática, constituísse ato deli-
internacionais. tuoso frente ao direito interno e internacional.
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autori-
c) Nenhuma pessoa sujeita a perseguição tem o direi-
zará as Nações Unidas a intervirem em assuntos
que dependam essencialmente da jurisdição de to de procurar e de se beneficiar de asilo em outros
qualquer Estado ou obrigará os Membros a subme- países.
terem tais assuntos a uma solução, nos termos da d) O direito de asilo não pode ser invocado no caso de
presente Carta; este princípio, porém, não prejudi- processo realmente existente por crime de direito
cará a aplicação das medidas coercitivas constan- comum ou por atividades contrárias aos fins e aos
tes do Capitulo VII. princípios das Nações Unidas.
e) Nenhuma pessoa pode abandonar o país em que se
Vejamos, agora, o artigo 30, o qual encerra a DUDH. encontra. 287
O asilo não poderá ser concedido quando a perse- c) o direito a asilo pode ser invocado, mesmo em caso
guição é justa, nos termos do artigo 14. Vejamos: de perseguição legitimamente motivada por crimes de
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
direito de procurar e de gozar asilo em outros paí- princípios das Nações Unidas.
ses. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de d) todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimô-
perseguição legitimamente motivada por crimes de nio gozarão da mesma proteção social, sempre que
direito comum ou por atos contrários aos objetivos possível.
e princípios das Nações Unidas. Resposta: Letra D.
Conforme disciplinado no artigo 14
3. (FCC – 2018) A Declaração Universal dos Direitos 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito
Humanos de procurar e de gozar asilo em outros países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de
a) é um conjunto de regras destinado a garantir a impuni- perseguição legitimamente motivada por crimes de
dade dos criminosos. direito comum ou por atos contrários aos objetivos
b) não reconhece nenhum direito que seja aplicável e princípios das Nações Unidas. As demais alterna-
às pessoas vítimas de crimes. tivas estão incorretas, segundo os arts. 13, 14 e 25
c) não proíbe expressamente a aplicação da pena de respectivamente. Resposta: Letra D.
morte nem a prisão perpétua para autores de cri-
mes graves. 6. (VUNESP – 2014) É correto afirmar, sobre as previ-
d) dispõe que os criminosos devem ser punidos de forma sões contidas na Declaração Universal de Direitos
branda porque são vítimas da desigualdade social. Humanos, que
e) prevê que toda pessoa acusada de crime somen-
te pode ser presa após condenação em segunda a) está previsto o direito à educação, com o ensino ele-
instância. mentar obrigatório e gratuito, com acesso ao ensino
superior de acordo com o mérito.
Embora a Declaração não disponha, expressamen- b) estão previstos direitos ligados ao contrato de traba-
te, sobre pena de morte ou prisão perpétua, ela lho, como salário mínimo, repouso e lazer, mas sem
assegura que a pena não pode ser mais forte do que nenhuma limitação horária da jornada de trabalho.
era previsto, legalmente, no momento da prática do c) são proclamados, em seu artigo I, como os três valo-
delito. Vejamos o texto do Artigo 11. res fundamentais dos direitos humanos a liberdade, a
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso igualdade e a fraternidade.
tem o direito de ser presumido inocente até que a d) os direitos de liberdade previstos são relativos à esfe-
sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com ra individual, não prevendo liberdades políticas relati-
a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido vas à participação do povo no governo.
asseguradas todas as garantias necessárias à sua e) não há disposição que verse sobre o direito a contrair
defesa. matrimônio e fundar uma família, nem sobre os direi-
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação tos decorrentes do casamento.
ou omissão que, no momento, não constituíam
delito perante o direito nacional ou internacional. Conforme disciplinado no artigo 1º Todos os seres
Também não será imposta pena mais forte do que humanos nascem livres e iguais em dignidade e di-
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao reitos. São dotados de razão e consciência e devem
ato delituoso. Resposta: Letra C. agir em relação uns aos outros com espírito de fra-
ternidade. As demais alternativas estão incorretas,
4. (CESPE-CEBRASPE – 2017) Conforme a Declaração segundo os arts. 26, 23, 21 e 16 respectivamente.
Universal dos Direitos Humanos, os direitos humanos Resposta: Letra C.
são:

a) revogáveis.
b) absolutos.
c) renunciáveis. CONVENÇÃO AMERICANA DE
d) imprescritíveis. DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SAN
e) individuais. JOSÉ DA COSTA RICA)
São características dos direitos humanos: Historici-
Instituída no âmbito da Organização dos Estados
dade, Universalidade, Imprescritibilidade, Inexauri-
Americanos (OEA), a Convenção Americana sobre
bilidade, Essencialidade, Inalienabilidade, Irrenun-
Direitos Humanos (CADH), também conhecida como
ciabilidade, Inviolabilidade, Limitabilidade, Efetivi-
dade, Interdependência, Concorrência, Vedação ao Pacto de San José da Costa Rica, é um tratado inter-
retrocesso, entre outros. Portanto, eles são impres- nacional firmado entre os países-membros que con-
critíveis, ou seja, não se perdem pelo decurso de pra- solida um regime de liberdade pessoal e de justiça
zo. Resposta: Letra D. social, fundado no respeito aos direitos essenciais do
ser humano.
5. (VUNESP – 2014) Nos termos da Declaração Univer- A CADH foi elaborada em 22 de novembro de 1969
sal dos Direitos do Homem, é correto afirmar que durante a Conferência Especializada Interamericana
de Direitos Humanos, na cidade de San José da Costa
a) todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, Rica, entrando em vigor em 18 de julho de 1978. Hoje,
inclusive o próprio, e a este regressar, salvo quando conta com 25 países ratificantes, nas 3 Américas (Esta-
considerado persona non grata em seu país de origem. dos Unidos e Canadá não aderiram ao documento).
b) toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de O Brasil ratificou tardiamente, em 9 de novembro de
288 procurar e de gozar asilo em outros países. 1992, por meio do Decreto nº 678.
Essa Convenção é importante porque funda as Anotamos, outrossim, que a Convenção possui
bases do sistema interamericano de proteção dos aplicação imediata, podendo seus direitos serem exi-
Direitos Humanos, que visa a proteção do indivíduo e gidos de plano, logo quando o país ratificar a submis-
o combate às violações dos direitos humanos. são ao seu texto.
O Pacto de San José foi elaborado com inspiração Lembre-se de que a CADH é considerada pela dou-
e influência da Declaração Universal dos Direitos trina internacional como o principal tratado do Sis-
Humanos da ONU de 1948, tanto que, no preâmbulo tema Interamericano. Apenas os países membros da
da CADH, o documento estabelece que os princípios OEA podem aderir à CADH. Desse modo, um país asiá-
que foram consagrados são os mesmos previstos na tico, por exemplo, não pode se submeter às obrigações
Declaração Universal dos Direitos Humanos. contidas no Pacto nem muito menos ser responsabili-
zado internacionalmente com base no conteúdo dos
O Pacto de San José estabelece vários direitos
Tratados da OEA.
civis e políticos, como o direito ao reconhecimento da
personalidade jurídica, o direito à vida, à integrida- COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS
de pessoal, à liberdade pessoal e garantias judiciais, HUMANOS (CIDH)
à proteção da honra e reconhecimento à dignidade,
à liberdade religiosa e de consciência, à liberdade Sediada em Washington-EUA, a CIDH é um órgão
de pensamento e de expressão, e o direito de livre autônomo que tem como missão a promoção e pro-
associação. teção dos direitos humanos nas Américas. É conside-
Questões de concurso público costumam questio- rada o principal órgão da Organização dos Estados
nar sobre a positivação dos Direitos Econômicos, Americanos (OEA).
Sociais e Culturais na Convenção Americana. Cabe A CIDH é composta por 7 membros independen-
salientar que a CADH não trouxe um rol detalhado tes, com mandato de 4 anos e só poderão ser reeleitos
desses direitos. Em seu art. 26, o Pacto somente prevê uma vez. Eles são chamados de comissários ou comis-
que os Estados devem atuar para o desenvolvimento sionados e atuam de forma pessoal. Não pode fazer
parte da CIDH mais de um nacional de um mesmo
progressivo dos direitos econômicos, sociais e cultu-
país. Assim, a composição da CIDH não pode ter, ao
rais contidos na Carta da OEA. Observe:
mesmo tempo, dois brasileiros, por exemplo
A Comissão foi criada em 1959 pela OEA e faz parte
Art. 26 Os Estados Partes comprometem-se a ado-
do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos
tar providências, tanto no âmbito interno como
Humanos (SIDH), juntamente com a Corte IDH (insta-
mediante cooperação internacional, especialmente
lada em 1979).
econômica e técnica, a fim de conseguir progres-
Registre-se que o SIDH começou a funcionar for-
sivamente a plena efetividade dos direitos que
malmente com a aprovação da Declaração Americana
decorrem das normas econômicas, sociais e sobre
de Direitos e Deveres do Homem na 9ª Conferência
educação, ciência e cultura, constantes da Carta
Internacional Americana realizada em Bogotá em
da Organização dos Estados Americanos, reforma-
1948. Nesse mesmo momento, também foi adotada a
da pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos
própria Carta da OEA.
recursos disponíveis, por via legislativa ou por
outros meios apropriados.
A Comissão realiza seu trabalho com foco em três
pilares:
A proteção aos Direitos Econômicos, Sociais e Cul- � Sistema de Petição Individual;
turais somente aconteceu efetivamente em 1999, � Monitoramento da situação dos direitos humanos
quando da elaboração do Protocolo Facultativo de San nos Estados Membros;
Salvador5. � Atenção às linhas temáticas prioritárias.
Para monitorar o cumprimento das obrigações
assumidas na CADH, o documento estabeleceu dois Uma pergunta recorrente em provas é sobre quem
órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Huma- pode acionar a Comissão. Lembre-se de que qual-
nos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. quer indivíduo, grupo de indivíduos, organizações
O Brasil fez reserva à CADH com relação à necessi- não governamentais e Estado-membro da OEA pode
dade de anuência expressa sobre as visitas in loco da enviar uma comunicação para provocar a abertura de
Comissão Interamericana no Brasil. um caso na CIDH. Atente-se ao fato de que o indivíduo
não tem legitimidade para levar uma petição para a
Corte IDH, uma vez que somente a CIDH ou o Estado
Dica membro da OEA podem provocar a Corte.
A Comissão Interamericana de Direitos Huma-
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
nos e a Corte Interamericana de Direitos Huma-
(CORTE IDH)
nos julgam Estados e não indivíduos, ou seja:
DIREITO HUMANOS

quando há uma violação de direitos humanos, Com sede em São José, capital da Costa Rica, a Cor-
quem vai ser responsabilizado não é o indivíduo te Interamericana de Direitos Humanos, como abor-
que praticou o delito, mas sim o Estado ao qual damos acima, faz parte do Sistema Interamericano de
aquele indivíduo é nacional. Direitos Humanos.
5  O motivo dessa não proteção esmiuçada decorre do fato de que, na época em que a CADH foi elaborada, o mundo estava no período da
Guerra Fria. Havia, então, uma forte polarização e disputa de poder ideológico entre os Estados que defendiam o modelo de Estado Social
(liderados pela União Soviética) e os Estados que pautavam o modelo de Estado Liberal (guiados pelos EUA). O governo americano não queria
que as ideias socialistas/comunistas invadissem o continente americano, e enxergavam nos direitos econômicos, sociais e culturais uma forma
de se implementar a teoria marxista. Desse modo, na construção do texto da CADH, a pressão norte-americana fez com que a proteção aos
direitos socioeconômicos tivesse um texto genérico e sem detalhamento. Só com o fim da Guerra Fria, materializada com a queda do Muro de
Berlim, em 1989, e com o fortalecimento dos EUA como grande potência global, o tema dos direitos socioeconômicos foi abordado no plano da
OEA por meio do Protocolo Facultativo de São Salvado, em 1999. 289
A Corte IDH possui 7 juízes, nacionais de Estados-membros da OEA, com mandato de 6 anos, podendo serem
reeleitos uma única vez. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade. O quórum de deliberação da Corte
é de 5 juízes.
Trata-se de um tribunal típico, que julga Estados em casos contenciosos envolvendo cidadãos e países. Ade-
mais, a Corte supervisiona a aplicação de suas sentenças e dita medidas cautelares.
A Corte tem duas funções: consultiva e contenciosa. É conhecida como o órgão jurisdicional da Convenção
Americana. Em relação à competência consultiva, qualquer membro da OEA pode solicitar o parecer da Corte
relativo à interpretação da CADH ou de qualquer outro tratado referente à proteção dos direitos humanos nos
Estados americanos.
Ao final dos processos no âmbito da Corte, ela produzirá uma sentença que tem caráter definitivo e inapelá-
vel. A sentença da Corte é uma sanção internacional que deve ser cumprida espontaneamente pelo Estado. Caso
contrário, sua execução deve ser feita nos termos da execução contra a Fazenda Pública.
A sentença da Corte não necessita de homologação do STJ (alínea “i” do inciso I do art. 105 da CF), uma vez que
é oriunda de organismo internacional e não de Estado estrangeiro. É considerada título executivo judicial, deven-
do ser executada por juiz federal (inciso I do art. 109 da CF) contra a União (inciso I do art. 21 da CF).
O Estado deve declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a compe-
tência da Corte. Observe que a Corte IDH tem a faculdade, inerente às suas atribuições, de determinar o alcance
de sua própria competência – compétence de la compétence.
O Estado brasileiro reconheceu a competência jurisdicional da Corte IDH por prazo indeterminado, em dezem-
bro de 1998, por meio do Decreto Legislativo nº89/98.
É importante lembrar que apenas podem levar um caso ao conhecimento da Corte a Comissão e os Estados-par-
tes da OEA (que expressamente reconhecerem a jurisdição da Corte). O indivíduo depende da Comissão para que
seu caso seja apreciado pela Corte.
Para facilitar seu estudo da diferenciação entre os dois órgãos do Sistema Interamericano de Direitos Huma-
nos, acompanhe e memorize o quadro a seguir:

DIFERENÇAS ENTRE A COMISSÃO E A CORTE INTERAMERICANA DE DH


CIDH Corte IDH
Sede Washington, EUA San José, Costa Rica
7 Comissários 7 Juízes
Membros
Mandato: 4 anos Mandato: 6 anos
Função Essencialmente política Consultiva e contenciosa
Produz ao final do processo Recomendação Sentença
Qualquer indivíduo, grupo de indivíduo, Somente a CIDH e os Estados Partes da
Quem pode acionar
Estados e ONGs OEA que aceitaram a jurisdição da Corte

COMENTÁRIOS AOS PRINCIPAIS ARTIGOS DA CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Abordaremos a seguir os artigos mais cobrados pelas provas de concurso em relação à Convenção Americana
de Direitos Humanos.

Parte I – Deveres dos Estados e Direitos Protegidos

Art. 1º Obrigação de respeitar os direitos


1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e
a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma
por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacio-
nal ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.
Art. 2º Dever de adotar disposições de direito interno
Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições legis-
lativas ou de outra natureza, os Estados Partes comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas cons-
titucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem
necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

Os artigos primeiro e segundo precisam ser analisados em conjunto, pois são cláusulas gerais que trazem a apli-
cação do princípio do pacta sunt servanda previsto no Direito Internacional Público. Esse princípio representa a força
obrigatória da norma internacional e o compromisso dos Estados membros de cumprirem e respeitarem a norma
internacional de forma voluntária.
Observem que essa imposição só deve se aplicar ao país que aceitou se submeter à norma internacional, incor-
porando o Tratado em seu ordenamento jurídico com base no seu trâmite interno. Nesse sentido, um país que não
assinou o Tratado não pode ser constrangido a assumir as obrigações contidas nele.
O compromisso dos Estados não deve ficar só no ato formal da assinatura e ratificação, mas deve significar, se
290 preciso for, modificação das suas normas internas, práticas e ações para se adaptarem à CADH.
Ademais, destacamos, nos termos do item segundo programação genética do indivíduo até a fase adulta.
do art. 1º, que a CADH restringe o alcance do Pacto às Com a fecundação, conforme essa teoria, passa a exis-
pessoas físicas, excluindo, desse modo, as pessoas jurí- tir um novo ser, uma pessoa individualizada e distinta
dicas (empresas, associações, ongs etc.) do espectro de de outro indivíduo.
proteção da presente norma de direitos humanos. O Pacto de San José também regulamentou sobre
o polêmico tema da pena de morte. Nos termos do
Capítulo II – Direitos Civis e Políticos art. 4.1, nos países que não houverem abolido a pena
de morte, sete devem ser as regras para aplicação da
Art. 3º Direito ao reconhecimento da persona- pena capital:
lidade jurídica
Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua
z Só poderá ser imposta pelos delitos mais graves;
personalidade jurídica.
z Só pode ser aplicada em cumprimento de senten-
ça final de tribunal competente;
Os direitos da personalidade são atributos que
z Deve ser aplicada em conformidade com a lei que
derivam da dignidade humana e abarcam o sentido da
tenha sido promulgada antes de haver o delito
personalidade das pessoas naturais. Logo, tais direitos
são intrínsecos e comuns a todos os seres humanos. sido cometido;
Assim, a pessoa física jamais poderá ser conside- z Não poderá se estender sua aplicação a delitos aos
rada um objeto, como infelizmente já ocorreu na his- quais não se aplique atualmente;
tória da humanidade. Esses direitos de personalidade z Não se pode restabelecer a pena de morte nos Esta-
são dotados das seguintes características: dos que a hajam abolido.
z Jamais pode ser aplicada por delitos políticos,
z São inatos (inerentes a condição humana); nem por delitos comuns conexos com delitos
z Absolutos (oponíveis contra todos, ou seja, erga políticos.
omnes); z Não se deve impor a pena a menor de 18 anos,
z Vitalícios (acompanham a pessoa humana em toda ou maior de 70 anos, nem a aplicar a mulher em
sua existência); estado de gravidez.
z Intransmissíveis (não se transmitem a terceiros);
z Irrenunciáveis (não se pode abdicar da sua existência). Art. 5º Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
Como mencionado, a CADH somente traz um integridade física, psíquica e moral.
detalhamento da proteção dos direitos civis e políti- 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem
cos (direitos de primeira geração), ficando os direitos a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degra-
econômicos, sociais e culturais (direitos de segunda dantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser
geração) para posterior amparo no Protocolo de San tratada com o respeito devido à dignidade inerente
Salvador de 1999. ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do
Art. 4º Direito à vida delinquente.
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua 4. Os processados devem ficar separados dos
vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em condenados, salvo em circunstâncias excepcio-
geral, desde o momento da concepção. Ninguém nais, e ser submetidos a tratamento adequado à
pode ser privado da vida arbitrariamente. sua condição de pessoas não condenadas.
2. Nos países que não houverem abolido a pena 5. Os menores, quando puderem ser processados,
de morte, esta só poderá ser imposta pelos deli- devem ser separados dos adultos e conduzidos a
tos mais graves, em cumprimento de sentença tribunal especializado, com a maior rapidez possí-
final de tribunal competente e em conformidade vel, para seu tratamento.
com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes 6. As penas privativas da liberdade devem ter
por finalidade essencial a reforma e a readap-
de haver o delito sido cometido. Tampouco se
tação social dos condenados.
estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se
aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos A norma citada também está prevista na Declara-
Estados que a hajam abolido. ção Universal dos Direitos Humanos. Ela é considera,
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser pela doutrina internacional, uma norma jus cogens,
aplicada por delitos políticos, nem por delitos que significa ser uma norma imperativa, impositiva
comuns conexos com delitos políticos. e obrigatória para todos os países do mundo. Desse
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa modo, nenhum país do mundo poderá realizar tor-
que, no momento da perpetração do delito, for turas e tratamentos cruéis contra seus indivíduos.
menor de dezoito anos, ou maior de setenta, Havendo lei interna que traga essa possibilidade, os
nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez. tribunais internacionais a considerará norma inváli-
DIREITO HUMANOS

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a da, pois viola essa norma costumeira do Direito Inter-
solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, nacional Público.
os quais podem ser concedidos em todos os casos. Regras básicas de execução da pena também foram
Não se pode executar a pena de morte enquanto o previstas na Convenção, que dispôs que a pena não
pedido estiver pendente de decisão ante a autorida- pode passar da pessoa do réu e que os processados
de competente. devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e serem submetidos a
A CADH adotou a Teoria Concepcionista do con- tratamento adequado à sua condição de pessoas não
ceito de vida. Segundo essa teoria, a vida começa a condenadas.
partir da concepção, em outras palavras, quando o Os menores, quando puderem ser processados,
espermatozoide adentra o ovócito e ambos se fundem, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tri-
desenvolvendo, assim, a primeira célula com toda a bunal especializado, com a maior rapidez possível, 291
para seu tratamento. Nossa Lei de Execuções Penais 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade
(Lei nº 7.210/1984) regulamentou sobre o tema da exe- física, salvo pelas causas e nas condições previa-
cução da pena. mente fixadas pelas constituições políticas dos
Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas
Art. 6º Proibição da escravidão e da servidão promulgadas.
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou 3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou
a servidão, e tanto estas como o tráfico de escra- encarceramento arbitrários.
vos e o tráfico de mulheres são proibidos em 4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informa-
todas as suas formas. da das razões da sua detenção e notificada,
2. Ninguém deve ser constrangido a executar tra- sem demora, da acusação ou acusações formula-
balho forçado ou obrigatório. Nos países em que das contra ela.
se prescreve, para certos delitos, pena privativa da 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser condu-
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta zida, sem demora, à presença de um juiz ou
disposição não pode ser interpretada no sentido de outra autoridade autorizada pela lei a exercer
que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por funções judiciais e tem direito a ser julgada den-
juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não tro de um prazo razoável ou a ser posta em liber-
deve afetar a dignidade nem a capacidade física dade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua
e intelectual do recluso. liberdade pode ser condicionada a garantias que
3. Não constituem trabalhos forçados ou obri- assegurem o seu comparecimento em juízo.
gatórios para os efeitos deste artigo:
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a
a. os trabalhos ou serviços normalmente exigidos
recorrer a um juiz ou tribunal competente, a
de pessoa reclusa em cumprimento de sentença
fim de que este decida, sem demora, sobre a lega-
ou resolução formal expedida pela autoridade
judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços lidade de sua prisão ou detenção e ordene sua
devem ser executados sob a vigilância e contro- soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos
le das autoridades públicas, e os indivíduos que os Estados Partes cujas leis prevêem que toda pessoa
executarem não devem ser postos à disposição de que se vir ameaçada de ser privada de sua liberda-
particulares, companhias ou pessoas jurídicas de tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal com-
de caráter privado; petente a fim de que este decida sobre a legalidade
b. o serviço militar e, nos países onde se admite a de tal ameaça, tal recurso não pode ser restrin-
isenção por motivos de consciência, o serviço nacio- gido nem abolido. O recurso pode ser interposto
nal que a lei estabelecer em lugar daquele. pela própria pessoa ou por outra pessoa.
c. o serviço imposto em casos de perigo ou cala- 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este
midade que ameace a existência ou o bem-estar da princípio não limita os mandados de autoridade
comunidade; e judiciária competente expedidos em virtude de ina-
d. o trabalho ou serviço que faça parte das obriga- dimplemento de obrigação alimentar.
ções cívicas normais.
Sobre a prisão civil por dívidas, nossa Carta Mag-
Outra norma jus cogens prevista na CADH encon- na de 1988 estabeleceu no inciso LXVII do art. 5º que
tra-se no art. 6, que veda a escravidão e a servidão. não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon-
Segundo o texto, ninguém pode ser submetido a escra- sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
vidão ou a servidão, e tanto estas como o tráfico de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
escravos e de mulheres são proibidos em todas as suas Contudo, como vimos acima, o item 7 do art. 7 da
formas. CADH veda qualquer prisão por dívida, ressalvada
Por isso, um país que venha a celebrar um Trata- a hipótese do devedor de alimentos. Nesse sentido,
do Internacional com outro país ou crie uma norma o Pacto de San José só permitiu a prisão civil do deve-
interna que disponha sobre a venda de pessoas huma- dor de alimentos, excluindo qualquer outra hipótese,
nas ou escravidão, mesmo sem ter ratificado a sub- como no caso do depositário infiel.
missão à CADH, terá anulados tais documentos, pois Essa divergência normativa fez gerar uma avalan-
tais dispositivos carecerão de validade e de eficácia, che de habeas corpus junto aos tribunais brasileiros,
sendo nulos de pleno direito. solicitando a não aplicação da pena de prisão para
A CADH traz como regra a vedação ao trabalho quem era depositário infiel, como, por exemplo, quem
forçado ou obrigatório. Ocorre que o texto traz exce- financiava um automóvel e não pagava a dívida nem
ções à regra e também aponta o que é permitido nos entregava o bem, sendo expedido contra ele mandado
países em que se prescreve essa medida para certos de prisão.
delitos. De qualquer forma, vale destacar que o tra- A grande questão era saber qual é a hierarquia
balho forçado, mesmo nos países que o permite, não jurídica da CADH e se ela tem força jurídica para para-
deve afetar a dignidade nem a capacidade física e lisar a eficácia da prisão civil do depositário infiel pre-
intelectual do recluso. vista em nossa CF e regulamentada no Código Civil e
Com base na Convenção sobre Trabalho Forçado no Código de Processo Civil.
ou Obrigatório da OIT (Nº 29, adotada em 1930), traba- Vale observar que, após a Emenda Constitucional
lho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço nº 45, de 2004 – que acrescentou o parágrafo 3° no
exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e art. 5º –, foi conferida aos tratados e às convenções de
para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente. direitos humanos dos quais o Brasil seja parte e que
A exploração desse tipo de trabalho pode ser realiza- forem aprovados pelo Congresso Nacional, em vota-
da por autoridades do Estado, por empresas ou por ção de dois turnos, por 3/5 de seus membros, a equi-
pessoas físicas. valência às emendas constitucionais. Ocorre que
a Convenção Americana não foi ratificada por esse
Art. 7º Direito à liberdade pessoal quórum, até porque foi incorporada ao ordenamento
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à seguran- jurídico brasileiro em 1992, quando nem existia o § 3º
292 ça pessoais. do art. 5º.
Então, enfrentando essa celeuma, o STF, nos julga- que o devido processo, garantia fundamental da pes-
dos do RE 466.343 e do RE 349.703, com repercussão soa humana, é também uma garantia de respeito aos
geral, entendeu que os tratados internacionais de demais direitos previstos no Pacto de San José.
direitos humanos, se não incorporados como emen- A Convenção dispôs que toda pessoa tem direi-
da constitucional, como no caso da CADH, têm status to a ser ouvida, com as devidas garantias, dentro de
jurídico de normas supralegais, paralisando, assim, um prazo razoável. Observe que o documento não
a eficácia de todo o ordenamento infraconstitucio- traz nenhum prazo específico para o exercício desse
nal em sentido contrário. direito, uma vez que cada lei processual do país mem-
Consoante decidiu a Suprema Corte: o caráter bro deve estabelecer esse prazo razoável. A ideia aqui
especial desses tratados internacionais sobre direitos é evitar processos longos e demorados que trazem o
humanos lhes reserva lugar específico no ordenamen- sentimento de injustiça e impunidade.
to jurídico, encontrando-se abaixo da Constituição, mas No que tange às garantias judiciais, a Convenção
acima da legislação infraconstitucional com eles confli- contemplou o/a:
tante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação.
Desse modo, foi pacificado o entendimento juris- z Juízo natural e imparcial;
prudencial no sentido de que não pode mais ser z Presunção de inocência;
decretada a prisão civil do depositário infiel. Esse z Assistência de um tradutor;
tema foi alvo, inclusive, da Súmula Vinculante nº 25: z Ampla defesa;
z Não autoincriminação; e
Súmula Vinculante 25 É ilícita a prisão civil de z Possibilidade de recorrer das decisões.
depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
de depósito.
Art. 9º Princípio da legalidade e da retroatividade
Art. 8º Garantias judiciais
Ninguém pode ser condenado por ações ou
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável, omissões que, no momento em que forem cometi-
por um juiz ou tribunal competente, indepen- das, não sejam delituosas, de acordo com o direi-
dente e imparcial, estabelecido anteriormente to aplicável. Tampouco se pode impor pena mais
por lei, na apuração de qualquer acusação penal grave que a aplicável no momento da perpe-
formulada contra ela, ou para que se determinem tração do delito. Se depois da perpetração do
seus direitos ou obrigações de natureza civil, traba- delito a lei dispuser a imposição de pena mais
lhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. leve, o delinquente será por isso beneficiado.
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a
que se presuma sua inocência enquanto não se A lei, em regra, é feita para valer para no futuro.
comprove legalmente sua culpa. Durante o proces- Assim sendo, a norma não poderá retroagir e macular
so, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
seguintes garantias mínimas: julgada. Por essa razão, a lei nova não será aplicada
a. direito do acusado de ser assistido gratuita- às situações que ocorreram no passado (princípio da
mente por tradutor ou intérprete, se não com- irretroatividade). Esse princípio tem como objetivo
preender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal; assegurar a segurança, a certeza e a estabilidade do
b. comunicação prévia e pormenorizada ao
ordenamento jurídico.
acusado da acusação formulada;
Contudo, é importante saber que a regra da irre-
c. concessão ao acusado do tempo e dos meios
adequados para a preparação de sua defesa; troatividade não é absoluta: em alguns casos, a lei
d. direito do acusado de defender-se pessoalmen- nova poderá retroagir, atingindo os efeitos dos atos
te ou de ser assistido por um defensor de sua jurídicos praticados sob o império da norma antiga.
escolha e de comunicar-se, livremente e em A vedação ao princípio da irretroatividade da lei
particular, com seu defensor; penal in pejus (para piorar a situação do réu) encon-
e. direito irrenunciável de ser assistido por um tra-se prevista no inciso XL do art. 5º da Carta Magna:
defensor proporcionado pelo Estado, remu- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
nerado ou não, segundo a legislação interna, se o Nesse passo, a Constituição Federal dispõe apenas que
acusado não se defender ele próprio nem nomear a lei penal deve retroagir para beneficiar o réu.
defensor dentro do prazo estabelecido pela lei; Em resumo, a regra é que a lei só pode retroagir
f. direito da defesa de inquirir as testemunhas quando não ofender o ato jurídico perfeito, o direito
presentes no tribunal e de obter o comparecimen-
adquirido e a coisa julgada, e quando o legislador,
to, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas
que possam lançar luz sobre os fatos;
expressamente, ordenar sua aplicação a casos passa-
g. direito de não ser obrigado a depor contra si dos, como é o caso da retroatividade da lei penal para
mesma, nem a confessar-se culpada; e beneficiar o réu (in melius).
h. direito de recorrer da sentença para juiz ou Os princípios legalidade e da retroatividade são
tribunal superior. também consagrados em nosso ordenamento positivo
DIREITO HUMANOS

3. A confissão do acusado só é válida se feita (incisos XXXIX e XL do art. 5º da CF), e no Pacto Inter-
sem coação de nenhuma natureza. nacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 15).
4. O acusado absolvido por sentença passada em O princípio da legalidade está previsto no inciso
julgado não poderá ser submetido a novo pro- XXXIX do art. 5º da CF, que diz: não há crime sem lei
cesso pelos mesmos fatos. anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
5. O processo penal deve ser público, salvo no legal.
que for necessário para preservar os interesses
da justiça.
Art. 10 Direito a indenização
Toda pessoa tem direito de ser indenizada con-
A CADH trouxe no seu art. 8º garantias judiciais forme a lei, no caso de haver sido condenada
para se viabilizar o devido processo legal, instituto em sentença passada em julgado, por erro
basilar do Estado Democrático de Direito. Registre-se judiciário. 293
Seria possível essa indenização em caso de erro Art. 13 Liberdade de pensamento e de expressão
em processos de qualquer natureza, seja cível, penal, 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensa-
trabalhista ou qualquer outro. Entretanto, o STF fir- mento e de expressão. Esse direito compreende a
mou entendimento no sentido de que a responsabi- liberdade de buscar, receber e difundir informa-
lidade civil do Estado não se aplica a atos judiciais, ções e ideias de toda natureza, sem consideração
salvo no caso de erro judiciário, de prisão além do de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em
tempo fixado na sentença e nas hipóteses legalmente forma impressa ou artística, ou por qualquer outro
previstas (STF, RE 505.393). processo de sua escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso prece-
Art. 11 Proteção da honra e da dignidade dente não pode estar sujeito a censura prévia,
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra mas a responsabilidades ulteriores, que devem
e ao reconhecimento de sua dignidade. ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbi- para assegurar:
trárias ou abusivas em sua vida privada, na de a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais
sua família, em seu domicílio ou em sua corres- pessoas; ou
pondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou b. a proteção da segurança nacional, da ordem
reputação. pública, ou da saúde ou da moral públicas.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei con- 3. Não se pode restringir o direito de expressão
tra tais ingerências ou tais ofensas. por vias ou meios indiretos, tais como o abuso
de controles oficiais ou particulares de papel de
O STF proibiu recentemente o uso da tese de legí- imprensa, de frequências radioelétricas ou de equi-
tima defesa da honra em crimes de feminicídio. Em pamentos e aparelhos usados na difusão de infor-
decisão unânime, o Plenário da Corte, na ADPF 779, mação, nem por quaisquer outros meios destinados
entendeu que a tese contribui para a naturalização e a a obstar a comunicação e a circulação de ideias e
perpetuação da cultura de violência contra a mulher, opiniões.
sendo, desse modo, inconstitucional. 4. A lei pode submeter os espetáculos públicos
a censura prévia, com o objetivo exclusivo de
Art. 12 Liberdade de consciência e de religião regular o acesso a eles, para proteção moral da
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciên-
infância e da adolescência, sem prejuízo do dis-
cia e de religião. Esse direito implica a liberdade
posto no inciso 2.
de conservar sua religião ou suas crenças, ou
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor
de mudar de religião ou de crenças, bem como a
da guerra, bem como toda apologia ao ódio
liberdade de professar e divulgar sua religião ou
nacional, racial ou religioso que constitua inci-
suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em
tação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou
público como em privado.
à violência.
2. Ninguém pode ser objeto de medidas restriti-
vas que possam limitar sua liberdade de conser-
var sua religião ou suas crenças, ou de mudar de Sobre o tema da liberdade de pensamento e de
religião ou de crenças. expressão, o Plenário do STF, por maioria, julgou
3. A liberdade de manifestar a própria religião e as recentemente que é constitucional a instauração de
próprias crenças está sujeita unicamente às limi- inquérito pelo STF com o intuito de apurar a existên-
tações prescritas pela lei e que sejam necessárias cia de notícias fraudulentas (fake news), que podem
para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou configurar crimes contra a honra e atingir a hono-
a moral públicas ou os direitos ou liberdades rabilidade e a segurança do STF, de seus membros e
das demais pessoas. familiares.
4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm A esse respeito, o Supremo decidiu que a restrição
direito a que seus filhos ou pupilos recebam a à liberdade de expressão pode ocorrer se o agente
educação religiosa e moral que esteja acorde dela se utilizar para o cometimento de crimes ou para
com suas próprias convicções.
a disseminação dolosa de informação falsa. Nesse sen-
Um tema muito polêmico, que foi enfrentado tido, são vedados discursos de ódio, racistas, supres-
recentemente pelo STF, foi a possibilidade de restrição sores de direitos e tendentes a excluir determinadas
do exercício desse direito da liberdade de consciência pessoas da sociedade.
e de religião durante a pandemia do coronavírus.
O Pacto prevê que a liberdade de manifestar a pró- Art. 14 Direito de retificação ou resposta
pria religião e as próprias crenças está sujeita unica- 1. Toda pessoa atingida por informações inexa-
mente às limitações prescritas pela Lei e que sejam tas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por
necessárias para proteger a segurança, a ordem, a meios de difusão legalmente regulamentados e que
saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberda- se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer,
des das demais pessoas. pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação
Ocorre no Brasil que vários Estados e Municípios ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.
editaram Decretos, e não leis, como o Decreto Esta- 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta
dual de São Paulo nº 65.563/2021, que proibiu ativi- eximirão das outras responsabilidades legais
dades religiosas presenciais no estado para conter a em que se houver incorrido.
propagação do coronavírus. 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação,
toda publicação ou empresa jornalística, cine-
Nossa Suprema Corte decidiu que a liberdade de
matográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma
professar religião em cultos não é um direito absoluto
pessoa responsável que não seja protegida por
e pode ser temporariamente restringida para assegu-
imunidades nem goze de foro especial.
rar as garantias à vida e à saúde. Com esse entendi-
Art. 15 Direito de reunião
mento, o Plenário do STF, na ADPF 811, por nove votos
É reconhecido o direito de reunião pacífica e
a dois, entendeu ser constitucional o Decreto Estadual
sem armas. O exercício de tal direito só pode estar
de São Paulo nº 65.563/2021.
294 sujeito às restrições previstas pela Lei e que
sejam necessárias, numa sociedade democrática, A nacionalidade é o vínculo jurídico estabelecido
no interesse da segurança nacional, da segurança entre Estado e indivíduo. Assim, os nacionais man-
ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde têm uma relação jurídica com seu Estado onde quer
ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das que se encontrem. Nossa Constituição Federal, em seu
demais pessoas. art. 12, prevê duas modalidades para a concessão da
nacionalidade:
Nossa Carta Magna, no inciso XVI do art. 5º, vai
além e diz que o direito de reunião pode ser pratica- z Primária (originária): Adquirida através da ori-
do em locais abertos ao público, independentemente gem do indivíduo, sendo ela por critério sanguí-
de autorização, desde que não frustrem outra reunião
neo, territorial ou de ambas;
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
z Secundária (adquirida): Adquirida pelo indiví-
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
duo posteriormente ou naturalizado por vontade
Saiba que essa exigência de prévio aviso não é condi-
própria.
ção de obrigatoriedade para o exercício desse direito.
Na presente obra, não iremos detalhar os institu-
Art. 16 Liberdade de associação
1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se tos presentes no art. 12 da CF por não ser o foco deste
livremente com fins ideológicos, religiosos, polí- trabalho, mas recomendamos a leitura da norma.
ticos, econômicos, trabalhistas, sociais, cultu- Por fim, a CADH busca evitar que o indivíduo se
rais, desportivos ou de qualquer outra natureza. torne apátrida, ou seja, fique sem nacionalidade, pois
2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às nessa condição ele não consegue exercer os direitos
restrições previstas pela Lei que sejam necessá- básicos dentro de um Estado.
rias, numa sociedade democrática, no interesse da
segurança nacional, da segurança ou da ordem Art. 21 Direito à propriedade privada
públicas, ou para proteger a saúde ou a moral 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus
públicas ou os direitos e liberdades das demais bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao
pessoas. interesse social.
3. O disposto neste artigo não impede a imposi- 2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens,
ção de restrições legais, e mesmo a privação do salvo mediante o pagamento de indenização jus-
exercício do direito de associação, aos membros ta, por motivo de utilidade pública ou de interesse
das forças armadas e da polícia. social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.
Art. 17 Proteção da família 3. Tanto a usura como qualquer outra forma de
1. A família é o elemento natural e fundamental exploração do homem pelo homem devem ser
da sociedade e deve ser protegida pela socieda- reprimidas pela lei.
de e pelo Estado. Art. 22 Direito de circulação e de residência
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de 1. Toda pessoa que se ache legalmente no territó-
contraírem casamento e de fundarem uma famí- rio de um Estado tem direito de circular nele e de
lia, se tiverem a idade e as condições para isso nele residir em conformidade com as disposições
exigidas pelas leis internas, na medida em que legais.
não afetem estas o princípio da não-discriminação
2. Toda pessoa tem o direito de sair livremente de
estabelecido nesta Convenção.
qualquer país, inclusive do próprio.
3. O casamento não pode ser celebrado sem o
3. O exercício dos direitos acima mencionados não
livre e pleno consentimento dos contraentes.
pode ser restringido senão em virtude de Lei, na
4. Os Estados Partes devem tomar medidas apro-
medida indispensável, numa sociedade democráti-
priadas no sentido de assegurar a igualdade de
ca, para prevenir infrações penais ou para prote-
direitos e a adequada equivalência de respon-
ger a segurança nacional, a segurança ou a ordem
sabilidades dos cônjuges quanto ao casamento,
públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direi-
durante o casamento e em caso de dissolução do
tos e liberdades das demais pessoas.
mesmo. Em caso de dissolução, serão adotadas dis-
posições que assegurem a proteção necessária aos 4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso
filhos, com base unicamente no interesse e conve- 1 pode também ser restringido pela Lei, em zonas
niência dos mesmos. determinadas, por motivo de interesse público.
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos 5. Ninguém pode ser expulso do território do
filhos nascidos fora do casamento como aos Estado do qual for nacional, nem ser privado do
nascidos dentro do casamento. direito de nele entrar.
Art. 18 Direito ao nome 6. O estrangeiro que se ache legalmente no territó-
Toda pessoa tem direito a um prenome e aos rio de um Estado Parte nesta Convenção só pode-
nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei deve rá dele ser expulso em cumprimento de decisão
regular a forma de assegurar a todos esse direito, adotada de acordo com a lei.
DIREITO HUMANOS

mediante nomes fictícios, se for necessário. 7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber
Art. 19 Direitos da criança asilo em território estrangeiro, em caso de perse-
Toda criança tem direito às medidas de proteção guição por delitos políticos ou comuns conexos
que a sua condição de menor requer por parte da com delitos políticos e de acordo com a legislação
sua família, da sociedade e do Estado. de cada Estado e com os convênios internacionais.
Art. 20 Direito à nacionalidade 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expul-
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. so ou entregue a outro país, seja ou não de ori-
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do gem, onde seu direito à vida ou à liberdade
Estado em cujo território houver nascido, se pessoal esteja em risco de violação por causa da
não tiver direito a outra. sua raça, nacionalidade, religião, condição social
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente ou de suas opiniões políticas.
de sua nacionalidade nem do direito de mudá-la. 9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros. 295
Nosso ordenamento jurídico traz uma diferença Capítulo III – Direitos Econômicos, Sociais e
entre refúgio e asilo. No caso do pedido de asilo, aqui Culturais
no Brasil, quem o concede é o Presidente da Repúbli-
ca, não havendo segunda instância. Atente-se para Art. 26 Desenvolvimento progressivo
Os Estados Partes comprometem-se a adotar pro-
não se confundir em relação ao pedido de refúgio,
vidências, tanto no âmbito interno como mediante
pois quem concede é o Comitê Nacional para os Refu-
cooperação internacional, especialmente econômi-
giados (CONARE), na primeira instância e, em caso de ca e técnica, a fim de conseguir progressivamen-
recurso do solicitante, o Ministro da Justiça decidirá te a plena efetividade dos direitos que decorrem
na segunda instância. das normas econômicas, sociais e sobre edu-
A Lei de Migração, Lei nº 13.445/17, que dispõe cação, ciência e cultura, constantes da Carta da
sobre os direitos do estrangeiro em território nacio- Organização dos Estados Americanos, reformada
nal, proibiu a deportação, a expulsão e a repatriação pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos
coletivas. Ademais, é vedada a deportação, expulsão, recursos disponíveis, por via legislativa ou por
repatriação e extradição de brasileiro nato. outros meios apropriados. 
O brasileiro naturalizado pode ser extraditado, em
caso de crime comum praticado antes da naturaliza-
ção, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilíci-
to (antes ou após a naturalização) de entorpecentes e
EXERCÍCIOS COMENTADOS
drogas afins (inciso LI do art. 5º da CF).
1. (IBFC – 2020) A Convenção Americana de Direitos
Humanos, também chamada de Pacto de San José da
Costa Rica, foi assinada em 22 de novembro de 1969 e
Importante! ratificada pelo Brasil em setembro de 1992. Ela busca
Lembre-se de que é proibida a extradição de consolidar entre os países americanos um regime de
estrangeiro em caso de crime político ou de liberdade pessoal e justiça pessoal, fundado no res-
opinião. peito aos direitos humanos essenciais, independente-
mente do país onde a pessoa resida ou tenha nascido.
Assim, quanto ao seu âmbito de proteção, analise as
Art. 23 Direitos políticos afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Fal-
1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes so (F).
direitos e oportunidades:
a. de participar na direção dos assuntos públicos, ( ) Não existe nenhuma relação entre o Pacto de San
diretamente ou por meio de representantes Jose da Costa Rica e a Declaração Universal dos
livremente eleitos; Direitos Humanos.
b. de votar e ser eleitos em eleições periódicas ( ) Sobre os deveres das pessoas, determina que toda
autênticas, realizadas por sufrágio universal pessoa tem deveres para com a família, a comunida-
e igual e por voto secreto que garanta a livre de e a humanidade.
expressão da vontade dos eleitores; e ( ) Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápi-
c. de ter acesso, em condições gerais de igualdade, do ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os
às funções públicas de seu país. juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra
2. A lei pode regular o exercício dos direitos e opor- atos que violem seus direitos fundamentais reco-
tunidades a que se refere o inciso anterior, exclu- nhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente
sivamente por motivos de idade, nacionalidade, Convenção, mesmo quando tal violação seja cometi-
residência, idioma, instrução, capacidade civil ou da por pessoas que estejam atuando no exercício de
mental, ou condenação, por juiz competente, em suas funções oficiais.
processo penal. ( ) Algumas disposições do Pacto de San José da Cos-
Art. 24 Igualdade perante a lei ta Rica podem excluir outros direitos e garantias que
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por con- são inerentes ao ser humano ou que decorrem da
seguinte, têm direito, sem discriminação, a igual forma democrática representativa de governo.
proteção da lei.
Art. 25 Proteção judicial Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples reta de cima para baixo.
e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo,
perante os juízes ou tribunais competentes, que a) V, V, V, V.
a proteja contra atos que violem seus direitos fun- b) V, V, F, F.
damentais reconhecidos pela constituição, pela lei c) V, F, F, V.
ou pela presente Convenção, mesmo quando tal vio- d) F, F, V, V.
lação seja cometida por pessoas que estejam atuan- e) F, V, V, F.
do no exercício de suas funções oficiais.
2. Os Estados Partes comprometem-se: (F) Há sim uma relação entre os dois documen-
a. a assegurar que a autoridade competente pre- tos, tanto é verdade que no preâmbulo da CADH o
vista pelo sistema legal do Estado decida sobre os documento estabelece que os princípios que foram
direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso; consagrados CADH são os mesmos previstos na
b. a desenvolver as possibilidades de recurso judi- Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ade-
cial; e mais, observa-se que muitos direitos previstos no
c. a assegurar o cumprimento, pelas autoridades pacto também são dispostos na DUDH.
competentes, de toda decisão em que se tenha con- (V) Conforme texto expresso previsto no art. 32 da
296 siderado procedente o recurso. CADH.
(V) Esse é o conteúdo expresso trazido pelo ponto 1 do processual. A Convenção só prevê que o acusado
art. 25 da CADH. Nele, há a previsão do direito huma- tenha tempo e meios adequados para a preparação
no à proteção judicial consagrado a toda pessoa. O de sua defesa. R: Errada.
mesmo artigo ainda dispõe que os Estados Partes se e) A CADH não estipula prazo específico de 7 dias
comprometem: “a. a assegurar que a autoridade com- para o indivíduo ser ouvido. O art. 8 só dispõe que
petente prevista pelo sistema legal do Estado decida a pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas
sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal garantias e dentro de um prazo razoável. R: Errada.
recurso; b. a desenvolver as possibilidades de recurso Resposta: Letra B.
judicial; e c. a assegurar o cumprimento, pelas autori-
dades competentes, de toda decisão em que se tenha 3. (VUNESP – 2020) Nos expressos termos previstos no
considerado procedente o recurso.”
Pacto de San José da Costa Rica em relação à pena de
(F) Nos termos da alínea “c” do art. 29, que trata
morte, é correto afirmar:
das normas de interpretação, nenhuma disposição
da Convenção pode ser interpretada no sentido de
excluir outros direitos e garantias que são inerentes a) Nos países que não houverem abolido a pena de mor-
ao ser humano ou que decorrem da forma democrá- te, esta só poderá ser imposta, respeitados os demais
tica representativa de governo. Resposta: Letra E. requisitos previstos no Pacto, a delitos políticos ou a
delitos comuns conexos com delitos políticos.
2. (IBFC – 2018) Assinale a alternativa correta. Segundo b) Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no
a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969), momento da perpetração do delito, for menor de vinte
toda pessoa acusada de um delito tem direito durante e cinco anos.
o processo às seguintes garantias mínimas: c) Nos países que não houverem abolido a pena de morte,
esta só poderá ser imposta, respeitados os demais requi-
a) O processo penal deve ser privado, de modo a preser- sitos previstos no Pacto, pelos delitos mais graves.
var os interesses da justiça e da sociedade. d) Só será possível restabelecer a pena de morte nos Esta-
b) O direito do acusado de ser assistido gratuitamente dos que a hajam abolido, respeitados os demais requi-
por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda sitos previstos no Pacto, para os delitos mais graves.
ou não fale a língua do juízo ou tribunal.
c) A comunicação prévia e pormenorizada ao acusado a) R: ERRADA. Com base no art. 4.4 da CADH, em
da acusação formulada deve ser obrigatoriamente nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a
bilíngue (inglês e língua oficial do país no qual aconte- delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com
ceu o delito). delitos políticos.
d) A concessão ao acusado do tempo e dos meios b) R: ERRADA. Com base no art. 4.5 da CADH, não
necessários à preparação de sua defesa será de 30 se deve impor a pena de morte a pessoa que, no
(trinta) dias corridos, a contar da publicação em órgão momento da perpetração do delito, for menor de 18
oficial. anos, ou maior de 70, nem aplicá-la a mulher em
e) Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devi- estado de gravidez.
das garantias e dentro do prazo máximo de 7 (sete) c) R: CORRETA. Com base no art. 4.2 da CADH. Os
dias, por um juiz ou Tribunal competente, independen- requisitos são:
te e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na 1) deve respeitar sentença final de tribunal competente;
apuração de qualquer acusação penal formulada con- 2) estar a decisão em conformidade com lei que
tra ela, ou na determinação de seus direitos e obriga- estabeleça tal pena;
ções de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer 3) a lei deve ser promulgada antes de haver o delito
outra natureza. sido cometido; e
4) Não se estenderá sua aplicação a delitos aos
a) Nos termos do ponto 5 do art. 8, a CADH traz quais não se aplique atualmente.
como garantia judicial a previsão que o processo d) R: ERRADA. Com base no art. 4.5, não se pode res-
penal deve ser público, salvo no que for necessário tabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam
para preservar os interesses da justiça. R: Errada. abolido. Resposta: Letra C.
b) A CADH, no ponto 2 do art. 8, prevê que toda pes-
soa acusada de delito tem direito a que se presuma 4. (IADES – 2019) No que tange à relação do Brasil com
sua inocência enquanto não se comprove legalmen- as organizações internacionais, bem como aos procedi-
te sua culpa. Além disso, dispõe que durante o pro- mentos de negociação e internalização de convenções
cesso, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, e tratados internacionais, julgue o item a seguir.
à garantia mínima do acusado de ser assistido gra- O Pacto de San José da Costa Rica, aderido pelo Brasil
tuitamente por tradutor ou intérprete, se não com- e reconhecido no respectivo ordenamento como nor-
preender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal. ma de caráter supralegal por decisão do Supremo Tri-
R: Correta. bunal Federal, prevê, no próprio texto original, direitos
DIREITO HUMANOS

c) A CADH, no seu art. 8, não traz como garantia humanos de primeira e segunda gerações.
ao indivíduo que a acusação formulada deva ser
obrigatoriamente bilíngue (inglês e língua oficial do ( ) CERTO  ( ) ERRADO
país no qual aconteceu o delito); o Pacto só diz que
a comunicação deve ser prévia e pormenorizada ao Questão polêmica, pois a banca considerou errada.
acusado da acusação formulada, garantindo tam- É fato que o Pacto de San José, redigido em 1969 e
bém o acesso gratuito a um tradutor ou intérprete. ratificado pelo Brasil em 1992, deu ênfase na imple-
R: Errada. mentação dos direitos de primeira geração (civis
d) A CADH não estipula um prazo específico de e políticos), mas no seu art. 26 menciona, ainda
30 dias para a preparação da defesa do acusado, que de forma vaga, o compromisso dos Estados
pois cada país regulará de acordo com seu código com o desenvolvimento progressivo dos direitos 297
econômicos, sociais e culturais (segunda geração). 3. (CRS – 2017) Com base na Declaração Universal dos
O Protocolo Facultativo de San Salvador, ratificado Direitos Humanos proclamada pela Assembleia Geral
pelo Brasil em 1999, foi o documento que detalhou das Nações Unidas, marque a alternativa correta:
os direitos de segunda geração. Resposta: Errado.
a) Todos os seres humanos nascem livres e iguais. São
dotados de razão e emoção e devem pensar em rela-
ção uns aos outros com espírito de consciência.
HORA DE PRATICAR! b) Todo ser humano tem deveres para com a comunida-
de, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua per-
1. (CRS – 2018) De acordo com a Declaração Universal sonalidade é possível.
dos Direitos Humanos assinale “V” para a (s) assertiva c) Homens e mulheres, sem qualquer restrição de idade,
(s) verdadeira (s) e “F” para a (s) assertiva (s) falsa (s). raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de con-
trair matrimônio e fundar uma família.
( ) Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a d) Todo ser humano tem direito ao lazer e ao repouso
uma justa audiência por parte do Tribunal Internacio- semanal aos domingos e feriados, inclusive à limita-
nal da ONU, para decidir sobre seus direitos e deveres ção semanal de 44 horas de trabalho e férias anuais
na esfera do Direito Internacional. remuneradas.
( ) Ninguém será sujeito à interferência em sua vida pri-
vada, em sua família, em seu lar ou em sua correspon- 4. (CRS – 2017) Sabe-se que a Constituição da Repú-
dência, sem prévia autorização da autoridade policial. blica Federativa do Brasil (CRFB), promulgada em 5
( ) Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião de outubro de 1988, alinha-se à Declaração Univer-
e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem sal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada e procla-
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e mada Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e de dezembro de 1948. Considerando que a DUDH e
independentemente de fronteiras. a CRFB coincidem em múltiplos princípios que têm
( ) Todo ser humano tem direito a repouso semanal, como objetivo a proteção do ser humano. Analise as
diversão e lazer oferecido pelo Estado, inclusive a alternativas abaixo e, ao final, responda o que se pede.
limitação máxima de 44 horas semanais de trabalho e
férias anuais remuneradas com adicional de 1/3. I. Sobre o direito de propriedade, previsto, tanto na DUDH
( ) Todo ser humano tem direito a uma ordem social e quanto na CRFB, no sistema jurídico brasileiro, trata-se
internacional em que os direitos e liberdades estabele- de um direito fundamental do indivíduo, mas, dentro
cidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos do que prevê a CRFB, o Estado, poderá fazer uso da
possam ser plenamente realizados. propriedade particular.
II. A DUDH estabelece que todo ser humano tem direito à
Marque a alternativa que contém a sequência de res- vida, à liberdade e à segurança pessoal. Tal princípio é
postas correta, na ordem de cima para baixo. literalmente mantido no ordenamento jurídico brasilei-
ro, a começar pela CRFB, a Lei Maior, por não admitir
a) V, F, F, V, F. pena de morte, qualquer que seja a motivação.
b) F, F, V, F, V. III. A DUDH afirma que toda pessoa, vítima de persegui-
c) F, V, F, V, F. ção, tem o direito de procurar e de gozar asilo em
d) V, F, V, F, V. outros países. Paralelamente, a CRFB tem como um
dos fundamentos a concessão de asilo político.
2. (CRS – 2017) Marque a alternativa que contém a res-
posta correta: Marque a alternativa correta.

a) Após ser aprovado em cada Casa do Congresso a) Apenas as assertivas I e II estão corretas.
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos b) Apenas as assertivas II e III estão corretas.
dos respectivos membros, a Declaração Universal dos c) Apenas a assertiva I está correta.
Direitos Humanos passou a ter “status” equivalente às d) Todas as assertivas as estão corretas.
emendas constitucionais.
b) Ao definir o envelhecimento como direito personalíssi- 5. (CRS – 2015) Marque a alternativa correta. A Decla-
mo e a sua proteção um direito social, o Estatuto do ração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela
Idoso não encontrou respaldo na Declaração Universal Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de
dos Direitos Humanos, que estabelece que todo ser dezembro de 1948, estabelece que:
humano tem direito a um padrão de vida capaz de asse-
gurar-lhe saúde e bem-estar e direito à segurança em a) Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o
caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice. direito de ser presumido inocente até a sua apresenta-
c) A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece ção à autoridade de polícia judiciária.
em seu texto que todo ser humano, vítima de perseguição, b) Todo ser humano tem direito à liberdade de locomo-
tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros paí- ção e residência em qualquer país do mundo.
ses, este dispositivo não encontra respaldo nos objetivos c) Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento
fundamentais da República Federativa do Brasil. ou castigo cruel, desumano ou degradante.
d) Constranger alguém com emprego de violência ou gra- d) Ninguém será mantido em escravidão, salvo em caso
ve ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental de condenação por tribunal independente e imparcial.
em razão de discriminação racial, constitui crime de
racismo, segundo a lei que define os crimes resultan-
tes de preconceito de raça ou de cor.
298
6. (CRS – 2013) Sobre a Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução
n° 217-A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas
em 10 de dezembro de 1948, é correto afirmar que:

a) Todo ser humano tem o direito à liberdade de opinião


e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem
interferência, expressar-se, ainda que fira a integridade
moral de outrem.
b) Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução
será gratuita, pelo menos nos graus mais elementares
e fundamentais. A instrução elementar é facultada ao
ser humano.
c) Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer
restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o
direito de contrair matrimônio e fundar uma família.
d) A liberdade religiosa é acessível a todo ser humano
desde que sua manifestação seja feita de forma cole-
tiva e em particular apenas.

7. (CRS – 2013) De acordo com a Declaração Universal


dos Direitos Humanos é correto afirmar que:

a) Todo ser humano tem capacidade para gozar os direi-


tos e as liberdades estabelecidos na Declaração Univer-
sal dos Direitos Humanos, sem quaisquer distinções.
b) Os direitos humanos somente serão exercidos em paí-
ses que assinarem tratados com a ONU.
c) A escravidão ou servidão bem como o tráfico de
escravos só serão mantidas em países cuja prática da
escravidão é considerada dever religioso.
d) Todo ser humano tem direito a liberdade de opinião e
expressão; este direito inclui a liberdade de, sem inter-
ferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmi-
tir informações e ideias por quaisquer meios desde
que dentro das fronteiras de seu país de origem.

9 GABARITO

1 B

2 C

3 B

4 C

5 C

6 C

7 A

ANOTAÇÕES
DIREITO HUMANOS

299
ANOTAÇÕES

300
ESTATÍSTICA

VISÃO CONCEITUAL BÁSICA


POPULAÇÃO OU UNIVERSO E CENSO

A estatística é a parte da matemática que se dedica à análise, apresentação e interpretação de dados coleta-
dos. Esses dados são coletados dentro de uma população (também classificado como universo), que é o conjun-
to total dos elementos a serem estudados (podem ser pessoas, objetos etc.). Dessa população, podemos coletar os
dados de duas maneiras:

� Censo: quando são coletados os dados de toda a população; e


� Amostra: é um subconjunto da população, da qual são coletados dados para, posteriormente, fazer uma infe-
rência sobre a população (inferência estatística).

Ex.: na eleição, todas as pessoas aptas a votar são a população. Quando uma empresa é contratada para fazer
uma pesquisa de intenção de voto, eles selecionam uma amostra dessa população, fazem as perguntas pré-deter-
minadas pela pesquisa, e com os dados das respostas fazem uma inferência de como a população toda irá votar.

AMOSTRAGEM X AMOSTRA

É comum ouvirmos por aí pessoas que dizem não acreditar em pesquisas como Ibope, Datafolha entre outras,
com o argumento de que nunca foi entrevistado por esses órgãos e que não conhecem nenhuma pessoa que tenha
sido consultada também. Ora, consultar a população toda acerca de algum assunto é muito custoso e demandaria
um tempo muito grande. Por isso, para se chegar a essa estimativa, esse tipo de pesquisa é realizado em parte da
população.
Para analisar parâmetros estatísticos de uma população é necessário selecionar uma amostra a partir de téc-
nicas de amostragem. Dessa amostra são extraídos dados estatísticos, que serão estudados e analisados, e então,
generalizados para toda a população por meio da Inferência Estatística.

AMOSTRAGEM

POPULAÇÃO

AMOSTRA

AMOSTRA

INFERÊNCIA

Quando vamos tratar de inferência estatística, o nosso conjunto de dados a ser analisado são os dados extraí-
dos das amostras da população. Para isso, a amostra selecionada deve ser representativa da população.
Uma amostra não representativa é uma amostra viciada, que chamamos de vício de amostragem. Utilizan-
do esse tipo de amostra chegaríamos a um resultado que não corresponde à realidade.
Ex.: Queremos saber a quantidade de torcedores de cada time na cidade de São Paulo, portanto nossa popu-
lação é o total de habitantes de São Paulo. Vamos supor que a amostra selecionada para responder fosse feita na
ESTATÍSTICA

porta do estádio do Palmeiras em dia de jogo. Nesse caso, praticamente 100% dos entrevistados se declarariam
palmeirenses, o que, claramente, está incorreto, pois a escolha da amostra foi realizada de forma incorreta.
Conceitos importante:
População objeto: é a população total que temos o interesse de obter informações;
Unidade elementar (unidade amostral): é a unidade (indivíduo) da população que será observada (analisa-
da), pode ser uma pessoa, uma peça de uma produção etc.
Amostra: é o subconjunto da população.
Censo: análise de todos os elementos da população.
Erro amostral: é a diferença entre o resultado amostral para o resultado populacional. 301
Existem várias formas de se determinar uma amostra da população a ser estudada, que se dividem em dois
grandes grupos:

PROBABILÍSTICAS NÃO-PROBABILÍSTICAS
Quando todos os elementos da população possuem a mes- Quando os elementos da população não possuem a mes-
ma probabilidade de serem selecionados. Só nas amostras ma probabilidade de serem escolhidos, pois dependem do
probabilísticas podem ser utilizados os métodos de infe- critério do pesquisador. Esse método tem uma desvanta-
rência. Alguns exemplos são a amostra aleatória simples, gem por não ser possível fazer inferências sobre a popu-
a sistemática, a estratificada e amostra por conglomerado. lação. Apesar disso, ainda é um método muito utilizado.
Alguns exemplos são a amostra por conveniência, inten-
cional, amostra por cotas e voluntários.

EXPERIMENTO ALEATÓRIO

Experimento aleatório é o evento que pode ter diferentes resultados, quando repetidos nas mesmas condições,
ou seja, não sabemos o resultado, mas podemos saber quais são os resultados possíveis de serem obtidos.
Ex.: o lançamento de um dado é um experimento aleatório, sabemos que pode cair 1,2, 3, 4, 5 ou 6, mas não
sabemos qual exatamente irá cair naquele lançamento específico.

MÉTODO ESTATÍSTICO

Um dos métodos de avaliação da inferência estatística é chamado de Teste de Hipótese. Que consiste em con-
siderar uma hipótese para um parâmetro Populacional (pode ser média, proporção etc.) e a partir dos dados
recolhidos da amostra, testar se essa hipótese deve ser aceita ou rejeitada.
Por se tratar de uma decisão com base na análise de uma amostra, a decisão nunca terá 100% de certeza,
sempre teremos um percentual de erro estatístico embutido nessa decisão, que é dado em um valor percentual.
Ex.: temos uma população e queremos saber a média de idade (μ). Vamos supor que, por algum motivo, a gente
acredite que a média seja de 35 anos. Para testar se esse é realmente o valor, vamos tirar uma amostra da popula-
ção e achar a média da amostra, ou média amostral (X ou μX), e, suponhamos que a média amostral encontrada
foi de 33. Assim vamos fazer um teste de hipótese com base no valor da média amostral para testar se a média
populacional realmente pode ser 35.
As hipóteses podem ser simples, quando ela especifica completamente a distribuição da população (exemplo:
H: µ = 0), ou composta, quando ela não especifica completamente a distribuição da população (exemplo: H: µ > 0,
ou H: µ < 0).
Para calcular o desvio padrão amostral (σX) e a variância amostral (σX)2 a partir do valor populacional usamos:

σ2 σ
Variância: (σX)2 = Desvio-padrão: σX =
n n

A hipótese criada será sempre para a população e nunca para a amostra, os principais parâmetros usados nas
hipóteses são:

μ: média populacional
p: proporção populacional
σ: desvio-padrão populacional
σ2: variância populacional

Quando vamos fazer o teste de hipótese temos que criar duas hipóteses: a hipótese nula (H0), que geralmente
é uma hipótese simples, e a hipótese alternativa (H1 ou HA), que geralmente é uma hipótese composta. Essas
duas hipóteses são complementares, ou seja, se uma é verdadeira a outra será falsa, e elas não podem possuir
elementos em comum.

HIPÓTESE NULA HIPÓTESE ALTERNATIVA

É a base do nosso teste e ela normalmente terá um sinal A hipótese alternativa é o complemento da hipótese nula,
de igualdade, podendo ser: =, ≤ ou ≥. e geralmente não tem o sinal de igual, podendo ser: ≠, <
ou >.

Dito isso vamos citar alguns exemplos de formação de hipóteses, considerando que k é um número real (k ∈ R):

H0: μ = k

H1: μ ≠ k } bilateral

}
H0 : μ = k H0: μ = k H0: μ ≤ k H0: μ ≤ k
ou ou ou unilateral
H1: μ > k H1: μ < k H1: μ > k H1: μ < k
302
Dos conceitos ligados à lateralidade falarei mais O nível de significância é o que define a aceitação
para frente, mas já adianto aqui que, quando a hipó- ou rejeição do teste. Para poder analisar esse valor
tese alternativa tiver sinal de ≠, o teste será bilateral, vamos usar a distribuição normal. Vamos supor que
e quando a hipótese alternativa tiver sinal de < ou >, o α = 1%, ou seja, a probabilidade de cometer o erro tipo
teste será unilateral. I é de 1%.
Como estamos partindo de uma amostra para esti- Temos 3 opções diferentes de forma de montar a
mar os dados de uma população, podemos incorrer distribuição.
em dois tipos de erros, os quais chamamos de erro
tipo I e erro tipo II. Como falei anteriormente, o teste é z Teste unilateral a esquerda:
baseado na hipótese nula (H0), portanto os dois tipos
de erros serão baseados em H0.

ERRO TIPO I ERRO TIPO II

Quando rejeitamos H0 (e Quando aceitamos H0 (e α


consequentemente acei- consequentemente rejei-
tamos H1) sendo que a H0 tamos H1) sendo que H0 é
é verdade na realidade. falsa na realidade.

Zert
Ex.: Em uma linha de produção, a média de pro-
dutos com defeito fabricados a cada dia é 1,5. Esse é z Teste unilateral a direita:
um parâmetro populacional, mas, vamos considerá-lo
desconhecido (como normalmente é). Vamos fazer
um teste de hipótese, no qual nossa hipótese nula será
que a média populacional é no máximo 2 (o que mos-
tra que na realidade o teste deveria ser aceito, pois a
média populacional é 1,5). Assim:
α
H0: μ ≤ 2
H1: μ > 2
Zert
Supondo que ao realizar o teste fosse constatado
o mesmo foi rejeitado, o que significa que a hipótese
z Teste bilateral:
nula foi rejeitada. Assim, o teste foi rejeitado quan-
do na verdade deveria ter sido aceito, pois a hipóte-
se nula era verdadeira. Nesse caso realizamos o erro
tipo I.
Agora imagine que a média populacional fosse na
verdade 3, e, ao realizar o teste, como realizado aci- α α
ma, ele fosse aceito. Nesse caso o teste deveria ter sido
2 2
rejeitado uma vez que a média populacional é maior
que 2. Assim teremos cometido o erro tipo II.
A probabilidade de cometer o erro tipo I é dada
por , que chamamos de nível de significância (que - Zert Zert
normalmente é dado no exercício). A probabilidade
de cometer o erro tipo II é dada por β, e associado a As regiões cinzas são chamadas de Região Crítica
isso temos o poder do teste, que é “1 – β”, ou seja, a (RC) ou região de rejeição, e a parte branca é chama-
probabilidade de rejeitar H0 quando ela realmente é da de região de aceitação.
falsa. Para resolver uma questão de teste de hipótese
Fique atento à tabela abaixo: vamos seguir 6 passos:

z Escrever as hipóteses:
REALIDADE Hipótese nula: H0. (utilizar os sinais =, ≥ ou ≤)
H0 VERDADEIRA H0 FALSA Hipótese alternativa: H1. (utilizar os sinais ≠, > ou <)

ACEITAR H0 Decisão correta (1 – α) Erro do tipo II (β) z Calcular o valor observado ou estatística do tes-
DECISÃO Erro do tipo I (α) (nível Decisão correta te (Zobs, tobs), que é o valor que iremos usar ao final
REJEITAR H0 de significância) (1 – β) (poder do para fazer a comparação com a região crítica.
teste)
ESTATÍSTICA

Para calcular esse valor vamos utilizar a tabela da


Em um teste, quando queremos diminuir a proba- normal padrão para o Z, ou a tabela t de Student.
bilidade de cometer o erro tipo I, estaremos aumen- As fórmulas para média são:
tando a probabilidade de cometer o erro tipo II. A
única forma de minimizar os dois erros é aumen-
X–μ
tando o tamanho da amostra. Podemos concluir que
quanto maior a amostra menor a chance de erro, mas Zobs = σ
ele nunca será zero, a não ser que a nossa amostra √n
seja grande o suficiente, ou seja, a própria população. 303
Onde σ é o desvio-padrão populacional. Nessa situação, considerando a hipótese nula H0: p
≥ 60%, a hipótese alternativa H1: p < 60% e P(Z ≤ 2)
X–μ = 0,977, em que Z representa a distribuição normal
padrão, bem como sabendo que o teste se baseia na
tobs = S
aproximação normal, assinale a opção correta, a res-
√n peito desse teste de hipóteses.

Onde S é o desvio-padrão amostral. a) O erro do tipo II representa a probabilidade de se rejei-


Podemos calcular também o Zobs para proporção: tar a hipótese nula, uma vez que, na realidade, p = 60%.
b) Com nível de significância α = 2,3%, a regra de decisão
p̂ – p do teste é rejeitar a hipótese nula caso o percentual de
famílias endividadas na amostra seja inferior a 56%.
Zobs =

p ‧ (1 – p) c) Trata-se de um teste unilateral à direita.
n d) A estatística do teste foi igual ou superior a 1.
e) A hipótese nula deve ser rejeitada caso a probabilida-
de de ocorrência de erro do tipo I seja igual ou inferior
Em que: p é a proporção populacional e p̂ é a proporção a 0,01.
amostral.
A probabilidade de encontrarmos valores da
Vamos escrever os dados apresentados e depois
amostra abaixo do Zobs é chamado de P-valor.
Ex.: caso o valor encontrado para Zobs seja -1, a pro- analisar cada alternativa.
babilidade de encontrarmos um valor menor que -1 é p̂ = 57%.
dada pela tabela da normal padrão, e essa probabili- n = 600
dade é chamada de P-valor. H0: p ≥ 60%
H1: p < 60%
3 – Fazer o gráfico (unilateral esquerda ou direita ou Alternativa a) Como a proporção na realidade é 60%
bilateral). Para saber qual gráfico usaremos vamos
e a nossa hipótese nula diz que p ≥ 60%, a hipótese
considerar o sinal da hipótese alternativa.
nula é na realidade verdadeira. Caso no teste essa
hipótese seja rejeitada, estaremos cometendo o erro
tipo I, que é quando rejeitamos H0 quando ele na ver-
dade é verdadeiro. O erro tipo II é quando aceitamos
H0 quando ele é falso. Alternativa incorreta.
Alternativa b) Vamos fazer o teste de hipótese segui-
α
do os passos.
1- H0: p ≥ 60%
H1: p < 60%
Zert O 2º passo não faremos, pois não queremos o Zobs,
mas sim o valor da média amostral que está na fór-
z Achar o valor crítico, que pode ser observado na mula do Z.
tabela da normal padrão (ou dado no exercício). E 3 - Para saber o gráfico que vamos usar, precisamos
vamos encontrar o valor de Z que deixe a probabi- olhar o sinal do H1, que é p < 60%. Como o sinal é <,
lidade do nível de significância na região crítica. vamos usar o gráfico unilateral a esquerda.
z Marcar o Zobs no gráfico.
4 - O nível de significância é 2,3%, portanto a região
z Avaliar a aceitação e rejeição de H0.
crítica tem 2,3%, ou seja, 0,023, na região branca
Se Zobs está dentro da Região Crítica, então rejeita- temos 1 – 0,023 = 0,977. O exercício informa que P(Z
mos H0. ≤ 2) = 0,977, por simetria, sabemos que P(Z ≥ -2) =
Se Zobs está fora da Região Crítica, então aceitamos 0,977, ou seja:
H0.

Algumas dicas importantes:


Quanto menor for o P-valor mais chance de (2,3%)
rejeitar o H0.
Se p-valor ≤ α, rejeitamos H0 em favor de H1. 0,023
Se p-valor > α, não rejeitamos H0 em favor de H1. 0,9 77
Quando NÃO sabemos o valor do desvio-padrão
populacional, vamos usar o teste t de Student. Para
isso temos que saber apenas duas coisas: usar a tabela –2
e que a quantidade de graus de liberdade é: gl = n – 1
(como vimos nas distribuições). Portanto, Zcrit = -2
5 – O valor que delimita a RC é -2, voltando ao passo
2, vamos achar qual o valor da média amostral que
EXERCÍCIOS COMENTADOS resulta em Z = -2.

1. (CESPE-CEBRASPE –2016) Por meio de uma pesqui-


sa, estimou-se que, em uma população, o percentual p p̂ – p
de famílias endividadas era de 57%. Esse resultado foi Zobs =


p ‧ (1 – p)
observado com base em uma amostra aleatória sim-
304 ples de 600 famílias. n
p̂ – 0,6
-2 =


0,6 ‧ (1 – 0,6)
600

p̂ – 0,6
-2 =
-2 -1,5

0,6 ‧ 0,4
600
Resposta: Letra B.
p̂ – 0,6
-2 = 2. (CESPE-CEBRASPE –2018) Em uma fábrica de ferra-


0,24
gens, o departamento de controle de qualidade rea-
600 lizou testes na linha de produção de parafusos. Os
p̂ – 0,6 testes ocorreram em dois campos: comprimento dos
-2 = parafusos e frequência com que esse comprimento
√0,0004 fugia da medida padrão. Historicamente, o compri-
p̂ – 0,6 mento médio desses parafusos é 3 cm, e o desvio
-2 = padrão observado é 0,3 cm. Foram avaliados 10.000
0,02
parafusos durante uma semana. Desses, 1.000 fugi-
p̂ - 0,6 = - 0,04
ram às especificações técnicas da gerência: o com-
p̂ = 0,6 – 0,04 primento do parafuso deveria variar de 2,4 cm a 3,6
p̂ = 0,56 cm. O chefe da linha de produção, porém, insiste em
p̂ = 56% afirmar que, em média, 4% da produção de parafusos
fogem às especificações. O departamento de controle
de qualidade assume que os comprimentos dos para-
(2,3%) fusos têm distribuição normal.
0,023 A partir dessa situação hipotética, julgue o item subse-
0,9 77 quente, considerando que Φ(1) = 0,841, Φ(1,65) = 0,95,
Φ(2) = 0,975 e Φ(2,5) = 0,994, em que Φ(z) é a função
distribuição normal padronizada acumulada, e que
56%


0,0384
0,002 seja valor aproximado para .
10.000
Portanto, para p < 56% estaremos na Região Crítica
da curva, portanto temos que rejeitar H0. Alternati- Com base nos dados apresentados, pode-se rejeitar,
va correta. com significância de 5%, a afirmação do chefe da linha
Alternativa c) O teste é unilateral a esquerda. Alter- de produção.
nativa incorreta.
Alternativa d) A estatística do teste (Zobs) é dada por: ( ) CERTO  ( ) ERRADO

Na amostra de 10.000 parafusos, 1.000 fugiram às


p̂ – p
Zobs = especificações, o que corresponde a 10%, portanto,


p ‧ (1 – p) 10% dos parafusos estão fora das especificações. O
n chefe diz que, em média, apenas 4% (0,04) fogem às
especificações. Assim temos os seguintes dados:
0,57 – 0,6 p̂ = 0,1 (proporção amostral)
Zobs = n = 10.000


0,6 ‧ (1 – 0,6)
Passo 1 – Escrever hipóteses:
600 As hipóteses são:
– 0,03 H0: p = 0,04
Zobs = H1: p ≠ 0,04
0,02 Temos um teste bilateral.
Zobs = - 1,5 Passo 2 – calcular o Zobs:
Vamos calcular o Zobs.
O valor é menor que 1. Alternativa incorreta.
Alternativa e) Sabemos que a RC para Z = -2 é de
ESTATÍSTICA

p̂ – p
2,3%, ou seja, o nível de significância. Zobs =


Caso a o nível de significância fosse 1%, a região p ‧ (1 – p)
seria menor ainda. Pelo gráfico abaixo, a região cin- n
za escuro seria = 1%, e a região compreendida pela
soma das áreas cinzas seria = 2,3%. Como o Zobs é 0,1 – 0,04
-1,5, ele fica à direita do -2. Considerado apenas a Zobs =


0,04 ‧ 0,96
área cinza escura o ponto -1,5 está fora da RC, por-
tanto temos que aceitar H0. Alternativa incorreta. 10,000 305
4. (CESPE-CEBRASPE –2018) Determinado órgão gover-
0,06 namental estimou que a probabilidade p de um ex-con-
Zobs =
denado voltar a ser condenado por algum crime no


0,04 ‧ 0,96
prazo de 5 anos, contados a partir da data da liberta-
10,000 ção, seja igual a 0,25. Essa estimativa foi obtida com
base em um levantamento por amostragem aleatória
0,06 simples de 1.875 processos judiciais, aplicando-se o
Zobs = (essa raiz foi dada no enunciado)
método da máxima verossimilhança a partir da distri-

0,0384
buição de Bernoulli.
10,000
Sabendo que P(Z < 2) = 0,975, em que Z representa
0,06 a distribuição normal padrão, julgue o item que se
Zobs = segue, em relação a essa situação hipotética.
0,002
A estimativa intervalar 0,25 ± 0,05 representa o interva-
Zobs = 30 lo de 95% de confiança do parâmetro populacional p.

Passos 3, 4 e 5 – Desenhar o gráfico, encontrar o Zcrit ( ) CERTO  ( ) ERRADO


e marcar o Zobs:
Temos um teste bilateral com nível de significância A amostra tem 1.875 processos: n = 1.875.
de 5%, portanto em cada lado teremos 2,5%, assim A proporção “p” da pessoa voltar a cometer crime
vamos considerar Φ(2) = 0,975, sendo o Zcrit o -2 e o 2. é de 25%:
p = 0,25
Assim: q = 1 – p
q = 1 – 0,25
q = 0,75
O intervalo de confiança é de 95%, e o exercício
2,5% 2,5% informa que P(Z < 2) = 0,975, ou seja, P(−2 ≤ Z ≤ 2) =
95%, portanto, Z0 = 2.
Obs: Se os valores acima de 2 são 2,5%, então os
abaixo de -2 também são 2,5%, logo entre -2 e 2 tere-
– Zcrit Zcrit Zobs mos 95%, que é o valor solicitado no exercício.
–2 2 30 O intervalo de confiança para uma proporção é
dado por:


Como o Zobs está na região crítica, vamos rejeitar H0. p‧q
Resposta: Certo. p ± Z0 .
n


3. (CESPE-CEBRASPE –2018) Os tempos de duração 0,25 ‧ 0,75
0,25 ± 2 .
de exames de cateterismo cardíaco (Y, em minutos) 1,875
efetuados por determinada equipe médica seguem


uma distribuição normal com média μ e desvio padrão 0,1875
0,25 ± 2 .
σ, ambos desconhecidos. Em uma amostra aleatória 1,875
simples de 16 tempos de duração desse tipo de exa-


1
me, observou-se tempo médio amostral igual a 58 0,25 ± 2 .
minutos, e desvio padrão amostral igual a 4 minutos. 10,000
A partir da situação hipotética apresentada e conside- 1
rando Φ(2) = 0,977, em que Φ(z) representa a função 0,25 ± 2 .
100
de distribuição acumulada de uma distribuição normal
padrão e z é um desvio padronizado, julgue o item que 0,25 ± 0,02
se segue, com relação ao teste de hipóteses H0 = μ Portanto, para um nível de confiança de 95% o
≥ 60 minutos, contra HA = μ < 60 minutos, em que H0 intervalo será 0,25 ± 0,02. Resposta: Errado.
e HA denotam, respectivamente, as hipóteses nula e
alternativa. 5. (CESPE-CEBRASPE –2018) Em um tribunal, entre os
Se o teste for efetuado com nível de significância igual processos que aguardam julgamento, foi selecionada
a 1%, o poder do teste será igual a 99% para qualquer aleatoriamente uma amostra contendo 30 processos.
valor hipotético μ. Para cada processo da amostra que estivesse há mais
de 5 anos aguardando julgamento, foi atribuído o valor
( ) CERTO  ( ) ERRADO 1; para cada um dos outros, foi atribuído o valor 0. Os
dados da amostra são os seguintes:
O nível de significância é o , que é a probabilidade
de ocorrer o erro tipo I, seu complementar “1 – ” é o 110010110111101110101010111011
nível de confiança, ou seja, a probabilidade de acei-
tar H0 quando esse é verdadeiro. A proporção populacional de processos que aguar-
Já o poder do teste é a probabilidade de rejeitar H0 dam julgamento há mais de 5 anos foi denotada por
quando esse é falso, que é dado por “1–“, que é o p; a proporção amostral de processos que aguardam
complementar de , que é a probabilidade de cometer julgamento há mais de 5 anos foi representada por .
erro tipo II. Com referência a essas informações, julgue o item a
No caso de o nível de significância ser 1%, o nível de seguir, considerando que, para a distribuição normal
confiança será 99% e não o poder do teste. Resposta: padrão Z, P(Z > 1,28) = 0,10; P(Z > 1,645) = 0,05; e P(Z
306 Errado. > 1,96) = 0,025.
O teste t de Student seria apropriado para testar se, nesse o valor realmente assumido por essa variável, 1, 2,
tribunal, p é maior que 50%, com 29 graus de liberdade. 3..., ou seja, se estamos falando da variável aleatória
quantidade de atendimentos em um dia em um hospi-
( ) CERTO  ( ) ERRADO tal (X), essa quantidade pode ser 100, 50, 75 (x).
O teste t de Student serve para fazer a estimativa VARIÁVEIS QUANTITATIVAS
da média, o teste de proporção é feito com base na
normal reduzida (Z). Variável aleatória discreta

A variável aleatória discreta é aquela que só pode



p‧q
p ± Z0 . assumir valores discretos (contáveis) que normal-
n
mente são valores pertencentes aos conjuntos dos
números naturais (N) ou inteiros (Z).
Resposta: Errado. Ex.: quantidade de resultado 3 em uma série de
sucessivos lançamentos de dados; número de vasos
fabricados com defeito em um lote, retirados de for-
ma aleatória; quantidade de resultados cara em uma
VARIÁVEIS QUANTITATIVAS E série de 10 lançamentos de moeda. Perceba que em
todos esses exemplos teremos um número inteiro
QUALITATIVAS como resposta, exemplo 1, 2 ou 3 e etc.
Nas variáveis discretas, quando temos uma fun-
Variável aleatória é uma função que associa um ção de distribuição de probabilidade acumulada,
único valor real para cada ponto do espaço amostral, chamamos de função de distribuição, que é dada
podemos dizer ainda, que é uma variável quantitativa, por: F(x) = P(X ≤ x), ou seja, é a probabilidade da variá-
sendo que seu valor depende de fatores aleatórios. vel aleatória X assumir um valor inferior a x.
Vamos supor dois lançamentos seguidos de uma Ex.: Dada uma variável que pode assumir os
moeda honesta. Vamos chamar de X a variável alea- seguintes valores de x e as respectivas probabilidades:
tória que nos dá o número de coroas obtidas nesses
dois lançamentos. PROB.
XI P(X=XI)
ACUMULADA
A variável aleatória X pode assumir 3 valores, 0, 1
ou 2, pois o espaço amostral das opções são: cara/cara 1 0,1 0,1
(X = 0 coroas), cara/coroa ou coroa/cara (X = 1 coroa),
e por último coroa/coroa (X = 2 coroas). Portanto, a 2 0,3 0,4
probabilidade de sair uma coroa é:
3 0,4 0,8
40 40
= 4 0,2 1,0
80 80
Total 1

Nessa variável X, o x pode ser 1 (com probabilida-


Pois são duas opções de sair apenas uma coroa:
de de 10% de ocorrer), pode ser 2 (com probabilidade
coroa/cara e cara/coroa.
de 30% de ocorrer), pode ser 3 (com probabilidade de
Assim, dizemos que a probabilidade de X = 1 é: 40% de ocorrer) ou pode ser 4 (com probabilidade de
20% de ocorrer).
1 A função de distribuição dessa variável aleatória
P(X = 1) = seria:
2
0, se x < 1
Qual a probabilidade de X > 0? Para X ser maior 0,1, se 1 ≤ x < 2
que 0, temos as opções X = 1 e X = 2. Das 4 opções de F(X) = 0,4, se 2 ≤ x < 3
resultado dos lançamentos, 3 situações satisfazem a 0,8, se 3 ≤ x < 4
condição da variável aleatória ser maior que 0. 1,0, se x ≥ 4

3 Isto é: F(3) = P(X≤3) = P(X=1) + P(X=2) + P(X=3)


P(X > 0) = Normalmente, as questões dão apenas a função de
4 distribuição e pedem de algumas probabilidades. Por
exemplo:
As variáveis aleatórias podem ser discretas ou
ESTATÍSTICA

contínuas, e são definidas pela sua função de pro- z Achar probabilidade de (X = 4).
babilidade. Normalmente são definidas por P(x) ou
P(X=x). Lembrando que estamos falando de variável dis-
Cuidado, essa definição P(X=x) pode parecer estra- creta, como temos o x = 4 na última linha com pro-
nha, mas o X maiúsculo significa a variável aleatória babilidade acumulada de 1, e na linha anterior a
X, que pode ser qualquer variável que estamos que- probabilidade acumulada é 0,8, a probabilidade
rendo estudar, como a quantidade de atendimentos desse valor ser 4 é 1 – 0,8 = 0,2. Isso ocorre porque
em um hospital ou a quantidade de caras em uma os únicos valores que a variável aleatória discreta
série de lançamentos da moeda. Já o x minúsculo é pode assumir são 1, 2, 3 ou 4. 307
z Achar a probabilidade de (X<3)
Soma
Basta olhar na linha anterior a x=3, ou seja, P(X<3) = 0,4. Média =
Quantidade
z Achar a probabilidade de (X≤3). Soma = Média x Quantidade
P(X≤3) = 0,8.
Em linguagem matemática isso é dado por:
A variável aleatória contínua
xi
x= / para dados de uma amostra.
A variável aleatória contínua é aquela que pode N
assumir qualquer valor real em um intervalo finito Ou:
ou infinito.
Ex.: Tempo na corrida de 100m livres (entre 9 segun- xi
μ= / para dados de uma população.
dos e 10 segundos existem infinitos números, conside- N
rando as casas decimais entre eles); peso das pessoas
do mundo todo (considerando as casas decimais, exis- Onde: / Xi é o somatório dos dados X1, X2, X3...XN,
tem infinitos valores de peso para considerarmos). e N é a quantidade de dados da amostra/população.
Nas variáveis contínuas, a função de probabi- Cada dado é representado por Xi.
lidade é chamada de Função densidade de pro- Vamos supor que, na faculdade, teremos 4 provas
babilidade e a área definida sob a curva é igual a 1 da disciplina de Estatística. Para calcular a média final
(probabilidade total é sempre igual 1). basta somar as 4 notas e dividir por 4.
Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0;
A VARIÁVEL QUALITATIVA 7,0; 5,0; 8,0.

Os dados de uma amostra podem ser qualitati- Soma


vos, que são aqueles dados não numéricos como sexo, Média =
nacionalidade, avaliação nominal (bom, regular, Quantidade
ruim) etc., ou quantitativos, que são dados expres-
sos em números, que podem ser objeto de contagens, 6+7+5+8
medições como altura, peso etc. Média =
Cuidado, não necessariamente dados expressos 4
em números serão quantitativos, eles podem também
26
ser qualitativos, como RG, CPF, CNPJ, CEP, CNAE (clas-
Média =
sificação nacional de atividades econômicas), geral- 4
mente esse tipo de código ou classificação é feito em
números. Ex: queremos saber a quantidade de empre- Média = 6,5
sas que atuam em cada setor, podemos usar a CNAE,
que é um número, para separar a quantidade de mer- Ex: Em uma faculdade a quantidade de alunos
cados, farmácias, postos de combustíveis etc. matriculados em cada curso está apresentado na tabe-
Os dados qualitativos podem ser: la a seguir:

z Ordinais: são aqueles que podem ser ordenados,


como mês, nível de escolaridade, tamanho de rou- CURSO QUANTIDADE DE ALUNOS
pa (P, M, G) entre outros. Ex: o nível de escolari-
dade pode ser dividido em ensino fundamental, Direito 55
ensino médio, ensino superior, pós graduação. Por
Contabilidade 24
mais que seja um dado qualitativo, a gente conse-
gue colocar isso em ordem, pois sabemos que pri- Estatística 35
meiro vem o ensino fundamental, depois o ensino
médio e assim por diante. Da mesma forma o mês, Física ?
sabemos que primeiro vem janeiro, depois feverei-
ro até chegar em dezembro; A média do número de alunos matriculados por
z Nominais: que são aqueles que não podem ser curso é 38,5. Nesse caso, qual a quantidade de alunos
ordenados, como sexo, estado civil entre outros. Ex: matriculados em Física?
podemos dividir os estados civis em casado, união A média de alunos matriculados por curso é dada
estável, solteiro, viúvo... claramente não temos uma pela soma dos alunos de cada curso dividido pela
ordem entre essas opções.
quantidade de cursos, onde a média foi dada, e é 38,5,
e o total de cursos é 4.

Sabemos que a fórmula da média é:


MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL
Soma
MÉDIA Média =
Quantidade
Média Aritmética Simples
Soma
A média aritmética simples é a que estamos mais 38,5 =
4
acostumados no dia a dia, ela é dada pela soma dos
valores dos dados que queremos saber, dividido pela Soma = 38,5 · 4
308 quantidade desses dados. Soma = 154
A soma dos alunos matriculados é 154, e vamos Vamos pensar nos seguintes dados: 3, 4, 5, 6, 6, 8,
chamar o número de alunos matriculados em Física 8, 8, 9, 10
de X. Aqui temos 10 dados, e para dividirmos nossa
amostra em duas partes iguais vamos separar entre
55 + 24 + 35 + X = 154 o 6 e o 8, restando 5 dados para cada lado. Portanto, a
114 + X = 154 mediana será a média entre 6 e 8.
X = 154 – 114
X = 40 3, 4, 5, 6, 6, / 8, 8, 8, 9, 10
Portanto, são 40 alunos matriculados em Física.
6+8 14
Md = = =7
Média Aritmética Ponderada 2 2

A média ponderada é muito parecida com a média


simples, mas nela são colocados pesos diferentes para Para dados não agrupados é tranquilo de achar a
alguns dados. Essa média é muito utilizada em provas. mediana, mas quando temos dados agrupados com
Vamos pensar no mesmo exemplo da média sim- intervalos de classes não sabemos exatamente qual
ples. Supondo que, na faculdade, teremos 4 provas valor dentro daquela classe será o central, para isso
de Estatística, mas a prova 3 tem peso 2 e a prova 4 vamos fazer uma regra de três para achar esse valor,
tem peso 3. Para calcular a média ponderada temos esse método é chamado de interpolação linear.
que somar todas as notas, mas, as notas que têm pesos Dada a distribuição de frequência:
devem ser somadas conforme seu peso, ou seja, se
for peso 2 temos que multiplicar essa nota por 2, se NOTA QUANTIDADE DE ALUNOS
for peso 3 temos que multiplicar essa nota por 3. E na
quantidade temos que considerar o peso também. 0 |– 2 5
Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0; 2 |– 4 7
7,0; 5,0 (peso 2); 8,0 (peso 3). Nesse caso, a quantidade
de notas que vamos considerar deve ser 7, pois as pro- 4 |– 6 15
vas 1 e 2 têm peso 1, a prova 3 é peso 2, e a prova 4 é
6 |– 8 10
peso 3. Portanto: 1 + 1 + 2 + 3 = 7.
8 |- 10 3
Soma
Média = O total de observações nessa população é 40. Portan-
Quantidade to, a mediana estará entre o 20 e o 21, mas para fazer a
conta vamos usar o termo inferior, portanto o 20º.
6 + 7+ 2 · 5 + 8 · 3
Média = A mediana estará na terceira classe, pois até a
7 segunda temos 12 alunos (5 + 7), e ao final da terceira
já teremos 27 alunos, portanto o 20º termo estará den-
6 + 7 + 10 + 24 tro da 3ª classe (4 a 6).
Média = Como disse acima, até a classe anterior temos 12
7
alunos, para chegar a nossa mediana, que é o 20º ter-
47 mo, faltam 8 alunos. Portanto, vamos fazer uma regra
Média = de 3, onde a classe mediana tem 15 alunos em uma
7 variação de 2 pontos, portanto para 8 alunos a varia-
Média = 6,71 ção de pontos será X.

MEDIANA
Frequência (alunos) Variação dentro da classe
A mediana (Md) é o valor que divide os dados em 15 2
duas partes iguais, ou seja, ao relacionar os dados em
8 X
ordem crescente é o dado que fica na posição central.
Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
9, 10, 14. 15 · X = 2 · 8
Temos 11 dados nessa amostra, portanto o 6º valor 15 · X = 16
é o valor central, pois, temos 5 valores antes dele e 5 16
X=
ESTATÍSTICA

depois, portanto a mediana é 8.


15
3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8, 9, 10, 14 X = 1,06

Quando temos número ímpar de observações, a Portanto o 8º termo da 3ª classe (que é a nossa me-
mediana será o próprio valor, mas quando tivermos diana) está 1,06 acima do limite inferior da classe me-
uma quantidade par de dados, não teremos um valor diana, que é 4.
central, nesse caso vamos fazer a média entre os dois
valores centrais. Md = 4 + 1,06 = 5,06 309
MODA Veja que na fórmula de Czuber a classe anterior é
mais importante que a classe posterior à classe modal,
Quando dizemos que uma roupa está na moda, isso pois d1 aparece em baixo e em cima, e o L é o limi-
quer dizer que muita gente está usando esse tipo de te inferior da classe modal. Vamos entender com um
roupa. A moda (Mo) na estatística é exatamente isso, exemplo:
é aquele dado que mais se repete na população ou na Dada a distribuição de frequência.
amostra, ou seja, o dado com maior frequência.
Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
9, 10. A moda é o 8 pois aparece 3 vezes. QUANTIDADE DE
NOTA
Para dados não agrupados é tranquilo de achar a ALUNOS
moda, mas quando temos dados agrupados com inter- 0 |– 2 5
valos de classes não sabemos exatamente qual valor
dentro daquela classe mais se repete, para isso temos 2 |– 4 7
3 métodos para achar a moda: moda bruta, moda de
4 |– 6 15
Pearson e moda de Czuber.
A moda bruta, nada mais é que o valor médio da 6 |– 8 10
classe modal.
Ex: 8 |- 10 3

Para achar a moda vamos usar a Fórmula de Czu-


QUANTIDADE DE ber. A classe modal é a classe com maior frequência,
NOTA
ALUNOS
portanto das notas entre 4 e 6, que tem 15 alunos.
0 |– 2 5 Portanto:

2 |– 4 7 L = 4 (limite inferior)
h = 2 (intervalo da classe: 6 – 4 = 2)
4 |– 6 15 d1 = 8 (diferença de frequência entre a classe
6 |– 8 10 modal e a classe anterior: 15-7 = 8)
d2 = 5 (diferença de frequência entre a classe
8 |- 10 3 modal e a classe posterior: 15-10 = 5)

A classe modal é a que tem a maior frequência, ou d1


seja, a que possui 15 alunos, que é a classe que vai de Mo = L + h ·
4 a 6. Assim, pelo método da moda bruta, a moda será d1 + d2
a média da classe, ou seja, a média entre os limites da
classe (4 e 6): 8
Mo = 4 + 2 ·
8+5
4+6
Mo = 8
2 Mo = 4 + 2 ·
13
10
Mo = 16
2 Mo = 4 +
13
Mo = 5
Mo = 4 + 1,23
A moda de Pearson é dada pela fórmula: Mo = 5,23

Mo = 3 · Md – 2 · x

Portanto, para achar a moda pelo método de Pear- MEDIDAS DE DISPERSÃO


son, é preciso achar a mediana (Md) e a média arit-
mética (x). AMPLITUDE
A moda de Czuber é dada pela Fórmula de Czuber:
A amplitude é a diferença entre o maior valor e o
d1 menor valor da lista de dados, vamos supor a lista: 3,
Mo = L + h · 6, 10, 12, 14, 20. A amplitude será:
d1 + d2
Onde: L é o limite inferior da classe modal (classe Ampl = Xmáx - Xmín
com maior frequência); Ampl = 20 – 3 = 17
h é a amplitude da classe (diferença entre os extre-
mos da classe); Desvio Quartílico
d1 é a diferença entre a frequência da classe modal
com a classe anterior; O desvio quartílico, que também podemos chamar
d2 é a diferença entre a frequência da classe modal de amplitude semi-interquartílica é a diferença entre
310 com a classe posterior. o 3º quartil e o 1º quartil dividido por 2.
Ou seja, basta elevar todos os dados ao quadrado
Q3 - Q1 e calcular a média desses valores, e subtrair disso a
DQ =
2 média dos dados ao quadrado.

DESVIO PADRÃO
Intervalo Quartílico
O desvio padrão nos dá a noção de quão disper-
O intervalo quartílico é diferente do desvio quartí- sos são os dados da amostra, quanto menor o desvio
lico (intervalo semi-interquartílico), o intervalo quartí- padrão, mais concentrado em torno da média aritmé-
lico é apenas a diferença entre o quartil 3 e o quartil 1. tica estão os dados, quanto maior o desvio padrão,
mais dispersos esses dados.
IQ = Q3 – Q1
O desvio padrão é a raiz da variância, portanto a
VARIÂNCIA fórmula e as considerações sobre população e amostra
são as mesmas, apenas vamos fazer a raiz do resultado.
Falamos que a média é o primeiro momento de
uma distribuição, já a variância é chamada do segun- √Variância
do momento de uma distribuição. Desvio padrão =
A variância é uma medida de dispersão que mostra o
quão distante cada valor desse conjunto está da média. Em uma população, o desvio padrão é representa-
Na variância teremos pela primeira vez uma dife- da por σ (sigma), já para uma amostra o desvio padrão
rença na fórmula quando consideramos uma popu- é representado por S.
lação e uma amostra. Até agora, as fórmulas eram
sempre iguais, mudávamos apenas a representação 2
/ _Xi-X i
da média (de μ para x ). Para uma amostra: s = n -1
Em uma população a variância é representada por
σ2 (sigma ao quadrado), já para uma amostra a variân-
cia é representada por S2. 2
Para uma amostra: / _Xi-n i
Para uma população: σ = n
/ ^Xi - X h2
S2 = n-1 Quando tivermos dados agrupados, basta multipli-
Para uma população: car cada parênteses pela frequência da classe.

/ _Xi - n i2 2
/ f_Xi-X i 2
σ2 = / fbXi-n l
n s= n -1 σ= n
ou
Podemos perceber que para uma amostra vamos
dividir por “n-1” e para uma população vamos dividir
por N. Usamos N (maiúsculo e minúsculo) para ilus- Coeficiente de Variação
trar que em uma população a quantidade de dados
é maior que na amostra, mas os dois “enes” querem O coeficiente de variação (ou coeficiente de variação
dizer a mesma coisa, ou seja, a quantidade de dados. de Pearson) é a divisão do desvio padrão pela média.
Quando temos a variância populacional, podemos
calcular a variância amostral aplicando um fator de S
Pra uma amostra: CV =
correção, que é: X
v
n Para uma população: CV = n

n-1 Propriedades

n Vamos pensar num conjunto de dados do salário


S2 = σ2 · de uma determinada empresa. Com esses valores
n-1
podemos calcular a média, mediana, desvio padrão,
variância etc.
Quando tivermos dados agrupados, basta multipli- Em determinado momento o dono da empresa
car cada parênteses pela frequência da classe. resolve dar um aumento de 10% para todos os fun-
cionários, ou seja, multiplicando o salário de todos
2 por 1,1. Nesse caso, o que acontecerá com esses dados
_
/ fXi -X i
S2 = estatísticos? Ou então, o dono resolve aumentar R$
n -1
100,00 no salário de cada um, ou seja, somar 100,00
ou em todos os dados, o que acontecerá com esses dados
estatísticos?
ESTATÍSTICA

2
`
/ fXi -n j Quando multiplicamos todos os salários por uma
σ2 = n -1 constante qualquer (1,1 por exemplo), a média será
alterada na mesma ordem, ou seja, para achar a nova
Existe uma outra forma de calcular a variância, média multiplicaremos a média anterior pela mesma
que em boas partes dos casos é mais rápida, que é a constante (1,1). A mesma coisa ocorre para a mediana,
diferença entre a média dos quadrados e o quadra- a moda e o desvio padrão. A única grandeza diferen-
do da média. te é a variância, que será multiplicada pelo quadrado
dessa constante, pois lembremos que ela é o quadrado
σ2 = x2 – (x)2 do desvio padrão. 311
Em resumo, ao multiplicar os dados por uma cons- colunas, as barras/colunas são verticais. Normalmen-
tante k, os dados estatísticos irão alterar da seguinte te esses gráficos são usados para representar dados
maneira: qualitativos ordinais e quantitativos discretos.

FORMA DE CHEGAR AO
DADO ESTATÍSTICO 5
NOVO VALOR
4
Média (µ) µ.k 3
2
Mediana (Md) Md . k
1
Moda (Mo) Mo . k 0
Desvio padrão (σ) σ. k 1 2 3 4
ria i a ia ia
go or r r
Variância (σ )2
σ .k
2 2
te eg go go
t te te
Ca Ca Ca Ca
Quando somamos todos os salários por uma cons-
tante qualquer (100 por exemplo), a média será altera-
da na mesma ordem, ou seja, para achar a nova média
somaremos a média anterior pela mesma constante. A
mesma coisa ocorre para a mediana e a moda. Entre- Categoria 4
tanto as medidas de dispersão, desvio padrão e variân- Categoria 3
cia não serão alteradas pela soma de uma constante.
Assim o resumo dos valores, após a soma dos Categoria 2
dados pela constante k são: Categoria 1

0 2 4 6
FORMA DE CHEGAR AO
DADO ESTATÍSTICO
NOVO VALOR

Média (µ) µ+k No gráfico de colunas o eixo horizontal traz os


dados qualitativos, ou quantitativos discretos, e o eixo
Mediana (Md) Md + k vertical traz as frequências (quantidades) de cada
Moda (Mo) Mo + k categoria. Já no gráfico de barras o eixo vertical traz
os dados qualitativos ou quantitativos discretos, e o
Desvio padrão (σ) Não muda eixo horizontal traz as frequências de cada categoria.
Vamos supor um gráfico de colunas, onde quere-
Variância (σ2) Não muda mos saber a quantidade de pessoas com diferentes
graus de escolaridade em um determinado concurso.
Resumindo, quando somamos k a todos os elemen-
tos de uma série de dados, e/ou quando multiplicamos
por k todos os elementos de uma série de dados: Grau de Instrução dos Candidatos

MULTIPLICAÇÃO 600
SOMA DE UMA
DE UMA 500
CONSTANTE K
CONSTANTE K 400
300
NOVA MÉDIA/
200
MEDIANA/ Soma k Multiplica por k
100
MODA
0
r
NOVO DESVIO Multiplica pelo o io r io ão
Não altera éd pe aç
PADRÃO módulo de k sin M Su ad
u
En in
o o Gr
s sin s
NOVA En En Pó
Não altera Multiplica por k
2
VARIÂNCIA

Nesse tipo de gráfico vemos que não é possível


ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO falar em média ou mediana, mas podemos usar como
medida de tendência central a moda, que nesse caso
MATEMÁTICA DE GRÁFICOS, TABELAS seria o Ensino Superior, que é o grau de instrução que
E DIAGRAMAS ESTATÍSTICOS mais se repete no gráfico.

GRÁFICO DE COLUNAS GRÁFICO PICTÓRICO

Esses dois tipos de gráficos na verdade são basica- O gráfico pictórico não é propriamente um tipo
mente os mesmos, a diferença é que no gráfico de bar- específico de gráfico. Na verdade, o gráfico pictórico
ras, as barras/colunas são horizontais e no gráfico de pode ser representado por um gráfico de barras, de
312
colunas, de linhas ente outros. A grande característica GRÁFICO DE LINHAS
desse gráfico é que, para chamar mais a atenção, são
usadas figuras (imagens) na composição do gráfico. São mais utilizados nas representações de séries
Esse tipo de gráfico é muito usado em jornais e tele- temporais. Vamos analisar a evolução de um ano para
jornais, pois proporcionam uma comunicação mais o outro, se houve um crescimento ou um decréscimo
rápida e com precisão de entendimento. Nesse tipo de no número de alunos dentre as séries que estão em
gráfico as figuras são, ao mesmo tempo, os dados esta- evidência para estudo dentro da escola. Observe:
tísticos e indicam a proporcionalidade desses dados.

GRÁFICO DE DISPERSÃO
Podemos notar que esse gráfico nada mais é que
um gráfico de barras, mas, pelo fato de o gráfico mos- Estudaremos melhor esse tipo de gráfico quando
trar a quantidade de consumo anual de sorvete em falarmos de correlação, mas, irei apresentar como ele
diferentes países, ao invés de se colocar as barras, é feito, e quando é usado.
foi colocada uma espátula de tomar sorvete, em um O gráfico de dispersão, ou diagrama de dispersão, é
tamanho proporcional ao da barra, e ao lado do gráfi- uma associação entre pares de dados quantitativos, nor-
co foi colocada uma imagem de sorvetes. malmente são usados para entender a correlação entre
duas variáveis. Nele, vamos verificar as duas variáveis
GRÁFICO DE SETORES e colocar esses pontos em um plano cartesiano.
Vamos fazer um gráfico de dispersão com as variá-
O gráfico de setores normalmente é usado para apre- veis peso e altura de um grupo de 6 pessoas:
sentar dados qualitativos como setores de um círculo
(pedaços de uma pizza). Normalmente os dados são apre-
ALTURA 1,7 1,72 1,9 1,56 1,64 1,82
sentados em percentuais, sendo que o total é 100% (360º).
PESO 75 81 87 52 70 90
Grau de Instrução
Altura x Peso
100
Pós Graduação 90
6% 80
70
Ensino Ensino 60
Superior 50
Fundamental 40
25% 38% 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2

Ensino Podemos ver que cada ponto representa o par


Médio peso/altura de um indivíduo, mas discutiremos isso
31% mais profundamente posteriormente.

HISTOGRAMA

O histograma é um dos principais gráficos da esta-


Ensino Médio Ensino Superior
tística, ele é muito utilizado para demonstrar a distri-
ESTATÍSTICA

Ensino Fundamental

Pós Graduação 6% buição de frequência de dados quantitativos contínuos.


O histograma  é formado por colunas ou barras
(retângulos) de um conjunto de dados e dividido em
Desse gráfico, podemos ver que, na pesquisa, o classes uniformes ou não uniformes. Sendo que a
grau de instrução predominante é o Ensino Funda- base do retângulo representa uma classe e a altura do
mental, com 38%, e o mais raro é a Pós Graduação, retângulo representa a quantidade ou a frequência
com 6%. Também é um gráfico em que temos a moda absoluta com que o valor da classe ocorre no conjunto
como medida de tendência central. de dados. 313
Peso de bagagens Geralmente, na primeira linha, depois do título,
despachadas no Voo X da teremos as classes que serão retratadas nas linhas,
Companhia Aérea Alfa ex.: Estados, Siglas, População, Área, etc. Nas linhas
30 seguintes teremos os dados da tabela, onde teremos
25 em uma mesma linha o Estado, relacionando sua
sigla, sua população, sua área etc. Vejamos o exemplo
Frequência

20 dessa tabela citada.


15
10 INFORMAÇÕES DOS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE

5 ESTADO SIGLA POPULAÇÃO ÁREA (KM2)

0 Minas Gerais MG 21.292.666 586.522


10 20 30 40 50 60
Espírito Santo ES 4.064.052 46.095
Peso, em Kg
Rio de
RJ 17.366.189 43.780
A tabela nos mostra que a maior parte das baga- Janeiro
gens possui entre 30 e 35 kg, mas existem malas desde São Paulo SP 45.919.049 248.222
0 a 60 kg.

Caixa box-plot Analisando a tabela acima, podemos concluir que


Minas Gerais (MG) é o maior estado da Região Sudeste,
A caixa box-plot (muito cobrado) é um gráfico que pois tem a maior área, mas que o estado de São Paulo
nos mostra a distribuição de frequência, e é formado é o mais populoso, por ter uma população maior que
pelos quartis e pelos valores extremos. os outros.
O importante é olhar uma tabela e entender quais
Mediana Valor máximo
dados podemos extrair com o que está apresentado
Valor mínimo Q1
(limite inferiro)
(Q2) Q3 (limite superior) nela.
As tabelas mais utilizadas na estatística são as
Dados
tabelas de frequência, conforme apresentamos no
discrepantes item de média aritmética para dados agrupados.

-20 -10 0 10 20 30 40 50 Tipos de Séries Estatísticas

Vemos que a caixa é formada pelos 3 quartis, que As séries estatísticas são as diversas maneiras de
no caso seriam aproximadamente: Q1 = 0, Q2 = 20 e Q3 apresentar os dados desejados em forma de tabela, o
= 30. Os dados extremos seriam aproximadamente -15 objetivo das séries estatísticas é organizar os dados
e 40, portanto amplitude seria: 40 – (–15) = 40 + 15 = 55. observados e mostrá-los de maneira organizada, faci-
As duas bolinhas significam dados discrepantes litando sua compreensão.
(outliers), que seriam dados que fogem do padrão do Temos vários tipos séries estatísticas, mas vamos
restante dos dados. Os dados discrepantes são aqueles destacar algumas mais importantes:
que superam em 1,5 vezes o intervalo interquartílico
(diferença entre Q3 e Q1). z Séries Temporais: é um conjunto de observações
No nosso exemplo: de uma variável ao longo do tempo, ou seja, uma
sequência de dados numéricos em ordem sucessi-
Q3 – Q1 = 30 – 0 = 30 va. Nesse tipo de série o que varia é o tempo, mas o
1,5 · 30 = 45 fato e o local de observação são fixos;
z Séries Geográficas: é um conjunto de observações
Os dados discrepantes serão aqueles que forem de uma variável em diferentes locais. Nesse tipo de
inferiores a 45 unidades de Q1, ou superiores a 45 série o que varia é o local (região) da observação,
unidades de Q3. mas o tempo e o fato observado são fixos. Ex.:
Limite inferior: 0 – 45 = - 45
Limite superior: 30 + 45 = 75
POPULAÇÃO DOS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE
Portanto, serão dados discrepantes os que tiverem
valores inferiores a “–45” ou os superiores a 75. ESTADO POPULAÇÃO

Minas Gerais 21.292.666


TABELAS
Espírito Santo 4.064.052
Modelo de uma Tabela
Rio de Janeiro 17.366.189
Já mostramos algumas tabelas ao longo do mate- São Paulo 45.919.049
rial, mas afinal, para que serve, e como montar uma
tabela?
Uma tabela deve ser composta por diversas linhas z Séries Específicas: é um conjunto de observações
e colunas, sendo que devemos ter um título (normal- de uma variável com diferentes categorias (espé-
mente na primeira linha da tabela), e vários dados cies). Nesse tipo de variável o que varia são as cate-
organizados nas linhas e colunas seguintes. gorias observadas, mas o tempo e o local são fixos.
314 Ex.: queremos analisar a quantidade de animais
diferentes que habitam uma certa região de prote- z Tendência: é o comportamento de longo prazo
ção florestal. Nesse caso a tabela será classificada na série, podendo ser determinístico (quando os
pelas espécies observadas na região de interesse valores da série podem ser descritos por uma fun-
em um mesmo intervalo de tempo. ção matemática) e podendo ser estocástico (aquele
cujo estado é indeterminado, com origem em even-
ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO EM 2020 tos aleatórios). Ex.: Quando analisamos a população
brasileira ao longo dos anos (vamos supor uma série
QUANTIDADE com 100 anos), vemos que a cada ano esse valor
ESPÉCIE aumenta, nem sempre em uma mesma proporção,
OBSERVADA
mas podemos notar uma tendência de crescimento;
Onça 45 z Sazonalidade: é um padrão regular que ocorre
na série temporal. Uma série temporal é sazonal
Tamanduá 75
quando fenômenos que ocorrem durante o tempo
Lobo 107 se repetem em um mesmo período de tempo, ou
seja, ocorrem sempre em uma mesma hora, todos
Anta 90 os dias, ou em um mesmo mês, todos os anos. Ex.:
um aumento nas vendas de uma loja de roupas em
z Séries Conjugadas (Mistas): nesse tipo de séries dezembro em todos os anos (período do Natal);
vamos conjugar dois tipos de séries em uma mes- z Aleatório: é o que não pode ser explicado pela ten-
ma tabela. Ex.: vamos conjugar a tabela específi- dência e sazonalidade, ou seja, é o resíduo, sendo
ca acima, com uma série temporal, mostrando a que a aleatoriedade não pode ser determinística
quantidade de cada espécie observada ao longo (descrito por uma função matemática) e será sem-
dos últimos 3 anos. pre estocástico;
z Ciclo: Longas ondas, mais ou menos regulares, em
ESPÉCIES QUE HABITAM A REGIÃO – torno de uma linha de tendência.
ÚLTIMOS 3 ANOS
Outro ponto importante é a estacionariedade da
QUANTIDADE OBSERVADA série temporal.
ESPÉCIE
2018 2019 2020 Dizemos que uma série temporal é estacionária
quando suas observações no tempo se posicionam
Onça 30 38 45 aleatoriamente ao redor de uma média constante,
Tamanduá 60 65 75 transparecendo um equilíbrio estável.
Lobo 30 90 107
Anta 50 80 90

Séries Temporais

De todas as séries, uma das mais importantes é a


série temporal, que corresponde a um conjunto de
observações de uma variável ao longo do tempo, ou
seja, uma sequência de dados numéricos em ordem
sucessiva, que geralmente (mas não necessariamente)
ocorre em intervalos uniformes. Ex.: uma série que
mostra a quantidade de picolés vendidos por uma sor-
veteria mensalmente ao longo de um ano.
Podemos definir exemplos de séries temporais e
de séries não temporais:

SÉRIES NÃO
SÉRIES TEMPORAIS
TEMPORAIS
Podemos notar que uma série estacionária se man-
Série diária da temperatura Temperaturas de várias ci- tém sempre em torno de uma média, que representa-
na cidade de São Paulo ao dades em um mesmo dia, mos pela linha preta central na figura a seguir.
longo de um ano. ou períodos diferentes.
Quantidade de furtos no
Quantidade de furtos
ano de 2018 nas diferen-
anuais em Cuiabá.
tes capitais do país.
Salários dos funcionários
Salário de um funcionário
de uma empresa no mes-
ao longo do ano.
mo mês.
ESTATÍSTICA

As séries temporais são importantes para identifi-


car padrões de variáveis no tempo, para que se possa
tentar prever possíveis danos no futuro. Para descre-
ver séries temporais, são utilizados modelos de pro-
cessos estocásticos, que são processos controlados por
leis probabilísticas.
Uma série temporal pode ser decomposta em três
séries temporais: tendência, sazonalidade e uma com-
ponente aleatória (nível). 315
Uma série pode ser estacionária por um período Alternativa e) Essas oscilações são naturais das
curto, ou por um período longo, o modelo ARIMA observações, o comportamento sistemático de uma
pode descrever séries estacionárias e séries não esta- observação se caracteriza pelo erro sistemático
cionárias que não apresentam um comportamento de observações, por exemplo, quando anotamos o
totalmente aleatório, ou seja, uma não estacionarie- horário de certas observações, mas o relógio utiliza-
dade homogênea, que é quando uma série é estacio- do está com 1 hora de atraso. Alternativa incorreta.
nária, flutuando ao redor de um nível, por um certo Resposta: Letra C.
tempo, depois muda de nível e flutua ao redor desse
novo nível, e depois muda novamente de nível e assim 2. (IBADE – 2017) Considerando uma série temporal, é
por diante. correto afirmar que a tendência indica:

a) comportamento sazonal a curto prazo.


b) ciclos de altas e quedas periódicas de valores a curto
prazo.
c) comportamento independente dos dados a longo, cur-
to e médio prazo.
d) comportamento a longo prazo.
e) somente se há um outlier conhecido como ponto
influente.

Por definição sabemos que a tendência caracteriza


o comportamento a longo prazo. Resposta: Letra D.

4. (IADES – 2014) Uma série temporal é qualquer conjun-


to de observações ordenadas no tempo. Acerca das
séries temporais, assinale a alternativa correta.

a) As séries temporais não podem ser contínuas nem


discretas.
EXERCÍCIOS COMENTADOS b) Os modelos utilizados para descrever séries tempo-
rais não são controlados por fatores probabilísticos.
1. (FCC – 2018) Em séries temporais, as oscilações c) Os modelos utilizados para descrever séries tempo-
aproximadamente regulares em torno da tendência rais são processos estocásticos, isto é, processos
controlados por leis probabilísticas.
a) são típicas de séries muito curtas, como dados dentro d) Um conjunto de observações ordenadas no tempo não
de um mês. é uma série temporal.
b) dão a direção global dos dados. e) Um conjunto de índices diários da bolsa de valores
c) podem ser decorrentes de fenômenos naturais e não é um exemplo de série temporal.
socioeconômicos.
d) caracterizam uma série sem variável residual. Vamos analisar as alternativas.
e) determinam o componente não sistemático. Alternativa a) as séries temporais podem ser qual-
quer uma das duas, tanto contínuas como discretas.
Vamos analisar cada alternativa, mas iremos ver Alternativa incorreta.
que 4 são totalmente incorretas, e uma delas é um Alternativa b) Os modelos são controlados por fato-
pouco vaga, mas, mesmo assim correta, é mais fácil res probabilísticos SIM. Alternativa incorreta.
chegar na resposta por eliminação: Alternativa c) Exatamente o contrário da alternati-
Alternativa a) Essas oscilações em torno da ten- va anterior, portanto alternativa correta.
dência são características de séries temporais, e Alternativa d) O exercício usou a definição de série
acontecem tanto para séries longas quanto curtas. temporal e afirmou que isso não era uma série tem-
Alternativa incorreta. poral. Alternativa incorreta.
Alternativa b) Essa direção global é exatamente a Alternativa e) Esse exemplo é um conjunto de obser-
tendência, e não as oscilações em torno dela. Alter- vações ordenadas no tempo, portanto uma série
nativa incorreta. temporal. Alternativa incorreta. Resposta: Letra C.
Alternativa c) Exatamente, a tendência é o compor-
tamento a longo prazo, entretanto os valores não 5. (CESGRANRIO - PETROBRAS – 2012)
serão exatamente os considerados em uma certa
função matemática, tendo sempre uma pequena
variação, que são essas oscilações em torno da
tendência. Essas variações podem ocorrer por inú-
meros fatores, dentre eles fenômenos naturais e
socioeconômicos. Alternativa correta.
Alternativa d) Essas oscilações são caracteriza-
das pelos resíduos, ou seja, variáveis residuais que
fazem com que os valores observados sejam próxi-
mo, mas não idênticos aos valores previstos, por-
316 tanto essas oscilações. Alternativa incorreta.
É preciso estimar o número de unidades de um certo equipamento a serem vendidas por uma empresa. Um estagiário
fez um modelo de regressão linear, onde x (no do mês) e y as vendas realizadas em unidades são mostrados na figura
acima.
Qual tipo de componente da série temporal de vendas NÃO foi observado no modelo?

a) Nível Médio
b) Sazonalidade
c) Ciclicidade
d) Tendência Linear
e) Tendência Exponencial

Vemos que os dados possuem picos em alguns meses, e que esses valores acontecem sempre na mesma época do
ano (2, 14 e 26), ou seja, todo ano, no mesmo mês ocorre um pico, isso é a sazonalidade.
Como ao fazer a regressão linear temos uma reta ao longo do tempo, essa sazonalidade não é lavada em conta.
Resposta: Letra B.

6. (CESPE-CEBRASPE – 2008) Uma agência de desenvolvimento urbano divulgou os dados apresentados na tabela a
seguir, acerca dos números de imóveis ofertados (X) e vendidos (Y) em determinado município, nos anos de 2005 a
2007.

NÚMERO DE IMÓVEIS
ANO
OFERTADOS (X) VENDIDOS (Y)

2005 1.500 100

2006 1.750 400

2007 2.000 700

Considerando as informações do texto, julgue os itens subsequentes. A variável X forma uma série estatística deno-
minada série temporal.

( ) CERTO  ( ) ERRADO

Exatamente, uma série temporal é um conjunto de observações de uma variável ao longo do tempo. Vemos os
dados de duas variáveis (imóveis ofertados e imóveis vendidos) ao longo dos anos (2005, 2006 e 2007) Resposta:
Certo.

HORA DE PRATICAR!
1. (CRS – 2017) Analise a distribuição de frequências a seguir:

INCIDÊNCIA DE FEBRE AMARELA EM SABINÓPOLIS, POR CIDADE, EM ANOS, EM 2016

CLASSES F PM F% FAC %

12 –– 16 4 14 7,02 7,02

16 –– 20 12 18 21,05 28,07

20 –– 24 19 22 33,33 61,40

24 –– 28 X 26 Y Z

28 –– 32 7 30 12,28 100,00

Total 57
Fonte: Dados fictícios
ESTATÍSTICA

* Onde F é a frequência simples, PM é o ponto médio, F% é a frequência relativa e Fac% é a frequência acumulada relativa.
Marque a alternativa correta:

a) Para o cálculo do valor de x, basta somente considerarmos o PM da respectiva classe.


b) Para calcularmos o valor de z, nunca se considera o valor de y.
c) Para o cálculo de y, consideramos tão somente dois valores específicos da coluna de frequência simples.
d) O valor da média ponderada está entre 21 e 22 anos de idade.

317
2. (CRS – 2017) A tabela a seguir registra, em horas, o tempo de permanência, em determinado dia, de um grupo de pes-
soas no aplicativo WhatsApp.

Nº DE HORAS (XI) Nº DE USURÁRIOS (FI)

8 10

9 7

11 12

14 14

15 20

20 12

Soma 75

Considerando as informações da tabela, é correto afirmar que a mediana, a média e a moda, em horas, são
respectivamente:

a) 12,5; 12,5; 20.


b) 15; 12,48; 13.
c) 12,5; 13,48; 12.
d) 14; 13,48; 15.

3. (CRS – 2018) O Comandante da 500ª CIA PM promoveu um torneio operacional, de forma que os militares da CIA PM
foram divididos em 04 equipes para realizarem 03 provas distintas, no valor de 10 pontos cada uma, com os seguin-
tes temas: técnica policial-militar, abordagem a veículos e controle de distúrbios. As provas teriam pesos 3, 2 e 1,
respectivamente.

NOTAS DE PROVAS
EQUIPES
TÉCNICA POLICIAL MILITAR ABORDAGEM A VEÍCULOS CONTROLE DE DISTÚRBIOS

Equipe Alpha 9 8 8

Equipe Bravo 8 7,5 7,5

Equipe Charlie 8,5 8 8

Equipe Delta 8 9 9

Considerando a média ponderada de cada equipe, marque a alternativa correta.

a) A Equipe Alpha obteve média ponderada inferior à Equipe Charlie.


b) A Equipe Bravo obteve média ponderada de 8,25.
c) A Equipe Delta obteve a mesma média ponderada que a equipe Alpha.
d) A Equipe Charlie obteve média ponderada superior à Equipe Delta.

4. (CRS – 2017) Em um concurso para Soldados da PMMG, os alunos fizeram provas de matemática, português, geogra-
fia e história. Os respectivos pesos das disciplinas eram: 10, 10, 08 e 08. Considerando que no concurso cada discipli-
na tinha 10 questões e um aluno obteve o seguinte número de acertos: 09 em matemática; 05 em português; 10 em
geografia e 08 em história. Marque a alternativa correta que apresenta a nota do aluno:

a) 7,55
b) 7,44
c) 7,72
d) 7,89

5. (CRS – 2017) Os resultados (seis réplicas) obtidos a partir de uma determinação da concentração de um analito em
uma amostra são mostrados na Tabela abaixo.

RÉPLICA (N) 1 2 3 4 5 6

RESULTADO 27 30 31 30 29 33

318
Com base nesses dados e nas fórmulas a seguir, marque a alternativa correta:

∑ iN (X - X)
S= N-1

S
Cv = 100 ·
X
Respectivamente, os valores da média aritmética e do coeficiente de variação dessa série de dados são:

a) 27 e 13,3%
b) 30 e 6,7%
c) 28 e 20%
d) 31 e 26,7%

6. (CRS – 2015) Uma caixa contém bolas numeradas de 1 a 60. Escolhendo aleatoriamente uma bola da caixa, qual é a
probabilidade que o número escolhido seja múltiplo de 5?

a) 5%
b) 10%
c) 20%
d) 40%

7. (CRS – 2017) Com base na tabela abaixo, marque a alternativa correta:

Distribuição conjunta da frequência dos formandos e seus respectivos graus de instrução nas capitais da Região Su-
deste - 2016

CAPITAIS ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO ENSINO SUPERIOR TOTAL

Belo Horizonte 566 458 391 1415

Vitória 457 395 399 1251

Rio de Janeiro 455 400 357 1212

São Paulo 499 359 787 1645

Total 1977 1612 1934 5523

Fonte: Dados Fictícios

a) O percentual de alunos que concluíram o ensino médio no Rio de Janeiro e São Paulo é maior que o percentual de
alunos que concluíram o ensino médio em Vitória e no Rio de Janeiro.
b) O percentual de alunos que concluíram o ensino superior no Rio de Janeiro e São Paulo é maior que o percentual de
alunos que concluíram o ensino superior em Belo Horizonte.
c) Levando-se em conta todos os níveis de escolaridade São Paulo possui a menor média dos concludentes.
d) Levando-se em conta todos os níveis de escolaridade Vitória possui a menor média dos concludentes.

8. (CRS – 2015) A cantina terceirizada que funciona em um determinado Batalhão, fornece almoço e jantar aos militares
da unidade. O gráfico abaixo mostra o movimento de usuários da cantina de segunda a sexta-feira.
ESTATÍSTICA

319
Sabendo -se que a cantina tem preço fixo de R$8,00 para o almoço e R$5,00 para o jantar, é correto afirmar que o fatu-
ramento médio diário em REAIS com almoço e jantar é:

a) R$ 1.556,43.
b) R$ 1.416,00.
c) R$ 768,00.
d) R$ 2.179,00.

9. (CRS – 2018) Analise a tabela de distribuição de frequência abaixo:

ANOS DE SERVIÇO NA PM, MILITARES DO 185º BPM, DEZEMBRO DE 2017

CLASSES f fac fr % frac %

0 –– 5 A 41 20,50 20,50

5 –– 10 48 B 24,00 44,50

15 –– 20 61 150 C 75,00

20 –– 25 31 181 15,50 D

25 –– 30 19 200 9,50 100,00

Total 200 - 100,00 -

Fonte: Dados fictícios

Sabe-se que f é a frequência absoluta, fac é a frequência absoluta acumulada, fr% é a frequência relativa (percentual)
e frac% é a frequência relativa (percentual) acumulada.

Considerando as informações da tabela, é correto afirmar que os valores de A, B, C, D, são respectivamente:

a) 41; 89; 30,50; 90,50.


b) 48; 89; 30,50; 25,00.
c) 41; 61; 25,00; 90,50.
d) 48; 79; 44,50; 90,50.

10. (CRS – 2017) Abaixo, temos uma tabela que mostra os bônus dos funcionários da Empresa Daves Keller, em março
do ano de 2016, em Belo Horizonte, em reais.

BÔNUS DOS FUNCIONÁRIOS DA EMPRESA DAVES KELLER


MARÇO/ 2016 – BH-MG EM REAIS

BÔNUS FI XI FR %

400 –– 600 3 500 6

600 –– 800 5 700 10

800 –– 1000 8 900 16

1000 –– 1200 12 1100 24

1200 –– 1400 10 1300 20

1400 –– 1600 6 1500 12

1600 –– 1800 4 1700 8

1800 –– 2000 2 1900 4

Total 50 100

* Onde fi é a frequência simples; Xi é o ponto médio da classe; fr % é a frequência relativa ou percentual.


Com base nos dados constantes da tabela, analise as assertivas abaixo e marque-as como falsas (F) ou verdadeiras
(V).

( ) Dez funcionários recebem bônus que oscilam de R$ 1.200,00 a R$ 1.399,99, e que 44% dos funcionários recebem
bônus de R$ 1.000,00 a R$ 1.399,99.
( ) Na Empresa, o bônus médio dos integrantes do 4º nível é de R$ 1.100,00 e o bônus médio dos integrantes do sétimo
320 nível é de R$ 1.700,00.
( ) 12% dos funcionários recebem bônus que variam de R$ 1.400,00 a R$ 1.799,99.
( ) Nessa Empresa, 24% dos funcionários recebem um bônus médio de R$1.100,00 e 8% dos funcionários recebem bônus
de R$ 1.600,00 a R$ 1.799,99.
( ) Nessa Empresa, trinta e oito funcionários recebem bônus abaixo de R$ 1.600,00 e 10 de R$ 1.400,00 a R$ 1.799,99.

A sequência de respostas correta, na ordem de cima para baixo, é:

a) V, V, V, F, F.
b) F, F, V, V, F.
c) V, V, V, V, V.
d) V, V, F, V, F.

11. (CRS – 2017) Considerando o gráfico a seguir:

Fontes: Dados fictícios

Observe as variações dos registros das ocorrências de roubo, mês a mês, ao longo do período descrito no gráfico
acima e marque a alternativa correta:

a) Em todos os meses, a incidência maior é de roubo a transeuntes.


b) Somente no mês de novembro houve a redução do número total de roubos.
c) A incidência de roubos a transeuntes reduziu 4% no mês de outubro.
d) Em todo o período considerado, o número de roubos a transeunte foi 54% maior que o número de roubos a automóveis.

12. (CRS – 2015) Suponha que o gráfico abaixo represente o número de armas apreendidas em determinada localidade
por mês.

ESTATÍSTICA

É correto afirmar que número total de armas apreendidas no período julho a dezembro é:

a) 120.
b) 360.
c) 240.
d) 300. 321
13. (CRS – 2018) O gerente de uma empresa, com um
total de 150 funcionários, realizou um experimento
ANOTAÇÕES
com o objetivo de verificar o consumo de água dos
funcionários durante o turno de trabalho. Foram sele-
cionados, aleatoriamente, 50 funcionários e mensura-
da a quantidade de litros de água consumida por cada
um, no período de 30 dias. Sabe-se, também, que cada
funcionário teve a mesma probabilidade de ser incluí-
do na seleção. Com base nestas informações, relacio-
ne a segunda coluna de acordo com a primeira:

Quantidade total de fun- ( ) Variável contínua.


cionários da empresa.

Consumo de litros de ( ) Amostra


água por funcionário

50 funcionários selecio- ( ) Amostragem. Aleató-


nados aleatoriamente ria simples

Técnica utilizada para ( ) População.


seleção da amostra.

Marque a alternativa que contém a sequência correta


de respostas, na ordem de cima para baixo:

a) 4, 2, 3, 1.
b) 2, 1, 4, 3.
c) 3, 2, 1, 4.
d) 2, 3, 4, 1

14. (CRS – 2015) Periodicamente os alunos de uma determi-


nada instituição de ensino são pesados e medidos para
verificar se estão em conformidade com as tabelas de
peso e altura esperados. Essas duas variáveis são:

a) Ambas contínuas.
b) Qualitativas.
c) Ambas discretas.
d) Contínua e discreta, respectivamente.

9 GABARITO

1 C

2 D

3 C

4 D

5 B

6 C

7 B

8 D

9 A

10 D

11 C

12 B

13 D

14 A
322

Você também pode gostar