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SOLDADO
æ Língua Portuguesa
æ Direito Penal
æ Direito Constitucional
æ Direito Penal Militar
æ Direito Humanos
æ Estatística
æ Legislação Extravagante (disponível On-line)
conteúdo
Edital DRH/CRS Nº 06/2021
ON-LINE
CURSO COM 10H
DE VIDEOAULAS
Polícia Militar de Minas Gerais
PM-MG
Soldado
NV-002JH-21
Cód.: 7908428800604
Obra Produção Editorial
Carolina Gomes
PM-MG – Polícia Militar de Minas Gerais Josiane Inácio
Organização
Arthur de Carvalho
Autores
Roberth Kairo
LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares e Saula Isabela Diniz
Giselli Neves
Dayverson Ramon
Higor Moreira
Willian Lopes
Capa
Projeto Gráfico
Edição:
Junho/2021
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BÔNUS:
• Curso On-line.
CONTEÚDO COMPLEMENTAR:
• Legislação Extravagante.
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LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................11
ADEQUAÇÃO CONCEITUAL................................................................................................................ 11
SELEÇÃO VOCABULAR.....................................................................................................................................13
ORTOGRAFIA....................................................................................................................................... 27
ACENTUAÇÃO GRÁFICA.................................................................................................................... 30
PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 31
CLASSES DE PALAVRAS.................................................................................................................... 37
TERMOS DA ORAÇÃO......................................................................................................................... 50
ORAÇÕES REDUZIDAS........................................................................................................................ 72
COLOCAÇÃO PRONOMINAL.............................................................................................................. 73
ESTILÍSTICA........................................................................................................................................ 73
FIGURAS DE LINGUAGEM.................................................................................................................................73
DIREITO PENAL...................................................................................................................83
CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: PARTE GERAL - APLICAÇÃO DA LEI PENAL ..................... 83
TÍTULO II: DO CRIME........................................................................................................................... 92
DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE....................................................................................................112
DA NACIONALIDADE.......................................................................................................................................210
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO......................................................................................................213
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................................................................................................................213
DA SEGURANÇA PÚBLICA..............................................................................................................................225
PARTE ESPECIAL..............................................................................................................................246
CAPÍTULO V: DA INSUBORDINAÇÃO.............................................................................................................252
CAPÍTULO V: DA FALSIDADE..........................................................................................................................267
ESTATÍSTICA..................................................................................................................... 301
VISÃO CONCEITUAL BÁSICA...........................................................................................................301
AMOSTRAGEM X AMOSTRA..........................................................................................................................301
EXPERIMENTO ALEATÓRIO............................................................................................................................302
MÉTODO ESTATÍSTICO...................................................................................................................................302
MÉDIA...............................................................................................................................................................308
MEDIANA..........................................................................................................................................................309
MODA................................................................................................................................................................310
MEDIDAS DE DISPERSÃO.................................................................................................................310
AMPLITUDE......................................................................................................................................................310
VARIÂNCIA.......................................................................................................................................................311
DESVIO PADRÃO..............................................................................................................................................311
LÍNGUA PORTUGUESA
de sustentar a tese: o desenvolvimento da tecnologia
em campos como o da educação (2) / o dos serviços
sociais (3) / inovações atingindo vários outros espaços
do cotidiano (4).
que mais o impressionará nesse momento. Por isso, positivamente em nossas vidas. As relações sócias
não tenha medo de ser objetivo e previamente ilustra- se intensificaram depois do surgimento das várias
tivo quanto aos seus propósitos de trabalho. redes de relacionamento tendo início com o Orkut e o
Ex.: Parágrafo de introdução Facebook, permitindo que as pessoas se reencontrem
Todos sabem o quanto a tecnologia vem imple- em ambientes virtuais, o que antigamente exigiria mui-
mentando novos valores à vida do homem moder- to esforço coletivo para tais eventos. Programas como
no principalmente no que diz respeito a sua vida o Zoom e o Google Meet possibilitam que as pessoas
em sociedade (1). É notório o desenvolvimento da conversem e interajam em diferentes partes do mundo
tecnologia em campos como o da educação (2) e o sem nenhum custo além dos já dispensados com seus
dos serviços sociais (3). Essas inovações vão ainda provedores residenciais. Uma mãe que mora longe dos
muito além disso, atingindo vários outros espaços filhos já pode vê-los ou aos netos, pela tela de um note-
do cotidiano (4) da maioria das pessoas. book ou celular, sempre que sentir saudade. 11
Conclusão A repetição de palavras compromete a qualidade
do texto, mostrando falta de vocabulário do redator.
A conclusão é a retomada da ideia principal, que Assim, é aconselhável a utilização de sinônimos:
agora deve aparecer de forma muito mais convin- Ex.: Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase -
cente, uma vez que já foi fundamentada durante o êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha
desenvolvimento da dissertação. Deve, pois, conter vida por umas poucas horas dessa alegria.
de forma sintética, o objetivo proposto na instrução, a Nesse caso a palavra alegria aparece como sinôni-
confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argu- mo semântico da palavra amor, representando-a.
mentação básica empregada no desenvolvimento. z Coesão por elipse ou zeugma (omissão): é a
Ex.: considerações finais omissão de um termo facilmente identificável.
Tendo em vista esses aspectos observados sobre
esse admirável mundo de facilidades técnicas, só nos Podemos ocultar o sujeito da frase e fazer o leitor
resta comentar que não foi só o computador que procurar no contexto quem é o agente, fazendo corre-
tornou a vida do cidadão mais simples e confor- lações entre as partes:
tável, mas outros campos da tecnologia também Ex.: O marechal marchava rumo ao leste. Não
contribuíram para isso. Os aparelhos de GPS, que tinha medo, (?) sabia que ao seu lado a sorte também
nos orientam a qualquer direção, ou ainda diver- galopava.
sos dispositivos médicos portáteis, garantem a A interrogação representa a omissão do sujeito
melhora da qualidade de vida de todos os homens marechal que fica subentendido na oração.
do nosso tempo. z Conectivos principais: preposições e suas locu-
ções: em, para, de, por, sem, com...
ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS
Conjunções e suas locuções: e, que, quando, para
Coesão que, mas...
Pronomes relativos, demonstrativos, possessivos,
Coesão pode ser considerada a “costura” textual, pessoais: onde, que, cujo, seu, este, esse, ele...
a “amarração” na estrutura das frases, dos períodos Ex.: Os programas de TV, em que nós podemos ver
e dos parágrafos que fazemos com palavras. Para muitas mulheres nuas, são imorais. Desde seu iní-
garantir uma boa coesão no seu texto, você deve pres- cio, a televisão foi usada para facilitar o domínio da
tar atenção a alguns mecanismos. Abaixo, em negrito, sociedade. Como exemplo, podemos citar a chegada
do homem à Lua, onde os EUA conseguiram com sua
há exemplos de períodos que podem ser melhorados
propaganda capitalista frente a uma Guerra Fria, a
utilizando os mecanismos de coesão:
simpatia de grande parte da população do planeta.
z Elementos Anafóricos: Esse, essa, isso, aquilo, Coerência
isso, ele...
Coerência textual é uma relação harmônica que se
São palavras referentes a outras que apareceram estabelece entre as partes de um texto, em um contex-
no texto, a fim de retomá-las. to específico, e que é responsável pela percepção de
uma unidade de sentido. Sendo assim, os principais
aspectos envolvidos nessa questão são:
Ela = Dolores seu = Ela
z Coerência semântica
Ex.: Dolores e ra beleza única. Ela sabia do seu Refere-se à relação entre significados dos elemen-
poder de seduzir e o usava tos da frase (local) ou entre os elementos do texto
como um todo:
Ex.: Paulo e Maria queria chegar ao centro da
o = poder questão. - Não caberia aqui pensar em centro como
bairro de uma cidade.
É nesse caso que entra o estudo da coesão por meio
z Elementos Catafóricos: Este, esta, isto, tal como, do vocabulário.
a saber...
z Coerência sintática: refere-se aos meios sintáti-
São palavras referentes a outras que irão aparecer cos que o autor utiliza para expressar a coerência
no texto: semântica: “A felicidade, para cuja obtenção não
existem técnicas científicas, faz-se de pequenos
fragmentos...” - como leitor do texto, você deve
entender que o pronome cuja foi empregado para
Ex.: Este novo produto a deixará maravilhosa, é o estabelecer posse entre obtenção e felicidade.
xampu Ela. Use-o e você não vai se arrepender!
É nesse caso que entra o estudo da coesão com o
emprego dos conectivos.
O pronome demonstrativo este apresenta um ele-
mento do qual ainda não se falou = o xampu. z Coerência estilística: refere-se ao estilo do autor,
à linguagem que ele emprega para redigir. O lei-
z Coesão lexical: são palavras ou expressões tor atento a isso consegue facilmente entender a
12 equivalentes. estrutura do texto e relacionar bem as informações
textuais. Além disso, percebendo se a linguagem a comunicação, o autor escolhe um nível maior ou
do texto é figurada ou não, seu raciocínio inter- menor de formalidade e, para isso, leva em considera-
pretativo deverá funcionar de uma determinada ção, entre outras coisas:
maneira, como podemos ver neste texto de Fer-
nando Pessoa: z O seu interlocutor;
z Ambiente em que se encontra;
Já sobre a fronte vã se me acinzenta z O assunto a ser tratado; e
O cabelo do jovem que perdi. z A intenção, objetivo a ser atingido (informar, soli-
Meus olhos brilham menos.
citar, persuadir etc.).
Já não tem jus a beijos minha boca.
Se me ainda amas por amor, não ames:
Trairias-me comigo. É observando esses elementos que o autor adequa:
ESTE (A/S), ESSE (A/S), Têm função de pronome Jovem para o chefe: Jovem para a mãe:
AQUELE (A/S) adjetivo.
Boa tarde, chefe. Infeliz- Que droga, mãe! Bateram
ISSO, ISTO, AQUILO, O Têm função de pronome mente, acabei de sofrer no meu carro!
(A/S) substantivo. um acidente de trânsito e Tô bem, não se preocupe.
MESMO, PRÓPRIO, Quando são demons- devo me atrasar, pois es- Me mande o
SEMELHANTE, TAL (E trativos, são pronomes tou aguardando a polícia, número da seguradora.
FLEXÕES). adjetivos. para os trâmites formais, Depois te ligo.
e a seguradora, para o re-
colhimento do veículo.
SELEÇÃO VOCABULAR
Dependendo da situação, a linguagem verbal Note que o fato é o mesmo: o acidente de trânsito
(escrita e oral) pode ser mais ou menos formal. Quan- no caminho para o trabalho. No entanto, função das
do você conversa ao telefone com um velho amigo ou duas diferentes situações (avisar duas pessoas com as
envia uma mensagem de texto para um parente, se quais tem diferentes níveis de intimidade), o registro
comunica de uma forma mais livre; já numa entrevista se faz necessário em suas duas espécies: no registro
de emprego ou ao escrever um e-mail solicitando algo a formal e no registro informal.
uma autoridade, você escolhe melhor as palavras. Assim, ao elaborar o texto da redação oficial,
Ou seja, o nível de formalidade nas comunica- deve-se atentar para o uso do registro formal, uma
ções varia conforme a circunstância. vez que se espera o uso da modalidade escrita formal
A linguagem informal (oral ou escrita) geralmen- da língua portuguesa.
te é usada quando temos certo nível de intimidade Resumindo, a diferença entre linguagem formal e
entre os interlocutores, como nas correspondências linguagem informal está no contexto em que elas são
entre familiares ou amigos. Já a linguagem formal
utilizadas e na escolha das palavras e expressões
(na sua forma oral ou escrita), caracterizada pela poli-
utilizadas para comunicar.
dez e escolha cuidadosa das palavras, é normalmen-
A tabela abaixo apresenta uma comparação entre
te empregada quando nos dirigimos a alguém com
as duas formas de linguagem.
quem não temos proximidade, como no exemplo da
seleção de emprego e em outras situações que exigem
LINGUAGEM LINGUAGEM
LÍNGUA PORTUGUESA
1. (INEP - ENEM - 2020) Montaigne deu o nome para um 3. (ENEM – 2009) Gênero dramático é aquele em que o artista
novo gênero literário; foi dos primeiros a instituir na usa como intermediária entre si e o público a representa-
literatura moderna um espaço privado, o espaço do ção. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação.
“eu”, do texto íntimo. Ele cria um novo processo de A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada
escrita filosófica, no qual hesitações, autocríticas, cor- à apresentação por atores em um palco, atuando e dialo-
reções entram no próprio texto. gando entre si. O texto dramático é complementado pela
COELHO. M. Montaigne. São Paulo Publicita. 2001 (adaptado). atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma
estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de
O novo gênero de escrita aludido no texto é o(a) personagens que devem estar ligados com lógica uns aos
outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que
a) confissão, que relata experiências de transformação. é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir
b) ensaio, que expõe concepções subjetivas de um tema. das personagens encadeadas à unidade do efeito e segun-
c) carta, que comunica informações para um conhecido. do uma ordem composta de exposição, conflito, complica-
d) meditação, que propõe preparações para o conhecimento. ção, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que
e) diálogo, que discute assuntos com diferentes é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais
interlocutores. em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o
autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real
O gênero ensaio se caracteriza por ser um texto por meio da representação.
de caráter opinativo, ou seja, através dele se expõe
ideias, críticas, reflexões e impressões pessoais, COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização
14 realizando uma possível avaliação subjetiva sobre Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que E esse alheamento do que na vida é porosidade e
constituem um espetáculo teatral, conclui-se que: comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulhe-
fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua res e sem horizontes.
concepção de forma coletiva. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebi- é doce herança itabirana.
do e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
independente do tema da peça e do trabalho interpre- esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
tativo dos atores. este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados este couro de anta, estendido no sofá da sala de
gêneros textuais, como contos, lendas, romances, visitas;
poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos tex- este orgulho, esta cabeça baixa…
tuais, entre outros. Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na Hoje sou funcionário público.
comunicação teatral, visto que o mais importante é Itabira é apenas uma fotografia na parede.
a expressão verbal, base da comunicação cênica em Mas como dói!
toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico inde- ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
pendem do processo de produção/recepção do espe- 2003.
táculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas
diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral. Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do
movimento modernista brasileiro. Com seus poemas,
A criação de um espetáculo acontece de forma cole- penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poetica-
tiva, em cenário que corresponda ao tema da peça e mente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poe-
ao trabalho interpretativo dos atores, que assumem sia é feita de uma relação tensa entre o universal e o
a importância central da peça, seguidos dos efeitos particular, como se percebe claramente na construção
de luz e som. Essa afirmação invalida as alternati- do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os
vas a, b, d e e. Além disso, há vários textos cênicos procedimentos de construção do texto literário e as
que se originaram de contos, lendas, romances, poe- concepções artísticas modernistas, conclui-se que o
sias e crônicas, entre outros. Resposta: Letra C. poema acima:
4. (ENEM – 2009) Assinale a alternativa que que melhor des- a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao
creve este trecho de Juca Pirama, de Gonçalves Dias. tom contestatório e à utilização de expressões e usos
linguísticos típicos da oralidade.
“IV b) apresenta uma característica importante do gênero
Meu canto de morte, lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados
Guerreiros, ouvi: históricos.
Sou filho das selvas, c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
Nas selvas cresci; comunidade, por intermédio de imagens que represen-
Guerreiros, descendo tam a forma como a sociedade e o mundo colaboram
Da tribo tupi. para a constituição do indivíduo.
Da tribo pujante, d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
Que agora anda errante inutilidade do poeta e da poesia em comparação com
Por fado inconstante, as prendas resgatadas de Itabira.
Guerreiros, nasci; e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da
Sou bravo, sou forte, individualidade, da saudade da infância e do amor pela
Sou filho do Norte; terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.” O gênero lírico é caracterizado pela subjetividade,
pela emoção e pelo sentimento do eu-lírico. Suas
a) Possui características do gênero lírico e do épico. experiências em Itabira, de acordo com o texto, o
b) Possui características do gênero épico e dramático. fizeram triste, orgulhoso e habituado ao sofrimento
c) Possui características do gênero lírico e do dramático e à dor. Resposta: Letra C.
d) Possui características apenas do épico.
6. (CPCON – 2016) Leia o texto a seguir para responder
Embora seja um poema narrativo, com uma musi- à questão 1
LÍNGUA PORTUGUESA
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Stop! Com Rolling Stones
Stop! Com Beatles songs
Narrativo 8. Moral
Stop! Com Beatles songs
No peito, um coração não há
Os textos compostos predominantemente por se- Mas duas medalhas sim
quências narrativas cumprem o objetivo de contar
uma história, narrar um fato, por isso precisam man-
Essas sete marcas que definem o tipo textual narra-
ter a atenção do leitor/ouvinte. Para tal, lançam mão tivo podem ser resumidas em marcas de organização
de algumas estratégias, como a organização dos fatos linguística caracterizadas por: presença de marcado-
a partir de marcadores temporais, espaciais, inclusão res temporais e espaciais; verbos, predominante-
de um momento de tensão, chamado de clímax, e um mente, utilizados no passado; presença de narrador
desfecho que poderá ou não apresentar uma moral. e personagens. 17
Importante!
Os gêneros textuais que são, predominantemente, narrativos, apresentam outras tipologias textuais em
sua composição, tendo em vista que nenhum texto é composto exclusivamente por uma sequência textual.
Por isso, devemos sempre identificar as marcas linguísticas que são predominantes em um texto, a fim de
classificá-lo.
Para sua compreensão, também é preciso saber o que são marcadores temporais e espaciais.
São formas linguísticas como advérbios, pronomes, locuções etc. utilizados para demarcar um espaço físico
ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elementos são essenciais para marcar o equilíbrio e a
tensão da história, além de garantirem a coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais e espaciais: Atual-
mente, naquele dia, nesse momento, aqui, ali, então...
Um outro indicador do texto narrativo é a presença do narrador da história. Por isso, é importante aprender-
mos a identificar os principais tipos de narrador de um texto:
Narrador: também conhecido como foco narrativo é o responsável por contar os fatos que compõem o texto
Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pessoa. O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém não
participa das ações
Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados em 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não
participa das ações, porém o fluxo de consciência do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa
Alguns gêneros são conhecidos por suas marcas predominantemente narrativas, são eles: notícia, diário, con-
to, fábula, entre outros. É importante reafirmar que o fato de esses gêneros serem essencialmente narrativos não
significa que não possam apresentar outras sequências em sua composição.
Para diferenciar os tipos textuais e proceder na classificação correta, é sempre essencial prestar atenção nas
marcas que predominam no texto.
Após demarcarmos as principais características do tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as marcas
mais importantes da sequência textual classificada como descritiva.
Descritivo
O tipo textual descritivo é marcado pelas formas nominais que dominam o texto. Os gêneros que utilizam esse
tipo textual, geralmente, utilizam a sequência descritiva como suporte para um propósito maior. São exemplos
de textos cujo tipo textual predominante é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio, classificados, lista
de compras etc. Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha que relata suas impressões a respeito de alguns
aspectos do território que viria a ser chamado de Brasil no ano de 1500.
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo,
assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam
mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta;
e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos
pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha
Note que apesar da presença pontual da sequência narrativa, há predominância da descrição do cenário e dos
personagens, evidenciada pela presença de adjetivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, descobertas etc). A
carta de Pero Vaz constitui uma espécie de relato descritivo para manter a comunicação entre a Corte Portuguesa
e os navegadores. Todavia, considerando as emergências comunicativas do mundo moderno, a carta tornou-se
um gênero menos usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros como, por exemplo, o e-mail.
A sequência descritiva também pode se apresentar de forma esquemática em alguns gêneros, como podemos
ver no cardápio a seguir:
18
LÍNGUA PORTUGUESA
Fonte: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-divulgar-cardapio-e-ajudar-o-
pai-a-vender-na-web.ghtml
Note que há presença de muitos adjetivos, locuções e substantivos que buscam levar o leitor a imaginar o
objeto descrito. O gênero acima apresenta a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne etc) com uso de
adjetivos ou locuções adjetivas (de queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc). Ele está organizado de forma
esquematizada em seções (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira que facilita a leitura (o pedido, no
caso) do cliente. 19
Organização do texto descritivo: Assim como os tipos textuais apresentados ante-
riormente, os textos expositivos também apresentam
uma estrutura que mistura elementos tipológicos de
outras sequências textuais, tendo em vista que, para
apresentar fatos e ideias, utilizamos aspectos descriti-
vos, narrativos e, por vezes, injuntivos.
É importante destacar que os textos expositivos
podem, muitas vezes, serem confundidos com textos
argumentativos, uma vez que existem textos argu-
mentativos que são classificados como expositivos,
pois utilizam exemplos e fatos para fundamentar uma
argumentação.
Outra importante diferença entre a sequência
expositiva e a argumentativa é que esta apresenta uma
opinião pessoal, enquanto aquela não abre margem
para a argumentação, uma vez que o fato exposto
é apresentado como dado, ou seja, o conhecimento
sobre uma questão não é posto em debate.
Apresenta-se um conceito e expõem-se as caracte-
rísticas desse conceito sem espaço para opiniões.
Expositivo
Marcas linguísticas do texto expositivo:
O texto expositivo visa apresentar fatos e ideias a
z Apresenta informações sobre algo ou alguém, pre-
fim de deixar claro o tema principal do texto. Nesse tipo
sença de verbos de estado;
textual, é muito comum a presença de dados, informa-
z Presença de adjetivos, locuções e substantivos que
ções científicas, citações diretas e indiretas, que servem
organizam a informação;
para embasar o assunto do qual o texto trata. Para lus-
z Desenvolve-se mediante uso de recursos enumerativos;
trar essa explicação, veja o exemplo a seguir:
z Presença de figuras de linguagem como metáfora
e comparação;
z Pode apresentar um pensamento contrastivo ao
final do texto.
Instrucional ou Injuntivo
OPERADORES ARGUMENTATIVOS
Como faço para criar uma conta do Instagram?
É incontestável que...
Para criar uma conta do Instagram pelo aplicativo:
Tal atitude é louvável, repudiável, notável...
1. Baixe o aplicativo do Instagram na App Store (iPhone)
É mister, é fundamental, é essencial...
ou Google Play Store (Android).
2. Depois de instalar o aplicativo, toque no ícone
para abri-lo. Essas estruturas, se utilizadas adequadamente no
3. Toque em Cadastrar-se com e-mail ou número de texto argumentativo, expõem a opinião do autor, aju-
telefone (Android) ou Criar nova conta (iPhone) e insira dando na defesa de seu ponto de vista e construindo a
seu endereço de e-mail ou número de telefone (que exigi- estrutura argumentativa desse tipo textual.
rá um código de confirmação), toque em Avançar. Tam-
bém é possível tocar em Entrar com o Facebook para se
cadastrar com sua conta do Facebook. Importante!
4. Se você se cadastrar com o e-mail ou número de te-
lefone, crie um nome de usuário e uma senha, preencha O tipo textual argumentativo não pode ser
as informações do perfil e toque em Avançar. Se você confundido com o gênero textual dissertativo-
se cadastrar com o Facebook, será necessário entrar na -argumentativo. Esse gênero é composto por
conta do Facebook, caso tenha saído dela. sequências argumentativas, mas também há
a apresentação, dissertação de ideias, a fim de
Fonte: https://www.facebook.com/help/instagram/. Acessado em: alcançar a persuasão do ouvinte/leitor. O Exame
07/09/2020.
Nacional do Ensino Médio – ENEM é um certame
que cobra esse gênero em sua prova de redação.
No exemplo acima, podemos destacar a presença
de verbos conjugados no modo imperativo, como: bai-
xe, toque, crie, além de muitos verbos no infinitivo, Agora que já conhecemos os cinco principais tipos
como: instalar, cadastrar, avançar. Outra caracte- textuais, vamos exercitar nossos conhecimentos com
rística dos textos injuntivos é a enumeração de passos as seguintes questões de concurso:
a serem cumpridos para a realização correta da tare-
fa ensinada e também a fim de tornar a leitura mais
didática.
É importante lembrar que a principal marca EXERCÍCIOS COMENTADOS
linguística dessa tipologia é a presença de verbos
conjugados no modo imperativo e em sua forma infi- 1. (COMPERVE – 2017) A questão refere-se ao texto
nitiva. Isso se deve ao fato de essa tipologia buscar abaixo.
persuadir o leitor e levá-lo a realizar as ações mencio-
nadas pelo gênero. Há vida fora da Terra?
segundo e terceiro parágrafos, o autor pode utilizar e outras instituições tentaram detectar o sinal várias
estratégias argumentativas para sustentar o seu ponto vezes depois, mas ele nunca foi encontrado.
de vista, como dados estatísticos, definições, exempli- 2º Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam
ficações, alusões históricas e filosóficas, referências que o contato com extraterrestres é mera questão
a outras áreas do conhecimento etc. Na conclusão, o de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10
autor conclui, ratificando seu ponto de vista, e apre- (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer
senta possíveis soluções para o problema em questão. contato com ETs em meados deste século é 8”, acre-
Outro aspecto importante dos textos argumentati- dita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York.
vos é que eles são compostos por estruturas linguísti- Esse otimismo tem justificativa. “Pelo menos 25% das
cas conhecidas como operadores argumentativos, que estrelas têm planetas. E, dessas estrelas, pelo menos
organizam as orações subordinadas, estruturas mais a metade tem planetas semelhantes à Terra”, explica
comuns nesse tipo textual. o físico Marcelo Gleiser. Isso significa que, na nossa 21
galáxia, podem existir até 10 bilhões de planetas pare- c) Explicação e descrição.
cidos com o nosso. Uma quantidade imensa. Ou seja: d) Explicação e injunção.
pela lei das probabilidades, é muito possível que haja
civilizações alienígenas. O satélite Kepler, da Nasa, já No primeiro parágrafo, há a narração de uma his-
catalogou 2740 planetas parecidos com a Terra, onde tória sobre um contato de possíveis extraterrestres
água líquida e vida talvez possam existir. Um dos mais com a Terra; para contar essa história, o autor
“próximos” é o Kepler 42d, a 126 anos -luz do Sol (um utilizou muitos verbos no passado, predominando
ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros). trechos como este: “o cientista Jerry Ehman tomou
3º Kaku acredita que, para civilizações muito avan- um susto”. Já o segundo parágrafo apresenta a pre-
çadas, essa distância não seria um problema – pois dominância de informações que visam a explicar o
elas poderiam manipular o espaço-tempo e utilizar fenômeno narrado anteriormente, o que fica claro
portais no Cosmos, como nos filmes de ficção cientí- por trechos assim: “Esse otimismo tem justificati-
fica. Ok, mas então por que até hoje esse pessoal não va. ‘Pelo menos 25% das estrelas têm planetas. E,
veio aqui? “Se são mesmo tão avançados, talvez não dessas estrelas, pelo menos a metade tem planetas
estejam interessados em nós”, opina Kaku. “É como a semelhantes à Terra’, explica o físico Marcelo Glei-
gente ir a um formigueiro e dizer às formigas: ‘Levem- ser”. Resposta: Letra B.
-nos a seu líder!’.” Para outros cientistas, contudo, a
existência de civilizações avançadas é mera especula- 2. (FUNDEP – 2019)
ção. E explicar por que elas não colonizaram a Terra já
é querer dar uma de psicólogo de aliens. Circuito Fechado
4º Tudo bem que existem bilhões de terras por aí. E Ricardo Ramos
que a probabilidade de existir vida lá fora é muito gran-
de. Mas não significa que seja vida inteligente. “Você
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Esco-
pode ter um planeta cheio de vida, mas formada por
va, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pin-
amebas e outros seres unicelulares”, acredita Glei-
cel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria,
ser. Afinal, com a Terra foi assim. A vida aqui existe
água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca,
há cerca de 3,5 bilhões de anos. Mas durante quase camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata,
todo esse tempo (3 bilhões de anos), só havia seres paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves,
unicelulares: as cianobactérias, também chamadas de lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jor-
algas verdes e azuis. nal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres,
5º Além disso, não basta o tempo passar para que as guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo.
formas de vida se tornem complexas e inteligentes. A Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone,
função essencial da vida é se adaptar bem ao ambien- agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas,
te onde ela está. A vida só muda – na esteira de algu- espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso
ma mutação genética – se uma mudança ambiental com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bande-
exigir que ela mude. Assim, se o ambiente não mudar ja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone,
e a vida estiver bem adaptada, as mutações genéticas relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos,
que, em geral, aparecem ao longo de gerações não vão bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cin-
fazer diferença. Tudo depende da história de cada pla- zeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro,
neta. Se o asteroide que matou os dinossauros há 65 fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes,
milhões de anos não tivesse caído aqui na Terra, e os xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadronegro, giz,
dinossauros não tivessem sido extintos, não estaría- papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras,
mos aqui. copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara.
6º “Não temos nenhuma prova ou argumento forte Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de den-
sobre a existência de vida inteligente fora da Terra”, tes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone,
diz Gleiser. “Existe vida? Certamente. Mas como não revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone inter-
entendemos bem como a evolução varia de planeta no, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel,
para planeta, é muito difícil prever ou responder se relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta,
existe ou não vida inteligente fora daqui”, completa. telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xíca-
“Se existe, a vida inteligente fora da Terra é muito rara.” ra, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço
Decepcionante. de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Pol-
7º Mas antes de lamentar a solidão da humanidade trona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos,
no Cosmos, saiba que ela pode ser uma boa notícia. talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fós-
Porque, se aliens inteligentes realmente existirem, não foro. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltro-
serão necessariamente bondosos. “Se eles algum dia na. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos,
nos visitarem, acho que o resultado será o mesmo que meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos.
quando Cristóvão Colombo chegou à América. Não foi Coberta, cama, travesseiro.
bom para os índios nativos”, afirmou, certa vez, o físi-
co Stephen Hawking. Disponível em: <https://tinyurl.com/y4e7n4u7>. Acesso em: 17 jul.
2019.
Disponível em:< http://super.abril.com.br/ciencia/ha-vida-fora-da-
terra-2/>. Acesso em: 7 jul. 2017. [Adaptado] A respeito da tipologia desse texto, é correto afirmar
que ele é:
No primeiro e no segundo parágrafos, predominam,
respectivamente: a) dissertativo-argumentativo.
b) dissertativo-expositivo.
a) Narração e descrição. c) descritivo.
22 b) Narração e explicação. d) narrativo.
O texto descritivo é caracterizado pela forte presen-
ça de formas nominais, conforme o texto em debate.
Resposta: Letra C.
GÊNEROS TEXTUAIS
Notícia
A notícia é um gênero textual de caráter jornalís- É importante ressaltar que, com o advento das
tico e, como tal, deve apresentar os fatos narrados de redes sociais, tornou-se cada vez mais comum que o
gênero notícia seja divulgado por meio de plataformas
maneira objetiva e imparcial. A notícia pode apresen-
diferentes, como as redes sociais. Isso democratiza a
tar sequências textuais narrativas e descritivas na sua
informação, porém também abre margem para a cria-
composição linguística, por isso, é fundamental sem-
ção de notícias falsas que se baseiam nesse esquema
pre termos em mente as características basilares de de organização das notícias tentando passar alguma
todos os principais tipos textuais, os quais tratamos credibilidade ao público. Então, atualmente, podemos
anteriormente. afirmar que a fonte de publicação é tão importante
Como aprendemos no início deste capítulo, os para o reconhecimento de uma notícia quanto a estru-
gêneros textuais possuem características que os dis- tura padrão do gênero da qual tratamos acima.
tinguem dos tipos textuais, dentre elas o fato de ter O próximo gênero que trataremos é a reportagem
um apelo a questões sociais, um propósito comunica- que guarda sutis diferenças em comparação com a notí-
tivo e apresentar uma configuração mais ou menos cia e também é muito abordada em provas de concursos.
padrão que varia em poucos ou nenhum aspecto
entre os gêneros. Reportagem
Por ser um gênero, a notícia também apresenta
essas características. Seu propósito comunicativo é A reportagem é um gênero textual que, diferen-
informar uma comunidade sobre assuntos de inte- temente da notícia, além de oferecer informações
resse comum, por isso, a notícia deve ser comunicada acerca de um assunto, também apresenta os pontos
com imparcialidade, ou seja, sem que o meio que a de vista sobre um tema, tendo, portanto, um caráter
transmite apresente sua opinião sobre os fatos; outra argumentativo; essa é a principal diferença entre os
importante característica da notícia é a sua configura- gêneros notícia e reportagem.
ção prototípica, seu padrão textual reconhecido por Como vimos anteriormente, a notícia deve ser, ou
leitores de uma comunidade. buscar ser, imparcial, ou seja, não devemos encontrar
Essa configuração própria da notícia é reconheci- nesse gênero a opinião do meio que a divulga. Por
da pelos termos: Manchete, Lead e Corpo da Notícia. isso, nesse texto, as sequências textuais mais encon-
Vejamos na prática como reconhecer o esquema pro- tradas são a narrativa e a descritiva, justamente com
24 totípico desse gênero: a finalidade de se evitar apresentar um ponto de vista.
Porém, a reportagem apresenta as opiniões sobre Artigo de opinião
um mesmo fato, pois essa opinião é o principal “ingre-
diente” dos textos desse gênero que são representados, O artigo de opinião faz parte da ordem de textos
predominantemente, pela sequência argumentativa. que buscam argumentar. Esse gênero usa a argumen-
É importante relembrarmos que o tipo textual tação para analisar, avaliar e responder a uma ques-
argumentativo é organizado em três macro partes: tão controversa. Esse instrumento textual situa-se no
tese, desenvolvimento e conclusão. Por manter esse âmbito do discurso jornalístico, pois é um gênero que
padrão, a reportagem aprofunda-se em temas sociais circula, principalmente, em jornais e revistas impres-
de ampla repercussão e interesse do público, algo que sos ou virtuais. Com o artigo de opinião, temos a dis-
não é o foco da notícia, tendo em vista que a notícia cussão de um problema de âmbito social. E, por meio
busca apenas a divulgação da informação. dessa discussão, podemos defender nossa opinião,
Diante disso, o suporte de veiculação das repor- como também refutar opiniões contrárias às nossas,
tagens é, quase sempre, aquele que faz uso do vídeo, ou ainda, propor soluções para a questão controversa.
como a televisão, o computador, o tablet, o celular. A intenção do escritor ao escolher o artigo de opi-
nião é a de convencer seu interlocutor; para isso, ele
As reportagens têm um caráter de “matérias espe-
terá que usar de informações, fatos, opiniões que
ciais” em jornais de ampla repercussão, mas também
serão seus argumentos. Bräkling apud Ohuschi e Bar-
podem ser veiculadas em suportes escritos, como
bosa aponta:
revistas e jornais, apesar de, com o avanço do uso das
redes sociais, estas são os principais meios de divulga-
O artigo de opinião é um gênero de discurso em que
ção desse gênero atualmente. se busca convencer o outro de uma determinada
Conforme a Academia Jornalística (2019), a repor- ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores por
tagem apresenta informações mais detalhadas sobre meio de um processo de argumentação a favor de
um fato e/ou fenômeno de grande relevância social. uma determinada posição assumida pelo produtor
Isso significa que o repórter deve demonstrar os lados e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É
que compõem a matéria, a fim de que o leitor cons- um processo que prevê uma operação constante de
trua sua própria opinião sobre o tema. sustentação das afirmações realizadas, por meio
A despeito dessas diferenças na construção dos da apresentação de dados consistentes que possam
gêneros mencionados, a reportagem e a notícia guar- convencer o interlocutor (2011. p. 305).
dam semelhanças, como a busca pelas respostas às
Dessa forma, para alcançar o objetivo do gênero,
perguntas O quê? Como? Por quê? Onde? Quando?
o escritor deverá usar diversos conhecimentos, como:
Quem? Essas perguntas norteiam a escrita tanto da
enciclopédicos, interacionais, textuais e linguísticos.
reportagem quanto da notícia, que se diferencia da
É por meio da escolha de determinados recursos lin-
primeira por seu caráter essencialmente informativo.
guísticos que percebemos que nada é por acaso, pois,
a cada escolha há uma intenção: “... toda atividade
NOTÍCIA REPORTAGEM de interpretação presente no cotidiano da linguagem
Apresenta um fato de Questiona fatos e efeitos fundamenta-se na suposição de quem fala tem certas
forma simples e objetiva; de um fato determinado; intenções ao comunicar-se” (KOCH, 2011, p. 22).
Quando queremos dar uma opinião sobre determi-
Apresenta argumentos nado tema, é necessário que tenhamos conhecimento
Objetivo é informar;
sobre um mesmo fato; sobre ele. Por isso, normalmente, os autores de artigos
Apuração dos fatos de opinião são especialistas no assunto por eles abor-
Apuração extensa; dado. Ao escolherem um assunto, os autores devem
objetiva;
considerar as diversas “vozes” já existentes sobre
Conteúdo sem ordem mesmo assunto. E, dependendo da intenção, apoiar
determinada, pode apre- ou negar determinadas vozes.
Conteúdo de curto prazo;
sentar entrevistas, dados, Por isso, a linguagem utilizada pelo articulista de
imagens, etc. um texto de opinião deve ser simples, direta, convin-
Conteúdo segue o mode- cente. Utiliza-se a terceira pessoa, apesar de a primei-
lo da pirâmide invertida ra ser adequada para um artigo de opinião pessoal;
(conf. acima). porém, ao escolher a terceira pessoa do singular, o
articulista consegue dar um tom impessoal ao seu tex-
to, fazendo com que sua produção textual não fique
LÍNGUA PORTUGUESA
Fonte: https://bit.ly/3kD9tvk. Acessado em: 17/09/2020. Adaptado. centrada só em suas próprias opiniões.
Quanto à composição estrutural, Kaufman e Rodri-
É importante ressaltar que nenhum gênero é com- guez (1995) apud Pereira (2008) propõem a seguinte
posto apenas por uma única sequência textual e que, estruturação:
portanto, a reportagem também apresentará esse
paradigma, pois esse gênero é essencialmente argu- z Identificação do tema, acompanhada de seus ante-
mentativo, porém pode apresentar outras sequências cedentes e alcance para situar a questão polêmica;
textuais a fim de alcançar seu objetivo final. z Tomada de posição, exposição de argumentos de
A seguir, daremos continuidade aos nossos estu- modo a justificar a tese;
dos sobre os principais gêneros textuais objeto de pro- z Reafirmação da posição adotada no início da pro-
vas de concurso com um dos gêneros mais comuns em dução, ao mesmo tempo em que as ideias são arti-
provas de seleções: o artigo de opinião. culadas e o texto é concluído. 25
seguir, apresentamos um breve esquema para facili-
ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO ARTIGO DE OPINIÃO
tar a escrita desse gênero, especialmente em certames
Identificação da questão polêmica que cobrem redação.
Introdução
alvo de debate no texto
Tese do autor (posicionamento EDITORIAL – ESTRUTURA TEXTUAL POR
defendido) – Tese contrária (posi- PARÁGRAFOS
Desenvolvimento cionamentos de terceiros) – Acei-
tação ou refutação – Argumentos Apresentação do tema (situando o leitor)
a favor da tese do autor do texto e já com um posicionamento definido.
Parágrafo 1
Ser didático ao apresentar o assunto ao
Fechamento do texto e reforço do leitor
Conclusão
posicionamento adotado
Contextualização do tema, comparando-
-o com a realidade e trazendo as causas
No processo de escrita de qualquer texto, é preci-
Parágrafo 2 e indicativos concretos do problema.
so estar atento aos elementos de coesão que ligam as
Mais uma vez, posicionamento sobre o
ideias do autor aos seus argumentos, porém, nos tex-
assunto
tos argumentativos, é fundamental prestar ainda mais
atenção a esse processo; por isso, muito cuidado com Análise e as possíveis motivações que
a coesão na escrita e na leitura de textos opinativos. tornam o tema polêmico (ou justificativas
A fim de mantermos a linha de pensamento nos Parágrafo 3 de especialista da área). É preciso trazer
estudos de textos argumentativos, seguimos nossa dados factuais, exemplos concretos que
abordagem apresentando outro gênero sempre pre- ilustram a argumentação
sente nas provas de língua portuguesa em concursos Conclusivo, com o posicionamento crí-
públicos: o editorial. Parágrafo 4 tico final, retomando o posicionamento
inicial sem se repetir
Editorial
A seguir, apresentamos nosso último gênero tex-
Até aqui, estudamos dois gêneros com predominân- tual abordado neste material. Lembramos que o
cia de sequência argumentativa. O terceiro será o edi- universo de gêneros textuais é imenso, por isso, é
torial, gênero muito marcante no âmbito jornalístico e impossível apresentar uma compilação de estudos
que expressa a opinião de um veículo de comunicação. com todos os gêneros; apesar disso, trazemos aqui os
Como já debatemos muito sobre a estrutura dos principais gêneros cobrados em avaliações de língua
textos argumentativos de uma forma geral, iremos portuguesa. Seguindo esse critério, o próximo gênero
estudado é a crônica.
nos atentar aqui para as principais características do
gênero editorial e no que ele se diferencia do artigo de
Crônica
opinião, por exemplo.
O gênero crônica é muito conhecido no meio lite-
EDITORIAL - CARACTERÍSTICAS rário no Brasil. Podemos citar ilustres autores que se
z Expressa opinião de um jornal ou revista a respeito tornaram famosos pelo uso do gênero, como Luís Fer-
nando Veríssimo e Marina Colasanti. Também por ser
de um tema atual
um gênero curto de cunho social voltado para temas
z O objetivo desse gênero é esclarecer ou alertar os
atuais, é muito usado em provas de concurso para
leitores sobre alguma temática importante
ilustrar questões de interpretação textual e também
z Busca persuadir os leitores, mobilizando-os a
para contextualizar questões que avaliam a compe-
favor de uma causa de interesse coletivo tência gramatical dos candidatos.
z Sua estrutura também é baseada em: Introdu- As crônicas apresentam uma abordagem cotidia-
ção, Desenvolvimento e Conclusão na sobre um assunto atual e podem ser narrativas ou
argumentativas.
O início de um editorial é bem semelhante ao de
um artigo de opinião: apresenta-se a ideia central
ou problema social a ser debatido no texto, poste- CRÔNICA
CRÔNICA NARRATIVA
riormente segue-se a apresentação do ponto de vista ARGUMENTATIVA
defendido e conclui-se com a retomada da opinião z Defesa de um ponto de
apresentada incialmente. A principal diferença entre vista, relacionado ao
editorial e artigo de opinião é que aquele representa z Limita-se a contar fatos assunto em debate
a opinião de uma corporação, empresa ou instituição. do cotidiano z Uso de argumentos e
z Pode apresentar um fatos
EDITORIAL – MARCAS LINGUÍSTICAS tom humorístico z Também pode ser escri-
z Foco narrativo em 1ª ta em 1ª ou 3ª pessoa
z Verbos na 3ª pessoa do singular ou plural ou 3ª pessoa z Uso de argumentos
z Uso do modo indicativo nas formas verbais de modo pessoal e
predominante subjetivo
z Linguagem clara, objetiva e impessoal
Apesar de as formas de texto verbais serem o for-
O editorial, além de ser um gênero muito comum mato mais comum na construção de uma crônica,
nas provas de interpretação textual em concursos atualmente, podemos encontrar crônicas veiculadas
públicos, também é, recorrentemente, cobrado por em outros formatos, como vídeo, muito divulgados
26 muitas bancas em provas de redação. Por isso, a nas redes sociais.
No tocante ao estilo da crônica argumentativa, Dica
trata-se de um texto com estrutura argumentativa
Gêneros do discurso marcam o processo de inte-
padrão (introdução, desenvolvimento, conclusão),
ração verbal; como todo discurso materializa-se
muito veiculado em jornais e revistas, e, por isso, é
por meio de textos, a nomenclatura gêneros tex-
um gênero que passeia pelos ambientes literários e
tuais torna-se mais adequada para essa pers-
jornalísticos; apresenta um teor opinativo forte, com
pectiva de estudos. Podemos distinguir as duas
observação dos fatos sociais mais atuais. Outra carac-
variantes vocabulares de acordo com as deman-
terística presente nesse gênero é o uso de figuras de
das sociais e culturais de estudo dos gêneros.
linguagem, como a ironia e a metáfora, que auxiliam
na presença do tom sarcástico que a crônica pode ter.
A seguir, apresentamos um trecho da crônica “O
que é um livro?” da escritora Marina Colasanti em que
podemos identificar as principais características des- ORTOGRAFIA
se gênero:
As regras de ortografia são muitas e, na maioria dos
casos, contraproducentes, tendo em vista que a lógica
O que é um livro? da grafia e da acentuação das palavras, muitas vezes, é
derivada de processos históricos de evolução da língua.
O que é um livro? A pergunta se impõe neste Por isso, vale lembrar a dica de ouro do aluno cra-
momento em que que a isenção de impostos sobre que em ortografia: leia sempre! Somente a prática de
o objeto primeiro da cultura e do conhecimento leitura irá lhe garantir segurança no processo de gra-
está em risco. Uma contribuição tributária de 12% fia das palavras.
afastaria ainda mais a leitura de quem tanto pre- Em relação à acentuação, por outro lado, a maior
cisa dela. parte das regras não são efêmeras, porém, são em
Um livro é: grande número. Neste material, iremos apresen-
– A casa das palavras. Acabei de gravar um tar uma forma condensada e prática de nunca mais
vídeo para jovens estudantes e disse a eles que o esquecer os acentos e os motivos pelos quais as pala-
ofício de um escritor é cuidar dessa casa, varre-la, vras são acentuadas.
fazer a cama das palavras, providenciar sua comi- Ainda sobre aspectos ortográficos da língua portu-
da, vesti-las com harmonia. guesa, é importante estarmos atentos ao uso de letras
– A nave espacial que nos permite viajar no cujos sons são semelhantes e geram confusão quanto
tempo para a frente e para trás. Habitar o passa- à escrita correta. Veja:
do ao tempo em que foi escrito. Ou revisitá-lo de
outro ponto de vista, inalcançável quando o passa- z É com X ou CH? Empregamos X após os ditongos.
do aconteceu: o do presente, com todos os conhe- Ex.: ameixa, frouxo, trouxe.
cimentos adquiridos e as novas maneiras de viver.
[…]
USAMOS X: USAMOS CH:
- Ao mesmo tempo, espelho da realidade e
ponte que nos liga aos sonhos. Crítica e fantasia. � Depois da sílaba em, se � Depois da sílaba em, se
Palavra e música, prosa e poesia. Luz e sombra. a palavra não for derivada a palavra for derivada de
Metáfora da vida e dos sentimentos. Lugar de pre- de palavras iniciadas por palavras iniciadas por CH:
servação do alheio e ponto de encontro com nosso CH: enxerido, enxada encher, encharcar
núcleo mais profundo. Onde muitas portas estão � Depois de ditongo: cai- � Em palavras derivadas
disponíveis, para que cada um possa abrir a sua. xa, faixa de vocábulos que são gra-
– A selva na qual, entre rugidos e labaredas, � Depois da sílaba ini- fados com CH: recauchu-
dragões enfrentam centauros. O pântano onde as cial me se a palavra não tar, fechadura
hidras agitam suas múltiplas cabeças. for derivada de vocábulo
– Todas as palavras do sagrado, todas elas iniciado por CH: mexer,
foram postas nos livros que deram origem às reli- mexilhão
giões e neles conservadas.
Fonte: https://bit.ly/2HIecxi. Acessado em:17/09/2020. Adaptado. Fonte: instagram/academiadotexto. Acesso em: 10/10/2020.
Como podemos notar, a crônica trata de um assun- z É com G ou com J? Usamos G em substantivos termi-
to bem atual: o aumento da carga tributária que inci- nados em: -agem; igem; -ugem. Ex.: viagem, ferrugem;
Palavras terminadas em: ágio, -égio, -ígio, -ógio,
LÍNGUA PORTUGUESA
Seção Há
Tem sentido de “parte”, “divisão”, “segmento”. Usa-se para espaço de tempo referente ao passado.
Ex.: A seção onde trabalho é muito requisitada. Ex.: Ela saiu de casa há duas horas.
Saiba que o verbo há pode ser substituído também
Sessão por faz, sendo invariável, sempre no singular.
Ex.: Ela saiu de casa faz meia hora. / Ela saiu de
Tem sentido de “reunião”, “encontro”, “espaço de casa faz duas horas.
tempo”.
Ex.: Os ingressos para a sessão de estreia estão A
disponíveis.
Usa-se para espaço de tempo referente ao futuro.
Cessão Ex.: Ele chegará daqui a duas horas.
Tem sentido de “ceder”, “repartir”.
Ex.: O governo autorizou a cessão de livros para
as escolas.
EXERCÍCIO COMENTADO
AO ENCONTRO DE / DE ENCONTRO A
1. (TJ-SC - 2010) “As eleições vão acontecer daqui ___
três meses, mas as discussões intrapartidárias come-
Ao encontro de
çaram ____ bastante tempo. Entretanto, não ___ como
deixar de constatar o irrealismo da legislação eleitoral,
Significa “ser favorável a” e “aproximar-se de”.
que cria certas restrições a pretexto de proporcionar
Ex.: A opinião dos estudantes ia ao encontro das
nossas. (sentido de “corresponder”) igualdade de oportunidades a todos quantos dispu-
Ele foi ao encontro dos amigos. (sentido de tem mandato eletivo mas tenham pouco ou nada _____
“encontrar-se com”) com a dinâmica do processo político.”
A sequência que preenche corretamente as lacunas
De encontro a do texto é:
Se não
Ao invés de
Formado de uma conjunção condicional se e do
advérbio de negação não, tem valor de “caso não”, Indica “algo inverso”, “oposição”.
“quando não”. Ex.: Ao invés de ligar o som, desligou-o.
Ex.: Se não fizer sol, não lavarei roupas.
Havia duas pessoas interessadas, se não três. TRAZ / TRÁS / ATRÁS
Adjetivo. Indica alguém ou alguma coisa que: faz Ele tem / Eles têm
maldades, não é de boa qualidade, faz grosserias, traz Ele vem / Eles vêm
infortúnio, não tem competência, é pouco produtivo,
Percebam que, no plural, essas formas admitem o
é inconveniente e impróprio, é contrário aos bons cos-
uso de um acento (^); portanto, atente-se à concordân-
tumes, é travesso e desobediente.
cia verbal quando usar esses verbos.
Ex.: Que chato! Sempre de mau humor!
Ele seguiu por maus caminhos.
Desculpa o mau jeito! Eu estava nervoso!
Você está fazendo mau uso desse equipamento.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Para não errar mais, faça a seguinte operação sem- 1. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir em relação à con-
pre que em dúvida: Mal é antônimo de Bem / Mau é formidade com a norma-padrão da língua: “As opera-
antônimo de Bom. ções de saída com destino a empresas do comercio
varejista e insumos agropecuários dispõem de isen-
ção fiscal e redução de base de cálculo, conforme já
prevê em lei, desde que observados os requisitos exi-
ACENTUAÇÃO GRÁFICA gidos para cada caso.”
z Palavras monossílabas: Acentuam-se os monossí- 2. (FCC – 2019) “Um juramento expõe a beleza da von-
labos tônicos terminados em: A, E, O. Ex.: pá, vá, tade humana, como afirmação nossa, mas sua quebra
30 chá; pé, fé, mês; nó, pó, só. mostra também nossos limites”.
Numa nova e igualmente correta redação da frase Irei à praia amanhã se não chover. / Irei à praia
acima, iniciada agora pelo segmento “A quebra de um amanhã, se não chover.
juramento mostra nossos limites”, pode-se seguir esta
coerente complementação: “não fosse a beleza que Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações
também têm na quebra mesma da nossa vontade”.
� Entre o sujeito e o verbo
( ) CERTO ( ) ERRADO Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende-
ram a explicação. (errado)
A forma verbal ter admite a marcação de plural Muitas coisas que quebraram meu coração, con-
com o uso do acento diferencial ^, porém na recons- sertaram minha visão. (errado)
trução da frase mencionada o sujeito está no singu-
lar, não sendo necessário o uso do plural do verbo � Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre-
citado. Resposta: Errado. dicativo do sujeito:
Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica-
ção. (errado)
Os alunos precisam de, que os professores os aju-
PONTUAÇÃO dem. (errado)
Os alunos entenderam, toda aquela explicação.
Outro tópico que gera dúvidas é a pontuação. Vere- (errado)
mos a seguir as regras sobre seus usos. � Entre um substantivo e seu complemento nominal
ou adjunto adnominal.
Uso de Vírgula Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida
pelos alunos. (errado)
A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três
funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da � Entre locução verbal de voz passiva e agente da
voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e passiva:
orações; e esclarecer o significado da frase, afastando Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele
qualquer ambiguidade. professor para a feira. (errado)
Quando se trata de separar termos de uma mesma
� Entre o objeto e o predicativo do objeto:
oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos:
Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado)
Considero interessantes, as suas aulas. (errado)
� Para separar os termos de mesma função
Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta.
� Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui-
Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu, na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”.
ficou triste.
Parênteses
� No lugar das conjunções coordenativas deslocadas
Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan-
Têm função semelhante à dos travessões e das
to, exausto.
vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter-
� No lugar do e seguido de elipse do verbo (= zeugma) mos, expressões ou orações.
Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca)
ouvinte. vão fazer videoaulas. (aposto explicativo)
Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai, Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos
sorvete. jantar. (oração intercalada)
� Em enumerações, portarias, sequências
Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal: Ponto-final
o Procurador-Geral da República;
o Colégio de Procuradores da República; É o sinal que denota maior pausa.
o Conselho Superior do Ministério Público Federal. Usa-se:
sonoro.
ção das conjunções e/ou.
� Para citar nomes de mídias, livros etc. Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais
Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”. e/ou escritos.
� Para indicar itens que possuem algum tipo de rela-
Colchetes
ção entre si.
Ex.: A palavra será classificada quanto ao número
Representam uma variante dos parênteses, porém
(plural/singular).
tem uso mais restrito.
O carro atingiu os 220 km/h.
Usam-se nos seguintes casos:
� Para separar os versos de poesias, quando escritos
� Para incluir num texto uma observação de nature- seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas
za elucidativa: barras para indicar a separação das estrofes. 33
Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que por pequenas estruturas. Para isso, podemos imaginar
passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon- que uma palavra é uma peça de um quebra-cabeça
te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi- no qual podemos juntar outra peça para formar uma
te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles estrutura maior; porém, se você já montou um que-
� Na escrita abreviada, para indicar que a palavra bra-cabeça, deve se lembrar que não podemos unir as
não foi escrita na sua totalidade:
peças arbitrariamente, é preciso buscar aquelas que
Ex.: a/c = aos cuidados de;
s/ = sem se encaixam.
Assim, como falantes da língua, reconhecemos
� Para separar o numerador do denominador nos essas estruturas morfológicas e os seus sentidos, pois,
números fracionários, substituindo a barra da a todo momento estamos aptos a criar novas pala-
fração:
vras a partir das regras que o sistema linguístico nos
Ex.: 1/3 = um terço
oferece.
� Nas datas: Tornou-se comum, sobretudo nas redes sociais, o
Ex.: 31/03/1983 surgimento de novos vocábulos a partir de “peças”
� Nos números de telefone: existentes na língua, algumas misturando termos de
Ex.: 225 03 50/51/52 outras línguas com morfemas da língua portuguesa
para a formação de novas palavras, como: bloguei-
� Nos endereços:
Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232 ro (blogger), deletar (delete); já algumas palavras
ganham novos morfemas e, consequentemente, novas
� Na indicação de dois anos consecutivos: acepções nas redes socias como, por exemplo, biscoi-
Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso. teiro, termo usado para se referir a pessoas que bus-
� Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua: cam receber elogios nesse ambiente.
Ex.: /s/ As peças do quebra-cabeças que formam as pala-
vras da língua portuguesa possuem os seguintes
Embora não existam regras muito definidas sobre nomes:
a existência de espaços antes e depois da barra oblí-
qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu-
lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo. Radical, desinência, vogal temática, afixos,
consoantes e vogais de ligação.
z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste- É importante não se confundir: a vogal temática
rior do radical. não existe em palavras que apresentam flexão de
Exs.: gênero. Logo, as palavras gato/gato possuem uma
mente: Felizmente. desinência e não uma vogal temática!
dada: Lealdade Caso a dúvida persista, faça esse exercício: Igreja
eiro: Blogueiro (essa palavra existe); “Igrejo” (essa palavra não exis-
ista: Dentista te), então o -a de igreja é uma vogal temática que irá
gudo: Narigudo ligar o vocábulo a desinências, como -inha, -s.
Note que as palavras terminadas em vogais tônicas
É importante destacar que essa pequena amostra,
não apresentam vogais temática: Ex.: cajá, Pelé, bobó.
listando alguns sufixos e prefixos da língua portugue-
sa, é meramente ilustrativa e serve apenas para que
você tenha consciência do quão rico é o processo de Tema
formação de palavras por afixos.
Além disso, não é interessante que você decore esses O tema é a união do radical com a vogal temática.
morfemas derivacionais, mas que você compreenda A partir do exposto no tópico sobre vogal temática,
o valor semântico que cada um deles estabelece na esperamos ter deixado claro que nem toda palavra irá
língua, como os sufixos -eiro e -ista que são usados, apresentar vogal temática; dessa forma, as palavras
comumente, para criar uma relação com o ambiente que não apresentem vogal temática também não irão
profissional de alguma área, como: padeiro, costureiro, possuir tema.
blogueiro, dentista, escafandrista, equilibrista etc.
Exs.:
Os sufixos costumam mudar mais a classes das
palavras. Já os prefixos modificam mais o sentido dos Vendesse – tema: vende;
vocábulos. Mares – tema: mare.
Os morfemas flexionais, mais conhecidos como As consoantes e vogais de ligação têm uma função
desinências, são os mais estudados na língua portu-
eufônica, ou seja, servem para facilitar a pronúncia de
guesa, pois são esses os morfemas que organizam as
estruturas no singular e no plural, os verbos em tem- palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais
pos e conjugações e as relações de gênero em femini- de ligação e as vogais temáticas, estas unem desinên-
no e masculino. cias, aquelas facilitam a pronúncia.
Para facilitar a compreensão, podemos dividir os
morfemas flexionais em: Exs.:
Gas - ô - metro;
z Aditivos: Adiciona-se ao morfema lexical. Ex.: pro- Alv - i - negro;
fessor/professora; livro/livros.
Tecn - o - cracia;
� Subtrativos: Elimina-se um elemento do morfema Pe - z - inho;
lexical. Ex.: Irmão/irmã; Órfão/órfã. Cafe - t- eira;
z Nulos: Quando a ausência de uma letra indica Pau - l - ada;
uma flexão. Ex.: o singular dos substantivos é mar- Cha - l - eira;
cado por essa ausência, como em: mesa (0)1 /mesas Inset - i - cida;
Pobre - t- ão;
Não confunda: Paris - i - ense;
Morfema derivacional: afixos (prefixos e sufixos); Gira - s - sol;
Morfema flexional: aditivos, subtrativos, nulos;
Legal - i - dade.
Morfema lexical: radical.
LÍNGUA PORTUGUESA
A seguir, iremos estudar a diferença entre cada Já na derivação regressiva, a nova palavra será
uma dessas classes e identificar as peculiaridades de formada pela subtração de um elemento da estrutura
cada uma. primitiva da palavra. Vejamos alguns exemplos:
Almoço (almoçar);
Derivação Prefixal Ataque (atacar);
Amasso (amassar).
Como o próprio nome indica, as palavras forma- A derivação regressiva, geralmente, forma subs-
das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci- tantivos abstratos derivados de verbos. É possível
mo de um prefixo à estrutura primitiva, como: que alguns autores reconheçam esse processo como
Pré-vestibular; disposição; deslealdade; super-ho- redução.
mem; infeliz; refazer.
Pré-vestibular: prefixo pré-; Derivação Imprópria
Disposição: prefixo dis-;
Deslealdade: prefixo des-;
A derivação imprópria, a partir de seu processo de
Super-homem: prefixo super;
formação de palavras, provoca a conversão de uma
Infeliz: prefixo in-;
classe gramatical, que pode passar de verbo a subs-
Refazer: prefixo re-.
tantivo, por exemplo.
A seguir, apresentamos alguns processos de con-
Derivação Sufixal
versão das palavras por derivação imprópria:
De maneira comparativa, podemos afirmar que
z Particípio do verbo - substantivo: Teria passado
a formação de palavras por derivação sufixal refere-
-se ao acréscimo de um sufixo à estrutura primitiva, - O passado;
como em: z Verbos - substantivos: Almoçar - O almoço;
Lealdade; francesa; belíssimo; inquietude; sofri- z Substantivos - adjetivos: o gato - mulher gato;
mento; harmonizar; gentileza; lotação; assessoria. z Substantivos comuns - substantivos próprios:
Lealdade: sufixo -dade; leão - Nara Leão;
Francesa: sufixo -esa; z Substantivos próprios - comuns: Gillete - gilete;
Belíssimo: sufixo -íssimo; Judas - ele é o judas do programa.
Inquietude: sufixo -tude;
Sofrimento: sufixo -mento; Sufixos e formação de palavras: Alguns sufixos
Harmonizar: sufixo -izar; são mais comuns no processo de formação de deter-
Gentileza: sufixo -eza; minadas classes gramaticais, vejamos:
Lotação: sufixo -ção;
Assessoria: sufixo -ria. z Sufixos nominais: originam substantivos, adjeti-
vos. Ex.: -dor, -ada, -eiro, -oso, -ão, -aço.
Derivação Prefixal e Sufixal z Sufixos verbais: originam verbos. Ex.: -ear, -ecer,
-izar, -ar.
Nesse caso, juntam-se à palavra primitiva tanto z Sufixos adverbiais: originam advérbios. Ex.:
36 um sufixo quanto um prefixo; vejamos alguns casos: -mente.
LISTA DE RADICAIS E PREFIXOS z Composição por aglutinação: na formação de
palavras por aglutinação, há mudanças na toni-
Apresentamos alguns radicais e prefixos na lista a cidade dos termos envolvidos, que passam a ser
seguir que podem auxiliar na compreensão do proces- subordinados a uma única tonicidade. Ex.: petró-
so de formação de palavras. Novamente, alertamos que leo (petra + óleo); aguardente (água + ardente);
essa lista não deve ser encarada como uma “tabuada” a vinagre (vinho + agre); você (vossa + mercê).
ser decorada, mas como um método para apreender o
sentido de alguns desses radicais e prefixos. Palavras Compostas e Derivadas
ADJETIVOS
I. A quadragésima quinta Feira do Livro foi um sucesso (45ª). z Qualidade: professor chato.
II. Pela milésima vez ele acenou positivamente (1000ª). z Estado: aluno triste.
38 III. Há uma década que não o vejo (10 anos). z Aspecto, aparência: estrada esburacada.
Locuções Adjetivas Alguns exemplos de adjetivos relativos: Presiden-
te americano (não é subjetivo; posicionado após o
As locuções adjetivas apresentam o mesmo valor dos substantivo; derivado de substantivo; não existe a
adjetivos, indicando as mesmas características deles. forma variada em grau “americaníssimo”); platafor-
Elas são formadas por preposição + substantivo, ma petrolífera; economia mundial; vinho francês;
referindo-se a outro substantivo ou expressão subs- roteiro carnavalesco.
tantivada, atribuindo-lhe o mesmo valor adjetivo.
A seguir, colocamos algumas locuções adjetivas Variação de Grau
com valores diferentes ao lado da forma adjetiva,
importantes para seu estudo: O adjetivo pode variar em dois graus: Compara-
tivo ou superlativo. Cada um deles apresenta suas
z Voo de águia / aquilino; respectivas categorias.
z Poder de aluno / discente; z Grau comparativo: exprime a característica de
um ser, comparando-o com outro da mesma classe
z Cor de chumbo / plúmbeo;
nos seguintes sentidos:
z Bodas de cobre / cúprico;
Igualdade: igual a, como, tanto quanto, tão
z Sangue de baço / esplênico; quanto;
z Nervo do intestino / celíaco ou entérico; Superioridade: mais do que;
z Noite de inverno / hibernal ou invernal. Inferioridade: menos do que.
Ex.: Somos tão complexos quanto simplórios
É importante destacar que mais do que “decorar” (comparativo de igualdade);
formas adjetivas e suas respectivas locuções, é fun- O amor é mais suficiente do que o dinheiro
damental reconhecer as principais características de (comparativo de superioridade);
uma locução adjetiva: caracterizar o substantivo e Homens são menos engajados do que mulhe-
apresentar valor de posse. Ex.: Viu o crime pela aber- res (comparativo de inferioridade).
tura da porta; A abertura de conta pode ser realiza-
da on-line. z Grau superlativo: em relação ao grau superlati-
Quando a locução adjetiva é composta pela pre- vo, é importante considerar que o valor semântico
posição “de”, ela pode ser confundida com a locução desse grau apresenta variações, podendo indicar:
adverbial. Nesse caso, para diferenciá-las, é importan-
te perceber que a locução adjetiva apresenta valor de Característica de um ser elevada ao último
posse, pois, nesse caso, o meio usado pelo sujeito para grau: Superlativo absoluto, que pode ser analí-
ver “o crime”, indicado na frase, foi pela abertura da tico (associado ao advérbio) ou sintético (asso-
porta. Além disso, a locução destacada está caracteri- ciação de prefixo ou sufixo ao adjetivo);
zando o substantivo “abertura”. Característica de um ser relacionada com
Já na segunda frase, a locução destacada é adver- outros indivíduos da mesma classe: Superla-
bial, pois quem sofre a “ação” de ser aberta é a “con- tivo relativo, que pode ser de superioridade (O
ta”, o que indica o valor de passividade da locução, mais) ou de inferioridade (O menos)
demonstrando seu caráter adverbial. Ex.: O candidato é muito humilde (Superlativo
As locuções adjetivas também desempenham fun- absoluto analítico).
ção de adjetivo e modificam substantivos, pronomes, O candidato é humílimo (Superlativo absoluto
numerais, oração substantiva. Ex.: amor de mãe, café sintético).
com açúcar. O candidato é o mais humilde dos concorren-
Já as locuções adverbiais desempenham função tes? (Superlativo relativo de superioridade).
de advérbio. Modificam advérbios, verbos, adjetivos, O candidato é o menos preparado entre os con-
orações adjetivas com esses valores. Ex.: morreu de correntes à prefeitura (Superlativo relativo de
fome; agiu com rapidez. inferioridade).
Dica
O plural dos adjetivos simples é realizado da mesma forma que o plural dos substantivos.
z Invariável: adjetivos compostos como azul-marinho, azul-celeste, azul-ferrete; locuções formadas de cor +
de + substantivo, como em cor-de-rosa, cor-de-cáqui; adjetivo + substantivo, como tapetes azul-turquesa,
camisas amarelo-ouro.
z Varia o último elemento: 1º elemento é palavra invariável, como em mal-educados, recém-formados; adjeti-
vo + adjetivo, como em lençóis verde-claros, cabelos castanho-escuros.
Adjetivos Pátrios
Os adjetivos pátrios também são conhecidos como gentílicos e designam a naturalidade ou nacionalidade dos seres.
O sufixo -ense, geralmente, designa a origem de um ser relacionada a um estado brasileiro. Ex.: amazonense,
fluminense, cearense.
Uma outra curiosidade sobre os adjetivos pátrios diz respeito ao adjetivo brasileiro, formado com o sufixo -eiro,
costumeiramente usado para designar profissões.
O gentílico que designa nossa nacionalidade teve origem com as pessoas que comercializavam o pau-brasil, esse
ofício dava-lhes a alcunha de “brasileiros”, termo que passou a indicar os nascidos em nosso país.
Veja abaixo alguns deles:
40
EXERCÍCIO COMENTADO
1. (FGV – 2017) Há, em língua portuguesa, um grupo de adjetivos chamados “adjetivos de relação”, que possuem marcas
diferentes de outros adjetivos, como a de não poder ser empregado antes do substantivo a que se refere, nem receber
grau superlativo. Assinale a opção que indica o adjetivo do texto que não está incluído nessa categoria:
a) Herói nacional.
b) Guerra mundial.
c) Diferença social.
d) Povo cordial.
e) Traço cultural.
Como vimos, uma outra característica dos adjetivos de relação é a objetividade. Esses adjetivos não denotam
questões subjetivas, tal qual o adjetivo “cordial”, na letra D, a única sem adjetivo de relação. Resposta: Letra D
ADVÉRBIOS
Advérbios são palavras invariáveis que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Em alguns
casos, os advérbios também podem modificar uma frase inteira, indicando circunstância.
Os grandes cientistas da gramática da língua portuguesa apresentam uma lista exaustiva com as funções dos
advérbios, porém; decorar as funções dos advérbios, além de desgastante, pode não ter o resultado esperado na
resolução de questões de concurso.
Dessa forma, sugerimos que você fique atento às principais funções designadas por um advérbio e, a partir
delas, consiga interpretar a função exercida nos enunciados das questões que tratem dessa classe de palavras.
Ainda assim, julgamos pertinente apresentar algumas funções basilares exercidas pelo advérbio:
Novamente, chamamos sua atenção para a função que o advérbio deve exercer na oração. Como dissemos,
essas palavras modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio; por isso, para identificar com mais pro-
priedade a função denotada pelos advérbios, é preciso perguntar: Como? Onde? Como? Por quê?
As respostas sempre irão indicar circunstâncias adverbiais expressas por advérbios, locuções adverbiais ou
orações adverbiais.
Vejamos como podemos identificar a classificação/função adequada dos advérbios:
z O homem morreu... de fome (causa); com sua família (companhia); em casa (lugar); envergonhado (modo).
z A criança comeu... demais (intensidade); ontem (tempo); com garfo e faca (instrumento); às claras (modo).
Locuções dverbiais
As locuções adverbiais, como já mostramos anteriormente, são bem semelhantes às locuções adjetivas. É
importante saber que as locuções adverbiais apresentam um valor passivo.
Ex.: Ameaça de colapso.
Nesse exemplo, o termo em negrito é uma locução adverbial, pois o valor é de passividade, ou seja, se inverter-
mos a ordem e inserirmos um verbo na voz passiva, a frase manterá seu sentido. Vejamos:
Colapso foi ameaçado: essa frase faz sentido e apresenta valor passivo, logo, sem o verbo, a locução destaca-
da anteriormente é adverbial.
Ainda sobre esse assunto, perceba que em locuções como esta: “Característica da nação”, o termo destacado
não terá o mesmo valor passivo, pois não aceitará a inserção de um verbo com essa função:
LÍNGUA PORTUGUESA
Nação foi característica*: essa frase quebra a estrutura gramatical da língua portuguesa, que não admite voz
passiva em termos com função de posse, caso das locuções adjetivas. Isso torna tal estrutura agramatical, por
isso, inserimos um asterisco (*) para indicar essa característica.
Dica
Locuções adverbiais apresentam valor passivo.
Locuções adjetivas apresentam valor de posse.
Com essa dica, esperamos que você seja capaz de diferenciar essas locuções em questões; ademais, buscamos
desenvolver seu aprendizado para que não seja preciso gastar seu valioso tempo decorando listas de locuções
adverbiais. Lembre-se: o sentido está no texto. 41
Advérbios Interrogativos
Os advérbios interrogativos são, muitas vezes, confundidos com pronomes interrogativos. Para evitar essa
confusão, devemos saber que os advérbios interrogativos introduzem uma pergunta, exprimindo ideia de tempo,
modo ou causa.
Exs.:
Como foi a prova?
Quando será a prova?
Onde será realizada a prova?
Por que a prova não foi realizada?
De maneira geral, as palavras como, onde, quando e por que são advérbios interrogativos, pois não substi-
tuem nenhum nome de ser (vivo), exprimindo ideia de modo, lugar, tempo e causa.
Grau do Advérbio
Assim como os adjetivos, os advérbios podem ser flexionados nos graus comparativo e superlativo.
Vejamos as principais mudanças sofridas pelos advérbios quando flexionados em grau:
GRAU COMPARATIVO
NORMAL SUPERIORIDADE INFERIORIDADE IGUALDADE
Bem Melhor (mais bem*) - Tão bem
Mal Pior (mais mal*) - Tão mal
Muito Mais - -
Pouco menos - -
Obs.: As formas “mais bem” e “mais mal” são aceitas quando acompanham o particípio verbal.
GRAU SUPERLATIVO
Advérbios e Adjetivos
O adjetivo é, como vimos, uma classe de palavras variável, porém, quando se refere a um verbo, ele fica inva-
riável, confundindo-se com o advérbio.
Nesses casos, para ter certeza de qual é classe da palavra, basta tentar colocá-la no feminino ou no plural; caso
a palavra aceite uma dessas flexões, será adjetivo.
Ex.: A cerveja que desce redondo/ As cervejas que descem redondo.
Nesse caso, trata-se de um advérbio.
Palavras Denotativas
São termos que apresentam semelhança aos advérbios, em alguns casos são até classificados como tal, mas
não exercem função modificadora de verbo, adjetivo ou advérbio.
Sobre as palavras denotativas, é fundamental que você saiba identificar o sentido a elas atribuído, pois, geral-
mente, é isso que as bancas de concurso cobram.
Além dessas expressões, há, ainda, as partículas expletivas ou de realce, geralmente formadas pela forma ser
+ que (é que). A principal característica dessas palavras é que podem ser retiradas sem causar prejuízo sintático
42 ou semântico na frase. Ex.: Eu é que faço as regras / Eu faço as regras.
Outras palavras denotativas expletivas são: lá, cá,
PRONOMES PRONOMES
não, é porque etc.
PESSOAS DO CASO DO CASO
RETO OBLÍQUO
Algumas Observações Interessantes
3º pessoa do Se, si, consigo,
z O adjunto adverbial deve sempre vir posicionado ELE/ELA
singular o, a, lhe
após o verbo ou complemento verbal, caso venha
deslocado, em geral, separamos por vírgulas. 1ª pessoa do
NÓS Nos, conosco.
z Em uma sequência de advérbios terminados com o plural
sufixo -mente, apenas o último elemento recebe a 2º pessoa do
terminação destacada. VÓS Vos, convosco
plural
Os pronomes pessoais designam as pessoas do dis- Após a preposição “entre”, em estrutura de reci-
curso; algumas informações relevantes sobre eles são: procidade, devemos usar os pronomes oblíquos tôni-
cos. Ex.: Entre mim e ele não há segredos.
PRONOMES PRONOMES
PESSOAS DO CASO DO CASO VERBOS
RETO OBLÍQUO
Certamente, a classe de palavras mais complexa e
1º pessoa do Me, mim, importante dentre as palavras da língua portuguesa é
EU
singular comigo o verbo. A partir dos verbos, são estruturados as ações
e os agentes desses atos, além de ser uma importante
2º pessoa do
TU Te, ti, contigo classe sempre abordada nos editais de concursos; por
singular
isso; fique atento às nossas dicas. 43
Os verbos são palavras variáveis que se flexionam
PRETÉRITO PERFEITO
em número, pessoa, modo e tempo, além da designação PRESENTE INDICATIVO
INDICATIVO
da voz que exprime uma ação, um estado ou um fato.
Nós cantamos Cantamos
Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais
Vós cantais Cantastes
As formas nominais do verbo são as formas infi- Eles/ vocês cantam Cantaram
nitiva, particípio e gerúndio que eles assumem em
determinados contextos. São chamadas nominais pois z Irregulares: os verbos irregulares apresentam
funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios.
alteração no radical e nas desinências verbais, por
z Gerúndio: é marcado pela terminação -NDO, seu isso recebem esse nome, pois sua conjugação ocor-
valor indica duração de uma ação e, por vezes, re irregularmente, seguindo um paradigma pró-
pode funcionar como um advérbio ou um adjetivo. prio para cada grupo verbal. Perceba como ocorre
Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se uma sutil diferença na conjugação do verbo estar
compadeceu. que utilizamos como exemplo, isso é importante
z Particípio: é marcado pelas terminações -ado, para não confundir os verbos irregulares com os
-ido, -do, -to, -go, -so, corresponde nominalmente verbos anômalos. Ex.: Verbo estar.
ao adjetivo, pode flexionar-se, em alguns casos, em
número e gênero.
Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses. PRETÉRITO PERFEITO
PRESENTE INDICATIVO
INDICATIVO
z Infinitivo: forma verbal que indica a própria ação
do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenômeno desig- Eu estou Estive
nado. Pode ser pessoal ou impessoal.
Tu estás Esteves
Pessoal: o infinitivo pessoal é passível de con-
jugação, pois está ligado às pessoas do discurso. Ele/ você está Esteve
É usado na formação de orações reduzidas. Ex.: Nós estamos Estivemos
Comer eu; Comermos nós; É para aprenderem
que ele ensina. Vós estais Estiveste
Impessoal: não é passível de flexão. É o nome
do verbo, servindo para indicar apenas a con- Eles/ vocês estão Estiveram
jugação. Ex.: Estudar - 1ª conjugação; Comer - 2ª
conjugação; Partir - 3ª conjugação. z Anômalos: esses verbos apresentam profundas
alterações no radical e nas desinências verbais,
O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou
orações reduzidas. consideradas anomalias morfológicas, por isso,
recebem essa classificação. Um exemplo bem
Locuções verbais: sequência de dois ou mais ver- usual de verbos dessa categoria é o verbo ser. Na
bos que funcionam como um verbo. Ex.: Ter de língua portuguesa, apenas dois verbos são classi-
+ verbo principal no infinitivo: Ter de trabalhar ficados dessa forma, os verbos ser e ir. Vejamos a
para pagar as contas; Haver de + verbo principal conjugação do verbo ser:
no infinitivo: Havemos de encontrar uma solução.
� Defectivos: são verbos que não apresentam algu- z Verbos Auxiliares: os verbos auxiliares são
mas pessoas conjugadas em suas formas, gerando empregados nas formas compostas dos verbos e
um defeito na conjugação, por isso o nome. São também nas locuções verbais. Os principais verbos
defectivos os verbos colorir, precaver, reaver. auxiliares dos tempos compostos são ter e haver.
Esses verbos não são conjugados na primeira pessoa
do singular do presente do indicativo. Bem como: Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a
Aturdir, exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder, concordância verbal, porém, o verbo principal deter-
fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colo- mina a regência estabelecida na oração.
rir, carpir, banir, brandir, bramir, soer. Apresentam forte carga semântica que indica
Verbos que expressam onomatopeias ou fenôme- modo e aspecto da oração; tratamos mais desse assun-
nos temporais também apresentam essa caracte- to no tópico verbos auxiliares no final da gramática.
rística, como latir, bramir, chover. São importantes na formação da voz passiva
analítica.
� Pronominais: esses verbos apresentam um pro-
nome oblíquo átono integrando sua forma verbal;
z Formas Nominais: na língua portuguesa, usamos
é importante lembrar que esses pronomes não
três formas nominais dos verbos:
apresentam função sintática. Predominantemen-
te, os verbos pronominas apresentam transitivida-
de indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se Gerúndio: terminação -NDO. Apresenta valor
durativo da ação e equivale a um advérbio ou
adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando.
PRETÉRITO PERFEITO
PRESENTE INDICATIVO Particípio: terminações: -ADO, -IDO, -DO, -TO,
INDICATIVO
-GO, -SO. Apresenta valor adjetivo e pode ser
Eu me sento Sentei-me classificado em particípio regular e irregular,
sendo as formas regulares finalizadas em -ADO
Tu te sentas Sentaste-te e -IDO.
Ele/ você se senta Sentou-se
A norma culta gramatical recomenda o uso do par-
Nós nos sentamos Sentamo-nos ticípio regular com os verbos ter e haver, já com os
verbos ser e estar, recomenda-se o uso do particípio
Vós vos sentais Sentastes-vos irregular. Ex.: Os policiais haviam expulsado os ban-
didos / Os traficantes foram expulsos pelos policiais.
Eles/ vocês se sentam Sentaram-se
Infinitivo: marca as conjugações verbais.
z Reflexivos: são os verbos que apresentam pro- AR: verbos que compõem a 1ª conjugação (AmAR,
nome oblíquo átono reflexivo, funcionando sinta- PasseAR);
ticamente como objeto direto ou indireto. Nesses ER: verbos que compõem a 2ª conjugação (ComER,
verbos, o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao pÔR);
mesmo tempo. Ex.: Ela se veste mal; Nós nos cum- IR: verbos que compõem a 3ª conjugação (Par-
primentamos friamente. tIR, SaIR)
z Impessoais: são verbos que designam fenômenos O verbo pôr corresponde à segunda conjuga-
da natureza, como chover, trovejar, nevar etc. ção, pois origina-se do verbo poer, o mesmo
acontece com verbos que deste derivam.
O verbo haver com sentido de existir ou marcando
LÍNGUA PORTUGUESA
PRESENTE - INDICATIVO
EXERCÍCIO COMENTADO
Eu Crio
Vós Criais a) Por meio do qual definia uma suposta obra de arte.
b) O novo prêmio atenderia o mercado.
Eles/Vocês Criam c) Ou o que o contraria.
d) O leitor elegerá títulos apenas entre os finalistas.
Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral- e) Ele contempla os títulos com mais chance.
mente, são irregulares e apresentam alguma modi-
ficação no radical ou nas desinências. Assim como o “Coroava”, assim como “definia”, está conjugado no
verbo passear, são derivados dessa terminação os pretérito imperfeito do indicativo. Resposta: Letra A.
verbos:
PREPOSIÇÕES
PRESENTE - INDICATIVO
Conceito
Eu Passeio
São palavras invariáveis que ligam orações ou
Tu Passeias outras palavras. As preposições apresentam funções
importantes tanto no aspecto semântico quanto no
Ele/Você Passeia
46 aspecto sintático, pois complementam o sentido de
verbos e/ou palavras cujo sentido pode ser alterado z Preposição + advérbio:
sem a presença da preposição, modificando a transiti- De + aqui, ali, além: daqui, dali, dalém.
vidade verbal e colaborando para o preenchimento de
sentido de palavras deverbais2. z Preposição + pronomes pessoais:
As preposições essenciais são: a, ante, até, após, Em + ele, ela, eles, elas: nele, nela, neles, nelas.
com, contra, de, desde, em, entre, para, per, peran- De + ele, ela, eles, elas: dele, dela, deles, delas.
te, por, sem, sob, trás.
Existem, ainda, as preposições acidentais, assim z Preposição + pronome relativo:
chamadas pois pertencem a outras classes gramaticais, A + onde: aonde.
mas, ocasionalmente, funcionam como preposições. z Preposição + pronomes indefinidos:
Eis algumas: afora, conforme (quando equivaler a
De + outro, outras: doutro, doutros, doutra, doutras.
“de acordo com”), consoante, durante, exceto, salvo,
segundo, senão, mediante, que, visto (quando equi-
valer a “por causa de”). Algumas Relações Semânticas Estabelecidas por
Preposições
Locuções Prepositivas
É importante ressaltar que as preposições podem
São grupos de palavras que equivalem a uma pre-
apresentar valor relacional ou podem atribuir um
posição. Ex.: Falei sobre o tema da prova; Falei acerca
do tema da prova. valor nocional. As preposições que apresentam um
A locução prepositiva na segunda frase substitui valor relacional cumprem uma relação sintática
perfeitamente a preposição sobre. As locuções pre- com verbos ou substantivos, que, em alguns casos, são
positivas sempre terminam em uma preposição, e há chamados deverbais, conforme já mencionamos ante-
apenas uma exceção: a locução prepositiva com sen- riormente. Essa mesma relação sintática pode ocorrer
tido concessivo “não obstante”. A seguir, elencamos com adjetivos e advérbios, os quais também apresen-
alguns exemplos de locuções prepositivas: tarão função deverbal.
Abaixo de; acerca de; acima de; devido a; a despeito Ex.: Concordo com o advogado (preposição exigida
de; adiante de; defronte de; embaixo de; em frente de;
pela regência do verbo concordar).
graças a; junto de; perto de; por entre; por trás de; quan-
Tenho medo da queda (preposição exigida pelo
to a; a fim de; a respeito de; por meio de; em virtude de.
Algumas locuções prepositivas apresentam seme- complemento nominal).
lhanças morfológicas, mas significados completamen- Estou desconfiado do funcionário (preposição exi-
te diferentes, como: gida pelo adjetivo).
A opinião dos diretores vai ao encontro do pla- Fui favorável à eleição (preposição exigida pelo
nejamento inicial = Concordância. / As decisões do advérbio).
público foram de encontro à proposta do programa Em todos esses casos, a preposição mantém uma
= Discordância. relação sintática com a classe de palavras a qual se liga,
Em vez de comer lanches gordurosos, coma frutas sendo, portanto, obrigatória sua presença na sentença.
= substituição. / Ao invés de chegar molhado, chegou
De modo oposto, as preposições cujo valor nocio-
cedo = oposição.
nal é preponderante apresentam uma modificação
Fonte: instagram.com/academiadotexto. Acessado em: 19/11/2020. no sentido da palavra a qual se liga. Elas não são
Combinações e Contrações componentes obrigatórios na construção da senten-
ça, divergindo das preposições de valor relacional.
As preposições podem ser contraídas com outras As preposições de valor nocional estabelecem uma
classes de palavras, veja: noção de posse, causa, instrumento, matéria, modo
etc. Vejamos algumas:
z Preposição + artigo:
A + a, as, o, os: à, às, ao, aos.
De + a, as, o, os, um, uns, uma, umas: da, das, do, VALOR NOCIONAL DAS
SENTIDO
dos, dum, duns, duma, dumas. PREPOSIÇÕES
Por + a, as, o, os: pela, pelas, pelo, pelos. Posse Carro de Marcelo
Em + a, as, o, os, um, uns, uma, umas: na, nas, no,
nos, num, nuns, numa, numas. O cachorro está sob a
Lugar
z Preposição + pronome demonstrativo: mesa
A + aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo: àque- Votar em branco, chegar
le, àqueles, àquela, àquelas, àquilo. Modo
aos gritos
LÍNGUA PORTUGUESA
SUJEITO Simples
z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo- Simples: quando há apenas um núcleo.
rou pela compra da vacina); Ex.: O [aluguel] da casa é caro.
z O elemento que pratica a ação de implorar; Núcleo: aluguel
Sujeito simples: O aluguel da casa
z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular); Composto: quando há dois núcleos ou mais.
Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
z O termo que pode ser substituído por um pronome
Núcleos: sons, cores.
do caso reto.
Sujeito composto: Os sons e as cores
(Ele implorou pela compra da vacina da COVID-19.)
Elíptico, oculto ou desinencial: quando não
Núcleo do sujeito aparece na oração, mas é possível de ser identifi-
cado devido à flexão do verbo ao qual se refere.
Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: (Eu)
O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal
porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O
z Indeterminado: quando não é possível identificar
núcleo indica a palavra que realmente está exercen-
o sujeito na oração, mas ainda sim está presente.
do determinada função sintática, que atua ou sofre
Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa-
a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan-
do por um índice de indeterminação do sujeito, a
tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou partícula “se”.
pronome.
Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural,
z O sujeito simples contém apenas um núcleo. não se referindo a nenhuma palavra determi-
Ex.: O povo pediu providências ao governador. nada no contexto.
Sujeito: O povo Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje.
Núcleo do sujeito: povo Entende-se que alguém passou cedo.
z Já o sujeito composto, o núcleo será constituído Colocando-se verbos sem complemento direto
de dois ou mais termos. (intransitivos, transitivos diretos ou de ligação)
As luzes e as cores são bem visíveis. na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro-
Sujeito: As luzes e as cores nome se, que atua como índice de indetermina-
50 Núcleo do sujeito: luzes/cores ção do sujeito.
Ex.: Não se vê com a neblina. Importante notar que não há preposição entre
Entende-se que ninguém consegue ver nessa o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo,
condição. “de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais
sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal.
Precisa-se de cabelo.
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal,
EXERCÍCIO COMENTADO e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é
indeterminado, marcado pelo índice de indetermina-
1. (CONSESP – 2018) Assinale a alternativa em que ção “-se”.
temos sujeito indeterminado.
z Voz passiva analítica (sujeito paciente)
a) Levaram-me para uma casa velha. Ex.: A minha saia azul está rasgada.
b) Era uma tarde maravilhosa. O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen-
c) Vendem-se espetos de carne aqui. ça da partícula -se.
d) Alguns assistiram ao filme até o final.
a) “Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.” Não entendo nem a ele nem a ti.
b) “Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade [...]” Respeitava-se aos mais antigos.
c) “Com certeza, já haviam tomado café da manhã em Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
casa [...]” Amavam-se um ao outro.
d) “É muito grave esse processo de abstração da lingua- “Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
gem, de sentimentos [...]” feita.” (Ciro dos Anjos) 53
Exemplos com ocorrência facultativa de preposição: Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado.
Estou longe de casa e tão perto do paraíso.
Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- Para melhor identificar um complemento nomi-
le templo. nal, siga a instrução:
A escultura atrai a todos os visitantes. Nome + preposição + quem ou quê
Não admito que coloquem a Sua Excelência num Como diferenciar complemento nominal de com-
pedestal. plemento verbal?
Ao povo ninguém engana. Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles. (complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se
No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des- diretamente ao verbo “obedecia”)
sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre- Naquela época, a obediência ao meu coração pre-
sente para indicar parte de um todo, quando assim valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora-
for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”).
bebeu uma porção da água, e não ela toda.
Agente da Passiva
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
dessa função sintática na mesma oração, a fim de
É o complemento de um verbo na voz passiva ana-
enfatizar um único significado.
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais
raramente, da preposição de.
Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares
Andrade)
ser, estar, viver, andar, ficar.
z Objeto direto interno: Representado por palavra
que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta Termos Acessórios da Oração
mesmo significado.
Ex.: Riu um riso aterrador. Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu-
Dormiu o sono dos justos. ra básica da oração, são importantes para compreen-
são do enunciado porque trazem informações novas.
Como diferenciar objeto direto de sujeito? Esses termos são chamados acessórios da oração.
Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto) Adjunto Adnominal
O objeto direto pode ser passado para a voz passi-
va analítica e se transforma em sujeito. São termos que acompanham o substantivo,
Os jogos da seleção foram ignorados. núcleo de outra função, para qualificar, quantificar,
especificar o elemento representado pelo substantivo.
z Objeto indireto: É complemento verbal regido de Categorias morfológicas que podem funcionar
preposição obrigatória, que se liga diretamente a como adjunto adnominal:
verbos transitivos indiretos e diretos. Representa
o ser beneficiado ou o alvo de uma ação. z Artigos
Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da z Adjetivos
casa 260. z Numerais
Gosto de ti, meu nobre. z Pronomes
Não troque o certo pelo duvidoso. z Locuções adjetivas
Vamos insistir em promover o novo romance de
ficção. Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo
ficaram esquecidos no quarto.
Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais Iam cheios de si.
Estava conquistando o respeito dos seus.
Pode ser representado pelos seguintes pronomes O novo regulamento originou a revolta dos
oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro- funcionários.
nomes o, a, os, as não exercerão essa função. O doutor possuía mil lembranças de suas viagens.
Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor.
Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim,
z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto
comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto
indireto, já que sempre ocorrem com preposição. adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes
Ex.: Você escreveu esta carta para mim? exercem essa função sintática quando assumem
valor de pronomes possessivos.
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo).
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
uma mensagem. z Como diferenciar adjunto adnominal de com-
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda. plemento nominal?
z Tempo: Quero que ele venha logo; � Enumerativo: usado para desenvolver ideias que
foram resumidas ou abreviadas em um termo ante-
z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
rior. Mostra os elementos contidos em um só termo.
z Modo: O dia começou alegremente; Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e
z Intensidade: Almoçou pouco; riachos.
Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber,
z Causa: Ela tremia de frio;
preconceito, antipatia e arrogância.
z Companhia: Venha jantar comigo; z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado
z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as para resumir termos anteriores. É expresso, nor-
roupas; malmente, por um pronome indefinido.
z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo; Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos
estavam empolgados com a feira.
z Finalidade: Vivia para o trabalho; Irei a Macau, Cabo Verde, Angola e Timor-Leste,
z Meio: Viajou de avião devido à rapidez; países africanos onde se fala português.
z Assunto: Falávamos sobre o aluguel; � Comparativo: Estabelece uma comparação implícita.
z Negação: Não permitirei que permaneça aqui; Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem
LÍNGUA PORTUGUESA
1. (CESPE-CEBRASPE – 2014) No trecho, as vírgulas iso- Orações coordenadas sindéticas: aditivas, adver-
lam segmento – “Sua vocação eminentemente hídrica sativas, alternativas, conclusivas, explicativas.
impõe, ao longo dos séculos, a necessidade do deslo-
camento...” com função de aposto explicativo. z Por subordinação:
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica vas nominais: exercem a função de complemento
sobre um raciocínio. nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- da oração principal.
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple-
de frase). mento nominal)
Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima Tenho necessidade de que você me apoie. (com-
semana. plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com-
“Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo pl. nom.)
Mendes Campos)
z Orações subordinadas substantivas predicati-
z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem vas: funcionam como predicativos do sujeito da
expressa. Conjunções constitutivas: que, porque, oração principal. Sempre figuram após o verbo de
porquanto, pois. ligação ser. 57
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do � Orações subordinadas adverbiais condicionais:
sujeito) são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se,
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do contanto que, a menos que etc.
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.) Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para tal.
z Orações subordinadas substantivas apositivas: � Orações subordinadas adverbiais conformati-
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois vas: são introduzidas por: como, conforme, segun-
de dois-pontos ou entre vírgulas. do, consoante.
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (aposto) Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos.
Só quero uma coisa: que você volte imediata-
mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.) � Orações subordinadas adverbiais consecutivas:
são introduzidas por: que (precedido na oração
z Orações subordinadas adjetivas: desempenham anterior de termos intensivos como tão, tanto,
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma
raramente, aposto explicativo). São introduzidas que, sem que.
por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os Ex.: A garota rio tanto, que se engasgou.
quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per-
orações subordinadas adjetivas classificam-se em: fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles)
explicativas e restritivas.
� Orações subordinadas adverbiais finais: indi-
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: cam um objetivo a ser alcançado. São introduzidas
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- por: para que, a fim de que, porque e que (= para
tam uma explicação sobre o termo antecedente. que).
São consideradas termo acessório no período, Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos
podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola- tivessem bom estudo.
das por vírgulas.
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos, � Orações subordinadas adverbiais proporcio-
cria trinta gatos. nais: são introduzidas por: à medida que, à pro-
porção que, quanto mais, quanto menos etc.
z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a
especificam ou limitam a significação do termo
aprecio.
antecedente, acrescentando-lhe um elemento indis-
pensável ao sentido. Não são isoladas por vírgulas. � Orações subordinadas adverbiais temporais:
Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é são introduzidas por: quando, enquanto, logo que,
incurável. depois que, assim que, sempre que, cada vez que,
agora que etc.
Dica Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor.
Como diferenciar as orações subordinadas adje- Para separar as orações de um período composto, é
tivas restritivas das orações subordinadas adjeti- necessário atentar-se para dois elementos fundamen-
vas explicativas? tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
Ele visitará o irmão que mora em Recife. (conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
(restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai esses elementos, deve-se contar quantas orações ele
visitar apenas o que mora em Recife) representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
Ele visitará o irmão, que mora em Recife. ções verbais. Exs.:
(explicativa, pois ele tem apenas um irmão que [“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª oração
mora em Recife) [para fixar outros] – 2ª oração
[que os rodeiam] – 3ª oração
� Orações subordinadas adverbiais: exprimem [e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora-
uma circunstância relativa a um fato expresso em ção (M. de Assis)
outra oração. Têm função de adjunto adverbial.
São introduzidas por conjunções subordinativas Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo
(exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin- basta, pertencente à 1ª (oração principal).
tes grupos: A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém
ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
� Orações subordinadas adverbiais causais: são
introduzidas por: como, já que, uma vez que, por-
que, visto que etc.
Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por-
que ficamos sem gasolina. FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS
� Orações subordinadas adverbiais comparati-
PRONOMES RELATIVOS
vas: são introduzidas por: como, assim como, tal
Uma das classes de pronomes mais complexas, os
qual, como, mais etc.
pronomes relativos têm função muito importante na
Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do)
língua, refletida em assuntos de grande relevância
que a importada.
em concursos, como a análise sintática. Dessa forma,
� Orações subordinadas adverbiais concessivas: é essencial conhecer adequadamente a função desses
indica certo obstáculo em relação ao fato expres- elementos a fim de saber utilizá-los corretamente.
so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São Os pronomes relativos referem-se a um substantivo
introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que, ou a um pronome substantivo, mencionado anterior-
por mais que, se bem que etc. mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio-
58 Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã. nado anteriormente) chamamos de antecedente.
São pronomes relativos:
EMPREGO DE NOMES E PRONOMES
z Variáveis: O qual, os quais, cujo, cujos, quanto,
quantos / A qual, as quais, cuja, cujas, quanta, Vejamos como o emprego de nomes se dá em con-
quantas. textos de flexão e variação.
z Emprego do relativo quem: seu antecedente deve z Epicenos: designam animais ou plantas que apre-
ser uma pessoa ou objeto personificado. Ex.: Fomos sentam distinção entre masculino e feminino; a
diferença é marcada pelo uso do adjetivo macho
nós quem fizemos o bolo.
ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea; onça
O pronome relativo quem pode fazer referência a algo
macho / onça fêmea; gambá macho / gambá fêmea;
subentendido: Quem cala consente (aquele que cala). girafa macho / girafa fêmea.
z Emprego do relativo quanto: seu antecedente z Sobrecomuns: designam seres de forma geral que
deve ser um pronome indefinido ou demonstra- não são distinguidos por artigo ou adjetivo, o gêne-
tivo, pode sofrer flexões. Ex.: Esqueci-me de tudo ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.:
quanto foi me ensinado; Perdi tudo quanto pou- A criança; O monstro; A testemunha; O indivíduo.
pei a vida inteira.
Os substantivos biformes, como o nome indi-
z Emprego do relativo cujo: deve ser empregado
ca, designam os substantivos que apresentam duas
para indicar posse e aparecer relacionando dois formas para os gêneros masculino ou feminino. Ex.:
termos que devem ser um possuidor e uma coisa professor/professora.
possuída. Ex.: A matéria cuja aula faltei foi Língua Destacamos que alguns substantivos apresentam
portuguesa (o relativo cuja está ligando aula (pos- formas diferentes nas terminações para designar for-
suidor) a matéria (coisa possuída). mas diferentes no masculino e no feminino:
O relativo cujo deve concordar em gênero e núme- Ex.: Ator/atriz; Ateu/ ateia; Réu/ré.
ro com a coisa possuída.
Jamais devemos inserir um artigo após o pronome Outros substantivos modificam o radical para
cujo: Cujo o, cuja a designar formas diferentes no masculino e no femini-
Não podemos substituir cujo por outro pronome no, estes são chamados de substantivos heteroformes:
relativo;
O pronome relativo cujo pode ser preposiciona- Ex.: Pai/mãe; Boi/vaca; Genro/nora.
do. Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri.
Para encontrar o possuidor faça-se a seguinte per- Gênero e Significação
gunta: “de quem/do que?” Ex.: Vi o filme cujo dire-
tor ganhou o Óscar (diretor do que? Do filme.); Vi o É importante salientar que alguns substantivos
uniformes podem aparecer com marcação de gênero
rapaz cujas pernas você se referiu (pernas de quem?
diferente, ocasionando uma modificação no sentido.
Do rapaz.)
Veja, por exemplo:
z Emprego do pronome relativo onde: empregado z A testemunha: pessoa que presenciou um crime;
para indicar locais físicos. Ex.: Conheci a cidade z O testemunho: relato de experiência, associado a
onde meu pai nasceu. religiões.
Em alguns casos, pode ser preposicionado, assumin-
LÍNGUA PORTUGUESA
do as formas aonde e donde. Ex.: Irei aonde você for. Algumas formas substantivas mantêm o radical,
O relativo onde pode ser empregado sem antece- mas a alteração do gênero interfere no significado:
dente. Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém.
z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo;
z Emprego de o qual: o pronome relativo o qual e
z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais;
suas variações (os quais, a qual, as quais) é usa-
z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão.
do em substituição a outros pronomes relativos,
sobretudo o que, a fim de evitar fenômenos lin- Além disso, algumas palavras na língua causam
guísticos, como queísmo. Ex.: O Brasil tem um pas- dificuldade na identificação do gênero, pois são usa-
sado do qual (que) ninguém se lembra. das em contextos informais com gêneros diferentes, é
o caso de: a alface; a cal; a derme; a libido; a gênese;
O pronome o qual pode auxiliar na compreensão a omoplata / o guaraná; o catolicismo; o formicida; o
textual, desfazendo estruturas ambíguas. telefonema; o trema. 59
Algumas formas que não apresentam, necessaria- Destacamos, ainda, que os substantivos compostos
mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no formados por verbo + advérbio e verbo + substan-
masculino quanto no feminino: O personagem / a per- tivo plural ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os
sonagem; O laringe / a laringe; O xerox / a xerox. saca-rolha.
Os substantivos flexionam-se em gênero, de manei- A flexão de grau dos adjetivos exprime a variação
ra geral, pelo acréscimo do morfema -s: Casa / casas. de tamanho dos seres, indicando um aumento ou uma
Porém, podem apresentar outras terminações: males, diminuição.
reais, animais, projéteis etc. Geralmente, devemos acres-
centar -es ao singular das formas terminadas em R ou Z,
z Grau aumentativo: quando o acréscimo de sufi-
como: flor / flores; paz / pazes. Porém, há exceções, como
xos aos substantivos indicar um grau aumentativo.
mal/males.
Ex.: bocarra, homenzarrão, gatalhão, cabeçorra,
Já os substantivos terminados em AL, EL, OL, UL
fazem plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral fogaréu, boqueirão, poetastro.
/ corais; papel / papéis; anzol / anzóis. Mas também z Grau diminutivo: quando o acréscimo de sufi-
há exceções. Ex.: a forma mel apresenta duas formas xos aos substantivos indicar um grau diminutivo.
aceitas meles e méis. Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta,
Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem pequenina, papelucho.
plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es.
Ex.: capelães, capitães, escrivães. Contudo, há subs-
tantivos que admitem até três formas de plural: Dica
O emprego do grau aumentativo ou diminutivo
z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães. dos substantivos pode alterar o sentido das pala-
z Ancião: anciãos, anciões, anciães. vras, podendo assumir um valor:
Afetivo: filhinha;
z Vilão: vilãos, vilões, vilães.
Pejorativo: mulherzinha / porcalhão.
Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas
que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão / O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas
órgãos; órfão / órfãos.
O novo acordo ortográfico estabelece novas regras
Plural dos Substantivos Compostos para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso
da inicial maiúscula. Dessa forma, devemos usar com
Os substantivos compostos são aqueles formados letra maiúscula as iniciais das palavras que designam:
por justaposição; o plural dessas formas obedece às
seguintes regras: z Nomes de instituições. Ex.: Embaixada do Brasil;
Ministério das Relações Exteriores; Gabinete da
z Variam os dois elementos: Vice-presidência.
z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás
substantivo + substantivo: Cubas. Caso a obra apresente em seu título um
Ex.: mestre-sala / mestres-salas;
nome próprio, este também deverá ser escrito com
inicial maiúscula.
Substantivo + adjetivo:
Ex.: guarda-noturno / guardas - noturnos; z Nomenclatura legislativa especificada deve ser
escrita com inicial maiúscula. Ex.: Lei de Diretri-
Adjetivo + substantivo: zes e Bases da Educação (LDB).
Ex.: boas-vindas;
z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da
Vacina; Guerra Fria.
Numeral + substantivo:
Ex.: terça-feira / terças - feiras.
Em palavras com hífen, podemos optar pelo uso
z Varia apenas um elemento: de maiúsculas ou minúsculas, portanto, são aceitas as
formas: Vice-Presidente; Vice-presidente e vice-pre-
Substantivo + preposição + substantivo. sidente, porém é preciso manter a mesma forma em
Ex.: canas-de-açúcar; todo o texto. Já nomes próprios compostos por hífen
devem ser escritos com as iniciais maiúsculas: Grã-
Substantivo + substantivo (com função adjetiva). -Bretanha, Timor-Leste.
Ex.: navios-escola.
a) Os assaltos dos quais falam são cotidianos na cidade z Locuções adverbiais formadas por palavras
de São Paulo. femininas:
b) Os crimes contra os quais lutam os policiais oferecem Ex.: Ela foi às pressas para o camarim.
perigo à sociedade. Entregou o dinheiro às ocultas para o ministro.
c) A pesquisa da qual foram submetidos revelou infor- Espero vocês à noite na estação de metrô.
mações novas. Estou à beira-mar desde cedo. 65
z Locuções prepositivas formadas por palavras � Antes de pronomes indefinidos alguma, nenhu-
femininas: ma, tanta, certa, qualquer, toda, tamanha
Ex.: Ficaram à frente do projeto. Ex.: Direcione o assunto a alguma cláusula do
contrato.
z Locuções conjuntivas formadas por palavras Não disponibilizaremos verbas a nenhuma ação
femininas: suspeita de fraude.
Ex.: À medida que o prédio é erguido, os gastos vão Eles estavam conservando a certa altura.
aumentando. Faremos a obra a qualquer custo.
� Quando indicar marcação de horário, no plural A campanha será disponibilizada a toda a comunidade.
Ex.: Pegaremos o ônibus às oito horas. � Antes de demonstrativos
Fique atento ao seguinte: entre números teremos Ex.: Não te dirijas a essa pessoa
que de = a / da = à, portanto:
Ex.: De 7 as 16 h. De quinta a sexta. (sem crase) � Antes de nomes próprios, mesmo femininos, de
Das 7 às 16 h. Da quinta à sexta. (com crase) personalidades históricas
Ex.: O documentário referia-se a Janis Joplin.
� Com os pronomes relativos aquele, aquela ou
aquilo: � Antes dos pronomes pessoais retos e oblíquos
Ex.: A lembrança de boas-vindas foi reservada Ex.: Por favor, entregue as frutas a ela.
O pacote foi entregue a ti ontem.
àquele outono.
Por favor, entregue as flores àquela moça que está � Nas expressões tautológicas (face a face, lado a
sentada. lado)
Dedique-se àquilo que lhe faz bem. Ex.: Pai e filho ficaram frente a frente no tribunal
de justiça.
� Com o pronome demonstrativo a antes de que ou
de: � Antes das palavras casa, Terra ou terra, distância
Ex.: Referimo-nos à que está de preto. sem determinante
Referimo-nos à de preto. Ex.: Precisa chegar a casa antes das 22h.
Astronauta volta a Terra em dois meses.
� Com o pronome relativo a qual, as quais: Os pesquisadores chegaram a terra depois da
Ex.: A secretária à qual entreguei o ofício acabou expedição marinha.
de sair. Vocês o observaram a distância.
As alunas às quais atribuí tais atividades estão de
férias. Crase Facultativa
na III, há paralelismo – no primeiro termo, “a pista” verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós
tem artigo, no segundo, deverá ter também, além da quem resolveu a questão.
preposição a, originando a crase.
Por questão de ênfase, o verbo pode também con-
cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos
nós quem resolvemos a questão.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL z Quando o sujeito é um pronome interrogativo,
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós /
Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se de vós, o verbo pode concordar com o pronome no
umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede- plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol-
cem a alguns princípios: um deles é a concordância. viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos
Observe o exemplo: essa questão. 67
z Quando o sujeito é formado por palavras plurali- d) mostram que três quartos dos pagamentos realizados
zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias, por intermédio de instituições financeiras foram tribu-
Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou- tados apenas por aquela contribuição.
ver artigo definido antes de uma palavra plura- e) mostram que 1,6 milhão dos pagamentos realizados
lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse por intermédio de instituições financeiras foi tributado
artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados apenas por aquela contribuição.
Unidos continuam uma potência.
Estados Unidos continua uma potência. Em “grande parte dos pagamentos realizados...
Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida- foi tributado”, não houve concordância adequada,
de de Santos fica em São Paulo.”) deveria ser “foi tributada”, para concordar com o
núcleo do sujeito, “parte”. Resposta: Letra C.
z Quando o sujeito é formado po um número per- Concordância Verbal com o Sujeito Composto
centual ou fracionário, o verbo concorda com o
numerado ou com o número inteiro, mas pode � Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama-
concordar com o especificador dele. Se o numeral ticais diferentes
vier precedido de um determinante, o verbo con- Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos.
cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3
das pessoas do mundo sabe o que é viver bem. � Núcleos do sujeito ligados pela preposição com
Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che-
Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é garam ontem.
viver bem. � Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada
Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem. ou nenhum
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem. Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man-
Os 30% da população não sabem o que é viver mal. ter o espírito esportivo.
� Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no
EXERCÍCIO COMENTADO singular
Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju-
1. (FGV – 2008) “... mostram que um terço dos pagamen- davam. (preferencialmente no singular)
tos realizados por intermédio de instituições financei- � Gradação entre os núcleos do sujeito
ras foi tributado apenas por aquela contribuição...” Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para
Assinale a alternativa em que, ao se alterar o termo me acalmar. (preferencialmente no singular)
“um terço”, não se tenha mantido a concordância em
conformidade com a norma culta. Desconsidere a � Núcleos do sujeito no infinitivo
possibilidade de concordância atrativa. Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde.
� Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
a) mostram que 0,27% dos pagamentos realizados por mitivo (nada, tudo, ninguém)
intermédio de instituições financeiras foi tributado Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu.
apenas por aquela contribuição.
b) mostram que menos de 2% dos pagamentos realiza- � Sujeito constituído pelas expressões um e outro,
dos por intermédio de instituições financeiras foram nem um nem outro
Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui.
tributados apenas por aquela contribuição.
c) mostram que grande parte dos pagamentos realiza- � Núcleos do sujeito ligados por nem... nem
dos por intermédio de instituições financeiras foi tribu- Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu
68 tado apenas por aquela contribuição. foco nos estudos.
� Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site.
como, menos, inclusive, exceto ou as expressões (dois pronomes implícitos: eu, nós)
bem como, assim como, tanto quanto Até me encontrarem, vocês terão de procurar
Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na muito. (preposição no início da oração)
final. Para nós nos precavermos, precisaremos de luz.
(verbos pronominais)
z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas
Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser
aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim
indicando tempo)
como; não só... mas também etc.) Estudo para me considerarem capaz de aprova-
Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua ção. (pretensão de indeterminar o sujeito)
popularidade em alta. Para vocês terem adquirido esse conhecimento,
z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni- foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com-
co núcleo, o verbo fica no singular concordando posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no
com o núcleo único. Mas, se houver determinante particípio)
após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal:
sujeito passa a ser composto. Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu-
Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis ção verbal)
aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono
combustíveis aumentaram. sendo sujeito do infinitivo)
Concordância Verbal do Verbo Ser
Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo
� Concorda com o sujeito no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
Ex.: Nós somos unha e carne. impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”.
� Concorda com o sujeito (pessoa) Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
Ex.: Os meninos foram ao supermercado. com valor genérico)
� Em predicados nominais, quando o sujeito for São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece-
representado por um dos pronomes tudo, nada, dido de preposição de ou para)
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor- Soldados, recuar! (infinitivo com valor de imperativo)
dará com o predicativo (preferencialmente) ou � Concordância do verbo parecer
com o sujeito Flexiona-se ou não o infinitivo.
Ex.: No início, tudo é/são flores. Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta-
vam confiantes”, portanto o infinitivo é flexionado
que ou quem
de acordo com o sujeito, no plural)
Ex.: Quem foram os classificados?
Eles parecem estudar bastante. (locução verbal,
� Em indicações de horas, datas, tempo, distância logo o infinitivo será impessoal)
(predicativo), o verbo concorda com o predicativo
� Concordância dos verbos impessoais
Ex.: São nove horas.
São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica
É frio aqui.
sempre na 3ª pessoa do singular.
Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
� O verbo fica no singular quando precede termos Fazia quinze anos que ele havia se formado.
como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais, Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo
menos etc. junto a especificações de preço, peso, auxiliar fica no singular)
quantidade, distância, e também quando seguido Trata-se de problemas psicológicos.
do pronome o Geou muitas horas no sul.
Ex.: Cem metros é muito para uma criança. � Concordância com sujeito oracional
Divertimentos é o que não lhe falta. Quando o sujeito é uma oração subordinada, o
Dez reais é nada diante do que foi gasto. verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do
� Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora- singular.
ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos.
ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados.
verbo concordará com o termo não preposiciona- Ficou combinado que sairíamos à tarde.
do entre eles. Urge que você estude.
Ex.: Eles é que sempre chegam cedo. Era preciso encontrar a verdade
São eles que sempre chegam cedo.
LÍNGUA PORTUGUESA
É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons- Casos mais frequentes em provas
trução adequada)
São nessas horas que a gente precisa de ajuda. Veja agora uma lista com os casos mais abordados
(construção inadequada) em concursos:
Se ambos os termos puderem ser substituídos por o artigo definido feminino singular “a”. Resposta:
“vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi- Letra A
tuídos por “bem”, ficarão invariáveis.
� Tal qual 3. (TJ-SC – 2010) “Ao meio-dia e ____ , encontrando a
Tal concorda com o substantivo anterior; qual, porta da lancheria _____ aberta, Joana entrou e pediu
com o substantivo posterior. ____ grama de sal e _____ porção de sanduíche.” O tex-
Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os to fica gramaticalmente correto com a inserção de:
pais.
Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais a) meia – meio – meia – meia
quais os pais. b) meio – meia – meio – meia
Silepse (também chamada concordância figurada) c) meia – meia – meia – meia
É a que se opera não com o termo expresso, mas o d) meia – meio – meio – meia
que está subentendido. e) meio – meio – meio – meio 71
Ao meio-dia e [meia hora], [...] a porta da lancheria cidade-satélite – cidades-satélite;
[meio = um pouco] aberta, [...] pediu [meio = meta- público-alvo – públicos-alvo;
de do termo masculino grama] grama de sal e meia elemento-chave – elementos-chave.
porção [...]. Resposta: Letra D Nestes substantivos também é possível a flexão
dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites,
PLURAL DE COMPOSTOS públicos-alvos, elementos-chaves.
z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando Casos que atraem o pronome para ênclise:
livre dos juros.
Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me mui-
z Substantiva apositiva: Ex.: Não mais se vê amigo
to honrada com esse título.
ajudando um ao outro. (subjetiva)
Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por favor.
Agora ouvimos artistas cantando no shopping.
Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o
(objetiva direta)
quanto sou importante.
z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o
coração. Casos proibidos: Início de frase: Me dá esse cader-
no! (errado) / Dá-me esse caderno! (certo).
z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não
Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lembrou
contou a verdade.
de nada (errado) / Falou pouco; lembrou-se de nada
(correto).
Orações Reduzidas de Particípio
Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato
Podem ser adjetivas ou adverbiais. (errado) / Tinha se lembrado do fato (correto).
LÍNGUA PORTUGUESA
z Pleonasmo z Assonância
Consiste na repetição de termos ou ideias com o Figura de linguagem que aborda o uso de som em
objetivo de realçá-las, tornando-as mais expressivas. harmonia. Caracterizada pela repetição de vogais.
Ex.: “É rir meu riso e derramar meu pranto”. (Viní- Ex.: “A pálida lágrima de Flávia” – repetição da
cius de Moraes) vogal a.
“Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se
“Amo muito tudo isso” – repetição do som da vogal u.
a si mesma.” (Machado de Assis).
z Onomatopeia
Dica
Existe o pleonasmo literário, que é um recurso Recurso sonoro que procura representar os sons
estilístico aceitável e muito explorado na litera- específicos de objetos, animais ou pessoas a partir de
tura e na música. O problema é quando o pleo- uma percepção aproximada da realidade.
nasmo se torna vicioso. Expressões como “fatos Ex.: “O tic tac do relógio me deixava mais angus-
reais”, “subir para cima”, “ganhar de graça”, “cego tiado na prova”.
dos olhos” e outras constituem um vício de lin- “Psiiiiiu! – Falou o professor no momento da
guagem. A repetição da ideia torna-se, portanto, reunião”.
desnecessária, pois não traz nenhum reforço à
ideia apresentada. z Hipérbato ou Inversão
z Anacoluto
Ex.: O sonho de muitos candidatos é chegar ao Processo expressivo que enfatiza o aspecto semân-
Palácio do Planalto (O sonho de muitos candida- tico da linguagem. As figuras de pensamento introdu-
tos é chegar à Presidência da República). zem uma ideia diferente daquela que a palavra em
seu sentido real exprime.
O inventor pelo invento:
z Antítese
Ex.: Diego comprou um Picasso no museu (Diego
comprou uma obra de Picasso no museu). Consiste no emprego de conceitos que se opõem e
que podem ocorrer de maneira simultânea em uma
A matéria pelo objeto: mesma oração. Na antítese, os conceitos antônimos
não se contradizem e estão relacionados a referentes
Ex.: Custou-me apenas algumas pratas aque- distintos.
la mobília. (Custou-me apenas algumas moedas Ex.: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” (Viní-
aquela mobília.) cius de Moraes)
“O mito não é nada que é tudo”. (Fernando Pessoa)
O proprietário pela propriedade
z Personificação ou Prosopopeia
Ex.: Vou ao médico buscar meus exames (Vou ao
consultório médico buscar meus exames). Consiste em atribuir características, sentimentos e
comportamentos próprios de seres humanos a seres
z Sinédoque irracionais ou inanimados. É uma figura muito usada
em textos literários, como fábulas e apólogos.
Ex.: “O cravo brigou com a rosa debaixo de uma
Atualmente as gramáticas não realizam distinção
sacada...” (cantiga popular).
entre metonímia e sinédoque; a diferença entre essas
“As pedras andam vagarosamente”.
figuras é tênue. Na sinédoque, a relação que se estabe-
lece entre os termos é quantitativa, ou seja, quando
z Paradoxo
se amplia ou se reduz a significação das palavras. As
relações entre os termos são basicamente as seguin-
Consiste no emprego de conceitos opostos e contra-
tes: parte pelo todo, singular pelo plural, gênero pela
ditórios na representação de uma ideia. No paradoxo,
espécie, particular pelo geral (ou vice-versa).
embora os termos pareçam ilógicos, são perfeitamen-
Ex.: O homem é um ser mortal (os homens). te aceitáveis no campo da literatura, o que confere ao
É preciso pensar na criança (nas crianças). autor uma licença poética.
Ex.: “Se lembra quando a gente chegou um dia a
z Antonomásia ou Perífrase acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o
pra sempre sempre acaba” (Cássia Eller)
A antonomásia é uma figura que consiste na subs- “Dor, tu és um prazer!” (Castro Alves)
tituição de um nome próprio (de pessoa) por uma ex-
pressão que lhe confere alguma característica ou atri- z Eufemismo
buto que o distingue (epíteto). É a substituição de um
nome por outro, o que pode configurar uma espécie Consiste no emprego de uma palavra ou expressão
de apelido para o ser designado. que serve para amenizar/ suavizar uma informação
Ex.: O poeta dos escravos é autor do célebre poema desagradável ou fatídica. É um recurso essencial para
“O navio negreiro”. (Castro Alves) validar a polidez nas relações sociais.
Este aeroporto tem o nome do pai da aviação. (San- Ex.: “Suzanna é uma mulher desprovida de bele-
76 tos Dumont) za.” (feia)
“Aquele pobre homem entregou a alma a Deus” 2. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO – 2020) A amiza-
(morreu) de é tema recorrente na música popular, e as letras
das canções fazem uso, muitas vezes, de recursos da
z Hipérbole linguagem poética. Há uma hipérbole nos seguintes
versos de uma canção:
Uso de expressões intencionalmente exageradas
para dar maior ênfase à mensagem expressa pelo a) “Amigo, você é o mais certo das horas incertas” –
emissor. Roberto Carlos
Ex.: “Amor da minha vida, daqui até a eternidade b) “Você meu amigo de fé, meu irmão, camarada” –
Nossos destinos foram traçados na maternidade”. Roberto Carlos
(Cazuza) c) “Quero levar o meu canto amigo a qualquer amigo que
“Vou caçar mais um milhão de vagalumes por aí”. precisar” – Roberto Carlos
(Pollo) d) “Eu quero ter um milhão de amigos / E bem mais forte
poder cantar” – Roberto Carlos.
z Ironia
A única opção em que encontramos um exagero no
Consiste em expressar ideias, pensamentos e julga- uso da linguagem, característica da hipérbole, é a
mentos com o sentido contrário do que se diz. A ironia letra D. Resposta: Letra D.
tem como objetivo satirizar uma situação desagradá-
vel ou depreciar alguém pelo seu comportamento.
3. (INAZ DO PARÁ – 2019) Em “a capa verde da mata se
Ex.: “Marcela amou-me durante quinze meses e
espreguiçava ao longo das praias” ocorre uma figura
onze contos de réis...” (Machado de Assis)
de linguagem denominada:
“Parece um anjinho, briga com todos”.
a) Metáfora.
z Gradação
b) Prosopopeia.
c) Gradação.
Consiste na apresentação de ideias sinônimas (ou
d) Antítese.
não) em uma escala progressiva de maior ou menor
intensidade à expressão. Os termos da oração são fru-
A frase destacada pelo enunciado apresenta carac-
tos de uma hierarquia e podem ser de ordem crescen-
terísticas de seres animados em seres inanimados,
te ou decrescente.
marcando o uso da prosopopeia. Resposta: Letra B.
Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bi-
lião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados.”
(Machado de Assis)
“Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Montei-
ro Lobato)
HORA DE PRATICAR!
1. (CRS – 2010) Assinale a alternativa em que todas as
z Apóstrofe
palavras acentuadas nos seguintes trechos recebem o
acento pela mesma regra:
Consiste na invocação de alguém ou alguma coisa
personificada. Essa figura de linguagem realiza-se por
a) Se não é saudável nem prudente apostar na loucura
meio de um vocativo. A apóstrofe é um recurso estilís-
geral, imaginando-se em plena sanidade, há evidên-
tico muito utilizado na linguagem informal (cotidia-
cias (...)
na), nos textos religiosos, políticos e poéticos.
Ex.: “Liberdade, Liberdade! É isso que pretende- b) ... na era moderna, o domínio da lei, o monopólio do
mos nessa luta”. poder coercitivo e a soberania nacional (...). A lei trata
“Senhor, tende piedade de nós”. as pessoas, se não como iguais, pelo menos sem con-
siderar as contingências sociais mais óbvias.
c) Alguém já dizia que há método na loucura, mas a des-
razão caprichou na metodologia.
EXERCÍCIOS COMENTADOS d) Tal estado de excepcionalidade deságua na prolife-
ração legislativa casuística e na ameaça permanente
1. (CONSESP – 2018) Assinale a alternativa que apre- ao caráter abstrato e universal da norma jurídica. A
senta a figura de linguagem denominada metáfora. contradição se torna aguda: de um lado, a liberdade
LÍNGUA PORTUGUESA
Marque a alternativa CORRETA que corresponda ao (Rosenthal, Marcelo et al. Interpretação de textos e
momento da narrativa que é evidenciado pelo trecho semântica para concursos. Rio de Janeiro: Essevier,
acima: 2012)
a) Momento ápice ou clímax da narrativa. A partir do texto lido, podemos afirmar que, para o
b) Momento subsequente ao ápice ou clímax da narrativa. autor, viver em sociedade é:
LÍNGUA PORTUGUESA
9 GABARITO
1 B
2 B
3 B
4 C
5 D
6 D
7 A
8 C
9 C
10 A
11 A
12 D
13 C
14 C
15 C
16 B
17 D
18 C
19 A
20 B
ANOTAÇÕES
82
Importante!
A regra é a atividade da lei penal, ou seja, sua
aplicação somente durante seu período de
DIREITO PENAL vigência. Como exceção, temos a extratividade
da lei penal mais benéfica, ou seja, sua aplicação
para regular situações passadas (retroatividade)
ou futuras (ultratividade)
Assim sendo, nossos próximos passos serão estu- Observe as duas situações no Fluxograma a seguir:
dar a eficácia da lei penal no tempo e no espaço. Nas
próximas páginas conhecer os princípios que regem a Retroativida de Benéfica
aplicação da lei penal nestas duas dimensões: Quanto
ao lugar (espaço), veremos que ser aplica o princípio
da ubiquidade; em relação ao tempo, o princípio da
atividade. Um mnemônico que resume os dois princí- Nova lei
pios que iremos estudar: L. U. T. A. (Lugar, Ubiquida- Fato Sentença
em vigor
de, Tempo, Atividade).
cia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: cer de o próprio complemento da norma incompleta
Pena - detenção, de três meses a um ano. necessitar de outro complemento, ou seja, é preciso
uma dupla complementação. Neste acaso, temos o
Neste caso, o dispositivo penal não esclarece o que se usa chamar de normal penal em branco ao
que é “impedimento que lhe cause nulidade absolu- quadrado.
ta”. O complemento, neste caso, deve ser buscado em Ainda em relação às normas penais em branco,
fonte legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco vale a pena lembrar que é importante saber diferen-
do art. 237, CP é complementado pelas hipóteses de ciá-las dos tipos penais abertos. O tipo penal aber-
impedimento tratadas pelo Código Civil, em seu art. to, assim como na norma em branco, é uma norma
1521. Este caso é o que se chama de norma penal em incompleta que necessita de complementação. A 85
diferença, no entanto, é que no tipo penal aberto a O Direito Penal brasileiro adotou, em relação
complementação é feita por meio de um juízo de valo- ao tempo do crime, a teoria da Atividade, por isso,
ração realizado pelo juiz, isto é, o complemento vem considera-se praticado o crime no momento da
da valoração feita pelo magistrado e não de uma outra conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o
norma. momento do resultado (art. 4º, CP).
Agora que já vimos o conceito de norma penal em Ilustrando: no caso de um homicídio, é essencial
branco e suas particularidades, vamos fazer uma rela- que se determine o instante da ação (momento dos
ção dela com a questão do direito no tempo. tiros, por exemplo) e não o momento do resultado
Vamos voltar ao exemplo do art. 33 da Lei nº (morte) pois, se o autor for menor de 18 anos à época
11.343/06 (tráfico ilícito de drogas). O que ocorreria, dos tiros, ainda que a vítima morra depois do atirador
por exemplo, se houvesse a retirada de certa substân- ter completado a maioridade penal, ele não pode res-
cia psicoativa da portaria da ANVISA, que define as ponder criminalmente pelo ato.
drogas para efeito da Lei nº 11.343? Imagine um sujei- A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º, em relação
to que é pego vendendo a droga “X”, que consta na ao tempo do crime, é a teoria da ATIVIDADE. Leva-
Portaria, e passa a responder pelo crime de tráfico de -se em conta, pois, o momento da conduta (ação ou
omissão), pouco importando o instante do resultado.
drogas. Com a retirada da substância da norma com-
Veja o esquema a seguir como exemplo:
plementar, como ficaria a situação do agente?
Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica,
descriminalizando o comportamento, por força da Tempo do Crime (Art. 4º)
abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico
não pela revogação da Lei que considerava o fato típi- Conduta Resultado
co, mas sim de seu complemento.
Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237 do CP. O
Sentença Morte da
Código Civil de 1916, em seu art. 183, VII, previa que Vítima
um dos impedimentos absolutamente dirimentes era
o casamento do cônjuge adúltero com o corréu conde-
nado por tal crime. No entanto, o Código Civil de 2002 Vítima
não trouxe tal impedimento, ocorrendo, pois, abolitio Considera-se hospitalizada
criminis, que retroagiu em favor de eventuais réus. praticado no tempo
A retroação benéfica, por outro lado, não ocor- da conduta (Teoria
re quando se tratar de complementos que tenham da Atividade, art. 4º)
caráter excepcional ou temporário, como foi o
caso, por exemplo, da Lei nº 1.521/51, a Lei de Crimes
Contra a Economia Popular: o comerciante que fosse É na data da conduta, portanto, que:
flagrado vendendo produto com preço acima do que
constasse em tabela oficial respondia pelo ato, ainda z Se verifica a imputabilidade penal: no nosso
que o congelamento, com a respetiva revogação da exemplo, o fato de ser o autor, maior ou menor de
tabela, se encerrasse antes da conclusão do inquérito 18 anos;
policial ou do processo penal. z Se fixam as circunstâncias do crime: qualifica-
doras, causas de aumento ou diminuição de pena,
Do tempo do crime agravantes ou atenuantes (como, por exemplo, ser
a vítima criança ou maior de 60 anos, que contam
Como vimos anteriormente, logo em seus primei- como agravantes; ou ser o autor menor de 21 anos,
ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da o que vai servir como atenuante).
aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân-
cia de se conhecer o tempo do crime? Tempo do crime nas infrações permanentes e
Determinar o tempo do crime é essencial, em pri- continuadas
meiro lugar, para saber que lei será aplicada no
caso concreto. Da mesma forma, é imprescindível Nestes casos, será aplicada regra especial, que
para verificar a imputabilidade do agente (que consta na Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave
aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
pode ser menor de 18 no momento da conduta), fixar
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade
as circunstâncias do tipo penal, verificar a prescri-
ou da permanência”.
ção, dentre outros aspectos.
Crime permanente é aquele cuja consumação
Existem três teorias que podem ser consideradas
se prolonga no tempo pela vontade do sujeito ativo
para se determinar o tempo do crime:
como, por exemplo, no caso de um sequestro. Neste
caso, é considerado tempo do crime todo o período em
TEORIA DA Considera-se praticado o crime que se desenrolar a atividade criminosa. Assim sen-
ATIVIDADE no momento da conduta. do, se um sequestrador, menor de 18 anos quando do
início da prática do crime atinge a maioridade ainda
TEORIA DO Considera-se praticado o crime com o delito em curso, é considerado imputável para
RESULTADO no momento do resultado. os fins penais.
Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí-
Considera-se praticado o cri-
dica criada para beneficiar o réu, prevista no art. 71
TEORIA MISTA OU me tanto no momento da con-
do CP e será estudado mais adiante. Por enquanto,
DA UBIQUIDADE duta quanto no momento do
basta saber que o crime continuado ocorre quando o
resultado.
86 agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie,
mediante duas ou mais condutas, sendo que, pelas z Especialidade;
condições de tempo, lugar, modo de execução, são z Subsidiariedade;
tidos uns como continuação dos outros. z Consunção (ou absorção);
Por exemplo, um empregado de uma loja de fer- z Alternatividade (este último não é unânime entre
ramentas visando subtrair um kit de ferramentas os autores, conforme veremos ao estuda-lo).
do estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta
por dia, até ter em suas mãos o kit completo. 60 dias Antes de verificar se há leis concorrentes, deve-
depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e -se analisar se não é o caso da ocorrência de suces-
vai ter cometido 60 furtos! Não fosse a regra benéfica são temporal de leis. Ou seja, a primeira “peneira”
do art. 71 do CP, a pena mínima neste caso somaria 120 a ser feita, é verificar se não se trata de conflito de
anos de reclusão! Reconhecendo-se a ocorrência de leis no tempo, que são solucionados pelo princípio
crime continuado, ocorrerá a chamada exasperação: de que lei posterior revoga lei anterior (lex posterior
no nosso exemplo específico, será aplicada ao agente derogat priori). Por exemplo, a Lei “A” regra determi-
a pena de um só dos furtos aumentadas de 1/6 até 2/3. nada situação; Lei “B”, posterior, revogando a lei mais
No entanto, não nos interessa, neste momento, ingres- antiga, passa a viger tratando do mesmo conteúdo;
sar no tema do crime continuado, nos basta apenas neste caso não há conflito aparente de normas, mas
a noção do fenômeno para que possamos discutir a sim aplicação das regras relativas à lei penal no tempo
questão do tempo do crime quando de sua ocorrência. vistas anteriormente.
Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá- Uma corrente minoritária de autores inclui a
vel ao crime permanente (Súmula 711 do STF) deve sucessão temporal de leis como um princípio de solu-
ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva ção do conflito aparente de normas (como é caso do
quanto às condutas praticadas pelos menores de 18 Prof. Guilherme Nucci, que o apresenta como “critério
anos, por força do artigo 228 da CF que determina sua da sucessividade”).
inimputabilidade: na hipótese de um sujeito cometer Vamos agora, analisar detalhadamente cada um
quatro furtos, possuindo 17 anos quando do come- deles.
timento dos dois primeiros, e já 18, no momento da
Princípio da Especialidade
prática dos dois últimos, somente estes dois é que ser-
virão para constituir o crime continuado. Lei especial afasta a aplicação de lei geral (lex spe-
cialis derogat generali), como, a propósito, encontra-se
Tempo do Crime e conflito aparente de normas previsto no art. 12 do Código Penal:
O conflito aparente de normas (ou concurso apa- Art. 12 As regras gerais deste Código aplicam-se
rente de normas) se estabelece quando duas ou mais aos fatos incriminados por lei especial, se esta não
normas aparentemente parecem ser aplicáveis ao dispuser de modo diverso
mesmo fato.
Por exemplo: um sujeito resolve importar, via cor- Uma norma penal incriminadora (que descreve
reio, uma determinada substância entorpecente. Num crimes e comina penas) é especial em relação a outra
primeiro momento, pode parecer que se aplique ao quando:
caso o previsto no art. 334 do Código Penal, que trata
z Possui em sua definição legal todos os elementos
do crime de contrabando. Ocorre que o mesmo fato
típicos que constam na geral; e
está previsto no art. 33 da Lei de Drogas. Parece, pois,
que as duas normas parecem ser aplicáveis ao mes- z Apresenta mais alguns elementos (de natureza
mo fato. No entanto o conflito é apenas aparente, uma objetiva ou subjetiva), chamados de especializan-
vez que a própria lei apresenta mecanismos para sua tes, que a tornam mais ou menos severa do que a
solução: no caso do nosso exemplo, aplica-se o art. 33 geral.
da Lei de Drogas (tráfico ilícito de drogas), por se tra-
Vamos exemplificar. O tipo penal do homicídio
tar de lei especial (o tráfico internacional de drogas se
simples, descrito abaixo, é lei geral:
distingue do contrabando porque se refere, especifi-
camente, a um determinado tipo de mercadoria proi- Homicídio simples
bida, a droga. O mesmo ocorre com o tráfico de armas,
previsto no Estatuto do Desarmamento). Art. 121 Matar alguém.
Note, o conflito é apenas aparente, pois somente
uma delas acaba regulamentando o fato, afastan- Compare com o tipo penal do infanticídio, outro
do as demais. dos crimes contra a vida:
Para que ocorra o conflito aparente de normas,
Infanticídio
devem estar presentes dois pressupostos:
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe-
z Unidade de fato, ou seja, a existência de uma única ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após.
infração penal (por exemplo: uma morte);
DIREITO PENAL
z Pluralidade de normas identificando o mesmo fato O infanticídio (crime específico) é lei especial em
como delituoso, isto é, duas ou mais normas pre- relação ao homicídio (crime genérico), uma vez que
tensamente regulando o mesmo fato criminoso. contém mais elementos:
z O crime de ameaça (art. 147, CP) é subsidiá- Ex.: Extorsão mediante sequestro (art. 159)
rio (“cabe”) no delito de constrangimento ilegal
mediante ameaça (art.146). Este, por sua vez, é z Lei subsidiária (é parte)
subsidiário ao crime de extorsão (art. 158. CP); Ex.: Sequestro e cárcere privado (art. 148)
z O crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei
nº 10.826/03) se encaixa no crime de homicídio Princípio da Consunção ou absorção
cometido com disparo de arma de fogo (art. 121, CP)
Trata-se do princípio segundo o qual o fato previs-
Veja que há um só fato. No exemplo da morte cau- to por uma lei está, igualmente, contido em outra de
sada por disparo de arma de fogo, o fato (disparo que maior amplitude, aplicando-se somente esta última.
acaba matando) é maior do que a norma subsidiara Os fatos menos amplos e menos graves servem como
(mero disparo), só podendo, portanto, se encaixar na preparação ou execução ou mero exaurimento.
norma principal (mais ampla). Ou seja, ocorre a consunção ou absorção, quando:
A subsidiariedade se apresenta nas seguintes
formas: z Um fato definido por uma norma incriminadora é
meio necessário ou normal fase de preparação ou
z Expressa ou explícita: ocorre quando a própria execução de outro crime;
norma indica expressamente em seu texto seu
caráter subsidiário, ou seja, afirma que só vai ser z Quando constitui conduta anterior ou posterior do
aplicada se não for o caso da aplicação de outra, agente, cometida com a mesma finalidade prática
de maior gravidade. Esta é mais simples de ser relativa ao crime que absorve.
88
A consunção tem várias aplicações: a tentativa é Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
absorvida pela consumação; a participação pela coau- duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe-
toria; e o porte de arma é absorvido no homicídio recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
quanto a arma é adquirida e portada com a finalida- guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
de de matar a vítima. É utilizada, também, no crime ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
progressivo (aquele no qual o agente possui um só autorização ou em desacordo com determinação
desígnio, mas, para alcançar o resultado mais grave, legal ou regulamentar.
passa pelo menos grave. Em outras palavras, é quan-
do o agente desde o início quer alcançar o resultado Note que são dezessete verbos (núcleos diferen-
mais grave, e o busca, por meio de atos sucessivos e tes): pelo princípio da alternatividade, se o agente
crescentes, como por exemplo no caso do homicida pratica mais de um verbo, no mesmo contexto fático,
que deseja matar a vítima cortando as partes do cor- só responderá por um único crime (por exemplo, se o
po: embora cometa várias ações, sua intenção é matar sujeito oferece e ministra).
a vítima e, assim, reponde por um único crime de
homicídio qualificado. A LEI PENAL NO ESPAÇO
Outra aplicação da consunção se dá na progres-
são criminosa, ou seja, quando o agente possui um Ao estudar, nos arts. 5º a 8º do CP, a aplicação da
dolo inicial e, no mesmo contexto fático, resolve subs- lei penal no espaço vamos tratar do lugar de incidên-
tituir o desígnio, como, por exemplo, quando o sujeito, cia da legislação penal brasileira, ou seja, ONDE ela é
desejando causar lesões à vítima, corta seus dedos. No aplicada. Não vamos ver, neste momento, regras de
entanto, no mesmo momento, muda de ideia e resolve competência, que se encontram nos arts. 70 e seguin-
matar o ofendido com um tiro na cabeça. Neste caso, o tes do Código de Processo Penal (CPP).
agente responde pelo homicídio, ficando as lesões cor-
porais absorvidas (se não fossem no mesmo contexto Territorialidade
fático, como por exemplo no caso do agente que mata
a vítima um mês após causar-lhe lesões, haveria, por O princípio adotado para tratar do âmbito da apli-
outro lado, concurso de crimes, respondendo o agente cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri-
pelos dois delitos). torialidade, que se encontra disposto no art. 5º do CP:
Duas outras aplicações do princípio se dão nos
chamados ante factum impunível e no post factum Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de
convenções, tratados e regras de direito internacio-
impunível. No primeiro caso, podemos citar, como
nal, ao crime cometido no território nacional.
exemplo, o agente que toca o corpo da vítima e, na
mesma linha de desdobramento, praticar a conjun-
O princípio da territorialidade significa que a lei
ção carnal: responde pelo estupro, ficando os toques
penal de um país só é aplicável no território do Estado
absorvidos. Já no caso do fato posterior não punível, o
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade
exemplo clássico é o do sujeito que furta determinada
coisa e em seguida a destrói: vai responder somente do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima).
pelo furto. O princípio da territorialidade pode se dar de duas
Em relação ao princípio da consunção, duas ques- formas:
tões são recorrentes em concursos:
z De forma absoluta (princípio da territorialidade
z A primeira diz respeito ao porte ilegal de arma absoluta) quando somente a lei penal do país é
de fogo, disparo de arma de fogo e homicídio aplicável aos crimes cometidos em seu território
doloso: se tudo ocorreu no mesmo contexto fático nacional; e
(mesmo desdobramento, ou seja, o agente só por- z De forma temperada, relativizada ou mitigada
tou irregularmente a arma e a disparou pois tinha (princípio da territorialidade temperada) quan-
a intenção de matar alguém) o homicídio absorve do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao
os anteriores; e crime cometido no território nacional, mas, excep-
z A segunda é relacionada aos crimes de falsida- cionalmente, por força de tratados e convenções
de e estelionato: neste caso, basta observar o que internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli-
dispõe a Súmula 17 do STJ: quando o sujeito falsifi- tos praticados em território nacional.
ca documento para aplicar um golpe, o estelionato
(crime-fim) absorve o falso (crime-meio). Como regra, o Brasil adota o princípio da territoria-
lidade temperada e 4 outros princípios como exceção:
E lembre-se: em qualquer situação, para que haja
consunção é imprescindível que os fatos de deem den- z Real ou de proteção ou da defesa: art. 7º, I e § 3º,
tro do mesmo contexto. CP (exceção: extrataterritorialidade). A lei penal
A figura utilizada para fazer referência ao prin- leva em conta a nacionalidade do bem jurídico
cípio da consunção é da de um peixão, que engole lesado pelo delito, sem se importar com local de
um peixinho que engole o girino: isto é, o homicídio sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo.
absorve as lesões graves, que absorvem as lesões leves z Justiça penal universal ou princípio universal
DIREITO PENAL
Antes de finalizar a chamada teoria da norma e tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação
ingressar na teoria do crime, falta falar brevemente temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e
sobre o prazo penal, estabelecido no art. 10, CP. à pena cumprida no estrangeiro.
O prazo penal e o prazo, processual são contados A lei penal que, de qualquer modo, beneficia o agen-
de maneiras diferentes: te tem, em regra, efeito extra-ativo, ou seja, pode
retroagir ou avançar no tempo e, assim, aplicar-se ao
z Prazo penal (regra art. 10, CP): inclui-se o primei- fato praticado antes de sua entrada em vigor, como
ro dia, despreza-se o último; também seguir regulando, embora revogada, o fato
z Prazo processual penal (regra art. 798, § 1º, CPP): praticado no período em que ainda estava vigente. A
despreza-se o primeiro dia, conta-se o último; única exceção a essa regra é a lei penal excepcional 91
ou temporária que, sendo favorável ao acusado, terá Nessa questão, devemos saber conhecer a Extrater-
somente efeito retroativo. ritorialidade: condicionada e incondicionada. Na
extraterritorialidade condicionada:
( ) CERTO ( ) ERRADO � o agente deve entrar em território brasileiro,
� o fato deve ser punível em ambos territórios,
A regra no Direito Penal é de que Leis Excepcionais � o crime deve estar incluído entre aqueles pelos
não possuem efeito retroativo, apenas ultra ativo. quais o Brasil autoriza a extradição.
Vejamos o texto do art. 3º, do CP: Não há o que se falar em cumprir no Brasil nas
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora seguintes hipóteses:
decorrido o período de sua duração ou cessadas � se o agente cumpriu a pena no exterior;
as circunstâncias que a determinaram, aplica-se � se o agente for absolvido ou perdoado no estrangeiro;
ao fato praticado durante sua vigência. Resposta: � não estar extinta a punibilidade.
Na extraterritorialidade incondicionada o indiví-
Errado.
duo é condenado no Brasil, mesmo que tenha sido
absolvido ou condenado no estrangeiro. Resposta:
4. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- Errado.
tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação
temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e
à pena cumprida no estrangeiro.
A bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, em
sobrevoo pelo território argentino, Andrés, cidadão TÍTULO II: DO CRIME
guatemalteco, disparou dois tiros contra Daniel, cida-
dão uruguaio, no decorrer de uma discussão. Contu- Nomenclatura
do, em virtude da inabilidade de Andrés no manejo da
arma, os tiros atingiram Hernando, cidadão venezue- A doutrina brasileira utiliza o termo Infração de
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e
lano que também estava a bordo. Nessa situação, em
as contravenções.
decorrência do princípio da territorialidade, aplicar-se-
O Código Penal não utiliza em seu texto a expres-
-á a lei penal brasileira.
são delito, optando por utilizar as expressões infra-
ção, crime e contravenção, sendo que estas duas
( ) CERTO ( ) ERRADO últimas estão incluídas na primeira
No Código de Processo Penal há certa confusão:
Encontramos a resposta da questão no Princípio da algumas vezes usa o termo infração, de forma genéri-
Territorialidade. Vejamos o texto do art. 5º, do CP: ca, incluindo os crimes (ou delitos) e as contravenções
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 etc.). Em
convenções, tratados e regras de direito internacio- outras situações, emprega a expressão delitos como
nal, ao crime cometido no território nacional. sinônimo de infração (por exemplo, conforme consta
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como nos arts. 301 e 302, CPP).
extensão do território nacional as embarcações e Para os fins do nosso estudo temos, então que
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a ser- infração penal pode significar crime (ou delito) e
viço do governo brasileiro onde quer que se encon- contravenção penal.
trem, bem como as aeronaves e as embarcações As diferenças entre crime e contravenção serão
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, vistas mais adiante.
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
Conceito de crime
correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes
O conceito de crime não é natural e sim algo arti-
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes-
estrangeiras de propriedade privada, achando-se
ses da sociedade. Mas o que é crime?
aquelas em pouso no território nacional ou em voo Podemos responder esta pergunta de três dife-
no espaço aéreo correspondente, e estas em porto rentes formas, olhando para o crime sob diferentes
ou mar territorial do Brasil. Resposta: Certo. aspectos: material, formal e analítico.
Vamos ver o conceito de crime de acordo com cada
5. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- um desses pontos de vista:
tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação
temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
à pena cumprida no estrangeiro. dade tem sobre o que pode e deve ser proibido
Jurandir, cidadão brasileiro, foi processado e conde- por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse
nado no exterior por ter praticado tráfico internacional aspecto, o conceito material de crime consiste
de drogas, e ali cumpriu seis anos de pena privativa de na conduta que ofende um bem juridicamen-
liberdade. Pelo mesmo crime, também foi condenado, te tutelado (bem juridicamente considerado
no Brasil, a pena privativa de liberdade igual a dez anos essencial para a existência da própria sociedade e
e dois meses. manutenção da paz social);
Nessa situação hipotética, de acordo com o Código z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi-
Penal, a pena privativa de liberdade a ser cumprida por to. Assim, o conceito formal de crime constitui
Jurandir, no Brasil, não poderá ser maior que quatro uma conduta proibida por lei, que se realizada,
anos e dois meses. resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
crime, dessa forma, o que o legislador apontar
92 ( ) CERTO ( ) ERRADO como tal;
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
dos: sob o aspecto analítico, se procura apontar, Importante!
estabelecer os elementos estruturais do crime.
A Constituição Federal prevê nos arts. 173, § 5º,
Vejamos:
e 225, § 3º, que a legislação ordinária estabeleça
Conceito analítico de crime a punição da pessoa jurídica nos atos cometidos
contra a economia popular, a ordem econômica
Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado- e financeira e o meio ambiente. Atualmente ape-
res enxergam o crime de formas diferentes. Existem nas a Lei nº 9.605/98, Lei de Proteção Ambiental
várias correntes, mas as principais são duas: prevê essa responsabilidade. Ou seja, a pessoa
jurídica responde por crime ambientais.
� A que entende que o crime é Fato Típico + Anti-
jurídico (concepção bipartida), sendo a culpabi-
lidade pressuposto de aplicação da pena (entre Existem várias nomenclaturas em lei para se refe-
eles René Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de rir ao sujeito ativo: “agente” (por exemplo, nos arts.
Jesus, Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson); e 14, II; 15; 18, I e II; 19; 20, § 3º; 21, parágrafo único;
z A que concebe o crime como um Fato Típico + 23, caput e parágrafo único; 26, caput e parágrafo
Antijurídico + Culpável (concepção tripartida único, todos do CP); “indiciado”, na fase do inquérito;
ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil acusado, denunciado, réu durante a fase processual;
quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto “sentenciado”, “preso”, “condenado”, “detento” ou
aqueles que adotam a teoria da conduta finalista “recluso”, para aqueles que já foram condenados.
(como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni, Usa-se, ainda, sob o ponto de vista biopsíquico, as
Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou expressões “criminoso” ou “delinquente”.
causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques, Por outro lado, sujeito passivo é entendido como
Aníbal Bruno e Magalhães Noronha). o titular do bem jurídico cuja ofensa fundamenta o
crime. Existem duas espécies:
Diferença entre crime e contravenção
z Sujeito passivo formal ou constante ou geral ou
Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte- genérico: é o Estado;
ressante fazer a distinção entre crime e contravenção z Sujeito passivo material ou eventual ou particu-
penal (também chamada de crime anão ou delito Lili- lar ou acidental: o titular do interesse protegido
putiano ou crime vagabundo ou delitti nani). penalmente (pode ser o ser humano, pessoa jurídi-
Existem países que utilizam a classificação tripar- ca, a coletividade ou o Estado).
tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven-
ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação
É importante salientar que pessoa incapaz pode
bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou
ser sujeito passivo do crime (recém-nascido, menor
delitos) e contravenções.
em idade escolar, portador de deficiência mental etc.).
Não existe um dado único que faça a distinção
É possível ser sujeito passivo mesmo antes de nascer,
entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes
quanto as contravenções configuram comportamen- pois o feto tem direito à vida, bem jurídico protegido
tos que violam mandamentos legais que possuem pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126, CP). Pes-
como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis- soa morta e animais não podem ser sujeitos passivo,
tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê pois não são titulares de direitos (podem ser objetos
tais condutas. materiais; a titularidade é de outros: família, coletivi-
No entanto existem outros elementos que ajudam dade etc.). Aproveitando que mencionamos objeto do
na distinção. crime, guarde:
Em relação às penas: os crimes são punidos com
penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção), z Objeto jurídico consiste no bem ou interesse tute-
restritivas de direitos e multa; já as contravenções são lado pela norma penal (como vida, patrimônio,
punidas com prisão simples e/ou multa. honra etc.); e
Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o z Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual
dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade. recai a conduta criminosa (por exemplo a coisa
Por último, é possível a tentativa nos crimes, móvel, no furto).
enquanto ela é incabível nas contravenções.
Classificação dos crimes
Sujeitos do crime
Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra-
DIREITO PENAL
entre o fato
praticado e a ciado de questão.
previsão legal: Dolo alternativo se configura quando o agente age
Art.158,CP com indiferença, buscando um resultado ou outro
(Extorsão)
(não se trata de uma forma independente de dolo).
Exemplo de dolo alternativo é o do agente que encon-
Conduta tra uma carteira em um banco de praça e a leva para
casa, pouco se importando se alguém a esqueceu ali
ou é de alguém que se encontra brincado com o filho
A conduta é toda ação ou omissão humana, cons-
no parque que fica dentro da praça. Neste caso pode
ciente e voluntária, dirigida a determinada finalidade. 95
ter praticado o crime de furto (art. 155, CP) ou de apro- consumando-se no momento da prática da conduta,
priação de coisa achada (art. 169, II, CP). como no caso do delito de invasão de domicílio).
São elementos do Dolo:
Nexo de causalidade ou nexo causal ou relação de
z Consciência da conduta e do resultado; causalidade
z Consciência da relação causal objetiva entre a
conduta e o resultado; Trata-se do elo que une a causa ao resultado e
z Vontade de realizar a conduta e de produzir o encontra-se expressamente previsto no art. 13, CP:
resultado.
Relação de causalidade
Culpa
Art. 13 O resultado, de que depende a existência do
A culpa, por sua vez, não exige a intenção do agen- crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
te de agredir a norma, mas ele acaba agindo de forma Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
descuidada para com o bem jurídico. No crime culpo- resultado não teria ocorrido.
so, o resultado ilícito não é desejado, mas é previsível
e poderia ter sido evitado. Tal descuido se concretiza De forma simples, o resultado naturalístico deve
por meio da negligência, imprudência ou imperícia ter sido causado pela conduta praticada pelo agente (o
(espécies de culpa, conforme o art. 18, II, CP). agente só responde se sua conduta tiver influenciado
z Imprudência: é a forma ativa de culpa em que no resultado).
o agente executa um comportamento sem caute- Ao tratar do nexo de causalidade, o CP adotou, no
la (de forma precipitada ou com insensatez). Ex.: art. 13, caput, 2ª parte, a chamada teoria da equiva-
o sujeito que dirige em alta velocidade dentro da lência dos antecedentes causais (também conhecida
cidade, onde pedestres por todos os lados. por conditio sine qua non) que considera causa a ação
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocor-
z Negligência: é a forma passiva de culpa em que o rido. Por esta teoria todos os antecedentes se equiva-
agente deixa de agir, fica inerte, por descuido ou lem, ou seja, todas as causas tem o mesmo valor.
desatenção, quando era necessário agir de modo Para saber se uma conduta é causa do resultado
contrário. Ex. não acionar o freio de mão ao esta- basta, mentalmente, excluí-la da série causal. Se, com
cionar o veículo em uma ladeira sua exclusão, o resultado deixar de ocorrer do modo
z Imperícia: consiste na imprudência no campo que ocorreu, é considerada causa (esse processo é cha-
técnico, pressupondo a falta de cautela relativa ao mado de Processo Hipotético de Eliminação Thyrén).
exercício de uma arte, um ofício ou uma profissão. Esta teoria, se mal interpretada, pode levar a
Ex.: no caso do médico que deixa de tomar os cui- excessos (regressus ad infinitum), como no caso de um
dados necessários quanto à assepsia antes de uma homicídio com arma de fogo, em o comerciante que
cirurgia, o que acaba por causar uma infecção que vendeu a arma e, antes dele, o dono da fábrica que
provoca a morte do paciente. produziu o armamento também teriam dado causa ao
resultado! Como solucionar tal situação injusta? Neste
Sempre nas questões que envolvem o dolo even- caso, temos que verificar se tanto o comerciante quan-
tual e culpa consciente, se fizermos uma leitura to o industrial agiram com dolo ou culpa: caso nega-
rápida, podemos ficar com dúvida. Portanto, vamos tivo, não serão responsabilizados (não há fato típico).
fazer a segunda leitura da questão e identificar as Tema importantíssimo ao tratar de nexo causal diz
palavras que diferenciam o dolo eventual da culpa respeito às concausas e seus efeitos
consciente. Concausas são as causas concomitantes que se
unem para gerar o resultado. Na prática não há dis-
Crime Preterdoloso ou Preterintencional
tinção entre causas e concausas. As causas podem ser
Trata-se de uma espécie de crime qualificado preexistentes, concomitantes e supervenientes, abso-
pelo resultado. Neste caso, o agente quer causar um luta ou relativamente independentes da conduta do
determinado resultado (possui dolo quanto a este sujeito.
resultado), mas acaba causando outro resultado, de A questão aqui é que temos duas possíveis causas
forma culposa (possui dolo no antecedente e culpa no para um único resultado, e é necessário se determinar
consequente. de que forma o agente deverá ser responsabilizado,
Ocorre, por exemplo, na lesão corporal seguida tendo em vista sua contribuição para o resultado final
de morte, quando o agente quer lesionar (dolo) mas do crime. Ou seja, a responsabilização vai variar de
acaba matando (por culpa). Neste caso a conduta sub- acordo com a relevância da concausa (se ela contri-
sequente (morte) vai servir como um evento qualifica- buiu ou não para o resultado produzido).
dor (vai responder pelo crime na forma mais grave). Primeiramente vamos ver a hipótese das causas
absolutamente independentes: da conduta do sujeito.
Resultado Vamos tratar por meio de exemplos, pois é a forma
mais fácil de se entender:
O segundo elemento do fato típico é o resultado,
que nada mais é do que a modificação do mundo exte- z 1º caso (causa preexistente): imagine a situa-
rior causada pela conduta (é o que se chama de resul- ção em que o genro envenena a sogra no café da
tado naturalístico: aplicação da teoria naturalística). manhã. O veneno “A” leva tempo para agir. Na
No entanto nem todo crime tem resultado (natu- hora do almoço, a nora envenena (veneno “B”) o
ralístico), como no caso dos crimes de mera con- suco da sogra, que logo após, cai morta. A necrop-
duta (conforme já vimos, que é aquele em que a lei sia conclui que o veneno “A”, exclusivamente, foi a
96 descreve apenas uma conduta e não um resultado, causa mortis.
Neste caso a conduta da nora não causou o resul- Tipicidade
tado, a morte foi causada por causa preexistente
(envenenamento pelo genro). A nora só vai responder A tipicidade nada mais é do que a convergência, a
pelos atos já praticados, ou seja, tentativa de homi- cominação do fato no mundo com o tipo abstrato pre-
cídio; o genro, por sua vez, responde por homicídio visto na lei. Por exemplo, o fato de eliminar a vida de
consumado. alguém encontra adequação ao previsto no art. 121,
CP, “matar alguém”.
z 2º caso (causa concomitante): nesta hipótese, a As excludentes de tipicidade dividem-se em legais
nora envenena o suco da sogra, uma mulher idosa. (quando expressamente previstas em lei) e suprale-
No momento em que tomava o suco envenenado, gais (implicitamente previstas em lei). Podemos men-
um indivíduo invade a casa para cometer um rou- cionar como exemplos:
bo; assustada, a idosa morre de colapso cardíaco,
exclusivamente. Neste caso, há quebra do nexo z De excludentes legais, o crime impossível (art. 17, CP);
causal e a nora só responde pelos atos já praticados z O impedimento de suicídio (art. 146, § 3º); e
z 3º caso (causa superveniente): neste exemplo a z Retratação no crime de falso testemunho (art. 342, § 2º).
nora envenena o suco da sogra, que o toma, faz
todos os afazeres normais e, mais tarde ao sair de Veja que elas não estão agrupadas em um único
casa, é atropelada e morre, exclusivamente por artigo.
causa do acidente (o veneno não teve tempo de Por sua vez, como causas supralegais podemos
agir). Aqui também não há relação de causalida- citar o princípio da insignificância, já visto anterior-
de, respondendo a nora pelos atos já praticados
mente e também com a chamada adequação social
(homicídio tentado).
(comportamentos que são aceitos normalmente pela
Os três casos acima mostram causas absoluta- sociedade e deixa de ser entendida como lesiva a
mente independentes da conduta do sujeito: houve algum bem jurídico).
quebra no nexo causal e o agente só responde pelos
atos já praticados. Crime impossível
Agora vamos ver as três hipóteses de causas relati-
vamente independentes da conduta do sujeito: Disposto no art. 17, CP.
Pode se dar de três formas:
z 1º caso (causa preexistente): numa briga entre
vizinhos, o vizinho “A” dá um golpe de estilete no z Inidoneidade absoluta do meio: meio escolhi-
braço do vizinho “B’, com a intenção de mata-lo. A do não tem qualquer possibilidade razoável de
vítima era hemofílica, o que fez com que perdesse lesar o bem jurídico (matar alguém com “poder da
grande quantidade de sangue, vindo a falecer. Nes- mente”)
te caso, existe uma relação de causalidade entre a
conduta (“estiletada”) e o resultado (morte), sen- z Impropriedade absoluta do objeto: o objeto
do a causa da morte a hemofilia (condição). Nesta material não reveste o bem jurídico protegido pela
hipótese, a conduta e a causa não são absoluta- norma penal, como tentar matar alguém já morto
mente independentes, mantendo-se o nexo causal: ou abortar não estando a mulher grávida
portanto o vizinho que desferiu o golpe vai respon- z Obra do agente provocador: flagrante prepara-
der pelo resultado. do, ou seja, quando o Estado instiga o crime para
z 2º caso (causa concomitante): um assaltante entra que o sujeito caia em uma “armadilha”, tendo
numa casa e atira no morador que, no momento, tomado providências para que o bem jurídico não
estava infartando, sendo que a lesão causada pelo sofra risco
projétil contribuiu para que ocorresse o evento
morte. Neste caso, há relação de dependência casa- Desistência voluntária, arrependimento eficaz e
-conduta, não havendo quebra do nexo causal; arrependimento posterior
assim sendo o agente responde pelo resultado.
z 3º caso (causa superveniente): uma pessoa balea- A desistência voluntária e o arrependimento efi-
da no peito é socorrida por uma ambulância que, no caz encontram-se previstos no artigo 15 CP.
percurso até o hospital, sofre um acidente, fazendo A desistência voluntária se configura quando
com que a vítima venha a falecer de traumatismo o sujeito inicia o processo executório, mas desiste
craniano. Neste caso há nexo causal, no entanto o voluntariamente de nele prosseguir, evitando a con-
art. 13, § 1º do CP, apresenta uma exceção, excluin- sumação. É o caso, por exemplo, do sujeito que ingres-
do a imputação, fazendo com que o agente só res- sa na casa da vítima e, voluntariamente, desiste da
ponda pelos atos já praticados (superveniência de subtração que pretendia efetuar. Veja que, no caso do
causa relativamente independente). exemplo, se o sujeito desiste do furto pelo risco de ser
surpreendido em flagrante diante do funcionamento
Importante! do sistema de alarme, não se fala em desistência, mas
sim em tentativa punível.
DIREITO PENAL
Crime-obstáculo
MODIFICAÇÃO DA VONTADE DO AGENTE
Classifica-se de crime-obstáculo quando os atos
z Antes de esgotar a execução:
preparatórios são punidos como crime autônomo, por
exemplo, associação criminosa, art. 288, do CP.
Desistência
Voluntária
Atos preparatórios e atos de execução
z Depois de esgotar a Execução:
z Teoria subjetiva: importa a exteriorização da
vontade criminosa pelo agente e não distingue
Arrependimento eficaz
atos preparatórios de atos executórios.
z Consequência jurídica: z Teoria objetiva-formal (majoritária): a execu-
ção inicia-se quando o agente começa a praticar o
Só responde pelos atos já praticados núcleo contido no tipo penal. Antes disso, os atos
são preparatórios.
O arrependimento posterior é uma causa obriga- z Teoria objetiva-material: são atos executórios
tória de diminuição de pena para os crimes pratica- aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
dos sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa, tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do com base na visão de terceira pessoa alheia à con-
infrator até o momento do recebimento da denúncia duta criminosa. (Rogério Cunha Sanches)
ou queixa.
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois z Teoria objetiva-individual: são atos executórios
terços, e prevalece que a redução será tanto maior aqueles em que se inicia a prática do núcleo do
quando mais célere a reparação. tipo, bem como os atos imediatamente anteriores,
com base no plano concreto do agente.
Casos excepcionais de arrependimento posterior no z Teoria da hostilidade ao bem jurídico: a execu-
Código Penal ção inicia-se quando o agente ataca o bem jurídico
Crime consumado e crime tentado z Roubo: Súmula 582, STJ: consuma-se o crime de
roubo com a inversão da posse do bem median-
Para estudarmos os crimes consumados e os crimes te emprego de violência ou grave ameaça, ainda
tentados, é importante conhecermos a iter criminis. que breve tempo e em seguida à perseguição ime-
Segundo Cleber Masson, iter criminis é o caminho diata ao agente e recuperação da coisa roubada,
do crime, corresponde às etapas percorridas pelo sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
agente para a prática de um fato previsto em lei como desvigiada.
infração penal. z Latrocínio: Súmula 610, STF: há crime de latro-
Considerando que já estudamos crime doloso, cínio, quando o homicídio se consuma, ainda que
podemos concluir que iter criminis é um instituto não realize a agente a subtração de bens da vítima.
exclusivo dos crimes dolosos. Há tentativa de latrocínio quando o sujeito age com
98 Os crimes possuem as seguintes fases:
dolo de subtrair e dolo de matar, mas o resultado A redução deve ser basear no iter criminis percor-
morte não ocorre por circunstâncias alheias à sua rido pelo agente.
vontade. O fator determinante para a consumação A definição do crime tentado (at. 14, II, do CP) é
do latrocínio é a ocorrência do resultado morte, uma norma de extensão ou de ampliação, uma vez
sendo dispensada a efetiva inversão da posse. que, o tipo penal deve ser conjugado com o art. 14, II,
O crime é consumado quando nele se reúnem do CP.
todos os elementos da sua definição legal. A tentativa O art. 14, II, do CP, dispõe que a tentativa é o início
ocorre, quando, iniciada a execução, não se consuma de execução de um crime que somente não se consu-
por circunstância alheias à vontade do agente. ma por circunstâncias alheias à vontade do agente.
O ato de tentativa é um ato de execução.
Tentativa Exige-se que o sujeito tenha praticado atos execu-
tórios, daí não sobrevindo a consumação por forças
z Branca ou incruenta (improfícua): o objeto do
estranhas ao seu propósito, o que acarreta em tipici-
crime não é atingido pela conduta. O iter criminis
percorrido, o quantum de redução deve se aproxi- dade não finalizada, sem conclusão.
mar da fração máxima (2/3). A tentativa tem três elementos em sua estrutura:
z Vermelha ou cruenta: o objeto de crime é atingi-
do pela conduta. Considerando o iter criminis per- z Início da execução do crime;
corrido, o quantum de redução da tentativa deve se z Ausência de consumação por circunstâncias alheia
aproximar do mínimo (1/3). à vontade do agente;
z Perfeita ou acabada: o agente esgota todos os z Dolo de consumação.
meios de execução à sua disposição e, mesmo
assim, a consumação não sobrevém por circuns- Não esqueça que o dolo da tentativa é igual ao dolo
tância alheias a sua vontade. da consumação: o sujeito quer o resultado!
z Crime falho: agente dispara tiros na vítima, mas é Exemplo: “A” quer subtrair o celular de “B”. Na
socorrida e sobrevive. consumação, “A” consegue subtrair. Na tentativa,
z Imperfeita ou inacabada: o agente, por fatores quando “A” consegue colocar a mão no celular, é sur-
alheios a sua vontade, não esgota os meios de preendido por “C” que, à distância, percebeu a ação de
execução ao seu alcance, dentro daquilo que con- “A”. Neste momento, “A” deixa o celular e foge do local.
sidera suficiente, em seu projeto criminoso, para A vontade de “A” era: subtrair o celular.
alcançar resultado. O art. 14, II, do CP não tem autonomia, pois a tenta-
z Tentativa propriamente dita: agente, no segundo tiva não existe por si só, isoladamente.
disparo, é interrompido pela chegada de policiais Sua aplicação exige a realização de um tipo incri-
e o crime não se consuma por circunstância alheia minador, previsto na Parte Especial do CP ou pela
à sua vontade. legislação penal especial.
O CP e a legislação extravagante não preveem,
São crimes que admitem tentativa: para cada crime, a figura da tentativa, nada obstante
z Crimes dolosos; a maioria deles seja com ela compatível.
Isso explica o motivo pelo qual não encontramos
z Crime plurissubsistentes (formais e de mera conduta);
a descrição do crime, pois há uma pena prevista em
z Omissivos impróprios; caso de consumação e outra pena para a hipótese de
z Crimes de perigo concreto; tentativa.
z Crimes permanentes. A tentativa de furto é a combinação de “subtrair,
para si ou para outrem, coisa alheia móvel” com a exe-
Crimes que não admitem tentativa: cução iniciada, mas que não se consuma por circuns-
tâncias alheias à vontade do agente”.
z Crimes culposos, exceto a culpa imprópria;
Furto tentado é: art. 155, caput, c/c o art. 14, II,
z Contravenções penais; ambos do CP.
z Crimes habituais;
z Crimes omissivos próprios;
z Crimes unissubjetivos; Importante!
z Crimes preterdolosos; A lei penal (CP ou lei extravagante) não prevê a
z Crimes de resultado; tentativa para cada crime, mas define o delito e
z Crimes de empreendimento (atendado); prevê a pena para o caso de consumação.
z Crimes impossíveis; Por isso, todo o crime tentado deve incluir na
z Crimes de perigo comum; descrição do delito o art. 14, II, do CP.
DIREITO PENAL
z O perigo deve ser atual; Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou
em vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agen-
z Deve haver ameaça a direito próprio ou alheio,
te pode encontrar-se em três situações diferentes:
cujo sacrifício não era razoável de se exigir;
z Que a situação não tenha sido provocada pela von- z Usa de um meio moderado e dentro do necessário
tade do agente; para repelir à agressão.
z Que seja inevitável de outro modo;
z Que o agente saiba que se encontra em estado de Haverá necessariamente o reconhecimento da
necessidade (requisito subjetivo); legítima defesa.
z Que não haja o dever legal do agente de enfrentar z De maneira consciente emprega um meio desneces-
o perigo (art. 24, § 1º, CP). sário ou usa imoderadamente o meio necessário.
O exemplo clássico é o de dois tripulantes de um A legítima defesa fica afastada se for excluído um
navio que, após o naufrágio, dividem um único salva- dos seus requisitos essenciais.
-vidas. Percebendo que vai afundar, um deles mata o
outro com a finalidade de ficar com o salva-vidas para z Após a reação justa (meio e moderação) por impre-
si só, salvando-se. vidência ou conscientemente continua desneces-
sariamente na ação.
Legítima Defesa
Estará agindo com excesso o agente que intensi-
Constitui outra causa excludente de ilicitude, des- fica demasiada e desnecessariamente a reação ini-
ta vez prevista no art. 25, CP. Encontra-se em legítima cialmente justificada. O excesso poderá ser doloso ou
defesa aquele que, utilizando os meios necessários culposo. O agente responderá pela conduta constituti-
com moderação, repele injusta agressão, atual ou imi- va do excesso.
nente, a direito seu ou de terceiros.
Para que se configure é necessário: CULPABILIDADE E SUAS EXCLUDENTES
z Agressão injusta atual ou iminente, ou seja, pre- As excludentes de culpabilidade podem ser divi-
sente ou prestes a acontecer; didas, para fins de estudo, em dois grupos: as que se
z Preservação de qualquer bem jurídico, próprio ou relacionam com o agente e as que dizem respeito ao
alheio (legítima defesa própria ou de terceiros); fato:
z Repulsa utilizando os meios necessários, de forma
z Quanto ao agente do fato:
moderada.
Existência de doença mental ou desenvolvimento
Estrito cumprimento do dever legal
mental incompleto ou retardado (art. 26, caput, CP);
Existência de embriaguez decorrente de vício (art.
Encontra-se no art. 23, III, primeira parte, CP. Se
26, caput, CP);
o agente atua rigorosamente dentro do imposto por Menoridade (art. 27, CP).
norma legal, o comportamento não pode ser antiju-
rídico. É o caso do oficial de justiça que, cumprindo z Quanto ao fato (legais):
determinação legal, realiza a apreensão de determi-
nado bem de um cidadão. Coação moral irresistível (art. 22, CP);
Obediência hierárquica (art. 22, CP);
Exercício regular de direito Embriaguez decorrente de caso fortuito ou força
maior (art. 28, § 1º, CP);
Está disposto no art. 23, III, segunda parte, CP. Da Erro de proibição escusável (art. 21, CP);
mesma forma que a anterior, não pode ser ilícita a Descriminantes putativas;
conduta daquele que age estritamente exercendo
direito seu. z Quanto ao fato (supralegais):
Desenvolvimento mental retardado Art. 26 É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
Configura aqui, o indivíduo que tem uma capa- retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
cidade que não corresponde às experiências para inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
aquele momento de vida, o que significa que a plena do fato ou de determinar-se de acordo com esse
potencialidade jamais será atingida. Os inimputáveis entendimento.
aqui tratados não possuem condições de entender o
crime que cometeram. Redução de pena
Como acabamos de ver, ao menor de 18 anos se
aplicam regras próprias. Ao completar 18 anos, a lei Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um
a dois terços, se o agente, em virtude de perturba-
presume que todos os indivíduos são imputáveis.
ção de saúde mental ou por desenvolvimento men-
Porém, tal presunção é relativa, ou seja, é passível de
tal incompleto ou retardado não era inteiramente
aferição. Assim, existem três possíveis critérios para a
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
verificação da inimputabilidade: determinar-se de acordo com esse entendimento.
Para sua prova é extremamente importante que O erro inevitável é aquele em que pelas cir-
você saiba que em ambas são desconsideradas as qua- cunstâncias do caso concreto, era quase que
lidades da pessoa que foi efetivamente atingida pelo impossível exigir do agente a consciência
erro e consideradas as qualidades da pessoa que o necessária para evitar a prática do crime. Neste
caso, haverá isenção de pena. Ex. Estrangeiro
agente realmente queria atingir.
– que no seu país os adolescentes de 16 anos
Mas no que isso importa para o direito? Novamen-
podem dirigir – vem visitar o Brasil e é parado
te para explicação, iremos estudar um exemplo.
numa blitz, embora ainda fosse possível saber
Mévio é casado com Clara, os dois possuem uma
que no Brasil não é permitido dirigir aos 16
relação bastante conturbada. Mévio, prevalecendo de
anos, era extremamente difícil exigir que este
relações domésticas, muito nervoso por certa atitude
tivesse conhecimento.
de Clara, dispara diversos tiros em sua direção, acer-
tando o seu vizinho Joãozinho, que passava pelo local.
Joãozinho, veio à óbito.
Nesta situação, Mévio mesmo tendo acertado um EXERCÍCIOS COMENTADOS
homem responderá por feminicídio, pois apenas se
consideram as qualidades da vítima que realmente 1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Na tentativa de entrar em
queria atingir. território brasileiro com drogas ilícitas a bordo de um
Temos ainda o erro de tipo acidental sobre o veículo, um traficante disparou um tiro contra agente
objeto (error in objecto), esta figura é essencialmen- policial federal que estava em missão em unidade fron-
te doutrinária. Aqui, como diz o próprio nome, o erro teiriça. Após troca de tiros, outros agentes prenderam
ocorre sobre o objeto visado. Ex. Mário vai a uma joa- o traficante em flagrante, conduziram-no à autoridade
lheria e furta um colar que acredita ser de diamantes, policial local e levaram o colega ferido ao hospital da
mas ao chegar em casa descobre que em verdade tra- região.
ta-se de uma bijuteria barata. Neste caso, não haverá Nessa situação hipotética, se o policial ferido não fale-
exclusão de dolo, culpa, tampouco isenção de pena. cer em decorrência do tiro disparado pelo traficante,
Respondendo Mário pelo crime de furto consumado estar-se-á diante de homicídio tentado, que, no caso,
(art. 155, do Código Penal). terá como elementos caracterizadores: a conduta
dolosa do traficante; o ingresso do traficante nos atos
Erro de Proibição: preparatórios; e a impossibilidade de se chegar à con-
sumação do crime por circunstâncias alheias à vonta-
Após o estudo do erro sobre os elementos do tipo,
de do traficante.
iremos estudar o erro sobre a ilicitude do fato, tam-
bém conhecidos como erros de proibição. Veja o que
( ) CERTO ( ) ERRADO
104 dispõe o artigo 21, do Código Penal:
O traficante ingressou nos atos executórios do cri- As causas excludentes de ilicitude são causas de jus-
me, ultrapassando a preparação do iter criminis. tificação, que permitem ao agente a prática de um
O agente iniciou a execução do fato, ao efetuar o fato típico, que será legalmente admitido pelo orde-
disparo contra o agente policial federal, que só não namento jurídico. Nos casos em que a ilicitude do
se consumou por circunstâncias alheias à vontade fato é excluída, diz-se que o próprio crime é excluí-
do agente. O erro da questão está em afirmar que o do. Resposta: Certo.
delinquente ingressou nos atos preparatórios, uma
vez que se caracterizou os atos executórios do crime 5. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A respeito da culpabilida-
ao realizar o disparo. Resposta: Errado. de, da ilicitude e de suas excludentes, julgue o item
que se segue.
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau- Situação hipotética: Um policial, ao cumprir um man-
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente dado de condução coercitiva expedido pela auto-
Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. ridade judiciária competente, submeteu, embora
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi- temporariamente, um cidadão a situação de privação
dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um de liberdade.
Assertiva: Nessa circunstância, a conduta do policial
revólver pertencente à corporação policial de que seu
está abarcada por uma excludente de ilicitude repre-
pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta
sentada pelo exercício regular de direito.
minutos, armado com o revólver, sob a influência de
emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez
( ) CERTO ( ) ERRADO
disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale-
ceu no local antes mesmo de ser socorrida.
O policial que, para cumprir mandado de condu-
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
ção coercitiva expedido pela autoridade judiciária
Carlos agiu sob o pálio da legítima defesa putativa.
competente, submete, embora temporariamente,
um cidadão a situação de privação de liberdade,
( ) CERTO ( ) ERRADO pratica fato típico, que não será ilícito por aplicação
da excludente de antijuridicidade do estrito cum-
Ao fato narrado pelo item, não se aplica hipótese primento de dever legal. O cumprimento à determi-
de legítima defesa, muito menos a putativa. Não há nação judicial não constitui um direito do policial,
que se falar em injusta agressão praticada por Pau- mas sim uma obrigação. Sendo assim, não se aplica
la (seria possível falar em injusta provocação, que a ele, no efetivo desempenho das atribuições do seu
admitiria, presente os demais requisitos, a aplica- cargo, em regra, o exercício regular de direito, mas,
ção do privilégio ao homicídio), não se aplicando, sim, o estrito cumprimento de dever legal. Resposta:
portanto, a mencionada excludente de ilicitude a Errado.
Carlos. Em momento algum, a alternativa fala que
Carlos incorreu em erro, não se aplicando a legítima
defesa putativa, que é hipótese de exclusão da ilici-
tude quando o agente incorre em erro. Neste caso,
o agente imagina estar em uma hipótese de injusta
TÍTULO IV: DO CONCURSO DE
agressão, atual ou iminente, que, na verdade, não PESSOAS
existe na realidade. Resposta: Errado.
DEFINIÇÃO
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Considerando que crime
é fato típico, ilícito e culpável, julgue o item a seguir. O Código Penal define o concurso de pessoas no
São causas excludentes de culpabilidade o estado de caput do art. 29.
necessidade, a legítima defesa e o estrito cumprimen-
to do dever legal. Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o
crime incide nas penas a este cominadas, na medi-
da de sua culpabilidade.
( ) CERTO ( ) ERRADO
[...]
A alternativa apresenta hipóteses de excludente de Guilherme Nucci (2018) diz que concurso de pes-
ilicitude legais, expressamente previstas no Código soas é cooperação desenvolvida por várias pessoas
Penal: estado de necessidade, legítima defesa, estri- para o cometimento de uma infração penal. Define-se,
to cumprimento de dever legal e exercício regular de ainda, por coautoria, participação, concurso de delin-
direito. As excludentes de culpabilidade são: inim- quentes, concurso de agentes e cumplicidade.
putabilidade, ausência de potencial conhecimento Podemos dizer que há concurso de pessoas quan-
da ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa. do dois ou mais agentes concorrem para a prática do
DIREITO PENAL
O próprio nome, pluralidade de agentes, incida Neste requisito identifica-se que há pelo menos
que a conduta criminosa é praticada por duas ou mais duas condutas penalmente relevantes.
pessoas. Parece simples, mas devemos estar muito O que devemos gravar na memória é que a contri-
familiarizados com esse assunto quando tratamos de: buição do partícipe deve ter influência sobre o resul-
tado, caso contrário, a participação é inócua.
z Crimes unissubjetivos; Vamos ao exemplo:
z Crimes plurissubjetivos; e Conduta relevante: “A” se compromete a auxiliar
z Crimes eventualmente plurissubjetivos. “B” a fugir após o homicídio, concurso de pessoas no
delito de homicídio, art. 121 do CP.
Nos crimes unissubjetivos, o delito pode ser pra- Conduta não relevante: “A” auxilia “B” a fugir após
ticado por um agente ou por dois ou mais agentes, o o homicídio sem a comprometimento prévio, “A” pra-
que chamamos de concurso eventual. tica favorecimento pessoal, art. 348 do CP e “B” pratica
Aqui, quando praticado em concurso (dois ou mais homicídio, art. 121 do CP.
agentes) é necessária a adequação típica mediata.
É importante lembrar que adequação típica ime- Vínculo Subjetivo
diata ou indireta é quando para completar a tipici-
dade é necessário conjugar o crime (tipo penal) com
Trata-se de nexo psicológico entre os agentes.
uma norma de extensão.
Sem o nexo psicológico, haverá vários crimes autô-
A tentativa, por exemplo, o agente tenta matar a
nomos e, portanto, não é concurso de pessoas.
vítima, o art. 121 do CP (homicídio) é complementado
Vejamos o exemplo:
pelo art. 14, II do CP (tentativa).
Paulo, em contato com Renata, afirma que preten-
A participação, por exemplo, o agente mata a víti-
ma a pedido de outrem, o art. 121 do CP (homicídio) é de matar Ana, às 20h em determinado local. Laura,
conjugado com o art. 29 do CP (concurso de pessoa). inimiga de Ana, escuta a conversa e comparece ao
Para configurar concurso de pessoas em crimes local na hora indicada. Paulo ataca Ana, que conse-
unissubjetivos é necessário que todos os agentes gue se soltar e sai correndo. Laura, que estava atrás da
sejam culpáveis. Se um agente não for culpável, não árvore, derruba Ana e facilita a ação de Paulo. Ainda
haverá concurso de pessoas, e sim autoria mediata. que Paulo e Laura não tenham acordado, Laura res-
Portanto, não será concurso de pessoas, por exemplo, ponderá como partícipe do homicídio porque aderiu
se o agente (imputável) encomenda a morte da vítima a conscientemente à conduta de Paulo (Correia, 2018).
um menor de 18 anos (inimputável). Será caso de auto-
ria mediata pelo fato de o agente imputável utilizar o Unidade de Crime
inimputável como instrumento para a prática do delito.
Sendo assim, lembre-se que no Concurso de pes- Em síntese, o Código Penal adotou a Teoria Monis-
soas em crimes unissubjetivos é necessário: ta, Unitária ou Igualitária.
Isso significa que todos os agentes que concorrem
z Adequação típica; e para o mesmo crime devem receber tratamento iguali-
z Agentes culpáveis. tário no que diz respeito à classificação jurídica do fato.
Há crime único e pluralidade de agentes.
Nos crimes plurissubjetivos, como o próprio
nome indica, são os delitos que só podem ser pratica- z Crime único: se dois agentes praticam em concur-
dos por duas ou mais pessoas, denominados crimes so o crime de roubo, não é possível que um agen-
de concurso necessário. te responda por roubo consumado e outro agente
O tipo penal exige a pluralidade de pessoas e não responsa por roubo tentado.
necessita de norma de extensão. Por exemplo: o Códi- z Teoria Moderada: os agentes não receberão a mes-
go Penal tipifica no art. 288 o delito de associação cri- ma pena; a aplicação da pena é individualizada de
minosa, que exige 3 ou mais pessoas. acordo com a culpa de cada agente.
É necessário que apenas um agente seja culpável.
Aproveitando o exemplo acima, no caso de associação Autoria
criminosa, um agente é culpável e ou demais agentes
são inimputáveis. Mesmo assim, é caso de concurso de
Existem ainda três teorias sobre o concurso de
pessoas em crimes plurissubjetivos.
pessoas:
Nos crimes eventualmente plurissubjetivo,
podendo ser chamado também de pseudoconcurso,
concurso impróprio ou concurso aparente, o delito z Teoria Unitária (monista);
pode ser praticado por uma pessoa, mas tem a pena z Teoria Pluralista; e
aumentada quando praticados em concursos de z Teoria Dualista.
pessoas.
Vejamos, o crime de furto pode ser praticado por Vamos ver cada uma das teorias.
um único agente. Mas, há a modalidade de furto qua-
lificado mediante concurso de dois ou mais agentes. z Teoria Unitária (monista): trata-se de um crime
Aqui também basta que um agente seja culpável. único e indivisível. Ocorre quando mais de um
Seguindo o mesmo exemplo acima, se no furto qualifi- agente concorre para a prática do delito, prati-
cado mediante concurso de pessoas, um dos agentes é cando o ato na sua totalidade ou não, e estes, res-
imputável e os demais agentes são inimputáveis. Mes- ponderão pelo mesmo crime. Haverá somente um
mo assim, estaremos diante de curso de pessoas em delito e todos os agentes incorrem no mesmo tipo
106 crimes eventualmente plurissubjetivos. penal. Essa teoria é adotada pelo Código Penal.
z Teoria Pluralista: para essa teoria, quando mais O conceito de autor na teoria do domínio do fato,
de um agente estiver realizando um delito, sendo compreende:
as condutas diversas um dos outros ainda que para
realizar o mesmo resultado, cada qual responderá z autor propriamente dito: é aquele que pratica o
pelas suas condutas, ou seja, cada agente pratica um núcleo do tipo penal;
z autor intelectual: é aquele que planeja mental-
crime autônomo dos demais. Esta teoria foi adotada
mente a empreitada criminosa;
pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois quando
z autor mediato: é aquele que se vale de um incul-
praticado pela gestante, esta incorrerá na pena do pável ou de pessoa que atua sem dolo ou culpa
art. 124 do CP, se praticado por outrem, aplicar-se-á para cometer a conduta criminosa;
a pena do art. 126 do CP. O mesmo procedimento z coautores: é aquele que age em colaboração recí-
ocorre na corrupção ativa e passiva. proca e voluntária com o outro para a realização
z Teoria Dualista: de acordo com essa teoria, quan- da conduta principal. A conduta principal é o ver-
do houver mais de um agente, com condutas diver- bo do tipo penal;
sas entre si, provocando-se um resultado, deve-se z partícipe: quem de qualquer modo concorre para
separar os coautores e partícipes, sendo que cada o crime, desde que não realize o núcleo do tipo
um deles responderá por um crime autônomo. penal nem possua o controle final do fato.
z partícipe na teoria do domínio do fato: Guilher-
Além das teorias estudadas, vamos destacar as teo- me Nucci (2018) esclarece que partícipe só possui
rias que conceituam o autor. o domínio da vontade da própria conduta, tratan-
do-se de um “colaborador”, uma figura lateral, não
tendo o domínio finalista do crime. O delito não
Teorias do Autor
lhe pertence: ele colabora no crime alheio.
z Teoria subjetiva ou unitária: não diferencia o autor
do partícipe. Então, autor (e partícipe) é o agente que Importante!
de qualquer modo contribui para a produção de um
resultado penalmente relevante. Temos por exemplo Qual a teoria adotada pelo Código Penal?
o art. 349 do CP, que dispõe, prestar a criminoso, fora O art. 29, caput, do CP, acolheu a teoria objetiva
dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio des- ou dualista (objetivo-formal).
tinado a tornar seguro o proveito do crime. Diferencia autor e partícipe:
z Teoria extensiva: não diferencia o autor do partícipe, � Autor: quem realiza o núcleo do tipo penal; e
mas, traz a definição de cúmplice, o agente que con- � Partícipe: quem de qualquer modo concorre
corre de modo menos importante para o resultado. para o crime, sem executar a conduta criminosa.
z Teoria objetiva ou dualista: diferencia autor e
partícipe. Esta teoria se subdivide:
Coautoria e Concurso de Pessoas
Teoria objetivo-formal (teoria restritiva):
autor é quem realiza o núcleo do tipo penal Coautoria é a forma de concurso de pessoas que
(“verbo”), ou seja, a conduta criminosa descri- ocorre quando o núcleo do tipo penal é executado por
ta pelo preceito primário da norma incrimi- duas ou mais pessoas (Nucci, 2018).
nadora. Partícipe é quem de qualquer modo Esclarecendo: se dois ou mais autores unidos entre
concorre para o crime, sem praticar o núcleo si para a prática de um determinado crime, por exem-
do tipo. Vejamos o exemplo: autor do crime plo, furto, estamos diante da hipótese de coautoria.
de homicídio é o agente que efetua disparos A coautoria pode ser:
de revólver em alguém, matando-o. Partícipe
é o agente que empresta a arma de fogo para a z Parcial ou funcional; ou
finalidade da prática de homicídio. z Direta ou material.
O artigo 29 do Código Penal adotou essa teoria. Coautoria parcial, ou funcional: diversos
Vejamos: autores praticam atos de execução diversos, os
quais, somados, produzem o resultado desejado,
Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o por exemplo, uma agente segura a vítima, outro
crime incide nas penas a este cominadas, na medi- agente a esfaqueia, produzindo a sua morte.
da de sua culpabilidade. Coautoria direta ou material: todos os autores
efetuam igual conduta criminosa, por exemplo,
Teoria objetivo-material: autor é quem pres- vários agentes efetuam disparos com arma de
ta a contribuição objetiva mais importante fogo em direção à vítima, matando-a.
para a produção do resultado, e não necessa-
DIREITO PENAL
riamente aquele que realiza o núcleo do tipo Todas as vezes que estudamos coautoria pergunta-
penal, o verbo. Partícipe é quem concorre de mos se é admissível nos casos de crimes próprios e de
forma menos relevante, ainda que mediante a crimes de mão própria.
realização do núcleo do tipo.
z Crimes próprios ou especiais: são os casos em
z Teoria do domínio do fato: em síntese é uma teo- que o tipo penal exige uma situação de fato ou de
ria intermediaria entre a teoria objetiva e a teo- direito diferenciada por parte do sujeito ativo, por
ria subjetiva. Autor é aquele que tem o controle exemplo, dois funcionários públicos, juntos, prati-
final do fato, apesar de não realizar o núcleo do cam o crime de peculato, art. 312 do CP. Nos crimes
tipo penal. próprios ou especiais é admitida a coautoria. 107
z Crimes de mão própria, de atuação pessoal z Multidão delinquente: o fato ocorre por influên-
ou de conduta infungível: são as hipóteses que cia de indivíduos reunidos, que, em clima de
somente podem ser praticados pelo sujeito expres- tumultuo, ou manipulação, tornam-se desprovidos
samente indicado pelo tipo penal. O crime só pode de limites éticos e morais (Sanches Cunha, 2016).
ser praticado pelo agente indicado no tipo penal, z Coautoria sucessiva: a regra é que todos os coau-
e ninguém mais, por exemplo, crime de falsa perí- tores iniciem, juntos, a empreitada criminosa.
cia, art. 342 do CP. Nos crimes de mão própria não Rogério Greco (2015) adverte que pode acontecer
que alguém, ou mesmo o grupo, já tenha começado
é admitida a coautoria.
a percorrer o iter criminis (fases do crime: cogita-
Há outros temas importantes que devemos conhe- ção, atos preparatórios, atos de execução e consu-
mação), ingressando na fase dos atos de execução,
cer sobre autoria e coautoria:
quando outra pessoa adere à conduta criminosa
z Executor de reserva: agente que acompanha, pre- daquele, e agora, unidos pelo vínculo psicológico,
passam, juntos, a praticar a infração penal.
sencialmente, a execução da conduta típica, fican-
z Coautoria em crimes omissivos: há corrente na
do à disposição, se necessário, para nela interferir.
doutrina que não admite a coautoria em crimes
omissivos. Porém, vamos tratar aqui da corrente
Ou seja:
que admite a coautoria em crimes omissivos (pró-
Se o agente interfere, será tratado como coautor; prios, ou puros; impróprios, espúrios ou comissi-
Se o agente não interfere, será trado como partícipe. vos por omissão). Ocorre a coautoria quando dois
ou mais agentes, vinculados pela unidade de pro-
z Autor intelectual: a definição se encontra no art. 62, pósitos, prestam contribuições relevantes para a
I, do CP, afirmando que a pena será agrava em relação produção do resultado, realizando atos de execu-
ção previstos na lei penal (Nucci, 2018). Por exem-
ao agente que promove, ou organiza a cooperação no
plo, dois agentes podem, caminhando pela rua,
crime ou dirige a atividade dos demais agentes. deparar-se com outra, ferida, em busca de ajuda.
z Autoria de escritório ou autoria mediata espe- Associadas, uma conhecendo a conduta da outra
cial: agente que dita a ordem a ser executada por e até havendo incentivo recíproco, resolvem ir
outro autor direto, dotado de culpabilidade e pas- embora, ou seja, os agentes são coautores do crime
sível de ser substituído a qualquer momento por de omissão de socorro definido no art. 135 do CP.
outra pessoa, no âmbito de uma organização ilí- z Autoria mediata: não está expresso no Código
cita de poder. Temos por exemplo, o líder do PCC Penal, porém a doutrina trata do tema. De acordo
(Primeiro Comando da Capital), em São Paulo, ou com Guilherme Nucci (2018) “trata-se de espécie de
do CV (Comando Vermelho), no Rio de Janeiro que autoria em que alguém, o “sujeito de trás” se utiliza,
comandam as redes ilícitas e hierarquizadas. para a execução da infração penal, de uma pessoa
z Autoria por convicção: o agente comete um cri- inculpável ou que atua sem dolo ou culpa.”
me motivado por convicções pessoais, por exem-
Há dois sujeitos nessa relação:
plo, religião, moral, política, esporte (futebol).
z Autor por determinação: é quem se vale de outro, autor mediato: quem ordena a prática do cri-
que não realiza conduta punível, por ausência de me; e
dolo, em um crime de mão própria, ou ainda o autor imediato: aquele que executa a conduta
sujeito que não reúne as condições legalmente exi- criminosa.
gidas para a prática de um crime próprio, quando
se utiliza de quem possui tais qualidades e se com- Guilherme Nucci exemplifica: “A”, desejando matar
sua esposa, entrega uma arma de fogo municiada à “B”,
porta de forma atípica, ou acobertado por uma
criança de pouca idade, dizendo-lhe que, se apertar o
causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade
gatilho na cabeça da mulher, essa lhe dará balas. Quan-
(Sanches Cunha, 2016). Podemos exemplificar uma do se fala em pessoa sem culpabilidade, aí se insere
mulher que dá sonífero a outra e depois hipnotiza qualquer um dos seus elementos: imputabilidade,
um amigo, ordenando-lhe que com ela mantenha potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
relações sexuais durante o transe. conduta diversa. Ausente qualquer deles, faltará a
z Autoria colateral: dois ou mais agentes querem pra- culpabilidade. A pessoa que atua sem discernimento,
ticar o mesmo crime, mas não estão ligados pelo vín- funciona como mero instrumento do crime.
culo psicológico. Acompanhe o raciocínio do exemplo:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Temos aqui qualificadoras relacionadas aos meios
DIREITO PENAL
vítima, não procura diminuir as consequências do uma criança de 10 anos de idade, não estaremos diante
seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante – do crime de induzir, instigar ou auxiliar a prática de
aumento de 1/3 (um terço). suicídio, mas sim diante do crime de homicídio.
Neste sentido, o Código Penal, trata, com a inclusão
Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou a da redação dada por meio da Lei nº 13.968/2019, da
Automutilação hipótese da automutilação ou da tentativa de suicídio
resulta lesão corporal de natureza gravíssima, e for
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autole- cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
são, ou seja, uma pessoa não será punida penalmente quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem
caso provoque mal somente a si próprio. o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, 117
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, considerada absolutamente inimputável, conforme
responde o agente pelo crime lesão corporal gravíssima. art. 26, caput, do Código Penal.
Por fim, se o crime de suicídio se consuma ou se A mãe infanticida é isenta de pena, nos termos do art.
dá automutilação resulta morte e a vítima é menor de 26, caput, do Código Penal. Aplica-se medida de segurança
14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o neces- somente na hipótese de persistência da periculosidade.
sário discernimento para a prática do ato, ou que, por Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência do
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, estado puerperal, tiver outra causa de semi imputabili-
responde o agente pelo crime de homicídio. dade, consistente em perturbação da saúde mental, que
não lhe retire a inteira capacidade de entendimento ou
Infanticídio autodeterminação, deverá ser aplicada a regra do pará-
grafo único do art. 26 do Código Penal, ou seja, a pena do
O infanticídio é classificado pela doutrina como infanticídio poderá ser reduzida de um a dois terços, ou
crime bipróprio, já que ele exige qualidades especiais poderá ser substituída por medida de segurança.
tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo.
É necessário que o sujeito ativo – quem pratica a HOMICÍDIO
conduta – seja a própria mãe e que o sujeito passivo –
quem é ameaçado pela conduta criminosa – seja o pró- A parturiente mata o filho,
prio filho, para que este tipo penal fique configurado. sem estar influenciada pelo Homicídio, art. 121, do CP.
São outros requisitos que devem estar presentes estado puerperal.
para configuração do crime de infanticídio:
INFANTICÍDIO
z Que a mãe esteja sob a influência do estado
A parturiente mata o filho,
puerperal;
sob a influência do estado Infanticídio, art. 123, do CP.
puerperal.
O estado puerperal é uma alteração emocional
pela qual passam algumas mães durante o período A parturiente mata o filho, Infanticídio, art. 123, com-
correspondente ao parto. influenciada pelo estado binado com o art. 26, pará-
Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou na puerperal e por apresentar grafo único, do CP.
jurisprudência, sobre quanto tempo dura este estado alguma outra causa que Redução da pena de um a
puerperal. lhe tire a plenitude do po- dois terços, ou medida de
der de autodeterminação. segurança.
z Que a conduta seja praticada durante ou logo após
Infanticídio, art. 123, combi-
o parto.
A parturiente mata o filho, por nado com o art. 26, caput,
estar acometida de doença do CP.
O Código Penal adota, para o crime de infanticídio,
mental, psicose puerperal. Absolvição sumária, causa
critério fisiológico, também denominado biopsicológi-
excludente da culpabilidade.
co ou fisiopsicológico, afastando-se do sistema psico-
lógico, que exigia o motivo de honra. O simples estado
puerperal é apto ao reconhecimento do infanticídio. O infanticídio admite tentativa.
Estado puerperal é o conjunto das perturbações psí-
quicas e fisiológicas sofridas pela mulher em razão do Aborto
fenômeno do parto. Diversos fatores como, por exem-
plo, sofrimento, a perda de sangue, a angústia, a inquie- O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes
tação ou outros que podem levar a parturiente a sofrer contra a vida. É tutelado o nascituro desde a concep-
um colapso do senso moral, uma liberação de impulsos ção. O Código Penal estabelece três modalidades de
maldosos, chegando por isso a matar o próprio filho. aborto, previstos nos artigos 124, 125 e 126.
A influência do estado puerperal normalmente No art. 124, do CP, temos o aborto praticado pela
acontece em qualquer parto, havendo, inclusive, jul- gestante. O sujeito ativo é a própria gestante e a vítima
gados dispensando a prova pericial para comprová-lo. é o feto. No art. 125, do CP, o crime de aborto é pra-
O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo ticado por terceiro, porém sem o consentimento da
após, ou seja, logo em seguida ao parto, sem intervalo. gestante. Observe que neste delito o sujeito ativo é o
Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e terceiro, aquele que realiza o aborto. A vítima, sujeito
se não ocorrer logo após o parto, será homicídio. passivo, é a gestante e o feto.
A expressão “logo após o parto” compreende todo Já no art. 126, do CP, o crime de aborto é praticado
o período em que permanecer a influência do estado por terceiro, mas com o consentimento da gestante.
puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que pre- Aqui temos na condição de sujeito ativo o terceiro e
domina o instinto materno, cessa a influência do esta-
a gestante, e a vítima, sujeito passivo, apenas o feto.
do puerperal. Não permanecendo o estado puerperal
O Código Penal não define aborto. Cabe a juris-
e a mão matar o filho, não estaremos diante do crime
prudência e a doutrina definir o crime de aborto. De
de infanticídio, mas de homicídio.
acordo com termos relacionados a medicina, aborto é
O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou
eventual. expulsão do produto da concepção.
Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em O aborto consiste na interrupção da gravidez com
estado puerperal, logo após o parto, culposamente a morte do produto da concepção. Dessa definição
matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo. sobressaem os seguintes elementos necessários à
Há certos casos em que a mulher, após o par- constituição do delito:
to, se vê acometida da chamada psicose puerperal,
que é uma doença mental que lhe tira totalmente o z estado fisiológico da gravidez;
118 poder de autodeterminação. Nesta hipótese, a mão é z emprego de meios dirigidos à provocação do aborto;
z morte do produto da concepção; O não consentimento da gestante é o elemento
z dolo. essencial à configuração do delito e pode ser:
z O aborto é crime de forma livre, admitindo uma
infinidade de meios executórios. z Expresso; ou
z Presumido.
Os meios abortivos mais citados são:
Expresso, também conhecido de real, ocorre quando
z processos químicos: introdução de certas subs- a gestante se opõe ao aborto, mas é vencida pela violên-
tâncias químicas no organismo, como o fósforo,
cia física, grave ameaça e fraude, ou seja, respectiva-
chumbo, álcool, ácido etc.;
mente, chute na barriga, ameaça de matar a gestante se
z processos físicos mecânicos: curetagem, jogos
esportivos, quedas voluntárias, etc.; não abortar e colocar substância abortiva na alimenta-
z processos físicos térmicos: bolsas de água quente ção da gestante, sem consentimento da vítima, mãe.
e bolsas de gelo; Presumido é quando a gestante está incapaz de
z processos psíquicos: susto, sugestão, induzimento consentir nas formas previstas no parágrafo único do
de terror, etc. art. 126, do CP:
O crime de aborto admite tentativa, na hipótese z a gestante não é maior de catorze anos;
em que se emprega meios abortivos, mas não sobre- z a gestante é alienada mental (doente mental) ou
vêm a morte do feto por circunstâncias alheias a von- débil mental (desenvolvimento mental retardado).
tade do agente.
Há quatro modalidades de aborto: Aborto Qualificado
z autoaborto (art. 124, 1ª parte); O art. 127, do CP, estabelece duas hipóteses de
z aborto consentido (art. 124, 2ª parte);
aborto qualificado:
z aborto consensual (art. 126);
z aborto sem o consentimento da gestante (art. 125 e
z aborto qualificado pela morte;
parágrafo único do art. 126).
z aborto qualificado pela lesão corporal de natureza
Autoaborto grave.
O autoaborto é o praticado pela própria gestante. As lesões graves são aquelas tipificadas nos §§ 1º e
Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela quem executa 2º do art. 129, do CP.
diretamente a conduta criminosa. Trata-se de crime
de mão própria ou de atuação pessoal, pois só pode Dica
ser cometido pela gestante em pessoa.
Terceiros podem atuar como partícipes, mas não Os dois resultados qualificativos do delito, isto é,
como coautores. a morte e a lesão grave, devem ser imputadas ao
agente a título de culpa. Estamos diante de hipótese
Aborto Consentido e Aborto Consensual de crime preterdoloso, o agente age com dolo em
relação ao aborto e culpa em relação ao resultado.
O aborto consentido ocorre quando a gestante per-
Agora, se o agente atua com dolo em relação à
mite que outrem o provoque.
É essencial ao crime o concurso dos dois elementos:
morte ou lesão grave, responde por aborto em
concurso formal com o crime de homicídio ou
z consentimento da gestante; e crime de lesão corporal.
z execução do aborto por terceiro.
Aborto Legal
Observe-se, porém, desde logo, que o aborto con-
sentido é crime bilateral, exigindo a presença de duas O art. 128, do CP, estabelece duas modalidades em
pessoas: a gestante e o terceiro executor. que o aborto não constitui delito, desde que praticado
O terceiro responde pelo art. 126, do CP (aborto por médico:
consensual), enquanto a gestante, pelo art. 124, 2ª par-
te, do CP (aborto consentido). z se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
O aborto consentido é crime de mão própria ou de z se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre-
atuação pessoal, podendo ser cometido apenas pela
cedido de consentimento da gestante ou, quando
DIREITO PENAL
Aborto necessário é o praticado por médico, se não A lesão leve, também chamada de simples, previs-
há outro meio de salvar a vida da gestante, conforme ta no Caput do Artigo 129, é residual. Teremos confi-
art. 128, I, do CP, desde que presentes três requisitos: gurada tal modalidade de lesão, caso não se configure
nenhuma das outras.
z perigo real à vida da gestante; A lesão corporal qualificada está prevista nos pará-
z que não haja outro meio de salvar-lhe a vida; grafos 1º, 2º e 3º do Artigo 129.
z execução por médico.
Lesão Corporal Grave
O aborto necessário exige perigo à vida, e não saú- A lesão corporal grave irá se configurar se resultar:
de, da gestante.
Quando chamado de terapêutico tem efeito curati- z Incapacidade para as ocupações habituais, por
vo, e quando profilático, preventivo. mais de 30 (trinta) dias;
Você pode entender lesão corporal como qualquer LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA
alteração provocada na integridade corporal ou na Debilidade permanente de Perda ou inutilização do
saúde de uma pessoa. membro, sentido ou função membro sentido ou função.
A lesão corporal é comum, material, instantâneo e
de forma livre, portanto, pode ser praticado por qual- Exemplo: Devido às lesões Exemplo: Devido às lesões
quer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins sofridas, a vítima perde 1 sofridas, a vítima perde a
de consumação, a conduta não se prolonga no tempo (um) dos olhos, mas ainda visão.
e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas, enxerga.
pauladas, tiros, socos, chutes, arranhões etc.).
As lesões corporais estão previstas no Artigo 129 do O Código Penal não divide as lesões em graves ou gra-
Código Penal e podem ser divididas da seguinte forma: víssimas. Para o CPB (Código Penal Brasileiro), todas elas
são graves. Esta divisão é uma construção doutrinária.
z Lesão corporal simples;
z Lesão corporal grave; Lesão Corporal Seguida de Morte
z Lesão corporal gravíssima;
z Lesão corporal seguida de morte; A lesão corporal seguida de morte irá ficar configu-
z Lesão corporal culposa; rada quando ficar configurado que o agente não que-
z Lesão corporal privilegiada. ria o resultado morte (dolo direto no resultado morte)
ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual no
As lesões corporais graves, gravíssimas e seguida resultado morte).
de morte compõem o grupo lesões corporais qualifi- Se o agente quer matar, ele responderá pelo
cadas, segundo a doutrina penalista. homicídio. Porém, caso o agente queira apenas cau-
Antes de analisarmos cada uma das lesões, vamos sar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe
falar da ação penal. se excedendo, provocando a morte da vítima, ele irá
O crime de lesão corporal é classificado como delito responder por lesão corporal seguida de morte, desde
não-transeunte, que é aquele que deixa vestígios, sen- que fique evidenciado que ele não quis nem assumiu
120 do necessário a realização de exame de corpo de delito. o risco de produzir o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um z Se o autor não procura diminuir as consequências
crime preterdoloso, ou seja, é um crime qualificado do seu ato;
pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial z Se o agente foge para evitar prisão em flagrante.
e culpa no resultado produzido.
Nos casos de lesão corporal dolosa:
Lesão Corporal Culposa A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se:
A lesão corporal culposa é aquela que o agente não z A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
quer causar lesão corporal na vítima, mas a produz (sessenta) anos;
por ter sido imprudente, negligente ou imperito. z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima
É importante que você compreenda que não há ou seguida de morte, praticada em quaisquer dos
gradações na lesão corporal culposa, ou seja, ela casos de violência doméstica vistas acima;
não se divide em leve, grave ou gravíssima, mas tão z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de vio-
somente irá ser lesão corporal culposa. lência doméstica vistas logo acima, for pessoa por-
No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o tadora de deficiência.
instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena se as consequências da infração penal A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a
atingirem o agente de forma que a aplicação de san- metade:
ção penal se torne desnecessária.
Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão cor- z Se a lesão corporal for praticada por milícia priva-
poral culposa da, sob o pretexto de prestação de serviço de segu-
rança, ou por grupo de extermínio;
Lesão Corporal Privilegiada
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3
Os motivos que levam o agente a praticar a lesão (dois terços):
corporal privilegiada são os mesmos do homicídio
privilegiado. z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agen-
Se o agente comete o crime impelido por motivo te das forças armadas (Marinha, Exército ou Aero-
de relevante valor social ou moral ou sob o domínio náutica), das forças de segurança pública (Polícia
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provo- Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Fer-
cação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um roviária Federal, Policiais Civis, Policias Militares
sexto) a 1/3 (um terço). ou Corpo de Bombeiros Militares), integrantes do
É aplicável o instituto da substituição de pena nos sistema prisional (agentes penitenciários) e da For-
casos de lesão corporal. ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão pri- função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
vilegiada ou nos casos de lesão recíproca (duas pes- companheiro ou parente consanguíneo até o ter-
soas se lesionam umas às outras), o juiz poderá ainda ceiro grau, em razão dessa condição.
substituir a pena de detenção pela de multa.
O Código Penal traz disposições específicas para os PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
casos de lesão corporal praticada no âmbito de violência
doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais grave, A periclitação da vida e da saúde são considera-
estando ele submetido a auto de prisão em flagrante e dos crimes de perigo, sendo criada, pelo autor do fato,
não somente a mero termo circunstanciado (salvo nos uma situação de perigo a que é exposta a vítima.
casos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte). Crimes de perigo são aqueles que não exigem a
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência efetiva ocorrência de dano, apesar de poder aconte-
doméstica se praticada contra as seguintes pessoas ou cer, para que se configurem.
nos seguintes casos: Os crimes de perigo são divididos em:
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime de contágeo venéreo, perigo de contágio de moléstia gra-
lesões corporais. Há diversas causas de aumento de pena ve; abandono de incapaz; exposição ou abandono de
para este crime, portanto, leia-as com bastante atenção. recém-nascido e omissão de socorro.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se: Perigo de Contágio Venéreo
z Se o crime resulta de inobservância de regra técni- Este crime fica configurado quando o agente expõe
ca de profissão, arte ou ofício; alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
z Se o agente deixa de prestar imediato socorro à libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que
vítima; sabe ou deve saber que está contaminado. 121
A forma qualificada deste crime se dá se o agente Ao contrário do crime de Perigo de Contágeo Venéreo,
tem a intenção de transmitir a moléstia venérea. Este procede-se mediante ação penal pública incondicionada.
crime somente se procede mediante representação, Antes de passarmos para a análise de outros tipos
ou seja, trata-se de crime promovido mediante ação penais, é importante que façamos uma distinção entre
penal pública condicionada. os dois tipos penais que acabamos de ver:
Moléstia venérea, segundo a doutrina, refere-se ao
nome genérico dado a qualquer doença que possa ser
transmitida por meio de relação sexual, como sifilis. PERIGO DE CONTÁGIO PERIGO DE CONTÁGIO
O crime se consuma com a prática do ato sexual, VENÉREO DE MOLÉSTIA GRAVE
capaz de transmitir a moléstia venérea. Caso a vítima seja
contaminada, tal fato será mero exaurimento do crime. A transmissão deve se dar A transmissão se dá por
O crime é de conduta vinculada, exigindo a conjun- por meio de relação sexual qualquer meio
ção carnal, o coito anal, o sexo oral ou qualquer outro
ato de libidinagem que sirva para a satisfação da libido. Transmite-se moléstia Transmite-se moléstia
Caso a contaminação provenha de outra ação físi- venérea grave
ca, como o aperto de mão ou a ingestão de alimen-
tos, inexistirá o crime de perigo de contágio venéreo, É norma penal em branco É norma penal em branco
podendo subsistir o delito de lesão corporal, dolosa ou
culposa, ou os crimes dos artigos 131 e 132, do CP. Não se exige dolo
Exige-se dolo específico
específico
Ação penal pública Ação penal pública
Importante! condicionada incondicionada
É importante mencionar, pela própria natureza do
tipo penal, que não se exige, para a sua configura- Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem
ção simples, dolo específico do agente em trans-
mitir a doença venérea (caso ocorra esta hipótese, O art. 132, do CP, trata do crime de perigo para a
o crime será qualificado), bastando que ele tenha vida ou saúde de outrem:
a intenção de ter a relação sexual, sabendo ou
devendo saber que está contaminado. Art. 132 Expor a vida ou a saúde de outrem a peri-
go direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato
Como o fato se relaciona a uma ou mais pessoas não constitui crime mais grave.
determinadas, estamos diante de um delito de perigo Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto
individual, o qual deve ser averiguado diante do caso a um terço se a exposição da vida ou da saúde de
concreto. Isso porque da simples relação sexual do outrem a perigo decorre do transporte de pessoas
agente com a vítima não decorre presunção absolu- para a prestação de serviços em estabelecimentos
ta da existência desse perigo. A presunção é relativa, de qualquer natureza, em desacordo com as nor-
admitindo prova em contrário, como no caso de a víti- mas legais.
ma já ser portadora de doença venérea.
A conduta nuclear é expor, ou seja, colocar em peri-
Perigo de Contágio de Moléstia Grave
go a vida, a integridade física ou a saúde de alguém. O
perigo é concreto, direto, iminente e anormal.
Este crime se configura quando o agente praticar,
com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que Perigo concreto refere-se a mera prática do compor-
está contaminado, ato capaz de transmitir o contágio. tamento ilícito não é suficiente para a caracterização
É necessário que o sujeito passivo, que pode ser do crime, sendo imprescindível que, em face da con-
qualquer pessoa, não seja contaminado pela moléstia duta do agente, a vítima tenha a sua vida, a sua integri-
grave que o sujeito ativo pretende transmitir. dade corporal ou a sua saúde exposta a risco de lesão.
A moléstia grave, neste caso, não precisa, necessa- Perigo direto visa a pessoa ou pessoas determinadas.
riamente, ser transmitida por meio de relação sexual, Perigo iminente, está prestes a ocorrer. Se a possibili-
podendo, entretanto, ser transmitida por qualquer dade de ocorrência do perigo é futura ou presumida, não
outro meio.
estará caracterizada a infração penal do art. 132, do CP.
Temos como exemplo o agente que, de qualquer
forma ou por qualquer meio, intencionalmente (exi- Perigo anormal, não decorre da atividade de profis-
ge-se o dolo específico de transmitir a doença) trans- sionais que trabalham com o risco, como o policial e o
mite à vítima a tuberculose (moléstia grave). bombeiro. Portanto, se o patrão não toma providências
Trata-se de norma penal em branco, complemen- para a segurança e proteção dos operários que traba-
tada por meio dos atos praticados por órgãos adminis- lham na fábrica de explosivos, e dessa inação resulta
trativos da área de saúde. uma situação concreta de perigo, estará configurado o
Mais uma vez, reitero: exige-se para a configura- crime do art. 132, do CP, na sua modalidade omissiva.
ção deste tipo penal o dolo específico, que consiste na
intenção do agente de transmitir a moléstia grave. Abandono de Incapaz
A doutrina não admite, para este crime, o dolo even-
tual, quando o agente não quer diretamente transmi-
tir a doença, mas assume o risco de transmiti-la. O crime de abandono de incapaz se configura
Trata-se de crime formal, que se consuma com a quando o agente abandona pessoa que está sob seu
prática do ato destinado a transmitir a moléstia grave, cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qual-
não se exigindo, para fins de consumação, a efetiva quer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resul-
122 transmissão da moléstia. tantes do abandono.
São formas qualificadas do crime de abandono de Ainda, conforme doutrina majoritária, trata-se de
incapaz: crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo
pai ou pela mãe que buscam ocultar desonra própria.
z Se do abandono, resulta lesão corporal de natureza Ex.: Mãe que expõe ou abandona o filho recém-
grave; -nascido numa lata de lixo para ocultar uma desonra
z Se do abandono, resulta a morte. (sua infidelidade).
O crime será promovido mediante ação penal
Você pode se perguntar sobre quem configura pública incondicionada.
incapaz. Incapaz refere-se a qualquer pessoa que não
tenha condições de se proteger sozinha, podendo ficar Omissão de Socorro
exposta, em razão do abandono, a situação de perigo.
O crime de omissão de socorro está previsto no
Tenha como exemplo o pai que deixa o filho, de ape-
artigo 135 do Código Penal. Irá se configurar quando
nas dois anos de idade, sozinho em casa. Esta criança
o agente deixar de prestar assitência, quando possível
não tem capacidade de se defender sozinha, configu- fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
rando, assim, o tipo penal de abandono de incapaz. extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desam-
Para que o crime de abandono de incapaz seja qua- paro ou em grave e iminente perigo; ou não pedir,
lificado, é necessário que o resultado seja lesão corpo- nesses casos, o socorro da autoridade competente.
ral grave ou a morte. Caso resulte apenas lesão corporal Não se aplica este tipo penal ao agente que cau-
de natureza leve – bastante explorado pelas bancas – o sou o perigo. Assim, se um indivíduo, com a intenção
crime será configurado em sua modalidade simples. de causar lesões corporais, arremessa uma pedra na
Veja características do crime de abandono de incapaz: vítima e foge, não poderá ele ser responsabilizado por
omissão de socorro por não ter prestado socorro à
z É crime próprio, já que se exige uma condição vítima ou por não ter comunicado o fato à autoridade.
especial do agente: ser pessoa que tem o cuidado, Fique atento às seguintes informações sobre a
guarda, vigilância ou autoridade sobre a vítima; omissão de socorro:
z É crime formal, que não exige que ocorra qualquer
coisa com o abandonado (vítima) para fins de con- z Não admite tentativa (é crime omissivo próprio);
sumação do crime. z Não admite a modalidade culposa.
z se do crime imputado, embora de ação pública, o A conduta praticada por Lili configura o crime de
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. difamação.
Observe que o fato imputado não constitui um cri-
Como regra, admite exceção da verdade, ou seja, me, podendo, inclusive, constituir uma contravenção
admite que o réu prove que a vítima realmente prati- penal. Entretanto, caso constitua crime, será calúnia.
cou o crime que lhe foi imputado. A difamação irá ocorrer, independentemente de
No entanto, nos casos de o crime imputado, embo- o fato imputado ser verdadeiro ou não. A difamação,
ra de ação pública, o ofendido tenha sido absolvido assim como a calúnia, também se consuma quando o
por sentença irrecorrível, há uma presunção de que a fato chega ao conhecimento de um terceiro, distinto
imputação é falsa, respondendo o agente por ela. do autor e da vítima, já que também protege a honra 125
objetiva. Trata-se de crime formal e irá se configurar É possível que a injuria seja racial, quando consis-
ainda que a conduta não desonre objetivamente a tir na utilização de elementos referentes a raça, cor,
vítima. etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou
Não há difamação praticada na modalidade cul- portadora de deficiência.
posa. É possível a tentativa da difamação, quando for Você deve levar para sua prova os elementos que
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da difa- podem caracterizar a injuria racial, já que esse assunto
mação cometida por meio de carta. tem grande incidência em provas.Sendo assim, caso o
A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime agente ofenda a vítima, fazendo uso de um dos elemen-
de difamação. tos acima, a exemplo do agente que chama a vítima de
Na difamação, a exceção da verdade não pode ser macaco (Utilize como exemplo o caso do ex-goleiro do
aplicada, salvo se o ofendido é funcionário público e a Santos Futebol Clube, o Aranha, que fora chamado de
ofensa é relativa ao exercício da função. Macaco), irá cometer o crime de injúria racial.
Fique atento para não confundir a injúria racial
Injúria com o crime de racismo.
Na injúria racial, o animus do agente é ofender;
A injúria, que tutela a honra subjetiva do agente, no racismo, o animus é segregar.
está prevista no Artigo 140 do Código Penal, e se confi- O STJ entendeu, na análise do AREsp (agravo
gura quando o agente injuriar alguém, ofendendo-lhe em recurso especial), que a injúria racial é crime
a dignidade ou o decoro. imprescritível.
Na injúria, o agente ofende a dignidade e o deco-
ro da vítima, emitindo ofensa depreciativa, mas sem
imputar a ele fato definido como crime ou ofensivo
Importante!
a sua reputação. Exemplo: Fernando xinga Leandro,
chamando o de burro e idiota. Nos termos do art. 138, § 2º, do CP é punível a
A conduta de Fernando configura o crime de injúria. calúnia contra os mortos.
Na injúria, há lesão à honra subjetiva da vítima, ou Observe-se que não há a mesma previsão para
seja, se afeta o sentimento da pessoa em relação aos difamação e injúria.
seus próprios atributos morais (dignidade), físicos e Nos casos de difamação e injúria o sujeito passi-
intelectuais (decoro). Não é necessário que o fato che-
vo não é o morto, mas familiar seu.
gue ao conhecimento de um terceiro.
A injuria também é crime formal, consumando-se
com a prática da conduta, independentemente de a Disposições Comuns
vítima sentir lesada ou não a sua honra subjetiva.
A injuria só pode ser praticada dolosamente, não sen- Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis
do admitida a modalidade culposa. É admitida a tentativa aos crimes contra a honra em geral (calúnia, difamação
de injuria, quando o iter criminis puder ser fracionado. e injúria).
Lembre-se que a injuria, assim como os demais A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
crimes contra a honra, pode ser praticada por outros me contra a honra for praticado:
meios e não somente de forma verbal.
A injúria não admite exceção da verdade. z Contra o Presidente da República, ou contra chefe
Sendo assim, é importante que você leve em consi- de governo estrangeiro;
deração o seguinte: z Contra funcionário público, em razão de suas
funções;
EXCEÇÃO DA VERDADE z Na presença de várias pessoas, ou por meio que
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou
da injúria;
Calúnia É admitida como regra z Contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou por-
tadora de deficiência, exceto no caso da injúria (a
É admitida pena não irá aumentar de 1/3 no caso de injúria
Difamação
excepcionalmente praticada contra pessoa maior de 60 anos ou por-
tadora de deficiência).
Injúria Não é admitida
A pena será aplicada em dobro se o crime contra a
honra for praticado:
Na injúria, o juiz pode deixar de aplicar a pena nos
seguintes casos: z Mediante paga ou promessa de recompensa.
z Quando o ofendido, de forma reprovável, provo- Veja as hipóteses de exclusão dos crimes contra a
honra.
cou diretamente a injúria;
Não constituem injúria ou difamação punível:
z No caso de retorsão imediata, que consista em
outra injúria.
z A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
pela parte ou por seu procurados;
Conheça a injúria real, ela se configura quando a z A opinião desfavorável da crítica literária, artística
injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por ou científica, exceto quando inequívoca a intenção
sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem de injuriar ou difamar – responderá pela injúria
aviltantes. Assim, caso o agente desfira um tapa no ou pela difamação quem der publicidade;
rosto da vítima, com a intenção de ofendê-la (humi- z O conceito desfavorável emitido por funcionário
126 lhá-la), irá praticar uma injúria real. público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever de ofício – responderá pela se extrai que qualquer espécie de violação à liberdade
injúria ou pela difamação quem der publicidade. do ser humano reclama punição.
O objeto jurídico é a liberdade do ser humano para
Para encerrarmos o assunto referente aos crimes agir dentro dos limites legais.
contra a honra, iremos tratar da retratação e da ação Já o objeto material é a pessoa sobre a qual recai a
penal. Segundo o Código Penal, a retratação, quando conduta criminosa.
admitida, constitui excludente de punibilidade. Estudaremos, então, os crimes contra a liberdade
Retratação refere-se à possibilidade que tem o individual.
agente de retirar aquilo que disse, ou seja, de mani-
festar que se equivocou em suas declarações, mani- Constrangimento Legal
festando-se contrariamente ao que disse inicialmente.
A injúria não admite retratação. O querelado que, Trata-se de crime comum que não admite a modali-
antes da sentença (segundo doutrina majoritária: sen- dade culposa. É a imposição ilegal à vítima de um com-
tença de 1º grau), se retrata cabalmente da calúnia ou portamento certo e determinado, comissivo ou omissivo.
da difamação, fica isento de pena. Consuma-se o crime de constrangimento ilegal no
Caso o querelado tenha praticado a calúnia ou instante em que a vítima faz ou deixa de fazer algo, em
difamação, fazendo uso de meios de comunicação, a decorrência da violência ou grave ameaça utilizada
retratação se dará, caso assim deseje o ofendido, pelos pelo agente. Admite tentativa.
mesmos meios em que se praticou a ofensa. Ação penal: pública incondicionada.
Suponha que o agente tenha praticado o crime O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, tra-
de calúnia ou difamação pelo Facebook. Neste caso, ta-se de crime comum.
a retratação se dará também pelo Facebook, se assim Se o sujeito ativo for funcionário público, e o fato
desejar a vítima. for cometido no exercício de suas funções, responderá
Caso alguém faça uso de referências, alusões ou por abuso de autoridade, na forma na Lei 13.869/2019.
frases, sendo possível inferir calúnia, difamação ou O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, desde
injúria, aquele que se julgar ofendido, poderá pedir que dotada de capacidade de autodeterminação.
explicações em juízo. Caso seja recusado o pedido de A Lei nº 10.741/2003, Estatuto do Idoso, em seu art.
explicações ou, a critério da autoridade judicial, não 107, pune com reclusão, de 2 a 5 anos, aquele que coa-
as dá de maneira satisfatória, responderá pela ofensa. ge, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar
Por fim, sobre a ação penal nos crimes contra a ou outorgar procuração.
honra, é importante que você saiba: A Lei nº 7.170/1983, Crimes contra a Segurança
Nacional, no art. 28, sujeita à pena de reclusão, de 4 a 12
anos, a conduta de atentar contra a liberdade pessoal do
AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA
Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara
Regra Exceções dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal.
A Lei nº 8.078/1990, Código de Defesa do Consumi-
Ação será publicada con- dor, no art. 71, prevê a pena de detenção, de 3 a 1 ano,
dicionada, nos casos de: e multa, para quem utilizar, na cobrança de dívidas,
de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral,
z Injúria real; afirmações falsas, incorretas ou enganosas, ou de
Ação será privada,
z Injúria racial; qualquer outro procedimento que exponha o consu-
procedendo-se mediante
z Se os crimes contra a midor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com
queixa
honra foram pratica- seu trabalho, descanso ou lazer.
dos contra funcioná- Irá se configurar como constrangimento ilegal
rio público, em rezão quando o agente constranger alguém, mediante
de suas funções. violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
Súmula 714 do STF, é concorrente a legitimidade do resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer
ofendido, mediante queixa e do Ministério Público, o que ela não manda.
condicionada à representação do ofendido, para a O crime de constrangimento ilegal irá ocorrer quan-
ação penal por crime contra a honra de servidor do o agente, fazendo uso de violência ou grave ameaça,
público em razão do exercício de suas funções. fazer com que a vítima faça algo que a lei não manda ou
que a vítima deixe de fazer algo que a lei lhe permite.
Logo, fiquem atentos a esta informação: nos casos Exemplo: Jorge e Luís são vizinhos. Jorge é um
de crimes contra a honra de funcionário público em valentão que se sente dono do bairro. Certo dia, Luís
razão de suas funções, a ação penal será privada ou passava pela rua, quando Jorge o aborda. Este, por-
condicionada à representação do ofendido. A doutri- tando uma arma de fogo, saca a arma e a aponta para
na dominante também entende desta forma. Luís e diz que, sob pena de levar um tiro na cara, é
DIREITO PENAL
A ação será pública condicionada à requisição do para este dar meia volta e passar por outro lugar,
Ministro da Justiça caso a conduta que configura cri- já que não o quer mais passando por sua rua. Luís,
me contra a honra seja praticada contra o Presidente temendo por sua vida, dá meia volta e retorna.
da República, ou contra chefe de governo estrangeiro. A conduta de Jorge se enquadra no constrangi-
mento ilegal. Ele, fazendo uso de grave ameaça, cons-
CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL E CRIMES trangeu Luís para que ele deixasse de fazer algo que a
CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL lei lhe permite (liberdade de locomoção).
A doutrina entende corretamente que o crime
O art. 5º, caput, da Constituição Federal assegura a de constrangimento ilegal é subsidiário, o agente
todos o direito à liberdade. A partir dessa afirmação por ele irá responder, caso não seja enquadrado em 127
uma outra conduta um tanto mais grave. Assim, caso Em regra, não cabe tentativa, já que se trata de cri-
o agente constranja a vítima, por meio de violência, me unissubsistente, que se consuma com a prática de
para que ela deixa de fazer alguma coisa, com o fim um único ato, porém, a doutrina majoritária admite
de obter para si vantagem econômica, não irá cometer a tentativa se a ameaça for praticada na modalidade
constrangimento ilegal, mas sim o crime de extorsão. escrita – por meio de uma carta, por exemplo.
O constrangimento ilegal admite tentativa, já que é A doutrina admite a ameaça condicionada, que
crime plurissubsistente, é crime comum, que pode ser ocorrerá quando o agente colocar uma condição para
praticado por qualquer pessoa. a prática do mal injusto e grave. Exemplo: Mévio diz a
Além das penas previstas para o constrangimento Tício: se você não fizer pelo menos um gol na final do
ilegal, o agente irá responder pelas penas correspon- campeonato, eu irei te matar.
dentes à violência, assim, caso o agente pratique o cri- O crime de ameaça se procede mediante ação
me por meio de violência, provocando lesões corporais penal pública condicionada à representação.
na vítima, ele responderá por constrangimento ilegal
em concurso material com o crime de lesões corporais. Sequestro e Cárcere Privado
A pena será aplicada cumulativamente e em dobro
quando, para a execução do crime: Antes de iniciarmos o estudo deste crime, é impor-
tante que você compreenda a diferença entre o
z Reúnem-se mais de 3 (três pessoas) – deve haver sequestro e o cárcere privado.
no mínimo 4 (quatro) pessoas;
No sequestro, ocorre restrição de liberdade da
z Há emprego de arma – segundo a doutrina domi-
vítima, mas ela não fica necessariamente mantida em
nante, pode ser qualquer arma e não necessaria-
recinto fechado. Já no cárcere privado, necessaria-
mente arma de fogo.
mente a vítima terá sua liberdade restringida, sendo
mantida em recinto fechado.
Não irão ser enquadrados como constrangimento
ilegal: O crime de sequestro e cárcere privado se configu-
ra quando o agente privar alguém de sua liberdade,
z A intervenção médica ou cirúrgica, sem o consen- mediante sequestro ou cárcere privado.
timento do paciente ou de seu representante legal,
caso justificada por iminente perigo de vida;
z A coação exercida para impedir o suicídio. Importante!
Quando falamos em cárcere privado, estamos
Ameaça pensando em confinamento, clausura, já quando
falamos em sequestro, estamos considerando
O crime de ameaça, previsto no Artigo 147 do Códi-
limites espaciais mais amplos.
go Penal, irá se configurar quando o agente ameaçar
alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer Ambos consistem na privação da liberdade da
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. vítima, sem o seu consentimento, por tempo
O bem jurídico tutelado pela lei penal é a liberdade juridicamente relevante. Podem ser cometidos
da pessoa humana, notadamente no tocante à paz de mediante detenção ou retenção.
espírito, ao sossego, à tranquilidade e ao sentimento
de segurança.
É a pessoa contra a qual se dirige a ameaça. A tentativa é possível, tanto no sequestro como no
Consuma-se quando a vítima toma conhecimento cárcere privado.
do conteúdo da ameaça, pouco importando sua efe- O objeto jurídico é a liberdade de locomoção, con-
tiva intimidação e a real intenção do autor em fazer sistente no direito de ir, vir e permanecer, de toda e
valer sua promessa. qualquer pessoa humana.
O crime é formal, de consumação antecipada ou de Tão relevante é esse direito que a CF/88 prevê o
resultado cortado. queira o agente intimidar, e tenha habeas corpus como garantia para zelar pelo seu res-
sua ameaça capacidade para fazê-lo. peito, sempre que alguém sofrer ou se achar ameaça-
A tentativa é admissível nas hipóteses de ameaça do de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
escrita, simbólica ou por gestos, e incompatível nos locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
casos de ameaça verbal. O objeto material é a pessoa humana que suporta
Não se reclama nenhuma finalidade específica, e a conduta criminosa.
não se admite a modalidade culposa. A Ação penal é Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo. Se, toda-
pública condicionada à representação. via, tratar-se de funcionário público, no exercício das
É possível verificar que o crime de ameaça e de
suas funções, estará caracterizado o crime de abuso
ação livre, podendo ser praticado de qualquer forma
de autoridade.
pelo agente: verbalmente, por escrita, gestualmente,
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo. Se a víti-
entre outras formas.
ma for ascendente, descendente, cônjuge, ou compa-
Assim, caso um indivíduo olhe para um desafeto
e faça o gesto de uma arma com a mão e aponte para nheiro do agente, ou pessoa com idade superior a 60
este, o crime de ameaça poderá se configurar. (sessenta) anos ou inferior a 18 (dezoito) anos, inci-
É muito importante que você compreenda que a de a figura qualificada (CP, art. 148, § 1º, inc. I ou IV).
ameaça está relacionada a um mal “injusto” e “grave”, Se a vítima for o Presidente da República, do Senado
contrário ao direito. Caso o agente ameace, por exem- Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo
plo, de entrar na justiça para cobrar uma dívida (mal Tribunal Federal, estará caracterizado crime contra a
justo), ele não irá cometer o crime de ameaça previsto Segurança Nacional (art. 28, da Lei 7.170/1983).
no artigo 147 do CPB. O elemento subjetivo é o dolo, sem qualquer fina-
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado lidade específica. Não se admite a modalidade culpo-
128 por qualquer pessoa. sa. Se o propósito do agente for obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço na conduta agressiva do agente que ofende a moral, o
do resgate, o crime será de extorsão mediante seques- corpo ou a saúde da vítima, sem produzir lesão corpo-
tro (CP, art. 159). Se o delito for cometido com fins libi- ral. Se ocorrer lesão corporal ou morte haverá concurso
dinosos, incidirá a figura qualificada definida pelo art. material entre o sequestro ou cárcere privado, na for-
158, § 1º, V, do CP./ ma simples, e o crime de lesão corporal ou homicídio.
O consentimento da vítima, se válido, exclui o crime. Por fim, saiba que este crime é comum, podendo ser
Este crime apresenta formas que o qualificam, praticado por qualquer pessoa e permanente (muito
vejamos elas. importante que você fique atento à Súmula 711 do STF
Será qualificado o crime de sequestro e cárcere – A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado
privado: ou ao crime permanente se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência).
z Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou Ex.: determinado agente pratica vários crimes em
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) continuidade delitiva. Os primeiros atos são praticados
anos: sob a égide de uma lei anterior menos grave. Os últimos
atos são praticados sob a vigência de uma lei posterior
A maior gravidade da conduta repousa no fato de mais gravosa. Aplica-se ao crime continuado ou crime
ter sido o crime praticado no âmbito das relações fami- permanente a sob cuja égide tenha cessado a continui-
liares, no seio da união estável, ou ainda contra pessoa dade, isto é, a última lei, mesmo que seja mais grave.
idosa, mais frágil em razão da avançada idade, e, con-
sequentemente, com menor possibilidade de defesa. Redução à Condição Análoga à de Escravo
z Se o crime é praticado mediante internação da víti- Este crime irá se configurar quando o agente redu-
ma em casa de saúde ou hospital: zir alguém a condição análoga (similar) à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
Crime conhecido como internação fraudulenta, exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes
pode ser praticado por médico ou por qualquer outra de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio,
pessoa. sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto.
z Se a privação da liberdade dura mais de 15 (quin- A doutrina o classifica como crime de ação múltipla.
ze) dias (inc. III): quanto mais longa a supressão da O tipo penal apresenta duas hipóteses equipara-
liberdade, maiores são as possibilidades de a víti- das, respondendo o agente com as mesmas penas do
ma suportar danos físicos e psíquicos. tipo penal principal.
Incorrerá nas mesmas penas aquele que cerceia o
Trata-se de crime a prazo. O período legalmente uso de qualquer meio de transporte por parte do traba-
exigido deve ser computado em conformidade com lhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho e aquele
a regra traçada pelo art. 10, do CP, compreendendo o que mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou
intervalo entre a consumação do delito e a libertação se apodera de documentos ou objetos pessoais do traba-
do ofendido. lhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Observe o exemplo: Silvio, fazendeiro conhecido
z Se o crime é praticado contra menor de dezoito no interior de Goiás, coloca como jornada de traba-
anos: lho para os funcionários de sua fazenda a carga horá-
ria de 15 (quinze) horas diárias, pagando a eles um
Aplica-se às hipóteses em que a vítima é criança ou valor muito pequeno como contraprestação. Silvio se
adolescente e, nesse último caso, impede a utilização recusa a fornecer transporte para os trabalhadores
da agravante genérica prevista no art. 61, II, “h”, do irem embora, já que, segundo ele, eles o devem valo-
CP. Não se confunde com o crime tipificado no art. 230, res referentes à moradia fornecida pela fazenda, não
da Lei nº 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adoles- dispondo eles de outra maneira de ir para casa senão
cente, que apresenta crime menos rigoroso. pelo transporte da fazenda. Silvio está cometendo o
tipo penal que estamos estudando.
z Se o crime é praticado com fins libidinosos: O crime de redução à condição análoga à de escra-
vo não admite a modalidade culposa, podendo ser
Esse inciso foi acrescido pela Lei nº 11.106/2005 praticado apenas dolosamente.
para suprir a lacuna surgida em razão da revogação É também crime permanente, portanto, sua con-
do crime de rapto, que cuidava somente da privação duta se prolonga no tempo.
da liberdade de mulher honesta. Atualmente, a qua- Vejamos as causas de aumento de pena:
lificadora consiste na privação da liberdade de uma
pessoa, homem ou mulher, com fins sexuais. Trata-se
z Contra criança ou adolescente;
de crime formal, de resultado cortado ou de consu-
z Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, reli-
mação antecipada – consuma-se com a privação da
DIREITO PENAL
gião ou origem.
liberdade, desde que o sujeito deseje praticar atos
libidinosos com a vítima, pouco importando se alcan-
Tráfico de Pessoas
ça ou não o fim almejado. Se envolver-se sexualmen-
te com a vítima, responderá, em concurso material,
pelo delito em apreço e pelo respectivo crime contra a Irá praticar o crime de tráfico de pessoas o agente
liberdade sexual, tal como o estupro. que agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,
O § 2º qualifica o crime se resultar à vítima, em comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave
razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, gra- ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
ve sofrimento físico ou moral. Estamos diante de crime finalidade de remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do
qualificado pelo resultado. Os maus-tratos consistem corpo, submetê-la a trabalhos em condições análogas 129
à de escravo; submetê-la a qualquer tipo de servidão; Crimes Contra a Inviolabilidade do Domicílio
adoção ilegal ou exploração sexual.
O tipo penal de tráfico de pessoas é misto alterna- O agente que entrar ou permanecer, clandestina ou
tivo, podendo ser praticado mediante a execução de astuciosamente, ou contra vontade expressa ou tácita
qualquer um dos seus 8 (oito) verbos. de quem de direito, em casa alheia ou em suas depen-
Importante levar em consideração que, para dências irá cometer o crime de violação de domicílio.
compreender este tipo penal, é importante que você O crime de violação de domicílio é crime de mera
conheça os verbos, os meios empregados para a práti- conduta, já que a lei não descreve a conduta, mas não
ca do crime e as finalidades. descreve resultado naturalístico, é, também, crime
comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa.
MEIOS Tutela-se, nesse crime, a tranquilidade doméstica,
VERBOS FINALIDADES abrangente da intimidade, da segurança e da vida pri-
EMPREGADOS
vada proporcionadas pelo domicílio.
Agenciar Remover A incriminação da violação de domicílio não pro-
órgãos, tecidos tege a posse ou a propriedade.
Aliciar ou partes do Observa-se, não configura o delito em análise o ingres-
Grave Ameaça corpo; so em casa abandonada ou desabitada, podendo restar
Submeter a caracterizado o crime de esbulho possessório, previsto no
Recrutar
trabalhos em art. 161, § 1º, II, do CP, (crime contra o patrimônio).
Violência
condições
Transportar
análogas à de
Coação
Transferir
escravo; Importante!
Submeter a
Fraude Casa desabitada não se confunde com casa na
qualquer tipo de
Comprar ausência de seus moradores, pois nesse caso é
servidão;
Abuso Adotar possível o crime de violação de domicílio, uma
Alojar ilegalmente; vez que subsiste a proteção da tranquilidade
Explorar doméstica.
colher sexualmente.
ocupado de habitação coletiva. Aquele que abre uma carta que encontrou e estava
perdida há décadas em lugar público.
Para encerrarmos o assunto violação de domicílio, Alguém abre uma carta remetida ao povo, aos elei-
por fim, veremos os casos em que, mesmo com a vio- tores em geral, aos amantes do futebol etc.
lação, o fato não irá constituir crime. Os pais que abrirem cartas estranhas endereçadas
Não constituirá crime a entrada ou permanência aos filhos menores.
em casa alheia ou em suas dependências: Ao diretor do estabelecimento prisional é assegu-
rado o direito de acessar o conteúdo de correspon-
z Durante o dia, com observância das formalidades dências suspeitas remetidas aos presos (Art. 41, XV e
legais, para efetuar prisão ou outra diligência; parágrafo único, da Lei de Execução Penal). 131
Quando um dos cônjuges abre correspondências destinatário da correspondência. Se um deles quiser
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em representar, e o outro não, prevalece a vontade daquele
face do exercício regular de direito. que deseja autorizar a instauração da persecução penal.
Devassar significa tomar conhecimento de algo
proibido. O sigilo da correspondência é inviolável, por Sonegação ou Destruição de Correspondência
expressa disposição constitucional (art. 5º, XII).
A devassa pode ser efetuada por qualquer meio, Observe:
embora seja o método mais comum, não é obrigatória
a abertura da correspondência – o sujeito pode conhe- § 1º - Na mesma pena incorre:
cer o conteúdo de uma carta apalpando o objeto que I - quem se apossa indevidamente de correspondên-
está em seu interior, por exemplos, dinheiro, cartão cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em
bancário, objetos de valor. parte, a sonega ou destrói;
Assim, também pode praticar o delito o agente
O art. 151, § 1º, inciso I, do Código Penal foi revoga-
pode inteirar-se do seu conteúdo sem abri-la.
Para caracterização do crime não basta ao agente do pelo art. 40, § 1º, da Lei nº 6.538/1978.
devassar o conteúdo de correspondência fechada, diri- É preciso seja a correspondência endereçada a
gida a outrem. É preciso que o faça indevidamente, sem destinatário específico.
ter o direito de tomar conhecimento do seu conteúdo. O crime previsto no art. 40, § 1º, da Lei 6.538/1978 é
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois se crime autônomo em relação ao caput. As penas alter-
trata de crime comum. nativas cominadas em abstrato são as mesmas do deli-
Incidirá uma agravante genérica se o crime for to de violação de correspondência, mas o legislador
cometido por pessoa prevalecendo-se do cargo, ou em utilizou outro núcleo e inseriu novas elementares.
abuso da função. O objeto jurídico é a inviolabilidade da correspon-
É imprescindível que o sujeito pratique o fato em dência, no sentido de ser preservada pelo seu titular
decorrência do cargo ou função específica por ele até quando reputar conveniente.
desempenhada, relativa ao serviço postal. Tem como objetivo material a correspondência
Detalhe, para ser sujeito passivo, observamos que alheia, mas agora retirada da esfera de disponibilida-
há duas vítimas o remetente e o destinatário. de do seu titular.
Exclui-se o crime se qualquer um deles autorizar Pode, no entanto, estar aberta ou fechada, uma vez
o conhecimento do conteúdo da correspondência por que a conduta consiste em apossar-se da correspondên-
terceira pessoa. Enquanto não chega ao destinatário, cia para sonegá-la ou destruí-la, indevidamente, e não
pertence unicamente ao remetente. para tomar conhecimento ilegítimo do seu conteúdo.
Vejamos alguns pontos importantes: A conduta consiste em se apossar de correspon-
dência alheia, ainda que aberta, para sonegá-la ou
z A impossibilidade de localização do destinatário destruí-la, no todo ou em parte.
não afasta o crime. A modalidade desse crime é o dolo, abrangente da
z O falecimento do remetente não exclui o delito. ilegitimidade da conduta de apossar-se de correspon-
z Se a correspondência ainda não foi enviada, e sobre-
dência alheia, com a exigência da finalidade específi-
veio sua morte, seus herdeiros têm o direito de
ca de sonegá-la ou destruí-la”.
conhecer seu conteúdo, pois ela agora lhes pertence.
É possível a tentativa.
z Se o destinatário falece antes de receber a corres-
pondência, seus sucessores poderão conhecer seu Causa de aumento da pena:
conteúdo, que provavelmente a eles interessa. z As penas são aumentadas da metade quando há
dano a outrem.
O crime de violação de correspondência é doloso,
abrange a ilegitimidade da conduta de devassar a corres- O dano pode ser econômico ou moral, e o prejudi-
pondência alheia. Não se admite a modalidade culposa. cado pode ser o remetente, o destinatário ou mesmo
Se a finalidade do agente for praticar espionagem um terceiro.
contrária à Segurança Nacional, serão aplicáveis os arts. Por se tratar de crime de dupla subjetividade passi-
13, caput, e 14, da Lei nº 7.170/1983, conforme o caso. va, o direito de representação pode ser exercido tanto
O crime de violação de correspondência se consuma
pelo remetente como pelo destinatário da correspon-
com o conhecimento do conteúdo da correspondência.
dência. Se um deles quiser representar, e o outro não,
É possível a tentativa.
prevalece a vontade daquele que deseja autorizar a
Pena e causa de aumento de pena estão, respecti-
instauração da persecução penal.
vamente, cominadas e descritas na Lei nº 6.538/1978.
A pena cominada é detenção, de até seis meses, ou Violação de Comunicação Telegráfica, Radioelétrica
pagamento não excedente a vinte dias-multa
ou Telefônica
O juiz pode aplicar a pena de 1 (um) dia a 6 (seis)
meses de detenção. II - quem indevidamente divulga, transmite a
Por sua vez, a pena de multa parte do mínimo legal, outrem ou utiliza abusivamente comunicação tele-
de 10 (dez) dias-multa, nos termos do art. 49, caput, do gráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou con-
CP, e vai até o máximo de 20 (vinte) dias-multa. versação telefônica entre outras pessoas;
As penas são aumentadas da metade quando há III - quem impede a comunicação ou a conversação
dano a outrem. Esse dano pode ser econômico ou referidas no número anterior;
moral, e o prejudicado pode ser o remetente, o desti- IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho
natário ou mesmo um terceiro. radioelétrico, sem observância de disposição legal.
A ação penal é pública condicionada à representação.
Tratando-se de crime de dupla subjetividade passi- A primeira parte do art. 151, § 1º, II, do CP está em
va (remetente e destinatário), o direito de representa- vigor unicamente nas hipóteses em que a violação é
132 ção pode ser exercido tanto pelo remetente como pelo efetuada por pessoas comuns.
Aplica-se o art. 56, § 1º, da Lei nº 4.117/1962, Códi- A ação penal na hipótese do inciso I é pública
go Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóteses em incondicionada. Nas hipóteses dos incisos II e III, é
que a violação é praticada por funcionário do governo pública condicionada à representação. Já para o pre-
encarregado da transmissão da mensagem. visto no inciso IV, é pública incondicionada.
A parte final do art. 151, § 1º, II, do CP foi derroga- As penas aumentam-se de metade, se há dano para
da pela Lei nº 9.296/1996, que regulamenta o art. 5º, outrem.
XII, parte final, da CF/88. As penas, em todas as hipóteses, aumentam-se de
metade, se há dano para outrem.
A Lei nº 9.296/1996, Interceptação Telefônica, criou
Esse dano pode ser econômico ou moral, e perti-
um tipo penal específico para a violação do sigilo telefôni-
nente a qualquer pessoa.
co no art. 10, dispondo que constitui crime realizar inter-
ceptação de comunicações telefônicas, de informática ou § 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de fun-
telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autoriza- ção em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou
ção judicial ou com objetivos não autorizados em lei. telefônico:
O dispositivo continua aplicável ao terceiro que Pena - detenção, de um a três anos.
não interveio na interceptação telefônica criminosa,
Aplicável às hipóteses não revogadas pela Lei nº
mas divulgou-a a outras pessoas.
4.117/1962, Código Brasileiro de Telecomunicações, e
Esse inciso II tem como núcleo divulgar, transmitir pela Lei nº 6.538/1978, Serviços Postais.
e utilizar, tipo misto alternativo. A prática de mais de A incidência da figura qualificada só será cabível
uma conduta visando igual objeto material caracteriza quando o sujeito ativo desempenhar alguma função
crime único. em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefô-
Divulgar é tornar algo público, dando conheci- nico, e dela abusar.
mento do seu conteúdo a outras pessoas. Exige-se a relação de causalidade entre a função
Transmitir significa enviar de um local para outro. exercida abusivamente pelo agente e o delito praticado.
Utilizar é fazer uso de algo. Quanto à qualificadora, a ação penal é pública
incondicionada.
Na hipótese de um terceiro concorrer de qual- Art. 152 Abusar da condição de sócio ou emprega-
do de estabelecimento comercial ou industrial para,
quer modo para a interceptação telefônica ilegal,
no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
será partícipe do crime definido pelo art. 10 da suprimir correspondência, ou revelar a estranho
Lei 9.296/1996. Se tiver ciência de uma gravação seu conteúdo:
oriunda de violação telefônica indevida, e divul- Pena - detenção, de três meses a dois anos.
gá-la, a ele será imputado o crime definido pelo Parágrafo único - Somente se procede mediante
art. 151, § 1º, I, do CP. representação.
Parágrafo único - Somente se procede mediante dispositivos, da informação escrita, oral ou visual
representação. produzida no processamento (exemplos: impres-
soras e monitores); e
O objeto jurídico é a inviolabilidade da intimidade e da z dispositivos de armazenamento: dizem respeito
vida privada das pessoas, relativamente ao segredo pro- à guarda de dados ou informações para posterior
fissional. O dever de guardá-lo, contudo, não é absoluto. análise (exemplos: pendrives, HDs – hard disks e
Já o objeto material é o assunto transmitido ao pro- CDs – discos compactos). Só há crime quando a
fissional em caráter sigiloso. conduta recai em dispositivo informático alheio.
O núcleo do tipo é revelar, no sentido de delatar ou
denunciar. 135
O fato será atípico quando o sujeito devassa um § 4° Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a
dispositivo próprio, ainda que não esteja sob sua pos- dois terços se houver divulgação, comercialização
se. É irrelevante se o dispositivo informático alheio se ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
encontra ou não conectado à rede de computadores. dados ou informações obtidos.
Não se exige sua interligação com outro disposi-
tivo informático, possibilitando o compartilhamento Aplica-se unicamente à modalidade qualificada
de dados ou informações. O núcleo do tipo é invadir, prevista no § 3º do art. 154-A. Nesse caso, o exauri-
no sentido de devassar dispositivo informático alheio, mento justifica a maior severidade no tratamento
conectado ou não à rede de computadores. penal. A divulgação, comercialização ou transmissão
a terceiro, embora normalmente envolva alguma
Por se tratar de crime comum ou geral, o sujeito ati-
contraprestação, pode ser gratuita, pois o legislador
vo pode ser cometido por qualquer pessoa. Embora esta
empregou a expressão “a qualquer título”.
condição não seja exigida pelo tipo penal, normalmente o
Aumenta-se a pena de um terço à metade se o cri-
crime é praticado por sujeitos dotados de especiais conhe-
me for praticado contra:
cimentos de informática, conhecidos como crackers.
O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física
z Presidente da República, governadores e prefeitos;
ou jurídica.
z Presidente do Supremo Tribunal Federal;
Esse crime é praticado na modalidade dolosa, z Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado
acrescido de um especial fim de agir representado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da
pela expressão e com o fim de obter, adulterar ou des- Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
truir dados ou informações sem autorização expressa Municipal; ou
ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnera- z Dirigente máximo da administração direta e indireta
bilidades para obter vantagem ilícita. federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
Consuma-se com o simples ato de invadir dispositivo
informático alheio, conectado ou não à rede de compu- Ação Penal
tadores, mediante violação indevida de mecanismo de
segurança, com a finalidade de obter, adulterar ou des- Art. 154-B Nos crimes definidos no art. 154-A, somen-
truir dados ou informações sem autorização expressa te se procede mediante representação, salvo se o cri-
ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabili- me é cometido contra a administração pública direta
dades para obter vantagem ilícita, pouco importando se ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Esta-
este objetivo vem a ser efetivamente alcançado. dos, Distrito Federal ou Municípios ou contra empre-
É possível a tentativa, em face do caráter pluris- sas concessionárias de serviços públicos.
subsistente do delito, permitindo o fracionamento do
iter criminis. No crime de invasão de dispositivo informativo,
em regra, a ação é pública condicionada à represen-
tação do ofendido ou de quem tiver qualidade para
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
representá-lo.
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa
Isso é justificado pela disponibilidade do interesse
de computador com o intuito de permitir a prática
atacado pelo delito, vinculado precipuamente à esfera
da conduta definida no caput.
de intimidade da vítima.
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se Reserva-se ao ofendido ou ao seu representante
da invasão resulta prejuízo econômico. a oportunidade (ou conveniência) para autorizar ou
não o início da persecução penal.
Cuida-se de causa de aumento da pena, a ser uti- Excepcionalmente, a ação penal será pública
lizada na terceira e última fase da aplicação da pena incondicionada, nas hipóteses em que o delito envol-
privativa de liberdade. ver a Administração Pública, pois nesses casos há
Diversos fatores podem proporcionar o prejuízo ofensa a valores de natureza indisponível.
econômico: divulgação de informações capazes de
macular a honra da vítima, tempo de trabalho neces-
sário para a reprodução dos dados ou informações EXERCÍCIOS COMENTADOS
destruídos ou adulterados, valores gastos para livrar
o dispositivo informático de vírus etc. 1. (CESPE-CEBRASPE – 2013) No que concerne a cri-
Em qualquer dos casos, a elevação da pena será mes, julgue o item a seguir.
obrigatória. Considere a seguinte situação hipotética.
Alex agrediu fisicamente seu desafeto Lúcio, causan-
§ 3° Se da invasão resultar a obtenção de conteú-
do-lhe vários ferimentos, e, durante a briga, decidiu
matá-lo, efetuando um disparo com sua arma de fogo,
do de comunicações eletrônicas privadas, segredos
sem, contudo, acertá-lo.
comerciais ou industriais, informações sigilosas,
Nessa situação hipotética, Alex responderá pelos cri-
assim definidas em lei, ou o controle remoto não
mes de lesão corporal em concurso material com ten-
autorizado do dispositivo invadido:
tativa de homicídio.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
( ) CERTO ( ) ERRADO
A pena é de detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa, De forma simples, podemos, pelo princípio da con-
se a conduta não constitui crime mais grave. cussão, entender que o crime de homicídio é mais
Evidentemente, não há crime se existia permissão grave que o crime de lesão corporal. A vontade do
para tanto, como ocorre nos computadores instalados agente, inicialmente foi de provocar lesões corpo-
em escolas infantis, pelos quais os pais acompanham à rais na vítima. Até aqui, crime de lesão corporal.
136 distância as atividades desenvolvidas pelos seus filhos. Quando o agente passa a ter vontade de matar, o
crime muda: homicídio. O crime mais grave absorve Homicídio simples
o crime menos grave. Então, responde apenas por Art. 121. Matar alguém:
homicídio. Resposta: Errado. Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau- § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro-
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi- vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um
dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um sexto a um terço.
revólver pertencente à corporação policial de que seu (...)
pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta Observe que há duas exigências: domínio de violen-
minutos, armado com o revólver, sob a influência de
ta emoção e que a situação cronológica seja logo em
emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez
seguida. O domínio de violenta emoção é o que dou-
disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale-
ceu no local antes mesmo de ser socorrida. trina chama de ações em curto circuito, pois o agen-
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item. te age sem mesmo antes de pensar. A situação logo
Na situação considerada, em que Paula foi vitimada em seguida não é 40 minutos entre a provocação e
por Carlos por motivação torpe, caso haja vínculo a atitude, pois teria, conforme a doutrina, tempo de
familiar entre eles, o reconhecimento das qualificado- pensar. Resposta: Errado.
ras da motivação torpe e de feminicídio não caracteri-
zará bis in idem. 4. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau-
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente
( ) CERTO ( ) ERRADO Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos.
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi-
Bis in idem ocorre, em síntese, na hipótese de um dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um
agente responder mais de uma vez pela mesma revólver pertencente à corporação policial de que seu
conduta, ou seja, repetição de sanção pelo mesmo pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta
fato. Na questão não há bis in idem, já que estamos minutos, armado com o revólver, sob a influência de
diante de qualificadoras de ordem distintas. Sendo emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez
o feminicídio de ordem objetiva e o motivo torpe de disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale-
ordem subjetiva. O informativo 625/STJ confirma tal ceu no local antes mesmo de ser socorrida.
tese. Tome nota: vermelha = qualificadora objetiva; Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
azul = qualificadora subjetiva: Carlos agiu sob o pálio da legítima defesa putativa.
§ 2° Se o homicídio é cometido:
( ) CERTO ( ) ERRADO
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou
por outro motivo torpe; Vejamos o texto do Código Penal:
II - por motivo futil; Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usan-
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, do moderadamente dos meios necessários, repe-
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que le injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
possa resultar perigo comum;
ou de outrem.
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimu-
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos
lação ou outro recurso que dificulte ou torne impos-
no caput deste artigo, considera-se também em legí-
sivel a defesa do ofendido;
tima defesa o agente de segurança pública que repe-
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
le agressão ou risco de agressão a vítima mantida
nidade ou vantagem de outro crime:
refém durante a prática de crimes.
Feminicídio
A legítima defesa putativa, no ensinamento da dou-
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
trina, é o fato de o autor imaginar estar em estado
feminino:
de legítima defesa, ao se defender de agressão ine-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Resposta: Certo.
xistente. Resposta: Errado.
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Em um clube social, Pau- 5. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Francisco, maior e capaz,
la, maior e capaz, provocou e humilhou injustamente em razão de desavenças decorrentes de disputa de
Carlos, também maior e capaz, na frente de amigos. terras, planeja matar seu desafeto Paulo, também
Envergonhado e com muita raiva, Carlos foi à sua resi- maior e capaz. Após analisar detidamente a rotina
dência e, sem o consentimento de seu pai, pegou um de Paulo, Francisco aguarda pelo momento oportuno
revólver pertencente à corporação policial de que seu para efetivar seu plano.
pai faz parte. Voltando ao clube depois de quarenta A partir dessa situação hipotética e de assuntos a ela
minutos, armado com o revólver, sob a influência de correlatos, julgue o item seguinte.
emoção extrema e na frente dos amigos, Carlos fez Se Francisco atacar Paulo utilizando-se de uma
DIREITO PENAL
disparos da arma contra a cabeça de Paula, que fale- emboscada, isto é, se ocultar e aguardar a vítima des-
ceu no local antes mesmo de ser socorrida.
prevenida para atacá-la, a ação de Francisco, nessa
Acerca dessa situação hipotética, julgue o próximo item.
hipótese, caracterizará uma forma de premeditação.
Por ter agido influenciado por emoção extrema, Car-
los poderá ser beneficiado pela incidência de causa de ( ) CERTO ( ) ERRADO
diminuição de pena.
Premeditação: essa palavra não está no Código Penal.
( ) CERTO ( ) ERRADO Então buscamos na doutrina e resumimos.
A qualificadora da premeditação no homicídio é o TED:
Vamos ao texto do Código Penal: Traição, Emboscada e Dissimulação. Resposta: Certo. 137
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Em regra, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa,
exceto o proprietário.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol . 1, O sujeito passivo à vítima do furto: o proprietário,
19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016. o possuidor ou detentor da coisa legítima.
CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrimes – Lei Furto Simples
13.964/2019: Comentários às Alterações no CP,
CPP e LEP. Salvador: Juspodium, 2020. O art. 155, do CP, define o furto simples.
Configura-se quando o agente subtrai, para si ou
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal para outrem, coisa alheia móvel.
esquematizado: parte especial. 6ª ed. São Paulo:
Para entendê-lo, dividiremos em duas partes:
Saraiva, 2016.
JESUS, Damásio de. Código Penal Anotado. 22ª. z Subtrair (verbo) – consiste no ato de se apossar de
Ed. São Paulo: Saraiva, 2014. propriedade de outra pessoa, seja para si ou para
outra pessoa, por exemplo, o agente subtrai para
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª. si uma bicicleta que estava estacionada próximo
Ed. São Paulo: Método, 2014. à lanchonete;
z Coisa alheia móvel – necessário que o objeto mate-
rial do crime de furto seja coisa móvel e que per-
tença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou que
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO pertença ao próprio autor, não configurará furto,
por exemplo, o agente que, aproveitando da distra-
FURTO ção da vítima, subtraia o aparelho celular.
O primeiro crime contra o patrimônio é o furto. Não há emprego de violência nem grave ameaça
Em síntese, o crime de furto é definido por ser a sub- à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de
tração de coisa alheia móvel para si ou para outrem. roubo.
Há o furto (art. 155, do CP) e o furto de coisa comum
(art. 156). O furto tem as seguintes características:
Sobre o bem jurídico, não há consenso na doutri-
na, vejamos: z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
z Somente a propriedade (Hungria); quer pessoa, por exemplo, o agente subtrai o apa-
z A propriedade e a posse (Nucci; Greco; Masson); relho celular;
z A propriedade, a posse e a detenção (Mirabete; z É crime material, que exige a ocorrência do resul-
Delmanto; Bitencourt). tado naturalístico para fins de consumação, ou
seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo sub-
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, trai a coisa móvel, por exemplo, quando o agente
passando ao poder do agente. Pode ocorrer por apo- subtrai a bicicleta;
deramento direto, quando o agente apreende a coisa z O furto só se pratica dolosamente;
manualmente, ou por apoderamento indireto, na hipó- z Não admite a modalidade culposa;
tese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal. z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do
agente para praticar o furto é fracionada em
z Coisa: refere-se a tudo aquilo que possui existên-
diversos atos que somados consumam o delito,
cia de natureza corpórea.
z Coisa alheia: significa pertencente a outrem. portanto, admite a tentativa quando o agente, por
motivos alheios a sua vontade pratica alguns atos
A coisa sem dono não é objeto de furto. e não ocorre a consumação do delito. Por exemplo,
Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a o agente com animus de furtar objetos eletrôni-
subtração de coisa própria, mesmo que em poder de cos de uma casa, pula o muro para ingressar no
terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito interior da residência, mas o proprietário da casa
no art. 346, do CP, ou o crime de furto de coisa comum acorda e acende a luz, momento em que o agente
(art. 156, do CP). deixa de praticar os demais atos.
Não há furto de coisa abandonada, pois não inte-
gra o patrimônio de ninguém. A lei tutela a propriedade e a posse. A simples
Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode detenção não configura o crime de furto.
configurar o crime do art. 169, parágrafo único, II, do Sobre a consumação deste crime, é importan-
CP.
te conhecer o posicionamento adotado pelas cortes
Sobre o valor afetivo, para alguns autores (como
superiores (STF e STJ).
Damásio e Rogério Greco), coisa de valor afetivo ou
Os tribunais superiores adotam a teoria da
sentimental também pode ser objeto material de fur-
to. Segundo Hungria, “a coisa subtraída deve represen- apprehensio, também chamada de amotio, que consi-
tar para o dono, se não um valor reduzível a dinheiro, dera consumado o crime de furto (e isso vale para o
pelo menos uma utilidade (valor de uso), seja qual for, crime de roubo) quando o agente se apossa da coisa
de modo que possa ser considerada como integrante do alheia móvel, mesmo que por um breve período de
seu patrimônio”. tempo, não sendo necessário que a coisa saia da área
No mesmo sentido: STF, RE 100103. de vigilância da vítima.
Em sentido contrário, uma parcela da doutrina Um questionamento oportuno, trata-se de verifi-
(Nucci, por exemplo) sustenta que deve haver subtra- car se o bem subtraído deve ter valor econômico, ou
138 ção de coisa com valor patrimonial. seja, se o objeto material pode ser negociável.
Vejamos os bens que integram o patrimônio: a subtração de droga é crime do art. 33 da Lei nº
11.343/2006; a subtração de arma de fogo é crime
z Os bens corpóreos, com existência material, por do art.16 da Lei nº 10.826/2003.
exemplo, um veículo, e incorpóreos, com existên- z Algumas partes naturais do corpo humano: podem
cia abstrata, por exemplo, um direito autoral, de ser objeto de furto se passíveis de figurarem numa
valor econômico; relação jurídica, por exemplo, subtração do cabelo
z Os bens de valor afetivo ou sentimental, por exem- com o fim de obter lucro. Portanto, a subtração de
um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão
plo, cartas e fotografia;
corporal grave, ou homicídio consumado ou tentado.
z Os bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor
z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois cons-
econômico ou sentimental, por exemplo, folha de
titui delito do art. 211, do CP, destruição, subtra-
cheque em branco e cartão de crédito.
ção ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver
Portanto, vimos que não se pode restringir o patri- tem valor econômico, por exemplo, pertencente a
mônio às coisas de valor econômico. Faculdade de Medicina, haverá furto. Se o furto de
Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode algum objeto que foi sepultado junto ao cadáver,
ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum ou por exemplo, arcada dentária de ouro, o crime
geral. será furto, e a vítima será o herdeiro do de cujos.
z Energia elétrica, discutia-se se constituía ou não coi-
Mas, há exceção: sa móvel. O legislador penal tipificou o furto de ener-
gia elétrica no art. 155, § 3º, do CP, equiparando-se
z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previsto a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra
no art. 155, § 4º, II, por ser crime próprio, o agente que tenha valor econômico, por exemplo, energia
é aquela pessoa que a vítima confia, por exemplo, radioativa, energia cinética, energia atômica, ener-
o furto praticado por um empregado; gia genética etc. Porém, a energia deve ser suscetível
z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria coi- de apossamento, ou seja, que possa ser separada da
sa que se encontra em poder de terceiro, não res- coisa que a produz. Assim, não caracteriza furto o
ponderá por furto, mas sim pelo crime de exercício apossamento da energia física do animal.
arbitrário das próprias razões (arts. 345 ou 346, do z Instalação clandestina de TV a cabo, há duas
CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima); correntes:
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa,
o condômino que a subtrair responderá pelo deli- Primeira: trata-se de fato atípico, pois não há
to de furto de coisa comum (art. 156, do CP), por propriamente a subtração de energia e, sim,
exemplo, um dos condôminos furta cadeiras da o aproveitamento de um serviço. A energia se
área de uso comum do condomínio; consome ou se reduz com o uso e isto não ocor-
z O funcionário público, que subtrai bem público, re com a TV a cabo, cuja utilização não gera
responderá por peculato-furto (§ 1º do art. 312, do qualquer custo adicional para a operadora. É
CP), desde que a função pública tenha facilitado a um mero ilícito civil. Observe que o art. 35 da
subtração, pois, se em nada facilitou, o delito será Lei nº 8.977/1995 dispõe que é “ilícito penal a
de furto (art. 155 do CP); interceptação ou a recepção não autorizada
dos sinais de TV a Cabo”, entretanto, não lhe
Funcionário público que subtrai bem particu-
cominou qualquer pena, sendo vedada a sua
lar que se encontra sob a guarda ou custódia da
imposição pela via da analogia.
Administração Pública, desde que a função tenha
Segunda: dominante no STJ, considera que há
facilitado a subtração, responderá por peculato-
-furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub- crime de furto. Argumenta-se que o sinal de
trai veículo que estava apreendido no pátio do televisão se propaga por meio de ondas, o que
posto de fiscalização da Polícia Rodoviária. na definição técnica se enquadra como energia
Funcionário público que subtrai bem particu- radiante, que é uma forma de energia associa-
lar que não estava sob a guarda ou custódia da da à radiação eletromagnética.
Administração Pública ou estava, mas a função
em nada facilitou a subtração, responderá por Furto Qualificado
furto. Por exemplo: policial rodoviário que sub-
trai um bem que se encontrava no porta-malas O furto qualificado é aquele que as suas penas
de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não são modificadas nos patamares mínimos e máximo,
estava apreendido, cometerá o crime de furto. aumentando consideravelmente.
Trata-se de qualificado por ter pena própria e não
O sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado mera causa de aumento de pena. Podemos exempli-
ou exposto a perigo de lesão. ficar o caso de o agente furtar objetos eletrônicos de
O titular do bem jurídico, apesar de divergências uma casa utilizado chave falsa para abrir o portão e a
na doutrina, prevalece que é proprietário e possuidor. porta da casa.
O detentor é arrolado no processo como testemu-
nha, e não como vítima. O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:
DIREITO PENAL
Vejamos os pontos mais questionados sobre o A reclusão será de 2 (dois) a 8 (oito) anos, se
crime de furto: cometido:
z Coisas ilícitas: podem ser objeto de furto, por exem- z Com destruição ou rompimento de obstáculo à
plo, responde por furto quem subtrai mercadoria subtração da coisa.
contrabandeada e, neste caso, a vítima responderá z Com abuso de confiança, ou mediante fraude,
pelo crime de contrabando. Por outro lado, as coi- escalada ou destreza.
sas ilícitas não podem ser objeto de furto se cons- z Com emprego de chave falsa.
tituírem elemento de outro crime, por exemplo, z Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.
139
Com destruição ou rompimento de obstáculo à Com emprego de chave falsa:
subtração da coisa:
No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o
Destruir é desfazer, demolir, por exemplo, o agen- agente faz uso de chave distinta da chave original ou obje-
te destrói algo para subtrair a coisa, a exemplo daque- to capaz de abrir um cadeado ou fechadura, por exemplo,
le que arromba o portão de uma casa, para entrar e gazuas, pedaço de arame, micha, clips e etc. Anote-se que
subtrair uma televisão. a chave falsa pode ou não ter formato de chave.
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, ser- A jurisprudência não é unânime no caso de se a
rar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o agente abre a ligação direta do veículo caracteriza ou não chave fal-
porta da casa com um pé de cabra para entrar e sub- sa. A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicita-
trair uma televisão. mente pelo agente, não caracteriza chave.
Nos dois casos, o delito deixa vestígios, sendo A cópia da chave verdadeira, quando obtida lici-
imprescindível o exame de corpo delito. tamente, não é chave falsa. Se, no entanto, for tirada
Em ambos há uma danificação, que é total no ver- clandestinamente, incide a qualificadora do crime de
bo “destruir”, sendo parcial no verbo “romper”. furto.
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado,
por força do princípio da subsidiariedade implícita. Mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas:
A destruição e o rompimento devem ser praticados
contra obstáculo, e não sobre a própria coisa furtada, por O reconhecimento da qualificadora depende de
exemplo, o agente rompe a porta do veículo para subtraí-lo. pelo menos duas pessoas.
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para difi- Computam-se os inimputáveis (menores e doentes
cultar a sua subtração, por exemplo, matar o cão de mentais) e os desconhecidos.Detalhe, se o comparsa é
guarda da residência, destruir as telhas para adentrar menor de dezoito anos, o agente responderá por fur-
na residência, ou mesmo, cortar os fios do alarme do to qualificado em concurso material com o delito de
automóvel ou da cerca eletrificada. corrupção de menores, previsto no art. 244-B do ECA,
A mera remoção de obstáculo, quando destituída desde que haja prova da efetiva corrupção do menor.
da danificação, não qualifica o furto, por exemplo, Sobre a presença no local do crime, basta a simples
desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da participação, independentemente da presença na fase
corda que prende a canoa. da execução.
A absolvição do coautor nem sempre exclui a qua-
Com abuso de confiança, ou mediante fraude, lificadora. De fato, havendo prova da pluralidade de
escalada ou destreza: agentes, a qualificadora deve ser reconhecida.
No delito de roubo, o concurso de pessoas gera
No abuso de confiança, o agente se vale da confian- aumento de pena de um terço até metade. No furto,
ça que o dono da coisa tem nele, para poder subtrair, a pena dobra.
como, por exemplo, quando o agente é amigo do dono Há doutrina que sustenta a violação do princípio
da casa, que deixa sua carteira sobre a mesa e vai ao da proporcionalidade da pena, porque o roubo é mais
banheiro despreocupado. Momento em que o agente, grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso
aproveitando desta confiança, subtrai a carteira. de pessoas deveria sofrer apenas o aumento de um
O uso de fraude fica configurado quando o agente terço até metade.
usa de artificio para enganar a vítima, para subtrair O STJ editou a Súmula 442: “É inadmissível aplicar
a coisa, a exemplo do agente que se passa por funcio- no furto qualificado pelo concurso de agentes a majo-
nário de empresa de telefonia para conseguir entrar rante do roubo”.
numa casa e subtrair um aparelho celular que nela
estava. Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo
gio alheio, para si ou para outrem, mediante violência Vamos falar das características do crime de
contra pessoa. roubo:
O roubo pode ser simples, majorado ou qualifica-
do. Veremos sobre esses assuntos mais adiante! z É crime comum, já que pode ser praticado por
O roubo é delito pluriofensivo, isto é, ofende mais qualquer pessoa;
de um bem jurídico. z É crime complexo, já que atinge mais de um bem
A incriminação do roubo visa a tutela do patrimô- jurídico penalmente relevante (há mais de um cri-
nio, integridade fisiopsíquica, a saúde e a tranquilidade. me configurando o tipo penal do crime de roubo):
Na forma qualificada como latrocínio, tutela-se furto (+) ameaça ou violência;
também a vida. z Não admite a modalidade culposa; 143
z É crime material, que exige a ocorrência do resul- A segunda causa de aumento ocorre
tado para fins de consumação; quando a vítima está em serviço de
z Para consumação, adota-se, assim como o furto, a transporte de valores e o agente conhe-
teoria da apprehensio, ou amotio. ce tal circunstância.
A SEGUNDA
Objetiva-se tutelar a segurança do
Há duas definições em que devemos ter atenção: MAJORANTE
transporte.
arrebatamento inopino e trombada. Valores abrange dinheiro, joias precio-
No arrebatamento, que é o ato de arrancar com sas e qualquer outro bem passível de
violência a coisa que está em poder da vítima ou no ser convertido em pecúnia.
corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar
do pescoço da vítima. A terceira majorante consiste na sub-
A doutrina se dividi. Alguns defendem a tese de tração de veículo automotor que venha
que a arrebatamento caracteriza violência contra coi- a ser transportado para outro Estado
sa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há ou Exterior.
quem defenda que se trata de violência contra pessoa, A expressão “veículo automotor” abran-
ge, do mesmo modo que estudamos no
configurando crime de roubo, teoria mais aceita.
crime de furto: aeronaves, automóveis,
A trombada contra a vítima tem suas divergências
A TERCEIRA motocicletas, lanchas.
na jurisprudência.
MAJORANTE Para a incidência do aumento da pena,
Há quem afirma que se trata de furto, exceto quan-
é necessário que o veículo seja efetiva-
do reduzir a vítima à impossibilidade de resistência,
mente transportado para outro Estado
quando então configurará roubo.
ou Exterior. Isto porque o transporte
Outra parte defende que sempre se enquadrará na
diminui a possibilidade de recuperação
hipótese de roubo, visto que o ato tem violência física. do bem, facilitando ainda a adulteração
Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que e negociação do veículo, envolvendo,
se trata de furto. muitas vezes, terceiros de boa-fé.
z Se há concurso de duas ou mais pessoas; z Substância explosiva é a que causa estrondo, dis-
z Se a vítima está em serviço de transporte de valo- solvendo-se com a arrebentação, por exemplo, pól-
res e o agente conhece tal circunstância; vora ou dinamite.
z Se a subtração for de veículo automotor que venha z Quanto aos acessórios, são os elementos que, em
a ser transportado para outro Estado ou para o conjunto ou isoladamente, são capazes de se trans-
exterior; formar quimicamente numa substância explosiva,
z Se o agente mantém a vítima em seu poder, res- aqui podemos exemplificar o estopim, a espoleta e
tringindo sua liberdade; o cordel detonante. São estes acessórios que pos-
z Se a subtração for de substâncias explosivas ou sibilitam a fabricação, montagem ou emprego da
de acessórios que, conjunta ou isoladamente, pos- substância explosiva.
sibilitem sua fabricação, montagem ou emprego z A fabricação é a produção ou confecção.
– causa de aumento de pena acrescida pela Lei z Montagem é a junção dos componentes.
13.654/2018; z Emprego é a utilização.
z Se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma branca. Incluído pela Lei nº A última causa de aumento de pena é a violên-
13.964, de 2019, Pacote Anticrimes. cia ou grave ameaça exercida com emprego de arma
branca. Arma branca é a que não é arma de fogo.
Vejamos cada uma das majorantes: Abrange as armas impróprias, que são os instru-
mentos que servem para ataque ou defesa, embora
não seja esta a sua finalidade, como a tesoura, faca
A primeira majorante, concurso de
de cozinha, pedaço de pau, caco de vidro, etc., bem
duas ou mais pessoas, justifica-se pela
como as armas próprias que não sejam de fogo, que
maior organização do delito, aumen-
são os instrumentos cuja finalidade específica é o ata-
tando a possibilidade de consumação
que ou defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês
A PRIMEIRA à medida em que diminui a chance de
e outros.
MAJORANTE defesa da vítima.
Mas, há correntes que consideram arma branca as
Os menores de 18 anos, os doentes
armas próprias, ou seja, o instrumento que tem a fina-
mentais e os desconhecidos, partici-
lidade específica de ataque ou defesa.
pantes da conduta criminosa, também
A majoração da pena consiste no uso efetivo ou
são computados.
144 exibição ostensiva da arma branca.
Atente-se: Quanto à arma de brinquedo, não funciona como
Em relação à causa de aumento de pena referente causa de aumento de pena, pois não se trata de arma
ao concurso de duas ou mais pessoas, entende o STJ, de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execu-
em se tratando de hipótese de associação criminosa, ção de um roubo simples.
que os agentes respondem pelo roubo com aumento Quanto à arma descarregada, também não majora
de pena e pelo crime de associação criminosa, em con- a pena do roubo, falta-lhe potencialidade ofensiva e,
curso material. portanto, não se trata de arma, respondendo o agente
por roubo simples.
O roubo praticado com restrição da liberdade é Já a arma não apreendida, compete ao agente
aquele que o agente mantém a vítima em seu poder, exibi-la em juízo para que seja periciada, sob pena
restringindo a sua liberdade. Por exemplo, imagine de incidência da majorante diante da presunção de
que Tiago, portando uma faca, anuncie um assalto potencialidade ofensiva.
para subtrair o veículo de Diego. O autor subtrai o veí- Se a violência ou ameaça é exercida com emprego
culo, coloca a vítima no porta-malas e o leva por 10 de arma de fogo – causa de aumento de pena acresci-
quilômetros, liberando-o em seguida. da pela Lei 13.654/2018, devemos observar o seguinte:
No exemplo acima, será aplicada a causa de
aumento de pena a Tiago, já que ele restringiu a liber- z Quem praticou o crime de roubo com arma branca
dade de Diego, vítima do roubo. antes da Lei nº 13.654/2018 não terá incidência de
A pena será aumentada de 2/3 (dois terços): majorante.
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca
z Se a violência ou ameaça é exercida com emprego depois da Lei nº 13.654/2018 e antes do pacote anti-
de arma de fogo – causa de aumento de pena acres- crime não terá incidência de majorante.
cida pela Lei 13.654/2018; z Quem praticou o crime de roubo com arma bran-
z Se há destruição ou rompimento de obstáculo ca depois do pacote anticrime terá a incidência da
mediante o emprego de explosivo ou de artefa- majorante de 1/3 a 1/2.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
to análogo que cause perigo comum – causa de
de uso permitido antes da Lei nº 13.654/2018 terá a
aumento de pena acrescida pela Lei 13.654/2018.
incidência da majorante de 1/3 a 1/2.
Se a violência ou grave ameaça é exercida com z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, de uso permitido depois da Lei nº 13.654/2018 terá
aplica-se em dobro a pena. a incidência da majorante de 2/3.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de
Pena prevista: reclusão de quatro a dez anos, e
fogo de uso restrito ou proibido antes da Lei nº
multa. Aplica-se a pena e multiplica por dois.
13.654/2018 terá a incidência da majorante de 1/3
Aqui estamos diante de três majorantes do roubo
a 1/2.
com emprego de arma de fogo.
z Quem praticou o crime de roubo com arma de
São elas: fogo de uso restrito ou proibido depois da Lei nº
13.654/2018 e antes do pacote anticrime terá a inci-
É aquela cujo porte é passível dência da majorante de 2/3.
de obtenção. Nesse caso, a z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo
ARMA DE FOGO DE pena é aumentada de 2/3 (dois de uso restrito ou proibido depois do pacote anti-
USO PERMITIDO terços), por força do art. 157, § crime terá pena em dobro.
2º-A, I, do CP, introduzido pela
Lei nº 13.654/2018. Vamos estudar agora o roubo majorado pela des-
É aquela cujo porte é restri- truição ou rompimento de obstáculo com emprego de
to a determinadas pessoas. explosivo.
ARMA DE FOGO DE Neste caso, a pena é dobrada, Observa-se que a qualificadora do §4-A, do crime
USO RESTRITO nos termos do art. 157, § 2º-B, de furto, tem incidência ainda que não haja destrui-
do CP, introduzido pela Lei nº ção ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego
13.964/2019. de explosivo ou de artefato que cause perigo comum,
ao passo, no roubo, a majorante em análise depen-
É aquela cujo porte é vedado. de, além do explosivo ou artefato que cause perigo
A pena também é dobrada, comum, que haja ainda destruição ou rompimento de
ARMA DE FOGO DE obstáculo.
nos termos do art. 157, § 2º-B,
USO PROIBIDO
do CP, introduzido pela Lei nº
13.964/2019. Roubo Qualificado
z Emprego de arma. Observe que há emprego de Para que o sequestro relâmpago fique configura-
qualquer arma, própria ou imprópria, não neces- do, o Código Penal exige a restrição da liberdade da
sita ser arma de fogo. vítima e que essa condição seja necessária para a
obtenção da vantagem econômica.
Extorsão qualificada pelo resultado: Ex.: “A”, criminoso conhecido na Cidade, aborda
“B”, apontando uma arma de fogo para ela, ameaçan-
Vejamos que o § 2º do art. 158, do CP, dispõe que do-a. Com a intenção de obter indevida vantagem eco-
será aplicado a extorsão praticada mediante violência nômica, “A” a conduz, forçadamente, em um veículo
ao disposto no § 3° do artigo anterior, ou seja, do cri- de origem duvidosa, ao Banco, constrangendo a víti-
me de roubo. ma, que sacar R$ 1.000,00 para o autor. 147
No exemplo acima, ficou configurado o crime de for ao local combinado com os sequestradores, a pedi-
extorsão mediante restrição da liberdade. Analise os do de seus patrões, entregar o resgate e for morto
elementos: pelos autores, a qualificadora será aplicada da mesma
forma (observe que o empregado não é vítima do cri-
z Emprego de grave ameaça; me – não foi sequestrado e nem pagou o resgate).
z Constrangimento à vítima; A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão
z Objetivo de obter indevida vantagem econômica; mediante sequestro, segundo entendimento doutriná-
z Restrição da liberdade, que foi condição necessá- rio dominante, quando dela for exigida a vantagem
ria para obtenção da vantagem. correspondente ao resgate.
A extorsão mediante sequestro traz em suas dis-
Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o posições a possibilidade de aplicação do instituto da
resultado morte ou o resultado lesão corpora de delação premiada.
natureza grave, o agente será punido com as mes- A delação será aplicada no caso de o crime ser
mas penas aplicadas ao crime de extorsão median- cometido em concurso de pessoas, ao concorrente
te sequestro qualificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos, que denunciar à autoridade, facilitando a libertação
respectivamente). do sequestrado.
Neste caso, o concorrente que denunciou terá a
Extorsão Hedionda
pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
O delito de extorsão só é crime hediondo na situa-
Extorsão Mediante Sequestro Qualificada
ção do art. 158, § 3º, do CP.
Esta hipótese foi introduzida pela lei 13.964/2019. No § 1º do art. 159, do CP, está prevista a extorsão
Assim, dispõe o art. 1 º, III, da Lei nº 8.072/1990, mediante sequestro qualificada, passando ser a pena
que é crime hediondo a extorsão qualificada pela res- de 8 a 15 anos para de 12 a 20 anos de reclusão, na
trição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão cor- hipótese de o sequestro durar mais de 24 (vinte e qua-
poral ou morte. tro) horas, ou quando o sequestrado for menor de 18
A Lei nº 13.964/2019, em vez de manter como hedion- anos, ou maior de 60 anos, ou ainda quando o crime
do o art. 158, §2º, do CP e acrescentar o 158, §3º, do CP, for cometido por quadrilha ou bando.
em sua nova redação, só fez menção ao art. 158, §3º. Trata-se de qualificadora, porque o preceito secun-
Por exemplo, o agente restringe a liberdade da víti- dário tem pena própria.
ma, com o emprego de violência à sua pessoa como
forma de obter indevida vantagem econômica. Há quatro qualificadoras:
Extorsão Indireta
A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando o agente exigir ou
receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimen-
to criminal contra a vítima ou contra terceiro.
Como dito acima, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de 1 (um) a 3 (três)
anos, enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo penal (exigir ou rece-
ber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que um agiota, apro-
veitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita um empréstimo, já que o filho deste
se encontra internado em estado grave e ele precisa do dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que
possa dar causa a procedimento criminal – pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abu-
sou da condição da vítima.
DIREITO PENAL
USURPAÇÃO
Alteração de Limites
Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605/1998, que
deteriora a coisa. dispõe ser crime a conduta de alterar o aspecto ou
A danificação parcial constitui crime consumado, estrutura de edificação ou local especialmente prote-
enquadrando-se no verbo deteriorar. gido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em
razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico,
Dano Qualificado artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico,
etnográfico ou monumental, sem autorização da auto-
O dano será praticado na modalidade qualificada, ridade competente ou em desacordo com a concedida.
se o dano for cometido em uma das hipóteses a seguir: A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa.
Dispõe o art.164, do CP, que é crime a conduta de z Apropriação Indébita: o agente recebe a coisa
introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, de boa-fé, depois, muda seu ânimo e passa a agir
sem consentimento de quem de direito, desde que do como se fosse dono da coisa (passa a ter má-fé).
fato resulte prejuízo: pena – detenção, de 15 dias a 6 z Estelionato: o agente já recebe a coisa de má-fé,
meses, ou multa. com a intenção de ficar com ela desde o início. 151
A apropriação indébita é crime que decorre de z Recolher, no prazo legal, contribuição ou outra
uma relação de confiança entre o autor e a vítima. importância destinada à previdência social que
Este entrega a coisa móvel ao agente, devido à con- tenha sido descontada de pagamento efetuado a
fiança que deposita nele. segurados, a terceiros ou arrecadada do público.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas, z Recolher contribuições devidas à previdência
depois (parte da doutrina chama de dolo subsequen- social que tenham integrado despesas contábeis
te), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a ou custos relativos à venda de produtos ou à pres-
agir como dono dela. tação de serviços.
Veja as principais características da apropriação z Pagar benefício devido a segurando, quando as
indébita: respectivas cotas ou valores já tiverem sido reem-
bolsados à empresa pela previdência social.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Trata-se de norma penal em branco, complemen-
quer pessoa;
tada em diversos dispositivos pela lei previdenciária
z Não admite a forma culposa;
correspondente.
z Não admite tentativa, conforme doutrina majoritá-
Veja as características do crime de apropriação
ria, tratando-se de crime unissubsistente, ou seja, indébita previdenciária:
é o conjunto de um só ato, a realização da condu-
ta esgota a concretização do delito, por exemplo, z É crime omissivo, como falado acima, já que o
apropriar-se de objeto de valor; agente não pratica a conduta que se espera dele
z É crime material, que se consuma quando o agente (repassar);
inverte a posse da coisa alheia móvel. z Não admite a modalidade culposa;
z Deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o
Aumento de Pena STF, não é necessário dolo específico (especial fim
de agir);
A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando z Não admite tentativa.
o agente receber a coisa:
O entendimento majoritário na doutrina é o de que
z Em depósito necessário; a apropriação indébita previdenciária é crime formal
z Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquida- e, por isto, dispensa-se o enriquecimento indevido por
tário, inventariante, testamenteiro ou depositário parte do agente ou o efetivo prejuízo ao erário.
judicial; Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que
z Em razão de ofício, emprego ou profissão. o crime de apropriação indébita previdenciária é
material, pois quando o agente omitiu o repasse, con-
Apropriação indébita previdenciária figurou-se o enriquecimento indevido e o consequen-
te prejuízo ao Erário.
O crime de apropriação indébita previdenciário Decisão esta que corrobora com o entendimento
é um crime próprio, pois só pode ser praticado pelo exarado na Súmula Vinculante nº 24.
substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as
Na linha da jurisprudência deste Tribunal Supe-
contribuições sociais em nome do INSS para depois
rior, o crime de apropriação indébita previden-
repassá-las. ciária, previsto no art. 168-A, ostenta natureza de
No caso do contribuinte individual, ele é o res- delito material. Portanto, o momento consumativo
ponsável por esse desconto das contribuições e pelo do delito em tela corresponde à data da constitui-
repasse ao INSS, de modo que é ele que irá responder ção definitiva do crédito tributário, com o exauri-
pelo crime. mento da via administrativa (ut, (RHC 36.704/SC,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe
No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito
26/02/2016). Nos termos do art. 111, I, do CP, este
ativo é a pessoa física que no âmbito da empresa tem é o termo inicial da contagem do prazo prescricio-
o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a nal” (AgRg no REsp 1.644.719/SP, DJe 31/05/2017).
contribuição arrecadada.
Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia Importante estudar também o tema do princípio
federal, de modo que a competência é da Justiça Federal, da insignificância no crime de apropriação indébita
conforme o art. 109, inciso IV da Constituição Federal. previdenciária.
Logo, o sujeito passivo é o INSS. Neste caso, a Portaria nº 296/2007 da Previdência
Social diz que o INSS não executa, não move ação de
execução fiscal por dívida de até R$ 10 mil, de modo
Importante! que se o indivíduo pagasse débitos até esse valor a
punibilidade estaria extinta pelo perdão judicial,
Conduta principal: ficará configurada quando o obviamente, desde que ele seja primário e de bons
agente deixar de repassar à previdência social antecedentes.
as contribuições recolhidas dos contribuintes, Não se trata de aplicação do princípio da insigni-
no prazo e forma legal ou convencional. ficância, porque a dívida tem um valor significativo,
mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$
200 ou R$ 300 ele poderá ser absolvido pelo princípio
Observe que o tipo penal principal é praticado na da insignificância.
modalidade omissiva, deixando o agente de praticar Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoá-
uma conduta que deveria (repassar à previdência as vel de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que não é preciso
contribuições recolhidas após reter os valores). mover a execução fiscal, nesse caso o réu poderá rece-
Condutas equiparadas: receberá a mesma pena do ber o perdão judicial ou então ser condenado apenas
152 crime principal o agente que deixar de: na pena de multa, conforme o § 3º do art. 168, CP.
A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o
punibilidade), caso o agente, espontaneamente, decla- agente recebe, identifica que não lhe pertence, mas
re, confesse e efetue o pagamento das contribuições, fica com o patrimônio.
importâncias ou valores e preste as informações devi- O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a
das à previdência social, na forma definida em lei ou disponibilidade da coisa ao sujeito ativo. É necessário
regulamento, antes do início da ação fiscal. que o agente não perceba o aludido erro.
Apesar de o Código Penal estabelecer que a condu- Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e
ta do agente, para que sua punibilidade seja extinta, de quem recebe a coisa.
seja praticada antes do início da ação fiscal, o STF e Quanto à distinção entre caso fortuito e força da
o STJ têm admitido a aplicação da exclusão da puni- natureza, uma parcela significativa da doutrina consi-
bilidade com o pagamento efetuado a qualquer tem- dera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos
po, desde que antes do trânsito em julgado (sentença estabelecer uma diferenciação.
definitiva). Força da natureza é o acontecimento de eventos
Para encerrarmos o crime de apropriação indébita físicos ou naturais, de índole ininteligente, como o gra-
previdenciária, vamos verificar uma hipótese de per- nizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto.
dão judicial e de crime privilegiado. Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a gre-
A Lei nº 13.606/2018, lei bastante atual, diga-se ve, o motim, a guerra, a queda de um avião e etc.
de passagem (importante que você preste bastante No delito em apreço, a coisa chega ao agente atra-
atenção), acrescentou dispositivo ao Código Penal que vés de um evento imprevisível.
estabelece que a faculdade atribuída ao juiz de dei- Exemplo clássico, um vendaval lança as roupas do
xar de aplicar a pena ou de aplicar somente a pena varal do vizinho ao quintal da casa de B e este apro-
de multa não se aplica aos casos de parcelamento de pria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião,
contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja caindo na chácara de B, que dela se apropria. Ainda,
superior àquele estabelecido, administrativamente, o animal de uma fazenda passa para a fazenda de B,
como sendo mínimo para ajuizamento de suas execu- que dele se apropria.
ções fiscais. Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao
Faculta-se ao juiz: agente, originando-se o apossamento de um aconteci-
mento imprevisível.
z Deixar de aplicar a pena (perdão judicial); Este crime não admite a modalidade culposa,
z Aplicar somente a pena de multa (crime podendo ser praticado apenas a título de dolo.
privilegiado). Trata-se de crime comum, podendo ser praticado
por qualquer pessoa.
Se o agente for primário e de bons antecedentes, O Código Penal apresenta duas hipóteses asseme-
desde que o agente: lhadas, punidas com a mesma pena: a apropriação de
tesouro e a apropriação de coisa achada.
z Tenha promovido, após o início da ação fiscal
e antes de oferecida a denúncia, o pagamento Apropriação de Tesouro
da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; Irá praticar este crime o agente que achar tesouro
z O valor das contribuições devidas, inclusive aces- em prédio alheio e se apropriar, no todo ou em parte,
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido da quota a que tem direito o proprietário do prédio.
Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha
pela previdência social, administrativamente,
tesouro em prédio que pertence a outra pessoa e se
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
apropria da quota-parte que o proprietário do prédio
execuções fiscais, de acordo com a Procuradoria-
tem direito, de acordo com o Código Civil, que estabe-
-Geral da Fazenda Nacional o valor mínimo para lece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre
ajuizar execuções fiscais por débito para com o fis- aquele que achou e entre o proprietário do local em
co é de R$ 20 mil. que ele foi achado.
O Código Civil conceitua tesouro como depósito
Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não
ou Força da Natureza haja memória.
O tipo penal não se caracteriza com o verbo
Neste crime, a apropriação se dá, não devido a “achar”. Tome cuidado. Aquele que acha tesouro não
relação de confiança existente entre autor e vítima, comete crime algum. A conduta criminosa se encontra
mas sim, porque a coisa chegou ao poder do agente no verbo “apropriar-se”, quando o agente se apropria
por erro, caso fortuito ou força da natureza. da parte a que tem direito o proprietário do prédio.
Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entrega- Para que este crime se configure, é necessário que
dor das Casas Bahia, uma televisão de 50 polegadas. O o tesouro tenha sido localizado em prédio que possua
agente se apropria da coisa havida por erro. proprietário.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas,
posteriormente, altere a posse da coisa, apropriando- Apropriação de Coisa Achada
DIREITO PENAL
quantidade, de coisa que deve entregar a alguém. no Código Penal para o estelionato.
Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o cri-
que deve entregar a alguém”, pressupondo-se, portan- me é praticado:
to, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratui- z Em detrimento de entidade de direito público
ta, como o comodato e a doação, desaparece o delito, ou de instituto de economia popular, assistência
porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gra- social ou beneficência;
tuitos não se pode reclamar sequer vício redibitório, z É chamado de estelionato previdenciário.
de modo que o devedor não é sancionado nem na
esfera cível. A pena será aplicada em dobro: 155
Estelionato Contra Idoso A primeira conduta é tomar refeição em restauran-
te sem dispor de recursos para efetuar o pagamento.
Estelionato contra idoso é causa de aumento de pena,
A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal
que foi incluída pela Lei nº 13.228/2015, que acrescentou
forma que abrange lanchonetes, cafés, bares e outros
o §4º do art. 171 do CP, cuja redação é a seguinte:
estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás,
Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido
contra idoso. engloba a ingestão de bebidas. Entende-se que o deli-
Idoso é a pessoa com mais de 60 (sessenta) anos ao to não se configura quando o agente é servido em sua
tempo da conduta criminosa. própria residência.
Esta majorante incide sobre todas as modalidades A segunda conduta incriminada é alojar-se em
de estelionato. Somente se procede mediante repre- hotel sem dispor de recursos para efetuar o pagamen-
sentação, salvo se a vítima for: to. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que
ocorram em estabelecimentos similares, como pen-
z A Administração Pública, direta ou indireta; sões ou pousadas.
z Criança ou adolescente; A terceira e última conduta criminosa consiste em
z Pessoa com deficiência mental; ou utilizar-se de meio de transporte (ônibus, táxi, lota-
z Maior de 60 (sessenta) anos de idade ou incapaz. ção, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar
o pagamento.
Duplicata Simulada O tipo penal expressamente exige que o agente
realize as condutas típicas sem dispor de recursos
O crime consiste em emitir fatura, duplicata ou nota
para efetuar o pagamento naquele instante.
de venda que não corresponda à mercadoria vendida,
É necessário (elementar do tipo penal) que o agen-
em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
te não tenha recursos para pagar a refeição, o aloja-
Pena cominada é detenção, de 2 a 4 anos, e multa.
Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar mento ou o meio de transporte.
ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Caso o agente tenha os recursos necessários, entre-
Duplicatas. tanto, recuse-se a efetuar o pagamento, não cometerá
o crime de outras fraudes.
Abuso de Incapazes Deve-se se identificar a má-fé do agente, quando
da prática da conduta descrita no tipo penal. Ele deve
Este crime de estelionato consiste em abusar, em saber que não dispõe de recursos para pagar e mes-
proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou mo assim utilizar dos serviços descritos. Caso ocor-
inexperiência de menor, ou da alienação ou debilida- ra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem
de mental de outrem, induzindo qualquer deles à prá- saber, por exemplo, ele não será responsabilizado
tica de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em penalmente.
prejuízo próprio ou de terceiro. Trata-se de crime promovido mediante ação penal
pública condicionada à representação da vítima.
Induzimento à Especulação
Admite-se a aplicação do instituto do perdão judi-
O induzimento à especulação é o crime de abusar, cial, já que o juiz, conforme as circunstâncias, poderá
em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou deixar de aplicar a pena.
da simplicidade ou inferioridade mental de outrem,
induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especula- Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de
ção com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo Sociedade por Ações
saber que a operação é ruinosa.
A modalidade criminosa prevista no caput do art.
Fraude no Comércio
177 refere-se à fundação da sociedade por ações.
A fraude no comércio é o crime de enganar, no Trata-se de crime em que o fundador da socieda-
exercício de atividade comercial, o adquirente ou con- de por ações (sociedade anônima ou comandita por
sumidor que: ações) induz ou mantém em erro os candidatos a
sócios, o público ou presentes à assembleia, fazendo
z Vende, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsa afirmação sobre circunstâncias referentes à sua
falsificada ou deteriorada; constituição ou ocultando fato relevante desta. Podem
z Entrega uma mercadoria por outra. girar elas sobre falsa informação a respeito de subs-
É também crime de fraude no comércio, a conduta crições ou entradas, de recursos técnicos da compa-
de alterar em obra que lhe é encomendada a qualida- nhia, de nomes de pseudoinvestidores e etc. Na forma
de ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, omissiva, pode o agente cometer o crime ocultando o
pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor nome dos fundadores, de problemas técnicos etc., cujo
valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, conhecimento poderia prejudicar ou impedir a subs-
como precioso, metal de outra qualidade. crição de ações e a própria constituição da sociedade.
No crime de fraude no comércio, se o criminoso é A fraude pode constar de prospecto ou de comunica-
primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz ção feita ao público ou em assembleia da empresa.
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a o responsável pela fundação da sociedade por ações.
pena de multa. Sujeito passivo são as pessoas físicas ou jurídicas
que subscreveram o capital ludibriadas.
Outras Fraudes
É crime formal que se consuma no momento em
O crime fica configurado quando o agente tomar que é lançado o prospecto ou o comunicado com a
refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utili- afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta
zar-se de meio de transporte sem dispor de recursos de informação relevante, ainda que disso não decorra
156 para efetuar o pagamento. qualquer resultado lesivo.
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º do art. Quem possui ambos tem a plena propriedade
177, do CP, é subsidiário, ou seja, cede lugar quando delas.
o fato se enquadra como crime contra a economia Delito é a circulação desses títulos em desacordo
popular da Lei nº 1.521/1951. com disposição legal.
Nas figuras descritas no § 1º do art. 177, do CP, a Trata-se de norma penal em branco, complemen-
lei penal incrimina fraudes e abusos na administra- tada pelo Decreto nº 1.102/1903.
ção da sociedade por ações, estabelecendo as mesmas De acordo com seus ditames, a emissão é irregular
penas para: quando:
z O diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por z A empresa não está legalmente constituída (art. 1º);
ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balan- z Inexiste autorização do Governo Federal para a
ço ou comunicação ao público ou à assembleia faz emissão (arts. 2º e 4º);
afirmação falsa sobre as condições econômicas da z Inexistem as mercadorias no documento
especificadas;
sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo
z Há emissão de mais de um título para a mesma
ou em parte, fato a elas relativo, e o liquidante,
mercadoria ou gêneros especificados no título;
bem como o representante da sociedade anônima
z O título não perfaz as exigências reclamadas no
estrangeira, autorizada a funcionar no País, que art. 15 do decreto.
pratica os atos mencionados, ou dá falsa informa-
ção ao Governo;
Sujeito ativo é o depositário da mercadoria. Sujei-
z O diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por to passivo é o endossatário ou portador que recebe o
qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de título sem saber da ilegalidade.
outros títulos da sociedade, e o liquidante, bem como O crime se consuma quando o título é colocado
o representante da sociedade anônima estrangeira, em circulação e a tentativa não é possível, pois, ou o
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos agente o coloca em circulação, consumando o crime,
mencionados, ou dá falsa informação ao Governo; ou não o faz, sendo atípica a conduta.
z O diretor ou o gerente que toma empréstimo à
sociedade ou usa, em proveito próprio ou de ter- Fraude à Execução
ceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia
autorização da assembleia geral, e o liquidante; O crime consiste na existência de uma senten-
z O diretor ou o gerente que compra ou vende, por ça a ser executada ou de uma ação executiva e
conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo mandamento.
quando a lei o permite, e o liquidante; O agente, com o fim de fraudar a execução, desfa-
z O diretor ou o gerente que, como garantia de crédi- z-se de seus bens por meio de uma das condutas des-
to social, aceita em penhor ou em caução ações da critas na lei:
própria sociedade e o liquidante;
z O diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em z Alienando;
desacordo com este, ou mediante balanço falso, z Desviando;
distribui lucros ou dividendos fictícios; z Destruindo ou danificando bens; ou
z O diretor, o gerente ou o fiscal que, por interpos- z Simulando dívidas.
ta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a
aprovação de conta ou parecer, e o liquidante. Sujeito ativo é o devedor.
Se for empresário e as condutas forem perpetra-
Observe-se que, em tal dispositivo, o legislador das após decretada sua quebra, o ato caracterizará
pune o diretor, o gerente e, em alguns casos, o fiscal crime falimentar.
e o liquidante, que incidam em fraude em afirmação O sujeito passivo é o credor.
referente à situação econômica da empresa, realizem Trata-se de crime material que somente se consu-
falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem ma quando a vítima sofre algum prejuízo patrimonial
indevidamente bens ou haveres da sociedade, com- em consequência da atitude do agente.
prem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução A tentativa é possível quando o sujeito não conse-
gue realizar a conduta típica pretendida.
ou penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos
A ação penal é privada.
fictícios ou aprovem fraudulentamente conta ou pare-
Se a fraude atingir execução promovida pela
cer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem
União, Estado ou Município, a ação será pública
ser cometidos pelas pessoas expressamente mencio-
incondicionada.
nadas no texto legal.
RECEPTAÇÃO
Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou
“Warrant” O crime de receptação pode ser dividido em:
DIREITO PENAL
Só mulher poderia ser vítima e somente o homem z consumação e tentativa. Observe os dois
poderia ser sujeito ativo, uma vez que só se consu- exemplos:
mava o crime pela conjunção carnal.
Os demais atos libidinosos eram protegidos pelo o
agente aborda sua vítima na rua e a leva para
tipo do atentado violento ao pudor, que se encon- um local ermo com a intenção de estuprá-la;
trava no art. 214, CP, hoje revogado: lá chegando começa a tirar a roupa da vítima,
Art. 214 Constranger alguém, mediante violência momento que é interrompido pela chegada da
ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com polícia, antes da prática de algum ato libidinoso
ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção ou de conjunção carnal. Neste caso vai respon-
carnal. der pelo estupro na forma tentada. 161
vamos modificar um pouco o exemplo acima. IDADE DA VÍTIMA CONSEQUÊNCIA
Nesta situação, ao retirar as roupas da vítima, o
sujeito toca e beija suas partes íntimas, quando Estupro simples (art.
Maior de 18 anos
é surpreendio pela polícia. Muito embora não 213, caput, CP)
tenha praticado a conjunção carnal, que era
seu dolo, antes de ser interropido pela polícia Vítima maior de 14 e me- Estupro qualificado (art.
praticou atos libidinosos ao tocar as partes ínti- nor de 18 213, § 1º, CP)
mas da vítima. Neste caso, vai responder pelo Estupro de vulnerável
estupro consumado. Vítima menor de 14 anos
(art. 217-A, CP)
O art. 213, apresenta duas formas de estupro qua- A questão está correta. Com as alterações feitas no
lificado pelo resultado: no § 1º (lesão grave) e no § art. 213, CP pela Lei nº 12.015/09, tanto o homem
2º (morte). Em relação à lesão corporal, esta pode ser quanto a mulher podem ser tanto sujeitos ativos
tanto grave quanto gravíssima (a distinção encontra- quanto passivos do crime de estupro (seja na prá-
-se no art. 129, CP, respectivamente, nos §§ 1º e 2º). As tica de conjunção carnal ou de outros atos libidi-
lesões leves são absorvidas. nosos). Antes da modificação apenas a mulher era
Em relação a estes resultados mais graves (lesão vítima de estupro. Resposta: Certo.
grave e morte), a maioria da doutrina entende ser
hipótese de crime preterdoloso, isto é, o resultado 2. (CESPE-CEBRASPE – 2020) A revogação do crime
lesão ou morte se dá por culpa do atente (lembre-se de atentado violento ao pudor não configurou abolitio
preterdolo = dolo na conduta antecedente e culpa na criminis, pois houve continuidade típico-normativa do
consequente). Nesse sentido, se o agente quer estu- fato criminoso.
prar e também tem o dolo de lesionar ou de matar,
vai responder pelos dois crimes em concurso. Alguns ( ) CERTO ( ) ERRADO
doutrinadores, no entanto, entre eles Guilherme Nuc-
ci, entendem ser indiferente o fato do agente agir com A questão está correta. As condutas previstas no
dolo ou culpa em relação ao resultado mais grave. revogado art. 214, CP (atentado violento ao pudor)
O § 1º apresenta, ainda, a qualificadora pela ida- foram incorporadas ao tipo do art. 213, configuran-
de da vítima, caso seja menor de 18 e maior de 14. do o que se denomina continuidade típico-normati-
Em relação à idade da vítima, temos as seguintes hi- va (o tipo foi revogado, mas a conduta não deixou
póteses (atenção que há uma possível “pegadinha” de de ser criminosa, sendo incorporada a outra norma
162 prova). penal incriminadora). Resposta: Certo.
3. (CESPE-CEBRASPE – 2019) Júnia, de quatorze anos
de idade, acusa Pierre, de dezoito anos de idade, de Importante!
ter praticado crime de natureza sexual consistente em
Na hora da prova não confunda o crime do art.
conjunção carnal forçada no dia do último aniversário
215 com o do art. 217-A (que vamos ver logo
da jovem. Pierre, contudo, alega que o ato sexual foi
mais). A redação da violação sexual mediante
consentido.
A respeito dessa situação hipotética, julgue os itens a
fraude (art. 215) aponta que o agente deve impe-
seguir, tendo como referência aspectos legais e juris- dir ou dificultar a livre manifestação da vontade
prudenciais a ela relacionados. da vítima: se o agente retira por completo a von-
Se comprovada a prática do crime, Pierre responderá tade da vítima (embebedando-a completamen-
por estupro de vulnerável, haja vista a idade da vítima. te, por exemplo), esta se torna vulnerável, sendo
o caso então da aplicação do tipo penal do art.
( ) CERTO ( ) ERRADO 217-A (estupro de vulnerável).
Também não confunda o art. 215 com o 213
A questão está errrada. Você se lembra da possível (estupro): o meio de execução é diferente:
“pegadinha”? A questão se refere ao absurdo legis- � Art. 213 (estupro): Violência ou grave ameaça.
lativo: a “falha” na lei que deixa de fora da forma � Art. 215 (violação): Fraude ou outro meio que
qualificada a vítima com exatos 14 anos completos impeça ou dificulte a manifestação de vontade.
na data do crime (que fala en vítima em “maior de”
14, mas não menciona com idade “igual”) bem como
Veja que para que configure este tipo, deve haver
não tipifica a conduta com estupro de vulnerável
fraude, engano, ardil; se houver violência ou grave
(“menor de” 14 anos). Resposta: Errado.
ameaça não configura o art. 215, CP.
Se a vítima for menor de 14 anos, vai ser o caso da
4. (CESPE-CEBRASPE – 2019) A respeito de crimes con-
incidência do art. 217-A.
tra a dignidade sexual, assinale a opção correta.
Em se tratando de crime de estupro em que a vítima
Não é crime hediondo.
seja maior de dezoito anos de idade e plenamente
capaz, a ação penal é pública incondicionada, ainda
O parágrafo único do art. 215 prevê a aplicação
que não tenha ocorrido violência real na prática do
também da pena de multa se o delito é praticado com
crime. a finalidade de obter vantagem econômica, como no
caso do agente que deixa de pagar a prostituta após
( ) CERTO ( ) ERRADO a realização da conjunção carnal ou de outro ato
libidinoso.
A questão está errada pois, como vimos, todos os
crimes contra a dignidade sexual são crimes de ação IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
penal pública incondicionada. Resposta: Errado.
Incluído pela Lei nº 13.718/18, o art. 215-A revogou
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE o art. 61 da Lei de Contravenções Penais (que previa
conduta semelhante), criando o tipo penal de impor-
A atual redação do art. 215, CP se deu com as tunação sexual:
modificações da Lei nº 12.015/09, dá qual já falamos
quando estudamos o estupro. Aqui houve nova conti- Art. 215-A Praticar contra alguém e sem a sua
nuidade típico-normativa: o tipo do 216 foi revogado anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer
e a conduta incluída no art. 215, CP. a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato
Art. 215 Ter conjunção carnal ou praticar outro não constitui crime mais grave.
ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifes- Exemplo de conduta tratada por este tipo penal
tação de vontade da vítima: foi objeto de destaque na mídia em tempos recentes,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. que se materializava quando o sujeito, dentro de um
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de transporte coletivo, ejaculava na vítima ou se esfre-
obter vantagem econômica, aplica-se também multa. gava nela.
Os principais aspectos sobre esse crime são:
Consiste na prática de conjunção carnal ou outro
ato libidinoso com alguém (homem ou mulher) com z não é hediondo;
emprego de fraude ou outro meio que impeça ou z é crime subsidiário (só vai se aplicar se não consti-
DIREITO PENAL
Incluído em dezembro de 2018, no CP, pela Lei nº Leia atentamente os verbos que constam no art.
13.772/18 é o único crime que consta do Capítulo I-A 216-B: produzir, fotografar, filmar ou registrar.
do Título VI: Observe que não há a expressão divulgar. E então,
o que acontece se alguém divulga a cena registrada?
Art. 216-B Produzir, fotografar, filmar ou registrar, Neste caso, incide em uma das formas previstas no
por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou art. 218-C, incluído no CP em 2018, Divulgação de
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerá-
sem autorização dos participantes: vel, de cena de sexo ou de pornografia:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
qualquer outro registro com o fim de incluir pes- divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
soa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso comunicação de massa ou sistema de informática
de caráter íntimo. ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis-
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou
Note que art. 216-B constitui em um tipo misto al- de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
ternativo, trazendo os seguintes núcleos: produzir, induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato
Pode se configurar tal crime por exemplo, quando
não constitui crime mais grave.
um locador instala um equipamento de gravação de
vídeo em um imóvel com a finalidade de captar ima- Veja bem, o art. 218-C (divulgação) prevê um crime
gens íntimas sem o conhecimento dos ocupantes. Ou, mais grave do que o previsto no art. 216-B (divulgação).
ainda, quando o vizinho filma a vizinha trocando de Uma das formas mais comuns de prática é o que
roupa. se conhece por pornô de vingança (revenge porn, em
O consentimento do ofendido, afasta a tipicidade, inglês) na qual após o término de um relacionamento,
uma vez no tipo consta a expressão “sem a autoriza- o agente divulga cenas íntimas da(o) ex-parceira(o).
ção dos participantes”. Os pontos relevantes em relação ao tipo do art.
218-C são:
Conforme podemos notar do tipo do art. 217-A, Todas as hipóteses de estupro de vulnerável (§§
não é necessário o constrangimento da vítima (me- 1º, 3º e 4º) são consideradas hediondas (conforme
diante violência ou grave ameaça): qualquer prática prevê o art. 1º, VII, da Lei nº 8.072/90).
de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com
pessoa menor de 14 anos, configura estupro de vul- z Hediondos:
nerável (o constrangimento é presumido: presunção
absoluta). Art. 217-A caput (estupro de vulnerável próprio)
Art. 217-A, § 3º (qualificada pela lesão grave)
Forma equiparada Art. 217-A, § 4º (qualificada pela morte)
O § 1º do art. 217-A apresenta a figura equiparada O art. 217-A tem os seguintes aspectos:
do estupro de vulnerável:
z é crime material, consumando-se com a prática da
[...] § 1º Incorre na mesma pena quem pratica as conjunção carnal ou de outro ato libidinoso;
ações descritas no caput com alguém que, por z é cabível a tentativa;
enfermidade ou deficiência mental, não tem o z trata-se de tipo misto alternativo (lembre-se dos
necessário discernimento para a prática do ato, ou comentários já feitos em outros crimes contra a
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer dignidade sexual);
resistência. z assim como comentamos no caso do estupro do
art. 213, não é necessário o contato físico entre o
Assim, são considerados vulneráveis (sujeitos pas- autor e a vítima.
sivos) para os fins dos crimes sexuais:
Por fim, cabe mencionar um tema muito interes-
z Art. 217-A, caput: sante: trata-se da chamada Exceção de Romeu e Ju-
lieta. Você certamente já ouviu falar do clássico de
William Shakespeare: Julieta é uma jovem que se apai-
Menores de 14 anos (o Professor Rogério San-
xona por Romeu, de uma família rival. A personagem
chez denomina esta de vulnerabilidade absoluta).
Julieta, na obra, tinha 13 quando se relacionou amo-
rosamente com Romeu (que, tinha 17). Agora imagine
z Art. 217-A, primeira parte:
tal situação frente à legislação penal brasileira: Julieta
se enquadraria, como vimos, no conceito de vulnerá-
Enfermos e doentes mentais que não pos- vel. Segundo a teoria da Exceção de Romeu e Julieta,
suem o discernimento necessário para a prá- caso haja consentimento e, desde que haja pequena
tica do ato sexual (Rogério Sanchez denomina diferença de idade entre os parceiros (normalmente
esta de vulnerabilidade relativa, uma vez que, se fala em até 5 anos) não seria o caso de considerar o
por se tratar de critério biopsicológico, pode ato sexual, por exemplo, de um casal de namorados de
acontecer do enfermo ou doente mental ter o 13 e 18 anos, como estupro. No entanto, no Brasil, con-
discernimento exigido para a prática do ato). forme jurisprudência consolidada, tal exceção não
se aplica (lembre-se, de acordo com o STJ, “o consen-
z Art. 217-A, parte final: timento da vítima, sua eventual experiência sexual
anterior ou a existência de relacionamento amoroso
Qualquer um que, por outra causa, não pos- entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do
sa oferecer resistência (por exemplo uma crime” – Resp 148.0881/PI, julgado em 26/08/2015).
pessoa que se encontra em coma ou sob efei-
to de sedação; pessoa desacordada, por moti- CORRUPÇÃO DE MENORES
vo de embriaguez; vítima do golpe “boa noite
cinderela”). O art. 218 do CP trata do crime de corrupção de
menores
O parágrafo 5º do art. 217-A consiste em norma
penal explicativa: aplica-se a pena do estupro de vul- Art. 218 Induzir alguém menor de 14 (catorze)
nerável mesmo que a vítima tenha consentido com o anos a satisfazer a lascívia de outrem.
ato ou ainda que já tenha praticado relações sexuais Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
anteriores (ou seja a virgindade é irrelevante)
Alguns autores entendem quo nomen juris (nome do
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º crime) foi revogado (a redação anterior falava em “cor-
deste artigo aplicam-se independentemente do con- romper”, que foi trocada por “induzir”), e tratam este
sentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido delito de “indução de vulnerável à lascívia”. No entanto
166 relações sexuais anteriormente ao crime. essa divergência não traz maiores implicações.
Induzir, como você já sabe, é sugerir, dar a ideia de forma de exploração) ou impedir que a vítima
algo a alguém. Nesta figura, o sujeito ativo é o media- saia desse meio (neste último caso trata-se de crime
dor (intermediário ou proxeneta) que induz a vítima o permanente).
menor de 14 anos a satisfazer a lascívia (desejo sexual)
de outrem (do beneficiário: o voyeur ou observador). Existem 4 formas de exploração sexual:
É importante saber que para se configurar o tipo do
art. 218, CP, o agente deve induzir a vítima (menor de z Prostituição;
14) a praticar algum ato que tenha a finalidade satis- z Turismo sexual;
fazer a lascívia de outra pessoa (o beneficário). Veja z Tráfico para fins sexuais; e
bem, o ato deve ser unicamente contemplativo (como z Pornografia.
por exemplo, fazer a vítima vestir uma fantasia sensual
ou se mostrar nua), ou seja, não ocorre contato físico O art. 218-B só cuida da prostiuição e do turismo
entre o beneficiado e a vítima. Este terceiro também sexual envolvendo vulnerável. O tráfico é tratado
não pode vir a filmar, fotografar ou, de qualquer meio, pelo art. 149-A, CP,V (tráfico de pessoas); a pornografia
registrar a cena; caso isso ocorra, vai responder pelo envonvendo vulnerável, pelos arts. 240, 241, 241-A e
previsto no art. 240 do ECA (crime mais grave, com
241-e, do ECA.
penas de reclusão entre 4 e 8 anos, além de multa).
Caso ocorra a prática de conjunção carnal ou outro
ato libidinoso envolvendo a vítima, aquele que indu- Proxenetismo mercenário
ziu (caso tenha agido dolosamente) e beneficiado, vão
responder pelo tipo do art. 217-A (estupro de vulne- Se houver a intenção do agente em obter lucro,
rável). Esta é a corrente majoritária, defendida por aplica-se também a pena de multa:
Rogério Greco, Fernando Capez, Rogério Sanches e
Cleber Masson, entre outros. § 1º Se o crime é praticado com o fim de obter van-
tagem econômica, aplica-se também multa.
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE Neste caso, se dá o nome ao o agente de proxeneta
mercenário.
Art. 218-A Praticar, na presença de alguém menor
de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de Formas equiparadas
satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. De acordo com o § 2º, incorre nas mesmas penas:
O tipo do artigo 218-A pode ser divido em duas I – quem pratica conjunção carnal ou outro ato libi-
partes: dinoso com vítima vulnerável em situação de pros-
tiuição ou exploração sexual
z praticar conjunção carnal ou outro ato libidinoso II – o proprietário, gerente ou responsável do local
apto a satisfazer o prazer sexual, na frente de víti- em que ocorre a prática do delito do caput, lem-
ma menor de 14 anos; brando, claro, que devem ter conhecimento (pois
z induzir menor de 14 a presenciar tais atos. não há responsabilidade objetiva). Neste caso a
cassação da licença do local é efeito obrigatório
Aspectos que merecem destaque: (§ 3º).
z de acordo com a maior parte da doutrina não se
exige a presença física da vítima no mesmo local Trata-se de crime hediondo, em todas as formas:
onde ocorre a conjunção ou o ato libidonoso. Ou caput, § 2º, I e II. Agora já sabemos quais são os três os
seja, pode ser praticado por meio virtual; crimes contra a dignidade sexual que são hediondos:
z é tipo misto alternativo: se o sujeito induz a pre-
senciar e também pratica os atos, responde por um z Art.213, caput e §§:
só crime; Estrupo.
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA
FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU z Art.217-A, caput e §§:
ADOLESCENTE OU DE VUNERÁVEL Estrupo de vulnerável.
O art. 218-B tem seis núcleos:
z Art.218-B, caput e §§:
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostitui-
Favorecimento da prostituição ou outra forma
ção ou outra forma de exploração sexual alguém
de exploração sexual de vulnerável.
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade
ou deficiência mental, não tem o necessário discer-
nimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA
DIREITO PENAL
O art, 218-B visa punir o sujeito que insere (subme- O tipo do art. 218-C é um crime subsidiário, que
te, induz ou atrai) o menor de 18 anos ou o vulnerável possui seis núcleos (tipo misto alternativo):
(homem ou mulher) no âmbito da exploração sexual
(prostituição e turismo sexual), tráfico para fins se- Art. 218-C Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
xuais e pornografia) ou facilita sua permanência ou tir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
impede ou dificulta sua saída. Em resumo é trazer divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de
a vítima vulnerável para a prostiuição (ou outra comunicação de massa ou sistema de informática 167
ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro regis- Por fim, o Capítulo VII, nos arts. 234-A e 234-B,
tro audiovisual que contenha cena de estupro ou apresenta disposições que são aplicáveis a todo o
de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou Título dos crimes contra a dignidade sexual, confo-
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da me observado abaixo:
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato z Disposições aplicáveis a todos os crimes contra a
não constitui crime mais grave.
dignidade sexual:
autorizada.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz me de circulação de moeda falsa.
circular moeda, cuja circulação não estava ainda z O crime somente poderá ser praticado dolosamen-
autorizada. te, portanto, é necessário que o agente saiba ou
tenha dúvida sobre a falsidade da moeda;
z Admite tentativa;
O crime de moeda falsa tem como figura típica a
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
seguinte conduta: falsificar, fabricando-a ou alteran- quer pessoa, salvo aquele que falsifica a moeda
do-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal – não se trata de hipótese de concurso de crimes,
no país ou no estrangeiro. assim, caso o agente falsifique a moeda e a guarde,
Este crime pode ser praticado de duas formas: responderá apenas pelo crime de moeda falsa. 169
Se o agente recebe a moeda de boa-fé, mas, para Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
não ficar no prejuízo, a restitui à circulação, ele res- Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado
ponderá criminalmente? Sim. A resposta é positiva. a doze anos e multa, se o crime é cometido por fun-
Neste caso, responderá o agente pelo crime de cionário que trabalha na repartição onde o dinhei-
circulação de moeda falsa na modalidade privilegia- ro se achava recolhido, ou nela tem fácil ingresso,
da, com uma pena bem mais branda em relação aos em razão do cargo.
outros dois tipos penais que já estudamos.
Praticará crime assimilado ao de moeda falsa, pre-
visto no art. 290, do CP, o agente que formar cédula,
Circulação de moeda falsa privilegiada
nota ou bilhete representativo de moeda com frag-
mentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros, ou
suprimir em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o
Quem, tendo recebido de boa fé, como ver-
fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua
dadeira, moeda falsa ou alterada, a restitui
à circulação, depois de conhecer a falsida- inutilização, bem como restituir à circulação de cédu-
de, é punido com detenção, de seis meses a la, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos
dois anos e multa. para o fim de inutilização.
É importante saber sobre o delito assimilado à moeda
falsa:
Sobre o crime de circulação de moeda falsa pri-
vilegiada, fique atento ao seguinte: z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
z O recebimento da moeda se dá de boa-fé, pois o z O crime é doloso;
agente acredita que é verdadeira; z Não admite a modalidade culposa;
z A restituição à circulação deve se dar dolosamen-
z Admite tentativa;
te, isto é, o agente já conhece sobre a falsidade da
moeda; z É processado e julgado pela Justiça Federal, median-
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- te ação penal pública incondicionada;
quer pessoa, exceto o falsificador que pratica o cri- z Trata-se de tipo penal misto alternativo, que se
me de falsificar moeda; consuma com a prática de quaisquer das condutas
z Admite tentativa. previstas no tipo penal.
O crime de moeda falsa possui formas qualificadas. Existe a possibilidade de ser crime próprio, caso
Responderá pelo crime de moeda falsa na moda- seja cometido por funcionário que trabalha na repar-
lidade qualificada o funcionário público ou diretor, tição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela
gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica,
tenha fácil ingresso, em razão do cargo.
emite ou autoriza a fabricação ou emissão de moeda
com título ou peso inferior ao determinado em Lei ou Neste caso, o máximo da reclusão é elevado a doze
de papel-moeda em quantidade superior à autoriza- anos.
da. Neste caso, trata-se de crime próprio, que somente
poderá ser praticado pelo funcionário público ou dire- Petrechos para Falsificação de Moeda
tor, gerente ou fiscal de banco de emissão.
Também pratica o delito de moeda falsa na moda- Art. 291 Fabricar, adquirir, fornecer, a título one-
lidade qualificada o agente que desvia e faz circular roso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
O crime de moeda falsa na modalidade qualificada mente destinado à falsificação de moeda:
não admite a forma culposa. Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Os crimes relacionados à moeda falsa são proces-
sados e julgados pela Justiça Federal. O crime de petrechos para falsificação de moeda
A ação penal é pública incondicionada.
tem por conduta fabricar, adquirir, fornecer, a título
oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
Importante!
mente destinado à falsificação de moeda.
Caso se trate de falsificação grosseira, poderá O objeto material deste crime é o maquinismo,
caracterizar o estelionato, de competência da aparelho, instrumento ou qualquer objeto especial-
Justiça Estadual. mente destinado à falsificação de moeda.
E, anote: não se aplica o princípio da insignificância Veja que o tipo penal exige que o equipamento
ao crime de moeda falsa. tenha destinação específica, não configurando o delito
de petrechos para falsificação de moeda caso o equi-
pamento tenha outras finalidades e, também possa,
Crimes Assimilados ao de Moeda Falsa
de alguma forma, ser utilizado para falsificar moeda.
Art. 290 Formar cédula, nota ou bilhete representa-
Temos aqui uma conduta que constitui exceção à puni-
tivo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou ção de um crime a partir do momento em que se inicia a
bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou execução do crime. Isto porque, caso um agente tenha a
bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circu- finalidade de falsificar moeda e, para isso, adquira um
lação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir aparelho, mesmo que não inicie a execução da falsifica-
à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condi- ção, poderá ser responsabilizado criminalmente pelos
170 ções, ou já recolhidos para o fim de inutilização: atos preparatórios, que constituem crime autônomo.
Sobre o crime de petrechos para emissão de V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro
moeda, é importante ficar atento ao seguinte: documento relativo a arrecadação de rendas públi-
cas ou a depósito ou caução por que o poder públi-
z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado co seja responsável;
por meio da execução de quaisquer um dos verbos VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de
previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne- transporte administrada pela União, por Estado ou
por Município:
cer, possuir ou guardar.
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
quer pessoa;
I – usa, guarda, possui ou detém qualquer dos
z O crime se configura ainda que o agente pratique papéis falsificados a que se refere este artigo;
as condutas descritas no tipo penal sem finalidade II – importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
onerosa; empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, selo falsificado destinado a controle tributário;
que admite a prisão em flagrante enquanto não se III – importa, exporta, adquire, vende, expõe à
cessar a permanência; venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
z O delito é doloso; empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
z Não admite a modalidade culposa; utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
z Admite tentativa. de atividade comercial ou industrial, produto ou
mercadoria:
Emissão de Título ao Portador sem Permissão Legal a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a
controle tributário, falsificado;
Art. 292 Emitir, sem permissão legal, nota, bilhe- b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação
te, ficha, vale ou título que contenha promessa de tributária determina a obrigatoriedade de sua
pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte aplicação.
indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago: § 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quan-
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. do legítimos, com o fim de torná-los novamente
Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua
dinheiro qualquer dos documentos referidos neste inutilização:
artigo incorre na pena de detenção, de quinze dias Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
a três meses, ou multa. § 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois
de alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
O crime de emissão de título ao portador sem parágrafo anterior.
emissão legal é praticado quando o agente emite, sem § 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora
permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao ou alterados, a que se referem este artigo e o seu
portador ou a que falte indicação do nome da pessoa § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração,
a quem deva ser pago. incorre na pena de detenção, de seis meses a dois
Considera-se menos grave a conduta de quem uti- anos, ou multa.
liza nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha § 5º Equipara-se a atividade comercial, para os
promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou fins do inciso III do § 1o, qualquer forma de comér-
cio irregular ou clandestino, inclusive o exercido
a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva
em vias, praças ou outros logradouros públicos e
ser pago como dinheiro.
em residências.
É importante saber sobre o delito de emissão de
título ao portador legal:
É um tipo penal bastante extenso, que irá se con-
z Exige-se que o agente não tenha permissão legal figurar quando o agente falsificar, fabricando-os ou
para a emissão; alterando-os:
z Se o agente tem permissão para emitir o título ao
portador, o fato será atípico; z Selo destinado a controle tributário, papel selado
z O delito é doloso; ou qualquer papel de emissão legal destinado à
z Não admite a modalidade culposa; arrecadação de tributo;
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- z Papel de crédito público, ou seja, apólices e títulos
quer pessoa. da dívida pública;
z Vale postal;
FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS z Cautela de penhor, ou seja, o título com o qual o
PÚBLICOS sujeito pode retirar o bem empenhado das mãos
do credor;
Falsificação de Papéis Públicos z Talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro docu-
DIREITO PENAL
z Usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou
falsificados a que se refere este artigo; guardar objeto especialmente destinado à falsifi-
z Importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, cação de qualquer dos papéis referidos no artigo
empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação anterior:
selo falsificado destinado a controle tributário; Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Art. 295 Se o agente é funcionário público, e come-
z Importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda,
te o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
mantém em depósito, guarda, troca, cede, empres-
pena de sexta parte.
ta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
Cometerá este crime, previsto no art. 294 do Códi-
comercial ou industrial, produto ou mercadoria:
go Penal, o agente que fabricar, adquirir, fornecer,
possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
Em que tenha sido aplicado selo que se destine
falsificação de qualquer dos papeis previstos no crime
a controle tributário, falsificado;
de falsificação de papéis públicos (art. 293 do Código
Sem selo oficial, nos casos em que a legislação
Penal).
tributária determina a obrigatoriedade de sua
Sobre o crime de petrechos de falsificação,
aplicação. é importante que você leve para a sua prova as
seguintes informações:
O tipo penal do crime de falsificação de papéis
públicos apresenta três modalidades em que a pena z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado
será mais branda se comparada ao tipo penal prin- mediante à execução de quaisquer um dos verbos
cipal e às formas equiparadas, que tem como pena a previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne-
reclusão de dois a oito anos e multa: cer, possuir ou guardar;
z É crime comum, que poderá ser praticado por
z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vis- qualquer agente.
tos logo anteriormente, quando legítimos, com o z Entretanto, caso o crime seja praticado por fun-
fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo cionário público, prevalecendo-se este do cargo, a
ou sinal indicativo de sua inutilização, incorrerá pena será aumentada da sexta parte (1/6).
na pena de reclusão de um a quatro anos e multa;
z Aquele que usar os papéis, depois de alterados A pena do crime de petrechos de falsificação será
(após a supressão de carimbo ou sinal indicativo aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente é funcionário
de inutilização, quando legítimos, com o fim de público e comete o crime prevalecendo-se do cargo.
torna-los utilizáveis), incorrerá na pena de reclu-
são de um a quatro anos e multa; z Assim como o crime de petrecho para falsificação
z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora de moeda, o objeto deve ser destinado especial-
recebido de boa-fé, qualquer dos papeis falsifica- mente para falsificar os papéis previstos no art.
dos ou alterados, depois de conhecer a falsidade 293. Caso o objeto tenha outras finalidades (tem
outras utilidades e também serve para falsificar
ou alteração, incorrerá na pena de detenção, de
papéis), não há que se falar na prática deste tipo
seis meses a dois anos, ou multa.
penal;
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada;
Qualquer forma de
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente,
comércio irregular ou
protraindo-se a conduta no tempo.
Equipara-se a clandestino, inclusive
atividade o exercido em vias, FALSIDADE DOCUMENTAL
comercial praças ou outros
logradouros públicos e De acordo com o art. 232, do CPP, documentos são
em residências quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos
ou particulares.
O CPP estabelece requisitos para que um papel
Sobre o crime de falsificação de papéis públicos, seja considerado documento: forma escrita, autor
é importante levar em consideração o seguinte: certo, possuir conteúdo de relevância jurídica e valor
probatório.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa; Falsificação do Selo ou Sinal Público
z Só admite a modalidade dolosa – não pode ser pra-
ticado culposamente; Art. 296 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
z Caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipici- I - selo público destinado a autenticar atos oficiais
dade deste crime; da União, de Estado ou de Município;
z Admite a tentativa; II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de
z Se o papel for de emissão da União, será processa- direito público, ou a autoridade, ou sinal público de
172 do e julgado pela Justiça Federal. tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. Trata-se de crime de forma livre, que pode ser pra-
§ 1º - Incorre nas mesmas penas: ticado de qualquer modo pelo agente.
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal ver- Falsificação de Documento Público
dadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito pró-
prio ou alheio. Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, documento
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de público, ou alterar documento público verdadeiro:
marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros sím- Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
bolos utilizados ou identificadores de órgãos ou § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o
entidades da Administração Pública. crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena
§ 2º - Se o agente é funcionário público, e comete o de sexta parte.
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a docu-
de sexta parte. mento público o emanado de entidade paraestatal,
o título ao portador ou transmissível por endosso,
Configura-se com a prática da seguinte condu- as ações de sociedade comercial, os livros mercan-
ta típica: falsificar, fabricando ou alterando os selos tis e o testamento particular.
públicos destinados a autentificação dos atos oficiais § 3° Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz
da União, do Estado ou do Município ou selo ou sinal inserir:
atribuído por Lei á entidade de direito público ou à I – na folha de pagamento ou em documento de
autoridade, ou sinal público de tabelião. informações que seja destinado a fazer prova
perante a previdência social, pessoa que não pos-
sua a qualidade de segurado obrigatório;
Falsificação de selo ou sinal público II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social
do empregado ou em documento que deva produzir
efeito perante a previdência social, declaração falsa
Falsificar, fabricando ou alterando
ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro
Selo ou sinal atribuído documento relacionado com as obrigações da
Selo público destinado a empresa perante a previdência social, declaração
por lei à entidade de
autenticar atos oficiais falsa ou diversa da que deveria ter constado.
direito público, ou à
da Uniâo, do Estado ou § 4° Nas mesmas penas incorre quem omite, nos
autoridade ou sinal
do Município documentos mencionados no § 3o, nome do segu-
público de tabelião
rado e seus dados pessoais, a remuneração, a
vigência do contrato de trabalho ou de prestação
São condutas equiparadas ao crime de falsifica- de serviços.
ção de selo ou sinal público, incorrendo nas mesmas
penas o agente que: A sua conduta típica é: falsificar, no todo ou em
parte, documento público, ou alterar documento
z Faz o uso de selo ou de sinal falsificado, isto é, não público verdadeiro.
seja verdadeiro e que o uso seja indevido, resul- O crime pode ser praticado das seguintes formas:
tando, por exemplo, na obtenção de vantagem
econômica;
Falsificar, total
z Utiliza indevidamente o selo ou o sinal verdadeiro Alterar documento
ou parcialmente,
em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou público verdadeiro
documento público
alheio;
z Só incorre no uso do selo ou do sinal quem não foi
a responsável pela falsificação;
z Altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas,
Aqui, o agente cria um Aqui, o agente modifica
logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos uti-
documento público que o documento público
lizados ou identificadores de órgãos ou entidades
não existia que já existia
da Administração Pública.
Sobre este crime, é importante que você leve Trata-se de falsidade material, na qual o agente cria
em consideração as seguintes disposições: um documento público falso ou modifica o documento
público verdadeiro, tornando-se falsos em seu aspecto
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- material, podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
quer pessoa; São condutas equiparadas ao crime de falsificação
z Caso o crime seja praticado por funcionário públi- de documento público, incorrendo nas mesmas penas
o agente que insere ou faz inserir, estão descritas nos
DIREITO PENAL
FALSIFICAÇÃO
ALTERAÇÃO
Falsidade Material PARCIAL
z O agente cria um documento falso ou A falsidade diz respeito
modifica um documento verdadeiro; às informações Parte do documento,
z O documento é materialmente falso; falsamente inseridas ou que dele pode ser
z Altera-se o aspecto formal do documento, retiradas do papel, o que individualizada, é criada
podendo o conteúdo ser verdadeiro ou ocorre posteriormente à falsamente
não; criação do documento
z Crimes: falsificação de documento públi-
co ou particular;
z Por exemplo, criar uma certidão de O título ao portador é documento de crédito que
nascimento. não informa o seu beneficiário, a exemplo do cheque
no valor de até R$ 100,00 (cem reais). O endosso é uma
forma de transferir a propriedade de um título (do
endossante para o endossatário), como os cheques em
geral e as notas promissórias, que constituem exem-
plos de títulos transmissíveis por endosso.
Falsidade Ideológica
Súmula 17
z O agente falsifica a declaração que deve- Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
ria constar no documento público ou pri- potencialidade lesiva, é por este absorvido.
vado, que são verdadeiros;
z O documento é materialmente verdadei- Esta súmula se refere à aplicação do princípio da
ro, com o conteúdo falso; consunção ou absorção. Quando o crime de falsifica-
z Altera-se o conteúdo do documento, mas ção de documento público for meio para praticar o
o aspecto formal continua intacto; crime de estelionato, será por este absorvido.
z Crime: falsidade ideológica; Por exemplo, agente que, para obter ilícita van-
z Por exemplo, alterar data de nascimento tagem em prejuízo de terceiro, altera sua carteira de
em certidão de nascimento. identidade verdadeira, responderá apenas pelo crime
de estelionato caso a potencialidade lesiva da falsifica-
ção fique exaurida com a prática do estelionato.
Caso a falsificação ou alteração sejam grosseiras,
Sobre o crime de falsificação de documento haverá atipicidade deste crime, podendo configurar
público, é importante que você leve em considera- outra infração penal.
ção as seguintes informações:
Falsificação de Documento Particular
z O crime é comum, podendo ser praticado por qual-
quer pessoa; Art. 298 Falsificar, no todo ou em parte, documento
z Na hipótese de o agente ser funcionário público e, particular ou alterar documento particular verdadeiro:
ainda, se prevaleça do cargo para praticar o delito, Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
a pena será aumentada em um sexto;
174 z O delito é doloso, não exige fim especial;
O crime de falsificação de documento particular Configura-se com a prática da seguinte conduta
é praticado quando o agente age de acordo com o típica: omitir, em documento público ou particular,
núcleo do tipo, ou seja, falsifica, no todo ou em parte, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou
documento particular ou altera (segundo núcleo do fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
tipo) documento particular verdadeiro. ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obri-
A conduta é muito semelhante ao crime de falsifi- gação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
cação de documento público, sendo diferente no que relevante.
se refere ao objeto material do crime. Estes crimes
também se diferenciam em relação à pena cominada.
Importante!
FALSIFICAÇÃO OBJETO A falsidade ideológica se configura das seguin-
PENA
DE DOCUMENTO MATERIAL
tes formas:
Documento Reclusão, de dois a Omitir, em documento público ou particular,
Público declaração que dele devia constar.
público seis ano se multa
Inserir ou fazer inserir, em documento público
Documento Reclusão, de um a ou particular, declaração falsa ou diversa da que
Particular
Particular cinco anos e multa devia constar.
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre z Admite a modalidade tentada nas condutas comis-
fato juridicamente relevante: sivas, mas não admite, segundo posicionamen-
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o to doutrinário majoritário, na conduta omissiva
documento é público, e reclusão de um a três anos, (omitir);
e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de z Neste crime, a forma do documento segue intacta;
réis, se o documento é particular. o que se falsifica é o conteúdo das informações con-
Parágrafo único - Se o agente é funcionário públi- tidas no documento público ou particular (com a
co, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou omissão de declaração ou com a declaração falsa).
se a falsificação ou alteração é de assentamento de
registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. 175
Falso Reconhecimento de Firma ou Letra z Para a configuração deste crime, exige-se que a
certificação ou atestado se deem para as finali-
Art. 300 Reconhecer, como verdadeira, no exercício dades previstas no tipo penal: habilitar alguém a
de função pública, firma ou letra que o não seja: obter cargo público; isentar de ônus ou de serviço
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o de caráter público ou qualquer outra vantagem;
documento é público; e de um a três anos, e multa,
z Caso o crime tenha como finalidade a obtenção de
se o documento é particular.
lucro (finalidade específica), será aplicada, além
da pena privativa de liberdade, a pena de multa.
Este crime se configura com a prática da seguinte
conduta típica: reconhecer, como verdadeira, no exer-
Falsidade Material de Atestado ou Certidão
cício de função pública, firma ou letra que o não seja.
Entenda da seguinte forma:
Art. 301 [...]
§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
z Firma = assinatura; certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atesta-
z Letra = manuscrito daquele que assina. do verdadeiro, para prova de fato ou circunstância
que habilite alguém a obter cargo público, isenção
A pena do crime será distinta conforme a natureza de ônus ou de serviço de caráter público, ou qual-
do documento: quer outra vantagem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
SE DOCUMENTO SE DOCUMENTO § 2º - Se o crime é praticado com o fim de lucro,
PÚBLICO PRIVADO aplica-se, além da pena privativa de liberdade, a de
multa.
Reclusão de um a cinco Reclusão de um a três
anos e multa anos e multa Ainda no art. 301, do CP, em seu § 1º, temos um
outro tipo penal: Certidão ou Atestado Ideologicamen-
te Falso.
Sobre o crime de falso reconhecimento de firma ou
O crime de certidão ou atestado ideologicamente
letra, você deve ficar atento ao seguinte:
falso irá se configurar quando o agente falsificar, no
z É crime próprio, que só poderá ser praticado pelo todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar o
funcionário público que pode reconhecer firma ou teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para pro-
letra; va de fato ou circunstância que habilite alguém a
z Admite a participação de particular, desde que obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de
conheça a condição de funcionário público do caráter público, ou qualquer outra vantagem.
agente. Sobre este crime, é importante levar em conside-
z Só poderá ser praticado dolosamente; ração o seguinte:
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z Segundo posicionamento que prevalece, trata-se z É crime comum, que poderá ser praticado por
de crime plurissubsistente, que admite, portanto, qualquer pessoa;
a tentativa; z Só pode ser praticado dolosamente – não admite a
z A ação penal será pública incondicionada. forma culposa;
z Admite a modalidade tentada;
Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso z É crime de ação múltipla, que pode ser pratica-
do mediante a execuçxão de quaisquer uma das
Art. 301 Atestar ou certificar falsamente, em razão seguintes condutas:
de função pública, fato ou circunstância que habi-
lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou
ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra certidão;
vantagem:
Alterar o teor de certidão ou atestado verdadeiro.
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
z Trata-se de crime próprio, que só pode ser prati- Falsidade de Atestado Médico
cado por funcionário público, em razão da função
pública; Art. 302 Dar o médico, no exercício da sua profis-
z Admite o concurso de pessoas com particulares, são, atestado falso:
desde que estes conheçam sobre a situação de fun- Pena - detenção, de um mês a um ano.
cionário público; Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim
z Não admite a modalidade culposa; de lucro, aplica-se também multa.
z Admite a forma tentada;
z É crime de ação múltipla, que pode se configurar Este crime tem como figura típica a seguinte con-
com a prática de quaisquer um dos verbos previs- duta: dar o médico, no exercício da sua profissão, ates-
176 tos no tipo penal: atestar ou certificar; tado falso.
Sobre este crime, é importante levar em consideração: e multa, mesma pena aplicada ao crime de falsificação
de documento público.
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por Se o agente que fez uso do documento falso foi o
médico; mesmo que o falsificou, ele será responsabilizado de
z Não admite a forma culposa – deve ser praticado que forma?
dolosamente; Segundo entendimento que predomina no STJ,
z Não exige fim especial de agir (dolo específico), sal- neste caso, deverá o agente responder apenas por fal-
vo no caso de obtenção de lucro; sificação de documento público.
z Admite a tentativa; Assim, caso o agente falsifique e use o documento
z Caso o médico pratique a conduta com finalidade de falso, deverá responder apenas por aquele.A Súmula
obter lucro (dolo específico), será aplicada a ele, além 546 do STJ:
da pena privativa de liberdade, a pena de multa;
z Exige-se que a conduta praticada pelo médico se A competência para processar e julgar o crime de
dê no exercício da função Reprodução ou Adultera- uso de documento falso é firmada em razão da enti-
ção de Selo ou Peça Filatélica dade ou órgão ao qual foi apresentado o documen-
to público, não importando a qualificação do órgão
Art. 303 Reproduzir ou alterar selo ou peça filaté- expedidor.
lica que tenha valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração está visivelmente anota-
Assim, caso o agente utilize uma carteira de iden-
da na face ou no verso do selo ou peça:
tidade falsa, não será relevante para fins de análise
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Parágrafo único - Na mesma pena incorre quem, para
de competência para processo e julgamento o órgão
fins de comércio, faz uso do selo ou peça filatélica. expedidor do documento (unidade da federação que
o expediu), mas sim o órgão ou entidade ao qual foi
apresentado o documento.
O crime tipificado neste artigo foi tacitamente
revogado pelo art. 39 da Lei nº 6.538/1978. Caso o agente apresente o documento falso a um
Trata-se de lei relacionada ao serviço postal e sua órgão ou entidade federais, a exemplo da Polícia Rodo-
redação é a seguinte: viária Federal e do INSS, a competência para processo
e julgamento será da Justiça Federal. Se o documento
Art. 39 Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica falso for apresentado a órgão ou entidades estaduais,
de valor para coleção, salvo quando a reprodução a exemplo das polícias civis ou da SANEAGO, o pro-
ou a alteração estiver visivelmente anotada na face cesso e julgamento será de competência da Justiça
ou no verso do selo ou peça: Estadual.
Pena: detenção, até dois anos, e pagamento de três
a dez dias-multa. Sobre este crime é importante saber:
Forma assimilada
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas, quem, z Para caracterização deste crime, não basta o mero
para fins de comércio, faz uso de selo ou peça fila- porte do documento falso, exigindo-se que o agen-
télica de valor para coleção, ilegalmente reproduzi- te o use efetivamente, apresentando-o a alguém;
dos ou alterados.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
quer pessoa;
Uso de Documento Falso z É crime formal;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsifica- praticado dolosamente;
dos ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração. z Caso o agente desconheça sobre a falsidade do
documento e o utilize, não há que se falar na confi-
O crime de uso de documento falso tem como figu- guração deste tipo penal, já que, como visto acima,
ra típica a seguinte conduta: fazer uso de qualquer o elemento subjetivo é somente o dolo;
dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem z Prevalece o entendimento de que não admite a
os arts. 297 a 302 do Código Penal. modalidade tentada, já que se trata de crime unis-
Vamos recordar quais são os tipos penais previstos subsistente, perfazendo-se mediante a execução
entre os arts. 297 e 302 do Código Penal: de um único ato (ou o agente usa o documento e
pratica o crime; ou o agente não usa o documento
z Falsificação de documento público; e o fato será atípico);
z Falsificação de documento particular; z Segundo o STJ, se o documento usado for grosseira-
z Falsidade ideológica; mente falsificado, perceptível aos olhos do homem
z Falso reconhecimento de firma ou letra; comum, não irá se configurar o crime de uso de
z Certidão ou atestado ideologicamente falso; documento falso.
DIREITO PENAL
O uso de qualquer um dos documentos previstos Art. 305 Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
acima configura o crime de uso de documento falso, próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu-
respondendo o agente com a mesma pena correspon- mento público ou particular verdadeiro, de que não
dente à falsificação ou alteração. podia dispor:
Por exemplo, caso um agente seja surpreendido Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o
utilizando um documento público falso, será respon- documento é público, e reclusão, de um a cinco
sabilizado com a pena de reclusão de dois a seis anos, anos, e multa, se o documento é particular. 177
Configura-se quando o agente destruir, suprimir alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa nature-
ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em za, falsificado por outrem
prejuízo alheio, documento público ou particular ver-
dadeiro, de que não podia dispor. Trata-se de crime de ação múltipla, que pode ser
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser praticado mediante a execução dos verbos:
praticado com a execução das seguintes condutas:
z Falsificar; ou
Documento público ou z Usar
particular verdadeiro, de
DESTRUIR que não podia dispor Responderá o agente com uma pena mais branda,
SUPRIMIR podendo ser reclusão ou detenção, de um a três anos,
OCULTAR Em benefício próprio ou e multa, se a marca ou sinal falsificado é o que usa a
de outrem, ou em prejuízo autoridade pública para o fim de
alheio
z Fiscalização sanitária;
A pena do crime será diferente, a depender da z Autenticar ou encerrar determinados objetos;
natureza do documento destruído, suprimido ou z Comprovar o cumprimento de formalidade legais.
ocultado.
Sobre este crime, é importante levar as seguin-
tes informações para a sua prova:
Documento Público Documento Particular
Reclusão, de dois a Reclusão, de um a z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
seis anos, e multa cinco anos, e multa quer pessoa;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
praticado dolosamente;
z Não exige dolo específico;
Em relação aos tipos penais que apresentam penas
z Admite a forma tentada, salvo quando executado
como visto acima, você deve ter um cuidado redobra-
por meio verbo usar.
do ao analisar o tipo penal e possíveis questões de pro-
va sobre o tema.
Sobre este crime, faz-se necessário ficar atento Dica
às seguintes informações: Falsificar, fabricando-o ou alterando-o admite
tentativa.
z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Usar não admite tentativa.
quer agente;
z Não admite a modalidade culposa;
Falsa Identidade
z É necessário que o agente pratique as condutas des-
critas no tipo penal em benefício próprio ou alheio
Art. 307 Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa
ou em prejuízo alheio (finalidade específica);
identidade para obter vantagem, em proveito pró-
z Exige-se, para configuração deste tipo penal, que o
prio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
agente não possa dispor do documento público ou
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa,
particular; se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
z Admite a tentativa. Art. 308 Usar, como próprio, passaporte, título de
eleitor, caderneta de reservista ou qualquer docu-
OUTRAS FALSIDADES mento de identidade alheia ou ceder a outrem, para
que dele se utilize, documento dessa natureza, pró-
Falsificação do sinal empregado no contraste de prio ou de terceiro:
metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e
para outros fins: multa, se o fato não constitui elemento de crime
mais grave.
Art. 306 Falsificar, fabricando-o ou alterando-
-o, marca ou sinal empregado pelo poder público Figura típica: atribuir-se ou atribuir a terceiro fal-
no contraste de metal precioso ou na fiscalização sa identidade para obter vantagem, em proveito pró-
alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa nature- prio ou alheio, ou para causar dano a outrem.
za, falsificado por outrem: O crime pode ser praticado das seguintes formas:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Parágrafo único - Se a marca ou sinal falsificado é
o que usa a autoridade pública para o fim de fisca- Falsa identidade
lização sanitária, ou para autenticar ou encerrar
determinados objetos, ou comprovar o cumprimen-
to de formalidade legal: Atribuir-se Atribuir a terceiro
Pena - reclusão ou detenção, de um a três anos, e
multa.
O agente atribuiu falsa
O agente atribui a falsa
Sua conduta típica é: identidade a uma outra
identidade a si próprio
pessoa
Art. 306 Falsificar, fabricando-o ou alterando-
-o, marca ou sinal empregado pelo poder público
178 no contraste de metal precioso ou na fiscalização
Neste crime, o agente se passa por uma outra pessoa. O tipo penal apresenta hipótese de interpretação
Por exemplo, um indivíduo, chamado Carlos Eduar- analógica, já que exemplifica quais são os documentos
do Diogo, sabendo que se encontra, em seu desfavor, de identidade, a exemplo do passaporte, título de elei-
um mandado de prisão em aberto, com a finalidade tor e caderneta de reservista (fórmulas casuísticas), e
de não ser preso e de que não se descubra a sua con- por fim, amplia as possibilidades ao utilizar a eressão
dição de procurado, ao ser abordado por uma equipe “qualquer documento de identidade (fórmula genéri-
policial, atribui a si próprio o nome de Antônio Carlos ca)”.Sobre este crime, é importante que você leve
dos Céus, contra quem não existe nenhuma medida para a sua prova o seguinte:
judicial. É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Vejamos que, no exemplo acima, configurou-se o quer indivíduo;
crime de falsa identidade, já que o agente, com a fina-
lidade de obter proveito próprio, atribuiu a si mesmo z Não admite a modalidade culposa – só pode ser
falsa identidade. praticado dolosamente;
Mas, o fato de Carlos Eduardo Diogo atribuir a si z Admite-se a modalidade tentada;
falsa identidade para evitar prisão não está de acordo z É crime subsidiário, não respondendo o agente por
com o princípio do Direito Processual Penal que per- ele se o fato constituir elemento de crime mais grave.
mite que o indivíduo não seja compelido a produzir
provas contra si mesmo, podendo, inclusive, mentir? Os crimes a seguir apresentam condutas bastante
Caso ele seja responsabilizado penalmente, não have- parecidas. Cuidado para não as confundir:
ria violação ao princípio da não autoincriminação?
Por muito tempo, este assunto foi divergente.
O entendimento que predomina atualmente é o de
Falsificação de Uso de documento
que a responsabilização penal por falsa identidade,
documento Público falso
ainda que diante de situação de alegada autodefesa,
ou Particular
não viola o princípio da não autoincriminação, sen- Conduta: fazer uso
do, portanto, fato típico. Conduta: falsificar, de qualquer dos
no todo ou em parte, papéis falsificados
STJ - Súmula 522 documento público ou alterados, a que
ou particular ou se referem os arts.
A conduta de atribuir-se falsa identidade perante alterar documento 297 a 302 (incluindo
autoridade policial é típica, ainda que em situação público ou particular documento público
de alegada autodefesa. verdadeiro ou particular)
Este crime se configura com a prática da seguinte conduta: usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no
território nacional, nome que não é o seu.
Trata-se de crime bastante parecido com o crime de falsa identidade, porém, com este não se confunde.
DIFERENÇAS
Crime comum, que pode Finalidade específica: obter Crime próprio, que só Finalidade específica: en-
ser praticado por qualquer vantagem, em proveito pró- pode ser praticado pelo trar ou permanecer no ter-
pessoa prio ou alheio, ou para causar estrangeiro ritório nacional
dano a outrem
Este crime apresenta uma modalidade qualificada, que irá se configurar quando o agente atribuir a estrangei-
ro falsa qualidade para promover-lhe a entrada em território nacional.Forma Simples
z Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:
Forma Qualificada
Sobre este crime, é importante que você leve em consideração as seguintes informações:
z É crime próprio;
z Não admite a modalidade culposa – só poderá ser praticado dolosamente;
z Exige finalidade especial de agir (dolo específico):
No art. 310 do Código Penal, há a seguinte conduta típica, nomeada por alguns doutrinadores de falsidade em
prejuízo da nacionalização de sociedade: prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou
valor pertencente a estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens.
Este crime tipifica a conduta daquele que figura como “laranja” de estrangeiro, que age como proprietário ou
possuidor de valores, ações ou títulos que, na verdade, pertencem a um estrangeiro, já que a lei proíbe a este a
propriedade ou a posse.
Por exemplo, a Constituição Federal estabelece que a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão
sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, não podendo o
estrangeiro ser proprietário de uma dessas empresas.
Suponha que Augusto, brasileiro nato, preste-se a figurar como proprietário de empresa jornalística e de
radiodifusão sonora e de sons e imagens, que, na verdade, pertence a Alfred, estadunidense nato.
Vejamos, a conduta praticada por Augusto configura o tipo penal previsto no art. 310 do CP, podendo ele ser
incurso nas penas de detenção, de seis meses a três anos, e multa.
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por brasileiro, seja nato ou naturalizado;
z Não admite a modalidade culposa – só pode ser praticado dolosamente;
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z É necessário que o agente saiba que a propriedade ou posse dos bens seja proibida por lei ao estrangeiro (lem-
bre-se que o crime não admite a forma culposa);
z Admite tentativa.
Art. 311 Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu com-
ponente ou equipamento:
180 Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
§ 1º - Se o agente comete o crime no exercício da com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de compro-
função pública ou em razão dela, a pena é aumen- meter a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
tada de um terço.
§ 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público z Concurso público (segundo Sanches, instrumento
que contribui para o licenciamento ou registro do veícu- de acesso a cargos e empregos públicos);
lo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente z Avaliação ou exame públicos (segundo Sanches,
material ou informação oficial. abrange, por exemplo, os exames psicotécnicos);
z Processo seletivo para ingresso no ensino superior
Este crime tem como figura típica a seguinte con-
(conforme Sanches, engloba vestibulares e outras
duta: adulterar ou remarcar número de chassi ou
formas de avaliação para ingresso no ensino supe-
qualquer sinal identificador de veículo automotor, de
rior, a exemplo do ENEM);
seu componente ou equipamento.
z Exame ou processo seletivo previstos em lei (con-
forme ensina Rogério Sanches, a exemplo do exa-
me da OAB).
Importante!
Este crime apresenta uma causa de aumento de Fraudes em certames de interesse público
pena, ou seja, a pena será aumentada de um ter-
ço se o agente cometer o crime no exercício da
função pública ou em razão dela. Conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim
de beneficiar a se ou a outrem, ou de comprometer a
credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de
Incorrerá nas mesmas penas (forma equiparada) o
funcionário público que contribui para o licenciamento
ou registro do veículo remarcado ou adulterado, forne-
cendo indevidamente material ou informação oficial. Processo
Exame ou
Neste caso, trata-se de crime próprio, que só pode- seletivo
Avaliação processo
rá ser praticado pelo funcionário público. Concurso para
ou exame seletivo
Sobre o crime de adulteração de sinal identifi- público ingresso
públicos previstos em
cador de veículos, fique atento ao seguinte: no ensino
lei
superior
z Em regra, é crime comum, que pode ser praticado
por qualquer pessoa;
O crime de fraude em certames de interesse público
z O aumento de pena aplicável no caso de ser pra-
apresenta uma forma equiparada, uma forma qualifi-
ticado no exercício da função ou em razão dela e
à forma equiparada, que constitui crime próprio; cada e uma forma majorada (com aumento de pena):
z Trata-se de crime instantâneo;
z Este crime não é permanente. Portanto, a sua con- z Forma equiparada: incorre nas mesmas penas o
duta não se prolonga no tempo; agente que permite ou facilita, por qualquer meio,
z Não admite a modalidade culposa – só será prati- o acesso de pessoas não autorizadas às informa-
cado com dolo; ções sigilosas relacionadas a concurso público;
z Não exige dolo específico; avaliação ou exame públicos; processo seletivo
z Admite a modalidade tentada. para ingresso no ensino superior; ou exame ou
processo seletivo previstos em lei;
DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE z Forma qualificada: se da ação ou omissão resul-
PÚBLICO tar dano à administração pública;
z Forma majorada: a pena será aumentada de 1/3
Fraudes em Certames de Interesse Público (um terço) se o fato é cometido por funcionário
público.
Art. 311-A Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o
fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer
a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
Sobre este crime, é importante ficar atento às
I - concurso público; seguintes informações:
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino supe- z Este crime se aplica a certames de interesse públi-
rior; ou co de maneira geral, e não apenas a concursos
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: públicos em sentido estrito;
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
§ 1° Nas mesmas penas incorre quem permite ou quer pessoa.
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não
autorizadas às informações mencionadas no caput.
DIREITO PENAL
2. (CESPE-CEBRASPE — 2019) Durante operação em CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol . 1,
rodovia federal, uma equipe da PRF abordou Pamela 19ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
e solicitou a apresentação de sua carteira nacional
de habilitação (CNH) e do certificado de registro e CUNHA, Rogério Sanches. Pacote Anticrimes – Lei
licenciamento de veículo (CRLV). Pamela entregou os 13.964/2019: Comentários às Alterações no CP, CPP
documentos, mas estava muito nervosa, o que gerou e LEP. Salvador: Juspodium, 2020.
desconfiança no policial, que, ao consultar o sistema,
verificou que o veículo era clonado. Pamela alegou GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal
que tinha comprado o veículo de um amigo pelo preço esquematizado: parte especial. 6ª ed. São Paulo:
de mercado e que não sabia que o carro era clonado. Saraiva, 2016.
O policial, por sua vez, solicitou que Pamela saísse do
veículo, mas ela se negou, então, o policial usou de for- JESUS, Damásio de. Código Penal Anotado. 22ª. Ed.
ça necessária para fazê-la cumprir a ordem. Em razão São Paulo: Saraiva, 2017.
da conduta de Pamela, o policial realizou uma busca
pessoal nela, fazendo comentários sobre o corpo dela. MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª. Ed.
Após a revista pessoal, ele fez uma vistoria no veículo São Paulo: Método, 2019.
e revistou a mochila dela. Pamela ficou constrangida
com a atitude do policial. Em seguida, ela foi presa em
flagrante.
A respeito dessa situação hipotética, julgue o item
subsequente.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
Pamela deverá responder por receptação culposa, uso PÚBLICA
de documento falso e resistência.
DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR
( ) CERTO ( ) ERRADO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Vamos observar três crimes: receptação, uso de Tratam-se de crimes próprios, que exigem uma
documento falso e resistência. No crime de recepta- condição especial do sujeito ativo: ser funcionário
182 ção culposa, não há como alegar que ela responderá público.
Nos crimes contra a Administração Pública, o bem exclusão o conceito de emprego público como sendo
jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou todo aquele que não se classifica como cargo público.
probidade administrativa. z Função pública é toda e qualquer atividade que
Os crimes praticados por funcionário público con- realiza os fins próprios do Estado, como por, exem-
tra a administração em geral são chamados de crimes plo, perito judicial, estagiário do Ministério Públi-
funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati- co ou da Defensoria Pública ou de qualquer outro
cados contra a administração pública por indivíduo órgão público, juiz de direito, Presidente da Repú-
que se encontra investido em uma função pública. São blica, Governador de Estado, escreventes, Prefei-
divididos em funcionais próprios ou puros e funcio- tos, vereadores, faxineira do fórum etc.
nais impróprios ou impuros.
Os crimes funcionais próprios são aqueles que No § 2º do art. 327, o Código Penal apresenta uma
serão atípicos caso não sejam praticados por funcio- causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes
nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor- praticados por funcionário público contra a adminis-
rerá uma hipótese de atipicidade absoluta. tração em geral. Observe:
Vejamos que a conduta que define o crime de pre- A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quan-
varicação será atípica caso não seja praticada por um do os autores dos crimes praticados por funcionário
funcionário público. público contra a administração em geral forem ocu-
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que pantes de cargos em comissão ou de função de dire-
serão desclassificados para outras infrações penais ção ou assessoramento de órgão da administração
caso não sejam praticados por funcionários públicos. direta, sociedade de economia mista, empresa pública
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma ou fundação instituída pelo poder público.
hipótese de atipicidade relativa. É importante saber que a pena não será aumen-
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, tada caso o funcionário público ocupe cargo em
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi- comissão ou função de direção ou assessoramento em
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se que
o nosso ordenamento jurídico não admite a analogia
por um funcionário público.
para prejudicar o agente.
O Código Penal responde a esta pergunta em seu
Os crimes funcionais admitem a coautoria de
art. 327.
particular, sendo possível que este venha a ser res-
ponsabilizado por delito funcional contra a adminis-
tração pública, desde que pratique a infração penal
Importante! em concurso com funcionário público e conheça esta
Considera-se funcionário público, para os efeitos qualidade.
penais, quem, embora transitoriamente ou sem Vamos exemplificar: José, funcionário público,
remuneração, exerce cargo, emprego ou função convida seu amigo de infância, Jonas, para juntos,
pública. subtraírem um computador na repartição pública
No art. 327, § 1º, o Código Penal equipara o fun- que aquele trabalha. O funcionário público obteria
facilidades para praticar o crime, já que havia ficado
cionário público a quem exerce cargo, emprego
com a chave da repartição naquele período. No dia
ou função em entidade paraestatal e quem traba-
determinado, os agentes vão ao local e subtraem o
lha para empresa prestadora de serviço contrata- computador.
da ou conveniada para a execução de atividade No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
típica da Administração Pública. responderão pelo crime de peculato (vamos estudar
suas características a seguir), já que praticaram a con-
duta em concurso de pessoas e a condição de caráter
É importante diferenciar o conceito de funcioná-
pessoal (ser funcionário público) se comunica aos
rio público do direito administrativo e o de funcioná- demais agentes (é necessário que eles conheçam a
rio público do direito penal. condição).
No direito administrativo, considera-se funcio- Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
nário público apenas quem exerce cargo público na soas nos crimes funcionais. Os crimes funcionais são
administração direta, isto é, junto à União, Estados, crimes próprios, à medida que o autor deve ser fun-
Distrito Federal ou Municípios. cionário público.
No direito penal, o conceito de funcionário públi- Em regra, não podem serem praticados por qual-
co é mais amplo, pois abrange quem exerce cargo, quer pessoa, entretanto, admitem a participação e a
emprego ou função pública, ainda que transitoria- coautoria, bem como a autoria mediata.
mente ou sem remuneração. Observe que o particular sozinho não pratica cri-
O mesário de eleição, por exemplo, é funcionário me funcional, mas, se unido com outro funcionário
público para efeitos penais, à medida que exerce uma público, também responderá pelo delito.
DIREITO PENAL
O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é É necessário sabermos o que se trata de infungível.
O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis
dividido da seguinte forma:
que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
z Peculato-apropriação; qualidade e quantidade.
z Peculato-desvio; O Código Civil não define os bens infungíveis,
z Peculato-furto; mas podemos compreender que são os bens que não
z Peculato culposo; podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
quantidade e qualidade.
z Peculato mediante erro de outrem.
É importante mencionar que é necessário, para
Parte da doutrina apresenta, ainda, a seguinte divisão que não seja típica a conduta do peculato de uso, que
para o crime de peculato: o bem seja infungível e não consumível, a exemplo
de um carro oficial ou de um computador.
z Próprio: peculato-apropriação e peculato-desvio; Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo
do dinheiro, a conduta será típica.
z Impróprio: peculato-furto.
Se a conduta relacionada ao Peculato de Uso for
O peculato-apropriação irá se configurar quando praticada por Prefeito, o fato será típico, independen-
o funcionário público se apropriar de dinheiro, valor temente da natureza do bem, por expressa previsão
ou qualquer outro bem móvel, público ou particu- legal no art. 1º, II, do Decreto-Lei nº 201/1967.
O Peculato-furto irá se configurar quando o fun-
lar, de que tem a posse em razão do cargo, como por
cionário público, embora não tendo a posse do dinhei-
exemplo, vereador que se apropria de bens (aparelho
ro, valor ou bem, o subtrai ou concorre para que seja
de celular, notebook) do qual tem posse em razão do
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
cargo (eletivo) que ocupa.
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de
É muito importante que você fique atento, em rela-
funcionário.
ção ao peculato-apropriação, ao seguinte: O peculato-furto pode ser praticado de duas
formas:
z Para que se configure, é necessário que o agente
tenha a posse do bem em razão do seu cargo;
z Subtraindo o dinheiro, valor ou bem;
z O bem pode ser público ou particular (imagine um
z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
objeto particular apreendido numa delegacia de
valor ou bem.
polícia);
z O sujeito passivo é a administração pública, con- É importante mencionar que:
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
também será sujeito passivo do delito. z Para que se configure este crime, é necessário que
o funcionário público não tenha a posse da coisa;
O peculato-desvio irá se configurar quando o
z O primeiro é o verbo subtrair, que é o fato de o
funcionário público desviar, em proveito próprio ou
bem ser arrebatado pelo próprio funcionário
alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público;
público ou particular. z O segundo é o verbo concorrer, que significa indu-
Segundo posicionamento majoritário, apesar de zir, instigar ou auxiliar uma outra pessoa a reali-
algumas posições jurisprudenciais em sentido con- zar a subtração, como por, exemplo, o funcionário
trário, para que se configure o peculato-desvio, é público que distrai os demais para que o seu ami-
necessário que o bem seja desviado para integrar o go, que é ladrão, ingresse na repartição com o obje-
patrimônio do próprio funcionário público ou de ter- tivo de surrupiar os bens.
ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra z Para que se configure o peculato-furto é necessário
184 mero desvio de finalidade. que o ato seja doloso;
z A qualidade de funcionário público deve acarre- Neste exemplo, José poderá ser responsabiliza-
tar alguma facilidade para a subtração da coisa. do criminalmente pelo crime de peculato culposo, já
Caso não haja facilidade, o agente responderá por que concorreu culposamente para o crime de outrem
furto normalmente. (peculato-furto de João). O agente foi omisso ao deixar
de trancar a porta, fator que contribuiu para a prática
da subtração.
Vamos trazer dois exemplos:
Sobre o peculato culposo, é importante saber que no §
Exemplo 1: Carlos é funcionário
3º do art. 312, do CP, dispõe que:
Público. Certo dia, na hora de sair, valendo-se do
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
fato de estar sozinho na repartição, ele subtrai um
poso ocorrer antes da sentença transitar em julga-
notebook do órgão público. Está certamente configura-
do, extingue a punibilidade;
do o crime de peculato-furto, já que a condição de fun-
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
cionário público do servidor foi uma facilidade para
poso ocorrer após a sentença transitar em julgado,
que ele subtraísse o bem.
a pena será reduzida da metade.
Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tri-
bunal Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma
O peculato mediante erro de outrem está previs-
escola que se encontra próxima à sua casa, Michele
to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio-
percebe que o vigilante esqueceu a porta dos fundos
nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
aberta, estando próximo um aparelho celular da esco-
la. Michele entra pela porta e subtrai o aparelho. Não utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
há que se falar em peculato-furto, já que a qualidade de outrem.
de funcionária pública de Michele em nada contri- Parte da doutrina chama esta modalidade de
buiu para a prática da subtração, podendo qualquer peculato-estelionato.
pessoa, na mesma situação, praticar essa conduta Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro
delituosa. Dessa forma, Michele responderá pelo cri- de outrem toma posse de um bem móvel, em razão
me de furto. da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que
Observe que: induz o funcionário a apropriar-se do bem que rece-
beu por erro será partícipe deste delito de peculato
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de mediante erro.
crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou seja, o O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente,
autor entra no local subtrai a coisa); isto é, posterior ao recebimento da coisa.
z O bem subtraído pode ser público ou particular; Num primeiro momento, o funcionário público
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro
o bem seja particular, também será sujeito passivo alheio, mas posteriormente, após detectar o erro,
da infração penal o dono do bem; apropria-se da coisa.
z É crime material. É importante levar em consideração as seguintes
características do crime de peculato mediante
O peculato culposo, previsto no § 2° art. 312 confi- erro de outrem:
gura-se quando o funcionário público concorre culpo-
samente para o crime de outrem. z É crime material, que se consuma quando o agen-
Dos crimes praticados por funcionário público te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti-
contra a administração em geral, o peculato é o úni- lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder
co que prevê expressamente a possibilidade de ser por erro de outra pessoa, passando a agir como se
cometido na modalidade culposa. dono fosse;
No peculato culposo, o funcionário público não z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
tem intenção em praticar o crime, contudo, por culpa, dade tentada;
acaba concorrendo para a subtração da coisa. z O funcionário público deve receber a coisa em
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato razão do cargo que exerce;
culposo podem ocorrer as seguintes situações: z O sujeito passivo é a administração pública. Caso o
bem seja particular, também será sujeito passivo o
z Um funcionário, por culpa, concorre para que dono do bem;
outro funcionário cometa peculato (caput ou §1º); z Parte da doutrina entende que se a pessoa for
z Um funcionário, por culpa, concorre para que outro induzida ao erro, irá se configurar o crime de este-
funcionário ou um particular cometam o fato; e lionato, previsto no art. 171, do CP, sendo neces-
z Um funcionário, por culpa, concorre para que um sário, portanto, para caracterização do crime de
particular cometa o fato (furto etc.). peculato mediante erro de outrem, que a vítima
entregue a coisa por erro próprio.
DIREITO PENAL
z Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a Este tipo penal irá se configurar quando o agente
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevi- modificar ou alterar sistema de informações ou pro-
damente dados corretos nos sistemas informatiza- grama de informática sem autorização ou solicitação
dos ou bancos de dados da Administração Pública de autoridade competente.
com o fim de obter vantagem indevida para si ou Caso o funcionário público seja autorizado ou pra-
para outrem ou para causar dano. tique a conduta por solicitação da autoridade compe-
tente, o fato será atípico.
Para que este crime se configure, é necessário que A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas terço) até metade: caso da modificação ou alteração
por funcionário público autorizado a operar os siste- resulte dano para a Administração Pública ou para o
mas informatizados ou bancos de dados da adminis- administrado.
tração pública. Fique atento às diferenças entre os tipos penais
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal do crime de inserção de dados falsos em sistemas de
descreve vários verbos que podem ser praticados informação e do crime de modificação ou alteração
para a sua configuração. não autorizada de sistemas de informação.
Condutas:
z Inserção de Dados Falsos em Sistemas de
z Inserir dados falsos; Informação:
z Facilitar a inserção de dados falsos;
z Alterar dados corretos; Verbos: Inserir, facilitar a inserção, alterar,
z Excluir indevidamente dados corretos. excluir indevidamente;
Deve ser praticado por funcionário autorizado;
É necessário, para a tipificação do delito, que as Exige dolo específico de obter vantagem indevi-
condutas acima sejam realizadas em sistema informa- da ou de causar dano.
tizado (computador) ou bancos de dados (fichários,
livros ou outro meio físico) da Administração Pública. z Modificação ou Alteração não Autorizada de Siste-
mas de Informação:
Objeto Material:Sistemas informatizados ou ban-
cos de dados da Administração Pública. Verbos: modificar ou alterar;
Se praticado por funcionário autorizado, será
z Finalidade (dolo específico): fato atípico;
Não exige dolo específico.
Obter vantagem indevida para si ou para
outrem; Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou
Causar dano. Documento
O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico, Está previsto no art. 314 do Código Penal.
que consiste no fim de obter vantagem indevida para
si ou para outrem ou causar dano à Administração Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu-
Pública ou a uma terceira pessoa. mento, de que tem a guarda em razão do cargo;
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
dano, haverá o crime do art. 313-B do CP. Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não
O crime se consuma com a conduta, independente- constitui crime mais grave.
mente do resultado. Trata-se de crime formal, que se
caracteriza ainda que a vantagem ou o dano almejado Este crime se configurará quando o agente extra-
186 não se verifique. viar livro oficial ou qualquer documento, de que tem
a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, construir um abrigo durante perigo de chuvas que
total ou parcialmente. desabrigaram grande parte da população), o fato será
Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer típico, mas não será antijurídico.
desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas
(tornar imprestável). públicas, é importante mencionar:
Sobre este crime, é importante que você saiba:
z Este crime será praticado pelo funcionário público
z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi- que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren-
do quando o fato constitui crime mais grave), res- das públicas, podendo delas dispor;
pondendo por ele, o funcionário público, apenas se z Não exige nenhum fim específico;
não se configurar crime mais grave; z Não admite a modalidade culposa;
z Não admite a modalidade culposa; z Admite a tentativa;
z Admite tentativa; z Não exige a ocorrência de dano pela administra-
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser ção pública para a sua configuração.
parciais ou totais.
Concussão
Sujeito ativo é apenas o funcionário público res-
ponsável pela guarda do livro oficial ou documen- Previsto no art. 316, do CP, a concussão é pratica-
to. Se a conduta for praticada por outro funcionário da quando o agente público exigir, para si ou para
público o crime será o previsto no art. 337 do CP. Caso outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
seja praticado por advogado ou procurador, que inu- função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, van-
tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra- tagem indevida.
mento será no art. 356 do CP.
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou
O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli-
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
cado se não houver outro crime mais grave.
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
para destruir livro ou documento responderá apenas
pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave.
No crime de concussão, o funcionário público,
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos
valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais
relativos a tributos, o funcionário que tinha a guarda
forte do que apenas pedir) o pagamento de vantagem,
e praticou uma das condutas acima, responderá pelo
não devida pela pessoa. O particular, por temer qual-
crime do art. 3º, I, da Lei nº 8.137/1990, quando o fato quer represália por parte do funcionário público pode
acarretar pagamento indevido ou inexato de tributo. ou não pagar a vantagem indevida.
Vamos exemplificar: funcionário público, agen-
Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas te de trânsito, exige de particular a quantia de R$
2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de
Previsto no art. 315, do CP, o crime de emprego irre- levá-lo indevidamente ao pátio do Detran.
gular de verbas ou rendas públicas irá se configurar com A vantagem indevida, segundo posicionamento
a prática da seguinte conduta: dar às verbas ou rendas majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: ser qualquer outra vantagem.
É importante mencionar que a concussão se dará
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- em razão da função do agente público, não se exigindo
ção diversa da estabelecida em lei: que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
cometido por funcionário público de férias e, segundo
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res- a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
(antes de assumi-la).
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o
A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não
Decreto nº 201/1967. são elementos integrantes do crime de concussão.
Exige que o emprego irregular se dê em benefí- Se o funcionário público exigir o pagamento de
cio da própria administração pública, contrariando a vantagem indevida, mediante violência ou grave
legislação, não podendo o agente desviar as verbas ou ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre-
rendas em benefício próprio, sob pena de responder visto no art. 158 do Código Penal.
por outro crime. Sobre a concussão, é importante que você
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do conheça as seguintes informações, frequentemen-
Município XYZ aprova a utilização de um milhão de te cobradas em prova:Não pode ser praticada na
reais para construção de uma passarela. A autoridade modalidade culposa;
pública competente utiliza a verba mencionada para
a construção de uma escola. z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
DIREITO PENAL
Pronto, configurou-se o crime de emprego irregular prática da exigência, sendo o recebimento da van-
de verbas ou rendas públicas. O agente deu às verbas tagem mero exaurimento do crime;O particular,
públicas destinação diversa daquela estabelecida em lei. de quem se exigiu a vantagem indevida, é sujeito
Observe que a destinação da verba se deu no inte- passivo secundário deste crime. A administração
pública é o sujeito passivo primário.
resse da administração, já que, caso se dê em benefí-
cio próprio, o agente responderá por outro crime.
Em regra, não admite a tentativa, salvo quando
É importante mencionar a aplicação da excludente
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo
de ilicitude do estado de necessidade: caso o emprego
da concussão praticada mediante carta endere-
se dê devido a uma situação de perigo iminente (uti- çada à vítima;
lizou-se verba pública destinada ao esporte, para se 187
É possível se praticar a concussão indiretamen- ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas
te, quando, por exemplo, o funcionário público totalmente desnecessárias.
exige a vantagem indevida por intermédio de O crime se consuma com a simples cobrança vexa-
outra pessoa. tória ou gravosa, independentemente do recebimento.
Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató-
É importante diferenciar concussão e corrupção ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir-
passiva: cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta
antes que a vítima tomasse conhecimento.
Vejamos:
Tem no núcleo do tipo
José, funcionário público da prefeitura do Municí-
o verbo “exigir”, há um
pio de Simplicidade, sabendo que seu vizinho, Márcio,
caráter intimidativo na
deve dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca
CONCUSSÃO conduta
uma faixa enorme na entrada da rua, com a seguinte
escrita: Márcio, deixe de ser irresponsável e pague os
O ato de exigir é algo
dez mil reais que você deve de tributo à prefeitura.
impositivo No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo
Tem os verbos “solicitar uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi-
ou receber, ou aceitar” gurando-se, assim, o excesso de exação.
Sobre o excesso de exação, é importante
Solicitar é pedir, o que, mencionar:
portanto, não pressupõe
intimidação z Não admite a modalidade culposa, pois a expres-
CORRUPÇÃO PASSIVA são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia
Receber e aceitar pressu- saber” é dolo eventual;
põem uma conduta ativa z Admite a tentativa quando for possível fracionar o
do particular, ou seja, iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati-
além de não ocorrer inti- cado mediante carta endereçada à vítima;
midação, há uma conduta z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
inicial do terceiro de outrem, o que recebeu indevidamente para
recolher aos cofres públicos, responderá por
excesso de exação na modalidade qualificada.
Excesso de Exação
Quando observamos a forma qualificada do exces-
O excesso de exação, previsto no art. 316, § 1º, do so de exação, é possível compreender que o tipo penal
CP, é uma forma de concussão. Configura-se quando não exige que o funcionário público tenha a intenção
o funcionário público exige tributo ou contribuição de ficar para si ou para outro aquilo que recebeu. Caso
social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan- o faça, responderá pelo crime na forma qualificada.
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou Na concussão propriamente dita, exige-se que o
gravoso, que a lei não autoriza. funcionário público pratique a conduta visando obter
a vantagem indevida para si ou para outrem, consti-
Art. 316 [...] tuindo-se, assim, elemento de distinção entre os tipos
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição penais.
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan-
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
Corrupção Passiva
gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
Exação significa correção, exatidão.
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
São dois os delitos que recebem o nome de excesso vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
de exação: vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e
z Exigência indevida de tributo ou contribuição social; multa.
z Cobrança devida de tributo ou contribuição social, § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em con-
mas de forma vexatória ou gravosa. sequência da vantagem ou promessa, o funcionário
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou
O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferen- o pratica infringindo dever funcional.
temente do crime de concussão, não significa uma § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
ameaça, mas sim a simples cobrança indevida. retarda ato de ofício, com infração de dever funcional,
A cobrança é indevida quando o tributo ou con- cedendo a pedido ou influência de outrem:
tribuição social não existe ou então já foi pago, bem Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em
valor maior que o devido. A corrupção passiva, prevista no art. 317 do Código
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste Penal, irá se configurar quando o funcionário público
no fato de o agente ter consciência ou dúvida, que se solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
trata de uma cobrança indevida. indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
Na segunda modalidade criminosa, cobrança assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social aceitar promessa de tal vantagem.
é devido. O problema reside no modus operandi da A doutrina classifica a corrupção passiva em pró-
188 cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante, pria ou imprópria, antecedente ou subsequente.
Corrupção passiva: Dica
Não seja surpreendido por pegadinhas em pro-
z Própria: Quando o funcionário público pratica os
va, a corrupção passiva e a concussão se dife-
verbos do tipo penal para praticar ato ilícito, por
exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para renciam nos verbos que configuram o tipo penal
retardar o cumprimento do mandado de citação; incriminador. Corrupção passiva: solicitar, rece-
z Imprópria: Quando o funcionário público pratica ber ou aceitar promessa. Concussão: exigir.
os verbos do tipo penal para praticar ato lícito, por
exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a Facilitação de Contrabando ou Descaminho
certidão seja expedida dentro do prazo;
z Antecedente: Quando a vantagem indevida é O crime de facilitação de contrabando ou descami-
entregue ao funcionário público antes de sua ação nho está previsto no art. 318, do CP.
ou omissão, por exemplo, juiz recebe vantagem
indevida para prolatar sentença absolutória; Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcional,
z Subsequente: Quando a vantagem indevida é a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
entregue ao funcionário público depois de sua Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
ação ou omissão, por exemplo, após retardar o
processo até levá-lo à prescrição, o juiz solicita Irá se configurar quando o funcionário público
vantagem indevida ao réu.
facilitar, com infração de dever funcional, a prática
Observe que a corrupção passiva pode ser direta de contrabando ou descaminho.
ou indireta:
z Contrabando é a exportação ou a importação do
z Direta: quando é o próprio funcionário público território nacional de uma mercadoria proibida;
que solicita, recebe ou aceita promessa de vanta- z Descaminho é a exportação ou importação do ter-
gem indevida; ritório nacional de uma mercadoria lícita, mas
z Indireta: quando uma interposta pessoa, em con-
mediante sonegação dos direitos ou impostos
luio com o funcionário público, solicita, recebe
ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse devidos.
caso, tanto o “testa de ferro” quanto o funcionário
público responderão por corrupção passiva. O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que signifi-
ca viabilizar, tornar mais simples o contrabando ou
Entende a doutrina majoritária que o mero pre- descaminho.
sente recebido pelo funcionário público, por grati- O elemento subjetivo é o dolo que pode ser direto
dão ou amizade, por exemplo, uma lembrancinha de ou eventual.
natal, não configura o crime de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo Lembrando:
ser qualquer outra vantagem.
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração z Dolo direto (determinado): ocorre quando o
que: agente prevê determinado resultado, dirigindo
sua conduta na busca de realizar esse mesmo
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; resultado;
z Trata-se de crime formal, quando praticada por z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de
meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, resultados, porém dirige sua conduta na realiza-
que se consuma com a conduta, sendo o efetivo
ção de um deles. Quer um resultado, mas aceita o
recebimento da vantagem mero exaurimento do
crime; outro.
z Quando praticada por meio do verbo receber, é
crime material, que exige o efetivo recebimento Observa-se que o crime se consuma com a primei-
para se consumar (art. 317, § 2º, do CP) ra conduta que facilita o contrabando ou descaminho,
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída
possível fracionar o iter criminis, a exemplo da cor- da mercadoria do território nacional.
rupção passiva praticada mediante emprego de carta; Trata-se de crime formal, pois se consuma com a
z É possível se praticar a corrupção passiva indireta- conduta, independentemente da ocorrência do con-
mente, quando, por exemplo, o funcionário públi- trabando ou descaminho.
co exige a vantagem indevida por meio de outra
Admite-se a tentativa quando o agente se empenha
pessoa.
para realizar a conduta de facilitar o contrabando ou
O particular que paga a vantagem indevida soli- descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la.
citada pelo funcionário público não pratica crime É possível se extrair da leitura do tipo penal que
algum, por falta de tipicidade penal.
DIREITO PENAL
O crime de prevaricação é dividido em: Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de
responsabilizar subordinado que cometeu infração
z Própria : prevista no art. 319 do Código Penal; no exercício do cargo ou, quando lhe falte compe-
z Imprópria : prevista no art. 319-A do Código Penal. tência, não levar o fato ao conhecimento da autori-
dade competente:
A prevaricação própria irá se configurar quando Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
o funcionário público retardar ou deixar de praticar,
indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra dis- Observe a conduta que configura este tipo penal:
posição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal.
O crime em estudo não se confunde com a corrup- z Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabi-
ção passiva privilegiada, em que o agente age ou deixa lizar subordinado que cometeu infração no exercício
de agir cedendo a pedido ou influência de outrem. do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar
Na prevaricação não existe este pedido ou influên- o fato ao conhecimento da autoridade competente.
cia. O agente toma a iniciativa de agir ou se omitir para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, se Este crime pode ser praticado de duas formas:
um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregu-
laridade e deixa de autuá-lo em razão de insistentes z Quando o funcionário público, por indulgência,
pedidos deste, há corrupção passiva privilegiada, mas, deixa de responsabilizar o subordinado que come-
se o fiscal deixa de autuar porque percebe que a pes- teu infração no exercício do cargo;
soa é um antigo amigo, configura-se a prevaricação. z Quando o funcionário público, que não é compe-
A prevaricação poderá ser praticada de 3 (três) for- tente para responsabilizar aquele que cometeu
mas diferentes: infração no exercício do cargo, por indulgência,
não levar o fato ao conhecimento da autoridade
z Retardar indevidamente a prática de ato de ofício; competente.
z Deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
z Praticar ato de ofício contra disposição expressa
A doutrina majoritária entende que o crime de
de lei.
condescendência criminosa só pode ser praticado por
O crime de prevaricação exige um fim específico superior hierárquico.
de agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Você pode entender indulgência como compaixão,
Você pode entender interesse ou sentimento pes- pena, piedade.
soal de diversas formas: vingança, compaixão, ódio, Há um requisito que deve ser cumprido para a
amizade, preguiça, entre outros. prática da condescendência criminosa: uma infração
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova: funcional (que pode ser uma violação administrativa
ou penal) praticada por subordinado no exercício das
z Não admite a forma culposa; atribuições do seu cargo.
z Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou
190 deixar de praticar) ou comissiva (praticar);
Sobre a condescendência criminosa, fique atento: Art. 322 Praticar violência, no exercício de função
ou a pretexto de exercê-la.
z Não admite a forma culposa; Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
z É crime omissivo; pena correspondente à violência.
z Não admite tentativa.
Na vigência da antiga Lei de abuso de autoridade,
Como é possível observar, os crimes de corrupção encontrávamos alguns posicionamentos jurispruden-
passiva privilegiada, prevaricação e condescendência ciais, tanto do STF quanto do STJ, entendendo que este
crime continua em vigência.
criminosa possuem características similares.
Agora, a nova Lei de Abuso de Autoridade admite a
Vejamos as diferenças:
possibilidade de aplicação subsidiária do art. 322, do CP.
A prática da violência deve se dar em razão da fun-
z Corrupção Passiva Privilegiada: O agente dei- ção pública, não havendo a exigência de que seja pra-
xa de praticar ato de ofício cedendo a pedido ou ticado no efetivo desempenho das funções do cargo,
influência de outrem; podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, por
z Prevaricação: O agente deixa de praticar ato de ofí- um funcionário público que se encontre de folga.
cio para satisfazer sentimento ou interesse pessoal; O agente que fizer uso de violência arbitrária res-
z Condescendência Criminosa: O agente deixa de ponderá por este crime e pelo crime correspondente à
praticar ato de ofício (responsabilizar o subalter- violência praticada.
no) por indulgência. Apesar da divergência existente sobre a revogação
ou não deste tipo penal, leve em consideração que:
Advocacia Administrativa
z A violência arbitrária não admite a forma culposa,
O crime de advocacia administrativa, previsto no devendo ser praticado dolosamente;
art. 321 do Código Penal, pode ser praticado na moda- z Admite tentativa;
lidade simples ou qualificada. z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o
administrado contra o qual é praticada a violência
Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, inte-
arbitrária;
resse privado perante a administração pública,
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente,
valendo-se da qualidade de funcionário
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
de uso necessário e progressivo da força, admiti-
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
dos em lei.
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
multa.
Abandono de Função
z Modalidade simples: configura-se quando o fun-
cionário público patrocinar, direta ou indireta- O crime de abandono de função está tipificado no
mente, interesse privado perante à administração art. 323, do CP.
pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos
É necessário que a condição de funcionário públi- permitidos em lei:
co proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
patrocina interesse de terceiro, pessoa privada, caso § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
o fato será atípico. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na
O agente pode praticar este crime de diversas faixa de fronteira:
maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
solicitando um benefício;
A conduta típica é a de abandonar cargo público,
z Modalidade qualificada: o crime de advocacia fora dos casos permitidos em Lei.
administrativa será qualificado caso o interesse O nome do crime é abandono de função, porém,
privado seja ilegítimo. o tipo penal fala em abandono de cargo público. É
z Forma simples: interesse privado legítimo; importante que você saiba que o conceito de função
z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo. pública é mais amplo que o de cargo público (não há
cargo sem função, mas há função sem cargo).
Dica Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero
abandono de função pública (apesar do nome) ou de
Sobre a advocacia administrativa, leve isso para emprego público, mas tão somente no caso de aban-
sua prova: dono de cargo público (não se admite a analogia in
� Não admite a modalidade culposa; malam partem).
� É crime formal, que se consuma com a con- De acordo com posicionamento doutrinário majo-
duta, não se exigindo que se atinja o interesse ritário, as hipóteses de greve não configuram este tipo
DIREITO PENAL
Art. 324 Entrar no exercício de função pública Este delito irá se configurar quando o agente públi-
antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti- co revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a
oficialmente que foi exonerado, removido, substi-
revelação.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
tuído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao e que deva permanecer em segredo;
seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em
razão do cargo e que deva permanecer em segredo.
função pública afeta a prestação de serviços públicos.
z Conduta típica: entrar no exercício de função É importante mencionar que o agente toma conhe-
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou cimento do fato que deve permanecer em segredo em
continuar a exercê-la, sem autorização, depois de razão do cargo que ocupa, não se exigindo que tenha
sido no efetivo desempenho das atribuições do cargo.
saber oficialmente que foi exonerado, removido,
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o
substituído ou suspenso: agente tomar conhecimento do fato durante período
de licença, mas em razão do cargo.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
O Código Penal apresenta duas formas equipara-
Entrar no exercício de função pública antes de das do crime de violação de sigilo funcional.
satisfeitas as exigências legais; Observe:
Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público
Continuar a exercer a função pública, sem auto-
que:
rização, depois de saber oficialmente que foi
exonerado, removido, substituído ou suspenso.
z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
É exigido que o funcionário público tenha sido mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
oficialmente comunicado sobre sua exonera- forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
ção, remoção, substituição ou suspensão. mas de informações ou banco de dados da Admi-
nistração Pública;
Observe que no exercício funcional ilegalmente z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.
antecipado ou prolongado somente pode ser prati-
cado por funcionário público já nomeado, mas ainda Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte), dano à Administração Pública ou a outrem.
ou então pelo indivíduo que era funcionário público, Sobre este crime, fique atento:
porém deixou de ser em razão de ter sido oficialmente
exonerado, removido, substituído ou suspenso (parte z Só será praticado dolosamente – não admite forma
192 final). culposa;
z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep- novo dispositivo. O crime é doloso não havendo previ-
cionais, a exemplo de ser praticado na forma são de modalidade culposa. É, ainda, plurissubsistente
escrita. (a conduta é fracionada em diversos atos) e, portanto,
possibilita a punição pela tentativa.
Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência Em seguida, temos o tipo frustração do caráter
competitivo de licitação no art. 337-F.
Este tipo penal está previsto no art. 326 do Código
Penal. Art. 337-F Frustrar ou fraudar, com o intuito de
obter para si ou para outrem vantagem decorren-
Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concor- te da adjudicação do objeto da licitação, o caráter
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo competitivo do processo licitatório:
de devassá-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos,
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. e multa.
z Conduta típica: devassar o sigilo de proposta de Trata-se de hipótese de crime formal, não sendo
concorrência pública ou proporcionar a terceiro o necessária a obtenção de vantagem para que reste
ensejo de devassá-lo. caracterizada a prática criminal. Aqui, também, tem-
-se a hipótese de crime doloso. Trata-se de crime de
É um crime relacionado ao procedimento licitatório. tipo misto alternativo, pois existe mais de um núcleo.
A doutrina dominante entende que o crime de vio- A jurisprudência existente em relação ao tipo equiva-
lação de sigilo de proposta de concorrência foi revoga- lente da lei anterior afirma que se trata de crime for-
do tacitamente pela Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações). mal. Vejamos:
Trata-se de delito de atentado ou de mero empreen- Nesse tipo penal, temos duas figuras distintas.
dimento, pois as formas tentada e consumada são Ambas configuram crime próprio. Dentre os verbos
equivalentes. O Parágrafo Único traz a modalidade constantes do tipo, apenas “dificultar” será crime de
equiparada, em que um licitante se afasta mediante mera conduta, sendo que, nos demais, há necessida-
vantagem a ele oferecida. Já no caso do emprego de de de resultado naturalístico, tratando-se de crimes
violência, há possibilidade de concurso de crimes. materiais. Cabe frisar que, em todas as modalidades,
Trata-se, portanto, de crime formal e comum e de será cabível a tentativa. O crime poderá ser instantâ-
mero empreendimento, como vimos anteriormente. neo (dificultar ou promover) ou permanente (obstar
Vejamos, agora, à fraude em licitação ou contrato. ou impedir).
Vamos, agora, conhecer o tipo omissão grave de
Art. 337-L Fraudar, em prejuízo da Administra- dado ou de informação por projetista.
ção Pública, licitação ou contrato dela decorrente,
194 mediante:
Art. 337-O Omitir, modificar ou entregar à Admi- Vale destacar que a metodologia para o cálculo da
nistração Pública levantamento cadastral ou con- multa será a constante do Código Penal, porém com
dição de contorno em relevante dissonância com a piso mínimo de 2% do valor do contrato licitado ou
realidade, em frustração ao caráter competitivo da celebrado por meio de contratação direta.
licitação ou em detrimento da seleção da proposta
mais vantajosa para a Administração Pública, em
contratação para a elaboração de projeto básico,
projeto executivo ou anteprojeto, em diálogo com-
petitivo ou em procedimento de manifestação de
HORA DE PRATICAR!
interesse:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e 1. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi-
multa. go Penal (CP) brasileiro acerca do concurso de pes-
§ 1º Consideram-se condição de contorno as infor- soas, marque a alternativa CORRETA:
mações e os levantamentos suficientes e necessá-
rios para a definição da solução de projeto e dos a) Na hipótese de crime praticado em concurso de pes-
respectivos preços pelo licitante, incluídos son- soas, se a participação de um dos agentes for de
dagens, topografia, estudos de demanda, condi- menor importância, este não responde pelo delito.
ções ambientais e demais elementos ambientais b) Se algum dos concorrentes quis participar de crime
impactantes, considerados requisitos mínimos ou menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste.
obrigatórios em normas técnicas que orientam a c) A instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em
elaboração de projetos. contrário, não são puníveis quando o delito ocorrer na
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de obter modalidade tentada.
benefício, direto ou indireto, próprio ou de outrem,
d) No concurso de pessoas, as circunstâncias e as condi-
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
ções de caráter pessoal não se comunicam, ainda que
artigo.
elementares do crime.
Aqui, temos um crime que não encontra corres-
2. (CRS – 2015) A violação de domicílio, prevista no
pondência na lei anterior. Perceba que, ainda que o
art. 150 do Código Penal, consiste em “entrar ou per-
nome do tipo traga o termo “omissão”, apenas um dos
manecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a
três núcleos presentes no caput será crime omissivo
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em
puro (omitir).
casa alheia ou em suas dependências”. No entanto, o
O tipo traz as condições. Vejamos:
Código Penal elenca, no parágrafo 3º do art. 150, hipó-
teses em que a conduta não constitui crime e, com
z Contorno em relevante dissonância com a realidade;
base exclusivamente nessas hipóteses, analise as
z Em frustração ao caráter competitivo da licitação;
assertivas abaixo:
z Em detrimento da seleção da proposta mais vanta-
josa para a Administração Pública.
I. Não constitui crime de violação de domicílio a entrada
ou permanência em casa alheia ou em suas depen-
Ainda, traz os contextos em que deverá ocorrer a
dências quando algum crime está sendo ali praticado.
conduta, para que se caracterize o crime:
II. Não constitui crime de violação de domicílio a entrada
ou permanência em casa alheia ou em suas depen-
z Contratação para a elaboração de projeto básico,
dências, durante o dia, com observância das formali-
projeto executivo ou anteprojeto;
dades legais, para efetuar prisão.
z Diálogo competitivo;
z Procedimento de manifestação de interesse.
Marque a alternativa correta:
As formas de contração colocadas acima são pre-
a) Apenas a assertiva I está correta.
vistas na Lei nº 14.133/21, por isso se trata de norma
b) Apenas a assertiva II está correta.
penal em branco. O § 2º traz a hipótese de majoração
c) As assertivas I e II estão corretas.
da pena. Como não há restrição, deve-se interpretar
d) As assertivas I e II estão incorretas.
que qualquer benefício será suficiente para o enqua-
dramento na hipótese.
3. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi-
Trata-se, portanto, de crime comum, pois, embora
go Penal (CP) brasileiro acerca dos crimes contra a
a Lei use o termo projetista, o verbo trazido constante
administração pública, é correto afirmar que:
do caput (entregar) poderá ser praticado por qualquer
pessoa. Ainda, é hipótese de delito formal, sendo pos-
sível a tentativa, exceto na modalidade “omitir”, por a) Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público
se tratar de crime omissivo próprio. de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a
Por fim, temos um regramento específico para a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
aplicação de multas nos casos dos crimes constantes comunicação com outros presos ou com o ambiente
DIREITO PENAL
dos artigos que estudamos até aqui. externo, trata-se do crime de condescendência crimi-
nosa, tipificado no art. 320 do Código Penal.
Art. 337-P A pena de multa cominada aos crimes
b) No crime de peculato (art. 312 do CP), na sua moda-
previstos neste Capítulo seguirá a metodologia de lidade culposa, a reparação do dano, se precede à
cálculo prevista neste Código e não poderá ser infe- sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
rior a 2% (dois por cento) do valor do contrato lici- posterior, reduz de metade a pena imposta.
tado ou celebrado com contratação direta.” c) Configura-se o crime de concussão (art. 316 do CP),
quando o funcionário público solicita ou recebe, para
si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
195
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão do CP), é uma circunstância irrelevante para fins de
dela, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal aplicação da pena.
vantagem. d) Aquele que se apropria de coisa alheia móvel, de que
d) No crime de facilitação de contrabando ou descami- tem a posse ou a detenção, pratica o crime de furto
nho (art. 318 do CP), a pena é aumentada de um ter- (art. 155 do CP).
ço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato 7. (CRS – 2015) Com base no Código Penal, são crimes
de ofício ou o pratica infringindo o dever funcional. contra o patrimônio EXCETO:
6. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi- I. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime
go Penal (CP) brasileiro, é correto afirmar que: fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em
regime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de
a) Para efeito de configuração do crime de furto (art. 155 transferência a regime fechado.
do CP), a energia elétrica é equiparada à coisa móvel. II. O trabalho externo é inadmissível no regime fechado.
b) O crime de roubo (art. 157 do CP) consiste na conduta de III. O condenado por crime contra a administração públi-
subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, sem ca terá a progressão de regime do cumprimento da
o emprego de violência ou de grave ameaça à pessoa. pena condicionada à reparação do dano que causou,
c) O emprego de arma de fogo para o exercício da violên- ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os
196 cia ou da grave ameaça, no crime de roubo (art. 157 acréscimos legais.
Estão corretas as assertivas: 16. (CRS – 2017) De acordo com as disposições do Códi-
go Penal (CP) brasileiro acerca das excludentes de ili-
a) I e II, apenas. citude e de culpabilidade, é correto afirmar que:
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas. a) Entende-se em legítima defesa, quem pratica o fato
d) III apenas. para salvar de perigo atual, que não provocou por sua
vontade, nem podia de outro modo evitar, direito pró-
11.(CRS – 2015) A conduta de “Abandonar pessoa que prio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autorida- era razoável exigir-se.
de, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos b) O Código Penal brasileiro restringe a alegação do esta-
riscos resultantes do abandono” configura o crime de: do de necessidade apenas a quem tinha o dever legal
de enfrentar o perigo.
c) Aquele que, usando moderadamente dos meios
a) Omissão de socorro.
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminen-
b) Maus-tratos.
te, a direito seu ou de outrem, pode alegar como exclu-
c) Abandono de incapaz.
dente de ilicitude o exercício regular de direito.
d) Lesão corporal.
d) Não há crime quando o agente pratica o fato em esta-
do de necessidade, em legítima defesa, em estrito
12. (CRS – 2018) Marque a alternativa INCORRETA em cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
relação às excludentes de ilicitude previstas no Códi- direito.
go Penal.
17. (CRS – 2015) Marque a alternativa que completa cor-
a) Imputabilidade penal. retamente a lacuna no texto abaixo:
b) Estado de necessidade. “Considera-se em quem pratica o fato para salvar de
c) Legítima defesa. perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem
d) Estrito cumprimento de dever legal. podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,
cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
13. (CRS – 2018) “Apropriar-se o funcionário público de exigir-se.”
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, a) Estado de necessidade.
ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”. b) Legítima defesa.
A descrição acima se refere a qual crime tipificado no c) Inexigibilidade de conduta diversa.
Código Penal Brasileiro? Marque a alternativa correta. d) Estrito cumprimento de dever legal.
tária ou culposa, não possuía, ao tempo da ação ou lei penal no tempo e no espaço, marque a alternativa
da omissão, a plena capacidade de entender o caráter correta:
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. a) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agen-
d) A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o te, aplica-se aos fatos anteriores desde que não tenha
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou havido o trânsito em julgado da sentença condenatória.
por desenvolvimento mental incompleto ou retardado b) Para efeito de aplicação da lei penal, considera-se pra-
não era inteiramente capaz de entender o caráter ilí- ticado o crime no momento em que houve a produção
cito do fato ou de determinar-se de acordo com esse do resultado.
entendimento. 197
c) Os crimes cometidos no estrangeiro não estão sujei-
19 D
tos à aplicação da lei penal brasileira.
d) Aplica-se a lei penal brasileira aos crimes praticados 20 A
a bordo de aeronaves ou de embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ao
território nacional ou em alto-mar.
ANOTAÇÕES
20. (CRS – 2018) Analise as assertivas abaixo acerca do
crime de homicídio previsto no Código Penal.
9 GABARITO
1 B
2 C
3 B
4 D
5 B
6 A
7 B
8 A
9 A
10 C
11 C
12 A
13 B
14 C
15 D
16 D
17 A
18 B
198
Fundamentos
A dignidade da pessoa humana é um valor que Assim, cada poder tem suas funções e organização
influencia o conteúdo de todos os direitos fundamen- definidas, vejamos:
tais do homem consagrados no texto constitucional, é
uma proteção não somente do indivíduo em face do z Poder executivo exerce as funções de governo e
Estado, mas também perante a toda sociedade. Nesse administração. Como exemplo de administração,
sentido, considera Alexandre de Moraes (2011), a dig- podemos mencionar o art. 84, I da CF, que define
nidade da pessoa humana é valor espiritual e moral, como competência do Presidente da República
que se manifesta na autodeterminação da própria nomear e exonerar Ministros;
vida e traz consigo a busca pelo respeito por parte das z Poder legislativo é exercido pelo Congresso
demais pessoas1. Nacional, sua função é legislar, ou seja, tem a
Nesse tópico de estudo é importante mencionar a função de elaborar as normas jurídicas gerais e
súmula vinculante nº 11 editada pelo STF sobre o uso abstratas. Por exemplo, é de competência do Con-
de algemas, vejamos: gresso Nacional a votação para aprovação de lei
complementar (art. 69 da CF);
Súmula Vinculante 11 z Poder judiciário cabe o exercício da jurisdição,
por exemplo, a aplicação do Direito em um caso
Só é lícito o uso de algemas em casos de resis-
concreto através de um processo judicial.
tência e de fundado receio de fuga ou de perigo à
integridade física própria ou alheia, por parte do
preso ou de terceiros, justificada a excepcionalida- A Teoria da tripartição de poderes foi idealizada
de por escrito, sob pena de responsabilidade disci- por Montesquieu e determina a composição e divisão
plinar, civil e penal do agente ou da autoridade e do Estado, a teoria objetiva que cada poder deve ser
de nulidade da prisão ou do ato processual a que independente e harmônico entre si, como forma de
se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do dividir as funções do Estado, entre poder executivo,
Estado. poder legislativo e poder judiciário, entendimento esse
também chamado de teoria dos freios e contrapesos.
Note que, a dignidade da pessoa humana é o direi-
to de titularidade universal, isto é, todos têm acesso Objetivos da República Federativa do Brasil
a esse direito pelo simples fato de ser pessoa, assim,
a nacionalidade e/ou capacidade não são fatores que O artigo 3° da Constituição Federal apresenta os
possibilitam maior proteção, mas sim o fato de ser objetivos fundamentais do Estado brasileiro, ou seja,
cidadão, seja ele nacional ou estrangeiro. dita os compromissos que o Estado tem em relação
aos cidadãos, em especial na garantia plena de igual-
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa dade entre todos os brasileiros.
José Afonso da Silva observa que (2017), é a primei-
Dispositivo que objetiva a proteção ao trabalho, ra vez que uma Constituição relaciona especificamen-
pois é através deste que o homem garante sua subsis- te os objetivos do Estado brasileiro, que valem como
tência e o crescimento do Brasil, aqui não se menciona base para as prestações positivas que venham a con-
somente o “trabalhador CLT2”, mas também os autôno- cretizar a democracia econômica, social e cultural3.
mos, empresários, empreendedores e empregadores.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
O pluralismo político República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
O legislador originário se preocupou em afirmar a II - garantir o desenvolvimento nacional;
ampla participação popular nos destinos políticos do III - erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
Brasil, com a inclusão da sociedade na participação dos zir as desigualdades sociais e regionais;
processos de formação da vontade geral da nação, garan- IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
tindo a liberdade e a participação dos partidos políticos. origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
Ainda, podemos conceituar o pluralismo como a formas de discriminação.
garantia de que todo aquele de vive em sociedade terá
direito a sua própria convicção política e partidária. O rol dos objetivos fundamentais relacionados no
art. 3º da CF é um rol meramente exemplificativo, pois
Separação dos Poderes se refere a metas, ou seja, objetivos que o Estado bus-
ca alcançar.
O art. 2º da Constituição, ao definir a indepen- A seguir, vamos analisar cada um dos incisos deste
dência e a harmonia entre si dos poderes, consagra o artigo tão importante da Constituição Federal.
1 MORAES, op. cit, p. 24.
2 Trabalhador CLT – Termo vulgar utilizado para definir trabalhador/funcionário regido pela CLT (carteira assinada).
200 3 SILVA, op. cit, p. 107.
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
Preceito estabelecido visando o bem estar e qua- III - autodeterminação dos povos;
lidade de vida, o objetivo é construir uma sociedade IV - não-intervenção;
livre, sem uma intervenção estatal exagerada, justa, V - igualdade entre os Estados;
aplicando as normas do ordenamento jurídico e soli- VI - defesa da paz;
dária, que se preocupa com o próximo. VII - solução pacífica dos conflitos;
O objetivo em tela consagra as três gerações de VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
direitos fundamentais, como direito de primeira gera- IX - cooperação entre os povos para o progresso da
ção, menciona a liberdade, direito de segunda geração
humanidade;
está relacionado ao direito de justiça social, e por fim
X - concessão de asilo político.
os direitos de terceira geração estão relacionados à
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
ideia de fraternidade e solidariedade.
buscará a integração econômica, política, social e
Cuidado: esse objetivo também pode ser chamado
de princípio da solidariedade. cultural dos povos da América Latina, visando à
formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
II - garantir o desenvolvimento nacional
Neste caso, aplica-se pelo aperfeiçoamento do ser Os princípios enumerados no mencionado dispo-
humano, ou seja, que o desenvolvimento seja esten- sitivo reconhecem a soberania do Estado no plano
dido à política, à economia e à vida social. Bem como, internacional, ou seja, não deve haver subordina-
ao buscar o desenvolvimento econômico, deve ser res- ção entre os Estados. Sob esse mesmo entendimento
peitada às normas ambientais. temos o princípio da não-intervenção e o princípio da
Cuidado: na questão de prova as bancas exa- autodeterminação dos povos, assegurando que inter-
minadoras gostam de trocar a palavra nacional por namente o Estado não deve sofrer nenhum tipo de
regional. interferência sobre assuntos de interesse interno.
O repúdio ao terrorismo e a concessão de asilo
político têm relação com o princípio da prevalência
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir
dos direitos humanos relacionado no inciso II, este
as desigualdades sociais e regionais
último deve ser rigorosamente respeitado. Nesse sen-
tido, em caso de extrema violação da prevalência dos
Tem como objetivo a igualdade de condições para
direitos humanos, pode até levar a interferência de
todos os cidadãos, com a intenção de reduzir as desi-
gualdades, ou seja, deve trazer melhorias para áreas outros Estados naquele, com o apoio do Brasil.
como educação, saúde e emprego para todos, mas na Ainda a Constituição determina que o Brasil busca-
medida de suas desigualdades, entenda a seguir: rá integração econômica, política, social e cultural dos
O objetivo é reduzir a chamada desigualdade povos da América Latina, visando à formação de uma
material, que significa tratar iguais os iguais e os comunidade latino-americana de nações4.
desiguais com desigualdade na medida de suas desi-
gualdades, ou seja, é uma forma de proteção a certos
grupos sociais, pessoas que foram discriminadas ao
longo da história do Brasil. Isso ocorre por meio das EXERCÍCIOS COMENTADOS
chamadas ações afirmativas, que visam, por meio da
política pública, reduzir os prejuízos. 1. (CESPE-CEBRASPE – 2020) Assinale a opção que
Sobre esse tema e explicações referente igualdade apresenta um princípio que rege as relações interna-
formal e igualdade material será abordado na sequên- cionais do Brasil.
cia, no tópico de estudo do princípio da igualdade (art.
5º, caput da CF). a) prevalência dos direitos humanos
b) garantia do desenvolvimento nacional
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos c) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras d) pluralismo político
formas de discriminação. e) construção de sociedade livre, justa e solidária
Todo direito e todo dever tem de ser estendido a Conforme determina o inciso II do art. 4º da CF, a
qualquer indivíduo, independente de gênero ou cor, prevalência dos direitos humanos faz parte do rol
DIREITO CONSTITUCIONAL
visando aqui à igualdade plena. Conforme a letra da lei, dos princípios que regem as relações internacionais
nenhum tipo de preconceito deve ser tolerado no Brasil. do país. Resposta: Letra A.
fechadas
Aqui cabe mencionar também o art. 196 da CF, que
prevê o direito à saúde como sendo um dever do Esta-
do (no sentido de nação politicamente organizada, ou
Se o direito à liberdade de locomoção é um direito seja, é um dever do País/Governo Federal).
fundamental de ir e vir, pode-se proibir que a pessoas
se locomovam? Mas e a constituição? Art. 196 A saúde é direito de todos e dever do Esta-
No caso da Covid-19, em 18 de março de 2020, foi do, garantido mediante políticas sociais e econômi-
aprovado pelo Congresso Nacional o decreto que colo- cas que visem à redução do risco de doença e de
ca o país em estado de calamidade pública, tendo em outros agravos e ao acesso universal e igualitário
vista a situação excepcional de emergência de saúde. às ações e serviços para sua promoção, proteção e
Para você entender melhor, vamos estudar por etapas. recuperação.
Direito Adquirido, Coisa Julgada e Ato Jurídico Princípio da legalidade penal, com previsão no
Perfeito inciso XXXIX do art. 5º da CF, também chamado de
princípio da reserva legal, refere-se à aplicação do
Assim prevê o inciso XXXVI do art. 5º da CF: “a lei princípio da legalidade, de forma mais específica no
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico âmbito do direito penal.
perfeito e a coisa julgada”. Entenda: Nesse sentido, crime será a conduta delituosa pre-
vista exclusivamente em lei, da mesma forma que a
Direito adquirido é aquele direito que cumpriu cominação da pena, que não é admissível à configura-
todos os requisitos previstos em lei, como por exem- ção de crime baseado nos costumes.
plo, o homem que cumpriu todos os requisitos exi-
gidos para concessão da aposentadoria por idade,
DIREITO CONSTITUCIONAL
z Agente passivo: administrador da entidade que As garantias deste último grupo de direitos sociais
lesionou. estão divididas em: direito de associação sindical,
direito de greve e direito de representação.
Lei 4.717/1965 Direito de associação sindical tem relação com o
princípio da liberdade de associação. Direito de gre-
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas ve, citado no art. 9º, não é o mesmo direito de greve
públicas ou privadas e as entidades referidas no art. assegurado ao servidor público no art. 37 da CF, ou
1º, contra as autoridades, funcionários ou adminis-
seja, a greve mencionada no art. 9º é autoaplicável
tradores que houverem autorizado, aprovado, rati-
(norma de eficácia contida), não sendo necessária lei
ficado ou praticado o ato impugnado, ou que, por
omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e con-
para regulamentar o direito de greve. Já o direito de
tra os beneficiários diretos do mesmo. representação, está presente no art. 11 da CF.
DA NACIONALIDADE
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear
a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos Ligação que une um indivíduo a cada território.
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, Grande parte dos países determina o modo de aqui-
dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades sição e perda da nacionalidade em suas respectivas
de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de constituições.
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represen-
A nacionalidade é considerada pela CF/88 um
te os segurados ausentes, de empresas públicas, de servi-
direito fundamental, e tem previsão no título II da CF.
ços sociais autônomos, de instituições ou fundações para
cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido
O Brasil adota dois critérios para definir a aquisi-
ou concorra com mais de cinquenta por cento do patri- ção da nacionalidade brasileira:
mônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao
patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e z jus solis: atribui nacionalidade ao território onde
dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou o indivíduo nasce;
entidades subvencionadas pelos cofres públicos. z jus sanguinis: atribui a nacionalidade ao vínculo
210 sanguíneo.
Brasileiro Nato z Estrangeiros provenientes de países de língua
portuguesa devem ter um ano de residência no
Conforme prevê o art. 12, inciso I da CF, é conside- Brasil e idoneidade moral;
rado brasileiro nato: Ex.: Portugal, Angola, Cabo Verde e etc.
z Nacionalidade extraordinária: para os demais
z Nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, estrangeiros, deve-se ter 15 anos de residência
desde que estes não estejam a serviço de seu ininterrupta e ausência de condenação penal.
país.
O Supremo Tribunal Federal entende que a natu-
No que diz respeito à necessidade de ambos os ralização extraordinária é ato declaratório do Brasil.
genitores estrangeiros estarem a serviço do país, Estrangeiro que provar os requisitos necessários,
entende-se que deve haver a verificação do fato do ou seja, possuir 15 anos de residência ininterrupta e
deslocamento desse Estado (país) ao Brasil ter ocorri- ausência de condenação penal, tem o direito subjetivo
à naturalização. Negado este pedido, caberá Mandado
do em virtude de interesse do seu país. Ainda que um
de Segurança.
deles não exerça função governamental, por exemplo:
Importante mencionar também a leitura do Esta-
Pais argentinos, a serviço da Argentina – nesse caso tuto do Estrangeiro, a Lei nº 6.815/1980.
o filho nascido no Brasil não será brasileiro nato13.
Pais argentinos a serviço do Uruguai – nesse caso o Perda da Nacionalidade
filho nascido no Brasil será brasileiro nato, pois os pais
não estão a serviço de seu país (no exemplo, Argentina). Conforme art. 14 § 4º da CF/88, tanto o brasilei-
ro nato quanto o naturalizado poderá perder a sua
z Nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, nacionalidade.
desde que qualquer um deles esteja a serviço Existem dois instrumentos que podem ser usados
do Brasil; para decretar a perda da nacionalidade brasileira:
A Constituição Federal em seu art. 12 § 3º determi- Atualmente compete ao Ministro da Justiça decla-
na quais os cargos que são PRIVATIVOS para brasilei- rar a perda e a requisição da nacionalidade.
ro nato, vejamos: Ainda, o art. 5º, inciso LI da CF, dispõe que nenhum
brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
z �Presidente e Vice-Presidente da República; em caso de crime comum, praticado antes da natura-
z �Presidente da Câmara dos Deputados; lização, ou se comprovado envolvimento em tráfico
z �Presidente do Senado Federal; ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Importante frisar que o brasileiro nato não pode
z �Ministro do STF;
DIREITO CONSTITUCIONAL
Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu- Conforme art. 14, § 3º da CF, são condições de elegi-
ralizado, em caso de crime comum, praticado antes bilidade, na forma da lei:
da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, Nacionalidade brasileira;
na forma da lei. Bem como, não será concedida Não ter direitos políticos cassados;
extradição de estrangeiro por crime político ou de Alistamento eleitoral;
ELEGIBILIDADE
opinião (art. 5º, incisos LI e LII da CF). Domicilio eleitoral na circunscrição
correspondente;
Filiação partidária.
Ainda, o art. 102, I, g da CF dispõe que o Supremo
Tribunal Federal será o responsável por processar e
julgar a extradição solicitada pelo Estado estrangeiro. A constituição também define a idade mínima que
cada candidato, correspondente a seu cargo, deve ter:
Expulsão
z Presidente + Vice Senador: 35 anos;
z Governador + Vice dos Estados e DF: 30 anos;
Modo de tirar o estrangeiro do Brasil de modo
z Deputado Federal, Estadual e Distrital, Prefeito +
coativo, por infração ou ato que o torne inconve-
Vice e Juiz de Paz e 21 anos;
niente à defesa e à conservação da ordem interna do
z Vereador: 18 anos.
Estado.
Neste caso, a União é responsável para legislar
Perda ou Suspensão dos Direitos Políticos
sobre expulsão, conforme art. 22, inciso XV da CF.
Não ocorrerá a expulsão em duas hipóteses: dife-
A perda ou suspensão dos direitos políticos estão
rente da extradição, a expulsão não será admitida
apresentadas no art. 15 da Constituição.
quando o indivíduo tiver cônjuge brasileiro (desde
Como o nome já diz, a suspensão é o cancelamento
que não esteja divorciado ou separado de fato) e o
por um tempo determinado, já a perda, o cancelamen-
casamento tiver sido celebrado há mais de cinco anos,
to por prazo indeterminado. Vejamos em quais situa-
ou que tenha filho brasileiro, desde que este esteja sob
ções podem ocorrer perda ou suspensão, analisando o
sua guarda e dependência econômica. art. 15 da CF/88.
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
A banca examinadora ao formular uma questão também pode se referir aos entes da Administração Direta
pelos seguintes nomes:
z �Entes Federados;
z �Entes Políticos;
z �Pessoas Políticas;
z �Administração Centralizada.
Já as entidades da Administração Pública indireta são entidades criadas pela administração pública direta
(por meio de lei, tendo uma finalidade específica), que tem autonomia administrativa (para se organizar), técnica
(atribuições especificadas em lei) e financeira, ou seja, a Administração Pública indireta é quando o serviço públi-
co é prestado pelo estado de forma descentralizada.
Fazem parte da Administração Pública indireta as Autarquias, Fundações Públicas, Sociedade de Economia
Mista e Empresas Públicas:
z A utarquias Federais são responsáveis pela fiscalização e regulamentação de atividades ligadas à telecomuni-
cação, energia elétrica e petróleo. Ex.: ANATEL, ANEEL, ANP;
z Fundações são entidades que executam atividades sociais (pesquisa/saúde/ensino) sem fins lucrativos. Ex.:
FUNASA, FUNAI etc.;
z Empresas Públicas são entidades em que 100% do capital é público, podendo ser tanto uma sociedade anôni-
ma como uma sociedade limitada. Ex.: Correios e Caixa Econômica Federal;
z Sociedade de Economia Mista deve ser criada necessariamente sobre a forma de uma sociedade anônima
(S.A). Seu capital é formado por dinheiro público e privado. Ex.: Banco do Brasil e Petrobras.
A administração direta exerce o chamado controle finalístico ou supervisão ministerial sobre a administração
indireta.
Ainda, a banca examinadora ao formular uma questão também pode se referir aos entes da Administração
Indireta com os seguintes nomes:
z Entidade Administrativa;
z Administração Pública Descentralizada;
z A Empresa Pública e Sociedade de Economia Mista na prova também podem ser chamadas de: Empresas
Estatais.
Entidade administrativa.
Entes políticos
FORMAÇÃO Autarquias-fundações públicas-sociedade de
União - Estados - DF - Municípios
economia mista – empresas públicas.
Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...].
Ingresso: Ingresso:
EXERCÍCIOS COMENTADOS
z Voluntário: median- z Compulsório
te aprovação em – recrutamento; 1. (CESPE-CEBRASPE – 2019) De acordo com os prin-
concurso público; z Voluntário – curso de cípios e valores que regem a administração pública, o
formação; servidor público.
Conforme art. 42 da CF, com base na hierarquia e a) deverá zelar pelo princípio da supremacia do interesse
disciplina, os militares dos Estados, Distrito Federal e público, que veda, ao servidor, o questionamento da
Territórios são compostos por membros das Polícias validade do ato a ser praticado.
Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Ainda, o b) deverá impor a penalidade cabível àquele que deixar
mencionado dispositivo no § 1º dispõe que os milita- de observar a legislação aplicável a um caso concreto,
res são alistáveis e elegíveis, devendo ser observadas sendo irrelevante a comprovada boa-fé demonstrada
as regras do art. 14, § 8º da CF: pelo particular.
c) deverá zelar pelos princípios que regem a adminis-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as tração pública e deles não poderá se afastar, sob
seguintes condições: pena de eventual responsabilização criminal, civil e
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
administrativa.
afastar-se da atividade;
d) poderá afastar o comando da lei diante de uma
II - se contar mais de dez anos de serviço, será
injustiça.
agregado pela autoridade superior e, se eleito, pas-
sará automaticamente, no ato da diplomação, para e) poderá deixar de entregar documentos sigilosos soli-
a inatividade. citados pelas autoridades competentes que possam
comprometer a administração pública e o interesse
Conforme nova redação atribuída pela Emenda público.
Constitucional nº 109/2019, para fins de aposentado-
ria será assegurada a contagem recíproca do tempo O agente público deve observar os princípios admi-
de contribuição entre o Regime Geral de Previdência nistrativos explícitos do art. 37 da CF e também os
Social e os regimes próprios de previdência social, e princípios implícitos da Administração Pública, sen-
destes entre si, observada a compensação financeira, do que a não observância do mesmo resultará em
de acordo com os critérios estabelecidos em lei. Bem responsabilização criminal, civil e administrativa.
como, o tempo de serviço correspondente será conta- Resposta: Letra C.
do para fins de disponibilidade (art. 40 § 9º da CF).
Ainda, terão contagem recíproca para fins de ina- 2. (FCC – 2020) De acordo com o artigo 37 da Constitui-
DIREITO CONSTITUCIONAL
De acordo com a Constituição Federal, compete ao Conforme dispõe o art. 93 da CF, o ingresso na
CNJ zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo carreira da magistratura é feito através de concurso
cumprimento do Estatuto da Magistratura, definir os público de provas e títulos, inicialmente no cargo de
planos, metas e programas de avaliação institucional juiz substituto, a qual exige do Bacharel em Direito no
do Poder Judiciário, receber reclamações, petições mínimo três anos de atividade jurídica.
eletrônicas e representações contra membros ou
órgãos do Judiciário, julgar processos disciplinares
e melhorar práticas e celeridade, publicando semes-
Importante!
tralmente relatórios estatísticos referentes à atividade
jurisdicional em todo o país17, composto por membros CNJ não tem competência jurisdicional.
do Ministério Público, Advogados e representantes da
sociedade civil. O Poder judiciário é dividido em duas
esferas: Justiça Federal e a Justiça Estadual.
218 17 Disponível em <http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj>. Acesso em 20 de set. de 2020.
Quinto constitucional Cabe ressaltar que os magistrados também tem
foro especial por prerrogativa de função, sendo julga-
Conforme art. 94 da CF, um quinto dos lugares dos dos originalmente por tribunais indicados na Consti-
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Esta- tuição Federal. Vejamos:
dos, e do Distrito Federal e Territórios são compostos
de membros do Ministério Público e Advogados. Com-
posto por membros: ÓRGÃO
AUTORIDADE INFRAÇÃO
JULGADOR
Juízes Estaduais Comum/ TJ
TJ
Ministério Público: e do DF responsabilidade Art. 96, III.
1/5 com + 10 anos de carreira
TRF
Juízes Fede-
rais, bem como TRF
Comum/
JUSTIÇA ESPECIALIZADA ADVOGADOS: Juízes da Jus- Art. 108, inciso
responsabilidade
notório saber jurídico e reputação tiça Militar e do I, “a”.
ilibada + 10 anos de efetiva atividade Trabalho.
jurídica
Membros: STJ
Como é feita a indicação destes profissionais: Comum/
TJ, TRF, TER e Art. 105, inciso
responsabilidade
Através de indicações dos nomes feitas através de TRT I, “a”.
uma lista (lista sêxtupla) pelos órgãos de represen-
tação das respectivas classes. Enviada esta lista para Membros
o Tribunal, este escolherá três nomes (lista tríplice) dos Tribunais STF
Comum/
de sua preferência, e enviará ao Poder Executivo. Superiores: Art. 102, inciso
responsabilidade
Entenda: STJ, TST, TSE e I, “c”.
STM.
Chefe do Poder ÓRGÃO
Lista Tríplice AUTORIDADE INFRAÇÃO
Lista Sêxtupla Executivo decide JULGADOR
qual dos três
Tribunal Escolhe três STF
OAB indica nomes será
nomes e exclui os
seis nomes
demais
escolhido no prazo Ministros STF Comum Art. 102, Inciso
de 20 dias. I, “b”.
Senado Federal
Ministros STF Responsabilidade
A Emenda Constitucional 45/2004 inseriu o quinto Art. 52, II.
constitucional na Justiça do Trabalho, nos Tribunais
Regionais do trabalho (art. 115, I da CF) e no Tribunal O foro especial por prerrogativa de função não se
Superior de Justiça (art. 111-A da CF). estende a magistrados aposentados18. Conforme Súmu-
la nº 451 do STF, a competência especial por prerroga-
Garantias constitucionais dos magistrados tiva de função não se estende ao crime cometido após
a cessação definitiva do exercício funcional.
A Constituição Federal em seu art. 95 assegura aos O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas
magistrados as garantias da vitaliciedade, inamovibi- aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e
lidade e irredutibilidade de subsídios. relacionados às funções desempenhadas.
Vitaliciedade: só pode ser demitido depois do Note que, após o final da instrução processual, com
trânsito em julgado da decisão judicial. a publicação do despacho de intimação para apresen-
tação de alegações finais, a competência para proces-
z No primeiro grau de jurisdição somente é adquiri- sar e julgar ações penais não será mais afetada em
da depois de dois anos de estágio probatório, que razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou
se inicia com o efetivo exercício da posse. deixar o cargo que ocupava por qualquer que seja o
z No segundo grau de jurisdição, este benefício se dá motivo.19
com o efetivo exercício (quando nome deste Magis-
trado já está no quinto constitucional). Supremo Tribunal Federal
DIREITO CONSTITUCIONAL
Inamovibilidade: proibição de remoção do ma- Órgão máximo do Poder Judiciário, também deno-
gistrado de um cargo para outro, salvo por motivo de minado como guardião da Constituição. Composto por
interesse público, mediante voto da maioria absoluta onze membros, nomeados pelo Presidente da Repúbli-
do respectivo tribunal, assegurada ampla defesa. ca, conforme o art. 101, parágrafo único, da CF, após
Irredutibilidade de subsídios: Assegura que o aprovação por maioria absoluta do Senado Federal.
magistrado não tenha diminuído o valor de seus sub- Composto por onze Ministros do Supremo Tribu-
sídios, salvo imposição constitucional. nal Federal, os quais devem ser brasileiros natos, com
Sendo que, tais garantias são asseguradas também idade entre 35 e 65 anos, cidadão em pleno gozo dos
aos membros do Ministério Público e Conselheiros e direitos e possuir notável saber jurídico e reputação
Ministros dos Tribunais de Contas. ilibada.
18 RE 549.560, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22.3.2012, DJe 30.5.2014.
19 AP 937 QO, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03.05.2018, DJe 11.12.2018. 219
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus
de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com julgados;
mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco l) a reclamação para a preservação de sua compe-
anos de idade, de notável saber jurídico e reputação tência e garantia da autoridade de suas decisões;
ilibada. m) a execução de sentença nas causas de sua
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribu- competência originária, facultada a delegação de
nal Federal serão nomeados pelo Presidente da atribuições para a prática de atos processuais;
República, depois de aprovada a escolha pela maio- n) a ação em que todos os membros da magistra-
ria absoluta do Senado Federal. tura sejam direta ou indiretamente interessados,
e aquela em que mais da metade dos membros do
Dica para memorizar: lembre-se que 11 ministros tribunal de origem estejam impedidos ou sejam
é o mesmo nº de jogadores de um time de futebol. direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior
Competência do Supremo Tribunal Federal: Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre
Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer
outro tribunal;
A competência está prevista nos arts. 102 e 103
p) o pedido de medida cautelar das ações dire-
da Constituição, sendo dividida em competência ori- tas de inconstitucionalidade;
ginária e competência recursal, sendo que, na com- q) o mandado de injunção, quando a elabora-
petência originária, o STF processa e julga em única ção da norma regulamentadora for atribuição
instância, e na competência recursal, o STF aprecia do Presidente da República, do Congresso Nacional,
a matéria a ele chegada por meio de recurso ordinário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
ou extraordinário. Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribu-
A seguir será exposto o art. 102 da CF. nal de Contas da União, de um dos Tribunais Supe-
Observe que os incisos destacados são os mais riores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
cobrados em provas, bem como, observe os demais r) as ações contra o Conselho Nacional de Jus-
grifos com aspectos importantes para memoriza- tiça e contra o Conselho Nacional do Ministé-
ção. É de suma importância a leitura deste artigo para rio Público;
auxiliar na memorização. II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus , o mandado de segurança,
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Fede- o habeas data e o mandado de injunção decidi-
ral, precipuamente, a guarda da Constituição, dos em única instância pelos Tribunais Superiores,
cabendo-lhe: se denegatória a decisão;
I - processar e julgar, originariamente: b) o crime político;
a) a ação direta de inconstitucionalidade de III - julgar, mediante recurso extraordinário,
lei ou ato normativo federal ou estadual e a as causas decididas em única ou última ins-
ação declaratória de constitucionalidade de tância, quando a decisão recorrida:
lei ou ato normativo federal; a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou
República, o Vice-Presidente, os membros do Con- lei federal;
gresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procu- c) julgar válida lei ou ato de governo local contesta-
rador-Geral da República; do em face desta Constituição.
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de d) julgar válida lei local contestada em face de
responsabilidade, os Ministros de Estado e os lei federal.
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero- § 1º A arguição de descumprimento de preceito
náutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os mem- fundamental, decorrente desta Constituição, será
bros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na for-
Contas da União e os chefes de missão diplomática ma da lei
de caráter permanente; § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas
d) o habeas corpus , sendo paciente qualquer das pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas
pessoas referidas nas alíneas anteriores; o man- de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias
dado de segurança e o habeas data contra atos de constitucionalidade produzirão eficácia contra
do Presidente da República, das Mesas da Câmara todos e efeito vinculante, relativamente aos demais
dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de órgãos do Poder Judiciário e à administração públi-
Contas da União, do Procurador-Geral da Repúbli- ca direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
ca e do próprio Supremo Tribunal Federal; municipal.
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou orga-
deverá demonstrar a repercussão geral das ques-
nismo internacional e a União, o Estado, o Dis-
tões constitucionais discutidas no caso, nos termos
trito Federal ou o Território;
da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão
f) as causas e os conflitos entre a União e os
do recurso, somente podendo recusá-lo pela mani-
Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre
festação de dois terços de seus membros. (grifos
uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
nosso)
administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus , quando o coator for Tribu- Súmula Vinculante
nal Superior ou quando o coator ou o paciente for
autoridade ou funcionário cujos atos estejam A súmula vinculante é um instrumento que rela-
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tri- ciona as principais e reiteradas decisões do Supremo
bunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma Tribunal Federal em matéria constitucional, tem pre-
220 jurisdição em uma única instância; visão no art. 103-A da CF (incluído pela EC 45/2004) e
na Lei 11.417/2006. Vejamos o que dispõe a Constitui- VII – partido político com representação no Con-
ção sobre o tema: gresso Nacional;
VIII – confederação sindical ou entidade de classe
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de âmbito nacional;
de ofício ou por provocação, mediante decisão de IX – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câma-
dois terços dos seus membros, após reiteradas ra Legislativa do Distrito Federal;
decisões sobre matéria constitucional, aprovar X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
súmula que, a partir de sua publicação na impren- XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça
sa oficial, terá efeito vinculante em relação aos de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os
demais órgãos do Poder Judiciário e à admi- Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regio-
nistração pública direta e indireta, nas esferas nais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais
federal, estadual e municipal, bem como proceder e os Tribunais Militares.
à sua revisão ou cancelamento, na forma estabele- § 1º O Município poderá propor, incidentalmente ao
cida em lei. curso de processo em que seja parte, a edição, a revi-
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a inter- são ou o cancelamento de enunciado de súmula vin-
pretação e a eficácia de normas determinadas, acer- culante, o que não autoriza a suspensão do processo.
ca das quais haja controvérsia atual entre órgãos
judiciários ou entre esses e a administração pública Existem órgãos que podem descumprir a Súmula
que acarrete grave insegurança jurídica e relevante Vinculante sem sofrer penalidades. São os seguintes:
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em
z STF de oficio para rever ou cancelar;
lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmu-
z Processo legislativo – na sua função típica, ou seja,
la poderá ser provocada por aqueles que podem
propor a ação direta de inconstitucionalidade ao legislar.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamen- Cuidado: Na sua função atípica, que seria admi-
te a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribu- nistrar e julgar, deve respeitar a súmula vinculante:
nal Federal que, julgando-a procedente, anulará o
ato administrativo ou cassará a decisão judicial z Presidente da República pode editar Medida Pro-
reclamada, e determinará que outra seja proferi- visória contrária à súmula vinculante (pois, neste
da com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso, ele estaria legislando).
caso. (grifos nosso)
Superior Tribunal de Justiça
Note que a revisão, edição e cancelamento depen-
de da decisão de (dois terços) dos membros do Supre- O STJ é composto por no mínimo 33 Ministros,
mo Tribunal Federal, em sessão plenária. Art. 2º § 3º nomeados pelo Presidente da República, sendo estes
da Lei 11.417/2006. brasileiros com mais de 35 anos e menos de 65 anos, de
O art. 103-A é uma norma constitucional de eficá- notável saber jurídico e reputação ilibada, depois da
cia limitada (normas cuja aplicabilidade é mediata, aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.
indireta e reduzida).
A Súmula terá efeito vinculante em relação aos Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça com-
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração põe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal
e municipal, bem como proceder à sua revisão ou can- de Justiça serão nomeados pelo Presidente da
celamento, na forma estabelecida em lei. República, dentre brasileiros com mais de trinta
Caso haja descumprimento de Súmula Vinculante, e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de
o recurso cabível é Reclamação ao STF, conforme art. notável saber jurídico e reputação ilibada, depois
7º da lei 11.417/2006. de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
Senado Federal, sendo:
Art. 7º Da decisão judicial ou do ato administrativo I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regio-
que contrariar enunciado de súmula vinculan- nais Federais e um terço dentre desembarga-
te, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente dores dos Tribunais de Justiça, indicados em
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Fede- lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal;
ral, sem prejuízo dos recursos ou outros meios II - um terço, em partes iguais, dentre advoga-
admissíveis de impugnação. (grifo nosso) dos e membros do Ministério Público Federal,
DIREITO CONSTITUCIONAL
petente decidir sobre a perda do posto e da paten- A Constituição Federal no art. 84 trata da competên-
te dos oficiais e da graduação das praças (Redação cia do Presidente da República, sendo que no inci-
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). so XII dispõe que compete ao Presidente conceder
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar indulto e comutar penas, com audiência, se necessá-
processar e julgar, singularmente, os crimes milita- rio, dos órgãos instituídos em lei. Resposta: Letra B.
res cometidos contra civis e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Acerca da administração
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, proces-
pública e da organização dos poderes, julgue o item
sar e julgar os demais crimes militares. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). subsequente à luz da CF.
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descen- Cabe ao Congresso Nacional exercer, mediante con-
tralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a trole externo, a fiscalização contábil, financeira, orça-
fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à mentária, operacional e patrimonial da União.
justiça em todas as fases do processo. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004). ( ) CERTO ( ) ERRADO 223
Sim, a função será exercida pelo Congresso Nacio- Conforme dispõe o § 2º do art. 142 da CF, não cabe
nal mediante controle externo, conforme o art. 70 habeas corpus em caso de punição militar, sendo que
da CF/88. Resposta: Certo. este segue as próprias regras de hierarquia e disciplina.
Mas cuidado! A doutrina e jurisprudência enten-
de que se aplica o mencionado dispositivo quanto ao
mérito das punições militares, ou seja, quando for
o caso de ilegalidade dos pressupostos, como com-
DAS DEFESA DO ESTADO E DAS petência e cumprimento de regras estabelecidas no
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS regulamento militar é cabível a impetração de habeas
corpus para análise do poder judiciário.
DAS FORÇAS ARMADAS
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMI-
As forças armadas estão consagradas no título V da NAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há
Constituição Federal, conforme art. 142, as forças arma- que se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se
das são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáu- a concessão de habeas corpus, impetrado con-
tica, a qual são instituições nacionais permanentes e tra punição disciplinar militar, volta-se tão-so-
regulares, organizadas com base na hierarquia e dis- mente para os pressupostos de sua legalidade,
ciplina, sob autoridade do Presidente da República. As excluindo a apreciação de questões referentes
funções das forças armadas, além da defesa da pátria, ao mérito. Concessão de ordem que se pautou pela
também englobam a defesa do estado e das instituições apreciação dos aspectos fáticos da medida punitiva
democráticas (garantidoras da lei e da ordem). militar, invadindo seu mérito. A punição disciplinar
militar atendeu aos pressupostos de legalidade,
quais sejam, a hierarquia, o poder disciplinar, o ato
Dica ligado à função e a pena susceptível de ser aplica-
As forças armadas estão inseridas na estrutura da disciplinarmente, tornando, portanto, incabível
a apreciação do habeas corpus. Recurso conhecido
do Poder Executivo.
e provido. (STF. RE 338.840, rel. min. Ellen Gracie,
Segunda Turma, DJ de 12.09.2003)
Os membros das forças armadas são denomina-
dos como militares e tem função subsidiária, ou seja,
A Constituição também prevê o serviço militar
desempenham funções que originalmente são de
competência das forças da segurança pública (polícia obrigatório, conforme art. 143, entretanto o inciso
federal, civil e militar dos estados e DF). VIII do art. 5º desobriga o alistado do serviço militar
Ainda, conforme dispõe o art. 142 do texto constitu- por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou
cional, as forças armadas estão sob a autoridade supre- política, desde que cumpra prestação alternativa, que
ma do Presidente da República, e destinam-se à defesa é de competência das forças armadas atribuir.
da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Art. 143 O serviço militar é obrigatório nos termos
da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei,
FORÇAS ARMADAS atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de
PRESIDENTE DA REPÚBLICA É AUTORIDADE paz, após alistados, alegarem imperativo de cons-
SUPREMA ciência, entendendo-se como tal o decorrente de
crença religiosa e de convicção filosófica ou políti-
MARINHA EXÉRCITO AERONÁUTICA ca, para se eximirem de atividades de caráter essen-
cialmente militar.
Internamente são subordinadas aos seus respecti- § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
vos comandantes, integrados no Ministério da Defesa serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujei-
com obediência ao Presidente da República. Assim, as tos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.
patentes são conferidas pelo Presidente da República,
entretanto a perda desta só ocorrerá se for julgado Exemplo prático de uso das Forças Armadas:
indigno do oficialato ou com ele incompatível, por Em 20/10/2020 foi publicado no DOU decreto pre-
decisão de tribunal militar de caráter permanente, sidencial que autoriza o uso das Forças Armadas nas
em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo eleições municipais de 2020.
de guerra, conforme incisos I e VI do art. 142 da CF/88. O objeto é garantir a ordem pública durante a
Aos militares é proibida a sindicalização e greve. votação e segurança do processo eleitoral.
Ainda, no serviço ativo não pode estar filiado a parti- DECRETO Nº 10.522, DE 19 DE OUTUBRO DE 2020
do político. Autoriza o emprego das Forças Armadas para a
STF já se posicionou sobre o tema: garantia da ordem pública durante a votação e a apu-
ração das eleições de 2020.
z O exercício do direito de greve, sob qualquer for- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribui-
ma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e ções que lhe confere o art. 84, caput , incisos IV e XIII,
a todos os servidores públicos que atuem direta- da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 15
mente na área de segurança pública. da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, e no
z É obrigatória a participação do poder público em art. 23, caput , inciso XIV, da Lei nº 4.737, de 15 de julho
mediação instaurada pelos órgãos classistas das de 1965 - Código Eleitoral, DECRETA:
carreiras de segurança pública, nos termos do art.
165 do CPC, para vocalização dos interesses da cate- Art. 1º Fica autorizado o emprego das Forças Arma-
goria. (STF. ARE 654.432, rel. Min. Alexandre de das para a garantia da ordem pública durante a vota-
224 Moraes, j. 5-4-2017, P, DJE de 11.60.2018, Tema 541) ção e a apuração das eleições de 2020.
Art. 2º As localidades e o período de emprego das § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato
Forças Armadas serão definidos conforme os ter- eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
mos de requisição do Tribunal Superior Eleitoral. Estaduais e Municipais serão remunerados exclu-
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua sivamente por subsídio fixado em parcela úni-
publicação. ca, vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação
DA SEGURANÇA PÚBLICA ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
A segurança pública é dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, a qual objetiva a preserva- z Polícia Federal (art. 144, § 1º da CF) é órgão per-
ção da ordem pública e da incolumidade de pessoas e manente, organizado e mantido pela União. Exer-
do patrimônio, conforme consagra o art. 144 do texto ce a função de polícia judiciária da União, que está
constitucional. disposto nos incisos I ao IV, vejamos:
É exercido por meio de órgãos federais e esta-
duais como a polícia federal, polícia rodoviária fede- § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão
ral, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias permanente, organizado e mantido pela União e
militares, o corpo de bombeiros militares e as polícias estruturado em carreira, destina-se a:
penais federal, estadual e distrital, esta última acres- I - apurar infrações penais contra a ordem polí-
centada pela Emenda Constitucional nº 104/2019. tica e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárqui-
Conforme o § 8º do art. 144 da CF os municípios
cas e empresas públicas, assim como outras infra-
podem constituir guardas municipais destinados à pro-
ções cuja prática tenha repercussão interestadual
teção de seus bens, serviços e instalações (deve atuar ou internacional e exija repressão uniforme, segun-
somente na municipalidade). Cuidado! Esse órgão não do se dispuser em lei;
integra a estrutura de segurança pública para exercer II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entor-
a função de polícia ostensiva. pecentes e drogas afins, o contrabando e o desca-
Para o STF os órgãos que compõe a segurança minho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros
pública estão relacionados nos incisos I ao VI do art. órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
144 da CF, sendo esse rol taxativo, ou seja, não podem
os municípios ou estados criarem outros órgãos para Conforme considerações do STF, na busca e apreen-
integrarem à segurança pública. são de tráfico de drogas o cumprimento da ordem
judicial pela polícia militar não contamina o flagrante
Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, e a busca e apreensão realizadas.
direito e responsabilidade de todos, é exercida para
a preservação da ordem pública e da incolumidade III - exercer as funções de polícia marítima, aero-
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes portuária e de fronteiras;
órgãos: IV - exercer, com exclusividade, as funções de polí-
I - polícia federal; cia judiciária da União.
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal; z Polícia Rodoviária Federal (art. 144, § 2º da CF)
IV - polícias civis; é órgão permanente, organizado e mantido pela
V - polícias militares e corpos de bombeiros União, tem como função o patrulhamento ostensi-
militares. vo das rodovias federais.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. z Polícia Ferroviária Federal (art. 144, § 3º da CF)
é órgão permanente, organizado e mantido pela
Sobre o Departamento de Trânsito o STF já manifestou: União, tem como função o patrulhamento ostensi-
Os Estados-membros, assim como o Distrito Fede- vo das ferrovias federais.
ral, devem seguir o modelo federal. O art. 144 da Cons-
tituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da A Polícia Ferroviária Federal surgiu no Brasil em
segurança pública. Entre eles não está o Departamen- 1852 por Decreto Imperial, nessa época era denomi-
to de Trânsito. Resta, pois, vedada aos Estados-mem- nada como “Polícia dos Caminhos de Ferro” e tinha o
bros a possibilidade de estender o rol, que esta Corte objetivo de cuidar das riquezas que eram transporta-
já firmou ser numerus clausus, para alcançar o Depar- das pelos trilhos de ferro.
tamento de Trânsito. Entretanto, apesar de ter autorização na atual
[ADI 1.182, voto do rel. min. Eros Grau, j. 24-11- constituição, hoje essa polícia não existe de fato.
DIREITO CONSTITUCIONAL
2005, P, DJ de 10-3-2006.]
Vide ADI 2.827, rel. min. Gilmar Mendes, j. 16-9- z Polícias Civis (art. 144, § 4º da CF) são dirigidas
2010, P, DJE de 6-4-2011 por delegados de carreiras e subordinadas aos
Serviços da segurança pública são custeados Governadores dos estados ou DF têm função de
mediante impostos, sendo que não é permitida a cria- polícia judiciária (exercício da segurança pública)
ção de taxa para esta finalidade, ainda, a remunera- e apuração de infrações penais, salvo as militares.
ção dos servidores será exclusivamente por subsídio
fixado em parcela única, na forma do § 4º do art. 39 Art. 144 [...]
da CF/88. § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a compe-
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os tência da União, as funções de polícia judiciária e a
Municípios instituirão conselho de política de admi- apuração de infrações penais, exceto as militares.
nistração e remuneração de pessoal, integrado por
servidores designados pelos respectivos Poderes. Fique atento que o art. 144 § 4º não menciona a ati-
[...] vidade penitenciária como atividade da polícia civil. 225
A Constituição do Brasil – art. 144, § 4º – define Grau, j. 24-11-2005, P, DJ de 10-3-2006.) Fique aten-
incumbirem às polícias civis “as funções de polícia to! A Emenda Constitucional nº 104 de 2019 incluiu
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as no rol também às Polícias Penais Federal, estaduais
militares”. Não menciona a atividade penitenciária, e distrital. Resposta: Letra D.
que diz com a guarda dos estabelecimentos prisionais;
não atribui essa atividade específica à polícia civil.
(STF. ADI 3.916, rel. min. Eros Grau, DJE de 14-5-2010)
HORA DE PRATICAR!
z Polícias militares e Corpo de Bombeiros Militar
(art. 144, § 5º da CF): as polícias militares cabem 1. (CRS – 2017) Título I da Constituição Federal é nomi-
à polícia ostensiva sendo atribuído a preservação nado “Dos Princípios Fundamentais”. Com base no
da ordem pública e ao corpo de bombeiros milita- presente Título, marque a opção correta:
res objetivam a execução das atividades de defesa
civil, prevenção e combate a incêndios, buscas e a) A erradicação da pobreza e da marginalização e a
salvamentos públicos. redução das desigualdades sociais e regionais é um
dos princípios ao qual o Brasil rege em suas relações
Ainda, conforme consagra § 6º do art. 144 da CF internacionais.
ambos “subordinam-se, juntamente com as polícias civis b) Todo o poder emana do povo, que o exerce exclusiva-
e as polícias penais estaduais e distrital, aos Governado- mente por meio de representantes eleitos, nos termos
res dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios”. desta Constituição.
c) O pluralismo político é um dos fundamentos da Repú-
z Polícias Penais Federal, estaduais e distrital blica Federativa do Brasil.
(art. 144 § 5º-A) foi incluído pela Emenda Consti- d) O Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Ministério
tucional nº 104 de 2019, às polícias penais cabe à Público são Poderes da União, independentes e har-
segurança dos estabelecimentos penais, vincula- mônicos entre si.
das ao órgão administrador do sistema penal da
unidade federativa a que pertencem. 2. (CRS – 2017) A República Federativa do Brasil, forma-
da pela união indissolúvel dos Estados, Munícipios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá-
tico de Direito. Com relação aos princípios que regem
EXERCÍCIOS COMENTADOS as relações internacionais do Brasil, analise as alterna-
tivas abaixo:
1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) Conforme a CF, às polícias
civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, cabe I. Construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
II. Promoção do bem de todos, sem preconceitos de ori-
a) exercer as funções de polícia marítima, aérea e de gem, raça, sexo, cor e idade.
fronteiras.
III. Repúdio ao terrorismo e ao racismo.
b) patrulhar ostensivamente as ferrovias federais.
IV. Garantia do desenvolvimento nacional.
c) apurar as infrações penais contra a ordem política e social
V. Solução pacífica dos conflitos.
ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União.
d) exercer as funções de polícia judiciária e apurar as VI. Prevalência dos direitos humanos.
infrações penais, exceto as de natureza militar.
e) responder pelo policiamento ostensivo, pela preserva- Estão corretas as assertivas:
ção da ordem pública e pela defesa civil.
a) I, II e IV, apenas.
O item “d” está em consonância com o Art. 144. § 40º: “Às b) III, V e VI, apenas.
polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de car- c) II, IV e VI, apenas.
reira, incumbem, ressalvada a competência da União, as d) Todas estão corretas.
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações
penais, exceto as militares”. Resposta: Letra D. 3. (CRS – 2017) De acordo com os princípios fundamen-
tais previstos na Constituição da República Federativa
2. (CESPE-CEBRASPE – 2018) A CF, em seu art. 144, do Brasil de 1988, assinale a alternativa correta:
apresenta o rol dos órgãos encarregados da seguran-
ça pública. Esse rol é a) São Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Judiciário, o Ministério Público, a Advocacia-
a) taxativo para a União e inaplicável aos estados e ao -Geral da União e a Defensoria Pública.
Distrito Federal. b) A República Federativa do Brasil, formada pela união
b) taxativo para a União e exemplificativo para os esta- indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
dos e o Distrito Federal.
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direi-
c) exemplificativo para a União e taxativo para os esta-
to e tem como um de seus fundamentos a cidadania.
dos e para o Distrito Federal.
d) taxativo para a União, para os estados e para o Distrito c) Constitui um dos objetivos fundamentais da República
Federal. Federativa do Brasil a solução pacífica dos conflitos.
e) exemplificativo para a União, para os estados e para o d) Constitui um princípio da República Federativa do
Distrito Federal. Brasil que rege as suas relações internacionais pro-
mover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
Conforme entendimento do STF os órgãos que com- raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
põe a segurança pública estão relacionados nos discriminação.
incisos I ao VI do art. 144 da CF são rol taxativo,
226 numerus clausus (ADI 1.182, voto do rel. min. Eros
4. (CRS – 2017) Em relação à Constituição Federal de 8. (CRS – 2017) De acordo com os direitos e garantias
1988, NÃO se relaciona no rol dos objetivos funda- fundamentais previstos na Constituição da República
mentais da República Federativa do Brasil: Federativa do Brasil de 1988 é correto afirmar que:
desde que não frustrem outra reunião anteriormente ( ) Os tratados e convenções internacionais sobre direi-
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido tos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
prévio aviso à autoridade competente. Congresso Nacional, em dois turnos, por dois quintos
b) É assegurado a todos o acesso à informação de segu- dos votos dos respectivos membros, serão equivalen-
rança pública sempre com a indicação da respecti- tes às emendas constitucionais.
va fonte, visando manter a transparência das ações ( ) São direitos do preso, dentre outros, o de permane-
quando necessário ao exercício profissional. cer calado, assistência da família, à identificação dos
c) Não haverá juízo ou tribunal de exceção, ressalvados responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
os casos envolvendo parlamentares. policial.
d) No caso de iminente perigo público, a autoridade com-
petente poderá usar de propriedade particular, asse- a) F, F, F, V, F.
gurada ao proprietário indenização ulterior, se houver b) V, F, V, F, F.
dano. c) V, F, F, F, V.
d) F, F, V, F, V. 227
11. (CRS – 2017) Nas assertivas abaixo, marque “V” se 14. (CRS – 2017) “A”, Policial Militar da ativa, candidatou
for verdadeira ou “F” se for falsa, em relação ao con- ao cargo eletivo de vereador nas eleições municipais
tido na Constituição da República Federativa do Brasil de sua cidade. Para ser considerado alistável e ele-
de 1988 de acordo com os direitos e deveres indivi- gível deverá atender determinadas condições. Com
duais e coletivos. base na Constituição da República Federativa do Bra-
sil de 1988, marque a alternativa correta:
( ) Salvo no caso de flagrante delito, ninguém será sub-
metido a tratamento desumano ou degradante. a) se “A” contar mais de dez anos de serviço, será agrega-
( ) É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assis- do pela autoridade subordinada pelo prazo de 30 dias.
tência religiosa nas entidades civis e militares de inter- b) se “A” for eleito, passará automaticamente, no ato da
nação coletiva. diplomação, para a atividade remunerada.
( ) É inviolável o sigilo da correspondência e das comu- c) “A” não pode candidatar, pois durante o período do ser-
nicações telegráficas, de dados e das comunicações viço na Polícia Militar é considerado conscrito.
telefônicas, salvo, em último caso, por ordem judicial, d) se “A” contar menos de dez anos de serviço, deverá
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para afastar-se da atividade.
fins de investigação criminal ou instrução processual
penal. 15. (CRS – 2017) De acordo com a Constituição da Repú-
( ) No caso de iminente perigo público, a autoridade com- blica Federativa do Brasil de 1988, marque a alternati-
petente poderá usar de propriedade particular, asse- va incorreta:
gurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano. a) A sindicalização e a greve são proibidas ao militar.
b) O militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar
Marque a alternativa que contém a sequência correta filiado a partidos políticos.
de respostas: c) O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
d) Os membros das Forças Armadas são denominados
a) F, V, V, V. policiais militares.
b) V, F, V, V.
c) F, F, V, F. 16. (CRS – 2017) Sobre a Administração Pública, de acor-
d) F, V, V, F. do com o disposto na Constituição da República Fede-
rativa do Brasil/1988, marque a opção incorreta:
12. (CRS – 2017) Conforme a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, em relação aos direitos a) Para efeitos administrativos, a União poderá articular
e deveres individuais e coletivos, marque a alternativa sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e
incorreta: social, visando a seu desenvolvimento e à redução das
desigualdades regionais.
a) A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos b) A investidura em cargo ou emprego público depende
direitos e liberdades fundamentais. de aprovação prévia em concurso público de provas
b) Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem complexidade do cargo ou emprego, na forma pre-
constitucional e o Estado Democrático. vista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
c) A lei penal retroagirá para beneficiar ou aplicar penali- em comissão declarado em lei de livre nomeação e
dade mais gravosa ao réu. exoneração.
d) Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens c) Somente por lei específica poderá ser criada autar-
sem o devido processo legal. quia e autorizada a instituição de empresa pública, de
sociedade de economia mista e de fundação, cabendo
13. (CRS – 2013) De acordo com a Constituição da Repú- à lei complementar, neste último caso, definir as áreas
blica Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 5º de sua atuação.
e seus incisos que trata dos direitos e deveres indivi- d) Permite-se a vinculação ou equiparação de espécies
duais e coletivos, é correto afirmar que: remuneratórias para o efeito de remuneração de pes-
soal do serviço público.
a) A criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
perativas independem de autorização desde que seu 17. (CRS – 2017) Nos termos da Constituição da Repú-
estatuto de funcionamento esteja em concordân- blica Federativa do Brasil de 1988, marque a resposta
cia com parâmetros de funcionamento do governo incorreta:
estatal.
b) Todos têm direito a receber dos órgãos públicos infor- a) A investidura em cargo ou emprego público depende
mações do seu interesse particular, ou de interesse de aprovação prévia em concurso público de provas
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas a complexidade do cargo ou emprego, na forma pre-
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da socie- vista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
dade e do Estado. em comissão declarado em lei de livre nomeação e
c) A lei penal não retroagirá, salvo para punição do réu. exoneração.
d) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis b) Permite-se a vinculação ou equiparação de espécies
de graça ou anistia a prática da tortura, peculato, o trá- remuneratórias para o efeito de remuneração de pes-
fico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terroris- soal do serviço público.
mo e os definidos como crimes hediondos, por eles c) É garantido ao servidor público civil o direito à livre
respondendo os mandantes, os executores e os que, associação sindical.
228 podendo evitá-los, se omitirem.
d) A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo 9 GABARITO
determinado para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público.
1 C
18. (CRS – 2017) As Forças Armadas, constituídas pela
2 B
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são institui-
ções nacionais permanentes e regulares, organizadas 3 B
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autori-
dade suprema do Presidente da República. Conforme 4 D
CRFB/88 marque a alternativa correta.
5 B
a) As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do ser- 6 C
viço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos,
porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. 7 D
b) Ao militar são permitidas a sindicalização e a greve.
8 C
c) O serviço militar é voluntário nos termos da lei.
d) Os membros das Forças Armadas são denominados 9 A
policiais.
10 D
19. (CRS – 2017) Sobre os aspectos da segurança públi-
11 A
ca, de acordo com a CRFB/88 marque a opção correta.
12 C
a) Às polícias militares cabe, exclusivamente, a polícia
repressiva criminal; aos corpos de bombeiros milita- 13 B
res incumbe a execução de atividades de defesa civil. 14 D
b) Os Municípios poderão constituir guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e insta- 15 D
lações, conforme dispuser a lei.
c) As polícias militares e corpos de bombeiros militares, 16 D
forças complementares do Exército, subordinam-se,
17 B
juntamente com as polícias civis, aos Governadores
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 18 A
d) Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia
de carreira, incumbem, ressalvada a competência da 19 B
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
20 C
infrações penais, inclusive as militares.
229
ANOTAÇÕES
230
Defesa, órgão do Governo Federal que exerce a
direção superior das Forças Armadas, a qual é
constituída pelos Comandos da Marinha, do Exér-
cito e da Aeronáutica;
JUSTIÇA MILITAR DA JUSTIÇA MILITAR Aprecia-se a nova lei penal militar, nos casos con-
UNIÃO ESTADUAL cretos, para verificar se a lei posterior é realmente
DIREITO PENAL MILITAR
Art. 301 (CPM) Desobedecer a ordem legal de auto- Considera-se praticado o crime no momento da
ridade militar. ação ou da omissão, no todo ou em parte, ainda que
Art. 22 (CPM) É considerada militar, para efeito da sob forma de participação, bem como o lugar onde se
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em produziu ou deveria se produzir o resultado.
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às for- Neste sentido, é possível identificar que o CPM ado-
ças armadas, para nelas servir em posto, gradua- tou a teoria mista ou da ubiquidade para os crimes
ção, ou sujeição à disciplina militar. comissivos, ou seja, o lugar em que se desenvolveu o fato
pode ser tanto o lugar do início da execução como aquele
Um exemplo de norma penal em branco em senti- em que ocorreu o resultado ou deveria ter ocorrido.
do estrito ou heterogênea é o art. 290, do CPM. Ainda, a norma adotou a teoria da atividade para
os crimes omissivos, pois considera praticado o crime
Art. 290 Receber, preparar, produzir, vender, forne-
no lugar em que deveria realizar-se a conduta omitida.
cer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, trans-
portar, trazer consigo, ainda que para uso próprio,
guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a Tempo do crime
consumo substância entorpecente, ou que determine
dependência física ou psíquica, em lugar sujeito à Art. 5º Considera-se praticado o crime no momen-
administração militar, sem autorização ou em desa- to da ação ou omissão, ainda que outro seja o do
cordo com determinação legal ou regulamentar. resultado.
militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autori- que é o titular do interesse jurídico de punir que sur-
dade competente, ainda que de propriedade privada. ge com a prática da infração penal. É sempre o Esta-
Ampliação a Aeronaves ou Navios Estrangeiros
§ 2º É também aplicável a lei penal militar ao crime praticado
do. O sujeito passivo material (ou eventual) é o titular
a bordo de aeronaves ou navios estrangeiros, desde que em do bem jurídico diretamente lesado pela conduta do
lugar sujeito à administração militar, e o crime atente contra as agente (NUCCI, 2014).
instituições militares.
Conceito de navio z Sujeito Ativo;
§ 3º Para efeito da aplicação deste Código, considera-se navio z Sujeito Passivo;
toda embarcação sob comando militar.
Formal ou Constante: titular do interesse jurí-
Entendem-se, por território, o solo, o subsolo, as dico de punir;
águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo Material ou Eventual: titular do bem jurídico
onde o Estado exerce a sua soberania. diretamente lesado. 233
Para que a conduta seja tipificada como crime § 2º A omissão é relevante como causa quando o
militar, é necessária a realização de análise em razão: omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
O dever de agir incumbe a quem tenha por lei obri-
z Da matéria (ratione materiae): o bem jurídico que gação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem,
é protegido pela lei penal e que é lesado ou posto de outra forma, assumiu a responsabilidade de
em perigo pela ação delituosa; impedir o resultado; e a quem, com seu comporta-
mento anterior, criou o risco de sua superveniência.
z Do local (ratione loci): não importa a condição do
agente e do sujeito passivo, o fato é considerado
militar se for praticado em local sujeito à adminis- Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
tração militar; resultado não teria ocorrido. Para tratar da relação de
z Da pessoa (ratione personae): pressupõe militar o causalidade, estudaremos duas teorias: a teoria cau-
delito praticado por militar, sem outras condições; sal ou naturalista e a teoria finalista da ação.
z Do tempo (ratione temporis): se for praticado em Sobre a teoria causal ou naturalista, Mirabete
tempo de guerra; afirma que “[…] basta a certeza de que o agente atuou
z Da função (propter officium): o fato criminoso é voluntariamente, sendo irrelevante o que queria, para
considerado ilícito militar se o agente, ainda que se afirmar que praticou a ação típica”. Percebe-se,
fora do horário de serviço, praticá-lo em razão da então, que há um vínculo entre a conduta do agente
função. e o resultado ilícito.
Para essa teoria, o dolo e a culpa não integram o
crime (os conceitos de dolo e culpa serão melhor abor-
Diante das razões, é oportuno distinguir, por meio
dados no tópico sobre crime), prevalecendo a vontade
de simples definição, o que se entente por civil e o que
de fazer ou não do indivíduo, sendo irrelevante o que
se entende por militar:
o agente queria.
Já com relação à teoria finalista da ação, Heleno
z Civil é o cidadão. Ele representa todas as pessoas
Fragoso entende que é “… comportamento humano
que não fazem parte das forças armadas do seu
voluntário conscientemente dirigido a um fim. Crime
país, ou seja, que não são militares (Direito Inter-
nada mais é que atividade humana”. Deve-se observar,
nacional Humanitário);
aqui, a intenção e a finalidade objetiva do autor para
z Militar é relativo à guerra, às Forças Armadas, à
que possa lhe imputar a conduta.
sua organização e às suas atividades.
Para essa teoria, a ação ou a omissão combinada
com o dolo e com a culpa são os elementos para a com-
Os membros das Forças Armadas, em razão de
posição da conduta.
sua destinação constitucional, formam uma categoria
Diante do exposto, cabem-nos outras perguntas:
especial de servidores da Pátria e são denominados
qual a teoria adotada no Código Penal?
militares, como descreve o art. 3º, da Lei nº 6.880/1980
Antes da reforma do CP (Parte Geral, Lei nº
– Estatuto dos Militares.
7.209/1984), o dolo encontrava-se na culpabilidade
propriamente dita. Após a efetuação da mesma, o dolo
MILITAR DA ATIVA MILITAR INATIVO passou a ser um elemento constitutivo do tipo penal
De Serviço Reserva (Art. 18, I, do CP).
Qual a teoria adotada no CPM?
De Folga Reformado O CPM não foi alterado com a reforma de 1984.
Nele, o dolo e a culpa não integram o fato típico, mas,
sim, a culpabilidade, consoante o seu art. 33. Portan-
Deve-se ler com atenção o disposto no art. 12, CPM:
to, o CPM adota a teoria causalista neoclássica da
culpabilidade.
Equiparação a militar da ativa
Pode-se trabalhar com a doutrina finalista da ação,
sendo o CPM causalista?
Art. 12 O militar da reserva ou reformado, empre-
Conforme Enio Luiz Rossetto, a sistematização de
gado na administração militar, equipara-se ao
militar em situação de atividade, para o efeito da conceitos extraídos de um programa de política crimi-
aplicação da lei penal militar. nal permite aplicar a teoria finalista da ação no CPM,
que está formalizada em lei e a construção dogmática
Nexo de Causalidade é transcendente à letra da lei. A adoção da teoria psi-
cológico-normativa da culpabilidade, com o dolo e a
O art. 29, do CPM, diz que o resultado de que culpa no conceito de culpabilidade, não obsta à apli-
depende a existência do crime somente é imputável a cação de dogmas finalistas ao conceito causal da ação.
quem lhe deu causa. O CPM permite a aplicação de qual teoria sobre o
autor?
Relação de causalidade Enio Luiz Rossetto ensina que o CPM não adota
a teoria finalista, sem que isso signifique, definitiva-
Art. 29 O resultado de que depende a existência do mente, a adoção da teoria do domínio do fato. O Códi-
crime sòmente é imputável a quem lhe deu causa. go Castrense permite a punição de cada concorrente
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o segundo sua culpabilidade, agrava a pena daquele
resultado não teria ocorrido. que promove ou organiza a cooperação do crime ou
§ 1º A superveniência de causa relativamente inde- dirige a atividade dos demais agentes, do cabeça e
pendente exclui a imputação quando, por si só, pro- daquele que instiga ou determina a cometer o crime
duziu o resultado. Os fatos anteriores, imputam-se, alguém sujeito à sua autoridade, ou não punível em
234 entretanto, a quem os praticou. virtude de condição ou qualidade pessoal.
Neste sentido, o CPM adota a teoria subjetiva z Tentativa perfeita (crime falho): é quando a consu-
causal ou extensiva. Para essa teoria (vide texto do mação não ocorre, apesar de ter o agente praticado
art. 53, do CPM), a pena para o autor (ou coautor) e os atos necessários à produção do evento (ex.: vítima
partícipe pode ser a mesma. de envenenamento é salva por intervenção médica);
Como a doutrina aponta, há certos casos em que a z Tentativa imperfeita: ocorre quando o agente
participação é tão tênue que a aplicação da pena igual não consegue praticar todos os atos necessários
para autor e partícipe mostra-se extremamente injus- à consumação por interferência externa (ex.: o
ta. Sendo assim, o CPM, na mesma linha que o Código agente é segurado quando está desferindo golpes
Penal, possibilita a aplicação de pena diferente. de faca contra a vítima).
Observa-se que o art. 53, § 3º, do CPM, não define
participação de menos importância, ficando ao arbí-
Quando se estuda a tentativa, deve-se ter mui-
trio do juiz (conselho de justiça). Também não define
to cuidado para não a confundir com a desistência
o quantum para a redução da pena, devendo-se utili-
voluntária ou com o arrependimento eficaz. Vejamos:
zar o art. 73, do CPM, que fixa entre um terço (redução
máxima) e um quinto (redução mínima) – redução
Art. 31 O agente que, voluntariamente, desiste de
máxima e mínima genérica.
prosseguir na execução ou impede que o resultado
se produza, só responde pelos atos já praticados.
z Podem ter a mesma pena:
z Desistência voluntária: o agente, voluntariamen-
Autor;
Coautor; te, desiste de prosseguir na execução;
Partícipe. z Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente,
tendo praticado todos os atos necessários e sufi-
A respeito do crime militar, vejamos o que dispõe cientes para que advenha o resultado, pratica,
o art. 30. também, atos que o impedem.
Art. 30 Diz-se o crime: Vale frisar que o agente só responderá pelos atos
I - Consumado, quando nele se reúnem todos os ele- já praticados. Por exemplo, se o agente deseja matar
mentos de sua definição legal; a vítima, mas, após executar a conduta, impede que
II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se o resultado morte aconteça, responderá por lesão
consuma por circunstâncias alheias à vontade do corporal.
agente.
No Código Penal Militar, há previsão de crime
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena
impossível?
correspondente ao crime, diminuída de um a dois
terços, podendo o juiz, no caso de excepcional gra- Sim. O crime impossível está previsto no art. 32,
vidade, aplicar a pena do crime consumado. do CPM.
É importante saber o momento da consumação Art. 32 Quando, por ineficácia absoluta do meio
dos crimes: materiais, de mera conduta e formais. empregado ou por absoluta impropriedade do obje-
Nos crimes materiais, de ação e resultado, o to, é impossível consumar se o crime, nenhuma
momento consumativo é o da produção deste (ex.: pena é aplicável.
homicídio com a morte da vítima; o aborto com a mor-
te do feto). Nos crimes de mera conduta, em que o Observe que, para ser crime impossível, é necessário:
tipo não faz menção ao resultado, a consumação se dá
com a simples ação (ex.: violação de domicílio, simples z Ineficácia absoluta do meio: impossibilidade de
entrada). Já nos crimes formais, existe o resultado, o instrumento utilizado consumar o delito de qual-
mas a lei não o exige para a consumação (ex.: extorsão quer forma (ex.: usar um alfinete para matar uma
mediante sequestro – não é necessário o aferimento pessoa adulta; um sujeito que deseja matar a víti-
da vantagem para que o crime esteja consumado; o ma por meio de ato de magia ou bruxaria);
arrebatamento da vítima caracteriza o crime). z Absoluta impropriedade do objeto: a conduta do
agente não é capaz provocar qualquer resultado
z CRIMES MATERIAIS, DE AÇÃO E RESULTADO lesivo à vítima (ex.: matar um cadáver).
impossibilidade de o instru-
mento utilizado consumar o
z CRIMES DE MERA CONDUTA delito de qualquer forma
CRIME IMPOSSÍVEL Absoluta Impropriedade do
Simples ação;
Objeto: a conduta do agen-
Violação de domicílio.
te não é capaz de provocar
qualquer resultado lesivo à
z CRIMES FORMAIS
vítima
Não exige a consumação;
Extorsão mediante sequestro. Sobre o crime impossível, o CPM adota a Teoria
Objetiva Temperada: se houver ineficácia relativa
Sobre a tentativa, é importante lembrar que há a do meio e relativa impropriedade do objeto, haverá
tentativa perfeita e a tentativa imperfeita. tentativa. 235
Com relação à culpabilidade, vejamos o que dispõe O Código Penal Militar adota a previsibilidade
o art. 33, do CPM: subjetiva, ou seja, o homo medius. A previsibilidade
subjetiva diz que o agente que, deixando de empregar
Art. 33 Diz-se o crime: a diligência ordinária ou especial a que estava obri-
I – Doloso, quando o agente quis o resultado ou gado, segundo as aptidões, poder pessoal e circuns-
assumiu o risco de produzi-lo; tâncias, não prevê o resultado que podia prever e dá
II – Culposo, quando o agente, deixando de empre- causa ao resultado (homem médio).
gar a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou
especial, a que estava obrigado em face das circuns-
Dolo eventual: o agente tem
tâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
a previsão do resultado e
prevendo o supõe levianamente que não se realiza-
consente na sua produção,
ria ou que poderia evitá-lo.
não desiste, prefere se ar-
DOLO EVENTUAL riscar a interromper a sua
Dolo × ação.
CULPA CONSCIENTE
O dolo é quando o agente quis o resultado ou assu- Culpa consciente: o agen-
miu o risco de produzi-lo. te tem a previsão do resul-
tado e supõe que não se
realizará.
z Elementos do dolo:
Obs.: o termo assemelhado (Art. 21, do CPM) não z Circunstâncias: lugar sujeito à administração
existe mais no universo jurídico desde a edição do militar;
Decreto nº 23.203/1947. z Sujeito passivo: militar da ativa, funcionário de
ministério militar ou justiça militar no exercício
b) por militar em situação de atividade ou asseme- de função.
lhado, em lugar sujeito à administração militar,
contra militar da reserva, ou reformado, ou asse- c) contra militar em formatura, ou durante o perío-
melhado, ou civil; do e prontidão, vigilância, observação, explora-
ção, exercício, acampamento, acantonamento ou
z Sujeito ativo: militar da ativa; manobras;
z Circunstância: lugar sujeito à administração militar;
z Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar
reformado. reformado; 237
z Circunstâncias: formatura, prontidão, vigilância, definido apenas no Código Penal Militar e que somen-
observação, exploração, acampamento, acantona- te civil pode ser agente, conforme tipificado no art.
mento, manobras; 183, do CPM. Vejamos:
z Sujeito passivo: militar.
Art. 183 Deixar de apresentar-se o convocado à
d) ainda que fora do lugar sujeito à administra- incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado,
ção militar, contra militar em função de natureza ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato ofi-
militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, cial de incorporação.
garantia e preservação de ordem pública, adminis-
trativa ou jurídica, quando legalmente requisitado Crime impropriamente militar é aquele que,
para aquele fim, ou em obediência à determinação apesar de estar tipificado no Código Penal Militar,
legal superior. pode ser agente militar ou civil. Como exemplos,
pode-se citar os crimes de lesão corporal, estelionato,
z Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar re- dentre outros.
formado;
z Sujeito passivo: militar em função de nature- Excludente de Ilicitude
za militar, desempenhando serviço de vigilância
quando legalmente requisitado ou em obediência Ilicitude ou antijuridicidade é a contrariedade de
à determinação legal superior. uma conduta com o direito, causando lesão a um bem
jurídico protegido.
Os parágrafos do art. 9, do CPM, foram alterados O art. 42, do CPM, afirma que não há crime quando
pela Lei nº 13.491/2017. Vejamos: o agente pratica o fato em:
Impedimento
Reclusão
A pena de impedimento está prevista no art. 63,
Art. 58 O mínimo da pena de reclusão é de um ano, do CPM, o qual diz que a pena de impedimento sujeita
e o máximo de trinta anos. o condenado a permanecer no recinto da unidade, sem
prejuízo da instrução militar.
Detenção Exemplo:
z Oficial cumpre a pena de prisão em estabelecimen- A pena de reforma está no art. 65, do CPM, o qual
to militar; afirma que a pena de reforma sujeita o condenado à
z Praça cumpre a pena de prisão em estabelecimen- situação de inatividade. Vejamos:
to penal militar, separado de presos disciplinares e
presos com pena superior a dois anos. Art. 65 A pena de reforma sujeita o condenado à
situação de inatividade, não podendo perceber mais
Como proceder se a pena aplicada de reclusão ou de um vinte e cinco avos do sôldo, por ano de ser-
240 detenção for superior a dois anos? viço, nem receber importância superior à do sôldo.
Exemplo: d) confessado espontâneamente, perante a autori-
dade, a autoria do crime, ignorada ou imputada a
Art. 201 Deixar o comandante de socorrer, sem jus- outrem;
ta causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou e) sofrido tratamento com rigor não permitido em
estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos lei. Não atendimento de atenuantes
que hajam pedido socorro: Parágrafo único. Nos crimes em que a pena máxima
Pena – suspensão do exercício do posto, de um a cominada é de morte, ao juiz é facultado atender,
três anos ou reforma. ou não, às circunstâncias atenuantes enumeradas
no artigo.
Além de saber quais são as penas principais, é
importante conhecer as circunstâncias que as agravam Penas Acessórias
quando não integrantes ou qualificativas do crime:
O Código Penal Militar define as penas principais
Circunstâncias Agravantes – morte, reclusão, detenção, prisão, impedimento,
reforma e suspensão do exercício do posto, gradua-
Art. 70 São circunstâncias que sempre agravam a
ção, cargo ou função. Vejamos:
pena, quando não integrantes ou qualificativas do
crime: CAPÍTULO V: DAS PENAS ACESSÓRIAS
I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime: Art. 98 São penas acessórias:
a) por motivo fútil ou torpe; I - a perda de pôsto e patente;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocul- II - a indignidade para o oficialato;
tação, a impunidade ou vantagem de outro crime; III - a incompatibilidade com o oficialato;
c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez IV - a exclusão das fôrças armadas;
decorre de caso fortuito, engano ou fôrça maior; V - a perda da função pública, ainda que eletiva;
d) à traição, de emboscada, com surprêsa, ou VI - a inabilitação para o exercício de função
pública;
mediante outro recurso insidioso que dificultou ou
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
tornou impossível a defesa da vítima;
VIII - a suspensão dos direitos políticos.
e) com o emprêgo de veneno, asfixia, tortura, fogo,
explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
cruel, ou de que podia resultar perigo comum; É bom lembrar de que as Forças Armadas são com-
f) contra ascendente, descendente, irmão ou postas por militares, os quais são divididos em círcu-
cônjuge; los hierárquicos: Círculos de Oficiais Generais, Oficiais
g) com abuso de poder ou violação de dever ineren- Superiores, Oficiais Intermediários, Oficiais Subalter-
te a cargo, ofício, ministério ou profissão; nos e Praças. Os oficiais possuem posto e patente e as
h) contra criança, velho ou enfêrmo; praças possuem graduação.
i) quando o ofendido estava sob a imediata prote- Dentre as penas acessórias, a perda do posto e
ção da autoridade; patente, a indignidade para oficialato, a incompatibi-
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, encalhe, ala- lidade com o oficialato são sanções (penas) aplicadas
gamento, inundação, ou qualquer calamidade para os oficiais.
pública, ou de desgraça particular do ofendido;
l) estando de serviço; Perda de Posto e Patente
m) com emprêgo de arma, material ou instrumento
de serviço, para êsse fim procurado; Art. 99 A perda de pôsto e patente resulta da con-
n) em auditório da Justiça Militar ou local onde denação a pena privativa de liberdade por tem-
tenha sede a sua administração; po superior a dois anos, e importa a perda das
o) em país estrangeiro. condecorações.
Parágrafo único. As circunstâncias das letras c ,
salvo no caso de embriaguez preordenada, l , m e o, Indignidade Para o Oficialato
só agravam o crime quando praticado por militar.
Art. 100 Fica sujeito à declaração de indignidade
Há, ainda, as atenuantes – circunstâncias que ate- para o oficialato o militar condenado, qualquer que
nuam a pena. seja a pena, nos crimes de traição, espionagem ou
cobardia, ou em qualquer dos definidos nos arts.
Circunstância Atenuantes 161, 235, 240, 242, 243, 244, 245, 251, 252, 303, 304,
DIREITO PENAL MILITAR
311 e 312.
Art. 72[...]
I - ser o agente menor de vinte e um ou maior de Incompatibilidade Com o Oficialato
setenta anos;
II - ser meritório seu comportamento anterior; Art. 101 Fica sujeito à declaração de incompatibili-
III - ter o agente: dade com o oficialato o militar condenado nos cri-
a) cometido o crime por motivo de relevante valor mes dos arts. 141 e 142.
social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com A pena acessória de exclusão das Forças Armadas
eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- é aplicada somente para as praças.
-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano; Art. 102 A condenação da praça a pena privati-
c) cometido o crime sob a influência de violenta va de liberdade, por tempo superior a dois anos,
emoção, provocada por ato injusto da vítima; importa sua exclusão das Forças Armadas. 241
PENA ACESSÓRIA TÍTULO VII: DA AÇÃO PENAL
Para praças condenados à Estudar o assunto ação penal militar é quase que
Para Oficiais pena privativa de liberdade impossível se não importar conceitos, doutrinas e tex-
superior a 2 anos to de lei do direito processual penal militar.
Perda do posto e patente A propositura da ação penal está no art. 121, do
Indignidade para oficialato Exclusão das Forças CPM.
Incompatibilidade como o Armadas
oficialato Art. 121 A ação penal somente pode ser promovi-
da por denúncia do Ministério Público da Justiça
Militar.
A pena acessória de perda da função pública é
aplicada ao civil ou ao militar da reserva, ou refor- A dependência de requisição para a ação penal
mado, se estiver no exercício de função pública nas está contida no art. 122, do CPM.
seguintes hipóteses:
Art. 122 Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a
z Perda da função pública: ação penal, quando o agente for militar ou asseme-
lhado, depende da requisição do Ministério Militar
a que aquele estiver subordinado; no caso do art.
Condenado à pena privativa de liberdade por
141, quando o agente for civil e não houver coautor
crime cometido com abuso de poder ou viola-
militar, a requisição será do Ministério da Justiça.
ção de dever inerente à função pública;
Condenado por outro crime à pena privativa de São apenas esses dois artigos do Código Penal
liberdade por mais de dois anos. Militar que tratam da ação penal. Realize uma leitura
atenta desses dispositivos, buscando compreendê-los.
A perda da função pública, ainda que eletiva, é A seguir, veremos o conteúdo disposto no Código de
aplicada a qualquer agente, civil ou militar. Processo Penal Militar pertinente ao tema.
A fim de prosseguirmos com o nosso estudo, cabe-
Inabilitação para o Exercício de Função Pública -nos alguns questionamentos: a ação penal militar é
de iniciativa pública ou de iniciativa privada?
Art. 104 Incorre na inabilitação para o exercício de De acordo com o art. 29, do CPPM, a ação penal é
função pública, pelo prazo de dois até vinte anos, pública e somente pode ser promovida por denúncia
o condenado a reclusão por mais de quatro anos, do Ministério Público Militar.
em virtude de crime praticado com abuso de poder A ação penal é pública incondicionada ou pública
ou violação do dever militar ou inerente à função condicionada?
pública.
A regra é que, no silêncio da lei, a ação penal é
pública incondicionada. O art. 31, do CPPM, diz que,
A pena acessória de suspensão do pátrio poder,
nos crimes dos arts. 136 a 141, do COM, serão de ação
tutela ou curatela é aplicada a qualquer agente que penal pública condicionada.
tenha sido condenado à pena privativa de liberdade Quais são esses crimes?
por mais de 2 anos. São os crimes contra a segurança externa do país,
A título de atualização, deve-se substituir o termo quais sejam:
“pátrio poder” por “poder familiar”, conforme defini-
ção contida no Código Civil. Observe a redação do art. z Hostilidade contra país estrangeiro;
105, do CPM: z Provocação a país estrangeiro;
z Ato de jurisdição indevida;
Art. 105 O condenado a pena privativa de liberdade z Violação de território estrangeiro;
por mais de dois anos, seja qual for o crime pra- z Entendimento para empenhar o Brasil à neutrali-
ticado, fica suspenso do exercício do pátrio poder, dade ou à guerra.
tutela ou curatela, enquanto dura a execução da
pena, ou da medida de segurança imposta em subs- Na justiça militar, há ação penal condicionada à
tituição (art. 113). requisição do Ministério Militar. O Ministro da Defe-
Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz sa e o Comandante de cada força singular (Marinha,
decretar a suspensão provisória do exercício do Exército e Aeronáutica) a que pertence o agente (mili-
pátrio poder, tutela ou curatela. tar) estão condicionados à requisição do Ministério
da Justiça somente se o acusado for civil e não tiver
A pena acessória de suspensão dos direitos políti- militar coautor.
cos é a consequência da execução da pena privativa
de liberdade ou da medida de segurança imposta em AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação para Requisição do Ministro da Defesa Requisição do Ministro
a função pública. Isso significa que o condenado, seja ou Comandantes da Justiça
civil ou militar, não pode votar, nem ser votado. Veja (autor civil sem coautor
a redação do art. 106, do CPM: militar)
Hostilidade contra país estrangeiro Entendimento para em-
Art. 106 Durante a execução da pena privativa de Provocação a país estrangeiro penhar a Brasil à neutra-
liberdade ou da medida de segurança imposta em Ato de jurisdição indevida lidade ou à guerra
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação Violação de território estrangeiro
para função pública, o condenado não pode votar, Entendimento para empenhar a
Brasil à neutralidade ou à guerra
242 nem ser votado.
Vejamos, a seguir, cada um desses crimes: O dono da ação penal, o Ministério Público, poderá
requerer ao juiz o arquivamento do IPM nas seguintes
Hostilidade Contra País Estrangeiro hipóteses:
Art. 136 Praticar o militar ato de hostilidade con- z Se não houver indícios de autoria: é uma decisão
tra país estrangeiro, expondo o Brasil a perigo de jurisprudencial interlocutória mista de nature-
guerra: za terminativa; não faz coisa julgada, portanto
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. podem surgir provas novas e ser dada continuida-
de à persecução penal. Há exceção: caso julgado e
Resultado Mais Grave casos de extinção de punibilidade;
z Se o fato for atípico: fórmula descritiva; a conduta
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas, deve-se ajustar a um modelo legal;
represália ou retorsão: z Prova de fato que, em tese, não constitua crime:
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. impossibilidade de oferecer denúncia ante à
§ 2º Se resulta guerra: ausência da prova do crime fornecida, por exem-
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. plo, por meio de laudo técnico.
Dica
Pena - reclusão, de quatro a oito anos.
Anistia: competência do Congresso Nacional;
Resultado Mais Grave atinge o fato – crime);
Indulto: competência do Presidente da Repúbli-
§ 1º Se resulta ruptura de relações diplomáticas: ca; tem, por objeto, o autor do fato.
Pena - reclusão, de seis a dezoito anos.
§ 2º Se resulta guerra: z Pela retroatividade de lei que não mais considera
Pena - reclusão, de dez a vinte e quatro anos. o fato como criminoso, chamada de “abolitio cri-
minis”: estende-se a todos os codelinquentes; pode
O art. 5º, LIX, da CF, permite, nessa única hipótese, ser aplicada pelo juiz do processo, em qualquer
ação penal de iniciativa privada subsidiária da públi- fase, ou pelo juiz da execução penal, se já houver
ca. Porém, não há registros dessa ação no âmbito da sentença condenatória definitiva e atingirá apenas
justiça militar. os efeitos penais da condenação; 243
z Pela prescrição: consiste na perda de “jus punien- Quanto ao requisito subjetivo, o bom comporta-
di” do Estado em razão de inércia em satisfazê-la mento público e privado se refere à vida pública e
durante os prazos estipulados pela lei. O prazo privada do agente, respectivamente, no trabalho e na
prescricional é definido, em primeiro momento, vida familiar. A demonstração pode ser feita por todos
de acordo com a pena abstratamente cominada os meios de provas.
para o tipo e está definido nos incisos do art. 125 Já o requisito objetivo, consiste em ressarcir o
do CPM. dano causado pelo crime ou demonstrar a absoluta
impossibilidade de o fazer até o dia do pedido, ou exi-
A prescrição da ação penal ocorre em: bir documento que comprove a renúncia da vítima ou
novação de dívida:
Art. 125 [...]
z Pelo ressarcimento do dano no Peculato Culposo
I – 30 anos, se a pena é de morte;
(Art. 303, § 4º): nesse tipo penal, a completa repa-
II – 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12
ração do dano, que pode se dar pela restituição da
anos;
coisa íntegra ou pela indenização correspondente
III – 16 anos, se o máximo da pena é superior a 8
ao valor do dano, promovida pelo agente ou por
anos e não excede a 12 anos;
IV – 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4
terceiro, pode ter dois efeitos: se preceder a sen-
anos e não excede a 8 anos; tença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe
V – 8 anos, se o máximo da pena é de 2 anos e não for posterior, reduz a pena pela metade. Os efei-
excede a 4 anos; tos penais da reparação do dano não prejudicam
VI – 4 anos, se o máximo da pena é igual a 1 ano ou, o reconhecimento de eventual responsabilidade
sendo superior, não excede a 2 anos; e administrativa (ROSSETTO, 2015).
VII – 2 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano.
Art. 125 [...]
Além da prescrição descrita no art. 125, do CPM,
Superveniência de Sentença Condenatória de Que
deve-se ter muita atenção à prescrição específica para
Somente o Réu Recorre
o crime de Deserção e de Insubmissão, bem como para
o crime em que a pena cominada é de reforma. Para
§ 1º Sobrevindo sentença condenatória, de que
o crime de Deserção, cuja pena máxima cominada é
somente o réu tenha recorrido, a prescrição pas-
de 4 anos, o art. 132 dispõe que, mesmo decorrido o
sa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo
prazo prescricional, a punição só será extinta quando declarada, sem prejuízo do andamento do recurso
o desertor, praça, atingir a idade de 45 anos ou, se ofi- se, entre a última causa interruptiva do curso da
cial, 60 anos. prescrição (§ 5º) e a sentença, já decorreu tempo
A prescrição começa a correr, no crime de insub- suficiente.
missão, do dia em que o insubmisso atinge a idade de
trinta anos. Para os crimes em que a pena máxima Têrmo Inicial da Prescrição da Ação Penal
seja a reforma ou a suspensão de exercício do posto,
graduação, cargo ou função, a prescrição será de 4 § 2º A prescrição da ação penal começa a correr:
anos. a) do dia em que o crime se consumou;
b) no caso de tentativa, do dia em que cessou a ati-
vidade criminosa;
c) nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência;
d) nos crimes de falsidade, da data em que o fato se
Deserção: Insubmissão: tornou conhecido.
prescrição para prescrição
oficiais 30 anos de idade
60 anos de idade Caso de Concurso de Crimes ou de Crime Continuado
Prazo para Renovação do Pedido 2. (FCC – 2018) Segundo o Código Penal Militar brasileiro,
§ 3º Negada a reabilitação, não pode ser novamente a) a reforma é uma espécie de pena acessória que sujei-
requerida senão após o decurso de dois anos. ta o condenado a permanecer no recinto da unidade,
§ 4º Os prazos para o pedido de reabilitação serão sem prejuízo da instrução militar.
contados em dôbro no caso de criminoso habitual b) a pena de impedimento sujeita o condenado à situa-
ou por tendência. ção de inatividade e fora da unidade militar.
Revogação c) o crime cometido em país estrangeiro só atenua o cri-
me quando praticado por civil.
§ 5º A reabilitação será revogada de ofício, ou a d) a suspensão dos direitos políticos é efeito automático
requerimento do Ministério Público, se a pessoa das condenações militares, ainda que o réu seja civil.
reabilitada fôr condenada, por decisão definitiva, e) é vedada, em tempos de paz, a suspensão condicional
ao cumprimento de pena privativa da liberdade. da pena para o crime de desrespeito a superior. 245
Em síntese, a suspensão condicional da pena não A tutela penal é a segurança externa do país. O
se aplica ao condenado por qualquer crime come- sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar
tido em tempo de guerra, bem como não se aplica da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia
ao condenado em tempo de paz por crime contra a Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o
segurança nacional, de aliciação e incitamento, de crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei-
violência contra superior, oficial de dia, de serviço to passivo é o Estado, secundariamente a instituição
ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desres- militar das Forças Armadas.
peito a superior, de insubordinação, ou de deserção. Praticar (executar algo) ato de hostilidade (agres-
Resposta: Letra E. sivo, provocador) é a conduta do militar que se volta
contra pessoas ou instituições estrangeiras, causando
distúrbio suficiente para provocar guerra, conflito
3. (CESPE-CEBRASPE – 2015) À luz do Código Penal
bélico, entre o país que provoca e o país provocado.
Militar, julgue o item a seguir, no que diz respeito a
O delito é de perigo concreto, devendo ser provada
aplicação da lei penal, imputabilidade penal, crime e
a conduta hostil do agente e a clara reação negativa
extinção da punibilidade. do país estrangeiro. Por isso, o tipo penal refere-se a
Situação hipotética: Um soldado das Forças Armadas, expor o Brasil a perigo de guerra.
no cumprimento das atribuições que lhe foram esta- O crime é doloso, não há modalidade culposa e
belecidas pelo ministro de Estado da Defesa, cometeu não há a forma tentada. É um crime qualificado pelo
crime doloso contra a vida de um civil. resultado:
Assertiva: Nessa situação, o autor do delito deverá ser
processado e julgado pela justiça militar da União. z O ato agressivo praticado pelo agente pode acarre-
tar resultado mais grave do que a mera exposição
( ) CERTO ( ) ERRADO a perigo, como a ruptura de relações diplomáti-
cas, represália (desforra, retaliação) ou retorsão
O militar das Forças Armadas que praticar crimes (contraposição). Esse resultado advém somente da
dolosos contra a vida de civil será processado e jul- culpa do agente, pois o dolo de perigo na conduta
gado pela Justiça Militar da União, se praticados no antecedente é incompatível com a vontade de pro-
contexto, dentre as hipóteses legais, no cumprimen- vocar um dano;
to de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo z Havendo o resultado naturalístico danoso consis-
tente em conflito armado (guerra, propriamente
Presidente da República ou pelo Ministro de Estado
dita), pune-se mais severamente o autor.
da Defesa. Resposta: Certo.
A ação penal depende de requisição do Ministro
da Defesa.
Ato de Jurisdição Indevida Art. 140 Entrar ou tentar entrar o militar em enten-
dimento com país estrangeiro, para empenhar o
Art. 138 Praticar o militar, indevidamente, no ter- Brasil à neutralidade ou à guerra:
ritório nacional, ato de jurisdição de país estran- Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos.
geiro, ou favorecer a prática de ato dessa natureza:
Pena - reclusão, de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos.
Tutela-se a segurança externa do Brasil, embora
A tutela penal é a segurança externa do país. O esse crime seja praticamente inviável na atualidade.
sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o militar Militares não negociam paz nem tampouco guerra,
da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual (Polícia em particular, fazendo-o individualmente.
Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem para o O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
crime na condição de coautores ou partícipe. O sujei- militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
to passivo é o Estado, secundariamente a instituição (Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concor-
militar das Forças Armadas. rem para o crime na condição de coautores ou partí-
O crime de ato de jurisdição indevida busca punir cipe. O sujeito passivo é o Estado, secundariamente a
o militar que dê cumprimento a decisões judiciais instituição militar das Forças Armadas.
estrangeiras indevidamente, ou seja, não autorizadas. O crime é o dolo. A finalidade específica do agen-
Por exemplo, a Justiça Militar determina a liberdade
te é comprometer o Brasil à neutralidade ou guerra.
de um militar preso em outro país e o militar, aqui no
Brasil, sem autorização, ingressa no estrangeiro com Não há previsão da modalidade culposa. A tentativa
a finalidade de cumprir a decisão. é inadmissível.
Quando a decisão estrangeira puder ser cumprida A ação penal é pública condicionada à representa-
em solo nacional, como ocorre, por exemplo, no caso ção do Ministro da Defesa.
de homologação por juiz brasileiro, o fato é atípico.
O crime é doloso. Não há elemento subjetivo espe- Entendimento para Gerar Conflito ou Divergência
cífico e não há a modalidade culposa. com o Brasil
Admite-se a tentativa, por exemplo, se acontecer
de o militar, ao prender o suspeito de crime par entre- Art. 141 Entrar em entendimento com país estran-
gá-lo a autoridade estrangeira, mas, antes de apresen- geiro, ou organização nele existente, para gerar
tá-lo à autoridade, o suspeito fugir por circunstâncias conflito ou divergência de caráter internacional
alheias à vontade de quem efetuou a prisão. entre o Brasil e qualquer outro país, ou para lhes
A ação penal é pública condicionada à representa- perturbar as relações diplomáticas:
ção do Ministro da Defesa. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
Violação de Território Estrangeiro
Tutela-se a segurança externa do Brasil e a sobera-
Art. 139 Violar o militar território estrangeiro, nia. O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
com o fim de praticar ato de jurisdição em nome militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
do Brasil: (Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concor-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. rem para o crime na condição de coautores ou partí-
cipe. O sujeito passivo é o Estado, secundariamente a
A tutela penal é a segurança externa do país, que
instituição militar das Forças Armadas.
se vê ameaçada com a atitude usurpadora do militar
Pune-se quem contata organização internacional,
em violar o território estrangeiro.
ainda que não se trate de meio oficial. A finalidade
O sujeito ativo é o militar, exigindo-se que seja o
do agente é promover desentendimento em nível de
militar da ativa das Forças Armadas. Militar Estadual
países, o que pode envolver o Brasil e outra nação.
(Polícia Militar ou Bombeiro Militar) e civil concorrem
para o crime na condição de coautores ou partícipe. O O delito é formal, bastando o contato indevido para
sujeito passivo é o Estado, secundariamente a ordem concretizá-lo.
militar atingida pela ação abusiva do militar. Quando o sujeito ativo for civil, será tratado como
O verbo nuclear violar significa transgredir e crime político, previsto no art. 8.º da Lei nº 7.170/83,
designa ingressar ilicitamente no território estran- entrar em entendimento ou negociação com governo
geiro, em desrespeito aos tratados, às convenções e ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para provocar
às normas de direito internacional, que disciplinam a guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil.
O crime é doloso. O elemento subjetivo específico
DIREITO PENAL MILITAR
militar:
contra o mesmo objeto, nas mesmas circunstân-
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos.
cias de tempo e local.
Resultado Mais Grave
O crime é doloso. Não há elemento subjetivo especí-
§ 2º Se o fato compromete a preparação ou a efi- fico. No § 1º, temos a forma qualificada, quando o fato
ciência bélica do país: compromete a segurança ou a eficiência bélica do país.
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. A modalidade culposa encontra-se no § 2º. Somen-
te caracteriza-se tal figura se e quando alguém realiza
Modalidade Culposa
a conduta típica prevista no caput (dolosamente) e o
§ 3º Se a revelação é culposa: agente deste tipo culposo lhe dá contribuição por pura
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, negligência de sua parte.
no caso do artigo; ou até 4 (quatro) anos, nos casos A ação penal é pública condicionada à requisição
dos §§ 1º e 2º. do Ministro da Defesa. 249
Penetração com o Fim de Espionagem O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa: civil ou
militar. O sujeito passivo é o Estado.
Art. 146 Penetrar, sem licença, ou introduzir-se A conduta punível é sobrevoar (voar por cima de
clandestinamente ou sob falso pretexto, em lugar algo), tendo por objeto o lugar declarado (oficialmente
sujeito à administração militar, ou centro indus-
reconhecido) interdito (proibido, vedado).
trial a serviço de construção ou fabricação sob
fiscalização militar, para colher informação desti- É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí-
nada a país estrangeiro ou agente seu: fico e não há a modalidade culposa.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
Parágrafo único. Entrar, em local referido no arti-
go, sem licença de autoridade competente, munido
de máquina fotográfica ou qualquer outro meio
EXERCÍCIO COMENTADO
hábil para a prática de espionagem:
Pena - reclusão, até 3 (três) anos. 1. (NOVA CONCURSOS – 2020) Diante da prática de cri-
me contra a segurança externa do Brasil, mesmo que
Tutela-se a segurança externa, mas também as ins- não haja menção no tipo penal, o cabeça deve ter a
talações militares. O sujeito ativo pode ser qualquer pena maior.
pessoa: civil ou militar. O sujeito passivo é o Estado. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Busca-se punir quem ingressa, de algum modo,
sem autorização, em local administrado pelos mili- Como regra, os cabeças dos delitos, que comandam
tares ou em centro industrial (fábrica em geral) que a ação dos demais atuando como mentores ou líde-
produza produtos concernentes ao interesse militar. res efetivos, devem receber pena mais elevada, mas
O ingresso é fundado pelo objetivo de alcançar sem expressa previsão no preceito sancionador do
informação voltada a país ou espião estrangeiro. tipo penal. Sendo assim, cabe ao julgador, confor-
É crime doloso e se revela na penetração clandesti- me a medida da culpabilidade, dosar a pena entre o
na ou sob falso pretexto, ou sem licença de autoridade mínimo e o máximo, aplicando até mesmo agravan-
competente. Observe que há elemento subjetivo espe- te. Resposta: Certo.
cífico, consistente em colher informação destinada a
país estrangeiro ou agente seu. Não há a modalidade TÍTULO II: DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE
culposa. OU DISCIPLINA MILITAR
A ação penal é pública condicionada à requisição
do Ministro da Defesa. Os crimes contra a autoridade ou disciplina militar
são aqueles que tutelam a hierarquia e a disciplina,
Desenho ou Levantamento de Plano ou Planta de bem como os valores de respeito aos símbolos nacio-
Local Militar ou de Engenho de Guerra nais. Neste tópico, estudaremos os seguintes capítulos
do Código Penal Militar, que contêm os crimes mais
Art. 147 Fazer desenho ou levantar plano ou planta exigidos em provas de concursos:
de fortificação, quartel, fábrica, arsenal, hangar ou
z Motim e revolta;
aeródromo, ou de navio, aeronave ou engenho de
guerra motomecanizado, utilizados ou em constru- z Aliciação e incitamento;
ção sob administração ou fiscalização militar, ou z Violência contra superior ou militar de serviço;
fotografá-los ou filmá-los: z Desrespeito a superior e a símbolo nacional ou
Pena - reclusão, até 4 (quatro) anos, se o fato não farda;
constitui crime mais grave. z Insubordinação;
z Usurpação e excesso ou abuso de autoridade;
Tutela-se a segurança externa do país. O sujeito ati- z Resistência;
vo pode ser qualquer pessoa: civil ou militar. O sujeito z Fuga, evasão, arrebatamento e amotinamento de
passivo é o Estado. preso.
Temos quatro condutas incriminadoras alternati-
CAPÍTULO I: DO MOTIM E DA REVOLTA
vas. Nas palavras de Nucci:
O crime de motim está prescrito no art. 149 do
z Faz desenho, constitui ilustração acerca de algo; CPM, e o crime de revolta está no parágrafo único des-
z Consegue plano ou planta, desenho específico te mesmo artigo. O crime de motim é:
para construção de algo;
z Fotografa, registra ilustração por meio de máqui- Art. 149 Reunirem-se militares ou assemelhados:
na apropriada; I - contra a ordem recebida de superior ou negan-
z Filma, registra ação em movimento por meio de do-se a cumpri-la;
máquina apropriada. II - recusando obediência a superior, quando este-
jam agindo sem ordem ou praticando violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência,
O objeto das condutas é fortificação, quartel, fábri-
ou em resistência ou violência, em comum, contra
ca, arsenal, hangar, aeródromo, navio, aeronave ou
superior;
engenho de guerra motorizado. IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou
É crime doloso. Não há elemento subjetivo especí- estabelecimento militar, ou dependência de qual-
fico e não há a modalidade culposa. quer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio
ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer
Sobrevoo em Local Interdito daqueles locais ou meios de transporte, para ação
militar, ou prática de violência em desobediência à
Art. 148 Sobrevoar local declarado interdito: ordem superior ou em detrimento da ordem ou da
250 Pena - reclusão, até 3 (três) anos. disciplina militar.
O assemelhado, servidor civil que estava sujeito à Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
disciplina militar, não tem previsão legal atualmente. introduz, afixa ou distribui, em lugar sujeito à
Portanto, todas as vezes em que encontrarmos o asse- administração militar, impressos, manuscritos ou
melhado no CPM, deixaremos de lado e focaremos no material mimeografado, fotocopiado ou gravado,
termo “militar”. em que se contenha incitamento à prática dos atos
Sendo assim, se os militares se reunirem para tra- previstos no artigo.
tar de uma das quatro circunstâncias descritas nos
incisos do art. 149, praticarão crime de motim. CAPÍTULO III: DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR
Observe a pena para o crime de motim: OU MILITAR DE SERVIÇO
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumen- Violência Contra Superior
to de um terço para os cabeças.
Quem são os cabeças? O art. 53 do CPM, ao tratar O crime de violência contra superior está previsto
de concurso de agentes, em seus §§ 4º e 5º, dispõe o no art. 157 do CPM.
seguinte:
Art. 157 Praticar violência contra superior:
§ 4º na prática de crime de autoria coletiva neces- Pena - detenção, de três meses a dois anos.
sária, reputam-se cabeças os que dirigem, provo-
cam, instigam ou excitam a ação. Sujeito ativo é o subordinado hierárquico. A auto-
§ 5º quando o crime é cometido por inferiores e um ridade do superior hierárquico agredido é maculada
ou mais oficiais, são êstes considerados cabeças, perante o subordinado ou terceiros que tenham pre-
assim como os inferiores que exercem função de senciado ou tomado conhecimento do fato.
oficial.
Violência = força física, próprio corpo ou objeto.
O crime de revolta é a forma qualificada do crime Exemplos: empurrão, bofetada, arrancar distintivo,
de motim., disposto no art. 149 do COM. Observe: bater com um objeto.
São formas qualificadas:
Revolta
§1º Se o superior é comandante da unidade a que
Parágrafo único - Se os agentes estavam armados: pertence o agente ou oficial general:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento Pena - reclusão, de três a nove anos.
de um terço para os cabeças. §2º Se a violência é praticada com arma, a pena é
aumentada de um terço.
Com Armas Sem Armas
Conforme decisão do TJM/RS, o delito foi configu-
rado no caso concreto em que o soldado que agride e
ofende um cabo e comete violência contra superior,
Revolta Motim ainda que da agressão não resultem lesões corporais
na vítima.
Distinção entre motim e revolta: Este crime, violência contra mitar de serviço, está
Revolta: Grupamento de militares armados disposto no art. 158 do CPM:
Motim: Reunião sem armas
Art. 158 Praticar violência contra oficial de dia, de
serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou
Sujeito ativo: crime plurissubjetivo, com a necessi- plantão:
dade de no mínimo 2 militares. Exemplo: companhia Pena - reclusão, de três a oito anos.
recebe ordem para instrução ou outra atividade e, em
vez de obedecê-la, dirige-se, sem ordem ou autoriza- O sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa. Porém
ção, à sede do Comando para apresentação de suas o sujeito passivo, como exige o tipo penal, deve ser
reivindicações. Oficial de dia, Oficial de serviço ou Oficial de quarto,
ou, ainda, sentinela, vigia ou plantão.
DIREITO PENAL MILITAR
Resistência Mediante Ameaça ou Violência O crime de recusa de obediência está definido no art.
163 do CPM, que dispõe que a conduta é recusar-se
Art. 177 Opor-se à execução de ato legal, mediante a obedecer a ordem do superior sobre assunto ou
ameaça ou violência ao executor, ou a quem esteja matéria de serviço, ou relativamente a dever impos-
prestando auxílio: to em lei, regulamento ou instrução. Resposta: C.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
2. (IBFC – 2020) Sobre o que constitui a conduta típi-
Forma Qualificada ca de crime militar de motim, assinale a alternativa
correta.
§ 1º Se o ato não se executa em razão da resistência:
Pena - reclusão de dois a quatro anos.
a) Reunirem-se dois militares, com armamento de pro-
Cumulação de Penas priedade militar, praticando violência à coisa pública
ou particular em lugar não sujeito à administração
§ 2º As penas dêste artigo são aplicáveis sem prejuí- militar.
zo das correspondentes à violência, ou ao fato que b) Reunirem-se militares desarmados agindo contra a
constitua crime mais grave. ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la.
c) Reunirem-se mais de dois militares ou assemelhados,
FUGA DE PRESO OU INTERDITO com material bélico de propriedade militar, praticando
violência à pessoa em lugar sujeito à administração
Este crime está no capítulo que trata da fuga, eva-
militar.
são, do arrebatamento e amotinamento de preso. Des- d) Deixar o militar de levar ao conhecimento do supe-
tacamos os arts. 178 e 180 do CPM. rior conspiração de cuja preparação teve notícia, ou,
Art. 178 Promover ou facilitar a fuga de pessoa
estando presente ao ato criminoso, não usar de todos
legalmente presa ou submetida à medida de segu- os meios ao seu alcance para impedi-lo.
rança detentiva: e) Reunirem-se militares armados, recusando obediência
Sujeito passivo: qualquer pessoa. a superior, quando estejam agindo sem ordem ou pra-
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. ticando violência.
Este crime está vinculado exclusivamente à prisão O crime de motim está definido no art. 149 do CPM,
militar. Se o preso se encontrar sob custódia de presí- que dispõe que a conduta é de se reunirem militares,
dio civil, o crime será o previsto no art. 351 do CP. Nes- dentre as hipóteses, agindo contra a ordem recebida
se sentido, pratica o crime o militar que permite que o de superior, ou negando-se a cumpri-la. O detalhe
preso serre a grade da janela para empreender fuga. no crime é que os militares estão desarmados, pois
se os militares, no ato de praticar a reunião crimi-
Art. 180 Evadir-se, ou tentar evadir-se o preso ou nosa, estiverem armados, o delito será de revolta.
internado, usando de violência contra a pessoa. Resposta: B.
Pena - detenção, de 1 a 2 anos, além da correspon-
dente à violência. 3. (CESPE-CEBRASPE – 2018) À luz do Código Penal
Militar, julgue o item a seguir, no que diz respeito a
Os militares presos classificam-se em três categorias: aplicação da lei penal, imputabilidade penal, crime e
extinção da punibilidade.
z Disciplinares;
Situação hipotética: Um cabo das Forças Armadas
z Preventivos;
escalado para serviço na organização militar a que
z Cumprindo sentença.
servia compareceu e assumiu a incumbência em esta-
do de embriaguez, tendo ingerido, voluntariamente,
DIREITO PENAL MILITAR
para que seja crime militar, o homicídio deve preen- I - por motivo fútil;
cher os requisitos do art. 9º do Código Penal Militar. II - mediante paga ou promessa de recompensa, por
Por exemplo: um Tenente, após discutir com um cupidez, para excitar ou saciar desejos sexuais, ou
Sargento na saída de um estádio de futebol, desfere por outro motivo torpe;
tiros contra a vítima, que morre. O Tenente conhece a III - com emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo,
condição de militar da vítima. explosivo, ou qualquer outro meio dissimulado ou
Outro exemplo: um Cabo, no interior do quartel, cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
não aceitando a ordem de superior para lavar a viatu- IV - à traição, de emboscada, com surpresa ou
ra, desfere tiros contra o superior, que morre. mediante outro recurso insidioso, que dificultou ou
Todavia, se o Sargento, em uma briga de trânsito, tornou impossível a defesa da vítima;
disparar tiros e matar civil, o homicídio praticado é o V - para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
tipificado no Código Penal. nidade ou vantagem de outro crime;
Tanto no Código Penal quanto no Código Penal VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:
Militar o objeto jurídico é a vida. Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 255
O homicídio qualificado se reveste de circunstân- z Tortura: Qualquer ato pelo qual dores ou sofri-
cias taxativamente previstas que o torna mais grave, mentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
sendo por isso para ele cominada pena especial mais intencionalmente a uma pessoa a fim de obter,
severa, ou seja, passa de reclusão de 6 a 20 anos, pre- dela ou de uma terceira pessoa, informações ou
vista para o homicídio simples, para de 12 a 30, para a confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma
figura qualificada. terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de
Atente-se aos pontos a seguir, elucidados por Gui- ter cometido; de intimidar ou coagir essa pessoa
lherme Nucci: ou outras pessoas; ou por qualquer motivo basea-
do em discriminação de qualquer natureza, quan-
z Motivo fútil: Flagrantemente desproporcional ao do tais dores ou sofrimentos são infligidos por
resultado produzido, que merece ser verificado funcionário público ou outra pessoa no exercício
sempre no caso concreto. Por exemplo, o autor de funções públicas, ou por sua instigação, ou com
seu consentimento ou aquiescência;
suprime a vida da vítima porque esta, dona de um
z Traição: Enganar, ser infiel, mas, no contexto do
bar, não lhe vendeu fiado;
homicídio, é a ação do agente que colhe a vítima
z Mediante paga ou promessa de recompensa:
por trás, desprevenida, sem ter esta qualquer
Homicídio mercenário cometido porque o agente foi
visualização do ataque. O ataque de súbito, pela
recompensado previamente pela morte da vítima frente, pode constituir surpresa, mas não traição;
(paga) ou porque lhe foi prometido um prêmio após z Emboscada: Significa ocultar-se para poder ata-
ter eliminado o ofendido (promessa de recompensa); car, o que, na prática, é a tocaia. O agente fica à
z Cobiça: Avidez por bens materiais, algo equiva- espreita do ofendido para agredi-lo;
lente à paga ou promessa de recompensa. Trata-se z Surpresa: Acontecimento imprevisto, constituin-
de circunstância específica do Código Penal Militar, do situação similar às anteriores (traição, embos-
não possuindo equivalente no Código Penal comum; cada etc.);
z Excitação ou preenchimento de desejo sexual: z Finalidade especial do agente: Caracteriza-se
Cuida-se do estímulo ou da fartura da vontade pela evidência do ânimo especial de agir. Quer o
de possuir alguém, em nível carnal. É interessan- agente, ao matar a vítima, assegurar a execução
te observar que esta circunstância qualificadora de outro crime. Por exemplo: mata-se o coman-
é exclusiva do CPM, não encontrando similar na dante da guarda de um quartel para que se possa
legislação penal comum; invadi-lo com maior chance de êxito; assegurar a
z Torpe: Motivo repugnante, abjeto, vil, que causa ocultação de um delito – por exemplo, o sujeito que
repulsa excessiva à sociedade. Observa-se que a lei viola uma sepultura e, percebendo que foi visto,
penal se vale da interpretação analógica, admitida elimina a testemunha a fim de que seu crime não
em Direito Penal, pois estabelece exemplos iniciais seja descoberto; assegurar a impunidade do delito:
de torpeza e, em seguida, generaliza, afirmando por exemplo, o ladrão, notando ter sido reconheci-
“ou outro motivo torpe”, para deixar ao encargo do por alguém durante a prática do furto, elimina
do intérprete a inclusão de circunstâncias não essa pessoa para não ser identificado; assegurar a
expressamente previstas, mas consideradas igual- vantagem de outro crime: por exemplo, mata-se o
mente desprezíveis; parceiro para ficar integralmente com o dinheiro
z Veneno: Substância que, introduzida no organis- conseguido à custa de algum delito;
mo, altera momentaneamente ou suprime defini- z Situação de serviço: No cenário militar, diver-
samente do que ocorre no Código Penal comum,
tivamente as manifestações vitais de toda matéria
insere-se como circunstância qualificadora o
organizada;
cometimento do homicídio tirando proveito da
z Fogo: Pode constituir-se em meio cruel ou que sua posição laborativa. Note-se que o militar, em
gera perigo comum. A queimadura, em regra, é um muitas situações, trabalha armado, favorecendo a
sofrimento atroz, concretizando, pois, o desiderato execução do crime contra a vida.
cruento do agente. Por outro lado, pode atingir ter-
ceiros, conforme sua volatilidade; HOMICÍDIO CULPOSO
z Explosivo: Provocar a morte da vítima por meio
da explosão de determinada substância, em regra, Art. 206 Se o homicídio é culposo:
gera perigo comum, mas também pode constituir- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
-se em meio cruel, caso a detonação, previamente § 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta
calculada pelo autor, provoque no ofendido a per- de inobservância de regra técnica de profissão, arte
da de membros e, consequentemente, morte agô- ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
nica e lenta; socorro à vítima.
z Asfixia: Supressão da respiração, que se origina
de um processo mecânico ou tóxico. São exemplos: Multiplicidade de Vítimas
estrangulamento (compressão do pescoço por um
§ 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão
laço conduzido por força que pode ser a do agente
culposa, ocorre morte de mais de uma pessoa ou
agressor ou de outra fonte, exceto o peso do corpo também lesões corporais em outras pessoas, a pena
do ofendido); enforcamento (compressão do pes- é aumentada de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade).
coço por um laço, causada pelo peso do próprio
corpo da vítima); esganadura (aperto do pesco- O Código Penal Militar, na Parte Geral, descreve
ço provocado pelo agente agressor diretamente, o que vem a ser culpa: deixar de empregar cautela,
valendo-se das mãos, pernas ou antebraço); afo- atenção ou diligência ordinária ou especial a que esta-
gamento (inspiração de líquido, estando ou não va obrigado pelo dever de cuidado objetivo (inciso II
imerso) e uso de gases ou drogas asfixiantes, entre do art. 33 do COM).
256 outros; Lembre-se: todo crime culposo não admite tentativa.
Conforme decisão do STM (1994), no CPM, a cul- Exemplo: Um colega do quartel diz que está com mui-
pa tem conceito mais abrangente do que a ação por tas dívidas e com dificuldades no relacionamento fami-
imprudência, imperícia ou negligência; na lei penal liar. O agente, então, dá a ideia para o colega suicidar-se.
militar, a raiz da culpa está na previsibilidade. Noutro caso, o colega do quartel diz que está com
Sobre o § 1º do art. 206 do CPM, a inobservância de dívidas e que está pensando em se matar. O agente
ordem regulamentar não se confunde com a imperí-
incentiva o colega a se suicidar, dizendo que o seguro
cia, que indica inabilidade de ordem profissional ou
insuficiência de capacidade técnica. Aqui, o sujeito de vida trará conforto à família.
conhece a regra técnica, mas não a observa. Exemplo: No último exemplo, o colega de quartel diz que
instrutor de tiro que não observa as regras de segu- está com dívidas e que pretende se suicidar, mas que,
rança para verificar se o estande de tiro está livre e para isso, precisa de uma arma. O agente, solícito, for-
autoriza a instrução enquanto o auxiliar está con- nece a arma para que o colega pratique o suicídio.
cluindo a preparação dos alvos. O crime de instigar, induzir e auxiliar o suicídio é
O § 2º do art. 206 Conversa sobre a omissão de doloso, não se admitindo a forma culposa.
socorro, que consiste na omissão do agente em procu- A pena para o crime de instigação, induzimento e
rar diminuir as consequências do seu ato. Essa majo- auxílio ao suicídio será agravada nas seguintes hipóteses:
rante da pena só é possível em caso de se ter a opção
de socorrer a vítima, pois, se a vítima tiver morte ins-
tantânea, isso impedirá a circunstância especial de z Motivo egoístico: Excessivo apego a si mesmo,
aumento de penal. evidenciando o desprezo pela vida alheia, desde
que algum benefício concreto advenha ao agente.
PROVOCAÇÃO DIRETA OU AUXÍLIO A SUICÍDIO Por exemplo: induzir alguém a se matar para ficar
com a herança ou para receber valor de seguro
Art. 207 Instigar ou induzir alguém a suicidar-se, (NUCCI, 2016);
ou prestar-lhe auxílio para que o faça, vindo o sui- z Vítima menor ou com resistência diminuída:
cídio a consumar-se: A resistência diminuída configura-se por fases
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. críticas de doenças graves (físicas ou mentais),
abalos psicológicos, senilidade, infantilidade ou
Agravação de Pena
ainda pela ingestão de álcool ou substância de
efeitos análogos. Essa pessoa tem menor condição
§ 1º Se o crime é praticado por motivo egoístico, ou
a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer de resistir à ideia do suicídio que lhe foi passada,
motivo, a resistência moral, a pena é agravada. diante da particular condição que experimenta ou
da situação que está vivenciando. No tocante ao
Provocação Indireta ao Suicídio menor, deve-se entender como pessoa entre 14 e
18 anos (NUCCI, 2016).
§ 2º Com a detenção de 1 (um) a 3 (três) anos, será
punido quem, desumana e reiteradamente, infli- O suicida com resistência diminuída e de idade
ge maus-tratos a alguém, sob sua autoridade ou
inferior a 14 anos é vítima de homicídio, e não de
dependência, levando-o, em razão disso, à prática
de suicídio. induzimento, instigação ou auxílio a suicídio.
agente que, valendo-se da insanidade da vítima, con- § 2º Se se produz, dolosamente, enfermidade incu-
vence-a a se matar, incide no art. 207 do CPM. rável, perda ou inutilização de membro, sentido ou
Há três modos de cometimento do delito: função, incapacidade permanente para o trabalho,
ou deformidade duradoura:
z Instigando, ou seja, incentivando ideia já existen- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
te por parte da vítima;
z Induzindo, neste caso, fornecendo a ideia; Lesões Qualificadas pelo Resultado
z Auxiliando, no sentido de proporcionar material
para o suicídio. § 3º Se os resultados previstos nos §§ 1.º e 2.º forem
causados culposamente, a pena será de detenção,
O crime é condicionado, possuindo, no tipo, condi- de 1 (um) a 4 (quatro) anos; se da lesão resultar
morte e as circunstâncias evidenciarem que o agen-
ção objetiva de punibilidade, consistente na consuma-
te não quis o resultado, nem assumiu o risco de pro-
ção do suicídio.
duzi-lo, a pena será de reclusão, até 8 (oito) anos. 257
Minoração Facultativa da Pena z Perigo de vida: Concreta possibilidade de a vítima
morrer em face das lesões sofridas. Não bastam
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo conjecturas ou hipóteses vagas e imprecisas, mas
de relevante valor moral ou social ou sob o domínio um fator real de risco inerente ao ferimento cau-
de violenta emoção, logo em seguida a injusta pro- sado. Trata-se de um diagnóstico. É praticamente
vocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena, de
indispensável o laudo pericial, sendo muito rara
1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
a sua substituição por prova testemunhal, salvo
§ 5º No caso de lesões leves, se estas são recípro-
quando esta for qualificada, vale dizer, produzida
cas, não se sabendo qual dos contendores atacou
primeiro, ou quando ocorre qualquer das hipóteses pelo depoimento de especialistas, como o médico
do parágrafo anterior, o juiz pode diminuir a pena que cuidou da vítima durante a sua convalescença;
de 1 (um) a 2/3 (dois terços). z Debilidade permanente: Frouxidão duradoura
no corpo ou na saúde, que se instala na vítima
Lesão Levíssima após a lesão corporal provocada pelo agente. Não
se exige que seja uma debilidade perpétua, bastan-
§ 6º No caso de lesões levíssimas, o juiz pode consi- do ter longa duração;
derar a infração como disciplinar. z Membro: Os membros do corpo humano são os
braços, as mãos, as pernas e os pés. Os dedos são
O crime de lesão corporal previsto no Código Penal apenas partes dos membros, de modo que a perda
Militar é de muita semelhança com o Código Penal de um dos dedos se constitui em debilidade perma-
comum. Assim, lesão corporal é uma ofensa física ou nente da mão ou do pé;
psíquica voltada à integridade ou à saúde do corpo z Sentido: O ser humano possui cinco sentidos, ou
humano. Tutela-se a integridade corporal e a saúde seja, visão, olfato, audição, paladar e tato. Assim,
do ser humano. exemplificando, perder a visão em um dos olhos é
É preciso que a vítima sofra algum dano ao seu debilidade permanente;
corpo, alterando-se interna ou externamente e poden- z Função: Ação própria de um órgão do corpo
do, ainda, abranger qualquer modificação prejudicial humano, por exemplo, função respiratória, função
à sua saúde, transfigurando-se qualquer função orgâ- excretória, função circulatória;
nica ou causando-lhe abalos psíquicos compromete- z Ocupação habitual: Deve-se compreender qual-
dores. Exemplos: hematoma, corte na pele, fratura na quer atividade regularmente desempenhada pela
costela. vítima, e não apenas a sua ocupação laborativa.
Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer Assim, uma pessoa que não trabalhe, vivendo
pessoa e, para configurar o crime de lesão corporal de renda ou sustentada por outra, deixando de
como delito militar, é necessário que ele esteja nas exercitar suas habituais ocupações, sejam elas
hipóteses do art. 9º do CPM. quais forem, até mesmo de simples lazer, pode ser
Exemplos: soldado que desfere golpes no rosto de enquadrada nesse inciso, desde que fique incapa-
outro soldado no interior do alojamento do quartel; citada por mais de trinta dias;
soldado que, durante o desfile cívico militar, mesmo z Enfermidade incurável: Doença irremediável,
que fora da organização militar, defere golpes em de acordo com os recursos da medicina na época
civil que tentava se aproximar da tropa. do resultado, causada na vítima. Não configura
a qualificadora a simples debilidade enfrentada
pelo organismo da pessoa ofendida, necessitando
Dica existir uma séria alteração na saúde;
A autolesão não é punida no direito brasileiro, z Perda: Implica destruição ou privação de algum
embora seja considerada ilícita, salvo se estiver membro (por exemplo, corte de um braço), senti-
vinculada à violação de outro bem ou interesse do (exemplo: aniquilamento dos olhos), ou função
(por exemplo, ablação da bolsa escrotal, impedin-
juridicamente protegido, como ocorre quando
do a função reprodutora);
o agente, pretendendo evitar o serviço militar,
z Inutilização: Falta de utilidade, ainda que fisica-
cria incapacidade física, ferindo-se (Guilherme
mente esteja presente o membro ou o órgão huma-
Nucci). no. Assim, inutilizar um membro seria a perda de
movimento da mão ou a impotência para o coito,
O crime é doloso, não se exigindo elemento sub- embora sem remoção do órgão sexual;
jetivo específico. A forma culposa é prevista em tipo z Incapacidade permanente para o trabalho: Tra-
penal autônomo (art. 210 do CPM). ta-se da inaptidão duradoura para exercer qual-
quer atividade laborativa lícita. Nesse contexto,
Lesão Corporal Grave diferentemente da incapacidade para as ocupa-
ções habituais, exige-se atividade remunerada,
No § 1º, encontram-se os casos de lesão corpo- que implique sustento, portanto, acarrete prejuízo
ral grave; no § 2º, estão os casos de lesão corporal financeiro para o ofendido.
gravíssima. z Deformidade duradoura: Deformar significa
A diferença entre ambas as denominações está alterar a forma original. Ocorre quando há modi-
pena cominada: reclusão de 1 a 5 anos para a hipótese ficação duradoura de uma parte do corpo humano
grave, e reclusão de 2 a 8 anos para a gravíssima. da vítima.
Assim, a lesão corporal grave (ou mesmo a gravís-
sima) é uma ofensa à integridade física ou à saúde Atente-se ao fato de que o Código Penal Militar
da pessoa humana, considerada muito mais séria e estabelece que, no caso de lesão corporal grave e gra-
importante do que a lesão simples ou leve. Observe o víssima, se o resultado qualificador for causado por
258 que pontua Guilherme Nucci: culpa, a pena é atenuada.
Se houver dolo na lesão e dolo no resultado mais Por exemplo: sargento desfere um tapa no rosto no
grave, aplica-se as penas da lesão corporal grave ou soldado após uma discussão sobre o local onde guar-
gravíssima. Assim, há dolo na lesão e culpa no resul- dar o material de acampamento.
tado mais grave.
Lesão Culposa
Lesão Corporal Seguida de Morte
Art. 210 Se a lesão é culposa:
Estamos diante de um clássico exemplo de preter- Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.
doloso. Exige-se dolo no antecedente, na lesão corpo- § 1º A pena pode ser agravada se o crime resulta
ral, e somente a forma culposa no evento subsequente, de inobservância de regra técnica de profissão, arte
ou seja, a morte da vítima. ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato
Vejamos: um sargento empurra um soldado que socorro à vítima.
estava em pé dentro do caminhão de transporte de
tropa, com o objetivo de que este sente – independen- Aumento de Pena
te de sofrer ou não lesão corporal como resultado –
mas ele cai para fora do veículo e morre. § 2º Se, em consequência de uma só ação ou omissão
Ao mencionar que a morte não pode ter sido dese- culposa, ocorrem lesões em várias pessoas, a pena
jada pelo agente, nem tampouco pode ele ter assumi- é aumentada de 1/6 (um sexto) até 1/2 (metade).
do o risco de produzi-la, está-se fixando a culpa como
único elemento subjetivo possível para o resultado A culpa, conforme o inciso II do art. 33 do Códi-
qualificador (NUCCI, 2016). go Penal Militar, é constituída de conduta desaten-
ciosa. Portanto, lesionar alguém por infração ao
Lesão Corporal Privilegiada dever de cuidado objetivo concretiza este tipo penal
incriminador.
Esta hipótese é aplicável somente nos casos de Exemplo: Policial Militar que, totalmente impru-
lesões grave, gravíssima ou seguida de morte. dente, aponta a arma contra o colega, supondo inexis-
Se o agente comete o crime impelido por motivo de tir munição, dispara a arma de fogo e causa-lhe lesão
relevante valor moral (interesse particular) ou social corporal.
(interesse coletivo) ou sob o domínio de violenta emo-
ção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, PARTICIPAÇÃO EM RIXA
o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um
terço). Art. 211 Participar de rixa, salvo para separar os
contendores:
Pena - detenção, até 2 (dois) meses.
Lesões Leves e Causa de Diminuição da Pena
Parágrafo único. Se ocorre morte ou lesão grave,
aplica-se, pelo fato de participação na rixa, a pena
Representa causa de diminuição de pena, de maior de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
amplitude, porque envolve tão somente as lesões leves,
em situação de reciprocidade ou nas condições de o Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
agente cometer o crime impelido por motivo de rele-
pessoa, embora, no caso peculiar da rixa, sejam todos
vante valor moral (interesse particular) ou social (inte-
agentes e vítimas ao mesmo tempo. Isso porque a par-
resse coletivo) ou sob o domínio de violenta emoção,
ticipação em rixa é crime plurissubjetivo, ou seja, con-
logo em seguida à injusta provocação da vítima. O juiz
curso necessário, só existindo se houver pluralidade
pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
de participantes (no mínimo, três pessoas).
Admite-se que haja, entre os contendores, para a
Lesão Levíssima
tipificação deste delito, inimputáveis, sendo que se
exige, no mínimo, três imputáveis.
A lesão corporal levíssima não tem correspon-
O fato de o participante ser ou não culpável não
dência no Código Penal comum. Trata-se de uma
possibilidade de a conduta ser atípica para o crime, afasta a possibilidade real de estar havendo uma
mas uma transgressão disciplinar a ser apurada em desordem generalizada com troca de agressões; por
âmbito administrativo que pode ensejar à punição isso, ficará a cargo da interpretação do juiz.
disciplinar, pelos seguintes motivos, nas palavras de Jorge César de Assis ensina que participar signi-
Guilherme Nucci: fica associar-se ou tomar parte, enquanto rixa é uma
briga, uma desordem caracterizada pela existência
de, pelo menos, três pessoas valendo-se de agressões
DIREITO PENAL MILITAR
Art. 223 Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou Art. 225 Privar alguém de sua liberdade, mediante
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de lhe sequestro ou cárcere privado:
causar mal injusto e grave: Pena - reclusão, até 3 (três) anos.
Pena - detenção, até 6 (seis) meses, se o fato não
constitui crime mais grave. Aumento de Pena
Parágrafo único. Se a ameaça é motivada por fato
referente a serviço de natureza militar, a pena é § 1º A pena é aumentada de 1/2 (metade):
aumentada de 1/3 (um terço). I - se a vítima é ascendente, descendente ou cônjuge
do agente;
Qualquer pessoa pode cometer e sofrer o delito de II - se o crime é praticado mediante internação da
ameaça, seja civil ou militar. vítima em casa de saúde ou hospital;
Encontramos o melhor ensinamento sobre o crime III - se a privação de liberdade dura mais de 15
de ameaça nas lições de Guilherme Nucci, que em sín- (quinze) dias.
tese esclarece que se exige no crime em comento que o
sujeito passivo tenha a capacidade de compreensão e Formas Qualificadas pelo Resultado
entendimento da ameaça realizada, por exemplo, que
a pessoa vítima da ameaça altere o trajeto de sua casa § 2º Se resulta à vítima, em razão de maus tratos
para o trabalho com temor de encontrar o agente. ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico
O autor acrescenta que não se pode considerar ou moral:
ameaça, por exemplo, quando a vítima não expressa Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
sentimento de temor, ou quando a vítima é doente § 3º Se, pela razão do parágrafo anterior, resulta
mental ou criança de tenra idade. morte:
Nucci destaca que inexiste o delito de ameaça Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
contra sujeito indeterminado e ensina que o verbo
ameaçar significa procurar intimidar alguém, anun- Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer
ciando-lhe um mal futuro, sendo irrelevante se o pessoa. Tutela-se a liberdade individual de ir e vir.
agente irá cumpri-la ou não. O verbo privar, no crime de sequestro ou cár-
Somente se pune a ameaça quando praticada dolo- cere privado, significa tolher, impedir, tirar o gozo,
samente. Não existe a modalidade culposa e não se desapossar.
admite a tentativa, visto que é necessário que a vítima Nas lições de Guilherme Nucci, o importante é
sinta o temor. detectar a intenção do agente para a tipificação do
Ainda segundo Nucci (2014), em uma discussão, delito correto:
quando os ânimos estão alterados, é possível que as
pessoas troquem ameaças sem qualquer concretude, z Se o autor age com a intenção de reter a vítima por
DIREITO PENAL MILITAR
isto é, são palavras lançadas a esmo, como forma de pouco tempo para que não pratique determina-
desabafo ou fúria, que não correspondem à vontade do ato, é constrangimento ilegal;
de preencher o tipo penal. z Se atua com a vontade de reter a vítima para cer-
O agravamento da pena, disposto no parágrafo cear a liberdade de locomoção, é sequestro;
único do art. 223 do CPM, prevê a ameaça motivada z Se atua com a intenção de privar-lhe a liberdade
em razão de serviço de natureza militar. para exigir alguma vantagem, trata-se de extor-
são mediante sequestro.
DESAFIO PARA DUELO
O crime é doloso e inexiste a modalidade culposa.
Art. 224 Desafiar outro militar para duelo ou acei- Guilherme Nucci lembra que a liberdade, bem
tar-lhe o desafio, embora o duelo não se realize: precioso e fundamental do ser humano, não deve ser
Pena - detenção, até 3 (três) meses, se o fato não cerceada um minuto sequer, caso a lei não autorize.
constitui crime mais grave. Ainda segundo o autor: 261
Os maus-tratos e natureza da detenção parece se II - a qualquer hora do dia ou da noite para acu-
tratar de resultado qualificador (crime qualificado dir vítima de desastre ou quando alguma infração
pelo resultado), mas não é o caso. penal está sendo ali praticada ou na iminência de
O tipo penal se alterou para serem incluídos os o ser.
maus tratos e a natureza da detenção.
Portanto, não é o grave sofrimento, físico ou moral, Compreensão do Termo “casa”
uma simples resultante do sequestro ou cárcere priva-
do, mas sim um particular modo de praticar o crime.
§ 4º O termo “casa” compreende:
Assim, o agente que priva a liberdade de outrem
I - qualquer compartimento habitado;
e, além disso, submete a vítima a maus tratos, por
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
exemplo, espancando-a ou ameaçando-a constan-
temente, enquanto sua liberdade está tolhida, ou III - compartimento não aberto ao público, onde
coloca-a em lugar imundo e infecto, causando-lhe, alguém exerce profissão ou atividade.
além da conta, particularizado sofrimento físico ou § 5º Não se compreende no termo “casa”:
moral, deve responder mais gravemente. I - hotel, hospedaria, ou qualquer outra habitação
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do inci-
Há três causas de aumento de pena: so II do parágrafo anterior;
II - taverna, boate, casa de jogo e outras do mesmo
z Se a vítima é ascendente, descendente ou cônju- gênero.
ge do agente, quando se evidencia a falta de afe-
to do criminoso, bem como o abuso de confiança Neste crime, o sujeito ativo pode ser qualquer pes-
que geralmente inspira-se às pessoas ligadas pelo soa. O sujeito passivo se restringe à pessoa que tem
matrimônio ou parentesco; direito sobre o lugar invadido.
z Se o crime é praticado mediante internação em Observemos duas hipóteses apresentadas por
casa de saúde ou hospitalar em razão de desvio, Nucci:
por parte dos responsáveis por tais estabelecimen-
tos, da finalidade a que se destinam, ou então pela z Diante de uma família, não são todos os que podem
dissimulação que o agente procurou dar ao crime, autorizar ou determinar a permanência ou entra-
mascarando-o com um aspecto saudável de cuida- da de terceiros no lar, mas somente o casal (pai e
do pela saúde da vítima;
mãe) que, em igualdade de condições, administra
z Se a privação de liberdade ultrapassar o lapso tem-
os interesses familiares;
poral de quinze dias.
z Quando se tratar de um aposento coletivo, qual-
Na prática, o TJM-RS afirmou ser insuficiente o quer um que tenha direito a ali permanecer pode
conjunto probatório para a condenação pelo crime de autorizar a entrada de terceiro, desde que respei-
sequestro quando a própria vítima admite ter ingres- tada a individualidade dos demais. Se neste local,
sado voluntariamente na viatura policial, e as teste- no entanto, houver um administrador, cabe a este
munhas não assistiram qualquer coação dos agentes. controlar a entrada e a saída de visitantes.
SEÇÃO II; DOS CRIMES CONTRA A O crime está contido em dois verbos: entrar e per-
INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO manecer. Entrar é a ação de ir de fora para dentro,
de penetração; permanecer é a conduta de deixar de
Violação de Domicílio sair, ou seja, não sair da residência.
O crime se perfaz de duas formas distintas: quando
Art. 226 Entrar ou permanecer, clandestina ou alguém entra ou quando alguém permanece em casa
astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou alheia ou em suas dependências, desde que seja con-
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em tra a vontade expressa ou tácita de quem é direito, ou
suas dependências:
ainda que a entrada ou permanência seja clandestina.
Pena - detenção, até 3 (três) meses.
O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
Forma Qualificada Durante repouso noturno, à noite, período em que
as pessoas estão menos vigilantes, do anoitecer ao
§ 1º Se o crime é cometido durante o repouso notur- alvorecer, pune-se com maior rigor.
no, ou com emprego de violência ou de arma, ou Quando se fala de violência, esta deve ser física
mediante arrombamento, ou por duas ou mais e exercida contra a pessoa, não contra a coisa. Aqui,
pessoas: o legislador incluiu o emprego de arma, seja própria
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, (por exemplo, armas de fogo, punhais), ou imprópria
além da pena correspondente à violência. (faca de cozinha, pedaço de pau etc.).
Agravação de Pena
Dica
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço), se o fato é
cometido por militar em serviço ou por funcionário Quando se fala de arrombamento, trata-se do
público civil, fora dos casos legais, ou com inobser- rompimento de obstáculo protetor da casa, nas
vância das formalidades prescritas em lei, ou com mais variadas formas, como cercas, vidros, por-
abuso de poder. tas, grades etc. É circunstância exclusiva do
Código Penal Militar, sem similar na legislação
Exclusão de Crime
penal comum (NUCCI, 2014).
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência
em casa alheia ou em suas dependências: Observe-se que o crime será qualificado, além da
I - durante o dia, com observância das formalidades hipótese de ser praticado no período noturno, caso
legais, para efetuar prisão ou outra diligência em seja a conduta praticada em concurso de duas ou mais
262 cumprimento de lei ou regulamento militar; pessoas.
A causa de aumento da pena é fixa de um terço, O crime tem similaridade com o art. 153 do CP. A
que deve ser acrescentado às penas previstas no caput divulgação do segredo somente é considerada crime
ou no § 1º do art. 226. militar se for pratica por militar em situação de ativi-
A causa excludente de ilicitude, conforme ensina dade contra militar na mesma situação.
Nucci, já está abrangida pelo inciso III do art. 42 do Destaca-se que deve ser, o destinatário ou detentor
CPM (estrito cumprimento do dever legal) e pela pró- do documento particular ou da correspondência sigi-
pria Constituição Federal (inciso XI do art. 5º), autori- losa, o guardião do segredo.
zando o ingresso, sem o consentimento do morador, O núcleo do crime é o verbo divulgar, ou seja, dar
para efetuar prisão em flagrante (dever das autorida- conhecimento a alguém ou tornar o assunto público.
des) ou para acudir desastre ou prestar socorro (dever É indispensável que o segredo esteja concretizado
das autoridades, também). na forma escrita e não oral, conforme estabelece a Lei
As definições e distinções do termo casa são impor- de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).
tantes. Nesse sentido, observe as definições de Gui- O crime é doloso e não existe a modalidade culposa.
lherme Nucci:
Violação de Recato
z Compartimento habitado: qualquer lugar sujeito
à ocupação do ser humano é, como regra, passível Art. 229 Violar, mediante processo técnico o direito
de divisão. O resultado dessa divisão é o comparti- ao recato pessoal ou o direito ao resguardo das pala-
mento. Portanto, compartimento habitado é o local vras que não forem pronunciadas publicamente:
específico de um contexto maior, devidamente ocu- Pena - detenção, até 1 (um) ano.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem
pado por alguém para morar, viver ou usar. Assim,
divulga os fatos captados.
o quarto de um hotel é um compartimento habi-
tado. Pode ser o trailer ligado a um carro, onde se
Jorge César de Assis (2004) chama a atenção para esse
encontra morada, bem como a cabine de um barco;
crime no ponto em que os sujeitos ativo e passivo neces-
z Aposento ocupado de habitação coletiva: com-
sariamente devem ser militares em situação de atividade.
partimentos de habitação coletiva, por exemplo,
O agente deve violar (revelar) o conteúdo pessoal.
hotéis, motéis, flats, pensões, “repúblicas” etc., que
Podemos exemplificar com o caso hipotético de
estejam ocupados por alguém. Assim, um quarto
um militar divulgar por meio de rede social imagens
vazio de hotel pode ser invadido, pois é parte de de outra militar que estava trocando de roupas em
habitação coletiva não ocupado, mas o crime existe barracas durante operação militar.
quando o aposento estiver destinado a um hóspede; Observe que, conforme o exemplo acima, o recato
z Compartimento fechado ao público, onde pessoal é a intimidade. A tutela penal é a intimidade.
alguém exerce profissão ou atividade: é o local O crime é doloso e não há a modalidade culposa.
onde alguém ali exerce profissão ou atividade,
por exemplo, o escritório do advogado, o consul-
tório do médico. Observe-se, ainda, que o quintal Importante!
de uma casa ou a garagem externa da habitação,
quando devidamente cercados, fazem parte do O divulgador é aquele que espalha os dados ínti-
conceito de domicílio, penalmente protegido; mos captados e responde pelo mesmo delito. Se
z Hospedaria, estalagem ou outra habitação cole- quem violou a privacidade alheia também divul-
tiva: as habitações coletivas, abertas ao público, ga os fatos, responde por um só crime (NUCCI,
não gozam da proteção do art. 226, pois admitem a 2014).
entrada e a permanência de variadas pessoas, sem
necessidade de prévia autorização. O ingresso no
saguão de um hotel não depende de autorização, A lei não define o que seja processo técnico, o que
pois local aberto ao público, não se constituindo permite que possamos entender que seja o modo,
objeto da proteção penal. Inclui-se as áreas de conforme a tecnologia avança, pelo qual o agente vio-
lazer dos hotéis e motéis, campings (não incluídas la a intimidade de outrem. Quando a lei entrou em
as barracas), parques etc.; vigor, o processo técnico era fotografia em papel ou
z Taverna, casa de jogo e outras: taverna (bares em negativos ou gravações em fita. Hoje, é por meio
e restaurante) é o lugar onde são servidas e ven- de recursos de mídias digitais: conversas por meio de
didas bebidas e refeições. As casas de jogo são, aplicativos, que incluem áudio e imagem.
Na prática, o STM condenou um militar por viola-
normalmente, proibidas, pois não se aceitam cas-
ção de recato por fotografar e divulgar as imagens de
sinos no Brasil. A generalização se dá em torno dos
uma militar, expondo sua intimidade.
demais lugares de diversão pública, tais como tea-
DIREITO PENAL MILITAR
O excesso de exação é uma forma de concussão. Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço,
Configura-se quando o militar exige tributo ou contri- se, em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é
buição social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, retardado ou omitido o ato, ou praticado com infra-
quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ção de dever funcional.
ou gravoso, que a lei não autoriza.
Sobre o excesso de exação, é importante mencionar: O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que dá,
oferece ou promete dinheiro ou vantagem indevida.
z Não admite a modalidade culposa; O servidor público, civil ou militar, também pode ser
z Admite a tentativa quando for possível fracionar o sujeito ativo, desde que esteja agindo como particular
iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati- e despido de sua qualidade funcional.
cado mediante carta endereçada à vítima; O sujeito passivo, ao contrário do que se possa pen-
z Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou sar, não é o servidor público, mas, sim, a administra-
de outrem, o que recebeu indevidamente para ção militar, em favor da qual está aquele que opera na
recolher aos cofres públicos, responderá por qualidade de seu agente.
excesso de exação na modalidade qualificada. Oferecer vantagem indevida a policial militar
para que se omita quanto ao flagrante que presenciou
DESVIO caracteriza o delito de corrupção ativa, ainda que o
policial esteja fora de seu horário de trabalho e à pai-
Art. 307 Desviar, em proveito próprio ou de outrem,
o que recebeu indevidamente, em razão do cargo ou sana, pois, ao surpreender a prática de crime, age no
função, para recolher aos cofres públicos: cumprimento do dever legal e nos limites de sua com-
Pena - reclusão, de dois a doze anos. petência, conforme decisão do TJSP.
A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce A prevaricação consiste em um crime militar impró-
função em repartição militar. Equipara-se a documento,
prio, ou seja, é um tipo penal previsto tanto no CPM
para os efeitos penais, o disco fonográfico ou a fita ou fio
quanto no Código Penal (coincidentemente, também
de aparelho eletromagnético a que se incorpore declara-
no art. 319 do CP) e pode ser praticado tanto por militar
ção destinada à prova de fato juridicamente relevante.
quanto por civil, desde que este seja funcionário público.
O sujeito ativo pode ser tanto o militar quanto o
A prevaricação requer um fim especial de agir por
civil, desde que o fato atente contra as instituições
parte do sujeito (chamado de elemento subjetivo do
militares. O sujeito passivo é a administração militar.
Para que configure o delito, é imprescindível que tipo) que pode ser identificado pela expressão “para
a falsificação seja idônea de iludir terceiro. Se a falsi- satisfazer interesse pessoal”.
ficação for grosseira, perceptível à primeira vista, ine- O crime se consuma de três maneiras (sempre ten-
xiste o delito, em face da ausência de potencialidade do em vista o fim especial de agir, que é o favoreci-
lesiva do comportamento. mento de interesse pessoal):
O STM decidiu que pratica o crime de falsidade
de documento o militar que falsifica atestado médico Retarda
com o objetivo de conseguir prorrogação de licença
DIREITO PENAL MILITAR
(protela, adia)
para tratamento de saúde.
FALSIDADE IDEOLÓGICA
Deixa de Praticar O ato de ofício, contra
(omite) disposição legal
A falsidade documental pode ser de duas espécies:
material e ideológica.
É importante notar que, para que se configure a Pode ser cometido por militar ou por civil no
prevaricação, o agente deve agir motivado por inte- desempenho de função pública (sempre com a ressal-
resse ou sentimento pessoal; se o militar ou o funcio- va de que a Justiça Militar Estadual não julga civil),
nário público civil receber vantagem indevida para desde que tenha a guarda (responsabilidade) sobre o
retardar, deixar de praticar ou praticar de maneira documento em razão do cargo.
diversa do que é previsto em lei, pratica o crime de Os verbos-núcleo são três: extraviar (dar destino
corrupção passiva, previsto no art. 308 do CPM. diverso, fazer desaparecer); sonegar (ocultar, escon-
der); e inutilizar (tornar inútil, danificar).
VIOLAÇÃO DO DEVER FUNCIONAL COM O FIM DE O objeto sobre o qual recai a conduta é o livro ofi-
LUCRO cial, assim entendido como qualquer livro no qual
conste assunto de interesse da Administração Mili-
Art. 320 Violar, em qualquer negócio de que tenha tar, ou outro documento. A definição de documentos,
sido incumbido pela administração militar, seu para fins penais militares, encontra-se no art. 371 do
dever funcional para obter especulativamente Código de Processo Penal Militar (CPPM), assim defini-
vantagem pessoal, para si ou para outrem:
dos como quaisquer escritos, instrumentos ou papéis,
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
públicos ou particulares.
O sujeito ativo deve ser militar ou funcionário civil
CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
da Administração Militar e a violação deve estar rela-
cionada com sua esfera de atuação. Quando se fala
Art. 322 Deixar de responsabilizar subordina-
em cometimento de crime militar praticado por civil,
do que comete infração no exercício do cargo, ou,
deve-se ter em mente a distinção de competências da
quando lhe falte competência, não levar o fato ao
Justiça Militar da União e da Justiça Militar Estadual.
conhecimento da autoridade competente:
Em nível estadual, não é possivel que um civil seja jul-
Pena - se o fato foi praticado por indulgência,
gado pela Justiça Militar. detenção até seis meses; se por negligência, deten-
Para que se caracterize esse delito, o agente deve ção até três meses.
agir com o dolo de locupletar-se (enriquecer-se) inde-
vidamente, obtendo vantagem pessoal (veja que o
O art. 322 possui duas condutas como núcleo: a
legislador não define o tipo de vantagem, mas pelo
primeira consiste em deixar de responsabilizar o
nome dado ao delito – fim de lucro –, entende-se ser
subordinado por suposta prática de crime ou infração
econômica) por meio de especulação (especular é agir
disciplinar (neste caso, o militar deve ter a capacidade
de má-fé, buscando tirar proveito de uma situação
legal de punir seu subordinado e não o faz); e a segun-
para obter vantagem).
da, em deixar de levar o fato ao conhecimento de quem
Um exemplo da prática do delito previsto no art.
320 do CPM seria o do militar, com atribuição para tenha a competência legal para responsabilizar (quan-
confecção de edital de compra de material para a do o sujeito ativo não possui essa competência por não
Administração Militar, que viesse a obter vantagem ter superioridade hierárquica ou competência sobre o
por meio da especulação sobre o preço dos bens a militar ou funcionário a ser responsabilizado).
serem adquiridos. Outro exemplo seria o do militar Pode ser praticado em duas modalidades (logica-
envolvido na área de seleção que procure interessa- mente, sendo distintas as penas para cada):
dos em comprar gabaritos do certame para ingresso
em curso de formação militar.
Dolosa
(indulgência, iso é,
EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE piedade, pena)
LIVRO OU DOCUMENTO
Modalidades
Art. 321 Extraviar livro oficial, ou qualquer
Culposa
documento, de que tem a guarda em razão
(negligência, isto é,
do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou descuido, desleixo
parcialmente:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o fato não
constitui crime mais grave.
É importante relembrar que, se o militar deixa de
O delito previsto no art. 321 do CPM constitui cri- agir motivado por aceitação de promessa de vanta-
me subsidiário, isto é, apenas se configurará se não gem indevida, vai se configurar o crime de corrupção
constituir delito mais grave. Por exemplo: o oficial passiva, previsto no art. 308 do CPM); caso aja para
da Polícia Militar, encarregado de um IPM, que faz satisfazer interesse pessoal de outra espécie, pode
268 desaparecer os autos do inquérito, deixando de dar configurar prevaricação (art. 319 do CPM).
NÃO INCLUSÃO DE NOME EM LISTA Pena - detenção, de dois a seis meses, se o fato não
constitui crime mais grave.
Art. 323 Deixar, no exercício de função, de incluir, Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem,
por negligência, qualquer nome em relação ou ainda que não seja funcionário, mas desde que
lista para o efeito de alistamento ou de convoca- o fato atente contra a administração militar:
ção militar: I - indevidamente se se apossa de correspon-
Pena - detenção, até seis meses. dência, embora não fechada, e no todo ou em parte
a sonega ou destrói;
II - indevidamente divulga, transmite a outrem,
Esse crime pode ser praticado por qualquer pessoa
ou abusivamente utiliza comunicação de interes-
que tenha função relacionada ao serviço militar. Trata-
se militar;
-se de crime exclusivamente culposo, uma vez que é pra- III - impede a comunicação referida no número
ticado mediante negligência por parte do sujeito ativo. anterior.
Observe na tabela a seguir a diferença entre alista-
mento e convocação: Esse é outro crime subsidiário; apenas vai se confi-
gurar caso não haja a incidência de crime mais grave.
ALISTAMENTO É um tipo semelhante ao do art. 227 do CPM (violação
Seleção ou regularização do serviço militar do brasilei- de correspondência), com a diferença que, no tipo do
ro, conforme previsão no art. 13 da Lei do Serviço Militar art. 325, a correspondência violada é oficial.
(Lei nº 4.375/64) O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que
atente dolosamente contra a Administração Militar.
CONVOCAÇÃO
Devassar sigifica violar, tomar conhecimento.
Chamamento dos que irão prestar o serviço militar obri- Objeto sobre o qual recai a conduta é a correspondên-
gatório nas Forças Armadas, de acordo com o art. 16 da cia recebida ou enviada pela Administração Militar. O
Lei do Serviço Militar acesso à correspondência deve ser indevido, ou seja,
deve ocorrer sem que haja a permissão para tal.
O parágrafo único apresenta três formas equipara-
INOBSERVÂNCIA DE LEI, REGULAMENTO OU
das (o agente responde pela mesma pena).
INSTRUÇÃO
VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL
Art. 324 Deixar, no exercício de função, de
observar lei, regulamento ou instrução, dando
Art. 326 Revelar fato de que tem ciência em razão
causa direta à prática de ato prejudicial à adminis-
do cargo ou função e que deva permanecer em
tração militar:
segrêdo, ou facilitar-lhe a revelação, em prejuízo
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, deten- da administração militar:
ção até seis meses; se por negligência, suspensão Pena - detenção, de seis meses a dois anos, se o fato
do exercício do pôsto, graduação, cargo ou função, não constitui crime mais grave.
de três meses a um ano.
Mais outro crime subsidiário; só vai se configurar
Esse crime pode ser praticado por militar em exer- se não constituir crime mais grave, como espionagem
cício de função ou por civil (sempre lembrando da (previsto no art. 366 como um dos crimes militares em
limitação da Justiça Estadual em relação a este). Tra- tempo de guerra), por exemplo.
ta-se de uma norma penal em branco, pois necessita O sujeito ativo deve ter ciência do segredo em
de complemento em outra norma (o agente deixar de razão do cargo ou função que exerce. O prejuízo à
cumprir o previsto em lei, regulamento ou instrução). Administração Militar deve ser causado pela revela-
Com sua conduta, o agente deve, obrigatoriamen- ção (divulgação, transmissão) ou pela facilitação da
te, prejudicar a Administração Militar. revelação (dar condições para que outro o faça).
Um exemplo de conduta que pode configurar a
prática deste crime encontra-se na jurisprudência VIOLAÇÃO DE SIGILO DE PROPOSTA DE
como, por exemplo, no caso do comandante de uma CONCORRÊNCIA
organização militar de saúde que, contrariando deter-
minação superior contida em Portaria, autorizou o Art. 327 Devassar o sigilo de proposta de
atendimento médico de pessoas não autorizadas, sem concorrência de interêsse da administração
militar ou proporcionar a terceiro o ensejo de
que houvesse uma emergência (STM, Apelação n.
devassá-lo:
0000088-15.2012.7.07.0007, rel. Min. Cleonilson Nicá-
Pena - detenção, de três meses a um ano.
cio Silva, J. 12/05/2015).
DIREITO PENAL MILITAR
Outro exemplo que configura a prática do delito do Trata-se de um crime especial em relação ao pre-
art. 324 é o de militares que, deixando de observar as visto no art. 94 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações).
regras pertinentes, utilizam veículo militar para satis- Quando a concorrência (modalidade de licitação) for
fazer interesses pessoais. de interesse da Administração Militar, aplica-se o art.
Pode ser praticado na forma dolosa (tolerância) ou 327 do CPM, ficando afastado o crime previsto na Lei
culposa (negligência). de Licitações.
Pode ser praticado por qualquer pessoa, desde que
VIOLAÇÃO OU DIVULGAÇÃO INDEVIDA DE o fato atente contra a Administração Militar.
CORRESPONDÊNCIA OU COMUNICAÇÃO Devassar é tomar conhecimento, descobrir o con-
teúdo da proposta de concorrência. Esta é a primeira
Art. 325 Devassar indevidamente o conteúdo de modalidade pela qual o delito pode ser praticado. A
correspondência dirigida à administração mili- segunda modalidade consiste na conduta de facilitar
tar, ou por esta expedida: para que terceiro tome conhecimento da proposta 269
(contaminando, portanto, o processo licitatório, que Pena - detenção, até quatro meses, se o fato não
deve ser sigiloso). Ambas as modalidades devem ser constitui crime mais grave.
praticadas dolosamente.
Trata-se de uma norma penal em branco, pois as
Dica exigências legais para se entrar em exercício encon-
tram-se em outros diplomas legais: posse, inspeção de
Concorrência é uma modalidade de licitação, saúde etc. Pode se consumar de duas formas (dolosas):
prevista no art. 22 da Lei de Licitações, da qual
os interessados participam mediante uma habi- ENTRAR NO EXERCÍCIO ANTES DE SATISFEITAS AS
litação preliminar, oportunidade na qual se com- EXIGÊNCIAS LEGAIS
provam os requisitos mínimos de qualificação
De posto (oficial) ou função militar (oficial ou praça), ou
previstos em edital.
de cargo ou função em repartição militar (civil)
OBSTÁCULO À HASTA PÚBLICA, CONCORRÊNCIA CONTINUAR NO EXERCÍCIO, SEM AUTORIZAÇÃO
OU TOMADA DE PREÇOS Depois de saber que foi exonerado, ou afastado, legal e
definitivamente, qualquer que seja o ato determinante
Art. 328 Impedir, perturbar ou fraudar a reali- do afastamento
zação de hasta pública, concorrência ou tomada de
preços, de interêsse da administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. ABANDONO DE CARGO
Esse delito pode ser praticado por qualquer pes- Art. 330 Abandonar cargo público, em reparti-
soa. Tratam-se, novamente, de duas condutas previs- ção ou estabelecimento militar:
Pena - detenção, até dois meses.
tas pela Lei de Licitações, em seus arts. 93 e 95; pelo
princípio da especialidade, configurará o tipo do art.
328 do CPM, quando a conduta atentar contra a Admi- Abandonar é deixar de totalmente exercer suas
funções inerentes ao cargo público que se ocupa. Pode
nistração Militar.
ser praticado por qualquer um, desde militar ou civil,
O crime consuma-se com a realização de um dos
que que exerça cargo junto à Administração Militar.
três verbos-núcleo: impedir (bloquear, imposibilitar),
Em relação aos militares da ativa, pode haver con-
perturbar (tumultuar, atrapalhar) ou fraudar (burlar, flito com o crime de deserção, previsto no art. 187 do
adulterar) o processo licitatório de interesse da Admi- CPM; em relação a eles, o melhor entendimento seria
nistração Militar. de que só se aplicaria o art. 330 caso houvesse alguma
São três as espécies licitatórias que podem ser falha no Procedimento de Deserção.
objeto do crime previsto no art. 328:
Formas qualificadas
Impedir, Perturbar
ou Fraudar § 1º Se do fato resulta prejuízo à administra-
ção militar:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na
faixa de fronteira:
Hasta pública Concorrência Tomada de preços Pena - detenção, de um a três anos.
6. (CRS – 2018) O art. 162 do Código Penal Militar (CPM) 12. (CRS – 2018) Em relação ao crime militar, é correto afirmar:
trata do crime de “Despojar-se de uniforme, condeco-
ração militar, insígnia ou distintivo, por menosprezo ou a) Nos casos previstos no Código Penal Militar, não há
vilipêndio”. Em relação à pena e seu aumento, é corre- punição em relação ao crime tentado.
to afirmar: b) Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao cri-
me consumado, diminuída de um a dois terços, poden-
a) A pena é de reclusão, de um a dois anos. Se o fato é do o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a
praticado durante solenidade militar, a pena é aumen- pena do crime consumado.
tada de um terço. c) Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao cri-
b) A pena é de até seis meses de detenção. Se o fato é pra- me consumado, sempre diminuída de um terço.
ticado diante da tropa, a pena é aumentada da metade. d) Nos casos previstos no Código Penal Militar, em rela-
c) A pena é de detenção, de seis meses a um ano. Se o ção à tentativa, é vedada a aplicação da pena corres-
fato é praticado diante da tropa, ou em público, a pena pondente ao crime consumado.
é aumentada da metade.
d) A pena é de seis meses de detenção. Se o fato é prati- 13. (CRS – 2017) Nos termos do Código Penal Militar (CPM),
cado diante da tropa, a pena é aumentada de um terço. considera-se tentado o crime quando:
7. (CRS – 2017) O militar que se negar a obedecer a a) Iniciada a execução, o crime somente se consuma por
ordem de seu superior hierárquico, chefe direto, rela- vontade direta do agente.
tivo a serviço ou dever imposto em lei, comete crime b) Iniciada a execução, o crime não se consuma por cir-
militar de: cunstâncias alheias à vontade do agente.
c) Iniciada a execução, o agente desiste de prosseguir na
a) Descumprimento de missão. execução do crime.
b) Recusa de Obediência. d) Consumada a execução, o agente repara o dano causado.
c) Desobediência.
d) Omissão de providências para evitar danos.
14. (CRS – 2017) Sobre o crime culposo, considerando o
8. (CRS – 2017) Marque a alternativa correta. De acordo regramento estabelecido no Código Penal Militar (CPM),
com o disposto no Código Penal Militar, recusar a obe- marque a alternativa correta:
decer a ordem do superior sobre assunto ou matéria
de serviço, ou relativamente a dever imposto em lei, a) Somente nos casos expressos em lei o agente poderá
regulamento ou instrução, configura: ser punido por fato previsto como crime, quando prati-
cado de forma culposa.
a) Desrespeito a superior. b) O agente do crime culposo sempre prevê a possibilida-
b) Descumprimento de missão. de de ocorrência do seu resultado.
c) Omissão de oficial. c) Será culposo o crime quando o agente assumir o risco
d) Recusa de obediência. de produzir o seu resultado.
DIREITO PENAL MILITAR
273
II. Militar em situação de atividade ou assemelhado d) Consideram-se crimes militares, em tempo de paz, os
comete crime militar em lugar sujeito à administra- crimes de que trata o CPM, quando definidos de modo
ção militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, des-
assemelhado, ou civil. de que o agente seja militar em situação de atividade.
III. Militar em situação de atividade ou assemelhado
comete crime militar contra militar da reserva em qual- 19. (CRS – 2017) Considerando os dispositivos contidos
quer circunstância. no Código Penal Militar, marque “V” para verdadeira e
IV. Militar durante o período de manobras ou exercício “F” para falsa nas alternativas a seguir.
comete crime militar somente contra militar da reser-
va ou civil. ( ) O militar da reserva não remunerada possui as res-
V. Militar em situação de atividade, ou assemelhado, ponsabilidades e prerrogativas do posto e da gra-
comete crime militar contra o patrimônio sob a admi- duação, para efeito da aplicação da lei penal militar,
nistração militar, ou a ordem administrativa militar. quando pratica ou contra ele é praticado crime militar,
por estar desobrigado de forma permanente do servi-
A alternativa correta é: ço ativo.
( ) Um militar de folga que se opõe à determinação de
a) Somente as assertivas I, III e IV estão corretas. uma ordem da sentinela do quartel, comete o crime
b) Somente a assertiva II está correta. do art. 162 (despojamento desprezível).
c) Todas as assertivas estão corretas. ( ) Equipara-se a Comandante, para efeito de aplicação
d) Somente as assertivas I, II e V estão corretas. do Código Penal Militar, toda a autoridade com fun-
ção de direção.
16. (CRS – 2018) Para os efeitos da aplicação da lei penal ( ) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
militar, é correto afirmar: deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela,
a própria vigência de sentença condenatória irrecor-
a) O militar da reserva conserva as responsabilidades e rível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil.
prerrogativas do posto ou graduação, somente quan-
do contra ele é praticado crime militar. Marque a alternativa que contém a sequência correta
b) O oficial da reserva, ou reformado, conserva as res- de respostas:
ponsabilidades e prerrogativas do posto, quando pra-
tica ou contra ele é praticado crime militar, o que não a) F, F, V, F.
ocorre com a praça, por não haverem tais prerrogati- b) F, V, F, V.
vas em relação à sua graduação. c) F, F, V, V.
c) O militar da reserva, ou reformado, empregado na admi- d) V, V, V, F.
nistração militar, equipara-se ao militar em situação de
atividade, para o efeito da aplicação da lei penal militar. 20. (CRS – 2017) O policial militar que durante sua ativida-
d) O militar da reserva ou reformado não goza de prerro- de laboral retarda ou deixa de praticar, indevidamente,
gativas do posto ou graduação relativas à aplicação ato de ofício, ou o pratica contra expressa disposição
da lei penal militar. de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal
comete crime militar de:
17. (CRS – 2017) Sobre a aplicação da Lei Penal Militar,
considerando o regramento estabelecido no Código a) Condescendência criminosa.
Penal Militar, marque a alternativa correta: b) Inobservância de lei, regulamento ou instrução.
c) Prevaricação.
a) Há crime sem lei anterior que o defina e pena sem pré- d) Abuso de confiança ou boa-fé.
via cominação legal.
b) Considera-se praticado o crime no momento da ação, 9 GABARITO
omissão ou do resultado.
c) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, 1 B
a própria vigência de sentença condenatória irrecorrí-
vel, salvo quanto aos efeitos de natureza civil. 2 D
d) Considera-se praticado o fato, no lugar em que se 3 C
desenvolveu a atividade criminosa, e não no local
onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 4 B
14 A
15 D
16 C
17 C
18 A
19 C
20 C
ANOTAÇÕES
275
ANOTAÇÕES
276
direito natural. Em princípio, estabeleceu-se no Esta-
do Moderno, com a Magna Carta Inglesa (conhecida
como Carta de João Sem Terra), de 1215, primeiro
documento que reconheceu que ninguém pode anular
os direitos do povo, nem mesmo o rei. Posteriormente,
DIREITOS HUMANOS com a Petição de Direitos, de 1628, uma declaração de
liberdade civis inglesa, que reafirmou alguns direitos
mínimos e limitou, também, o poder dos soberanos.
Aos poucos, esse direito natural e universal adqui-
riu contornos dentro do ordenamento jurídico de
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS cada Estado, passando a ser positivado, ou seja, viran-
DIREITOS HUMANOS, DE 10 DE do norma interna, elaborada segundo as peculiarida-
des e interesses de cada país. Foi assim na Revolução
DEZEMBRO DE 1948
Inglesa, com a Declaração Inglesa de Direitos, de 1689,
a qual consagrou a supremacia do parlamento e o
Direitos Humanos são os direitos inerentes aos seres
humanos como um todo, independentemente de qual- império da lei; na Revolução Americana, com a inde-
quer condição, tais como sexo, idade, nacionalidade, pendência das colônias britânicas na América do Nor-
religião, entre outros. No entanto, tais direitos são cons- te e a elaboração da Constituição estadunidense, de
tantemente relativizados, por ser objeto de interpreta- 1787; e, por fim, na Revolução Francesa, com a Decla-
ções equivocadas, normalmente ligados à proteção de ração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão,
grupos específicos, como, por exemplo, a proteção de de 1789, um marco para a proteção de direitos huma-
criminosos. Todavia, não é possível reduzi-lo dessa for- nos no plano nacional.
ma, uma vez que sua proteção é bastante abrangente. No entanto, para sua plena efetivação, fazia-se
Entender que absolutamente todas as pessoas pos- necessário um processo de internacionalização des-
suem direitos é o primeiro passo para compreender o ses direitos, o que significa dizer que era preciso que
que são os direitos humanos. Portanto, eu, você, seu esses direitos fossem normatizados pelos Estados de
vizinho, seu amigo, seu inimigo, aquele vendedor da forma conjunta, de modo a formar um conjunto de
esquina, aquela senhora que frequenta a igreja, o pas- direitos positivos universais. Observa-se, entretanto,
tor, a moça da lanchonete, o rapaz da academia e, até que os países da Europa não estavam muito interes-
mesmo, os desconhecidos: todos nós somos titulares sados em garantir a todos, que não os europeus, a
dos direitos humanos. consecução desses direitos. Se todos tivessem os mes-
O segundo passo para entender os direitos huma- mos direitos, como seria justificado a violência e o
nos é abandonar os preconceitos, isto é, os conceitos desrespeito no processo de colonização? Como se jus-
preconcebidos, ou melhor, os conceitos invisíveis que tificaria o processo de escravidão dos povos nativos?
carregamos sem perceber, assim como os esterióti-
Consequentemente, até a primeira metade do século
pos, como, por exemplo, rotulações relativas ao sexo,
XX, todos os acordos estavam voltados para a Europa
envolvendo generalizações sobre as capacidades físi-
e seus interesses.
cas, emocionais e intelectuais de mulheres e homens,
tais como “homens são naturalmente provedores”, Com a Segunda Guerra Mundial, muita coisa mudou.
“feministas odeiam os homens”, “filhos de pais sepa- Primeiro, a participação importante de países de
rados são desajustados”, entre outras. outros continentes fizeram com que o foco deixasse de
Assim sendo, os direitos humanos não estão liga- recair somente na Europa. Além disso, os atos cometi-
dos a nenhum grupo, então generalizar e estereotipar dos durante a guerra deram ensejo a um movimento
os direitos e as pessoas somente ajuda a perpetuar o de reconstrução dos direitos. Esse movimento nasceu
desrespeito e a impedir a igualdade, além de contri- consubstanciado na concepção de que todos os Estados
buir para a propagação do desconhecimento, pois, têm a obrigação de respeitar os direitos humanos e que
quando se relativiza os direitos humanos, aqueles que compete à comunidade internacional a responsabilida-
deveriam lutar por seus direitos não sabem que os de de exigir o cumprimento dessa obrigação.
têm, muito menos sabem como se proteger. Surgiu, assim, o Sistema de Proteção dos Direitos
Observa-se que, embora os direitos humanos sejam Humanos, que teve, como marco, a Declaração Uni-
inerentes à própria humanidade, o Sistema de Prote- versal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948.
ção dos Direitos Humanos, que visa a assegurar a tute- Antes de iniciar o estudo da DUDH, é preciso ter
la de tais direitos, é um fenômeno recente na história. em mente que, para melhor compreendê-la, é primor-
Nos primórdios, os direitos estavam atrelados ao uso dial entender a estrutura e identificar as ideias mais
da força, de modo que, para saber se a pessoa estava importantes da Declaração. Por essa razão, é extrema-
segura ou não, dependia do seu grupo estar na posi- mente importante ler os artigos e tentar compreender
ção de vencedor ou vencido. Populações derrotadas os pontos mais importantes, sem precisar, contudo,
eram escravizadas e perdiam seus direitos, tanto que decorá-los.
DIREITO HUMANOS
Direitos Civis e
Dica Preâmbulo
Políticos
A característica da efetividade dos direitos huma- Por fim, a sétima consideração traz a característica
nos é encontrada na terceira consideração, uma vez que da indivisibilidade desses direitos. Não existe hierar-
é dever do Estado a sua tutela. Os direitos humanos quia entre os direitos humanos, pois todos possuem
devem ser protegidos pelo “império da lei”, ou seja, o mesmo valor como direito. Consequentemente, eles
por normas gerais e abstratas aplicáveis a todos. No são indivisíveis na medida em que a garantia dos
entanto, de nada adianta a mera previsão abstrata do direitos civis e políticos é condição para a observância
direito se o Estado não agir para a sua concretização, dos direitos econômicos, sociais e culturais. Portanto,
pois é seu dever agir de maneira eficaz, de modo a quando um deles é violado, os outros também o são.
permitir o pleno desenvolvimento e efetividade dos Agora, portanto, a Assembleia Geral proclama a
direitos. presente Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos como o ideal comum a ser atingido por todos os
Considerando ser essencial promover o desen- povos e todas as nações, com o objetivo de que cada
volvimento de relações amistosas entre as indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre
nações, [...].
em mente esta Declaração, esforcem-se, por meio do
DIREITO HUMANOS
O artigo 11 é composto de dois itens. O primeiro Artigo 5º, XV, CF/88: é livre a locomoção no terri-
item traz o princípio da presunção de que todos os tório nacional em tempo de paz, podendo qualquer
seres humanos acusados de práticas delituosas são pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer
inocentes até que a culpabilidade tenha sido prova- ou dele sair com seus bens;
da. Isso significa dizer que não é o acusado que tem
que provar que é inocente, mas o Estado que tem a Se o primeiro item estabelece a liberdade de loco-
responsabilidade de demonstrar a responsabilidade
moção interna, o segundo item trata da liberdade de
criminal deste. Portanto, por essa garantia processual,
locomoção externa e, portanto, do direito de locomo-
decorrente do direito à segurança, compete ao Estado
ção entre os Estados, ou seja, o direito de entrar, per-
o ônus de provar a culpa do indivíduo.
manecer ou sair de um país.
Assim como qualquer um dos direitos humanos, a
z Presunção de inocência = ônus da prova do Estado
liberdade de locomoção, tanto interna como externa,
não é ilimitada. Exemplo: mesmo possuindo o direito de
A inocência é presumida, porque quem deve pro-
locomoção, não é possível ingressar em uma proprieda-
var a culpa do indivíduo é o Estado.
de alheia fora das hipóteses previstas na CF/88 (convi-
O segundo item do artigo 11 estabelece uma regra
de aplicação da norma penal, trazendo a ideia de ante- te, desastre, flagrante delito, prestar socorro ou ordem
rioridade da lei penal. Trata-se de mais uma garantia judicial durante o dia), podendo, inclusive, caracterizar
processual decorrente do direito à segurança, no senti- o crime de invasão de domicílio. Do mesmo modo, a Lei
do de que é necessário que exista de uma norma penal nº 13.445/2017 (Lei de Migração) estabelece as hipóteses
anterior estabelecendo tanto a conduta (primeira parte de ingresso e permanência do estrangeiro no Brasil.
do item) como a sanção (segunda parte do item), para
que os indivíduos possam ser condenados pela sua prá- Artigo 14
tica. Veda-se, portanto, o direito penal retroativo. 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direi-
Neste sentido, a conduta tem que ser considerada to de procurar e de gozar asilo em outros países.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de
crime antes da sua prática (anterioridade da lei penal).
perseguição legitimamente motivada por cri-
A pena imposta deve ser aquela prevista pela lei no mes de direito comum ou por atos contrários aos
momento de sua prática, mesmo que a lei a modifique objetivos e princípios das Nações Unidas.
posteriormente (irretroatividade da lei penal mais grave).
O artigo 14 disciplina o instituto de proteção interna-
Artigo 12 Ninguém será sujeito à interferência na
cional denominado de asilo. Asilo é o acolhimento, pelo
sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na
Estado, do indivíduo que está sendo perseguido injusta-
sua correspondência, nem a ataque à sua honra e
mente. Essa proteção pode ser tanto no próprio território
reputação. Todo ser humano tem direito à proteção
do Estado (asilo territorial) como em órgão de representa-
da lei contra tais interferências ou ataques.
ção em Estado estrangeiro, como embaixada ou consula-
O artigo 12 disciplina um dos diretos decorrentes do do (asilo diplomático). Assim, o primeiro item estabelece
direito à vida, ou seja, o direito à vida privada. Trata- o direito à proteção territorial ou diplomática, enquanto
o segundo item disciplina o caso de não aplicação do ins-
-se da proteção da intimidade como essencial aos seres
tituto, ou seja, no caso de a perseguição ser legitimamente
humanos, o que significa dizer que as pessoas têm o
motivada por crime comum ou por ato contrário aos pro-
poder de decidir quais informações, condutas, esco-
pósitos ou princípios das Nações Unidas. Assim, se uma
lhas, preferências, entre outros, quer levar ao conhe-
determinada pessoa comete um crime, tal perseguição
cimento público e quais quer manter exclusivamente
não pode ser considerada como injusta.
em sigilo. Para tanto, cabe à lei garantir a privacidade. É importante ressaltar que, quando a pessoa come-
São exemplos de proteção à esfera privada, trazidas te um crime em um Estado e vai para outro, para evitar
pela CF/88, a inviolabilidade do domicílio (Artigo 5º, XI) a punição, o direito internacional estabelece o instituto
e a inviolabilidade do sigilo da correspondência e das da extradição como forma de os países colaborarem
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações uns com os outros. Assim, é possível que um Estado
telefônicas (Artigo 5º, XII), além do direito de indeniza- entregue uma pessoa para à Justiça de outro Estado.
ção por dano material ou moral no caso de violação da Aqui, a perseguição (para processar e punir) é legítima,
intimidade, vida privada, honra e imagem (Artigo 5º, X). diferentemente do asilo, em que a perseguição é ilegí-
tima, como nos casos de crimes políticos e de opinião.
Artigo 13
DIREITO HUMANOS
O artigo 21 encerra o rol dos direitos civis e políticos O artigo 23 assegura às pessoas o direito ao traba-
previstos na DUDH. Na realidade, o dispositivo é o úni- lho e à livre escolha do emprego, ou seja, a liberdade
co que disciplina os direitos políticos, sendo dividido em de escolha profissional. Para tanto, deve o Estado esti-
três itens. O primeiro item dá ênfase ao regime demo- pular as condições necessárias para a realização do
crático de governo, ao estabelecer os indivíduos como trabalho e adotar medidas de proteção ao trabalhador
titulares da soberania. Desse modo, os seres humanos contra o desemprego.
podem participar diretamente do governo (democracia Considerando-se que todo trabalho tem direito
direta) ou indiretamente, por meio de seus representan- a uma contraprestação, essa remuneração deve ser
tes escolhidos pelo voto (democracia indireta). Trata-se, pautada pelo princípio da igualdade, evitando que
também, do direito de votar e ser votado. pessoas que exerçam as mesmas funções e nos mes-
O segundo item refere-se aos serviços prestados mos locais recebam valores diferentes de acordo com
pelo Estado, os quais devem respeitar o direito à igual- suas características pessoais, como sexo, cor, naciona-
dade, ou seja, todos os indivíduos tem acesso aos mes- lidade, religião, entre outros. Assim sendo, também é
mos serviços prestados. dever do Estado adotar medidas de proteção ao traba-
Por fim, o terceiro item trata do direito de voto, lhador contra tratamentos discriminatórios.
que deve ser periódico, legítimo, universal e secreto. O dispositivo garante, ainda, que a remuneração
É importante frisar que, no Brasil, não é possível
seja justa e suficiente para assegurar ao trabalhador
DIREITO HUMANOS
O artigo 25 traz a ideia de mínimo existencial, ou O artigo 27 busca assegurar o acesso dos indiví-
seja, de um padrão mínimo de condições materiais duos ao direito cultural. O primeiro item do artigo
aceitáveis para uma vida com dignidade. Nestes ter- refere-se ao direito de participar, ou seja, de ter aces-
mos, deve-se assegurar que a quantidade de alimen- so aos meios de cultura e artes, bem como aos meios
tos deve ser suficiente para o indivíduo e sua família, científicos. Já o segundo item estabelece os meios de
que ele possa se vestir, ter moradia, acesso aos servi- proteção ao direito do autor, quer em seu aspecto
ços médicos, sociais e segurança em caso de imprevis- material, quer em seu aspecto moral.
tos, tais como desemprego, incapacidade, velhice etc.
Além disso, devem-se assegurar os cuidados e assis- Artigo 28 Todo ser humano tem direito a uma
tência devidos à maternidade e à infância, sem qual- ordem social e internacional em que os direitos e
quer distinção entre os filhos. liberdades estabelecidos na presente Declaração
É importante saber que, antes da CF/88, a prote- possam ser plenamente realizados.
ção aos filhos concebidos no casamento era diferente
dos gerados fora do matrimônio. Por exemplo, uma Finalizando os direitos econômicos, sociais e cul-
pessoa casada não poderia registrar filho havido fora turais, o artigo 28 reafirma os direitos elencados na
deste casamento. DUDH e estabelece que uma ordem social condizente
com os valores da dignidade humana somente poderá
Artigo 26 ser efetivada com a consecução de todos os direitos
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A ins- previstos na declaração. Portanto, os Estados devem
trução será gratuita, pelo menos nos graus elemen-
se comprometer a adotar a Declaração, tanto em seu
tares e fundamentais. A instrução elementar será
âmbito interno como em seu âmbito externo.
obrigatória. A instrução técnico-profissional será
acessível a todos, bem como a instrução superior,
esta baseada no mérito. Outros Dispositivos
2. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do Os artigos 29 e 30 da DUDH não se enquadram
fortalecimento do respeito pelos direitos do ser como direitos civis e políticos nem como direitos eco-
humano e pelas liberdades fundamentais. A ins- nômicos, sociais e culturais. A eles compete fazer o
trução promoverá a compreensão, a tolerância e a fechamento da Declaração.
amizade entre todas as nações e grupos raciais ou
religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Artigo 29
Unidas em prol da manutenção da paz. 1. Todo ser humano tem deveres para com a comu-
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do nidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento
gênero de instrução que será ministrada a seus de sua personalidade é possível.
filhos.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo
ser humano estará sujeito apenas às limitações
O artigo 26 assegura aos seres humanos o direito à determinadas pela lei, exclusivamente com o fim
educação. O dispositivo traz a ideia de que a formação de assegurar o devido reconhecimento e respeito
integral da pessoa depende de instrução, pois somente dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer
com uma instrução adequada o indivíduo pode exer- as justas exigências da moral, da ordem pública e
cer outros direitos, tais como a liberdade de expres- do bem-estar de uma sociedade democrática.
são, a liberdade de associação, os direitos políticos, 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipó-
entre outros. Deste modo, cabe ao Estado assegurar o tese alguma, ser exercidos contrariamente aos
acesso à instrução e garantir sua gratuidade ao menos objetivos e princípios das Nações Unidas.
nos níveis elementares e fundamentais.
Quanto à obrigatoriedade, esta deve ser apenas Depois de vinte e oito artigos estabelecendo os
da instrução elementar, assegurando o acesso nos direitos inerentes aos seres humanos, o artigo 29 é o
demais níveis de instrução. Nesse ponto é importan- único que traz os deveres. Assim, cabe ao indivíduo
te observar que, embora o dispositivo estabeleça o contribuir para o desenvolvimento da comunidade, o
286
que significa dizer que, se por um lado a sociedade se Artigo 30 Nenhuma disposição da presente Decla-
compromete a garantir a consecução dos direitos das ração poder ser interpretada como o reconheci-
pessoas, por outro, essas pessoas também se compro- mento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do
metem com a sociedade. direito de exercer qualquer atividade ou praticar
qualquer ato destinado à destruição de quaisquer
Além disso, o dispositivo estabelece que os direitos
dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.
e liberdades somente podem ser limitados pela lei, de
modo a evitar, por exemplo, o abuso do direito. Por
O artigo 30 traz a regra de interpretação da Decla-
fim, o artigo estabelece a relação entre a DUDH e a ração para garantir a adequação entre os direitos
Carta das Nações Unidas, de maneira que nenhum estabelecidos e a consecução da dignidade da pessoa
direito tutelado possa ser exercido contrariando os humana. Consequentemente, não é possível a redu-
objetivos e princípios da outra. ção da proteção, a exclusão do direito, a distorção de
A título de conhecimento, os propósitos e princí- acesso a algum direito baseado em uma interpretação
pios da ONU são: errônea do conteúdo e estrutura. Portanto, a interpre-
tação deve respeitar a própria DUDH.
Artigo 1º
1. Manter a paz e a segurança internacionais e,
para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efe-
tivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos EXERCÍCIOS COMENTADOS
de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e
chegar, por meios pacíficos e de conformidade com 1. (VUNESP – 2020) Com relação à Declaração dos Direi-
os princípios da justiça e do direito internacional, tos do Homem (ONU, 1948), é correto afirmar:
a um ajuste ou solução das controvérsias ou situa-
ções que possam levar a uma perturbação da paz; a) a família é o núcleo natural e fundamental da socieda-
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, basea- de e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
das no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de b) todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a
autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
uma justa e secreta audiência por parte de um tribu-
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
nal independente e imparcial, para decidir sobre seus
3. Conseguir uma cooperação internacional para
resolver os problemas internacionais de caráter direitos e deveres ou sobre o fundamento de qualquer
econômico, social, cultural ou humanitário, e para acusação criminal contra ele.
promover e estimular o respeito aos direitos huma- c) todo ser humano tem direito a instrução. A instrução
nos e às liberdades fundamentais para todos, sem será gratuita, pelo menos nos graus elementares, fun-
distinção de raça, sexo, língua ou religião; e damentais e superiores.
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das d) todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o
nações para a consecução desses objetivos comuns. direito de ser presumido inocente até que a sua culpa-
Artigo 2º bilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em jul-
1. A Organização é baseada no princípio da igual- gamento público, no qual lhe tenha sido assegurado ao
dade de todos os seus Membros. menos uma das garantias necessárias à sua defesa.
2. Todos os Membros, a fim de assegurarem para
todos em geral os direitos e vantagens resultantes
de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de A resposta está prevista no artigo 16. Vejamos: 1.
boa fé as obrigações por eles assumidas de acordo Os homens e mulheres de maior idade, sem qual-
com a presente Carta. quer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
3. Todos os Membros deverão resolver suas contro- têm o direito de contrair matrimônio e fundar
vérsias internacionais por meios pacíficos, de modo uma família. Gozam de iguais direitos em relação
que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O
justiça internacionais. casamento não será válido senão com o livre e pleno
4. Todos os Membros deverão evitar em suas rela- consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo
ções internacionais a ameaça ou o uso da força natural e fundamental da sociedade e tem direito à
contra a integridade territorial ou a dependência proteção da sociedade e do Estado. As demais alter-
política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação
nativas estão incorretas, segundo os artigos 10, 25 e
incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.
5. Todos os Membros darão às Nações toda assis-
11, respectivamente. Resposta: Letra A.
tência em qualquer ação a que elas recorrerem de
acordo com a presente Carta e se absterão de dar 2. (VUNESP – 2018) A respeito da Declaração Universal
auxílio a qual Estado contra o qual as Nações Uni- dos Direitos Humanos (DUDH), assinale a alternativa
das agirem de modo preventivo ou coercitivo. correta.
6. A Organização fará com que os Estados que
não são Membros das Nações Unidas ajam de a) Ninguém pode ser preso, detido ou exilado.
acordo com esses Princípios em tudo quanto for b) Ninguém será condenado por ação ou omissão, ainda
DIREITO HUMANOS
necessário à manutenção da paz e da segurança que, no momento de sua prática, constituísse ato deli-
internacionais. tuoso frente ao direito interno e internacional.
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autori-
c) Nenhuma pessoa sujeita a perseguição tem o direi-
zará as Nações Unidas a intervirem em assuntos
que dependam essencialmente da jurisdição de to de procurar e de se beneficiar de asilo em outros
qualquer Estado ou obrigará os Membros a subme- países.
terem tais assuntos a uma solução, nos termos da d) O direito de asilo não pode ser invocado no caso de
presente Carta; este princípio, porém, não prejudi- processo realmente existente por crime de direito
cará a aplicação das medidas coercitivas constan- comum ou por atividades contrárias aos fins e aos
tes do Capitulo VII. princípios das Nações Unidas.
e) Nenhuma pessoa pode abandonar o país em que se
Vejamos, agora, o artigo 30, o qual encerra a DUDH. encontra. 287
O asilo não poderá ser concedido quando a perse- c) o direito a asilo pode ser invocado, mesmo em caso
guição é justa, nos termos do artigo 14. Vejamos: de perseguição legitimamente motivada por crimes de
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
direito de procurar e de gozar asilo em outros paí- princípios das Nações Unidas.
ses. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de d) todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimô-
perseguição legitimamente motivada por crimes de nio gozarão da mesma proteção social, sempre que
direito comum ou por atos contrários aos objetivos possível.
e princípios das Nações Unidas. Resposta: Letra D.
Conforme disciplinado no artigo 14
3. (FCC – 2018) A Declaração Universal dos Direitos 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito
Humanos de procurar e de gozar asilo em outros países.
2. Este direito não pode ser invocado em caso de
a) é um conjunto de regras destinado a garantir a impuni- perseguição legitimamente motivada por crimes de
dade dos criminosos. direito comum ou por atos contrários aos objetivos
b) não reconhece nenhum direito que seja aplicável e princípios das Nações Unidas. As demais alterna-
às pessoas vítimas de crimes. tivas estão incorretas, segundo os arts. 13, 14 e 25
c) não proíbe expressamente a aplicação da pena de respectivamente. Resposta: Letra D.
morte nem a prisão perpétua para autores de cri-
mes graves. 6. (VUNESP – 2014) É correto afirmar, sobre as previ-
d) dispõe que os criminosos devem ser punidos de forma sões contidas na Declaração Universal de Direitos
branda porque são vítimas da desigualdade social. Humanos, que
e) prevê que toda pessoa acusada de crime somen-
te pode ser presa após condenação em segunda a) está previsto o direito à educação, com o ensino ele-
instância. mentar obrigatório e gratuito, com acesso ao ensino
superior de acordo com o mérito.
Embora a Declaração não disponha, expressamen- b) estão previstos direitos ligados ao contrato de traba-
te, sobre pena de morte ou prisão perpétua, ela lho, como salário mínimo, repouso e lazer, mas sem
assegura que a pena não pode ser mais forte do que nenhuma limitação horária da jornada de trabalho.
era previsto, legalmente, no momento da prática do c) são proclamados, em seu artigo I, como os três valo-
delito. Vejamos o texto do Artigo 11. res fundamentais dos direitos humanos a liberdade, a
1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso igualdade e a fraternidade.
tem o direito de ser presumido inocente até que a d) os direitos de liberdade previstos são relativos à esfe-
sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com ra individual, não prevendo liberdades políticas relati-
a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido vas à participação do povo no governo.
asseguradas todas as garantias necessárias à sua e) não há disposição que verse sobre o direito a contrair
defesa. matrimônio e fundar uma família, nem sobre os direi-
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação tos decorrentes do casamento.
ou omissão que, no momento, não constituíam
delito perante o direito nacional ou internacional. Conforme disciplinado no artigo 1º Todos os seres
Também não será imposta pena mais forte do que humanos nascem livres e iguais em dignidade e di-
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao reitos. São dotados de razão e consciência e devem
ato delituoso. Resposta: Letra C. agir em relação uns aos outros com espírito de fra-
ternidade. As demais alternativas estão incorretas,
4. (CESPE-CEBRASPE – 2017) Conforme a Declaração segundo os arts. 26, 23, 21 e 16 respectivamente.
Universal dos Direitos Humanos, os direitos humanos Resposta: Letra C.
são:
a) revogáveis.
b) absolutos.
c) renunciáveis. CONVENÇÃO AMERICANA DE
d) imprescritíveis. DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SAN
e) individuais. JOSÉ DA COSTA RICA)
São características dos direitos humanos: Historici-
Instituída no âmbito da Organização dos Estados
dade, Universalidade, Imprescritibilidade, Inexauri-
Americanos (OEA), a Convenção Americana sobre
bilidade, Essencialidade, Inalienabilidade, Irrenun-
Direitos Humanos (CADH), também conhecida como
ciabilidade, Inviolabilidade, Limitabilidade, Efetivi-
dade, Interdependência, Concorrência, Vedação ao Pacto de San José da Costa Rica, é um tratado inter-
retrocesso, entre outros. Portanto, eles são impres- nacional firmado entre os países-membros que con-
critíveis, ou seja, não se perdem pelo decurso de pra- solida um regime de liberdade pessoal e de justiça
zo. Resposta: Letra D. social, fundado no respeito aos direitos essenciais do
ser humano.
5. (VUNESP – 2014) Nos termos da Declaração Univer- A CADH foi elaborada em 22 de novembro de 1969
sal dos Direitos do Homem, é correto afirmar que durante a Conferência Especializada Interamericana
de Direitos Humanos, na cidade de San José da Costa
a) todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, Rica, entrando em vigor em 18 de julho de 1978. Hoje,
inclusive o próprio, e a este regressar, salvo quando conta com 25 países ratificantes, nas 3 Américas (Esta-
considerado persona non grata em seu país de origem. dos Unidos e Canadá não aderiram ao documento).
b) toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de O Brasil ratificou tardiamente, em 9 de novembro de
288 procurar e de gozar asilo em outros países. 1992, por meio do Decreto nº 678.
Essa Convenção é importante porque funda as Anotamos, outrossim, que a Convenção possui
bases do sistema interamericano de proteção dos aplicação imediata, podendo seus direitos serem exi-
Direitos Humanos, que visa a proteção do indivíduo e gidos de plano, logo quando o país ratificar a submis-
o combate às violações dos direitos humanos. são ao seu texto.
O Pacto de San José foi elaborado com inspiração Lembre-se de que a CADH é considerada pela dou-
e influência da Declaração Universal dos Direitos trina internacional como o principal tratado do Sis-
Humanos da ONU de 1948, tanto que, no preâmbulo tema Interamericano. Apenas os países membros da
da CADH, o documento estabelece que os princípios OEA podem aderir à CADH. Desse modo, um país asiá-
que foram consagrados são os mesmos previstos na tico, por exemplo, não pode se submeter às obrigações
Declaração Universal dos Direitos Humanos. contidas no Pacto nem muito menos ser responsabili-
zado internacionalmente com base no conteúdo dos
O Pacto de San José estabelece vários direitos
Tratados da OEA.
civis e políticos, como o direito ao reconhecimento da
personalidade jurídica, o direito à vida, à integrida- COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS
de pessoal, à liberdade pessoal e garantias judiciais, HUMANOS (CIDH)
à proteção da honra e reconhecimento à dignidade,
à liberdade religiosa e de consciência, à liberdade Sediada em Washington-EUA, a CIDH é um órgão
de pensamento e de expressão, e o direito de livre autônomo que tem como missão a promoção e pro-
associação. teção dos direitos humanos nas Américas. É conside-
Questões de concurso público costumam questio- rada o principal órgão da Organização dos Estados
nar sobre a positivação dos Direitos Econômicos, Americanos (OEA).
Sociais e Culturais na Convenção Americana. Cabe A CIDH é composta por 7 membros independen-
salientar que a CADH não trouxe um rol detalhado tes, com mandato de 4 anos e só poderão ser reeleitos
desses direitos. Em seu art. 26, o Pacto somente prevê uma vez. Eles são chamados de comissários ou comis-
que os Estados devem atuar para o desenvolvimento sionados e atuam de forma pessoal. Não pode fazer
parte da CIDH mais de um nacional de um mesmo
progressivo dos direitos econômicos, sociais e cultu-
país. Assim, a composição da CIDH não pode ter, ao
rais contidos na Carta da OEA. Observe:
mesmo tempo, dois brasileiros, por exemplo
A Comissão foi criada em 1959 pela OEA e faz parte
Art. 26 Os Estados Partes comprometem-se a ado-
do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos
tar providências, tanto no âmbito interno como
Humanos (SIDH), juntamente com a Corte IDH (insta-
mediante cooperação internacional, especialmente
lada em 1979).
econômica e técnica, a fim de conseguir progres-
Registre-se que o SIDH começou a funcionar for-
sivamente a plena efetividade dos direitos que
malmente com a aprovação da Declaração Americana
decorrem das normas econômicas, sociais e sobre
de Direitos e Deveres do Homem na 9ª Conferência
educação, ciência e cultura, constantes da Carta
Internacional Americana realizada em Bogotá em
da Organização dos Estados Americanos, reforma-
1948. Nesse mesmo momento, também foi adotada a
da pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos
própria Carta da OEA.
recursos disponíveis, por via legislativa ou por
outros meios apropriados.
A Comissão realiza seu trabalho com foco em três
pilares:
A proteção aos Direitos Econômicos, Sociais e Cul- � Sistema de Petição Individual;
turais somente aconteceu efetivamente em 1999, � Monitoramento da situação dos direitos humanos
quando da elaboração do Protocolo Facultativo de San nos Estados Membros;
Salvador5. � Atenção às linhas temáticas prioritárias.
Para monitorar o cumprimento das obrigações
assumidas na CADH, o documento estabeleceu dois Uma pergunta recorrente em provas é sobre quem
órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Huma- pode acionar a Comissão. Lembre-se de que qual-
nos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. quer indivíduo, grupo de indivíduos, organizações
O Brasil fez reserva à CADH com relação à necessi- não governamentais e Estado-membro da OEA pode
dade de anuência expressa sobre as visitas in loco da enviar uma comunicação para provocar a abertura de
Comissão Interamericana no Brasil. um caso na CIDH. Atente-se ao fato de que o indivíduo
não tem legitimidade para levar uma petição para a
Corte IDH, uma vez que somente a CIDH ou o Estado
Dica membro da OEA podem provocar a Corte.
A Comissão Interamericana de Direitos Huma-
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
nos e a Corte Interamericana de Direitos Huma-
(CORTE IDH)
nos julgam Estados e não indivíduos, ou seja:
DIREITO HUMANOS
quando há uma violação de direitos humanos, Com sede em São José, capital da Costa Rica, a Cor-
quem vai ser responsabilizado não é o indivíduo te Interamericana de Direitos Humanos, como abor-
que praticou o delito, mas sim o Estado ao qual damos acima, faz parte do Sistema Interamericano de
aquele indivíduo é nacional. Direitos Humanos.
5 O motivo dessa não proteção esmiuçada decorre do fato de que, na época em que a CADH foi elaborada, o mundo estava no período da
Guerra Fria. Havia, então, uma forte polarização e disputa de poder ideológico entre os Estados que defendiam o modelo de Estado Social
(liderados pela União Soviética) e os Estados que pautavam o modelo de Estado Liberal (guiados pelos EUA). O governo americano não queria
que as ideias socialistas/comunistas invadissem o continente americano, e enxergavam nos direitos econômicos, sociais e culturais uma forma
de se implementar a teoria marxista. Desse modo, na construção do texto da CADH, a pressão norte-americana fez com que a proteção aos
direitos socioeconômicos tivesse um texto genérico e sem detalhamento. Só com o fim da Guerra Fria, materializada com a queda do Muro de
Berlim, em 1989, e com o fortalecimento dos EUA como grande potência global, o tema dos direitos socioeconômicos foi abordado no plano da
OEA por meio do Protocolo Facultativo de São Salvado, em 1999. 289
A Corte IDH possui 7 juízes, nacionais de Estados-membros da OEA, com mandato de 6 anos, podendo serem
reeleitos uma única vez. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade. O quórum de deliberação da Corte
é de 5 juízes.
Trata-se de um tribunal típico, que julga Estados em casos contenciosos envolvendo cidadãos e países. Ade-
mais, a Corte supervisiona a aplicação de suas sentenças e dita medidas cautelares.
A Corte tem duas funções: consultiva e contenciosa. É conhecida como o órgão jurisdicional da Convenção
Americana. Em relação à competência consultiva, qualquer membro da OEA pode solicitar o parecer da Corte
relativo à interpretação da CADH ou de qualquer outro tratado referente à proteção dos direitos humanos nos
Estados americanos.
Ao final dos processos no âmbito da Corte, ela produzirá uma sentença que tem caráter definitivo e inapelá-
vel. A sentença da Corte é uma sanção internacional que deve ser cumprida espontaneamente pelo Estado. Caso
contrário, sua execução deve ser feita nos termos da execução contra a Fazenda Pública.
A sentença da Corte não necessita de homologação do STJ (alínea “i” do inciso I do art. 105 da CF), uma vez que
é oriunda de organismo internacional e não de Estado estrangeiro. É considerada título executivo judicial, deven-
do ser executada por juiz federal (inciso I do art. 109 da CF) contra a União (inciso I do art. 21 da CF).
O Estado deve declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a compe-
tência da Corte. Observe que a Corte IDH tem a faculdade, inerente às suas atribuições, de determinar o alcance
de sua própria competência – compétence de la compétence.
O Estado brasileiro reconheceu a competência jurisdicional da Corte IDH por prazo indeterminado, em dezem-
bro de 1998, por meio do Decreto Legislativo nº89/98.
É importante lembrar que apenas podem levar um caso ao conhecimento da Corte a Comissão e os Estados-par-
tes da OEA (que expressamente reconhecerem a jurisdição da Corte). O indivíduo depende da Comissão para que
seu caso seja apreciado pela Corte.
Para facilitar seu estudo da diferenciação entre os dois órgãos do Sistema Interamericano de Direitos Huma-
nos, acompanhe e memorize o quadro a seguir:
Abordaremos a seguir os artigos mais cobrados pelas provas de concurso em relação à Convenção Americana
de Direitos Humanos.
Os artigos primeiro e segundo precisam ser analisados em conjunto, pois são cláusulas gerais que trazem a apli-
cação do princípio do pacta sunt servanda previsto no Direito Internacional Público. Esse princípio representa a força
obrigatória da norma internacional e o compromisso dos Estados membros de cumprirem e respeitarem a norma
internacional de forma voluntária.
Observem que essa imposição só deve se aplicar ao país que aceitou se submeter à norma internacional, incor-
porando o Tratado em seu ordenamento jurídico com base no seu trâmite interno. Nesse sentido, um país que não
assinou o Tratado não pode ser constrangido a assumir as obrigações contidas nele.
O compromisso dos Estados não deve ficar só no ato formal da assinatura e ratificação, mas deve significar, se
290 preciso for, modificação das suas normas internas, práticas e ações para se adaptarem à CADH.
Ademais, destacamos, nos termos do item segundo programação genética do indivíduo até a fase adulta.
do art. 1º, que a CADH restringe o alcance do Pacto às Com a fecundação, conforme essa teoria, passa a exis-
pessoas físicas, excluindo, desse modo, as pessoas jurí- tir um novo ser, uma pessoa individualizada e distinta
dicas (empresas, associações, ongs etc.) do espectro de de outro indivíduo.
proteção da presente norma de direitos humanos. O Pacto de San José também regulamentou sobre
o polêmico tema da pena de morte. Nos termos do
Capítulo II – Direitos Civis e Políticos art. 4.1, nos países que não houverem abolido a pena
de morte, sete devem ser as regras para aplicação da
Art. 3º Direito ao reconhecimento da persona- pena capital:
lidade jurídica
Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua
z Só poderá ser imposta pelos delitos mais graves;
personalidade jurídica.
z Só pode ser aplicada em cumprimento de senten-
ça final de tribunal competente;
Os direitos da personalidade são atributos que
z Deve ser aplicada em conformidade com a lei que
derivam da dignidade humana e abarcam o sentido da
tenha sido promulgada antes de haver o delito
personalidade das pessoas naturais. Logo, tais direitos
são intrínsecos e comuns a todos os seres humanos. sido cometido;
Assim, a pessoa física jamais poderá ser conside- z Não poderá se estender sua aplicação a delitos aos
rada um objeto, como infelizmente já ocorreu na his- quais não se aplique atualmente;
tória da humanidade. Esses direitos de personalidade z Não se pode restabelecer a pena de morte nos Esta-
são dotados das seguintes características: dos que a hajam abolido.
z Jamais pode ser aplicada por delitos políticos,
z São inatos (inerentes a condição humana); nem por delitos comuns conexos com delitos
z Absolutos (oponíveis contra todos, ou seja, erga políticos.
omnes); z Não se deve impor a pena a menor de 18 anos,
z Vitalícios (acompanham a pessoa humana em toda ou maior de 70 anos, nem a aplicar a mulher em
sua existência); estado de gravidez.
z Intransmissíveis (não se transmitem a terceiros);
z Irrenunciáveis (não se pode abdicar da sua existência). Art. 5º Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
Como mencionado, a CADH somente traz um integridade física, psíquica e moral.
detalhamento da proteção dos direitos civis e políti- 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem
cos (direitos de primeira geração), ficando os direitos a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degra-
econômicos, sociais e culturais (direitos de segunda dantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser
geração) para posterior amparo no Protocolo de San tratada com o respeito devido à dignidade inerente
Salvador de 1999. ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do
Art. 4º Direito à vida delinquente.
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua 4. Os processados devem ficar separados dos
vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em condenados, salvo em circunstâncias excepcio-
geral, desde o momento da concepção. Ninguém nais, e ser submetidos a tratamento adequado à
pode ser privado da vida arbitrariamente. sua condição de pessoas não condenadas.
2. Nos países que não houverem abolido a pena 5. Os menores, quando puderem ser processados,
de morte, esta só poderá ser imposta pelos deli- devem ser separados dos adultos e conduzidos a
tos mais graves, em cumprimento de sentença tribunal especializado, com a maior rapidez possí-
final de tribunal competente e em conformidade vel, para seu tratamento.
com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes 6. As penas privativas da liberdade devem ter
por finalidade essencial a reforma e a readap-
de haver o delito sido cometido. Tampouco se
tação social dos condenados.
estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se
aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos A norma citada também está prevista na Declara-
Estados que a hajam abolido. ção Universal dos Direitos Humanos. Ela é considera,
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser pela doutrina internacional, uma norma jus cogens,
aplicada por delitos políticos, nem por delitos que significa ser uma norma imperativa, impositiva
comuns conexos com delitos políticos. e obrigatória para todos os países do mundo. Desse
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa modo, nenhum país do mundo poderá realizar tor-
que, no momento da perpetração do delito, for turas e tratamentos cruéis contra seus indivíduos.
menor de dezoito anos, ou maior de setenta, Havendo lei interna que traga essa possibilidade, os
nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez. tribunais internacionais a considerará norma inváli-
DIREITO HUMANOS
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a da, pois viola essa norma costumeira do Direito Inter-
solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, nacional Público.
os quais podem ser concedidos em todos os casos. Regras básicas de execução da pena também foram
Não se pode executar a pena de morte enquanto o previstas na Convenção, que dispôs que a pena não
pedido estiver pendente de decisão ante a autorida- pode passar da pessoa do réu e que os processados
de competente. devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e serem submetidos a
A CADH adotou a Teoria Concepcionista do con- tratamento adequado à sua condição de pessoas não
ceito de vida. Segundo essa teoria, a vida começa a condenadas.
partir da concepção, em outras palavras, quando o Os menores, quando puderem ser processados,
espermatozoide adentra o ovócito e ambos se fundem, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tri-
desenvolvendo, assim, a primeira célula com toda a bunal especializado, com a maior rapidez possível, 291
para seu tratamento. Nossa Lei de Execuções Penais 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade
(Lei nº 7.210/1984) regulamentou sobre o tema da exe- física, salvo pelas causas e nas condições previa-
cução da pena. mente fixadas pelas constituições políticas dos
Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas
Art. 6º Proibição da escravidão e da servidão promulgadas.
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou 3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou
a servidão, e tanto estas como o tráfico de escra- encarceramento arbitrários.
vos e o tráfico de mulheres são proibidos em 4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informa-
todas as suas formas. da das razões da sua detenção e notificada,
2. Ninguém deve ser constrangido a executar tra- sem demora, da acusação ou acusações formula-
balho forçado ou obrigatório. Nos países em que das contra ela.
se prescreve, para certos delitos, pena privativa da 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser condu-
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta zida, sem demora, à presença de um juiz ou
disposição não pode ser interpretada no sentido de outra autoridade autorizada pela lei a exercer
que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por funções judiciais e tem direito a ser julgada den-
juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não tro de um prazo razoável ou a ser posta em liber-
deve afetar a dignidade nem a capacidade física dade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua
e intelectual do recluso. liberdade pode ser condicionada a garantias que
3. Não constituem trabalhos forçados ou obri- assegurem o seu comparecimento em juízo.
gatórios para os efeitos deste artigo:
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a
a. os trabalhos ou serviços normalmente exigidos
recorrer a um juiz ou tribunal competente, a
de pessoa reclusa em cumprimento de sentença
fim de que este decida, sem demora, sobre a lega-
ou resolução formal expedida pela autoridade
judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços lidade de sua prisão ou detenção e ordene sua
devem ser executados sob a vigilância e contro- soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos
le das autoridades públicas, e os indivíduos que os Estados Partes cujas leis prevêem que toda pessoa
executarem não devem ser postos à disposição de que se vir ameaçada de ser privada de sua liberda-
particulares, companhias ou pessoas jurídicas de tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal com-
de caráter privado; petente a fim de que este decida sobre a legalidade
b. o serviço militar e, nos países onde se admite a de tal ameaça, tal recurso não pode ser restrin-
isenção por motivos de consciência, o serviço nacio- gido nem abolido. O recurso pode ser interposto
nal que a lei estabelecer em lugar daquele. pela própria pessoa ou por outra pessoa.
c. o serviço imposto em casos de perigo ou cala- 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este
midade que ameace a existência ou o bem-estar da princípio não limita os mandados de autoridade
comunidade; e judiciária competente expedidos em virtude de ina-
d. o trabalho ou serviço que faça parte das obriga- dimplemento de obrigação alimentar.
ções cívicas normais.
Sobre a prisão civil por dívidas, nossa Carta Mag-
Outra norma jus cogens prevista na CADH encon- na de 1988 estabeleceu no inciso LXVII do art. 5º que
tra-se no art. 6, que veda a escravidão e a servidão. não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon-
Segundo o texto, ninguém pode ser submetido a escra- sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
vidão ou a servidão, e tanto estas como o tráfico de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
escravos e de mulheres são proibidos em todas as suas Contudo, como vimos acima, o item 7 do art. 7 da
formas. CADH veda qualquer prisão por dívida, ressalvada
Por isso, um país que venha a celebrar um Trata- a hipótese do devedor de alimentos. Nesse sentido,
do Internacional com outro país ou crie uma norma o Pacto de San José só permitiu a prisão civil do deve-
interna que disponha sobre a venda de pessoas huma- dor de alimentos, excluindo qualquer outra hipótese,
nas ou escravidão, mesmo sem ter ratificado a sub- como no caso do depositário infiel.
missão à CADH, terá anulados tais documentos, pois Essa divergência normativa fez gerar uma avalan-
tais dispositivos carecerão de validade e de eficácia, che de habeas corpus junto aos tribunais brasileiros,
sendo nulos de pleno direito. solicitando a não aplicação da pena de prisão para
A CADH traz como regra a vedação ao trabalho quem era depositário infiel, como, por exemplo, quem
forçado ou obrigatório. Ocorre que o texto traz exce- financiava um automóvel e não pagava a dívida nem
ções à regra e também aponta o que é permitido nos entregava o bem, sendo expedido contra ele mandado
países em que se prescreve essa medida para certos de prisão.
delitos. De qualquer forma, vale destacar que o tra- A grande questão era saber qual é a hierarquia
balho forçado, mesmo nos países que o permite, não jurídica da CADH e se ela tem força jurídica para para-
deve afetar a dignidade nem a capacidade física e lisar a eficácia da prisão civil do depositário infiel pre-
intelectual do recluso. vista em nossa CF e regulamentada no Código Civil e
Com base na Convenção sobre Trabalho Forçado no Código de Processo Civil.
ou Obrigatório da OIT (Nº 29, adotada em 1930), traba- Vale observar que, após a Emenda Constitucional
lho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço nº 45, de 2004 – que acrescentou o parágrafo 3° no
exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e art. 5º –, foi conferida aos tratados e às convenções de
para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente. direitos humanos dos quais o Brasil seja parte e que
A exploração desse tipo de trabalho pode ser realiza- forem aprovados pelo Congresso Nacional, em vota-
da por autoridades do Estado, por empresas ou por ção de dois turnos, por 3/5 de seus membros, a equi-
pessoas físicas. valência às emendas constitucionais. Ocorre que
a Convenção Americana não foi ratificada por esse
Art. 7º Direito à liberdade pessoal quórum, até porque foi incorporada ao ordenamento
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à seguran- jurídico brasileiro em 1992, quando nem existia o § 3º
292 ça pessoais. do art. 5º.
Então, enfrentando essa celeuma, o STF, nos julga- que o devido processo, garantia fundamental da pes-
dos do RE 466.343 e do RE 349.703, com repercussão soa humana, é também uma garantia de respeito aos
geral, entendeu que os tratados internacionais de demais direitos previstos no Pacto de San José.
direitos humanos, se não incorporados como emen- A Convenção dispôs que toda pessoa tem direi-
da constitucional, como no caso da CADH, têm status to a ser ouvida, com as devidas garantias, dentro de
jurídico de normas supralegais, paralisando, assim, um prazo razoável. Observe que o documento não
a eficácia de todo o ordenamento infraconstitucio- traz nenhum prazo específico para o exercício desse
nal em sentido contrário. direito, uma vez que cada lei processual do país mem-
Consoante decidiu a Suprema Corte: o caráter bro deve estabelecer esse prazo razoável. A ideia aqui
especial desses tratados internacionais sobre direitos é evitar processos longos e demorados que trazem o
humanos lhes reserva lugar específico no ordenamen- sentimento de injustiça e impunidade.
to jurídico, encontrando-se abaixo da Constituição, mas No que tange às garantias judiciais, a Convenção
acima da legislação infraconstitucional com eles confli- contemplou o/a:
tante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação.
Desse modo, foi pacificado o entendimento juris- z Juízo natural e imparcial;
prudencial no sentido de que não pode mais ser z Presunção de inocência;
decretada a prisão civil do depositário infiel. Esse z Assistência de um tradutor;
tema foi alvo, inclusive, da Súmula Vinculante nº 25: z Ampla defesa;
z Não autoincriminação; e
Súmula Vinculante 25 É ilícita a prisão civil de z Possibilidade de recorrer das decisões.
depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
de depósito.
Art. 9º Princípio da legalidade e da retroatividade
Art. 8º Garantias judiciais
Ninguém pode ser condenado por ações ou
1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as
devidas garantias e dentro de um prazo razoável, omissões que, no momento em que forem cometi-
por um juiz ou tribunal competente, indepen- das, não sejam delituosas, de acordo com o direi-
dente e imparcial, estabelecido anteriormente to aplicável. Tampouco se pode impor pena mais
por lei, na apuração de qualquer acusação penal grave que a aplicável no momento da perpe-
formulada contra ela, ou para que se determinem tração do delito. Se depois da perpetração do
seus direitos ou obrigações de natureza civil, traba- delito a lei dispuser a imposição de pena mais
lhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. leve, o delinquente será por isso beneficiado.
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a
que se presuma sua inocência enquanto não se A lei, em regra, é feita para valer para no futuro.
comprove legalmente sua culpa. Durante o proces- Assim sendo, a norma não poderá retroagir e macular
so, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
seguintes garantias mínimas: julgada. Por essa razão, a lei nova não será aplicada
a. direito do acusado de ser assistido gratuita- às situações que ocorreram no passado (princípio da
mente por tradutor ou intérprete, se não com- irretroatividade). Esse princípio tem como objetivo
preender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal; assegurar a segurança, a certeza e a estabilidade do
b. comunicação prévia e pormenorizada ao
ordenamento jurídico.
acusado da acusação formulada;
Contudo, é importante saber que a regra da irre-
c. concessão ao acusado do tempo e dos meios
adequados para a preparação de sua defesa; troatividade não é absoluta: em alguns casos, a lei
d. direito do acusado de defender-se pessoalmen- nova poderá retroagir, atingindo os efeitos dos atos
te ou de ser assistido por um defensor de sua jurídicos praticados sob o império da norma antiga.
escolha e de comunicar-se, livremente e em A vedação ao princípio da irretroatividade da lei
particular, com seu defensor; penal in pejus (para piorar a situação do réu) encon-
e. direito irrenunciável de ser assistido por um tra-se prevista no inciso XL do art. 5º da Carta Magna:
defensor proporcionado pelo Estado, remu- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
nerado ou não, segundo a legislação interna, se o Nesse passo, a Constituição Federal dispõe apenas que
acusado não se defender ele próprio nem nomear a lei penal deve retroagir para beneficiar o réu.
defensor dentro do prazo estabelecido pela lei; Em resumo, a regra é que a lei só pode retroagir
f. direito da defesa de inquirir as testemunhas quando não ofender o ato jurídico perfeito, o direito
presentes no tribunal e de obter o comparecimen-
adquirido e a coisa julgada, e quando o legislador,
to, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas
que possam lançar luz sobre os fatos;
expressamente, ordenar sua aplicação a casos passa-
g. direito de não ser obrigado a depor contra si dos, como é o caso da retroatividade da lei penal para
mesma, nem a confessar-se culpada; e beneficiar o réu (in melius).
h. direito de recorrer da sentença para juiz ou Os princípios legalidade e da retroatividade são
tribunal superior. também consagrados em nosso ordenamento positivo
DIREITO HUMANOS
3. A confissão do acusado só é válida se feita (incisos XXXIX e XL do art. 5º da CF), e no Pacto Inter-
sem coação de nenhuma natureza. nacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 15).
4. O acusado absolvido por sentença passada em O princípio da legalidade está previsto no inciso
julgado não poderá ser submetido a novo pro- XXXIX do art. 5º da CF, que diz: não há crime sem lei
cesso pelos mesmos fatos. anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
5. O processo penal deve ser público, salvo no legal.
que for necessário para preservar os interesses
da justiça.
Art. 10 Direito a indenização
Toda pessoa tem direito de ser indenizada con-
A CADH trouxe no seu art. 8º garantias judiciais forme a lei, no caso de haver sido condenada
para se viabilizar o devido processo legal, instituto em sentença passada em julgado, por erro
basilar do Estado Democrático de Direito. Registre-se judiciário. 293
Seria possível essa indenização em caso de erro Art. 13 Liberdade de pensamento e de expressão
em processos de qualquer natureza, seja cível, penal, 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensa-
trabalhista ou qualquer outro. Entretanto, o STF fir- mento e de expressão. Esse direito compreende a
mou entendimento no sentido de que a responsabi- liberdade de buscar, receber e difundir informa-
lidade civil do Estado não se aplica a atos judiciais, ções e ideias de toda natureza, sem consideração
salvo no caso de erro judiciário, de prisão além do de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em
tempo fixado na sentença e nas hipóteses legalmente forma impressa ou artística, ou por qualquer outro
previstas (STF, RE 505.393). processo de sua escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso prece-
Art. 11 Proteção da honra e da dignidade dente não pode estar sujeito a censura prévia,
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra mas a responsabilidades ulteriores, que devem
e ao reconhecimento de sua dignidade. ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbi- para assegurar:
trárias ou abusivas em sua vida privada, na de a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais
sua família, em seu domicílio ou em sua corres- pessoas; ou
pondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou b. a proteção da segurança nacional, da ordem
reputação. pública, ou da saúde ou da moral públicas.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei con- 3. Não se pode restringir o direito de expressão
tra tais ingerências ou tais ofensas. por vias ou meios indiretos, tais como o abuso
de controles oficiais ou particulares de papel de
O STF proibiu recentemente o uso da tese de legí- imprensa, de frequências radioelétricas ou de equi-
tima defesa da honra em crimes de feminicídio. Em pamentos e aparelhos usados na difusão de infor-
decisão unânime, o Plenário da Corte, na ADPF 779, mação, nem por quaisquer outros meios destinados
entendeu que a tese contribui para a naturalização e a a obstar a comunicação e a circulação de ideias e
perpetuação da cultura de violência contra a mulher, opiniões.
sendo, desse modo, inconstitucional. 4. A lei pode submeter os espetáculos públicos
a censura prévia, com o objetivo exclusivo de
Art. 12 Liberdade de consciência e de religião regular o acesso a eles, para proteção moral da
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciên-
infância e da adolescência, sem prejuízo do dis-
cia e de religião. Esse direito implica a liberdade
posto no inciso 2.
de conservar sua religião ou suas crenças, ou
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor
de mudar de religião ou de crenças, bem como a
da guerra, bem como toda apologia ao ódio
liberdade de professar e divulgar sua religião ou
nacional, racial ou religioso que constitua inci-
suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em
tação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou
público como em privado.
à violência.
2. Ninguém pode ser objeto de medidas restriti-
vas que possam limitar sua liberdade de conser-
var sua religião ou suas crenças, ou de mudar de Sobre o tema da liberdade de pensamento e de
religião ou de crenças. expressão, o Plenário do STF, por maioria, julgou
3. A liberdade de manifestar a própria religião e as recentemente que é constitucional a instauração de
próprias crenças está sujeita unicamente às limi- inquérito pelo STF com o intuito de apurar a existên-
tações prescritas pela lei e que sejam necessárias cia de notícias fraudulentas (fake news), que podem
para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou configurar crimes contra a honra e atingir a hono-
a moral públicas ou os direitos ou liberdades rabilidade e a segurança do STF, de seus membros e
das demais pessoas. familiares.
4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm A esse respeito, o Supremo decidiu que a restrição
direito a que seus filhos ou pupilos recebam a à liberdade de expressão pode ocorrer se o agente
educação religiosa e moral que esteja acorde dela se utilizar para o cometimento de crimes ou para
com suas próprias convicções.
a disseminação dolosa de informação falsa. Nesse sen-
Um tema muito polêmico, que foi enfrentado tido, são vedados discursos de ódio, racistas, supres-
recentemente pelo STF, foi a possibilidade de restrição sores de direitos e tendentes a excluir determinadas
do exercício desse direito da liberdade de consciência pessoas da sociedade.
e de religião durante a pandemia do coronavírus.
O Pacto prevê que a liberdade de manifestar a pró- Art. 14 Direito de retificação ou resposta
pria religião e as próprias crenças está sujeita unica- 1. Toda pessoa atingida por informações inexa-
mente às limitações prescritas pela Lei e que sejam tas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por
necessárias para proteger a segurança, a ordem, a meios de difusão legalmente regulamentados e que
saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberda- se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer,
des das demais pessoas. pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação
Ocorre no Brasil que vários Estados e Municípios ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.
editaram Decretos, e não leis, como o Decreto Esta- 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta
dual de São Paulo nº 65.563/2021, que proibiu ativi- eximirão das outras responsabilidades legais
dades religiosas presenciais no estado para conter a em que se houver incorrido.
propagação do coronavírus. 3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação,
toda publicação ou empresa jornalística, cine-
Nossa Suprema Corte decidiu que a liberdade de
matográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma
professar religião em cultos não é um direito absoluto
pessoa responsável que não seja protegida por
e pode ser temporariamente restringida para assegu-
imunidades nem goze de foro especial.
rar as garantias à vida e à saúde. Com esse entendi-
Art. 15 Direito de reunião
mento, o Plenário do STF, na ADPF 811, por nove votos
É reconhecido o direito de reunião pacífica e
a dois, entendeu ser constitucional o Decreto Estadual
sem armas. O exercício de tal direito só pode estar
de São Paulo nº 65.563/2021.
294 sujeito às restrições previstas pela Lei e que
sejam necessárias, numa sociedade democrática, A nacionalidade é o vínculo jurídico estabelecido
no interesse da segurança nacional, da segurança entre Estado e indivíduo. Assim, os nacionais man-
ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde têm uma relação jurídica com seu Estado onde quer
ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das que se encontrem. Nossa Constituição Federal, em seu
demais pessoas. art. 12, prevê duas modalidades para a concessão da
nacionalidade:
Nossa Carta Magna, no inciso XVI do art. 5º, vai
além e diz que o direito de reunião pode ser pratica- z Primária (originária): Adquirida através da ori-
do em locais abertos ao público, independentemente gem do indivíduo, sendo ela por critério sanguí-
de autorização, desde que não frustrem outra reunião
neo, territorial ou de ambas;
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
z Secundária (adquirida): Adquirida pelo indiví-
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
duo posteriormente ou naturalizado por vontade
Saiba que essa exigência de prévio aviso não é condi-
própria.
ção de obrigatoriedade para o exercício desse direito.
Na presente obra, não iremos detalhar os institu-
Art. 16 Liberdade de associação
1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se tos presentes no art. 12 da CF por não ser o foco deste
livremente com fins ideológicos, religiosos, polí- trabalho, mas recomendamos a leitura da norma.
ticos, econômicos, trabalhistas, sociais, cultu- Por fim, a CADH busca evitar que o indivíduo se
rais, desportivos ou de qualquer outra natureza. torne apátrida, ou seja, fique sem nacionalidade, pois
2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às nessa condição ele não consegue exercer os direitos
restrições previstas pela Lei que sejam necessá- básicos dentro de um Estado.
rias, numa sociedade democrática, no interesse da
segurança nacional, da segurança ou da ordem Art. 21 Direito à propriedade privada
públicas, ou para proteger a saúde ou a moral 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus
públicas ou os direitos e liberdades das demais bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao
pessoas. interesse social.
3. O disposto neste artigo não impede a imposi- 2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens,
ção de restrições legais, e mesmo a privação do salvo mediante o pagamento de indenização jus-
exercício do direito de associação, aos membros ta, por motivo de utilidade pública ou de interesse
das forças armadas e da polícia. social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.
Art. 17 Proteção da família 3. Tanto a usura como qualquer outra forma de
1. A família é o elemento natural e fundamental exploração do homem pelo homem devem ser
da sociedade e deve ser protegida pela socieda- reprimidas pela lei.
de e pelo Estado. Art. 22 Direito de circulação e de residência
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de 1. Toda pessoa que se ache legalmente no territó-
contraírem casamento e de fundarem uma famí- rio de um Estado tem direito de circular nele e de
lia, se tiverem a idade e as condições para isso nele residir em conformidade com as disposições
exigidas pelas leis internas, na medida em que legais.
não afetem estas o princípio da não-discriminação
2. Toda pessoa tem o direito de sair livremente de
estabelecido nesta Convenção.
qualquer país, inclusive do próprio.
3. O casamento não pode ser celebrado sem o
3. O exercício dos direitos acima mencionados não
livre e pleno consentimento dos contraentes.
pode ser restringido senão em virtude de Lei, na
4. Os Estados Partes devem tomar medidas apro-
medida indispensável, numa sociedade democráti-
priadas no sentido de assegurar a igualdade de
ca, para prevenir infrações penais ou para prote-
direitos e a adequada equivalência de respon-
ger a segurança nacional, a segurança ou a ordem
sabilidades dos cônjuges quanto ao casamento,
públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direi-
durante o casamento e em caso de dissolução do
tos e liberdades das demais pessoas.
mesmo. Em caso de dissolução, serão adotadas dis-
posições que assegurem a proteção necessária aos 4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso
filhos, com base unicamente no interesse e conve- 1 pode também ser restringido pela Lei, em zonas
niência dos mesmos. determinadas, por motivo de interesse público.
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos 5. Ninguém pode ser expulso do território do
filhos nascidos fora do casamento como aos Estado do qual for nacional, nem ser privado do
nascidos dentro do casamento. direito de nele entrar.
Art. 18 Direito ao nome 6. O estrangeiro que se ache legalmente no territó-
Toda pessoa tem direito a um prenome e aos rio de um Estado Parte nesta Convenção só pode-
nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei deve rá dele ser expulso em cumprimento de decisão
regular a forma de assegurar a todos esse direito, adotada de acordo com a lei.
DIREITO HUMANOS
mediante nomes fictícios, se for necessário. 7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber
Art. 19 Direitos da criança asilo em território estrangeiro, em caso de perse-
Toda criança tem direito às medidas de proteção guição por delitos políticos ou comuns conexos
que a sua condição de menor requer por parte da com delitos políticos e de acordo com a legislação
sua família, da sociedade e do Estado. de cada Estado e com os convênios internacionais.
Art. 20 Direito à nacionalidade 8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expul-
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. so ou entregue a outro país, seja ou não de ori-
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do gem, onde seu direito à vida ou à liberdade
Estado em cujo território houver nascido, se pessoal esteja em risco de violação por causa da
não tiver direito a outra. sua raça, nacionalidade, religião, condição social
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente ou de suas opiniões políticas.
de sua nacionalidade nem do direito de mudá-la. 9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros. 295
Nosso ordenamento jurídico traz uma diferença Capítulo III – Direitos Econômicos, Sociais e
entre refúgio e asilo. No caso do pedido de asilo, aqui Culturais
no Brasil, quem o concede é o Presidente da Repúbli-
ca, não havendo segunda instância. Atente-se para Art. 26 Desenvolvimento progressivo
Os Estados Partes comprometem-se a adotar pro-
não se confundir em relação ao pedido de refúgio,
vidências, tanto no âmbito interno como mediante
pois quem concede é o Comitê Nacional para os Refu-
cooperação internacional, especialmente econômi-
giados (CONARE), na primeira instância e, em caso de ca e técnica, a fim de conseguir progressivamen-
recurso do solicitante, o Ministro da Justiça decidirá te a plena efetividade dos direitos que decorrem
na segunda instância. das normas econômicas, sociais e sobre edu-
A Lei de Migração, Lei nº 13.445/17, que dispõe cação, ciência e cultura, constantes da Carta da
sobre os direitos do estrangeiro em território nacio- Organização dos Estados Americanos, reformada
nal, proibiu a deportação, a expulsão e a repatriação pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos
coletivas. Ademais, é vedada a deportação, expulsão, recursos disponíveis, por via legislativa ou por
repatriação e extradição de brasileiro nato. outros meios apropriados.
O brasileiro naturalizado pode ser extraditado, em
caso de crime comum praticado antes da naturaliza-
ção, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilíci-
to (antes ou após a naturalização) de entorpecentes e
EXERCÍCIOS COMENTADOS
drogas afins (inciso LI do art. 5º da CF).
1. (IBFC – 2020) A Convenção Americana de Direitos
Humanos, também chamada de Pacto de San José da
Costa Rica, foi assinada em 22 de novembro de 1969 e
Importante! ratificada pelo Brasil em setembro de 1992. Ela busca
Lembre-se de que é proibida a extradição de consolidar entre os países americanos um regime de
estrangeiro em caso de crime político ou de liberdade pessoal e justiça pessoal, fundado no res-
opinião. peito aos direitos humanos essenciais, independente-
mente do país onde a pessoa resida ou tenha nascido.
Assim, quanto ao seu âmbito de proteção, analise as
Art. 23 Direitos políticos afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Fal-
1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes so (F).
direitos e oportunidades:
a. de participar na direção dos assuntos públicos, ( ) Não existe nenhuma relação entre o Pacto de San
diretamente ou por meio de representantes Jose da Costa Rica e a Declaração Universal dos
livremente eleitos; Direitos Humanos.
b. de votar e ser eleitos em eleições periódicas ( ) Sobre os deveres das pessoas, determina que toda
autênticas, realizadas por sufrágio universal pessoa tem deveres para com a família, a comunida-
e igual e por voto secreto que garanta a livre de e a humanidade.
expressão da vontade dos eleitores; e ( ) Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápi-
c. de ter acesso, em condições gerais de igualdade, do ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os
às funções públicas de seu país. juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra
2. A lei pode regular o exercício dos direitos e opor- atos que violem seus direitos fundamentais reco-
tunidades a que se refere o inciso anterior, exclu- nhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente
sivamente por motivos de idade, nacionalidade, Convenção, mesmo quando tal violação seja cometi-
residência, idioma, instrução, capacidade civil ou da por pessoas que estejam atuando no exercício de
mental, ou condenação, por juiz competente, em suas funções oficiais.
processo penal. ( ) Algumas disposições do Pacto de San José da Cos-
Art. 24 Igualdade perante a lei ta Rica podem excluir outros direitos e garantias que
Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por con- são inerentes ao ser humano ou que decorrem da
seguinte, têm direito, sem discriminação, a igual forma democrática representativa de governo.
proteção da lei.
Art. 25 Proteção judicial Assinale a alternativa que apresenta a sequência cor-
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples reta de cima para baixo.
e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo,
perante os juízes ou tribunais competentes, que a) V, V, V, V.
a proteja contra atos que violem seus direitos fun- b) V, V, F, F.
damentais reconhecidos pela constituição, pela lei c) V, F, F, V.
ou pela presente Convenção, mesmo quando tal vio- d) F, F, V, V.
lação seja cometida por pessoas que estejam atuan- e) F, V, V, F.
do no exercício de suas funções oficiais.
2. Os Estados Partes comprometem-se: (F) Há sim uma relação entre os dois documen-
a. a assegurar que a autoridade competente pre- tos, tanto é verdade que no preâmbulo da CADH o
vista pelo sistema legal do Estado decida sobre os documento estabelece que os princípios que foram
direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso; consagrados CADH são os mesmos previstos na
b. a desenvolver as possibilidades de recurso judi- Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ade-
cial; e mais, observa-se que muitos direitos previstos no
c. a assegurar o cumprimento, pelas autoridades pacto também são dispostos na DUDH.
competentes, de toda decisão em que se tenha con- (V) Conforme texto expresso previsto no art. 32 da
296 siderado procedente o recurso. CADH.
(V) Esse é o conteúdo expresso trazido pelo ponto 1 do processual. A Convenção só prevê que o acusado
art. 25 da CADH. Nele, há a previsão do direito huma- tenha tempo e meios adequados para a preparação
no à proteção judicial consagrado a toda pessoa. O de sua defesa. R: Errada.
mesmo artigo ainda dispõe que os Estados Partes se e) A CADH não estipula prazo específico de 7 dias
comprometem: “a. a assegurar que a autoridade com- para o indivíduo ser ouvido. O art. 8 só dispõe que
petente prevista pelo sistema legal do Estado decida a pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas
sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal garantias e dentro de um prazo razoável. R: Errada.
recurso; b. a desenvolver as possibilidades de recurso Resposta: Letra B.
judicial; e c. a assegurar o cumprimento, pelas autori-
dades competentes, de toda decisão em que se tenha 3. (VUNESP – 2020) Nos expressos termos previstos no
considerado procedente o recurso.”
Pacto de San José da Costa Rica em relação à pena de
(F) Nos termos da alínea “c” do art. 29, que trata
morte, é correto afirmar:
das normas de interpretação, nenhuma disposição
da Convenção pode ser interpretada no sentido de
excluir outros direitos e garantias que são inerentes a) Nos países que não houverem abolido a pena de mor-
ao ser humano ou que decorrem da forma democrá- te, esta só poderá ser imposta, respeitados os demais
tica representativa de governo. Resposta: Letra E. requisitos previstos no Pacto, a delitos políticos ou a
delitos comuns conexos com delitos políticos.
2. (IBFC – 2018) Assinale a alternativa correta. Segundo b) Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no
a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969), momento da perpetração do delito, for menor de vinte
toda pessoa acusada de um delito tem direito durante e cinco anos.
o processo às seguintes garantias mínimas: c) Nos países que não houverem abolido a pena de morte,
esta só poderá ser imposta, respeitados os demais requi-
a) O processo penal deve ser privado, de modo a preser- sitos previstos no Pacto, pelos delitos mais graves.
var os interesses da justiça e da sociedade. d) Só será possível restabelecer a pena de morte nos Esta-
b) O direito do acusado de ser assistido gratuitamente dos que a hajam abolido, respeitados os demais requi-
por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda sitos previstos no Pacto, para os delitos mais graves.
ou não fale a língua do juízo ou tribunal.
c) A comunicação prévia e pormenorizada ao acusado a) R: ERRADA. Com base no art. 4.4 da CADH, em
da acusação formulada deve ser obrigatoriamente nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a
bilíngue (inglês e língua oficial do país no qual aconte- delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com
ceu o delito). delitos políticos.
d) A concessão ao acusado do tempo e dos meios b) R: ERRADA. Com base no art. 4.5 da CADH, não
necessários à preparação de sua defesa será de 30 se deve impor a pena de morte a pessoa que, no
(trinta) dias corridos, a contar da publicação em órgão momento da perpetração do delito, for menor de 18
oficial. anos, ou maior de 70, nem aplicá-la a mulher em
e) Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devi- estado de gravidez.
das garantias e dentro do prazo máximo de 7 (sete) c) R: CORRETA. Com base no art. 4.2 da CADH. Os
dias, por um juiz ou Tribunal competente, independen- requisitos são:
te e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na 1) deve respeitar sentença final de tribunal competente;
apuração de qualquer acusação penal formulada con- 2) estar a decisão em conformidade com lei que
tra ela, ou na determinação de seus direitos e obriga- estabeleça tal pena;
ções de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer 3) a lei deve ser promulgada antes de haver o delito
outra natureza. sido cometido; e
4) Não se estenderá sua aplicação a delitos aos
a) Nos termos do ponto 5 do art. 8, a CADH traz quais não se aplique atualmente.
como garantia judicial a previsão que o processo d) R: ERRADA. Com base no art. 4.5, não se pode res-
penal deve ser público, salvo no que for necessário tabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam
para preservar os interesses da justiça. R: Errada. abolido. Resposta: Letra C.
b) A CADH, no ponto 2 do art. 8, prevê que toda pes-
soa acusada de delito tem direito a que se presuma 4. (IADES – 2019) No que tange à relação do Brasil com
sua inocência enquanto não se comprove legalmen- as organizações internacionais, bem como aos procedi-
te sua culpa. Além disso, dispõe que durante o pro- mentos de negociação e internalização de convenções
cesso, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, e tratados internacionais, julgue o item a seguir.
à garantia mínima do acusado de ser assistido gra- O Pacto de San José da Costa Rica, aderido pelo Brasil
tuitamente por tradutor ou intérprete, se não com- e reconhecido no respectivo ordenamento como nor-
preender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal. ma de caráter supralegal por decisão do Supremo Tri-
R: Correta. bunal Federal, prevê, no próprio texto original, direitos
DIREITO HUMANOS
c) A CADH, no seu art. 8, não traz como garantia humanos de primeira e segunda gerações.
ao indivíduo que a acusação formulada deva ser
obrigatoriamente bilíngue (inglês e língua oficial do ( ) CERTO ( ) ERRADO
país no qual aconteceu o delito); o Pacto só diz que
a comunicação deve ser prévia e pormenorizada ao Questão polêmica, pois a banca considerou errada.
acusado da acusação formulada, garantindo tam- É fato que o Pacto de San José, redigido em 1969 e
bém o acesso gratuito a um tradutor ou intérprete. ratificado pelo Brasil em 1992, deu ênfase na imple-
R: Errada. mentação dos direitos de primeira geração (civis
d) A CADH não estipula um prazo específico de e políticos), mas no seu art. 26 menciona, ainda
30 dias para a preparação da defesa do acusado, que de forma vaga, o compromisso dos Estados
pois cada país regulará de acordo com seu código com o desenvolvimento progressivo dos direitos 297
econômicos, sociais e culturais (segunda geração). 3. (CRS – 2017) Com base na Declaração Universal dos
O Protocolo Facultativo de San Salvador, ratificado Direitos Humanos proclamada pela Assembleia Geral
pelo Brasil em 1999, foi o documento que detalhou das Nações Unidas, marque a alternativa correta:
os direitos de segunda geração. Resposta: Errado.
a) Todos os seres humanos nascem livres e iguais. São
dotados de razão e emoção e devem pensar em rela-
ção uns aos outros com espírito de consciência.
HORA DE PRATICAR! b) Todo ser humano tem deveres para com a comunida-
de, em que o livre e pleno desenvolvimento de sua per-
1. (CRS – 2018) De acordo com a Declaração Universal sonalidade é possível.
dos Direitos Humanos assinale “V” para a (s) assertiva c) Homens e mulheres, sem qualquer restrição de idade,
(s) verdadeira (s) e “F” para a (s) assertiva (s) falsa (s). raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de con-
trair matrimônio e fundar uma família.
( ) Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a d) Todo ser humano tem direito ao lazer e ao repouso
uma justa audiência por parte do Tribunal Internacio- semanal aos domingos e feriados, inclusive à limita-
nal da ONU, para decidir sobre seus direitos e deveres ção semanal de 44 horas de trabalho e férias anuais
na esfera do Direito Internacional. remuneradas.
( ) Ninguém será sujeito à interferência em sua vida pri-
vada, em sua família, em seu lar ou em sua correspon- 4. (CRS – 2017) Sabe-se que a Constituição da Repú-
dência, sem prévia autorização da autoridade policial. blica Federativa do Brasil (CRFB), promulgada em 5
( ) Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião de outubro de 1988, alinha-se à Declaração Univer-
e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem sal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada e procla-
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e mada Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e de dezembro de 1948. Considerando que a DUDH e
independentemente de fronteiras. a CRFB coincidem em múltiplos princípios que têm
( ) Todo ser humano tem direito a repouso semanal, como objetivo a proteção do ser humano. Analise as
diversão e lazer oferecido pelo Estado, inclusive a alternativas abaixo e, ao final, responda o que se pede.
limitação máxima de 44 horas semanais de trabalho e
férias anuais remuneradas com adicional de 1/3. I. Sobre o direito de propriedade, previsto, tanto na DUDH
( ) Todo ser humano tem direito a uma ordem social e quanto na CRFB, no sistema jurídico brasileiro, trata-se
internacional em que os direitos e liberdades estabele- de um direito fundamental do indivíduo, mas, dentro
cidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos do que prevê a CRFB, o Estado, poderá fazer uso da
possam ser plenamente realizados. propriedade particular.
II. A DUDH estabelece que todo ser humano tem direito à
Marque a alternativa que contém a sequência de res- vida, à liberdade e à segurança pessoal. Tal princípio é
postas correta, na ordem de cima para baixo. literalmente mantido no ordenamento jurídico brasilei-
ro, a começar pela CRFB, a Lei Maior, por não admitir
a) V, F, F, V, F. pena de morte, qualquer que seja a motivação.
b) F, F, V, F, V. III. A DUDH afirma que toda pessoa, vítima de persegui-
c) F, V, F, V, F. ção, tem o direito de procurar e de gozar asilo em
d) V, F, V, F, V. outros países. Paralelamente, a CRFB tem como um
dos fundamentos a concessão de asilo político.
2. (CRS – 2017) Marque a alternativa que contém a res-
posta correta: Marque a alternativa correta.
a) Após ser aprovado em cada Casa do Congresso a) Apenas as assertivas I e II estão corretas.
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos b) Apenas as assertivas II e III estão corretas.
dos respectivos membros, a Declaração Universal dos c) Apenas a assertiva I está correta.
Direitos Humanos passou a ter “status” equivalente às d) Todas as assertivas as estão corretas.
emendas constitucionais.
b) Ao definir o envelhecimento como direito personalíssi- 5. (CRS – 2015) Marque a alternativa correta. A Decla-
mo e a sua proteção um direito social, o Estatuto do ração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela
Idoso não encontrou respaldo na Declaração Universal Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de
dos Direitos Humanos, que estabelece que todo ser dezembro de 1948, estabelece que:
humano tem direito a um padrão de vida capaz de asse-
gurar-lhe saúde e bem-estar e direito à segurança em a) Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o
caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice. direito de ser presumido inocente até a sua apresenta-
c) A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece ção à autoridade de polícia judiciária.
em seu texto que todo ser humano, vítima de perseguição, b) Todo ser humano tem direito à liberdade de locomo-
tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros paí- ção e residência em qualquer país do mundo.
ses, este dispositivo não encontra respaldo nos objetivos c) Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento
fundamentais da República Federativa do Brasil. ou castigo cruel, desumano ou degradante.
d) Constranger alguém com emprego de violência ou gra- d) Ninguém será mantido em escravidão, salvo em caso
ve ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental de condenação por tribunal independente e imparcial.
em razão de discriminação racial, constitui crime de
racismo, segundo a lei que define os crimes resultan-
tes de preconceito de raça ou de cor.
298
6. (CRS – 2013) Sobre a Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução
n° 217-A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas
em 10 de dezembro de 1948, é correto afirmar que:
9 GABARITO
1 B
2 C
3 B
4 C
5 C
6 C
7 A
ANOTAÇÕES
DIREITO HUMANOS
299
ANOTAÇÕES
300
ESTATÍSTICA
A estatística é a parte da matemática que se dedica à análise, apresentação e interpretação de dados coleta-
dos. Esses dados são coletados dentro de uma população (também classificado como universo), que é o conjun-
to total dos elementos a serem estudados (podem ser pessoas, objetos etc.). Dessa população, podemos coletar os
dados de duas maneiras:
Ex.: na eleição, todas as pessoas aptas a votar são a população. Quando uma empresa é contratada para fazer
uma pesquisa de intenção de voto, eles selecionam uma amostra dessa população, fazem as perguntas pré-deter-
minadas pela pesquisa, e com os dados das respostas fazem uma inferência de como a população toda irá votar.
AMOSTRAGEM X AMOSTRA
É comum ouvirmos por aí pessoas que dizem não acreditar em pesquisas como Ibope, Datafolha entre outras,
com o argumento de que nunca foi entrevistado por esses órgãos e que não conhecem nenhuma pessoa que tenha
sido consultada também. Ora, consultar a população toda acerca de algum assunto é muito custoso e demandaria
um tempo muito grande. Por isso, para se chegar a essa estimativa, esse tipo de pesquisa é realizado em parte da
população.
Para analisar parâmetros estatísticos de uma população é necessário selecionar uma amostra a partir de téc-
nicas de amostragem. Dessa amostra são extraídos dados estatísticos, que serão estudados e analisados, e então,
generalizados para toda a população por meio da Inferência Estatística.
AMOSTRAGEM
POPULAÇÃO
AMOSTRA
AMOSTRA
INFERÊNCIA
Quando vamos tratar de inferência estatística, o nosso conjunto de dados a ser analisado são os dados extraí-
dos das amostras da população. Para isso, a amostra selecionada deve ser representativa da população.
Uma amostra não representativa é uma amostra viciada, que chamamos de vício de amostragem. Utilizan-
do esse tipo de amostra chegaríamos a um resultado que não corresponde à realidade.
Ex.: Queremos saber a quantidade de torcedores de cada time na cidade de São Paulo, portanto nossa popu-
lação é o total de habitantes de São Paulo. Vamos supor que a amostra selecionada para responder fosse feita na
ESTATÍSTICA
porta do estádio do Palmeiras em dia de jogo. Nesse caso, praticamente 100% dos entrevistados se declarariam
palmeirenses, o que, claramente, está incorreto, pois a escolha da amostra foi realizada de forma incorreta.
Conceitos importante:
População objeto: é a população total que temos o interesse de obter informações;
Unidade elementar (unidade amostral): é a unidade (indivíduo) da população que será observada (analisa-
da), pode ser uma pessoa, uma peça de uma produção etc.
Amostra: é o subconjunto da população.
Censo: análise de todos os elementos da população.
Erro amostral: é a diferença entre o resultado amostral para o resultado populacional. 301
Existem várias formas de se determinar uma amostra da população a ser estudada, que se dividem em dois
grandes grupos:
PROBABILÍSTICAS NÃO-PROBABILÍSTICAS
Quando todos os elementos da população possuem a mes- Quando os elementos da população não possuem a mes-
ma probabilidade de serem selecionados. Só nas amostras ma probabilidade de serem escolhidos, pois dependem do
probabilísticas podem ser utilizados os métodos de infe- critério do pesquisador. Esse método tem uma desvanta-
rência. Alguns exemplos são a amostra aleatória simples, gem por não ser possível fazer inferências sobre a popu-
a sistemática, a estratificada e amostra por conglomerado. lação. Apesar disso, ainda é um método muito utilizado.
Alguns exemplos são a amostra por conveniência, inten-
cional, amostra por cotas e voluntários.
EXPERIMENTO ALEATÓRIO
Experimento aleatório é o evento que pode ter diferentes resultados, quando repetidos nas mesmas condições,
ou seja, não sabemos o resultado, mas podemos saber quais são os resultados possíveis de serem obtidos.
Ex.: o lançamento de um dado é um experimento aleatório, sabemos que pode cair 1,2, 3, 4, 5 ou 6, mas não
sabemos qual exatamente irá cair naquele lançamento específico.
MÉTODO ESTATÍSTICO
Um dos métodos de avaliação da inferência estatística é chamado de Teste de Hipótese. Que consiste em con-
siderar uma hipótese para um parâmetro Populacional (pode ser média, proporção etc.) e a partir dos dados
recolhidos da amostra, testar se essa hipótese deve ser aceita ou rejeitada.
Por se tratar de uma decisão com base na análise de uma amostra, a decisão nunca terá 100% de certeza,
sempre teremos um percentual de erro estatístico embutido nessa decisão, que é dado em um valor percentual.
Ex.: temos uma população e queremos saber a média de idade (μ). Vamos supor que, por algum motivo, a gente
acredite que a média seja de 35 anos. Para testar se esse é realmente o valor, vamos tirar uma amostra da popula-
ção e achar a média da amostra, ou média amostral (X ou μX), e, suponhamos que a média amostral encontrada
foi de 33. Assim vamos fazer um teste de hipótese com base no valor da média amostral para testar se a média
populacional realmente pode ser 35.
As hipóteses podem ser simples, quando ela especifica completamente a distribuição da população (exemplo:
H: µ = 0), ou composta, quando ela não especifica completamente a distribuição da população (exemplo: H: µ > 0,
ou H: µ < 0).
Para calcular o desvio padrão amostral (σX) e a variância amostral (σX)2 a partir do valor populacional usamos:
σ2 σ
Variância: (σX)2 = Desvio-padrão: σX =
n n
A hipótese criada será sempre para a população e nunca para a amostra, os principais parâmetros usados nas
hipóteses são:
μ: média populacional
p: proporção populacional
σ: desvio-padrão populacional
σ2: variância populacional
Quando vamos fazer o teste de hipótese temos que criar duas hipóteses: a hipótese nula (H0), que geralmente
é uma hipótese simples, e a hipótese alternativa (H1 ou HA), que geralmente é uma hipótese composta. Essas
duas hipóteses são complementares, ou seja, se uma é verdadeira a outra será falsa, e elas não podem possuir
elementos em comum.
É a base do nosso teste e ela normalmente terá um sinal A hipótese alternativa é o complemento da hipótese nula,
de igualdade, podendo ser: =, ≤ ou ≥. e geralmente não tem o sinal de igual, podendo ser: ≠, <
ou >.
Dito isso vamos citar alguns exemplos de formação de hipóteses, considerando que k é um número real (k ∈ R):
H0: μ = k
H1: μ ≠ k } bilateral
}
H0 : μ = k H0: μ = k H0: μ ≤ k H0: μ ≤ k
ou ou ou unilateral
H1: μ > k H1: μ < k H1: μ > k H1: μ < k
302
Dos conceitos ligados à lateralidade falarei mais O nível de significância é o que define a aceitação
para frente, mas já adianto aqui que, quando a hipó- ou rejeição do teste. Para poder analisar esse valor
tese alternativa tiver sinal de ≠, o teste será bilateral, vamos usar a distribuição normal. Vamos supor que
e quando a hipótese alternativa tiver sinal de < ou >, o α = 1%, ou seja, a probabilidade de cometer o erro tipo
teste será unilateral. I é de 1%.
Como estamos partindo de uma amostra para esti- Temos 3 opções diferentes de forma de montar a
mar os dados de uma população, podemos incorrer distribuição.
em dois tipos de erros, os quais chamamos de erro
tipo I e erro tipo II. Como falei anteriormente, o teste é z Teste unilateral a esquerda:
baseado na hipótese nula (H0), portanto os dois tipos
de erros serão baseados em H0.
Zert
Ex.: Em uma linha de produção, a média de pro-
dutos com defeito fabricados a cada dia é 1,5. Esse é z Teste unilateral a direita:
um parâmetro populacional, mas, vamos considerá-lo
desconhecido (como normalmente é). Vamos fazer
um teste de hipótese, no qual nossa hipótese nula será
que a média populacional é no máximo 2 (o que mos-
tra que na realidade o teste deveria ser aceito, pois a
média populacional é 1,5). Assim:
α
H0: μ ≤ 2
H1: μ > 2
Zert
Supondo que ao realizar o teste fosse constatado
o mesmo foi rejeitado, o que significa que a hipótese
z Teste bilateral:
nula foi rejeitada. Assim, o teste foi rejeitado quan-
do na verdade deveria ter sido aceito, pois a hipóte-
se nula era verdadeira. Nesse caso realizamos o erro
tipo I.
Agora imagine que a média populacional fosse na
verdade 3, e, ao realizar o teste, como realizado aci- α α
ma, ele fosse aceito. Nesse caso o teste deveria ter sido
2 2
rejeitado uma vez que a média populacional é maior
que 2. Assim teremos cometido o erro tipo II.
A probabilidade de cometer o erro tipo I é dada
por , que chamamos de nível de significância (que - Zert Zert
normalmente é dado no exercício). A probabilidade
de cometer o erro tipo II é dada por β, e associado a As regiões cinzas são chamadas de Região Crítica
isso temos o poder do teste, que é “1 – β”, ou seja, a (RC) ou região de rejeição, e a parte branca é chama-
probabilidade de rejeitar H0 quando ela realmente é da de região de aceitação.
falsa. Para resolver uma questão de teste de hipótese
Fique atento à tabela abaixo: vamos seguir 6 passos:
z Escrever as hipóteses:
REALIDADE Hipótese nula: H0. (utilizar os sinais =, ≥ ou ≤)
H0 VERDADEIRA H0 FALSA Hipótese alternativa: H1. (utilizar os sinais ≠, > ou <)
ACEITAR H0 Decisão correta (1 – α) Erro do tipo II (β) z Calcular o valor observado ou estatística do tes-
DECISÃO Erro do tipo I (α) (nível Decisão correta te (Zobs, tobs), que é o valor que iremos usar ao final
REJEITAR H0 de significância) (1 – β) (poder do para fazer a comparação com a região crítica.
teste)
ESTATÍSTICA
√
p ‧ (1 – p)
observado com base em uma amostra aleatória sim-
304 ples de 600 famílias. n
p̂ – 0,6
-2 =
√
0,6 ‧ (1 – 0,6)
600
p̂ – 0,6
-2 =
-2 -1,5
√
0,6 ‧ 0,4
600
Resposta: Letra B.
p̂ – 0,6
-2 = 2. (CESPE-CEBRASPE –2018) Em uma fábrica de ferra-
√
0,24
gens, o departamento de controle de qualidade rea-
600 lizou testes na linha de produção de parafusos. Os
p̂ – 0,6 testes ocorreram em dois campos: comprimento dos
-2 = parafusos e frequência com que esse comprimento
√0,0004 fugia da medida padrão. Historicamente, o compri-
p̂ – 0,6 mento médio desses parafusos é 3 cm, e o desvio
-2 = padrão observado é 0,3 cm. Foram avaliados 10.000
0,02
parafusos durante uma semana. Desses, 1.000 fugi-
p̂ - 0,6 = - 0,04
ram às especificações técnicas da gerência: o com-
p̂ = 0,6 – 0,04 primento do parafuso deveria variar de 2,4 cm a 3,6
p̂ = 0,56 cm. O chefe da linha de produção, porém, insiste em
p̂ = 56% afirmar que, em média, 4% da produção de parafusos
fogem às especificações. O departamento de controle
de qualidade assume que os comprimentos dos para-
(2,3%) fusos têm distribuição normal.
0,023 A partir dessa situação hipotética, julgue o item subse-
0,9 77 quente, considerando que Φ(1) = 0,841, Φ(1,65) = 0,95,
Φ(2) = 0,975 e Φ(2,5) = 0,994, em que Φ(z) é a função
distribuição normal padronizada acumulada, e que
56%
√
0,0384
0,002 seja valor aproximado para .
10.000
Portanto, para p < 56% estaremos na Região Crítica
da curva, portanto temos que rejeitar H0. Alternati- Com base nos dados apresentados, pode-se rejeitar,
va correta. com significância de 5%, a afirmação do chefe da linha
Alternativa c) O teste é unilateral a esquerda. Alter- de produção.
nativa incorreta.
Alternativa d) A estatística do teste (Zobs) é dada por: ( ) CERTO ( ) ERRADO
√
p ‧ (1 – p) 10% dos parafusos estão fora das especificações. O
n chefe diz que, em média, apenas 4% (0,04) fogem às
especificações. Assim temos os seguintes dados:
0,57 – 0,6 p̂ = 0,1 (proporção amostral)
Zobs = n = 10.000
√
0,6 ‧ (1 – 0,6)
Passo 1 – Escrever hipóteses:
600 As hipóteses são:
– 0,03 H0: p = 0,04
Zobs = H1: p ≠ 0,04
0,02 Temos um teste bilateral.
Zobs = - 1,5 Passo 2 – calcular o Zobs:
Vamos calcular o Zobs.
O valor é menor que 1. Alternativa incorreta.
Alternativa e) Sabemos que a RC para Z = -2 é de
ESTATÍSTICA
p̂ – p
2,3%, ou seja, o nível de significância. Zobs =
√
Caso a o nível de significância fosse 1%, a região p ‧ (1 – p)
seria menor ainda. Pelo gráfico abaixo, a região cin- n
za escuro seria = 1%, e a região compreendida pela
soma das áreas cinzas seria = 2,3%. Como o Zobs é 0,1 – 0,04
-1,5, ele fica à direita do -2. Considerado apenas a Zobs =
√
0,04 ‧ 0,96
área cinza escura o ponto -1,5 está fora da RC, por-
tanto temos que aceitar H0. Alternativa incorreta. 10,000 305
4. (CESPE-CEBRASPE –2018) Determinado órgão gover-
0,06 namental estimou que a probabilidade p de um ex-con-
Zobs =
denado voltar a ser condenado por algum crime no
√
0,04 ‧ 0,96
prazo de 5 anos, contados a partir da data da liberta-
10,000 ção, seja igual a 0,25. Essa estimativa foi obtida com
base em um levantamento por amostragem aleatória
0,06 simples de 1.875 processos judiciais, aplicando-se o
Zobs = (essa raiz foi dada no enunciado)
método da máxima verossimilhança a partir da distri-
√
0,0384
buição de Bernoulli.
10,000
Sabendo que P(Z < 2) = 0,975, em que Z representa
0,06 a distribuição normal padrão, julgue o item que se
Zobs = segue, em relação a essa situação hipotética.
0,002
A estimativa intervalar 0,25 ± 0,05 representa o interva-
Zobs = 30 lo de 95% de confiança do parâmetro populacional p.
√
Como o Zobs está na região crítica, vamos rejeitar H0. p‧q
Resposta: Certo. p ± Z0 .
n
√
3. (CESPE-CEBRASPE –2018) Os tempos de duração 0,25 ‧ 0,75
0,25 ± 2 .
de exames de cateterismo cardíaco (Y, em minutos) 1,875
efetuados por determinada equipe médica seguem
√
uma distribuição normal com média μ e desvio padrão 0,1875
0,25 ± 2 .
σ, ambos desconhecidos. Em uma amostra aleatória 1,875
simples de 16 tempos de duração desse tipo de exa-
√
1
me, observou-se tempo médio amostral igual a 58 0,25 ± 2 .
minutos, e desvio padrão amostral igual a 4 minutos. 10,000
A partir da situação hipotética apresentada e conside- 1
rando Φ(2) = 0,977, em que Φ(z) representa a função 0,25 ± 2 .
100
de distribuição acumulada de uma distribuição normal
padrão e z é um desvio padronizado, julgue o item que 0,25 ± 0,02
se segue, com relação ao teste de hipóteses H0 = μ Portanto, para um nível de confiança de 95% o
≥ 60 minutos, contra HA = μ < 60 minutos, em que H0 intervalo será 0,25 ± 0,02. Resposta: Errado.
e HA denotam, respectivamente, as hipóteses nula e
alternativa. 5. (CESPE-CEBRASPE –2018) Em um tribunal, entre os
Se o teste for efetuado com nível de significância igual processos que aguardam julgamento, foi selecionada
a 1%, o poder do teste será igual a 99% para qualquer aleatoriamente uma amostra contendo 30 processos.
valor hipotético μ. Para cada processo da amostra que estivesse há mais
de 5 anos aguardando julgamento, foi atribuído o valor
( ) CERTO ( ) ERRADO 1; para cada um dos outros, foi atribuído o valor 0. Os
dados da amostra são os seguintes:
O nível de significância é o , que é a probabilidade
de ocorrer o erro tipo I, seu complementar “1 – ” é o 110010110111101110101010111011
nível de confiança, ou seja, a probabilidade de acei-
tar H0 quando esse é verdadeiro. A proporção populacional de processos que aguar-
Já o poder do teste é a probabilidade de rejeitar H0 dam julgamento há mais de 5 anos foi denotada por
quando esse é falso, que é dado por “1–“, que é o p; a proporção amostral de processos que aguardam
complementar de , que é a probabilidade de cometer julgamento há mais de 5 anos foi representada por .
erro tipo II. Com referência a essas informações, julgue o item a
No caso de o nível de significância ser 1%, o nível de seguir, considerando que, para a distribuição normal
confiança será 99% e não o poder do teste. Resposta: padrão Z, P(Z > 1,28) = 0,10; P(Z > 1,645) = 0,05; e P(Z
306 Errado. > 1,96) = 0,025.
O teste t de Student seria apropriado para testar se, nesse o valor realmente assumido por essa variável, 1, 2,
tribunal, p é maior que 50%, com 29 graus de liberdade. 3..., ou seja, se estamos falando da variável aleatória
quantidade de atendimentos em um dia em um hospi-
( ) CERTO ( ) ERRADO tal (X), essa quantidade pode ser 100, 50, 75 (x).
O teste t de Student serve para fazer a estimativa VARIÁVEIS QUANTITATIVAS
da média, o teste de proporção é feito com base na
normal reduzida (Z). Variável aleatória discreta
contínuas, e são definidas pela sua função de pro- z Achar probabilidade de (X = 4).
babilidade. Normalmente são definidas por P(x) ou
P(X=x). Lembrando que estamos falando de variável dis-
Cuidado, essa definição P(X=x) pode parecer estra- creta, como temos o x = 4 na última linha com pro-
nha, mas o X maiúsculo significa a variável aleatória babilidade acumulada de 1, e na linha anterior a
X, que pode ser qualquer variável que estamos que- probabilidade acumulada é 0,8, a probabilidade
rendo estudar, como a quantidade de atendimentos desse valor ser 4 é 1 – 0,8 = 0,2. Isso ocorre porque
em um hospital ou a quantidade de caras em uma os únicos valores que a variável aleatória discreta
série de lançamentos da moeda. Já o x minúsculo é pode assumir são 1, 2, 3 ou 4. 307
z Achar a probabilidade de (X<3)
Soma
Basta olhar na linha anterior a x=3, ou seja, P(X<3) = 0,4. Média =
Quantidade
z Achar a probabilidade de (X≤3). Soma = Média x Quantidade
P(X≤3) = 0,8.
Em linguagem matemática isso é dado por:
A variável aleatória contínua
xi
x= / para dados de uma amostra.
A variável aleatória contínua é aquela que pode N
assumir qualquer valor real em um intervalo finito Ou:
ou infinito.
Ex.: Tempo na corrida de 100m livres (entre 9 segun- xi
μ= / para dados de uma população.
dos e 10 segundos existem infinitos números, conside- N
rando as casas decimais entre eles); peso das pessoas
do mundo todo (considerando as casas decimais, exis- Onde: / Xi é o somatório dos dados X1, X2, X3...XN,
tem infinitos valores de peso para considerarmos). e N é a quantidade de dados da amostra/população.
Nas variáveis contínuas, a função de probabi- Cada dado é representado por Xi.
lidade é chamada de Função densidade de pro- Vamos supor que, na faculdade, teremos 4 provas
babilidade e a área definida sob a curva é igual a 1 da disciplina de Estatística. Para calcular a média final
(probabilidade total é sempre igual 1). basta somar as 4 notas e dividir por 4.
Supondo que as notas tenham sido na ordem: 6,0;
A VARIÁVEL QUALITATIVA 7,0; 5,0; 8,0.
MEDIANA
Frequência (alunos) Variação dentro da classe
A mediana (Md) é o valor que divide os dados em 15 2
duas partes iguais, ou seja, ao relacionar os dados em
8 X
ordem crescente é o dado que fica na posição central.
Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
9, 10, 14. 15 · X = 2 · 8
Temos 11 dados nessa amostra, portanto o 6º valor 15 · X = 16
é o valor central, pois, temos 5 valores antes dele e 5 16
X=
ESTATÍSTICA
Quando temos número ímpar de observações, a Portanto o 8º termo da 3ª classe (que é a nossa me-
mediana será o próprio valor, mas quando tivermos diana) está 1,06 acima do limite inferior da classe me-
uma quantidade par de dados, não teremos um valor diana, que é 4.
central, nesse caso vamos fazer a média entre os dois
valores centrais. Md = 4 + 1,06 = 5,06 309
MODA Veja que na fórmula de Czuber a classe anterior é
mais importante que a classe posterior à classe modal,
Quando dizemos que uma roupa está na moda, isso pois d1 aparece em baixo e em cima, e o L é o limi-
quer dizer que muita gente está usando esse tipo de te inferior da classe modal. Vamos entender com um
roupa. A moda (Mo) na estatística é exatamente isso, exemplo:
é aquele dado que mais se repete na população ou na Dada a distribuição de frequência.
amostra, ou seja, o dado com maior frequência.
Ex: Dado os valores observados: 3, 4, 5, 6, 6, 8, 8, 8,
9, 10. A moda é o 8 pois aparece 3 vezes. QUANTIDADE DE
NOTA
Para dados não agrupados é tranquilo de achar a ALUNOS
moda, mas quando temos dados agrupados com inter- 0 |– 2 5
valos de classes não sabemos exatamente qual valor
dentro daquela classe mais se repete, para isso temos 2 |– 4 7
3 métodos para achar a moda: moda bruta, moda de
4 |– 6 15
Pearson e moda de Czuber.
A moda bruta, nada mais é que o valor médio da 6 |– 8 10
classe modal.
Ex: 8 |- 10 3
2 |– 4 7 L = 4 (limite inferior)
h = 2 (intervalo da classe: 6 – 4 = 2)
4 |– 6 15 d1 = 8 (diferença de frequência entre a classe
6 |– 8 10 modal e a classe anterior: 15-7 = 8)
d2 = 5 (diferença de frequência entre a classe
8 |- 10 3 modal e a classe posterior: 15-10 = 5)
Mo = 3 · Md – 2 · x
DESVIO PADRÃO
Intervalo Quartílico
O desvio padrão nos dá a noção de quão disper-
O intervalo quartílico é diferente do desvio quartí- sos são os dados da amostra, quanto menor o desvio
lico (intervalo semi-interquartílico), o intervalo quartí- padrão, mais concentrado em torno da média aritmé-
lico é apenas a diferença entre o quartil 3 e o quartil 1. tica estão os dados, quanto maior o desvio padrão,
mais dispersos esses dados.
IQ = Q3 – Q1
O desvio padrão é a raiz da variância, portanto a
VARIÂNCIA fórmula e as considerações sobre população e amostra
são as mesmas, apenas vamos fazer a raiz do resultado.
Falamos que a média é o primeiro momento de
uma distribuição, já a variância é chamada do segun- √Variância
do momento de uma distribuição. Desvio padrão =
A variância é uma medida de dispersão que mostra o
quão distante cada valor desse conjunto está da média. Em uma população, o desvio padrão é representa-
Na variância teremos pela primeira vez uma dife- da por σ (sigma), já para uma amostra o desvio padrão
rença na fórmula quando consideramos uma popu- é representado por S.
lação e uma amostra. Até agora, as fórmulas eram
sempre iguais, mudávamos apenas a representação 2
/ _Xi-X i
da média (de μ para x ). Para uma amostra: s = n -1
Em uma população a variância é representada por
σ2 (sigma ao quadrado), já para uma amostra a variân-
cia é representada por S2. 2
Para uma amostra: / _Xi-n i
Para uma população: σ = n
/ ^Xi - X h2
S2 = n-1 Quando tivermos dados agrupados, basta multipli-
Para uma população: car cada parênteses pela frequência da classe.
/ _Xi - n i2 2
/ f_Xi-X i 2
σ2 = / fbXi-n l
n s= n -1 σ= n
ou
Podemos perceber que para uma amostra vamos
dividir por “n-1” e para uma população vamos dividir
por N. Usamos N (maiúsculo e minúsculo) para ilus- Coeficiente de Variação
trar que em uma população a quantidade de dados
é maior que na amostra, mas os dois “enes” querem O coeficiente de variação (ou coeficiente de variação
dizer a mesma coisa, ou seja, a quantidade de dados. de Pearson) é a divisão do desvio padrão pela média.
Quando temos a variância populacional, podemos
calcular a variância amostral aplicando um fator de S
Pra uma amostra: CV =
correção, que é: X
v
n Para uma população: CV = n
n-1 Propriedades
2
`
/ fXi -n j Quando multiplicamos todos os salários por uma
σ2 = n -1 constante qualquer (1,1 por exemplo), a média será
alterada na mesma ordem, ou seja, para achar a nova
Existe uma outra forma de calcular a variância, média multiplicaremos a média anterior pela mesma
que em boas partes dos casos é mais rápida, que é a constante (1,1). A mesma coisa ocorre para a mediana,
diferença entre a média dos quadrados e o quadra- a moda e o desvio padrão. A única grandeza diferen-
do da média. te é a variância, que será multiplicada pelo quadrado
dessa constante, pois lembremos que ela é o quadrado
σ2 = x2 – (x)2 do desvio padrão. 311
Em resumo, ao multiplicar os dados por uma cons- colunas, as barras/colunas são verticais. Normalmen-
tante k, os dados estatísticos irão alterar da seguinte te esses gráficos são usados para representar dados
maneira: qualitativos ordinais e quantitativos discretos.
FORMA DE CHEGAR AO
DADO ESTATÍSTICO 5
NOVO VALOR
4
Média (µ) µ.k 3
2
Mediana (Md) Md . k
1
Moda (Mo) Mo . k 0
Desvio padrão (σ) σ. k 1 2 3 4
ria i a ia ia
go or r r
Variância (σ )2
σ .k
2 2
te eg go go
t te te
Ca Ca Ca Ca
Quando somamos todos os salários por uma cons-
tante qualquer (100 por exemplo), a média será altera-
da na mesma ordem, ou seja, para achar a nova média
somaremos a média anterior pela mesma constante. A
mesma coisa ocorre para a mediana e a moda. Entre- Categoria 4
tanto as medidas de dispersão, desvio padrão e variân- Categoria 3
cia não serão alteradas pela soma de uma constante.
Assim o resumo dos valores, após a soma dos Categoria 2
dados pela constante k são: Categoria 1
0 2 4 6
FORMA DE CHEGAR AO
DADO ESTATÍSTICO
NOVO VALOR
MULTIPLICAÇÃO 600
SOMA DE UMA
DE UMA 500
CONSTANTE K
CONSTANTE K 400
300
NOVA MÉDIA/
200
MEDIANA/ Soma k Multiplica por k
100
MODA
0
r
NOVO DESVIO Multiplica pelo o io r io ão
Não altera éd pe aç
PADRÃO módulo de k sin M Su ad
u
En in
o o Gr
s sin s
NOVA En En Pó
Não altera Multiplica por k
2
VARIÂNCIA
Esses dois tipos de gráficos na verdade são basica- O gráfico pictórico não é propriamente um tipo
mente os mesmos, a diferença é que no gráfico de bar- específico de gráfico. Na verdade, o gráfico pictórico
ras, as barras/colunas são horizontais e no gráfico de pode ser representado por um gráfico de barras, de
312
colunas, de linhas ente outros. A grande característica GRÁFICO DE LINHAS
desse gráfico é que, para chamar mais a atenção, são
usadas figuras (imagens) na composição do gráfico. São mais utilizados nas representações de séries
Esse tipo de gráfico é muito usado em jornais e tele- temporais. Vamos analisar a evolução de um ano para
jornais, pois proporcionam uma comunicação mais o outro, se houve um crescimento ou um decréscimo
rápida e com precisão de entendimento. Nesse tipo de no número de alunos dentre as séries que estão em
gráfico as figuras são, ao mesmo tempo, os dados esta- evidência para estudo dentro da escola. Observe:
tísticos e indicam a proporcionalidade desses dados.
GRÁFICO DE DISPERSÃO
Podemos notar que esse gráfico nada mais é que
um gráfico de barras, mas, pelo fato de o gráfico mos- Estudaremos melhor esse tipo de gráfico quando
trar a quantidade de consumo anual de sorvete em falarmos de correlação, mas, irei apresentar como ele
diferentes países, ao invés de se colocar as barras, é feito, e quando é usado.
foi colocada uma espátula de tomar sorvete, em um O gráfico de dispersão, ou diagrama de dispersão, é
tamanho proporcional ao da barra, e ao lado do gráfi- uma associação entre pares de dados quantitativos, nor-
co foi colocada uma imagem de sorvetes. malmente são usados para entender a correlação entre
duas variáveis. Nele, vamos verificar as duas variáveis
GRÁFICO DE SETORES e colocar esses pontos em um plano cartesiano.
Vamos fazer um gráfico de dispersão com as variá-
O gráfico de setores normalmente é usado para apre- veis peso e altura de um grupo de 6 pessoas:
sentar dados qualitativos como setores de um círculo
(pedaços de uma pizza). Normalmente os dados são apre-
ALTURA 1,7 1,72 1,9 1,56 1,64 1,82
sentados em percentuais, sendo que o total é 100% (360º).
PESO 75 81 87 52 70 90
Grau de Instrução
Altura x Peso
100
Pós Graduação 90
6% 80
70
Ensino Ensino 60
Superior 50
Fundamental 40
25% 38% 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2
HISTOGRAMA
Ensino Fundamental
Vemos que a caixa é formada pelos 3 quartis, que As séries estatísticas são as diversas maneiras de
no caso seriam aproximadamente: Q1 = 0, Q2 = 20 e Q3 apresentar os dados desejados em forma de tabela, o
= 30. Os dados extremos seriam aproximadamente -15 objetivo das séries estatísticas é organizar os dados
e 40, portanto amplitude seria: 40 – (–15) = 40 + 15 = 55. observados e mostrá-los de maneira organizada, faci-
As duas bolinhas significam dados discrepantes litando sua compreensão.
(outliers), que seriam dados que fogem do padrão do Temos vários tipos séries estatísticas, mas vamos
restante dos dados. Os dados discrepantes são aqueles destacar algumas mais importantes:
que superam em 1,5 vezes o intervalo interquartílico
(diferença entre Q3 e Q1). z Séries Temporais: é um conjunto de observações
No nosso exemplo: de uma variável ao longo do tempo, ou seja, uma
sequência de dados numéricos em ordem sucessi-
Q3 – Q1 = 30 – 0 = 30 va. Nesse tipo de série o que varia é o tempo, mas o
1,5 · 30 = 45 fato e o local de observação são fixos;
z Séries Geográficas: é um conjunto de observações
Os dados discrepantes serão aqueles que forem de uma variável em diferentes locais. Nesse tipo de
inferiores a 45 unidades de Q1, ou superiores a 45 série o que varia é o local (região) da observação,
unidades de Q3. mas o tempo e o fato observado são fixos. Ex.:
Limite inferior: 0 – 45 = - 45
Limite superior: 30 + 45 = 75
POPULAÇÃO DOS ESTADOS DA REGIÃO SUDESTE
Portanto, serão dados discrepantes os que tiverem
valores inferiores a “–45” ou os superiores a 75. ESTADO POPULAÇÃO
Séries Temporais
SÉRIES NÃO
SÉRIES TEMPORAIS
TEMPORAIS
Podemos notar que uma série estacionária se man-
Série diária da temperatura Temperaturas de várias ci- tém sempre em torno de uma média, que representa-
na cidade de São Paulo ao dades em um mesmo dia, mos pela linha preta central na figura a seguir.
longo de um ano. ou períodos diferentes.
Quantidade de furtos no
Quantidade de furtos
ano de 2018 nas diferen-
anuais em Cuiabá.
tes capitais do país.
Salários dos funcionários
Salário de um funcionário
de uma empresa no mes-
ao longo do ano.
mo mês.
ESTATÍSTICA
a) Nível Médio
b) Sazonalidade
c) Ciclicidade
d) Tendência Linear
e) Tendência Exponencial
Vemos que os dados possuem picos em alguns meses, e que esses valores acontecem sempre na mesma época do
ano (2, 14 e 26), ou seja, todo ano, no mesmo mês ocorre um pico, isso é a sazonalidade.
Como ao fazer a regressão linear temos uma reta ao longo do tempo, essa sazonalidade não é lavada em conta.
Resposta: Letra B.
6. (CESPE-CEBRASPE – 2008) Uma agência de desenvolvimento urbano divulgou os dados apresentados na tabela a
seguir, acerca dos números de imóveis ofertados (X) e vendidos (Y) em determinado município, nos anos de 2005 a
2007.
NÚMERO DE IMÓVEIS
ANO
OFERTADOS (X) VENDIDOS (Y)
Considerando as informações do texto, julgue os itens subsequentes. A variável X forma uma série estatística deno-
minada série temporal.
Exatamente, uma série temporal é um conjunto de observações de uma variável ao longo do tempo. Vemos os
dados de duas variáveis (imóveis ofertados e imóveis vendidos) ao longo dos anos (2005, 2006 e 2007) Resposta:
Certo.
HORA DE PRATICAR!
1. (CRS – 2017) Analise a distribuição de frequências a seguir:
CLASSES F PM F% FAC %
12 –– 16 4 14 7,02 7,02
16 –– 20 12 18 21,05 28,07
20 –– 24 19 22 33,33 61,40
24 –– 28 X 26 Y Z
28 –– 32 7 30 12,28 100,00
Total 57
Fonte: Dados fictícios
ESTATÍSTICA
* Onde F é a frequência simples, PM é o ponto médio, F% é a frequência relativa e Fac% é a frequência acumulada relativa.
Marque a alternativa correta:
317
2. (CRS – 2017) A tabela a seguir registra, em horas, o tempo de permanência, em determinado dia, de um grupo de pes-
soas no aplicativo WhatsApp.
8 10
9 7
11 12
14 14
15 20
20 12
Soma 75
Considerando as informações da tabela, é correto afirmar que a mediana, a média e a moda, em horas, são
respectivamente:
3. (CRS – 2018) O Comandante da 500ª CIA PM promoveu um torneio operacional, de forma que os militares da CIA PM
foram divididos em 04 equipes para realizarem 03 provas distintas, no valor de 10 pontos cada uma, com os seguin-
tes temas: técnica policial-militar, abordagem a veículos e controle de distúrbios. As provas teriam pesos 3, 2 e 1,
respectivamente.
NOTAS DE PROVAS
EQUIPES
TÉCNICA POLICIAL MILITAR ABORDAGEM A VEÍCULOS CONTROLE DE DISTÚRBIOS
Equipe Alpha 9 8 8
Equipe Delta 8 9 9
4. (CRS – 2017) Em um concurso para Soldados da PMMG, os alunos fizeram provas de matemática, português, geogra-
fia e história. Os respectivos pesos das disciplinas eram: 10, 10, 08 e 08. Considerando que no concurso cada discipli-
na tinha 10 questões e um aluno obteve o seguinte número de acertos: 09 em matemática; 05 em português; 10 em
geografia e 08 em história. Marque a alternativa correta que apresenta a nota do aluno:
a) 7,55
b) 7,44
c) 7,72
d) 7,89
5. (CRS – 2017) Os resultados (seis réplicas) obtidos a partir de uma determinação da concentração de um analito em
uma amostra são mostrados na Tabela abaixo.
RÉPLICA (N) 1 2 3 4 5 6
RESULTADO 27 30 31 30 29 33
318
Com base nesses dados e nas fórmulas a seguir, marque a alternativa correta:
∑ iN (X - X)
S= N-1
S
Cv = 100 ·
X
Respectivamente, os valores da média aritmética e do coeficiente de variação dessa série de dados são:
a) 27 e 13,3%
b) 30 e 6,7%
c) 28 e 20%
d) 31 e 26,7%
6. (CRS – 2015) Uma caixa contém bolas numeradas de 1 a 60. Escolhendo aleatoriamente uma bola da caixa, qual é a
probabilidade que o número escolhido seja múltiplo de 5?
a) 5%
b) 10%
c) 20%
d) 40%
Distribuição conjunta da frequência dos formandos e seus respectivos graus de instrução nas capitais da Região Su-
deste - 2016
a) O percentual de alunos que concluíram o ensino médio no Rio de Janeiro e São Paulo é maior que o percentual de
alunos que concluíram o ensino médio em Vitória e no Rio de Janeiro.
b) O percentual de alunos que concluíram o ensino superior no Rio de Janeiro e São Paulo é maior que o percentual de
alunos que concluíram o ensino superior em Belo Horizonte.
c) Levando-se em conta todos os níveis de escolaridade São Paulo possui a menor média dos concludentes.
d) Levando-se em conta todos os níveis de escolaridade Vitória possui a menor média dos concludentes.
8. (CRS – 2015) A cantina terceirizada que funciona em um determinado Batalhão, fornece almoço e jantar aos militares
da unidade. O gráfico abaixo mostra o movimento de usuários da cantina de segunda a sexta-feira.
ESTATÍSTICA
319
Sabendo -se que a cantina tem preço fixo de R$8,00 para o almoço e R$5,00 para o jantar, é correto afirmar que o fatu-
ramento médio diário em REAIS com almoço e jantar é:
a) R$ 1.556,43.
b) R$ 1.416,00.
c) R$ 768,00.
d) R$ 2.179,00.
0 –– 5 A 41 20,50 20,50
5 –– 10 48 B 24,00 44,50
15 –– 20 61 150 C 75,00
20 –– 25 31 181 15,50 D
Sabe-se que f é a frequência absoluta, fac é a frequência absoluta acumulada, fr% é a frequência relativa (percentual)
e frac% é a frequência relativa (percentual) acumulada.
10. (CRS – 2017) Abaixo, temos uma tabela que mostra os bônus dos funcionários da Empresa Daves Keller, em março
do ano de 2016, em Belo Horizonte, em reais.
BÔNUS FI XI FR %
Total 50 100
( ) Dez funcionários recebem bônus que oscilam de R$ 1.200,00 a R$ 1.399,99, e que 44% dos funcionários recebem
bônus de R$ 1.000,00 a R$ 1.399,99.
( ) Na Empresa, o bônus médio dos integrantes do 4º nível é de R$ 1.100,00 e o bônus médio dos integrantes do sétimo
320 nível é de R$ 1.700,00.
( ) 12% dos funcionários recebem bônus que variam de R$ 1.400,00 a R$ 1.799,99.
( ) Nessa Empresa, 24% dos funcionários recebem um bônus médio de R$1.100,00 e 8% dos funcionários recebem bônus
de R$ 1.600,00 a R$ 1.799,99.
( ) Nessa Empresa, trinta e oito funcionários recebem bônus abaixo de R$ 1.600,00 e 10 de R$ 1.400,00 a R$ 1.799,99.
a) V, V, V, F, F.
b) F, F, V, V, F.
c) V, V, V, V, V.
d) V, V, F, V, F.
Observe as variações dos registros das ocorrências de roubo, mês a mês, ao longo do período descrito no gráfico
acima e marque a alternativa correta:
12. (CRS – 2015) Suponha que o gráfico abaixo represente o número de armas apreendidas em determinada localidade
por mês.
ESTATÍSTICA
É correto afirmar que número total de armas apreendidas no período julho a dezembro é:
a) 120.
b) 360.
c) 240.
d) 300. 321
13. (CRS – 2018) O gerente de uma empresa, com um
total de 150 funcionários, realizou um experimento
ANOTAÇÕES
com o objetivo de verificar o consumo de água dos
funcionários durante o turno de trabalho. Foram sele-
cionados, aleatoriamente, 50 funcionários e mensura-
da a quantidade de litros de água consumida por cada
um, no período de 30 dias. Sabe-se, também, que cada
funcionário teve a mesma probabilidade de ser incluí-
do na seleção. Com base nestas informações, relacio-
ne a segunda coluna de acordo com a primeira:
a) 4, 2, 3, 1.
b) 2, 1, 4, 3.
c) 3, 2, 1, 4.
d) 2, 3, 4, 1
a) Ambas contínuas.
b) Qualitativas.
c) Ambas discretas.
d) Contínua e discreta, respectivamente.
9 GABARITO
1 C
2 D
3 C
4 D
5 B
6 C
7 B
8 D
9 A
10 D
11 C
12 B
13 D
14 A
322